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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS DE MARLIA
Faculdade de Filosofia e Cincias
MAURO AUDI
ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO
SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA
ESTABILIZADORA
Marlia
2006
MAURO AUDI
ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO
SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA
ESTABILIZADORA
Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Educao, como parte dos
requisitos para obteno do ttulo de Mestre em
Educao. F.F.C. Unesp Campus de Marlia.
rea de concentrao: Ensino na Educao Brasileira
Linha de pesquisa: Educao Especial no Brasil
Orientadora: Dra. Lgia Maria Presumido Braccialli
Marlia
2006
Audi, Mauro A911e Estudo comparativo do comportamento motor de membro
superior em encefalopatas que fazem uso de pulseira estabilizadora / Mauro Audi. Marlia, 2006.
112 f. ; 30 cm.
Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, 2006.
Orientadora: Prof Dr Lgia Maria Presumido Bracialli Bibliografia: f. 100-105
1. Paralisia cerebral. 2. Deficientes. 3. Educao especial. 4. Movimentos involuntrios. I. Autor. II. Ttulo.
CDD: 618.92
MAURO AUDI
ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO
SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA
ESTABILIZADORA
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar o comportamento motor de
membros superiores, no movimento de apontar um alvo, com e sem o uso de peso, em
indivduos com encefalopatias, que apresentavam movimentos involuntrios nos membros
superiores.
_________________________________ ______________________________ Dr. Mrio Antonio Barana Dra. Rita de Cssia Tibrio Arajo
__________________________________ Dra. Lgia Maria Presumido braccialli
Data da aprovao: ___/___/___
Dedicatria
Ao meu pai, Rahef Audi, que de alguma forma eu
sei que ele sempre estar vibrando e contente com as
conquistas de seus filhos.
A minha me, Zenaide B. Audi, que sempre est
rezando por mim.
Aos meus amores, que torcem por meu sucesso:
Elosa M.M.Audi, Dbora Audi e Guilherme Audi.
Agradecimentos
Profa. Dra. Lgia Maria Presumido Braccialli, por ter idealizado esta pesquisa e acreditado
em meu potencial para realiz-la, por ter-me orientado com sabedoria, contribuindo para meu
aprendizado, por saber o valor desta conquista em minha vida e por compreender as dificuldades que este
trabalho proporcionou.
A uma fora invisvel, inexplicvel, mas sempre presente, que, nos momentos difceis, me
direciona para um caminho correto.
minha querida me, que ama e ajuda seus filhos, cuida com tanta dedicao dos netos com uma
fora admirvel, que nos d tranqilidade e tempo para realizarmos nossos trabalhos.
A minha querida mulher, Elosa M.M. Audi, e meus filhos, Dbora e Guilherme, simplesmente
pela existncia eterna de vocs em minha vida, ou seja, por tudo. Qualquer frase se torna pequena diante
da gratido que tenho por vocs.
Aos meus queridos sobrinhos, Naira Audi e Gustavo Audi, que permaneceram horas sentados,
para realizao do estudo-piloto.
A minha cunhada, urea M. Miranda, pelo emprstimo de equipamentos e apoio nos dilogos.
A meus irmos e cunhados, Mrcia S. Audi, Rubens Audi, Maria Luiza B. Audi e Carlos
Danelutti, que sempre me incentivaram neste caminho.
Aos integrantes do grupo de pesquisa Deficincias Fsicas e Sensoriais, pelas contribuies nesta
pesquisa, desde quando era apenas um projeto.
Aos participantes desta pesquisa e seus pais, que voluntariamente contriburam para que ela
pudesse se desenvolver.
Aos Prof. Dr. Eduardo Jos Manzini e Profa. Dra. Dbora Deliberato, por estarem sempre
dispostos a auxiliar no desenvolvimento da pesquisa e no aprendizado do aluno.
Aos Prof. Dr. Mario Antonio Barana e Profa. Dra. Rita de Cssia Tibrio Arajo, pelas
valiosas contribuies no exame de qualificao.
A Eiji Hayashi, pela contribuio na rea de informtica.
Ao Prof. Dr. Sebastio Marcos R. Carvalho, pela ajuda na anlise estatstica.
CAPES, MEC, SEESP e PROESP, pelo apoio na compra dos equipamentos para realizao
desta pesquisa.
RESUMO
Alguns indivduos com encefalopatias podem apresentar movimentos involuntrios
associados ao quadro de seqelas. Esses movimentos podem provocar limitaes funcionais
e vir a prejudicar o desempenho nas atividades escolares e da vida diria. O uso de pulseira
estabilizadora com pesos um recurso que pode minimizar os movimentos involuntrios e
auxiliar no desempenho desses indivduos. O presente trabalho teve como objetivo geral
analisar o comportamento motor de membro superior, no ato de apontar um alvo, por meio
do uso de peso, em indivduos com seqelas de encefalopatias, os quais apresentavam
movimentos involuntrios nos membros superiores. Participaram da pesquisa 8 indivduos,
com seqelas de encefalopatias, que apresentavam movimentos involuntrios em membros
superiores, do gnero masculino e feminino. A pesquisa foi realizada no laboratrio de
anlise de movimento do Centro de Estudos da Educao e da Sade, Unesp, Campus de
Marlia (CEES). A coleta de dados foi feita por meio de estudo cinemtico e
eletromiogrfico da performance do movimento de membros superiores, no ato de apontar
um alvo, com e sem o uso de peso. Foi realizada uma anlise quantitativa dos dados obtidos
nos registros cinemticos, em relao ao deslocamento escalar, velocidade mdia escalar e
nos registros eletromiogrficos, em relao intensidade de contrao muscular, nos
momentos sem o uso de peso contra a ao da gravidade e com o uso de peso. Para cada
movimento, foram comparados: a velocidade escalar, o deslocamento escalar, o momento
de contrao muscular, por meio de anlise de disperso de dados pareados. Os resultados
demonstraram respostas mais adequadas de intensidades de contraes musculares e de
menor deslocamento escalar, com uso de pulseira de pesos. Pode-se concluir que o uso de
pulseira com peso favoreceu a realizao de um movimento mais adequado e funcional,
durante o ato de apontar um alvo.
Palavras-chaves: paralisia cerebral; deficiente; educao especial; movimento involuntrio
ABSTRACT
Some individual with encephalopathy can present involuntary movements associated with
features of sequel. These movements can arose functional restrictions and come to
prejudice the performance at school and daily activities. The use of stabilized bangle with
weight is a resource that can minimize the involuntary movements and relieve this
individual performance. The present work had as general objective to analyze the upper
limbs motor behavior during the act of aim a target through the use of weight on individual
with encephalopathy sequel that presented involuntary movements on upper limbs. Eight
individual with encephalopathy sequel participated in this research which presented
involuntary movements in upper limbs of male and female gender. The research was
accomplished in the laboratory of analyzes of movements at Centro de Estudos da
Educao e da Sade, Unesp, Campus from the city of Marlia ( CEES ).The collection of
data was accomplished thought the kinematics and electromyographic studies performs of
upper limbs in the act of aim a target with and without the use of weight. It was
accomplished a quantitative analyses of data obtained to kinematics register related to the
dislocation scale, medium scalar velocity in the register of electromyographic related to
intensity of muscular contraction during the movements without the use of weight against
the gravicity action and also with the use of weight. For each movement was compared: the
scalar velocity, scalar dislocation, the movement of muscular contraction through the
analyze of electromyographic. The results demonstrated adequate answers to the intensity
of muscular contractions and less scalar dislocation with the use of weight. Concluding that
the use of bangle with weight exalted the accomplishment of functional and adequate
movement during the act of aim a target.
