Aula 2 - Por Que Uma Ontologia Do Ser Não é Possível

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    conser!ando a operacionalidade interna da teoria, seu modo de conceituali+ar, no nosle!a muito longe$ =or isto, podemos di+er que a ontologia tentada por Hegel tem por caracter stica principal procurar apreender os conceitos em seu processo de altera'o$1la parte da de&esa de que nenhum conceito isolado apreende adequadamente os processos internos ao campo da e(perincia, mas tais processos podem ser apreendidos

    atra!s da passagem de um conceito a outro$ ale aqui o que dir4 posteriormente3dorno a respeito de Hegel: Como cada proposi'o singular da &iloso&ia hegelianareconhece sua prpria inadequa'o unidade, a &orma e(prime ento tal inadequa'o namedida em queela no pode apreender nenhum contedo de maneira plenamenteadequada #>$ 1ste mo!imento de passagem, que mostra a insu&icincia de conceitos pensados como descri'o de o*jetos, o &en9meno que &unda uma ontologia de car4ter especulati!o, como quer Hegel$

    -ma maneira poss !el de compreender melhor este ponto passa pela tentati!a decompreender a nature+a da estrutura peculiar daCincia da Lgica com suas di!is2es$7al estrutura j4 nos introdu+ a certas especi&icidades do conceito hegeliano de ser$

    3 primeira di!iso com a qual nos de&rontamos a dualidade Lgica objeti a/que englo*a a !outrina do ser e a !outrina da essncia 0 e a Lgica subjeti a/ !outrina do Conceito 0$ ?rosso modo, a di!iso no parece tra+er maiores di&iculdades, j4 que ele parece indicar um mo!imento deinternali"a#o no qual a temati+a'o do ser /o*jeto da lgica o*jeti!a0 , enquanto determina'o aparentemente e(terior &orma do pensar, entra em mo!imento at se trans&ormar em temati+a'o doconceito /o*jeto dalgica su*jeti!a0$ 3o alcan'ar a &orma do conceito, o mo!imento que animou ascategorias ligadas ao ser, dar4 a &orma para a re.organi+a'o dos elementos da lgicatradicional /conceitos@&ormas do julgamento@modo s de in&erncia0$ %u seja, a passagemda lgica o*jeti!a lgica su*jeti!a descre!eria, em larga medida, o mo!imento atra!sdo qual a subst%ncia &o ser' ( apreendida como sujeito &o conceito' , j4 que estadualidade inspirada da distin'o sujeito@o*jeto$

    No entanto, h4 duas peculiaridades importantes nesta di!iso$ =rimeiro, a lgicao*jeti!a di!idida internamente a partir de duas no'2es / ser e essncia 0$ Aegundo, algica su*jeti!a no se contenta em apenas re.organi+ar os elementos da lgicatradicional$ 1la tem ainda uma longa su*di!iso intitulada e(atamente o*jeti!idade#,onde questo de categorias normalmente !inculadas &iloso&ia da nature+a, como omecanismo#, o quimismo# e a teleologia# prpria a organismos *iolgicos /ou seja,os dispositi!os de determina'o da racionalidade dos &en9menos nos campos da & sica,da qu mica e da *iologia0$ Como se no *astasse, a 8ltima su*di!iso, intitulada 3idia#, d4 espa'o para a !ida#, assim como para a idia do !erdadeiro /o*jeto da teoriado conhecimento0 e do *om /o*jeto da moral0 no dando, curiosamente,

    desen!ol!imento para a idia do *elo /o*jeto da esttica0$ % que pode se e(plicar sele!armos em conta que Hegel quer, na !erdade, insistir na maneira com que a

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    es&era de media'o, es&era do conceito como sistema dasdetermina#+es dere le-o, ou seja, do ser que se trans&orma em serem.si do conceito, que desta&orma no ainda posto como para si Etal como na lgica subjeti a F, mas quecompreende o ser imediato como algo que tam*m lhe e(terior$

