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Fabricio Venancio Adesão aos planos de previdência complementar fechada: uma abordagem de comportamento do consumidor na visão de especialistas Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-graduação em Administração, do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Marcelo Gitirana Gomes Ferreira, Dr. Florianópolis, SC 2018

CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO - ESAG

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Fabricio Venancio

Adesão aos planos de previdência complementar fechada:

uma abordagem de comportamento do consumidor na visão de especialistas

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

Acadêmico do Programa de Pós-graduação em

Administração, do Centro de Ciências da

Administração e Socioeconômicas da Universidade

do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial

para obtenção do título de Mestre em Administração.

Orientador: Marcelo Gitirana Gomes Ferreira, Dr.

Florianópolis, SC

2018

FABRICIO VENANCIO

ADESÃO AOS PLANOS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR FECHADA:

UMA ABORDAGEM DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NA VISÃO DE

ESPECIALISTAS.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-graduação em

Administração, do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas da Universidade

do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Banca examinadora:

Orientador: _______________________________________________________________

(Dr. Marcelo Gitirana Gomes Ferreira)

UDESC

Membros:

_______________________________________________________________

(Dr. Rafael Tezza)

UDESC

_______________________________________________________________

(Dra. Joana Stelzer)

UFSC

Florianópolis, 31/07/2018.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que sempre me incentivaram a estudar, tenho certeza que eles estão

muito orgulhosos neste momento.

À minha esposa, Lidiane, pelo incentivo. Sem ela, nada disso seria possível. Ao meu

filho Gabriel e às minhas filhas, Beatriz e Isadora, pela paciência nos momentos em que foi

necessário concentração e foco no desenvolvimento desta pesquisa.

Ao professor Marcelo Gitirana Gomes Ferreira, pela orientação, dedicação e

conhecimento partilhado. Sempre presente, paciente e preocupado com a qualidade final da

entrega. Sua orientação foi fundamental para o êxito deste trabalho.

Aos professores Rafael Tezza e Joana Stelzer, pela disponibilidade, interesse pelo tema

e as valiosas contribuições.

Aos colegas de trabalho, pelo apoio e incentivo constantes.

Aos colegas de mestrado, pela amizade e espírito de grupo.

Todo o conhecimento humano começou com

intuições, passou daí aos conceitos e terminou

com ideias. (Immanuel Kant)

RESUMO

Durante todo o tempo tomamos decisões em nossas vidas. Sejam conscientes ou não, com boas

ou más consequências, nossas decisões representam a forma como lidamos com as

oportunidades, as ameaças e as incertezas. Planos de previdência complementar são

instrumentos que proporcionam aos seus participantes um benefício adicional ao oferecido pela

previdência social pública, visando manter os níveis de renda equivalentes ao período de

capacidade laborativa. Aderir a um plano de previdência complementar é uma decisão que

certamente terá impactos ao longo da vida dos colaboradores que trabalham em organizações

que oferecem este tipo de oportunidade. É fundamental que cada indivíduo tenha a consciência

dos riscos e benefícios presentes em qualquer decisão que possa impactar diretamente sua

qualidade de vida futura. Quanto mais informação e orientação o colaborador possuir, mais

consciente será a sua tomada de decisão. Porém, apenas informação e orientação podem ser

insuficientes para explicar a decisão tomada. Esta pesquisa tem por objetivo identificar os

principais fatores e variáveis relacionados à tomada de decisão por aderir aos planos de

previdência complementar, baseados em fatores apontados pela literatura com relação ao

comportamento dos consumidores e opinião especializada. Como procedimentos

metodológicos, entrevistas com especialistas em previdência complementar foram realizadas

de forma a validar os fatores apontados na literatura. Em seguida, entrevistas com uma amostra

de colaboradores de uma determinada organização-alvo foram realizadas, visando verificar as

relações deste público com o dinheiro, educação financeira e finanças pessoais. Por fim, foi

possível obter uma equação, a partir de um conjunto de variáveis identificadas nas etapas

anteriores, que possibilitou calcular a probabilidade de um determinado indivíduo aderir a um

plano de previdência complementar, por meio de regressão logística. Esta pesquisa permitiu

concluir que as variáveis que impactam a decisão de aderir aos planos de previdência

complementar estão vinculados à cultura de acumulação de recursos e à educação financeira e

previdenciária.

Palavras-chave: Previdência complementar. Tomada de decisão. Comportamento do

consumidor. Adesão aos planos de previdência.

ABSTRACT

We make decisions all the time during our lives. Whether they are aware or not, with good or

bad consequences, our decisions represent how we deal with opportunities, threats and

uncertainties. Complementary pension plans are instruments that provide its participants with

an additional benefit to that offered by public social security, in order to maintain income levels

equivalent to the period of labor capacity. Join or not into a complementary pension plan is a

decision that will certainly have lifelong impacts of employees working in organizations

offering this type of opportunity. It is essential that each individual be aware of the risks and

benefits present in any decision that may directly impact their future quality of life. How much

more information and support the employee has, more conscious his or her decision-making

will be. However, only information and support may be insufficient to explain the decision that

has been made. The purpose of this research is to identify the main factors and variables related

to decision making in joining or not to complementary pension plans, based on factors pointed

out by the literature regarding consumer behavior and expert opinion. As methodological

procedures, interviews with specialists in complementary pensions were carried out in order to

validate the factors pointed out in the literature. Then, interviews with a sample of employees

of a certain target organization were conducted, aiming to verify the relations of this public with

the money, financial education and personal finances. Finally, it was possible to obtain an

equation, from a set of variables identified in the previous steps, which allowed calculate the

probability of a particular individual joining a complementary pension plan, through logistic

regression. This research allowed us to conclude that the variables that impact the decision to

adhere or not to complementary pension plans are linked to the culture of accumulation of

resources and financial and social security education.

Key-words: Complementary pension. Decison-making. Consumer behavior. Admission to

pension funds plans.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Estrutura do Sistema Previdenciário no Brasil ........................................................ 36

Figura 2 - Estágios da tomada de decisão do consumidor ........................................................ 49

Figura 3 - Reconhecimento do problema: mudanças no estado real ou ideal .......................... 50

Figura 4 - Estágios na tomada de decisão do consumidor ........................................................ 54

Figura 5 - Atividades de compra e pós-compra ........................................................................ 57

Figura 6 - Modelo de compra e resultados ............................................................................... 60

Figura 7 - Modelo Nicosia de comportamento de compra ....................................................... 80

Figura 8 - Modelo de Schifman e Kanuk ................................................................................. 84

Figura 9 - Modelo Engel, Kollat e Blackwell de comportamento de compra .......................... 86

Figura 10 - Nuvem de palavras baseada na opinião dos especialistas ................................... 101

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Fatores que influenciam a ativação de uma necessidade ....................................... 52

Quadro 2 - Variáveis do modelo de Engel, Kollat e Blackwell ............................................... 87

Quadro 3 - Perfil dos especialistas em previdência complementar .......................................... 89

Quadro 4 - Categorias de análise e fatores para tomada de decisão de compra ....................... 91

Quadro 5 - Variáveis para análise estatística por categorias de análise ................................... 93

Quadro 6 - Variáveis para análise estatística da população.................................................... 104

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação compensatória entre alternativas ....................................................... 57

Tabela 2 - Frequência de citações das categoria de análise, por entrevistado .......................... 91

Tabela 3 - Dados coletados do questionário de educação financeira e finanças pessoais ...... 102

Tabela 4 - Análise descritiva V00. Possui plano de previdência ........................................... 104

Tabela 5 - Tabela de frequência V01. Idade ........................................................................... 105

Tabela 6 - Análise descritiva V01. Idade ............................................................................... 105

Tabela 7 - Tabela de frequência V02. Tempo de serviço em anos ......................................... 105

Tabela 8 - Análise descritiva V02. Tempo de serviço em anos ............................................. 106

Tabela 9 - Tabela de frequência V03. Sexo............................................................................ 106

Tabela 10 - Tabela de frequência V04. Estado civil............................................................... 107

Tabela 11 - Tabela de frequência V05. Número de filhos...................................................... 107

Tabela 12 - Análise descritiva V05. Número de filhos .......................................................... 107

Tabela 13 - Tabela de frequência V06. Proventos.................................................................. 108

Tabela 14 - Análise descritiva V06. Proventos ...................................................................... 108

Tabela 15 - Variáveis para regressão logística ....................................................................... 109

Tabela 16 - Sumário de casos processados ............................................................................. 111

Tabela 17 - Frequência das variáveis categóricas na RL........................................................ 111

Tabela 18 - Bloco inicial - aderência do modelo sem as variáveis previsoras ....................... 112

Tabela 19 - Variáveis na equação de RL ................................................................................ 112

Tabela 20 - Exemplos de cálculo de P(Y), conforme equação final ...................................... 113

Tabela 21 - Probabilidade de possuir plano com 5 e 6 anos de tempo de empresa ................ 114

Tabela 22 - Probabilidade de possuir plano de previdência para orçamento superavitário ... 114

Tabela 23 - Aderência do modelo com as variáveis previsoras ............................................. 115

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN Banco Central do Brasil

BD Benefício Definido

BPU Benefício em Pagamento Único

CAP Caixas de Aposentadorias e Pensões

CET Custo Efetivo Total

CD Contribuição Definida

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNPC Conselho Nacional de Previdência Complementar

CV Contribuição Variável

EFPC Entidade Fechada de Previdência Complementar

IAP Instituto de Aposentadoria e Pensões

IAPAS Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

MF Ministério da Fazenda

MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social

PGBL Plano Gerador de Benefício Livre

PPC Plano de Previdência Complementar

PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar

RGPS Regime Geral de Previdência Social

RL Regressão Logística

RPC Regime de Previdência Complementar

RPPS Regime Próprio de Previdência dos Servidores

SINPAS Sistema Nacional de Previdência Social

VGBL Vida Gerador de Benefício Livre

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 25

1.1 ADESÃO A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR ............................................ 25

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .............................................................................. 25

1.3 PERGUNTA DE PESQUISA .............................................................................. 26

1.4 HIPÓTESES DE PESQUISA .............................................................................. 26

1.5 OBJETIVOS ........................................................................................................ 26

1.5.1 Objetivo geral ....................................................................................................... 26

1.5.2 Objetivos específicos ........................................................................................... 26

1.6 JUSTIFICATIVA DE PESQUISA ...................................................................... 27

1.7 ESTRUTURA DA PESQUISA ........................................................................... 27

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................... 29

2.1 A PREVIDÊNCIA NO BRASIL ......................................................................... 29

2.1.1 A evolução do sistema previdenciário ................................................................. 31

2.1.2 A estrutura do sistema previdenciário no Brasil .................................................. 34

2.1.3 O sistema de previdência complementar no Brasil .............................................. 36

2.1.4 Entidades fechadas de previdência complementar ............................................... 38

2.1.4.1 A PREVIC ............................................................................................................ 39

2.1.4.2 Constituição de planos de previdência complementar ......................................... 40

2.1.4.3 Tipos de planos de benefícios .............................................................................. 40

2.1.4.4 Tipos de benefícios de um plano de benefícios ................................................... 42

2.1.4.5 Tipos de rendas de um plano de benefícios ......................................................... 43

2.1.4.6 Desafios da Previdência Complementar Fechada ................................................ 43

2.2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ....................................................... 44

2.2.1 Todos somos consumidores ................................................................................. 44

2.2.2 O campo de pesquisa comportamento do consumidor ......................................... 45

2.2.3 O processo de troca entre consumidores .............................................................. 47

2.2.4. Os consumidores como tomadores de decisões ................................................... 48

2.2.4.1 O reconhecimento de problema de consumo ....................................................... 49

2.2.4.2 A busca por informações sobre o produto ou serviço .......................................... 52

2.2.4.3 A avaliação de alternativas de compra ................................................................. 53

2.2.4.4 Decisões de compra .............................................................................................. 55

2.2.4.4.1 Fatores ambientais ................................................................................................ 61

2.2.4.4.2 Fatores individuais ............................................................................................... 70

2.2.4.5 Modelos de comportamento de compra ............................................................... 78

2.2.4.5.1 Modelo de Nicosia ............................................................................................... 79

2.2.4.5.2 Modelo de Howard-Sheth .................................................................................... 80

2.2.4.5.3 Modelo de Schiffman e Kanuk ............................................................................ 83

2.2.4.5.4 Modelo de Engel, Kollat e Blackwell .................................................................. 85

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 89

3.1 ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS EM PREVIDÊNCIA .......................... 89

3.2 BASE DE DADOS DOS COLABORADORES ................................................. 90

3.3 IDENTIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE ................................... 90

3.3.1 Frequência das categorias de análise .................................................................... 91

3.4 QUESTIONÁRIO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA E FINANÇAS .................. 92

3.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE PESQUISA .............................................. 92

4 RESULTADOS .................................................................................................. 101

4.1 ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS .......................................................... 101

4.2 COLETA DE DADOS QUESTIONÁRIO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA . 102

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................ 103

4.3.1 Definição da população ...................................................................................... 103

4.3.2 Definição da amostra .......................................................................................... 104

4.3.3 Regressão logística ............................................................................................. 108

5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 118

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 121

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E1 ........................................ 125

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E2 ........................................ 131

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E3 ........................................ 135

APÊNDICE D – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E4 ........................................ 139

APÊNDICE E – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E5 ........................................ 141

APÊNDICE F – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E6 ......................................... 144

APÊNDICE G – QUESTIONÁRIO COLABORADORES .......................................... 148

24

25

1 INTRODUÇÃO

1.1 ADESÃO A PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

Planos de previdência complementar são instrumentos que proporcionam aos seus

participantes um benefício adicional ao oferecido pela previdência social pública, visando

manter os níveis de renda equivalentes ao período de capacidade laborativa.

Muitas organizações criam seus próprios planos de previdência complementar (PPC),

cujo regramento é estabelecido por um regulamento. Tais organizações são denominadas

patrocinadores, pois realizam contribuições financeiras regulares para seus empregados, com o

intuito de formar uma reserva de recursos financeiros que serão utilizadas para pagar os

benefícios no futuro. Os empregados, por sua vez, também fazem contribuições regulares,

geralmente sob a forma de desconto em folha de pagamento. As contribuições dos

patrocinadores e dos participantes são definidas conforme cada regulamento. Os recursos

aportados pelos patrocinadores podem ser paritários, em relação à contribuição do empregado,

ou podem variar de acordo com o salário, tempo de admissão no patrocinador, idade, entre

outros fatores. Os PPC´s são administrados por uma EFPC - ou Entidade Fechada de

Previdência Complementar.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Esta pesquisa originou-se da percepção, por parte de uma entidade de previdência

complementar, administradora de um plano de previdência, que aproximadamente 4 a cada 10

colaboradores, lotados em uma determinada organização-alvo, não estão inscritos no plano de

previdência complementar. Por que os colaboradores não estão inscritos no plano de

previdência?

Observou-se que não havia consenso, por parte dos dirigentes desta entidade de

previdência, acerca do motivo pelos quais um grupo relevante de colaboradores optou pela não

adesão ao plano de previdência. O plano de previdência foi criado como parte integrante da

política de gestão de pessoas da organização-alvo, utilizado como instrumento para retenção de

talentos. O principal objetivo do plano de previdência é oferecer coberturas aos colaboradores

e seus dependentes, através do pagamento de complementação por auxílio-doença,

aposentadoria por invalidez, aposentadoria por tempo de serviço ou pensão por morte. Além

26

disso, a organização-alvo, por uma questão regulamentar, realiza contribuições mensais de

forma paritária a todos os colaboradores participantes do plano de previdência. Afinal, o tema

aposentadoria é uma questão relevante que tem relação com toda a classe trabalhadora

brasileira.

1.3 PERGUNTA DE PESQUISA

O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

1.4 HIPÓTESES DE PESQUISA

A área de Gestão de Pessoas, no momento da admissão, não fornece ao colaborador

informações suficientes sobre o PPC para uma tomada de decisão consciente;

O PPC não parece vantajoso em relação a outros investimentos tradicionais, como a

poupança, imóveis, ações, planos de previdência VGBL e PGBL;

O nível de endividamento do colaborador impede sua adesão ao plano.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Objetivo geral

Identificar as principais variáveis relacionadas à tomada de decisão por aderir ao plano

de PPC na organização-alvo.

1.5.2 Objetivos específicos

Caracterizar os colaboradores da organização-alvo, tanto os que aderiam quanto os que

não aderiam aos PPC, em termos de perfil sociodemográfico;

Identificar o nível de adesão dos colaboradores aos PPC nesta organização-alvo;

Validar a importância e impacto dos fatores identificados na literatura, junto a

especialistas em previdência complementar.

27

1.6 JUSTIFICATIVA DE PESQUISA

A previdência complementar fechada integra o sistema de previdência social brasileiro

e constitui importante instrumento de proteção adicional ao trabalhador e mecanismo de

formação de poupança interna de longo prazo, necessário para ampliar a capacidade de

investimento do país e diversificar as fontes de financiamento do crescimento econômico.

O sistema de previdência complementar fechado conta com mais de 300 entidades fechadas de

previdência complementar, que administram, aproximadamente, 1100 planos, oferecendo

proteção previdenciária a cerca de seis milhões de brasileiros, entre participantes ativos,

inativos e assistidos, sendo o oitavo maior sistema de previdência complementar do mundo em

termos de ativos totais (PREVIC, 2017).

Esta pesquisa é relevante para as entidades fechadas de previdência complementar que

tem a intenção de realizar ações direcionadas no sentido de elevar seus níveis de adesão aos

PPC´s.

Além disso, este estudo deve contribuir para o melhor entendimento do processo de

tomada de decisão dos colaboradores aos PPC´s, na medida em que ações específicas podem

ser realizadas pelas entidades fechadas de previdência complementar, face às variáveis

identificadas, colaborando para o desenvolvimento do sistema de previdência complementar

como um todo.

Uma limitação para esta pesquisa reside no fato dela ter sido realizada com dados de

apenas uma organização-alvo.

Sua relevância acadêmica consiste na possibilidade de organizações reais usufruírem

dos métodos e resultados oriundos da academia, de forma a possibilitar ações concretas,

contribuindo para uma aproximação tão necessária e fundamental entre o mundo acadêmico e

corporativo.

1.7 ESTRUTURA DA PESQUISA

O Capítulo 2 refere-se à fundamentação teórica. A primeira etapa da revisão da

literatura consiste na apresentação da previdência no Brasil, sua evolução histórica, sua

estrutura e conceitos sobre a previdência complementar fechada. A segunda etapa discorre

sobre o processo de tomada de decisão de consumo, alguns modelos teóricos e respectivos

fatores influenciadores.

28

O Capítulo 3 descreve os procedimentos metodológicos utilizados, compreendendo

entrevistas com especialistas em previdência seguidas de técnicas de análise de conteúdo para

identificação dos fatores e variáveis (denominados de categorias de análise) com influência

sobre o processo de tomada de decisão em aderir ao PPC. Além disso, o capítulo 3 descreve as

etapas para recepção, tratamento e coleta de dados referentes à população, isto é, o conjunto de

colaboradores ativos na organização-alvo.

O Capítulo 4 descreve os resultados obtidos a partir das entrevistas com especialistas,

formando um conjunto de categorias de análise. A etapa de elaboração, envio e coleta de dados

referente ao questionário de educação financeira e finanças pessoais também é descrita neste

capítulo, seguida da definição das variáveis de pesquisa, que serviram como base para o

processo de análise estatística descritiva, comparando a representatividade da amostra coletada,

seguido de uma regressão logística para validação das variáveis identificadas e consequente

definição da equação para cálculo da probabilidade de adesão ao PPC.

Por fim, verifica-se se o objetivo geral e os objetivos específicos foram alcançados, bem

como apresenta-se sugestões para futuros estudos relacionados ao objeto desta pesquisa.

29

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A PREVIDÊNCIA NO BRASIL

De acordo com Martins (2015, p. 13), previdência vem do latim pre videre, que significa

“ver com antecipação as contingências sociais e procurar compô-las”, ou de praevidentia, que

significa “prever”. O debate sobre o tema previdência social tem recebido grande destaque na

agenda político-econômica brasileira. A discussão sobre o tema não tem se limitado

exclusivamente aos representantes da classe política, mas estende-se à sociedade civil,

representada pela classe de trabalhadores que convivem com as incertezas e indefinições a

respeito do futuro.

Ainda segundo Martins (2015, p. 15), as preocupações com o futuro da previdência

social têm contribuído para o crescimento do mercado de previdência complementar, ou

privada. Os países que conseguiram resolver de forma mais eficaz os problemas de proteção

social dos seus trabalhadores foram aqueles que instituíram sistemas de seguridade social

partindo da premissa de que essa é uma responsabilidade da empresa privada.

Para Follador e Anzolin (2008, p. 35), previdência é uma atividade humana cujo

objetivo é dar amparo ao segurado ou associado na incapacidade de produzir renda na velhice,

invalidez ou falecimento. Os princípios universais dos sistemas previdenciários determinam

que o benefício deve ser pago em função da perda da capacidade de trabalho, por invalidez, por

velhice ou por doença em termos transitórios, entre outras hipóteses. Isto significa dizer que a

previdência não é um complemento salarial, e sim uma alternativa para recobrir a capacidade

que um indivíduo perde de gerar sua própria renda.

Promover o bem-estar social é uma das missões preponderantes do Estado. Uma forma

de atingir este objetivo é atuar nas relações de mercado e na regulamentação jurídica do

processo de distribuição de renda, de modo a evitar eventuais injustiças que, certamente,

ocorreriam se determinados grupos sociais – menos organizados e mais vulneráveis pela

dependência econômica – fossem deixados à própria sorte (FOLLADOR e ANZOLIN, 2008).

Para Moreira e Lustosa (1977, p.34), a previdência é, entre nós, como na maior parte

nas nações, o complexo orgânico mais relevante à medida que evolui na direção da seguridade

social, que, por sua vez, consiste no conjunto de medidas obrigatórias cujo objeto é proteger,

indistintamente, a todo indivíduo, e sua família, das consequências de uma inevitável

calamidade socioeconômica, como implícito na Declaração Universal dos Direitos do Homem.

30

Para Martinez (1992, p.11) previdência social é a técnica de proteção social que visa

propiciar os meios indispensáveis à subsistência da pessoa humana – quando esta não pode

obtê-los ou não é socialmente desejável que os aufira pessoalmente através do trabalho, por

motivo de maternidade, nascimento, incapacidade, invalidez, desemprego, prisão, idade

avançada, tempo de serviço ou morte – mediante contribuição compulsória distinta, proveniente

da sociedade e de cada um dos participantes.

Previdência social é o segmento da seguridade social composto de um conjunto de

princípios, regras e instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social, mediante

contribuição ao segurado, que tem por objetivo proporcionar meios indispensáveis de

subsistência ao segurado e a sua família, contra contingências de perda ou redução da sua

remuneração, de forma temporária ou permanente, de acordo com a previsão da lei. Consiste,

portanto, de uma forma de assegurar ao trabalhador, com base no princípio da solidariedade,

benefícios ou serviços quando atingido por uma contingência social. Seu sistema é baseado na

solidariedade humana, em que a população ativa deve sustentar a inativa, os aposentados. As

contingências sociais seriam justamente o desemprego, a doença, a invalidez, a velhice, a

maternidade, a morte, etc. (MARTINS, 2015).

Os sistemas de previdência podem ser contributivos e não contributivos. No primeiro,

contribuem os segurados para ter direito aos benefícios. No segundo, as receitas são

provenientes de impostos e são retiradas do Tesouro, sem ter destinação ou contribuição

específica. Além disso, os sistemas de previdência podem ser de capitalização, em que é feita

uma espécie de poupança individual, que rende juros e correção monetária, de repartição

simples, onde as pessoas se solidarizam fazendo contribuições para um fundo que será usado

quando ocorrem as contingências sociais – é o chamado pacto entre gerações, ou ainda pode

ser misto, que compreende uma combinação dos regimes de capitalização e de repartição

simples (MARTINS, 2015).

No Brasil, segundo o Ministério da Fazenda, previdência social é o seguro social para a

pessoa que contribui. É uma instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder

direitos aos seus segurados. A renda transferida pela Previdência Social é utilizada para

substituir a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho, seja

pela doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário, ou mesmo a

maternidade e a reclusão (MARTINS, 2015).

O primeiro passo para que se compreenda a razão de existir a ‘instituição previdência’

requer a consideração de existe uma incerteza sobre o futuro. O gerenciamento dessa incerteza

- sob a ótica previdenciária - passa pelo acúmulo de capital para ser utilizado em momentos em

31

que as alternativas para gerar renda tenham falhado. Essa falha advém de motivos relacionados

a incapacidade produtiva e até mesmo da invalidez. Um participante da previdência, por

exemplo, renuncia o consumo imediato e abre mão de parte do seu capital para favorecer a uma

geração de inativos ou incapazes da qual espera, no futuro, fazer parte (FERREIRA, 2007).

2.1.1 A evolução do sistema previdenciário

O sistema previdenciário de natureza compulsória e contributiva teve sua origem na

Alemanha no ano de 1889, no entanto foi somente nos anos que se seguiram ao fim da II Guerra

Mundial que o sistema previdenciário se expandiu fortemente pelo mundo (FERREIRA, 2007).

A ideia de seguridade social que se disseminou no pós-guerra designava um conjunto de ações

governamentais no âmbito da proteção social, implementadas através de políticas sociais

amplas, constituindo assim os chamados Estados de Bem-estar Social (TEIXEIRA, 2001).

Nos Estados Unidos a poupança previdenciária desenvolveu-se com enfoque voltado

para o mercado de capitais. No continente europeu, com tradição previdenciária mais antiga, o

sistema organizou-se tem três pilares – o dever do Estado – composto de uma poupança básica

administrada em regime de solidariedade e transferência de encargos entre as gerações - os

planos coletivos - onde a própria coletividade forma a poupança complementada por aportes de

empresas patrocinadoras - e os planos individuais, em que as pessoas poupam sem a figura do

patrocinador (SILVA, 2014).

Segundo Chan (2010, p. 39), no Brasil, os registros históricos acerca da busca de

proteção e amparo social, por meio de assistência mútua e das misericórdias, datam de meados

da época da descoberta do país por Portugal.

Para Póvoas (2000, p. 28), essas preocupações nasceram “por razões lógicas, nos

primeiros anos da colonização, tendo levado à instituição de uma verdadeira rede de

misericórdias, e continuado depois com a instituição das associações de socorros mútuos, cuja

forma mais evoluída se traduziu na constituição de montepios”, uma espécie de instituição de

caridade.

Ainda para Póvoas, pode ser atribuída a Brás Cubas a fundação, em 1543, do primeiro

montepio no país, o qual era destinado aos funcionários da Santa Casa de Misericórdia, por ele

instituída.

No ano de 1923, por meio da promulgação da Lei 4.682, de 24 de janeiro, também

conhecida como lei Eloy Chaves, foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões

32

(CAP´s). Esta lei estipulou a criação obrigatória, em todas as companhias ferroviárias do país,

de uma caixa de aposentadorias e pensões para os respectivos empregados das estradas de ferro,

representando o marco da institucionalização da previdência social no Brasil (JARDIM, 2003).

Em meados dos anos 30 já existiam aproximadamente trezentas CAP´s, espalhadas por

todo o país. As CAP´s nessa época eram organizadas por empresas ou pela categoria

profissional, e seu sistema básico era o de capitalização coletiva, tendo de ser financiada de

forma tripartite pelos trabalhadores, empregados e Estado (FOLLADOR e ANZOLIN, 2008).

O caráter dinâmico que permeia a existência da previdência social no Brasil pode ser

percebido pelo recorte histórico apresentado por Follador e Anzolin (2008) e que versa sobre a

evolução da previdência no Brasil até o ano de 1990:

Em 1933, o modelo de Caixas foi reestruturado e substituído por instituições de

vinculação exclusiva ao gênero, ou categoria profissional, os Institutos de Aposentadorias e

Pensões (IAP´s). Nesse período muitas CAP´s foram transformadas em IAP´s. Estima-se que,

mesmo com a criação dos IAP´s, somente 30% dos trabalhadores estavam cobertos nos anos

50.

Em 1960, foi promulgada a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), com o intuito

de consolidar as normas existentes e uniformiza-las quanto ao custeio. A referida lei aumentou

a amplitude dos trabalhadores segurados, estendendo esse direito aos profissionais liberais,

autônomos e, de forma compulsória, aos empregadores (CHAN, 2010).

Em 21 de novembro de 1966, com o Decreto-lei nº 66, foram unificados os institutos de

aposentadorias e pensões através da criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

A partir da década de 60, houve ampliação significativa do número de beneficiários,

passando ao contemplar os trabalhadores rurais, as empregadas domésticas, entre outros.

Caracterizou-se também pela instituição de amparo aos idosos e inválidos.

Em 1974, foi criado o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS).

Em 1977, a Lei 6.439 criou o Sistema Nacional de Previdência Social (SINPAS), com

o intuito de reestruturar e redefinir o sistema, de maneira que cada órgão passasse a exercer

uma função específica. Por exemplo, o INPS ficou responsável apenas pela manutenção e

concessão de benefícios. Já nesta época, a previdência social, que em seu início na década de

20 era fragmentada e restrita às categorias mais organizadas, caminhou na direção da

universalização, assumindo encargos crescentes e diversificados, tornando cada vez mais

tênues as relações entre os benefícios concedidos e as contribuições, uma vez que já englobava

praticamente todas as categorias de trabalhadores (CHAN, 2010).

33

Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, introduziu importantes avanços

no âmbito da seguridade social, prevendo a observância dos seguintes princípios no artigo 194:

I – Universalidade de cobertura e do atendimento;

II – Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e

rurais;

III – Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV – Irredutibilidade dos valores dos benefícios;

V – Equidade na forma de participação do custeio;

VI – Diversidade da base de financiamento;

VII – Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do

Governo nos órgãos colegiados (CHAN, 2014).

Para Afonso (1996), embora tais medidas ou princípios possam ter sido motivados por

boas intenções, acabaram, em grande parte, sucumbindo ao duro embate com a realidade, na

medida em que só contribuíram para agravar a crise da previdência.

O padrão de proteção social no Brasil foi profundamente alterado, do ponto de vista

jurídico-legal e, pela primeira vez, uma Carta Magna brasileira introduziu um capítulo

específico sobre a ordem social e nele inscreveu dispositivos que asseguram direitos sociais

dentro de uma perspectiva democrática, universalizante e distributiva que, conjugada com a

afirmação de direitos civis e políticos, configura a concepção moderna de cidadania

(TEIXEIRA, 2001).

Em 1990, o INPS passou a denominar-se Instituto Nacional do Seguro Social – INSS,

tendo sido refundido com o Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência

Social – IAPAS, passando a ter como atribuições a arrecadação e pagamento de benefícios

social.

Atualmente, a Seguridade Social, tal qual está prevista no Capítulo II, Art. 195, da

Constituição Federal, é financiada por toda a sociedade mediante recursos provenientes dos

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes

sobre

a) folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a

qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

34

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo

contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social

de que trata o art. 201;

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

A Constituição de 1988 introduziu ainda algumas especificidades quanto à categoria

profissional da qual cada trabalhador fazia parte. O sistema previdenciário brasileiro admite,

por lei, algumas diferenciações, por exemplo: por posição na ocupação (empregado por CLT

ou autônomo); por ocupação (professor e não-professor); por regime jurídico (celetista ou

servidor estatutário ou militar; e entre urbanos e rurais, sendo que algumas dessas diferenças

residem nos critérios de elegibilidade aos benefícios – menores idades e tempos de contribuição

para mulheres, professores e rurais, por exemplo (CECHIN, 2007).

No período que sucedeu a Constituição de 1988, o Brasil se viu mergulhado numa

estagnação econômica, cujos impactos reverberam na capacidade do estado de gerenciar a

previdência social, tendo surgido a partir da década de 1990, os primeiros debates sobre a

Reforma Previdenciária.

Uma importante constatação imputa ao fato de a previdência social ser colocada em

xeque constantemente, à rigidez com a qual a estrutura previdenciária é controlada,

especificando que no caso brasileiro as normas legais são, sobretudo, constitucionais, limitando

dessa forma, ou melhor, impedindo que ajustamentos dos sistemas previdenciários sejam feitos

com a velocidade adequada, com consequências negativas sobre sua sustentabilidade. Em

praticamente todos os países, os sistemas previdenciários passaram a sofrer pressões por

reformas a partir das décadas finais do século XX muito em função dos crescentes déficits dos

sistemas previdenciários (TAFNER e GIAMBIAGI, 2007).

2.1.2 A estrutura do sistema previdenciário no Brasil

O sistema previdenciário brasileiro é o conjunto de programas institucionalizados,

constituídos em modalidades de sistema público ou privado, sendo este último subdividido em

sistemas aberto e fechado, com fim específico de amparar o indivíduo por ocasião de um evento

de invalidez ou morte, ou para garantir a manutenção da renda quando da incapacidade

laborativa em função do avanço da idade (FOLLADOR e ANZOLIN, 2008).

35

A legislação brasileira prevê três tipos de regimes de previdência: Regime Geral de

Previdência Social (RGPS) cujo gestor é o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e

destinado aos trabalhadores da iniciativa privada, de empresas estatais e aos servidores de

órgãos federativos que não possuam regimes próprios de previdência; Regime Próprio de

Previdência dos Servidores (RPPS), destinado a servidores públicos efetivos dos governos

federal, estaduais e cerca de dois mil municípios que possuem RPPS; Regime de Previdência

Complementar (RPC), privado e facultativo, operado por entidades abertas ou fechadas de

previdência (DOMENEGHETTI, 2009).

Portanto, a previdência social brasileira está estruturada em três pilares:

a) Regime Geral de Previdência Social (RGPS – art. 201 CF/88): sistema compulsório

voltado para os trabalhadores regidos pelo regime CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.

