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REV PORT PNEUMOL I (2): 119-127 ARTIGO ORIGINAL Avaliação da dispneia e padrões ventilatórios num grupo de doentes com limitação crónica do débito aéreo candidatos a um programa de reabilitação' MIGUEL MOTA CARMO (I). CRISTINA BÁRBARA (2), PAULO ROXO NEVES (3), JAIME BRANCO (4), MARIA CANTEIRO (5), ANTÓNIO BENSABAT RENDAS (6) RESUMO Com o objtdivo de monitorizar doentes sujeitos a ProClamas de Reabilitação Respiratória (pR R) os autores elaboraram um protocolo de exploração (undonal respiratória, mediante o recurso a tknlcas de avaliaçio do controlo da ventilação e da (orça dos músculos rios. A fim de testar o referido protocolo, o mesmo (01 aplicado a , doentes com Umitaçio Crónica do Débito Aéreo (LCDA) por Bron- quite Crónica e a 7 indivíduos com Osteoartrost PtriCérica (OA), que constituíram o Crupo de controlo. A avaliaçio (uncional respiratória constava de: determinaçio dos volumes e capacidades pulmonares, ava- liação dos padrões respiratórios por Pletismografia de Inductância ou Respitrace, determinaçio da variaçio da ventilação, da pressão de oclu- são e da dispneia mediante a estimulação com C0 1 , do grau de dispneia basal pela Escala do Medical Research Council e determinação das Pressões Máximas Respiratórias a nível da boca. " Comumcaçlo aprescnlada na Mesa Redonda do Oocnle Respiratório - Conceitos VIII Congresso da SPPR - Póvoa de 1992. I Plorcs,or i\ulHliar de FI§,opalolog13 da Faculdalk de Citncl3S M,w,ClIs de Lisboa (fCMLI. Z Assislenle En'nlu.J de Pncumologia do H05pital de Pulido Valente (.IPV). J- Assislenle de Onopcdiad..a fCML 4- ASSi$tenle Graduado de Reumatologr.a do Hospital Eps Moniz. S- DtrC'C1OB do Serviço de Rcadapuçlo Funaonal Respiratbna do HPV. 6- DtrC'C1or do Se.... 'IÇO de FlSiopatologia da FCML Recebido para publlcaçio em 94.5.12 Aceite para publicaçio em 95.2.3 Março Abnll99S VolIN"Z '19

Avaliação da dispneia e padrões ventilatórios num grupo de ... 1995 Avaliacao da... · existentes no Laboratório de Fisiopatologia da Faculdade de Oencias Médicas. Pretendemos

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REV PORT PNEUMOL I (2): 119-127

ARTIGO ORIGINAL

Avaliação da dispneia e padrõesventilatórios num grupo de doentescom limitação crónica do débito aéreocandidatos a um programa de reabilitação'

MIGUEL MOTA CARMO (I). CRISTINA BÁRBARA (2), PAULO ROXO NEVES (3), JAIME BRANCO (4),MARIA CA~l1lACANTEIRO (5), ANTÓNIO BENSABAT RENDAS (6)

RESUMO

Com o objtdivo de monitorizar doentes sujeitos a ProClamas deReabilitação Respiratória (pR R) os autores elaboraram um protocolode exploração (undonal respiratória, mediante o recurso a tknlcas deavaliaçio do controlo da ventilação e da (orça dos músculos respírat~

rios. A fim de testar o referido protocolo, o mesmo (01 aplicado a ,doentes com Umitaçio Crónica do Débito Aéreo (LCDA) por Bron­quite Crónica e a 7 indivíduos com Osteoartrost PtriCérica (OA), queconstituíram o Crupo de controlo. A avaliaçio (uncional respiratóriaconstava de: determinaçio dos volumes e capacidades pulmonares, ava­liação dos padrões respiratórios por Pletismografia de Inductância ouRespitrace, determinaçio da variaçio da ventilação, da pressão de oclu­são e da dispneia mediante a estimulação com C01, determina~io dograu de dispneia basal pela Escala do Medical Research Council edeterminação das Pressões Máximas Respiratórias a nível da boca.

