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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA BAHIA – CEFET/BA DEPARTAMENTO V BÁRBARA LEONORA SOUZA DE MIRANDA Uma década de responsabilidade social corporativa – evolução, coerências e contradições. Salvador-BA 2005

BÁRBARA LEONORA SOUZA DE MIRANDA Uma década de ... · teorias Éticas. tabela 2. vetores da Ética. tabela 3. nÚmero de artigos publicado sobre responsabilidade so-cial corporativa

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA BAHIA – CEFET/BA DEPARTAMENTO V

BÁRBARA LEONORA SOUZA DE MIRANDA

Uma década de responsabilidade social corporativa – evolução, coerências e contradições.

Salvador-BA

2005

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BÁRBARA LEONORA SOUZA DE MIRANDA

Uma década de responsabilidade social corporativa – evolução, coerências e contradições.

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em

Administração no Centro Federal de Educação Tec-

nológica da Bahia, como requisito à obtenção do

grau de Bacharel em Administração.

Orientadora: Profª. Mestra Adelice Oliveira dos

Santos.

Salvador-BA 2005

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BÁRBARA LEONORA SOUZA DE MIRANDA

Uma década de responsabilidade social corporativa – evolução, coerências e contradições.

MONOGRAFIA PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL ADMINISTRAÇÃO

Banca Examinadora:

1. Prof. Doutor Carlos Alex de Cantuário Cypriano

_______________________________________

CEFET-BA

2. Profª. Mestra Adelice Oliveira dos Santos.

_______________________________________

CEFET-BA

3. Profº Mestre Sinval Silva de Araújo.

_______________________________________

CEFET-BA

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“Enquanto o Estado e a sociedade se propuserem somente a legitimar e a tratar o mercado e as empre-sas como principais fontes reguladoras da vida hu-mana, priorizando o acúmulo de riquezas, em detri-mento do bem-estar do homem, continuarão existindo barreiras para a melhoria da condição humana.”

Schroeder e Schroeder.

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À minha mãe e à minha irmã, Márcia, sem as quais nada teria conseguido. Ao meu filho, peço desculpas pela minha ausência na busca deste objetivo. A Guilherme, pela paciência e pela dedicação nos momentos mais difíceis.

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Agradecimentos

Agradeço, primeiro a Deus, pela minha existência e pela persistência na busca dos meus obje-

tivos e pela capacidade de superação de todos os obstáculos.

À Professora Adelice Oliveira, pela paciência e dedicação que sempre expressou na condução

deste trabalho.

Ao Professor Alex Cipriano, pela confiança e encorajamento durante todo o processo. Meu

maior incentivador neste trabalho.

Ao Professor Nilton Vasconcelos, pela atenção dispensada na busca de material bibliográfico

e pela referência que é.

Às Professoras Lívia Simões e Valderez Schilling, pelos exemplos de profissionais que são,

nas quais desejo me espelhar.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, possibilitaram a execução deste trabalho.

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RESUMO

“Tudo que puderes fazer ou creias poder, começa. A ousa-dia contém gênio, poder e magia”.

Goethe.

Este trabalho versa sobre a Responsabilidade Social Corporativa, tema relevante no atual con-

texto organizacional. A metodologia utilizada foi à revisão de literatura a fim de identificar as

coerências e as principais contradições presentes no conceito e na prática do tema, bem como

identificar o foco da crítica presentes nos artigos analisados. Ficou claro no trabalho a neces-

sidade de novos estudos serem feitos com o intuito de preencher as lacunas ainda presentes

neste conceito.

O estudo identificou as principais críticas à forma pela qual a Responsabilidade Social Corpo-

rativa está sendo utilizada pelas organizações. A crítica mais recorrente deve-se ao modo de

produção e ao aumento de poder das organizações. Estas passam a controlar dimensões soci-

ais até então de responsabilidade do Estado.

Palavras-chave: Responsabilidade Social, Ética, Conceitos, Coerências e Contradições.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1. PUBLICAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATI-

VA.

FIGURA 2. ARTIGOS COM VISÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA DA RESPONSABI-

LIDADE SOCIAL CORPORATIVA.

FIGURA 3. ABORDAGENS CRÍTICAS FRENTE ÀS DEMAIS (%).

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. TEORIAS ÉTICAS.

TABELA 2. VETORES DA ÉTICA.

TABELA 3. NÚMERO DE ARTIGOS PUBLICADO SOBRE RESPONSABILIDADE SO-

CIAL CORPORATIVA.

TABELA 4. ARTIGOS PUBLICADOS RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

A PARTIT DE UMA ABORDAGEM CRÍTICA.

TABELA 5. NUMERO DE ARTIGOS PUBLICADOS RESPONSABILIDADE SOCIAL

CORPORATIVA A PARTIR DE OUTRAS ABORDAGENS.

TABELA 6. PUBLICAÇÕES POR PERIÓDICO, TITULO, AUTOR E ANO, A PARTIR

DE UMA ABORDAGEM CRÍTICA.

TABELA 7. PUBLICAÇÕES POR PERIÓDICO, TITULO, AUTOR E ANO, A PARTIT

DE OUTRAS ABORDAGEM.

TABELA 8. RELAÇÃO ENTRE ARTIGOS ANALISADOS E PRINCIPAIS LEVANTA-

MENTOS CRÍTICOS.

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SUMÁRIO

1. Introdução 11

2. Referencial Teórico 16

2.1 - Contextualização 16

2.2 - Ética e Responsabilidade 19

2.3 - A Ética e as Organizações 22

2.4 - A Responsabilidade Social Corporativa 28

2.5 - Por que as Empresas estão aderindo à Responsabilidade Social? 31

2.6 - Pressupostos da Responsabilidade Social Corporativa 34

2.7 - Ações sociais e Responsabilidade Social Corporativa 35

2.8 - O lado oculto da Responsabilidade Social Corporativa 37

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3. Procedimentos Metodológicos 41

3.1 – Método 41

3.1.1 – Quanto ao objetivo 41

3.1.2 – Quanto aos procedimentos técnicos 41

3.2 - Artigos identificados e pesquisados 43

3.3 – Discriminação dos artigos estudados 45

4. Análise e Discussão dos Resultados 48

5. Conclusões e Considerações 57

Referências 59

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1. INTRODUÇÃO

A Responsabilidade Social e a Ética Corporativa vêm-se tornando um tema recorrente e de

grande relevância no mundo acadêmico e nas organizações contemporâneas. Embora não se-

jam conceitos novos, nos últimos anos, devido à deterioração dos ecossistemas e da socieda-

de, o debate sobre os benefícios e malefícios das organizações, aliados à tomada de consciên-

cia da sociedade civil organizada, vêm cobrando das empresas um comportamento social e

eticamente responsáveis. Portanto, problematizar e estudar essa temática reveste-se da maior

importância, também porque as organizações se apropriam destes conceitos, mesmo com uma

visão míope do problema, para utilizá-los como uma estratégia organizacional. É fundamen-

tal, ainda, porque se trata de um aspecto essencial à vida das pessoas, haja vista que, em suas

ações, as empresas, de uma forma ou de outra, impactam seu cotidiano, direta ou indiretamen-

te, em maior ou menor escala. O certo é que em um mundo globalizado, onde ações e com-

portamentos, culturas, idéias e ideais são ditados pelo seu modelo de produção /civilização

inerentes às organizações, não poderíamos sair ilesos.

De outra forma, um mercado cada vez mais competitivo exige que as empresas busquem es-

tratégias que minimizem os impactos causados pelas suas atividades. O número de empresas

que se utiliza do conceito de Responsabilidade Social Corporativa é cada vez maior. O que

não falta são instituições para conceder selos, certificados e relatórios, atestando a atuação

dessas empresas. Exemplo disso é a matéria publicada na Revista Guia de Boa Cidadania

Corporativa (2004), “Perdidos num mar de opções”, ilustrando como esse conceito vem dis-

putando o interesse daqueles ligados à área organizacional.

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Segundo Soares (2004), a própria estrutura do capital, em “sua lógica de reprodução incessan-

te redunda nas condições atuais de desigualdades sociais e de deterioração da natureza, que as

organizações, ‘através de ações de Responsabilidade Social Corporativa’, pretendem comba-

ter”.

Buscou-se com este trabalho conhecer a opinião dos estudiosos do tema, identificando evolu-

ções, coerências e contradições existentes entre os discursos e as práticas organizacionais.

Será que as empresas ditas socialmente responsáveis estão efetivamente praticando Respon-

sabilidade Social ou se tratam apenas de “medidas de superfície”, de “maquiagem” para apre-

sentarem à sociedade a imagem da empresa-cidadã, socialmente comprometida? Quais são

suas motivações, ao lidar com essas questões?

A análise de artigos, como o de Soares (2004): “Responsabilidade Social Corporativa - Por

uma boa causa!?”, aponta no sentido que a “leitura atenta dos discursos organizacionais revela

palavras sequer pronunciadas e de que existem contradições entre o que os membros das or-

ganizações assumem como sendo ética, moral e democracia e o que efetivamente é praticado

no ambiente organizacional”.

Como a “produção crítica em Administração no Brasil é discreta, 2,6%, em relação a outras

abordagens” (DAVIEL e ALCADIPANI, 2002) este estudo buscou ampliar o debate acerca

do tema, suscitando novos questionamentos e críticas.

O fator determinante, contudo, para a escolha deste tema foi a crença que o “o dever daqueles

que têm a oportunidade de conhecer os dois lados da moeda é levantar questionamentos e

discussões, a fim de evoluir na discussão do tema”. (CORRÊA e MEDEIROS, 2003).

A partir deste cenário é que se fez um estudo crítico a respeito da Responsabilidade Social

Corporativa, dos interesses e das contradições entrelaçadas a este conceito, no período de

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1995 a 2004. Tais estudos críticos em administração (ECA) podem, se não transformar a rea-

lidade organizacional, avançar com novas idéias, teorias e práticas.

Espera-se, portanto, com este trabalho estimular discussões e reflexões em torno da Respon-

sabilidade Social Corporativa por meio de uma abordagem crítica, de forma a identificar pos-

síveis coerências e, principalmente, as prováveis contradições existentes. Acredita-se que só

haverá progresso ou inovações organizacionais a partir de reflexões críticas.

Não há inovação organizacional sem o desenvolvimento de um espírito crí-tico apurado que ouse desvendar outras interpretações para a realidade soci-al, instaurando novas possibilidades de ações que permitam às pessoas e-xercerem sua autonomia e sua consciência de interdependência social. (DAVIEL e ALCADIPANI, 2002, p.82)

O estudo analisou uma década de trabalhos produzidos sobre essa temática, partindo das se-

guintes premissas: (a) os estudos sobre a Responsabilidade Social indicam que o conceito é

usado muito mais como instrumento de marketing e muito menos como uma filosofia de ges-

tão, com a ética da convicção; (b) os estudos apontam ainda, que existem contradições entre

os preceitos da Responsabilidade Social Corporativa e modo de produção subjugado a uma

economia neoclássica; (c) a utilização do conceito de Responsabilidade Social Corporativa

acaba por ampliar o poder das organizações frente a Estado. Estas passam a ditar um processo

civilizatório de acordo com os interesses do capital.

