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7 Direito das Obrigações Professor Bruno Miragem – [email protected] A unificação legislativa das obrigações ocorre com o Código Civil de 2002. Outros já haviam proposto essa unificação, como Teixeira de Freitas e Caio Mário. - Teixeira de Freitas: propôs a unificação em seu “Esboço” de Código Civil. - Caio Mário: propôs uma unificação nos moldes suíços, mas o anteprojeto “progressista” foi mal visto pelo Regime Militar. OBRIGAÇÃO = VÍNCULO AUTONOMIA PRIVADA – Conceito central do Direito Civil A autonomia privada é o espaço de atuação do indivíduo reconhecido pelo Direito, é o exercício da liberdade humana delimitada pelo Direito, pela Ordem Jurídica. Ex.: poder dos pais sobre os filhos (poder que vem sendo delimitado pelo Estado/Direito). A obrigação, o vínculo, se dá nesse espaço que o Direito delimita. A Ordem Jurídica delimita a autonomia privada. Quando maior a intervenção do Estado, menor a autonomia privada. No Direito Romano, as fontes das obrigações eram os contratos e os delitos. A obrigação nascia do contrato (EX CONTRACTUS) ou do delito (EX DELICTO). Quando uma manifestação de vontade encontra outra manifestação de vontade, nasce a obrigação. ATO JURÍDICO: Os efeitos são estranhos à pessoa. Ex.: reconhecimento da paternidade (se reconheceu, tem obrigações, não podendo escusar-se). NEGÓCIO JURÍDICO: A pessoa tem liberdade na contratação e na elaboração do negócio, é possível discutir os efeitos. ATO ILÍCITO: As obrigações que nascem do delito surgem da falha no exercício da autonomia privada. Aquele que causa dano precisa repará-lo. A responsabilidade nasce de uma falha no exercício da autonomia privada. Responsabilidade Civil nasce do ex delicto. Obrigações ex contractus e ex delicto têm em comum disciplinar a distribuição de patrimônio, de bens. Ex.: doação ou compra e venda (faz com que algo que seja de uma pessoa passe a ser de outra). O patrimônio não precisa ser necessariamente econômico. O patrimônio pode contemplar interesses econômicos ou existenciais.

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Direito das Obrigações

Professor Bruno Miragem – [email protected]

A unificação legislativa das obrigações ocorre com o Código Civil de 2002. Outros já haviam proposto essa unificação, como Teixeira de Freitas e Caio Mário.- Teixeira de Freitas: propôs a unificação em seu “Esboço” de Código Civil.- Caio Mário: propôs uma unificação nos moldes suíços, mas o anteprojeto “progressista” foi mal visto pelo Regime Militar.

OBRIGAÇÃO = VÍNCULO

AUTONOMIA PRIVADA – Conceito central do Direito Civil

A autonomia privada é o espaço de atuação do indivíduo reconhecido pelo Direito, é o exercício da liberdade humana delimitada pelo Direito, pela Ordem Jurídica. Ex.: poder dos pais sobre os filhos (poder que vem sendo delimitado pelo Estado/Direito).

A obrigação, o vínculo, se dá nesse espaço que o Direito delimita. A Ordem Jurídica delimita a autonomia privada. Quando maior a intervenção do Estado, menor a autonomia privada.

No Direito Romano, as fontes das obrigações eram os contratos e os delitos. A obrigação nascia do contrato (EX CONTRACTUS) ou do delito (EX DELICTO).

Quando uma manifestação de vontade encontra outra manifestação de vontade, nasce a obrigação.

ATO JURÍDICO: Os efeitos são estranhos à pessoa. Ex.: reconhecimento da paternidade (se reconheceu, tem obrigações, não podendo escusar-se).

NEGÓCIO JURÍDICO: A pessoa tem liberdade na contratação e na elaboração do negócio, é possível discutir os efeitos.

ATO ILÍCITO: As obrigações que nascem do delito surgem da falha no exercício da autonomia privada. Aquele que causa dano precisa repará-lo. A responsabilidade nasce de uma falha no exercício da autonomia privada. Responsabilidade Civil nasce do ex delicto.

Obrigações ex contractus e ex delicto têm em comum disciplinar a distribuição de patrimônio, de bens. Ex.: doação ou compra e venda (faz com que algo que seja de uma pessoa passe a ser de outra). O patrimônio não precisa ser necessariamente econômico. O patrimônio pode contemplar interesses econômicos ou existenciais.

A RELAÇÃO OBRIGACIONAL SE VINCULA À AUTONOMIA PRIVADA

HISTÓRIA:O direito romano, como um direito programático, apontava soluções para os casos. As decisões

decorriam das ações. Os romanos não sistematizaram o direito com deveres, direitos, obrigações. O direito romano era composto de soluções dadas aos casos. O digesto, que trazia os casos e as soluções dadas a eles, foi fonte para os glosadores, que foram extraindo conceitos gerais dos casos, sistematizando-os.

Os humanistas atualizaram os casos romanos, a fim de não aplicarem literalmente as leis romanas. Nesse período o direito comum europeu foi se desenvolvendo, levando em conta os particularismos jurídicos.

Com o jus racionalismo (direito dos juristas, não da prática e não dos tribunais), as ideias vão se generalizando e vão surgindo os conceitos gerais do direito civil: propriedade, família e autonomia privada. A ideia central é o exercício do poder jurídico da vontade, ela se torna a base do direito civil moderno e a base do processo de codificação.

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O código francês torna lei o que os jus racionalistas pensavam, são os postulados do direito civil moderno. Todavia, estando tudo na lei, o espaço para a doutrina acaba. Não há o que discutir, já é lei. O código francês traz a ideia de completude, de ser possível esgotar os temas, prevendo todos os conflitos e possibilidades.

O código alemão, juntamente com Savigny, traz a ideia de que o código civil é a maior expressão da cultura jurídica de um povo.

Casos que levaram à flexibilização dos conceitos modernos:Os casos de conflitos de vizinhança frustraram a ideia de completude. O código não trazia a solução,

ou, aplicando o código, a decisão seria injusta. Para solucionar os conflitos, foi invocada uma ideia medieval de não utilizar o direito exclusivamente para fazer mal ao outro. Nos casos de conflitos de vizinhança, os proprietários haviam construído algo para prejudicar os vizinhos (muros altos que obstruíam a vista do vizinho, chaminés que expeliam a fumaça na direção da janela do vizinho,...), mas como haviam construído em sua propriedade (que o código francês diz ser absoluta) não havia o que discutir. Para solucionar os conflitos de forma justa, foi necessário limitar pela primeira vez a propriedade.

O Caso da companhia de gás de Bordeaux também se constitui como um marco na flexibilização dos conceitos modernos do direito civil. Com a 1ª GM e a consequente alta no preço do carvão, a companhia precisava regular o preço do serviço que prestava. O contrato não previa esse tipo de ajuste, então o caso foi levado aos tribunais. Os tribunais concederam permissão para revisão do contrato, sob pena de não haver possibilidade de cumprir o contrato. Surge aí a ideia de relativização da vontade humana e a teoria da imprevisão. Há com isso uma flexibilização da ideia rígida de que, se o sujeito tinha autonomia para contratar, tinha, portanto, a obrigação de arcar com as consequências.

Fenômenos históricos que levaram à flexibilização dos conceitos modernos:Revolução Russa: - Aplicação da ideia de Marx- Limitação da autonomia privada na apropriação de bensRevolução Mexicana: - Reforma agrária- Mudança da ideia de propriedade- Ideia de que a propriedade tem de atender a uma função socialRevolução Feminina: - No pós-guerra mulheres viúvas não tinham direito a constituir nova família, são levadas ao mercado de trabalho para garantir seu sustento e de seus filhos- Ampliação do poder da mulher na sociedade- Advento da pílula anticoncepcional - Desenvolvimento de mecanismos de proteção às diversas formas de vínculo afetivo - Mudança na ideia de família

OBS.: O Brasil recebeu a herança portuguesa formalista, a ideia de que tudo deve ser escrito, registrado. Nem todos os povos pensam dessa forma. Portugal tinha a ideia de que tudo que estava registrado e formalizado era mais fácil de controlar, sendo assim, aplicou esse formalismo ao controle de suas colônias.

O direito das obrigações nasce nesse contexto. É o momento em que se percebe que o código não trará as soluções para tudo, é o momento em que as bases do direito civil estão sendo modificadas, é o momento da supervalorização do trabalho (não produzimos nada do que consumimos).

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Direito das Obrigações

RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL X RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO REAL

S – O – S S – O SPT

V V SUJEITO PASSIVO TOTAL SUJEITO – OBJETO – SUJEITO SUJEITO – OBJETO

VÍNCULO JURÍDICO VÍNCULO JURÍDICO

EFICÁCIA INTERPARTES EFICÁCIA ERGA OMNES (PERANTE TODOS)

A obrigação decompõe-se em três elementos: sujeito (titular de um direito), objeto e vínculo jurídico.

- DIREITOS REAIS- DIREITOS DA PERSONALIDADE Os dois têm eficácia erga omnes. São direitos exclusivos e excludentes, pertencem ao seu titular e a mais ninguém. Respeitam-se esses direitos através da abstenção, ou seja, não fazendo nada. A abstenção é efeito típico de eficácia erga omnes.

Quando alguém em meio ao SPT, que é a humanidade inteira, viola o meu direito de personalidade, cometendo ato ilícito (viola o direito e causa dano), é obrigado a reparar o dano. Nasce daí uma obrigação, uma nova relação jurídica. Então, de uma relação S – O (SPT) nasce uma relação S – O – S, nasce a obrigação de reparar o dano. Essa obrigação vincula sujeitos determinados ou determináveis e tem como efeito a movimentação de patrimônio. O objeto vai se compor da modificação na situação patrimonial das partes, da circulação do patrimônio.

O objeto da relação obrigacional é a pretensão. Essa pretensão é um comportamento humano de dar, fazer e não fazer. A partir da posição ocupada nessa prestação, as partes são denominadas como credor ou devedor. Ex.: na compra e venda o dever principal é dar (obrigação de dar). Se a prestação for o $, o comprador é o devedor e o vendedor é o credor. Se a prestação for o bem colocado à venda, o comprador é o credor e o vendedor é o devedor.

Há deveres principais, deveres acessórios e deveres anexos. Os deveres acessórios existem para melhor realização do interesse legítimo do credor, já os deveres anexos, estão ligados à força dos princípios das obrigações, como o da boa-fé. Ex.: na compra e venda de uma TV, ela é o dever principal, sendo o dever de informar acerca de seu funcionamento um dever acessório. Ex.: na compra e venda de um móvel, ele é o dever principal, sendo o dever de indicar ou de fornecer um montador um dever acessório.

PRINCÍPIOS:1. Autonomia da vontade2. Boa-fé3. Equilíbrio4. Função social

1. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

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Direito das Obrigações

O princípio da autonomia da vontade não se confunde com a autonomia privada. O princípio da autonomia da vontade é o reconhecimento do poder e da vontade humana de criar vínculos e relações jurídicas, enquanto que a autonomia privada é um instituto do direito privado, é um poder reconhecido pelo direito privado. O princípio da autonomia da vontade é efeito da autonomia privada.

Do princípio da autonomia da vontade surgem a vinculatividade e a relatividade.

VINCULATIVIDADE (PACTA SUNT SERVANDA)No exercício de sua liberdade, o indivíduo pode se vincular, pode se comprometer a agir de

determinada forma. Quando o individuo não se comportar da forma acordada, deverá responder por isso.

Essência da relação obrigacional DEVER (SCHULD) – RESPONSABILIDADE (HAFTUNG)

RELATIVIDADEA relação obrigacional cria vínculo entre as partes, cria efeitos para as partes, não para terceiros. Só os

sujeitos da relação obrigacional podem ser exigidos. Para exigir algo é preciso ser sujeito da relação obrigacional. A exigibilidade das prestações só pode ser feita aos sujeitos que integram a relação obrigacional.

2. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

- BOA-FÉ SUBJETIVA: está prevista na lei, mas não é princípio, é um estado psicológico do indivíduo, um estado anímico, um estado de fato. A boa-fé subjetiva é a ausência de más intenções, é a ausência de um conhecimento específico.OBS.: Posse é o poder de fato sobre a coisa. Nem sempre o possuidor é o proprietário da coisa. Se alguém compra algo sem saber que a coisa não era de propriedade daquela pessoa de quem comprou, sua posse será irregular, pois se originou de uma posse que já era irregular, todavia se trata de uma posse de boa-fé (o comprador não sabia/não tinha como saber). O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos da coisa até que a boa-fé desapareça. Ex.: A arrenda terras para B, mas A não é de fato o proprietário. B tinha boa-fé, não sabia que A não era o proprietário. Enquanto perdurar a boa-fé de B (enquanto B permanecer na ignorância), ele terá direito a colher o que plantou nas terras.

- BOA-FÉ OBJETIVA: é o princípio. A origem do princípio da boa-fé está no direito alemão, mais especificamente no código civil alemão (BGB). “Os contratantes devem se comportar de acordo com a boa-fé e os usos do tráfego (das relações jurídicas)”. A diferença entre a boa-fé que é princípio (objetiva) e a boa-fé que não é princípio (subjetiva) está na diferença que a doutrina alemã faz entre elas.

O que é comportar-se de acordo com a boa-fé? (Josef Esser)A boa-fé abre as janelas do Direito para a ética. A boa-fé reinsere no direito privado o elemento ético e moral.

Boa-fé: conjunto de deveres éticos e morais que se transformam em deveres jurídicos

Deveres de boa-fé: lealdade, colaboração, respeito às expectativas legítimas da outra parte (proteção da confiança despertada). Esses deveres nascem da interpretação do artigo do código civil alemão.OBS.: Expectativa legítima é a expectativa razoável, é aquela que é confirmada no mundo dos fatos.

Uso do princípio da boa-fé no Brasil Caso CiccaA Cicca distribuiu sementes de forma gratuita para os agricultores e depois comprou a safra de

tomates. A doação de sementes ocorreu repetidas vezes, sempre seguida da compra da safra. Em dado momento a Cicca distribuiu as sementes, mas não comprou a safra. Em ação indenizatória movida pelos agricultores – que perderam a safra, já que não a comercializaram com mais ninguém esperando pela Cicca – a Cicca alegou não ter firmado contrato, tratando-se apenas de um acordo de doação (contrato gratuito).

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O juiz do caso enxergou ali a boa-fé objetiva, a exigência ético-jurídica de proteção da confiança. O comportamento reiterado de doação de sementes e compra da safra gerou expectativa legítima, e dessa expectativa legítima nasceu a obrigação. O comportamento reiterado gerou vínculo jurídico.

O caso Cicca foi o primeiro caso de aplicação do princípio da boa-fé objetiva (Rui Rosado de Aguiar Junior, na época Juiz no RS, após Ministro do STJ).

TRÊS GRANDES FUNÇÕES DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ

1ª FUNÇÃO DA BOA-FÉ: FONTE AUTÔNOMA DE DEVERES JURÍDICOS

Os deveres não estão positivamente descritos, mas derivam da boa-fé. Do princípio da boa-fé derivam deveres jurídicos exigíveis, apesar de não positivados.

