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Teoria do Procedimento 1. Conceito Conceito lógico-jurídico: conceito que independe de variantes processuais. Concatenação de posições jurídicas distribuídas entre os participantes do processo e que visa à concessão da tutela jurisdicional. Encadeamento lógico de posições jurídicas entre os participantes do processo que visa à obtenção da tutela jurisdicional. Conceito no Estado Constitucional: procedimento é o encadeamento de posições jurídicas distribuídas de forma equilibrada entre as partes e o juiz e que visa à concessão da tutela jurisdicional efetiva, tempestiva e adequada. O que muda é que adjetivamos a distribuição que deve ser equilibrada e a tutela jurisdicional. Procedimento na perspectiva concreta: procedimento é uma concatenação de atos processuais praticados pelas partes e pelo juiz que visa à concessão da tutela jurisdicional. A diferença do conceito em abstrato e do conceito em concreto: em abstrato falo em posições jurídicas. Em concreto falo em atos processuais. A posição jurídica simplesmente é a possibilidade de agir outorgada pela ordem jurídica a uma determinada pessoa. Ato processual é a concretização da posição jurídica prevista abstratamente pelo legislador, é a prática. Procedimento é importante porque vai nos mostrar o que precisa ser feito no processo. 2. Classificação a. Formal: leva em consideração a extensão do procedimento (seu tamanho). Considera a quantidade de atos processuais previstos em lei para se chegar à tutela jurisdicional. Procedimento é a quantidade de atos processuais e a maior ou menor concentração destes. b. Material (teoria da cognição): cognição que pode ser exercida no procedimento. Enquanto a classificação formal concerne-se à extensão do procedimento,

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Teoria do Procedimento

1. Conceito

Conceito lógico-jurídico: conceito que independe de variantes processuais. Concatenação de posições jurídicas distribuídas entre os participantes do processo e que visa à concessão da tutela jurisdicional. Encadeamento lógico de posições jurídicas entre os participantes do processo que visa à obtenção da tutela jurisdicional.

Conceito no Estado Constitucional: procedimento é o encadeamento de posições jurídicas distribuídas de forma equilibrada entre as partes e o juiz e que visa à concessão da tutela jurisdicional efetiva, tempestiva e adequada. O que muda é que adjetivamos a distribuição que deve ser equilibrada e a tutela jurisdicional.

Procedimento na perspectiva concreta: procedimento é uma concatenação de atos processuais praticados pelas partes e pelo juiz que visa à concessão da tutela jurisdicional.

A diferença do conceito em abstrato e do conceito em concreto: em abstrato falo em posições jurídicas. Em concreto falo em atos processuais. A posição jurídica simplesmente é a possibilidade de agir outorgada pela ordem jurídica a uma determinada pessoa. Ato processual é a concretização da posição jurídica prevista abstratamente pelo legislador, é a prática.

Procedimento é importante porque vai nos mostrar o que precisa ser feito no processo.

2. Classificaçãoa. Formal: leva em consideração a extensão do procedimento (seu tamanho).

Considera a quantidade de atos processuais previstos em lei para se chegar à tutela jurisdicional. Procedimento é a quantidade de atos processuais e a maior ou menor concentração destes.

b. Material (teoria da cognição): cognição que pode ser exercida no procedimento. Enquanto a classificação formal concerne-se à extensão do procedimento, dizendo respeito à quantidade de atos processuais para identifica-lo a classificação material leva em consideração a cognição, ou, na perspectiva das partes, o debate que pode ser exercido pelo juiz e pelas partes no procedimento. Concerne à cognição que o juiz exerce, o conhecimento.

Cada uma dessas classificações vai dar azo a um sem número de espécies de procedimentos todas importantes. Um elemento essencial à compreensão do processo é o procedimento. É este que faz com que tenhamos previsibilidade na atuação de um processo. O processo pressupõe a necessidade de segurança jurídica.

No direito Brasileiro temos jurisdição contenciosa e voluntária, causas que são submetidas ao judiciário que partem do pressuposto de litigio entre as partes que deve ser resolvido pelo juiz e causas em que o juiz é chamado a decidir sem que exista um conflito entre as partes. No Brasil, existe o procedimento da jurisdição contenciosa que se divide em comum e especial. O comum se divide em ordinário, sumário e sumaríssimo. No que tange à jurisdição contenciosa temos um procedimento comum que pode ser ordinário ou sumario conforme art.

