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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5 GRUPO I – CLASSE IV – Plenário TC 019.364/2010-5 Natureza: Tomada de Contas Especial. Órgão: Ministério da Pesca e Aquicultura. Responsáveis: Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais (05.437.758/0001-05); Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (841.807.494-91); Daniel Lima Costa (411.055.914-68); Everilda Brandão Guilhermino (020.783.874-79); Felipe Matarazzo Suplicy (134.522.258-01); Instituto Exato (06.241.431/0001-26); Instituto Ibradim (02.244.999/0001-40); Instituto Oceanus – AL (02.448.123/0001-15); Paulo Roberto Nunes Calaça (309.988.834-68). Advogados constituídos nos autos: Nathália de Araújo e Silva Oliveira de Oliveira (OAB/AL 10.728), Arlindo Ramos Junior (OAB/AL 3.531), Delson Lyra da Fonseca (OAB/AL 7390), Alex Purger Richa (OAB/RJ 87.147), e Márcio Cássio Medeiros Góes Júnior (OAB/AL 8.266). Sumário: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. NÃO ATINGIMENTO DO OBJETO. DESVIO DE RECURSOS. INFRAÇÃO À NORMA LEGAL. CITAÇÃO. REVELIA DE TRÊS DOS RESPONSÁVEIS. REJEIÇÃO DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA APRESENTADAS. IRREGULARIDADE DAS CONTAS. DÉBITO. MULTA. INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO DE CONFIANÇA NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. REMESSA DE CÓPIA AO MPU. RELATÓRIO A presente tomada de contas especial foi instaurada pela Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da Presidência da República (Ciset-PR), em razão da não execução do objeto relativo ao Convênio 8/2005 (peça 2, fls. 5-10), Siafi 523005, celebrado entre a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) e o Instituto Oceanus. 2. O convênio, no valor total de R$ 1.435.751,10, sendo R$ 1.292.176,00 da União e R$ 143.575,10 de contrapartida, tinha por objeto dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

GRUPO I – CLASSE IV – PlenárioTC 019.364/2010-5Natureza: Tomada de Contas Especial.Órgão: Ministério da Pesca e Aquicultura.Responsáveis: Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais (05.437.758/0001-05); Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (841.807.494-91); Daniel Lima Costa (411.055.914-68); Everilda Brandão Guilhermino (020.783.874-79); Felipe Matarazzo Suplicy (134.522.258-01); Instituto Exato (06.241.431/0001-26); Instituto Ibradim (02.244.999/0001-40); Instituto Oceanus – AL (02.448.123/0001-15); Paulo Roberto Nunes Calaça (309.988.834-68).Advogados constituídos nos autos: Nathália de Araújo e Silva Oliveira de Oliveira (OAB/AL 10.728), Arlindo Ramos Junior (OAB/AL 3.531), Delson Lyra da Fonseca (OAB/AL 7390), Alex Purger Richa (OAB/RJ 87.147), e Márcio Cássio Medeiros Góes Júnior (OAB/AL 8.266).

Sumário: TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. CONVÊNIO. NÃO ATINGIMENTO DO OBJETO. DESVIO DE RECURSOS. INFRAÇÃO À NORMA LEGAL. CITAÇÃO. REVELIA DE TRÊS DOS RESPONSÁVEIS. REJEIÇÃO DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA APRESENTADAS. IRREGULARIDADE DAS CONTAS. DÉBITO. MULTA. INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO OU FUNÇÃO DE CONFIANÇA NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. REMESSA DE CÓPIA AO MPU.

RELATÓRIO

A presente tomada de contas especial foi instaurada pela Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da Presidência da República (Ciset-PR), em razão da não execução do objeto relativo ao Convênio 8/2005 (peça 2, fls. 5-10), Siafi 523005, celebrado entre a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) e o Instituto Oceanus.2. O convênio, no valor total de R$ 1.435.751,10, sendo R$ 1.292.176,00 da União e R$ 143.575,10 de contrapartida, tinha por objeto dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas, com vigência para o período de 5/5/2005 a 31/12/2005 o qual foi prorrogado até 31/10/2006 (peça 3, fls. 27-28).3. Feitos esses registros iniciais, incorporo a este relatório a bem detalhada instrução da Secex/AL (peça 88, fls. 1/71) que descreveu os fatos, analisou as alegações de defesa apresentadas e consignou proposta de encaminhamento.

“INTRODUÇÃO1. Trata-se de tomada de contas especial instaurada intempestivamente pela Secretaria

de Controle Interno da Casa Civil da Presidência da República (Ciset-PR), em razão da não execução do objeto relativo ao Convênio 8/2005 (Peça 2, p. 5-10), Siafi 523005, celebrado entre a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) e o Instituto Oceanus. O convênio tinha por objeto dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas, com vigência para o período de 5/5/2005 a 31/12/2005 o qual foi prorrogado até 31/10/2006 (Peça 3, p. 27-28).

2. A avença foi celebrada no valor total de R$ 1.435.751,10, sendo R$ 1.292.176,00 da União. Deste total, R$ 1.063.302,00 foi repassado em 16/5/2005 (Peça 2, p. 38-39) e

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R$ 228.874,00, em 29/12/2005 (Peça 2, p. 154). A contrapartida do Instituto Oceanus foi avençada em R$ 143.575,10, conforme plano de trabalho aprovado (Peça 2, p. 16-26).

HISTÓRICO3. O convênio tinha por objetivo, a implantação de unidades demonstrativas e

produtoras de ostras e algas marinhas, organizando comunidades litorâneas de pescadores artesanais, através de práticas de empreendedorismo, associativismo e cooperativismo voltados para a produção solidária, cujo plano de trabalho estabelecia duas metas: a primeira referia-se à elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM) e a segunda dizia respeito à implantação de unidades demonstrativas de cultivo de ostras e algas marinhas, abrangendo os municípios do Litoral Norte e Sul, no Estado de Alagoas.

4. Inicialmente, em 15/12/2005, por meio do Ofício 235/2005, a Srª Everilda Brandão Guilhermino, então Presidente da Organização Não-Governamental Projeto Oceanus – que foi posteriormente alterada para Instituto Oceanus -, apresentou um relatório descritivo das atividades desenvolvidas pela Instituição e a respectiva prestação de contas parcial (Peça 4, 8-106).

4.1. No supracitado Relatório de Atividades, relativo ao período de 5/5/2005 a 30/11/2005, foi apresentado um mapa com a localização dos dez municípios do Estado de Alagoas que seriam beneficiados com o Projeto. Dividido em duas etapas, o Projeto Oceanus tinha por objetivo a confecção de dez Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDMs) e a implantação de dez Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras, sendo ambos para cada município. No entanto, pelo conteúdo da prestação de contas parcial, no tocante aos dez PLDMs, naquela data, 15/12/2005, nenhum PLDM havia sido confeccionado.

4.2. Relativamente à aquisição de equipamentos e material de consumo, o aludido Relatório relatou que ‘foram adquiridos diversos equipamentos, bens e insumos previstos no Plano de Trabalho e necessários a execução dos trabalhos nos municípios’ (Peça 4, p. 12). Além disso, citou que haviam sido iniciados os trabalhos de levantamento de informações bibliográficas, de coletas de dados de natureza social, econômica e ambiental.

4.3. Sustentou, também, que, devido à falta de disponibilidade de informações oficiais e atualizadas sobre os estuários e as áreas marinhas existentes nos municípios selecionados para a implantação, a equipe de campo necessitou realizar cem por cento das atividades de coleta para subsidiar a elaboração dos PLDMs. Desse modo, foi necessário acrescentar tempo, recursos e serviços adicionais, acarretando a necessidade de solicitação de termo aditivo. Por fim, o Relatório de Atividades definiu, no tocante à confecção dos PLDMs, terem sido alcançados cinqüenta por cento dos objetivos previstos no Convênio (Peça 4, p. 13-14).

4.4. No que tange à implantação das Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras, menciona o Relatório de Atividades (Peça 4, p. 16), in verbis:

Foram contratadas duas instituições do terceiro setor para a execução dos serviços concernentes à assistência técnica e à capacitação previstas para implantação das unidades demonstrativas, a saber: a Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS) e o Instituto Exato. As instituições contrataram especialistas de diversas áreas para a execução dos trabalhos, que, por sua vez, indicaram estagiários para apoio as atividades de campo, pesquisa e de laboratório.

4.5. Descreveu que haviam sido iniciados os trabalhos de levantamento de informações de natureza social, econômica e ambiental. Sustentou, também, que estava sendo promovido o cadastramento das famílias e o levantamento do perfil sócio-econômico das comunidades envolvidas. Mencionou o Relatório que já havia sido feito o cadastramento de 337 famílias de sete municípios para o engajamento no Projeto e esperava-se, ao final, alcançar a meta de quatrocentas famílias nos dez municípios beneficiados. Nos municípios restantes, buscava-se concluir a etapa de implantação nos meses de janeiro e fevereiro de 2006 (peça 4, p. 18).

4.6. No que tange aos cursos, explanou que já haviam sido ‘realizados sete cursos de capacitação e três seminários regionais sobre maricultura, com participação de grande número de instituições, órgãos e da sociedade civil’. Salientou que a Equipe do Projeto Oceanus havia

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participado da Fenaostra em Florianópolis/SC, onde se promoveu a divulgação dos trabalhos desenvolvidos e a apresentação de ostras originárias do Estado Alagoas (Peça 4, p. 19).

4.7. Salientou que foram realizadas visitas técnicas a diversos estados e países, incluindo reuniões em Brasília, com o objetivo de promover a articulação institucional para fortalecimento e ampliação da atividade no estado e na região nordeste (Peça 4, p. 20). Ressaltou o êxito do Projeto Oceanus com a inclusão de Alagoas no patamar de Estado produtor de ostras.

4.8. Finalmente, em seu Anexo I – Relatório de Execução Física, consta que a atividade de confecção dos PLDMs (Meta 1) não alcançou qualquer resultado, estando a meta realizada na condição zero (Peça 4, p. 23-25). No que se refere à Implantação das Unidades (Meta 2), o supracitado Anexo I, menciona a execução de sete de uma meta originalmente prevista de dez unidades (Peça 4, p. 26). Na data da prestação de contas parcial, já teria sido gasto o valor total de R$ 1.177.053,14 (Peça 4, p. 28).

5. Em seguida, no âmbito da Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR), foi produzido o Parecer 7/2006-COGPA/DIGEAI/SEAP-PR, de 10/2/2006, que continha um exame preliminar da referida prestação de contas parcial. Nesta análise, o Analista ressaltou a falta de documentação fiscal e que cheques de pagamento não foram juntados, fato que dificultava a comparação entre o que havia sido previsto e o que efetivamente se executou no Projeto. Destacou, também, as explicações fornecidas pela chefia do Escritório da Seap de Alagoas, em seu Memo/Circular/SEAP/PR/AL 1/2005, datado de 27/9/2005, no qual justificou ‘a impossibilidade de emitir parecer sobre o empreendimento em face da omissão de informações por parte do convenente’. Em conclusão, recomendou uma nova visita técnica da Seap/AL com o objetivo de opinar sobre o andamento do Projeto Oceanus, tendo livre acesso aos documentos e aos locais de implantação das ações (Peça 4, p. 108-109).

5.1. Outrossim, em 9/3/2006, o Sr. Felipe Matarazzo Suplicy, Coordenador-Geral de Maricultura da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, elaborou um Relatório de Viagem de sua visita in loco e acompanhamento do Projeto Oceanus, onde destacou os pontos a seguir (Peça 4, p. 128-133):

a) cada consultor fez uma apresentação dos trabalhos executados e resultados relacionados com os itens que compõe a elaboração do PLDM, de acordo com a IN 17/2005;

b) uma lista dos itens do PLDM e a situação em que se encontra o trabalho em cada um destes está anexada a este relatório;

c) de maneira geral, foi possível constatar que a elaboração dos PLDM está evoluindo satisfatoriamente com uma boa parcela dos itens previstos já realizados ou em fase final de realização;

d) alguns itens ainda não foram iniciados, porém, estes são, em geral, aspectos que independem de coleta de dados, mas sim de redação e compilação de informações bibliográficas;

e) a necessidade de conclusão da redação do PLDM;f) realizou uma visita in loco na comunidade Mangue no município de Barra de São

Miguel/AL, ressaltando que existiam 20 famílias envolvidas no Projeto; eg) as Unidades Demonstrativas de Maricultura estavam sendo instaladas em mais nove

comunidade de Alagoas e envolvendo cerca de trezentas famílias;6. Em 15/5/2006, por meio de visita in loco, foi produzido o primeiro Relatório de

Avaliação do Projeto Oceanus pelo Sr. Paulo Roberto Nunes Calaça, à época, Chefe do Escritório da Seap/AL (Peça 4, p. 113-124).

6.1. No tocante aos resultados alcançados, segundo o supracitado Relatório, temos o seguinte:

a) Meta 1 – Elaboração dos PLDMs – 70% dessa ação foi executada;b) Meta 2.1 – Implantação das Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e Algas

Marinhas – 80% dessa ação foi executada;

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c) Meta 2.2 – Capacitação, treinamento e transferência de tecnologia de cultivo; realização de cursos, seminários, encontros, visitas técnicas, aulas de campo; elaboração de material informativo – 90% dessa ação foi executada;

d) Meta 2.3 – Incentivo à comercialização e escoamento da produção – 90% dessa ação foi executada; e,

e) Meta 2.4 – Promoção de intercâmbio através da realização de visitas técnicas; divulgação e aprimoramento tecnológico, participação em festivais, feiras e eventos; veiculação e manutenção de site institucional – 90% dessa ação foi executada;

6.2. Sustenta, ainda, o referido Relatório de Avaliação, em relação ao estágio de implantação nas localidades que seriam beneficiadas, que (Peça 4, p.120-122):

a) Barra de São Miguel – maior produtor de ostras, com capacidade de produção de trinta mil dúzias ostras/colheita. Além disso, trinta famílias trabalhavam diretamente no cultivo, que já era responsável pela maior fonte de renda das mesmas. Foi implantado, em janeiro de 2006, o ‘Maria Vai com as Ostras’, e duas embarcações do Projeto realizam o turismo das ostras;

b) Coruripe – segundo maior produtor de ostras de Alagoas, com capacidade de produção de dez mil dúzias ostras/colheita. Além disso, 20 famílias trabalhavam diretamente no cultivo;

c) Marechal Deodoro – estavam sendo escolhidas a área e a comunidade. A implantação estava prevista para o 2º trimestre de 2006;

d) Maceió – 25 famílias estavam envolvidas no cultivo;e) Paripueira – foi implantada a primeira unidade de depuração marinha de ostras. Além

disso, cinco famílias estavam trabalhando no cultivo;f) Barra de Santo Antônio – a Unidade Demonstrativa ainda não havia sido implantada;g) Passo de Camaragibe – terceiro maior produtor de ostras do Estado. Além disso, vinte

famílias trabalhavam na atividade. O município sediou o 3º Seminário Alagoano de Maricultura;h) Porto de Pedras – estava sendo escolhida a comunidade para a implantação;i) Japaratinga – 25 famílias estavam envolvidas no cultivo; e,j) Maragogi – 25 famílias estavam envolvidas no cultivo. Foi realizado curso de artesanato

do mar.6.3. Como conclusão, o Relatório de Avaliação destaca o ‘êxito dos objetivos do Projeto

Oceanus’. Ressalta, por fim, a necessidade da continuação dos investimentos e a sustentabilidade do Projeto no campo social, ambiental, econômico-financeiro e técnico.

7. Por outro lado, o Parecer 49/2006, de 2/6/2006, não obstante as considerações levantadas pela visita in loco supracitada, reiterou a necessidade da apresentação dos comprovantes fiscais e de pagamentos por parte da convenente (Peça 4, p. 125-126).

8. De acordo com o Relatório de Fiscalização 20/2006 da Ciset-PR, de 22/12/2006, referente à visita in loco realizada entre 28 e 29/8/2006, foi verificada (Peça 3, p. 53-61):

8.1. a previsão do término do objeto, segundo o cronograma de execução, era dezembro de 2005, entretanto, em 9/11/2005, a convenente solicitou prorrogação de prazo por 180 dias, onde, em atendimento, estendeu-se a vigência do convênio até 30/6/2006 por meio do primeiro Termo Aditivo;

8.2. nova prorrogação de prazo de 180 dias foi solicitada pela convenente, sendo assinado o segundo Termo Adito em 30/6/2006, mesmo sem Parecer Técnico, o qual só veio a ser confeccionado em 3/7/2006, posteriormente à assinatura do instrumento;

8.3. o referido Parecer Técnico não foi submetido à Assessoria Jurídica da Casa Civil, embora, na alínea a do inciso IV do art. 18 do Regimento Interno e no inciso VII do art. 16 do Decreto 5.135/2004, houvesse a respectiva previsão normativa;

8.4. dentre as constatações destacam-se:8.4.1. segundo informado pelo próprio executor, os serviços de elaboração dos planos

encontravam-se com setenta por cento de execução, no entanto a equipe de fiscalização não conseguiu aferir o quantitativo em face da inexistência dos produtos inerentes a diversas etapas/fases dos trabalhos previstos;

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8.4.2.conforme a mesma fonte, houve atraso na elaboração dos PLDMs em virtude da falta de resultado de análise de água, não conclusão dos estudos estatísticos sobre os recursos aquáticos selecionados, não aquisição de imagens aéreas e de satélite e não conclusão do geoprocessamento das áreas. Essa situação, segundo a equipe de fiscalização, ‘pode indicar que a convenente desconhecia a abrangência dos estudos a serem realizados e a real situação dos dados disponíveis e atualizados na esfera estadual e/ou municipal’;

8.4.3. foram solicitados recursos adicionais, no valor de R$ 287.150,22, que se destinariam para execução de atividades necessárias à execução dos PLDMs, justamente as indicadas no subitem anterior;

8.4.4.quanto à Meta 2 [implantação de dez Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e Algas Marinhas], no valor total de R$ 863.565,00, só foi possível aferir a execução das Unidades em dois municípios: Barra de São Miguel e Marechal Deodoro;

8.4.5. embora tivesse havido uma melhoria na condição econômica da Comunidade Palatéia do município da Barra de São Miguel, entrevistada pela Equipe, esta não se mostrou satisfeita com a forma de condução do projeto em virtude dos débitos do convenente, da baixa renda obtida em relação ao que havia sido divulgada pelo convenente e que a implantação do cultivo não foi realizada no âmbito do Projeto Oceanus, mas, sim, pelo Sebrae/AL em parceria com a Prefeitura desde 2004;

8.4.6.os treinamentos previstos no Projeto também não foram realizados, mas foi informado pelos moradores/participantes do projeto, que o Sebrae/AL Ministrou um curso três anos antes aos moradores da região. Segundo os moradores, a comunidade foi escolhida pelo Sebrae em razão de que já sobrevivia do extrativismo de ostras e outros moluscos;

8.4.7.no tocante à Meta 2.2 – capacitação, treinamento e transferência de tecnologia de cultivo para as pessoas selecionadas; realização de cursos, seminários, encontros, visitas técnicas, aulas de campo; elaboração de material informativo (cartilhas, folders, manuais, etc.) – a Equipe de Fiscalização concluiu que não foram implementados os cursos, uma vez que não lhe foi apresentada a documentação comprobatória, tais como: lista de freqüência, relatório de realização, comprovante de entrega de certificados, material didático e outros;

8.4.8. salientou que estavam previstos quatro seminários, mas foram apresentados folderes referentes a três eventos: Maceió, em 13/9/2005; Coruripe em 8/11/2005 e São Miguel dos Milagres em 6/12/2005. Contudo, foi entregue à equipe apenas duas relações relativas a eventos em Maceió e na Barra de São Miguel/AL. Mas, pesquisa efetuada na internet encontrou apenas um seminário, em Maceió/AL, em setembro de 2006, para 22 pessoas;

8.4.9. entrevistas na Comunidade Palatéia, na Barra de São Miguel/AL, revelou que não foi realizado nenhum seminário ou treinamento para aquela Comunidade;

8.4.10. no que se refere à Meta 2.3 – incentivo à comercialização e escoamento da produção; aquisição de equipamentos e de veículo para escoamento da produção e contatos com potenciais compradores – foi verificada a existência de cerca de trezentas mesas na Lagoa do Roteiro, com cerca de duzentas mil unidades de ostras prontas para comercialização, mas que não tinham condições de escoamento da produção por falta de mercado comprador, já que a venda se limita aos finais de semana, feriados e alta temporada. Segundo o coordenador do Projeto, tentava-se a instalação de barracas móveis para venda permanente de ostras em Maceió/AL, denominada ‘Maria vai com as ostras’;

8.4.11. houve a aquisição de um veículo Fiat Dobló Adventure, porém a falta de identificação do chassi na nota fiscal apresentada não permitiu aferir se o veículo apresentado era o veículo constante da nota fiscal;

8.4.12. foram adquiridos utensílios, mesas e telas de PVC com recursos do convênio e repassados aos pescadores;

8.4.13. a subcontratação das Empresas Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS e Instituto Exato para assistência técnica e capacitação;

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8.4.14. em conclusão, foi relatado que o Projeto Oceanus já apresentava deficiências na coleta e sistematização de dados e informações, nos instrumentos de acompanhamento, monitoramento e avaliação, apontando-se como causas: a falta de capacitação dos beneficiários, a ausência de prestação de assistência técnica e falta de planejamento; e,

8.4.15. dentre as inúmeras providências sugeridas à Seap/PR pela equipe de fiscalização estava a realização de visita presencial aos nove municípios previstos no plano de trabalho e não fiscalizados naquela oportunidade.

9. A apresentação da prestação de contas final ocorreu em 15/3/2007, por meio do Ofício 22/2007-Oceanus, subscrito por Andrea Cristina Kunsler Nogueira, que passou a exercer a Presidência do Instituto Oceanus, contendo os Anexos I, II, III, IV, V e VI (IN/STN 1/1997), cópia dos extratos bancários, despachos adjudicatórios e homologações de licitações, plano de trabalho, convênio e aditivos, comprovante de depósito do saldo e cópia dos comprovantes das despesas realizadas (Peças 5, 6, 7, 8, 9, 10 e Peça 11, p. 2-49).

10. Em virtude das propostas apresentadas na conclusão do Relatório de Fiscalização 20/2006, emitido pela Ciset-PR, em 22/12/2006 (item 8 retro), foi produzido pelo Sr. Felipe Matarazzo Suplicy, Coordenador-Geral de Maricultura da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, o Parecer Técnico COGMAR/DIDAQ/SUDAP/SEAP/PR 205/2007, de 11/4/2007, o qual continha esclarecimentos aos questionamentos feitos no referido Relatório, onde se ressalta (Peça 3, p.71-75):

10.1. no tocante à Meta 1, em 2/3/2006, após reunião realizada na sede da ONG Projeto Oceanus para a avaliação dos projetos elaborados para dez municípios de Alagoas, cada consultor fez uma apresentação dos trabalhos executados e dos resultados alcançados, tendo-se consignado que a elaboração dos PLDMs ‘estava evoluindo satisfatoriamente, com uma boa parcela dos itens previstos já realizados ou em fase final de realização’;

10.2. no entanto, segundo o mesmo Parecer, em junho de 2006, o Coordenador-Geral de Maricultura da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca foi informado por um consultor contratado pelo Projeto que ‘nenhum dos consultores havia recebido os pagamentos pelos serviços prestados e, portanto, não haviam entregado seus produtos finais para o Projeto Oceanus’;

10.3. questionados sobre o tema, a direção do Projeto Oceanus explicou que os estudos realizados foram bem mais abrangentes do que o previamente previsto e acordado, dado ao Estado de Alagoas não dispor de estudos de caracterização ambiental da região costeira e de vários outros serviços técnicos que não estavam previstos no Plano de Trabalho original do Convênio 8/2006;

10.4. informou o Parecer que o Projeto Oceanus solicitou, em novembro de 2005, uma complementação de recursos, no valor de R$ 287.150,22, para a contratação desses serviços, mas foi negado por restrições orçamentárias, o qual comprometeu o pagamento dos consultores e a finalização da etapa de elaboração dos PLDMs;

10.5. no que tange à Meta 2, registrou que em 3/3/2006 houve uma visita às instalações da Unidade Demonstrativa de Maricultura, com cultivo de ostras, da Comunidade do Mangue no município de Barra de São Miguel;

10.6. alertou que, em janeiro de 2005, já havia ocorrido outra visita à Comunidade do Mangue, onde se observou a existência de um produtor e três estruturas de cultivo instaladas, remanescentes de um projeto de 2004 realizado pelo Sebrae/AL e pela Prefeitura de Maceió/AL, e, em março de 2006, existiam vinte famílias trabalhando com o cultivo de ostras no município de Barra de São Miguel;

10.7. durante entrevista realizada pelo Coordenador-Geral, a comunidade se mostrou satisfeita, tendo a renda familiar atingido o patamar de R$ 500,00 mensais durante os meses de verão e existiam 270 estruturas de produção instaladas;

10.8. em seu Parecer, o Coordenador deixou evidenciado que não visitou as demais nove Unidades Demonstrativas previstas no Plano de Trabalho, mas que o Sr. Daniel Costa Lima havia dito que ‘as demais Unidades Demonstrativas estavam sendo instaladas e que elas beneficiariam mais 300 famílias no Estado’;

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10.9. ressaltou que, no primeiro semestre de 2006, o Coordenador Técnico do Projeto, Sr. Fábio Colin, consultor do Sebrae/AL, foi afastado pelo Instituto Oceanus, e que o ‘afastamento prejudicou severamente a continuidade, pois este era a única pessoa que tinha formação na área e experiência em desenvolvimento de projetos de maricultura’;

10.10. em relação à questão comercial, sustentou que havia necessidade de se fazer uma avaliação potencial do mercado antes de se fomentar projetos de cultivo de ostras, mas que esta experiência no Estado de Alagoas não era fator impeditivo, pois, a exemplo do Estado de Santa Catarina, existia possibilidade de expansão para o mercado de ostras;

10.11. no tocante à capacitação, o Coordenador-Geral afirmou que três seminários foram efetivamente realizados, tendo inclusive participado de um seminário em Coruripe em 13/9/2005; no tocante aos dez cursos previstos, sustentou que a direção do Projeto Oceanus não havia enviado documentação comprobatória, mas fotografias;

10.12. em conclusão, o Parecer destacou que, ‘embora a ONG Projeto Oceanus tenha sido bem intencionada na execução do Convênio, o afastamento do Coordenador Técnico do projeto prejudicou sobremaneira a continuidade das ações’ e ‘a não liberação de recursos complementares para pagamento de honorários técnicos’ impediram que a ONG finalizasse os PLDMs;

11. No Parecer Técnico COGMAR/DIDAQ/SUDAP/SEAP/PR 388/2007, de 26/6/2007, o Sr. Felipe Matarazzo Suplicy, Coordenador-Geral de Maricultura da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca e fiscal do Convênio 8/2005, informou que foram percorridas todas as comunidades beneficiadas pelo projeto e se evidenciaram os seguintes aspectos (Peça 3, p. 83-90):

11.1. o projeto não apresentou até a data da emissão do relatório nenhum material relativo aos dez PLDM que deveriam ser elaborados no Estado de Alagoas. Os recursos disponibilizados para essa meta totalizavam R$ 428.611,00, representando 33,2% do valor do convênio;

11.2. a implantação das unidades demonstrativas de cultivo de ostras que estavam programadas para serem implantadas em dez municípios foi realizada apenas em parte dos municípios. As unidades demonstrativas de cultivo de algas marinhas foram implantadas em apenas duas comunidades das dez previstas. Os recursos disponibilizados para esta meta totalizaram R$ 511.201,00, representando 39,6% do valor do convênio;

11.3. não foram elaboradas as cinco mil cartilhas educativas sobre o cultivo de ostras e algas previstos no convênio e para as quais foi disponibilizado R$ 35.000,00;

11.4. não foram realizadas as atividades de incentivo à comercialização da produção prevista no convênio, para as quais foram disponibilizados R$ 110.084,00, representando 8,5% do valor total do convênio;

11.5. não foram viabilizados pontos de venda da produção ou disponibilizados estagiários para atuação nestes, as comunidades não se beneficiaram da compra de um veículo para transporte da produção, não foram adquiridos carrinhos para venda de ostras nas praias ou tendas/estandes para a comercialização em feiras e supermercados.

11.6. o Projeto Oceanus intermediou o comércio de ostras, auferindo lucro com o comércio da produção por meio de um restaurante de propriedade dos coordenadores do projeto, deixando de quitar as dívidas assumidas junto aos produtores que venderam suas ostras para o projeto;

11.7. com a exceção do comparecimento da direção do Projeto Oceanus e montagem de stand do projeto na Feira Nacional da Ostra – Fenaostra, em Florianópolis, não foram realizadas as viagens de intercâmbio nacionais e internacionais para divulgação e aprimoramento tecnológico. Os recursos para essa meta totalizam R$ 94.080,00 (a valores do 2º Termo Aditivo); e

11.8. informou que, de maneira geral, a execução das metas previstas deixou a desejar e as metas realizadas, particularmente em relação à implantação das unidades, não foram realizadas satisfatoriamente e, em conseqüência, foi proposta a instauração de uma tomada de contas especial.

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12. O escritório estadual da Seap em Alagoas realizou uma visita in loco, em 23/8/2007. Em seu relatório explicitou (Peça 3, p. 98-100):

12.1. que havia a pretensão dos comerciantes e prestadores de serviço do Município da Barra de São Miguel/AL de se apropriarem de alguns bens deixados pelo Instituto Oceanus para ressarcimento de dívidas contraídas pela ONG;

12.2. que a ONG OCEANUS contratou a Marina Costa da Barra, do 2º semestre de 2005 até o ano de 2006, para guarda de dois barcos grandes (jangas) e um barco pequeno de alumínio, porém somente recebeu o pagamento relativo ao serviço até o mês de janeiro de 2006, encontrando-se, naquele momento, somente o carrinho de reboque do barco de alumínio;

12.3. que foi contratado um piloto para os barcos Oceanus IV e V, durante nove meses, com o objetivo de levar visitantes para conhecer o cultivo de ostras da Comunidade Palatéia e zelar pela manutenção dos barcos, mas recebeu o salário de apenas um mês e em valor inferior ao acordado;

12.4. o barco OCEANUS IV encontrava-se ao lado do galpão da Marina Costa da Barra, com motor enferrujado, sem fiação e com as cadeiras ausentes ou quebradas; por sua vez, o barco OCEANUS V estava ancorado na Comunidade Palatéia e era utilizado esporadicamente para passeios turísticos; além disso, 31 coletes salva-vidas e o barco de alumínio estavam à disposição da Associação dos Maricultores da aludida comunidade; e

12.5. a Unidade de Beneficiamento de Ostra seria instalada por intermédio de outro projeto, por meio de convênio entre a OCEANUS e o Governo do Estado de Alagoas, dentro do Programa de Geração de Trabalho e Renda do Governo Federal; outrossim, o terreno havia sido cedido pela Prefeitura;

13. Destaque-se que o Ministério Público Federal em Alagoas encaminhou o Ofício 102/2007-GAB/PROS, em 20/8/2007, à Secretaria de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura – Seap-PR, solicitando o envio de toda a documentação disponível referente ao convênio 8/2005 para instruir procedimento administrativo no âmbito daquele órgão (Peça 3, p. 93), recebendo a documentação solicitada em 24/8/2007 (Peça 3, p. 97-103).

14. Em razão da documentação apresentada pela Seap-PR, novamente o Ministério Público Federal se pronunciou em 25/9/2007 e requisitou o parecer final sobre a prestação de contas do Convênio 8/2005, bem como alguns esclarecimentos referentes à documentação apresentada, com o intuito de instruir o Procedimento Administrativo 1.11.000.000801/2007-11 (Peça 3, p. 109-110).

15. Em 5/10/2007, a Seap-PR respondeu que ainda estava em análise a prestação de contas solicitada e, assim, se manifestou (peça 3, p. 111-112):

a) o Projeto Oceanus não apresentou à Seap-PR, até a presente data, nenhum material relativo aos dez PLDM que deveriam ser elaborados no Estado de Alagoas;

b) a implantação das Unidades Demonstrativas de cultivo de ostras que estavam programadas para serem instaladas em dez municípios foi realizada em apenas parte dos municípios (duas comunidades das dez unidades inicialmente previstas);

c) os bens adquiridos estão com o processo de registro patrimonial sendo providenciado pela Seap/PR;

d) a prestação de contas está em análise na Coordenação-Geral de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação – COGPA da Seap-PR, devendo ser concluída dentro de duas semanas; e,

e) em relação à avaliação das comunidades dos municípios, encaminhou-se relatório de viagem de fiscalização realizada entre os dias 16 e 17 de maio de 2007;

15.1. Além disso, destacou em sua resposta: ‘adiantamos que o parecer técnico da Coordenação Geral de Maricultura evidenciou que a execução das atividades previstas não foi realizada em sua grande maioria, solicitando tomada de contas especial do convênio em tela’ (Peça 3, p. 111-112).

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16. Por meio do Parecer 62/2007-COGPA/DIGEAI/AS/SEAP-PR, de 6/12/2007, emitido pela Seap-PR, foi efetuada a análise da prestação de contas da entidade, onde foram consignadas as seguintes impropriedades (Peça 11, p. 51-54):

16.1. dispêndios do projeto no montante de R$ 11.768,41 com taxas bancárias, multas, juros e correção monetária, inclusive, referentes a pagamentos ou recolhimentos fora dos prazos, contrariando o art. 8º da IN/STN 1/1997;

16.2. ausência de inclusão das cópias dos termos de adjudicação e homologação das licitações realizadas ou justificativas para os atos de dispensa e inexigibilidade;

16.3. aquisição de passagens aéreas, locação de veículos e compra de combustível por meio de inexigibilidade ou dispensa do processo licitatório, sem embasamento legal, já que as aquisições se deram durante todo o decorrer da vigência do contrato;

16.4. fracionamento de despesas, como as elencadas no item anterior, para fuga às modalidades de licitação estabelecidas pela Lei 8.666/1993;

16.5. ausência das cópias dos contratos e correspondentes relatórios de execução que impedem o exame quanto ao atendimento do que ficou pactuado, bem assim da certificação do cumprimento das metas contidas no plano de trabalho;

16.6. diversos gastos não previstos no plano de trabalho e, outros, que por sua peculiaridade, não puderam ser correlacionados com os programados, como é o caso da construção de cinco balsas, que não estavam incluídas como empreendimento a ser implementado;

16.7. alguns dispêndios excederam às previsões, sem que houvesse sido comunicado os acréscimos à Seap-PR para a devida aprovação; e,

16.8. por fim, é imprescindível a análise das impropriedades pela área técnica, a fim de que sejam avaliadas as situações comentadas e certificadas, objetivando, junto à convenente, a regularização das pendências e devoluções pertinentes.

17. Em 9/1/2008, a Ciset-PR, com intuito de dar cumprimento ao solicitado pela Procuradoria da República do Estado de Alagoas, emitiu a Nota Técnica (IB/PR) 1/2008 – COFIP-CISET-CC-PR, onde informou que procedera a fiscalização in loco, no período de 11 a 14/12/2007, na sede do Instituto Oceanus, e fora solicitada a documentação relativa à execução do referido convênio. Da análise procedida na documentação a Ciset-PR registrou o seguinte (Peça 11, p. 134-163):

17.1. fracionamento de despesas decorrente da realização de diversas despesas sem licitação, referentes à aquisição de combustíveis, locação de veículos, aquisição de kit rápido para análise da água, aquisição de material para confecção e montagem de mesas para o cultivo de ostras, execução de serviços de fotos aéreas, aquisição de passagens aéreas nacionais e internacionais, aquisição de luvas de PVC e cordas, fabricação e montagem de cinco tendas, aquisição de material de embarcações, coletes salva-vidas, bomba, fabricação de portas de ferro, confecção de redes, etc., cujos valores alcançam o montante de R$ 294.221,02 e extrapolaram o limite permitido para a dispensa de licitação, em desacordo com a Lei 8.666/1993;

17.2. não apresentação de controles de abastecimento de veículos, tais como: controle de quilometragem, itinerário, período de realização, relatório dos serviços executados;

17.3. não apresentação de controles ou identificação dos contratos de locação dos veículos e comprovação de sua utilização dentro do projeto, bem como, ausência de identificação nas notas fiscais, dos veículos locados, de forma a comparar se a prestação dos serviços ocorreu de fato;

17.4. habilitação de empresas para serviços de consultoria de elaboração dos PLDM, sem observação dos procedimentos para inexigibilidade de licitação (atestado de exclusividade de serviços e a publicação do resultado de inexigibilidade), em desacordo com a Lei 8.666/1993;

17.5. ausência de cláusulas estabelecendo valor dos contratos firmados entre a convenente e as entidades: Instituto Exato – consultoria para diagnósticos de impactos ambientais, de ocupação dos espaços aquáticos e geoprocessamento; Instituto Brasileiro para Desenvolvimento dos Municípios – IBRADIM; Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS: serviços de consultoria atinentes à implantação de unidades demonstrativas de algas.