Ex.: Professor alemão vem para o RS fugido da guerra, presta concurso para o magistério estadual, tornando-se professor estadual. Próximo à aposentadoria descobre que tem direito à gratificação que não lhe foi concedida. Quando esse pedido foi levado à administração, percebe-se que à época do concurso vigia a CF de 1937, que estabelecia que cargos/funções públicas deveriam ser preenchidas por brasileiros natos ou naturalizados. O ato da nomeação é declarado nulo, mesmo após anos de serviço. O judiciário mantém o alemão no cargo baseando a decisão no princípio da boa-fé.

O princípio da boa-fé faz exigíveis deveres não expressos na lei ou no contrato (lealdade, colaboração...), faz com que o interesse das partes corra junto em direção ao adimplemento. Há um dever de respeito às expectativas legítimas da outra parte. O comportamento das partes gera confiança, gera expectativa legítima na outra parte.

2ª FUNÇÃO DA BOA-FÉ: LIMITE AO EXERCÍCIO DE PRERROGATIVAS JURÍDICAS (ABUSO DE DIREITO)

“As cláusulas contratuais contrárias aos bons costumes são nulas” Código Civil Alemão

Como precisar o que são bons costumes? Só é considerado costume aquilo que é aceito pela maioria da comunidade. Bons costumes é um conceito valorativo.

Casos alemães determinantes para definir o que são bons costumes:

Caso do empréstimo: Após conceder dois empréstimos, ainda não quitados, o banco exige que o filho do contratante seja

fiador/garantidor do terceiro empréstimo. O banco não recebe o pagamento e cobra do rapaz. O advogado do rapaz alega que o rapaz é um estudante de medicina e que o que ganhará ao longo da vida exercendo essa profissão não pagará 50% da dívida. Tal fato o tornará escravo do banco, sacrificando sua liberdade. Alega que o banco transferiu ao rapaz um risco que era inerente ao negócio e que era do banco. A cláusula do contrato violava um direito fundamental. Violar direito fundamental é ir contra os bons costumes. A cláusula é declarada nula por ir contra os bons costumes.

Caso da escola de enfermagem:Escola de enfermagem estabelece que as alunas só poderiam frequentar a escola se não se casassem

no decorrer do curso. Tal exigência viola garantia/direito fundamental, ou seja, contraria os bons costumes. A proibição é declarada nula.

Somos titulares de direitos subjetivos, de direitos potestativos, de faculdades jurídicas e de poderes jurídicos. Quem confere esses poderes é o ordenamento jurídico. No exercício deles, no entanto, nem sempre

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o indivíduo é movido por interesses legítimos, podendo exercê-los apenas para prejudicar o outro, por exemplo.

O princípio da boa-fé se constitui em um critério de identificação/determinação do abuso do direito. “Induz-se o abuso da circunstância de se servir dele o titular, excedendo manifestamente o seu fim econômico ou social, atentando contra a boa-fé ou os bons costumes”. Caio Mário.

O abuso acaba surgindo da liberdade contratual. No exercício dessa liberdade pode-se violar a boa-fé (imposição de cláusulas contratuais bem como cláusulas abusivas violam a boa-fé).

Exemplos:- Caso Cinemark (pessoa barrada por entrar com alimentos comprados em outro estabelecimento). O caso foi até o STJ, que se manifestou no sentido de que o cinema não pode condicionar um produto ao consumo de outro produto. Viola a boa-fé.- Plano de saúde que estipula limitação de tempo de internação. Viola a boa-fé, é uma cláusula abusiva. - Empréstimo bancário combinado com aquisição de título de capitalização. É uma espécie de venda casada, viola a boa-fé.- Universidade privada aumenta carga horária de um curso para vincular alunos/clientes por mais tempo. Há violação da boa-fé quando há alteração contratual de forma unilateral.

Ao longo do século XX, houve mudança na concepção de boa-fé. No princípio obrigatoriamente deveria haver dolo (má-fé) para caracterizar violação da boa-fé, hoje não.

3ª FUNÇÃO DA BOA-FÉ: CRITÉRIO DE INTERPRETAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Boa-fé preenche os negócios jurídicos, especificamente os contratos. Interpretação: construção de um significado ou atribuição de um significado a um signo. Integração: construção de uma norma para o caso, preenchendo uma lacuna para solução de um problema. A lacuna em um contrato consiste em todo comportamento que as partes desenvolvem que não esteja previsto no contrato. A boa-fé servirá para interpretar o contrato e para integrar o contrato preenchendo a lacuna.

Interpretação do contrato pelo princípio da boa-fé:Ex.: Contrato de seguro – Dentre as obrigações do contrato está a do segurado não favorecer a ocorrência do sinistro. Em uma cidade do interior, onde há anos não ocorre furto/roubo de automóveis, o segurado deixa o carro aberto com a chave na ignição. O sujeito foi compreendido pelo STJ como alguém que não favoreceu a ocorrência do sinistro, como alguém que agiu com boa-fé.Ex.: Loja de celulares dava seguro contra roubo na compra de novos aparelhos. Comprador teve seu celular furtado e a loja se recusa a dar um novo aparelho alegando que se trata de furto e não de roubo. Os tribunais entenderam que não se pode cobrar do consumidor o conhecimento para diferenciar furto de roubo. A loja teve de dar um novo aparelho.

Integração do princípio da boa-fé:Ex.: Contrato de longa duração com juros abusivos. Sendo a cláusula declarada nula tem-se uma lacuna. Qual índice utilizar para reajustar um contrato de longa duração, que não pode ficar sem reajuste. Usam-se índices como o IGPM a fim de não favorecer uma parte ou outra.

3. PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO- EQUILÍBRIO DE INTERESSES DAS PARTES- EQUILÍBRIO ECONÔMICO DA OBRIGAÇÃO

O princípio do equilíbrio vem para evitar o desequilíbrio manifesto. Ex.: Art. 944 CC – A indenização mede-se pela extensão do dano.

NEGÓCIOS JURÍDICOS

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Direito das Obrigações

COMUTATIVOS – ATOS RECÍPROCOS – EQUILÍBRIO ENTRE PRESTAÇÕES UMA PARTE FAZ ALGO E A OUTRA PARTE FAZ OUTRA COISA EM TROCA ALEATÓRIOS – RISCO

Nos contratos comutativos exigir-se-á que sejam sinalagmáticos (sinalagma = equilíbrio), ou seja, que as prestações não sejam desproporcionais.

Ex.: Sujeito aceita R$ 100,00 como pagamento por um veículo que vale R$ 20.000,00. Em uma ação judicial pode-se alegar lesão ou estado de perigo, pois há manifesto desequilíbrio entre as prestações. Há diferença no elemento subjetivo, mas o elemento objetivo é o mesmo (desproporção manifesta).

Lesão – Ingenuidade, inexperiência...OBS.: Elemento subjetivo Estado de perigo – Salvar a si ou a alguém da família.

SINALAGMA GENÉTICO – ORIGEM DO CONTRATO

A. CÓDIGO CIVIL: - ESTADO DE PERIGOArt. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.- LESÃOArt. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

ESSAS SITUAÇÕES TORNAM O CONTRATO ANULÁVEL (O TODO SERÁ ANULADO)Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

B. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

ESSAS SITUAÇÕES ANULAM APENAS A CLÁUSULA DO CONTRATOHÁ ESFORÇO PARA MANTER O CONTRATOMANTÉM-SE O CONTRATO DESCARTANDO/MODIFICANDO APENAS A PARTE RUIM

Art. 51§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.Art. 51 § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

SINALAGMA FUNCIONAL

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A. CÓDIGO CIVIL: Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

REVISÃO DO CONTRATO – O CONTRATO É REAJUSTADO E MANTIDOCÓDIGO CIVIL TRAZ O TERMO IMPREVISÍVEL

B. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:Art. 6º São direitos básicos do consumidor:V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

REVISÃO DO CONTRATO – O CONTRATO É REAJUSTADO E MANTIDOCÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR NÃO TRAZ O TERMO IMPREVISÍVEL

Exemplo: Contratos de financiamento de automóvel realizados em 1994 (quando o dólar e o real estavam equiparados) eram reajustados segundo a variação do dólar. Em pouco tempo o valor da prestação tornou-se absurdo. O fato era superveniente, mas havia a discussão acerca de sua imprevisibilidade. As financeiras alegavam que o fato era previsível, juntando aos autos diversas reportagens de 1994 em que economistas apontavam que a equiparação entre as moedas não seria sustentável por muito tempo. O STJ decidiu a questão com base no CDC (o fato não precisa ser imprevisível para que se possa fazer a revisão do contrato).

Por que o CDC dispõe dessa forma, abrindo mão da imprevisibilidade? Porque coloca o consumidor como lado frágil da relação, colocando o risco sobre os ombros da outra parte.

Os contratos possuem uma base objetiva e uma base subjetiva.Ex.: Locação de balcões (sacadas) que estavam no trajeto da cerimônia de coroação do novo rei inglês. A cerimônia é alterada e o trajeto é modificado. O desfazimento dos contratos é levado a juízo. A base objetiva do contrato havia sido alterada. Quando a base objetiva do contrato é abalada, busca-se a reconstrução dessa base, mas nem sempre ela é possível.

Rudolf Von Ihering - Centralizou a ideia do direito subjetivo no elemento interesse, afirmando que direito subjetivo seria “o interesse juridicamente protegido”.Karl Larenz - Separou a análise da base do negócio jurídico em duas acepções: uma subjetiva e outra objetiva.- Base subjetiva do negócio: comum representação mental dos contratantes pela qual ambos se deixaram guiar ao fixar o conteúdo do contrato.- Base objetiva do negócio: refere-se à questão da possibilidade de realizar-se o fim do contrato e a intenção conjunta das partes contratantes.

4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIALEsse princípio traz um conceito indeterminado e pluriparticipativo. Gierk, jurista alemão, defendia que

o Direito Civil deveria servir à concretização de direitos sociais, que o Direito Civil deveria ter uma função social, não podendo servir aos interesses individuais. Para Gierk, o Direito Civil tem um compromisso perante a sociedade.

Durante a Revolução Mexicana, com a intensa discussão acerca de propriedade e reforma agrária, desenvolve-se a ideia de função social. Mas é somente em 1942, no Código Civil Italiano, que isso aparece positivado. O código trazia a ideia de prevalência do interesse coletivo sobre o individual.

O Código Civil Italiano de 1942 influencia o Brasil, através de Miguel Reale. Segundo o Art. 421 do Código Civil vigente, a liberdade de contratar deve ser exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

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Em verdade, o texto do Código Civil Italiano de 1942 era forte e falso, pois no regime fascista a ideia veiculada era a de prevalência do interesse coletivo sobre o individual, mas os contratos não eram realizados em razão da função social.

Contratos gerando efeitos perante terceiros

1. Caso Ipiranga - Antônio Junqueira de AzevedoAté 1997 os postos tinham de estar vinculados a uma distribuidora, depois houve a queda dessa

obrigatoriedade. Nos contratos firmados entre a Ipiranga e os postos de gasolina, havia uma cláusula de exclusividade (o posto se abstinha de comercializar produtos de outras distribuidoras). Algumas distribuidoras do interior de São Paulo burlavam o fisco e até mesmo alteravam o combustível a fim de comercializá-lo por um menor preço. Essas distribuidoras assediavam postos vinculados à Ipiranga. Alguns postos violaram o contrato com a Ipiranga, vendendo produtos dessas outras distribuidoras, mas sob a bandeira da Ipiranga. Não era interessante para a Ipiranga rescindir o contrato em razão da violação, o mais interessante era demandar contra as outras distribuidoras. Todavia as distribuidoras não podiam ser demandadas em razão dos contratos firmados entre a Ipiranga e os postos, pois eram terceiras.

Antônio Junqueira de Azevedo, advogado contratado pela Ipiranga, elaborou um parecer para o caso. O parecer era inspirado no direito europeu e tinha como base a função social do contrato. Antônio Junqueira de Azevedo diz que existirá o dever da oponibilidade do contrato em relação aos terceiros. Os terceiros têm o dever de respeitar a existência do contrato, não podendo estimular o seu descumprimento.

Pela regra tradicional de eficácia do contrato perante terceiros (regra da relatividade), o contrato só vai gerar obrigação entre as partes. Entretanto, nesse caso, o terceiro também tem obrigação, a obrigação de respeitar o contrato.

Também foi evocado, nesse caso, a proteção dos terceiros que consumiam o produto acreditando ser da distribuidora Ipiranga.

2. Caso Encol Maior incorporadora (construtora) brasileira tem sua falência decretada, deixada imóveis inacabados

por todo o país. A construtora tinha o terreno, pedia o financiamento da obra ao banco, dando como garantia a hipoteca do terreno onde seria construído o prédio. Os apartamentos eram vendidos na planta, por meio de um contrato de promessa de compra e venda.

Um imóvel só é imóvel em razão da matrícula. Até aqui os apartamentos não constituem bens imóveis, não têm matrícula individualizada. A matrícula que existe no momento é a do terreno e é nela que consta a hipoteca.

Quando a Encol passa a não saldar suas dívidas, o banco passa a exigir a venda do terreno com o esqueleto do prédio, em razão da hipoteca. Aqueles que haviam firmado os contratos de promessa de compra e venda queriam terminar a obra a fim de se tornarem proprietários de fato dos apartamentos.

A causa foi ao STJ, pois nos contratos de promessa de compra e venda havia cláusula mencionando a existência da hipoteca e o reconhecimento dela como crédito preferencial. O STJ decide em favor de anular a cláusula que estabelecia que a hipoteca era um crédito com preferência sobre os demais.

A anulação da cláusula prejudicou o banco (terceiro nos contratos de compra e venda), mas possibilitou aos contratantes concluírem a obra e se tornarem de fato proprietários dos apartamentos.

3. Caso Zeca Pagodinho Zeca Pagodinho, famoso consumidor de cerveja, firmou contrato com a fábrica de cerveja Schincariol. A empresa tinha acertado com o pagodeiro a quantia de um milhão de reais para utilizar sua imagem associada à ideia publicitária em que ele aparece num bar, rodeado de amigos que o provocam a experimentar a nova marca de cerveja objeto da publicidade. Pouco tempo depois, o país inteiro surpreendeu-se ao ver o mesmo garoto-propaganda, desta vez, exibindo um produto do concorrente e anunciando que "aquilo tinha sido um amor de verão", ou seja, que seu encanto com a Schincariol foi apenas momentâneo, já que considera a Brahma uma indústria que fabrica cerveja de melhor qualidade.

O contrato do cantor com a Schincariol era válido até setembro, e a veiculação pela marca concorrente foi feita em março. Como o artista desrespeitou um contrato que estava em vigência ao assinar um contrato

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com o concorrente e simultaneamente falar mal da empresa em que estava atuando, foi obrigado a pagar uma multa milionária por essa quebra de contrato.

