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183 RIDEP · Nº20 · Vol. 2 · 2005 Bem-Estar e Psicologia: Conceitos e Propostas de Avaliação Well-Being and Psychology: Concepts and Assessment Proposals ROSA FERREIRA NOVO 1 INTRODUÇÃO Inserido num movimento mais amplo, com raízes no humanismo e no construtivismo, o domínio designado de Psicologia Positiva veio a congre- gar tópicos de estudo e de investiga- ção muito diversos, como a responsa- bilidade, a competência, a sabedoria, a criatividade, a esperança, o optimis- mo, a autenticidade, a compaixão e o bem-estar, entre outros. Estes concei- tos têm despertado um crescente e renovado interesse na ciência psicoló- gica e fora dela. Alvo de atenção por parte de filó- sofos e pensadores durante séculos, o Bem-Estar (BE) veio, sobretudo a partir da última década do séc. XX (Fernández-Ballesteros, 2003), a ser reconhecido como tópico de impor- tância científica, ao nível da investi- gação fundamental e da intervenção social e clínica (ver revisão de litera- tura de Ryan & Deci, 2001). Também ao nível social, a centralidade do BE é denunciada pela sua omnipresença nos discursos quotidianos. Embora de modos diferentes, o tema interessa a todos cidadãos comuns e também aos governantes que tomam os indicado- res de satisfação e felicidade como sinais para avaliar os efeitos das suas políticas. Neste âmbito, o interesse pelo tema não está propriamente liga- do às virtudes humanas que condicio- 1. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Lisboa - PORTUGAL Correspondência relativa a este artigo deve ser dirigida para [email protected] Este trabalho é uma versão do texto apresentado na conferência proferida em 2 de Julho de 2005 no V Congreso Iberoamericano de Evaluación Psicológica realizado em Buenos Aires (Argentina) e foi realizado com o apoio do Centro de Psicometria e de Psicologia da Educação da Universidade de Lisboa (Portugal), Unidade I & D da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.

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Bem-Estar e Psicologia: Conceitos e Propostas de Avaliação

Well-Being and Psychology: Concepts and Assessment Proposals

ROSA FERREIRA NOVO1

INTRODUÇÃO

Inserido num movimento maisamplo, com raízes no humanismo e noconstrutivismo, o domínio designadode Psicologia Positiva veio a congre-gar tópicos de estudo e de investiga-ção muito diversos, como a responsa-bilidade, a competência, a sabedoria,a criatividade, a esperança, o optimis-mo, a autenticidade, a compaixão e obem-estar, entre outros. Estes concei-tos têm despertado um crescente erenovado interesse na ciência psicoló-gica e fora dela.

Alvo de atenção por parte de filó-sofos e pensadores durante séculos, oBem-Estar (BE) veio, sobretudo a

partir da última década do séc. XX(Fernández-Ballesteros, 2003), a serreconhecido como tópico de impor-tância científica, ao nível da investi-gação fundamental e da intervençãosocial e clínica (ver revisão de litera-tura de Ryan & Deci, 2001). Tambémao nível social, a centralidade do BE édenunciada pela sua omnipresençanos discursos quotidianos. Embora demodos diferentes, o tema interessa atodos cidadãos comuns e também aosgovernantes que tomam os indicado-res de satisfação e felicidade comosinais para avaliar os efeitos das suaspolíticas. Neste âmbito, o interessepelo tema não está propriamente liga-do às virtudes humanas que condicio-

1. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação. Universidade de Lisboa - PORTUGALCorrespondência relativa a este artigo deve ser dirigida para [email protected] Este trabalho é uma versão do texto apresentado na conferência proferida em 2 de Julho de 2005 noV Congreso Iberoamericano de Evaluación Psicológica realizado em Buenos Aires (Argentina) e foirealizado com o apoio do Centro de Psicometria e de Psicologia da Educação da Universidade deLisboa (Portugal), Unidade I & D da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do Ministério daCiência, Tecnologia e Ensino Superior.

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nam a felicidade, vertente mais explo-rada pela filosofia, mas sobretudo àfelicidade material e ao bem-estar queresulta da satisfação de necessidadesindividuais.

Há quase dois séculos, na obraDemocracy in América, AlexisTocqueville (1805-1859), político earistocrata francês, referia-se à impor-tância que nas sociedades democráti-cas emergentes se atribuía à procurado bem-estar material. Já, então, sereconhecia que a procura de satisfa-ção das mais ínfimas necessidades docorpo e de obtenção das mais peque-nas conveniências da vida se inscrevianuma dinâmica de satisfação imediataque podia comprometer o bem-estartão ambicionado. Isto porque, em últi-ma análise, seria a ética subjacente àgratificação diferida das necessidadeshumanas, ao envolvimento em esfor-ços construtivos, determinados e per-sistentes que poderia conduzir à pros-peridade e à felicidade e essa ética nãoestaria ligada, pelo menos predomi-nantemente, à dimensão material e àsatisfação imediata. A investigaçãotem vindo a confirmar (ver Ryan eDeci, 2001) que quanto maior a cen-tração em objectivos materiais menoro bem-estar; pelo contrário, o desen-volvimento e a implicação em objecti-vos mais intrínsecos e persistentesestão mais associados à felicidade.

Estas duas faces da felicidade, acentrada nas virtudes do ser e outraorientada para a satisfação do ter, rela-cionam-se com as perspectivas teóri-

cas dominantes em torno do Bem-Estar (BE) no âmbito da psicologia.Uma designada de BE Subjectivo eque se centra, numa perspectiva hedó-nica, na identificação do nível de feli-cidade e de satisfação dos indivíduose procura identificar as condiçõessócio-demográficas, políticas e cultu-rais que lhes estão associadas. Outradesignada de BE Psicológico, enraiza-da no pensamento clássico desenvol-vido por Aristóteles relativamente àeudaimonia ou felicidade entendidacomo ‘a actividade da alma dirigidapela virtude’ e orientada para a perfei-ção e para a realização pessoal do dai-mon ou verdadeiro self. Esta perspec-tiva de bem-estar insere-se na procurado desenvolvimento do ser e na éticasubjacente à procura de gratificaçãodiferida. O modelo de BE Social ins-creve-se também neste modelo daeudaimonia e do desenvolvimentodos indivíduos enquanto seres sociais,com responsabilidades a assumir,tarefas a cumprir e com direitosessenciais a fruir.

