As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    As liberdades dos modernos: Benjamin Constant e a teoria liberal dos

    direitos fundamentais.

    Christian Edward Cyril Lynch1

    Publicado em: Revista Cincias Sociais (UGF), v. 14, p. 4!"#, #$$%.

    Resumo: Interditada por muito tempo como expressiva de um pensamento antidemocrtico, aobra poltica de Constant vem sendo reabilitada nas ltimas dcadas como, aocontrrio, fundamental para a compreenso do Estado moderno e da teoriademocrtica. Entretanto, sua obra ainda mal conhecida entre ns. ! arti"o buscares"atar sua concep#o poltica e constitucional de Constant, com $nfase no lu"arnela ocupado pelos direitos fundamentais.

    Palavras-chave: liberalismo, constitucionalismo, Constant, direitos fundamentais.

    %bstract& 'anned for a lon" time as antidemocratic, the political thou"ht of 'en(aminConstant has bein" rehabilitated durin" the last decades as essential to understand democratictheor). *is +or is scarcel) no+n amon" us, ho+ever. -his article intends to introduce his

    political and constitutional conceptions, underlinin" his theor) of fundamental ri"hts.

    Key words: iberalism, constitutionalism, Constant, individual ri"hts.

    Introdu!o.

    /ista habitualmente como a ecloso final e visvel dos ideais amadurecidos do

    Iluminismo, 0ue desde o sculo /II vinham solapando as bases tericas do absolutismo

    monr0uico e os res0ucios da feudalidade, a 2evolu#o 3rancesa 415678 representou o palco

    no 0ual a maioria das correntes do pensamento poltico moderno se fe9 representar.

    Entretanto, irradiado para o mundo ibero:americano nas primeiras dcadas do sculo I, o

    fracassado modelo constitucional de 1571 trouxe um defeito con"$nito& a confronta#o nua e

    crua entre um Estado limitado pela lei e o a soberania absoluta do povo, sem 0ue ele

    dispusesse de mecanismos de concilia#o. ;urante todo o perodo revolucionrio, atores e

    1 ! autor doutor em Ci$ncia

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    @

    tericos se debru#aram sobre o problema, ima"inando solu#Aes 0ue evitassem 0ue os

    representantes extrapolassem os mandatos outor"ados pelos representadosB no entanto, a

    persist$ncia de concep#Aes soberanistas do poder : na forma de uma democracia das ruas ou

    de uma representa#o poltica absolutista : mostrou:se in0uebrantvel. 3oi a compreenso de

    0ue os descaminhos da 2evolu#o decorriam da incon"ru$ncia entre seus princpios e uma

    or"ani9a#o poltica capa9 de concreti9:los 0ue motivaria os liberais a tentar atenuar os

    excessos do modelo republicano. Eles desenvolveram ento um controle, no normativo:

    (urisdicional, mas poltico:estrutural da constitucionalidade, na forma de um r"o de cpula

    neutro, distinto e superior, capa9 de representar e conferir visibilidade simblica ao poder

    soberano.

    ! percurso dos liberais na 3ran#a, desde a 2evolu#o at a 0ueda do Imprio

    napolenico, foi, por assim di9er, al"o como o pre"ar de profetas no deserto. Espremidos

    entre os contra:revolucionrios partidrios do %nti"o 2e"ime absolutista e os (acobinos de

    2obespierre, foram derrotados lo"o no incio do processo revolucionrio. ! fracasso do

    modelo de monar0uia constitucional elaborado pela %ssemblia Dacional Constituinte e o

    posterior advento da ditadura supostamente popular da Conven#o (acobina contriburam de

    forma decisiva para aproximar da experi$ncia poltica in"lesa a parte mais si"nificativa da

    corrente liberal, 0ue recebeu desta forma uma dose de empirismo s suas prticas ento

    completamente racionalistas. Embora houvesse monar0uistas e republicanos liberais,

    representantes 0ue eram do centro moderado na0uela etapa da revolu#o, os descaminhos do

    processo revolucionrio pareciam paulatinamente su"erir:lhes a inviabilidade de se instaurar o

    liberalismo por meio da repblica 42%FD%=;, 177G&@H8 e seria durante o ;iretrio 0ue

    teriam lu"ar as suas tentativas de reformas constitucionais com o fito de estabili9ar as

    institui#Aes 4?2%D?E, 1771&1J8. Kas o "olpe de 16 'rumrio representou um fim nessas

    esperan#as. ! apo"eu do pensamento poltico liberal na 3ran#a se deu 0uando da restaura#o,em 161L, da dinastia de 'ourbon no trono da 3ran#a, sob o plio da monar0uia constitucional

    representativa, e da Konar0uia de >ulho 416H8 0ue se lhe sucedeu.!s maiores expoentes

    tericos do liberalismo clssico na 3ran#a no perodo foram 'en(amin Constant 415G5:16H8

    e 3ran#ois ?ui9ot 41565:165L8, este ltimo chefe do "rupo dos doutrinrios, 0ue reuniu, entre

    outros, o ;u0ue de 'ro"lie e 2o)er Collard. %s doutrinas por eles desenvolvidas tornaram:se

    refer$ncias obri"atrias para todos os modelos de monar0uias constitucionais at pelo menos

    meados da dcada de 16GH.

    Desse 0uadro, a fi"ura de 'en(amin Constant especial, pois sua teoria do "overno

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    constitucional representativo ocupou at pelo menos a dcada de 16GH um lu"ar de absoluta

    centralidade no panorama do liberalismo franco:continental e ibero:americano. %dmirador de

    Condorcet, 'en(amin Constant concordava 0ue as sucessivas destrui#Aes da teocracia, da

    escravido, do feudalismo e dos privil"ios da nobre9a comprovavam 0ue a marcha da

    histria coincidia com a0uela da i"ualdade e da liberdade. ! movimento democrtico vinha

    de muito lon"e e, por isso, a nica op#o sensata a tomar era tentar acompanh:loB entretanto,

    Constant sabia perfeitamente 0ue o mundo atravessava um perodo de umbral epocal. %

    sombra da soberania absoluta continuava saliente no hori9onte e, por isso, certamente seriam

    funestas 0uais0uer tentativas de precipitar os acontecimentos pela via autoritria. Em Das

    Reaes Polticas, datado do perodo termidoriano, Constant afirmava 0ue o "rande desafio

    posto aos polticos comprometidos com as novas idias de seu tempo passava, pois, porconsolidar o terreno ainda precrio da liberdade contra os riscos do anacronismo e, desse

    modo, encerrar a traumtica transi#o para a modernidade poltica representada pela acefalia

    revolucionria.

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    compreendida em toda a sua latitude sem a prvia no#o do mais vasto 0uadro terico em 0ue

    ela se insere, 0ue inclui uma filosofia da histria e uma tese da perfectibilidade humana, 0ue

    (ustifica a inevitabilidade da ordem liberal e, com ela, de um "overno representativo

    constitucional, encarre"ado de velar pelos direitos fundamentais dos indivduos.

    ". # $ro%resso como motor da hist&ria: din'mica hist&rica e a $erfectibilidade humana.

    % no#o de perfectibilidade do ser humano deve ser abordada antes de entrarmos nos

    direitos fundamentais propriamente ditos, por constituir uma cate"oria central no pensamento

    de Constant.

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    P;a reunio de tais verdades, adotadas por todos os indivduos, e pelo hbito dos

    sacrifcios 0ue essas verdades lhes impAem, se forma uma ra9o e se estabelece

    uma moral comum a todos, cu(os princpios, recebidos sem discusso, no so

    postos em dvida. ;estarte, o indivduo no se v$ mais na necessidade de come#ar

    novamente uma tarefa ( iniciada por outro, antes dele, pois ele parte, no do

    ponto em 0ue seria deixado por sua experi$ncia individual, mas do ponto aonde o

    leva a experi$ncia da associa#oR 4C!DN-%D-, 176H&J658.

