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CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSO EM ACUPUNTURA
Trabalho de Conclusão de Curso pelo
Programa de Pós-graduação em Acupuntura
JOSIANE DO AMARAL E SILVA MÜLLER
Tratamento de Acupuntura para Analgesia da Região Coxofemural
FLORIANÓPOLIS
2015
JOSIANE DO AMARAL E SILVA MÜLLER
Tratamento de Acupuntura para Analgesia da Região Coxofemural
Trabalho de conclusão de curso submetido ao curso de Pós-graduação Lato Senso em Acupuntura para obtenção do grau de Especialista em Acupuntura junto ao Centro Integrado de Estudos e Pesquisa do Homem da Faculdade de Tecnologia em Saúde.
Orientador: Prof. Marcelo Fabian Oliva.
FLORIANÓPOLIS
2015
AGRADECIMENTOS
À Deus, meu reconhecimento pela vida.
À minha mãe e minha filha pela força e coragem.
Ao Núcleo Irmãos em Cristo (NEIC) em nome da Coordenadora Maria da Graça Borges da
Silva, pelo objetivo de vida pelo qual lutar.
Ao Professor Marcelo Fabian Oliva, pela oportunidade de estudos.
Às pessoas que acreditaram em mim e que de alguma maneira me incentivaram e tiveram
paciência para esperar a minha formação em Especialização em Acupuntura.
“O segredo de ser feliz, é dedicar a vida a uma causa”.
(Autor desconhecido)
RESUMO
O objetivo desse estudo foi avaliar o efeito das técnicas de Acupuntura, Ventosaterapia,
Craniopuntura, Moxaterapia e Auriculoterapia para o tratamento de dores na região dos quadris
(coxofemoral), adicionalmente foram tratadas as dores na coluna (cervical e lombar), e pés
(dorso superior). O tratamento foi realizado em 13 sessões de acupuntura, sendo 2 vezes na
semana, com duração de 1 hora, sendo 30 minutos de Acupuntura e 30 minutos com outras
terapias da Medicina Tradicional Chinesa (Cranioacupuntura, Moxaterapia, Ventosaterapia e
Auriculoterapia). A paciente foi submetida a uma avaliação baseando-se na escala de dor, em
que ela informou que antes do tratamento as dores eram constantes e insuportáveis, com
valores entre 8 e 9 (10 considera-se dores insuportáveis). Após o tratamento aplicado ela
avaliou que suas dores ficaram entre 0 e 1, sendo zero ausência de dor. O princípio do
tratamento foi Tonificar o Qi e o Xue do Fígado e de Rim Yin, além de dispersar o Vento e
Aquecer o Frio. Os pontos de acupuntura aplicados juntamente com as outras terapias
mostraram uma involução no quadro álgico e com relação a qualidade de vida da paciente,
assim, com os resultados apresentados foi possível constatar que o diagnóstico foi realizado
corretamente como Síndrome de Vazio de Qi do Fígado (GAN QI XU), Síndrome de Vazio de
Sangue do Fígado (GAN XUE XU), Síndrome de Insuficiência de Rim Yin (SHÉN) e Obstrução
Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim), além da adição de pontos para os novos sintomas
apresentados. Os resultados mais significativos apareceram no quarto dia de tratamento, onde
a paciente relatou melhora nas dores no quadril e ausência de zumbido no ouvido. Foi possível
constatar que após quatro meses de tratamento a paciente informou que não sentia mais
algumas dores, sendo que as dores no quadril e na coluna só apareciam após excessos de
atividade doméstica ou levantamento de peso e com menor intensidade que no passado (antes
do tratamento). Portanto, os pontos de acupuntura aplicados juntamente com as terapias de
Cranioacupuntura, Moxaterapia, Ventosaterapia e Auriculoterapia mostraram uma melhora
significativa na dor na paciente, possivelmente gerada pela harmonização e equilíbrio das
energias e do sangue.
Palavras-chave: Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Cranioacupuntura, Moxaterapia,
Ventosaterapia e Auriculoterapia, dores no quadril, coxofemoral.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Representação ilustrativa e representativa dos meridianos em três posições: (A) ventral, (B) dorsal e (C) lateral. FONTE: HONG (2005)NTE: HONG (2005) ................................ 2
Figura 2. Padrão de Síndrome de Obstrução Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim) (Xuemei & Jingyi, 2012). ................................................................................................................................. 9
Figura 3. Princípios de diagnósticos para obstrução Dolorosa (Xuemei & Jingyi, 2012). ......... 10
Figura 4. Ciclo de assistência e controle de Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN QI XU) e Síndrome de Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU). Em laranja estão representados os órgãos que compõem o ciclo de assistência e em azul, o controle. .............. 21
Figura 5. Ciclo de assistência e controle de vazio de Rim Yin. Em laranja estão representados os órgãos que compõem o ciclo de assistência e em azul, o controle. ...................................... 23
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Função de cada órgão e os sintomas básicos relacionados com as suas deficiências com relação a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (Xuemei & Jingyi, 2012). ............................ 4
Tabela 2. Resumo da ficha de anamnese com entrevista da paciente. ..................................... 13
Tabela 3. Resumo do tratamento realizado em cada sessão. ................................................... 15
Tabela 4. Relação dos desequilíbrios psicológicos e físicos relatados com seus órgãos e meridianos correspondentes estudados de acordo com o quadro da paciente. ........................ 19
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1
1.1 Acupuntura ............................................................................................................................................... 1
1.2 Diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) .............................................................................. 3
1.3 Classificação das Síndromes ................................................................................................................... 3
1.4 Padrões de deficiência envolvendo os cinco órgãos ............................................................................... 4
1.4.1 Tipos básicos de padrões de deficiência .............................................................................................. 4
1.5.1 Síndromes de deficiência de Fígado ..................................................................................................... 5
1.5.1.1 Fígado ................................................................................................................................................ 5
1.5.1.2 Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN QI XU) (= Vazio de Qi do Fígado -
GAN QI XU) .................................................................................................................................................... 5
1.5.1.3 Síndrome de Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU) (= Vazio de Sangue do
Fígado -GAN XUE XU) ................................................................................................................................... 6
