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ASPECTOS HISTÓRICOS DO ENSINO SUPERIOR EM MATO GROSSO ALMEIDA, Vanusa Aparecida - UNEMAT [email protected] RODRIGUES, Luiz - UNEMAT [email protected] Este trabalho é resultado de uma parte dos estudos sobre o ensino superior em Mato Grosso e os modos como estão pensados, organizados e estruturados as condições de ensino de partes da população regional. O destaque fica por conta da ideia de que este tipo de estudo, o ensino superior propriamente dito, na cidade de Cáceres, tomou um caminho mais bem definido, nas décadas de 1970 e 1980. Por isso, trazemos para o debate partes da pesquisa, particularmente no que se refere ao processo histórico de constituição do ensino superior no oeste de Mato Grosso. Ao pensar o ensino superior nesta região, à proposta quer mostrar os modos como a educação vem se tornando, cada vez mais, como diz Bourdieu (1975), uma espécie de reprodução da estrutura de classes, cuja base era reproduzir a ideologia das classes dominantes, ou o simples aprimoramento da força de trabalho. Nesse aspecto, este trabalho quer trazer para a discussão o sentido do ensino superior e seus modos de operar para divulgar a ideia da necessidade formação dos sujeitos para a competitividade no mercado de trabalho. Portanto, para além da ideia de manifestar qualquer tipo de formação humanística ou social o ensino superior deve ser transformado em um capital cultural acumulativo, individualizado e colocado à disposição para as pessoas e não a serviço de uma coletividade, como instrumento de libertação dos sujeitos das amarras do capitalismo. Por isso, a ideia é pensar com a concepção de Bárbara Freitag (1986) concebendo que a trajetória histórica da educação superior, não é uma história à parte, integra o contexto socioeconômico e é determinado, em grande parte, por este. Por isso, este texto quer mostrar os modos de competição nos vestibulares, como uma busca pela seletividade, cuidados para que as pessoas pudessem ter capital cultural e econômico, e que pudessem multiplicar maiores oportunidades durante sua vida, exatamente para que possam comprar bons livros, frequentar boas escolas, inclusive, antecipar-se a seleção nos momentos de fazer cursos pré-vestibulares. O escolanovismo tornou a escola ainda mais adstrita à classe dominante, o jargão era aprender a aprender, contudo os vestibulares exigiam sim conteúdos não abordados pelas referidas escolas afastando

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ASPECTOS HISTÓRICOS DO ENSINO SUPERIOR EM MATO GROSSO

ALMEIDA, Vanusa Aparecida - UNEMAT

[email protected]

RODRIGUES, Luiz - UNEMAT

[email protected]

Este trabalho é resultado de uma parte dos estudos sobre o ensino superior em Mato

Grosso e os modos como estão pensados, organizados e estruturados as condições de

ensino de partes da população regional. O destaque fica por conta da ideia de que este

tipo de estudo, o ensino superior propriamente dito, na cidade de Cáceres, tomou um

caminho mais bem definido, nas décadas de 1970 e 1980. Por isso, trazemos para o

debate partes da pesquisa, particularmente no que se refere ao processo histórico de

constituição do ensino superior no oeste de Mato Grosso. Ao pensar o ensino superior

nesta região, à proposta quer mostrar os modos como a educação vem se tornando, cada

vez mais, como diz Bourdieu (1975), uma espécie de reprodução da estrutura de classes,

cuja base era reproduzir a ideologia das classes dominantes, ou o simples

aprimoramento da força de trabalho. Nesse aspecto, este trabalho quer trazer para a

discussão o sentido do ensino superior e seus modos de operar para divulgar a ideia da

necessidade formação dos sujeitos para a competitividade no mercado de trabalho.

Portanto, para além da ideia de manifestar qualquer tipo de formação humanística ou

social o ensino superior deve ser transformado em um capital cultural acumulativo,

individualizado e colocado à disposição para as pessoas e não a serviço de uma

coletividade, como instrumento de libertação dos sujeitos das amarras do capitalismo.