    ! melhor modo de comprovar a perfectibilidade humana passava pela compara#o

    das "era#Aes atuais com as pretritas. %s primeiras seriam sempre mais feli9es 0ue as

    anteriores, tanto pelo conhecimento cientfico 0uanto pelo conforto material. Esse

    aperfei#oamento seria contnuo, s se interrompendo na apar$ncia @. E para a0ueles 0ue v$em

    em Constant apenas o terico da bur"uesia, da sociedade de proprietrios, estarrece sua

    afirma#o de 0ue o aperfei#oamento da espcie humana no seria outra coisa seno a sua

    tend$ncia rumo i"ualdade 4C!DN-%D-, 176H&J718, no meramente (urdica, mas material,

    substantiva, a 0ue se che"aria pela mais (usta reparti#o dos bensB 0uando cada homem, por

    seu prprio mrito e virtude, livre de vcios e de i"norMncia, pudesse ser proprietrio e, por

    conse"uinte, intelectualmente independente. %s 0uatro "randes revolu#Aes vividas pela

    humanidade, no seu entender, tendo destrudo sucessivamente a teocracia, a escravido, o

    feudalismo e os privil"ios da aristocracia, eram indcios claros de 0ue a humanidade

    caminharia para o restabelecimento da i"ualdade natural 4?2%D?E, 1771&7H8.-ambm a0ui

    sua coer$ncia notvel, 0uando mais de trinta anos antes ( sustentava, durante a 2evolu#o,

    0ue a idia de i"ualdade (amais poderia ser completamente expulsa do cora#o do homem

    4C!DN-%D-, 1761&1L@8. Do entanto, a mesma cren#a otimista no futuro 0ue o dispensa de

    advo"ar 0ual0uer interven#o do Estado na ordem natural das coisas. Sual0uer interven#o no

    caminho da evolu#o natural, se"undo ele, tenderia a acarretar mais males do 0ue bens. ;adaa sua nature9a estacionria e artificial, o Estado deveria buscar a neutralidade, limitando:se a

    acompanhar a opinio pblica 4C!DN-%D-, 1761&L@G8. % "enealo"ia da i"ualdade, em

    Constant, Pbusca prioritariamente, com o apoio da histria, esclarecer o carter inelutvel do

    presenteB demonstrar 0ue o movimento vem de lon"e, 0ue ele irrepresvel, 0ue no h outra

    alternativa seno submeter:se a eleR 4?%=C*E-, 176H&G8. !ra, neste caso, para 0ue intervir,

    0uando o simples a"uardo do desenlace natural da histria traria essa i"ualdadeT Sue cada

    con0uista fosse deixada, portanto, ao seu tempo. Ne a i"ualdade (urdica e as liberdades

    @ Constant ampara esta tese no fato de 0ue os ideais liberais, apesar de toda a convulso havida durante a2evolu#o, haviam ressur"ido com a mesma for#a 0uando da derrota de 'onaparte.

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    individuais ainda estavam por ser aperfei#oadas e consolidadas, no haveria por0ue nos

    estendermos em elucubra#Aes 0ue teriam seu lu"ar, no ho(e, mas amanh. Do nos

    ocupemos disso, di9 Constant& Pa cada sculo basta o seu trabalhoR 4C!DN-%D-, 176H&J@@8.

    (. Anti%os e modernos: o anacronismo em mat)ria $ol*tica.

    Compreendido, portanto, o ideal de perfectibilidade humana inserido num 0uadro de

    dinMmica histrica de movimento irrefrevel rumo i"ualdade, em 0ue o referencial poltico

    o devir e no um contrato social passado, 0ue salva"uardasse o perdido estado de nature9a

    4K%DED-, 1775&16@8, sur"e ento outra no#o, a de anacronismo, 0ue determinar a maiorparte de suas posi#Aes polticas relativas aos direitos individuais. Ne"undo Constant,

    representando uma etapa diferente e superior anterior pelo esclarecimento pro"ressivo da

    opinio pblica, cada poca exi"iria institui#Aes polticas flexveis e ade0uadas 0ue

    acompanhassem essa evolu#o da sociedade. % arte finria da poltica consistiria em eri"ir

    um arcabou#o institucional slido o bastante para "arantir a estabilidade do Estado liberal e,

    ao mesmo tempo, flexvel o suficiente para permitir a esse Estado os meios de operar

    pe0uenas e paulatinas transforma#Aes em seu interior, de modo a acompanhar pari passoastransforma#Aes sociais. Essa concep#o des0ualificava simultaneamente todas as tentativas

    (acobinas ou aristocrticas de ressuscitar modelos polticos, fossem eles inspirados na

    %nti"Oidade Clssica 42ousseau, Kabl), 2obespierre8 ou no absolutismo monr0uico de

    inspira#o reli"iosa 4'onald, de Kaistre8. E isto, no exatamente por0ue fossem esses

    modelos bons ou ruins em si. Eles podem mesmo ter sido teis em seus temposB entretanto,

    eles estavam em descompasso com a nossa poca, face ao est"io atual de desenvolvimento

    do homem. !u se(a, tornaram:se anacrnicos e por isso so absolutamente imprestveis. !si"nificado prtico e a importMncia poltica da no#o de anacronismo se aclaram 0uando, em

    sua obrara!mentos de uma obra abandonada sobre a possibilidade de uma constitui"o

    republicana num pas de !randes dimenses416H@8, Constant promove uma discusso sobre

    o sistema representativo, atacado pela direita e pela es0uerda. % direita preferia a

    hereditariedade sobre a elei#o, sob o ar"umento de 0ue do sufr"io saam somente

    dema"o"os e medocres. % es0uerda reclamava para a sociedade uma soberania 0ue deveria

    ser exercida diretamente por todos os cidados, 0uer di9er, onde ela no poderia ser

    representada.

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    Comecemos pela direita. Constant descarta a hereditariedade ar"umentando 0ue, em

    sua modalidade anti"a, ela teria sido o fruto da superioridade moral de determinados membros

    do corpo social, decorrente do mritoB no entanto, a hereditariedade moderna estaria fundada

    num suposto direito de con0uista de al"uns povos por outros, decorrente de invasAes

    ocorridas durante a %lta Idade Kdia. !ra, baseado na for#a nua e crua, o direito de con0uista

    no era direito, eis 0ue no havendo moral 0ue o (ustificasse 4C!DN-%D-, 176H&1@78. %

    hereditariedade moderna teria se revestido historicamente de tr$s formas& a feudal, existente

    antes do absolutismoB a honorfica, mero adorno social : condi#o poltica a 0ue teria sido

    redu9ida a aristocracia francesa depois de esma"ada pelos "overnos de 2ichelieu e de us

    I/ :B e por ltimo, a ma"istrada, tpica da Constitui#o da In"laterra. , a CMmara dos

    ordes serviria como poder moderador, arbitrando conflitos entre o povo e o rei. % despeitode sua relativa inutilidade, no deveria a nobre9a honorfica ser confundida com a feudal, esta

    sim detestvel. % nobre9a honorfica ainda seria til& dada a tend$ncia Pmontes0uianaR do

    poder ao absolutismo, a aristocracia tenderia a lutar contra a reale9a, levando o rei a buscar no

    povo um aliado. Essa dinMmica concorreria para a conten#o recproca dos poderes e,

    conse0Oentemente, para asse"urar a liberdade individual.

    Entretanto U e a0ui come#am as diferen#as entre Constant e Kontes0uieu : a

    hereditariedade de uma classe no conteria, em si mesma, benefcio de nenhuma ordem.