De acordo com o princípio da obrigatoriedade, se a pessoa opta por contratar, fica constrangida à prestação pelo tempo estabelecido. Assim, consubstancia-se que o contrato é lei entre as partes. Estipulado validamente seu conteúdo, ou seja, definidos os direitos e obrigações de cada parte, as cláusulas têm, para os contratantes, força obrigatória. Ao observar esse princípio, infere-se que Zeca Pagodinho desrespeitou o contrato, uma vez que faltou com a palavra, ou seja, com o acordo que se comprometeu a cumprir.

Vale ressaltar que não houve ética tanto nos atos do pagodeiro, como nos atos da Brahma, que, sabendo do contrato de Zeca Pagodinho com a Schincariol, não respeitou, e nem se absteve de prejudicar seu concorrente. Analisa-se, também, que o cantor violou o princípio da boa-fé, já que se presume que as partes devem agir com lealdade e confiança recíprocas. Então, diante do caso apresentado, percebe-se que não houve lealdade por parte de Zeca Pagodinho, que mesmo sabendo que prejudicaria aquele com quem realizou um acordo primeiramente, não deixou de realizar um contrato com o concorrente direto da empresa.

Pode-se observar, ainda, a flexibilidade do princípio da relatividade, que na teoria clássica era abordado com a definição de que os efeitos do contrato se produzem exclusivamente entre as partes, nem aproveitando nem prejudicando a terceiros. A flexibilidade é observada já que, apesar de o cantor ter infringido a lei, a Brahma foi obrigada pela Justiça a pagar a multa de R$ 500mil/dia caso ela mantenha o comercial com o cantor.

Outros exemplos:Ações diretas de vítimas contra seguradoras. A vítima demanda diretamente a seguradora ao invés de

demandar quem lhe causou o dano (segurado). É polêmico porque a ação deveria ser proposta primeiro contra o causador do dano, a fim de apurar a sua responsabilidade, para só então acionar a seguradora, afinal é o causador do dano (segurado) que tem relação com a seguradora. Eficácia do contrato perante terceiros, no caso a vítima FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO

FONTES DAS OBRIGAÇÕES

FONTES DAS OBRIGAÇÕES:1. NEGÓCIO JURÍDICO2. ATOS ILÍCITOS3. FATOS LÍCITOS4. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

1. OBRIGAÇÃO NEGOCIAL OBRIGAÇÃO QUE NASCE DO NEGÓCIO JURÍDICONegócio JurídicoRequisitos: ∙ Agente capaz∙ Objeto lícito, possível, determinado ou determinável∙ Forma prescrita ou não proibida em leiConteúdo e Efeitos:Definidos pelo próprio negócio jurídico (objeto, deveres das partes, consequências do adimplemento e do inadimplemento...)

2. ATOS ILÍCITOSAtos Ilícitos:∙ Absolutos = Contrários à leiViolação direta da norma legal

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Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. ∙ Relativos = Contrários ao contratoViolação dos deveres estabelecidos pelas partes em um negócio jurídico

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

3. FATO LÍCITOCASOS EM QUE SURGE UMA OBRIGAÇÃO DE PAGAR EM RAZÃO DE ATO LÍCITO- Exemplo: Art. 188. Não constituem atos ilícitos:II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.∙ Causou dano, mas foi para remover perigo iminente.∙ É uma excludente de ilicitude. ∙ Se o causador do perigo for identificado, ele paga. - Exemplo:Estado indenizando em razão de expropriação para construção de uma via.

4. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA∙ Fonte subsidiária de obrigação, só é utilizada quando as demais não se encaixarem.∙ Enriquecimento sem causa = Enriquecimento (aumento de patrimônio) que corresponde ao empobrecimento (perda de patrimônio) de outra pessoa sem que tenha havido um contrato (negócio jurídico) ou um ato ilícito.- Exemplo:Um depósito é efetuado de forma equivocada, sendo o valor transferido para uma conta diferente daquela em que se pretendia depositar. Alguém enriqueceu e alguém empobreceu, mas não houve contrato nem ato ilícito que justifique o recebimento desse valor. Quem recebeu o valor não agiu de forma ilícita, mas está obrigado a restituí-lo. Nasce daí uma obrigação, a obrigação de restituir o valor. OBS.: Não serão pagos juros, apenas será feita a atualização monetária, afinal os frutos (juros) pertencem ao terceiro de boa-fé.

Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.

CAUSA∙ Teoria objetiva: Associa a causa à função que o Direito reconhece para aquele ato.Ex.: A causa da doação está na sua função, que é a transferência da propriedade de um bem de forma gratuita.∙ Teoria subjetiva: Associa a causa a elementos subjetivos.Ex.: A doação se dá pelas razões subjetivas que levaram o sujeito a fazê-la.

- Exemplo:Uma empresa concorrente de uma licitação contrata um escritório para elaborar um projeto. O

contrato era de risco, portanto o escritório só receberia pagamento pelo projeto se a empresa contratante ganhasse a licitação.

A licitação é cancelada. A empresa concorrente busca indenização, pois teve gastos para concorrer. Na planilha de despesas apresentada nos autos está o gasto com o projeto. A indenização é paga.

O escritório não poderia buscar indenização da empresa, pois o contrato era claro quanto à questão do risco. Todavia o escritório alega enriquecimento sem causa, afinal a empresa recebeu indenização arrolando o gasto com o projeto.

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MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES

Desde Roma, as obrigações se dividem em três modalidades: dar, fazer e não fazer. A obrigação de

prestar acabou desaparecendo ao longo do tempo, pois a obrigação de prestar consiste em uma obrigação de dar combinada com uma obrigação de fazer. Ex.: pintar o cabelo (dar a tinta + fazer a pintura).

A obrigação de dar se subdivide em dar coisa certa e dar coisa incerta. Esse dar não tem o sentido de doar, de transmitir a posse somente. O dar pode ser devolver uma coisa, transferir a posse da coisa alugada, pagar um valor...

A obrigação de fazer consiste em um comportamento ativo do devedor em relação ao credor. Ex.: trabalho de um profissional (professor, advogado...). Já a obrigação de não fazer consiste em um comportamento passivo do devedor em relação ao credor. Ex.: contrato de exclusividade (comerciante que não pode comercializar outra linha de bebida que não seja aquela do contrato, ator que não pode firmar contrato com outra emissora...).

INADIMPLEMENTO = DESCUMPRIMENTO

∙ CULPOSO RESPONSABILIDADE DO DEVEDOR∙ NÃO CULPOSO

OBS.: Aqui o termo culpa está sendo empregado em seu sentido amplo. Dentro desse sentido amplo está o dolo (intenção) e a culpa (negligência, imprudência e imperícia).

DOLO (INTENÇÃO)CULPA CULPA (NEGLIGÊNCIA, IMPRUDÊNCIA, IMPERÍCIA)

Inadimplemento culposo: ∙ Há a responsabilização do devedor. OBS.: Para que haja essa responsabilização do devedor, o credor tem de fazer a prova da culpa do devedor.∙ O devedor responderá pelos danos (efeitos, prejuízos) causados pelo inadimplemento.∙ O devedor pagará juros, honorários advocatícios em caso de ajuizamento, etc.

Inadimplemento não culposo:∙ Não há responsabilização do devedor.∙ O devedor não responderá pelos danos (efeitos, prejuízos) causados pelo inadimplemento.∙ Há simplesmente a extinção da obrigação.

OBRIGAÇÕES DE MEIO: O devedor não se compromete com a obtenção de determinado fim. Ele se compromete a fazer o

melhor, não se compromete com o resultado. Ex.: médico (exceção: cirurgia plástica reparadora), advogado...

OBRIGAÇÕES DE FATO:O devedor se obriga ao resultado, tem compromisso com o resultado. Nesse caso, pouco importa se o

devedor fez o melhor que pôde, a obrigação era atingir determinado resultado. Ex.: contrato de transporte, pagamento de um financiamento, de conta de água, luz ou telefone...

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Direito das Obrigações

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Em alguns casos a obrigação com o resultado é tão forte no contrato que nem o caso fortuito/força maior poderá ser alegado.

Na obrigação de fato o descumprimento/inadimplemento pressupõe culpa (se atrasou o pagamento, não importa o porquê, tem culpa). Nas obrigações decorrentes de contrato, havendo inadimplemento, presume-se a culpa do devedor. Todavia essa presunção é relativa, pois há a previsão do art. 393, referente a todo fato que o devedor não pôde evitar ou impedir.

Ex.: Alugo uma casa de praia, pagando antecipadamente. Se a casa for destruída por um furacão, haverá apenas a devolução do valor, visto que a casa não poderá ser ocupada. Não houve culpa, ela foi afastada pelo art. 393. Basta a extinção da obrigação com a devolução do valor.

ABSOLUTO INADIMPLEMENTO

RELATIVO

Violação no cumprimento do dever do devedor

TEMPO da prestaçãoLUGAR da prestaçãoMODO da execução da prestação

Inadimplemento Absoluto: O inadimplemento sacrifica o interesse útil do credor. Ex.: Um vestido de noiva é entregue três dias após o casamento. O interesse útil do credor foi sacrificado. Já passou o tempo da prestação e ela não interessa mais ao credor. Aqui o tempo não é apenas uma questão de mora.

Inadimplemento Relativo: Mesmo com o inadimplemento o credor ainda tem interesse no cumprimento da prestação. O inadimplemento relativo causa apenas a MORA. Ex.: Recebimento de quantia. Havendo o pagamento, mesmo com atraso, atenderá o interesse útil do credor. Em razão do inadimplemento culposo, o pagamento será feito com juros (indenização pelo tempo – mora). JUROS = CUSTO DE OPORTUNIDADE.

OBS.: TRADIÇÃO = ENTREGA DA COISA

OBRIGAÇÕES Prestação principal (dar, fazer, não fazer) acompanhada de obrigações acessórias.

INADIMPLEMENTO∙ Com culpa do devedor → Juros, multa, honorários advocatícios...∙ Sem culpa do devedor → Efeitos se extinguem

TUTELA ESPECÍFICA DA OBRIGAÇÃO

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O que se quer é o cumprimento específico da obrigação. Não se tem interesse na multa ou na indenização no primeiro momento, o interesse principal é o cumprimento da obrigação. Ex.: Contratante de um plano de saúde necessita de autorização para realização de cirurgia. A administradora do plano não autoriza. O que o credor quer é a autorização para realização da cirurgia, quer que a prestação ajustada seja cumprida. Não é do interesse do credor, naquele momento, multa ou indenização.

IMPOSIÇÃO DE MULTA JUDICIAL = ASTREINTEA imposição de multa judicial é uma forma de constranger o devedor a cumprir a obrigação. Muitas

vezes o valor torna-se tão alto que chega a ultrapassar o valor da prestação. Como em grau de recurso passou-se a revisar e reduzir o valor das multas, a multa perdeu o caráter de constranger o devedor. O devedor acaba por não cumprir a prestação, mesmo com a fixação da multa, por saber que interpondo recurso conseguirá diminuir o seu valor.

MODALIDADES ESPECIAIS DE OBRIGAÇÕES E TRANSFERÊNCIAS DE OBRIGAÇÕES

OBRIGAÇÃO DE GARANTIAAlém de obrigações de meio e de obrigações de resultado, alguns autores mencionam a obrigação de

garantia. A obrigação de garantia consiste em garantir o adimplemento da obrigação principal a qual esteja vinculada. Ex.: João é devedor de Maria. Pedro se compromete a cumprir a obrigação caso João não a cumpra.A obrigação de garantia tem sua eficácia vinculada ao inadimplemento da obrigação principal. Ex.: Contrato de fiança. Fiador se obriga a adimplir a obrigação do afiançado em caso de inadimplemento.

OBRIGAÇÃO ALTERNATIVAO contrato é celebrado contendo mais de uma prestação possível de ser realizada pelo devedor. O

devedor poderá cumprir uma ou outra prestação. O contrato definirá quem escolherá a prestação, caso não esteja definido no contrato, caberá ao devedor a escolha da prestação. Ex.: Agricultor que planta soja define em seus contratos que pagará em moeda ou em soja. No momento do pagamento ele escolherá.

Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.

Nas obrigações alternativas essa possibilidade é descrita/estabelecida desde o início. É diferente do caso em que o devedor não tem como cumprir a obrigação e oferece coisa diversa. Nesse caso é preciso aceitar a troca, o credor não é obrigado a aceitar essa dação em pagamento.

OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA ≠ DAÇÃO EM PAGAMENTO

Possibilidade/alternativa Possibilidade surge depois, estabelecida desde o início frente à impossibilidade do do contrato devedor de cumprir a obrigação

Exceções

∙ A alternativa ocorre entre uma prestação e outra, não podendo ser uma parte cumprida de uma forma e outra parte ser cumprida de outra forma.Art. 252 § 1º Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.

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Direito das Obrigações

∙ A alternativa é escolhida entre uma parcela e a próxima, a cada parcela faz-se uma escolha.Art. 252 § 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

∙ Havendo pluralidade de credores ou devedores, que não entraram em acordo acerca da alternativa, o juiz decidirá de que forma a obrigação será cumprida.§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.

∙ Se o terceiro, eleito no contrato para efetuar a escolha, não quiser ou não puder escolher, o juiz decidirá de que forma a obrigação será cumprida. Ex.: No contrato é estipulado que um perito decidirá se a obra de arte A ou B será entregue. Na impossibilidade do perito, o juiz decidirá.§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes.

Impossibilidade de cumprimento de uma das prestações:

SEM CULPA CUMPRE-SE A OBRIGAÇÃO COM A OUTRA PRESTAÇÃOArt. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexequível, subsistirá o débito quanto à outra.

COM CULPA DO DEVEDOR CREDOR ESCOLHE A PRESTAÇÃO QUE SOBROU CABENDO A ESCOLHA AO CREDOR OU O VALOR DA OUTRA COM PERDAS E DANOSArt. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos (...)

Impossibilidade de cumprimento de todas as prestações:

SEM CULPA EXTINGUE A OBRIGAÇÃOArt. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.

COM CULPA DO DEVEDOR CREDOR PODE COBRAR O VALOR DE CABENDO A ESCOLHA AO CREDOR QUALQUER DAS DUAS COM PERDAS E DANOSArt. 255. (...) se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexequíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos.

COM CULPA DO DEVEDOR DEVEDOR PAGA O VALORCABENDO A ESCOLHA AO DEVEDOR DA QUE POR ÚLTIMO SE IMPOSSIBILITOU MAIS PERDAS E DANOSArt. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL OU INDIVISÍVELPOR NATUREZA DA COISA OU POR VONTADE DAS PARTES

OBRIGAÇÃO DIVISÍVEL□ Havendo pluralidade de devedores ou credores de obrigação divisível, far-se-á a divisão pelo número de devedores ou credores, caso não haja definição no contrato.

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Art. 257. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta se presume dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.

OBRIGAÇÃO INDIVISÍVELArt. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico

Exemplo de bem indivisível por vontade da parte:Professor doa sua biblioteca particular para a Universidade, não sendo possível para a instituição aceitar a doação de apenas alguns livros, é preciso aceitar a doação da biblioteca como um todo.

Exemplos de obrigações indivisíveis:Pintar uma sala, realizar um procedimento cirúrgico...