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271 e 272 do CPC. O procedimento sumário está disciplinado nos arts. 275 a 281 e o ordinário no art. 274. Já o procedimento sumaríssimo é especial com aplicação comum (procedimento da Lei do Juizado Especial), é o procedimento mais concentrado que temos (Lei 909995). Os procedimentos especiais são aqueles do Livro IV, Titulo I do CPC.

Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário

Quanto ao procedimento de jurisdição voluntária temos o procedimento comum (arts. 1103 a 1111) e o procedimento especial (arts. 1112 a 1210).

Agora vamos analisar o procedimento comum de jurisdição contenciosa e dentre as três subdivisões deste analisaremos mais detidamente o ordinário. Lembrar a teoria do ordenamento jurídico. Aplicação da lei especial quando em conflito com uma geral. Há leis de procedimentos especiais (como o do mandado de segurança) que compõe legislação extravagante. A regra é que se aplica a todas as causas o procedimento comum ressalvada disposição especial.

 Art. 271.  Aplica-se a todas as  causas  o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei especial.

Dentro do procedimento comum temos que ver se se aplica o procedimento ordinário ou sumário. Antes de tudo vemos se é aplicável o procedimento especial (caso dos juizados especiais). Não sendo, o descartamos. Voltamos ao procedimento comum. Nesse passo, verificamos se o procedimento é sumário (causas expressas - art. 275), descartando-se a possibilidade de ser sumário, aplica-se o procedimento comum ordinário.

X tem que propor ação de consignação em pagamento. Qual o procedimento que segue? Competência, contra quem vamos propor e qual o procedimento.

X tem que propor reparação de dano fundado em ato ilícito. Estamos discutindo a respeito de um afogamento de uma criança em uma reserva ecológica. A primeira coisa que faço é ver se na legislação extravagante há procedimento específico, não há. Vejo se no livro IV há procedimento especial, não há. Vejo, então, se há possibilidade de aplicação da lei dos juizados especiais, não há. Vejo se a minha causa está elencada no art. 275, não está. Conclusão, se aplica o procedimento comum ordinário.

No Brasil, o procedimento padrão para tutela dos direitos é o procedimento comum ordinário. “No que tange à determinação do procedimento, a regra é aquela constante nos arts. 271 e 272, do CPC. Vale dizer que procedimento especial prefere em relação ao procedimento comum”.

Reparação de dano de acidente de transito procedimento comum sumário, por excelência.

Não há invalidade sem prejuízo. Se eventualmente eu não seguir a forma especifica da lei, mas meu procedimento não causou prejuízo a nenhuma das partes e se eventualmente preencheu a finalidade legal se sobreleva o vício e se torna válido o procedimento. O adequado é que o processo sirva de instrumento à obtenção da tutela jurisdicional.

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Existem procedimentos especiais previstos na legislação extravagante e outros previstos no CPC. Assim, a primeira coisa a se fazer para determinar-se o procedimento é verificar se existe procedimento especial na legislação extravagante. Não havendo, passa-se à verificação do Código de Processo Civil. Inexistindo procedimento especial se aplica o comum. Como o procedimento comum pode ser ordinário ou sumário no sistema do CPC, e o sumário tem sua aplicação restrita às causas expressamente arroladas no art. 275, é preciso primeiro descarta-lo.

O procedimento comum tem três espécies. O procedimento sumaríssimo está previsto em legislação extravagante. Interessa dizer que a competência do Juizado especial estadual é facultativa enquanto a do Juizado especial Federal é absoluta, obrigatória. Como o procedimento comum sumário tem as causa arroladas no art. 275 a primeira coisa que devo fazer pra ver se o procedimento comum é sumário ou ordinário é analisar a lista de referido artigo.

Art. 275.  Observar-se-á o procedimento sumário:  

I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo; 

II - nas causas, qualquer que seja o valor 

a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;  

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico; 

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;  

e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de execução;  

f)   de   cobrança   de   honorários   dos   profissionais   liberais,   ressalvado   o   disposto   em legislação especial;

g) que versem sobre revogação de doação; 

h) nos demais casos previstos em lei. 