    Kesmo o nvel de esclarecimento alcan#ado pela nobre9a, em parte convertida ao credo

    iluminista, no proviria da hereditariedade, mas da independ$ncia material 0ue sua ri0ue9a lhe

    proporcionava. !s defensores da hereditariedade redar"Oiam 0ue hereditariedade conteria um

    elemento moral capa9 de brecar as ambi#Aes dos partidos, representando um ponto de "arantia

    do interesse pblico no sistema poltico& como 0ueria Kontes0uieu, a nobre9a consistia num

    espa#o neutro no interior de um "overno destitudo de poder neutro 4C!DN-%D-, 176H&1168.

    Constant, por sua ve9, contestava o ar"umento, afirmando 0ue Kontes0uieu apresentava ahereditariedade, no como boa em si mesma, mas como um remdio aos males inerentes

    institui#o da monar0uia e da aristocracia atravs da usurpa#o e da con0uista pelos brbaros,

    durante a Idade Kdia. %ssim, a hereditariedade s teria serventia numa monar0uia 0ue

    tendesse ao absolutismoB desde 0ue se pretendesse implantar uma repblica, a hereditariedade

    perdia sua ra9o de ser. V a concep#o da histria como pro"resso 0ue torna leva Constant a

    re(eitar o resduo republicano, presente em Kontes0uieu e 2ousseau, de 0ue as institui#Aes

    polticas deveriam restabelecer a Ppure9a de costumesR.

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    0ue deveria se comportar conforme a forma de "overno preestabelecidaB cabia a esta ltima,

    isto sim, acompanhar as mudan#as sociais e histricas da sociedade.

    PSuerer restabelecer tais institui#Aes, na0uilo 0ue se chama de sua pure9a

    primitiva, seria, portanto, um "rande erroB pois essa pure9a consistiria

    precisamente no 0ue h de mais oposto s idias contemporMneas e a mais prpria

    a produ9ir malefcios 4Q8. Eles ima"inam 0ue por0ue elas #as instituies$

    de"eneraram. V o contrrio& as institui#Aes continuaram as mesmas e as idias

    mudaramR 4C!DN-%D-, 176H&@J18.

    ;onde Constant conclui ser a hereditariedade completamente superada e anacrnica

    como critrio poltico para a escolha de diri"entes. ! mesmo raciocnio lhe serve parades0ualificar a es0uerda e, especialmente, a teoria poltica de 2ousseau, 0ue inadmitia a tese

    do "overno representativo. Dessa misso, Constant ir retomar e desenvolver, de modo

    ma"istral, o ar"umento de Kontes0uieu sobre o anacronismo da repblica democrtica como

    modelo de "overno moderno. ;ir ele 0ue o modelo de liberdade dos (acobinos, na ima"em

    da cidade virtuosa de 2ousseauB a salva#o pblicaB a participa#o poltica direta e

    permanente dos cidados no res"uardo da coisa comumB a vontade "eral como expresso de

    uma soberania popular ilimitada e irrepresentvel : tudo isto era inspirado num modelo de

    cidade anti"a onde vi"oravam condi#Aes sociais, polticas e econmicas em tudo diversas das

    atuais. %s comunidades se or"ani9avam ento em Estados pe0uenos, sempre em "uerra uns

    com os outros. Esse estado de belicismo permanente exi"ia dos cidados o sacrifcio de suas

    vidas particulares em prol da vida comunal, da vida poltica. %s conse0O$ncias seriam&

    primeiro, a escravido, 0ue deveria prover necessidade de trabalho bra#al, a 0ue os cidados

    no poderiam se submeter pela exa"erada demanda polticaB se"undo, a aus$ncia de comrcio

    livre, 0ue s poderia se desenvolver num 0uadro de pa9 internacional. Esta aus$ncia de

    trabalho livre e de pa9 importava numa redu#o drstica da autonomia da esfera privada, tal

    como ho(e os conheceramos.

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    fatores fa9iam com 0ue, embora o povo participasse diretamente das decisAes polticas, os

    indivduos no possussem direitos intimidade. Do havia a no#o de esfera privada, a 0ue

    corresponderiam os direitos civis. Do havia individualidade com direitosB no havia

    liberdades ne"ativas. -udo era esfera pblica. *o(e, sendo muito mais extensos e populosos

    os Estados, a importMncia poltica individual de cada 0ual teria se diludo por inteiroB a

    aus$ncia de "uerras continuadas e da escravido desviara os homens para a a"ricultura, o

    comrcio e a indstria, atividades privadas 0ue os manteriam permanentemente ocupados.

    ;este modo, a felicidade atualmente dependeria muito mais das rela#Aes travadas

    individualmente no plano privado do 0ue no pblico. % liberdade privada seria ho(e condi#o

    sine %ua nonpara a forma#o da sociedade civil, no fa9endo mais sentido exi"ir de nin"um

    o sacrifcio da independ$ncia pessoal para estabelecer a liberdade poltica. Dem haveria por0ue fa9$:lo& as repblicas anti"as eram arbitrrias, exilando e banindo, sufocando a

    individualidade. % liberdade moderna no era, assim, a participa#o poltica e constante dos

    cidados, mas o exerccio pacfico da independ$ncia privada.

    PDo somos persas, submissos a um dspota, nem e"pcios, sub(u"ados por

    sacerdotes, nem "auleses, 0ue podem ser sacrificados por druidas, nem enfim

    "re"os ou romanos, cu(a participa#o na autoridade social os consolava da

    servido privada. Nomos modernos 0ue 0ueremos desfrutar, cada 0ual, de nossos

    direitosB desenvolver nossas faculdades como bem entendermos, sem pre(udicar a

    nin"umB vi"iar o desenvolvimento dessas faculdades nas crian#as 0ue a nature9a

    confia nossa afei#o, to esclarecida 0uanto forte, no necessitando da

    autoridade a no ser para obter dela os meios "erais de instru#o 0ue pode reunirB

    como os via(antes aceitam dela os lon"os caminhos, sem serem diri"idos na

    estrada 0ue dese(am se"uirR 4C!DN-%D-, 176J&@H8.

    %ssim, o exerccio do poder pelos (acobinos durante a 2evolu#o 3rancesa no teria

    sido outra coisa 0ue uma tentativa de res"ate do ideal da repblica anti"a, 0ue redundara em

    despotismo, terror e desrespeito aos direitos individuais 4K%DED-, 1775&17@8. !ra, os

    tempos atuais, com suas especificidades sociais, econmicas e polticas, re0uereriam outra

    sorte de institui#Aes, 0ue lhes fossem ade0uadas e compatveis. % poltica deveria "arantir os

    direitos fundamentais do homem, a fim de 0ue este pudesse se dedicar a seus afa9eres

    particulares, participando dos assuntos do Estado por meio da escolha de representantes. %

    finalidade dos direitos polticos seria 0uase unicamente a de asse"urar o "o9o dos direitos

    civis, referentes intimidade, esfera privada, aos ne"cios particulares, ao comrcio. %

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    modernidade, portanto, re0ueria o sistema representativo e eletivo, no apenas por

    conveni$ncia social, mas tambm por sua utilidade dentro do modelo econmico

    4ean:>ac0ues 2ousseau (ustificavam o carter absoluto da soberania

    como meio de "arantir o prprio fim do Estado, cu(a estrutura de poder deveria se

    caracteri9ar pela supremacia completa de um determinado ator poltico. Este ator, encarnando

    a coletividade, possuiria assim o "rau de for#a indispensvel manuten#o dos liames sociais

    e, conse0Oentemente, da pa9 interna corporis, contra as amea#as representadas pelos

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    interesses individualistas desa"re"adores. %mbos contratualistas, *obbes e 2ousseau

    compartilhavam uma viso pessimista da nature9a humana, 0ue os levava a enxer"ar no

    homem uma tend$ncia natural e irrefrevel ao particularismo. Essa aus$ncia de preocupa#o

    com o interesse pblico era o "erme 0ue condu9iria por fim desconstitui#o do corpo social.

