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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE MARÍLIA Faculdade de Filosofia e Ciências MAURO AUDI ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA ESTABILIZADORA Marília 2006

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

    CAMPUS DE MARLIA

    Faculdade de Filosofia e Cincias

    MAURO AUDI

    ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO

    SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA

    ESTABILIZADORA

    Marlia

    2006

  • MAURO AUDI

    ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO

    SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA

    ESTABILIZADORA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Educao, como parte dos

    requisitos para obteno do ttulo de Mestre em

    Educao. F.F.C. Unesp Campus de Marlia.

    rea de concentrao: Ensino na Educao Brasileira

    Linha de pesquisa: Educao Especial no Brasil

    Orientadora: Dra. Lgia Maria Presumido Braccialli

    Marlia

    2006

  • Audi, Mauro A911e Estudo comparativo do comportamento motor de membro

    superior em encefalopatas que fazem uso de pulseira estabilizadora / Mauro Audi. Marlia, 2006.

    112 f. ; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Educao) Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, 2006.

    Orientadora: Prof Dr Lgia Maria Presumido Bracialli Bibliografia: f. 100-105

    1. Paralisia cerebral. 2. Deficientes. 3. Educao especial. 4. Movimentos involuntrios. I. Autor. II. Ttulo.

    CDD: 618.92

  • MAURO AUDI

    ESTUDO COMPARATIVO DO COMPORTAMENTO MOTOR DE MEMBRO

    SUPERIOR EM ENCEFALOPATAS QUE FAZEM USO DE PULSEIRA

    ESTABILIZADORA

    O presente trabalho teve como objetivo geral analisar o comportamento motor de

    membros superiores, no movimento de apontar um alvo, com e sem o uso de peso, em

    indivduos com encefalopatias, que apresentavam movimentos involuntrios nos membros

    superiores.

    _________________________________ ______________________________ Dr. Mrio Antonio Barana Dra. Rita de Cssia Tibrio Arajo

    __________________________________ Dra. Lgia Maria Presumido braccialli

    Data da aprovao: ___/___/___

  • Dedicatria

    Ao meu pai, Rahef Audi, que de alguma forma eu

    sei que ele sempre estar vibrando e contente com as

    conquistas de seus filhos.

    A minha me, Zenaide B. Audi, que sempre est

    rezando por mim.

    Aos meus amores, que torcem por meu sucesso:

    Elosa M.M.Audi, Dbora Audi e Guilherme Audi.

  • Agradecimentos

    Profa. Dra. Lgia Maria Presumido Braccialli, por ter idealizado esta pesquisa e acreditado

    em meu potencial para realiz-la, por ter-me orientado com sabedoria, contribuindo para meu

    aprendizado, por saber o valor desta conquista em minha vida e por compreender as dificuldades que este

    trabalho proporcionou.

    A uma fora invisvel, inexplicvel, mas sempre presente, que, nos momentos difceis, me

    direciona para um caminho correto.

    minha querida me, que ama e ajuda seus filhos, cuida com tanta dedicao dos netos com uma

    fora admirvel, que nos d tranqilidade e tempo para realizarmos nossos trabalhos.

    A minha querida mulher, Elosa M.M. Audi, e meus filhos, Dbora e Guilherme, simplesmente

    pela existncia eterna de vocs em minha vida, ou seja, por tudo. Qualquer frase se torna pequena diante

    da gratido que tenho por vocs.

    Aos meus queridos sobrinhos, Naira Audi e Gustavo Audi, que permaneceram horas sentados,

    para realizao do estudo-piloto.

    A minha cunhada, urea M. Miranda, pelo emprstimo de equipamentos e apoio nos dilogos.

    A meus irmos e cunhados, Mrcia S. Audi, Rubens Audi, Maria Luiza B. Audi e Carlos

    Danelutti, que sempre me incentivaram neste caminho.

    Aos integrantes do grupo de pesquisa Deficincias Fsicas e Sensoriais, pelas contribuies nesta

    pesquisa, desde quando era apenas um projeto.

    Aos participantes desta pesquisa e seus pais, que voluntariamente contriburam para que ela

    pudesse se desenvolver.

    Aos Prof. Dr. Eduardo Jos Manzini e Profa. Dra. Dbora Deliberato, por estarem sempre

    dispostos a auxiliar no desenvolvimento da pesquisa e no aprendizado do aluno.

    Aos Prof. Dr. Mario Antonio Barana e Profa. Dra. Rita de Cssia Tibrio Arajo, pelas

    valiosas contribuies no exame de qualificao.

    A Eiji Hayashi, pela contribuio na rea de informtica.

    Ao Prof. Dr. Sebastio Marcos R. Carvalho, pela ajuda na anlise estatstica.

    CAPES, MEC, SEESP e PROESP, pelo apoio na compra dos equipamentos para realizao

    desta pesquisa.

  • RESUMO

    Alguns indivduos com encefalopatias podem apresentar movimentos involuntrios

    associados ao quadro de seqelas. Esses movimentos podem provocar limitaes funcionais

    e vir a prejudicar o desempenho nas atividades escolares e da vida diria. O uso de pulseira

    estabilizadora com pesos um recurso que pode minimizar os movimentos involuntrios e

    auxiliar no desempenho desses indivduos. O presente trabalho teve como objetivo geral

    analisar o comportamento motor de membro superior, no ato de apontar um alvo, por meio

    do uso de peso, em indivduos com seqelas de encefalopatias, os quais apresentavam

    movimentos involuntrios nos membros superiores. Participaram da pesquisa 8 indivduos,

    com seqelas de encefalopatias, que apresentavam movimentos involuntrios em membros

    superiores, do gnero masculino e feminino. A pesquisa foi realizada no laboratrio de

    anlise de movimento do Centro de Estudos da Educao e da Sade, Unesp, Campus de

    Marlia (CEES). A coleta de dados foi feita por meio de estudo cinemtico e

    eletromiogrfico da performance do movimento de membros superiores, no ato de apontar

    um alvo, com e sem o uso de peso. Foi realizada uma anlise quantitativa dos dados obtidos

    nos registros cinemticos, em relao ao deslocamento escalar, velocidade mdia escalar e

    nos registros eletromiogrficos, em relao intensidade de contrao muscular, nos

    momentos sem o uso de peso contra a ao da gravidade e com o uso de peso. Para cada

    movimento, foram comparados: a velocidade escalar, o deslocamento escalar, o momento

    de contrao muscular, por meio de anlise de disperso de dados pareados. Os resultados

    demonstraram respostas mais adequadas de intensidades de contraes musculares e de

    menor deslocamento escalar, com uso de pulseira de pesos. Pode-se concluir que o uso de

    pulseira com peso favoreceu a realizao de um movimento mais adequado e funcional,

    durante o ato de apontar um alvo.

    Palavras-chaves: paralisia cerebral; deficiente; educao especial; movimento involuntrio

  • ABSTRACT

    Some individual with encephalopathy can present involuntary movements associated with

    features of sequel. These movements can arose functional restrictions and come to

    prejudice the performance at school and daily activities. The use of stabilized bangle with

    weight is a resource that can minimize the involuntary movements and relieve this

    individual performance. The present work had as general objective to analyze the upper

    limbs motor behavior during the act of aim a target through the use of weight on individual

    with encephalopathy sequel that presented involuntary movements on upper limbs. Eight

    individual with encephalopathy sequel participated in this research which presented

    involuntary movements in upper limbs of male and female gender. The research was

    accomplished in the laboratory of analyzes of movements at Centro de Estudos da

    Educao e da Sade, Unesp, Campus from the city of Marlia ( CEES ).The collection of

    data was accomplished thought the kinematics and electromyographic studies performs of

    upper limbs in the act of aim a target with and without the use of weight. It was

    accomplished a quantitative analyses of data obtained to kinematics register related to the

    dislocation scale, medium scalar velocity in the register of electromyographic related to

    intensity of muscular contraction during the movements without the use of weight against

    the gravicity action and also with the use of weight. For each movement was compared: the

    scalar velocity, scalar dislocation, the movement of muscular contraction through the

    analyze of electromyographic. The results demonstrated adequate answers to the intensity

    of muscular contractions and less scalar dislocation with the use of weight. Concluding that

    the use of bangle with weight exalted the accomplishment of functional and adequate

    movement during the act of aim a target.

    Key-words: Cerebral palsy; deficient; Special Education; Dyskinesias

  • LISTA DE ILUSTRAES

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Sistema operacional do sistema motor crtico-muscular .....................................30

    Figura 2- Posio dos marcadores reflexivos auto-adesivos................................................42

    Figura 3- Anlise Kavdeo, comparao com e sem peso....................................................44

    Figura 4- Posio da filmadora com vista superior, pedestal de suporte e mesa em

    semicrculo............................................................................................................................45

    Figura 5- Posicionamento dos alvos demarcados na mesa para executar o

    movimento.............................................................................................................................46

    Figura 6 Pulseira estabilizadora com peso de chumbo e velcro.........................................48

    Figura 7 Anlise grfica dos registros eletromiogrficos, em valores RMS, dos msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide...........................................................................49

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltides, durante o movimento de ida do alvo central

    sem o uso de pesos................................................................................................................53

    Grfico 2 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida ao alvo central com

    o uso de pesos........................................................................................................................55

    Grfico 3 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno do alvo central

    sem o uso de peso..................................................................................................................57

    Grfico 4 - Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno do alvo central

    com o uso de pesos................................................................................................................59

    Grfico 5 - Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida a um alvo

    deslocado sem o uso de pesos...............................................................................................61

  • Grfico 6- Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltides, durante o movimento de ida a um alvo

    deslocado com o uso de peso................................................................................................63

    Grfico 7- Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de ida a um alvo

    deslocado sem o uso de peso.................................................................................................65