Suas políticas foram elaboradas pelo Ministério da Previdência Social (MPS) e executadas pelo

INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), autarquia federal a ele vinculada;

b) Regime Próprio de Previdência Social (RPPS – art. 40 CF/88): sistema compulsório

voltado para os servidores públicos dos estados e municípios. Excluem-se deste grupo os

empregados das empresas públicas, os agentes políticos, servidores temporários e detentores de

cargos de confiança, todos filiados obrigatórios ao RGPS. Suas políticas foram elaboradas pelo

Ministério da Previdência Social (MPS);

c) Regime de Previdência Complementar (RPC – art. 202 CF/88): regime é facultativo,

organizado de forma autônoma ao RGPS. É organizado em dois segmentos: o segmento

operado pelas entidades abertas – com acesso individual, e o segmento operado pelas Entidades

Fechadas de Previdência Complementar – EFPC´s, que operam Planos de Benefícios

destinados aos empregados de empresa ou grupo destas, denominadas patrocinadoras, bem

como aos associados ou membros de associações, entidades de caráter profissional, classista ou

setorial, denominados de instituidores. Suas políticas foram elaboradas pelo Ministério da

Previdência Social (MPS).

36

Figura 1 - Estrutura do Sistema Previdenciário no Brasil

Fonte: elaborado pelo autor, 2017.

2.1.3 O sistema de previdência complementar no Brasil

No Brasil, o sistema de previdência complementar é dividido entre duas categorias: a

previdência aberta, gerenciada por bancos ou seguradoras e a previdência fechada - cujo

controle é exercido por empresas privadas e os planos são limitados a um grupo de pessoas,

geralmente funcionários de uma ou mais empresas de um segmento específico. Em ambos os

casos, a adesão ocorre de forma voluntária.

A previdência complementar, aberta ou fechada, foi disciplinada pela Lei nº 6.435 de

15 de julho de 1977. Este regime tem como objetivo complementar o sistema de previdência

social oficial que, na época de sua promulgação, era pago pelo INPS. O Decreto nº 81.240 de

20 de janeiro de 1978 tratava da previdência fechada e o Decreto nº 81.402, de 23 de fevereiro

de 1978, da aberta (Martins, 2015).

A Lei nº 8.020, de 1990, disciplinou os déficits das entidades de previdência

complementar patrocinadas pela Administração Pública.

37

A previdência complementar passou a ser regida pela Lei Complementar nº 109, de 29

de maio de 2001. Essa norma revogou a Lei nº 6.435/77. O Decreto nº 4.206, de 23 de abril de

2002, regulamenta a Lei Complementar nº 109.

A normatização da previdência complementar que se deu até o início desse século teve

contornos mais definidos, alinhada a tendência mundial de reforçar o sistema previdenciário

privado, através da lei Complementar nº109, de 2001, que possibilitou a modernização dos

planos de benefícios por intermédio da introdução de uma disciplina normativa mais robusta e

eficaz (GAUDENZI, 2008).

Apesar de definir alguns deveres e responsabilidades dos participantes, essa lei não

determina a relação de benefícios assegurados pelo plano, deixando essas definições para ser

efetivado pelas partes, na contratação. Sendo assim, é necessário que se faça um acordo a fim

de prever os benefícios previdenciários contratados e as demais condições de efetivação.

Tais acordos são regulados por planos de benefícios, que atenderão a padrões mínimos

fixados pelo órgão regulador e fiscalizador, com o objetivo de assegurar transparência,

solvência, liquidez e equilíbrio econômico-financeiro e atuarial.

Participante é a pessoa física que adere aos planos de benefícios.

Assistido é o participante ou seu beneficiário em gozo de benefício de prestação

continuada.

Patrocinador é o empregador que vai contribuir financeiramente para o plano de

previdência complementar de seus empregados.

O custeio do sistema de previdência complementar é feito por (a) patrocinador; (b)

participantes e (c) investimentos (MARTINS, 2015).

A previdência complementar é uma forma de realocação da renda, cujo principal

objetivo é permitir ao trabalhador ter uma qualidade de vida e uma renda próxima à do período

de atividade, o que dificilmente seria alcançado caso dependesse somente da previdência social

(COIMBRA e TOYOSHIMA, 2009).

Para Martinez (2002, p.37), a previdência complementar trata de um conjunto de

operações econômico-financeiras, cálculos atuariais, práticas contábeis e normas jurídicas,

empreendidas no âmbito particular da sociedade, ainda inserida no Direito Privado, subsidiária

do esforço estatal, de adesão espontânea, propiciando benefícios adicionais ou assemelhados,

mediante recursos exclusivos do protegido (aberta ou associativa), ou divididos em encargos,

entre o empregado e o empregador, ou apenas um destes (fechada). Assim, a previdência

complementar atua de forma paralela aos regimes públicos como forma de cobrir a diferença

38

necessária para que seja mantido o padrão de vida do segurado, mediante adesão aos planos de

natureza contratual.

Complementando o artigo 202 da Constituição Federal, o artigo 1º da Lei Complementar

nº 109/2001 estabeleceu o binômio característico da previdência complementar:

contratualidade e facultatividade. Trata-se da liberdade de que todos dispõem de obrigar-se

conforme os termos do negócio proposto, e se contratado de obedecer aos termos da obrigação

constante no contrato.

Esta contratualidade é vista por Balera (2005, p. 21) de outra forma:

A adesão é facultativa, e o que é aceito não é imposto, cada patrocinador e

cada participante conserva, consigo, o poder de disposição que lhe permite-

respeitados os termos da obrigação e segundo o procedimento pertinente – modificar

os critérios de adesão, tanto quanto ao objeto da proteção previdenciária como quanto

ao respectivo exercício. (...) Sem que tenha por base as reservas constituídas pelos

interessados, o plano não logrará atingir os fins de ordem econômica ou prática que

as partes tinham em vista quando o engendraram ou a ele aderiram livremente.

Redobrada prudência na gestão do fundo previdenciário, a poupança de longo prazo,

é o que exige a constituição de reservas garantidoras dos benefícios. No seguro social,

existe nexo necessário entre contribuição e prestação. Dito em melhores palavras, há

correlatividade entre contribuição/risco e entre contribuição/prestação.

2.1.4 Entidades fechadas de previdência complementar

A previdência complementar fechada é um tipo de previdência caracterizada pelo

modelo privado e facultativo, sendo destinado a funcionários de empresas ou instituições que

patrocinam planos de aposentadoria.

Os planos de benefícios são administrados por Entidades Fechadas de Previdência

Complementar (EFPC). O objetivo é previdenciário, ou seja, a atividade-fim é previdenciária e

a atividade-meio é financeira, pois tem que rentabilizar as contribuições arrecadadas

(FOLLADOR e ANZOLIN, 2008).

Segundo Martins (2015), nas entidades fechadas, o acesso é exclusivo:

a) aos empregados de uma empresa ou grupo de empresas e aos servidores da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, entes denominados patrocinadores;

b) aos associados ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou

setorial, denominadas instituidores.

39

As EFPC´s são organizadas sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins

lucrativos.

AS EFPC´s podem ser qualificadas da seguinte forma:

a) singulares, quando estiverem vinculadas a apenas um patrocinador ou instituidor;

b) multipatrocinadas, quando congregarem mais de um patrocinador ou instituidor.

2.1.4.1 A PREVIC

Com a reforma ministerial executada pelo Governo Federal em 2017, a previdência

complementar fechada passou fiscalizada e supervisionada pela Superintendência Nacional de

Previdência Complementar (PREVIC) e pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar

(CNPC), vinculados ao Ministério da Fazenda (MF).

A PREVIC, de acordo com o Decreto nº 8.992, de 20 de fevereiro de 2017, é uma

autarquia de natureza especial, dotada de autonomia administrativa e financeira e patrimônio

próprio, vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede e foro no Distrito Federal, com atuação

em todo o território nacional como entidade de fiscalização e supervisão das atividades das

entidades fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o regime de

previdência complementar operado pelas referidas entidades, com as seguintes atribuições.

I - proceder à fiscalização das atividades das entidades fechadas de previdência

complementar e das suas operações;

II - apurar e julgar as infrações e aplicar as penalidades cabíveis;

III - expedir instruções e estabelecer procedimentos para a aplicação das normas

relativas à sua área de competência;

IV - autorizar: a constituição e o funcionamento das entidades fechadas de previdência

complementar e a aplicação dos respectivos estatutos e dos regulamentos de planos de

benefícios; as operações de fusão, cisão, incorporação ou qualquer outra forma de

reorganização societária, relativas às entidades fechadas de previdência complementar; a

celebração de convênios e termos de adesão por patrocinadores e instituidores e as retiradas de

patrocinadores e instituidores; e as transferências de patrocínio, grupos de participantes e

assistidos, planos de benefícios e reservas entre entidades fechadas de previdência

complementar;

V - harmonizar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar com

as normas e as políticas estabelecidas para o segmento;

40

VI – decretar intervenção e liquidação extrajudicial das entidades fechadas de

previdência complementar e nomear interventor ou liquidante, nos termos da lei;

VII - nomear administrador especial de plano de benefícios específico, podendo atribuir-

lhe poderes de intervenção e liquidação extrajudicial, na forma da lei;

VIII - promover a mediação e a conciliação entre entidades fechadas de previdência

complementar e entre as entidades e seus participantes, assistidos, patrocinadores ou

instituidores, bem como dirimir os litígios que lhe forem submetidos na forma da Lei nº 9.307,

de 23 de setembro de 1996;

IX - enviar relatório anual de suas atividades ao Ministério da Fazenda e, por seu

intermédio, ao Presidente da República e ao Congresso Nacional; e adotar as providências

necessárias ao cumprimento de seus objetivos.

A PREVIC deve assegurar que previdência complementar fechada integra o sistema de

previdência social brasileiro e constitui importante instrumento de proteção adicional ao

trabalhador e mecanismo de formação de poupança interna de longo prazo, necessário para

ampliar a capacidade de investimento do país e diversificar as fontes de financiamento do

crescimento econômico.

2.1.4.2 Constituição de planos de previdência complementar

Para a constituição de um plano de benefícios é necessário:

a) Definir o conjunto de benefícios que serão oferecidos aos participantes de acordo com

a necessidade identificada pela empresa patrocinadora ou instituidora;

b) Verificar a possibilidade de formação de uma coletividade através do levantamento

de dados relativos aos empregados/associados e os respectivos beneficiários que poderão

participar do plano (cônjuges, filhos, etc.);

c) Avaliar, atuarialmente, o plano de benefícios objetivando a definição do conjunto de

receitas necessárias ao seu funcionamento (plano de custeio);

d) Redigir o regulamento do plano de benefícios;

e) Requerer a autorização de funcionamento à PREVIC.

2.1.4.3 Tipos de planos de benefícios

Para Follador e Anzolin (2008), os planos de benefícios administrados pelas EFPC´s

são divididos em três categorias:

41

a) Benefício Definido (BD):

Neste tipo de plano, o valor do benefício do participante é decidido no momento de sua

adesão e suas contribuições vão variar à medida de sua vida de trabalho para alcançarem o valor

estipulado inicialmente. São planos estruturados como mutualistas e os riscos são da

coletividade.

A contribuição do participante e do patrocinador devem ser atuarialmente estabelecidas

e tem o custeio estreitamente relacionado à variação do comportamento das características

etárias e salariais dos participantes, bem como a rentabilidade obtida na aplicação financeira do

patrimônio do plano.

Havendo modificações nas condições do conjunto dos participantes, nos salários ou no

plano de benefícios, bem como nas hipóteses atuariais (tábuas de mortalidade, taxas de juros,

etc.), o custeio deverá ser majorado ou reduzido para adequação às novas condições. Portanto,

o risco é o de ter que majorar a contribuição, uma vez que o nível de benefício é contratualmente

garantido.

São necessárias avaliações atuariais periódicas (no mínimo anuais), para determinar se

os ativos constituídos somados às contribuições futuras têm capacidade de suportar o

pagamento dos benefícios contratados. Se o plano não estiver equilibrado, ajustes deverão ser

feitos, aumentando-se ou diminuindo-se a contribuição ou instituindo-se uma contribuição após

a aposentadoria.

Esse tipo de benefício é claramente observado na previdência dos servidores públicos

brasileiros e o benefício corresponde à integralidade da remuneração.

b) Contribuição definida (CD):

Neste tipo de plano, decide-se o tamanho da contribuição a ser efetuada ao plano, e o

benefício do participante é definido no momento da aposentadoria, com base no montante de

recursos que o participante tenha contribuído durante o período que trabalhou.

É o plano no qual a contribuição mensal é estabelecida, porém, o valor do benefício não

é garantido, pois irá depender do resultado dos investimentos das contribuições no mercado

financeiro e do montando acumulado pelo participante. As regras para o cálculo das

contribuições do participante e do patrocinador são definidas e estabelecidas nos regulamentos

dos planos e permitem um melhor planejamento das despesas futuras por parte dos

patrocinadores.

Este tipo de plano não reúne as condições ideais de satisfação dos participantes que

fizerem sua adesão próximos da aposentadoria, com pouco tempo para acumular fundos. Por

outro lado, é bastante atrativo para as massas mais jovens.

42

Os planos de contribuição definida são extremamente flexíveis. Os regulamentos podem

admitir aumentos, diminuições ou suspensões das contribuições dos participantes. Os

patrocinadores podem contribuir paritariamente ou não (1 por 1). As contribuições dos

patrocinadores podem ser estabelecidas de forma flexível, podendo variar de acordo com os

salários dos colaboradores, tempo de admissão, entre outros aspectos.

Após a fase de acumulação, na fase de recebimento de benefícios, existem, basicamente

três opções:

1. Receber as reservas acumuladas e atualizadas em parcela única, denominada de BPU

– Benefício em Pagamento Único

2. Receber as reservas acumuladas e atualizadas, mensalmente, por um número definido

de parcelas, até a extinção do saldo individual de conta;

3. Receber um percentual das reservas acumuladas e atualizadas, mensalmente, até a

extinção do saldo individual de conta;

Não há mutualismo neste tipo de plano, pois a acumulação das reservas é individual.

c) Contribuição Variável (CV):

Trata-se de uma combinação entre contribuição definida (na fase de acumulação de

recursos) e benefício definidos (na fase de recebimento de benefícios previdenciários). Por

exemplo: estruturar os benefícios de risco (auxílio-doença, invalidez e pensão por morte) com

as características de benefícios definidos, combinando os benefícios programados

(aposentadorias por tempo de contribuição e por idade) com as características de contribuições

definidas.

O ambiente institucional da previdência fechada evoluiu bastante nas últimas três

décadas. O acesso que antes praticamente se restringia a trabalhadores de grandes empresas

(estatais e multinacionais) tem se diversificado de forma significativa, inclusive através da

criação de planos instituídos por associações e entidades classistas e da aprovação da

previdência fechada dos servidores públicos.

2.1.4.4 Tipos de benefícios de um plano de benefícios

Os planos de benefícios podem conceder os benefícios classificados por:

a) Aposentadoria por invalidez: concedida ao participante que for considerado inválido

mediante prova de invalidez ou pela aposentadoria de mesma natureza no RGPS;

43

b) Aposentadoria programada por tempo de serviço, idade ou contribuição: concedida

ao participante que atingir os critérios de concessão definidos no regulamento do plano, como,

por exemplo, tempo mínimo de contribuição e idade mínima.

c) Pensão por morte: concedida ao conjunto de beneficiários do participante falecido a

partir de sua data de óbito;

d) Auxilio-doença: concedida ao participante que for considerado doente pelo RGPS ou

por médicos credenciados pela entidade que administra o plano;

e) Pecúlio por morte: concedido, em pagamento único, ao conjunto de pessoas

designadas pelo participante, com importância equivalente a um valor que objetive dar

andamento aos projetos da família, como, por exemplo, cobrir despesas de estudo dos filhos,

manter moradia, sustento, etc. não cobrindo pensão, caso já esteja prevista no plano.

2.1.4.5 Tipos de rendas de um plano de benefícios

Os planos de benefícios podem ser classificados pelo tipo de renda:

a) Renda vitalícia: o benefício é pago a partir de uma idade pré-definida até o momento

do falecimento do participante;

b) Renda temporária: o benefício é pago a partir de uma idade pré-definida e durante

por um período pré-definido, encerrando-se no falecimento do participante ou o período

estabelecido de gozo do benefício.

2.1.4.6 Desafios da Previdência Complementar Fechada

O sistema de Previdência Complementar brasileiro, nos últimos tempos, tem encarado

diversas situações que colocam à prova quase que diariamente sua eficiência, solidez e

maturidade. Dentre esses desafios cabe destacar: a proliferação de planos de contribuição

definida e de contribuição variável em suas mais diversas variantes; a possibilidade do

participante poder optar por perfil de investimento mais conservador ou arrojado para seu plano;

o aumento da longevidade da população e demais alterações demográficas; as rotineiras

modificações societárias de patrocinadores e de entidades fechadas de previdência; os desafios

da gestão de riscos diante das crises financeiras internacionais e muitos outros (ALVES, 2009).

Assim, por estarem inseridas num ambiente de alta competição, caracterizado por uma

sociedade profundamente afetada pelos paradigmas introduzidos pela "era do conhecimento",

as EFPC´s estão cada vez mais dependentes de mecanismos eficazes de administração da

44

informação, visando à redução do quadro de incerteza em que suas decisões são tomadas. As

organizações, a fim de se tornarem competitivas e eficazes, estão adotando um novo modelo de

gestão, que alia o uso dos recursos tecnológicos à sua capacidade de inovação, criação e

transformação da informação em insumo capaz da alimentar e sustentar seus processos

(RODRIGUEZ, 2002).

Para Tafner (2012, p.146), o equilíbrio do sistema previdenciário depende não apenas

de suas condições próprias, mas das variáveis que estão fora do sistema. No seu próprio âmbito,

depende, por exemplo, das regras de elegibilidade e de concessão dos benefícios, do valor

destes, das regras de contribuição e das alíquotas. Fora dele, depende do nível de emprego, do

grau de formalidade, do salário real médio e da produtividade – variáveis que são determinadas

no mercado de trabalho e estão sujeitas às condições macroeconômicas e institucionais.

Depende, ainda, da dinâmica demográfica que, por sua vez, depende das condições sanitárias,

de higiene, de saúde e de hábitos da população. Costumes e valores da sociedade que

determinam o comportamento das famílias, que são mutáveis no tempo.

Diante deste cenário complexo e dinâmico, aderir ao plano de previdência

complementar torna-se uma decisão cada vez mais desafiadora.

2.2 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

As teorias relacionadas ao comportamento do consumidor podem contribuir para

clarificar os elementos pertinentes a este complexo processo de tomada de decisão, relacionado

a aderir ao plano de previdência complementar.

2.2.1 Todos somos consumidores

O interesse pelo estudo do consumidor não é novo. As relações de troca, desde que se

tem registro, já criavam hipóteses e explicações sobre o comportamento dos compradores. Há

160 anos, Marx já teorizava sobre a essência da posse, o que até hoje gera estudos sobre a

sociedade de consumo. Desde que nascemos, estamos imersos em um turbilhão de estímulos

que se originam de muitas fontes, algumas externas ao sujeito. Ao estudar o consumo, portanto,

não podemos perder de vista o todo, incluindo o social. O processo de escolha e uso dos

produtos tem aspectos individuais que se interpenetram com a história social e cultural das

45

pessoas, as quais exercem influência no comportamento de consumo e no ato de compra

(GIGLIO, 2008).

Ser consumidor é ser humano, é alimentar-se, vestir-se, divertir-se, é viver. O

consumidor tem suas motivações para a busca de determinadas ambições, para a conquista de

determinados espaços para sua realização pessoal. O consumidor é dotado de personalidade, o

que faz com que alguns consumidores tenham maior atração por um determinado tipo de

produto do que outros. O consumidor tem preferências, que não são as mesmas para todos. O

consumidor também possui uma percepção da realidade, desenvolvendo atitudes positivas e

negativas com relação a produtos, propagandas, lojas e tudo o mais que diz respeito a sua

própria vida. Além disso, o consumidor aprende. Aprende o nome dos produtos, das lojas, as

localizações das lojas. Aprende também como utilizar determinados produtos, como espelhar-

se neles, como precisar deles (KARSAKLIAN, 2004).

O consumidor traz dentro de si elementos que irão interagir com estímulos exteriores

(produtos, propagandas, marcas) e que vão fazer com que ele tenha um comportamento até

certo ponto previsível, dentro do ponto de vista da psicologia. Além disso, como o consumidor

é um ser social, seu comportamento é influenciado a certas circunstancias e pressões da

sociedade. Por exemplo, os grupos de referência, tais como escola, trabalho, clube, entre outros,

podem, de certa forma, padronizar o comportamento de cada indivíduo em relação aos demais

membros do grupo. Outros elementos, tais como os líderes de opinião, as classes sociais, os

estilos de vida têm impacto direto nas decisões de compra dos consumidores. A cultura também

determina as normas e os valores que devem ser seguidos e respeitados pelos indivíduos.

Diferenças de comportamento com relação ao mesmo objeto são facilmente percebidas em

grupos inseridos em culturas distintas (KARSAKLIAN, 2004).

Para Peter (2009, p.6), “o comportamento do consumidor é dinâmico porque as

opiniões, os sentimentos e as ações dos consumidores, dos grupos de consumidores-alvo e da

sociedade em geral mudam constantemente”. Por exemplo, a internet revolucionou a maneira

de procurar informações sobre produtos e serviços. O fato dos consumidores e de seu ambiente

estarem em constante mudança evidencia a importância das pesquisas e da análise contínua dos

consumidores pelos profissionais de marketing.

2.2.2 O campo de pesquisa comportamento do consumidor

46

Os primeiros estudos referentes ao comportamento do consumidor foram escritos na

década de 1960. Porém, este debate é muito mais antigo. Thorstein Veblen, por exemplo, falou

sobre exageros no consumo de 1899. Na década de 1950, ideias oriundas da psicologia

freudiana se tornaram populares por pesquisadores da motivação e usadas por anunciantes.

Entretanto, apenas com o surgimento do conceito de marketing, ainda na década de 1950, a

necessidade de estudar o comportamento do consumidor foi reconhecida (MOWEN e MINOR,

2003).

A maior parte dos estudos relacionados ao comportamento do consumidor eram

motivados pelo marketing e os autores adotavam um paradigma de pesquisa do positivismo, no

qual técnicas empíricas rigorosas foram utilizadas para descobrir explicações e leis

generalizadas. A partir da década de 1970, um movimento surgiu neste campo para suplementar

o positivismo com o pós-modernismo – uma forma de investigação que inclui objetivos e

métodos diferentes. Desta forma, o campo de pesquisa de consumidores foi enriquecido e

ampliado, principalmente a partir da publicação, no final da década de 1960, dos estudos de

Morris B. Holbrook e Elisabeth C. Hirschman, que pretendia entender o comportamento do

consumo sem qualquer intenção de influenciá-lo. Os cursos sobre o comportamento dos

consumidores rapidamente floresceram por todo o mundo ocidental. O número de

pesquisadores aumentou geometricamente principalmente a partir da criação da Association for

Consumer Research em 1969 (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

Segundo Solomon (2011, p. 42), a perspectiva positivista acerca do comportamento do

consumidor enfatiza a objetividade da ciência e o consumidor como um indivíduo que toma

decisões. O positivismo nos incentiva a enfatizar a função dos objetos, a celebrar a tecnologia

e a ver o mundo como um lugar racional e ordenado, com passado presente e futuro claramente

definidos. Por outro lado, a perspectiva pôs-modernista ou interpretativista acentua o

significado subjetivo da experiência individual do consumidor e a ideia de que qualquer

comportamento está sujeito à múltiplas interpretações, ao invés de um único ponto de vista.

Para os interpretativistas, esta visão ordenada e racional do comportamento, com ênfase na

ciência e na tecnologia em nossa sociedade, nega o complexo mundo social e cultural em que

vivemos, isto é, cada um de nós constrói seus próprios significados com base em suas

experiências culturais e únicas e compartilhadas, de modo que não há respostas certas ou

erradas. O valor colocado nos produtos, porque ajudam a criar ordem em nossas vidas, é

substituído por uma apreciação do consumo como o oferecimento de um conjunto de

experiências diversas.

47

Para Karsaklian (2004, p. 20), “o estudo de comportamentos do consumo é uma ciência

aplicada originária das ciências humanas e sociais, como a economia, a psicologia, a sociologia

e a antropologia. Seu objetivo é compreender os comportamentos de consumo adotando uma

perspectiva pluridisciplinar”.

Segundo Solomon (2011, p. 24), o campo do comportamento do consumidor abrange

uma ampla área de estudo, tratando-se dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos

selecionam, compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou experiências para

satisfazer necessidades e desejos, que podem variar entre de fome e sede até amor, status ou

ainda realização espiritual. Os primeiros estudos nesta área eram frequentemente chamados de

comportamento do comprador. Atualmente, embora o momento da troca de uma mercadoria ou

serviço por dinheiro seja importante, uma visão mais abrangente inclui questões que

influenciam o consumidor antes, durante e depois do ato da compra.

2.2.3 O processo de troca entre consumidores

Para Peter (2009, p. 9), o comportamento do consumidor é determinado pelas trocas que

os seres humanos realizam entre si. Em outras palavras, as pessoas abrem mão de algo de valor

por alguém e recebem algo em troca. Em grande medida, o comportamento do consumidor

envolve a renúncia a algum dinheiro e a outras coisas para obter produtos e serviços, isto é,

trocas entre compradores (consumidores) e comerciantes (vendedores). O papel do marketing

na sociedade é ajudar a gerar trocas por meio de formulação e implementação de estratégias.

Mowen e Minor (2003, p. 3) definem comportamento do consumidor como o estudo das

unidades compradoras e dos processos de trocas envolvidas na aquisição, no consumo e na

disposição de mercadorias, serviços, experiências e ideias. Com base nesta definição simples,

são apresentados vários conceitos importantes. O primeiro deles é o conceito de troca, definido

como um processo no qual recursos são transferidos entre duas partes. Por exemplo, um médico

comercializa serviços médicos por dinheiro. Os recursos podem também ser informações,

sentimentos e status, podendo ser trocados entre duas partes. Trocas podem ocorrer entre

consumidores, consumidores e empresas e também entre duas empresas. Por isso foi utilizado

o termo unidades compradoras ao invés do termo consumidor. O processo de troca envolve

diversas fases, a começar pela fase de aquisição, passando pela fase do consumo e finalizando

com a disponibilização do produto ou serviço. Grande parte das pesquisas sobre

comportamento do consumidor se concentram na fase de aquisição, onde os pesquisadores

48

analisam os fatores que influenciam as escolhas as unidades consumidoras. Por exemplo, um

fator que está associado à busca e à seleção de mercadorias e serviços é o simbolismo do

produto, ou seja, as pessoas podem adquirir um produto para expressar a terceiros certas ideias

e significados a respeito de si mesmas.

Para Karsaklian (2004, p. 15), o processo de troca entre consumidores passa pela fase

da informação, que é a forma como o consumidor seleciona e combina a informação que recebe

do meio externo àquela retida em sua memória, utilizando-a para decidir pela compra ou não

de determinado produto ou serviço. A situação de compra exerce impacto direto sobre a decisão

de compra. Por exemplo, quando um determinado indivíduo vai ao supermercado, sozinho, a

lista de produtos adquiridos não necessariamente é exatamente igual àquela lista de produtos

adquiridos quando o indivíduo está acompanhado por outras pessoas. Estudar o consumidor

significa pesquisar seus mecanismos de aceitação e de bloqueios, sua forma de ser, de pensar,

de agir e de reagir e requer metodologias adequadas.

O comportamento do consumidor envolve interações entre pensamentos, sentimentos e

ações das pessoas e seu ambiente. Por isso, os profissionais de marketing precisam compreender

que significado têm os produtos e as marcas para os consumidores, o que estes precisam fazer

para comprá-los e usá-los e o que influenciam o ato de fazer compras, a compra em si e o

consumo (PETER, 2009).

Ainda para Peter (2009, p. 12), “estratégia de marketing” é a concepção, implementação

e controle de um plano para influenciar trocas com a finalidade de atingir objetivos

organizacionais”. Em outras palavras, as estratégias são concebidas para aumentar a

probabilidade de que os outros consumidores tenham opiniões e sentimentos favoráveis em

relação a determinados produtos, marcas e serviços, e os experimentem e comprem

repetidamente.

2.2.4. Os consumidores como tomadores de decisões

Uma decisão envolve uma escolha “entre duas ou mais ações alternativas”. Os

profissionais do marketing estão particularmente interessados nos comportamentos de compra

dos consumidores. Uma compra de um consumidor é uma resposta a um problema ou uma

necessidade percebida, como por exemplo, comprar um novo aparelho de TV. O processo de

compra segue uma série de passos, que podem ser descritos como: (1) reconhecimento de um

problema, (2) busca de informações, (3) avaliação de alternativas e (4) a escolha do produto ou

49

serviço. Em outras palavras, o processo de tomada de decisão de compra concentra-se em três

passos: como os consumidores reconhecem o problema ou a necessidade de um produto ou

serviço, como se dá a busca de informações sobre as opções de compra e os modos como os

consumidores avaliam as alternativas para chegarem a uma decisão (SOLOMON, 2011).

Para Mowen e Minor (2003, p. 191) a tomada de decisão do consumidor consiste no

conjunto de processos envolvidos no reconhecimento de problemas, na busca de soluções, na

avaliação de alternativas, na escolha entre opções e na avaliação dos resultados da escolha. Os

consumidores tomam decisões através de um processo construtivo e contínuo, buscando fazer

a melhor escolha entre duas ações, reduzir o esforço da tomada de decisão, minimizar as

emoções negativas e maximizar a capacidade de justificar a decisão. A perspectiva tradicional

da tomada de decisão enfatiza a abordagem racional do processamento de informação para o

comportamento de compra, estando associada à abordagem da hierarquia de efeitos de alto

envolvimento e à formação de atitudes, onde os consumidores passam de maneira linear por

todos os estágios do processo de decisão, quando ocorrem altos níveis de processamento de

informação. O processo de tomada de decisão de compra é dividido em estágios ou fases.

Figura 2 - Estágios da tomada de decisão do consumidor

Fonte: MOWEN e MINOR, 2003

.

2.2.4.1 O reconhecimento de problema de consumo

O reconhecimento do problema ocorre quando o consumidor percebe uma diferença

significativa entre seu estado atual e algum estado ideal ou desejado. Percebe-se que algo

precisa ser resolvido, podendo ser pequeno ou grande, simples ou complexo. O reconhecimento

da necessidade pode ocorrer quando a qualidade do estado real da pessoa pode ser diminuída,

simplesmente ao faltar um produto ou serviço, ao comprar um produto que vem a ser

Reconhedimento do problema

Busca de informações

Avaliação de alternativas

Escolha do produto

Resultados

50

inadequado para satisfazer suas necessidades ou criar novas necessidades. O reconhecimento

da oportunidade frequentemente ocorre quando o consumidor é exposto a produtos ou serviços

diferentes ou de melhor qualidade (SOLOMON, 2011).

Figura 3 - Reconhecimento do problema: mudanças no estado real ou ideal

Fonte: SOLOMON, 2011

Ainda para Solomon (2011, p. 212), “os profissionais de marketing tentar criar

exigências primárias, em que os consumidores são encorajados a utilizar o produto sem

considerar a marca”. A exigência secundária ocorre quando os consumidores percebem a

necessidade de substituir uma marca por outra.

Há uma série de fatores que podem fazer com que a satisfação com o estado real caia

abaixo de níveis aceitáveis. Um produto pode acabar, desgastar-se ou simplesmente sair de

moda. Ou simplesmente o consumidor passa a perceber que determinado produto não atende

mais suas necessidades ou expectativas. Já o estado real ou desejado é influenciado por fatores

que afetam as aspirações e circunstâncias dos consumidores, tais como cultura, subcultura,

grupos de referência e tendências de estilos de vida. Estes fatores podem fazer o consumidor

mudar de ideia acerta de um produto ou serviço. Os consumidores, por serem capazes de pensar,

planejar e sonhar, criam visões de consumo, que nada mais são do que simulações mentais

51

futuras de consumo que uma pessoa pode desenvolver. Desta forma, toda uma gama de produtos

pode ser identificada como mercadorias de pré-necessidade. (MOWEN e MINOR, 2003).

Os consumidores concebem as consequências positivas e negativas do uso de um

produto ou serviço como possíveis benefícios ou riscos. Os benefícios são os efeitos desejáveis

que os consumidores procuram ao comprar e usar produtos, serviços e marcas. Os consumidores

podem vincular produtos a consequências funcionais e psicossociais desejadas (exemplo: “se

usar este vestido, as pessoas vão me notar? Sinto-me bem quando as pessoas me notam”). Por

outro lado, os riscos percebidos estão relacionados às consequências indesejáveis que os

consumidores querem evitar quando comparam e usam produtos e serviços. Alguns

consumidores temem riscos físicos, como, por exemplo, efeitos colaterais de um determinado

medicamento ou um choque elétrico ao utilizar um secador de cabelo. Outros tipos de

consequências indesejáveis abrangem riscos financeiros, como, por exemplo, ao descobrir que

a garantia não cobre o conserto do aparelho de micro-ondas, ou comprar um novo calçado e no

dia seguinte vê-lo em promoção. Os riscos também podem ser funcionais, como, por exemplo,

um aditivo para motor a diesel que na verdade não reduz o desgaste do motor. Por fim, os riscos

podem ser psicossociais, quando, por exemplo, o consumidor percebe que “meus amigos talvez

achem que esses óculos de sol não me caem muito bem” (PETER, 2009).

Para Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 115), “é a ativação e o reconhecimento de

necessidades de consumo que levam o consumidor a um processo de tomada de decisão que

determina a compra e o consumo do produto”. O reconhecimento da necessidade depende

essencialmente de quanta discrepância existe entre o estado real (situação atual do consumidor)

e o estado desejado (a situação em que o consumidor quer estar). Se esta discrepância alcança

ou é superior a um certo nível, a necessidade é reconhecida. Caso contrário, o reconhecimento

da necessidade não ocorrerá. Vale ressaltar que o reconhecimento da necessidade não ativa,

automaticamente, uma ação. Primeiramente, ela precisa ser suficientemente importante. Além

disso, os consumidores precisam crer que existe uma solução para o problema, que esteja dentro

de suas possibilidades e de seus meios. Porém, uma necessidade precisa ser “ativada”, antes de

ser reconhecida.