    Era por esse motivo 0ue o contrato social, na transi#o do estado de nature9a para o estado

    social ou poltico, deveria se caracteri9ar pela renncia completa de seus direitos naturais por

    todos os indivduos, cu(as faculdades de le"islar, executar e (ul"ar deveriam ser transferidas e

    depositadas nas mos do soberano. W medida 0ue lhe era concedido sem reservas, este poder

    era e precisava ser necessariamente absoluto& 0uais0uer outros arran(os referentes

    concentra#o do poder implicariam a mdio ou lon"o pra9o na desconstitui#o e destrui#o

    do Estado social e no conse0Oente retorno ao estado de nature9a. % antropolo"ia dessesautores to ne"ativa, 0ue mesmo depois do pacto social os homens deveriam ser reeducados

    pelo Estado para ad0uirirem esprito pblico. % tarefa de reeducar o povo ou os Pmaus

    sditosR, para *obbes, no seria das mais difceis& professorando a ra9o e o domnio das

    paixAes, os populares podem por ele ser modelados da forma como 0uiser. %pesar de

    passionais, suas personalidades so id$nticas a Ppapel em branco, pronto para receber o 0ue

    0uer 0ue a autoridade pblica 0ueira nelas imprimirR 4*!''EN, 177G&@8. %o discorrer

    sobre a tarefa ideal do e"islador, 2ousseau, por sua ve9, enuncia 0ue Pa0uele 0ue ousaempreender a institui#o de um povo deve sentir:se com capacidade para, por assim di9er,

    mudar a nature9a humana, transformar cada indivduo, 0ue por si mesmo um todo perfeito e

    solitrio, em parte de um todo maiorB alterar a constitui#o do homem para fortific:laB

    substituir a exist$ncia fsica e independente, 0ue todos ns recebemos da nature9a, por uma

    exist$ncia parcial e moralR 42!=NNE%=, 1775&11H8.

    ;e mesmo modo, a prem$ncia de eri"ir um poder incontrastvel e diretamente "erido

    pelo soberano implica, nos dois autores, na necessidade de combater ou neutrali9ar a0uilo0ue Kontes0uieu denomina de corpos ou poderes intermedirios, isto , associa#Aes e

    indivduos com determinado interesse comum, constitudas fora do Mmbito estatal

    4K!D-ENS=IE=, 1775&JG8.

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    1@

    de *obbes, 2ousseau inadmite a possibilidade de representa#o poltica 42!=NNE%=,

    1775&6G8.

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    1

    ?arantir a liberdade era mais importante 0ue proclama#Aes de princpios& P! reconhecimento

    abstrato da soberania popular no aumenta em nada a soma das liberdades individuaisB e se

    atribumos a esta soberania um alcance 0ue ela no deve ter, a liberdade pode ser perdida, a

    despeito deste princpio, ou por causa mesmo deste princpioR 4C!DN-%D-, 176H&@5H8.

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    1L

    estado de nature9aB 0ue nin"um tem um poder absoluto e arbitrrio sobre si mesmo ou sobre

    outrem para tirar:se a vida ou tir:la de 0uem 0uer 0ue se(a, apenas che"ando seu poder

    aonde as leis naturais o permitissem para a conserva#o individual e coletiva 4!CYE,

    17J@&JL8.

    PDenhuma autoridade sobre a terra ilimitada, nem a0uela do povo, nem a0uela

    dos homens, 0ue se di9em seus representantesB nem a0uela dos reis, a 0ual0uer

    ttulo 0ue reinemB nem a0uela da lei 0ue, no sendo seno a expresso da vontade

    do povo ou do prncipe, se"uindo a forma do "overno, deve estar circunscrita aos

    mesmos limites 0ue a autoridade 0ue dela emana. !s cidados possuem direitos

    individuais independentemente de 0ual0uer autoridade social ou poltica, e

    0ual0uer autoridade 0ue viola esses direitos se torna ile"tima. !s direitos dos

    cidados so a liberdade individual, a liberdade reli"iosa, a liberdade de opinio,

    0ue compreendem a publicidade, o "o9o da propriedade, a "arantia contra todo

    arbtrio. %utoridade nenhuma pode atentar contra tais direitos, sem fa9er em

    peda#os o seu prprio ttuloR 4C!DN-%D-, 176H&@5J8..

    Neria assim doutrinariamente falso 0ue a soberania, popular ou no, pudesse ser

    absoluta e, como tal, ilimitada. %o contrrio do 0ue pensavam *obbes e 2ousseau, 0ue

    remetiam a um dese(o de fundir Estado e sociedade como forma de atenuar a dicotomia,

    Constant procurava separ:los para fortalecer a0uela ltima. Suando declara 0ue o Contrato

    'ocialde 2ousseau servia de pretexto a todas as espcies de tirania de fundo populista ao

    sustentar a irrepresentabilidade da vontade "eral, Constant tocava num ponto nodal da

    constru#o poltica da0uele autor& a aus$ncia de mecanismos efica9es de fiscali9a#o do

    poder. % limita#o da soberania, demarcando as fronteiras derradeiras da autoridade social,

    res"uarda assim a esfera onde sero exercidos os direitos individuais, 0ue, conforme (

    enunciado, so, para Constant, a ra9o ltima da exist$ncia do Estado. E se a soberania tem

    limites, tambm os teria a lei. Isto si"nifica 0ue os procedimentos le"ais "erais no podem ser

    violados ou modificados para atin"ir um cidado em especial. Suanto misso 0ue o

    pensador franc$s acreditava caber educa#o, tambm diferia muito de 2ousseau e *obbes,

    como veremos.

    . # re%ime das liberdades: no reino dos direitos fundamentais.

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    1J

    %o refutar o utilitarismo de 'entham, 0ue ne"ava a exist$ncia de direitos naturais,

    inalterveis e imprescritveis, Constant toma posi#Aes bastante elucidativas sobre sua prpria

    convic#o a esse respeito. 'entham acusa os (usnaturalistas de serem va"os e imprecisos

    0uanto concep#o do 0ue se(a direito natural, cu(o conceito variaria ao sabor do propsito de

    seus autores. !ra, ar"umentava Constant, a no#o de utilidade tambm era va"a, com o

    a"ravante de ser mais peri"osa do 0ue a (usnaturalista, por conta de seus fundamentos

    relativistas e particularistas. ;esde 0ue se descarta a cate"oria do contrato social em prol de

    uma mensura#o casustica da utilidade e do pra9er das a#Aes humanas, o carter absoluto dos

    direitos se perderia e com ele, um dos mais poderosos bastiAes contra o despotismo. %o atacar

    o (usnaturalismo em prol de uma nova fundamenta#o para direitos, 'entham teria prestado

    um desservi#o causa liberal& PSuerer submeter o direito utilidade, 0uerer submeter asre"ras eternas da aritmtica aos nossos interesses cotidianosR 4C!DN-%D-, 176H&L8. Deste

    ponto Constant filia:se ao liberalismo loceano, 0uando sustenta 0ue Pos indivduos possuem

    direitos e 0ue estes direitos independem da autoridade social, 0ue no podem contra eles

    atentar sem 0ue se tornem culpados de usurpa#o. Deste sentido, tratamos da autoridade como

    do imposto& cada indivduo consente em sacrificar uma parte de sua fortuna para subvencionar

    as despesas pblicas, cu(a finalidade a de lhe asse"urar o "o9o pacfico da restante 0ue ele

    conserva. 4...8. ;a mesma forma, cada indivduo consente em sacrificar uma parte de sualiberdade para asse"urar o restante delaB mas se a autoridade invadisse toda a sua liberdade, o

    sacrifcio seria em voR 4C!DN-%D-, 176H&LL8.