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17.6. apresentação de quatorze relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, com ausência de identificação da instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou constatar se os PLDM foram elaborados em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

17.7. assinatura de contrato de prestação de serviços na modalidade inexigibilidade com a empresa Pugliese Santos Mendonça para a construção de três embarcações no valor global de R$ 106.200,00 divididos em seis parcelas, no entanto, não houve a comprovação da inviabilidade da competição ou da desnecessidade do procedimento licitatório, bem como declaração de exclusividade e as justificativas necessárias para adoção do procedimento, contrariando o art. 26, caput, da lei 8.666/93;

17.8. pagamento de R$ 18.000,00 em favor da empresa Razon Comércio e Indústria Ltda., relativo à fabricação e montagem de cinco tendas para a abertura do ponto de escoamento e venda dos produtos de aquicultura e pesca denominado ‘Maria vai com as Ostras’, na praia da Barra de São Miguel, sem que fosse realizado o competente processo licitatório, bem como não foram apresentadas pesquisas de preços de mercado ou documentos equivalentes que permitissem aferir se o preço era compatível com o mercado e, com a finalização do convênio, tais tendas que serviam de ponto de escoamento da produção e venda de ostras, deixaram de existir;

17.9. instalação de restaurante denominado ‘Maria vai com as Ostras’ no bairro da Jatiúca para abertura e funcionamento da unidade operativa e de prestação de serviços para escoamento e venda dos produtos de aquicultura e pesca, ou seja, com o mesmo objetivo do convênio, ora expirado. Tal decisão constou da Ata da 2ª Assembleia Geral de 20/1/2007, do Instituto Oceanus;

17.10. de acordo com contrato social da empresa AM Locadora de Veículos Ltda., a empresa tem como sócios o cunhado do Sr. Daniel Lima Costa, Alberto Jorge Kunzler Ribeiro e sua esposa, Srª Maria Rúbia Ferreira Kunzler Ribeiro;

17.11. referente ao bar e restaurante denominado ‘Maria vai com as Ostras’ a equipe de fiscalização esteve no estabelecimento e observou que o Sr. Daniel Lima Costa, Coordenador-Geral do Instituto Oceanus, adotava postura gerencial sobre aquele estabelecimento;

17.12. aquisição de equipamentos de som no valor de R$ 6.150,00 os quais estavam sendo utilizados em apresentações de música ao vivo no bar e restaurante ‘Maria vai com as Ostras’, sem que os equipamentos estivessem previstos no plano de trabalho;

17.13. pagamento de R$ 23.000,00 relativos à remuneração de serviços de Coordenação Técnica a Srª Andrea Cristina Kunzler Nogueira Costa, Presidente do Instituto e esposa do Sr. Daniel Lima Costa, Coordenador-Geral do Instituto e, pagamento de R$ 23.000,00 referentes à execução de serviços de Coordenação Executiva no Projeto Apoio ao Desenvolvimento da Aquicultura Sustentável ao Sr. Daniel Lima Costa, então Coordenador Executivo e Financeiro da Instituição. Despesas dessa natureza contrariam o disposto no inciso I do art. 8º da IN 1/1997, bem como o entendimento adotado pelo TCU no voto do Acórdão 1.946/2005 – 2ª Câmara, no sentido de que ‘as despesas realizadas a título de pagamentos de serviços prestados a membros fundadores e seus dirigentes infringe as disposições legais que norteiam a execução dos convênios’.

17.14. embarcações motorizadas de manejo acostadas na marina da Barra de São Miguel/AL em estado de abandono, haja vista que roubaram o motor e outros equipamentos, impedindo o seu funcionamento;

17.15embarcação de manejo localizada no município de Paripueira/AL, encravada nas areias da praia, também em estado de abandono;

17.16. venda do veículo Fiat Dobló Adventure, adquirido em 24/5/2005, com recursos do convênio, para custear despesas relativas às obrigações assumidas com os fornecedores e prestadores de serviços, bem como para a manutenção das atividades do Instituto Oceanus, contrariando o disposto na Cláusula Décima Sexta – Da Destinação dos Bens, que estabeleceu:

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A propriedade dos bens remanescentes na data da conclusão ou extinção do presente convênio, que em razão deste tenham sido adquiridos, produzidos, transformados ou construídos deverão ser incorporados automaticamente ao patrimônio da CONCEDENTE.

17.17. considerando, ainda, que diversos bens patrimoniais não dispõem de termos de controle relativos aos bens, compete à SEAP adotar medidas urgentes com vistas à recuperação dos bens de forma a resguardar e recuperar o patrimônio público restante; e,

17.18. ao final, segundo a mesma Nota Técnica 1/2008-COFIP-CISET-CC-PR, foram arroladas as despesas realizadas sem amparo legal (Peça 11, p.148-150).

18. Em 4/3/2008, por meio do Ofício 35/2008-AS/SEAP-PR, foi encaminhado o esclarecimento sobre a Nota Técnica (IB/PR) 1/2008-COFIP-CISET-CC-PR, de 9/1/2008, pela Secretaria-Adjunta da Seap-PR ao Secretário da CISET/PR, na qual contém uma relação de pagamentos realizados que necessitavam de justificativas (Peça 11, p. 176-204 e Peça 12, p. 5-68).

19. Por outro lado, em virtude dos indícios de irregularidades na gestão dos recursos repassados ao Instituto Oceanus, em 26/3/2008, a Procuradoria da República moveu uma Ação de Improbidade Administrativa 4/2008-GAB/PROS, com pedido liminar, contra o Instituto Oceanus e seus dirigentes, originária do Procedimento Administrativo 1.11.000.000801/2007-11, com cópia para esta Colenda Corte (Peça 3, p. 125-126).

20. As irregularidades que embasaram as conclusões do Ministério Público Federal foram:

a) contratação de entidades gerenciadas pelo mesmo dirigente do Oceanus, ou direcionada a outras dirigidas por pessoas íntimas de dirigentes do Convenente, ferindo os princípios licitatórios da impessoalidade e da moralidade, e sem que algumas dessas entidades tenha efetivamente prestado serviços ao Instituto Oceanus, embora tenham constado os pagamentos na prestação de contas;

b) contratação de firma de propriedade de pessoa ligada ao Instituto Oceanus para prestar fornecimentos não previstos no plano de trabalho;

c) fraude na locação de veículos, posto que a investigação do MPF concluiu que os serviços nunca foram prestados;

d) aquisição indevida de veículo fora das especificações previstas no Plano de Trabalho e venda irregular de patrimônio adquirido;

e) gastos indevidos supostamente realizados com combustíveis;f) gastos irregulares com diárias, viagens e hotéis;g) aquisição indevida e fraudulenta de balsas de trabalho;h) pagamentos indevidos feitos aos integrantes do Instituto Oceanus;i) despesas diversas alheias ao Plano de Trabalho;j) comércio de ostras realizado por meio de restaurante de propriedade dos coordenadores

do Projeto, equipado e montado com recursos do convênio; e,l) desvio de recursos da conta do convênio.21. O valor do dano ao Erário não foi quantificado pelo Ministério Público, o qual

trabalhou com informações obtidas pelo próprio órgão repassador.22. Por sua vez, o Parecer 6/2008-COGPADIGEAI/SA, de 7/5/2008, tratou da análise

final da prestação de contas, o qual examinou em detalhes as constatações verificadas nas fiscalizações promovidas e concluiu pelo não cumprimento do objeto pactuado no Convênio 8/2005, bem como pela necessidade de notificação do Instituto para a devolução integral dos valores repassados e posterior instauração da tomada de contas especial (Peça 14, p. 105-143).

23. Em 12/5/2008, a Senhora Andrea Cristina Kunzler Nogueira da Costa encaminhou o Ofício 2/2008 ao Diretor de Gestão Estratégica e Articulação Institucional da Seap-PR, o qual continha as justificativas argüidas nos Ofícios 661/2007 (anexo o Parecer 62/2007 – exame da prestação de contas final), 113/2008 (prorrogação de prazo para atendimento do Ofício 661/2007) e 125/2008 (extensão de prorrogação de prazo para atendimento do Ofício 661/2007), referentes à prestação de contas final do Convênio 8/2005 (Peça 14, p.161-172 e Peça 15, p. 2-118).

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24. Outrossim, na esfera do TCU, no âmbito do TC 006.953/2008-6- REPR, que tratou de representação do MPF, este Tribunal prolatou o Acórdão 2.310/2008-TCU-1ª Câmara (Ata 26-1ª Câmara, Sessão de 30/7/2008 – Extraordinário), nos seguintes termos:

1.1. à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, que, com base no art. 2º da IN/TCU nº 56/2007, adote, no prazo de 120 (cento e vinte dias), com relação às irregularidades relatadas no Parecer nº 006/2008-COGPA/DIGEAI/SA/SEAP-PR e na Ação de Improbidade Administrativa nº 4/2008-GAB/PROS, evidenciadas na execução do Convênio nº 008/2005 (SIAFI 523005), celebrado com o Instituto Oceanus, as ações necessárias para a identificação dos responsáveis, a precisa quantificação dos eventuais danos e obtenção do ressarcimento, bem como à instauração, se for o caso, da respectiva tomada de constas especial;

1.2. a conversão do presente processo em monitoramento, nos termos do art. 243 do Regimento Interno do TCU;

1.3. o envio de cópia das peças de fls. 1/72 à Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República, bem como cópia da presente deliberação e da instrução técnica de fls. 127/131 dos autos ao Procurador da República, Paulo Roberto Olegário de Souza.

25. A Secretaria Federal de Controle Interno (SFCI) emitiu o Relatório e Certificado de Auditoria 228445/2010, em 7/6/2010 (peça 16, p. 106-110) e foi colhido o pronunciamento ministerial (peça 16, p. 115).

26. No âmbito desta TCE, em análise preliminar, verificou-se a necessidade de saneamento dos autos por meio de diligência ao banco operador da conta específica do convênio. A documentação pertencente aos autos, por si só, não permitia o exame técnico da prestação de contas, em virtude de ter havido diversas despesas com desvio de finalidade. Desse modo, foi proposta, preliminarmente, diligência para um acurado exame no extrato da conta específica do Convênio e os cheques emitidos, de modo a permitir o confronto com o rol de pagamentos (Peça16, p. 119-128).

27. Em atendimento à diligência, a Caixa Econômica Federal remeteu os extratos bancários referentes ao período de execução do objeto pactuado, bem como a cópia dos cheques emitidos a débito da aludida conta (Peça16, p. 135-195).

28. Foi feito um detalhado exame da conta 0053-6 da agência 0055 – Agência Rosa da Fonseca – conta específica do Convênio 8/2005 (SIAFI 523005), onde se observa o que segue.

1. Posicionamento do Controle Interno:1.1. Responsabilidade29. O Relatório de Tomada de Contas Especial (Peça 16, p. 96) imputou

responsabilidade solidária às Senhoras Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-9), cujo período de gestão foi de 22/11/2004 a 9/6/2006, e Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), tendo por gestão o período posterior a 9/6/2006 (Peça 16, p. 96), por não cumprimento do objeto do Convênio, imputando-se o débito pelo valor total repassado a entidade, Instituto Oceanus.

30. No entanto, o Relatório de Auditoria 228445/2010, de 7 de junho de 2010, a CGU posiciona-se pela exclusão da responsabilidade da Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), pelo fato de a assinatura do convênio e demais aditivos, bem como toda sua execução (pagamentos), terem sido efetivados na gestão anterior.

2. Posicionamento da Secex/AL2.1. Responsabilidade da Senhora Everilda Brandão Guilhermino31. Em virtude da documentação acostada aos autos, considerou-se que houve

responsabilidade da Senhora Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-9), ex-Presidente do Instituto Oceanus, cujo período de gestão foi de 22/11/2004 a 9/6/2006 (Peça 16, p. 96), por não cumprimento do objeto do Convênio, imputando-lhe o débito pelo valor total repassado de forma solidária com o Instituto Oceanus, nos termos do entendimento fixado por este Tribunal no Acórdão 2.763/2011-TCU-Plenário, que tratou de convênios firmados pela União com entidades privadas, o qual estabeleceu:

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9.1. acolher o Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado pelo Ministério Público junto ao TCU, nos termos do art. 91, caput, do Regimento Interno;

9.2. firmar o seguinte entendimento quanto à responsabilização das pessoas que devem responder por danos ao erário ocorridos na aplicação de transferências voluntárias de recursos federais a entidades privadas, com vistas à consecução de uma finalidade pública:

9.2.1. na hipótese em que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa a dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano;

32. Dessa forma, no entendimento firmado pelo TCU, acima exposto, nos convênios firmados pela União e suas entidades, com entes privados, quando se verificar que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa ao dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano, com fulcro nos artigos 70, parágrafo único, e 71, inciso II, da CF/88.

2.2. Responsabilidade da Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa33. No tocante à responsabilidade da Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da

Costa (CPF 841.807.494-91), embora a assinatura do convênio e demais aditivos terem sido efetivados na gestão anterior, foi ela a Coordenadora Técnica do Projeto. Além disso, verifica-se, pelo extrato bancário (Peça 16, p. 136-142), com saques em espécie na conta corrente e transferências para sua conta pessoal, que, como esposa do Senhor Daniel Lima Costa, mesmo não sendo Presidente, possuía irrestrita ingerência na administração do Instituto Oceanus, em especial no Convênio 8/2005, tendo sido, inclusive, arrolada com réu na Ação de Improbidade Administrativa proposta pelo Ministério Público Federal (Peça 3, p. 133-138).

34. Diante disso, restou caracterizada a responsabilidade solidária da Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Coordenadora Técnica do Projeto durante a gestão da Senhora Everilda Brandão Guilhermino, por não cumprimento do objeto do Convênio, imputando-se o débito pelo valor total repassado ao Instituto Oceanus, de forma solidária com a referida Entidade e com a aludida ex-Presidente.

2.3. Responsabilidade do Senhor Daniel Lima Costa35. Os Institutos Ibradim, Exato e ADS Corais foram associações criadas e

administradas pelo Senhor Daniel Lima Costa (CPF 411.055.914-68), Coordenador Geral do Instituto Oceanus, conforme apurado na Ação de Improbidade Administrativa 4/2008-GAB/PROS (Peça 3, p. 133-138), assim como o Instituto Oceanus. Desse modo, foram contratadas, por inexigibilidade, três associações que eram gerenciadas pela mesma pessoa que as contratou, possivelmente, com o intuito de dissimular a sua movimentação, todas em nome de parentes, mas de fato gerenciadas por ele próprio, fatos que foram exaustivamente evidenciados pela Procuradoria da República na supracitada Ação.

36. Ao final do Projeto, não foram confeccionados os Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura – PLDM. Assim, a Meta 1 não foi cumprida, embora as empresas de consultoria tenham sido pagas.

37. No que tange à Meta 2 do Plano de Trabalho do Convênio 8/2005 – 2, implantação de dez Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e Algas Marinhas, os relatórios de fiscalização in loco produzidos após as visitas nas unidades demonstrativas do Estado de Alagoas, a partir do exercício de 2006, evidenciaram a irregular utilização dos recursos pelos gestores do Projeto Oceanus, bem como o não cumprimento total do objeto. Além disso, não há documentos nos autos que comprovem o nexo causal entre a despesa realizada e o efetivo pagamento.

38. Por outro lado, os saques em espécie e as transferências de recursos para conta particulares dos gestores do Projeto, autorizadas pelo Senhor Daniel Lima Costa, conforme extrato bancário (Peça 16, p. 136-142), expressam comprovadamente a má-fé dos gestores na condução do Projeto e na utilização dos recursos públicos repassados. O Senhor Daniel Lima Costa,

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Coordenador Geral do Instituto Oceanus, exercia de fato a gestão do Projeto e dos demais Institutos envolvidos.

2.4. Responsabilidade dos Institutos Exato, IBRADIM e ADS Corais39. Chama a atenção o fato de que ao realizar a contratação dos serviços de consultoria

previstos na Meta 1 do Plano de Trabalho do Convênio 8/2005, o Instituto Oceanus celebrou contratos, por meio de inexigibilidade, com os Institutos Ibradim, Exato e ADS Corais.

40. Segundo o relatório da Ciset, pela Cláusula Terceira, inciso II, alínea ‘c’,do convênio, a convenente estava atrelada à Lei 8.666/1993 para a contratação de serviços de terceiros. No entanto, as associações supracitadas foram habilitadas através de um ato lavrado em ata de 16/5/2005, sem que fossem observados os procedimentos atinentes à inexigibilidade de licitação, tais como atestado de exclusividade de serviços e a publicidade do ato.

41. Por outro lado, os Institutos Ibradim, Exato e ADS Corais foram associações criadas e administradas pelo Senhor Daniel Lima Costa, Coordenador Geral do Instituto Oceanus, conforme apurado na Ação de Improbidade Administrativa (Peça 3, p. 133-138), assim como o Instituto Oceanus. Desse modo, foram contratadas, por inexigibilidade, três associações que eram gerenciadas pela mesma pessoa que as contratou, possivelmente, com o intuito de dissimular a sua movimentação, todas ‘gerenciadas’ por parentes do Senhor Daniel Lima Costa.

42. O valor total referente aos serviços contratados e pagos pelo Instituto Oceanus foi de R$ 310.120,00, sendo R$ 50.000,00 para a ADS Corais, R$ 180.250,00 para o Ibradim e R$ 70.870,00 para o Instituto Exato (Relação de Pagamentos – Peça 7, p. 53-81).

43. No entanto, durante a fiscalização da Ciset, conforme consta nos relatórios supracitados, o Instituto Oceanus não logrou demonstrar a execução dos serviços contratados. Além disso, tais fatos foram exaustivamente evidenciados pela Procuradoria da República na Ação de Improbidade Administrativa 4/2008-GAB/PROS.

44. Ao final do Projeto, no tocante à Meta 1, não foram confeccionados os Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura – PLDM, embora as empresas de consultoria tenham sido pagas.

45. Assim, em relação à Meta 1 do Plano de Trabalho do Convênio 8/2005, confecção dos Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura – PLDM, o Instituto Oceanus celebrou contratos, por meio de inexigibilidade, com os Institutos Ibradim, Exato e ADS Corais, sendo estas associações criadas e/ou administradas pelo Senhor Daniel Lima Costa, conforme apurado na Ação de Improbidade Administrativa (Peça 3, p. 133-138), no valor total de R$ 310.120,00, sem alcançar o cumprimento do objeto do Convênio.

46. Por sua vez, no que se refere à Meta 2, implantação de dez Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e Algas Marinhas, somente duas unidades estavam funcionando parcialmente quando da fiscalização in loco, no entanto, não há documentos nos autos que comprovem o nexo causal entre a despesa realizada e o efetivo pagamento.

47. Portanto, no que tange à Meta 2 do Plano de Trabalho do Convênio 8/2005 – 2, implantação de dez Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e Algas Marinhas, os relatórios de fiscalização in loco produzidos após as visitas nas unidades demonstrativas do Estado de Alagoas, a partir do exercício de 2006, evidenciaram a irregular utilização dos recursos pelos gestores do Projeto Oceanus, bem como o não cumprimento total do objeto.

48. Ademais, não há documentos nos autos que comprovem o nexo causal entre as despesas realizada e os efetivos pagamentos. De mais a mais, os saques em espécie e as transferências de recursos para conta particulares dos gestores do Projeto expressam comprovadamente a má-fé dos gestores na condução do Projeto e na utilização dos recursos públicos repassados.

49. Em seu Parecer, o Diretor da Secex/AL destacou que o débito a ser imputado deveria ser o valor total repassado, pois embora tenha havido a execução parcial, não houve a consecução do objeto do convênio. Lembrou que não foi demonstrada a funcionalidade do que foi realizado e que não houve o alcance da sua finalidade social. Ademais, considerou que o não atingimento dos

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objetivos do ajuste decorreu de conduta culposa ou dolosa, omissiva ou comissiva, desses responsáveis. Citou o entendimento desta Corte a respeito dessa matéria, expresso, e.g., nos Acórdãos 3.336/2011, da 1ª Câmara; 427/2010, 1559/2011, da 2ª Câmara; 1.441/2007, Plenário. Além disso, discorreu sobre os seguintes pontos:

8. No caso da contratação da empresa K. E. Lima – ME, de propriedade de Kátia Esteves de Lima (CPF: 040.311.344-01), por R$ 29.850,00, para fornecimento de produtos ao projeto (lanternas para cultivo, redes e poitas de ferro), verificou-se outra transação feita pelo Oceanus direcionada para beneficiar pessoa ligada ao próprio Instituto, ferindo os princípios da moralidade e da impessoalidade. Não houve pesquisa prévia de preços para verificar a compatibilidade com os de mercado.

8.1. Além disso, é evidente o vínculo da Kátia Esteves, pessoa física, com o Oceanus. Esta pessoa recebeu do Instituto, a título de diárias, R$ 8.500,00, não tendo sido verificada vinculação da técnica com o projeto, o objetivo e o período das viagens e nem a etapa e fase do projeto a que relaciona. Tais pontos foram constatados pelo repassador conforme quadro na peça 12, p. 30-31 e comprovantes de alguns dos diversos valores transferidos à mesma pessoa (Peça 5, p. 54 e 109; peça 6, p. 99).

8.2. Conforme verificou o ente repassador, o pagamento de R$ 6.800,00 à firma K.E. Lima para fornecimento de redes foi irregular, já que se tratou de item não integrante do plano de trabalho (peça 12, p. 30). Ademais, conforme ressaltou o Ministério Público Federal, todos os produtos pagos à K. E. Lima não foram entregues (peça 3, p. 144-145).

9. Outro ponto a destacar foram os pagamentos à firma AM Locadora de Veículos Ltda. (CNPJ: 06.149.628/0001-30) pela locação de veículos para o Instituto Oceanus. Há previsão da locação de veículos no plano de trabalho. Conforme o exame da relação de pagamentos feito pelo Ministério, ocorreram pagamentos na ordem de R$ 39.350,00, sem contrato, sem a realização de pesquisa de preços e sem publicidade prévia (peça 11, p. 183).

9.1. Ademais, os comprovantes de pagamentos não indicam o período da locação, os veículos locados e o valor por veículo, o que impede a verificação da compatibilidade do que foi pago com os valores de mercado, conforme exemplifica a nota fiscal constante da peça 6, p. 73-75. Desse modo, não há como atestar a efetiva prestação dos serviços.

9.2. Conforme depoimentos colhidos pelo Ministério Público Federal, os deslocamentos das equipes do Oceanus sempre eram realizados em veículos próprios e que ‘nunca tiveram conhecimento de ninguém ter viajado utilizando veículos locados, à exceção de uma viagem para (...) Sergipe, quando foi utilizada uma van locada’ (peça 2, p. 147).

9.3. Outros depoimentos de geográfos que teriam prestado serviços ao Instituto foram de que embora tenham solicitado várias vezes a realização de estudos de campo, nunca viajaram pelo Oceanus.

9.4. Excerto da ação judicial movida pelo Ministério Público Federal relata o esquema envolvendo a locadora e o Instituto Oceanus, razão pela qual se permite transcrevê-lo (peça 2, p. 147), verbis:

‘Na realidade, conforme análise da documentação contida no bojo dos presentes autos e nas denúncias feitas pelo Sr. Carlos Alexandre Kunzler, a AM LOCADORA DE VEÍCULOS LTDA, foi aberta pelo Daniel Lima Costa em nome de ALBERTO JORGE KUNZLER RIBEIRO e sua esposa MARA NÚBIA KUNZLER RIBEIRO, sendo Alberto Kunzler, irmão de Andréa Cristina Kunzler, esposa de Daniel. Ou seja, a ‘locação de veículos’ não passou de um ardiloso plano do ‘dono’ do Oceanus, pois a quantia declarada de R$ 39.350,00 (...) que teria sido repassada como suposta contraprestação aos serviços de locação de veículos, na verdade foram transferências de recursos para Daniel Lima, haja vista as locações não terem ocorrido de fato e aquele ser o real proprietário da Locadora, consoante documentação de fls. 520/522’.

10. As compras de combustíveis com os recursos do convênio não permitem verificar a destinação ou se sua utilização está relacionada com o objeto avençado, em face da absoluta falta de controles. Em 30/9/2005, por exemplo, foram adquiridos 2.476 litros de gasolina junto a um posto

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em Maceió/AL (peça 5, p. 147-148), sem que se possa ter a menor idéia a que se referem e como foram utilizados. Os demais pagamentos seguem a mesma linha. Foram oito pagamentos por dois a três mil litros de gasolina cada, sem haver nenhum detalhamento de como esse combustível foi utilizado ou por quem (qual veículo), demonstrando total falta de controle. Os projetos eram em municípios fora de Maceió/AL, mas a gasolina foi adquirida em empresa na Capital. Foram supostamente comprados 19.558 litros de gasolina, no valor total de R$ 54.368,29 (peça 11, p. 178; peça 6, p. 171; peça 7, p. 133) que não se sabe como seriam ou foram utilizados, tornando a execução do projeto um ambiente sem controle, já que ainda foram apresentadas outras diversas supostas compras avulsas de combustível (peça 6, p. 40, 46, 48, 49, 154, 171; peça 7, p. 133).

11. Nos pagamentos de diárias também se verificaram irregularidades. As despesas foram comprovadas mediante recibos, nos quais não existem evidências da vinculação do favorecido com o projeto, nem a respeito do objetivo da viagem, o período e a fase/etapa a que a despesa está relacionada. A título de exemplo pode-se verificar os pagamentos constantes da Peça 8, p. 16-22. Os recibos são genéricos, indicando apenas o valor total, a quantidade de diárias e os dez municípios que deveriam contemplados no objeto do convênio.

11.1. Essas despesas foram questionadas pelo repassador, consoante análise dos pagamentos (peça 11, p. 184-185, 187, 195-196, 199-200, dentre outras).

11.2. O Ministério Público Federal obteve, nos depoimentos colhidos com pessoas envolvidas com o projeto, outras evidências de que os recibos de pagamentos de diárias foram forjados e que as despesas resultaram no ‘enriquecimento ilícito de seus beneficiários que receberam, ou apenas declararam que receberam, dinheiro público como indenização por um fato que jamais ocorreu (deslocamentos temporários exigem pernoite)’ (peça 3, p. 151-152).

11.3. Em depoimentos de técnicos contratados pelo Oceanus foi revelado que quando ocorriam viagens aos municípios, sempre retornavam para Maceió ao final do dia, não havendo pernoite, e que nunca recebiam diárias. Foi informado que Denise Lima Costa, irmã de Daniel Lima Costa, nunca teria viajado, assim como Danielle de Paiva Torres, mas, mesmo assim, foram juntados à prestação de contas recibos de pagamentos de R$ 6.000,00 à primeira e de R$ 5.400,00, à segunda (peça 11, p. 201-202).

12. Foram verificados diversos pagamentos à firma J.B.S Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ: 00.424.305/0001-20), relativas a supostas viagens que não foram comprovadas e nem a relação com o plano de trabalho do Convênio (R$ 46.013,08 – peça 12, p. 20-24). É o caso, por exemplo, do pagamento de R$ 2.894,00, em 23/9/2005, das passagens aéreas de uma suposta viagem a Washington de Daniel Lima Costa (Peça 5, p. 59-61). Há diversos outros casos, inclusive beneficiando pessoas cujo nome não revela o liame com o Instituto Oceanus (Peça 5, p. 62-70, 100- 101, 135-137 e 190-192; peça 6, p. 28-35, 149-151, 191-196; peça 7, p. 122-126). Em nenhum dos casos foi juntado ao processo o comprovante de embarque e desembarque, ou comprovante de hsopedagem na localidade, impedindo que se comprove, pelo menos, a efetiva utilização das passagens pagas.

12.1. Ademais, as viagens beneficiaram precipuamente pessoas ligadas à direção do Instituto Oceanus. Conforme registrou o Ministério Público, a maior parte dessas despesas refere-se a viagens feitas por Daniel Lima e sua esposa, Andréa Kunzler, Everilda Guilhermino e Kátia Esteves e seu marido, Marcelo Lima, o que comprovaria que ‘os requeridos utilizaram recursos públicos na aquisição de serviços pessoais não relacionados, portanto, à implementação do objeto pactuado no convênio ...’ (peça 3, p. 152-155).

13.1. O repassador considerou indevidas essas despesas em razão de não haver indicação da atividade que ensejou o pagamento e porque essas despesas não estavam previstas no plano de trabalho, a exemplo do que consta na peça 12, p. 15-16).

13. Gastos diversos com hospedagens em Maceió/AL sem que os documentos permitam identificar o liame entre a despesa e o objeto do convênio, a exemplo das constantes da peça 6, p. 39 e 153). Outras despesas apresentadas seriam de hospedagens em outras cidades, como Recife, Fortaleza e Natal, sem que se verifique despesa com passagens, diárias ou outras que permitam

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identificar a relação da despesa com o objeto do convênio. Ademais, não há como identificar o suposto hóspede nas notas dos hotéis e nem o objetivo da viagem (peça 6, p. 41, 44, 47, 49, 62, 165 e169; peça 8, p.56).

13.1. O repassador considerou indevidas essas despesas em razão de não haver indicação da atividade que ensejou o pagamento e porque essas despesas não estavam previstas no plano de trabalho, a exemplo do que consta na peça 12, p. 15-16).

14. Foram apresentadas inúmeras despesas com refeições, sem nenhuma indicação da relação com o objeto do convênio e sem estarem previstas no plano de trabalho. Este previa despesa com alimentação conjugada com hospedagem, a título de diária. As demais são irregulares, a exemplo das indicadas na peça 6, p.51 e 116; peça 8, p. 45; e peça 12, p. 19.

15. O Instituto Oceanus, com os recursos federais repassados, efetuou despesas com a aquisição indevida de cinco balsas de trabalho, no valor de R$ 106.200,00 (peça 12, p. 52-53). Indevidas porque esses bens não estavam previstos no plano de trabalho aprovado pela Seap/PR. Ademais, foi verificado que as despesas foram efetuadas sem prévia licitação e sem contrato com a empresa que emitiu as notas fiscais. Com isso, os dirigentes descumpriram a regra de obedecer as regras gerais acerca das licitações públicas, a exemplo da pesquisa prévia de preços, verificação da compatibilidade com o preço de mercado e justificativa para escolha do fornecedor.

15.1. A Procuradoria da República apurou, ainda, em depoimento de empregado do Instituto, que ele próprio se dirigia à Prefeitura de Barra de Santo Antônio/AL, requeria a emissão das notas fiscais avulsas em nome do Estaleiro Santo Antônio, pagava o Imposto Sobre Serviços (ISS). O depoente afirmou, também, que os valores entregues ao Estaleiro ‘eram menores do que aqueles constantes das notas emitidas pelo estaleiro’ (peça 3, p. p. 156-157).

15.2. Na prestação de contas, o próprio Oceanus faz referência a apenas três balsas, embora os pagamentos se referissem a cinco. Apenas uma das embarcações foi localizada na Barra de São Miguel/AL pela fiscalização da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República, em estado de abandono, sem motor e outros equipamentos (peça 14, p. 111).

16. Foi constatado, também, o pagamento indevido de remuneração a dirigentes e familiares dos dirigentes do Instituto Oceanus, como Daniel Lima Costa, coordenador financeiro (R$ 23.000,00, peça 8, p. 132, 140, 148, 156, 164, 172, 183, 189; e, peça 9, p. 4 e 10); Marcelo Gomes do Nascimento, coordenador operacional (R$ 23.000,00 – peça 8, p. 133, 141, 149, 157, 165, 173 e 184); Andréa Cristina Kunzler Nogueira, coordenadora técnica, esposa de Daniel Costa (R$ 23.000,00- peça 8, p. 139, 147, 155, 163, 171, 182, 188 e 195; e, peça 9, p. 9), e, Denise L Costa G. de Barros, irmã de Daniel Costa (R$ 9.200,00 – peça 8, p. 187, 193 e 194; e peça 9, p. 8).

17. Outras despesas impugnadas referem-se aos supostos pagamentos por serviços de capacitação que não tiveram comprovadas as suas realizações (peça 8, p. 134, 135, 136, 137, 138,142,143,144,145,146, 150-154, 158-162, 166-171, 174-178, 184-186, 190-192; e peça 9, p. 5-7 e p. 11-12), no valor total de R$ 68.000,00 (peça 14, p. 139-140). Não foram apresentados os contratos de trabalho com os técnicos e nem a comprovação da realização dos supostos cursos e suas identificações com a fase/etapa do projeto.

18. Ademais, no item 4.6 do Parecer 006/2008-COGPA/DIGEAI/SA/SEAP-PR, de 9/5/2008, foram elencadas pela Seap/PR inúmeras despesas não previstas no plano de trabalho e sem a adequada comprovação da efetiva prestação dos serviços/entrega dos produtos que montam mais de R$ 240.000,00 (peça 14, p. 117-133).

19. Conforme relatado pelo Ministério Público foram realizados diversos saques da conta específica do convênio, sempre por Daniel Lima Costa, mediante cheques nominais para o próprio Instituto, transferências para outras contas e retiradas no caixa do Banco ou em caixa eletrônico (peça 3, p. 169-177). Há, inclusive, transferências para a conta do próprio Daniel Lima (peça 16, p. 138-139).

19.1. A conduta do dirigente do Instituto afronta a regra estabelecida na cláusula sexta do termo do convênio de que os recursos somente poderiam ser movimentados ‘mediante cheque

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nominativo ao credor ou ordem bancária...’ e impedem o estabelecimento do nexo causal entre os despesas e os recursos repassados (peça 2, p.7).

20. As relações de parentesco entre os dirigentes do Oceanus e os beneficiários dos recursos públicos já ficou sobejamente demonstrada, revelando o descaso com os princípios da moralidade e da impessoalidade que deveria nortear a gestão da entidade, notadamente quando envolve recursos públicos. Verificou-se, inclusive, que ocorreu pagamento de R$ 400,00 a Daniel Lima Costa Filho (CPF: 063.736.324-82), graduando em direito, como estagiário em maricultura (peça 8, p. 113), o mesmo que viria a ser o proprietário do Restaurante Maria Vai com as Ostras, que conforme será visto, teria sido montado e equipado com recursos públicos desviados do Convênio em debate.

21. Quanto ao Restaurante Maria Vai com as Ostras Ltda. – ME (CNPJ: 08.977.615/0001- 84), localizado em Maceió/AL, o MPF registra que ata do Instituto Oceanus aprovou a compra do ponto para ‘a abertura e funcionamento da „unidade operativa e de prestação de serviços para escoamento e venda de produtos de aquicultura e pesca denominado Maria Vai Com as Ostras‟’ (peça 3, p. 166).

21.1. Quanto ao restaurante acima, a fiscalização do Controle Interno da Presidência da República registrou:

‘O Projeto Oceanus tem intermediado o comércio de ostras, auferindo lucros com o comércio da produção por meio de restaurante de propriedade dos coordenadores do projeto, e o que é mais grave, deixando de quitar as dívidas assumidas junto aos produtores que venderam suas ostras para o Projeto Oceanus’.

21.2. No referido estabelecimento, foi flagrado pela fiscalização que Daniel Lima Costa, executivo financeiro do Oceanus, adotava postura gerencial e que equipamentos de som adquiridos com recursos do convênio estavam sendo utilizados no restaurante.

21.3. O restaurante foi colocado em nome do filho do Daniel Lima Costa, Daniel Lima Costa Filho, já citado no item 20 acima, e de Davi Kunzler Nogueira Costa (CPF: 081.487.894-60), filho da esposa de Daniel Lima, Andréa Kunzler Nogueira Costa.

22. A meta 1 do plano de trabalho era a elaboração dos Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM) nos dez municípios selecionados (peça 2, p. 12). Já a meta 2 era a implantação das unidades demonstrativas de cultivo de ostras e de algas marinhas (peça 2, p. 14).

22.1. Para consecução dessas metas, o Oceanus contratou, sem realizar nenhuma seleção prévia, ou seja, sem obedecer as regras gerais da Lei de Licitações a que estava obrigado, por força do disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo convenial, três institutos: Instituto Exato, Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios (IBRADIM) e Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS).

22.2. Observou-se que não houve nenhuma demonstração da inviabilidade de competição e nem da notória especialização dessas instituições, muito menos uma pesquisa prévia de preços.

22.3. As fiscalizações realizadas pelo ente repassador demonstram que os serviços de elaboração dos planos (PDLMs), que compõem a meta 1, não foram concluídos (peça 3, p. 53-61). O atraso na elaboração dos planos teria decorrido da falta de resultado de análise de água, não conclusão dos estudos estatísticos sobre os recursos aquáticos selecionados, não aquisição de imagens aéreas e de satélite e não conclusão do geoprocessamento das áreas, o que indicaria, segundo os técnicos da Seap/PR, que o Oceanus não estava a par da abrangência dos estudos a realizar e a real situação dos dados disponíveis e atualizados na esfera estadual e/ou municipal.

50. Em virtude da existência de indícios de que o Sebrae/AL tivesse firmado convênio ou outro ajuste com o Instituto Oceanus, um pouco antes ou na mesma época do convênio com a Seap/PR, visando o fomento da atividade da maricultura, o Diretor da Secex/AL também considerou pertinente diligenciar ao Sebrae/AL para que encaminhasse cópia de qualquer ajuste firmado com o Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15), bem como cópia da prestação de contas de eventual convênio ou instrumento congênere firmado para apoio a maricultura ou

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atividade assemelhada, acompanhada dos relatórios de acompanhamento e das devidas análises do Sebrae/AL, se fosse o caso.

51. Pelo exposto, como conseqüência, fez-se a diligência ao Sebrae/AL e a citação solidária dos gestores, Senhora Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-9), ex-Presidente do Instituto Oceanus, cujo período de gestão foi de 22/11/2004 a 9/6/2006, Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), ex-Coordenadora Técnica do Projeto, Senhor Daniel Lima Costa (CPF 411.055.914-68), Coordenador Geral do Instituto Oceanus e gestor de fato dos Institutos Exato (CNPJ 06.241.431/0001-26), IBRADIM (CNPJ 02.244.999/0001-40) e ADS Corais (CNPJ 05.437.758/0001-05), e, nos termos do Acórdão 2.763/2011-TCU-Plenário, do Institutos Oceanus, por não cumprimento do objeto do Convênio, imputando-se o débito pelo valor total repassado à referida Entidade, bem como dos Institutos Exato, IBRADIM e ADS Corais, pelos correspondentes valores recebidos sem a realização do serviço contratado.

