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Informe Capítulo 3 A inserção do Brasil na economia-mundo 42 Douglas Cunha Jr./Futura Press A cultura brasileira hoje e a globalização Na verdade, hoje, cultura, com exceção de alguns pe- quenos grupos, tem sido sempre resultado de encontros de vários grupos sociais e, portanto, de várias culturas. A cultura brasileira é, na verdade, uma grande “mistu- ra” de várias culturas. E devemos nos orgulhar disto. A mundialização do capital e as novas tecnologias não inauguraram esta cultura, apenas possibilitaram um au- mento significativo dos encontros entre grupos sociais e da “mistura cultural”. Penso que nossa atenção e nossas preocupações não precisam se centrar na globalização, enquanto possibi- lidade de encontros entre culturas, mas, sim, na forma antidemocrática que tem caracterizado esse encontro. Misturar é muito bom. O problema está em não mistu- rar e impor uma determinada cultura como se fosse a melhor. O problema está em fazer das diferenças cultu- rais fontes de desigualdade social. O problema está em fazer das referências culturais de cada grupo elemento de sofrimento psicológico. Não há culturas melhores ou piores, pois todas elas respondem a formas de vida e a necessidades de grupos. Não há culturas naturais. São todas históricas. Compreen- dê-las nesta perspectiva é fundamental para nos posicio- narmos contrários a qualquer forma de imposição cultu- ral, seja por potentes organizações de comunicação, seja por processos de globalização comandados por pequenos grupos representantes do capital internacional, ou seja, por visões científicas discriminatórias. As pessoas precisam de elementos culturais para de- senvolverem suas identidades. Esses elementos devem ser coerentes com a vida que levam no dia a dia. Imposi- ção cultural pode assim ser fonte de problemas psicoló- gicos e de sofrimento. Valorizar a cultura do cotidiano, das pessoas comuns e dos grupos que integram o nosso conjunto social é uma tarefa urgente, quando se traba- lha para a promoção de saúde. BOCK, Ana. Disponível em: <http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/ editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/cultura-cultura-brasileira-hoje>. Acesso em: 25 abr. 2014. Grupo Tambor de Crioula Conceição Madeira durante apresentação em São Luís (MA), 2012. Para discutir 1. Você concorda com a afirmação “A cultura brasileira é, na verdade, uma grande ‘mistura’ de várias culturas.”? Justifique. 2. O que se entende por imposição cultural? Você percebe essa situação em seu cotidiano? 3. A globalização afetou ou transformou a cultura brasileira? Justifique sua resposta. Compreender o espaço geográfico para nele atuar De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, a Geografia “deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista a sua transformação”. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília, 2006. Os livros da coleção Ser Protagonista – Geografia partem dessa premissa e foram produzidos com o objetivo de instrumentalizar o aluno para que ele possa compreender o dinamismo do espaço permanentemente produzido e transformado. Ser Protagonista Geografia Box - Parte I - p. 42. Boletim SP Geografia Nova coleção de 2015

Boletim SP Geografia Nova coleção de 2015 - smbrasil.com.br · Japão, e da década de 1980, na Europa, sur - giram os trens de grande velocidade, que possibilitaram um aumento

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A cultura brasileira hoje e a globalizaçãoNa verdade, hoje, cultura, com exceção de alguns pe-

quenos grupos, tem sido sempre resultado de encontros de vários grupos sociais e, portanto, de várias culturas. A cultura brasileira é, na verdade, uma grande “mistu-ra” de várias culturas. E devemos nos orgulhar disto. A mundialização do capital e as novas tecnologias não inauguraram esta cultura, apenas possibilitaram um au-mento significativo dos encontros entre grupos sociais e da “mistura cultural”.

Penso que nossa atenção e nossas preocupações não precisam se centrar na globalização, enquanto possibi-lidade de encontros entre culturas, mas, sim, na forma antidemocrática que tem caracterizado esse encontro. Misturar é muito bom. O problema está em não mistu-rar e impor uma determinada cultura como se fosse a melhor. O problema está em fazer das diferenças cultu-rais fontes de desigualdade social. O problema está em fazer das referências culturais de cada grupo elemento de sofrimento psicológico.

Não há culturas melhores ou piores, pois todas elas respondem a formas de vida e a necessidades de grupos. Não há culturas naturais. São todas históricas. Compreen-dê-las nesta perspectiva é fundamental para nos posicio-narmos contrários a qualquer forma de imposição cultu-ral, seja por potentes organizações de comunicação, seja por processos de globalização comandados por pequenos grupos representantes do capital internacional, ou seja, por visões científicas discriminatórias.

As pessoas precisam de elementos culturais para de-senvolverem suas identidades. Esses elementos devem ser coerentes com a vida que levam no dia a dia. Imposi-ção cultural pode assim ser fonte de problemas psicoló-gicos e de sofrimento. Valorizar a cultura do cotidiano, das pessoas comuns e dos grupos que integram o nosso conjunto social é uma tarefa urgente, quando se traba-lha para a promoção de saúde.BoCk, Ana. Disponível em: <http://csbh.fpabramo.org.br/o-que-fazemos/editora/teoria-e-debate/edicoes-anteriores/cultura-cultura-brasileira-hoje>. Acesso em: 25 abr. 2014.

