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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Educação Física - N. 9, JUL/DEZ 2010
AS POSSIBILIDADES DE INSERÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA LESIONADO MEDULAR NO CAMPO ESCOLAR: NA VISÃO DOS
ALUNOS
Kaio Cézar Oliveira Domingos1 Maria Ângela Moreira Vieira2
RESUMO
O presente estudo aborda como temática central a possível inserção do profissional
de Educação Física lesionado medular na Educação Física Escolar. Procurando
explicitar através da ótica dos alunos do 1o e 6o período do curso de Educação
Física Licenciatura da Faculdade Metodista Granbery de forma sucinta através de
questões sobre o profissional saber realizar movimentos como demonstração de
caráter didático para o aprendizado. O presente trabalho, de caráter descritivo
exploratório, pretende, por meio de uma extensa revisão bibliográfica, levantar
questões sobre os princípios de integração e inclusão em relação à perspectiva
sobre diversidade, onde podemos estigmatizar a exclusão social com o fato de haver
pouco conhecimento do assunto tratado perante a sociedade. Por tanto, num
primeiro momento colocamos em questão o que são os nervos e qual sua função na
medula espinhal fazendo parte do sistema nervoso. Os tipos de lesão medular, as
causas e suas classificações. Em seguida foi descrito um breve olhar sobre o papel
do profissional de Educação Física, respeitando o tempo de desenvolvimento
individual, junto à comparação entre as abordagens Crítico-superadora,
Desenvolvimentista e Cultural e o avanço sobre o estudo do movimento humano.
Logo colocamos em pauta a inclusão social considerando a constituição da
sociedade para todos.
PALAVRAS-CHAVE: Lesão Medular, Inclusão Social, Educação Física Escolar.
1 Acadêmico dos Cursos de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora/MG. Email: [email protected]. 2 Professora orientadora, docente dos Cursos de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora/MG. Email: [email protected].
2
ABSTRACT
The study examines how central theme the possible insertion of Physical Education
Professional injured spinal cord in Physical Education. Trying to explain from the
perspective of students on the first and sixth period of the course Bachelor of
Physical Education College Methodist Granbery succinctly through questions about
the professional know how to perform moves to show of didactic learning. This study
has a descriptive exploratory aims, through an extensive literature review, raising
questions about the principles of integration and inclusion in relation to the
perspective on diversity, which can stigmatize social exclusion with the fact that there
is little knowledge of the subject treated in society. Therefore, at first put into question
what are nerves and what is its function in spinal cord part of the nervous
system. The types of spinal cord injury, the causes and their rankings. Next, we
describe a brief look at the role of physical education professional, respecting the
time for individual development. We analyzed comparatively the approaches Critical-
surpassing, Developmental and Cultural and advance the study of human
movement. In conclusion we discuss the social inclusion considering the
establishment of a society for all.
KEY-WORDS: Spinal Injury, Social Inclusion, Physical Education.
3
1 APRESENTAÇÃO
Os intuitos desta pesquisa são verificar as possibilidades que um
profissional de Educação Física que possui Lesão Medular-LM tem para ministrar a
prática de atividades físicas e informar sobre o direito de o mesmo estar presente na
sala de aula ou mesmo lecionando nas quadras, campos de futebol ou qualquer
outro espaço físico que a escola possua. A questão a ser investigada surge no
momento em que, ao pensar-se na realidade profissional, sem especificar Educação
Física, depara-se com o mercado de trabalho. Sabe-se que já é um processo
bastante difícil para o indivíduo que não possui deficiência física e, certamente, se
apresentará ainda mais complexo para quem possui alguma deficiência, em
especial, a física, por lidar a Educação Física, especificamente, com o movimento
humano, partindo do princípio que a dificuldade não está naquele que possui
limitação motora, pois o mesmo já se adaptou à sua realidade, mas em como este
pode ser compreendido pelos que não possuem deficiência motricial.
Tratando-se a pessoa com LM, sendo esta congênita, traumática ou não
traumática, em questão de docência, pode-se averiguar que existem indivíduos com
deficiência medular ministrando disciplinas no ensino. Porém, segundo a literatura
da Educação Física, não há relatos que comprove a prática de ensino de um LM na
Educação Física Escolar, pensando assim, questionar se o que existe, é a
dificuldade de aprendizagem do lesionado medular e da aplicação de seus
conhecimentos em seu trabalho, ou se são os preconceitos compartilhados pela
população que interfere.
A metodologia utilizada foi à descritiva exploratória, baseada na revisão
extensa da literatura sobre o desenvolvimento do portador de limitação física.
Foi elaborada uma entrevista semi-estruturada para os alunos de 1o e 6o
períodos do curso de graduação em Educação Física da Faculdade Metodista
Granbery-FMG, para se levantar questões sobre a possível inserção do profissional
de Educação Física Lesionado Medular no campo da Educação Física Escolar e
sobre a capacidade do professor para lecionar sem poder realizar os movimentos
como forma de demonstração.