□ Mais de um devedor de uma obrigação indivisível → Ambos serão responsáveis pela prestação total.∙ A obrigação inteira pode ser cobrada de um ou de outro∙ A indivisibilidade induz à solidariedade

Quem paga sozinho a dívida fica sub-rogado nos direitos que o credor tinha, colocando-se no lugar do credor para buscar a parcela que o outro devedor deveria ter pagado. A sub-rogação dá o direito daquele que pagou integralmente fazer tudo o que o credor podia fazer.

Art. 259. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda.Parágrafo único. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados.

□ Pluralidade de credoresArt. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:I - a todos conjuntamente;II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Caberá consignação em pagamento nos caso de...∙ dúvida quanto à dívida (existência e/ou quantia)∙ recusa do credor em receber∙ dúvida quanto a quem seja o credorConsignar o pagamento = Entregar a prestação = Oferecer ao Juízo em depósito- O autor deposita o valor em Juízo e requer a citação de todos os possíveis credores para discutirem de quem é o valor, quanto é devido a cada um, etc.- Não é um meio liberatório do mau devedor, pois, se a ação é julgada improcedente, o autor torna-se um devedor inadimplente desde o momento em que deveria ter cumprido a prestação e não cumpriu.Ex.: X deveria pagar a Y em 07/04. Em 07/06 X procura Y para realizar o pagamento, mas Y não aceita receber apenas o principal, quer receber os juros também. O devedor ajuíza a consignação em pagamento que é julgada improcedente. Isso torna X inadimplente desde 08/04.□ Se um dos credores perdoar a dívida, a obrigação é extinta apenas em relação àquele credor. Os demais credores podem exigir a prestação, descontada a parcela do credor que perdoou.Art. 262. Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.Parágrafo único. O mesmo critério se observará no caso de transação, novação, compensação ou confusão.

□ Se um dos credores receber por inteiro a prestação, caberá aos demais credores cobrarem dele, em dinheiro, a sua parte.

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Art. 261. Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total.

□ Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (situação resolvida através de indenização). OBS.: perdas e danos = danos emergentes e lucros cessantes (tudo que pedeu e tudo que deixou de ganhar)Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.§ 1º Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais.§ 2º Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS

Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.

∙ CREDORES SOLIDÁRIOS: Basta um cobrar, qualquer dos credores poderá cobrar a dívida inteira.

∙ DEVEDORES SOLIDÁRIOS:Qualquer um poderá ser demandado para pagar o todo.

Importante: A solidariedade não se presume, ou ela estará prevista em lei ou estará prevista no contrato. Solidariedade vem da lei ou da vontade das partes.Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Exemplos:∙ Restaurante serve comida estragada, verifica-se que o peixe fornecido ao estabelecimento estava estragado. É possível ajuizar ação tanto contra o restaurante quanto contra o fornecedor do peixe.∙ Avião da TAM que caiu em razão do defeito apresentado pela peça denominada reverso, fornecida pela Boing. As famílias puderam pleitear a indenização demandando tanto a TAM quanto a Boing.Solidariedade entre os membros da cadeia de fornecimento → Prevista em lei → CDCArt. 7º. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

OBS.: Esse dispositivo do CDC foi criado para proteger o consumidor, evitando a denunciação à lide de todos os membros da cadeia de fornecimento.

□ A solidariedade é um efeito (lei ou vontade das partes) que pode ser modulado ou não. Se por vontade das partes é possível definir a solidariedade, é possível definir também de que forma ela se dará.Art. 266. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.

∙ Solidariedade condicional → Ex.: Fiador (a solidariedade está condicionada ao inadimplemento do devedor)∙ Obrigação pagável em lugar diferente → Ex.: Se A pagar, pagará em SP. Se B pagar, pagará no RS.

SOLIDARIEDADE ATIVA

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□ Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento por inteiro. Enquanto um dos credores solidários não demandar o devedor, o devedor poderá pagar a qualquer um dos credores.Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar.

A solidariedade ativa (solidariedade entre credores, que possibilita a qualquer um deles cobrar a dívida por inteiro) gera a faculdade de o devedor pagar a dívida inteira a qualquer um dos credores, que não poderá se recusar a receber o todo.

Se o credor se recusar a receber o todo, há a mora do credor, a transferência do risco da prestação para o credor. Ex.: O credor se recusou a receber. A coisa é roubada ou se deteriora. O credor assumiu esse risco ao se recusar a receber.

□ Se um dos credores solidários falecer, os sucessores só poderão receber o seu quinhão, não o todo. O patrimônio se transfere com a morte, a solidariedade não. Ex.: Cinco credores solidários de R$100,00. Cada um deles pode cobrar os R$100,00. Um dos credores morre, deixando dois herdeiros. Cada herdeiro poderá cobrar R$10,00, ou seja, poderá cobrar o crédito que herdou. Os outros quatro credores seguem com o direito de cobrar R$100,00. Se o devedor paga a cada herdeiro a sua parte, os quatro credores têm direito de cobrar R$80,00.OBS.: Se o devedor, desavisadamente, paga os R$100,00 aos herdeiros, os demais credores continuarão a ter o direito de cobrar. Pagar os R$100,00 aos herdeiros não exonera o devedor, pois eles não herdaram a solidariedade. Quem paga mal, paga duas vezes!Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

□ O credor solidário não pode perdoar a dívida inteira, se perdoar terá de responder perante os demais credores.Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

□ Exceção = forma de defesa, oposição a uma pretensão.Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros.

Exemplo de exceção:O professor pede que a aluna lhe compre uma garrafa d’água, para isso lhe dá R$2,50. A aluna paga R$8,00 pela garrafa d’água, mas não diz nada ao professor. No dia seguinte o professor empresta à aluna R$10,00. Ao ser cobrada pelo professor, a aluna alega ser credora do professor também, devendo a ele apenas R$4,50. É uma exceção pessoal de compensação. Se o professor transfere esse crédito de R$10,00 a outra pessoa, a aluna não poderá apresentar a exceção. A exceção é pessoal, só pode ser apresentada, nesse caso, ao professor.

O mesmo ocorre entre credores solidários. Se o devedor possui um crédito com um dos credores, não poderá apresentar a exceção aos demais. O devedor só poderá apresentar a exceção ao credor com quem tem o crédito, e só poderá fazer a compensação na medida do quinhão daquele credor.

Ex.: X deve R$100,00 a cinco credores solidários. Um desses credores deve a X R$15,00. X poderá apresentar a exceção pessoal de compensação a esse credor, pagando R$85,00 (sendo de R$5,00 o quinhão desse credor e de R$20,00 o quinhão de cada um dos outros quatro). Se aquele credor, no entanto, fosse devedor de R$30,00, X não poderia apresentar a exceção de compensação no valor de R$30,00, poderia apresentar a exceção de compensação no valor de R$20,00, não poderia ultrapassar o quinhão daquele credor.

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SOLIDARIEDADE PASSIVA

Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

□ A solidariedade não se transmite aos herdeiros, tanto a ativa quanto a passiva. Os herdeiros só respondem pelo seu quinhão (o que receberam/patrimônio – bens, créditos e dívidas).Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

□ O pagamento parcial ou remissão de um dos devedores apenas reduz o montante, não exonera os demais devedores. Se um devedor é perdoado ou quita a sua parte, esse valor é descontado do total, mas os demais devedores continuam solidários (valor restante).Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada.

□ A solidariedade se encerra ao que a lei definiu ou ao que foi acordado. O que é definido a mais na obrigação não entra na solidariedade. Se um dos devedores se obrigou a mais, é uma questão exclusiva. No caso de um contrato, não se pode ser solidário sem ter concordado. Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes.

□ Na impossibilidade do cumprimento da prestação por culpa de um dos devedores solidários todos pagam o equivalente, mas só o culpado responde por perdas e danos.Ex.: Três coproprietários de um apartamento vendem o imóvel, recebem o valor e se comprometem a fazer sua entrega em determinada data. Antes da entrega ocorre um incêndio, sendo um dos coproprietários culpado. Todos devolvem o valor recebido, mas só o coproprietário culpado responderá por perdas e danos (comprador teve gastos, pois teve de ir para um hotel).Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

□ Exceção:∙ Compensação∙ Novação∙ Prescrição

OBS.: A compensação de débitos que se tenha com a fazenda (fisco) com créditos que se tenha em relação a ela (precatórios) não é mais possível, não há mais o dispositivo legal com essa previsão.Argumentos jurídicos: O Estado goza do benefício da previsibilidade, ele é que se organiza para realizar os pagamentos dos precatórios, não podendo ser surpreendido com esse tipo de compensação. O Estado é permanente, podendo “postergar” esses pagamentos a fim de não comprometer seu orçamento e a sua administração.

□ A renúncia da solidariedade é diferente do perdão da dívida.

□ A solidariedade, seja passiva, seja ativa, beneficia o credor, ela está estabelecida para beneficiar o credor.Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.

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Ex.: O professor é credor de R$10,00 de duas alunas. Ele aciona uma delas cobrando R$5,00. Ao fazer isso, está abrindo mão da solidariedade, pois poderia cobrar os R$10,00 dela, mas optou por cobrar apenas R$5,00. Ele não abre mão da solidariedade por demandar apenas uma aluna, ele abre mão da solidariedade ao não cobrar o todo da dívida dessa única aluna.OBS.: Mesmo assim, ele ainda tem o direito de cobrar R$5,00 da outra aluna.OBS.: Se a aluna demandada paga apenas R$3,00 ao professor, ele ainda tem o direito de cobrar R$7,00 da outra aluna.

□ O devedor que paga se sub-roga no direito do credor, pode buscar dos demais devedores o que pagou a mais. O devedor que pagou o todo pode buscar junto aos demais a parte que lhes cabia. □ Sendo um dos codevedores insolvente, sua parcela será distribuída, ou seja, quem pagou o todo não ficará com todo o prejuízo.Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores.Ex.: Cinco devedores de R$100,00. Um deles paga o todo ao credor e vai buscar junto aos outros quatro os R$80,00, que era a parte que lhes cabia. Cada um dos quatro deveria lhe pagar R$20,00, mas um deles está insolvente. Os R$20,00 que caberia ao devedor que está insolvente é rateado entre os quatro, inclusive o que pagou o todo. Sendo assim, o devedor que pagou o todo receberia de cada um dos três a quantia de R$25,00. OBS.: Se antes disso um dos devedores foi perdoado (R$ 20,00), ele não precisará pagar os R$20,00 ao que pagou o todo, afinal o todo não seria mais de R$100,00 e sim de R$80,00, mas ele é chamado de volta para fazer parte do rateio da parte devida pelo insolvente.Art. 284. No caso de rateio entre os codevedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente.

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

A transmissão das obrigações consiste na alteração/modificação de um dos sujeitos da relação obrigacional em razão da transferência de sua posição para outra pessoa, que assume a obrigação em seu lugar. Como regra a modificação se dá voluntariamente.

□ Cessão de posição contratual: Alguém cede a posição que tem em um determinado contrato, deixando de ser contratante e passando a sua posição para outra pessoa. Assume-se a posição inteira/integral dentro do contrato (direitos, obrigações, créditos, dívidas...). Ex.: Alguém que assume a posição de comprador de um bem se torna devedor da quantia e credor do bem.

∙ Cedente → Cede a posição (contratante original)∙ Cessionário → Assume a posição

Exemplo: No transpasse de um estabelecimento comercial, o cessionário terá todos os direitos e todas as obrigações do cedente (contratos com fornecedores, créditos com os clientes...).

□ Cessão de crédito:O credor originário, que constituiu a obrigação, transmite à outra pessoa a posição de credor. O credor originário se exonera, se retira, deixando de ser parte na relação obrigacional.

□ Assunção da dívida:Outra pessoa assume a dívida do devedor originário. Ocorre a transmissão da posição de devedor do devedor originário para outra pessoa. O devedor originário se exonera, se retira, deixando de ser parte na relação obrigacional.

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Direito das Obrigações

TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO DE DEVEDOR → ANUÊNCIA DO CREDORA qualidade do devedor interessa muito ao credor, tendo em vista que o patrimônio do devedor garante a satisfação da obrigação. Por isso a transmissão da posição de devedor terá de ter anuência/concordância do credor.

TRANSMISSÃO DA POSIÇÃO DE CREDOR → NOTIFICAÇÃO DO DEVEDORJá a transmissão de crédito ocorre, via de regra, sem necessidade de anuência do devedor. A dívida não vai mudar, o devedor terá de pagá-la da mesma forma. É assegurada ao devedor a notificação/comunicação da cessão do crédito.

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

□ Regra: O credor pode ceder seu crédito.□ Exceção: O credor não pode ceder seu crédito quando a natureza da obrigação, o contrato ou a lei proibirem.∙ Natureza da obrigação impede a cessãoO crédito pode ser uma prestação de dar, fazer ou não fazer. Existem obrigações que só podem ser realizadas em relação a um credor. Há características da prestação que impedem a sua transmissão, a sua cessão. A obrigação que sempre será possível transmitir (analisando sua natureza) é a de dar quantia.Ex.: X paga ao médico o valor por uma cirurgia, tornando-se credor de uma obrigação de fazer do médico. Esse crédito não pode ser cedido, pois o procedimento cirúrgico está vinculado às condições de saúde de X.∙ Convenção com o devedor proíbe a cessãoFica estabelecida no contrato a proibição de cessão do crédito. Quando for acordado entre as partes que o crédito não poderá ser cedido, mas mesmo assim o crédito for cedido, o terceiro de boa-fé (que se torna credor) não vai ser prejudicado se essa proibição não estiver escrita no contrato. Se a proibição estiver escrita no contrato, o terceiro será prejudicado, não receberá o crédito, pois deveria saber da proibição, tinha condição de saber. ∙ Lei proíbe a cessãoO crédito alimentar, por exemplo, não pode ser cedido. É um crédito que se destina ao sustento, à subsistência do credor. É um crédito irrenunciável e intransmissível.

□ Acessório segue o principal Juros acompanham o créditoArt. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus acessórios.

DESÁGIO = Diferença entre o crédito e o valor que o cedente recebe do cessionário pela transmissão.Ex.: Banco é credor de R$115.000,00, cede o crédito por R$100.000,00. R$15.000,00 é o deságio.

OBS.: Banco Itaú e Banco Bradesco eram cessionários de altos créditos originários do Banco Panamericano. Por essa razão o Banco Panamericano foi salvo pelo governo, sua quebra causaria abalo nos dois maiores bancos privados do país.

□ A cessão de crédito deve ser feita por instrumento público com qualificação das partes e objeto da obrigaçãoArt. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1§ do art. 654.Art. 654 § 1º O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.

□ Cessionário de crédito garantido por hipoteca tem o direito de fazer constar isso na matrícula do bem.Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel.∙ Hipoteca = direito real de garantia sobre imóveis, aeronaves e embarcações.∙ Bem hipotecado é levado à hasta pública caso a dívida não seja paga.

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Direito das Obrigações

OBS.: Se o bem hipotecado torna-se bem de família, a hipoteca não é atingida, o bem não será protegido. Entretanto é possível impedir que se faça hipoteca em um bem de família.