" Comumcaçlo aprescnlada na Mesa Redonda ~ReabiJilaÇlo do Oocnle Respiratório - Conceitos AC1uais~:

VIII Congresso da SPPR - Póvoa de Va~im 1992.I Plorcs,or i\ulHliar de FI§,opalolog13 da Faculdalk de Citncl3S M,w,ClIs de Lisboa (fCMLI.Z~ Assislenle En'nlu.J de Pncumologia do H05pital de Pulido Valente (.IPV).J - Assislenle de Onopcdiad..a fCML4 - ASSi$tenle Graduado de Reumatologr.a do Hospital Eps Moniz.S - DtrC'C1OB do Serviço de Rcadapuçlo Funaonal Respiratbna do HPV.6 - DtrC'C1or do Se....'IÇO de FlSiopatologia da FCML

Recebido para publlcaçio em 94.5.12Aceite para publicaçio em 95.2.3

Março Abnll99S VolIN"Z '19

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REVISTA PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA

Com base nas diferenças encontradas, os autores conduem que oprotorolo poderá contribuir para a investicaçlo futura quanlo ao subs­trato fisiopatológico da doença de base e de alcumas témicas de reabili­taçio a ela aplicada.

Palavras-chave: dispneia. controlo da ventilação, músculos respiratórios,programa de reabilitação respiratória.

SUMMARY

ln order to "aluate patients involved in pulmonary rehabilitationpropms the authors developed a protocol which induded the evalua·tion of lhe control of brealhing and of lhe strenght'of lhe rapiratorymuscle. To tal the protocol they applied it to a group of 7 patientswith pulmonary airfJow Iimitadon due lo chronic bronchftis and to 7patients with ostroU1hrosis who were used IS controls. The followinCpararndm wue measured: pulmonary volumes and 11ows, ventilatorypatterns usin& the Respitra«, degree of dyspnoe.. maximal mouth res­pirator)' pressures., venlilatory raponse to COl. assessed by chanca invenlllatlon, occlusion pressure and degree of dyspnoea.

BISed upon lhe difTerences found between lhe two groups, the aul·hors conclude that lhe prolocol may be useful in lhe baseline and ln lhefoUow-up assessment of patients included in pulmonary rehabilltationprocrams. Furthermore the prolOCO! ma, serve as a restarch tool toachleve a bdter undtrSlandinc of the palhophysiological basis of thedm.ses involved and atso of lhe effects produced by lhe rehabilitationprocedures.

Key-words: dyspnoea, control of breathing, respiratory muscles. pulmo­nary rehabilitation programs.

I - INTRODUÇÃO

No momento actual, um dos objectivos daReabilitação Respiratória é a fundamentaçãociendfica tanto das suas técnicas como de meto­dologias de avaliação das mesmas (1).

Ao desenhar um Programa de Reabilitação(PR) para o doente respiratório crónico os objec­tivos médicos fundamentais são acima de tudo adiminuição da morbilidade e o aumento dasobrevida. Contudo sob o ponto de vista dodoente, que se vai sujeitar a um determinado tipode terapêutica, aquilo que mais o motiva, é semdúvida. a perspectiva de melhoria da qualidade devida, resultante de um alivio da sintomatologiaincapacitante. Por esta razão a redução da disp­neia e o aumento da tolerãncia ao esforço consti­tuem alvos obrigatórios dos PR para este tipo dedoentes, pelo que deverão ser parâmetros a moni­torizar, se quisermos testar a eficácia dos métodosque estamos a aplicar (2-3). Adicionalmente aten­dendo a que a sensação de dispneia e a diminui-

ção da capacidade de exercício se relacionam comdisfunção dos músculos respiralórios (1-3). a forçadestes deverá também ser oUlro índice a avaliar econtrolar no decurso dum PR. Também no quediz respeito à dispneia. nào estando ainda perfei­tamente esclarecidos os seus mecanismos gerado­res (4), a sua avaliação psicofísica. parece-nospara além de um parâmelro quantificável no PR.também um método de investigação por excelên­cia da génese da dispneia (4-7).