4
2 LESÃO MEDULAR
A lesão medular é causada por diversos fatores, podendo ocorrer em
diversos trechos da coluna vertebral. Possui grande incidência através da lesão
traumática, podendo ser também não traumática ou congênita. Mendes (2007) afirma que a “lesão medular é uma patologia que incide
em geral de forma abrupta, acometendo principalmente homens adultos jovens, em
idade produtiva”.
A Rede SARAH de Hospitais em seu site publicou que nos últimos dez
anos o número de pacientes com sequela de lesão medular atendidos passou de
9000, sendo as traumáticas as de maior incidência: as causadas por acidente de
trânsito 37,2%; por agressão com arma de fogo (28,7%); por quedas (16,8%) e por
mergulho (8,5%).
Gonçalves et al (2007) discutem que nos últimos anos a lesão medular se
tornou problema de saúde pública, tendo uma maior incidência entre pacientes sexo
masculino em idade produtiva.
2.1 Nervos Espinhais
Nervos são cordões esbranquiçados que unem o sistema nervoso central
aos órgãos periféricos. Estes possuem propriedades essenciais de excitabilidade
(capacidade do nervo entrar em atividade sob ação de estímulos) e condutibilidade
dos estímulos e das respostas (MACHADO, 2006; SOUZA, 1994).
Os nervos espinhais fazem conexão com a medula espinhal através dos
forames intervertebrais. Estes são responsáveis pela inervação do tronco, dos
membros e parte da cabeça. São 31 pares que correspondem aos 31 segmentos
medulares existentes. Sendo 8 pares de nervos cervicais, 12 torácicos, 5 lombares,
5 sacrais, 1 coccígeo. Cada nervo espinhal é formado pela união das raízes dorsal e
ventral, fazendo respectivamente as ligações com os sulcos laterais posteriores e
laterais anteriores da medula através dos filamentos radiculares (MACHADO, 2006).
5
Figura 1 – Nervos Espinhais FONTE: CEFID (Centro de Cíência da Saúde e do Esporte).
Souza (1994) e Machado (2006) defendem que o sistema nervoso, com
sua divisão em partes, possui um significado exclusivamente didático, por suas
várias partes estarem intimamente relacionadas do ponto de vista morfofuncional.
O Sistema Nervoso Central possui divisões como o encéfalo (parte do
sistema nervoso que se localiza dentro do crânio neural), que abrange o cérebro,
subdividido em diencéfalo e telencéfalo, o cerebelo e o tronco encefálico, subdividido
em bulbo, ponte e mesencéfalo e a Medula espinhal, situada no canal vertebral. O
Sistema Nervoso Periférico corresponde aos nervos cranianos, nervos espinhais
(raquídeos) e sistema nervoso autônomo (SOUSA, 1994).
2.2 Medula Espinhal
A medula espinhal tem origem a partir do ectoderma embrionário versado
em placa neural, conhecida como tubo neural. Em um embrião normal, o
fechamento do tubo neural começa cervicalmente e prossegue em direção caudal. É
6
uma estrutura que pouco se modifica desde sua formação embrionária até a vida
adulta (CASTRO, 2005)
A medula espinhal possui um forma cilíndrica, achatada antero-
posteriormente. Está localizada dentro do canal vertebral, que mede
aproximadamente 45 cm em um adulto (MACHADO, 2006).
O mesmo autor coloca que sua dimensão não possui apenas uma forma,
no entanto, possui duas dilatações formadas pelo maior número de corpos de
neurônios e fibras nervosas que formam o plexo:
a) Intumescência cervical: é a extensão da medula espinhal na
região cervicotorácica. É responsável pelas fibras nervosas que constituem os
nervos responsáveis pelos movimentos do pescoço e membros superiores,
estendendo-se entre as vértebras C3 e T1 (plexo braquial).
b) Intumescência lombar: é a extensão da medula espinhal na região
lombossacral. É responsável pelas fibras nervosas que constituem os nervos
destinados ao movimento dos membros inferiores, estendendo-se entre vértebras L1
e S2 (plexo zombosacral).
Figura 2 – Dimensão da Medula Espinhal FONTE: CEFID
Para Machado (2006), a medula espinhal e seus nervos associados
atuam: para receber fibras aferentes, provenientes de receptores sensoriais de
tronco e membros, conduzindo sinapses ao encéfalo e o retorno destas pelas vias
7
eferentes, como responsáveis pelo controle motor; para fornecer inervação
autonômica para a maioria das vísceras, como centro de reflexo.
2.3 Tipos de Lesão Medular
Conforme Souza (1994), o grau de extensão da LM terá como resultado a
paresia ou a paralisia da região inervada por aquele plexo nervoso. Paresia decorre
de uma lesão funcional ou orgânica parcial em qualquer ponto da via motora. Pode
acarretar em limitação ou fraqueza motora, expressada através de relaxamento ou
debilidade funcional; redução da força muscular; limitação de amplitude dos
movimentos; movimentos sem precisão; baixa resistência muscular localizada;
motilidade (capacidade de se mover) abaixo do normal, apenas limitada. Paralisia é
a interrupção funcional ou orgânica em qualquer ponto da via motora, em que ocorre
a perda da capacidade de contração voluntária e da capacidade motora na área
correspondente.
