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FACULDADE 7 DE SETEMBRO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICODRAMA SOCIO-EDUCACIONAL E TERAPEUTICO KARLA JULIANNE NEGREIROS DE MATOS O ÁTOMO COMO UM INSTRUMENTO TERAPÊUTICO NA CLÍNICA PSICODRAMÁTICA Fortaleza - CE 2014

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Estudo teórico e prático sobre o átomo social, uma das mais importantes técnicas do Psicodrama.

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  • FACULDADE 7 DE SETEMBRO

    CURSO DE ESPECIALIZAO EM PSICODRAMA

    SOCIO-EDUCACIONAL E TERAPEUTICO

    KARLA JULIANNE NEGREIROS DE MATOS

    O TOMO COMO UM INSTRUMENTO TERAPUTICO NA

    CLNICA PSICODRAMTICA

    Fortaleza - CE

    2014

  • Karla Julianne Negreiros de Matos

    O TOMO COMO UM INSTRUMENTO TERAPUTICO NA

    CLNICA PSICODRAMTICA

    Monografia apresentada Coordenao do Curso de Especializao em Psicodrama Scio-Educacional e Teraputico da Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obteno do ttulo de especialista em psicodrama, sob a orientao do Prof. Marco Antnio Amato.

    Fortaleza - CE

    2014

  • A alegria no chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender no pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.

    Paulo Freire

  • AGRADECIMENTOS

    minha famlia que investe em minhas possibilidades e me incentiva a atuar no

    espetculo da vida.

    o meu namorado, Fbio, que enche minha vida de criatividade e alegria.

    minha querida amiga Lise da Silveira, pelo incentivo e pela matrizao desse

    papel de psicodramatista.

    Aos meus queridos colegas de psicodrama pelos anos de treino de espontaneidade.

    Aos professores do psicodrama pela formao to humana e construo de um

    papel to sonhando por mim o de Psicloga e Psicodramatista.

    Deus por criar esse palco do universo para que possamos atuar.

  • RESUMO

    O ser humano um ser relacional, essa uma das ideias estruturantes do

    Psicodrama. Conhecer, estudar e investigar como, quando e o porqu o ser humano

    se relaciona uma das principais tarefas dos psicodramatistas que em muitos casos

    se denominam investigadores sociais. Moreno didaticamente constri tcnicas como

    o tomo social, que materializa e objetiva as relaes dos sujeitos consigo e com

    seu entorno, possibilitando uma investigao profunda das redes sociais dos

    sujeitos. Assim, o seguinte trabalho se prope a fazer um passeio sobre os conceitos

    sociomtricos que do base para o desenvolvimento de tcnicas como o tomo

    social. Em seguida feito um breve estudo sobre a clnica psicodramtica individual,

    a partir da leitura do Psicodrama Bipessoal e da Psicoterapia da Relao. Em

    seguida, so apresentados dois recortes de casos clnicos em que houve

    interveno teraputica pelo tomo social, com diferentes mtodos, intervenes e

    resultados, permitindo aos pacientes a construo de respostas novas e novas

    perguntas que caracterizam a produo de espontaneidade dentro do espao

    teraputico da clnica psicodramtica.

    Palavras-chaves: Psicodrama, Sociometria, tomo.

  • ABSTRACT

    The idea that human being is a relational being, is one of the structural ideas of

    Psychodrama.ToKnow how to study and the way human being relates is one of the

    main tasks of psychodramatists,for that reason, psychodramatists that in many cases

    are called social researcher. Morenois didactically technique builds as the social

    atom, which materializes and objective relations between person with yourself and

    your surroundings this may evalue complete investigation of the social networks of

    individuals. Thus, the following study aims to take a ride on the sociometric concepts

    underpinning for the development of social atom. Then it made a brief study on the

    individual clinical psychodrama is presented Fonsceca Books, from reading the

    bipersonal Psychodrama and Psychotherapy of Relationships. At the end, two clinical

    cases clippings are used to illustrate different therapeutic interventions using social

    atom technique. Allowing patients to build new and new questions that characterize

    the production of spontaneity within the therapeutic space of psychodrama clinical

    responses.

    Keywords: Psychodrama, Sociometry, Atom.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    ILUSTRAO 1 - TOMO SOCIAL - C1 .................................................................. 40

    ILUSTRAO 2 - TOMO DE PAPIS IDEAL - C2 ................................................. 45

    ILUSTRAO 3 - TOMO DE PAPIS REAL - C2 .................................................. 46

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - TCNICAS DO PSICODRAMA ................................................................ 30

    Tabela 2 - TCNICAS DO PSIDODRAMA ................................................................ 32

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................... 10

    2 FUNDAMENTAO TERICA ......................................................................... 12

    2.1 BIOGRAFIA DE MORENO ........................................................................... 12

    2.2 BIOGRAFIA DE MORENO SEGUNDO CAMILA SALLES ........................... 14

    2.3 ESPONTANEIDADE E CRIATIVIDADE ....................................................... 15

    2.4 TEORIA DE PAPIS .................................................................................... 16

    2.5 CLUSTER .................................................................................................... 18

    2.6 TELE E TRANSFERNCIA .......................................................................... 19

    3 TOMO SOCIAL COMO INSTRUMENTO TERAPUTICO .............................. 21

    3.1 CONSTRUO DA SOCIOMETRIA ............................................................ 21

    3.2 TOMO SOCIAL .......................................................................................... 23

    3.2.1 APLICAO DO TOMO ...................................................................... 26

    3.2.2 EXPLORAO DO TOMO ................................................................. 27

    4 PSICODRAMA ................................................................................................... 29

    4.1 CLNICA BIPESSOAL .................................................................................. 29

    4.2 PSICOTERAPIA DA RELAO ................................................................... 31

    4.3 A FILOSOFIA DO MOMENTO ..................................................................... 32

    4.4 CATARSE DE INTEGRAO ...................................................................... 33

    5 TOMO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENO NA CLNICA................. 35

    5.1 METODOLOGIA .......................................................................................... 35

    5.2 CASO 1 ........................................................................................................ 36

    5.3 IDENTIFICAO.......................................................................................... 36

    5.4 PERODO DE ATENDIMENTO .................................................................... 36

    5.5 QUEIXA ........................................................................................................ 36

    5.6 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES ............... 36

    5.7 COMPREENSO TERAPUTICA ............................................................... 38

  • 5.8 APLICAO DO TOMO SOCIAL .............................................................. 38

    5.9 MEMBROS DO TOMO .............................................................................. 39

    5.10 ILUSTRAO DO TOMO SOCIAL ............................................................ 40

    5.10.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL ............................................................. 40

    5.11 CASO 2 ........................................................................................................ 41

    5.12 IDENTIFICAO.......................................................................................... 41

    5.13 PERODO DE ATENDIMENTO .................................................................... 41

    5.14 QUEIXA ........................................................................................................ 41

    5.15 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES ............... 41

    5.16 COMPREENSO TERAPUTICA ............................................................... 42

    5.17 APLICAO DO TOMO DE PAPIS ........................................................ 43

    5.18 MEMBROS DO TOMO J ........................................................................... 44

    5.19 ILUSTRAO DO TOMO DE PAPIS SOCIAIS....................................... 45

    5.20 IDEAL ........................................................................................................... 45

    5.20.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL IDEAL .................................................. 45

    5.20.2 ANLISE DO TOMO SOCIAL REAL ................................................... 46

    6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 48

    7 REFERNCIAS .................................................................................................. 50

  • 10

    1 INTRODUO

    O psicodrama surgiu na minha vida ainda no inicio da faculdade de forma

    bem espontnea. No primeiro semestre, eu precisei apresentar um seminrio sobre

    o Psicodrama, meu primeiro contato com as leituras, me soou um pouco estranho

    essa interao e toda a participao em um trabalho psicodramtico. Quando fui

    prtica propor a minha turma que fizessem uma atividade, o resultado foi

    maravilhoso e me deixou bastante impressionada de como atividades

    aparentemente simples poderiam envolver e ao mesmo tempo instruir tanto.

    Embora durante a faculdade a fenomenologia sempre tenha tido a minha

    ateno, em especial a teoria de Buber que me fascinara com sua concepo de

    encontro, ao iniciar a formao em fenomenologia sentia que faltava algo, algo que

    ia alm das reflexes e proposies sobre o existir. Faltava o drama, faltava ao, o

    reconhecimento do ser como ativo e participante. S muito depois, descobri a

    proximidade entre Buber e Moreno.

    Ainda durante a minha formao acadmica tive contato com uma

    psicodramatista em sala de aula e posteriormente na clnica como paciente e essas

    aproximaes me levaram ao desejo de me aprofundar no Psicodrama.

    Iniciei meus estgios em clnica na universidade como psicodramatista e

    durante um ano e meio acompanhei dois pacientes, com histrias distintas, porm

    em consonncia com o desejo de serem mais espontneos e mais felizes. Desses

    processos, apresento um recorte especial, auxiliado por uma das ferramentas da

    sociometria que enriqueceu esse processo teraputico o tomo.

    Assim, esse trabalho se debrua sobre a histria de vida do psicodrama,

    contado pelo prprio Moreno, sobre as principais referencias do psicodrama como

    escola filosfica e tcnica de atuao psicoterpica, assim como a aplicao do

    tomo que pode ser decomposto em vrias temticas, dentre as quais o tomo

    social e de papeis, utilizado como recurso na clnica psicodramtica, como um

    instrumento de reflexo e gerador de espontaneidade e criatividade.

  • 11

    E a partir da aplicao do tomo social em dois casos clnicos, aprofundo

    esse instrumento teraputico, que embora aplicado em casos distintos e com

    metodologias distintas foram essenciais para o desenvolvimento desses processos

    teraputicos.