Por isso, a ideia é pensar com a concepção de Bárbara Freitag (1986) concebendo que a

trajetória histórica da educação superior, não é uma história à parte, integra o contexto

socioeconômico e é determinado, em grande parte, por este. Por isso, este texto quer

mostrar os modos de competição nos vestibulares, como uma busca pela seletividade,

cuidados para que as pessoas pudessem ter capital cultural e econômico, e que

pudessem multiplicar maiores oportunidades durante sua vida, exatamente para que

possam comprar bons livros, frequentar boas escolas, inclusive, antecipar-se a seleção

nos momentos de fazer cursos pré-vestibulares. O escolanovismo tornou a escola ainda

mais adstrita à classe dominante, o jargão era aprender a aprender, contudo os

vestibulares exigiam sim conteúdos não abordados pelas referidas escolas afastando

ainda mais as massas dos sonhados cursos universitários, sobretudo nas universidades

públicas (SAVIANI, 1989). Assim o vestibular apenas escolhe os já escolhidos, é uma

seleção que se dá na história da vida das pessoas. Assim, com depoimentos de

professores, alunos, dirigentes e gestores das instituições de ensino podemos conhecer

os modos como foram sendo configurados o ensino superior em Cáceres e estabelecer

alguns aspectos de compreensão histórica do sentido educativo deste tipo de ensino.

PALAVRAS – CHAVE: ENSINO SUPERIOR, MATO GROSSO, FORMAÇÃO DE

PROFESSORES.

REFORMA UNIVERSITÁRIA BRASILEIRA – DÉCADA DE 1960

Para discutir o ingresso e permanência das classes populares no ensino superior,

tendo em vista um caso empírico, é necessário retomar as discussões teóricas que

cercam questões relevantes ao presente estudo, tais como: Ensino Superior, Classes

Populares e Formação de Professores. Nesse sentido, pontuaremos algumas análises

preliminares sobre o ensino superior no Estado de Mato Grosso.

Antes de atentarmos especificamente para o ensino superior em Mato Grosso

faremos uma breve análise sobre este tema no contexto nacional, sobretudo na década

de 1960. Um período marcado pela repressão de um poder centralizador e ditatorial que,

paradoxalmente, pode ser considerado um ―marco‖ na legislação brasileira tendo em

vista a promulgação da Lei n° 4024/61, que após mais de uma década de discussão no

Parlamento definiu as diretrizes e bases da educação nacional, dentro de um contexto de

implantação de projetos que objetivava o desenvolvimento da sociedade brasileira

paralelamente com a industrialização, a urbanização e a crescente demanda progressiva

por acesso à escola.

De acordo com Costa1 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a

campanha da escola pública foi resultado de uma longa discussão travada

principalmente entre dois grupos distintos, de um lado os setores populares,

representados até certo ponto, pelo Estado e intelectuais, e de outro lado um setor

conservador que açambarcava a classe média, a burguesia industrial nacional, o pacto

monopolista e as oligarquias. ―A LDB reflete assim as contradições e os conflitos que

caracterizaram as próprias frações de classe da burguesia brasileira. Apesar de ainda

conter elementos populistas, essa lei não deixa de ter um caráter elitista.‖ 2

Três anos após a promulgação da primeira LDB, ocorreu uma profunda mudança

no cenário político-administrativo do país que ficou conhecido na historiografia

dominante como o golpe militar de 1964. Diversos foram os estudos realizados sobre

este tema dado à sua complexidade que está intimamente ligado à consolidação e à

expansão do capitalismo e da sociedade de classes no Brasil.