Nessa linha de raciocínio, o estudo analisou dez anos de produção científica brasileira, tendo

como fontes os periódicos RAE - Revista de Administração de Empresas, RAC - Revista de

Administração Contemporânea e RAUSP – Revista de Administração, além dos anais do

ENANPAD, entre os anos de 1995 e 2004.

Buscou-se conhecer a visão dos estudiosos dessa temática, identificando prováveis coerências

e contradições existentes nos discursos e práticas das organizações que exibem seus “Diplo-

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mas” de Empresa-Cidadã. Procurou-se, ainda, obter subsídios para responder às seguintes

indagações:

a) até que ponto o que se dissemina como empresa socialmente responsável, expressa a prati-

ca efetiva da Responsabilidade Social, conforme preconizada na literatura?

b) em que medida ações pontuais, que dão visibilidade à Organização, estão sendo utilizadas

tão-somente como estratégias de Marketing?

c) como anda o clima organizacional nas empresas ditas socialmente responsáveis?

d) quais são as verdadeiras motivações das empresas que optam pela Responsabilidade Social

Corporativa? Incentivos fiscais? Visibilidade? Uma forma de controle e/ou ideologia para

conter questionamentos sociais?

e) As ações praticadas a partir de um direcionamento social, são ações transformadoras, auto-

sustentáveis, ou são ações filantrópicas?

f) A opção pela Responsabilidade Social Corporativa é pela convicção ou pelas pressões ad-

vindas da sociedade?

Em um primeiro momento, foi feita uma revisão da literatura sobre Ética e Responsabilidade,

objetivando dar maior clareza aos conceitos, de modo que se pudesse melhor caracterizar as

ações que vêm sendo praticadas em nome da Ética e da Responsabilidade Social. Logo após,

foram feitas leituras exploratórias e seletivas do material encontrado, naquele período, segui-

das por uma leitura analítica, identificando-se as idéias-chaves. Posteriormente, esse material

foi analisado e criticado de modo a que se pudesse chegar às conclusões e considerações sobre

a problemática em questão.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 – CONTEXTUALIZAÇÃO

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A aceleração das mudanças, o agravamento dos problemas sociais advindos da própria dinâ-

mica do modelo de produção capitalista, aliados às pressões da sociedade por uma atuação

ética e responsável vieram exigir novas formas de gestão das empresas, no contexto em que

estão inseridas.

... cedo ou tarde, a sociedade vai considerar qualquer impacto causado à própria integridade e vai cobrar um alto preço daqueles que não tomaram para si a responsabilidade de trabalhar para eliminar o impacto ou para des-cobrir uma solução para o problema. (DRUCKER apud DRUCKER,2002, p.84)

Numa sociedade pluralista, espera-se que cada organização seja uma empreendedora, no sen-

tido tradicional da palavra, isto é, o agente da sociedade que transfere recursos de um empre-

go produtivo para outro mais produtivo. É uma exigência de mercado transformar a satisfação

de necessidades e carências sociais em um negócio rentável. Assim, as necessidades e carên-

cias da sociedade deveriam representar oportunidades de negócios para todas as instituições.

Esse aspecto das responsabilidades sociais das organizações - a previsão das necessidades

sociais e sua transformação em oportunidades de desempenho e resultados – pode ser especi-

almente importante num período de turbulências e descontinuidade como o que estamos vi-

venciando.

As oportunidades para tentar lidar com coisas novas e diferentes sempre foram raras. Nos

últimos 50 anos essas oportunidades não eram comuns e há cem anos, as grandes oportunida-

des empresariais residiam, como as de hoje, na satisfação das necessidades e carências soci-

ais. Se tais não foram satisfeitas é porque eram vistas como um fardo, isto é: apenas como

responsabilidades e não como oportunidades. Em outras palavras, explorar oportunidades é “o

pulo do gato” das organizações. Sendo assim, defendem alguns, as organizações não agem de

forma “socialmente responsável” quando se preocupam com problemas sociais fora de sua

esfera de competência e ação. Elas agem de forma socialmente responsável quando satisfa-

zem às necessidades da sociedade, concentrando-se em seu trabalho específico. Agem de ma-

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neira mais responsável, ainda, quando transformam as necessidades do público em suas pró-

prias realizações. As necessidades da sociedade, se não atendidas, transformam-se em doen-

ças sociais e nenhuma instituição terá probabilidade de prosperar em uma sociedade enferma

(DRUCKER apud DRUCKER, 2002). Para responder ao problema da “responsabilidade so-

cial toda organização deve assumir responsabilidade por seu impacto nos funcionários, no

ambiente, nos clientes e em todos aqueles que por ela forem afetados”. Drucker (apud

DRUCKER, 2002) chega mesmo a sentenciar como leis da Responsabilidade Social: (a) limi-

tar os impactos sobre as pessoas, o máximo possível; (b) prever os impactos que poderão se

transformar em problemas: (c) tentar evitar esses efeitos colaterais. Essa é a efetiva Respon-

sabilidade Social.

É preciso ficar claro, de igual modo, que a responsabilidade social corporativa torna-se inviá-

vel quando o negócio vai mal. O coração da sustentabilidade apóia-se em três grandes pilares:

desenvolvimento social, responsabilidade ambiental e viabilidade das empresas. Negócios

doentes nas finanças, nas estratégias e na gestão jamais serão negócios socialmente responsá-

veis no longo prazo. Não gerarão nem manterão empregos. Não contribuirão para gerar nem

para aumentar a renda de seus empregados. Ficarão impossibilitados de participar de qualquer

iniciativa de investimento social privado e, portanto, não contribuirão para o desenvolvimento

das comunidades que os cercam, da sociedade e do País. Portanto, o maior desafio para todas

as instituições é fazer melhor o que já está sendo feito.

É sob essa ótica que as organizações passam a praticar ações de cunho social, ainda que de

forma filantrópica ou assistencialista. Mesmo assim, os empresários observaram que os ga-

nhos na melhoria de suas imagens daí advindos eram expressivos, trazendo reflexos positivos

para os resultados de suas organizações. Motivados por estes retornos, conseqüência direta

dos investimentos na área social, os dirigentes passaram a adotar “modelos de empreendedo-

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rismo social e de filantropia de alto desempenho” (NETO e FROES, 2001), o que daria ori-

gem aos conceitos, muito utilizados pelas empresas, como: Responsabilidade Social, Empresa

Cidadã, Ética Empresarial, entre outros.

A Responsabilidade Social Corporativa, desse modo, conquistou um lugar de destaque nas

organizações, tornando-se uma estratégia empresarial devido aos retornos trazidos, tanto soci-

ais como institucional, tributário-fiscal, melhoria e/ou fortalecimento de marca e de imagem e,

sobretudo, econômico.

Para Maximiano (2004), “A responsabilidade social das organizações e o comportamento

ético dos administradores estão entre as tendências mais importantes que influenciam a teoria

e a prática da administração no início do terceiro milênio”. De fato, a utilização do termo

Responsabilidade Social Corporativa vem se dando de forma intensa nos dias atuais pelas

organizações, demonstrando assim a relevância do tema em estudos acadêmicos. Contudo, as

análises da produção científica sobre o tema, se revelam algumas coerências, por outro lado,

demonstram que são gritantes as contradições entre a prática e os discursos organizacionais.

2.2 - ÉTICA E RESPONSABILIDADE

A “redescoberta da ética” não se deu por acaso. Deveu-se aos grandes escândalos políticos e

organizacionais, que fizeram com que a sociedade viesse a cobrar das organizações atitudes

orientadas pela ética e responsabilidade pelas suas ações (PASSOS, 2004).

Em um mundo permeado pelos conflitos de interesses, como é o das organizações, choques de

interesses individuais e, muitas vezes, até com os da própria organização, a ética é apresenta-

da como parâmetro e limites que regulam as ações e decisões nas organizações.

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A ética origina-se da palavra grega ethos e significa hábitos e costumes. “A ética, como ex-

pressão única do pensamento correto, conduz à idéia da universalidade da moral, ou ainda, a

forma ideal universal do comportamento humano, expressa em princípios válidos para todo

pensamento moral e sadio” (LISBOA, 1997).

Segundo Srour (1998), “a ética é a teoria que corresponde a uma generalidade abstrata e for-

mal”. A função da ética é estudar as morais e as moralidades, fazendo uma análise das esco-

lhas em situações concretas daqueles que são seus agentes. A ética em sua avaliação, confron-

tas as atitudes com os padrões estabelecidos, aceitando-os ou reprovando-os.

Em termos filosóficos, existem duas teorias principais a Deontologia (do grego deontos =

“obrigação”) e a Teleologia (do grego teleios = “no fim”, “final”, “causa”).

Com base nessas teorias, Weber (apud Srour.1998) definiu sobre duas éticas, a ética da con-

vicção e a ética da responsabilidade. A ética da convicção fundamenta e justifica ações de

decisões por leis morais que “não tolera desvios... Esta ética absoluta presume o caráter uni-

versal de suas obrigações e se apresenta de forma incondicional e unívoca. Sua máxima sen-

tencia: “tudo ou nada”, sendo regida pela relação entre morais e valores e enaltecendo o de-

ver. Sua fundamentação teórica é a Deontologia.

Ainda de acordo com Srour (1998) na ética da responsabilidade as justificativas são traduzi-

das pelas “conseqüências”, que deveriam promover o máximo bem do maior número de pes-

soas; ou pelos “propósitos” que a coletividade os reputa como bons. É uma ética eminente-

mente política, voltada para a ação. Seu comprometimento e responsabilidade são com o futu-

ro. A máxima é: “fundamentais são os resultados”. A ética da responsabilidade está preocupa-

da com a finalidade, deixando margem para que meios possam ser usados de forma ilícita.

Esta ética está ancorada na teoria da Teleologia.

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Exemplo da ética da Responsabilidade é a do sistema capitalista, quando se aceita que os fins

justificam os meios.

Constata-se que na sociedade contemporânea os valores intrínsecos ao capi-talismo, como competição e lucro, se sobrepõem aos valores políticos e aos que dizem respeito a vida psíquica dos indivíduos. Assim, o que se institui no capitalismo é a presença de ideologias pseudo-éticas, que ditam as regras das condutas... (...) Deste modo, em nome da guerra econômica que impera na atualidade, admite-se atropelar certos princípios, [pois] o fim justificaria os meios. (SOARES, 2004, p. 5)

A Tabela 1 resume as teorias da Deontologia e da Teleologia, mostrando suas éticas, aborda-

gens, fundamentos e justificação.

Tabela 1 – TEORIAS ÉTICAS

Teoria Ética Abordagem Fundamento Justificação Princípio Leis morais Normas universais

DEONTOLOGIA (DEVERES)

Convicção Esperança Ideais

Valores universais

Finalidade Propósitos

Bondade dos fins

TELEOLOGIA (FINS)

Responsabilidade Utilitária

Conseqüências

Máximo bem para o maior número

Fonte: Srour, 1998.

A moral vem do latim mores e também quer dizer costumes, modo de agir, conduta. Apesar

do estreito vínculo existente entre a ética e a moral, elas possuem diferenças. Enquanto a mo-

ral refere-se às situações particulares e cotidianas, a ética torna-se examinadora da moral. A

“moral normatiza” e “direciona” a prática das pessoas. Já a ética “teoriza sobre as condu-

tas”, estudando as concepções que dão suporte à moral. A moral é o objeto, enquanto que a

ética é a ciência (Passos. 2004).