A tabela a seguir apresenta vários fatores podem influenciar a “ativação” de uma

necessidade.

52

Quadro 1 - Fatores que influenciam a ativação de uma necessidade

Fator Descrição

Tempo Influencia o estado desejado de alguém. Os consumidores passam

por mudanças em suas preferências e valores, à medida em que o

tempo passa.

Mudança de

circunstâncias

Necessidades são ativadas por mudanças ao longo da vida do

consumidor, tais como formatura, novo emprego, casamento,

nascimento de um filho, etc.

Aquisição de

produto

A aquisição de um produto pode ativar a necessidade de produtos

adicionais. Por exemplo, a aquisição de um móvel para a sala de

estar pode ativar a compra de um novo tapete ou papel de parede.

Consumo de

produto

O próprio consumo pode ativar a necessidade de compra,

simplesmente devido a uma situação de falta de estoque.

Diferenças

individuais

Consumidores podem diferir no reconhecimento de necessidades

resultantes da mudança do estado real para o desejado. Para alguns,

comprar roupas novas pode ser disparado pela sensação de que as

roupas atuais estão muito velhas. Para outros, o motivo pode ser o

desejo de experimentar roupas lançadas pelos estilistas, mesmo que

suas roupas atuais estão em plena condição de uso.

Influências de

marketing

As empresas frequentemente estimulam a conscientização dos

consumidores sobre suas necessidades. Os métodos podem variar

entre um simples anúncio em uma gôndola de supermercado até o

lançamento de um produto inovador.

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

2.2.4.2 A busca por informações sobre o produto ou serviço

Uma vez reconhecido um problema, os consumidores necessitam de informações

adequadas para resolvê-lo. A busca por informações é o processo pelo qual o consumidor

investiga seu ambiente à procura de dados adequados para tomar uma decisão razoável. As

fontes de informações podem ser divididas em internas e externas. Como resultado de

experiência anterior ou simplesmente por viver em uma cultura de consumo, todos nós já

possuímos um certo grau de conhecimento em nossa memória a respeito de muitos produtos.

Ao deparar-nos com uma situação de compra, podemos nos engajar em uma pesquisa interna,

investigando nosso próprio banco de dados na memória, para buscar informações sobre

alternativas de produtos. Em geral, mesmo o maior conhecedor do mercado precisa

complementar seu banco de dados com a pesquisa externa, em que as informações são obtidas

a partir de comerciais, opiniões de terceiros ou simplesmente pela observação de outras pessoas.

(SOLOMON, 2011).

53

Durante o processo de busca interna por informações, o consumidor tenta recuperar da

memória permanente os produtos que podem ou não resolver seu problema. Primeiramente, o

consumidor recupera da memória permanente aqueles produtos e marcas que conhece, sendo o

conjunto de lembrança um subconjunto de todo o universo de marcas e produtos potencialmente

disponíveis. Em seguida, o consumidor divide o conjunto lembrança em três outras categorias:

o conjunto consideração - marcas e produtos aceitáveis para considerações futuras, o conjunto

inerte - as marcas e produtos pelas quais o consumidor é indiferente - e o conjunto inepto -

marcas e produtos considerados inaceitáveis (MOWEN e MINOR, 2003).

Ainda segundo Mowen e Minor (2003, p. 197), durante o processo de busca externa,

fontes externas podem fornecer dados a respeito de alternativas de marcas disponíveis, critérios

de avaliação para comparação entre marcas e o desempenho das marcas em relação a certos

fatores influenciam o grau de busca externa. Economistas argumentam que os consumidores

realizam buscas apenas se os ganhos adicionais resultantes dessa busca forem maiores que os

gastos realizados para fazer a busca adicional, isto é, quanto mais caro for para os consumidores

fazer a busca externa, menos eles o farão. Consumidores geralmente realizam buscas externas

quando se encontram em um estado de alto envolvimento e muito comprometidos com a

resolução do problema.

2.2.4.3 A avaliação de alternativas de compra

No estágio de avaliação de alternativas, os consumidores comparam as opções

identificadas como potencialmente capazes de resolver o problema que iniciou o processo de

decisão de compra. Quando as opções são comparadas, crenças, atitudes e intenções são

formadas a respeito das alternativas (MOWEN e MINOR, 2003).

Ainda segundo Mowen e Minor (2003, p. 201), “a avaliação de alternativas segue o

modelo de aprendizagem-padrão, no qual as crenças conduzem à formação da afeição,

resultando em intenções comportamentais e comportamentos”. Nesta situação, os modelos

multiatributos relativos à formação de atitude podem ser utilizados para descrever o processo

de avaliação. É importante verificar quais sentimentos e emoções são estimulados pela compra

que está para ser efetuada. No estágio de avaliação de alternativas, os consumidores consideram

até que ponto as opções contam com vários atributos. Além disso, eles começam a levar em

consideração a importância e a qualidade de cada atributo. Quando o consumidor tem

dificuldade em buscar informações acerta de determinado atributo, o resultado é que ele evita

escolher a opção que requer maior esforço cognitivo.

54

Para Solomon (2011, p. 217), o estágio de avaliação de alternativas compreende a maior

parte do esforço despendido em uma decisão de compra, pois uma escolha deve ser feita a partir

das alternativas disponíveis, ainda mais que a moderna sociedade de consumo oferece opções

em abundância. A questão crucial é: como decidimos que critérios são importantes e como

restringimos as alternativas de produtos ou serviços a um número aceitável e finalmente

escolhemos um de detrimento de outros?

As alternativas ativamente consideradas durante o processo de escolha de um

consumidor são denominadas de conjunto evocado. Compreende os produtos já na memória,

denominados de conjunto de recuperação, mais os que predominam no ambiente de vendas.

Denomina-se conjunto inerte as alternativas das quais o consumidor está consciente, mas que

não consideraria comprar. Já o conjunto inepto refere-se às alternativas desconhecidas pelo

consumidor (SOLOMON, 2011).

Figura 4 - Estágios na tomada de decisão do consumidor

Fonte: SOLOMON, 2011.

Ainda para Solomon (2011, p. 219), os produtos do conjunto evocado de um consumidor

tendem a ser aqueles que compartilham características semelhantes. É importante compreender

como esse conhecimento é representado na estrutura cognitiva do consumidor, ou seja, no

conjunto de conhecimento de fatos sobre produtos (isto é, crenças) e o modo como essas crenças

estão organizados na mente das pessoas. As pessoas agrupam as coisas em categorias, que

Todas as alternativas

Conjunto Evocado

Conjunto de Recuperação

Produtos predominantes

no Ambiente

Conjunto Inerte Conjunto Inepto

55

ocorrem em níveis diferentes de especificidade. Normalmente, um produto é representado em

uma estrutura cognitiva dividida em três categorias: a categoria nível básico - o mais útil, pois

os itens agrupados neste nível tendem a ter muito em comum com os outros e ainda permitem

que uma gama de alternativas seja considerada – a categoria supra-ordinada – mais ampla e

mais abstrata e, por fim, a categoria subordinada – mas específica, quase sempre inclui marcas

individuais.

Uma vez que as opções relevantes de uma categoria de produtos ou serviço tenham sido

reunidas e avaliadas, considerando aspectos como o posicionamento do produto ou serviço

(quando o consumidor é convencido de que o referido produto ou serviço deve ser considerado

em uma dada categoria), a identificação de competidores (produtos e serviços que na superfície

são muito diferentes, na verdade podem competir uns com os outros) e produtos exemplares

(considerados os mais comuns em suas categorias), uma escolha deve ser feita entre elas. As

regras para decisão que orientam a escolha podem variar entre estratégias muito simples e

rápidas até processos complicados que exigem muita atenção e processamento cognitivo. A

escolha pode ainda sofrer influência pelas informações oriundas de uma experiência anterior

com o produto específico ou semelhante, informações presentes no momento da compra e as

crenças advindas na propaganda sobre as marcas (SOLOMON, 2011).

Nas decisões de compras, as alternativas de escolhas referem-se às diferentes classes e

formas de produtos, marcas ou modelos que os consumidores estão pensando em comprar.

Podem ser diferentes lojas a visitar, horários do dia ou da semana para ir às compras ou formas

de pagamento – em dinheiro, cheque ou cartão de crédito. Tendo em vista a limitação de tempo,

de energia e de capacidade cognitiva dos consumidores, eles raramente examinam todas as

alternativas possíveis. Em geral, apenas um subconjunto de todas as alternativas possíveis,

denominado de conjunto de consideração, é avaliado (PETER, 2009).

2.2.4.4 Decisões de compra

Os consumidores consideram conjunto de atributos de produtos utilizando regras

diferentes, a depender da complexidade e da importância da decisão. Uma maneira de

diferenciar as regras de decisão é dividi-las entre compensatórias e não compensatórias.

As regras de decisão simples são consideradas não compensatórias, o que significa que

um produto com baixa classificação em determinado atributo não consegue compensar sua

posição sendo melhor em outro atributo. Por exemplo, quando um consumidor se utiliza da

regra de decisão “comprar apenas marcar bem conhecidas”, ele não consideraria novas marcas,

56

mesmo se fosse igual ou superior às existentes. Quando os consumidores estão menos

familiarizados com uma categoria de produto ou serviço ou não estão motivados a processar

informações complexas, tendem a utilizar regras simples, não compensatórias (SOLOMON,

2011).

A regra lexicográfica é também considerada não compensatória. Ocorre quando a marca

que é a melhor no atributo mais importante é a selecionada. Se duas ou mais marcas estiverem

com o mesmo conceito neste atributo, o consumidor então realiza uma comparação relativa ao

segundo atributo mais importante, procedendo desta forma até o desempate. Por exemplo, o

consumidor opta por adquirir determinada sandália, que combina com o vestido que utilizará

na festa, independente se o calçado é mais caro ou mais barato ou mais ou menos confortável

em relação às demais alternativas de escolha (SOLOMON, 2011).

A regra de eliminação por aspectos é também considerada não compensatória. Ocorre

quando as marcas também são avaliadas pelo seu atributo mais importante, porém,

características específicas são impostas. (SOLOMON, 2011).

Já as regras de decisão compensatórias dão ao produto uma oportunidade de compensar

suas falhas. Os consumidores que se utilizam deste critério tendem a estar mais envolvidos no

processo de decisão de compra. Ao utilizar a regra aditiva simples, o consumidor apenas escolhe

a alternativa que tem o maior número de atributos positivos, mesmo que alguns desses atributos

podem não ser significativos ou importantes. A regra aditiva ponderada também leva em

consideração a importância relativa de atributos com classificação positiva, multiplicando as

classificações da marca por pesos de importância (SOLOMON, 2011).

Para Solomon (2011, p. 233), “as escolhas de um consumidor são afetadas por muitos

fatores pessoais, como seu estado de espírito, a existência de pressão para fazer a compra e a

situação ou contexto específico para o qual o produto é necessário”. Muitas atividades

importantes ocorrem depois que o produto ou serviço é consumido, pois o consumidor irá

decidir se ficou satisfeito com o que foi adquirido, pois é necessário moldar um processo de

relacionamento com o consumidor de modo que ele volte a consumir o produto ou serviço no

futuro.

57

De acordo com Mowen e Minor (2003, p. 202), a forma como os consumidores fazem

escolhas é fortemente influenciada pelo processo de decisão. O processo de escolha difere em

função dos consumidores de alto ou baixo envolvimento. Para as escolhas de alto

envolvimento, os consumidores agem como se estivesse utilizando um modelo compensatório:

cada alternativa é amplamente avaliada, de modo que os bons indicadores de cada atributo

podem compensar os baixos indicadores de outros atributos. Assim, todas as marcas são

combinadas para um julgamento final da preferência pela marca. De acordo com este modelo

compensatório, a marca que tem a maior preferência é então selecionada.

A tabela 1 representa um exemplo de avaliação de alternativas para aquisição de um

cortador de gramas, através do modelo compensatório multiatributo:

Tabela 1 - Classificação compensatória entre alternativas

Qual cortador de grama escolher?

Atributo Indicador

de

Avaliação

Indicador

de

Importância

Reciclador

Toro

Ensacador

Toro

Ensacador

Lanwboy

Ensacador

John

Deere

Baixo custo +1 4 7 2 2 6

Disco de freio

de lâmina

+2 8 1 9 10 8

Facilidade de

uso

+2 7 9 5 4 5

Proteção de

grama

+3 9 9 5 6 5

Estados Antecedentes

- Fatores situacionais

- Contextos de uso

- Pressão do tempo

- Humor

- Orientação de Compra

Ambiente de Compra

- A experiência da compra

- Estímulos do ponto de venda

do produto

- Interações de vendas

Processos Pós-compra

- Satisfação do

consumidor

- Descarte do produto

- Mercados alternativos

Fonte: SOLOMON (2003)

Figura 5 - Atividades de compra e pós-compra

58

Avaliação dos

consumidores

+2 5 8 7 6 5

Total 70 59 60 57

Fonte: Mowen e Minor, 2003

Segundo Peter (2009, p. 173), o modelo de multiatributo é compensatório, porque uma

consequência negativa (por exemplo, preço alto) poder ser compensada ou contrabalanceada

por uma consequência positiva (por exemplo, autoestima elevada). É importante salientar que

o número de critérios de escolha que os consumidores conseguem considerar em uma única vez

é bem restrito, talvez apenas um ou dois, em decorrência de sua capacidade cognitiva limitada.

Para Mowen e Minor (2003, p. 204), em escolhas de baixo envolvimento, os

consumidores agem como se utilizassem os modelos de escolha não compensatórios, onde altos

indicadores de alguns atributos podem não compensar os baixos indicadores de outros atributos.

São os chamados modelos hierárquicos de escolha, pois presumem que o consumidor compara

as alternativas em relação aos atributos uma de cada vez. Escolhe-se o atributo e todas as

alternativas são comparadas em relação a ele, passando na sequência para o próximo atributo,

de forma hierárquica. Estes modelos não compensatórios são relativamente simples de

implementar e ocorre quando os consumidores se encontram em situação de baixo

envolvimento. A decisão tomada é “suficientemente boa”, ao invés de ser considerada perfeita.

Tais modelos são chamados de modelos heurísticos de escolha, pois os consumidores não estão

preocupados em alcançar decisões perfeitas, simplesmente desejam tomar uma decisão

satisfatória. Por exemplo, um consumidor pode perfeitamente rejeitar determinado modelo de

calçado da marca “Reebok” se houver uma consequência negativa – preço muito alto – mesmo

que o produto possua vários atributos positivos, como confortável, cores da moda e solado

resistente.

De acordo com Peter (2009, p. 85), o envolvimento com um produto, marca ou serviço

engloba aspectos cognitivos e afetivos. Cognitivamente, o envolvimento inclui conhecimentos

de meios-fim sobre consequências importantes decorrentes da utilização do produto (“Este CD

seria um ótimo presente”). O envolvimento é um estado emocional que estimula e direciona os

processos e comportamentos cognitivos e afetivos dos consumidores quando eles tomam

decisões. Por exemplo, os consumidores que se interessam por câmeras são motivados a se

esforçar mais para decidir que marca devem comprar. Talvez dependem de mais tempo e

esforço para comprar uma câmera, como visitar mais lojas e pesquisas on-line. Talvez

interpretem mais informações sobre o produto no ambiente ao ler mais anúncios e prospectos.

59

Porém, o envolvimento é um estado psicológico que os consumidores experimentam apenas em

determinados momentos e circunstâncias, quando o conhecimento de meios-fim com respeito

à importância desses produtos para eles é ativado. Quando as circunstâncias mudam, esse

conhecimento deixa de ser ativado e os sentimentos de envolvimento esmorecem.

Peter (2009, p.166) observa que a resolução de problemas do consumidor, na vida real,

raramente ocorre em uma sequência linear. Por exemplo, um consumidor pode avaliar as opções

para comprar um novo carro sem buscar encontrar todas as alternativas para então avaliá-las

em conjunto. Além disso, os processos de resolução de problemas reais envolvem várias

interações contínuas entre os processos cognitivos dos consumidores, seus comportamentos e

os aspectos dos ambientes físicos e sociais. De fato, a maioria dos processos de resolução de

problemas, na prática, envolve várias questões e várias decisões. Por exemplo, ao reconhecer

que o motor do automóvel fundiu, a busca por um novo automóvel não se resume a

simplesmente responder a questão “Qual carro devo comprar? ”. O consumidor envolve-se com

várias questões, por vezes simultâneas, para resolver: “Devo telefonar para as concessionárias?

”, “Quais? ”, “Devo visitar a megaloja de automóveis? ”, “Quando? ”. Cada escolha gera várias

intenções comportamentais.

Ainda de acordo com Peter (2009, p. 176), a quantidade de esforço que os consumidores

despendem na resolução de problemas tende a diminuir como passar do tempo, à medida que

eles obtêm mais informações sobre um produto e ganham mais experiência na tomada de

decisão. Por exemplo, correr à padaria mais próxima para comprar um pão de forma ou parar

para abastecer o tanque de combustível do automóvel são decisões que requerem pouco esforço

cognitivo.

A figura a seguir resume o modelo de decisão de compra e resultados proposto por

Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 153):

60

Figura 6 - Modelo de compra e resultados

Fonte: ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005

As teorias para explicar e prever comportamento dos consumidores baseiam-se no

pressuposto de que os consumidores são racionais e inteligentes para lidar com a resolução de

problemas e a tomada de decisões. A teoria econômica também tentou explicar os

comportamentos dos consumidores usando teorias normativas baseadas em um modelo racional

de maximização para descrever como os consumidores devem escolher, e não como eles

escolhem. No entanto, uma grande parte do comportamento do consumidor não envolve uma

extensa procura por informações ou uma avaliação abrangente de alternativas de escolha. Às

vezes, os consumidores se comportam de uma maneira que é exatamente o oposto dos

princípios econômicos normativos, ou, simplesmente, os consumidores ignoram tais princípios

básicos. Um dos estudos mais importantes na teoria da decisão é a relação entre escolha do

consumidor e os valores dos tomadores de decisão. Von Neumann e Morgenstern (1944)

demonstraram que, se as escolhas de um tomador de decisão seguem certas regras chamadas

axiomas, as pessoas preferem uma alternativa se a sua utilidade esperada for maior do que as

demais alternativas. No entanto, as pessoas não escolhem sempre de acordo com os axiomas de

Von Neumann e Morgenstern porque (1) existem as irracionalidades no processo de tomada de

61

decisões; e (2) mesmo que não sejam irracionais, as pessoas costumam fazer escolhas que

contradizem os axiomas (KANG, 2016).

2.2.4.4.1 Fatores ambientais

De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 391), consumidores são moldados

por seu ambiente na medida em que interagem entre si. Diversos fatores ambientais podem

impactar nas decisões de compras e consumo.

Segundo Peter (2009, p.256), o ambiente pode ser analisado em dois níveis: macro e

micro. O macroambiente engloba fatores de grande escala, como clima, condições

macroeconômicas, ambiente político-legal e ambiente sociocultural. Por sua vez, o

microambiente refere-se aos aspectos físicos e sociais mais tangíveis do ambiente circundante

imediato de uma pessoa. Estes fatores de pequena escala podem exercer influência direta sobre

comportamentos, pensamentos e sentimentos específicos do consumidor. Por exemplo, as

pessoas tendem a não permanecerem muito tempo em lojas consideradas sujas ou as pessoas

em geral ficam frustradas quando têm que enfrentar uma fila que não anda, na tentativa de

adquirir algum produto.

De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 394), cultura é “um conjunto de

valores, ideias, artefatos e outros símbolos significativos que ajudam os indivíduos a se

comunicar, a interpretar e avaliar como membros de uma sociedade”.

Para Mowen e Minor (2003, p. 293), cultura é “um conjunto de padrões de

comportamento socialmente adquiridos que são transmitidos simbolicamente aos membros de

determinada sociedade por meio da linguagem e outros meios”.

As culturas podem ser distinguidas em termos de suas regras de comportamento, das

atitudes, valores e estilos de vida da população e do grau de tolerância a outras culturas. Cultura

é aprendida, não é hereditária, é transmitida de geração em geração, influenciando futuros

membros da sociedade. A cultura também é adaptativa, isto é, muda na medida em que a

sociedade encara novos problemas e oportunidades. Por fim, a cultura satisfaz os requisitos

sociais, tais como normas ou regras de comportamento e os valores, isto é, o que é certo ou

errado (MOWEN e MINOR, 2003).

A cultura é composta por normas decretadas - as que são explicitamente expressas sob

a forma de leis – e por normas implícitas, que podem ser definidas por costumes, tradições,

convenções e mitos. Costumes são as ações corriqueiras que são passados de geração para

geração. Tradições são costumes que enfatizam os aspectos morais do comportamento.

62

Convenções descrevem a maneira de agir no dia-a-dia e geralmente aplicam-se com

comportamento do consumidor. Mitos são histórias que expressam valores e ideias importantes

em determinada sociedade (MOWEN e MINOR, 2003).

A cultura inclui elementos abstratos e materiais. Os elementos abstratos são os valores,

atitudes, ideias, tipos de personalidade, a religião. Componentes materiais incluem coisas, como

livros, computadores, ferramentas, edifícios e produtos específicos, como as calças jeans 501

da Levi´s.

A cultura representa um senso de identidade e uma compreensão do comportamento

aceitável dentro de uma sociedade. Alguns comportamentos e atitudes mais importantes que

são influenciados pela cultura são o sentido do eu e do espaço, a comunicação, o vestuário, a

aparência, hábitos alimentares, consciência do tempo, relacionamentos (família, organizações,

governos, etc.), valores e normas, crenças e atitudes, processos mentais e aprendizagem e

hábitos e práticas do trabalho.

Ainda de acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 397), a cultura tem efeitos

gigantescos sobre toda a estrutura de consumo, a tomada de decisão individual e a comunicação

em sociedade. Por exemplo, a cultura americana enfatiza o comportamento individual,

competitivo, enquanto que a cultura japonesa enfatiza a concordância em consumo e produção.

Tais valores podem influenciar o reconhecimento de necessidade e a busca por informações. O

estágio de avaliação de alternativas também pode ser influenciado por aspectos culturais, na

medida em que os pesos atribuídos aos atributos de um mesmo produtos podem variar de uma

cultura para outra. Um consumidor de baixa renda pode comprar um par de sapatos de grife

devido a valores pessoais e de grupo, assim como um consumidor com elevado poder aquisitivo

pode atribuir um peso elevado ao atributo preço do calçado, mas não porque não tenha dinheiro,

mas sim por influência de valores culturais.

Existe uma forte relação entre os consumidores individuais e os produtos e consumo e

o mundo culturalmente constituído. O propósito dos produtos está na sua capacidade de

representar e comunicar um significado cultural, que, por sua vez, refere-se aos valores, normas

e crenças compartilhadas e comunicadas simbolicamente. A propaganda é o canal por meio do

qual os significados culturais emanam do mundo culturalmente constituído direto para os

produtos de consumo. Por exemplo, o sistema de moda é um conjunto amplo e difuso de agentes

de transferência, incluindo revistas, jornais, líderes de opinião, programas de TV e cinema

(MOWEN e MINOR, 2003).

A cultura, um conceito crucial para o entendimento do comportamento do consumidor,

pode ser vista como a personalidade de uma sociedade. Inclui tanto ideias abstratas, como

63

valores e ética, quanto serviços e objetos materiais, como automóveis, vestuário, comida, arte

e esportes, que são produzidos ou valorizados por uma sociedade. Em outras palavras, a cultura

é a acumulação de significados, rituais, normas e tradições compartilhados entre os membros

de uma organização ou sociedade. As opções de consumo não podem ser compreendidas sem

considerar o contexto cultural, pois ela é a lente através da qual as pessoas enxergam os

produtos, e os seus efeitos sobre o comportamento do consumidor são tão poderosos e de tão

longo alcance que sua importância às vezes é difícil de entender. Por exemplo, a rede Starbucks

atingiu um sucesso fenomenal transformando o intervalo do café em um evento cultural, que,

para muitos, assumiu um status cult, ao perceber diferentes tipos de experiência para o ato de

tomar café. (SOLOMON, 2011).

Ainda para Solomon (2011, p.371), a relação entre o comportamento do consumidor e

a cultura é uma rua de duas mãos. Por um lado, produtos e serviços, que se sintonizam com as

prioridades de uma cultura de determinada época tem muito mais chances de serem aceitos

pelos consumidores. Por outro, o estudo de novos produtos e inovações no design de produtos

existentes realizados com sucesso por uma cultura, em um ponto no tempo, fornece uma visão

dos ideais culturais dominantes naquele período. A cultura não é estática, está sempre

evoluindo, sintetizando velhas ideias com novas. Os valores são ideias gerais sobre metas

pessoais ou coletivas, boas ou más. Destas, fluem as normas ou regras, que ditam o que é certo

ou errado, aceitável ou inaceitável. Algumas normas, as denominadas legalizadas, são

explicitamente decididas, como a regra que diz que a luz verde significa “siga” e a luz vermelha

significa “pare”. Muitas outras normas, no entanto, são muito mais sutis. As normas crescentes

estão incrustadas na cultura e só são descobertas através da interação com outros membros

daquela cultura. Tais normas incluem os costumes, originados do passado e que controlam os

comportamentos básicos, como a divisão do trabalho em uma economia doméstica ou a prática

de determinadas cerimônias. Já as convenções são normas em relação à conduta na vida

cotidiana, lidando com as sutilezas do comportamento do consumidor, incluindo a maneira

“correta” de mobilizar a casa, de vestir, de oferecer um jantar, etc.

A propaganda tem sido o método mais rigoroso para transferir significados culturais dos

ambientes físicos e sociais para os produtos. Sob a perspectiva de processo cultural, a

propaganda pode ser considerada um funil através do qual o significado cultural é injetado nos

bens de consumo. Essencialmente, os anunciantes têm de determinar quais significados

culturais desejam que seus produtos tenham e, em seguida, criar anúncios que os transmitam,

em geral usando símbolos (sejam palavras, objetos ou imagens) para designar os significados

64

culturais desejados. Os significados culturais compartilhados por uma marca formam grande

parte de seu valor econômico ou do que chamados de valor da marca (PETER, 2009, p. 288).

A compreensão dos valores culturais certamente requer conhecimento do contexto em

que são incorporados, à medida que as condições ambientais e culturais determinam sua

importância relativa, evidenciado em sua maior ou menor relevância. No entanto, os conceitos

de espaço estão mudando constantemente sob a influência da globalização. Entre os principais

efeitos da globalização é o fenômeno da desterritorialização, que questiona o conceito de

comunidade e sugere que as representações culturais não estão mais vinculadas a países ou

territórios. A desterritorialização, por sua vez, resulta em distribuição cultural fragmentada em

todo o mundo, colocando culturas diferentes lado a lado - às vezes culturas que são

essencialmente incompatíveis - refletindo uma grande variedade de produtos, estilos de vida e

experiências que representam diferentes identidades culturais (LUCIAN, 2017).

Segundo Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 438), classe sociais são classificações

relativamente permanentes e homogêneas em uma sociedade, nas quais os indivíduos

compartilham determinados valores, estilos de vida, interesses e comportamentos

categorizados. Grupos de status refletem as expectativas da comunidade por estilo de vida entre

cada classe social. Em outras palavras, são estratificados de acordo com os princípios de seu

consumo de bens representados por estilos de vida especiais. As classes sociais podem ser

descritas por variáveis econômicas (ocupação, renda, riqueza), por variáveis de interação

(prestígio pessoal, associação, socialização) e por variáveis políticas (poder e consciência de

classe). As classes sociais afetam o comportamento do consumidor – como as pessoas gastam

seu tempo, os produtos que compram e onde e como fazem as compras – especialmente na

determinação de necessidades e critérios de avaliação de produtos e serviços. Os consumidores

em geral associam marcar de produtos e serviços a classes sociais específicas.

Produtos frequentemente são comprados e exibidos como marcadores de classe social,

são avaliados como símbolo de status, especialmente em grandes sociedades modernas em que

comportamento e reputação não podem mais ser considerados para mostrar a posição social de

alguém em uma comunidade. Todas as sociedades podem ser divididas em “tem” ou “não tem”.

A posição de cada consumidor na sociedade, isto é, sua classe social, é determinada pelo

conjunto complexo de variáveis, incluindo renda, passado familiar e ocupação. Em outras

palavras, o termo classe social é usado para descrever a classificação global das pessoas na

sociedade. Uma classe social é tanto um estado de “ser” como de “possuir”, é uma questão do

que se faz com o dinheiro e com alguém define seu papel na sociedade, sendo que alguns

65

membros são de algum modo melhor colocados que os outros, seja por ter mais autoridade ou

poder, ou simplesmente são mais admirados ou respeitados (SOLOMON, 2011).

Para Solomon (2011, p. 317), a classe social continua a ser um meio importante para

categorizar os consumidores, sendo que muitas estratégias de marketing são realmente dirigidas

a diferentes classes sociais. Contudo, os profissionais de marketing fracassam ao usar

informações de classes sociais de modo tão eficaz quanto seria possível, pelas seguintes razões:

ignoram a incoerência do status, ignoram a mobilidade entre gerações, ignoram a classe social

com a qual o consumidor se identifica e não necessariamente representa a que ele pertence e/ou

ignoram as aspirações dos consumidores de mudar de classe social.

Para Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 461), um grupo de referência é qualquer

pessoa ou grupo de pessoas que influencia, significativamente, o comportamento de um

indivíduo, pois fornecem padrões (regras) e valores que podem tornar-se a perspectiva

determinante de como um indivíduo pensa e se comporta.

Os grupos de referência afetam a escolha de consumidor de três formas principais.

A primeira forma é denominada aquiescência normativa, que ocorre quando os grupos

de referência afetam o comportamento mediante pressão por conformidade e concordância, isto

é, existem fortes pressões normativas, a aceitação social é muito forte e o produto ou serviço é

ostensivo em sua compra e ou uso. Como exemplos de aquiescência normativa, além da forte

motivação por aceitação social, temos a presença de pressão normativa, que ocorre quando o

indivíduo percebe o benefício inerente no processo de troca de recompensas versus custos. Por

exemplo, um membro de uma fraternidade universitária percebe que as recompensas de

aceitação são mais relevantes que os custos de não utilizar uma jaqueta com as iniciais do grupo,

portanto, ele opta por adquirir a jaqueta. Outro exemplo é a forte motivação por aceitação social.

A segunda forma é influência por expressão de valor, em que uma necessidade de

associação psicológica com um grupo é evidenciada por aceitação de suas regras, valores ou

comportamentos. Desta forma, os grupos de referência realçam sua própria imagem os olhos

dos outros.

A terceira forma é a influência informacional, onde os grupos de referência fornecem

evidências confiáveis e necessárias sobre a realidade e os consumidores aceitam estas opiniões,

de forma a perceber as recomendações como atenciosas e válidas.

Ainda segundo Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 466), consumidores

frequentemente procuram amigos e membros da família para obter opiniões sobre produtos e

serviços. O transmissor dessa informação é chamado de influenciador. Mas quando os

66

consumidores têm mais probabilidade de aceitar e responder à comunicação boca a boca?

Pesquisas demonstram as seguintes condições favoráveis para a influência boca a boca:

a) Quando o consumidor não tem informações suficientes para fazer uma escolha

adequada sobre o produto ou serviço, isto é, a busca interna por informações não se

mostrou adequada;

b) O produto ou serviço é complexo e difícil de avaliar usando critérios objetivos;

c) Outras fontes de informação são percebidas como de baixa credibilidade e o

influenciador está mais acessível, podendo ser consultado com economia de tempo

e esforço;

d) Existem laços sociais fortes entre o transmissor e o receptor da informação.

Para Solomon (2011, p. 257), um grupo de referência é um “indivíduo ou grupo real

ou imaginário, concebido como tendo relevância significativa sobre as avaliações,

aspirações ou comportamento de um indivíduo”. Os grupos de referência influenciam

os consumidores de três formas:

a) Influência informativa: quando um indivíduo procura informações sobre várias

marcas em associações de profissionais ou em um grupo independente de

especialistas, ou busca informações com aqueles que trabalham com o produto,

ou busca conhecimento e experiência relativos a marcas com amigos, vizinhos,

parentes ou colegas de trabalho;

b) Influência utilitária: quando a decisão de um indivíduo em comprar uma

determinada marca é influenciada de modo a satisfazer as expectativas de grupos

de referência, como, por exemplo colegas de trabalho, ou pessoas com quem o

indivíduo mantém interações sociais, como, por exemplo, a família;

c) Influência expressiva de valor: quando o indivíduo acha que a compra ou uso de

uma certa marca promoverá sua imagem perante outras pessoas, isto é, aqueles

que compram ou usam determinada marca possuem as características que ele

gostaria de ter, ou geram sensação de admiração ou respeito, uma pessoa bem-

sucedida, bom pai, bom marido, etc.

De acordo com Giglio (2008, p. 101), conhecendo as regras de identidade grupal – que

é definido como o conjunto de adjetivos e regras de comportamento de cada pessoa dentro do

grupo de referência, podemos compreender os hábitos de consumo dos sujeitos do grupo e criar

estratégias que levam ao nosso produto.

67

Para Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 477), uma família é “um grupo de duas ou

mais pessoas relacionadas por sangue, casamento ou adoção que residam juntas”. A compra do

consumidor é afetada por variáveis de família. Famílias são como organizações, formadas para

executar funções particulares. A mais óbvia destas funções é ter filhos. Os analistas de consumo

têm enorme interesse em saber se as famílias têm filhos, pois estes criam demandas por roupas,

alimentos, móveis, casa, cuidados médicos e educação. Portanto, a família é um “centro de

compras”. A coesão reflete o quanto os membros da família se sentem próximos uns dos outros

em um nível emocional. A adaptabilidade mede a capacidade de uma família mudar sua

estrutura de poder e regras de relacionamentos, mostrando como uma família pode responder

aos desafios apresentados pelas mudanças de necessidades.