A lesão medular pode ser congênita, não traumática ou traumática. A
congênita ocorre no útero, durante a formação do feto: como exemplo, na formação
da espinha bífida. A traumática é causada por algum evento traumático, como
ferimento a partir de arma de fogo, acidente de automóveis ou queda. As não
traumáticas são causadas por disfunções vasculares, infecções, doença articular
degenerativa, abscessos da medula espinhal, entre outras (CASTRO, 2005; SOUZA,
1994).
Cunha et al (2005) afirmam que espinha bífida é a falha na fusão dos
arcos das vértebras, tipicamente na região lombar, podendo ser variável, desde a
espinha bífida oculta, na qual o defeito é apenas no arco ósseo, à espinha bífida
aberta, muitas vezes associada à meningocele (protusão das meninges) ou
mielomeningocele (protusão de elementos neurais além das meninges).
As lesões não traumáticas podem advir de tumores, hemorragias,
processos infecciosos (como sífilis, poliomoelite anterior aguda, mielite aguda
transversa, etc) e degenerativos (SOUZA, 1994).
Os traumatismos da coluna vertebral constituem a maior causa das lesões
medulares. Dentre os traumatismos, chamam a atenção as fraturas e secções
8
parciais ou totais da coluna nos acidentes de trânsito, mergulhos de cabeça em
águas rasas, tiros ou até facadas (SOUZA, 1994).
A Rede SARAH de Hospitais ressalta que, em um trauma medular, a
lesão pode estar relacionada com fratura com laceração da medula subjacente,
fratura ou luxação com compressão medular aguda, ou contusão medular sem lesão
óssea ou ligamentar.
2.4 Paraplegia e Tetraplegia
As lesões da medula são classificadas em duas vastas categorias
funcionais: tetraplegia e paraplegia. Pode existir ou não movimento voluntário abaixo
do nível da lesão, classificando-as como incompletas ou completas, respectivamente
(CASTRO, 2005).
Souza (1994) afirma que o indivíduo com LM apresenta distúrbios, como
a perda da sensibilidade (à dor, ao frio, ao calor, ao tato, da propiocepção postural,
etc) e, no caso de lesões cervicais até a segunda vértebra dorsal, pode ter reduzida
a capacidade de respiração, no entanto, as consequências mais conhecidas da LM
são: a perda do controle motor dos membros ou a perda total de sua motilidade
voluntária autônoma.
Figura 3 – Mapa de Sensibilidade FONTE: Manual do Lesado Medular
9
Conforme a altura da lesão na medula espinhal, caracteriza-se o tipo de
lesão, sendo: a tetraplegia (lesões cervicais até a vértebra T1); a paraplegia (lesões
abaixo da vértebra T2); hemiplegia (lesões em um dos lados do corpo).
Segundo Castro (2005), “tetraplegia (ou quadriplegia), como resultado do
dano à medula espinhal cervical, é a paralisia parcial ou completa que envolve todos
os quatro membros e o tronco, incluindo os músculos respiratórios”, causando
insuficiência respiratória devido ao comprometimento do nervo frênico, que comanda
a contração do diafragma. Paraplegia, resultante do dano causado à medula
espinhal torácica ou lombar, ou mesmo das raízes sacrais, é a paralisia dos
membros inferiores, sendo parcial ou completa.
De igual modo, Souza (1994) afirma que para a designação de uma lesão
raquimedular (C6, T10, L2, etc) se refere ao segmento mais baixo da raiz nervosa,
ocasionando a perda de mobilidade dos membros ramificados por estas raízes.
A lesão da medula é uma das síndromes que causa a desconstrução da
aprendizagem motora e a consciência corporal do indivíduo. Para que o lesionado
medular possa adquirir novamente sua independência motora, ele deverá adquirir
conhecimento sobre as limitações de seu corpo e as possibilidades de
equipamentos para ajudá-lo, bem como treinar novas conexões nervosas para
assimilarem a função perdida durante a lesão medular.
3 UM BREVE OLHAR SOBRE O PAPEL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA
O profissional de Educação Física deve respeitar o desenvolvimento, a
segurança, o prazer, a socialização e as capacidades funcionais, quando tem em
mente o planejamento para ministrar uma aula ou atividade. Muitas vezes aquele
profissional pode lançar mão dos grandes teóricos da educação e usar de suas
explanações para ter apoio pedagógico. Conhecer tais pedagogias pode fornecer
mecanismos para aprimorar seu papel educacional.
Para Darido (2003), a pedagogia crítico-superadora levanta questões de
poder, interesse, esforço e contestação. A autora acredita que qualquer
consideração mais apropriada sobre a pedagogia deve avaliar não somente
questões sobre como ensinar, mas também como, e em que momento, adquirir
10
esses conhecimentos, valorizando assim a questão da contextualização dos fatos e
do resgate histórico. No entanto a autora coloca que:
Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de Educação Física, os adeptos da abordagem propõem que se considere a relevância social dos conteúdos, sua contemporaneidade e sua adequação às características sócio-cognitivas dos alunos. [...] Deve, também, evitar o ensino por etapas e adotar a simultaneidade na transmissão dos conteúdos, ou seja, os mesmos conteúdos devem ser trabalhados de maneira mais aprofundada ao longo das séries, sem visão de pré-requisitos (p.8).