    Grfico 8 Resultados da eletromiografia (RMS) dos 8 participantes para os msculos

    bceps braquial, trceps braquial e deltide, durante o movimento de retorno de um alvo

    deslocado sem o uso de peso.................................................................................................67

    Grfico 9 - Freqncia relativa dos movimentos adequados, inadequados e indiferentes,

    sem e com uso de peso..........................................................................................................68

    Grfico 10 - Comparao dos deslocamentos escalares, durante o movimento de ida a um

    alvo central com e sem uso de peso......................................................................................70

    Grfico 11 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um

    alvo central com e sem uso de peso......................................................................................72

    Grfico 12 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de ida a um alvo

    deslocado com e sem uso de peso.........................................................................................74

    Grfico 13 - Comparao dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um

    alvo deslocado com e sem uso de peso.................................................................................76

    Grfico 14 - Anlise comparativa da freqncia relativa do menor deslocamento escalar,

    durante o movimento de ida e retorno a um alvo central e deslocado, com e sem uso de

    peso, realizado pelos oito participantes.................................................................................77

    Grfico 15 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento

    de ida a um alvo central com e sem uso de peso...................................................................78

    Grfico 16 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento

    de retorno de um alvo central................................................................................................80

    Grfico 17 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento

    de ida a um alvo deslocado...................................................................................................81

    Grfico 18 Anlise cinemtica da velocidade mdia escalar (Vm), durante o movimento

    de retorno de um alvo deslocado...........................................................................................83

  • Grfico 19 - Anlise comparativa da freqncia relativa da maior velocidade mdia escalar,

    durante o movimento de ida e retorno a um alvo central e deslocado, com e sem uso de

    peso, realizado pelos oito participantes.................................................................................84

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1- Caractersticas, diagnstico e classificao do comprometimento motor/tnus e

    topografia, dos participantes do estudo.................................................................................38

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Medida da escala de plos calculada para cada participante................................43

    Tabela 2 - Medidas das principais distncias e peso utilizado na tarefa...............................47

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AVE..................................Acidente Vascular Enceflico

    AVI...................................Archive Video Image

    EMG..................................Eletromiografia

    GMFM..........................Gross Motor Fuction Measure

    P.........................................Participante

    PC......................................Paralisia Cerebral

    RM.....................................Resistncia Mxima

    RMS...................................Root Mean Square

    S.........................................Deslocamento Escalar

    TCE....................................Trauma Crnio-enceflico

    VM.....................................Velocidade Mdia Escalar

  • SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................................15

    2 CONSIDERAES TERICAS...................................................................................18

    2.1 Recursos pedaggicos....................................................................................................19

    2.2 Encefalopatias................................................................................................................23

    2.3 Movimentos involuntrios............................................................................................28

    2.4 Tratamento dos movimentos involuntrios................................................................34

    3 OBJETIVO.......................................................................................................................36

    3.1 Objetivo geral................................................................................................................36

    3.2 Objetivos especficos.....................................................................................................36

    4 MTODO..........................................................................................................................37

    4.1 Participantes.................................................................................................................37

    4.2 Local de pesquisa..........................................................................................................38

    4.3 Equipamentos e materiais............................................................................................38

    4.4 Procedimentos para coletas de dados..........................................................................39

    4.4.1 Registro eletromiogrfico..........................................................................................40

    4.4.2 Anlise cinemtica......................................................................................................41

    4.5 Procedimentos para anlise dos dados........................................................................49

    5 RESULTADOS ................................................................................................................51

    5.1 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central sem

    o uso de peso........................................................................................................................51

    5.2 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central

    com o uso de peso................................................................................................................53

    5.3 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo

    central sem o uso de peso....................................................................................................55

    5.4 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo

    central com o uso de peso...................................................................................................57

    5.5 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado

    sem o uso de peso................................................................................................................59

  • 5.6 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado

    com o uso de peso................................................................................................................61

    5.7 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo

    deslocado sem o uso de peso...............................................................................................63

    5.8 Resultados da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo

    deslocado com o uso de peso...............................................................................................65

    5.9 Resultados dos deslocamentos escalares, durante o movimento de ida a um alvo

    central com e sem o uso de peso.........................................................................................69

    5.10 Resultados dos deslocamentos escalares, durante o movimento de retorno de um

    alvo central com e sem o uso de peso.................................................................................70

    5.11 Resultados dos deslocamentos escalares para o movimento de ida a um alvo

    deslocado com e sem o uso de peso....................................................................................72

    5.12 Resultados dos deslocamentos escalares para o movimento de retorno de um alvo

    deslocado com e sem o uso de peso....................................................................................74

    5.13 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do

    movimento de ida a um alvo central com e sem o uso de peso........................................77

    5.14 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do

    movimento de retorno de um alvo central com e sem o uso de peso..............................79

    5.15 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, do

    movimento de ida a um alvo deslocado com e sem o uso de peso...................................80

    5.16 Resultados das velocidades mdias escalares, na anlise cinemtica, durante o

    movimento de retorno de um alvo deslocado com e sem o uso de peso..........................82

    6 DISCUSSO.....................................................................................................................85

    6.1 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo central sem

    e com uso de pulseira estabilizadora de peso....................................................................85

    6.2 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo central

    sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................88

    6.3 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de ida a um alvo deslocado

    sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................89

  • 6.4 Discusso da anlise eletromiogrfica do movimento de retorno de um alvo

    deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso..........................................91

    6.5 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de ida

    a um alvo central sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.............................92

    6.6 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de

    retorno de um alvo central sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso..............93

    6.7 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de ida

    a um alvo deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.........................94

    6.8 Discusso da anlise cinemtica em relao ao deslocamento do movimento de

    retorno de um alvo deslocado sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso.........94

    6.9 Discusso da anlise cinemtica em relao velocidade mdia dos movimentos

    sem e com uso de pulseira estabilizadora de peso............................................................96

    7 CONCLUSO.................................................................................................................97

    8 CONSIDERAES FINAIS.........................................................................................98

    9 REFERNCIAS............................................................................................................100

    GLOSSRIO.....................................................................................................................106

    APNDICES

    APNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido....................................107

    ANEXOS ANEXO A: Parecer Comit de tica e Pesquisa da Faculdade de Filosofia e

    Cincias..............................................................................................................................110

  • 15

    INTRODUO

    Atualmente, no que se refere incluso de alunos com deficincias na rede de ensino

    regular, objetiva-se o alcance da integrao, socializao e facilitao do processo de ensino

    aprendizagem, que tragam benefcios para: a) todos alunos, que tm a oportunidade de apreender

    uns com os outros, conseqentemente desenvolvem novas habilidades, que os preparam para

    uma vida em comunidade que respeite a diferena entre os semelhantes; b) para os educadores,

    que podem encontrar oportunidade para desenvolvimento de suas habilidades profissionais, de

    acordo com a administrao da escola, a qual poder oferecer oportunidades de aumento da

    participao e coleguismo em momentos de troca; c) para a sociedade, principalmente porque, no

    ensino inclusivo, h uma valorizao social que integra as caractersticas da diversidade humana.

    Esses so princpios da incluso educacional, segundo Karagiannis, Stainback e Stainback

    (1999).

    Esses autores relataram tambm que, com o ensino inclusivo, ampliaram-se as

    oportunidades de vida futura para as pessoas com deficincia, pois a interao com outros alunos

    e professores favoreceu a aquisio de habilidades acadmicas, sociais e de vida diria.

    Tal interao entre pessoas com e sem deficincia se configurou como a base da incluso

    (OMOTE, 2003) e contribuiu para a construo de uma sociedade inclusiva, em que h a

    valorizao da vida de pessoas com deficincias.

    No Brasil, embora esteja regulamentado na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 1996) que

    alunos com deficincias devam ser educados, preferencialmente, na rede regular de ensino, o

    processo de incluso educacional ocorre de maneira lenta; muitas vezes, o que acontece a

    insero do aluno com deficincia em salas de ensino regular.

    Baleotti (2001), Vitta, Silva e Moraes (2004) verificaram que o processo de incluso

    dificultado pela falta de suporte para os profissionais que lidam com alunos deficientes, entre

    esses se incluem: ausncia de cursos de educao continuada; auxlio de especialistas da rea de

    educao especial; falta de materiais e recursos apropriados; falta de recursos tecnolgicos e

    adaptaes no meio fsico.

    Entre os alunos deficientes, existem os que possuem alteraes motoras, matriculados em

    salas de educao especial ou inseridos em salas de ensino regular, que, alm das dificuldades

  • 16

    prprias da deficincia, convivem com a necessidade de superao de outros problemas, como:

    adaptaes que facilitariam a acessibilidade, mobilirios adequados, carncia de recursos

    pedaggicos e materiais que facilitariam o aprendizado.

    O Ministrio da Educao, ciente das dificuldades apresentadas por essa clientela, na

    proposta do Plano Nacional de Educao, expressou em alguns itens a importncia de adaptaes

    nas edificaes, equipamentos, recursos e ajuda de profissionais especializados, para facilitar e

    assegurar que crianas com necessidades educativas especiais sejam atendidas (BRASIL, 1998).

    Segundo Karagiannis, Stainback e Stainback (1999), pessoas com deficincia necessitam

    de instrues, de instrumentos, de tcnicas e de equipamentos especializados, que tenham, como

    propsitos principais, facilitar e ajudar na aprendizagem de todos os alunos.

    Entre as pessoas com deficincias, algumas com alteraes motoras decorrentes de

    encefalopatias apresentam, associados ao quadro de seqelas, movimentos involuntrios. Esses

    movimentos podem promover desconforto, alteraes posturais, interferir na movimentao

    voluntria, limitar e at impedir as funes dos membros acometidos, e vir a prejudicar o

    desempenho nas atividades escolares e de vida diria.