Ainda segundo Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 479), as decisões de consumo da

família envolve pelo menos cinco papeis, que podem ser assumidos pelo marido, pela esposa,

pelos filhos ou por outros membros.

1) Iniciador: indivíduo que começa o processo de coleta por informações sobre a

compra de produtos ou serviços;

2) Influenciador: indivíduo cujas opiniões são procuradas com relação aos critérios que

a família deve usar ao comprar, e quais produtos ou marcar mais provavelmente se

ajustam a estes critérios;

3) Decisor: a pessoa com autoridade ou poder financeiro para escolher como o dinheiro

da família será gasto;

4) Comprador: a pessoa que atua como o agende de compras, visitando as lojas,

fazendo pesquisas por telefone, buscando os produtos, etc.

5) Usuário: a pessoa que usa o produto.

O marketing de família concentra-se mais nos relacionamentos entre o comprador e o

usuário. Muitas vezes podemos ter mais de um tomador de decisões. Em outras situações o

comprador e o consumidor são a mesma pessoa. Os profissionais do marketing podem anunciar

e posicionar seus produtos de formas diferentes, de acordo com os relacionamentos entre

comprador e usuário.

Muito do comportamento do consumidor é aprendido enquanto criança. A socialização

do consumidor é o processo pelo qual pessoas e jovens adquirem habilidades, conhecimento e

atitudes relevantes para tornarem-se consumidores no mercado. A comunicação familiar sobre

compras e comportamento do consumidor é a chave do processo de socialização do consumo

(ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

68

Pesquisadores analisaram especificamente a habilidade dos membros da família em

influenciar decisões de compra, onde três fatores foram identificados primordialmente: recursos

financeiros dos membros da família, a importância da decisão para o membro da família e o

papel dos membros da família segundo o gênero. Este terceiro fator refere-se à adequação de

um membro da família segundo as concepções normativas tradicionais que ditam como homens

e mulheres devem se comportar. Por fim, há uma mudança ao longo da vida da família, pois,

em meio a tantas decisões, como automóveis, férias, aparelhos eletrônicos, móveis e utensílios,

a influência da esposa tende a aumentar como o tempo, chegando ao ponto culminante na

velhice. A influência dos filhos nas decisões domésticas de compras aumenta na medida em

que ficam mais velhos, mesmo quando não dominam o processo de decisão (MOWEN e

MINOR, 2003).

Para Giglio (2008, p. 101), existem vários grupos familiares. Na família biológica, onde

a função dos pais é prover a sobrevivência dos filhos, os profissionais do marketing devem

traçar estratégias dirigidas às necessidades básicas, como moraria, segurança, saúde e

alimentação. Já para a família psicológica, cuja função dos pais é prover a segurança emocional

necessária a seus filhos, as estratégias são dirigidas aos laços afetivos, como, por exemplo, linha

de produtos infantis e para os bebês. Para os indivíduos com a visão de família como realização

pessoal, onde aceita-se o conceito de que a função dos filhos é concretizar os sonhos irrealizados

pelos pais, as estratégias de marketing são dirigidas aos filhos, mas veiculando uma mensagem

que seria algo desejado pelos pais em outro tempo. Para a família sociológica, cuja função dos

pais é ensinar aos filhos os modos de convivência grupal, as estratégias visam dar ao

consumidor a impressão de adaptação e crescimento social, como por exemplo, as campanhas

dos colégios particulares tradicionais, que utilizam o “refrão” de que preparam os jovens para

uma carreira reconhecida pela formação ética e social. Finalmente, para a família econômica,

onde o papel dos pais é criar condições econômicas para os filhos, as estratégias de marketing

reforçam o patrimônio familiar tal como se verifica, por exemplo, na aquisição de imóveis,

cadernetas de poupança e planos de previdência Como se vê, as ações de marketing e de

comunicação que tem como fundamento o modelo de grupo familiar precisam selecionar uma

base de teoria antes de ação.

Para Mowen e Minor (2003, p. 247), as situações do consumidor são os fatos

temporários do ambiente que formam o contexto dentro do qual ocorre a atividade do

consumidor. O tempo e o lugar onde esta atividade ocorre influenciam o comportamento do

consumidor. De fato, os ambientes físicos podem ter grande impacto sobre as experiências

vividas pelos consumidores, e devem tornar a experiência de compra a mais agradável possível.

69

Por exemplo, uma boa iluminação em uma determinada loja pode trazer a sensação de

mais segurança. Outros aspectos relacionados ao ambiente físico são: localização, layout, sons,

aromas e texturas. O tempo ou duração também é outro elemento situacional, pois o tempo total

necessário para completar uma transação pode influenciar a positiva ou negativamente a decisão

do consumidor.

Outro fator situacional é o denominado de definição de tarefa, definido como a razão ou

ocasião ideal para que se realize uma atitude de consumo. Por exemplo, o indicador de

combustível próximo do estado vazio indica uma situação em que o consumidor realiza um

conjunto de atividades no sentido de encontrar um posto de combustíveis mais próximo. Os

estados antecedentes também são considerados fatores situacionais. Trata-se do estado de

espírito e do estado fisiológico do consumidor. Estados de espírito são variações temporárias

na maneira como as pessoas se sentem, que podem variar entre felicidade e até sentimentos

negativos. Consumidores podem comprar simplesmente para aliviar a depressão ou a solidão.

O exemplo mais clássico da influência do estado fisiológico é o do consumidor que vai ao

supermercado com fome, correndo o risco de fazer compras desnecessárias por impulso.

As influências situacionais são importantes, pois em muitos casos os produtos podem

ser definidos pelas situações em que são utilizados. Existem relógios de pulso tradicionais,

esportivos, casuais e especiais (para mergulho, por exemplo), onde cada linha de produtos foi

definida de acordo com a situação de utilização.

O ambiente físico afeta os motivos de um consumidor para uso de um produto e o modo

ele é avaliado. As dimensões do ambiente físico, como decoração, aromas e até mesmo a

temperatura podem influenciar significativamente o consumo. Grupos ou ambientes sociais

também afetam de forma significativa muitas das decisões de compra. Em alguns casos, a

própria presença ou ausência de “co-consumidores” em um ambiente podem funcionar como

um atributo do produto, como, por exemplo, quando um hotel exclusivo ou uma boutique

prometer oferecer privacidade a clientes privilegiados. Por outro lado, um bar vazio pode gerar

uma sensação deprimente. De fato, a presença de um grande número de pessoas em um

ambiente aumenta os níveis de excitação do consumidor, de modo que sua experiência subjetiva

do local tende a ser mais intensa. Esse aumento, no entanto, pode ser positivo ou negativo – a

experiência depende da interpretação desse estado de excitação (SOLOMON, 2011).

O ambiente físico pode conter elementos espaciais e não espaciais. Os espaciais incluem

objetos físicos de todos os tipos, incluindo os produtos, países, cidades e lojas. Os não espaciais

abrangem fatores intangíveis, como temperatura, umidade, iluminação e nível de ruído. Os

70

aspectos do ambiente físico influenciam o afeto, a cognição e os comportamentos dos

consumidores (PETER, 2009, p.261).

Para Solomon (2011, p. 234), uma situação de consumo é definida por fatores que vão

além das características da pessoa e do produto que influenciam a compra e/ou uso de produtos

e serviços. Efeitos situacionais podem ser comportamentais, como entreter os amigos, ou

perceptivos, como estar deprimido ou sentindo-se pressionado pelo tempo. O bom senso nos

diz que as pessoas adaptam suas compras a ocasiões específicas e que o modo que nos sentimos

em um determinado momento afeta o que temos vontade de comprar ou fazer. Os profissionais

de marketing inteligentes compreendem esses padrões e fazem com que seus esforços

coincidam com situações em que as pessoas estão mais dispostas a comprar. Por exemplo,

clubes de livros investem intensamente em campanhas promocionais em junho porque muitas

pessoas procuram fazer um estoque de “livros para a praia” para ler durante o verão. Por meio

da identificação sistemática de importantes situações de uso, as estratégias de segmentação de

mercado podem posicionar os produtos que atenderão a necessidades específicas que surgem a

partir dessas situações.

Para Peter (2009, p. 262), uma situação de consumo é definida por uma pessoa que está

atuando em determinado ambiente por algum objetivo e envolve uma sequência de

comportamentos que buscam atingir este objetivo, bem como as respostas afetivas e cognitivas

e os diversos ambientes nos quais esses comportamentos ocorrem. Muitas situações

comportamentais são comuns e recorrentes, como abastecer o carro ou ir ao supermercado. Em

contrapartida, os consumidores talvez não tenham objetivos claros ou conhecimentos relevantes

quando se deparam com situações novas ou que não lhe são familiares. Nesses casos, eles têm

de interpretar e integrar conscientemente as informações para determinar seus objetivos,

identificar fatores ambientais importantes e escolher comportamentos apropriados. Por

exemplo, os corretores de seguros de vida são treinados para ajudar os consumidores a

reconhecer a situação em que se encontram, definindo os próprios objetivos (faculdade dos

filhos, planos de aposentadoria, liquidação hipotecária) e identificando fatores ambientais

importantes (idade dos filhos, momento de se aposentar, ganhos atuais). Então, no contexto

situacional, o corretor consegue demonstrar a relevância do seguro de vida.

2.2.4.4.2 Fatores individuais

Não existem duas pessoas iguais. Os consumidores divergem em vários aspectos. Entre

eles, o aspecto financeiro (recursos econômicos) é, sem dúvida, evidente. Mas os consumidores

71

assumem características individuais relacionadas a outros aspectos, tais como motivação de

compra, envolvimento, conhecimento sobre os produtos e serviços, atitudes, personalidade e

estilo de vida (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

Os recursos do consumidor podem ser de muitos tipos, tais como recursos econômicos,

temporais e cognitivos. Quase todos os estudos e pesquisas de marketing incluem a fonte de

renda como uma das principais variáveis-chave para a explicação do comportamento do

consumidor. As relações entre renda e despesa tornaram-se popularizadas com as Leis de

Consumo de Engel, contendo proposições sobe a relação entre renda familiar e a proporção

gasta em categorias como alimentação, vestuário, habitação e miscelânea (educação, saúde,

recreação e assim por diante).

O Census Bureau define renda como “o dinheiro de ordenados e salários, assim como o

de pagamento de juros e previdência social”. As medidas oficiais de renda não incluem outros

tipos de compensação como benefícios do empregador ou do governo. Recursos econômicos

são frequentemente partilhados entre indivíduos, mas famílias e lares. Encontrar os

consumidores com recursos econômicos pode ser uma experiência que envolve geografia, faixa

etária, tamanho do domicílio, ocupação, características raciais ou étnicas ou outras variáveis

(ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

A renda discricionária é o dinheiro disponível além daquele necessário para um padrão

de vida confortável. Estima-se que os consumidores americanos controlam cerca de 400 bilhões

de dólares por ano em poder de gasto discricionário, sendo que as pessoas entre 33 e 55 anos

são responsáveis por metade desta quantia. À medida em que a população envelhece e os níveis

de renda aumentam, a típica economia doméstica nos Estados Unidos está mudando a forma

como gasta seu dinheiro, sendo que uma parte muito maior do orçamento é gasta com residência

e transporte e menos com roupas e alimentação (SOLOMON, 2011).

Ainda segundo Solomon (2011, p. 310), o “dinheiro tem uma variedade de complexos

significados psicológicos: pode ser equiparado ao sucesso ou ao fracasso, aceitação social,

segurança, amor ou liberdade”.

Por seu impacto sobre o poder de compra, a renda constitui-se em um elemento

determinante do nível de consumo (KARSAKLIAN, 2004).

Mowen e Minor (2003, p. 89) afirmam que os estudos sobre motivação são

fundamentais para a compreensão da aquisição, do consumo e da disposição de mercadorias,

serviços e ideias. Empresas gastam bilhões de dólares em pesquisas para entender a maneira

por meio da qual podem motivar as pessoas a comprar seus bens de consumo, desde automóveis

até vestuário e serviços médicos.

72

Ainda para Mowen e Minor (2003, p. 90), motivação refere-se a um “estado alterado de

uma pessoa, o qual o conduz a um comportamento voltado a um objetivo”, iniciando com um

estímulo que impulsiona o reconhecimento de uma necessidade. As necessidades podem ser

de expressão, ligadas à manutenção do conceito que os consumidores têm de si mesmos e

existem para atender requisitos sociais, de ego ou estéticos. Por exemplo, a reconhecimento de

que é necessário comprar uma roupa nova ao perceber que a roupa atual não consegue atender

o conceito que a pessoa tem de si mesmo quanto a estar na moda. Mas as necessidades também

podem ser utilitárias, quando se referem ao desejo que os consumidores têm de resolver

problemas básicos, como abastecer o tanque do carro.

O pesquisador David McClelland desenvolveu um estudo sobre quatro tipos de

necessidades básicas que motivam as pessoas – as necessidades de realização, associação, poder

e exclusividade. As necessidades de realização estão relacionadas à luta pelo sucesso, a seguir

adiante, a assumir a responsabilidade pela resolução de problemas. As necessidades de

associação refletem a motivação em fazer amigos, tornar-se aceito por um grupo e estar junto

a outras pessoas. As necessidades de poder referem-se ao desejo de obter e exercer o controle

sobre outros indivíduos, ao influenciá-las, orientá-las e possivelmente dominá-las. Os produtos

podem ser anunciados com temas motivacionais baseados nos tipos de necessidades apontados

por McClelland, com base na identificação das necessidades predominantes do público-alvo

(MOWEN e MINOR, 2003).

Influenciar o conhecimento do consumidor é certamente um dos objetivos do marketing,

pois, obviamente, é extremamente difícil vender um produto desconhecido, ainda mais quando

o consumidor tem a opção de escolher produtos mais familiares.

As empresas necessitam compreender o que os consumidores sabem (ou não sabem) por

uma simples razão: o que os consumidores compram, o quanto elas pagam, onde e quando

compram, depende do conhecimento que eles possuem sobre estas decisões básicas. Uma

grande parte dos consumidores está mal informado e possui conhecimento impreciso,

geralmente denominado de percepção equivocada, podendo ser uma barreira para o sucesso de

um negócio (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

Ainda segundo Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 224), conhecimento do

consumidor é o subconjunto de informações totais relevantes armazenadas em sua memória.

Psicólogos cognitivos sugerem que há dois tipos básicos de conhecimento: declarativo e de

procedimento. O conhecimento declarativo envolve fatos subjetivos conhecidos, como, por

exemplo, que ovos farinha e trigo são ingredientes para se fazer um bolo. Já o conhecimento de

73

procedimento refere-se ao entendimento como estes fatos podem ser combinados, de forma a

se tornarem úteis.

O conhecimento do consumidor pode ser analisado sobre três aspectos: conhecimento

do produto, conhecimento de compra e conhecimento de uso.

O conhecimento do produto é um conjunto de diferentes tipos de informação, tais como

o conhecimento da categoria do produto, a terminologia do produto, atributos ou aspectos do

produto e crenças sobre a categoria do produto e marcas específicas.

O conhecimento de compra refere-se às informações que os consumidores possuem e

que dizem respeito à aquisição do produto, tais como onde ele deve ser comprado e quando a

compra deve ocorrer.

O conhecimento de uso abrange as informações na memória sobre e o que é exatamente

exigido para que o produto possa ser utilizado. Mesmo que o conhecimento de uso inadequado

não impeça o consumidor adquirir um produto, efeitos prejudiciais podem recorrer sobre a

satisfação do consumidor.

Uma forma de medir o conhecimento do consumidor é avaliar diretamente o conteúdo

de sua memória. Medidas de conhecimento objetivo são aqueles que extraem o que o

consumidor realmente armazenou na memória. Já medidas de conhecimento subjetivo extraem

percepções dos consumidores acerca de sua familiaridade com o produto.

Segundo Peter (2009, p. 69), os consumidores têm diferentes níveis de conhecimento

sobre os produtos, os quais podem usar para interpretar novas informações e fazer opções de

compra. Esses níveis são formados quando as pessoas adquirem conceitos de significados

distintos e os associam em categorias maiores e mais abstratas de conhecimento. Nenhum nível

de conhecimento capta todos os significados possíveis de um objeto, evento ou comportamento.

Cada nível de significado é útil para determinados propósitos, mas não para todos. Os

significados, nos diferentes níveis de abstração, estão relacionados hierarquicamente porque

mais significados abstratos incorporam ou incluem significados de níveis inferiores. Desse

modo, o “conhecimento” sobre uma raquete de tênis inclui informações acerca da matéria-

prima, formato, tipo de corda e assim por diante. Os níveis de significado dos consumidores em

relação aos produtos podem ser classificados em termos classe, espécie, a marca e as

características. Como exemplo, podemos ter um nível de conhecimento sobre a classe de

produto café, com espécies variando entre moído e torrado ou em grãos, das marcas Folgers,

Starbucks, com características como lata de 450g ou saco de 340g, descafeinado.

Ainda segundo Peter (2009, p. 72), os consumidores podem ter conhecimentos sobre

diferentes tipos de atributos. Os atributos concretos representam as características físicas,

74

tangíveis, dos produtos, como o tipo de fibra de um cobertor ou o lugar para colocas os pés no

banco da frente de um automóvel. Os atributos abstratos representam características subjetivas

intangíveis, como a qualidade ou a capacidade de aquecimento de um cobertor ou a elegância

de um automóvel.

Atitudes são os gostos e aversões dos consumidores, isto é, o que eles gostam ou não

gostam. As atitudes representam uma parte fundamental na determinação da posição de um

produto ou serviço entre os consumidores, uma vez que são bastante úteis para compreender

por que os consumidores compra ou não um produto em particular ou compram ou não em uma

determinada loja (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

Há duas maneiras fundamentais pelas quais as atitudes são formadas: através de crenças

e através de sentimentos sobre o objeto. Por exemplo, a avaliação geral de um consumidor sobre

determinado carro pode depender das crenças sobre a segurança e economia de combustível

assim como dos sentimentos de prestígio e diversão percebidos ao dirigir o carro. Identificar a

maneira pelas quais as atitudes são formadas é importante porque fornece orientação para

aqueles interessados em influenciar as atitudes do consumidor (ENGEL, BLACKWELL e

MINIARD, 2005).

As empresas frequentemente tentam mudar as crenças dos consumidores em relação a

seus produtos na esperança que isto melhore as atitudes dos consumidores. Uma forma de

alterar atitudes é mudar a importância que os consumidores associam a determinados atributos

do produto ao formar suas avaliações gerais, isto é, dependendo de como a marca é percebida,

pode-se desejar aumentar ou diminuir a importância de um atributo (ENGEL, BLACKWELL

e MINIARD, 2005).

Para Solomon (2011, p. 170), os sentimentos gerados por um anúncio publicitário têm

a capacidade de afetar diretamente as atitudes do consumidor em relação à marca. Os

comerciais podem evocar uma ampla gama de respostas emocionais, desde repulsa até

felicidade. Uma atitude pode se formar de várias maneiras diferentes, dependendo da hierarquia

de efeitos específica em operação e de como a atitude é aprendida. Pode ocorrer por causa do

condicionamento clássico, em que um objeto de atitude é repetidamente associado a algo

interessante, como, por exemplo, um jingle, ou pode ser formada através de condicionamento

instrumental, em que o consumo do objeto de atitude é reforçado. A aprendizagem de uma

atitude pode ser o resultado de um processo cognitivo muito complexo. Por exemplo, um

adolescente pode vir a copiar o comportamento de amigos e figuras da mídia que bebem

determinada marca de refrigerantes porque acredita que esse ato permitirá adequar-se às

imagens desejáveis - “Você pertence à geração Pepsi”.

75

Como as atitudes podem ser complexas, modelos de atitude com múltiplos atributos têm

sido extremamente populares entre os pesquisadores de marketing. Esse tipo de modelo supõe

que a atitude do consumidor (avaliação) em relação a um objeto de atitude dependerá de suas

crenças que tem sobre vários ou muitos atributos do objeto. O uso de um modelo de múltiplos

atributos implica que uma atitude em relação a um produto ou marca pode ser prevista pela

identificação dessas crenças específicas e sua combinação para originar uma medida de atitude

global do consumidor. Como exemplo, o Modelo de Fishbein, que recebeu o nome de seu

primeiro elaborador, mede três componentes de atitude:

a) crenças importantes que as pessoas têm sobre o objeto de atitude;

b) ligações objeto-atributo, ou a probabilidade de que um objeto específico tenha um

atributo importante;

c) avaliação de cada um dos atributos importantes.

O modelo pressupõe que sempre somos capazes de especificar adequadamente todos os

atributos relevantes ao avaliar as opções de consumo. Além disso, o consumidor deverá passar

pelo processo formal ou informal de identificação de um conjunto de atributos importantes,

somando-os e pesando-os. Embora essa decisão específica possa ser altamente envolvente,

ainda é possível que sua atitude, ao contrário, seja formada por uma resposta afetiva global,

também conhecida como referência afetiva. Combinado estes três elementos, a atitude global

de um consumidor em relação a um objeto pode ser computada. A formula básica é A i j k = ∑

β i j k I i k, onde:

i = atributo

j = marca

k = consumidor

I = peso de importância dada ao atributo i pelo consumidor k

β = a crença do consumidor k quanto a extensão em que a marca j possui o atributo i

A = escore de atitude de um consumidor k para a marca j

O escore de atitude global é obtido multiplicando-se a classificação do consumidor para

cada atributo para todas as marcas consideradas pela classificação de importância daquele

atributo (SOLOMON, 2011).

De acordo com Peter (2009, p. 136), os consumidores associam seus conhecimentos,

significados e crenças sobre um produto, serviço ou marca para formar uma avaliação geral.

Essas crenças sobre as quais os consumidores ponderam podem ser formadas por processos de

interpretação ou ativadas na memória. Algumas crenças poder ser ativadas e conscientemente

consideradas de imediato – são as chamadas crenças salientes e criam nas pessoas uma atitude

76

em relação a um objeto. Os consumidores que dispõem de cadeias meios-fim completas de

conhecimento sobre um produto podem ativar as crenças sobre os atributos desse produto, suas

consequências funcionais ou os valores adquiridos pelo uso. As crenças salientes acerca de

outros tipos de significado relacionados ao produto, como país de origem, por exemplo, podem

ser ativadas e podem incluir imagens táteis, olfativas e visuais, bem como representações

cognitivas das emoções e estado de ânimo associados ao seu uso. Se ativadas, qualquer uma

das crenças salientes pode influenciar a atitude do consumidor.

A personalidade pode ser definida como respostas consistentes a estímulos ambientais

e proporciona experiências e comportamentos relacionados ordenada e coerentemente. Ela

proporciona uma consistência de respostas baseada em características psicológicas internas e

duradouras. A extensa literatura sobre personalidade em psicologia e outras ciências

comportamentais instigou os pesquisadores da área de marketing a teorizar que características

da personalidade devem prever preferência de marca ou loja e outros tipos de atividade do

comprador.

Muitas pesquisas, a partir da década de 1970, não conseguiram comprovar uma relação

significativa entre medidas da personalidade e prevenção do comportamento do consumidor.

Por exemplo, a Procter & Gamble conduziu estudos usando a personalidade como uma variável

de segmentação de mercado. Depois de 3 anos de esforço, a tentativa foi abandonada pois não

foi possível gerar resultados que permitissem desenvolver estratégias de marketing mais

eficazes se comparadas a outras metodologias.

O fracasso das medidas de personalidade em prever o comportamento do consumidor

estimulou o desenvolvimento de abordagens mais recentes. A primeira abordagem permite

estudar a personalidade de marcas em vez de pessoas. Personalidade de marca refere-se à

comunicação dos atributos do produto e às percepções desses atributos recebidos pelos

consumidores sobre marcas específicas. Por exemplo, as marcas podem ser consideradas fora

de moda ou modernas, alegres ou exóticas, exatamente como as pessoas são caracterizadas.

Estes elementos, mediados pelo processamento de informações de indivíduos interagindo com

a marca são transformados, dentro da cabeça do consumidor, para tornar a marca “apropriada

para mim” ou “não apropriada para mim”.

Outra abordagem permite relacionar medidas de personalidade para medir variáveis ou

estágios dentro do processo decisório de compra, tais como o reconhecimento da necessidade.

Este tipo de pesquisa enfoca a relação entre variáveis de personalidade e de processamento de

informação. Os estilos cognitivos podem influenciar a maneira pela qual os consumidores

tomam decisões sobre produtos inovadores. As variáveis de personalidade são também

77

denominadas de “estilos de aprendizagem”. Elizabeth Kendall Sproles e George B. Sproles

publicaram o artigo “Consumer Desicion-Making Styles as a Function of Individual Learning”

em “Journal os Consumer Affairs”, onde classificaram os estilos de aprendizagem em oito

grupos: consumidor consciente de alta qualidade, consumidor consciente de marca,

consumidor consciente de novidade e moda, consumidor consciente de fazer compras,

consumidor consciente de preço, consumidor compulsivo, consumidor confuso pelo excesso de

escolha e consumidor leal à marca (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD, 2005).

Milton Rokeach, em sua obra clássica The nature of human value, publicada em 1973,

comenta que os valores não representam simplesmente palavras ensinadas às crianças;

compreendem importantes explicadores de atitudes, sentimentos, comportamentos etc., estando

também relacionados com atributos econômicos, sociais e culturais. O autor apresenta um

conjunto de 36 valores divididos igualmente entre instrumentais e terminais, sendo estes

operacionalizados em razão de uma escala de ordem, produzindo medidas ipsativas, isto é,

medidas de auto referência. Segundo seu modelo, um valor pode ser definido como “uma crença

duradoura de que um modo específico de comportamento ou estado último de existência é

pessoal ou socialmente preferível a um modo de comportamento ou estado final de existência

oposto ou inverso” (ROKEACH, 1973, p. 5).

Os valores sociais assumem um padrão valorativo em direção a comportamentos que

podem traduzir o desejo de um indivíduo em sentir-se considerado, assegurar aceitação e

integração no seu grupo, ou manter um nível indispensável de harmonia entre os diversos atores

sociais de um contexto específico. Essa orientação de valores divide-se em duas categorias: (a)

normativos: ênfase na vida social, na busca de estabilidade do grupo, nos comportamentos

socialmente corretos e no respeito pelos símbolos e pelos padrões culturais que prevaleceram

durante anos; estima-se a ordem acima de qualquer outra coisa. Como exemplos, temos a

religiosidade, a ordem social, tradição e obediência; e (b) interacionais: o sentido comum é o

foco de atenção, que neste caso são as demais pessoas. Sua especificidade como conjunto

fundamenta-se no interesse por sentir- se querido, ter uma amizade verdadeira e uma vida

social. São valores relacionais com marcos de referência certamente específicos, como pode ser

um amigo, um namorado ou um grupo concreto de vizinhos. Como exemplos desta categoria

de valores, temos a afetividade, o apoio social, a convivência e a honestidade (QUEIROGA,

2006).

Os valores são ideias ou crenças referentes a metas ou comportamentos que transcendem

situações específicas, cujo estudo pode fornecer insights em termos de compreensão e predição

de comportamento em tomadas de decisão. Em uma perspectiva mercadológica, o interesse em

78

obter esse conhecimento reside na capacidade de prever atitudes e melhor gerenciar o processo

de tomada de decisão de compra (LUCIAN, 2017).

O estilo de vida de um indivíduo nasce da interação entre níveis de proximidade e de

base em si mesmo: os valores e a personalidade (nível estável), as atitudes e atividades que lhe

são próprias (nível intermediário) e os comportamentos de consumo efetivos (nível periférico).

O conjunto de pessoas que tem um estilo de vida similar, isto é, comportamentos análogos em

cada um dos três níveis, constitui um grupo homogêneo, com um modo de vida idêntico. O

estilo de vida é determinado por elementos como a cultura, o simbolismo dos objetos e os

valores morais (KARSAKLIAN, 2004).

O pesquisador A. Mitchell do Stanford Research Institute, criou na década de 1980 o

modelo VALS (Value and Life Style Segmentations), com base em pesquisas periódicas,

dividiu a sociedade americana em 9 estilos de vida, articulados em torno de três valores

principais:

a) Necessitados: subdividem-se em sobreviventes e trabalhadores

b) Orientados para fora: subdividem-se em afiliados, jovens, realizadores e “eu-

mesmo”

c) Orientados para si mesmo: subdividem-se em pragmáticos, responsáveis e

integrados.

Estilos de vida, grupos de referência e classes sociais são uma forma de homogeneizar

a conduta humana para facilitar seu estudo e tentar explicar e prever seu comportamento de

compra (KARSAKLIAN, 2004).

2.2.4.5 Modelos de comportamento de compra

A complexidade do comportamento de compra, a multiplicidade e a variedade de fatores

dificultam a tarefa dos pesquisadores ávidos por uma síntese que represente a realidade. Para

ajudá-los, foram criadas algumas estruturas simplificadas, denominadas de modelos de

comportamento de compra. Os três modelos clássicos mais importantes, segundo Bernard

Dubois (1994), são: o modelo de Nicosia, o modelo de Howard-Sheth e o modelo de Engel,

Kollat e Blackwell (KARSAKLIAN, 2004).

79

2.2.4.5.1 Modelo de Nicosia

Este modelo foi proposto por Francesco Nicosia, na década de 1960, inspirado em um

programa de computador. Nicosia analisa as decisões de um consumidor como originárias de

um processo que é possível de ser decupado em “campos de atividade”, que por sua vez, são

subdivididos em “subcampos”. Assim, cada campo de ação da compra resulta de uma atividade

de pesquisa e de avaliação de informações, precedida pela exposição de uma mensagem, quase

sempre publicitária. As características do produto (subcampo 1), tal como elas se manifestam

na mensagem, se combinam com aquelas que o consumidor já possui (subcampo 2) para que

deem origem a uma atitude. Esta, então, é integrada a uma atividade de pesquisa e de avaliação

das relações “meio-fins” (campos 2), associando as marcas julgadas “disponíveis” e as

expectativas surgidas das atitudes. Nasce, então, uma motivação, específica para uma marca,

que, sob o efeito de fatores situacionais, transforme-se ou não em um ato de compra (campo 3).

O consumo ou estocagem dos produtos comprados acarreta para o consumidor e para a empresa

uma experiência (campo 4), modificando as características iniciais, retornando ao ponto de

partida (KARSAKLIAN, 2004).

80

Figura 7 - Modelo Nicosia de comportamento de compra

Fonte: KARSAKLIAN, 2004

Para Giglio (2008, p. 113), o modelo de Nicosia está bastante voltado para o tema da

propaganda e da fidelidade da marca. Os inputs são as propagandas; os processos internos são

basicamente predisposições para a compra; os outputs são a compra e o uso. Os estímulos são

recebidos pelo sujeito, os quais, sendo analisados conforme predisposições anteriores, criam

uma atitude ou julgamento, que pode ser favorável ou desfavorável à compra. A seguir, são

investigadas as possibilidades de compra e desenvolvimento da motivação para compra. Por

fim, a compra é concretizada, seguida pela troca de informações, alterando ou não a disposição

para novos consumos.

O modelo Nicosia deve ser considerado em razão de sua originalidade e também seus

limites, sendo útil como ponto de partida para outros modelos (KARSAKLIAN, 2004).

2.2.4.5.2 Modelo de Howard-Sheth

Este modelo de J. A. Howard e J. H. Sheth pode ser considerado o mais completo e o

mais significativo das pesquisas realizadas sobre o comportamento de compra. Publicado em

81

1969, ele segue a escola behaviorista, uma vez que tenta explicar a forma como um consumidor

transforma, por meio de mecanismos de aprendizagem, os inputs (estímulos de marketing) em

outputs (decisões de compra) (KARSAKLIAN, 2004).

Quatro classes diferentes de variáveis são representadas: as variáveis de entrada

(inputs), as variáveis “hipotéticas”, dentro do grande retângulo central, as variáveis de saída

(outputs) e as variáveis “exógenas”.

As variáveis de input correspondem aos diferentes tipos de estímulo contidos no

ambiente comercial (produtos), simbólico (propaganda) e social (comunicação boca a boca).

Estas três formas de input são processadas e guardadas por interação com as variáveis

hipotéticas. Estas, não observáveis, podem ser agrupadas em duas categorias, conforme aquilo

que revelam: processo de aprendizagem e processo de percepção. Compreendem as motivações,

as alternativas ou marcas apresentadas no conjunto evocado, os mediadores da decisão ou

critérios de escolha; as predisposições com relação às marcas, os fatores inibidores e o nível de

satisfação (KARSAKLIAN, 2004).

Ainda segundo Karsaklian (2004, p. 177), as motivações estimulam o comprador e

chamam sua atenção dos estímulos do ambiente. O conjunto evocado, por sua vez, corresponde

às diferentes marcas suscetíveis, na mente do consumidor, de satisfazer suas motivações. Os

mediadores da decisão correspondem às regras cognitivas originárias da aprendizagem, que o

consumidor utiliza para avaliar as diferentes alternativas que se apresentam a ele. A articulação

das motivações com o conjunto evocado e os critérios de escolha resulta em predisposições,

que expressam as preferências do comprador. Se essas predisposições vão se concretizar ou não

depende dos fatores inibidores ligados ao meio ambiente no momento da compra

(disponibilidade da marca, normas sociais, etc.). Enfim, a satisfação traduz o grau de

congruência entre as expectativas e as consequências da compra. A implantação do mecanismo

de aprendizagem está ligada à situação encontrada. Segundo essa abordagem, uma compra

“impulsiva” corresponde a uma simples interiorização dos elementos de decisão (critérios,

marcas, mediadores) própria para acelerar o desenvolvimento.