  • 12

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    2.1 BIOGRAFIA DE MORENO

    Moreno reconhecido como o pai do Psicodrama, considerado um gnio por

    muitos e louco por outros tantos, tem em seus percursos ao longo da vida um palco

    para a construo do teatro da cura em busca da espontaneidade em um mundo

    marcado pelas conservas culturais.

    a partir da sua autobiografia que esse trabalho se aproxima da sua histria

    que est em consonncia com a histria do Psicodrama.

    Em sua autobiografia, Moreno, navega por histrias e recordaes no final de

    sua vida, relembrando suas razes, j que segundo ele, nasceu em alto mar e nunca

    pode precisar ao certo qual sua nacionalidade, nascendo assim junto com ele o

    primeiro mito dos muitos que cercaram a sua vida.

    Filho de um casal de descendncia judaica-serfadista era o primognito de

    uma me jovem, cheia de sonhos e grande contadora de histrias. Enquanto seu

    pai, Nissim Moreno Levy, era um homem srio e retrado, embora tenha sido um pai

    amoroso e afetuoso.

    Moreno viveu at os 5 anos em Bucareste na Romnia e segundo ele, passou

    seus primeiros anos em um meio cultural estranho: era como uma civilizao

    parisiense com a mentalidade camponesa. Logo em seu primeiro ano de vida

    apresenta uma passagem mtica no qual foi acometido por uma sria doena que foi

    curada com o auxlio de uma cigana, e essa garantiu a sua me que ele seria um

    grande homem.

    Aos quatro anos ele passa a frequentar a escola bblica serfaratista. Passa a

    estudar a bblia e a partir da surge seu fascnio por Deus que se concretiza em sua

    primeira sesso psicodramtica quando atua e ao mesmo tempo dirige junto com

    outras crianas o jogo de Brincar de Deus e seus anjos (MORENO, 1975).

    Ao mudar-se para Viena, aos 7 anos, ele afirma que sua famlia sempre se

    sentiu como estrangeiros. Porm todas essas mudanas permitiram uma rica

    variedade de influncias.

  • 13

    Na escola Moreno era bom aluno e querido por todos. Aos 11 anos ele faz

    uma viagem ao redor do mundo financiada por um tio, com quem descobre a

    importncia do dinheiro. Nessa poca ele passa a apresentar-se independente,

    desobediente e por vezes egocntrico se afastando do ceio familiar.

    J adolescente a famlia resolve mudar-se para Berlim. Aps poucas

    semanas ele retorna a Viena, onde comea a lecionar e dar conta de seu prprio

    sustento. Nesse perodo seu pai tem problemas nos negcios e seus tios passam a

    ajudar sua famlia que por fim acaba por ser abalada pela separao dos pais.

    Em sua adolescncia, Moreno vivencia diversas mudanas fsicas e

    psicolgicas e juntamente com influencias de extensas e fervorosas leituras

    religiosas, entre elas a Cabala, alm de filsofos como Kierkegaard, Spinoza, Hegel,

    Marx, Kant entre outros, ele comea a desenvolver um arcabouo filosfico que

    inspir-lo-ia a construir o Psicodrama.

    Essa etapa marcada pela separao de seus pais no qual Moreno se

    revolta com sua me e se afasta ainda mais da famlia. Durante esse perodo ele

    comea a juntar seguidores que, liderados por ele, passam a ajudar pessoas com

    problemas. Essa fama de bem feitor acaba se confundindo com seu desejo de se

    tornar um profeta, fazendo Moreno incarnar a imagem de Jesus em suas

    vestimentas, perodo no qual ele funda a Religio do Encontro.

    No entanto seu contato com as crianas o desperta para suas teorias de

    espontaneidade e criatividade e ele se afasta do desejo de construir uma religio e

    se aproxima da ideia do psicodrama, a partir de suas experincias pessoais, no qual

    pregava que, mesmo de forma desajustada do social, o homem podia ser mais

    produtivo ao representar seus sintomas do que tentar reprimi-los ou resolve-los.

    Moreno realiza sesses grupais ao ar livre de teatro da espontaneidade.

    Nessa mesma poca, Moreno desenvolve seu trabalho com as prostitutas que evolui

    e passa ser visto por crticos como uma sindicalizao das prostitutas.

    A faculdade de Medicina foi outra grande experincia de Moreno, embora no

    fosse comum na poca, ele foi um estudante muito participativo na clnica mdica.

    Chegou a ser contratado pelo governo durante a guerra para trabalhar como oficial

  • 14

    mdico, tendo uma das mais profundas experincias de trabalho em grupo, no qual

    se debrua sobre a literatura psicolgica de grupo.

    O desenvolvimento do teatro espontneo, no qual no era desenvolver a

    qualidade tcnica dos atores, e, portanto, sua preocupao bsica no era com a

    esttica, mas sim com o potencial espontneo e criativo dos participantes,

    proporcionou a Moreno notoriedade, em especial pela revelao de diversos atores

    na poca.

    Moreno em seus estudos passa a articular sua cincia com a matemtica,

    dando os primeiros passos na sociometria tambm, constri uma serie de

    argumentos que se contrapem ao Marxismo e a Psicanalise que na poca

    descartavam a importncia da religio. Assim ele constri dois pilares do

    Psicodrama:

    1. A espontaneidade e a criatividade: como foras propulsoras da

    humanidade.

    2. O amor: indispensvel para o trabalho em grupo, sendo essencial ter f

    nas intenes de nossos semelhantes.

    2.2 BIOGRAFIA DE MORENO SEGUNDO CAMILA SALLES

    Conhecer a histria de Moreno considerado fundamental para se

    compreender o desenvolvimento do Psicodrama. Embora a autobiografia de

    Moreno apresentada posteriormente, alguns autores apresentam que em alguns

    momentos ele utiliza-se de licena potica nessa obra.

    Assim, buscamos Camila Sales, uma das principais autoras de Psicodrama

    no Brasil para resgatar sua histria por um outro prisma.

    Ela apresenta que Moreno nasceu na Romnia no dia 6 de maio de 1889.

    Ainda criana, em uma brincadeira de ser Deus ele apresenta o embrio da

    espontaneidade.

    Outra passagem importante que j adulto, junto com amigos ele funda a

    religio do encontro. Na faculdade de Medicina ele trabalha como psiquiatra e

    passa a exercer atividades profissionais ao cuidar de prostitutas.

  • 15

    Aps se formar ele conhecer Martin Buber com quem parceiro no jornal

    Daimom Magazine. Nessa poca ele pblica seu primeiro livro As palavras do

    pai. Em seguida ele funda o teatro da espontaneidade que so as bases para a

    Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama.

    A primeira sesso de Psicodrama acontece em 1 de abril de 1921 em

    Viena no perodo de ps-guerra. Nesse perodo Moreno passa a se afastar de

    suas ideias religiosas e passa a se aproximar da cincia.

    A sua experincia do teatro da espontaneidade passa a perder

    participantes, pois muitos migram para o teatro normal, mas esse episdio

    incentiva Moreno a criar o Jornal Vivo que pretendia ser uma sntese do jornal

    dirio e do teatro.

    Com o passar dos anos ele passa a desenvolver trabalhos com pacientes

    psiquitricos no qual os atores que restavam de sua cia passaram a ser egos

    auxiliares, construindo um clima teraputico que evoluiria para do Psicodrama.

    Durante esse perodo que suje o famoso caso Barbara-Jorge no qual que

    caracteriza o inicio do teatro teraputico.

    Em 1925 Moreno migra para os EUA onde ele desenvolve a psicoterapia

    de grupo, voltando sua ateno para mensurao, desenvolvendo a Sociometria.

    Em 1936 em Bacon ele constri um centro de formao profissional.

    Ele morre aos 85 anos e pede para que em sua sepultura esteja: Aqui jaz

    aquele que abriu as portas da psiquiatria para alegria (SALLES, 1988).

    2.3 ESPONTANEIDADE E CRIATIVIDADE

    Para Moreno a criao depende de um ato espontneo no qual sua misso

    de transformar a realidade repercutindo nas emoes, pensamentos, processos,

    frases, gestos, movimentos entre outros (MORENO, 1975).

    A espontaneidade e a criatividade so matrizes estruturantes do Psicodrama,

    embora sejam termos de uso comum, eles apresentam significados amplos e

    impactantes na subjetividade e realidade dos sujeitos.

  • 16

    Espontaneidade vem do latim e significa livre vontade. Para Moreno (1975)

    uma resposta nova a uma situao nova, ou uma nova resposta a uma situao

    antiga ou circundante. Sendo uma caracterstica tanto inata, como cultural, estando

    ligada a todos os aspectos do desenvolvimento orgnico, mental, psicolgico, social

    e espiritual do ser humano.

    A espontaneidade situa-se numa zona intermediria entre os componentes

    orgnicos e ambientais, recebendo a influncia de ambos, mas escapando ao

    controle destes para ligar-se a tele, outro conceito fundamental da teoria moreniana

    que representa a menor unidade de sentimento entre duas pessoas (MORENO,

    1975).

    A espontaneidade est ligada aos processos de nascimento e

    desenvolvimento da personalidade, atravs da adoo infantil de papis

    psicossomticos, psicodramticos e sociais.

    A criatividade apresenta-se como aquisio cultural, que em excesso, podem

    sufocar a espontaneidade e a funo criadora do homem, que podem originar

    doenas psquicas. A funo da terapia evitar que as conservas sufoquem a

    espontaneidade.

    A espontaneidade se dirige ao nascimento e a criao de um novo indivduo,

    novas estruturas sociais e novas formas de arte e cultura. Para Moreno a

    espontaneidade como um catalizador que age como intermedirio e desencadeia

    criatividade, que por sua vez produz as conservas culturais.