    Para minimizar as dificuldades apresentadas por esses alunos e melhorar o seu

    desempenho escolar, comum o professor ser orientado, por fisioterapeutas e terapeutas

    ocupacionais, a utilizar pulseira de peso nos braos, com o objetivo de diminuir os movimentos

    involuntrios.

    Nesse contexto, o uso de peso um recurso que pode vir a auxiliar no desempenho das

    potencialidades dos alunos que apresentam movimentos involuntrios.

    Na prtica fisioteraputica, comum a utilizao de pulseiras ou braceletes de pesos

    colocados nos membros, durante as atividades teraputicas. Essas pulseiras de pesos so

    empregadas com objetivos tanto de fortalecimento muscular, quanto para auxiliar na execuo de

    movimentos coordenados, para favorecer as funes de alimentao; para atingir alvos, como na

    comunicao por meio de pranchas, e para auxiliar na escrita. No entanto, pesquisas que

    associam movimentos involuntrios e uso de pulseiras de pesos para minimizar os movimentos

    involuntrios so escassas.

    Zerbinato, Makita e Zerloti (2003) relataram que adaptaes com pesos facilitariam a

    coordenao mo-boca, na tentativa de diminuir movimentos involuntrios. Para isso, poderiam

    ser utilizados braceletes com pesos variveis.

  • 17

    Damasceno e Galvo (2003) utilizaram a pulseira de pesos em alunos com paralisia

    cerebral do tipo atetose, para reduzir a amplitude de movimento causado pela flutuao do tnus,

    e observaram que o movimento se tornou mais rpido e eficiente, na digitao. Os autores ainda

    relataram que os pesos poderiam ser acrescentados ou diminudos em funo do tamanho, peso e

    fora do aluno.

    Santos (1998) comentou sobre o uso de pesos de chumbo, na diminuio de movimentos

    involuntrios.

    Em Brasil (2002), constatou-se que recursos confeccionados com materiais leves no so

    recomendados para alunos com paralisia cerebral do tipo atetide, os quais apresentam

    movimentos involuntrios; para esses alunos, seriam indicados recursos mais pesados.

    Apesar dos relatos anteriores, ainda permanecem dvidas em relao ao benefcio

    funcional do uso de peso, em pessoas que tm movimentos involuntrios. Qual peso seria mais

    adequado? Deveria ser colocado no membro, em regio proximal ou distal? Para qual tipo de

    movimento involuntrio teria melhor resposta?

    Motivos como a facilitao e contribuio para o desempenho funcional de uma atividade,

    em alunos que apresentavam movimentos involuntrios, impulsionaram a realizao desta

    pesquisa.

    Assim, o presente trabalho visou a analisar se o uso de pulseira estabilizadora com peso

    em membros superiores promovia a diminuio de movimentos involuntrios e se produzia

    melhora funcional para o aluno, na realizao do movimento de apontar um alvo.

  • 18

    2 CONSIDERAES TERICAS

    Primeiramente, importante conceituar adaptao, pois, ao propor algo que modifique

    uma situao, pode-se produzir mudana em habilidades sensoriomotoras, cognitivas ou

    psicossociais, e isso pode gerar respostas adaptativas e expectativas das demandas fsicas, sociais

    e culturais, segundo a American Occupational Therapy Association (AOTA, 1993).

    Santos (1998) definiu adaptao como:

    Ato ou efeito de adaptar-se, ajustamento de um organismo particularmente do homem as condies do meio ambiente. Uso de utenslio, pea etc. para um fim diverso ao qual se destinava: reutilizao (SANTOS, 1998 p.72).

    Para esse autor, adaptar significa pr em harmonia, acomodar, adequar; e adaptado

    aquele que se amoldou, que se ajustou.

    Teixeira, Ariga e Yassuda (2003) conceituaram adaptao como um ramo da tecnologia

    assistiva que se define como modificao da tarefa, do mtodo e do meio ambiente, que possa

    promover independncia e funo. O ato de adaptar promove uma nova situao de ajuste,

    acomodao, adequao do indivduo; portanto, as condies sociais, culturais e econmicas

    devem ser consideradas durante o processo de adaptao.

    Ainda essas autoras relataram que as respostas adaptativas dependem de alguns fatores

    como: satisfao, sucesso no desempenho ocupacional, negociaes positivas e negativas entre a

    pessoa e o ambiente (TEIXEIRA; ARIGA; YASSUKO, 2003, p.131).

    Para Trombly (1995), o processo de adaptao envolve alguns aspectos, como: 1) anlise

    da tarefa com identificao das habilidades do indivduo versus o ambiente fsico; 2)

    identificao do problema; 3) reconhecimento dos princpios de compensao; 4) proposta de

    soluo; 5) conhecimento dos recursos alternativos para soluo do problema; 6) verificao

    peridica da adaptao; 7) treinamento para o uso funcional da adaptao.

    Lopes e Silva (2003), observaram que, historicamente, a importncia social do homem

    sempre foi analisada mediante sua capacidade de produo, o que definia sua aceitabilidade ou

    excluso. Concluram que as modificaes com adequaes dos fatores ambientais podem

    promover igualdade de oportunidades para os deficientes, a fim de que estes possam se mostrar

    produtivos e integrados com respeito as suas limitaes.

  • 19

    Santos (1998) enumerou as principais finalidades, ao realizar uma adaptao: a) ajustar o

    indivduo atividade, com conseqente aumento de sua auto-estima e potencialidade; b) facilitar

    a independncia; c) melhorar a coordenao manual; d) diminuir o gasto energtico e facilitar as

    atividades de vida diria.

    Diante dos conceitos mencionados sobre adaptaes, sero relatados a seguir conceitos e

    finalidades dos recursos pedaggicos.

    2.1 Recursos pedaggicos

    Os recursos pedaggicos podem ser considerados como instrumentos de importncia

    fundamental para o trabalho de ensino, utilizados constantemente por professores e educadores

    (MANZINI, 1999).

    Para elucidar um conceito sobre recursos, torna-se necessrio compreender que a

    literatura especfica aborda diversas terminologias acerca da temtica, entre elas: recursos ou

    materiais didticos; recursos ou materiais pedaggicos; recursos para aprendizagem; recursos

    adaptados e recursos auxiliares para o ensino. Apesar das diversas nomenclaturas, os conceitos

    apresentam grandes semelhanas no contexto, com variaes especficas de acordo com o meio

    empregado e com o objetivo que se propem (REGANHAM, 2006).

    Manzini (1999) entendeu recurso pedaggico como algo ou um estmulo concreto, que

    possa ser manipulvel e ao qual deve ser atribuda uma finalidade pedaggica. Dessa forma, uma

    brincadeira no seria um recurso, mas o brinquedo seria um recurso.

    Cerqueira e Ferreira (2002) consideraram os materiais didticos como fundamentais para

    educao de deficientes e definiram os recursos didticos como: recursos fsicos, utilizados com

    maior ou menor freqncia em todas as disciplinas, reas de estudo ou atividades, diante de

    qualquer tcnica ou mtodo empregado, que vise a auxiliar o educando a realizar sua

    aprendizagem de forma mais eficiente. Ainda para esses autores, os recursos didticos constituem

    num meio para facilitar, incentivar ou possibilitar o processo de ensino-aprendizagem.

    Em relao a material didtico, Gonalves (1974) o descreveu como todos os objetos que

    auxiliam o professor a desenvolver uma funo educativa.

  • 20

    Schmitz (1984) relatou que os recursos so excelentes meios de conseguir a atuao e o

    interesse do aluno, porm estes no devem ser o objetivo principal da atividade: [...] recursos

    auxiliares de ensino so meios que permitem mais fcil assimilao da mensagem [...].

    Uma considerao especial e ampla, que demonstrou a amplitude do termo recurso, foi

    realizada por Camats (2003, p.31), em que denominou como recursos de ao para habilitao

    da comunicao e da vida diria ao conjunto de instrumentos que permitam pessoa com

    deficincia incidir ou aproveitar melhor as possibilidades que o meio lhe oferece [...].

    Os recursos adaptados devem atender s necessidades dos alunos, tanto para permitir o

    acesso a uma atividade que o estudante no consegue realizar, quanto para melhorar o

    desempenho funcional durante as atividades que este j realiza.

    Para Arajo e Manzini, a educao do aluno que apresenta deficincia fsica inclui uma

    variedade de materiais e procedimentos no utilizados rotineiramente no contexto do ensino

    comum (ARAJO; MANZINI, 2001, p.1). Ainda para esses autores, a deficincia fsica est

    diretamente relacionada com a caracterizao da limitao do desempenho motor, sendo

    necessrio identificar o problema funcional e indicar os recursos que atendam s necessidades

    dos alunos.

    Os profissionais que atuam com alunos com deficincias trabalham na tentativa de

    encontrar solues por meio de recursos que auxiliem o aprendizado. A dificuldade nesse

    processo que cada necessidade nica, o que faz com que cada caso seja avaliado e estudado

    individualmente.

    Deliberato e Manzini (2004, p.8) sugeriram um caminho para descoberta dessas

    necessidades individuais, e que demonstra o contedo terico necessrio para indicao e

    contemplao de um recurso como experimento e a observao do seu uso. Tal caminho

    compreende: entender a situao; gerar idias; escolher alternativa; representar a idia; construir

    o objeto; avaliar o uso e acompanhar o uso.

    Nesse sentido, o professor deve conhecer as potencialidades dos alunos e as suas

    dificuldades para adequar um recurso que contemple e favorea seu desempenho. Por

    conseguinte, fundamental que o professor tenha perfeito conhecimento da funo e da

    finalidade a que se aplica o recurso.

    Schimitz representou os recursos como meios indispensveis para o aprendizado e

    salientou que sua principal funo :

  • 21

    Auxiliar o aluno a pensar, possibilitando o desenvolvimento de sua imaginao e de sua capacidade de estabelecer analogias. aproximar o aluno da realidade e auxili-lo a tirar dela o que contribui para a sua aprendizagem (SCHIMITZ, 1984, p.137).