52. Os responsáveis foram legalmente citados (Peças 23 a 30), porém somente apresentaram alegações de defesa a Senhora Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-9), ex-Presidente do Instituto Oceanus, o Institutos Exato (CNPJ 06.241.431/0001-26), o IBRADIM (CNPJ 02.244.999/0001-40) e a ADS Corais (CNPJ 05.437.758/0001-05), por meio de seus representantes legais (respectivamente, Peças 59 a 65, Peças 46 a 48, Peça 67 e Peça 82), as quais serão analisadas a seguir.

53. Outrossim, em relação à Senhora Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), ex-Coordenadora Técnica do Projeto, ao Senhor Daniel Lima Costa (CPF 411.055.914-68), e ao Instituto Oceanus (CNPJ 02.448.123/0001-15), foram infrutíferas as tentativas de entrega da comunicação processual pertinente. Em conseqüência, considerando-se que, nos termos do art. 179, inciso III, do Regimento Interno do TCU, quando o seu destinatário não for localizado, a citação far-se-á mediante edital, em respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa, esta Secex/AL promoveu a referida citação por meio de edital (Peças 77 a 79).

EXAME TÉCNICOAlegações da Senhora Everilda Brandão Guilhermino (CPF 020.783.874-9)54. Em suas alegações de defesa (peças 59 a 65), por meio de seu representante legal, foi

apresentada a seguinte documentação (peça 59, p.1):a) Defesa técnica;b) Documentos nominalmente citados na defesa;c) Comprovantes da realização dos serviços técnicos;d) Programas de TV mostrando ostreicultores;e) Fotos documentando atividades do Projeto Oceanus;54.1. Na defesa técnica, apresentou seu currículo profissional e, em seguida, sustentou que,

em sua execução, houve atendimento preponderante dos objetivos do Convênio. Em seguida, alegou que não teve participação em atos concretos de gestão, pois a função que exerceu, de Presidenta do Instituto Oceanus, não comportava estas competências.

54.2. Citou trecho da ação movida pelo Ministério Público Federal contra o Instituto Oceanus, no qual, o Parquet teria reconhecido que a defendente não teve participação em atos concretos de gestão do Instituto, porque a função de Presidenta não detinha tais competências:

Presidenta do Oceanus a época da assinatura do convênio com a SEAP/PR, foi quem conduziu todo o processo de solicitação de apoio a tal Projeto junto aquela Secretaria, bem como todas as solicitações posteriores, tais como aditivo de valor e de prazo ao aludido pacto.

Desse modo, induziu à Administração Pública em erro ao habilitar-se para desenvolver projeto de cunho social/econômico denominado Apoio ao Desenvolvimento da Maricultura Sustentável, quando seu único propósito era obter para si e para terceiros vantagem ilícita em detrimento da União. De fato, Everilda Guilhermino, além de se beneficiar com recursos do Projeto como se fossem pagamentos de diárias teve, ainda, varias viagens custeadas com recursos públicos.(fls. 57/58 da petição inicial, constante dos autos).

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54.3. Citou que as ‘análises factuais’ até agora formuladas nos autos ‘são plenas de equívocos e lacunas sobre a dimensão geral e a execução físico-financeira do Projeto de Implantação da Maricultura’. Traça, então, um histórico e um perfil do que foi a implantação da atividade de maricultura no Estado de Alagoas, a qual, segundo ela, inexistia antes do Oceanus.

54.4. Comenta sobre o projeto inicialmente apresentado em 2002 ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que teria a participação, também, do Estado de Alagoas e do Grupo Carlos Lyra, cada um se comprometendo em participar com um terço do valor estimado para a execução do projeto.

54.5. Aquele projeto visava incentivar o pescador tradicional a ser um profissional autônomo, com o uso de atividade nova, que gerasse renda certa para sua família, dando como contrapartida sua força de trabalho e ciente de que para se obter as primeiras ostras se levaria um período de seis a oito meses. O Instituto teria uma participação no projeto de vinte e quatro meses, findos os quais, as atividades seriam tocadas pelos próprios pescadores.

54.6. Citou a escolha de dez municípios com o perfil técnico adequado e das comunidades, estas selecionadas a partir de estudos sociais e científicos. O Sebrae teria atuado na primeira etapa com o processo de capacitação. O Sebrae instalou uma ‘unidade demonstrativa’ de cultivo de ostras na Barra de São Miguel para propiciar um estudo das propriedades da água e do desenvolvimento do molusco, de modo a verificar a aptidão da região para a maricultura.

54.7. Que com a participação do Oceanus foram realizados os primeiros cursos, nas próprias comunidades, para evitar gastos de deslocamento para os pescadores. Mas, destacou, o projeto envolvia a capacitação, a instrumentalização e a abertura de mercado. Registrou que os primeiros cultivos em Paripueira e Barra de São Miguel foi possível realizar o 1º Seminário de Maricultura e 1º Festival da Ostra de Alagoas, em Paripueira/AL.

54.8. Citou, novamente, o projeto de maricultura que foi iniciado com a participação do BID, do Estado de Alagoas e do Grupo Carlos Lyra, que tinha como meta a ‘implantação de unidades demonstrativas, ou seja, pequenos módulos educativos que pudessem servir de aprendizado para o pescador que desejasse iniciar sua produção’, inicialmente em quatro municípios.

54.9. Comentou que o bom desempenho da nova atividade econômica exigiria o licenciamento ambiental dos cultivos, o que poderia ser um obstáculo. Foi nesse ponto, que a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República (Seap/PR) foi consultada para a implantação em Alagoas de ‘Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDMs)’.

54.10. Expôs que o Convênio 8/2005, entre o OCEANUS e a SEAP/PR, foi firmado em maio de 2005, com foco em duas metas:

a) implantação de unidades demonstrativas de ostras e algas; e,b) elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura.54.11. Alegou que para a implantação das ‘unidades demonstrativas’ teve-se um

dispêndio maior de horas trabalhadas e de profissionais, por conta de que após a assinatura do convênio e durante a sua execução:

a) verificou-se que a área de abrangência dos PLDMs foi ampliada e novas contratações foram feitas para atendimento da nova regra procedimental (Instrução Normativa Seap/PR 17/2005);

b) houve significativos atrasos nos repasses das verbas; e,c) o pioneirismo do projeto, o que reforça a ideia de que não havia uma linha

procedimental clara a seguir.54.12. Sustentou que a mudança no plano de trabalho original se deu por razão alheia

à vontade do convenente, que precisou modificar o plano de trabalho, alterar dotações e remanejar recursos. Argumentou, ainda, que, por ausência de procedimentos precisos, em virtude de seu pioneirismo, houve a necessidade de uma ‘reengenharia orçamentária e financeira’ e, em seguida, concluiu:

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A execução do projeto tinha como norte o ‘PLANO DE TRABALHO’, elaborado pelo então coordenador técnico, Sr. FÁBIO COLIN, especialista em maricultura, o qual mantinha contato constante com o Sr. Felipe Suplicy, coordenador nacional da maricultura da SEAP, também especialista em maricultura, a fim de elaborar um documento que abarcasse todos os requisitos técnicos e financeiros necessários à execução do projeto.(grifo no original)

54.13. Citou que o primeiro termo aditivo não modificou os valores aprovados, servindo para promover uma distribuição mais adequada dos recursos, ajustando-os em alguns elementos de despesa do programa originário.

54.14. Afirmou que no desenvolvimento dos trabalhos verificou-se que Alagoas não teria registro dos estudos realizados no litoral, no que faltaram dados essenciais à evolução do plano de trabalho. Por isso, teria sido solicitado um aditivo de preço no convênio, que teria recebido parecer técnico favorável da coordenação técnica da Seap/PR, mas permitiu apenas a prorrogação do prazo da vigência.

54.15. Registrou, em seguida, relatório da Seap/PR acerca do andamento da execução do objeto conveniado, já citado no item 6 desta instrução. Alegou que o Relatório de Avaliação do Projeto ‘Apoio ao Desenvolvimento da Maricultura Sustentável no Litoral de Alagoas’, de 15 de maio de 2006, confeccionado pelo Sr. Paulo Roberto Nunes Calaça, Chefe do Escritório da SEAP em Alagoas, cujo conteúdo foi inserido em sua defesa, demonstrou o cumprimento do objeto do Convênio 8/2005. Ademais, destacou parte do relatório do Sr. Felipe Suplicy, de 20 de junho de 2006, que discorre sobre a realização, em 2 de março do mesmo ano, de uma apresentação por parte dos técnicos. Por fim, questionou as contradições entre os vários Relatórios de Fiscalização e de Visita Técnica produzidos pela SEAP/PR.

54.16. Em relação ao possível não cumprimento dos objetivos do Convênio, a responsável comunicou sua indignação com a afirmação prestada pelo Coordenador-Geral da SEAP/PR, Sr. Felipe Matarazzo Suplicy, ‘de que o objeto do convênio não foi cumprido’. Salientou que após as visitas técnicas, os relatórios produzidos pela SEAP/PR, à época de vigência do convênio, atestaram o bom andamento dos trabalhos e explicitaram as dificuldades encontradas.

54.17. Trouxe à pauta a delimitação das responsabilidades do Presidente do Instituto Oceanus, conforme organograma do Estatuto da entidade (peça 59, p. 30). Expôs a existência de órgãos de administração e órgãos operativos, com classes distintas, dentro da estrutura organizacional. Alertou que, segundo o art. 19 do Estatuto, era competência do Coordenador Executivo e Financeiro administrar o Projeto Oceanus.

54.18. Em sua tese, sustentou que era descabido atribuir-lhe responsabilidade, pois não praticou o ato, pelo fato de não ser de sua atribuição. Alegou que ‘o simples fato de ocupar a Presidência da instituição, órgão sem competência para decidir na matéria objeto deste processo de TCE, é necessário e suficiente para excluir a defendente da cadeia da responsabilidade reparatória’.

54.19. Argumentou a responsável que a responsabilidade extracontratual somente resulta do inadimplemento normativo, da violação de um dever fundado em preceito legal ou jurídico. Ponderou, também, que não há vínculo entre os supostos atos irregulares apontados e os atos de gestão praticados pela responsável. Afirmou que não se pode atribuir-lhe obrigação de responder ou dever de reparar dano, em qualquer ambiente jurídico, mesmo a título de solidariedade, por ilicitudes que não cometeu.

54.20. De forma resumida, sustentou que existem quatro pressupostos para o dever de indenizar: ato ilícito injustificável por ação ou omissão do agente, a existência do nexo de causalidade entre a ação do agente e o dano causado, a quantificação do dano e, por último, dolo ou culpa do agente.

54.21. Por fim, alegou que ‘os textos acusatórios são unânimes em não apontar que atos seriam, objetiva e subjetivamente, atribuíveis à defendente como causa da responsabilidade que lhe é imputada’.

54.22. Em seguida, a defendente passou a tratar das ‘imputações especificadas, em louvor ao princípio da eventualidade’, iniciando por apresentar justificativa ‘quanto à contratação

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direta de técnicos, sem disputa em processo licitatório ou mediante contrato de trabalho’ (peça 59, p. 34).

54.23. A esse respeito, sustentou que para o desenvolvimento do projeto, o plano de trabalho previa, ‘por cláusula expressa, a participação dos mais diversos organismos governamentais e não-governamentais’, com o controle das ações mediante ‘assistência/consultoria do BID, dos técnicos do Estado de Alagoas e da própria União’, sendo a contratação dos consultores amplamente discutida.

54.24. Informou que a opção pela contratação mediante intermediação de pessoa jurídica ocorreu para ‘evitar os indesejados reflexos que poderiam advir de uma contratação por relação de emprego, contraindicada inclusive pela periodicidade do programa a ser executado’.

54.25. Destacou que Alagoas não possui empresas especializadas na oferta de pessoal especializado para o trabalho em questão e que por isso não haveria como proceder a licitação ‘ou contratação de pessoas’, sem que incorresse em custo maior e em ‘licitação infrutífera que se repetiria pelo menos 2 vezes, atrasando o projeto pelo tempo mínimo de 60 dias (convite) e 90 dias (tomada de preços)’.

54.26. Afirmou que opção adotada, que teria sido orientada pela Seap/PR, foi de ser elaborado um relatório inicial que declarasse a inviabilidade de competição ‘ante a singularidade das atividades e exclusividade dos prestadores’, inclusive porque o objeto do convênio exigiria que os serviços de cada técnico ‘fossem realizados de forma coordenada e multidisciplinar’.

54.27. Aduziu que em qualquer Estado da Federação é difícil que uma empresa tenha em seus quadros, técnicos em hidrologia, meio ambiente, plano de monitoramento ambiental, zoologia, botânica, ostreicultura etc, no que a ‘inviabilidade de licitação é tão patente quanto óbvia’.

54.28. Insistiu que os únicos caminhos seriam: contratação direta ou celebração de relação de emprego, com este último elevando o custo do projeto e atrasando o cronograma. Por isso, ‘optou-se pela contratação direta’.

54.29. Informou que o Oceanus lançou um edital no jornal de maior circulação no Estado de Alagoas, edição de domingo, para convocar os eventuais interessados e obter uma apresentação de custos para futuras contratações. Sem resultado, teriam buscado a contratação de ONGs com ‘reconhecida experiência na captação e gestão de profissionais nas mais diversas áreas’, sendo que ‘apenas três se interessaram (...), ainda hoje, são consideradas como as mais qualificadas do Estado de Alagoas no assunto’ cada uma fazendo a opção ‘pela contratação de técnicos diversos’.

54.30. Citou uma apresentação feita pelo Coordenador da Seap/PR, em 20/6/2006, na qual este narrou a apresentação por parte de técnicos.

54.31. Estabeleceu algumas premissas quando às contratações dos três institutos (Exato, ADS e Ibradim): não houve burla ao processo de seleção, porque não houve comparecimento de empresas ao tempo da publicação do edital; atraso na assinatura do convênio e na liberação dos recursos, no que o tempo para a realização de licitação representaria ‘um sério risco à própria execução do objeto’; as contratações foram formais, ‘atendendo, minimamente, a disposição legal quanto à justificativa de singularidade do objeto e economicidade da contratação’; e, a contratação dos técnicos de forma indireta, representou vantagem econômica e agilidade no manuseio do pessoal.

54.32. Alegou a ocorrência de descumprimento de exigências formais e que os fins foram alcançados, razão pela qual não haveria que se falar em ressarcimento. Reconheceu que, no máximo, teria ocorrido a prática de atos com ‘desapego à letra dos regulamentos’, que não justificariam a grave punição do ressarcimento, conforme a doutrina e a jurisprudência citadas, relacionadas a atos de improbidade administrativa, e que não se questionou a realização dos serviços.

54.33. Passou, então, a defesa, para o intitulado item ‘7.2 – Da Compra de Material Permanente’. Mostrou uma quadro da análise da Seap/AL, referente à compra de equipamentos de informática e eletrônicos, no valor total de R$ 45.440,00, e informou que o processo licitatório

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estaria às fls. 129 do vol. 12 a 48 do vol. 13 dos autos. O certame, na modalidade convite, teria sido conduzido por uma pessoa, nos termos do § 1º do art.51 da Lei 8.666/1993.

54.34. Em seguida, apresentou outro quadro, este referente à compra de equipamentos náuticos e embarcações, no valor total de R$ 138.530,00. Alegou não ter havido fracionamento da despesa, posto que uma licitação foi para barcos e a outra para motores e bombas, nenhuma das duas alcançando o valor de R$ 80.000,00. Que a decisão por dividir o objeto, foi acatada por ela, para permitir maior participação e que a ‘perdedora na primeira licitação buscasse a diminuição de custos para concorrer com melhor chance na segunda’.

54.35. Destacou que ‘não é questionada a entrega dos bens e sua utilização nos objetivos preconizados e, por esta razão, a determinação da devolução dos valores pagos a este título é manifestamente ilegal’.

54.36. Quanto à aquisição do veículo Fiat Dobló, segundo declarou a responsável, esta se deu em regime de substituição ao veículo utilitário previsto no plano de trabalho original, porém sua alienação ocorreu em data muito posterior à sua saída da Presidência do Instituto Oceanus. No que se refere ao Motor Yamar Brasil e os equipamentos de sonorização, de forma idêntica, sustentou que pode ter havido falhas formais em sua aquisição, mas não ocorreu desvio ou prejuízo ao Erário, tendo sido plenamente satisfeito o objeto do Convênio.

54.37. Relativamente à questão da falta de licitação para a aquisição de combustível, alegou que não participou de qualquer ato de contratação, bem como da gestão e controle dos gastos, por lhe faltar atribuição estatutária. Além disso, argumentou que, em razão da utilização de mais de um veículo e por mais de uma vez ao dia, por necessidade de se deslocarem em direções opostas e em distintos trajetos, segundo seu entendimento, era impossível que um só posto de combustível atendesse a demanda. Sustentou que a aquisição de combustíveis teria que se dar em, pelo menos, cinco das dez cidades atendidas, sendo estas distantes uma das outras por mais de 250 quilômetros.

54.38. Argumentou que o Instituto não dispunha de veículo adequado e nem licenciamento para transporte de combustíveis, logo não se poderia cogitar a possibilidade de armazenamento e transporte de combustíveis para utilização nas embarcações e demais veículos. Destacou que os preços praticados na contratação estão situados abaixo dos preços de mercado. Por fim, aduziu que a imposição de devolução do valor gasto, baseando-se tão somente no aspecto formal da compra não se revela suficiente para a determinação da devolução dos valores repassados, uma vez que as informações prestadas longo dos relatórios apontam para a utilização de veículos e, por consequência, consumo de combustíveis nas atividades previstas no plano de trabalho.

54.39. A respeito da locação de veículos, informou que, à época, fez-se a opção de contratação por uma locadora de menor porte, em virtude de estar geograficamente mais próxima da sede do instituto e de existir maior disponibilidade de veículos, mediante a simples coleta de preços, tendo como preço limite, aquele orçamentariamente previsto.

54.40. Alegou que em 2005 as locadoras de veículos em Maceió/AL se concentravam no aeroporto da cidade, distante da sede do Instituto, além de não haver garantia de disponibilidade dos veículos ‘(estava condicionada tão somente à vontade do locador e a existência do mesmo no pátio)’, e a inclusão do seguro ‘ultrapassava o valor orçamentário’.

54.41. No tocante às declarações do senhor Carlos Alexandre Kunzler Azevedo, que serviram de base substantiva para a formulação da idéia de fraude, a defendente sustentou que:

credita tais acusações aos dissabores que o mesmo teve ao tempo em que demandou como reclamante em desfavor do Instituto OCEANUS e de seu Coordenador Executivo. Ademais, o declarante em questão não aponta a defendente como fraudadora ou cúmplice dos fatos denunciados’.

54.42. No que se refere às despesas com viagens, alegou que houve intercâmbio com outros estados, em particular, contato com produtores de Santa Catarina, o que proporcionou a

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participação do Projeto Oceanus na Feira Nacional de Ostras – Fenaostra, em Santa Catarina, onde se manteve um estande de demonstração do produto nordestino.

54.43. Afirmou que todos os beneficiários das passagens aéreas tinham vínculo com o projeto e que não houve licitação porque ‘tal procedimento não se demonstrava possível tendo em vista a imprevisibilidade dos eventos e suas datas’, além de que esses serviços de transporte aéreo de passageiros ‘não era atividade meio ou compunha de modo direto o objeto do convênio’.

54.44. Por fim, apresentou o tópico ‘7.3 – Quanto à afirmação de não cumprimento do objeto do convênio’. Revelou sua indignação com a conclusão da Seap/PR de que o objeto do convênio não foi cumprido, porque foi designado um fiscal local do projeto e o Instituto ainda teria recebido a visita do coordenador nacional de maricultura da Seap/PR, Felipe Suplicy, em mais de uma ocasião, em que este teve a oportunidade de avaliar de perto a execução do programa.

54.45. Citou que ambos produziram relatórios durante a vigência do convênio em que teriam atestado o bom andamento dos trabalhos e visualizando as dificuldades encontradas. Demonstrou estranheza o Sr. Felipe Suplicy tenha elaborado novo relatório ‘meses depois do encerramento do programa, apontando algumas deficiências nos cultivos’. Destacou:

É imprescindível relembrar que o convênio previa programa de implantação de uma atividade econômica, com prazo determinado e recursos limitados à cada etapa.

Desta forma, após o encerramento das atividades daquela etapa, era previsto que as comunidades dessem continuidade aos cultivos, agora com recursos próprios, e não mais com aportes advindos do Projeto Oceanus.

De igual modo, já era previsível que nem todos os pescadores mantivessem o ânimo em continuar, uma vez que agora teriam que repor materiais com seus próprios recursos, mantendo o treinamento fornecido pelos técnicos.

Assim, não se pode responsabilizar o Instituto Oceanus pelo fato da frustração da continuidade do negócio, que não mais lhe competia.

54.46. A responsável trouxe a lume matéria jornalística recente, ressaltando que as comunidades confirmaram todo o trabalho realizado e o material recebido pelas associações. Alegou, também, que as principais comunidades beneficiadas continuam a manter os cultivos até hoje, com o material recebido do Instituto, incluindo embarcações, moto-bomba, mesas de cultivo e vestuário.

54.47. Destacou a responsável que ‘a mídia nacional e regional registrou largamente as etapas do projeto, tanto em jornais falados quando escritos, destacando as falas de quem realmente foi beneficiado pelo projeto: os pescadores e os participantes da cadeia produtiva e comercial’.

54.48. Finalizou sua defesa requerendo que seja reconhecida sua ilegitimidade passiva, posto que os atos impugnados seriam estranhos às atribuições do cargo que ocupava no Instituto Oceanus; que sejam excluídos os atos ocorridos após sua saída da diretoria do Oceanus, em 9/6/2006; que seja permitida, ao longo da instrução, a juntada de novos documentos, realização de perícias, etc; que seja reconhecida a conclusão do objeto conveniado e a improcedência da imputação do dever de ressarcimento e que, doravante, as publicações e intimações sejam enviadas aos seus advogados constituídos neste processo.

Análise das Alegações de defesa da Senhora Everilda Brandão Guilhermino55. De início, é importante, após a apresentação da defesa dessa responsável, registrar os

atos impugnados que foram objeto da sua citação, de modo a permitir o contraponto entre o que foi questionado e o que foi efetivamente defendido. Os atos abaixo relacionados foram extraídos do ofício de citação da responsável, mantendo-se a respectiva numeração, e a divisão em função dos agentes arrolados solidariamente:

Solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus.

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a.1) execução parcial e não consecução do objeto do Convênio 8/2005, que objetivava dar apoio ao desenvolvimento sustentável da maricultura em Alagoas, além de que não foi demonstrada a funcionalidade do objeto e o alcance da sua finalidade social;

a.2) contratação da empresa K. E. Lima – ME, de propriedade de Kátia Esteves de Lima (CPF: 040.311.344-01), no valor de R$ 29.850,00, que já foi Coordenadora Executiva e Financeira do Instituto Oceanus, para prestar fornecimentos ao Instituto, alguns não previstos no plano de trabalho, sendo que conforme apurou o Ministério Público Federal nenhum foi entregue;

a.3) indícios de fraude e simulação na locação de veículos junto à empresa A M Locadora de Veículos Ltda., sem prévia pesquisa de preços, sem contrato e sem publicidade prévia, posto que a investigação do Ministério Público Federal concluiu que os serviços nunca foram prestados. Os documentos fiscais emitidos pela locadora não indicam o período da locação, os veículos locados e o valor por veículo, o que impede a verificação da compatibilidade do que foi pago com os valores de mercado, além de impossibilitar a atestação da efetiva prestação dos serviços;

a.4) aquisição indevida de veículo fora das especificações estabelecidas no plano de trabalho, e posterior venda irregular do patrimônio adquirido com os recursos públicos, além de não ter prestado contas do destino dado ao produto da venda, contrariando o disposto na cláusula sexta, subcláusula primeira, e na cláusula décima sexta do termo do convênio;

a.5) gastos supostamente realizados com combustíveis, da ordem de R$ 54.368,29, sem controle do veículo abastecido, a data, quantidade de combustível, o que impossibilita o estabelecimento do nexo causal entre essas despesas e o objeto do convênio;

a.6) gastos irregulares com diárias, sem evidências da vinculação do favorecido com o projeto, nem a respeito do objetivo da viagem, o período e a fase/etapa a que a despesa está relacionada, impedindo a necessária verificação da regularidade das despesas e sua vinculação com o objeto conveniado, associado a depoimentos colhidos pelo Ministério Público Federal que revelam que essas despesas eram forjadas, já que não existia o pernoite nas localidades e que alguns beneficiários nunca viajaram no âmbito do projeto;

a.7) gastos com viagens sem a comprovação da sua efetiva realização e da relação com o objeto do convênio, beneficiando, principalmente, pessoas ligadas à direção do Instituto Oceanus;

a.8) pagamento de despesas com hotéis, sem estarem previstas no plano de trabalho, sem indicação da relação com o objeto do convênio e sem especificação do hóspede;

a.9) supostas despesas com refeições, sem previsão no plano de trabalho, e sem indicação da relação com o objeto do convênio;

a.10) aquisição indevida e com indícios de fraude de balsas de trabalho, não previstas no plano de trabalho e que não foi comprovada a entrega, tendo sido localizada uma em estado de abandono, além de não ter sido comprovada sua utilização no objeto do convênio;

a.11) pagamentos indevidos feitos a dirigentes do Instituto Oceanus, inclusive com vínculo de parentesco com o ordenador financeiro, e sem que exista comprovação da efetiva contraprestação dos serviços;

a.12) pagamentos por supostos serviços de capacitação, consultoria e fotos aéreas, sem comprovação da efetiva prestação dos serviços;

a.13) despesas diversas não previstas no plano de trabalho e sem a adequada comprovação da efetiva prestação dos serviços/entrega dos produtos, muitas delas indevidamente realizadas mediante cheques nominativos ao próprio Instituto, o que caracteriza irregularidade ainda mais grave que afronta regra explícita do termo do convênio, relacionadas no item 4.6 do Parecer 006/2008-COGPA/DIGEAI/SA/SEAP-PR, de 9/5/2008;

a.14) realização do comércio de ostras em restaurante em Maceió/AL de propriedade de parentes dos coordenadores do Projeto, equipado e montado com recursos do convênio, denominado ‘Maria Vai Com as Ostras’;

a.15) desvio dos recursos da conta do convênio operados mediante saques da conta específica realizados mediante cheque nominativo ao próprio Instituto Oceanus, retiradas em caixa eletrônico, pagamentos de boletos bancários e contas de prestadores de serviços públicos não

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relacionados com o objeto do repasse, contrariando o disposto na cláusula sexta do termo do convênio;

Solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto EXATO;

b.1) contratação de entidade controlada, de fato, por Daniel Lima Costa, dirigente do Instituto Oceanus, conforme apurado no inquérito na Procuradoria da República em Alagoas, e dirigida formalmente por pessoas das relações íntimas desse mesmo Coordenador Geral do Oceanus, ferindo os princípios da impessoalidade e da moralidade que devem permear a atuação daqueles que lidam com recursos públicos, e sem que a referida instituição tenha efetivamente prestado e entregue os serviços para os quais foi contratada;

b.2) contratação do Instituto Exato sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusivida da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

b.3) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e o Instituto Exato;

b.4) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou constatar se os PLDM foram elaborados em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

b.5) não comprovação pelo Instituto Exato da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

Solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto IBRADIM;

c.1) contratação do Instituto IBRADIM sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusivida da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

c.2) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e o Instituto Ibradim;

c.3) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou verificar se o que foi executado está em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

c.4) não comprovação pelo Instituto Ibradim da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

Solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto ADS CORAIS;

d.1) contratação do Instituto ADS Corais sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusivida da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

d.2) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e a Agência ADS Corais;

d.3) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou verificar se o que foi executado está em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

d.4) não comprovação pela ADS Corais da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

55.1. No tocante à responsabilidade da ex-Presidenta do Instituto Oceanus e sua alegação de ilegitimidade passiva, em razão das atribuições do cargo que ocupava na direção da ONG, de imediato, vê-se que, de forma objetiva, por meio do Ofício 122/2004, de 16 de novembro de 2004, submetera a proposta (peça 1, p. 8), em 5 de maio de 2005, assinara a celebração do Convênio 8/2005 (peça 2, p.10) e seus termos aditivos (peça 2, p. 126 e peça 3, p. 28). Desse modo, não há como afastar a responsabilidade da Srª Everilda Brandão Guilhermino em eventuais irregularidades ocorridas durante a execução. Além disso, segundo De Page, in Rui Stoco, p. 153:

a pessoa jurídica responde como preponente pelos atos de seus empregados ou prepostos (responsabilidade por fato de terceiro), como também pelos de seus órgãos (diretores, administradores, assembléias etc.), o que vai dar na responsabilidade direta ou por fato próprio.

55.2. A responsável alegou as responsabilidades da Presidente do Instituto Oceanus estava delimitada no estatuto da entidade, que em seu art. 19 registra que compete ao Coordenador Executivo e Financeiro a administração.

55.3. Não é bem assim como foi colocado. Quando da vigência do convênio 8/2005 regia o Instituto Oceanus (à época denominado Projeto Oceanus), o estatuto aprovado em 24/3/1998 (peça 1, p. 74-79). O próprio estatuto, de forma apropriada, buscou dividir as responsabilidades e evitar atribuir um poder total a determinado membro da diretoria. No art. 6º do referido documento está estabelecido que a estrutura organizacional era composta pelos seguintes órgãos: Conselho de Administração e Finanças (CAF), Coordenadoria Executiva (CE) e Corpo Técnico (CT).

55.4. Interessa à situação em exame, as atribuições e competências do Conselho de Administração e Finanças e da Coordenadoria Executiva, os quais, conforme se verá, exerciam funções diretivas, executivas e de controle.

55.5. O Conselho de Administração e Finanças era constituído por três conselheiros, todos efetivos (art. 7º). O Presidente e o Vice-Presidente do CAF ocupavam, também, a Presidência e a Vice-Presidência da ONG (art. 8º). A Senhora Everilda Brandão Guilhermino ocupava a Presidência, consoante disposto em ata de 22/11/2004 (peça 16, p. 55-56), tendo deixado o cargo em 9/6/2006, quando assumiu a Srª Andréa Cristina Kunzler Nogueira Costa, também responsável neste processo, e esposa de Daniel Lima Costa, ex-coordenador executivo e financeiro do Instituto, considerado pelo Ministério Público Federal, na Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa intentada na Justiça Federal (Processo 0001275-83.2008.4.05.8000) (peça 3, p. 125-196 e peça 85).

55.6. O Conselho de Administração e Finanças, presidido pela defendente, tinha como atribuições, segundo o disposto no art. 9º do estatuto da Instituição, dentre outras:

Art. 9º São atribuições do Conselho de Administração:(...)II. nomeação dos membros da Coordenadoria Executiva do Projeto Oceanus;IV. aprovar os convênios, contratos e acordos celebrados pelo Projeto Oceanus;V. exercer a fiscalização e controle interno da administração do Projeto Oceanus nas áreas

contábil e administrativa, pelo exame da documentação pertinente;55.7. Ao presidente do Conselho de Administração e Finanças, cargo à época ocupado pela

defendente, competia, dentre outros, segundo o art. 13 do estatuto:

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a) representar o Projeto Oceanus, ativa e passivamente, em juízo ou fora dele, nas suas relações com terceiros, assim como na administração de todas as suas atividades;

b) superintender todas as atividades internas e externas, providenciar e deliberar sobre todos os casos urgentes, submetendo seus atos à aprovação do CAF, nas reuniões subsequentes;

c) juntamente com o Coordenador Executivo e Financeiro, assinar os cheques ou qualquer documento bancário e promover o recebimento de subvenções ou qualquer donativo;

d) delegar, por escrito, parte de suas atribuições a outros membros do CAF ou da CE;e) homologar os processos de compras realizadas pela Coordenação Executiva.55.8. Ou seja, pelo que está expresso no estatuto do então Projeto Oceanus, embora

competisse ao Coordenador Executivo e Financeiro [Sr. Daniel Lima Costa], tinha a Presidente do CAF, um conjunto de atribuições e competências, por meios das quais tinha o dever de exercer o efetivo controle da atuação da organização, inclusive participando da gestão.

55.9. Observa-se, ademais, que os autos sugerem ter havido a delegação de atribuições por parte da Srª Everilda Brandão ao Coordenador Executivo, possibilidade prevista no art. 13, alínea g. Isso porque nas autorizações de transferências bancárias remetidas pelo Instituto à Caixa Econômica Federal – procedimento comumente utilizado pelo Oceanus para fazer os ‘pagamentos’ (peça 16-p. 151-166) -, consta apenas a assinatura de Daniel Lima Costa, então Coordenador Executivo e Financeiro, quando o estatuto previa, no art. 13, alínea e, que deveriam ser assinados pelo Presidente da CAF [a ora defendente] e o Coordenador Executivo (peça 1, p. 76).

55.10. Quanto à sua alegação de que o próprio Ministério Público Federal reconhece na Ação Civil Pública (ACP) impetrada que a defendente não teve participação em atos concretos de gestão do Instituto Oceanus, até porque a função de Presidenta que exerceu não detinha tais competências (peça 59, p. 3), conflita com o fato de que foi inserida como réu no processo da cita ACP, ação esta recebida pelo Juiz Federal, que determinou a sua citação e dos demais réus (peça 85, p. 28).

55.11. Quanto à sua responsabilização – e do Instituto Oceanus – pelo dever de ressarcir ao erário e de responder pelas irregularidades verificadas na gestão dos recursos federais repassados mediante convênio, cumpre citar excerto do Voto do Ministro-Relator que fundamentou o Acórdão 2.763/2011-TCU-Plenário, de 19/10/2011:

9. A tese sustentada pelo representante do MP/TCU é de que a pessoa jurídica de direito privado, ao celebrar avença com o poder público federal, objetivando alcançar uma finalidade pública, assume o papel de gestora pública naquele ato e, em consequência, está sujeita ao cumprimento da obrigação pessoal de prestar contas ao poder público, nos termos do artigo 70, parágrafo único, da Constituição Federal; por conseguinte, passa a recair, também, sobre essa entidade a presunção iuris tantum de ter dado causa a dano ao erário eventualmente ocorrido na execução da avença, por imposição constitucional, com base no disposto no mesmo art. 70, parágrafo único, combinado com a parte final do inciso II do art. 71 da Carta Magna.

10. Da mesma forma, a responsabilidade da pessoa física, na condição de dirigentes de entidade privadas encontra amparo nos citados artigos 70 e 71 da CF, visto que, de fato, a pessoa natural é quem determina a destinação a ser dada aos recursos públicos transferidos; por isso, a obrigação de comprovar a boa e regular aplicação dos recursos recai sobre ela também, por meio de prestação de contas.

(...)13. No que tange à responsabilização da pessoa física, na figura de representante da

entidade privada, entendo não aplicável, neste caso, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica da entidade, prevista no art. 50, do Código Civil Brasileiro, tendo em vista que o dever de prestar contas do administrador desses recursos é inerente à atribuição que lhe foi dada, qual seja, o gerenciamento de recursos federais repassados para o alcance de finalidade pública, e essa responsabilidade já tem previsão constitucional, conforme defendido pelo representante do Ministério Público em seu parecer.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

55.12. Segundo a doutrina pátria, os requisitos da responsabilidade administrativa são os seguintes:

a) ato ilícito na gestão de recursos públicos;b) conduta culposa ou dolosa; e,c) nexo de causalidade;55.13. Os atos ilícitos estão sobejamente demonstrados nos autos e indicados nos itens

impugnados constantes da citação da defendente, tendo a sua responsabilidade sobre elas já sido tratada nos itens precedentes desta instrução.

55.14. O nexo de causalidade ficou evidenciado no fato de que a Srª Everilda Brandão era a Presidente da instituição, responsável pela captação dos recursos, pela sua gestão e controle, e pela prestação de contas, conforme se verifica no estatuto da ONG, conforme exposto nos itens 55.3 a 55.9 retro.

55.15. No caso de conduta culposa, divide-se em negligência, imprudência, imperícia, culpa in vigilando e culpa in elegendo. No particular, a culpa in vigilando decorre da falta de atenção ou cuidado com o procedimento de outra pessoa que está sob a guarda, fiscalização ou responsabilidade do agente. Ressalte-se que o estatuto do Oceanus estabelece que a Presidente do Conselho de Administração e Finanças nomeia o coordenador executivo e financeiro. Ou seja, a Srª Everilda Brandão escolheu e nomeou o Sr. Daniel Costa. Tem, por isso, culpa in elegendo.

55.16. Nessa linha, segundo José dos Santos Carvalho Filho:Do sistema hierárquico na Administração decorem alguns efeitos específicos. O primeiro

consiste no poder de comando de agentes superiores sobre outros hierarquicamente inferiores. Estes, a seu turno, têm dever de obediência para com aqueles, cabendo-lhes executar as tarefas em conformidade com as determinações superiores.

Outro efeito da hierarquia é o de fiscalização das atividades desempenhadas por agentes de plano hierárquico inferior para verificação de sua conduta não somente em relação às normas legais e regulamentares, como ainda no que disser respeito às diretrizes fixadas por agentes superiores.

Decorre também da hierarquia o poder de revisão dos atos praticados por agentes de nível hierárquico mais baixo. Se o ato contiver vício de legalidade ou não se coadunar com a orientação administrativa, pode o agente superior revê-lo para ajustamento a essa orientação ou para restaurar a legalidade. (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo, 10ª ed. Rio de Janeiro: LUMEN JURIS, 2003, pp. 49/50).