    Sendo ela uma simples desencadeante, um intermedirio ou um catalizador,

    que explica o produto acabado, porm no se transforma absolutamente nele

    (MORENO, 1999), propiciando ao ser humano recursos para a construo de um

    conjunto de papis que vai desempenhar na vida.

    2.4 TEORIA DE PAPIS

    Para a construo do Psicodrama, Moreno estrutura diversos conceitos com

    inspirao em suas referencias tericas e experincias. A fonte inspiradora da teoria

    dos papis de Moreno foi o teatro. Por sua origem, segundo ele, papel no um

  • 17

    conceito sociolgico ou psiquitrico. Essa teoria abrange todas as dimenses da

    existncia humana, desde o nascimento e ao longo de toda a vida do indivduo.

    A teoria moreniana se refere ao homem em situao, imerso no social,

    buscando transform-lo atravs da ao. O conceito de papel, que pressupe inter-

    relao e ao, central nesse conjunto articulado de teorias, imprescindvel

    sobretudo, para a compreenso da teoria e prtica do psicodrama.

    Moreno ora define o papel como funo prescrita e assumida pelo indivduo,

    ora como a forma real e tangvel que o eu assume passando do plano dramtico

    ao social. Para ele, o papel ora se refere a uma pessoa imaginria, ora a um modelo

    para a existncia ou a um personagem da realidade social, uma imitao da vida ou

    uma forma tangvel do eu.

    Moreno distingue trs tipos de papis: os fisiolgicos ou psicossomticos, os

    psicolgicos ou psicodramticos, e os sociais. Na primeira fase da matriz de

    identidade (a da identidade total indiferenciada) os papis que primeiro aparecem,

    ligados s necessidades e funes vitais, so os psicossomticos, tais como o de

    ingeridor, defecador, dormidor, etc. Os papis psicossomticos so os primeiros

    desempenhados pelo ser humano. Representam padres de conduta ou

    funcionamento na satisfao das necessidades fisiolgicas, incluindo a o modus

    operandi, o clima afetivo-emocional com que os egos-auxiliares interatuam com a

    criana no atendimento dessas suas necessidades. De certa forma, j existe relao

    nas respostas que as necessidades ou funes fisiolgicas recebem dos egos-

    auxiliares. A partir, portanto, da forma como foram experienciados os papis

    psicossomticos, a criana continua o processo de assimilao de novos

    aglomerados ou "cachos" de papis. J na segunda fase da matriz (a da identidade

    total diferenciada), embora no tenha surgido ainda a diferenciao entre objetos de

    realidade e imaginrios, a criana comea a "imitar" parte daquilo que observa.

    Moreno denomina tal processo como "adoo infantil de papis" que consiste em

    duas funes: dar papis (doador) e receber papis (recebedor) (MORENO, 1975).

    Os papis psicodramticos e sociais completam as condies para o

    surgimento do eu. Os trs papis definidos por Moreno, desdobrando-se em

    aglomerados ou cachos correspondem aos papis precursores do ego,

  • 18

    constituindo os eus parciais psicossomtico, psicodramtico e social (MARTIN,

    1996).

    Moreno apresenta a teoria em que o eu psicolgico posterior ao

    desempenho do papel, assim esse eu surge a partir do desempenho do papel que

    todo homem pode desempenhar ao longo da vida de diversas formas.

    Segundo Bustos (1979), os papis se agrupam conforme sua dinmica,

    configurando clusters ou agrupamentos.

    2.5 CLUSTER

    Essa teoria uma forma de compreenso da dinmica do ser humano.

    Partindo dos conceitos de Moreno para Matriz de Identidade em que o lugar onde

    a criana se insere desde o nascimento, relacionando-se com outros objetos e

    pessoas dento de um determinado clima, representando o meio que constitudo

    por fatores sociais, materiais e psicolgicos. Os clusteres se configuram e se

    propagam, procurando explicar a dinmica interna desses papis com base em suas

    interaes (AMATO, 2002).

    As experincias vivenciadas se tornam os alicerces que provavelmente

    moldaro os futuros vnculos, imprimindo caractersticas de funcionamento dos

    vnculos primrios, assim esse princpio estruturante est sempre presente agindo e

    dando um colorido a vida.

    Dos vnculos da matriz de identidade surge um esquema de papeis: ativo,

    passivo e o interativo, no qual todos os vnculos em movimento podem aprender

    esses esquemas de atividade (NERY, 2014).

    Assim os vnculos afetivos primrios ligam-se aos desempenhos dos papeis

    em cada vinculo estabelecido no futuro. No Livro Sobrevivncia Emocional, Rosa

    Cukier (1998) descreve bem esse processo das influncias das dores da infncia na

    estruturao da personalidade e relacionamento na vida adulta.

    Os clusters so divididos em trs: o primeiro depende do complementar

    materno, responsvel por funes de dependncia e incorporao. O segundo do

  • 19

    complementar paterno, gerando a matriz dos papis ativos. Ambos possuem um

    primeiro complementar nico: me e pai ou os adultos que desempenham esses

    papis. Estes dois papis primrios so assimtricos por natureza. A simetria

    aparece mais tarde, quando a paridade se apresenta na forma de irmos ou

    companheiros de brincadeira. Esta interao diferenciada das outras duas determina

    o surgimento de um terceiro cluster, que representa as relaes de paridade.

    Configura-se, assim, o esquema bsico de papis: passivo, ativo e interativo.

    O primeiro esquema, de funes passivas, incorporativas, dependentes, est

    vinculado ao papel gerador de me e a aspectos femininos. O segundo, gerador de

    capacidade ativa, penetrante, autnoma, liga-se ao papel de pai e a aspectos

    masculinos. E o terceiro vnculo gerador o papel de irmo, substituvel pelo de

    amigos, responsvel pelas experincias de intercmbio no mesmo nvel, de

    competio, rivalidade, etc. Essas trs dinmicas constituem possibilidades

    alternativas de todos os papis.

    2.6 TELE E TRANSFERNCIA

    O fator tele um dos principais eixos da teoria moreniana. Esse conceito traado por ele, a partir da sua experincia do cotidiano e de suas atividades grupais

    para explicar as relaes entre os homens, a partir do encontro possibilitado pela

    tele (MARTIN, 1996).

    O termo tele vem do grego, significa longe, e para Moreno a tele ganha a

    conotao de A menor unidade de sentimento, transmitida de um individuo a outro

    (MORENO, 1972). A tele foi definida como fundamento de todas as relaes

    interpessoais sadias e elemento essencial de todos os mtodos eficazes em

    psicoterapia, e esse fator responsvel pela maior tendncia de reciprocidade na

    escolha do real do que seria de esperar a partir das probabilidades da escolha ao

    acaso (MORENO, 1999).

    No entanto, s vezes a tele pode sofrer deformaes pela influncia de

    fantasias transferenciais. Assim, a transferncia se refere ao passado e projeta no

    presente em imagens que se formam, sendo um fenmeno que surge na vida,

  • 20

    diferente da tele que do prprio nascimento e, em geral, causa enfermidade

    (MARTIN, 1996).

    Os papis provenientes das fantasias so, em grande parte, inconscientes e

    pertencem ao mundo interno do indivduo, ao universo intrapsquico, dimenso do

    eu. Por isso, no vnculo, eles fomentam o fenmeno da transferncia, sendo,

    portanto, mais complexos. Uma das manifestaes do fenmeno da transferncia e

    da contra-transferncia acontece quando os papis imaginrios, advindos das

    represses dos desejos, ou de impedimentos de expectativas, se associam aos

    papis latentes e, dessa forma, encontram um canal para se manifestarem num

    vnculo social, fortalecendo a ligao entre papis imaginrios e transferncia.

    Os papis imaginrios, por serem, tambm, o resultado de caractersticas de

    vnculos que permanecem conservados e/ou no atuados no indivduo, esto

    atrelados ao papel complementar interno patolgico (NERY, 2014).

    A tele pode referir-se a prpria pessoa, durante o perodo fora da construo

    da matriz de identidade infantil, ao crescer ela faz uma separao de si e das

    pessoas que a rodeiam, para que possa distinguir fantasia da realidade, e esse

    distanciamento permite a construo de sua autoimagem, denominada de auto tele

    (MARTIN, 1996).

  • 21

    3 TOMO SOCIAL COMO INSTRUMENTO TERAPUTICO

    3.1 CONSTRUO DA SOCIOMETRIA

    O psicodrama enxerga os sujeitos dentro do prisma das relaes e Moreno

    para aprofundar o conhecimento sobre essas relaes desenvolveu a sociometria.

    Essa teoria foi construda a partir da crena de que a humanidade uma unidade

    social e orgnica, em seus estgios mais primitivos. Teria um nvel

    predominantemente psicoorgnico, que precedeu ao nvel psicossocial atual, e tal

    fato foi levado em conta na criao de um novo procedimento teraputico, pois

    estaria em acordo com as leis de desenvolvimento humano. Assim ele analisa as

    relaes sociais, afetivas e interpessoais a partir das atraes e rejeies

    apresentados no seio de um grupo (SANTOS, 2001).

    Moreno considerou a espontaneidade-criatividade como pedra angular da

    sociometria, sendo esses conceitos aprofundados com a migrao para os Estados

    Unidos, perodo marcado pelo investimento no social e nos trabalhos grupais.

    Buscou medir as relaes humanas expressando-as em nmeros e dados

    estatsticos.

    A primeira pesquisa sociomtrica foi feita em Hudson em 1932 na escola de

    meninas. Porm em 1923 que ocorre a primeira publicao que marca a criao

    conceitual da sociometria.

    Etimologicamente, sociometria significa a juno de social com medida.

    Moreno constri a partir desse termo um conjunto de tcnicas para estudar e medir

    os processos vinculares (MENEGAZZO, 1995).

