6
38/Cosmetics & Toiletries (Brasil) www.cosmeticsonline.com.br Vol. 32, jan-fev 2020 A atividade antimicrobiana de sabonetes antissépticos, convencionais e vegetais foi avaliada contra diferentes cepas de microrganismos. Os autores concluíram que há necessidade de padronizar os testes quanto à metodologia e às cepas utilizadas. Se evaluó la actividad antimicrobiana de los jabones antisépticos, convencionales y vegetales contra diferentes cepas de microorganismos. Los autores concluyeron que es necesario estandarizar las pruebas con respecto a la metodologia y las cepas utilizadas. The antimicrobial activity of antiseptic, conventional and vegetables soaps was evaluated against different strains of microorganisms. The authors concluded that there is a need for standardize the tests regarding the methodology and the strains used.

Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

  • Upload
    others

  • View
    3

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

38/Cosmetics & Toiletries (Brasil) www.cosmeticsonline.com.br Vol. 32, jan-fev 2020

Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antissépticos

s sabonetes em barra ocupam papel de destaque no crescente mercado brasileiro de produtos para higiene pessoal.1 Dependendo do tipo de formula-ção, os sabonetes podem receber diferentes classi � cações: sabonetes comuns, tradi-cionais ou convencionais, que são obtidos pela saponificação de gorduras naturais com soluções alcalinas; sabonetes vegetais, que são obtidos por saponi� cação de óleos vegetais; e sabonetes medicamentosos, que recebem a adição de produtos com � nali-dade terapêutica sobre a pele.2,3Os sabonetes têm duplo efeito sobre os microrganismos: um efeito químico e um mecânico. A natureza an� pática do sabão afrouxa os microrganismos da pele e, então, eles podem ser removidos facilmente na lavagem. Os sabonetes convencionais não matam os microrganismos, simplesmente os removem da pele. Já os sabonetes deno-minados antissépticos, antibacterianos ou antimicrobianos, além de ter as proprieda-des dos sabonetes convencionais, possuem um ingrediente antisséptico adicional, ou seja, destinam-se a impedir que as bactérias remanescentes na pele se repliquem.4A crescente preocupação dos consu-midores em relação à possibilidade de contaminação bacteriana tem levado ao aumento do uso de produtos antissépticos. Existem vários sabonetes antibacterianos e antimicrobianos disponíveis no comér-cio e a propaganda disseminada em várias mídias tem encorajado seu uso. Essa pro-paganda exalta os efeitos bené� cos da ati-vidade bactericida desses sabonetes, sem

se referir aos prejuízos que esses produtos podem trazer à saúde do indivíduo e/ou ao meio ambiente.5-7Os ingredientes antissépticos mais frequentemente utilizados na composi-ção dos sabonetes antimicrobianos são o triclocarban (TCC) e o triclosan.8 Estudo realizado nos Estados Unidos, em 2001, relatou que 84% dos sabonetes antimicro-bianos em barra continham esses agentes antissépticos.9 O triclocarban, 1-(4-clorofenil)-3--(3,4-diclorofenil) ureia, é um agente particularmente e � caz contra bactériasgram-positivas, como a Staphylococcus aureus. É um composto bacteriostático encontrado em sabonetes antibacterianos e outros produtos de higiene pessoal que exerce seu efeito inibindo a atividade da enoil–proteína transportadora de acila (ACP) redutase, enzima amplamente dis-tribuída em bactérias, fungos e plantas. A ACP catalisa o último passo do ciclo de alongamento de ácidos graxos no sistema síntese de ácidos graxos do tipo II, inibin-do a síntese da membrana celular e impe-dindo assim o crescimento bacteriano.10O triclosan, 5-cloro-2-(2,4-diclorofenoxi)-fenol tem atividade antibacteriana e antifúngica e é adicionado a produtos de higiene pessoal, como sabonetes, cremes dentais e desodorantes.11 O mecanismo da ação antibacteriana do triclosan não está bem esclarecido. O triclosan possivel-mente atua na membrana citoplasmática, assim como o triclocarban, pois bactérias resistentes ao triclosan, normalmente, têm