Conclusões:

1. Procedimento padrão no Brasil é o procedimento comum ordinário.2. Como o procedimento ordinário é o mais completo aplica-se subsidiariamente as suas

normas à disciplina dos demais procedimentos. Procedimento standard.

FASES DO PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO

Casos em que tenho necessidade de cumprimento de sentença e fases em que não se tem tal necessidade. É possível organizar o PCO em duas grandes linhas. O elemento determinante da variação do PCO é existir ou não uma sentença autossuficiente.

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1ª linha: PCO que culmina em sentença dita autossuficiente. Sentença autossuficiente é aquela que basta em si: declaratória ou constitutiva.

2ª linha: PCO que culmina com sentença não-autossuficiente (variação do PCO). Sentença não autossuficiente é aquela que necessita de atividades posteriores a ela para a realização do direito alegado pela parte: condenatória ou mandamental.

Qual a estrutura geral do procedimento?

AÇÃO ------------------ ------------ ----------- ----------- ----- SENTENÇA

As fases são atividades necessárias para o juiz viabilizar a causa. Não é porque a fase postularia se chama postularia que nela só tem postulação. Não. Por exemplo, a petição inicial já é um início de atividade probatória. O que move uma fase a outra é a preclusão.

O que vamos estudar neste no próximo semestre é exatamente os detalhes de cada fase.

FASE POSTULATÓRIA:

Fase destinada a colher as alegações das partes e, assim, compor o objeto litigioso do processo. Fase em que as partes apresentam suas alegações.

FASE ORGANIZATÓRIA:

Fase destinada a viabilizar que o juiz organize o processo retrospectivamente e prospectivamente. Isto é, para trás e para frente. Retrospectivamente, aferindo a regularidade dos pressupostos processuais e determinando, em sendo o caso, a sanação de vícios processuais eventualmente existentes. Prospectivamente, delimitando o tema probando, ou seja, o tema da prova e dispondo sobre os meios probatórios que serão adotados no processo.

O juiz pode fazer essas atividades de organização do processo de duas formas distintas: Juiz pode adotar praticar os atos que mencionei de forma escrita e aí ele o fará mediante ato processual chamado de despacho saneador (art. 327 do CPC) ou pode fazê-lo oralmente na Audiência preliminar.

FASE INSTRUTÓRIA:

Fase em que é produzida a prova pericial, em sendo o caso, e colhida a prova testemunhal. O debate sobre o laudo pericial e a colheita da prova oral são realizados na chamada Audiência de Instrução e julgamento (art. 450, CPC).

FASE DECISÓRIA:

Momento em que o juiz decide a causa mediante sentença (artigos 162, § 1º; 267, 269 e 463 do CPC). Quando eu tenho uma sentença não autossuficiente acrescenta-se

Fase Postulatória

Fase OrganizatóriaFase InstrutóriaFase Decisória

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às fases já vistas, mais uma, qual seja, a FASE DE CUMPRIMENTO. Esta é a fase destinada à pratica de atos que têm por objetivo realizar o direito declarado na sentença (art. 475, i, do CPC).

Assim, o procedimento comum ordinário vai ter 4 ou 5 fases conforme tivermos sentenças autossuficientes ou não.

Ademais, podem ocorrer mais duas variações em qualquer um desses casos.

OBS.1: Como nem toda causa necessita de prova pericial e ou prova oral para esclarecimento da verdade das alegações de fato, pode haver a abreviação do procedimento com a supressão da fase instrutória. Neste caso, o juiz pode julgar de maneira imediata a lide (“julgamento antecipado da lide, art. 330 do CPC”). Ainda, pode ocorrer igualmente de o juiz perceber que o prosseguimento do processo é desnecessário. Neste caso, poderá o magistrado extingui-lo, presentes os requisitos legais, a qualquer momento (art. 329 do CPC)

OBS.2: o procedimento comum ordinário foi pensado para viabilizar a prolação de uma decisão definitiva sobre o litígio ao final do procedimento. A ideia é a de que o juiz só vai dar razão a uma dar partes quando o processo chegar na fase decisória. No entanto, pode o juiz decidir de maneira provisória o mérito da causa ao longo do procedimento visando a distribuir de forma isonômica o ônus do tempo no processo, seja em face da urgência em prover, seja em face da evidência da posição jurídica de uma das partes do processo (isto é, pode o juiz antecipar a tutela jurisdicional final ao longo do processo) – arts. 273 e 461, § 3º do CPC.

