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1 XVII CONABEA - Conselho Nacional da ABEA XX ENSEA - Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo ISSN 2177-3734

Caderno ABEA 25 - Experiencias Praticas em Ambientes Profissionais

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XII CONABEA Conselho Nacional da ABEA XX ENSEA Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EM AMBIENTES PROFISSIONAIS 04 a 07 de novembro de 2003, Caxias do Sul - RS.

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ISSN 2177-3734

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XII CONABEAConselho Nacional da ABEA

XX ENSEAEncontra Nacional sobre Ensino de

Arquitetura e Urbanismo

EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EMAMBIENTES PROFISSIONAIS

Caxias do Sul-RS 04 a 07 de novembro de 2003

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - RSCURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Realização:

Apoio:

Associação Brasileira de Ensino deArquitetura e Urbanismo

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COMISSÃO ORGANIZADORA ABEAItamar Costa Kalil - UFBA/BA

Isabel Cristina Eiras de Olivieira - UFF/RJCláudia Maria de Carvalho - Secretária ABEA

COMISSÃO ORGANIZADORA UCSProf. Edison Humberto Viero

Profª. Jaqueline Viel Caberlon PedoneProf. Paulo Rogério De Mori

04 a 07 de novembro de 2003Caxias do Sul

XII CONABEA

Conselho Nacional da ABEA

XX ENSEAEncontro Nacional sobre Ensino de

Arquitetura e Urbanismo

DIRETORIA ABEA BIÊNIO 2003/2005

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente José Roberto Geraldine Jr. Unifran/SPVice-Presidente Gogliardo Vieira Maragno UFMS/MSSecretário Fernando J. De Medeiros Costa UFRN/RNSub-Secretário Wilson Ribeiro Dos Santos Jr. Puc-Campinas/SPSecretário de Finanças Cláudio Listher Marques Bahia Puc-Minas/MGSub-Secretário de Finanças Angela Canabrava Buchman UEL/PR

DIRETORIAAna Elisea Costa - UCSCarlos Eduardo Nunes Ferreira - Estáci de SáEuler Sobreira Muniz - UNIFORGilson Jacob Bercoc - UELJosé Akel Fares Filho – Unama/PAJosé Antônio Lanchoti - Moura Lacerda/SPLino Fernando Bragança Peres - UFSC/SCMaria de Lourdes Costa – USU/RJNireu de Oliveira CavalcantiUbirajara Perci Borne

CONSELHO FISCALTitularesEster J.B. Gutierrez - UFPEL/RSIsabel Cristina Eiras de Oliveira - UFF/RJItamar Costa Kalil - UFBA/BA

SuplentesDébora Pinheiro Frazatto Verde dos Santos – PUC-CAMPINAS/SPPaulo Romano Reischilian - UNITAU/SPJúlio de Lamonica Freire - UNIC/MT

Organização editorial: Capa:Aloisio Joaquim Rodrigues Jr Aloisio Joaquim Rodrigues Jr

Impressão e Acabamento:ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e UrbanismoRua Fernando Ferrari, 75 - Botafogo - RJ -CEP 22231-040 Tel.:0xx21 25535446e-mail:[email protected] www.abea-arq.org.br

EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EMAMBIENTES PROFISSIONAIS

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APRESENTAÇÃO

O Caderno de nº 25 é resultado dos trabalhos apresentadosdurante o XX Encontro Nacional de Ensino de Arquitetura e Urbanis-mo – ENSEA, realizado no período de 04 a 07 de novembro de 2003na Universidade de Caxias do Sul – RS.

O tema proposto – Experiências Práticas em AmbienteProfissional, completa uma série de seminários realizados pelaABEA, como subsídio aos Cursos na implantação das DiretrizesCurriculares.

As discussões sobre a implantação de Estágios Curriculares,Escritórios Modelos, Núcleos e Laboratórios Temáticos e Laboratóri-os Curriculares Essenciais vem ao encontro da necessidade de seestabelecer parâmetros mínimos de atuação dos cursos na práticadas atividades complementares das Diretrizes Curriculares.

Quando das discussões e aprovação das Diretrizes Curriculares,muito se debateu sobre a obrigatoriedade ou não dos estágios nosCursos de Arquitetura e Urbanismo. A realidade atual do nossoensino e as condições vigentes na prática desses estágios, levou oconjunto dos cursos a optar pelo conceito mais amplo da atividade,nomeando-a apropriadamente, por sugestão da FENEA – FederaçãoNacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo, de ExperiênciasPráticas em Ambiente Profissional, deixando opcionalmente aoscursos, a decisão de melhor aplicá-la no seu Projeto Pedagógico.

Decorridos mais de cinco anos da implantação das DiretrizesCurriculares, se faz necessário nesse momento, uma avaliaçãoconsistente das experiências vivenciadas por cada um dos cursos,os rumos seguidos e suas correções. É nesse contexto que a ABEArealiza esse ENSEA, buscando contribuir para o aperfeiçoamento doensino e formação dos Arquitetos e Urbanistas.

O Caderno contempla ainda, as discussões ocorridas durante oXII CONABEA – Congresso Nacional da ABEA realizado no mesmoperíodo, quando foi eleita a nova diretoria da Entidade para o biênio2003/2005.

A DIRETORIA

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PROJETO CASA FÁCIL - UNIFIL: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EINSERÇÃO SOCIAL

Ivan Prado Junior e Gilson Jacob Bergoc ...................................... 107

UMA VISÃO DO ENSINO DAS ESTRUTURAS DASEDIFICAÇÕES PARA OS ESTUDANTES DE ARQUITETURA

João Eduardo Di Pietro e Roberto de Oliveira ......................................... 118

URBANIZAÇÃO EXCLUDENTE: O ASSENTAMENTOESTRELA DA VITÓRIA, NA CIDADE DE UBERABA /MG,UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR.José Carlos F. Bezzon ................................................................. 133

UTILIZAÇÃO DE MODELOS PARA O ENSINO DASESTRUTURAS NO CURSO DE ARQUITETURA EURBANISMOAmélia Panet Barros, Carolina Vidal Accioly, Marcelo Pessoa de A.Franca, Maria Ângela P. Xavier e José de Paiva Taussig....................158

ESTUDO DE DISPOSITIVOS PARA O MANEJO DERESÍDUOS SÓLIDOS EM UMA RESIDÊNCIACristian Guilherme Moz, Paulo Rogério De Mori eMaria Fernanda Nunes .............................................................172

PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO EM MORADIA SOCIALE MEIO AMBIENTE (*)

Maria Lucia Refinetti Martins .....................................................................194

O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETURA EURBANISMO DA UNIGRAN

Cynara Tessoni Bono ...................................................................................211A PESQUISA E A EXTENSÃO NO PROJETO PEDAGÓGI-CO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DEUBERABA: UMA ESTRATÉGIA DE EFETIVAÇÃO

Carmem Silvia Maluf, Janaína de Melo Tosta, José Carlos Faim Bezzon, Kelly

Cristina Magalhães e Symphorien Barthélémy Oudiane ..............................229

SUMÁRIO

ATAS CONJUNTAS ................................................................... 10

TALIESEM Ana Elísia da Costa, Calíntia ArgentaCeron, Tiago Dallegrave Costa,Rafael Comerlatto, Daniela Longoni, Terezinha Buchebuan Maginus;Raquel Munaro, Cheila Rodrigues Netto, Alessandra Braun Texeira,Rafael Borguetti Zanotto e Acadêmicos do Curso de Arquitetura daUniversidade de Caxias do Sul.....................................................20

PROJETO INTEGRADO:UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICAAnálise crítica sobre a experiência de ensino através deProjeto Integrado Final do 1º ciclo do curso de Arquiteturae Urbanismo do UnicenPCarlos Eduardo U Botelho, Giselle L.Dziura e Haraldo H.Freudenberg ................................................................................... 37

LABORATÓRIO DE ARQUITETURA, URBANISMO ETOPOGRAFIA - LabAUT: INCENTIVO AO CONVÍVIOPRODUTIVO

Sílvia Pereira de Sousa Mendes Vitale, Carlos Eduardo Zahn, CatiaRegina Wellichan e Iuri Gomes Ortiz ................................................... 60

LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAISCristiane Guinancio - ESPLAN - DF ............................................... 73

ESCRITÓRIO MODELO, SIMULACRO PROFISSIONAL ERESPONSABILIDADE SOCIALEuler Sobreira Muniz ...................................................................... 83

PROJETO E CONSTRUÇÃODE PASSARELA EM ARCO DE MADEIRAUMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Everaldo Pletz ............................................................................. 97

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Ata conjunta do XII Congresso Nacional da ABEA (COSU)e XX Encontro Nacional sobre Ensino de Arquitetura e Ur-banismo (ENSEA)Realizados na Universidade de Caxias do Sul – 04 e 07 de novembro de 2003

Às 14:00 horas do dia 04 de novembro de 2003, no auditóriodo Campus 8 da Universidade de Caxiasdo Sul, o presidenteda ABEA Prof. Itamar Kalil abriu os trabalhos convidando paracompor a mesa a Profa. Isabel Eiras, vice-presidente e o Prof.Fernando Costa, secretário. Nesse momento foi apresentadaa programação oficial dos eventos.

Presentes os representantes das seguintes Instituições:

1 Centro Universitário 9 de Julho, São Paulo/SP UNINOVE2 Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto/SP B. de Mauá3 Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, São Paulo/SP FEBASP4 Centro Universitário de Brasília, Brasília/DF UNICEUB5 Centro Universitário de João Pessoa, João Pessoa/PB UNIPÊ6 Centro Universitário Dom Pedro II, São José do Rio Preto/SP D. Pedro II7 Centro Universitário FEEVALE, Novo Hamburgo/RS FEEVALE8 Centro Universitário Filadélfia, Londrina/PR UNIFIL9 Centro Universitário FUMEC, Belo Horizonte/MG FEA-FUMEC10 Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto/SP M. Lacerda11 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, São Paulo/SP FAU/USP12 Faculdade de Arquitetura Ritter dos Reis, Porto Alegre/RS UNIRITTER13 Faculdades Metodista Izabella Hendrix, Belo Horizonte/MG I. Hendrix14 Fundação Armando Alvares Penteado, São Paulo/SP FAAP15 Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas/SP PUC-Camp16 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, B.H./MG PUC-Minas17 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba/PR PUC-PR18 Pontifícia Universidade Católica do R.Janeiro, Rio de Janeiro/RJ PUC-RJ19 Universidade Católica de Pelotas, Pepotas/RS UCPEL20 Universidade da Amazônia, Belém/PA UNAMA21 Universidade de Brasília, Brasília/DF UnB22 Universidade de Campinas, Campinas/SP UNICAMP23 Universidade de Caxias do Sul/RS UCS24 Universidade de Fortaleza, Fortaleza/CE UNIFOR25 Universidade de Franca, Franca/SP UNIFRAN26 Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro/RJ UNESA27 Universidade Estadual de Londrina, Londrina/PR UEL28 Universidade Federal da Bahia, Salvador/BA UFBA29 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas/RS UFPel30 Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis/SC UFSC

31 Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MSUFMS32 Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR UFPR33 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro/RJ UFRJ34 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN UFRN35 Universidade Federal do Rio Grande do Sul/RS UFRGS36 Universidade Federal Fluminense UFF37 Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo/SP Mackenzie38 Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro/RJ USU39 Universidade São Judas Tadeu, São Paulo/SP S J Tadeu40 Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CONFEA41 Caixa de Assitência dos Profissionais do CREA MÚTUA42 Federação Nacional dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo FENEA43 Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas FNA44 Universidade Positivo, Curitiba/PR UNICENP45 Universidade da Grande Dourados/MS UNIGRAN46 Universidade de Jaraguá do Sul UNERJ47 Centro Universitário do Vale do Taquari UNIVATS

XX ENSEA

A programação do XX ENSEA contou com a apresentação detrabalhos agrupados em sub-temas. Na tarde do dia quatro, osub-tema Laboratórios Curriculares Essenciais, e o sub-temaNúcleos e Laboratórios Temáticos. Após intervalo, o Arquiteto eUrbanista Benny Schasberg Diretor de Planejamento Urbanodo Ministério das Cidades proferiu palestra sobre as “Possibili-dades de interação Ministério das Cidades e o Ensino de Arqui-tetura e Urbanismo”. Na manhã do dia cinco, como continuida-de da programação do XX ENSEA, houve apresentação dostrabalhos dos sub-temas Atividades de Extensão, Projetos ePráticas Pedagógicas e Disciplinares. Na manhã do dia seisos trabalhos foram retomados com os sub-temas EstágiosCurriculares e Escritórios Modelo. Os dois últimos sub-temas,Estágios Curriculares e Escritório-modelo foram os que susci-taram o maior número de questões, passando pela questãoconceitual, suas mais diversificadas conotações, oriundas da

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falta de uma diretriz norteadora quanto às suas definições, ob-jetivos, abrangências e procedimentos. Ao final das seções, foifeita a leitura de um documento com recomendações e indica-ções do XX ENSEA ao XII CONABEA que passa a ser anexodesta ata. O documento foi aprovado.

XII CONABEA

À noite do dia quatro, às 20 horas foi realizada no auditório doCampus 8 da Universidade de Caxias do Sul, a abertura sole-ne do XII CONABEA e XX ENSEA. Para compor a mesa deabertura, o presidente professor Itamar Kalil convidou as se-guintes autoridades: Professora Liane Beatriz Moretlo Ribeiro,Vice-reitora da UCS representando o Reitor; Professora AnaMery de Carli, Diretora do Centro de Artes e Arquitetura da UCS;Professor Paulo Fernando do Amaral Fontana, Chefe do De-partamento de Arquitetura da UCS; Arq. e Urb. Danilo Landó,representando o IAB/DN; Arq. e Urb. Eduardo Bimbi, Presiden-te da FNA; Arq. e Urb. Benny Schasberg, representando o Mi-nistério das Cidades; Vereador Vinícios Ribeiro, presidente daCâmara dos Vereadores de Caxias do Sul; Acadêmico PedroHenrique Vade, representando a FENEA; e o palestrante da noi-te, professor Valdo José Cavallet, Pró-reitor de Graduação daUFPR. Após os discursos de abertura, foi dado inicio à pales-tra “Os novos desafios da Formação Profissional” proferida peloprofessor Valdo Cavallet. Após a palestra, o Presidente ItamarKalil convidou os presentes para o coquetel de abertura ofere-cido pela UCS.

Na tarde do dia cinco, o presidente da ABEA deu início aostrabalhos do XII CONABEA informando aos presentes da ne-cessidade da necessidade de recomposição da Comissão Elei-toral, uma vez que dos membros designados pelo XXVI COSUem Brasília, apenas o professor Andrei Schelee estava pre-sente. Foi indicado os nomes dos professores Carlos EduardoBotelho – PUC-PR, e Edson Humberto Viero – UCS, para subs-tituir os membros não presentes. A proposta foi aprovada.

Em seguida o presidente fez e leitura da pauta incluída no ma-terial entregue aos inscritos.

Pauta proposta e aprovada:

1. Diretrizes Curriculares da área de Arquitetura e Urbanismo;2. Panorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil;3. Estatutos da ABEA – Proposta de alteração;4. Comissão de Educação do CONFEA;5. Ações em andamento;6. Comissão de Avaliação de Curso de Arquitetura e Urbanis-mo – INEP;7. Relatório da Diretoria;8. Relatório do Conselho Fiscal;9. Fórum das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urbanis-tas;10. Próximos eventos – local e tema11. Divulgação dos Resultados da Eleição e Posse da Direto-ria e Conselho Fiscal.

Como parte da programação do XII CONABEA, três palestrasforam proferidas durante o evento: “Arquitetura e Urbanismo: aunicidade conceitual na história” com o professor NireuCavalcanti; “Relações entre Formação Profissional e Exercí-cio da Profissão” com a Arquiteta e Urbanista Walesca PeresPinto; e “Ações do Ministério das Cidades e a Formação Pro-fissional” com os Arquitetos e Urbanistas Kelson Senra e Fa-brício de Oliveira.

Deliberações nos pontos da pauta.

1 – Diretrizes Curriculares da área de Arquitetura eUrbanismoO presidente inicia uma explanação sobre os acontecimentosdesde as deliberações tomadas na XXVI reunião do COSU emBrasília até os últimos contatos com o relator do processo dasDiretrizes Curriculares no Conselho Nacional de Educação,passando pelas ações da Comissão de Educação do CONFEA.

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Após as discussões foram aprovados os seguintes encami-nhamentos: a) manter as negociações com o relator do pro-cesso no sentido de marcar uma audiência pública; b) queseja preparada uma ação judicial para a eventualidade deuma decisão do Conselho não favorável à proposta de di-retriz encaminhada pela área de Arquitetura e Urbanismo;c) que seja buscada uma aproximação com o MEC.

2 – Panorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo noBrasil.

O professor Gogliardo Maragno apresenta trabalho sobre oPanorama do Ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil atu-alizado com os dados mais recentes sobre os cursos eformandos. Aberta a discussão vários pontos foram lembra-dos pelos participantes como possíveis de serem inseridos notrabalho, considerado por todos como da maior importância.Após as discussões foram aprovados os seguintes encami-nhamentos: a) tentar incluir na apresentação, dados relati-vos aos docentes– quantos somos, onde estamos, etc.; b)indicativo de uma campanha de ampliação de cursos dearquitetura e urbanismo na rede pública, nos estados queainda não têm curso na área. c) oferecer ao Conselho Na-cional das Cidades, um estudo da evolução da implanta-ção dos cursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil.

3 – Estatutos da ABEA – Proposta de alteraçãoO presidente encaminha a discussão com a leitura da propos-ta de alteração do estatuto da entidade aprovada por ocasiãoda XXVI reunião do COSU em Brasília, justificando que a pro-posta de alteração visa resolver o problema recorrente da mu-dança da sede da entidade a cada dois anos, causando trans-tornos de registros de CPMF e demais trâmites burocráticos.Desta forma encaminha pela aprovação da fixação da sedeem Brasília. Após discussão ficou aprovada a seguinte reda-ção para o Artigo 2o do Estatuto da ABEA: “Artigo 2o.- A ABEAé uma entidade permanente e tem sua sede executiva em

Brasília-DF, onde terá foro.” Também ficou aprovada a cons-tituição de uma Comissão constituída de três componen-tes para fazer a adequação dos estatutos da ABEA ao Có-digo Civil Brasileiro até 11 de janeiro. As propostas de al-terações deverão ser encaminhadas à diretoria da ABEA.A referida comissão ficou assim constituída: CynaraTessoni Bono – UNIGRAN/MS; Gilson Jacob Bercoc –UNIFIL/PR; Adilson José Lara – CONFEA.

4 – Comissão de Educação do CONFEA – CES/CONFEA

O arquiteto e urbanista Adilson Lara, secretário executivo daCES/CONFEA faz uma explanação dos temas pautados.

a) Duração de Cursos: o presidente complementa a apresen-tação com informações a respeito do parecer do Conselho Na-cional de Educação que se refere à mobilidade de profissio-nais entre países e expões a Diretiva Portuguesa sobre o as-sunto. Aberta a discussão ficou aprovada a iniciativa de en-caminhamento da CES/CONFEA ao Conselho Nacional deEducação no sentido da manutenção do mínimo de 3.600horas e cinco anos para conclusão do curso de Arquitetu-ra e Urbanismo; indicativo de levar a discussão para aFENEA no sentido de envolver os estudantes, principaisprejudicados pela possível redução de carga horária. b)Cursos Seqüenciais: A CES/CONFEA continua acompanhan-do o parecer de implantação de cursos seqüenciais e critériosde registros de cursos seqüenciais no CONFEA. c) Acreditação/ Exame de Ordem: o ponto é trazido como informe aoCONABEA em virtude da recorrente manifestação de Conse-lhos Regionais no intuito da implantação de Exames de Or-dem. Diante da impossibilidade legal da implantação de umsistema de exame de ordem, surge a alternativa de acreditaçãode cursos.

5 – Ações em andamento

Educação Continuada: o presidente trás informes a respeito

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do projeto criado a partir da CES/CONFEA que visa incentivaras Instituições na criação de projetos de educação continuadaà distância. Informa ainda que a diretoria da ABEA já está tra-balhando em dois projetos, sendo o primeiro sobre o Estatutoda Cidades e o outro sobre Acessibilidade, em conjunto com aFNA e FISENGE, a serem lançados brevemente pelo SistemaCONFEA.

Conselho das Cidades: o professor José Geraldine Jr. Faz umbreve relato sobre a sua participação como representante daABEA na organização da Conferência Nacional das Cidadesque resultou na conquista de uma vaga no Conselho Nacionaldas Cidades.

6 – Comissão de Avaliação de Curso de Arquitetura e Ur-banismo – INEP

Os membros da Comissão de Avaliação do Curso de Arquite-tura e Urbanismo do INEP presentes ao CONABEA, relatarama participação da comissão nas ultimas reuniões do INEP e aspreocupações levantadas pelos membros com os rumos dapolítica de avaliação do ensino superior levada pelo novo go-verno. Após as discussões, ficou aprovado: após adequação,enviar ao Ministro da Educação o texto aprovado na XXVIreunião do COSU em Brasília com a posição da ABEA acer-ca do Exame Nacional de Cursos; Criação de um grupo detrabalho FENEA/ABEA para discutir a proposta de avalia-ção apresentada pelo MEC; Consultar o MEC sobre o quevai acontecer com os estudantes que concluíram seus cur-sos e ainda não fizeram o Exame Nacional de Cursos.

7 – Relatório da Diretoria

O presidente Itamar Kalil apresenta o relatório das atividadesdesenvolvidas pela diretoria na Gestão 2001-2003.

8 – Relatório do Conselho Fiscal

O conselho Fiscal composto pelos professores Roberto Py,José Antônio Lanchoti e Wilson Ribeiro faz a leitura do seu pa-recer sobre a prestação de contas apresentada pela diretoria.O parecer do Conselho Fiscal foi aprovado.

9 – Fórum das Entidades Nacionais dos Arquitetos e Urba-nistas

O presidente Itamar Kalil faz um relato dos últimos aconteci-mentos no âmbito do Fórum das Entidades. Depois do Con-gresso Brasileiro dos Arquitetos o projeto acordado no Fórumfoi apresentado ao Senador José Sarney e, depois de passarpelas mãos da senadora Roseana Sarney, está hoje com oSenador Almir lando. O assunto entrou em discussão e foi apro-vado o seguinte encaminhamento: divulgação na página daABEA de todas as atas do Fórum das Entidades desde oinício dos trabalhos; criação de um ponto de consulta paraesclarecer dúvidas a respeito do projeto, através deconsultoria jurídica, nas páginas eletrônicas mantidas pe-las entidades que compões o Fórum; Reafirmar delibera-ções anteriores, inclusive quanto à realização da consultaaos profissionais e dos seminários regionais e nacional.

10 – Próximos eventos – local e tema

O presidente encaminha no sentido de delegar à nova diretoriaa definição do local do próximo evento, à luz das candidaturasjá registradas anteriormente, e propõe que se discuta o temado próximo evento. A plenária aprovou a proposta de delegar ànova diretoria a definição do local do próximo evento edefiniu o tema como sendo: “Habitação e Mobilidade Ur-bana”

11 – Divulgação dos Resultados da Eleição e Posse da

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Diretoria e Conselho Fiscal

Os trabalhos continuaram com a divulgação dos resultados daeleição pela Comissão Eleitoral onde concorreu uma única cha-pa inscrita para o mandato de 2003- 2004 da ABEA.

DIRETORIA EXECUTIVA

Presidente JOSÉ ROBERTO GERALDINE JR BARÃODE MAUA/SPVice-Presidente GOGLIARDO VIEIRA MARAGNO UFMS/MSSecretário FERNANDO J. DE MEDEIROS COSTA UFRN/RNSub-Secretário WILSON RIBEIRO DOS SANTOS JRPUCCAMP/SPSecretário de FinançasCLÁUDIO LISTHER MARQUES BAHIAPUCMINAS/MGSub-Sec. de FinançasÂNGELA CANABRAVA BUCHNAN UEL/PRDIRETORIA

ANA ELISEA COSTA UCS/RSCARLOS EDUARDO NUNES FERREIRA UNESA/RJEULER SOBREIRA MUNIZ UNIFOR/CEGILSON JACOB BERCOC UNIFIL/PRJOSE ACKEL FARES FILHO UNAMA/PAJOSÉ ANTONIO LANCHOTI MOURA LACERDA/SPLINO FERNANDO BRAGANÇA PERES UFSC/SCMARIA DE LOURDES COSTA UFF/RJNIREU DE OLIVEIRA CAVALCANTI UFF/RJUBIRAJARA PERCI BORNE UFRGSCONSELHO FISCAL

TITULARESESTER J. B. GUTIERREZ UFPel /RSITAMAR COSTA KALIL UFBA/BAISABEL CRISTINA EIRAS DE OLIVEIRA UFF/RJSUPLENTESDÉBORA VERDE PUCCAMP/SPPAULO ROMANO RECHILIAN UNITAU/SJÚLIO DE LAMONICA UNIC/MT

A seguinte moção foi apresentada e aprovada pela plenária:“Os professores, estudantes e dirigentes dos cursos de Ar-quitetura e Urbanismo, reunidos no XII CONABEA e XX ENSEA,realizados entre os dias 4 e 7 de novembro de 2003, na Univer-sidade de Caxias do Sul – Campus 8, agradecem à Universi-dade e ao Curso de Arquitetura e Urbanismo pela infra-estrutu-ra e atendimento colocados à disposição dos participantes,particularmente à sua direção e grupos de estudantes voluntá-rios e o agradável acolhimento que nos foi proporcionado emuma ambiência arquitetônica de destaque.”

Na continuidade e tendo cumprido a pauta estabelecida, o pre-sidente eleito e empossado professor José Roberto GeraldineJr agradeceu em seu nome e em nome da nova diretoria daABEA a presença de todos. Nada mais tendo a tratar, o presi-dente deu por encerrado o XXII CONABEA, do qual lavro a pre-sente ata.

Caxias do Sul, 7 de novembro de 2003.

Fernando José de Medeiros CostaSecretário da ABEA

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TALIESEMAna Elísia da CostaArquiteta Ms., professora da Universidade de Caxias do Sule-mail: [email protected]

Edison Humberto VIEROArquiteto, especialista, professor da Universidade de Caxias do Sul e-mail: [email protected]

Calíntia Argenta Ceron; Tiago Dallegrave Costa;Rafael Comerlatto;Daniela Longoni; Terezinha Buchebuan Magnus; Raquel Munaro;Cheila Rodrigues Netto; Alessandra Braun Texeira; Rafael BorguettiZanottoAcadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da U. de Caxias do Sul

e-mail: [email protected]

Resumo

O texto tem como tema os escritórios modelos nos cursosde Arquitetura e Urbanismo e objetiva fazer um relato de expe-riências do TaliesEM – Escritório Modelo de Arquitetura e Urba-nismo da Universidade de Caxias do Sul. Esse relato ganhaimportância na medida em que as propostas pedagógicas evi-denciam a importância da contextualização dos conteúdos eda resolução de problemas no desenvolvimento de aprendiza-gens, papel esse que os escritórios cumprem com grande efi-ciência. Por outro lado, esse relato tenta compartilhar possibi-lidades de vivências práticas por parte de acadêmicos do cur-so, sem ferir os preceitos éticos de exercício profissional. Inici-almente, apresenta-se o próprio TaliesEM, seu conceito, objeti-vos e fundamentos. Na seqüência, destaca as três atividadeshoje desenvolvidas pelos acadêmicos: a qualificação do dese-nho da escadaria da COOESP, em parceria com a Secretariada Habitação; o Plano de Intenções para uma praça dentro doprojeto Você Apita – FIAT; e ainda, ações de educação ambientale patrimonial junto a Ação Comunitária da Universidade deCaxias do Sul.

Introdução

A implantação dos Escritórios Modelos nos Cursos deArquitetura e Urbanismo tem respaldo nas diretrizes curricularesda área, estabelecidas através da portaria n°1770, de 21/12/1994, do Ministério de Educação e Desporto, particularmenteem seu artigo 5º. Pretende ser um âmbito de apoio das ativida-des curriculares, além de possibilitar o necessário desenvolvi-mento de atividades de pesquisa e extensão a elas vinculadas.

Além dessa indicativa legal, torna-se importante salientar acontribuição pedagógica que os Escritórios Modelos poderãodar aos próprios cursos de Arquitetura e Urbanismo. Registra-se que, cada vez mais, teorias do conhecimento evidenciam aimportância da contextualização dos conteúdos, estabelecen-do relações entre teoria e realidade, no desenvolvimento deaprendizagens, pois, como afirma o pedagogo CelsoVasconcellos: “Conhecer é construir significados, através doestabelecimento de relações no sujeito, entre as representa-ções mentais [...] Conhecimento consiste numa representa-ção mental de relações” (VASCONCELLOS, 2000, p. 39). Essemesmo ponto de vista é compartilhado pelo pedagogo espa-nhol Rafael Porlãn1 , ao sugerir que aprender é resignificar con-ceitos e não reproduzir conteúdos.

Também nesse universo cognitivo é relevante ressaltar aimportância das experiências práticas, normalmente ofereci-das através da resolução de problemas, como estratégia dedesenvolvimento de aprendizagens e de capacitação profissi-onal. Porlãn sugere que “aprender significativamente está rela-cionado a resolver e lidar com situações problema e com aqui-lo que interessa, ou seja funcional”2 . No mesmo sentido,Vasconcellos argumenta: “O conhecimento é estabelecido nosujeito por sua ação sobre o objeto [...] Sem ação, não há “ins-talação” do conhecimento no sujeito.” (Vasconcellos, 2000, p.41)

Assim, os Escritórios Modelos são, sem dúvida, espaçosde aprendizagens significativas e ativas, que podem qualificara própria formação profissional e evitar exposições inseguras

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e danosas do profissional recém-formado diante da socieda-de. Historicamente, essa proposta encontra resistência na clas-se profissional que teme o apoio ou incentivo ao exercício ilegalda profissão. No entanto, essas dificuldades precisam ser su-peradas, sendo diagnosticadas possibilidades de atuação semferir preceitos éticos, tal qual já fizeram outras áreas de conhe-cimento, como a Medicina e o Direito.

Por outro lado, observa-se que a formatação dos Escritóri-os Modelo permite que os alunos tenham um maior contatocom a realidade com a qual irão atuar enquanto futuros profis-sionais, diagnosticando possíveis campos de atuação profissi-onal, que não só aqueles estabelecidos e visivelmente manti-dos pelo mercado de trabalho já quase saturado, o que é tam-bém de interesse, não só das academias, como das classesprofissionais que devem garantir a manutenção e ampliaçãodo seu espaço de trabalho.

Assim, na seqüência, esse relato tenta compartilhar pos-sibilidades de vivências práticas por parte de acadêmicos docurso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxiasdo Sul, sem ferir os preceitos éticos de exercício profissional.

1. O TaliesEM

O Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da Univer-sidade de Caxias do Sul é um projeto sem fins lucrativos, quevisa a melhoria da educação e da formação profissional de seusacadêmicos, através da promoção de vivências sociais e deexperiências teóricas e práticas como um todo.

A sua denominação TaliesEM é uma referência a um dosprojetos do arquiteto Frank Lloyd Wright. O Taliesin foi projeta-do, inicialmente, para ser a sua casa, com o tempo virou seuescritório e mais tarde a Fundação Frank Lloyd Wright. Implan-tada numa colina, Wright conceituava o Taliesin como uma“pestana radiante”. A colina era seu lugar favorito e propunhaque a casa não deveria ser colocada sobre a colina e sim, per-tencer a ela.

Devia ser uma fábrica, mais que um estúdio e uma casa.Pretendia aqui ter uma vida não convencional ( CAVADAS, 1995,p. 270).

Esta foi a inspiração para uma vida acadêmica não con-vencional. Com o TaliesEM, pretende-se deixar para trás a ex-clusividade da vivência estática da sala de aula e vivenciar aarquitetura com intensidade, como vida e inspiração.

Por fim, resta esclarecer que seus conceitos, obje-tivos e fundamentos foram traduzidos em um estatuto aindanão concluído, elaborado pelo próprio corpo discente, com oacompanhamento da coordenação do curso, Chefia de Depar-tamento e do professor que representa o corpo docente juntoao TaliesEM – Edison Viero. Este documento está estruturadoem oito capítulos: I - Denominação Sede, Finalidades e Dura-ção; II – Quadro Social, Direitos e Deveres; III – Patrimônio; IV –Assembléia Geral Ordinária e Extraordinária; V – Conselho deAdministração; VI – Conselho de Professores; VII – DiretoriaExecutiva e VIII – Disposições Gerais.

Para que se tenha claro os objetivos e limites doEscritório Modelo, esse documento é imprescindível, servindode referência para as tomadas de decisão e condução dasexperiências desenvolvidas.

2. O TaliesEM na Ação Comunitária

A Ação Comunitária é um projeto da Universidade de Caxiasdo Sul, lançado em 1999, resultante de uma parceria entre aUniversidade, empresas e instituições da comunidade. Sua fi-nalidade é contribuir para a promoção social das comunidadescarentes da região, através da realização de ações comunitá-rias preventivas e educativas.

As ações comunitárias são realizadas nos bairros e cida-des da região e têm, aproximadamente, uma edição mensal.Consistem na oferta de atividades variadas que se estendemdurante todo o dia e incluem serviços gratuitos na área da saú-de, educação, estética, lazer e meio ambiente (UNIVERSIDA-DE DE CAXIAS DO SUL, 2003).

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Diante da possibilidade de participação do Cursode Arquitetura e Urbanismo no evento, o TaliesEM, ini-cialmente, levantou duas possibilidades de atuação –planejamento do próprio espaço em que as atividadesocorrem e ainda, atividades de educação ambiental epatrimonial. No que se refere às atividades de plane-jamento, a necessidade foi verificada em uma das ações,que apresentava sérios problemas de zoneamento ede sinalização. Já com relação às atividades de educaçãopatrimonial e ambiental, destacou-se especial interessepelas crianças que se apresentam em número signi-ficativo nas atividades e também disponibilidade de tempopara as atividades educativas.

Contudo, também ficou estabelecido que as ativi-dades a serem desenvolvidas poderiam assumir di-versos formatos, dependendo das circunstâncias quese apresentarem: Patrimônio Urbano; Itinerários Urbanos3 ;Prevenção e Segurança nos espaços públicos.

2.1. A Primeira Experiência – Cidade de FarroupilhaEdurbana

A Edurbana é uma atividade lúdica, desenvolvida junto acrianças, que busca registrar a percepção dos espaçosatravés da representação – desenhos e maquetes – e domovimento corporal.

Através dessa brincadeira, espera-se que as criançasreflitam sobre a construção e organização dos espaços,favorecendo a criação e manutenção de ambientes maissaudáveis e com maior qualidade de vida. Assim, podemser apresentado como objetivos desse jogo a ampliaçãodos conceitos de urbanidade, ou seja, a consciência do “per-tencer a um lugar”, e de civilidade, aprendendo a convivercom o outro no espaço.

A brincadeira foi desenvolvida numa seqüência de trêsmovimentos: (1) “pertenço a um lugar”; (2) “entendo o lu-gar a que pertenço”; (3) “agindo sobre o nosso espaço”.

No movimento “pertenço a um lugar”, as crian-ças são solicitadas a desenhar o mapa mental do percursoque faz de casa até a escola. O objetivo dessa ati-vidade pode ser assim descrito:

Tem como objetivo analisar as representaçõesque as crianças tem do seu bairro, partindodo princípio que a criança percebe, constrói,vive e organiza o mundo e os espaços de for-ma particularizada, em contraste com a per-cepção adulta de espaço, mundo e tempo.

Utilizando-se da análise do desenho infantil comouma forma possível de se captar esta repre-sentação, alguns aspectos mais específicossão investigados: como a criança se percebeneste espaço? Quais são os atributos espa-ciais mais significativos? O uso do desenhovisa demonstrar também, como esta lingua-gem - que é um registro significativo na in-fância, no qual a criança fala de si, do mundoe do outro - funciona como instrumento deinvestigação e documentação em trabalhos comcrianças no campo da educação. (MACIEL,2003)

Esses desenhos são elabora-dos em giz de cera e papel Kraftde grandes dimensões, para queas crianças fiquem livres quantoao formato da representação.Depois dos desenhos elabora-dos, os papéis são fixados nasparedes e as crianças são solici-tadas a conhecer e reconheceredifícios e espaços importantese/ou estruturantes para o grupo(fig. 1).

Figura 1 – Primeiro Movimento daEdurbana na Ação ComunitáriaFonte:TaliesEM

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No segundo movimento –“entendo o lugar a que perten-ço” é discutido com as criançasos elementos estruturantes doespaço – casa, rua, lote, quartei-rão, centro, bairros, cidade, re-gião... Essa discussão é feita apartir de maquetes em diferentesescalas (fig. 2).

Também são abordados osprincipais edifícios públicos - escola, hospital, Prefeitura, Câ-mara de Vereadores, Fórum, Museu, Igreja... e como agem naorganização do espaço.

Por fim, no terceiro momento - “agindo sobre o nos-so espaço”, o grupo do TALIESEM é mobilizado pela mesmaindagação dos arquitetos espanhóis envolvidos no projeto daABRINQ:

Como seria uma cidade “arquitetada” por criançase adolescentes? Se perguntássemos a uma crian-ça como ela desejaria que fosse a sua cidade, oque ela diria?Esse é o desafio lançado pela delegação de arqui-tetos da Espanha na Bienal Internacional de Arqui-tetura de São Paulo, que acontece em setembro, eabraçado por 48 meninos e meninas dos projetosArrastão - Movimento de Promoção Humana, Golde Letra e Centro Cultural Vila Prudente, apoiadospelo Programa Nossas Crianças, da FundaçãoAbrinq.Acompanhados pelo educador espanhol CésarMunhoz e por 8 arquitetos, eles ensaiaram umautopia possível: a participação concreta das crian-ças no pensar e criar a cidade, desde seu início. Oresultado, uma maquete de 60 m2 construída pe-las pequenas mãos com materiais recicláveis e de

construção, é uma mostra do que acontece quan-do se permite a intervenção infanto-juvenil na pai-sagem urbana: esta passa a obedecer outra lógi-ca, baseada em seus desejos e necessidades. O Brasil tem mais de 60 milhões de crianças eadolescentes em sua população. Se esta cidade“ideal”, pensada por e para nossas crianças, servirde base para reflexão para aqueles que constróemnossos espaços urbanos, já terá cumprido sua fun-ção. Afinal, uma maquete nada mais é que a proje-ção de algo que ainda não existe, mas que se pre-tende criar. (FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREI-TOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2003)

Assim, as crianças são lançadas na proposta de planejare construir uma cidade, num desenho coletivo e através deuma maquete, empregando embalagens e materiais alterna-tivos (fig. 3).

Como avaliação, pode-se concluir que o trabalho foi bemproveitoso do ponto de vista de envolvimento das crianças e dacomunidade em geral. Contudo, as atividades são merecedo-ras de uma pesquisa que busque sistematizar os resultadosalcançados. A perspectiva é que seja elaborada uma parceriacom os Departamentos de Psicologia e Pedagogia, favorecen-do as atividades interdisciplinares.

Caminhos de um Cocô

Além da atividade acimadescrita, o grupo elaborou umenorme painel sobre as alterna-tivas de saneamento urbano ea importância da fossa sépticanas casas, por mais simplesque elas sejam, e o que acon-tece quando não se temdirecionamento do esgoto e donão uso da fossa.

Figura 2 – Primeiro Movimento daEdurbana na Ação ComunitáriaFonte:TaliesEM

Figura 3 –Terceiro Movimento daEdurbana na Ação ComunitáriaFonte:TaliesEM

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Pelas suas cores primárias e oteor humorado de seu título, o pa-inel objetivava ter grande apelojunto à comunidade. Assim, maisdo que ter como público alvo ascrianças, o painel objetivava atin-gir os pais das mesmas enquan-to aguardavam o encerramentoda brincadeira. Importa observarque no planejamento das cidades,as crianças tinham que resolver o problema do esgoto, quer comum rede coletora, quer com o uso das fossas sépticas (fig. 4).

2.2. A Segunda Experiência – Bairro Desvio Rizzo

Jogo da Memória – Memória da Cidade

Essa atividade parte do pressuposto de que a EducaçãoPatrimonial possui um caráter pedagógico, capaz de gerar in-formação e formação, ou seja, capaz não só de comunicar econstruir uma cultura, mas também de ajudar a formar cida-dãos (NUPEP, 2003).

Esse argumento pode ser desenvolvido a partir da própriametodologia empregada. Num primeiro momento, a educaçãopromove o conhecimento e o reconhecimento do que é impor-tante para a sociedade, passando pela sua significação coleti-va e plural; depois, elege os bens dignos de preservação e, porfim, inicia ações decisivas de proteção. Nesse processo dereconhecer, eleger e proteger os bens patrimoniais, é impor-tante observar que os sujeitos passam a conhecer a históriado seu povo e a atuar como agentes participativos, possibili-tando o surgimento da figura do cidadão.

O Jogo da Memória da Cidade desenvolvido pelo TaliesEMbusca agir no primeiro estágio desse processo pedagógico, ouseja, na promoção do conhecimento e reconhecimento do seupatrimônio arquitetônico, resgatando uma relação de afeto da

comunidade pelo patrimônio. Só assim, o poder público e asociedade em geral poderá desenvolver ações legítimas depreservação dos seus bens.

Importa observar que a cidade assiste, recorrentemente, anegligência quanto ao seu patrimônio arquitetônico e urbanísti-co, resultando no seu abandono, descaracterização e destrui-ção. Por outro lado, o Conselho Municipal do Patrimônio Histó-rico de Caxias do Sul – COMPHAC- vem, aridamente, desen-volvendo poucas ações para a preservação desses bens, li-dando com a ganância imobiliária e/ou com a pouca sensibili-dade e conscientização por parte da população e do própriopoder público.

Hipoteticamente, esse quadro decorre da lacuna no processode educação patrimonial, onde ações de eleição e proteçãodos bens ocorrem a revelia do reconhecimento dos seus valo-res por parte da população em geral.

Metodologia:

O Jogo da Memória – Memó-ria da Cidade foi desenvolvido apartir de outro jogo – oMemodíptico1 , que retrata cenasdo casario de Porto Alegre, con-frontando o edifício em seu con-texto e o edifício isolado.

No nosso caso, o jogo foi ela-borado a partir da confrontação defotografias atuais e antigas dos edi-fícios (fig. 5 e 6). Essa confronta-ção objetiva evidenciar a existên-cia duradoura dos edifícios ao lon-go do tempo e, em casos dedescaracterização, os valoresarquitetônicos originais.

Figura 4 –Terceiro Movimento daEdurbana na Ação ComunitáriaFonte:TaliesEM

Figuras 5 e 6 - Imagens daResidência Sassi no Jogo da MemóriaFonte: CINQUENTENÁRIO..., 1925, p.66 e TaliesEM

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Manter o patrimônio cultural, portanto, muito alémda conservação física - de lugares históricos, pré-dios públicos, museus, monumentos, natureza -significa resgatar a memória e os valores que origi-nariamente levaram a se considerar aquele perso-nagem, aquele lugar, aqueles objetos ou prédioscomo patrimônios da coletividade. Valorizar opatrimônio cultural significa interagir com o meioem que se vive – o patrimônio que a humanidadetem. (LACZYNSKI, 2003)

Ludicamente, ao despertar a atenção e o olhar do jogador,que pode ser grupos de qualquer idade, espera-se que essasimagens passem a ter uma certa imageabilidade2 , vindo o edi-fício a ser conhecido ou reconhecido como um patrimônio dig-no de preservação (fig. 7).

O Jogo - Evolução

Buscando a atenção dascrianças, desenvolveu-setambém um jogo de tabulei-ro, inspirado no “Jogo daVida”, da Grow (fig. 8). O jo-gador joga dados e, confor-me o número tirado, andaas casas do tabuleiro, evo-luindo desde a chegada doscolonizadores até a forma-ção da cidade. Num dadomomento, o jogador recebeuma profissão (prefeito, industriário, professor, policial, etc) e aresponsabilidade pelas ações na cidade dentro desta área pas-sa a ser sua. Se cai numa casa com ação negativa, por exem-plo, poluição das águas por uma indústria, o industriário é puni-do voltando algumas casa no jogo. Ou seja, baseia-se na res-

ponsabilidade que cada umtem sobre o lugar em quevive e no que isso reflete noplaneta.

Desde a chegada doscolonizadores, passandopelos dias atuais, até o nos-so provável futuro, o jogo sedesenvolve com informa-ções pedagógicas sobre aformação das cidades egerenciamento ambiental,no intuito de explicitar que cada ação, por menor que seja, re-flete de alguma maneira na vida de todos, enfatizando a impor-tância do coletivo.

Pensa-se para as próximas ações comunitárias, desenvol-ver o jogo do tamanho da criança, para que ela mesma seja opeão a percorrer os caminhos da cidade.

3. O TaliesEM na COOESP

O TaliesEM foi procuradopela presidente da Coopera-tiva Esperança do Vale -COOESP, uma associaçãode moradores de um bairrocarente de Caxias do Sul,para que fosse desenvolvi-da uma proposta de qualifi-cação do traçado de algunsacessos, áreas públicas e,principalmente, da escada-ria da área, realizada pela Prefeitura.

O trabalho foi realizado juntamente com a Prefeitura, pelofato desta área estar sendo regularizada pela Secretaria de

Figura 7 – Jogo da Memória na AçãoComunitária – Bairro Desvio RizzoFonte:TaliesEM

Figura 8 – Jogo Evolução na AçãoComunitária – Bairro Desvio RizzoFonte:TaliesEM

Figura 9 - Reunião com a Secretaria dehabitaçãoFonte:TaliesEM

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Habitação (Fig. 9). Seguindoa metodologia já adotada poressa Secretaria, as deci-sões projetuais foram toma-das juntamente com os mo-radores, em reuniões-relâm-pago, em que foram discuti-das questões coletivas e in-dividuais (fig. 10).

O TaliesEM esteve pre-sente na demarcação doslotes e pátios privados e doscaminhos coletivos (fig. 11).O processo atualmente en-contra-se parado, devido anão execução do levanta-mento topográfico das de-marcações, inviabilizando acontinuidade dos trabalhos.

4. O TALIESEM no Você Apita - Fiat

O Projeto Você Apita é desenvolvido pela FIAT - empresa dosetor automobilístico, e tem entre seus objetivos aderir à pro-posta internacional da UNESCO de desenvolver uma culturade paz. Trata-se de um projeto de ação educativa que, no Bra-sil, vem sendo desenvolvido em cidades de diferentes esta-dos.

Numa parceria entre o Você Apita – Fiat e escolas da redepública de ensino, tem-se como protagonistas crianças e jo-vens. Além disso, o projeto conta com diversos colaboradores,desde voluntários, organizações governamentais e não gover-namentais até empresas públicas e privadas. Estes colabora-dores são contatados pelo coordenador do projeto de cada ci-dade.

Neste ano, o projeto tem como tema a mobilidade, expres-sa na seguinte missão: “convocar jovens à atuação democrá-tica e solidária para a solução dos problemas de mobilidadeemergente de suas comunidades”. (FIAT e UNESCO, 2002)

Entre os objetivos explicitados no projeto, destaca-se:desenvolver a sensibilidade e observação em relação aos fa-tos do cotidiano; buscar alternativas que promovam a igualda-de de oportunidades de acesso e mobilidade para toda a co-munidade; contribuir para a construção de uma sociedade de-mocrática e mais fraterna.