□ Notificação do devedorArt. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.∙ A notificação da cessão do crédito gera efeitos sobre o devedor∙ A partir da notificação da cessão, o devedor passa a ter a obrigação de pagar ao cessionário. ∙ Antes da notificação é valido o pagamento ao credor originário (cedente)

PROVA

ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES

Há dois fins (destinos) da relação obrigacional:- Positivo: adimplemento → “o adimplemento polariza a obrigação” → adimplemento: objetivo da obrigação.- Negativo: inadimplemento

Pagamento = ato pelo qual se realiza o adimplemento das obrigações.

→ Classificação:

1. Pagamento Direto: A. Adimplemento Espontâneo – Ocorre quando o devedor realiza a prestação independentemente de qualquer ato do credor. O devedor assume o comportamento espontâneo de realizar a obrigação nos termos contratados.B. Adimplemento Voluntário – Ocorre quando o credor insta o devedor a realizar o pagamento, reclama ao devedor o pagamento. O credor interpela o devedor reivindicando o pagamento. Ex.: A empresta a B, mas não estabelece prazo. A qualquer tempo A poderá exigir o pagamento/adimplemento. O tempo é o da interpelação, vence no momento que o credor interpelar o devedor. O devedor só age quando é interpelado pelo credor, não age de forma totalmente espontânea. C. Adimplemento Forçado – O devedor não realiza o adimplemento, e o credor tem de utilizar meios coercitivos (ajuizar, por exemplo). O devedor realiza a prestação mediante a adoção de meios coercitivos. Aqui não se fala em multas, em perdas e danos, etc., o que se quer é o cumprimento da obrigação e isso é cobrado por meios coercitivos.

P.S.: A linha que separa o inadimplemento do adimplemento forçado é muito tênue, mas o adimplemento forçado é um a forma de adimplemento. Alguns, todavia, acreditam que a recusa já caracterizaria inadimplemento.

2. Pagamento indireto: Situação em que o pagamento não se dá da forma acordada.A. Consignação em pagamento: O devedor faz um depósito em juízo, tornando-se autor da ação, e o credor é citado para aceitar ou contestar, tornando-se réu da ação. B. Dação em pagamento: É entregue um bem ou uma coisa diversa da acordada. O credor não é obrigado a aceitar, já que o devedor não tem o direito de modificar unilateralmente a prestação que havia sido acordada.C. Novação: Extingue-se a obrigação com outra.D. Compensação: Devedor e credor têm posição inversa em outra obrigação e realizam uma compensação.E. Confusão: O patrimônio do credor e do devedor se confunde. Ex.: Credor e devedor casam-se em comunhão universal de bens. Ex.: Sociedade credora/devedora se funde, ou se incorpora a outra que é sua credora/devedora.F. Remissão: Perdão da dívida.

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Natureza jurídica do pagamento: A rigor, quem realiza o pagamento está vinculado a regras já definidas (lei, contrato), já está definido o conteúdo da obrigação, sua forma, etc.

Três hipóteses:1. Pagamento = negócio jurídico → Há liberdade para contratar. Os efeitos são influenciados pela vontade.2. Pagamento = ato/fato jurídico → Para Pontes de Miranda, o pagamento é fato/ato jurídico. Não interessa a vontade (se queria pagar ou não), muitas vezes o pagamento pode ser feito por outra pessoa inclusive. 3. Pagamento = ato jurídico em sentido estrito → A consequência vem da lei. É a lei que diz que o pagamento extingue a obrigação. Obs.: Pagamento feito mesmo a quem não era o credor (credor putativo) ex.: valor entregue ao corretor ao invés de ao segurador. Se esse pagamento é válido, e é, ele favorece a tese do ato jurídico estrito senso. Se você teve vontade de realizar o pagamento, não interessa se não se tratava do credor certo, é a vontade que interessa.Teoria da aparência: agente que só aparecia, mas de fato não era representante do órgão, da empresa. O órgão/empresa, responde.

Ato jurídico = Conduta humana→ Ato jurídico estrito senso: Escolho praticar o ato, mas os efeitos não são influenciados pela vontade, vêm da lei. O ato é de minha vontade, mas o efeito vem da lei. Ex.: Registro de pessoas, interpelação ( quem dá o efeito é a lei).→ Negócio jurídico: São os contratos. Há liberdade para contratar, para estipular... Os efeitos são influenciados pela vontade.→ Ato/fato jurídico: Não interessa a vontade humana, tão somente, o resultado. Não se jurisdicia o comportamento, só o resultado. Ex.: louco que pinta o quadro, criança que descobre um tesouro (não é o comportamento/vontade, é o resultado que é jurisdicizado). Ex.: Peixes são res nullius (de ninguém). Um indivíduo pesca um peixe, outro indivíduo pega um peixe acidentalmente. É o resultado que importa (tomou posse do peixe), não a vontade (o que queria pegar o peixe, e o que pegou acidentalmente).

Quem realiza o pagamento: ∙ Devedor∙ Terceiro interessado: Afetado pelos efeitos do negócio, pelo adimplemento ou inadimplemento da obrigação. É titular de um interesse jurídico estabelecido pelo direito. Ex.: Alguém que compra um imóvel com hipoteca (interesse em quitar a hipoteca), alguém que compra um carro financiado (interesse em pagar o financiamento).∙ Terceiro não interessado

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor.Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.

Se o terceiro interessado paga...∙ Ele terá os meios reconhecidos para efetuar o pagamento se o credor se opõe a receber (consignação em pagamento, interpelação...). Obs.: Essa interpelação é diferente da interpelação para cobrar, é uma interpelação para pagar → “aceite o pagamento!”∙ Ele se sub-roga nos direitos do credor originário.

Se o terceiro não interessado paga, ele só terá os meios reconhecidos se o devedor originário permitir, e terá direito apenas ao reembolso do que pagou.

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Direito das Obrigações

Então, se o terceiro não interessado pagar com a permissão do devedor originário, terá direito à consignação, à interpelação, etc.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.→ Regra: Possibilidade de o devedor se opor a pagamento por terceiro.

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.∙ Aquele que recebe a coisa vai correr os riscos da evicção.∙ Evicto é aquele que perde a coisa em razão do proprietário legítimo haver pegado a coisa de volta para si (já que era sua na realidade).

Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.∙ É um credor de boa-fé que recebeu algo em pagamento de uma obrigação da qual era credor legítimo. Ele não sabia que esse algo que recebeu não era de fato do devedor. O real proprietário não poderá lhe cobrar isso se ele já consumiu (não é aplicável para imóvel, claro!).

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.∙ Pagamento feito para outra pessoa só será válido depois do credor ratificar esse pagamento ou de provado que reverteu em benefício do credor (provar que aquela pessoa entregou o pagamento ao credor mesmo).

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu.∙ Tem de ser capaz de dar quitação → dar recibo, restituir a nota promissória, restituir o cheque dado como caução...

Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.∙ Havia plenas condições de saber que o portador do termo não era legítimo. Ex.: professor vendendo rifa da turma com erros grosseiros (rifa claramente adulterada).

Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

OBRIGAÇÃO → TEMPO, LUGAR E MODO.O credor não está obrigado a receber coisa diversa, de modo diverso.

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.

Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes.

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Direito das Obrigações

∙ Não pode haver recusa do pagamento de reais (curso forçado da moeda corrente nacional)∙ Meio de pagamento de obrigações → $∙ Via de regra, as partes não podem combinar pagamento em moeda estrangeira. Só poderão cumprir obrigações com moeda estrangeira nos casos excepcionais previstos em lei (ex.: cumprimento da obrigação no exterior).∙ É proibida a indexação de prestações segundo variações de moeda estrangeira.∙ Moeda estrangeira é objeto de compra, não é ela que tem curso, como a moeda nacional.∙ Se for estabelecido o pagamento em moeda estrangeira a cláusula será nula.

Princípio do nominalismo: dívidas pagas segundo seu valor nominal

Dívidas de dinheiro X Dívidas de valor∙ Discussão existente quando vivíamos períodos de inflação.

→ Pelo princípio do nominalismo, vale o valor nominal indicado na obrigação. Se o estabelecido é que se pague R$ 2.000,00, será esse o devido, nem que no momento não valha mais isso.

Obrigações de valor: Fixa-se um valor, mas no momento do pagamento ele poderá ser recomposto. Define-se que o preço será o da cotação daquele bem na bolsa na data do pagamento. Obedece a um critério de fixação da data do pagamento.

→ No direito brasileiro a regra é o nominalismo.

Art. 316. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.∙ É lícito reajustar prestações sucessivas. ∙ Permite o reajuste para não haver prejuízo∙ Isso ocorre justamente porque nossa regra é o nominalismo.

VALOR NOMINAL + JUROS + TR Taxa calculada mês a mês

Por essa razão o devedor nunca sabe ao certo quanto pagará antes da TR do mês ser aplicada.

Correção monetária: proteção da moeda e dos contratos frente à perda do poder de compra. ∙ Criação brasileira

∙ Recompor o valor nominal ∙ Pode corresponder a um valor expressivo quando há um longo decurso de prazo

Ex.: Sentença condenatória de R$ 2.000,00 em 2002. Devido a muitos recursos o montante poderia chegar hoje a R$ 13.000,00, sem falar nos juros de mora.

Exemplo de perda do poder da moeda: Até a década de 70 os EUA tinha o lastro ouro. Em 1971 a própria moeda estadunidense vira

referência para as transações internacionais. Pós II GM (1945), os EUA comprometeram-se a pagar em ouro a qualquer um que apresentasse

dólares em uma instituição estadunidense. Tudo ia bem, mas com a indisposição dos EUA com os países produtores de petróleo (árabes) – Os EUA colocavam-se ao lado de Israel nos conflitos – os árabes aumentaram o valor do petróleo, e todo o valor ganho com a venda do petróleo (dólares) foi apresentado para troca por ouro. Os EUA compreenderam ser uma estratégia para quebrar o país.

Nixon, em 1971, modifica por tratado o que estava estabelecido. Os EUA passam a não entregar ouro e emitem muita moeda. A inflação não era perceptível porque os preços subiam juntamente com os salários, todavia a inflação já chegava a 200%.

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Direito das Obrigações

A dívida externa americana é de trilhões, mas como se trata de uma economia confiável, isso acaba não sendo determinante. O Brasil tem títulos de curto prazo (10 anos), enquanto os EUA têm de longo prazo (50 anos).

Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.∙ Equilíbrio contratual → A violação do equilíbrio pode comprometer a própria existência e manutenção do contrato.∙ Traz elemento para a proteção. Assegura a proteção ou possibilita a reorganização/reestruturação do contrato.

ECONOMIA DO CONTRATO → SINALAGMA˪ Ideia francesa˪ Equação econômica que possibilita o cumprimento do contrato e a proteção do interesse útil das partes.

O ART.317 TRAZ DOIS CRITÉRIOS → FATO SUPERVENIENTE E IMPREVISÍVEL∙ Causa nova e estranha às partes∙ Fato superveniente e imprevisível∙ Fato que repercute entre as partes e gera valor desigual entre as obrigações∙ Imprevisível ≠ ImprevistoImprevisível – Impossível de prever.Imprevisto – Tem-se o dever de prever, mas não se prevê (não se é suficientemente diligente e prudente).

Exemplos de fatos imprevisíveis: confisco das poupanças, construção de moradias populares perto de um imóvel que até então era bem valorizado...

OBS.: O Código de Defesa do Consumidor não traz o termo imprevisibilidade.

Exemplo.: Banco e Construtora respondem solidariamente pela qualidade dos imóveis, por essa razão são feitas as vistorias.

Art. 318. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.∙ OBS.: Sílvio Santos não paga em ouro, na verdade não pode fazê-lo. É um índice para indexar o depósito.

Art. 319. O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.∙ Quitação: prova do pagamento, declaração/indicação do credor de que o pagamento foi feito e em que conteúdo. Declaração de que não há mais nada a ser cobrado.

Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.∙ Termos e circunstâncias: carimbo da consumação, registros mecânicos de pagamento, recibos automatizados...

Art. 321. Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido.∙ A posse do título caracteriza prova. O devedor comprova o pagamento com a posse do título.

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Direito das Obrigações

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.∙ Iuris Tantum: presunção relativa (salvo prova em contrário).∙ Se pago a parcela de maio, presume-se que as anteriores estão pagas. ∙ Presunção que beneficia o devedor.

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes se presumem pagos.∙ Quando se realiza um pagamento parcial posso dizer a que essa parte se refere (imputação do pagamento). ∙ Ex.: Devo R$ 100,00 e pago R$ 70,00. Posso dizer a que esses R$ 70,00 se referem (capital, juros...).∙ Se não estiver elencado expressamente no termo de quitação, considera-se que os juros foram quitados/pagos. Termo genérico implica quitação genérica. O credor não poderá alegar que os juros não foram pagos.

Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.Parágrafo único. Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do pagamento.

Art. 325. Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida.

Art. 326. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução.∙ Obrigações podem ser estipuladas ad mensuran ou ad corpus → Ad mensuram: medida, peso. Ex.: 50 kg de carne→ Ad corpus: entrega de objeto determinado ou determinável. Ex.: uma peça de carne

□ Se a obrigação é estipulada ad mensuram, no silêncio das partes será considerada a medida do local do pagamento (ex.: alqueires têm medidas diferentes de acordo com o estado).

LUGAR DO PAGAMENTO→ REGRA: DOMICÍLIO DO DEVEDOR∙ Dívida deve ser paga pelo devedor em seu domicílio.∙ A regra geral é que a dívida seja querable/quesível, paga no domicílio do devedor.

□ DÍVIDA QUERABLE → DÍVIDA QUESÍVELDívida que deve ser paga no domicílio do devedor

□ DÍVIDA PORTABLE → DÍVIDA PORTÁVELDívida que deve ser paga no domicílio do credor

Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.∙ Regra: domicílio do devedor.∙ Designados dois ou mais lugares, quem escolherá será o credor.

Art. 328. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem.∙ Transmissão do imóvel → LUGAR DO IMÓVEL∙ Prestações relativas a imóveis → LUGAR DO BEMA regra é flexibilizada em caso de depósito em conta (pagamento bancário)

Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.

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Direito das Obrigações

∙ Motivo grave: ocorrendo motivo grave, o devedor poderá fazer o pagamento em lugar diverso do acordado. ∙ Ex.: foi ajustada a entrega no domicílio do credor, mas quando o devedor foi se deslocar, devido a fenômeno climático, foi impedido. Isso permite ao devedor sugerir alteração do local do pagamento.

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.∙ Efeitos da boa-fé → Origem de deveres ético-jurídicos.∙ Nascem situações típicas da boa-fé.