Acresce ainda que algumas técnicas utili7.adasde forma empírica, desde há mais de 30 anos. nareabilitação do doente respiratório, começamhoje a ser questionadas quanto aos seus funda­mentos e eficácia. ~ o que se passa com os exerci­cios respiratórios visando a modificação dopadrão ventilatório, que conforme estudos recen­tes além de condicionarem um aumento do traba~

lho ventilatório, poderão agravar a insuflaçãopulmonar e as assincronias de recrutamento ecoordenação muscular (8). No entanto, ainda semexplicação à luz dos conhecimentos actuais. na

120 VoLI NG 2 Marto/Abnll995

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II - MATERIAL E MtTODOS

A fim de testar a metodologia a seguir, aplicá­mos o referido protocolo a 7 homens com Limi·tação Crónica do Débito Aéreo (LCDA) candi·datos a um PR. sendo a sua idade média de 64anos. Esta caraClerização funcional (LeOA) dosdoentes foi escolhida por nós. atendendo a que.no nosso pais. dentro dos candidatos aos PRR.para além dos doentes com Bronquite Crónica­-Enfisema. existem também alguns doentes comSequelas de Tuberculose. que funcionalmente sãomuito semelhantes. Utilizámos como grupo decontrolo 7 indivíduos com Osteoartrose Periférica(OA) recrutados duma Consulta de Reumatologia.

No Laboralório de Fisiopatologia procedeu-sea seguinle avaliação:

- Determinação dos volumes e capacidadespulmonares com um espirómelro seco Volugraph2000 (Mijnardt). pelo método de diluição dohélio e ainda dos débitos expiratórios forçadosinstantâneos por pneumotacografia. Compact (Vi­talograph).

- Avaliação do grau de dispneia basal pelaescala do Medical Research Council (M RC).

- Avaliação dos padrões respiratórios por pie­lismografia de inductância ou Respitrace.

AVALIAÇÃO DA DISPNEIA E PADROES VENTlLATORIOS NUM GRUPO DE DOElIo'TES COM LIMITAÇÃO CI.ONICADO Df:.BITO Af:.REO CANDIDATOS A UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

realidade produzem uma melhoria da sintomato- _ Determinação da variação da ventilação, dalogia subjectiva de dispneia, condicionando por pressão de oclusão e da dispneia mediante a esti­isso, a sua não exclusão dos PR, por parte de mulação com COl pelo método de Read (9).algumas equipas de reabilitação (8). _ Determinação das Pressões Máximas Respi-

Este tipo de discordâncias expõe a necessidade ratórias a nível da boca.de utilização de parâmetros quantificáveis na ava- Todas estas técnicas já foram objecto de umaliação do doente. quando sujeito a modalidades publicação (10), pelo que nos limitaremos aqui aterapêuticas não completamente validadas. urna descrição mais resumida das mesmas.

Com base nalguns dos pressupostos que aca- A avaliação quantitativa dos padrões efectuadabamos de inumerar concebemos um protocolo de através de pletismografia de variação de indue­exploração funcional respiratória do doente respi- tãncia (Respitrace), consistiu num registo conti­ratório crónico, candidato a um PR, mediante o nuo de 15 minutos, com quantificação da Fre­recurso a técnicas de avaliação do controlo da quência Respiratória (Fr), Volume Corrente (Vt),ventilação e da força dos mUsculos respiratórios, Ventilação Pulmonar (VE), fndice Respiratórioexistentes no Laboratório de Fisiopatologia da Médio (Vt/TI), relação TI/lTOT e % de Com­Faculdade de Oencias Médicas. participação Abdominal para o Volume Corrente

Pretendemos com este protocolo elaborado em (% AS). O referido registo em papel continuocolaboração com o Serviço de Readaptação Fun- permite, para além da análise quantitativa docional Respiratória do Hospital de Pulido padrão ventilatório, uma avaliação qualitativaValente. não só quantificar a evolução do doente referente à detecção de movimentos paradoxaissubmelido a um PR. mas lambém conhecer toraco-abdominais (10).melhor o substrato fisiopatológico da doença de A dispneia foi avaliada de forma indirectabase e de algumas tecnicas a ela aplicadas. mediante a utilização da escala do MRC, que

fornecia um score de avaliação para o grau dedispneia basal e e forma directa durante a estimu­lação com COl (6.IO.II).