    -ambm o direito insurrei#o de oce adotado por Constant, mesmo 0ue em

    lin"ua(ar mais comedido& os cidados no devem obedi$ncia seno s leis dela emanadas da

    autoridade le"tima e competente. !bservar a lei um dever, mas, en0uanto os direitos

    individuais so absolutos, os deveres dos cidados frente ao Estado so relativos. !s homens

    devem fa9er uso de sua ra9o, no apenas para conhecer os caracteres das autoridadespblicas, mas para (ul"ar atos delas, donde resulta a necessidade de examinar tanto o

    contedo como a fonte de onde emana a lei. Daturalmente, ressalva o autor, o direito

    desobedi$ncia tambm no pode ser levado ao paroxismo, devendo:se transi"ir somente com

    as leis 0ue, ruins, no che"uem s raias do intolervel. %s leis in0uas, isto , atos arbitrrios

    0ue somente se revestem do nome de lei, sem s$:lo em realidade, em ra9o de sua

    ile"itimidade, poderiam ser reconhecidas da se"uinte forma& 1. Do observam o princpio da

    irretroatividade das normas, abolindo a se"uran#a (urdicaB @.

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    1G

    dennciaB . De"am o princpio da i"ualdade formal entre os cidados, tratando "rupos sociais

    ou indivduos de modo diferente dos demais.

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    institui#Aes, exercendo a censura e perse"uindo autores de libelos oposicionistas ou 0ue

    professassem doutrinas reputadas pre(udiciais ao Estado. Ne"undo Constant, a experi$ncia

    teria demonstrado 0ue cercear a liberdade de expresso acarretaria, ao contrrio do 0ue se

    poderia ima"inar, mais malefcios do 0ue benefcios, por0ue chamariam a aten#o para a

    oposi#o perse"uida e suas idias contrrias ao "overno institudo. Cercear e atentar contra a

    liberdade de expresso e, por conse"uinte, de imprensa, desencadearia a decad$ncia da

    0ualidade dos escritos& as publica#Aes teriam de se a(ustar a uma frmula a"radvel ao

    "overno, resultando em obras medocres e ba(uladoras. Cientes de 0ue teriam de publicar s

    escondidas, os oposicionistas lan#ariam mo de uma retrica explosiva, bombstica, baixando

    tambm a 0ualidade do debate pblico. % censura e a perse"ui#o incitavam ao dio social e

    in0uietude pblica, ao invs de preservar a pa9. =ma situa#o como esta, retroalimentada,en"endraria uma verdadeira indstria dos escMndalos e das fofocas& no haveria libelo9inho

    oposicionista 0ue no repercutisse (unto opinio pblica, o 0ue acabaria por supervalori9:

    lo, no em ra9o de seu contedo, mas pelas circunstMncias clandestinas por 0ue teria vindo

    lu9. Da liberdade de imprensa, ao contrrio, Ptudo se en0uadraria na ordem com a0uela

    indiferen#a 0ue as comunica#Aes sociais, e por conse0O$ncia o aperfei#oamento de todas as

    artes, a retifica#o de todas as idias, teriam conservado um instrumento a mais 4Q8. V 0ue a

    liberdade espraia calma na alma, ra9o no esprito dos homens 0ue "o9am sem in0uieta#odeste bem inestimvelR 4C!DN-%D-, 176H&L5J8.

    %demais, com seu carter de publicidade, a liberdade de imprensa desempenharia um

    papel fundamental na manuten#o das institui#Aes liberais e, portanto, na preserva#o da

    liberdade. % liberdade de escritos era 0uem melhor poderia, pela amplitude de seu alcance,

    denunciar as ini0Oidades, as viola#Aes procedimentais, os des"overnos, viabili9ando a

    mobili9a#o da opinio pblica face aos "overnantes, servindo de "arantia a todos os outros

    direitos fundamentais, cu(a exist$ncia poderia peri"ar, caso no houvesse um meio de alertar asociedade com relativa preste9a. % imprensa tinha por papel espelhar a opinio pblica,

    reprodu9ir as idias correntes no seio da sociedade, para servir de bssola ao bom "overno, e

    de palmatria, ao mau. % liberdade de imprensa, neste pormenor, seria til ao prprio Estado,

    ( 0ue, sem publicidade, no haveria como o prprio poder controlar os atos de seus

    subalternos. P% liberdade de imprensa remedia esses dois inconvenientesB ela esclarece a

    autoridade 0uando ela se e0uivoca, e mais ainda, ela a impede de voluntariamente fechar seus

    olhosR 4C!DN-%D-, 1775&L558. Suanto aos crimes cometidos pelo (ornalismo, habituaispretextos para amorda#:la, a nica forma de ade0uadamente (ul":los, sem violar a liberdade

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    de opinio, seria atravs do (ri. Como veremos mais adiante, dos (urados no se pediria

    ci$ncia, mas bom sensoB eles deveriam refletir melhor o sentimento pblico do 0ue um (ui9

    to"ado, nomeado pelo "overno 4C!DN-%D-, 1775&L178. %s leis de imprensa, prescrevendo

    penas moderadas, deveriam tipificar claramente os atos ilcitos, impedindo o "overno de se

    valer da ambi"Oidade ou latitude do texto le"al para promover vin"an#as e os rus culpados

    de escapassem impunes. % imprensa s tem liberdade na medida de sua responsabilidade

    perante a opinio pblica 4C!DN-%D-, 1775&L568.

    ,iberdade reli%iosa. -alve9 no ha(a na teoria de direitos individuais de 'en(amin

    Constant direito onde se recomende mais latitude de liberdade do 0ue em matria eclesistica.

    Din"um poderia, por ra9Aes de Estado, ser compelido a adotar determinada reli"io. Ne os

    cidados cumprem seus deveres e exercem re"ularmente seus direitos, no podem ser

    molestados. -ambm a0ui, como se v$, Constant filia:se a tolerMncia de oce, contra a

    tradi#o hobbesiana& PDo a diversidade de opiniAes 4o 0ue no pode ser evitado8, mas a

    recusa de tolerMncia para com os 0ue t$m opinio diversa, o 0ue deu ori"em maioria das

    disputas e "uerras 0ue se t$m manifestado no mundo cristo por causa da reli"ioR 4!CYE,

    175&8. ;e fato, a inteira e absoluta liberdade de culto 0ue previne a sociedade de "uerras

    intestinas ou dios. % liberdade de culto favoreceria a pa9 social, ao invs de amea#:la.

    Constant condena veementemente, se(a o banimento da reli"io por motivos de fundo atesta,

    se(a a instrumentali9a#o poltica da reli"io com o fim de controlar o povo, "arantir a

    estabilidade do "overno e a observMncia da lei. 2eli"io seria somente reli"io, e nada mais.

    -anto ricos como pobres, "overnantes e "overnados, precisariam dela, cu(o fim no poderia

    ser outro 0ue servir de a"ente colaborador do en"randecimento moral e espiritual do

    indivduo.

