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i
ALEXANDRE HENRIQUE DOS SANTOS
AS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC) NA EDUCAÇÃO
MUSICAL: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO DAS LICENCIATURAS EM MÚSICA
COM O FENÔMENO TECNOLÓGICO
CAMPINAS
2015
ii
iii
iv
v
FOLHA DE APROVAÇÃO
vi
vii
RESUMO
O presente estudo aborda a relação do fenômeno tecnológico atual denominado Tecnologias da
Informação e Comunicação – TIC com a educação musical. Pretende-se aqui analisar como
acontece a relação dos cursos de Licenciatura em Música com as TIC e como esse fenômeno
influencia a educação musical. É o objetivo desse trabalho entender como os alunos desses cursos
interagem com as tecnologias digitais, bem como adquirem proficiência nesse assunto. Também
são parte dos objetivos levantar e discutir dados sobre implementação de metodologias
envolvendo as tecnologias em sala de aula. A pesquisa também averiguou como os cursos
pesquisados operam em relação às tecnologias digitais. São sujeitos desse estudo um grupo de
alunos e professores desses cursos. Sendo as tecnologias digitais um fenômeno presente, rápido e
crescente nos meios educacionais, entende-se como relevante a presente discussão. O desenho
metodológico usado na pesquisa foi a Análise de Conteúdos de Lawrence Bardin (2011).
Pretende-se com esse trabalho contribuir para uma compreensão mais aprofundada da relação das
TIC com a educação musical e a formação de professores e assim poder sugerir novas propostas
metodológicas integrando de maneira crítica e reflexiva as TIC no campo da educação musical.
Palavras Chave: TIC. TIC e educação. TIC e educação musical. Música e tecnologias.
ABSTRACT
This study deals with the relationship of the current technological phenomenon called
Technologies of Information and Communication - TIC with music education. It plans to analyse
the relationship of the undergraduate music courses with the digital technologies and how this
phenomenon affects music education. It is our aim to understand how the students of these
courses interact with digital technologies and acquire proficiency in this subject. It’s also part of
the objectives of this work to discuss data on the implementation of methodologies involving
technologies in the classroom. The survey also investigated how the researched courses operate
in relation to digital technologies. A group of students and teachers of these courses are the
subjects of this study. This came from discussion is understood to be relevant due to the present,
fast and growing phenomenon of digital technologies in the educational media. The
methodological approach used in the research was Lawrence Bardin’s Analysis of Content
(2011). This work aims to contribute to a deeper understanding of the relationship of TIC with
music education and teacher training, and to suggest new methodological proposals integrating
TIC with music education in a critical and reflective way.
Keywords: TIC. TIC and education. Technology and music education. Music and technology.
viii
ix
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 19
1 O FENÔMENO TECNOLÓGICO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ............. 25
1.1 Visão geral sobre as TIC e a sociedade ........................................................................... 25
1.2 O computador e a internet como bases das TIC ............................................................ 29
1.2.1 A invenção e evolução do computador............................................................................ 30
1.2.2 O Surgimento da Internet e suas Implicações ................................................................. 34
1.3 As TICs e a educação ....................................................................................................... 36
1.3.1 As TIC e a escola….. ....................................................................................................... 36
1.3.2 Novas concepções metodológicas ................................................................................... 38
1.3.3 Os nativos e os imigrantes digitais .................................................................................. 40
1.3.4 A questão da Inovação ..................................................................................................... 42
1.3.5 Tendências Metodológicas com as TIC na Escola .......................................................... 44
1.3.6 As possibilidades de aprendizagem em ambientes virtuais ............................................. 46
1.3.7 Os efeitos adversos do uso excessivo das TIC ................................................................ 48
2 INTERFACES ENTRE AS TIC E A MÚSICA ................................................................ 51
2.1 As tecnologias aplicadas à área musical ......................................................................... 51
2.1.1 Breve histórico das relações entre a música e as tecnologias .......................................... 51
2.1.2 O som analógico e o som digital ..................................................................................... 54
2.1.3 O Protocolo MIDI ............................................................................................................ 60
2.1.4 O Novo contexto da Indústria Fonográfica e a Educação Musical ................................. 62
2.2 A educação musical mediada pelas TICs ....................................................................... 64
2.2.1 A formação tecnológica do educador musical ................................................................. 65
2.2.2 A proficiência em informática ......................................................................................... 68
2.2.3 Possibilidades tecnológicas para o educador musical ..................................................... 69
2.2.4 A utilização do Software Pure Data (PD) ........................................................................ 80
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 85
3.1 A Análise de Conteúdos ................................................................................................... 86
3.2 Organizações da presente análise .................................................................................... 89
3.3 A codificação.... ................................................................................................................. 90
x
3.4 A categorização ................................................................................................................. 91
4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 93
4.1 Relação dos alunos com as TIC (C1) .............................................................................. 93
4.1.1 UC 1 Acesso à Informática e internet. ............................................................................. 94
4.1.2 UC 2 Relações com periféricos e softwares da área da tecnologia musical .................... 96
4.1.3 UC 3 Tecnologias e Educação Musical ........................................................................... 97
4.2 O uso das TIC na sala de aula após as oficinas tecnológicas (C2) ............................. 103
4.2.1 Relatório conciso dos assuntos abordados nas oficinas................................................. 103
4.2.2 As oficinas de tecnologias na UNICAMP ..................................................................... 103
4.2.3 As oficinas de tecnologia com os alunos do UNASP .................................................... 105
4.2.4 As oficinas com os alunos da FNB ................................................................................ 107
4.2.5 Experiências tecnológicas desenvolvidas pelos alunos após as oficinas ....................... 109
4.2.6 UC 1 As tecnologias como ferramentas de auxílio na ação docente. ............................ 110
4.2.7 UC 2 A interação dos alunos e as tecnologias durante o processo de ensino e
aprendizagem…………. ......................................................................................................... 114
4.2.8 UC3 Relatos das dificuldades encontradas pelos alunos ao utilizarem as tecnologias digitais
para as aulas de música. .......................................................................................................... 115
4.2.9 UC 3 Observações pedagógicas do uso das tecnologias digitais na sala de aula .......... 119
4.3 A relação dos cursos pesquisados com as TIC (C 3). .................................................. 124
4.3.1 Disciplinas com corte tecnológico e infraestruturas dos três cursos. ............................ 124
4.3.2 As entrevistas com os professores dos cursos. .............................................................. 127
5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .................................................................................. 137
5.1 Relação dos alunos com as TIC nos cursos de licenciatura (C1)................................ 137
5.2 O uso das tecnologias digitais em sala de aula pelos alunos participantes das oficinas de
tecnologia (C2) 140
5.3 Interpretação dos dados da C3: As TIC nos Cursos de Licenciatura. ...................... 162
Considerações Finais ............................................................................................................ 171
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 175
Anexos .................................................................................................................................... 180
Questionário 1 ....................................................................................................................... 180
Questionário 2 ....................................................................................................................... 184
xi
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho às pessoas que sempre acreditaram e apoiaram meus estudos e são muito
especiais para mim. À minha amada esposa Raquel Rochia – que foi minha grande incentivadora
para ingressar na vida acadêmica e minha grande fonte de inspiração - aos meus filhos Miguel e
Cecília, meus pais Geraldo e Terezinha e a todos os meus irmãos e familiares.
xii
xiii
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus e a todas as pessoas que me ajudaram e contribuíram
enormemente para a realização dessa pesquisa.
À minha esposa Raquel Rochia pela paciência, incentivo, apoio e ajuda, com suas correções,
ideias e discussões.
À minha querida professora orientadora Adriana Mendes pela amizade, dedicação, paciência,
contribuições, correções, apoio e incentivo na elaboração dessa obra.
Ao meu amigo Matteo Ricciardi pela imensurável ajuda com a formatação, correções e ideias
para melhorar o trabalho.
Aos meus professores Vilzon Zattera e José Fornari, pelas conversas e ideias nos momentos de
dúvidas.
Aos meus professores Ellen Stencel, Jetro Oliveira, Vandir Schafer, Lineu Soares, Harley Bleck,
Ailen Lima e Clênio Abreu, por sempre terem me incentivado a me tornar um pesquisador.
Aos meus irmãos João Batista, Cícero, Conceição, Marisa, Juliana e Geraldo por me apoiarem
desde a minha iniciação musical.
Aos meus sogros José Carlos e Abigail Rochia e aos meus cunhados Rafael e Rodrigo Rochia.
Aos meus amigos da escola Vila Jazz: Edson Ferreira, Evandro Grisólio, Emanuel Massaro e
Hélio de Gaspari, por terem me ensinado e incentivado nesses 15 anos de trabalho lado a lado.
A todos os meus alunos que sempre acreditaram no meu trabalho e representam minha maior
motivação para continuar as minhas pesquisas em educação musical.
A UNICAMP por ter me dado a oportunidade de realizar este sonho.
xiv
xv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: processos de conversões de sinal ................................................................................... 59
Figura 2: processamento de dados MIDI ....................................................................................... 61
Figura 3: exemplo de criação de exercícios de teoria musical usando o Musescore. .................... 77
Figura 4: atividade de percepção usando o Audacity .................................................................... 78
Figura 5: tela do Impro-visor com uma melodia cifrada. .............................................................. 79
Figura 6: atividade de percepção de timbres usando o Sonic Visualiser....................................... 80
Figura 7: exemplos de caixas com entradas e saídas no PD .......................................................... 82
Figura 8: patch de um oscilador criado em PD ............................................................................. 83
Figura 9: desenvolvimento de uma Análise de Conteúdos............................................................ 88
Figura 10: alunos respondentes na C1 ........................................................................................... 94
Figura 11: alunos que possuem acesso à informática e internet .................................................... 94
Figura 12: conhecimento e uso de softwares e equipamentos ....................................................... 96
Figura 13: grupo 1 - uso de som e vídeo ....................................................................................... 98
Figura 14: grupo 2 - uso de softwares musicais ............................................................................ 99
Figura 15: grupo 3 - ferramentas de internet ............................................................................... 100
Figura 16: grupo 4 - uso de gravações em sala de aula ............................................................... 101
Figura 17: grupo 5 - incorporação de outros dispositivos eletrônicos ......................................... 102
Figura 18: síntese do uso de tecnologias nos cinco níveis .......................................................... 102
Figura 19: alunos respondentes após as oficinas ......................................................................... 109
Figura 20: uso da internet em sala de aula................................................................................... 142
Figura 21: como os professores estão usando a gravação ........................................................... 144
Figura 22: softwares de acompanhamento, editores e jogos ....................................................... 145
Figura 23: indicadores de atividades composicionais e lúdicas .................................................. 149
xvi
Figura 24: resumo das dificuldades encontradas pelos alunos .................................................... 153
Figura 25: observações dos "nativos digitais" ............................................................................. 156
Figura 26: visão geral da C2: o uso das TIC em sala de aula pelos alunos participantes das
oficinas. ............................................................................................................................... 162
Figura 27: utilização de tecnologias pelos professores ............................................................... 165
Figura 28: uso de softwares como ferramentas auxiliares para as aulas .................................... 166
Figura 29: aspectos negativos do uso das TIC a partir dos relatos dos docentes ........................ 167
Figura 30: extensão da sala de aula ............................................................................................. 169
xvii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: relaçao dos alunos com as TIC ............................................................................... 137
Tabela 2: ferramentas de auxílio na ação docente .................................................................. 146
Tabela 3: a interação dos alunos e as tecnologias durante o processo de ensino .................. 147
Tabela 4: dificuldades encontradas pelos alunos quanto ao uso das tecnologias. .................. 150
Tabela 5: observações pedagógicas do uso de tecnologias em sala de aula. ......................... 154
Tabela 6: as disciplinas nos cursos de licenciatura................................................................. 163
xviii
19
INTRODUÇÃO
A discussão em relação às tecnologias digitais atualmente é abordada como um
fenômeno social e suas influências estão implícitas na sociedade contemporânea. Essas
influências estão associadas a significativas transformações em diversos setores sociais, tais
como economia, indústria, educação, política e na vida cotidiana. Uma espécie de revolução
digital aconteceu a partir das últimas décadas com a popularização de recursos como o
computador pessoal e a internet. Integrar esses recursos nos processos educacionais se coloca
como uma das principais atribuições sociais atualmente. Sendo a educação musical uma parte
importante do sistema educacional, torna-se relevante integrar esses recursos às suas práticas
pedagógicas. A nomenclatura usada para indicar relações com processos tecnológicos atualmente
é o termo Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Ramos (2008) define as TIC como:
Chamamos Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) aos
procedimentos, métodos e equipamentos para processar informação e comunicar
que surgiram no contexto da Revolução Informática, Revolução Telemática ou
Terceira Revolução Industrial, desenvolvidos gradualmente desde a segunda
metade da década de 1970 e, principalmente, nos anos 90 do mesmo século
(RAMOS, 2010, p. 19).
Essa terminologia nessa pesquisa especificamente, representa as tecnologias
computacionais de comunicação e informação e a internet. Incluem-se ainda nesse contexto o uso
de softwares para gravação e edição de áudio e vídeo, editores de áudio e partituras, jogos
interativos, plataformas virtuais para estudos de disciplinas musicais e os dispositivos eletrônicos
usados pelos alunos em seu cotidiano, como por exemplo, telefones celulares, câmeras digitais e
tablets.
Partindo desse pressuposto a presente pesquisa tem como objetivo investigar o
fenômeno tecnológico atual com a educação musical a partir do ambiente de formação em nível
superior dos educadores musicais. Essa formação acontece através dos cursos de Licenciatura em
Música. A presente pesquisa terá como objetos de estudo: um grupo de alunos de três cursos
dessa modalidade de graduação além de uma investigação em relação às disciplinas com corte
tecnológico e infraestrutura desses cursos. Também foram feitas entrevistas com um grupo de
docentes que atuam nos mesmos.
20
Os cursos escolhidos como campo para a pesquisa foram os seguintes: o curso de
Licenciatura em Música da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP em Campinas - SP,
o curso de Licenciatura em Música da Faculdade Nazarena do Brasil – FNB, também em
Campinas – SP e o curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Adventista de
Engenheiro Coelho – UNASP em Engenheiro Coelho – SP. A delimitação do campo para essas
três instituições deu-se em função de que o autor teve acesso a esses cursos para ministrar
disciplinas relacionadas às tecnologias e educação musical. Vale lembrar que não é intenção
desse estudo fazer qualquer tipo de comparação entre esses cursos ou instituições.
O critério para a escolha dos participantes foi principalmente o fator relacionado ao
uso das tecnologias digitais ligadas à uma concepção pedagógica – nesse caso alunos dos cursos
de Licenciatura em Música - ou seja, por este ponto de vista, os alunos teriam mais condições
técnicas para inserir as tecnologias nas aulas de música. Como a pesquisa também buscou dados
sobre o uso das tecnologias em sala de aula, priorizou o grupo de alunos que estivessem cursando
ou próximos de cursar a disciplina de estágio supervisionado. Assim os alunos teriam campo para
testar metodologias envolvendo tecnologias em sala de aula.
Visando uma melhor integração dos alunos participantes com as tecnologias a serem
utilizadas na educação musical, durante o período da pesquisa foi realizada uma atualização
tecnológica direcionada à educação musical, através de oficinas pedagógicas tecnológicas
ministradas pelo autor do presente trabalho. A intenção desse processo foi apresentar e discutir
com os alunos participantes uma série de propostas e estratégias envolvendo tecnologias para que
os mesmos tivessem subsídios teóricos e metodológicos para utilizarem tecnologias em sala de
aula.
As entrevistas realizadas com os docentes também foram um instrumento de pesquisa
usado para avaliar as influências destas tecnologias sob as perspectivas dos professores desses
cursos. Os dados coletados e analisados mostram como os atuais professores dos cursos de
licenciatura em música (especificamente desses cursos) estão utilizando mediações tecnológicas e
como estão pensando a respeito desse fenômeno conectando-os com a formação tecnológica dos
alunos egressantes.
Neste contexto pretende explorar quais aspectos desses ambientes contribuem para a
formação tecnológica dos discentes, e como os cursos de Licenciatura em Música operam em
21
relação às TIC. Partindo do conceito de que esses cursos preparam os egressos para atuarem no
mercado de trabalho, a pesquisa também averígua – a partir do relato dos alunos que participaram
do estudo - que tipo de cenário os licenciandos desses cursos estão encontrando no campo de
trabalho ao proporem o uso dessas tecnologias na sala de aula.
O método de pesquisa utilizado foi a Análise de Conteúdos, propostos por Bardin
(2011) e Moraes (1999) que serão explicitados no capítulo 3 que trata das metodologias.
Espera-se com o presente trabalho fornecer um panorama sobre como o fenômeno
tecnológico contemporâneo vem ocorrendo dentro dos cursos de Licenciatura em Música e suas
implicações na área da formação do professor de música, bem como sua aplicação em sala de
aula. Vale ressaltar que acima de tudo, essa pesquisa está incorporada a um processo de educação
musical, e, sendo assim busca apontar alternativas para contribuir com o processo de
musicalização no ambiente escolar sugerindo algumas metodologias a partir das TIC.
Como dito anteriormente, o fator tecnológico está influenciando todos os espaços
sociais. Especificamente na área da educação podemos confirmar tal afirmação pelas palavras de
Moran (2007): “[...] com o avanço das redes, da comunicação em tempo real e dos portais de
pesquisa, as tecnologias se transformaram em instrumentos fundamentais para mudanças na
educação” (MORAN, 2007, p. 89). No campo da educação musical, Souza (2008) também
discorre sobre a importância em pensar as tecnologias relacionadas à educação musical: “as
transformações tecnológicas configuram novas formas de aprender e ensinar música presentes na
educação musical contemporânea” (SOUZA, 2008, p.8).
A educação musical entendida como parte do universo educacional, justifica a
preocupação em entender os processos tecnológicos relacionados à mesma, além disso, os
Referenciais Curriculares Nacionais (RCN) dos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Música
instituída pelo Ministério da Educação (MEC) de abril de 2010, já apontam uma preocupação
com mediações tecnológicas na formação do licenciando em música. Entre suas atribuições
direcionadas aos cursos, o MEC cita a necessidade do licenciando possuir habilidades com
recursos tecnológicos, como saber interagir com “vídeos, programas computacionais, ambientes
virtuais de aprendizagem, entre outros”. (RCN, 2010, p. 85). Os RCNs também citam a questão
da infraestrutura necessária para a formação dos alunos apontando “Laboratórios de: ensino de
22
música e de Informática com programas especializados” [...] e gravações de áudio e vídeo (RCN,
2010, p. 85).
Além desse fator, este trabalho pretende contribuir para o fortalecimento da área de
pesquisa em educação musical mediada pelas TIC, visto que as tecnologias digitais na educação
musical é um tema discutido nos setores que desenvolvem pesquisas relacionadas à educação
musical em âmbito nacional e internacional, como por exemplo, a instituição americana The
Technology Institute for Music Educators (TI:Me) (www.ti.me.org).
Essa instituição foi criada com a intenção de desenvolver pesquisas para ajudar os
educadores musicais a usarem recursos tecnológicos para o ensino e aprendizagem musical. A
instituição também promove cursos de formação tecnológica para educadores, padronizou um
currículo envolvendo tecnologias para o ensino de música e certifica o educador que desenvolve
os conhecimentos necessários para usar as tecnologias em sala de aula. Alguns membros dessa
organização possuem uma série de publicações referentes a esses assuntos. Nas obras publicadas
pelos autores membros dessa organização, estão entre os temas, as atribuições necessárias à
atualização tecnológica dos educadores musicais e o desenvolvimento de estratégias para o uso
desses recursos em sala de aula. Serão usados neste trabalho os escritos de alguns desses autores,
dentre eles, Jay Dorfman.
A obra de Dorfman1 aborda a questão do uso das tecnologias mais direcionada a
situações em sala de aula. O autor não aborda conceitos instrucionais em relação a softwares e
outras ferramentas, mas sim como o professor pode planejar suas aulas tendo recursos
tecnológicos como bases de apoio.
Outra proposta de pesquisa que ajudará a sustentar teoricamente a presente pesquisa é
a obra de Willian I. Bauer2. Nessa obra o autor também aborda os conhecimentos necessários em
tecnologia para capacitar o educador musical. A premissa principal proposta pelo autor é que os
professores e estudantes atuais podem se beneficiar das tecnologias para a aprendizagem musical
sobre três processos: criando, executando e respondendo à música. Na obra o autor traz as mais
recentes pesquisas, teorias de aprendizagem e práticas positivas documentadas em sala de aula,
1 DORFMAN, J. Technology-Based Music Instruction. New York: Oxford University Press, 2013. 2 BAUER, W. Music Learning Today. Digital Pedagogy for Creating perfoming, and responsibility to
music. New York: Oxford University Press, 2014.
23
com o objetivo de ajudar os professores de música a tomarem posse desses relatos para melhorar
suas atuações usando tecnologias.
No âmbito da pesquisa nacional podemos indicar o desenvolvimento da produção de
Daniel M. Gohn, que também propõe em sua obra3 o uso dos recursos tecnológicos para a
educação musical. O autor publicou uma série de artigos e livros no Brasil, com o objetivo de
ajudar os educadores musicais a obterem conhecimentos em diversos tipos de tecnologias
incluindo hardwares e softwares - além de escritos direcionados à educação à distância (EAD) -
buscando a capacitação tecnológica dos educadores musicais. Serão usados no presente trabalho,
escritos de suas obras que tratam dos conhecimentos e recursos de tecnologia necessários ao
educador musical, incluindo livros e artigos publicados, além de também sugerir caminhos
estratégicos para usar essas tecnologias em sala de aula.
É importante lembrar que o presente trabalho contextualiza o momento atual em
relação às tecnologias digitais, visto que, a velocidade de mudança em relação às tecnologias é
rápida e dinâmica, e o que é uma novidade tecnológica hoje, pode não ser em um curto espaço de
tempo futuro, portanto, reflete somente sobre as tecnologias no contexto atual, embora muitas
discussões aqui levantadas possam ser retomadas em debates futuros. Não é intenção desse
estudo engessar as considerações em relação ao uso de tecnologias na educação musical, mas,
buscar oferecer alternativas metodológicas sobre um fenômeno que se move e se transforma
rapidamente.
A pesquisa se desenvolverá em cinco capítulos. O capítulo 1 na primeira parte
destina-se a compreender o fenômeno tecnológico na sociedade contemporânea. Na segunda
parte desse capítulo será contextualizada a invenção do computador e da internet como elementos
centrais para a compreensão do surgimento das TIC. Na terceira parte será abordado a relação das
TIC com a educação de modo geral, trazendo a reflexão de como as TIC estão chegando à escola,
o surgimento de novas metodologias, a questão dos estudantes que são nativos do atual ambiente
tecnológico, a questão da inovação, ambientes digitais de aprendizagem e fechando o capítulo,
uma reflexão sobre o uso excessivo das TIC, abordando suas consequências
3 GOHN, Daniel Marcondes. Iniciação à Tecnologia Musical. São Carlos: UFSCAR, 2012.
_______. Tecnologias Digitais para Educação Musical. São Carlos: Edufscar, 2010.
24
O capítulo 2 expõe em sua primeira parte a relação entre as TIC e a área musical. São
abordados nesta parte conceitos históricos e técnicos envolvendo as influências das tecnologias
na música. Estão nesse tópico os conceitos de som analógico e digital, linguagem MIDI e uma
reflexão sobre o atual contexto da indústria fonográfica influenciada pelas TIC. A segunda parte
desse capítulo fecha a discussão nas TIC e educação musical. Estão nesta parte os conceitos
técnicos para a formação tecnológica do educador musical, a proficiência em informática para
utilizar esses recursos e as propostas de estratégias tecnológicas para serem usadas em sala de
aula.
O capítulo 3 abrange a discussão sobre o método de pesquisa adotado - a Análise de
Conteúdos - bem como a descrição de como será usada tal metodologia, além de expor como a
pesquisa está organizada em relação à coleta, análise e interpretação dos dados.
O capítulo 4 trata da exposição e análise dos dados coletados. Nessa fase, se
concentram o tratamento dos dados brutos, passando por todo o processo de isolamento e
codificação, sendo estes preparados para serem interpretados. Os resultados serão apresentados
através de diversas formas de exposição, como gráficos, tabelas e organogramas.
No capítulo 5 será abordado o processo interpretativo dos dados, bem como os
resultados e a inferência do pesquisador. Neste estágio serão apresentadas as respostas que
emergiram dos dados analisados para responder aos objetivos da presente pesquisa. Como
proposto no capítulo anterior, nesse capítulo também serão usados diversos recursos para a
exposição dos dados, tendo como objetivo facilitar a compreensão da análise. O tópico seguinte
inicia a exposição do presente estudo.
25
1 O FENÔMENO TECNOLÓGICO NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
O presente tópico aborda o fenômeno TIC no contexto social. Serão trazidas à
discussão, as bases das TIC - como a invenção do computador e o surgimento da internet - bem
como suas influências na sociedade. No âmbito educacional serão tratadas questões sobre o
conceito de inovação, a questão dos alunos nativos da era digital, a aprendizagem em ambientes
virtuais e as novas metodologias de ensino que estão surgindo com as possibilidades oferecidas
pelas TIC. Também será proposta uma reflexão sobre o uso excessivo das tecnologias e suas
consequências.
1.1 Visão geral sobre as TIC e a sociedade
O termo “TIC” hoje é compreendido como um fenômeno novo, tanto que é comum
ouvirmos o termo “novas tecnologias”, mas contrapondo esse conceito, Kenski (2013) explica
como a produção de ferramentas e o domínio de alguns conhecimentos ou informações para
auxiliar a vida do homem, vêm de épocas longínquas, e já representavam uma alternativa para
que a humanidade se sobressaíssem sobre outras espécies:
Desde o início dos tempos, o domínio em determinados tipos de tecnologias,
assim como o domínio de certas informações, distingue os seres humanos.
Tecnologia é poder. Na Idade da Pedra, os homens – que eram frágeis
fisicamente diante dos outros animais e das manifestações da natureza –
conseguiram garantir a sobrevivência da espécie e sua supremacia, pela
engenhosidade e astúcia com que dominavam o uso de elementos da natureza.
(KENSKY, 2007, p. 15).
Outra terminologia descrita atualmente em relação ao momento tecnológico é o de
sociedade da informação e conhecimento, como podemos ver através dos dizeres de Berhein e
Chauí (2008). “Uma das características da sociedade contemporânea é o papel central do
conhecimento nos processos de produção, ao ponto do qualificativo mais frequente hoje
empregado ser o de sociedade do conhecimento” (BERHEIN e CHAUÍ, 2008, p. 7).
O desenvolvimento do computador e da linguagem da informática das últimas
décadas influenciou significativamente a relação social com as TIC, principalmente levando em
26
consideração a velocidade de acesso e difusão de informações. Sorj (2003) afirma que o
computador já vem influenciando a sociedade há várias décadas, o autor afirma, no entanto, que a
internet potencializou essas transformações por ter mudado a noção de tempo, velocidade e
comunicação. O autor afirma:
A importância da telemática-cujo sistema mais difundido é a internet – é
enorme, pois permitiu a convergência de duas atividades centrais da vida social:
a manipulação do conhecimento e a comunicação. A informática representa a
capacidade de armazenar, organizar e processar uma quantidade enorme de
informação num espaço ínfimo e numa velocidade que praticamente elimina o
tempo, revolucionando a capacidade humana. (SORJ, 2003, p. 36).
É importante ressaltar que embora o acesso à informação atualmente seja rápido, e o
termo “sociedade da informação e conhecimento” esteja em voga, o fato de haver acesso rápido a
qualquer tipo de informação não quer dizer que essa informação se transforme em conhecimento,
aliás pode até ajudar a proliferar falsas afirmações. Como afirma Sorj (2003) a informação por si
mesma não tem valor algum; sua relevância depende de sua inserção num sistema de produção de
conhecimento. O autor ainda afirma:
Na prática, o conceito de “sociedade de conhecimento” refere-se a um certo tipo
de conhecimento, o conhecimento científico, a partir do qual se desenvolve a
capacidade de inovação tecnológica, principal motor da expansão econômica no
mundo contemporâneo (SORJ, 2003, p. 35).
Partindo dessa concepção, promover caminhos para transformar a avalanche atual de
informações em conhecimento representa um dos maiores desafios da sociedade atual e do
sistema educacional contemporâneo.
Braga (2013) discorre sobre as influências sociais das TIC, colocando a revolução
industrial como fenômeno inicial das mudanças socioculturais apoiadas em processos de
tecnologias. Nesse contexto histórico específico, o domínio da informação passa a ser o principal
“capital de troca” que permite o acesso a determinadas posições na esfera do poder controlada
pelos grupos hegemônicos. Isso explica os grandes investimentos feitos no desenvolvimento das
tecnologias da informação e comunicação: rede de computadores, banda larga, telefonia móvel,
entre outros. (BRAGA, 2013, p. 39).
No contexto tecnológico atual, muitos dos processos - que antes eram produzidos de
maneira analógica, como película fílmica, fita cassete, entre outros - migraram para o campo das
TIC, o que possibilitou o aumento da velocidade de produção e manipulação. Esse processo
27
permitiu a hibridização e manipulação dessas linguagens em uma única linguagem4: a digital
(BRAGA, 2013, p. 39). Como consequência, começam a surgir novas práticas textuais, novas
práticas de interação e comunicação, novas ofertas de serviços e produtos, ou seja, todo o sistema
social de alguma maneira está sendo influenciado pelas TIC.
Os equipamentos portáteis (smartphones, notebooks e tablets) e a tecnologia wireless,
permitiram a ampliação e transposição do ambiente de trabalho. Com essas tecnologias salas de
aeroporto, salas de espera e saguões de edifícios por exemplo, podem facilmente tornar-se
escritórios (BRAGA, 2013, p. 40). Dessa forma o tempo de trabalho também aumentou. É
comum atualmente profissionais de algumas áreas continuarem trabalhando fora do ambiente de
trabalho, tanto que uma das reivindicações trabalhistas discutidas atualmente é o direito de
permanecer desligado ou desconectado.
Outro fator relevante em relação à disseminação das TIC, foi a influência nas
necessidades pessoais básicas. Atualmente essas tecnologias já estão tão integradas ao cotidiano
ao ponto de pessoas que não se utilizam de tecnologias como celulares e e-mail ou outras
ferramentas tecnológicas, sofrerem pressões sociais sendo apontadas como desatualizadas e
atrasadas em relação à agilização de resolução de problemas. (BRAGA, 2013, p. 41).
A autora ainda expõe como a internet está se tornando um fenômeno integrado à
nossa vida cotidiana, dando como exemplo, situações onde precisamos do acesso digital, tais
como entrega de declarações de imposto de renda, pagamento de contas pelo sistema de internet,
acesso a editais de concursos, compra de produtos pelo comércio eletrônico e contratação de
serviços. De uma forma ou de outra somos afetados pelas tecnologias de informação e
comunicação.
Embora seja recorrente o termo “impacto das novas tecnologias”, o que pressupõe
que o fenômeno tecnológico tenha incorporado à sociedade por vias externas, o filósofo francês
Pierre Levy contesta essa afirmação, discorrendo que o fenômeno tecnológico não é um
4 Um sinal analógico varia no tempo de um modo análogo ao da propriedade física que esteve na sua
origem. Estes sinais são contínuos e podem assumir qualquer valor entre dois limites. Um exemplo de sinal
analógico é a voltagem gerada por um microfone, já que é proporcional ao gráfico do deslocamento em função do
tempo, das moléculas do ar que se encontra à sua frente. Um sinal digital não varia continuamente ao longo do
tempo, apenas pode assumir dois valores, digamos 0 ou 1; é essencialmente uma representação codificada da
informação original. (www.education.ti.com/sites/PORTUGAL) disponívelem:https://education.ti.com/sites/PORTUGAL/downloads/pdf/08analog_digital.pdf. Acesso em:
20/07/2015.
28
acontecimento que surge fora da sociedade, pelo contrário, ele é produzido e consumido pela
mesma. Como nos diz o autor: “na época atual, a técnica é uma das dimensões fundamentais
onde está em jogo a transformação do mundo por ele mesmo” (LEVY, 2010, p.7).
Para o autor o mundo se funde à técnica, ou, como podemos comprovar em sua visão
que sintetiza o uso da técnica por toda a história humana, o mundo é definitivamente técnico.
A ciência e a tecnologia de forma alguma estão imunes aos seus próprios valores
sociais, ou seja, os cientistas ou os especialistas em tecnologia estão impregnados de valores e
crenças sociais que instigam os mesmos à busca da produção de tecnologia e conhecimento.
Grupos que compartilham dos mesmos propósitos ideológicos tendem a produzir um determinado
conhecimento ou aparato tecnológico que, na visão desse grupo, tem uma atribuição para
determinado setor da sociedade. Levy (2010) mostra um exemplo dessa questão ao explanar
sobre um grupo de estudantes da década de 1970 que ajudaram, com seus experimentos, a
desenvolver e popularizar o computador pessoal, dentre eles Steve Jobs, Steve Wosniak, Paul
Allen e Bill Gates.
Na metade da década de 1970, uma pitoresca comunidade de jovens
californianos à margem do sistema inventou o computador pessoal. Os membros
mais ativos desse grupo tinham o projeto mais ou menos definido de instituir
novas bases para a informática e, ao mesmo tempo, revolucionar a sociedade. De
uma certa forma, este objetivo foi atingido (LEVY, 2010, p. 43)
Para elucidar o contexto de tecnologia e sociedade como conhecemos hoje podemos
recorrer à reflexão de Machado (2011). Segundo o autor o termo tecnologia é de origem grega
(Tekné + Logus = Tecnologia), porém, o autor explica que, no contexto em que essa palavra era
usada na Grécia, a mesma não tinha o mesmo significado social que tem hoje. Segundo o autor,
isto acontece pelo fato de que na cultura grega antiga o “Logus” representava a área da razão e da
ciência, enquanto que o termo Tekné estava ligado ao trabalho manual, esse último direcionado
aos escravos e artesãos, ou seja, como na cultura grega os artesãos e escravos não ocupavam os
mesmos espaços sociais dos nobres que discutiam o “Logus”, podemos assim entender que a
junção da “Tekne” + “Logus” para formar a “tecnologia” não acontecia.
Essa junção da Tekné + Logus = Tecnologia, do ponto de vista histórico é recente.
Segundo Machado (2011), esta conexão aconteceu a partir da revolução industrial no século
XVIII. Nesse momento houve a necessidade do estudo (Logus), para o desenvolvimento de uma
29
técnica (Tekné) ou habilidade para a formação e produção de mão de obra direcionada à uma área
de conhecimento específica. Dessa forma, passou-se a ser uma necessidade a proposta de que um
indivíduo para exercer determinada função, possuísse certos tipos de conhecimentos. Assim
surgiram as disciplinas específicas para “formar” o sujeito para exercer uma determinada
atividade ou profissão.
Segundo o autor o marco teórico do estudo da técnica foi a publicação das
Enciclopédias Francesas5, paralelamente ao período da revolução industrial. As enciclopédias
representavam uma das primeiras maneiras de registrar o conhecimento sobre uma habilidade
específica ou o estudo de uma técnica para atuar em algum tipo de atividade ou trabalho, além de
também terem ajudado a difundir grande quantidade de informação e conhecimento.
Concluindo, podemos entender pelas reflexões expostas anteriormente que
tecnologias e sociedades não precisam ser vistas como fenômenos separados. Suas bases estão
intrinsicamente relacionadas, sendo que, olhar a sociedade afastada das TIC é considerar não
acompanhar um processo natural de evolução. Podemos também entender que o desenvolvimento
social está relacionado com a disseminação e acesso a informação e conhecimento. O processo de
acesso ao conhecimento que começou a ser melhor divulgado com a publicação das enciclopédias
francesas, foi se desenvolvendo até se chegar ao nível informacional, em que nesse processo, o
computador e a internet representam as bases das TIC. Sendo assim, o próximo tópico abordará o
surgimento do computador e da internet.