mutações na enzima ACP, envolvida na biossíntese das membranas.4Em dezembro de 2013, a FDA (US Food and Drug Administration) a � rmou que não existiam estudos su� cientes com-provando que os sabonetes antibacteria-nos seriam mais e� cazes que os sabonetes comuns. De acordo com a FDA, até a presente data não há provas de benefícios adicionais à saúde do triclosan em produ-tos de cuidado pessoal, além de seu efeito antigengivite em cremes dentais. A segurança do triclosan está atu-almente sendo revista pela FDA e pela Health Canada.11,12Em setembro de 2016, a FDA proibiu o uso do triclocarban em produtos OTC, ou seja, aqueles vendidos sem receita, para lavagem de mãos e corpo,5,13 con-siderando que os fabricantes não foram capazes de demostrar sua segurança no uso diário ou que sabonetes contendo essa substância fossem mais e � cazes que os sabonetes comuns. No entanto, o triclor-carban ainda é utilizado em outros países com exposição humana evidenciada.14–16Além disso, o produto ainda é aprovado nos EUA em outros produtos de cuidado pessoal, incluindo desodorantes, loções e cremes dentais, assim como para os de uso médico.5,13No Brasil, existem 215 sabonetes antissépticos que contêm a substância triclosan e 110 que contêm triclocarban. O uso dessas substâncias no país é regu-lado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A concentração máxima de triclosan permitida em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes é de 0,3%. Não há, contudo, qualquer tipo de recomendação de limitação ou condições de uso. Já o triclocarban consta na lista da Anvisa de substâncias que os produtos de higie-ne pessoal e cosméticos não devem ter, salvo algumas exceções nas quais pode aparecer em produtos destinados a serem enxaguados, em concentração máxima no produto � nal de 1,5%.13,17

L Martins Coissi, ML Tomitão, AR Paladino TumitanUniversidade do Oeste Paulista (Unoeste), Presidente Prudente SP, Brasil

O

A atividade antimicrobiana de sabonetes antissépticos, convencionais e vegetais foi avaliada contra diferentes cepas de microrganismos. Os autores concluíram que há necessidade de padronizar os testes quanto à metodologia e às cepas utilizadas.

Se evaluó la actividad antimicrobiana de los jabones antisépticos, convencionales y vegetales contra diferentes cepas de microorganismos. Los autores concluyeron que es necesario estandarizar las pruebas con respecto a la metodologia y las cepas utilizadas.

The antimicrobial activity of antiseptic, conventional and vegetables soaps was evaluated against different strains of microorganisms. The authors concluded that there is a need for standardize the tests regarding the methodology and the strains used.

AT 1035_Atividade.indd 38 13/02/2020 13:45:18

Page 2: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

www.cosmeticsonline.com.br Cosmetics & Toiletries (Brasil)/39 Vol. 32, jan-fev 2020

Os agentes antissépticos presentes nos sabonetes podem contribuir para o aumento da resistência bacteriana e promover o desequilíbrio da microbiota normal da pele, favorecendo a ocorrência de infecções oportunistas. Além disso, podem conter impurezas carcinogênicas, causar efeitos adversos (como aler-gias, distúrbios endócrinos e toxicidade aguda e crônica) e podem permanecer no meio ambiente como poluente por longo tempo.8A resistência ao triclosan, que decorre da exposição a esse agente, pode afetar diretamente a resistência a antibióticos. A resistência cruzada triclosan-antibióticos foi testada em relação a ampla gama de antibióticos após a exposição ao triclosan, e, o cloranfenicol e a tetraciclina foram dois antibióticos comumente incluídos nesses experimentos.18 As resistências cruzadas em Pseudomonas aeruginosa,19 Stenotrophomonas maltophilia20e Salmonella enterica serovar typhimurium21 foram atribuídas a sistema de e � uxo. Bactérias resistentes ao triclosan, normal-mente, têm mutações na proteína enoil–ACP, que é importante para a biossíntese das membranas celulares, também, são alvos de drogas antibióticas, como a isoniazida.4O uso de plantas pode ser uma alternativa de substituição aos antissépticos e desinfetantes sintéticos, visando evitar o desenvolvimento de resistência bacteriana a esses compostos, uma vez que metabólitos vegetais atuam por mecanismos varia-dos.22,23 Tem-se buscado o desenvolvimento de novos produtos de fontes alternativas (plantas) com o objetivo de melhorar a relação dos sabonetes antimicrobianos com a microbiota normal e com as cepas invasoras, no intuito de evitar o desenvolvimento de resistência bacteriana aos produtos de uso convencional.23,24A pele humana é colonizada por grande número de microrga-nismos que compõem a microbiota normal e vivem em harmonia