Neste trabalho, serão apresentadosestes três conceitos, os instrumentospropostos para os avaliar e os resulta-dos de alguns estudos que permitemconhecer a expressão do Bem-Estaratravés de indicadores sócio-demo-gráficos. Porque estes conceitos seoferecem como úteis, se não funda-mentais, na compreensão e promoçãoda saúde mental, iremos questionar otipo de medidas tradicionalmente usa-das na avaliação do BE.

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Bem-Estar: um conceito com diferentes faces

Bem-Estar Subjectivo

Este construto, desenvolvido a partirde uma ampla base empírica construídapaulatinamente a partir da década de 60do século passado (Bradburn, 1969;Diener, 1999), foca a perspectiva indi-vidual e subjectiva do bem-estar privi-legiando a vertente emocional. A felici-dade, tal como é valorizada e vivida emcada época e por cada pessoa, é consi-derada como uma motivação funda-mental da vida humana e como critérioinquestionável de Bem-Estar. Assentenestes princípios e no valor e alcancede hipóteses e resultados dos inúmerosestudos empreendidos, o modelo do BESubjectivo veio a afirmar-se com umaproposta que visa, fundamentalmente,considerar a avaliação que as pessoasfazem das suas vidas, tendo como refe-rente as suas experiências emocionais,positivas e negativas, e tendo por basevalores, necessidades, expectativas ecrenças pessoais. Deste modo, aSatisfação com a Vida e a Felicidade(Diener, 2000) tornaram-se os indica-dores específicos da experiência sub-jectiva de BE.

Bem-Estar Psicológico

Com a ambição de representar o BEde modo abrangente, do ponto de vistadas dimensões psicológicas visadas, etradutor de um desenvolvimento normal

e positivo, este construto foi propostono final dos anos 80 do século XX, noquadro de um modelo teórico funda-mentado em conceitos originários dapsicologia do desenvolvimento, da psi-cologia clínica e na saúde mental (Ryff,1989a). A procura de linhas de conver-gência das diferentes fontes e propostasclássicas conduziu à identificação deum conjunto de seis dimensões conside-radas nucleares do desenvolvimento eda expressão da normalidade e do bem-estar, a saber: Aceitação de Si, RelaçõesPositivas com os Outros, Domínio doMeio, Crescimento Pessoal, Objectivosna Vida e Autonomia. O BE Psicológicosurge assim como um conceito que tra-duz o resultado de um desenvolvimentoe funcionamento positivos neste con-junto de dimensões que abrangem aárea da percepção pessoal e interpesso-al, a apreciação do passado, o envolvi-mento no presente e a mobilização parao futuro, assumindo um carácter amploe representativo do funcionamento psi-cológico positivo ao nível privado. Osentido de felicidade, neste modelo,ultrapassa a ideia de que ela é um fimem si mesma ou constitui um objectivode vida, para ser considerada como pro-duto do desenvolvimento e da realiza-ção da pessoa humana (Ryff, 1989b)recuperando, assim, o sentido aristotéli-co de felicidade.

Bem-Estar Social

Numa mesma moldura epistemoló-gica e com objectivos complementares

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ao modelo de BE Psicológico, veiouma década depois a ser proposto porC. Keyes (1998) o construto de BESocial. Este partilha com o seu ante-cessor o propósito de caracterizar ofuncionamento positivo, desta vez,não ao nível privado e pessoal, mas aonível da relação do indivíduo com odomínio público e social, captando apercepção sobre as relações que osindivíduos estabelecem uns com osoutros, com o funcionamento social ecom o ambiente. Apesar de incorporarcontributos e conceitos da sociologiaclássica (e.g., anomia e alienação), oconstruto de BE Social vai além delese pretende representar pela positiva aexperiência subjectiva de bem-estar navertente da satisfação das pessoas nassuas relações com o meio social e nodesempenho das suas tarefas sociais(e.g., como cidadãos, trabalhadores ouvizinhos). É assim que o modelo ela-borado por Keyes (idem) propõe ascinco dimensões que considera essen-ciais para identificar a satisfaçãosocial, designadamente: IntegraçãoSocial, Contribuição Social,Coerência Social, Aceitação Social eRealização Social. Estas dimensõesrepresentam os desafios que os indiví-duos encontram como seres sociais, narelação com as estruturas comunitáriase societais e constituem áreas de refe-rência para caracterizar a variabilidadeinterindividual no domínio do BESocial, bem como para intervir aonível da prevenção e da promoção emmatéria de saúde ‘social’.

Poderemos considerar que os trêsconstrutos, embora coloquem ênfasesdiferentes na felicidade e na saúdemental, eles salientam aspectos com-plementares na compreensão do bem-estar. Se seguirmos a proposta deKeyes e Magyar-Moe (2003), elespodem ser tomados em conjunto, nummodelo integrado e convergente dapercepção pessoal e subjectiva decada um sobre si próprio, sobre osoutros e sobre o meio, modelo globaldesignado de Bem-Estar Subjectivo.Este novo modelo organiza-se emtorno de dois vectores: um que identi-fica a vitalidade emocional e, o outro,a funcionalidade, a adaptação e o des-envolvimento. O construto inicial-mente referido como de BESubjectivo representa fundamental-mente a vertente do bem-estar emo-cional, isto é, o equilíbrio favorável àsemoções, aos sentimentos e afectospositivos sobre os negativos. Os cons-trutos de BE Psicológico e BE Socialrepresentam a vertente do bem-estarenquanto funcionamento positivo,capacidade adaptativa e de desenvol-vimento, no primeiro caso ao nívelpessoal e privado (identificando atri-butos positivos do self), no segundo,ao nível social (identificando caracte-rísticas associadas à capacidade deenfrentar desafios sociais e de realizartarefas sociais). Este modelo global deBem-Estar Subjectivo teria assim omérito de integrar os múltiplos aspec-tos do funcionamento psicológico dosindivíduos que estariam na base da