    Esse mesmo autor afirmou que o recurso no deve apenas ter por finalidade ilustrar uma

    apresentao do professor, e sim ajudar o aluno a pensar e sentir uma realidade, estimular a

    capacidade e desenvolvimento de sua atitude criativa.

    Reily (2004) dividiu os recursos pedaggicos para o ensino do deficiente visual em duas

    categorias: a primeira referencia como recurso imagem visual em duas dimenses e a imagem

    em movimento, enfatizou que a imagem pode ser um veculo de primordial importncia para a

    aprendizagem; a segunda referencia recursos em trs dimenses, como brinquedos, maquetes,

    esculturas e outros objetos.

    Ainda essa autora afirmou que o contato com os variados estmulos sensoriais representa

    momentos importantes e memorveis, no percurso escolar, e os recursos so imprescindveis no

    trabalho pedaggico.

    Os recursos pedaggicos devem auxiliar, facilitar, promover e desenvolver as

    capacidades, habilidades, sociabilidade e potencialmente explorar a funcionalidade inerente

    particularidade de cada indivduo. Desse modo, o xito de uma atividade est relacionado a um

    planejamento criterioso para a escolha do recurso.

    Manzini (1999) afirmou que a seleo de recursos parte integrante do processo de

    ensino, o qual composto por etapas diferentes e complementares: a) a avaliao; b) a

    identificao dos objetivos a serem atingidos; c) a seleo e utilizao de recursos, tcnicas e

    procedimentos para o ensino; d) a avaliao dos resultados obtidos com os procedimentos

    adotados. Esse autor julgou necessrias duas caractersticas fundamentais para a construo do

    design do recurso pedaggico: as caractersticas do aluno deficiente e o objetivo pretendido para

    o ensino.

    Ao utilizar um recurso material, necessrio um planejamento que tenha como objetivo a

    adequada preparao do ambiente. Os recursos auxiliares de ensino, quando bem selecionados,

    podero trazer melhor aproveitamento dos alunos, nas mais diversas atividades (SCHMITZ,

    1984, p.139).

  • 22

    Cerqueira e Ferreira (2002) relataram que o professor dever considerar alguns critrios

    para alcanar a desejada eficincia, na utilizao dos recursos didticos, entre eles: tamanho

    adequado s condies do aluno; significado ttil para permitir distines; aceitao, no permitir

    rejeio do aluno; facilidade no manuseio; estes devem, ainda, ser resistentes, oferecer segurana

    e fidelidade.

    Diante dos critrios acima mencionados, cabe ao professor uma avaliao especfica e

    individual do aluno, para utilizar um recurso, devendo muitas vezes adapt-lo a uma determinada

    caracterstica exclusiva do aluno, para obter melhor aproveitamento e eficincia da atividade

    proposta.

    A criatividade do professor e a constante observao do aluno e do meio so fundamentais

    para a indicao do recurso auxiliar de ensino.

    Para Arajo (1998), as modificaes nos procedimentos devem ocorrer a partir de

    observaes do aluno e do meio, e a adaptao depender da relao entre a capacidade funcional

    da pessoa e a demanda das atividades. Por isso, a qualidade dessas modificaes nos

    procedimentos estar em conexo com a criatividade do professor e a constante observao, que

    sero fundamentais para a indicao do recurso auxiliar de ensino.

    Manzini (1999, p. 18) enfatizou que prprio do ser humano adaptar coisas ou adaptar-se

    a elas, e que o [...] recurso deve ser adaptado por que sob a forma a qual ele est constitudo no

    permite a sua utilizao para o aluno.

    O mesmo autor referiu que os materiais possuem dimenses e qualidades, de sorte que a

    adaptao ocorrer em funo da manipulao das qualidades e dimenses do material ou objeto

    pedaggico.

    Com relao ao ensino voltado para alunos deficientes, o professor poder encontrar

    dificuldades nos materiais existentes, poder at mesmo ser surpreendido com a falta de materiais

    para essa populao, quando ter que utilizar sua habilidade e criatividade para adaptar ou

    confeccionar um recurso que atenda aos objetivos propostos.

    Nesse sentido, o peso de pulseira, utilizado no brao de alunos com movimentos

    involuntrios, tem por proposta, neste trabalho, ser considerado como um recurso auxiliar de

    ensino, que poderia contribuir funcionalmente para facilitar o ato de apontar um alvo, ou uma

    prancha de comunicao, para escrita, jogos, pinturas, entre outras atividades pedaggicas que

    empreguem os movimentos dos membros superiores.

  • 23

    2.2 Encefalopatias

    De acordo com o dicionrio de termos tcnicos de medicina e sade, elaborado por

    Rey (1999 p.260), encefalopatia significa qualquer distrbio ou doena que afete o encfalo,

    podendo ser devida a causas muito diversas (txicas, metablicas, degenerativas, isqumicas,

    infecciosas, etc.).

    Diante do conceito anteriormente mencionado, o termo encefalopatia pode ser entendido

    como uma leso ou distrbio, que produz alterao da funo normal do encfalo e abrange uma

    srie de patologias, como: sndromes progressivas, degenerativas, desmielinizantes, infeces,

    traumas crnio-enceflicos, malformaes e alteraes vasculares.

    Dentre as formas de encefalopatias, encontra-se um grupo no progressivo denominado

    paralisia cerebral, cujo tema ser abordado de forma mais especfica, posteriormente, neste

    estudo.

    O crebro de um lactente est em constante desenvolvimento e rapidamente se organiza

    para o estabelecimento de suas funes, principalmente durante a gestao e os primeiros anos de

    vida. Esse conceito importante para que se compreenda melhor a paralisia cerebral

    (RATLIFFE, 2002).

    Para Schwartzman (2004), o termo paralisia cerebral encontra-se consagrado e seu uso

    extenso e universal, mesmo que proporcione margem a interpretaes errneas, o que provocou

    diversas tentativas de mudana terminolgica. Ainda segundo esse autor, os estudos com

    paralisia cerebral datam desde a segunda metade do sculo passado.

    Vrias definies de paralisia cerebral tm sido propostas, em seu contexto histrico. Na

    verdade, o conceito se modificou ao longo do tempo, de maneira que algumas definies foram

    aceitas e so citadas at hoje, como a proposta pelo Little Club:

    Paralisia cerebral uma desordem do movimento e da postura, persistente, porm varivel, surgida nos primeiros anos de vida pela interferncia no desenvolvimento do sistema nervoso central, causado por um dano cerebral no progressivo (apud SCHWARTZMAN, 2004, p.5).

    Essa definio, apesar de antiga, j trazia conceitos at hoje utilizados, como leso no

    progressiva do encfalo com quadro de seqelas mutvel.

  • 24

    Hagberg, Hagberg e Olow (1975) associaram ao conceito condies hereditrias,

    entenderam que a paralisia cerebral um prejuzo permanente da postura e do movimento

    resultante de uma desordem do encfalo no progressiva. Tal desordem poderia ser produzida por

    fatores tanto hereditrios quanto por eventos ocorridos durante a gravidez, no parto ou nos

    primeiros dois anos de vida.

    A paralisia cerebral foi definida por Piovesana (1998, p.9) como um grupo no

    progressivo, mas freqentemente mutvel, de distrbio motor (tnus e postura), secundrio a

    leso do crebro em desenvolvimento.

    Para Bax (2000), a paralisia cerebral um distrbio da postura e do movimento, no

    progressivo, mas no constante, que se inicia nos primeiros anos de vida.

    Como relatou Ratliffe (2002), o crebro se encontra muito vulnervel s leses por

    toxinas, infeces e traumas, principalmente nos primeiros estgios da vida, ou seja, em sua fase

    de maior desenvolvimento organizacional. A mesma autora ainda destacou que se essa leso

    ocorrer no perodo pr-natal, durante o parto ou nos primeiros anos de vida, com caractersticas

    de leso permanente, no progressiva, que afete os movimentos e a postura, denominada de

    paralisia cerebral.

    Ashwal et al. (2004) conceituaram paralisia cerebral como uma desordem ou

    anormalidade do controle do movimento e da postura, que aparece precocemente na vida,

    secundria por leso ou disfuno do sistema nervoso central e no admitida como resultado de

    uma doena progressiva ou degenerativa do crebro. A anormalidade do crebro pode ocorrer

    pr, peri, ou ps-natal.

    Schwartzman (2004, p.5) afirmou que, na paralisia cerebral, o prejuzo motor deve estar

    sempre presente, mas ele no nico na maioria dos casos, e encontraremos numa proporo

    bastante significativa de pacientes associao do defeito motor a prejuzos intelectuais,

    sensitivos, auditivos, visuais e outros. Acrescentou que o quadro seria mutvel em funo de

    fatores da maturao do sistema nervoso, do ambiente e circunstanciais.

    Em julho de 2004, como salientou Souza, ocorreu um encontro em Bethesda, Maryland,

    que reuniu as sociedades inglesa e americana de paralisia cerebral, para discutir a definio e a

    classificao de paralisia cerebral, estiveram presentes alguns estudiosos como: Peter

    Rosenbaum; Bernard Dan; Alan Leviton; Nigel Paneth; Bob Jacobsson; na oportunidade, Murray

    Goldstain e Martin Bax fizeram uma nova proposta de definio:

  • 25

    Paralisia Cerebral (PC) descreve um grupo de desordens do movimento e da postura, causando limitaes de atividades, que so devidas a alteraes no progressivas que ocorreram no crebro fetal ou infantil. As desordens motoras da Paralisia Cerebral freqentemente esto acompanhadas por alteraes sensoriais, na cognio, comunicao, percepo, comportamento e/ou crises convulsivas (SOUZA, 2005, p. 51).