Key-words: Cerebral palsy; deficient; Special Education; Dyskinesias
LISTA DE ILUSTRAES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Sistema operacional do sistema motor crtico-muscular .....................................30
Figura 2- Posio dos marcadores reflexivos auto-adesivos................................................42
Figura 3- Anlise Kavdeo, comparao com e sem peso....................................................44
Figura 4- Posio da filmadora com vista superior, pedestal de suporte e mesa em
semicrculo............................................................................................................................45
Figura 5- Posicionamento dos alvos demarcados na mesa para executar o
movimento.............................................................................................................................46
Figura 6 Pulseira estabilizadora com peso de chumbo e velcro.........................................48
Figura 7 Anlise grfica dos registros eletromiogrficos, em valores RMS, dos msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide...........................................................................49
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltides, durante o movimento de ida do alvo central
sem o uso de pesos................................................................................................................53
Grfico 2 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida ao alvo central com
o uso de pesos........................................................................................................................55
Grfico 3 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno do alvo central
sem o uso de peso..................................................................................................................57
Grfico 4 - Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno do alvo central
com o uso de pesos................................................................................................................59
Grfico 5 - Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida a um alvo
deslocado sem o uso de pesos...............................................................................................61
Grfico 6- Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltides, durante o movimento de ida a um alvo
deslocado com o uso de peso................................................................................................63
Grfico 7- Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida a um alvo
deslocado sem o uso de peso.................................................................................................65
Grfico 8 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos
bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno de um alvo
deslocado sem o uso de peso.................................................................................................67
Grfico 9 - Freqncia relativa dos movimentos adequados, inadequados e indiferentes,
sem e com uso de peso..........................................................................................................68
Grfico 10 - Comparao dos deslocamentos escalares, durante o movimento de ida a um
alvo central com e sem uso de peso......................................................................................70
Grfico 11 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um
alvo central com e sem uso de peso......................................................................................72
Grfico 12 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de ida a um alvo
deslocado com e sem uso de peso.........................................................................................74
Grfico 13 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um
alvo deslocado com e sem uso de peso.................................................................................76
Grfico 14 - Anlise comparativa da freqncia relativa do menor deslocamento escalar,
durante o movimento de ida e retorno a um alvo central e deslocado, com e sem uso de
peso, realizado pelos oito participantes.................................................................................77
Grfico 15 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento
de ida a um alvo central com e sem uso de peso...................................................................78
Grfico 16 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento
de retorno de um alvo central................................................................................................80
Grfico 17 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento
de ida a um alvo deslocado...................................................................................................81
Grfico 18 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento
de retorno de um alvo deslocado...........................................................................................83
Grfico 19 - Anlise comparativa da freqncia relativa da maior velocidade mdia escalar,
durante o movimento de ida e retorno a um alvo central e deslocado, com e sem uso de
peso, realizado pelos oito participantes.................................................................................84
LISTA DE QUADROS
Quadro 1- Caractersticas, diagnstico e classificao do comprometimento motor/tnus e
topografia, dos participantes do estudo.................................................................................38
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Medida da escala de plos calculada para cada participante................................43
Tabela 2 - Medidas das principais distncias e peso utilizado na tarefa...............................47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AVE..................................Acidente Vascular Enceflico
AVI...................................Archive Video Image
EMG..................................Eletromiografia
GMFM..........................Gross Motor Fuction Measure
P.........................................Participante
PC......................................Paralisia Cerebral
RM.....................................Resistncia Mxima
RMS...................................Root Mean Square
S.........................................Deslocamento Escalar
TCE....................................Trauma Crnio-enceflico
VM.....................................Velocidade Mdia Escalar
SUMRIO
1 INTRODUO................................................................................................................15
2 CONSIDERAES TERICAS...................................................................................18
2.1 Recursos pedaggicos....................................................................................................19
2.2 Encefalopatias................................................................................................................23
2.3 Movimentos involuntrios............................................................................................28
2.4 Tratamento dos movimentos involuntrios................................................................34
3 OBJETIVO.......................................................................................................................36
3.1 Objetivo geral................................................................................................................36
3.2 Objetivos especficos.....................................................................................................36
4 MTODO..........................................................................................................................37
4.1 Participantes.................................................................................................................37
4.2 Local de pesquisa..........................................................................................................38
4.3 Equipamentos e materiais............................................................................................38
4.4 Procedimentos para coletas de dados..........................................................................39
4.4.1 Registro eletromiogrfico..........................................................................................40
4.4.2 Anlise cinemtica......................................................................................................41
4.5 Procedimentos para anlise dos dados........................................................................49
5 RESULTADOS ................................................................................................................51
5.1 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central sem
o uso de peso........................................................................................................................51
5.2 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central
com o uso de peso................................................................................................................53
5.3 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo
central sem o uso de peso....................................................................................................55
5.4 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo
central com o uso de peso...................................................................................................57
5.5 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado
sem o uso de peso................................................................................................................59
5.6 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado
com o uso de peso................................................................................................................61
5.7 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo
deslocado sem o uso de peso...............................................................................................63
5.8 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo
deslocado com o uso de peso...............................................................................................65
5.9 Resultados dos deslocamentos escalares, durante o movimento de ida a um alvo
central com e sem o uso de peso.........................................................................................69
5.10 Resultados dos deslocamentos escalares, durante o movimento de retorno de um
alvo central com e sem o uso de peso.................................................................................70
5.11 Resultados dos deslocamentos escalares para o movimento de ida a um alvo
deslocado com e sem o uso de peso....................................................................................72
5.12 Resultados dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um alvo
deslocado com e sem o uso de peso....................................................................................74
5.13 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do
movimento de ida a um alvo central com e sem o uso de peso........................................77
5.14 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do
movimento de retorno de um alvo central com e sem o uso de peso..............................79
5.15 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do
movimento de ida a um alvo deslocado com e sem o uso de peso...................................80
5.16 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, durante o
movimento de retorno de um alvo deslocado com e sem o uso de peso..........................82
6 DISCUSSO.....................................................................................................................85
6.1 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central sem
e com uso de pulseira estabilizadora de peso....................................................................85
6.2 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo central
sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................88
6.3 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado
sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................89
6.4 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo
deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso..........................................91
6.5 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de ida
a um alvo central sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.............................92
6.6 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de
retorno de um alvo central sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso..............93
6.7 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de ida
a um alvo deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.........................94
6.8 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de
retorno de um alvo deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.........94
6.9 Discusso da anlise cinemtica em relao velocidade mdia dos movimentos
sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................96
7 CONCLUSO.................................................................................................................97
8 CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................98
9 REFERNCIAS............................................................................................................100
GLOSSRIO.....................................................................................................................106
APNDICES
APNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido....................................107
ANEXOS ANEXO A: Parecer Comit de tica e Pesquisa da Faculdade de Filosofia e
Cincias..............................................................................................................................110
15
INTRODUO
Atualmente, no que se refere incluso de alunos com deficincias na rede de ensino
regular, objetiva-se o alcance da integrao, socializao e facilitao do processo de ensino
aprendizagem, que tragam benefcios para: a) todos alunos, que tm a oportunidade de apreender
uns com os outros, conseqentemente desenvolvem novas habilidades, que os preparam para
uma vida em comunidade que respeite a diferena entre os semelhantes; b) para os educadores,
que podem encontrar oportunidade para desenvolvimento de suas habilidades profissionais, de
acordo com a administrao da escola, a qual poder oferecer oportunidades de aumento da
participao e coleguismo em momentos de troca; c) para a sociedade, principalmente porque, no
ensino inclusivo, h uma valorizao social que integra as caractersticas da diversidade humana.
Esses so princpios da incluso educacional, segundo Karagiannis, Stainback e Stainback
(1999).
Esses autores relataram tambm que, com o ensino inclusivo, ampliaram-se as
oportunidades de vida futura para as pessoas com deficincia, pois a interao com outros alunos
e professores favoreceu a aquisio de habilidades acadmicas, sociais e de vida diria.
Tal interao entre pessoas com e sem deficincia se configurou como a base da incluso
(OMOTE, 2003) e contribuiu para a construo de uma sociedade inclusiva, em que h a
valorizao da vida de pessoas com deficincias.
No Brasil, embora esteja regulamentado na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 1996) que
alunos com deficincias devam ser educados, preferencialmente, na rede regular de ensino, o
processo de incluso educacional ocorre de maneira lenta; muitas vezes, o que acontece a
insero do aluno com deficincia em salas de ensino regular.
Baleotti (2001), Vitta, Silva e Moraes (2004) verificaram que o processo de incluso
dificultado pela falta de suporte para os profissionais que lidam com alunos deficientes, entre
esses se incluem: ausncia de cursos de educao continuada; auxlio de especialistas da rea de
educao especial; falta de materiais e recursos apropriados; falta de recursos tecnolgicos e
adaptaes no meio fsico.
Entre os alunos deficientes, existem os que possuem alteraes motoras, matriculados em
salas de educao especial ou inseridos em salas de ensino regular, que, alm das dificuldades
16
prprias da deficincia, convivem com a necessidade de superao de outros problemas, como:
adaptaes que facilitariam a acessibilidade, mobilirios adequados, carncia de recursos
pedaggicos e materiais que facilitariam o aprendizado.
O Ministrio da Educao, ciente das dificuldades apresentadas por essa clientela, na
proposta do Plano Nacional de Educao, expressou em alguns itens a importncia de adaptaes
nas edificaes, equipamentos, recursos e ajuda de profissionais especializados, para facilitar e
assegurar que crianas com necessidades educativas especiais sejam atendidas (BRASIL, 1998).
Segundo Karagiannis, Stainback e Stainback (1999), pessoas com deficincia necessitam
de instrues, de instrumentos, de tcnicas e de equipamentos especializados, que tenham, como
propsitos principais, facilitar e ajudar na aprendizagem de todos os alunos.
Entre as pessoas com deficincias, algumas com alteraes motoras decorrentes de
encefalopatias apresentam, associados ao quadro de seqelas, movimentos involuntrios. Esses
movimentos podem promover desconforto, alteraes posturais, interferir na movimentao
voluntria, limitar e at impedir as funes dos membros acometidos, e vir a prejudicar o
desempenho nas atividades escolares e de vida diria.
Para minimizar as dificuldades apresentadas por esses alunos e melhorar o seu
desempenho escolar, comum o professor ser orientado, por fisioterapeutas e terapeutas
ocupacionais, a utilizar pulseira de peso nos braos, com o objetivo de diminuir os movimentos
involuntrios.
Nesse contexto, o uso de peso um recurso que pode vir a auxiliar no desempenho das
potencialidades dos alunos que apresentam movimentos involuntrios.
Na prtica fisioteraputica, comum a utilizao de pulseiras ou braceletes de pesos
colocados nos membros, durante as atividades teraputicas. Essas pulseiras de pesos so
empregadas com objetivos tanto de fortalecimento muscular, quanto para auxiliar na execuo de
movimentos coordenados, para favorecer as funes de alimentao; para atingir alvos, como na
comunicao por meio de pranchas, e para auxiliar na escrita. No entanto, pesquisas que
associam movimentos involuntrios e uso de pulseiras de pesos para minimizar os movimentos
involuntrios so escassas.