Vimos a estrutura básica do procedimento comum ordinário, postulação organização, prova das alegações, decisão e em sendo o caso cumprimento de sentença. O que a palavra sumária significa quando aplicada ao procedimento? Uma abreviação do procedimento cujo objetivo é acelerar o seu procedimento mediante a supressão de atos ou concentração de atos (cortando ou concentrando atos).

PROCEDIMENTO COMUM SUMÁRIO (275-281): em comparação com o comum ordinário concentra as fases postulatória e organizatória num único ato qual seja uma Audiência. A parte é citada para comparecer em audiência e em não havendo acordo apresenta sua causa em audiência. A sumariedade formal é o encurtamento do procedimento. Ao longo da história do processo civil, uma das técnicas processuais utilizadas para acelerar o curso do processo é a técnica da sumarização procedimental, isto é, da abreviação do procedimento mediante concentração de atos ou não previsão de determinados atos. O procedimento sumário também chamado nas fontes medievais de procedimento rápido remonta à decretal do papa Clemente conhecida como “Claementina Saepe” pela primeira vez busca-se à deformação do procedimento visando a sua rapidez. Procedimento comum sumário é o sucessor atual do procedimento da “claementina   saepe”. Até a obra de Briegleb falávamos de

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sumariedade como se fosse fenômeno unitário. Este autor alemão que escreveu introdução à teoria dos processos sumários, dizia que não podemos confundir o sumário das fontes medievais com o sumário formal que é a cognição sumária da causa cuja fonte é romana. Quando falamos em tutela cautelar, em antecipação de tutela, estamos nos referindo à sumariedade no sentido material. Esta não se confunde com sumariedade na forma, ou seja, abreviação do procedimento.

CLASSIFICAÇÃO MATERIAL DO PROCEDIMENTO

Teoria da Cognição Judicial

O que é a cognição judicial? Sobre o assunto só existe um livro publicado no Brasil que é o do KAZUO WATANABE.

No plano horizontal cuida-se da extensão do conhecimento da situação substancial no processo No plano vertical trata-se da profundidade do conhecimento da situação substancial do processo.

PLANO HORIZONTAL: visa a responder a pergunta “O que eu posso conhecer, O que eu posso debater?”, concerne a questões, diz respeito à extensão da cognição judicial.

COGNIÇÃO PLENA OU ILIMITADA : quando o juiz pode conhecer de toda e qualquer questão do procedimento, não há limitação à cognição e ao debate judicial. O legislador não limita o debate.

COGNIÇÃO É PARCIAL OU LIMITADA : quando a lei expressamente limita o debate, a cognição, a determinadas matérias expressamente arroladas. Quando a lei limita as questões que podem ser debatidas em juízo. O legislador diz “vocês não vão ficar debatendo mil coisas, aqui só se discute A ou B”. No direito administrativo existe a desapropriação que é forma de intervir na propriedade privada. A constituição diz que a desapropriação deve ser

Plena - ilimitada

Parcial - limitadaPlano Horizontal

Plano Vertical

Cognição

Sumária -incompleta

Exauriente - completa

Cognição

Secundum eventum probationis

Secundum eventum litis

Secundum eventum defensionis

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precedida de previa e justa indenização. O legislador diz que essa desapropriação se inicia com decreto expropriatório (ato administrativo) e culmina com processo judicial onde só se poderá debater a validade do processo e o justo preço. Qualquer outra questão não cabe debater neste procedimento. O legislador limita a cognição. Há um corte vertical no plano horizontal da cognição.

“É o que ocorre no procedimento de desapropriação por necessidade pública, regido pelo Decreto-lei  n. 3.365, de 21 de junho de 1941. De acordo com o art. 20 desse diploma, “a contestação só poderá versar sobre vício do processo judicial ou impugnação do preço; qualquer outra questão deverá ser decidida por ação direta”. Da mesma forma, é limita a cognição nos procedimentos especiais possessórios, pois não se pode conhecer de questão referente ao domínio formulada em defesa pelo réu (art. 1.210, § 2º, do Código Civil de 2002)”

PLANO VERTICAL: visa a responder a questão: “Como o juiz pode conhecer de determinada questão?” Não diz respeito à extensão do conhecimento do juiz, mas à profundidade do conhecimento do juiz. Diz respeito ao modo com que o juiz conhece as questões. Pode conhecer a priori, sumariamente ou com aprofundamento das questões do litígio. Existe um plano vertical da cognição.