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    poss !el um sa*er que tenha duas caracter sticas &undamentais: espontaneidade e car4ter repentino / 2l3t"lichkeit 0M$ Aa*er que apreende de maneira imediata seu o*jeto e queesta*elece a possi*ilidade de opera'2es intuiti!as aparentemente independentes de todacapacidade conceitual$ Como dir4 Heidegger: % sa*er imediato tem precisamente estetra'o em si, este modo de sa*er: dei(ar o o*jeto completamente a si mesmo$ % o*jeto se

    sustenta em si como o que no tem necessidade alguma de ser para uma conscincia, e e(atamente ao tom4.lo como tal, como o que se d4 em si que a conscincia o sa*eimediatamente#R$ S a impossi*ilidade deste sa*er que dei(a o o*jeto completamente a simesmo que nos le!ar4 aos caminhos trilhados pela /enomenologia $

    No entanto, a conscincia acredita que o conte8do concreto deste sa*er umconhecimento de rique+a in&inda, para o qual imposs !el achar limite#$ 1ste sa*er apresentado como uma certe+a sens !el / sinnliche 4e5issheit 0, ou seja, certe+a de que a presen'a do ser se d4 atra!s da recepti!idade da sensi*ilidade$ =resen'a integral do ser, j4 que do o*jeto nada ainda dei(ou de lado, mas o tem em toda a sua plenitude, diantede si#$ =resen'a que, por se dar atra!s de uma intui'o imediata, no se completaatra!s do desdo*ramento do espa'o e do tempo ou da inspe'o detalhada de suas partes$ 3o temati+ar o que chama de certe+a sens !el, Hegel procura assim dar conta detoda tentati!a de pensar a tare&a &ilos&ica como retorno espontaneidade do ser,retorno origem muda gra'as a recepti!idade plena de uma intui'o no.dependente dotra*alho do conceito$ Betorno que Hegel descre!e como a cren'a de que poss !el&iloso&ar como quem d4 um tiro com uma pistola$

    Neste sentido, a /enomenologia do Esp0rito e a Cincia da lgica se encontramnos seus respecti!os pontos de partida$ Ae a /enomenologia inicia seu trajeto atra!s datemati+a'o do sa*er imediato do puro ser, a Lgica tam*m parte do puro ser a &im demostrar como ele equi!ale ao nada indeterminado$

    as antes de apresentar suas re&le(2es so*re o ser, Hegel se pergunta porque nocome'ar pelo 1u, ele!ando com isto o princ pio de su*jeti!idade condi'o de&undamento da o*jeti!idade do sa*er e dando continuidade, desta &orma, a umaseq;ncia que conhecemos atualmente como &iloso&ias da conscincia#, que tem emTant sua &igura mais *em aca*ada, e que Hegel alude ao da maneira com que o no!otempo# /ou seja, a modernidade0 ele!ou o 1u a condi'o de &undamento do sa*er$ 3scoloca'2es de Hegel a este respeito so de e(trema import ncia$

    Hegel insiste que a primeira !erdade que constitui a srie do sa*er de!e ser umacerte+a imediata /unmittelbar 4e5isses 0$ No entanto, h4 uma di&iculdade estrutural emtomar o 1u como o &undamento desta certe+a imediata$ as o 1u, ao mesmo tempo emque procura a&irmar.se como conscincia.de.si imediatamente certa de si mesma, umainst ncia emp rica en!olta na multiplicidade in&inita do mundo#$ S isto que Hegel tem

    em mente ao a&irmar : mas 1u em geral tam*m, ao mesmo tempo, um concreto, ouainda, na !erdade, o 1u o que h4 de mais concreto U a conscincia de si como ummundo in&initamente m8ltiplo#P$ =ara ser &undamento, o 1u de!e se separar destamultiplicidade emp rica$

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    puro e !a+io /$$$0 % ser, o imediato indeterminado , na !erdade,nada , no maisnem menos que nada> $

    1sta , sem d8!ida, uma das a&irma'2es mais conhecidas e polmicas de Hegel$ 3ntesde coment4.la, notemos a peculiaridade que consiste em a&irmar que a primeira

    mani&esta'o da qualidade a indetermina'o$ Hegel reconhece que, por ser indeterminado, o ser aparece como despro!ido de qualidadeV masem.si o car4ter deindetermina'o posto como oposto da determina'o ou do qualitati!o$ =or isto, o ser:&a+ da sua prpria indetermina'o sua qualidade#>>$