Grupo Tambor de Crioula Conceição Madeira durante apresentação em São Luís (MA), 2012.

Para discutir1. Você concorda com a afirmação “A cultura brasileira é, na verdade, uma grande ‘mistura’ de várias culturas.”?

Justifique. 2. O que se entende por imposição cultural? Você percebe essa situação em seu cotidiano?3. A globalização afetou ou transformou a cultura brasileira? Justifique sua resposta.

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Compreender o espaço geográfico para nele atuar

De acordo com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio, a Geografia “deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista a sua transformação”.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares para o ensino médio: ciências humanas e suas tecnologias. Brasília, 2006.

Os livros da coleção Ser Protagonista – Geografia partem dessa premissa e foram produzidos com o objetivo de instrumentalizar o aluno para que ele possa compreender o dinamismo do espaço permanentemente produzido e transformado.

Ser Protagonista Geografia Box - Parte I - p. 42.

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O papel das ferrovias A ferrovia é um dos frutos da Primeira Re-

volução Industrial e, na época em que esta ocorreu, teve papel central no desenvolvi-mento econômico dos países da Europa Oci-dental, nos Estados Unidos e no Japão.

Foi a primeira inovação em tecnologia de transportes e pode ser considerada respon-sável por uma série de transformações na movimentação de cargas e passageiros.

A implantação de ferrovias no mundo dependeu (e ainda depende) do contexto econômico e geográfico da região.

No passado, a construção de ferrovias teve papel fundamental na criação e recria-ção de espaços geográficos, pois, ao longo de seu percurso, a estrada de ferro possibili-tava a formação de novas cidades e a criação de indústrias.

Nas antigas colônias africanas, como a África do Sul e o Congo, as ferrovias permi-tiram acelerar a posse dos territórios.

As ferrovias têm a seu favor uma série de fatores, sendo um deles a possibilidade de transportar por longas distâncias e a bai-xo custo matérias-primas de grande volume (minérios, grãos, madeira), bens manufatu-rados (automóveis, equipamentos agrícolas) e também passageiros.

Em princípio, o custo de implantação de uma ferrovia, seja na instalação dos trilhos, seja pelo alto valor dos equipamentos, pode ser considerado um fator desfavorável. No entanto, o baixo custo do frete, sobretudo em

grandes distâncias, permite a rápida amorti-zação dos investimentos.

O uso de ferrovias difere de país para país. Em países de grande extensão territorial, as ferrovias têm grande destaque na matriz de transportes, isto é, no conjunto dos tipos de transporte que servem à sua economia.

Com a construção e o desenvolvimento das rodovias no século XX, muitos países deixaram de investir em ferrovias, que as-sim passaram a perder prestígio e importân-cia econômica.

Em meados da década de 1960, no Japão, e da década de 1980, na Europa, sur-giram os trens de grande velocidade, que possibilitaram um aumento da competitivi-dade das ferrovias com relação a outros ti-pos de transporte.

Atualmente outros países, como os Estados Unidos, a Austrália e a Coreia do Sul, já possuem linhas férreas de grande velocidade.

Fonte de pesquisa: Associação Nacional dos Transportes Ferroviários. Disponível em: <http://www.antf.org.br>. Acesso em: 25 abr. 2014.

Matriz de transporte de carga em países de grande extensão – 2008

Ferroviário Rodoviário Aquaviário

Rússia

EstadosUnidos

Canadá

Índia

Brasil

0 20

81 8 11

46 30 24

46 43 11

47 50 3

28 58 14

40 60porcentagem80 100

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Mar Negro

MarCáspio

OCEANOPACÍFICO

OCEANO GLACIAL ÁRTICO

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90°L

50°N

80°N

50°L

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130°L

170°L

Círculo Polar Á

rtico

Omsk

Tyumen

Perm

KirovMOSCOU

Yaroslavl

NizhnyNovgorod

Yekaterinburg

VladivostokUssuriisk

Khabarovsk

Skovorodino

BelogorskChita

Ulan-UdeIrkutsk

TayshetKrasnoiask

RÚSSIA

Novosibirsk

FINLÂNDIA

TURQUIA

GEÓRGIA

AZERBAIJÃOARMÊNIA

UZBEQUISTÃO

QUIRGUISTÃO

CHINACAZAQUISTÃO JAPÃO

MONGÓLIA

TURCOMENISTÃO

ESTÔNIALETÔNIA

LITUÂNIA

BELARUS

UCRÂNIA

MOLDÁVIA

0 660 1320 km

1 cm – 660 km

Transiberiana (linha principal)Transiberiana (linha secundária)Fronteiras entre as províncias

Transiberiana – Uma ferrovia transcontinental

Fonte de pesquisa: The Trans- -Siberian Railway. Disponível em: <http://www.transsib.ru/Map/transsib-passenger-eng.gif>. Acesso em: 25 abr. 2014.