    A tcnica busca se aproximar o mximo possvel do natural, baseando-se

    segundo ele:

    nas afinidades entre as pessoas e nos padres resultantes de suas interaes espontneas, padres esses utilizados como guia para classificao, para a construo e, quando necessrio, para a reconstruo dos agrupamentos (MORENO, 1999).

  • 22

    As contribuies sociomtricas esto no aspecto de poder tornar conhecida a

    estrutura social dos pequenos grupos, caracterizado como local onde as pessoas

    vivem e se relacionam. Esse pode ser representado atravs do sistema sociomtrico

    de pesquisa atrao-rejeio-neutralidade; recursos como criatividade e

    espontaneidade pertencem; para se estudarem as relaes humanas atravs do

    mtodo cientfico, o organismo individual deve ser transformado em ator in situ, e o

    pesquisador, para melhor observar todos os coatores, deve tornar-se membro do

    grupo (BRUSTOLIN, 2006).

    Ao longo do percurso da construo da sociometria, vrios ttulos foram atribudos, como a dinmica de grupo, pesquisa de ao, anlise de processo e interao, etc. (MORENO, 1994, p. 127).

    Esse movimento sociomtrico que permitiu constante evoluo, modificao

    e crescimento da teoria sociomtrica dentro dos estudos sociais, fundamentou o

    desenvolvimento da teoria da espontaneidade e avaliao da espontaneidade, teoria

    das relaes interpessoais e de ao, a reviso do mtodo experimental nas

    cincias sociais, a avaliao de relaes interpessoais e de grupos, o surgimento

    gradual de uma sociologia experimental, a abordagem experimental da teoria dos

    papis, conhecida como role playing, psicodrama e sociodrama, entre outros.

    Assim, Moreno apresenta a sociometria como a cincia da ao na qual o

    SOCIUM (companheiro), METRUM (medida) e o DRAMA (ao) so os principais

    referenciais. No trabalho teraputico isso permite compreender e objetivar a

    estrutura de relaes das configuraes de um grupo, fornecendo hipteses

    significativas que instrumentalizam o terapeuta para o uso adequado das tcnicas,

    sendo o uso da sociometria uma baliza importante para o Psicodrama (BRUSTOLIN,

    2006).

    O conceito de matriz sociomtrica refere-se a todas as estruturas

    sociomtricas invisveis ao olhar macroscpico, que se tornam visveis atravs da

    anlise sociomtrica. Consiste em vrias constelaes: tele, tomo, supertomo ou

    molcula (diversos tomos ligados entre si), o socioide (um feixe de tomos ligado a

    outros feixes de tomos por meio de cadeias ou de redes interpessoais). o

    correspondente sociomtrico da estrutura externa de um grupo social; o conceito de

    realidade social a sntese dinmica e a interpenetrao dos conceitos de

  • 23

    sociedade externa e matriz sociomtrica. Ao se conhecer a estrutura externa da

    sociedade oficial e a matriz sociomtrica, possvel reconhecer as partes e os

    fragmentos que integram cada uma das duas dimenses, nas formas sintticas da

    realidade social (MORENO, 1999).

    E o desenvolvimento desses conceitos permitiu a Moreno desenvolver uma

    srie de tcnicas e instrumentos com o intuito de fazer estudos sociomtricos das

    relaes, entre eles destaca-se o tomo social.

    3.2 TOMO SOCIAL

    O homem visto por Moreno como um ser essencialmente social, um homem em relao. Co-criador do universo, uma centelha divina, agente de sua histria e construtor de seu drama na convivncia de seu tomo social (MARRA, 2004, p. 40).

    Nosso nascimento um evento que nos instaura em uma sociedade e seus

    costumes e funcionamento ao qual influenciamos e somos influenciados atravs das

    relaes que estabelecemos com esta rede, que nos propicia iniciarmos a

    construo da nossa identidade e darmos continuidade a esse processo ao longo de

    nossas vidas (FONSECA, 2000).

    Portanto, a rede social do indivduo sempre est presente em sua vida,

    contribuindo na estruturao de sua identidade, na manuteno de seus vnculos.

    Todas as pessoas que fazem ou fizeram parte da nossa rede contriburam

    para a formao da nossa identidade de alguma forma, j que:

    nossa identidade se constri e reconstri nestas relaes, atravs dos significados atribudos pela linguagem, tudo aquilo que falaram de ns e para ns, e o que falamos aos outros e dos outros, so tambm uma rede; uma de significados (FEIJO, 2002).

    A rede social percebida como um sistema dinmico, infinito, que evolui com

    o tempo e com as circunstncias, e pode ser ativada e desativada a qualquer

    instante, sejam por lembranas, saudades, mgoas, necessidades ou reencontros.

    Segundo Sluzki (1997) a rede composta por vrios tipos de relaes,

    podendo estas ser de amizade, familiares, relaes comunitrias e relaes de

  • 24

    trabalho ou estudo. Tais relaes tambm podem ser avaliadas em termos de

    caractersticas estruturais, funes dos vnculos e dos atributos de cada vnculo.

    Estudos tambm comprovam (SLUZKI, 1997) que a rede social de um

    indivduo tem o potencial de proteger contra doenas, de aumentar a sua sobrevida,

    de ampar-lo e encaminh-lo em situaes de emergncia e de dificuldades da vida.

    O grupo social de extrema importncia para a busca da qualidade de vida

    de um individuo, para a manuteno de sua sade fsica e mental. Os grupos

    favorecem trocas de informaes, aprendizagens, auxiliam e apoiam na mudana de

    hbitos, na realizao de projetos, na ampliao de horizontes e na prpria

    manuteno da sade.

    O tomo social, portanto, uma grande fonte de aprendizagem, propondo ao

    ser humano novas possibilidades de estruturar suas relaes sociais de maneira

    mais adequada e saudvel. Moreno assim descreve o tomo social:

    Apresenta-se a si mesmo de uma forma unilateral e subjetiva e apresenta diversas pessoas do seu meio unilateral e subjetivamente, e no como elas so. Representa seu pai, seu colega, seu chefe, sua mulher e qualquer outra pessoa de sua clula social, do ponto de vista de sua subjetividade (MORENO, 1975).

    Estas podem ser prximas ou distantes, mortas ou vivas, do presente ou do

    passado e at mesmo imaginadas do futuro. Representa e revive as correntes

    emocionais que enchem o tomo social (ou familiar, ou qualquer grupo de relaes

    de um individuo).

    tomo Social a configurao social das relaes interpessoais que o

    indivduo estabelece com seus pares e por isso encontra-se em constante mudana,

    porque medida que este indivduo cresce ele vai ampliando suas relaes, e,

    portanto, a sua rede sociomtrica, a qual se configura a partir do entrelaamento dos

    vnculos estabelecidos com os conhecidos dessa rede. Assim cada pessoa se

    movimenta dentro de um tomo social: conjunto de vnculos prximos que

    constituem a rede de relao de um indivduo (BUSTOS, 1979).

    O tomo social pode representar o conjunto de papeis de uma pessoa e o

    tomo cultural o conjunto de tomos sociais. O tomo social perceptivo uma

  • 25

    representao psicolgica dos tomos sociais e culturais. Assim, tudo o que

    compreensvel de ser dramatizado corresponde ao tomo social perceptvel de uma

    pessoa. A espontaneidade surge como uma possibilidade de ser humano e explorar

    novas vivncias de outros a partir do qual se re-matrizam, se diversificam e se criam

    personagens e formas de se expressar mais saudveis (BELLO, 2000).

    O tomo social uma tcnica diagnostica que consiste em um mapa da rede

    de interao do sujeito, dos conjuntos de vnculos significativos e das frustraes e

    gratificaes afetivas e conflitos relevantes.

    As relaes e vnculos se entendem entre pessoas e diz respeito a situaes,

    representando aspectos internos e externos, alm dos significados que as pessoas

    atribuem aos vnculos (MARTIN, 1996).

    Como em toda dramatizao necessrio primeiro delimitar o espao cnico.

    Para isso constri com o paciente seus espaos representados por objetos ou

    desenhos no tomo em que o paciente apresenta seu tomo e as funes que eles

    exercem em sua vida.

    Pede-se que o paciente apresente os elementos, exteriorizando e explorando

    os sentimentos, as sensaes, as fantasias, os conflitos e recursos presentes em

    cada vnculo, trazendo o que representa para si, e se necessrio, realizando uma

    inverso de papeis (CUKIER, 1992).

    A vantagem desse mtodo que permite reconstruir o objetivo teraputico,

    envolvendo e permitindo ao paciente tomar conta desse processo.

    Dramatizar o tomo social ou transform-lo em imagem, em que pode ser

    representado como um mapa sociomtrico pela ao de desenhos, permite retomar

    posteriormente em momentos diferentes ao tomo social, e, portanto, pode ser

    comparada de novo em conjunto com o paciente e avaliar os desenvolvimentos e

    mudanas que tm gerados durante o processo psicoteraputico ou grupal (BELLO,

    2000).

    Quando existe a unio dos tomos sociais verifica-se a formao de redes

    sociomtricas, ou seja, as redes sociomtricas so correntes complexas de relaes

    de interpelaes compostas por diversos tomos sociais. Tais redes formam-se a

  • 26

    partir dos diversos papis que cada um desempenha como familiar, profissional, etc

    (BRUSTOLIN, 2006).

    3.2.1 APLICAO DO TOMO

    O tomo um instrumento muito flexvel e verstil. Ele pode ser referido como tomo familiar, tomo social, tomo profissional, entre outras, que significam

    respectivamente que o sistema de referncia a famlia, a rede social e o papel

    profissional. Assim, o terapeuta pode aplicar o tomo no sistema de referncia no

    seu protagonista ou grupo que tiver maiores demandas. A investigao dramtica do

    tomo social visa explorar o contexto sociomtrico ao qual o indivduo est se

    referindo.