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O papel que a moral desempenha na sociedade é o de possibilitar um equilíbrio entre anseios

e interesses da sociedade. Não existe uma moral individual. Ela é social, pois se desenvolve

num contexto de relações entre sujeitos. Está subjugada a uma concepção em vigor, que é a

concepção dominante. Os valores morais expressam uma cultura, variam com o decorrer do

tempo, da história e do lugar. Assim, cada sociedade constrói suas “normas sustentadas em

suas crenças, modelos sociais, formação econômica e social”.

Devido ao momento de crise que a sociedade está vivenciando, faz-se, portanto, necessária a

criação de uma nova orientação moral. Para tanto, alterações profundas são determinantes

para a formação de uma nova “consciência coletiva” e, principalmente, de novas estruturas

sociais, no que tangem às relações de produção e poder. Isso só ocorrerá a partir desse novo

repensar das condições concretas de produção e de vida que queremos para a humanidade.

Como afirma Lisboa (1997), “as pessoas não são inteiramente boas ou más”. Não basta enun-

ciar normas de conduta para que os indivíduos ajam com probidade e decência. Necessita-se,

sim, de controles adequados e sanções compatíveis, que coíbam e intimidem os infratores.

Para o autor (LISBOA, 1997) o objetivo da ética não é tornar as pessoas “moralmente perfei-

tas”, mas fornecer parâmetros para uma convivência pacífica, em que os conflitos de interes-

ses sejam minimizados. Corroborando Lisboa, Srour (1998) afirma que a função da moral (e

por que não da ética) é investigar e explicar o comportamento das pessoas.

A moral é um discurso de justificação e se encontra no coração da ideologi-a. É um dos mais poderosos mecanismos de reprodução social, porque defi-ne o que é permitido e proibido, justo e injusto, lícito e ilícito, certo e erra-do. Ao arrolar, fins e responsabilidades, suas normas são prescrições que pautam as decisões e moldam as ações dos agentes. (SROUR, 1998, p. 270)

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2.3 - A ÉTICA E AS ORGANIZAÇÕES

Como já foi dito, as pressões do mercado e da sociedade fizeram com que novas dimensões

começassem a entrar na pauta das preocupações das empresas. Assim foi com a ética. As or-

ganizações foram obrigadas a desenvolver ações fundamentadas em dimensões além da eco-

nômico-financeira, a fim de garantir sua permanência no mercado. Dessa forma, a ética passa

a ser utilizada nas organizações motivadas não pelo “altruísmo, nem por um repentino ‘insi-

ght’ democrático, mas porque se curvam ao bom senso e às relações de força, fiéis a uma es-

tratégia de sobrevivência empresarial” (SROUR. 1998).

No Brasil, a maioria dos empresários ainda confunde a moral com a legalidade. Segundo S-

rour (1998), não basta não ser pego para ser ético. Se tal fosse verdadeiro, “a moral seria uma

corrida de obstáculos: quem conseguir conjugar sorte e esperteza “salvar a cara” e quem esca-

par da sanha dos fiscais ganhará um atestado de idoneidade”.

Na busca de parâmetros para a conduta ética nas organizações e nas atividades profissionais,

são criados códigos de éticas, particulares a cada organização ou classe profissional. Tais fa-

zem parte dos sistemas de valores que orientam o comportamento das pessoas, grupos e das

organizações e suas administrações, servindo para coibir procedimentos antiéticos.

Deste modo, o objetivo do código de ética é expressar e encorajar o sentido de justiça e de-

cência em cada membro da organização. Mas, para que este seja efetivamente seguido, é ne-

cessário que haja uma liderança capaz de segui-lo antes mesmo de incentivar a sua utilização.

Para Lisboa (1997), os códigos de ética devem abranger, no mínimo, quatro itens: competên-

cias, sigilo, integridade e objetividade, relacionando o que é permitido e o que é proibido, e

disseminando para toda a organização quais os padrões de conduta esperados.

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A ética dos negócios, contudo, é muito questionada. Alguns autores argumentam haver um

choque de interesse entre as atividades que exercem: a busca do lucro e o cumprimento dos

pressupostos da ética nos negócios. Não se deseja entrar no mérito do lucro, pois se sabe que

o lucro é necessário à manutenção dos negócios. O que se pretende discutir são as distâncias

existentes entre discursos, seus códigos e os comportamentos éticos das organizações e seus

administradores.

Autores, como Chanlat (1992) advogam que a ética empresarial não é uma questão de querer,

de uma mudança de filosofia, de postura. É uma imposição da sociedade.

... há uma irrupção da ética, disciplina normalmente filosófica, no mundo dirigido por valores econômicos. O fato não pode ser traduzido como con-seqüência de mudança de mentalidade de dirigentes e empresários, mas co-mo uma reação a problemas que as empresas vêm vivendo em decorrência de ações anti-éticas, que incluem, desde a falta de parceiros, escândalos até prisões de executivos. Todavia, não se pode negar que, em algumas situa-ções, há um processo de conscientização das pessoas envolvidas com o mundo dos negócios e real preocupação com a prática responsável e cidadã. (CHANLAT, 1992, p. 27)

Outros, já possuem uma visão mais crítica em relação ao conceito da ética dos negócios. Soa-

res (2002), por exemplo, afirma que “existem diversas contradições entre o que é assumido

como sendo uma postura ética e o que efetivamente é praticado no mundo organizacional, no

qual predomina, ainda que muitos queiram negar, o interesse do capital sobre todos os ou-

tros”. Para a autora (SOARES,2004) o que o sistema capitalista impõe é a lógica da acumula-

ção, onde “o que se institui no capitalismo é a presença de ideologias pseudo-éticas, que ditam

as regras das condutas. (...) Deste modo, em nome da guerra econômica que impera na atuali-

dade, admite-se atropelar certos princípios, [pois] o fim justificaria os meios”.

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Nessa mesma perspectiva, Nash (1993, p. 5) lembra que:

A idéia de que a conduta ética nos negócios é uma idéia bastante óbvia é, à primeira vista, persuasiva. Poder-se-ia argumentar que a maior parte dos valores, se não todos, compreendidos pela conduta ética nos negócios - ho-nestidade, justiça, respeito pelos outros, serviços, palavra, prudência e con-fiabilidade – é parte conhecida da formação da maioria dos administradores. Entretanto, infelizmente, esses ‘valores de bom senso’ foram, com freqüên-cia, sofrendo uma desintegração no mercado. Os escândalos empresariais que aparecem na imprensa e os boatos mesquinhos no escritório são provas de que os administradores das empresas – assim como o resto da humanida-de - nem sempre conseguem fazer da boa ética um fato real da conduta nos negócios. (...) A ética nos negócios reflete os hábitos e as escolhas que os administradores fazem no que diz respeito às suas próprias atividades e às do restante da organização. Essas atividades e escolhas são alimentadas pelo sistema moral de valores pessoais próprios, mas este, com freqüência, so-frem uma transformação em suas prioridades ou sensibilidades quando ope-rado dentro de um contexto institucional de severas restrições econômicas e pressões, assim como pela possibilidade de se adquirir poder.

Neste contexto, torna-se contraditório que a mesma ética que atua de acordo com as necessi-

dades de mercado, conduza a ações sociais. O que reforça as contradições presentes nas cita-

ções anteriores é o fato de que o ambiente de extrema concorrência, no qual se desenvolve as

organizações, estimular uma ética do ‘primeiro eu’, justificando as explorações e a fraudes

comuns em muitos negócios. Há estudiosos do tema que acreditam que a ética e os negócios

são conceitos contraditórios, ou pelo menos muito distintos

Outros estudos também mostram que a ética prevalecente nas organizações é a ética do di-

nheiro, comum ao sistema capitalista, que produz conseqüências terríveis na sociedade, am-

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pliando as desigualdades, produzindo o empobrecimento estruturado das pessoas, negligenci-

ando o exercício da cidadania.

Passos (2004) justifica que essa visão crítica com relação à ética nos negócios deve-se à forma

pela qual as empresas agiram historicamente, “seguindo orientações inspiradas em valores

econômicos, que as têm feito agir sem escrúpulos na ânsia pelo lucro desmedido e a qualquer

preço, colocando os seres humanos e a realidade social no esquecimento”. Desse modo, o que

os estudos vêm demonstrando é que o empresariado, em sua quase totalidade, são levados a se

preocuparem com a ética pelo medo dos prejuízos advindos de comportamentos não deseja-

dos pela sociedade, seja no plano organizacional seja diretamente em suas carreiras, e não por

uma formação ética e consciente de seus deveres.

... o custo da conduta antiética pode ir muito além das penalidades legais, notícias desfavoráveis na imprensa e prejuízos nas relações com clientes. Muitas vezes a conseqüência mais grave é o dilaceramento do espírito orga-nizaciona. (AGUILLAR apud PASSOS, 2004, p. 69)

A ética preconizada pela Responsabilidade Social Corporativa é a que busca atender aos an-

seios da sociedade, que espera uma atuação organizacional correta e consciente das transfor-

mações que promovem, direta e indiretamente na sociedade. O objetivo da responsabilidade

social deveria ser o desenvolvimento da sociedade e da comunidade, a partir de um projeto

consistente de inserção e envolvimento da sociedade. Quando se deseja que a ética seja efeti-

vamente utilizada nas organizações, faz-se necessário estimular comportamentos éticos. Não

basta apenas impor. É importante que se promovam debates sobre a ética, não de forma pon-

tual, mas como princípio a ser seguido. É preciso investir em programas que incentivem ao

comportamento ético que ultrapassem às exortações vazias e superficiais. Não se podem trei-

nar indivíduos a serem éticos. A ética deve ser inerente ao indivíduo. O que se deve é fazer

com que o indivíduo reflita e tome consciência das conseqüências dos seus atos.

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A relação Ética versus Responsabilidade Social Corporativa é efetivada quando sua atuação

se desenvolve seguindo os três vetores: o vetor da adoção dos valores éticos, o vetor da difu-

são dos valores éticos e o vetor da transferência dos valores éticos (Tab. 2)

Tabela 2 - VETORES DA ÉTICA

VETOR DEFINIÇÃO DA ADOÇÃO

A empresa inicia a mudança em favor de uma cultura empresarial voltada para o exercício da responsabilidade social. Ela, simplesmente, cumpre suas obrigações éticas, morais, culturais, econômicas e sociais junto a seus diversos públicos.

DA DIFUSÃO

A empresa, com uma cultura interna de responsabilidade social, desenvolve ações sociais sob a forma de projetos sociais e ações comunitárias.

DA TRANSFERENCIA DE VALORES

É neste vetor que a empresa exerce a responsabilidade social em sua plenitude. Ao fazê-la, ela alcança a excelência na gestão da responsabilidade social. Seus projetos e ações tornam-se sustentáveis e os resultados obtidos asseguram uma melhoria da qualidade de vida do trabalhador e da comunidade.