COGNIÇÃO EXAURIENTE OU COMPLETA: quando o juiz conhece das questões da causa e decide tais questões convencido da verdade das alegações de fato.

COGNIÇÃO SUMÁRIA OU INCOMPLETA: quando o juiz conhece das alegações de fato convencendo-se apenas da probabilidade das alegações de fato. O juiz conhece as questões não com base na verdade, mas na probabilidade. Corte horizontal no plano vertical da cognição.

MODULAÇÃO

COGNIÇÃO SECUNDUM EVENTUM PROBATIONIS: segundo “a suficiência da prova”. Considera-se conhecida a questão apenas se o procedimento dispor de meios probatórios suficientes para esclarecimento da questão. Existem alguns procedimentos no Brasil que tem limitação probatória. O módulo do direito líquido e certo é o que assemelha os exemplos abaixo. Direito liquido e certo é aquele que pode ser provado com prova documental. Necessitando de outra espécie probatória, é necessário utilizar o procedimento comum ordinário. “Felipe impetra mandado de segurança em face de ato ilegal praticado por autoridade coatora. Felipe junta prova documental para demonstrar suas alegações. Juiz chega a conclusão de que não basta o documento, sendo necessário ouvir testemunhas. Como no mandado não cabe dilação probatória, o juiz terá que julgar pela inexistência de direito líquido e certo.

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Nesse caso a cognição não se materializou e não haverá coisa julgada”. – Será cobrado na prova.

Ex.: MANDADO DE SEGURANÇA, HABEAS CORPUS, MANDADO DE INJUNÇÃO.

COGNIÇÃO SECUNDUM EVENTUM LITIS: Significa “segundo o resultado do processo”. Considera-se realizada a cognição apenas se o resultado do processo for favorável à parte autora. No caso, os direitos transindividuais (direito ao ambiente sadio, caso de lesão a vários consumidores que compraram um mesmo carro com problema na direção, por exemplo) não é viável colocar todas as pessoas lesadas no processo, então, o que a doutrina sugeriu e a legislação acolheu é que haverá um autor que irá substituir os demais na ação. Como pode acontecer de esse autor não ser suficientemente diligente, a legislação brasileira visando a proteger os autores refere que só faz coisa julgada, só faz cognição em juízo quando a demanda for favorável ao autor. Nossa turma é uma turma de lesados que compraram importado da Itália a mesma vespa azul calcinha que tinha, depois descobrimos, um vício. Propomos uma demanda em nome de toda turma. Nossa demanda é julgada improcedente. Nessa situação, a ordem jurídica brasileira protege o grupo dizendo que a ação coletiva só serve para dar razão às partes. A rigor é inconstitucional, mas a legislação é assim. Se for decidido que o defeito da vespa foi causado pelo uso regular, a cognição é secundum eventum litis, não faz coisa julgada. Só faz coisa julgada se for favorável ao autor. Isso significa que cada um em particular, individualmente, pode acionar o réu novamente. Isto é o que chamamos de cognição secundum eventum litis.

É aquela em que a cognição e, portanto, a decisão da questão, só ocorre se houver julgamento favorável à parte autora. Dai a razão pela qual a doutrina fala em secundum eventum litis, isto é, conforme o resultado do processo.

Ex.: PROCESSO COLETIVO PARA TUTELA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA TUTELA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

COGNIÇÃO SECUNDUM EVENTUM DEFENSIONIS: Significa conforme a apresentação da defesa. Considera-se conhecida a questão apenas se apresentada a defesa por uma das partes. Existe um procedimento chamado monitório na ordem jurídica brasileira (art. 1102-A do CPC)

Art. 1.102 - A ação monitória compete a quem pretender, com base em prova escrita   sem   eficácia   de   título   executivo,   pagamento   de   soma   em   dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel.