55.17. Recai, também, sobre a ex-dirigente do Oceanus a responsabilidade in vigilando. O coordenador executivo da ONG, por ela nomeado, praticou graves irregularidades na gestão dos recursos públicos. Cabia à defendente, nos termos do estatuto da Entidade que ela decidiu presidir, fiscalizar e fazer o controle interno da administração, superintender todas as atividades internas, assinar com o coordenador todas as movimentações bancárias e homologar os processos de compras. Ou seja, o estatuto lhe atribuía o dever de vigiar o coordenador executivo, o que não ocorreu.

55.18. Diversas são as deliberações da Corte de Contas em que gestores são responsabilizados, com imputação de débito ou aplicação de multa, por omissão no dever de supervisionar a atuação de seus subordinados, a exemplo dos Acórdãos 698/2002, 699/2002, 963/2006, todos da 1ª Câmara, 730/2004 e 1.432/2006, ambos do Plenário. Nesse sentido, veja-se a ementa deste último acórdão:

2. Atribui-se a culpa in vigilando do Ordenador de Despesas quando o mesmo delega funções que lhe são exclusivas sem exercer a devida fiscalização sobre a atuação do seu delegado.

3. Atribui-se a culpa in vigilando dos responsáveis por funções fiscalizatórias pelos débitos correlacionados a falta ou deficiência do competente controle.

55.19. Desse modo, a ex-Presidente do Instituto Oceanus não exerceu sua função fiscalizatória quanto à atividade de gestão praticada pelo coordenador e outros membros da Entidade. Não se concebe a ideia de que a responsável não tinha conhecimento deste vasto número de irregularidades graves evidenciadas pelo Ministério Público Federal e pelo Controle Interno. Na

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tabela abaixo, encontra-se um resumo da descrição das atividades do plano de trabalho e o respectivo valor associado à tarefa:

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE NO PLANO DE TRABALHO Valor (R$)1. Elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM) 428.611,001.1 – Caracterização do contexto político no âmbito municipal e intermunicipal (regional) compreendendo basicamente o levantamento dos estudos já existentes, os aspectos legais e propostas estaduais e municipais para a Maricultura.

9.600,00

1.2 – Caracterização do meio físico, identificando geologia e geomorfologia da região do entorno, levantamento batimétrico, análise e mapeamento geodiferenciado dos recursos hídricos, condições climáticas da região de abrangência, levantamento dos setores produtivos e outros fatores; que possam interferir na alteração da qualidade da água, estudo sobre a qualidade da água considerando entre outros parâmetros o pH, temperatura, transparência, salinidade, nitrogênio, clorofila, etc.

102.570,00

1.3 – Caracterização do meio biótico: mapeamento georreferenciado da região costeira, descrição da vegetação aquática·macroscópica, levantamento das espécies aquáticas com valor econômico, raras, endêmicas, ameaçadas de extinção, levantamento da fauna aquática macroscópica e das espécies da fauna Terrestre.

45.309,00

1.4 – Diagnóstico do uso do espaço aquático marinho contendo: identificação em cartas náuticas dos múltiplos usos dos ecossistemas marinhos, identificação das instituições presentes na região e suas áreas tradicionais de pesca, identificação das áreas utilizadas para atividades profissionais e esportivas.

22.920,00

1.5 – Informações básicas complementares para a demarcação de parques e áreas aqüícolas e faixas de preferência destinadas a Maricultura, compreendendo: delimitação de áreas de preferência às populações tradicionais, delimitação de parques e áreas aqüícolas e elaboração de plantas de localização das áreas e parques aqüícolas em consonância com a legislação vigente.

36.629,00

1.6 – Descrição das técnicas a serem utilizadas no cultivo compreendendo: informações sobre as alternativas tecnológicas, analisando os aspectos, econômicos e ambientais, abordagem dos métodos materiais e tecnologias a serem utilizadas e, descrição e justificativa da distribuição e do número de estrutura de cultivos propostas relação área ocupada versus área a ser solicitada, manejo em todas as etapas do cultivo, etc.

28.054,00

1.7 – Descrição da infra-estrutura associada a ser utilizada pelos produtores como: vias de acesso, construções de apoio, depósitos ou galpões, laboratórios, larvicultura, unidades de beneficiamento e outros.

12.626,00

1.8 – Informação sobre a isenção regional contendo: análise das instalações do empreendimento com os programas em andamento, compatibilização do empreendimento com o Plano de Gerenciamento Costeiro e com os possíveis múltiplos usos do corpo d'água, influência das etapas de implantação dos parques aqüícolas, indicando os agentes responsáveis pela delimitação e implantação dos parques.

14.860,00

1.9 – Diagnóstico ambiental, definindo e caracterizando as áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Elaboração de edital de realização das Consultas Públicas para validação dos PLDM

23.500,00

1.10 – Estabelecimento de um Plano de Monitoramento Ambiental e gestão dos parques e áreas de maricultura.

64.739,00

1.11 – Elaboração de edital e realização de consultas públicas para validação dos PLDM.

67.804,00

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2. –Implantação das Unidades Demonstrativas de Ostras e Algas Marinhas, cadastramento, exame e seleção das famílias que irão participar das atividades

511.201,00

3 – Capacitação, treinamento e transferência de tecnologia de cultivo para as pessoas selecionadas, realização de cursos, seminários e encontros; visitas técnicas, aulas de campo, elaboração de material informativo (cartilhas, folders, manuais, etc.).

148.200,00

4 – Incentivo a comercialização e escoamento da produção, aquisição de equipamentos e de veículos para escoamento da produção; e, contatos com eventuais compradores da produção.

110.084,00

5. – Promoção de intercâmbio, através da realização de visitas técnicas para conhecimento de outras experiências existentes no Brasil e no Exterior para divulgação e aprimoramento tecnológico. Honorários Técnicos de consultoria para assessoria de comunicação; promoção de visitas da imprensa em geral para conhecimento e divulgação das atividades desenvolvidas; participação em festivais, feiras e eventos ligados a aqüicultura, produção e veiculação de site institucional.

94.080,00

6 – Técnicos de nível superior com 100% de dedicação 143.575,10TOTAL DO PROJETO 1.425.751,10

55.20. Por outra via, no âmbito do Poder Judiciário, vale citar, como ilustração da aplicação de culpa in vigilando e in eligendo, trecho da ementa de Ação Civil Pública que tratou de matéria que envolveu repasse de recursos públicos:

Ação Civil Pública. Entidade de Assistência Social de Deficientes. Desvio de Verbas. Falta de impugnação especificada dos prejuízos ocorridos. Presunção de veracidade, confortada pela prova dos autos. Delegação de Funções. Responsabilidade solidária do Delegante. Agente causador do Dano. Culpa in eligendo et in vigilando. Montante indenizatório. Parcelas determináveis e indetermináveis. Danos Emergentes e Lucros Cessantes. Lucros Sociais Cessantes.

1. Fatos alegados pela parte autora e não impugnados especificamente pelo réu são reputados verdadeiros, mormente se não contrariados pelos demais elementos de prova dos autos.

2. Presidente de Associação que delega a coordenação da entidade a terceiro, mesmo ao amparo de norma estatutária, responde solidariamente por danos que este causa à entidade, desviando para fins particulares valores que ela recebeu para a consecução de seus fins sociais. Trata-se de culpa in eligendo et in vigilando, que prescinde da demonstração do dolo do preponente em coadjuvar as atividades ilícitas de seu preposto.

3. No montante da indenização, cabe não só o que a entidade teve de pagar, retirado de seus próprios recursos, para devolver a Fundo público o que recebeu e foi desviado de seus cofres, como também a vantagem que deixou de auferir, para a realização de seus fins sociais, em razão da devolução ocorrida. Não ocorre, na espécie, o bis in idem, pois o desembolso carece de ressarcimento como dano emergente e o que deixou de receber, como indenização a título de lucros cessantes. (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. QUINTA TURMA CÍVEL – APELAÇÃO CÍVEL Processo 47.401/98, data do julgamento: 13/05/99, Relatora ANA MARIA AMARANTE).

55.21. De outro modo, a identificação do dolo ou culpa tem grande relevância quando vamos considerar a possibilidade de aplicação de multa ao responsável e, sobretudo, fixar o valor da sanção. É certo que aquele que desejou violar a norma legal e lesar a Fazenda praticou conduta mais reprovável. Portanto, deve sofrer uma apenação maior. A conduta de quem age por dolo é mais censurável do que aquela decorrente de culpa, de falta de cuidado ou atenção. Diz Gagliano:

Diferentemente do que ocorre no Direito Penal, em que a culpa é considerada para efeito de fixação da sanção (pena-base), no Direito Civil, a sanção não está adstrita ou condicionada ao elemento psicológico da ação, mas sim à extensão do dano. Para efeito de indenizar, portanto, não se distingue, a priori, o dolo da culpa leve, por exemplo. (in GAGLIANO, Pablo Stolze;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 141)

55.22. Segue na mesma linha o trecho do voto condutor da Decisão 207/2002– Plenário:

Restaria letra morta o princípio geral de direito que determina que todo o que causa prejuízo a outrem, dolosa ou culposamente, tem o dever de indenizar, dever esse de que, na área pública, a Tomada de Contas Especial é o instrumental de concretização.

55.23. O dever de indenizar também nasce do dano causado por culpa do agente. São irrelevantes o dolo ou a prova de que tenha obtido benefício para si ou para seus familiares. A presença de dolo e de eventual locupletamento são circunstâncias que, quando presentes, conferem maior gravidade ao ato ilícito e devem ser avaliadas por ocasião da imposição da multa. Além disso, a ausência de dolo e de locupletamento por parte do responsável não o exime do dever de recompor o dano a que deu causa por meio de atuação imprudente e desautorizada.

55.24. É importante destacar que a responsável, expressamente, declara que tomava conhecimento e participava das decisões de gestões, conforme excerto retirado de sua defesa:

A defendente, muito embora não tivesse qualquer função executiva no processo licitatório, acatou a decisão do Coordenador Executivo do Projeto Oceanus que entendeu por bem dividir o objeto em duas licitações de modo a permitir que mais empresas participassem do certame ou que, a empresa perdedora na primeira licitação buscasse a diminuição de custos para concorrer com melhor chance na segunda, fato este que só contribuiria para que se alcançasse o menor preço.

55.25. Por sua vez, o cerne da questão se concentra efetivamente no cumprimento dos objetivos do Convênio, por meio de boa e regular aplicação dos recursos repassados, fazendo-se prova por meio de documentos comprobatórios idôneos e convincentes, previstos nas normas legais. Não obstante tenha tido a oportunidade de apresentá-los, a responsável não o fez. De certo, o plano de trabalho não foi realizado e o programa não atingiu a sua finalidade.

55.26. Em relação ao item ‘a.1’ da citação (execução parcial e não consecução do objeto do Convênio 8/2005, que objetivava dar apoio ao desenvolvimento sustentável da maricultura em Alagoas, além de que não foi demonstrada a funcionalidade do objeto e o alcance da sua finalidade social), a defesa abordou a questão no ‘item 5’ de sua exposição (peça 59, p. 12-30) (vide itens 54.10 a 54.16 desta instrução).

55.26.1. Quanto à alegação da defendente de que os relatórios de fiscalização e de visitas técnicas produzidas pela SEAP/PR, durante a vigência do convênio, registravam um bom andamento do projeto, assiste razão à responsável quando se refere à deficiente fiscalização empreendida por aquele Órgão. No entanto, tais relatórios, não têm o condão de lhe socorrer.

55.26.2. A ausência ou a deficiência do controle da administração pública não podem ser utilizadas como justificativas da má gestão dos recursos repassados. Carece de fundamentação a alegação da responsável neste aspecto, pois, embora sempre desejável, o controle é ato discricionário da administração, enquadrando-se no quesito da conveniência e da oportunidade. Na verdade, cabe ao gestor dos recursos públicos a boa e regular aplicação em proveito da sociedade, independentemente do controle dos órgãos repassadores.

55.26.3. Extrai-se dos referidos Relatórios da SEAP/PR que, inicialmente, o projeto apresentava-se com resultados satisfatórios, mas, no decorrer do cronograma, o que se viu foi o pleno desvirtuamento de suas ações, acompanhadas de irregularidades graves, com ofensas aos princípios constitucionais, dentre outros da impessoalidade e moralidade, bem como de desvio de recursos públicos em proveito do particular.

55.26.4. Assim, não assiste razão a responsável em se utilizar do argumento de que os relatórios da SEAP/PR, contraditórios no tempo, poderiam, de algum modo, serem considerados como causa das evidentes irregularidades apontadas e comprovadas por outros meios, tais como, notas fiscais, cheques, saques em espécie e extratos bancários.

55.26.5. Ademais, em alguns momentos, como em setembro/2005, o Chefe da Seap/PR em Alagoas comunicou à Diretoria em Brasília, as dificuldades que estava encontrando para

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acompanhar a execução do repasse, pela omissão do Instituto em prestar informações e apresentar documentos, o que estava lhe impossibilitando de emitir parecer (peça 2, p. 53-57).

55.26.6. Vale frisar que houve sim falta de planejamento para a formalização do termo do convênio, tanto por parte do Oceanus, quanto por parte da Seap/PR, fato reconhecido pela própria defendente, ao citar que somente na execução do convênio ‘verificou-se que Alagoas não teria registro dos estudos realizados no litoral, no que faltaram dados essenciais à evolução do plano de trabalho’. Essa é uma informação básica para um trabalho como este e que vinha sendo realizado há anos, conforme histórico traçado na defesa, mas não foi considerado quando da solicitação de recursos financeiros à União.

55.26.7. Há certa confusão quanto às realizações do Oceanus nas comunidades, que não permitem saber ao certo o que foi feito pelo Sebrae/AL e o que foi feito pelo Instituto, com recursos do ajuste com a Seap/PR. Na fiscalização realizada no empreendimento pela Secretaria de Controle Interno da Presidência da República (Ciset/PR), em agosto/2006, a equipe registrou que na Barra de São Miguel/AL, um dos locais em que o Oceanus enfatiza suas realizações, foi informado que não foi o Projeto Oceanus que implantou o sistema de criação de ostras com a utilização das mesas de cultivo, e sim o Sebrae e a Prefeitura, em 2004 (peça 3, p. 57, item 24).

55.26.8. Foi relatado ainda pela Ciset/PR, a partir de informações obtidas na visita à unidade da Barra de São Miguel/AL, que houve um curso sobre o cultivo de ostras, mas que foi promovido pelo Sebrae/AL. Que as mesas de cultivo foram montadas com o auxílio do mesmo Sebrae, que selecionou a comunidade de Palatéia, naquele Município, para ser inserida no projeto (peça 3, p. 57, item 25).

55.26.9. A responsável alegou a ocorrência de mudanças no plano de trabalho para adequação às disposições da Instrução Normativa Seap/PR 17, de 22 de setembro de 2005, que dispôs sobre os critérios e procedimentos para a elaboração e aprovação dos PLDMs (revogada pela IN/MPA 8, de 25/5/2010). Contudo, essa norma foi baixada depois da celebração do convênio 8/2005 e, segundo o Coordenador Geral de Maricultura da SEA/PR, não houve prejuízo à execução do objeto (peça 3, p. 72-73).

55.26.10. Além disso, no Parecer Técnico que emitiu em 11/4/2007, o Coordenador de Maricultura buscou esclarecer os questionamentos feitos pela Ciset/PR acerca da celebração e execução do convênio 8/2005 (peça 3, 69-77). Neste foram destacadas algumas das ocorrências que levaram ao insucesso do objeto conveniado, a não execução satisfatória da meta relativa ao incentivo à comercialização, à falta de documentação comprobatória da realização dos cursos de capacitação e o afastamento do consultor técnico do projeto, o que ‘prejudicou severamente a continuidade do projeto’, pois este ‘era a única pessoa que tinha uma formação na área e experiência em desenvolvimento de projetos de maricultura’.

55.26.11. Por outro lado, necessário enfatizar que no mesmo parecer acima mencionado, foi registrado que a não celebração do termo aditivo requerido pelo Oceanus para alocação de recursos complementares pela Seap/PR, ‘impediu que a ONG honrasse seus compromissos com os consultores ad hoc e a finalização dos PLDM’.

55.26.12. Entretanto, verifica-se nos autos que a não conclusão do objeto do convênio está diretamente relacionada às diversas irregularidades verificadas na gestão dos recursos, apontadas pela fiscalização da própria Seap/PR, pela Ciset/PR e pelo Ministério Público Federal, em especial do envolvimento dos Institutos Exato, Ibradim e ADS Corais, justamente as entidades que supostamente seriam responsáveis pela contratação e pagamento aos consultores que estariam elaborando os PLDMs.

55.27. Item ‘a.2’ da citação – A defesa foi silente em relação à contratação da firma individual K.E Lima, no valor total de R$ 29.850,00. Esse contrato, conforme destacado pelo Diretor (peça 20), destinava-se ao fornecimento de produtos ao projeto (lanternas para cultivo, redes e poitas de ferro), mas mostrou-se como outra transação feita pelo Oceanus direcionada para beneficiar pessoa ligada ao próprio Instituto, ferindo os princípios da moralidade e da

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impessoalidade (vide peça 9, p. 40-41, . Não houve pesquisa prévia de preços para verificar a compatibilidade com os de mercado e nem processo para justificar o direcionamento da compra.

55.27.1. No mesmo pronunciamento, o Diretor assinalou:8.1. Além disso, é evidente o vínculo da Kátia Esteves, pessoa física, com o Oceanus. Esta

pessoa recebeu do Instituto, a título de diárias, R$ 8.500,00, não tendo sido verificada vinculação da técnica com o projeto, o objetivo e o período das viagens e nem a etapa e fase do projeto a que relaciona. Tais pontos foram constatados pelo repassador conforme quadro na peça 12, p. 30-31 e comprovantes de alguns dos diversos valores transferidos à mesma pessoa (Peça 5, p. 54 e 109; peça 6, p. 99).

8.2. Conforme verificou o ente repassador, o pagamento de R$ 6.800,00 à firma K.E. Lima para fornecimento de redes foi irregular, já que se tratou de item não integrante do plano de trabalho (peça 12, p. 30). Ademais, conforme ressaltou o Ministério Público Federal, todos os produtos pagos à K. E. Lima não foram entregues (peça 3, p. 144-145).

55.27.2. Pesa contra essa contratação, ainda, o fato de que o Ministério Público Federal apurou que os fornecimentos não foram realizados (peça 3, p. 45). Citou, também, o Parquet, que em depoimento prestado por Carlos Alexandre Kunzler – sobrinho de Andréa Kunzler Costa, que por sua vez é esposa de Daniel Lima Costa – foi afirmado que Daniel Lima, coordenador executivo do Oceanus, entregou-lhe alguns carimbos em 2006, para que guardasse, dentre os quais estavam carimbos da K. E. Lima, o que reforça a evidência de fraude na contratação.

55.27.3. A Kátia Esteves Lima atuava em várias frentes junto ao Instituto Oceanus. Em uma, realizava ‘fornecimentos’ por meio de uma firma individual (e.g. peça 9, p. 40-41, 86-88; peça 10, p. 60-61). Em outra, prestava serviços não especificados como pessoa física ao Instituto (peça 9, p. 124 e 201; peça 11, p. 13). Em uma terceira frente, era tesoureira do Instituto Exato (CNPJ: 06.241.431/0001-26), um dos contratados pelo Oceanus (peça 46). Também fez parte do Conselho de Administração do Instituto Ibradim, juntamente com Daniel Lima Costa, Andréa Cristina Kunzler Nogueira Costa – estes dois, dirigentes do Oceanus (peça 67, p. 18-29).

55.27.4. item ‘a.3’ da citação: Em relação aos indícios de fraude e simulação na locação de veículos junto à empresa A M Locadora de Veículos Ltda., sem prévia pesquisa de preços, sem contrato e sem publicidade prévia, a defesa não enfrentou diretamente as questões colocadas na citação (vide item 54.39 a 54.41 retro).

55.27.5. Apresentou argumentos que não são nada convincentes e até contraditórios. Aduz que escolheram uma locadora menor, por estar mais próxima da sede da ONG, e que possuía maior disponibilidade de veículos. As demais não serviam, pois em sua maioria estariam no aeroporto e não garantiam a disponibilidade de veículo. Apenas a AM Locadora fazia isso, é o que se deduz.

55.27.6. Nada obstante, não se defendeu em relação aos demais pontos de item da citação. Nada disse sobre o fato de que a investigação do Ministério Público Federal concluiu que os serviços nunca foram prestados. Também não refutou a constatação de que os documentos fiscais emitidos pela locadora não indicam o período da locação, os veículos locados e o valor por veículo, o que impede a verificação da compatibilidade do que foi pago com os valores de mercado, além de impossibilitar a atestação da efetiva prestação dos serviços.

55.27.7. Não se pode olvidar que competia a Srª Everilda Brandão homologar as contratações e fiscalizar a gestão do Instituto. Contudo, permitiu que o Instituto realizasse uma despesa total de R$ 39.350,00, sem prévio procedimento de pesquisa de preços, sem prévia escolha da prestadora dos serviços e sem contrato. Não questionou, também, que as notas fiscais não indicavam o tipo de veículo locado, o preço da diária e o prazo da locação.

55.27.8. No pronunciamento do Diretor à peça 20 há excerto sobre essa contratação que vale a pena transcrever:

9.2. Conforme depoimentos colhidos pelo Ministério Público Federal, os deslocamentos das equipes do Oceanus sempre eram realizados em veículos próprios e que ‘nunca tiveram

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conhecimento de ninguém ter viajado utilizando veículos locados, à exceção de uma viagem para (...) Sergipe, quando foi utilizada uma van locada’ (peça 2, p. 147).

9.3. Outros depoimentos de geográfos que teriam prestado serviços ao Instituto foram de que embora tenham solicitado várias vezes a realização de estudos de campo, nunca viajaram pelo Oceanus.

9.4. Excerto da ação judicial movida pelo Ministério Público Federal relata o esquema envolvendo a locadora e o Instituto Oceanus, razão pela qual se permite transcrevê-lo (peça 2, p. 147), verbis:

Na realidade, conforme análise da documentação contida no bojo dos presentes autos e nas denúncias feitas pelo Sr. Carlos Alexandre Kunzler, a AM LOCADORA DE VEÍCULOS LTDA. foi aberta pelo Daniel Lima Costa em nome de ALBERTO JORGE KUNZLER RIBEIRO e sua esposa MARA NÚBIA KUNZLER RIBEIRO, sendo Alberto Kunzler, irmão de Andréa Cristina Kunzler, esposa de Daniel. Ou seja, a ‘locação de veículos’ não passou de um ardiloso plano do ‘dono’ do Oceanus, pois a quantia declarada de R$ 39.350,00 (...) que teria sido repassada como suposta contraprestação aos serviços de locação de veículos, na verdade foram transferências de recursos para Daniel Lima, haja vista as locações não terem ocorrido de fato e aquele ser o real proprietário da Locadora, consoante documentação de fls. 520/522.

55.27.9. Como bem destacou o MPF, a explicação da escolha da AM Locadora de Veículos está no fato de que o proprietário da empresa é irmão de Andréa Kunzler, esposa do Coordenador Executivo da Oceanus, nomeado por Everilda Brandão.

55.27.10. Diante do exposto, deve-se rejeitar as alegações de defesa.55.28. Item ‘a.4’ da citação – A cerca da compra de um veículo com especificações

que não atendiam às exigências do objeto e diverso do previsto no plano de trabalho, a responsável limitou-se a dizer que foi adquirido em substituição ao utilitário.

55.28.1 A justificativa não pode ser aceita. A própria natureza dos serviços a serem executados indicava a necessidade de um veículo utilitário e não de um veículo de passeio. Mesmo assim, sem autorização do concedente, a Srª Everilda realizou a aquisição e conduziu todo o processo licitatório (peça 14, p. 64-97 e peça 9, p. 66-67)).

55.28.2. Aliás, verifica-se que ao contrário do que alega a Presidente, ela esteve à frente de todas as compras e contratações do Instituto, conforme pode se observar às peças 12-14, o que contraria sua defesa de que não praticava atos de gestão.

55.28.3. Quanto à venda posterior do veículo, embora tenha sido autorizada em ata do Instituto de 2/1/2007, conforme informou o MPF (peça 3, p. 148) e foi informado na defesa – a cópia da ata juntada à peça 59, p. 49, está ilegível – não foi juntada prova efetiva de que alienação ocorreu depois da saída da Srª Everilda do comando do Oceanus, em 9/6/2006 (peça 16, p. 19-20), já que o CRLV do veículo nunca foi apresentado e a nota fiscal juntada ao processo está ilegível, conforme já havia informado a Ciset/PR (peça 3, p. 58, item 32).

55.28.4. O produto da venda do veículo adquirido com recursos públicos, supostamente ainda na vigência do convênio, configura desvio de recursos públicos, no que a defesa não afastou sua responsabilidade.

55.29. Item ‘a.5’ da citação – Em relação aos gastos supostamente realizados com combustíveis, no valor total de R$ 54.368,29, sem controle do veículo abastecido, a data, quantidade de combustível, o que impossibilita o estabelecimento do nexo causal entre essas despesas e o objeto do convênio, a defesa novamente buscou apenas afastar sua responsabilidade, sob a alegação de ter atribuição estatutária para a gestão dos recursos.

55.29.1. Sustentou que as compras foram feitas por preços abaixo do mercado e que não é razoável exigir a devolução dos recursos com base apenas no aspecto formal da compra.

55.29.2. Primeiramente, a citação não questiona a forma de compra do combustível, mas, sim, o descontrole na suposta utilização do combustível adquirido. Não havia o mínimo de controle que deve existir em qualquer organização, mesmo privada, em especial quando está gerindo recursos públicos, da sociedade, e os quais vai ter que prestar contas.

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55.29.3. O descontrole chamou a atenção da Ciset/PR que destacou não haver registro de qual veículo abasteceu, a quilometragem rodada, itinerário etc, o que impedia a verificação da conformidade dos gastos.

55.29.4. O MPF destacou uma notas fiscal em que foram adquiridos 2.318 litros de gasolina, quantidade incompatível com o único veículo de que dispunha o Instituto (o Fiat Doblô). Depoimentos prestados à Procuradoria da República por empregados e consultores envolvidos, as poucas viagens realizadas eram feitas em veículos próprios. O outro veículo do Instituto era uma Mitsubishi L200, mas movido a óleo diesel.

55.29.5. Por fim, vale transcrever o apontamento feito sobre esse quesito pelo Diretor desta Unidade Técnica à peça 20:

10. As compras de combustíveis com os recursos do convênio não permitem verificar a destinação ou se sua utilização está relacionada com o objeto avençado, em face da absoluta falta de controles. Em 30/9/2005, por exemplo, foram adquiridos 2.476 litros de gasolina junto a um posto em Maceió/AL (peça 5, p. 147-148), sem que se possa ter a menor ideia a que se referem e como foram utilizados. Os demais pagamentos seguem a mesma linha. Foram oito pagamentos por dois a três mil litros de gasolina cada, sem haver nenhum detalhamento de como esse combustível foi utilizado ou por quem (qual veículo), demonstrando total falta de controle. Os projetos eram em municípios fora de Maceió/AL, mas a gasolina foi adquirida em empresa na Capital. Foram supostamente comprados 19.558 litros de gasolina, no valor total de R$ 54.368,29 (peça 11, p. 178; peça 6, p. 171; peça 7, p. 133) que não se sabe como seriam ou foram utilizados, tornando a execução do projeto um ambiente sem controle, já que ainda foram apresentadas outras diversas supostas compras avulsas de combustível (peça 6, p. 40, 46, 48, 49, 154, 171; peça 7, p. 133).

55.29.6. Desse modo, a impugnação dessa despesa se deve à falta de comprovação da efetiva utilização das quantidades adquiridas, no que a defesa não refutou.

55.30. Itens ‘a.6’, ‘a.7’, ‘a.8’ e ‘a.9’ da citação: A cerca desses quatro itens, a defesa manifestou-se apenas em relação aos gastos com viagens. Citou, apenas, a participação do Instituto na Fenaostra, realizada em Santa Catarina, em outubro/2005. De resto, informou que não fez licitação porque não havia previsão das datas das viagens e que o transporte aéreo era atividade meio em relação ao objeto do convênio.

55.30.1. Na prestação de contas, o Instituto registrou ter gasto R$ 44.603,76 com viagens (passagens aéreas) (peça 4, p. 29-52). O MPF apurou que apenas com viagens da Daniel Lima Costa, Andréa Kunzler (esposa de Daniel), Everilda Guilhermino, Kátia Esteves (aquela mesma tratada no item 55.25 acima) e seu esposo, Marcelo Lima, foram gastos R$ 25.783,69.

55.30.2. Ainda acerca das despesas com viagens, manifestou-se o Diretor (peça 20):12. Foram verificados diversos pagamentos à firma J.B.S Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ:

00.424.305/0001-20), relativas a supostas viagens que não foram comprovadas e nem a relação com o plano de trabalho do Convênio (R$ 46.013,08 – peça 12, p. 20-24). É o caso, por exemplo, do pagamento de R$ 2.894,00, em 23/9/2005, das passagens aéreas de uma suposta viagem a Washington de Daniel Lima Costa (Peça 5, p. 59-61). Há diversos outros casos, inclusive beneficiando pessoas cujo nome não revela o liame com o Instituto Oceanus (Peça 5, p. 62-70, 100- 101, 135-137 e 190-192; peça 6, p. 28-35, 149-151, 191-196; peça 7, p. 122-126). Em nenhum dos casos foi juntado ao processo o comprovante de embarque e desembarque, ou comprovante de hsopedagem na localidade, impedindo que se comprove, pelo menos, a efetiva utilização das passagens pagas.

55.30.3. No caso dos gastos com diárias, a defesa foi silente. Conforme questionado na citação (item ‘a.6’), não há evidências da vinculação do favorecido das diárias com o projeto, nem a respeito do objetivo da viagem, o período e a fase/etapa a que a despesa está relacionada, impedindo a necessária verificação da regularidade das despesas e sua vinculação com o objeto conveniado. Associe-se a essa situação, os fatos colhidos em depoimentos ao MPF de pessoas envolvidas com o projeto, as quais revelaram que essas despesas eram forjadas, que nunca receberam diárias, já que

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não existia o pernoite nas localidades e que alguns beneficiários nunca viajaram no âmbito do projeto.

55.30.4. No caso do pagamento a pessoas que nunca teriam viajado no âmbito do projeto, depoimentos ao MPF citaram o caso de Denise Lima Costa, irmã de Daniel Lima Costa, assim como Danielle de Paiva Torres. Mesmo assim, foram juntados à prestação de contas recibos de pagamentos de R$ 6.000,00 à primeira e de R$ 5.400,00, à segunda (peça 11, p. 201-202).

55.30.5. As despesas feitas com hospedagens em hotéis, não estavam previstas no plano de trabalho e não há indicação da relação com o objeto do convênio e sem especificação do hóspede.

55.30.6. O mesmo ocorreu com as supostas despesas com refeições, não previstas no plano de trabalho, as quais não têm indicação da relação com o objeto do convênio. Foram apresentadas inúmeras despesas com refeições, sem nenhuma indicação da relação com o objeto do convênio e sem estarem previstas no plano de trabalho. Este previa despesa com alimentação conjugada com hospedagem, a título de diária. As demais são irregulares, a exemplo das indicadas na peça 6, p.51 e 116; peça 8, p. 45; e peça 12, p. 19.

55.31. Item ‘a.10’. da citação – Quanto à compra de balsas de trabalho, no valor de R$ 83.025,00, a defesa também não se manifestou sobre o fato de que a aquisição foi indevida e com indícios de fraude. Essas balsas não estavam previstas no plano de trabalho – que previa a compra de embarcações – e não foi comprovada a entrega. Mesmo assim, a fiscalização verificou o que seria uma embarcação, em estado de abandono, que não se confirmou ter sido usada algum dia em prol do objeto conveniado.

55.31.1. O instituto Oceanus, sob a condução da ora defendente, realizou uma licitação para compra de três embarcações, conforme documentação juntada à peça 13, p. 167-196.

55.31.2. Consoante verificou a Procuradoria da República, através de depoimento de empregado do Instituto, que ele próprio se dirigia à Prefeitura de Barra de Santo Antônio/AL, requeria a emissão das notas fiscais avulsas em nome do Estaleiro Santo Antônio, pagava o Imposto Sobre Serviços (ISS). O depoente afirmou, também, que os valores entregues ao Estaleiro ‘eram menores do que aqueles constantes das notas emitidas pelo estaleiro’ (peça 3, p. p. 156-157).

55.31.3. Na prestação de contas, o próprio Oceanus faz referência a apenas três balsas, embora os pagamentos se referissem a cinco. Apenas uma das embarcações foi localizada na Barra de São Miguel/AL pela fiscalização da Secretaria de Controle Interno da Presidência da República, em estado de abandono, sem motor e outros equipamentos (peça 14, p. 111).

55.32. Item ‘a.11’ da citação – No que se refere aos pagamentos efetuados a dirigentes do Instituto Oceanus, inclusive com vínculo de parentesco com o ordenador financeiro (nomeado pela defendente, que tinha a atribuição de fiscalizar seu trabalho), e sem que exista comprovação da efetiva contraprestação dos serviços, a defesa também não se manifestou.

55.32.1. Conforme já registrado neste processo (peça 20), foi constatado o pagamento indevido de remuneração a dirigentes e familiares dos dirigentes do Instituto Oceanus, como Daniel Lima Costa, coordenador financeiro (R$ 23.000,00, peça 8, p. 132, 140, 148, 156, 164, 172, 183, 189; e, peça 9, p. 4 e 10); Marcelo Gomes do Nascimento, coordenador operacional (R$ 23.000,00 – peça 8, p. 133, 141, 149, 157, 165, 173 e 184); Andréa Cristina Kunzler Nogueira, coordenadora técnica, esposa de Daniel Costa (R$ 23.000,00- peça 8, p. 139, 147, 155, 163, 171, 182, 188 e 195; e, peça 9, p. 9), e, Denise L Costa G. de Barros, irmã de Daniel Costa (R$ 9.200,00 – peça 8, p. 187, 193 e 194; e peça 9, p. 8).

55.32.2. Na verdade, o pagamento de remuneração a dirigentes do Instituto configura a realização despesas a título de gerência, vedada no art. 8º inciso I, da IN/STN 1/1997.

55.33. Itens ‘a.12’ e ‘a.13’ da citação – A defendente não se manifestou acerca desses pontos.

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55.33.1. O fato é que constaram na prestação de contas diversas despesas irregulares e sem a adequada comprovação da efetiva prestação dos serviços/entrega dos produtos, muitas delas indevidamente realizadas mediante cheques nominativos ao próprio Instituto.

55.33.2. Conforme destacado à peça 20, as despesas impugnadas referem-se aos supostos pagamentos por serviços de capacitação que não tiveram comprovadas as suas realizações (peça 8, p. 134, 135, 136, 137, 138,142,143,144,145,146, 150-154, 158-162, 166-171, 174-178, 184-186, 190-192; e peça 9, p. 5-7 e p. 11-12), no valor total de R$ 68.000,00 (peça 14, p. 139-140). Não foram apresentados os contratos de trabalho com os técnicos e nem a comprovação da realização dos supostos cursos e suas identificações com a fase/etapa do projeto.

55.33.3. Além disso, conforme registro no item 4.6 do Parecer 006/2008-COGPA/DIGEAI/SA/SEAP-PR, de 9/5/2008, foram elencadas pela Seap/PR inúmeras despesas não previstas no plano de trabalho e sem a adequada comprovação da efetiva prestação dos serviços/entrega dos produtos que montam mais de R$ 240.000,00 (peça 14, p. 117-133).

55.33.4. Ficou evidenciado que não existiam parâmetros e nem regras para a gestão dos recursos públicos. O Ministério Público detectou que foram feitos diversos saques da conta específica do convênio, sempre por Daniel Lima Costa, mediante cheques nominais para o próprio Instituto, transferências para outras contas e retiradas no caixa do Banco ou em caixa eletrônico (peça 3, p. 169-177). Há, inclusive, transferências para a conta do próprio Daniel Lima (peça 16, p. 138-139).

55.33.5. A conduta do dirigente do Instituto afronta a regra estabelecida na cláusula sexta do termo do convênio de que os recursos somente poderiam ser movimentados ‘mediante cheque nominativo ao credor ou ordem bancária...’ e impedem o estabelecimento do nexo causal entre os despesas e os recursos repassados (peça 2, p.7). Cabia à Presidente, por atribuição estatutária, fiscalizar a aplicação dos recursos públicos de convênio por ela firmado, e inclusive, ter assinado os cheques, conforme já tratado nesta instrução.

55.33.6. Ademais, nada foi feito, quanto às inúmeras relações de parentesco entre os dirigentes do Oceanus e os beneficiários dos recursos públicos, revelando o descaso com os princípios da moralidade e da impessoalidade que deveria nortear a gestão da entidade, notadamente quando envolve recursos públicos. Verificou-se, inclusive, que ocorreu pagamento de R$ 400,00 a Daniel Lima Costa Filho (CPF: 063.736.324-82), graduando em direito, filho do Coordenador Executivo, Daniel Lima Costa, como estagiário em maricultura (peça 8, p. 113), o mesmo que viria a ser o proprietário do Restaurante Maria Vai com as Ostras, que conforme será visto, teria sido montado e equipado com recursos públicos desviados do Convênio em debate.

55.33.7. Quanto ao comércio de ostras em restaurante em Maceió/AL de propriedade de parentes dos coordenadores do Projeto, equipado e montado com recursos do convênio, denominado ‘Maria Vai Com as Ostras’, a defesa também optou por não se manifestar.