Fonte: Neto e Froes (2001)

Talvez, no dia em que as organizações conseguirem atingir um nível ético, tal como preconi-

zado, em que as necessidades sociais sejam realmente levadas em consideração, não haja mais

a necessidade do estabelecimento de códigos e leis, como o código de Defesa do Consumidor,

Leis de Proteção dos Mananciais, dentre outras, e não mais sejam mais aplicados multas e

punições aos transgressores. Certamente, quando esse estágio for alcançado, o ser humano

estará ocupando um lugar de destaque nas organizações, deixando de ser um meio, mais um

recurso, para ser o fim. Nas palavras de Chanlat (1992), a realidade humana encontrada nas

organizações jamais será reduzida a tais esquemas. O indivíduo será uno: “O ser humano, um

ser, ao mesmo tempo genérico e singular”. Estar-se-ia concretizando a construção de uma

sociedade com mais justiça social.

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2.4 - A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

Segundo Drucker (apud DRUCKER, 2002), a primeira responsabilidade social profissional

foi estabelecida claramente há 2.500 anos, no juramento hipocrático dos médicos gregos: pri-

mum non nocere – “acima de tudo, não fazer o mal voluntariamente”. Contudo, a obra de

Howard Bowen (apud DUARTE e DIAS, 1986) é considerada um marco no campo da Res-

ponsabilidade Social Corporativa. Segundo os autores, as primeiras idéias sobre o tema surgi-

ram a partir dos trabalhos de Charles Eliot (1906), Arthur Hakley (1907) e Jonh Clark (1916).

Porém, nesse período, a idéia foi rejeitada, tanto nos meios acadêmicos como nos empresari-

ais, por serem consideradas como heresias socialistas. O primeiro livro a analisar o tema em

extensão e profundidade, lançado nos Estados Unidos, em 1953, Social Responsibilites of the

Businessman que obteve reconhecimento, principalmente, nos meios acadêmicos. Entretanto,

foi uma série de programas produzidos pela Pacific Northwest, no inicio dos anos 60, dirigido

por Joseph McGuire, responsável pela popularização do tema. Essa série, em 1963, resultou

no livro Business and Society. O assunto, contudo, só se tornaria parte integrante dos currícu-

los acadêmicos de cursos universitários de administração, a partir da década de 70, na Ameri-

cam Academyof Collegiate Schools of Business, nos Estados Unidos. Na Europa, o tema só

passaria a ser discutido a partir do final da década de 60, através de publicações oriundas dos

Estados Unidos. No início da década seguinte, nos anos fiscais de 1971-72, é feita a primeira

tentativa de um Balanço Social, avaliando o desempenho da Companhia STEAG na área soci-

al, (Duarte e Dias. 1986). Nos países do chamado “capitalismo periférico”, a idéia de Respon-

sabilidade Social Corporativa chegou no final da década de 70, ainda de modo bastante restri-

to.

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O interesse inicial é prejudicado pela conjuntura vivida por esses países, lançados numa recessão sem precedentes e subjugados aos interesses dos grandes trustes internacionais que, para garantirem seus ganhos, não hesi-tam em agravar a situação destes países, como ocorre no Brasil. (DUARTE e DIAS, 1986, p. 47)

Ao longo de décadas, porém, o conceito de Responsabilidade Social Corporativa foi alcan-

çando novos patamares, a partir da evolução da ética no mundo dos negócios:

... nos Estados Unidos, nos anos 50, as preocupações com a ética no campo dos negócios centravam-se na questão da desumanização do trabalhador; nos anos 60, a tônica recaiu sobre o complexo industrial militar e a preser-vação do meio ambiente; nos anos 70 e 80, dentre as preocupações, decor-rentes de condições concretas, havia o interesse em desenvolver a consciên-cia crítica das pessoas contra as propagandas enganosas veiculadas nos meios de comunicação de massa ou em rótulos e embalagens de produtos. (PASSOS, 2004, 66)

Espera-se que a atuação das empresas promova de forma efetiva, para todos aqueles que são

impactados por suas ações, uma melhoria de forma direta ou indireta, tendo como pressuposto

o comprometimento dos seus colaboradores.

Apesar das discussões que se vêm travando ao longo de décadas sobre a ética e a responsabi-

lidade com o social por parte das empresas, o conceito de Responsabilidade Social Corporati-

va ainda continua impreciso. Ao se pesquisar o tema, depara-se com as mais várias defini-

ções:

a) Para o Instituto Ethos (2005), um das instituições mais reconhecidas e que certifica empre-

sas ditas socialmente responsáveis, “Responsabilidade social empresarial é uma forma de conduzir

os negócios que torna a empresa parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa

socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes

(acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e

meio ambiente) e conseguir incorporá-los ao planejamento de suas atividades, buscando atender às

demandas de todos, não apenas dos acionistas ou proprietários.”

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b) Ashley (2005) diz que Responsabilidade Social Corporativa é “uma responsabilidade básica

da gestão de recursos humanos e inclui, geralmente, a adoção de códigos de conduta, de política de

qualidade de vida no trabalho, de participação nos lucros, de oportunidade iguais e de padrões e

acordos internacionais (a exemplo da SA 8000), que servem de parâmetros para auditorias e certifi-

cações”.

c) Neto e Froes (2001) afirmam que “a responsabilidade social passa pela transformação da rea-

lidade social por meio de ações como: sustentabilidade social, desenvolvimento da comunidade, pro-

moção da cidadania individual e coletiva, consciência ecológica, capacitação profissional, integração

social entre outras”.

d) Soares (2002) conceitua a Responsabilidade Social Corporativa, de uma forma bastante

diferente das anteriores, tendo como sustentação estudos críticos sobre o tema:“A responsabili-

dade social corporativa pode ser entendida como uma dupla resposta à atual crise vivenciada pelo

capital. A primeira delas, nos termos da dominação da empresa na sociedade atual, que, como se

examinará mais adiante, busca se tornar a instituição das instituições. A outra, no sentido que a mu-

dança nos padrões da concorrência, decorrente da crise econômica, obriga as organizações a adap-

tarem seu processo de trabalho às novas exigências do mercado globalizado e a adequarem sua estru-

tura aos padrões de parceiros internacionais ou aos requisitos decorrentes de processos de fusão e

incorporação.”

Poder-se-ia até fazer um estudo específico sobre os mais diversos conceitos existentes para a

Responsabilidade Social Corporativa, mas não é o objetivo deste trabalho. O que se verifica,

contudo, independente da abordagem seguida, é que a sua utilização passa, antes de tudo, por

uma mudança de comportamento e maior atenção a questões éticas, até então desprezadas. É

necessário que haja uma ampliação do alcance das responsabilidades da empresa, não se limi-

tando a um pequeno círculo de pessoas ou interessados e a ações pontuais. Evoluir a idéia da

natureza da responsabilidade das empresas, passa por sair do ambiente da prescrição legal e

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envolver as novas obrigações requeridas pela ética, como também buscar a adequação das

demandas sociais às estratégias das organizações.

2.5 - POR QUE AS EMPRESAS ESTÃO ADERINDO À RESPONSABILIDADE SO-

CIAL?

Esta questão poderia seria ser respondida com uma pequena frase: para a obtenção de vanta-

gens competitivas. Vantagens essas traduzidas em prestígio, credibilidade, comprometimento

dos empregados para com a empresa, ganho de imagem institucional, aumento da produção,

aumento das vendas, além dos incentivos fiscais. A Responsabilidade Social Corporativa tem

sido, por conseguinte, questão estratégica nas organizações:

... a dimensão estratégica da responsabilidade social, na medida em que ela possa a contribuir para maior competitividade, por implicar um ambiente de trabalho mais motivador e eficiente, por contribuir para uma imagem insti-tucional positiva e por favorecer o estabelecimento de relacionamentos cal-çados em maior comprometimento com seus parceiros de negócio... (MARTINELLI apud COUTINHO e SOARES, 2002, p. 76)

Drucker (apud DRUCKER, 2002) também defende que ser socialmente responsável implica

ser responsável, acima de tudo, pelo empreendimento porque a responsabilidade social corpo-

rativa torna-se inviável quando o negócio vai mal. Negócios doentes nas finanças, nas estraté-

gias e na gestão jamais serão negócios socialmente responsáveis no longo prazo. Não gerarão

nem manterão empregos. Não contribuirão para gerar nem para aumentar a renda de seus em-

pregados. Ficarão impossibilitados de participar de qualquer iniciativa de investimento social

privado e, portanto, não contribuirão para o desenvolvimento das comunidades que os cercam,

da sociedade e do País, salienta Drucker (apud DRUCKER, 2002, p.87)

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... as empresas existem por tolerância e existem apenas enquanto a socieda-de e a economia acreditarem que ela faz o seu trabalho e que ele é necessá-rio, útil e produtivo. Sendo assim, os objetivos de Responsabilidade Social devem ser parte da estratégia da empresa e não uma declaração de boas in-tenções. Não são objetivos necessários não só porque o administrador tem uma responsabilidade perante a sociedade. São necessários porque o admi-nistrador tem uma responsabilidade perante o empreendimento.

Orchis e Morales (2002) compartilham dessas idéias, afirmando que a empresa optante pela

Responsabilidade Social Corporativa, independente do nível de atuação, “adquire status de

natureza estratégica”, podendo assegurar-lhe a “autopreservação no longo prazo”. “A correta

prática da responsabilidade social pode melhorar o desempenho e a sustentabilidade a médio e

a longo prazo da empresa” o que proporcionara melhoria de imagem, facilidades no mercado

financeiro, melhoria na produtividade e reconhecimentos dos seus públicos internos e exter-

nos.

Os mesmos autores, contudo, salientam que muitas organizações transmitem uma falsa idéia

de preocupação com a qualidade de vida da sociedade e satisfação do consumidor, apenas

objetivando aos benefícios oriundos da prática da responsabilidade social. Nesta perspectiva,

Freitas (apud CORRÊA e MEDEIROS, 2003) analisa o que compõe o imaginário que as

empresas criam de e para si. Termos como “empresa cidadã”, “empresa como restauradora da

ética e da moralidade” e “empresa-comunidade”, escondem interesses outros que não a preo-

cupação com o social. Na análise da autora, a empresa cidadã, que deveria trabalhar em fren-

tes como cultura e ecologia busca, na verdade, o retorno “seja em imagem institucional, seja

em dividendos políticos, seja em redução de custos de campanhas publicitárias”. Quanto ao

movimento pela restauração da ética, ainda segundo a autora, a motivação desse direciona-

mento foi a própria degradação ambiental: “o ambiente estava se tornando mortífero e as

condições mínimas de confiabilidade estavam perecendo”.

O discurso de empresa-comunidade, empresa-cidadã é, na verdade, para Freitas (apud COR-

RÊA e MEDEIROS, 2003), “uma maior exploração do trabalhador e adequação do indivíduo

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ao ambiente da empresa, ligando-o por laços comportamentais e relacionais; não mais diz

respeito apenas às competências profissionais”.

