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A tecnologia sempre fez parte da existência humana: desde quando se aprendeu a produzir o fogo, a pintura rupestre ou quando o ser humano desenvolveu o armazenamento e a conservação dos alimentos até chegar à era do rádio e da televisão.

TECNOLOGIA: OPORTUNIDADE DE SE ADAPTAR ÀS NOVIDADES NA MATURIDADE

essoas acima dos 65 anos fazem parte do grupo demográfico de maior crescimento em uso das redes sociais nos Estados Unidos, segundo levantamento do Centro de Pesquisas Pew divulgado no ano passado. Nesta entrevista, o professor Leo Fraiman descreve os desafios e oportunidades pessoais e profissionais

para os seniores se adaptarem da melhor maneira possível às novas tecnologias, chegando à melhor versão de si mesmos, que é aquela em que “a pessoa faz o bem, não é um peso, é feliz, se realiza e faz o melhor para a sociedade e para os que estão por perto”.

Sempre Jovem – Quais são os desafios dos brasileiros maduros em relação à tecnologia?

Leo Fraiman – Uma das coisas que mais entristecem é ver pessoas que chegam à plenitude da vida sem tê-la aproveitado da melhor maneira, através de experiências, aprendizados, riquezas espirituais, profissionais e pessoais. Para mim existe uma diferença muito grande entre aquelas pessoas que utilizam o passar dos anos para se tornar melhores e aquelas que deixam o tempo passar e se tornam velhas, chatas. São elas que se colocam à margem da história e utilizam expressões como “no meu tempo...”. Talvez o grande desafio do bom envelhecimento seja não

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Leo Fraiman Psicoterapeuta (CRP 06/40544), mestre pela USP, especialista em

psicologia educacional, palestrante e escritor. Acaba de lançar os livros

“Projeto de Vida 100 Dúvidas”, “GPS Profissional” e

“Como Ensinar Bem” e a revista “ Kit Vestibular Sem Medo e Sem Stress”.

Fale com o autor: leo@opee.com.br Colaboração: Laura Stoppa,

jornalista.

se tornar velho, mas se tornar sábio, maduro, um profissional sênior.A própria expressão “senioridade” tem a ver com maioridade, com ser senhor da própria vida, estar acima de uma simples denominação, de uma classificação etária. Essa é a pessoa que com 60, 70 ou 80 anos continua vivendo no hoje, no aqui, no agora, aproveitando o melhor da vida tanto no que diz respeito às relações humanas quanto no que se refere ao corpo, à mente e à saúde, dentro daquilo que a idade possa proporcionar. Tudo isso também se aplica aos recursos digitais. Idade não é e não deve ser um empecilho para nada, muito menos para evoluir e se desenvolver.

SJ – Quais as oportunidades que os seniores podem ter no mundo digital?

LF – Já li pesquisas que diziam que a faixa etária e de gênero que mais cresceu em

usabilidade da internet é a das mulheres acima de 55 anos. Talvez porque as relações sociais delas sejam muito mais bem trabalhadas que as dos homens. Em geral, a mulher cuida mais dos vínculos, organizando a ceia de Natal, o encontro da família.É mais comum vermos mulheres viajando juntas, saindo de casa, organizando eventos e tendo mais contato com o seu lado social do que os homens – o que também pode estar relacionado com a maior expectativa de vida delas e com o modo como se preocupam mais com a própria saúde. Esse grupo que cresceu em participação digital está buscando se atualizar e não “ficar para trás”.Em contrapartida, é bastante comum vermos o homem naquela posição acomodada e envelhecendo mal, não só por ter uma vida mais desregrada do que a delas, mas também porque ele pode ter se acostumado a ter a mulher como a regente da sua vida social.

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O uso correto da tecnologia é uma oportunidade para os homens não se tornarem chatos e ranzinzas, adaptando-se às novidades em vez de temê-las.

SJ – O que mudou nas famílias com a inserção das pessoas mais velhas na vida virtual?

LF – É muito triste ver almoços e reuniões de família, tradicionais antigamente, hoje desvirtuados, com as pessoas conectadas em seus mundos particulares, graças à tecnologia moderna.No passado, a tecnologia já propiciava reuniões em torno da televisão e do rádio. O problema é quando ela mais afasta do que aproxima.Hoje o vício no uso do celular e das redes sociais separa a família e os amigos ou os mantém juntos fisicamente, mas alheios em torno da mesma mesa, no sofá, cada um em

contato com seu mundo.Nesses momentos, é importante que seja promovido um momento de desintoxicação, para que as pessoas estejam ali, presentes. Pode ser combinado que, durante o almoço, todo mundo desligue o celular para que todos possam realmente participar daquela ocasião. Por outro lado, é importante lembrar que o uso de Skype, Viber, WhatsApp e tantos outros recursos por pessoas de mais idade também facilita o contato com os filhos e netos, que podem morar longe ou mesmo ter dificuldade de encontrá-lo no dia a dia, cada vez mais corrido.

SJ – Como se manter atualizado neste mundo cada vez mais tecnológico?

LF – É importante não cair nessa febre de que a gente precisa entender e saber usar absolutamente todas as tecnologias.

Informação demais também pode trazer angústia, e conheço pessoas maduras que utilizam apenas o e-mail, por exemplo, e para elas isso funciona. Elas não sentem falta do WhatsApp. Eu acredito que a tecnologia tem que servir à vida que combine conosco. Tem pessoas que ainda hoje não gostam do computador, preferem ler uma receita no livro, preferem ligar a mandar mensagem e estão bem assim. Essa preferência independe de idade, é uma questão de perfil.O grande divisor de águas aqui é identificar se esse estilo de vida que eu tenho me traz felicidade, qualidade de vida e produtividade.

SJ – Quais são as vantagens e adversidades tecnológicas para os seniores no âmbito profissional?

LF – Não é fácil mudar. O cérebro humano, que gasta cerca de um quinto das nossas calorias diárias, tende a criar hábitos para

agilizar e facilitar nossa vida. Além da criação comportamental desses hábitos, existe também a carga genética de cada um de nós, que nos predispõe a esta ou aquela atitude mais costumeira. Ou seja, temos biologicamente certa resistência à mudança. Se, por um lado, amadurecer torna a mudança de hábitos mais difícil, por outro, o importante é entender que ter uma idade avançada significa muitas vezes também ter mais autoconhecimento, uma vez que a pessoa pode usar de uma força interna maior que a de um adolescente para mudar.Se a pessoa tiver humildade, humanidade e paciência consigo mesma, ela tem mais chances de ter sucesso.Finalizo deixando para nosso querido leitor uma pergunta: e você, tem usado da vida, das tecnologias, tem aproveitado as relações que constrói para chegar à melhor versão de si mesmo? Pense nisso. SJ