    1sta posi'o do ser como indetermina'o aparece a Hegel porque o ser, comocome'o, no pode re&erir.se a nada outro que ele mesmo, seno ele no seria come'o,isto no sentido da categoria mais imediata do sa*er$ % ser auto.re&erncia imediata eincondicional$ No entanto, como a determina'o um processo relacional, s sedetermina algo em rela'o a outro algo que posto ao mesmo tempo, ento esta auto.re&erncia imediata do ser s pode equi!aler a*soluta indetermina'o$ )a porqueHegel pode di+er: ualquer determina'o ou conte8do que seriam postos nele comodi&erentes, ou atra!s do qual ele seria posto como di&erente de um outro no lhe permitiria manter.se em sua pure+a#$ )e &ato,o ser s passa : determina#o quando ( posto em uma situa#o, ou seja, em um conte(to / ;usammenhang 0 prprio e(istncia$% que nos e(plica porque a segunda categoria da qualidade de!e necessariamente ser o

    !asein /no sentido de e(istncia, presen'a, ser.a 0$ )espro!ido de uma situa'o,a*stra do de todo conte(to 9ntico, o ser s pode ser apreendido como pura abstra#o :

    3 re&le(o de!e, em !ista disso, empenhar.se em procurar uma &irmedetermina'o para o ser, pela qual ele seria di&erente do nada$ =or e(emplo:toma.se o ser como o que persiste em toda mudan'a, amat(ria in&initamentedetermin4!el etc$, ou, ainda sem re&le(o, como uma e(istncia singular qualquer, o sens !el ou o espiritual mais pr(imo que hou!er$ =orm todas asdetermina'2es ulteriores e mais concretas como essas no dei(am mais o ser como puro ser< como imediatamente, aqui no come'o>G$

    )esta &orma, Hegel procura criticar todo conceito pr.re&le(i!o de ser por acreditar que isto signi&ica &a+er a &iloso&ia determinar, como seu o*jeto pri!ilegiado,nada mais do que um !a+io total, um W ine(prim !el que, por se su*trair a toda predica'o, ad!m um Ens realissimum $

    Hegel dir4 ento que o ser: apenas a prpria intui'o pura, !a+ia#, ou seja, o pensamento despro!ido de o*jeto$ 3o de&inir posteriormente o nada como igualdade

    simples consigo mesmo, !a+io per&eito /ollkommene 0#, Hegel admite que ele podee(istir em nossa intui'o ou pensamento$ % que no dei(a de nos remeter no'oXantiana deens imaginarium, uma intui'o !a+ia sem o*jeto que Tant de&ine nosseguintes termos: 3 simples &orma da intui'o, sem su*st ncia, no em si um o*jetoEdeterminadoF, mas a sua condi'o simplesmente &ormal /como &en9meno0, como oespa'o puro e o tempo puro que so algo, sem d8!ida, como &ormas da intui'o, masno so em si o*jeto suscet !eis de intui'o /ens imaginarium 0#>J$ Neste sentido, seaceitarmos a de&ini'o proposta do ser como &orma da intui'o !a+ia sem o*jeto, comoaquilo que nos permite nomear a &orma do tempo puro e do espa'o puro, ento

    > H1?1L, Wissenscha t der Logik 1, p$ G>> H1?1L, idem, p$ G>G H1?1L, Enciclop(dia, par$ P>J T3N7, Cr0tica da ra"o pura, Y JDP@3 GQ>