    Ainda se chegou a um consenso, nesse encontro, de que infantil corresponde a um perodo

    de dois a trs anos de idade.

    Esta ltima definio foi abrangente e tornou claro o processo dinmico que envolveu a

    evoluo dos conceitos a cerca do tema paralisia cerebral.

    Ao observar o que h de comum, nas diversas definies estudadas, pode-se concluir que

    o uso do termo paralisia cerebral estaria condicionado a alguns fatores, dentre os quais: a leso

    do encfalo deve ser fixa e no progressiva; dever ocorrer no perodo pr-natal, durante o parto

    ou nos primeiros anos de vida; apresenta manifestaes como desordens do movimento e da

    postura, que podem estar associadas a outras alteraes; as seqelas esto sujeitas a modificaes

    diante de fatores biolgicos, ambientais e circunstanciais.

    Essa forma de encefalopatia no progressiva, permanente e mutvel, pode ocorrer por

    diversas causas. Schwartzman (2004) relacionou os principais fatores etiolgicos de paralisia

    cerebral, sendo os pr-natais: dois ou mais abortos; doenas maternas; sangramento durante a

    gestao com criana a termo; pr-eclmpsia; baixo peso para idade gestacional; infartos de

    placenta e gestao gemelar. Os fatores perinatais seriam: asfixia; hemorragias cerebrais; ablao

    da placenta; hipxia; hiperbilirrubinemia e infeces do sistema nervoso.

    Russman e Ashwal (2004) realizaram um estudo prospectivo com 111 indivduos,

    compararam-no, com um estudo retrospectivo com 515 indivduos, todos com paralisia cerebral,

    que apresentaram em comum os seguintes fatores etiolgicos:

    Pr-natais: infeco intra-uterina; toxemia e interrupo placentria.

    Perinatais: isquemia hipxica enceflica; hiperbilirrubinemia (Kernicterus) e trauma.

    Ps-natal: infeco; trauma e hidrocefalia progressiva.

    Neste momento, diante dos conceitos mencionados e das principais etiologias, torna-se

    necessrio aprofundar os estudos da literatura, a fim de entender como se classifica um grupo to

    heterogneo como as paralisias cerebrais.

  • 26

    Ao verificar, neste estudo, a importncia da distino dos quadros clnicos, principalmente

    aqueles que apresentam movimentao involuntria, ser feita, a seguir, a descrio literria

    sobre as principais classificaes adotadas na paralisia cerebral.

    A classificao da paralisia cerebral no leva em considerao o fator etiolgico, ou

    causa; normalmente, usa para caracterizar: a) o prejuzo motor com a sua distino topogrfica,

    ou seja, as partes do corpo que esto acometidas pelos padres motores; b) a caracterstica do

    tnus muscular, o que se traduz por apresentao clnica; c) o grau de severidade do quadro em

    leve, moderado e grave.

    A paralisia cerebral pode ser classificada, pelo tipo de tnus, em espstica, discintica e

    atxica; o tipo espstico o mais encontrado, em torno de 75% (SOUZA, 1998).

    Os discinticos representam 14% a 20% dos portadores de paralisia cerebral (GIANNI,

    2003; SCHWARTZMAN, 2004; RUSSMAN; ASHWAL, 2004).

    Schwartzman (2004) classificou a paralisia cerebral em dois grupos: espticos e

    discinticos. Os espsticos possuem as caractersticas topogrficas de:

    Diplegia, diparesia: os membros inferiores so mais acometidos em relao aos

    membros superiores, que apresentam melhor desempenho motor e funcional; assim,

    esses indivduos apresentam controle satisfatrio de cabea e tronco;

    Quadriplegia, quadriparesia e/ou tetraparesia: com prejuzos motores equivalentes nos

    quatro membros, no apresentam controle de cabea e tronco, possuem grandes

    limitaes para as atividades da vida diria;

    Hemiplegia, hemiparesia: acometimento de um dimdio corporal, ou seja, apenas um

    lado do corpo apresenta acometimento motor; normalmente, os indivduos possuem

    independncia nas atividades de vida diria;

    Gianni (2003) relatou que os diplgicos tm maiores possibilidades de deambulao e

    maior incidncia no nascimento pr-natal. Para evitar dificuldades na classificao, esta autora

    recomendou que os termos menos utilizados, como dupla hemiparesia, triparesia e monoparesia,

    deveriam ser evitados.

    Os discinticos apresentam as formas hipercintica ou coreoatetide; distnica; atxica e

    mista. Estas so as formas que sero mais bem definidas, no decorrer do texto, devido sua

    relao direta com este estudo.

  • 27

    Em relao distribuio e intensidade do tnus, fator que contribui para a classificao,

    Iwabe e Piovesana (2003) realizaram um estudo comparativo com doze crianas com paralisia

    cerebral tetrapartica espstica, com leses corticais e subcorticais, e concluram que as leses

    apresentam deficincias semelhantes na modulao do tnus, com distribuio simtrica e

    homognea de hipertonia que predomina em membros inferiores.

    A classificao da paralisia cerebral tambm pode estar relacionada com a severidade do

    quadro funcional; dessa forma, pode ser dividida em trs nveis: leve, moderada e grave.

    Russman e Gage (1989), estabeleceram as caractersticas para cada nvel:

    Leve: anda independente; em geral, apresenta funo independente.

    Moderada: engatinha ou anda com apoio; em geral, precisa de assistncia.

    Grave: sem locomoo; sem funo; em geral, apresenta dependncia total.

    Palisano et al. (1997) caracterizaram a gravidade do comprometimento neuromotor da

    paralisia cerebral em leve, moderada e severa; porm, essa classificao era feita com relao

    locomoo da criana.

    Russel et al. (2002) desenvolveram um sistema de classificao da criana com paralisia

    cerebral, conhecido como GMFM (mensurao da funo motora grossa), instrumento que avalia

    o desempenho motor atravs de 88 itens para habilidades motoras, organizados por ordem de

    complexidade. O resultado colocado em um sistema de abscissa, em que X representa o tempo

    em meses e Y representa o percentual obtido na GMFM Assim, temos uma curva do

    desempenho motor versus a idade de aquisio, que favorece para estabelecer prognstico de

    marcha.

    A classificao da GMFM pressupe nveis de habilidades funcionais, que so:

    Nvel I: deambula sem restries; apresenta limitaes em atividades motoras mais

    avanadas, como correr e pular.

    Nvel II: deambula sem auxlio, com limitaes para marcha comunitria.

    Nvel III: deambula com apoio, com limitaes fora de casa e na comunidade.

    Nvel IV: mobilidade limitada; necessita de cadeira de rodas para locomoo fora de casa

    e na comunidade.

    Nvel V: mobilidade gravemente limitada, mesmo com o uso de tecnologia assistiva.

    Paneth et al. (2005) realizaram uma nova proposta de classificao da paralisia cerebral, no

    encontro em Bethesda, Maryland, em 2004, com quatro componentes distintos, que so:

  • 28

    1. Anormalidade motora: envolve tanto a natureza e o tipo da desordem motora como as

    habilidades motoras funcionais;

    2. Incapacidades associadas: problemas sensitivos, auditivos, visuais, comunicativos,

    cognitivos;

    3. Achados anatmicos e radiolgicos: distribuio anatmica no corpo (membros,

    tronco, cabea), ocasionada por prejuzos motores ou limitaes e a contribuio dos

    exames por imagem;

    4. Causa e perodo de instalao da leso: h uma causa claramente identificada,

    principalmente nos casos de paralisia cerebral ps-natal.

    Com base no modelo de classificao proposto em Genebra, pela Organizao Mundial de

    Sade (1999), esta enfermidade pode apresentar conseqncias variadas. A paralisia cerebral

    sempre interfere no funcionamento do sistema msculo-esqueltico. Neste nvel, as

    caractersticas associadas a essa seqela incluem distrbios de tnus muscular, postura e

    movimentao voluntria.

    De modo geral, as formas de classificao de paralisia cerebral definem as caractersticas

    da apresentao clnica e estabelecem a relao dos locais do encfalo com principal

    manifestao de leso, com associao de espsticos a territrios corticais; os discinticos, a

    regies dos gnglios basais, ou, como referido por Gauzzi e Fonseca (2004), paralisia cerebral

    extrapiramidal, e os atxicos, associados a territrios cerebelares.

    Tais classificaes servem para caracterizao da leso, mas no fornecem informaes

    das conseqncias que essa desordem produz nas atividades dirias dos indivduos com paralisia

    cerebral.

    Neste estudo, sero enfatizadas as encefalopatias com caractersticas clnicas discinticas,

    pois esse tipo importante para esta pesquisa, devido presena de movimentos involuntrios,

    definidos a seguir.

    2.3 Movimentos involuntrios

    Todos animais se movem de algum modo, mas os movimentos no so apenas aes dos

    msculos: a motricidade envolve um conjunto neuromuscular complexo, chamado sistema

    nervoso.

  • 29

    De acordo com o dicionrio de termos tcnicos de medicina e sade, o significado de

    motricidade : funo desempenhada pelo sistema neuromuscular que assegura os movimentos

    do corpo em geral, quer sejam eles voluntrios, involuntrios ou reflexos (REY, 1999, p.521).

    Quando se pensa em movimentos realizados por seres humanos, comum relacionar os

    movimentos voluntrios, com movimentos conscientes, e movimentos involuntrios, com

    movimentos inconscientes, ou seja, realizados automaticamente como aes reflexas. Ambos os

    movimentos dependem de funes executadas pelo sistema neuromuscular, que a seguir ser

    definido.

    Para Lent (2001), o funcionamento operacional do sistema motor compreende aes por

    meio dos efetuadores, que realizam os movimentos; ordenadores, responsveis pelo comando dos

    efetuadores; controladores, os quais promovem a execuo correta dos comandos motores; e os

    planejadores, responsveis pelas seqncias de comandos que produzem movimentos voluntrios

    complexos. Em sntese, o sistema motor depende de planejamento e programao.