55.33.8. Acerca desse grave ponto, suficiente expor o que foi dito pelo Diretor Técnico à peça 20:

21. Quanto ao Restaurante Maria Vai com as Ostras Ltda. – ME (CNPJ: 08.977.615/0001- 84), localizado em Maceió/AL, o MPF registra que ata do Instituto Oceanus aprovou a compra do ponto para ‘a abertura e funcionamento da „unidade operativa e de prestação de serviços para escoamento e venda de produtos de aquicultura e pesca denominado Maria Vai Com as Ostras‟’ (peça 3, p. 166).

21.1. Em relação ao restaurante acima, a fiscalização do Controle Interno da Presidência da República registrou:

O Projeto Oceanus tem intermediado o comércio de ostras, auferindo lucros com o comércio da produção por meio de restaurante de propriedade dos coordenadores do projeto, e o que é mais grave, deixando de quitar as dívidas assumidas junto aos produtores que venderam suas ostras para o Projeto Oceanus’.

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21.2. No referido estabelecimento, foi flagrado pela fiscalização que Daniel Lima Costa, excutivo financeiro do Oceanus, adotava postura gerencial e que equipamentos de som adquiridos com recursos do convênio estavam sendo utilizados no restaurante.

21.3. O retaurante foi colocado em nome do filho do Daniel Lima Costa, Daniel Lima Costa Filho, já citado no item 20 acima, e de Davi Kunzler Nogueira Costa (CPF: 081.487.894-60), filho da esposa de Daniel Lima, Andréa Kunzler Nogueira Costa.

55.34. A Srª Everilda Brandão foi citada, também, solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto EXATO, pelas irregularidades verificadas na contratação deste último (vide item 55 acima).

55.34.1. Em sua defesa, a ex-Presidente do Oceanus explicitou que para a contratação dos consultores necessários para a elaboração dos PLDMs teria duas opões: relação de emprego com o Instituto ou por intermediação de uma pessoa jurídica. A primeira, considerou contraindicado pela periodicidade do programa a ser executado e os ‘os indesejados reflexos que poderiam advir de uma contratação por relação de emprego’.

55.34.2. Não lhe assiste razão quanto à opção. A mesma dificuldade que o Oceanus encontraria para contratar esses técnicos, também teria os demais institutos por ela ‘contratados’. Não mencionou a defendente a contratação dos técnicos pela via do contrato de prestação de serviços, mecanismo adequado para essa situação e possivelmente utilizado pelos institutos Exato, Ibradim e ADS Corais – se é que contrataram alguém.

55.34.3. A dificuldade alegada de encontrar empresas com pessoal especializado na área do trabalho em questão, também não lhe socorre. Evidente que em Alagoas e na maioria dos estados brasileiros seria difícil encontrar empresas no ramo. Esse pessoal especializado nessas áreas é mais comumente encontrado em centros de pesquisa ligados a universidades ou mesmo a outros institutos de pesquisa.

55.34.4. Mas, com certeza, ao propor esse convênio ao Governo Federal, o Oceanus e a defendente já sabiam quem seriam os profissionais aptos a realizar o trabalho, ou, pelo menos, da disponibilidade de pessoal capacitado no Estado de Alagoas para tal, do contrário, o projeto seria inexequível.

55.34.5. Afirmou a defendente, sem provar, que a Seap/PR teria orientado para que fosse declarada a inviabilidade de competição e com isso promover a contratação direta.

55.34.6. Enfim, decidiu a Srª Everilda Brandão juntamente com Daniel Lima Costa, contratar uma ou mais instituições para contratarem os técnicos que o Oceanus optou por não contratar diretamente, via prestação de serviços. Teriam publicado um edital em jornal de grande circulação em Maceió/AL, sem sucesso, e partiram para contatar diretamente com três instituições escolhidas pelos dirigentes do Oceanus: Exato, Ibradim e ADS Corais. Alegou a defendente que até hoje seriam instituições das ‘mais qualificadas do Estado no assunto’. Ao contrário, o Instituto Exato informou em sua defesa que ‘a entidade praticamente não possui atividade’ (peça 48, p. 2).

55.34.7. A ex-Presidente do Oceanus ainda definiu como premissas acerca dessas contratações: não houve burla ao processo de seleção e a contratação dos técnicos de forma indireta, representou vantagem econômica e agilidade no manuseio do pessoal.

55.34.8. A defesa em nada pode ser acolhida. Com as dificuldades financeiras naturais para executar um objeto tão complexo, o Oceanus optou pela via mais onerosa, ao contrário do que alegou, para a contratação dos consultores. Isso porque os institutos contratados tiveram, por sua vez, de contratar os técnicos, certamente não mediante relação de emprego, mas sim, por meio de contratos de prestação de serviços, o que poderia ter feito o Oceanus. Ocorre que a atuação ou a intermediação desnecessária desses institutos teve um preço, que nem o Instituto Oceanus sabe qual é, já que eles (Exato, Ibradim e ADS Corais) não iriam trabalhar de graça.

55.34.9. E aqui deparamo-nos com outra situação que a defesa alegou para justificar o insucesso do empreendimento: a falta de recursos financeiros. Vemos que com todos os desvios praticados e com as contratações onerosas e desnecessárias dos institutos, que nada fizeram, a não

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ser contratar os profissionais – não sendo nem certo se realmente tenham feito -, possivelmente os recursos seriam suficientes.

55.34.10. A defesa não mencionou o fato impugnado de que o Instituto Exato era uma entidade da qual o Coordenador Executivo do Oceanus tinha sido presidente até pouco tempo antes e era dirigido fornalmente por pessoas, conforme apurado no inquérito na Procuradoria da República em Alagoas, das relações íntimas desse mesmo Coordenador Geral do Oceanus, ferindo os princípios da impessoalidade e da moralidade que devem permear a atuação daqueles que lidam com recursos públicos, e sem que a referida instituição tenha efetivamente prestado e entregue os serviços para os quais foi contratada.

55.34.11. De fato, participou da direção do Instituto Exato, Kátia Esteves de Lima, como tesoureira (peça 46). Essa pesssoa é a mesma que tem uma firma individual – a K. E. Lima – ME -, da qual o Oceanus fez uma compra no valor de R$ 29.850,00, para prestar fornecimentos ao Instituto, alguns não previstos no plano de trabalho, sendo que conforme apurou o Ministério Público Federal nenhum foi entregue (vide item 55.27 retro). A mesma Kátia Esteves, agora como pessoa física, recebeu do Oceanus, a título de ‘diárias’, R$ 8.500,00, não tendo sido verificada vinculação da técnica com o projeto, o objetivo e o período das viagens e nem a etapa e fase do projeto a que relaciona (item 55.25.1 acima). Tem também a viagem a Florianópolis feita por Kátia Esteves e seu marido, Marcelo Lima, juntamente com os dirigentes do Oceanus, inclusive a defendente, paga com recursos públicos.

55.34.12. E não para por aí as relações de Kátia Esteves Lima, ex-tesoureira do Exato, com o Oceanus. Ela foi nomeada Coordenadora Executiva e Financeira do Projeto Oceanus em 26/10/2004, no mesmo dia em que a Srª Everilda Brandão Guilhermino assumiu a Presidência do Projeto Oceanus (peça 61, p. 2).

55.34.13. Para finalizar as provas de favorecimento do Oceanus ao Exato, tem-se que a Presidente do Instituto Exato, Eliane Conceição de Amorim (hoje Eliane Amorim Merten), (peça 46, p. 9 e 12), é a mesma proprietária da firma Compual Informática (CNPJ 02.448.123/0001-15), empresa da qual o Oceanus adquiriu a bagatela de R$ 45.440,00 em equipamentos (peça 13, p. 43-48).

55.34.14. Comprovado o direcionamento da contratação desnecessária do Instituto Exato, com explícito ferimento aos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade, observa-se que não houve nenhuma pesquisa prévia de preços, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara.

55.34.15. Não houve a comprovação dos serviços prestados pelo Instituto Exato. Conforme já constou do parecer à peça 20:

22.6. Mesmo a execução parcial dessas metas não foi devidamente comprovada. Segundo o Parecer 6/2008 da Seap/PR, para tentar comprovar a consultoria prestada pelo Instituto Exato para realização dos dez PDLMs, ao custo de R$ 55.250,00, o Instituto Oceanus apresentou em meio magnético um CD contendo diversos relatórios, mas que não indicavam o período de realização dos trabalhos, data e nome do consultor responsável pela elaboração e da respectiva instituição. Concluiu, assim, ‘não sendo possível mensurar se os resultados estão em consonância com o firmado nas metas indicadas no Plano de Trabalho, podendo, dessa forma, ser considerados sem valor probatório. (peça 14, p. 106)

22.7. No caso dos supostos serviços prestados pelo Instituto Exato, para realização de curso de maricultura e serviços de assistência técnica ao projeto, a Seap/PR verificou que não indicação do serviço prestado e nem o período em que ocorreu (peça 14, p. 107).

55.34.16. A defesa apresentou alguns relatórios que teriam sido feitos pelo Instituto Exato (peça 60, p.1-121). Mas esses trabalhos, na verdade, estão sem autoria. O Exato não realizou esse trabalho e sim os supostos consultores e/ou estagiários por ele contratados. Não há indicação do nome de nenhum profissional que se responsabilize pelo trabalho, o que tira toda a sua credibilidade.

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55.34.17. No estatuto do Instituto Exato verifica-se que nenhuma de suas finalidades tem relação com o objeto para o qual foi contratado, o que demonstra que sua contratação serviu apenas para o desvio dos recursos públicos, posto não se ter a menor ideia de como foram gastos os R$ 79.870,00 pagos ao Exato, fato que conspirou diretamente para o não atingimento dos objetivos do convênio.

55.34.18. Dessa forma, deve-se propor a rejeição das alegações de defesa da Srª Everilda Brandão em relação à contratação do Instituto Exato e que essa irregularidade, acima tratada, sirva também de fundamento para a proposição de julgamento das contas pela irregularidades, haja vista que os fatos apurados não permitem presumir a boa-fé da ex-gestora da ONG. Cabe, ainda, propor sua condenação em débito solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto EXATO, pelas quantias abaixo indicadas:

Valor Histórico Data de ocorrênciaR$ 13.200,00 25/05/2005R$ 13.200,00 30/06/2005R$ 8.800,00 03/08/2005R$ 11.250,00 26/08/2005R$ 8.800,00 26/08/2005R$ 4.620,00 30/09/2005R$ 5.500,00 13/10/2005R$ 5.500,00 10/11/200555.35. Quanto à citação da Srª Everilda Brandão acerca da contratação do

Instituto Ibradim (item c do Ofício 230/2012-TCU-Secex/AL (peça 23 e item 55 acima). Acerca dos atos impugnados envolvendo essa contratação, a responsável manifestou-se nos termos já expostos nos itens 54.23 a 54.32 e 55.34.1 a 55.34.7). Não houve manifestação específica acerca da contratação e gestão do contrato com a ONG Ibradim.

55.35.1. De forma genérica, a análise das contratações das ONGS pelo Oceanus foi feita nos itens 55.34.8 e 55.34.9, quando da análise das alegações referentes à contratação do Exato.

55.35.2. No mais, para o exame específico da contratação do Ibradim é pertinente fazer uso da análise efetuada acerca das alegações de defesa do próprio Ibradim, constante do item 59 a seguir, no que for pertinente a atuação da dirigente do Oceanus.

55.35.3. Cabe aqui ressaltar, que foram flagradas várias relações entre integrantes e ex-integrantes do Ibradim com dirigentes do Oceanus ou com outros negócios do Oceanus, que contaminam qualquer afirmação acerca da lisura na contratação, posto que evidenciado o desrespeito aos princípios da impessoalidade e da moralidade.

55.35.4. Só para citar exemplos, posto que já constam na análise da defesa do Ibradim, o então presidente do Ibradim era casado com a ex-presidente do Instituto Exato, e eram sócios da empresa Compual Informática, ‘vencedora’ da licitação realizada pelo Oceanus para adquirir R$ 45 mil em equipamentos de informática, com recursos do convênio em questão (itens 59.10 e 11 adiante).

55.35.5. Eram conselheiros do Ibradim, Alessandra Kunzler de Azevedo e Alexandre Lunzler de Azevedo, parentes próximos de Andréa Cristina Kunzler Nogueira da Costa, esposa de Daniel Lima Costa, Coordenador Executivo do Oceanus, sendo que a Srª Andréa veio a ser a futura e atual Presidente daquele Instituto. Alessandra e Alexandre afastaram-se do cargo de conselheiros do Ibradim apenas em 29/11/2005, quando os desvios já estavam consumados (item 59.12).

55.35.6. Outra conselheira do Ibradim com intensas ligações com o Oceanus era Kátia Ferreira Esteves (depois Kátia Esteves de Lima), esposa de Marcelo Gomes Nascimento Lima. A Srª Kátia foi amplamente citada neste processo, já que beneficiada de diversas maneiras pelo Oceanus com os recursos do convênio 8/2005, conforme já tratado no item 55.27.3 retro (item 59.13).

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55.35.7. Foi citado, ainda, que Daniel Lima Costa, Andréa Cristina Kunzler Nogueira Costa, a Kátia Esteves e o Marcelo Gomes do Nascimento Lima, já integraram juntos a direção do Ibradim (peça 67, p. 18).

55.35.8. A defesa do Ibradim, aliás, agrava o quadro em relação à sua contratação pelo Oceanus, posto que o atual presidente afirma que aquele Instituto não contratou com o Oceanus e que tudo teria sido feito por Daniel Lima Costa e Andréa Kunzler Costa, os quais teriam se apropriado indevidamente de documentos do Ibradim e ‘terem forjado o Contrato de Prestação de Serviços, com o intuito de darem cobertura às ilicitudes praticadas em relação ao Convênio 008/2005’ (vide item 58.7).

55.35.9. Por fim, quanto à execução desse contrato com o Ibradim, aplica-se a análise lançada no Parecer Técnico 006/2008, da Seap/PR (peça 14, p. 105-143 – vide pag. 108):

6. Pertinente à execução dos serviços, é necessário mencionar que o Instituto Oceanus apresentou em meio magnético (CD – fls. 1899 – Processo 00350.000706/2007-86) diversos relatórios, sem indicação do período de realização dos trabalhos, data e nome do consultor responsável pela elaboração e da respectiva Instituição, não sendo possível mensurar se os resultados estão em consonância com o firmado nas metas indicadas no Plano de Trabalho, podendo, dessa forma, ser considerados sem valor probatório.

55.35.10. O contrato firmado entre o Oceanus e o Ibradim (peça 13, p. 158-160) previa que este executaria as seguintes atividades previstas no termo de referência (cláusula terceira e peça 13, p. 57-58):

8.2 – Atividades da consultoria – Ictiofauna;8.3 – Atividades da consultoria – Recursos Hídricos;8.4 – Atividades da consultoria – Biota;8.5 – Atividades da consultoria – Hidroquímicos; e,8.6 – Atividades da consultoria – Geologia55.35.11. Primeiramente, se verifica que nessas atividades a entidade deveria realizar o

trabalho nos oito estuários definidos no PLDM.55.35.12. Os trabalhos anexados à defesa e já refutados pela Secretaria de Pesca da

Presidência da República foram:a) Avaliação de Diferentes Tipos de Coletores de Larvas da Ostra do Mangue, Crassostrea

rhizophorae no Município de Passo de Camaragibe, Alagoas – Brasil; (peça 60, p. 122-158);b) Avaliação de Diferentes Tipos de Coletores de Larvas de Ostra do Mangue, Crassostrea

rhizophorae, no Município de Coruripe, Alagoas – Brasil; (peça 60, p. 159-204);c) Implantação de cultivos de ostras nativas como Instrumento de desenvolvimento

sustentável para Comunidades tradicionais de pescadores artesanais; (peça 60, p. 205-267);d) Cultivo Experimental de Gracilaria cornea J Agardh (gracilariales, rhodophyta) na

Praia de Paripueira, litoral norte de Alagoas; (peça 60, p. 268-295); ee) Análise da Viabilidade Financeira do Cultivo de Ostras Nativas no Litoral Alagoano

(peça 60, p. 296-309).55.35.13. A comparação desses trabalhos com as atividades previstas no contrato entre o

Oceanus e o Ibradim indicam claramente que não atendem ao objeto contratado. Como bem ressaltado no parecer técnico da Seap/PR acima citado, incompreensível que os relatórios e trabalhos não tenham a identificação dos consultores responsáveis, o que implica na desvalorização dos mesmos. Ademais, verifica-se que os trabalhos apresentados foram pontuais em termos de localidade, não atendendo ao objeto do convênio, que prevê a elaboração dos PLDMs para dez localidades.

55.35.14. Observa-se a desconexão dos trabalhos com a descrição das atividades a serem realizadas. Nenhum deles indicou como objetivo realizar as atividades previstas no termo de referência, que deveria ser a base desses trabalhos.

55.35.15. Se for considerado que foram pagos ao Ibradim R$ 180.250,00 por esses trabalhos acadêmicos apócrifos, fica evidente que objeto contratado não foi entregue.

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55.35.16. Diante do exposto, devem ser rejeitadas as alegações de defesa da Srª Everilda Brandão acerca das irregularidades indicadas nos itens ‘c.1’ a c.4’ da citação. Não sendo possível presumir sua boa fé, deve ser proposto, desde já, o julgamento pela irregularidade das contas, e sua condenação, solidariamente com os demais responsáveis indicados no ofício citatório, para o ressarcimento das quantias abaixo indicadas:

DATA VALOR (R$)25/5/2005 23.100,0030/6/2005 23.100,003/8/2005 15.400,0026/8/2005 15.400,0013/10/2005 9.625,0010/11/2005 9.625,0017/1/2006 39.000,0017/1/2006 36.000,0055.36. Em relação à contratação da ADS Corais pelo Oceanus (item d do Ofício

230/2012-TCU-Secex/AL (peça 23 e item 55 acima), a manifestação da responsável foi nos termos já expostos nos itens 54.23 a 54.32 e 55.34.1 a 55.34.7). Não houve manifestação específica acerca da contratação e gestão do contrato com a ONG Ibradim.

55.36.1. De forma genérica, a análise das contratações das ONGS pelo Oceanus foi feita nos itens 55.34.8 e 55.34.9, quando da análise das alegações referentes à contratação do Exato.

55.36.2. No mais, para o exame específico da contratação da ADS Corais é pertinente fazer uso da análise efetuada acerca das alegações de defesa da própria ADS, constante do item 61 a seguir, no que for pertinente a atuação da dirigente do Oceanus.

55.36.3. Na contratação da ADS foram praticadas as mesmas irregularidades ocorridas nas contratações do Exato e do Ibradim, já acima tratadas. Tratavam-se de institutos sem nenhuma especialização que os credenciasse, ficando evidenciado o direcionamento da contratação e a infringência aos princípios da moralidade e da impessoalidade. O estatuto dessas entidades indica suas finalidades sociais. Apenas com o seu exame pode-se atestar sua relação com o objeto a ser contratado e sua capacidade, técnica e jurídica, para executá-lo. Estranhamente, nenhum desses estatutos estava nos autos, o que indica que o Oceanus nem os examinou. As defesas também optaram por não apresentá-los, salvo o do Instituto Exato, que permitiu verificar que não se adequava com o objeto contratado.

55.36.4. O Oceanus não tinha conhecimento de quem eram os especialistas de que dispunha a ADS Corais, não tendo a entidade informado nada a respeito quando demonstrou interesse na contratação. Os currículos juntados ao processo têm pouca serventia, pois não indicam para quais instituições aquelas pessoas prestavam serviços. Ademais, salvo um trabalho do Exato, nenhum outro identificou qual o técnico responsável.

55.36.5. Uma questão lógica a respeito dessa contratação, já tratada quando da análise da defesa da ex-Presidente do Oceanus, foi que tratou-se de uma intermediação desnecessária e onerosa ao projeto. Desnecessária porque o Oceanus poderia ter contratado diretamente os profissionais, mediante contrato de prestação de serviços, se fosse o caso. Onerosa em razão de que essas associações contratadas (ADS, Ibradim e Exato) certamente ficaram com uma parte do valor repassado, pois não iam trabalhar de graça, já que teriam custos para contratar e gerenciar esse pessoal.

55.36.6. A Procuradoria da República em sua Denúncia citou que a ADS Corais possui ‘estreitas ligações como o Instituto Oceanus’. Este aprovou a cessão de um terreno em Maragogi/AL para a ADS Corais e que março/2005 já havia um protocolo de intenções entre essas entidades (item 61.6).

55.36.7. Quanto a não comprovação da contraprestação dos serviços, a situação foi exaustivamente tratada nos itens 61.8 a 61.27 desta instrução, concluindo pela insuficiência e

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inadequação dos produtos para atender ao objeto contratado. Registre-se que na mesma linha já havia concluído a Seap/PR.

55.36.8. Em face do que foi acima exposto, resta propor a rejeição das alegações de defesa da Srª Everilda Brandão acerca das irregularidades indicadas nos itens ‘d.1’ a d.4’ da citação. Além disso, não sendo possível presumir sua boa fé, deve ser proposto, desde já, o julgamento pela irregularidade das contas, e sua condenação, solidariamente com os demais responsáveis indicados no ofício citatório, para o ressarcimento das quantias abaixo indicadas, sempre prejuízo de propor, em face da gravidade das irregularidades, que seja declarada sua inabilitação para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública, nos termos do art. 60 da Lei 8.443/1992:

DATA VALOR (R$)30/6/2005 15.000,0031/8/2005 15.000,0013/10/2005 20.000,00

ALEGAÇÕES DO REPRESENTANTE LEGAL DO INSTITUTO EXATO (CNPJ 06.241.431/0001-26)56 O Instituto Exato foi citado solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino,

Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, em razão das seguintes ocorrências (peça 25):

b.1) contratação de entidade controlada, de fato, por Daniel Lima Costa, dirigente do Instituto Oceanus, conforme apurado no inquérito na Procuradoria da República em Alagoas, e dirigida formalmente por pessoas das relações íntimas desse mesmo Coordenador Geral do Oceanus, ferindo os princípios da impessoalidade e da moralidade que devem permear a atuação daqueles que lidam com recursos públicos, e sem que a referida instituição tenha efetivamente prestado e entregue os serviços para os quais foi contratada;

b.2) contratação do Instituto Exato sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusivida da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

b.3) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e o Instituto Exato;

b.4) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou constatar se os PLDM foram elaborados em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

b.5) não comprovação pelo Instituto Exato da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

56.1. O Instituto Exato apresentou tempestivamente suas alegações de defesa por meio de sua representante legal, Srª Luciana Pedri (Peças 46 a 48), que serão abaixo expostas, em suma, seguidas da devida análise.

56.2. Alegou a responsável que, em virtude do lapso temporal de mais de sete anos desde os fatos atribuídos ao Instituto, várias alterações ocorreram na estrutura da organização, onde destacou que os membros não são mais os mesmos, a entidade praticamente não possui atividade, seu endereço foi modificado e inúmeros documentos foram incinerados e extraviados.

56.3. Salientou que, segundo informações obtidas junto a terceiros, o Instituto Exato foi convidado a apresentar proposta para prestar serviço de consultoria na área de cultivo de maricultura. Além disso, conforme as mesmas fontes indiretas, teriam sido contratados alguns profissionais, tais como o Engenheiro de Pesca Rômulo Alves Ebrahim, o Engenheiro Gustavo

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Silva de Carvalho, MSC Iremar Accioly Bayma (biólogo), Fábio Maurício B. Calazans (biólogo), Álvaro Guilherme Altenkirh, Fábio J. Castelo Branco Costa e Bruno Muniz de Almeida.

56.4. Segundo informa a responsável, recebera ‘notícia de que o contrato com o Oceanus fora encerrado por divergência nas contratações’, porém, no que concerne ao contrato em si, não há qualquer documento relativo aquele serviço, em função de já se haver transcorrido mais de sete anos da ocorrências dos fatos.

56.5. Alegou a responsável que houve prescrição quanto à obrigação de guarda dos documentos por parte daquele Instituto, com fulcro na aplicação geral, por analogia, do atual artigo 1.194 do Código Civil de 2002. Sustentou, também, a mesma prescrição no tocante aos documentos fiscais, agora com base no artigo 195 do Código Tributário Nacional.

56.6. Argumentou que o disposto na citação desta Colenda Corte, em especial a quantificação do débito trata de fatos geradores ou fatos imponíveis da obrigação tributária que ocorreram em 2005, os quais se remetem a decadência ou a prescrição tributária. Em suas alegações, a responsável asseverou que os livros e documentos fiscais devem ser conservados pelo sujeito passivo até que ocorra a extinção do crédito tributário por decurso de prazo, fato este que teria acorrido com o Instituto Exato.

56.7. A responsável buscou amparo, também, na prescrição quinquenal dos atos de improbidade administrativa, previstos no art. 23 da Lei 8.429/1992, em consonância com o §5º do art. 37 da Constituição Federal. Traz à pauta o entendimento do Plenário do Supremo Tribunal Federal (MS 26.210, Rei. Min. Ricardo Lewandowski, DJ de 10/10/2008) e também precedentes da Seção de Direito Público do Superior Tribunal de Justiça. Na mesma linha, abordou que:

a prescritibilidade, como forma de perda da exigibilidade de direito, pela inércia de seu titular, é um princípio geral de direito. Se a Administração não toma providência à sua apuração e à responsabilização do agente, a sua inércia gera a perda do ius persequendi.

56.8. Por fim, alegou a responsável que ‘talvez, se este pedido de informações tivesse sido realizado logo após as praticas dos atos imputados, provavelmente, seria factível a apresentação de vários documentos’ (sic).

Análise das Alegações da Representante Legal do Instituto Exato (CNPJ 06.241.431/0001-26)

57. É sabido que esta Colenda Corte adotou o homenageado princípio da segurança jurídica para fatos ocorridos há mais de dez anos (Acórdão 2.647/2007-TCU-Plenário).

57.1. Ocorre que em sede do Acórdão 6.551/2010-1ª Câmara, esta Egrégia Corte deliberou que a questão da prescrição fora pacificada pelo Acórdão 2.709/2008 – Plenário, em que o Tribunal, ao decidir sobre incidente de uniformização de jurisprudência para a interpretação da parte final do § 5º do art. 37 da Constituição Federal, firmou entendimento acerca da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário, em consonância com posicionamento do Supremo Tribunal Federal, da seguinte forma:

Acordam os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. deixar assente no âmbito desta Corte que o art. 37 da Constituição Federal conduz ao entendimento de que as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis, ressalvando a possibilidade de dispensa de instauração de tomada de contas especial prevista no §4º do art. 5º da IN TCU nº 56/2007. (ver Acórdão 115/2010-TCU-Plenário)

57.2. Ainda no tocante à prescrição, o Supremo Tribunal Federal reafirmou a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário. O Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, indeferiu monocraticamente o Mandado de Segurança 27.309, impetrado contra o Acórdão 796/2008-2ª Câmara, por intermédio do qual esta Corte de Contas, apreciando a prestação de contas do Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto (Indesp) referente ao exercício de 1999, julgou irregulares as contas dos gestores, com imputação de débito e multa.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

57.3. No referido processo judicial, aduziram os impetrantes, em síntese, que o direito da administração pública buscar o ressarcimento em razão de atos apurados em prestação de contas referente ao exercício de 1999 estaria prescrito, com base no art. 23 da Lei 8.429/1992 e art. 142, inciso I, da Lei 8.112/1990. Entretanto, o relator ressaltou precedente do Plenário do STF firmado nos autos do Mandado de Segurança 26.210, acerca da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário, conforme previsto na parte final do § 5º, do art. 37 da Constituição Federal, com o conseqüente afastamento da aplicação dos prazos prescricionais sustentados pelos impetrantes.

57.4. No caso da prescrição para a proposição das ações de improbidade, estabelecida no art. 23 da Lei 8.429/1992, não se aplica a este caso, por não se tratar da ação judicial prevista na referida lei.

57.5. Ressalte-se que o Instituto Oceanus na aplicação dos recursos do convênio com a União atuou como se ente público fosse, pois estava a realizar uma finalidade pública.

57.6. Em relação à contratação do Instituto Exato sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade, bem como sobre a apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, sem a identificação de instituição executora, a responsável foi silente. Assim, o Instituto Exato, por meio de seu representante legal, não logrou afastar a sua responsabilidade nos fatos inquinados no presente processo.

57.7. Conforme já tratado na análise da defesa da Srª Everilda Brandão, a contratação foi claramente direcionada, visando atender interesses de pessoas ligadas aos dois institutos, a exemplo de Kátia Esteves de Lima e Eliane Conceição de Amorim (vide item 55.32).

57.8. Quanto à impossibilidade de apresentar defesa pela falta de documentos, alegada pela atual Presidente do Instituto Exato, verifica-se mais o desinteresse, já que nos próprios autos constam um conjunto de documentos, inclusive fiscais, emitidos pelo Instituto. Da mesma forma, tendo sido indicados alguns profissionais que teriam prestado serviço ao Exato, nominados na defesa, provavelmente um contato com eles permitiria obter documentos e/ou informações úteis à defesa do Instituto.

57.9. Além disso, o Instituto Exato recebeu recursos do Oceanus, mediante crédito na conta, no que a obtenção junto ao Banco dos extratos bancários e cópias dos cheques, certamente ofereceria elementos para a defesa.

57.10. Cumpre registrar nestes autos, que o Instituto Exato não é ‘réu primário’ nos processos nesta Corte. No âmbito do TC 006.801/2005-0 (Tomada de Contas, exercício de 2004, do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde em Alagoas-NEMS), o Instituto foi condenado, solidariamente com a então Chefe do NEMS, no valor de R$ 16.392,00 (em 18/11/2004), por conta do superfaturamento na realização do Seminário de Capacitação de Multiplicadores em Baciloscopia (Acórdão 329/2011-TCU-1ª Câmara, sessão de 25/1/2011, já transitado em julgado). Na época, o Instituto era presidido por Eliane Conceição de Amorim, já amplamente citada neste processo.

57.11. Diante do que foi exposto, deve-se rejeitar as alegações de defesa do Instituto Exato e propor a sua condenação, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, para recolherem aos cofres do Tesouro Nacional as quantias abaixo indicadas:

Valor Histórico Data de ocorrênciaR$ 13.200,00 25/05/2005R$ 13.200,00 30/06/2005R$ 8.800,00 03/08/2005R$ 11.250,00 26/08/2005R$ 8.800,00 26/08/2005R$ 4.620,00 30/09/2005R$ 5.500,00 13/10/2005R$ 5.500,00 10/11/2005

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

ALEGAÇÕES DO REPRESANTE LEGAL DO INSTITUTO IBRADIM (CNPJ 02.244.999/0001-40)58. O Instituto Ibradim foi citado solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino,

Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, em razão das seguintes ocorrências (peça 29), por conta dos seguintes atos:

c.1) contratação do Instituto IBRADIM sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusivida da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

c.2) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e o Instituto Ibradim;

c.3) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou verificar se o que foi executado está em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

c.4) não comprovação pelo Instituto Ibradim da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

58.1. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios – IBRADIM apresentou tempestivamente suas alegações de defesa por meio de seu representante legal, Sr. Carlos Roberto Duarte de Souza (Peça 67), as quais, a seguir, faz-se a análise.

58.2. Preliminarmente, alegou o responsável que houve ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa previstos no inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Asseverou que houve cerceamento de defesa, pois nunca fora informado da existência do processo 019.364/2010-5, sobre o qual desconhece totalmente o conteúdo. Na mesma linha, sustentou que o foram violados os artigos 234, 236, 245, 247 e 248 do Código de Processo Civil, pela fato de esta Colenda Corte não ter seguido a forma legal na publicação dos atos processuais que acarretam a intimação das partes. Em conseqüência, afirmou que houve nulidades na fase de instrução deste processo.

58.3. Quanto ao mérito, informou que, em 15 de agosto de 2005, ingressou na entidade, a convite dos Senhores Luciano Lima Lopes, Ex-Presidente, e Roni Merten, à época, Presidente, para compor o Conselho de Administração e Finanças (CAF), tendo assumido a Presidência a partir de 29 de novembro de 2005.

58.4. Argumentou que desde 15 de agosto de 2005 nunca manteve qualquer contato e nem conheceu a Srª Everilda Brandão Guilhermino (CPF 020.783.874-79) e a Srª Andrea Cristina Kunzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), as quais, sequer conheceu pessoalmente ou através de fotos. Quanto ao Sr. Daniel Lima Costa (CPF 411.055.914-68), teve a oportunidade de conhecer pessoalmente através do Sr. Luciano Lima Lopes, Ex-Presidente do Ibradim e do Sr Marcelo Gomes Nascimento Lima.

58.5. Além disso, sustentou que, em relação ao Instituto Oceanus, nunca manteve qualquer contato com a diretoria, desconhece completamente suas atividades e sequer sabe onde fica a sede. Asseverou que nunca assinou qualquer documento referente ao mencionado Convenio 8/2005, bem como, qualquer outro documento que possa configurar a relação entre o Ibradim e o Instituto Oceanus, na sua gestão, como representante legal do Ibradim, desde 29 de novembro de 2005.

58.6. Ademais, na mesma linha, expôs:Em relação a não comprovação da contraprestação dos citados serviços pagos, não

encontramos, nos arquivos do IBRADIM, quaisquer documentos que nos conduzam a celebração de qualquer Contrato, Termo de Parceria ou outro documento equivalente, bem como, desconhecemos os documentos que originaram os valores consignados nas datas citadas na Citação.

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58.7. Informou que a Srª Andrea Cristina Kunzler da Costa e o Sr. Daniel Lima Costa, já foram, respectivamente, Vice-Presidente e Presidente do Ibradim, o que se verifica das cópias de atas anexadas às alegações de defesa por ele apresentadas. Avaliou que:

Tudo nos leva a crer, pelo fato da Srª Andrea Cristina Kunzler da Costa e Sr. Daniel Lima Costa, haverem participado da Diretoria do IBRADIM, terem os mesmos se apropriado, sem autorização, de documentos, papéis timbrados e outros do gênero e, então terem forjado o Contrato de Prestação de Serviços, com o intuito de darem cobertura às ilicitudes praticadas em relação ao Convênio 008/2005.

Os valores declarados pelos acusados, jamais foram creditados em conta corrente do IBRADIM, nem tampouco foram endossados cheques e emitidos recibos de quitação dos mesmos, por mim e nem pelos membros da Diretoria composta a partir de 29 de novembro de 2005.

58.8. Alegou, ainda, que há uma flagrante falta de legitimidade de parte no tocante à exigência de prestação de contas, com base no artigo 914 do CPC, pois:

A ação de prestação de contas competirá a quem tiver:I – o direito de exigi-las;II – a obrigação de prestá-las.’58.9. Suscitou amparo em trechos do Acórdão 2.260/2005-TCU-1ª Câmara, entendendo

que somente se sujeita às penalidades legais em relação a convênios da União aquele que, diretamente, não realiza a comprovação da aplicação dos recursos repassados. Complementou suas alegações sob a égide de que o Convênio 8/2005 foi celebrado entre o órgão concedente e o Instituto Oceanus, inexistindo, portanto, segundo suas convicções, a falta de legitimidade do Ibradim para figurar como parte integrante passiva no processo de prestação de contas.

58.10. Aduziu que durante a sua gestão, a partir de 29 de novembro de 2005, nunca tomou conhecimento de qualquer documento que fizesse referência ao mencionado Convênio. Além disso, sustentou, que mesmo verificando os arquivos da Entidade, não se encontram quaisquer notas fiscais, faturas, recibos, contratos ou cópias de relatórios, os quais possam conduzir a certeza de que, mesmo em datas pretéritas, existira a referida relação comercial ou assistencial. Afirmou, também, que, se existirem tais documentos no processo de prestação de contas, estes careceriam de pericia técnica, exames grafotécnicos e outros instrumentos congêneres, em respeito à verdade material e à conseqüente isenção do Instituto Ibradim.

58.11. Garantiu que, por meio de minuciosa análise financeira empreendida, não constam movimentação na conta corrente 15.755-4, agência 3186-0, Agência Ponta Verde do Banco do Brasil, dos valores consignados no processo de Tomada de Contas Especial. Ademais, solicitou que fossem realizadas perícias, desta vez na conta corrente do Convênio 8/2005, com o objetivo de elucidar a movimentação financeira dos valores considerados como desembolsados em favor do Instituto IBRADIM.

58.12. Sustentou que os verdadeiros réus se utilizaram de todas as formas lícitas e ilícitas, para justificarem as despesas relativas ao Convênio 008/2005, ‘arrastando consigo, para a vala dos desavisados e desorganizados, pessoas e empresas de conduta e reputação ilibadas, devendo, portanto, arcarem com o ônus de suas informações’.

58.13. Por fim, o responsável legal do Instituto Ibradim mencionou doutrinas e jurisprudências relativas ao ônus da prova, trazendo aos autos, em sua defesa, diversos aspectos sobre o tema. De mais a mais, sustentou que segundo entendimento pacificado, juridicamente, é insubsistente a tese de se cobrar, solidariamente, os valores apontados pelos convenentes através de afirmações dúbias apresentadas na prestação de contas do Convenio 008/2005.

Análise das Alegações do IBRADIM (peça 67)Preliminares59. Iniciando pelas preliminares arguidas na defesa, não se depara nestes autos com

nenhuma ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa. Tanto que o Instituto Ibradim, antes de qualquer juízo de mérito desta Corte, compareceu aos autos, em atenção à citação que lhe

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foi dirigida por este Tribunal, e apresentou as alegações de defesa, no prazo que considerou adequado, as quais estão agora sendo objeto de exame.