    Pode ser utilizada no incio da terapia para fornecer ao terapeuta elementos

    da histria e modelos dos personagens e papis da vida do sujeito. Assim, como em

    momentos finais sobre como o processo teraputico modificou a relao dos

    protagonistas com seu papel e com sua rede social.

    Segundo Monteiro (1993), a apresentao do tomo pode ser feita por

    solicitao do paciente ou do terapeuta para que ele apresente as pessoas ou

    vnculos que lhe so significativos, podendo ser prximas ou distantes, mortas ou

    vidas, sem restries. Apresentando-se a si mesmo e aos outros de forma subjetiva

    e unilateral.

    Nesse projeto o sujeito representa e revive as correntes emocionais,

    apresentando equilbrio e desequilbrios em sua estrutura, podendo encontrar assim

    uma catarse em seu Psicodrama (MONTEIRO, 1993).

    Esta metodologia apresenta grande potencialidade de adequao para

    evidenciar atravs da dramatizao os pontos relevantes da estrutura individual ou

    do grupo, assim como dos seus componentes. Deste modo, pode-se ter mais

    segurana para alcanar o objetivo prefixado, sem utilizar os clssicos sistemas de

    pesquisa baseados em entrevistas, orais ou escritas, que se tornam longas e

    complexas quando se deseja evitar resultados distorcidos.

  • 27

    Na sua aplicao podem ser utilizados objetos ou apenas papel e lpis. No

    caso dos trabalhos em grupos, podem-se usar outras pessoas para compor o tomo.

    essencial que o diretor-terapeuta, deixe claro a importncia da distncia dos

    elementos que compem o tomo. E interrogue o protagonista sobre suas escolhas.

    Assim, os participantes tm a possibilidade de compartilhar os resultados

    medida que vo sendo produzidos. Isto devido s experincias que todos

    vivenciam no percurso da avaliao, as quais so retiradas espontaneamente nas

    concluses e no compartilhamento.

    3.2.2 EXPLORAO DO TOMO

    O grupo a matriz da aprendizagem e do conhecimento, e todos so responsveis pelos vnculos e papis que vo sendo desenhados na interao (MARRA, 2004).

    A apresentao do tomo envolve um conjunto rico de elementos que podem

    ser avaliados na compreenso do protagonista, apresentando uma funo

    diagnstica. O material produzido pode ser utilizado em vrias sesses.

    Para a explorao do tomo necessrio que diversas caractersticas sejam

    investigadas a fundo para que se tenha uma maior compreenso dentro da estrutura

    do sujeito inferido.

    CARACTERSTICAS ESTRUTURAIS

    Tamanho: no nmero de pessoas existentes nela,

    Densidade: se refere conexo entre membros da rede, podendo ser de nvel

    baixo, mdio e alto.

    Composio e distribuio: nos falam sobre a disposio dos membros de

    uma rede nos quatro tipos de relao (familiar, amizades, estudo e trabalho, e

    comunitrio), como tambm a proximidade e a distncia entre eles.

    Disperso: se refere distncia entre os membros, e, portanto, a

    acessibilidade entre os membros.

  • 28

    Homogeneidade ou heterogeneidade: corresponde idade, sexo, cultura e

    nvel socioeconmico. (SLUZKI, 1997, p. 45).

    FUNES DE REDE

    Companhia social: se refere realizao de atividades ou o estar juntos.

    Apoio emocional: as relaes com atitude emocional positiva, ressonncia

    emocional e boa vontade, caracterstico das amizades ntimas e relaes familiares

    prximas.

    Guia cognitivo e de conselho: relaes que compartilham informaes

    pessoais ou sociais, esclarecem expectativas e proporcionam modelos de papis.

    Regulao social: que reafirma e lembra responsabilidades e papis,

    neutralizam desvios de comportamento.

    Ajuda material: colaborao atravs de conhecimento especfico ou fsico.

    Acesso a novos contatos: como facilitao para a entrada na nova rede, para

    fazer novas relaes.

    ATRIBUTOS DO VNCULO

    Os atributos dos vnculos falam a respeito de cada relao existente numa

    rede. Eles podem ser de funo predominante, como o prprio nome diz;

    multidimensionalidade ou versatilidade, que fala sobre quantas funes uma pessoa

    desempenha; reciprocidade, que quando voc desempenha para essa pessoa as

    mesmas funes; intensidade ou compromisso, que equivale ao grau de

    intimidade; frequncia dos contatos, de quanto em quanto tempo ocorrem; e a

    histria da relao, que desde quando se conhecem e como fazem para ativar o

    vnculo (Sluzki, 1997, p. 56).

  • 29

    4 PSICODRAMA

    Moreno apresenta o processo grupal como a melhor alternativa de processo psicoterpico, porm muitos psicodramatistas desenvolveram um projeto teraputico

    que permitisse um rico processo teraputico em ambiente individual.

    Para permitir esse processo foram construdas teorias psicodramticas no

    processo teraputico individual que teorizam e criam tcnicas psicoterpicas para

    nesse processo, destacando as teorias da clnica bipessoal e a psicoterapia da

    relao.

    4.1 CLNICA BIPESSOAL

    Segundo Rosa Cukier o Psicodrama Bipessoal uma modalidade da

    abordagem teraputica proveniente da teoria de Moreno. A teoria bipessoal no faz

    uso, em geral, de egos-auxiliares e atende apenas a um paciente por vez. A relao

    composta por um paciente e um terapeuta e no por todo um grupo.

    O Psicodrama Bipessoal no consiste em uma abordagem teraputica

    preparatria para uma terapia grupal e sim em uma terapia autnoma que acredita

    na condio de ser um indivduo que precede a condio de ser um elemento num

    grupo, por isso, compreender esse indivduo em todas as suas nuances, desde suas

    primeiras trocas afetivas at a complexa estruturao de seus conflitos e defesas

    atuais, primordial para qualquer procedimento teraputico (CUKIER, 1992).

    Cukier afirma que esses desviantes da relao tlica, apontado por Moreno

    no psicodrama bipessoal, so normais e ocorrerem em qualquer forma de terapia e

    com qualquer manejo tcnico. Segundo ela, somos capazes, ainda que isso exija

    algum treino, de lidar com a sobrecarga de funes que o papel de terapeuta requer

    nessas condies. Alm disso, a autora no acha que o terapeuta perca seu papel

    de diretor, mesmo que, eventualmente contracene com o paciente. Esse , segundo

    ela, nosso papel fundamental e, ainda que por vezes nos sintamos confusos, tal

    confuso deve-se mais ao material emergente do que o fato de atuar nas

    dramatizaes.

  • 30

    Dalmiro Bustos (1979) considera que psicoterapia psicodramtica individual

    bipessoal ou psicoterapia psicodramtica bipessoal repete o modelo relacional me-

    filho, que um vinculo mais protetor, mas tambm mais temido. Esta psicoterapia

    indicada nos incios de terapia, exatamente porque propicia a investigao das

    primeiras relaes afetivas, e tambm antes de um processo grupal.

    Rosa Cukier (1988) em seu livro Psicodrama Bipessoal prope um enquadre

    bsico, no qual aponta a seguinte metodologia:

    a) Estimular para o aquecimento

    b) Utilizar objetos para marcar os papis complementares

    c) Propor tcnica da tomada de papel

    d) Costuma propor a tcnica do espelho para que o paciente perceba seu papel

    e) No costuma contracenar ou o faz de forma breve

    f) Utilizar tcnica da entrevista ou outras tcnicas clssicas do psicodrama.

    Entre as tcnicas clssicas adaptadas ao bipessoal, ela apresenta em seu livro:

    Tabela 1 - TCNICAS DO PSICODRAMA

    Tcnica Objetivo

    Duplo Permitindo o paciente entrar em contato com suas emoes, auxiliando a express-las.

    Espelho Consiste no terapeuta se colocar na postura corporal que o paciente assume em determinada insgnia, permitindo que esse

    olhe para si.

    Inverso de papis

    Pede-se que o paciente tomar o lugar do outro, assim alm da

    vivncia do papel do outro, o emergir dos dados sobre

    determinado papel.

    Solilquio Pede-se que o paciente pense alto.

    Maximizao Pede-se que o paciente maximize um gesto, uma fala, ou uma postura corporal.

    Concretizao Materializar objetos, emoes, conflitos ou partes corporais, atravs de movimentos ou falas.

    Fonte: (CUKIER,1992)

  • 31

    As tcnicas podem ser utilizadas seguindo a lgica da matriz de identidade no

    qual essas auxiliam no processo de desenvolvimento teraputico.

    4.2 PSICOTERAPIA DA RELAO

    A psicoterapia da relao criada por Jose Fonseca (2000) privilegia as relaes do mundo interno do paciente, envolvendo as relaes do eu-tu e eu-isso,

    baseada na filosofia dialgica de Martin Buber.

    Paciente e terapeuta co-participam de um encontro humano em uma relao

    horizontal para o desenvolvimento do processo do ser. O trabalho psicoterpico

    busca uma harmonizao desse funcionamento, trabalhando as cargas negativas e

    liberando as potencialidades positivas inerentes ao trao (FONSECA, 2000).

    A ao pragmtica da compreenso do fenmeno relacional permite um

    diagnostico do inter e do meio para o qual se atinge o diagnstico de si mesma,

    buscando o desenvolvimento do eu observador, que o caminho que conduz a

    autoimagem distorcida para o eu-verdadeiro.

    O eu global formado por uma infinidade de eus parciais internalizados, que

    descobertos, se expressam por meio de papeis.

    O psicoterapeuta da relao um misto de diretor de psicodrama e ego-

    auxiliar, a partir de um conhecimento de psicodinmica e treino psicodramtico. O

    terapeuta se conduz pelo principio do duplo e pelo principio da entrega ao papel

    desempenhado, mergulhando no papel em jogo, fluindo tudo que capta, consciente

    e inconscientemente do paciente.