X propõe ação com base em prova escrita e não cita o reu para contestar somente para contestar. Se o réu opuser embargos monitórios haverá cognição sobre a questão litigiosa, a controvérsia. Contudo, se o réu receber a citação sem opor embargos monitórios, forma-se o título executivo, transformando-se a ação monitória em

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execução. A possibilidade de o réu se defender ou não na execução é conforme ele tenha oferecido ou não defesa no procedimento monitório com embargos monitórios. A coisa julgada só se forma se houver oferecimento da defesa, por essa razão chama-se secundum eventum defensionis.

Ex.: PROCEDIMENTO MONITÓRIO.

Existem autores que partiram do Chiovenda e que organizam a matéria de forma diferente da vista. Hoje na doutrina brasileira ninguém adota esta classificação.

COGNIÇÃO ORDINÁRIA ≠ COGNIÇÃO SUMÁRIA

A) PROVISÓRIA: não exercida de forma integral sobre a matéria litigiosa.

B) INCOMPLETA: C) NÃO DEFINITIVA: ainda sujeita a recurso.

AULA 04.12

Teoria do Procedimento (continuação)

Classificação

1) FormalInteressa a quantidade de atos processuais e a maior ou menor concentração desses atos ao longo do procedimento.

Procedimento especial prevalece sobre procedimento comum. E dentro do procedimento comum, prevalece aquele que estiver enumerada suas hipóteses.

2) Material – CogniçãoAnalisar o conhecimento que o juiz exerce sobre o processo e como ele o faz. Analise do debate admitido no processo entre as partes.

A REGRA NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO DO PONTO DE VISTA FORMAL É O PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO QUE, DO PONTO DE VISTA MATERIAL, TEM COGNIÇÃO PLENA E EXAURIENTE. VALE DIZER, O JUIZ CONHECE A CAUSA EM TODA SUA EXTENSÃO E EM TODA A SUA PROFUNDIDADE. NÃO HÁ LIMITAÇÃO DO DEBATE. O PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO É ASSIM ESTRUTURADO POR FORÇA DO DIREITO FUNDAMENTAL À AMPLA DEFESA (ART. 5º, LV, DA CRFB).

No procedimento comum ordinário, existe a possibilidade de o juiz antecipar a tutela jurisdicional, de decidir com base em probabilidade, ou seja, o juiz conhecer não

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em toda profundidade as questões em debate. Nada obstante o procedimento comum ordinário desague em decisão com base em cognição exauriente, é possível o juiz decidir com cognição sumária para distribuir de forma isonômica o ônus do tempo do processo. Art. 273, 461, § 3º

Razões para o juiz antecipar a tutela:

Urgência na concessão da tutela: “quando não tenho tempo a perder” Direito da Parte desde Logo evidente: “quando é inútil perder tempo”

Probabilidade ≠ Verossimilhança: verdade é o conceito que se afere a partir da ideia de correspondência, o que se pode racionalmente conhecer como sujeito. A probabilidade pode ser quantitativa ou qualitativa e é um termo que está vinculado à verdade. A verossimilhança é vinculada à normalidade, o que normalmente acontece. O legislador brasileiro confundiu os dois conceitos.

Posso ter um procedimento de cognição parcial e exauriente? Sim, exemplos clássicos são os casos da desapropriação e do inventário.

Posse ter um procedimento de cognição plena e sumária? Sim, um exemplo clássico seria o processo cautelar, segundo a doutrina clássica, contudo, esta não é a opinião do professor.

Os procedimentos especiais se caracterizam por limitação de cognição.

Como identificar um procedimento de cognição parcial? A regra é o direito à cognição plena e exauriente quem determina isso é o legislador, porque impôs o direito à ampla defesa. Para que se tenha um corte na cognição é preciso de manifestação expressa do legislador infraconstitucional. Se o procedimento nada disser, é de cognição plena e exauriente, ou seja, posso debater tudo.

O PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO É O PROCEDIMENTO PADRÃO PARA TUTELA DOS DIREITOS, E A SUA ORGANIZAÇÃO DESTA MANEIRA OBEDECE AO IMPERATIVO CONSTITUCIONAL DO DIREITO À AMPLA DEFESA. POR ESSA RAZÃO, TODA E QUALQUER LIMITAÇÃO NA COGNIÇÃO BEM COMO TODA E QUALQUER MODULAÇÃO DA COGNIÇÃO DEVE ESTAR EXPRESSAMENTE INDICADA NA LEI.