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construção subjectiva e psicológicaque o Bem-Estar representa. Os pro-cessos psicológicos que regulam ofuncionamento psicológico geralserão os agentes desta construção e osingredientes serão, segundo se admi-te, as características fisiológicas e asexperiências de vida (Ryff & Singer,2003). A integração destes ingredien-tes é ainda algo misteriosa e os estu-dos com indivíduos de diferentes cul-turas, idades e condições de vida quese têm vindo a realizar constituemuma oportunidade para identificar osaspectos específicos a cada grupo,bem como os aspectos invariantes dofuncionamento humano.

Utilidade do Modelo de Bem-Estar Subjectivo

Um modelo de Bem-Estar podecontribuir para identificar as caracte-rísticas e as condições que permitemaos indivíduos desenvolverem-se, emsentido lato, como pessoas produti-vas, criativas, saudáveis e felizes,como pessoas motivadas e socialmen-te implicadas e também como mem-bros de comunidades também elasprogressivamente mais harmoniosas.No campo da clínica e da saúde men-tal, especificamente, tal modelo pode-rá revelar-se essencial na definição deobjectivos que integrem, para alémdos sinais e sintomas de doença, osfactores promotores de saúde e dedesenvolvimento. Trata-se de envere-dar por uma abordagem pela positiva,

centrada na saúde e não exclusiva-mente na doença, objectivo a que omodelo global de Bem-Estar podecorresponder satisfatoriamente aonível da prevenção, do diagnóstico edo tratamento.

Operacionalizar a saúde mentalnão apenas com base na ‘ausência depatologia’ mas também na identifi-cação de uma ‘síndrome de sintomasde bem-estar’, presentes a um nívelespecífico e com uma duração deter-minada, é um desafio para os inves-tigadores. Este desafio, lançado porKeyes e Lopez (2002), é acompan-hado por uma proposta de diagnósti-co de estados de saúde e de doençamental a partir de dois eixos: umrepresenta os sintomas de doençamental (designadamente queixas desofrimento e/ou desvios do normalfuncionamento e da adaptação àsexigências do meio); outro represen-ta os sintomas de bem-estar subjecti-vo (na vertente emocional, psicoló-gica e social). Estes eixos, cada umcom dois pólos (nível baixo e nívelelevado de sintomas), permitemrepresentar diferentes estados desaúde mental e de doença. Um esta-do de ‘saúde mental completa’ ouplena apenas seria identificado pelapresença de elevado nível de sinto-mas de bem-estar subjectivo a par dereduzido nível de sintomas de doen-ça. Do mesmo modo, um elevadonível de sinais de doença acompan-hado de reduzido bem-estar subjecti-vo, corresponderia a um estado de

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‘doença mental completa’. A ausên-cia ou um reduzido nível de sinto-mas de doença mental não bastariapara identificar saúde, antes repre-sentaria um estado de ‘saúde mentalincompleta’.

De acordo com esta proposta, asaúde mental deve ser entendidacomo uma síndrome organizada apartir da ausência ou reduzida expres-são de sinais de sofrimento ou doen-ça mental, bem como da presença desintomas de bem-estar emocional,psicológico e social. A saúde mentalexpressar-se-ia não só por negar aexistência de doença, mas tambémpor afirmar felicidade pessoal, satis-fação com a vida, funcionamentopositivo num conjunto de áreas devida (pessoal, interpessoal e social) eem diversos domínios psicológicos(cognitivo, afectivo-emocional emotivacional).

A aceitação deste modelo amplia anossa compreensão de saúde mentale permite reorientar os esforços aonível da prevenção, do diagnóstico edo tratamento num sentido de maiorespecificidade. Identificado o estado‘singular’ de saúde ou doença, bemcomo os sintomas negativos em‘excesso’ e/ou os positivos em ‘défi-ce’, mais facilmente se pode deli-neiar o percurso que conduz aoobjectivo pretendido: potenciar amudança no sentido da saúde mentalplena. Este modelo tem ainda a vir-tualidade de, ao permitir identificaralvos específicos de intervenção,

aproximar dois importantes domíniosda ciência clínica, o da avaliação e oda intervenção. Este objectivo é jáprosseguido por alguns clínicos,designadamente por Fava (1999) quedelineou um programa de psicotera-pia breve (organizado em oito sessõ-es estruturadas e orientadas para apromoção da saúde) alicerçado nomodelo do Bem-Estar Psicológico.Com este modelo é possível identifi-car os casos em que a intervençãoterapêutica se deve iniciar e/ou cen-trar na mudança em torno da percep-ção pessoal, da aceitação de si e daconquista de autonomia, por exem-plo, e em outros casos, é a área dasrelações com os outros e com o meioque deve prioritária e intensivamenteser cuidada.

Medidas de Bem-Estar

Os instrumentos de medida pro-postos para avaliar as três vertentesde BE são, naturalmente, diversos.No que se refere ao BE Subjectivo,existem inúmeras medidas utilizadasdistintamente como indicadores deBES global ou de um das suas com-ponentes específicas: Satisfaçãocom a Vida e Felicidade. O facto deexistir um extensivo número de ins-trumentos, e de alguns deles serem‘escalas’ com apenas um item, colo-ca problemas relativamente à fragili-dade dos dados e à sua comparabili-dade e integração. Regista-se,actualmente, uma evolução no senti-

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do de indicadores mais amplos erepresentativos do construto emcausa, sendo as medidas mais ‘redu-zidas’ (ver Quadro 1) utilizadas ape-nas nos estudos com grandes amos-tras, (e.g., General Social Surveys,conduzidos nos EUA; EuropeanSocial Surveys, na Europa).