O estudo do controlo da ventilação assentouna estimulação com COl , com determinação daresposta da ventilação pulmonar. da relaçãoVt/TI. da Pressão de Oclusão (PO.!) e do graude dispneia mediante o recurso a uma escalavisual analógica. O mélodo que utilizámos para aestimulação com COlo foi o de "rebreathing­desenvolvido por Read (99), em que o indivíduorespira para um saco com uma capacidade de 7lilros contendo uma mistura de 8% de COl e 92%de 02. durante cerca de 5 minutos, ou até quepeça para interromper. devido à intensidade dadispneia. Assim utilizámos um pneumotacógrafoJager, para medição da ventilação pulmonar. umanalisador de COl Oscar (Datex). um transduc­tor diferencial Valydine, um registador analógicoe um computador IBM AT para aquisição desinais (Fig. J). Para a quantificação da dispneiautilizámos escalas visuais analógicas. constituidaspor uma recta transversal de 25 Cln com umaescala de O a lO, em que o O correspondia anenhum desconforto respiratório e o 10 ao má­ximo. A resposta da VE ao COl foi estabelecidaponto a ponto (de 15" em 15-), ou seja para cadavalor de CO2 no ar expirado determinou-se ovalor correspondente de VE, calculando-se em

Marco Abril 1995 121

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AVALIAÇÃO DA DISPNEIA E PADROES VENTlLATÓRIOS NUM GRUPO DE DOENTES COM L1MITAÇÃOCI.ONICA00 D~BITO A~REO CANDIDATOS A UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

realidade produzem uma melhoria da sintomato­logia subjectiva de dispneia, condicionando porisso, a sua não exclusão dos PR, por parte dealgumas equipas de reabilitação (8).

Este tipo de discordâncias expõe a necessidadede utilização de parâmetros quantificáveis na ava­liação do doente, quando sujeito a modalidadesterapêuticas não completamente validadas.

Com base nalguns dos pressupostos que aca­bamos de inumerar concebemos um protocolo deexploração funcional respiratória do doente respi­ratório crónico, candidato a um PR, mediante orecurso a técnicas de avaliação do controlo daventilação e da força dos músculos respiratórios,existentes no Laboratório de Fisiopatologia daFaculdade de Oencias Médicas.

Pretendemos com este protocolo elaborado emcolaboração com o Serviço de Readaptação Fun­cionai Respiratória do Hospital de PulidoValente. não só quantificar a evolução do doentesubmetido a um PR, mas também conhecermelhor o substrato fisiopatológico da doença debase e de algumas técnicas a ela aplicadas.

II - MATERIAL E MÉTODOS

A fim de testar a metodologia a seguir, aplicá­mos o referido protocolo a 7 homens com limi­tação Crónica do Débito Aéreo (LCDA) candi­datos a um PR. sendo a sua idade média de 64anos. Esta caracterização funcional (LCDA) dosdoentes foi escolhida por nós. atendendo a que.no nosso pais, dentro dos candidatos aos PR R,para além dos doentes com Bronquite Crónica­-Enfisema. existem também alguns doentes comSequelas de Tuberculose. que funcionalmente sãomuito semelhantes. Utilizámos como grupo decontrolo 7 indivíduos com Osteoartrose Periférica(DA) recrulados duma Consulta de Reumatologia.

No Laboratório de Fisiopatologia procedeu-sea seguinte avaliação:

_ Determinação dos volumes e capacidadespulmonares com um espirómetro se<:o Volugraph2000 (Mijnardt). pelo método de diluição dohélio e ainda dos débitos expiratórios forçadosinstantâneos ror pneumotacografia. Compact (Vi­talograph).

- Avaliação do grau de dispneia basal pelaescala do Medical Research Council (M RC).

- Avaliação dos padrões respiratórios por pie­tismografia de inductância ou Respitrace.

- Determinação da variação da ventilação, dapressio de oclusio e da dispneia mediante a esti­mulaçio com COz pelo método de Read (9).

_ Determinação das Pressões Máximas Respi­ratórias a nlvel da boca.

Todas estas técnicas já foram objecto de umapublicação (10), pelo que nos limitaremos aqui auma descrição mais resumida das mesmas.

A avaliação quantitativa dos padrões efectuadaatravés de pletismografia de variação de inclue­tinda (Respitrace), consistiu num registo contí­nuo de 15 minutos, com quantificação da Fre­quência Respiratória (Fr), Volume Corrente (Vt),Ventilação Pulmonar (VE), índice RespiratórioMédio (VI/TI), relação TI/lTOT e % de Com­participação Abdominal para o Volume Corrente(% AB). O referido registo em papel continuopermite, para além da anãlise quantitativa dopadrão ventilatório, uma avaliação qualitativareferente à detecção de movimentos paradoxaistoraco-abdominais (10),

A dispneia foi avaliada de fonna indirectamediante a utilização da escala do MRC, quefornecia um score de avaliação para o grau dedispneia basal e e forma directa durante a estimu­lação com COz (6.10,11).