    ;iante dos confiscos s propriedades reli"iosas ocorridas no decorrer da 2evolu#o,

    bem como a proscri#o do catolicismo em prol do culto pa"o da racionalidade, Constant

    afirma 0ue, devendo o homem arcar com tamanhas dores e sofrimentos no decorrer de sua

    exist$ncia, seria absolutamente indispensvel o papel da reli"io no consolo desses

    infortnios. Neria o credo 0ue, nos confortando das a"ruras, favoreceria no homem o

    desenvolvimento da moralidade, da perfectibilidade, da sociabilidade, incitando ao auto:

    sacrifcio e combatendo o particularismo nocivo. Nente:se bem a0ui a pena do escritor

    romMntico, na0uilo 0ue poderamos denominar de reli!iosidade est(tica&

    !u se(a, re(eita ao mesmo tempo o radicalismo (acobino, como prpria proposi#o de Kontes0uieu presente noEsprito das Leis, 0uando v$ na reli"io um refor#o necssrio a 0ue deve o prnicpe recorrer para "arantir aobservMncia da lei por parte das classes populares 4N-%2!'INDYI, 177H&7J8.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    17

    PCom efeito, existe na contempla#o do belo, em todo o "$nero, 0ual0uer coisa

    0ue se destaca de ns mesmos, 0ue nos fa9 sentir 0ue a perfei#o vale mais 0ue

    nsB esta convic#o, nos inspirando um desinteresse momentMneo, desperta em

    ns a pot$ncia do sacrifcio, 0ue a fonte de toda virtude. * na emo#o, se(a 0ual

    for sua causa, al"uma coisa 0ue fa9 circular nosso san"ue mais rapidamente, 0ue

    ocasiona uma espcie de bem:estar, 0ue duplica o sentimento de nossa exist$ncia

    e nossas for#as, e 0ue, por seu intermdio, nos inclina a uma "enerosidade, uma

    cora"em, uma simpatia acima de nossa disposi#o habitual. ! prprio homem

    corrompido melhor 0uando est emocionado, o 0ue dura en0uanto ele

    permanece emocionadoR 4C!DN-%D-, 177H&7J8.

    Do 0ue a aus$ncia de sentimentos reli"iosos indicasse a amoralidade de um homem.

    *averia "randes homens de esprito, destitudos de semelhantes sentimentos. Do entanto,

    0uando se tratasse de homens vul"ares, a sim a falta de sentimento reli"ioso seria indicativa

    de indivduos baixos. ! mundanismo, em "randes homens, no acarretaria males, mas tal

    caracterstica seria de lamentar:se em todo um povo. W exce#o de uma ascenso moral mais

    va"arosa, Constant no atribui conse0O$ncias polticas ruinosas a um povo pouco reli"ioso.

    %0ui fala mais alto o artista romMntico 0ue o estadista& P% reli"io (a9 no fundo de todas as

    coisas. -udo o 0ue belo, tudo 0ue ntimo, tudo 0ue nobre, participa da reli"ioR

    4C!DN-%D-, 176H&7J8. Ne o autor, por um lado, recomenda a liberdade de credo, isto , a

    no:interven#o do Estado na escolha de suas respectivas reli"iAes pelos cidados, ou na

    prtica de seus cultos, Constant tambm recomenda 0ue, internamente, a estrutura das i"re(as

    se(a tolerante e pluralista. % resist$ncia 0ue muitos homens teriam a determinadas doutrinas

    no decorrer dos sculos ter:se:ia dado, no devido s doutrinas em si, mas ao mtodo

    arbitrrio, tirMnico, impositivo da cate0uese, de coopta#o dos fiis 0ue, com o auxlio do

    Estado, redundava em mortes e perse"ui#Aes. Encapsular o Estado em benefcio de uma seitasi"nificaria pr a defesa do culto nas mos de "ente sem f, 0ue desserviria a reli"io. N a

    tolerMncia possibilitaria a prtica sincera de um culto, sem hipocrisia, pois o crente estaria

    livre para escolher a reli"io 0ue lhe tocasse os afetos, elevando:o moralmente sem

    constri#Aes. PNe houvesse apenas uma reli"io verdadeira, uma nica via para o cuR, oce

    ar"umentava, P0ue esperan#a haveria 0ue a maioria dos homens a alcan#asse, se os mortais

    fossem obri"ados a aceitarem as doutrinas impostas pelo prncipe, e cultuar ;eus na maneira

    formulada pelas leis de seu pasTR 4!CYE, 175&1@8.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    @H

    V por essa ra9o 0ue, como em tantos domnios, tambm a0ui a interven#o do Estado

    era um mal 0ue cumpria evitar. ;eixando as seitas livres para professarem suas doutrinas, os

    "overnantes no teriam aborrecimento. ! pluralismo em matria de credo, antes de ser um

    complicador, era excelente para o poder temporal& 0uanto mais numerosas as seitas, tanto

    mais se neutrali9ariam e se anulariam como poder poltico, na 0ualidade de corpos

    intermedirios, favorecendo a liberdade. Isso no ocorreria no predomnio de uma nica

    i"re(a, 0ue seria forte o bastante para interferir na vida poltica de um pas. ! pluralismo

    tambm colaborava para o en"randecimento moral do homem na medida em 0ue, ao nascer,

    as seitas tenderiam a diferenciarem:se umas das outras pela ado#o de um sistema moral mais

    escrupuloso e, portanto, mais corretivo dos vcios terrenos.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    @1

    duca!o. % posi#o 0ue ocupada pela educa#o no pensamento de Constant no

    pode ser considerada secundria. Considerada a no#o de perfectibilidade a espinha dorsal de

    sua filosofia, a instru#o se torna a forma encontrada pela comunidade para transmitir s

    "era#Aes vindouras o conhecimento ad0uirido pela experi$ncia, pelas novas descobertas, pelas

    novas inven#Aes e artes.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    @@

    As %arantias judici/rias. %s "arantias a 0ue se refere Constant so a independ$ncia

    do poder (udicirio, a inamovibilidade dos (u9es, o (ul"amento pelo (ri, o devido processo

    le"al e o direito de "ra#a. Contra a opinio de 0ue os institutos experimentados durante a

    2evolu#o haviam se mostrado falhos e, por isso, eles deveriam ser abandonados, o autor

    respondia 0ue vrios deles no tinham funcionado, no por0ue fossem ruins, mas por0ue

    haviam sido aplicados 0uando a aus$ncia de liberdade era manifesta, 0uando necessitavam de

    um mnimo de tempo para ad0uirir funcionamento re"ular. !s tribunais, por esse tempo, no

    haviam funcionado livrementeB prevaleciam as influ$ncias dos poderosos e das in(un#Aes

    polticasB os poderes no eram perfeitamente divididos. -udo isso repercutia na 0ualidade dos

    (ul"ados. ! remdio preconi9ado por Constant simples& (ul"amento pelo (ri, publicidade

    dos atos processuais e procedimentais e leis penais severas contra (u9es prevaricadores.

    % despeito de sua nulidade do ponto de vista poltico, o >udicirio era politicamente

    relevante, Constant ale"ava, por0ue a ele competia "arantir os direitos dos (urisdicionados

    contra os "overnantes.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    @

    a prpria opinio pblica nacionalB alm disso, a prtica re"ular do instituto necessariamente

    haveria de melhor:lo no curso do tempo. Ne ele ainda no havia funcionado a contento,

    por0ue suas "arantias individuais e institucionais ainda no eram devidamente respeitadas. !

    0ue se pediria do (urado, no eram lon"os e doutos pareceres sobre o caso submetido sua

    aprecia#o, mas bom senso, simplesmente, 0ue bastaria aplica#o das leis ra9oveis, com o

    abandono das arbitrrias 4C!DN-%D-, 176H&L178. Da 0ualidade de proprietrios,

    preocupados com a manuten#o da ordem social, os (urados no "uardariam 0ual0uer

    interesse na impunidade dos culpados. % observMncia do devido processo le"al, pblico,

    estrito, isonmico e r"ido, constituiria por si prpria uma "arantia de (ul"amento imparcial.

    Incompreenso semelhante se dava no 0ue se refere ao direito de "ra#a, isto , de criar uma

    exce#o no direito processual penal re"ra da coisa (ul"ada, atribudo ao chefe do Estadocomo compet$ncia do poder neutro.