PROCEDIMENTO COMUM ORDINÁRIO (282/475-R, do CPC) – 1º grau de jurisdição

1. PETIÇÃO INICIAL (281-299)1.1. Conceito

Conceito de petição inicial: Ato pelo qual se introduz a demanda no processo

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Conceito de ação: direito de ação como direito ao processo justo à tutela adequada tempestiva e efetiva. O ato que corporifica a ação do autor é a demanda. Esta, por seu turno, é o ato que coloca o juiz no dever de decidir o conflito disposto na petição inicial. Esta é o ato que corporifica a ação e demanda. Quem quer propor ação deve redigir petição inicial.

1.2. Requisitos (282)

Aqueles constantes no art. 282 e 283 do CPC.

Art. 282.  A petição inicial indicará:I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

É O ENDEREÇAMENTO, EXIGE CONHECIMENTOS DE COMPETÊNCIA.

II - os  nomes,  prenomes,  estado civil,  profissão,  domicílio  e   residência do autor e do réu;

INDICAÇÃO DAS PARTES DO PROCESSO. AUTOR É QUEM PEDE. RÉU É CONTRA QUEM SE PEDE. O OBJETIVO É A CITABILIDADE DO RÉU E O CONHECIMENTO DE QUEM É QUE ESTÁ DEMANDANDO CONTRA ELE.

III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

O AUTOR TEM O ÔNUS DE INDICAR A CAUSA DE PEDIR (O PORQUÊ DO LITÍGIO).

IV - o pedido, com as suas especificações;

DA CAUSA DE PEDIR (III) ENDEREÇADA AO JUIZ (I) QUE OCORRE ENTRE PARTES (II) DEVE DECORRER UM PEDIDO.

V - o valor da causa;

TODA CAUSA TEM UM VALOR ECONÔMICO.

VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

PROVAS

VII - o requerimento para a citação do réu.

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AUTOR TEM QUE REQUERER A CITAÇÃO DO RÉU.

Art. 283.  A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.

É possível tem atividades de uma fase ocorrendo noutra. O art. 283 mostra o ônus que tem o autor de trazer os documentos essenciais à propositura da ação, a prova documental.

1.2.1. Em especial: Causa de Pedir (causa petendi)

Petição Inicial >> Demanda >> Ação. A ação se estrutura mediante partes (II), causa de pedir (III) e pedido (IV).

CAUSA DE PEDIR: para caracterização da causa de pedir existem basicamente duas teorias no âmbito do processo civil.

1) TEORIA DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR: basta o autor para caracterizar a causa de pedir alegar em juízo a relação jurídica que afirma ter ou não com a parte contrária. O objeto é declarar a inexistência de uma relação jurídica, então a parte alega a inexistência de relação jurídica. Basta para caracterizar a causa de pedir alegar a relação jurídica.

2) TEORIA DA SUBSTANCIAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR: só se considera caracteriza a causa de pedir quando declino em juízo o fato jurídico que dá azo ao direito. Esta foi a teoria acolhida pelo Brasil. Isto porque o art. 282, III, deixa bem claro que é ônus do autor declinar os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido.

Qual a diferença entre estas duas teorias? Em primeiro lugar, a escolha do nosso CPC tem a ver com a maior particularização daquilo que será debatido em juízo. Isto prestigia o direito de defesa do réu que sabe exatamente sobre o que merece se pronunciar.

Lembrar Direito Civil: norma jurídica incide sobre um suporte fático do qual advém um fato jurídico (ato fato, negócio jurídico...). Deste fato jurídico, com eficácia, aparece relação jurídica (direitos, deveres, pretensões, exceções). Olhando para este esquema, nossa opção está em ou declinar o fato jurídico ou em declinar a relação jurídica na petição de acordo com a teoria que adotarmos. No Brasil, declinamos o fato. Além do autor e do réu, participa do processo o juiz, e temos a regra básica da demanda, do principio dispositivo que diz que o juiz não atua de ofício e que quem delimita o que o juiz vai analisar é o autor (art. 128. O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte). Se o autor não especificar os fatos, não há restrição a liberdade do juiz. O nosso legislador optou por prestigiar: a) o direito de defesa e b) a

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autonomia privada/liberdade, pois delimitou os fatos que podem ser debatidos em juízo. Ainda, quando o legislador diz que o autor deve dar os fundamentos de direito do fato significa que tem o autor o ônus de qualificar juridicamente o fato. Isso significa que o debate a respeito da causa se dá tanto no plano dos fatos quanto no plano do direito. O fato tem que ser juridicamente relevante.