Nelson Werneck Sodré3, expressa sua indignação a respeito da inevitabilidade

do golpe de 1964, afirma o seguinte:

Para situarmos historicamente o problema de 64, temos que

começar em 1945, quando termina a Segunda Guerra Mundial

com a derrota do nazi-fascismo e do militarismo japonês

abrindo perspectivas a uma ampla democratização, em termos

internacionais para todos os países. O reflexo desta vitória sobre

as formas totalitárias de poder abre realmente possibilidades

para uma reordenação democrática. Ocorre, entretanto, um

acidente de percurso da maior gravidade: EUA e União

Soviética, em campos opostos, defrontam-se naquilo que ficou

convencionado conhecer como Guerra Fria. Começa, então,

uma terrível luta política, em termos internacionais, que é

viscerada essencialmente pelo anticomunismo. A burguesia dos

países, e o caso brasileiro com evidência têm como ideologia

fundamental o anticomunismo; isto é, toda e qualquer forma

que se pretenda fazer no sentido do avanço e do progresso será

travada porque batizada de comunista (SODRÉ, 1997, p. 103).

Ainda de acordo com Sodré, o golpe de 1964 foi precedido de outros golpes; o

golpe de 1945, o de 1954 e as tentativas de golpe de 1955 e 1961. Para Sodré ―o

conteúdo desses golpes sucessivos é o de manter as velhas estruturas que resistem a

qualquer mudança‖ (1997, p. 104). Octávio Ianni4 observa que:

(...) durante os anos de 1930-64, a despeito dos vais-e-vens da

história nacional e mundial, esteve em curso uma estratégia

destinada a implantar o capitalismo nacional, fortalecendo a

soberania. (...) Durante a Guerra Fria, a sociedade brasileira foi

levada a abandonar a estratégia de desenvolvimento associado

em dependente. Este é o significado do golpe de estado de

1964(...) Nos anos de 1930-1964 ao lado da estratégia orientada

no sentido de implantar o socialismo nacional (...). Nesse

sentido é que o golpe de Estado de 1964 não só derrota o

projeto de capitalismo nacional, mas incute uma séria derrota no

projeto de socialismo nacional (IANNI, 1997, p. 138-139).

No meio dessas disputas, também o sistema educacional e, em especial, a

universidade, foi alvo de críticas e formulação de propostas de reforma. Veiga (1982)

discorre que os anos de 1959 a 1964 foram marcados pela profusão de propostas para a

reestruturação das universidades brasileiras, formuladas com o objetivo de enfrentar os

problemas diagnosticados. Diferentes grupos criticaram a estrutura arcaica das

universidades, consolidadas pela Lei n° 4.024/61, proporcionando grande debate acerca

da Reforma das universidades, Veiga (1982) observa três principais propostas

apresentadas por estes grupos denominados pela autora de tradicionalista, modernizante

e radical. A respeito do surgimento destas propostas, a autora assinala:

A complexidade dos processos e eventos que estavam na raiz da

crise brasileira desta época dificulta tanto o definir o que pode

ser considerado como o mais fundamental na deflagração e

aprofundamento de tensões particulares, quanto o

estabelecimento de alianças dos grupos envolvidos. O processo

de elaboração das propostas de reforma universitária se deu de

forma similar. As três alternativas emergiram no bojo dos

movimentos sociais que se configuravam através de ações e

reações de professores universitários de intelectuais ligados a

associações do tipo Associação Brasileiros de Educação, da

campanha em defesa da escola pública, da Sociedade Brasileira

para o Progresso da Ciência. Para citar somente algumas

instâncias onde críticas, defesas e propostas eram formuladas e

divulgadas. (VEIGA, 1982, p. 31).

Neste cenário de propostas para a universidade, o governo imposto pelo

movimento de 1964 tratou de apressar a Reforma Universitária de acordo com

interesses específicos, o governo realizou algumas medidas para garantir o

posicionamento do Estado em relação à reforma universitária. Os decretos 53, de

18/11/1966 e 252, de 28/02/1967, estabeleceram os princípios e normas para a

reestruturação das universidades, Plano Atcon e o Relatório Meira Matos. Por meio da

promulgação da Lei 5540/68 no dia 28 de novembro de 1968, o governo atendeu aos

anseios do grupo hegemônico, adaptando assim a universidade às necessidades impostas

pelo capital na década de 1960.