  • 7/26/2019 As Liberdades Dos Modernos Benjamin Cons

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    @L

    pontos 0ue so capitais para Constant& primeiro, a preserva#o, a 0ual0uer custo, dos

    procedimentos (udiciais impessoaisB se"undo, a aboli#o da tortura como meio de obten#o da

    verdade pela confisso do acusado ou de penalidade a ser aplicada antes da execu#oB

    terceiro, a restri#o da pena de morte a casos muito especiais e definidosB 0uarto, a

    humani9a#o das prisAesB 0uinto, a proibi#o da pena de "als, isto , de trabalhos for#ados,

    0ue i"ualaria o preso ao escravoB por fim, o elo"io da pena de deporta#o.

    % limita#o da soberania popular, res"uardando a esfera de privacidade do indivduo,

    "arantiria o devido processo le"al, pela impossibilidade de se violarem os procedimentos

    (udiciais preestabelecidos. > a tortura era uma atrocidade 0ue perverteria os costumes

    pblicos, contrria idia de compaixo e moralidade. Neria prefervel a execu#o do

    condenado, de forma simples e sem sofrimento. Constant no contrrio pena de morte,

    mas acredita 0ue sua incid$ncia deve ser redu9ida aos crimes hediondos cometidos

    presumidamente contra toda a sociedade e 0ue pressuponham a incorri"ibilidade do a"ente,

    como o homicdio doloso, o envenenamento e o inc$ndio criminoso. %bsurdo seria fa9er

    incidir a pena capital sobre crimes polticos ou crimes de propriedade, ( 0ue, como vimos, a

    viola#o da propriedade viola, no o direito natural, mas as conven#Aes sociais 0ue a

    instituram. % deten#o, aparentemente a mais natural e simples das penas, acarretaria a

    de"rada#o moral do homem, por0ue o privava de seu bem supremo, 0ue era a liberdadeB

    assim, era a penalidade da 0ue mais se abusava, convertida numa tortura lenta, de

    depend$ncia e su(ei#o ao Estado. Como no era possvel substitu:la por outra, era necessrio

    asse"urar condi#Aes mnimas de humanidade nos estabelecimentos carcerrios, proibindo:se

    as solitrias e no privando o preso do contato com sua famlia. !s cidados no deveriam

    deixar os condenados nas mos dos carcereiros, devendo formar comissAes 0ue fiscali9assem

    os crceres e velar para 0ue no se tornassem depsitos de "ente. > a priso perptua era uma

    alternativa prefervel pena de morte, at por conta da possibilidade de 0ue o condenadoviesse um dia a ser a"raciado com o perdo. Kas a melhor pena de todas era a deporta#o.

    Comentando 0ue a maior parte dos delitos era causada pela insociabilidade dos delin0Oentes

    s institui#Aes, a"ravada pela i"norMncia, Constant citava uma penitenciria in"lesa na

    %ustrlia como exemplo da capacidade ressociali9adora da deporta#o, 0uando comparada a

    outras penas, como a de trabalhos for#ados 4C!DN-%D-, 176H&L678.

    Inviolabilidade do direito de $ro$riedade. %o contrrio dos demais direitos

    individuais, 0ue seriam naturais, o de propriedade seria um direito natural. V um direito

    exclusivamente histrico. % propriedade : e a0ui Constant se separa de oce, e se aproxima

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    @J

    de *obbes 4177G&1@J8 : no anterior ao estabelecimento da sociedade poltica, por0ue s

    poderia ento vi"orar pela for#a, 0ue no uma forma de le"itima#o. V a sociedade

    or"ani9ada, por meio do Estado, 0ue "arante e le"itima a propriedade ao positivar o direito. %

    partir da0ui, o autor volta a aproximar:se de oce. %ssim como, para este ltimo, a

    propriedade deve ser compreendida como uma extenso da prpria exist$ncia individual, para

    Constant a propriedade rural si"nifica conhecimento e independ$ncia intelectualB sua nature9a

    conferiria ao homem a experi$ncia 0ue o habilitaria a participar da sociedade poltica. Ws

    demais espcies de propriedade, como a intelectual e industrial, reservar o sentido apenas

    (urdico. Constant s mudar de opinio sobre a propriedade industrial, reconhecendo:a como

    uma propriedade a 0ue o futuro reserva brilhante futuro, em 1616. % propriedade rural a0uela

    0ue mais oferece benefcios cvicos ao seu dono e ao Estado a 0ue ele pertence, pois "eri:la,mantidas as devidas propor#Aes, e0uivaleria a "overnar um pe0ueno pas. %o cuidar dos

    empre"ados, examinar o tipo de clima e de solo, escolher sementes apropriadas para o plantio,

    arbitrar contendas entre os moradores, ne"ociar a venda da safra, o proprietrio vivenciava na

    prtica o 0ue si"nificava a atividade poltica e a administra#o da coletividade. Suando a

    propriedade ( pertencesse famlia h mais de uma "era#o, cresceria ainda mais a rela#o

    afetiva e pessoal, de amor e estima, entre o dono e a terra. =nindo de forma complexa o

    cidado terra, a propriedade rural constituiria uma escola espontMnea de patriotismo, paraalm das tcnicas de doutrina#o do Estado. % renda obtida pela terra facultaria ao dono o

    tempo preciso matura#o das 0uestAes referentes coletividade, a partir da experi$ncia

    prpria como administrador.

    ! direito de propriedade possui relevMncia central na teoria da dinMmica histrica de

    'en(amin Constant. Kesmo no sendo natural, a propriedade uma espcie de con0uista do

    homem, de parcela inseparvel de seu desenvolvimento histrico para a i"ualdade e pela

    liberdade, 0ue morali9a pelos valores de trabalho e pelo esclarecimento poltico e culturalproporcionado ao proprietrio, 0ualidades essenciais 0uele 0ue dese(asse participar da

    atividade poltica. % fun#o da 2evolu#o havia sido a de estender o poder poltico s classes

    economicamente emer"entes : da a substitui#o do sistema hereditrio, como critrio para

    escolher os inte"rantes do "overno e seus servidores, pelo sistema eletivo 4C!DN-%D-,

    1771&@@J8. *avia sido a paulatina liberdade ad0uirida pelas classes destitudas, dentro da

    estratifica#o feudal, 0ue lhes permitira reor"ani9ar a diviso do trabalho, acumular ri0ue9as,

    ad0uirir propriedades e, com elas, atin"ir um de"rau de esclarecimento at ento privativo dasclasses aristocrticas. % visvel ascenso econmica, social e cultural da bur"uesia no

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    @G

    decorrer do sculo /III, em detrimento da aristocracia, afi"urava:se a Constant como a

    ponta de um processo histrico de multiplica#o e distribui#o da ri0ue9a 0ue naturalmente

    tenderia a nivelar todas as classes at culminar na completa i"ualdade econmica e social da

    espcie. % ntima conexo, portanto, entre difuso social da liberdade e propriedade levava

    Constant a defender a se"unda como elemento essencial do pro"resso material e moral. %bolir

    a propriedade privada importaria condenar o "$nero humano esta"na#o na marcha

    pro"ressiva rumo i"ualdade, verdadeiro e inaceitvel retrocesso social. Deste mesmo

    sentido, vista a conexo ntima existente entre propriedade e liberdade, as viol$ncias

    cometidas contra a primeira apenas prenunciariam as viol$ncias contra a se"unda

    4C!DN-%D-, 176H&558.

    Do Mmbito econmico, as conse0O$ncias da viola#o da propriedade tambm seriam

    ruinosas& embara#ada pela interven#o estatal, a economia no funcionaria ade0uadamente,

    colapsando o sistema pela perda de credibilidade e de confian#a nas re!ras do )o!o* re!ras do

    mercado.