    As aes de planejamento e programao motora so realizadas por reas cerebrais do

    crtex, com comando de impulsos motores para o tronco enceflico e a medula espinhal, como

    demonstrado na Figura 1.

    Os comandos motores modulam os reflexos e os movimentos mais grosseiros. Ainda no

    encfalo, um outro comando de impulsos motores atua simultaneamente, para garantir a

    eficincia dos movimentos; esse comando de controle realizado pelo cerebelo e gnglios da

    base, cujo objetivo zelar para que os movimentos sejam iniciados e terminados em tempo certo

    e com harmonia (GHEZ; KRAKAUER, 2003).

  • 30

    Figura 1- Sistema operacional do sistema motor crtico-muscular.

    Crtex motor (ordenadores e planejadores)

    Comando dos movimentos

    Ncleos da base e cerebelo (controladores)

    Eficincia e harmonia dos movimentos

    tronco enceflico

    medula espinhal

    modulam os reflexos e movimentos grosseiros

    msculos

    (efetores)

    ativam contrao muscular para ocorrer o movimento

  • 31

    Ghez e Krakauer (2003), ao discorrer sobre a organizao do movimento, afirmaram que

    [...] a capacidade de organizar atos motores complexos e de executar movimentos finos com preciso depende dos sinais de controle, provenientes das reas motoras do crtex cerebral (GHEZ; KRAKAUER, 2003, p.669).

    Para esses autores, duas outras partes do encfalo so responsveis pelo planejamento e a

    execuo do movimento: o cerebelo e os gnglios da base. Estes fornecem circuitos que regulam

    as reas motoras corticais e o tronco enceflico.

    A partir dessa explicao, ser considerado movimento voluntrio o ato de deslocamento

    no espao do tronco e membros, realizado com uma determinada finalidade, ou seja, programado,

    planejado e este movimento deve ser harmnico. Consideram-se tambm aes inconscientes ou

    movimentos automticos, aqueles promovidos por aes reflexas decorrentes de estmulos

    sensoriais.

    Movimento involuntrio ser, pois, um movimento que ocorre a despeito da vontade, sem

    planejamento, so movimentos indesejados (LENT, 2001).

    Para Ekman (2000), os distrbios dos gnglios da base interferem nos movimentos

    voluntrios e automticos e produzem movimentos involuntrios.

    Indivduos com encefalopatias, quando apresentam leses nos gnglios da base ou no

    cerebelo, manifestam seqelas com desordem da harmonia dos movimentos, ou seqelas com

    movimentos involuntrios. Segundo Fahn (1984) e Fahn et al. (1998), essa desordem de

    movimento pode ser classificada em dois grandes grupos: as hipocinesias (acinesia; bradicinesia

    e catatonia), que so movimentos involuntrios de baixa freqncia, e as hipercinesias

    (discinesias; atetose; coria; balismo; distonia; mioclonia; tiques; tremor e estereotipias), que so

    movimentos involuntrios de alta freqncia.

    O presente estudo envolveu participantes com encefalopatias no progressivas, que

    integram o grupo das hipercinesias. Dentre as hipercinesias, sero mais bem definidos os

    indivduos discinticos com atetose, coria, creo-atetose, balismo e ataxia.

    Gauzzi e Fonceca (2004) caracterizaram a paralisia cerebral discintica por movimentos e

    posturas anormais, decorrentes de dificuldade de programao e execuo adequada dos

    movimentos voluntrios, na coordenao dos movimentos automticos e na manuteno da

  • 32

    postura. Enfatizaram, ainda, que essa dificuldade advm da ativao involuntria e simultnea do

    controle tnico da musculatura agonista e antagonista. Para esses autores, atetose so

    movimentos involuntrios lentos, suaves, que envolvem mais a parte distal dos membros. Os

    movimentos coricos so rpidos, de maior amplitude e envolvem mais a parte proximal dos

    membros. O balismo se caracteriza por movimentos involuntrios abruptos, violentos, os quais

    envolvem a parte proximal dos membros.

    DeLong (2003) relacionou os distrbios de movimentos como resultado do desequilbrio

    das vias diretas e indiretas dos gnglios da base. Segundo esse autor, os distrbios hipocinticos

    so caracterizados pela dificuldade de iniciar os movimentos (acinesia) e pela reduo da

    amplitude e velocidade de movimento voluntrio (bradicinesia). Os distrbios hipercinticos so

    caracterizados pela atividade motora excessiva de movimentos involuntrios (discinesias) e pela

    diminuio do tnus muscular (hipotonia).

    As formas ou caractersticas de movimentos involuntrios que os distrbios hipercinticos

    manifestam foram definidas por DeLong como

    [...] atetose: movimentos distnicos de extremidades, lentos; coria: espasmos, movimentos aleatrios dos membros e de estruturas orofaciais; balismo: movimentos amplos e violentos dos membros; distonia: postura anormal e movimentos lentos associados contrao dos msculos agonistas e antagonistas (DELONG, 2003, p.861).

    Ratliffe (2002) ressaltou que crianas com atetose tm tnus flutuante em todo o corpo e

    tendem a ter movimentos involuntrios contorcidos, com movimentos de um extremo da

    amplitude de movimento ao outro; acrescentou que movimentos involuntrios imprevisveis,

    distais nos membros acompanhadas da atetose, compem um quadro de coreoatetose.

    Uma outra definio de atetose foi proposta por Bax:

    [...] movimentos involuntrios constantes, mesmo quando tenta permanecer imvel, e esses movimentos interferem com todos os que a criana tenta fazer, tais como caminhar ou utilizar as mos (BAX, 2000, p.9).

    Esse autor tambm comentou que, em geral, todas as partes do corpo esto envolvidas nas

    paralisias cerebrais atetide e atxica.

    Shah e Albin (1999) conceituaram coria como movimentos irregulares, rpidos, com

    arrancos involuntrios sem um padro rtmico, que distribudo fortuitamente como uma dana

    que envolve mltiplas partes do corpo. Coria um termo grego que significa dana. Ainda esses

  • 33

    autores afirmaram que a atetose e o balismo compartilham fisiopatologicamente com a coria,

    porque normalmente envolvem desordens dos ncleos subtalmicos e do estriado.

    O movimento atxico normalmente est associado s leses cerebelares. Para Lent

    (2001), ataxia corresponde a movimentos involuntrios incoordenados das diferentes partes do

    corpo.

    Gauzzi e Fonceca (2004) entenderam que os movimentos atxicos trazem prejuzos em

    atividades que exigem coordenao: a marcha com base alargada e pode ser observado tremor

    intencional.

    Para Bax (2000), na ataxia no se observam movimentos, mesmo quando o individuo est

    sentado e imvel, mas, ao realizar movimentos voluntrios, estes so desajeitados e inbeis.

    Shah e Albin (1999) consideraram o balismo como uma forma extrema de coria,

    incontrolvel, movimentos tpicos de arremessos com grande amplitude proximal, que ocorre

    predominantemente de forma unilateral e em que a face no afetada. Est associado a leses nos

    gnglios da base e no tlamo.

    O balismo est sendo descrito por ser um movimento involuntrio tpico, porm, sua

    presena e sua terminologia no so comumente descritas na paralisia cerebral, uma vez que sua

    presena mais comum na leso vascular do paleostriado em indivduos adultos (DORETO,

    1996).

    Movimento distnico ou distonia caracteriza-se por movimentos que mostram um tnus

    muscular muito varivel e que envolvem membros e postura (SCHWARTZMAN, 2004). Ainda

    para esse autor, nas formas distnicas e coreoatetticas ocorrem alteraes do tnus, da postura e

    movimentos, caractersticas de leso do sistema motor extrapiramidal.

    Delisa (1991); Kottke, Stillwell e Lehmann (1997); Piovessana (1998); Bax (2000);

    Gauzzi e Fonceca (2004), entre outros, relataram que movimentos atetticos, coricos, balsticos

    e atxicos so movimentos involuntrios capazes de interferir na movimentao voluntria, que

    dificultam ou at mesmo impedem atividades funcionais. Os movimentos involuntrios podem

    ser inibidos com o relaxamento ou com o sono.

  • 34

    2.4 Tratamento dos movimentos involuntrios

    Os indivduos com encefalopatias que apresentam movimentos involuntrios podem ser

    submetidos a uma diversidade de tratamentos cirrgicos, farmacolgicos e teraputicos.

    Os procedimentos cirrgicos, com os avanos constantes da medicina, tornam-se cada vez

    mais especficos. Por no ser objetivo deste trabalho detalhar as formas e tcnicas cirrgicas ou

    outros tratamentos, sero apresentados apenas alguns relatos.

    Teive et al. (2005) observaram melhora significante de distnia com coria em um

    paciente com paralisia cerebral, aps a utilizao de palidotomia bilateral. Esses autores, ainda,

    relataram sobre a implantao de um estimulador eltrico por meio cirrgico no globo plido,

    para conter movimentos distnicos.

    Saiki, Tsuzuki e Tanaka (1999) investigaram os efeitos da reduo do tnus na atetose,

    com a combinao de dois procedimentos: o bloqueio neural parcial com anestsico Lindocana,

    e a cirurgia da liberao dos msculos proximais do pescoo. Os resultados demonstraram

    melhora do movimento voluntrio e diminuio significante dos movimentos involuntrios, em

    seis casos estudados.

    Os tratamentos medicamentosos so usados em indivduos com movimentos

    involuntrios, com o objetivo de diminuir tais movimentos. Apesar dos avanos da indstria

    farmacolgica, as drogas podem produzir efeitos satisfatrios e efeitos malficos, de maneira que,

    em alguns casos, podem ser desencadeadoras de outras patologias, como relatou Doreto (1996):

    com o uso prolongado de medicamento a base de Aldol, no tratamento de coria, pode-se induzir

    uma sndrome parkinsoniana.