1.2 O computador e a internet como bases das TIC
5 A palavra enciclopédia tem origem grega e deriva da junção de: enkyklos - circular, e paideia –
instrução, educação.1 Podemos, então, associá-la, tanto ao açambarcamento do conhecimento, quanto à circulação do
mesmo, (CUNHA, 2010, p. 2). Em 1745, o editor francês André Le Breton e três sócios obtiveram permissão para
traduzir e publicar os dois volumes da enciclopédia do inglês Ephraim Chambers, de 1728 (Cyclopaedia, ou
Dicionário universal das ciências e das artes). [...] Em 1746, Breton conseguiu comprometer Diderot (1713-1784) e
D´Alembert (1717-1783) a elaborarem a obra Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des
métiers ( Enciclopédia, ou dicionário fundamentado de ciências, arte e ofícios). Foi um vasto compêndio das
tecnologias do período, descrevendo os instrumentos manuais tradicionais bem como os novos dispositivos da
Revolução Industrial no Reino Unido (pt.wikipedia.org) disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Encyclopédie.
Acesso em: 23/03/2015.
30
Esta parte do capítulo apresenta o surgimento do computador e da internet como
premissas ao desenvolvimento das TIC.
1.2.1 A invenção e evolução do computador
Como exposto anteriormente o termo TIC na presente pesquisa refere-se às
tecnologias computacionais de comunicação. O computador e a internet são ferramentas
fundamentais em sua constituição, e talvez seja o marco mais significativo para o nascimento das
TIC.
Segundo Isaacson (2014) o atributo que define a essência de um computador é o
processamento de dados. Segundo o autor existem diversas definições na concepção moderna de
revolução digital, mas o mesmo mostra dois exemplos que deixam claro a ideia do processamento
de informações. Baseado na definição do dicionário The Merriam-Webster Dictionary, o autor
cita o computador como “equipamento programável normalmente eletrônico que pode armazenar,
recuperar e processar dados. (ISAACSON, 2014, p. 77). E também:
Equipamento eletrônico que é capaz de receber informação (dados) em uma
forma particular e de desempenhar uma sequência de operações de acordo com
um conjunto predeterminado, mas variável de instruções procedimentais
(programa) para produzir um resultado. (The Oxford English Dictionary)
(ISAACSON, 2014, p. 77)
Embora tenha havido muitos experimentos até se chegar a uma versão da máquina
que daria origem ao computador moderno, o primeiro computador com todas as características de
processamento similares ao que posteriormente viria a ser o computador pessoal, foi o Electronic
Numerical Integrator Analyzer and Computer - ENIAC, como discorre Isaacson (2014)
O ENIAC, completado por Presper Eckert e John Mauchly em novembro de
1945, foi a primeira máquina a incorporar todo o conjunto de características de
um computador moderno. Era totalmente eletrônico, super-rápido e podia ser
programado por meio de conexões via cabos que podiam ser plugados e
desplugados em diferentes unidades. (ISAACSON, 2014, p. 79).
Adentrando a década de 1950 as empresas como a Mauchly e Eckert e a IBM
começaram a fabricar e comercializar diferentes tipos de computadores. Com o desenvolvimento
tecnológico da década de 1950, os computadores evoluíram e começaram a melhorar sua
31
capacidade de processamento. A tecnologia que permitiu tal melhora foi a invenção dos
transistores, que são menores e consomem menos energia do que a válvula. Os computadores
fabricados com esse componente ficaram conhecidos como os computadores da segunda geração.
Outra tecnologia deu origem aos computadores da terceira geração, os circuitos
integrados C.I, que permitiu a miniaturização dos transistores dos circuitos que constituíam os
computadores em escala microscópica. Esse invento permitiu a redução do tamanho da máquina
para acomodação de componentes, pois com essa tecnologia vários circuitos poderiam ser
interligados em uma única pastilha (chip) de silício.
Gordon Moore, observando a velocidade de avanço desse tipo de tecnologia, em 1965
estabeleceu um dos principais conceitos sobre a evolução na capacidade de processamento dos
computadores que ficou conhecido como Lei de Moore. Segundo Siqueira (2008):
Em 1965 os C.I. abrigavam apenas algumas dezenas de transistores. Naquele
ano Gordon Moore, um dos fundadores da Intel, previu que [...] os circuitos
integrados dobrariam o número de transistores a cada ano. Em 1971, retificou
sua projeção para 18 a 24 meses. Entre 1965 e 1975, a densidade dos circuitos
integrados saltou de 60 para 60.000 componentes (SIQUEIRA, 2008, p. 102).
Entre os anos de 1975 a 2001 a previsão de Moore ainda se mostrou precisa: os C.I.
haviam dobrado seu número de componentes a cada 1,94 ano (SIQUEIRA, 2008, p. 103), ou seja,
os C.I. dobraram sua capacidade praticamente a cada dois anos. Este conceito estabelecido por
Moore, mostra como a informática foi e está sendo um dos mais rápidos fenômenos evolutivos da
humanidade.
Na quarta geração, por volta dos anos 1971/1972, surge o computador pessoal. Esse
acontecimento foi possível graças à técnica de miniaturização mencionada na geração anterior, a
qual permitiu acomodar milhares de circuitos integrados em um centímetro quadrado de silício.
Nessa época dois nomes começam a se destacar nos meios da informática: Bill Gates (fundador
da Microsoft) e Steve Jobs (fundador da Apple). Esse acontecimento pode ser considerado um
dos mais importantes da evolução da informática, pois permitiu que os computadores chegassem
ao ambiente doméstico. Nessa mesma época foram criados, além do computador pessoal, o
sistema operacional, a interface gráfica e o mouse (este último desenvolvido pela Xerox) sendo
apresentados pela Microsoft com o DOS e depois Windows e a Apple com o Apple 2, Lisa e
Macintosh (GROSSKLAGS; SOUZA, 2015, s.p.).
32
Nas décadas seguintes os computadores atingiram robustas capacidades de
processamento e armazenamento. Hoje são equipamentos complexos e podem processar
informações em alta velocidade. Em sua atual concepção permitem aos usuários interagirem com
filmes, jogos e virtualmente com todos os tipos de tarefas. Praticamente todas as esferas sociais
que envolvem trabalho, lazer, comunicação, pesquisa, estudo, aprendizagem e outros atributos
utilizam o computador.
Os computadores existem atualmente em uma grande variedade de tamanhos e
configurações. Podem ser do tipo desktop6 ou notebook7ou um Smarthphone ou Tablet. A melhor
configuração para o educador dependerá dos objetivos, o ambiente de aprendizado e outros
aspectos da sua intenção de uso (BAUER, 2010, p. 22). Embora com diferenças entre marcas e
configurações, basicamente os computadores são constituídos das mesmas características:
possuem uma parte física que são os chamados hardwares (periféricos como monitores, placas
mãe, processadores, impressoras, scanners, câmeras e interfaces de áudio e vídeos) e os
softwares, que são a parte lógica, englobando o conjunto de programações que fazem a máquina
funcionar e disponibilizar a saída dos dados através dos monitores, impressoras e caixas de som,
por exemplo. O conjunto de elementos que constituem o computador como conhecemos hoje são
descritos abaixo:
Random Access Memory (RAM) – Acesso randômico da memória: também conhecida
como memória RAM. É um tipo de memória primária utilizada para leitura de dados no
computador. O termo randômico indica o acesso em qualquer posição a qualquer
momento por oposição ao acesso sequencial. Basicamente como são utilizadas para
armazenamento e acesso a programas simultaneamente, a quantidade de memória pode
influenciar na velocidade de processamento do computador (BAUER, 2014, p. 24).
Hard Drive (Disco Rígido): é o lugar onde as informações são gravadas em um
computador.
6 Constitui de um sistema contendo uma unidade central de processamento (CPU) ligada à vários
periféricos de entrada (teclados, mouse, etc.) e de saída (monitores de vídeos, áudio e impressoras). 7 Computador portátil com unidades de processamento e periféricos (monitores, teclados e mouse)
integrados.
33
Central processing unit (CPU) Unidade Central de Processamento8: É basicamente o
cérebro do computador. A CPU executa todas as funções atribuídas ao computador,
executando os comandos e operações dos programas que estão em uso. A velocidade de
processamento do componente “processador” influencia na capacidade e velocidade da
máquina.
Operating System (Sistema Operacional) é o software que permite que o usuário interaja
com o computador. É o programa mestre, oferece ao usuário a interface e assistência com
diversos tipos de tarefas, incluindo executar outros programas. Os sistemas mais comuns
incluem OSs, Windows, Mac OSX e Linux. Dispositivos móveis também possuem
sistemas operacionais como o iOS e o Android.
Arquivos, diretório e pastas: são criados para facilitar a localização de informações, dados
armazenados e programas instalados.
Portas: todos os computadores possuem entradas e saídas para periféricos como teclados,
monitores, impressoras, mouses e caixas de som. Essas conexões são feitas através de
portas. As portas mais comuns são: a USB (usada para conexões de teclados, mouses e
discos rígidos, entre outros dispositivos). A Firewire (usada para conectar interfaces de
áudio, vídeo e hardwares externos) e a porta Ethernet (usada para conectar um modem ou
roteador de acesso à internet ou rede interna). Áudio Input (microfones) e áudio output
(alto-falantes e fones de ouvido), conector de monitores como VGA ou saída para
projetores multimídia.
Programas, softwares ou aplicativos: são ferramentas criadas para executarem tarefas
específicas, como um editor de texto, tocador de áudio ou editor de imagens ou som.
(BAUER, 2014, p. 25).
Atualmente diversos tipos de outros dispositivos podem interpretar informações
computacionais. Assim surgiram ferramentas além do computador como por exemplo, os
smartphones (telefones inteligentes), as smart-tv (televisores inteligentes), a câmera
fotográfica digital e o Tablet.
8São utilizados em português o mesmo termo “CPU” para descrever este componente.
34
1.2.2 O Surgimento da Internet e suas Implicações
A Internet e as TIC na atual conjuntura social, estão intensamente relacionadas.
Miranda (2007) diz que a internet é a maior forma de expressão das TIC (MIRANDA, 2007, p.
43). De fato, através da internet novos sistemas de comunicação e acesso à informação foram
criados.
A internet surgiu em meio a um conturbado cenário político, que envolvia a chamada
guerra fria entre a União Soviética e os Estados Unidos. Os primórdios da internet remontam ao
ano de 1969 com o programa que conectava laboratórios de pesquisas americanos chamados de
ARPAnet (Advanced Research Project Agency) (TAIT, 2007, p. 1). O nome internet surgiu mais
tarde, quando o programa foi estendido para conectar universidades e laboratórios, primeiro nos
EUA, depois em outros países. A comunicação entre os computadores em rede era possível pelo
processo de comunicação entre eles feitos através de protocolos de comunicação, que é o
chamado de Transmission Control Protocol (Protocolo de Controle de Transmissão) - TCP/IP e
Internet Protocol (Protocolo de Internet) – IP.
Durante as duas décadas seguintes à sua invenção, a internet permaneceu no campo
acadêmico e militar, mas em 1987 foi liberado o uso comercial nos Estados Unidos (TAIT, 2007,
p. 1), no entanto foi somente a partir de 1991 que sua disseminação se concretizou. Esse
acontecimento se deve a invenção de Tim Berns Lee, que desenvolveu o que conhecemos hoje
como Rede Mundial de Computadores (World Wide Web) (TAIT, 2007, p. 2) através do
Protocolo de Transferência de Hipertexto (Hyper Text Transfer Protocol) - HTTP que fez surgir
o sistema de hipertexto. Esse protocolo permite a transferência de arquivos entre computadores
em rede, visto que podemos visualizar a internet como uma grande rede de computadores
interligadas, ou melhor, uma rede mundial de computadores interligadas. Da década de 1990 até
os dias atuais a internet tem se colocado como um dos principais fenômenos midiáticos do século
XXI.
Os termos Cibercultura e Ciberespaço, cunhados pelo filósofo francês Pierre Lévy,
associam o fenômeno tecnológico a um fator cultural pensando na internet como o centro desse
processo. Levy (2010) define esse universo propondo uma junção entre os ambientes físicos e os
ambientes virtuais, ou seja, o fator cultural dentro do espaço virtual.
35
O Ciberespaço [...] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão
mundial de computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura
material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de
informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e
alimentam esse universo. Quanto ao neologismo “Cibercultura”, especifica aqui
o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de
modos de pensamento, de valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do Ciberespaço (LEVY, 2010, p. 15).
Atualmente se fala também no termo Web 2.0. Esse termo foi cunhado em 2004 por
Tim O’Reilly, presidente da O’Reilly Media. Ao analisar uma série de empresas que tinham
aberto processo de falência devido à explosão da bolha “pontocom”9 de 2001 e outras que tinham
sobrevivido, O’Really propôs a ideia de uma nova geração de internet, uma nova versão que
definiu como sendo uma internet com uma participação mais ativa do usuário, contrapondo a
ideia da internet 1.0, em que o usuário tinha uma participação mais passiva, de expectador sem
interagir muito com a rede. (ADELL, 2012, p. 27).
A concepção de Web 2.0 abrange a questão do aumento da difusão da banda larga, o
que tornou possível distribuir e compartilhar pela internet além de textos e imagens, também a
transmissão do áudio, vídeo, mapas interativos, streams ou fluxo de informações transmitidas em
tempo real como TV ou música. Conteúdos de construção compartilhada em rede e muitas outras
formas de produzir e divulgar qualquer tipo de informação. Atualmente uma pessoa com um
celular com câmera e microfone pode criar seu próprio canal de TV transmitindo vídeos
referentes a diversos conteúdos (ADELL, 2012, p. 28). Outra característica dos usuários da Web
2.0 é que os administradores de sites não são mais os únicos fornecedores de conteúdo, os
mesmos agora são alimentados pelos próprios usuários, como podemos exemplificar com a rede
social Facebook (www.facebook.com) e o site de repositórios de vídeos Youtube
(www.Youtube.com).
Como proposto anteriormente, pode-se dizer que uma plataforma para acesso - nesse
caso sendo o computador e outros dispositivos - capaz de processar informações computacionais
e a internet podem ser entendidos como elementos centrais para o desenvolvimento das TIC.
9A bolha da interntet, ou bolha pontocom, foi uma bolha especulativa criada no final da década de
1990, caracterizada por uma forte alta das ações das empresas de tecnologias da informação e comunicação, as TIC,
baseadas na internet. Essas empresas eram chamadas “ponto com” ou “dot com”, devido ao domínio de tipo .com
constante no endereço de muitas delas na internet. No auge da especulação, o índice da bolsa eletrônica de Nova
York – Nasdaq, chegou a alacançar 5000 pontos, despencando logo em seguida. (www.wikipedia.org) disponível
em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bolha_da_Internet.
36
1.3 AS TIC E A EDUCAÇÃO
Essa parte do capítulo traz à discussão o processo de como as TIC estão chegando à
escola.
1.3.1 As TIC e a escola
As disseminações das TIC na contemporaneidade introduzem novos desafios para a
escola e a educação, até porque coloca a mesma frente a um dilema cultural e histórico. A escola
tal como conhecemos hoje, teve suas bases estabelecidas em outro contexto social, como
podemos ver pela reflexão de Kenski (2013): “a estrutura atual das escolas orienta-se pelo
momento social em que o acesso à informação era raro, caro, difícil e demorado” (KENSKI,
2013, p. 86).
Certamente é necessário ponderar que a escola como conhecemos vem de um modelo
que está estável há muito tempo, e não é um processo simples romper com um padrão
incorporado há séculos na sociedade, como discorre Levy (2010):
A escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do
mestre, na escrita manuscrita do aluno, e há quatro séculos, em um uso
moderado de impressão. Uma verdadeira integração da informática supõe,
portanto, o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o que não
pode ser feito em alguns anos (LEVY, 2010, p. 9).
A escola tradicional que sempre foi vista como um espaço estável de construção e
transmissão do conhecimento, hoje está operando em paralelo com outras fontes de acesso à
informação e consequentemente surgem novas maneiras de ensinar e aprender.
O avanço das TIC leva a escola a um novo contexto de atuação. Primeiro porque a
construção de conhecimento não precisa mais ficar somente centrada à sua ação como sendo o
único órgão social responsável pelo seu oferecimento, segundo porque o professor pode assumir
uma nova forma de proferir conhecimento, tendo a possibilidade de ser um mediador e
direcionador de pesquisa em um ambiente com muita informação e dessa forma chegar ao
37
objetivo final que é o de construção de conhecimento. “O professor é incentivado a tornar-se um
animador da inteligência coletiva de seus grupos de alunos em vez de um fornecedor direto de
conhecimentos” (LEVY, 2010, p. 160).
Partindo dessa ideia pode-se dizer que o modelo de escola que segue uma forma
engessada de currículo e planejamento estará na contramão da evolução social, pelo menos
analisando pelo ângulo das tecnologias digitais.
O relatório do projeto Horizon Report – edição K12 - 201310, aponta algumas
tendências relacionadas à tecnologia que estão acontecendo na educação. A pesquisa para se
chegar ao relatório foi feita através de uma extensa revisão de artigos atuais, entrevistas,
documentos e novas pesquisas para classificar e qualificar tendências que estão afetando
atualmente o ensino, a aprendizagem e a investigação criativa no ensino fundamental.
O relatório aponta quatro tendências:
1) Os paradigmas da educação estão mudando para incluir a aprendizagem on-line, a
aprendizagem híbrida11 e os modelos colaborativos. A mídia social está desafiando como as
pessoas interagem, apresentam ideias, informação e se comunicam.
2) Abertura – conceitos como aberto, dados abertos, juntamente com noções de transparência
e fácil acesso aos dados de informações estão se tornando um valor.
3) Conforme os custos de tecnologias caem e os distritos escolares revisam e abrem suas
políticas de acesso, se torna cada vez mais comum os alunos trazerem seus próprios dispositivos
móveis para a sala de aula.
4) A abundância de recursos e relacionamentos facilmente acessíveis pela internet está nos
desafiando a revisar nossas regras como educadores. (JOHNSON et. all, 2013, p. 8).
Os tópicos apresentados acima mostram que já estão acontecendo abordagens
metodológicas tecnológicas na escola, no entanto é preciso considerar que, como dito
anteriormente, o sistema educacional vigente faz parte da própria história da sociedade e romper
com esse modelo não é um processo simples. Podemos entender que o uso das TIC na educação
10 As séries New Media Corsortium (NMC) Horizon Report são parte do NMC Horizon Project: um
empreendimento de pesquisa global estabelecido em 2002, que identifica e descreve as tecnologias emergentes com
possibilidade de grande impacto ao longo dos próximos cinco anos na educação em todo o mundo. 11 Aprendizagem Híbrida: Educação à distância juntamente com a aula presencial em que podem ser
usados recursos como a internet, além de outros para a parte em que se concentra o processo de EAD.
38
ainda é muito recente, e as propostas teóricas para esse processo, embora haja muita pesquisa,
ainda não atendem a todas as necessidades que possam surgir em sala de aula. O próximo tópico
buscará esclarecer esse processo.
1.3.2 Novas concepções metodológicas
Como dito anteriormente, um dos fatores a serem considerados em relação ao uso das
tecnologias em sala de aula, é o fato de que as TIC ainda são recentes como fenômeno social e
dessa forma ainda não existe uma base teórica consistente relacionando-a com a educação, como
afirmam Mishra e Koehler (2006)
A maioria das pesquisas em tecnologias educacionais consiste de estudos de
casos, exemplos de melhores práticas, ou implementações de ferramentas
pedagógicas [...] eles são apenas os primeiros passos para o desenvolvimento de
quadros teóricos e conceituais unificados que nos permitam desenvolver e
identificar temas e construções que seriam aplicáveis em toda diversidade de
casos e exemplos práticos (MISHRA e KOEHLER, 2006, p. 1018) (Tradução do
autor)12
Um dos caminhos de pesquisa que está emergindo para a construção de uma base
teórica envolvendo a utilização das tecnologias na educação vem dos autores citados acima
Mishra e Koehler (2006). Os autores propuseram um quadro teórico integrando o uso de
tecnologias a um outro modelo pedagógico proposto anteriormente por Lee S. Shulman (1986), o
Conhecimento Pedagógico do Conteúdo - CPC (Pedagogical Content Knowledge – PCK).
Segundo Salles (2010), o CPC “é um conhecimento específico da docência e emerge e cresce
quando professores transformam o conhecimento do conteúdo específico em conhecimento a ser
ensinado” (SALLES, 2010, p. 23).
Nesse modelo Shulman (1986) citado por Salles (2010) afirma que o CPC “é o
conhecimento da matéria em si e chega à dimensão do conhecimento da matéria para o ensino”
(SALLES, 2010, p. 23). O CPC pode ser entendido como a forma como o professor traduz com
12Most educational technology research consists of case studies, examples of best practices, or
implementations of new pedagogical tools […] But they are just the first steps toward the development of unified
theoretical and conceptual frameworks that would allow us to develop and identify themes and constructs that would
apply across diverse cases and examples of practice (MISHRA e KOEHLER, 2006, p. 1018)
39
ilustrações, demonstrações, exemplos e estratégias específicas, um conteúdo complexo,
compreensível a todos os alunos.
Bauer (2014) diz que o que Mishra e Koehler (2006) fizeram foi basicamente
incorporar um componente a mais ao modelo de Shulman - o conhecimento tecnológico. Assim
os autores criaram um modelo de ensino e aprendizagem chamado Conhecimento Tecnológico
Pedagógico do Conteúdo - CTPC, (Technological Pedagogical and Content Knowledge) –
TPACK (BAUER, 2014, p. 12) (Tradução do autor).
Os autores argumentam que esse modelo consiste em não visualizar os elementos
conteúdo, tecnologia e pedagogia de forma isolada. Os autores propõem uma intersecção entre
esses elementos, e também uma visualização em pares: conhecimento pedagógico do conteúdo
(CPC), conhecimento do conteúdo tecnológico (CCT), conhecimento tecnológico pedagógico
(CTP), e todos os três tomados em conjunto formando o modelo conhecimento tecnológico
pedagógico do conteúdo (CTPC) (MISHRA e KOEHLER, 2006, p. 1026). De forma geral a
proposta desse modelo é descrever os conhecimentos necessários à um professor para a prática
pedagógica efetiva em um ambiente de aprendizagem envolvendo tecnologias.
Na proposta citada acima, o professor precisa fazer uma intersecção dos conteúdos a
serem aplicados passando por alguma mediação tecnológica que facilite o conhecimento. Um
exemplo em uma aula de música seria usar em uma exposição sobre grupos instrumentais por
exemplo, o recurso dos vídeos disponíveis no site Youtube (www.Youtube.com) para mostrar
diferentes formações, diferentes sonoridades, inclusive em várias partes do mundo, tendo a
mesma música tocada por diversos grupos em contextos diferentes. Essa ação propõe abertura
para várias outras discussões, além de facilitar o entendimento do conteúdo. Assim, o material
teórico ou pedagógico seriam as formações musicais (CPC), o conhecimento do conteúdo
tecnológico seria o site Youtube e a internet (CCT), usar esse recurso para esse conteúdo, seria
usar o conteúdo tecnológico pedagógico (CTP) e a exposição e discussão em si, seria a junção
dos três elementos (CTPC) ou (TPACK).
Por falta de espaço, não é intenção da presente pesquisa se aprofundar na teoria
TPACK, o que já seria uma pesquisa por si. A menção a essa proposta se justifica por ser uma
das primeiras bases teóricas preocupadas em estabelecer um caminho para o uso das tecnologias
40
na educação. O próximo tópico abordará a questão do surgimento de um novo perfil de alunos, os
alunos nascidos durante a revolução digital.
1.3.3 Os nativos e os imigrantes digitais
Atualmente os alunos que estão frequentando a escola são de um perfil diferente de
gerações anteriores. Marc Prensky chamou esses alunos de ‘nativos digitais’ (native speakers)
(PRENSKY, 2001). Segundo o mesmo, “nossos alunos hoje são ‘nativos’ da linguagem digital de
computadores, videogames e internet” (PRENSKY, 2001, p. 1) (tradução do autor).13
Para demonstrar o ambiente tecnológico ao qual os alunos que hoje estão em idade
escolar cresceram, o autor diz:
Os estudantes de hoje que estão no colegial, representam a primeira geração que
cresceu cercado por essa nova tecnologia. Eles passaram sua vida inteira
cercados e usando computadores, videogames, tocadores de músicas digitais,
celulares, câmeras digitais e todos os outros brinquedos e ferramentas da era
digital. Um estudante universitário hoje pode ter passado menos de 5.000 horas
de sua vida lendo, mas passou mais de 10.000 horas jogando videogames (sem
dizer as 20.000 horas assistindo TV). Os computadores, jogos e a internet estão
integradas à sua vida.” (PRENSKY, 2001, p. 1). (Tradução do autor)14
Esses alunos possuem um alto nível de interação e relação com linguagem digital, o
que faz com que a escola não seja tão interessante - pelo menos nesse aspecto - para ele. Meira
(2015) diz que um dos grandes problemas nas escolas, não só no Brasil, mas em todo o mundo, é
que os alunos não veem as escolas como um espaço atrativo. Segundo o autor, as “bibliotecas das
universidades públicas e federais tem menos conteúdos interessantes, do que, só para citar um
único endereço na internet, a Wikipédia” (www.wikipedia.org) (MEIRA, 2015, s.p.).
13“ Our students today are all ‘native speakers’ of the digital language of computers, video games and
the Internet” (PRENSKY, 2001, p. 1) 14 Today’s students – K through college – represent the first generations to grow up with this new
technology. They have spent their entire lives surrounded by and using computers, videogames, digital music
players, video cams, cell phones, and all the other toys and tools of the digital age. Today’s average college grads
have spent less than 5,000 hours of their lives reading, but over 10,000 hours playing video games (not to mention
20,000 hours watching TV). Computer games, email, the Internet, cell phones and instant messaging are integral
parts of their lives. (PRENSKY, 2001, p. 1).
41
Em contraponto a este fenômeno, Prensky (2001) afirma que quem começou a utilizar
essas linguagens mais tarde na vida, com mais ou menos entusiasmo, são chamados de
“Imigrantes Digitais” (PRENSKY, 2001 p. 2). Para o autor o imigrante digital sempre conserva
algum “sotaque” e tem lembrança da cultura anterior, em que foi socializado, sem a presença de
tanta tecnologia digital. O imigrante ainda lê manuais, liga perguntando se o e-mail enviado
chegou, chama todos à frente do monitor do computador para ver um vídeo, ao invés de mandar o
endereço eletrônico, e outras centenas de exemplos que denunciam sua formação cultural
(PRENSKY, 2001, p.2).
Esse processo, para o autor, se coloca como sendo um evento muito sério, porque os
professores hoje, em sua grande maioria, são imigrantes digitais e isso gera um conflito com a
geração que está em sala de aula. Para o autor, o professor imigrante digital aprendeu em um
contexto tecnológico social, mas ensina em outro totalmente diferente.
Os imigrantes digitais ainda preferem ensinar em um modelo linear, passo a passo,
um conteúdo de cada vez, e, não acreditam que os alunos possam aprender assistindo TV, ou
ouvindo música (PRENSKY, 2001, p. 3). Os nativos digitais aprendem conectados e acessam a
informação de maneira randômica e navegam tranquilamente pelos hipertextos. Não usam
manual e fazem várias coisas ao mesmo tempo além de absorverem rapidamente o que encontram
(SILVA, 2013, p. 141).
Em vista do que foi dito anteriormente, é necessário que a escola e os professores
“imigrantes digitais”, se esforcem para se alinhar ao contexto digital contemporâneo, até porque,
como coloca Prensky (2001), os nativos entendem o momento atual como uma nova linguagem,
um novo idioma, e como sugere o autor, crianças aprendem facilmente um novo idioma ou
linguagem e não regridem à velha.
Configura-se nesse contexto um cenário em que os professores estão frente a um
fenômeno que não viram em sua formação técnica, na universidade. Nesse sentido é prudente
afirmar que a escola – pelo menos no âmbito das tecnologias digitais - precisa ser repensada. A
escola não deve ficar “isolada” das TIC, pelo contrário, deve se alinhar a tal fenômeno para voltar
a ocupar sua posição de referência na construção de conhecimento e assim tornar-se novamente
interessante aos alunos.
42
É importante também ressaltar que existe uma série de discussões a respeito da
proibição ou não dos alunos portarem celulares e outros dispositivos em sala de aula. É fato que
existem diversos relatos de negatividade da presença desses equipamentos em sala de aula, por
atrapalhar a atenção e gerar conflitos com os professores. Este texto não pretende dar partido à
opção sim ou não, sugere apenas que podem ser desenvolvidos projetos usando esse dispositivo,
além do mais, esse fato pode ser entendido como um exemplo de conflito envolvendo as relações
com as tecnologias das novas gerações e a escola. Como veremos adiante, educar usando as TIC
também implica em ensinar a usá-las.
1.3.4 A questão da Inovação
O termo tecnologia na educação vem sempre acompanhado da ideia de inovação.
Segundo Cardoso “o termo é sempre utilizado como sinônimo de mudança, ou de renovação e
reforma, sem, contudo, tratarem de realidades idênticas” (CARDOSO, 1997, p. 3). Segundo a
autora, inovação não é uma mudança qualquer, ela tem um caráter intencional, afastando do seu
campo mudanças produzidas pela evolução natural do sistema. A inovação é, pois, uma mudança
deliberada e conscientemente assumida, visando uma melhoria da ação educativa (CARDOSO,
1997, p. 3). A inovação não é uma simples renovação, pois implica uma ruptura com o sistema
vigente.
O sistema educacional ao qual estamos acostumados é tão grande que já está
incorporado à nossa cultura e costumes (KHAN, 2013, p. 21). Mudanças nesse sistema
implicariam mudanças em diversos setores da sociedade. O autor afirma que nosso sistema
educacional está totalmente entrelaçado a muitos outros costumes de nossas vidas e modificar um
sistema que está há tanto tempo estável, e apesar dos problemas, funcionando, causaria uma série
de desconfortos e perturbações a curto prazo. Moran (2014) completa:
As escolas de ensino fundamental e médio ainda se sentem fortemente
pressionadas pelas secretarias de educação, pelo vestibular das universidades,
pelas expectativas tradicionais das famílias e pela força da cultura escolar
tradicional. Por isso ainda não estão conseguindo quebrar o modelo padrão de
suas aulas presenciais e presença obrigatória (MORAN, 2007, cap. 4, p. 7).
43
As tecnologias digitais podem representar um significativo elemento nesse processo
de mudança, porém, como alerta Khan (2013) essas tecnologias devem ser contextualizadas para
que não ocorra somente a extensão de práticas antigas mascaradas por equipamentos eletrônicos.
Mesmo escolas que tem avançados sistemas tecnológicos permanecem amarradas no sistema de
ensino convencional.
[...] novas tecnologias oferecem esperança de meios mais eficazes de ensino-
aprendizagem, mas também geram confusão e até mesmo temor; com exagerada
frequência, os recursos tecnológicos não fazem muito mais do que servir de
maquiagem (KHAN, 2013, p. 2).
Implantar sistemas tecnológicos nas escolas, envolvendo computadores, projetores,
sistemas de som e vídeo, internet banda larga, não necessariamente configura inovação, não é um
fenômeno que acontece de uma hora para a outra, é um processo lento.
O fato de ser digital não garante o caráter de “inovação”. Não é a incorporação
de tecnologia que determina as mudanças práticas, mas sim o tipo de uso que o
professor faz das possibilidades e recursos oferecidos pelas TIC (BRAGA, 2013,
p. 59).
As tecnologias quando pensadas para serem utilizadas em sala de aula, ainda estão
centradas no plano instrumental, ou seja, a noção de tecnologia está ligada aos recursos e
dispositivos e não na ação pedagógica do professor. O uso da lousa digital e o uso do programa
Power Point para a apresentação de slides durante a aula, por exemplo, somente transfere uma
prática antiga para a atualidade, sendo diferente somente o canal de transmissão de dados
(BRAGA, 2013, p.59).
Para Meira (2015) a incorporação de tecnologias na educação sem muita reflexão,
planejamento e estrutura, tanto pelo setor público, quanto pelo setor privado, tem como
consequência um gasto significativo de recursos direcionados a estratégias equivocadas e que não
aumentam a velocidade do processo de ensino e aprendizagem dos alunos. O autor expõe, por
exemplo, a estratégia em relação ao uso do tablet. Por diversas vezes, as escolas quando utilizam
essa tecnologia somente transferem o livro impresso para o formato digital (ebook) o que não
aumenta o nível de leitura. Para o autor, o tablet poderia ser uma tecnologia usada de maneira
mais dinâmica. Ao estudar por exemplo, sobre a lei da gravidade, a interação poderia ser
expandida, através da simulação de objetos de pesos, ambientes e densidades diferentes, e depois
pode-se inserir as equações ou as diferentes condições que fazem um conjunto de fenômenos
44
acontecerem em ambientes diferentes. Pois o tablet é um dispositivo que permite tais simulações.
Isso conduz o processo de ensino e aprendizagem a um sistema mais dinâmico e interativo, que
leva a engajar as pessoas naquela simulação de quase jogo sobre o conteúdo abordado, e ainda, se
houver a possibilidade de conectar esses dispositivos à internet, e que esses alunos interajam
entre eles e com os professores e tutores, seria muito diferente de somente inserir o livro no tablet
e pensar na leitura como fazemos com o livro físico. (MEIRA, 2015).
Podemos entender, portanto, que os processos inovadores direcionados ao atual
modelo educacional, vai além do investimento em artefatos. A técnica incorporada à sala de aula
pode trazer a escola de volta ao contexto dos alunos, e assim torná-la atrativa aos mesmos,
aumentando automaticamente a motivação e evitando a evasão pelo desinteresse.
1.3.5 Tendências Metodológicas com as TIC na Escola
Ainda que as tecnologias não estejam integradas totalmente ao sistema educacional,
algumas ações já começam a ser visíveis. Moran (2007) descreve um prospecto de como
normalmente as tecnologias estão chegando à escola. O autor aborda esta questão em três etapas:
Na primeira etapa as TIC começam a ser usadas para melhorar o desempenho de
processos que já existiam, como sistemas de chamadas, notas, diários, matrículas, boletins
escolares e folhas de pagamento. Depois passam a ajudar o professor na aula com as
apresentações, digitações de textos e banco de dados para avaliação.
Já na segunda etapa os laboratórios são mais usados para projetos, utiliza-se mais o
vídeo e a internet durante as aulas. Professores propõem atividades virtuais em blogs, fóruns,
grupos de discussão, podcasts e produção de vídeos.
Na terceira etapa é que se começa a utilizar tecnologias para mudanças na escola e na
universidade. “Trabalha-se mais com projetos integrados de pesquisa e há mais atividades
semipresenciais ou totalmente on-line. O currículo universitário permite atividades à distância
complementares às presenciais”. (MORAN, 2007, cap. 4, p. 69).
45
Estão disponíveis na internet uma série de mecanismos que podem ser aliados à
educação. Entre as ferramentas atuais está o Google Classroom.15 O Google Classroom está
disponível para qualquer pessoa que utiliza o pacote de aplicativos do Google que inclui o Gmail,
o Google Drive e o Google Docs. É uma plataforma direcionada a professores para interação com
os alunos porque os arquivos podem ser compartilhados e produzidos em tempo real. Os
professores podem receber tarefas, compartilhar a agenda de aulas e conteúdo. Funciona
basicamente como uma plataforma gratuita de aprendizagem, mas é necessário que o professor
ou a instituição tenha um domínio na internet. Outra ferramenta disponibilizada pela empresa
Google é o Google Scholar ou como conhecido no Brasil Google Acadêmico. É um site
específico de buscas de pesquisas concluídas, artigos e outros trabalhos acadêmicos.