O estudo do controlo da ventilação assentouna estimulação com COz, com determinação daresposta da ventilação pulmonar, da relaçãoVt/TL da Pressão de Oclusão (PO.I) e do graude dispneia mediante o recurso a uma escalavisual analógica. O método que utilizámos para aestimulação com COz. foi o de -rebreathing"desenvolvido por Read (99), em que o individuorespira para um saco com uma capacidade de 7litros contendo uma mistura de 8% de CO2 e 92%de 02. durante cerca de 5 minutos, ou até quepeça para interromper, devido à intensidade dadispneia. Assim utilizámos um pncumotacógrafoJager, para medição da ventilação pulmonar, umanalisador de COz Oscar (Datex), um transduc­tor diferencial Valydine. um registador analógicoe um computador IBM AT para aquisição desinais (Fig. I). Para a quantificação da dispneiautilizámos escalas visuais analógicas. constituidaspor uma recta transversal de 25 Cln com umaescala de O a 10, em que o O correspondia anenhum desconforto respiratório e o 10 ao má­ximo. A resposta da VE ao COz foi estabelecidaponto a ponto (de 15" em 15"), ou seja para cadavalor de COz no ar expirado determinou-se ovalor correspondente de VE, calculando-se em

Marçol Abril 1995 121

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AVALIAÇÃO DA DISPNEIA E PADROES VENTILAT6RIOS NUM GRUPO DE OOEJIo'TES COM LIMITAÇÃO CRONICA00 DtBITO AtREO CANDIDATOS A UM PROGRAMA DE REABILITAçAO

QUADRO ICaraClerizaçlo Antropométrica

200Jf----------------------,

150 -

I ••

5•

• IOAOE(Anos) PESO(Kg) ALTURA(c:m)

~E=3::i.~:=== ====~~:5:;~== ===:~:~:~:~=~jIOLCOA eJOA I

QUADRO IIEsplrometna

I ••

••60

4.2.

~ ~~FTi

(iT; rrmI

~,

I 7'• CVF VEMS VEMS/CVF CAF CPT VA VMV

OA 88.8 92.3 78.8 80.4 88.5 81 90LeOA 68.8 445 50.7 94.2 86.8 78.7 40

IOLCOA eJOA I

grupo de doentes (PO,I: LCDA-2,5/0A-I,35cmH20 - Quadro IV.

A estimulação com C02 demonstrou no grupoLCDA uma menor variação da ventilação (Slopeda ventilação: LCDA-o,53/0A-I,4 L/m/mmHg)sendo a variação da pressão de oclusão (slopePO.I: LCDA-o,072/0A-o,16 cmH20/mmHg) edo grau de dispneia desenvolvido (slope dispneia:LCDA-2,I/OA-2,23% dispneia/L/m) semelhantenos dois grupos (Quadro IV).

O estudo das pressões máximas a nível da boca

demonstrou diferenças entre os dois grupos,sendo menores nos doentes com LCOA, tanto aPMI (LCDA-57,I /OA-75 cmH20) como a PME(LCDA-99,2/0A-I64,2 cmH20) - Quadro V.

IV - DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A interpretação de algumas das técnicas inclui­das neste protocolo, como o estudo dos padrõesventilatórios, a estimulação com o CO2 e a pra-

Mar~IAbrill99S l2J

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REVISTA PORTIlGUESA DE PNEUMOLOGIA

FI&- 2 - Registo analógico do Respitracc detectando mo\'imtnlosparadoxais do abdómen.

QUADRO III

Padrões Vc:nlilalóriosRc:spitracc:

LOO

100

10

,

Fr(e/m)

LCDA 11.4

OA 16.'

Yt(L)

0.4.0.59

YE(Um) YT{Tl(lIa)

a.a 0.439.11 0.4

TI{Ttot

0.34

0.39

"ABO

0.53

0.69

IOLCOA DOA Isoo respiratórias obriga à existência de grupos dereferência para o estabelecimento da normalidade.

o nosso caso utilizámos um grupo de controlo aque chamámos "normal", visto ser constituidopor individuos com patologia apenas a nível dasarticulações periféricas e portanto sem interferên­cia na mobilidade da caixa torácica. A seme­lhança dos dois grupos LCOA/OA tanto a nívelantropométrico, como de faixa etária permitiu-

-nos a comparação dos resultados obtidos nastécnicas mencionadas.