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    chegaremos a uma situa'o estruturalmente similar quela que encontramos no primeirocap tulo da /enomenologia do Esp0rito$ L4, !emos a conscincia tomar a pura &orma dotempo e do espa'o como ser de realidade mais ele!ada$ )e uma certa &orma, ela cr ser poss !el su*stanciali+ar a pura &orma do espa'o e tempo, chamando talsu*stanciali+a'o de ser#$ as ao tentar e(pressar tal &orma pura da intui'o, a

    conscincia &ar4 a e(perincia contraditria da impossi*ilidade de tal e(presso$ No posso e(pressar a pura &orma da intui'o$ 3o tentar, ou digo apenas nada ou coloco oser em rela'o, no tenho mais a pura &orma da intui'o, mas tenho um conte8dosituado$ Hegel dir4 : no tenho mais o ser /6ein 0, mas apenas o ser.a / !a.sein 0$

    Hegel lem*ra que a conscincia acredita ter muito mais do que o puro ser queconstitui a essncia da sua certe+a sens !el: -ma certe+a sens !el e&eti!a /5irkliche

    sinnliche 4e5issheit 0 no apenas essa pura imediate+, mas um e(emplo damesma#>D$ %u seja, a conscincia acredita ter uma coloca'o em cena desta imediate+, oque demonstraria que no est4!amos diante de um puramente indeterminado$ 1stacoloca'o em cena operada atra!s da capacidade que teria a conscincia de indicar oser atra!s de diticos como isto#, este#$ 3tra!s deles, a conscincia quer indicar, demaneira ostensi!a, a signi&ica'o do ser que lhe aparece intui'o$ No entanto, o isto#e o este# produ+iro a determina'o di&erenciadora da singularidade do ser$ Noestaremos mais e(atamente diante do puro ser$ Colocar em cena a imediate+ necessariamente di&erenciar, colocar o ser em rela'o e romper o a*soluto$

    % que interessante neste conte(to ser4 o saldo da e(perincia$ 3o tentar su*stanciali+ar o que de!eria ser simples condi'o &ormal para os &en9menos /a sa*er,as &ormas pura da intui'o0, a conscincia no cometia um simples equ !oco$ Na!erdade, ela procura!a temati+ar o incondicionado$ as ao procurar o incondicionado,ela apenas encontrou o indeterminado$ ai da ast8cia de Hegel a&irmar que tale(perincia no um simples &racasso, mas desle!amento doe-cesso que indica comotoda estrutura#o de objeto ser= sempre assombrada pela indetermina#o$ =ois aa&irma'o segundo a qual o ser , de &ato, nada, no mais nem menos que nada, !isasolapar a seguran#a ontolgica do que de!eria aparecer como &undamento para o processo de determina'o dos o*jetos$ 7entemos compreender melhor este ponto$

    A primeira categoria concreta

    Neste sentido, o de!ir /Werden 0 como resultado da posi'o da unidade entre ser enada de!e ser medido em todas as suas conseq;ncias$ % pequeno par4gra&o so*re ode!ir , sem d8!ida, um dos mais decisi!os de todo o li!ro$ =or isto, ele de!e ser citadona ntegra:

    > puro ser e o puro nada so pois o mesmo$ % !erdadeiro no nem o ser nem onada, mas que o ser passou no nada /)bergegangen ist 0 e que o nada passou noser U no que ele passa$ No entanto, ao mesmo tempo, a !erdade no aindi&erencia'o entre os dois, mas queeles no so o mesmo, que eles so adi eren#a absoluta, em*ora sejam insepar4!eis e inseparados e que,imediatamente, cada um desaparece em seu oposto$ Aua !erdade pois estemo!imento do imediato desaparecer de um no outro: ode ir , um mo!imentoatra!s do qual am*os so di&erentes, mas atra!s de uma di&eren'a queimediatamente se dissol!eu /au gel3st hat 0>M$

    >D H1?1L, /enomenologia, par$ Q>>M H1?1L, idem, p$ J

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    1ste pequeno par4gra&o sinteti+a o que Hegel entende por mo!imento e identidadedialtica$ No se trata e(atamente de di+er que ser# e nada# so termos que designamo mesmo, um pouco como nus# e estrela )al!a# designam o mesmo$ 7rata.se dedi+er que eles alcan'am uma identidade que resultado de um mo!imento$ No entanto,trata.se de um peculiar mo!imento imediato#, ou seja, mo!imento que ocorre

    imediatamente a partir do momento em que um termo posto, j4 que no poss !el aoser p9r.se sem passar no seu oposto /passagem no oposto que Hegel chama de?erkehrung . in!erso0$ 1sta uma maneira de di+er queo conceito de ser no temrealidade$ !a mesma orma, o conceito de nada no tem realidade$ @o entanto, a

    passagem do conceito de ser ao conceito de nada tem realidade$ 1sta passagem no alguma &orma de nadi&ica'o do ser, mas de reconhecimento da insu&icincia de suasigni&ica'o$ 3 signi&ica'o do ser demonstra sua inanidade quando posta$