    No contexto da ao dramtica, apresentam-se mecanismos de ao

    teraputica, o insight dramtico e a catarse da integrao. O insight a iluminao

    de determinada problemtica com o aumento da conscincia, e a catarse da

    integrao consiste na desorganizao da estrutura de um conflito com uma

    reorganizao mais tlica do que a primeira (FONSECA, 2000).

  • 32

    A internalizao do modelo relacional teraputico acontece nos moldes de

    outras matrizes da vida internalizada. Essa rematrizao confere a fora do

    processo psicoterpico.

    O setting da psicoterapia da relao o mesmo das psicoterapias verbais,

    distinto apenas os momentos bem definidos da sesso: o contexto verbal e os

    contextos das aes dramticas. Sendo um psicodrama minimalista e usando

    tcnicas de aes rpidas e focadas no alvo principal, ataques e retiradas de

    surpresa, retorno a base para avaliao, empregando-se a ateno ativa.

    Entre as tcnicas se destacam, as citadas no bipessoal.

    Tabela 2 - TCNICAS DO PSIDODRAMA

    Tcnica Objetivo Presentificao

    Solicita-se que o paciente no relate a cena no passado, mas sim,

    no presente. A emoo presentifica-se e o terapeuta inclui-se na

    situao, na cena, dialogando com o paciente.

    Repetio Repetio de determinadas expresses verbais ou movimentos, visando ressaltar os contedos inconscientes.

    Fonte: (FONSECA, 2000)

    Independente da metodologia empregada na clinica psicodramtica, se a

    bipessoal ou a psicoterapia da relao filosofia do momento e a catarse, aparecem

    como pontos comuns em ambas sendo essenciais no processo teraputico.

    4.3 A FILOSOFIA DO MOMENTO

    A filosofia do momento, que embasa a teoria e a prtica psicodramtica, foi

    sendo configurada atravs de sua observao do potencial criativo do ser humano.

    Desde ento, o Psicodrama vem se transformando, desenvolvendo-se como teoria e

    como prtica.

    A filosofia de Moreno afirma que somos todos criadores e co-criadores,

    vivendo em um mundo de relaes interpessoais, interdependentes um do outro. O

    tomo social, utilizado em seu conceito mais amplo, evidencia os papis

  • 33

    desempenhados pelo indivduo, alm das relaes de atrao repulsa-neutralidade

    (MORENO, 1999).

    O conceito de papel diz respeito s diferentes formas assumidas pelo eu,

    criada pelas experincias passadas e pelos padres da cultura em que o indivduo

    se insere. Todo papel diz respeito tanto a fuso quanto a oposio entre o privado e

    o coletivo (FOX, 1992) que possibilita o surgimento do eu (MORENO, 1975). Os

    papis tm grande importncia na comunicao entre as pessoas, pois possibilitam

    a compreenso interindividual e intercultural e permeiam a cultura em que os

    indivduos esto inseridos (MORENO, 1975).

    O tomo social e o mapa mnimo so semelhantes: evidenciam as pessoas

    que fazem parte da vida do indivduo, apontam a quantidade e a qualidade das

    relaes estabelecidas, permitem investigar a importncia de pessoas na formao

    da identidade e no sentimento de pertena.

    4.4 CATARSE DE INTEGRAO

    Na busca do enfrentamento de ns mesmos, em uma psicoterapia,

    apelamos para a re-significao, para trazer o conhecimento novamente luz, uma

    re-orientao mais integrada destas partes alienadas ou desconhecidas. No

    Psicodrama, este salto do ser possibilitado pelo insight dramtico e pela catarse

    de integrao, promovendo uma ampliao da conscincia.

    A catarse de integrao revelam contedos psquicos que, at ento, estavam

    fora do alcance da conscincia e que muitas vezes causavam, por esta condio,

    perturbaes. Uma nova viso da realidade, mais alargada, pode ento se

    estabelecer a partir da integrao de aspectos que se encontravam dissociados na

    psique, seja no que se refere aos complexos, considerando sua estrutura

    arquetpica, segundo Jung, seja no que se refere re-significao de um

    determinado papel.

    Nesse processo psicoterpico que dar-se pelos vnculos do paciente, permite

    a expresso de seu mundo interior atravs da ao, desorganiza suas estruturas,

    podendo reorganiza-la de forma mais saudvel (FERREIRA, 2014 ).

  • 34

    A catarse refere-se a sensaes que o sujeito experenciou como alvio

    relaxamento, equilbrio, integrao, poder ou at mesmo domnio sobre o que sente.

    E para Moreno esse evento pode ser individual ou grupal (MARTIN, 1996).

    O alvio e o relaxamento produzidos pelo processo teraputico esta

    relacionado com a possibilidade dos pacientes reviverem suas experincias e

    livrarem-se delas a partir da construo de novas fronteiras e possibilidades. Assim

    a catarse engrendada pela viso de um novo universo e pela possibilidade de um

    novo crescimento (MORENO, 1999).

  • 35

    5 TOMO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENO NA CLNICA

    O seguinte captulo apresenta um recorte do processo teraputico de duas

    pacientes acompanhadas na clnica escola, durante os anos de 2012 e 2013. Com

    autorizao do comit de tica da Universidade Estadual do Cear e das pacientes

    para transformar os seus processos teraputicos em estudo de caso. As supervises

    dos casos davam-se a partir da abordagem teraputica psicodramtica. Durante o

    processo, em perodos distintos do tratamento, cada paciente foi proposto

    construo do tomo. Essa tcnica marcou ambos os tratamentos, pois possibilitou

    uma concretizao de questes dos pacientes que puderam ser trabalhados. Essas

    intervenes sero discutidas nos tpicos a seguir:

    5.1 METODOLOGIA

    O seguinte trabalho visa um estudo terico e emprico sobre o tomo social

    como um instrumento teraputico com possibilidades e desdobramentos na terapia

    psicodramtica, a partir de uma reviso bibliogrfica da vida e obra de Moreno,

    revisando conceitos principais do Psicodrama e os desdobramentos na prtica da

    aplicao do tomo social.

    No primeiro captulo foi feita uma reviso dos marcos tericos do Psicodrama,

    a partir de uma biografia do J.L. Moreno, e em seguida foi feito um breve estudo

    sobre a Clnica Psicodramtica e de alguns dos seus conceitos estruturantes.

    No segundo captulo so apresentados os casos clnicos e a aplicao do

    tomo social, a partir de duas experincias clnicas feitas durante o estgio clnico

    do curso de graduao em Psicologia da Universidade Estadual do Cear, durante

    os anos de 2012.2 e 2013.2, em que foram aplicados os tomos sociais em distintos

    momentos do processo teraputico em pacientes distintos com histrias singulares

    nos quais a aplicao desse instrumento que representou uma importante cena para

    o processo teraputico.

    No terceiro captulo feita uma discusso da aplicao e dos resultados a

    partir dos conceitos tericos.

  • 36

    5.2 CASO 1

    5.3 IDENTIFICAO

    G, 36 anos, casada h 16 anos, com 2 filhos homens adolescentes, com

    ensino mdio completo e servidora da UECE.

    5.4 PERODO DE ATENDIMENTO

    1 ano.

    5.5 QUEIXA

    G se apresentou na primeira sesso como me de um adolescente de 14

    anos, que mostrava sinais de dificuldade de interao e a pedido da professora ela

    resolveu procurar um psiclogo para seu filho. No entanto nas entrevistas iniciais,

    ela demonstrou necessitar de apoio devido a dificuldades em seu casamento e

    acabou continuando as sesses para si, aps acordo.

    5.6 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES

    G apresentou-se como a me de um adolescente com dificuldade em interagir com os colegas. Nas primeiras sesses ela apresentou uma histria marcada por

    bastante sofrimento. Rejeitada pela me e com um pai omisso, ela saiu de casa aos

    11 anos por dificuldade de relao com a me.

    Ao vir morar em Fortaleza ela passa a ser maltratada pela tia com a qual

    morou durante 10 anos. Durante esse perodo trabalhava pela manha e a tarde

    como manicure no salo da tia, ajudava em casa nos servios domsticos e a noite

    ia para a escola, embora a tia no quisesse e dissesse a todos que ela ia era

    arrumar macho.

  • 37

    Ela relatou no ter muitos amigos na escola, se aproximando apenas de seu

    atual marido que na poca era seu colega de classe. Namoraram por muitos anos.

    Ela tinha uma boa relao com a sogra, hoje falecida, sendo a nica pessoa que

    sabia das suas dores e a algum que lhe acolheu como amor e carinho.

    Durante a adolescncia se divertiu pouco e aproveitava seu tempo para

    trabalhar. Conseguiu um emprego de vendedora em uma loja de sapatos aos 16

    anos e ficou l ate se casar, conseguindo juntar dinheiro e comprar sua prpria casa.

    Ela relata que seu casamento foi bom nos 2 primeiros anos. Aps engravidar

    ela disse que a relao mudou muito. Ele passou a ter uma vida paralela e se deixar

    de lado. Ela foi trada algumas vezes e, em um episdio que relatou como algo banal

    em sua vida chegou a ir para a maternidade sozinha para ter o primeiro filho, pois

    seu marido estava brincando o carnaval.

    Os filhos, hoje adolescente, tem uma relao delicada com o pai que se

    mostra ausente na vida deles, em especial com o filho para qual foi marcada a

    consulta. Segunda a me eles brigam muito, pois o filho mais velho confronta o pai

    em suas atitudes e exige lhe ateno.

    Ela relatou uma boa relao com os filhos, com dialogo e ateno. Acreditava

    ser uma me diferente da que ela teve. Ao longo do processo a paciente apresenta

    como os seus medos e suas apreenses prejudicaram a relao com seus filhos, em

    especial o mais velho que possua caractersticas de embotamento afetivo, e com a

    sua mudana de postura, fez com que o adolescente melhorasse.