Espirométricamente o grupo com LCOA apre­sentava uma sindrome obstrutiva grave (VEMS­44,5% do valor previsto) com diminuição da CVF(68.8% do valor previsto), devendo-se esta últimaprovavelmente ao relentamento do débito aéreo,não sendo a expiração completa durante a frac­ção expiratória do ciclo respiratório. Secundá-

12A Vai. I N°2 Marçol Abril 199.5

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AVALIAÇÃ.O DA DISPNEIA E PADROES VENTILATÓRIOS NUM GRUPO DE DOENTES COM LIMITAÇÃO CRÓNICADO DéBITO AéREO CANDIDATOS A UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO

QUADRO IV

Estimulação com CO2

•3.'3

2.5 ­2

l:~~~WO., 7O

Ol.p B...I PO,1 B•••I Slop. VE Stop. PO,1 Slop. Ol.p

~ O 1.35 1.4 I 0.16 2.23

~ 3.4 2.5 0.53 0.072 -:~2;.~,;;-Jr:::-_-:::-_wAoC .-.0 .~ <....~. WI...........,

!OlCDA l?]OA I

QUADRO V

Pressões Máximas Respiratórias

200

150

100

.0O-"-...-h===="'--L.--..b====~

PME(c::mH20) PMI(c::mH20)

~ 164.2 ====~7!';::===~1----c9"9:::.2;---- --".57".'-'__~~--=-

IOlCDA l?]OA I

riamente a este mecanismo seria de esperar insu­nação pulmonar, que não foi detectada nosnossos doentes possivelmente porque utilizámos ométodo de diluição do hélio para a determinaçãoda CRF (Capacidade Residual Funcional), quecomo é sabido poderá ler subestimado este parâ­metro neste grupo de doentes. A Ventilação Máxi­ma Voluntária (VMV) estava também muito dimi­nuida. possivelmente devido à obstrução gravedas vias aéreas e à diminuição da força dos mús·culos respiratórios.

A análise dos padrões respiratórios para alémde detectar movimentos paradoxais em 4 doentes,demonstrou uma relação TI/TfOT diminuida,traduzindo um aumento da expiração (em relaçãoao tempo total do ciclo) resultante da obstruçãodas vias aéreas. Na estimulação com COz osdoentes com LCOA tinham uma menor respostaventilatória a este estimulo quando comparadoscom os normais, parecendo a obstrução aérea serum factor limitante importante desta resposta.Durante a realização desta técnic:a, não se regista-

Mllrço{Abnll995 Vol.l N°Z '"

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REVIST.... PORTUGUES.... OE PJl/EUMOLOGI....

ram diferenças entre os dois grupos, quanto àvariação da pressão de oclusão, apesar do seuvalor basal ser diferente entre os grupos. Efecti­vamente os doentes com LCDA apresentavamuma PO, I basal mais elevada, apontando parauma maior "drive" respiratória. A análise con­junta dos dois declives (ventilação e pressão deoclusão) representando um indicador da intensi­dade das descargas neuronais centrais permitirá oestudo da sensibilidade do sistema controlador daventilação. Assim, o facto do declive da ventila­ção ser menor nos doentes com LCDA,passando-se algo diferente para o declive ou"slope" da PO.I, onde não se registaram diferen­ças entre os grupos, refletirá não um distúrbio nocontrolo da ventilação, mas antes uma grave alte­ração da mecânica ventilatória. Por este motivonestes doentes com aumento das resistências dasvias aéreas, a resposta da ventilação ao estimulodo C02 não nos parece o parâmetro indicadopara o estudo da drive respiratória. Nestes casoso recurso à pressão de oclusão será mais ade­quado para o estudo do output do centro respira­tório. ° motivo reside no facto da pressão deoclusão reflectindo a pressão alveolar, dependerunicamente da integridade da condução nervosado estimulo central e da contração consequentedo diafragma, representando por isso dumaforma mais fidedigna a actividade do centro res­piratório (13). No caso dos doentes que avaliá­mos, detectámos uma PO,I basal mais elevadanos doentes com LeDA, a que corresponderácertamente uma maior actividade basal do centrorespiratório. Contudo o facto da sua variação nãoser diferente da do grupo controlo (conformerepresentado pelos respectivos declives), durante arealização da estimulação com C02, leva-nos aadmitir a integridade do centro respiratório emtermos de "output", pelo menos neste grupo dedoentes.