Outra realidade que os estudos trazem, a exemplo de Orchis, Yung e Morales (2002), é que as

pesquisas feitas mostram que “a maioria dos consumidores brasileiros ainda não considera o

grau de responsabilidade social da empresa na hora da compra”. Porém, as mesmas pesquisas

trazem dados estimulantes,

...mostra uma tendência na exigência de práticas socialmente responsáveis entre os consumidores brasileiros, já que 50% dos lideres de opinião, ou se-ja, a parcela da sociedade que influencia o comportamento dos demais se-guimentos prestigiaram ou puniram empresas e 40% das pessoas entrevista-das com maior grau de escola ridade também o fizeram. (ORCHIS, YUNG e MORALES, 2002, p. 62)

2.6 - PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

O que se espera da Responsabilidade Social Corporativa não é caridade. Exige-se que as em-

presas adotem esta prática como uma filosofia e assumam o compromisso com as causas soci-

ais. Ser socialmente responsável não é cumprir apenas com as obrigações. Ser socialmente

responsável é estar comprometido com a construção de uma sociedade mais justa, orientada

pela ética, respeitando a cultura e as necessidades das pessoas. Ser socialmente responsável é,

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ainda, praticar ações com o intuito de complementar as ações insuficientes e precárias dos

nossos governos, responsáveis pelo atual quadro de carências sociais presentes em nossa soci-

edade. Responsabilidade Social, portanto:

...é uma prática moral, orientada pela ética, que vai além das obrigações le-gais e econômicas, rumo às sociais, respeitando-se a cultura e as necessida-des e desejos das pessoas. A responsabilidade social pressupõe consciência e compromisso das empresas com mudanças sociais. Impõe que elas reco-nheçam sua obrigação não só com os acionistas e clientes, mas também com os seres humanos, na busca de uma sociedade mais justa, honesta e solidária - uma sociedade melhor para todos. (Passos, 2004, p. 166)

A efetiva Responsabilidade Social Corporativa, tal como é preconizada, deve contemplar,

pelo menos, quatro dimensões: a pessoal, a social, a política e a econômica, que se inter-

relacionam formando um todo, do qual a sociedade sofre suas conseqüências diretas, sejam

boas, sejam más. De igual modo, a opção pela Responsabilidade Social Corporativa implica

rever a relação entre meios e fins, colocando o ser humano no centro dos objetivos. Implica

assumir a sua responsabilidade pelo poder que possui, além de buscar formas para alcançar o

padrão desejado das condições de vida e de uma sociedade mais justa.

O que se espera da Responsabilidade Social Corporativa, portanto, são ações que transformem

a realidade vivida pela sociedade, estimulando e fomentando o desenvolvimento do indivíduo

e da sua cidadania. Responsabilidade Social compreende ações desenvolvidas para com a so-

ciedade, tratamento adequado aos funcionários e bom relacionamento com os acionistas, cli-

entes e fornecedores, com os stackholders1, enfim. Essas ações exigem periodicidade, método

e sistematização e, principalmente, gerenciamento efetivo. O que se busca é a “auto-

sustentabilidade de grandes e pequenas comunidades” (Neto e Froes. 2001).

1 Todos os que têm algum interesse comum com a organização, tanto os internos quanto os externos.

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2.7 - AÇÕES SOCIAIS E RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

Há diferentes níveis para se analisar a atuação das empresas quanto às ações sociais desenvol-

vidas. Para Neto e Froes (2001) as ações sociais variam entre os níveis da filantropia e da res-

ponsabilidade social. Ações filantrópicas são aquelas desenvolvidas de forma restritas e pon-

tuais. Geralmente, partem dos empresários e não das organizações; são desejos e vontades

individuais. Não necessitam de planejamento, organização, monitoramento, acompanhamento

e avaliação. Tais ações trazem em seu bojo reflexos de benevolência, traduzidas em atos de

caridade. A filantropia é uma simples doação, fruto da maior sensibilidade e consciência soci-

al do empresário. A responsabilidade social é uma ação transformadora. Uma nova forma de

inserção social e uma intervenção direta em busca da solução de problemas sociais.

A filantropia é individualizada, pois a atitude e a ação são do empresário. A responsabilidade social é uma atitude coletiva e compreende ações de em-pregados, diretores e gerentes, fornecedores, acionistas e até mesmo clientes e demais parceiros de uma empresa. É, portanto, uma soma de vontades in-dividuais e reflete um consenso. (NETO e FROES, 2001, p.28)

Já para Corrêa e Medeiros (2003) as ações sociais podem ser desenvolvidas em dois níveis: o

da obrigação social e o da responsabilidade social. Segundo esses autores, essa diferença se dá

nos seguintes termos: a obrigação social corresponde àquilo que a empresa faz pelo social que

está previsto por lei, desde o pagamento de impostos até a utilização de filtros nas chaminés

de fábricas. Ela (a empresa) apenas cumpre (quando cumpre)2 as obrigações impostas pela

legislação à qual esta submetida. Segue-se, desta forma, a lógica do direito privado de propri-

edade defendido por Friedman (apud CORRÊA e MEDEIROS, 2003) segundo a qual o obje-

2 São muitos os casos de empresas flagradas sonegando impostos e a emissão de notas fiscais dos produtos co-mercializados; negando direitos trabalhistas aos seus colaboradores; cometendo crimes ambientais; utilizando-se do chamado “caixa 2”, para a remessa de dinheiro aos “paraísos fiscais”, dentre outros comportamentos anti-éticos de seus administradores

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tivo das empresas é maximizar os lucros, tanto quanto possível. Responsabilidade Social

transcende, portanto, os limites do fazer por obrigação (social).

... a responsabilidade social da empresa deriva de seu poder social; como as decisões empresariais têm conseqüências sociais. Como a empresa é a mai-or potência do mundo contemporâneo, suas decisões não podem ser toma-das unicamente por fatores econômicos, devendo a empresa, obrigatoria-mente, guiar-se por fatores econômicos e sociais, assumindo a sua respon-sabilidade social correspondente. (DAVIS apud COORÊA e MEDEIROS, 2003, p.156)

Friedam (apud ASHLEY, 2000) defende que “a direção corporativa, como agente dos acio-

nistas, não tem o direito de fazer nada que não atenda ao objetivo de maximização dos lucros,

mantidos os limites da lei”. Esta posição é contrária a qualquer ação empresarial que não seja

voltada aos interesses econômicos da própria empresa. Caso contrário, a empresa estará le-

sando seus acionistas; violando seu objetivo de gerar lucro, ao disponibilizar recursos da em-

presa, reduzindo, dessa forma, os lucros e se auto-tributando. Os empresários, portanto, não

têm e nem necessitam de habilidades para conhecer e atingir metas e necessidades sociais.

A empresa está sendo socialmente responsável ao ser lucrativa já que, desta forma, ela é capaz de gerar empregos, pagar salários justos, que colaborem para a melhoria da vida de seus funcionários, e pagar seus impostos em dia, contribuindo par o bem-estar público. (FRIEDAM apud ASHLEY, 2000)

2.8 - O LADO OCULTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

Estudos apontam que a prática da Responsabilidade Social Corporativa ainda possui muitas

contradições.

Tem-se observado, todavia, que por trás do discurso cobertura, que deixa transparecer apenas as boas intenções e as motivações socialmente admissí-veis para esse novo paradigma organizacional, existem outras razões que

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levam as organizações a aderirem ao movimento pelo social, razões essas que nem sempre são assumidas publicamente e, em sua maioria, não são questionadas pelo mundo acadêmico. (SOARES, 2002, p. 3)

Uma das contradições (mais latentes) gira em torno do modo de produção capitalista versus as

demandas e necessidades advindas da sociedade. Para alguns estudiosos, é incompatível o

desenvolvimento das duas vertentes, devido ao sistema no qual as empresas estão inseridas. O

processo produtivo está submetido à lógica do capital que, em sua essência, busca a “mais-

valia”. Desse modo, o conflito capital e trabalho sempre existirá

O capital é um signo do capitalismo, é o emblema dos grupos e classes do-minantes em escalas nacional, regional e mundial. (...) é uma categoria soci-al complexa, com base na produção de mercadoria e lucro, ou mais-valia, o que supõe, todo o tempo, a compra de força de trabalho e sempre envolven-do instituições, padrões socioculturais de vários tipos, em especial os jurídi-co-políticos que constituem as relações de produção. (IANNI apud COR-RÊA e MEDEIROS, 2003, p.171)

Sendo assim, o trabalhador deve pensar e agir para o capital, para a produtividade, sob a apa-

rência da eliminação efetiva do fosso existente entre elaboração e execução do processo de

trabalho. A concepção efetiva dos produtos, a decisão do quê e de como produzir não pertence

aos trabalhadores. Por outro lado, a chamada reestruturação produtiva ou modelo de produ-

ção flexível (ou acumulação flexível) veio contribuir para a intensificação da exploração do

trabalhador; para a “flexibilização” do trabalho, para a fragmentação e complexificação das

classe trabalhadoras e da precarização do trabalho. Trabalho parcial, temporário, terceiriza-

ção, subcontratação, aumento brutal do desemprego (estrutural) bem como desarticulação dos

sindicatos fazem com que mecanismos de defesa do trabalhador se tornem ineficazes e inefi-

cientes. (Corrêa e Medeiros. 2003).

O capitalismo, contudo, vai além de um modelo de produção. Ele é um processo civilizatório.

Suas forças produtivas e as suas relações de produção desenvolvem e mundializam institui-

ções, padrões e valores socioculturais, a forma de ser e pensar das pessoas. E as conseqüên-

cias desse processo de produção/civilizatório é o conflito das referencias sociais, gerando cri-

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ses e conflitos na forma das pessoas enxergarem o mundo. A partir de diversas perspectivas,

as transformações que estão ocorrendo no mundo acabam por manifestar uma ruptura de am-

plas proporções nas vidas das pessoas, com implicações práticas e teóricas.

Em meio a essa turbulência, criada pelo sistema, este mesmo sistema se incumbe de lançar

suas teses que, logicamente, atendam a seus objetivos. Instala-se, desse modo, uma crise de

identidade, agravada pelo processo de mudanças aceleradas e constantes, que vêm desestrutu-

rando as organizações tradicionais da sociedade - a igreja e a família – além dos valores de

condutas pessoais e coletivas (CORRÊA e MEDEIROS, 2003). Tudo isso é reforçado pelos

crescentes poderes político e econômico do capital. Com esse aumento de poder, o capital é

cada vez mais capaz de transformar a tudo e a todos de “maneira a atingir seus objetivos de

acumulação”. Essa dose extra de poder é oriunda do Estado que, como principal gestor da

racionalidade econômica tradicional, delega às empresas uma responsabilidade que é sua,

deslocando o núcleo decisório do Estado para as grandes organizações (NETO e FROES,

2001).

Com base na observação dos princípios que regem o modo de produção capitalista é que se

questiona a utilização da Responsabilidade Social Corporativa. Para alguns, a exemplo de

Thiry-Cherques (2003, p.41) a lógica da utilização da Responsabilidade Social Corporativa

por parte das empresas

...não é a consciência, que não possuem, nem o medo a punições legais, de que se podem defender, que têm levado as empresas a se preocuparem com a responsabilidade social. Os principais fatores que as animam são a busca de uma imagem comercialmente conveniente, a procura de vantagens com-petitivas em ambiente de concorrência incivil, e os reclamos decorrentes dos danos sociais provocados por suas atividades.

Outro lado não revelado é a utilização do conceito de Responsabilidade Social tão-somente

como estratégia de Marketing. A dimensão social do marketing tem sido considerada um im-

perativo para o sucesso de muitos negócios. Sem limites, e até mesmo passando por cima da

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ética, essa estratégia se sobrepõe absoluta no imaginário dos públicos internos e externos.