As variáveis de percepção são três: a sensibilidade à informação, que regula o acesso

aos estímulos externos em virtude de seu grau de complexidade e das predisposições do

comprador, os vieses perceptuais, que filtram as informações transmitidos pelos órgãos

sensoriais junto com as predisposições iniciais e, por fim, a busca de informação,

particularmente densa quando se trata de compra planejada, faz com que o consumidor

complete os estímulos externos caso estes lhe pareçam insuficientes ou muito ambíguos para

esclarecer as decisões de escolha (KARSAKLIAN, 2004).

82

As variáveis de output constituem as respostas observáveis do consumidor, a partir das

quais podemos inferir o estado das variáveis hipotéticas. Assim, o nível de atenção, que traduz

o grau de absorção da informação pelo comprador, revela seu grau de sensibilidade: a

compreensão integra o impacto dos vieses perceptuais; a atitude relativa às marcas é

diretamente ligada às predisposições; a intenção de compra engloba os fatores inibidores

antecipados e o comportamento de compra revela a conclusão do processo. Naturalmente, todas

essas variáveis de saída interagem entre si (KARSAKLIAN, 2004).

Ainda de acordo com Karsaklian (2004, p. 178), certas variáveis exógenas, isto é,

externas ao processo de compra, exercem uma influência. Trata-se da importância da compra,

que traduz o nível de envolvimento do comprador em relação às diferentes categorias de

produto; a questão temporal, que pode levar um consumidor apressado a modificar seus

caminhos em direção à decisão final; da situação financeira do comprador, frequentemente

fonte de inibição; de sua personalidade, que influencia diretamente sua estrutura motivacional;

de sua pertinência a diversos grupos sociais e organizações; enfim, de sua classe social e de sua

cultura, que introduzem diversos tipos de necessidades e normas.

A dinâmica do modelo é administrada pelas leis de aprendizagem. Assim, no momento

de uma nova compra, o consumidor ainda não elaborou o conjunto evocado, nem os mediadores

da decisão. Suas motivações são fortes, sua sensibilidade está aflorada e a sua busca por

informações está ativa. Ao longo de várias compras, o processo torna-se rotineiro: o conjunto

citado e os mediadores são conhecidos, a busca por informações desaparece, enquanto que os

vieses perceptuais exercem toda a sua influência; o consumidor entra em fase de

“simplificação”. Uma fidelidade constante, pode, a longo prazo, originar o fenômeno de

cansaço – gosto de mudar quando descubro uma boa marca. O consumidor reativa, então, por

conta própria, o processo: novas motivações emergem, os critérios de escolha se modificam, a

busca de informações reaparece. Uma fase de “complicação” instala-se progressivamente até

que os mecanismos se estabilidade de novo. Ao longo de sua vida, o consumidor percorre, assim

diferentes percursos de decisão e as variáveis exógenas continuam influenciando o tipo das

decisões tomadas.

Toda a dinâmica deste modelo é mediada pela aprendizagem. Uma nova compra coloca

todo o processo em ação. Com a repetição dessa compra, criando-se uma rotina, certos

subprocessos das etapas acabam sendo simplificados (GIGLIO, 2008).

Este modelo é considerado muito elaborado, com variáveis claramente definidas e as

relações que as unem entre si, com apoio sobre pesquisas anteriores, sugerem e suscitam novas

linhas de pesquisa. Este modelo foi adaptado para compras industriais e compras familiares,

83

sendo testado empiricamente por pesquisadores nos Estados Unidos e na Argentina. Entretanto,

estes testes não podem garantir o valor de previsão do modelo, sendo mais utilizado como

referência no estudo do comportamento de compra do que para prever comportamentos

específicos de compra de produtos e marcas (KARSAKLIAN, 2004).

2.2.4.5.3 Modelo de Schiffman e Kanuk

Segundo Schiffman e Kanuk (2000, p. 37), este modelo engloba os fatores

influenciadores e as etapas do processo de decisão, compra, consumo e pós-consumo. Baseia-

se, em grande parte, na perspectiva comportamentalista da psicologia, que entende o

comportamento humano como um conjunto de respostas provocadas por estímulos ambientais.

A estrutura deste modelo está representada na figura abaixo:

84

Figura 8 - Modelo de Schifman e Kanuk

Fonte: Adaptado de SCHIFFMAN e KANUK, 2000

Neste modelo teórico, o comportamento do consumidor genericamente pode ser

dividido em três estágios interligados: de input, de decisão de compra e de output. O primeiro

estágio resulta das influências externas que interferem nas decisões de compra, representados

pelos estímulos de marketing e os fatores macro ambientais. O segundo estágio refere-se ao

processo de decisão de compra, isto é, a maneira como os consumidores tomam as suas decisões

e fazem as escolhas de produtos, marcas ou serviços. Os fatores psicológicos, como motivação,

percepção, aprendizado, atitudes e personalidade, bem como as experiências do consumidor,

afetam todo o processo de decisão de compra. Por fim, o terceiro estágio refere-se às respostas

ou reações do comportamento após a decisão de compra, englobando dois tipos de

comportamento: a compra em si e a avaliação pós-compra (SCHIFFMAN e KANUK, 2000).

85

2.2.4.5.4 Modelo de Engel, Kollat e Blackwell

Este modelo é extremamente analítico e propõe uma estrutura explicativa do

comportamento de escolha da marca pelo consumidor e estabelece as relações entre as variáveis

intervenientes e sua expressão mensurável (KARSAKLIAN, 2004).

A estrutura deste modelo está representada na figura a abaixo:

86

Figura 9 - Modelo Engel, Kollat e Blackwell de comportamento de compra

Fonte: Adaptado de KARSAKLIAN, 2004

Este modelo se decompõe em quatro módulos: os estímulos mercadológicos, as

variáveis de influência, o processamento da informação e o processo de decisão, que é o eixo

central. O reconhecimento do problema é o sentimento de discrepância importante entre o

estado atual e o estado desejado, sendo condição necessária para desencadear o processo, mas

não suficiente, pois dificuldades financeiras ou temporais podem impedi-lo de evoluir. A busca

de informação refere-se em uma análise das informações estocadas na memória, as quais são

completadas, se necessário, por uma pesquisa externa. Durante a avaliação de alternativas, os

elementos disponíveis são confrontados com os critérios pessoais que o comprador estabeleceu

e conduz à orientação das preferências. A escolha refere-se a etapa em que uma das

possibilidades é selecionada como consequência natural da etapa precedente, mas fatores

situacionais podem interferir, conduzindo, até mesmo, a uma reconsideração do processo de

87

avaliação. Por fim, a etapa de análise após a compra objetiva a análise da adequação da solução

escolhida com relação ao problema inicial. Ela pode conduzir a uma busca complementar para

reduzir eventuais dissonâncias e exercerá influência sobre as primeiras etapas dos processos de

decisão posteriores (KARSAKLIAN, 2004).

De acordo com Giglio (2008, p. 113), este processo tem início com as experiências da

pessoa com os objetos e sua relação com a passagem do tempo. Essas experiências, positivas

ou negativas, criam o campo inicial para a segunda etapa, que é a do nascimento e da

consciência das expectativas. A próxima etapa consiste em buscar informações que satisfazem

as expectativas. É aqui que se inicia a terceira etapa: o levantamento de alternativas de produtos

e a escolha de um deles. A quarta etapa é o julgamento sobre o consumo. Se o consumo for

aprovado, o próximo passo é a compra propriamente dita. Por fim, o processo se encerra com

as duas últimas etapas, que são o uso do produto e a avaliação pós-compra. Cada um desses

passos tem características próprias, que ensejam ações específicas.

O quadro a seguir resume as variáveis que influenciam a tomada de decisão de compra

de um consumidor, segundo o modelo proposto por Engel, Kollat e Blackwell:

Quadro 2 - Variáveis do modelo de Engel, Kollat e Blackwell

Variável Definição

Aspecto Cultural Cultura é “um conjunto de valores, ideias, artefatos e outros símbolos significativos que ajudam os

indivíduos a se comunicar, a interpretar e avaliar como membros de uma sociedade”

Classes Sociais São classificações relativamente permanentes e homogêneas em uma sociedade, nas quais os

indivíduos compartilham determinados valores, estilos de vida, interesses e comportamentos

categorizados. As classes sociais afetam o comportamento do consumidor: como as pessoas gastam

seu tempo, os produtos que compram e onde e como fazem as compras

Influências

Pessoais

Grupo de referência é qualquer pessoa ou grupo de pessoas que influencia, significativamente, o

comportamento de um indivíduo, pois fornecem padrões (regras) e valores que podem tornar-se a

perspectiva determinante de como um indivíduo pensa e se comporta

Família Os profissionais do marketing têm enorme interesse em conhecer as relações familiares, pois estes

criam demandas por roupas, alimentos, móveis, casa, cuidados médicos e educação.

A Situação As situações são os fatos temporários do ambiente que formam o contexto dentro do qual ocorre a

atividade do consumidor. Os profissionais de marketing inteligentes compreendem esses padrões e

fazem com que seus esforços coincidam com situações em que as pessoas estão mais dispostas a

comprar.

Recursos

Financeiros

Quase todos os estudos e pesquisas de marketing incluem a fonte de renda como uma das principais

variáveis-chave para a explicação do comportamento do consumidor

Motivação e

Envolvimento

Estudos sobre motivação são fundamentais para a compreensão da aquisição, do consumo e da

disposição de mercadorias, serviços e ideias. Empresas gastam bilhões de dólares em pesquisas para

entender a maneira por meio da qual podem motivar as pessoas a comprar seus bens de consumo,

desde automóveis até vestuário e serviços médicos

Conhecimento O que os consumidores compram, o quanto elas pagam, onde e quando compram, depende do

conhecimento que eles possuem sobre estas decisões básicas. O conhecimento do consumidor pode

ser analisado sobre três aspectos: conhecimento do produto, conhecimento de compra e conhecimento

de uso

Crenças e

atitudes

Atitudes são os gostos e aversões dos consumidores, isto é, o que eles gostam ou não gostam. As

empresas frequentemente tentam mudar as crenças dos consumidores em relação a seus produtos na

88

esperança que isto melhore as atitudes dos consumidores. Uma forma de alterar atitudes é mudar a

importância que os consumidores associam a determinados atributos do produto ao formar suas

avaliações gerais, isto é, dependendo de como a marca é percebida, pode-se desejar aumentar ou

diminuir a importância de um atributo

Personalidade A personalidade pode ser definida como respostas consistentes a estímulos ambientais e proporciona

experiências e comportamentos relacionados ordenada e coerentemente. Ela proporciona uma

consistência de respostas baseada em características psicológicas internas e duradouras

Valores Os valores podem traduzir o desejo de um indivíduo em sentir-se considerado, assegurar aceitação e

integração no seu grupo, ou manter um nível indispensável de harmonia entre os diversos atores sociais

de um contexto específico

Estilo de Vida O estilo de vida é determinado por elementos como a cultura, o simbolismo dos objetos e os valores

morais

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Após a revisão da literatura acerca dos principais conceitos de previdência no Brasil,

seguidos da apresentação de vários modelos da área de marketing, relacionados ao

comportamento do consumidor, para verificar o nível de aderência destes modelos e de que

forma eles podem ser aplicados para adesões aos planos de previdência complementar, foi

necessário obter opinião especializada.

89

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS EM PREVIDÊNCIA

Aderir ao plano de previdência complementar fechado é uma decisão que certamente

terá impactos ao longo da vida dos colaboradores que trabalham em organizações que oferecem

este tipo de oportunidade. É fundamental que este indivíduo tenha a consciência dos riscos e

benefícios presentes em qualquer decisão que faça referência à investimentos financeiros.

Quanto mais informação e orientação o colaborador possuir, mais consciente será a sua tomada

de decisão. Porém, apenas informação e orientação podem ser insuficientes para explicar a

decisão que foi tomada.

Com o objetivo de melhor compreender este processo de tomada de decisão, realizou-

se entrevistas com seis profissionais especialistas em previdência, com experiência e atuação

direta em entidades de previdência complementar fechada. Os especialistas entrevistados estão

identificados pelas siglas E1 até E6.

O quadro a seguir apresenta um perfil dos entrevistados:

Quadro 3 - Perfil dos especialistas em previdência complementar

Sigla Sexo Idade Função Experiência em Previdência

E1 Feminino 38 anos Gerente de relacionamento

com o mercado

11 anos

E2 Masculino 27 anos Analista de relacionamento

com o mercado

5 anos

E3 Masculino 33 anos Especialista em Previdência 8 anos

E4 Feminino 32 anos Analista de relacionamento

com o mercado

5 anos

E5 Feminino 57 anos Superintendente 24 anos

E6 Masculino 57 anos Diretor de Investimentos 22 anos Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Indagou-se aos entrevistados a seguinte questão central: “O que leva as pessoas a

aderirem aos planos de previdência complementar? ”.

Primeiramente, partiu-se para a gravação das entrevistas em formato de áudio, com

autorização prévia dos entrevistados. Na sequência, transcreveram-se as entrevistas em formato

de texto (APÊNDICE A - F).

90

Para Bardin (2011, p. 38), a análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise

das comunicações, que utiliza procedimento sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens”. Desta forma, é possível extrair indicadores (quantitativos ou não) que

permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção

(variáveis inferidas) destas mensagens.

Partiu-se para a etapa de exploração do material coletado, através de operações de

codificação, considerando-se os recortes de textos em unidade de registros, isto é, os parágrafos

de cada entrevista.

3.2 BASE DE DADOS DOS COLABORADORES

A organização-alvo desta pesquisa, que solicitou para não ser identificada,

disponibilizou um banco de dados em formato de planilha de cálculo eletrônica, contendo

diversas informações a respeito de 8066 (oito mil e sessenta e seis) colaboradores em relação à

folha de pagamento referência junho/2018.

As informações disponibilizadas foram o e-mail corporativo, se o colaborador é

participante ou não do plano de previdência, a idade do colaborador, o tempo de serviço em

anos, o sexo (masculino / feminino), o valor dos proventos (considerando o salário bruto e todas

as gratificações), o estado civil e, por fim, o número de filhos.

Como próxima etapa da pesquisa, partiu-se para a análise estatística de dados

relacionados aos colaboradores pertencentes à organização-alvo.

Em seguida, verificou-se a necessidade de realizar uma pesquisa com os colaboradores

acerca de sua relação com o dinheiro e educação financeira e previdenciária.

Com base na amostra obtida, partiu-se para uma verificação da representatividade da

amostra. Por fim, utilizou-se da ferramenta estatística regressão logística como instrumento

para verificação da chance de um determinado colaborador aderir ao plano de previdência

baseado em variáveis e seus respectivos coeficientes.

3.3 IDENTIFICAÇÃO DAS CATEGORIAS DE ANÁLISE

Como resultado da exploração do material coletado nas entrevistas, identificou-se as

categorias de análise, isto é, representações significativas oriundas dos recortes de textos das

entrevistas, representando os aspectos com nível de impacto representativo sobre a tomada de

decisão em aderir aos planos de previdência complementar fechados. Além disso, partiu-se para

a etapa de relacionamento das categorias de análise com os fatores obtidos na revisão

91

sistemática da literatura, mais precisamente com relação ao modelo de tomada de decisão de

compra proposto por Engel, Kollat e Blackwell (KARSAKLIAN, 2004). Estas relações estão

representadas no quadro a seguir:

Quadro 4 - Categorias de análise e fatores para tomada de decisão de compra

Categoria de análise Fator

C01. Cultura de acumulação de recursos Fator 1: Aspecto Cultural

C02. Educação financeira e previdenciária Fator 1: Aspecto Cultural

C03. Renda do colaborador Fator 6: Recursos Financeiros

C04. Hábitos de consumo Fator 12: Estilo de Vida

C05. Nível de endividamento do colaborador Fator 6: Recursos Financeiros

C06. Influência dos grupos sociais Fator 3: Influências Pessoais

C07. Influência da família Fator 4: Família

C08. Contribuição do empregador Fator 6: Recursos Financeiros

C09. Previdência Social Fator 9: Crenças e atitudes

C10. Conhecimento do colaborador sobre o plano de previdência Fator 8: Conhecimento

C11. Rentabilidade do plano de previdência Fator 6: Recursos Financeiros

C12. Concorrência com outros investimentos Fator 6: Recursos Financeiros

C13. Influência do RH ao oferecer o plano Fator 3: Influências Pessoais

C14. Estabilidade no emprego Fator 5: A Situação

C15. Regulamento do plano Fator 8: Conhecimento

C16. Idade do participante Fator 5: A Situação

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

3.3.1 Frequência das categorias de análise

Visando ampliar a análise qualitativa das entrevistas, obteve-se uma tabela de

frequência, representando as categorias de análise mais citadas. Os números apresentados na

tabela a seguir representam a frequência de citações que cada entrevistado realizou para cada

categoria de análise.

Tabela 2 - Frequência de citações das categoria de análise, por entrevistado

Categoria de análise E1 E2 E3 E4 E5 E6 Total

C01.Cultura de acumulação de recursos 6 3 15 1 4 6 35

C02.Educação financeira e previdenciária 1 6 10 2 7 9 35

C06.Influência dos grupos sociais 0 6 7 1 1 3 18

C07.Influência da família 1 6 6 1 1 0 15

C04.Hábitos de consumo 3 0 6 0 1 3 13

C03.Renda do colaborador 1 4 1 1 2 1 10

C08.Contribuição do empregador 0 0 5 0 0 1 6

92

C13. Influência do RH ao oferecer o plano 3 2 0 0 0 0 5

C09.Previdência Social 1 2 1 0 0 0 4

C11.Rentabilidade do plano de previdência 0 0 1 1 0 1 3

C15. Regulamento do plano 1 1 0 1 0 0 3

C16. Idade do participante 0 1 0 1 0 1 3

C05.Nível de endividamento do colaborador 0 1 0 0 0 1 2

C10.Conhecimento do colaborador sobre o plano 0 0 0 1 0 1 2

C14. Estabilidade no emprego 1 1 0 0 0 0 2

C12.Concorrência com outros investimentos 0 0 1 0 0 0 1 Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

3.4 QUESTIONÁRIO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA E FINANÇAS

Visando qualificar a análise estatística, a partir da análise dos dados fornecidos pela

organização-alvo, observou-se a necessidade de realizar a aplicação de um questionário,

APÊNDICE G, de forma a obter informações acerca das categorias de análise consideradas

indiretas, tais como as categorias de análise “C01. Cultura de acumulação de recursos “,

“C02.Educação financeira e previdenciária” e “C04.Hábitos de consumo”.

As perguntas do questionário foram elaboradas de acordo com as recomendações e boas

práticas apresentadas no “Caderno Cidadania Financeira Gestão de Finanças Pessoais”

(BACEN, 2018), uma vez que o Banco Central do Brasil tem como um de seus objetivos

realizar diversas ações visando criar condições para que os indivíduos e a sociedade brasileira

possam administrar seus recursos financeiros de maneira consciente.

A pesquisa seguiu-se com o envio do questionário, em formato de correio eletrônico,

através da ferramenta IagentMail®, para 7830 (sete mil oitocentos e trinta) colaboradores,

representando 97,07% do total de colaboradores ativos na folha de pagamento data base

junho/2018. Observou-se que 236 (duzentos e trinta e seis) colaboradores não puderam

responde ao questionário em virtude de endereços eletrônicos ausentes ou incompletos.

3.5 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE PESQUISA

Com base nas informações disponibilizadas pela organização-alvo e a coleta de dados

referente ao questionário aplicado aos colaboradores, partiu-se para a definição das variáveis

para análise estatística, conforme quadro a seguir:

93

Quadro 5 - Variáveis para análise estatística por categorias de análise

Variável Categoria

V00. Possui plano de previdência Variável dependente

V01. Idade do colaborador C16. Idade do participante

V02. Tempo de serviço em anos C14. Estabilidade no emprego

V03. Sexo C07.Influência da família

V04. Estado civil C07.Influência da família

V05.Número de filhos C07.Influência da família

V06. Proventos C03.Renda do colaborador

V07. Possui planejamento e metas financeiras C01.Cultura de acumulação de recursos

V08. Perspectiva de problemas financeiros futuros C01. Cultura de acumulação de recursos

V09. Possui conhecimento dos gastos mensais C02.Educação financeira e previdenciária

V10. Possui orçamento familiar superavitário C02.Educação financeira e previdenciária

V11.Possui conhecimento financeiro CET C02.Educação financeira e previdenciária

V12. Encontra-se em elevado grau de endividamento C05.Nível de endividamento do

colaborador

V13. Possui participação em outros investimentos C01.Cultura de acumulação de recursos

V14. Possui perfil consumista C04.Hábitos de consumo

V15.Possui conhecimentos básicos sobre investimentos C02.Educação financeira e previdenciária

V16.Possui perfil de acompanhamento dos investimentos C02.Educação financeira e previdenciária Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

A escolha da variável “V01. Idade do participante” justificou-se pelos argumentos do

especialista E5, que afirma que “a pessoa, quando ela é mais jovem, ela tem outras prioridades.

Muitas vezes o que é prioritário, é prioridade para ela: comprar o imóvel, é o carro, é a

faculdade, então ela coloca muita energia nisso e não tanto na questão do plano de previdência.

Quando ela começa a se dar conta que a previdência é importante ela muitas vezes ela está já

numa idade em que o esforço que ela terá que fazer é a maior. E, às vezes, como um esforço

ela precisa fazer dele é muito grande, isso também gera uma certa frustração” (APÊNDICE E).

E4 também aborda o tema idade do participante e observa que “o jovem não se imagina

tendo uma renda complementar. Ele quer o hoje. Por outro lado, quando a pessoa adere e já tem

uma idade já mais avançada, ela percebe que o tempo de aderir já passou e aí ela não consegue

entender que o plano de previdência já não vai servir mais para uma renda, mas sim como uma

poupança forçada. Ela acha que não é vantajoso, mesmo com a contrapartida da empresa”

(APÊNDICE D).

E2 aponta que “é muito visível que os mais jovens acham que tem muito tempo pela

frente. Quando tratamos de previdência, quanto antes começar, melhor. Começo com valores

menores, para que não impacte tanto no orçamento, na folha de pagamento. É essa a ideia. Mas

tem pessoas que esperam muito tempo para aderir. E aí quanto mais tempo perdem, menos

tempo terão para investir” (APÊNDICE B).

94

A escolha da variável “V02. Tempo de serviço em anos” justificou-se pelo apontamento

do especialista E1, que observa que os mais jovens têm receio em fazer a adesão por não

vislumbrar uma permanência de longo prazo na organização. “Eu não sei quanto tempo eu vou

ficar aqui” (APÊNDICE A). E4 corrobora com E1 e observa que “a pessoa não sabe se vai

continuar na empresa, por quanto tempo irá permanecer” (APÊNDICE D).

A escolha da variável “V03. Sexo” justificou-se pelo apontamento do especialista E1,

que observa que “as mulheres são mais precavidas. Eu acho que elas fazem mais adesões, tanto

é que temos maioria delas nos nossos planos, porque elas se preocupam mais com o futuro,

mais com os filhos” (APÊNDICE A).

A escolha da variável “V04. Estado civil” justificou-se pelo apontamento do especialista

E3, que observa que “a partir do momento que você é casado, já começa a ter mais essa coisa

de família, preciso cuidar de tudo, tanto o homem quanto a mulher, os dois. Preciso que tudo

dê certo“ (APÊNDICE C).

Da mesma maneira, para E2, “se a esposa está endividada, ou se ela não está

trabalhando, pode ocorrer de o marido esperar para tomar a decisão, até que o casal esteja mais

equilibrado financeiramente, e vice-versa”. Ainda para E2, “se a pessoa está sozinha, se o

companheiro não está junto, a decisão não vai ser imediata. Tem muita gente que leva o assunto

para discutir em casa, pedir o aval do cônjuge. Isso é bem comum. Então, se no momento da

explicação do plano a pessoa está impedida de tomar decisões em conjunto, ela acaba optando

por não fazer a adesão naquele momento. Vai fazer uma consulta. As vezes faz por telefone e

já retorna”. E2 prossegue com a defesa de sua argumentação e aponta que “é muito comum que

a gente vá numa unidade de trabalho e a pessoa tem interesse no plano, ela acha um bom

benefício, acha interessante, mas adia sua decisão, alegando que precisa conversar com o

cônjuge. É normal depois de dois, três anos, a gente voltar na mesma unidade e perceber que a

mesma pessoa continua fora do plano” (APÊNDICE B).

Por outro lado, para E5, “Sobre a questão de ter um cônjuge ou filhos, eu acho que ele

é positivo, mas ele, isoladamente, ele não é forte o suficiente para motivar a adesão”

(APÊNDICE E).

Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 479) reafirmam que as decisões de consumo da

família envolvem papeis que podem ser assumidos pelo marido, pela esposa, pelos filhos ou

por outros membros. Esta mesma visão é compartilhada Mowen e Minor, ao analisarem

especificamente a habilidade dos membros da família em influenciar decisões de compra, como,

por exemplo, a influência da esposa, com uma tendência a aumentar como o tempo, chegando

ao ponto culminante na velhice (MOWEN e MINOR, 2003).

95

A escolha da variável “V05. Número de filhos” justificou-se pelo apontamento do

especialista E1, que afirma que “as pessoas estão se conscientizando e fazendo alguns planos

de previdência, principalmente para os filhos. A gente vê agora uma demanda maior“

(APÊNDICE A).

E2 reafirma esta influência e aponta “quem têm três filhos, ou quatro filhos pequenos,

geralmente ela não consegue fazer o plano para apenas um deles, logicamente, então se ela não

tem condição de fazer o plano para todos os filhos, ela acaba não fazendo para nenhum”

(APÊNDICE B).

Já para E3, “quando a pessoa tem uma família, quando tem uma esposa e filhos, a pessoa

começa a pensar muito mais em segurança principalmente na aposentadoria. Você se preocupa

muito mais com o futuro. Com o que vai guardar, o que vai deixar para os filhos” (APÊNDICE

C).

Na visão de E4, “a pessoa tem três, quatro, cinco filhos, então ela dá preferência a outros

benefícios, como o plano de saúde, seguro saúde, alimentação e só depois aparece a previdência,

porque elas encaram como a contribuição previdenciária como uma despesa e não como um

benefício” (APÊNDICE D).

Os argumentos dos especialistas para justificar a escolha desta variável também

encontram suporte na literatura. Para Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 477), os analistas

de consumo têm enorme interesse em saber se as famílias têm filhos, pois estes criam demandas

por roupas, alimentos, móveis, casa, cuidados médicos e educação. A influência dos filhos nas

decisões domésticas de compras aumenta na medida em que ficam mais velhos, mesmo quando

não dominam o processo de decisão (MOWEN e MINOR, 2003). Para Giglio (2008, p. 101),

estratégias são dirigidas aos laços afetivos, como, por exemplo, linha de produtos infantis e para

os bebês, para as famílias cuja função dos pais é prover a segurança emocional necessária para

os filhos. Giglio afirma que estratégias de marketing são dirigidas aos filhos, ao admitir o

conceito de que a função dos filhos é concretizar os sonhos irrealizados pelos pais.

A escolha da variável “V06. Proventos” justificou-se pelo apontamento do especialista

E1, que observa “a renda média dos nossos participantes não é muito alta. Por isso é difícil

também que ele faça a adesão” (APÊNDICE A).

Em consonância com E1, E2 afirma que “as pessoas com menor renda talvez tenham

uma dificuldade maior em guardar um valor, pois nem sempre eles têm uma sobra no orçamento

mensal. Ao mesmo tempo, quem tem uma renda maior, uma renda familiar normalmente

considera-se que haverá uma maior facilidade para aderir. Mas nem sempre isso verdade, pois

96

a decisão por aderir está diretamente ligada ao interesse da pessoa em fazer a aquisição de uma

previdência complementar” (APÊNDICE B).

Segundo E5, “a questão de renda é um fator relevante porque, se a renda é menor, há

uma tendência dessa pessoa ter uma cobertura quase que na sua totalidade pelo INSS e, não

tendo essa cobertura tão forte, o ‘gap’ é menor. Agora, quanto maior a renda, o ‘gap’ é maior.

Então, o fator renda é um aspecto relevante na tomada de decisão de aderir a um plano de

previdência complementar, para os dois lados” (APÊNDICE E).

Autores sustentam a importância do fator renda ao afirmar que quase todos os estudos

e pesquisas de marketing incluem a fonte de renda como uma das principais variáveis-chave

para a explicação do comportamento do consumidor (ENGEL, BLACKWELL e MINIARD,

2005). Já para Solomon (2011, p. 310), o dinheiro tem uma variedade de complexos

significados psicológicos e pode ser equiparado ao sucesso ou ao fracasso, aceitação social,

segurança, amor ou liberdade. Outro autor aponta que por seu impacto sobre o poder de compra,

a renda constitui-se em um elemento determinante do nível de consumo (KARSAKLIAN,

2004).

A definição da variável “V07. Possui planejamento e metas financeiras” originou-se da

pergunta 1 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador possui um

planejamento financeiro, com metas claras e objetivas e etapas bem definidas, visando

transformar seus sonhos em realidade. Está vinculada à categoria “C01.Cultura de acumulação

de recursos”.

O especialista A1 aborda o tema planejamento para o futuro ao citar “acho que quando

eles reconhecem esses riscos, que eles têm essa cobertura, acho que é interessante, as pessoas

começam, meio que de forma forçada, a fazer um planejamento para o futuro. Então, é uma

forma de educar as pessoas, a pensarem na sua aposentadoria. Quanto que eu vou ter no futuro?

” (APÊNDICE A).

Encontrou-se na literatura argumentos a esse respeito. Para Mowen e Minor, os

consumidores, por serem capazes de pensar, planejar e sonhar, criam visões de consumo, que

nada mais são do que simulações mentais futuras de consumo que uma pessoa pode

desenvolver. Desta forma, toda uma gama de produtos pode ser identificada como mercadorias

de pré-necessidade. (MOWEN e MINOR, 2003).

A definição da variável “V08. Perspectiva de problemas financeiros futuros” originou-

se da pergunta 2 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador é afetado

pela propagandas e artifícios do marketing criados com a finalidade de despertar emoções e

despertar necessidades por produtos e serviços que, por vezes, nem são realmente necessários,

97

impactando nas finanças atuais de forma a gerar perspectivas negativas relacionadas à saúde

financeira futura. Está vinculada à categoria “C01. Cultura de acumulação de recursos”.

Esta questão é apontada por Karsaklian quando ele afirma que o consumidor traz dentro

de si elementos que irão interagir com estímulos exteriores (produtos, propagandas, marcas)

(KARSAKLIAN, 2004).

Para Giglio (2008, p. 113), os estímulos da propaganda são recebidos pelo sujeito, os

quais, sendo analisados conforme predisposições anteriores, criam uma atitude ou julgamento,

que pode ser favorável ou desfavorável à compra.

A questão da diferença entre necessidade e desejo é abordada na literatura por Solomon

(2011, p. 24), que afirma que o campo do comportamento do consumidor abrange uma ampla

área de estudo, tratando-se dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam,

compram, usam ou dispõem de produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer

necessidades e desejos, que podem variar entre de fome e sede até amor, status ou ainda

realização espiritual. Ele ainda observa que o reconhecimento da necessidade pode ocorrer

quando a qualidade do estado real da pessoa pode ser diminuída, simplesmente ao faltar um

produto ou serviço, ao comprar um produto que vem a ser inadequado para satisfazer suas

necessidades ou criar novas necessidades (SOLOMON, 2011).

Para Engel, Blackwell e Miniard (2005, p. 115), “é a ativação e o reconhecimento de

necessidades de consumo que levam o consumidor a um processo de tomada de decisão que

determina a compra e o consumo do produto”. Vale ressaltar que o reconhecimento da

necessidade não ativa, automaticamente, uma ação. Primeiramente, ela precisa ser

suficientemente importante. Além disso, os consumidores precisam crer que existe uma solução

para o problema, que esteja dentro de suas possibilidades e de seus meios. Porém, uma

necessidade precisa ser “ativada”, antes de ser reconhecida.

A definição da variável “V09. Possui conhecimento dos gastos mensais” originou-se da

pergunta 3 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador faz uso do

orçamento pessoal e familiar como ferramenta para conhecimento, administração e equilíbrio

das finanças. Está vinculada à categoria “C02.Educação financeira e previdenciária”.

O especialista E6 observa que “de uma forma ou de outra, o que que acontece, essas

pessoas não têm essa educação financeira, não sabem tratar com dinheiro” (APÊNDICE F).

A definição da variável “V10. Possui orçamento familiar superavitário” originou-se da

pergunta 4 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador simplesmente

gasta menos do que ganha. Está vinculada à categoria “C02.Educação financeira e

previdenciária”. O especialista E3 aborda esta questão quando observa que “a questão

98

financeira é como você gera os teus recursos. Ou sobra ou não sobra, é matemática.

Independente de quanto tu ganhas. Pra tu conseguires aplicar o teu dinheiro para uma poupança,

precisa gastar menos do que ganha. Isso é o básico” (APÊNDIDE C). E3 complementa seu

raciocínio quando observa que “isso é muito mais cultural. Às vezes, a pessoa pode não ter

dinheiro, não tem um salário bom, ganha um salário mínimo. Mas se ele tem o hábito de

guardar” (APÊNDICE C).

A definição da variável “V11. Possui conhecimento financeiro CET” originou-se da

pergunta 5 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se, ao contratar um empréstimo,

o colaborador sabe o que é CET – Custo Efetivo Total. Está vinculada à categoria

“C02.Educação financeira e previdenciária”.

O especialista E2 aborda esta questão quando diz que “há pessoas que estão fazendo

refinanciamento, outras com dívidas em bancos com juros bem maiores. E há de se entender,

normalmente quem prioriza o abatimento de uma dívida com juros maiores em relação a algum

tipo de investimento. Talvez não vá conseguir recuperar isso com uma rentabilidade em

investimento. Estão, dá prioridade na quitação de dívidas para depois começar a fazer o

pagamento para a previdência” (APÊNDICE 2).