em seus habitats; o hospedeiro lhes fornece condições para que possam viver e a microbiota garante que tenham uma barreira protetora contra patógenos. No entanto, quando há ruptura da integridade da pele, ou desequilíbrio da microbiota normal, pode haver invasão da pele por bactérias autóctones ou não, dando início a uma infecção clinicamente estabelecida.14,25Estudo de 2007 lançou a ideia de que o triclocarban seria um “novo tipo de disruptor endócrino” que aumentaria a ação de hor-mônios endógenos.26 Mais recentemente, foi demonstrado que o triclocarban pode perturbar a microbiota intestinal de animais27e de seres humanos,28 acarretando inúmeros efeitos deletérios à saúde.29 Há evidências de que o acúmulo de triclosan no meio ambiente impacta negativamente os organismos, como as algas nos ecossistemas aquáticos.30Os sabonetes antissépticos são amplamente utilizados, em-bora não existam evidências de que sejam melhores que os sabo-netes comuns no que se refere à eliminação de microrganismos.12Há vários estudos sobre os efeitos prejudiciais que os agentes antissépticos presentes nas formulações desses sabonetes podem causar à saúde humana18-21,25-29 e ao meio ambiente.30 Existem poucos estudos sobre a e � cácia dos sabonetes antissépticos, an-tibacterianos ou antimicrobianos,31sobre a e� cácia de sabonetes vegetais e comparando as atividades antibacterianas de sabonetes convencionais, vegetais e antimicrobianos.32ObjetivosEste estudo teve o objetivo de determinar a atividade anti-microbiana de três classes de sabonetes comerciais –antimicro-bianos, convencionais e vegetais -, bem como o de comparar suas atividades.

AT 1035_Atividade.indd 39 13/02/2020 13:45:19

Page 3: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

40/Cosmetics & Toiletries (Brasil) www.cosmeticsonline.com.br Vol. 32, jan-fev 2020

MetodologiaA atividade antimicrobiana dos sabo-netes foi examinada usando o tempo de exposição oficialmente proposto pelo Clinical and Laboratory Standards Ins-titute (CLSI) M26-A, em métodos para determinar a atividade bactericida dos agentes antimicrobianos, com algumas pequenas modi � cações.6,33 Considera-mos como atividade antimicrobiana, a redução significativa na população microbiana, após exposição ao sabonete em relação ao controle. Ativação das cepas bacterianas Foram utilizadas as cepas dos microrga-nismos: Escherichia coli (CCCD E004), Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Enterococcus faecalis (CCCD E002) e Candida albicans (ATCC 90028). Cada cepa foi ativada pela trans-ferência de uma alçada da suspensão reconstituída, conforme instruções do fabricante, para o caldo Brain Heart In-fusion (BHI). Após a incubação a 37ºC por 24 horas, uma alçada foi transferida para uma placa de ágar Mueller-Hinton (MSD - Merck Sharp & Dohme Farma-cêutica), que foi incubada a 37ºC por 24 horas, seguida de repique para outra placa do mesmo ágar e de nova incuba-ção. A partir do crescimento bacteriano obtido na segunda placa, foi preparada uma suspensão de cada cepa em solu-ção salina � siológica estéril, de forma a produzir turvação de 0,5 da escala de Mac Farland, que corresponde a 1,5 x 108bactérias/ml.6,33Preparo das amostras de sabonetes Amostras de 3 marcas de sabonetes em barra convencionais, de 3 marcas de sabonetes vegetais e de 3 marcas de sabonetes antibacterianos, obtidas no comércio local, foram fracionadas em porções de 10 g cada e diluídas em 40 ml de água destilada estéril (diluição 1:5). Três ml de cada solução de sabão foram colocados em um tubo cônico estéril, usando ponteiras estéreis e mantido à temperatura ambiente.6,15Ensaio do efeito bactericida dos sabonetesUma alíquota de 60 l de cada suspensão bacteriana foi inoculada em cada solução de amostra de sabonete, seguida de um tempo de exposição de 30 segundos.