AssistaAssassinato no Expresso Oriente (EUA, 1974, 128 min).O Expresso Oriente era um trem que oferecia transporte de passageiros de Paris a Istambul, em uma extensa ferrovia. Nesse filme, o diretor Sidney Lumet leva às telas um clássico de suspense da escritora inglesa Agatha Christie ambientado nos vagões dessa linha.

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A Geografia descritiva ficou no passado. Hoje, a Geografia é fundamental para a compreensão do mundo.

Para ser protagonista, é necessário conhecer diferentes fenômenos geográficos e considerar suas diferentes dimensões: do local ao global.

Ser Protagonista Geografia Box - Parte I - p. 74.

É fundamental identificar os fenômenos geográficos utilizando diferentes linguagens.

Mundo hoje

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Marcha Mundial das Mulheres durante o Fórum Social Mundial de 2011, realizado em Dacar, Senegal. Desde o primeiro encontro, em 2001, o slogan do fórum permanece o mesmo: Um outro mundo é possível.

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O feminismo engajado da Marcha Mundial das Mulheres

Um dos fenômenos mais relevantes da globalização foi o da internacionalização dos movimentos sociais. [...]

Desta vez, no bojo do Fórum Social Mundial [FSM], proliferaram inúmeras organizações adaptadas aos no-vos tempos [...].

Um desses movimentos é a Marcha Mundial das Mu-lheres, responsável por alguns eventos de repercussão no país, e que se tornou a face mais legítima do movi-mento feminista – porque voltado para trabalho efetivo contra a exclusão das mulheres, mas sem perder de vista as lutas gerais por inclusão social.

Atualmente, a MMM está organizada em 55 países, com ações regionais em 76.

Foi criado em 1995 em Quebec, Canadá, como uma reação ao acordo da ALCA e quando se percebeu que se-ria difícil manter conquistas sociais restritas a cada país isoladamente. [...]

Gradativamente o movimento se espalhou por outros países, estruturando-se em torno de três pontos espe-cíficos.

Primeiro, atuar sob coordenações nacionais, de for-ma horizontal, sem comandos centralizados e tomando decisões por consenso.

Segundo, ser integrante da grande frente do Fórum Social Mundial.

Terceiro, a cada cinco anos montar ações próprias mundiais da Marcha em torno de quatro bandeiras es-pecíficas:

1. autonomia econômica das mulheres;2. contra a violência;3. pela paz e desmilitarização;4. pelo bem comum e contra privatização da nature-

za e dos serviços públicos.

A evolução das bandeiras

No primeiro encontro em Montreal, em 1998, o mo-vimento estruturou uma marcha mundial das mulheres contra a pobreza. Em 2000, outra manifestação global contra o estupro na guerra da Bósnia, quando consegui-ram mais de 5 milhões de assinaturas de apoio. Depois, manifestação em Nova York, solicitando audiência no Banco Mundial e no FMI, entregando as assinaturas à ONU (Organização das Nações Unidas).

Para elaborar

� Reúna-se com seu grupo e discuta a importância da mobilização no FSM em relação à luta das mulheres por igualdade (social, econômica, profissional). Elaborem um texto e discuta-o com os colegas de outros grupos.

A partir das bandeiras de paz e desmilitarização, passou a olhar outros ângulos da globalização, como o deslocamento de populações afetando a autono-mia econômica das mulheres. E também os efeitos di-retos da guerra, como a prostituição no entorno das bases militares.

Em protesto, montaram ações na base militar dos Estados Unidos nas Filipinas. Também montaram visi-tas de solidariedades às comunidades mais afetadas por conflitos armados, como movimentos de camponeses e de afrodescendentes.

O feminismo includente

A MMM começou no Brasil em um encontro preli-minar em 1998 e um encontro nacional em 1999. [...]

Assim como em nível mundial, por aqui funciona com comitês estaduais e desenvolvendo uma agenda própria, paralela à agenda internacional [...].

Não se trata de um feminismo deslocado dos demais grupos oprimidos, ao contrário do que ocorre com fac-ções feministas mais ligadas à área acadêmica.

Defendem diversidade de mulheres: jovens, lésbicas, negras, urbanas, rurais, sindicalistas, indígenas. É um feminismo de resultado, onde cabem todas as mulhe-res e preservam-se as diferenças culturais entre os di-versos países.

Nas discussões, evitam colocar uma agenda feminista prioritária. As discussões conduzem a acordos e campos de ação, para evitar que uma prioridade seja colocada na frente de outra.

[...]nassif, L. Disponível em: <http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-feminismo-engajado-da-marcha-mundial-das-mulheres>. Acesso em: 25 abr. 2014.

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A Geografia alia-se às práticas interdisciplinares para construir novos saberes. Ser protagonista é reconhecer e respeitar a diversidade étnica, cultural e de gênero e desenvolver a solidariedade.

Ser Protagonista Geografia Box - Parte I - p. 69.

Ivone Sucena, autora da coleção Ser Protagonista Geografia de Edições SM