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Propedêutica Bíblica 6 de Janeiro de 2014 – Hermenêutica

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Propedêutica Bíblica6 de Janeiro de 2014 – Hermenêutica

ORAÇÃO

Marcos, 8

11Apareceram os fariseus e começaram a discutir com Ele, pedindo-lhe um sinal do céupara o pôr à prova.12Jesus, suspirando profundamente, disse: «Porque pede esta geração um sinal? Emverdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.» 13E, deixando-os,embarcou de novo e foi para a outra margem.14Os discípulos tinham-se esquecido de levar pães e só traziam um pão no barco.15Jesus começou a avisá-los, dizendo: «Olhai: tomai cuidado com o fermento dosfariseus e com o fermento de Herodes.» 16E eles discorriam entre si: «Não temos pão.»17Mas Ele, percebendo-o, disse: «Porque estais a discorrer que não tendes pão? Aindanão entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido?18*Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais 19dequantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães paraaqueles cinco mil?» Responderam: «Doze.» 20«E quando parti os sete pães para osquatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.»21Disse-lhes então: «Ainda não compreendeis?»

AULA ANTERIOR

Exegese

Hermenêutica

AULA ANTERIOR

Hermenêutica

• No que toca aos Textos Sagrados, “Esquecemo-nosgeralmente que os “acontecimentos” que noscontam foram contados por alguém, que aapresentação dos acontecimentos nunca édecalque dos próprios acontecimentos. Entre osacontecimentos e o leitor, há o relato, primeirocontado, depois redigido por um narrador, por um“historiador” (se se quiser), por um autor quequeira dizer alguma coisa a alguém”

O vocábulo grego ermeneia não aparecia naterminologia latinizada da ciência até que, na esteirado Renascimento e da Reforma, a teoria dainterpretação começou o seu desenvolvimento comodisciplina autónoma.

No séc. XVII, ao lado das expressões latinas(interpretandi e também exegesis), é introduzida estapalavra de sonoridade grega: Hermenêutica

Hermenêutica

A grande alteração de perspectiva, surge com a rejeiçãoda distinção: hermenêutica sagrada versushermenêutica profana.

Ou seja, não se reconhecerá qualquer hierarquia prévia àpesquisa (que pudesse limitar a sua interpretação). E, dequestão técnica, vai transformar-se em “problemafilosófico”.

H. C. Gadamer escreve: “Hermenêutica é a arte de seentender. Apesar disso, parece particularmente difícil oentendimento em questões de hermenêutica…”

Hermenêutica

Hermenêutica

Como já vimos, o que está subjacente àhermenêutica é uma questão de “sintonia”, deconseguir entrar na vida daquele de quemqueremos entender os escritos. É a “intuiçãoglobal” mais do que apenas uma questão pontual.

É necessária uma compreensão comparativa.Refere-se um “círculo hermenêutico” entre aintuição e a comparação com os elementos dahistória. Interpretar os vestígios de uma presençahumana oculta nos escritos constitui o centro daarte de compreender.

Hermenêutica

A compreensão torna-se central na questão hermenêutica.

Filosoficamente, Heidegger (1889-1976) coloca a compreensãocomo fundamento da existência humana: ser homem significa compreender.

Ser homem – entendido segundo a sua possibilidade de se auto projectar. Compreender – entendido como forma da inteligência vivida das possibilidades próprias.

O homem deve ser “compreender e agir”. Por isso, a interpretação abre-se ao “futuro e à decisão”. Interpretar não é apenas o recuperar de um significado expresso, mas é “antecipação de um significado querido”.

Recuperação / e antecipação

Hermenêutica

• Quanto à evolução da hermenêutica, as consequências desta visão são a passagem da atenção para essência da língua (enquanto como sinal ou significado), para a procura da presença que esclarece (e oculta) o ser.

• A interpretação é o modo de acolher e guardar esta manifestação através do pensamento.

• O primado será antão língua, não o intérprete.• Esta nova concepção é designada por “ontologia da

linguagem e a partir da linguagem”• O homem é projectado para possibilidades futuras, e

nasceu de um passado. “Vai para…” mas “vem de…”

Hermenêutica

• A compreensão não é apenas uma acção mentaldesenvolvida pelo sujeito; é antes inserir-se narealidade viva de um processo de transmissãohistórica. O passado e o presente, no texto,sintetizam-se continuamente.

• Mas a linguagem está sobretudo ligada ao diálogo, àdialéctica entre “pergunta e resposta”.

• Com o texto, devemos iniciar um diálogo: Ele fala-nos, (o texto ) faz-nos perguntas, e pode tambémresponder a perguntas feitas por nós.

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- Este diálogo entre o texto e o intérprete, permanecendointerminável, problemático e renovável, realiza-se quandose alcança a verdade da comunicação, e esta os une numanova forma de comunhão.