LOCUS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES (1960-2000)

Weber5 apresenta com bastante propriedade o lugar dado à formação de

professores na legislação educacional, destacando elementos que intervieram na

passagem da indicação do nível formal requerido para a preocupação com o próprio

núcleo da formação, a ser realizada em nível superior.

O artigo 206 da Constituição Federal promulgada em 1988 apresenta a garantia

de padrão de qualidade como um dos princípios da educação nacional. A autora

examinou como a relação entre a qualidade da educação e a valorização do magistério

foi se delineando no debate educacional no contexto da reconstrução da democracia,

culminando com a formulação do Pacto de Valorização do Magistério e da Qualidade

da Educação, em 1994, no âmbito do Plano Decenal de Educação Para Todos – 1993-

2000.

Weber examinou também alguns temas do debate educacional contemporâneo

da regulamentação da Lei n° 9394/96, particularmente no capítulo referente à formação

de professores.

A autora discorre que na Lei n° 4024/61, prevalecem a normalização sobre a

administração do ensino e a sua descentralização em relação à União, a questão do

professorado é tratada no Título V, Cap. IV, intitulado ―Da formação do magistério para

o ensino primário e médio‖ sendo atribuídos ao curso normal, no artigo 52,‖ a formação

de professores, orientadores, supervisores e administradores escolares, destinado ao

ensino primário, e ao desenvolvimento dos conhecimentos relativos à educação da

infância‖. Essa escola tinha dois graus: o ginasial, de quatro séries, conduzindo ao

diploma de regente de ensino primário e o grau colegial, de três séries anuais, levando

ao diploma de professor primário, ambos os diplomas assegurando ―igual direito a

ingresso no magistério primário oficial ou particular‖ conforme fixado no artigo 58,

cabendo aos Estados e ao Distrito Federal regulamentar o ali disposto. Admitia-se,

portanto o exercício do magistério por aqueles que concluíam o normal ginasial ou o

normal colegial.

Dez anos após a promulgação da Lei n° 4024/61 foi promulgada a Lei n°

5692/71 em pleno regime autoritário (1964-1984), nessa lei, cujo capítulo V trata dos

professores e especialistas, possibilitou a obtenção de diploma em nível superior por

intermédio da licenciatura curta. Determinou a reforma universitária na medida em que

a docência pode ser incluída entre os cursos profissionais previstos no artigo 23, da Lei

n° 5540/68, que fixa as normas de organização e funcionamento do Ensino Superior e

sua articulação com a escola média, com vistas ao atendimento das necessidades do

mundo do trabalho. De acordo com Weber, a organização de cursos profissionais de

curta duração, contribuiu para o acréscimo de matrículas nesse nível de ensino, por

outro lado, consistiram em um elemento que provocou repercussões negativas na

qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido no Ensino Fundamental, repercussões

que ainda hoje podem ser apreendidas nas avaliações de desempenho escolar dos alunos

e no processo de desvalorização social do professorado.

Nesse passo a autora descreve que não obstante essas controvérsias, a dimensão

profissional da docência é afirmada no artigo 206, inciso V, da Constituição Federal de

1988, que inclui entre os princípios ―que devem servir de base ao ensino ministrado‖. ―a

valorização dos profissionais do ensino‖ Entretanto, a Lei n° 9394/96, denominada nova

LDB, introduz uma inflexão na questão ao substituir a expressão; profissionais do

ensino que remete a uma visão nitidamente conteudística, pela expressão; profissionais

da educação, a qual além dos conteúdos e das suas tecnologias a serem ensinados,

enfatiza as dimensões política e social da atividade educativa, incluindo a dinâmica

escolar.