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    @5

    +ban%ueroutes,. Constant adu9 0ue o interesse particular sempre mais 9eloso 0ue o pblico

    e 0ue, mesmo em condi#Aes desvanta(osas, deve o Estado honrar o compromisso assumido a

    fim de 9elar pela observMncia dos contratos e pela normalidade da ordem econmica. %ssim,

    entre o Estado, representante incompetente dos interesses sociais, e o indivduo e"osta, mas

    empreendedor, Constant fica com o ltimo, considerado como mal menor.

    ,iberdade de ind1stria. Como vimos, a primeira impresso de Constant acerca da

    indstria era a de 0ue se tratava de uma forma de propriedade bastante inferior ruralB de fato,

    at 1616 ele no admitia 0ue 0ual0uer outra pudesse i"ualar:lhe na propa"a#o da 0ualidade

    cvica. -odavia, uma ve9 verificada a irreversibilidade do ascendente industrial, por for#a da

    dinMmica histrica, Constant passa a admiti:la em p de i"ualdade com a propriedade

    fundiria. % In"laterra estava na van"uarda da liberdade polticaB se ela era tambm onde a

    industriali9a#o se achava mais desenvolvida, por0ue liberdade e indstria estavam

    for#osamente relacionadas. ;a 0ue, mudando de idia, Constant passasse a crer 0ue o futuro

    do sculo no residia na a"ricultura, mas na produ#o industrial. %0ui tambm adotar o autor

    0uase 0ue inte"ralmente as doutrinas econmicas do laisse- aire& se havia oposi#o entre

    absolutismo e constitucionalismo, havia oposi#o entre mercantilismo e liberdade de

    mercado. %o i"ualitarismo poltico, pois, deveria corresponder o i"ualitarismo econmico,

    inadmitidos 0uais0uer privil"ios ou monoplios.

    Constant afirma 0ue o Estado deveria se limitar a incentivar novos ramos da indstria

    e reprimirem as empresas 0ue praticassem concorr$ncia desleal. Esse PincentivoR no

    passava, porm, pela concesso de privil"ios a determinadas indstrias, de 0ue resultavam

    desi"ualdade e inefici$ncia, mas por incentivos e pr$mios. ! Estado poderia ainda auxiliar

    classes industriais arruinadas por calamidades imprevistas. !corre 0ue, ainda assim, Constant

    parece recear a interven#o do Estado. Do caso dos incentivos e pr$mios, ele lembrava 0ue

    fbricas estatais acabariam sempre deficitrias e arruinadas 4C!DN-%D-, 176H&LG8, alm

    de interferirem no mercado, onde deveria ser observada a livre concorr$ncia. > no caso das

    classes industriais arruinadas por calamidades, Constant ressalvava 0ue talve9 fosse mais

    prudente ao Estado omitir:se, ( 0ue o paternalismo atenuaria o saudvel sentimento de

    independ$ncia e livre iniciativa 0ue moveria as empresas. Sual0uer a#o do Estado parecido

    com o re"ime de tutela levaria os industriais a afrouxarem seu esprito empreendedor para

    tornarem:se dependentes, sempre inclinados a sociali9arem suas perdas com o "overno

    4C!DN-%D-, 176H&LG8. Da mesma linha, Constant condena a idia de re"ulamenta#o do

    mercado de trabalho, onde tambm v$ o fantasma da tutela do Estado absoluto. % fixa#o de

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    @6

    um salrio:mnimo, por exemplo, retiraria do trabalhador, parte mais fraca na rela#o laboral,

    a possibilidade de obter mais de seu empre"ador no processo de bar"anha. Dum re"ime de

    concorr$ncia perfeita, a produtividade e a efici$ncia o fariam "anhar mais do 0ue pela

    interven#o do Estado. ! trabalho enobreceria o homem, o 0ue se verificaria comparando o

    trabalhador com os mendi"os e (o"adores, "ente imoral 0ue preferia viver custa de dinheiro

    fcil. Como se v$, a posi#o de Constant caracterstica do liberalismo econmico

    oitocentista, 0ue ser sacudido na se"unda metade do sculo pelo socialismo.

    Conclus!o

    % oportunidade do presente arti"o reside essencialmente no fato de 0ue a teoria de

    direitos fundamentais de 'en(amin Constant expAe com clare9a o pensamento liberal nessa

    matria. !s direitos fundamentais e suas "arantias so encarados por uma perspectiva

    histrica de constante aperfei#oamento do ser humano, 0ue caminharia rumo i"ualdade

    social atravs da con0uista da liberdade. Encontrando:se a i"ualdade e a liberdade no rol dos

    direitos naturais, pela determina#o dos ideais intemporais de ;eus e de >usti#a, o sentido da

    histria passava pelo lento res"ate de sua liberdade e i"ualdade perdidas, tanto no planopoltico como econmico, passando pela amplia#o pro"ressiva do seu le0ue de direitos

    sub(etivos. Entretanto, no era possvel acelerar esse processo, ra9o pela 0ual Constant

    (ul"ou 0ue seu papel histrico era o de contribuir para consolidar os direitos fundamentais 0ue

    a teoria liberal de seu tempo ( havia consa"rado, conferindo:lhes eficcia plena e real, contra

    a0ueles 0ue os atacavam, da es0uerda ou da direita. Ele desincumbiu:se dessa tarefa

    elaborando mecanismos de constitucionali9a#o positiva, 0ue passavam pela reviso das

    rela#Aes entre Estado e sociedade e pela ere#o de um arcabou#o de institui#Aes polticas 0uedificultassem a invaso da esfera privada pela esfera pblica. %o refutar o (acobinismo,

    Constant chamou pra"maticamente a aten#o para o fato de 0ue a observMncia dos direitos

    fundamentais dependia menos de sua proclama#o terica do 0ue da cria#o de uma estrutura

    de Estado 0ue, pela distribui#o dos poderes e das atribui#Aes, impedisse o predomnio

    incontrastvel de um "rupo 0ue pudesse, em nome do prprio povo, implantar o despotismo.

    Desta estrutura, o papel do sistema representativo, re(eitado por 2ousseau, era crucial

    na medida em 0ue criava meios de fiscali9a#o poltica dos "overnantes pelos "overnadosB decontrole da0ueles 0ue, no comando do Estado, deveriam velar pela preserva#o dos direitos

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    @7

    da coletividade. Constant sabia 0ue, se no houvesse meios de constran"er os "overnantes a

    se manterem no limite de suas atribui#Aes, eles poderiam amea#ar as liberdades pblicas dos

    "overnados ao invs de prote"$:lasB da sua preven#o contra a autonomia do Estado e sua

    obsesso em distin"ui:lo da sociedade, com o fito de criar uma esfera inviolvel de

    privacidade "arantida pelos direitos individuais. %s bali9as tericas de Constant serviriam de

    norte para a poltica e para o constitucionalismo liberal, at 0ue, por conta do processo de

    democrati9a#o ocorrido nas ltimas dcadas do sculo I, com o advento da -erceira

    2epblica, o individualismo 0ue o "uiava viesse a ser atenuado. % descoberta da sociedade

    pela sociolo"ia e a amea#a do socialismo cientfico favoreceram polticas pblicas

    "overnamentais 0ue, reconhecendo a desi"ualdade substantiva entre os cidados, ampliaram a

    esfera de re"ula#o social do Estado liberal para ree0uilibrar o tecido social es"ar#ado pelaluta de classes.

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    H

    ZZZZZZZZPrincipes de politi%ue applicables a tous les !ouvernements r(presentatis et

    particuli1rement / la Constitution actuelle de la rance. Introdu#o e notas de Vdoard

    aboula)e. @a edi#o. odernes contribution / l0histoire du concept de repr(sentation politi%ue.2evue 3ran#aiseNcience

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