1.5.1.4. Síndromes de deficiência de Rim ..................................................................................................... 6
1.5.1.5 Síndrome de Insuficiência de Rin Yin (SHÉN) ................................................................................... 7
1.5.2 Síndrome da Obstrução Dolorosa (SOD) ............................................................................................. 7
1.5.2.1 Síndrome de Obstrução Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim) .............................................................. 8
1.5.2.2 Fator exógeno Vento .......................................................................................................................... 9
1.5.2.3 Fator exógeno Frio ............................................................................................................................. 9
2.0 OBJETIVOS ...........................................................................................................................................11
2.1. Objetivo Geral .......................................................................................................................................11
2.2 Objetivos Específicos .............................................................................................................................11
3.0 METODOLOGIA ....................................................................................................................................13
3.1 Entrevista e Anamnese ..........................................................................................................................13
3.2 Diagnóstico .............................................................................................................................................15
3.3 Tratamento de Acupuntura .....................................................................................................................15
4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................................19
4.1 Diagnóstico .............................................................................................................................................19
4.1.1 Fígado .................................................................................................................................................20
4.1.2 Rim ......................................................................................................................................................21
4.2. Tratamento ............................................................................................................................................23
5.0 CONCLUSÕES ......................................................................................................................................25
6.0 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................27
1
1.0 INTRODUÇÃO
1.1 Acupuntura
A Medicina Chinesa surgiu na China há cerca de quatro mil e quinhentos anos atrás. A
Acupuntura é a uma técnica essencial da Medicina Chinesa, que se tornou umas das terapias
médicas mais eficazes no mundo. A técnica baseia-se na aplicação de agulhas e moxas para
aliviar a dor ou sintomas decorrentes de doenças (Xuemei & Jingyi, 2012).
A filosofia chinesa sobre a Acupuntura baseia-se na teoria dos cinco elementos, ou
seja, nas cinco origens da vida, são elas: Metal, Água, Madeira, Fogo e Terra. O quaternário
gira em torno de um núcleo do sistema, sendo que existe um inter-relacionamento entre os
elementos de Geração, de Controle, de Excesso de Trabalho e da Lesão. O sistema é
polarizado com a Teoria do Yin e Yang, sendo Yang (positivo) e o Yin (negativo) são duas
forças opostas, porém, complementares que andam em direção a uma harmonia. Assim, a
harmonização dos cinco elementos e do sistema de polaridade gera um indivíduo saudável
(Maciocia, 1996).
Por outro lado, segundo a visão Ocidental a inserção de agulhas em pontos
determinados seguindo as linhas dos meridianos geram o quadro terapêutico da Acupuntura,
que estaria relacionada com a liberação de neurotransmissores com a finalidade analgésica,
antidepressiva, ansiolítica, anti-inflamatória, entre outras.
Os meridianos são doze traçados imaginários distribuídos pelo corpo que possuem o
nome de acordo com a víscera que atravessam. Eles possuem ramificações externas
(tegumento) e internas (vísceras). A nomenclatura internacional dos meridianos segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1991) é pulmão (LU), intestino grosso (LI), estomago
(ST), baço pâncreas (SP), rins (KI), intestino delgado (SI), bexiga (BL) pericárdio (PC), fígado
(LR), vesícula biliar (GB) e triplo aquecedor (TE). Além desses, há dois meridianos extras como
o Men-Rai (CV) e o Du-Mai (GV) (Figura 1).
2
Figura 1. Representação ilustrativa e representativa dos meridianos em três posições: (A)
ventral, (B) dorsal e (C) lateral. FONTE: HONG (2005)NTE: HONG (2005)
Diversos estudo têm mostrado a eficácia da Acupuntura em casos clínicos de dor,
essencialmente em quadros de lombalgia e fibromialgia. Nesses estudos, verificou-se que a
administração concomitante de remédios melhorou o quadro álgico. Entretanto, atualmente há
poucos estudos que avaliaram os efeitos Acupuntura em paciente com dores na região
coxofemoral. Portanto, o propósito geral deste Trabalho de Conclusão de Curso foi avaliar a
eficácia terapêutica da Acupuntura no alívio da algia coxofemural. Para tal, desenvolveu-se um
estudo de caso. Neste estudo clínico foram definidos os seguintes objetivos gerais: desenvolver
um tratamento específico de algia localizada na coluna (cervical e lombar), quadris (região
coxofemoral) e pés (dorso superior). Com esse intuito, procurou-se homogeneizar o padrão de
3
manifestações clínicas com base num diagnóstico estrito e conclusivo de Medicina Tradicional
Chinesa (MTC).
1.2 Diagnóstico na Medicina Tradicional Chinesa (MTC)
O diagnóstico da MTC é baseado nos quatro exames se faz com base nos “Quatro
exames” da Seminologia, e nos “Oito Princípios” do diagnóstico (Maciocia, 1996).
O diagnóstico e tratamento de uma doença na MTC leva em consideração os sinais e
sintomas a observação do corpo como um todo. O objetivo é determinar a causa e a natureza
das doenças e formulando diagnósticos segundo os Oito princípios: Yin/ Yang,
Superficial/Profundo (Bao-Li), Frio e Calor (Han-Re) e Deficiência/Excesso (Xu-Shi).
Os quatro exames são inspeção, asculta e olfação, palpação.
Inspeção: observa-se a expressão e vitalidade do paciente. A inspeção inclui
aparência, ânimo, expressão facial, fala, respiração, brilho nos olhos, estado de
consciência e coordenação dos movimentos.
Asculta e olfação: baseiam-se me 10 perguntas sobre sensação de frio/calor;
transpiração; ingesta e paladar; sono; excreções; ginecologia; pediatria; cabeça e
corpo; olhos e ouvidos; tórax, hipocôndrio, epigástrio e abdômen.