    Ao longo do processo G apresentar sintomas cardacos que a levam ao

    hospital, os mdicos classificam seu estado como crises de ansiedade o que a leva

    a reflexo de como a forma que vem levando a sua vida esta a adoecendo.

    Em uma de suas crises ela esta no nibus e sente como se tivesse sendo

    esmagada, pelos sons, pelas pessoas e pelo transito, e segundo ela, a forma como

    ela foi destratada por um mdico dizendo que ela devia deixar de frescura e deixar a

    vaga para quem realmente estivesse passando mal, a magoou muito, pois ela

    sempre fora uma mulher forte que conquistou tudo o que quis.

  • 38

    5.7 COMPREENSO TERAPUTICA

    Ao longo do processo teraputico G percorreu um doloroso caminho de

    aproximar de suas cenas de dores, e do seu vazio que segundo ela, ocorreu

    devido ao desprezo que sofreu e sofre da me at hoje. Apresentando essa falha do

    seu primeiro ego auxiliar a me, e como ao longo da sua vida, jamais conseguiu se

    relacionar com algum com intensidade. Ela apresenta em sua trajetria sofrimentos

    que viveu sozinha sem o apoio de ningum.

    No entanto, ela percebe como seu movimento sempre foi de afastar as

    pessoas, evitando amigos ntimos e nunca demonstrando o que estava realmente

    sentindo, buscando sempre segundo ela no expor a sua vida, fazendo com que as

    pessoas ao seu redor achassem que ela era bem casada e feliz, desempenhando

    sempre um papel social de famlia perfeita, a partir das presses sociais.

    Em seguida, ela percebe como seu matrimonio lhe trouxe sofrimento e como

    ela manteve-se passiva diante de muitas situaes. A partir do tomo social que foi

    aplicado, aps cerca de 8 meses do processo teraputico, G passa a refletir sobre si

    e as posies que ocupa na vida das pessoas.

    Em seu processo ela explora seus papeis afetivos e sociais, podendo assim

    construir o desejo de uma re-matrizao.

    5.8 APLICAO DO TOMO SOCIAL

    Aps apresenta-la a metodologia do tomo social, lhe foi entregue folhas de oficio para que ela compusesse personagens de seu tomo e em seguida foi pedido

    para que ela o montasse no cho da sala.

    Ao montar seu tomo social a primeira pergunta que eu fiz questiona-la

    sobre o que ela v. Ela comea a chorar e diz que v que carrega todo mundo nas

    costas, gente que no precisa dela e at mesmo pessoas que no merecem.

    Ela apresenta cada participante do seu tomo e fala sobre como eles

    influenciaram na sua vida.

  • 39

    5.9 MEMBROS DO TOMO

    Filhos

    Ela apresenta os filhos como sua razo de viver e seu suporte na vida.

    Marido

    Traz o marido como um peso que vem carregando ao longo da vida. O chama de

    saco de batata, e relata como ela sofreu para tentar ignorar as coisas que ele vem

    fazendo desde o seu primeiro ano de casados e como isso a faz sofrer.

    Pai

    Apresenta o pai como algum que ama muito, porm foi negligente com ela ao

    deixar que a me a maltratasse e no fazer nada.

    Me

    Apresenta a me como uma mulher ciumenta que no suportava dividir com a filha o

    amor do pai, por isso a perseguia e a maltratava, deixando-a ficar at sem comida. A

    responsvel por sair de casa aos 11 anos dizendo que ela era uma pessoa

    insuportvel que ningum nunca iria gostar dela. Ela contou que na vspera do seu

    casamento a me lhe disse que esse casamento duraria meses, pois ningum a

    suportaria.

    Irmo

    Traz o irmo como uma preocupao. Algum que sempre precisa dela para orientar

    nos momentos difceis. Que sempre quando esta bem, some.

    Irm

    Apresenta a irm como algum que tambm sofreu muito com as atitudes da me, e

    algum com que ela pode dividir as coisas.

    Tio (Cncer terminal)

    Morou com ele quando saiu de casa aos 11 anos at os 18 anos quando consegue

    comprar sua prpria casa. Ela relata no ter raiva do tio, porm gostaria de visita-lo,

  • 40

    pois ele esta com um cncer terminal, porm ainda no foi, pois tem receio de

    encontrar a tia.

    Tia (que a maltratou na infncia e adolescncia)

    Ela apresentou a tia com algum que a maltratou muito durante muitos anos, com

    agresses verbais e at fsicas. Ela ao montar o tomo social no cho colocou a tia

    em cima da lixeira. A ser questionado o porqu em cima da lixeira, ela disse que no

    pensou na hora, mais que acredita que ela uma pessoa que no tem nada de bom.

    5.10 ILUSTRAO DO TOMO SOCIAL

    ILUSTRAO 1 - TOMO SOCIAL - C1

    5.10.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL

    A aplicao do tomo ocorreu em um perodo no qual a paciente ainda estava

    apresentando sinais de catico indiferenciado em suas relaes com seus

    familiares.

  • 41

    A anlise do tomo permitiu a paciente dar-se conta da forma como ela se

    relacionava com cada pessoa que ela apresenta e como essas relaes cristalizam

    e lhe tiram a espontaneidade.

    A necessidade de provar para me que poderia ter um casamento feliz, foi um

    estimulo a buscar uma vida baseada na aparncia. Alm disso, ela incorporou esse

    papel de vtima das circunstncias e se permitiu, sem reagir s diversas agresses

    sofridas pelos personagens que passaram na sua vida.

    Essa analise parte da paciente representando uma grande evoluo em seu

    processo.

    5.11 CASO 2

    5.12 IDENTIFICAO

    J, 23 anos, estudante de pedagogia, mora com os pais e uma sobrinha de 7

    anos, faz estgio em escola particular.

    5.13 PERODO DE ATENDIMENTO

    1 ano.

    5.14 QUEIXA

    J foi encaminhada por mdicos com o diagnostico de crise de ansiedade, embora ela diga que esta bem no momento da primeira consulta, ela relata um ano

    marcado por visitas ao hospital devido a dores no peito, tonturas entre outros.

    5.15 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES

    Ao longo do processo J apresenta uma relao de dependncia, tendo dificuldade em realizar tarefas simples como ir parada de nibus sozinha. Ela

  • 42

    apresenta uma historia de dependncia a me, que segunda ela, sempre lhe disse

    que ela era uma criana nervosa e precisava ser cuidada.

    J traz fim do namoro de 5 anos, aps descobrir uma traio, como um dos

    agravantes de seu quadro, ela acredita ser responsvel pela traio pois no

    conseguia manter relaes sexuais com o namorado embora houvessem tentado

    durante muito tempo.

    Ela apresenta uma posio religiosa e moral rgida em prol da castidade e

    acredita que a irm que engravidou e foi abandonada, foi castigada.

    Aps um perodo de terapia ela apresenta um caso de abuso sexual durante a

    infncia, dos 4 aos 8 anos. Ela acredita que esse evento tenha dificultado ter

    relaes com o namorado.

    J conhece outras pessoas e entre elas um rapaz que termina a relao com

    ela ao descobrir sua virgindade. Depois de alguns meses ela conhece outro rapaz e

    eles iniciam uma relao, no qual ele diz respeitar o tempo dela.

    Aps 6 meses de terapia ela volta a apresentar sintomas somticos e

    justificada, a principio pelo estresse na faculdade. Aps algumas intervenes ela

    relaciona as suas crises com crises da me e relata que desde criana, sempre que

    a me adoecia ela adoecia junto e relata um problema de sade que a me teve.

    5.16 COMPREENSO TERAPUTICA

    J durante o processo buscava independncia e auto-estima. Ao se trabalhar

    questes ligadas infncia ela aponta como a me construiu em torna dela a

    imagem de frgil e dependente, diferente dos outros irmos que so atrevidos.

    Apresentando com a me uma relao de corredor. Aos poucos ela vai se

    apropriando de seus desejos e passa a sair com as amigas a noite, a paquerar e ate

    mesmo dirigir sozinha.

    Quanto a sexualidade a principio foi trabalhada, a origem de sua rigidez moral

    e de como o sexo se tornou em uma tortura ao invs de um prazer, J apresenta a

    sua criana ferida e de como esse evento marcou sua vida de forma dolorosa. O

  • 43

    processo permitiu construir uma nova forma de ver a sexualidade, embora muitas

    dessas questes envolvam o abuso que uma temtica difcil para ela trabalhar.

    O retorno nova crise d-se aps acidente da me, no qual ela fica de cama

    e J assume as tarefas domsticas e o cuidado da sobrinha. Essa situao a

    sobrecarrega e o tomo aplicado com o intuito de ampliar a compreenso sobre os

    papeis que ela vem exercendo e como eles estavam se comunicando.

    5.17 APLICAO DO TOMO DE PAPIS

    Aps apresenta-la a metodologia do tomo de papeis sociais, foi entregue a

    ela uma folha de oficio para que ela composse os personagens de seu tomo e em

    seguida foi pedido para que ela o montasse no cho da sala.

    Em seguida ela foi incorporando seus papeis e se apresentando como eles.

    Em sua primeira montagem pode-se perceber que ela construiu um tomo de papeis

    no plano do ideal.

    Nesse tomo ela apresenta-se prximo de seus irmos e sobrinha, porm

    quando ela vai incorporar esse papeis, seu discurso de afastamento, diferente das

    posies que ela tinha apresentado. Esse fato a emocionou muito.

    Seu discurso do tomo apresentou um ideal de papeis sociais, assim esse

    recurso teraputico permite que ela perceba seu real papel e se confronte com o seu

    desejo de se doar mais neles.