□ QUATRO DEVERES/EFEITOS DA BOA-FÉ ˪ SUPRESSIO˪ SURRECTIO˪ TU QUOQUE˪ VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM

1. Supressio: Supressão do direito em razão da “não utilização”. Dá-se quando um titular de um direito não exerce seu direito por certo tempo, um tempo suficientemente longo para fazer criar na outra parte a crença de que esse exercício não mais vai ocorrer.∙ Ex.: o pagamento deve ser feito por doc. bancário, mas o devedor vai à tesouraria para realizar o pagamento diretamente ao credor. O credor sempre aceitou esse comportamento, por mais que se tenha estabelecido de forma diferente. Isso cria a expectativa de que o credor não vai mais exercer seu direito de receber por doc. Tornou ineficaz o direito do credor de exigir o pagamento por doc.∙ Ex.: todo ano o seguro era renovado quase que automaticamente pela seguradora. Trinta anos depois o segurador resolve exercer o seu direito de recusar a renovação. Decisões do STF/STJ dizem que o segurador não pode exercer o direito. Tornou-se ineficaz o direito do segurador não renovar o seguro (“não o exerceu até agora, não poderá exercê-lo agora que já criou a expectativa”). A conduta reiterada faz desaparecer o direito.2. Surrectio: Do comportamento reiterado nasce um efeito jurídico que não estava previsto inicialmente. A obrigação nasce do comportamento reiterado de uma das partes. Nasce a expectativa legítima. Conduta reiterada faz nascer o direito.∙ Ex.: Caso Cicca. A Cicca distribuiu sementes de forma gratuita para os agricultores e depois comprou a safra de tomates. A doação de sementes ocorreu repetidas vezes, sempre seguida da compra da safra. Em dado momento a Cicca distribuiu as sementes, mas não comprou a safra. Em ação indenizatória movida pelos agricultores – que perderam a safra, já que não a comercializaram com mais ninguém esperando pela Cicca – a Cicca alegou não ter firmado contrato, tratando-se apenas de um acordo de doação (contrato gratuito). O juiz do caso enxergou ali a boa-fé objetiva, a exigência ético-jurídica de proteção da confiança. O comportamento reiterado de doação de sementes e compra da safra gerou expectativa legítima, e dessa expectativa legítima nasceu a obrigação. O comportamento reiterado gerou vínculo jurídico.

3. Tu quoque: Proibição de dois pesos e duas medidas. Impede a interpretação de uma mesma norma de duas formas. ∙ Ex.: Fixa-se a entrega do vestido de noiva para o dia x, mas para isso será preciso entregar o tecido dez dias antes desse dia x. Não entrego o tecido no prazo, mas exijo que o vestido me seja entregue no prazo.

4. Venire contra factum proprium: Proibição de comportamento contraditório. As partes não podem se comportar de determinada forma, gerando expectativa, e alterar o comportamento de forma surpreendente, sem aviso. É o respeito à expectativa criada.∙ Aplicável ao Caso Cicca também.

TEMPO DO PAGAMENTO

REGRA GERAL → CUMPRIMENTO INSTANTÂNEO.EXCEÇÃO → CELEBRA EM UM MOMENTO E CUMPRE EM OUTRO, ATÉ MESMO EM PARCELAS.

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Direito das Obrigações

Art. 331. Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente.∙ Ao interpelar o devedor, o credor torna exigível o cumprimento da obrigação. Não havendo o pagamento, ocorre a mora.→ Mora ex re: Mora instantânea ou automática. Define-se a época do pagamento, chega o termo de vencimento e não ocorre o pagamento. O advento do termo gera a exigibilidade da prestação. → Mora ex persona: Para haver mora é necessária a interpelação. Não é estipulado o prazo, o credor exige o pagamento (interpela) e o devedor não paga, só então se caracteriza a mora.

Art. 332. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor.

□ Condições suspensivas:∙ Determinado efeito não se produz até que se implemente uma condição.∙ Determinado efeito não se produz se uma condição não for implementada.□ Condições resolutivas:∙ O efeito se produz desde logo, mas se a condição for implementada o efeito se desfaz.

Obrigação de restituir (devolver) - TV por assinatura sem prazo, mas que por inadimplemento se resolve. A resolução do contrato por inadimplemento pode gerar a obrigação de devolver o aparelho.

OBRIGAÇÃO NASCENDO DE UMA CONDIÇÃO RESOLUTIVA

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste Código:I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.

Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes.

Exceção do princípio da vinculatividade ao que se refere ao tempo do pagamento → Vencimento antecipado

□ Hipóteses em que é possível cobrar ANTES do vencimento:∙ Falência do devedor.∙ Concurso de credores.∙ Bens penhorados por outra execução.Esses bens já estavam hipotecados ou empenhados por essa obrigação, ao serem penhorados por outra execução deixam de ser uma garantia firme. Isso dá o direito de cobrar antecipadamente.∙ Garantias tornam-se insuficientes e o devedor nega-se a reforçá-las.

REVISÃO SOBRE O LUGAR DO PAGAMENTO...

→ Não havendo nada estabelecido em contrário, será no domicílio do devedor → Dívida querable/quesível.

∙ Possibilidade de estabelecer mais de um lugar, daí caberá ao credor escolher.

∙ Imóveis → Lugar onde se encontra o bem.

□ Lembrar que o Art. 330 traz um tipo de supressio:

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Direito das Obrigações

Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.- Está no contrato uma coisa, mas por todo o tempo se faz o contrário.- Se sempre aceitou de outra forma, não pode cobrar depois que se faça da forma como está no contrato.- Presunção de renúncia do credor.

REVISÃO SOBRE O TEMPO DO PAGAMENTO...∙ Por tempo ou condição → data do vencimento ou condição∙ Sem fixação de termo ou condição poderá ser cobrado a qualquer tempo, desde que haja interpelação do devedor pelo credor.

□ Vencimento antecipado: falência, concurso de credores, garantias do débito insuficientes, bem com garantia hipotecária levado à penhora...

OBS.: Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.→ Se, depois de concluído o contrato, houver diminuição significativa de patrimônio de uma das partes, a outra pode se negar a cumprir com a sua obrigação, pois não sabe se receberá a prestação.

EXCEÇÃO DE INSEGURIDADE OU EXCEÇÃO DE INSEGURANÇA

Ex.: Empresa em situação pré-falimentar (há dúvida em relação a sua saúde financeira). Se tenho um contrato com ela, devendo cumprir uma obrigação para depois receber ($) dela, posso, através de uma exceção de inseguridade, condicionar o cumprimento da minha obrigação ao cumprimento da obrigação por parte da empresa (pode-se cobrar/exigir uma garantia).

OBS.: Se eu não aceitar a garantia ou não tiver como a empresa dar a garantia, resolve-se o contrato.

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

Art. 335. A consignação tem lugar:I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento

CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTODevedor encontra obstáculo para pagar, para cumprir a obrigação.∙ Dúvida quanto à legitimidade do credor para receber.∙ Recusa do credor em receber.∙ Há litígio (mais de um credor se apresenta).

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Direito das Obrigações

Entrega-se o objeto do pagamento para que se discutam esses itens depois. O devedor é o autor da ação e o credor ou possíveis credores são os réus. O devedor (autor da ação) não quer ser considerado inadimplente, quer cumprir a prestação e se exonerar da dívida.

Depósito judicial ou em instituição bancária do bem objeto da obrigação é considerado forma de extinção da obrigação.

Muitas vezes o credor cria dificuldades para o pagamento → Mora Accipiendi → Mora do credor Aquele que deve receber impõe dificuldades

Ex.: locador não recebe do inquilino porque tem intenção de despejá-lo, faz isso porque quer o fim do contrato. Ex.: vendedor de um bem acerta com comprador A, mas depois recebe melhor oferta de B. Ele dificulta que A pague para poder vender para B.

Casos em que cabe a consignação em pagamento, mesmo com credor determinado:- O credor não está em condições de me dar a quitação (está doente, está viajando...)- O credor se recusa a receber

Quanto à ação...∙ Autor: Devedor∙ Réu: Credor ou possíveis credores → Citado(s) para receber(em) o pagamento ou contestar.

- Ação procedente: réu levanta o valor depositado e arca com o ônus da sucumbência (custas, honorários advocatícios...), extingue-se a obrigação.

- Ação improcedente: autor considerado inadimplente desde a data em que deveria ter pagado a prestação e não o fez, tendo ao invés disso entrado com a consignação em pagamento.

□ A consignação em pagamento estanca a mora, impede acúmulo de juros e incidência de cláusula penal (multa).

Ex.: Um árabe é tido como morto em 11/set, deixando diversos devedores, inclusive brasileiros. O árabe deixou diversos filhos de vários relacionamentos, o que causou muita divergência no inventário (Em que país tramitará? A que lei estará submetido? Quem terá direito à herança?). Devedores brasileiros entram com uma consignação em pagamento, requerendo a citação da viúva nos EUA. Era o que se podia fazer naquele momento para cumprir a obrigação, evitando inadimplemento e incidência de juros. Obs.: O árabe reapareceu, não havia morrido. Ocorre o levantamento do valor com os rendimentos do depósito, nada mais. Não houve multa, juros, etc. Nada disso pode ser cobrado, pois são cobrados em razão do inadimplemento.

→ Quando a consignação em pagamento é julgada improcedente, o autor/devedor é considerado inadimplente e tem de arcar com todos os seus efeitos.

Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.

Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.

Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as consequências de direito.

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Direito das Obrigações

∙ Enquanto não houver resposta do réu, enquanto não houver “angularização”, enquanto não houver “composição da lide”, o autor pode levantar o depósito.

Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros devedores e fiadores.∙ Se houver mais de um devedor ou devedor e fiadores, o depósito (consignação) favorece a todos. O depósito gera efeitos para o autor da consignação e para esses demais.

Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados os codevedores e fiadores que não tenham anuído.∙ Credor contestou e aceitou que o autor (devedor) levantasse o depósito, esse levantamento (essa concordância) não gera efeitos prejudiciais aos codevedores. Isso impede que o devedor/autor que deposita faça um acordo com o credor/réu (eles poderiam dividir o valor, o credor poderia dar quitação em relação ao devedor que é autor da consignação e cobrar os demais). Esse dispositivo protege os codevedores que por vezes nem sabem dos rumos da consignação, sabendo apenas de sua existência e de que estão “livres” da dívida.

Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada.

Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente.∙ Citado para fazer a escolha → Obrigação alternativaConsignação com pedido para que o réu (credor) escolha.

Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor.∙ Ex.: objeto da obrigação é um animal de raça ∙ Gastos com o depositário do animal - Consignação em pagamento julgada procedente → Gastos serão pagos pelo credor/réu- Consignação em pagamento julgada improcedente → Gastos serão pagos pelo devedor/autor

Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento.

Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.∙ Várias pessoas discutem sobre quem tem a legitimidade.∙ Ao invés de o devedor querer depositar para se exonerar, um dos (possíveis) credores requerem a consignação, requerem o depósito.∙ Hipótese inversa → Devedor citado para depositar.

DAÇÃO EM PAGAMENTO

Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.

DAÇÃO EM PAGAMENTO∙ Exceção da vinculatividade da obrigação.∙ O pagamento se realiza pelo pagamento/cumprimento de outra prestação. ∙ O credor poderá aceitar a prestação diversa da originalmente ajustada.

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∙ O devedor oferece ao credor uma substituição da prestação no momento do pagamento.

Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

Art. 358. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão.

Art. 359. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros.

→ Diferença em relação à novação, em que é criada uma nova obrigação para pagamento da anterior. Na dação o efeito é o mesmo que o pagamento da prestação original: efeito de extinção.

Efeitos:∙ Ajustada a dação e oferecida coisa a ser dada em pagamento, aplicam-se as regras (quanto à qualidade, quanto à entrega...) típicas de compra e venda. Que regras? Regras que regulam a transmissão da propriedade.- Tradição (entrega física da coisa)- Registro (imóveis)

→ Compra e venda é um contrato oneroso comutativo (obrigação de dar de ambas as partes). Havendo vício que afete o valor da coisa, denominado vício redibitório, nasce para o comprador a pretensão de resolução do contrato de compra e venda, pois foi afetado o interesse útil.

Cabe ao credor que recebe a coisa dada em pagamento requerer a complementação do valor ou a resolução do contrato.

Vício é falha contemporânea ao negócio. O vício já está presente na celebração, isso é importante para diferenciar o vício da perda de valor natural da coisa.

□ Nascem pretensões quando a falha é contemporânea ao negócio, quando há vício.

Prazo para reconhecer vício redibitório → Vício Oculto ∙ Móveis: 30 dias, prorrogáveis.∙ Imóveis: 1 ano.

Essa regra é específica da dação em pagamento.

Não confundir com o CDC (Art. 18)

→ Se o vício sacrificar completamente o interesse útil, se o vício que era aparente (ex.: uma pequena pane elétrica – não acender a luz da geladeira) tem uma extensão maior do que se imaginava (ex.: a geladeira não funciona), isso dá o direito que se teria no caso de um vício oculto, pois sua extensão era oculta.

Evicção – Perda do domínio da coisa em razão de ela ter sido alienada por quem não tinha poderes para alienar. Quem deu o bem em pagamento não tinha poderes para dar esse bem.OBS.: Nem sempre quem tem a posse tem a propriedade, portanto não pode dispor da coisa.OBS.: Coisa em litígio – quem deu a coisa em pagamento era apenas uma das pessoas que litigava por aquele bem, por aquela coisa, ainda estava litigando pela propriedade da coisa.

Ocorrendo a evicção, volta a existir a obrigação, haverá juros, correção, honorários advocatícios, perdas e danos... O devedor será considerado inadimplente desde o momento em que deveria ter pago e não pagou.

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NOVAÇÃO

Art. 360. Dá-se a novação:I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com este.

Novação – Caracteriza-se por ser uma nova obrigação constituída entre credor e devedor com a função de extinguir e substituir uma obrigação anterior. A novação tem como causa a extinção de uma obrigação anterior.

Causa – Aspecto jurídicoMotivo – Aspecto pessoal/intelectual

Hipóteses da novação:∙ MUDANÇA DE OBJETO → NOVAÇÃO OBJETIVAQuando o devedor contrai nova dívida para extinguir a antiga∙ MUDANÇA DE DEVEDOR → NOVAÇÃO SUBJETIVA PASSIVAQuando, em virtude de obrigação nova, o novo devedor sucede o antigo, ficando o antigo quite.∙ MUDANÇA DE CREDOR → NOVAÇÃO SUBJETIVA ATIVAQuando, em virtude de obrigação nova, há novo credor.∙ MUDANÇA DE CREDOR E DEVEDOR → NOVAÇÃO SUBJETIVA MISTA

→ A novação extingue obrigação, é diferente de uma cessão do crédito em que só mudam as partes, permanecendo a mesma obrigação.

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira.

Elemento essencial da novação = Ânimo de novar (Art. 361)Sem ânimo de novar é apenas uma renegociação da dívida, da obrigação anterior. OBS.: Quando deixo de cobrar juros e multa da obrigação anterior, cobrando apenas o principal, estou fazendo uma novação, não estou parcelando o valor simplesmente, é a obrigação com novo objeto. Novação Subjetiva – Art. 362 → Substituição do devedorPode ocorrer independentemente do consentimento do devedor original. O credor estabelece obrigação com outra pessoa, com novo devedor, estando o devedor original livre. Não há vínculo entre as obrigações, a primeira é extinta. Isso não deixa o devedor novo com direitos sobre o antigo, não há sub-rogação, é uma nova obrigação, é uma obrigação independente.OBS.: Geralmente há interesse jurídico no cumprimento da obrigação.Ex,: A compra de B um apartamento financiado ainda não quitado por B. A faz novo contrato com o banco, não fica simplesmente no lugar de B pagando o financiamento, faz um novo financiamento com o banco, com novas condições. Não há mais vínculo jurídico entre o credor e o devedor antigo.

Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste.

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição.

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∙ Sendo insolvente o novo devedor, não poderá o credor ir atrás do antigo, exceto quando houver má-fé, quando o devedor antigo, sabendo da insolvência, não informou o credor da obrigação.→ Evidentemente a dificuldade é fazer prova.

Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.

∙ A nova obrigação poderá prever garantias e acessórios, podem até ser iguais aos da obrigação antiga, mas devem estar estabelecidas para a nova obrigação.

∙ Penhor, hipoteca e anticrese → a coisa é entregue para que o credor receba seus frutos e vá abatendo a dívida, Ela usa e vai recebendo os frutos, depois devolve o bem. Ex.: imóvel (percebe os aluguéis).

∙ A garantia não continua na novação se o terceiro garantidor não for parte da novação.

Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários ficam por esse fato exonerados.

∙ A novação extingue a solidariedade, se apenas um dos devedores solidários faz a novação os demais ficam exonerados, se extingue a solidariedade. Só o devedor que faz a novação é devedor.

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.

∙ Também há exoneração do fiador quando a novação é feita sem seu consenso com o devedor principal.

Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas.

∙ Não posso fazer novação de obrigação nula ou extinta. Se o objeto da novação é extinguir obrigação anterior, ela não pode existir se a obrigação não existe.

Obrigação anulável – sendo validado/retificado é passível de novação. Torna-se válido quando passa o tempo de alegar ou quando se ratifica/confirma.

COMPENSAÇÃO

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.

Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Compensação – Duas pessoas são ao mesmo tempo credoras e devedoras uma da outra em duas obrigações diferentes. As obrigações extinguem-se até onde se compensarem.A dívida tem de ser...∙ Líquida (valor certo)∙ Vencida (exigível)∙ Coisa fungível

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OBS.: Até mesmo as dívidas prescritas podem ser compensadas, pois o fato de ser prescrita impede que se cobre em juízo, que se possa constranger o devedor a pagar através de um processo. Alguns doutrinadores acreditam que dívidas prescritas não são exigíveis, portanto não pode haver compensação.

Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação.

Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:I - se provier de esbulho, furto ou roubo;II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.

∙ Dívidas com causas diferentes não impedem a compensação...

... EXCETO:

A. Esbulho, furto ou roubo.→ Torna a prestação infungível→ Estimularia o uso arbitrário das próprias razões → Restituição da coisa exata que foi retirada.

B. Comodato, depósito e alimentos.→ O comodato e o depósito tornam a coisa infungível (o objeto é a devolução da própria coisa). O comodato é o empréstimo gratuito de coisa infungível. O depositário tem obrigação de custódia (obrigação de cuidar da coisa e obrigação de restituí-la). Posso estar desnaturando a natureza do contrato se permitir a novação.→ Alimentos: natureza/conteúdo da obrigação é necessária para a subsistência do credor. Há presunção legal de que o credor não irá subsistir se não receber a prestação, por isso não admite compensação.

C. Se uma das obrigações tiver como objeto coisa não suscetível de penhora (bens impenhoráveis). → A coisa é inexigível, pois não posso constranger judicialmente através da penhora o devedor a entregar.

Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia prévia de uma delas.

∙ Quando as próprias partes resolverem entre si não realizar a compensação (colocando no contrato que não pode haver compensação, ou estipulando isso depois), não poderá ser feita a compensação.

∙ Se uma das partes não quiser compensar, não haverá compensação, porque ela é titular de uma das obrigações.

Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe dever.

Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a

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Direito das Obrigações

cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.

COMPENSAÇÃO É EXCEÇÃO PESSOAL∙ Credor cede o crédito para outro.∙ No momento da cessão o devedor é notificado∙ O devedor poderá dizer no momento da notificação que se opõe à cessão porque tem um crédito com o credor original. ∙ Se não for dito nada, não poderá oferecer a exceção ao novo credor.∙ No momento da notificação poderá o devedor exigir que sua exceção seja levada em conta antes da cessão.→ Ex.: Devo R$ 100,00, mas o credor me deve R$ 50,00. Posso exigir que se compense esses R$ 50,00 antes da cessão do crédito. O crédito cedido será apenas R$ 50,00. Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução das despesas necessárias à operação.

Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.

Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exequente a compensação, de que contra o próprio credor disporia.

Exemplo:Contrato 1: Ana é credora e Bruno é devedorContrato 2: Pedro é credor e Ana é devedora

No processo de cobrança do contrato 2 (Pedro x Ana), houve a penhora do crédito que Ana tem em relação a Bruno, ou seja, descobriu-se que Ana tem um crédito junto a Bruno e esse crédito foi penhorado. Bruno é intimado a não pagar o que deve a Ana no contrato 1, devendo depositar em juízo o que deve a ela.

Algum tempo depois, Ana e Bruno celebram novo contrato (contrato 3) em que Bruno é o credor e Ana é a devedora. Não poderá haver compensação entre os contratos 1 e 3, pois a penhora terá preferência (veio primeiro). O novo contrato não será oponível aos efeitos da penhora. Crédito penhorado por terceiro não poderá ser alvo de compensação.

CONFUSÃO

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.∙ Exemplos:1. Incorporação ou Fusão de empresas/sociedades (entre credora e devedora)Há confusão patrimonial – Confundem-se na mesma pessoa o credor e o devedor.2. Credor e devedor são pai e filho único, e o pai falece.Em razão da morte do pai, o filho torna-se “credor de si mesmo”.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.∙ Exemplo: Credor e devedor são pai e filho, e o pai falece. Havendo mais de um filho, a dívida se extingue por confusão proporcionalmente, ou seja, parte da dívida se extingue, mas a outra parte ainda será devida ao(s) irmão(s).

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Direito das Obrigações

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.∙ Exemplo 1:Empresa C é credora de A e B (solidárias). Quando C incorpora A, extingue a dívida em relação a A, mas não em relação a B. Se A e B deviam R$ 80.000,00 solidariamente, B continuará devendo R$ 40.000,00. Havia solidariedade em relação aos R$ 80.000,00, mas o que cabia a cada um era R$ 40.000,00. ∙ Exemplo 2: Empresa D é credora de A, B e C (solidárias). Quando D incorpora A, extingue a dívida em relação a A, mas não em relação a B e C. Se A, B e C deviam R$ 60.000,00 solidariamente, B e C continuarão devedoras solidárias de R$ 40.000,00.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.

REMISSÃO

REMISSÃO DA DÍVIDA = PERDÃO DA DÍVIDA

∙ Só opera efeitos na medida em que é aceito pelo devedor. ∙ Extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro. ∙ Terceiro = Pessoa com pretensão com o credor ou com o devedor da obrigação original.

Exemplo: Credor perdoa o devedor. Credor do credor poderá se opor, pois precisa do patrimônio para ver satisfeita a obrigação (fraude a credores).

Possibilidade da anulabilidade do perdão dado em razão do credor da obrigação, através do perdão, tornar-se insolvente.

OBS.: ∙ No caso de fraude a credores, para anular a remissão, há necessidade de comprovar o consilium fraudis (conluio). ∙ Quando se tratar de perdão que prejudica terceiro, não há necessidade de provar malícia (conluio), pois há pretensão desse terceiro. No caso de fraude a credores precisa.

Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da dívida.

Art. 388. A remissão concedida a um dos codevedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução da parte remitida.

∙ Tenho vários devedores, mas perdoo somente um → O restante da dívida permanece

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Direito das Obrigações

Exemplo: Dez devedores de R$ 100,00 (cada um deve R$ 10,00 de fato, mas são devedores solidários de R$ 100,00). Se perdoo um devedor, a dívida continua a existir, mas passa a ser de R$ 90,00. Esses R$ 90,00 poderão ser cobrados de forma integral de qualquer um dos nove.

HIPÓTESES DE INADIMPLEMENTO E SEUS EFEITOS

Inadimplemento absoluto ≠ Inadimplemento relativoDepende da possibilidade ou não da satisfação do interesse útil do credor.

□ Inadimplemento absoluto: O inadimplemento sacrifica o interesse útil do credor. Em razão da violação do dever originário do devedor, o interesse útil do credor foi sacrificado.

□ Inadimplemento relativo: O inadimplemento não sacrifica o interesse útil do credor. Há violação do direito originário, mas não sacrifica o interesse útil do credor. HÁ MORA.

CUSTO DE OPORTUNIDADE→ O Credor não teve acesso à prestação no momento devido. ∙ É necessário ressarcir o credor em razão do prejuízo que teve pelo inadimplemento. ∙ O devedor pagará juros de mora recorrentes do custo de oportunidade do credor não ter consigo o valor da prestação no momento devido. ∙ Juros: Caráter ressarcitório ao credor (recompor o patrimônio do credor, comprometido em razão de o credor não ter consigo o valor da prestação no momento devido). ∙ Não é uma sanção/punição, como a multa.

MULTA→ Multa contratual→ Cláusula penalDuas funções da multa:∙ Caráter sancionatório (de exemplaridade): A multa estimula o devedor a cumprir em dia a obrigação, tem característica sancionatória e caráter coercitivo.∙ Caráter ressarcitório/indenizatório: A multa é um ressarcimento do credor, como os juros. Permite ao credor ressarcir-se de prejuízos que se presume que tenha sofrido em razão do inadimplemento.OBS.: Cláusula penal é uma prestação una que, em caso de inadimplemento, acumular-se-á com a prestação originária.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Art. 390. Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia abster.

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.

Art. 392. Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

Contratos benéficos = Contratos gratuitos → o dever de prestação se impõe a somente uma das partes.Contratos onerosos = Exigência da contraprestação entre as partes.

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→ Nos contratos benéficos responde por simples culpa a quem o contrato aproveite, e por dolo a quem ele não favoreça (quem outorga o benefício)

Exemplo: X doa algo para alguém e não sabe que é roubado. A pessoa é procurada pela polícia e responde por receptação, tendo prejuízo (advogado, por exemplo). Ela poderá acionar X, tendo em vista que quem doou responderá por dolo, ou seja, terá de indenizar se for comprovado o dolo (X sabia que era roubado e doou para prejudicar, tendo intenção de causar dano a quem recebeu).

Exemplo: Y dá carona para alguém, e em um acidente o caroneiro sofre danos. A princípio só terá de indenizar se for comprovado o dolo, mas no caso da carona se admite também a responsabilidade em razão de culpa grave. Então Y terá de indenizar em caso de dolo ou culpa grave (juízo de intensidade sobre a culpa - dirigir em alta velocidade e ultrapassar o sinal vermelho, dirigir embriagado, etc.).

OBS.: Contrato de transporte pago → Risco inerente à atividade → RespondeExceção: Linhas que faziam o trecho até Foz do Iguaçu e sofriam assaltos. As empresas deixaram de ser responsabilizadas pelos assaltos, já que ficavam no alvo dos assaltantes (em razão de os passageiros transportarem dinheiro em espécie para compras no Paraguai) e por se ver que era exagero responsabilizar a empresa de transporte pelos danos.

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

□ Em que condições o devedor poderá alegar que o inadimplemento não se deu por culpa sua?- Caso fortuito - Força maior Fato necessário cujos efeitos não eram possíveis de evitar/impedir/prever.

No Séc. XIX, interpretando de forma equivocada os textos romanos, convencionou-se que caso fortuito referia-se a fatos humanos, e que força maior referia-se a eventos da natureza. Hoje não há diferença entre os termos, Clóvis Beviláqua reúne os dois termos, definindo-os da mesma forma. Ambos exoneram o devedor e ambos fazem do devedor incapaz de impedi-los ou evitá-los. Caso fortuito ou força maior não tem a ver com culpa ou não culpa do devedor, são causas estranhas à conduta do devedor, que intervém no processo causal resultando no inadimplemento da obrigação. O inadimplemento se deu por causa estranha a conduta do agente e sobre a qual ele não tem domínio, não podendo evitar ou impedir. É por isso (porque a causa é outra que não a conduta) que ele não vai responder pelo inadimplemento.

OBS.: Concausalidade (para responsabilidade civil) → Fatores não têm relação direta com o resultado, mas concorrem de forma direta ou indireta para a produção do evento.

Quando o caso fortuito e a força maior não são as únicas causas, só contribuíram com o dano, há responsabilização.

Ex.: Um prédio desaba após terremoto. O terremoto é um caso fortuito/força maior, mas se verifica que o prédio desabou também em razão de desgaste e de má conservação. → Teoria da interrupção do nexo causal, ou Teoria do dano direto ou imediato. Sem essa causa o dano teria acontecido? Se sim, ela é determinante. Se não, não foi em razão dela o dano.

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Ex.: Uma família de Curitiba é assaltada e violentada. A família entra com ação contra o estado do Paraná, alegando que o chefe da quadrilha havia fugido a pouco da prisão. A família pleiteava indenização em razão da falha do estado do Paraná em manter o indivíduo preso. Segundo o voto do ministro Moreira Alves, houve uma interrupção do nexo causal (causalidade adequada).∙ Em que medida o dever violado (manter o foragido preso) foi determinante para o dano sofrido pela família? ∙ Ele agiu de forma específica? ∙ Causou dano específico? ∙ Organizou o grupo ou foi apenas mais um integrante do grupo? ∙ Se o estado do Paraná não tivesse falhado, ainda assim o assalto teria ocorrido? Muito provavelmente sim. A causa do dano atribuída ao estado não é a causa determinante do dano.O caso fortuito e a força maior só serão excludentes, se forem causas únicas ou predominantes.

Caso fortuito interno ≠ Caso fortuito externoAmbos são causas estranhas à conduta do devedor.

→ Caso fortuito interno: trata-se de um fato estranho à conduta do devedor, porém o risco do dano só existe porque existe a atividade desenvolvida pelo devedor (risco do dano inerente à atividade). O dano não é causado pelo agente, mas só existe em razão de sua atividade.

→ Caso fortuito externo: trata-se de um fato estranho à conduta do devedor, que também não se relaciona de nenhum modo com a sua atividade. Existe de modo independente da atividade realizada pelo devedor. Não há risco de dano inerente à atividade, é algo estranho mesmo. O caso fortuito externo é a força maior, é o fato estranho à atividade do agente. A causa é estranha completamente, não é um risco inerente à conduta/atividade.

Exemplo: Banco com serviço pela Internet. Por conta disso, o cliente fica vulnerável a hackers. A jurisprudência diz que por mais que o dano tenha sido causado por terceiro, o banco responderá. Só há esse dano (só há esse prejuízo) em razão de o banco disponibilizar esses serviços pela Internet.