Palpação: visa avaliar as temperaturas locais, as respostas às pressões, o exame de
pulso e a presença de tumoração. Os segmentos do corpo a serem avaliados são os
membros (mãos e pés), a superfície do tórax, corporal, epigástrico, flancos, abdômen,
frontal e sensibilidade aos pontos de acupuntura.
1.3 Classificação das Síndromes
Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), as doenças são classificadas em Síndromes,
ou seja, através do exame minucioso é possível chegar diagnósticos mais preciso e fidedigno.
Em relação à classificação das síndromes existem oito critérios:
1. Externa (superficial) e interna (profundo).
2. Frio e Calor.
3. Deficiência e excesso.
4. Yin (negativo) e Yang (positivo).
4
O diagnóstico diferencial é feito através de seis fatores etiológicos que são: Vento, Frio,
Calor De Verão, Umidade, Secura e Calor De Fogo. Esses fatores se relacionam com as
sintomatologias de desiquilíbrio.
1.4 Padrões de deficiência envolvendo os cinco órgãos
Os padrões de deficiência englobam insuficiência de fatores antipatogênicos, incluindo
Yin, Yang, Qi, Sangue, Essência Vital e fluidos corpóreos. A causa pode ser congênita
(também conhecida pré-celestial) ou adquirida (pós-celestial). A deficiência adquirida pode
resultar de alimentação inadequada, estresse (físico ou mental), trauma ou doença (Perez,
2010).
Quando existe um padrão deficiente, invariavelmente há uma história longa, a doença
atingiu um estágio avançado ou crônico e já penetrou no interior. A principal alteração
patológica é a má nutrição dos órgãos (Perez, 2010).
1.4.1 Tipos básicos de padrões de deficiência
De acordo com a teoria do Yin-Yang, o Qi e o Yang relacionam-se fundamentalmente e
são associados ao Yang, ao passo que o Yin e o Sangue são substâncias e estão relacionados
ao Yin. Deficiências de Qi, Yang, Sangue e Yin são os padrões mais comuns na prática clínica.
Estes quadros padrões formam a base do entendimento das deficiências nos Órgãos Yin
(Xuemei & Jingyi, 2012).
Os cincos órgãos Yin têm funções distintas. Portanto, quando ocorrer desequilíbrio,
existirá um grupo de sintomas (Xuemei & Jingyi, 2012).
Tabela 1. Função de cada órgão e os sintomas básicos relacionados com as suas deficiências
com relação a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) (Xuemei & Jingyi, 2012).
Órgão Função Sintomas de deficiências
Coração O coração controla os vasos e a morado do espirito.
Palpitações Ansiedades Insônia Falta de memória
Pulmão O pulmão controla o Qi de todo o corpo e governa a respiração
Tosse Asma
Baço/Pâncreas O Baço/Pâncreas é responsável pela transformação e transporte do alimento e pelo metabolismo da Agua. Controla os músculos e os membros.
Pouco apetite Distensão abdominal Fezes soltas (Alterações no sistema digestivo)
Fígado O Fígado armazena o sangue, contorna os tendões e abre-se através dos olhos.
Distensão na região do hipocôndrio ou nos espaços intercostais.
5
Distúrbios visuais (visão borrada) Unhas finas, secas e frágeis Formigamento no tronco e membros.
Rim O Rim armazena a Essência Vital e governa e reprodução. Controla os ossos, micção e a evacuação.
Dor e fraqueza na região lombar e nas articulações dos joelhos, distúrbios unrinarios, disfunção sexual e problemas com a evacuação.
1.5.1 Síndromes de deficiência de Fígado
1.5.1.1 Fígado
O Fígado é fundamental para o movimento e controle dos músculos e tendões,
portanto, ele tem função direta na capacidade e a resistência física. Além disso, ele regula e
controla a quantidade de sangue. O autor Carlos Nogueira Pérez (2010) afirma:
“Quando o fígado está são, ele está pleno de vitalidade
e vigor. O sangue está limpo, o coração está forte e
ativo, os músculos e os tendões têm tônus e energia
ativa”.
A função primordial do fígado é a manutenção das vias circulatórias orgânicas livres
para adequada nutrição dos tecidos, isto é, a circulação de Qi, Yinye e Xue. A livre circulação
de Qi permite os movimentos de entrada, ascensão e queda da energia. O bloqueio das
funções do Fígado pode gerar êxtase energético, o qual manifesta-se pelos seguintes
sintomas: (i) 1ª Fase - dores nas costas; (ii) 2ª Fase - estase de Xue e Yinye e aparecimento de
tumores; (iii) 3ª Fase - o bloqueio produz calo e sintomas de secura como boa e garganta
secas (Perez, 2010).
Além disso, o Fígado controla o Qi do Coração, que controla atividade mental e regula
o estado emocional, se há disfunção do fígado aparecem estados de desânimo, instabilidade
emocional e labilidade. A relação do Fígado com o Sangue também é proeminente, pois o
Fígado armazena o sangue e regula o fluxo sanguíneo (Perez, 2010).
1.5.1.2 Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN QI XU) (= Vazio de Qi do Fígado -GAN QI XU)
O Qi representa a essência aprimorada produzida pelos sistemas internos para nutrir o
corpo e Shen (Mente) – base material. Indica a manifestação das atividades funcionais dos
órgãos e vísceras (Zang fu), é o substrato material e mental do homem, podendo assumir
diferentes formas dependendo da sua função. O Qi é comandante do Sangue (Luca, 2008).
6
A deficiência de Qi do Fígado está relacionada com alterações nas inter-relações entre
Rim, Pulmão e Vesícula Biliar, isto é, Insuficiência de Rim, Plenitude de Pulmão e Plenitude
Crônica de Vesícula Biliar, etc. Os principais sintomas são: face sem brilho, lábios pálidos,
acúfenos, surdez, facilmente assustadiço (Xuemei & Jingyi, 2012).
1.5.1.3 Síndrome de Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU) (= Vazio de Sangue do Fígado -GAN XUE XU)
O Sangue (Xue) é a forma mais densa e material de Qi, que flui para todo o organismo
com a função de nutrir e umedecer os órgãos e vísceras (Zang Fu) e todos os tecidos. O
sangue é a mãe de Qi (Luca, 2008).