    Em seguida ela refaz o tomo mais de acordo com a sua realidade no

    momento. Ela apresenta seu papel de J pressionada por seus outros papeis. E ao

    encena-lo chega a se colocar na parede como se estivesse sendo espremida, essa

    forte cena permite que J perceba como vem se comunicando com esse papeis e a

    sesso continua, trabalhando na perspectiva de como poderamos pensar

    estratgias para seu tomo sair do campo do real para o ideal.

  • 44

    5.18 MEMBROS DO TOMO J

    Papel de tia Ideal

    Ensinar as tarefas da escola, incentivando a sobrinha a ser mais confiante, brincar.

    Papel de tia Real

    Distante, tem pouco contato e esta sempre cansada.

    Cuido da educao do filho dos outros e no acompanha a educao da minha

    sobrinha.

    Papel de Irm Ideal

    Conviver mais, sair todos juntos e se divertir como era na infncia.

    Papel de Irm Real

    Distante e com pouco dilogo.

    Papel de filha Ideal

    Cuidar dos pais e dar ateno a elas j que eles esto envelhecendo e seus irmos

    no do muita ateno a eles.

    Papel de filha Real

    Est sempre ocupada, cansada e estressada.

    Papel de Estudante Ideal

    Ser uma tima aluna na graduao e entrar no mestrado.

    Papel de Estudante Real

    No tem tempo para se dedicar a universidade estudando apenas parte do final de

    semana.

    Papel de Professora Ideal

    Ser parceira nos alunos no processo de aprendizagem

  • 45

    Papel de Professora Real

    Reprimida pelos comandos da escola.

    Papel de Namorada

    O nico papel que ela no altera a posio e o considera esta aplicando no ideal e

    real.

    5.19 ILUSTRAO DO TOMO DE PAPIS SOCIAIS

    5.20 IDEAL

    ILUSTRAO 2 - TOMO DE PAPIS IDEAL - C2

    5.20.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL IDEAL

    A paciente que apresenta caracterstica da fase catico indiferenciada

    apresenta o esquema de um tomo social que quando solicitada a utilizao da

    tcnica da inverso de papis, fica claro que esses papis de sua vida no esto

    correspondendo realidade vivenciada.

  • 46

    No primeiro tomo, embora os irmos fiquem bem prximos, ela relata que

    quase no os v e que eles convivem muito pouco. Fala que se sente

    sobrecarregada pelas responsabilidades de cuidar dos pais e da sobrinha, enquanto

    os irmos j casados e fora de casa no colaboram.

    Outro papel que J vai apresentar contradio no seu discurso em seu papel de estudante que, segundo ela consumida pelo trabalho e pelas responsabilidades

    domestica vem ficando de lado e ela no esta se saindo to bem quanto desejava,

    acreditando que essa atitude se refletira em dificuldades de no futuro realizar seu

    sonho de fazer uma ps-graduao.

    5.20.2 ANLISE DO TOMO SOCIAL REAL

    ILUSTRAO 3 - TOMO DE PAPIS REAL - C2

    Quando solicitado que J reorganize seu tomo social com as distncias

    mais prximas da sua realidade atual, com exceo do namorado. Todos os outros

    membros so mudados de posio.

    Ocorre uma aproximao do seu papel de professora e fazendo uma inverso

    de papeis com esse papel. Ela relata que esta feliz e satisfeita com seu

    desempenho, embora se sinta muito cansada pela extensa carga horria e que,

    embora esteja pensando em mudar de emprego sofre pela saudade das crianas.

  • 47

    Depois de inverter com todos os seus papeis, peo que ela assuma o papel

    de J, e ao perguntar como ela se sente, ela se apoia na parede com as duas mos e

    relata um sentimento de presso.

    Os outros papis passar a ficar mais longe de J e ela ao inverter com esses

    papeis relata como esse afastamento aconteceu. E ainda nesses papeis a pergunto

    sobre estratgias para que esses papis fiquem mais prximos do seu desejo.

  • 48

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Conhecer o nascimento do Psicodrama atravs da criatividade-

    espontaneidade de seu criador Moreno, com suas histrias, aventuras, relaes com

    os sujeitos e questionamento social da sua poca, alm de todo um arcabouo

    filosfico existencial que estruturou essa teoria-pratica das relaes humanas

    essencial para compreenso dessa forma de atuar no mundo pensada por esse

    gnio-louco.

    Experenciar o mundo atravs do Psicodrama no uma tarefa fcil, Moreno

    nos questiona desde os nossos papis primitivos at nossas redes de

    relacionamento, nos exigindo treino e esforo para sobreviver em um mundo de

    conservas culturais que nos cristalizam.

    Ser psicodramatista ento, me parece uma funo duplamente desafiadora,

    haja vista que Moreno sempre nos apresenta que antes dos conhecimentos

    racionais necessrio sentirmos o que fazemos. Assim, ser psicodramatista antes

    de tudo um crente, na sua potencialidade e na potencialidade do ser humano, pois

    como diria Buda: O Deus que habita em mim, sada o Deus que habita em voc,

    estabelecendo assim com seu cliente uma relao primeiramente humana, antes de

    profissional.

    A clnica individual alicerada nas bases do psicodrama permite que esses

    sujeitos construam na relao com o terapeuta, um espao de exerccio da

    espontaneidade, ensaiando sem medo dos erros e com apoio e incentivo para atuar

    no grande espetculo da vida.

    A escolha do tomo na clnica deve-se a essa tcnica de manejos flexveis e

    de potencialidades projetivas e dramticas. Ele, tambm, se destaca pelo seu longo

    alcance, chegando at mesmo a tele.

    Esta tcnica do psicodrama estimula a espontaneidade, assim como a

    flexibilizao de papis, e facilita a manifestao de conflitos, afetivos e ticos,

    impedimentos e possibilidades de expresso em seu espao vital, marcados pelos

    seus personagens, pelas suas relaes interpessoais e at mesmo intrapessoais.

  • 49

    A aplicao do tomo , sobretudo, um convite reflexo de si e de seus

    outros no espao imaterial da psique dos sujeitos. Bem aplicados pelo terapeuta-

    diretor podem levar o paciente a diversas reflexes e aes, sejam no espao clnico

    ou fora deles.

    Assim esse recurso tradicional do psicodrama adaptado para a clnica

    individual, mostrou-se uma importante ferramenta de auxlio ao processo

    teraputico. No entanto, necessrio mais estudos sobre a temtica com o intuito

    de aprofundar as possibilidades metodolgicas e vivenciais da utilizao desse

    recurso no espao clnico psicodramtico.

    O psicodrama apresenta a espontaneidade como alternativa do sujeito se

    desenvolver e vivenciar as suas experincias, sejam elas boas ou ruins. No

    processo clnico, embora considerado artificial para Moreno, depositava na

    potencialidade do grupo e das relaes interpessoais uma alternativa para

    sobreviver.

    Tcnicas do psicodrama moreniano, assim como o tomo, vem sendo

    adaptadas para a clnica individual e apresentando bons resultados para o processo

    psicoteraputico.

    Nos casos relatados ambos as pacientes despertaram para seus lugares em

    suas redes sociais e seu poder de influencia sobre essas relaes, passando a

    resignificar seus papeis dentro de suas estruturas.

    Embora o tomo seja apenas um ponto da bela costura da colcha de retalhos

    dos dramas da vida, essas experincias relatadas por uma jovem psicodramatista

    em formao, espera despertar mais dvidas e curiosidades sobre esse

    procedimento teraputico. Na minha prtica clnica esse recurso proporcionou

    respostas e despertou para as novas questes.

  • 50

    7 REFERNCIAS

    AMATO, M. A. A Potica do Psicodrama. So Paulo : Aleph , 2002.

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    SLUZKI, C. E. A rede social na prtica sistmica: Alternativas teraputicas. S. So Paulo : Casa do Psicologo , 1997.

    1 INTRODUO2 FUNDAMENTAO TERICA2.1 BIOGRAFIA DE MORENO2.2 BIOGRAFIA DE MORENO SEGUNDO CAMILA SALLES2.3 ESPONTANEIDADE E CRIATIVIDADE2.4 TEORIA DE PAPIS2.5 CLUSTER2.6 TELE E TRANSFERNCIA

    3 TOMO SOCIAL COMO INSTRUMENTO TERAPUTICO3.1 CONSTRUO DA SOCIOMETRIA3.2 TOMO SOCIAL3.2.1 APLICAO DO TOMO3.2.2 EXPLORAO DO TOMO

    4 PSICODRAMA4.1 CLNICA BIPESSOAL4.2 PSICOTERAPIA DA RELAO4.3 A FILOSOFIA DO MOMENTO4.4 CATARSE DE INTEGRAO

    5 TOMO COMO INSTRUMENTO DE INTERVENO NA CLNICA5.1 METODOLOGIA5.2 CASO 15.3 IDENTIFICAO5.4 PERODO DE ATENDIMENTO5.5 QUEIXA5.6 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES5.7 COMPREENSO TERAPUTICA5.8 APLICAO DO TOMO SOCIAL5.9 MEMBROS DO TOMO5.10 ILUSTRAO DO TOMO SOCIAL5.10.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL

    5.11 CASO 25.12 IDENTIFICAO5.13 PERODO DE ATENDIMENTO5.14 QUEIXA5.15 HISTRICO DO CASO E RECORTE DE ALGUMAS SESSES5.16 COMPREENSO TERAPUTICA5.17 APLICAO DO TOMO DE PAPIS5.18 MEMBROS DO TOMO J5.19 ILUSTRAO DO TOMO DE PAPIS SOCIAIS5.20 IDEAL5.20.1 ANLISE DO TOMO SOCIAL IDEAL5.20.2 ANLISE DO TOMO SOCIAL REAL

    6 CONSIDERAES FINAIS7 REFERNCIAS