Relativamente à avaliação do BEPsicológico ela foi equacionada a parda elaboração teórica (Ryff, 1985,1989a,b) o que permitiu a construçãode uma medida específica para cadauma das dimensões implicadas nomodelo. Para cada uma destasdimensões é apresentada uma escalade auto-avaliação, de tipo Likert, emque os itens são afirmações de carác-ter descritivo com seis categorias dereposta ordenada do DiscordoCompletamente ao ConcordoCompletamente (exemplos de itensno Quadro A em anexo). A versãofinal do instrumento integra o con-junto das seis escalas definidoras doconceito global de BEP. Existemactualmente três versões destas esca-las que diferem entre si apenas no

número de itens: vinte, catorze outrês itens por dimensão, sendo os ins-trumentos finais de 120, 84 ou 18itens, respectivamente.

Do mesmo modo, a avaliação doBem-Estar Social é também conduzi-da com base num instrumento stan-dard, designado por Social Well-BeingScales (Keyes, 1998), que visa especi-ficamente as cinco dimensões debem-estar social indicadas (verQuadro A). O instrumento global éapresentado como um escala de tipoLikert em que os 50 itens que a com-põem são afirmações de carácter des-critivo com sete categorias de repostaordenada do Discordo Totalmente aoConcordo Totalmente (exemplos deitens no Quadro A).

Tendo presente a fundamentaçãoteórica e o processo de validação dasmedidas, as escalas usadas para ava-liar o BE Psicológico e o BE Socialoferecem-se como instrumentos capa-zes de proporcionar indicadores dife-renciados e mais sólidos, robustos econsistentes do que os de BESubjectivo.

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BEM-ESTAR SUBJECTIVO

Satisfação

"Tudo somado, qual é o seu grau de satisfação com a vida em geral?"

Felicidade

"Considerando todos os aspectos da sua vida, qual o grau de felicidade que sente?"

BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

Autonomia

"Não tenho medo de exprimir as minhas opiniões mesmo quando elas são contrárias às opi-niões da maioria das pessoas."

Aceitação de Si

"Quando revejo a minha vida, fico contente com a forma como as coisas correram."

Domínio do Meio

"Sinto-me, frequentemente, esmagado(a) pelo peso das responsabilidades."

Relações Positivas Outros

"Manter relações estreitas com os outros tem-me sido difícil e frustrante."

Objectivos na Vida

"Não tenho bem a noção do que estou a tentar alcançar na vida."

Crescimento Pessoal

"Penso que é importante ter novas experiências que ponham em causa a forma como pensa-mos acerca de nós próprios e do mundo."

BEM-ESTAR SOCIAL

Integração Social

"Não sinto que pertença a algo a que se possa chamar comunidade."

Contribuição Social

"Não tenho nenhum contributo importante a dar à sociedade."

Coerência Social

"Não consigo dar sentido aquilo que está a acontecer no mundo."

Aceitação Social

"Acredito que as pessoas são amáveis."

Actualização Social

"O mundo está a tornar-se um lugar melhor para todos."

Quadro A - Conceitos de Bem-Estar e exemplos de itens por dimensão

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Correlatos do Bem-Estar

As revisões de literatura no âmbitodo bem-estar (e.g., Diener, 1984;Diener, Oishi, & Kucas, 2003; Diener,Suh, Lucas, & Smith, 1999; Ryan &Deci, 2001) testemunham a quantida-de e diversidade de estudos ao longode várias décadas de investigação,sobretudo no que se refere à vertentedo bem-estar de natureza emocional,já que o bem-estar psicológico e obem-estar social, com uma históriamais recente, têm menos investigaçãoacumulada. A sistematização dosdados empíricos mais relevantes emtorno das três vertentes de BE enun-ciadas indica importantes variaçõesdo BE. Estas variações serão, emparte, função de uma potencialinfluência da biologia – manifestaatravés dos processos de desenvolvi-mento/envelhecimento, das emoçõese dos traços de personalidade (verDiener et al., 1999; Schmutte & Ryff,1997) – e por outra parte, dos proces-sos e forças socioculturais – influên-cia manifesta, nomeadamente, porindicadores de desenvolvimento dospaíses, das posições nas hierarquiassociais, das oportunidades de vida, deliberdade de escolha e de acesso aosrecursos da comunidade (Diener etal., 2003; Keyes & Shapiro, 2004;Ryan & Deci, 2001, Ryff, Magee,Kling, & Wing, 1999).

Os estudos que visam as diferençasinter-individuais ao nível do BE tendopor referência variáveis sócio-demo-

gráficas têm tido o mérito de delinearos contornos globais da expressãodeste construto. Os actuais contornosestão bem longe do que nos foi dado aconhecer por Wilson (1967) quecaracterizava a felicidade como asso-ciada a pessoas jovens, saudáveis,religiosas e com elevados níveis deeducação e rendimento. Hoje os dadosdisponíveis desafiam esta caracteriza-ção e salientam a não linearidade dasassociações entre o BE e os factoressócio-demográficos. Destes os maisfrequentemente analisados, quer aonível de estudos específicos por paísquer de comparação entre países, sãoa idade, o sexo, o estado civil, o nívelde educação, bem como a saúde e ariqueza.