Os padrões que envolvem tontura, insônia e pulso fino, indicando que os órgãos e
tecidos estão mal nutridos e que suas funções fisiológicas estão mal nutridas e que suas
funções fisiológicas foram prejudicadas. Os pacientes com deficiência de Sangue também
apresentarão tez, unhas, língua e lábios pálidos, evidenciando que o Sangue está inadequado
para nutrir o corpo inteiro (Xuemei & Jingyi, 2012).
Os sintomas comuns incluem desconforto nas regiões intercostais e do hipocôndrio,
visão borrada, tontura, zumbido, pulso em corda e fino. Sintomas diferenciados são: tez pálida
e sem brilho, unhas secas e frágeis, formigamento nas mãos e nos pés, língua e lábios pálidos,
revestimentos de língua esbranquiçado, pulso em corda e fino (Xuemei & Jingyi, 2012).
1.5.1.4. Síndromes de deficiência de Rim
O rim tem como função primordial conservar a essência da vida (Jing), representada
pelo processo de materialização e armazenamento das energias elaboradas no
desenvolvimento embrionário e posteriormente, concretizadas pela dieta e respiração. Além
disso, ele é responsável pelo equilíbrio térmico e termogênese (fonte água e fogo), governa a
ação auditiva e a força de vontade entre outros. Os sinais de alteração no rim são: dor lombar,
astenia e debilidade, alterações genito-urinárias e da sexualidade, alterações do metabolismo
ósseo, alterações hídricas, alterações térmicas, alterações da audição, alterações da síntese
de elementos formes do sangue, alterações do pulso e da língua (Perez, 2010).
De acordo com a anamnese da paciente foi verificado um desiquilíbrio do Rim, onde foi
identificado que a paciente tem a Síndrome de Vazio de Rim Yin devido aos sintomas nos cinco
centros e alterações ósseas.
O Rim Yin pode ser resumido de duas maneiras: congênito ou adquirido. De acordo
com os sintomas da paciente ela enquadra-se no Rim Yin do tipo adquirido devido aos
seguintes sintomas como lassitude e fadiga, debilidade lombar e dor surda nos joelhos,
7
acúfenos yin, perda de agudeza visual, sequidade de boca, sensação de calor no tórax,
sudorese noturna, entre outros (Perez, 2010).
1.5.1.5 Síndrome de Insuficiência de Rin Yin (SHÉN)
Uma paciente com deficiência em Yin irá a presentar um conjunto de sintomas
característicos como rubor malar, transpiração noturna, inquietação e febre vespertina, pois há
desequilíbrio entre Yin e Yang, com predominância de Yang ou com calor resultante de
deficiência (também conhecido como “Calor Vazio”) (Xuemei & Jingyi, 2012).
Padrão de deficiência de Yin do Rim: febre vespertina, transpiração noturna, sensação
de calor nas palmas das mãos, ansiedade, rubor malar, boca e garganta seca, língua com
revestimento muito fino, pulso rápido e fino. Além disso, ela pode apresentar dores e fraqueza
na região lombar e nas articulações do joelho, sintomas urinários e reprodutivo (Xuemei &
Jingyi, 2012).
1.5.2 Síndrome da Obstrução Dolorosa (SOD)
O conceito de Obstrução Dolorosa é extremamente amplo, sendo que na prática clínica
os sintomas são muito variáveis. Eles podem ser classificados de diversas maneiras de acordo
com a etiologia, pelo distúrbio dos órgãos Yin, pela localização dos sintomas etc. Com relação
a etiologia e patologia dos padrões de Obstrução Dolorosa existem duas causas principais: a
mais comum é a invasão de fatores patogênicos externos (exógenos) e a menos comum é o
desiquilíbrio interior (endógenos). A Síndrome da Obstrução Dolorosa (SOD) exógena ocorre a
invasão dos fatores patogênicos Vento, Frio e Umidade isoladamente ou em combinação. A
invasão ocorre nas articulações gerando um quadro de obstrução local de Qi e Sangue.
Consequentemente, este quadro causa dor e obstrução do movimento (Xuemei & Jingyi, 2012).
Se não for considerado o fator desencadeante, depois de um determinado tempo, o
quadro que afetou os meridianos poderá afetar os Órgãos, o Qi e o Sangue, o padrão,
portanto, pode se transformar em uma forma mais complexa de obstrução dolorosa.
8
1.5.2.1 Síndrome de Obstrução Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim)
A Obstrução Dolorosa em um sentido mais restrito significa a invasão das articulações
pelos fatores patogênicos externos, tal quadro é caracterizado pela obstrução local de Qi e de
Sangue, gerando dor e limitação do movimento. Os sintomas podem variar de acordo com os
fatores patogênicos envolvidos (Xuemei & Jingyi, 2012).
9
Figura 2. Padrão de Síndrome de Obstrução Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim) (Xuemei &
Jingyi, 2012).
FONTE: Xuemei & Jingyi (2012).
1.5.2.2 Fator exógeno Vento
O vento é o principal fator patológico, causa obstrução dolorosa do tipo móvel, pois a
dor se movimenta de uma articulação para outra. Uma vez dentro da articulação, o vento
permanece na mesma bloqueando a circulação de Qi e de Sangue. Além disso, o vento é um
fator patogênico Yang com características de se mover e se alterar, da mesma foram a dor e
outros sintomas associados irão de alterar ou mudar de um lugar para outro (Xuemei & Jingyi,
2012).
Para fazer o tratamento da SOD do tipo vento é necessário expelir o vento, dispersar o
frio, eliminar a umidade e nutrir o sangue. Para extinguir o vento: tratar o sangue, se está
harmônico o vento será automaticamente expelido.
1.5.2.3 Fator exógeno Frio
Para o tratamento de SOD tipo frio cujo a dor é característica severa em uma
articulação faz-se necessário dispersar o frio, mas também expelir o vento e secar a umidade.