Weber descreve que a LDB advoga a formação em nível superior, em curso de

licenciatura plena, de graduação plena, para o docente que for atuar na educação básica,

na redação desse artigo 62 um novo elemento é introduzido: O locus no qual os

fundamentos da formação em nível superior deverão ser concretizados: em

universidades e institutos superiores de educação. Assim a lei determina a criação de um

novo espaço formador de professores, os Institutos Superiores de Educação. Na

representação que faz da LDB, em carta n° 18, o senador Darcy Ribeiro6 critica os

efeitos danosos sobre o Ensino Superiores causados pela abertura indiscriminada de

cursos de licenciaturas, acobertados pela legislação então em vigor. Nos seus termos:

Em lugar de forçar a ampliação de matrículas nas

faculdades públicas que contavam com bons

professores, laboratórios e bibliotecas, concedeu (a lei,

e a regulamentação que a ela se seguiu) liberdade total

para converter o Ensino Superior em negócio. (...) Em

consequência precisamente o alunado mais pobre e

mais necessitado de ajuda paga caro por cursos ruins,

degradando-se cada vez mais a qualidade dos corpos

profissionais com que conta o país (p.10).

O curso normal superior é apresentado na lei como um dos cursos formadores de

profissionais para a educação básica, ―destinado à formação de docentes para a

educação infantil e para as primeiras séries do Ensino Fundamental‖ a ser mantido pelos

Institutos Superiores de Educação, conforme explicitado no artigo 63. De acordo com

Weber, essa formulação legal constitui, aliás, um dos argumentos que permitem

contestar o Decreto n° 3276/99, que circunscreveu o curso normal superior como esfera

exclusiva da formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do

Ensino Fundamental.

ENSINO SUPERIOR EM MATO GROSSO

Antes de prosseguirmos com a nossa pesquisa, acreditamos ser importante

destacar que no dia 11 de outubro de 1977 o Estado de Mato Grosso que possuía

1.231.549 km2 foi dividido dando origem a Mato Grosso do Sul cuja capital é Campo

Grande. Nossa pesquisa refere-se a Mato Grosso antes e depois desta divisão levando

em consideração a distinção entre estes estados.

Implantação do ensino superior em Cuiabá – 1970

As iniciativas de implantação de cursos de graduação foram consolidadas em

Mato Grosso em meados da década de 1960, quando foram regulamentadas algumas

instituições outrora existentes. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) foi

criada em Cuiabá, em dezembro de 1970, representou para a população local uma

conquista tardia do direito de acesso ao ensino universitário (DORILEO, 1981).

Implantação do ensino superior em Cáceres – 1978

Em 20 de Julho de 1978, foi criada o Instituto de Ensino Superior de Cáceres

(IESC). Em 1985 com a lei Estadual 4.960 de 19 de dezembro a IESC passou a

denominação de Fundação Centro Universitário de Cáceres (FUCUC). A lei Estadual

5.495, de 17 de julho de 1989 alterou a lei 4.960 atendendo às normas da legislação de

educação e passou a denominar-se Fundação Centro de Ensino Superior de Cáceres

(FCESC). Em 1992 através da Lei Complementar n° 14 de 16 de janeiro a FCESC

passou a denominar-se Fundação de Ensino Superior de Mato Grosso (FESMAT).

Finalmente em 15 de dezembro de 1993, através da Lei Complementar N° 30, a

FESMAT passou a ser denominada Universidade do Estado de Mato Grosso

(UNEMAT).

EXPANSÃO DOS INSTITUTOS DE ENSINO SUPERIOR PRIVADOS EM

MATO GROSSO PÓS LDB 9394/96

A lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelece em seu artigo 45, a

possibilidade do Ensino Superior ocorrer em IES, públicas e privadas. Essa

possibilidade foi assegurada pelo decreto n° 2.306/97, que definiu as formas de

organização acadêmica (Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas,

Faculdades, Institutos Superiores ou Escolas Superiores e Centros de Educação

Tecnológica).

Observe no gráfico 1, que em 2005, havia em Mato Grosso 56 IES, sendo 8,93%

públicas e 91,07% privadas. O setor público estava representado por 5 instituições: 2

Universidades, 2 Centros Federais de Educação Tecnológica e 1 Faculdade Municipal.