No que se refere à idade e à suarelação com o BE Subjectivo, Dieneret al. (1999) indicam um ligeiro declí-nio na satisfação com a vida à medidaque a idade avança, o qual tende adesaparecer se for controlado o nívelde rendimento. Quanto à felicidade,só os afectos positivos decrescem, osnegativos não revelam alterações sig-nificativas com a idade. No modelo deBE Psicológico, salienta-se a capaci-dade adaptativa dos idosos e o reajus-tamento dos objectivos e ou priorida-des de vida dos mais velhos, o que setraduz na mudança dos padrões debem-estar nos idosos (Ryff & Keyes,1995; Ryff, Magee, Kling, & Wing,1999). Os objectivos de vida e o cres-cimento pessoal tendem a decrescerna velhice, enquanto outras dimensõ-

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es apresentam níveis superiores, comoé o caso da aceitação de si, da autono-mia e das relações positivas com osoutros. Os dados empíricos disponí-veis sobre o BE Social são escassos elimitados a estudos conduzidos nosEUA. Contudo, a partir deles infere-se uma relação complexa e não linearcom idade. As dimensões de integra-ção social e de aceitação social reve-lam níveis superiores nas amostras deidosos norte-americanos, contudo arelação afigura-se diferenciada emfunção do casamento e do estatutosocial (ver Keyes & Shapiro, 2004).Outras facetas, como a coerência e aintegração social, decrescem com aidade denunciando, porventura, a difi-culdade dos idosos em se rever e inte-grar numa sociedade orientada para avalorização da juventude.

Relativamente ao sexo, não sãoidentificadas diferenças consistentes esignificativas entre sexos no âmbito doBE Subjectivo (Diener, Suh, Lucas &Smith, 1999; Myers, 1999). Quandoavaliadas amostras internacionais, asdiferenças revelam-se reduzidas, comas mulheres a referirem níveis superio-res de afecto, positivo e negativo,embora só as diferenças na afectivida-de negativa sejam replicadas em dife-rentes estudos (Diener et al., 2002). Éde admitir alguma influência dos este-reótipos na avaliação da afectividade,pois os auto-relatos usados nestedomínio são instrumentos sensíveis atais efeitos (Diener et al., 1999). Nocaso do BE Psicológico, revela-se uma

superioridade das mulheres relativa-mente aos homens no que se refere àsrelações positivas com os outros, nãosendo identificadas diferenças nosestudos com amostras norte-america-nas (Ryff et al., 1995; 1999) nas res-tantes dimensões. Em amostras trans-versais da população portuguesa,encontra-se um padrão diferente, comas mulheres a registarem níveis debem-estar inferior em duas dimensões,objectivos de vida e o crescimentopessoal (Novo, 2000/2003). A consta-tação destas diferenças reclama anecessidade de atender à influênciasócio-cultural na gestão de direitos eoportunidades de desenvolvimentopara os dois géneros.

Quanto ao estado civil, tem sidoidentificada uma relação moderada econsistente com o BE Subjectivo,quer em amostras do Canadá e dosEUA quer em estudos multinacionais,com as pessoas casadas a revelammaior felicidade que todas as outrascom diferente estatuto de conjugalida-de. Contudo, os efeitos do casamentoafiguram-se diferentes em função dosexo: não só os benefícios do casa-mento como também as reacções àssituações de separação ou divórcioparecem ser diferenciadas parahomens e mulheres (Diener et al.,1998). O casamento parece estar liga-do também a algumas dimensões doBE Psicológico, (Keyes & Ryff,1998) e ter um papel moderado no BESocial (Marks & Lambert, 1998, cit.in Keyes & Shapiro, 2004). Os soltei-

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ros apresentam níveis superiores aosdos casados em algumas medidas deBE psicológico, nomeadamente emautonomia e crescimento pessoal.Face aos casados, os indivíduos quenunca casaram apresentam níveissuperiores de contribuição social,embora menor integração.

O nível de educação e a estratifica-ção social são também variáveis con-sideradas importantes na compreensãodo BE. As correlações entre educaçãoe BE Subjectivo são pequenas e nãovariam significativamente face aosdiferentes componentes de bem-estar(satisfação de vida e felicidade). Asrelações mais estreitas são identifica-das em indivíduos com baixos recur-sos económicos, pelo que se admiteum efeito de covariação entre a educa-ção, rendimento e actividade profis-sional. Neste contexto, afirma-se ointeresse pelo estrato social comovariável potencialmente aglutinadoradeste conjunto de indicadores e comum poder explicativo provavelmentesuperior nos países com menos recur-sos económicos (Diener et al, 2002).No âmbito do BE Psicológico as dife-renças vão no mesmo sentido: quandoconsideradas diferentes condições devida e de saúde, Ryff e colaboradores(1999) indicam relações muito estrei-tas entre nível educacional e bem-estarpsicológico. No que se refere ao bem-estar social, quanto mais elevado oestatuto social (identificado a partir daocupação, educação) maior é o nívelem todas as dimensões avaliadas,

desde a integração, à aceitação, contri-buição, satisfação e à coerência social(Keyes & Shapiro, 2004). Ao contrá-rio de outras variáveis com padrõesdiferenciados de vantagem ou desvan-tagem nas diferentes dimensões de BESocial, o estatuto social é a únicavariável com vantagens generalizadas.

Embora complexa, a relação entresaúde física e BE revela-se empirica-mente consistente embora diferencia-da consoante os indicadores de saúdesão mais objectivos ou subjectivos:quando usados dados médicos obtêm-se correlações de fraca magnitudecom o BE, enquanto a percepção pes-soal do estado de saúde dá lugar ascorrelações moderadas ou elevadas(Diener et al., 2002). No âmbito doBE Social, Keyes (2003) sinaliza asrelações estreitas dos diversos indica-dores de saúde, física e mental, comfacetas diversas do bem-estar. Domesmo modo, Ryff (1989) identifica orelacionamento positivo com osoutros como um dos componentes doBE psicológico e documenta, empiri-camente, as relações estreitas entre oenvolvimento interpessoal e a saúdeem geral, no plano físico e mental(Ryff & Singer, 1998; 2003).