Tabela 4. Atividade antimicrobiana de três classes de sabonetes contra Enterococcus faecalis

p = 0,0045; *p < 0,01

Marca de sabonete População bacteriana sobrevivente (log10 UFC/ml)Antes Convencionais* Vegetais Antimicrobianos*1 8,398 4,630 5,365 3,7562 8,398 5,392 5,294 3,9033 8,398 0 4,863 0

Tabela 5. Atividade antimicrobiana de três classes de sabonetes contra Candida albicans

*p = 0,0037; p < 0,01

Marca de sabonete População bacteriana sobrevivente (log10 UFC/ml)Antes Convencionais* Vegetais* Antimicrobianos*1 8,152 2,845 4,301 02 8,152 4,792 4,477 4,3933 8,152 4,124 3,903 0

Tabela 2. Atividade antimicrobiana de três classes de sabonetes contra Escherichia coliMarca de sabonete População bacteriana sobrevivente (log10 UFC/ml)Antes Convencionais* Vegetais* Antimicrobianos*1 8,380 3,826 0 3,4312 8,380 5,393 0 3,3013 8,380 3,886 0 4,732*p = 0,0003; p <01.

Tabela 3. Atividade antimicrobiana de três classes de sabonetes contra Staphylococcus aureus

p = 0,0206; *p < 0,05

Marca de sabonete População bacteriana sobrevivente (log10 UFC/ml)Antes Convencionais Vegetais Antimicrobianos*1 8,265 5,283 5,336 02 8,265 5,398 5,301 5,3983 8,265 5,398 5,320 4,862

Tabela 1. População microbiana antes e após o tratamento com diferentes marcas de sabonetesSabonetes Escherichia coli (log10 UFC/ml) Staphylococcusaureus (log10 UFC/ml)

Enterococcusfaecalis (log10UFC/ml)Candidaalbicans (log10UFC/ml)Antes 8,380 8,265 8,398 8,152Marca 1* 3,826 5,283 4,630 2,845Marca 2 5,393 5,398 5,392 4,792Marca 3** 3,886 5,398 0 4,124Marca 4* 0 5,336 5,365 4,301Marca 5* 0 5,301 5,294 4,477Marca 6** 0 5,320 4,863 3,903Marca 7** 3,431 0 3,756 0Marca 8* 3,301 5,398 3,903 4,393Marca 9** 4,732 4,862 0 0Sabonetes convencionais: marcas 1, 2 e 3. Sabonetes vegetais: marcas 4, 5 e 6. Sabonetes antimicrobianos: marcas 7 (triclosan + triclocarban), 8 e 9 (triclocarban). p = 0,016; *p < 0,05; **p < 0,01.

AT 1035_Atividade.indd 40 13/02/2020 13:45:19

Page 4: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

www.cosmeticsonline.com.br Cosmetics & Toiletries (Brasil)/41 Vol. 32, jan-fev 2020

Todos os ensaios foram realizados em triplicata. Após a exposição das amostras de sabonete aos microrganismos, foram adicionados 30 ml de tampão neutralizante (Dey/Engley, Difco) modi� cado a cada amostra tratada, para � nalizar qualquer ativi-dade bactericida, e as amostras foram homogeneizadas a 230 rpm por 1 minuto (diluição 1:10). Dez microlitros foram inoculados com alça calibrada em placas ágar Mueller-Hinton, espalhados e as placas foram incubadas a 37ºC por 24 horas.6,15 Os controles foram realizados inoculando 10 l de cada suspensão microbiana diluída a 10-6 em placas de ágar Mueller-Hinton. Após a incuba-ção das placas a 37ºC por 24 h, foram realizadas as contagens de colônias para determinar as unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/ml) e a determinação do log10 UFC/ml. Tratamentos e análises dos resultados Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) dois critérios, usando o programa BioEstat 5,0. Quando a ANOVA mostrou resultado signi� cante (p<0,05), os valores médios foram separados usando o teste de Tukey. Resultados e DiscussõesA Tabela 1 mostra a atividade antimicrobiana de nove várias marcas de sabonetes testadas contra diferentes microrganismos. Todas as marcas de sabonete testadas mostraram atividade antimicrobiana contra os quatro microrganismos empregados no experimento (p<0,05 ou p<0,01), exceto a marca 2. Esses resultados são concordantes com os de Kim e Rhee (2016),6que relataram não haver diferença de e � cácia entre sabonete antibacteriano e sabonete vegetal, contra 20 cepas bacterianas. Os resultados deste trabalho corroboram ainda com a consta-tação de Martins (2014),34 de que, na verdade, não há atualmente nenhuma evidência de que os sabonetes antibacterianos são mais e� cazes na prevenção de doenças do que a simples lavagem com água e sabão comum.Não houve diferença signi� cativa (p=0,1387) na atividade antimicrobiana dos sabonetes antissépticos contra microrga-nismos gram-positivos e gram-negativos. Esses resultados são discordantes dos de Kim e Rhee (2016)6 e dos de Costa (2018),35que encontraram maior atividade antibacteriana desses sabonetes contra bactérias gram-positivas. Essa diferença pode ter ocorrido devido às diferentes cepas empregadas. As autoras deste trabalho utilizaram a S. aureus ATCC 25923, a E. coli CCCD E004 e a E. faecalis CCCD E002, enquanto Kim e Rhee (2016)6 haviam utilizado as cepas ATCC S. aureus (29213 e 6538), E. faecalis(19433 e 29212) e E. coli (11775 e 25922). Adicionalmente, os tempos de exposição dos microrganismos aos sabonetes foram diferentes: aqueles autores utilizaram o tempo de 20 segundos e as autoras deste trabalho, 30 segundos. Conforme foi relatado por Rotter (2001),36 o tempo gasto durante a higienização das mãos in� uencia diretamente a redução da microbiota transitória desse local. As autoras neste trabalho utilizaram a mesma cepa de S. aureus (ATCC 25923) utilizada por Costa (2018),35 porém a cepa de E. coli foi diferente: Costa (2018) utilizou a ATCC 25922. Além disso, as autoras utilizaram metodologia diferente (ele usou: difusão em ágar) e amostras diferentes (ele usou: sabonetes líquidos). Quando analisamos a atividade antimicrobiana dos sabonetes agrupados por classes (convencionais, vegetais e antimicrobia-nos) em relação a cada microrganismo, observamos diferenças.