O armazenamento de arquivos em nuvem (Cloud Computing) também se coloca
como uma importante ferramenta, pela facilidade de compartilhamento e acesso dos alunos. Entre
as ferramentas mais populares estão as plataformas Dropbox (www.dropbox.com), Sky Drive da
Microsoft (www.microsoft.com), Google Drive (www.google.com) e o Icloud
(www.icloud.com). Um dos diferenciais desse tipo de ferramenta é que elas podem ser
sincronizadas quando acessadas de diferentes dispositivos. Assim o professor pode fazer
alterações em um documento a partir do computador pessoal, do celular ou do tablet.
As lojas virtuais de aplicativos já oferecem diversos recursos para professores, como
aplicativos construídos para controle de chamada, contato com pais de alunos, aplicativos
corretores de provas, construtores de quizzes e provas de múltipla escolha.
No âmbito das redes sociais os professores também podem utilizar a rede Facebook
(www.facebook.com). Com essa ferramenta é possível criar grupos de debates, canais de
comunicação e envio e recebimentos de arquivos. A rede Linkedin (www.linkedin.com) é a maior
rede social profissional do mundo e reúne usuários em busca de novas oportunidades,
informações e contatos. Os professores podem usá-la não somente para desenvolver
relacionamentos com profissionais que tenham interesses similares, mas também para ler ou
publicar artigos de temas relevantes, o que pode enriquecer seu planejamento de aulas e
avaliações.
15 https://www.google.com/intl/pt-BR/edu/classroom/ Acesso em: 25/02/2015
46
O aplicativo WhatsApp (www.whatsapp.com), de grande popularidade como
aplicativo de troca de mensagens instantâneas, também pode ser incorporado às ações do
professor. Pode-se estabelecer um contato direto com os alunos ou criar grupos de discussão no
aplicativo. Existe uma grande quantidade de aplicativos direcionados ao uso em sala de aula,
porém sua catalogação e descrição não é o objetivo desta pesquisa. Os aplicativos descritos acima
podem ser vistos como uma porta de entrada para o professor que pretende incorporar esses
recursos em suas práticas.
1.3.6 As possibilidades de aprendizagem em ambientes virtuais
Outros exemplos de integração entre tecnologia e educação podem ser vistos nos
projetos dos chamados Cursos On-line Abertos Massivos (Massive Open On-line Course –
MOOC), que são plataformas de ensino gratuito em massa que estão no âmbito da educação à
distância (EAD). Correspondem a programas oferecidos por um grande número de instituições no
mundo inteiro que disponibilizam cursos on-line e gratuitos.
Um dos principais aspectos dessas plataformas é que a barreira geográfica em relação
ao acesso desaparece, porém surgem outras dificuldades, como conexão à internet, proficiência
em idioma estrangeiro, habilidades informacionais e alto índice de evasão. As limitações estão
relacionadas às estruturas tecnológicas que o usuário precisa dominar para acompanhar o curso e
ao seu “letramento digital”.
Inamorato e Mota (2012) definem os MOOC como sendo o mais recente fenômeno
educacional envolvendo as redes digitais. O sistema tem significativos benefícios como, por
exemplo, alunos que não estudam nas instituições concedentes desses cursos, podem participar.
Há também a questão da escalabilidade, podendo ser disponibilizado a centenas de milhares de
alunos. Outra vantagem desse tipo de plataforma é que embora existam outras formas de acessar
informações na internet, nos MOOCs os conteúdos são planejados e organizados de modo
progressivo, ou seja, o aluno não acessa a informação de maneira fragmentada. A escolha de um
determinado curso tem começo, meio e fim, além disso, o material disponibilizado inclui vídeos e
material impresso.
47
As avaliações normalmente são realizadas em conjunto com outros participantes, e os
alunos sempre recebem um retorno dos colegas de curso ou dos tutores.
As plataformas mais comuns são as seguintes: Coursera16, Udacity, EDX, Openuped
e os portais brasileiros VEDUCA e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nessas plataformas o aluno
tem a oportunidade de cursar diversas disciplinas entre humanas e exatas em universidades de
diversas partes do mundo. Algumas dessas plataformas, como é o caso das plataformas Coursera,
Veduca e FGV, emitem certificado de conclusão. Esses podem ser posteriormente validados
dependendo da política de algumas universidades.
Vale também destacar o trabalho desenvolvido pela Khan Academy. É uma
plataforma de aprendizagem on-line criada pelo professor, matemático e cientista da computação
Salman Khan. O projeto contempla diversas disciplinas nas áreas de exatas e humanas, sendo que
em exatas, matemática é o conteúdo mais explorado. Khan construiu a Khan Academy como uma
proposta inovadora, utilizando diferentes recursos tecnológicos interativos para abordar os
conteúdos das aulas.
É preciso salientar que o professor, Khan, tem base pedagógica e de informática,
sendo assim construiu uma plataforma com características de extrema eficiência tornando-se um
fenômeno entre os alunos do ensino médio em diversos países.
A Khan Academy possui softwares de treinos feitos pelo próprio docente e
premiações para alunos. No Brasil já funciona com vídeos em português em virtude da parceria
feita entre o professor e a fundação Lemman. O software envia perguntas e mede progressos. Os
vídeos de aulas são cuidadosamente organizados por tipos de conteúdos e níveis. Os alunos
podem receber atualizações via e-mail e realizar testes periodicamente.
No Brasil, uma das políticas relacionadas a educação à distância (EAD) está ligado ao
projeto Universidade Aberta do Brasil (UAB). “A Universidade Aberta do Brasil é um sistema
integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior para camadas da
população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio do uso da
metodologia da educação à distância” (http://uab.capes.gov.br/, acesso 20/04/2015). Esse
programa oferece diversas modalidades de cursos, entre eles, cursos de Licenciatura em Música,
16www.coursera.org, www.udacity.com, www.veduca.com, www.portalfgv.br, www.edx.org
48
que são oferecidos pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e a Universidade de
Brasília (UNB).
De fato, os sistemas acima citados são novos em relação ao sistema tradicional, mas
mostram uma tendência de distribuição e acesso ao conhecimento no futuro. Como dito
anteriormente, a estrutura educacional criada há vários séculos ainda é uma estrutura rígida, mas
sem dúvida os projetos apresentados revelam novas tendências de acesso ao conhecimento para
os anos vindouros.
1.3.7 Os efeitos adversos do uso excessivo das TIC
Embora existam ideologias favoráveis em relação às tecnologias digitais, é preciso
alertar também para o lado negativo do uso das TIC. Já existe uma série de doenças
diagnosticadas relacionadas à dependência das tecnologias digitais, desde de desgastes físicos por
esforço repetitivo até doenças psicológicas e comportamentais.
Tais doenças são atribuídas às pessoas que não conseguem se desconectar ou ficar
longe dos recursos tecnológicos. São indivíduos viciados em games, internet, computadores,
celulares e smartphones. Possuem obsessivo desejo em se manter atualizados com os últimos
lançamentos tecnológicos, como dispositivos e aplicativos, ou a frustração pelo atraso em
adquirir os últimos dispositivos. Enfim, são fatores que estão afetando uma série de pessoas em
todas as idades.
Usar as TIC na educação implica também em ensinar o educador a usá-las, como na
reflexão de Rich (2013) “As mídias são inevitáveis, poderosas e cada vez mais essenciais.
Inerentemente, elas não são nem malignas e nem benéficas, mas podem vir a sê-lo, dependendo
de como são usadas” (RICH, 2013, p. 31). A questão dos atos prejudiciais que as mídias digitais
podem causar, devem ser contextualizadas, pensadas e discutidas, para que o educador possa usá-
las de forma positiva e evite as negativas.
Burgos (2014) cita o psicólogo americano Dr. Larry D. Rosen, que há 25 anos
desenvolve uma pesquisa investigando a relação das pessoas com as tecnologias, e criou o termo
iDisorder. O próprio pesquisador define o termo como: alterações em sua capacidade cerebral
49
para processar a informação e a interferência em sua capacidade de se relacionar com o mundo
devido ao seu uso excessivo diário dos meios de comunicação e tecnologia resultando em sinais e
sintomas de distúrbios psicológicos - como estresse, insônia e uma necessidade compulsiva de
verificar toda hora seus dispositivos tecnológicos. (ROSEN, 2011).
O médico atribui esse termo a uma doença do nosso tempo, ou seja, é o tipo de
patologia atribuída às pessoas que usam tecnologias conectadas de maneira excessiva, que podem
potencializar transtornos psíquicos em maior ou menor grau, que ele determinou da seguinte
maneira: Transtornos do eixo I - os transtornos de humor (depressão, déficit de atenção e
hiperatividade e esquizofrenia) e os transtornos do eixo II que são os distúrbios de personalidade
(transtorno de personalidade antissocial, narcisista e obsessivo-compulsivo) (BURGOS, 2014, p.
9).
Em relação à faixa etária infantil e aos adolescentes o problema é ainda mais sério,
pois as crianças e os adolescentes rapidamente adquirem intimidade com as tecnologias digitais,
o que mais à frente, durante a fase da pré-adolescência e futuramente na fase da adolescência,
poderá desviá-los do resguardo dos pais, deixando-os à mercê de todos os perigos digitais na
internet como por exemplo o Cyberbulling (RICH, 2012, p. 36). O celular, ou outro dispositivo
em alguns casos, causa o isolamento do adolescente no ambiente normal, já no ambiente virtual,
o mesmo acaba criando um mundo particular ao qual os pais têm dificuldade de controle. E nesse
ambiente o mesmo assume uma nova postura social, interagindo de diversas maneiras. Através
das redes sociais eles estão intensamente conectados, travando diversos diálogos
simultaneamente, enquanto mantém a privacidade de cada conversa.
Outro importante fator a considerar em relação ao uso de tecnologias é a privacidade.
Atualmente são comuns casos envolvendo postagens de fotos e vídeos em redes sociais e crimes
como roubo de dados pessoais, entre outros. Deve-se ter cuidado ao expor qualquer tipo de
informação ou arquivo na internet, pois, uma vez que uma informação se fixe na rede,
dificilmente poderá ser totalmente removida.
Não é intenção desse texto demonizar o uso das tecnologias digitais, ao contrário,
busca usá-las em benefício da educação musical, mas deixa um alerta para que o uso seja
conduzido com parcimônia e controle, pois como colocado anteriormente seu uso excessivo pode
a vir a se tornar um transtorno grave em qualquer idade.
50
O presente capítulo pretendeu apresentar uma visão geral sobre como as TIC estão
relacionadas com a sociedade e sobretudo com a educação. O tópico seguinte abordará as
questões tecnológicas relacionadas à área musical e a educação musical.
51
2 INTERFACES ENTRE AS TIC E A MÚSICA
Na presente sessão será apresentada a relação das TIC com a área musical. Será
traçado um panorama geral envolvendo sistemas eletrônicos e de informação digital e suas
implicações, como o surgimento da gravação e do formato digital de áudio. Na segunda parte do
capítulo serão contextualizadas as possibilidades tecnológicas para a educação musical, bem
como a questão da formação tecnológica do educador musical frente às TIC. Nesse contexto, a
exposição será em relação ao manuseio, domínio e algumas propostas de possibilidades de
aplicação desses recursos em sala de aula.
2.1 AS TECNOLOGIAS APLICADAS À ÁREA MUSICAL
Nesse primeiro tópico, veremos como as tecnologias transformaram
significativamente a música em todos os setores, desde a composição, apreciação e
aprendizagem. Serão aqui tratadas essas influências, bem como suas interferências na área
da educação musical.
2.1.1 Breve histórico das relações entre a música e as tecnologias
As relações entre música e alguma forma de tecnologia comumente aparecem em
textos referentes à história da produção musical pela humanidade. Podemos refletir nesse
contexto como a evolução da mecânica dos instrumentos (inserção de pistos e chaves nos
instrumentos de sopros, evolução do piano, etc.) influenciou a orquestra e consequentemente
criou novas perspectivas de padrões estéticos durante todos os períodos da música ocidental.
Como nos diz Iazzetta (2009) “a própria orquestra sinfônica é uma vitrine de
desenvolvimentos tecnológicos complexos sem os quais a música ocidental não poderia ser o que
é” (IAZZETTA, 2009, p. 17). Inclui-se entre essas tecnologias a notação musical, que como
52
citado por Gohn (2008) causou uma revolução na transmissão do conhecimento musical (GOHN,
2008, p. 3).
Além dos procedimentos tecnológicos referentes a melhoramentos da mecânica dos
instrumentos e avanços na construção dos mesmos, somando esse fator às novas técnicas de
arranjo e orquestração, outro fator determinante para uma significativa mudança na área musical
foi a descoberta da eletrônica, como nos diz Vasconcellos (2002)
Naturalmente, desde quando a eletricidade começou a fazer parte integral de
nossas vidas, se pensou em utilizá-la também para fins musicais. Percebeu-se
desde o início que muita coisa a eletricidade poderia fazer pela música
(VASCONCELLOS, 2002, p. 198).
Partindo deste pressuposto, é importante que se contextualize aqui a diferença entre
elétrico e eletrônico.
No primeiro, o sistema necessita de acionamento por um sistema mecânico, como
uma chave ou interruptor, ao passo que no sistema eletrônico é necessário um sistema para
ativação. Em um sistema elétrico a corrente elétrica é manipulada por uma ação mecânica, uma
chave por exemplo, e o sistema eletrônico permite que uma corrente elétrica manipule a outra, ou
seja, sem a necessidade de uma ação física, como ocorre com o transistor (FORNARI, 2015).
O avanço da eletrônica na área musical possibilitou a construção de instrumentos de
diversas naturezas, como é o caso do Telharmonium em 1906 por Thadeus Cahill. Segundo
Fritsch (2008), esse instrumento era um sintetizador de grandes proporções, medindo 18 metros
de largura e pesando 200 toneladas. Esse instrumento produzia diferentes frequências de áudio
que eram controladas por um teclado com sensibilidade ao toque. O sinal produzido era
convertido em som e amplificado acusticamente por cornetas, pelo fato de ainda não existirem
amplificadores (FRITSCH, 2008, p. 25).
Um dos mais antigos e influentes instrumentos eletrônicos foi o Theremin, inventado
em 1920 por Lev Sergevich Termer (Léon Theremin). O instrumento é composto por osciladores
que são amplificados através de alto falantes. O instrumentista controla a altura com a mão direita
e a amplitude com a mão esquerda. Esse instrumento foi utilizado para produção de trilhas para
filmes, principalmente com temas de ficção científica, e também foi utilizado em peças
orquestrais, sendo o primeiro a utilizá-lo o compositor russo Dmitri Shostakovich, em 1931
(FRITSCH, 2008, p. 27). Além destas propriedades o Theremin também é alimentado a válvulas.
53
Outro importante fator a considerar é que o Theremin é um instrumento que pode ser tocado sem
o contato físico com o instrumentista, similar ao conceito posteriormente proposto por Fornari
(2012) na construção um “Bodiless Musical Instrument (BMI); um instrumento musical
computacional que também pode ser tocado sem nenhum contato com o corpo do instrumentista”
(FORNARI, 2012, p. 3)17.
Outros instrumentos eletrônicos foram desenvolvidos na década de 1920. Na França,
o compositor Maurice Martenot inventou o instrumento que leva seu nome – Ondas Martenot,
em 1928. Frederick Trautwein desenvolveu o Trautonium na Alemanha em 1928
(VASCONCELLOS, 2002, p. 198).
Para Iazzetta (1997) a diferença entre o antes e o depois do domínio da eletrônica era
que antes do advento da mesma, os sons dos instrumentos eram produzidos somente por
processos mecânicos, ou seja, “todo som era proveniente da vibração de algum material elástico
(as cordas de um violão, as palhetas de um oboé ou as teclas de uma marimba) que se
propagavam pelo ar até chegarem ao ouvido do ouvinte” (IAZZETTA, 1997, p. 1). O que
aconteceu com a chegada da eletrônica, é que a produção do som agora não precisava mais ser
gerada por um meio mecânico, embora as ondas sonoras que chegam até os nossos ouvidos sejam
da mesma natureza (IAZZETTA, 1997, p.1), e ainda seja necessário a ação mecânica do alto
falante para transferir a informação sonora novamente ao ambiente acústico.
A outra invenção que teve significativa influência na música foi a do processo de
gravação do som. Segundo Farias (2009), o mesmo aconteceu primeiro através do Fonógrafo,
inventado pelo americano Thomas Edison em 1877, depois o alemão Emile Berliner desenvolveu
o Gramofone em 1887. O fonógrafo utilizava vibrações para imprimir em um cilindro com uma
fina camada de estanho impressões de som, que posteriormente eram reproduzidas através de
uma agulha e transmitida para uma corneta para a amplificação. O Gramofone utilizava o mesmo
princípio, mas com a diferença de que o disco era plano.
Posteriormente a gravação passou a ser realizada através do recurso da eletrônica.
Segundo Alves (2006) a gravação por meio da eletrônica pode ser realizada de três maneiras:
através de gravadores analógico de fita, digital de fita e digital de hard disk (HD) (ALVES, 2006,
17 Bodiless Musical Instruments (BMI); virtual musical instruments that can be played without
any contact with the performer's body (FORNARI, 2012, p. 3)
54
p. 115). Na gravação analógica, o que acontece é uma transferência próxima do material sonoro
original para a fita de gravação. Nesta, as partículas magnéticas são agrupadas de acordo com os
sinais elétricos emitidos pela cabeça gravadora (ALVES, 2006, p. 116). Já a gravação digital
baseia-se na conversão do sinal elétrico de áudio em números. Esta tarefa é realizada pelo
conversor analógico – digital (analog – to – digital converter, ADC) que captura amostras
periódicas da forma de onda e os transforma em dados binários (ALVES, 2006, p. 117). Estes
conceitos serão melhores discutidos no próximo tópico sobre som analógico e som digital.
De qualquer forma, este invento influenciou significativamente a música por ter
proporcionado o início da fonografia, este processo proporcionou que o som, até então um
fenômeno intangível e efêmero pudesse ser registrado e reproduzido com suficiente similaridade
do seu original. Com esse acontecimento, Iazzetta (2009) afirma que:
O pensamento composicional ganhou novas referências, a performance passou a
contar com processo de registro refinado e os meios de distribuição e
comercialização expandiram-se de maneira -explosiva” (IAZZETTA, 2009, p.
18).
Sem dúvida a descoberta e domínio da eletrônica e da gravação do som causaram
profundas mudanças nas mediações sociais relacionadas à música, desde a descoberta de novas
sonoridades, até a mudança do conceito de apreciação e comercialização das obras musicais.
Consolidou-se toda uma estrutura industrial com a produção de equipamentos, instrumentos e a
formação e crescimento da indústria fonográfica. O próximo capítulo teórico trata da matéria
prima básica desse fenômeno - o som. Será também contextualizada sua abordagem no sistema
digital.
2.1.2 O som analógico e o som digital
Segundo Dodges (1997) o fenômeno sonoro é estudado no campo da Acústica e da
Psicoacústica. A primeira corresponde à área da física onde são estudados os conceitos físicos de
produção, transmissão e recepção do som. Já a Psicoacústica é a ciência que estuda como é a
percepção humana do som em relação à informação acústica. É a área que estuda como o
processamento da orelha média, interna e do cérebro afetam a percepção humana do som
55
(DODGES, 1997, p. 25). Para que possamos entender a relação do som analógico e o som digital,
se faz necessária uma reflexão sobre como percebemos e codificamos o fenômeno sonoro.
O som, de sua geração à nossa percepção, é contextualizado por Fornari18(2015). Para
o autor o primeiro estágio do processo acontece com a forma de recepção do ouvinte com as
vibrações acústicas:
Na minha concepção do lado de fora não há som, mas sim as vibrações
mecânicas de compressão e expansão do meio elástico (o ar) que constituem o
sinal acústico. Nós percebemos como som uma limitada porção dessas vibrações
mecânicas que se deslocam pela atmosfera; algo entre 0 e 120dB de pressão
sonora e 20 a 20.000Hz de frequência. Percebemos simultaneamente (com os
dois ouvidos) essa informação acústica de vibração que também possibilita a
localização espacial da fonte geradora sonora. Para mim o som é a decorrência
da percepção auditiva e da identificação cognitiva do fenômeno acústico
(FORNARI, 2015, s.p.).
A interação dessas vibrações com a atmosfera, gera processos de compressão e
expansão, que irão colidir com todo o nosso corpo, ou seja, o processo de percepção não se dá
somente nos ouvidos:
As ondas acústicas, de compressões e expansões do meio elástico (normalmente
o ar), colidem com todo o nosso corpo. Algumas delas são percebidas por outros
meios além dos ouvidos, como através da vibração das superfícies da pele ou
mesmo das nossas vísceras. (FORNARI, 2015, s.p.).
Acontece que o ouvido tem a função de coletar a maior parte dessa informação:
O órgão fundamental de captação dessa informação acústica são os ouvidos.
Esta inicia no duto ou canal da orelha externa. O formato da orelha já age como
um filtro que privilegia as frequências relacionadas à comunicação humana
através da fala, bem como auxilia na localização da fonte sonora, especialmente
no plano horizontal. (FORNARI, 2015, s.p.).
No estágio seguinte, essas vibrações mecânicas chegam ao tímpano, que vibra em
ressonância com a vibração acústica e movimenta 3 ossículos localizados no ouvido médio: o
martelo, a bigorna e o estribo, que amplificam esta vibração e a enviam ao ouvido interno que é
onde se localiza a cóclea, como descrito abaixo pelo autor:
Essas vibrações passam pelo duto do ouvido externo e colidem com o tímpano,
fazendo-o vibrar, e a amplitude dessa vibração é microscópica, [...] enfim é uma
vibração extremamente pequena que chega ao ouvido médio onde estão
18Depoimento coletado através de entrevista com o Dr. José Eduardo Fornari Novo Júnior na disciplina
MS 260-A - Seminário Experimental: "Software e Hardware Livre em Música". 1º semestre – 2015.
56
localizados os ossículos: martelo, bigorna e estribo que funcionam como uma
espécie de alavanca. Eles amplificam esse sinal, fazendo com que a intensidade
dessas vibrações sejam amplificadas. O estribo, que é o menor osso do corpo
humano, está conectado com o ouvido interno, onde encontra-se a Cóclea [...].
(FORNARI, 2015, s.p.).
No estágio seguinte, ocorre o processo de transmissão das informações sonoras ao
cérebro e o processo final de decodificação da informação acústica, que iremos perceber como
som:
Dentro da Cóclea, que é enrolada e aproximadamente do mesmo tamanho de um
caracol de jardim, [...] existe a membrana basilar, que é a base para o órgão de
Corti, onde se processa a transdução da vibração mecânica ou acústica, em
elétrica, que são os pulsos neurais, gerados pelas células ciliadas. Esta
membrana tem a forma de uma cunha, onde estão localizadas cerca de 15000
células ciliadas. Estas são as responsáveis pela transformação da vibração
mecânica em impulsos nervosos, ou seja, os sinais elétricos que caminham
através dos neurônios. Todas essas células conectam-se ao nervo auditivo que
leva a informação sonora para o cérebro. Este recebe esta informação de cada
ouvido e a comunica simultaneamente a duas regiões cerebrais, o córtex
auditivo, responsável pelo processamento cognitivo da informação sonora, e o
tálamo que se comunica ao sistema límbico e que é o responsável pela
manifestação das emoções. (FORNARI, 2015, s.p.).
Já no ambiente eletrônico e da informática o som é tratado como analógico e digital.
Como descrito anteriormente, o som se origina da vibração mecânica de algum objeto físico com
algum meio elástico, como por exemplo, o ar. As perturbações mecânicas geradas pelas vibrações
podem ser representadas em sinais elétricos por meios de dispositivos (por exemplo, um
microfone) que nesse caso é responsável pelo processo de transdução da vibração mecânica em
elétrica, ou seja, converte essas variações em tensão de voltagem variáveis no tempo. O resultado
dessa conversão é chamado de sinal analógico. Os sinais analógicos são contínuos no sentido em
que consistem de uma série de valores em oposição a valores progressivos. (MIRANDA, 2002, p.
01). Gohn (2012) descreve esse processo:
Os microfones possuem membranas que captam as vibrações e as transformam
em sinais elétricos, obtidos com a oscilação de uma voltagem mantida pelo
circuito do equipamento. Esses sinais podem ser transmitidos por cabos e
enviados a amplificadores e gravadores. O alto-falante faz o trabalho inverso,
pois as vibrações do cone transformam os sinais novamente em movimento no ar
chegando aos nossos ouvidos como som (GOHN, 2012, p. 13).
Para Gohn (2012), as informações no áudio analógico - por serem contínuas não se
perdem - ao passo que no formato digital é necessário que o computador, durante o processo de
57
conversão, produza em tempos pré-determinados uma quantidade de amostras. Esse processo é
chamado de taxa de amostragem. Esses valores são medidos pela unidade Hertz (Hz). Assim, um
valor de por exemplo, 44.1 kHz, indica que o computador realizou 44.100 amostras para cada
segundo de áudio (GOHN, 2012, p. 14). Segundo o autor, esse valor é o padrão de amostras para
os sons gravados em CD.
A escolha deste valor de frequência está relacionado ao chamado teorema de Nyquist19.
Por esta definição, a frequência de amostragem de um sinal analógico, para que possa ser
representado sem o erro de aliasamento (aliasing noise) deve ser maior ou igual a duas vezes à
última componente em frequência deste sinal. Como a faixa máxima de percepção de frequência
agudas do ouvido humano é de aproximadamente 20KHz, a taxa padrão para o sistema de
gravação para o CD é um pouco acima de seu dobro, ou seja, 44.1 kHz.
Também está relacionado ao processo de gravação digital, a quantização. Como o sinal
analógico é contínuo, o conversor analógico – digital (Analogic Digital Converter - ADC) tem a
função de medir os diferentes níveis de voltagem na entrada de sinal e quantizá-los para os
valores mais próximos. Quanto maior a resolução em bits (números em dígitos binários) maior o
número de níveis de voltagem que ele pode quantizar (ALVES, 2006, p. 125). Neste caso por
exemplo, um sistema com oito bits quantiza em 256 níveis, já um sistema com 16 bits pode
quantizar 65.356 níveis e assim sucessivamente com sistemas de 24, 32 e 64 bits.
As informações sonoras na área da informática, assim como outras informações, são
tratadas como dados digitais. Segundo Fritsch (2008), a era do computador para aplicações
musicais começou com o experimento de Max Mathews, que criou o primeiro programa de
computador para a música. “Em 1957 Max Mathews programou o IBM 704, do Bell Labs nos
Estados Unidos para produzir sons sintetizados por 17 segundos” (FRITSCH, 2008, p. 287). O
nome do software era Music I, e mostrou a utilização do computador para gerar sons.
Miranda (2002) afirma que os computadores trabalham com base na matemática
discreta. O autor fala que a matemática discreta é usada quando os valores devem ser contados ao
invés de pesados ou medidos. É adequada para tarefas que envolvam relações entre um conjunto
19Em 1928, Henry Nyquist dos Laboratórios Bell, estabeleceu que a representação digital de um sinal
analógico seria funcionalmente idêntico à forma de onda original se a taxa de amostragem fosse pelo menos duas vezes
a maior freqüência presente na forma de onda analógica (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amostragem_de_sinal. Acesso: 03/08/2015).
58
de objetos e outro. No caso desse processo os cálculos devem envolver números finitos e exatos
(MIRANDA, 2002, p. 1). O áudio é gravado no computador digitalmente. Serra (2002) explica
que quando um som é gravado em um método digital, o mesmo é convertido para valores
discretos, enquanto que, como dito anteriormente, a gravação analógica pressupõe valores
contínuos. Isso quer dizer que em uma gravação digital, arredondamentos e aproximações são
feitos para os valores de pequenas partes de som chamadas de samples: (amostras de um
momento da amplitude do sinal acústico), enquanto que na gravação analógica são valores reais
(SERRA, 2002, p. 7). Podemos entender assim que o som digital é a representação discreta ou
digitalizada da onda sonora, ou seja, como qualquer informação computacional, o som também
pode ser convertido em dados ou dígitos, como nos explica Gohn (2012):
Para que um sinal elétrico de áudio seja inserido no computador, um conversor
transforma as informações analógicas em números binários, ou seja, em
sequência de 0 e 1. Isso é feito com amostras periódicas de pressão sonora,
resultando nos valores numéricos. Milhares de vezes por segundo, as variações
de voltagem são anotadas, gerando dados, que se colocados em um gráfico ficam
parecidos com a representação da onda sonora original (GOHN, 2012, p. 14).
Com a informação sonora dentro do computador o áudio até certo limite pode ser
editado e manipulado. Essa manipulação é feita através de ferramentas presentes em diversos
softwares. Pode-se criar amostras ou samples, loops, cortar e editar músicas, inserir efeitos,
mudar andamento, altura, etc.
Para que um computador recrie um som em formato digital é necessário um
conversor. Esse processo é feito através do conversor analógico-digital (ADC). Quando os sons
gravados precisam ser reproduzidos, se faz o processo inverso, usando o conversor digital-
analógico (Digital Analogic Converter - DAC) (FRITSCH, 2008, p. 260) que lê os números
arquivados e reconstrói as formas de onda equivalentes. (ALVES, 2006, p. 124). Podemos
entender melhor este processo através da figura abaixo: Na figura 1 está mostrado o sinal
analógico, em seguida o mesmo foi convertido para o sinal digital e finalmente na figura 3 a
conversão do sinal digital para o analógico.
59
Figura 1: processos de conversões de sinal20
O som digital também pode ser sintetizado, ou criado eletronicamente, ou seja, pode-
se produzir sons no computador a partir do processo de síntese, assim como foi feito em
instrumentos eletrônicos como o órgão, que produziam sons a partir de osciladores. Os
parâmetros do som como envoltória, timbre, amplitude e frequência, podem ser trabalhados e
manipulados digitalmente para gerar uma onda sonora de som sintetizado (SERRA, 2002, p. 9).
É importante ressaltar que o fenômeno sonoro é objeto de um estudo muito mais amplo.
Estudos como os atribuídos a analisar os parâmetros do som, como por exemplo, o timbre, que
envolve a compreensão da ideia em torno do conceito da série harmônica e a identificação da
fonte sonora através do seu som gerado, bem como outras informações como a altura, intensidade
e a duração21 podem ser desenvolvidos, no entanto, o que foi exposto anteriormente já é
suficiente para a compreensão do presente tópico. A seção seguinte explica sucintamente a
questão sobre a linguagem e protocolo MIDI.
20Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/5/5a/Conversion_AD_DA.png/300p
Conversion_AD_DA.g 21 Ver sobre esse assunto na obra VASCONCELOS, José. Acústica Musical e Organologia. Porto
Alegre: Movimento, 2002.
60
2.1.3 O Protocolo MIDI
Embora seja uma das mais antigas tecnologias digitais para a música, o protocolo
MIDI (Musical Instrument Digital Interface) se coloca um dos mais importantes sistemas
desenvolvidos para área musical. Segundo Ratton (2009) o protocolo MIDI “é uma linguagem de
comunicação de dados, desenvolvida especificamente para operar com instrumentos musicais, e
que permite a transferência de informações (musicais e também não musicais) entre os
instrumentos eletrônicos, e entre eles e os computadores” (RATTON, 2009, p. 9). Os dados
transmitidos nesse caso, são dados de controle de áudio e não transmissão de áudio.
A ideia principal do sistema MIDI é que é um sistema de comunicação e não áudio,
como frequentemente é confundido. O protocolo é bastante amplo e pode transferir dados
referentes a notas, pedais, andamentos, volumes, ritmo, timbres e outras funções como controlar
equipamentos de gravação em estúdio ou até mesmo sistemas de iluminação em shows
(RATTON, 2009, p. 10). Essas informações são acessadas em sequência, daí o termo
sequenciamento, ou música sequenciada. As informações são convertidas em som através do
sintetizador ou módulo de som que interpreta essas informações e as instruções disponíveis no
canal como timbres, amplitude, altura e ritmo, que são endereçadas às saídas de som do sistema.
Para entendermos melhor o conceito de como o MIDI se transforma em som, podemos citar a
reflexão de Gohn (2010) “É uma ‘partitura eletrônica’, que não contém som, mas que registra
dados convertidos em música por instrumentos que compreendem essa linguagem” (GOHN,
2010, p. 15). Podemos entender melhor o processo de controle de dados MIDI através da figura
abaixo:
61
Figura 222: processamento de dados MIDI
MIDI é uma linguagem que pode ser implementada por qualquer fabricante, sendo
seus direitos de uso de domínio público, portanto, qualquer equipamento ou software de qualquer
fabricante pode ter o recurso de leitura e comunicação de dados via MIDI. Os arquivos gerados
por protocolos MIDI são pequenos e, portanto, fáceis de serem baixados, armazenados e trocados
entre usuários. Existe um grande número de sites na internet que disponibilizam músicas em
arquivos .mid em todos os gêneros musicais de forma gratuita.
Os arquivos MIDI também podem ser executados e criados no computador por
softwares sequenciadores, ou podem ser usados hardwares externos chamados de controladores.
Estes dispositivos também são capazes de produzir sons usando a informação MIDI. Entre os
controladores mais comuns estão os teclados, mas também existem outros instrumentos como,
baterias, guitarras, instrumentos de sopro e instrumentos de cordas. (BAUER, 2010, p. 27). Uma
nova tecnologia, que embora não seja totalmente dependente do sistema MIDI, mas que também
pode ser usada em conjunto com este sistema, são os instrumentos virtuais (VST)23 ou softwares
sintetizadores. Estes sintetizadores virtuais são amostras de timbres reais de instrumentos
acústicos acessados pelo comando MIDI e chegam muito próximos da sonoridade real dos
instrumentos correspondentes.
22 Fonte: https://s3.aMasonaws.com/audiotuts/172_transformer/message.jpg 23 VST (Virtual Studio Technology). Também conhecidos como softwares Synths. São sintetizadores e
samples que funcionam via software e podem ser instalados em computador por um custo bem reduzido [...] nesse
caso o computador passa a exercer as funções de software e hardware, ou seja, processa e torna possíveis os sons
simultaneamente. [...] Esses sintetizadores podem ser operados e programados como se fossem reais. O protocolo de
instalação que foi lançado inicialmente para os sequenciadores, foram produzidos pela Steinberger Jones. Existem
dois tipos de instrumentos virtuais: o tipo plug-in (que funciona acoplado a um software sequenciador/gravador) e o
Real Time (que trabalha como um instrumento stand alone instalado no computador) (ALVES, 2006, p. 46).
62
A tecnologia MIDI pode ser considerada uma tecnologia de sucesso, dado a sua
estabilidade e também por ainda ser amplamente utilizada. Contrapondo o processo natural da
velocidade tecnológica, que faz surgir a todo o momento novas tecnologias, a linguagem MIDI,
apesar de sua idade avançada para padrões tecnológicos (a tecnologia MIDI foi desenvolvida em
meados de 1983) se solidificou e mostra que um sistema para perdurar deve antes de tudo ser
estável.
2.1.4 O Novo contexto da Indústria Fonográfica e a Educação Musical
As TIC também influenciaram os modelos de divulgação, circulação e
comercialização dos produtos culturais, dentre eles as obras musicais. Nogueira (2014) coloca
três pontos centrais de mudanças potencializados pelas ferramentas disponíveis na internet. São
eles: produção: a maneira como se concebe um produto musical; circulação: que é como esse
produto chegará ao conhecimento das pessoas, e finalmente o consumo (NOGUEIRA, 2014, ed.
Kindle, pos. 496).
A distribuição de conteúdos musicais pela internet, tirou a dependência do suporte
físico de mídia para armazenamento, como é o caso do CD, do vinil e da fita K7. Esse processo
causou mudanças no campo dos direitos autorais, controle de arrecadação de recursos, vendas de
obras e o consumo. Por outro lado, como diz Nogueira (2014), “nunca se consumiu tanta música
em uma época que se vendeu tão poucos discos” (NOGUEIRA, 2014, ed. Kindle, pos. 699).