A definição da variável “V12. Encontra-se em elevado grau de endividamento”

originou-se da pergunta 6 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador

se considera em elevado grau de endividamento, seja pela tentativa de usufruir um padrão de

vida incompatível com sua renda, seja pelo excesso de compras a prazo em virtude da facilidade

de crédito. Está vinculada à categoria “C05.Nível de endividamento do colaborador”.

O especialista E6 observa que “o nível de endividamento dos participantes, obviamente

que trabalhavam na patrocinadora, chegou a um nível insuportável. Então, a própria

patrocinadora nos chamou e nos pediu para que a gente ajudasse os participantes a fazer a troca

dessas dívidas por uma dívida mais barata. A gente iniciou um processo de educação financeira

também, na medida que as pessoas aderissem ao programa, elas passavam por essa questão de

capacitação em educação financeira” (APÊNDICE F). E2 ainda observa que “A gente tem o

endividamento como uma negativa de adesão ao plano” (APÊNDICE 2)

A definição da variável “V13. Possui participação em outros investimentos” originou-

se da pergunta 7 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador consegue

destinar mensalmente parte de sua renda em outro tipo de investimento que não seja a

previdência complementar, isto é, se ele consegue poupar e postergar o consumo. Está

vinculada à categoria “C01.Cultura de acumulação de recursos”.

99

Para E2, “A gente vê, por exemplo, o consumidor americano, que tem a cultura de

investir individualmente. As pessoas já têm essa cultura e esse conhecimento e naturalmente

transacionam. Aqui, normalmente, vai se buscar o apoio de alguma gestora de investimentos”

(APÊNDICE B).

A definição da variável “V14. Possui perfil consumista” originou-se da pergunta 8 do

questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador se considera um consumidor

compulsivo e imediatista, ao invés de um perfil de consumo mais consciente, ponderado e

previdente. Está vinculada à categoria “C04.Hábitos de consumo”.

De fato, Thorstein Veblen já abordava este tema ao abordar os exageros no consumo de

1899 ((MOWEN e MINOR, 2003).

Para E1, “acho que isso é cultural. Dessa questão de as pessoas viverem o hoje e não se

preocuparem com o amanhã. Acho que o Brasil não tem cultura de poupança Até porque o

consumo é imediatista” (APÊNDICE A).

E6 contribui com a discussão sobre o tema quando diz que “O consumo justamente é

uma outra barreira à adesão, porque as pessoas tendem a consumir agora do que deixar para

consumir no futuro, são imediatistas, não tem essa visão de futuro, então eu vou consumir agora,

em vez de guardar um dinheiro, vou comprar um carro, fazer uma viagem, entendeu? Vou

comprar um supérfluo” (APÊNDICE F).

Ferreira sustenta a importância do fator consumo imediatista ao afirmar que um

participante da previdência, por exemplo, renuncia o consumo imediato e abre mão de parte do

seu capital para favorecer a uma geração de inativos ou incapazes da qual espera, no futuro,

fazer parte (FERREIRA, 2007).

A definição da variável “V15. Possui conhecimentos básicos sobre investimentos”

originou-se da pergunta 9 do questionário, APÊNDICE G e busca identificar se o colaborador

conhece os conceitos de liquidez, risco e rentabilidade de um investimento. Está vinculada à

categoria “C02.Educação financeira e previdenciária”.

E1 aborda o tema quando coloca que “eu já encontrei vários gerentes que fazem cálculos

e acham que não vale a pena aderir. E aí eles acham melhor investir em ações, imóveis. Mas

nenhum deles ainda conseguiu me provar que ele ganha rentabilidade cem por cento no mesmo

mês. Só que você vai encontrar pessoas difíceis, que elas acham que entendem de

investimentos, enfim” (APÊNDICE A).

O especialista E4 aborda esta questão do conhecimento de matemática financeira e

conceitos básicos de economia, quando diz que “a pessoa não entende que é um bom

100

investimento, pois as vezes falta até o conhecimento de matemática simples, conceitos de juros,

etc.” (APÊNDICE D).

Para E3, “a gente sabe que é a classe mais baixa acaba não tendo tanto acesso à

informação de investimento e entender o que isso significa” (APÊNDICE C).

A definição da variável “V16. Possui perfil de acompanhamento dos investimentos”

originou-se da pergunta 10 do questionário, APÊNDICE G, e busca identificar se o colaborador

acompanha o desempenho de suas aplicações, procura manter-se permanentemente informado

e, de tempos em tempos, reavalia suas decisões de investimento para ver se continuam coerentes

em relação aos seus planos de forma a atingir os objetivos propostos. Está vinculada à categoria

“C02.Educação financeira e previdenciária”.

Para E2, “durante as visitas de divulgação do plano percebe se quando já tem uma

família estruturada na questão de poupança, onde já tem outro tipo de investimento mensal,

talvez uma simples poupança mesmo, uma caneta de poupança. Quem já tem o básico, pode ser

considerado como uma poupança, já tende a migrar para outras alternativas de investimento, e

a previdência complementar, com certeza, é uma delas” (APÊNDICE B).

101

4 RESULTADOS

4.1 ENTREVISTA COM ESPECIALISTAS

Através da identificação dos elementos principais extraídos das entrevistas com os

especialistas em previdência, obteve-se uma “Nuvem de palavras”, com utilização do software

Atlas.TI®, que representa visualmente as palavras mais citadas, sendo representada pela figura

a seguir:

Figura 10 - Nuvem de palavras baseada na opinião dos especialistas

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que as expressões “pessoas”, “previdência”, “gente”, “cultura” e “plano”

destacam-se pela sua relação direta com o tema desta pesquisa, pois encontram-se em

consonância com diversos elementos apontados na revisão sistemática da literatura. Por

exemplo, Giglio (2008, p. 101) afirma que que o processo de escolha e uso dos produtos, neste

caso, planos de previdência, tem aspectos individuais que se interpenetram com a história social

e cultural das pessoas, as quais exercem influência no comportamento de consumo e no ato de

compra.

102

4.2 COLETA DE DADOS QUESTIONÁRIO DE EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Com relação ao questionário de educação financeira e finanças pessoais, descrito no

item 4.2, obteve-se 313 (trezentos e treze) respostas, representando uma taxa de resposta

equivalente a 3,99%.

Os dados coletados estão apresentados na tabela a seguir:

Tabela 3 - Dados coletados do questionário de educação financeira e finanças pessoais

Pergunta Não (%) Sim (%) Total

(%)

P1) Você possui metas claras e um planejamento com a

descrição das etapas que devem ser seguidas para atingir suas

metas, de forma que seu sonho possa tornar-se realidade?

48,7 51,3 100,0

P2) Do ponto de vista financeiro, podemos considerar que você

gasta muito dinheiro no presente e que poderá ter problemas no

futuro?

62,7 37,3 100,0

P3) Você sabe quanto gasta e como gasta seu dinheiro todo mês? 21,7 78,3 100,0

P4) Você gasta menos do que ganha? 49,0 51,0 100,0

P5) Você sabe o que é Custo Efetivo Total (CET)? 53,1 46,9 100,0

P6) Você se considera uma pessoa com elevado grau de

endividamento, comprometendo sua qualidade de vida?

78,8 21,2 100,0

P7) Você consegue destinar mensalmente parte de sua renda para

investimentos diferentes da previdência complementar?

39,4 60,6 100,0

P8) Você se considera mais consumista do que consciente? 73,1 26,9 100,0

P9) Você conhece os conceitos de liquidez, risco e rentabilidade

de um investimento?

55,8 44,2 100,0

P10) Você acompanha o desempenho de suas aplicações, procura

manter-se permanentemente informado e, de tempos em tempos,

reavalia suas decisões de investimento para ver se continuam

coerentes em relação aos seus planos de forma a atingir os

objetivos propostos?

59,8 40,2 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que um elevado percentual de colaboradores não tem conhecimento de

todos os seus gastos mensais, pois 78,3% dos colaboradores responderam que não sabem quanto

gastam e como gastam seu dinheiro. Este aspecto foi apontado na literatura, onde observou-se

que uma grande parte dos consumidores está mal informado e possui conhecimento impreciso

103

acerca do que compram, onde e como compram e quanto gastam (ENGEL, BLACKWELL e

MINIARD, 2005).

Por outro lado, um percentual semelhante de colaboradores, 78,8%, não se consideram

em elevado grau de endividamento, a ponto de comprometer sua qualidade de vida.

Destacou-se também o fato de 73,1% dos respondentes enquadrarem-se em um perfil

de consumo imediatista, ou seja, com gastos compulsivos e sem preocupação com o futuro.

Este aspecto encontra respaldo na literatura, ao classificar os consumidores de acordo com

variáveis de personalidade em grupos, sendo um deles o consumidor compulsivo (ENGEL,

BLACKWELL e MINIARD, 2005), corroborando com E6, ao afirmar que “O consumo

justamente é uma outra barreira, porque as pessoas tendem a consumir agora do que deixar para

consumir no futuro, são imediatistas, não tem essa visão de futuro” (APÊNDICE F).

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A estatística é a ciência para examinar dados, que contém informações acerca de um

grupo de indivíduos. Indivíduos são os objetos descritos por um determinado conjunto de dados.

Uma variável é definida por qualquer característica de um indivíduo, podendo assumir

diferentes valores, de acordo com o indivíduo a que se estiver referindo (MOORE, 2006).

Uma variável é classificada como quantitativa quando sua escala de mensuração possui

valores numéricos, como, por exemplo, o rendimento anual de um indivíduo, o número de

filhos, a idade e o número de anos de escolaridade.

Uma variável é classificada como categórica quando a escala de mensuração é um

conjunto de categorias, como, por exemplo, o estado civil, que pode ser classificado como

casado, solteiro, divorciado ou viúvo. Outros exemplos de variáveis categóricas são se o

indivíduo está empregado no momento (sim ou não) ou tipo de música preferido (clássica,

country, jazz, rock). As variáveis categóricas são chamadas de variáveis qualitativas. Uma

variável categórica é denominada de variável binária quando pode assumir no máximo dois

valores, como, por exemplo, se possui filhos (MOORE, 2006).

4.3.1 Definição da população

104

Considera-se como população o conjunto de dados referentes a 8066 (oito mil e sessenta

e seis) colaboradores ativos em relação à folha de pagamento referência junho/2018, fornecidos

pela organização-alvo.

4.3.2 Definição da amostra

Considera-se como amostra o conjunto de dados referentes a 313 (trezentos e treze)

indivíduos que responderam ao questionário, APÊNDICE G.

As variáveis analisadas estão representadas no quadro a seguir:

Quadro 6 - Variáveis para análise estatística da população

Variável Tipo

V00. Possui plano de previdência Variável dependente

Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V01. Idade do colaborador Quantitativa

V02. Tempo de serviço em anos Quantitativa

V03. Sexo Qualitativa binária nominal

(1-Masculino 0-Feminino)

V04. Estado civil Qualitativa binária nominal

(1-Casado 0-Não casado)

V05. Número de filhos Quantitativa

V06. Proventos Quantitativa Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Optou-se por realizar uma análise estatística descritiva de cada variável, em relação à

amostra, para efeito de verificação de sua representatividade em relação à população.

Para as variáveis quantitativas V01. Idade do colaborador, V02. Tempo de serviço em

anos, V05.Número de filhos e V06. Proventos, verificou-se a tabela de frequência da população

e amostra, bem como a média e desvio padrão. Para as demais variáveis, qualitativas binárias,

verificou-se apenas a tabela de frequência.

Tabela 4 - Análise descritiva V00. Possui plano de previdência

População Amostra

Variável n % n %

0-Não 4603 57,10 113 36,1

1-Sim 3463 42,9 200 63,9

Total 8066 100,00 313 100,00 Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

105

Observou-se que o percentual de colaboradores que responderam ao questionário e que

possuem plano de previdência (63,9%) foi superior em relação à população (42,9%).

Tabela 5 - Tabela de frequência V01. Idade

População Amostra

Valor n % % Acum. n % % Acum.

< 20 123 1,5 1,5 5 1,6 1,6

21 |-- | 25 782 9,7 11,2 24 7,7 9,3

26 |-- | 30 1495 18,5 29,8 44 14,1 23,3

31 |-- | 35 1709 21,2 50,9 68 21,7 45,0

36 |-- | 40 1475 18,3 69,2 61 19,5 64,5

41 |-- | 45 974 12,1 81,3 47 15,0 79,6

46 |-- | 50 676 8,4 89,7 28 8,9 88,5

50+ 832 10,3 100,0 36 11,5 100,0

Total 8066 100,0 313 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Tabela 6 - Análise descritiva V01. Idade

População Amostra

Média 36,62 37,57

Desvio Padrão 9,739 9,609

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que, em relação à variável V01. Idade, a amostra é representativa, pois as

medidas descritivas são próximas.

Tabela 7 - Tabela de frequência V02. Tempo de serviço em anos

106

População Amostra

Valor n % % Acum. n % % Acum.

<=2 3162 39,2 39,2 105 33,5 33,5

3 |-- | 4 1422 17,6 56,8 49 15,7 49,2

5 |-- | 6 1155 14,3 71,2 54 17,3 66,5

7 |-- | 8 725 9,0 80,1 33 10,5 77,0

9 |-- | 10 444 5,5 85,6 26 8,3 85,3

11 |-- | 12 329 4,1 89,7 7 2,2 87,5

12+ 829 10,3 100,0 39 12,5 100,0

Total 8066 100,0 313 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Tabela 8 - Análise descritiva V02. Tempo de serviço em anos

População Amostra

Média 5,23 6,05

Desvio Padrão 5,468 6,004

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que, em relação à variável V02. Tempo de serviço em anos, a amostra é

representativa, pois as medidas descritivas são próximas.

Tabela 9 - Tabela de frequência V03. Sexo

População Amostra

Variável N % n %

0-Feminino 5326 66,00 207 66,1

1-Masculino 2740 34,00 106 33,9

Total 8066 100,00 313 100,0 Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

107

Observou-se que em relação à variável V03. Sexo, a amostra é representativa, pois as

frequências acumuladas são próximas.

Tabela 10 - Tabela de frequência V04. Estado civil

População Amostra

Variável n % n %

0-Não casado 4155 51,00 165 52,7

1-Casado 3951 49,00 148 47,3

Total 8066 100,00 313 100,0 Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que em relação à variável V04. Estado civil, a amostra é representativa,

pois as frequências acumuladas são próximas.

Tabela 11 - Tabela de frequência V05. Número de filhos

População Amostra

Valor n % % Acum. n % % Acum.

0 |-- | 0 2502 31,0 31,0 108 34,5 34,5

1 |-- | 1 1954 24,2 55,2 87 27,8 62,3

2 |-- | 2 1959 24,3 79,5 75 24,0 86,3

3 |-- | 3 1225 15,2 94,7 36 11,5 97,8

4 |-- | 4 305 3,8 98,5 7 2,2 100,0

5+ 121 1,5 100,0 0 0 100,0

Total 8066 100,0 313 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Tabela 12 - Análise descritiva V05. Número de filhos

População Amostra

Média 1,42 1,19

Desvio Padrão 1,281 1,101

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

108

Observou-se que, em relação à variável V05. Número de filhos, a amostra é

representativa, pois as medidas descritivas são próximas.

Tabela 13 - Tabela de frequência V06. Proventos

População Amostra

n % %

Acum.

n % % Acum.

0<=1000 694 8,6 8,6 8 2,6 2,6

1000,01 |-- | 2000,00 2579 32,0 40,6 69 22,0 24,6

2000,01 |-- | 3000,00 1788 22,2 62,7 88 28,1 52,7

3000,01 |-- | 4000,00 1048 13,0 75,7 54 17,3 70,0

4000,01 |-- | 5000,00 720 8,9 84,7 36 11,5 81,5

5000,01 |-- | 6000,00 372 4,6 89,3 21 6,7 88,2

6000,01 |-- | 7000,00 224 2,8 92,1 11 3,5 91,7

7000,01 |-- | 8000,00 161 2,0 94,0 3 1,0 92,7

8000,00+ 480 6,0 100,0 23 7,3 100,0

Total 8066 100,0 313 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Tabela 14 - Análise descritiva V06. Proventos

População Amostra

Média 3340,3754 3945,191

Desvio Padrão 3526,52723 4051,80908

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se, em relação à variável V06. Proventos, que os indivíduos da amostra

apresentam média de proventos superior em relação à população.

4.3.3 Regressão logística

109

Modelos de regressão logística (RL) são utilizados para se modelar a relação existente

entre uma variável binária e uma ou mais variáveis explicativas, também denominadas de

variáveis previsoras, que podem ser quantitativas ou categóricas. Em geral, essa variável binária

pode assumir dois valores, sucesso ou fracasso, representados pelos números 1 e 0,

respectivamente (MOORE, 2006).

De acordo com Field (2009, p.222), a equação da regressão logística tem a seguinte

forma, onde P(Y) é a probabilidade do evento Y ocorrer, e é a base dos logaritmos naturais,

B1...n são os coeficientes de regressão das correspondentes variáveis X1...n.

P(Y) = 1

1 + e−(b0+b11X1+ b21X2+⋯+bn1Xn+ε )

Ainda segundo Field (2009, p.223) a regressão logística expressa a chance de um evento

Y ocorrer para uma determinada pessoa, representada por P(Yi ocorrer) / P(Yi não ocorrer) ,

sendo P(Yi) é uma probabilidade entre 0 e 1. Um valor próximo de 0 indica que a ocorrência de

Y é bastante improvável. Analogamente, um valor próximo de 1 indica que a ocorrência do

evento Y é bastante provável.

Desta forma, para efeito desta pesquisa, pretendeu-se obter P(Yi), isto é, a probabilidade

do evento Y - colaborador possuir plano de previdência - ocorrer para a pessoa i, bem como a

contribuição de cada variável previsora. Considerando-se, inicialmente, a contribuição de 16

variáveis previsoras, identificadas na tabela a seguir:

Tabela 15 - Variáveis para regressão logística

Variável Tipo

V00. Possui plano de previdência Variável dependente (1-Sim 0-Não)

Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V01. Idade do colaborador Quantitativa

V02. Tempo de serviço em anos Quantitativa

V03. Sexo Qualitativa binária nominal

(1-Masculino 0-Feminino)

V04. Estado civil Qualitativa binária nominal

(1-Casado 0-Não casado)

V05.Número de filhos Quantitativa

110

V06. Proventos Quantitativa

V07. Possui planejamento e metas financeiras Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V08. Perspectiva de problemas financeiros futuros Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V09. Possui conhecimento dos gastos mensais Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V10. Possui orçamento familiar superavitário Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V11.Possui conhecimento financeiro CET Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V12. Encontra-se em elevado grau de

endividamento

Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V13. Possui participação em outros investimentos Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V14. Possui perfil consumista Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V15. Possui conhecimentos básicos sobre

investimentos

Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

V16. Possui perfil de acompanhamento dos

investimentos

Qualitativa binária nominal (1-Sim 0-Não)

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que a adoção do modelo de regressão logística justificou-se pelo fato da

variável dependente “V00. Possui plano de previdência” ser binária.

Além disso, para efeito desta análise estatística, considerou-se a amostra definida no

item 4.6.2, e optou-se pela utilização do software IBM SPSS Statistics 19®.

Partiu-se, então, para a seleção do método de regressão logística. Optou-se pela

utilização do método passo a passo para trás (backward stepwise), pois, de acordo com Field

(2009, p. 228), o método passo a passo é mais adequado ao ser utilizado em um trabalho

exploratório, em relação ao método de entrada forçada, mais adequado para testes com teorias.

Além disso, o método passo a passo é apropriado quando não existem pesquisas prévias que

podem ser tomadas como base para testar hipóteses e em situações onde o pesquisador pretende

apenas encontrar um modelo para ajuste dos dados.

Além disso, o método passo a passo para trás é preferível ao método para frente (forward

stepwise). No método passo a passo para trás, o SPSS® inicia a análise do modelo considerando

todas as variáveis previsoras. Então, o software testa se os previsores poderão ser removidos,

sem prejuízo para o grau de aderência do modelo em relação aos dados observados, analisando-

os um a um, sendo que o previsor que apresentar menor impacto no ajuste do modelo aos dados

será removido primeiro. Como critério para remoção das variáveis previsoras, optou-se pelo

111

método da razão de verosimilhança, considerado mais adequado que os métodos condicional e

estatística de Wald. (FIELD, 2009).

Obteve-se a primeira saída de informações do SPSS®, referente ao sumário de casos

processados:

Tabela 16 - Sumário de casos processados

Casos não ponderados N Percentual

Casos selecionados Incluídos na análise 302 96,5

Casos ausentes 11 3,5

Total 313 100,0

Casos não selecionados 0 0

Total 313 100,0

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que 3,5 por cento dos casos foram considerados missing cases, isto é,

foram excluídos da análise de RL.

Em seguida, obteve-se uma tabela de frequência para cada variável previsora categórica:

Tabela 17 - Frequência das variáveis categóricas na RL

Variável Valor Frequência

V16.Possui perfil de acompanhamento dos investimentos 0 181

1 121

V04. Estado civil 0 161

1 141

V07. Possui planejamento e metas financeiras 0 150

1 152

V08. Perspectiva de problemas financeiros futuros 0 189

1 113

V09. Possui conhecimento dos gastos mensais 0 68

1 234

V10. Possui orçamento familiar superavitário 0 147

1 155

V11.Possui conhecimento financeiro CET 0 161

1 141

V15.Possui conhecimentos básicos sobre investimentos 0 167

1 135

V14. Possui perfil consumista 0 222

1 80

V13. Possui participação em outros investimentos 0 120

112

1 182

V12. Encontra-se em elevado grau de endividamento 0 237

1 65

V03. Sexo 0 198

1 104

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Continuando com a análise da RL, obteve-se uma tabela de classificação inicial,

considerando o modelo vazio, isto é, sem considerar as variáveis previsoras. O SPSS® atribui

a todos os casos a uma única categoria de variável de saída, a variável dependente “V00. Possui

plano de previdência”.

Tabela 18 - Bloco inicial - aderência do modelo sem as variáveis previsoras

Observado

Previsto

V00

% Acerto 0 1

Passo 0 V00 0 0 110 0,0

1 0 192 100,0

Percentual total 63,6

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Observou-se que, nesta análise inicial, o SPSS® previu que todos os colaboradores

possuem plano de previdência. Neste caso, esta previsão estará correta 192 em 302 vezes, isto

é, em aproximadamente 63,6 por cento dos casos.

Como próxima etapa da RL, o SPSS® executou 13 passos, iniciando o modelo com

todas as variáveis previsoras incluídas, conforme o método backward stepwise. A cada passo,

uma variável previsora foi retirada do modelo, sem causar um efeito substancial no grau de

aderência do modelo frente aos dados observados, removendo primeiramente o previsor que

apresentou o menor impacto no ajuste do modelo, isto é, aquele que apresentou o maior valor

de significância (sig).

Desta forma, obteve-se, após a execução de 13 passos, o seguinte resultado:

Tabela 19 - Variáveis na equação de RL

Step Variable B S.E. Wald df Sig. Exp(B)

13 V02. Tempo de serviço

em anos

0,213 0,041 26,450 1 0,000 1,238

V10. Possui orçamento

familiar superavitário

0,904 0,300 9,104 1 0,003 2,470

Constant -1,083 0,332 10,667 1 0,001 0,339

113

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

A coluna B representa as constantes na equação da RL.

Verificou-se que as variáveis “V02. Tempo de serviço em anos” e “V10. Possui

orçamento familiar superavitário” apresentaram valor de sig inferior a 0,05, sendo, portanto,

consideradas variáveis previsoras significativas ao modelo. Observou-se também os valores da

constante geral (B0) equivalente a -1,083 e das constantes de cada variável previsora (B1 e B2),

com valores iguais a 0,213 e 0,904, respectivamente.

Por outro lado, as variáveis “V06. Proventos” e “V13. Possui participação em outros

investimentos” não foram consideradas variáveis previsoras significativas, devido ao fato de

apresentarem coeficiente sig superior a 0,05.

Portanto, obteve-se a equação final da RL, dado um evento Y equivalente a “possuir

plano de previdência”:

P(Y) = 1

1 + e−(1,083 + 0,213 V02 + 0,904 V10)

Uma vez definida a equação da RL, obteve-se uma tabela para aplicação dos coeficientes

e alguns valores para as variáveis previsoras mais significativas (X1 = V02 e X2 = V10), de

forma a demonstrar uma aplicação da fórmula obtida:

Tabela 20 - Exemplos de cálculo de P(Y), conforme equação final

B0 B1 X1 (V02) B1 X2 (V10) P(Y)

-1,083 0,213 0 0,904 0 0,2529

-1,083 0,213 0 0,904 1 0,4554

-1,083 0,213 3 0,904 0 0,3908

-1,083 0,213 3 0,904 1 0,6130

-1,083 0,213 5 0,904 0 0,4955

-1,083 0,213 5 0,904 1 0,7081

-1,083 0,213 10 0,904 1 0,7402

-1,083 0,213 10 0,904 1 0,8756

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Desta forma, dado um colaborador com 0 anos de tempo de empresa e que não possui

orçamento familiar superavitário, a probabilidade do indivíduo possuir o plano de previdência

é de 25,29%.

114

Já para outro colaborador com 10 anos de tempo de empresa e que possui orçamento

familiar superavitário, a probabilidade deste indivíduo possuir o plano de previdência é de

87,56%.

O valor de Exp(B) igual a 1,238 para a variável “V02. Tempo de serviço em anos”

significa que, a cada 1 ano a mais de tempo de serviço, a probabilidade de um determinado

colaborador possuir plano de previdência aumenta em 23%.

Por exemplo, considerando um colaborador com 5 anos de plano, sua probabilidade de

possuir plano de previdência é demonstrada na tabela a seguir:

Tabela 21 - Probabilidade de possuir plano com 5 e 6 anos de tempo de empresa

B0 B1 X1 Y =B0 +

(B1X1)

P(Y) ocorrer

= 1/ (1+ e-Y)

P(Y) não

ocorrer

Probabilidade

-1,083 0,213 5 -0,018 0,4955 0,5045 0,982161

6 0,195 0,5486 0,4514 1,215311

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Verificou-se que, com o incremento de 1 unidade de medida para a variável X1, que

neste caso é a variável “V02. Tempo de serviço em anos”, a probabilidade de um colaborador

possuir plano de previdência aumenta em 23%. Este raciocínio nada mais é do que a

representação de Exp(B) no SPSS®.

Analogamente, o valor de Exp(B) igual a 2,470 para a variável “V10. Possui orçamento

familiar superavitário” significa que, caso o colaborador consiga administrar seu orçamento

familiar de forma a obter gastos inferiores aos seus proventos, a probabilidade deste colaborador

possuir previdência privada aumenta em 147%.

Por exemplo, considerando um colaborador que passa a ter orçamento familiar

superavitário, sua probabilidade de possuir plano de previdência é demonstrada na tabela a

seguir:

Tabela 22 - Probabilidade de possuir plano de previdência para orçamento superavitário

B0 B2 X2 Y =B0 +

(B2X2)

P(Y) ocorrer

= 1/ (1+ e-Y)

P(Y) não

ocorrer

Probabilidade

-1,083 0,904 0 -1,083 0,2529 0,7471 0,338578

1 -0,179 0,4554 0,5446 0,836106

115

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Verificou-se que, com o incremento de 1 unidade de medida para a variável X2, que

neste caso é a variável “V10. Possui orçamento familiar superavitário”, a probabilidade de um

colaborador possuir plano de previdência aumentou de 0,338578 para 0,836106, isto é,

aumentou em 147%.

Obteve-se, com a inclusão das variáveis previsoras, um novo grau de aderência do

modelo de RL em relação aos dados observados, representado pela tabela a seguir:

Tabela 23 - Aderência do modelo com as variáveis previsoras

Observado

Previsto

V00

% Acerto 0 1

Passo 0 V00 0 67 43 60,9

1 33 159 82,8

Percentual total 74,8

Fonte: elaborado pelo autor, 2018.

Por fim, verificou-se que, após a análise final de RL, que o nível de previsão do modelo

aumentou de 63,6 para 74,8 por cento, em comparação ao modelo inicial. Isto significa que a

inclusão das variáveis previsoras contribuiu positivamente para o modelo.

A seleção das variáveis previsoras resultantes da regressão logística encontra respaldo

tanto na revisão sistemática da literatura quanto na opinião de todos os especialistas em

previdência entrevistados.

Famílias com orçamento familiar deficitário podem ter origem em diversos aspectos,

como cultura, renda e estilo de vida.

De fato, Engel, Blackwell e Miniard (2005) discutriram a relação entre renda familiar e

a proporção gasta em relação a alimentação, vestuário, habitação e outras categorias, onde

recursos econômicos são frequentemente partilhados entre indivíduos, mas famílias e lares.

Karsaklian (2004), apontou para a importância do fator renda como elemento determinante

sobre o nível de consumo e seu impacto no poder de compra. Além disso, Karsaklian (2004)

afirmou que o estilo de vida é determinado por elementos como a cultura, o simbolismo dos

objetos e os valores morais.

Corroboram com estes argumentos os dados coletados na pesquisa com os

colaboradores, onde aproximadamente 50% dos respondentes não possuem metas nem

116

planejamento financeiro bem definidos. Aproximadamente metade dos respondentes tem gastos

superiores às suas receitas. Mais que 60% dos entrevistados consideram que gastam muito no

presente e acreditam que terão problemas financeiros futuros, apesar de quase 73% dos

entrevistados reconheceram saber quanto gastam mensalmente e aproximadamente 80% dos

colaboradores não se consideram consumidores com perfil imediatista de consumo. Além disso,

aproximadamente 30% dos respondentes tem menos de 30 anos de idade, ou seja, são ainda

considerados “jovens”. Por fim, aproximadamente 40% dos colaboradores respondentes tem 2

anos ou menos de tempo de serviço.

Estes dados são coerentes com diversos aspectos apontados pelos especialistas

entrevistados.

De fato, para o especialista E1, “o brasileiro não tem uma cultura de guardar. Eu tenho

hoje, já gasto hoje” (APÊNDICE A).

Para E2, “pessoas com menor renda talvez tenham uma dificuldade maior em guardar

um valor, pois nem sempre eles têm uma sobra no orçamento mensal”. Ainda na opinião de E2,

“a idade influencia também, totalmente. É muito visível que os mais jovens acham que tem

muito tempo pela frente” (APÊNDICE B).

Já na opinião de E3, “o principal problema do Brasil é educação financeira. Não existe.

Isso é uma coisa que eu leio e concordo. Acho que era uma das coisas que tinha que aprender

na escola”. E3 acrescenta que “normalmente o cara que tem um salário bom acaba não

conseguindo guardar porque ele tem uma cultura de viver uma vida acima do que ele deveria

viver. O cara não consegue guardar o dinheiro dele. É complicado. É muito, muito, muito

consumismo.”. Ainda pra E3, “o recurso financeiro é muito mais influenciado pela parte da

cultura, porque a questão financeira é como você gera os teus recursos. Ou sobra ou não sobra,

é matemática” (APÊNDICE C)..

De acordo com E4, “no plano patrocinado, o que eu noto bastante é a influência da

instabilidade no trabalho: a pessoa não sabe se vai continuar na empresa, por quanto tempo irá

permanecer”. Ainda para E4, “a própria renda das pessoas porque às vezes a pessoa tem três,

quatro, cinco filhos, então ela dá preferência a outros benefícios, como o plano de saúde, seguro

saúde, alimentação e só depois aparece a previdência, porque elas encaram como a contribuição

previdenciária como uma despesa e não como um benefício” (APÊNDICE D).

Para E5, “tem um aspecto bastante relevante que eu considero é realmente a questão da

cultura. Mas eu falo isso como algo geral. Na questão dos brasileiros, eles têm uma tendência

ao consumo, e não a poupar”. E5 acrescenta que “só que a pessoa, quando ela é mais jovem,

ela tem outras prioridades. Muitas vezes o que é prioritário para ela comprar o imóvel, é o carro,

117

é a faculdade, então ela coloca muita energia nisso e não tanto na questão do plano de

previdência” (APÊNDICE E)..

De acordo com E6, “a pessoa não vive dentro daquele orçamento, dentro daquela

capacidade que a pessoa tem, em função do salário”. E6 observa que “o problema da pessoa é

educação financeira que a pessoa não tem. Ter um orçamento e uma receita limitada e ela

extrapola essa receita em função do alto consumo e das altas despesas que a pessoa tem. Então

o aspecto financeiro é um dos que contribuem para isso”. E6 salienta que “o consumo

justamente é uma outra barreira, porque as pessoas tendem a consumir agora do que deixar para

consumir no futuro, são imediatistas, não tem essa visão de futuro, então eu vou consumir agora,

em vez de guardar um dinheiro, vou comprar um carro, fazer uma viagem, entendeu? Vou

comprar um supérfluo” (APÊNDICE F).

Por fim, de uma forma geral, ficou evidente que todo o fator identificado por esta

pesquisa tem, em menor ou maior grau, relação com a cultura de acumulação de recursos e

educação financeira e previdenciária.

118

5 CONCLUSÃO

O objetivo geral da pesquisa foi alcançado, uma vez que foi possível diagnosticar duas

variáveis que, de acordo com o modelo de regressão logística aplicado, contribuem de forma

significativa para a adesão aos planos de previdência complementar, denominadas de “V02.

Tempo de serviço em anos” e “V10. Possui orçamento superavitário”, respectivamente.

O primeiro objetivo específico foi alcançado, ao caracterizar os colaboradores da

organização-alvo, tanto os que aderiam quanto os que não aderiam aos PPC, em termos de perfil

sociodemográfico através dos resultados apresentados no capítulo 4, com relação às variáveis

“V01. Idade do colaborador”, “V02. Tempo de serviço em anos”, “V03. Sexo”, “V04. Estado

civil”, “V05. Número de filhos” e “V06. Proventos”, referentes ao conjunto de colaboradores

ativos da organização-alvo.

O segundo objetivo específico foi alcançado, no capítulo 4, pois foi possível identificar

o nível de adesão dos colaboradores pertencentes a esta mesma organização, equivalente a

42,9%, com base na análise de frequência da variável “V00. Possui plano de previdência” em

relação à população.