A relação entre riqueza e BE,designadamente BE Subjectivo, temsido alvo de inúmera e diversificadainvestigação. Embora as conclusõesnão permitam identificar um efeitocausal da riqueza sobre o BE, Dienere colaboradores (Diener, Suh, Lucas,& Smith 1999) consideram existir

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uma relação moderada e consistenteentre preditor e critério. A análise dasdiferenças entre ricos e pobres sugereque quer a riqueza dos países quer onível de rendimentos dos indivíduospodem contribuir para o BESubjectivo. A riqueza dos países teráuma influência directa no sentido defacilitar a satisfação das necessidadesbásicas e quotidianas, mas quando ospaíses atingem um nível médio deriqueza, o rendimento das pessoaspassa a não ser tão relevante. Defacto, é nos países mais pobres que seobservam as correlações mais eleva-das entre rendimento e BE (Diener &Suh, 1999). Quando os países atingemum nível médio de riqueza, o padrãode relação entre estas variáveis afigu-ra-se bem mais complexo. Por outrolado, atendendo ainda aos rendimen-tos, verifica-se que mudanças no sen-tido de maiores níveis de rendimentodas pessoas nem sempre têm efeitospositivos; as expectativas e os objecti-vos associados a tais mudanças têmum papel complexo.

Num estudo recente (Lima &Novo, no prelo) realizado no âmbitodo European Social Survey em queforam analisados dados recolhidosem 2002 e referentes a amostrasrepresentativas de vinte países euro-peus, entre os quais Portugal, foitambém identificada a importânciado nível de desenvolvimento dos paí-ses. Quando os países foram agrupa-dos em três categorias de acordo como nível de desenvolvimento indicado

pelas Nações Unidas (PNUD, 2002),os indicadores de BE Subjectivo e deBE Social utilizados mostraram-sefortemente associados a tais catego-rias. A análise indica que, no casodos países europeus considerados,onde as amplitudes de desenvolvi-mento são ainda assim menos acen-tuadas do que se considerássemospaíses de diferentes continentes, osresultados dos três indicadores de BEsão significativamente superioresnos países mais desenvolvidos e infe-riores nos menos desenvolvidos (verQuadro B). De salientar que não estáem causa apenas a riqueza, como tra-dicionalmente tem sido salientado,pois a determinação do nível de des-envolvimento envolve outras variá-veis, designadamente as ligadas àeducação e à saúde.

Uma referência particular aosvalores do BE em Portugal, permitedestacar que, em geral, eles sãomuito mais baixos do que os que seobservam no conjunto dos paíseseuropeus considerados. Apenas 13%da amostra portuguesa apresentaníveis de BE Subjectivo ‘muito ele-vado’, enquanto este valor é de26,5% no conjunto dos vinte paíseseuropeus em análise. Relativamenteaos indicadores de BE Social, elesapresentam-se elevados ou muitoelevados em apenas 16% dos casospara a Aceitação Social e em 4% doscasos para a Satisfação Social, contra26% e 20% dos casos no total daamostra europeia.

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Quadro B - Valores de Bem-Estar Subjectivo e Social em 20 Países Europeus

Países por Nível deDesenvolvimento PNUD Ordenação Bem-Estar

Subjectivo1

Bem-EstarSocial

Aceitação2

Bem-EstarSocial

SatisfaçãoB

Países Mais Desenvolvidos

Noruega 0,944 1 7,84 6,58 5,6

Suécia 0,941 3 7,85 6,25 5,37

Holanda 0,938 5 7,77 5,72 5,34

Bélgica 0,937 6 7,6 4,96 5,91

Suíça 0,932 10 8,03 5,72 5,93

Dinamarca 0,930 11 8,39 6,81 6,76

Países com Desenvolvimento Intermédio

Irlanda 0,930 12 7,67 5,8 4,81

Reino Unido 0,930 13 7,34 5,34 4,97

Finlândia 0,930 14 7,97 6,34 6,56

Luxemburgo 0,930 15 7,87 5,06 6,49

França 0,925 17 6,94 4,81 4,64

Alemanha 0,921 18 7,1 5,1 4,17

Espanha 0,918 19 7,28 4,84 4,99

Itália 0,916 21 6,71 4,4 4,59

Países Menos Desenvolvidos

Portugal 0,896 23 6,44 4,43 3,65

Grécia 0,892 24 6,46 3,45 4,35

Eslovénia 0,881 29 6,76 4,31 4,59

República Checa 0,861 32 6,7 4,48 4,65

Polónia 0,841 35 6,14 3,81 3,75

Hungria 0,837 38 5,96 4,3 4,53

Adaptado a partir de Lima e Novo (no prelo)

1. Fonte: PNUD, dados de 2002. 2. Assinaladas a média mais elevada (negro forte) e a mais baixa (sublinhado) de cada uma das

três medidas.

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Também em relação à idade, amaior probabilidade e o efeito cumula-tivo de perdas físicas, relacionais esociais que ocorrem nas fases mais tar-dias da vida poderiam fazer prever umdecréscimo significativo do bem-estarentre os mais idosos. Apesar dos resul-tados obtidos mostrarem um efeitosignificativo da idade, com os maisnovos a apresentarem, em geral, níveismais elevados de BE, o decréscimocom a idade não acontece de formaidêntica em todos os países. Nos paí-ses mais desenvolvidos, os valoresmédios de BE Subjectivo apresentam-se sem grande variação nos diferentesgrupos etários; pelo contrário nos paí-ses com níveis mais baixos de desen-volvimento os valores vão sendo pro-gressivamente inferiores nos gruposde idade mais avançada. O efeito maisforte é o do nível de desenvolvimentodo país e mostra que o BE Subjectivoé bem maior nos países desenvolvidosdo que nos restantes.

Não só ao nível do BE Subjectivo,mas também do BE Social, quer aAceitação quer a Satisfação dão aconhecer resultados que mostram nãoserem simples nem lineares as fontesde variação e os percursos do BE(Lima & Novo, no prelo). Por outrolado, há razões para valorizar a multi-dimencionalidade do conceito de BEe, por consequência, considerar osresultados em função das dimensõesconsideradas (a vertente emocional ea subjectiva terão influências específi-cas e porventura diferenciadas da ver-

tente adaptativa e de funcionamentopositivo), bem como das estratégias einstrumentos utilizados na avaliaçãode cada uma dessas dimensões.

A avaliação neste domínio tem sidocentrada na auto-avaliação o que, anosso ver, limita as possibilidades decaracterização do significado doBem-Estar no âmbito da psicologia ea exploração das amplas possibilida-des que ele encerra como indicador desaúde mental.