Zerbinato, Makita e Zerloti (2003) relataram que adaptaes com pesos facilitariam a
coordenao mo-boca, na tentativa de diminuir movimentos involuntrios. Para isso, poderiam
ser utilizados braceletes com pesos variveis.
17
Damasceno e Galvo (2003) utilizaram a pulseira de pesos em alunos com paralisia
cerebral do tipo atetose, para reduzir a amplitude de movimento causado pela flutuao do tnus,
e observaram que o movimento se tornou mais rpido e eficiente, na digitao. Os autores ainda
relataram que os pesos poderiam ser acrescentados ou diminudos em funo do tamanho, peso e
fora do aluno.
Santos (1998) comentou sobre o uso de pesos de chumbo, na diminuio de movimentos
involuntrios.
Em Brasil (2002), constatou-se que recursos confeccionados com materiais leves no so
recomendados para alunos com paralisia cerebral do tipo atetide, os quais apresentam
movimentos involuntrios; para esses alunos, seriam indicados recursos mais pesados.
Apesar dos relatos anteriores, ainda permanecem dvidas em relao ao benefcio
funcional do uso de peso, em pessoas que tm movimentos involuntrios. Qual peso seria mais
adequado? Deveria ser colocado no membro, em regio proximal ou distal? Para qual tipo de
movimento involuntrio teria melhor resposta?
Motivos como a facilitao e contribuio para o desempenho funcional de uma atividade,
em alunos que apresentavam movimentos involuntrios, impulsionaram a realizao desta
pesquisa.
Assim, o presente trabalho visou a analisar se o uso de pulseira estabilizadora com peso
em membros superiores promovia a diminuio de movimentos involuntrios e se produzia
melhora funcional para o aluno, na realizao do movimento de apontar um alvo.
18
2 CONSIDERAES TERICAS
Primeiramente, importante conceituar adaptao, pois, ao propor algo que modifique
uma situao, pode-se produzir mudana em habilidades sensoriomotoras, cognitivas ou
psicossociais, e isso pode gerar respostas adaptativas e expectativas das demandas fsicas, sociais
e culturais, segundo a American Occupational Therapy Association (AOTA, 1993).
Santos (1998) definiu adaptao como:
Ato ou efeito de adaptar-se, ajustamento de um organismo particularmente do homem as condies do meio ambiente. Uso de utenslio, pea etc. para um fim diverso ao qual se destinava: reutilizao (SANTOS, 1998 p.72).
Para esse autor, adaptar significa pr em harmonia, acomodar, adequar; e adaptado
aquele que se amoldou, que se ajustou.
Teixeira, Ariga e Yassuda (2003) conceituaram adaptao como um ramo da tecnologia
assistiva que se define como modificao da tarefa, do mtodo e do meio ambiente, que possa
promover independncia e funo. O ato de adaptar promove uma nova situao de ajuste,
acomodao, adequao do indivduo; portanto, as condies sociais, culturais e econmicas
devem ser consideradas durante o processo de adaptao.
Ainda essas autoras relataram que as respostas adaptativas dependem de alguns fatores
como: satisfao, sucesso no desempenho ocupacional, negociaes positivas e negativas entre a
pessoa e o ambiente (TEIXEIRA; ARIGA; YASSUKO, 2003, p.131).
Para Trombly (1995), o processo de adaptao envolve alguns aspectos, como: 1) anlise
da tarefa com identificao das habilidades do indivduo versus o ambiente fsico; 2)
identificao do problema; 3) reconhecimento dos princpios de compensao; 4) proposta de
soluo; 5) conhecimento dos recursos alternativos para soluo do problema; 6) verificao
peridica da adaptao; 7) treinamento para o uso funcional da adaptao.
Lopes e Silva (2003), observaram que, historicamente, a importncia social do homem
sempre foi analisada mediante sua capacidade de produo, o que definia sua aceitabilidade ou
excluso. Concluram que as modificaes com adequaes dos fatores ambientais podem
promover igualdade de oportunidades para os deficientes, a fim de que estes possam se mostrar
produtivos e integrados com respeito as suas limitaes.
19
Santos (1998) enumerou as principais finalidades, ao realizar uma adaptao: a) ajustar o
indivduo atividade, com conseqente aumento de sua auto-estima e potencialidade; b) facilitar
a independncia; c) melhorar a coordenao manual; d) diminuir o gasto energtico e facilitar as
atividades de vida diria.
Diante dos conceitos mencionados sobre adaptaes, sero relatados a seguir conceitos e
finalidades dos recursos pedaggicos.
2.1 Recursos pedaggicos
Os recursos pedaggicos podem ser considerados como instrumentos de importncia
fundamental para o trabalho de ensino, utilizados constantemente por professores e educadores
(MANZINI, 1999).
Para elucidar um conceito sobre recursos, torna-se necessrio compreender que a
literatura especfica aborda diversas terminologias acerca da temtica, entre elas: recursos ou
materiais didticos; recursos ou materiais pedaggicos; recursos para aprendizagem; recursos
adaptados e recursos auxiliares para o ensino. Apesar das diversas nomenclaturas, os conceitos
apresentam grandes semelhanas no contexto, com variaes especficas de acordo com o meio
empregado e com o objetivo que se propem (REGANHAM, 2006).
Manzini (1999) entendeu recurso pedaggico como algo ou um estmulo concreto, que
possa ser manipulvel e ao qual deve ser atribuda uma finalidade pedaggica. Dessa forma, uma
brincadeira no seria um recurso, mas o brinquedo seria um recurso.
Cerqueira e Ferreira (2002) consideraram os materiais didticos como fundamentais para
educao de deficientes e definiram os recursos didticos como: recursos fsicos, utilizados com
maior ou menor freqncia em todas as disciplinas, reas de estudo ou atividades, diante de
qualquer tcnica ou mtodo empregado, que vise a auxiliar o educando a realizar sua
aprendizagem de forma mais eficiente. Ainda para esses autores, os recursos didticos constituem
num meio para facilitar, incentivar ou possibilitar o processo de ensino-aprendizagem.
Em relao a material didtico, Gonalves (1974) o descreveu como todos os objetos que
auxiliam o professor a desenvolver uma funo educativa.
20
Schmitz (1984) relatou que os recursos so excelentes meios de conseguir a atuao e o
interesse do aluno, porm estes no devem ser o objetivo principal da atividade: [...] recursos
auxiliares de ensino so meios que permitem mais fcil assimilao da mensagem [...].
Uma considerao especial e ampla, que demonstrou a amplitude do termo recurso, foi
realizada por Camats (2003, p.31), em que denominou como recursos de ao para habilitao
da comunicao e da vida diria ao conjunto de instrumentos que permitam pessoa com
deficincia incidir ou aproveitar melhor as possibilidades que o meio lhe oferece [...].
Os recursos adaptados devem atender s necessidades dos alunos, tanto para permitir o
acesso a uma atividade que o estudante no consegue realizar, quanto para melhorar o
desempenho funcional durante as atividades que este j realiza.
Para Arajo e Manzini, a educao do aluno que apresenta deficincia fsica inclui uma
variedade de materiais e procedimentos no utilizados rotineiramente no contexto do ensino
comum (ARAJO; MANZINI, 2001, p.1). Ainda para esses autores, a deficincia fsica est
diretamente relacionada com a caracterizao da limitao do desempenho motor, sendo
necessrio identificar o problema funcional e indicar os recursos que atendam s necessidades
dos alunos.
Os profissionais que atuam com alunos com deficincias trabalham na tentativa de
encontrar solues por meio de recursos que auxiliem o aprendizado. A dificuldade nesse
processo que cada necessidade nica, o que faz com que cada caso seja avaliado e estudado
individualmente.
Deliberato e Manzini (2004, p.8) sugeriram um caminho para descoberta dessas
necessidades individuais, e que demonstra o contedo terico necessrio para indicao e
contemplao de um recurso como experimento e a observao do seu uso. Tal caminho
compreende: entender a situao; gerar idias; escolher alternativa; representar a idia; construir
o objeto; avaliar o uso e acompanhar o uso.
Nesse sentido, o professor deve conhecer as potencialidades dos alunos e as suas
dificuldades para adequar um recurso que contemple e favorea seu desempenho. Por
conseguinte, fundamental que o professor tenha perfeito conhecimento da funo e da
finalidade a que se aplica o recurso.
Schimitz representou os recursos como meios indispensveis para o aprendizado e
salientou que sua principal funo :
21
Auxiliar o aluno a pensar, possibilitando o desenvolvimento de sua imaginao e de sua capacidade de estabelecer analogias. aproximar o aluno da realidade e auxili-lo a tirar dela o que contribui para a sua aprendizagem (SCHIMITZ, 1984, p.137).
Esse mesmo autor afirmou que o recurso no deve apenas ter por finalidade ilustrar uma
apresentao do professor, e sim ajudar o aluno a pensar e sentir uma realidade, estimular a
capacidade e desenvolvimento de sua atitude criativa.