59.1. Não há que se falar, ainda no exame das preliminares, em violação aos artigos 234, 236, 245, 247 e 248 do Código de Processo Civil. Isso porque o CPC é lei aplicável ao processo judicial, ao passo que a Lei 8.443/1992, o Regimento Interno e normativos afins desta Corte constituem a legislação de regência do processo no âmbito do TCU. Por isso, perfeitamente válida a citação.

Mérito59.2. De pronto, ressalva-se que a jurisdição do Tribunal, para efeito de julgamento de

contas, não recai sobre o terceiro que haja concorrido para o cometimento do dano, a qual se limita aos planos do ressarcimento e da sanção (Acórdão 6.822/2011 – TCU – 1ª Câmara). De mais a mais, na forma do art. 16, § 2º, da LOTCU, in verbis:

Art. 16. As contas serão julgadas:(...)III – irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:(...)c) dano ao Erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ao antieconômico;d) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.(...)§ 2º Nas hipóteses do inciso III, alíneas c e d deste artigo, o Tribunal, ao julgar irregulares

as contas, fixará a responsabilidade solidária:a) do agente público que praticou o ato irregular, eb) do terceiro que, como contratante ou parte interessada na prática do mesmo ato,

de qualquer modo haja concorrido para o cometimento do dano apurado.’ (grifo nosso)59.3. Na mesma linha, segundo entendimento deliberado no Acórdão 573/2006-TCU-

Plenário:(...) nos termos da Constituição Federal e da Lei nº 8.443/1992, o particular (pessoa física

ou jurídica) sujeita-se à jurisdição do TCU quando:a) mesmo sem desempenhar nenhuma função pública, der causa a dano ao erário em

concurso com pelo menos um agente público;b) independentemente de agir só ou em conjunto com um agente público, der causa a

dano ao erário estando no exercício de uma função pública lato sensu que lhe tenha sido atribuída pelo próprio poder público; (grifo nosso)

59.4. O dever de prestar contas ao Poder Público é do Instituto Oceanus e seus dirigentes, sendo que todos eles poderão ter suas contas julgadas irregulares pelo TCU. Não se está exigindo a prestação de contas ao Ibradim, mas sim alegações de defesa por conta da não contraprestação de serviços que lhes foram pagos com recursos públicos e de sua eventual participação em contratação com evidências de fraude.

59.5 Note-se que a despeito de, em regra, o particular não atuar como um agente público propriamente dito, quando lhe são atribuídas pelo Estado funções típicas de um gestor de serviços públicos, com o fim de satisfazer um interesse público – posição em que está o Instituto Oceanus neste caso -, considera-se, então, que o particular, nessa condição, está investido em uma função pública lato sensu, implicando isso a obrigação de prestar contas e a possibilidade de ser responsabilizado por prejuízos que tenha causado ao erário.

59.6. A hipótese de sujeição do particular à jurisdição do TCU em sede de contas, quando aquele, mesmo não estando a desempenhar nenhuma função pública, der causa a dano ao erário em concurso com, pelo menos, um agente público, é prevista na Lei 8.443/1992:

Art. 16. As contas serão julgadas:§ 2º Nas hipóteses do inciso III, alíneas c e d deste artigo, o Tribunal, ao julgar irregulares

as contas, fixará a responsabilidade solidária:a) do agente público que praticou o ato irregular; e

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b) do terceiro que, como contratante ou parte interessada, na prática do mesmo ato, de qualquer modo haja concorrido para o cometimento do dano apurado.

59.7. Assim, nas condições deste caso, os agentes públicos envolvidos – Oceanus e seus dirigentes – poderão ter suas contas julgadas irregulares e serem condenados a responder pelo dano causado ao erário, enquanto o particular – que não tem contas a serem julgadas, vale frisar – apenas deve responder solidariamente com os agentes públicos pelo referido dano. Nada obsta, porém, que o particular, nessa hipótese, venha a ser penalizado com multa, pois a condição necessária e suficiente para a aplicação dessa penalidade é ter a pessoa que se tenciona punir responsabilidade pelo dano causado ao erário, não importando se isso ocorreu ou não no exercício de uma função pública.

59.8. Quanto ao fato do Instituto Ibradim estar desde 29/11/2005, sob nova presidência, em nada interfere na presente apuração, pois se está a apreciar a participação da pessoa jurídica no desvio de recursos públicos.

59.9. A alegação de que nunca manteve contato com a diretoria do Oceanus e que nunca assinou qualquer documento relacionado ao Convênio 8/2005 ou qualquer outro que relacione o Ibradim ao Oceanus, não socorre o Instituto.

59.10. O Ibradim foi ‘contratado’ pelo Oceanus em 16/5/2005 (embora o contrato esteja erroneamente com a data de 16/5/2006) (peça 13, p. 158-160). Naquela oportunidade, o Ibradim era presidido por Roni Merten, justamente o Presidente que convidou o Sr. Carlos Roberto Duarte de Souza, atual Presidente do Ibradim e signatário das alegações de defesa que ora se examina.

59.11. Roni Merten é casado com Eliane Amorim Mertem (antes Eliane Conceição de Amorim), ex-presidente do Instituto Exato, contratado na mesma data pelo Oceanus, e sócio com ela na empresa Compual Informática, também contratada pelo Oceanus para ‘fornecer’ equipamentos de informática.

59.12. Mas o Ibradim tinha, à época de sua contratação pelo Oceanus, outras relações com este que foram determinantes para se burlar os princípios da moralidade e da impessoalidade na gestão de recursos públicos, e na realização de contratação sem a contraprestação dos serviços. Foi o fato de que participavam do Ibradim Alessandra Kunzler de Azevedo e Alexandre Lunzler de Azevedo (conselheiros), parentes próximos de Andréa Cristina Kunzler Nogueira da Costa, esposa de Daniel Lima Costa, Coordenador Executivo do Oceanus, sendo que a Srª Andréa veio a ser a futura e atual Presidente daquele Instituto. Alessandra e Alexandre afastaram-se do cargo de conselheiros do Ibradim apenas em 29/11/2005, quando os desvios já estavam consumados.

59.13. Outra conselheira do Ibradim com intensas ligações com o Oceanus era Kátia Ferreira Esteves (depois Kátia Esteves de Lima), esposa de Marcelo Gomes Nascimento Lima. A Srª Kátia foi beneficiada de diversas maneiras pelo Oceanus com os recursos do convênio 8/2005, conforme já tratado no item 55.25 retro.

59.14. Por fim, para não se alongar em demasia, não se pode deixar de citar que Daniel Lima Costa, Andréa Cristina Kunzler Nogueira Costa, a Kátia Esteves e o Marcelo Gomes do Nascimento Lima, já integraram juntos a direção do Ibradim (peça 67, p. 18).

59.15. Quanto ao fato de o Ibradim não ter em seus arquivos quaisquer documentos comprobatórios referentes ao suposto contrato firmado por seus dirigentes com o Instituto Oceanus, só reforça as evidências de irregularidade na contratação, bem como a não prestação dos serviços.

59.16. Não é inverossímel a tese da defesa de que o casal Daniel Lima Costa e Andréa Kunzler, por serem ex-dirigentes do Ibradim, tenham fraudado os documentos daquele Instituto. Contudo, deveria a atual gestão do Ibradim ter inquirido o Sr. Roni Merten, Presidente á época da celebração do suposto contrato, cuja assinatura consta no termo contratual, tendo como testemunha a Andréa Kunzler (peça 13, p. 158-160). Além disso, conforme depoimento colhido pela procuradoria da República, Roni Merten, ‘é amigo íntimo de Daniel Lima e faz parte também do Instituto Exato (...) o mesmo Roni Merten foi eleito PRESIDENTE do IBRADIM’.

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59.17. Ou seja, nada impede, também, que o Presidente do Ibradim tenha participado de todas as irregularidades juntamente com Daniel Lima Costa, que era tido, á época, conforme relatou o Ministério Público, o ‘dono’ do Ibradim.

59.18Certo é que o Ibradim recebeu do Oceanus a quantia total de R$ 180.250,00, da seguinte forma, em sua maior parte mediante transferência eletrônica de dados (TED) enviados da Caixa Econômica Federal para a conta 15.755-4, agência 3186-0, do Banco do Brasil:

DATA VALOR (R$) TED/Cheque PEÇA/pág.25/5/2005 23.100,00 TED Peça 9, p. 33-35 e peça 16, p. 136 e 157 e 16430/6/2005 23.100,00 TED Peça 9, p. 142-144 e peça 16, p. 13630/7/2005 15.400,00 TED Peça 10, p. 48-50, peça 16, p. 137 e 15226/8/2005 15.400,00 TED Peça 10, p. 135-137 e peça 16, p. 137 e 15513/10/2005 9.625,00 Ch. 900111 Peça 4, p. 45, peça 5, p. 193-194 e peça 7, p.10110/11/2005 9.625,00 TED Peça 4, p. 50, peça 6, p. 160-162 e peça 7, p. 1034/1/2006 9.000,00 TED Peça 7, p. 76 e 103 e peça 8, p. 9417/1/2006 39.000,00 Ch. 900202 Peça 7, p. 76 e 103 e peça 8, p. 101-10217/1/2006 36.000,00 Ch. 900203 Peça 7, p. 76 e 103 e peça 8, p. 103-104

180.250,0059.19. Observa-se que em todos os casos, tem-se recibos e notas fiscais emitidos pelo

Ibradim, comprovando o recebimento dos recursos do Oceanus. Se ocorreram fraudes perpetradas por ex-dirigentes do Ibradim, compete a este adotar as medidas cabíveis, policiais e judiciais, restando-lhe o direito da ação regressiva, caso venha a ser condenado por este Tribunal.

59.20. Ademais, o dirigente do Ibradim alega que foi analisada a conta corrente da organização, a mesma em que foram creditadas as transferências da Caixa (conta corrente 15.755-4, agencia 3186-0, Banco do Brasil, Ponta Verde), mas que não foram localizados os valores consignados no processo de tomada de contas especial. Por isso, solicita perícias na referida conta bancária.

59.21. A verificação do crédito das transferências eletrônicas não exige nenhum perito. Com certeza, o responsável pela contabilidade da ONG pode fazer isso. Não verificando os créditos, caberia ao Instituto apresentar os extratos como prova, mas optou por não fazer isso.

59.22. Não compete a este Tribunal realizar as perícias solicitadas. O fato é que os recebimentos dos recursos pelo Ibradim estão baseados em documentos fiscais e recibos daquela Organização, e, em sua maior parte, em transferências eletrônicas de dados, atestadas pela Caixa, instituição financeira de origem.

59.23. Se ocorreu alguma fraude no âmbito interno do Ibradim, cabe aos dirigentes da organização adotarem as medidas cabíveis. O fato é que há prova nos autos de o Ibradim recebeu os recursos do Oceanus, mas não prestou os serviços para os quais fora contratado.

59.24Na inicial da Ação Civil Pública movida pelo MPF contra os dirigentes do Oceanus, consta o seguinte registro, que dá uma ideia do modus operandi do esquema, que os Procuradores da República chamaram de ‘verdadeira quadrilha especializada em obter fraudulentamente recursos públicos que seriam destinados à apropriação privada, verbis (peça 3, p. 143):

Todos os consultores ouvidos pelo Ministério Público Federal afirmam que o primeiro pagamento foi realizado na sede da IBRADIM, em espécie, no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) e, a partir do segundo pagamento, a Oceanus afirmou que iria passar a fazê-los através do Instituto EXATO. Afirmam, ainda, que quando do pagamento por parte do EXATO, este substituiu o recibo do primeiro pagamento, que havia sido emitido pelo IBRADIM, por um recibo dele. Informaram, por fim, que todos os pagamentos eram feitos em espécie, que não conhecem nenhum integrante do Exato ou do IBRADIM, que nunca ouviram falar do IBRADIM ou do EXATO nos meios acadêmicos e científicos ou em qualquer outro contexto e que suas únicas ligações com o IBRADIM e o EXATO diziam respeito ao recebimento das contraprestações de seus trabalhos e que não havia nenhuma coordenação ou relação de subordinação entre eles e os aludidos Institutos (fls. 280, 283 e 286).

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Destas narrativas percebe-se claramente que os consultores que trabalharam na tentativa de executar o objeto do convênio foram, na verdade, contratados diretamente pelo Instituto Oceanus e, posteriormente, como um meio de tentar justificar os possíveis pagamentos feitos ao Instituto IBRADIM e EXATO passaram a ser remunerados formalmente por estes Institutos, quando na realidade prestavam serviços diretamente à Oceanus.

59.25. Não houve defesa quanto a não apresentação dos serviços para os quais o Ibradim fora contratado pelo Oceanus. Acerca desse ponto, cumpre registrar excerto da análise lançada no Parecer Técnico 006/2008, da Seap/PR (peça 14, p. 105-143 – vide pag. 108):

6. Pertinente à execução dos serviços, é necessário mencionar que o Instituto Oceanus apresentou em meio magnético (CD – fls. 1899 – Processo 00350.000706/2007-86) diversos relatórios, sem indicação do período de realização dos trabalhos, data e nome do consultor responsável pela elaboração e da respectiva Instituição, não sendo possível mensurar se os resultados estão em consonância com o firmado nas metas indicadas no Plano de Trabalho, podendo, dessa forma, ser considerados sem valor probatório.

59.26. Necessário registrar que há uma diferença entre os valores entregues pelo Oceanus ao Ibradim (vide table no item 59.18 retro) e aqueles que constaram na citação do Instituto Ibradim e dos demais solidários (peça 29). O valor de R$ 9.000,00 transferido por TED em 4/1/2006, sem que saiba a razão, não constou da citação, não podendo agora ser imputada ao Ibradim, já que esse valor não justifica nova citação dos responsáveis. De todo modo, essa quantia integrará a proposta de condenação dos dirigentes do Oceanus e do próprio Oceanus.

59.27. Cabe assim, propor que sejam rejeitadas as alegações de defesa do Instituto Ibradim, e propor sua condenação em débito, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, pelas quantias abaixo indicadas:

DATA VALOR (R$)25/5/2005 23.100,0030/6/2005 23.100,003/8/2005 15.400,0026/8/2005 15.400,0013/10/2005 9.625,0010/11/2005 9.625,0017/1/2006 39.000,0017/1/2006 36.000,00Alegações de defesa da ADS Corais (CNPJ 05.437.758/0001-05)60. O Instituto ADS Corais foi citado solidariamente com Everilda Brandão

Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, em razão das seguintes ocorrências (peça 30), por conta dos seguintes atos:

d.1) contratação do Instituto ADS Corais sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade e economicidade e sem verificar a exclusividade da entidade como fornecedora, já que foi contratada por inexigibilidade de licitação, além de não ter sido realizada a cotação prévia de preços no mercado, contrariando o disposto na cláusula terceira, item II, letra c, do termo do convênio e posição deste Tribunal, exemplificada nos Acórdãos 114/2010-TCU-Plenário e 291/2011-TCU-2ª Câmara;

d.2) ausência de cláusulas estabelecendo o valor do contrato firmado entre o Oceanus e a Agência ADS Corais;

d.3) apresentação de relatórios em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação de instituição executora, da data de execução dos trabalhos, bem como, ausência do resultado consolidado do trabalho, fato que impossibilitou verificar se o que foi executado está em conformidade com o previsto no plano de trabalho do referido convênio;

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d.4) não comprovação pela ADS Corais da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo Instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005;

60.1. A ADS CORAIS apresentou tempestivamente sua defesa por meio de sua representante legal, Srª Josilene Albuquerque Lira (Peça 82), tendo alegado, em suma, o que será exposto a seguir.

60.2. No que se refere à contratação do Instituto ADS Corais sem a observância dos princípios da impessoalidade, moralidade, economicidade e sem verificar a exclusividade da entidade como fornecedora, alegou a responsável que anexou à defesa documentação referente ao processo licitatório, comprovando, sem sobra de dúvidas, que houve a total observância dos princípios que circundam o procedimento de licitação, pois ‘a contratação de serviços especializados por parte de pessoa jurídica com corpo técnico qualificado, sendo fato notório a escassez de instituições atuantes na área de consultoria ambiental no Estado de Alagoas’.

60.3. Além disso, sustentou que nenhuma das empresas consultadas foi capaz de assumir integralmente as necessidades do projeto, dividindo-se os serviços de acordo com a especialidade de cada uma delas, o que, por si só, ensejaria a necessidade de se utilizar do instrumento da inexigibilidade, pois tal fato já comprova que seria inviável uma pesquisa de preços.

Destaque-se que na reunião para a homologação de propostas decidiu-se por analisar os currículos dos profissionais apresentados por cada entidade (que também estão em anexo) no intuito de detectar a maior especialidade técnica, ficando decidido então que as três pessoas jurídicas seriam contratadas, ficando cada uma responsável por uma parte do plano de trabalho apresentado.

60.4. No tocante à ausência de cláusula que estabelecesse o valor do contrato, a responsável alertou sobre a Cláusula Quarta do contrato, a qual trata da remuneração e dos custos, que estabelecia ser a remuneração global baseada no plano de trabalho aprovado no Convênio 008/2005.

60.5. Quanto aos relatórios resultantes dos trabalhos de consultorias, a responsável informou que anexou à defesa os relatórios das atividades integrais referentes ao projeto, desenvolvidos com todas as identificações e especificações necessárias. Além disso, aduziu que o resultado consolidado estava contido no relatório de avaliação do projeto, formado por uma avaliação externa final do projeto ‘Apoio ao Desenvolvimento da Maricultura Sustentável no Litoral de Alagoas’, em conformidade com o Convênio 008/2005.

60.6. Finalmente, alegou que não prospera a suposta falta de comprovação pela ADS Corais acerca da efetiva contraprestação dos serviços que lhes foram pagos pelo instituto Oceanus, com recursos do Convênio 008/2005, em vista da documentação apresentada em anexo às alegações de defesa, referentes à prestação dos serviços contratados, bem como recibos, notas fiscais, comprovantes de pagamento e solicitações de transferências.

Análise das Alegações da ADS Corais61. Quanto à lisura na escolha e contratação da ADS Corais, não assiste razão à

representante da Associação. Registre-se que embora não conste dos autos o estatuto dessa entidade, pesquisa no cadastro da Receita Federal do Brasil indica que a Srª Josilene Albuquerque Lira, é a presidente dessa organização desde 12/9/2005, e foi a subscritora do contrato com o Oceanus.

61.1. Aliás, a ausência no processo de seleção do estatuto da ADS Corais e dos Institutos Exato e Ibradim é mais uma demonstração do direcionamento da contratação e da infringência aos princípios da moralidade e da impessoalidade. O estatuto dessas entidades indica suas finalidades sociais. Apenas com o seu exame pode-se atestar sua relação com o objeto a ser contratado e sua capacidade, técnica e jurídica, para executá-lo. Estranhamente, nenhum desses estatutos estava nos autos, o que indica que o Oceanus nem os examinou.

61.2. A representante da ADS e do Ibradim não trouxeram os estatutos das entidades que representam ao processo, o que permitiria identificar a legitimidade de ambos para representar as instituições e verificar a adequação das finalidades ao que foi contratado pelo Oceanus. No caso

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Instituto Exato, o estatuto foi trazido ao processo e permitiu verificar que as suas finalidades não tinham relação com o objeto para o qual foi contratado pelo Oceanus.

61.3 Outro ponto importante para esse tipo de contratação seria a qualificação do corpo técnico do ADS Corais. Porém isso não foi esmiuçado antes da contratação. O Oceanus não sabia quais os especialistas iriam realizar o trabalho pelas entidades contratadas. A ADS, por exemplo, ao atender o chamamento do Oceanus, limitou-se a dizer (peça 82, p. 50):

Informamos nossa disponibilidade de profissionais com capacidade técnica especializada nas áreas de algicultura, ostreicultura, desenvolvimento sustentável e diagnóstico de ocupação e uso dos espaços aquáticos.

61.4. O texto acima é muito parecido com o texto utilizado pelos demais institutos (peça 82, p. 48-49). Mas, em anexo às manifestações de cada instituto não foi apresentada a relação dos técnicos de cada uma e seus currículos. O que foi juntado ao processo foram diversos currículos de profissionais, das áreas de Biologia (5), Engenharia de Pesca (2), Engenheiro Agrícola (1), Geologia (1), Engenharia Civil (1) e Oceanografia (1) (peça 82, p. 53-99). Mas, nada, absolutamente nada, que vincule algum dos profissionais a alguns dos institutos contratados pelo Oceanus. Em seus currículos, não se verificou nenhuma citação a qualquer dessas pessoas jurídicas ‘com corpo técnico qualificado’. Vale registrar que os currículos apresentados na defesa do ADS Corais são exatamente os mesmos que já constavam no processo e se refeririam aos técnicos das três ONGs (peça 13, p. 92-137).

61.5. Não custa repisar uma questão lógica a respeito dessa contratação, já tratada quando da análise da defesa da ex-Presidente do Oceanus. Tratou-se de uma intermediação desnecessária e onerosa ao projeto. Desnecessária porque o Oceanus poderia ter contratado diretamente os profissionais, mediante contrato de prestação de serviços, se fosse o caso. Onerosa em razão de que essas associações contratadas (ADS, Ibradim e Exato) certamente ficaram com uma parte do valor repassado, pois não iam trabalhar de graça, já que teriam custos para contratar e gerenciar esse pessoal.

61.6. Ainda sobre a contratação da ADS Corais necessário transcrever excerto da inicial da ação Civil Pública movida pela Procuradoria da República contra os dirigentes e ex-dirigentes do Oceanus (peça 3, p. 127-196).

No que pertine à contratação da Agência de Desenvolvimento Sustentável ADS CORAIS, além da irregularidade na sua seleção, vislumbramos que esta associação também possui estreitas ligações com o Instituto OCEANUS, uma vez que, conforme se pode verificar em ata do ainda Projeto Oceanus, de 19.05.2004 (f.154), o mesmo aprovou a cessão de um terreno pela Prefeitura de Maragogi onde atualmente está instalada a ADS Corais. Registe-se também, por oportuno, que em 15.03.2005 (cf. ata de f. 166 dos autos), 2 meses antes da formalização do convênio Oceanus/SEAP, já havia um ‘Protocolo de Intenções’ entre a Oceanus e a ADS Corais.

Corrobora a posição deste parquet os depoimentos prestados pelo oceanógrafo FÁBIO NEVES COLIN (fls. 207/209), contratado pela Oceanus e de CARLOS ALEXANDRE KÜNZLER (fls. 215/217), sobrinho da esposa de Daniel Lima e ex-presidente da Oceanus. Ambos são uníssonos em afirmar que a ADS Corais não tem nenhuma relação com o projeto de maricultura objeto do convênio Oceanus/SEAP e por conta disso não conseguiriam imaginar a que se referiam eventuais pagamentos feitos a ela.

61.7. Quanto à divisão do ‘bolo’ de contratações de consultorias entre as três ONGs escolhidas pela direção do Oceanus, nada indica que foi porque nenhuma tinha condições de assumir tudo. Na verdade, não houve uma ONG que tenha comprovado estrutura ou capacidade técnica para fazer qualquer das atividades contratadas. Em tese, nem poderiam ser contratadas. Ficou evidente, pelos documentos juntados aos autos pelas defesas e na própria prestação de contas, que nenhuma das entidades comprovou ter executado nada na área pela qual foram contratadas. Alguém colocou um monte de currículos no processo, sem nenhuma relação com essas entidades, conforme já dito, mas esqueceram de exigir a comprovação de capacidade técnica das instituições.

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61.8. No tocante à execução do objeto para a qual foi contratada, a ADS Corais informou ter apresentado os relatórios integrais das atividades inerentes ao ‘projeto desenvolvido com todas as identificações e especificações necessárias’.

61.9. A ADS Corais foi contratada para consultoria nos itens 8.9 e 8.10 do termo de referência elaborado pelo Oceanus. O item 8.9 envolve a consultoria em algicultura, enquanto o 8.10, consultoria em ostreicultura. As atividades a serem desenvolvidas pela ADS, para ambas as consultorias, seriam, conforme o termo de referência (peça 82, p. 22):

Atividade 1- capacitar os pescadores artesanais e acompanhar o cultivo de algas nas áreas definidas pelo contratante.

Atividade 2 – emitir relatórios circunstanciados das atividades desenvolvidas.Atividade 3 – participar da elaboração dos Planos Locais para o Desenvolvimento da

Maricultura e dos procedimentos previstos em lei para viabilização dos licenciamentos ambientais.Atividade 4 – participar de reuniões com pescadores artesanais, equipe técnica e executiva

do Projeto Oceanus.Atividade 5 – verificar tecnicamente os melhores locais de cultivo de algas no litoral

alagoano.Atividade 6 – avaliar os impactos técnicos e ambientais, gerando estatísticas das espécies

cultivadas sobre: taxa de crescimento; taxa de sobrevivência e mortandade; tipagem genética, biodiversidade nos locais de cultivo; e, outros parâmetros estabelecidos no decorrer das atividades.

Atividade 7 – estudar a interação das algas com outras espécies presentes nos ecossistemas.Atividade 8 – avaliar o impacto ambiental (dispersão e colonização) das espécies

cultivadas no ambiente.Atividade 9 – avaliar a viabilidade técnica e ambiental das espécies cultivadas no litoral

alagoano.Atividade 10 – Desenvolver pesquisas cientificas com a finalidade de catalogação das

espécies cultivadas e montagem de um banco genético.61.10. Ressalte-se que a ADS Corais não apresentou a este Tribunal nenhuma prova

da contratação de consultores ou de que tenha realizado pagamentos a consultores, conduta que causa bastante estranheza. Seria fácil provar a contraprestação dos serviços, bastando a ONG trazer aos autos os contratos com os consultores e os comprovantes de pagamentos. Mas, optou por omitir essa informação.

61.11. Mesmo assim, a ADS apresentou o que seriam os trabalhos prestados pela ONG ao Oceanus. Contudo, de plano, verifica-se que os relatórios apresentados pela ADS não cobrem as atividades previstas. Ademais, apenas o primeiro relatório indica os nomes dos autores, professores Dr. Eurípedes Alves Silva Filho e Élica Amara Cecília Guedes, supostamente responsáveis pelo trabalho intiulado ‘Cultivo de algas e ostras nos municípios de Paripueira, Japaratinga, São Miguel dos Milagres, Coruripe, Barra de São Miguel e Passo de Camaragibe’, todos em Alagoas, relatório de atividades junho-julho-agosto/2005, e que faz referência ao Projeto ‘Apoio ao Desenvolvimento da Maricultura Sustentável no Litoral de Alagoas’ (peça 82, p. 117-172).

61.12. Nesse primeiro trabalho já fica evidenciado que se tratou de um trabalho acadêmico, iniciado antes da contratação da ADS pelo Oceanus, e que está sendo utilizado pela ADS. Um que o trabalho limitou-se a analisar áreas de cultivo de ostras em Passo de Camaragibe/AL, Coruripe, Barra da São Miguel e Paripueira/AL. Ocorre que cabia a ADS elaborar todos os dez PLDMs (peça 82, p. 32):

a) no Litoral Norte do Estado de Alagoas: Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, São Miguel dos Milagres. Passo de Camaragibe, Barra de Santo Antônio e Paripueira; e,

b no Litoral Sul: Marechal Deodoro. Barra de São Miguel e Coruripe.61.13. Ainda nesse trabalho, verifica-se informação que indica que ele não tem

relação com a ADS. Na sua página 50 (peça 82, p. 164), consta que houve a coleta de algas em abril/2005, data anterior ao início do processo no Oceanus que resultou na contratação da ADS. As

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algas foram colhidas na praia de Ponta Verde, em Maceió/AL, localidade sem relação com o objeto do convênio.

61.14. O fato de os documentos apresentados pelo ADS terem o nome da ONG na capa não vincula a ela esses trabalhos. Apenas dois relatórios apresentados fazem menção a ser custeado pelo Projeto Oceanus (peça 82, p. 206 e 286). Mas nenhum faz referência à ADS Corais, nem na introdução e nem na conclusão, quando se descreveriam as finalidades do trabalho. Essa situação guarda coerência com os depoimentos prestados ao MPF por pessoas ligadas ao Oceanus, de que a ‘ADS Corais não tem nenhuma relação com o projeto de maricultura objeto do convênio Oceanus/SEAP’ (vide item 61.6 acima).

61.15. Ademais, não foram apresentados, nem pelo Oceanus e nem pela ADS Corais, os cronogramas de viagens e as necessidades de custos, previstos na cláusula quarta, parágrafo primeiro, do contrato (peça 82, p. 115). Não há nos autos nenhuma troca de correspondências entre essas entidades, o que era absolutamente necessário, já que pelo contrato (cláusula quarta, parágrafo segundo), estranhamente, os gastos com alimentação, hospedagem e locomoção dos consultores do contratado em terra e água seriam custeados pelo contratante.

61.16. Eurípedes Alves da Silva Filho recebeu pagamentos do Oceanus nos dias 23/6/2005, 30/6/2005, 29/7/2005, 1/8/2005, 31/8/2005, 5/9/2005, 23/9/2005, 30/9/2005, 17/10/2005, que totalizaram R$ 15.400,00 (peça 4, p. 29 em diante), sem que conste nada no processo que explicite para quem ele estava trabalhando e qual a natureza do trabalho que realizava.

61.17. O mesmo aconteceu com Élica Amaral Cecília que Guedes também recebeu diversos pagamentos do Oceanus, que montaram R$ 10.840,00.

61.18. O segundo trabalho acadêmico apresentado pela ADS como se fosse produto de sua contratação tem como título: ‘OCORRÊNCIA DE MACROALGAS EPÍFITAS EM CULTIVO DE Gracilaria cornea J. Agardh (RHODOPHYTA, GRACILARIALES) NA PRAIA DE PARIPUEIRA, LITORAL NORTE DE ALAGOAS-BRASIL’ (peça 82, p. 173-200). O documento é apócrifo, não indicando o especialista responsável. O trabalho foi elaborado com foco exclusivo na cidade Paripueira/AL, apenas um dos municípios para elaboração dos PLDMs. Também é muito específico, não havendo uma relação própria com as atividades indicadas no termo de referência.

61.19. O terceiro trabalho é um relatório de atividades intitulado ‘Metodologias utilizadas, bem como, os dados registrados das atividades de maricultura (cultivo de algas e ostras), que estão sendo desenvolvidas no Município de Paripueira, localizado no litoral norte do Estado de Alagoas.’ (peça 82, p. 201-204). Outro trabalho que não indica o técnico que o elaborou. Também é outro trabalho realizado apenas em Paripueira/AL.

61.20. O quarto trabalho é também um relatório de atividades (não indica o período), que foi intitulado de ‘Projeto de Apoio à Aquicultura Sustentável – Cultivo de Algas e de Ostras Nativas’ (peça 82, p. 205-209). Mais uma vez, o relatório, sem autoria identificada, refere-se a trabalhos apenas em Paripueira e Maragogi/AL, não atendendo, assim, ao objeto do Convênio do Oceanus com a Seap/PR.

61.21. O quinto relatório é bastante específico, conforme já se observa em seu título: ‘Aspectos sócio ambientais em áreas de implantação da ostreicultura em Passo de Camaragibe/AL’, ou seja, limitou-se ao município retro citado (peça 82, p. 210-282). Também não menciona em parte alguma a ADS Corais e nem o Oceanus. Também não tem indicado o técnico responsável sua autoria, já que se mostra claramente como um trabalho.

61.22. O sexto trabalho e último destinou-se à ‘Análise do conteúdo estomacal da ostra de mangue (Crassostrea Rizophorae)’ (peça 82, p. 283-416). Neste caso, fica claro que o relatório foi feito para o Oceanus e não para a ADS Corais, conforme registrou o técnico responsável, cujo nome foi mais uma vez omitido. A coleta das amostras para a realização dos exames foi feita em Coruripe/AL, Paripueira/AL, Passo de Camaragibe/AL, Barra de São Miguel/AL.

61.23. Examinando esses trabalhos, mesmo que estes não se relacionem com a ADS Corais – salvo pela indicação nos títulos – verifica-se que não atendem ao objeto da contratação. As

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atividades que deveriam ter sido desempenhadas pela ADS Corais estão descritas no item 62.9 retro. Não há registro da ‘capacitação dos pescadores’ e nem o acompanhamento do cultivo de algas ‘nas áreas definidas pelo contratante’. O Contratante (Oceanus) definiu que as áreas seriam aquelas para as quais deveriam ser elaborados os PLDMs (10 municípios, vide item 61.11 acima).

61.24. Os relatórios das atividades (atividade 2) deixam claro que pouco foi feito em relação ao objeto da contratação. Nada foi apresentado para demonstrar o cumprimento das atividades 3 e 4. Quanto aos demais trabalhos, foram muito específicos, não podendo ser aceitos como suficientes para atender às atividades 5 a 10, mesmo porque, como foi visto, os trabalhos foram concentrados em Paripueira/AL, sendo que um ou outro, em Maragogi/AL e em Passo de Camaragibe/AL.

61.25. Essa situação contrariou o disposto no parágrafo primeiro da cláusula terceira do contrato entre o Oceanus e a ADS Corais (há erro na numeração do parágrafo) que previa que

os estudos deverão ser estendidos para dez municípios do litoral de Alagoas, no entorno de oito estuários locais para onde deverão se deslocar o CONTRATADO por meio de sua equipe a fim de realizar seus serviços de consultoria à comunidade escolhida pelo órgão executor.

61.26. Conforme já dito, os trabalhos apresentados pela ADS Corais não tem nenhuma indicação de que tenham sido realizados no âmbito do contrato firmado com o Oceanus. Apenas dois fazem menção ao Oceanus, quando deveria ser à ADS. A coincidência de terem sido produzidos em 2005 não ajuda à ADS Corais. Isso porque, conforme verificado na internet (http://www.investimentosalagoas.al.gov.br/nt_78.htm), no mesmo mês de maio em foi ‘contratada’ pelo Oceanus, a ADS firmou convênio com o Estado de Alagoas (Convênio Onda Azul) tendo por objetivo estudos para o fortalecimento da cadeia produtiva do turismo sustentável em Porto de Pedra/AL, litoral norte do Estado:

O Governo de Alagoas, por meio da Secretaria Coordenadora de Desenvolvimento Econômico, assina convênio com a Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais , representada pela sua presidenta Josilene Albuquerque Lira, com o objetivo de promover estudos preliminares e a elaboração do Programa ONDAAZUL/CEPEDES , que tem por finalidade a integração e o fortalecimento da cadeia produtiva do turismo sustentável no Pólo Costa dos Corais, no município de Porto de Pedras litoral norte de Alagoas.

O convênio tem vigência de 12 meses e conta com valor total de 338.110,00.61.27. Acerca desse repasse do Governo do Estado de Alagoas, vale registrar que a

Srª Josilene Albuquerque de Lira, Presidente da ADS Corais, foi Secretária de Assistência Social do Estado de Alagoas no período de 28/3/2006 a 31/12/2006, consoante consta no TC 006.177/2009-2, em tramitação neste Tribunal.

61.28. Diante de todo o exposto, considera-se que as alegações de defesa não afastam as irregularidades imputadas à ADS Corais, especialmente quanto à falta de comprovação da contraprestação dos serviços pelos quais foram contratada pelo Oceanus, com o uso de recursos públicos do Convênio 8/2005-Seap/PR.

61.29. Por essa razão, deve-se propor sua condenação, solidariamente com Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68), Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15) e o Instituto ADS Corais (CNPJ: 05.437.758/0001-05):

DATA VALOR (R$)30/6/2005 15.000,0031/8/2005 15.000,0013/10/2005 20.000,00SITUAÇÃO PROCESSUAL DE DANIEL LIMA COSTA (CPF: 411.055.914-68),

ANDRÉA CRISTINA KÜNZLER NOGUEIRA DA COSTA (CPF: 841.807.494-91) E DO INSTITUTO OCEANUS (CNPJ: 02.448.123/0001-15).

62. A primeira tentativa de citação do Sr. Daniel Lima Costa, Andréa Kunzler Costa e do Oceanus foi realizada pelos ofícios 235/2012, 234/2012 e 231/2012-TCU-Secex/AL, peças 27, 26 e

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24, respectivamente), encaminhados aos endereços constantes do cadastro da Receita Federal do Brasil (peça 22). Entretanto, todos retornaram. O do Oceanus com a informação ‘mudou-se’ (peça 35). O de Daniel Costa porque o ‘número inexistente’ (peça 36) e do Andréa Costa, como ‘não procurado (peça 58).

63. Foi, então, realizada nova pesquisa de endereços desses responsáveis (peças 39, 41, 71, 72 e 73), sem êxito em obter novo endereço de algum deles. Buscou-se, inclusive, por meio de diligência ao Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas, mas também sem sucesso (peça 66).

64. O titular desta Unidade determinou o envio da comunicação do Sr. Daniel Costa, via servidor desta Secretaria, mas também não teve êxito, pois foi verificado que a pessoa era desconhecida no endereço (peça 74).

66. Foi procedida vota tentativa de citação pela via postal de Andréa Costa, mas novamente retornou com a informação de ‘não procurado’ (peças 76, 83 e 84).

67. Diante da não localização dessas pessoas, o Secretário desta Unidade determinou, com fundamento no art. 179, inciso III, do RI/TCU, que as citações fossem feitas pela via editalícia, no Diário Oficial da União (peça 75).

67. A publicação das citações de Daniel e Andréa Costa, e do Instituto Oceanus, ocorreu em 4/6/2012 (peça 80).

68. Transcorrido o prazo regimental, os responsáveis não compareceram ao processo, deixando transcorrer in albis os prazos para apresentação das alegações de defesa e/ou recolhimento do débito que lhes foram imputados.

69. Com isso ficou caracterizada a revelia dos três responsáveis, o que autoriza o prosseguimento do feito, nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992.