Outro obstáculo superado para distribuição de músicas pela internet foi a redução do tamanho dos
arquivos através do surgimento do formato MP324. Este formato facilitou o processo de trocas,
transmissão e compartilhamento, pois comprime o arquivo de áudio em normalmente dez vezes o
seu tamanho às custas de uma perda de qualidade sonora normalmente imperceptível e
inexpressiva.
24 Moving Picture Expert Group – 1 Layer 3. É a abreviação do nome do grupo conhecido como
MPEG, e são responsáveis por desenvolver um padrão de compactação de áudio e vídeo. O MP3 é um formato
baseado em uma técnica de redução de informações de um arquivo de áudio digital, em que a técnica usada consiste
em eliminar o armazenamento de frequências consideradas desnecessárias ao sinal, ou pelo menos imperceptíveis ao
ouvido humano, e nesse processo consegue-se uma taxa de compreessão de 10:1, ou seja um arquivo pode ter seu
tamanho reduzido em até dez vezes (SERRA, 2002, p. 93).
63
Pela estrutura em que a internet se configura é possível criar mecanismos de
hospedagens e compartilhamentos de arquivos. Existem na rede sites de hospedagens tanto pagos
como gratuitos, como por exemplo, o 4 shared (www.4shared.com) que permitem o envio e
compartilhamento de arquivos com mais de 300 megabytes (mb). Esse fator permite que usuários
disponibilizem discografias inteiras para download na rede.
Os primeiros impactos sentidos pela indústria fonográfica remontam à época do
software Napster. Esse software permitia que o usuário baixasse um arquivo musical
compartilhado entre vários outros usuários na rede. Outros softwares similares eram o Kazaa e o
e-mule.
Entre os anos de 2006 e 2007 se popularizou outra plataforma - o Torrent. Esse
sistema funciona basicamente similar aos citados anteriormente, pois também permite o sistema
de compartilhamento entre usuários.
Atualmente é comum a apreciação via streaming. Streaming é uma tecnologia que
envia informações multimídia através da transferência de dados, utilizando a Internet, e foi criada
para tornar as conexões mais rápidas. Existe também a tecnologia livestreaming, que permite que
um usuário veja um programa ao vivo transmitido pela internet. Vale ressaltar que com essa
tecnologia, não há a necessidade de armazenamento, ou seja, não é necessário fazer o download
do arquivo para reproduzi-lo posteriormente, todo o processo acontece on-line.
Um dos sites mais populares que utiliza esse tipo de serviço é o site Youtube
(www.Youtube.com). Outros sites oferecem conteúdos musicais com limitações de acesso
gratuito ou alguns benefícios para o acesso pago. Existe um grande número de sites nesses
quesitos, como por exemplo os sites Spotify (www.spotify.com) e o Deezer (www.deezer.com).
Esses tipos de serviços disseminados na internet, também contribuem para que
surgissem uma nova forma de pagamento de direitos autorais aos artistas. Serviços como o
Spotify pagam às gravadoras uma taxa pelo uso e comercialização das obras.
A reconfiguração da indústria fonográfica influenciada pela internet concede mais
liberdade ao consumidor na escolha do produto. Em termos legais o mesmo pode fazer o
download de um disco inteiro, mas também pode pagar por músicas individuais (NOGUEIRA,
2014, pos. 707).
64
No contexto da educação musical, existe também uma influência da indústria
fonográfica. É comum entre os alunos das gerações atuais, o uso do aparelho de telefone celular
como dispositivo de reprodução. Esses alunos compilam seu próprio repertório com músicas
adquiridas digitalmente. Esse processo possibilita que os alunos tragam seu repertório preferido
para a sala de aula.
Segundo Lima (2008) é importante que os educadores musicais contemporâneos
estejam abertos a esse fenômeno e usem ferramentas que integrem conteúdos musicais com esse
tipo de música, pois, a aproximação com a cultura musical trazida pelos alunos pode se tornar
uma porta de entrada para a apresentação de novas informações musicais, novos repertórios e
consequentemente a busca pela formação do senso crítico desses alunos. Como discorre a autora:
Neste contexto, tratar a infinidade de dispositivos eletrônicos acessados e
utilizados por nossos alunos, apenas como instrumentos de dispersão - que
devem ser excluídos do cotidiano escolar - seria simplesmente ignorar e dar as
costas à própria realidade em que vivemos e na qual estamos incluídos, inclusive
como usuários, pois todos estes novos mecanismos já fazem parte do cotidiano
da sociedade, e a escola está incluída neste contexto (LIMA, 2008, p. 49).
A internet também possibilitou a oportunidade de visualização de artistas amadores
através de sites de repositórios de áudio e vídeo. Entre os mais comuns novamente está o
Youtube. Estas ações na internet fizeram surgir um novo elemento da indústria fonográfica – o
vídeo viral. Os virais são vídeos de grande popularidade na internet que incluem todos os tipos de
conteúdo, inclusive musicais. Esse tipo de fenômeno tem esse nome pela sua velocidade de
popularização ser similar ao espalhamento de vírus virtuais. Nesta perspectiva alguns artistas
alcançam o estrelato na rede de forma caseira e tornam-se praticamente profissionais sem passar
pelo caminho natural da indústria.
Como exposto anteriormente, a indústria fonográfica a partir do contexto digital atual
opera de forma diferente de épocas anteriores. O próximo tópico explora a questão da educação
musical influenciada pelas TIC.
2.2 A EDUCAÇÃO MUSICAL MEDIADA PELAS TIC
65
No presente capítulo serão discutidos os fatores que integram as TIC e o ensino de
música. Serão abordados os conceitos sobre a formação tecnológica do educador musical, bem
como as implicações sobre o processo de proficiência em informática.
2.2.1 A formação tecnológica do educador musical
Todas as tecnologias e metodologias anteriormente discutidas podem ser integradas
ao campo da pedagogia musical. Como discorre Bauer (2014), para o professor integrar
efetivamente as tecnologias no processo de ensino e aprendizagem musical, o mesmo necessita
conhecê-las. (BAUER, 2014, p. 11). Entretanto, Earle (2002) afirma que integrar tecnologias não
é sobre as tecnologias propriamente ditas, mas sim sobre o conteúdo e prática de ensino eficazes.
As tecnologias envolvem grupos de ferramentas que proporcionam melhores caminhos para a
realização de determinada atividade. A integração não é definida pela quantidade ou qualidade da
tecnologia utilizada e sim como ela é utilizada (EARLE, 2002, citado por BAUER, 2014, p. 11).
Embora já exista uma série de ferramentas tecnológicas que podem ser utilizadas em
sala de aula a formação do educador musical (quando acontece) nesse contexto ainda fica na
maioria das vezes no plano operacional de softwares e hardwares, fazendo com que os
professores de música não aprendam a utilizar ferramentas que na maioria das vezes estão muito
próximas de seu campo de atuação. Gohn (2012) também discorre sobre essa lacuna na atuação
dos professores de músicas:
Observando os professores de música, trabalhando diretamente com o fazer
musical, percebe-se que muitos não conhecem as alternativas gratuitas para
produzir gravações e partituras, as quais beneficiam amplamente o processo de
ensino e aprendizagem (GOHN, 2012, p. 7).
Embora o uso de tecnologias integradas às aulas de música possa oferecer outras
dimensões pedagógicas para o ensino, a formação tecnológica do professor de música ainda não
acontece de forma consistente nos cursos de licenciatura, como já foi investigado por Krüeger
(2006), a qual propõe que os alunos de licenciatura precisam passar pela formação e vivência
com as TIC durante os cursos, caso contrário sua formação estará incompleta, (KRÜEGER, 2006,
p. 84).
66
Se recorrermos à reflexão de Bellochio e Leme (2007, p. 89) constatamos que fora do
ambiente acadêmico, o contato dos educadores com as tecnologias normalmente acontece de uma
maneira informal, no dia-a-dia, sem passar por uma abordagem pedagógica que alinhe
conhecimentos operacionais de equipamentos com enfoques pedagógico-musicais. Para os
autores, sem essa junção as tecnologias nada contribuem para o trabalho do professor, aliás
podem até gerar fatores negativos. Para os autores, o professor necessita de uma formação
diferenciada a qual seja “uma prática de reflexão contínua sobre os processos de ensino mediado
pelo uso de tecnologias” (BELLOCHIO e LEME, 2007, p. 89). Os professores de música
precisam compreender as tecnologias e elencar maneiras de aplicá-las de modo que façam parte
do processo da atividade de aprendizado musical naquele momento.
Por outro lado Frankel (2010) afirma: “Tecnologias dentro da sala de aula, quando
utilizadas por um professor suficientemente capacitado, proficiente tecnologicamente e com
apropriada integração curricular, tem potencial para proporcionar um impacto muito positivo na
recepção dos estudantes”. (FRANKEL, 2010, p. 237.)25 (Tradução do autor). Para que o
educador musical tenha sucesso na construção de sua proficiência tecnológica é necessário que o
mesmo desenvolva a capacidade e interesse por pesquisas constantes de metodologias, sem se
intimidar frente à velocidade de desenvolvimento de recursos tecnológicos diversos (CUERVO,
2012, p. 74).
Alguns fatores são responsáveis pela decisão do afastamento do uso de tecnologias
por alguns educadores, entre eles o conceito de “tecnofobia” explicado por Gohn (2007): “o
tecnófobo se recusa a ultrapassar os limites do essencial, aprendendo a lidar somente com o
estritamente necessário para sobreviver no mundo moderno” (GOHN, 2007, p. 172). Em
aplicações de tecnologias em educação musical esse fator torna-se extremamente significativo.
Como as tecnologias são passíveis de falhas o tempo todo, e, se esse momento acontecer, o
educador tecnófobo que estiver nessa situação possivelmente se descontrolará emocionalmente
podendo comprometer a execução da sua aula.
25Technology in the classroom, when used by a sufficiently trained teacher with appropriate and
curriculum integration has the potential to provide a very positive impact on the reception of students (FRANKEL,
2010, p. 237).
67
É importante lembrar que mesmo que alguns professores não utilizem tecnologias não
quer dizer que os mesmos são tecnófobos. Como discorre Krüeger (2006) talvez o professor veja
aspectos “menos musicais” na utilização das TIC (KRÜEGER, 2006, p. 77). Alguns professores
não concordam que uma experiência musical possa ser produzida em uma máquina e menor
ainda é a possibilidade desse professor concordar que um aluno em um computador possa
produzir um motivo musical sem passar por mecanismos tradicionais de ensino de música, como
ler partituras tradicionais ou tocar um instrumento acústico.
Existem também os professores conservadores os quais trabalharam muitas vezes
anos sem a presença de tanta informação tecnológica, e sendo assim, acabam por reprimir esse
fenômeno, relutando em utilizá-la. É necessário estimulá-los a saírem da chamada zona de
conforto e da rotina de uma prática de anos de atividades realizadas sem a presença de tanta
tecnologia.
Um grande questionamento que também ocorre é o medo da substituição dos
professores pela tecnologia o que é considerado normal, pois, a maioria dos educadores atuais
vem de outra geração e estão vivendo um momento de transição extremamente rápido. Esse fator
nos leva à reflexão de Kenski:
Ao contrário do que muitos imaginam, no atual momento da sociedade digital, a
escola não desapareceu. Muito menor ainda é a preocupação com a extinção da
função do professor [...] o professor é o principal agente responsável pelo
alcance e pela viabilização da missão da escola diante da sociedade. O que a
escola e a ação dos professores necessitam é a revisão crítica e reorientação dos
seus modos de ação (KENSKI, 2013, p. 86).
Outro fator que justifica a capacitação tecnológica do educador musical é o fato já
citado anteriormente em relação aos “Nativos Digitais”. Os alunos aprendizes de música
atualmente vivem em um contexto digital rico em informações musicais, e esse pode ser um
ponto positivo se o professor tiver mecanismos pedagógicos para interagir com essa geração,
como discorre Gohn (2012):
Educadores musicais devem dominar o vocabulário da vida digital para
estabelecer conexões com as gerações mais jovens. Em seu cotidiano os “nativos
digitais” estão acostumados a lidar com iPods, celulares complexos, redes
sociais on-line e jogos eletrônicos. Dessa forma, criar um afastamento e ignorar
essa realidade atual diminui as alternativas de trabalho dos professores,
dificultando suas chances de sucesso (GOHN, 2012, p. 45).
68
Para que o uso de tecnologias e ensino de música sejam significativamente positivos
podemos concordar com Dorfmann (2013) que propõe que a atualização da ideia de “tecnologias
ou professor” deve ser alterada para “tecnologias com o professor” (DORFMANN, 2013, p. 4.).
2.2.2 A proficiência em informática
Considerando a grande disseminação das tecnologias digitais atualmente, é
importante que o educador adquira proficiência em informática. Um dos principais dispositivos
que centraliza os princípios operacionais de informática e pode ser usado pelo professor é o
computador. Também é relevante que se adquira conhecimentos operacionais com outros
dispositivos associados ao domínio de linguagem de informática, como tablets e smartphones.
Para que o educador possa aproveitar todos os recursos que o computador oferece são
necessários conhecimento operacionais básicos, como diversos tipos de configurações,
instalações de programas e hardwares, como impressoras, teclados, mouses, câmeras digitais,
dispositivos USB, como pendrives, placas de áudio, teclados controladores, web cams, e
microfones.
Conceitos como salvar, cortar, colar, editar, selecionar e gerenciar as pastas para a
organização de arquivos fazem parte da iniciação operacional do computador. O educador
também necessita ter uma organização com ferramentas de internet. Saber gerenciar contas de e-
mail, grupos em redes sociais como o Facebook, armazenamento de arquivos em nuvem e
sincronização de dispositivos. Com esses recursos o tablet, o celular e o computador trabalham
sincronizados e arquivos podem ser acessados em um mesmo local por diferentes dispositivos.
Conceitos técnicos devem ser compreendidos para a formação tecnológica do
professor. Saber a diferença entre som digital e som analógico, som mono e estéreo entender
sobre formatos de arquivos de áudio, MIDI, vídeo, textos, compactação e descompactação de
arquivos, compartilhamento de conteúdos em redes domésticas ou em nuvem, gravar informações
em diversas mídias como CD e DVD, conhecer e saber como utilizar diversos tipos de cabos e
conectores, gerenciar entradas e saídas do computador, são conhecimentos que, se adquiridos,
facilitam a interação com sistemas tecnológicos.
69
Entende-se que o educador musical que adquirir um certo nível de proficiência em
informática, passa a ter a possibilidade de desenvolver uma série de atividades relacionando-as às
disciplinas como percepção, teoria musical, história da música, prática instrumental,
improvisação, harmonia, arranjo e composição, apreciação e musicalização com diversas
abordagens tanto para o formato de aula individual, quanto para aula coletiva.
2.2.3 Possibilidades tecnológicas para o educador musical
Este tópico é direcionado a angariar os conteúdos técnicos necessários ao educador,
como o conhecimento em hardwares e softwares e as atividades que podem ser desenvolvidas em
sala de aula.
a) Softwares e Hardwares
Mason e Moniz (2006) dizem que os educadores musicais podem usar softwares de gravação
e edição de áudio para pesquisar e criar uma grande variedade de materiais para aumentar as
formas de aprendizado, como por exemplo:
Criar exemplos de apreciação dirigidos.
Criar acompanhamentos musicais para as aulas, corais ou prática instrumental.
Retorno imediato de avaliações de ensaios e performances.
Avaliação mais precisa ao ouvir o material gravado.
Publicação de arquivos MP3 na internet para serem acessados em casa para tarefas.
Ensino de conceitos como altura, timbre, volume, estilos e formas (MASON e
MONIZ, 2006, p. 56).
Em relação aos benefícios para os estudantes os autores apontam:
Atividades envolvendo composição e arranjo.
Aumento do senso crítico e habilidades de escuta.
70
Portfólio digital como instrumento de avaliação. Documento construído
progressivamente.
Criar CDs de audição para entradas em colégios e conservatórios.
Usar para suas práticas diárias no instrumento.
Criar músicas para outras formas de arte como dança, vídeos e poesias (MASON e
MONIZ, 2006, p. 56).
Os computadores do tipo notebook, normalmente já trazem um microfone integrado.
As primeiras experiências com gravações podem ser feitas usando o microfone do próprio
computador com algum tipo de software. Para uma melhor qualidade de gravação talvez seja
interessante um microfone externo. Estes podem ser conectados ao computador através da porta
USB, não sendo USB, pode-se usar um cabo específico ou uma interface de áudio ou mixer para
transferir o áudio captado pelo microfone ao computador.
Existem dois tipos básicos de microfones: o dinâmico e o condensador. Os
microfones dinâmicos são indicados para sons direcionais e com alta pressão de ataque, como
instrumentos de percussão ou voz. Por serem mais direcionais provocam menos realimentação e
geram menos microfonias. São indicados para performances ao vivo. Os microfones
condensadores têm a capacidade de captar as frequências em um ambiente maior, o que faz com
que o som captado tenha mais clareza por conter mais informações (harmônicos). São indicados
para aplicações em grupos instrumentais, corais e gravações em estúdio. (BAUER, 2014, p. 33).
Gohn (2012) também indica como alternativa os microfones com conexão USB. Esses
microfones podem ser ligados diretamente no computador o que elimina a necessidade de ter que
adquirir um cabo específico para usá-los, além de serem também uma interface. O autor sugere o
microfone Snowball, da empresa Blue Mic (www.bluemic.com). Segundo o autor esse
equipamento se coloca como uma alternativa para gravar uma pista de cada vez no computador,
facilitando a conexão com o mesmo (GOHN, 2012, p. 18).
Outro hardware que pode ser usado são os gravadores de áudio portáteis. Eles são
ferramentas versáteis, que podem ser usadas para gravar sons em qualquer local, ideais para
pesquisas, ensaios e gravações de apresentações ao vivo. Os dispositivos mais modernos possuem
71
alta qualidade de gravação. Os dados são armazenados normalmente em cartões de memória ou
podem ser transferidos para o computador via USB.
Aplicações mais complexas usando gravações podem exigir a utilização de uma
interface de áudio. Uma interface de áudio dependendo de sua configuração pode oferecer um
certo número de entrada e saídas, o que permite que se possa gravar diversos canais separados
simultaneamente. As mais comuns usam conexões do tipo USB. Entre suas configurações
existem modelos com entrada para instrumentos (guitarra, contrabaixo, etc.) ou microfone (com
entradas balanceadas), entrada e saída para sintetizadores tipo MIDI, monitores de referência e
fones de ouvido (headphones) (BAUER, 2014, p. 33).
Da parte dos softwares, os tipos mais comuns aplicados à área musical são os editores
de partituras, editores de áudio, sequenciadores, geradores de acompanhamento, softwares
multipistas, instrutores e os jogos interativos. Podem ser adquiridos por diversas vias, desde
gratuitamente até mediante pagamento de licença, são dos seguintes tipos:
Comercial ou proprietário: O programa ou aplicativo é vendido por uma companhia. Os
preços variam do mais barato até os mais caros dependendo do tipo de recursos
oferecidos.
Demo Software: É uma versão livre de um software comercial que não está totalmente
funcional. O propósito é demonstrar as principais características do programa.
Shareware: é uma versão do programa disponível como avaliação. Normalmente pode-se
usar o programa, mas algumas funções ficam inacessíveis. Se o usuário desejar pode
pagar uma taxa para acessar os outros recursos do programa.
Freeware: para esse tipo de programa não é necessário pagar qualquer tipo de licença. Às
vezes os programas Freeware são concebidos somente para uso pessoal, mas podem
começar a cobrar caso o software comece a ser usado comercialmente.
Open Source (código livre) – Free Software: esse e o tipo de software que tem o código
fonte disponível, sendo que qualquer programador pode acessar o software e fazer as
mudanças necessárias. Normalmente é desenvolvido colaborativamente por um grupo de
pessoas ou comunidades virtuais.
72
Domínio Público: indica que o software não tem mais grupos ou pessoas que detém seus
direitos autorais.
Licenças Educacionais: são licenças vendidas com um valor mais baixo do que no varejo
dos softwares. São destinadas às instituições acadêmicas.
Site Licence: é um tipo de licença que permite ao usuário instalar o software ou pacote de
software em diversas máquinas. Existem as versões com número limitado de cópias que
podem ser instalados e os ilimitados (BAUER, 2014, p. 38).
A escolha do software a ser utilizado pelo educador depende de sua necessidade ou
possibilidade em relação ao ambiente que irá atuar. Bauer (2014) expõe 4 categorias que podem
orientar a escolha:
Tutoriais: são programas que são destinados a passar um conteúdo específico. É uma
ferramenta que pode usar imagens, vídeos e outras ilustrações para facilitar a
compreensão do conteúdo apresentado.
Practice: são softwares usados como tutores para percepção, leitura e outros conceitos
teóricos. São desenvolvidos para oferecer ao aluno estágios progressivos de dificuldade.
Criatividade: são programas que permitem a manipulação de materiais sonoros. Esses
softwares são usados por serem bastante motivacionais para os estudantes que conseguem
criar e manipular sons no computador.
Games: muitos alunos gostam de jogos, e esse pode ser um fator para motivar algum tipo
de estudo. Jogos com conteúdo musicais incluem elementos de teoria musical, leitura e
percepção. São feitos através de jogos de memória ou controle de algum personagem do
jogo pelo usuário. Podem também ser explorados com jogos conteúdos sobre história da
música e compositores (BAUER, 2014, p. 37).
Softwares com essas características também estão disponíveis para tablets e
smartphones (BAUER, 2014, p. 35). Atualmente também é usada uma grande variedade de
aplicativos para dispositivos móveis, como softwares para percepção, metrônomos,
afinadores, dicionários de acordes e simuladores de instrumentos musicais como piano e
bateria, por exemplo.
73
b) A aprendizagem musical através de recursos da internet
Watson (2010) afirma que a internet está mudando e favorecendo a educação musical
de várias maneiras. A cada ano estamos vendo um aumento no número de softwares
disponibilizados on-line, como softwares de notação musical, gravação e sintetizadores musicais
(WATSON, 2010, p. 7).
Os softwares disponíveis na internet possibilitam a continuação de um trabalho
iniciado na escola e sua possível retomada em casa mais tarde. Watson (2010) explica esse
processo mostrando o uso do software Noteflight (www.noteflight.com). Esse software é um
editor de partituras que funciona on-line. Este serviço é livre até certo ponto (o serviço
disponibiliza mais recursos mediante pagamento de mensalidade) e permite que o estudante crie
uma conta e comece a usar o serviço. Este software se torna interessante para ser integrado ao
currículo, porque podem ser desenvolvidas diversas atividades de educação musical, como
composição, edição de partituras, reconhecimento de símbolos musicais, estudos de teoria
musical, etc. O serviço ainda permite o compartilhamento com todas as páginas da internet como
blogs, wikis, redes sociais e outros colegas, que podem acessar e modificar a partitura, o que
poderia ser até mesmo um projeto colaborativo de composição (WATSON, 2010, p. 8).
Existem softwares editores de áudio como o Soundation (www.soundation.com).
Similar ao software anterior este funciona de maneira gratuita, mas libera mais recursos mediante
pagamento de mensalidade. Embora isso represente uma certa restrição, sua versão gratuita é
interessante para a educação musical, pois o software disponibiliza uma biblioteca de loops que
podem ser usados em exercícios de composição e improvisação. O programa também permite
salvar e compartilhar.
O Incredibox (www.incredibox.com) também é um site bem funcional para aula de
música. Consiste de um programa que permite arrastar e soltar sons sobre alguns personagens que
passam a reproduzir em loop aquela parte musical. Por conter desenhos e animações é ideal para
trabalhar com crianças. As músicas produzidas também podem ser salvas e compartilhadas.
O Muxicall (www.muxicall.com) é um site que disponibiliza em um quadro, todas as
notas da escala cromática e trabalha com uma abordagem usando cores, o que o torna bastante
74
atrativo para as crianças. Ao clicar sobre cada nota uma cor surge junto com o som. O que torna
esse site interessante para a educação musical é que se os alunos estiverem acessando o site de
uma mesma conexão, eles tocam juntos em computadores separados. Além do timbre do piano,
estão disponíveis também um timbre de cordas e um de percussão.
Estão disponíveis também uma infinidade de jogos com conteúdos musicais na
internet. Os jogos basicamente são para leitura, percepção, reconhecimento de compositores e
períodos musicais e teoria musical. Somente para citar alguns, o site Dsokids (www.dsokids.com)
mantido pela orquestra sinfônica de Dallas, oferece uma série de jogos e atividades, como por
exemplo, o jogo da máquina do tempo, em que o aluno precisa acertar nomes de compositores e
períodos musicais do repertório sinfônico. Outro interessante site é o Joytunes
(www.joytunes.com). Esse site disponibiliza diversos jogos entre piano e flauta doce. É
interessante porque existe uma interação entre o instrumento e o computador. Em um dos jogos
por exemplo, o aluno deve controlar um personagem em um avião para a execução correta de
determinada nota na flauta doce.
As ferramentas disponíveis na internet também estão influenciando a
autoaprendizagem de instrumentos. Atualmente a internet oferece amplas possibilidades como,
por exemplo, vídeo-aulas de diversos assuntos no site Youtube (www.Youtube.com). Neste site o
aluno pode ter aulas desde teoria, harmonia, composição, arranjos e até aprender a tocar uma
música específica. No site também é possível encontrar tutoriais completos sobre manuseio de
softwares e equipamentos.
Alguns sites26 disponibilizam cifras, tablaturas para violão, guitarra, baixo e teclado e
ainda vem acompanhados de um vídeo com um professor ensinando a maneira correta de tocar o
que está sendo exibido. Este tipo de plataforma ainda permite ao usuário interagir com outros
internautas, através de compartilhamentos, comentários, sugestões e lista de clipes favoritos.
Uma outra ferramenta usada pelos internautas são os fóruns. Nesse contexto é
construído um ambiente virtual para troca de ideias, tira-dúvidas, dicas musicais, informações
sobre equipamentos, comercialização de instrumentos e comentários sobre marcas, serviços e
mercado de trabalho.
26Alguns exemplos: Cifraclub (www.cifraclub.com.br), Cifras (www.cifras.com.br), Pegacifra
(www.pegacifra.com.br), Vagalume (www.vagalume.com.br) e MVHP (www.mvhp.com.br).
75
Já na utilização de sites, existe um grande número de páginas direcionadas a
educação musical. Richmond (2005) se refere a estes como Sites Instrucionais na Internet
(Instructional Internet Sites). O que torna interessante o uso dessas ferramentas, é a praticidade
de acesso. Normalmente esses sites funcionam na maioria dos navegadores de internet e podem
ser acessados dentro e fora da sala.
A seguir serão listados alguns sites e softwares que podem ser usados nos laboratórios
de informática sem custo para a instituição escolar.
Teoria.com (www.teoria.com): esse site possui diversos conteúdos relacionados à
teoria musical e história da música. Possui exercícios para percepção de intervalos, escalas e
progressões harmônicas. Tem análise de várias peças em relação à forma, composição e estilo.
Musictheory.net (www.musictheory.net): site mantido por Ricci Adams. Essa página
possui diversos conteúdos de teoria musical e exercícios para percepção. Permite que o usuário
configure os exercícios de acordo com suas dificuldades. Funciona também em smartphones com
sitemas Android e iOS.
Ear Beater Classic (www.earbeater.com): site específico para treinamento de
percepção de intervalos. Também funciona com smartphones e tablets.
Earplane (www.earplane.com): esse site dispõe de exercícios e conteúdos para
percepção de intervalos, acordes, ditados rítmicos e melódicos
Blues Jam (http://www.stevenestrella.com): esse site permite que os estudantes criem
músicas em tempo real no estilo de blues de doze compassos. Enquanto uma sessão rítmica é
mantida o aluno acessa vários loops com frases específicas de blues com diversos instrumentos.
Requer a instalação do plug-in Quick Time.
c) Sugestões de atividades para educação musical usando tecnologias
Muitas estratégias podem ser desenvolvidas pelo educador musical usando diversos
recursos tecnológicos.
De qualquer forma alguns fatores são essenciais para o desenvolvimento de
atividades envolvendo tecnologias. O professor precisa ter acesso a uma infraestrutura básica,
76
como o laboratório de informática e conexão à internet, ou no mínimo internet e usar os
computadores e dispositivos pessoais dos alunos. Freedman (2013) propõe uma organização e
estruturação do laboratório de informática como ambiente de aprendizado musical.
Segundo a autora esse espaço pode ser equipado com computadores dos tipos
desktop, notebooks e tablets. Os computadores podem ser dispostos em estações de trabalho, com
assentos ou terminais, além de poderem ser organizados em círculos ou fila (FREEDMAN, 2013,
p. 42). A autora afirma que muitos fatores devem ser considerados, como o número total de
alunos, número de estações disponíveis, espaço físico disponível, disposição de tomadas de
energia, estabilidade elétrica, iluminação, ventilação, organização dos fios e equipamentos,
extintores e possibilidades da classe ter que ser usada para outro tipo de atividade. A autora ainda
sugere a configuração dos computadores em redes. Isso facilita o controle do professor, a
manutenção dos softwares e a proteção dos dados dos trabalhos dos alunos. É importante também
que haja um aluno ou funcionário responsável em manter em ordem os computadores.
Para se trabalhar com áudio no computador os alunos necessitarão de fones de
ouvido. Esses equipamentos se não forem fornecidos pela escola, devem ser levados à aula pelo
aluno (fones de ouvido são equipamentos comuns entre os estudantes). Qualquer software ou
hardware a ser instalado ou desinstalado nos computadores deve ser de responsabilidade do
professor ou do gerente do laboratório. Esses tipos de ações evitam contaminação e deterioração
do sistema.
O passo seguinte é a escolha e instalação de softwares. Sabe-se que na realidade das
escolas, principalmente no Brasil, existe uma dificuldade em investimentos, principalmente
destinados à infraestrutura tecnológica, nesse caso a melhor opção seria optar por softwares
livres.
Como dito anteriormente os principais tipos de softwares musicais são editores de
partituras, editores de áudio, arranjadores ou geradores de acompanhamento, gravadores
multipistas e sequenciadores MIDI.
Nesses formatos Fornari (2015) sugere alguns softwares, todos de licença livre:
77
Musescore (www.musescore.org): software editor de partituras. Funciona nas plataformas
Windows, Macintosh e Linux. Esse é um software de fácil manuseio e atende a todas as
atribuições para a notação musical digital.
Audacity (www.audacityteam.org): Editor e gravador de áudio. Também edita e grava
trilhas de áudio em formato multipistas e permite inserção de efeitos. O Audacity é um
software bastante intuitivo e estável. Permite diversas configurações de resolução para
gravação de áudio. Também funciona nas plataformas Windows, iOS e Linux.
Impro-visor (www.cs.hmc.edu/~keller/jazz/improvisor): sequenciador e arranjador. Este
software gera acompanhamentos de vários estilos após a sugestão harmônica do usuário.
Funciona como um software gerador de playbacks. Permite a edição de diversos
elementos da música, incluindo diversos estilos de edições de cifragens de acordes.
Sonic Visualiser (www.sonicvisualiser.org): Esse é um programa que permite a
visualização e análise dos conteúdos espectrais de uma trilha de áudio. O programa
também oferece uma série de plug-ins, que podem ser aplicados às várias funções como
alteração de tonalidade e análise dos acordes contidos na música.
Com os softwares citados anteriormente é possível criar uma série de atividades para
educação musical. Os softwares editores de partituras, como por exemplo o Musescore, podem
ser usados em outro contexto além de somente suporte para escrever partituras. Podem ser criadas
atividades de reconhecimento dos elementos presentes na partitura, além dos estudantes poderem
explorar as bases da notação e ouvir o que ele está lendo ou escrevendo. Também podem explorar
conceitos como mudança de instrumentos, instrumentos transpositores, visualizar parte por parte
de uma peça orquestral, entender e ouvir cada parte separadamente, explorar os significados e
funções dos símbolos e recursos da notação musical. (MASH, 2004, p. 8). O Musescore também
pode ser usado como ferramenta de edição gráfica de partituras, o que é muito eficaz para a
produção de material didático.
Figura 3: Exemplo de criação de exercícios de teoria musical usando o Musescore.
78
Com os editores de áudio e MIDI, como dito anteriormente, podem ser feitas
atividades explorando a questão da criatividade. No caso dos editores MIDI, uma vez que a
informação está escrita no software, seus timbres podem ser modificados. Pode-se por exemplo,
ouvir uma peça escrita originalmente para piano com som de cravo ou órgão, logicamente o
sintetizador que estiver sendo usado implica na qualidade final do áudio. Outra vantagem
permitida em editores de MIDI é que na maioria desses softwares é possível visualizar a partitura.
Assim em uma peça orquestral por exemplo, cada instrumento pode ser visto e ouvido
separadamente, além de poder ser também editado. Os arquivos em formato MIDI também são
pequenos, o que facilita o armazenamento, envios e trocas. O professor pode propor atividades de
trocas de arquivos entre os alunos, e esses podem modificar o arquivo e explicar o que fizeram na
aula seguinte.
Entre os editores de áudio o aluno pode interagir com a manipulação do áudio,
mudando a altura, andamento e timbres. Também podem ser explorados com o Audacity,
elementos de teoria musical como percepção de fórmulas de compasso. O aluno pode ouvir e
marcar os tempos fortes que iniciam determinada fórmula de compasso. Em uma música em
compasso ternário, por exemplo, insere-se uma marca a cada três tempos.
Com o software Impro-visor podem ser trabalhados conceitos de improvisação sobre
diversos estilos. Para práticas em aulas de harmonia, por exemplo, o próprio aluno pode inserir
Figura 4: atividade de percepção usando o Audacity
79
conteúdos como a digitação de campos harmônicos, acordes com extensões específicas,
informações de estilos e estrutura musical. Abaixo uma tela do software:27
Figura 5: tela do Impro-visor com uma melodia cifrada.
Já com o software Sonic Visualiser, o aluno pode ter acesso a informações mais
precisas do som. O professor pode demonstrar através de análise espectral diversas informações
sobre sonoridades, pois dependendo da maneira como o som é articulado são geradas
informações diferentes. Na figura abaixo podemos visualizar um mesmo excerto musical gravado
com duas seleções diferentes de timbre em um Contrabaixo Elétrico. Na primeira trilha tem
menos presença de frequências agudas do que na segunda.
27 Fonte: http://www.cs.hmc.edu/~keller/jazz/improvisor/
80
Figura 6: atividade de percepção de timbres usando o Sonic Visualiser.
2.2.4 A utilização do Software Pure Data (PD)
Em um outro nível do uso de softwares para a educação musical, podemos relacionar
também os softwares usados para performances de peças contemporâneas, como por exemplo o
Pure Data ou PD Na verdade o PD é mais do que um aplicativo. É uma plataforma para criar
aplicativos simples que processam dados (áudio, vídeo e controle) em tempo real.
Logicamente o manuseio do software é mais complexo e o educador deve estar
disposto a buscar esses conhecimentos. Por outro lado, o PD não gera custos para ser usado.
Nesse tipo de processo, o professor deve criar a atividade no software e a aluno se coloca
somente no papel de executor.
A ideia de integrar o PD em um ambiente de educação musical se alinha às propostas
de um grupo de compositores e educadores musicais que começaram a difundir suas bases
81
pedagógicas a partir da segunda metade do século XX, como John Paynter, George Self e Murray
Schafer. Coincide com o que é chamado de a grande virada da produção musical, contrapondo os
métodos tradicionais de composição dos séculos anteriores com as pesquisas lideradas por Pierre
Schaeffer na Radiotélévision Française (musique concrète) e as experiências da música
eletrônica conduzidas por Eimert e Stockhausen nos estúdios de música eletrônica de Friburgo
(FONTERRADA, 2008, p. 179). As propostas da chamada música de Vanguarda apontavam para
um renovado interesse pelo “som” como matéria prima da música e sua transformação.