E, ainda tonificar o fogo (se o fogo se move o frio vai, a circulação correta remove a dor)
(Xuemei & Jingyi, 2012).
DORES NAS ARTICULAÇÕES
HÁ HISTÓRIA DE INVASAO DE FAOTRES PATOGENICOS?
A DOR ESTÁ REALCIONADA COM ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS ?
SIM
QUAL O FATOR PATOGÊNICO?
HÁ SINTOMAS LOCALIZADOS NA ARTICULAÇÃO?
OBSTRUÇÃO DOLOROSA -
FATOR PATOGÊNICO ESTÁ NA ARTICULAÇÃO
DISTÚRBIO MODERADO
VENTO
(Dor tipo móvel)
FRIO
(Dor tipo fixa)
10
Figura 3. Princípios de diagnósticos para obstrução Dolorosa (Xuemei & Jingyi, 2012).
FONTE: Xuemei & Jingyi (2012).
GERANDO DOR NO MERIDIANO
E DESCONFORTO
OBSTRUÇÃO DO QI E DO SANGUE
OBSTRUÇÃO DOS
MERIDIANOS
AFETA A FUNÇÃO DOS
ÓRGÃOS, TENDÕES E OSSOS DA SEGUINTE MANEIRA:
VENTO (FÍGADO), FRIO
(RIM) E UMIDADE (BP)
APÓS UM PERÍODO
PROLONGADO DE EXPOSIÇÃO AO VENTO OU
FRIO POR TRABALHAR OU
VIVER EM AMBIENTE FRIO
OU UTILIZAR ROUPAS
INADEQUADAS
11
2.0 OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Aliviar as dores nas regiões da coluna (cervical e lombar), quadris (região coxofemoral)
e pés (dorso superior) da paciente por meio do tratamento com Acupuntura, Ventosaterapia,
Craniopuntura, Moxaterapia e Auriculoterapia.
2.2 Objetivos Específicos
- Melhorar a qualidade de vida da paciente após tratamento;
- Aliviar os demais sintomas como câimbras, medo, preocupação e fobias.
- Procurar homogeneizar o padrão de manifestações clínicas com base num diagnóstico estrito
e conclusivo de Medicina Tradicional Chinesa (MTC).
- Estabelecer um protocolo de tratamento de acupuntura para o quadro álgico na região
coxofemural.
12
13
3.0 METODOLOGIA
3.1 Entrevista e Anamnese
A paciente era mulher, caucasiana, 66 anos de idade, viúva, estatura mediana com
aproximadamente 1,68 de altura, 59 Kg, comunicativa, com sintomas depressivos leves.
O histórico da paciente retrata um trabalho físico árduo com jardinagem durante 10 anos,
trabalhou numa fábrica de conservas (exposição a água quente e fria) e cuidou do marido por
mais de 10 anos com mal de Parkinson. A profissão de jardinagem consistia em plantar, cortar
e desenterrar blocos de grama do chão, colocando-os no carrinho de mão e levando até o
caminhão. Portanto, movimentos repetitivos e pesados ocorreram desde o período da
adolescência até sua aposentadoria. Hoje, a paciente relata de muitas dores nos ossos: ¨Na
ossada toda, não tem aonde não me doa¨. As dores são irradiadas pela canela e vão até os
pés, principalmente o pé esquerdo e eventualmente câimbras no peito do pé esquerdo.
Tabela 2. Resumo da ficha de anamnese com entrevista da paciente.
Investigação Sintomas
Alimentação Nutrição: Inapetência, sem preferência de sabores.
Digestão: Azia (faz uso de Omeprazol).
Hidratação: sente muita sede, água em temperatura ambiente.
Eliminações Intestinal: constipação e hemorróidas.
Sudorese: espontânea, noturna (na cabeça).
Urinária: normal.
Sem Menstruação, corrimento e expectoração.
Dor Tipo: Migratória, pontada e fisgada.
Intensidade: permanente e migratória.
Dor na articulação temporomandibular (ATM).
Dor dos ossos na região da coluna, principalmente na cervical e lombar.
Dores no quadril na região coxofemoral.
Dores nos pés (parte superior).
Dor de cabeça, dores na nuca, enxaqueca.
Artrite nas mãos.
Sensação térmica Sensibilidade: calor.
Calor: na cabeça.
Cabelos e unhas Unhas: fracas.
Sintomas Shen Situação profissional: aposentada.
14
Relações familiares: normal.
Situação econômica: estável.
Relações sociais: normal.
Exame físico Cabeça: dores ao redor dos olhos, enxaqueca e cefaléia.
Tronco/dorsal coluna: cervical e lombar.
Ventral torácica: flancos e fossa ilíaca.
Membros superiores e inferiores: câimbras e tendinite.
Tremores: ausente.
Visão: fraca. (catarata no olho direito)
Audição normal (zumbido foi relatado posteriormente).
Boca: normal.
Paladar: amargo.
Sono: insônia.
Humor: tristeza, medo, saudades, deprimida.
Lábios: pálidos.
Olfato: normal.
Cheiro: normal.
Arritmia cardíaca.
Compleição Face: Opaca.
Língua Cor: Áreas avermelhadas (ao redor).
Tamanho: fina e longa.
Saburra: ausente.
Característica: seca.
Circulação Hipertensão e palpitação.
Parestesia Pés e mãos
Estado emocional Ansiedade
Nervosa e agitada
Angústia
Claustrofobia
Mágoa oculta
Medo da morte
Medo de abandono
Preocupação
Solidão
Timidez
Fobia
Medicamentos Hipertensão (Atenalol), Depressão (Ametriptilina), Purá (Hipertireoidismo).
15
Os laudos dos exames médicos foram apresentados no final do tratamento, os quais
contataram: bursite no quadril direito e tendinite no quadril esquerdo.
3.2 Diagnóstico
O diagnóstico foi baseado no relato da paciente e na ficha de anamnese (Anexo 01) e
em seguida foi realizado um estudo utilizando os livros: Carlos Nogueira Pérez (2002), Ysao
Yammamura (2004), Maciocia (2006) e Maciocia (1996).