70. O efeito da revelia não se restringe ao prosseguimento dos atos processuais, como erroneamente se pode inferir do teor do mencionado dispositivo legal, vez que esse seguimento constitui decorrência lógica na estipulação legal dos prazos para que as partes produzam os atos de seu interesse. O próprio dispositivo legal citado vai mais além ao dizer que o seguimento dos atos, uma vez configurada a revelia, se dará para todos os efeitos, inclusive para o julgamento pela irregularidade das contas, como se pode facilmente deduzir.

71. Nos processos do TCU, a revelia não leva à presunção de que seriam verdadeiras todas as imputações levantadas contra os responsáveis, diferentemente do que ocorre no processo civil, em que a revelia do réu opera a presunção da verdade dos fatos narrados pelo autor. Dessa forma, a avaliação da responsabilidade do agente não pode prescindir da prova existente no processo ou para ele carreada.

72. Assim, independente da revelia, a avaliação da responsabilidade do agente nos processos desta Corte não prescinde dos elementos existentes nos autos ou para ele carreados, uma vez que são regidos pelo Princípio da Verdade Material (Acórdãos 1.128/2011-TCU-Plenário, 1.737/2011-TCU-Plenário, 341/2010-TCU-2ª Câmara, 1.732/2009-TCU-2ª Câmara, 1.308/2008-TCU-2ª Câmara e 2.117/2008-TCU-1ª Câmara).

73. Desse modo, devem ser analisados os atos impugnados indicados na citação dos responsáveis e examinar em confronto com os demais elementos constantes do processo.

74. O Sr. Daniel Lima Costa foi o coordenador executivo do Oceanus durante a vigência do convênio. Competia-lhe ordenar as despesas. A própria Everilda Brandão, em sua defesa, alegou que a responsabilidade pelas despesas era exclusiva de Daniel Lima Costa, por força de competência estatutária. Por isso, acerca da responsabilidade do Sr. Daniel Lima Costa, aplica-se a análise lançada no item 55 com os ajustes pertinentes.

75. Segundo o MPF, ‘percebe-se facilmente que o ‘dono’ da ‘ONG OCEANUS’ é o Sr. Daniel Lima Costa’ (peça 3, p. 133). Depoimento ao MPF de parente da esposa de Daniel, que ocupou o cargo de Presidente do Instituto, afirmou que Daniel é ‘quem manda e sempre mandou no Projeto Oceanus’, ‘que os cargos do Projeto Oceanus sempre foram ocupados por parentes ou amigos de Daniel Lima’ e que ‘Daniel Lima tomava todas as decisões, as registrava em ata e entregava para os demais componentes do Projeto Oceanus assinarem’.

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76. Ademais, as análises efetuadas para a responsabilidade da Presidente do Oceanus, Everilda Brandão, e dos institutos ‘contratados’, aplicam-se para a responsabilização de Daniel Costa. Este, conforme apurado pelo MPF, chefiava todo o esquema, que contava com a participação de terceiros, a exemplo de Everilda Brandão. A Procuradoria da República concluiu que era ‘uma verdadeira quadrilha especializada em obter fraudulentamente recursos públicos que seriam destinados à apropriação privada’.

77. Quanto à Andréa Cristina Kunzler Costa, esposa de Daniel, era a Coordenadora Técnica do Instituto Oceanus (peça 61, p. 3), tendo assumido a presidência do Oceanus em 9/6/2006, ainda em plena vigência do convênio (peça 61, p. 5).

78. Aplica-se à sua responsabilização, a mesma análise feita para Everilda Brandão, Daniel Lima Costa e dos institutos ‘contratados’.

79. No caso do Instituto Oceanus, sua responsabilidade é consequência do uso indevido da pessoa jurídica pelo grupo dirigente. Consoante o entendimento fixado por este Tribunal no Acórdão 2.763/2011-TCU-Plenário, que tratou de convênios firmados pela União com entidades privadas, foi estabelecido:

9.1. acolher o Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado pelo Ministério Público junto ao TCU, nos termos do art. 91, caput, do Regimento Interno;

9.2. firmar o seguinte entendimento quanto à responsabilização das pessoas que devem responder por danos ao erário ocorridos na aplicação de transferências voluntárias de recursos federais a entidades privadas, com vistas à consecução de uma finalidade pública:

9.2.1. na hipótese em que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa a dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano;

80. Assim, nos convênios firmados pela União e suas entidades, com entes privados, quando se verificar que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa ao dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano. Neste caso, ficou explícito desvio dos recursos repassados e o consequente dano ao erário, devendo o Instituto Oceanus responder juntamente com seus então dirigentes. Ressalte-se ser importante a medida porque o mesmo grupo que desviou os recursos do Convênio 8/2005 comandam hoje a referida ONG, o que pode implicar em novos desvios de recursos.

81. Diante do exposto, deve-se propor que sejam as contas de Daniel Lima Costa(CPF: 411.055.914-68), Andréa Cristina Künzler Nogueira Da Costa (CPF: 841.807.494-91) e do Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15), julgadas irregulares, com fundamento no art. 16, inciso III, alíneas c e d, da Lei 8.443/1992, sem prejuízo de propor, em face da gravidade das irregularidades, que seja declarada a inabilitação dos dirigentes acima nominados para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública, nos termos do art. 60 da Lei 8.443/1992.

82. Deve ser proposta, também, a condenação desses responsáveis para recolham aos cofres do Tesouro Nacional as importâncias abaixo indicadas:

Data Valor (R$)16/5/2005 384.450,0016/5/2005 678.852,0029/12/2005 228.874,00

OUTRAS INFORMAÇÕES83. É importante ressaltar que, em pesquisa realizada no SIAFI não foram identificados

Convênios entre a UFAL e quaisquer destas Instituições.84. De forma análoga, em resposta ao Ofício 236/2012-TCU/Secex/AL, o Diretor

Superintendente do Sebrae/AL, Sr. Marcos Antônio da Rocha Vieira, por meio do Cta. DISUP 65, expedido em 23 de abril de 2012, informou que ‘não foi encontrado em nossos arquivos ajuste

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algum firmado com o Instituto Oceanus, bem como, não houve qualquer repasse de recursos financeiros a entidade’. (Peça 44)

QUANTIFICAÇÃO E REPARTIÇÃO DO DÉBITO ENTRE OS RESPONSÁVEIS85. O débito imputado solidariamente aos dirigentes do Instituto Oceanus e ao próprio

Instituto corresponde ao valor total repassado pelo Governo Federal, mediante o Convênio 8/2005. Essa imputação – pelo valor total – decorre do fato de que as finalidades pretendidas pelo ajuste não foram atingidas, consoante demonstrado nesta peça.

86. O objeto do convênio era prestar o apoio ao Desenvolvimento da Maricultura Sustentável no Litoral de Alagoas, por meio do cumprimento do plano de trabalho que integra o termo do repasse (peça 1, p. 150-175). O plano de trabalho tinha duas metas definidas: 1) Elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM) e 2) Implantação de Unidades Demonstrativas de Cultivo de Ostras e de Algas marinhas. Ambas as metas compreendiam os dez municípios selecionados.

87. Conforme já exposto, essas metas não foram atendidas e, por consequência, os objetivos do convênio firmado pelo Governo Federal não foram alcançados. Diante desse cenário, não há como aproveitar as despesas realizadas, pois em sua grande parte estão dissociadas do interesse públicos e eivadas de ilicitudes. Ressalte-se que os mesmos os bens adquiridos – em parte vendidos e o produto desviado – deveriam estar tombados e incorporados ao patrimônio da Seap/PR, mas nada disso foi feito, não se tendo a menor ideia do destino desses bens, salvo aqueles que estão sendo utilizados irregularmente no restaurante de propriedade do filho do Coordenador Executivo do Oceanus, Daniel Lima Costa, conforme flagrado pela Ciset e pela Procuradoria da República.

88. Em situações como essa, em que as finalidades do convênio não foram alcançadas, por culpa exclusiva do convenente, a jurisprudência desta Corte é no sentido de condenar pelo ressarcimento do valor integral. No voto condutor do Acórdão 2.620/2012-TCU-2ª Câmara, o eminente Relator, Ministro Aroldo Cedraz assim posicionou-se, verbis:

9. De fato, os convênios de mútua cooperação, no âmbito da Administração Pública Federal, albergam obrigações de resultado, e não de meio. Assim, evidentemente, a comprovação da boa e regular aplicação dos recursos e a aprovação da prestação de contas, passam pela verificação do efetivo atingimento da finalidade pactuada, sob pena de devolução dos recursos. Nestes autos, como bem demonstrou o MP/TCU, o objeto ajustado não era simplesmente a execução de sistema de abastecimento de água, mas sim, o efetivo funcionamento do sistema construído, com proveito para a comunidade. Como visto, tal requisito não restou comprovado nos autos.

10. Além disso, as diversas inconsistências detectadas na prestação de contas apresentada pelo Sr. José Damacena Filho e aduzidas pelo MP/TCU em item do parecer transcrito no Relatório precedente, contribuem para a conclusão de que os recursos federais transferidos não tiveram boa e regular aplicação. Nesse particular, cumpre salientar que a existência física do objeto pactuado não constitui, por si só, elemento suficiente para comprovar a regular condução do convênio e levar à aprovação das contas. Mormente quando as inconsistências observadas dificultam o estabelecimento do nexo de causalidade entre objeto executado e as fontes dos recursos utilizados.

89. Na mesma linha o Voto proferido pelo e. Ministro Ubiratan Aguiar que resultou no Acórdão 480/2011-TCU-1ª Câmara:

5. A propósito, é sempre importante salientar que o repasse de recursos federais para a execução de atividades, nos termos do Decreto-lei nº 200/67, art. 6º, inciso III, tem por objetivo permitir que sejam cumpridas as competências constitucionais atribuídas à União, Estados, Municípios e Distrito Federal, mediante a adoção de ações cooperativas. Portanto, se esses repasses não se prestam a alcançar o fim almejado, no presente caso urbanização de áreas degradadas, insalubres ou em situação de risco, com pavimentação e drenagem do Bairro Alto Alegre, Distrito de Alto Bonfim, no Município de Bonito/PE, não há falar em execução parcial. Aqui o que se verificou, segundo apurado pela CEF, além da não conclusão das obras, foi a ausência de funcionalidade. Logo, não há conclusão diversa: a inexecução levou ao não alcance do objeto do

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contrato de repasse, cabendo, nos termos da legislação aplicável, retornar aos cofres públicos os recursos transferidos.

6. No tocante ao fundamento legal da condenação (art. 16, inciso III, alínea c, da Lei nº 8.443, de 16 de julho de 1992), acompanho o entendimento da Secex/PE e do Ministério Público. O gestor público, ao assinar instrumento de descentralização de recurso com ente federal, assume o compromisso da execução integral do objeto, de modo a permitir o alcance da meta acordada com o órgão repassador. Assim, a injustificada inexecução do objeto representa prejuízo ao Erário decorrente de ato de gestão ilegítimo.

90. Inúmeros outros julgados vão no mesmo sentido, e.g. dos Acórdãos 4.587/2009-TCU-2ª Câmara e 6.827/2011, 6.831/2011 e 6.834/2011-TCU-1ª Câmara.

91. Neste caso, portanto, conforme constou da citação dos dirigentes do Oceanus e do próprio Instituto, a condenação deve ser pelo valor total repassado, conforme tabela abaixo:

Data Valor (R$)16/5/2005 384.450,0016/5/2005 678.852,0029/12/2005 228.874,00

92. Entretanto, deve-se considerar que terceiros contribuíram para o desvio de parte dos recursos públicos e foram citados, solidariamente com os mesmos dirigentes do Oceanus e com o Oceanus, para a devolução de parte dos recursos. Assim, primeiramente deve-se propor a condenação dos terceiros envolvidos, juntamente com os responsáveis solidários, e o valor restante será atribuído apenas aos dirigentes e ao Oceanus.

93. Assim, teremos as seguintes propostas relativas às condenações em débito:93.1. Instituto Exato, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina

Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (item 57.11):Valor Histórico Data de ocorrência

R$ 13.200,00 25/05/2005R$ 13.200,00 30/06/2005R$ 8.800,00 03/08/2005R$ 11.250,00 26/08/2005R$ 8.800,00 26/08/2005R$ 4.620,00 30/09/2005R$ 5.500,00 13/10/2005R$ 5.500,00 10/11/2005R$ 70.870,00

93.2. Instituto Ibradim, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (item 59.26):

DATA VALOR (R$)25/5/2005 23.100,0030/6/2005 23.100,003/8/2005 15.400,0026/8/2005 15.400,0013/10/2005 9.625,0010/11/2005 9.625,0017/1/2006 39.000,0017/1/2006 36.000,00

171.250,0093.3. ADS Corais, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina

Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (item 61.29):DATA VALOR (R$)

30/6/2005 15.000,0061

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31/8/2005 15.000,0013/10/2005 20.000,00

50.000,0094. Os valores acima devem ser abatidos dos valores repassados, sendo o saldo

imputado, solidariamente, a Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus. Considerando que os saques em favor dos institutos indicados nos itens anteriores envolvem várias datas e de modo a facilitar essa compensação, inclusive de modo a torná-la mais favorável aos responsáveis, abater-se-ão os valores totais acima da primeira parcela repassada pela Seap/PR em 16/5/2005.

95. Com isso, teremos como débitos a serem imputados aos dirigentes do Oceanus e ao próprio Instituto, o seguinte:

DATA VALOR (R$)16/5/2005 92.330,0016/5/2005 678.852,0029/12/2005 228.874,00

CONCLUSÃO96. O convênio 8/2005, firmado entre a Seap/PR e o Instituto Oceanus, tinha por objeto

dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas, ficando estabelecida duas metas mensuráveis: a elaboração dos PLDMs nos dez municípios de Alagoas indicados no plano de trabalho e a instalações de unidades demonstrativas e produtoras de algas e ostras também nos dez municípios (item 3).

97. O valor da participação da União, no total de R$ 1.292.176,00, foi repassado em duas parcelas, em maio/2005 e dezembro/2005 (itens 1 e 2).

98. A execução do convênio foi acompanhada por técnico da Seap/PR e indicou, até certo momento, que o projeto parecia estar evoluindo (itens 4 a 7).

99. Entretanto, em agosto/2006, a Ciset/PR realizou fiscalização no objeto desse repasse e verificou um conjunto de irregularidades graves (item 8). A partir daí, mais relatos de irregularidades na gestão dos recursos federais foram surgindo, a exemplo dos pareceres técnicos emitidos pelo Coordenador de Maricultura da Seap/PR, em 11/4/2007 e 26/6/2007 (itens 10 e 11), corroboradas por fiscalização da Seap/PR realizada em agosto/2007 (item 12).

100. Nessa época, iniciaram-se as investigações da Procuradoria da República em Alagoas (itens 13-15), que resultou em uma Ação Civil Pública (ACP) contra os dirigentes do Oceanus (itens 19 a 21).

101. Em 6/12/2007 foi concluída a apreciação da prestação de contas final (item 16) e nesse mesmo mês foi realizada outra fiscalização, que indicou diversas irregularidades na execução da avença (item 17). Em 2008, depois de examinar a ação do MPF, esta Corte determinou a apuração pela Seap/PR e a instauração da TCE, pelo Acórdão 2.310/2008-TCU-1ª Câmara (item 24).

102. Na instrução inicial nesta Corte, obteve-se os extratos e cópias dos documentos bancários da conta específica do convênio (itens 26-28) e foram definidas as responsabilidades do corpo diretivo do convenente (itens 29 a 37) e dos terceiros envolvidos (itens 39 a 48), com vistas a citação dos responsáveis (itens 49 a 53).

103. A ex-presidente do Oceanus, Everilda Brandão, alegou ilegitimidade passiva, pois não teria competência e nem atribuições estatutárias para a prática dos atos impugnados. Apresentou, também, breves considerações sobre alguns dos atos impugnados, a exemplo da locação de veículos e as despesas com viagens (item 54).

104. A análise da defesa apresentada refutou todas essas alegações. Foi demonstrado que o estatuto do Oceanus estabelece competências a atribuições para o cargo de Presidente que atraem sua corresponsabilidade em relação às irregularidades ocorridas, em especial por contas da culpa in elegendo e in vigilando (itens 55.1 a 55.25).

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105. Também foram examinadas, uma a uma, as alegações acerca dos atos impugnados constantes dos oficio citatório (‘a.1’ a ‘a.13’), concluindo pelo não acatamento da defesa (itens 55.26 a 55.33.8). Ressalte-se que em relação a alguns dos atos impugnados a defesa foi silente, tendo sido feita a análise a partir dos elementos constantes dos autos (itens ‘a.2’, ‘a.6 a ‘a.9’, ‘a.10’ e ‘a.11 a a.13’ do ofício citatório).

106. Ainda com relação à defesa de Everilda Brandão, foi examinada a contratação de ONGs para a realização dos serviços de consultoria. A responsável afirmou a necessidade da contratação e o respaldo para a contratação direta, em face da inviabilidade de competição (item 55.34). Ambos os pontos foram adequadamente rebatidos nesta instrução, pois ficou demonstrado a desnecessidade da contratação, já que o Oceanus poderia ter contratado diretamente os consultores, sem a intermediação desnecessária e onerosa das ONGs, e que não ficou demonstrada a inviabilidade de competição, posto que alguns dos institutos não comprovaram especialização para atuar na área objeto do convênio (itens 55.34.1. a 55.34.9).

107. Foi procedido o exame da contratação de cada ONG pelo Oceanus para a realização de serviços de consultoria. Em todas, ficou evidenciada a ilicitude na escolha da entidade, contrariando os princípios da impessoalidade e da moralidade que deveriam permear a atuação da direção do Oceanus quando da gestão de recursos públicos. Nos casos do Exato e do Ibradim, ficou clara a participação de dirigentes, ou ex-dirigentes e/ou parentes de dirigentes do Oceanus nesses institutos (55.34.10 a 55.34.14; 55.35 a 55.35.8; e, 55.36.2 a 56.36.6).

108. Também ficou demonstrado, em todos os três casos, não ter havido a contraprestação dos serviços ou que essa foi nitidamente insuficiente para justificar os pagamentos realizados (itens 55.34.15 a 18; 55.35.9 a 55.35.16; e, 55.36.7 a 55.36.8).

109. Diante do quadro acima, conclui-se pela proposta de rejeição das alegações de defesa de Everilda Brandão e, diante do fato de que não há como presumir sua boa-fé em razão das inúmeras irregularidades verificadas, propor, também, desde logo, a irregularidade das contas, sua condenação em débito pelo valor total repassado, nos valores indicados na citação e a aplicação da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992.

110. A defesa apresentada pelo Instituto Exato trouxe preliminares relacionadas à prescrição da cobrança por este Tribunal e informou não ter nenhum documento relacionado ao contrato com o Oceanus (item 56). Os argumentos foram considerados impertinentes, por força da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário (itens 57.1 a 57.5), tendo-se, ainda, tratado dos vícios ocorridos na sua contratação irregular (itens 57.6 e 7).

111. Foi considerada improcedente, também, a alegação de que o Instituto Exato não dispunha mais dos documentos comprobatórios, citando a não apresentação dos documentos bancários, como exemplo. Citou-se que o Exato já foi condenado por este Tribunal em razão de superfaturamento de serviços contratados pelo Ministério da Saúde em Alagoas (itens 57.9 a 57.10). Concluiu-se, por fim, pela rejeição da defesa e pela condenação do Exato pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (item 57.11).

112. O Instituto Ibradim apresentou defesa indicando preliminares de ofensa ao contraditório e de nulidade da citação, por ofensa a dispositivos do CPC (item 58.2). O atual Presidente, desde agosto/2005, informou não ter nenhum relacionamento com o Instituto Oceanus ou com algum membro de sua direção. Que nunca assinou nenhum documento que tenha referência ao Convênio 8/2005 e que não encontrou nos arquivos do Ibradim quaisquer documentos referentes aos valores indicados na citação (itens 58.3 a 58.6).

113. Afirmou que Daniel e Andréa Costa, dirigentes do Oceanus, já foram dirigentes do Ibradim, e que podem ter se apropriado de documentos, papéis timbrados e carimbos deste, para posterior uso ilícito. Que os valores consignados na citação não teriam transitado pela conta bancária do Ibradim e que a diretoria não concedeu nenhum recibo ou endosso de cheques. Requereu perícia ou diligência desta Corte (itens 58.7 a 58.13).

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114. As alegações de defesa foram refutadas uma a uma nesta peça. Quanto às preliminares, apontou-se não ter havido nenhum cerceamento à defesa e que o processo nesta Corte é regido pela Lei 8.443/1992, e não pelo CPC (item 59.1).

115. No mérito, registrou-se que a jurisdição deste Tribunal alcança terceiros que causaram dano ao erário em combinação com agente público, ou com aquele que assume esse papel quando gere verbas públicas, como é o caso da direção do Oceanus (itens 59.3 a 59.7). Foram rebatidos os demais pontos da defesa, inclusive demonstrando que os dirigentes do Ibradim tinham relação com os Oceanus à época da contratação (itens 59.9 a 59.14).

116. Demonstrou-se que o presidente anterior do Ibradim assinou o contrato com o Oceanus e que há no processo recibos e notas fiscais emitidas pelo Ibradim, atestando o recebimento dos recursos. A maior parte dos ‘pagamentos’ do Oceanus ao Ibradim foram feitos mediante transferência eletrônica de fundos, tendo a conta credora sido confirmada como sendo do Ibradim, não tendo a direção do Ibradim apresentado os extratos bancários para comprovar o que alegou (itens 59.15.a 59.21). Indicou-se que as fraudes no âmbito interno do Ibradim devem ser apuradas pela instituição e que a ACP movida pelo MPF registra, por meio de depoimentos, o esquema irregular envolvendo o Oceanus e o Ibradim (itens 59.22 a 59.24).

117. No tocante à contraprestação dos serviços pelo Ibradim, não houve defesa, prevalecendo a constatação da Ciset/PR de que os relatórios apresentados são imprestáveis para comprovar a realização dos serviços. A conclusão foi pela rejeição da defesa e pela condenação do Ibradim pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (itens 59.26 e 27).

118. A ONG ADS Corais também apresentou defesa na qual considerou regular sua contratação e apresentou cópias dos supostos relatórios de atividades e trabalhos técnicos que teriam sido realizados para o Oceanus (item 60).

119. O exame técnico refutou a regularidade da contratação, que não foi precedida nem da análise do estatuto da entidade e nem da capacitação de seu corpo técnico. Foi registrado que os currículos apresentados pelo Oceanus não indicavam para quem aquelas pessoas trabalhavam (itens 61 a 61.4). Além disso, foi exposto excerto da ACP movida pelo MPF na qual constam depoimentos de técnicos que acompanharam a situação e que declararam não ter havido nenhuma participação da ADS Corais e informaram o vínculo existente entre as duas ONGs (item 61.5 e 6).

120. Traçou-se um exame das atividades pelas quais a ADS foi contratada e os relatórios por ela apresentados, concluindo-se que não comprovam a execução dos serviço, posto que não indicam os profissionais responsáveis, exceto um, não fazem menção nos objetivos às finalidades buscadas pelo contratante, seja a ADS Corais seja o Oceanus, e são específicos para poucas localidades, não alcançando nem a metade da abrangência prevista no termo de referência (itens 61.9 a 61.12). Um dos trabalhos iniciou-se antes da ‘contratação’ pela ADS, o que indica que não guarda relação (item 61.13). Algumas das atividades do termo de referência para a qual a ADS foi contratada não foram abordadas em nenhum trabalho, o que comprova a não contraprestação dos serviços (itens 61.14 a 61.25).

121. Verificou-se, ainda, que na mesma época, em maio/2005, a ADS Corais firmou convênio com o Estado de Alagoas, no valor de R$ 338.110,00, o que pode justificar que os documentos juntados ao processo não tenham referência ao Oceanus e seu projeto (itens 61.26 a 61.27).

122. Concluiu-se, por tudo isso, pela proposta de rejeitar a defesa da ADS Corais e de condenar a ONG pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (itens 61.28 e 61.29).

123. No caso de Daniel Lima Costa e de sua esposa, Andréa Kunzler Costa, coordenadores executivo e técnico do Oceanus, respectivamente, e do Instituto Oceanus, nada

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obstante os esforços desta Unidade com vistas as suas citações, não foi localizá-los, o que levou à realização das citações por edital publicado no Diário Oficial da União (itens 62 a 67).

124. Os três responsáveis acima não compareceram ao processo, tornando-se revéis e autorizando o prosseguimento do feito, resguardando-se o tratamento específico da revelia previsto no rito processual deste Tribunal (itens 68-73). Assim, foram analisadas as responsabilidades e as condutas de cada dirigente, concluindo-se pelas irregularidades de suas condutas, que concorreram diretamente para os desvios de recursos públicos (itens 74 a 78).

125. Quanto à situação do Instituto Oceanus, concluiu-se que sua responsabilidade é consequência do uso indevido da pessoa jurídica pelo grupo dirigente. Revelou-se o entendimento fixado por este Tribunal no Acórdão 2.763/2011-TCU-Plenário, de que nos convênios firmados pela União e suas entidades, com entes privados, quando se verificar que a pessoa jurídica de direito privado e seus administradores derem causa ao dano ao erário na execução de avença celebrada com o poder público federal com vistas à realização de uma finalidade pública, incide sobre ambos a responsabilidade solidária pelo dano, o que foi exatamente o que ocorreu neste caso (itens 79 a 80). Foi proposta, por tudo isso, que as contas de Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68), Andréa Cristina Künzler Nogueira Da Costa (CPF: 841.807.494-91) e do Instituto Oceanus (Cnpj: 02.448.123/0001-15), sejam julgadas irregulares, com fundamento no art. 16, inciso III, alíneas c e d, da Lei 8.443/1992.

126. Em relação à quantificação do débito a ser imputado a cada responsável, operou-se uma repartição, levando em conta os diferentes grupos de responsáveis solidários por delitos e valores diversos. Assim, definiu-se que os dirigentes do Oceanus respondem pelo valor integral repassado juntamente com o Oceanus.

127. Entretanto, esse mesmo grupo de responsáveis é solidário com cada uma das três entidades não governamentais que receberam recursos do Oceanus (Exato, Ibradim e ADS Corais). Os montantes dessas condenações devem ser abatidos do valor global da condenação dos dirigentes do Oceanus e do próprio Instituto, de modo a que o total das condenações não ultrapasse o valor total repassado pela União (itens 85 a 95).

128. Vale repisar, que pelos elementos nos autos, não é possível presumir a boa-fé da ex-presidente do Oceanus, Everilda Brandão Guilhermino, razão pela qual, nos termos do art. 202, §§ 2º e 6º, do Regimento Interno/TCU, deve ser proposto, desde já, o julgamento pela irregularidade das contas.

129. Por fim, vale mencionar que em face da gravidade das condutas aqui examinadas, deve-se propor que seja declarada a inabilitação dos três dirigentes do Instituto Oceanus, constantes do rol de responsáveis, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da Administração Pública, nos termos do art. 60 da Lei 8.443/1992:

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO130. Pelo exposto, submete-se o feito à consideração superior, propondo:130.1considerar revel, para todos os efeitos, nos termos do § 3º do art. 12 da Lei

8.443/1992, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68) e o Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15);

130.2. rejeitar as alegações de defesa de Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79), do Instituto EXATO (CNPJ: 06.241.431/0001-26), do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios (Ibradim) (CNPJ: 02.244.999/0001-40) e da Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS Corais) (CNPJ: 05.437.758/0001-05);

130.3. julgar irregulares as contas de Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79), Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68) e do Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15), com fundamento no art. 1º, inciso I, no art. 16, inciso III, alíneas c e d da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, c/c o art. 19 e o art. 23, inciso III, da mesma Lei;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

130.4. condenar, solidariamente, as pessoas abaixo indicadas, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da respectiva notificação, para comprovarem, perante este Tribunal, o recolhimento dos valores a seguir indicados, aos cofres do Tesouro Nacional, atualizados monetariamente e acrescidos dos juros de mora calculados a partir das respectivas datas até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:

a) Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79), Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68) e o Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15):

Quantificação do Débito:Data Valor (R$)

16/5/2005 92.330,0016/5/2005 678.852,00 29/12/2005 228.874,00 Valor atualizado até 15/8/2012: R$ 2.618.280,77b) Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79),

Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68), Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15) e o Instituto EXATO (CNPJ: 06.241.431/0001-26):

Quantificação do Débito:Data Valor

25/05/2005 R$ 13.200,00 30/06/2005 R$ 13.200,00 03/08/2005 R$ 8.800,00 26/08/2005 R$ 11.250,00 26/08/2005 R$ 8.800,00 30/09/2005 R$ 4.620,00 13/10/2005 R$ 5.500,00 10/11/2005 R$ 5.500,00 Valores atualizados até 15/8/2012: R$ 184.409,34c) Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79),

Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68), Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15) e o Instituto IBRADIM (CNPJ: 02.244.999/0001-40):

Quantificação do Débito:Data Valor

25/5/2005 23.100,0030/6/2005 23.100,003/8/2005 15.400,0026/8/2005 15.400,0010/11/2005 9.625,0013/10/2005 9.625,0017/1/2006 39.000,0017/1/2006 36.000,00

Valores atualizados até 16/3/2012: R$ 468.040,62d) Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79),

Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91), Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68), Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15) e a Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS Corais) (CNPJ: 05.437.758/0001-05):

DATA VALOR (R$)30/6/2005 15.000,00

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

31/8/2005 15.000,0013/10/2005 20.000,00

50.000,00130.5. aplicar, individualmente, ao Instituto Oceanus, às Senhoras Everilda Brandão

Guilhermino (CPF: 020.783.874-79) e Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91) e ao Senhor Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68) a multa referida no art. 57 da Lei 8.443, de 1992, fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a partir da notificação, para que comprovem, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente desde a data do presente Acórdão até a do efetivo recolhimento, se for paga após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

130.6. declarar as Senhoras Everilda Brandão Guilhermino (CPF: 020.783.874-79) e Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (CPF 841.807.494-91) e o Senhor Daniel Lima Costa (CPF: 411.055.914-68) inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou de função de confiança no âmbito da Administração Pública, por um período de até oito anos, nos termos do art. 60 da Lei 8.443, de 1992;

130.7. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações;

130.8. remeter cópia dos autos, bem como da deliberação que vier a ser proferida e do relatório e voto que a fundamentarem, à Procuradoria da República no Estado de Alagoas, nos termos do § 3º do art. 16 da Lei 8.443, de 1992, c/c o § 6º do art. 209 do Regimento Interno – TCU; e

130.9. encaminhar, para ciência, cópia do Acórdão que for proferido, acompanhado do Relatório e Voto que o fundamentarem, ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA);”.

4. Em sua cota de participação, quanto ao mérito, assim se manifestou o Ministério Público junto ao Tribunal:

“O Ministério Público aquiesce, em essência, à proposição apresentada pela unidade técnica.

Em suas alegações de defesa, a Srª Everilda Guilhermino aponta ‘contradições de conteúdo a respeito do mesmo assunto e objeto’ entre os relatórios emitidos pelo Sr. Felipe Suplicy, Coordenador-Geral de Maricultura da Seap – PR, e entre estes e os de seu ‘preposto no Estado’, Sr. Paulo Roberto Calaça, Chefe do Escritório da Seap/AL.

De fato, como registrado acima, o Sr. Felipe Suplicy, no Relatório de Viagem, de 9.3.2006, (peça 4, pp. 128/34), e o Sr. Paulo Roberto Nunes Calaça, no Relatório de Avaliação do Projeto Oceanus, de 15.5.2006 (peça 4, pp. 113/24), informaram que o projeto evoluía satisfatoriamente, com boa parcela dos itens previstos já realizados. Estes relatórios, porém, não podem ser tidos como conclusivos, até porque elaborados entre cinco e sete meses antes do final da vigência do convênio, em 31.10.2006.

Em 22.12.2006, apenas dois meses depois de encerrada a vigência, o Relatório de Fiscalização – Ciset/PR 20/2006 (peça 3, pp. 53/61) já registrava a falta de cumprimento das metas do convênio. Com o posterior aprofundamento das investigações, foi ficando claro o quadro de descumprimento integral das metas do convênio e de ocorrência de inúmeras irregularidades em sua execução, evidenciando completa desordem administrativa e descaso com as salvaguardas aplicáveis à despesa pública, abrangendo, principalmente, a inobservância da obrigatoriedade de licitação e o favorecimento pessoal a familiares do Sr. Daniel Lima Costa, Coordenador-Geral do Instituto Oceanus.

Fartas evidências nesse sentido foram acrescentadas pelo Parecer Técnico Cogmar/Didaq/Sudap/Seap/PR 388/2007, de 26.6.2007, proferido pelo Sr. Felipe Suplicy (peça 3, pp. 83/90); pela Nota Técnica (IB/PR) 1/2008, de 9.1.2008 (peça 11, pp. 134/63); pela Procuradoria da República em Alagoas, na Ação de Improbidade Administrativa 4/2008-Gab/Pros, impetrada em

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26.3.2008; e pelo Parecer 6/2008 – Cogpa/Digeai/SA, de 7.5.2008, da Seap – PR (peça 14, pp. 105/43).

A divergência apontada não foi, portanto, senão o natural desenvolvimento do processo de investigação do convênio examinado, que culminou na reunião de expressivo volume de provas das irregularidades de que foram acusados os responsáveis nestes autos. As conclusões preliminares do órgão concedente não escusam os responsáveis de rebater as evidências concretas obtidas após o desenlace do processo investigatório, porque é deles, lembre-se, segundo rezam a legislação e a pacífica jurisprudência desta Corte, o ônus de demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos públicos colocados sob sua gestão.

III

Conforme exposto acima, o convênio examinado tinha por objetivo dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas, por meio de duas metas: 1) elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura – PLDM, com aporte de recursos federais no valor de R$ 428.611,00; 2) implantação de unidades demonstrativas de cultivo de ostras e de algas marinhas, com aporte de recursos federais no valor de R$ 863.565,00.

A Srª Everilda Guilhermino não negou ou justificou, em momento algum, a inexecução da segunda meta. Apenas referiu-se vagamente à suposta necessidade de recursos adicionais para a continuidade dos trabalhos, que teria sido confirmada pelos relatórios iniciais do concedente. Porém, demonstrou-se, no tópico anterior, a fragilidade destes, de modo que persiste a conclusão de que a segunda meta não foi executada.

Quanto à primeira, cabe lembrar que, segundo a prestação de contas do Convênio 8/2005, sua execução teria sido confiada pelo Instituto Oceanus a três instituições por ele contratadas: o Instituto Exato, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios – Ibradim e a Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais, todos citados nos presentes autos como corresponsáveis pela inexecução desta meta.

A Srª Everilda Guilhermino alega que foi possível cumpri-la, com a apresentação dos PLDM, cujo resultado foi catalogado e geoprocessado. Esses dados teriam permitido à Seap/PR ‘lotear’ a zona litorânea.

Para tentar demonstrar este fato, anexou à peça 60 cópias dos seguintes relatórios:

a) atribuídos ao Instituto Exato:1) ‘Geologia e Geomorfologia dos Estuários dos Rios Salgado, Manguaba,

Camaragibe e Santo Antônio’ (pp. 1/8);2) ‘Delimitação de Faixas de Preferências, Parques e Áreas Aquícolas dos Corpos

d’Águas da União no Estado de Alagoas’ (pp. 9/38);3) ‘Modelo Básico – Plano Local de Desenvolvimento da Maricultura no Estado de

Alagoas’ (pp. 39/107);4) ‘Levantamento Preliminar da Fauna e Flora Costeira’ (pp. 108/21).

b) atribuídos ao Ibradim:1) ‘Avaliação de Diferentes Tipos de Coletores de Larvas da Ostra do Mangue,

Crassostrea Rhizophorae no Município de Passo de Camaragibe, Alagoas – Brasil’ (pp. 122/58);2) ‘Avaliação de Diferentes Tipos de Coletores de Larvas da Ostra do Mangue,

Crassostrea Rhizophorae no Município de Passo de Coruripe, Alagoas – Brasil’ (pp. 159/204);3) ‘Implantação de Cultivos de Ostras Nativas como Instrumento de Desenvolvimento

Sustentável para Comunidades Tradicionais de Pescadores Artesanais’ (pp. 205/67);4) ‘Cultivo Experimental de Gracilaria Cornea J Agardh (Gracilariales, Rhodophyta) na

Praia de Paripueira, Litoral Norte de Alagoas’ (pp. 268/95);

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5) ‘Análise da Viabilidade Financeira do Cultivo de Ostras Nativas no Litoral Alagoano’ (pp. 296/309).

c) atribuídos à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais:1) ‘Cultivo de Algas e Ostras nos Municípios de Paripueira, Japaratinga, São Miguel

dos Milagres, Coruripe, Barra de São Miguel e Passo de Camaragibe’ (Professores: Dr. Euripedes Alves Silva Filho e MsC. Élica Amara Cecília Guedes) (pp. 310/65);

2) ‘Ocorrência de Macroalgas Epífitas em Cultivo de Gracilaria cornea J. Agardh (Rhodophyta, Gracilariales) na Praia de Paripueira, Litoral Norte de Alagoas – Brasil’ (pp. 366/93);

3) ‘Metodologias Utilizadas, bem como, os Dados Registrados das Atividades de Maricultura (Cultivo de Algas e Ostras), que estão sendo Desenvolvidas no Município de Paripueira, Localizado no Litoral Norte do Estado de Alagoas’ (pp. 394/7);

4) ‘Projeto de Apoio à Aquicultura Sustentável – Cultivo de Algas e de Ostras Nativas’ (pp. 398/402);

5) ‘Aspectos Socioambientais em Áreas de Implantação da Ostreicultura em Passo de Camaragibe/AL’ (pp. 403/75);

6) ‘Análise do Conteúdo Estomacal da Ostra de Mangue (Crassostrea Rizophorae)’ (pp. 476/589).