-Biblicamente falando, o encontro com o texto bíblicodeverá conduzir a uma metanoia, isto é, a uma mudançade mentalidade, a um novo e melhor conhecimento de simesmo, a uma comunhão de experiência com aquele ecom o que está por detrás do texto.

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-Outro desenvolvimento: O estruturalismo linguístico:afirma que o Homem, mais do que falar, é um ser que éfalado, e entende-se pelo inconsciente social.

-Faz a distinção entre língua e palavra; entre linguísticasincrónica e linguística diacrónica.-A Palavra é o acto de falar, no âmbito necessário dalíngua. A língua (linguagem) é combinação de sons esinais equivalentes. O seu valor depende da relaçãoque tem com os sinais que o precedem, mais do quecomo objectos ou ideias.

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-A linguística pode ser assim uma ciência independente, aonão se referir às intenções dos falantes e dos objectosdesignados, mas atendo-se aos seus elementos e à totalidadedesta combinação de sons e sinais. O seu objecto é alinguagem em si mesma (dando atenção sobretudo ao sentidodos conceitos na contemporaneidade, não à sua evolução).

-Neopositivismo: considera que as únicas afirmações dignasde serem objecto das ciências são as naturais: podem serverificadas empiricamente. Tudo o que é proposição ética oumetafísica, porque a sua verdade (ou não) é impossível deverificar, perdem no neopositivismo o seu significado.

Hermenêutica

Movimento hermenêutico na Teologia Protestante

Tem sobretudo dois pilares:

- Reflexão sobre o homem

- Reflexão sobre a inteligência dos textos a partir do ser humano

O homem é sobretudo um “poder ser” (o que é, é o que realiza a partir das suas potencialidades)

Mais do que escolher “para si”, o homem escolhe-se “a si mesmo como sua própria possibilidade”. Realiza-se através das suas decisões livres, exprime-se e narra-se nos textos

Hermenêutica

Os Livros não são coletâneas de puros factos, mas aconsignação da compreensão da existência que oAutor ganhou e factualmente cultivou.

O texto é um documento / testemunho de como ohomem do passado se compreendia a si mesmo, àsua existência.

O intérprete aborda o texto com um interesse prévio.São feitas perguntas de acordo com a vida (ou com amorte) do próprio intérprete. Para ser verdadeira eprópria, essa interpretação não pode permanecerteórica: deve levar a uma decisão existencial

Hermenêutica

Bultmann diz que “Crer” liga-se ao “Compreender” (e vice-versa).

Refere uma necessária “demitização” para melhor compreensão damensagem; Ebeling refere mesmo que a pregação apresenta-se nomundo moderno como uma língua estrangeira. Não é tanto a“compreensibilidade de cada palavra”, mas sim o meio deexpressão. Refere que é necessário o “nascimento de uma novalíngua”.

Concebem o homem como um “poder ser”, diante da escolha que lheé oferecida pelo futuro. Dizem ainda que o homem só encontra asua autenticidade na relação com Deus e com a Palavra de Deus.Para eles, “Palavra” não é apenas um conteúdo estático de ideias. APalavra de Deus na Bíblia não tem tanto a função de informar, masa de mudar a existência

Hermenêutica

- Ebeling recoloca a questão da fé como resposta àPalavra de Deus; é acolhimento factual da Luz queilumina a existência e a realidade. “Enquanto queantes éramos nós quem interpretava o texto,agora somos nós os interpretados pelo texto.” Arazão de ser do texto não está em si mesmo, masno evento da Palavra.

- Assim, a interpretação não está completaenquanto o texto não for proclamado.

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Daí, vem a importância da Tradição: a fé de hoje nãocessa de se alimentar do testemunho de fé dosmuitos crentes que nos precederam; a hermenêuticainsere-se na tradição hermenêutica, na buscasempre aberta e nunca realizada do significadoautêntico da Palavra de Deus.

Outro autor da época repete que a linguagem é alinguagem do Amor; que o amor é o princípiohermenêutico por excelência. Por isso, acompreensão de Deus vem não tanto da razão comoantes do diálogo que Deus mantém connosco, nanossa vida.

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Pannenberg reafirma a importância do facto histórico. AHistória é o primeiro lugar da Revelação de Deus. A Revelaçãonão vem destes acontecimentos considerados isoladamente,mas do seu conjunto. O anúncio de Jesus, tem um carácterprovocador: nasce a dinâmica de mudança do presente.Adquire assim também uma dimensão política.

Acerca da análise estrutural, pode dizer-se que preconiza queo texto deve ser estudado como nos chega. Mesmo que oautor estivesse à nossa disposição para lhe perguntarmos:“que quiseste dizer com isto?”, o resultado seria outro texto aser interpretado.

Hermenêutica

• O texto que dispomos é a resposta apropriada à questãoacerca da “pretensão do autor”.