Limitações da Auto-avaliação

Não obstante as diferenças assinala-das, os três construtos de BE aproxi-mam-se na modalidade de avaliação dasrespectivas dimensões. Nos três casos, aauto-avaliação é considerada comoestratégia única e exclusiva, tornando-se o bem-estar apenas função da expres-são pessoal e subjectiva, da avaliaçãodirecta e introspectiva. Mas será que oBE assim avaliado traduz, verdadeira-mente, um funcionamento psicológicopositivo e se pode constituir como indi-cador de genuína saúde mental?

Esta questão motivou um trabalhoempírico, centrado no BEPsicológico, que partiu da premissa deque, para respeitar os fundamentosteóricos e epistemológicos do mode-lo, se deveria conjugar a auto-avalia-ção com a avaliação externa da quali-dade do funcionamento psicológico.Foi então delineado um estudo queprevia, para além das escalas de auto-avaliação comummente usadas, a

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aplicação do Rorschach. As técnicasprojectivas em geral, e o Rorschachem particular, constituem uma via deacesso ao mundo privado, aos conteú-dos e aos processos que sustentam ocomportamento adaptativo. ORorschach não só potencia a exteriori-zação dos processos internos comopermite a sua análise através de parâ-metros objectivos de dimensões rele-vantes ao nível da saúde mental e daqualidade de funcionamento psicoló-gico, designadamente a integridadedos processos perceptivos e associati-vos, a lógica e a coerência do pensa-mento, a qualidade da percepção pes-soal e interpessoal, assim como aintensidade e repercussão funcionaldas emoções e afectos.

O estudo empírico a que nos referi-mos, e que passamos sumariamente aapresentar, constitui uma parcela deuma investigação empreendida com opropósito mais vasto de clarificar anatureza e a dinâmica do BEPsicológico no âmbito da personalida-de (Novo, 2000/2003). Este estudoseguiu uma metodologia diferencialde comparação entre grupos ‘experi-mentais’ representativos de ‘gruposteóricos’ organizados a partir de umcritério teórico operacionalizadoempiricamente. Foi considerado comocritério teórico de BE Psicológicogenuíno a presença de níveis elevadosde bem-estar na auto-avaliação a parda ausência de sinais de patologiamental e/ou um sofrimento psicológi-co. No plano empírico, este critério foi

operacionalizado a partir da conjuga-ção dos dados das Escalas de Bem-Estar Psicológico (EBEP; versão ori-ginal, Ryff, 1989b; adaptação portu-guesa, Novo et al., 1997) e oRorschach (Exner, 1995), nomeada-mente os seguintes indicadores derisco de patologia e/ou de vulnerabili-dade psicológica: SCZI (índice deesquizofrenia); WSum6 (índice de ras-treio de alterações da lógica e coerên-cia do pensamento); DEPI (índice dedepressão e de outras desordens afec-tivas); S-Con (constelação de suicí-dio); Nota Adj D (índice de desordensde ansiedade e de alterações crónicasde controlo e tolerância ao stresse);X+%, Xu% e X-% (variáveis de ras-treio de alterações da percepção).

A partir de uma amostra inicial demulheres com idades entre os 65 e os75 anos, inseridas satisfatoriamentenum meio urbano, em condições denormalidade física e sem patologiapsíquica identificada, 53 vieram aapresentar níveis elevados de BE deacordo com os valores de referênciapara a população portuguesa (Novo,2000/2003). Posteriormente, calcula-dos os índices indicadores de poten-cial patologia e/ou vulnerabilidade doRorschach, verificou-se que apenas28 das participantes cumpriam o crité-rio de BE Psicológico genuíno, isto é,apresentavam uma auto-avaliaçãopositiva, sentimentos de realização eadequação e não apresentam indíciosde vulnerabilidade ou de risco psico-patológico. As restantes 25 participan-

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tes (47%) apresentavam sinais signifi-cativos de sofrimento emocional evulnerabilidade psicológica. Não obs-tante estas participantes revelarem naauto-avaliação aspectos da experiên-cia pessoal e subjectiva, da personali-dade e do comportamento que se con-figuram como indicadores de elevadobem-estar, verificou-se no Rorschacha presença de sinais que comprome-tem aquela avaliação. Estes casos,foram então identificados como deBE Psicológico ‘ilusório’. Conclui-se,assim, que uma auto-avaliação denível elevado nem sempre traduz umfuncionamento positivo e um genuínobem-estar, sendo possível identificartipos diferenciados de BE Psicológicoos quais se supõem associados apadrões de funcionamento psicológi-co distinto.

Nesse sentido, procedeu-se numasegunda fase a uma análise dos sumá-rios estruturais do Rorschach. Nestaanálise foi possível identificar umconjunto de características que dife-renciam as participantes com distintostipos de BE; características relativasao funcionamento cognitivo, afectivo-emocional e relacionamento interpes-soal. As participantes com BE ilusórioapresentam uma atitude defensivaface à percepção da realidade e umestilo ‘cego’ de mediação cognitiva:são ignorados aspectos fundamentaisda realidade, ultra simplificada a aná-lise das situações e empobrecida aintegração dos diferentes elementosdo campo de estímulos. Na área afec-

tiva, estas participantes apresentamum padrão de forte contenção emo-cional, sobretudo da emocionalidadenegativa. De modo bem distinto, asparticipantes com BE genuíno sãoidentificadas pela riqueza afectiva eequilíbrio emocional: com expressãomoderada das emoções; modulaçãoafectiva; controlo do stress; e ausên-cia de significativa ambivalênciaafectiva, sofrimento ou tensão emo-cional. Uma representação humanapobre e um reduzido investimento nomundo interpessoal caracteriza tam-bém as participantes com BEP ilusó-rio. Face às restantes participantes,elas apresentam um padrão de relacio-namento interpessoal caracterizadopor relações menos cooperativas,autónomas e satisfatórias.