3.3 Tratamento de Acupuntura
O tratamento consistiu em tratar as dores na região das costas e quadril e nas demais
regiões (pés), bem como, os sintomas psíquico-emocionais. Vale ressaltar que a paciente
relatava novos sintomas a cada sessão, assim, novos pontos de acupuntura foram adicionados
no decorrer do tratamento (dores no joelho e artrite nas mãos).
O tratamento foi realizado em 13 sessões de acupuntura, sendo 2 vezes na semana,
com duração de 1 hora, sendo 30 minutos de Acupuntura e 30 minutos com outras terapias da
Medicina Tradicional Chinesa (Cranioacupuntura, Moxaterapia, massagem, Ventosaterapia e
Auriculoterapia).
O princípio do tratamento foi Tonificar o Qi e o Xue do Fígado e o Rim Yin e dispersar o
Vento e Aquecer o Frio, os quais foram utilizados os pontos relacionados abaixo.
Tabela 3. Resumo do tratamento realizado em cada sessão.
Prática clínica
1ª Consulta
Data do tratamento: 05/08/2014
Acupuntura: VB41, F8, F2, F13, BP6, B18, B62, F14, F5, VB40, VB34, F3, VC3, R3, R7,
R10, VB25, VC4, PC46D, R23, R1, R2, VG20.
Auriculoterapia: pontos para lombar, quadril, rim, nádegas, fígado, vesícula (NEVES, 2010).
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1 (YAMATO, 2007).
2ª Consulta
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Data do tratamento: 07/08/14
Acupuntura: ID3, VG20, IG4, IG11, R3, R7, R10, BP6, VC4, VB25, QUIMEN E, F14, VB24,
F8, F3, VC17, VC12, VB34 e E36.
Auriculoterapia: pontos para SHEMEM, rim, fígado, pontos para ansiedade e neurastenia,
vesícula, coluna cervical (NEVES, 2010).
Cromoterapia: cor azul no quadril (articulação direita) – 30 minutos.
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1 (YAMATO, 2007).
3ª Consulta
Data do tratamento: 12/08/14
Acupuntura: VG20, R10, VB20, ID4, B60, B62, IG11, IG4, VB34, VB31, VB30, E29, E29,
VB25, R3, R7, BP6, B17, B18, B 19, IG4, B23 e VB39.
Auriculoterapia: pontos para nádegas, quadril, rim, ciático, SHEMMEN, simpático, vértebras
lombrosacrais (NEVES, 2010).
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1 (YAMATO, 2007).
4ª Consulta
Data do tratamento: 14/08/14
Acupuntura: VB41, B19, BB24, VB43, VB38, VB34, VB31, VB29, VB20, VB21, VG20, IG4,
B60, B40, B36, B56, B12, R7, R3BP6, B37, VB30, B28 e IG11.
Auriculoterapia: pontos para coluna, lombar, fígado, vesícula, rim, coração, quadril (NEVES,
2010).
Massagem com ventosa quente nos meridianos da Bexiga, Vesícula Biliar, Intestino Delgado
e Triplo Aquecedor, além de massagear o quadril e a região cervical.
5ª Consulta
Data do tratamento: 19/08/2014
Acupuntura: TA5, F13, BP6, B18, F14, F5, VB40, VB34, R3, 7, 10, VB25, VC4, PC46
DIREITA, VC3, R23, R1, R2 eVG20.
Auriculoterapia: pontos para rim simpático, coluna, quadril, fígado, vesícula, área
neurastemia (duas orelhas) (NEVES, 2010).
6ª Consulta
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Data do tratamento: 20/08/2014
Acupuntura: TA5, F13, BP6, B18, F14, F5, VB40, VB34, R3,7, R10, VB25, VC4,
PC6DIREITO, VC3, R2, R3, R1e VG20.
Auriculoterapia: não foi realizado.
Massagem manual em toda região das costas, nádegas, coxas, pernas e pés, incluindo
ventosaterapia nos mesmos locais acima citados.
7ª Consulta
Data do tratamento: 26/8/2014
Acupuntura: TA5, F13, F14, VB25, R1, R2, R3, R7, F8, F5, VB40, VB34, VC4, VC6, R23,
VG20 e VC12.
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1 (YAMATO, 2007).
8ª Consulta
Data do tratamento: 27/08/2014
Acupuntura: VG20, VC12, VC4, pontos joelho (EDING, NEIXIANG, LIANGQIU), R3, R7, E36,
BP6, VB34, E37 e E25.
9ª Consulta
Data do tratamento: 28/08/2014
Acupuntura: VG20, VC12, VC4, pontos joelho (EDING, NEIXIANG, LIANGQIU), R3, R7, E36,
BP6, VB34, E37, E25.
10ª Consulta
Data do tratamento: 02/09/2014
Acupuntura: VG20, IG11, VC12, F3, VB25, IG11, VC4, Joelho Direito, VB34, E36, R3, VB31,
+ Pontos Ashi, VB41, VB39, BP1-11 (ASHI) e VB29.
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1(YAMATO, 2007).
11ª Consulta
Data do tratamento: 03/09/2014
Acupuntura: R1, R7, VB41, VB34, VB30, VB31, Ponto Ashi quadril direito, VB25, VG4, B17,
B18, B11, VB20 e VG20.
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12ª Consulta
Data do tratamento: 16/09/2014
Acupuntura: VG20, VB20, VB30, VB33, VB34, B23, B40, B60, B62, B37, B37e R3.
Moxaelétrica por 20 minutos.
13ª Consulta
Data do tratamento: 23/09/2014
Acupuntura: F3, VB41, B62, VB34, E36, IG4, IG11, VG20, VC17, F13 eVB20.
Moxaterapia em todos os pontos e VB26, VB27 e VB28.