AT 1035_Atividade.indd 41 14/02/2020 10:40:28

Page 5: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

42/Cosmetics & Toiletries (Brasil) www.cosmeticsonline.com.br Vol. 32, jan-fev 2020

Os sabonetes convencionais, vegetais e antimicrobianos foram ativos contra E. coli (p=0,0003), porém os sabonetes vegetais apresentaram melhor atividade contra esse microrga-nismo (Tabela 2). Os sabonetes vegetais possuem compostos à base de etanol, como o glicerol (glicerina), e, para Martins (2014),34 as bases de etanol são capazes de provocar o rom-pimento da membrana dos microrganismos, interferindo na estabilidade da bicamada lipídica, re � etindo em uma ação bacteriostática.Houve diferenças entre as atividades antimicrobianas de sabonetes convencionais, vegetais e antimicrobianos contra S. aureus (p=0,0206), sendo que apenas os antimicrobianos foram ativos contra esse microrganismo (p<0,05), conforme Tabela 3. O triclosan e o triclocarban utilizados nas formulações dos sabonetes têm amplo espectro de atividade antimicrobiana, com maior atividade contra bactérias gram-positivas.35Os resultados obtidos pelas autoras foram discordantes daqueles observados por Silva e Souza (2015)37 em estudo com sabonetes líquidos, no qual o microrganismo S. aureus foi resistente ao triclosan na concentração de 0,3%. São discordantes, ainda, também com os relatos de Kim e Rhee (2016)6, em cujo experimento os sabonetes antibacterianos contendo 0,3% de triclosan não foram mais efetivos do que os sabonetes vegetais contra esse microrganismo. Houve diferenças entre as atividades antimicrobianas de sabonetes convencionais, vegetais e antimicrobianos contra E. faecalis (p=0,0045), sendo que apenas os convencionais e os antimicrobianos foram ativos contra esse microrganismo (p< 0,01), conforme Tabela 4. Esses resultados corroboram com os de Kim e Rhee (2016),6 que relataram que os sabonetes antibacterianos contendo 0,3% de triclosan foram mais efetivos que os sabonetes vegetais contra o microrganismo E. faecalis.Todas as classes de sabonetes foram ativas contra C. albi-cans (p=0,0037), sendo que os antimicrobianos apresentaram melhor atividade contra esse microrganismo (Tabela 5). O triclosan tem atividade antibacteriana e antifúngica,11 mas seu mecanismo de ação não está bem esclarecido e possivelmente atua na membrana citoplasmática, assim como o triclocarban, pois bactérias resistentes ao triclosan normalmente têm muta-ções na enzima ACP, envolvida na biossíntese das membranas.4Os sabonetes antimicrobianos foram ativos contra os qua-tro microrganismos testados (E. coli, S. aureus, E. faecalis e C. albicans), os sabonetes convencionais foram ativos contra três deles (E. coli, E. faecalis e C. albicans) e os sabonetes vegetais foram ativos contra dois deles (E. coli e C. albicans), conforme Tabela 6.Embora os sabonetes antibacterianos, que contêm triclocar-ban + triclosan ou triclocarban em suas formulações, tenham mostrado melhor atividade antimicrobiana, especialmente contra S. aureus, é preciso considerar que, hoje, não há evidên-