Já na abordagem Desenvolvimentista, Tani et al (1988) defendem que o
meio e o fim da Educação Física é o movimento. A aprendizagem do movimento e a
aprendizagem através do movimento apenas são possíveis conceitualmente.
Entretanto, a melhor capacidade de controlar o movimento é o conhecimento e a
exploração de seu corpo, ao se aprender o auto controle, o desenvolvimento do
movimento, juntamente progressões do crescimentos físico, a manutenção do
sistema fisiológico, e a ampliação dos aspectos percepto-cognitivo e psicossocial. E
o aprimoramento de outras capacidades como a alfabetização e o pensamento
lógico-matemático, é consequência do aprendizado através da prática motora.
Ainda nesta abordagem, Darido (2003, p.4) coloca que:
Em suma, uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem do movimento, embora possam estar ocorrendo outras aprendizagens em decorrência da prática das habilidades motoras. [...] habilidade motora é um dos conceitos mais importantes dentro desta abordagem, pois é através dela que os seres humanos se adaptam aos problemas do cotidiano [...]
A abordagem cultural, como Daolio (1993) apud Darido (2003) sugere,
seria uma visão naturalista e universalizada do corpo, concluindo que todos os
corpos são iguais por possuírem o mesmo conjunto de ossos, músculos e
articulações, e que as aulas de Educação Física devem ser as mesmas para todos
os alunos em qualquer época e lugar.
Porém, ao avaliar a heterogeneidade dos alunos que formam o corpo
discente, passa-se a perceber a necessidade do corpo de cada ser humano, e nota-
se a necessidade de se planejar uma aula em que todos possam praticar, abrindo
espaço para que aqueles com alguma dificuldade consigam atingir os objetivos
11
propostos a ele, e, mas que isso, superá-los. Pensando nisso, buscamos
esclarecimentos no desenvolvimento humano.
Nas últimas décadas, tivemos avanços no estudo do movimento humano
a respeito da aprendizagem das habilidades motoras, inspirados pela Filosofia e
Sociologia do conhecimento.
O desenvolvimento das habilidades psicomotoras está presente em todas
as atividades humanas, seja no lazer, no desporto e até mesmo no cotidiano.
Destrezas básicas como correr, andar, saltar e chutar fazem a diferença primordial
nas informações específicas recebidas, processadas e utilizadas por cada
mecanismo durante a organização sobre o controle de determinados movimentos.
Segundo Kephart (1969) apud Tani et al (1988), o problema identificado para
aquisição de habilidades mais complexas e específicas é a deficiência no
desenvolvimento das habilidades básicas. Para tanto afirma: “[...] para se entender
os problemas que os indivíduos encontram para adquirir habilidades específicas, é
necessário retomar o processo pelo qual as habilidades básicas foram ou não
adquiridas” (p.72).
Embora na Educação Física muitos professores ainda enfatizem os
esportes como o tema principal da cultura corporal de movimento, Darido (2003)
afirma que devemos utilizá-los como corpo teórico, interdisciplinar, em que os
mecanismos de movimentos básicos são os mesmos utilizados em qualquer
movimento humano.
Todo movimento humano manifesta características espaciais e temporais
em seus diversos planos e eixos, resultantes de um processo interno que ocorre no
sistema nervoso. O processo interno responsável pelo movimento humano recebe
um “feedback” externo (informação recebida do executante sobre a execução do
movimento) através dos órgãos dos sentidos. Deste modo, os impulsos nervosos
chegam ao SNC, e este responde a solicitação com “feedback” intrínseco ao sistema
muscular. Simultaneamente os estímulos passam através do SNC, que dispõe o
objetivo em diversos planos motores, selecionando o controle motor através do
músculo efetor, retomando o “feedback” intrínseco do sistema muscular, assim
incidindo efetor o movimento, trabalhando as vias aferentes e eferentes estimuladas
através do próprio movimento humano (TANI et al, 1988; MACHADO, 2006).
12
Na maioria das vezes, cria-se uma imagem de movimento sem que haja a
ação da percepção cognitiva, tendo em vista que isto parte da dicotomia corpo e
mente. Contudo, isso está a favor da união corpo e mente, mesmo que ainda exista
na Educação Física a predominância de situações em que há preocupação com o
corpo perfeito e pouca focalização no aprendizado. Porto et al (2004, p.107)
expõem: “que o ser humano deve ser focado como um ser total, indivisível e único,
vislumbrando a auto-superação do seres humanos nas suas relações”.
Em outra circunstância, nota-se que, para a promoção de atividade física,
não é necessário ter todos os movimentos do corpo, pode-se trabalhar utilizando a
metodologia analítica, trabalhando movimentos específicos e por partes, tendo a
aprendizagem motora fragmentada em várias partes, no entanto, quanto maior a
qualidade das partes ensinadas, melhor será o aprendizado do conjunto de
movimentos (PINTO & SANTANA, 2005; DARIDO, 2003).
O professor de Educação Física deve promover um programa
relacionando as atividades para a formação do movimento humano. Os movimentos
são de ampla importância biológica, psicológica, social, cultural e evolutiva. A
expressão da criatividade do professor não vem somente do repetir o movimento, e
sim pelo conduzir movimentos junto aos alunos, dando-lhes a capacidade de criar
outros, desempenhando um papel fundamental para o desenvolvimento destes.