    3qui, de!emos entender melhor a idia de posi'o$ 7entemos, por e(emplo,interpretar uma a&irma'o como: ser e nada so o contr4rio em toda a sua imediate+,isto , sem que em um deles j4 tinha sido posta uma determinidade, que conti!esse suarela'o para com o outro#>R$ 5ica claro como a idia de posi#o implicadeterminar, istono sentido de passar dimenso concreta, 9ntica, &enomenal$ Aer e nada so contr4riosquando no so postos, quando so imediatamente !isados$ 3t porque: no h4 nada nocu e na terra que no contenham em si ser e nada#>P$ 1ste um ponto &undamental paratodo penasamento dialtico: a passagem e(istncia, a posi'o, sempre um acrscimoem rela'o determina'o categorial, e no sua mera repeti'o, como se dadetermina'o e(istncia no hou!esse processo$ Lem*rem a este respeito da a&irma'oXantiana, segundo a qual cem t4leres reais no contm mais do que j4 est4 presente emcem t4leres poss !eis> $

    as di+er isto implica a&irmar que o prprio uso gramatical do !er*o no podeser !isto de maneira indi&erente pela especula'o &ilos&ica$ 7al!e+ isto e(plique porqueHegel &ala a todo momento que a &orma da proposi'o % Aer nada#, &orma de um julgamento de identidade, inadequada para e(presso a !erdade especulati!a: Aendoo conte8do especulati!o, ento tam*m a no.identidade do sujeito e do predicado momento essencial, mas isto no est4 e(presso no julgamento#>Q$ R P H1?1L, i*idem, p$ R> =ara uma *oa discusso a este respeito a partir da a&irma'o Xantiana de !er 53-A7%, BuZV Aar-Blogique et politique ,>Q J$

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    de!ir a categoria que determina a signi&ica'o do ser e do nada como passagem ao seulimite, o que nos le!a a superar o car4ter limitado destas categorias e a pro*lemati+ar uma gram4tica que !isa &a+er re&erncia a uma e(perincia que a todo momento lheescapa$ % que pode nos e(plicar porque: % de!ir o primeiro pensamento concreto e,com isto, o primeiro conceitoV ao contr4rio, ser e nada so a*stra'2es !a+ias#G>$

    1sta idia do de!ir como dispositi!o de &ormali+a'o de determina'2es queesto passando no seu limite di+ muito a respeito de um conceito reno!ado dedetermina'o que parece animar as considera'2es hegelianas /e no de!emos esquecer que o t tulo desta nossa se'o e(atamente determinidade#0$ Neste ponto, de!emoslem*rar desta r4pida, porm importante, considera'o hegeliana so*re o car4ter dialticodas grande+as in&initamente pequenas#$ 7ais considera'2es de!em ser lidas juntamentecom a idia de que, como notaram alguns comentadores, o termo que teria !alor determo nulo est4 ausente da doutrina hegeliana do ConceitoGG$

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    passa necessariamente no nada$ 3o menos neste sentido, a passagem do ser ao nada simplesmente a &or'agem da di&eren'a enquanto potncia de mo!imento$

    Heidegger, leitor de Hegel

    Neste ponto, podemos lem*rar de um &ilso&o para quem esta desquali&ica'ohegeliana de uma ontologia do ser era inaceit4!el, a sa*er, artin Heidegger$ 3con&ronta'o de Heidegger a Hegel uma constante$ Heidegger dedica cursos