• A arte de interpretar é “um diálogo nunca acabado com otexto” (Gadamer). É ao texto (mais do que ao autor) quenós fazemos as perguntas, e é ele mesmo (o texto) quemnos questiona. É importante que se façam perguntaspertinentes a que se possa responder (Como nasceu otexto / como foi vivido pela Tradição…)

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• Exemplo de textos com tradução mais literal:

• Ex 13,17.21-22 – “ E ele aconteceu quando ele deixou partir , Faraó, o povo…, YHWH marchava diante deles… de noite numa coluna de fogo para os alumiar. Para marchar de dia e de noite, ela não se retirou, a coluna de nuvem durante o dia e a coluna de fogo durante a noite diante do povo”

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• Ex 14, 2ss – “E eles acamparam… entre Migdol e o mar diante de Baal-Safon… E ele foi anunciado ao rei do Egipto que ele fugiu, o povo, e ele mudou, o coração do Faraó e dos seus servos, para com o povo, e eles disseram: que fizemos, pois deixámos partir Israel do nosso serviço! … E ele tomou carros de guerra escolhidos, e todos os carros de guerra do Egipto de três combatentes cada um… e eles perseguiram, os Egípcios, atrás deles, e eles alcançaram-nos quando acampavam junto do mar…

Hermenêutica

• … Quando o Faraó se aproximou, eles ergueram, os filhos de Israel, os seus olhos, e eis os egípcios acampando atrás deles, e eles tiveram muito medo, e eles clamaram, os filhos de Israel, a YHWH… E ele disse, Moisés, ao povo: não tenhais medo. Permanecei firmes e vede a salvação de YHWH que fará para vós hoje. Pois vós vistes os egípcios hoje; não mais os vereis para sempre. YHWH ele combaterá por vós. E vós estai quietos! E ele disse, YHWH, a Moisés… Levanta a tua vara…

Hermenêutica

• … E ele fez andar, YHWH, o mar com um vento de oriente forte toda a noite e ele pôs o mar a seco… E ele aconteceu na vigília da manhã e ele olhou de cima, YHWH, para o acampamento dos egípcios, na coluna de fogo e de nuvem, e ele lançou a confusão no acampamento dos egípcios. E ele desviou as rodas dos seus carros de guerra, e eles conduziam com dificuldade. E ele disse, o Egipto: fujamos diante de Israel porque YHWH combate por eles contra o Egipto…

Hermenêutica

• … E ele voltou ao seu leito normal, o mar, à entrada da manhã, e os egípcios a fugir (foram) ao seu encontro . E ele desfez-se, YHWH, dos egípcios no meio do mar… E ele viu, Israel, os egípcios mortos à beira do mar. … E eles acreditaram em YHWH e em Moisés, seu servo.”

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• Ex 13, 17: “E ele não o conduziu, Deus (Eloim), pela estrada do país dos filisteus, embora a mais próxima, porque ele disse, Deus: que ele não se arrependa, o povo, à vista da batalha e ele volte para o Egipto. E ele desviou, Deus, o povo para a estrada do deserto… E ele tomou, Moisés, os ossos de José consigo, porque ele fez jurar os filhos de Israel dizendo: ele há-de visitar-vos, Deus, e vós fareis subir os meus ossos daqui convosco. E Deus, ele marchava diante deles durante o dia numa coluna de nuvem para os conduzir na estrada…”

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• Ex 14, 3ss– “E ele dirá, Faraó, dos filhos de Israel: andam perdidos no país. O deserto está fechado contra eles… E ele atrelou o seu carro de guerra e o seu povo ele tomou consigo. E eles disseram (os filhos de Israel) a Moisés: (foi) por falta de túmulos no Egipto que nos tomaste para morrer no deserto? O que é isto (que) nos fizeste fazendo-nos sair do Egipto? Não (foi) isto que falámos a ti no Egipto dizendo: deixa-nos! Queremos estar ao serviço do Egipto, porque melhor para nós servir o Egipto do que morrer no deserto…

Hermenêutica

• (E ele clamou, Moisés, a YHWH). E ele disse, YHWH, a Moisés: por que clamas a mim? Fala aos filhos de Israel para levantarem o acampamento [= partirem]… E ele partiu, o anjo de Deus, que marchava diante do acampamento de Israel, e ele marchou postando-se atrás deles. E ela partiu, a coluna de nuvem, de diante deles, e postou-se atrás deles, e ela veio entre o acampamento do Egipto e entre o acampamento de Israel, e houve nuvens e trevas, e iluminou-se a noite, e não se aproximou um ao outro toda a noite…

Hermenêutica

• E ele salvou, YHWH, naquele dia, Israel da mão do Egipto… E ele viu, Israel, a mão grande que ele fez, YHWH, contra o Egipto, e ele temeu, o povo, YHWH.”

SEMESTRE

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