Relativamente à dispneia, os doentes com LeOAapesar de apresentarem uma avaliação basal pelaecala do MRC, significativamente superior à dogrupo de controlo, como aliás seria de esperar,durante a prova do CO2 não evidenciaram dife­renças em relação à variação da dispneia, poisvariações semelhantes da VE acompanharam-sede variações idênticas da intensidade da dispneia.Este resultado distinguindo os dois grupos deindividuos (LCOA/OA) em termos de incapaci­dade, poderá corresponder a mecanismos seme­lhantes de génese da dispneia.

Por último, as pressões máximas a nivel daboca sendo menores nos doentes LCOA resulta­ram muito provávelmente de modificações damecânica torácica e/ou sinais de fadiga muscular,apontando para a importância do fortalecimentodos músculos respiratórios durante os programasde reabilitação.

Num doente candidato a um PR para além danecessidade de caracterização funcional, antes doinicio e elaboração do respectivo programa, inte­ressa encontrar marcadores de monitorização daeficácia do mesmo (I). Para isso parece-nos fun­damental quantificar o défice e a incapacidadeiniciais, de modo a poder desenhar um programao mais ajustado possível às potencialidades dodoente e posteriormente controlar a aplicação domesmo. Em nossa opinião, o protocolo que aca­bámos de descrever parece-nos um instrumentode trabalho a considerar na avaliação do défice eda incapacidade do candidato a um PR.

Na caracterização do défice, a espirometria é oexame mais simples e reprodutlvel permitindo aclassificação da deficiência em ligeira moderada egrave (14,15).

A avaliação da incapacidade inclui, não só oestudo da capacidade para o exercício mediante arealização duma ergometria ou prova de marcha,que não foram contempladas neste nosso proto­colo, mas também a quantificação e caracteriza·ção da dispneia. Esta deve ser avaliada tanto emrepouso, como durante o exercício ou a apresen­tação de um estímulo que se lhe assemelhe e queno caso deste protocolo, considerámos ser aprova de estimulação com CO2• Esta prova, paraalém do estudo do controlo da ventilação, per­mite também uma avaliação psicofisica da disp­neia, mediante a sua quantificação durante todo operíodo de estimulação com C02. Relativamenteao controlo da ventilação, a análise do declive dasrectas representativas da variação da ventilação eda pressão de oclusão permite medir a sensibili·dade do sistema de controlo da ventilação. Ape­sar desta técnica apresentar uma grande variabili­dade interindividual de respostas ventilatórias(10), no mesmo indivíduo é muito reprodutível(II), pelo que poderá ser um parâmetro de avalia­ção e monitorização, durante o PR.

Consideramos também importante a análisedos padrões respiratórios através do Respitrace,uma vez que possibilita de uma forma indirecta, oestudo da "drive" respiratória através da análise

126 Vol.1 N°2 MarçofAbrill99S

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AVALIAÇÃO DA OISPNEIA E PADROES VENTILATÓRIOS NUM GRUPO DE OOENTESCOM lIMITAÇAOCRONICA00 DEBITO AEREO CAND[DATOS A UM PROGRAMA DE REABllITAÇAO

do índice respiratório médio (VTfTI) que é umindicador do número de descargas neuronais cen­trais (ou "drive central") provenientes dos centrosrespiratórios (II). Adicionalmente o Respitracedetectando a existência de assincronias respirató­rias, permite avaliar no doente, a eficácia dealgumas técnicas de reabilitação, nomeadamenteas que envolvem a modificação dos padrões venti­latórios. A medição das pressões máximas a nívelda boca possibilitará a monitorização da força

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dos músculos respiratórios, visto que esta, dumamaneira geral, é objecto de reabilitação, por seencontrar frequentemente diminuida no doenterespiratório crónico. Finalmente terminamosreconhecendo as inúmeras limitações desteensaio, em virtude do número reduzido de doen­tes com que se realizou. Contudo parece-nos seruma proposta de actuação que oferece um vastohorizonte de investigação futura nas áreas dafisiopatologia e reabilitação respiratória.

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Março Abnl [995 Vol.l NG 2 127