O terceiro objetivo específico foi alcançado, ao apresentar a importância e impacto dos

fatores identificados na literatura, no capítulo 4, seguidos da identificação das variáveis

relacionadas aos fatores apontados na revisão da literatura, devidamente justificados com a

colaboração dos conceitos apresentados na fundamentação teórica corroborados pela opinião

especializada.

Além disso, a hipótese de pesquisa “A área de Gestão de Pessoas, no momento da

admissão, não fornece ao colaborador informação suficiente sobre o PPC para uma tomada de

decisão consciente” não pode ser validada, pois não foi possível entrevistar as pessoas que

oferecem os planos de previdência, por estratégia da organização-alvo.

Por fim, no capítulo 4, é apresentada equação para calcular a probabilidade de um

determinado indivíduo aderir ao PPC, a partir das variáveis identificadas, por meio de regressão

logística.

Com relação a hipótese de pesquisa, “O PPC não parece vantajoso em relação a outros

investimentos tradicionais, como a poupança, imóveis, ações, planos de previdência VGBL e

PGBL”, verificou-se que esta hipótese não pôde ser verificada, uma vez que a variável “V13.

Possui participação em outros investimentos” não apresentou significância, sendo removida do

modelo de regressão logística.

119

Analogamente, com relação a hipótese de pesquisa “O nível de endividamento do

colaborador impede sua adesão ao plano”, verificou-se que esta hipótese não pode ser

verificada, uma vez que a variável “V12. Encontra-se em elevado grau de endividamento” não

apresentou significância, sendo removida do modelo de regressão logística.

A revisão sistemática da literatura, mais precisamente em relação às teorias sobre

comportamento do consumidor, foi uma etapa muito rica e que contribuiu sobremaneira para o

êxito desta pesquisa.

Da mesma forma, as entrevistas com pessoas especialistas em previdência

complementar foram muito interessantes e enriquecedoras, pois foi possível mais uma vez

aproximar e relacionar conceitos do meio acadêmico com os problemas reais das organizações.

Além disso, a utilização de ferramentas estatísticas nas ciências sociais é certamente um

aspecto positivo, pois é sempre gratificante conseguir tirar conclusões de informações

examinadas.

Como sugestão de pesquisas futuras, seria relevante e interessante realizar um trabalho

contemplando informações de outras entidades de previdência complementar, de forma a

validar as variáveis previsoras aqui identificadas ou, até mesmo, buscar por outros fatores não

apresentados nesta pesquisa.

Esta trabalho pode servir como fonte de inspiração para que outros pesquisadores

possam contribuir para o desenvolvimento da cultura de educação financeira e previdenciária,

bem como do próprio segmento de previdência complementar, segmento este reconhecido por

sua destacada importância para a sociedade brasileira.

120

121

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125

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E1

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

Por que as pessoas não aderem ao plano de previdência? Vou começar por essa parte. Primeiro

porque elas não identificam como uma necessidade. Elas acham que elas não pensam no futuro,

então, elas acham que alguma coisa vai acontecer, um milagre. E elas vão ter como se aposentar.

Porque é que elas pensam isso: porque não tenho uma cultura no Brasil de guardar dinheiro. É

como eu te falei assim, parece que vai aparece um salvador da pátria e vai dizer “não, quando

chegar lá eu vou ver”. Acho que isso é cultural. Dessa questão de as pessoas viverem o hoje e

não se preocuparem com o amanhã. Acho que o Brasil não tem cultura de poupança Até porque

o consumo é imediatista: “comprar uma casa”. Porquê? Porque também teve a questão da

inflação, que as pessoas tinham dinheiro hoje e amanhã não tinham, então acho que isso também

contribuiu para elas não guardarem, não investirem. Eu lembro que a gente fazia rancho na

minha casa hoje e amanhã o dinheiro já não valia mais. Então, acho que isso interfere. A questão

também da pessoa achar que o futuro vai ser diferente, que vai acontecer um milagre, o que vai

ter alguma coisa que “não, lá na frente e vou pensar sobre isso”. Então não tem uma cultura de

guardar, guardo hoje para ter amanhã. Eu tenho hoje, já gasto hoje. Tem a questão também.

Isso falando numa forma de previdência geral, não só dos planos patrocinados que é o nosso

caso. Acho que tem essa questão. A necessidade também interfere, porque eles não reconhecem

a necessidade. Porquê? Porque hoje tem um governo que dá um suporte. Na aposentadoria então

“ah, um trocadinho eu vou ganhar do governo”, enquanto que em outros países a dependência

do governo é muito menor do que o do brasileiro. Temos estudos, por exemplo, que para o

governo nos Estados Unidos, onde a aposentadoria é 1.500 dólares, e com este valor o

aposentado não vive em Nova Iorque. Então, ele tem que se mudar para a Flórida, porque é

mais barato, ir morar lá numa casa de recolhimento, um asilo, um condomínio de idosos, que

ele vai pagar lá um tanto por mês. E a família vem visitá-lo no dia de Ação de Graças. Mas ele

já sabe disso antes. E o que que eles fazem? Aqueles que se preparam para o futuro vão fazendo

um investimento à parte, eles compram fundos de investimentos, eles investem em outras coisas

para eles poderem ter uma renda, porque eles já sabem que o governo não vai dar um suporte.

E aqui não. Então o INSS não se sustenta, porque tem gente que nem contribuiu e têm a

longevidade e tal. Lá em Londres, por exemplo, na Inglaterra são 600 libras a aposentadoria do

governo. Se não tiver um outro tipo de reserva, uma outra renda, você também não vai viver.

Não vai viver uma vida confortável ou então vai morar naquelas casas em Londres onde vários

126

idosos dividem as despesas, para conseguir se sustentar com 600 libras. É por isso que o país já

tem a cultura da previdência complementar. Eles têm planos de previdência. Já o brasileiro não

se atentou para isso, ele não reconheceu como uma necessidade, porque ele sempre vai achar

que virá alguma coisa que vai salvar, ou que o governo é obrigado a dar. Acho que o brasileiro

depende muito ainda do governo e de um governo que não atende de forma suficiente a

demanda. Então, a gente depende ainda de um serviço público ruim. De uma aposentadoria

ruim. Claro que muitas coisas mudaram. Acho que melhorou porque com o passar dos anos,

com a crise, sabendo que este governo não vai mudar aquilo que acha que ele deveria te dar, as

pessoas estão se conscientizando e fazendo alguns planos de previdência, principalmente para

os filhos. A gente vê agora uma demanda maior “ah, eu quero guardar um dinheiro do meu

filho”. A questão da reforma, acho que isso gera um impacto nessa consciência, mas ela é muito

recente ainda, e atinge um percentual muito pequeno da população. Isto eu tô falando de um

modo Brasil Geral. O brasileiro tem uma questão que é sair com alguma coisa debaixo do braço.

Assim, é muito mais interessante eu ir numa loja para comprar uma televisão de R$1.500,00 e

pagar dez vezes e sair com uma caixa, do que eu colocar R$150,00 numa coisa que eu não estou

tocando, não está guardado em lugar algum, não estou usufruindo daquilo. Eu acho que isso

também impacta. Tem a ver com a questão do intangível. Eu acho que o intangível também é

um outro problema que acarreta a não adesão ao plano de previdência. Porque eu compro,

deposito um dinheiro, mas eu não tenho aquele benefício imediato. E até uma vez eu falei para

um professor de marketing, que eu fiz meu MBA, eu disse que a gente tinha feito uma

campanha, que a gente ia dar um brinde. O que ele achava disso? Que o nosso produto era difícil

de “tangibilizar”. Ele disse que era importante pensar em uma estratégia, porque o brasileiro

tem essa questão de tocar, brasileiro gosto de botar a mão. Se for ver outros povos, eles nem se

se tocam entre eles, mas o Brasil tem que botar a mão apertar, para ver se funciona. “Eu fiz um

plano de previdência e saí com um papel na mão”. Eu vou numa loja e volto com uma caixa,

com uma sacola. Então, acho que também é o fato de você não “tangibilizar” o serviço sabe,

quando você compra um carro você já sai dirigindo né, então tem tudo isso. E a questão dos

planos patrocinados, eu acho que tem algumas coisas impactam para que as pessoas não façam

adesão. Eu acho que se a gente for olhar assim o histórico dos nossos patrocinadores, quando

um plano foi fundado, quem estava lá no RH, quem estava na direção, ele tinha plena

consciência e sabia do motivo porque estavam criando aqueles benefícios. Sabe, se você voltar

trinta anos atrás, as pessoas diziam “Nossa, agora nós temos um plano de previdência! ”, ‘Olha

só que maravilha!”. O RH sabia, ele ia lá e vendia. Tinha um certo nível de status, que talvez

hoje não é mesmo. E o RH colocava aquilo como um grande benefício da empresa. Então, quem

127

fundou o plano, sabe disso, ou sabia né. Só que o tempo foi passando e RH foi mudando. Aí

entrou uma pessoa nova que já não tinha mais a mesma consciência e depois entrou uma outra

pessoa que também não tinha mais a mesma consciência e a história daquele benefício ele foi

se perdendo. Pela raiz. E aí, hoje, é difícil de entender. O RH diz “ah, também tem plano de

previdência, se tu quiseres é assim”. Ela não vende isso como um grande atrativo, que é

dinheiro na conta. As pessoas ficam achando que é mais uma coisa para o RH se incomodar. É

como se digamos que eu sou Engenheiro de um projeto e eu que fiz o projeto e falo bem dele,

porque eu que concebi, entendo todos os benefícios. Agora se pega uma outra pessoa e fala do

mesmo projeto, ele vai falar o básico ali e não vai dar muita coisa. Aí o que acontece, na história,

o valor do benefício foi se perdendo durante o passar do tempo. Na época eles diziam “Nossa,

é melhor coisa ter um plano de previdência! ”. E se você falar com o pessoal do RH hoje, eles

não vão saber reconhecer isso, porque isso não foi passado com a devida noção de valor, sabe.

Eu acho que o RH não reconhece isso como um grande benefício que ele está oferecendo no

pacote de benefícios dele e aí logo ele não consegue também influenciar as pessoas para que

façam a adesão. Ou pelo menos reconheça a necessidade, né? Por que eu acho que as pessoas

não aderem de forma individual, o participante lá, pessoa física? Primeiro: porque ele não

reconheceu a necessidade, porque ele também está contando com o governo, ele acha que vai

ficar rico. Ele acha que vai receber uma herança, que vai ganhar na loteria e alguma coisa vai

salvar a vida dele lá no final, né, esses são os mais iludidos. Não pararam para pensar. Não

fizeram esse exercício ainda. “Bom, se não guardar agora eu tô ferrado lá na frente”. A outra

questão é a instabilidade no emprego, que hoje é muito grande. “Eu não sei quanto tempo eu

vou ficar aqui”. Além disso, alguns de nossos planos, não permitem tanta flexibilidade, como

por exemplo, levar a parte que a empresa contribuiu. Primeiro, a renda dos colaboradores é

baixa. Nós temos um nível médio de renda baixo e a pessoa não consegue se manter com aquilo.

Então, eu entendo que para ela não sobra. Essa também é uma outra diferença do brasileiro em

relação à renda, ela é baixa e não sobra para guardar. Então, se você pega uma pessoa que ganha

R$ 2.500,00 reais por mês. Ela tem que pagar aluguel, ela tem que comer, ela tem que se

deslocar, pagar a faculdade, de repente ela tem de sustentar uma família. Aí você olha assim,

“pô, mas...ainda quero que ela faça um plano que custa R$80,00 reais”. Só que R$80,00 reais é

um rancho, é o abastecimento do carro. Então, a renda média dos nossos participantes não é

muito alta. Por isso é difícil também que ele faça a adesão. Agora se você pega uns caras de

uma empresa grande, com um nível salarial de 7, 8 mil, é outro patamar. Se eles não aderirem

mesmo é porque eles são muito cabeçudos, né. Porque estão perdendo parte da contribuição da

empresa. Já sobre a questão da idade, sexo, estado civil, número de filhos, etc., eu acho que as

128

mulheres são mais precavidas. Eu acho que elas fazem mais adesões, tanto é que temos maioria

delas nos nossos planos, porque elas se preocupam mais com o futuro, mais com os filhos. E aí

elas tendem a ser mais organizadas e preocupadas com o que vai acontecer com ela e com os

filhos. Eu acho que quando você aborda um plano e fala “olha, você tem aposentadoria por

invalidez, caso você venha a falecer, o plano fica para sua família. ” Aí você vai criando outro

tipo de necessidade que ela talvez não tenha reconhecido que é assim, “ah, e se eu morrer, quem

vai cuidar da minha família? ”. Para o mais jovem, tem um outro lado porque ele tem mais

condições, talvez ele tenha uma renda mais flexível porque ele não tem quem sustentar, né. E

talvez também seja um atrativo ele contribuir, porque teoricamente ele poderia poupar aquele

valor, mas nem sempre acontece. Eu acho que tem.... Depende muito da região também, sabe.

Acho que nas capitais, acho que os jovens já têm mais opções de consumo, enquanto se você

vai pro interior, talvez, eles não tenham tanta atração para gastar, logo guardar dinheiro talvez

seja uma boa opção. Tem muito jovem que os pais sustentam e ele pode poupar, talvez 100%

do que ele ganha. Com relação ao conhecimento das regras do plano, acho que impacta um

pouco, mas nem tanto. Começa lá no RH, que também não tem muito conhecimento, logo, eles

não conseguem repassar corretamente as regras do plano. Assim, as pessoas não conseguem

fazer a adesão. Eu acho que a falta de conhecimento e o conhecimento equivocado sobre as

regras do plano geram desconfiança e fazem com que as pessoas não façam a adesão. Por isso

digo que o RH não consegue repassar as informações sobre os benefícios do plano, não tem o

conhecimento necessário para dizer “esse plano é um grande benefício, faça à adesão”.

Estivemos divulgando o plano lá no Paraná, agora. A gente viu que a falta de conhecimento

leva a não adesão. As pessoas confundem. Elas tinham um conhecimento totalmente distorcido

e ainda pior: aqueles que aderiram achavam que era uma coisa e quando a gente foi lá dissemos

que era outra. Quando alguns saíram das unidades, foram desligados. Achavam que quando

eles fossem desligados eles levavam uma parte da empresa e não era bem o que acontecia, e

também teve falta de conhecimento, aí teve revolta, teve insatisfação, e teve uma má divulgação

para os outros. Tudo isso gera uma desconfiança, as pessoas acabam não aderindo, achando que

o produto não é bom. Já com relação aos fatores que mais impactam positivamente, eu acho

que no caso dos planos patrocinados, o melhor benefício é que a empresa contribui junto com

o colaborador. Então isso é um grande diferencial, porque se você for fazer hoje um

investimento sozinho, no mercado, você vai ter a rentabilidade do investimento. Ponto. Aqui, a

empresa está contribuindo, ou seja, você já está recebendo em dobro aquilo que você coloca.

Então, acho que esse é o grande benefício de um plano patrocinado. A questão também de fazer

parte de um plano que enquanto você está trabalhando, a empresa está depositando para você.

129

Porque se for olhar assim... “Ah, mas eu tenho um plano num banco”. Num banco, só quem

contribuiu é você. Aqui, você vai entrar no plano, mesmo que você não fique até o final, você

está levando uma parte da contribuição da empresa, enquanto você está trabalhando. Se você

for olhar, analisar o investimento aqui e analisar o investimento fora, eles não têm comparação.

É o melhor de todos. Previdência complementar é um dos melhores investimentos que a gente

tem, considerando a contrapartida do patrocinador. Vamos dizer que no mínimo vezes dois,

mais o que ele render, né. Eu já encontrei vários gerentes que fazem cálculos e acham que não

vale a pena aderir. E aí eles acham melhor investir em ações, imóveis. Mas nenhum deles ainda

conseguiu me provar que ele ganha rentabilidade cem por cento no mesmo mês. Só que você

vai encontrar pessoas difíceis, que elas acham que entendem de investimentos, enfim. Mas eu

acho que essa é uma das principais vantagens. Tem também a questão do abatimento do Imposto

de Renda. As pessoas podem deduzir as contribuições previdenciárias da sua base de cálculo.

Eu já estou guardando para mim e ainda vou fazer com que eu pague menos imposto de renda.

Eu acho que isso é muito importante também. A questão que você tem uma proteção caso fique

inválido ou venha a falecer. Se isso ocorre, a minha família terá uma renda. É a questão do

auxílio doença, eu posso ter uma complementação a qualquer tempo. Muitas pessoas não dão

bola para isso porque acham que nunca vão ficar doentes. Nós já tivemos casos aqui de pessoas

que cancelaram o plano e aí ficaram doentes e não tinha complementação. Então acho que hoje

também o brasileiro, como eu estava falando ali, a pessoa sai da concessionária de carro zero e

com seguro contra acidentes, mas não faz seguro de vida. Ela se importa mais com os bens do

que com ela mesma. Então assim, “ah, eu posso ficar doente amanhã”. Ninguém está livre disso.

E é uma coisa do brasileiro também. A gente não tem esse pensamento. Agora você protege teu

carro, mas não te protege. Você nunca vai ser assaltado, nunca vai ser sequestrado, nunca vai

sofre um acidente, nunca vai levar um tombo que vai te deixar sem trabalhar por 60 dias. Então,

acho que quando eles reconhecem esses riscos, que eles têm essa cobertura, acho que é

interessante, as pessoas começam, meio que de forma forçada, a fazer um planejamento pro

futuro. Então, é uma forma de educar as pessoas, a pensarem na sua aposentadoria. “Quanto

que eu vou ter no futuro?”, “Onde é que vou investir?”. Se isso está me dando uma condição

de quando eu me aposentar e ter uma renda extra ou não. Hoje, se você for ler uma revista de

gestão de pessoas ou se você entrar numa grande empresa em São Paulo, por exemplo,

previdência faz parte do pacote. Faz...Se você não tem, você tá fora, não é competitivo. Eu não

quero trabalhar em empresas que não oferecem isso. Então é assim, quando as pessoas

começarem a reconhecer que previdência é um grande benefício, você consegue atrair as

pessoas. “Olha só, eu dou 100% de contrapartida na previdência!”. E o executivo olha assim,

130

“opa, então se eu colocar 2 mil, tu vai colocar 2 mil?” “É, vou colocar 2 mil”. “Ai vai entrar

quatro mil na minha conta “? “É, vai entrar quatro mil na tua conta!”. E aí é quatro mil no teu

bolso. Aos 50 anos por exemplo, rentabilizando todo esse tempo....E aí tem gente que não

reconhece isso, entende? “Ah não, eu vou ter que gastar....”. Resumindo, acho que os maiores

benefícios são a questão da dedução da previdência no imposto de renda, a contrapartida da

empresa e a segurança dos benefícios de risco.

131

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E2

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

Eu acho que a cultura, no caso a cultura de previdência, de poupar, cultura de educação

financeira, ela influencia completamente. A gente durante as visitas de divulgação do plano

percebe se quando já tem uma família estruturada na questão de poupança, onde já tem outro

tipo de investimento mensal, talvez uma simples poupança mesmo, uma caneta de poupança.

Quem já tem o básico, pode ser considerado como uma poupança, já tende a migrar para outras

alternativas de investimento, e a previdência complementar, com certeza, é uma delas. Então,

tendo uma cultura de poupança, dentro do ambiente familiar, ou até mesmo no ambiente de

trabalho, junto aos seus colegas, isso vai interferir completamente na decisão e na tomada de

decisão de compra ou não. Com relação à influência das classes sociais, eu acho que tem duas

vertentes. A primeira é que pessoas com menor renda talvez tenham uma dificuldade maior em

guardar um valor, pois nem sempre eles têm uma sobra no orçamento mensal. Ao mesmo

tempo, quem tem uma renda maior, uma renda familiar normalmente considera-se que haverá

uma maior facilidade para aderir. Mas nem sempre isso verdade, pois a decisão por aderir está

diretamente ligada ao interesse da pessoa em fazer a aquisição de uma previdência

complementar. Por isso eu vejo que a classe social não é um fator primordial. A segunda é que

as pessoas que têm menos condições de poupar um valor mensal, que tem salários menores,

vamos dizer assim, elas têm muito interesse em aderir porque elas já sabem a dificuldade que é

viver com o salário atual. Elas imaginam uma perspectiva futura de talvez a renda da

Previdência Social não consiga atingir o valor que ela gostaria de ter. E elas têm muita

preocupação com a família, né, com a questão da qualidade de vida. Vejo que mesmo quem

não tem tanta condição, eles fazem o máximo esforço possível dentro do que eles podem, para

garantir ali uma tranquilidade financeira e ao mesmo tempo outras pessoas que já têm uma outra

renda, que com certeza teriam condições de poupar mensalmente, nem sempre elas se sentem

motivadas, porque elas têm mais um leque de opções, podem investir em outros valores e outras

formas também. Sobre a influência dos colegas de trabalho, eu costumo explicar o plano tanto

coletivamente como individualmente. Então, em uma abordagem em ambiente coletivo,

corporativo, sempre quando se tem o aval de algum colega, um depoimento de alguém que já

tem o plano, quando há uma indicação, por mais que a gente já tenha reforçado todos os

benefícios anteriormente, isso impacta bastante o percentual de adesão. O impacto pode ser

positivo ou negativo, se tiver um depoimento de alguém que se sentiu frustrado em relação à

132

previdência, apesar de achar que não ocorre tanto na previdência fechada, mas sim nas abertas,

nos bancos, até por uma questão de maior agressividade de venda, isso pode participar

negativamente. Sobre a influência da família, se eu vejo que outros familiares já possuem o

plano, se eles estão satisfeitos com o produto, acho que influencia bastante na decisão das

pessoas. O estado civil também influencia a adesão. Como algumas pessoas já tem uma família

estruturada, a tendência é que eles façam a adesão. Acho que eles já têm uma preocupação com

a outra pessoa. As pessoas buscam alternativas de planos para a família também. Já em relação

ao número de filhos, acho que está ligado à capacidade de renda também, né. Tem os dois lados,

tem os dois lados. Quem têm três filhos, ou quatro filhos pequenos, geralmente ela não consegue

fazer o plano para apenas um deles, logicamente, então se ela não tem condição de fazer o plano

para todos os filhos, ela acaba não fazendo para nenhum. Um outro fator que eu acho que

impacta bastante é a questão situacional, o momento de vida em que a pessoa tem que tomar a

decisão por aderir. Impacta bastante. A gente verifica que tem bastante resistência por aderir

quando no ambiente de trabalho temos incerteza sobre a permanência do vínculo empregatício.

O que ocorre? Às vezes tem colegas que foram demitidos recentemente, em um número mais

expressivo, e quando tem esse cenário de algo muito incerto, de crise dentro da empresa em que

eles trabalham, existe uma resistência bem grande por aderir. Outros, por algum problema de

saúde na família, isso impacta também. Já tive algumas negativas de pessoas que estão gastando

dinheiro relativamente alto em tratamentos e não poderia dispender para a previdência. Se a

pessoa está sozinha, se o companheiro não está junto, a decisão não vai ser imediata. Tem muita

gente que leva o assunto para discutir em casa, pedir o aval do cônjuge. Isso é bem comum.

Então, se no momento da explicação do plano a pessoa está impedida de tomar decisões em

conjunto, ela acaba optando por não fazer a adesão naquele momento. Vai fazer uma consulta.

As vezes faz por telefone e já retorna. Eu tenho impressão que esse momento é um muito

importante, pois se deixar para depois, a pessoa acaba esquecendo. É muito comum ao visitar

uma unidade de alguma empresa onde uma pessoa tem interesse por aderir, ela acha o benefício

interessante mas diz que precisa conversar com o cônjuge. Então a gente faz um trabalho grande

de voltar a entrar em contato com essas pessoas. Porque é comum depois de dois, três anos, a

gente voltar na mesma unidade e encontrar a mesma pessoa que não fez adesão ao plano. Então,

como não é algo que vai ter utilidade de imediato, acaba ficando em segundo plano. Acho que

até pela falta de cultura, né, voltando ao ponto inicial da cultura de poupança. Como a gente

não tem cultura, isso nunca vai ser prioridade na nossa vida, fica para depois. Acho que tem

que começar o quanto antes, mesmo que seja por um impulso de começar a guardar na

previdência. Eu também vejo que a renda influencia muito. A gente tem o endividamento como

133

uma negativa de adesão ao plano. Há pessoas que estão fazendo refinanciamento, outras com

dívidas em bancos com juros bem maiores. E há de se entender, normalmente quem prioriza o

abatimento de uma dívida com juros maiores em relação a algum tipo de investimento. Talvez

não vá conseguir recuperar isso com uma rentabilidade em investimento. Estão, dá prioridade

na quitação de dívidas para depois começar a fazer o pagamento para a previdência. E levam

muito em consideração a renda familiar, e não só uma renda individual. Se a esposa está

endividada, ou se ela não está trabalhando, pode ocorrer do marido esperar que o casal esteja

mais equilibrado financeiramente, e vice-versa. Já em relação à motivação por fazer a adesão,

eu acho que a grande maioria das pessoas já reconhece a necessidade pela previdência. Até

porque isso tem sido muito vinculado às notícias, pois a mídia está olhando bastante essa

questão do déficit da previdência social, das mudanças de regras. Então, isso está muito

evidente, está sendo muito noticiado. As pessoas têm se sensibilizado por essa questão. Eu acho

que esse primeiro caminho já está percorrido. Mas tem também a questão sobre o conhecimento

sobre a previdência, sobre o plano, sobre o produto. A previdência privada no Brasil ainda é

bem pouco conhecida, né. Tem muitas dúvidas ainda, principalmente na questão de Imposto de

Renda, no recebimento. Eu acho que é algo que não é muito simples de se entender, de fato.

Por não ter a cultura previdenciária, isso já impacta bastante também. E as vezes o que vem

atrapalhar nessas questões são as notícias vinculadas à previdência privada, de forma negativa,

né. Talvez alguns planos estatais tenham sofrido por fraude, com déficits de planos, por má

gestão. As pessoas trazem para a realidade delas e acabam comparando, mesmo que não seja

diretamente ligado uma coisa a outra. Sim, falta muita informação na previdência

complementar, as pessoas não conhecem esse tipo de investimento. É um trabalho longo a se

fazer em educação financeira, né. Ainda falta muito. A gente vê, por exemplo, o consumidor

americano, que tem a cultura de investir individualmente. As pessoas já têm essa cultura e esse

conhecimento e naturalmente transacionam. Aqui, normalmente, vai se buscar o apoio de

alguma gestora de investimentos. Trazer para a previdência é muito difícil. Na maioria das

vezes as pessoas enxergam atributos no produto previdência considerados como “engessados”

como algo muito “travado” no longo prazo, com pouca flexibilidade. Como as pessoas oscilam

muito, principalmente na questão de carreira, de renda, elas ficam ressabiadas na questão de

poder alterar ou não valores de contribuição, alterar a idade para a aposentadoria. A crença de

ser um produto engessado, ela existe. A crença também de ter alguns planos que não foram

pagos, né, que as pessoas não receberam o devido valor. Vejo também muita comparação com

o próprio modelo do INSS, que é insustentável. Então, tem a insegurança por não receber os

valores futuramente, isso existe bastante. Tudo isso impacta. Tem gente que já tem uma aversão,

134

já tem uma resistência inicial a produtos de previdência privada, pelo que conhece, pelo que

ouviu falar. Nem sempre é o correto, são influenciados por crenças formadas na sociedade. É

engraçado. Quando o plano é oferecido a um indivíduo que pertence a um grupo de trabalho e

a maioria das pessoas deste grupo não faz parte do plano, por mais que esse indivíduo enxergue

a necessidade por aderir, foi tocado pelo produto, reconhece que o plano é aderente ao seu

perfil... Mas as vezes são colegas de confiança, que talvez possuam os mesmos valores e o

indivíduo acaba optando por não aderir. Por mais que ele já esteja convencido na questão

individual. Normalmente as pessoas vão preencher uma ficha de inscrição em conjunto, e eles

ficam se olhando, para ver qual vai ser a primeira atitude, a reação de alguém. Então, existe

muito o espelhamento, o grupo de referência. De repente um líder pode aderir e eu posso acabar

seguir os passos. Na questão de estilo de vida, que está também relacionado, as pessoas tentam

se enquadrar num estilo de vida por uma aceitação ou por uma negação. Então, existe uma

objeção também que se tal pessoa tem perfil parecido com o meu, estilo de vida similar. Se ele

não optou por fazer o plano, talvez não seja interessante que eu vá também... eles levam isso

em consideração... A idade influencia também, totalmente. É muito visível que os mais jovens

acham que tem muito tempo pela frente. Quando tratamos de previdência, quanto antes

começar, melhor. Começo com valores menores, para que não impacte tanto no orçamento, na

folha de pagamento. É essa a ideia. Mas tem pessoas que esperam muito tempo para aderir. E

aí quanto mais tempo perdem, menos tempo terão para investir.

135

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E3

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

A cultura é o principal fator. Hoje temos muito essa cultura de que quando eu me aposentar eu

vou ter o dinheiro suficiente. Os países que têm as melhores previdências sociais, os melhores

sistemas de previdência social, são países onde as pessoas que têm previdência complementar

obrigatória. São três pilares de previdência: a social, mas essa social normalmente é a que

menos paga e as outras são a previdência complementar e os recursos próprios. Temos a Suécia,

Dinamarca e alguns países da América do Norte, com Canadá e EUA. A maioria desses países

trabalham com esse tipo de previdência complementar obrigatória E mais uma previdência

complementar da tua empresa, entendeu? Você obriga a pessoa a fazer uma contribuição

porque, nesses tipos de previdência social, a ideia central é de redistribuição de renda, conseguir

alcançar todo mundo. Quem tem condições e quem não tem. O restante são contribuições

complementares e outros investimentos com recursos próprios. No Brasil, se for pensar um

pouco, ninguém guarda, porque não é cultural guardar. A gente não tem uma cultura de “ah,

vou todo mês eu vou pegar 20 por cento do meu salário e vou guardar, porque quando me

aposentar eu vou ter o meu recurso”. Zero cultura no Brasil.Já em países como os EUA, é muito

mais uma cultural acumular recursos. A gente não tem esse hábito. Acabei de pagar meu carro,

que o fazer? Comprar um carro novo. Eu vou comprar uma casa. A partir do momento que você

se aposenta, tua despesa médica, por exemplo, fica muito maior do que quando você é jovem,

está trabalhando e está com recursos. Então, se você não guardar o recurso antes, não vai ter

depois, isso é muito mais cultural. Às vezes, a pessoa pode não ter dinheiro, não tem um salário

bom, ganha um salário mínimo. Mas se ele tem o hábito de guardar, se ele tem uma cultura e

diz “olha, se eu tenho x e eu tenho que gastar menos do que x no mês porque eu tenho que

guardar um quarto de x ...” É cultural. Independente de valor sabe. Acho que tem muito a

avançar né.... Cara, no Brasil, acho que o principal problema do Brasil é educação financeira.

Não existe. Isso é uma coisa que eu leio e concordo. Acho que era uma das coisas que tinha que

aprender na escola. Tinha que ter uma matéria de educação financeira porque isso é a base.

Querendo ou não, é muito capitalista pensar assim. Talvez sim, mas é como funcionam as

coisas. Tem que ter dinheiro para conseguir te sustentar. Hoje as pessoas nem têm muita noção

do que é a inflação por exemplo, que é uma coisa bem básica e que as pessoas deveriam saber.

A caderneta de poupança hoje não te dá nem a inflação. A gente vai guardando dinheiro, ele

está rendendo, mas se tu for pensar no longo prazo, se tu não tá batendo a inflação, o dinheiro

136

que guardou hoje vai valer menos amanhã. Se você não guardar nada, vai ter menos ainda

(risos). Mas se tu for pensar assim “Bom, eu preciso de uma poupança”, e o dinheiro de hora

não irá comprar a mesma coisa no futuro. Então, falta essa educação. Existe sim a poupança,

quem consegue poupar mesmo usando a caderneta de poupança, mas que tem coisas mais

simples, como o Tesouro Direto, que é muito fácil de aplicar, tem outros fundos que é muito

fácil aplicar também. Tu esperas muito do banco, né. A maioria das pessoas, quando quer

investir, chega no cara no banco, no gerente do banco e fala: “quero investir em aposentadoria!

”. O que que ele vai te dar? Vai te dar um plano de previdência. O gerente do banco não é um

consultor financeiro, é um vendedor de produtos financeiros que tem que bater meta. Então

acho que é muito cultural. É o principal fator. Acho de longe. Porque os outros fatores

influenciam, mas tudo está muito linkado à cultura. Normalmente o cara que tem um salário

bom acaba não conseguindo guardar porque ele tem uma cultura de viver uma vida acima do

que ele deveria viver. O cara não consegue guardar o dinheiro dele. É complicado. É muito,

muito, muito consumismo. Vai comprar um carro hoje, vai comprar uma casa hoje. Se hoje

você chegar para o cara e dizer pra escolher entre trocar de carro e entrar na previdência, ele

vai trocar de carro. Mas porque é muito cultural e aí o que var acontecer, ele vai trocar de carro,

se for financiar vai acabar pagando mais caro e não vai sobrar dinheiro para ele colocar na

previdência. Então, acho que essa parte do recurso financeiro é muito mais influenciada pela

parte da cultura, porque a questão financeira é “como você gera os teus recursos”, entendeu?.

Ou sobra ou não sobra, é matemática. Independente de quanto tu ganhas. Pra tu conseguires

aplicar o teu dinheiro para uma poupança, precisa gastar menos do que ganha. Isso é o básico.

Se eu ganho 5 e eu gasto 5, não vai sobrar, nada não tem como. De repente, será que não está

na hora de eu começar a gastar menos que 5? Porque eu não estou conseguindo guardar nada,

então vou ter que dar uma regredida. A gente tem muito esse problema cultural de regredir um

pouco né, de voltar, estou gastando demais. Eu tenho que morar num lugar mais barato, eu

tenho que ir a lugares mais baratos, eu tenho que sair em festas mais baratas ou não sair, sabe.