O TaliesEM no projeto Você Apita – Fiat

A coordenadora do Proje-to Você Apita FIAT – Caxiasdo Sul, Daniela Fagundes,através de contato com acoordenação do curso deArquitetura e Urbanismo daUniversidade de Caxias doSul, solicitou a colaboraçãodo curso na elaboração deum plano de intenções parauma praça.

O objeto de estudo seriauma área verde pública, naregião do Bairro Esplanada(fig.12), em frente à EscolaBasílio Tcacenco, a qual játem seus alunos integradosem outras atividades do Pro-jeto Você Apita – FIAT.

Em conjunto com a co-munidade, os integrantes doTaliesEM estão assumindo aresponsabilidade de desen-volver o diagnóstico da área

Figura 10 - Reunião com a população daCOOESP. Fonte:TaliesEM

Figura 11 - Levantamento métrico daCOOESP. Fonte:TaliesEM

Figura 12 – Área de intervenção do ProjetoVocê Apita - FIATFonte:TaliesEM

Figura 13– Jogo das Cadeiras Cooperativasno Projeto Você Apita - FIATFonte:TaliesEM

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e um plano de intenções paraa praça. Esse trabalho tam-bém vem sendo acompa-nhado, voluntariamente, pe-los professores do cursoPaulo Rogério De Mori eAndréa dos Santos.

Importante registrar que ametodologia adotada é amesma da Edurbana, já dis-cutida nas atividades daAção Comunitária. Pelascondições de trabalho, a programação foi acrescida do Jogodas Cadeiras Cooperativas (DEACOVE, 2002), um rico instru-mento para discutir a importância do outro na construção doespaço (fig. 13 e 14).

Conclusão:

De modo geral, observa-se que as experiências envolvendocrianças são muito gratificantes para o grupo, uma vez quealém de participar da formação dessas crianças, acaba-se atin-gindo, por conseguinte, os adultos. Com brincadeiras, dese-nhos e jogos, pode-se fazer com que as crianças construamconhecimentos relacionados ao desenvolvimento urbano dascidades, à importância da preservação de prédios históricos edo saneamento básico, e o principal - que todos são responsá-veis, agentes, pela qualidade do espaço em que se vive.

As atividades também têm sido oportunidades ímpares paradivulgação e valorização da profissão de arquiteto e urbanista,evidenciando a importância de sua atuação, desde a constru-ção de uma casa até o planejamento das cidades.

Academicamente, acredita-se que as experiências doTaliesEM podem vir a qualificar o próprio curso, uma vez quetais experiências promovem um constante diagnóstico da rea-lidade, capaz de realimentar e reformular as abordagens daspróprias disciplinas de graduação.

Figura 14 – Envolvimento das crianças noProjeto Você Apita - FIATFonte:TaliesEM

Por fim, também é relevante observar que esta formataçãofavorece as relações interpessoais, tanto dos alunos entre si,especialmente alunos de diferentes semestres, quanto dos alu-nos e professores ou alunos e sociedade, sendo essa condi-ção importantíssima na mobilização para a construção do co-nhecimento e para a consolidação de uma identidade de gru-po.

Referências Bibliográficas e Fotográficas

CAVADAS, Fernando Pereira (1995). Frank Lloyd Wright. 6° ed.Barcelona: Gustavo Gili, 1995.

CINQUENTENÁRIO DELLA COLONIZZAZIONE ITALIANA NEL RIOGRANDE DEL SUD. (1925). Porto Alegre: Globo, 1925.

COSTA, Manuel da (2001). Memodíptico. 1° ed. Porto Alegre: 2001

DEACOVE, Jin (2002). Manual de Jogos Cooperativos. Santos: ProjetoCooperação, 2002.

DEL RIO, Vicente (1990). Introdução ao desenho urbano no processode planejamento. São Paulo: Editora PINI, 1990.

FIAT E UNESCO (2002). Projeto Você Apita 2002. São Paulo: Centrode Coordenação Fiat para os Jovens, 2002.

FUNDAÇÃO ABRINQ PELOS DIREITOS DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE. Cidade Brinquedo. http://www.fundabrinq.org.br/?pg=noticias&noticia=acont02 [on line -acesso out. 2003]

LACZYNSKI, Patrícia. Educação Patrimonial. http://www.polis.org.br/publicacoes/dicas/ 162026.html [on line - acesso out. 2003]

NUPEP - NÚCLEO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO PATRIMONIAL.Apresentação. http://www.nupep.hpg.ig.com.br/apresentacao.htm [on line - acesso out. 2003]I

TALIESEM (2003). Estatuto do Escritório Modelo de Arquitetura eUrbanismo. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul.

UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL. http://www.ucs.br [on line -acesso out. 2003].

VASCONCELLOS, Celso dos Santos (2000). Construção doConhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 2000.

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PROJETO INTEGRADO:UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICAAnálise crítica sobre a experiência de ensino através deProjeto Integrado Final do 1º ciclo do curso de Arquiteturae Urbanismo do UnicenPCarlos Eduardo U. BOTELHOProfessor, arquiteto e urbanista, Coordenador do Curso de Arquitetura e Urbanismo,Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – Centro Universitário Positivo (UnicenP)Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – CEP 81280-330, Campo Comprido,Curitiba, PR., Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, e-mail: [email protected].

Giselle L. DZIURAProfessora Mestre (PROPAR-UFPR/PUCPR-2000), arquiteta e urbanista, Curso deArquitetura e Urbanismo, Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – CentroUniversitário Positivo (UnicenP) – Coordenadora do Projeto Integrado do 1º ano docurso de Arquitetura e Urbanismo. Professora do Curso de Pós-Graduação –Ciberarquitetura – expressão e representação digital em arquitetura. Rua Prof. PedroViriato Parigot de Souza, 5300 – CEP 81280-330, Campo Comprido, Curitiba, PR.,Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, e-mail: [email protected], [email protected]

Haraldo H. FREUDENBERGProfessor Mestre (PROPAR-UFPR/PUCPR-2000), arquiteto e urbanista, Curso deArquitetura e Urbanismo, Núcleo de Ciências Exatas e Tecnológicas – CentroUniversitário Positivo (UnicenP). Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 –CEP 81280-330, Campo Comprido, Curitiba, PR., Fone: 317-3029, Fax: 317-3030, e-mail: [email protected], [email protected]

Resumo

Na busca de envolver o aprendizado do aluno de uma novaforma sistêmica, o curso de Arquitetura e Urbanismo do Cen-tro Universitário Positivo - UNICENP em Curitiba-PR, desen-volveu um diferencial conjuntural em seu projeto pedagógico,que se estabelece num processo auto avaliativo dos conteú-dos disciplinares ministrados através de um Projeto Integradode Final de Série, aos moldes do trabalho de final de gradua-ção tradicional.

Essa sistemática pretende, ao se estabelecer como resul-tado de uma proposta arquitetônica individual, um instrumentodefinitivo da verificação do processo de aprendizagem das dis-ciplinas, em cada estratificação de formação do Curso corres-pondente aos 1º, 2º, 3º e 4º anos letivos.

O desenvolvimento e metodologia do trabalho experimenta-do, procuram buscar o sucesso da integração entre as áreas:

VIII JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DAASPEA (2001). Pedagogia Urbana - Contributo para um futurosustentável. http://www.iie.min-edu.pt/proj/ambiental/aspea.doc[on line - acesso out. 2003].

MACIEL, Marcelo de Abreu (2003). Drawing, Space and Representationof the Hospitalized Child Through Playing. http://www.geocities.com/saudebrincar/proj_marcelo.htm [on line -acesso out. 2003].

NOTAS:

1 Conferência feita na Universidade de Caxias do Sul, em abril de 2002, comoparte do Programa de Qualificação Docente.

2 Para Porlãn, “a busca da solução pode ser altamente estimulante, fazendo osalunos acessarem sua potencialidade epistêmica, concepções prévias, apren-der novos conceitos, condutas e habilidades. A tendência do aluno é buscar asolução, vendo o implícito dentro de si mesmo, percebendo que são portadoresde saberes, que podem estar desorganizados, mal compreendidos, desarticula-dos, mas que existe. Nesse processo cabe ao professor ajudar o aluno a siste-matizar, organizar, articular o que o aluno pode fazer em termos de busca [...]Dessa forma o processo de resolução é rico para propiciar aprendizagens.(Novamente, fica evidente outro papel do professor: criar estratégias que levemo aluno a refletir sobre o processo aprendendo com ele e não apenas ficar atentoao resultado final)”

3 Ver também VIII JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DA ASPEA(2001)

4 COSTA, Manuel da. Memodíptico. 1° ed. Porto Alegre: 2001

5 Imageabilidade - capacidade de uma imagem ser forte o suficiente para“saltar fora”, impondo-se na memória e na percepção do observador (DELRIO,1990, p. 93)

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saber se localizar dentro do seu ambiente para que possa ex-trair o máximo de informações e gerenciá-las a seu favor e emfavor da sua formação integral. Usualmente, durante a realiza-ção do curso, caminha-se por disciplinas, matérias e conteú-dos sem a consciência do que se está realmente fazendo, oudo real contexto em que se está inserido. Ao final do curso, odiscente melhor preparado, será aquele que soube, em cadacampo, apreender os diversos conteúdos e enxergar as cone-xões que possam ocorrer entre eles. A Arquitetura é capaz deencantar aqueles que a estudam, transformando-nos em apai-xonados pelo seu campo de trabalho. Contudo, uma das fun-ções acadêmicas é o despertar para a razão do fazer.

Na Antigüidade só havia o arquiteto. Não havia o engenhei-ro. (A arquitetura é uma das profissões mais antigas da histó-ria da humanidade). Era também, do arquiteto, o papel do cons-trutor, que tomava todas as decisões relativas à obra. Na Gréciaantiga o termo techné não diferenciava arte e técnica. Na lín-gua japonesa não há distinção entre arquiteto, construtor e en-genheiro: a palavra kenchiku designa igualmente as três ativi-dades, assim como o próprio edifício.

Para Vitruvio, por exemplo, arquitetura é função de ordem,arranjo, simetria, adequação e economia, bem como de rela-ções que estão sintetizadas na sua conhecida tríade firmitas /utilitas / venustas, que poderia ser traduzida por solidez / utili-dade / beleza. Hegel viu a arquitetura como uma arte simbólica(quer pelo seu modo de representação, quer pelo seu conteú-do), cujo problema central é o de dar forma sensível a umaidéia.

Há inúmeras definições para arquitetura, e em cada umavem contido o ponto de vista do autor. Para Le Corbusier, maisdo que a tentativa de uma definição esclarece sob a forma deum manifesto, a sua visão de arquitetura. Partindo de uma de-núncia violenta ao ecletismo do Século XlX e aos estilos, ofere-ce a sua versão. Deixa transparecer sua filiação ao racionalismofrancês ao afirmar que “a casa é a máquina de morar”, masmostra também o seu outro lado, o de grande pintor e artista

teórica, técnica e prática. Busca-se, como primeira etapa fun-damentar o aluno na definição do tema, na programação dasatividades e na pesquisa inerente ao assunto; na segunda pro-cura-se substanciar o aluno na delimitação da região deabrangência e do local de implantação do projeto de estudo,assim como no inventário, análise e diagnóstico de seus com-ponentes essenciais e na terceira, orientar o aluno no desen-volvimento e processo de execução do projeto, assim como aexpressão gráfica e defesa oral das propostas elaboradas esubmetidas a uma banca de avaliação com professores docurso.

Assim, a partir dessa nova experiência pedagógica, permi-tiu-se que o aluno desenvolvesse, desde o início das suas ati-vidades acadêmicas, uma visão sistêmica da arquitetura, re-fletida através da integração das disciplinas. Após a aplicaçãodessa interação observou-se que houve uma contínua melho-ra na capacidade de percepção espacial, entendimento e ex-pressão da arquitetura e urbanismo. Os resultados dos traba-lhos evidenciam ano a ano, que os alunos procuram desenvol-ver as inter-relações multidisciplinares que envolvem o projetode arquitetura e urbanismo. No presente relataremos especifi-camente a experiência do primeiro ano do curso.

Palavras-chave: Projeto Integrado, integração disciplinar, ex-periência pedagógica.

FILOSOFIA DO PROJETO DE CURSO

“O objetivo da arquitetura é a criação da eficiênciaperfeita e, portanto, mais bela.”

Bruno Taut

A palavra Arquitetura deriva do latim “ARCHTECTUM” -ARCH significa arte e TECTUM significa teto, no sentido deabrigo, e, técnica no sentido de saber fazer. Arquitetura, por-tanto deve agregar e estabelecer vínculos entre arte e técnica.

Uma das grandes tarefas do profissional e do ser humano é

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junto desatualizada. E em terceiro, investimento e parceriaspermanentes nas áreas do curso para que tenhamos laborató-rios de profissionalização que respondam às necessidades dosnossos alunos.

Arquitetura e arte

A arte, expressão particular que nos define como humanos,é um componente fundamental da arquitetura. O que vai definiruma arquitetura de qualidade é o equilíbrio entre arte e tecnologia.O que significa dizer que tanto durante a graduação, quanto aolongo da vida profissional, nós arquitetos, nos preparamos con-tinuamente, para nos aproximarmos do artista e dos significa-dos da construção, do conteúdo simbólico de uma obra e dotécnico, que compreende como as coisas funcionam. Fazen-do isso continuamente, desde o programa de necessidadesde uma obra que deverá ganhar um corpo físico - artefatoarquitetônico - até a estrutura que a sustenta.

A arquitetura é uma arte que se realiza na construção, damesma forma que a música se realiza no som e a literatura nalinguagem verbal. Mas a música não é o som, nem a literaturaé a linguagem (ou vice-versa), assim como a arquitetura não éapenas edificação. De acordo com STROETER (1934, pág.122), arquitetura, música e literatura são a arte de manipularos meios de realização de modo a torna-los expressivos. Aarquitetura, portanto, é algo que está fora do seu meio de reali-zação, apesar de fazer uso dele. Vale-se da construção paraatingir objetivos que estão além dela: os volumes, os espaçoslivres, a luz, a perspectiva, a integração com a paisagem, oabrigo, o monumento, a ideologia, etc. O projeto é de uma cons-trução, mas o processo mental que levou até ela, e o pró-prio resultado final, são arquitetura.Objetivando o Método didático

Segundo a Conferência Mundial de Educação Superior, rea-lizada de 5 a 9 de outubro de 1998, em Paris, seria necessáriointroduzir no Ensino Superior métodos pedagógicos fundamen-tados na aprendizagem, para formar profissionais que, benefi-

que foi, ao escrever que “a arquitetura é para emocionar”, eque “está além das coisas utilitárias”.

Mais importante do que estabelecer uma definição única paraarquitetura é compreender que da mesma maneira que o mun-do está em constante transformação, também se transformamas necessidades do homem e com elas, a arquitetura - e todoo instrumental que a envolve, tanto no que se refere ao ensino,quanto ao exercício da profissão. Nosso aluno deve estar aptoa adaptar-se à diferentes contingências, compreendendo ne-cessidades, diagnosticando problemas e buscando soluçõesque agreguem, além de solidez, utilidade e beleza - economiade recursos naturais e respeito ao usuário e ao meio ambiente.

Arquitetura e tecnologia

Outro ramo do conhecimento humano que está intimamen-te ligado com a arquitetura é a tecnologia. Téchné significa sa-ber-fazer. Não um saber ligado ao conhecimento de leis e nú-meros, conhecimento ao qual se chega através do uso damente de forma exclusiva, mas um saber ligado à nossa habi-lidade e perícia de moldar as formas da natureza segundo anossa necessidade. Tecnologia é o estudo do saber-fazer. Oestudo da necessidade humana na busca da quebra de barrei-ras propostas pelo universo que nos cerca. É a busca da ferra-menta mais adequada para resolver nossos problemas. To-mas Edison classificava como “tool-man”, o homem que bus-ca ferramentas para a solução de seus problemas ou supera-ção de suas necessidades.

O desenvolvimento tecnológico, assimilado e transmitidodurante a formação de uma turma de arquitetura, representaum desafio que apresenta múltiplas facetas. Primeiro, um cor-po docente consciente da necessidade de atualização e queprocure estar em sintonia com o estado da arte em constanteevolução, presente na academia, indústria e comércio. Segun-do, um currículo ágil para que tenhamos um profissional for-mado e falando a linguagem atualizada de sua área, sob penade apresentarmos uma imagem de uma instituição no seu con-

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Sendo a Arquitetura âmbito de conhecimento interdisciplinar- e sendo necessária para a formação do indivíduo arquiteto acontribuição de diversas áreas, tais como: ciências humanas,artes e tecnologia - a atuação coerente do arquiteto deve sem-pre considerar a síntese desses conhecimentos.

Conforme a “Carta de la Formación en Arquitectura - UIA -Unesco” (1996), o objetivo básico da formação de arquitetos éformar o arquiteto como um generalista capaz de compreen-der e intervir no processo de adequação do entorno construídoàs necessidades humanas.

Entendemos, no Curso de Arquitetura e Urbanismo do Cen-tro Universitário Positivo, que a formação do arquiteto é univer-sal, abrangente e generalista, e que isso estabelece oparadigma a ser pretendido na formação do profissional con-temporâneo. Essa ideologia se enquadra nas indicações maisrecentes propostas pelas instituições profissionais dos arqui-tetos brasileiros e estão em consonância com o ideário dasinstituições, tanto educacional quanto de representação profis-sional, nacionais e internacionais, como política de formação eatuação do arquiteto para o século XXI.

A atual estrutura curricular do Curso de Arquitetura e Urba-nismo do UnicenP foi efetivada em 2000, sendo as seguintesas diretrizes que estruturam o currículo com base no pressu-posto de formar arquitetos e urbanistas em condições de atu-ar, com grau de excelência, como profissionais liberais em ins-tituições públicas e privadas, em todos os campos de compe-tência de sua profissão (planejamento e projeto urbanístico,paisagístico e arquitetônico - edificação, interiores e restauro).A concepção do Curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenPestá centrada no comprometimento com a necessidade deaprendizado em todo o território do campo do conhecimentonecessário para o desempenho profissional do Arquiteto e Ur-banista. Um curso idealizado para ser voltado para o debate,reflexão e memória, capaz de captar e estimular novas ten-dências e por conseqüência identificar e promover novos ta-lentos.

ciados por ter aprendido a aprender e a empreender, estariamem condições de criar seus próprios empregos, ter sua pró-pria unidade de produção, e contribuiriam assim para reduzir oflagelo do desemprego.

Pretendemos, em vista do colocado, formar em nossos alu-nos a capacidade de aprender, não para a vida, mas ao longoda vida. Dessa maneira, tecnologia, arte e capacidade de adap-tação a mudanças interagem em harmonia, pois acreditamosque a arquitetura é um todo formado por essa tríade e de ma-neira particular, em cada acadêmico.

“...aqueles arquitetos que puseram todo seu esfor-ço sem possuir uma suficiente cultura literária, ain-da que fossem muito hábeis com suas mãos, nãoforam capazes de alcançar seu objetivo nem deadquirir prestígio em seu trabalho; pelo contrário,os arquitetos que confiaram exclusivamente emseus próprios raciocínios e em sua cultura literária,dão impressão que perseguem mais uma sombraque a realidade. Porém, os que aprenderam a fun-do ambas, sim o conseguiram, adquirindo enormeconsideração, pois se equiparam com todas as de-fesas, como assim foi seu objetivo.”

Marcus Vitruvius Pollio, 27 a.C.

O curso de Arquitetura e Urbanismo do UnicenP trilha ocaminho da interdisciplinaridade do ensino, visando desenvol-ver ao máximo todas as ferramentas e capacidades do futuroarquiteto, como profissional completo. Interdisciplinaridade sig-nifica tecer junto, integrar as várias ramificações de uma de-terminada área do conhecimento. O tema integrado, que serealiza no último bimestre, do primeiro ao quarto ano; e o TFGno quinto ano, desenvolvem nos discentes a capacidade deresolver problemas complexos sob diversos enfoques, do teó-rico ao prático. Esperamos construir assim, no intervalo de al-guns poucos anos, um curso de excelência em Arquitetura eUrbanismo, em arte e tecnologia.

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escalas de abordagem, permitindo uma visão geral da área deatuação do Arquiteto e Urbanista.

ESTRUTURA DAS DISCIPLINAS DO 1º CICLO

A fim de promover a maior integração possível entre as dis-ciplinas obrigatórias, preservando o caráter de multi, inter etransdisciplinariedade do curso e do profissional a ser forma-do, as ementas das disciplinas têm estruturas semelhantespara facilidade de identificação desta integração:

PROJETO INTEGRADO: COMPOSIÇÃOEmenta: conceitos, princípios e prática de expressão visu-al, estrutura formal e composição volumétrica. Semiologiana arquitetura, paisagismo e urbanismo.

EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO: DESENHOEmenta: princípios, métodos, técnicas e aplicação práticado desenho livre, desenho geométrico, desenhoarquitetônico e perspectiva. Linguagem gráfica para arqui-tetura, paisagismo e urbanismo.

EXPRESSÃO E REPRESENTAÇÃO: TÉCNICAS COMPLE-MENTARESEmenta: Conceitos, princípios, métodos, técnicas e aplica-ção prática da expressão oral, expressão escrita, modela-gem tridimensional (maquete) e fotografia. Noções de com-putação: conceitos e princípios. Programas aplicativos emcomputação gráfica. Princípios, métodos, técnicas e apli-cação prática da computação gráfica para arquitetura,paisagismo e urbanismo. Desenvolvimento de projeto as-sistido por computador.

FUNDAMENTOS: TEORIAEmenta: Noções de estética e semiologia: conceitos, pro-cesso artístico e significação. Bases teóricas: conceitos,concepção, escalas de intervenção e exemplos de arquite-tura, arquitetura de interiores, arquitetura de patrimônio,paisagismo, planejamento paisagístico, desenho urbano e

Desta forma, uma das principais diretrizes para o desenvol-vimento do Curso está organizada para a análise da arquitetu-ra, do lugar e seu território, questionando a contribuição da pro-dução arquitetônica e urbanística na formação de paisagens ecidades, tendo-se como meta a configuração da estrutura es-pacial como um todo e não apenas do edifício de forma isola-da. O espírito de crítica analítica apropriada e a vocação para aponderação de argumentos, são princípios fundamentais naformação do caráter do arquiteto idealizado pela nossa coleti-vidade acadêmica.

Nessa apresentação nos propomos ao recorte da descri-ção da experiência didática específica do Curso de Arquiteturae Urbanismo do Centro Universitário Positivo - UnicenP, de-senvolvida no 1º Ciclo de formação do seu Curso, quando doexercício do Tema Integrado do 1º ano do Curso, em suaestruturação e resultados didáticos, alcançados, referentes aoinusitado da proposição de trabalho.

O PROCESSO DE ENSINO E O 1º CICLO DE FORMAÇÃO

O processo de ensino-aprendizagem do curso baseia-seno conjunto de atividades didático-pedagógica descritas naPortaria 1770/93 do MEC, se estrutura em três ciclos de for-mação:

1º Ciclo: Formação Fundamental (1º ano),2º Ciclo: Formação Profissionalizante (2º, 3º e 4º anos),3º Ciclo: Formação Integral ( 5º ano).

O 1o Ciclo (Formação Fundamental) é orientado para a for-mação básica, envolvendo o primeiro ano do Curso,correspondendo a 800 horas-aula de disciplinas obrigatórias,das quais 160 são voltadas à Área de Teoria (20%), 480 estãorelacionadas à Área de Técnica (60%) e 160 são referentes àÁrea de Prática (20%). Pretende-se que nesse ciclo o alunotenha uma visão completa do quadro geral de sua futura com-petência profissional, bem como do conjunto de disciplinas doCurso. Neste, ainda, os assuntos são tratados em diferentes

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Na 1ª etapa (1º bimestre), a disciplina mestra Projeto In-tegrado: Composição trabalha com exercício prático “Alma doobjeto”, o qual desenvolve conceitos relativos a polaridades,preferencialmente bidimensionais, e que explora o desenvolvi-mento teórico da expressão da linguagem visual. Paralelamentea disciplina de Expressão e Representação: Desenho procuradesenvolver a percepção espacial, conceitos de representa-ções gráficas e introdução ao desenho. Essa disciplina possuicomo atividade integrada a representação bidimensional doexercício prático da “Alma do objeto”. Além disso, busca-secompreender a importância da mentalização do espaço (ob-servação, treinamento e persistência) para a arquitetura e suarepresentação, através de da atividade “Mentalização do espa-ço”, integrando as disciplinas de Expressão e Representação:Desenho e Expressão e Representação: Técnicas Comple-mentares.

INTEGRAÇÕES 1ª ETAPA

Projeto Integrado: Composição, Expressão e Representação:Desenho; Expressão e Representação: Técnicas Complemen-tares

Na 2ª etapa (2º bimestre), a atividade da disciplina de Proje-to Integrado: Composição consiste num volume compositivo3D a partir do conjunto de obras de um arquiteto, através de

planejamento urbano e regional. Métodos e técnicas de pes-quisa aplicada à arquitetura, paisagismo e urbanismo: efici-ência nos estudos; leitura e análise crítica; leitura e percep-ção espacial; organização e produção técnica e científica;normas, métodos e técnicas para elaboração e apresenta-ção de trabalhos técnicos e científicos.

FUNDAMENTOS: HISTÓRIAEmenta: análise da evolução da produção artística, da ar-quitetura (inclusive de interiores e de patrimônio), dopaisagismo e do urbanismo nos períodos históricos carac-terísticos, a nível mundial, do Brasil e do Paraná.

BASES TÉCNICASEmenta: noções técnicas básicas: conceitos, métodos, téc-nicas e exemplos sobre tecnologia, sistemas estruturais econforto ambiental aplicados à arquitetura, paisagismo e ur-banismo, componentes da obra de arquitetura, doagenciamento paisagístico e da intervenção urbana e regio-nal.

TOPOGRAFIAEmenta: noções de topografia, aerofotogrametria, topologia,foto-interpretação e cartografia: conceitos e princípios. To-pografia aplicada à arquitetura, paisagismo e urbanismo: mé-todos, técnicas e aplicação prática.

O PROCESSO DE ENSINO DO 1º CICLO

O conteúdo e sua recorrente avaliação dividem-se emquatro etapas com caráter formativo e, ao longo de todo o pro-cesso, contempla o processo de ensino com atividades inte-gradas.

Esse processo é somatório, ou seja, à medida que ocor-rem as etapas (1º, 2º, 3º e 4º bimestres), as disciplinas vãogradualmente integrando as atividades pedagógicas ao longodas etapas, e então conduzidas ao coroamento do Projeto In-tegrado, no qual todas as disciplinas são integradas através deum único tema de projeto arquitetônico.

Fig. 1 e 2 – Trabalhos 1º etapa Projeto Integrado: Composição

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dade, fluidez espacial, estru-tura de começo (introdu-ção), meio (desenvolvimen-to) e fim (conclusão), pau-sa (espaços de transição),circulação, arranjos espaci-ais, ordem, integração e se-gregação. O trabalho con-siste em representar atra-vés de uma composição 3D,três sensações dadas, de-finindo um percurso linear.Busca-se neste momentodo curso, integrar as discipli-nas de Fundamentos: Teoria,Fundamentos: História, Ex-pressão e Representação:Desenho, Expressão e Re-presentação: TécnicasComplementares.

Paralelamente, a repre-sentação do desenhoarquitetônico busca seu de-senvolvimento edetalhamento através de au-las práticas na disciplina de Expressão e Representação: De-senho e aulas teóricas na disciplina de Bases Técnicas.

INTEGRAÇÕES 3ª ETAPA

Projeto Integrado: Composição, Expressão eRepresentação:Desenho, Fundamentos: Teoria, Fundamentos:História, Expressão e Representação: Técnicas Complemen-tares, Bases Técnicas.

interpretação livre da “Alma do arquiteto”, exercício que exigedesenvolvimento de pesquisa teórico/gráfico, com apresenta-ção da pesquisa e proposta final com aplicações do softwareOffice PowerPoint investigado na disciplina de Expressão eRepresentação: Técnicas Complementares. Busca-se tam-bém, a interação entre as disciplinas de Fundamentos: Teoriae Fundamentos: História, que articula espaços que se relacio-nam aos grandes mestres da arquitetura, e ainda a atividadeintegra-se com a disciplina de Expressão e Representação:Desenho, que desenvolve desenhos técnicos da composição3D obtida, no sentido de en-volver o aluno com a técnica,sem perder de vista seuenvolvimento teórico.

INTEGRAÇÕES 2ª ETAPA

Projeto Integrado: Composi-ção, Expressão eRepresentação:Desenho,Fundamentos: teoria, Funda-mentos: história e Expressãoe Representação: TécnicasComplementares.

Na 3ª etapa (3º bimestre),o exercício prático da disci-plina de Projeto Integrado:Composição introduz o con-ceito de arquitetura do mo-vimento, do encontro e do di-álogo entre objetos, paisa-gem e pessoas. Busca-sedesenvolver a percepção es-pacial e capacitar o aluno acompreender e utilizar osconceitos de: ritmo, continui-

Fig. 3 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado:Composição “Alma do Arquiteto” : RichardMeier - Alunas: Camila Mantovani Pereira e

Makerli (2003)

Fig. 4 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado:Composição “Alma do Arquiteto” : OscarNiemeyer - Alunas: Loriane Cisz Portes e Simo-

ne Maquiavelli (2003)

Fig. 5 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado:Composição “Alma do Arquiteto” : DanielLibeskind - Alunos: Tiago Thomaz e Juliano

Nowak (2003)

Fig. 6 – Trabalho 2º etapa Projeto Integrado:Composição “Alma do Arquiteto” : LuisBarragan - Alunos: Rafaela Vicente e Juliano

Mansano (2003)

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4ª etapa: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO INTEGRADO FI-NAL

O Projeto Integrado Final consiste na realização de uma pro-posta arquitetônica como instrumento de avaliação do proces-so de aprendizagem, da estrutura curricular referente ao 1º ci-clo, e do próprio curso, sendo portanto, um trabalho realizadoindividualmente.

A presente experiência se dedica a aplicar os conceitos ob-tidos durante a formação fundamental correspondente ao anoletivo; introduzir o aluno no estudo, análise e propostasergonômicas, funcionais, técnicas e plásticas relacionados aespaços arquitetônicos; propiciar um posicionamento multi, intere transdisciplinar do aluno, através da integração entre as dis-ciplinas com a sua estruturação e avaliar as condições de qua-lificação e nível de preparo do aluno para o ciclo subsequentedo curso.

Os objetivos específicos de cada área consistem em:- Área Teórica: fundamentar o aluno na definição do tema,

na programação das atividades e na pesquisa inerente ao as-sunto;

- Área Técnica: instrumentar o aluno na delimitação daregião de abrangência e do local de implantação do projeto deestudo, assim como no inventário, análise e diagnóstico de seuscomponentes essenciais;

- Área Prática: orientar no desenvolvimento e processo deexecução do projeto, assim como à apresentação gráfica edefesa oral das propostas elaboradas pelo aluno.

O TEMA E A METODOLOGIA

Os edifícios de habitação têm sido sempre alvo de estudosde arquitetos, urbanistas, sociólogos e todas as áreas afins.Constituem, portanto, obras de arquitetura que exercem umafascinação permanente que vai além de sua função, unidadede forma e técnica, considerando também a paisagem que arodeia.

Fig. 7 – Trabalho 3º etapa Projeto Integra-do: Composição “Alma do Espaço” -Alunos: Irineu A Lopes e AlexandreMattos (2003)

Fig. 9 – Trabalho 3º etapa ProjetoIntegrado: Composição “Alma doEspaço” - Alunos: Eduardo Vieirae Fernanda Ramina (2002)

Fig. 10 – Trabalho 3º etapa ProjetoIntegrado: Composição “Alma doEspaço” - Alunas: Silvia Ahrens eSuelen C. Silva (2003)

Fig. 8 – Trabalho 3º etapa Projeto Inte-grado: Composição “Alma do Espaço”Alunos: Samuel Costa e MicheleGuelmann (2002)

Fig. 11, 12, 13 – Trabalho 3º etapa Projeto Integrado: Composição “Alma do Espaço”Aluno: Daniel Fonseca Arantes

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ENVOLVIMENTO DAS DISCIPLINAS

- Projeto Integrado:Composição - aplicação dos conceitos, princípios e práticade expressão visual, estrutura formal e composiçãovolumétrica, compreensão compositiva e contextual na Ar-quitetura, Paisagismo e Urbanismo;

- Expressão e Representação:Desenho – representação gráfica do projeto de arquiteturaatravés de desenho técnico com grafite e ilustração comtécnica livre;

- Expressão e Representação:Técnicas Complementares – representação eletrônica doprojeto de arquitetura em AutoCAD, Arqui 3D, Photoshop ePower Point;

- Fundamentos:Teoria e História – fundamentos do partido arquitetônicodo projeto através de bases teórico-conceituais, referênci-as estéticas e poéticas visuais consagradas e auxílio nodesenvolvimento do memorial justificativo de projeto, con-forme normas gerais de redação e apresentação;

- Bases Técnicas:Auxílio e orientação na compreensão dos fatores ambientais(geográficos e climáticos), sensoriais (vistas e sonoros), deregulamentação que interferem ou direcionam ou aindacondicionam decisões projetuais;

- Topografia:Auxílio nos aspectos de modelagem e terraplanagem, cortee arrimo do terreno.

OS RESULTADOS

Para uma análise mais aprofundada foram estabelecidos 3exemplares que refletem e identificam três entendimentos doresultado. São eles:

Dessa forma, procura-se explorar temas em estruturas dedimensões mínimas, em que os detalhes, função, forma, dina-mismo, materiais e proporção possam se desenvolver até che-gar a um resultado lógico e harmonioso.

O tema proposto para todas as disciplinas eleva o conceitoda função HABITAR como foco do projeto, para que o alunopossa desmistificar o tradicional, o previamente concebido. Alémdisso instiga-se a reflexão do refúgio do homem e da otimizaçãodos espaços mínimos.

Para o início do desenvolvimento do projeto algumas consi-derações são dadas, como a localização, área máxima (70m2), número de usuários e acesso de veículos.

METODOLOGIA

a) pesquisa: histórico e conceituação (necessidades físi-cas e intelectuais da habitação permanente e transitória),ergonomia e equipamentos, aspectos ambientais etecnológicos (materiais, iluminação, ventilação, insolação,cores, texturas, etc.), aspectos econômicos, aspectostipológicos e exemplares existentes da arquitetura mundiale brasileira;

b) inventário, análise e diagnóstico: leitura do contextogeral e imediato (construído e natural), visuais de longa ecurta distâncias – da área demarcada para a paisagem, vi-suais de longa e curta distâncias – da paisagem para a áreademarcada, forma de utilização e acessos à edificação; perfildos usuários; aspectos físico-tecnológicos e técnico-cons-trutivos (Infra-estrutura existente, aspectos físicos do lote,aspectos naturais e paisagística.

Todas as etapas de trabalho são desenvolvidas com apoioe assessorias dos professores das disciplinas do 1º ano, nohorário normal das aulas e submetido a uma banca de avalia-ção composta por três professores do curso.

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1) Exemplar 1 – “Reflexão e Desenvolvimento”Aluno: Vitorino Barause JúniorIdentifica-se o talento e a contribuição pessoal na assimila-

ção do método pretendido na construção do currículo, em quese utiliza do resultado das várias fases do processo.

Envolveu embasamento no estudo dos arquitetos para de-senvolver o trabalho final, enraizado no pensamento clássico.

Aproveitou os valores da essência do arquiteto Mies Van DerRohe, assimilou os conceitos evolutivos adotados pelo arqui-teto Campos Baeza e refletiu a sua própria proposta, buscan-do identificar a história e se apropriando dos conteúdos inte-grados.

2) Exemplar 2 – “Provação”Aluno: Samuel CostaPercebe-se no projeto desenvolvido a tradução de uma ex-

periência adquirida num ambiente profissional externo.Procurou sem apropriação da reflexão promovida pelo pro-

Fig. 14, 15 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – fotos da maquete Aluno: Vitorino Barause Júnior

Fig. 16, 17 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – fotos da maquete

Aluno: Vitorino Barause Júnior

Fig. 21, 22 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: VitorinoBarause Júnior

Fig. 18, 19, 20, 21 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto

Aluno: Vitorino Barause Júnior

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cesso de ensino expressar um resultado que se apóia em ex-pressões pré-concebidas. Não houve incorporação dos valo-res do arquiteto referenciado Richard Méier, e sim absorção daestética das obras do arquiteto.

2) Exemplar 3 – “Aplicação”

Aluna: Fernanda SchlossmacherObserva-se claramente o envolvimento da aluna com o en-

sino promovido pelo processo quando resultado apresentadoreproduz os conceitos explicitados.

Fig. 23 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte-grado Final – maquete final

Aluno: Samuel Costa

Fig. 24 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte-grado Final – maquete final Aluno: Samuel Costa

Fig. 25 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte-grado Final – maquete final Aluno: Samuel Costa

Fig. 26 – Trabalho 4º etapa Projeto Inte-grado Final – projeto Aluno: Samuel Costa

Fig. 26 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Samuel Costa

Fig. 27, 28, 29, 30 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado Final – projeto Aluno: Samuel Costa

Fig. 31 – Trabalho 4º etapa Projeto Integrado

Final – projeto - Aluno: Samuel Costa

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A construção do projeto está embasada no tema desenvol-vido na 2ª etapa, a qual trabalhou com o arquiteto Luis Barragane aplicou diretamente no projeto integrado final.

Presume-se que a formação dos alunos no curso busca ointercâmbio de idéias comprometendo-se com a criação e aprovocação da reflexão. Permite-se também que o aluno per-ceba, questione, avalie e estude a realidade, a qual é transfor-mada continuamente.

No entanto, apesar dos caminhos diferenciados, todos osprocessos apresentados contribuíram para que os alunos per-corressem os seus próprios caminhos, preservando a sua iden-tidade e desenvolvendo a sua linguagem pessoal.

Assim, soma-se a importância do crescimento individual doaluno, apoiado na sua própria reflexão.

Fig. 32 – Trabalho 4º etapa Projeto IntegradoFinal – maquete final Aluno: Fernanda Schlossmacher

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Luckesi, Cipriano. Fazer universidade : uma proposta metodologica.São Paulo : Cortez,1987

MEC, Secretaria de Educação Superior, Comissão de Especialistasde Ensino de Arquitetura e Urbanismo. Proposta de DiretrizesCurriculares Nacionais para o ensino de Graduação emArquitetura e Urbanismo. Brasília. 2001.

Unicenp. Projeto Pedagógico do Curso de Arquitetura e Urbanismo(em aprovação). Curitiba, 2003

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HISTÓRIA DO LabAUT E SUAS FUNÇÕESMULTIDISCIPLINARES

O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE instalou evem desenvolvendo, desde 1997, um Laboratório de Arquitetura,Urbanismo e Topografia, na Unidade Vila Maria, conhecido entreestudantes e professores como LabAUT. A experiência temdemonstrado que esse espaço é essencial para incentivar oconvívio produtivo dos alunos com os professores, ematividades de extensão curricular e de pesquisas. O laboratórioatende os alunos em disciplinas projetuais, de planejamento ede topografia, em atividades exercidas no seu próprio espaçofísico e em atividades externas. Através da orientação dosprofessores, são disponibilizados materiais, equipamentos edocumentação para as pesquisas e experimentos que osalunos estão desenvolvendo.

Este laboratório tem uma função muito importante no curso deArquitetura e Urbanismo da UNINOVE, pois é através desteespaço que os alunos tem acessosrápidos às mais variadas informaçõesrelacionadas com as atividadesespecíficas do curso.

O Laboratório instalado na UnidadeVila Maria deu início às suas atividadesno segundo semestre de 1997, com onome de “Laboratório de Urbanismo”, que nasceu a partir danecessidade de reunir professores e alunos da UNINOVE, jun-to com professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismoda Universidade de São Paulo - FAUUSP em uma pesquisadenominada “Aldeia De Carapicuíba: Estudo Histórico,Arquitetônico e Urbanístico do Único Aldeamento JesuíticoPaulista Remanescente”. Esse projeto de pesquisa propunha-se a atingir objetivos de divulgação histórica, preservação, re-visão de critérios de uso e ocupação do solo, formulação decritérios de infra-estrutura e serviços urbanos. Desse modo,

LABORATÓRIO DE ARQUITETURA, URBANISMO ETOPOGRAFIA - LabAUT: INCENTIVO AO CONVÍVIOPRODUTIVO

Arq. Sílvia Pereira de Sousa Mendes Vitale Coordenadora do Curso / Unidade Vila Maria – [email protected] / Rua Guaranésia,425 – São Paulo/SP

Arq. Carlos Eduardo ZahnCoordenador do Curso / Unidade Memorial América Latina – [email protected] /Rua Adolfo Pinto, 109 – São Paulo/SP

Arq. Catia Regina WellichanTécnica do Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Topografia – Rua Guaranésia,425 – São Paulo/SP

Arq. Iuri Gomes OrtizTécnico do Laboratório de Conforto Ambiental – Rua Guaranésia, 425 – São Paulo/SP

RESUMO

O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNINOVE vemdesenvolvendo um Laboratório de Arquitetura, Urbanismo eTopografia – LabAUT. A experiência demonstrou que ele éessencial para incentivar o convívio produtivo dos alunos comos professores. O laboratório atende os alunos em atividadesexercidas no seu próprio espaço e em atividades externas.Através da orientação dos professores, são disponibilizadosapoios para as pesquisas e experimentos dos alunos.

A procura do espaço e acervo do LabAUT vem se amplian-do. Em 2000, seu rendimento era menor; atualmente, a fre-qüência é expressivamente significativa. O hábito de consultae pesquisa vem se consolidando, entre o alunado e para apoioaos professores. Dada a amplitude das atividades o laborató-rio agrega a contribuição profissional de técnicos, formadosem Arquitetura, que acompanham o seu desenvolvimento.

Pode-se dizer que a relação dos alunos com o laboratório émuito significativa e positiva, com vistas a ampliar os conheci-mentos e aprimorar o desempenho do Curso no âmbito da ins-tituição.

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pranchetas, microcomputador, mapotecas, e com acervo ini-cial de cartografia adquirido pela instituição especialmente parao LabAUT. Alguns equipamentos foram adquiridos para darsuporte às atividades, incluindo a incorporação dos aparelhosde topografia, instrumentos de medição, mesa de vidro comiluminação, entre outros.

Atualmente, o ambiente novamente ampliado ocupa umaárea total de 86m², dividida em duas salas: uma para o acervocom espaço para estudos, que ocupa 68m², outra sendo utili-zada como sala de apoio aos docentes.

Desde o início, as atividades eram direcionadas às aulasexpositivas, disponibilizando-se diversos materiais, como ma-pas, fitas de vídeo, catálogos e teodolitos. Com a ampliação dademanda, com os alunos progressivamente intensificando suafreqüência, o laboratório passou a ampliar seu acervo e rece-ber doações de documentação, de alunos e professores, paraconsulta incluindo mapas temáticos, catálogos, revistas e ou-tros documentos.

Atualmente, devido aogrande número de documen-tos doados e de equipamen-tos que foram progressiva-mente cedidos ou adquiridospela instituição, o laboratóriodispõe de um acervo signifi-cativo, abrangendo: mapascartográficos, livros, revistas,monografias, dissertações,

teses, fitas de vídeo, totalizando mais de 2000 itens diversifica-dos. Além disso, o espaço é organizado com três computado-res, pranchetas para atividades individuais ou em grupo, mesade luz, máquinas fotográficas, níveis topográficos, teodolitos,aparelhos diversos de apoio à pesquisa e ao estudo de alunose professores.

A freqüência dos alunos é expressivamente significativadevido à diversidade do acervo, à finalidade e agilidade de con-

constituía-se em um amploprojeto piloto. Tal estudoatingiu parcialmente os re-sultados previstos, pelaposterior interrupção doprocesso, em vista da re-duzida experiência acumu-lada pelo Curso, na épocade sua realização. Foramentretanto obtidos impor-tantes avanços pedagógi-

cos, principalmente quanto à interação produtiva entre pesqui-sadores, docentes e alunos envolvidos. Alguns resultados do-cumentais e processuais foram objetos de análise mais por-menorizada em artigo publicado na revista ECCOS – publica-ção cientifica editada pela UNINOVE – no ano de 2000 (ZAHN,2000).

Nessa época, o Laboratório de Urbanismo instalado em pe-quena sala contava apenas com um computador, uma mesadigitalizadora e uma mesa para as reuniões. O resultado des-se processo inicial de pesquisa levou a coordenação do Cursoa propor a ampliação do espaço e o incremento do material einstrumental do laboratório, que passou a contar com sua con-figuração atual.

Inicialmente, houve a necessidade de ocupar uma área quepudesse ser multidisciplinar e que pudesse oferecer ao alunoas informações voltadas às suas necessidades projetuais. Foiinstalado o LabAUT - Laboratóriode Arquitetura, Urbanismo e To-pografia, que deu início às ativi-dades no primeiro semestre de2000, contando com dois profes-sores e uma pequena equipe deestagiários do Curso de Arquite-tura e Urbanismo. A área inicial,cerca de 68 m2, foi equipada com

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ra e Urbanismo da UNINOVE, o suporte a palestras, atividadesextra sala, viagens e outros, tornando-se assim um laboratóriodiferenciado e multidisciplinar, por se destinar a essas múlti-plas funções.

Pode-se dizer que a relação dos alunos com o Laboratórioé hoje muito significativa e positiva para ambas as partes, comvistas a auxiliar na ampliação de conhecimentos e a aprimoraro desempenho do Curso no âmbito da instituição. Cabe res-saltar que um incentivo institucional importante foi obtido porocasião da visita da Comissão de Especialistas do MEC, parareconhecimento do Curso, em Agosto de 2000 quando, a partirda observação das atividades ainda iniciadas do LabAUT, essacomissão fez constar em seu relatório a “necessidade de equi-par adequadamente o LabAUT para que venha abrigar acervobibliográfico e centro de documentação vinculado aocurso”.(MEC, 2000).

ATIVIDADES DE APOIO REALIZADASPELO LabAUT

A seguir são apresentados algunsexemplos de atividades desenvolvidaspelo Curso de Arquitetura e Urbanismoque contaram com registro ou partici-pação direta do LabAUT em sua reali-zação.

VIAGENS CULTURAIS EEDUCATIVAS

As viagens de estudo que fazemparte da extensão pedagógica do cur-so de graduação, têm como foco central analisar os conteú-dos arquitetônicos, urbanísticos, tecnológicos e históricos.

No decorrer dessas viagens, vasto documentário foi regis-trado pelos alunos, professores e técnicos. Citam-se a seguir

sulta, à possibilidade de estudo no local e ao sistema circulantecontrolado de todo o acervo e inclusive dos equipamentos dis-poníveis. O hábito de consulta e pesquisa vem se consolidan-do, sendo de grande valia ao alunado e, mesmo, para apoioaos professores. Conseqüentemente, vem contribuindo aosobjetivos do curso.