Logo, o programa deve ser um processo contínuo e prolongado. Assim, Piccolo
(1995, p.59) afirma: “O ideal é um programa que faça parte de um planejamento
escolar onde tudo que vai ser transmitido esteja integrado por um objetivo geral,
comum a todas as áreas”. O processo ensino-aprendizagem deve fazer parte de um programa de
Educação Física que permeia o desenvolvimento do ser humano em suas diversas
capacidades, desde os primeiros anos de vida, respeitando as características
específicas de cada idade.
13
4 ALGUMAS DISCUSSÕES SOBRE DEFICIÊNCIA E A INCLUSÃO ESCOLAR
Nos dias atuais existem dificuldades para entendermos sobre diversidade.
A sociedade vive em uma constante estigmatização que domina as questões sobre
deficiência física (COSTA-RENDERS, 2007).
A idéia de igualdade se vincula intimamente com a democracia. Não é possível falar de democracia sem que se aborde a complexa questão da igualdade. Trata-se de princípio que norteia a discussão de como se compreender o Estado Democrático de Direito (QUARESMA, 2002, p.4).
Antes do surgimento do termo inclusão, com perspectivas de integrar a
sociedade, a educação especial era separada da educação “regular”. A imagem
sobre deficiência era associada à doença, de forma que a ideia sobre o aprendizado
dos deficientes sofria uma defasagem por conta da “doença”. Além do mais,
poucos, inclusive o deficiente físico, podiam participar dos espaços sociais nos quais
se produziam e se adquiriam conhecimentos (COSTA & SOUSA, 2004; FREITAS,
2006).
A exclusão social é um dos problemas sociais modernos, onde passar a
existir, como visão analítica que se torna esclarecedora para uma mentalidade que
confia de modo irrestrito e exclusivo na capacidade cognitiva da razão, mas
limitando-a às explicações mecânicas, simplificadoras, que são inadequadas à
compreensão da realidade (COSTA-RENDERS, 2007).
Na maioria das vezes, as pessoas com deficiência manifestam suas
qualidades de seres humanos e não são reconhecidas, respeitadas. Elas sofrem
com a intransigência social atribuída pela sociedade medíocre, onde trabalha com a
seleção a partir do igualitarismo e excluindo as diferenças humanas.
Ao se pensar no processo de exclusão social, percebe-se que este possui
distintas origens na história, a começar na colonização do Brasil, com a ocupação de
terras que já possuíam donos, os índios. Um pouco mais adiante, tem-se a
escravatura, com a exclusão do negro na sociedade. Mais recentemente, tem-se a
exclusão do louco na cidade de Barbacena, que antigamente era referência em
saúde mental, no entanto, possui um rio próximo a cidade, conhecido como rio das
mortes. Segundo relatos de moradores, foi dado este nome ao rio, pois os loucos,
14
quando tinham seus acessos de loucura, eram jogados ao rio. Neste contexto, a
sociedade se recusava a conviver com os loucos, colocando-os em casa de saúde
mental (ALVARENGA, 2007).
Pode-se fazer uma relação com a Educação Física geral e a Educação
Física Adaptada, através das diversas abordagens cognitivas existentes: na
abordagem desenvolvimentista, trata-se sobre o processo de aprendizagem motora,
em que o reconhecimento corporal é necessário para o desenvolvimento das
habilidades básicas. Porém, na abordagem cultural, fala-se sobre a universalização
do corpo, na qual todos devem executar o movimento igualmente. No entanto, fora
notada a necessidade sobre a percepção de corpo individual, onde cada qual
consiga atingir seus objetivos. Muitos profissionais ainda não levam em conta a
abordagem crítico-superadora, na qual se levanta questões de poder fazer, do
esforço, da força de vontade, em que o deficiente físico pode estar presente e não
ser tratado com o sentimento de “pena”, quando sua única exigência é praticar o que
os outros realizam (COSTA & SOUSA, 2004)
A deficiência é a insuficiência de algo, ela sempre existiu e sempre
existirá em qualquer forma de vida. Se colocarmos em questão a “insuficiência”,
quem em algum momento não se deparou com a falta de algo que fosse
“necessário” para a vida? Olhando para o portador de limitação física, este já
nasceu sem a mobilidade em certa parte do corpo ou a perdeu por alguma
fatalidade, se tornando insuficiente para a movimentação geral, porém, não a
individual.
O portador de limitação física precisa se adaptar à sua realidade, tanto
psicologicamente quanto fisicamente. Para facilitar, é necessária a construção de
novos ambientes que sejam acessíveis e abertos à diversidade. A sociedade deve
ser influenciada a compreender que é ela que necessita se adaptar e aprender a
realidade do portador de limitação física (COSTA-RENDERS, 2007; FREITAS,
2004).
As práticas pedagógicas na educação de alunos com necessidades educacionais especiais estão sujeitas às influências do pensamento de que as pessoas com deficiência têm “dificuldade de aprender”, em razão de considerá-los portadores de limitações orgânicas. Assim corre-se o risco de perpetuar a divisão especial - regular [...] (FREITAS, 2006, p.166).