Acho que a parte financeira depende muito da cultural. Quanto o cara vai estar disposto a pagar

e quanto cara consegue economizar porque ele tem uma cultura de economizar ou não. Acho

que a cultura está muito acima do que a parte financeira. Tem impacto direto na financeira.Sobre

as classes sociais, eu acho que influencia. Com certeza, porque acaba impactando no recurso

financeiro, né. Porque se você está numa classe social, tem que se sentir parte do grupo, né? E

acaba sendo influenciado por isso. É uma bola de neve. Quem está numa classe social mais

baixa, normalmente tem menos recurso financeiro sobrando, porque tem uma cultura de não

guardar ou porque realmente ganha muito pouco. No Brasil, a gente sabe, o salário mínimo é

137

baixo, a gente não consegue, é difícil conseguir manter uma família com um salário mínimo.

Com dois salários mínimos o cara acaba penando um pouco. Então, eu volto pra cultura, porque

eu acho que o impacto da cultura é muito grande. Porque se a gente for pensar bem a parte

financeira é muito ligada à cultura, a forma como a pessoa lida com o recurso dela. O que

acontece com a classe social, tem muito a ver com ter acesso às informações. Ah, hoje é muito

fácil ter acesso, mas a gente sabe que é a classe mais baixa acaba não tendo tanto acesso à

informação de investimento e entender o que isso significa, entender que lá na frente vai

precisar de recursos. As classes mais altas têm essa noção. Mas também tem mais recursos,

porque ganham mais. É mais fácil poupar. Claro. Quem ganha mais é obvio que é mais fácil.

Agora tem todo esse lado que tenho que falar. Porque tu não vais conseguir mudar a cultura da

pessoa sobre o que ela entende de finanças, o quanto ela deve guardar. Mas tu podes colocar

uma sementinha. E aí eu acho que essa hora que tu explicas o plano, é muito mais uma forma

de tu explicares a previdência complementar, inclusive num plano que tem um patrocinador

que coloca uma contribuição equivalente para ti, entendeu? A vantagem que o participante está

tendo. Então é assim, eu acho que tu vais convencer sim, algumas pessoas. Mas eu acho que

vai entrar muito na questão de mudar a cultura da pessoa. Vai explicar não tanto pela entidade

em si, mas pelo que essa entidade representa. Como é realmente esse benefício, que muitas

vezes as pessoas nem entendem como ele funciona. Às vezes as pessoas contam muito com a

Previdência Social.... E não é assim. Hoje, a gente sabe que não tem mais condições na

Previência Social. Ela não está errada ao tentar aumentar a idade mínima. O problema disso é

que assim as pessoas estão muito dependentes da Previdência Social e não dá para funcionar

assim como está, né. A Previdência Social paga o teto e pronto! Aqui a gente tem um teto de

previdência que é cinco salários mínimos, seis salários mínimos, não lembro direito. Tu não

tens que focar na Previdência Social. Tem que focar no retorno da economia de recursos, quanto

tu consegues gerir. O primeiro pilar sempre a previdência social, mas o segundo tem que ser

uma previdência compulsória complementar. A gente tem que entender que previdência social

e previdência complementar são diferentes na metodologia delas. A Previdência Social

funciona assim: tudo o que eu arrecado eu divido entre todo mundo que precisa receber. Ok. Eu

tenho que equiparar todo mundo. Todo mundo vai acabar recebendo um pouquinho porque eu

quero que todos consigam recebe. Ok, segunda parte. Tu queres ter uma aposentadoria melhor,

então, tu vais ter uma previdência complementar que tu vais contribuir com quanto tu dispões.

E aquele recurso que tu aplicas é só teu. Previdência Complementar. Temos os planos

instituídos, que é aquele que não ocorre aportes do empregador. Não quero controlar meu

investimento por si próprio, quero que alguém que tem expertise nisso consiga controlar tudo.

138

Basicamente é isso. E podemos ser influenciados pelos outros. Então, às vezes você nem sabe

porquê, mas se todo mundo está fazendo, deve ser bom, então vou fazer. Agora, se você está

num meio que ninguém tem o plano de previdência, então, se ninguém tem, por que eu devo

ter? Ou vou entrar no plano porque tudo mundo entrou ou não vou entrar no plano porque

ninguém entrou. Acho que é mais nesse sentido. Hoje, na previdência complementar, por

exemplo, a tua maior motivação é o aporte do empregador. É o teu benefício. É o principal fator

motivacional. Não existe um produto financeiro hoje que te dê esse retorno garantido. Tem uma

rentabilidade de 100 por cento do dinheiro aplicado. Você já ganha cem por cento a cada

aplicação e mais a rentabilidade do montante, imagina isso rendendo por 20, 30 anos. É muita

vantagem. É uma vantagem que não existe no mercado e que não você pode perder. E mesmo

assim, para você ver como a cultura é forte: mesmo com todo esse indício de que “olha, isso

aqui é muito vantajoso”. As pessoas não aderem. É por isso que eu acho que a cultura é muito

impactante no sentido de adesão. Sobre o fator família, eu acho não tem impacto. Não é tão

alto. Sim, porque ele tem a ver com a cultura. É como estar falando da classe social, se enquadra

muito na família. Ás vezes é muito relativo isso né. Mas é difícil falar em geral, até porque eu

não conheço muita estatística sobre isso. Acho que se a mulher tem essa cultura de guardar, ela

acaba convencendo o homem. Se o homem tem a cultura de guardar, ele acaba convencendo a

mulher. Acho que, no fim, quem tem mais cultura de economia acaba convencendo o outro.

Mas se pegar um casal que não têm essa cultura... O plano vai passar reto, ninguém vê. Quando

a pessoa tem uma família, quando tem uma esposa e filhos, a pessoa começa a pensar muito

mais em segurança principalmente na aposentadoria. Você se preocupa muito mais com o

futuro. Com o que vai guardar, o que vai deixar para os filhos, né. A partir do momento que

você é casado, já começa a ter mais essa coisa de família, preciso cuidar de tudo, tanto o homem

quanto a mulher, os dois. Preciso que tudo dê certo. É uma forma de poupar e eu acho que a

cultura de alguém pode influenciar bastante, porque a gente escuta muito à família, né. As

opiniões da família são sempre muito levadas em consideração. Se eu tenho um irmão que

poupa, os outros dirão “Nossa, como você é consumista!”, e começam a comparar. As pessoas

influenciam muito umas às outras. E aí a cultura de economia, de poupar, acaba impactando

nesse sentido. Sobre o momento em que o plano é oferecido, a situação, não vejo muito impacto,

pois a previdência é um produto de longo prazo. Eu tenho que comprar um vestido agora porque

eu tenho um baile hoje à noite. Com a previdência isso não ocorre. Você pode pegar uma pessoa

que não está numa situação boa financeiramente, mas daqui três meses talvez ele esteja melhor,

então dá tempo de oferecer o plano pra ele novamente.

139

APÊNDICE D – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E4

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

No plano patrocinado, o que eu noto bastante é a influência da instabilidade no trabalho: a

pessoa não sabe se vai continuar na empresa, por quanto tempo irá permanecer. Sobre a falta

de conhecimento sobre o plano de previdência patrocinado, eu vejo que quase ninguém sabe as

regras, isso é normal. E aí entra também muita questão do patrocinador da empresa em criar um

modelo para apresentar o plano aos colaboradores. Então isso também é uma falha do RH, pois

a empresa não tem uma boa infraestrutura para divulgação do plano. E até mesmo por questão

orçamentária ela nem quer que isso seja divulgado, nem faz questão de aumentar a própria

despesa do plano patrocinado. Aí o que também influencia: a própria renda das pessoas porque

às vezes a pessoa tem três, quatro, cinco filhos, então ela dá preferência a outros benefícios,

como o plano de saúde, seguro saúde, alimentação e só depois aparece a previdência, porque

elas encaram como a contribuição previdenciária como uma despesa e não como um benefício.

Então, é difícil você explicar para a pessoa que aquele valor, ao ser descontado na folha, não é

desconto, é uma aplicação financeira. Tem a questão da renda também, porque R$30,00 faz

toda a diferença quando você tem um elevado número de filhos. Outro fator é o baixo

conhecimento em finanças, porque a pessoa não tem conhecimento sobre como funciona uma

aplicação financeira. Então, quando a gente explica “você vai guardar X e vai ter mais X da

empresa”, a pessoa não entende que é um bom investimento, pois as vezes falta até o

conhecimento de matemática simples, conceitos de juros, etc. Um outro ponto também, nos

mais jovens, o que eu vejo: que eles não pensam mais em ficar no longo prazo na empresa.

Então, quando a gente chega com uma regra que a pessoa só vai ter acesso ao recurso aos 50

anos, ela não se imagina mais na empresa. O que antes os meus pais achavam isso um privilégio

você estar na empresa por x anos, hoje o jovem não se vê mais... isso com pessoas de até 30

anos 35, já não se vêm por um longo tempo. Então, as vezes o próprio regulamento está

defasado com a necessidade ou perspectiva, o olhar, que a pessoa tem sobre sua carreira, seu

futuro. Elas acham que o processo de pós desligamento também não é tão vantajoso e o jovem

não se imagina tendo uma renda complementar. Ele quer o hoje. Por outro lado, quando a pessoa

adere e já tem uma idade já mais avançada, ela percebe que o tempo de aderir já passou e aí ela

não consegue entender que o plano de previdência já não vai servir mais para uma renda, mas

sim como uma poupança forçada. Ela acha que não é vantajoso, mesmo com a contrapartida da

empresa. A gente tem essas duas medidas: o mais novo, não pensa no futuro, não se imagina

140

tanto tempo na empresa ou fazendo uma aplicação de longo prazo, e o mais velho, que acha

que o tempo já passou, que ele já perdeu toda aquela oportunidade, e aí ele não faz a adesão. É

minoria quem diz “ah, eu vou ver com o meu esposo”, “eu vou ver lá em casa primeiro”. Agora,

se a gente encontra alguém que tem esse conhecimento em finanças, ela nem pensa, ela já faz

o plano. Isso também é um fator que eu acho que é bastante decisivo sabe, porque a partir do

momento que tu explicar “ah, se tu colocar 30 a empresa vai te dar mais 30 e ainda tem a

rentabilidade desse montante”, o colaborador entende que é um excelente investimento, então

ele opta por aderir ao plano. Às vezes as pessoas também fazem o plano como uma forma de

poupar porque são influenciadas pelos colegas de trabalho. O colega influencia bastante.

Positivamente quando o colega conhece o plano. O colaborador percebe o saldo do colega sendo

acumulado, ele vê o colega solicitando empréstimo com baixas taxas de juros, ajudando a

rentabilizar o plano. Mas pode ser negativo, geralmente em situações de pós desligamento. Ela

não entende as opções, resgata, e aí tem desconto do imposto de renda, que é sempre visto como

algo negativo, então, essa pessoa pode influenciar os demais por não aderir, devido ao seu

sentimento de frustração.

141

APÊNDICE E – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E5

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

Eu acho que tem um aspecto bastante relevante que eu considero é realmente a questão da

cultura. Mas eu falo isso como algo geral. Aí eu falo assim... Na questão dos brasileiros. Eles

têm uma tendência. Primeiro. Eles têm uma tendência ao consumo, e não a poupar. Acho que

se a gente tentasse analisar, é relativamente fácil de entender, porque, de alguma forma, o

brasileiro ele enriqueceu, vamos dizer assim, ele teve uma melhora no quesito financeiro, em

um tempo relativamente curto. Então, qual é a tendência a primeira: é gastar. E, num segundo

momento, que começa uma questão de poupar. Então, isso eu acho que é algo que permeia a

sociedade como um todo, um pouco mais, um pouco menos, mas isso é uma caraterística. Então

isso eu acho que é um ponto assim, no geral, não com relação a pessoas específicas, mas é algo

que, em termos de país, ele tem uma tendência a não ter tanto essa preocupação de economia e

sim pensar mais no momento atual. Isso acho que é um ponto bastante relevante. O segundo,

que também está relacionado à questão cultural, que eu vejo que, de alguma forma, há uma

expectativa que o Estado vá suprir a necessidade individual. Então, mesmo ele não acreditando

tanto, ele tem a expectativa que no momento em que ele não tiver mais condições, o Estado vai

suprir essa necessidade, então eu acho que esses dois fatores aqui são bem característicos da

sociedade brasileira. No geral são aspectos que dificultam essa cultura mais de previdência.

Mas aqui, falando o seguinte, assim, como eu te digo, é geral, não é de pessoas específicas. Há

um desconforto, mas é a expectativa “ah, o valor que eu vou receber do governo vai suprir, não

preciso me preocupar tanto...”. Agora, nós estamos num momento em que, até pela questão da

reforma da Previdência, eu acho que até mesmo quando a gente vê muito essa questão de

corrupção, começou a ficar muito exposto. E de alguma forma, as pessoas começaram a pensar

mais sobre o tema e sair um pouco dessa perspectiva muito passiva. Eu acho que é o momento

que nós estamos passando, tá? Agora, olhando a questão em uma tomada de decisão mais

individual. Eu entendo que a questão de renda é um fator relevante porque, se a renda é menor,

há uma tendência sim dessa pessoa ter uma cobertura quase que na sua totalidade pelo INSS e,

não tendo essa cobertura tão forte, o “gap” é menor. Agora, quanto maior a renda, o “gap” é

maior. Então o fator renda eu vejo que é um aspecto relevante na tomada de decisão de aderir

a um plano de previdência complementar, para os dois lados. Então, pessoas com uma renda

menor, sim, pode ocorrer, mas ela não é tão forte quanto uma pessoa que ganha um salário

maior. Mas quando a gente estava falando de uma renda maior, ela também compete com as

142

pessoas que consideram que conseguem administrar melhor do que os gestores do plano de

previdência. De repente, elas, individualmente, vão ao banco, vão conseguir um retorno maior,

compram imóveis, põe para alugar, outras fontes de renda... O fator idade, eu acho que também

é um importante. Só que muitas vezes as pessoas não usam esse fator idade ao seu favor. Por

que? Quando a pessoa é jovem, ela poderia poupar menos mensalmente, e ter uma renda melhor,

mesmo assim no somatório do valor que ela individualmente iria poupar seria menor do que

uma pessoa que começa depois, por causa até do retorno dos investimentos. Ela, de alguma

forma, ela faz um esforço durante um período maior, mas ela faz um esforço menor. Ela precisa

economizar menos. Esse seria o ideal. Só que a pessoa, quando ela é mais jovem, ela tem outras

prioridades. Muitas vezes o que é prioritário, é prioridade para ela: comprar o imóvel, é o carro,

é a faculdade, então ela coloca muita energia nisso e não tanto na questão do plano de

previdência. Quando ela começa a se dar conta que a previdência é importante ela muitas vezes

ela está já numa idade em que o esforço que ela terá que fazer é a maior. E, às vezes, como um

esforço ela precisa fazer dele é muito grande, isso também gera uma certa frustração. Porque

uma previdência privada não vai resolver o problema dela, porque ela cria uma expectativa... E

isso cria um grande problema, que eu vejo assim, até mesmo muitas vezes com as pessoas que

eu converso, as pessoas têm uma expectativa que, de repente, elas vão economizar, ao longo de

uma vida, sei lá, 50 reais por mês, só que elas não fazem uma associação entre o valor que elas

efetivamente estão economizando e qual é a expectativa do valor que elas vão receber. É como

se fossem duas coisas desconexas: primeiro, é quanto ela espera receber lá na frente e, segundo,

quanto ela está disposta a colocar. E não faz esse link se o que ela está disposta a colocar chega

no valor que efetivamente ela iria receber. Isso acarretar surpresas, né. “Nossa... “ Na hora de

calcular o benefício é geralmente muito baixo. Então, isso eu acho que também é um aspecto

que acaba pesando bastante. Eu quase que diria o seguinte: todos esses aspetos, eles sempre têm

duas características: uma positiva nenhuma outra a negativa. Sobre a questão de ter um cônjuge

ou filhos, eu acho que ele é positivo, mas ele, isoladamente, ele não é forte o suficiente para

motivar a adesão. O que vejo é que precisa ter algum fator externo que ‘starte” isso. Eu vejo

assim, que é mais difícil a pessoa, individualmente, por ter um filho, procurar a adesão. Eu

entendo que a questão do cônjuge e a tomada de decisão, eu acho que ele não é tão relevante,

eu acho que isso está muito mais relacionado ao quanto a pessoa é tomadora de decisões. Então,

a pessoa que tem dificuldade para tomar uma decisão, independente se tratar de previdência ou

qualquer outra questão, ela depende de alguém para dar o aval, certo? Mas aí, nesse caso, acho

que não tanto na questão da previdência.... Quando eu coloco a questão do cônjuge mais como

sendo, de repente, um motivador também para ter uma previdência. E outro ponto que eu acho

143

que é bem relevante, não na tomada na tomada de decisão, mas mais na conscientização, é um

fator externo. O que eu quero dizer com o fator externo? Pessoas do meio que conhecem

previdência, então, começam a falar mais sobre previdência. E eu começo a pensar mais sobre

o assunto. É por isso que quando te falei, no início, que nós estamos passando por um momento

agora de reforma de Previdência, isso de alguma forma é uma influência, é influência negativa,

mas que faz repensar a busca por alternativas. E aí entra a questão da previdência. Começam a

falar mais sobre isso. Eu acho que talvez esse seja um dos pontos mais relevantes. Porquê?

Porque nós temos pessoas jovens, que ganham pouco, que fazem uma previdência e aí eu vejo

que o ponto que me motiva é a influência dos grupos sociais. Se ela realmente está inserida em

um grupo que enxerga, que começa a perceber isso como relevante, ela tem uma tendência a

também fazer a adesão, a acompanhar o grupo, com certeza. No geral, eu vejo que estes são os

pontos mais relevantes. Porque tem muita questão cultural: que é o desconhecimento, porque

se as pessoas tivessem essa cultura de economizar, então seria um assunto que elas iriam de

alguma forma também conhecer mais e mais. Mas infelizmente hoje as pessoas não conhecem

previdência, não há interesse. Porque é um assunto que não vai acontecer agora, só vai acontecer

lá na frente. E eu digo a pessoa só vai receber o benefício daqui 10 anos, 20 anos e eu penso:

“Nem sei se vou estar trabalhando, se estarei solteiro casado, se terei filhos ou não”, enfim. Eu

preciso me conscientizar da importância de me proteger para o futuro, eu acho que esse é o

grande desafio. Há uma confusão entre o que é para que serve um investimento e para que serve

uma previdência. Investimento, ele serve muito mais para te dar um respaldo em uma situação

de emergência, se tu precisares comprar alguma coisa. Mas a previdência não, a previdência

tem um outro objetivo que é te proteger no momento realmente você quiser parar de trabalhar,

ou se quiser reduzir o ritmo, ou até de não poder mais trabalhar, não conseguir mais trabalhar.

144

APÊNDICE F – ENTREVISTA COM ESPECIALISTA E6

Pergunta) O que leva as pessoas a aderirem aos planos de previdência complementar?

O que acontece num plano de previdência fechado patrocinado, ele é caracterizado como um

benefício que é dado ao colaborador, no sentido de retenção de talentos. É um ganho a mais

que as pessoas têm. E isso é uma das intenções quando foi montado os planos. Uma das

intenções era, que isso serviria de uma ferramenta de recursos humanos para as grandes

empresas, não é? Bom, e assim foi feito. Eu enxergo a questão da oportunidade que as pessoas

têm, de ter sido oferecido um plano de benefício um dos principais fatores que conduzem a

participar de um plano de benefício de aposentadoria. A primeira com o primeiro. Primeiro. A

primeira coisa a se levar em consideração é ter a oportunidade. O segundo, o segundo aspecto

é a questão da continuidade dessa oportunidade ao longo do período. Não é um contingente

muito representativo mas existem muitas pessoas que ao longo da sua vida laboral e elas em

vez de continuar obviamente para poder formar a sua poupança no futuro elas desistem disso.

E a maior influência nesse sentido e pessoa pediu se o desligamento da entidade, dentro da vida

laboral ainda, eu enxergo que o aspecto financeiro. Ou seja, a pessoa não vive dentro do aspecto

orçamentário. A pessoa não vive dentro daquele orçamento, dentro daquela capacidade que a

pessoa tem, em função do salário. Então o que acontece às pessoas se endividam, é uma forma

das pessoas erroneamente achar uma solução é justamente saindo do plano de previdência. E

isso é uma falsa ilusão porque a pessoa... O problema da pessoa não é o plano de previdência,

o problema da pessoa é educação financeira que a pessoa não tem. A educação da pessoa. Ter

um orçamento e uma receita limitada e ela extrapola essa receita em função do alto consumo e

das altas despesas que a pessoa tem, sem poder. Então o aspecto financeiro é um dos que

contribuem para isso. Eu posso dar um exemplo. Teve uma época, na outra entidade onde eu

trabalhei, que o nível de endividamento dos participantes, obviamente que trabalhavam na

patrocinadora, chegou a um nível insuportável. Então, a própria patrocinadora nos chamou e

nos pediu para que a gente ajudasse os participantes a fazer a troca dessas dívidas por uma

dívida mais barata. A gente iniciou um processo de educação financeira também, na medida

que as pessoas aderissem ao programa, elas passavam por essa questão de capacitação em

educação financeira. Eu costumo dizer sempre as pessoas que tem a oportunidade de aderir a

um plano de previdência são realmente privilegiadas em nosso país. São pouquíssimos que

possuem essa oportunidade. Obviamente que a gente tem hoje a previdência aberta e isso já é

um grande caminho no sentido da ampliação do sistema previdenciário. Mas o que é que

145

acontece, a gente sabe muito bem que na possibilidade de você ser um participante da

previdência fechada, você tem um custo menor e, comprovadamente, historicamente, uma

rentabilidade maior do que nos fundos abertos. Mas, de qualquer forma, isso tudo é um

instrumento que a pessoa pode utilizar para desenvolver uma cultura previdenciária com visão

de futuro. Esse é o objetivo, que a pessoa possa ter a perspectiva de manter um nível de

qualidade de vida aceitável para no final da vida laboral. Então, isso tudo passa por essa questão

da educação financeira e previdenciária. Então, até mesmo dentro dos próprios colegiados das

entidades, essa necessidade de educação previdenciária, que aí passa sobre a questão da

estrutura toda da entidade, como é que a entidade funciona, a parte da gestão do passivo, a

gestão dos ativos. Isso tudo é muito importante! Os colegiados hoje necessitam muito dessa

visibilidade. Para quê? Porque os colegiados são para apoiar a gestão. Então, isso é importante

sobre esse aspecto. Posso te falar o seguinte: o excesso de consumismo e a questão da falta de

cultura previdenciária e financeira são fatores que fazem com que as pessoas não tenham a

sensibilidade de se prevenir e de se precaver para que se possa montar uma poupança

previdenciária para o futuro. Eu posso te falar o seguinte: hoje é muito melhor do que há dez

anos atrás, e a gente espera que daqui a 10 anos isso seja uma coisa disseminada de uma forma

muito mais ampla. Por que? Porque é uma necessidade que a gente vai ter, que as pessoas terão.

Então eu acho que é uma forma de poupança muito interessante, entendeu? Que de uma forma

ou de outra, o que que acontece, essas pessoas não têm essa educação financeira, não sabem

tratar com dinheiro. E isso, na medida que você pega e faz as suas contribuições e você delega

isso a uma entidade especializada com profissionais com expertise, com capacidade para que

eles possam fazer essa gestão do seu recurso e fazer com que ele rentabilize para o seu futuro,

eu acho que não existe uma coisa melhor. Então, quando há um patrocínio então, é fantástico,

porque a pessoa já sai ganhando 100% da rentabilidade. Ele já tem 100% de rentabilidade. O

que ele contribuir, o patrocinador contribui também, ou ele pode contribuir com 50%, depende

da relação. Mas, na medida em que já existe uma contrapartida, gera um ganho estupendo.

Como é que você vai achar outro tipo de investimento que dê esse retorno? Não tem, não tem,

não existe porque o que contribui o patrocinador contribui. Na previdência aberta, é só a sua

contribuição, e você paga taxa de carregamento, paga a taxa de administração e existe a

rentabilidade, é claro. As tábuas atuariais são muito mais rigorosas, ou seja, isto depois diminui

o valor do benefício, entendeu? Não que as tábuas da previdência fechada sejam facilitadas,

não é nada disso. Mas elas são dentro do padrão da massa. Mas as abertas, mesmo que estejam

no padrão, elas são superiores ao padrão. Elas são mais prevenidas. Então é isso. Isso afeta

diretamente o benefício do participante. Então, eu considero dos dois aspetos importantes: é a

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oportunidade que se dá ao cidadão, ao colaborador, de ter um plano que é incentivado pela

empresa onde ele trabalha e a falta de cultura previdenciária de uma forma geral da população,

que não enxerga isso como uma como um benefício e com uma preparação para um futuro

melhor. O que acontece, sob o aspecto de investimento, que a gente fala, as pessoas mais novas,

elas têm uma possibilidade de arriscar mais. Ainda mais agora com essa questão dos perfis de

investimento, que os planos vêm oferecendo aos participantes. Então, o que acontece, os mais

novos, eles podem ter mais essa possibilidade. Na medida em que essa cultura previdenciária

seja absorvida mais rapidamente, quem que vai ganhar? São os mais jovens, porque na medida

que ele começar a montar a sua poupança previdenciária o mais cedo possível, ele vai

justamente ter mais tempo de acumulação e vai poder formar uma reserva que seja suficiente

para que possa dar suporte de complementação aos ganhos que ele vai ter no futuro na hora em

que ele parar de trabalhar, na hora que tiver o final da vida laboral dele, entendeu? Então, quanto

mais cedo melhor. Mas aquela “ah, mas eu já to na meia idade...”, não tem problema, eu acho

que tudo o que for no sentido de você poupar, no sentido de você gerar uma reserva para o

futuro, eu acho que isso é muito importante a pessoa está participando. Sobre os grupos socias,

eu acho que tem influência. Mas é muito relativo, assim como a influência do cônjuge. Isso

tudo passa pela questão da cultura, entendeu? A cultura, o meio onde a pessoa vem. Por

exemplo, lá em casa, os quatro filhos já têm plano de previdência, minha filha tem 9 anos, ela

já tem um plano dela, desde o berço. Então, isso, o ambiente é muito importante também na

medida que você tenha uma pessoa que possa orientar, que possa te dar exemplo, e

principalmente quando você tem pessoas que já usufruem do benefício, de um benefício

complementar, e aquilo tem um reflexo na vida deles, e se torna muito aparente, isto é

importante para que as pessoas possam tentar seguir o mesmo caminho, entendeu? Isso... O

ambiente é também um fator decisivo nessa questão. Num ambiente onde você tem uma cultura,

em que as pessoas falem sobre isso, e as pessoas, que as pessoas pratiquem isso, isso é muito

bom para a vida futura das pessoas. Se o pai e a mãe já têm uma experiência anterior, já sabem

que não funciona. Às vezes, você vem de um meio que você nem sabe que é previdência, não

tem nada de conhecimento. Mas você vai evoluindo, você vai passando por experiências, por

outros meios que proporcionem um contato com o assunto, você começa a escutar mais sobre

isso. Se você tiver uma abertura para que você possa entender o que é previdência, se tiver um

nível cultural satisfatório para que você entenda e comece a praticar, é ótimo, entendeu? Mas é

a questão cultural, a questão do consumo e a questão da oportunidade. Então, eu acho que são

esses três fatores, na medida que a cultural é uma coisa que quanto mais cedo a gente se

conscientizar disso e introduzir essa cultura previdenciária, melhor. O consumo justamente é

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uma outra barreira, porque as pessoas tendem a consumir agora do que deixar para consumir

no futuro, são imediatistas, não tem essa visão de futuro, então eu vou consumir agora, em vez

de guardar um dinheiro, vou comprar um carro, fazer uma viagem, entendeu? Vou comprar um

supérfluo. Não que a pessoa não tenha direito a esse tipo de situação, mas ela tem que ter essa

visão: primeiro poupe e depois faça! Um conhecido meu entrou em auxílio doença pelo INSS.

Ele não era participante do plano. É só na necessidade que a pessoa sente. Ou quando você vê

uma pessoa que tem, que usufrui, e que tem uma qualidade de vida melhor, e você não tem,

entendeu? Então esse também é um fator importante, mas aí já em determinados casos já é tarde

demais. Tem muita gente que quer entrar no plano, mas não conhece seu funcionamento,

entendeu? A pessoa entrou no plano, permanece contribuindo, mas não conhece as regras do

plano, não sabe quais os benefícios, o desenho do plano, não faz a projeção do benefício, quanto

que ele vai receber no futuro, se deve aumentar ou não a contribuição... Ele vai por influência

do ambiente, assina a ficha de inscrição, não por consciência. Tem uns que vão por influenciei

e depois eles se tornam conscientes. “Poxa vida, foi bom eu ter tomado esse rumo”... E outros

que não vão nesse caminho e depois lamentam “poxa, porque que eu não fui por esse caminho.

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APÊNDICE G – QUESTIONÁRIO COLABORADORES

Objetivo da pesquisa

"A educação financeira e previdenciária pode trazer diversos benefícios, entre os quais,

possibilitar o equilíbrio das finanças pessoais, preparar para o enfrentamento de imprevistos

financeiros e para a aposentadoria, qualificar para o bom uso do sistema financeiro, reduzir a

possibilidade de o indivíduo cair em fraudes, preparar o caminho para a realização de sonhos,

enfim, tornar a vida melhor."

O questionário abaixo tem por objetivo verificar seu nível de educação financeira e

previdenciária e o quanto você está inserido(a) em um ambiente culturalmente favorável à

acumulação de recursos financeiros.

Sua relação com o dinheiro

PERGUNTA 1) O ser humano é movido pelos sonhos. São eles que trazem esperança e

motivação para todos nós. São os nossos sonhos que norteiam nossos desejos e anseios pelo

futuro. É por meio dos sonhos que visualizamos aonde queremos chegar. O sonho é abstrato.

Então, para transformá-lo em realidade, você deve definir exatamente onde deseja chegar. Você

possui metas claras e um planejamento com a descrição das etapas que devem ser seguidas para

atingir suas metas, de forma que seu sonho possa tornar-se realidade?

( ) Sim

( ) Não

PERGUNTA 2) Vivemos em uma sociedade voltada para o consumo. Somos diariamente

bombardeados com propagandas e artifícios criados com a finalidade de despertar nossas

emoções e criar necessidades por produtos e serviços que, por vezes, nem mesmo precisamos

ou queremos para nós, mas que simplesmente passamos a desejar. Do ponto de vista financeiro,

podemos considerar que você gasta muito dinheiro no presente e que poderá ter problemas no

futuro?

( ) Sim

( ) Não

Orçamento pessoal e familiar

PERGUNTA 3) Orçamento pessoal e familiar é uma importante ferramenta para você conhecer,

administrar e equilibrar suas receitas e despesas e, com isso, poder planejar e alcançar seus

sonhos. Ele oferece uma oportunidade para você avaliar sua vida financeira e definir prioridades

que impactam sua vida pessoal. Você sabe quanto gasta e como gasta seu dinheiro todo mês?

( ) Sim

( ) Não

PERGUNTA 4) A regra de ouro de todo orçamento pessoal e familiar é manter-se superavitário,

isto é, manter as suas despesas sempre menores que as suas receitas. Você gasta menos do que

ganha?

( ) Sim

( ) Não

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Uso do crédito e administração das dívidas

PERGUNTA 5) Muitas pessoas, ao adquirirem um empréstimo, simplesmente avaliam se o

valor da prestação cabe no orçamento, o que nem sempre é o mais adequado. É fundamental

avaliar a real necessidade do crédito, comparar o CET das propostas de crédito de duas ou mais

instituições financeiras. Você sabe o que é Custo Efetivo Total (CET)?

( ) Sim

( ) Não

PERGUNTA 6) É comum encontramos pessoas desejando e usufruindo um padrão de vida

acima do padrão de renda que possuem. As facilidades determinadas pelo crédito fácil

propiciam um excesso de compras a prazo que, muitas vezes, comprometem a situação

financeira das famílias. Você se considera uma pessoa com elevado grau de endividamento,

comprometendo sua qualidade de vida?

( ) Sim

( ) Não

Consumo planejado e consciente

PERGUNTA 7) Estamos em constante conflito entre o que desejamos adquirir e o que

nossos recursos financeiros permitem. Tal conflito exige que planejemos nosso consumo. Os

sonhos são ilimitados, enquanto os recursos são limitados. Temos o conflito entre consumir

hoje ou poupar e postergar o consumo. Você consegue destinar mensalmente parte de sua renda

para investimentos diferentes da previdência complementar?

( ) Sim

( ) Não

PERGUNTA 8) O consumidor consumista gasta compulsivamente, compra tudo o que deseja,

é imediatista e não se preocupa com o futuro. O consumidor consciente pondera antes de

comprar, compra apenas o necessário e é previdente, pois sabe que o futuro é consequência das

escolhas no presente. Você se considera mais consumista do que consciente?

( ) Sim

( ) Não

Poupança e investimento

PERGUNTA 9) Investimento é a aplicação dos recursos que poupamos, com a expectativa de

obtermos uma remuneração por essa aplicação. Você conhece os conceitos de liquidez, risco e

rentabilidade de um investimento?

( ) Sim

( ) Não

PERGUNTA 10) Os investimentos possuem características que os diferenciam uns dos outros,

como taxas de administração, rentabilidade esperada, formas de tributação etc. Conhecer e fazer

uma avaliação detalhada sobre essas características são fatores relevantes para decidirmos por

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um ou por outro investimento. Você acompanha o desempenho de suas aplicações, procura

manter-se permanentemente informado e, de tempos em tempos, reavalia suas decisões de

investimento para ver se continuam coerentes em relação aos seus planos de forma a atingir os

objetivos propostos?

( ) Sim

( ) Não