Craniopuntura: foram aplicados os pontos para tratamento do lombar ponto D, linha D, ponto
F. Tratamento da cervical com ponto A1 (YAMATO, 2007).
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4.0 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Diagnóstico
A paciente não levou os laudos médicos, portanto, o diagnóstico foi realizado com base
no relato da paciente. Para facilitar o diagnóstico, a paciente assinalou em uma tabela seus
desequilíbrios psicológicos e físicos, os quais, posteriormente, foi realizado um estudo com
intuito de indicar quais os órgãos mais afetados da paciente, resumido na Tabela 3.
Tabela 4. Relação dos desequilíbrios psicológicos e físicos relatados com seus órgãos e
meridianos correspondentes estudados de acordo com o quadro da paciente.
Estados psicológicos Órgão ou Meridiano
Ansiedade Fígado
Claustrofobia Rim
Depressão Fígado e Pulmão
Mágoa oculta Fígado
Medo da morte e do abandono Rim
Preocupação (filho longe) Baço pâncreas
Ressentimento Fígado
Solidão Pulmão
Timidez Rim
Estados físicos Órgão
Artrite Fígado e Rim
Arritmia cardíaca Coração/ Mestre do Coração
Câimbras Fígado
Colesterol alto Baço pâncreas
Coluna vertebral Rim
Enxaqueca Fígado
Dores musculares Fígado
Dor na nuca Vesícula e Bexiga
Hemorroidas Intestino grosso
Insônia Fígado e coração
Quadris Vesícula e Rim
Pressão Alta Coração
Após a relacionar cada desordem relatada com o respectivo meridiano ou órgão foi
possível verificar que o Fígado destacou-se (mais desordens) com quadros de depressão,
câimbra, ansiedade, mágoa, ressentimento entre outros, seguido pelo Rim com medos, coluna,
20
quadril (ossos), claustrofobia foram os dois órgãos mais afetados. Portanto, esses dois órgãos
foram alvos do tratamento da paciente.
De acordo com estudo de caso do paciente foi possível chegar no seguinte diagnóstico,
afetando dois grandes órgãos:
(i) Fígado:
- Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN QI XU) (= Vazio de Qi do Fígado -
GAN QI XU)
- Síndrome de Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU) (= Vazio de Sangue
do Fígado -GAN XUE XU)
(ii) Rim:
- Síndrome de Insuficiência de Rin Yin (SHÉN)
(iii) Fígado e Rim:
- Síndrome de Obstrução Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim)
4.1.1 Fígado
Com relação ao desiquilíbrio do Fígado, ele divide-se em Insuficiência, Plenitude,
Estancamento e Extases . De acordo com sintomas, foi identificado que a paciente estava com
quadro de Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN QI XU) em que a paciente
apresentava os seguintes sintomas característicos: face sem brilho, desbotada, olhos parados,
lábios pálidos, facilmente assustada, surdez entre outros. A Síndrome de Insuficiência de Qi de
Fígado gera alterações da interelação (insuficiência de rim), plenitude de pulmão, plenitude
crônica de vesícula, vazio de sangue, debilidade congênita ou adquirida (fatores dietéticos,
enfermidades virais) etc. Nesse caso, o baço e o pulmões atacam o Fígado.
21
Figura 4. Ciclo de assistência e controle de Síndrome de Insuficiência de Qi do Fígado (GAN
QI XU) e Síndrome de Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU). Em laranja estão
representados os órgãos que compõem o ciclo de assistência e em azul, o controle.
A paciente também apresentou outros sintomas característicos de Síndrome de
Insuficiência de Sangue do Fígado (GAN XUE XU) (= Vazio de Sangue do Fígado -GAN XUE
XU). De acordo com a etiologia, este quadro pode ser surgido a partir de hemorragia,
enfermidade prolongada que lesiona o sangue do fígado. Os sintomas clínicos são: olhos
secos, visão borrada, dores nas costas, intumescimento dos membros, contratura com
limitação articular, parestesia difusa muscular, transtornos do sono, etc. De acordo com o
diagnostico ocidental, incluem os seguintes sintomas: anemia, hipertensão, transtornos
menstruais, hepatite, problemas nos olhos.
4.1.2 Rim
De acordo com a anamnese da paciente foi verificado o desiquilíbrio do Rim, onde foi
identificado que a paciente tem a Síndrome de Vazio de Rim Yin devido aos sintomas nos cinco
centros e alterações ósseas.
O Rim Yin pode ser resumido de duas maneiras: congênito ou adquirido. De acordo
com os sintomas da paciente ela enquadra-se no Rim Yin do tipo adquirido devido aos
22
seguintes sintomas como lassitude e fadiga, debilidade lombar e dor surda nos joelhos,
acúfenos yin, perda de agudeza visual, sequidade de boca, sensação de calor no tórax,
sudorese noturna, entre outros.
A insuficiência do Rim Yin pode desencadear síndromes relacionados com os ciclos de
assistência e controle. No caso de assistência, o Pulmão (mãe do Rim) e o Fígado (filho do
rim), e do controle o Coração é controlado pelo Rim. Assim, o Rim estando deficiente ele gera
fogo no fígado, gerando tensão muscular, agitação interna, cefaléia, insônia, irritabilidade,
tensão ocular, etc.
O ciclo de assistência e controle de Vazio de Rim Yin está descrito na Figura 02. Esta
síndrome está relacionada com excesso do elemento fogo (coração), pois o elemento água
(rim) não consegue dominá-lo gerando uma plenitude do fogo cardíaco que está envolvido com
os seguintes sintomas: hipertensão, insônia e euforia, excitação geral, etc. O coração em
excesso de fogo destrói o pulmão, que deve ficar hidratado. Já, o Pulmão destruído rouba a
mãe (Fígado), deixando-o com fogo, este esvai a água do Rim.
23
Figura 5. Ciclo de assistência e controle de vazio de Rim Yin. Em laranja estão representados
os órgãos que compõem o ciclo de assistência e em azul, o controle.
4.2. Tratamento
O tratamento de acupuntura baseou-se em aliviar os principais sintomas de dor
localizados na coluna cervical, lombar, quadris e pés. Posteriormente, a paciente mostrou
outros quadros de dor nos joelhos, mãos e canelas.