Súmula 479 STJ – A jurisprudência avalia e elenca o que vai ser risco inerente a atividade

Exemplo: Pessoa transita pela rua e é alvo de disparos vindos do banco que está sofrendo um assalto. Nesse caso a responsabilidade será do banco, segundo a súmula. Por que o banco tem mais risco que outras atividades? Em razão da disponibilidade de recursos em moeda. OBS.: Apesar de outros ramos também possuírem esses recursos, não estão enquadrados aqui (Ex.: supermercados). Os juízes fizeram uma valoração, nem sempre é coerente. É casuístico e sistemático. Nem sempre as situações guardam coerência entre si.

Inadimplemento relativo → MORAMora: inadimplemento do tempo, lugar e modo (realização) da prestação.

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das perdas e danos.

Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.

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Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor. Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

Art. 401. Purga-se a mora:I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da oferta;II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.

Purga da Mora:∙ Mora do devedor → Dar a prestação + Prejuízos∙ Mora do credor → Aceitar receber a prestação

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

∙ Efeitos típicos do inadimplemento → Responsabilidade do devedor pelas perdas e danos. - Danos emergentes (tudo que efetivamente perdeu) - Lucros cessantes (razoavelmente deixou de lucrar)

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

∙ Teoria da causalidade/ Teoria do dano direto e imediato/Teoria da interrupção do nexo causal- Ideia do dano direto e imediato como resultado que deve ser indenizado. - Primeiro é preciso saber se o sujeito causou ou não o dano, depois é preciso saber quais são esses danos. - No primeiro momento discute-se a causalidade dentro dos parâmetros (A causa determinante do dano foi imputada ao devedor? Se foi, tem que indenizar) se deve indenizar, se há perdas e danos.- No segundo momento deve ser questionado o que deve ser indenizado, quais são as perdas e danos

Para esse segundo momento serve o Art. 403, se indenizar o dano com efeito “direto e imediato”.

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.∙ Juros → sempre serão devidos no caso de mora

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Serão juros estabelecidos no contrato. Se não estabelecidos no contrato será o previsto em lei (art. 406 – fixados segundo a taxa em vigor para a mora da Fazenda Nacional).

∙ A mora é uma consequência própria que se presume do prejuízo por não ter recebido ou pagado no momento e lugar certo, do modo certo.

∙ Os juros são espécies de frutos civis.

∙ No caso dos juros de mora, há uma natureza indenizatória, diferentemente da prestação de juros em outras situações (ex.: depósito a juros – juros remuneratórios – tem uma natureza de prestação onerosa do contrato de depósito) porque vai obrigar alguém a pagar juros de mora na medida que em razão do seu inadimplemento há uma presunção de prejuízo por parte daquele que sofre o inadimplemento.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

1ª Hipótese: Os sujeitos da obrigação, no momento da constituição da relação obrigacional, previram a exigência de juros na hipótese de inadimplemento e determinaram qual seria a taxa de juros.

2ª Hipótese: Partes não convencionarem na obrigação o dever de pagar juros na hipótese de inadimplemento. Mesmo não tendo sido expressamente estabelecido, os juros decorrem da lei (obrigação de pagar juros de mora), o próprio artigo define qual é a taxa de juros a ser considerada para efeitos de juros de mora.

Quando se trata da convenção de juros, por mais que as partes tenham estabelecido no contrato o percentual de juros devido no inadimplemento, esses juros estarão subordinados aos limites definidos pela lei de usura (decreto 22.626/33). A lei de usura foi estabelecida buscando proteger os contratantes mais vulneráveis nos contratos que envolviam a tomada de dinheiro (empréstimo). Esse decreto definiu a regra que limita os juros a serem exigidos em contratos em geral. Essa taxa é de 12% ao ano.

Desde os anos 60, o STF afastou o limite de cobrança de juros em relação a obrigações que tenham as instituições financeiras como parte. Originalmente a CF/88 fixava limite de 12%, no entanto a ADI 4 afirmou que era inconstitucional esse limite. O limite de 12% vale aos contratos estabelecidos por qualquer pessoa que não seja instituição financeira.

No final dos anos 90, muitos funcionários públicos foram estimulados a sair de seus empregos e em troca ganhavam um “prêmio” - programa de demissão voluntária. Alguns começaram a emprestar dinheiro a taxa altas de juros (pessoas civis não podem emprestar dinheiro de forma habitual como instituições financeiras), a taxa de juros é nula, as pessoas tinham que devolver o que tinha recebido de empréstimo, mas não tiveram que pagar os juros aos ex-funcionários públicos.

No caso dos juros de mora, se não estiverem convencionados, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Taxa SELIC (Serviço de Liquidação e Custódia dos Títulos da Dívida da União)

SELIC → A União vinculou toda a dívida que qualquer cidadão tem com a Fazenda Nacional Quem estivesse em mora com a União veria aplicada sobre o tributo a taxa SELIC. Os juros de mora remuneram a ausência de capital para o credor, mas a equação que leva à taxa SELIC contempla de um lado a remuneração de juros e por outro lado a capitalização de juros (juros sobre juros). Ex.: Devo R$ 10,00 com taxa de 10% ao ano. Passo a dever em um ano R$ 11,00 reais. Se passar mais um ano os juros incidem sobre a parcela de capital somada dos juros (+10% sobre R$ 11,00 ), isso é capitalização de juros.

→ Com a incidência da SELIC sobre as dívidas de particulares, se legitimou em favor da União a possibilidade de capitalização.

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Art. 406 → Alguns dizem que incide a taxa SELIC e não 1%, outros dizem que nos contratos entre particulares essa regra do art. 406 não pode ser interpretada como autorizando a cobrança da taxa SELIC porque seria muito superior ao limite que se pode convencionar.

Então...Capitalização de juros entre particulares → NUNCA?

↓Na hipótese de não ter sido convencionada pelas partes, não há certeza jurisprudencial, alguns falam nos 12% ano mesmo não convencionado e outros na taxa SELIC. Para instituições financeiras, se convencionado não há limite e se não convencionado aplica a taxa SELIC.

→ Nas obrigações de responsabilidade civil extracontratual (obrigação de indenizar), de quando deve correr os juros da mora? Quem causou o dano ou responde por ele é obrigado a indenizar o dano. Para efeitos de contagem dos juros, há três possibilidades para considerar alguém em mora: ∙ Desde o momento que o dano ocorreu ∙ Desde o momento que há a citação da ação de indenização por parte da vítima ∙ Desde o momento da sentença.

A Súmula 54 do STJ afirma que os juros são devidos desde o momento do evento danoso para as obrigações extracontratuais. Para as contratuais que não tenham termo de vencimento, os juros de mora serão devidos desde a citação. Embora exista a súmula, há decisões fixando os juros de mora desde a sentença, pois apenas na sentença a dívida se torna líquida e certa. Essa divergência jurisprudencial é tão acentuada que o STJ deve uniformizar os juros de mora.

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

CLÁUSULA PENAL

□ A usura penal (cláusula penal) será aquela parcela caracterizada como espécie de obrigação acessória condicional devida pelo devedor inadimplente nos termos previstos na obrigação principal. ∙ Não há obrigatoriedade de que haja cláusula penal prevista numa determinada obrigação. ∙ Cláusula penal = multa contratual.

Multa contratual é uma expressão muito usada, mas não é a melhor expressão técnica. O termo multa está vinculado à ideia de que é estabelecida por quem tem o poder de aplicar multa, uma relação vertical, normalmente público-administrativo.

Cláusula penal → Função dividida em dois (2):∙ Serve como uma pré-estimativa de danos∙ Serve como um estímulo ao cumprimento ou desestímulo ao descumprimento.

→ Essa cláusula penal é devida independentemente da alegação de prejuízo pelo credor e independentemente da prova. → A cláusula penal tem como condição simplesmente a ocorrência do inadimplemento.

A eficácia da cláusula penal é muito discutida, sobretudo nos contratos empresariais. Cercou-se a cláusula penal de uma série de limites que impedissem abuso por parte do credor, de modo a oprimir excessivamente o devedor. Dentre os limites há o valor máximo definido por lei, há a prerrogativa do juiz de reduzir o valor definido pelas partes, etc. Isso tudo representa uma intervenção na autonomia privada que pode sacrificar essas funções de pré-estimativas de danos ou de estimulo ao cumprimento das prestações. Em razão disso, criticas cercam a cláusula penal.

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Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em mora.

∙ Contrato com previsão de cláusula penal (= multa), se não houver previsão no contrato ela não ocorre.∙ Do devedor será exigível a cláusula penal desde o momento que se tornar inadimplente.

Art. 409. A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.∙ Posso estabelecer uma clausula num contrato indicando que o inadimplemento de todo e qualquer obrigação do contrato implicará o pagamento do devedor de multa de 10% do seu valor integral.∙ Pode também se proteger certas obrigações mais importantes do contrato com clausula penal, não todo o contrato. ∙ A cláusula penal tem que estar prevista expressamente, e sempre antes do inadimplemento. Se não estiver prevista, não há clausula penal. ∙ Não precisa provar danos para exigir a clausula penal, só precisa provar o inadimplemento.

Para purgar a mora tem que pagar...cláusula penal + juros de mora + valor principal da obrigação + eventualmente perdas e danos

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a benefício do credor.

→ A clausula penal pode ser de duas naturezas: ∙ Substitutiva da prestação originária (alternativa a prestação principal) ∙ Simplesmente moratória (é devida em conjunto com a prestação principal).

Quem escolhe é o credor. Nos contratos de consumo essa alternativa se dá em favor do consumidor.

Art. 411. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente com o desempenho da obrigação principal.

∙ Cláusula penal moratória: valor da cláusula penal + valor principal

Art. 412. O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

∙ Muitas vezes o prejuízo decorrente do inadimplemento não tem relação necessariamente com o valor da prestação. O prejuízo do inadimplemento pode ser muito maior do que o valor da prestação. Por essa razão se autoriza a possibilidade do credor que sofre o inadimplemento de buscar indenização do prejuízo de superar o valor da cláusula penal.

Art. 416 §único – A clausula penal é um início de indenização, mas se a cláusula penal não cobrir o prejuízo, o credor que sofre o inadimplemento e que tem um prejuízo maior que a cláusula, só poderá entrar com uma ação de indenização se expressamente estiver previsto no contrato. Se não estiver convencionado é só a clausula penal e mais nada. “Sem prejuízo da apuração de eventuais perdas e danos” → isso que tem que estar no contrato na clausula penal.

Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.

∙ Aplicação nos contratos civis, de consumo e também nos empresariais.

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∙ Deverá o juiz reduzir o valor devido se o valor da clausula penal for excessivo → ou porque a prestação foi realizada em parte (não paga toda cláusula penal) ou pela natureza ou finalidade da obrigação ela é manifestamente excessiva.

Art. 414. Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores, caindo em falta um deles, incorrerão na pena; mas esta só se poderá demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos outros somente pela sua quota.Parágrafo único. Aos não culpados fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à aplicação da pena.∙ Sendo obrigação indivisível todos respondem → Indivisibilidade leva à SOLIDARIEDADE∙ Se só um dos devedores deu causa ao inadimplemento, só dele se pode cobrar a clausula penal, dos demais só se cobra a quota da obrigação.∙ Se todos devedores pagam a cláusula penal, quem causou o inadimplemento pode ser demandado por todo valor da cláusula. O devedor que pagou sem ser culpado tem direito de regresso (para obter do culpado a respectiva prestação).

Art. 415. Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente à sua parte na obrigação.

∙ Quando a obrigação for divisível, se pressupõe que os codevedores cumpriram a prestação na sua parte.∙ Só responde pela clausula penal aquele que não cumpriu proporcionalmente com a sua parte na obrigação.

Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.

ARRAS

Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado.

Arras/Sinal: Sinal firme de que um dos sujeitos está comprometido em cumprir a obrigação.O contrato de arras ou o pré-contrato de arras indica/ demonstra a seriedade do compromisso daquele que assume o pagamento.

Arras confirmatórias: Prestação pecuniária que confirma/afirma compromisso com a realização do negócio. ∙ Uma vez celebrado o negócio, o valor pago a título de arras é computado/descontado no preço.∙ Geralmente as arras são pagas no mesmo gênero do principal (principal em dinheiro, arras em dinheiro).

Ex.: Compra de imóvel: pelo pagamento das arras o vendedor tira o imóvel do mercado.

Casos de descumprimento do contrato: Se a parte que deu as arras não cumprir com o negócio/contrato, ou seja, se houver inadimplemento do contrato celebrado com arras por quem as pagou: → Perde as arras, perde o valor que pagou.

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Se a parte que recebeu as arras não cumprir com o negócio/contrato, ou seja, se houver inadimplemento do contrato celebrado com arras por quem as recebeu:→ Paga/devolve o que recebeu e paga o equivalente (vai dar o dobro: o que recebeu mais uma vez) (Tem natureza próxima da cláusula penal)→ Juros→ Honorários de advogado

Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

∙ Parte inocente (que não deu causa ao descumprimento) pode pedir indenização suplementar. ∙ Precisa demonstrar prejuízo superior ao valor das arras.∙ Aqui varia, é preciso ver quem deu as arras, quem teve o prejuízo e quem foi inocente.□ O prejuízo foi de quem deu as arras: O prejuízo tem de ser maior do que as arras mais uma vez (o dobro das arras) porque foi isso que recebeu.□ O prejuízo foi de quem recebeu as arras: O prejuízo tem de ser maior do que o valor das arras, pois foi isso que recebeu.

→ Exigir o cumprimento do contrato mais perdas e danos: Lembrar que se eu entrar em juízo para forçar o cumprimento do contrato e ele for cumprido, as arras serão parte do preço, mas poderei pedir perdas e danos, pois tive de entrar em juízo. Quando o sujeito cumpre, por bem ou por mal, as arras são parte do preço.

Exemplo 1: Pago R$ 3.000 a título de arras e me comprometo a pagar R$ 7.000,00 no momento da entrega da coisa. Quem deveria me entregar a coisa, não me entrega. Eu exijo a entrega, pagando os R$ 7.000,00 faltantes. Eu, que sofri a recusa e tive de entrar em juízo, poderei pedir indenização.

Exemplo 2: Recebi R$ 3.000 a título de arras. Quem se comprometeu a pagar os outros R$ 7.000,00 não o faz. Eu entro com a ação pelos R$ 7.000,00 e para eu transferir a coisa. Eu recebo meus R$ 10.000,00, mas tive prejuízo pelo inadimplemento do comprador, tendo pretensão de perdas e danos. Além dos R$ 10.000,00 da coisa, posso pleitear a indenização.

Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.

□ Arras penitenciais: ∙ Possibilidade de arrependimento∙Possibilidade que qualquer das partes assume. ∙ As duas partes têm a faculdade de desistir

Arrependimento → Sem motivação resolve-se o contrato.

As arras têm função indenizatória, aqui não há indenização suplementar.Quem pagou se arrependeu → Perde o que pagouQuem recebeu se arrependeu → Paga uma vez mais o equivalente.

Aqui não há violação do direito da outra parte, pois está prevista a possibilidade do descumprimento, aqui não há inadimplemento ilícito, está se exercendo um direito. Não cabe aqui indenização, perdas e danos ou ação que obrigue o cumprimento do negócio.

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