(FONTERRADA, 2008, p. 179). As propostas para incorporar essas ideias na educação musical
ganharam bastante destaque nos Estados Unidos e na Europa e novas metodologias surgiram. Os
educadores musicais desse período buscavam incorporar essas ideias na educação musical nas
escolas. Nesse contexto eles propuseram usar os mesmos procedimentos dos compositores de
vanguarda, privilegiando a criação, a escuta ativa, a ênfase no som e suas características, e
evitando a reprodução vocal e instrumental que os mesmos chamavam de “música do passado”
(FONTERRADA, 2008, p. 180).
É importante ressaltar que esses educadores não recusavam o ensino tradicional de
música, mas sugeriam ações para complementar esse processo, expondo o aluno mais
profundamente a manipulação e contextualização da compreensão do ambiente sonoro ao qual
estamos imersos.
Integrar softwares como o PD no contexto da educação musical pode ser um caminho
também para apresentar aos educandos experiências com a música contemporânea, bem como
desenvolver estratégias com o uso do software para atividade de improvisação e interação. Outro
ponto positivo em usar o PD na educação musical é a possibilidade se poder também trabalhar
com imagens, o que pode ser um elemento motivador para os alunos. Podem ser desenvolvidas
estratégias usando instrumentos do próprio ambiente dos alunos, como a Flauta Doce,
instrumentos de percussão, instrumentos comuns nas aulas de musicalização infantil e inclusive
instrumentos construídos pelos próprios alunos, além de percussão corporal e a própria voz
produzindo diversos tipos de sons. Esse material no contexto da música contemporânea é muito
rico e pode possibilitar o estímulo do impulso criativo das crianças.
Segundo Fritsch (2008) o PD é uma linguagem gráfica de programação desenvolvida
por Miller Puckette na década de 1990 para a criação de computação musical interativa e
82
trabalhos multimídia. Nesse ambiente gráfico a programação se dá através de um processo
envolvendo linguagens visuais (FRISTCH, 2008, p. 301). O PD também é um software de
licença livre e código aberto.
É importante ressaltar que o professor que pretende usar esse tipo de software precisa
ter noções teóricas de áudio digital, síntese sonora, sistemas MIDI e processamento de sinal de
áudio e vídeo no computador.
Segundo a definição disponível no site do software, o PD pode ser entendido como:
Uma linguagem de programação visual de código aberto. O PD permite que
músicos, artistas visuais, pesquisadores e desenvolvedores de software possam
criar graficamente, sem escrever linhas de código. O software é utilizado para
processar e gerar gráficos de som e de vídeo em 2 e 3D, interagir com sensores
de interface, dispositivos de entrada e com a linguagem MIDI. O PD pode
trabalhar facilmente através de redes locais ou remotas, como também pode ser
usado em sistemas de ‘tecnologia vestível’, como sensores, sistemas de motores,
equipamentos de iluminação e outros. O PD é adequado para a aprendizagem de
técnicas básicas de processamento multimídia e programação visual, bem como
para a realização de sistemas complexos para projetos de grande escala
(www.puredata.info)28 (Tradução do autor).
O software é constituído de um conjunto de ferramentas dispostas em forma de caixas
que podem receber instruções de programação para interagirem entre si. Essas caixas são
constituídas com entradas e saídas e podem ser conectadas transmitindo dados e funções; as
entradas são chamadas inlets e as saídas outlets, como descrito abaixo29:
Figura 7: exemplos de caixas com entradas e saídas no PD
28 Pure Data (aka Pd) is an open source visual programming language. Pd enables musicians, visual
artists, performers, researchers, and developers to create software graphically, without writing lines of code. Pd is
used to process and generate sound, video, 2D/3D graphics, and interface sensors, input devices, and MIDI. Pd can
easily work over local and remote networks to integrate wearable technology, motor systems, lighting rigs, and other
equipment. Pd is suitable for learning basic multimedia processing and visual programming methods as well as for
realizing complex systems for large-scale projects. Disponível em: https://puredata.info/. Acesso em: 03/08/2015. 29 Fonte: http://www.pd-tutorial.com/english/ch02.html
83
Acima o gráfico mostra as conexões e uma informação dentro da caixa ou objeto. Um
exemplo de um patch30 de um oscilador senoidal criado em PD pode ser visto abaixo:
Figura 8: patch de um oscilador criado em PD
Acima um exemplo de geração de som senoidal no computador com o PD Uma
instrução que no PD é chamada de objeto, que nesse caso é um oscilador, [osc~] cria uma onda
sonora de 440 Hz e manda para um outro objeto chamado digital áudio converter [dac~]
(conversor de áudio digital) que tem a função de endereçar esse sinal para as saídas de som do
computador, além de uma outra caixa chamada números que funciona como elemento
controlador e, nesse caso, tem a função de mudar o valor da oscilação da onda.
Podemos entender a partir do que foi exposto e discutido anteriormente, que existe
uma série de possibilidades de integrar o uso das TIC no ensino de música. Foram abordadas
questões técnicas referentes ao conhecimento dos elementos tecnológicos necessários para o uso
desses recursos em sala de aula, bem como foram expostas questões sobre a proficiência
tecnológica do educador musical, ferramentas e estratégias que podem ser usadas e desenvolvidas
para o ensino de música.
O próximo capítulo irá tratar da metodologia usada no presente estudo – a Análise de
Conteúdos.
30 Patch, é o nome de um arquivo ou documento escrito em PD que detém as instruções de
programação criadas pelo usuário. Os patches escritos em PD são usados como programas standalone e são
livremente compartilhados pela comunidade PD (FRITSCH, 2008, p. 301).
84
85
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa científica se apoia basicamente em dois métodos: quantitativo e
qualitativo. Para Mantella (2012) a pesquisa qualitativa “é a que se preocupa com a profundidade
e qualidade das informações e trata de aspectos subjetivos do mundo emocional e complexo do
entrevistado, sem pretensões de generalização para o universo” (MANTELLA, 2012, ed. Kindle,
pos. 4484).
Já no âmbito da pesquisa quantitativa o trabalho interage com dados quantificáveis -
números, medições do mundo racional de fatos e comportamentos. “Pretende expandir os
resultados obtidos para um universo considerado. A essência da pesquisa quantitativa, é,
portanto, descobrir como as pessoas agem ou sentem de determinada maneira” (MANTELLA,
2012, ed. Kindle, pos. 4484).
Para Figueiredo (2010, p. 160) os trabalhos de cunho quantitativo normalmente estão
associados às ciências exatas e as pesquisas de cunho qualitativo estão associadas às ciências
sociais e humanas. No entanto, o autor afirma que as duas abordagens – quantitativa e qualitativa
– podem ser usadas em pesquisas em educação musical, dependendo do objeto a ser investigado e
das escolhas feitas pelo pesquisador.
Ainda nesse contexto, é importante ressaltar a dimensão interdisciplinar da pesquisa
na área da educação musical, sendo necessário, dependendo do tipo de estudo, adentrar outras
áreas do conhecimento como a educação, psicologia, filosofia e as ciências sociais, como
podemos entender na visão de Figueiredo (2010)
Uma das formas de entender a área da educação musical é através do caráter
interdisciplinar que congrega questões de música e educação. Nesta área são
estudados diversos temas que incluem aspectos essencialmente musicais, assim
como são investigados componentes de aprendizagem e ensino, ou seja, como os
indivíduos aprendem os diversos elementos musicais, e como são ensinados tais
elementos em diferentes contextos e para diferentes indivíduos (FIGUEIREDO,
2010, p. 156).
O uso das duas técnicas de pesquisas se dá pelo corte peculiar do objeto pesquisado,
dessa forma podemos nos apoiar na visão de Freire:
A pesquisa qualitativa [...] não é antagonista da pesquisa quantitativa. Elas se
movem de forma diferente, têm perspectivas e objetivos de natureza diferentes e,
86
eventualmente, uma abordagem pode contribuir com a outra (FREIRE, 2010, p.
14).
Segundo Figueiredo (2010) existem muitos campos de pesquisa onde podem ser
utilizados procedimentos quantitativos, o autor expõe o exemplo survey - do tipo levantamento de
dados, que apresenta panoramas amplos de situações definidas para estudo.
Freire ainda discorre:
Por exemplo, uma situação de ensino de música pode ser avaliada ou explicada
mais objetivamente a partir de determinados parâmetros quantificáveis (índice,
rendimento, percentual de aceitação, índice de evasão, etc.) Por outro lado pode
ser avaliada a partir da análise de aspectos não necessariamente quantificáveis,
como a visão dos alunos, a visão dos professores e as considerações do próprio
pesquisador colhido por meio da observação qualitativa ou outros procedimentos
metodológicos pertinentes (FREIRE, 2010, p. 14).
O presente trabalho está relacionado com abordagens quantitativas e qualitativas,
visto que são apresentados dados estatísticos e depoimentos advindos de questionário com
questões abertas e entrevistas.
Considerando o tema estudado na presente pesquisa entende-se que o método mais
adequado para a análise e interpretação dos dados seja a Análise de Conteúdos de Lawrence
Bardin, este método oferece mecanismos para exposição e análise de dados intercambiáveis entre
processos qualitativos e quantitativos. Esta metodologia será detalhada no próximo tópico.
3.1 A Análise de Conteúdos
De acordo com Bardin:
A análise de conteúdos é um conjunto de técnicas de análises das comunicações.
Não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos; ou, com maior
rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de
formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: as comunicações
(BARDIN, 2011, p. 37).
A análise de Conteúdos segue um sistema hierarquizado de organização das
informações. Segundo Moraes (1999), basicamente o método é organizado em cinco etapas:
87
1) Preparação das informações: “É o processo de codificação dos materiais estabelecendo
um código que possibilite identificar rapidamente cada elemento da amostra de
depoimentos ou documentos a serem analisados” (MORAES, 1999, p. 5).
2) Unitarização ou transformações dos conteúdos em unidades: “Define as unidades de
análise, também chamadas de unidades de registro. É o elemento unitário do conteúdo a
ser submetido à classificação” (MORAES, 1999, p. 5).
3) Categorização ou classificação das unidades em categorias: “É o procedimento de agrupar
dados considerando a parte comum existente entre eles. Classifica-se por semelhança ou
analogia, segundo critérios previamente definidos” (MORAES, 1999, p. 6).
4) Descrição: “Definidas as categorias e identificando o material constituinte de cada uma
delas, é preciso comunicar o resultado desse trabalho” (MORAES, 1999, p. 9).
5) Interpretação: É o processo de atingir uma compreensão mais aprofundada do conteúdo
das mensagens através da inferência e da interpretação (MORAES, 1999, p. 9).
Para Bardin (2011, p. 125) a análise de conteúdos se organiza em três polos:
1. A pré-análise;
2. A exploração do material;
3. O tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação;
Os documentos e materiais a serem avaliados na Análise de Conteúdos constituem o
que Bardin define como corpus. “O corpus é o conjunto de documentos tidos em conta para
serem submetidos a procedimentos analíticos. A sua constituição implica, escolhas, seleções e
regras” (BARDIN, 2011, p. 126).
Uma síntese do processo de Análise de Conteúdos, proposto por Bardin (2011) pode ser
visto na figura abaixo:
88
Figura 9: desenvolvimento de uma Análise de Conteúdos.31
A próxima etapa trata da organização da análise.
31 Fonte: (BARDIN, 2011, p. 132).
89
3.2 Organizações da presente análise
O corpus dessa pesquisa consiste de um grupo de documentos geradores de dados
separados, sendo dois conjuntos aplicados diretamente aos alunos e dois conjuntos aplicados aos
cursos. Esses documentos serão analisados separadamente e depois serão relacionados. Em cada
análise interpretativa os dados serão expostos de diferentes maneiras, para facilitar a
compreensão do leitor e também para mostrar o caminho de tratamentos dos dados brutos até o
fornecimento final das informações proposto pela metodologia de análise de conteúdo.
O corpus da presente pesquisa é constituído de:
Questionário 1 – perguntas fechadas32. Aplicado no primeiro contato do pesquisador com
os pesquisados;
Questionário 2: misto. Perguntas abertas33 e fechadas. Esse questionário foi aplicado após
o término das oficinas34. Foi elaborado digitalmente através da ferramenta Formulário da
Plataforma Google Docs (www.docs.google.com), e enviada aos alunos via e-mail.
Investigação presencial e documental: foi feita uma investigação sobre as disciplinas e
infraestrutura tecnológica presentes nos cursos da UNICAMP, FNB e UNASP através de
visita local e dois documentos fornecidos pela FNB e pelo UNASP. Os dados advindos do
curso da UNICAMP, foram obtidos através de entrevista e visita local.
Entrevista com os docentes dos três cursos: foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com quatro docentes do UNASP, um da UNICAMP e um da FNB.
32 Perguntas fechadas: apresenta previamente opções de respostas. Podem ser de múltipla escolha,
dicotômica, resposta única, escala, (importância, classificação, etc.) (TANNUS, 2012, ed. Kindle, pos. 3014). 33 Perguntas abertas: o entrevistado pode responder livremente com suas próprias palavras (TANNUS,
2012, ed. Kindle, pos. 3014). 34 Também fez parte da pesquisa de campo, a realização de oficinas de tecnologias ministradas pelo
autor, e após este período foram coletados dados de aplicação das TIC em sala de aula. Os detalhes dos assuntos
abordados nas oficinas estão expostos na seção 4.2.1: Relatório conciso dos assuntos abordados nas oficinas de
tecnologia.
90
Os dados coletados serão expostos separadamente, ou seja, serão exibidos e
categorizados os dados do questionário 1, questionário 2, a descrição das oficinas
tecnológicas, a análise estrutural dos cursos e as entrevistas.
A fase seguinte será a de interpretação de dados. Nesta fase os dados serão
então contextualizados, nesse caso torna-se prudente uma explicação sobre os processos
acima citados.
3.3 A codificação
Este é o estágio da pesquisa onde os dados brutos são transformados e acomodados
em unidades, para que facilite a descrição das características precisas do conteúdo. Para Bardin
(2011):
A codificação corresponde a uma transformação – efetuada segundo regras
precisas – dos dados brutos do texto, transformação esta, que por recorte,
agregação e enumeração, permite atingir uma representação do conteúdo ou da
sua expressão; suscetível de esclarecer o analista acerca das características do
texto, que podem servir de índices (BARDIN, 2011, p. 133).
A organização da codificação compreende três passos: o recorte – relacionado a
escolha das unidades; a enumeração – como serão tratadas as regras de contagem e classificação
– que é a escolha das categorias (BARDIN, 2011, p. 133).
Pelo método de Análise de Conteúdos os dados são organizados em unidades de
registro (UR), unidades de contexto (UC) e as categorias (C).
A unidade de registro “é a unidade de significação codificada e corresponde ao
segmento do conteúdo considerado unidade de base, visando a categorização e a contagem
freqüencial” (BARDIN, 2011, p. 13). Pode ser de dimensões e naturezas variáveis. Executam-se
certos recortes a nível semântico, por exemplo o “tema”, mas também podem ser feitos com
unidades de “palavras” ou “frases”. No caso da presente pesquisa as unidades de registro são
codificadas em temas.
91
As unidades de registro no presente estudo serão os temas contidos nos relatos dos
sujeitos, sendo esses temas posteriormente acomodados em unidades maiores, que são chamados
de unidades de contexto – (UC).
A unidade de contexto “serve de unidade compreensão para codificar a unidade de
registro e corresponde ao segmento da mensagem, cujas as dimensões são ótimas para que se
possa compreender a unidade de registro” (BARDIN, 2011, p. 136).
Na prática as unidades de contexto agrupam as unidades de registro. Na presente
pesquisa as unidades de contexto representam a referência para todas as unidades de registro que
estão tratando de pontos em comum.
As unidades de registro na presente pesquisa serão identificadas pelas letras
minúsculas do alfabeto. As unidades de contexto serão identificadas através dos números
naturais.
3.4 A categorização
Depois das análises de registro serem agrupas em unidades de contexto, o próximo
passo é o agrupamento das unidades de contexto em categorias. A categorização “é uma operação
de classificação de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciação e, em seguida, por
reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos” (BARDIN,
2011, p. 147).
As categorias são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos
(unidades de registro e contexto) sobre um título genérico.
A categorização tem por objetivo principal fornecer por condensação, uma
representação simplificada dos dados brutos. A categorização deve possuir as seguintes
qualidades, como indicado por Bardin (2011)
A exclusão mútua: esta condição estipula que cada elemento não deve existir em mais de
uma divisão.
92
A homogeneidade: o princípio da exclusão mútua depende da homogeneidade das
categorias. Um único princípio de classificação deve governar a sua organização.
A pertinência: uma categoria é considerada pertinente quando está adaptada ao material
de análise escolhido, e quando pertence ao quadro teórico definido.
A objetividade e finalidade: as diferentes partes de um material ao qual se aplica a mesma
grade categorial, devem ser codificadas da mesma maneira, mesmo quando submetidas às
várias análises.
A produtividade: um conjunto de categorias é produtivo se fornece dados férteis: em
índices de inferências, em hipóteses novas e em dados anexos (BARDIN, 2011, p. 150).
No presente estudo as categorias serão as partes onde serão agrupadas as unidades de
contexto seguidas pelas respectivas unidades de registro. Todas a pesquisa será dimensionada em
três categorias, sendo elas:
C1: Relação dos alunos dos três cursos com as TIC;
C2: O uso das tecnologias digitais na educação a partir das oficinas tecnológicas;
C3: A relação dos cursos pesquisados com as TIC;
Vale lembrar que o método de Análise de Conteúdos não é rígido, ou seja,
dependendo do objeto pesquisado podem ser traçados outros caminhos de análise. No capítulo
seguinte serão expostos os dados, a análise e a interpretação dos mesmos. Será a aplicação prática
do método aqui exposto teoricamente. Serão aqui analisados e tratados os dados brutos até seu
isolamento e codificação da forma exposta anteriormente. Os dados serão expostos de diversas
maneiras incluindo organogramas, gráficos e tabelas. A intenção desse processo é facilitar a
compreensão do leitor das unidades e categorias criadas e analisadas pelo pesquisador.
93
4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS
No presente capítulo serão expostos os dados brutos da pesquisa e seu processo de
tratamento, isolamento e codificação.
4.1 Relação dos alunos com as TIC (C1)
Estão agrupados na C 1 os dados referentes à relação dos alunos participantes com
diversas formas de tecnologias, sendo as tecnologias comuns, passando pelas tecnologias
aplicadas na área musical e finalmente se há uma referência do uso dessas TIC pelos alunos que
já atuam como professores de música.
O objetivo desse conjunto de dados iniciais foi fornecer uma primeira impressão da
relação dos estudantes dos três cursos (FNB, UNASP e UNICAMP) com tecnologias digitais
comuns no cotidiano35 e se esse grupo já utiliza de algumas formas estes dispositivos em suas
práticas docentes, logicamente esse último item atribuído somente aos alunos que já atuam como
professores ou estagiários na educação musical.
O primeiro instrumento metodológico usado para colher essas informações foi um
questionário com perguntas fechadas.
Os dados foram coletados no segundo semestre de 2013 e no primeiro semestre de
2014. O questionário foi aplicado a uma amostra de 64 alunos nos três cursos. Esses dados foram
analisados de maneira global, ou seja, não houve separação de análise de dados por instituição,
embora a figura abaixo mostre a separação referente ao número de alunos respondentes por
instituição. Também foram coletados e analisados dados específicos em relação às tecnologias
digitais usadas na área musical.
Dos 64 alunos respondentes temos as seguintes distribuições nas três instituições:
35 Este termo no presente trabalho faz referência às tecnologias presentes no ambiente doméstico dos
alunos, como computadores de mesas, computadores portáteis, smarthphones, câmeras fotográficas digitais, tablete,
pen drives, hard disk externos, scanners, impressoras e sistemas de games.
94
Figura 10: alunos respondentes na C1
4.1.1 UC 1 Acesso à Informática e internet.
A primeira unidade de contexto levanta dados em relação ao acesso à informática
através do número de respondentes que possuem o computador e a conectividade com a internet.
100,0% 100,0%
45,33%
18,75%
35,93%
Internet Computador Portáteis Desktop Ambos
Série1
Figura 11: alunos que possuem acesso à informática e internet
95
Pudemos ver a partir dos dados acima que:
a) 18,75% dos respondentes possuem computador de mesa (desktop)
b) 45,33% possuem computadores tipos portáteis (notebook).
c) 35,93% possuem ambos os modelos.
d) 100% dos mesmos tem acesso à internet.
Esse estudo não tem a intenção de medir o nível de proficiência em informática dos
alunos, mas o percentual referente às respostas de algumas questões, pode indicar que esses
alunos possuem algum conhecimento em informática básica. Foram questionadas tarefas como:
baixar e instalar um software, instalar um hardware, usar uma impressora, scanner, saber como
gravar mídias de CD, DVD e usar editores de textos e de imagens. A média aritmética dessas
respostas foi de 82,79%.
Ainda sobre a questão relacionada com interatividade na internet, também podemos
observar a partir de algumas respostas, como por exemplo, contas de e-mail, redes sociais,
comércio eletrônico e participação em fóruns de discussões virtuais, que os alunos têm um nível
de interatividade virtual. Esses dados tiveram uma média percentual de 60,41%.
96
4.1.2 UC 2 Relações com periféricos e softwares da área da tecnologia musical
As próximas questões buscam levantar dados mais específicos sobre os equipamentos
relacionados à tecnologia musical. A questão serviu para buscar informações sobre os
conhecimentos em equipamentos mais característicos como teclado musical controlador,
interfaces de áudio e vídeo e softwares gravadores multipistas (Ex. Audacity, Protools, Sonar,
Logic, Cubase, Nuendo, Ardour, Reaper, Studio One e outros), editores de partituras (Ex.
Sibelius, Finale, Encore, Musescore e outros) e sequenciadores MIDI (Ex.Sonar, Reaper, Lame,
Protools e outros). A questão foi elaborada de maneira a tentar identificar se os alunos são
totalmente leigos nesses assuntos ou se já conhecem essas tecnologias de alguma forma.
Vale lembrar que não era intenção da pesquisa nesse estágio levantar os motivos que
levam os alunos a usarem ou não tais ferramentas, por esse motivo a opção de resposta “conheço
mas não uso”.
A partir das respostas obtidas com as questões acima concluímos que em média:
Figura 12: conhecimento e uso de softwares e equipamentos
97
a) 29,2% dos alunos respondentes conhecem e usam esses equipamentos e softwares.
b) 34,56% dos alunos respondentes conhecem essas tecnologias, mas não usam.
c) 25,78% desses alunos não conhecem alguns desses equipamentos e softwares.
Podemos observar que a maioria dos alunos usam softwares editores de partituras.
Podemos deduzir que como a notação musical se faz presente em suas práticas musicais diárias,
esse processo tenha acontecido naturalmente. No entanto pudemos ainda perceber pelos dados
citados que esses alunos conhecem outros tipos de softwares editores, mas não costumam usá-los.
Também podemos entender que as informações sobre softwares e hardwares usados
para aplicações musicais não são totalmente desconhecidos dos alunos.
4.1.3 UC 3 Tecnologias e Educação Musical
As últimas questões buscam levantar dados que conectem em uma abordagem
pedagógica as tecnologias digitais e as atividades docentes na educação musical.
A intenção dessa questão foi saber em um primeiro momento se os alunos chegam a
usar tecnologias musicais de alguma forma em sala de aula quando estão no papel de professores.
Vale lembrar que esses dados foram colhidos antes dos alunos pesquisados passarem pelas
oficinas de tecnologias aplicadas à educação musical.
Nesta questão os dados foram separados em cinco grupos para melhor compreensão
no que tange ao uso dessas tecnologias. O critério usado para separação foi em relação aos tipos
de tecnologias. Ferramentas de reprodução e projeção estão reunidas em um grupo, os usos de
softwares estão no grupo seguinte, uso de ferramentas de internet em outro grupo, uso de
gravação de áudio e vídeo, no próximo e no último grupo está o uso de outros dispositivos além
do computador, como telefones celulares, câmeras digitais e tablets.
98
a) Grupo 1: tecnologias básicas para reprodução de som e vídeo:
Figura 13: grupo 1 - uso de som e vídeo
b) Grupo 2: utilização de softwares. O grupo 2 busca levantar dados sobre o uso de
softwares como editores de partituras, sequenciadores MIDI e softwares multipistas para
as aulas de música. Vale ressaltar que estes recursos aqui expostos, estão sendo
considerados se os alunos participantes usam estas TIC na regência da aula
especificamente, tendo o aluno interagindo direto com a máquina e não somente como
recurso pessoal.
99
Figura 14: grupo 2 - uso de softwares musicais
c) Grupo 3: utilização de internet e suas ferramentas: estão agrupados nesse contexto o
uso de sites para pesquisas de repertórios e performances, como o caso do site Youtube
(www.Youtube.com), repositórios como o site Soundcloud (www.soundcloud.com), o uso
das redes sociais e os softwares que funcionam on-line sem a necessidade de instalação no
computador, sites com jogos interativos e para estudos de conteúdos de teoria musical e
percepção. A figura abaixo mostra os seguintes dados:
100
Figura 15: grupo 3 - ferramentas de internet
d) Grupo 4: gravação de alunos em áudio, vídeo e uso de playbacks: neste grupo estão os
dados sobre o uso de gravação em educação musical. O termo gravação aqui é referente
ao registro sonoro ou visual da performance dos alunos. A figura abaixo mostra os
seguintes dados:
101
Figura 16: grupo 4 - uso de gravações em sala de aula
e) Grupo 5: Incorporação de outros dispositivos relacionados às TIC. Estão no grupo 5 a
incorporação de outros dispositivos tecnológicos além do computador nas aulas de
música, por exemplo: celulares e câmeras digitais. A partir da figura abaixo temos os
seguintes dados:
102
Figura 17: grupo 5 - incorporação de outros dispositivos eletrônicos
Podemos sintetizar os dados dos cinco níveis aqui propostos no quadro abaixo. Serão
apresentados os dados referentes ao uso e ao não uso dessas tecnologias em todos os níveis.
Figura 18: síntese do uso de tecnologias nos cinco níveis
103
4.2 O uso das TIC na sala de aula após as oficinas tecnológicas (C2)
4.2.1 Relatório conciso dos assuntos abordados nas oficinas
A proposta de incorporar essa experiência na pesquisa foi motivar os alunos
participantes a usarem estratégias tecnológicas em sala de aula. As oficinas tiveram como
objetivo oferecer aos alunos envolvidos, caminhos metodológicos no que tange o uso de
tecnologias digitais na educação musical. Os referenciais teóricos usados nas aulas são os
mesmos que embasam o presente trabalho.
Essas oficinas foram realizadas pelo pesquisador na condição de professor nas
instituições FNB e UNASP e como aluno PED (Programa de Estágio Docente) na UNICAMP.
Após as oficinas foi feita uma pesquisa através de um questionário misto contendo
questões abertas e fechadas com os alunos que aplicaram essas metodologias em sala de aula.
Esses dados serão posteriormente expostos e analisados.
A intenção do pesquisador era entender que tipos de situações foram encontradas por
esses alunos (aqui professores) em campo, quando tentaram utilizar essas metodologias.
Segue abaixo um breve relato sobre os assuntos que foram tratados nas oficinas nas
três instituições.
4.2.2 As oficinas de tecnologias na UNICAMP
As Oficinas de Tecnologias Digitais Aplicadas à Educação Musical foram realizadas
com os alunos das disciplinas MU 573 E MU 673 e aconteceram em dois períodos: 2º semestre
de 2013 e 1º semestre de 2014, com seis encontros em 2013 e quatro encontros em 2014 com
dois grupos diferentes de alunos.
As aulas foram realizadas em uma sala com projetor multimídia, sistema de som e
conexão com a internet. Os alunos traziam os computadores pessoais e aqueles que não tinham
trabalhavam em dupla com os alunos que estavam com o notebook. As tarefas eram realizadas
104
em conjunto. A única infraestrutura necessária para a realização dessas oficinas, eram os
computadores pessoais e conexão com a internet. Todos os softwares usados nas aulas eram de
licenças livres.
Os assuntos abordados com os alunos do segundo semestre de 2013 foram os
seguintes:
No 1º encontro de 2013 foi realizada uma avaliação diagnóstica para que se pudesse
ter uma ideia do perfil tecnológico dos alunos presentes. Em seguida foi abordada uma visão
panorâmica de algumas tecnologias digitais disponíveis para Educação Musical. Foram expostos
diferentes tipos de softwares para várias aplicações em música: editores de partituras, editores de
áudio, sequenciadores e softwares gravadores multipistas. Também foram expostos softwares que
funcionam on-line, sem a necessidade de instalação no computador.
No 2º encontro foi feita uma exposição sobre Noções Básicas de Acústica, síntese
sonora, som analógico e digital e linguagem MIDI. A ideia foi passar um conceito geral sobre os
assuntos supracitados, visto que são noções essenciais para se lidar com as TIC.
No 3º encontro foi feita uma exposição dos mecanismos e conhecimentos necessários
para que os alunos pudessem construir um estúdio caseiro (Home Studio) e usar o computador
como um estúdio de gravação e edição. Foram abordados nesse encontro dicas sobre hardwares e
softwares necessários, bem como equipamentos para monitoração, cabeamento, conexões,
configurações, captação de sinal de áudio, mixers ou mesas de som, diferentes tipos de
microfones, teclados musicais controladores e isolamento acústico.
No 4º encontro foram expostos os softwares de licença livre, sem custo para
instalação. Foram apresentados os softwares Audacity, Acidxpress e Anvil Stúdio e foram
realizadas as primeiras experiências de gravação na sala usando o software Audacity. Nessa aula
também foram apresentadas algumas estratégias de como usar o recurso da gravação de áudio em
sala de aula. Como não eram todos os alunos que estavam com o computador, neste dia foi feita
uma aula em grupo com os alunos que estavam com o notebook.
No 5º encontro foi realizada uma experiência envolvendo a adaptação de tecnologias,
que criadas com uma finalidade, podem ser usadas para outro fim. Trabalhamos com a
construção de jogos interativos usando o software Power Point. Esse é um software do pacote
105
Office da empresa Microsoft e foi construído para apresentações de slides. Adaptando suas
ferramentas podem-se criar jogos com conteúdo de educação musical.
O 6º encontro foi reservado exclusivamente para a apresentação de estratégias
tecnológicas para serem aplicadas em sala de aula. A primeira exposição foi em relação às
ferramentas disponíveis na internet. Foram apresentados sites de jogos musicais interativos e sites
de assistência aos estudos de percepção, teoria musical e história da música.
As oficinas foram encerradas com o desenvolvimento de um projeto pedagógico feito
pelos alunos envolvendo os conteúdos abordados que poderiam ser aplicados em sala de aula
Em 2014, o pesquisador mudou o planejamento em vista do que foi trabalhado em
2013. Desta vez visando uma abordagem mais prática, as oficinas se iniciaram tendo como
conteúdos no 1º encontro, as ferramentas de internet. Foram apresentados sites de conteúdos
musicais, jogos interativos e softwares que funcionam on-line.
No 2º encontro foi apresentado o software Audacity. Foram apresentadas suas
principais ferramentas e realizamos algumas experiências com gravação.
No 3º encontro foram abordadas quais estratégias poderiam ser desenvolvidas em sala
de aula usando o Audacity. Foram realizadas atividades que envolviam o ensino de forma e
estrutura musical usando ferramentas do software e a criação de atividades de percepção usando
o mesmo.
No 4º encontro foram abordadas quais estratégias podem ser desenvolvidas para as
aulas de música no laboratório de informática. Nesse encontro foi mostrado o uso de sites em que
os alunos (aqui os alunos das escolas regulares) podem criar composições, improvisações e até
mesmo tocarem entre eles em computadores diferentes. Foram apresentados os sites Inudge.net,
Incredibox.com e Muxicall.
Não foi possível realizar o projeto pedagógico final com essa turma, visto que logo
após o 4º encontro a UNICAMP entrou em período de greve.
4.2.3 As oficinas de tecnologia com os alunos do UNASP
106
Com os alunos do UNASP foram realizados dezenove encontros durante a disciplina
Projetos de Gravação no segundo semestre de 2013. As aulas aconteceram em uma sala com
projetor multimídia, sistema de som, computador e acesso à internet. Os alunos participantes
levavam seus computadores pessoais. Os alunos que não possuíam notebook sentavam ao lado de
quem estava com computador. Os alunos realizavam a tarefa em conjunto.
Foram abordados assuntos sobre o atual momento tecnológico na sociedade atual.
Visões teórico/filosóficas com os autores que fundamentam o presente trabalho.
Os caminhos metodológicos abordados foram direcionados para facilitar as
aplicações em diversas situações de sala de aula, considerando que um grande número de alunos
ainda não possuía familiaridade com procedimentos tecnológicos na área musical. Abaixo o
cronograma dos assuntos tratados no semestre:
1º encontro: Avaliação diagnóstica. Noções gerais de áudio e acústica. Conceitos
físicos do som. Som analógico e digital.
2º encontro: Estúdio caseiro (Home Studio). Equipamentos básicos para criação de
um Home Studio. Mesas de som, microfones, cabos, placas de áudio, cabos, conectores, sistemas
de ligação e roteamento.
3º encontro: Introdução ao software Audacity. Primeiras gravações e operações
básicas do software.
4º encontro: Continuação com o software Audacity. Gravações e operações básicas e
intermediárias do software.
5º encontro: Primeiro trabalho: Fazer uma gravação usando três ou mais trilhas no
software Audacity.
6º encontro: Trabalhando efeitos, equalizações e edições no Audacity.
7º encontro: Software Acidxpress. Trabalhando com Loops. Aplicação do software
em ações didáticas. Como usar o Acidxpress em sala de aula.
8º encontro: Protocolo MIDI – Contextualização. MIDI no software Sonar X2 (versão
trial) e outros softwares. Usando a linguagem MIDI na educação musical.
9º encontro: Protocolo MIDI e sequenciamento. Instrumentos Virtuais (VST).
107
10º encontro: Softwares para gravação, composição e aprendizagem musical on line.
11º encontro: Ferramentas de Internet e jogos digitais on-line. Estratégias para uso em
educação musical.
12º encontro: Projeto Pedagógico. Produzir um projeto para aulas de música usando
gravações ou ferramentas de internet.
13º encontro: Trabalhando com paisagens sonoras virtuais. Urban Remix e outros
sites – ideias para aulas com paisagem sonora. Edição de paisagens sonoras. Dicas para baixar e
editar.
14º encontro: incorporação de outros dispositivos: usando o celular como gravador e
transferindo para o Audacity. Uso de tablets e câmeras digitais para aulas de musicalização.
15º encontro: Tablets e smartphones como instrumentos. Usando simuladores de
instrumentos no tablet e no smartphone (bateria, piano, violão, etc.).
16º encontro: apresentação dos projetos desenvolvidos pelos alunos.
Como trabalho de encerramento das oficinas os alunos realizaram projetos de
aplicação das tecnologias nas salas de aulas.
4.2.4 As oficinas com os alunos da FNB
As oficinas de tecnologia na instituição FNB foram realizadas no primeiro semestre
de 2014 e tiveram 15 encontros.
1º encontro: nesse encontro foi abordada uma visão geral sobre o impacto tecnológico
na sociedade atual. Também foi falado sobre a relação tecnológica com a música e finalmente a
contextualização com a educação musical.
2º encontro: nessa aula foram abordadas as noções básicas de acústica, áudio
analógico e digital.
108
3º encontro: nessa aula foram expostas as ferramentas de internet para educação
musical. Sites com jogos interativos, conteúdos de percepção e teoria musical, repositórios de
partituras, softwares on-line. Como trabalhar com aulas de música no laboratório de informática.
4º encontro: nessa aula foi abordado o conceito de estúdio caseiro (home studio), os
equipamentos necessários para a configuração de uma estação de trabalho de áudio, hoje
conhecida como DAW (digital audio workstation). Foram ainda mostradas nessa aula, tipos de
cabos e conectores, o conhecimento do próprio computador, como trabalhar com os processos
multimídia do equipamento, configuração de entradas e saídas de áudio e como ligar os outros
periféricos como microfones, teclados musicais controladores e mesas de som.