    /enomenologia do Esp0rito, assim como !4rios artigos a Hegel /em especial, Hegel eos gregos# e Hegel e seu conceito de e(perincia#0$ 7al con&ronta'o justi&ica.se pelanecessidade de distinguir duas &enomenologias: esta que nos le!a a compreenso docar4ter produtor do 1sp rito /Hegel0 e esta que nos le!a compreenso da histria daoculta'o do ser /Heidegger0$ 7odas as duas partem da cr tica da e(perincia &enomenal,em*ora seus resultados sejam pro&undamente distintos$

    =artamos de uma a&irma'o maior para nosso pro*lema relati!o possi*ilidadede uma ontologia do ser$ )i+ Heidegger, a respeito de Hegel: % ser, enquanto primeirae simples o*jeti!idade dos o*jetos, pensado desde o ponto de !ista da re&erncia aosujeito a ser pensado, por meio da pura a*stra'o deste#GR$ %u seja, a de&esa hegelianada nature+a de a*stra'o prpria ao ser seria resultado da cren'a de que apenas are&le(o su*jeti!a poderia &ornecer um &undamento ao pensar$ Hegel pode a&irmar queser e nada so pois o mesmo porque, para ele, aquilo que resta quando a su*jeti!idaderetira seu representar apenas o puramente indeterminado$ 1sta &orma de compreender o ser nos e(plica porque Heidegger a&irma, sempre a respeito de Hegel: o ser e, por conseguinte, aquilo que representado nas pala!ras &undamentais,no ( aindadeterminado eno ( ainda mediado atra!s e para o interior do mo!imento dialtico dasu*jeti!idade a*soluta#GP$ =ois o sujeito com suas estruturas de re&le(o que determinao que h4 a ser pensado e ele determina o que h4 a ser pensado necessariamente so* a&orma de entes#$ % que no um ente#, dir4 Heidegger a respeito de Hegel, nada#G$ % que nos dei(a com a questo de compreender o que pode signi&icar determinar algo so* a &orme de um ente$

    =ara compreender este modo de produti!idade da su*jeti!idade de!emos insistir que a interpreta'o de Heidegger de!e partir de um pressuposto &undamental, a sa*er,desde )escartes sujeito# o que se &ala da mesma maneira$ Hegel chegaria apenas l4onde )escartes j4 ha!ia de&inido a meta, a sa*er, compreender a essncia do que comoo*jeto dispon !el ao entendimento calculador de um sujeito, o mesmo sujeito que diantede um peda'o de cera s !er4res e-tensa $ 3 terra &irme que, segundo Hegel, )escartesdesco*re a compreenso do sa*er como: certe+a de si do sujeito sa*endo.se

    incondicionalmente#GQ

    $ Compreenso que Hegel le!ar4 ao e(tremo atra!s de seuidealismo a*soluto$1m uma passagem cle*re de seus cursos so*re Niet+sche, Heidegger insiste que

    a estrutura da re&le(o que nasce com o princ pio moderno de su*jeti!idade &undamentalmente posicional$ Be&letir por diante de si no interior da representa'o,como se coloc4ssemos algo diante de um olho da mente#$ Aeguindo os rastros de te(tocartesiano, ele nos lem*ra que, em !4rias passagens, )escartes usacogitare e perciperecomo termos correlatos$ -m uso necessariamente prenhe de consequncias$ )e &ato,Heidegger de!e pensar aqui, primeiro, na maneira peculiar com que )escartes utili+a o

    GR H1

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    termo latim percipere$ 1le raramente utili+ado para designar processos sensoriais,como !iso e audi'o /nestes casos, )escartes pre&ere utili+ar o termo sentire 0$

    2ercipere designa, normalmente, a apreenso puramente mental do intelecto, j4 que, em)escartes, a inspe'o intelectual que apreende os o*jetos, e no as sensa'2es$ 3ssim, por e(emplo, na medita'o terceira, ao &alar daquilo que aparece ao pensamento de

    maneira clara e distinta, )escartes a&irma: todas as !e+es que !olto para as coisas que penso conce*er mui claramente sou de tal modo persuadido delas $$$#J $ as, de &ato,penso conce*er# a tradu'o no muito &iel de percipere D$ )a mesma &orma,)escartes, mais a &rente &alar4 de : tudo aquilo que conce*o clara e distintamente#JG pelo pensamento$ as, no!amente, o termo conce*er# uma tradu'o apro(imada de percipere, j4 que o te(to latim di+: illa omnia quae clare percipio#$ )e onde se ! como percipere ser!e, nestes casos, para descre!er o prprio ato mental do pensamento$