O espaço físico vem novamente se tornando pequeno, ha-vendo demanda para uma ampliação do ambiente, de modo apossibilitar o desenvolvimento de suas atividades de maneira

progressiva. Com a abertura doCurso de Arquitetura e Urbanis-mo em nova Unidade, noMemorial América Latina, desde2001, deve ser lá instalado bre-vemente um espaço do LabAUTpara atendimento dos alunos des-sa nova Unidade.

Dada a amplitude das ativida-des do Laboratório e para seu bom andamento, ele agrega acontribuição profissional de técnicos, que vêm acompanhandoo desenvolvimento das atividades do Laboratório na prepara-ção do ambiente, nas atividades em grupo, no esclarecimentoaos discentes nas questões relacionadas às pesquisas emelaboração e no apoio aos docentes em suas necessidadesdidáticas. Para melhor objetividade de resultados desse traba-lho de orientação, é exigida formação superior em Arquiteturapara esses técnicos. Atualmente, a função exercida pela Ar-quiteta Catia Regina Wellichan, contando também com a con-tribuição do Arquiteto Iuri Gomes Ortiz, do Laboratório de Con-forto Ambiental – LabCON, em períodos específicos de maiordemanda. Ambos são formados na própria UNINOVE, peloCurso de Arquitetura e Urbanismo, nas primeiras turmas.

Além de o LabAUT servir às necessidades diárias, vem sen-do desenvolvidas outras atividades correlatas com seu apoio,entre elas a documentação da memória do Curso de Arquitetu-

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4ª Bienal de Arquitetura e Urbanismo: Primeira participaçãode alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo no ConcursoInternacional de Escolas deArquitetura. Na ocasiãoforam efetuadas diversasvisitas de alunos comsupervisão dosprofessores do curso.

Visitas de campo paraestudos regionais, emregião afetada pelaimplantação do Rodoanel e áreas de expansão leste da GrandeSão Paulo, com acompanhamento de professores da disciplina

de Planejamento Regional eInfra-estrutura.

Laboratório de Programaçãográfica - LPG da FAUUSP: Visitatécnica para observação derecursos gráficos adequados àapresentação de trabalhos deprojeto, especialmente para

estudantes em fase de preparação de seus Trabalhos Finaisde Graduação.

EVENTOS REALIZADOSO Curso de Arquitetura e Urbanismo promove regularmente

um ciclo de palestras denominado “Semana da Arquitetura”,que tem o objetivo de atualizar os futuros arquitetos sobre ocampo de trabalho profissional. O LabAUT tem acompanhadosistematicamente a produção desses eventos, para suportematerial e de organização, bem como registro e arquivo de in-formações.

A Primeira Semana de Arquitetura foi realizada em 30 desetembro de 1998, com palestra do Arquiteto Silvio Soares

algumas viagens, que seencontram registradasno LabAUT para estudose pesquisas futuras.

Viagem Cultural àCidade de CuritibaPeríodo: 29 de maio a 01de junho de 1997:Realizada em período

anterior à instalação definitiva do LabAUT, na ocasião em que oprimeiro “Laboratório de Urbanismo” iniciava suas atividades.

Viagem Cultural às Cidades Históricas Mineiras – Período:30 de Outubro a 02 deNovembro de 1998:Promovida porprofessores de Teoria eHistória da Arquitetura eUrbanismo, tendoresultado em acervofotográfico, hojedisponibilizado noLabAUT.

Viagem Cultural ao Rio de Janeiro – Realizada em Outubrode 2000, acompanhada por professora da área de MeioAmbiente, para observação de aspectos da Região Central eHistórica da Cidade.

VISITAS TÉCNICAS

O Curso de Arquitetura e Urbanismo, por meio de diversasdisciplinas, tem realizado visitas técnicas de naturezadiversificada, sempre acompanhadas ou registradas para am-pliação de acervo documental e fotográfico do LabAUT. A se-guir são apresentados alguns registros dessas visitas técni-cas.

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A Sétima Semana de Arquitetura foirealizada no período de 12 a 14 deNovembro de 2001, centrandoatividades na discussão e reflexão deproblemas e propostas para a áreacentral de São Paulo.

A Oitava Semana de Arquitetura foirealizada em Outubro de 2002,contando com palestras tecnológicase oficinas diversas.

A Nona Semana de Arquiteturaencontra-se atualmente em

preparação, para ser realizada no período de 03 a 06 deNovembro de 2003. Este evento conta, pela primeira fez comparticipação direta do recém instalado Centro Acadêmico deArquitetura e Urbanismo – CAAUda UNINOVE. Assim, vem sendopromovida progressivaintegração do corpo discente naorganização das atividades extraclasse de interesse do Curso.

MOSTRAS ACADÊMICAS DOSALUNOS DO CURSO

O LabAUT mantém em seus arquivos, registros de traba-lhos que foram apresentados nas mostras para o público, tan-

to daqueles executados alunoscomo também dos resultantes demostras obtidas a partir de pro-fissionais convidados para apre-sentações temáticas aos alunos.Seguem alguns registros dessestrabalhos e atividades.

Em Maio de 2002, os alunos do

Macedo, professor da áreade paisagem e ambiente daFAUUSP.

A Segunda Semana deArquitetura foi realizada noperíodo de 14 a 20 de maiode 1999, abrangendoparticipação de diversospalestrantes. Abordouquestões referentes à Arquitetura Hospitalar e a apresentaçãode equipes participantes do Concurso de Idéias para asMarginais Tietê e Pinheiros edo Prêmio Prestes Maia deUrbanismo.

A Terceira Semana deArquitetura foi realizada noperíodo de13 a 15 de outubrode 1999, com participação dediversos palestrantes.

A Quarta Semana de Arquitetura foi realizada no período de17 a 24 de abril de 2000, incluindo exposição discente detrabalhos realizados em 1999 e 2000.

A Quinta Semana de Arquitetura foirealizada no período de 09 a 11 deoutubro de 2000, abordando o temaTecnologias aplicadas à Arquitetura eUrbanismo.

A Sexta Semana de Arquitetura foirealizada no período de 02 a 04 de Maiode 2001 com participação depalestrantes em diversas áreas deconhecimento e a realização de oficinasde maquete e modelo vivo.

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Curso participaram de um Fórum de Empresários da região deVila Maria, tendo preparado seu material a partir de trabalhosdisciplinares, confecciona-dos em seu acabamento,com apoio do LabAUT.

No decorrer de váriossemestres, de 2000 a 2002foram realizadas oficinasde trabalho integrando alu-nos em fase de preparo deseus Trabalhos Finais deGraduação (TFG), pelo orientador, professor Carlos EduardoZahn, reunindo orientandos de várias instituições. A finalidade

foi proporcionar aos estu-dantes de graduação umareflexão sobre seus objeti-vos projetuais, já que osassuntos permitiaminteração entre diversosalunos, quanto aos seustemas.

Em diversas ocasiõesaconteceram apresenta-

ções de Trabalhos Finais de Graduação -TFG, de alunosconcluintes, utilizando o espaço do Laboratório.

No segundo semestre de 2002, houve a apresentação detrabalhos na disciplina de Cultura e Realidade Brasileira, orga-nizados pela professoraMaria de Fátima Schifino,com apoio do LabAUTquanto à confecção demateriais para esses tra-balhos, que consistiramna preparação de progra-mas hipotéticos de gover-no, abordando políticas ur-

banas, integrando-se desse modo com a discussão nacionalpor ocasião das eleições presidenciais.

Ainda no segundo semestre de 2002, o Curso promoveu aMostra Itinerante da 2ª Bienal “José Miguel Aroztegui” (Concur-so estudantil Latino Americano de Arquitetura Bioclimática), tam-bém com o apoio do LabAUT para organização e montagem.Esta mostra foi inicial-mente apresentada naUnidade Vila Maria, sen-do posteriormentetransferida para a Unida-de Memorial América La-tina.

No decorrer de 2003,vem prosseguindo oapoio do laboratório à preparação de atividades desta nature-za, agora com interação direta com o Centro Acadêmico deArquitetura e Urbanismo – CAAU, para preparo de diversas ati-vidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em vista da amplitude e da riqueza de experimentações quepuderam ser desenvolvidas nos cinco anos de existência e de-senvolvimento do Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e To-pografia – LabAUT, é possível confirmar as potencialidades queeste espaço proporciona ao trabalho de apoio disciplinar e àprática de atividades de pesquisa, de investigaçãoextracurricular e à sistematização de acervos de informação.Estes apoios são necessários e até fundamentais à consolida-ção de um ensino de qualidade e vem permitindo formaçãosólida e integrada aos profissionais egressos, do Curso de Ar-quitetura e Urbanismo da UNINOVE.

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LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAISCristiane Guinancio

ESPLAN -DF

Mestrado 1994 - 1995 - The Bartlett School University College London

MSc. in Architecture: Building and Urban Design in Development

1. INTRODUÇÃOO Laboratório de Projetos Habitacionais estabelece uma

integração com a comunidade local através da aplicação dosconhecimentos que são oferecidos e desenvolvidos no meioacadêmico na área de planejamento e projeto habitacional. Aproposta, além de contribuir com a sociedade através da pres-tação de serviços, reforça o necessário intercâmbio socieda-de-meio acadêmico.

O Laboratório consiste em um escritório de atendimento afamílias de baixa renda. Este atendimento visa contribuir paraa melhoria das condições de vida da população que vive pre-cariamente, implementando um serviço específico de assis-tência técnica para a produção de unidades habitacionais.

A formulação da proposta fundamenta-se nas experiênciasdesenvolvidas por equipes da Universidade de Brasília nos Pro-gramas “Cred-Mac’ e “Casa da Gente”, em parceria com oGoverno do Distrito Federal e a Caixa Econômica Federal. Es-tes programas foram destinados ao atendimento de beneficiáriosde financiamentos de materiais de construção para produçãode habitações em áreas de assentamentos urbanos de inte-resse social. Tinham como objetivo potencializar a ação da auto-construção, através da prestação de assistência técnica paraprojeto e execução das habitações.

Para o atendimento às famílias, toma-se como referência ametodologia implementada nos programas mencionados. Estametodologia compreende uma série de procedimentos e ins-trumentos de trabalho que objetivam a otimização dos recur-sos disponíveis na produção de habitações de baixo custo eboa qualidade.

REFERÊNCIASMEC/ Secretaria de Educação Superior / Comissão de Especialistas

de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – Roteiro de Avaliaçãopara Reconhecimento do Curso de Arquitetura e Urbanismoda UNINOVE – Brasília, 2000.

UNINOVE, Curso de Arquitetura e Urbanismo – Curso de Arquiteturae Urbanismo: 1995 – 2000 – Período de Consolidação /Álbum de registro de atividades e eventos – São Paulo:UNINOVE, Agosto de 2000.

UNINOVE, Curso de Arquitetura e Urbanismo – Projeto Pedagógico– São Paulo: UNINOVE, 2002.

ZAHN, Carlos E. et alii – Aldeia de Carapicuíba: Estudo Histórico,Arquitetônico e Urbanístico do Único Aldeamento JesuíticoPaulista Remanescente – in: ECCOS – São Paulo: UNINOVE,vol 2, No. 1, 2000.

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A precariedade construtiva está fortemente condicionadapelos recursos financeiros escassos, demandando uma es-tratégia para a otimização dos investimentos, o que significaconseguir baixos custos na produção qualificada das unida-des. Está também condicionada pela dificuldade da participa-ção de mão de obra especializada nas construções.

A simples oferta de financiamento para aquisição de materi-ais de construção não garante o êxito do atendimentohabitacional. A otimização técnica do recurso financeiro é seucomponente essencial. Por isso, torna-se necessário o esta-belecimento de um sistema composto de procedimentos e ins-trumentos capazes de promover a qualificação da produção.

3. O LABORATÓRIO DE PROJETOS HABITACIONAIS

A proposta do Laboratório de Projetos Habitacionais prevê aimplementação de ações específicas para a produçãohabitacional, dirigida a famílias de baixa renda. Estas açõessupõem a existência de linhas de crédito adequadas à capaci-dade de contratação das famílias, que estarão construindo suascasas por auto-construção.

A assistência técnica prevê a elaboração dos projetos dasunidades habitacionais e o planejamento e acompanhamentoda obra em todas as fases de execução. Oferece tambémCartilha de orientação para as obras. O processo é concluídocom a realização da análise pós-ocupação.

2. JUSTIFICATIVA

O Déficit Habitacional Brasileiro, registrado em 2000,corresponde a 6.656.526 unidades habitacionais, com incidên-cia urbana de 81,3 % (Fundação João Pinheiro, 2000). Estesdados se referenciam ao conceito mais amplo adotado paradéficit habitacional, que considera a necessidade de constru-ção de novas moradias pela deficiência do estoque, pela au-sência de condições de habitabilidade, pela precariedade cons-trutiva ou desgaste na estrutura física ou pela coabitação fami-liar.

O mesmo estudo destaca que, das unidades construídasno Brasil nas últimas décadas, a autoconstrução é o tipo pre-dominante de sistema construtivo adotado.

Figs. 1 e 2 – Ausência de condições de habitabilidade - Espaços internos insalubres.O corredor de acesso é o prisma de ventilação para atendimento a quatro unidadeshabitacionais. Duas unidades são voltadas para o trecho descoberto (em primeiroplano na fotografia) e as demais são voltadas para o trecho coberto ao fundo,

utilizado como área de serviço coletiva. (Paranoá – DF)

Fig. 3 – Unidades Habitacionais produzidas por auto-cons-

trução, sem assistência técnica. (Paranoá – DF)

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4.3. LINHAS DE AÇÃO

4.3.1.Solução Habitacional

A solução habitacional é viabilizada tendo como referênciaos recursos que serão contratados por cada família atendidapor um sistema de financiamento ou outros canaisdisponibilizados. São desenvolvidos projetos-padrão que res-peitam o limite de recurso estabelecido por unidade de atendi-mento. As variações de projeto são disponibilizadas para es-colha pelas famílias.

No escritório, a equipe discute com o beneficiário qual asolução habitacional mais adequada para a sua situação fami-liar e para o sítio onde a unidade irá se inserir. O atendimentose consolida pela escolha ou adaptação de um projeto dentreos padrões existentes, com planilhas de quantitativo ecronogramas definidos, o que permitirá o rápido início das obras.

4.3.2.Assistência À EXECUÇÃO DA OBRA

O processo de execução tem como finalidade oferecer ascondições objetivas de apoio técnico para a auto-construção.À medida em que o planejamento em escritório é concluído,são realizadas reuniões de orientação com os beneficiários paraexecução da obra. A assistência técnica à execução da obra éprestada individualmente às famílias e na própria localidade.

4.3.3.assistência à legalização da unidade habitacional

O atendimento é concluído pela oferta de orientação paraos procedimentos e documentação necessários à legalizaçãoda unidade habitacional.

4.4. METODOLOGIA

A metodologia se referencia às experiências desenvolvidas paraos Programas “Cred-Mac’ e “Casa da Gente”, obtendo-se aracionalização da construção e a conseqüente diminuição decustos.

O atendimento é igualmente direcionado a cooperativashabitacionais populares comprometidas com a solução dasnecessidades habitacionais de famílias de baixa renda.

4. PROPOSTA DE TRABALHO

4.1. OBJETIVOS· Oferecer uma oportunidade de experiência prática emambiente profissional aos discentes do Curso de Arquiteturae Urbanismo;

·Contribuir para a melhoria das condições habitacionais daspopulações de baixa renda;

· Otimizar a aplicação dos recursos financeirosdisponibilizados;

· Transferir conhecimentos, tecnologias e formas deracionalização da construção do habitat.

4.2. DIRETRIZES GERAIS

· Acompanhamento do trabalho prático com investigaçõese avaliações que conduzam ao aperfeiçoamento permanentedo sistema de trabalho programado, conduzindo a cada vezmelhores resultados de qualidade com baixos custos na pro-dução de habitações;

· Adoção de procedimentos e instrumentos para otimizar aprodução das habitações por auto-construção, desde for-mas adequadas de apresentação de projetos até a utiliza-ção de planilhas eletrônicas para agilizar os cálculos dequantificação de materiais e custos;

· Oferta de material informativo e formativo para facilitar etornar eficaz o trabalho nos canteiros de obra por parte dasfamílias atendidas, de maneira a desenvolver a consciênciada capacitação e das potencialidades pessoais e do grupopara resolver seus problemas da moradia.

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4.5. OPERACIONALIZAÇÃO DO PROJETO

Os recursos humanos apresentados estão dimensionadospara o atendimento de famílias em escritório e no canteiro deobras:

· 01 (um) professor coordenador e responsável pelo contro-le de qualidade dos trabalhos;

· 01 (uma) equipe para levantamento de dados e elaboraçãode projetos composta por um professor/pesquisador e 02estagiários;

· 01 (uma) equipe de orientação das famílias e acompanha-mento de obra composta por um professor/pesquisador e02 (dois) estagiários;

· 01 (um) estagiário para análise pós-ocupação.

4.5.1.PLANEJAMENTO MENSAL

O quadro a seguir ilustra o planejamento de ações para oatendimento a 45 famílias num período de 12 meses, com basenos seguintes referenciais:

· O atendimento inclui assistência técnica para projetos,acompanhamento de obra e análise pós ocupação;

· Os grupos indicados de “A” a “I” equivalem, cada um, a umconjunto de 5 famílias atendidas;

· A área média de construção foi estimada em 30m2 porunidade de atendimento, resultando em um tempo médiode 3 meses para execução de obra.

otnemidnetA 1sêm 2sêm 3sêm 4sêm 5sêm 6sêm 7sêm 8sêm 9sêm 01sêm 11sêm 21sêm

oirótircsE AopurG BopurG CopurG DopurG EopurG FopurG GopurG HopurG IopurG

AopurG AopurG AopurG DopurG DopurG DopurG GopurG GopurG GopurG

arbO BopurG BopurG BopurG EopurG EopurG EopurG HopurG HopurG HopurG

CopurG CopurG CopurG FopurG FopurG FopurG IopurG IopurG IopurG

-sóPoãçapuco AopurG BopurG CopurG DopurG EopurG FopurG GopurG

Segue os seguintes passos:· identificar a família a ser atendida, que deverá ter acessoaos recursos financeiros necessários à aquisição de mate-riais de construção;

· desenvolver projetos que atendam às especificidades docliente e a sua respectiva disponibilidade financeira;

· especificar, listar e orçar os materiais necessários;

· compatibilizar e desenvolver planilhas eletrônicas de quan-titativos de materiais;

· elaborar o cronograma de execução da obra;

· orientar a família para o processo de construção, com aoferta do material instrutivo de assistência técnica (cartilha);

· planejar e acompanhar o acesso aos materiais de cons-trução;

· prestar assistência técnica à obra;

· acompanhar o uso da nova unidade, após a conclusão, e;

· orientar quanto à legalização da construção.

A documentação relativa ao projeto e acompanhamento dasobras compõe-se dos seguintes elementos:

· Projeto de arquitetura e instalações complementares;

· Planilha base de quantidades e custos de materiais porserviço;

· Listagem de materiais;

· Cronograma de execução;

· Cronograma físico-financeiro de execução das obras e de-sembolso;

· Projeto de legalização.

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Semana 3· Consolidação do projeto com o cliente;

· Elaboração de projetos complementares e material técni-co para a obra.

Semana 4· Conclusão do material técnico e orientação da família parao processo construtivo;

· Elaboração do Relatório de Atendimento.

Na implementação desta proposta, o Instituto de EnsinoSuperior Planalto conta com a participação do corpo docente ediscente para a aplicação prática de conhecimentos no desen-volvimento de projetos, elaboração de instrumentos e apoio àauto-construção.

O Laboratório de Projetos Habitacionais é, portanto, umaoportunidade de experiência prática em ambiente profissionaloferecida aos discentes do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

5.PARCERIAS NECESSÁRIAS

5.1. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

A Universidade de Brasília, através do Núcleo de Pesquisapara Habitações – NPH/ CEAM, desenvolveu o instrumental quepermite agilidade a todo o processo de atendimento nos pro-gramas anteriormente citados. Este instrumental é compostopor um catálogo de projetos e de um “software” especifica-mente desenvolvido para a elaboração de planilhasreferenciadas, fundamentais ao processo de atendimento econstrução. Este instrumental é complementado pelo materialde orientação das famílias e apoio na execução da obra.

5.2. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

A parceria com a Caixa Econômica é fundamental para oencaminhamento das famílias que tenham contratado o finan-ciamento de material de construção através de programa es-pecífico.

Cabe destacar que a avaliação acima apresentada éilustrativa, visto que, num processo contínuo, efetivam-se si-multaneamente início e conclusão de atendimentos individuali-zados a partir dos perfis das solicitações de assistência técni-ca, que definem os prazos reais.

Neste sentido, no momento em que as primeiras obras es-tiverem concluídas, torna-se necessária a participação de umestagiário para efetuar o acompanhamento do uso das unida-des, sob a supervisão do professor/pesquisador.

4.5.2.DETALHAMENTO SEMANAL

A assistência técnica em escritório não se resume a umúnico momento de atendimento. A elaboração do projeto e dadocumentação necessária ao início das obras é um processoque se estabelece em um período estimado em 30 dias, con-forme ilustrado.

O acompanhamento da obra adota uma visita semanal porfamília.

sepiuqE 1sêM 2sêM

etnecoD etnecsiDanameS

1anameS

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1anameS

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4

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AopurG AopurG AopurG AopurG BopurG BopurG BopurG BopurG

arbO 1rosseforP

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AopurG AopurG AopurG AopurG

Distribuição das Ações em Escritório

Semana 1· A equipe de assessoria apresenta o escopo de prestaçãoda assistência técnica e elabora diagnóstico da demanda dafamília;

· Realização do levantamento das condições locais.

Semana 2· Elaboração de proposta arquitetônica e atendimento à fa-mília em escritório para apresentação da solução elaborada.

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ESCRITÓRIO MODELO, SIMULACRO PROFISSIONAL ERESPONSABILIDADE SOCIAL

Euler Sobreira Muniz Arquiteto e Urbanista, mestre em Engenharia Civil com área de concentração emedificações, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade deFortaleza, Avenida Washington Soares, 1321 – Edson Queiroz – Fortaleza – Ceará– 60.811-341, telefone: (0XX85) 477-3250, fax: (0XX85) 477-3061, [email protected].

Uma proposta para um curso de Arquitetura e Urbanismo:

No segundo semestre do ano de 1998, foi implantado naUniversidade de Fortaleza o curso de Arquitetura e Urbanismo,após um bom tempo investido em levantamento de dados, vi-sitas a outras instituições, discussões com professores e pro-fissionais, análise de viabilidade econômica, formatação deproposta e apresentação em diversos fóruns. No início a preo-cupação de toda a equipe responsável por esta tarefa de im-plantação, formada por professores arquitetos e urbanistas,além de alguns engenheiros civis, era a de se contratar profes-sores que unissem à titulação acadêmica o exercício profissi-onal; assim como prover a universidade de toda a infra-estru-tura necessária ao desenvolvimento das atividades pedagógi-cas IMAGEM 01. O documento base de todas as ações foi oda Proposta de Diretrizes Curriculares encaminhada pelas ins-tituições profissionais ao Ministério de Educação. No entenderda equipe, era de fundamental importância que o candidato àdocência no curso de Arquitetura e Urbanismo apresentasseexperiência profissional, além da titulação acadêmica exigidapela própria instituição de ensino superior. É importante a pre-sença de mestres para o exercício do magistério e de douto-res para o desenvolvimento das pesquisas, mas é fundamen-tal que uma boa parte dos docentes tenham uma vivência decanteiro de obras, um pé na execução de edifícios, na defini-ção de espaços urbanos, na realização de projetospaisagísticos, no desenvolvimento de interiores, na produção

Considerando a capacidade técnica da instituição para oprocesso de identificação e seleção de famílias que necessi-tam do atendimento, teremos o respaldo para a implementaçãode ações direcionadas para os que efetivamente são carentesdestes serviços.

Acrescente-se a este o fato de que o atendimento direcionadoa famílias que dispõe do financiamento de materiais de cons-trução garante a efetividade da ação até o final do processo,que é a conclusão da construção da unidade habitacional e oacompanhamento do seu uso, para posterior aplicação acadê-mica.

5.3. COOPERATIVAS HABITACIONAIS

No presente momento estão sendo estudadas hipóteses deparcerias com cooperativas habitacionais populares que ne-cessitem de apoio técnico para assessoria à auto-construçãodas unidades habitacionais.

A efetivação desta parceria contribuirá para a ampliação econsolidação do atendimento estabelecido.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Centro de Estatística e Informações.(2001) “Déficit Habitacional no Brasil 2000”, Belo Horizonte, 2001.

GONZALES, S.F.N., VIDAL, F.E.C., SPOSTO, R.M., JUCÁ FILHO,A., “Sistema de Assistência Técnica a Programas Habitacionaispara baixa renda com financiamento de crédito de materiais deconstrução e produção por Auto-Construção. O caso de Brasília-DF, Brasil” (mimeo).

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ra e Urbanismo, que se apoiou na consultoria de FernandoPereira e Leonardo Bittencourt IMAGEM 02. O vídeo e a foto-grafia também foram incluídos como suporte técnico para onovo curso. Pensava-se em uma comunicação visual que trans-cendesse à imagem parada e se ajustasse às novas formasde mídia, presentes no mercado: vinhetas, animações e pe-

quenos filmes.

Procurando um modelo para o escritório:

Finda a tarefa de estruturação da graduação, tratou-se dese definir o segundo suporte da tríade universitária, investiu-sena extensão montando-se o Escritório Modelo. A pesquisa fi-cava para a última etapa, pois só se consegue estabelecer umbom setor de pesquisa quando se têm cursos de pós-gradua-ção: stricto e lato sensu implantados, para fornecer o devidosuporte.

A grande preocupação da equipe, ao definir as diretrizes parao Escritório Modelo, foi estabelecer o seu nicho de mercado.Pretendia-se evitar que esta atividade de extensão passasse aconcorrer com o profissional que viria ser formado pelas insti-tuições de ensino superior ou dividir espaço com os que já exer-ciam o seu mister. Criou-se, então, o Estatuto do EscritórioModelo e neste definiu-se que os trabalhos deveriam ser reali-

de mobiliários e de peçasgráficas.

No que se refere àinfra-estrutura, montaram-se na Universidade de For-taleza ateliês de desenhocom pranchetas dotadasde régua paralela. No prin-cípio, a idéia era a de sedesenvolver os trabalhos,desde o seu início noscomputadores. Logo se viu que uma das ferramentas doaplicativo computacional que auxiliava na representação gráfi-ca dos projetos, o zoom, dificultava o entendimento do objetoarquitetônico como um todo, por parte dos discentes. A pran-cheta se apresentava como a antiga e eficaz solução para oproblema. Sobre ela, o aluno teria de representar, utilizando-sedo lápis e do papel, o seu projeto como um objeto único. O usodo computador, enquanto ferramenta de projeto, foi posterga-do para o tempo em que a maturidade estudantil permitisseentender o projeto como um todo, mesmo diante da ferramen-ta zoom. Laboratórios com computadores e aplicativos gráfi-cos foram instalados. A topografia e a tecnologia da constru-ção receberam ajustes de modo a se adaptar a esta nova de-manda. Não mais só os engenheiros, com suas visõestecnicistas, demandavam desses laboratórios, mas arquitetose urbanistas, profissionais das ciências humanas que se fun-damentam em uma base tecnológica, passaram a partilhar dosmesmos espaços físicos. A área destinada às disciplinas liga-das ao Conforto Ambiental teve um tratamento especial: equi-pamentos foram adquiridos, até fora do país, para se ajustaraos padrões mínimos presentes em documento existente napágina da Internet de responsabilidade da Associação Brasilei-ra de Ensino de Arquitetura e Urbanismo intitulado: configura-ções essenciais para os laboratórios dos cursos de Arquitetu-

IMAGEM 01: Blocos em que estão inseridas al-gumas salas da Arquitetura e Urbanismo. Foto:Kiko Santos.

IMAGEM 02: Laboratórios de Conforto Ambiental e Desenvolvimento de Projeto.

Foto: Kiko Santos

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ganização dos produtos turísticos locais, atividades que foramencampadas pelo curso de Turismo, a organização formal dosparceiros turísticos locais, a definição de um pacto com asautoridades para a manutenção da infra-estrutura de serviçospúblicos nas áreas turísticas, trabalho que ficou a cargo do cursode Ciências Sociais e as diretrizes para a Sinalização Turísti-ca, de responsabilidade do curso de Arquitetura e Urbanismo.Ao curso de Publicidade e Propaganda coube a elaboração daspeças gráficas para a divulgação das atividades, a composi-ção dos fascículos, material publicado em jornal local, e as tele-aulas, veiculadas em emissora com sinal aberto para toda aAmérica do Sul. Para ajudar nessa tarefa da Publicidade fo-ram disponibilizados professores e alunos da Arquitetura, es-tes colaboraram no desenvolvimento das marcas e vinhetasutilizadas nos programas e no projeto.

Como metodologia de trabalho, para o desenvolvimento es-pecífico das atividades da Arquitetura e Urbanismo, foi utilizadoo seguinte procedimento: divisão do estado em três regiões: aserra da Ibiapaba, o litoral leste e o litoral oeste, identificaçãodos potenciais turísticos rurais e urbanos através de visitas aossítios, entrevista com os dirigentes municipais e a populaçãolocal e, principalmente, através dos inventários de atrativos turís-ticos produzidos por professores e alunos do curso de Turis-mo, levantamento da base cartográfica, consulta aos PlanosDiretores e aos Planos de Ação Turística e, após a análise,tabulação, interpretação e discussão de todos esses dados, aelaboração de propostas, definição de planejamentos, carac-terização de produtos e apresentação dos resultados obtidosem eventos realizados em cada região. Para trabalhar nas áre-as pré-estabelecidas foram definidas equipes compostas porum professor e quatro alunos e se incentivou ao máximo a tro-ca de experiências e informações entre os discentes de for-mações diferentes – as visitas aos quinze municípios feita pe-los alunos de Arquitetura e Urbanismo foram todas precedidaspelas realizadas pelo Turismo.

zados apenas para as associações de carentes, as empresasassistenciais, a comunidade universitária, a própria Universi-dade de Fortaleza, as organizações governamentais e serviriatambém para abrigar equipes de professores e alunos que par-ticipassem de concursos com objetivos educacionais.

Nestes dois primeiros anos, foram realizadas no EscritórioModelo, em conjunto com os cursos de Turismo, Ciências So-ciais e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortale-za e em parceria com a EMBRATUR – Instituto Brasileiro deTurismo e os governos dos seguintes municípios do estado doCeará: Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara e Ipú, situados naserra da Ibiapaba, limite do Ceará com o Piauí; Aquiraz, Cas-cavel, Beberibe, Aracati e Icapuí, localizados no litoral à lesteda cidade de Fortaleza e São Gonçalo do Amarante, Itapipoca,Itarema, Acaraú, Jijoca de Jericoacoara e Camocim, no litoralà oeste da capital do estado do Ceará, as estratégias, o planofuncional e as diretrizes para a sinalização turística dessesquinze municípios do interior do estado. O Projeto obteve adenominação oficialmente de Turismo Sustentável Local – Eco-logia, Identidade Cultural e Excelência na Receptividade e ob-

teve, por parte dos responsáveis pela divulgação, o nome defantasia de Turismo da Gente IMAGEM 03.

Foram definidos como objetivos para o Projeto Turismo Sus-tentável: a formação de agentes comunitários de mobilizaçãoturística, a elaboração de propostas para o guia do visitante decada um dos municípios envolvidos, o planejamento e a orga-nização dos centros de informação turística, a definição e or-

IMAGEM 03: Logomarca do Projeto e um dos locais da realização dos trabalhos.Foto: autor.

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Alguns alunos ansiosos pelo exercício profissional às vezesnão entendem a postura da coordenação em não aceitar de-terminados trabalhos, por não se enquadrar nas atividadespertinentes ao Escritório Modelo. Vários trabalhos já foram re-cusados e outros tanto devem ainda ser rejeitados, porque adivulgação dos trabalhos atrai cada vez mais clientes. . O im-portante é manter firme o propósito de não interferir ou se inse-rir no mercado de trabalho do profissional graduado.

É fato, que o Escritório Modelo vai, aos poucos, abrindo no-vos nichos de mercado para o arquiteto e urbanista. No estadodo Ceará, pouco mais de mil profissionais estão registradosno Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia.Pode-se facilmente notar, na cidade de Fortaleza, que existeum quadrilátero em que há uma forte atuação dessa categoriaprofissional. Muitos bairros dessa cidade são construídos pe-las mãos dos engenheiros ou de trabalhadores sem formaçãouniversitária, uma verdadeira afronta à legislação profissional.È óbvio que não se podem garantir empregos para os forma-dos pela instituição, porque, também, esses não existem. Umarevista de circulação nacional da área de arquitetura e urbanis-mo fez uma enquête com seus assinantes e constatou quemais de oitenta por cento dos profissionais graduados possu-em o seu próprio escritório, são gestores dos próprios negóci-os. Mas a Universidade deve orientar seus discentes no senti-do de buscarem oportunidades de negócios, de serem verda-deiros empreendedores. O interior do estado se configura emum grande mercado a ser desbravado, assim como a restau-ração de edificações de interesse histórico e a requalificaçãode áreas degradadas. Buscou-se, com a estrutura curriculardo curso na Universidade de Fortaleza, formar um arquitetogeneralista com uma visão holística. O mercado de Fortalezae de todo o estado do Ceará, procura um profissional que pos-sa atuar no urbanismo, na arquitetura, na produção de móveis,no paisagismo e na comunicação visual.

Hoje, em parceria com o IPHAN, a Federação das Indústri-as, o DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as

O resultado final do trabalho foi, em primeiro lugar, a propo-sição de Estratégias para a sinalização turística, que segundoo Guia Brasileiro de Sinalização Turística, material produzidopela EMBRATUR é: a definição de como pedestres e usuáriosde veículos podem utilizar a infra-estrutura presente no localpara atingir, os atrativos existentes, por meio da escolha dosmelhores trajetos. Após este primeiro passo se elaborou o Pla-no Funcional, ou seja, a aplicação sintetizada dos critérios bá-sicos adotados na Estratégia. E finalmente o Projeto de Sinali-zação, no qual constam o detalhamento e critérios para a im-plantação das placas de orientação direcional e interpretativaIMAGEM 04.

Com o parágrafo anterior é fácil de se entender como ficoudefinido o campo de atuação do Escritório Modelo. O trabalhodesenvolvido pela Universidade se restringe a diretrizes, levan-tamento de indicadores, orientação e consultoria. A realizaçãodos Projetos de Sinalização, com a definição e detalhamentodos comunicadores visuais ficará a cargo de profissionais con-tratados pelas prefeituras, contando com o apoio daEMBRATUR. Alguns dos municípios citados já passaram paraa fase seguinte: uns estão realizado licitações, outros já seencontram em fase de desenvolvimento das propostas.

Não é fácil, de fato, resistir às pressões dos interessados.Empresas se dirigem à Universidade na tentativa de encontrarserviços de Arquitetura e Urbanismo com valores mais baixos.

IMAGEM 04: Parte da proposta para um dos municípios. Projeto: Professor RochaJúnior.

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senta construções bem populares, Aratuba mostra uma certaerudição nas linhas arquitetônicas IMAGEM 05.

Em Fortaleza, projetos de restauro estão sendo conduzi-dos sob a responsabilidade do Escritório Modelo. Esta área émuito recente na capital cearense e no interior do estado. Pou-cos são os profissionais habilitados para essa tarefa. Preten-de-se com essa atividade e com posteriores cursos de pós-graduação nessa área, capacitar um maior número de arquite-tos e urbanistas para o trabalho de recompor edificações dete-rioradas pela força inclemente do tempo e dar um novo uso àsedificações que se configuraram como marcos históricos decada um dos municípios. O Escritório Modelo, nesse instante,assume um novo papel: o de formador de massa crítica. Além

Secas e prefeituras do interior do estado do Ceará, são de-senvolvidos inventários e projetos de restauro de edificaçõesde interesse histórico. Já se observa, nos discentes que parti-cipam desses projetos, um amadurecimento acadêmico, umaconscientização profissional e a responsabilidade sobre o pa-pel social que desempenham. Com as prefeituras de Aratubae Redenção, dois municípios próximos à cidade de Fortaleza,o primeiro situado no cume do maciço de Baturité e o segundono sopé da mesma formação rochosa, firmaram-se parceriaspara o levantamento das edificações de interesse histórico.Embora muito próximas, as cidades tiveram gêneses comple-tamente díspares: Redenção, cidade que se notabilizou pelalibertação precoce dos escravos, daí o nome que adotou, tevea sua origem vinculada com a cultura da cana de açúcar. Lati-fundiários rudes fizeram suas edificações seguindo o desenhocolonial que se difundiu por todo o território nacional. Já Aratubateve o seu início vinculado ao cultivo do café. Aristocratas ru-rais edificaram suas moradas utilizando-se dos conceitos doArt Decô. São edificações muito mais recentes e com linhasarquitetônicas muito bem definidas. Enquanto Redenção apre-

IMAGEM 05: Perspectiva, fa-chada e interior de edificaçõesem Aratuba e Redenção.

IMAGEM 06: Diversos aspectos das visitas técnicas.

Fotos: Daniela Ancântara.

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CCT tem os seguintes objetivos: primeiro - aproximar, desde aformação acadêmica, estas duas categorias profissionais quejá criam e modificam os mesmos objetos, os edifícios e ascidades, no Mercado de Trabalho; segundo – tentaroperacionalizar a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade,citadas nas Diretrizes Curriculares da Arquitetura e Urbanismoe fundamentais para uma formação plena dos estudantes, semperder a visão holística da sociedade contemporânea e por úl-timo, aproveitar as características e potencialidades de cadaprofissão de modo a se obter um trabalho com maior qualida-de técnica e uma formação psico-social mais aprimorada parao discente.

02. DO OBJETIVO: Criar dentro da Universidade de Fortalezacampo de estágio para os alunos dos cursos de Arquitetura eUrbanismo e Engenharia Civil do Centro de CiênciasTecnológicas e apoiar as atividades de ensino, pesquisa e ex-tensão, desenvolvidas no âmbito acadêmico.

03. DA UTILIZAÇÃO: O espaço será ocupado nos três turnos:manhã, tarde e noite, pelos professores e estudantes dos cur-sos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil, para o de-senvolvimento das seguintes atividades:

- Criação e manutenção das páginas para a Internet doscursos de Arquitetura e Urbanismo, Engenharia Civil, Enge-nharia de Produção, Engenharia Mecânica, Engenharia Elé-trica, Engenharia de Controle e Automação, Engenharia Ele-trônica, Engenharia de Telecomunicações e Informática, in-tegrantes do Centro de Ciências Tecnológicas;

- Criação e manutenção de páginas de professor e dedisciplinas;

- Apoiar os Centros Acadêmicos na criação e manuten-ção de páginas;

- Criação e Manutenção de páginas para a Internet, emparceria com outras instituições locais e Municipais;

- Apoiar a Diretoria de Informática na manutenção de pá-

dessa tarefa precursora do projeto do restauro, o curso temmantido visitas técnicas a diversos municípios brasileiros deinteresse histórico como suporte para as disciplinas de Histó-ria e de Técnicas Retrospectivas. Já foram objeto de visitas:Icó, Sobral, Aracati no estado do Ceará, cidades marcadaspela criação, comércio, abate e transporte do gado, pelascharqueadas, técnica local desenvolvida que se caracterizavapelo ato de salgar as carnes de modo a melhor preservá-las noperíodo em que eram transportadas por barcos para os cen-tros de cultivo da cana de açúcar. No Piauí se apresentou aosalunos Parnaíba, terras que um dia foram cearenses. NoMaranhão se fez visita detalhada a Alcântara e a São Luís, ci-dades que mantiveram um estreito relacionamento com a Co-roa Portuguesa no período colonial. Natal no Rio Grande doNorte e sua arquitetura militar, João Pessoa na Paraíba e asmanifestações religiosas, além Olinda e Recife no Pernambucoforam também alvo de visitação IMAGEM 06.

Diretrizes para o funcionamento do Escritório Modelo

Foi elaborado por uma equipe de professores do curso deArquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza um con-junto de Diretrizes para nortear as atividades desenvolvidas noEscritório Modelo. A seguir faz-se uma transcrição do docu-mento que traz a assinatura da Coordenação, mas tem o res-paldo do Colegiado do curso.

01. DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES: Atendendo a de-terminação existente na Proposta de Diretrizes Curricularespara os cursos de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, encami-nhada pelos órgãos de representação acadêmica e profissio-nal da categoria ao MEC – Ministério de Educação, a Universi-dade de Fortaleza implantará, no segundo semestre do ano de2002, o Escritório Modelo dos cursos de Arquitetura e Urbanis-mo e Engenharia Civil, ambos integrantes do Centro de Ciênci-as Tecnológicas da UNIFOR. A idéia de servir não somente aocurso de Arquitetura e Urbanismo, mas aos dois cursos do

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Escritório Modelo está conectado a todas as centrais de im-pressão e plotagem existentes na Universidade de Fortalezade modo a possibilitar a plena utilização de todos periféricosexistentes na instituição.

05. DA RESPONSABILIDADE TÉCNICA: O Escritório Modelodo Curso de Arquitetura e Urbanismo é gerenciado por um pro-fessor graduado em Arquitetura e Urbanismo. Para cada proje-to a ser desenvolvido neste espaço, será composta uma equi-pe formada por docentes e discentes. O professor é o respon-sável técnico pelas atividades desenvolvidas pelos seus orien-tados.

06. DOS ALUNOS ENVOLVIDOS: Para o desenvolvimento dasatividades do Escritório Modelo serão alocados os alunos queobtiverem êxito nos processos de seleção definidos por editaisespecíficos para cada projeto.

07. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS: As atividades acima enume-radas serão implantadas a partir de demandas apresentadaspelas comunidades objetos de trabalho, definidas em item an-terior, e constarão de editais específicos. Nestes documentosconstarão, também, a forma de implantação, o tempo de dura-ção, a composição das equipes, a infra-estrutura envolvida e aforma de remuneração dos trabalhos.

É fato, que ainda estão sendo enfrentadas situações novasa cada dia e que se há de gerenciar essas especificidadespara que possam vir compor um aprimoramento das Diretri-zes implantadas. O importante é que se tem observado umvolume grande de estudantes no Escritório Modelo: acadêmi-cos envolvidos com os projetos e estudantes que utilizam oespaço para aprender um pouco mais sobre o exercício profis-sional e se integrar com discentes de semestres diferentes eaté mesmo de cursos diferentes. Tem sido, pois, o EscritórioModelo um espaço fecundo para o simulacro da vida profissio-nal e para a discussão de conteúdos e conceitos que envol-

ginas na Internet para os demais cursos da Universidade deFortaleza;

- Criação e manutenção de Banco de Imagens para ocurso de Arquitetura e Urbanismo;

- Desenvolvimento de Projetos Arquitetônicos, Urbanísti-cos, Paisagísticos e de Interiores para as ComunidadesCarentes, e de utilidade Pública Entidades com finsassistenciais e a Comunidade Universitária;

- Apoiar a Diretoria de Planejamento e a Sala Técnica daUNIFOR no desenvolvimento de Projetos Arquitetônicos, Ur-banísticos, Paisagísticos e de Interiores para a Universida-de de Fortaleza;

- Apoiar no desenvolvimento de Comunicadores Visuaispara a Universidade de Fortaleza;

- Desenvolvimento de todos Projetos Complementaresaos Arquitetônicos, Urbanísticos, Paisagísticos e de Interio-res, criados para as Comunidades Carentes o de UtilidadePublica Entidades com fins assistenciais e a ComunidadeUniversitária;

- Realizar Inventários de bens existentes em municípiosbrasileiros; e

- Participar de Concursos de Arquitetura, Urbanismo,Paisagismo e Comunicação Visual locais e nacionais comoforma de integração do aluno do curso de Arquitetura e Ur-banismo no Mercado Nacional.

04. DA INFRA-ESTRUTURA: Está sendo utilizado o Laborató-rio J-43 – Escritório Modelo para o desenvolvimento das ativi-dades acima especificadas. Este laboratório é composto portrês unidades espaciais: i) Sala do Gestor; ii) Sala de Reuniõese iii) Sala de Desenvolvimento de Projetos. Foram alocadospara este laboratório os seguintes equipamentos: i) cinco com-putadores de última geração conectados na rede acadêmicada Universidade e na Internet; ii) uma impressora jato de tinta;iii) um scanner tamanho A-04; iv) oito pranchetas com réguaparalela; v) armários; vi) cadeiras; e vii) mesa de reunião. O

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PROJETO E CONSTRUÇÃODE PASSARELA EM ARCO DE MADEIRAUMA EXPERIÊNCIA DE ENSINO E APRENDIZAGEMEveraldo PletzEngenheiro civil, Doutor – USPProfessor da Universidade Paranaense – UNIPAR

[email protected]

RESUMO

Neste trabalho relata-se e avalia-se a experiência ensino deprojeto, construção, ensaio de uma passarela de madeira emarco, realizada com o envolvimento de alunos do quarto ano doCurso de Arquitetura e Urbanismo da UNIPAR. A importânciade uma abordagem sistêmica do processo de projetar é evi-denciada.

Palavras-chaves: ensino, projeto, construção, tecnologia

1-INTRODUÇÃO

A criatividade e o domínio de conhecimentos tecnológicossão os sustentáculos da Arquitetura. O domínio dos conheci-mentos tecnológicos é sumamente importante porque projetaruma obra de Arquitetura requer que, questões de caráter estri-tamente técnico sejam ordenadas, compatibilizadas entre si ecom a proposta de arquitetura. Já vai longe o tempo em que sejulgava que ao arquiteto seria dispensável o conhecimento téc-nico, que lhe bastava a criatividade para desenhar, conceber,dar formas e funções, atribuir cores e texturas. Hoje, é sabidoque o arquiteto precisa estar atento e comprometido com osinteresses sociais, políticos e econômicos do empreendedorda obra, com as limitações técnicas dos diversos subsistemas

vem a Arquitetura e o Urbanismo na cidade, no estado, no paíse no mundo.

Bibliografia:

CASTRIOTA, Leonardo Barci. Colóquio Arquitetura Brasileira:Redescobertas. Cuiabá: IAB, 2000.

CASTRO, José Liberal de Castro. Igreja matriz de Viçosa do Ceará– arquitetura e pintura de forro. Fortaleza: IPHAN / UFC,2001.

GAETE, Mario Paredes. Arquitetura no Brasil: Depoimentos. SãoPaulo: FPAA, 1996.

MONTEZUMA, Roberto. Arquitetura Brasil 500 anos. Recife: UFPE,2002.

REIS FILHO, Nestos Goulart. Evolução urbana do Brasil. São Paulo:Pioneira, 1968.

REIS FILHO, Nestos Goulart. Quadro da arquitetura do Brasil. SãoPaulo: Perspectiva, 1978.

SILVA, Francisco de Assis e BASTOS, Pedro Ivo de Assis. Históriado Brasil. São Paulo: Moderna, 1976.

VASCONCELOS, Sylvio de. Sistemas construtivos adotados naarquitetura do Brasil. Fortaleza: UFC, 1978.