15
Um dos paradigmas da inclusão considera a constituição da sociedade
para todos, seja nas diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas e de gênero, na
qual se reconhece o potencial de todos em sua máxima capacidade, independente
de sua singularidade. Entretanto, inclusão significa a modificação da sociedade. No
caso da inclusão escolar, é necessário que o entendimento e a modificação da
sociedade escolar se baseiem no ensino inclusivo, independentemente de
dificuldades, deficiências, classe socioeconômica ou cultural, garantindo uma
educação de qualidade para todos (RENDERS, 2007; FREITAS, 2004).
Conforme a Constituição Federal de 1988, artigo 24, inciso XIV, compete
à União, aos estados e ao Distrito Federal zelar pela proteção e integração social
das pessoas portadoras de deficiência.
Art. 24 – Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
Porém esta não é a única previsão legal, visto que a Lei nº 7.853, de 24
de Outubro de 1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência,
sua integração social à Coordenadoria Nacional Para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência (CORDE), e institui a tutela jurisdicional de interesses
coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público,
define crimes, dá outras providências, tendo sido regulamentada pelo Decreto nº
3.298, de 20 de Dezembro de 1999, que consolida as normas de proteção ao
deficiente (CRFB/88, p.32).
O conhecimento em seus diversos níveis e áreas dispõe, as relações
humanísticas, dando espaço para diversidade encarada de forma grosseira sem ao
menos almejar desvendar o que são estas diferenças que torna o indivíduo tão
distante na sociedade, dificultando a compreensão sobre a inclusão do deficiente
físico na sociedade. É possível notar que a sociedade mundial ainda possui um
conhecimento insuficiente para lidar com a diversidade humana e compreender a
deficiência física como parte de um corpo.
Porto (2004) afirma que o deficiente físico deve aprender a se relacionar
com seu corpo, com as outras pessoas, com o ambiente em que vive e com as
16
limitações que enfrenta em seu dia-a-dia. Entretanto estas atitudes diferenciadas
desencadeiam pertinências banais na visão da sociedade sobre a divisão de seus
afazeres, sempre os colocando em ordem para facilitar sua autonomia.
5 O OLHAR DOS ALUNOS DO 1O E 6O PERÍODO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA LICENCIATURA DA FMG
Este capítulo demonstrará o que os sujeitos argumentaram do tema,
porém, não devemos considerar que o registro de seus depoimentos permitirá, no
tempo presente, reflexões referentes à problemática em questão.
A escolha da amostra do presente estudo foi intencional, pois, para os
alunos do 1o período, são apresentadas de forma ampla as possíveis intervenções
do profissional de Educação Física, e no 6o período, os alunos têm uma experiência
através das práticas pedagógicas e estágios supervionados sobre a diversas
possibilidades de inclusão escolar.
Dentre as entrevistas, analisaram-se 60 depoimentos dos alunos do 1o e
6o períodos dos cursos de Educação Física da Faculdade Metodista Granbery
(FMG), a fim de compreender as ideias e as possibilidades de inserção do
profissional lesionado medular na Educação Física Escolar. A entrevista foi semi-
estruturada, estabelecida em caráter descritivo, em que cada discente, com sua
bagagem de conhecimentos trazidos antes da faculdade e os conhecimentos
adquiridos e pesquisados sobre inclusão, aliados as perspectivas de inclusão
escolar segundo a autora Costa-Renders (2007).
Foram colocadas as seguintes questões-temáticas:
• o profissional de Educação Física lesionado medular na Educação
Física Escolar;
• para que o profissional de Educação Física possa lecionar, é
necessário saber fazer o movimento para ensiná-lo aos alunos;
A intenção de indagar a respeito do saber o movimento para poder
ensinar, bem como utilizá-lo em caráter demonstrativo, é entender o preconceito
instaurado na sociedade, a fim de entender as possibilidades que podem ser
utilizadas como metodologia de ensino pelos profissionais de Educação Física. É
perceptível que as dificuldades de realizar o movimento para ensinar vão muito além
17
da limitação física, pois há profissionais de Educação Física sem qualquer
insuficiência física, mas que possuem dificuldades na demonstração de determinado
movimento.
Ao abrir-se esta discussão, deve-se levar em conta a LM ocorrida entre as
vértebras T1 e T2. Nesta altura a lesão ainda permite a inclusão de professores com
lesão medular na Educação Física Escolar no presente estudo, pois nesta altura que
compromete apenas os membros inferiores. Um pouco mais acima, a lesão
comprometeria os movimentos de membros inferiores e membros superiores, além
de outros músculos, como o diafragma, músculo responsável por auxiliar na
respiração.
Ao questionar a possível inserção do lesionado medular como professor
de Educação Física Escolar, trata-se um pouco mais além da inclusão escolar.
Como citado no capítulo 4, um dos paradigmas da inclusão é a modificação da
sociedade. Para Costa-Renders (2007), “a inclusão considera a construção da
sociedade para todos, na qual se reconhece a potencialidade de todas as pessoas,
independente da singularidade de cada um”. Na sociedade em que vivemos, já se
torna difícil o processo de inclusão dos alunos com deficiência física nas escolas
regulares; um pouco mais além, é notório a dificuldade da inclusão de professores
lesionados medulares na Educação Física Escolar.