Não se afirma com isso que todo marketing é imoral e antiético. Contudo, tem-se observado

que ele tem sido usado de maneira indevida por muitos de seus profissionais e organizações

apenas para a obtenção de vantagens competitivas. Nestes casos, busca-se atuar em frentes

que darão maior visibilidade à empresa, como: patrocínios às diversas modalidades de espor-

tes, a atletas, a atividades culturais, manutenção e/ou formação de parcerias com organizações

não-governamentais, dentre outras. A intenção, na verdade, é criar uma imagem de empresa-

cidadã, engajada em grandes causas. Com efeito, o marketing de causa vem-se pautando por

ações pontuais, utilizadas, única e exclusivamente, para alavancar negócios. Tais, não estão

alicerçadas por uma filosofia empresarial, tampouco possuem um programa sério de desen-

volvimento e acompanhamento dos projetos que adotam e/ou desenvolvem. O objetivo fim

não é a causa é a imagem, o lucro, o posicionamento, a liderança de mercado e a obtenção de

vantagens fiscais.

Muitos estudiosos do tema, como Neto e Froes (2001, p. 72-74), condenam a utilização desta

prática como estratégia de marketing.

.... as iniciativas de uma empresa cidadã não devem ser parte da estratégia de marketing ( ..) se é ação social deve ser pautada pela ética. (...) empresas éticas não divulgam suas ações sociais. (...) o marketing deforma a política social das empresas, distorce suas ações, pois a empresa tende a priorizar ações de impacto da mídia, problemas sociais da moda e segmentos popula-cionais, embora não críticos. ...O verdadeiro Marketing Social atua fundamentalmente na comunicação com os funcionários e seus familiares, com ações que visam aumentar com-provadamente o seu bem-estar social e o da comunidade. Essas ações de médio e longo prazos garantem sustentabilidade, cidadania, solidariedade e coesão social. A comunicação dos resultados alcançados por tais ações so-ciais e os ganhos da empresa resultantes da maior visibilidade dessas ações constituem o que denominamos de marketing social ético.

Houve uma citação retirada

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39

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 – MÉTODO

3.1.1 – Quanto ao objetivo

O trabalho foi conduzido através de uma pesquisa exploratória, tendo como objetivo o estabe-

lecimento do seu marco teórico, a fim de possibilitar uma aproximação conceitual, a mais

precisa possível, do tema e de proporcionar maior familiaridade com o assunto em questão.

Visou-se, com isso, tornar os conceitos mais explícitos, mais claros, aprimorando as idéias e

auxiliando na descoberta de intuições que auxiliassem a responder o problema de pesquisa.

3.1.2 – Quanto aos procedimentos técnicos

O delineamento do trabalho valeu-se da pesquisa bibliográfica, cuja a base de dados foi cons-

tituída de publicações periódicas sobre Responsabilidade Social Corporativa, a partir de uma

perspectiva crítica, entre os anos de 1995 e 2004, nas três principais revistas sobre Adminis-

tração do País e nos anais do ENANPAD.

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Foram analisados os seguintes periódicos: Revista de Administração de Empresas (RAE), a

Revista de Administração Contemporânea (RAC) e a Revista de Administração (RAUSP). A

opção por esses periódicos, deveu-se ao seu reconhecimento e credibilidade no meio acadê-

mico como disseminadoras do “estado da arte” em administração.

Buscou-se estudar todos os trabalhos publicados sobre o tema em questão, objetivando captar

o entendimento, as opiniões e as conclusões de cada pesquisador. Nessa perspectiva, a análise

e discussão dos achados permitiu que se chegassem às nossas conclusões e considerações.

A tarefa de criticar algum tema ou apontar aspectos negligenciados, não significa necessaria-

mente ser crítico. Também ser crítico não significa celebrar conhecimentos inscritos em uma

lógica instrumental de cálculo dos meios com relação aos fins ou que melhorem o desempe-

nho econômico da organização. “Os estudos não críticos obedecem ao principio da perfor-

mance que subordina o conhecimento à eficiência, à eficácia e a lucratividade” (DAVEL e

ALCADIPANI, 2003).

O desenvolvimento de uma pesquisa na abordagem crítica não está preocupada com o conhe-

cimento gerado, a fim de melhorar a performance econômica. Está preocupada sim em libertar

as pessoas dos mecanismos opressores, tendo, de fato, o humano como ponto fundamental. Os

estudos críticos “procuram enfatizar, nutrir e promover o potencial da consciência humana

para refletir de maneira crítica sobre as práticas opressivas, facilitando, assim, a extensão dos

níveis de autonomia e responsabilidade das pessoas”. (DAVEL e ALCADIPANI, 2003)

O que se procura com esse trabalho é contribuir com o debate em torno do tema, visando ao

alcance de meios que proporcionem uma melhor condução das políticas e práticas organiza-

cionais, resultando em melhorias das relações capital e trabalho, bem como das relações capi-

tal e sociedade, principalmente da população em seu entorno.

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Num primeiro momento, foram feitas leituras exploratória e seletiva do material produzido na

década 1995/2004. Em seguida, fez-se uma leitura analítica, para identificação das idéias e

conclusões-chave de cada artigo. Posteriormente, idéias e conclusões foram sistematizadas e

hierarquizadas, cronologicamente e por combinação das visões dos autores sobre a temática

objeto do estudo.

A partir das leituras interpretativas, buscou-se responder os objetivos do trabalho, resultando

nas conclusões e considerações.

Ressalte-se que 1997 foi o primeiro ano de publicação da Revista de Administração Contem-

porânea (RAC). Por essa razão, não se têm dados para os anos de 1995 e 1996. O mesmo se

deu com os anais do ENANPAD.

3.2 - ARTIGOS IDENTIFICADOS E PESQUISADOS

São baixos os percentuais de produção sobre o tema, quando se tem por base uma média de

publicações de 300 artigos/ano (em torno de 3.000 trabalhos) em uma década. As tabelas a

seguir trazem uma análise quantitativa dos artigos publicados sobre o tema.

Tabela 3. NÚMERO DE ARTIGOS PUBLICADOS SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.

Ano Periódico

1995

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total

RAE 3 - - - - - - - - - 3 3 RAC 4 * * - - - - - 1 1 - 2 RAUSP - - - - - - - - 1 - 1

3 Incluem- se também a RAE-eletrônica e a RAE-Execultivo. 4 Contempladas as Edições Especiais da RAC. * Nestes dois anos a RAC e os anais ENANPAD ainda não eram publicados.

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ENANPAD * * - - - 2 1 5 8 11 27 Total 0 0 0 0 0 2 1 6 10 14 33 Fonte; Elaborada pela autora.

Tabela 4. ARTIGOS PUBLICADOS RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA A PARTIT DE UMA

ABORDAGEM CRÍTICA.

Ano

Periódico 1995

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total

RAE (2) - - - - - - - - - 2 2 RAC (3) * * - - - - - 1 1 - 2 RAUSP - - - - - - - - 1 - 1 ENANPAD * * - - - 1 - 1 2 3 7 Total 0 0 0 0 0 1 0 2 4 5 12 Fonte: Elaborada pela autora

Tabela 5. NUMERO DE ARTIGOS PUBLICADOS RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA A PAR-

TIR DE OUTRAS ABORDAGENS.

Ano Periódico

1995

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Total

RAE5 - - - - - - - - - 1 1 RAC 6 * - - - - - - - - - 0 RAUSP - - - - - - - - - - 0 ENANPAD * - - - - 1 1 4 6 8 20 Total 0 0 0 0 0 1 1 4 6 9 21 Fonte: Elaborada pela autora

5 Incluem- se também a RAE-eletrônica e a RAE-Execultivo. 6 Contempladas as Edições Especiais da RAC. * Nestes dois anos a RAC e os anais ENANPAD ainda não eram editados.

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3.3 – DISCRIMINAÇÃO DOS ARTIGOS ESTUDADOS

Tabela 6. PUBLICAÇÕES POR PERIÓDICO, TITULO, AUTOR E ANO, A PARTIR DE UMA ABORDAGEM

CRÍTICA.

Nº PERÍODICO TITULO DO ARTIGO AUTORES ANO

01

Resp. Social Corporativa: Por uma Boa Causa!?

SOARES , Gianna Maria de Paula

02 RAE (RAE-eletrônica)

Resp. Social Corporativa: Limites e Possibilidades SCHROEDER, Jocimari Tres e SCHROE-DER, Ivanir.

2004

03 RAC Gestão Estrat. Com Resp. Social: Arcabouço Analit. p/ Auxiliar sua ...

COUTINHO, Renata B. Goulart e SOA-RES, T. Diana L. v. A. Macedo.

2002

04 RAC (Ed. Especial)

Resp. Moral e Identidade Empresarial

THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto

05

RAUSP Dimensões da Resp. Social da empresa: uma abordagem desenvolvida a partir da visão de Bowen.

ALVES, Elvisney Aparecido.

2003

06 Resp. Social Corp. e Cidadania Empresarial: uma

análise conceitual ... ASHLEY, Patrícia A., COUTINHO, Renata e TOMEI, Patricia A.

2000

07 Resp. Social nas Empresas: uma Questão de Imagem ou de Substância?

MENDONÇA, J. Ricardo C. de e GON-ÇALVES, Julio César de Santana.

2002

08 Resp. Social das Empresas sob a Óptica do “Novo Espírito do Capitalismo”.

VENTURA, Elvira Cruvinel Ferreira

09 Resp. Social da Empresa e Business Ethics: uma Relação Necessária?

PENA, Roberto Oatrus Mundim.

2003

10 Indicadores de Sustentabilidade: uma analise comparativa.

STROBEL, Juliana S. , CORAL, Elisa e SELIG, Paulo M..

11 Resp. Social Empres.: Estudo Teórico-Emprírico à Luz dos Instrumentos Ethos.

XAVIER, André Moura e SOUZA, Wa-shinton de Souza.

12

ENANPAD

A Ética nas Relações entre Empresas e Sociedade: Fund. Teor. da Resp. Soc. ...

KREITLON, Maria Priscilla.

2004

Fonte: Elaborada pela autora.

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Tabela 7. PUBLICAÇÕES POR PERIÓDICO, TITULO, AUTOR E ANO, A PARTIT DE OUTRAS ABORDA-

GEM.

Nº PERÍODICO TITULO DO ARTIGO AUTORES ANO

01 RAE A Cidadania Corporativa Como uma Orientação de Marketing: um estudo ...

REZENDE, Marcelo de e LARA, José Edson.

2004

02 Resp. Social: Aspectos Menos Visíveis de um Caso de Sucesso

CORREA, Stela Cristina Hott e FER-REIRA, Armando Leite.

2000

03 Resp. Social nas Grandes Empresas da Região de Londrina

ALIGLERI, Lílian Mara e BORINELLI, Benilson

2001

04 Desenv. da Dimensão Comun. da Resp. Social das Organizações: um estudo ...

ZOUAIN,Deborah Moraes e SAUER-BRONN, Fernanda Filgueiras.

05 Resp. Social: uma Abordagem p/ o Densenv. Social. O caso da CVRD

MACHADO, Adriana Leite Costa Silva e LAGE, Allene Carvalho.

06 Resp. Social Empres. e Comprom. Organiz.: uma Relação Possível?

FOSSÁ, Maria Ibvete Trevisan e SAR-TORETTO, Paola Madrid.