O setor privado estava constituído por 51 instituições: 1 Universidade Particular, 2

Centros Universitários, 7 Faculdades Integradas, 41 Faculdades e Institutos (34

particulares e 7 comunitárias / filantrópicas / confessionais). As 56 IES ofertavam 426

cursos de graduação, sendo 38,26% no setor público e 61,73% no setor privado. Do

total de alunos matriculados em cursos de graduação, 44.345 (64,7%) integrava o setor

privado e 24.218 (35,3%) no setor público (Fonte: MEC/INEP/Deaes).

Gráfico 1.

Observando esta representação gráfica, percebemos o aumento significativo de

IES privadas em Mato Grosso após o ano de 1996, enquanto que no setor público, esse

aumento teve pouca expressão. Entretanto, o número de docentes que atuavam em Mato

Grosso no ano de 1991, quando o setor público estava representado por apenas 2

instituições, incorporava 79,2% enquanto que o setor privado que era constituído por 15

instituições incorporavam juntas apenas 20,8%.

Em relação à titulação em cursos de pós-graduação stricto sensu apontados no

Artigo 66 da LDB como locus prioritário para a formação de docentes do Ensino

Superior, havia em Mato Grosso, em 1991, 1.589 docentes. Desse total, 329 tinha título

de mestre e 44 título de doutor. Em 1996, dos 2.501 docentes, 340 eram mestres e 90

doutores. Em 2005, o Estado contabilizou 4.904 docentes do Ensino Superior, sendo

1.439 mestres e 502 doutores, 77,6% integrava o setor público. (Fonte:

MEC/INEP/Deaes).

ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

(UNEMAT)

Unidades Acadêmico Administrativas

Campi Universitários da UNEMAT

1978 - Campus Universitário ―Jane Vanini‖ (Cáceres)

1990 - Campus Universitário de Sinop

1992 - Campus Universitário de Alta Floresta

1992 - Campus Universitário de Alto Araguaia

1992 - Campus Universitário de Luciara

1992 - Campus Universitário de Nova Xavantina

1992 - Campus Universitário de Pontes e Lacerda

1994 - Campus Universitário ―Renê Barbôur‖ (Barra do Bugres)

1994 - Campus Universitário do ―Vale do Teles‖ Pires (Colíder)

1995 - Campus Universitário de Tangará da Serra

2003 - Campus Universitário de Juara

Observe no gráfico 2, que apesar da grande expansão da UNEMAT desde sua

criação em 1978, conforme breve histórico apresentado nesta pesquisa preliminar,

muitos municípios do Estado de Mato Grosso não possuem Campus Universitário. Este

contexto fomenta de certa forma à migração de alunos oriundos de diversas cidades

mato-grossenses rumo aos municípios polos universitários em busca do almejado Curso

de Graduação e/ou Pós-graduação do Ensino Superior.

Gráfico 2.

Entrevistamos acadêmicos que estudam no Campus Jane Vanini em Cáceres e

residem em cidades vizinhas. A principal característica entre os entrevistados é a

dificuldade que enfrentam para concluir o curso.

Ana Claudia dos Santos Bispo Neves, 21 anos, cursa o 6° semestre em

Licenciatura Plena em História, reside na área rural a 75 km de Cáceres, Ana nos relata

que; ―não havia transporte diariamente para levar e buscar os alunos, e essa seja a

maior dificuldade que enfrentei, ter que sair da minha residência e ir morar longe, em

casa alugada por causa da dificuldade do acesso ao transporte‖.

Miguel Ferreira Santana, 23 anos reside em Porto Esperidião a 130 km de

Cáceres, gasta em média 1 hora e meia no percurso de ida ao Campus, Miguel discorre

que; ―Uma das minhas dificuldades é arrumar um emprego por causa do horário em que

saímos pra ir pra faculdade, temos que sair antes do fim do expediente, isso acaba

prejudicando. Quando o ônibus estraga é outro problema, teve casos de alunos ficarem

de PF (prova final) porque faltaram no dia da prova‖.