Reily (2004) dividiu os recursos pedaggicos para o ensino do deficiente visual em duas
categorias: a primeira referencia como recurso imagem visual em duas dimenses e a imagem
em movimento, enfatizou que a imagem pode ser um veculo de primordial importncia para a
aprendizagem; a segunda referencia recursos em trs dimenses, como brinquedos, maquetes,
esculturas e outros objetos.
Ainda essa autora afirmou que o contato com os variados estmulos sensoriais representa
momentos importantes e memorveis, no percurso escolar, e os recursos so imprescindveis no
trabalho pedaggico.
Os recursos pedaggicos devem auxiliar, facilitar, promover e desenvolver as
capacidades, habilidades, sociabilidade e potencialmente explorar a funcionalidade inerente
particularidade de cada indivduo. Desse modo, o xito de uma atividade est relacionado a um
planejamento criterioso para a escolha do recurso.
Manzini (1999) afirmou que a seleo de recursos parte integrante do processo de
ensino, o qual composto por etapas diferentes e complementares: a) a avaliao; b) a
identificao dos objetivos a serem atingidos; c) a seleo e utilizao de recursos, tcnicas e
procedimentos para o ensino; d) a avaliao dos resultados obtidos com os procedimentos
adotados. Esse autor julgou necessrias duas caractersticas fundamentais para a construo do
design do recurso pedaggico: as caractersticas do aluno deficiente e o objetivo pretendido para
o ensino.
Ao utilizar um recurso material, necessrio um planejamento que tenha como objetivo a
adequada preparao do ambiente. Os recursos auxiliares de ensino, quando bem selecionados,
podero trazer melhor aproveitamento dos alunos, nas mais diversas atividades (SCHMITZ,
1984, p.139).
22
Cerqueira e Ferreira (2002) relataram que o professor dever considerar alguns critrios
para alcanar a desejada eficincia, na utilizao dos recursos didticos, entre eles: tamanho
adequado s condies do aluno; significado ttil para permitir distines; aceitao, no permitir
rejeio do aluno; facilidade no manuseio; estes devem, ainda, ser resistentes, oferecer segurana
e fidelidade.
Diante dos critrios acima mencionados, cabe ao professor uma avaliao especfica e
individual do aluno, para utilizar um recurso, devendo muitas vezes adapt-lo a uma determinada
caracterstica exclusiva do aluno, para obter melhor aproveitamento e eficincia da atividade
proposta.
A criatividade do professor e a constante observao do aluno e do meio so fundamentais
para a indicao do recurso auxiliar de ensino.
Para Arajo (1998), as modificaes nos procedimentos devem ocorrer a partir de
observaes do aluno e do meio, e a adaptao depender da relao entre a capacidade funcional
da pessoa e a demanda das atividades. Por isso, a qualidade dessas modificaes nos
procedimentos estar em conexo com a criatividade do professor e a constante observao, que
sero fundamentais para a indicao do recurso auxiliar de ensino.
Manzini (1999, p. 18) enfatizou que prprio do ser humano adaptar coisas ou adaptar-se
a elas, e que o [...] recurso deve ser adaptado por que sob a forma a qual ele est constitudo no
permite a sua utilizao para o aluno.
O mesmo autor referiu que os materiais possuem dimenses e qualidades, de sorte que a
adaptao ocorrer em funo da manipulao das qualidades e dimenses do material ou objeto
pedaggico.
Com relao ao ensino voltado para alunos deficientes, o professor poder encontrar
dificuldades nos materiais existentes, poder at mesmo ser surpreendido com a falta de materiais
para essa populao, quando ter que utilizar sua habilidade e criatividade para adaptar ou
confeccionar um recurso que atenda aos objetivos propostos.
Nesse sentido, o peso de pulseira, utilizado no brao de alunos com movimentos
involuntrios, tem por proposta, neste trabalho, ser considerado como um recurso auxiliar de
ensino, que poderia contribuir funcionalmente para facilitar o ato de apontar um alvo, ou uma
prancha de comunicao, para escrita, jogos, pinturas, entre outras atividades pedaggicas que
empreguem os movimentos dos membros superiores.
23
2.2 Encefalopatias
De acordo com o dicionrio de termos tcnicos de medicina e sade, elaborado por
Rey (1999 p.260), encefalopatia significa qualquer distrbio ou doena que afete o encfalo,
podendo ser devida a causas muito diversas (txicas, metablicas, degenerativas, isqumicas,
infecciosas, etc.).
Diante do conceito anteriormente mencionado, o termo encefalopatia pode ser entendido
como uma leso ou distrbio, que produz alterao da funo normal do encfalo e abrange uma
srie de patologias, como: sndromes progressivas, degenerativas, desmielinizantes, infeces,
traumas crnio-enceflicos, malformaes e alteraes vasculares.
Dentre as formas de encefalopatias, encontra-se um grupo no progressivo denominado
paralisia cerebral, cujo tema ser abordado de forma mais especfica, posteriormente, neste
estudo.
O crebro de um lactente est em constante desenvolvimento e rapidamente se organiza
para o estabelecimento de suas funes, principalmente durante a gestao e os primeiros anos de
vida. Esse conceito importante para que se compreenda melhor a paralisia cerebral
(RATLIFFE, 2002).
Para Schwartzman (2004), o termo paralisia cerebral encontra-se consagrado e seu uso
extenso e universal, mesmo que proporcione margem a interpretaes errneas, o que provocou
diversas tentativas de mudana terminolgica. Ainda segundo esse autor, os estudos com
paralisia cerebral datam desde a segunda metade do sculo passado.
Vrias definies de paralisia cerebral tm sido propostas, em seu contexto histrico. Na
verdade, o conceito se modificou ao longo do tempo, de maneira que algumas definies foram
aceitas e so citadas at hoje, como a proposta pelo Little Club:
Paralisia cerebral uma desordem do movimento e da postura, persistente, porm varivel, surgida nos primeiros anos de vida pela interferncia no desenvolvimento do sistema nervoso central, causado por um dano cerebral no progressivo (apud SCHWARTZMAN, 2004, p.5).
Essa definio, apesar de antiga, j trazia conceitos at hoje utilizados, como leso no
progressiva do encfalo com quadro de seqelas mutvel.
24
Hagberg, Hagberg e Olow (1975) associaram ao conceito condies hereditrias,
entenderam que a paralisia cerebral um prejuzo permanente da postura e do movimento
resultante de uma desordem do encfalo no progressiva. Tal desordem poderia ser produzida por
fatores tanto hereditrios quanto por eventos ocorridos durante a gravidez, no parto ou nos
primeiros dois anos de vida.
A paralisia cerebral foi definida por Piovesana (1998, p.9) como um grupo no
progressivo, mas freqentemente mutvel, de distrbio motor (tnus e postura), secundrio a
leso do crebro em desenvolvimento.
Para Bax (2000), a paralisia cerebral um distrbio da postura e do movimento, no
progressivo, mas no constante, que se inicia nos primeiros anos de vida.
Como relatou Ratliffe (2002), o crebro se encontra muito vulnervel s leses por
toxinas, infeces e traumas, principalmente nos primeiros estgios da vida, ou seja, em sua fase
de maior desenvolvimento organizacional. A mesma autora ainda destacou que se essa leso
ocorrer no perodo pr-natal, durante o parto ou nos primeiros anos de vida, com caractersticas
de leso permanente, no progressiva, que afete os movimentos e a postura, denominada de
paralisia cerebral.
Ashwal et al. (2004) conceituaram paralisia cerebral como uma desordem ou
anormalidade do controle do movimento e da postura, que aparece precocemente na vida,
secundria por leso ou disfuno do sistema nervoso central e no admitida como resultado de
uma doena progressiva ou degenerativa do crebro. A anormalidade do crebro pode ocorrer
pr, peri, ou ps-natal.
Schwartzman (2004, p.5) afirmou que, na paralisia cerebral, o prejuzo motor deve estar
sempre presente, mas ele no nico na maioria dos casos, e encontraremos numa proporo
bastante significativa de pacientes associao do defeito motor a prejuzos intelectuais,
sensitivos, auditivos, visuais e outros. Acrescentou que o quadro seria mutvel em funo de
fatores da maturao do sistema nervoso, do ambiente e circunstanciais.
Em julho de 2004, como salientou Souza, ocorreu um encontro em Bethesda, Maryland,
que reuniu as sociedades inglesa e americana de paralisia cerebral, para discutir a definio e a
classificao de paralisia cerebral, estiveram presentes alguns estudiosos como: Peter
Rosenbaum; Bernard Dan; Alan Leviton; Nigel Paneth; Bob Jacobsson; na oportunidade, Murray
Goldstain e Martin Bax fizeram uma nova proposta de definio:
25
Paralisia Cerebral (PC) descreve um grupo de desordens do movimento e da postura, causando limitaes de atividades, que so devidas a alteraes no progressivas que ocorreram no crebro fetal ou infantil. As desordens motoras da Paralisia Cerebral freqentemente esto acompanhadas por alteraes sensoriais, na cognio, comunicao, percepo, comportamento e/ou crises convulsivas (SOUZA, 2005, p. 51).
Ainda se chegou a um consenso, nesse encontro, de que infantil corresponde a um perodo
de dois a trs anos de idade.
Esta ltima definio foi abrangente e tornou claro o processo dinmico que envolveu a
evoluo dos conceitos a cerca do tema paralisia cerebral.