Note-se que a ADS Corais apresentou cópias dos mesmos relatórios que lhe foram atribuídos acima em suas alegações de defesa (peça 82, pp. 117/415).

Os relatórios anexados não são suficientes para comprovar a elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura – PLDM e o consequente cumprimento da primeira meta do convênio.

Observe-se que, de acordo com o plano de trabalho, tratava-se de meta bastante específica, que compreendia uma série bem definida de etapas, a saber (peça 2, pp. 12/3):

‘1) caracterização do contexto político no âmbito municipal e intermunicipal (regional), compreendendo basicamente (...) os aspectos legais e propostas estaduais e municipais para a maricultura;

2) caracterização do meio físico, identificando a geologia e a geomorfologia da região do entorno, levantamento batimétrico, análise e mapeamento georreferenciado dos recursos hídricos, condições climáticas da região de abrangência, levantamento do setor produtivo e outros fatores (...);

3) caracterização do meio biótico: mapeamento georreferenciado da região costeira, descrição da vegetação aquática macroscópica, levantamento das espécies aquáticas com valor econômico, raras, endêmicas e ameaçadas de extinção, levantamento da fauna aquática macroscópica e das espécies da fauna terrestre;

4) diagnóstico do uso do espaço aquático marinho, contendo: identificação em cartas náuticas dos múltiplos usos dos ecossistemas marinhos, identificação das instituições presentes na região e suas áreas tradicionais de pesca, identificação das áreas utilizadas para atividades profissionais e esportivas;

5) informações básicas complementares para a demarcação de parques e áreas aquícolas e faixas de preferência destinadas à maricultura (...);

6) descrição das técnicas a serem utilizadas no cultivo (...);7) descrição da infraestrutura associada a ser utilizada pelos produtores, como:

vias de acesso, construções de apoio, depósitos ou galpões, laboratórios de larvicultura, unidades de beneficiamento e outros;

8) informação sobre a inserção regional, contendo: análise das inter-relações do empreendimento com os programas em andamento, compatibilização do empreendimento

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com o plano de gerenciamento costeiro (...), influência das etapas de implantação dos Parques Aquícolas (...);

9) diagnóstico ambiental, definindo e caracterizando as áreas de influência direta e indireta do empreendimento;

10) estabelecimento de um Plano de Monitoramento Ambiental e de gestão dos parques e das áreas de maricultura;

11) elaboração de edital e realização de consultas públicas para validação dos PLDM.’

A área de abrangência dos PLDM também era bem definida, incluindo os seguintes municípios do Estado de Alagoas (peça 2, p. 15): 1) Maragogi; 2) Japaratinga; 3) Porto de Pedras; 4) São Miguel dos Milagres; 5) Passo de Camaragibe; 6) Barra de Santo Antônio; 7) Paripueira; 8) Marechal Deodoro; 9) Barra de São Miguel; e 10) Coruripe.

Os relatórios apresentados padecem de uma série de defeitos, que não os credenciam como prova da execução dessa detalhada meta. Como se vê na lista acima, praticamente todos são de autoria desconhecida. Apenas o primeiro atribuído à ADS Corais traz menção a seus dois presumíveis autores. Entretanto, como nem este nem nenhum outro dos relatórios citados está assinado, podem ser todos considerados apócrifos. Além disso, nenhum deles está datado. Apenas as respectivas folhas de rosto mencionam o ano de sua elaboração, mas podem muito bem terem sido acrescentadas a posteriori e ad hoc, com a única finalidade de permitir sua inclusão na prestação de contas. Na maioria dos casos, também é somente na folha de rosto que existe menção ao programa objeto do convênio e à instituição supostamente autora. Vários desses estudos prendem-se a questões pontuais, que não se enquadram em etapa alguma da meta considerada, o que faz crer, como apontado pela unidade técnica, que sejam estudos acadêmicos aproveitados para simular a elaboração dos pertinentes ao programa.

Notadamente, verifica-se que não houve, como bem apontado nas citações, consolidação dos resultados dos trabalhos supostamente empreendidos, que demonstrasse o cumprimento integral das etapas descritas acima, para cada um dos 10 municípios abrangidos pela meta examinada. Destaque-se que não há evidência alguma do cumprimento da última etapa, absolutamente essencial, que compreendia a elaboração de edital e a realização de consultas públicas, medidas indispensáveis para a publicidade, crítica e validação dos PLDM, os quais, só assim, teriam sua execução realmente comprovada.

Diante do exposto, o Ministério Público não tem dúvidas em afirmar que as alegações de defesa apresentadas não foram suficientes para demonstrar a execução das duas metas do convênio e para elidir a inexecução integral apontada nos ofícios citatórios.

Quanto às várias outras irregularidades levantadas nestes autos, o Ministério Público também entende que restaram sem justificativas válidas, como bem demonstra a unidade técnica, no trecho transcrito a seguir, em que resume seu correto e detalhado exame das alegações apresentadas pelos responsáveis e dos fundamentos que devem conduzir à sua rejeição (peça 88, pp. 66/8):

‘103. A ex-presidente do Oceanus, Everilda Brandão, alegou ilegitimidade passiva, pois não teria competência e nem atribuições estatutárias para a prática dos atos impugnados. Apresentou, também, breves considerações sobre alguns dos atos impugnados, a exemplo da locação de veículos e as despesas com viagens (item 54).

104. A análise da defesa apresentada refutou todas essas alegações. Foi demonstrado que o estatuto do Oceanus estabelece competências a atribuições para o cargo de Presidente que atraem sua corresponsabilidade em relação às irregularidades ocorridas, em especial por conta da culpa in eligendo e in vigilando (itens 55.1 a 55.25).

105. Também foram examinadas, uma a uma, as alegações acerca dos atos impugnados constantes dos ofícios citatórios (‘a.1’ a ‘a.13’), concluindo pelo não acatamento da defesa (itens 55.26 a 55.33.8). Ressalte-se que em relação a alguns dos atos

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impugnados a defesa foi silente, tendo sido feita a análise a partir dos elementos constantes dos autos (itens ‘a.2’, ‘a.6 a ‘a.9’, ‘a.10’ e ‘a.11 a a.13’ do ofício citatório).

106. Ainda com relação à defesa de Everilda Brandão, foi examinada a contratação de ONGs para a realização dos serviços de consultoria. A responsável afirmou a necessidade da contratação e o respaldo para a contratação direta, em face da inviabilidade de competição (item 55.34). Ambos os pontos foram adequadamente rebatidos nesta instrução, pois ficou demonstrado a desnecessidade da contratação, já que o Oceanus poderia ter contratado diretamente os consultores, sem a intermediação desnecessária e onerosa das ONGs, e que não ficou demonstrada a inviabilidade de competição, posto que alguns dos institutos não comprovaram especialização para atuar na área objeto do convênio (itens 55.34.1. a 55.34.9).

107. Foi procedido ao exame da contratação de cada ONG pelo Oceanus para a realização de serviços de consultoria. Em todas, ficou evidenciada a ilicitude na escolha da entidade, contrariando os princípios da impessoalidade e da moralidade que deveriam permear a atuação da direção do Oceanus quando da gestão de recursos públicos. Nos casos do Exato e do Ibradim, ficou clara a participação de dirigentes, ou ex-dirigentes e/ou parentes de dirigentes do Oceanus nesses institutos (55.34.10 a 55.34.14; 55.35 a 55.35.8; e, 55.36.2 a 56.36.6).

108. Também ficou demonstrado, em todos os três casos, não ter havido a contraprestação dos serviços ou que essa foi nitidamente insuficiente para justificar os pagamentos realizados (itens 55.34.15 a 18; 55.35.9 a 55.35.16; e, 55.36.7 a 55.36.8).

109. Diante do quadro acima, conclui-se pela proposta de rejeição das alegações de defesa de Everilda Brandão e, diante do fato de que não há como presumir sua boa-fé em razão das inúmeras irregularidades verificadas, propor, também, desde logo, a irregularidade das contas, sua condenação em débito pelo valor total repassado, nos valores indicados na citação e a aplicação da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992.

110. A defesa apresentada pelo Instituto Exato trouxe preliminares relacionadas à prescrição da cobrança por este Tribunal e informou não ter nenhum documento relacionado ao contrato com o Oceanus (item 56). Os argumentos foram considerados impertinentes, por força da imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário (itens 57.1 a 57.5), tendo-se, ainda, tratado dos vícios ocorridos na sua contratação irregular (itens 57.6 e 7).

111. Foi considerada improcedente, também, a alegação de que o Instituto Exato não dispunha mais dos documentos comprobatórios, citando a não apresentação dos documentos bancários, como exemplo. Citou-se que o Exato já foi condenado por este Tribunal em razão de superfaturamento de serviços contratados pelo Ministério da Saúde em Alagoas (itens 57.9 a 57.10). Concluiu-se, por fim, pela rejeição da defesa e pela condenação do Exato pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (item 57.11).

112. O Instituto Ibradim apresentou defesa indicando preliminares de ofensa ao contraditório e de nulidade da citação, por ofensa a dispositivos do CPC (item 58.2). O atual Presidente, desde agosto/2005, informou não ter nenhum relacionamento com o Instituto Oceanus ou com algum membro de sua direção. Que nunca assinou nenhum documento que tenha referência ao Convênio 8/2005 e que não encontrou nos arquivos do Ibradim quaisquer documentos referentes aos valores indicados na citação (itens 58.3 a 58.6).

113. Afirmou que Daniel e Andréa Costa, dirigentes do Oceanus, já foram dirigentes do Ibradim, e que podem ter se apropriado de documentos, papéis timbrados e carimbos deste, para posterior uso ilícito. Que os valores consignados na citação não teriam transitado pela conta bancária do Ibradim e que a diretoria não concedeu nenhum

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recibo ou endosso de cheques. Requereu perícia ou diligência desta Corte (itens 58.7 a 58.13).

114. As alegações de defesa foram refutadas uma a uma nesta peça. Quanto às preliminares, apontou-se não ter havido nenhum cerceamento à defesa e que o processo nesta Corte é regido pela Lei 8.443/1992, e não pelo CPC (item 59.1).

115. No mérito, registrou-se que a jurisdição deste Tribunal alcança terceiros que causaram dano ao erário em combinação com agente público, ou com aquele que assume esse papel quando gere verbas públicas, como é o caso da direção do Oceanus (itens 59.3 a 59.7). Foram rebatidos os demais pontos da defesa, inclusive demonstrando que os dirigentes do Ibradim tinham relação com o Oceanus à época da contratação (itens 59.9 a 59.14).

116. Demonstrou-se que o presidente anterior do Ibradim assinou o contrato com o Oceanus e que há no processo recibos e notas fiscais emitidas pelo Ibradim, atestando o recebimento dos recursos. A maior parte dos ‘pagamentos’ do Oceanus ao Ibradim foram feitos mediante transferência eletrônica de fundos, tendo a conta credora sido confirmada como sendo do Ibradim, não tendo a direção do Ibradim apresentado os extratos bancários para comprovar o que alegou (itens 59.15.a 59.21). Indicou-se que as fraudes no âmbito interno do Ibradim devem ser apuradas pela instituição e que a ACP movida pelo MPF registra, por meio de depoimentos, o esquema irregular envolvendo o Oceanus e o Ibradim (itens 59.22 a 59.24).

117. No tocante à contraprestação dos serviços pelo Ibradim, não houve defesa, prevalecendo a constatação da Ciset/PR de que os relatórios apresentados são imprestáveis para comprovar a realização dos serviços. A conclusão foi pela rejeição da defesa e pela condenação do Ibradim pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (itens 59.26 e 27).

118. A ONG ADS Corais também apresentou defesa na qual considerou regular sua contratação e apresentou cópias dos supostos relatórios de atividades e trabalhos técnicos que teriam sido realizados para o Oceanus (item 60).

119. O exame técnico refutou a regularidade da contratação, que não foi precedida nem da análise do estatuto da entidade nem da capacitação de seu corpo técnico. Foi registrado que os currículos apresentados pelo Oceanus não indicavam para quem aquelas pessoas trabalhavam (itens 61 a 61.4). Além disso, foi exposto excerto da ACP movida pelo MPF na qual constam depoimentos de técnicos que acompanharam a situação e que declararam não ter havido nenhuma participação da ADS Corais e informaram o vínculo existente entre as duas ONGs (item 61.5 e 6).

120. Traçou-se um exame das atividades pelas quais a ADS foi contratada e os relatórios por ela apresentados, concluindo-se que não comprovam a execução dos serviço, posto que não indicam os profissionais responsáveis, exceto um, não fazem menção nos objetivos às finalidades buscadas pelo contratante, seja a ADS Corais seja o Oceanus, e são específicos para poucas localidades, não alcançando nem a metade da abrangência prevista no termo de referência (itens 61.9 a 61.12). Um dos trabalhos iniciou-se antes da ‘contratação’ pela ADS, o que indica que não guarda relação (item 61.13). Algumas das atividades do termo de referência para a qual a ADS foi contratada não foram abordadas em nenhum trabalho, o que comprova a não contraprestação dos serviços (itens 61.14 a 61.25).

121. Verificou-se, ainda, que na mesma época, em maio/2005, a ADS Corais firmou convênio com o Estado de Alagoas, no valor de R$ 338.110,00, o que pode justificar que os documentos juntados ao processo não tenham referência ao Oceanus e seu projeto (itens 61.26 a 61.27).

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122. Concluiu-se, por tudo isso, pela proposta de rejeitar a defesa da ADS Corais e de condenar a ONG pelos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus (itens 61.28 e 61.29).’

(Destaques acrescidos).

Finalmente, destaca-se a necessidade de correção do valor do débito atribuído solidariamente, nos ofícios citatórios, ao Instituto Oceanus e a seus dirigentes, no valor integral dos recursos federais repassados, tendo em vista que foi também imputado, em parte, ao Instituto Exato, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios – Ibradim e à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais. O Ministério Público considera correto o ajuste proposto, por esta razão, pela unidade técnica (peça 88, pp. 64/5, itens 91/5).

IV

Por todo o exposto, o Ministério Público propõe ao Tribunal de Contas da União adotar o encaminhamento sugerido pela unidade técnica às pp. 69/71 da peça 88, com as seguintes alterações:

a) no item 130.3, acrescer a alínea b do inciso III do art. 16 da Lei 8.443/1992 aos fundamentos da condenação dos responsáveis;

b) no item 130.5, estender a aplicação da multa do art. 57 dessa mesma lei ao Instituto Exato, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios – Ibradim e à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais.”

É o Relatório.VOTO

Conforme relatado, a presente tomada de contas especial foi instaurada pela Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da Presidência da República (Ciset-PR), em razão da não execução do objeto relativo ao Convênio 8/2005, celebrado entre a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) e o Instituto Oceanus.2. O convênio foi firmado pelo valor total de R$ 1.435.751,10, sendo R$ 1.292.176,00 da União e R$ 143.575,10 de contrapartida. Tinha por objeto dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas, com vigência para o período de 5/5/2005 a 31/12/2005 o qual foi prorrogado até 31/10/2006 (peça 3, fls. 27-28).3. A Secex/AL, à peça 88, fls. 1/71, descreveu detalhadamente os fatos, analisou as alegações de defesa apresentadas e consignou proposta de encaminhamento, com a qual anuiu o Ministério Público junto ao Tribunal (MP/TCU), apresentando, porém, sugestão de ajuste no item 130,3 e no item 130.5, para, respectivamente, acrescer a alínea b do inciso III do art. 16 da Lei 8.443/1992 aos fundamentos da condenação dos responsáveis e estender a aplicação da multa do art. 57 dessa mesma lei ao Instituto Exato, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Integrado dos Municípios – Ibradim e à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais.4. As análises empreendidas nos autos pela unidade técnica e pelo MP/TCU não carecem de reparos, razão pela qual as incorporo às minhas razões de decidir e, desde logo, acolho a sugestão de ajuste proposta pelo parquet.5. De modo sucinto, e em essência, foram apuradas as seguintes irregularidades:

a) execução parcial do objeto do Convênio 8/2005, o qual não atingiu sua finalidade social;

b) contratação da empresa K. E. Lima – ME, de propriedade de Kátia Esteves de Lima, no valor de R$ 29.850,00, que já foi Coordenadora Executiva e Financeira do Instituto Oceanus, para

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prestar fornecimentos ao Instituto, alguns não previstos no plano de trabalho, sendo que, conforme apurou o Ministério Público Federal, nenhum foi entregue;

c) indícios de fraude e simulação na locação de veículos junto à empresa A M Locadora de Veículos Ltda., sem pesquisa de preços, sem contrato e sem publicidade prévia, posto que a investigação do Ministério Público Federal concluiu que os serviços nunca foram prestados. Os documentos fiscais emitidos pela locadora não indicavam o período da locação, os veículos locados e o valor por veículo, o que impediu a verificação da compatibilidade do que foi pago com os valores de mercado, além de impossibilitar a atestação da efetiva prestação dos serviços;

d) aquisição de veículo em desconformidade com as especificações do plano de trabalho e posterior venda de modo irregular e sem informar o destino dado ao produto da venda, contrariando o disposto na cláusula sexta, subcláusula primeira, e na cláusula décima sexta do termo do convênio;

e) gastos supostamente realizados com combustíveis, da ordem de R$ 54.368,29, sem controle do veículo abastecido, data e quantidade de combustível, impossibilitando o estabelecimento do nexo causal entre essas despesas e o objeto do convênio;

f) gastos com diárias sem se informar o objetivo da viagem e sem evidências de vínculo com o objeto do convênio;

g) gastos com viagens sem a comprovação da efetiva realização e da relação com o objeto do convênio, beneficiando, principalmente, pessoas ligadas à direção do Instituto Oceanus;

h) pagamento de despesas com hotéis, não previstas no plano de trabalho, sem indicação da relação com o objeto do convênio e sem especificação do hóspede;

i) supostas despesas com refeições, não previstas no plano de trabalho e sem indicação da relação com o objeto do convênio;

j) aquisição indevida, e com indícios de fraude, de balsas de trabalho, não previstas no plano de trabalho e cuja entrega não foi comprovada. A única balsa localizada estava em estado de abandono e não foi possível saber se esta serviu ao objeto do convênio;

k) pagamentos indevidos a dirigentes do Instituto Oceanus, inclusive com vínculo de parentesco com o ordenador financeiro, e sem comprovação da efetiva contraprestação dos serviços;

l) pagamentos por supostos serviços de capacitação, consultoria e fotos aéreas, sem comprovação da efetiva prestação dos serviços;

m) despesas diversas não previstas no plano de trabalho e sem a adequada comprovação da efetiva prestação dos serviços/entrega dos produtos, muitas delas indevidamente realizadas mediante cheques nominativos ao próprio Instituto, o que caracteriza irregularidade ainda mais grave que afronta regra explícita do termo do convênio, relacionadas no item 4.6 do Parecer 006/2008-CogPA/Digeai/SA/Seap-PR, de 9/5/2008;

n) realização do comércio de ostras em restaurante em Maceió/AL de propriedade de parentes dos coordenadores do Projeto, equipado e montado com recursos do convênio, denominado ‘Maria Vai Com as Ostras’;

o) desvio dos recursos da conta do convênio operados por meio de saques da conta específica realizados mediante cheque nominativo ao próprio Instituto Oceanus, retirados em caixa eletrônico, pagamentos de boletos bancários e contas de prestadores de serviços públicos não relacionados com o objeto do repasse, contrariando o disposto na cláusula sexta do termo do convênio;

p) contratação de entidade controlada, de fato, por Daniel Lima Costa, dirigente do Instituto Oceanus e dirigida formalmente por pessoas de sua relação íntima e sem que a referida instituição tenha efetivamente prestado e entregue os serviços para os quais foi contratada;

q) contratação do Instituto Exato, do Instituto Ibradim e da Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais, todos por inexigibilidade de licitação, sem a cotação prévia de preços no mercado e sem cláusulas estabelecendo o valor da avença;

r) apresentação de relatórios, em meio magnético, como resultados dos trabalhos de consultorias, porém, sem a identificação da instituição executora, da data de execução dos trabalhos e sem a consolidação do trabalho;

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6. Os responsáveis foram regularmente citados, mas somente apresentaram alegações de defesa, por meio de seus representantes legais, a Srª Everilda Brandão Guilhermino (peças 59 a 65), o Instituto Exato (peças 46 a 48), o Instituto Ibradim (peça 67) e a Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais (peça 82). O Sr. Daniel Lima Costa, a Srª Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa e o Instituto Oceanus permaneceram silentes, dando-se, entretanto, prosseguimento deste feito nos termos do art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992.7. Desde logo, observo que as informações constantes do processo não permitem concluir quanto ao bom emprego dos valores repassados pela Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) ao Instituto Oceanus, por ocasião do Convênio 8/2005, cabendo julgar irregulares as contas dos silentes, Sr. Daniel Lima Costa, Srª Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa e Instituto Oceanus, atribuindo-lhes o débito apurado nos autos, conforme sugerido pela unidade instrutiva e pelo Ministério Público junto a esta Corte de Contas.8. Considero, adicionalmente, apropriada a aplicação da multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, em desfavor do citados responsáveis, cujo valor, em face do montante atualizado do débito, fixo em R$ 340.000,00 (trezentos e quarenta mil reais).9. As alegações de defesa apresentadas foram examinadas e rejeitadas, ponto a ponto, pela unidade técnica, com acolhida do Ministério Público junto ao Tribunal, sendo suficiente apenas os destaques que farei a seguir.10. Em relação à defesa apresentada pela ex-presidente do Instituto Oceanus, Srª Everilda Brandão Guilhermino, inicialmente registro que não há como afastar sua responsabilização em razão da alegada ilegitimidade passiva. Como bem assentou a unidade técnica, o estatuto do Instituto Oceanus estabelece competências e atribuições para o cargo de Presidente que atraem sua corresponsabilidade em relação às irregularidades apontadas, em especial por conta da culpa in eligendo e in vigilando.11. Observo, também, que não há como acolher a alegação do cumprimento das metas do Convênio em exame, dadas as fartas evidências trazidas aos autos que, além de atestar a inexecução do seu objeto, demonstraram completa desordem administrativa e descaso com as salvaguardas aplicáveis à despesa pública, abrangendo, principalmente, a inobservância da obrigatoriedade de licitação e o favorecimento pessoal a familiares do Sr. Daniel Lima Costa, Coordenador-Geral do Instituto Oceanus. Nesse sentido, tem-se o Parecer Técnico Cogmar/Didaq/Sudap/Seap/PR 388/2007, de 26.6.2007 (peça 3, pp. 83/90); a Nota Técnica (IB/PR) 1/2008, de 9.1.2008 (peça 11, pp. 134/63); o Parecer da Procuradoria da República em Alagoas, na Ação de Improbidade Administrativa 4/2008-Gab/Pros, impetrada em 26.3.2008; e o Parecer 6/2008 – Cogpa/Digeai/SA, de 7.5.2008, da Seap – PR (peça 14, pp. 105/43).12. Acrescente-se que, acerca das duas metas do Convênio 8/2005, a Srª Everilda Brandão Guilhermino não negou ou justificou a inexecução da segunda, limitando-se a comentar sobre suposta necessidade de incremento financeiro para sua execução. Quanto à primeira, apresentou cópia de relatórios atribuídos ao Instituto Exato, ao Instituto Ibradim e ao Instituto ADS Corais, sendo que nenhum deles foi capaz de comprovar a elaboração de Planos Locais de Desenvolvimento da Maricultura (PLDM), uma vez que não atendiam às especificidades definidas no plano de trabalho do Convênio em apreço. Ademais, não consta do conteúdo dos citados relatórios menção ao programa do convênio, data ou mesmo assinatura. Apenas o primeiro atribuído à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais traz menção a seus dois presumíveis autores e isso apenas em sua folha de rosto.13. Além das inconsistências acima relatadas, importa destacar que não houve a necessária consolidação dos resultados dos trabalhos, etapa que compreendia a elaboração de edital e a realização de consultas públicas, medidas indispensáveis para a publicidade, crítica e validação dos PLDM. Logo, não há como considerar cumprida a primeira meta do Convênio 8/2005.14. A defesa da Srª Everilda Brandão Guilhermino, acerca dos demais fatos sobre os quais foi ouvida, também não foi suficiente para afastar as irregularidades apontadas. Dentre tantas, destaco as contratações por inexigibilidade de licitação na contratação das ONGs, uma vez que não ficou demonstrada a inviabilidade de competição, além do fato de não ter sido comprovada a contraprestação dos serviços para os quais foram contratadas.

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15. Ante as ocorrências citadas, todas imputáveis à Srª Everilda Brandão Guilhermino, na condição de ex-presidente do Instituto Oceanus, resta rejeitar suas alegações de defesa e, sem como presumir sua boa-fé, julgar irregulares as suas contas e condená-la em débito pelo valor total repassado, nos valores indicados na citação e, ainda, aplicar-lhe a multa do art. 57 da Lei 8.443/1992, cujo valor, em face do montante atualizado do débito, fixo em R$ 340.000,00 (trezentos e quarenta mil reais).16. Quanto às irregularidades atribuídas ao Instituto Exato, não vieram aos autos justificativas que pudessem afastar sua responsabilidade. Em sua defesa, alegou, entre outras questões, a prescrição da cobrança por este Tribunal e informou que nem mais dispunha dos documentos comprobatórios.17. Tal argumento não pode ser acatado, uma vez que, por intermédio do Acórdão 2709/2008-Plenário, o TCU, debruçando-se sobre incidente de uniformização de jurisprudência, firmou-se que o art. 37 da Constituição Federal conduz ao entendimento de que as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis, conforme transcrito a seguir:

“Acórdão9.1. deixar assente no âmbito desta Corte que o art. 37 da Constituição Federal conduz ao entendimento de que as ações de ressarcimento movidas pelo Estado contra os agentes causadores de danos ao erário são imprescritíveis, ressalvando a possibilidade de dispensa de instauração de tomada de contas especial prevista no §4º do art. 5º da IN TCU nº 56/2007;

Voto3. [...] o Supremo Tribunal Federal [...] ao apreciar o Mandado de Segurança nº 26.210-9/DF, deu à parte final do § 5º do art. 37 da Constituição Federal a interpretação de que as ações de ressarcimento são imprescritíveis. O eminente Relator, Ministro Ricardo Lewandowski, destacou:‘No que tange à alegada ocorrência de prescrição, incide, na espécie, o disposto no art. 37, § 5º da Constituição de 1988, segundo o qual:

§ 5º – A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

Considerando ser a Tomada de Contas Especial um processo administrativo que visa a identificar responsáveis por danos causados ao erário, e determinar o ressarcimento do prejuízo apurado, entendo aplicável ao caso sob exame a parte final do referido dispositivo constitucional.

4. A temática aqui analisada trata exclusivamente de interpretação de dispositivo constitucional. Considerando que o STF, intérprete maior e guarda da Constituição, já se manifestou no sentido de que a parte final do § 5º do art. 37 da Carta Política determina a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário, não me parece razoável adotar posição diversa na esfera administrativa.” (grifos nossos)

18. Uma vez que não vieram aos autos elementos capazes de afastar a responsabilidade do Instituto Exato, resta impor-lhe a condenação pelos valores recebidos do Instituto Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, além da imputação da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992, cujo valor, em face do montante atualizado do débito, fixo em R$ 20.000,00 (vinte mil reais).19. Em sua defesa, o Instituto Ibradim alegou ausência de contraditório e a nulidade da citação, por ofensa a dispositivos do CPC, além de afirmar, entre outras coisas, que não encontrou em seus arquivos quaisquer documentos referentes aos valores indicados na citação e que esses não teriam transitado pela conta bancária do Ibradim.20. Como bem asseverou a unidade técnica, não houve qualquer cerceamento de defesa, uma vez que o processo nesta Corte é regido pela Lei 8.443/1992, e não pelo CPC. No mais, observo que ficou assente nos autos que os dirigentes do Ibradim tinham relação com o Instituto Oceanus à época da contratação, a exemplo de contrato assinado, recibos e notas fiscais emitidas pelo Ibradim, atestando o recebimento dos recursos, os quais foram feitos mediante transferência eletrônica de fundos.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

21. Uma vez que o Instituto Ibradim não apresentou extratos bancários para atestar suas afirmações e tampouco provou ter prestado os serviços para os quais fora contratado, resta rejeitar suas alegações de defesa e condená-lo ao pagamento dos valores recebidos do Instituto Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, além da imputação da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992 cujo valor, em face do montante atualizado do débito, fixo em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).22. Por último, a Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais apresentou sua defesa e juntou aos autos cópias dos supostos relatórios de atividades e trabalhos técnicos que teria produzido para o Instituto Oceanus. Sobre essa questão, transcrevo, a seguir, trecho do Parecer do MP/TCU, suficiente para a não acolhida da citada documentação como prova da prestação do serviço pela ADS Corais:119. O exame técnico refutou a regularidade da contratação, que não foi precedida nem da análise do estatuto da entidade nem da capacitação de seu corpo técnico. Foi registrado que os currículos apresentados pelo Oceanus não indicavam para quem aquelas pessoas trabalhavam (itens 61 a 61.4). Além disso, foi exposto excerto da ACP movida pelo MPF na qual constam depoimentos de técnicos que acompanharam a situação e que declararam não ter havido nenhuma participação da ADS Corais e informaram o vínculo existente entre as duas ONGs (item 61.5 e 6).120. Traçou-se um exame das atividades pelas quais a ADS foi contratada e os relatórios por ela apresentados, concluindo-se que não comprovam a execução dos serviço, posto que não indicam os profissionais responsáveis, exceto um, não fazem menção nos objetivos às finalidades buscadas pelo contratante, seja a ADS Corais seja o Oceanus, e são específicos para poucas localidades, não alcançando nem a metade da abrangência prevista no termo de referência (itens 61.9 a 61.12). Um dos trabalhos iniciou-se antes da ‘contratação’ pela ADS, o que indica que não guarda relação (item 61.13). Algumas das atividades do termo de referência para a qual a ADS foi contratada não foram abordadas em nenhum trabalho, o que comprova a não contraprestação dos serviços (itens 61.14 a 61.25).23. Daí, concluo pela rejeição da defesa apresentada pela Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais, restando condená-la ao pagamento dos valores recebidos do Oceanus, solidariamente com Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus, além da imputação da multa do art. 57 da Lei 8.443/1992 no valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais).24. Ainda, considerando que o objeto do Convênio 8/2005 não foi atingido e que são fartas as evidências de descaso com as normas que regem a aplicação dos recursos públicos, incluindo favorecimento pessoal de familiares do Sr. Daniel Lima Costa, Coordenador-Geral do Instituto Oceanus, todo o valor repassado pela Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) deve ser ressarcido na forma proposta pela unidade técnica, além de se declarar as Senhoras Everilda Brandão Guilhermino e Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa e o Senhor Daniel Lima Costa inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou de função de confiança no âmbito da Administração Pública, por um período de sete anos, nos termos do art. 60 da Lei 8.443, de 1992.

Por fim, com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei 8.442/92, deve ser remetida cópia dos autos ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República no Estado do Alagoas, para as providências que entender cabíveis.

Ante o exposto, Voto no sentido de que o tribunal adote a deliberação que ora submeto a este plenário.

Sala das Sessões, em 12 de junho de 2013.

AROLDO CEDRAZRelator

ACÓRDÃO Nº 1471/2013 – TCU – Plenário77

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

1. Processo TC 019.364/2010-5.2. Grupo I – Classe IV – Tomada de Contas Especial.3. Responsáveis: Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais (05.437.758/0001-05); Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa (841.807.494-91); Daniel Lima Costa (411.055.914-68); Everilda Brandão Guilhermino (020.783.874-79); Felipe Matarazzo Suplicy (134.522.258-01); Instituto Exato (06.241.431/0001-26); Instituto Ibradim (02.244.999/0001-40); Instituto Oceanus – AL (02.448.123/0001-15); Paulo Roberto Nunes Calaça (309.988.834-68).4. Órgão: Ministério da Pesca e Aquicultura.5. Relator: Ministro Aroldo Cedraz.6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira.7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo – AL (Secex/AL).8. Advogado constituído nos autos: Nathália de Araújo e Silva Oliveira de Oliveira (OAB/AL 10.728), Arlindo Ramos Junior (OAB/AL 3.531), Delson Lyra da Fonseca (OAB/AL 7390), Alex Purger Richa (OAB/RJ 87.147), e Márcio Cássio Medeiros Góes Júnior (OAB/AL 8.266).

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada pela

Secretaria de Controle Interno da Casa Civil da Presidência da República (Ciset-PR), em razão da não execução do objeto relativo ao Convênio 8/2005 celebrado entre a Secretaria Especial de Agricultura e Pesca da Presidência da República (Seap-PR) e o Instituto Oceanus, para dar apoio ao desenvolvimento da maricultura sustentável no litoral de Alagoas.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão plenária, ante as razões expostas pelo Relator, e com fundamento nos arts. 1º, inciso I; 16, inciso III, alíneas b, c e d, §3º; 19, caput; 23, inciso III; 26; 28, inciso II; 57 e 60 da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992, em:

9.1. julgar irregulares as contas de Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e do Instituto Oceanus;

9.2. condenar, solidariamente, os responsáveis abaixo indicados, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da respectiva notificação, para comprovarem, perante este Tribunal, o recolhimento dos valores a seguir indicados, aos cofres do Tesouro Nacional, atualizados monetariamente e acrescidos dos juros de mora calculados a partir das respectivas datas até a data do recolhimento, na forma prevista na legislação em vigor:

9.2.1. Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa e o Instituto Oceanus:

Data Valor (R$)

16/5/2005

92.330,00

16/5/2005

678.852,00

29/12/2005

228.874,00

9.2.2. Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e o Instituto Exato:

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

Data Valor25/05/2005

R$ 13.200,00

30/06/2005

R$ 13.200,00

03/08/2005

R$ 8.800,00

26/08/2005

R$ 11.250,00

26/08/2005

R$ 8.800,00

30/09/2005

R$ 4.620,00

13/10/2005

R$ 5.500,00

10/11/2005

R$ 5.500,00

9.2.3. Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus (CNPJ: 02.448.123/0001-15) e o Instituto Ibradim (CNPJ: 02.244.999/0001-40):

Data Valo79

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

r25/5/2005

23.100,00

30/6/2005

23.100,00

3/8/2005

15.400,00

26/8/2005

15.400,00

10/11/2005

9.625,00

13/10/2005

9.625,00

17/1/2006

39.000,00

9.2.4. Responsáveis solidários: Everilda Brandão Guilhermino, Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa, Daniel Lima Costa, Instituto Oceanus e a Agência de Desenvolvimento Sustentável (ADS Corais):

Data Valor (R$)

30/6/2005

15.000,00

31/8/2005

15.000,00

80

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 019.364/2010-5

13/10/2005

20.000,00

9.3. aplicar, individualmente, ao Sr. Daniel Lima Costa, à Srª Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa e ao Instituto Oceanus a multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, no valor de R$ 340.000,00 (trezentos e quarenta mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para que comprovem, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente da data deste acórdão até a data do pagamento, se não recolhidas no prazo fixado;

9.4. aplicar à Srª Everilda Brandão Guilhermino a multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, no valor de R$ 340.000,00 (trezentos e quarenta mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente da data deste acórdão até a data do pagamento, se não recolhida no prazo fixado;

9.5. aplicar ao Instituto Exato a multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente da data deste acórdão até a data do pagamento, se não recolhida no prazo fixado;

9.6. aplicar ao Instituto Ibradim a multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente da data deste acórdão até a data do pagamento, se não recolhida no prazo fixado;

9.7. aplicar à Agência de Desenvolvimento Sustentável – ADS Corais a multa prevista no art. 57 da Lei Orgânica do TCU, no valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais), fixando-lhe o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que comprove, perante o Tribunal, seu recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente da data deste acórdão até a data do pagamento, se não recolhida no prazo fixado;

9.8. declarar as Senhoras Everilda Brandão Guilhermino e Andréa Cristina Künzler Nogueira da Costa e o Senhor Daniel Lima Costa inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou de função de confiança no âmbito da Administração Pública, por um período de sete anos;

9.9. autorizar, desde logo, a cobrança judicial da dívida, caso não atendidas as notificações;9.10. autorizar, antecipadamente, caso seja requerido, o pagamento das dívidas decorrentes

em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, fixando-se o vencimento da primeira parcela em 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, e o das demais a cada 30 (trinta) dias, devendo incidir sobre cada uma os encargos devidos, na forma prevista na legislação em vigor, alertando os responsáveis que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do art. 217, § 2º, do Regimento Interno/TCU;

9.11. remeter cópia dos autos ao Procurador-Chefe da Procuradoria da República no Estado de Alagoas, para as providências que entender cabíveis, com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei 8.443, de 16 de julho de 1992;

9.12. encaminhar, para ciência, cópia deste Acórdão, acompanhado do Relatório e Voto que o fundamentam, ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA);

9.13. arquivar os presentes autos após as comunicações.

10. Ata n° 21/2013 – Plenário.11. Data da Sessão: 12/6/2013 – Ordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1471-21/13-P.13. Especificação do quorum:

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13.1. Ministros presentes: Valmir Campelo (na Presidência), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz (Relator), Raimundo Carreiro, José Jorge, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.13.2. Ministros-Substitutos presentes: André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente)VALMIR CAMPELO

(Assinado Eletronicamente)AROLDO CEDRAZ

na Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)LUCAS ROCHA FURTADO

Procurador-Geral, em exercício

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