5º encontro: Nessa aula foi introduzido o software Audacity, e foram realizadas as
primeiras experiências de gravação com o computador. Foram abordados os comandos básicos do
software, e uma pequena introdução sobre como editar uma trilha de áudio.
6º encontro: nesse encontro foi abordado o conceito de gravação com várias trilhas
(multipistas). Como adicionar uma trilha à outra existente. Foi dada uma pequena introdução
sobre efeitos, equalizadores e noções básicas de mixagem.
7º encontro: introdução à linguagem MIDI, sua definição e como são usados em
aplicações musicais. Exposição de softwares que reproduzem e editam músicas usando a
linguagem MIDI. Princípios básicos de sequenciamento: definição e noções básicas de produção
de sequências.
8º encontro: O uso da gravação e do MIDI na educação musical. Estratégias para usar
recursos de gravação e músicas em MIDI em sala de aula.
9º encontro: noções básicas de produção musical. Nessa aula foi exposta uma ideia
geral do processo de produção musical. Por ser um conteúdo muito extenso, foram expostos
somente os processos de produção de um disco, DVD, ou uma trilha sonora. As fases de pré-
produção, escolha do estúdio, produtor, arregimentação, orçamento, repertório, instrumentistas,
gravação, mixagem, edição e masterização.
10º encontro: definição de samples e loops. Como usar esses recursos na educação
musical. Nessa aula foi usado o software Acidxpress.
109
11º encontro: Nessa aula foi exposto o software Pure Data (PD). Foi realizada uma
performance com o professor/autor usando o software em uma composição própria. Foi exposta
uma noção básica sobre o funcionamento do software.
12º encontro: Introdução de outros dispositivos eletrônicos nas aulas de música.
Foram mostradas algumas estratégias para usar na educação musical dispositivos como celulares,
tablets e câmeras digitais. Como gravar com o celular ou câmera digital e editar o som usando o
software Audacity.
13º encontro: as paisagens sonoras no ambiente digital. Exposição do projeto Urban
Remix e outros sites. Dicas para baixar e editar paisagens sonoras. Gravação da paisagem sonora
da sala.
O 14º e 15º encontros foram reservados para a produção do trabalho final das
oficinas: desenvolver um projeto pedagógico usando as tecnologias vistas anteriormente.
4.2.5 Experiências tecnológicas desenvolvidas pelos alunos após as oficinas
Após o término das oficinas o pesquisador buscou informações com os alunos
participantes que já exercem atividades como professores e se dispuseram a compartilhar a
experiência, sobre a aplicabilidade de estratégias tecnológicas em suas atividades docentes.
Foi usado como instrumento de pesquisa um questionário contendo questões abertas e
fechadas. Esse questionário foi elaborado usando a ferramenta formulários da plataforma Google
Docs (www.docs.google.com), e em seguida foi enviado aos alunos via e-mail. Dos 64 alunos
envolvidos na pesquisa e investigados no primeiro questionário, o pesquisador teve um retorno de
39 alunos com a seguinte distribuição:
Figura 19: alunos respondentes após as oficinas
110
O formulário foi elaborado de forma a investigar os sucessos e insucessos na
aplicação dessas ferramentas como também os obstáculos e dificuldades encontrados pelos
alunos (aqui professores), a receptividade pelos alunos que estão recebendo as aulas nas escolas e
a relação com as camadas administrativas.
Abaixo estão analisadas as respostas às perguntas abertas e são os dados acima
explicados de maneira mais precisa. Os tópicos que emergiram das respostas vão desde
motivação a problemas estruturais e pedagógicos, e deram origem à segunda categoria. Nesta
categoria foram agrupadas em unidades de registro (UR) e unidades de contexto (U.C) as
respostas às perguntas do questionário que buscavam levantar dados sobre os aspectos positivos e
negativos quanto ao uso de tecnologias em sala de aula.
Estão ainda nesta categoria as dificuldades relatadas pelos alunos ao usarem as TIC
na sala de aula - dificuldades burocráticas, administrativas e de infraestrutura, como também os
relatos positivos usando esses recursos.
Os alunos das licenciaturas participantes da presente pesquisa, serão identificados
aqui como sujeitos, para que não haja confusão do leitor com os alunos que estão recebendo as
aulas ministradas pelos mesmos.
4.2.6 UC 1 As tecnologias como ferramentas de auxílio na ação docente.
Sobre o uso das tecnologias como ferramentas auxiliares nas ações dos professores,
os dados mostram que os alunos estão usando as tecnologias de diversas maneiras para auxiliar o
trabalho na sala de aula. As unidades de registro UR estão indicadas pelas letras minúsculas do
alfabeto e as mensagens de onde emergiram estão destacadas em itálico, representando a fala do
sujeito emissor.
a) Internet como plataforma de divulgação e ambiente de aprendizagem.
111
Percebe-se pela resposta do sujeito A.L. abaixo que o mesmo usa a internet e
softwares de gravação e edição de vídeo e áudio além de plataformas virtuais.
Tenho utilizado softwares de gravação de vídeo e áudio para edição e
publicação de vídeos na internet. Utilizo também plataformas para a
elaboração de podcasts e web lessons”.
b) Recursos de gravação de áudio, vídeo e internet para referências.
O sujeito I.P. utiliza recursos de gravação de áudio e vídeo durante as aulas e
caminhos eletrônicos (links) para materiais de referência na internet.
Uso gravações de vídeo e áudio durante as aulas e links de referência (textos,
vídeos e áudios) para serem acessados em momentos de estudo.
c) Celular como dispositivo de gravação, redes sociais (internet) para comunicação e
ambiente para tirar dúvidas.
O sujeito M.F. usa as ferramentas do telefone celular para criar suporte aos alunos. O
dispositivo é usado como plataforma de gravação e meios alternativos de comunicação como as
redes sociais.
O que geralmente uso é o gravador de celular, principalmente em época de
audição. Como trabalho com trios e quartetos, gravo as outras vozes e deixo a
voz que o aluno tocará "livre" para ele tocar junto. Às vezes gravo
separadamente a sua voz, para que ele possa corrigir possíveis erros de
notas/ritmos. Utilizo bastante o Facebook como meio de comunicação entre
meus alunos (os que possuem Facebook) mandando áudios, tirando dúvidas
etc..
d) Softwares de gravação de vídeos, editores e games para geração de conteúdos e
motivação. Internet para apresentação de estilos musicais novos.
112
O sujeito R.B. interage com diversas mediações tecnológicas, desde suporte até a
motivação dos alunos, sendo que, tipos específicos de tecnologias são direcionados a partes
distintas das aulas.
Utilizo Band in a Box para trabalhar com improviso, uso gravações de vídeos
como forma de revisão digital para meus alunos, utilizo editores para gerar
conteúdo, sites como o Youtube para apresentar estilos novos de música e jogos
como Rocksmith para trazer interesse aos alunos que adoram games.
e) Softwares para acompanhamento para a prática de improvisação e a internet para
consultar partituras.
De forma similar o sujeito M.B. usa softwares de acompanhamento para a prática da
disciplina de improvisação e também utiliza a internet para pesquisar partituras:
Uso programas de acompanhamento para improvisação e consultas de
partituras na internet.
f) Gravação de vídeos e áudio para auto avaliação e a internet para ajudar na
transcrição de músicas.
O sujeito F.P. utiliza a internet para ajudar na transcrição das músicas, referentes as
diversas práticas de autoaprendizagem musical atualmente presentes na internet. Também utiliza
o recurso de gravar os alunos para avaliações posteriores:
Utilizo muito o acesso à internet para transcrever as músicas, onde os alunos
aprendem a "tirar de ouvido". Gravações em vídeo e áudio para auto avaliação
de performance e improvisação.
g) Os programas como ferramentas para melhor compreensão de processos musicais.
113
O sujeito E.P. já enxerga as tecnologias como ferramentas facilitadoras de
compreensão das partes dos arranjos musicais através dos softwares multipistas ou
sequenciadores:
A clareza das partes na separação de pistas dos instrumentos de percussão.
h) Melhor aproveitamento do tempo de aula.
O sujeito I.P. ressalta a customização do tempo da aula através das possibilidades
tecnológicas:
Com as tecnologias é possível aproveitar melhor o pouco tempo de aula
presencial, já que elas contribuem no estudo, na fixação do conteúdo
trabalhado e no acesso a informações complementares.
i) Possibilidades de inclusão de novas ferramentas pedagógicas.
O sujeito A.L. relata positivamente sobre a possibilidade de interagir com outras
formas de materiais pedagógicos, ao relatar os aspectos positivos do uso de tecnologias:
A oportunidade de incluir outras ferramentas (jogos, softwares de suporte,
instrumentos virtuais, etc.).
j) Gravação de áudio e vídeo para acompanhamento de desempenho e a internet para
apreciação musical.
O sujeito E.S. também usa as tecnologias para acessar informações relevantes e para
gravação e acompanhamento de progressos.
Utilizando o meu computador/projetor apresento para eles diversos corais do
mundo inteiro, também gravamos nossas aulas (vídeo/áudio) para acompanhar
o progresso das atividades.
114
4.2.7 UC 2 A interação dos alunos e as tecnologias durante o processo de ensino e
aprendizagem.
a. O computador e os softwares de gravação no exercício da composição.
Também foram constatados através dos depoimentos que os sujeitos P.S. e L.C.
utilizaram o computador como suporte ao aprendizado, colocando os próprios alunos na máquina
para o exercício de apreciação, composição e gravação.
Uma das atividades que fizemos foi através do Audacity, produzimos com as
crianças algumas músicas compostas por elas mesmas. Gravamos separados,
ensinamos como é um processo de gravação, colocamos elas pra gravarem
juntas e separadas. Mostramos os programas e algumas até aprenderam a
editar algumas coisas e a manusear o programa.
b. Uso de jogos interativos para aulas de Flauta Doce.
Com a mesma percepção o sujeito A.S. usou o computador para as aulas de flauta
doce através de jogo interativo:
Eu uso com meus alunos alguns programas de aula musical e um deles é com a
flauta doce. Cada participante da atividade tem que acompanhar alguns
bonecos na tela e tocar cada nota mostrada na flauta.
c. Uso de softwares editores para o ensino de composição.
O sujeito V.B. utiliza alguns softwares de edição para ensinar os alunos a comporem:
Ensino o aluno a criar/compor em determinado editor musical.
d. Uso de jogos para reconhecimento de períodos musicais e percepção criada no
Power Point e Audacity.
Os sujeitos M.G., M.A. e V.V. falaram do uso dos jogos interativos como táticas em
sala de aula. Os sujeitos usam as seguintes estratégias:
115
Atividades de composição, jogos para reconhecimento de figuras e notas
musicais, reconhecimento de períodos musicais (romantismo, classicismo, etc.).
Jogos criados no Power Point e exercícios de percepção criados no Audacity.
Atividades brincando com jogos feitos no PowerPoint.
4.2.8 UC3 Relatos das dificuldades encontradas pelos alunos ao utilizarem as tecnologias
digitais para as aulas de música.
Esta unidade de contexto expõe o relato dos obstáculos observados pelos alunos
no trabalho com as tecnologias digitais para a educação musical.
a) Falta de domínio das ferramentas tecnológicas.
O sujeito R.B. diz não usar essas tecnologias por não saber como usa-las:
Não uso demais tipos de tecnologia justamente por não saber usar.
b) Dificuldade em operar softwares editores.
O sujeito L.F. relata sua dificuldade em operar programas editores
Talvez a minha falta de conhecimento para mexer em alguns programas (como
editores de áudio).
c) Auto impedimento no uso de tecnologias pela insegurança no domínio das
ferramentas tecnológicas.
116
D.A. diz não usar por não conhecer essas ferramentas e pensa em primeiro dominar
as tecnologias para depois aplicá-las. O mesmo sujeito ainda fala sobre a sua insegurança com as
ferramentas tecnológicas e por isso evita usá-las.
Falta de conhecimento nestes jogos de computador, saber utilizar primeiro para
depois aplicar aos discentes.
Preciso superar a barreira da tecnologia, que fico um tanto inibida com as
ferramentas e encontro certa dificuldade em agregá-las.
d) A escola não oferece equipamentos básicos.
Podemos confirmar esse tipo de obstáculo através do depoimento do sujeito M.A.:
A escola pública onde eu trabalho não oferece nem computador nem aparelho
de som. Isso interfere na qualidade do trabalho, a tela do notebook é pequena e
a qualidade de som é ruim.
No caso do sujeito E.S., o mesmo precisa usar seus próprios equipamentos, porque na
escola onde trabalha não existem tais recursos:
O local que não tem equipamentos para que todos possam utilizar nas aulas
(tudo o que eu utilizo é meu).
e) Falta de expectativas em relação a novos investimentos.
O mesmo sujeito frente a essa condição ainda mostra certa falta de expectativa para a
mudança dessa situação:
Infelizmente estamos longe de ter, pelo menos na minha escola, uma sala de
Artes com material adequado para atividades musicais.
117
f) Computadores desatualizados e incompletos.
O fato de a escola também possuir computadores e laboratórios não resolve todo o
problema, como observado no relato do mesmo sujeito M.A.:
Na escola em que eu dou aula tem laboratório de informática, mas isso não é
suficiente, os computadores precisam ter caixas de som e ter os programas
específicos instalados. Sem falar que dou aula pelo Mais Educação e a minha
liberdade é bem restrita, com isso levo o meu Notebook no ônibus quando vejo a
necessidade de aplicar tecnologia à aula.
g) Falta de internet, computadores, projetores, sistemas de som e laboratórios.
Mesmo alguns alunos tentando uma adaptação para utilizar esses recursos, as
dificuldades na execução da aula são evidentes, como na fala do sujeito L.F.:
[...] em minhas aulas eu não tinha retroprojetor, então 15 crianças se
aglomeravam em frente a um notebook de 15 polegadas (com duas caixas de
som de computador). O que quero dizer é que as vezes é complicado o uso de
tecnologia devido a instituição que você trabalha (falta internet, falta
computadores, retroprojetores, caixa de som, etc.). Procuro sempre salvar
vídeos, músicas que usarei em aula, pois o acesso à internet as vezes é precário
ou até impossível. Mas se eu fosse utilizar jogos on-line, não seria possível.
h) Falta de atualização dos computadores e conexão lenta.
No relato do sujeito M.A., podemos perceber que com a velocidade do avanço das
tecnologias, mesmo que a escola tenha laboratório, mantê-lo atualizado é extremamente
difícil, como podemos perceber na fala abaixo:
[...] os meus alunos que frequentam o laboratório reclamam da lentidão da
internet e da antiguidade dos computadores, não tem caixa de som e muitas
vezes as entradas de fones não funcionam.
i) Falta de expectativas em relação a investimentos.
118
O mesmo sujeito ainda aponta algumas sugestões de soluções para melhorar essas
situações, mas também percebe-se uma falta de expectativa no depoimento do mesmo:
Acredito que seriam muito mais proveitosas as aulas com aplicação de
tecnologia se, na sala de atividades artísticas, tivéssemos um computador ligado
a uma TV de tela grande, conectado a um aparelho de som descente com
possibilidade, inclusive de gravação de áudio e vídeo. Mas isso infelizmente é
coisa para escolas particulares, as públicas se viram como Deus manda.
Outro problema encontrado pelos sujeitos, como exposto nessa unidade, também são
as dificuldades de diálogos com as esferas administrativas.
j) Dificuldade em usar o laboratório de informática para aulas de música.
Sobre a dificuldade de uso do laboratório de informática o sujeito P.S. relata que:
Eles até disponibilizam a rede wi-fi e notebooks para os professores, mas como
há muitas aulas de informática básica para todas as turmas, fica difícil agendar
para o uso do laboratório para as aulas de música.
k) Falta de suporte técnico e pessoal de apoio.
Outro problema relatado pelo sujeito H foi em relação à falta de suporte pessoal, a
dificuldade com o pessoal de apoio.
Faço minha prática na Universidade Estadual de Campinas, então as crianças
não podem ter acesso ao laboratório por não ter um funcionário para guiar as
atividades.
l) Dificuldade de acesso ao laboratório e deterioração dos equipamentos.
Na fala do sujeito K.C., o problema é que a escola possui os recursos, mas dificulta o
acesso. Segundo o próprio sujeito, esse tipo de ação faz com que o próprio tempo deteriore os
equipamentos sem terem sido usados em toda sua capacidade de vida útil pelos alunos:
119
A escola geralmente “preza pelos seus bens”. Preferem que o tempo, a poeira e
outros infortúnios estraguem os aparelhos que disponibilizá-los aos alunos. Não
vejo coerência nisso.
m) Problemas burocráticos.
A burocracia também foi uma dificuldade apontada pelo sujeito L.F.:
Falta de laboratório de informática. Em algumas instituições o acesso é muito
burocrático e não há acesso à internet.
n) Problemas de logística.
Foram encontrados problemas de logística que de certa forma dificultam a difusão
dessas tecnologias em sala de aula, como no caso da fala abaixo expressada pelos sujeitos
M.F e L.C.:
A escola de música na qual dou aula, é municipal, e não há laboratório de
informática. [...]. A escola possui um computador que os professores podem
pesquisar, imprimir, mas que fica na secretaria. Há na sala de concerto um
retroprojetor que também é usado em algumas apresentações. Não há Wi-fi
liberado aos professores para que estes utilizem com seu próprio notebook ou
afins, em sala de aula. Se o professor quiser mostrar algum vídeo ou algo do
tipo, ou leva salvo em seu notebook ou leva o aluno até a secretaria.
4.2.9 UC 3 Observações pedagógicas do uso das tecnologias digitais na sala de aula
Essa unidade mostra a percepção dos sujeitos que participaram da pesquisa sobre
o perfil tecnológico dos alunos que os mesmos estão encontrando. Serão abordados temas
referentes ao comportamento, aprendizagem e motivação durante o processo de ensino.
a) Aproximação com a linguagem jovem em relação às tecnologias.
O sujeito K.C. fala da proximidade com a linguagem tecnológica dos alunos atuais e
com as TIC.
120
A informática é praticamente a linguagem do aluno moderno e exerce certo
fascínio e interesse neste aluno. Isso pode trazer benefícios para a educação,
pois o professor pode ter mais acesso ao aluno.
b) As tecnologias e as gerações de alunos atuais.
Os sujeitos abaixo falam do ambiente tecnológico no qual os alunos estão inseridos e
a necessidade da escola se alinhar a esses fenômenos. O sujeito H. expressa sua opinião neste
sentido:
Os alunos estão acostumados a utilizar tecnologias a todo o momento - em casa,
na escola, nos momentos de lazer. Assim, ela deve ser incluída em sala de aula
também.
c) O conflito entre as gerações.
O sujeito D.A. fala sobre sua visão em relação ao domínio tecnológico pelas gerações
mais novas e sua dificuldade de se integrar a esse contexto devido à diferença de idade.
[...] estamos numa geração da tecnologia em que crianças com cinco ou seis
anos sabem bem mais que eu que tenho 48 anos.
d) A velocidade tecnológica das gerações atuais.
O sujeito M.G. expressa sua percepção em relação à velocidade tecnológica vivida
pela geração atual:
É de interesse da geração atual tudo que pode ser feito de forma mais rápida e
interativa. Vemos resultados mais rápidos.
e) A possibilidade de diálogo da aula com o modo de vida digital.
121
O sujeito H.C. fala da possibilidade de conectar as aulas ao ambiente digital
vivenciado pelos alunos atuais.
Acho que um ponto positivo seria fazer com que a aula dialogasse com o modo
de vida digitalizado que temos hoje, onde todo mundo está conectado a
qualquer momento com muita facilidade e muitas das atividades pressupõem
uma plataforma digital.
f) Proximidade com o cotidiano dos alunos
O sujeito L.F. relata que ao usar ferramentas que estão próximas do cotidiano dos
alunos, percebe uma melhora no aproveitamento da aula:
É próximo do cotidiano deles (desenhos, computador, tablet, tecnologia em
geral). Quando usamos algo que está presente no dia a dia do aluno, percebo
uma melhora no aproveitamento da aula, no entendimento da matéria. O aluno
tem incentivo e interesse pelo assunto.
g) Envolvimento e aproximação com a linguagem digital jovem.
O sujeito R.B. percebe mais envolvimento e aproximação com a linguagem jovem
dos alunos.
Em alguns casos percebo mais envolvimento. Em outros percebo mais
proximidade com linguagem jovem.
Essa unidade de contexto agrupa em unidades de registro os relatos sobre a percepção
dos participantes em relação ao aumento do interesse e motivação nas aulas devido ao uso das
TIC durante as atividades.
h) Aumento de interesse
122
O sujeito L.C. fala da motivação em relação às aulas usando tecnologias pelo fato dos
alunos atribuírem a isso a ideia de lazer e recreação:
Os alunos estão atualmente muito envolvidos com tecnologia. Trabalhar com
elas fazem o interesse deles pela aula aumentar. As tecnologias são uma
novidade dentro do contexto das aulas, já que os alunos muitas vezes fazem
apenas uso delas para fins de recreação.
i) Motivação para estudar antes da aula.
O sujeito M.F. relata que as TIC melhoraram o aspecto do preparo para as aulas, ao
motivarem os alunos a estudarem mais em casa.
Acredito que os alunos têm mais comprometimento com as aulas,
principalmente na questão de estudar para a aula, talvez pelo fato de não haver
mais desculpas para não fazê-lo (estudo).
j) Aumento da motivação pelo fator da interação.
Os sujeitos F.A., R.N. e P.V. apontam que o aumento da motivação é devido à
interatividade e ao dinamismo das aulas proporcionadas pelo uso de tecnologias.
Facilita a melhor compreensão do conteúdo trabalhado, proporciona uma aula
mais dinâmica e interativa.
Desperta maior interesse por parte dos alunos. Facilita o aprendizado e maior
interatividade.
A tecnologia chama a atenção. Deixa a aula mais interativa.
k) Fascínio pela novidade tecnológica.
Na fala do sujeito P.S., o mesmo atribui a motivação dos alunos ao fascínio pela
novidade tecnológica.
123
Maior concentração e interação entre os alunos. Como não é algo comum
ainda, o interesse e atenção se destacam bastante, pela curiosidade e por ser
algo mais chamativo.
l) Maior motivação em função da gravação de vídeos e uso da internet para apreciação
musical.
O sujeito R.B. atribui a motivação e interesse aos vídeos gravados de revisões e o uso
do site You Tube (www.Youtube.com) para a apreciação musical.
Os alunos evoluem mais rápidos com os vídeos de revisões e criam uma
afinidade maior com os estilos musicais através das playlists do Youtube.
m) Tecnologias como forma de ampliação de perspectivas pedagógicas.
O sujeito F.P. ressalta o fato de a tecnologia deixar aula mais descontraída e coloca
isso como elemento motivador nas aulas, ampliando para outras perspectivas como a observação
de outros músicos e a gravação como forma de incentivar a criatividade nas práticas de
improvisação.
A aula fica descontraída, onde o aluno mostra as músicas que gostaria de tocar,
interage mais com o instrumento, serve de observação de outros instrumentistas
tocando. Nas gravações, os alunos mostram o seu potencial criativo na
improvisação e na aplicação direta em seu instrumento.
n) Conflitos entre o aprendizado com tecnologias e o mesmo sem uso delas.
O sujeito M.G. observa que existe uma ruptura entre o aprendizado realizado com as
tecnologias e o mesmo processo sem elas. Muitas vezes os alunos desenvolvem a impaciência ao
não conseguirem se desenvolver com a mesma velocidade sem o suporte digital:
Apesar de resultados mais rápidos, o aluno se torna limitado ao não conseguir
transpor o aprendizado feito em um programa. Vários alunos possuem
dificuldades em escrever as claves e notas, se tornam impacientes ao não
conseguir resultados rápidos (compor rapidamente uma música com auxílio de
um programa).
124
o) Desvio de atenção.
Já os sujeitos L.M e F.P. atribuem o problema do desvio da atenção pela quantidade
de dispositivos tecnológicos que existem hoje:
Excesso de falta de atenção devido aos aparelhos tecnológicos.
Se distraem muito com outras coisas, mas temos que mostrar objetividade.
p) Grande quantidade de informação.
O sujeito I.P. observa que a imensa quantidade de informação pode ser prejudicial
se os alunos envolvidos não tiverem um direcionamento. Nesse caso os usos dessas
tecnologias podem atrapalhar o ensino ao invés de ajudar:
Pode ser que o excesso de informações seja prejudicial deixando a pessoa
"perdida" sem saber lidar com tantas possibilidades, por isso o uso de
tecnologias pode ser melhor aproveitado quando orientado por alguém.
4.3 A relação dos cursos pesquisados com as TIC (C 3).
4.3.1 Disciplinas com corte tecnológico e infraestruturas dos três cursos.
a) Disciplinas Tecnológicas.
A verificação da presença ou não de disciplinas com enfoque tecnológico aconteceu
através dos documentos: Matriz Curricular das instituições UNASP e UNICAMP e o documento
Projeto Pedagógico de Curso (PPC) da instituição FNB. Vale ressaltar que o pesquisador não teve
acesso aos conteúdos ministrados pelos professores, porém não levantou dados referentes à
125
execução dessas disciplinas, salvo nas disciplinas que o mesmo é/foi professor nas instituições
FNB e UNASP.
No curso de Licenciatura da UNICAMP, a disciplina responsável pela integração de
conteúdos relacionados às tecnologias digitais é a MU 419 – Pedagogia e Didática Musical IV.
Essa disciplina é responsável em incluir em seu programa conteúdos que trabalhem o acesso às
novas tecnologias no campo da música e da educação. O aluno também tem a oportunidade de
cursar outras disciplinas eletivas com esse recorte, oferecidas pelo Departamento de Música.
Outra possibilidade de acesso às disciplinas de tecnologia é através do Núcleo Interdisciplinar de
Comunicação Sonora (NICS), através dos projetos de iniciação científica. Esse núcleo
desenvolve pesquisas relacionadas a diversas formas de interações multimídia e produção de
interfaces usadas em diversas formas de composições e perfomances musicais.
O curso do UNASP disponibilizou para a pesquisa o documento Matriz Curricular.
Nesse documento constam duas disciplinas relacionadas às tecnologias oferecidas como
optativas: Notação Musical Digital e Produção Musical. Também é oferecida como eletiva a
disciplina Projetos de Gravação.
A disciplina Projetos de Gravação aborda o conhecimento em softwares para
gravação e edição de áudio e MIDI. Essa disciplina trabalha propostas para que os alunos
desenvolvam habilidades em softwares editores e gravadores de áudio, bem como o
conhecimento em equipamentos básicos para a construção de um estúdio caseiro (home studio)
de baixo custo, com e sem a aquisição de licenças. Também são abordados nessa disciplina
sugestões de estratégias para o uso dessas ferramentas na educação musical.
A instituição FNB disponibilizou o documento Projeto Pedagógico de Curso – PPC.
Nesse documento constam as seguintes disciplinas relacionadas às tecnologias oferecidas de
forma obrigatória: Edição de Partituras e Música e Tecnologia.
Essas duas disciplinas trabalham com softwares de notação de partituras e editores de
áudio com licenças livres. No caso dessas usa-se os softwares Musescore versões 1.3 e 2.0 e o
software Audacity versão 2.0.6. Também são expostos outros softwares editores livres e
proprietários, como é o caso do Sibelius 7.5, Finale 2011 e o Noteflight.
126
Na disciplina Música e Tecnologia ainda são tratados assuntos como áudio digital,
linguagem MIDI, uso de samples e instrumentos virtuais sintetizadores (VST) além do contato
com hardwares como interfaces de áudio, teclados controladores, microfones, cabos e mesas de
som. Também são abordados assuntos referentes ao uso dessas tecnologias em sala de aula. São
sugeridos durante o curso, estratégias para o uso de tecnologias no ensino de música.
b) Infraestrutura.
Em relação à infraestrutura o curso da UNICAMP dispõe de laboratório de
informática com 20 máquinas instaladas. Da parte de Softwares musicais as máquinas possuem
os editores de partituras Musescore versão 2.0 e o Finale notepad, ambos de licença livre. O curso
também dispõe de um laboratório de instrumentos harmônicos com cinco pianos digitais para a
prática da disciplina de Prática de Instrumentos Harmônicos. O Departamento de Música
disponibiliza conexão à internet através da tecnologia wireless, além da conexão disponibilizada
pela própria universidade para todo o campus (eduroam). As salas de aula do departamento
contam com sistemas de som e projetor multimídia.
Já o curso do UNASP conta com um laboratório montado pela empresa Roland. É um
laboratório específico para o ensino coletivo de piano. Além de a sala possuir projetor e sistema
de som, cada um dos pianos tem a possibilidade de controle individual. Além desse laboratório a
instituição ainda conta com cinco laboratórios de informática com uma média de trinta máquinas
atualizadas em cada um deles. Todas as máquinas possuem softwares de notação de partituras e
percepção instalados. A instituição oferece também a conexão sem fio - wireless. Todas as salas
de aula possuem sistema de som e projetor multimídia.
A instituição FNB dispõe de laboratório de informática com dezoito máquinas
operando com sistema Linux. O laboratório possui conexão com a internet e as máquinas tem
instalados os softwares Audacity (Editor de áudio e multipistas) e Musescore (editor de
partituras), ambos de licenças gratuitas. A Instituição também disponibiliza conexão à internet
sem fio via wireless. Todas as salas de aula disponibilizam sistemas de som e projetor
multimídia.
127
4.3.2 As entrevistas com os professores dos cursos.
O quarto passo para a coleta de dados da pesquisa foi uma entrevista com os
docentes dos três cursos. Foram entrevistados quatro docentes do curso do UNASP, um docente
do curso da FNB e um docente do curso da UNICAMP.
O objetivo foi enxergar as tecnologias de uma maneira mais orgânica, a partir do
olhar desses professores e além dos documentos.
As entrevistas foram realizadas com caráter semiestruturado, ou seja, o
entrevistador faz as perguntas, mas tem liberdade para interferência para deixar o depoimento
mais claro. Não havia tempo pré-determinado, podendo ser entre cinco minutos até uma hora,
dependendo da relação do professor com o assunto abordado. A pesquisa foi conduzida através
dos seguintes questionamentos:
Como você usa mediações tecnológicas em suas aulas?
Quais são suas percepções positivas e negativas em relação a esse fenômeno?
Como você enxerga o aluno de licenciatura no contexto tecnológico?
Todas as entrevistas foram gravadas em um aplicativo no telefone celular do pesquisador.
As entrevistas foram transcritas na íntegra e a seguir foi feito todo o processo de análise e
codificação.
O grifo na análise representa o indicador das URs.
a) As tecnologias inseridas nas disciplinas.
O professor G.A. usa mediações tecnológicas nas disciplinas de Percepção Musical e
Leitura e Estruturação Musical:
128
Bom, em LEM (Leitura e Estruturação Musical) a gente usa Earmaster
(software para percepção), usamos recursos tecnológicos para fazer ditados de
percepção. Na matéria de prática instrumental a gente pede para os alunos
fazerem arranjos, aí eles têm que editar e usar essa tecnologia do Sibelius,
Finale ou qualquer editor de partituras.
b) Uso das redes sociais e blogs.
O professor G.A. também usa as redes sociais, mas precisamente o Facebook
como canal de comunicação e até como instrumento de avaliação:
[...] eu crio um grupo no Facebook com todos os alunos, e ali vira minha
comunicação, esse ano, mandei material de aulas a distância pelo Facebook,
todo o conteúdo lá, todos os textos lá. Então o aluno tinha que assistir três ou
quatro vídeos ou ele tinha que ler um assunto e responder a discussão e assim
por diante. Achei melhor fazer por Facebook, por que acho que é mais acessível
a todos, é mais leve, onde você estiver você vai ter acesso, então, acho que isso
faz o Facebook ser útil. [...] Então assim, já que o aluno está o tempo inteiro no
Facebook está vendo tudo que acontece lá, qualquer ação que você fizer dentro
dessa página vai ser vista por ele e ele não tem desculpa que ele não viu e que
ele não tem trinta segundos para olhar e participar da atividade.
O professor também usa a ferramenta de construção de Blogs para avaliação na
disciplina História da Música:
Partiu de uma palestra de um cara da educação que estimulava os alunos a
criar blogs, páginas, Facebook, etc. e aí eu falei, porque não né? Cada aluno
desenvolver um blog dentro de um assunto fica um negócio para o currículo da
pessoa, e todo mundo pode pesquisar, fica praticamente um documento
eletrônico com algum tipo de pesquisa e informação, que pode ser um dia
importante para alguém.
A professora A.M. também adaptou recursos da internet em seu sistema de
avaliação:
129
[...] sempre em Pedagogia e Didática musical III, eu mudo de portfólio que uso
em Pedagogia I e II para Webfólio, então eles têm que ir colocando todo
material que eles estão discutindo em aula, criando e alimentando um blog.
c) Gravação de áudio livros.
O professor G.A. também encontrou nas tecnologias uma forma de motivar a
leitura através da gravação de livros. O professor nesse caso está produzindo os próprios áudio
livros ou áudio books. Têm projetos para gravar o livro “História da Música no Brasil” de Vasco
Mariz e já gravou o livro “A Música Moderna” de Paul Grift:
[...] um que eu fiz como teste, o áudio não ficou muito bom, teria que trabalhar
o áudio, mas eu fiz, é o livro a Música Moderna do Paul Grift, aquele eu li
inteirinho gravando. Precisei estabelecer alguns parâmetros quando abre
aspas, fecha aspas, nomes difíceis, nomes em inglês, ou nomes em alemão,
talvez tenha que soletrar, essas dificuldades que eu encontrei.
d) Uso de recursos da internet para complementar a aula.
O professor V.S. interage com diversas aplicações tecnológicas durante a aula:
Mesmo em sala de aula quando eu dou Organologia, eu uso a tecnologia, estou
lá no Youtube mostrando vídeos, estou lá boa parte das aulas com Power Point
mostrando instrumentos, som e fazendo as relações todas, pesquisando ali na
internet, mostrando ali, já trazendo os sites para eles, dando endereço de sites,
para eles pesquisarem em casa. Porque às vezes em aula não tem tempo para
tudo isso, né, porque, as possibilidades que se abrem com a tecnologia são
muitas, e o tempo em sala de aula é o mesmo.
O professor M.R. (FNB) utiliza a internet, principalmente o site Youtube
(www.Youtube.com), durante as aulas. Além dessas ferramentas o professor utiliza biblioteca
virtual de músicas, a plataforma moodle e o Facebook .
Uso nas aulas o Youtube, internet, a biblioteca virtual Naxos Music Library e a
plataforma, Moodle. Nas aulas de instrumentos para musicalização I – Flauta
doce, crio grupo de turmas no Facebook e e-mail.
130
e) As tecnologias como auxiliadoras no processo de ensino e aprendizagem.
O professor J.O. ministra as disciplinas de Regência e Canto Coral. O professor
utiliza recursos tecnológicos para resolver problemas de afinação. Nesse caso o professor utiliza
o software Melodyne.
O Melodyne, pela sua capacidade polifônica, eu tenho usado muito assim: -
para gravar um ensaio eu jogo no melodyne, ele mostra graficamente a
afinação, e aí eu mostro [...] estão errando, aqui é semitom e vocês estão
fazendo assim uma passagem escorregada, não está limpo esse intervalo, e
assim por diante.
f) Ampliação da percepção auditiva – referência visual.
O professor também ressalta que nesse caso o software Melodyne representa uma
ferramenta que amplia sua percepção como regente.
Para mim como regente é muito útil, eu pego uma gravação e tenho uma
ferramenta para não confiar só no meu ouvido, expansão da percepção, me dá
uma referência visual da percepção.
O professor sentiu que com essa ferramenta, suas abordagens podem trazer também a
informação visual, o mesmo ressalta que para indivíduos que não tem o ouvido treinado para
afinação, passam a ter uma representação visual quando tem a voz analisada pelo software.