    Heidegger sens !el a este uso peculiar de percipere por )escartes pois areconstru'o etimolgica do termo nos mostra que ele signi&ica: Itomar posse de algo,apoderar.se /bem chtigen 0 de uma coisa, e aqui no sentido de dispor.para.si /6ich."u.

    stellen 0 Elem*remos que6icherstellen con&iscarF na maneira de um dispor.diante.de.si/?or.sich.stellen 0, de um re.presentar /?or.stellen 0#JJ$ )esta &orma, a compreenso decogitare por ?or.stellen /re.presentar@por diante de si0 estaria mais pr(ima do!erdadeiro sentido deste &undamento que )escarte tra+ como terra &irma da &iloso&iamoderna$

    7ais apro(ima'2es permitem a Heidegger interpretar ocogitare cartesiano comouma representa'o que compreende o ente como aquilo que essencialmenterepresent4!el, como aquilo que pode ser essencialmente disposto no espa'o darepresenta'o$ S assim que de!emos compreender a &rase.cha!e: %cogitare umdispor.para.si do represent4!el#JD$ 3ssim,cogitare no seria apenas um processo geralde representa'o, mas seria um ato de determina'o da essncia do todo ente comoaquilo que acede a representa'o$

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    com suas estruturas re&le(i!as de representa'o, entre o que da ordem do esp rito e oque da ordem da nature+a, entre o que acess !el re&le(o e o que 3*soluto$

    No entanto, Heidegger acredita que Hegel no capa+ de dar uma respostaadequada que possa superar tais di!is2es$ 3ntes, ele seria apenas a culmina'o de umlongo projeto de determina'o pela representa'o e de a&irma'o da destina'o tcnica

    das coisas impulsionado pelo sujeito cartesiano$ No interior deste modo dedetermina'o, a !erdade seria sempre de&inida comoadequatio intellectus rei, ou seja,como adequa'o entre representa'2es mentais e estados de coisa dotados deacessi*ilidade epistmica e autonomia meta& sica$ % sujeito seria, assim, o &undamentode um modo de determina'o por representa'o, modo no interior do qual o*jeto# seriaapenas aquilo que ocorre s coisas quando elas se dei(am representar pelo sujeito$)entro desta imagem do pensamento, o que no se dei(a representar no pode ser pensado$ =reso no interior da representa'o, o sujeito s pode relacionar.se e(terioridade do campo do represent4!el atra!s da negati!idade#$ 3 negati!idade seriaassim a 8ltima ast8cia de um pensamento incapa+ de escapar da representa'o como8nico modo de determina'o$ Hegel admite aquilo que Heidegger chama de di&eren'aontolgica# entre ser e ente, mas apenas para redu+ir o ser imediaticidadeindeterminada do nada$

    7udo se passa assim como se hou!esse uma antropologia insidiosa a secon&undir com a modernidade, limitando as possi*ilidades do que h4 a ser e(perimentado de!ido ao hori+onte esta*elecido por nossos processos de racionali+a'o$3 possi*ilidade da &iloso&ia a*andonar uma poca histrica marcada pela meta& sica esuas estruturas rei&icadoras /poca que seria &undamentalmente meta& sica do sujeito#0estaria !inculada sua capacidade de acordar deste sono antropolgico, a*andonandoum projeto que culmina com o imprio da &iloso&ia da conscincia$ 3 rei&ica'o produ+ida pelas categorias meta& sicas de nosso pensamento e(igiria uma cr tica radicaldas estruturas que constitu ram o que entendemos pura e simplesmente por pensamentoracional#, isto para que um sentido origin4rio dologos possa ser recuperado$ % quee(plica proposi'2es como: Ae o homem quiser !oltar a se encontrar no!amente nascercanias do ser, ento ele precisa antes aprender a e(istir no sem.nome /$$$0 3ntes de&alar, o homem precisa no!amente dei(ar.se interpelar, correndo o risco de que, so* esseapelo, ele pouco ou raramente tenha algo a di+er#JP$ A assim, ele poderia: li*ertar o ser no sentido grego, o ]^ _`^, da re&erncia ao sujeito, para, ento, entreg4.lo li*erdadede sua prpria essncia#J $