07 Apontamentos sobre Ação Social nas M.e G. Emp. de Maringá: Resp. Social?

FERREIRA, Maria Regina e PASSA-DOR, Claudia Souza.

2002

08 A Resp. Social na Gerênc. De Prod.: Percepções, Políticas e Perspectivas ...

ALIGLERI, Lílian et al.

09 Valores Organizacionais na Gestão com Responsa-bilidade Socioambiental.

MANCINI, Sergio et al.

10 Recuperação de Crédito c/ Resp. Social: um Est. dos Valores e Atitudes dos Gest.

OLIVEIRA, Alenir Alves, e TEIXEIRA, Maria Luiza Mendes.

11 Resp. Social: um Estudo Explor. Sobre o Proc. De Decissão das Inst Mantidas ...

NOGUEIRA, Carlos Eduardo de Araújo e CHAUVEL, Marie Agnes.

12 A Pratica de Resp. Social e a Inclusão da Pessoa Portadora de Deficiência.

BATISTA, Cristina Abranches Mota .

13 Resp. Legal, Resp. Social e Comprom. Social: uma Questão de Autoridade?

CURADO, Isabela Baleeiro.

2003

14 Caract. De Perfis de Empres. Quanto à Adoção de Prát. De Resp. Social.

PINTO, Marcelo Rezende, PERREIRA, Danielle Ramos M. e LARA, José Edson

15 Invest. Espontâneo ou Compulsórios: Qual deles Faz a Diferença na Resp. ...

PINTO, Éder Paschoal e MACHADO, César.

16 Resp. Social sob a Persp. de Sustent.: o Médio Vale do Paraíba e os Resíduos...

ASSAD, Marta Maria Nogueira.

17 A Resp. Social Empres. e a Precar. da Qualid. de Vida no Trabalho de uma ...

GUIMARÃES, Daniela Cristina.

18 Resp. Social Empres.: uma Análise na Indust. Refinadora de Cera de Carnaúba.

SILVA, Joysinett Moraes da, MATOS, Fátima R. N. e PICCININI, Valmiria C..

19 A Import. Da Resp. Social na Fidelização dos Clientes: uma invest. ...

VOLPON, Claudia Torres e CRUZ, Eduardo Picando.

20 A Influência da Resp. Social nas Decisões de Compra de Prod. De Conv..

OLIVEIRA, Bráulio C. de, GOUVEA, Mª Aparecida e GUAGLIARDI, José A.

21

ENANPAD

Institucionalização de Práticas Sociais: uma Análi-se da Resp. Social Empres. ...

VENTURA, Elvira Cruvinel Ferreira e VIEIRA, Marcelo Milano Falcão.

2004

Fonte: Elaborada pela autora

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Tabela 8. RELAÇÃO ENTRE ARTIGOS ANALISADOS E PRINCIPAIS LEVANTAMENTOS CRÍTICOS.

Artigos Princ. Críticas

A7

B8

C9

D10

E11

F12

G13

H14

I15

J16

K17

L18

01

Os indicadores de sustentabilidade não possuem equilíbrio entre os pilares da RSC, o econômico, o social e o ambiental.

X

02 Ineficácia dos indicadores para mensuração e avaliação.

X X

03

Falta de definição clara do conceito de RSC. Processo em maturação e insuficiente socialização das experi-ências.

X X X X X

04

Conceito e/ou Teoria de fundamen-tação confusa e/ou contraditória.

X X X X

05

Conflito entre os preceitos da RSC e o modo de produção inerente a economia neoclássica que prioriza o capital.

X X X X

06

Discursos “não-ditos” onde se esconde a manipulação de interes-ses.

X X

07

Ampliação do poder das organiza-ções frente ao estado. Influenciando e/ou controlando a vida da socieda-de através de ações públicas e políticas.

X

08

RSC utilizada de forma inadequada, através de investimentos ou ações isoladas.

X X X

09

Falta de comprometimento e de conscientização, além da individua-lização do problema por parte daqueles que são os agentes morais das organizações, os humanos.

X

10

Utilização da RSC a fim de susten-tar os interesses organizacionais. Utilização indevida de problemas de natureza pública e política.

X

Fonte: Elaborada pela autora

7 Responsabilidade Social Corporativa e Cidadania Empresarial: Uma análise conceitual comparativa. ASHLEY, Patrícia A., COUTINHO, Renata e TOMEI, Patricia A, 2000. 8 Responsabilidade Social Corporativa: Por uma boa causa!? SOARES , Gianna Maria de Paula, 2004. 9 Responsabilidade Social corporativa: Limites e Possibilidades. SCHROEDER, Jocimari Tres e SCHROEDER, Ivanir., 2004. 10 Gestão Estratégica com Responsabilidade Social: Arcabouço Analítico para Auxiliar sua implantação em Empresas no Brasil. COUTI-NHO, Renata B. Goulart e SOARES, T. Diana L. v. A. Macedo, 2002. 11 Responsabilidade Moral e Identidade Empresarial. THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto, 2003. 12 Dimensões da responsabilidade social da empresa: uma abordagem desenvolvida a partir da visão de Bowen. ALVES, Elvisney Apareci-do, 2003. 13 A Ética nas Relações entre Empresas e Sociedade: Fundamentos Teóricos da Responsabilidade Social Empresarial. KREITLON, Maria Priscilla, 2004. 14 Responsabilidade Social Empresarial: Estudo Teórico-Empírico à Luz dos Instrumentos Ethos. XAVIER, André Moura e SOUZA, Wa-shinton de Souza, 2004. 15 Indicadores de Sustentabilidade: uma analise comparativa. STROBEL, Juliana S. , CORAL, Elisa e SELIG, Paulo M.. 2004. 16 Responsabilidade Social das Empresas sob a Óptica do "Novo Espírito do Capitalismo”. VENTURA, Elvira Cruvinel Ferreira, 2003. 17 Responsabilidade Social da Empresa e Business Ethics: uma Relação Necessária? PENA, Roberto Oatrus Mundim, 2003. 18 Responsabilidade Social nas Empresas: uma questão de imagem ou substancia? MENDONÇA, J. Ricardo C. de e GONÇALVES, Julio César de Santana, 2002.

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4. ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Responsabilidade Social Corporativa, atualmente, é tema recorrente mas, não por isso menos

polêmico. Nem mesmo as pesquisas empíricas dão conta de responder, concretamente, por

exemplos, às seguintes indagações: até que ponto os dados publicados nos balanços sociais

das empresas são críveis? como se processam as relações de trabalho no interior das organiza-

ções? como está a ambiência organizacional? que vetor da ética impulsiona a responsabilida-

de social da organização? os valores professados revertem-se em comportamentos e atitudes

praticados? como mensurar comportamentos considerados éticos? o que assegura que a exis-

tência de um código de ética moldará os comportamentos éticos exigidos?

Parte-se da premissa que o marketing social deve ser o reflexo da personalidade da empresa.

Sendo assim, o trabalho objetivou achar respostas fundamentadas nos últimos dez anos de

produção cientìfica sobre Responsabilidade Social:

a) as práticas organizacionais voltados para o social evoluíram? o que evolui e como evo-

luíram?

a.1) os estudos revelam que o interesse pelo social tem encontrado espaço em diferentes seg-

mentos da sociedade. Já se pode verificar empresas e grupos voluntários desenvolvendo pro-

gramas que objetivem a promoção de causas, idéias ou comportamentos que poderão trazer

benefícios para grupos sociais específicos.

a.2) aumenta o interesse nessa linha de pesquisa. Até 1999, não se identificou nas fontes esco-

lhidas como base para o trabalho nenhum publicação relacionada com a temática em questão.

A partir do ano 2000, começam a aparecer os primeiros estudos, com uma publicação nos

anais da ENANPAD. Em 2004 esse número chegou a 14, sendo 11 também da ENANPAD.

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Valores expressos em quantidade

Ao todo, de 2000 a 2004, foram publicados 32 artigos, o equivalente a um crescimento de

3200% neste período (Fig.8).

Figura 1. PUBLICAÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.

1995 1996 1997 1998 1999 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4

RAE

RAC

R A U S P

E N A N P A D

Fon-

te: Elaborado pela autora.

Neste ponto, cabe perguntar: o desenvolvimento de projetos de caráter social reflete uma to-

mada de consciência das organizações, onde a busca do lucro não é mais priorizado em detri-

mento da preservação dos direitos dos indivíduos de desfrutar de um estado de bem-estar? Ou

as empresas que tomaram essas iniciativas estão se sentindo pressionadas pela própria socie-

dade? Esse é o ponto de interrogação que os estudos não aprofundam, até porque decifrar o

simbólico das relações, não é tarefa muito fácil. Parece, contudo, que a dimensão do societal

do marketing19 ainda não foi incorporada à filosofia das empresas. As organizações ainda não

se sensibilizaram que, ao contribuírem para o desenvolvimento das sociedades, estariam pro-

porcionando melhores condições socioeconômicas, que ensejariam um melhor poder aquisiti-

vo, fator determinante na engrenagem do mercado.

a.3) aumentaram o grau de consciência e o nível de cobrança da própria sociedade, exigindo

que as empresas cumpram seu papel social, seja através de leis que regulem as

19 Esta dimensão prescreve como tarefa da organização atender aos interesses e desejos dos consumidores e da sociedade como um todo.

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Valores expressos em quantidade

atividades de uma indústria, de forma a atender aos interesses e bem-estar das pessoas, seja

através da exigência do cumprimento dos códigos de defesa do consumidor, da preservação

ambiental, dentre outras.

b) as ações praticadas em nome da Responsabilidade Social são congruentes com os con-

ceitos apregoados na literatura? São coerentes com os comportamentos éticos esperados

de uma organização socialmente responsável?

b.1) o levantamento percentual de artigos que possuem uma abordagem crítica é expressivo

no universo dos artigos publicados. Em um universo dos 33 artigos publicados no período

compreendido entre 1995-200420, 36,5% possuem uma abordagem crítica do tema (Fig. 9).

Figura 2. ARTIGOS COM VISÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL COR-

PORATIVA.

1995 1996 1997 1998 1999 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4

RAE

RAC

R A U S P

E N A N P A D

Fon-

te: Elaborado pela autora.

20 Entre 1995/99 nenhum artigo sobre Responsabilidade Social Corporativa foi publicado. A primeira publicação aparece em 2000, com uma visão crítica, apresentada pela ANANPAD

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49

Figura 3. ABORDAGENS CRÍTICAS FRENTE ÀS DEMAIS (%).

63%

37%

Abordagemcrítica

Outrasabordagens

b.1) analisando-se os balanços sociais publicados por algumas organizações verifica-se que a

ênfase é dada às realizações de caráter filantrópico e de caracteres legais e econômicos. Tais,

levam-nos a inferir que o objetivo primordial é fazer aquilo que pode ser mostrado, que dê

visibilidade à empresa, que lhe permita apresentar-se à sociedade como entidade engajada e

consciente de suas responsabilidades e obrigações – marketing de imagem.

b.2) a principal crítica dos autores à Responsabilidade Social Corporativa refere-se aos mode-

los de produção e organização do trabalho.Argumentam os pesquisadores que em um modelo

de acumulação flexível, em que a preocupação fundamental é a busca incessante por maiores

lucros, não haveria espaço para uma atuação ética e socialmente responsável. Nessa corrida

intercapitalista, as organizações acabam desconhecendo as necessidades sociais e os impactos

ambientais, atropelando, mesmo até, os limites da ética e da moral.

b.3) há críticas contundentes, também, à efetiva prática da Responsabilidade Social Corpora-

tiva, justificada pelo aumento de poder que esta confere às chamadas “empresas-cidadãs” que

passam a controlar dimensões das vidas psíquica e social dos indivíduos além dos muros or-

ganizacionais.