O juiz pode dar nova qualificação aos fatos. Por exemplo, pode o autor alegar fatos que demonstram a não ocorrência de erro (o que havia aduzido), contudo, que demonstram a ocorrência de lesão, assim, pode o juiz qualificar o fato do processo. Vimos pela petição inicial que a qualificação jurídica dos fatos inicialmente é do autor e que depois o réu discutirá isso. Existem, ainda, duas regras tradicionais que dizem “iuria novit cúria” – o juiz conhece o direito – e “da mihi factum, dado tibo ius” – dá-me o fato que eu te devolvo o direito –. Isso significa que pode o juiz dar nova qualificação jurídica aos fatos.

SOLUÇÃO TRADICIONAL: O juiz pode mudar a qualificação jurídica dos fatos sem qualquer necessidade de dialogar com as partes previamente. O pressuposto teórico deste entendimento é a compreensão do contraditório como mera bilateralidade da instância (apenas entre as partes). Não há mudança na causa de pedir. As partes tem poder sobre os fatos, e o juiz sobre o direito. Uma decisão que aplica direito não debatido entre as partes gera decisão surpresa. Isto é correto? A esta pergunta a doutrina dá uma segunda solução chamada “solução atual”.

SOLUÇÃO ATUAL: o contraditório se estabelece também sobre as afirmações jurídicas que as partes fazem sobre o processo. Passou-se a reconhecer o caráter argumentativo do direito. Necessidade de prévio diálogo. O domínio jurídico passou a ser também das partes e por essa razão o contraditório passou a abarcar também o juiz. Contraditório é antes de tudo direito de participar e influenciar as decisões judiciais. Posso ter qualificação jurídica nova dos fatos desde que o juiz intime as partes sobre a sua nova visão jurídica: “diga às partes sobre a possível solução do litígio à luz da lesão (no exemplo do erro e lesão dado a cima)”. Esse conhecimento por parte das partes é uma construção que vem do direito alemão (colaboração no processo). Contraditório como dever de debate. Necessidade de prévio diálogo.

JULGADO 25547 DO GILMAR MENDES ( encampa a ideia de contraditório entre partes e juiz).

CAUSA DE PEDIR PRÓXIMA: fundamentos jurídicos CAUSA DE PEDIR REMOTA: fatos

A causa de pedir é formada pelos chamados fatos essenciais que ingressam no processo pela mão do autor ou pela mão do réu. Existem outros fatos que não são essenciais. Estes fatos são aqueles dos quais decorrem o direito da parte. Tais fatos integram de um lado a causa de pedir e de outro a defesa direta ou indireta do réu. Em

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outras palavras, o juiz só pode conhecer os fatos essenciais se alegados pelas partes ou na petição inicial ou na contestação.

Os fatos não essenciais são aqueles que apenas levam ao conhecimento dos fatos essenciais. Deles não decorrem o direito da parte. Estes fatos não essências podem entrar no processo pelas partes, mas também podem ser conhecidos de ofício pelo juiz. Onde está escrito isso? Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que Ihe formaram o convencimento.

O JUIZ NÃO PODE CONHECER DE OFÍCIO FATOS ESSENCIAIS. O JUIZ SÓ PODE CONHECER DE OFÍCIO OS FATOS NÃO ESSENCIAIS. OS FATOS NÃO ESSENCIAIS NÃO INTEGRAM A CAUSA DE PEDIR.

1.2.2. Em especial: Pedido (286/291)2. ATITUDES DO JUIZ ANTE A PETIÇÃO INICIAL2.1. Deferimento (285)2.2. Emenda (284)2.3. Indeferimento (292)2.4. Improcedência (285-A)

Aula 15 pela manhã (sábado): aula extra às 8h30min

Aula 13 às 8h da manhã (se não houver aula).