Ao observar o que h de comum, nas diversas definies estudadas, pode-se concluir que
o uso do termo paralisia cerebral estaria condicionado a alguns fatores, dentre os quais: a leso
do encfalo deve ser fixa e no progressiva; dever ocorrer no perodo pr-natal, durante o parto
ou nos primeiros anos de vida; apresenta manifestaes como desordens do movimento e da
postura, que podem estar associadas a outras alteraes; as seqelas esto sujeitas a modificaes
diante de fatores biolgicos, ambientais e circunstanciais.
Essa forma de encefalopatia no progressiva, permanente e mutvel, pode ocorrer por
diversas causas. Schwartzman (2004) relacionou os principais fatores etiolgicos de paralisia
cerebral, sendo os pr-natais: dois ou mais abortos; doenas maternas; sangramento durante a
gestao com criana a termo; pr-eclmpsia; baixo peso para idade gestacional; infartos de
placenta e gestao gemelar. Os fatores perinatais seriam: asfixia; hemorragias cerebrais; ablao
da placenta; hipxia; hiperbilirrubinemia e infeces do sistema nervoso.
Russman e Ashwal (2004) realizaram um estudo prospectivo com 111 indivduos,
compararam-no, com um estudo retrospectivo com 515 indivduos, todos com paralisia cerebral,
que apresentaram em comum os seguintes fatores etiolgicos:
Pr-natais: infeco intra-uterina; toxemia e interrupo placentria.
Perinatais: isquemia hipxica enceflica; hiperbilirrubinemia (Kernicterus) e trauma.
Ps-natal: infeco; trauma e hidrocefalia progressiva.
Neste momento, diante dos conceitos mencionados e das principais etiologias, torna-se
necessrio aprofundar os estudos da literatura, a fim de entender como se classifica um grupo to
heterogneo como as paralisias cerebrais.
26
Ao verificar, neste estudo, a importncia da distino dos quadros clnicos, principalmente
aqueles que apresentam movimentao involuntria, ser feita, a seguir, a descrio literria
sobre as principais classificaes adotadas na paralisia cerebral.
A classificao da paralisia cerebral no leva em considerao o fator etiolgico, ou
causa; normalmente, usa para caracterizar: a) o prejuzo motor com a sua distino topogrfica,
ou seja, as partes do corpo que esto acometidas pelos padres motores; b) a caracterstica do
tnus muscular, o que se traduz por apresentao clnica; c) o grau de severidade do quadro em
leve, moderado e grave.
A paralisia cerebral pode ser classificada, pelo tipo de tnus, em espstica, discintica e
atxica; o tipo espstico o mais encontrado, em torno de 75% (SOUZA, 1998).
Os discinticos representam 14% a 20% dos portadores de paralisia cerebral (GIANNI,
2003; SCHWARTZMAN, 2004; RUSSMAN; ASHWAL, 2004).
Schwartzman (2004) classificou a paralisia cerebral em dois grupos: espticos e
discinticos. Os espsticos possuem as caractersticas topogrficas de:
Diplegia, diparesia: os membros inferiores so mais acometidos em relao aos
membros superiores, que apresentam melhor desempenho motor e funcional; assim,
esses indivduos apresentam controle satisfatrio de cabea e tronco;
Quadriplegia, quadriparesia e/ou tetraparesia: com prejuzos motores equivalentes nos
quatro membros, no apresentam controle de cabea e tronco, possuem grandes
limitaes para as atividades da vida diria;
Hemiplegia, hemiparesia: acometimento de um dimdio corporal, ou seja, apenas um
lado do corpo apresenta acometimento motor; normalmente, os indivduos possuem
independncia nas atividades de vida diria;
Gianni (2003) relatou que os diplgicos tm maiores possibilidades de deambulao e
maior incidncia no nascimento pr-natal. Para evitar dificuldades na classificao, esta autora
recomendou que os termos menos utilizados, como dupla hemiparesia, triparesia e monoparesia,
deveriam ser evitados.
Os discinticos apresentam as formas hipercintica ou coreoatetide; distnica; atxica e
mista. Estas so as formas que sero mais bem definidas, no decorrer do texto, devido sua
relao direta com este estudo.
27
Em relao distribuio e intensidade do tnus, fator que contribui para a classificao,
Iwabe e Piovesana (2003) realizaram um estudo comparativo com doze crianas com paralisia
cerebral tetrapartica espstica, com leses corticais e subcorticais, e concluram que as leses
apresentam deficincias semelhantes na modulao do tnus, com distribuio simtrica e
homognea de hipertonia que predomina em membros inferiores.
A classificao da paralisia cerebral tambm pode estar relacionada com a severidade do
quadro funcional; dessa forma, pode ser dividida em trs nveis: leve, moderada e grave.
Russman e Gage (1989), estabeleceram as caractersticas para cada nvel:
Leve: anda independente; em geral, apresenta funo independente.
Moderada: engatinha ou anda com apoio; em geral, precisa de assistncia.
Grave: sem locomoo; sem funo; em geral, apresenta dependncia total.
Palisano et al. (1997) caracterizaram a gravidade do comprometimento neuromotor da
paralisia cerebral em leve, moderada e severa; porm, essa classificao era feita com relao
locomoo da criana.
Russel et al. (2002) desenvolveram um sistema de classificao da criana com paralisia
cerebral, conhecido como GMFM (mensurao da funo motora grossa), instrumento que avalia
o desempenho motor atravs de 88 itens para habilidades motoras, organizados por ordem de
complexidade. O resultado colocado em um sistema de abscissa, em que X representa o tempo
em meses e Y representa o percentual obtido na GMFM Assim, temos uma curva do
desempenho motor versus a idade de aquisio, que favorece para estabelecer prognstico de
marcha.
A classificao da GMFM pressupe nveis de habilidades funcionais, que so:
Nvel I: deambula sem restries; apresenta limitaes em atividades motoras mais
avanadas, como correr e pular.
Nvel II: deambula sem auxlio, com limitaes para marcha comunitria.
Nvel III: deambula com apoio, com limitaes fora de casa e na comunidade.
Nvel IV: mobilidade limitada; necessita de cadeira de rodas para locomoo fora de casa
e na comunidade.
Nvel V: mobilidade gravemente limitada, mesmo com o uso de tecnologia assistiva.
Paneth et al. (2005) realizaram uma nova proposta de classificao da paralisia cerebral, no
encontro em Bethesda, Maryland, em 2004, com quatro componentes distintos, que so:
28
1. Anormalidade motora: envolve tanto a natureza e o tipo da desordem motora como as
habilidades motoras funcionais;
2. Incapacidades associadas: problemas sensitivos, auditivos, visuais, comunicativos,
cognitivos;
3. Achados anatmicos e radiolgicos: distribuio anatmica no corpo (membros,
tronco, cabea), ocasionada por prejuzos motores ou limitaes e a contribuio dos
exames por imagem;
4. Causa e perodo de instalao da leso: h uma causa claramente identificada,
principalmente nos casos de paralisia cerebral ps-natal.
Com base no modelo de classificao proposto em Genebra, pela Organizao Mundial de
Sade (1999), esta enfermidade pode apresentar conseqncias variadas. A paralisia cerebral
sempre interfere no funcionamento do sistema msculo-esqueltico. Neste nvel, as
caractersticas associadas a essa seqela incluem distrbios de tnus muscular, postura e
movimentao voluntria.
De modo geral, as formas de classificao de paralisia cerebral definem as caractersticas
da apresentao clnica e estabelecem a relao dos locais do encfalo com principal
manifestao de leso, com associao de espsticos a territrios corticais; os discinticos, a
regies dos gnglios basais, ou, como referido por Gauzzi e Fonseca (2004), paralisia cerebral
extrapiramidal, e os atxicos, associados a territrios cerebelares.
Tais classificaes servem para caracterizao da leso, mas no fornecem informaes
das conseqncias que essa desordem produz nas atividades dirias dos indivduos com paralisia
cerebral.
Neste estudo, sero enfatizadas as encefalopatias com caractersticas clnicas discinticas,
pois esse tipo importante para esta pesquisa, devido presena de movimentos involuntrios,
definidos a seguir.
2.3 Movimentos involuntrios
Todos animais se movem de algum modo, mas os movimentos no so apenas aes dos
msculos: a motricidade envolve um conjunto neuromuscular complexo, chamado sistema
nervoso.
29
De acordo com o dicionrio de termos tcnicos de medicina e sade, o significado de
motricidade : funo desempenhada pelo sistema neuromuscular que assegura os movimentos
do corpo em geral, quer sejam eles voluntrios, involuntrios ou reflexos (REY, 1999, p.521).
Quando se pensa em movimentos realizados por seres humanos, comum relacionar os
movimentos voluntrios, com movimentos conscientes, e movimentos involuntrios, com
movimentos inconscientes, ou seja, realizados automaticamente como aes reflexas. Ambos os
movimentos dependem de funes executadas pelo sistema neuromuscular, que a seguir ser
definido.
Para Lent (2001), o funcionamento operacional do sistema motor compreende aes por
meio dos efetuadores, que realizam os movimentos; ordenadores, responsveis pelo comando dos
efetuadores; controladores, os quais promovem a execuo correta dos comandos motores; e os
planejadores, responsveis pelas seqncias de comandos que produzem movimentos voluntrios
complexos. Em sntese, o sistema motor depende de planejamento e programao.
As aes de planejamento e programao motora so realizadas por reas cerebrais do
crtex, com comando de impulsos motores para o tronco enceflico e a medula espinhal, como
demonstrado na Figura 1.