    3ssim, contra uma concep'o correspondencialista de !erdade como adequa'o/ou contra seu complemento hegeliano atra!s da ontologi+a'o da inadequa'o0,Heidegger se prop2e a recuperar o conceito grego dealetheia /!erdade como

    des!elamento,a.lethe : no.esquecimento0$ -ma !erdade que apenas eclode l4 onde aati!idade su*jeti!a de determina'o no mais sentida$ Nestas condi'2es: a li*erdadere!ela.se como o dei(ar.ser /4elassenheit 0 do ente#JQ$ )a uma a&irma'o como:)ei(ar.ser o ente U a sa*er, como o ente que ele U signi&ica entregar.se ao a*erto e sua a*ertura, na qual todo ente entra e permanece, e que cada ente tra+, por assim di+er,consigo$ 1sse a*erto &oi conce*ido pelo pensamento ocidental, desde o seu in cio, como

    ` `b ]`, o des!elado# D $ -ma a*ertura que dei(ar ser o que aparece racionalidadeinstrumental como acontecimento: impre!is !el e inconce* !el#D> ou, como dir4Heidegger, como Ereignis /acontecimento, e!ento, ocorrncia0$JP

  • 7/21/2019 Aula 2 - Por Que Uma Ontologia Do Ser No Possvel

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    3 primeira questo que podemos colocar di+ respeito corre'o deste modo deleitura que assimila a su*jeti!idade hegeliana ao sujeito cartesiano$ =ois, contrariamentea )escartes, para Hegel, pensar no representar nem a !erdade uma questo deadequa'o$ % conceito no uma representa'o pre!iamente de&inida em sua clare+a edistin'o, como o que se disp2e como o que h4 a !er, como imagem de uma coisa na

    presen'a, mas um processo de reconstru'o normati!a a partir do desdo*ramento dae(perincia, mesmo que Heidegger desquali&ique o conceito hegeliano de e(perinciacomo a con&irma'o da etantidade do ente# que se desdo*ra no campo darepresenta'o a si da conscinciaDG$ Como !eremos daqui a duas aulas, a dialticadesconhece representa'2es porque, em seu interior, as rela'2es entre conceitos e o*jetosno se do so* a &orma de su*sun'2es, por isto no poss !el &alar em adequa'o entreconceito e o*jeto$ 3s rela'2es so pensadas a partir de nega'2es determinadas$ Hegelchega mesmo a eleger o pensar representati!o como o*jeto maior de com*ate dadialtica$

    3 segunda questo di+ respeito estratgia heideggeriana de dissociar ser esujeito a &im de a*rir espa'o temporalidade &undamental do acontecimento$ Heidegger critica a estratgia hegeliana de compor uma historicidade pensada atra!s dodesdo*ramento de nega'2es determinadas pois, a seu !er, trata.se de uma con&irma'odo que a conscincia inicialmente projetara$ %u seja, trata.se de uma historicidade semacontecimento$ )a uma a&irma'o como: o progresso na marcha histrica da histriada &orma'o da conscincia no empurrado para a &rente, em dire'o ao aindaindeterminado, pela &igura respecti!a de cada momento da conscincia, mas ele impulsionado a partir do o*jeto j4 proposto#DJ$ 1sta uma cr tica que &ar4 escola econsiste a di+er que a histria em Hegel a teleologia do 1sp rito que con&irma a simesmo no mundo e em uma progresso cont nua$

    DG 3 e(perincia a apresenta'o do sujeito a*soluto se desdo*rando na representa'o e assim seapreendendo$ 3 e(perincia a su*jeti!idade do sujeito a*soluto# /H1