Entre os alunos do 1o período, quando se dá início às discussões sobre o
estereótipo do corpo e aos estudos sobre a evolução deste ao longo da história da
Educação Física, foram recolhidos os seguintes relatos:
O entrevistado no. 13 afirma:
[...] é óbvio que por uma questão cultural é totalmente errôneo, subentendemos que o professor de Educação Física tenha um estereótipo do saudável, do forte, do atleta... mas isso deveria ser repensado com urgência, pois até mesmo aqueles que têm um pouco mais de massa corpórea seria visto com outros olhos, imaginem as pessoas que tem um problema motor, ou qualquer uma dessas síndromes [...] (Sic).
Já pensando no processo de formação de profissionais de Educação
Física, o entrevistado no. 35 afirma:
[...] ele desenvolverá consciência corporal e buscará métodos de passar com suas limitações, aprimorando seus alunos. Todos nós
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temos limitações, independente de termos ou não deficiência física. (Sic).
Para o desenvolvimento das metodologias, o entrevistado no. 17
respondeu:
Não só na escola como em qualquer campo da Educação Física, hoje em dia com a variedade de recursos eletrônicos fica cada vez mais fácil a demonstração de métodos de ensino, ficando assim, a facilidade de ensino ao aluno e pelo professor. Não sendo possível a prática, ele pode demonstrar através de vídeos e outros equipamentos (Sic).
Para os alunos do 6o período, as possibilidades são diversas tanto para o
ensino quanto para o impedimento do mesmo. O entrevistado no. 57 diz:
[...] o conhecimento sobre seu corpo, sua mecânica, suas
possibilidades irá contribuir para que este profissional tenha plenas
condições de se auto-avaliar e definir que caminhos seguir (Sic).
Ao modo de pensar do entrevistado no. 42, sua posição justifica:
A maioria das escolas não estão preparadas estruturalmente e socialmente para absorver em seu corpo docente um lesionado medular. Vale ressaltar que considero importante a inclusão do lesionado medular, mas acredito que essa inclusão pode obter mais sucesso em outros campos da Educação Física (Sic).
O entrevistado no. 49 afirma que é possível e justifica:
[...] pode atuar dentro das suas possibilidades. Se caso for ministrar alguma aula a qual não consiga demonstrar, aí deve se programar para levar alguém que possa demonstrar e depois ele mesmo só comandará a aula verbalmente (Sic).
No momento em que foram questionados sobre o profissional de
Educação Física saber realizar o movimento para lecionar, foi colocada a questão de
ensino-aprendizagem, que diz que o aluno precisa pensar o movimento, entendê-lo
para que possa partir para execução. No olhar dos alunos do 1o período o
entrevistado no. 27 diz que tal compreensão não é necessária, justifica:
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O professor de Educação Física, no nosso modo de pensar, deve em primeiro plano fazer com que o aluno pense antes de realizar o movimento. Então, com uma boa explicação oral, clara, podemos sim demonstrar o movimento, a forma do movimento que estaria em questão (Sic).
Sabemos que o processo ensino-aprendizagem é constante, tanto
professor quanto aluno aprendem juntos, e através do auxilio do professor os
objetivos colocados se tornam facilitados. Assim, Fronza-Martinz (2009, apud
CATAPAN,1996, p.126) coloca que “[...] um conjunto de ações e estratégias que o
sujeito/educando, considerando-se individual ou coletivamente, realiza, contanto
para tal, com a gestão facilitadora e orientadora do professor, para atingir os
objetivos propostos pelo plano e formação”. Assim, o entrevistado no. 32 afirma que
não é preciso o professor de Educação Física Escolar saber fazer o movimento para
lecionar, e coloca que:
[...] o grande profissional é aquele que consegue passar o seu conhecimento justamente sem ter que realizar o movimento, pois realizando o movimento a tendência é que o aluno simplesmente copie. O ideal é que aprenda o movimento sem ter que ver o professor fazer, pois assim aprenderá também a ensinar (Sic).
Já o entrevistado no. 11 afirma:
Do professor quando busca a realização do movimento é somando ainda o conhecimento teórico, fica mais claro a melhor maneira de passar para o aluno a mecânica do movimento (Sic).
Conforme as ideias dos alunos do 6o período, quando questionados sobre
o profissional de Educação Física saber realizar o movimento para lecionar, foi
levada em consideração a dificuldade individual de cada profissional de Educação
Física sobre a realização do movimento. Contudo, o entrevistado no. 58 afirma que
não é preciso realizar o movimento para ensinar, justificando que:
[...] Mesmo os professores de Educação Física que não tem lesões não conseguem executar todos os movimentos que existem na área, pois são muitos. A criança tem por característica a imitação e se o professor realiza um movimento como demonstração pode influenciar negativamente o aluno (Sic).
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O entrevistado no. 51 se posiciona, dizendo que é preciso saber realizar o
movimento e justifica, colocando que “[...] é necessário saber demonstrar o
movimento e não a técnica por isso a necessidade de um estagiário”.