Os comandos motores modulam os reflexos e os movimentos mais grosseiros. Ainda no
encfalo, um outro comando de impulsos motores atua simultaneamente, para garantir a
eficincia dos movimentos; esse comando de controle realizado pelo cerebelo e gnglios da
base, cujo objetivo zelar para que os movimentos sejam iniciados e terminados em tempo certo
e com harmonia (GHEZ; KRAKAUER, 2003).
30
Figura 1- Sistema operacional do sistema motor crtico-muscular.
Crtex motor (ordenadores e planejadores)
Comando dos movimentos
Ncleos da base e cerebelo (controladores)
Eficincia e harmonia dos movimentos
tronco enceflico
medula espinhal
modulam os reflexos e movimentos grosseiros
msculos
(efetores)
ativam contrao muscular para ocorrer o movimento
31
Ghez e Krakauer (2003), ao discorrer sobre a organizao do movimento, afirmaram que
[...] a capacidade de organizar atos motores complexos e de executar movimentos finos com preciso depende dos sinais de controle, provenientes das reas motoras do crtex cerebral (GHEZ; KRAKAUER, 2003, p.669).
Para esses autores, duas outras partes do encfalo so responsveis pelo planejamento e a
execuo do movimento: o cerebelo e os gnglios da base. Estes fornecem circuitos que regulam
as reas motoras corticais e o tronco enceflico.
A partir dessa explicao, ser considerado movimento voluntrio o ato de deslocamento
no espao do tronco e membros, realizado com uma determinada finalidade, ou seja, programado,
planejado e este movimento deve ser harmnico. Consideram-se tambm aes inconscientes ou
movimentos automticos, aqueles promovidos por aes reflexas decorrentes de estmulos
sensoriais.
Movimento involuntrio ser, pois, um movimento que ocorre a despeito da vontade, sem
planejamento, so movimentos indesejados (LENT, 2001).
Para Ekman (2000), os distrbios dos gnglios da base interferem nos movimentos
voluntrios e automticos e produzem movimentos involuntrios.
Indivduos com encefalopatias, quando apresentam leses nos gnglios da base ou no
cerebelo, manifestam seqelas com desordem da harmonia dos movimentos, ou seqelas com
movimentos involuntrios. Segundo Fahn (1984) e Fahn et al. (1998), essa desordem de
movimento pode ser classificada em dois grandes grupos: as hipocinesias (acinesia; bradicinesia
e catatonia), que so movimentos involuntrios de baixa freqncia, e as hipercinesias
(discinesias; atetose; coria; balismo; distonia; mioclonia; tiques; tremor e estereotipias), que so
movimentos involuntrios de alta freqncia.
O presente estudo envolveu participantes com encefalopatias no progressivas, que
integram o grupo das hipercinesias. Dentre as hipercinesias, sero mais bem definidos os
indivduos discinticos com atetose, coria, creo-atetose, balismo e ataxia.
Gauzzi e Fonceca (2004) caracterizaram a paralisia cerebral discintica por movimentos e
posturas anormais, decorrentes de dificuldade de programao e execuo adequada dos
movimentos voluntrios, na coordenao dos movimentos automticos e na manuteno da
32
postura. Enfatizaram, ainda, que essa dificuldade advm da ativao involuntria e simultnea do
controle tnico da musculatura agonista e antagonista. Para esses autores, atetose so
movimentos involuntrios lentos, suaves, que envolvem mais a parte distal dos membros. Os
movimentos coricos so rpidos, de maior amplitude e envolvem mais a parte proximal dos
membros. O balismo se caracteriza por movimentos involuntrios abruptos, violentos, os quais
envolvem a parte proximal dos membros.
DeLong (2003) relacionou os distrbios de movimentos como resultado do desequilbrio
das vias diretas e indiretas dos gnglios da base. Segundo esse autor, os distrbios hipocinticos
so caracterizados pela dificuldade de iniciar os movimentos (acinesia) e pela reduo da
amplitude e velocidade de movimento voluntrio (bradicinesia). Os distrbios hipercinticos so
caracterizados pela atividade motora excessiva de movimentos involuntrios (discinesias) e pela
diminuio do tnus muscular (hipotonia).
As formas ou caractersticas de movimentos involuntrios que os distrbios hipercinticos
manifestam foram definidas por DeLong como
[...] atetose: movimentos distnicos de extremidades, lentos; coria: espasmos, movimentos aleatrios dos membros e de estruturas orofaciais; balismo: movimentos amplos e violentos dos membros; distonia: postura anormal e movimentos lentos associados contrao dos msculos agonistas e antagonistas (DELONG, 2003, p.861).
Ratliffe (2002) ressaltou que crianas com atetose tm tnus flutuante em todo o corpo e
tendem a ter movimentos involuntrios contorcidos, com movimentos de um extremo da
amplitude de movimento ao outro; acrescentou que movimentos involuntrios imprevisveis,
distais nos membros acompanhadas da atetose, compem um quadro de coreoatetose.
Uma outra definio de atetose foi proposta por Bax:
[...] movimentos involuntrios constantes, mesmo quando tenta permanecer imvel, e esses movimentos interferem com todos os que a criana tenta fazer, tais como caminhar ou utilizar as mos (BAX, 2000, p.9).
Esse autor tambm comentou que, em geral, todas as partes do corpo esto envolvidas nas
paralisias cerebrais atetide e atxica.
Shah e Albin (1999) conceituaram coria como movimentos irregulares, rpidos, com
arrancos involuntrios sem um padro rtmico, que distribudo fortuitamente como uma dana
que envolve mltiplas partes do corpo. Coria um termo grego que significa dana. Ainda esses
33
autores afirmaram que a atetose e o balismo compartilham fisiopatologicamente com a coria,
porque normalmente envolvem desordens dos ncleos subtalmicos e do estriado.
O movimento atxico normalmente est associado s leses cerebelares. Para Lent
(2001), ataxia corresponde a movimentos involuntrios incoordenados das diferentes partes do
corpo.
Gauzzi e Fonceca (2004) entenderam que os movimentos atxicos trazem prejuzos em
atividades que exigem coordenao: a marcha com base alargada e pode ser observado tremor
intencional.
Para Bax (2000), na ataxia no se observam movimentos, mesmo quando o individuo est
sentado e imvel, mas, ao realizar movimentos voluntrios, estes so desajeitados e inbeis.
Shah e Albin (1999) consideraram o balismo como uma forma extrema de coria,
incontrolvel, movimentos tpicos de arremessos com grande amplitude proximal, que ocorre
predominantemente de forma unilateral e em que a face no afetada. Est associado a leses nos
gnglios da base e no tlamo.
O balismo est sendo descrito por ser um movimento involuntrio tpico, porm, sua
presena e sua terminologia no so comumente descritas na paralisia cerebral, uma vez que sua
presena mais comum na leso vascular do paleostriado em indivduos adultos (DORETO,
1996).
Movimento distnico ou distonia caracteriza-se por movimentos que mostram um tnus
muscular muito varivel e que envolvem membros e postura (SCHWARTZMAN, 2004). Ainda
para esse autor, nas formas distnicas e coreoatetticas ocorrem alteraes do tnus, da postura e
movimentos, caractersticas de leso do sistema motor extrapiramidal.
Delisa (1991); Kottke, Stillwell e Lehmann (1997); Piovessana (1998); Bax (2000);
Gauzzi e Fonceca (2004), entre outros, relataram que movimentos atetticos, coricos, balsticos
e atxicos so movimentos involuntrios capazes de interferir na movimentao voluntria, que
dificultam ou at mesmo impedem atividades funcionais. Os movimentos involuntrios podem
ser inibidos com o relaxamento ou com o sono.
34
2.4 Tratamento dos movimentos involuntrios
Os indivduos com encefalopatias que apresentam movimentos involuntrios podem ser
submetidos a uma diversidade de tratamentos cirrgicos, farmacolgicos e teraputicos.
Os procedimentos cirrgicos, com os avanos constantes da medicina, tornam-se cada vez
mais especficos. Por no ser objetivo deste trabalho detalhar as formas e tcnicas cirrgicas ou
outros tratamentos, sero apresentados apenas alguns relatos.
Teive et al. (2005) observaram melhora significante de distnia com coria em um
paciente com paralisia cerebral, aps a utilizao de palidotomia bilateral. Esses autores, ainda,
relataram sobre a implantao de um estimulador eltrico por meio cirrgico no globo plido,
para conter movimentos distnicos.
Saiki, Tsuzuki e Tanaka (1999) investigaram os efeitos da reduo do tnus na atetose,
com a combinao de dois procedimentos: o bloqueio neural parcial com anestsico Lindocana,
e a cirurgia da liberao dos msculos proximais do pescoo. Os resultados demonstraram
melhora do movimento voluntrio e diminuio significante dos movimentos involuntrios, em
seis casos estudados.
Os tratamentos medicamentosos so usados em indivduos com movimentos
involuntrios, com o objetivo de diminuir tais movimentos. Apesar dos avanos da indstria
farmacolgica, as drogas podem produzir efeitos satisfatrios e efeitos malficos, de maneira que,
em alguns casos, podem ser desencadeadoras de outras patologias, como relatou Doreto (1996):
com o uso prolongado de medicamento a base de Aldol, no tratamento de coria, pode-se induzir
uma sndrome parkinsoniana.