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re com o engenheiro civil, projetista estrutural, antes ele traba-lha complementarmente àquele profissional. Portanto desen-volver o projeto de uma passarela de madeira permite aos alu-nos, além do desenvolvimento das habilidades acima relacio-nadas:

a- Perceber que o arquiteto precisa dominar todos osaspectos tecnológicos para bem poder projetar.

b- Observar que uma solução estrutural eficienteusualmente conduz a um bom projeto de arquitetura,como acontece na natureza.

c- Discutir a questão da utilização da madeira naconstrução civil, e reconhecer o seu enorme potencialpara promover o desenvolvimento sustentável.

d- Reconhecer a importância de se realizar umprocedimento de controle de qualidade do projeto e daexecução, tanto para o desenvolvimento dos serviços,como para o recebimento da obra.

Considerando o exposto acima foi definido que a constru-ção de uma passarela de madeira, seria uma opção baratapara o projeto de ensino, que permitiria ao aluno vivenciar to-das as etapas de uma obra, materializando os conceitos sobrea realidade imaginada de uma obra. Em suma, levaria o alunoa saltar da teoria abstrata para a prática concreta e estabele-cer o equilíbrio necessário entre ambas.

2- PROJETO, CONSTRUÇÃO E ENSAIO DA PASSARELA

O projeto de ensino foi desenvolvido em três etapas distin-tas, o projeto, a construção e o ensaio da passarela, a seguirexplicitadas.

2.1.- PROJETO

Após a definição do material a ser usado, do levantamentodas condições locais e da disponibilidade de equipamentos,elaborou-se um concurso de projeto de uma passarela para

que compõem a obra, com as condicionantes técnicas e eco-nômicas do processo construtivo e com a satisfação e o con-forto do usuário, sem esquecer da praticidade do ponto de vis-ta técnico e econômico, necessária ao processo de manuten-ção. Antes de tudo, o aluno de arquitetura deve perceber queuma obra possui quatro fases, que a fase do projeto está con-dicionada pela anterior destinada ao macro planejamento. Deveentender que o projeto se relaciona com as fases de constru-ção, operação e manutenção, influindo e recebendo influênci-as destas fases, conforme explica FUSCO (1989). Em resu-mo é fundamental que se mostre ao aluno de arquitetura queprojetar é um processo de ordenamento de condicionantes téc-nicas, econômicas, sociais e políticas, usualmente conflitantesentre si, em benefício de uma proposta de arquitetura que sejarica dos pontos de vista funcional, artístico e estético.

Outro aspecto de fundamental importância destacado porCÉSAR (1998), estabelece que as aulas devem ser dadas den-tro de um Laboratório ou Canteiro Experimental, criando umponto referencial para a discussão do material, do processoconstrutivo, das interferências entre as variáveis intervenientese, demonstrando a importância destes fatores para o desen-volvimento do projeto. Ë fundamental demonstrar ao aluno queo que ele colocar no projeto, será executado conforme ele es-pecificar e que por isto um projeto deve ser elaborado com amaior seriedade e responsabilidade possível. O ensino basea-do em atividades experimentais permite facilmente demons-trar na prática que muitas patologias das obras surgem de er-ros e omissões dos projetos.

Segundo PLETZ e CALIL (2000) o projeto de pontes exigeque seus projetistas realizem necessariamente uma aborda-gem sistêmica de todos os seus aspectos múltiplos. Quantoaos projetistas, pode-se afirmar que o arquiteto desempenhaum papel fundamental no projeto de pontes, que é essencial-mente uma estrutura, do ponto de vista da construção civil.Porém o arquiteto é um projetista de estrutura que não concor-

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FIGURA 1

2.2- CONSTRUÇÃO

Os arcos foram fabricados no local da obra, usando madeirade Cedrilho. Uma forma circular foi executada sobre o piso,com o raio de curvatura do arco, para que sobre a mesma aslâminas fossem sucessivamente colocadas, encurvadas epregadas uma sobre a outra, conforme demonstra a FIGURA2. Usaram-se pregos 20x48, 12x12 e 15x15, os menores napregagem da segunda lâmina sobre a primeira, osintermediários na pregagem da terceira lâmina sobre a segundae os maiores para a pregagem das demais lâminas. Inicialmenteos alunos não haviam percebido esta necessidade. As tábuasforam selecionadas e posicionadas de tal modo que asemendas de topo não se localizassem sobre a mesma seção,evitando assim a perda localizada de resistência do arco. Aseção I escolhida para os arcos facilitou a furação para osparafusos de 10 mm e de 30 cm de comprimento, do tipofrancês, que atravessaram uma mesa e passaram encostadosna alma, até alcançarem a outra mesa. Os furos só podem serfeitos depois de composta a seção, e se esta fosse retangularseria impossível furar sem danificar o arco e a furadeira, porqueas lâminas estavam unidas entre si através de pregos, dispostosno interior do arco.

vencer um vão livre de 5,20m, com uma largura máxima de2,20 m e altura máxima de 2,88 m para circulação de seususuários, para assim não interferir na estrutura de coberturaexistente sobre o local onde seria edificada a passarela. Alémde se obedecer ao gabarito de 2,35 m para não prejudicar ofluxo de pessoas sob a passarela. Participaram deste concur-so sete equipes de alunos do 4º ano de Arquitetura e Urbanis-mo. A definição do projeto vencedor foi realizada por uma co-missão julgadora composta por quatro professores do curso.Os projetos elaborados foram analisados em função do aten-dimento dos seguintes quesitos: estética, funcionabilidade,exeqüibilidade e solidez.

A FIGURA 1 apresenta o projeto vencedor, que uma vezassim declarado, foi detalhado para que se pudesse iniciar afase da construção. Trata-se de uma passarela composta pordois arcos superiores ao tabuleiro, que apóiam sete tirantesmetálicos de 0,8 mm de diâmetro, nos quais o tabuleiro ésuspenso. Os arcos possuem seção transversal do tipo “ I“, em madeira laminada pregada, com mesas compostas portrês tábuas de 20cm x 1,5cm e uma mesa composta por setetábuas de 15cm x 1.5cm. Os arcos são circulares para facili-tar a execução e possuem raio de curvatura igual a 4,41 metros.O tabuleiro é composto por tábuas de Garapeira de 1,20 x 20 x2,5 cm, apoiadas sobre quatro caibros 5 cm x 6 cm dispostossegundo a direção longitudinal, espaçados entre si de 33,3cm. Abaixo destes, 7 vigas 6 x 12 cm com 2,10 m de compri-mento ( de Garapeira) dispostas transversalmente ao eixo dapassarela, se apoiavam nos tirantes metálicos. As dimensõesda passarela levaram os seus arcos a participarem tambémcomo elementos dos guarda-corpos. O resultado final foi umprojeto simples e esteticamente agradável, com uma certa pi-tada de arrojo ao suspender o tabuleiro e apresentando o res-gate de uma técnica de execução de arcos de madeira, esque-cida na região.

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Executados os arcos, cada um deles recebeu o respectivoconjunto de tirantes, dotados de esticadores. Cada arco foi le-vantado e puxado por corda até o final da primeira laje, posiçãoem que foi içado por uma corda que passava pelo pórtico quelocalizado acima da passarela, para atingir a outra laje de apoio.Posicionados nos aparelhos de apoio, eles foram aprumadose travados dentro destes aparelhos, que conferiram um certograu de engastamento.

Deve-se frisar que durante a construção dos arcos, pre-gando tábuas após tábuas, os alunos demonstravam uma cer-ta apreensão a respeito do sucesso do arco, porque as tábuasutilizadas apresentavam muitos defeitos, como nós e atéfissuras, além de teor de umidade elevado. Concluída a colo-cação do tabuleiro os alunos correram para a passarela, hou-ve uma explosão de alegria, de todos pelo sucesso da primeiraobra projetada e construída, por terem dominado um sistemaestrutural que nunca tinham visto, a não ser de uma maneiramuito distante através dos livros, conforme se observa na FI-GURA 4. Eles tiveram a oportunidade de vivenciarem aconcretização do ciclo criativo.

FIGURA 4

FIGURA 2Os aparelhos de apoio em aço foram fixados através de

parafusos chumbados em vigas de concreto armado, confor-me a FIGURA 3. Inicialmente eles foram projetados para se-rem fixados nas paredes, conforme se observa no projeto, naFIGURA 1. Esta mudança ocorreu porque inicialmente não sehavia levantado a altura correta da viga de apoio, que posterior-mente foi dada por insuficiente, e julgou-se melhor apoiar so-bre o piso, que teria melhores condições de absorver osempuxos dos arcos, por ação de diafragmas.

O tabuleiro foi construído com tábuas pregadas sobre qua-tro caibros. Nas extremidades dos tirantes foram apoiadas asvigas transversinas. Elas serviram de apoio para o tabuleiroque foi arrastado sobre as mesmas. Os esticadores permiti-ram ajustar o nível das transversinas e conseqüentemente dotabuleiro.

FIGURA 3

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4- CONCLUSÕESDa realização deste projeto de ensino, resultaram impor-

tantes lições e reflexões, a seguir enumeradas:1- É fundamental que exista nos Cursos de Arquitetura eUrbanismo, um espaço dedicado a execução do objeto pro-jetado, para que o aluno perceba o projeto como uma dasfases evolutivas da construção, e não como um fim em simesmo.

2- Não há como ensinar a projetar sem ensinar a discutir aqualidade do projeto, e neste sentido o Canteiro Experimen-tal é muito importante porque a construção é o crivo impar-cial do projeto, que expõe as suas qualidades e os seusdefeitos.

3- O Canteiro Experimental ou espaço equivalente é impor-tante para um Curso de Arquitetura e Urbanismo porque nelese consegue reproduzir melhor várias condições que afe-tam o cotidiano profissional, como por exemplo, condiçõesfinanceiras, disponibilidade de materiais, descompasso en-tre o fornecimento dos insumos e o cronograma de utiliza-ção dos mesmos.

4- Atividades de cunho experimental são usualmente decaráter multidisciplinar e geralmente não permitem que asituação problema seja desmembrada em partes isoladas,dando a falsa impressão de estanqüeidade entre as mes-mas. Estas atividades demonstram aos alunos de um modoirrefutável que cabe ao arquiteto participar de áreas que apa-rentemente não pertencem ao seu campo, como, por exem-plo, projetar estruturas, discutir o processo de execução.

5- AGRADECIMENTOS

A realização deste projeto de ensino foi possível graças aoempenho da Coordenação do Curso de Arquitetura eUrbanismo, na figura do prof. Carlos Augusto, e ao apoio daCoordenadoria de Pesquisas da UNIPAR.

2.3- ENSAIO

Após a execução procedeu-se uma inspeção da passarelae observou-se que os arcos começaram a fissurar devido àutilização de madeira verde. As pequenas fissuras que surgi-ram não chegaram a comprometer a resistência do arco, por-que para efeitos estruturais apresentaram os mesmos efeitosde uma nova emenda. Os alunos ao refletirem sobre a influên-cia dos defeitos das tábuas perceberam que o resultado doarco depende do conjunto de tábuas e que um defeito localiza-do neste tipo de sistema construtivo, tem uma repercussãofraca e diluída.

Além da avaliação foi realizada uma prova de carga. A pas-sarela foi carregada com 300 kgf/m2, obtidos com oposicionamento de um grupo de pessoas, e foi medido o des-locamento do tabuleiro, na seção central. A flecha obtida naprova de carga foi de 0,5 cm, enquanto que o valor máximopermitido por norma é de aproximadamente 1,5 cm.

Quanto aos custos dos materiais para execução da passa-rela totalizaram R$2359,40; um valor bastante baixo, suficientepara a realização de uma prática de alto impacto para todos osacadêmicos do curso, e não apenas para os alunos do quartoano.

3- RESULTADOS

Além dos bons resultados observados na melhoria do nívelde entendimento do processo de projeto, do amadurecimentoda capacidade de percepção dos aspectos multidisciplinaresintervenientes, ressalta-se que houve a produção de um artigoredigido pela aluna Michelle Faura Ferrarini, uma das autorasdo projeto vencedor, apresentado no II Encontro de IniciaçãoCientífica da Universidade Paranaense - UNIPAR. Todos estesfatos atestam o sucesso do projeto, no processo de ensino eaprendizagem.

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PROJETO CASA FÁCIL - UNIFIL: EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EINSERÇÃO SOCIALCoordenadores: prof. MSc. Ivan Prado Junior e prof. MSc. Gilson Jacob Bergoc

Introdução

Pode-se dizer que a cidade contemporânea sofre de ummal crônico, senão crítico: a desorganização espacial. Desor-ganização essa impulsionada, entre outros fatores, pela exclu-são social, ou seja, pela dificuldade que as populações menosfavorecidas encontram em organizar seu lugar de viver e pelaincompetência do poder publico, no contexto atual, de provertal condição a essa parcela da população.

No entanto, as médias e grandes cidades continuam cres-cendo, sendo que o intenso processo de urbanização, obser-vado principalmente nas ultimas quatro décadas, “fez emergirde forma assustadora as aglomerações periféricas, desprovi-das de serviços e infra-estrutura, bem como de acesso aoscentros de emprego”. (LADEIA; MORAES, 1996) As aglomera-ções periféricas não resultam apenas do problema habitacional,mas também da deterioração das condições de vida de ummodo de produção que busca cada vez mais a perpetuaçãodas desigualdades sociais e a acumulação de capital.

As habitações precárias - favelas, mocambos, cortiços -surgem como alternativas para grande parte da classe traba-lhadora, a fim de sobreviver nas cidades e permanecer próxi-ma aos centros de emprego ou transporte. Tal situação, porlongo período, foi tolerada pelo poder público por não alocar osrecursos necessários para empreender uma ação habitacionaleficaz, pelo fato de os terrenos não possuírem importância nomercado imobiliário e, ainda, porque as favelas serem centrosde interesses político-eleitorais.

Contudo, a partir da década de 70, tais aglomerações pas-sam a constituir grande preocupação para a administraçãopública, dado o valor que os terrenos por elas ocupados adqui-rem no mercado imobiliário. Sem que se questionasse o por-

6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FUSCO,P.B. (1989). Os caminhos da Evolução da Engenharia deMadeiras. - In: III-ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS EEM ESTRUTURAS DE MADEIRA, São Carlos, 1989. Anais.Florianópolis, IBRAMEM/USP. Vol. VI, p.313-324.

PLETZ,E. & CALIL, C. A abordagem sistêmica do projeto de pontes demadeira In: VII-ENCONTRO BRASILEIRO EM MADEIRAS E EMESTRUTURAS DE MADEIRA, São Carlos, 1989. Anais SãoCarlos, IBRAMEM/USP.

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quê de seu surgimento, o que seria reconhecer as falhas dosistema capitalista, as favelas passam a ser consideradas“disfunção do sistema” e, como tal deveriam ser erradicadas.Criam-se assim, programas com vistas à remoção do “proble-ma” e, de invasores, as favelas passam a ser “invadidas”.

É pertinente considerar que as habitações precárias são frutode um universo de fatores econômicos, políticos e sociais esão reflexo de desequilíbrios existentes na sociedade e suaformação está intimamente ligada a problemas gerados no meiorural somados ao agravamento dos problemas gerados no meiourbano.

A solução dos problemas habitacionais extrapola, portanto,a mera questão da habitação. A falta de moradia está ligada àausência de emprego e salário justo, à indefinição quanto àreforma agrária que possibilite a geração de emprego e rendapara o homem do campo, não o expulsando para os grandescentros urbanos e, fundamentalmente, o não pagamento dadívida externa, pois esta consome bilhões de dólares que po-deriam ser utilizados na construção do bem-estar social dapopulação.

O Programa Casa-Fácil

Atualmente, cerca de 160 mil famílias no Paraná aguardama vez de realizar o sonho da casa própria na fila do sistemahabitacional. Segundo DE DEUS (2002), em Curitiba são 60mil famílias que esperam em média seis anos o chamado dacompanhia de habitação.

Londrina, município com aproximadamente 460.000 habi-tantes no norte do Paraná, configura-se como pólo atrativo decorrentes migratórias. Desde a década de 60 verifica-se o pro-blema habitacional se instalando. Escassas iniciativas e faltade recursos locais visando a faixa mais carente da populaçãoagravam o problema. De acordo com a COHAB-LD (Londrina,2002) em Londrina a demanda habitacional atual é de aproxi-madamente 30 mil domicílios, sendo que 25.895 são para do-

micílios com famílias de rendimento de até 3 salários mínimos.Esses dados mostram o que essa cidade enfrenta e o nível dedeterioração das condições de vida da população, que atual-mente não tem alternativa a não ser sobreviver em habitaçõessubnormais, em cortiços e favelas.

A habitação constitui uma das fundamentais necessida-des do homem. Esta assume função urbana vinculando-se aoprocesso de desenvolvimento regional, devendo ser encaradanuma perspectiva mais abrangente, como investimento e comoobjeto de intervenção necessária ao desenvolvimento, tanto nonível da estrutura urbana quanto na formação e inserção socialda população.

A partir desses problemas diversas soluções têm sido apre-sentadas por entidades civis e sociais para minimizá-los. NoParaná, o Programa Casa-Fácil, idealizado e implantado a partirde 1988 pelo CREA-PR, tornou-se uma alternativa viável eaconselhada por órgãos nacionais e internacionais de habita-ção. Para sua viabilização conta com a participação de váriosorganismos: o CREA-PR, a prefeituras municipais, entidadesde classe de arquitetura e engenharia e as Universidades emdiversos municípios do Paraná.

Partindo-se do princípio de quem ganha até três saláriosmínimos tem dificuldade em contratar um profissional da en-genharia ou da arquitetura para projetar e assumir a responsa-bilidade técnica de uma residência, por menor que seja, e queem vista disso, a grande maioria das casas populares – mes-mo as situadas em áreas urbanas dotadas de toda infra-estru-tura – são obras clandestinas, o Programa Casa Fácil visacorrigir essa distorção ao mesmo tempo em que possibilita aaproximação da Universidade à comunidade.

Assim, o programa propõe-se a atender a população debaixa renda com projetos arquitetônicos de moradias de até70m² em que são considerados os aspectos legais, os de con-forto e as necessidades de cada família, evitando assim umasérie de problemas decorrentes de projetos inadequados ou

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mesmo da má utilização dos lotes e do espaço urbano. A ne-cessidade de oferecer condições dignas de moradia às clas-ses mais desfavorecidas da população, com toda a documen-tação e legalização necessária, é sua principal justificativa.

Desde sua implantação em Londrina, em 1994, o programapassou por diversos momentos, enfrentando inclusivedescontinuidade. Pode-se assim afirmar que, mesmo antesda aprovação do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), o Pro-jeto Casa Fácil atendia ao item que trata da assistência técnicagratuita para as comunidades e grupos sociais menos favore-cidos, conforme consta no Art. 4º, Cap. V - Institutos jurídicos epolíticos.

O Centro Universitário Filadélfia - UniFil passou a integrar oprograma, juntamente com a Universidade Estadual de Londri-na, a partir de 1994. Atenderam aproximadamente 1500 famíli-as, até 1997, quando sofreu interrupção. A partir do ano de 2002,através do convênio firmado entre o CREA-PR, a Prefeitura doMunicípio de Londrina e a UniFil, é reiniciado como ExtensãoUniversitária, denominado Projeto Casa Fácil – UniFil. Destereinício até junho de 2004 realizou trabalhos para mais de 350famílias.

O projeto Casa Fácil - UniFil

O Projeto Casa Fácil - UniFil é coordenado pelos docentesarquitetos Gilson Jacob Bergoc e Ivan Prado Junior, sendo queo primeiro responde pelo gerenciamento do convênio peranteo CREA-PR e a Prefeitura Municipal da cidade de Londrina e osegundo pela coordenação operacional dos projetos e o aten-dimento ao público, contando com o auxílio de alunos que atu-am como monitores e estagiários.

Seu principal objetivo é produzir projetos arquitetônicos demoradia popular, limitado a 70m2 de área construída e um pavi-mento, adequados à comunidade, de acordo com osparâmetros instituídos pelas leis vigentes, que visem a garan-tia das condições de salubridade, habitabilidade e conforto.

Destinam-se à população com comprovada baixa renda, dacidade de Londrina, cuja família recebe no máximo três salári-os mínimos e que tem no máximo um único lote devidamenteurbanizado nesta cidade e que não tenha sido atendida em outraoportunidade por programas similares.

O atendimento ao público, assim como o desenvolvimentoe fornecimento de projetos realiza-se em local próprio, comacesso independente para o público, no campus da UniFil, nasinstalações do ETAC – Escritório Técnico de Arquitetura e Cons-trução.

Atualmente participam quatro monitores da 4ª e 5ª séries docurso de Arquitetura e Urbanismo. Estes atuam diretamenteno atendimento à população, no levantamento do programa denecessidades, da elaboração dos projetos, orientados pelodocente, preenchimento de ART e encaminhamento de proje-tos e clientes à Prefeitura do Município de Londrina. Os estagi-ários, em número de quatro atualmente, auxíliam os monitoresem todas as atividades (projetos, desenhos, elaboração demaquetes, atendimento e outras).

A avaliação do programa é realizada através do acompa-nhamento constante e individual do atendimento e demais ser-viços prestados pelos envolvidos e, ao final de cada ano, atra-vés de relatórios apresentados pela coordenação de estágioao Colegiado de Arquitetura e à Pró-Reitoria de Pesquisa eExtensão da UniFil. A disseminação dos resultados junto à co-munidade acadêmica tem sido realizada através de relatóriosde desenvolvimento do programa durante o ano, participaçõesem eventos científicos pertinentes e, junto à comunidade emgeral, através da imprensa escrita, falada e televisionada e dapublicação de artigos em livros e revistas.

Organização e funcionamento

O interessado é encaminhado pela Prefeitura Municipal, apósa comprovação de que não possui nenhum outro imóvel emseu nome, para participar do programa. Junto à UniFil, passapor uma entrevista visando levantar os dados sócio-econômi-

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cos, para comprovar se a renda mensal não é superior aoslimites estabelecidos no convênio e verificar suas atuais condi-ções e necessidades. Os dados físicos que orientarão a ela-boração do projeto da moradia, tais como: situação, dimen-sões do terreno, norte, área de edificação já existente no terre-no e outras, são fornecidos pela Prefeitura. Após esse proces-so é agendado o retorno, que varia de uma a três semanas, deacordo com a demanda do período e também com o projeto,definido em conjunto com o cliente.

A fase seguinte refere-se ao desenvolvimento do projeto deacordo com as necessidades do interessado. O docente res-ponsável orienta a elaboração do projeto arquitetônico. O be-neficiado pode escolher entre projetos que já constam de umcadastro de mais de 54 tipologias habitacionais ou então dis-cute como deseja sua futura residência. Neste caso os proje-tos são elaborados e o beneficiado volta tantas vezes quantasforem necessárias para que o projeto corresponda às expec-tativas, necessidades e até aos sonhos do interessado. Valeregistrar que os beneficiados, na grande maioria, optam porprojetos personalizados. Recusam as tipologias apresentadascomo “padrão”, como que querendo afirmar sua identidade atra-vés do realização de sua moradia.

Os alunos, sob supervisão do docente, preparam a docu-mentação necessária para aprovação na Prefeitura bem comoorientam o beneficiado sobre aspectos técnicos relacionadosà execução da obra. O docente fica disponível para dirimir even-tuais dúvidas da execução, o que é feito com a participação doalunos. Após receber todas instruções e documentos o benefi-ciado se desloca até a Prefeitura para encaminhar o processode aprovação do projeto, que leva em torno de uma semana.Ao retirar o alvará de construção recebe um cartaz com a iden-tificação do “Projeto Casa Fácil” que deve ser afixado na obra,valendo como placa. É feita a anotação da responsabilidadetécnica - ART - junto ao CREA-PR, bem como memorial gené-rico da obra. Estes procedimentos garantem ao beneficiado a

isenção de uma série de taxas públicas: Alvará de Aprovação eLicença para Construção, ART e Habite-se. Esta documenta-ção dá amparo legal para a isenção dos recolhimentos juntoao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social. Obtém acertidão negativa de débitos no INSS e finalmente, de possedesses documentos, pode averbar a obra no Cartório de Re-gistro de Imóveis. Enquanto estes procedimentos não estive-rem completos, orienta-se o beneficiado a não fazer qualquermodificação na edificação, sob pena de perda dos benefícios.

O atendimento ao público é realizado dois dias por semanae o desenvolvimento dos projetos nos demais dias. Dessemodo, a capacidade de atendimento do programa é de aproxi-madamente oito pessoas por semana, o que equivale à capa-cidade máxima de 240 famílias por ano de acordo com a estru-tura prevista para 2004.

Resultados obtidos

O Convênio Moradia Casa Fácil – UNIFIL entre 2002 e 2004,realizou 350 atendimentos, dos quais 320 projetos já foramentregues, correspondendo a uma área de 19.935,31m² emprojetos fornecidos. Considerando que no mercado de traba-lho em Londrina, habitualmente esse tipo de projeto custa parao interessado aproximadamente R$ 5,00 o metro quadrado,considera-se então que a prestação desse serviço correspondeem valores atuais a R$ 99.676,57 revertidos à população debaixa renda.

Este projeto tem também um grande impacto econômico.Considerando um valor médio de R$ 200,00/m² para a tipologiade construção em questão, o total de recursos mobilizadospelos que têm procurado este programa perfaz um valor apro-ximado de R$ 3.987.062,00. Computando-se um imposto mé-dio de 10% sobre os materiais de construção, pode-se afirmarque são gerados aproximadamente R$ 398.706,29 de impos-tos somente dos materiais. Esse é o benefício econômico ge-rado ao poder público.

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Dos projetos já entregues aproximadamente, 75% possu-em área entre 61 e 70 m², 18% entre 40 e 60m² e 7% menoresde 40m². Estão distribuídos em edificações de um pavimento ede um, dois e três dormitórios; as tipologias variam de residên-cias isoladas, geminadas e edículas. Os projetos, são elabora-dos a partir das necessidades dos clientes, que a princípio po-dem optar por um projeto padrão ou personalizado, o que influ-encia no prazo de entrega. Uma característica interessante, éem relação a configuração dos projetos mais solicitados: doisdormitórios, sala, cozinha, banheiro e previsão para abrigo deautomóvel, com cobertura e disposição do terreno muito se-melhantes entre si.

Além dos resultados econômicos, foram observados diver-sos benefícios do Projeto que atingem todas as partes envolvi-das:

1. As famílias (beneficiados) economizam significativa-mente na contrução de suas habitações, garantem sualegítima propriedade e o valor comercial. Têm um projetopara uma edificação de melhor qualidade, considerandoa implantação, insolação, ventilação e outras caracterís-ticas que o projeto possa assegurar.2. A Prefeitura Municipal tem no Convênio um aliado im-portante dos programas habitacionais municipais. Con-tribui para a ordenação do crescimento da cidade, paraocupar os vazios urbanos e para atender as normasedílicas, e de uso e ocupação do solo urbano.3. As Entidades de Classe de Arquitetos e Engenheirospassam a ter presença mais atuante junto à comunida-de, fortalecendo o aspecto social da profissão, já que estãoà disposição dos interessados para a necessária orien-tação técnica durante a construção da obra; seus asso-ciados ficam liberados da responsabilidade técnica e ci-vil, uma vez que não são os executores diretos dasedificações.

4. Devido ao cunho social deste projeto, a InstituiçãoUniFil tem seu nome associado a um importante progra-ma, ampliando dessa maneira sua ação junto à comuni-dade, reforçando seu papel como Universidade, promo-vendo a integração do ensino, principalmente com estaatividade de extensão, inserindo o aluno na realidade danossa sociedade.

O programa integra-se também à proposta pedagógica docurso. De acordo com UNIFIL (2000), não se almeja somentea formação de um profissional apto ao mercado, mas tambémde “um indivíduo igualmente capaz de pensar e agir criticamentedentro da situação concreta de trabalho, participante do pro-cesso de transformações inerentes à sociedade e conscientedisto.” Nesse sentido, a proposta a declaração da UNESCO/UIA (1998), ressalta que os conhecimentos e habilidades ne-cessárias à formação do arquiteto, “devem emergir da contí-nua interação entre prática e ensino de Arquitetura, encorajadapelos governos, escolas, professores, pesquisadores e estu-dantes.”

Os alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo, ao partici-parem das atividades do programa, além de apresentaremmelhoria no rendimento acadêmico, têm a oportunidade deampliarem sua visão em relação às oportunidades existentesno amplo campo profissional da arquitetura, desenvolverem osenso crítico, a responsabilidade social e a percepção da rea-lidade, fundamentais para sua formação como profissional ecomo cidadão. O Projeto Casa Fácil - UniFil tem sido procura-do inclusive por alunos de outras instituições para fornecimen-to de estágio, confirmando a abrangência de sua ação.

Conclusão

Esta expreriência nos mostra que as atividades acadêmi-cas, integradas a programas de amplo alcance social, progra-madas de maneira que permitam vivenciar a prática e, ao mes-

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mo tempo, refletir sobre ela, realizadas dentro e fora da unida-de acadêmica, de forma articulada, contribuem para uma sóli-da formação profissional, abrangente e socialmente responsá-vel.

É dessa forma que os profissionais, arquitetos e urbanistasque estão inseridos direta ou indiretamente neste programa,acreditam estar colaborando com soluções para a melhoria daqualidade de vida das populações mais necessitadas, ao mes-mo tempo em que se procura conscientizar os alunos paraeste problema que atinge milhares de pessoas no Brasil e nomundo, formando mais que um Arquiteto, um cidadão.

Ao mesmo tempo coloca a possibilidade de uma Instituiçãoprivada realizar um trabalho social de grande alcance, vincu-lando o processo de formação de seus alunos com atividadesde extensão que atingem diretamente a população mais ca-rente, cumprindo sua função social.

Bibliografia

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argamassa armada, metálicas (aço e alumínio), madeiras (sim-ples ou associadas) e alvenarias estruturais.

Tem como objetivo principal um ensino de estruturas queseja eficaz à formação e ao mesmo tempo atraente ao estu-dante de engenharia e arquitetura.

Palavras chaves: Ensino, Ensino de estruturas, Estruturas

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os meios de produção e de serviço estão passando porprofundas alterações, caracterizadas como uma mudança deparadigma - do paradigma da produção massiva para oparadigma da produção racional, isto é, sem desperdícios deenergia, tempo, material e esforço humanos. Essa mudançaimplica uma modificação da postura dos profissionais em ge-ral e, portanto, do processo de formação desses profissionais.

Essa mudança de paradigma na produção e serviço temlevado as universidades a repensarem sua prática pedagógi-ca, refazendo currículos, introduzindo tecnologia educacionale provendo estágios dos alunos com a finalidade de introduzi-los na prática profissional.

Especificamente em relação à arquitetura e à engenha-ria, há uma grande pressão para a introdução dessas mudan-ças. A produção racional está sendo utilizada por um grandenúmero de empresas e o dia-a-dia do arquiteto, do engenheiroe do empresário exige cada vez mais o pensamento racional.No entanto, a formação desses profissionais ainda não sofreualterações significativas, continuando a formá-los com habili-dades para funcionar segundo o paradigma da produçãomassiva.

A formação para a produção racional requer um proces-so de aprendizado centrado na ação de fazer engenharia e ar-quitetura ao invés de ensinar o aluno sobre engenharia e arqui-tetura. Descreve-se como criar ambientes de aprendizado eas implicações em relação ao currículo e em relação às atitu-des do professor e do aluno.

UMA VISÃO DO ENSINO DAS ESTRUTURAS DASEDIFICAÇÕES PARA OS ESTUDANTES DE ARQUITETURA

Prof. Dr. João Eduardo Di Pietro – [email protected] Federal de Santa Catarina, Departamento de Arquitetura e Engenharia

Civil - Campus Universitário - Trindade - 88040-900 – Florianópolis – Santa Catarina

Prof. Roberto de Oliveira, PhD - [email protected] Federal de Santa Catarina, Departamento de Engenharia Civil e

Arquitetura - Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis

RESUMO

O objetivo deste trabalho é abordar a problemática da trans-ferência do conhecimento de estruturas aos estudantes docurso de arquitetura, estabelecido a partir de uma análise doprocesso ensino/aprendizagem. Parte da experiência verificadaao longo de muitos anos de magistério, especificamente àsdisciplinas de Experimentação e Introdução à Analise das Es-truturas oferecida ao curso de Arquitetura e Urbanismo e Aná-lise Qualitativa das Estruturas, ao curso de Engenharia Civil daUniversidade Federal de Santa Catarina, de discussões emencontros, seminários, congressos nacionais e ainda, de pu-blicações existentes sobre o assunto.

Em uma primeira etapa, as formas estruturais, suas rela-ções com a natureza e seu funcionamento são mostradas atra-vés de modelos e maquetes, de maneira essencialmente qua-litativa, permitindo, expeditamente, o pré-dimensionamento doselementos estruturais. Procura-se reduzir o hiato existente en-tre o conhecimento teórico e prático no campo das estruturas,fazendo uma ligação entre a intuição, comum aos seres hu-manos e o conhecimento tecnológico que as cerca, adequan-do-as a uma realidade física baseada em postulados matemá-ticos.

Na segunda etapa, procurar-se-á diminuir o hiato pela apli-cação de métodos quantitativos em estrutura. Isto se conse-gue pelo exercício do processo de projeto em diversos siste-mas estruturais tais como concretos (armado e protendido),

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ência direta dos sistemas de produção e serviço. Isso, porquea educação deve preparar as pessoas para atuarem segundoesses paradigmas.

Assim, a escola passa a ser a reprodutora das relações deprodução e serviço. Ela não só deve passar as idéias dos sis-temas de produção e serviço (educação através da transmis-são de idéias), como também ela própria assume uma estru-tura semelhante a dos meios de produção e serviço (educa-ção através da vivência).

O processo educacional também pode ser caracterizadode acordo com os diferentes sistemas de produção. Na épocada produção artesanal, as pessoas eram educadas por“mentores”. Esses profissionais eram contratados para edu-car os membros da corte ou das famílias ricas. Uma versãomenos elitista era o professor particular, que educava um pe-queno grupo de alunos que podiam arcar com os custos des-sa educação. Esse sistema educacional perdurou até o ad-vento da produção em massa, quando então, houve amassificação do ensino.

O sistema educacional atual pode ser caracterizado comofruto do paradigma de produção em massa. A nossa escolapode ser vista como uma linha de montagem: o aluno é o pro-duto que está sendo educado ou “montado” e os professoressão os “montadores” do conhecimento do aluno.

Além disso, existe a estrutura de controle do processo de“produção”, formada por diretores e supervisores que verificamse o “planejamento da produção” traduzida em termos dametodologia, do currículo e da disciplina, está sendo cumprido.Se tudo for realizado de acordo com o plano, essa linha demontagem deve produzir alunos capacitados. Caso contrário,existem as ações corretoras: a recuperação ou a repetência.

Mesmo a organização do currículo, que é baseada noparadigma da produção em massa ou, mais especificamente,no modelo da racionalidade técnica, estabelece uma dicotomiaentre o conhecimento científico e aplicado e a aplicação desseconhecimento na prática profissional (VALENTE, 1995).

A teoria de Kuhn, (1982), ajuda a compreender as mu-danças de paradigmas na evolução do pensamento científicoe pode ser útil para analisar o que ocorre no contexto da produ-ção de bens e serviços. Inicialmente, tem-se a produçãoartesanal, em seguida, a produção massiva e, finalmente, aprodução racional.

A produção artesanal emprega trabalhadores com gran-de habilidade e ferramentas flexíveis para produzir exatamenteo que o consumidor demanda e um item de cada vez. O custodessa produção é alto, porém, geralmente, a qualidade do pro-duto é excelente.

Na produção em massa, o objetivo é densificar a produ-ção e diminuir o custo do produto, muitas vezes em detrimentoda qualidade. Profissionais com formação específica planejama produção que deverá ser executada por um trabalhador compouca ou nenhuma habilidade, através de máquinas especiaisque produzem grande quantidade de um produto.

A produção racional combina as vantagens da produçãoartesanal - grande variedade e alta qua1idade - e as vantagensda produção massiva - grande quantidade e baixo custo. Es-sas distinções podem ser esquematizadas conforme a Tabela1 (GARBARIAN, 1992).

lanasetrAoãçudorP avissaMoãçudorP lanoicaRoãçudorP

sodatilibahserodahlabarT sodatilibahoãnserodahlabarT sodatilibahserodahlabarT

sievíxelfsatnemarreF sievíxelfnisatnemarreF sievíxelfsatnemarreF

sovisulcxesotudorP sodazinordapsotudorP sovisulcxeesauqsotudorP

edadilauqatlA leváozaredadilauQ edadilauqatlA

edaditnauqaxiaB edaditnauqatlA edaditnauqatlA

otsucotlA otsucoxiaB otsucoxiaB

Como esses diferentes tipos de produção caracterizam di-ferentes paradigmas, acabam tendo um profundo impacto emtodos os setores da sociedade, como por exemplo, sobre aeducação e serviços em geral, influenciando a maneira de vi-ver e pensar. No caso específico da educação, esta sofre influ-

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Um homem crítico, criativo, com capacidade de pensar, deaprender a aprender, de trabalhar em grupo e de conhecer oseu potencial cognitivo e afetivo deverá ter uma visão geral sobreos diferentes problemas que afligem a humanidade como asquestões sociais e a ecologia, além do profundo conhecimen-to sobre domínios específicos. Ou seja, um homem atento esensível às mudanças da sociedade com uma visãotransdisciplinar e com capacidade de constante aprimoramen-to e depuração de idéias e ações.

Certamente, essa nova atitude é fruto de um processo edu-cacional cujo objetivo será a criação de ambientes de aprendi-zagem onde o aluno possa vivenciar e desenvolver essas ha-bilidades. Elas não são passíveis de serem transmitidas, masdevem ser construídas e desenvolvidas em cada indivíduo. Nocaso da arquitetura e da engenharia, o egresso da escola hoje,com certeza, deverá estar em contato direto com o sistema deprodução racional. Esse paradigma de produção está sendodisseminado em todas as empresas e constitui um processoirreversível.

Portanto, esse profissional deve estar preparado para atuarnesse novo ambiente de produção e a sua formação deve pro-piciar o desenvolvimento de habilidades para que isso definiti-vamente aconteça.

Entretanto, essa formação tem que ser feita através de umsistema compatível com o novo paradigma, tanto no sentidoda construção de conceitos quanto do desenvolvimento de umaestrutura que permita ao aluno vivenciar a experiência da pro-dução racional ou do “pensamento racional”.

A questão é: como proporcionar essa formação? Quealterações são necessárias para constituir um ambienteonde o aluno possa adquirir as habilidades necessárias paraatuar na sociedade racional? As respostas para essas ques-tões podem ser fornecidas através da experiência acumu-lada ao longo do processo de ensino e aprendizagem. Essaexperiência pode servir de base para propiciar algumas idéi-

Assim, o conhecimento é fragmentado, categorizado,hierarquizado e ministrado em uma ordem crescente de com-plexidade. Espera-se que o aluno seja capaz de assimilar esseconhecimento molecular, cada vez mais fracionado e integrare aplicar esses conhecimentos na resolução de problemas domundo real.

Inicialmente são oferecidos cursos teóricos sobre os dife-rentes conteúdos programáticos e, mais no final do curso (es-pecialmente nos cursos de formação universitária), é solicita-do ao aluno o desenvolvimento de um projeto prático, apresen-tado como o contexto para a aplicação do conhecimento ad-quirido e o desenvolvimento de competências, capacidades eatitudes profissionais.

Em síntese, o modelo educacional em uso, é baseado natransmissão de conhecimento, assumindo que o aluno é umrecipiente vazio a ser preenchido ou o produto que deve ser“montado”. Essa abordagem é generalizada como metodologiade ensino e ainda é utilizada nos cursos de arquitetura e enge-nharia.

O resultado desse modelo educacional é o aluno passivo,sem capacidade crítica e com uma visão de mundo segundo aque lhe foi transmitida. O profissional com essa habilidade terápouca chance de sobreviver na sociedade do conhecimento.Na verdade, estamos produzindo alunos e profissionais obso-letos.

Essa formação não pode mais ser baseada no“instrucionismo”, onde o professor instrui ao aluno, mas no“construcionismo”, onde o aluno constrói o seu conhecimento,aprende porque faz, reflete sobre o produto que obtém e depu-ra as suas idéias e ações.

O sistema educacional segundo a visão da produção racio-nal ainda está por vir. No entanto, é possível ter algumas idéiasde como essa educação deverá ocorrer e que tipo de forma-ção ela deverá proporcionar. O Homem da sociedade “racio-nal” deverá ser o homem da sociedade do conhecimento(DRUCKER, 1993).

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raramente se desperta o interesse por determinado assuntosem que haja, pelo menos, um conhecimento prévio sobre omesmo, ainda que intuitivo.

A intuição é um processo essencialmente sintético: gera acompreensão repentina e direta. Resulta num caminhosatisfatório até o conhecimento global, desde que associada aduas condições: experiência prévia e cuidadosa verificação(STUCCHI, 1997).

A prática pode significar um refinamento extraordinário daintuição que, através de um laboratório, pode ser refinada pe-los experimentos, onde as diversas ações estruturais possamser compreendidas e avaliadas visualmente.

O emprego de modelos para o ensino das estruturas,tanto nas escolas de arquitetura como de engenharia, cons-tituem elementos ideais para uma apresentação intuitiva equalitativa dos conceitos estruturais, não eximindo, entre-tanto, de um conhecimento quantitativo a todos aqueles quedesejam formas estruturais arrojadas e ao mesmo tempocorretas.

3. OBJETIVOS

3. 1. Objetivos Gerais

A elaboração de uma metodologia que possa promovermelhoria do ensino de estruturas nas escolas de arquitetura ede engenharia, através da utilização de modelos estruturaisreduzidos. A confecção de modelos apropriados, afim de quesejam apresentadas as implicações da aplicação das cargassobre estruturas são necessários para que haja uma compre-ensão imediata desses efeitos.

Pretende-se, com esta proposta, além de motivar o aluno ainteressar-se pelas leis físicas que envolvem os diversos tiposestruturais, proporcionar-lhe as ferramentas necessárias eintrodutórias à análise quantitativa, através do conhecimentoqualitativo do comportamento das estruturas.

as de como alterar o ensino de engenharia e de arquiteturae capacitar profissionais para atuarem no paradigma racio-nal.

Uma metodologia de ensino adequada é uma ferramentaque auxilia a entender os paradigmas educacionais como oinstrucionismo - baseado na produção em massa - e oconstrucionismo - baseado na produção racional.

,2. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA

Todo engenheiro civil, como também todo estudante de en-genharia, já se convenceu da importância do conhecimentoestrutural para a sua formação, sabendo entretanto, que a aqui-sição de tais conhecimentos é mais complexa do que se pode-ria esperar.

A rapidez da evolução tecnológica, os novos materiais, acriação de novas formas arquitetônicas, que apresentam difi-culdades para a formulação matemática de sua estrutura, tor-nam quase impossível ao homem de formação essencialmen-te artística, absorver todo este conhecimento.

O arquiteto contemporâneo deve estar familiarizado comestética, engenharia, sociologia, economia, urbanismo e pla-nejamento, entre outros O conhecimento das ferramentas ne-cessárias para compreender a tecnologia moderna é, na mai-oria das vezes, limitado, pois a matemática, a física e a quími-ca não são matérias essenciais à sua formação (SALVADORI,1990).

Por outro lado, o conhecimento do engenheiro nas áreassociológica, estética e do planejamento é tão limitado quan-to o do arquiteto com respeito às matérias técnicas. Umdiálogo entre arquiteto e engenheiro é praticamente impos-sível: carecem de um vocabulário comum.

Como este diálogo é necessário, pergunta-se: deve oengenheiro ter mais conhecimentos de arquitetura ou o ar-quiteto mais conhecimento de engenharia?

No campo das estruturas o conhecimento qualitativo deveser, naturalmente, requisito básico ao estudo quantitativo, pois

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requerem tópicos especiais de ensino/aprendizagem. Todasbaseiam-se em conhecimentos físicos e matemáticos englo-bando componentes de ciências aplicadas e, por isso, deno-minam-se de tecnologia da construção ou da edificação.

O ensino das estruturas baseia-se em considerações teóri-cas e aplicadas através de esquemas de funcionamento ondededuzem-se expressões matemáticas. Estas aplicações ma-temáticas permitem projetar e dimensionar os conjuntos de ele-mentos que constituem o projeto estrutural formal e construti-vo. O ensino/aprendizagem abrange então essas etapas men-cionadas: as teorias, os esquemas estruturais, o projeto, odimensionamento e suas verificações.

Portanto, essa forma de ensino constitui-se em aprendiza-gem laboriosa e cansativa, através de exercícios variados esujeitos aos mais diversos erros. A participação dos alunos,neste caso, não existe. Têm, simplesmente, que assimilar tudoque é passado pelo professor.

O ensino de estruturas vem sendo ministrado, atualmente,de maneira descontínua, fragmentada, desinteressante etunelizada, isto é, tem um começo e fim, impedindo entretanto,que o aluno vislumbre o que ocorre ao seu redor.

4. 2. Proposta Metodológica

Na proposta para o ensino de estruturas, ora apresentada,o processo de transmissão do conhecimento deve ocorrer emduas etapas distintas:

1a Etapa: A Percepção Qualitativa das Estruturas

Esta etapa desenvolve-se em três níveis de profundidadeno processo ensino/aprendizado, segundo objetivos e neces-sidades variadas:

- Nível 1 (inicial) – Contato com o modelo didático;

- Nível 2 (intermediário) – Criação, projeto, construção eanálise dos modelos;

3. 2. Objetivos Específicos

Fornecer meios para:

- Elevar o nível de compreensão e fixação dos conceitosteóricos sobre o comportamento das estruturas;

- Estabelecer uma relação mais clara e direta entre ateoria e a prática;

- Ampliar o contato do aluno com a prática de laboratório;

- Proporcionar uma formação científica e integraçãomultidisciplinar dos currículos de graduação dos cursosde arquitetura e de engenharia;

Criar um espaço onde os alunos, nos períodos iniciais degraduação possam participar, de forma ativa, quebrando a tra-dicional postura apática no processo de concepção, na cons-trução e ensaio de modelos físicos capazes de reproduzir ocomportamento de diferentes estruturas.

4. METODOLOGIA DO ENSINO DE ESTRUTURAS

4. 1. Ensino e Aprendizado na Arquitetura e Engenharia

Indubitavelmente cada disciplina tem seu programa particu-lar. Cada professor segue alguns critérios gerais, mas tem tam-bém, suas preferências pessoais, primando pela objetividademas admitindo doses variáveis de subjetividade.

As temáticas de ensino apoiam-se em razões, exemplos,programas de necessidades, esquemas funcionais e, a evolu-ção do projeto, em processos explícitos e implícitos. As disci-plinas teóricas são apresentadas em forma de esquemas,exemplos e comparações. A forma de aprendizagem está fun-damentada na compreensão de textos e especialmente namemória.

Nas disciplinas técnicas referentes às edificações, dis-tinguem-se os campos das estruturas, instalações, materiaise construções, que compartilham raízes teóricas comuns, mas

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da teoria, possibilitando a aplicação do processo construtivista,onde o aluno constrói, aprende, reflete e depura suas idéias eações.

A implementação deste projeto de desenvolvimento e utili-zação de modelos didáticos, no Departamento de Arquiteturae Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, foipossível graças a existência dos laboratórios de Modelos eMaquetes e de Sistemas Construtivos – Setor de Estruturas.O primeiro é utilizado na execução dos modelos e o segundo,nos seus ensaios.