Já o entrevistado no. 43 diz:
Não, pois o professor acima de tudo é um educador, não necessariamente precisa ser realizado o movimento, desde que ele saiba como explicar ou até mesmo saber diversificar suas aulas para o proposto [...] (Sic).
Na pesquisa feita, foram avaliados 60 alunos sendo 38 alunos do 1o
período e 22 alunos do 6o. Sobre a possibilidade de inserção do profissional de
Educação Física lesionado medular, entre os alunos do 1o período, 100% marcaram
que sim. No 6o período, 90,9% disseram que sim, e 9,1% disseram que não. Já na
segunda questão, colocada sobre o profissional de Educação Física Escolar saber
fazer o movimento para ensiná-lo, 65,79% do 1o período relataram que não é
preciso, e 34,21% afirmaram que sim. Enquanto no 6o período, 77,27% marcaram
que não, e 22,73% marcaram que é preciso demonstrar o movimento para ensinar.
Dos 38 alunos do 1o período da FMG entrevistados, 100% afirmaram que
é possível o profissional de Educação Física lesionado medular atuar na Educação
Física Escolar, aprendendo a conviver com suas limitações, mostrando que a
dificuldade motora é também uma problemática de muitos professores. Pode-se
levar em consideração que podem ter sido influenciados a uma resposta positiva
sobre o questionamento feito a eles por ter um lesionado medular estudando com
eles.
Grande maioria dos entrevistados do 6o período fala sobre a diversidade
de informações que existem hoje para o auxilio na demonstração sobre certa
modalidade ou habilidade específica de cada conteúdo a ser aplicado, dizendo que o
professor deve dominar o conteúdo independentemente de saber demonstrar o
movimento. Entretanto, poucos colocam que o profissional deve saber realizar o
movimento para, no mínimo, saber demonstrar para os alunos.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um educador deve ser capacitado para exercer o ensino,
independentemente de limitações no espaço físico, ou limitação física de sua parte,
ou por parte do aluno, respeitando o tempo necessário para quebra da barreira
quanto ao assunto dentro das escolas.
Segundo a amostra, em relação ao ensino do movimento e a realização
deste, percebe-se que não haverá necessidade, pois pelo menos um aluno de cada
turma a ser lecionada terá facilidade cognitiva para perceber o que o professor
deseja para a realização do movimento. Para o profissional de Educação Física
Escolar lesionado medular, transmitir o conhecimento não será o maior problema,
pois os recursos que a tecnologia nos possibilita, hoje, são de grande auxílio, como
imagens, vídeos, ou até mesmo contar com a ajuda de um estagiário.
A educação deve ser diversificada, com um trabalho em conjunto com
toda a sociedade. Na organização e seleção de conteúdos, metodologias e recursos,
o trabalho individual e solitário do professor cede lugar ao trabalho em grupo.
Buscam-se coletivamente as soluções e alternativas pedagógicas, bem como
recursos alternativos e metodologias inovadoras.
Para se tratar de inclusão escolar, deve-se levar em consideração que é
necessário tratarmos a inclusão social como a forma principal a ser trabalhada. O
conhecimento da sociedade mostra que o ser humano tem, em si, um fator
excludente sobre o desconhecido. Por não se conhecer a diversidade é que surgem
pensamentos excludentes como: “cada aluno na sua escola”, a regular para os
“normais” e a especial para pessoas com “necessidades especiais”.
A sociedade aos poucos deve ser trabalhada para compreender que a
educação regular é para todos, na qual o ensino é mútuo, todos os alunos de uma
escola vão adquirir conhecimentos simultâneos e condizentes com os que estão
propostos dentro do plano político pedagógico. A escola é um local para troca de
conhecimentos, enriquecimento da sociedade e das famílias, onde estas deveriam
estar mais unidas, buscando respostas para a questão da exclusão social no mundo.
A passagem de uma concepção excludente de sociedade e de escola
para uma outra fundada na diversidade humana deve significar uma profunda
mudança em toda dinâmica educacional, refletindo, principalmente, na construção
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de novas ações éticas e morais para a vida em sociedade. Ao se adotar a
diversidade como um primado da existência humana, as relações interpessoais
tomam outro significado para todas as pessoas: não mais se consideram os alunos
com deficiência como os únicos beneficiários de sua inserção escolar. Com certeza,
a construção dos aspectos éticos e morais de todos os sujeitos envolvidos numa
prática educacional inclusivista é profunda e positivamente afetada.
Do mesmo modo, leva-se em conta a problemática de um professor de
Educação Física lesionado medular lecionar no campo escolar. A formação
acadêmica deste será a mesma dos acadêmicos que não possuem qualquer
insuficiência física. O desafio está posto. Não há receitas prontas, por isto, não há
um caminho a se trilhar, mas a se construir. O único instrumento que temos hoje
para iniciar esta caminhada é a certeza de que é preciso romper definitivamente com
a ideia do absoluto, pensar num mundo completo, onde o deficiente físico e as
pessoas que não possuem limitação física possam conviver mutuamente, e,
principalmente, trabalhar em conjunto para a construção de uma nova sociedade,
que deve partir da escola.
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