Os tratamentos fisioteraputicos e teraputicos ocupacionais desenvolveram-se com base
em vrias tcnicas e teorias, a partir da dcada de 1940. Dentre estas, pode-se citar: facilitao
neuromuscular proprioceptiva; integrao sensorial e desenvolvimento neuromaturacional. Em
comum, nessas abordagens, possvel destacar a interveno precoce e a participao dos
familiares (RATLIFFE, 2002).
Para a autora citada anteriormente, o tratamento fisioteraputico, por influncia de tais
mtodos, tem focalizado o desenvolvimento da coordenao motora, dos estmulos sensoriais e
das habilidades funcionais.
35
Diante das caractersticas expostas, nas consideraes tericas, torna-se claro que a
pulseira estabilizadora com peso pode ser considerada um recurso auxiliar para o ensino, pois
essa pulseira, colocada no membro superior, pode ser um meio para facilitar, auxiliar e at
mesmo favorecer uma funo com finalidade pedaggica. O desenvolvimento deste trabalho
analisou a eficcia do uso de pesos em movimentos funcionais, realizados com o membro
superior funcional de indivduos com movimentos involuntrios.
36
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar o comportamento motor de
membros superiores, no movimento de apontar um alvo, com e sem o uso de peso, em indivduos
com seqelas de encefalopatias, os quais apresentavam movimentos involuntrios nos membros
superiores.
3.2 Objetivos especficos
Os objetivos especficos foram:
- Analisar comparativamente a cinemtica do movimento sem peso e com peso, em relao
velocidade e ao deslocamento.
- Analisar a ao e a intensidade de contrao da musculatura diante do movimento
solicitado, com e sem o uso de pesos.
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4 MTODO
Foi realizado um estudo biomecnico da funo de membros superiores, com e sem o uso
de pesos, em indivduos que apresentavam movimentos involuntrios, no ato de apontar um alvo.
O estudo exigiu cuidados metodolgicos tanto para seleo dos participantes, quanto para o uso
criterioso dos equipamentos.
4.1 Participantes
Participaram da pesquisa oito indivduos do gnero masculino e feminino. Em relao ao
nvel educacional, trs participantes cursavam o ensino fundamental em salas de ensino especial,
trs concluram o ensino mdio, um cursava nvel superior e um concluiu o nvel superior. Todos
os participantes eram encefalopatas, apresentavam movimentos involuntrios de membros
superiores e eram moradores da cidade de Marlia.
Os participantes do estudo foram avaliados por dois fisioterapeutas, para verificar se
possuam as caractersticas necessrias para incluso no estudo. Aps avaliao, os indivduos
foram classificados pela escala GMFM - Gross Motor Function Measure - (RUSSEL et al.,
2002).
Critrios utilizados para incluso dos participantes no estudo:
Ter diagnstico de encefalopatia;
Possuir movimentos involuntrios em membros superiores;
Conseguir apontar um alvo contra a ao da gravidade;
Conseguir manter-se na postura sentada;
Apresentar compreenso da tarefa solicitada;
Os pais ou responsveis terem assinado o termo de consentimento
esclarecido (Apndice A).
Critrios utilizados para excluso dos participantes no estudo:
No terem diagnstico de encefalopatia;
Ao motora no membro superior mais funcional, com fora inferior ao da
gravidade;
Baixa viso e cegos.
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Os participantes deste estudo foram identificados pela letra P, seguida dos numerais de
1 a 8. Quanto caracterstica, o diagnstico, a classificao do nvel de comprometimento
motor, tnus e topografia dos participantes, foram descritas no Quadro 1.
Diagnstico Clnico
Distribuio topogrfica/tnica
Membro mais funcional
Classificao GMFM
Idade
Gnero
P 1 TCE Quadriparesia/atxico Esquerdo Nvel V 24 fem
P 2 AVE Quadriparesia/atxico Direito Nvel IV 38 masc
P 3 PC Quadriparesia/atetide Direito Nvel I 25 fem
P 4 PC Quadriparesia/atetide Esquerdo Nvel I 29 masc
P 5 PC Quadriparesia/coreoatetide Esquerdo Nvel V 14 masc
P 6 TCE Quadriparesia/coreico Esquerdo Nvel V 24 masc
P 7 PC Quadriparesia/atetide Esquerdo Nvel V 25 masc
P 8 PC Quadriparesia/atetide Direito Nvel V 21 masc
Quadro 1 - Caractersticas, diagnstico e classificao do comprometimento motor/tnus e topografia, dos participantes do estudo.
4.2 Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada no laboratrio de anlise do movimento do Centro de Estudos da
Educao e da Sade, UNESP, Campus de Marlia (CEES).
4.3 Equipamentos e materiais
Filmadora JVC;
Fita de vdeo compatvel com filmadora;
Computador com placa de captura de vdeo;
Programa para anlise da imagem Kavideo;
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Balana calibradora;
Pedestal de suporte para filmadora;
Marcadores reflexivos;
Pesos para pulseira de chumbo;
Pulseira com velcro para fixar os pesos;
Mobilirio adaptado;
Eletromigrafo;
Eletrodos ativos auto-adesivos;
Programa para anlise eletromiogrfica Aqdados Lynx.
4.4 Procedimento para coleta de dados
Os procedimentos para coleta de dados foram realizados em quatro etapas:
1 etapa: o projeto foi exposto ao comit de tica da Faculdade de Filosofia e Cincias -
UNESP - Campus de Marlia, tendo sido aprovado segundo o parecer n 465/2005 (Anexo A).
2 etapa: os participantes foram selecionados, avaliados e solicitada a autorizao para
participao no estudo.
3 etapa: realizou-se um estudo-piloto, com uma criana sem alteraes neurolgicas, que
teve como objetivo determinar o espao e a posio dos equipamentos. O estudo-piloto serviu: 1)
para adequao da altura, da posio e da distncia da filmadora; 2) para definio da passagem
dos cabos e a fixao dos eletrodos do eletromigrafo, para que no interferissem nos
movimentos; 3) para a definio da escala de plos utilizadas. Ainda neste estudo, verificou-se
que a distncia entre os alvos fixos na mesa deveria estar diretamente relacionada com o alcance
do membro superior mais funcional de cada indivduo. A princpio, realizou-se uma coleta com
uma filmadora posicionada na vista lateral em relao ao movimento realizado, porm, durante a
anlise, verificou-se que o resultado no era adequado, uma vez que a anlise foi em duas
dimenses, ou seja, com apenas uma filmadora, alguns marcadores dos pontos anatmicos
articulares no eram visualizados durante todo o movimento. Por isso, optou-se por realizar a
filmagem dos movimentos com vista superior, que proporcionou a visualizao de todos os
pontos anatmicos e a diminuio de distores das imagens, em funo do tipo de anlise
utilizada.
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4 etapa: nesta etapa, foi realizada a coleta de dados referente aos registros
eletromiogrficos e cinemticos.
4.4.1 Registro eletromiogrfico
A eletromiografia, segundo Pinto (1998), o registro da atividade eltrica de um msculo
contraindo, ou seja, seu potencial de ao.
Para possibilitar o registro os eletrodos, estes foram colocados no ponto motor, local em
que o potencial de ao registrado mais forte. Para a identificao dos pontos motores, foram
adotados como referncia os pontos traados dermatologicamente por Guttman (1980).
Os msculos escolhidos pelo pesquisador foram os que apresentavam aes antagnicas e
sinrgicas, durante a execuo dos movimentos propostos, isto , para se atingir um alvo frente,
o principal movimento realizado era a extenso de cotovelo, com maior ao de msculo trceps
braquial. Para o movimento de retorno, apresentava-se a flexo do cotovelo, com maior ao do
msculo bceps braquial. Por sua vez, o msculo deltide, em ambos os movimentos, atuou como
um dos principais sinergistas, com a funo de manter o membro superior elevado contra ao da
gravidade e permitir a realizao harmnica dos movimentos de flexo e extenso do cotovelo
(KENDALL; McCREARY, 1995).
No ponto motor dos msculos trceps braquial, bceps braquial e deltide fibras mdias,
foram colocados os eletrodos para capturar os registros eletromiogrficos.
Os eletrodos eram de superfcie, ativos, amplificados, bipolares, com terminaes auto-
adesivas descartveis revestidas de cloreto de prata, conectados a um mdulo de aquisio de
sinais biolgicos da marca Lynx, com seis canais calibrados para ganhos de 10.000 Hz, acoplados
a um computador equipado com uma placa de converso analgica digital (A/D) do programa
chamado Aqdados.
Para aquisio e anlise dos dados, foi necessrio um software especfico denominado
Aqanalisis Lynx. Esse programa possibilitou a configurao grfica dos registros
eletromiogrficos, que, por canal, possua uma rea de 3000 amostras em 60 segundos dos
potenciais mioeltricos em valores root mean square (RMS), baseados no clculo da menor raiz
quadrada, em que um valor de intensidade de pulso filtrava as interferncias mximas e mnimas.
A placa A/D apresentou faixa de entrada de 5 volts, o que possibilitou fixar limites superiores e
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inferiores de +500 microvolts e 500 microvolts, com filtros para os sinais analgicos com banda
de 10 Hz 500 Hz.