cia de que os sabonetes antibacterianos sejam mais e � cazes na eliminação de microrganismos do que os sabonetes comuns.12,35Os agentes antissépticos presentes nos sabonetes antimicrobia-nos podem: contribuir para o aumento da resistência bacteriana após exposições consecutivas;38 ser absorvidos de maneira cumulativa, levando à exposição sistêmica e produzindo toxici-dade;12 e promover o desiquilíbrio da microbiota normal da pele, favorecendo a ocorrência de infecções oportunistas. Além disso, podem conter impurezas carcinogênicas, apresentar efeitos adversos (como alergias e distúrbios endócrinos) e permanecer no meio ambiente como poluente por longo tempo.8Uma limitação deste estudo foi a di � culdade de comparar os dados obtidos, com as poucas publicações existentes sobre o tema, devido à falta de padronização de metodologias para avaliar a atividade antimicrobiana dos sabonetes e das cepas de microrganismos utilizadas nos testes.ConclusãoMais estudos, comparando a atividade antimicrobiana dos sabonetes antissépticos com a dos demais sabonetes e identi � -cando os efeitos prejudiciais daqueles à saúde humana e ao meio ambiente, são necessários para garantir o uso mais racional e seguro desses sabonetes.Há necessidade de fazer a padronização dos testes de ativi-dade antimicrobiana dos sabonetes quanto à metodologia e às cepas utilizadas.É importante conscientizar a população acerca da falta de comprovação cientí � ca da maior e � cácia dos sabonetes anti-microbianos, em relação aos demais sabonetes, e dos riscos da utilização indiscriminada daqueles produtos.Referências 1. Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal e Cos-méticos. 2014/2015. Caderno de Tendências 2019-2020. On-line. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/CADERNO%20DE%20TENDENCIAS%202019-2020%20Sebrae%20Abihpec%20vs%20� nal.pdf. Acesso em: 21/4/2018 2. LN Prista, MFG Bahia, E Vilar. Banhos, sabões e outros agentes de limpeza, In: Dermofarmácia e Cosmética, Portugal, Educação Associação Nacional de Farmácias, 1995 3. C Ribeiro. Cosmetologia Aplicada a Dermocosmética. 2ª. edição.Pharmabooks, São Paulo, 2010 4. M Gerhardt. Say goodbay to antibacterial soaps: why FDA is banning a household item. On-line. Disponível em: http://sitn.hms.harvard.edu/� ash/2017/say-goodbye-antibacterial-soaps--fda-banning-household-item/. Acesso em: 21/4/2018 5. JM Boyce, D Pittet. Guideline for Hand Hygiene in Health-Care Settings: Recommendations of the Healthcare Infection Control Practices Advisory Committee and the HICPAC/SHEA/APIC/IDSA Hand Hygiene Task Force, MMWR 51(RR16):01-56, 2002 6. SA Kim, MS Rhee. Microbicidal e ects of plain soap vs triclocarban--based antibacterial soap, J Hosp Infect 94(3):276-280, 2016

Tabela 6. Resumo da atividade antimicrobiana de sabonetes convencionais, vegetais e antimicrobianos contra quatro microrganismosMicrorganismos Sabonetes convencionais Sabonetes vegetais Sabonetes antimicrobianosE. coli Ativos (p < 0,01) Ativos (p < 0,01) Ativos (p < 0,01)S. aureus Sem atividade (p > 0,05) Sem atividade (p > 0,05) Ativos (p < 0,05)E. faecalis Ativos (p < 0,01) Sem atividade (p > 0,05) Ativos (p < 0,01)C. albicans Ativos (p < 0,05) Ativos (p < 0,05) Ativos (p < 0,01)

AT 1035_Atividade.indd 42 13/02/2020 13:45:20

Page 6: Atividade Antimicrobiana de Sabonetes Antiss pticos · 2020-05-08 · O triclosan, ê5-cloro-2-*2,4-dicloro fenoxi+-fenol tem atividade antibacteriana e antif)ngica e ' adicionado

44/Cosmetics & Toiletries (Brasil) www.cosmeticsonline.com.br Vol. 32, jan-fev 2020