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50

b.4) outros pontos críticos levantados:

b.4.1) as pressões de mercado forçam seus dirigentes a irem de encontro a seus princípios;

b.4.2) comportamentos éticos inadequados dos responsáveis pela implantação das ações de

cunho social;

b.4.3) clima organizacional desfavorável à prática da Responsabilidade Social Corporativa;

b.4.4) pouca clareza quanto ao conceito e a prática da Responsabilidade Social Corporativa,

impossibilitando o estabelecimento de um paralelo entre teoria e prática e, por conseguinte,

uma melhor mensuração e avaliação da sua efetividade;

c) o que motivaria a prática da Responsabilidade Social Corporativa?

c.1) para alguns estudiosos, ainda são os retornos advindos da utilização deste conceito, mes-

mo que em bases questionáveis. Como estratégia de marketing, os achados apontam que seus

resultados asseguram interessantes retornos, no curto e, principalmente, no longo prazos, haja

vista que tal lhes proporciona:

c.1.1) maiores prestígio, credibilidade e visibilidade perante seus “stackholders”21

c.1.2) substancial melhoria de imagem institucional, intra e extra muros organizacionais;

c.1.3) comprometimento dos empregados com a organização;

c.1.4) recebimento de incentivos fiscais;

c.1.5) manutenção e/ou ampliação de seus mercados;

21 “stackeholder” – todos os que , direta ou indiretamente, dependem ou são afetados pela organização: clientes, fornecedores, distribuido-res, funcionários, ex-funcionários, acionistas e a comunidade em geral.

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51

c.1.6) criação de um clima organizacional favorável à implantação de outros programas que

visem ao alcance dos objetivos organizacionais;

c.1.7) obtenção de maior credibilidade para auferir certificações nas ISO e BS.

Entre os caminhos e descaminhos da Ética e da Responsabilidade Social ainda há um fosso

muito extenso a ser fechado. Enquanto as desigualdades e demandas sociais se avolumam,

não são poucos os noticiários mostrando empresas, ditas ética e socialmente responsáveis,

envolvidas em escândalos, das mais variadas formas: sonegação de impostos; manutenção de

contabilidades paralelas “caixa 2”; contrabandeando mercadorias; vendendo sem a emissão da

nota fiscal correspondente, para evitar pagar um imposto que já está embutido no preço; pa-

gamento de subornos, propinas para auferir vantagens, frente à concorrência... Também não

são raras as notícias dos impactos causados ao meio ambiente, pela pouca preocupação com a

segurança dos processos e das pessoas. Também não é rara a sonegação de direitos trabalhis-

tas. Acrescem-se, ainda, os constantes embates travados entre sindicatos patronais e operários,

objetivando, cada um por seu lado, ganhar um pouco mais. Em muitos casos, os dissídios têm

que ser ajuizados, mediados, para se chegar a termo. Por outro lado, as estatísticas sobre aci-

dentes de trabalho também não param de crescer (ou não regridem). Pesquisas mostram que

...cerca de 14,8 mil pessoas perdem a vida no Brasil por ano por causa de acidentes no trabalho. A estimativa coloca o País com um dos maiores índi-ces de mortes no trabalho do mundo em um relatório recém-divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Segundo a entidade, as mor-tes por causa de acidentes de trabalho ou doenças geradas no ambiente pro-fissional chegam a 2,2 milhões por ano em todo o mundo. Por dia, isso re-presenta a morte de 5 mil trabalhadores. (Jornalismo poços-net)

Então:

1º) se para uma empresa ser considerada socialmente responsável deve atuar em quatro linhas

de ação: (a) no nível social – papel, presença e efeito da organização na sociedade; (b) no

nível do “stackeholder” – obrigações das organizações em relação a todos os que delas de-

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pendem ou são por ela afetados; (c) no nível da política interna da empresa – relações da

empresa com seus empregados e (d) no nível individual – relações interpessoais; a maneira

com as pessoas se devem tratar;

2º) se o coração da sustentabilidade deve-se apoiar em três grandes pilares: a) desenvolvimen-

to social, b) responsabilidade ambiental e c) viabilidade

3º) se a efetiva Responsabilidade Social implica: (a) a adoção de valores e trabalho com

transparência; (b) a valorização de seus colaboradores; (c) a adoção de medidas de prevenção

dos impactos ambientais, fazendo sempre mais pelo meio ambiente; (d) o envolvimento dos

parceiros e fornecedores no negócio; (e) a proteção dos clientes e consumidores; (f) a promo-

ção do bem-estar da comunidade (g) o comprometimento com o bem-comum,

Pode-se dizer que as Organizações estão sendo socialmente responsáveis:

a) quando subtraem ou sonegam do erário o dinheiro que deveria financiar as políticas públi-

cas, tão necessárias à redução dos índices de pobreza e das desigualdades sociais?

b) quando descuidam da segurança ambiental e pessoal de seus colaboradores, com conse-

qüências danosas à fauna e à flora, à qualidade de vida dos trabalhadores e aos cofres públi-

cos, que têm que arcar com os elevados custos dos acidentes de trabalho?

c) quando estão sempre litigando para conceder direitos trabalhistas, muitas vezes, sonegados

e só concedidos através da justiça?

d) quando, à primeira ameaça de redução da demanda por seus produtos ou do lucro, acenam

com a demissão em massa?

e) quando utilizam “tráfico de influência” ou fazem “loby” para auferir vantagens?

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f) quando apenas professa a doutrina do interesse do acionista22, em detrimento das demais

partes envolvidas ou impactadas no/pelo negócio?

g) quando o consumidor precisa de códigos e leis que o defenda?

Se a efetiva cidadania empresarial pressupõe acionar os vetores da Responsabilidade Social,

de forma ética e transparente, então pode-se afirmar que, a despeito das certificações, dos

códigos de ética, do aparecimento na mídia como “empresas-cidadãs”, “socialmente respon-

sáveis” e de outros rótulos que lhes são atribuídos, ainda não se pratica a responsabilidade

social, conforme preceitua a literatura a respeito. Há, isso sim, uma necessidade e uma corrida

incessantes das empresas em apresentar-se para seus consumidores como social e eticamente

corretas. São apenas estratégias de marketing, medidas de superfície, com ações pontuais nos

campos que lhes proporcionam maior visibilidade e, consequentemente, maior competitivida-

de e maiores lucros. Dir-se-ia que se trata de uma responsabilidade social capenga, com uma

visão míope dos problemas que afetam à sociedade e que, por via de conseqüência, afetarão os

negócios no longo prazo.

22 Esta corrente (representada por Milton Friedman – economista da Universidade de Chicago) defende que a empresa tem obrigações uni-camente com seus acionistas. Não cabe à empresa resolver problemas sociais. Deve-se concentrar naquilo que é fundamental para as empre-sas: fazer dinheiro (Maximiano.2004). Contrapondo esta, a doutrina da responsabilidade social defende que: as empresas existem com autorização da sociedade, utilizam recursos da sociedade e afetam a qualidade de vida da sociedade; é justo que as empresas tenham respon-sabilidades em relação à sociedade. O maior defensor dessa doutrina foi Andrew Carnegie – fundador da U.S.Stel

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5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES

Não se espera que as organizações solucionem os problemas da humanidade. Seríamos ingê-

nuos, se assim pensássemos. Espera-se que atuem de forma a prover melhores condições de

vida para as comunidades em seu entorno e, por extensão, para a sociedade. Como bem afir-

ma Drucker (2002), “o centro de uma sociedade, economia e comunidades modernas não é

tecnologia, não é informação, não é produtividade. É a instituição administrada como órgão

da sociedade que produz resultados”. Utopia? Os achados revelam uma tendência, uma pre-

disposição do empresariado em trilhar esse caminho, muito mais pelo clamor da sociedade,

por imposição de leis e códigos de defesa e muito menos pela ética da convicção. Ainda se

percebe um tipo de “‘organização em dois tempos’ onde as fronteiras entre o ‘social’ e o ‘ca-

pital’ chocam-se, fundem-se e misturam-se, evidenciando as contradições entre a vivência, o

discurso e a prática” (SANTOS, 1996). Premidas, por um lado, pela necessidade de arcar com

suas responsabilidades perante a sociedade e, por outro, pressionadas pelos donos do capital,

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que buscam, desmedidamente, a maior remuneração possível de seus investimentos, lançar

mão dessas estratégias, tem sido a via encontrada. Para tanto, palavras como qualidade, com-

petividade e produtividade soam como refrão, no interior das organizações. Nesse afã por

maior produtividade, mais competividade, todos os meios são válidos. Desse modo, afigura-se

a “lógica da ambição pessoal, do individualismo, em detrimento da cooperação”. Ou seja, “ ao

invés da colaboração, instala-se uma competição latente e destrutiva, entre empresas, entre

unidades de negócios de uma mesma empresa e entre pessoas e grupos de trabalho, onde o

‘eu’ é mais importante do que o ‘nós’ .” (SANTOS, 1996)

Como bem afirmou Enriquez (apud SANTOS, 1996, p.205):

...a sensação que se tem é que se está num mundo intransitivo, da perfor-mance pela performance, onde a figura do ganhador é o sujeito central da cena. Ganha-se por ganhar, não importa o quê. Essa é a vertente da socieda-de Pós-Moderna: a perda do sentido, do significado das coisas.

Repetindo Luttwak (apud SANTOS, 1996) “é preciso, portanto, abandonar o senso de inevi-

tabilidade do turbocapitalismo23 e repensar a dinâmica econômica. (...) Talvez estejamos na-

quela hora singela que se oferece raramente aos povos, de parar e pensar o que fazer de um

país”.

Os estudos apontam que a Responsabilidade Social Corporativa poderá, um dia, de alguma

forma, trazer uma real melhoria de vida às sociedades, sobretudo àquelas mais necessitadas,

desde que incorporada como uma filosofia empresarial, como um valor que se traduz em

comportamentos esperados de toda a Organização. De igual modo, faz-se necessária uma re-

visão de seus conceitos e práticas. Mais estudos críticos precisam ser realizados, estimulando

debates em torno da sua relevância, não só como estratégia que beneficia às organizações

mas, principalmente, como ação transformadora de uma realidade social, que urge por melho-

23 Luttwak, E.N. cientista político e historiador, conceitua turbocapitalismo como o atual grau de livre comércio e competição em que nos encontramos nesta fase do capitalismo”. Veja. N.24.14/jun/1995

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res condições de vida. Precisa-se “tocar na ferida”, rever as práticas e buscar seu aperfeiçoa-

mento. No estágio atual, ainda caminhamos, quando não lentamente, com o “‘sentimento de

estar subindo uma escada rolante que desce’” (PAGÈS apud SANTOS, 1996).

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