Os primeiros resultados apareceram no quarto dia de tratamento (19/08/2014), onde a
paciente relatou que melhorou as dores no quadril e ausência de zumbido no ouvido. Nesta
consulta, foi relatado que a paciente tinha dores no joelho esquerdo (cartilagens) e esporão nos
dois pés, onde foram adicionados novos pontos ao tratamento como pontos EDING,
NEIXIANG, LIANGQIU.
Na sétima sessão (26/08/2014), a paciente relata que não sente mais dor e não toma
mais analgésicos. Na oitava sessão (28/08/2014) a paciente não tem mais problemas para
dormir. Vale ressaltar que como a paciente encontrava-se sem dores, ela realizou tarefas
excessivas em casa como faxinas, o que podem ter interferido negativamente no tratamento,
pois em sessões posteriores a paciente relatou que algumas dores haviam retornado.
Avaliou-se a intensidade da dor por meio de uma escala numérica dolorosa, sendo 0
(ausência de dor) e 10 (dores intensas). A paciente informou que antes do tratamento
(05/08/2014) as dores eram constantes e insuportáveis, considerando o valor entre 8 e 9. Após
o tratamento aplicado, as melhoras na analgesia foram significativas, a qual ela conferiu o valor
entre 0 e 1 (23/09/2014).
24
Vale ressaltar que após quatro meses de tratamento (11/01/2015) a paciente informou
que não sente mais as dores na canela que apareciam no período noturno. As dores no quadril
e na coluna só aparecem quando realiza excessos de atividade doméstica ou levantamento de
peso, sendo que essas dores apresentam menor intensidade que no passado (antes do
tratamento).
Com todos os resultados apresentados foi possível constatar que o diagnóstico foi
realizado corretamente com as síndromes Vazio de Qi do Fígado (GAN QI XU), Vazio de
Sangue do Fígado (GAN XUE XU), Insuficiência de Rin Yin (SHÉN) e Obstrução Dolorosa
Vento-Frio (Fígado/Rim), além da adição de pontos para os novos apresentados. Os pontos de
acupuntura aplicados juntamente com as terapias de cranioacupuntura, moxaterapia,
ventosaterapia e auriculoterapia mostraram uma melhora significativa na dor na paciente,
possivelmente gerada pela harmonização e equilíbrio das energias e do sangue.
25
5.0 CONCLUSÕES
Foi demonstrado que a acupuntura, com base no diagnóstico em MTC, e recorrendo a
métodos de avaliação objetivamente mensuráveis, tem um efeito significativo e
específico sobre a algia nos quadris.
Há correlação linear positiva entre redução de atividade física/doméstica e melhora
sintomática da condição.
Não se definiu o valor da massagem no tratamento por se encontrar apenas uma
pequena aplicação como opção terapêutica.
Com todos os resultados apresentados foi possível constatar que o diagnóstico foi
realizado corretamente com as síndromes Vazio de Qi do Fígado (GAN QI XU), Vazio
de Sangue do Fígado (GAN XUE XU), Insuficiência de Rin Yin (SHÉN) e Obstrução
Dolorosa Vento-Frio (Fígado/Rim), além da adição de pontos para os novos
apresentados.
Estudos clínicos prospectivos controlados são necessários para reafirmar e consolidar
os pontos aplicados para o tratamento da doença.
Os resultados terapêuticos obtidos foram devido ao conjunto de técnicas de
Acupuntura, Moxaterapia, Ventosaterapia, Auriculoterapia aplicadas, portanto, não foi
possível avaliar a eficácia de cada técnica individualmente.
A melhora significativa na dor na paciente é decorrente da harmonização e equilíbrio
das energias e do sangue estabelecidas pelos pontos de Acupuntura VB41, F8, F2,
F13, BP6, B18, B62, F14, F5, VB40, VB34, F3, VC3, R3, R7, R10, VB25, VC4, PC46D,
R23, R1, R2, VG20, bem como pelos pontos de Auriculoterapia para lombar, quadril,
rim, nádegas, fígado, vesícula e pontos de Craniopuntura ponto D, linha D, ponto F e
ponto A1.
26
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6.0 REFERÊNCIAS
AUTEROCHE, B. NAVAILH, P. O Diagnostico na Medicina Chinesa. São Paulo: Andrei, 1992.
CUNHA, Antônio Augusto. Ventosaterapia. São Paulo: ícone, 2011.
INADA, Tesuo. Acupuntura e Moxabustão: Uma coletânea e revisão sobre o Tratamento de
“Cérvico/ Dorso/ Lombar/ Sacro/ Citalgia”, São Paulo, Ícone, 2006.
MACIOCIA, Giovanni. Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa. São Paulo: Roca, 1996.
MACIOCIA, Giovanni. A Prática da Medicina Chinesa: tratamento de doenças com acupuntura
e ervas chinesas. São Paulo: Roca, 1996.
MACIOCIA, Giovanni. Canais de Acupuntura: Uso Clínico dos Canais Secundários e dos Oito
Vasos Extraordinários. São Paulo: Roca, 1996.
PÉREZ, Carlos Nogueira. Acupuntura I - Fundamentos de Bioenergética. Anatomia e Fisiologia
em Acupuntura –TOMOI. Espanha: C.E.M.E.T.C S.L, 2010.
ROSS, Jeremy. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave para o êxito clínico. São
Paulo: Roca, 2003.
VERET, Patrick. A Medicina Energética. Rio de Janeiro: Distribuidora Record de Serviços de
Imprensa SA, 1981.
YAMAMURA, Ysao. Tratado de Medicina Chinesa. São Paulo: Roca, 1993.
YAMAMURA, Ysao. Manual de Medicina Chinesa- Acupuntura. Apostila da Escola Paulista de
Medicina: São Paulo, 1994.
YAMAMURA, Ysao. Acupuntura Tradicional: A arte de Inserir. 2. ed. São Paulo: Roca, 2004.
YAMAMOTO, Toshikatsu; YAMAMOTO, Helen; YAMAMOTO, Michiko Margaret. Nova
Craniopuntura de YAMAMOTO. São Paulo: Rosa, 2007.
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