7. LP Sandoval Rodríguez, M Sandra, G Solari, DJ Benites Vílchez, J López, V Ii. Utilización de sulfato de cobre para la elaboración de un jabón líquido antiséptico, Rev Cubana Farm 48(4):542-549, 2014 8. RU Halden. On the Need and Speed of Regulating Triclosan and Triclocarban in the United States, Environ Sci Technol 48(7):3603-3611, 2014 9. EN Perencevich , MT Wong, AD Harris . National and regional assessment of the antibacterial soap market: a step toward determining the impact of prevalent antibacterial soaps, Am J Infect Control 29(5):281-283, 2001 10. National Library of Medicine. National Center of Biothecnology Information. Triclocarban. On-line Disponível em: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/Triclocarban#section=Top. Acesso em: 30/6/2018 11. National Library of Medicine. National Center of Biothecnology Information. Triclosan. On-line. Disponível em: https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/triclosan#section=Top. Acesso em: 30/6/201812. Federal Register. Part III - Department of Education Department of Health and Human Services, National Archives 78(97):76443-76478, 2013 13. Department of Health and Human Services. Safety and E ec-tiveness of Consumer Antiseptics; Topical Antimicrobial Drug Products for Over-the-Counter Human Use, Federal Register81(172):61106-61130, 2016 14. H Frederiksen , JKS Nielsen, TA Mørck, PW Hansen, JF Jensen, O Nielsen, et al. Urinary excretion of phthalate metabolites, phenols and parabens in rural and urban Danish mother–child pairs, Int J Hyg Environ Health 216(6):772-783, 2013 15. KT Renzy-Martin, H Frederiksen, JS Christensen, HB Kyhl, AM Andersson, S Husby et al. Current exposure of 200 pregnant Danish women to phthalates, parabens and phenols, Reprod 147(4):443-453, 2014 16. J Yin, L Wei, Y Shi, J Zhang, Q Wu, B Shao. Chinese population exposure to triclosan and triclocarban as measured via human urine and nails, Environ Geochem Health 38(5):1125-1135, 201617. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. RDC nº 7, de 10/2/2015 - Dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosmé-ticos e perfumes e dá outras providências. On-line Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2867685/RDC_07_2015_.pdf/c2a1078c-46cf-4c4b-888a-092f3058a7c7. Acesso em: 30/6/2018 18. DE Carey, PJ McNamara. The impact of triclosan on the spre-ad of antibiotic resistance in the environment, Front Microbiol5(780):01-11, 2015 19. R Chuanchuen, K Beinlich, TT Hoang, A Becher, RR Karkho --Schweizer, HP Schweizer. Cross-resistance between triclosan and antibiotics in Pseudomonas aeruginosa is mediated by multidrug e ux pumps: exposure of a susceptible mutant strain to triclosan selects nfxB mutants overexpressing MexCD-Opr, JAntimicrob Agents Chemother 45(2):428-432, 2001 20. P Sanchez, E Moreno, JL Martinez. The biocide triclosan selects Stenotrophomonas maltophilia mutants that overproduce the SmeDEF multidrug e ux pump, J Antimicrob Agents Chemother49(2):781–782, 2005 21 KA Karatzas, MA Webber, F Jorgensen , MJ Woodward, LJ Piddock, TJ Humphrey. Prolonged treatment of Salmonella enterica serovar Typhimurium with commercial disinfectants selects for multiple antibiotic resistance, increased e ux and reduced invasiveness, J Antimicrob Chemother 60(5):947-955, 2007 22. EK Barbour, M Al Sharif , VK Sagherian, AN Habre, RS Talhouk, SN Talhouk. Screening of selected indigenous plants of Lebanon for antimicrobial activity, J Ethnopharmacol 93(1):1-7, 2004 23. RAA Mothana, U Lindequist. Antimicrobial activity of some medicinal plants of the island Soqotra. J Ethnopharmacol96(1–2):177–181, 2005 24. TM Souza, RRD Moreira, RCLR Pietro, VLB Isaac. Avaliação da atividade anti-séptica de extrato seco de Stryphnodendron adstringens Coville, Rev Bras Farmacogn 17(1):71-75, 2007