2a Etapa: Métodos Quantitativos

A aplicação de métodos quantitativos consegue-se pelo exer-cício do processo de projeto aplicado aos mais diversos siste-mas estruturais, culminando com um anteprojeto integrado(arquitetônico e complementares). Esta etapa não é objeto destetrabalho.

4. 3. Implementação da Metodologia Proposta

No curso de Engenharia Civil a implementação deu-se atra-vés da criação da disciplina optativa: Análise Qualitativa dasEstruturas utilizando-se a mesma estrutura laboratorial utiliza-da na arquitetura. Como não foi possível dividi-la em duas tur-mas foi idealizado a apresentação, por parte dos alunos, deum relatório final, onde o estudante se manifesta de maneiraaberta sobre a disciplina.

5. MÉTODOS E TÉCNICAS

Para a aplicação desta proposta de ensino/aprendizado, istoé, o emprego de modelos qualitativos para o ensino de estrutu-ras, foram utilizadas duas turmas da disciplina obrigatória deExperimentação II (Turmas A e B) do curso de Arquitetura eUrbanismo e uma turma da disciplina optativa Análise Qualita-tiva das Estruturas, do curso de Engenharia Civil da Universi-dade Federal de Santa Catarina e tendo cada uma 3 (três) ho-ras/aulas semanais, durante os semestres 97/2 a 99/2, apre-sentando a seguinte distribuição de alunos por turma:

- Nível 3 (avançado) – Contato com a análise experimentalatravés de modelos.

No Nível 1 (inicial), o estudante tem contato com os diver-sos sistemas estruturais naturais (vegetais, animais e mine-rais), a fim de despertar seu interesse pelas mais diferentesformas que a natureza apresenta, na qual a estrutura é o resul-tado das possibilidades construtivas do material aliadas a umaforma com funções pré-determinadas e, existindo entre o ma-terial e a estrutura, uma congruência e uma continuidade quenão existem no campo da técnica, onde o homem procura subs-tituir o processo construtivo natural por um processo analítico.

Ainda, nesta primeira etapa, o aluno tem os primeiros con-tatos com os modelos didáticos apresentados pelo professorde forma puramente qualitativa, onde são ilustradas as defini-ções e conceitos teóricos, aliado à observação de seu com-portamento real, comparando-o com o previsto pela teoria.

No Nível 2 (intermediário), a interface entre a teoria e a prá-tica se aprofunda pelas atividades que envolvem a criação, oprojeto, a construção e a análise qualitativa dos modelos didá-ticos utilizados nas aulas práticas do Nível 1. Nesta etapa leva-se o aluno à liberdade de criação e de reflexão sobre o com-portamento físico do modelo, bem como das questões relati-vas ao desenvolvimento da teoria, como a adoção de hipóte-ses simplificadoras. Esta tarefa é proposta como um trabalhoprático e sua execução será durante o semestre letivo.

No Nível 3 (avançado), o aluno entra em contato com a aná-lise experimental através dos modelos físicos, aprofundando aanálise teórica com o auxílio de métodos quantitativos. Estaetapa pode, ainda, ser direcionada aos projetos de iniciaçãocientífica e de pesquisa na pós-graduação. Os projetos, paraeste nível de aprofundamento, devem ter uma duração em tor-no de dois a três períodos letivos.

As atividades de criação, projeto e execução de modelosfísicos reduzidos, ou mesmo em escala real, são extremamenteúteis no processo de sintetização dos conhecimentos a partir

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tre as equipes a fim de criar um clima de competição e estimu-lar a criatividade.

Esses modelos, dentre os mais significativos, foram so-bre treliças planas, pórticos simples e cúpulas. O ensaio per-mitiu uma visualização dos esforços que ocorrem nos elemen-tos que compõem a estrutura - as barras. Com a aplicação dacarga é possível perceber, quais os elementos que estão sujei-tas à tração e/ou compressão. As figuras a seguir ilustram al-gumas dessas experiências.

As estruturas constituídas por treliças foram elaboradasdentro de certos parâmetros, não sendo permitido uma alturasuperior à 30 cm nem comprimento maior que 120 cm. As bar-ras, com dimensões máximas de 2,5 x 5,0 cm deveriam serconfeccionadas em madeira tipo “Pinus Elliottis”. Foram sub-metidas ao ensaio de flexão para verificação do comportamen-to estrutural e resistência mecânica.

Figura 1 – Treliças Planas

As estruturas em pórtico deveriam também, ser construídasdentro de certos critérios a fim de proporcionar uma uniformi-zação dos trabalhos. Não poderiam exceder 80 cm de compri-mento e a altura das vigas não ultrapassar 20 cm. Poderiamser elaborados com elementos maciços ou treliçados, emmadeira (pinus) e, suas bases, engastadas ou articuladas embases rígidas.

Tabela 2 – Quantidade de Alunos por Semestre

arutetiuqrAairahnegnE

liviC

ertsemeS AamruT BamruT acinÚamruT

2/79 72 62 52

1/89 42 62 82

2/89 42 62 52

1/99 42 52 82

2/99 32 42 72

Para estas disciplinas foi adotado o mesmo programa deensino. No curso de Arquitetura, para a turma A, utilizou-se ométodo tradicional de ensino de estruturas, puramente teórico,empregando-se o quadro negro e, para ilustração de fenôme-nos mais complexos, slides e transparências. Na turma B, oensino contou, além de todos os recursos convencionais em-pregados na turma A, com a utilização dos modelos qualitati-vos desenvolvidos em laboratório. Para o curso de EngenhariaCivil foram utilizados os mesmos recursos empregados paraa Turma B da Arquitetura.

Cabe ressaltar que, para a disciplina de Experimentação II,a seleção dos alunos por turma é de livre escolha dos acadê-micos do curso de Arquitetura e Urbanismo, que optam pelaturma que melhor satisfizer suas expectativas. A disciplinaoptativa: Análise Qualitativa das Estruturas, da Engenharia Ci-vil, também é uma opção do aluno.

Numa primeira etapa, os modelos utilizados paravisualização dos fenômenos estruturais mais comuns, taiscomo: tração, compressão, cisalhamento, flexão e outras for-mas de deformações, foram apresentados em sala, duranteas aulas expositivas para ilustrar as explicações sobre a maté-ria lecionada.

A segunda etapa constituiu-se na criação e confecção demodelos pelos próprios alunos. Foi instituído um concurso en-

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Urbanização excludente: o assentamento Estrela daVitória, na cidade de Uberaba /MG, uma experiênciainterdisciplinar.

José Carlos F. BEZZON Arquiteto e Urbanista – Mestre pela EESC-USP e doutorando em arquitetura eurbanismo pela EESC-USP.Prof. Disciplina Projeto do Ambiente Construído I – UNIUBE – Universidade deUberabaRua Campos Sales, 303 apto 11 – Higienópolis – Ribeirão Preto - SP – CEP 14015-

110 – [email protected]

Resumo

Partindo da necessidade de verificação das condições dehabitabilidade do espaço coletivo e individual da população ex-cluída da cidade legal, visamos evidenciar as áreas demiserabilidade da cidade de Uberaba – MG, no intuito de discu-tir possibilidades de intervenção para integração desta popula-ção junto a cidade, buscando caminhos para novas políticashabitacionais e urbanas mais humanizadas. A primeira etapadesenvolvida foi o reconhecimento e o levantamento das áreasocupadas.

Esta ação inicial da pesquisa foi realizada pelos alunos du-rante os trabalhos desenvolvidos na semana de Atividade Co-munitária do Curso de Arquitetura e Urbanismo em parce-ria com o Laboratório de Estudos do Ambiente Construído.A partir de então estamos, através do monitoramento e acom-panhamento destas populações, verificando as políticas urba-nas de crescimento e expansão da cidade que resultaram naconformação do processo de periferização do espaço urbano.Este estudo esta possibilitando elaborar propostas deredesenho para as áreas já consolidadas, verificar a viabilida-de de remoções, assim como a situação do desenvolvimentoe evolução das áreas já legalizadas pelos orgãos públicosmunicipais.

O grupo de pesquisa naquele momento, constituído pelosalunos Gisele R. R. da Cunha, Juliana B. Grapeggia e Márcia

Figura 2 - PórticosOutros modelos representativos são as cúpulas. Elabora-

das com os mesmos critérios que as estruturas anteriores. Abase, com um diâmetro que não poderia ultrapassar 40 cm euma altura máxima de 30 cm.

Essas estruturas são excelentes para testar a criatividadedos alunos além de uma noção, mesmo que intuitiva, da suaresistência. Normalmente são elaboradas em forma de treli-ças, apresentando os mais diversos desenhos.

Para a avaliação das cúpulas foi levado em consideração,não só a sua resistência mecânica, mas também a criatividade.

Figura 3 - Cúpulas

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com uma visão ampliada de integração das áreas do conheci-mento, para constituir uma base de dados sobre a problemáti-ca da exclusão social da cidade de Uberaba visando possibili-tar desenvolvimento de posturas políticas corretas com rela-ção a produção de espaços urbanos e de habitações, menoshostis e mais dignos, para os menos favorecidos.

Introdução

A realidade de Uberaba é de uma cidade de desigualdadespara as pessoas, com grandes bolsões de miséria. Desde seusprimeiros arruamentos fica claramente definido no ambienteurbano o espaço da elite pecuarista, do operariado e da bur-guesia em ascensão. Ocupação estratificada que se agravacom seu franco desenvolvimento econômico e a falta de políti-cas que criem uma condição urbana digna para o cidadão.

O tecido urbano das cidades brasileiras, e Uberaba não serádiferente, se divide em espaços legais – áreas que em funçãodo mercado formal imobiliário são devidamente equipadas pro-porcionando razoável grau de habitabilidade para a população;e as áreas ilegais onde habitam a população excluída desteprocesso de aquisição da casa própria no mercado formal. Estapolaridade – legal x ilegal – cria uma situação de exclusão exa-cerbada no espaço da cidade, criando verdadeiros territóriossociais distintos. Faz-se necessário não só equipara-los cominfra-estrutura adequada para uma qualidade sanitária do es-paço de moradia, e do local, mas principalmente criar disposi-tivos que venham possibilitar a integração destas áreas, paraque possamos alcançar uma maior equidade sócio- espacial.

Face ao acelerado processo de urbanização e ocupaçãodesordenada das cidades brasileiras decorrente de políticaspredatórias sobre o ambiente natural e construído, vivenciamoshoje uma situação caótica resultando na ocupação e extensãoda trama urbana a distancias irrecuperáveis com relação aqualidade de vida das pessoas, em áreas de encostas e deproteção de mananciais, entre outros, com conseqüente de-

S. Stacciarini, Acássio Teles e Luís Felipe Carrazza, detectoua partir dos primeiros levantamentos realizados que dentre asinúmeras áreas visitadas muitas estavam legalizadas. Outraverificação foi quanto a ocupação do Estrela da Vitória, ondedada a desproporção deste assentamento com relação aosoutros e sendo este recente, se fazia necessário um estudo aparte sobre esta comunidade.

Desta forma como avaliação dos primeiros resultados de-terminamos três áreas de atuação da pesquisa: Estudo dosassentamentos subnormais não legalizados; Estudo dos as-sentamentos subnormais legalizados; e Estudo do Assenta-mento Estrela da Vitória.

A pesquisa encontra-se atualmente em fase de fechamentodo mapeamento das áreas de atuação com levantamento dosaspectos físicos e espaciais dos assentamentos, assim comodas condições de habitabilidade existentes. Foram realizadosinventários destas comunidades para caracteriza-los nos as-pectos sociais, econômicos, políticos e profissionalizantes vi-sando a possibilidade de desenvolvimento de propostas de in-tervenção objetivando requalificar estas áreas. Durante a Se-mana de Atividades Comunitárias de 2003, realizamos umaoficina de desenho ambiental como proposta de urbanizaçãoalternativa para a área do assentamento Estrela da Vitória.

Para o desenvolvimento destes trabalhos contamos atual-mente com grupos de alunos do curso de Arquitetura e Urba-nismo1 , locados no LEAC – Laboratório de Estudos do Ambi-ente Construído e buscamos a parceria de outros docentes ediscentes da universidade para as tarefas propostas. Em es-pecifico no assentamento Estrela da Vitória, atualmente, sãonossos parceiros os cursos de Serviço Social, Psicologia, Te-rapia Ocupacional e Nutrição.

Com o desenvolvimento de práticas pedagógicasinterdisciplinares pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo, peloInstituto de Ciência e Tecnologia do Ambiente e pelo Laborató-rio de Estudos do Ambiente Construído, estamos trabalhando

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temário especifico da arquitetura e do urbanismo colocado so-bre a problemática da urbanização excludente, a discussão eprincipalmente a “implantação” de práticas pedagógicas outrasque traduzam melhores condições de aprendizado para pro-fessores, discentes e a própria comunidade, na construção doconhecimento e da cidadania.

As ações de interdisciplinaridade do Curso de Arquitetura eUrbanismo associadas às experiências da comunidade do as-sentamento Estrela da Vitória, e expandidas de forma a conse-guir a multidisciplinaridade com o engajamento dos Cursos deServiço Social, Nutrição, Psicologia, e Terapia Ocupacional; temnos demonstrado apesar de todas as dificuldades desta tare-fa, que estamos no caminho correto de um a nova universida-de, aberta, ética, socializada.

Alerto que este texto não tem a pretensão de discorrer emprofundidade sobre a problemática educacional de nível supe-rior, mas apenas uma tentativa de elucidar e levantar questõespara o debate a cerca do fazer do profissional “professor pes-quisador arquiteto urbanista”, a partir da experimentação devivências no desenvolvimento do ensino, pesquisa e extensão,principalmente por que não fomos formados para o magistério,onde esta construção do professor arquiteto, se dá ao longo denossas atividades docentes.

Ensino, pesquisa e extensão: a inter e multidisciplinaridadecomo prática de construção do conhecimento

Há muito que se fala em uma ação integrada entre o ensino,a pesquisa e a extensão, que não devem ser tomadas isolada-mente, mas sim formando um conjunto indissociável. Partindodesta premissa o curso de Arquitetura e Urbanismo da Univer-sidade de Uberaba elaborou em 2000 uma nova proposta pe-dagógica que se fundamenta no tripé: HOMEM, TECNOLOGIAe MEIO AMBIENTE, sendo a base de desenvolvimento do con-ceito de ambiente construído, onde os conteúdos são pauta-

gradação do meio natural com poluição de córregos e rios, ero-são, epidemias, enchentes, entre outras; agravando mais emais as diferenças sociais e espaciais da cidade.

Segundo Ermínia Maricato, coordenadora do LabHab da FAU– USP, foram construídas no Brasil no período de 1995 a 2000,700 mil unidades habitacionais por empresas e profissionaishabilitados, enquanto 3,7 milhões de moradias foram obra deautoconstrução em favelas, loteamentos clandestinos e outrasáreas, sem acompanhamento de profissionais, e desrespei-tando a legislação urbanística.

Para compreensão desta problemática na cidade de Uberabadada sua complexidade frente às várias condicionantes e ato-res envolvidos na produção da cidade, abordando questõessociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, que noslevam necessariamente a buscar conhecimentos por outrosângulos de visão, decidimos por desenvolver esta pesquisatendo como prática didático pedagógica a interdisciplinaridade,a partir de uma revisão colocada pelo novo projeto pedagógicoem vigor no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidadede Uberaba.

Segundo Caumo (1997), cabe ao professor-pesquisadoruma nova dimensão social prática que esteja em concordân-cia com a construção histórica que vivenciamos, onde as ativi-dades pedagógicas devem avançar na produção de conheci-mentos com ações sociais práticas, numa continuidade doensino como pesquisa.

Segundo Morin (2000), existem duas linhas de educação, aescola e a vida; a primeira onde o conhecimento é fragmenta-do e dividido e a segunda devido aos problemas da humanida-de são multidisciplinares e hoje globalizados. Sobre sua teoriada complexidade, afirma que o homem é indivisível, portanto oconhecimento face a compreensão do mundo, não pode serdividido para ser estudado.

Desta forma, esta pesquisa tem como objetivo através do

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banismo, e o envolvimento em ações especificas, de outrosprofessores do curso, a partir da demanda apresentada comas comunidades em estudo.

No caso específico do assentamento Estrela da Vitória vári-os projetos estão em desenvolvimento, e estes vem gerandooutras novas pesquisas e iniciações científicas com os docen-tes que ministram os conteúdos de infra-estrutura urbana,tecnologia das construções, estruturas, psicologia ambiental,entre outros; alem dos docentes e discentes dos cursos deServiço Social, Psicologia, Terapia Ocupacional e Nutrição, queestão desenvolvendo os projetos em parceria com o Curso deArquitetura e Urbanismo.

Acreditamos ser de extrema importância esta integração comoutras áreas do conhecimento, pois entendemos a pesquisacomo “forma sistemática e organizada de diálogo crítico e cri-ativo com a realidade” (Demo, 1996), onde devem os pesqui-sadores, docentes, discentes ou a própria comunidade, bus-car na realidade os elementos para interpretá-la, compreendê-la e transformá-la. (Oliveira,2002)

Partindo deste princípio o olhar destas outras áreas nosenriquecem, ampliando a visão sobre a problemática coloca-da, descortinando outras possibilidades de interpretação darealidade e proporcionando, uma construção complexa do co-nhecimento sobre o cidade, para sua intervenção com solu-ções projetuais verdadeiramente mais concretas.

Vale dizer da complexidade desta ação, da difícil tarefa dedesenvolver uma pesquisa interdisciplinar, na transversalidadede um ensino integrado, onde somos “sujeitos que entendem eassumem e ensino como totalidade concreta” (Oliveira, 1994).

Apresentamos a seguir a pesquisa em andamento, objetodeste trabalho, com o foco voltado para a atuação do Curso deArquitetura e Urbanismo, descrevendo resultados da pesquisaconcreta e dos programas de extensão desenvolvidos com acomunidade Estrela da Vitória.

dos nas questões sociais, econômicas, políticas, culturais eambientais; desenvolvidas através de uma estrutura didáticopedagógica integrada com atividades laboratoriais de ensino edesenvolvimento de pesquisas, extensão e ações junto a co-munidade.

Naquele momento visando viabilizar estas idéias, que nãosão inovadoras, definimos enquanto colegiado do curso algu-mas estratégias de ação para criarmos uma cultura deinterdisciplinaridade entre os conteúdos ministrados. Ações emétodos que nos auxiliariam a difícil construção da integração.

Percebemos que partindo de problemáticas lançadas comotemas para os períodos possibilitaríamos objetos de estudoscomuns, com a participação construtiva de todas as discipli-nas. E o mais importante, que a iniciativa da ação da pesquisae da extensão, seriam consequentemente deslanchadas, re-sultando na retroalimentação do processo de ensino aprendi-zagem, já que estávamos iniciando a consolidação do GPAC –Grupo de Pesquisa do Ambiente Construído junto ao LEAC -Laboratório de Estudos do Ambiente Construído.

Por conta destas ações, temas debatidos no ambiente dasala de aula se estenderam para o laboratório constituindo pro-jetos de pesquisa e de extensão, ampliando o espaço de apren-dizagem, onde conseguimos “substancializar o ensino,redimensionando-o e ultrapassando o patamar de mera repro-dução de conhecimentos acabados”. (Pereira - 2002).

Com esta visão iniciamos esta pesquisa sobre as áreas dehabitações subnormais na cidade de Uberaba, intitulada Reco-nhecendo a Cidade Real, quando era de nossa responsabilida-de discutir em sala de aula o tema da habitação social. A partirdos estudos realizados no ambiente da sala de aula com oslevantamentos e diagnósticos sobre esta questão no tecidourbano de Uberaba, associado a construção teórica, verifica-mos a necessidade de pesquisar esta problemática social eurbana no LEAC. Desde o início contamos com a participaçãode discentes de vários períodos do Curso de Arquitetura e Ur-

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zam no território urbano, nestas áreas, em decorrência do pro-cesso de periferização, que se formaliza a partir da ampliaçãoe da estruturação viária inter e intra-urbana.

A partir da instalação dos trilhos da companhia Mogiana, apartir do final do século XIX e posteriormente da companhiaOeste Minas em 1940, pode-se notar a localização dos primei-ros loteamentos nas proximidades dos trilhos. Além da malhaferroviária, as rodovias BR-050 e BR-262 implantadas na dé-cada de 50, impulsionaram a expansão de novos loteamentoscomo o Parque das Américas (BR-050) e o Parque dasGameleiras (BR-262), sendo que este último apresenta duasparticularidades: foi o primeiro a transpor a rodovia Br-050 elocalizar-se fora do anel-viário que circunda parte da cidade, esendo formado a partir da legalização feita de uma invasãoorganizada pelos movimentos sociais, com um desenho emmalha ortogonal, diferente das outras invasões observadas natrama urbana.

Sendo a cidade muito rica em recursos hídricos e tendo suatopografia muito acidentada devido geograficamente a ocupa-ção de sete colinas, inúmeras áreas de difícil ocupação pelomercado formal de produção de habitação, ficaram abandona-das e desprotegidas, portanto passíveis de ocupação ilegal pelapopulação excluída social e espacialmente da cidade.

Esta situação é resultante do processo de crescimento eexpansão urbano desordenado, decorrente da falta de planeja-mento da cidade e de políticas habitacionais corretas para queatendam a parcela menos favorecida dos habitantes. Na figuraum verificamos através do mapeamento das áreas de ocupa-ção espontânea legalizadas e não legalizadas sobrepostas àhidrologia da cidade que nove destas invasões ocorreram emfundos de vale abandonados, onde o poder não desenhou ostradicionais eixos viários de circulação.

Surgem então, principalmente na década de 80 e 90 do sé-culo XX, inúmeras áreas ilegais na cidade de Uberaba, os as-sentamentos subnormais3 , focos de favela e submoradias, pois

Os assentamentos subnormais legalizados e não legali-zados

Uberaba nas últimas décadas vem sofrendo grandes trans-formações urbanas e sociais, com seu crescimento acelera-do, em decorrência de ser um dos pólos econômicos do triân-gulo mineiro de maior desenvolvimento do país. Transforma-ções estas que demonstram a falta de humanização das nos-sas cidades, que em função do capital especulativo e da faltade políticas urbanas verdadeiramente sociais, constróem es-paços cada vez mais excludentes.

Segundo Lefebvre apud Gottidiner (1984), o espaço social(espaço de valores e usos produzidos pela diversidade social)nas sociedades modernas perdeu sua unidade orgânica emfunção da homogeneização, fragmentação e hierarquização doespaço abstrato (a exteriorização de práticas econômicas epolíticas que se originam com a classe capitalista e o Estado),pulverizando-se em guetos distintos. “os guetos da elite, daburguesia, dos intelectuais, dos trabalhadores imigrantes etc.,todos eles não são justapostos, são hierárquicos, e represen-tam espacialmente a hierarquia econômica e social, setoresdominantes e subordinados”.

Esta geografia excludente esta traçada desde o início doprocesso de urbanização da cidade de Uberaba quando dadelimitação de suas terras demarcadas e da construção dasvias férreas até o centro da cidade no século XIX, onde o ope-rariado irá residir fora dos limites da área central, próximo ainstalação das ferrovias, dos fundos de vale, e posteriormentedas rodovias. No centro urbano que se consolidava instalavam-se os ricos fazendeiros e prósperos comerciantes.

Atualmente na cidade de Uberaba existem aproximadamente44 áreas de ocupações espontâneas decorrentes de invasõesde terras, em sua maioria públicas, localizadas ao longo deeixos ferroviários, rodoviários, e principalmente nos vazios ur-banos2 e junto aos fundos de vale. Estas ocupações se locali-

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Imagem 01: Mapa das áreas de ocupação espontânea construído a partir da basecartográfica da COHAGRA – SEPLAN – Prefeitura Municipal de Uberaba

Fonte: LEAC - Uniube

A seguir estaremos descrevendo ainda de forma preliminarface ao estagio atual da pesquisa algumas das áreas que es-tão sendo estudadas.

Parque das AméricasO bairro Parque das Américas localiza-se nas proximida-

des da BR-262 sendo parcelado de forma convencional comdesenho ortogonal. As margens do córrego não foram ocupa-

Áreas de Submoradias Legalizadas

Áreas de Submoradias Não Legalizadas

a população não quer se sujeitar a morar longe das áreasabastecidas da cidade e de seus empregos, tendo que desti-nar uma parte significativa de seus salários com transporte,em sua maioria precários, desgastando ainda mais a rotina dotrabalhador.

Das 44 áreas levantadas 17 estão devidamente regulariza-das onde a comunidade detém a posse da terra, 22 estão como processo de regularização em tramitação, e 05 são áreasque segundo a COHAGRA – Companhia Habitacional do Valedo Rio Grande, não são regularizáveis, pois não pertencem aopoder público municipal. Portanto 39 áreas estão classificadaspor nós como “áreas de submoradias legalizadas”, e 05 áreasestão classificadas por nós como “áreas de submoradias nãolegalizadas”.

Com o decorrer dos anos a prefeitura municipal, atravésde seus orgãos competentes, aos poucos vem reconhecen-do estas áreas invadidas e regularizando os lotes e seus ocu-pantes, porem sem nenhuma política pública para o trata-mento destes assentamentos. Entenda-se como tratamen-to, desde o abastecimento das áreas com infra-estrutura ur-bana, água, luz, transporte, telefone, pavimentação entre ou-tros, assim como equipamentos de saúde, educação, cultu-ra e lazer; até a “construção” da paisagem urbana, naarborização, na determinação de espaços públicos devida-mente equipados, e em programas de melhorias para as ha-bitações. Estes “benefícios” vão sendo conquistados aospoucos pela população a partir das campanhas eleitorais noscomprometimentos clientelistas com a classe política local.

Assim a cidade vai conformando seus espaços onde cabea população excluída a luta pela conquista de melhores con-dições de vida. Ao demonstrarem resistência e persistênciaem seus ideais como cidadãos, perdendo o medo e o receioao enfrentamento pela posse da terra, o cidadão emerge porcompleto, participante, construindo as suas condições locaisde vida.

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Durante a semana de atividade comunitária promovida peloCurso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Uberabano 1° semestre de 2001, foi realizada visita de reconhecimentodo local, onde detectou-se que o local esta sendo aterrado comentulho, material impróprio para este fim. Diagnosticou-se quese trata de uma área que sofre com os problemas decorrentesdas enchentes, e como medida paliativa foi instalado um equi-pamento da CODAU - Companhia de Água e Esgoto de Uberabaque bombeia a água para o outro lado da rodovia. Verificamosa ausência dos seguintes serviços e infra-estruturas urbanas:iluminação pública, pavimentação e esgotamento sanitário.Com relação ao abastecimento de água, muitos moradoresutilizam uma mina próxima ao local, que foi considerada im-própria para uso.

Recentemente, no ano de 2002, foram realizadas significa-tivas mudanças: a área foi asfaltada, parcialmente iluminada ecom as obras de saneamento iniciadas, o que comprova a len-tidão dos órgãos públicos em urbanizar o local pois sua apro-vação coma a legalização e posse da terra aos moradoresocorreu em 1990 e os melhoramentos urbanos, começam aser implantados ainda em condições mínimas, somente dezanos depois.

Imagem 03: Ocupação Bargaço - Fonte: Juliana B Grapeggia

das porém, posteriormente a área foi invadida e ocupada deforma irregular, sem nenhum tipo de infra estrutura, deixandoos moradores em condições insalubres de sobrevivência. Oesgoto sanitário é depositado no córrego do Mará (mata docarrinho), sendo este o mesmo lençol de onde se coleta a águadas várias minas d’água existentes para consumo das famíli-as. Não há nenhum tipo de pavimentação, a energia elétrica éa única “benfeitoria” implantada para a população, embora nãohaja iluminação pública no local.

Imagem 02: Parque das Américas - Fonte: LEAC - Uniube

Bargaço

Bargaço também se localiza no bairro Parque das Améri-cas e entre sua ocupação e aprovação muitas disputas acon-teceram pois houve quem reclamasse a posse da terra. Apósa legalização da área em 1990 as melhorias necessárias acon-teceram de forma muito lenta, principalmente por se tratar deoutro fundo de vale, afluente do córrego do Mará. A ocupaçãose implantará em local com grande declive, extremamenteacentuado e de difícil instalação de infra-estruturas de urbani-zação, resultando assim ao poder público local ações muitocontidas junto a esta comunidade.

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orientada, quando de sua ocupação pelo movimento de lutapela moradia, que atuou de forma a garantir todos os seusdireitos desde a posse da terra até a instalação da infra-estruturacompleta. O processo foi articulado de forma tão ativa e intensaque atualmente o local é confundido com os loteamentoscomuns realizados pela prefeitura, sendo desconhecido damaioria da população que se trata de uma antiga invasão,inclusive porque houve uma expansão da área criando o Parquedas Gameleiras II, este sim desenhado e executado pelosórgãos municipais.

Av. Orlando Rodrigues da Cunha e Rua José Mateus

Esta área se trata de um ponto importante da cidade pois aAv. Orlando Rodrigues da Cunha é um eixo viário divisor entreos bairros Abadia e Costa Teles, sendo então um eixo de liga-ção e circulação entre bairros. Com o desenvolvimento da ci-dade esta avenida passou a ser de fundamental importânciapara o comércio, e não era conveniente ter nas suas proximi-dades uma ocupação ilegal sem nenhuma infra estrutura. Sendoassim, a prefeitura legalizou o assentamento rapidamente paraque não houvesse prejuízo para as atividades comercias. Atu-almente com a paisagem urbana já transformada fica difícil iden-tificar o local, persistem algumas submoradias, mas em ter-mos de infra estrutura o local é beneficiado completamente.

Imagem 04: Rua José Mateus - Fonte: LEAC - Uniube

Jardim Triângulo

A área invadida se encontra na parte Norte da cidade, e deacordo com o Jornal Lavoura e Comércio o local era de propri-edade da Igreja Católica. Para executar o processo de legali-zação a prefeitura adquiriu o terreno através de uma troca coma paróquia e regulamentou a invasão em 1990, proporcionan-do-lhe as condições mínimas de abastecimento das infra-es-truturas urbanas, sem nenhuma preocupação com áreas delazer e equipamentos urbanos.

Mangueiras

O Jardim das Mangueiras foi realizado pela prefeitura muni-cipal e teve suas áreas institucionais desocupadas por muitosanos, sem a implantação de equipamentos para a população,fato que propiciou a ocupação destas áreas para moradias ir-regulares. Com a ocupação da área já consolidada a prefeituraregularizou a invasão. Esta é outra situação interessante de-corrente da ineficiência do poder público em implantar os equi-pamentos urbanos nas áreas destinadas nos parcelamentosao uso institucional, assim como na execução das áreas des-tinadas a arborização e ao paisagismo. Como resultado te-mos uma diminuição das possibilidades de implantação deequipamentos sociais, para o desenvolvimento de atividadesculturais, lazer, saúde, educação entre outros, além da falta deáreas arborizadas, que implica na diminuição das qualidadesclimáticas e ambientais. Não havendo intenção de remoçãodas famílias ali instaladas, deve-se prever outras áreas no en-torno que atendam as necessidades da população do bairrocom a implantação de edificações institucionais, de áreas ver-des para a construção de praças entre outras possibilidadesde arborização.

Parque das Gameleiras

O Parque das Gameleiras foi a única das áreas já legalizadas,em que o assentamento das famílias aconteceu de formaorganizada e racional. Isto assim aconteceu porque foi

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empresa o projeto executivo da canalização e dos interceptoresde esgoto da Av. Rosa Maria Frange Montes, a execução daobra foi finalizada em 2002, o que significa que durante 9 anosa população enfrentou sérios problemas com as enchentes.Durante este período não foram instalados equipamentos comoescolas, creches e áreas de lazer fazendo com que os mora-dores tenham estas necessidades atendidas pelos bairros vi-zinhos, atualmente o programa saúde na família tem sua sedeem uma residência.

Com relação as moradias não legalizadas a prefeitura pre-tende removê-las para o Residencial 2000, loteamentourbanizado realizado pela COHAGRA – Companhia HabitacionalVale do Rio Grande, responsável pela política habitacional dacidade.

Imagem 06: Vila Esperança Fonte: Juliana B Grapeggia

O Assentamento Estrela da vitória

A comunidade Estrela da Vitória ocupou em outubro de 2000um vazio urbano às margens da rodovia Br-050. A área contacom aproximadamente 130.000 m², possibilitando o assenta-mento de 275 famílias na cidade de Uberaba – MG. Inicialmen-te se cadastraram 390 famílias pleiteando um lote para a cons-trução de suas moradias, porem só foi possível a ocupação depouco mais de dois terços da população interessada, em fun-ção do desenho do parcelamento realizado.

Vila Planalto

A Vila Planalto também conhecida popularmente como Pás-saro Preto localiza-se estando na ACEA - Área de ControleEspacial do Aeroporto, junto a Av. Maria R. da Cunha Rezende,e próximo a rodovia BR-050. Sua legalização ocorreu em 1991,e hoje já esta consolidado. Possui o seguintes infra-estruturasurbanas: abastecimento de água, esgoto, energia elétrica, pa-vimentação e transporte coletivo. Com relação aos equipamen-tos de educação e saúde, a população utiliza os já instalados eexistentes no entorno, sendo que o equipamento de saúde éum posto do PSF - Programa Saúde da Família.

Imagem 05: Vila Planalto Fonte: Juliana B Grapeggia

Vila Esperança

Esta ocupação apresenta algumas particularidades, em pri-meiro lugar por se localizar ao lado da linha férrea tornando-seuma área de risco, é também um fundo de vale. Parte da áreafoi legalizada durante o governo do então Prefeito Luiz GuaritáNeto, porem até hoje as obras de melhorias não foram finaliza-das. Inicialmente foi realizado um projeto de urbanização daárea que contempla a canalização aberta e retificação doCórrego do Desbarrancado. Posteriormente foi elaborado, porum escritório especializado da cidade de Belo Horizonte, umoutro projeto que inclui a área no programa Pró-Saneamentoda CEF – Caixa Econômica Federal. Foram elaborados pela

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plo as dimensões oficiais de desenho de quadras, lotes, siste-ma viário, áreas institucionais, sistemas de lazer e áreas ver-des.

As porcentagens apresentadas neste assentamento somamaproximadamente 6.632 m² de áreas verdes e 13.475 m² deárea institucional. O sistema viário ocupa a área de 34.493 m².Todos os percentuais estão dentro do mínimo permitido por lei.

O sistema viário apresenta perfeita conexão com a malhaurbana existente sendo perfeitamente permeável do ponto devista da integração com os eixos de circulação existentes noentorno, além de estarem adequadamente dimensionados ehierarquizados com vias locais, e coletoras conectadas àsvias arteriais existentes.

As áreas verdes e institucionais atendem as porcentagensrecomendadas como vimos, inclusive com áreas de proteção“non aedificandi” às margens da rodovia Br 050. Estando pre-visto arborização adequada destas áreas assim como locaisdestinados para a construção de centro comunitário, creche,igreja, equipamentos necessários á melhoria do nível dehabitabilidade da comunidade e de seu entorno.

A área anteriormente servia de depósito de entulhos e lixosclandestinos, procedimentos estes que com a ocupação peloassentamento Estrela da vitória, cessou frente a reação da or-ganização do movimento.

A pesquisa sócio-econômica realizada nos primeiros me-ses da ocupação, através de uma amostragem da população,verificamos que a comunidade tem procedência, em sua mai-or parte, de outras áreas da cidade, podendo ser caracteriza-dos como uma segunda geração de emigrantes da zonas ru-rais que buscaram na cidade empregos, moradia e saúde.

São em sua maioria analfabetos ou possuem até a quartasérie do ensino fundamental, dado que acaba se refletindo emsua posição de trabalho, que se concentra no mercado infor-mal associado a prestação de serviços de acordo com as pos-sibilidades de oferta.

Apenas 19% da população estava empregada formalmente

Esta ação a principio irregular foi portanto, realizada de for-ma ordenada e organizada com o apoio do CMP – Central deMovimentos Populares e do Movimento Uberabense de Lutapela Moradia com parcelamento da gleba em quadras e lotesdimensionados em consonância com as leis urbanas vigen-tes.

Vivendo em situação extremamente precária dada as con-dições de pobreza absoluta de seus ocupantes o assentamentoEstrela da Vitória enfrenta grandes dificuldades que podem serminoradas frente a uma efetiva ação do poder público atravésde ações humanizadoras espacializadas com a inserção dasinfra-estruturas urbanas necessárias para melhoria da quali-dade de vida desta população.

Faz-se necessário propiciar e esta comunidade meios desolver problemas básicos de saúde, educação, transportes eetc. que impossibilitam as condições de vida, na execução dastarefas diárias desta população sem acesso aos serviços bá-sicos como água, coleta de esgotos, energia elétrica, entreoutros. O que pode favorecer a proliferação de doenças decor-rentes da má conservação de alimentos, de higiene e insalu-bridade, devido as precárias condições espaciais.

Preocupados em não originar um aglomerado subnormalou um assentamento subnormal na cidade, que dificultasse apossibilidade de melhorias futuras de urbanização, as lideran-ças da comunidade organizaram a ocupação da gleba de for-ma ordenada atendendo a lei 6766-79 e sua alteração de 98, eas determinações do Plano Diretor do Município de Uberabaespecificamente no que tange às áreas especiais de interessesocial, caracterizadas pelos parcelamentos sociais, com lotesapresentando as dimensões padrão de 10m x 20m, perfazen-do uma área de 200m² para cada família.

Localizado no Jardim Planalto junto a Br 050, à Av. JoãoXXIII e a Av. Maria R. da Cunha Rezende, estando na ACEA -Área de Controle Espacial do Aeroporto, esta de acordo comas restrições de usos do espaço e também com as restriçõesgerais de parcelamento do município, obedecendo por exem-

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1. Programa de Assessoria Técnica

Destina-se aos assentados que iniciaram o processo deautoconstrução da moradia. Este programa desenvolve pro-postas projetuais partindo das edificações preexistentesconstruídas nos lotes pelos moradores, atuando e acompa-nhando todas as fases do processo de projetação e execuçãodas habitações.

2. Programa de Moradias do Assentamento Estrela daVitória.

Este programa apresenta o desenvolvimento de oitotipologias habitacionais para escolha dos moradores, concebi-das a partir do estudo desta população, visando atender suasnecessidades de acomodação. As propostas apresentampossibilidades de ampliação das tipologias partindo de espa-ços mínimos, que se organizam em função das áreas molha-das da habitação.

3. Projeto da Cozinha piloto e horta comunitária.

Este projeto foi desenvolvido em parceria com o curso deserviço social, onde coube a nós a realização do projeto espacialda cozinha piloto para a produção de refeições para osassentados, de orientações nutricionais como alimentaçãoalternativa, e principalmente para o desenvolvimento de cursosde culinária como capacitação profissional dos assentados. Aprojeto da horta comunitária foi desenvolvido visando abastecera cozinha piloto alem de possibilitar geração de renda com acomercialização das hortaliças. O curso de Nutrição foiconvidado a fazer parte da equipe desenvolvendo pesquisasobre as condições alimentares da população, e estruturaçãodos trabalhos a serem desenvolvidos junto ao funcionamentoda cozinha e da horta.4. Programa Como Construir.

Este projeto esta sendo desenvolvido com o objetivo de ori-

possuindo renda fixa mensal, renda esta que não ultrapassa 3S. M., sendo que 46.5% tem renda inferior a 1S. M. e 45% entre1 e 2 S. M., 65% das crianças residentes no local estão noensino fundamental e 13% no ensino médio. A necessidade decreche é apontada por 95% dos adultos, embora não desfru-tem de tal equipamento. O transporte característico é o trans-porte público e a bicicleta. São também apontados alguns mei-os de locomoção gratuitos vinculados a ação municipal.

As residências são em sua maioria constituídas por materi-ais não convencionais, como lonas, pedaços de madeira, emetal, entre outros. Grande parte dos moradores já estão cons-truindo (num processo quase constante de construção) suasmoradias em alvenaria de tijolos baianos (material mais utiliza-do). Utilizam da autoconstrução como meio de produção dashabitações com procedimentos via de regra pouco adequadostecnicamente.

Dentro deste quadro colocado o Curso de Arquitetura e Ur-banismo tem atuado junto ao assentamento Estrela da Vitóriaem parceria com o CEDESEV – Centro de DesenvolvimentoSustentável Estrela da Vitória. Esta entidade foi criada pela or-ganização do assentamento visando estabelecer programassociais que estão sendo realizados em parceria com outrosgrupos representativos da cidade, objetivando melhorar as con-dições de habitabilidade do local.

Imagem 07: Assentamento Estrela da Vitória - Fonte: LEAC - Uniube

A seguir apresentamos os projetos que estão sendo reali-zados pelo grupo de pesquisa com a comunidade:

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setores da economia local, como o comércio, industria e omercado imobiliário, que requerem melhorias para suas açõesprodutivas.

Verificamos que este processo predatório de crescimento eexpansão urbana da cidade de Uberaba é co-responsável pelodesencadeamento destas ocupações ilegais, face entre outrasquestões ao descaso com as condicionantes ambientais prin-cipalmente no abandono de áreas ambientalmente frágeis.

As famílias do assentamento Estrela da Vitória que realiza-ram esta ocupação, assim como da Vila Esperança e de qual-quer destas comunidade estudadas, não podem ficar a mercêde uma política habitacional insipiente que não os vê como ci-dadãos legítimos. Faz-se necessário rever a política urbana domunicípio no intuito de sanar estas práticas excludentes. Tra-balhar com a participação das comunidades junto a adminis-tração pública local, ouvindo suas reivindicações e encontran-do caminhos para viabilizar suas necessidades. Inseri-los àsociedade como parcela produtiva e como promotores soci-ais.

A construção do conhecimento baseado na inter emultidisciplinaridade tem ampliado a visão da problemáticahabitacional da cidade junto aos alunos formando uma consci-ência crítica e definição de posturas políticas frente as ques-tões colocadas, principalmente na discussão das possibilida-des junto a comunidade.

A construção coletiva é um processo, é difícil, pois temosque manter o olhar, todos, para o mesmo horizonte, por sobrea diversidade e pela compreensão e integração desta, que fazcom que deixemos de lado a “distinção” do saber constituído enos coloca num mesmo patamar para o debate fomentando aparticipação não só da comunidade parceira, mas também dacomunidade universitária, onde todos saem fortalecidos.

entar os assentados no processo de construção das habita-ções. Se pauta na confecção de uma cartilha de procedimen-tos técnicos de construção, largamente ilustrados, com lingua-gem acessível, para que o morador possa independente denossa assessoria técnica, passo a passo, construir com qua-lidade e segurança sua própria moradia.

5. Programa de Urbanização Alternativa.

Este projeto teve sua primeira etapa realizada com o de-senvolvimento de uma oficina durante a Semana de AtividadesComunitárias de 2003, onde os alunos inscritos elaboraramprojeto de urbanização sustentável a partir dos resultados obti-dos da pesquisa, da discussão da problemática com a comu-nidade em assembléia no assentamento, e da sistematizaçãode conhecimentos aplicados. Este foi a ação inicial deste pro-grama que estará agora sendo desenvolvido no LEAC com ainserção de novos discentes, e a comunidade. Dentro desteprograma estão sendo elaborados estudos sobre as condiçõesdas fossas negras construídas pelos assentados e a aberturaindiscriminada de poços – cisternas para o abastecimento deágua. Os cursos de Nutrição e Serviço Social estão acompa-nhando este trabalho com a discussão do tema saúde e soci-edade.

Conclusões parciais

A pesquisa em seu estagio atual, nos mostra que a regula-rização fundiária pelo poder público local, é o reconhecimentoda ocupação com a escrituração dos lotes a partir doparcelamento executado, viabilizando a posse da terra, poremnão garante qualificação destes espaços através de melhora-mentos urbanos para estas populações. A implantação dasinfra-estruturas urbanas assim como os equipamentos urba-nos necessários às atividades humanas vão sendo atendidaspelo poder público ao longo do tempo em função de necessi-dades outras, que não a destas comunidades, vindo a atender

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MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.2ª ed. São Paulo: Editora Cortez, 2000.

PEREIRA, Otaviano José, A Construção de uma Identidade, Editorada Universidade, Uberaba, 2002.

ROLNIK, Rachel. – A cidade e a Lei – legislação, política urbana eterritórios na cidade de São Paulo. São Paulo, StudioNobel, 1997.

NOTAS

1 A atual equipe desta pesquisa é constituída de discentes de vários períodos do

Curso de Arquitetura e Urbanismo, são eles: Aracele Alice Silva, Lívia M. Freitas(2ºperíodo), Ana Leticia G. Garcia, Cristina Y. Kawachi, Leisimar P. Costa e Joyce S.Melo (3º período), Acassio Teles (8º período), Luís Felipe Carrazza (9º período)

2 Vazios Urbanos são áreas ou glebas vazias, localizadas no espaço intra-urbano,

completamente abandonadas e sem acesso, resultantes da expansão desordenadados limites da cidade.

3 Segundo IBGE3 Segundo IBGE (1991) constitui-se um aglomerado subnormal um

conjunto de “unidades habitacionais (barracos, casas...), ocupando ou tendo ocupadoaté período recente, terrenos de propriedade alheia (pública ou particular) dispostos,em geral, de forma desordenada e densa e carentes, em sua maioria, de serviçospúblicos essenciais. Segundo HBB (2000) constitui-se um assentamento subnormal o “assentamentohabitacional irregular – favela, mocambo, palafita e assemelhados – localizado emterrenos de propriedade alheia, pública ou particular, ocupado de forma desordenadae densa, carente de serviços públicos essenciais, inclusive em área de risco oulegalmente protegida”.

Bibliografia

BONDUKI, Nabil & ROLNIK, Raquel. Periferia da Grande São PauloReprodução do Espaço como Expediente de Reprodução daForça de Trabalho. In: MARICATO, Erminia(org.) A produçãocapitalista da Casa ( e da Cidade) no Brasil Industrial, SãoPaulo, Alfa- Omega Ltda., 1982

BARROS, Ricardo Paes de, Desigualdade e Pobreza no Brasil: Retratode uma Estabilidade Inaceitável, Revista Brasileira de CiênciasSociais, São Paulo, v.15, n.42 , 2002.

BONDUKI, Nabil (org), Habitat, São Paulo, Nobel, 1996.

BONDUKI, Nabil Origem da Habitação Social no Brasil Arquiteturamoderna, Lei do Inquilinato e Difusão da Casa Própria, i° ed.São Paulo: Liberdade ,1998.

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GOHN, Maria da Glória, A Força da Periferia, 1° ed., Petrópolis RJ,Vozes,1985.

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MARICATO, Erminia. Habitação e Cidade ,5ª ed., Atual, São Paulo,1997.

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Palavras chave: Estrutura, Ensino de engenharia, Ensino dearquitetura, Modelos estruturais

1. INTRODUÇÂOA “arquitetura” é considerada uma das mais antigas profis-

sões. Independente da existência de uma escola ou de qual-quer processo de formação profissional, o “arquiteto” surgiuda necessidade de organizar espaços e criar abrigos para asdiversas atividades e necessidades básicas exercidas pelohomem, desde o início de sua existência. Os conhecimentosadquiridos pela prática, através de erros e acertos, foram trans-mitidos gerações após gerações na intenção de prover o serhumano das condições materiais necessárias ao exercício desuas atividades.