Para tornar o ambiente o mais livre possvel de rudos e interferncias, utilizou-se um
filtro com 600Hz no hardware, que impediu a entrada de freqncias da rede eltrica no
laboratrio de eletromiografia.
A eletromiografia permitiu a anlise grfica e numrica da freqncia dos momentos de
contrao, durante a realizao do movimento.
Esse registro serviu para identificar qual fibra muscular foi requisitada, pois ocorria a
despolarizao do potencial de ao. Forneceu, tambm, informaes do tempo de intensidade da
atividade eltrica.
A tarefa solicitada foi realizada com trs repeties; como os dados fornecidos nos
registros eletromiogrficos possuam alta preciso, optou-se, para a anlise dos dados, pelos
valores obtidos no segundo momento de repetio. A primeira vez que o participante realizou a
tarefa serviu como treino e, possivelmente, variveis como ansiedade poderiam interferir no
desempenho; na terceira repetio, os participantes poderiam j apresentar cansao.
4.4.2 Anlise cinemtica
A anlise cinemtica envolveu a mensurao da performance dos movimentos em relao
ao deslocamento e velocidade. Essa anlise foi efetuada por meio de filmagem e estudo de
anlise de movimento computadorizado, em duas dimenses, consistentes em captura de
imagens, formatao dos frames e converso grfica.
Para capturar as imagens gravadas em uma fita de vdeo de um segmento em movimento,
no caso, o membro superior estudado, necessitou-se de um sistema de marcadores reflexivos,
colocados em pontos anatmicos sobre a superfcie corprea (Figura 2). Esses marcadores auto-
adesivos tornaram os pontos anatmicos distintos da superfcie da pele, bem visualizados, de
forma que, posteriormente, puderam ser facilmente identificados para digitalizao.
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Figura 2- Posio dos marcadores reflexivos auto-adesivos
Nesta pesquisa, foram considerados quatro pontos anatmicos: as proeminncias sseas
do acrmio; o epicndilo lateral da ulna; a cabea do rdio e a superfcie distal do terceiro
metacarpo, pontos que correspondiam aos principais eixos articulares do membro superior. Tais
pontos permitiram invariabilidade dos locais dos marcadores, pois so facilmente palpveis
(SILVA, 2003).
A captura das imagens para o computador foi feita por meio de placa de vdeo, que
possua uma entrada compatvel com a filmadora analgica utilizada. Aps ter sido conectada ao
computador, foi possvel enviar as imagens ao software do programa de anlise Kavideo, que
possua um campo de abertura de um novo projeto capaz de capturar as imagens e transform-las
em arquivos de AVI.
Aps a captura das imagens, foi empregado, para a anlise do movimento, o programa
Kavideo, disponibilizado no site: www.kavideo.sfsu.edu, para a formatao dos frames e
converso grfica. O software Kavideo foi especificamente projetado para anlise do movimento
humano. O software permitiu a captura das imagens em AVI e tornou possvel digitalizar o
movimento, a partir de uma escala de plos.
A escala de plos era uma distncia linear entre dois pontos previamente mensurados.
Esse valor era solicitado pelo programa de anlise de movimento Kavideo, para realizar um fator
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de converso das coordenadas ortogonais XY. A distncia linear compreendia a amplitude do
movimento realizado, ou seja, eram dois pontos fixos que correspondiam aos extremos mximos
do movimento executado, que por sua vez, equivalia ao alcance mximo que o movimento podia
atingir; essas medidas foram calculadas para cada indivduo (Tabela 1).
Escala de plo cm
Participante P 1 70
Participante P 2 72
Participante P 3 70
Participante P 4 73
Participante P 5 71
Participante P 6 69
Participante P7 68
Participante P 8 69
Tabela 1- Medida da escala de plos calculada para cada participante
As medidas da escala de plos eram solicitadas, posteriormente, em um campo do
programa e convertidas automaticamente, por meio de um fator que promoveu a leitura ortogonal
do movimento, num plano do espao dado em coordenadas absolutas XY, para cada frame, e
cada segundo contendo 60 frames. Por meio desse software, foi possvel realizar uma anlise
cinemtica da velocidade, alm de permitir uma anlise da configurao do deslocamento do
movimento no espao.
De acordo com a anlise realizada no programa Kavdeo, em que foram comparados os
momentos sem e com uso da pulseira estabilizadora de peso, na Figura 3 tambm podem ser
observados os marcadores auto-adesivos nos pontos articulares, as marcas na mesa com fita
adesiva para mensurao da escala de plos, em amarelo o ponto inicial, frente o alvo central,
em azul o alvo deslocado, a configurao ou o desenho da trajetria com peso e sem peso e os
grficos de velocidade e acelerao.
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Figura 3 Anlise Kavdeo, comparao com e sem peso
Para a coleta de dados, foi realizada previamente a preparao dos participantes.
Inicialmente, foi feita assepsia nos locais de fixao dos eletrodos do eletromigrafo, com o
objetivo de eliminar suor e outros resduos, que poderiam produzir interferncias nos registros da
coleta eletromiogrfica.
Aps a assepsia, os participantes foram orientados quanto tarefa a ser executada. Em
seguida, era realizada a correo do posicionamento corporal e iniciada a atividade, depois de trs
minutos, tempo necessrio para a acomodao postural (BRACCIALLI, 2000).
Os participantes foram filmados por uma cmera JVC de 28X, para fita de 8mm VHS,
fixada a um pedestal com ajuste de altura que possibilitou filmar de um plano superior, ou seja,
com foco de cima da para baixo (Figura 4). A altura da filmadora foi estabelecida
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individualmente para cada participante, com pequenas variaes, que permitiram melhor ajuste
do foco.
Figura 4 Posio da filmadora com vista superior, pedestal de suporte e mesa em semicrculo
Os participantes foram posicionados individualmente, na postura sentada,
confortavelmente, em cadeira adaptada que possibilitava regulagem. Permaneciam sentados, com
os ps apoiados no cho, joelhos em flexo de 90, o quadril em flexo de 90 e posio neutra de
abduo, aduo e rotao de quadril.
Em relao ao membro superior que no foi utilizado na execuo da tarefa, para melhor
posicionamento postural, foi orientado mant-lo apoiado sobre a mesa. Em situaes nas quais
no existia controle adequado do participante, para mant-lo sobre a mesa, foi feito um apoio por
terceiros, durante a execuo da tarefa. Dessa forma, o membro no interferiu no
desenvolvimento da atividade realizada com o membro mais funcional, para atingir os alvos
propostos.
frente do participante, colocou-se uma mesa adaptada, com recorte em semicrculo que
tinha ajuste de altura.
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Nessa mesa, foram demarcados trs alvos distintos, posicionados para destros e sinistros
(Figura 5). O primeiro alvo foi demarcado paralelamente ao eixo esternal anterior, chamado de
ponto inicial, a 15cm do tronco, pois essa distncia mantinha a articulao do cotovelo em flexo.
O segundo alvo, chamado de ponto central, foi demarcado paralelamente ao eixo esternal
anterior, colocado distncia do alcance mximo transverso de cada participante. O ltimo alvo,
chamado de deslocado esquerda, para o destro, e direita, para o sinistro, foi colocado
distncia do alcance mximo transverso de cada participante. O alcance mximo transverso , de
acordo com Nowak (1996) e Jarosz (1996), uma forma de mensurao antropomtrica que
consiste em determinar um eixo hipottico do membro superior centrado na articulao do ombro
e, a partir desse ponto, desenha-se um raio que igual ao comprimento do membro superior;
assim, foi determinado o espao necessrio para o trabalho.
Figura 5 - Posicionamento dos alvos demarcados na mesa para executar o movimento
Antes de iniciar o movimento, cada participante foi orientado a colocar a mo no ponto de
partida ou inicial e, posteriormente, realizar os movimentos:
A) ida ao ponto central e retorno ao ponto inicial.
B) ida ao ponto deslocado direita ou esquerda e retorno ao ponto inicial.
O ponto inicial, ou de partida, foi identificado com uma marca, um crculo de cartolina da
cor amarela, colado a um retngulo de cartolina azul, que se destacou em relao cor marrom da
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superfcie de fundo da mesa. O ponto central e o ponto deslocado esquerda ou direita foram
identificados com smbolos que tinham algum significado para os participantes, como, por
exemplo, emblemas de clubes de futebol ou ilustraes, para torn-los mais atrativos.
Os movimentos executados foram realizados sem o uso de pesos e com o uso de pesos.
Os pesos utilizados foram calculados individualmente, por meio do clculo de resistncia
mxima (RM) prescrita por Mcardle et al. (1992).
O clculo da RM partiu do emprego de um peso com o qual o indivduo conseguisse
realizar o movimento em amplitude total, por dez repeties; gradualmente, aumentou-se o peso
at que se estabeleceu o peso de resistncia mxima.
Para Leite (2000), as atividades de fortalecimento muscular em indivduos saudveis
deveriam iniciar-se com resistncia submxima, que equivale a 70% da carga mxima.
A fim de evitar fadiga muscular dos indivduos com encefalopatias, foi estabelecido o
clculo da resistncia RM, e os movimentos orientados foram realizados em sries com 50% da
carga mxima. Mendoza et al. (2003), aps estudar um grupo de meninos com paralisia cerebral,
concluram que os treinamentos de fora e de potncia deveriam ser entre 50% e 60% da carga
mxima.
A Tabela 2 tra