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ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DOM BOSCO CURSO DE ECONOMIA
ECONOMIA DO SETOR PUBLICO
AULA 02 – O papel do Estado na Economia1
Na aula passada vimos a evolução do papel do Estado e sua relação com a sociedade.
Descobrimos que ao longo dos anos o ente estatal foi agregando uma série de funções além daquelas
básicas, instituídas nos séculos XVII e XVIII, e que diziam respeito a, praticamente, resguardar a
segurança de seus cidadãos.
O Estado contemporâneo foi além, abarcando funções relacionadas ao bem-estar comum,
instituídas pelo denominado Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State.
Assim, o Estado, além de questões de segurança, passou a intervir também na Economia, para
atingir os objetivos que foram lhe transmitidos historicamente. Dentro da área econômica, 3 são as
funções: a alocativa, a distributiva e a estabilizadora.
Contudo, nem todos os Estados são iguais. Alguns intervêm com maior ênfase na economia,
outros menos, outros - pelo menos no discurso - não se aproximam, alegando que a “mão invisível” é
capaz de equilibrar os fatores econômicos e sociais.
Na aula de hoje, conheceremos as atividades fiscal e financeira do Estado. Quanto à fiscal, esta
se divide em tributária e orçamentária. Já a financeira pode ser caracterizada pelos verbos: obter, criar,
gerir e despender o dinheiro que atende às necessidades da sociedade. Então, vamos a elas:
Atividades de intervenção do Estado na economia
A pergunta inicial é: O Estado precisa intervir na economia? Caso positivo, por quê?
Para aqueles que concordam com a necessidade de intervenção do Estado na economia, os
argumentos podem ser concentrados nas denominadas falhas de mercado. Por essas falhas, o sistema
ideal do capitalismo, que preconiza a livre concorrência a partir de um mercado competitivo como
forma de auto-regulação, não se sustenta.
As falhas de mercado, segundo F. Giambiagi e A. C. Além (2008) podem ser resumidas nas
seguintes ocorrências: a) existência de bens públicos; 2) existência de monopólios naturais; 3)
externalidades; 4) mercados incompletos; 5) falhas de informação; 6) desemprego e inflação. Vejamos
com detalhe cada uma.
1) Existência de bens públicos – bens públicos são aqueles bens indivisíveis ou não rivais, isto é, o
consumo por um indivíduo não prejudica o consumo de outro(s). Como exemplos têm-se a iluminação
pública, a justiça, a segurança pública e a defesa nacional. Nesse item está inserido o princípio da “não-
exclusão”, pois não há como especificar o beneficiário.
2) Existência de monopólios naturais – relaciona-se com as economias de escala. Há certos setores e
produtos que o ideal é a existência de uma ou pouca empresa fornecedora, pois o preço final diminui na
1 Elaborado pelo Professor Walfredo Ferreira. Disponível no Blog: profwalfredoferreira.wordpress. Este material
serve apenas como roteiro de estudo, sendo complementado com os assuntos discutidos em sala de aula e com os exemplos dados.
medida em que se aumenta a quantidade. O Estado, nesses casos, participa tanto como produtor direto
(função que vem decaindo nos últimos anos) quanto como regulador. Ex: distribuição de energia elétrica
e de água.
3) Externalidades – há situações que a ação de um indivíduo, ou de uma empresa, ou do próprio Estado
causam efeitos em terceiros. Esses efeitos podem ser positivos ou negativos. Quanto aos primeiros, diz-
se externalidades positivas, como é o caso de uma obra de saneamento básico realizada pelo Estado. O
benefício é de todos. Com relação ao segundo caso, diz-se externalidades negativas, exemplificado
quando uma indústria lança poluição no ambiente, da mesma forma que um fumante. Todos no seu
entorno são prejudicados. Assim, o Estado se ver obrigado a intervir nessas externalidades, por meio de
concessão de subsídios, quando for positiva; pela aplicação de multa, quando negativa, ou por meio de
regulamentação.
4) Mercados incompletos – ocorre quando no mercado há necessidade de algum bem ou serviço que
deixou de ser ofertado, seja pelo retorno baixo do investimento, seja pelos riscos do negócio. Em alguns
setores no Brasil, por exemplo, o BNDES atua concedendo créditos, ainda que seja um negócio de alto
risco, mas que atenda às necessidades do mercado ou mesmo de bem-estar.
5) Falhas de informação – segundo F. Giambiasi e A. C. Além (2008), essa falha ocorre quando os
consumidores, por si só, não conseguem obter informações suficientes para a tomada de decisão
racional. Nesse caso, o princípio da transparência é essencial, juntamente com o direito à informação
por parte do cidadão.