Paula de Freitas da Costa, 21 anos, acadêmica do Curso de Pedagogia, reside no

município de Araputanga, a 100 km de Cáceres, Paula gasta em média 4 horas de

percurso, incluindo ida e volta e reclama da situação; ―A minha maior dificuldade é a

viagem, pois alguns pontos da BR estão bem ruins e tem também a questão do meio de

transporte que muitas vezes ficamos sem, pois nosso ônibus é cedido pela prefeitura e é

utilizado para outras necessidades do município‖.

VESTIBULAR UNEMAT – 2004 a 2011

Recentemente (2013) a UNEMAT aderiu ao Sistema de Unificação Unificada

(SISU), do Governo Federal, a adesão da Universidade em 100% das vagas ocorre

somente para o ingresso no primeiro semestre letivo de cada ano. Desse total de vagas,

segundo a assessoria da instituição, pelo menos 50% serão reservadas a estudantes

oriundos da rede pública de ensino e outras 25% para o programa de Inclusão Ético-

Racial da UNEMAT, nos períodos anteriores a esta adesão, o Vestibular era o único

processo de seleção para o ingresso do candidato em uma das vagas ofertadas pela

instituição nos seus 69 cursos de graduação, sendo 44 regulares e os demais em

modalidades diferenciadas.

A Tabela 1 a seguir, demostra a evolução das vagas ofertadas desde 2004 a 2011

nas diferentes modalidades de ensino; Cursos Regulares, Educação Superior Indígena,

Licenciaturas Parceladas, Turma Especial / Fora de Sede e EAS/UAB.

Vagas ofertadas no vestibular por modalidade de ensino – 2004 a 2011.

Tabela 1.

Nos últimos dez anos, houve aumento significativo no número de vagas

ofertadas pela Universidade. Em 2002, a UNEMAT disponibilizava 2.120 vagas por

ano nos concursos vestibulares. Em 2011, esse número chegou a 3.600 em cursos

regulares, um aumento de 69%. Esse crescimento foi acompanhado de aporte

orçamentário por parte do Governo do Estado, passando de R$ 39 milhões em 2002

para em torno de R$ 147 milhões em 2011.

PERFIL DOS CANDIDATOS AOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UNEMAT

VESTIBULAR 2011/2

Alguns dados nos fornecem a possibilidade de observamos o perfil dos candidatos a

vagas em cursos de Ensino Superior na Universidade Estadual de Mato Grosso no

vestibular de 2011/2.

Gráfico 3.

O gráfico 3, acima, nos revela que as mulheres representam 50,67% dos candidatos

enquanto os homens representam menos da metade com 49,33%.

Gráfico 4.

O gráfico 4, indica que 31,62 % dos candidatos tem idade de até 18 anos, 24,95% de 19 a

21 anos, 18,38% de 22 a 24 anos, 10,87% de 25 a 27 anos, 5,43% de 28 a 30 e 8, 75% mais

de 30 anos de idade, estes dados demonstram a heterogeneidade das idades dos candidatos a

vagas no Ensino Superior na UNEMAT no vestibular 2011/02.

A concorrência dos processos seletivos da UNEMAT é relevante, por conta disso,

diversos ―cursinhos‖ pré-vestibulares são ofertados em vários municípios do Estado, com o

objetivo de melhorar o preparo do candidato antes da realização dos processos seletivos.

Entretanto, o gráfico 5, a seguir, demonstra claramente que a maioria dos candidatos não

optou por este tipo de ―preparação‖.

Gráfico 5.