25. L Sánchez-Saldaña, E Sáenz-Anduaga. Infecciones Cutáneas Bacterianas, Derm Peru 16(1):7-31, 2006 26. J Chen, KC Ahn, NA Gee, MI Ahmed, J Duleba, L Zhao, SJ Gee, BD Hammock, BL Lasley Triclocarban enhances testosterone action: A new type of endocrine disruptor?, Endoc 149(3):1173-1179, 2008 27. RC Kennedy RC, RR Fling, MS Robeson, AM Saxton, RL Don-nell, JL Darcy, et al. Temporal development of gut microbiota in triclocarban exposed pregnant and neonatal rats, Sci Rep6(1):33430, 2016 28. JV Ribado, C Ley, TD Haggerty, E Tkachenko, AS Bhatt, J Par-sonnet. Household triclosan and triclocarban e ects on the infant and maternal microbiome, EMBO Mol Med 9(12):1732–1741, 201729. KJ P� ughoeft, J Versalovic. Human Microbiome in Health and Disease, Annu Rev Pathol Mech Dis 7(1):99-122, 2012 30. N Tatarazako, H Ishibashi, K Teshima, K Kishi, K Arizono. E ects of triclosan on various aquatic organisms, Environ Sci11(2):133–140, 2004 31. MPM Soares. Avaliação da e� ciência de sabonetes com triclosan sobre suspensões bacterianas de Escherichia coli e Staphylococ-cus aureus aplicadas sobre a superfície das mãos de voluntários(dissertação). Minas Gerais, Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais, 2013 32. KF Migliato, M Chorilli, MV Scarpa, RRD Moreira, MA Corrêa, VLB Isaac et al. Veri cação da atividade antibacteriana de sabonete líquido contendo extrato glicólico de Dimorphandra mollis Benth. Rev Ciencias Farm Básica e Apl 30(2):69–74, 2009 33. Clinical and Laboratory Standards Institute. M26-A Methods for Determining Bactericidal Activity of Antimicrobial Agents, Appro-ved Guideline 19(18), 1999. On-line. Disponível em: https://clsi.org/media/1462/m26a_sample.pdf. Acesso em: 13/1/2020 34. CGD Martins. Sabonetes antibacterianos: e� cácia e segurança(monogra a). Coimbra, Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Portugal, 2014 35. AC Costa, HWS Leite, LC Santos, MS Amorim, KMR Silva, ETH Araújo. Efeitos Antimicrobianos, in vitro, de sabonetes líquidos contendo triclosan frente a cepas de Escherichia coli e Staphylo-coccus aureus. Rev Pre Infec e Saúde 4(7060):1-10, 201836. ML Rotter. Arguments for alcoholic hand disinfection, J HospInfect 48(Suppl.A):S4-S8, 2001 37. PS Silva, LBG Souza. Avaliação da atividade antibacteriana in vitro de sabonetes antissépticos com diferentes concen-trações de triclosan. In: IX EPCC - Encontro Internacional de Produção Cientí� ca UniCesumar, Maringá, Anais Eletrô-nico, 2015. On-line. Disponível em: https://www.google.com/search?ei=CMkcXpCqB9Wc5OUP3e-AwAc&q=PS+Silva%2C+LBG+Souza.+Avalia%C3%A7%C3%A3o+da+atividade+antibacteriana+in+vitro+de+sabonetes+antiss%C3%A9pticos+com+diferentes+concentra%C3%A7%C3%B5es+de+triclosan.&oq=PS+Silva%2C+LBG+Souza.+Avalia%C3%A7%C3%A3o+da+atividade+antibacteriana+in+vitro+de+sabonetes+antiss%C3%A9pticos+com+diferentes+concentra%C3%A7%C3%B5es+de+triclosan.&gs_l=psy-ab.12...6507.6507..8318...0.0..0.0.0.......2....2j1..gws-wiz.TIR7vNlFtEk&ved=0ahUKEwiQzoDUq4HnAhVVDrkGHd03AHgQ4dUDCAs. Acesso em: 13/1/2020 38. JR Gnatta, FMG Pinto, CQM Bruna, RQ Souza, KU Graziano, MJP Silva. Comparação da e cácia antimicrobiana na higienização das mãos: óleo essencial de Melaleuca alternifolia versus triclosan, Rev Latino-Am Enfermagem 21(6):1212-1219, 2013Larissa Martins Coissi e Maria Luiza Tomitão são discentes do curso

de Farmácia da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), Presidente

Prudente SP, Brasil

Ana Rita Paladino Tumitan é docente do curso de Farmácia da Universi-

dade do Oeste Paulista (Unoeste), Presidente Prudente SP, Brasil

AT 1035_Atividade.indd 44 13/02/2020 13:45:20