6) Desemprego e inflação – como o desenvolvimento do capitalismo vem ocorrendo de forma cíclica,
isto é, como períodos de alta liquidez no mercado, alta produção e pleno emprego, e com período no
sentido contrário, faz-se necessária a intervenção estatal para tentar equilibrar o mercado, sobretudo
em época de recessão. Concessão de subsídio, isenção ou diminuição de impostos são alguns dos
mecanismos utilizados.
Cabe ressaltar que em muitas ocasiões essas falhas de mercado se comunicam. Uma
externalidade positiva pode perfeitamente influenciar na taxa de emprego, da mesma forma que o
acesso à informação correta pode acarretar diminuição da inflação pela conscientização da sociedade.
O Estado na Economia: procurando corrigir falhas, visando ao bem-estar social
A primeira das atividades do Estado que veremos trata-se da atividade fiscal ou da política fiscal
de intervenção estatal. Por meio da política fiscal o Estado é capaz de captar, planejar, orientar e aplicar
recursos para garantir o funcionamento dos serviços públicos.
A política fiscal ou a atividade fiscal do Estado pode ser dividida em duas:
a) Política tributária – destinada à captação dos recursos. Dá-se por meio dos impostos, das taxas e de
outros tributos a partir das três esferas governamentais (União, estados e municípios).
b) Política orçamentária – relacionada ao planejamento dos gastos, isto é, à forma de aplicação dos
recursos captados pela tributação.
A segunda atividade do Estado diz respeito às finanças. Pode-se afirmar que a atividade
financeira do Estado é aquela responsável por prover, gerir e aplicar os recursos de natureza patrimonial
visando atender às necessidades da coletividade. Esta atividade não se limita apenas a arrecadar os
recursos. Para cumprir esta atividade, o Estado exerce 4 funções:
a) Obtenção dos meios ou da receita pública;
b) Criação de créditos públicos;
c) Gerenciamento dos meios, por meio do orçamento;
d) Gerenciamento e aplicação dos recursos, por meio das despesas públicas.
Vejamos cada uma dessas funções:
a) Receita Pública – todo o ingresso de recursos de caráter não devolutivo auferidos pelo poder público
para alocação e cobertura de despesas públicas. A receita pode advir: 1) de forma corrente (receita
corrente), que inclui o ingresso de tributos, do patrimônio, de receitas produtivas (indústria
agricultura,...), transferências correntes, serviços e de recursos recebidos de outras empresas de direito
público ou privado. 2) na forma de capital, que inclui operações de crédito, de alienação de bens móveis
e imóveis, de amortização de empréstimos concedidos (BNDES, p. ex.), entre outras.
b) Créditos Públicos – dizem respeito às receitas públicas obtidas a partir de empréstimos e
financiamentos. Podem ser de origem interna ou externa e se caracterizam pela necessidade de
reembolso, conforme prazo do contrato e contemplando os juros e a correção monetária.
c) Orçamento Público – é o instrumento por meio do qual o Estado regula o ritmo, a origem ou o
destino do fluxo dos recursos (receitas) e das despesas. No Brasil, conforme a Constituição Federal (CF)
de 1988, o orçamento público deve obedecer ao princípio da anualidade, isto é, ter a vigência de um
ano após sua transformação em lei. Nas aulas seguintes estudaremos com maiores detalhes o
orçamento, abrangendo suas fases de formulação até a transformação em lei: Plano Plurianual (PPA),
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei do Orçamento Anual (LOA). Artigos 165 a 169, CF/88.
d) Despesa Pública – é o conjunto de dispêndios do Estado que visa ao custeio e ao funcionamento dos
serviços públicos. Nesses gastos estão inseridas também as despesas das autarquias. A doutrina divide
as despesas em 3 naturezas: 1) a Econômica, que condiz com a aplicação em dinheiro público; 2) a
Jurídica, que diz respeito à autorização para gastos com as atribuições governamentais; 3) a Política, que
serve para o custeio de setores da Administração Pública e para investimentos no setor privado. Assim
como as receitas, as despesas são divididas em correntes e de capital. As correntes englobam despesas
de custeio e de transferência corrente. Já as despesas de capital relacionam-se a investimentos, a
inversões financeiras e a transferências de capital.
REFERÊNCIAS FERREIRA, Marlos Vargas. Resumão Concursos: Finanças Públicas. 1. ed. São Paulo: Eskenazi Ind. Gráfica, 2013.
GIAMBIAGI, Fabio; ALÉM, Ana Claudia. Finanças Públicas: teoria e prática no Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
SILVA, Bernardino José da. Economia do Setor Público. 4. ed. Palhoça: Unisul Virtual, 2007.