    Os tratamentos fisioteraputicos e teraputicos ocupacionais desenvolveram-se com base

    em vrias tcnicas e teorias, a partir da dcada de 1940. Dentre estas, pode-se citar: facilitao

    neuromuscular proprioceptiva; integrao sensorial e desenvolvimento neuromaturacional. Em

    comum, nessas abordagens, possvel destacar a interveno precoce e a participao dos

    familiares (RATLIFFE, 2002).

    Para a autora citada anteriormente, o tratamento fisioteraputico, por influncia de tais

    mtodos, tem focalizado o desenvolvimento da coordenao motora, dos estmulos sensoriais e

    das habilidades funcionais.

  • 35

    Diante das caractersticas expostas, nas consideraes tericas, torna-se claro que a

    pulseira estabilizadora com peso pode ser considerada um recurso auxiliar para o ensino, pois

    essa pulseira, colocada no membro superior, pode ser um meio para facilitar, auxiliar e at

    mesmo favorecer uma funo com finalidade pedaggica. O desenvolvimento deste trabalho

    analisou a eficcia do uso de pesos em movimentos funcionais, realizados com o membro

    superior funcional de indivduos com movimentos involuntrios.

  • 36

    3 OBJETIVOS

    3.1 Objetivo geral

    O presente trabalho teve como objetivo geral analisar o comportamento motor de

    membros superiores, no movimento de apontar um alvo, com e sem o uso de peso, em indivduos

    com seqelas de encefalopatias, os quais apresentavam movimentos involuntrios nos membros

    superiores.

    3.2 Objetivos especficos

    Os objetivos especficos foram:

    - Analisar comparativamente a cinemtica do movimento sem peso e com peso, em relao

    velocidade e ao deslocamento.

    - Analisar a ao e a intensidade de contrao da musculatura diante do movimento

    solicitado, com e sem o uso de pesos.

  • 37

    4 MTODO

    Foi realizado um estudo biomecnico da funo de membros superiores, com e sem o uso

    de pesos, em indivduos que apresentavam movimentos involuntrios, no ato de apontar um alvo.

    O estudo exigiu cuidados metodolgicos tanto para seleo dos participantes, quanto para o uso

    criterioso dos equipamentos.

    4.1 Participantes

    Participaram da pesquisa oito indivduos do gnero masculino e feminino. Em relao ao

    nvel educacional, trs participantes cursavam o ensino fundamental em salas de ensino especial,

    trs concluram o ensino mdio, um cursava nvel superior e um concluiu o nvel superior. Todos

    os participantes eram encefalopatas, apresentavam movimentos involuntrios de membros

    superiores e eram moradores da cidade de Marlia.

    Os participantes do estudo foram avaliados por dois fisioterapeutas, para verificar se

    possuam as caractersticas necessrias para incluso no estudo. Aps avaliao, os indivduos

    foram classificados pela escala GMFM - Gross Motor Function Measure - (RUSSEL et al.,

    2002).

    Critrios utilizados para incluso dos participantes no estudo:

    Ter diagnstico de encefalopatia;

    Possuir movimentos involuntrios em membros superiores;

    Conseguir apontar um alvo contra a ao da gravidade;

    Conseguir manter-se na postura sentada;

    Apresentar compreenso da tarefa solicitada;

    Os pais ou responsveis terem assinado o termo de consentimento

    esclarecido (Apndice A).

    Critrios utilizados para excluso dos participantes no estudo:

    No terem diagnstico de encefalopatia;

    Ao motora no membro superior mais funcional, com fora inferior ao da

    gravidade;

    Baixa viso e cegos.

  • 38

    Os participantes deste estudo foram identificados pela letra P, seguida dos numerais de

    1 a 8. Quanto caracterstica, o diagnstico, a classificao do nvel de comprometimento

    motor, tnus e topografia dos participantes, foram descritas no Quadro 1.

    Diagnstico Clnico

    Distribuio topogrfica/tnica

    Membro mais funcional

    Classificao GMFM

    Idade

    Gnero

    P 1 TCE Quadriparesia/atxico Esquerdo Nvel V 24 fem

    P 2 AVE Quadriparesia/atxico Direito Nvel IV 38 masc

    P 3 PC Quadriparesia/atetide Direito Nvel I 25 fem

    P 4 PC Quadriparesia/atetide Esquerdo Nvel I 29 masc

    P 5 PC Quadriparesia/coreoatetide Esquerdo Nvel V 14 masc

    P 6 TCE Quadriparesia/coreico Esquerdo Nvel V 24 masc

    P 7 PC Quadriparesia/atetide Esquerdo Nvel V 25 masc

    P 8 PC Quadriparesia/atetide Direito Nvel V 21 masc

    Quadro 1 - Caractersticas, diagnstico e classificao do comprometimento motor/tnus e topografia, dos participantes do estudo.

    4.2 Local da pesquisa

    A pesquisa foi realizada no laboratrio de anlise do movimento do Centro de Estudos da

    Educao e da Sade, UNESP, Campus de Marlia (CEES).

    4.3 Equipamentos e materiais

    Filmadora JVC;

    Fita de vdeo compatvel com filmadora;

    Computador com placa de captura de vdeo;

    Programa para anlise da imagem Kavideo;

  • 39

    Balana calibradora;

    Pedestal de suporte para filmadora;

    Marcadores reflexivos;

    Pesos para pulseira de chumbo;

    Pulseira com velcro para fixar os pesos;

    Mobilirio adaptado;

    Eletromigrafo;

    Eletrodos ativos auto-adesivos;

    Programa para anlise eletromiogrfica Aqdados Lynx.

    4.4 Procedimento para coleta de dados

    Os procedimentos para coleta de dados foram realizados em quatro etapas:

    1 etapa: o projeto foi exposto ao comit de tica da Faculdade de Filosofia e Cincias -

    UNESP - Campus de Marlia, tendo sido aprovado segundo o parecer n 465/2005 (Anexo A).

    2 etapa: os participantes foram selecionados, avaliados e solicitada a autorizao para

    participao no estudo.

    3 etapa: realizou-se um estudo-piloto, com uma criana sem alteraes neurolgicas, que

    teve como objetivo determinar o espao e a posio dos equipamentos. O estudo-piloto serviu: 1)

    para adequao da altura, da posio e da distncia da filmadora; 2) para definio da passagem

    dos cabos e a fixao dos eletrodos do eletromigrafo, para que no interferissem nos

    movimentos; 3) para a definio da escala de plos utilizadas. Ainda neste estudo, verificou-se

    que a distncia entre os alvos fixos na mesa deveria estar diretamente relacionada com o alcance

    do membro superior mais funcional de cada indivduo. A princpio, realizou-se uma coleta com

    uma filmadora posicionada na vista lateral em relao ao movimento realizado, porm, durante a

    anlise, verificou-se que o resultado no era adequado, uma vez que a anlise foi em duas

    dimenses, ou seja, com apenas uma filmadora, alguns marcadores dos pontos anatmicos

    articulares no eram visualizados durante todo o movimento. Por isso, optou-se por realizar a

    filmagem dos movimentos com vista superior, que proporcionou a visualizao de todos os

    pontos anatmicos e a diminuio de distores das imagens, em funo do tipo de anlise

    utilizada.

  • 40

    4 etapa: nesta etapa, foi realizada a coleta de dados referente aos registros

    eletromiogrficos e cinemticos.

    4.4.1 Registro eletromiogrfico

    A eletromiografia, segundo Pinto (1998), o registro da atividade eltrica de um msculo

    contraindo, ou seja, seu potencial de ao.

    Para possibilitar o registro os eletrodos, estes foram colocados no ponto motor, local em

    que o potencial de ao registrado mais forte. Para a identificao dos pontos motores, foram

    adotados como referncia os pontos traados dermatologicamente por Guttman (1980).

    Os msculos escolhidos pelo pesquisador foram os que apresentavam aes antagnicas e

    sinrgicas, durante a execuo dos movimentos propostos, isto , para se atingir um alvo frente,

    o principal movimento realizado era a extenso de cotovelo, com maior ao de msculo trceps

    braquial. Para o movimento de retorno, apresentava-se a flexo do cotovelo, com maior ao do

    msculo bceps braquial. Por sua vez, o msculo deltide, em ambos os movimentos, atuou como

    um dos principais sinergistas, com a funo de manter o membro superior elevado contra ao da

    gravidade e permitir a realizao harmnica dos movimentos de flexo e extenso do cotovelo

    (KENDALL; McCREARY, 1995).

    No ponto motor dos msculos trceps braquial, bceps braquial e deltide fibras mdias,

    foram colocados os eletrodos para capturar os registros eletromiogrficos.

    Os eletrodos eram de superfcie, ativos, amplificados, bipolares, com terminaes auto-

    adesivas descartveis revestidas de cloreto de prata, conectados a um mdulo de aquisio de

    sinais biolgicos da marca Lynx, com seis canais calibrados para ganhos de 10.000 Hz, acoplados

    a um computador equipado com uma placa de converso analgica digital (A/D) do programa

    chamado Aqdados.

    Para aquisio e anlise dos dados, foi necessrio um software especfico denominado

    Aqanalisis Lynx. Esse programa possibilitou a configurao grfica dos registros

    eletromiogrficos, que, por canal, possua uma rea de 3000 amostras em 60 segundos dos

    potenciais mioeltricos em valores root mean square (RMS), baseados no clculo da menor raiz

    quadrada, em que um valor de intensidade de pulso filtrava as interferncias mximas e mnimas.

    A placa A/D apresentou faixa de entrada de 5 volts, o que possibilitou fixar limites superiores e

  • 41

    inferiores de +500 microvolts e 500 microvolts, com filtros para os sinais analgicos com banda

    de 10 Hz 500 Hz.