A afinação é uma coisa abstrata. Se o indivíduo não tem o ouvido treinado ele
não percebe. Mostrar para eles, mostrar de uma maneira mais concreta, [...] é
preto no branco sabe, o sujeito não tem o que argumentar.
g) Orientação pedagógica frente à grande quantidade de informação.
131
O professor V.S. usa algumas estratégias para motivar os alunos a pesquisarem um
assunto específico, fazendo nesse caso o papel do professor direcionador, pois ressalta que com
tantas informações disponíveis é necessária uma condução para que o aluno atinja o aprendizado.
[...]os alunos em aula são estimulados a fazerem isso (pesquisar na internet), e
as vezes você já dá o endereço, já dá o link para eles buscarem todas essas
informações, para eles irem além da aula fazendo a sua pesquisa.
Você precisa orientar o aluno, já dar as coisas mais ou menos direcionadas
para o aluno ir além e digo: isso abre um caminho muito grande de estudo, de
pesquisa, de análise, para o aluno hoje em dia que há um tempo não se tinha. Só
quem vem de outra época pode perceber a diferença.
h) Internet como forma de construção de conhecimento.
O professor fala da oportunidade que se desenvolve atualmente com o uso da internet
para o conhecimento. O professor ministra a disciplina de Organologia, e nesse sentido enxerga a
internet com grandes recursos para o processo de ensino-aprendizagem.
Então o aluno dizer que não conhece o instrumento, não sabe o som, não
conhece o compositor, uma formação de orquestra ou de banda, de grupo, isso
hoje não tem explicação, não existe mais, porque você dá um cliquezinho no
Youtube, uma formação, um concerto, uma orquestra, um grupo, um compositor
você tem todas as opções gravadas em diferentes formatos, em diferentes estilos,
enfim, então está ali a disposição de todos.
i) Medo da tecnologia (tecnofobia).
O professor V.S. relata o problema dos alunos que migraram para a tecnologia e são
de gerações anteriores em que não havia tantas aplicações tecnológicas, e hoje esse perfil de
aluno sente-se distante desta área.
132
[...] ela chega à tua aula e já de cara você percebe que ela tem medo. Como eu
creio que isso fez parte da formação dela, ela entrou nessa filosofia da
informática, da tecnologia mais tarde, ela teve acesso mais tarde, não teve um
primeiro momento, ela olha isso como algo distante dela, algo difícil, até algo
impossível.
j) A necessidade de incluir o aluno com o “bloqueio tecnológico”.
O professor V.S. fala da atitude do professor em incentivar o aluno a usar e ajudá-lo a
perder o medo tecnológico. Para isso a motivação tem que ser relacionada à prática do aluno,
dessa forma ele vê mais significado para sua vida profissional na utilização de tecnologias.
Existe como eu falei algumas pessoas que são bloqueadas, então ali você tem
um desafio grande, você não pode pegar pesado, tem que ir explicando, olha o
que a ferramenta faz, olha a felicidade que a ferramenta traz para você para o
seu dia-a-dia pedagógico, você como professor, quantas coisas você pode fazer
utilizando...você pode gravar, você pode salvar, você pode criar arquivos, você
recorta um compasso, uma nota, joga no teu texto, no teu Power point, você
ilustra, você faz...tá tudo ai na sua mão num cliquezinho.
k) Mudança no perfil dos alunos.
Sobre esse conceito o professor fala também da mudança de perfil dos alunos ao
longo da história da difusão tecnológica, ao passo que hoje os conceitos básicos de informática já
estão implícitos no cotidiano dos alunos.
Hoje em dia, eu como trabalho com isso já possivelmente há mais de dez anos,
[...] eu percebo que de lá para cá mudou muito. Porque nos primeiros anos
quando se falava, por exemplo, “salvar’”. As pessoas diziam: o que é salvar?
não sabiam. Há, é guardar isso que está fazendo em um arquivo, o que é
arquivo? memória... vai guardar lá... no outro dia ele pode abrir. Não tem ideia
nenhuma de como as coisas eram... [...] você tinha que explicar a base toda da
informática para depois você chegar ao seu programa. Hoje em dia não, isso já
está feito. O dedo vai rápido, as pessoas já têm uma cabeça aberta para a
tecnologia.
133
l) O problema da acessibilidade digital.
Já a professora E.S. reconhece que ainda existe o problema de acessibilidade
digital. Às vezes existe a falsa impressão que todos já conhecem e interagem com tecnologias,
mas como argumenta a professora, não é bem assim:
Temos ainda problemas com questão ao acesso. A gente ainda tem problemas
de acessibilidade. Então por exemplo, tem muitos alunos que para eles é grego
o computador, mesmo jovens, a gente fica abismado!
Com esse diagnóstico preliminar de que as tecnologias eram algo comum aos
alunos, a professora relatou que a matéria referente à notação musical informatizada passou de
obrigatória à eletiva, mas que a mesma (que é coordenadora do curso) já está considerando volta-
la para obrigatória em função da proficiência em informática dos alunos:
Até inclusive a gente passou para optativa a matéria de Sibelius, de escrita
musical informatizada porque a gente achou que muitos chegariam
conhecendo e ledo engano. Eu estou quase voltando ela para ser matéria
obrigatória, é melhor dispensar um, dois, do que ficar arranjando caminhos
para todos os demais. Então, a gente ainda tem problema de acessibilidade.
m) Problemas da implantação e manutenção de plataformas.
O professor M.R. relata que um dos problemas para a implementação de sistemas
consistentes reside no alto custo de manutenção e valores de licenças. A FNB usa sistemas livres
(Open Sources) como o Linux e softwares gratuitos disponíveis na internet.
O que torna para nós um problema com o uso das tecnologias são os valores de
licenças de softwares, mesmo o valor institucional, porque cada valor é por
máquina, tanto para os programas de editoração quanto para a plataforma que
precisa que é o Windows, por máquina. Usamos o Linux e os programas de
134
acesso livre como o Musescore e o Audacity, além dos programas livres na
internet. Outro problema é o alto custo para manter um sistema atualizado.
n) Dependência Tecnológica.
Outro problema relatado pela professora E.S. é em relação à concepção da
dependência tecnológica:
A gente tem que cuidar para não tornar as tecnologias uma necessidade única e
não trocar, ela é uma ferramenta que vai junto, mas ela não tem que substituir
as outras.
A professora A.M. também mostra preocupação com a questão da dependência
tecnológica pelos alunos e fala sobre a gravidade desse problema em relação ao desenvolvimento
dos mesmos:
O problema para mim em relação às tecnologias é o quanto que as crianças e
jovens estão muito ligados nos recursos tecnológicos, e o quanto que isso está
transformando até eles, prejudicando eles em termos de coordenação motora,
eles não brincam mais, eles não correm mais. Ficam contidos na frente dos
tablets e celulares e isso é verídico.
o) Os cuidados com o estereótipo do efeito “milagreiro” do uso das tecnologias
digitais.
O professor V.S. ressalta o cuidado para não cultivar o efeito “milagreiro” das
tecnologias, ou seja, mesmo o aluno adquirindo proficiência tecnológica, é necessário que estas
ferramentas não criem a falsa impressão de que não se precisa mais estudar pelos métodos
tradicionais:
135
Então as pessoas dizem "ah, eu não vou mais estudar instrumento musical, não
vou mais estudar teoria, está tudo feito aqui”, não! não está feito, você não abre
mão, você precisa estudar da mesma forma, é apenas um facilitador em
determinados momentos do processo.
Eu diria que a tecnologia não faz com que a pessoa não fique livre de estudar
teoria, harmonia ou instrumento. A tecnologia é apenas um instrumento para
você desenvolver, para você colocar, guardar informações, fazer as coisas de
uma forma mais rápida, para isso a tecnologia funciona, ela não exime você de
ter que estudar. Estudar instrumento, estudar harmonia, estudar teoria, estudar
todos de forma igual. A tecnologia facilita mas não substitui.
p) Ampliação da sala de aula: aspectos positivos.
A professora A.M. usa as ferramentas de comunicação da internet para atender alunos
fora da sala de aula. Existem na fala da professora concepções positivas, como é o caso da
possibilidade de orientação à distância.
Eu uso muito Skype para fazer orientações de alunos, desde a iniciação
científica até o mestrado. Tenho alunos que moram em São Paulo e acho
desnecessário eles virem até aqui só para fazerem orientação, então eu combino
com eles e faço orientação por Skype.
q) Ampliação da sala de aula: aspectos negativos.
O Facebook eu andei meio ausente, eu já nem entro, e quando entro já fico
invisível, porque eu entrava pingava 20 alunos para me perguntar coisas de
trabalho, aí eu simplesmente saí do Facebook, desde que eu entrei no Whatsapp.
136
137
5 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
No presente tópico será feita a interpretação dos dados coletados e analisados no
capítulo anterior, possibilitando assim a inferência do pesquisador sobre o assunto aqui
constituído.
5.1 Relação dos alunos com as TIC nos cursos de licenciatura (C1)
Estão agrupados nessa primeira categoria o levantamento do perfil tecnológico dos
alunos dos três cursos de licenciatura pesquisados. A intenção foi obter um quadro geral sobre a
relação dos alunos com as tecnologias, sendo essas, as tecnologias comuns do cotidiano,
passando pelas tecnologias usadas em aplicações musicais e finalmente as tecnologias usadas na
educação musical; Os dados dessa categoria foram colhidos antes das oficinas de tecnologia
digitais aplicadas à educação musical ministrada pelo pesquisador, ou seja, os dados expostos a
seguir mostram o retrato tecnológico dos alunos dos três cursos sem sofrer nenhuma interferência
por parte do pesquisador.
A tabela abaixo sintetiza os dados coletados nessa categoria:
Tabela 1: relaçao dos alunos com as TIC
C1 – RELAÇÃO DOS ALUNOS COM AS TIC
UNIDADES DE
CONTEXTO (UC)
UNIDADES DE REGISTRO (UR)
1. Acesso à informática a) 53,13% possuem computador de mesa (desktop)
b) 84,38% possuem computadores tipos portáteis
(notebook).
c) 100% dos mesmos tem acesso à internet.
d) 60,48 % participam de redes sociais, comércio
eletrônico e fóruns.
138
2. Relação com periféricos e
softwares da área da
tecnologia musical
a) 29,2% dos alunos respondentes conhecem e
usam equipamentos e softwares.
b) 34,56% dos alunos respondentes conhecem
essas tecnologias, mas não usam.
c) 25,78% desses alunos não conhecem alguns
desses equipamentos e softwares.
3. Tecnologias e Educação
musical
a) Usam som e vídeo (nível 1) 82,8%.
b) Usam softwares (nível 2) 33,86%
c) Usam ferramentas de internet (nível 3) 31,76%
d) Usam gravações (nível 4) 31,28%
e) Usam outros dispositivos (nível 5) 17,57%
Ao analisar os dados acima percebe-se que os alunos possuem um nível significativo
de relacionamento com diversos tipos de TIC no cotidiano. Na C1 – Relação dos Alunos com as
tecnologias, e em sua primeira unidade de contexto - UC 1 Acesso à Informática - podemos ver
que os alunos pesquisados trazem de suas próprias vivências uma relação a algumas importantes
tecnologias, como o uso de computador 84,38% e o acesso à internet, esse último inclusive com
índice de 100%. Percebe-se também um nível de interatividade virtual ao vermos a média de
dados referentes às perguntas sobre participação em redes sociais, fóruns e comércio eletrônico,
sendo de 60,41%.
Já na UC 2 - Relações com periféricos e softwares da área musical, os dados
mostraram que 29,2% dos alunos respondentes conhecem e usam esses equipamentos e softwares
em suas atividades musicais, 34,56% conhecem, mas não usam essas ferramentas em suas
atividades musicais e 25,78% não conhece essas ferramentas. Esses dados mostram que os
alunos não são totalmente leigos nesses assuntos e uma parcela significativa (29,2%) usa esses
recursos no cotidiano, por outro lado basicamente 1/4 dos alunos respondentes (25,78%) não
conhece essas ferramentas.
139
A UC 3 – Tecnologias e Educação Musical, buscou saber se esses alunos já usam
essas tecnologias de alguma forma na educação musical. Para facilitar a compreensão desses
dados o pesquisador optou por diferenciar o uso das tecnologias por elementos comuns a cada
tipo, indo das tecnologias mais acessíveis até o uso de maneira mais complexa. Vale lembrar que
esses grupos não dizem respeito ao nível de proficiência tecnológica dos alunos, mas somente
uma maneira de facilitar a compreensão da inserção de diferentes tipos de tecnologias nas aulas
de música, assim os agrupamentos juntamente com os dados obtidos ficaram da seguinte
maneira:
a) Grupo 1: uso som e vídeo: 82,8%.
b) Grupo 2: uso de softwares: 33,86%
c) Grupo 3: uso de ferramentas de internet: 31,76%
d) Grupo 4: uso de gravações: 31,28%
e) Grupo 5: uso de outros dispositivos: 17,57%.
A partir dos dados acima podemos entender que os alunos além de terem uma
vivência natural com as TIC, também já utilizam essas ferramentas em sala de aula. Os níveis
referentes às tecnologias mais acessíveis como é o caso do grupo 1: som e vídeo, a média de uso
foi de 82,8%. Porém quando os níveis de tecnologias se direcionam para aplicações musicais e
pedagógicas mais específicas percebemos um certo equilíbrio entre os grupos 2 (33,86%), 3
(31,76%) e 4 (31,28%). Para o uso de outros dispositivos como celulares, câmeras e tablets –
grupo 5 - o indicador foi de 17,57%.
Podemos deduzir a partir dos dados apresentados que os alunos dos cursos de
licenciatura das instituições FNB, UNASP e UNICAMP, já possuem uma significativa relação
com mediações tecnológicas, conhecimentos básicos em informática e boa parte dos alunos já
conhecem e usam as tecnologias musicais na educação musical. Conclui-se, portanto, que embora
as tecnologias digitais estejam presentes no cotidiano desses alunos, os níveis de aplicações em
educação musical diminuem quando as interações necessitam de mais conhecimento e
infraestrutura, além da proficiência pedagógica com as TIC. Os dados que serão analisados na
próxima categoria fornecerão dados mais precisos em relação ao uso dessas tecnologias, pois
140
aqui foram analisados e interpretados os relatos dos alunos quando estiveram em sala de aula e
propuseram a utilização das TIC na realização de suas aulas.
Vale lembrar que antes da coleta dos dados seguintes, foram realizadas oficinas de
tecnologias digitais com o autor através das disciplinas que ministrou para essas turmas e no caso
da turma da UNICAMP as oficinas foram feitas através do Programa de Estágio Docente (PED)
no qual o autor participou entre os anos de 2013 e 2014.
5.2 O uso das tecnologias digitais em sala de aula pelos alunos participantes das oficinas
de tecnologia (C2)
Após o término das oficinas foi usado o segundo questionário na pesquisa. Este
questionário foi elaborado usando a plataforma Google Docs e foi enviado via e-mail um
endereço digital para que os alunos respondessem a pesquisa. Esta ferramenta armazena
automaticamente as respostas direto no disco virtual36 do pesquisador com a plataforma Google
Drive (www.drive.google.com).
O questionário buscou dados sobre como foi o processo de utilização das tecnologias
em sala de aula pelos alunos que participaram das oficinas. Os dados coletados e analisados nessa
categoria é o registro de diversas situações encontradas pelos alunos. As aplicações das
tecnologias para as aulas de música tiveram tanto circunstâncias de sucessos como também
diversos obstáculos estruturais, burocráticos, administrativos e técnicos, que serão aqui
interpretados.
UC 1: As tecnologias como ferramentas de auxílio na ação docente
36 Disco virtual é um espaço oferecido por empresas a seus clientes. Estes podem enviar e baixar
arquivos como se estivessem usando um disco local, como por exemplo o próprio disco rígido (hard disk – HD) do
computador, [...]Um Disco virtual pode ser criado também na sua máquina local fisica, ou seja, em seu próprio HD
como um drive X: qualquer e utilizá-lo como um disco físico.
141
A primeira UC que emergiu dos dados coletados foi: As tecnologias como
ferramentas de auxílio na ação docente. Essa UC evidencia como os alunos participantes estão
usando ferramentas das TIC em seus campos de trabalho.
Para melhor compreensão da interpretação de dados serão novamente apresentadas as
unidades de registro UR dessa unidade de contexto UC indicadas pelas letras minúsculas do
alfabeto, posteriormente serão expostas as mensagens de onde elas surgiram.
a) Internet como plataforma de divulgação e ambiente de aprendizagem.
b) Recursos de gravação de áudio, vídeo e internet para referências.
c) Celular como dispositivo de gravação, redes sociais (internet) para comunicação e
ambiente para tirar dúvidas.
d) Softwares de gravação de vídeos, editores e games para geração de conteúdos e
motivação. Internet para apresentação de estilos musicais novos.
e) Softwares para acompanhamento e prática de improvisação e internet para consultar
partituras.
f) Gravação de vídeos e áudio no processo de avaliação e a internet para ajudar na
transcrição de músicas.
g) Os programas como ferramentas para melhor compreensão de processos musicais.
h) Melhor aproveitamento do tempo de aula.
i) Possibilidades de inclusão de novas ferramentas pedagógicas.
j) Gravação de áudio e vídeo como acompanhamento de desempenho e a internet para
apreciação musical.
Como mostrado anteriormente foram relatadas diversas maneiras de como os
professores estão integrando tecnologias digitais em sala de aula. Começaremos com as
aplicações referentes à internet.
As diversas aplicações da internet envolvem plataformas e ambientes de
aprendizagem, endereços eletrônicos ou links de sites para consultas de conteúdos. O uso de
redes sociais como o Facebook para comunicação e como plataforma para envio e recebimento
142
de materiais, além de um canal para tirar dúvidas. Outras aplicações são: uso de sites com
repositórios de vídeos para a prática de apreciação musical e pesquisa de novos estilos musicais,
consultas de partituras, ajuda na transcrição de músicas e acesso às informações complementares
à aula presencial.
Podemos visualizar as diversas aplicações usando a internet através da figura abaixo.
Estas aplicações acontecem tanto durante a aula, como na vida profissional do professor como
músico. Os textos são as mensagens emitidas pelos próprios sujeitos. A indicação UR é referente
à unidade de registro indicadora da mensagem.
Figura 20: uso da internet em sala de aula
Os dados expostos acima mostram que o uso da internet se coloca nesse contexto
como uma forma de pedagogia para o ensino de música, sendo utilizada de diversas maneiras.
143
Dessa forma, o acesso à internet se torna um dos fatores principais para a aplicação de
tecnologias digitais para o ensino de música e uma das principais ferramentas do educador
musical.
Como indicado na UR a, os professores estão usando a internet como plataforma de
divulgação de vídeos instrucionais e construindo plataformas para aprendizagem, como é o caso
dos podcasts e web lessons. Esta última são atividades interativas criadas na web pelo professor
para complementar a aula presencial ou exercer o estudo totalmente à distância. Outra maneira de
complementar a aula presencial é dar aos alunos endereços eletrônicos (links) que contenham
referências sobre os assuntos abordados, como indicado na UR b e h.
As redes sociais também se colocaram como instrumentos auxiliares, como
ferramentas de comunicação e envio e recebimento de materiais, como indicado na UR c. O site
de repositórios de vídeos Youtube (www.Youtube.com) também foi uma ferramenta apontada
pelos alunos, funcionando como biblioteca para pesquisa e apreciação musical, que inclusive vai
além da informação puramente auditiva, tendo também a imagem de diversas formações tanto
profissionais como amadoras, como indicado na UR d.
Na internet também são encontradas diversas bibliotecas virtuais de partituras, o que
abre um campo bem amplo nesta área, e como indicado na UR e, os alunos já utilizam esse
recurso. Alguns recursos na internet facilitam a transcrição de músicas, como é o caso de vídeo-
aulas específicas, o que também colabora com a autoaprendizagem musical; esse recurso está
indicado na UR f.
Outra tecnologia que teve alto coeficiente de indicação pelos alunos participantes foi
a dos processos que envolvem gravação. A gravação é utilizada para avaliação e
acompanhamento dos alunos (aqui alunos das escolas) e como base para exercícios. O professor
grava as partes de uma formação vocal ou instrumental e deixa livre a parte do aluno, para que o
mesmo possa fazer a execução da parte faltante. Também é usada como uma referência em
relação ao objetivo que o professor quer que o aluno atinja ao gravar a parte musical como
exemplo. A gravação é feita usando o próprio computador ou outros dispositivos como o telefone
celular, tablets ou câmeras digitais.
Da mesma forma podemos visualizar essas mensagens na figura abaixo:
144
Figura 21: como os professores estão usando a gravação
A fala dos professores mostra uma preocupação com uma forma de avaliação mais
precisa, como podemos perceber nas UR d, e e f.
O registro para o acompanhamento do desenvolvimento dos alunos faz com que o
educador passe a ter parâmetros mais precisos de avaliação e assim tenha chance de planejar as
aulas com mais eficácia. Do ponto de vista do aluno, o mesmo, através das gravações, vai
construindo um portfólio digital de suas aulas, e assim pode revisar quando quiser as gravações
de referência feitas pelo professor e pode acompanhar seu desenvolvimento comparando as
gravações de performance feitas em um momento anterior. Ao longo de certo período e de
algumas gravações é possível visualizar o progresso (ou não) do aprendizado a partir dos
registros sonoros.
Essas duas mediações tecnológicas foram as que tiverem maior número de
recorrência, mostrando-se claramente como as principais ferramentas tecnológicas usadas como
145
auxílio na ação do professor. Além disso, outras formas de tecnologias foram apontadas:
softwares de acompanhamento, editores de áudio e partituras, jogos, instrumentos virtuais,
softwares multipistas e games. Podemos visualizar essas indicações na figura abaixo:
Figura 22: softwares de acompanhamento, editores e jogos
A utilização de softwares geradores de acompanhamento é utilizada principalmente
nas disciplinas que envolvem improvisação. Essa estratégia pode tornar essa atividade mais
estimulante, visto que o aluno ouve as outras partes instrumentais e dependendo do estilo pode
direcionar a construção do fraseado. Normalmente essas aplicações acontecem em aulas
individuais de instrumento.
Outro fator entendido nos dados acima foi o uso dessas tecnologias como forma de
extensão de algumas disciplinas como percepção. Com um software multipista é possível ouvir
cada instrumento separadamente, o que faz com que os alunos percebam as partes com mais
detalhes, como indicado na UR g.
146
As tecnologias como forma de auxílio também permitem que o professor insira outras
ferramentas pedagógicas, como jogos interativos, instrumentos virtuais e softwares de suporte.
Neste caso os softwares de suporte aqui indicados, na UR i são os usados nas disciplinas de
percepção e teoria musical.
Alguns jogos de vídeo games também são construídos com conteúdos e interações
musicais, como é o caso do jogo Rock Smith (www.rocksmith.ubi.com). O professor respondente
nessa unidade utiliza o jogo Rock Smith como uma ferramenta motivacional na aula, como
indicado na UR d.
Podemos entender nesse ponto quais são as tecnologias mais utilizadas pelos
professores nessa unidade de contexto. O indicador de frequência mostra a internet e suas
ferramentas relacionadas, seguido da ferramenta gravação com maiores índices recorrentes de
uso, como podemos ver na tabela abaixo:
Tabela 2: ferramentas de auxílio na ação docente
UC 1 Ferramentas de auxílio na ação docente
Ferramentas tecnológicas Indicadores de frequência
Internet e ferramentas relacionadas x x x x x x x
Gravação x x x x x x
Softwares de acompanhamento x x
Softwares editores x
Jogos x x
Considerando a amostra pesquisada, concluimos a partir dos dados supracitados que a
internet e as ferramentas a ela relacionadas, juntamente com processos que envolvem gravações
de áudio ou vídeo, se colocam como as principais ferramentas de auxílio para o trabalho do
educador musical em sala de aula,
147
UC 2 A interação dos alunos e as tecnologias durante o processo de ensino e
aprendizagem.
Nessa unidade serão analisados os dados referentes ao uso de tecnologias envolvendo
o aluno interagindo com as mesmas, ou seja, com os alunos aprendendo disciplinas musicais
usando diretamente o computador.
Para a análise dessa unidade serão expostos as UR juntamente com as mensagens
destacadas de onde emergiram através da tabela abaixo.
Tabela 3: a interação dos alunos e as tecnologias no durante o processo de ensino.
UC 2 A interação dos alunos e as tecnologias durante o processo de ensino e
aprendizagem
Unidades de Registro Mensagens de onde surgiram
a) O computador e os softwares de gravação
no exercício da composição
“Uma das atividades que fizemos foi
através do Audacity, produzimos com as
crianças algumas músicas compostas por elas
mesmas. [...] Ensinamos como é um processo de
gravação, colocamos elas para gravarem, juntas
e separadas, mostramos o programa, algumas
até aprenderam a editar algumas coisas e
manusear o programa”.
b) Uso de jogos interativos para aulas de
Flauta Doce.
“Eu uso com meus alunos alguns
programas de aula musical e um deles é com a
flauta doce (jogo). Cada participante da
atividade tem que acompanhar alguns bonecos
na tela e tocar cada nota mostrada na Flauta”.
c) Uso de softwares editores para o ensino
de composição
“Ensino o aluno a criar/compor em
determinado editor musical”
d) Uso de jogos para reconhecimento de
períodos musicais e percepção criada no
Power Point e Audacity
“Atividades de composição, jogos
para reconhecimento de figuras e notas musicais, reconhecimento de períodos musicais
(romantismo, classicismo, etc.)”.
“Jogos criados no Power Point e
exercícios de percepção criados no Audacity”.
148
“Atividades brincando com jogos
feitos no Power Point”.
Os dados acima mostram que as atividades que envolvem os alunos com as
tecnologias no processo de ensino, se concentram basicamente em atividades de composição e
jogos interativos para a percepção e o reconhecimento de figuras, períodos musicais e
compositores. O termo composição aparece nas UR a, c e d.
Os jogos aparecem nas UR b e d. O jogo para o ensino de Flauta Doce, pela descrição
do emissor da mensagem, provavelmente é similar aos jogos do site Joy Tunes,
(www.joytunes.com). É um site com diversos tipos de jogos para o ensino de Flauta Doce e
Piano. Não é totalmente gratuito, mas algumas de suas ferramentas funcionam sem a necessidade
de pagamento. Os outros jogos relatados pelos alunos foram criados por eles mesmos no software
Power Point e no Audacity.
Outro dado que se mostra relevante aqui é o fato dos professores terem utilizado uma
tecnologia destinada normalmente a uma função específica e essas mesmas tecnologias poderem
ser usadas em outro contexto. Observemos por exemplo o software Audacity. Esse software é
basicamente um gravador multipistas e um editor de áudio, mas foi usado como plataforma para
o ensino de percepção e composição, assim como o software Power Point, que basicamente é
usado para apresentação de slides e aqui foi adaptado para uma plataforma de jogo interativo
musical. Podemos sintetizar a análise dessa categoria a partir da figura abaixo:
149
Figura 23: indicadores de atividades composicionais e lúdicas
3) UC 3: Relato das dificuldades encontradas pelos alunos ao utilizarem as TIC para as
aulas de música
Nessa unidade serão descritos e interpretados os dados que surgiram em relação
às dificuldades para a implementação de mediações tecnológicas nas aulas de música. Foram
enumerados problemas de diversas origens. Serão expostos primeiramente as unidades de
registro e posteriormente serão analisadas as mensagens indicadoras.
a) Falta de domínio das ferramentas tecnológicas.
b) Dificuldade em operar softwares editores.
c) Insegurança no domínio das ferramentas tecnológicas.
d) A escola não oferece equipamentos básicos.
e) Falta de expectativas em relação a novos investimentos.
150
f) Computadores desatualizados e incompletos.
g) Falta de internet, computadores, projetores, sistemas de som e laboratórios.
h) Falta de atualização dos computadores e conexão lenta.
i) Dificuldade em usar o laboratório de informática para aulas de música.
j) Falta de suporte técnico e pessoal de apoio.
k) Dificuldade de acesso ao laboratório e deterioração dos equipamentos.
l) Problemas burocráticos.
m) Problemas de logística.
Para compreendermos esses conceitos os dados serão reagrupados da seguinte
maneira. Serão apresentadas as UR com destaque para as respectivas mensagens de onde elas
emergiram.
Tabela 4: dificuldades encontradas pelos alunos quanto ao uso das tecnologias.
a) Falta de domínio das ferramentas
tecnológicas.
“Não uso demais tipos de tecnologia justamente
por não saber usar”
b) Dificuldade em operar softwares
editores
“Minha falta de conhecimento para mexer em
alguns programas”
“Falta de conhecimento nestes jogos de
computador. ”
c) Insegurança no domínio das
ferramentas tecnológicas.
“Preciso superar a barreira da tecnologia, que
fico um tanto inibida com as ferramentas e
encontro certa dificuldade em agregá-las”.
d) A escola não oferece equipamentos
básicos.
“A escola pública onde eu trabalho não oferece
nem computador nem aparelho de som”
“O local que não tem equipamentos para que
todos possam utilizar nas aulas
e) Falta de expectativas em relação a
novos investimentos.
“Infelizmente estamos longe de ter, pelo menos
na minha escola, uma sala de Artes com material
adequado para atividades musicais”.
“Isso infelizmente é coisa para escolas
particulares, as públicas se viram como Deus
151
manda”
f) Computadores desatualizados e
incompletos.
“Os computadores precisam ter caixas de som e
ter os programas específicos instalados”.
g) Falta de internet, computadores,
projetores, sistemas de som e
laboratórios.
“Às vezes é complicado o uso de tecnologia
devido a instituição que você trabalha (falta
internet, falta computadores, retroprojetores,
caixa de som, etc.) ”.
“O acesso à internet as vezes é precário ou até
impossível”.
“A escola de música na qual dou aula, é
municipal, e não há laboratório de informática.
Não há Wi-fi liberado aos professores para que
estes utilizem com seu próprio notebook ou afins,
em sala de aula.
h) Falta de atualização dos
computadores e conexão lenta.
“Lentidão da internet e da antiguidade dos
computadores, não tem caixa de som”
“As entradas de fones não funcionam”.
i) Dificuldade em usar o laboratório de
informática para aulas de música.
“Fica difícil agendar para o uso do laboratório
para as aulas de música”.
j) Falta de suporte técnico e pessoal de
apoio.
“As crianças não podem ter acesso ao
laboratório por não ter um funcionário para
guiar as atividades”.
k) Dificuldade de acesso ao laboratório e
deterioração dos equipamentos.
“Preferem que o tempo, a poeira e outros
infortúnios estraguem os aparelhos que
disponibilizá-los aos alunos”.
l) Problemas burocráticos. “O acesso é muito burocrático e não há acesso à
internet”
m) Problemas de logística. “Se o professor quiser mostrar algum vídeo ou
algo do tipo, ou leva salvo em seu notebook ou
leva o aluno até a secretaria”.
Podemos perceber que os dados enumerados nas UR a, b e c, referem-se a uma
dificuldade de proficiência tecnológica relatados por alguns alunos (aqui no papel de professores)
152
que participaram da pesquisa. Tais dificuldades tem relação com questões técnicas e com a
insegurança em utilizar essas tecnologias. Normalmente esses alunos anseiam sentir um nível
considerável de proficiência para interagir com essas tecnologias em sala de aula. Isso é um fator
relevante, até porque sistemas que trabalham com algum tipo de tecnologia podem não funcionar
em algum momento, e neste caso o educador que estiver executando a aula sente-se pressionado
em resolver tal problema caso o mesmo aconteça.
As UR d, f, g, e h são de ordem de infraestruturas relacionados a laboratórios,
computadores e conexão com a internet.
A questão estrutural e conexão com a internet, pelo menos no relato dos alunos, ainda
não é uma realidade. Esses fatores inviabilizam consideravelmente as tentativas de implementar
aulas com mediações tecnológicas para a educação musical.
A UR e retrata a percepção da falta de expectativa no que concerne aos investimentos
para a implementação de sistemas estruturais para o uso de tecnologias digitais. As duas unidades
de onde surgiram essas afirmações colocam como um evento distante os investimentos em
tecnologias. Podemos perceber na fala dos emissores dessas mensagens que existe uma ideia
geral de que esses investimentos irão demorar a acontecer, ou que associam a um fenômeno
econômico como podemos perceber na fala do segundo emissor que atribui tal investimentos às
escolas particulares, de maior poder aquisitivo. A expressão “as públicas se viram como Deus
manda”, é uma alusão ao processo de trabalhar com o que estiver disponível, ideia recorrente
entre as escolas públicas e nesse caso os sujeitos não visualizam uma perspectiva de mudança
dessa situação.
As UR i, j, k, l e m são de ordem administrativa. Percebe-se uma dificuldade dos
alunos (aqui professores) ao proporem o uso das TIC em algumas escolas por questões
administrativas e burocráticas. Essa também se coloca como uma questão fundamental de
empecilho para uso de tecnologias. As dificuldades com agendamento de aulas no laboratório de
informática, falta de funcionários para dar suporte, os problemas com a administração do
laboratório levando a própria deterioração dos equipamentos, além de outras burocracias fazem
com que os alunos acabem desistindo de usar esse tipo de metodologia.
Este fato pode estar relacionado ao que foi dito anteriormente sobre o processo de
administração das escolas ainda estarem associados a hábitos culturais que vêm de muito tempo.
153
O fato de solicitar o laboratório de informática para dar aulas de música, ainda não é uma ideia
comum para as camadas administrativas, que normalmente são oriundas de outras gerações e
ainda são um pouco resistentes à utilização de recursos tecnológicos para a educação musical.
Na figura abaixo podemos visualizar de forma resumida e com os dados enumerados
a relação com as dificuldades encontradas pelos alunos:
Figura 24: resumo das dificuldades encontradas pelos alunos
Podemos perceber claramente a partir dos dados acima citados que a maior
dificuldade encontrada pelos alunos participantes da pesquisa para usar as TIC em sala de aula,
estão ligadas às questões estruturais. Fatores ligados à conexão com a internet, acesso e uso de
laboratórios de informática e computadores desatualizados, são os principais problemas a serem
resolvidos. Este procedimento certamente não exime a correção dos outros problemas, como é
caso da proficiência do professor com as tecnologias e à relação com os setores administrativos,
embora com menos apontamentos também são pontos fundamentais para a implementação de
tecnologias na educação musical.
UC 4 Observações pedagógicas do uso das tecnologias digitais na sala de aula
154
Nessa UC serão interpretadas as observações feitas pelos sujeitos participantes da
pesquisa, em relação ao comportamento, perfil tecnológico, motivação, interesse e problemas na
aprendizagem.
Serão expostos como anteriormente as URs e as mensagens geradoras das mesmas.
Tabela 5: observações pedagógicas do uso de tecnologias em sala de aula.
Unidades de Registro Mensagens
a) Aproximação com a linguagem jovem
em relação às tecnologias.
“A informática é praticamente a linguagem do
aluno moderno e exerce certo fascínio e interesse
neste aluno. Isso pode trazer benefícios para a
educação, pois o professor pode ter mais acesso
ao aluno”.
b) A necessidade de alinhar as
tecnologias com os “nativos digitais”.
“Os alunos estão acostumados a utilizar
tecnologias a todo o momento - em casa, na
escola, nos momentos de lazer. Assim, ela deve
ser incluída em sala de aula também”.
c) O conflito entre as gerações. “[...] estamos numa geração da tecnologia em
que crianças com cinco ou seis anos sabem bem
mais que eu que tenho 48 anos”.
d) A velocidade tecnológica das
gerações atuais.
“É de interesse da geração atual tudo que pode
ser feito de forma mais rápida e interativa.
Vemos resultados mais rápidos”.
e) A possibilidade de diálogo da aula
com o modo de vida digital.