Com relação à formação do arquiteto, Turkienicz [1] comentaque: “a arquitetura, a exemplo da linguagem que utiliza-mos para nos comunicar, tem a propriedade de ser apre-endida sem que haja a necessidade de uma estruturacognitiva formal que preceda sua utilização”, no entanto,“sua apreensão informal ou intuitiva resulta, mesmo as-sim, na absorção de uma enorme carga cultural.”

Na baixa idade média, de acordo com Canclini [2] “as cate-drais e os demais edifícios eram feitos coletivamente, e osescultores e pintores – além de participar do trabalhoarquitetônico – concebiam suas obras como inseparáveisda construção.” Essa simbiose das artes, onde a arquiteturacorresponde à construção material dos desejos e necessida-des humanas, justifica a origem grega do nome “Arkhitekton”,cujo significado é “mestre-construtor”, e sintetiza a atribuiçãoinicial da profissão de arquiteto.

No renascimento que este saber empírico vai sendo substi-tuído por diversos processos de conhecimento, procedimen-tos e métodos relacionados à profissão do arquiteto. O ensinoda arquitetura passa a compor parte, hora do ensino das artes,hora do ensino politécnico.

Utilização de Modelos para o Ensino das Estruturas noCurso de Arquitetura e UrbanismoAmélia Panet BarrosArquiteta e Urbanista, M.Sc., Professora Adjunta e Coordenadora do Curso de arqui-tetura e urbanismo do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ[email protected],

Carolina Vidal AcciolyEng. Civil, M.Sc., Professora Adjunta do Curso de arquitetura e urbanismo do CentroUniversitário de João Pessoa - UNIPÊ. [email protected]

Marcelo Pessoa de A. FrancaEng. Civil, M.Sc., Professor Adjunto do Curso de arquitetura e urbanismo do CentroUniversitário de João Pessoa - UNIPÊ. [email protected]

Maria Ângela P. XavierEng. Civil, D.Sc., Professora Titular do Curso de arquitetura e urbanismo do CentroUniversitário de João Pessoa - UNIPÊ. [email protected]

José de Paiva Taussig Aluno de Graduação do Curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário deJoão Pessoa - UNIPÊ. [email protected]

RESUMOÉ indiscutível a importância do conhecimento em engenha-

ria de estruturas por parte dos estudantes de arquitetura para aboa elaboração de projetos. Os conceitos que envolvem a en-genharia estrutural, na maioria das vezes, estão embasadosem teoremas matemáticos bastante complexos, requerendodo aluno um elevado grau de conhecimento nesta ciência. Con-ceitos como momento de inércia, raio de giro, flambagem,flexão, torção, centro de gravidade, entre outros são de grandeimportância e devem acompanhar aqueles que pretendem pro-jetar estruturas. Desta forma, as disciplinas de Estrutura noscursos de arquitetura deixam, não raras vezes, de atender osseus objetivos pelo fato de tentarem introduzir os conceitos daengenharia de estruturas com o auxílio puramente da matemá-tica. Este trabalho visa apresentar a experiência desenvolvidano curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitáriode João Pessoa - UNIPÊ com a utilização de modelos estrutu-rais qualitativos voltados ao ensino das disciplinas de Estrutu-ra, objetivando a visualização prática e a melhor assimilação,por parte dos estudantes, dos fenômenos da engenharia aci-ma descritos.

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balho, especificações de materiais, escolhas estruturais,detalhamentos e nas alternativas energéticas eleitas, ou seja,no processo projetual.

Este campo cognitivo também procura ressaltar a organiza-ção dos processos produtivos como metodologia importante,capaz de otimizar o processo projetual. Para facilitar o conheci-mento e comportamento das estruturas, o curso, através de suacoordenadoria e professores de estruturas resolveu confeccio-nar modelos tridimensionais que expressam o comportamentodos componentes estruturais e ilustram as leis e teorias neces-sárias.

2. DESCRIÇÃO DOS MODELOS

Os modelos ora em exame foram frutos da necessidade detornar as disciplinas de estrutura mais didáticas e agradáveispara os alunos de arquitetura. Os modelos a seguir apresenta-dos foram extraídos da Dissertação de Mestrado de Santos[2], tendo sido feitas, quando necessárias, algumas pequenasmodificações.

2.1 Modelo para demonstração da decomposição deforças

Todo e qualquer corpo está sujeito à ação de forças. Sendouma estrutura um sistema físico capaz de resistir aos esfor-ços provocados pelas forças externas que sobre ele atuam, acompreensão do processo de decomposição das forças sefaz imprescindível.

Estruturas estaiadas, pênseis, treliçadas, de membrana,entre outras podem ser bem melhor compreendidas pelos es-tudantes de arquitetura quando os conceitos de decomposi-ção de forças estão bem assimilados.

Desta forma, o modelo em foco destina-se a demonstrar deforma prática o método analítico para a decomposição de umaforça em duas direções ortogonais, evidenciando as relaçõesentre componentes e resultante.

Percebe-se, ao longo desse processo, que o ensinoinstitucional da arquitetura gerou um empobrecimento comocampo cognitivo, com relação à origem da profissão que esta-va diretamente relacionada ao processo de produção materialdas criações arquitetônicas. Nesse contexto, defende-se aidéia de que a formação do profissional arquiteto e urbanistadeve envolver vários campos de conhecimento, implicandoconteúdos relacionados às ciências sociais, às artes e às ci-ências exatas. Sua multidisciplinaridade diz respeito ao seucaráter plural que incorpora atributos e conhecimentos dessesoutros campos na intenção de conseguir sua expressão máxi-ma.

Visando uma formação de qualidade, próxima da práticaprofissional, o curso de arquitetura e urbanismo do Unipê divi-diu sua estrutura curricular em três campos cognitivos, projetoe expressão, tecnologia, e, teoria e história.

O campo cognitivo da tecnologia, assunto desse artigo, éde extrema importância no ensino da arquitetura e do urbanis-mo e tenta fazer jus à origem do nome arquiteto que vem dogrego “Arkhitekton”, cujo significado é “mestre-construtor”, ouseja, o arquiteto sempre foi um profissional da construção.Portanto, este campo cognitivo procura fornecer uma visãoglobal dos conhecimentos relacionados com a produção ma-terial para caracterizar o arquiteto como sujeito detentor dedomínio tecnológico dentro do campo da arquitetura e do urba-nismo.

Para isso, procura desenvolver no aluno, a capacidade dearticular e interagir conhecimentos técnicos e científicos, naconstrução ou execução dos ambientes projetados, atravésde técnicas e tecnologias já conhecidas ou através de novaspropostas sugeridas pelos alunos, advindas do desenvolvi-mento e detalhamento dos projetos. Para isso, as perguntas:como fazer? como se comporta? quanto custa? e como man-ter?, devem estar presentes nas atividades, processos de tra-

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Figura 3 – Representação de uma barra submetida a Esforço Cortante

Nota-se, com a utilização deste modelo, que suas fa-ces internas permanecem planas quando submetido àflexão, analogamente ao que ocorre em um trecho de umapeça em flexão (Hipótese de Navier).

Quando da atuação de força cortante, percebe-se queas faces internas dos blocos se mantêm paralelas entresi, de modo semelhante ao que ocorre nas seções próxi-mas de uma barra submetida a corte puro.

2.3 – Modelo para visualização da Flexão, Torção eConcentração de Tensões em uma barra prismática

Este modelo pretende, de maneira bastante didática,ilustrar como se comporta uma barra sujeita à flexão sim-ples ou à torção.

Com o auxílio do mesmo modelo pode-se mostrar ain-da que em uma peça, de seção não circular, quando sujeitaa um momento torçor, as seções que antes eram planas,empenam por torção, deixando de ser planas (Princípiode Saint-Venant).

Outro fenômeno que pode ser facilmente ilustrado coma ajuda deste modelo é o fenômeno da concentração detensões, fenômeno este muito importante no cálculo es-trutural, em especial na análise das estruturas de madeirae de alvenaria estrutural.

Figura 1 – Visualização da decomposição de forças

Seu funcionamento é bastante simples, onde cada direçãoda seta que representa a força F, fornece de modo instantâneoas componentes desta força no eixo X e Y, que nada mais sãoque as respectivas projeções da seta sobre estes eixos.

A representação dos métodos para a decomposição de for-ças através do modelo acima apontado permite o desenvolvi-mento de um raciocínio intuitivo de modo a facilitar a compre-ensão de problemas que envolvam o estudo das forças e suascomponentes.

2.2 – Modelo para representação de momento fletor e forçacortante em uma seção transversal de uma barra

O momento fletor e a força cortante são esforços internossolicitantes presentes em diversas estruturas. O conhecimen-to destes esforços é de grande utilidade para a vida profissio-nal do arquiteto.

Seja na concepção de uma estrutura, seja na escolha deum tipo de perfil, o arquiteto deve levar em consideração osesforços a que estes elementos estão sendo solicitados.

O modelo aqui apresentado propõe representar as defor-mações em um trecho de uma barra submetida a momentofletor e a força cortante.

Figura 2 – Representação de uma barra submetida a Momento Fletor

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Figura 5 – Deformação longitudinal de um bloco comprimido

Sob compressão, o bloco tende a encurtar na direção verti-cal (encurtamento axial) e alongar horizontalmente (alongamen-to transversal). Devido ao atrito entre as faces superior e inferi-or do bloco e a placa, as deformações transversais são maisacentuadas próximas ao centro do bloco.

A relação entre a deformação específica axial e transversalnos fornece o Coeficiente de Poisson.

2.5 – Modelo para visualização do comportamento de vigasde concreto armado, vigas de concreto protendido, pilaressujeitos à flexão simples, flexão composta e flexão oblíqua

Com a utilização deste versátil modelo pode-se ilustrar ocomportamento estrutural das vigas de concreto armado eprotendido, dos pilares sujeitos a compressão centrada e flexo-compressão.

Conceitos como o de núcleo central também pode ser facil-mente visualizado com ajuda deste modelo.

Figura 4 – Barra sujeita à flexão e à torção

Observa-se na figura – 4.a que, flexionando-se a barra, asseções planas permanecem planas e perpendiculares ao seueixo (Hipótese de Navier). Nota-se também que um dos bordosda peça fletida encontra-se totalmente comprimido, enquantoo bordo oposto encontra-se totalmente tracionado.

Quando da imposição de um torque, nota-se que as seçõesque antes eram planas, deixam de sê-lo e empenam por tor-ção (Figura – 4.b). Ao se aplicar uma força concentrada nabarra, nota-se uma perturbação em torno de um ponto eviden-ciando a existência da concentração de tensões em torno da-quele ponto.

2.4 – Modelo para visualização da DeformaçãoTransversal em um bloco comprimido

A análise de tensões e deformações é de fundamental im-portância para a compreensão do comportamento das peçassujeitas a algum carregamento e serve de base para a análisede estruturas. Com o auxílio deste modelo, pode-se facilmentevisualizar a deformação transversal de um bloco comprimido.

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to das estruturas, no tocante ao seu equilíbrio e transmissãode esforços.

Figura 7 - Modelo para demonstração de esforços reativos

No funcionamento deste modelo, são empregados pesos,barras, roldanas e molas. Desta maneira é possível visualizar:uma barra submetida a várias forças verticais descendentesser equilibrada por uma única força ascendente ou por duasforças extremas ascendentes; equilíbrio provocado por duasforças horizontais e equilíbrio entre um momento externo e umbinário aplicado.

2.7 – Modelo que representa os vínculos planos usuais

Com este modelo é possível observar o comportamento deuma viga com os vínculos mais usuais na prática :engastamento e apoios.

Figura 8 - Vínculos planos usuais

Figura 6 – Modelo para visualização do comportamento de vigas e pilares

Os elásticos posicionados ao longo dos quatro vértices si-mulam o alongamento e o encurtamento das fibras de umabarra sujeita à flexão.

Quando solicitado à flexão, os elásticos tracionados domodelo representam as forças de tração do binário resistente,analogamente ao que ocorre com a armadura longitudinal deuma viga de concreto armado (Figura – 6.c). Caso seja dadauma protensão nos elásticos tracionados do modelo em flexão,pode-se de maneira simplista, simular o funcionamento dasestruturas protendidas (Figura – 6.d).

2.6 – Modelo para demonstrar a existência de esforçosreativos

Todos os elementos estruturais sob a ação de forças ge-ram, em seus vínculos, esforços reativos. É de importânciaque o aluno visualize este efeito em elementos estruturais sim-ples, para que possa com facilidade entender o comportamen-

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2.9 –Modelo para representar a deformação longitudinalde uma barra tracionada.

Uma barra sujeita a uma força de tração sofre uma defor-mação longitudinal. Esta deformação depende de vários fato-res como intensidade da força aplicada, módulo de elasticida-de do material, área da seção transversal da barra e seu com-primento.

O modelo destina-se a demonstrar como cada umados fatores citados acima influenciam na deformação lon-gitudinal da barra.

Figura 10 – Representação da deformação longitudinal de uma barra tracionada

O funcionamento do modelo consiste na aplicação de pe-sos padrões (p) em cada êmbolo, com exceção dos que rece-bem cargas 2P e 3P, verificando-se qualitativamente as varia-ções de comprimento causada pelo peso em relação a refe-rência padrão. A variação de comprimento pode ser determi-nada utilizando-se uma régua normal.

2.10 – Modelo para representar a tensão normal e tensãode cisalhamento que ocorrem em uma seção transversalde uma barra.

Quando aplicamos a uma barra uma força normal ocorreem sua seção transversal uma tensão normal, aplicando umaforça cortante ou um momento torsor ocorre tensões decisalhamento.

O modelo consiste de duas vigas em acrílico, uma engastadae outra bi-apoiada, presas em um suporte de madeira. A açãodos apoios na viga pode ser observada utilizando como cargao esforço feito pelas próprias mãos.

2.8 – Modelo que representa as reações de apoio emuma barra bi-apoiada com um balanço

Entende-se por barras as peças tridimensionais em que umadas dimensões predomina fortemente sobre as demais, quedevem ser praticamente da mesma ordem de grandeza. Pode-se considerar, desta maneira, uma viga como sendo uma bar-ra. A viga bi-apoiada com balanço constitui-se numa estruturasimples comumente encontrada na prática.

Figura 9 – Reações de apoio em uma barra bi-apoiada com balanço

O modelo constitui-se de uma barra vinculada a um painelde madeira através de êmbolos. Em vários pontos ao longo dabarra pode-se colocar um peso, cujo efeito nos apoios é indi-cado em marcadores presos aos êmbolos. Assim é possívelverificar o sentido e a intensidade das reações de apoio, con-forme a posição da carga na viga.

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compreender o funcionamento destas estruturas. Ensinar acompreender o comportamento das estruturas não é tarefa dasmais fáceis, ainda mais para profissionais da engenharia, quecom sua formação pouco humanística, insistem em pedir au-xílio apenas à matemática para solucionar suas questões.

A utilização de modelos tridimensionais que simulam quali-tativamente o comportamento das estruturas auxilia sobrema-neira a compreensão dos fenômenos físicos ligados à engenhariaestrutural introduzidos durante as aulas expositivas. Sua utilizaçãoproporciona ao professor maior velocidade na introdução des-tes conceitos e, ao aluno, melhor assimilação dos mesmos.

4. BIBLIOGRAFIA

Citado por HERKENHOFF, Heloisa Lima. (1997) “Ensino de projetoarquitetônico: caracterização e análise de um suposto modelo,segundo alguns procedimentos didáticos”, Dissertação deMestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP -FAUUSP, São Paulo, 1997.

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BEER, Ferdinand P. e JOHNSTON JR, E. Russell. Resistência dosMateriais. São Paulo: Makron Books, 1995.

Este modelo destina-se a ilustrar as tensões desenvolvidasna seção transversal da barra quando uma destas forças este-jam atuando.

Figura 11 – Representação das tensões normais e de cisalhamento na seção

transversal de uma barra

Como o modelo apresenta uma seção transparente ligadaa outra seção por cabos elásticos, ao aplicarmos uma tensãonormal à seção da barra, visualizamos os cabos tracionados.Da mesma forma que, ao aplicarmos um esforço paralelo àseção transversal da barra ou girarmos uma seção em rela-ção a outra, fazendo com que as duas seções deslizem entresi, visualizamos os cabos representando as tensões decisalhamento.

Logo, podemos ilustrar com este modelo as tensões queocorrem no interior de uma barra submetida aos esforços aci-ma citados.

3. CONCLUSÃO

A concepção de uma estrutura antecede o seudimensionamento, e para conceber é necessário entender e

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Este estudo trata da organização do conhecimento sis-tematizado a respeito do universo dos resíduos sólidos. En-tender como os resíduos são gerados, conhecer o ciclo dosresíduos em uma residência, desde sua geração até a coletae avaliar como o layout de uma residência interage com osresíduos sólidos.

1. Resíduos Sólidos

Maria Suzana de Conto Mandelli em sua tese de douto-rado, Variáveis que Interferem no Comportamento da Po-pulação Urbana no Manejo de Resíduos Sólidos Domésti-cos no Âmbito das Residências (1997), é prudente ao de-finir a expressão resíduo sólido doméstico: “Na tentativa deformular um conceito, ainda que de forma preliminar, é pos-sível dizer que resíduo sólido é o produto descartado pelohomem, resultante de sua atividade diária emsociedade.”(MANDELLI, 1997, p.24). A prudência, tomadapela autora ao conceituar resíduos sólidos domésticos écompreensível, uma vez que não é habitual se consideraro resíduo como um produto, mas entre outras palavras umproduto pós-consumo. Para Lima (1995), a definição deresíduos sólidos não é tarefa fácil, devido a inúmeros fato-res envolvidos a sua origem e formação, tais como: núme-ro de habitantes do local, área relativa de produção, varia-ções sazonais, legislação, condições climáticas, hábitos,variações da economia, poder aquisitivo, nível educacional,tipo de equipamento de coleta, segregação na origem, sis-tematização da origem, disciplina e controle dos pontosprodutores, leis e regulamentações específicas. Nestesentido, Lima (1995) afirma que a identificação destes fa-tores é uma tarefa muito complexa e somente um intensoestudo, ao longo de muitos anos, poderia revelar informa-ções mais precisas no que se refere à origem e formaçãodo lixo no meio urbano. Por outro lado, Demajorovic procu-ra diferenciar lixo de resíduos sólidos, da seguinte forma:

ESTUDO DE DISPOSITIVOS PARA O MANEJO DERESÍDUOS SÓLIDOS EM UMA RESIDÊNCIACristian Guilherme MozAcadêmico do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCS

Paulo Rogério De MoriOrientador do trabalho, pesquisador do Projeto de Pesquisa Ecodesing

Maria Fernanda NunesSupervisora do trabalho, professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCS.

Curso de Arquitetura e Urbanismo – UCSRS 122, km 69, s/n – Campus 8CEP: 95010-550 – Caxias do Sul/RS

e-mail: [email protected]

RESUMOEste trabalho é resultado de uma pesquisa para a disciplina

de Laboratório de Arquitetura e Urbanismo do Curso de Arqui-tetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul. O cam-po de estágio foi realizado no Laboratório de Desenvolvimentode Produtos do projeto de pesquisa Ecodesign que é uma pes-quisa multidisciplinar envolvendo os cursos de Arquitetura eUrbanismo, Engenharia de Materiais e Engenharia Química.Cada curso desempenha um papel diferente na pesquisa detecnologias que visam criar processos de reaproveitamento deresíduos sólidos poliméricos, com o objetivo de transformá-losem novos objetos. Neste processo multidisciplinar, o curso deArquitetura e Urbanismo é responsável pelo projeto dos produ-tos.

Primeiramente, o grupo de pesquisa desenvolveu uma sé-rie de layouts de produtos para o segmento de mobiliário urba-no. Logo apareceram outras demandas manifestadas pelo Ins-tituto de Saneamento Ambiental da UCS, num momento se-guinte, o grupo começou a questionar-se sobre o universo dosresíduos sólidos domésticos. Como são os utensílios para omanejo de resíduos sólidos domésticos? Tal interesse motivoua iniciativa do presente estudo.

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formação de verdadeiras montanhas de lixo nos aterros sani-tários, metrópoles que produzem grandes quantidades de lixocomo Nova York e Tókio, passaram a encarar o problema deforma diferente.

“Fresh Kills”, o maior aterro sanitário do mundo si-tuado em Nova York, recebe treze milhões de qui-los de lixo comercial e doméstico por dia. Cobrequatro milhas quadradas e atinge mais de trintametros de altura. Contém nove bilhões de metroscúbicos de lixo. Quando completo será a mais ele-vada montanha da planície costeira da costa leste.Hawken e Lovins (1999 apud BARBOSA, 2002)

Como alternativa para conter o avanço dos aterros, os paí-ses desenvolvidos investiram em políticas de reaproveitamentode resíduos com o objetivo de diminuir o impacto ambiental,visível nos aterros, e reaproveitar o material desperdiçado. Aforma para viabilizar os projetos se deu basicamente pela cons-trução de usinas de reciclagem e pela criação de campanhasde conscientização ecológica voltadas principalmente à cultu-ra da separação e disposição final dos resíduos sólidos, sejameles domésticos ou urbanos. O processo de separação mere-ceu maior atenção em função de ser um grande dinamizadordo ciclo de reaproveitamento dos resíduos.

Segundo Cozetti (2001 apud BARBOSA 2002) o brasileiroproduz, por dia, em média, um quilo de lixo domiciliar. Portantoquem viver até os 70 anos terá produzido quase 25 toneladasde detritos ao longo de sua vida. No Brasil, a sensibilização aoproblema foi tardia em relação aos países desenvolvidos, masos planos de ação não foram diferentes, uma vez que os nú-meros também assustam.

Em Caxias do sul, conforme Leonir Taufe diretor daCODECA, atual responsável pela coleta de lixo, “a cidade pro-duz uma média diária de 275 toneladas de lixo, e apenas 25toneladas são separadas para a coleta alternativa”.

Resíduos sólidos diferenciam-se do termo “lixo” por-que, enquanto este último não possui qualquer tipo devalor, já que é aquilo que deve apenas ser descarta-do, aqueles possuem valor econômico agregado, porpossibilitarem (e estimularem) reaproveitamento nopróprio processo produtivo. (DEMAJOROVIC,1995,p.89 apud MANDELLI, 1997, p.23)

Ferreira (1986) define o termo lixo por meio da expressão“aquilo que se varre de casa, do jardim, da rua, e se joga fora;entulho. Tudo que não presta e se joga fora”. O termo resíduosegundo Ferreira (1986), é expresso como “Remanescente;aquilo que resta de qualquer substância, resto; aquele que so-freu alteração de qualquer agente exterior, por processos mecâ-nicos, químicos e físicos”.

A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) naNBR 10004 (ABNT 1987), que trata da classificação dos resídu-os sólidos, conceitua o termo como:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de ati-vidades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospita-lar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. (ABNT, 1987)

Para a presente abordagem, não cabe estabelecer diferenci-ações entre lixo e resíduo sólido. Será considerado que, todos osresíduos descartados em uma residência estão compreendidosem um grande grupo chamado de resíduos sólidos domésticos.Tudo aquilo descartado pelo homem resultante de sua atividadediária em sociedade. Desde papéis, embalagens de todas asformas, matéria orgânica putrescível gerada da manipulação dealimentos, resíduos de varrição, papel higiênico dos banheiros,enfim todos os resíduos que possuam ou não valor econômicoou valor de reaproveitamento agregado.

2. A separação dos resíduos sólidos domésticos

Há muitos anos, os países desenvolvidos sensibilizadoscom as questões ambientais, investem em estudos para oreaproveitamento de resíduos sólidos. Depois de vivenciaremproblemas como a falta de espaço e a insalubridade com a

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rado corretamente do reciclável, seguindo a classificação localagiliza consideravelmente a disposição final, seja ela em ater-ros sanitários ou as usinas de reciclagem.

3. A geração dos resíduos sólidos

Ao longo dos tempos, especialmente nos últimos 30 anos,alguns fatores vêm modificando a sociedade, principalmente aurbana. O homem contemporâneo, principal ator da geraçãode resíduos, está alterando seus hábitos priorizando rotinasque visam garantir praticidade de execução, tais como: a pro-dução de refeições rápidas e a agilidade no asseio diário.Asformas de consumo mudaram e aumentaram significativamen-te. Surge então o que podemos chamar de sociedade dodescartável, uma cultura que acabou se instalando em nossasvidas e potencializando o problema da geração de resíduossólidos. As embalagens, entre outros, são as mais comuns,sendo necessário encontrar solução para sua minimização,segregação e reaproveitamento.

4. A casa como mediadora

Podemos relacionar o ciclo do manejo de resíduos sólidosem uma residência, com uma atividade industrial, onde pres-supõe-se que exista um ciclo de produção: o produto chega, éestocado, uma parte é consumida, outra parte virá lixo, o lixo éembalado e por último vai para o passeio público esperar pelacoleta. Parece simples e óbvio, mas se a casa, não estiverpreparada para contemplar este ciclo, e em grande parte nãoesta, o ciclo do manejo de resíduos não será bem desempe-nhado e certamente esses resíduos causarão incômodo aosusuários. Incômodos de ordem física como a falta de espaço,ou de salubridade, com o surgimento do mau cheiro e o apare-cimento e proliferação de insetos e roedores.

Este é um problema relativamente novo onde mais uma vezexiste uma mudança de comportamento. O homem, antes ru-ral, vivia em propriedades onde a falta de espaço fisco não era

Esta nova cultura da reciclagem é um fenômeno, social,urbano e também econômico, tão representativo que justificaser pensado por arquitetos e outros profissionais. Centenas deempresas começam a explorar a reciclagem de resíduos. Olixo tornou-se uma mercadoria. Era resto de um valor de uso eadquiriu um novo valor de troca. Descartável para uns, que nãose preocupam com o valor de troca (os moradores em geral),ao passo que para outros o valor de troca é um atributo. Merca-doria que tem um valor simbólico e real. A figura 1 ilustra muitobem este fenômeno.

Figura 1 – Catador de embalagens plásticas na China. (Fonte: Jornal ABC

Domingo, Novo Hamburgo, 1º de junho de 2003).

A criação de uma consciência ecológica, mesmo que o ser-viço de coleta não faça uma separação e disposição correta,tem valor enquanto meio educador em relação às questõesambientais. É o primeiro passo na busca para o tratamentoadequado a disposição final dos resíduos sólidos. O processode separação na fonte geradora de resíduos tem grande im-portância a disposição final dos resíduos. O lixo comum sepa-

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vez por semana. Nesta situação os moradores são obrigadosa acondicionar os resíduos e estocá-los em locais imprópriosde forma improvisada. Certamente existe uma particularidadereferente a área de cada residência, mas na maioria das vezesos resíduos acabam sendo estocados sem suporte em locaiscomo: garagem, área de serviço, dentro de churrasqueiras,pendurado na parede fora de casa e etc. Estocar os resíduosdentro de casa acaba sendo a melhor alternativa, pois quandocolocado antecipadamente no passeio público, o lixo fica ex-posto a ação de catadores, vândalos, mendigos ou acaba revi-rado por cães e gatos. O incômodo começa a surgir quandoas residências não se mostram preparadas para armazenartemporariamente os resíduos sólidos obrigando os moradoresa conviver com o mau cheiro e tantos outros problemas jámencionados nos capítulos anteriores.

6. O layout residencial e o manejo dos resíduos sólidos

Quando o arquiteto inicia o projeto de uma residência elegenericamente divide o programa de necessidades, do clien-te, em três zonas: zona social, zona de serviços e zona íntima.Cada zona deverá conter uma ou mais dependências depen-dendo das necessidades impostas pelo contratante.Logicamente famílias maiores ou com maior poder aquisitivoprecisarão de residências maiores, com mais área disponível.Seu tamanho pode ser definido por diversos condicionantes,mas na maioria das vezes acaba sendo resultante de dois fa-tores: área construída e custo, uma vez que um pequeno acrés-cimo de área pode representar um significativo aumento decustos. Conforme verificamos no item anterior, as unidadeshabitacionais estão ficando cada vez mais enxutas, e na maio-ria dos casos, mesmo que se construa uma casa de grandesdimensões existe uma tendência de aproveitamento máximodas áreas, procurando racionalizar o espaço e evitando de-pendências de uso eventual.

Segundo Mandelli (1997), a ausência de espaços deestocagem nas residências força os moradores a improvisar

problema. Os lotes, geralmente de grandes dimensões, pos-suíam um lugar em separado da casa para estocar, temporari-amente, os resíduos nela gerados. Quando não iam para odepósito, os resíduos, especialmente os orgânicos, eram de-postos em uma horta de cultivo para subsistência, numa provatotal de sustentabilidade.

5. O manejo dos resíduos sólidos

É este o momento de explicitar e definir as ações relaciona-das àquilo que entendemos ser o procedimento ideal em rela-ção ao manejo dos resíduos sólidos domésticos. As ações ini-ciam-se no interior das residências e terminam no transbordona via pública seguindo a seguinte ordem: acondicionamento,segregação, estocagem e transbordo à via pública.

O acondicionamento é comum a todas as ações, pois osresíduos precisam, como de costume, ser embalados em sa-cos plásticos. O ato de segregar os resíduos está relacionadoa cultura de separação do lixo objetivando essencialmente co-laborar com a política de coleta seletiva. A ação édesencadeada, salvo algumas exceções, no interior da resi-dência em quaisquer setores. A segregação seria muito maiseficiente se começasse no exato momento em que os resídu-os são descartados, economizando tempo e reforçando a cons-ciência sobre a importância de segregar. No entanto não é co-mum encontrar dispositivos que ofereçam tal condição. Outrofator relevante em relação a segregação e acondicionamentode resíduos, diz respeito ao tipo de resíduos e a tipologia dosmesmos, ou seja, as diferentes formas e dimensões destesresíduos.

Quanto a estocagem dos resíduos, a falta de um lugar es-pecífico é ainda mais evidente. É extremamente importanteressaltar que a ação de estocagem de resíduos está direta-mente relacionada à periodicidade da coleta pública. Existemlocais em que a coleta de lixo comum passa apenas duas ve-zes por semana e a coleta seletiva de resíduos apenas uma

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planejamento, no entanto temos de admitir que de forma geral,as dependências geram tipos de resíduos que são derivadosde suas atividades. O setor de serviços é onde possivelmentesão geradas as maiores quantidades de resíduos sólidos deuma residência. Principalmente por agregar a cozinha, a la-vanderia, a garagem, a área de limpeza e manutenção, locaisem que as atividades praticadas têm como característica ageração de resíduos, diferentemente de uma sala de estar.Além do setor de serviços, outras dependências como as suí-tes, gabinetes ou salas de estudo, também produzem algumtipo de resíduo. Sem mencionar os banheiros e lavabos de ondesaem grande parte dos dejetos do asseio diário.

É possível verificar que, em maiores ou menores quantida-des, os resíduos estão presentes em todas as dependênciasda casa. E além de presente, o lixo circula entre as dependên-cias participando das rotinas dos usuários.

7. O OBJETO DE ESTUDO

Para responder a problemática da falta de dispositivos parao manejo dos resíduos no âmbito residencial, torna-se indis-pensável a apropriação de um layout residencial como objetode estudo. Trata-se de um estudo arquitetônico, desenvolvidoem exercício acadêmico, que aparentemente não demonstroupreocupação com o manejo dos resíduos sólidos.

Além da apropriação de um layout arquitetônico é funda-mental definir critérios sobre os usuários do imóvel como: aquantidade de pessoas na família, o perfil sócio econômico ea periodicidade da coleta no local, a fim de precisar a com-posição gravimétrica (fração dos componentes do lixo) apro-ximando-se ao máximo de uma situação real de ocupação. Assoluções serão resultantes da reflexão e do entendimentosobre as ações do manejo dos resíduos sólidos. Primeiramen-te conhecendo a dinâmica de cada ação, como ela acontecedentro de casa, depois definindo critérios para encontrar amaneira adequada de intervir e racionalizar sua operação. Asrespostas serão de duas formas:

espaços. Com maior freqüência, está a garagem seguido daárea de serviço, e por último no pátio da casa, em lugares inu-sitados como dentro de churrasqueiras ou encima de árvores,conforme mostram as ilustrações na figura a seguir.

Figura 2 – Exemplo de locais inadequados de estocagem de resíduos –

(fonte: Mandelli 1997)

Uma idéia para a área de estocagem poderia se configurarcomo área de transição entre a cozinha e área de serviço, lo-cais onde costumam acontecer a maior parte dos descartesde resíduos sólidos.

Em síntese o manejo dos resíduos sólidos não é contem-plado no programa de necessidades das residências. Os pro-fissionais de arquitetura ainda não assimilaram o processo demanejo dos resíduos e por isso dão respostas pouco eficien-tes ao problema.

6.1 OS RESÍDUOS SÓLIDOS E AS DEPENDÊNCIAS DACASA

Pode-se afirmar que existe uma série de variáveis de com-portamento e costumes que interferem na geração de resídu-os sólidos nas residências, sabe-se também que cada resi-dência possui layout específico ou muitas vezes nem possui

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- Coleta comum, caminhões compactadores e como tra-tamento e destino final o Aterro Sanitário São Giácomo;

- Coleta seletiva, feita em caminhões tipo baú nãobasculante, com destino para as Associações deRecicladores.

Neste caso há uma situação privilegiada pela coleta de lixocomum, que passa três dias por semana. Já a coleta seletivade menor freqüência, passa apenas uma vez na semana. Esteé um indicativo que permite supor que a casa deverá priorizaruma área maior para resíduos seletivos do que para comuns.7.3 LEVANTAMENTO APROXIMADO DA GERAÇÃO DERESÍDUOS SÓLIDOS

O presente estudo está fazendo uso se uma condição hipo-tética de residência e de moradores. Para conseguir um valoraproximado do volume de lixo gerado em uma semana, que éa freqüência da coleta seletiva, foram usados comparativos como volume de resíduos gerados em uma residência nas mes-mas circunstancias da residência estudada: um saco com olixo seletivo ao fim de uma semana com volume aproximado a100 litros pesando 1400g e o montante de lixo comum geradoem 1 dia representando um volume aproximado de 10 litros.Este volume não considera o papel higiênico dos banheirosque podem representar um acréscimo de 5 litros dia. Assimtem-se em média o volume de 15 litros/dia de lixo destinado acoleta comum.

Ao término de uma semana o volume de lixo destinado àcoleta seletiva será de aproximadamente 100 litros. Para odimensionamento da área de estocagem convém deixar umacréscimo de 50% para contemplar o descarte de embalagensde maiores dimensões menos freqüentes. Totalizando assim150 litros. Para a coleta comum de resíduos, após três dias,haverá um volume de aproximadamente 45 litros. Consideran-do um acréscimo de 50% deste volume tem-se um volumefinal aproximado em 67,5 litros. Para dimensionar a área de

a) Modificações de layout arquitetônico contemplando aatribuição do arquiteto, profissional responsável pelolayout residencial;

b) A criação de utensílios (dispositivos) que esta ligadaao desenvolvimento de produtos ao qual o projeto depesquisa Ecodesign responde.

7.1 O PROJETO ARQUITETÔNICO

O projeto a ser adotado é uma residência unifamiliar de doispavimentos com área construída igual a 281,32m², localizadaem um lote de 360,00m².

Figura 3 – Perspectiva frontal da residência

7.1 OS MORADORES

Será definida uma situação hipotética sobre o perfil dosmoradores. O layout em questão foi desenvolvido consideran-do uma família de cinco pessoas composta por um casal deaproximadamente 50 anos de idade e três filhos adolescentesde entre 18 e 20 anos.

7.2 REALIDADE DE COLETA

No município de Caxias do Sul existem dois sistemas decoleta dos resíduos sólidos domiciliares, sendo a separaçãodestes na fonte geradora. O serviço de coleta implantado é nosistema porta-a-porta, de duas maneiras:

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O presente trabalho pretende reconhecer a existência dosproblemas relativos ao manejo dos resíduos sólidos e desen-volver estratégias de solução propondo uma dinâmica para omanejo destes resíduos, chegando até a primeira fase do pro-cesso de criação descrito por Dennis Schulmann com a expo-sição de soluções possíveis e a abertura de possibilidades.Desta forma é oportunizado ao projeto de pesquisa Ecodesign,dar continuidade ao desenvolvimento dos estudos percorren-do os outros procedimentos a fim de tornar viável a produçãodos dispositivos.

8.1 DINÂMICA PARA O MANEJO DOS RESÍDUOS SÓLIDOSDOMÉSTICOS

Ao falar na dinâmica proposta, quer-se sugerir uma espéciede conduta em relação ao manejo com os resíduos sólidosdomésticos a fim de garantir o funcionamento dos dispositivosa serem projetados. Tal procedimento pode ser comparado aum manual de instruções sobre como proceder em relação aomanejo dos resíduos sólidos. A figura a seguir ilustra o cicloproposto para o manejo dos resíduos sólidos em uma residên-cia.

Figura 4 – Ciclo, sistematizado, para o manejo dos resíduos.

estocagem e transbordo deve-se sempre considerar as variá-veis: periodicidade de coleta, número de moradores e hábitosde consumo que determinarão um tipo de lixo específico. Nes-te caso, se adotará um volume de 220 litros, o equivalente a0,22m³.

8 O método de Desenvolvimento de Produtos

O projeto de pesquisa Ecodesign utiliza para o desenvolvi-mento do projeto de produto o método proposto por DenisSchulmann em seu livro O Desenho Industrial. Schulmann(1994) divide o processo de desenvolvimento de produto emtrês fases principais, sendo estas maleáveis a medida que oestudo apresenta especificidades. O quadro 5 sintetiza as eta-pas deste método:

Quadro 1: O processo de desenvolvimento de produtosegundo Denis Schulmann

SERANIMILERPSODUTSE

amelborpmuedaicnêtsixearecehnoceRedadinutropoamueduo

meredneerpmocaraprasilanAaigétartseamurevlovnesede,edadidnuforp

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iaveuqotudorpodacitsíretcaracarinifeDamelborporevloser

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Figura 7 – Lixeira Trevo

Figura 8 – Lixeira de banheiro Tetris

8.1.2 Estocagem:

A necessidade de um espaço para estocagem temporáriade resíduos se faz necessária a medida que a periodicidade dacoleta pública não é tão freqüente, principalmente para acondi-cionar embalagens plásticas, garrafas de vidro e outros resí-duos destinados a coleta seletiva. Os resíduos putrescíveistambém devem ter lugar reservado na área de estocagem, prin-cipalmente por serem resíduos que causam mau cheiro e atra-em animais e insetos indesejáveis.

Os produtos definidos na última fase da metodologia foram:

8.1.1 Segregação:

Como já visto o ato de segregar está ligado ao imediatomomento em que o lixo é descartado nas dependências dacasa, portanto costuma acontecer em seu interior. Assim queé gerado o resíduo é logo acondicionado em sacos de lixo pos-tos em recipientes que assumem geralmente a forma de lata.

f) Propostas:

Figura 5 – Sketche de coletor para cozinha

Figura 6 – Sketche do porta sacolas Onda

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8.1.3 Transbordo

O transbordo corresponde a última ação que o usuário temcom o lixo, a disposição final dos resíduos após a coleta fica acargo do poder público.

Figura 10 – Perspectiva do dispositivo de transbordo

Figura 11 – Perspectiva do dispositivo de transbordo

e) Propostas:

A seguir localização da área de estocagem dimensionadaem função do volume e ilustração dos containeres móveis.

Figura 9 – Área de estocagem com os contêineres móveis

f) Considerações:

A área de estocagem foi implantada em uma região quepermitiu fácil acesso tanto pelo interior da residência quantopelo lado externo da mesma. A porta tipo veneziana do ladoexterno permite a ventilação, e facilita a comunicação com aárea de transbordo. A porta interna representa uma possibili-dade de acesso a residência e por questão de segurança devemanter-se trancada. Como sugere a conduta em relação aosresíduos assim que forem recolhidos das áreas de descarte,eles devem ser acondicionados nos contêineres móveis quepermitem o transporte até a área de transbordo. Os containerespossuem volumes diferentes para atender as diferenças devolume entre resíduos seletivos e orgânicos.

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descartáveis vem aumentando gradativamente na composiçãodos resíduos. Pesquisas mostram que apenas 44% dos resí-duos coletados na cidade de Caxias do Sul são do tipo orgâni-co putrescível. Daí a importância de haver um planejamento nosentido de averiguar a heterogeneidade e as mudanças na com-posição dos resíduos servindo de informação para o projeto deespaços para o manejo dos resíduos.

Estas e outras considerações, bem como o aprimoramentodas soluções apresentadas neste estudo, podem perfeitamenteter continuidade ou desencadear novos estudos junto ao proje-to de pesquisa Ecodesign, numa demonstração pouco comumde multidisciplinaridade onde a arquitetura e a engenhariaambiental caminham lado a lado.

10 CONCLUSÃO

Após anos desenvolvendo soluções no âmbito do mobiliáriourbano e algumas experiências de caráter comercial a investi-gação sobre a dinâmica dos resíduos sólidos em uma residên-cia possibilitou ao projeto de pesquisa Ecodesign a exploraçãode um novo universo ainda não experimentado.

Para viabilizar o estudo de desenvolvimento de dispositivospara o manejo dos resíduos sólidos domésticos junto ao proje-to de pesquisa Ecodesign, procurou-se primeiramente obterum entendimento sobre o universo dos resíduos sólidos. O pri-meiro passo foi a busca de uma definição sobre resíduos sóli-dos, verificar as classificações propostas, conhecer a dinâmi-ca dos resíduos sólidos dentro de uma residência e entendercomo o layout residencial se relaciona com os resíduos sóli-dos enquanto problema espacial e de salubridade.

Com este primeiro manancial de informações foi possível,conhecer e sistematizar as ações ligadas ao manejo dos resí-duos sólidos, que acabaram sendo o principal insumo para odesenvolvimento dos dispositivos. O mesmo conhecimentopermitiu-nos diagnosticar que o problema resíduos sólidos, nãoestá sendo contemplado, pelos profissionais responsáveis peloprograma de necessidades de uma residência.

b)Considerações:

Este dispositivo apropriou-se de uma solução existente pelofato da mesma se mostrar extremamente simples e eficiente.Procurou-se apenas enriquecer a solução acrescentando lo-cais de pega bem definidos e laterais de plástico que serviramcomo elemento sinalizador aos trabalhadores da coleta. Quandoo cesto está posicionado para o lado de fora a intenção de ex-purgo dos sacos de lixo se reforça visualmente pelas lateraiscoloridas.

O presente estudo está considerando a delimitação entre olote e o passeio público feita por uma grade metálica, entretan-to o mesmo dispositivo poderia se adaptar facilmente a umasituação em que a divisa fosse feita com um muro de alvena-ria.

9 Considerações finais a respeito das soluções

Os parâmetros tomados para dimensionamento dos dispo-sitivos foram aproximados em função do levantamento do vo-lume de resíduos gerado em uma semana em uma residênciaem circunstâncias semelhantes a proposta pelo estudo. Se-gundo Mandelli (1997) é importante salientar que o procedimentocorreto em relação ao projeto de espaços para o acondiciona-mento de resíduos sólidos deve considerar uma análise dacomposição gravimétrica dos resíduos gerados pela família.(Mandelli 1997). No caso de uma residência, este procedimen-to não exige tanto rigor, mas em estabelecimentos com outrasatividades ou maiores dimensões como hotéis e hospitais, ondeo montante de resíduos gerados é muito maior, torna-se ne-cessário o uso de informações precisas.

Outro dado importante é relativo ao peso específico dos re-síduos sólidos. As mudanças nos hábitos de consumo estãomudando também a composição dos componentes do lixo. Éimportante que o arquiteto ou os demais profissionais envolvi-dos em estudos que envolvam o universo dos resíduos sólidostenham consciência de que a presença de resíduos

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BARBOSA, João Carlos Lutz. (2002) “O Projeto do Nosso Lixo deTodo Dia”. Artigo publicado nos anais do P&D Design 2002.

BAXTER, Mike. (2000) “Projeto de Produto”. São Paulo: Edgard Blucher,2000. 262 p. 2ª ed.

Jornal Pioneiro, janeiro de 2003.

MANDELLI, Suzana M. D. C. (1997) “Variáveis que Interferem noComportamento da População Urbana no Manejo de ResíduosSólidos Domésticos no Âmbito das Residências”. 1997. Tese(Doutorado em Educação – Área de Motodologia do Ensino) –Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. 267 p.

SCHULMANN, Denis. O Desenho Industrial. Campinas: Ed. Papirus,1994. 124 p. 1ª ed.

Após estas identificações iniciaram-se os estudos dos dis-positivos baseados nas ações relativas ao manejo dos resí-duos. Primeiramente, definiu-se uma situação hipotética deresidência em que habita uma família de cinco pessoas, sobuma realidade local de coleta do serviço público, enfim si-mular uma circunstância que se aproxima ao máximo de si-tuação real de ocupação. Os dispositivos, embora projetadospara o modelo de residência proposto no estudo, pretendemse adaptar a qualquer outra situação residencial. Devendoinclusive sofrer adaptações pertinentes a cada caso, consi-derando variáveis particulares como o número de habitan-tes da residência, periodicidade da coleta, hábitos de con-sumo etc.

Os estudos tiveram um papel importante na geração deconhecimento e insumos ao projeto Ecodesign. Eles chega-ram até a fase criativa de elaboração dos produtos, com aexposição de soluções possíveis, dando possibilidade aoprojeto de pesquisa aprofundar estas soluções e finalizar oprocesso de desenvolvimento.

Este estudo propiciou a investigação de um novo nichode pesquisa acenando a possibilidade de continuação de so-luções relativas ao manejo dos resíduos sólidos além daárea privada do transbordo. Apontando a possibilidades parao estudo de coletores públicos de uso comum a vários mo-radores, contêineres para o descarte de resíduos tóxicos ouaté mesmo, parques de reciclagem espalhados em diversospontos da cidade.

Além disto, este trabalho demonstrou que é extremamenteimportante promover ações de multidisciplinaridade para es-tudar um fenômeno. Aqui a Arquitetura se aliou a Engenha-ria Ambiental, para juntos apontarem soluções a um proble-ma urbano, social e econômico que cresce desordenamente– a problemática dos resíduos sólidos urbanos.

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A situação que se coloca hoje é de uma extensa área deloteamentos onde vive a maior parte da população de baixarenda, em situação irregular e em grande parte das vezes emáreas que comprometem os mananciais urbanos. Do ponto devista jurídico são irregularizáveis segundo a legislação existen-te; do ponto de vista social representam a única alternativa demoradia de enorme parcela da população.

É essa a condição que bate à porta do Ministério Público,nas Promotorias de Habitação e Urbanismo,responsáveis porzelar pelos interesses difusos da população quanto à ordemurbanística – qual seja, a questão de uso e ocupação do solo.

Com o objetivo de discutir a natureza desse conflito,prioritariamente no caso da ocupação existente nas áreas deproteção ambiental e a necessidade de garantir condições deconsumo da água dos mananciais de São Paulo, reuniram-seno início de 2000, professores – pesquisadores do Laboratóriode Habitação e Assentamentos Humanos do Departamento deProjeto da FAUUSP e integrantes do Ministério Público do Es-tado de São Paulo – Centro de Apoio Operacional das Promo-torias de Justiça de Habitação e Urbanismo e programaramuma série de atividades, incluindo uma disciplina optativa nocurso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, na USP.