    Para tornar o ambiente o mais livre possvel de rudos e interferncias, utilizou-se um

    filtro com 600Hz no hardware, que impediu a entrada de freqncias da rede eltrica no

    laboratrio de eletromiografia.

    A eletromiografia permitiu a anlise grfica e numrica da freqncia dos momentos de

    contrao, durante a realizao do movimento.

    Esse registro serviu para identificar qual fibra muscular foi requisitada, pois ocorria a

    despolarizao do potencial de ao. Forneceu, tambm, informaes do tempo de intensidade da

    atividade eltrica.

    A tarefa solicitada foi realizada com trs repeties; como os dados fornecidos nos

    registros eletromiogrficos possuam alta preciso, optou-se, para a anlise dos dados, pelos

    valores obtidos no segundo momento de repetio. A primeira vez que o participante realizou a

    tarefa serviu como treino e, possivelmente, variveis como ansiedade poderiam interferir no

    desempenho; na terceira repetio, os participantes poderiam j apresentar cansao.

    4.4.2 Anlise cinemtica

    A anlise cinemtica envolveu a mensurao da performance dos movimentos em relao

    ao deslocamento e velocidade. Essa anlise foi efetuada por meio de filmagem e estudo de

    anlise de movimento computadorizado, em duas dimenses, consistentes em captura de

    imagens, formatao dos frames e converso grfica.

    Para capturar as imagens gravadas em uma fita de vdeo de um segmento em movimento,

    no caso, o membro superior estudado, necessitou-se de um sistema de marcadores reflexivos,

    colocados em pontos anatmicos sobre a superfcie corprea (Figura 2). Esses marcadores auto-

    adesivos tornaram os pontos anatmicos distintos da superfcie da pele, bem visualizados, de

    forma que, posteriormente, puderam ser facilmente identificados para digitalizao.

  • 42

    Figura 2- Posio dos marcadores reflexivos auto-adesivos

    Nesta pesquisa, foram considerados quatro pontos anatmicos: as proeminncias sseas

    do acrmio; o epicndilo lateral da ulna; a cabea do rdio e a superfcie distal do terceiro

    metacarpo, pontos que correspondiam aos principais eixos articulares do membro superior. Tais

    pontos permitiram invariabilidade dos locais dos marcadores, pois so facilmente palpveis

    (SILVA, 2003).

    A captura das imagens para o computador foi feita por meio de placa de vdeo, que

    possua uma entrada compatvel com a filmadora analgica utilizada. Aps ter sido conectada ao

    computador, foi possvel enviar as imagens ao software do programa de anlise Kavideo, que

    possua um campo de abertura de um novo projeto capaz de capturar as imagens e transform-las

    em arquivos de AVI.

    Aps a captura das imagens, foi empregado, para a anlise do movimento, o programa

    Kavideo, disponibilizado no site: www.kavideo.sfsu.edu, para a formatao dos frames e

    converso grfica. O software Kavideo foi especificamente projetado para anlise do movimento

    humano. O software permitiu a captura das imagens em AVI e tornou possvel digitalizar o

    movimento, a partir de uma escala de plos.

    A escala de plos era uma distncia linear entre dois pontos previamente mensurados.

    Esse valor era solicitado pelo programa de anlise de movimento Kavideo, para realizar um fator

  • 43

    de converso das coordenadas ortogonais XY. A distncia linear compreendia a amplitude do

    movimento realizado, ou seja, eram dois pontos fixos que correspondiam aos extremos mximos

    do movimento executado, que por sua vez, equivalia ao alcance mximo que o movimento podia

    atingir; essas medidas foram calculadas para cada indivduo (Tabela 1).

    Escala de plo cm

    Participante P 1 70

    Participante P 2 72

    Participante P 3 70

    Participante P 4 73

    Participante P 5 71

    Participante P 6 69

    Participante P7 68

    Participante P 8 69

    Tabela 1- Medida da escala de plos calculada para cada participante

    As medidas da escala de plos eram solicitadas, posteriormente, em um campo do

    programa e convertidas automaticamente, por meio de um fator que promoveu a leitura ortogonal

    do movimento, num plano do espao dado em coordenadas absolutas XY, para cada frame, e

    cada segundo contendo 60 frames. Por meio desse software, foi possvel realizar uma anlise

    cinemtica da velocidade, alm de permitir uma anlise da configurao do deslocamento do

    movimento no espao.

    De acordo com a anlise realizada no programa Kavdeo, em que foram comparados os

    momentos sem e com uso da pulseira estabilizadora de peso, na Figura 3 tambm podem ser

    observados os marcadores auto-adesivos nos pontos articulares, as marcas na mesa com fita

    adesiva para mensurao da escala de plos, em amarelo o ponto inicial, frente o alvo central,

    em azul o alvo deslocado, a configurao ou o desenho da trajetria com peso e sem peso e os

    grficos de velocidade e acelerao.

  • 44

    Figura 3 Anlise Kavdeo, comparao com e sem peso

    Para a coleta de dados, foi realizada previamente a preparao dos participantes.

    Inicialmente, foi feita assepsia nos locais de fixao dos eletrodos do eletromigrafo, com o

    objetivo de eliminar suor e outros resduos, que poderiam produzir interferncias nos registros da

    coleta eletromiogrfica.

    Aps a assepsia, os participantes foram orientados quanto tarefa a ser executada. Em

    seguida, era realizada a correo do posicionamento corporal e iniciada a atividade, depois de trs

    minutos, tempo necessrio para a acomodao postural (BRACCIALLI, 2000).

    Os participantes foram filmados por uma cmera JVC de 28X, para fita de 8mm VHS,

    fixada a um pedestal com ajuste de altura que possibilitou filmar de um plano superior, ou seja,

    com foco de cima da para baixo (Figura 4). A altura da filmadora foi estabelecida

  • 45

    individualmente para cada participante, com pequenas variaes, que permitiram melhor ajuste

    do foco.

    Figura 4 Posio da filmadora com vista superior, pedestal de suporte e mesa em semicrculo

    Os participantes foram posicionados individualmente, na postura sentada,

    confortavelmente, em cadeira adaptada que possibilitava regulagem. Permaneciam sentados, com

    os ps apoiados no cho, joelhos em flexo de 90, o quadril em flexo de 90 e posio neutra de

    abduo, aduo e rotao de quadril.

    Em relao ao membro superior que no foi utilizado na execuo da tarefa, para melhor

    posicionamento postural, foi orientado mant-lo apoiado sobre a mesa. Em situaes nas quais

    no existia controle adequado do participante, para mant-lo sobre a mesa, foi feito um apoio por

    terceiros, durante a execuo da tarefa. Dessa forma, o membro no interferiu no

    desenvolvimento da atividade realizada com o membro mais funcional, para atingir os alvos

    propostos.

    frente do participante, colocou-se uma mesa adaptada, com recorte em semicrculo que

    tinha ajuste de altura.

  • 46

    Nessa mesa, foram demarcados trs alvos distintos, posicionados para destros e sinistros

    (Figura 5). O primeiro alvo foi demarcado paralelamente ao eixo esternal anterior, chamado de

    ponto inicial, a 15cm do tronco, pois essa distncia mantinha a articulao do cotovelo em flexo.

    O segundo alvo, chamado de ponto central, foi demarcado paralelamente ao eixo esternal

    anterior, colocado distncia do alcance mximo transverso de cada participante. O ltimo alvo,

    chamado de deslocado esquerda, para o destro, e direita, para o sinistro, foi colocado

    distncia do alcance mximo transverso de cada participante. O alcance mximo transverso , de

    acordo com Nowak (1996) e Jarosz (1996), uma forma de mensurao antropomtrica que

    consiste em determinar um eixo hipottico do membro superior centrado na articulao do ombro

    e, a partir desse ponto, desenha-se um raio que igual ao comprimento do membro superior;

    assim, foi determinado o espao necessrio para o trabalho.

    Figura 5 - Posicionamento dos alvos demarcados na mesa para executar o movimento

    Antes de iniciar o movimento, cada participante foi orientado a colocar a mo no ponto de

    partida ou inicial e, posteriormente, realizar os movimentos:

    A) ida ao ponto central e retorno ao ponto inicial.

    B) ida ao ponto deslocado direita ou esquerda e retorno ao ponto inicial.

    O ponto inicial, ou de partida, foi identificado com uma marca, um crculo de cartolina da

    cor amarela, colado a um retngulo de cartolina azul, que se destacou em relao cor marrom da

  • 47

    superfcie de fundo da mesa. O ponto central e o ponto deslocado esquerda ou direita foram

    identificados com smbolos que tinham algum significado para os participantes, como, por

    exemplo, emblemas de clubes de futebol ou ilustraes, para torn-los mais atrativos.

    Os movimentos executados foram realizados sem o uso de pesos e com o uso de pesos.

    Os pesos utilizados foram calculados individualmente, por meio do clculo de resistncia

    mxima (RM) prescrita por Mcardle et al. (1992).

    O clculo da RM partiu do emprego de um peso com o qual o indivduo conseguisse

    realizar o movimento em amplitude total, por dez repeties; gradualmente, aumentou-se o peso

    at que se estabeleceu o peso de resistncia mxima.

    Para Leite (2000), as atividades de fortalecimento muscular em indivduos saudveis

    deveriam iniciar-se com resistncia submxima, que equivale a 70% da carga mxima.

    A fim de evitar fadiga muscular dos indivduos com encefalopatias, foi estabelecido o

    clculo da resistncia RM, e os movimentos orientados foram realizados em sries com 50% da

    carga mxima. Mendoza et al. (2003), aps estudar um grupo de meninos com paralisia cerebral,

    concluram que os treinamentos de fora e de potncia deveriam ser entre 50% e 60% da carga

    mxima.

    A Tabela 2 tra