A expectável consistência empíricae teórica do conjunto de característi-cas relacionadas com o BE, expressapela convergência de dados e de sen-tidos ao nível da análise intra-indivi-dual, não se veio a verificar. Os dadosda auto-avaliação e os da avaliaçãoexterna ou comportamental apenas semostram convergentes relativamenteàs participantes com BE global ougenuíno. No caso das restantes parti-cipantes, há uma clara divergênciaentre os dados da auto-avaliação e aavaliação externa, o que denuncia afragilidade do elevado bem-estaridentificado. As características pre-sentes nos protocolos do Rorschachdas participantes com BE ilusório per-mitem considerar que estas, ao nível

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da auto-avaliação, silenciam o sofri-mento psicológico, as dificuldadesemocionais e a insatisfação consigopróprias e com as suas vidas. É prová-vel que estas ‘ilusões’ sejam mantidasatravés do recurso a estratégias deengrandecimento do valor pessoal,não apenas como mecanismo adapta-tivo e de promoção de bem-estar, mascom valor defensivo, de protecçãocontra o sofrimento psicológico. Estetipo de funcionamento pode explicar aaparente divergência entre o conjuntodos dados em confronto.

A discussão destes dados reclamauma reflexão sobre as exigências daavaliação neste e em outros domí-nios subjectivos e fenomenológicos.Revela-se necessário diferentes ins-trumentos e não apenas escalas deauto-avaliação, sobretudo quandomuitas delas não têm estudos devalidadas segundo critérios empíri-cos. Nestes casos, tomam-se as res-postas aos itens como se elas fossema tradução isomórfica da vivênciasubjectiva ou como uma reedição docomportamento que se quer avaliar,o que, em qualquer caso, será umerro. As respostas dadas são compor-tamentos, mas não os verdadeiroscomportamentos sobre os quais inci-de a interpretação; são comporta-mentos verbais cujo significadoexterno terá de ser determinado.

A impossibilidade de acesso direc-to a comportamentos relevantes para aavaliação psicológica nas situações devida real levou a criar condições favo-

ráveis a que comportamentos simila-res ocorressem e pudessem ser direc-tamente observados. Os testes projec-tivos são exemplo desse objectivo.Eles permitem obter amostras com-portamentais, recolhidas em condiçõ-es estandardizadas, que são observa-das, exploradas, interpretadas e sinte-tizadas por forma a traduzir caracte-rísticas relevantes do funcionamentopessoal (Viglione & Rivera, 2003). Avariedade e riqueza de informaçãoenvolvida nas respostas aos testesprojectivos permitem a sua potencialgeneralização para os comportamen-tos relevantes e significativos da vidareal. O Rorschach é um teste de des-empenho e proporciona medidasdirectas do comportamento e indirec-tas da personalidade. Os self-reportspor seu lado, são instrumentos a partirdos quais se obtêm sempre medidasindirectas, quer do comportamentosob avaliação, quer da personalidade.

No caso da avaliação psicológica, acomplementaridade de metodologiase/ou técnicas revela-se necessária epromissora de uma mais adequada ealargada utilização do conceito e domodelo de Bem-Estar no âmbito daclínica e da saúde mental.

CONCLUSÕES

O conceito de Bem-Estar, outrorasó temerariamente aceite como temade investigação, veio a impor-se naPsicologia com a força de um movi-mento de fundo orientado para rede-

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finir objectivos científicos e diversi-ficar alvos de estudo. Diferentementede outros alvos, que sendo potencial-mente importantes não encontraramainda um via científica para os abor-dar, o Bem-Estar constitui um dostemas para os quais a psicologia temfundamento epistemológico e camin-hos metodológicos já percorridos.Ele tem também a seu favor o factode estar enraizado em modelos teóri-cos diversos, de integrar contributosde áreas de investigação distintas ede estar em vias de caracterizar, inte-gradamente, múltiplas valências dobem-estar.

Contudo, do ponto de vista meto-dológico, a estratégia de avaliaçãoproposta e implementada mostra-selimitada. Não obstante os fundamen-tos e os propósitos explicativos dosconstrutos considerarem a normalida-de do funcionamento psicológicocomo condição de bem-estar, a auto-avaliação não se revela consentâneacom tal ambição.

Como vimos, as escalas de auto-avaliação mostram-se insuficientespara distinguir entre BE genuíno e BEilusório. Tal como no estudo deShedler, Mayman e Mannis (1993),muitas pessoas incorporam, nas suasauto-avaliações, auto-imagens envie-sadas num sentido positivo o que obs-curece a sensibilidade dos instrumen-tos aos problemas que pretendemsinalizar. Por outro lado, sabemos quea normalidade de funcionamento não

é avaliável apenas no plano da vivên-cia subjectiva. Será a qualidade dosprocessos, e não só a natureza dosconteúdos das vivências, que permiti-rá identificar normalidade ou saúdemental. As experiências subjectivaspodem constituir objecto de estudopsicológico, mas não podem consti-tuir-se como critérios de saúde men-tal. Neste sentido, o recurso a outrasestratégias e/ou metodologias que nãoapenas a auto-avaliação parece indis-pensável. Os dados empíricos apre-sentados sugerem que os testes pro-jectivos são uma das metodologiascapazes de contribuir significativa-mente para, de modo complementaraos auto-relatos, identificar a naturezados recursos psicológicos e dos pro-cessos psicológicos em causa na ava-liação do bem-estar psicológico.

As necessidades e pressões nosdomínios social e clínico impõem-se àciência, orientando prioridades deinvestigação e opções metodológicascapazes de responder a tais necessida-des. Neste sentido, o modelo do Bem-Estar tem aberto perspectivas diversassinalizando áreas específicas deinvestigação e de intervenção, desig-nadamente de prevenção dirigida agrupos de risco e de promoção da‘saúde’ na comunidade em geral.Contudo, repensar as opções metodo-lógicas neste domínio revela-senecessário por forma a enriquecer ealargar a sua utilização no âmbito daclínica e da saúde mental.

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