O trabalho iniciado com essa parceria, que incorpora tam-bém Municipalidades da Região Metropolitana de São Paulo,tem por perspectiva de médio e longo prazo desenvolver umalinguagem em comum, num processo sinérgico de produçãode conhecimento, metodologias e procedimentos, alternativastécnicas e jurídicas, replicáveis para situações semelhantes,presentes na Região Metropolitana de São Paulo e na maioriadas grandes cidades no Brasil e na América Latina.

Se de um lado a tradição urbanística sustenta a elaboraçãode propostas de regulamentação em conceitos e modelos deorganização urbana, espacial, pouco considerando as dificul-dades reais, práticas do exercício jurídico e da aplicação dassanções, o Ministério Publico e o Judiciário lidam com os diplo-

PESQUISA, EXTENSÃO E ENSINO EM MORADIASOCIAL E MEIO AMBIENTE (*)

Maria Lucia Refinetti MartinsArquiteta e Urbanista, Dra.em Arquitetura e Urbanismo FAU-USPFAU-USP – Professora do Depto de Projeto; Coordenadora do Laboratório deHabitação e Assentamentos HumanosRua do lago, 876 05508-900 São Paulo SP (11) 30914647

[email protected]

1. Fundamentação

Apesar da extensão fazer parte das atribuições acadêmi-cas, com frequência assume um caráter de “prestação de ser-viços” ou de “assistencialismo”. Representa – quando existe,a única parcela da produção universitária que se ocupa do se-tor popular. O desafio que se coloca é inserir essas práticas nocentro da produção principal do conhecimento, na linha de pontada pesquisas e do ensino. É com essa ótica que o Laboratóriode Habitação e Assentamentos Humanos da FAUUSP procuraatuar. Constata-se que a maior parte do crescimento urbanodas grandes cidades brasileiras não conta com a colaboraçãodo conhecimento técnico formal ou também do financiamentopúblico ou privado. A maior parte da produção da moradia ur-bana nas metrópoles e grandes cidades, se faz fora do merca-do legal privado ou mesmo das políticas de promoção públicae ao largo da legislação urbanística e ambiental existente.

A ausência de alternativa habitacional para a maioria da po-pulação pobre nas grandes cidades brasileiras teve como umadas consequências, a ocupação irregular e predatória ao meioambiente urbano. É nos lugares ambientalmente frágeis, “pro-tegidos por lei”, desprezados pelo mercado imobiliário, que pro-liferam os loteamentos irregulares, as ocupações informais eas favelas. Nesse contexto, a questão ambiental urbana é an-tes de tudo um problema de moradia e de política habitacionalou, mais precisamente, da falta ou insuficiência desta.(*) texto publicado com o título de: Moradia Social e Meio Ambiente – regularizaçãode loteamentos em área de mananciais na RMSP. In SAMPAIO,M.R. e PEREIRA, P.C.(ed). Profissionais da Cidade. São Paulo, Unesco-USP, 2003, p 139-154. ISBN 85-

88126-42-7

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O projeto representa experiência inovadora de articulaçãoentre as práticas e metodologias da Justiça e da área de Arqui-tetura e Urbanismo, promovendo transferência de informaçõese recursos técnicos entre as duas Instituições participantes eagentes públicos municipais (da RMSP) vinculados à aprova-ção, controle e regularização de uso e ocupação do solo. As-sume também o papel de formação e consolidação da áreaprofissional, na medida que envolve regularmente estudantesde graduação.

Os procedimentos de trabalho têm se organizado em tornode diferentes momentos, formas e dimensões, reunindo des-de o grupo mais restrito, de Pesquisadores, passando por reu-niões parciais da equipe, orientações a bolsistas, até ativida-des ampliadas, como seminários que incluem os estudantesde Graduação da disciplina “Ambiente Construído e Desenvol-vimento Sustentável – Moradia Social” e seminários abertos.

Decorrentes do conjunto dos trabalhos, uma série de pro-dutos vão se consubstanciando, entre eles:

Identificação e sistematização de situações típicas e por-tanto dos objetos de trabalho. Determinante para construçãodo conhecimento e da prática, segue principalmente em trêsvertentes:

a) Condição jurídica: levantamento e caracterização daquantidade e tipologia de procedimentos (nome pelo qualsão designados os processos em andamento no MP) emcurso nas Promotorias de Habitação e Urbanismo;b) Condição de irregularidades urbanísticas e ambientais:tipificação desenvolvida a partir dos casos escolhidos edas análises das condições físicas observadas nos casosescolhidos e cotejamento com as diversas legislaçõesincidentes:c) Condições de operacionalização: identificação dasestruturas institucionais e procedimentos defiscalização e regularização de loteamentos dasPrefeituras e do Estado.

mas legais sem qualquer referência ou domínio físico-espaci-al. A proposta aqui apresentada, busca contemplar pesquisa,extensão e ensino, tendo por objetivo contribuir na superaçãodessa limitação dos campos disciplinares e de seu difícil diálo-go e complexa ação a empreender no caso concreto do uso dosolo da periferia metropolitana de São Paulo, particularmentenas áreas de proteção de mananciais.

A experiência de trabalho conjunto levou à formulação, nofinal de 2000 de proposta de projeto em Políticas Públicas, queobteve, a partir de 2002 apoio financeiro da Fundação de Am-paro à Pesquisa no Estado de são Paulo - FAPESP. Esse apoiopossibilitou a aquisição de equipamentos e material para pes-quisa e viabilizou bolsas de três meses de duração para cincoestudantes, o que consolidou sua participação e ampliou oâmbito dos trabalhos. A realização de encontros quinzenais doconjunto de parceiros, co-parceiros e bolsistas – viabilizadospela disponibilidade de diárias e combustível permitiu boa aqui-sição e troca de informações entre o conjunto. O apoio e reco-nhecimento de conceituados profissionais da área garantiu aapresentação à equipe de seminários temáticos com alto níveltécnico.

2. Descrição da experiência

Concebido desde o início como atividade múltipla de ensinopesquisa e extensão, o desenvolvimento do projeto, que inte-gra também o ensino (disciplina de ateliê do curso de gradua-ção), vem permitindo melhor compreensão da dinâmica deimplantação de loteamentos e edificações irregulares e/ou clan-destinos e a avaliação de seus efeitos negativos. Tem tambémidentificado gargalos e dificuldades no controle do uso do solo,e maneiras mais adequadas de abordagem da questão da irre-gularidade, com instrumentos e soluções técnicas alternativase possibilidades novas, como o recurso ao Termo de Ajusta-mento de Conduta e os novos instrumentos decorrentes doEstatuto da Cidade, como o Usucapião Especial Urbano ou oUsucapião Coletivo.

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mas, planos e gestão – sobre a cidade real, direcionada aointeresse público e à inclusão social.

O projeto específico - Moradia Social e Meio Ambiente, tempor objetivo desenvolver alternativas de ajustamento de condu-ta para loteamentos irregulares, nas áreas de proteção dosmananciais na Região Metropolitana de São Paulo, propondosoluções urbanísticas que sejam ambientalmente sustentáveise passíveis de regularização jurídica, no caso de ocupações jáconsolidadas - de moradia pobre, irregular e ambientalmenteinadequada.

4. Objetivos específicos

O objetivo específico do trabalho aqui apresentado é de-senvolver, a partir do estudo de casos concretos, a proposi-ção de soluções urbanísticas para mitigar os prejuízos coleti-vos nas situações de irregularidade consolidada e de difícilreversão, melhorando as condições ambientais e permitindoalguma solução/ regularização jurídica. Procura também es-tabelecer restrições e exigências que facilitem o processo defiscalização e desenvolver parâmetros que contribuam para aelaboração dos Planos de Bacia, conforme instituído pela Leino 9.866/97 – Proteção e Recuperação das Bacias

Como desdobramento desse objetivo mais imediato pre-tende avançar no desenvolvimento de diretrizes de preserva-ção / ocupação e uso do solo para áreas ambientalmentesensíveis e de mananciais na grande São Paulo – e outrosgrandes centros, incorporando à sua concepção ambiental eurbanística critérios e formas de aplicação, fiscalização econtrole, compatíveis com a cultura e as normas jurídicas na-cionais e locais e a efetiva capacidade de gestão do poderpúblico.

A curto prazo, o propósito é avançar na elaboração, a títulode experiência e reflexão, de pelo menos dois projetos com-pletos, em condições de implantação, incluindo orçamento,etapas, formas de avaliação e medição, além, evidentemen-te, do processo de regularização.

Consolidação de Bibliografia e Repertório aliada à produ-ção de textos pela equipe de pesquisadores e parceiros – oque reflete a progressiva consolidação de conceitos, princípi-os e diretrizes.

Desenvolvimento de metodologia, a partir de projetos pilo-to (proposta de alternativas urbanísticas – incluindo infra es-trutura) para casos selecionados – procedimentos em fasede investigação pelo Ministério Público. São projetos elabora-dos com orientação dos pesquisadores, em nível de antepro-jeto, pelos estudantes da disciplina de graduação articulada àpesquisa – Ambiente Construído e Desenvolvimento Susten-tável. Esse material está sendo sistematizado e consolidadopara futura publicação.

Relatórios síntese das proposições para divulgação entrePromotores de Justiça e Municípios da Região, podendo serusado também como material didático na graduação ou emcursos de especialização. O material produzido vai sendo di-vulgado de modo informal e progressivamente organizado.Vai sendo consolidado à medida que alguns aspectos semostram mais definitivos. Deverá resultar num produto com-pleto e didático a ser publicado. Esse material é constituídotanto por relatos e desenhos referentes a intervenções físicasvisando qualificação ambiental quanto por trabalhos teóricos,conceituais, ou mesmo de interpretação e explicitação, quebuscam inserir o tema dos assentamentos populares emáreas inadequadas, num contexto mais amplo, construindonexos e desdobramentos.

3. Objetivo Geral

O Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanostem por objetivos desenvolver fundamentação teórica e co-nhecimento técnico na área dos assentamentos humanos vi-sando a formação de pesquisadores e profissionais para aspolíticas públicas. O enfoque crítico e analítico fornece umabase para a intervenção – sob a forma de projetos, progra-

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taminação da água pelo esgoto doméstico, recorrendo a pro-postas de ação local, de baixo custo e baixo impacto.

Em relação aos aspectos Jurídicos, o trabalho é voltado àinvestigação de elementos que incluem: levantamento e análi-se de inquéritos civis, procedimentos preparatórios e açõescivis relativas a assentamentos irregulares em áreas de ma-nanciais em curso nas Promotorias de Justiça de Habitação eUrbanismo; antecedentes de regularização urbanística e/ouregistrária desse tipo de loteamentos; termos de ajustamentode conduta celebrados e padrões de compensação ambientalque tenham sido aceitos.

Quanto a aspectos de Gestão a pesquisa vai em duas di-reções: a primeira observa procedimentos adotados em órgãosinstitucionais, como Prefeituras, Secretaria do Meio Ambiente,Ministério Público e Conselhos Gestores de Bacia Hidrográficaquanto a regularização e ações de controle e fiscalização deloteamentos irregulares, particularmente nas áreas de prote-ção a mananciais; a segunda associa aspectos técnicos e degestão, propondo o desenvolvimento de metodologia de análi-se de casos, estabelecimento de uma “tipologia” referencial eprodução de parâmetros ou “modelos“ de orientações a assu-mir nos diferentes tipos de assentamentos e de irregularida-des que se apresentam nas áreas de mananciais. Trata-se decaracterizar situações padrão e definir diretrizes de ajustamentoque possam ser adotadas para formulação de Termos de Ajus-tamento de Conduta.

5. Atores envolvidos

O projeto conta com variados atores, em proporçõesdiversificadas de tempo e envolvimento. O núcleo central éconstituído pela equipe responsável pelo projeto, na FAU-USP– Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos: Pro-fessores Erminia Maricato (Coordenadora do LabHab), MariaLucia Refinetti Martins (Responsável pela pesquisa), MinoruNaruto e pela equipe parceira, do Ministério Público do Estado

No que tange à pesquisa, pela própria natureza de seusobjetivos, o desenvolvimento aponta para três rumos princi-pais de investigação: aspectos técnicos (de arquitetura, ur-banismo e infra-estrutura), aspectos jurídicos (regulação ejurisprudência) e aspectos de gestão (ações e práticas de-senvolvidas pelos diversos agentes públicos responsáveispela preservação dos mananciais - incluindo aplicação dalegislação de controle do uso e ocupação do solo e fiscali-zação).

No que se refere a aspectos Técnicos atenta-se parti-cularmente ao seguinte desafio: buscar alternativas de in-tervenção que viabilizem, em assentamentos consolidadosde impossível adequação à legislação vigente, atingir-seuma condição de respeito ao “Espírito da Lei”, qual seja, aproteção aos mananciais.

Para atender ao objetivo de garantir a qualidade da águados mananciais, a legislação de proteção utiliza como ins-trumento restrições de uso e ocupação do solo: baixa den-sidade de ocupação, por meio de lotes obrigatoriamentegrandes. Admitir a possibilidade de Reparação de Danos eAjustamento de Conduta em condições de completa impos-sibilidade de adequação aos padrões da Lei implica emdisponibilizar outras alternativas e instrumentos que asse-gurem atingir seus objetivos, ou seja, que permitam conse-guir boa qualidade e adequada quantidade de água e aomesmo tempo estabeleçam padrão de controle que garantao estabelecido no Termo de Ajustamento.

O objetivo específico nessa linha é Investigar no meio técni-co e propor projetos de moradia que minimizem o comprome-timento ambiental em áreas junto aos mananciais da cidadede São Paulo: tanto mitigar situações onde a ocupação inade-quada é de remoção socialmente inviável, como desenvolverprojetos e implantações alternativas que permitam simultane-amente moradia e preservação ambiental; Buscar, no caso deassentamentos consolidados, de moradia pobre, evitar a con-

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Atividades regulares da equipe mais ampla: a equipe com-pleta constitui-se de mais de 20 pessoas, incluindo: Pesquisa-dores, Equipe Parceira (Promotores de Justiça do Caohurb),Promotores de Justiça dos Municípios de Diadema, Embu,Santo André e São Bernardo, técnicos das áreas de Habitaçãoe Meio Ambiente dos referidos Municípios, Bolsistas do Projeto(FAPESP e PIBIC), Bolsista Programa PAE-USP, Estudantescom Trabalho Final de Graduação no tema.

Com esse grupo são desenvolvidas reuniões quinzenais,alternadamente entre reuniões de troca de informações e deatualização de conhecimentos e seminários com palestrantesconvidados, sobre temas específicos, escolhidos pelos pes-quisadores, ouvida a equipe. A essas reuniões são trazidas ereunidas diversas contribuições – entre textos, Leis, e depoi-mentos. Esse material é debatido nas e será utilizado para aprodução bibliográfica da pesquisa.

Grandes seminários envolvendo discentes deGraduação:dois grandes seminários já foram realizados, emque os estudantes da disciplina de Graduação – que trabalhousobre o Loteamento Sítio Joaninha, assentamento irregular, naárea de proteção aos Mananciais em Diadema, apresentaraminicialmente seus Partidos de Intervenção e finalmente suasPropostas e Projetos. Foram atividades ampliadas, com a pre-sença dos estudantes, da equipe completa e de interessadosem geral. O conjunto de projetos apresentados pelos estudan-tes e comentados pela equipe está sendo trabalhado para apre-sentação sob forma de “Caderno de Hipóteses e Sugestões”.

Atividades restritas, com parte da equipe: debates e avalia-ções entre Pesquisadores do LabHab e CAOHURB, têm sidosistemáticos e frequentes, quanto à definição de temas a se-rem aprofundados e de textos a produzir. Inúmeros têm sidoos convites de uma instituição a outra para participação empalestras, seminários e debates

Desse conjunto de atividades e intenso debate mais a pes-quisa e o empenho individual de cada participante resultaram

de São Paulo - Centro de Apoio Operacional das Promotoriasde Justiça de Habitação e Urbanismo: Promotores José Carlosde Freitas, Cláudia Maria Beré, Marco Antonio Pereira. A equi-pe ampliada (co-parceiros) envolve: 3ª Promotoria de Justiçade Embu: Promotora Roseli Naldi Souza, 1ª Promotoria de Jus-tiça de Diadema: Promotora: Stela Tinone Kuba, 13ª Promoto-ria de Justiça de São Bernardo: Promotora RosangelaStaurenghi; representantes das Prefeituras de Diadema, Embu,Santo André e São Bernardo; Pesquisadores e bolsistas:Robson Moreno (mestrando), Giselle Tanaka, Gustavo Chacon,Mariana Mencio e Renata Lucas (Treinamento Técnico), AndreaVilella, Luciana Ferrara e Tatiana Nobre (Iniciação Científica);além dos profissionais convidados que apresentaram pales-tras e dos 90 alunos que cursaram a disciplina optativa AUP-547 – Ambiente Construído e Desenvolvimento Sustentávelentre 2000 e 2002.

6. Estratégias Pedagógicas e Metodologia utilizada

Os trabalhos se desenvolvem a partir de loteamentos irre-gulares que tenham processo no Ministério Público, identifica-dos como casos paradigmáticos. A partir deles se desenvolvea pesquisa e também a disciplina optativa de ateliê. Nessa dis-ciplina, se envolvem professores, alunos, promotores públicos,representantes das prefeituras e profissionais convidados, paraaprofundar conhecimentos sobre as áreas e sobre o contextojurídico e institucional, cabendo aos alunos, orientados pelaequipe de professores desenvolver análises e projetos, compropostas de alternativas para regularização jurídica e urbanís-tica dos assentamentos.

Os diversos casos já estudados ou em estudo situam-senos Municípios de Santo André, São Bernardo e Diadema (naBacia Billings) e Embu (na Bacia Guarapiranga).

No que se refere à pesquisa, mais propriamente, o desen-volvimento dos trabalhos inclui diversos níveis de envolvimentoe participação, que se consubstanciam em:

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8. Impactos Gerais - disseminação

Dada a própria natureza da atividade, que agrega Ensino,Pesquisa e Extensão, há impactos de caráter mais acadêmico– seminários, palestras, publicações, impactos sobre a açãodo Ministério Público – que chega a incorporar em seus proce-dimentos concepções e diretrizes produzidas no bojo dos de-bates e interação, impactos sobre o tratamento que asmunicipalidades dispensam aos casos estudados e impactogeral sobre a formação dos estudantes, que têmcrescentemente se envolvido com temas relativos a assenta-mentos populares e particularmente à relação entre assenta-mentos populares e Meio Ambiente. Isso se torna evidente pelasignificativa ampliação desses temas no Trabalhos Finais deGraduação, cujo objeto é de livre escolha de cada estudante.

Dentre as principais atividades nos três anos da experiên-cia podem-se citar:

Atividades do LabHab com participação do CAOHURB

- Seminário Estatuto da Cidade. Promoção LabHab eLABFAU – FAUSP, 28 agosto 2001. Participação de ClaudiaMaria Beré na Mesa Redonda:O Estatuto da Cidade é Ino-vador ?

- Seminário Cultura e Extensão 2002. A USP na sociedade– reafirmando o diálogo e ampliando caminhos. FEA-USP,12 e 13 jun 2002.

- Apresentação do poster referente à Pesquisa conjunta,intitulada: Moradia Social e Meio Ambiente – regularizaçãode loteamentos em áreas de mananciais na RMSP. Paineldisponível no site do evento: www.usp.br/prc/projetos/g_imgs/fau.jpg

- Workshop “Terra Urbana para Políticas Sociais: Aquisiçãoe Desapropriação”. LabHab e Lincoln Institute. FAU-USP, 05a 07 de agosto de 2002. Participação de Cláudia Maria Beré(CAOHURB) e Rosangela Staurenghi (Promotoria de SãoBernardo) como palestrantes.

diversos produtos, de textos a palestras, publicações, proje-tos, participações em eventos científicos e seminários, entre-vistas e até um prêmio – o Selo do Mérito 2001, da AssociaçãoBrasileira de COHABs, como reconhecimento a “pessoas ouentidades que, efetivamente contribuem para o aperfeiçoamen-to, melhoria e qualidade do ambiente construído destinado àpopulação de baixa renda”.

7. Inovação Principal

As principais inovações são de diversas ordens:No plano acadêmico a proposta expressa uma alternativa

concreta de efetiva integração entre Ensino, Pesquisa e Exten-são, pondo em marcha, de fato, uma formulação cuja práticatem sido muito difícil e parcial na Universidade.

No plano conceitual, inova no tratamento do conhecimento:se de um lado a tradição urbanística sustenta a elaboração depropostas de regulamentação em conceitos e modelos de or-ganização urbana, espacial, pouco considerando as dificulda-des reais, práticas do exercício jurídico e da aplicação das san-ções, o Ministério Publico e o Judiciário lidam com os diplomaslegais sem qualquer referência ou domínio físico-espacial. Apesquisa tem por objetivo contribuir na superação dessa limi-tação dos campos disciplinares e de seu difícil diálogo e com-plexa ação a empreender no caso concreto do uso do solo daperiferia metropolitana de São Paulo, particularmente nas áre-as de proteção de mananciais.

No plano técnico busca desenvolver alternativas de projetoe de uso de tecnologias de baixo custo, capazes de conciliarmoradia de interesse social e boas condições ambientais emáreas ambientalmente frágeis, já comprometidas, de forma ir-regular.

No plano institucional, fomenta o debate e o contato entreUniversidade, Ministério Público e Municipalidades, propician-do um mútuo conhecimento e reconhecimento e uma progres-siva ação sinérgica.

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buem para o aperfeiçoamento, melhoria e qualidade doambiente construído destinado à população de baixa ren-da”. O trabalho apresentado para concorrer à premiação foijustamente a produção referente à parceria com CAOHURB,na promoção de atividade de ensino e extensão, expressana exposição Moradia Social e Meio Ambiente

- MARTINS, MLR. Mercosul e a questão ambiental urbana:o desafio da Moradia Social. In: MUSCAR e BRANDIS (org.).Los desequilibrios ambientales globales, regionales y locales.Madrid, TIByMA, 2002

- MARTINS, MLR. Estatuto da Cidade - Conteúdo e Desdo-bramentos para o Meio Ambiente e para a Moradia Social.In: Prefeitura de Guarulhos. O Espaço das águas na cidade.PMG 2002

- MARTINS, MLR. Moradia Social e Meio Ambiente - regu-larização de loteamentos em área de Mananciais na RMSP.Apresentação no Seminário Internacional “Profissionais dacidade”. UNESCO-FAUUSP, 2002.

- Apresentação do tema “A importância da capacitação naprodução da habitação de interesse social na América Lati-na”, no IV Seminário Ibero-americano da Rede CYTED XIV.C– Capacitação e transferência de tecnologia para Habitaçãode Interesse Social – Em busca de novas estratégias. SãoPaulo, IPT, set. 2002. Profa. Maria Lucia Refinetti Martins

9. Dificuldades principais e acertos

Do ponto de vista do funcionamento da pesquisa e doentrosamento das equipes (LabHab, CAOHURB, Promotoriase Municipalidades) e conjunto de estudantes que cursam oucursaram a disciplina de ateliê da Graduação não há qualquerdificuldade. Tudo o que foi proposto nessas primeiras etapasfoi realizado de modo tranquilo e proveitoso para o conjunto,com inúmeros desdobramentos, entre seminários, palestras epublicações. Tem representado um espaço de reflexão, apren-dizado e desenvolvimento conjunto.

- Seminário final da disciplina Ambiente Construído e De-senvolvimento Sustentável – junho de 2002. Apresentaçãodos estudos desenvolvidos pelos estudantes, sob orienta-ção dos Profs. Ermínia Maricato, Maria Lucia Refinetti Martinse Minoru Naruto, para regularização urbanística e ambientaldo loteamento Sítio Joaninha, em Diadema. Participação daequipe CAOHURB, Promotores de Diadema e São Bernardoe técnicos das áreas de Habitação e de Meio Ambiente dasPrefeituras Municipais de Diadema e Santo André.

Atividades do CAOHURB com participação do LabHab

- Ministério Público do Estado de São Paulo. Temas de Di-reito Urbanístico 3. São Paulo, Ministério Público/ImprensaOficial, 2001. O livro, coordenado pelo CAOHURB contémentre os diversos artigos apresentados dois de pesquisado-res do LabHab e dois da equipe parceira do CAOHURB, queexpressam os temas trabalhados na pesquisa:MARICATO, E. Limitações ao Planejamento Urbano Democrático.

P 47-61

MARTINS, M.L.R. Direito Urbanístico e Reparação de Dano: entreo modelo e o real. P 65-83

BERÉ,C.M. O papel do Ministério Público no parcelamento do solourbano. P 327-44

FREITAS, J.C. O Estatuto da Cidade e o equilíbrio no espaçourbano.P 441-57

- Seminário O Estatuto da Cidade. Promoção CAOHURB,SECOVI, IRIB. São Paulo, 31 de out/ 1o nov 2001. Apresen-tação de Palestra pela Profa. Dra. Ermínia Maricato: O quefazer com a cidade ilegal ?

Outros produtos referentes às atividades da Pesquisa- MARICATO E e MARTINS MLR. Moradia Social e MeioAmbiente. Revista Sinopses, 35. São Paulo, FAUUSP, 2001.- Prêmio SELO DE MÉRITO, da Associação Brasileira deCOHABs, concedido o Laboratório de Habitação e Assenta-mentos Humanos FAUSP em março de 2002. O prêmio éatribuído a “pessoas ou entidades que, efetivamente contri-

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belecer um processo de continuidade que se auto-sustente.Nesse prosseguimento, as diretrizes e objetivos mais amplossão o grande rumo, enquanto a permanência da atividade aca-dêmica, de formação de novos quadros e de profissionais, é ofio condutor, que ao longo do tempo poderá articular os atuaise/ou novos parceiros.

11. Avaliação

Em síntese, pode-se afirmar que objetivos e metas propos-tos vão se materializando, chegando a produtos e conclusõesque permitem melhor foco e direcionamento para as investiga-ções e ações de novas etapas. Desses três anos de trabalho,alguns pontos vão se mostrando essenciais:

A importância da consolidação de uma linha de pensamen-to, uma articulação entre teoria e prática com pressupostos eobjetivos claros. Daí decorre a formação de equipe e asustentabilidade do projeto. A constituição de parcerias, ampli-ficação do diálogo e o estabelecimento de referenciais, sãoaspectos fundamentais onde alicerçar o processo didático e aformação profissional.

A experimentação e a prática fazem parte da construçãoteórica. O desenvolvimento de projetos e sua aplicabilidade sãoessenciais a essa construção. São diversas as propostas dedesagravamento e de melhoria ambiental desenvolvidas noâmbito do ateliê da graduação para os projetos-piloto. São noentanto ainda “reflexões” apenas de caráter físico-ambiental erepresentam portanto uma etapa do trabalho. É a partir dessasexperiências que começa a ser possível precisar níveis de irre-gularidade, formas de intervenção e superação e caminhos paraa regularização também nos campos jurídico e registrário.

Com base nos projetos-piloto vão se construindo os proce-dimentos metodológicos. Esse é um trabalho que avança comsegurança, desenvolvendo-se no transcorrer da disciplina degraduação, pesquisa, palestras e seminários. Vai sendo paula-tinamente registrado e consolidado como referência e comomaterial didático.

A maior desafio é o tema em si. Complexo e de raízes es-truturais, envolve diversos aspectos em que, no conhecimentoacumulado e disponível na sociedade e no meio acadêmico,as “noções” são muitas e as certezas muito poucas – e aspráticas são reconhecidamente insatisfatórias. A pesquisa re-presenta importante espaço de reflexão e elaboração mas deveser compreendida como apenas parte de um processo muitomais abrangente, que é lento, de construção de novas manei-ras de enfocar o problema do assentamento em grandes cida-des, o que envolve concepções de urbanismo, soluções técni-cas, corpo jurídico, estrutura administrativa e gestão, provisãode recursos.

Desde o início dos trabalhos sempre tivemos clareza quan-to aos objetivos e ao caminho. No entanto só a investigaçãosistemática é que vem permitindo a precisão das ações. A pos-sibilidade de contar com o Auxílio à Pesquisa, que proporcio-nou recursos materiais e bolsistas, foi determinante para quese tivesse “fôlego” e “pernas” para compreender com maiorexatidão a situação e os desafios colocados tanto àsMunicipalidades quanto às Promotorias e assim delimitar pre-cisamente o “caminho crítico” e os pontos chave onde investirprioritariamente.

Do ponto de vista técnico, das proposições urbanísticas eambientais avança-se a cada estudo de caso (até o momento,desenvolvido a cada semestre, ao longo da disciplina de ate-liê). No entanto, a grande prova será a implantação de umaintervenção completa, cuja proposição, projeto e previsão derecursos pretende-se elaborar na próxima etapa, tendo cons-ciência no entanto, que dependerá para a efetiva implantação eexecução de obras, da provisão de recursos de maior porte, oque se procurará mobilizar, juntamente com as municipalidades,para o médio prazo.

10. Sustentabilidade da experiência

A experiência se mantem pela continuidade da participaçãodos parceiros. Recebeu importante impulso o primeiro semes-tre de 2002 com o apoio financeiro da FAPESP, ao qual secandidata para uma segunda fase. Tem por perspectiva esta-

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O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETURA EURBANISMO DA UNIGRAN

Cynara Tessoni Bono ([email protected]), colaborador Naise DobbinsCanisso ([email protected])Centro Universitário da Grande Dourados - Faculdade de Ciências Exatas - Cursode Arquitetura e Urbanismo

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar as alterações eatividades realizadas dentro do Curso de Arquitetura e Urba-nismo da UNIGRAN no que diz respeito à dinâmica do proces-so de ensino-aprendizagem da madeira como material de cons-trução. A utilização da madeira na concepção projetual paraarquitetos e urbanistas, passa, necessariamente, pelas trans-formações do conhecimento no âmbito da construção do edifí-cio e da cidade, como preconiza as Diretrizes Curriculares.Dentro destes parâmetros, as alterações e atividades realiza-das correspondem à construção de um protótipo em eucaliptoroliço tratado, às modificações na ementa da disciplina detecnologia da construção e na realização de uma semana aca-dêmica temática sobre Arquitetura em Madeira. Estas açõessão de caráter tímido e, ainda, isoladas; mas, acredita-se, pos-sibilitem a mudança de posturas em relação à utilização domaterial pelos futuros profissionais. Os resultados serão aferi-dos a médio e longo prazo, pois mudanças fazem parte de umprocesso contínuo. A maior contribuição consiste em demons-trar que a arquitetura de madeira é a arquitetura do futuro, poisem tempos atuais, a tomada de decisão na concepçãoarquitetônica deve, necessariamente, considerar suas conse-qüências ao meio ambiente.

Palavras-chave: Arquitetura e Urbanismo; processo ensino-aprendizagem; madeira; meio ambiente.

A título de contribuição final, pode-se ainda ressaltar que aexperiência que o LabHab tem desenvolvido pode acrescentaralgumas reflexões às propostas do projeto Profissionais daCidade. Este assume como um de seus desafios “contribuirpara a emergência de currículos acadêmicos que capacitemnovos perfis de profissionais universitários para tratar dos pro-blemas das cidades latino-americanas, onde a maior parte doespaço se produz atualmente sem a intervenção desses pro-fissionais”. Sem dúvida, essa é a questão, mas o currículo emsi representa apenas uma parcela do desafio: inserir no univer-so acadêmico as questões afetas à cidade informal, ilegal,incorporá-la no processo didático e na pesquisa, é uma partefundamental – mas é fundamental também, a criação de alter-nativas concretas de trabalho para esses novos profissionais.Qualificar a cidade e a moradia da maioria da população nãopode ser um gesto de voluntariado mas constituir-se numa efe-tiva disponibilização desses serviços profissionais de modoextensivo e universal.

A extensão como atividade didática, voltada aos setores dasociedade e da cidade que não têm acesso a profissionaishabilitados é crucial, mas não pode ser concebida como umaatividade de assistência. É necessário que se incorpore aoâmago da produção do conhecimento e que tenha status e re-conhecimento como pesquisa de ponta – e que toque efetiva-mente nos constrangimentos que bloqueiam a ação – grandeparte deles expressão da falta não de tecnologia e de conheci-mento, mas de humildade para uma ação intersetorial e quereconheça no outro um interlocutor.

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campo, vivenciando os problemas a serem resolvidos no âm-bito do projeto e do planejamento, são premissas básicas paraa formação de arquitetos e urbanistas. Estimular as atividadesde pesquisa e extensão bem como a criatividade, de maneira agarantir o desenvolvimento de metodologias que possibilitem atransformação do conhecimento no campo da construção doedifício e da cidade é requisito para imprimir padrões de quali-dade nos cursos de Arquitetura e Urbanismo em expansão,em reconhecimento e em verificação periódica pela CEAU.

Dentro deste contexto, o Curso de Arquitetura e Urbanismodo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN – lo-calizado na cidade de Dourados, Estado de Mato Grosso doSul - MS, procura, gradativamente, fazer as alterações e ade-quações necessárias que possibilitem alcançar o patamar in-dicado pela Secretaria de Educação Superior – SESu/MEC - ,respeitando as realidades local e regional de inserção dos futu-ros profissionais no mercado de trabalho. A matriz curricularvem sofrendo alterações juntamente com a atualização doementário das disciplinas e seus respectivos conteúdosprogramáticos. Soma-se a isto a qualificação do corpo docen-te através do incentivo à obtenção de titulação e atividades depesquisa e extensão que agreguem valor na formação e no atode projetar dos alunos vinculados ao curso.

2. O ENSINO DA MADEIRA NO CURSO DE ARQUITETU-RA E URBANISMO DA UNIGRAN

O ensino e a aprendizagem da utilização da madeira comomaterial de construção para arquitetos e urbanistas, passa,necessariamente, pelas transformações do conhecimento no

âmbito da construção do edifício e da cidade, como preco-niza as Diretrizes Curriculares. Com algumas exceções, oscursos de Arquitetura e Urbanismo existentes no país inseremeste material de construção, dentro de seus conteúdosprogramáticos, como fôrmas e cimbramentos, que caracteri-zam a função auxiliar do material em relação a outros materi-

1. INTRODUÇÃOA matriz curricular dos cursos de Arquitetura e Urbanismo

existentes no país deve obedecer as Diretrizes Curriculares eo Conteúdo Mínimo fixados pelo Ministério da Educação – MEC- para a formação de arquitetos e urbanistas através da Porta-ria 1.770, de dezembro de 1994. Estas diretrizes encontram-se sistematizadas em áreas de estudo correspondentes àsmatérias de fundamentação e às matérias profissionais e,embora estas instâncias não estabeleçam exigência de prece-dência e não caracterizem um ciclo básico, devem, necessari-amente, conduzirem à definição exata a que se propõem: aformação técnica e profissional do arquiteto em condições dedesempenhar sua finalidade precípua de projetar o edifício e acidade.

O conjunto de disciplinas e de atividades que dinamizam oprocesso ensino-aprendizagem que um determinado curso deArquitetura e Urbanismo oferece aos acadêmicos é denomina-do currículo pleno da Instituição de Ensino Superior no qual seencontra vinculado. As ênfases oferecidas para os conteúdosdas disciplinas e atividades de implementação curriculares sãoestabelecidas dentro do projeto pedagógico que os cursos deArquitetura e Urbanismo desejam oferecer aos alunos, traçan-do o perfil do egresso bem como os padrões de qualidade e asposturas do profissional que será inserido no mercado de tra-balho. De acordo com a Comissão de Especialistas de Ensinode Arquitetura e Urbanismo – CEAU - (SESu/MEC, 1994) asdiretrizes curriculares devem ser metodologicamente trabalha-das sob a forma de disciplinas, atividades, seminários, visitasdirigidas e outras formas de implementação curricular.

A dinâmica do processo de ensino-aprendizagem requer autilização de múltiplas formas de apropriação do conhecimen-to e não se limita à oferta de disciplinas ministradas em sala deaula. A busca do conhecimento em sua fonte através doenvolvimento dos alunos nos processos construtivos, verifica-ções laboratoriais, pesquisas bibliográficas, iconográficas e de

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arquitetos e usuários finais. Os arquitetos contemporâneos es-tão explorando um mundo novo do projeto com arquitetura demadeira.

Não há nenhuma razão, conseqüentemente, em consideraro interesse atual em construir com madeira como apenas umafase de passagem, pois a arquitetura de madeira vem consoli-dando seu espaço no contexto atual da arquitetura contempo-rânea. Além disso, o ato de projetar deve considerar as conse-qüências e os impactos ao homem e ao seu meio ambiente. Aconcepção arquitetônica possui desafios de redução do con-sumo de energia na construção e na operacionalização dosedifícios, entre outros. Isto inclui o ensino de alternativas cons-trutivas e de tipologias com a utilização da madeira para subsi-diar a tomada de decisão no ato de projetar. Mediante o expos-to, o Curso de Arquitetura e

Urbanismo da UNIGRAN procura, dentro de seu contextolocal e regional, incrementar o processo ensino-aprendizagemda utilização da madeira como material de construção e, comisso, agregar valor à formação de seus alunos, através de ex-periências além dos limites da sala de aula, abertura dosreferenciais teóricos e da vivência com profissionais de outrasInstituições de Ensino Superior – IES - e do mercado de traba-lho na realização de ateliês de projeto.

3. AS ALTERAÇÕES E ATIVIDADES REALIZADAS

As alterações e atividades realizadas para dinamizar o pro-cesso de ensino-aprendizagem na utilização da madeira comoalternativa construtiva e de tipologias de sistemas construtivose estruturais que venham subsidiar a concepção arquitetônica,correspondem à construção de um protótipo em eucalipto roli-ço tratado, às modificações na ementa da disciplina detecnologia da construção e na realização de uma semana aca-dêmica temática sobre Arquitetura em Madeira. Estas açõessão de caráter tímido e, ainda, isoladas; mas, acredita-se, pos-sibilitem a mudança de posturas em relação à utilização do

ais construtivos; ou, ainda, como revestimento, que caracteri-za a nobreza do material. O Curso de Arquitetura e Urbanismoda UNIGRAN não foge à regra. A utilização da madeira segun-do as posturas mencionadas denota a fragilidade e o precon-ceito em relação à aplicação do material nas concepçõesarquitetônicas. Posturas ainda impregnadas nos cursos de gra-duação em Arquitetura e Urbanismo.

Com o advento do Movimento Moderno, que modificou osparâmetros da Arquitetura no mundo e no Brasil, elegeu-se,dentre outras coisas, um material que pudesse traduzir os no-vos conceitos de composição, plástica e construção daedificação. O concreto armado foi o material eleito e difundidoque veio traduzir os novos conceitos da então chamada Arqui-tetura Moderna. Segundo STUNGO (1998), a madeira foi umdos materiais construtivos de edificação dos mais populares,ao lado da argila e da pedra, por milhares de anos. Desde 1970,entretanto, os arquitetos, em geral, negligenciaram o uso damadeira em favorecimento de materiais construtivos como oconcreto, o aço e os sintéticos. Para os novos conceitos daArquitetura Contemporânea esta situação ganha um enfoquediferente. Existem alguns apontamentos, desde o final do sé-culo passado, que a procura de identidade da chamada Arqui-tetura Contemporânea induz à adoção de vários materiais cons-trutivos que traduzam os novos parâmetros do edifício e dacidade e, entre eles, a redescoberta da madeira. Acredita-seque este acontecimento tenha ocorrido, também, com a inova-ção na indústria madeireira, que conduziu à redescoberta doato de construir em madeira, uma tradição que sobreviveu so-mente em áreas marginais e rurais, e naquelas regiões nãoafetadas pela prosperidade crescente das nações industriaisdo mundo. De acordo com STUNGO (1998), pode-se verificarque métodos tradicionais da construção e as tipologias de sis-temas construtivos e estruturais retornam com uma nova leitu-ra devido aos avanços tecnológicos. As atuais concepçõesarquitetônicas com madeira devem ser, e são, mais do queuma tendência de passagem investigada por uma minoria de

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Figura 1 - Maquete do protótipo em eucalipto roliço tratado.

A Figura 1 mostra a maquete do protótipo executado, quepor sua vez foi desenvolvida na disciplina de “Maquete”, minis-trada pelo Prof. Arquiteto Silvio Staut Moraes Jr.. A maquete deestudo, para os arquitetos, permite a análise de volumetria, plás-tica e detalhes do sistema construtivo adotado, além de pro-porcionar uma visão parcial do resultado a ser obtido por partede profissionais e usuários envolvidos em todo o processo daedificação. A confecção de maquetes possibilitou aos alunos oprojeto de variantes de modulação e de arranjos estruturaispara o sistema construtivo adotado. Possibilidades que pro-porcionam flexibilidade na concepção da edificação em madei-ra.

Figura 2 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

material pelos futuros profissionais. Os resultados serão aferi-dos a médio e longo prazo, pois mudanças fazem parte de umprocesso contínuo.

3.1 Protótipo em Eucalipto Roliço Tratado (ano letivo de2000)

A construção de um protótipo em madeira de eucalipto roli-ço tratado teve sua oportunidade durante a ExposiçãoAgropecuária da cidade de Dourados - EXPOAGRO´2000 –realizada no mês de maio pelo Sindicato Rural nas dependên-cias de um recinto de exposições localizado no limite da cida-de. A UNIGRAN participa todos os anos do evento, principal-mente, através de atividades que envolvem o Curso de Admi-nistração Rural. Em 2000, a coordenação do Curso de Admi-nistração Rural sugere aos cursos de Arquitetura e Urbanismoe de Biologia uma atividade conjunta com o objetivo de promo-ver a interdisciplinaridade entre as diversas áreas de conheci-mento envolvidas. A interface entre os cursos diz respeito àsconstruções e ao paisagismo rurais. Procedeu-se, então, àdefinição dos objetos de estudos dos respectivos cursos: ma-nejo de culturas de aveia e milho – Administração Rural; cons-trução de um protótipo em madeira de eucalipto roliço – Arqui-tetura e Urbanismo e plantio de árvores brasileiras – Biologia.Portanto, esta atividade de extensão e de envolvimento dos alu-nos nos processos construtivos, teve como objetivos:

a. Promover a interdisciplinaridade das diversas áreas doconhecimento através da realização de trabalhos conjuntosoferecidos pela instituição (Cursos de Administração Rural,Arquitetura e Urbanismo e Biologia);b. Aproximar do cotidiano profissional os alunos dos diver-sos cursos envolvidos através de atividades práticas;c. Divulgar alternativa de tipologia e tecnologia construtivaspara edificações inseridas no contexto urbano e rural;d. Realizar parceria entre empresa e universidade para arealização de atividades extracurriculares e de pesquisa.

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O sistema construtivo adotado, tipologia, ligações,dimensionamento são de inteira responsabilidade da empresaque fez a doação de todas as peças (pilares, vigas de teto e depiso, terças e contraventamento) do protótipo. As Figuras 2, 3,4, 5, 6 e 7 mostram a seqüência de montagem sugerida pelaempresa e seguida pela coordenação na execução do protóti-po. Sob responsabilidade do arquiteto João Marques Gonzaga,a execução do protótipo foi realizada pela mão-de-obra daUNIGRAN.

Figura 5 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

O protótipo possui 2 módulos de 3 x 3 m (distância entre oseixos dos pilares) e um submúltiplo do módulo de 1,5 x 3 mperfazendo um total de 22,5 m2 de área coberta. A edificaçãofoi implantada a 0,50 m acima do nível do solo para proporcio-nar aeração necessária às estruturas de piso e de fundação epossibilidade de manutenção de prováveis instalaçõeshidrossanitárias. E, para suprir a necessidade de acesso aoprotótipo e vencer o desnível supramencionado, foramprojetados patamares perfazendo um total de 32 m2 de estru-tura de piso, incluso o da área coberta.

A definição do anteprojeto do protótipo foi realizada pela co-ordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, de acordocom o sistema estrutural modular em eucalipto roliço para ha-bitação ensaiado por INO, 1992. O embasamento da propostafoi apresentado aos alunos através da definição dos compo-nentes, dos elementos estruturais e dos módulos padrõesadotados para o sistema estrutural modular, somando-se a istoa discussão dos conceitos de modulação e das possibilidadesde arranjos estruturais que proporcionam flexibilidade na con-cepção da edificação em madeira.

Figura 3 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

Para que a construção do protótipo em eucalipto roliço tra-tado pudesse ser realizada, procedeu-se à parceria com umaempresa de Campo Grande/MS, TRAMASUL Tratamento deMadeiras Ltda., única empresa do Estado que faz tratamentode madeira em autoclave. Os alunos realizaram visita técnicaà empresa com o objetivo de conhecerem a linha de produção- secagem, tratamento, desdobra e comercialização das pe-ças. Os alunos visitaram duas obras executadas pela empre-sa na cidade com o mesmo sistema construtivo adotado noprotótipo.

Figura 4 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

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da UNIGRAN, tinha como objetivo principal apresentar a diver-sidade de materiais de construção e de acabamento a seremutilizados, tanto no interior como exterior de uma edificação,sem desprezar os fatores tecnológicos, funcionais e plásticos.

Verificou-se, juntamente com o professor da disciplina, ar-quiteta Márcia Festa, a omissão de aspectos técnicos etecnológicos dos materiais de construção em relação à utiliza-ção nos sistemas construtivos adotados para a execução doedifício. Esses conteúdos servem de embasamento para a con-cepção de projetos da edificação, seja de uma residênciaunifamiliar, seja de um edifício alto. As disciplinas técnicas dentrode um curso de Arquitetura e Urbanismo devem oferecer res-paldo às disciplinas de projeto arquitetônico. Isto permite que oconhecimento não seja visto de maneira estanque pelo alunoe, sim, de maneira interdisciplinar. Ou seja, que o aluno tenhacondições de fazer transferência de conhecimento das diver-sas disciplinas técnicas, principalmente, para aquelas relacio-nadas à concepção de projeto.

Com o intuito de promover ajustes verticais nas disciplinastécnicas do curso, a Coordenação promoveu uma ampla dis-cussão com os professores responsáveis pelas cadeirastecnológicas com o objetivo de dirimir possíveissombreamentos de conteúdo bem como identificar lacunas nosconteúdos abordados. Temáticas como sistemas construtivosconcebidos com aço, madeira e alternativos (isopor, bambu,entre outros) não eram discutidos, somente os concebidos emconcreto. Dentro de uma tomada de decisão junto ao CorpoDocente, a Disciplina “Tecnologia da Arquitetura e ConstruçãoII” agregou aos objetivos mencionados anteriormente, o enten-dimento sobre o conceito de Sistema Construtivo. Soma-se aisto outros objetivos, tais como definir Processo Artesanal, Pro-cesso Racionalizado e Sistema Industrializado que caracteri-zam o setor da Construção Civil nacional e internacional; pro-mover a compreensão sobre os conceitos de edificações en-quanto processo e produto; apontar possibilidades de inserção

Figura 6 – Seqüência de montagem do protótipo sugerida pela empresa TRAMASUL.

A fundação teve os pilares cravados nas perfurações do solo.Como impermeabilização foi utilizado óleo diesel queimado. Acobertura foi feita de sapê, adquirido junto ao Núcleo Indígenada cidade e executada pelos próprios indígenas. Todas as liga-ções das peças de piso, cobertura, pilares foram feitas comparafusos passantes ou pregadas.