81,76% dos candidatos, afirmam não ter frequentado cursos pré-vestibulares, 9,44%

afirmam ter frequentado menos de 6 meses, 5,56% frequentaram 6 meses, 2,25% relatam

que se prepararam durante um ano e 0,99% frequentaram mais de 1 ano de curso

preparatório pré-vestibular. (Fonte: COVEST).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Faremos algumas considerações, já que é impossível concluir esse tema tão

complexo que é o Ensino Superior e o processo de institucionalização dos saberes no

Estado de Mato Grosso.

A educação desde a antiguidade vem sendo uma espécie de reprodução da

estrutura de classes, cuja base era reproduzir a ideologia das classes dominantes, ou o

simples aprimoramento da força de trabalho segundo Bourdieu (1975). Apesar da

aparente neutralidade, a instituição escola transformou-se em uma espécie de fábrica de

mão-de-obra como afirma Louis Althusser (1987), onde de acordo com ele não cria a

divisão de classe, mas contribui para a reprodução, pois diante dessa situação, o

indivíduo mesmo que indiretamente aceita sua condição de classe, pois a sua própria

educação o preparou para o mercado introjetando nele uma sensação de eficácia e

utilidade.

Infelizmente várias instituições de nossa sociedade estão reproduzindo a lógica

do capitalismo que consiste na estratégia de dominação das elites e cabe à escola iniciar

um movimento contra hegemônico assumindo um papel estratégico de mudança, pois

conforme relata Gramsci (2000), o Estado não sendo autoritário, permite que a

sociedade seja um campo aberto para circulação de ideologia que combatam essa

ideologia dominante e, dessa forma, realiza a democratização da educação no mundo.

Para Bourdieu (1975) os sujeitos são uma espécie de marionetes das estruturas

dominantes na qual estão submetidos aos desígnios dessa sociedade elitista. Essa

desigualdade social na educação vem refletindo nos dias atuais principalmente no

processo seletivo, ou seja, o processo de entrada nas universidades.

Podemos perceber então, através destes estudos, a importância do ensino

superior na sociedade e sua contribuição para a formação de professores no Estado de

Mato Grosso, levando em consideração a quantidade de cursos de licenciaturas plenas

ofertados nesta região.

Esta pesquisa preliminar nos ajudou a compreender e visualizar criticamente a

realidade social em que vivemos, e que a Educação nos preparará a entendermos a

sociedade como um todo, e nos dará oportunidade de formar cidadãos dotados de

criticidade e reflexão.

Em suma, entendemos que um Ensino Superior de qualidade contribui

significativamente para a formação e o desenvolvimento da cidadania, uma vez que o

mesmo nos ajudará a termos uma visão mais ampla, mais crítica da sociedade em que

estamos inseridos, já que o ensino superior tem por especificidade analisar a sociedade a

partir de vários olhares, para que através disso, se possibilite uma compreensão mais

abrangente da realidade social, esta é a grande contribuição para a formação de todo

cidadão.

NOTAS

1 - Alexandre Bernardino Costa possui graduação em Direito pela Universidade de Brasília (1986),

mestrado em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992) e doutorado em Direito pela

Universidade Federal de Minas Gerais (2005).

2 - id. ibid. p. 69.

3 - Nelson Werneck Sodré (Rio de Janeiro, 27 de abril de 1911 - Itu, 13 de janeiro de 1999) foi militar e

historiador brasileiro. Entre 1938 e 1945 publicou algumas centenas de artigos e sete livros.

4 - Octavio Ianni (Itu, 13 de outubro de 1926 — São Paulo, 4 de abril de 2004) sociólogo brasileiro,

formou-se em ciências sociais na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em 1954. Autor de

vasta obra bibliográfica.

5 - Professora Silke Weber obteve doutorado em Sociologia na Université René Descartes (1972).

Desenvolveu programas de pós-doutoramento na Universidade de Bremen, de Paris V e na London

School of Economics and Political Sciences (LSE). É professora emérita da Universidade Federal de

Pernambuco e Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE.

6 - Darcy Ribeiro (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997)

antropólogo, escritor e político brasileiro conhecido por seu foco em relação aos índios e à educação no

país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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