“Acho que um ponto positivo seria fazer com que
a aula dialogasse com o modo de vida
digitalizado que temos hoje, onde todo mundo
está conectado a qualquer momento com muita
facilidade e muitas das atividades pressupõem
uma plataforma digital”.
f) Proximidade com o cotidiano dos
alunos.
“É próximo do cotidiano deles (desenhos,
computador, tablet, tecnologia em geral).
Quando usamos algo que está presente no dia a
dia do aluno, percebo uma melhora no
aproveitamento da aula, no entendimento da
matéria. O aluno tem incentivo e interesse pelo
assunto”.
g) Envolvimento e aproximação com a
linguagem digital jovem.
“Em alguns casos percebo mais envolvimento”.
Em outros percebo mais proximidade com
155
"linguagem jovem".
h) Aumento de interesse.
“Os alunos estão atualmente muito envolvidos
com tecnologia. Trabalhar com elas fazem o
interesse deles pela aula aumentar. As
tecnologias são uma novidade dentro do contexto
das aulas, já que os alunos muitas vezes fazem
apenas uso delas para fins de recreação.
i) Motivação para estudar antes da aula.
“Acredito que os alunos têm mais
comprometimento com as aulas, principalmente
na questão de estudar para a aula, talvez pelo
fato de não haver mais desculpas para não fazê-
lo (estudo)”.
j) Aumento da motivação pelo fator da
interação.
“Facilita a melhor compreensão do conteúdo
trabalhado, proporciona uma aula mais
dinâmica e interativa”.
“Desperta maior interesse por parte dos alunos.
Facilita o aprendizado e maior interatividade”.
“A tecnologia chama a atenção. Deixa a aula
mais interativa”.
k) Fascínio pela novidade tecnológica
“Maior concentração e interação entre os
alunos. Como não é algo comum ainda, o
interesse e atenção se destacam bastante, pela
curiosidade e por ser algo mais chamativo”.
l) Maior motivação em função da
gravação de vídeos e uso da internet
para apreciação musical.
“Os alunos evoluem mais rápidos com os vídeos
de revisões e criam uma afinidade maior com os
estilos musicais através das playlists do
Youtube”.
m) Tecnologias como forma de
ampliação de perspectivas
pedagógicas.
“A aula fica descontraída, onde o aluno mostra
as músicas que gostaria de tocar, interage mais
com o instrumento, serve de observação de
outros instrumentistas tocando. Nas gravações,
os alunos mostram o seu potencial criativo na
improvisação e na aplicação direta em seu
instrumento.”
n) Conflitos entre o aprendizado com
tecnologias e o mesmo sem uso delas.
“Apesar de resultados mais rápidos, o aluno se
torna limitado ao não conseguir transpor o
aprendizado feito em um programa. Vários
alunos possuem dificuldades em escrever as
claves e notas, se tornam impacientes ao não
conseguir resultados rápidos (compor
156
rapidamente uma música com auxílio de um
programa)”.
o) Desvio de atenção
“Excesso de falta de atenção devido aos
aparelhos tecnológicos”.
“Se distraem muito com outras coisas, mas temos
que mostrar objetividade”.
p) Grande quantidade de informação.
“Pode ser que o excesso de informações seja
prejudicial deixando a pessoa ‘perdida’ sem
saber lidar com tantas possibilidades, por isso o
uso de tecnologias pode ser melhor aproveitado
quando orientado por alguém”.
O primeiro fator a considerar a partir dos dados acima é em relação à afinidade
tecnológica dos alunos atuais, os quais foram citados anteriormente como “nativos digitais”. Os
dados mostram como as tecnologias fazem parte do cotidiano dos alunos contemporâneos, e esse
foi um fenômeno observado pelos sujeitos participantes da pesquisa. Podemos ver essas
indicações nas UR abaixo, aqui somente com a referência aos “nativos digitais”.
Figura 25: observações dos "nativos digitais"
A motivação e a interatividade também foram fatores indicados pelos sujeitos
participantes. Foram relatados diferentes caminhos relacionados à questão da motivação e
interatividade nas aulas, relacionadas ao uso de tecnologias digitais.
157
O sujeito respondente na UR f considera que quando a pedagogia se alinha ao
cotidiano do aluno o interesse e dedicação pelo assunto abordado na aula se sobressai:
Quando usamos algo que está presente no dia a dia do aluno, percebo uma
melhora no aproveitamento da aula, no entendimento da matéria. O aluno tem
incentivo e interesse pelo assunto.
Os sujeitos respondentes nas UR h e k, atribuem o crescimento no quesito motivação
ao fascínio pela novidade tecnológica. Percebe-se que os sujeitos respondentes entenderam que
os alunos ao trabalharem com as tecnologias digitais em sala de aula associam-nas às atividades
de diversão, lazer e recreação. Esse fator faz com que os alunos se motivem e se interessem pelas
aulas.
Os alunos estão atualmente muito envolvidos com tecnologia. Trabalhar com
elas fazem o interesse deles pela aula aumentar. As tecnologias são uma
novidade dentro do contexto das aulas, já que os alunos muitas vezes fazem
apenas uso delas para fins de recreação. UR h
Maior concentração e interação entre os alunos. Como não é algo comum
ainda, o interesse e atenção se destacam bastante, pela curiosidade e por ser
algo mais chamativo. UR k
A questão da preparação para as aulas também foi um fator de motivação apontado na
pesquisa, já que os alunos podem usar as tecnologias como recursos para estudar fora da sala de
aula.
Acredito que os alunos tem mais comprometimento com as aulas,
principalmente na questão de estudar para a aula, talvez pelo fato de não haver
mais desculpas para não fazê-lo (estudo).UR i.
A interatividade proporcionada pelo uso das TIC também foi um dos pontos
apontados pelos alunos. Todas as indicações foram agrupadas na UR j.
158
Facilita a melhor compreensão do conteúdo trabalhado, proporciona uma aula
mais dinâmica e interativa. UR j.
“Desperta maior interesse por parte dos alunos. Facilita o aprendizado e maior
interatividade”. UR j.
“A tecnologia chama a atenção. Deixa a aula mais interativa”. UR j.
Os sujeitos respondentes às UR l e m colocam a relação da interatividade
proporcionada por diferentes recursos tecnológicos de aprendizagem, como por exemplo, a
gravação de áudio e vídeos, além do uso de repositórios de vídeos na internet como fatores
motivacionais para a evolução dos alunos, ou seja, a aula não fica centralizada somente em um
modelo pedagógico.
Os alunos evoluem mais rápidos com os vídeos de revisões e criam uma
afinidade maior com os estilos musicais através das playlists do Youtube. UR l.
A aula fica descontraída, onde o aluno mostra as músicas que gostaria de tocar,
interage mais com o instrumento, serve de observação de outros
instrumentistas tocando. Nas gravações, os alunos mostram o seu potencial
criativo na improvisação e na aplicação direta em seu instrumento.” UR m.
Embora os dados citados anteriormente representem indicadores positivos em relação
ao uso das tecnologias em sala de aula, a pesquisa também apontou dados restritivos. O primeiro
está relacionado ao conflito de gerações. Os professores que vêm de outra geração sentem o fato
de não possuírem tanta intimidade com dispositivos tecnológicos e relatam a ansiedade em
relação a esse fenômeno, como podemos perceber na resposta da UC c.
[...] estamos numa geração da tecnologia em que crianças com cinco ou seis
anos sabem bem mais que eu que tenho 48 anos. UR c.
159
Outra dificuldade pedagógica foi apontada na UR n. Os alunos passam a não
conseguir transpor para o ambiente sem as tecnologias o conhecimento adquirido com o uso das
mesmas. Isso gera comportamentos de impaciência por não terem a mesma sensação de
velocidade de resultados conquistados com as tecnologias.
Apesar de resultados mais rápidos, o aluno se torna limitado ao não conseguir
transpor o aprendizado feito em um programa. Vários alunos possuem
dificuldades em escrever as claves e notas, se tornam impacientes ao não
conseguir resultados rápidos (compor rapidamente uma música com auxílio de
um programa). UR n.
O desvio de atenção foi outro fator apontado pela pesquisa. Os dispositivos
eletrônicos fazem com que os alunos não tenham paciência para se concentrar. A velocidade
proporcionada pelas tecnologias acelera o comportamento e na falta das mesmas o aluno não tem
paciência em ficar sem interagir.
Falta de atenção devido aos aparelhos tecnológicos. UR o.
Se distraem muito com outras coisas. UR o.
A questão referente ao grande número de informações disponíveis também foi
observada como um fator de obstáculo à aprendizagem. Nestes casos os alunos podem ficar
confusos em meio a tantos estímulos informativos e perder o foco, como apontado na UR p.
Pode ser que o excesso de informações seja prejudicial deixando a pessoa
"perdida" sem saber lidar com tantas possibilidades, por isso o uso de
tecnologias pode ser melhor aproveitado quando orientado por alguém. UR p.
Podemos concluir essa UC resumindo que a maior recorrência dos dados
apresentados são: A constatação da presença dos “nativos digitais”, a motivação e interesse dos
alunos quando tiveram aulas com mediações tecnológicas, a interatividade e os problemas
pedagógicos. A figura abaixo resume os indicadores referentes a essas atribuições:
160
Figura 19: observações pedagógicas em relação ao uso de tecnologias em sala de aula
A partir dos dados apresentados acima podemos concluir que os fatores que
emergiram dos relatos dos sujeitos participantes se equilibram nos conceitos positivos e
negativos. Fatores como motivação, interesse e interatividade detém o maior número de dados,
porém é importante ressaltar que os problemas apontados em relação à atenção, paciência e
excesso de informação são de extrema importância. Outro ponto a considerar é a presença dos
“nativos digitais”. Esses alunos, hoje em idade escolar, estão ligados à tecnologias de maneira
natural, e esse ponto deve ser ponderado, pois, os educadores musicais podem estudar caminhos
para usar essa habilidade inerente dos alunos a favor de se criar estratégias para o aprendizado
musical.
Visão Geral dos Dados da C2: O Uso das TIC em Sala de Aula pelos Alunos
Participantes das Oficinas
Podemos nesse ponto, após a interpretação de todos os dados da C2, formular uma
visão geral sobre o uso das TIC em sala de aula. É apresentado na figura a seguir, um resumo das
compreensões que surgiram a partir das UCs e das URs através da figura abaixo:
161
162
Figura 26: visão geral da C2: o uso das TIC em sala de aula pelos alunos participantes das
oficinas.
Podemos perceber pelos resultados finais interpretados na presente categoria que os
alunos (professores quando estavam na sala de aula) participantes conseguiram inserir as TIC na
sala de aula para o ensino de música. O índice de uso de tecnologias em sala de aula em relação a
C1 também cresceu. Na C1, tirando uma média aritmética dos dados referentes ao uso das TIC
nos cinco níveis propostos nesse estudo, o índice de uso foi de 39,4% ao passo que as respostas
dos alunos em relação à essa questão, após as oficinas, foram de 95,2%, ou seja, talvez com um
direcionamento pedagógico em relação ao uso dessas tecnologias os alunos se motivem a usarem
essas ferramentas. No entanto, como pudemos perceber, surgiram diversas dificuldades para a
implementação.
Foram relatadas diversas atividades relacionadas à composição, apreciação musical,
motivação, interesse e interatividade. Ficou evidente também a confirmação da presença
tecnológica entre os alunos em idade escolar; os chamados de nativos digitais. Como observado
anteriormente, embora com aplicações favoráveis para a educação musical, existem ainda
obstáculos para a utilização dessas tecnologias, principalmente relacionadas à infraestrutura.
Também constatou-se que, apesar da inclusão digital ser um tema intensamente debatido
atualmente, ainda persiste o problema de acesso às tecnologias. As TIC ainda não estão
totalmente incorporadas ao ambiente escolar. As escolas ainda sofrem com os investimentos
destinados à essa área, tanto no aspecto físico, quanto em relação à capacitação pedagógico-
tecnológico dos professores.
Outro apontamento foi em relação à grande quantidade de informações disponíveis.
Talvez o melhor caminho para lidar com esse tipo de problema seja o professor focar em grupo
de ferramentas de modo que consiga desenvolver bem a aula. Assim terá a possibilidade de
explorar bem cada ferramenta e consequentemente se concentrar mais no processo de ensino e
aprendizagem.
5.3 Interpretação dos dados da C3: As TIC nos Cursos de Licenciatura.
163
UC 1) Disciplinas e Infraestrutura
As disciplinas (UR a) e a infraestrutura dos cursos (UR b)
Os dados analisados na UC 1 são referentes às disciplinas com recorte tecnológico e à
infraestrutura física disponíveis nos cursos pesquisados. A tabela 6 mostra análise feita
anteriormente. As URs serão interpretadas conjuntamente.
Tabela 6: as disciplinas nos cursos de licenciatura
Instituição Disciplinas (UR a) Infraestrutura (UR b)
FNB Edição de Partituras
Música e Tecnologia
Laboratório de Informática
Sala de teclados
wi-fi
UNICAMP MU 419. Pedagogia e Didática
Musical IV.
Outras disciplinas oferecidas pelo
D.M.
Disciplinas oferecidas pelo NICS.
Laboratório de Informática
Sala de teclados
wi-fi
UNASP Notação Musical Digital
Produção Musical
Projetos de Gravação
Laboratórios de Informática
Sala de Pianos
wi-fi
Percebe-se nesta UC que existe por parte dos coordenadores pedagógicos dessas
instituições a preocupação em inserir na grade curricular desses cursos disciplinas com conteúdo
tecnológico. Outro ponto significativo é que, mesmo não sendo o objetivo final dessas
disciplinas, já existe em algumas delas a preocupação em direcionar esse aprendizado das TIC
para o campo pedagógico.
164
Em relação à infraestrutura, as três instituições possuem acesso às tecnologias
básicas, como laboratórios e internet. O curso do UNASP especificamente fez um significativo
investimento na construção do laboratório para o ensino coletivo de piano. Segundo informações
no site37 da instituição, o UNASP é a primeira instituição no Brasil a possuir tal estrutura. O
laboratório conta com dezessete pianos (dezesseis para alunos e um para o professor), e o
fabricante fornece o programa de ensino GLC-1, que basicamente funciona como um sistema de
conferência. Esse sistema permite que o professor possa falar individualmente com cada aluno ou
com o grupo a partir do piano do professor, através de sistemas de fones de ouvido e microfones,
ou até mesmo formar grupos específicos de alunos para tocarem entre eles ou com o próprio
professor.
Os pianos também permitem que dois alunos estudem independentemente no mesmo
instrumento, pois, com o sistema de fones eles não atrapalham um ao outro. Isto é possível
devido ao sistema computacional instalado no próprio piano, dessa forma o professor pode
dividir as teclas para dois alunos, o que praticamente dobra a capacidade do laboratório.
Os cursos da UNICAMP e da FNB também possuem laboratórios para o ensino
coletivo de Teclado. Também são utilizados fones de ouvido para que os alunos estudem de
forma independente.
Podemos assim entender que as três instituições possuem caminhos em relação ao
oferecimento de disciplinas com conteúdo tecnológico e oferecem o básico de infraestrutura para
que os alunos desses cursos tenham acesso ao aprendizado tecnológico.
UC 2) Interpretação das entrevistas dos professores dos cursos
A partir do relato dos professores dos respectivos cursos em relação às tecnologias
chegamos à seguinte interpretação: Nas UR a, b e d, podemos perceber que as tecnologias são
incorporadas às aulas como ferramentas de complementação na exposição de conteúdos,
instrumentos de avaliação e comunicação, como podemos visualizar na figura abaixo.
37 http://www.unasp-ec.edu.br/noticia/619/unasp-inaugura-laboratorio-de-piano-para-aulas.html
165
Figura 27: utilização de tecnologias pelos professores
A partir dos dados mostrados acima podemos perceber que os professores já utilizam
tecnologias do cotidiano para ajudar nas suas ações em sala de aula. O fato de usar a rede social
Facebook (www.facebook.com), que em um primeiro momento pode ser sinônimo de uma
plataforma que atrapalha a aula, mostra a possibilidade de trabalhar com uma tecnologia
disponível a todos, e que a maioria dos alunos consegue usar sem maiores dificuldades. Assim,
problemas como instalação, sistemas operacionais e dificuldades de manuseio diminuem e o
professor tem uma possibilidade a mais para acompanhar e avaliar os alunos envolvidos. A rede
social assumiu, portanto, o papel de um novo instrumento de ensino.
Os softwares também são usados como ferramentas auxiliares em diversas aplicações,
desde aulas de percepção musical até suportes para melhorar o processo de afinação. Podemos
ver um resumo de algumas destas atividades, através da figura abaixo:
166
Figura 28: uso de softwares como ferramentas auxiliares para as aulas
O professor ainda relatou o fato de usar um software Melodyne para contextualizar
questões técnicas, como é o caso da afinação. O professor explicou como esse tipo de abordagem
pode melhorar o próprio desempenho, como podemos confirmar na UR f. Pelo relato do
professor, o mesmo sente que sua capacidade de percepção durante a regência da aula é ampliada
porque nesse contexto entra também a informação visual, e isto faz com que suas recomendações
para possíveis correções sejam mais precisas.
[...] para mim como regente é muito útil, eu pego uma gravação e tenho uma
ferramenta para não confiar só no meu ouvido, expansão da percepção, me dá
uma referência visual da percepção UR f.
Como mostrado na análise e interpretação da UC 3 da C2, aqui também foram
encontrados obstáculos e pontos negativos em relação ao uso de tecnologias. Foram relatados
problemas em relação ao bloqueio tecnológico, dependência tecnológica, acessibilidade digital,
dificuldades de implantação e manutenção de plataformas e laboratórios.
167
Figura 29: aspectos negativos do uso das TIC a partir dos relatos dos docentes
Pelos relatos acima podemos perceber que se repetem os problemas com os
imigrantes digitais, bem como os problemas com infraestrutura e custo para manutenção desses
sistemas. Na UR i o professor que fez o relato expõe a situação do “bloqueio tecnológico”, mas, a
partir da sua experiência, sugere um caminho para ajudar o aluno, como descrito na UR j. a UR l
mostra que mesmo com a grande disseminação tecnológica atual, o problema da proficiência em
informática ainda existe.
O problema da dependência tecnológica também chegou à escola pela observação da
professora na UR n, com sérias implicações no desenvolvimento da pessoa dependente, como a
mesma observou com os problemas de coordenação motora.
Outro ponto encontrado nos relatos dos professores entrevistados é em relação à
expectativa que se cria com as tecnologias digitais. Como dito anteriormente, processos que
envolvem tecnologias sempre vêm acompanhados da prerrogativa da solução de problemas e
podem criar a ideia panaceia. Os professores entrevistados falam da cautela que se necessita ter
com essa ideologia, como mostrado na UR o.
168
Então as pessoas dizem "há, eu não vou mais estudar instrumento musical, não
vou mais estudar teoria, está tudo feito aqui”, não! Não está feito [...] você
precisa estudar da mesma forma, é apenas um facilitador em determinados
momentos do processo”. Eu diria que a tecnologia não faz com que a pessoa
não fique livre de estudar teoria, harmonia ou instrumento [...] ela não exime
você de ter que estudar. UR o.
Por outro lado, como descrito na U.R k, esse processo está em evolução se
comparado há alguns anos, como exposto abaixo:
[...] eu percebo que de uns anos para cá mudou muito. Porque nos primeiros
anos quando se falava, por exemplo, “salvar’”. As pessoas diziam: o que é
salvar? Não sabiam. Não tinham ideia nenhuma de como as coisas eram. [...]
você tinha que explicar a base toda da informática para depois você chegar ao
seu programa. Hoje em dia não, isso já está feito. [...] a pessoa já tem uma
cabeça aberta para a tecnologia”. UR k
Outra questão apontada é em relação a tornar as tecnologias digitais uma necessidade
inflexível, ou seja, o não acesso ou a falta de tecnologias não devem, na medida do possível,
parar os trabalhos. Os professores entrevistados alertam para que não se crie uma dependência
das TIC de forma que não se aprenda a usar as outras tecnologias fora desse contexto, como
descrito na UR n:
A gente tem que cuidar para não tornar as tecnologias digitais uma necessidade
única e não trocar, ela é uma ferramenta que vai junto, mas ela não tem que
substituir as outras. UR n
De maneira geral, embora hajam relatos do uso de softwares e gravação para diversas
aplicações, a tecnologia que se faz mais presente no relato dos professores é a internet e as
ferramentas à ela relacionadas, como por exemplo, os sites Youtube (www.Youtube.com), o
Facebook (www.facebook.com) e outros tipos de sites como a biblioteca virtual Naxos Music
Library (www.naxosmusiclibrary.com).
169
O site Youtube por exemplo representa uma ferramenta significativa de acesso a
conteúdos como descritos na UR h
[...] o aluno dizer que não conhece o instrumento, não sabe o som, não conhece
o compositor, uma formação de orquestra ou de banda, de grupo, isso hoje não
tem explicação, não existe mais, porque você dá um clique no Youtube, uma
formação, um concerto, uma orquestra, um grupo, um compositor você tem
todas as opções gravadas em diferentes formatos, em diferentes estilos, enfim,
está ali a disposição de todos”. UR h.
As tecnologias também possibilitaram que a relação professor e aluno se estendesse
além da sala de aula, através dos recursos de comunicação, como os softwares Skype e o
Whatsapp. No entanto, esse fator também gera um conflito relacionado ao tempo docente, ou
seja, esse tipo de ação faz com que o professor continue trabalhando fora da sala de aula.
Podemos ver através da figura abaixo, os relatos dos pontos positivos e negativos em relação a
este processo:
Figura 30: extensão da sala de aula
170
Finalizando a presente categoria, podemos concluir que os cursos pesquisados
operam com as tecnologias digitais a partir, principalmente, da ação de seus professores. São
usados softwares de diferentes tipos para diversas aplicações, desde aulas de percepção auditiva,
passando pela editoração de partituras, prática instrumental e como ferramentas de auxílio para a
condução das aulas. Os cursos possuem a infraestrutura física básica para o acesso às tecnologias
digitais como laboratórios e acesso à internet. Também foi constatado nos três cursos a presença
de disciplinas com teor tecnológico. O relato mostra ainda que existe a consciência nos cursos de
que as TIC representam somente uma ferramenta para facilitar caminhos para que o
conhecimento seja atingido mais rapidamente.
Ficou também evidente que a tecnologia mais utilizada pelos docentes dos três cursos
é a internet e as ferramentas à ela relacionadas como redes sociais, blogs e sites. Esses recursos
são usados como ferramentas de comunicação e avaliação.
A influência das TIC dentro da sala, de aula nos cursos de licenciatura pesquisados,
mostra que esse fenômeno foi se integrando aos cursos de maneira natural. Essa integração
também pode possibilitar indiretamente o aprendizado dos alunos desses cursos.
171
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho pesquisou a relação das tecnologias digitais e a formação tecnológica
dos educadores musicais em três cursos de Licenciatura em Música. Foi contextualizada a atual
relação existente entre a educação e as tecnologias, como também foram abordadas questões
relacionando as tecnologias e a educação musical. Considerando os dados coletados e analisados
foi traçado um panorama geral sobre este processo.
Esse panorama pode ser melhor contextualizado a partir de uma relação entre as três
categorias: C1: Relação dos alunos dos três cursos com as TIC, C2: O usos das TIC em sala
de aula a partir das oficinas e C3: A relação dos cursos pesquisados com as TIC.. Pudemos
perceber através da C1 que os alunos já têm um acesso natural a diferentes TIC, incluindo as
tecnologias da área musical. Também foi apontado nessa categoria que embora alguns alunos já
mostrem mais disposição para interagir com tecnologias, uma parcela significativa (25,78%) não
conhece essas ferramentas, ou seja, os alunos até sabem usar as TIC no cotidiano, mas uma
parcela de aproximadamente 1/4 deles não as utilizam em sala de aula.
Talvez, esta dificuldade esteja relacionada à uma falta de capacitação tecnológico
pedagógica dos professores para utilizarem tais ferramentas, o que foi feito na C2 através das
oficinas tecnológicas. A C2 mostrou que, havendo um direcionamento de estratégias e
metodologias que possam ser desenvolvidas para aplicação das TIC em sala de aula com os
alunos, a motivação para o uso entre eles melhoraria.
A pesquisa apontou que a aplicação de ideias envolvendo as TIC por professores
(alunos dos cursos no papel de professores) em sala de aula tiveram muitos benefícios, tais como,
a motivação entre os alunos (alunos dos alunos dos cursos de licenciatura) participantes, reflexão
pedagógica para que as TIC não sejam utilizadas somente como elementos para “disfarçar” o
aprendizado e a possibilidade de integrar uma metodologia alinhada ao momento tecnológico
atual.
Nessa mesma categoria foram apontados fatores negativos como falta de
infraestrutura, burocracia, falta de investimento pelas camadas administrativas, dificuldades de
manter um sistema atualizado e a falta de atenção dos alunos, quando imersos em dispositivos
tecnológicos, como o celular ou computador. Talvez este fator possa representar uma das grandes
172
dificuldades para que o ensino de música com as TIC seja estabelecido com mais consistência.
Como observado pelos dados analisados, o número de indicações às dificuldades ainda é maior
do que os valores atribuídos aos fatores positivos com o uso das TIC.
Outro fator a considerar nessa categoria é em relação à confirmação da presença dos
“nativos digitais” nas escolas. A pesquisa indicou, em algumas situações, o conflito entre essa
geração e os professores que vieram a geração passada. Pelo fato de muitos desses alunos já
dominarem a linguagem da informática, há um certo receio nos docentes em utilizar essas
tecnologias no cotidiano.
Já na C3 podemos perceber a preocupação dos gestores dos cursos de Licenciatura
em Música em integrar disciplinas tecnológicas no currículo. Os três cursos analisados possuem
disciplinas direcionadas à esse tema, com algumas aberturas teóricas para a educação musical
mediada pelas TIC. Os cursos também oferecem infraestrutura básica para acesso às tecnologias.
Outro dado observado, foi que os docentes desses cursos já integram uma série de mediações
tecnológicas em suas aulas, lembrando que somente um dos docentes entrevistado é professor de
disciplinas de tecnologia. Embora os professores entrevistados tenham apontado fatores negativos
em relação às tecnologias, ainda são, de maneira geral, favoráveis à integração desses recursos
em sala de aula.
Nessa mesma categoria outro fato apontado pelos professores foi o problema da
proficiência em informática. Não são todos os alunos desses cursos de licenciaturas pesquisados
que possuem facilidade com a linguagem informacional. Ainda existem paradigmas a serem
quebrados em relação a esse fenômeno, principalmente pelos alunos que vieram de outras
gerações sem a presença de tanta informação tecnológica.
De forma geral, podemos dizer que a formação desses educadores musicais,
especificamente nos três cursos pesquisados contemplavam diversas interações com tecnologias,
seja no âmbito de disciplinas, nas ações dos professores em sala de aula e nas práticas que
envolviam a atuação dos mesmos, principalmente nos processos de estágio enquanto atuavam
como docentes. Mesmo que existindo a dificuldade para a aplicação total de recursos
tecnológicos na sala de aula, por motivos já discutidos aqui, é importante que os cursos de
Licenciatura em Música continuem a buscar alternativas metodológicas e investimentos para essa
área, pois na medida em que se qualifica melhor o aluno desses cursos nesse quesito, o mesmo ao
173
se formar, estará preparado para lidar com situações adversas envolvendo ambientes de ensino
com as TIC.
Embora hajam fatores positivos e negativos em relação ao uso das TIC na educação
musical, podemos entender pelas questões aqui investigadas, que a intenção em relação à
formação tecnológica de educadores musicais deve estar presente, pois os alunos que hoje estão
em sala de aula já se utilizam das TIC para entrar em contato com o aprendizado musical. Como
dito anteriormente, a velocidade do avanço das TIC, faz com que a presente pesquisa reflita sobre
o momento tecnológico atual. Sendo assim, as propostas aqui discutidas podem ser adaptadas
conforme as tecnologias evoluem com o tempo. Para se ter uma ideia dessa transformação,
quando o autor iniciou essa pesquisa quase não se falava no uso do aplicativo WhatsApp, porém
foi constatado o uso dessa ferramenta por professores das licenciaturas no momento atual, ou
seja, estamos vivendo em um outro contexto em relação à velocidade de mudança tecnológica, e
é imprescindível que os educadores e os cursos de formação estejam abertos a aprender e a saber
integrar as tecnologias no ensino de música.
A proficiência nas TIC para o ensino de música deve ser um caminho constante a ser
percorrido pelo educador musical e pelos cursos de licenciatura. É importante também entender
que sistemas que funcionam com bases tecnológicas, são passíveis de e erros. Sendo assim, é
importante que os cursos e os educadores se habituem a trabalhar sob tais adversidades. Para que
o educador diminua os riscos de ter sua aula comprometida em função de erros advindos dos
sistemas tecnológicos, o mesmo precisa ter em mente sempre uma solução alternativa.
Mesmo com esses desafios, é importante que se dissemine a ideia de usar tecnologias
em aulas de música, até porque não há indícios de recuo na velocidade de crescimento desse
fenômeno, (como exposto pela lei de Moore) e possivelmente em pouco tempo a habilidade do
educador em usar tais tecnologias tornar-se-á uma necessidade imprescindível. Também é
importante ressaltar que as tecnologias não representam a totalidade de um sistema de ensino
musical. Ela na verdade agrega possibilidades a outras metodologias que já são praticadas há
muito tempo. Como dito anteriormente, o educador musical tem que saber lidar com esses
recursos, mas não deve se eximir de se qualificar nos métodos tradicionais de ensino de música.
Na verdade, a formação do educador musical engloba um conjunto de fatores e a proficiência nas
TIC é um deles.
174
Como propostas futuras, o pesquisador pretende desenvolver outras metodologias
incluindo as TIC para o ensino de música, expandindo as propostas aqui mencionadas para a
interatividade, e começar a desenvolver experiências usando softwares livres usados em
perfomances interativas, como é caso do software Pure Data – PD Por ser um sistema livre, as
possibilidades existentes podem colocar os educandos em outro nível de interatividade, o que na
verdade não é novidade, como podemos ver em diversos tipos de jogos atualmente. O projeto
com o PD pode ajudar a desenvolver processos criativos no ensino de música com um sistema
tecnológico interativo.
Também fazem parte das perspectivas de projetos futuros o uso das tecnologias para a
acessibilidade. Pretende-se desenvolver projetos usando diferentes tipos de tecnologias para
integrar alunos deficientes no aprendizado musical. Sobretudo serão formulados projetos para a
inclusão de deficientes visuais. As tecnologias podem ser um caminho de auxílio para ajudar
essas pessoas a acessarem as informações musicais por outras vias, buscando substituir a
dependência da informação visual. Dessa forma os procedimentos tecnológicos podem abrir
caminhos para esses músicos estudarem conceitos que antes não eram acessíveis aos mesmos.
Prover acessibilidade musical através das TIC para outras formas de deficiência não estão
descartadas, pois, as TIC podem promover o surgimento de novas metodologias para incluir, de
forma mais consistente, essas pessoas ao ensino de música.
Essa pesquisa almejou fornecer dados sobre o uso das TIC no ensino de música a
partir de três cursos de Licenciatura em Música. Sendo o desenvolvimento e uso de novas
tecnologias um fenômeno em rápida expansão, o presente estudo não pretende encerrar a
discussão. A importância em integrar as tecnologias em sala de aula em todos os âmbitos
educacionais no atual contexto social tecnológico que estamos vivendo torna-se uma necessidade.
Sendo assim, o presente estudo contribui para que a pesquisa em música e sobretudo em
educação musical alinhe os anseios sociais à formação do educador, buscando prover à sociedade
um profissional capaz de lidar com a velocidade da informação no mundo contemporâneo.
175
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São Paulo: Editora 70, 2011.
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180
ANEXOS
Questionário 1
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Os dados abaixo serão utilizados para pesquisa e elaboração de dissertação de Mestrado em Música na
UNICAMP, Campinas–SP. Não é necessária sua identificação. Responsável: Alexandre Henrique dos
Santos – R.A. 123833.
Data de Preenchimento___/___/____
Universidade______________________________________________________________
A pesquisa em questão busca levantar dados sobre o perfil tecnológico dos alunos de Licenciatura
em música, envolvendo tecnologias comuns do cotidiano e tecnologias específicas ao campo musical.
1. Sobre sua relação com os equipamentos eletrônicos. Assinale com um “x” quais aparelhos você
possui:
□ Computador de mesa (desktop);
□ Computador pessoal (laptop ou notebook);
□ Smartphone;
□ Câmera Digital (foto e filmagem);
□ Tablet;
□ Pen drive, HD externo;
□ Scanner;
□ Impressora;
□ Games.
2. Sobre conectividade e vida digital: - Como você interage virtualmente no cotidiano?
Possui acesso a Internet? □ Sim □ Não
Possui conta de e-mail? □ Sim □ Não
Possui conta em Redes Sociais? □ Sim □ Não
Possui conta de conversa virtual (Skype)? □ Sim □ Não
Possui Blog ou Site? □ Sim □ Não
Possui Drive Virtual (Google Drive, Dropbox)? □ Sim □ Não
181
Participa de Fóruns Virtuais? □ Sim □ Não
Posta Vídeos e Fotos regularmente? □ Sim □ Não
Compra ou já comprou pela internet □ Sim □ Não
Vende ou já vendeu ou trocou objetos pela internet? □ Sim □ Não
Compra música, filmes e séries pela internet? □ Sim □ Não
Baixa músicas e vídeos da internet? □ Sim □ Não
3. Conhecimento em informática básica:
Teve ensino formal de informática em cursos especializados? □ Sim □ Não
Usa editores de texto? □ Sim □ Não
Usa editores de imagens? □ Sim □ Não
Grava Cds e Dvds? □ Sim □ Não
Usa impressoras? □ Sim □ Não
Usa scanners? □ Sim □ Não
Sabe baixar softwares e arquivos da internet □ Sim □ Não
Sabe instalar um software ou um hardware □ Sim □ Não
4. Conhecimento em Informática Audiovisual
Conhece formatos de áudio (MP3, MP4, FLV, WMA, WAV FLAC, AAC, AIFF)? □ Sim □ Conheço alguns □ Não Conheço
Conhece formatos de Vídeos (AVI, MPEG, VOB, MOV.)? □ Sim □ Conheço alguns □ Não Conheço
Usa de editores de áudio (SoundForge, Audacity, Vegas) □ Sim □ Às vezes □ Não Uso.
5. Equipamentos e Softwares – Você conhece os recursos listados abaixo? No caso de respostas
positivas, você os usa para alguma finalidade? Tocar, estudar, compor, produzir, etc.
Mixer ou mesa de som: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Microfone: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Interface de Áudio: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
182
Interface de Vídeo: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Teclado Controlador: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Editores de Partituras: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Sequenciadores MIDI: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
Gravadores Multipistas: □ Conheço mas não uso □ Conheço e Uso □ Não Conheço
6. Tecnologia e Educação Musical
Você utiliza ou já se utilizou de algum recurso tecnológico em suas atividades docentes?
Som e Vídeo □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Editor de partituras □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Sequenciadores MIDI □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Gravadores multipistas □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Internet nas aulas □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Composição de playbacks □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Gravação de alunos □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Filmagem de Alunos □ Sim □ Às vezes □ Não Uso
Softwares on-line □Sim □Àsvezes □ Não uso
Telefones Celulares □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Tablets □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Ferramentas de Internet □ Sim □ Às vezes □ Não uso
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Projetor Multimídia □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Câmera Digital □ Sim □ Às vezes □ Não uso
Lousa Digital □ Sim □ Às vezes □ Não uso
No caso de respostas negativas as questão acima, a que você atribui o não uso de tecnologias
nas suas práticas didáticas?
Falta de conhecimento □ Sim □ Não
Acha que é complicado □ Sim □ Não
Não teve oportunidade de aprender □ Sim □ Não
Não acha relevante □ Sim □ Não
Não é adepto de mediações tecnológicas □ Sim □ Não
Acha que atrapalham a aula □ Sim □ Não
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Questionário 2
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