Figura 7 – Montagem do protótipo durante a EXPOAGRO.

O trabalho de construção do protótipo configurou-se comoatividade de extensão da disciplina ”Projeto de Arquitetura, Ur-banismo e Paisagismo II”, ministrada pela Prof. M. Sc. CynaraTessoni Bono. Além das atividades mencionadas, os alunosda disciplina em questão conceberam, como exercício de pro-jeto, uma residência familiar utilizando a concepção do protóti-po, fazendo ajustes necessários ao atendimento do programade necessidades previamente estabelecido. O resultado aten-deu às expectativas no tocante ao entendimento dos critériosde modulação e flexibilidade na concepção em estruturas demadeira.

3.2 Ementa da Disciplina “Tecnologia da Arquitetura eConstrução II” (ano letivo de 2001)

A ementa da Disciplina “Tecnologia da Arquitetura e Cons-trução II” e seu conteúdo programático, inserida na matrizcurricular no terceiro ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo

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tribuam para a formação holística do arquiteto e agreguemvalor no ato de projetar, palavras de Representantes de enti-dades ligadas ao exercício profissional, tais como o CREA/MS, além de premiações para o Corpo Docente e Corpo Dis-cente do curso e Jantar de Confraternização como encerra-mento da semana. A semana tem como público-alvo acadê-micos do curso, futuros profissionais, e aberta também, paraprofissionais do mercado, arquitetos e engenheiros.

A realização de semanas acadêmicas dentro dos cursosde nível superior é uma das exigências do MEC (Ministério daEducação) e deve ser parte integrante do calendário escolar.Como premissa básica, a semana deve ser caracterizada poratividades de extensão que contribuam para a formação do aca-dêmico. As Semanas Acadêmicas do Curso de Arquitetura eUrbanismo anteriores eram realizadas em parceria com o Cursode Educação Artística entendendo a existência de interface en-tre os dois cursos. A partir do ano letivo de 2000, o Curso deArquitetura e Urbanismo passa a realizar sua semana acadê-mica adotando parâmetros mais específicos de sua área deconhecimento. Isto significa evidenciar suaidentidade, criandono acadêmico a atmosfera necessária para o exercício profis-sional.

0-

Figura 8 – Arte final concebida para a Semana Acadêmica Temática sobre Madeira.

3.3.1 Programação Período Matutino – Ateliê de Projeto

da arquitetura na escala de produção industrial. Os sistemasconstrutivos utilizando aço, concreto e madeira são aborda-dos, após as alterações, por professor e alunos em três di-mensões: o material, a fabricação e a aplicação. A madeiraencontra-se discutida e apontada como um dos materiais deconstrução indicados para a execução de Sistemas Construti-vos; vista, inclusive, dentro dos parâmetros de produção in-dustrializada, com etapas definidas de pré-fabricação, trans-porte e montagem. Como resultado, verificou-se entre os alu-nos, a descoberta de alternativas de projeto inimagináveis coma utilização da madeira como material de construção.

3.3 Semana Acadêmica Temática: Arquitetura Contempo-rânea em Madeira (ano letivo de 2002)

Com o intuito de reforçar a utilização da madeira e tornargradativa a especificação do material nas concepções deprojetos de Arquitetura contemporâneos por parte dos alunosem seus trabalhos acadêmicos e, futuramente em seus tra-balhos profissionais, o Curso de Arquitetura e Urbanismo daFaculdade de Ciências Exatas do Centro Universitário daGrande Dourados (UNIGRAN), dentro de seu calendário deatividades extracurriculares, realizou a X Semana Acadêmi-ca Temática sob o enfoque da Arquitetura Contemporâneaem Madeira, no período de 12 a 16 de agosto de 2002, nasdependências da Instituição de Ensino.

Trata-se de uma semana onde acontecem atividades noperíodo matutino e no período noturno. No período matutinoconta-se com o ateliê de projeto, exposições de Trabalhos Fi-nais de Graduação selecionados para o Concurso PAVIFLEX,trabalhos realizados pelos alunos junto às disciplinas do cur-so e exposições proporcionadas a partir do Convênio de Co-operação Técnica firmado entre o IPHAN e a UNIGRAN. Noperíodo noturno acontecem as aulas abertas com empresase professores convidados com temas de relevância que con-

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civil e arquiteto, respectivamente, são especialistas na área deprojetos de madeira. O ateliê de projeto teve como temática autilização da madeira como material construtivo, enfocando,principalmente, a versatilidade do material na obtenção de gran-des estruturas. Foram abordados aspectos sobre refloresta-mento, tratamento, secagem, aplicação e industrialização domaterial, entre outros. Aspectos importantes na tomada de de-cisão do projeto executado em madeira. O ateliê de projeto teveseu desfecho com a apresentação dos projetos e maquetesde estudo desenvolvidos pelos alunos.

3.3.2 Atividades Paralelas - Exposições

Dentro do Convênio de Cooperação Técnica estabelecidoentre a Instituição de Ensino e o IPHAN (Instituto do PatrimônioHistórico e Artístico Nacional), a exposição “ConjuntoArquitetônico Urbanístico Antônio Prado no Rio Grande do Sul”,(sob coordenação da 11a Sub-regional), mostrou a utilizaçãoda madeira nas casas de colonos da Região Sul do país. Aexposição teve como premissa básica uma noção mais amplade patrimônio que contemple a pluralidade cultural da nação,compreenda seus aspectos materiais e imateriais, sua dimen-são simbólica e inclua o Patrimônio Histórico Cultural comoum meio indissociável. Dentro deste contexto, o poder público,entidades afins e a própria Instituição de Ensino são detento-res da responsabilidade pela preservação, proteção, conser-vação, promoção e valorização deste patrimônio como instru-mento de construção e exercício da cidadania.

As maquetes de estudo do protótipo de eucalipto roliço tra-tado executado em parceria com a empresa TRAMASUL Tra-tamento de Madeira Ltda., também foram expostas com a fina-lidade de reforçar, junto aos novos alunos, o exercício realiza-do no ano letivo de 2000.

Pode-se, a partir do projeto e da maquete, promover dis-cussão sobre critérios de projeto adotados, (re)alimentando asdiscussões promovidas no ateliê de projeto vertical. São expe-riências que, a médio e longo prazo, poderão ser aferidas, ve-

Como uma das principais atividades da semana acadêmi-ca, o ateliê de projeto vertical (exercício que reúne alunos doprimeiro ao quinto ano) se caracteriza pela definição exata aque se propõe: a formação técnica e profissional do arquitetoem condições de desempenhar sua finalidade precípua de pro-jetar. O projeto é a sistematização de informações necessári-as para o desenvolvimento de todas as demais etapas do pro-cesso de edificar. É o planejamento prévio que permite a açãocoordenada, lógica e conseqüente. Fundamental na Arquitetu-ra que se destina a resolver os problemas que mais direta-mente afetam ao homem. O exercício do projeto induz à verda-deira função desses conhecimentos na formação da persona-lidade do arquiteto. Não é possível de outra forma que não atra-vés do exercício efetivo da profissão à experiência, o domíniodos materiais e das técnicas, a pesquisa das novas soluçõesplásticas ou construtivas necessárias para a evolução da Ar-quitetura e do arquiteto, indispensáveis para impedir que osconceitos profissionais caiam no dogmatismo acadêmico es-téril.

Figura 9 – Prof. M. Sc. Marcos Leopoldo Borges e aluno do curso no ateliê vertical.

O ateliê de projeto foi ministrado pelo Prof. M. Sc. MarcosLeopoldo Borges, da Universidade de Uberaba e pela Prof. Dr.Varlete Benevente, da Universidade de Uberaba e do CentroUniversitário Moura Lacerda. Esses professores, engenheiro

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4. CONCLUSÕES

As atividades e as alterações realizadas dentro do contextodidático-pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo daUNIGRAN que pudessem fomentar a utilização da madeiracomo material de construção civil, como material plástico,tecnológico, estrutural, viável economicamente para a concep-ção de projetos de Arquitetura contemporâneos, acredita-sesejam de dimensões diminutas, tímidas, mas não sem impor-tância e não sem resultados.

Alguns relatos de alunos dos períodos letivos mencionados,tratam de entender a madeira não mais como um material al-ternativo e, sim, como mais um material de construção a serespecificado, com segurança, em projetos arquitetônicos depequena ou grande envergadura.

A descoberta de possibilidades arquitetônicas com o em-prego desse material fez desmoronar alguns preconceitosengessados pelo tempo e pela doutrina da Engenharia Militar,ampliou conceitos e fez, com inúmeros temores, o experimen-to de alternativas projetuais. A Coordenação, juntamente como Corpo Docente do curso, pretende realizar uma pesquisajunto aos profissionais, arquitetos urbanistas e engenheiros ci-vis, atuantes na cidade de Dourados e região, com o objetivode verificar a utilização da madeira em projetos executados ounão. Acredita-se que entre esses profissionais estarão egres-sos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN, quetiveram em sua formação experiência do projeto em madeira.

A partir dos resultados obtidos, aspectos didático-pedagó-gicos serão balizados, revistos, modificados e implantados noementário e conteúdo programático das disciplinas, nas ativi-dades extracurriculares, nas experiências de laboratório, nosateliês de projeto que possam agregar valor no ato de projetaraos alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIGRAN.Acredita-se que, a partir dessas e outras ações, aconscientização do emprego de materiais que visem asustentabilidade do meio ambiente, o baixo consumo de ener-

rificando ou não, a adoção da madeira como material de cons-trução por parte de profissionais, arquitetos urbanistas e enge-nheiros civis.

3.3.3 Programação Período Noturno – Aulas Abertas

As atividades do período noturno tiveram como objetivo aabertura de horizontes dos alunos através de aulas ministra-das por profissionais ligados às universidades do país e em-presas do setor da Construção Civil, a saber: Tema “SistemaConstrutivo Stella”, Facilitador Eng. Civil Ricardo MontanhaOliveira; da empresa BATTISTELLA Indústria e Comércio Ltda.– sistema construtivo residencial em Madeira Laminada Cola-da; Tema “Arquitetura Contemporânea em Madeira”,Facilitador Prof. Dr. Varlete Benevente, da Universidade deUberaba e do Centro Universitário Moura Lacerda – novosparâmetros da utilização da madeira nas edificações contem-porâneas; Tema “Processo Produtivo do Mobiliário emMadeira”, Facilitador Valcedir Segat, da empresa FLORENSEFábrica de Móveis Ltda. – aplicação da madeira em outros se-tores; Tema “Silvicultura e Produção Sustentável de Ma-deira”, Facilitador Eng. Agrônomo Edson Pimenta, daFLORASUL – produção madeireira do Estado e conceito desustentabilidade do material.

Figura 10 – Prof. Dr. Varlete Benevente durante palestra.

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gia para produção, entre outros façam parte do cotidiano pro-fissional dos egressos, modificando posturas, abrindo horizon-tes e intensificando a procura pela qualidade de vida do ho-mem, fim a que se destina a Arquitetura e o Urbanismo.

AGRADECIMENTOS

Ao corpo de professores do Curso de Arquitetura e Urbanis-mo da UNIGRAN, pelo apoio nas alterações e atividadessugeridas pela coordenação para que as adequações neces-sárias no projeto pedagógico possibilitem alcançar os padrõesde qualidades indicados pela SESu/MEC. À empresaTRAMASUL Tratamento de Madeiras Ltda. em proporcionar aosalunos a abertura de suas instalações para visita técnica e aexperiência na construção de um protótipo em eucalipto roliçotratado através da doação do material do sistema construtivo.

Aos professores e profissionais convidados, pelo empenhoe desprendimento na realização das atividades didático-peda-gógicas propostas. Ao IPHAN e ao CREA/MS, por acreditaremna formação dos alunos, futuros profissionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, L. M. E.; CLARO, A.; MEIRA, M. E.; SILVEIRA, R. P. G.Ensino de Arquitetura e Urbanismo – Condições & Diretrizes.Brasília: SESu/MEC, 1994. 4p. (CEAU – Comissão deEspecialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo).

INO, A. Sistema estrutural modular em eucalipto roliço parahabitação. 1992. 212p. Dissertação (Mestrado) – EscolaPolitécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.

STUNGO, N. The new wood architecture. London: Laurence KingPublishing, 1998. 240p.

A PESQUISA E A EXTENSÃO NO PROJETO PEDAGÓGI-CO DO CURSO DE ARQUITETURA DA UNIVERSIDADE DEUBERABA: UMA ESTRATÉGIA DE EFETIVAÇÃO

Carmem Silvia Maluf

Arquiteta e Urbanista, Especialista em Planejamento Urbano e participação popularpela PUCSP, Mestre em Ciências e Valores Humanos pela UNIUBE, Doutoranda naFAUUSP e Diretora do Curso de Arquitetura e Urbanismo

Janaína de Melo TostaArquiteta e Urbanista, Professora Especialista - Mestranda na PUCCAMP

José Carlos Faim BezzonArquiteto e Urbanista, Especialista em Urbanismo Moderno e Contemporâneo pelaPUCCAMP, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela EESC-USP

Kelly Cristina MagalhãesArquiteta e Urbanista, Mestre em Engenharia Urbana pela UFSCAR

Symphorien Barthélémy Oudiane Arquiteto e Urbanista, Mestre em Racionalização da Construção pela UFRJ

1. Introdução

A extensão universitária, concebida como “o processoeducativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesqui-sa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadoraentre a universidade e a sociedade”, insere-se numa perspec-tiva de mudança e desenvolvimento.1

O Colegiado do Curso de Arquitetura e Urbanismo, pauta-do no conceito e nos objetivos da extensão e na LDB inseriuno seu projeto pedagógico, no ano de 2001, a Atividade Comu-nitária.

2. Objetivos da Atividade Comunitária

A Atividade Comunitária foi proposta para:- garantir que a realização de trabalhos extra-muros, en-quanto ações concretas com abordagem interdisciplinar,fosse desenvolvida como uma ampliação do conceito de“sala de aula”;- incentivar a prática acadêmica que contribua para a cons-ciência social e política na formação do Arquiteto Urbanista,tornando-o um profissional cidadão;

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- agregar competências e habilidades no aluno para atingiro perfil estabelecido do curso.

- desenvolver uma ação, voltada para o aprimoramento dasatividades fundamentais do processo de aprendizagem dosalunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo, buscando umaintegração entre as diferentes áreas do conhecimento e da for-mação acadêmica, através da aplicação prática dos conteú-dos teóricos abordados em sala, no decorrer do curso, visan-do formar um profissional comprometido com as transforma-ções e com o desenvolvimento da sociedade;

- possibilitar ao aluno contato com a população, inserindo-ono cotidiano do ambiente em estudo, permitindo a identificaçãoe a proposição de soluções, a partir dos conteúdos teóricosabordados em sala;

- desenvolver e consolidar no aluno habilidades de relaçõesinterpessoais para que ele possa atuar junto às populaçõescarentes ou necessitadas de algum cuidado específico;

3. Metodologia

A cada período letivo, o respectivo projeto de Atividade Co-munitária, com o seu cronograma de realização, é aprovadono Colegiado do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Seu desenvolvimento é efetivado por ocasião da semanaprevista no calendário do curso para atividades extra-muros,podendo ser estendidas, segundo a necessidade específicade cada projeto.

A Atividade Comunitária é coordenada por um docente doCurso de Arquitetura e Urbanismo e conta com a participaçãoativa dos demais docentes, de acordo com as atividades pro-postas no Plano de Ensino.

Os professores envolvidos incluem no respectivo Plano deEnsino a Atividade Comunitária planejada para o respectivoperíodo letivo.

A participação dos professores na Atividade Comunitáriaenvolve: acompanhamento, orientação e avaliação da partici-pação do aluno, individual e/ou em grupo, segundo os objetivos

estabelecidos nas disciplinas envolvidas e de acordo com ashabilidades previstas para o perfil proposto.

A participação dos alunos se dá por meio de inscrições aber-tas com vagas para os alunos de todas as séries do curso deArquitetura e Urbanismo, em número definido, segundo a ne-cessidade de cada projeto.

Cada grupo pode ser organizado em subgrupos, visandoagilizar e sistematizar as atividades previstas em cada etapado projeto. Cada sub grupo é monitorado por um aluno seleci-onado entre os inscritos no projeto da Atividade Comunitária esob o acompanhamento de um professor.

Os grupos devem promover o registro das informações re-ferentes as etapas do projeto, através de relatórios, mapas,fotos, desenhos e/ou outras formas de registro.

Os alunos e professores envolvidos, no final do semestre,devem apresentar os resultados obtidos às comunidades aca-dêmica e do bairro envolvido.

A Atividade Comunitária pode integrar Projetos de IniciaçãoCientífica, desenvolvidos por alunos do Curso de Arquitetura eUrbanismo.

4. Sistema de Avaliação

Consideram-se aprovados os alunos que participam e cum-prem as atividades previstas no projeto, no qual está inscrito.

São avaliados os aspectos relacionados com sua participa-ção e envolvimento na pesquisa, sua capacidade de respostaaos problemas encontrados, sua autonomia na tomada de de-cisões e sua postura ética.

5. Atividade Comunitária – Projetos

No ano de 2001, momento de instalação das AtividadesComunitárias no Curso de Arquitetura e Urbanismo, todos osalunos foram envolvidos.

Para que isso pudesse se efetivar, foram aprovados cincoatividades em áreas distintas, a saber:

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5.1. Espaços de convivência para a infância

Produção de desenhos Perspectiva do pátio

Entrevista com funcionários e professores

A maioria das creches municipais, que abrigam crianças de 0a 5 anos durante o período de trabalho de suas mães, têm apre-sentado um quadro inadequado quanto às condições físicas desuas instalações: falta e inadequação de espaços; falta de ma-nutenção dos edifícios, por longos períodos - o que resulta emtotal falta de condições de abrigo e atendimento digno.

Diante dessa realidade e a identificação do baixo desenvol-vimento psicossocial, motor e físico dos usuários, a professo-ra Janaína de Melo Tosta coordenou as ações que tiveram comoobjeto a Creche Recanto da Amizade, localizada na Rua Joa-quim Borges Assunção, s/n°, no bairro Alfredo Freire.

O objetivo definido era a análise, o diagnóstico e o estudo daadequação do espaço destinado à convivência infantil, visandoadequá-lo às reais necessidades de seus usuários, garantindomelhoria na qualidade de vida e condições mais favoráveis aocrescimento e ao desenvolvimento psicossocial das crianças.

Os alunos envolvidos nessa Atividade Comunitária, apósdiscussão teórica e embasamento conceitual da problemáticaabordada, desenvolveram a atividade proposta em três etapas.

Na primeira etapa foi feito um levantamento das instalaçõesdo edifício onde está implantada a creche, assim como o le-vantamento do sistema organizacional através de entrevistascom a direção, funcionários e professores e reuniões com ospais dos alunos. Na segunda etapa, os dados obtidos foramcompilados, gerando o diagnóstico, onde foram especificadasas deficiências da estrutura física e as inadequações de pro-cedimentos. Na terceira etapa desenvolveu-se o projetoarquitetônico de adequação espacial da referida Creche, inter-vindo e buscando a melhoria do espaço existente, criando con-dições para o desenvolvimento cognitivo, simbólico, social eemocional da criança, culminando com a apresentação domesmo à comunidade envolvida, visando sensibiliza-los eenvolvê-los na busca pela efetivação e implementação dasmudanças necessárias.

A aluna Patrícia Ued Naves vinculou sua ação nessa Ativi-dade a um projeto de iniciação científica, apresentado nos Se-minários de Iniciação Científica da Universidade de Uberaba eda Universidade Moura Lacerda de Ribeirão Preto – SP.

5.2. Reconhecimento da cidade real

Área de submoradias - Amoroso CostaVista parcial: Vila do Quiabo.

Atividade dos alunos na marcação deunidade modular residencial –assentamento.

Interação professor, alunos ecomunidade.

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O tecido urbano se divide em espaços legais – áreas que emfunção do mercado formal imobiliário são devidamente equipa-das proporcionando razoável grau de habitabilidade para a popu-lação - as áreas ilegais onde habitam a população excluída desteprocesso de aquisição da casa própria no mercado formal.

Esta polaridade – legal x ilegal – cria uma situação de exclu-são no espaço da cidade, criando territórios sociais distintos.

Faz-se necessário portanto, não só equipá-los com infra-es-trutura adequada para uma qualidade sanitária do espaço demoradia local, mas principalmente criar dispositivos que ve-nham possibilitar a integração destas áreas, para alcançar umamaior equidade espacial.

O grupo de alunos envolvidos nessa Atividade e coordenadospelo professor José Carlos Faim Bezzon, buscou mapear osfocos de favela, cortiços e loteamentos irregulares, com o objeti-vo de evidenciar as áreas de ocupação clandestina e de riscoambiental das sub-moradias na cidade de Uberaba, para reco-nhecimento das condições de habitabilidade da população ex-cluída da cidade e conseqüentemente, discutir possibilidades deintervenção para integrar a população excluída junto a cidade le-gal, buscando caminhos para novas políticas habitacionais maishumanizadas.

Tomaram, para isso, ações que visaram levantar a situaçãoreal da habitabilidade da população de excluídos do mercado for-mal imobiliário na cidade de Uberaba, elaboraram mapascartográficos das áreas de sub-moradias, diagnosticando a po-pulação de excluídos e caracterizando as áreas de segregaçãoespacial e social das classes menos favorecidas da cidade deUberaba.

As visitas às áreas (periféricas ou não) realizadas, possibili-taram realizar uma primeira inserção no tecido da cidade, reco-nhecendo no espaço urbano novas áreas detectadas de ocupa-ção clandestina, como vários focos de favela, assentamentosirregulares, áreas encortiçadas e de autoconstrução e favelasurbanizadas (áreas legalizadas pelo poder público).

Este procedimento permitiu, primeiramente, gerar ummapa das áreas de miserabilidade da cidade de Uberaba,possibilitando compreender como se dão essas ocupações,através dos estudos de localização e avaliação das áreas (fí-sicas) ocupadas.

Identificaram-se as áreas mais interessantes do ponto devista sócio-espacial para possíveis intervenções, assimcomo desenvolvimento de novas pesquisas.

A partir dos resultados do levantamento e mapeamentodas áreas houve a necessidade de propor novas ações.

A equipe do projeto está realizando atividades demonitoramento e acompanhamento destas populações, veri-ficando as políticas urbanas de crescimento e expansão dacidade que resultam na conformação do processo deperiferização. Este estudo está possibilitando elaborar pro-postas de redesenho para as áreas já consolidadas, verificara viabilidade de remoções, assim como a situação do de-senvolvimento e evolução das áreas já legalizadas pelosórgãos públicos municipais.

Desta forma e a partir dos primeiros resultados, determi-namos três áreas de atuação da pesquisa: o estudo das áre-as de habitações sub-normais, o estudo dos assentamentoslegalizados e o estudo do assentamento Estrela da Vitória.

Atualmente, realiza-se a conclusão do mapeamento e le-vantamento dos aspectos físicos e espaciais dos assenta-mentos, assim como das condições de habitabilidade exis-tentes.

Foram realizados inventários dessas comunidades paracaracterizá-los nos aspectos sociais, econômicos, políticos eprofissionalizantes visando à possibilidade de desenvolvi-mento de novos projetos.

Específicamente, no assentamento Estrela da Vitória atu-almente, as parcerias envolvem professores e alunos doscursos de Serviço Social e Psicologia.

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Busca-se, também, com essa ação, coletar as informa-ções para a constituição de uma base de dados sobre a pro-blemática habitacional de caráter social, da cidade deUberaba, visando possibilitar desenvolvimento de posturaspolíticas corretas com relação à produção de habitaçõespara os menos favorecidos.

5.3. Espaço de moradia e assistência ao idoso

Condições térmicas inadequadas Área de convívio

Calçada inclinada – necessidade de rampa Rampa escorregadia e sem corrimão

O Layout existente na cozinha prejudica a ventilação cruzada Falta de ventilação

As instituições de assistência ao idoso, no municí-pio de Uberaba, surgiram na sua maioria da iniciativade pessoas comuns impulsionadas por ideais de cari-dade ou voluntariado. Conseqüentemente, na maioria dasvezes, essas pessoas não são capacitadas para a ati-vidade: o que resulta na abertura de instituições cominstalações inadequadas à assistência ao idoso.

A falta de condições físicas adequadas para o aco-lhimento dos idosos prejudica o atendimento deles edificulta o trabalho dos profissionais envolvidos: psicó-logos, assistentes sociais, fisioterapeutas, médicos etc.

A realização do projeto, justifica-se na medida emque se busca a promoção da melhoria das condiçõesfísicas e ambientais das instalações que abrigam osidosos.

Sob a coordenação do professor Symphorien BarthélémyOudiane, os alunos inscritos nessa Atividade Comuni-tária, voltaram suas ações ao estudo das condições fí-sicas e ambientais do Lar do Idoso Inês Maria de Je-sus, localizado na rua Visconde de Abaete n.º 11- Bair-ro Abadia, visando adequá-las para as reais necessi-dades de seus usuários, garantindo melhoria na quali-dade de vida, condições mais favoráveis ao convívio dosidosos e a integração harmoniosa com familiares esociedade.

A metodologia usada neste módulo é toda articuladaem cima de estratégias que possam capacitar o dis-cente para este tipo de trabalho.

Foram três os momentos para os alunos se envol-verem com a dinâmica de trabalho:

5.3.1. Estabelecer o contato com os grupos de fun-cionários da UAI (Unidade de Atendimento ao Idoso),para dar conhecimento aos alunos das condições deatuação dos profissionais envolvidos, e da dinâmica

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de trabalho, oferecendo a eles uma visão geral sobre oatendimento ao idoso em Uberaba. Nesta etapa, os alunosirão formular estratégias de trabalho para atingir os objetivospré-estabelecidos e para garantir uma maior eficiênciano processo de levantamento de dados. Depois, segue-se análise dos dados apurados.

5.3.2. Elaborar revisão bibliográfica sobre o assunto paraatualizar o aluno sobre a temática, principalmente no quese refere aos cuidados e ao conhecimento da legislaçãoespecífica sobre o tratamento do idoso e do seu espaçode convivência, qualificando o aluno para abordagemprojetual mais detalhada e embasada. Elabora-se um re-latório geral, assegurando assim um registro de todas asexperiências e do conhecimento acumulado. Organiza-seum seminário na conclusão da atividade para verificaçãodas habilidades incorporadas pelos alunos. O resultado fi-nal das duas etapas da Atividade Comunitária subsidiaráuma Proposta de Ação Comunitária que será desenvolvi-da por alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo daUniversidade de Uberaba, visando a melhoria das condi-ções físicas de instituições destinadas a abrigar o idosode nossa comunidade e à elaboração de um ProjetoArquitetônico para a Instituição investigada, assim comoas ações necessárias para sua implementação, com abusca de parcerias junto à Comunidade Uberabense.

5.3.3. Elaborar propostas para melhoria do ambiente di-agnosticado atentando, principalmente, às situações críti-cas levantadas com vistas a uma intervenção progressi-va na Unidade que foi objeto do estudo. Promove-se, juntoà comunidade atendida, a divulgação dos resultados e aspropostas de adequação.

5.4. Diagnóstico Físico Ambiental do Bairro Alfredo Freire

Auto construção de habitação Vista do eixo central do Bairro Alfredo Freire

Vista Parcial do Bairro Alfredo Freire Área verde anexa ao centro comercial

[

Tipologia das habitações do conjunto

A falta de habitabilidade das edificações, gerada pela esco-lha equivocada de materiais e técnicas construtivas, associa-da à má qualidade do espaço urbano, decorrente de um traça-do não adequado ao sítio em que está inserido o Bairro, e àfalta de infra-estrutura de suporte no assentamento de umacomunidade, vêm sendo apontadas como possíveis agentescausadores das condições que induzem ao desenvolvimentode endemias.

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Foi no intuito de investigar possíveis relações entre as do-enças prevalentes na comunidade Alfredo Freire e as condi-ções físicas e ambientais a que esta comunidade está ex-posta, sejam através das características urbanas e/ou demoradia, que o presente projeto sustentou suas ações aoefetuar o levantamento das condições ambientais urbanas efísicas das moradias que compõem o Bairro Alfredo Freire,caracterizar as condições ambientais da área urbana e dasmoradias, elaborando o diagnóstico, confrontando-o com olevantamento epidemiológico elaborado pela equipe da áreada saúde, possibilitando traçar o perfil físico e ambiental, as-sim como o perfil social e econômico da comunidade em es-tudo.

Sob coordenação da professora Carmem Silvia Maluf,dois sub-grupos foram criados, visando agilizar a coleta dedados necessária à caracterização requerida.

O primeiro sub-grupo, monitorado pelo graduandoHenrique Resende e Silva, foi responsável pela caracteriza-ção das condições ambientais da área urbana, elaborou oslevantamentos: histórico do Bairro, da morfologia urbana ado-tada para o loteamento (ou loteamentos) que compõem oBairro, incluindo seus elementos constitutivos, como largurado passeio e do leito carroçável, da dimensão dos lotes, datopografia, das condições climáticas, da cobertura vegetal re-manescente (natural ou não), das edificações públicas, co-munitárias e institucionais, da infra-estrutura (água, energia,rede de esgoto), das linhas de transporte urbano, do sistemade coleta de lixo domiciliar, hospitalar ou industrial, do trata-mento de esgotos domiciliares, hospitalares ou industriais,das áreas de invasão, dos loteamentos clandestinos e dasáreas de favela.

O outro sub-grupo, monitorado pela aluna Sabrina EllenBrossi Daher, foi responsável pela caracterização das mora-dias, feita através do levantamento das tipologias dessasedificações, suas respectivas áreas construídas,

quantificação e qualificação de seus cômodos, o número depavimentos, o percentual de área ocupada e livre no lote, osmateriais e tecnologia utilizados nas construções, as condi-ções de ventilação e insolação dos cômodos, a adequação e/ou diversificação de uso dos cômodos e a definição do grupofamiliar envolvido (número de moradores e sua caracteriza-ção).

As fases de levantamento, mapeamento e caracteriza-ção, assim como, a análise físico-ambiental foram concluí-das pelo grupo e encaminhada à equipe multiprofissional daárea da saúde.

O aluno Henrique Resende e Silva aprofundou-se nos es-tudos realizados, incorporando a presente atividade a umprojeto de iniciação científica que foi apresentado no Seminá-rio de Iniciação Científica da UNIUBE.

A aluna Renata Dagrava, dedicou-se ao estudo dastipologias habitacionais utilizadas pelos diferentes empreen-dedores nas diferentes etapas de consolidação do bairroAlfredo Freire, culminando com o desenvolvimento de seuTrabalho Final de Graduação(TFG) versando sobre propostasde intervenção ambiental na área.

Estão em desenvolvimento as ações de confronto da re-lação do diagnóstico elaborado na Atividade Comunitária,com o diagnóstico epidemiológico traçado pela equipemultiprofissional da área da saúde, com vistas a estabelecerpossíveis relações entre as doenças prevalentes nesta co-munidade e as condições de moradia e de infra-estrutura ur-bana disponíveis.

O resultado final deste trabalho deverá subsidiar açõesconcretas voltadas à melhoria da qualidade de vida dos mo-radores do Bairro Alfredo Freire, por parte das equipesmultiprofissionais, seja através de orientações específicaspara cada problema detectado, seja através de ações de in-tervenção nas áreas de saúde, arquitetura, urbanismo, sociale de educação.

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5.5. Representações de espaços públicos: o caso da pra-ça no Bairro Alfredo Freire - ANO 2001

Imagem do eixo de entrada do bairro. As áreas verdes sem projeto

Associação de Amigos do Bairro Alfredo Freire Áreas verdes ainda desocupadas

Os espaços livres públicos, de pequeno porte, presentespróximos às edificações são caracterizados normalmente comopraças. No entanto, o significado da praça no contexto da cida-de adquire diferentes valores, que dependem de fatores diver-sos, como: localização, dimensões, características físico-ambientais, histórico-culturais e urbanísticas.

Observa-se que a maior parte das ruas e praças contem-porâneas tem seu desenho atrelado a um traçado vinculado àsvias de tráfego de veículos, que independe das construçõesque são edificadas em seus lotes lindeiros.

Nesse sentido, é difícil separar as praças das ruas que asdelimitam, pois o grau de atrativo de uma praça está quasesempre relacionado às características do entorno em que in-serem.

Pode-se dizer que as praças são apropriadas em função desuas características estéticas, seus aspectos histórico-cultu-rais e sua vitalidade.

Na concepção do projeto, além da busca de um desenhocom qualidades estéticas em sua composição, é fundamentala definição de um programa que resulte de análises, levando-se em conta os hábitos culturais do público alvo, bem como osaspectos que venham a conferir vitalidade ao lugar que estásendo criado.

Apesar dos vários usos e funções que a praça assume, tem-se observado que as mesmas tendem a repetir um programabásico, que atende a um certo estereótipo, vinculado à palavrapraça e reproduz, muitas vezes, o jardim com canteiros nãopisoteáveis, bancos e caminhos.

Esse programa atende a uma certa faixa de população, masnão proporciona oferta compatível aos interesses dos gruposque configuram a demanda potencial de cada uma das áreaspassíveis de intervenção.

Quanto à sua utilização, podem apresentar espaços liga-dos às atividades cotidianas ou abrigar eventos especiais. Con-forme sua localização, elas assumem características diferen-tes. Consideremos as praças localizadas junto às áreas pre-dominantemente residenciais.

Visando contemplar as necessidades dos moradores dobairro Alfredo Freire, segundo seu modo de vida, quanto àspossibilidades de desenhos e usos das praças e áreas livresdo bairro, a professora Kelly Cristina Magalhães coordenou umgrupo de alunos na avaliação das possibilidades de um novodesenho da paisagem urbana para a comunidade Alfredo Freire,bem como conhecer as carências de espaços de uso públicovividos por essa comunidade.

A atividade desenvolveu-se em três etapas fundamentadasna abordagem dos desejos da população em relação aos es-paços livres de edificação no bairro.

A primeira etapa denominada APREENSÃO, compreendeua aproximação do Grupo de Estudo, formado por alunos e pro-fessores, com os problemas vivenciados no bairro no que dizrespeito às carências de espaços para lazer e qualidadeambiental urbana.

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Com o objetivo de exercitar um olhar atento à realidade des-te setor urbano, foram utilizados instrumentos de investiga-ção tais como: entrevistas, reuniões com a comunidade, dinâ-micas de grupo, envolvendo jovens, adultos e crianças.

Na segunda etapa, ocorreu a INTERPRETAÇÃO, analisan-do os dados da primeira etapa, juntamente com a comunida-de, e a possibilidade de realização deste projeto de espaçopúblico ideal para a população.

Na terceira etapa, foram discutidas as possibilidades de IN-TERVENÇÃO por meio de reuniões com a comunidade paraavaliar como esse bairro pode munir-se de qualidade de vidaurbana, partindo de iniciativas próprias.

Elaborada a análise dos espaços públicos disponíveis noBairro Alfredo Freire assim como sua interação ao desenhourbano local, verificou-se que, pela falta de articulação dosmesmos e pela não existência de um referencial dos espaçoslivres para os moradores das habitações lindeiras, não ficaevidenciado em nenhum momento sua utilização, nem suaapropriação pela comunidade.

Desta forma, concluiu-se que a população não é servida depropostas projetuais para seus espaços públicos.

Foram apresentadas propostas e entregues à Associaçãode Amigos do Bairro, que através de seu Presidente, procuracumprir seu papel reivindicando ao poder público a efetivaçãodas propostas.

5.6. Representações de espaços públicos: o caso da pra-ça no Bairro Alfredo Freire - ANO 2002

Finalizadas as ações propostas para o ano 2001, analisa-dos os objetivos pedagógicos alcançados, percebemos quese iniciava naquele ano uma nova forma de atuar no ensino daArquitetura e do Urbanismo.

Porém, mais que a expectativa gerada em nosso corpo dis-cente e docente, criou-se uma relação de parceria entre ascomunidades acadêmica e dos bairros envolvidos e que nos-so compromisso extrapolava os muros da Universidade e as-sumia responsabilidades junto à população envolvida.

Mais que uma atividade acadêmica, a Atividade Comunitá-ria era, agora, responsável por propor ações efetivas às pro-blemáticas abordadas pelos grupos de estudo.

Neste sentido, o Colegiado do Curso aprovou para o ano de2002 uma única Atividade Comunitária, envolvendo todos osalunos, que curricular ou voluntariamente, envolveram-se como objetivo de implementar uma ação mais concreta na trans-formação do espaço próximo à comunidade estudada.

Como estratégia de atuação, optou-se por uma das Ativida-des Comunitárias desenvolvidas no período anterior, para que

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a proposta apresentada ao final de seu desenvolvimento, pu-desse efetivamente ser implantada.

Na retomada do projeto descrito no item 5.5., as professo-ras Janaína de Melo Tosta e Kelly Cristina Magalhães, coorde-nadoras dessa Atividade Comunitária, estruturaram um Labo-ratório de projeto com o objetivo de formular as diretrizes bási-cas para a execução do plano paisagístico de uma praça noBairro Alfredo Freire, conforme dados de pesquisa já adquiri-dos.

A escolha da praça se deu em função de sua localizaçãocentral em relação aos três loteamentos que compõem o Bair-ro, tornando-se mais acessível à toda comunidade. Entre ou-tros aspectos, sua localização foi circunstancial em virtude daalta ocupação de residências nos seus arredores, assim comopelo uso institucional, como a escola e igreja.

Como a maioria dos espaços públicos das cidades, a praçaé originária do sistema de circulação de veículos e não man-tém relação alguma com o uso do solo que acontece no seuentorno. Sendo assim, foi de extrema importância discutir suarelação com a paisagem local pelos elementos dominantes,no que diz respeito à definição de suas características predo-minantes, fundamentais à elaboração do projeto de paisagismo.

Tais características foram cotejadas com as informaçõessobre as formas de utilização dos outros espaços públicos pre-sentes no bairro, baseando-se em dados levantados entre osdois semestres de 2001 - período correspondente às primei-ras etapas da Atividade Comunitária.

O Laboratório de projeto permitiu que vários professores seenvolvessem e que ocorressem desdobramentos para futu-ras pesquisas. Assim, conforme se deu o envolvimento de pro-fessores e suas diversas habilidades, também ocorreram no-vas formas de inserção dos alunos nestas frentes de pesqui-sa.

As etapas desenvolvidas ao longo do ano de 2002 foram:

- Aproximação com o tema proposto.Para a viabilidade desta etapa as turmas foram divididas

em grupos a fim de executarem as tarefas apresentadas abai-xo. Cada tema proposto contém elementos que subsidiarão odesenvolvimento da etapa posterior que consiste no desenvol-vimento de projeto.

a) Leitura de projeto

Levantamento bibliográfico sobre paisagismo e praças con-temporâneas e modernas. Aplicação do exercício de leiturade projeto desenvolvido em sala de aula sendo este orienta-do aos alunos;

b) Levantamento de mobiliário

Seleção de diversos tipos de mobiliários, entre eles, ban-cos, lixeiras, luminárias, pontos de ônibus, etc. Análise dasdimensões, conforme informações das aulas de Desenhodo objeto.

c) Materiais alternativos,.

Dentre os livros e revistas encontrados na biblioteca, os alu-nos deveriam identificar as possibilidades de utilização demateriais alternativos para o uso em paisagismo.

d) Revisão dos dados das etapas anteriores da atividadecomunitária

Identificação das principais necessidades da comunidadecom relação aos espaços a serem projetados para a praça,tendo como base as manifestações sócio-culturais destacomunidade nos espaços visitados. Pode-se destacar aten-ção especial aos grupos de cantores que usam as praçaspara se apresentarem.

e) Levantamento de vegetação para praças e ruasarborização urbana.

Relação das principais espécies utilizadas em arborizaçãourbana e praças, bem como suas especificidades(inflorescência, frutificação, quanto à origem e fenologia em

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geral), com atenção especial às espécies disponíveis noHorto Municipal, passíveis de doação.· Laboratório de projetoApós a primeira etapa concluída, o Laboratório de projeto

organiza-se para o desenvolvimento dos projetos. Os gruposde alunos constituídos para o desenvolvimento da pesquisa semantêm para a implementação do projeto.

- ImplementaçãoA fase de implementação do Projeto tem como base o apren-

dizado do aluno e sua convivência com as dificuldades de exe-cução do projeto na sua implantação.

Esta fase está apoiada no tripé Comunidade - Parcerias - ,Universidade.

Outras parcerias acontecem através da Legislação Munici-pal que versa sobre a adoção de espaços públicos.

A Atividade Comunitária proposta para o ano de 2002 tevedesdobramentos internos e externos à Instituição, sendo obje-to de estudo em outras disciplinas do curso em diferentes pe-ríodos, a saber:

a) novos inquéritos foram elaborados na disciplina de Psi-cologia Ambiental e aplicados junto à comunidade local, sen-do analisados para sustentação da proposta projetual;b) disciplina de Materiais e Técnicas Construtivas buscoulevantar o potencial dos materiais disponíveis e sua melhorforma de utilização;c) o envolvimento de professores de outras áreas, que cola-boraram com a análise de fertilidade do solo, assim comosua composição para fins de utilização em piso e painéis desolo cimento;d) a utilização de materiais alternativos para pavimentaçãode um trecho mais central da praça, desenvolvida atravésda pesquisa de solo-cimento;e) a adesão de parcerias de empresas locais doando mate-riais e serviços:§ finalização do piso de concreto, bem como o plantio das

espécies vegetais adequadas ao local;g) a motivação dos alunos, professores, comunidade e dasparcerias envolvidas, incentivaram a adesão voluntária dealunos de diferentes períodos do curso, no fechamento Ati-vidade Comunitária – execução dos serviços da praça.Grupos de alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo, que

atuam no LEAC – Laboratório de Estudos do AmbienteConstruído, colaboraram nos desdobramentos que se fizeramnecessários durante a implementação de cada Atividade.

Contamos, ainda, para o desenvolvimento destes trabalhos,com a parceria de docentes e discentes de outros cursos elaboratórios da universidade para a execução das tarefas pro-postas.

A diversidade de ações implementadas, permitiu aos dis-centes a elaboração de revisão bibliográfica sobre os assun-tos abordados, buscando a fixação e a reflexão sobre cadatema e a consolidação de habilidades e competências que,com certeza, não poderiam ser adquiridos na experiência di-ária da sala de aula.

O processo de investigação através da atividade comunitá-ria revelou-se uma rica fonte de percepção e de coleta de in-formações do ambiente construído que irá alimentar o bancode dados do Curso de Arquitetura e Urbanismo, para apoio aotrabalho de intervenção, de reformulação, reflexão e aborda-gem projetual sobre os espaços destinados a diferentes fins.

6. Conclusão

“As universidades [...] obedecerão ao princípio deindissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”Art.207 da Constituição Brasileira

A articulação do ensino, pesquisa e extensão tem se cons-tituído num desafio para as universidades brasileiras. Aindarecentemente, no XV Fórum de Pró-Reitores de Graduação dasUniversidades Brasileiras, realizado em Recife, no período de12 a 16 de maio de 2002 foi organizado Grupo de Trabalho para

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“apontar estratégias que viabilizem a articulação do ensino, coma pesquisa e a extensão no âmbito da graduação”.

Procurando a superação desse desafio, o Curso de Arqui-tetura e Urbanismo da Universidade de Uberaba buscou, pormeio da inserção da Atividade Comunitária na sua estruturacurricular, relacionar o ensino com a pesquisa e extensão.

A realização dos projetos na Atividade Comunitária, onde ocurso promove no ensino e aprendizagem, coloca o estudantecomo investigador da realidade, para reconhecer e valorizaroutros espaços educativos, além da sala de aula, viabilizandoa relação entre teoria e prática e promovendo sua aproxima-ção com a sociedade. O objetivo de integrar os alunos com acomunidade, proporcionando um contato com a realidade, foipossível, levando-os a compreender e discernir sobre as pro-postas reais e utópicas, estudando alternativas que realmentese efetivem.

Cumpre também destacar a importância da Atividade Co-munitária para a construção da consciência social e políticana formação do Arquiteto Urbanista, como um ser crítico e ca-paz de propor uma sociedade justa e mais humana e para suaformação como profissional cidadão.

7. Bibliografia

Foi garantido o suporte informacional necessário à profes-sores e alunos, para a realização de cada Atividade Comunitá-ria.

Constaram da bibliografia específica das Atividades Comu-nitárias os seguintes títulos:ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Adequação das

edificações e do mobiliário urbano à pessoa deficiente. 2.ed.Rio de Janeiro: ABNT, 1990.

CANÇADO, Flávio A. X. Noções práticas de geriatria. Belo Horizonte:COOPMED, 1994. 419p.

CARVALHO, M.I Campos. Organização espacial da área de atividadeslivres em creches. In: Reunião anual de psicologia. Ribeirão Preto,1989.

CARVALHO FILHO, Eurico T; PAPALÉO NETO, Matheus. Geriatria:fundamentos, clínica e terapêutica. São Paulo: Atheneu, 2000.447p.

CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Lisboa: Edições 70, 1971.

EL CROQUIS. Madri: [s.n], 2000. p.148 (centro de dia para a terceiraidade)

________ . Madri: [s.n], 2000. p.90 (asilo de idosos em Alcásar)

________ . Madri: [s.n], 2000. p.120 ( morada de idosos em Yatsushiro

FERRARA, Lucrécia D’Alessio, O olhar periférico. São Paulo: Edusp/Fapesp.

. Ver a cidade. São Paulo: Edusp/Fapesp.

FRANCO, Maria Assunção Ribeiro. Desenho ambiental: uma introduçãoà arquitetura da paisagem com o paradigma ecológico. SãoPaulo: Annablume, 1997.

GARCIA LAMAS, José M. R. Morfologia urbana e desenho da cidade.Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993.

HADDAD, Lenira. A Creche em busca de identidade. São Paulo:Loyola, 1990.

KOWARICK, Lúcio. A espoliação urbana. São Paulo. Paz e Terra.1979.

LAR dos velhinhos de Piracicaba. Araras: Ed. Real, 1996. 199p.

LYNCH, K. A imagem da cidade. São Paulo:Martins Fontes, 1997.

MOISÉS, José Álvaro et al. 2. ed. Cidade, povo e poder. Rio de Janeiro.Paz e Terra, 1985.

OLIVEIRA, Zilma de Morais. Creches: crianças, faz de conta & cia.8.ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. São Paulo: Ed. Martins Fontes,1995.

TRAMONTANO, Marcelo. Novos modos de vida, novos espaços demorar. São Carlos: USP-SC, 1993.

_________ . Entrando na intimidade da casa brasileira. São Carlos:USP-SC , 19—.

_________ . Habitação, metrópoles e modos de vida. São Carlos:USP-SC ,19—.

TUAN, Yi-fu, Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do

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meio ambiente. São Paulo: Difel Difusão Editorial , 1980.

VALLADARES, Lícia do Prado et al. 2. ed. Habitação em questão. Riode Janeiro: Zahar, 1981.

Adotou-se, ainda, a bibliografia básica e complementar,indicada nos Planos de Ensino das disciplinas dos períodosem que os alunos envolvidos estavam matriculados além daleitura de projetos específicos.

NOTAS1 Conceito de extensão estabelecido no I Encontro Nacional dePró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas