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Ciência Política Universidade Federal de Santa Catarina Pró-Reitoria de Ensino de Graduação Departamento de Ensino de Graduação a Distância Centro Sócio-Econômico Departamento de Ciências da Administração 2007 Prof. Julian Borba

Ciencia Politica[1]

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Page 1: Ciencia Politica[1]

Ciência Política

Universidade Federal de Santa Catarina

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação

Departamento de Ensino de Graduação a Distância

Centro Sócio-Econômico

Departamento de Ciências da Administração

2007

Prof. Julian Borba

Page 2: Ciencia Politica[1]

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B726c Borba, Julian

Ciência política / Julian Borba. – Florianópolis : Departamento

de Ciências da Administração/UFSC, 2007.134 p. : il.

Inclui bibliografiaCurso de Graduação em Administração, modalidade a distância

1. 1. Ciência política - Estudo e ensino. 2. Educação a distância.I. Título.

CDU: 65

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

Page 3: Ciencia Politica[1]

PRESIDENTE DA REPÚBLICA – Luiz Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA EDUCAÇÃO – Fernando Haddad

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – Carlos Eduardo Bielschowsky

DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – DPEAD – Hélio Chaves Filho

SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

COORDENADOR – Celso Costa

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

REITOR – Lúcio José Botelho

VICE-REITOR – Ariovaldo Bolzan

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO – Marcos Laffin

DIRETORA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – Araci Hack Catapan

CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO

DIRETOR – Maurício Fernandes Pereira

VICE-DIRETOR – Altair Borgert

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO

CHEFE DO DEPARTAMENTO – João Nilo Linhares

SUB-CHEFE DO DEPARTAMENTO – Raimundo Nonato de Oliveira Lima

COORDENADOR DE CURSO – Alexandre Marino Costa

COMISSÃO DE PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO

Alexandre Marino Costa

Gilberto de Oliveira Moritz

João Nilo Linhares

Luiz Salgado Klaes

Marcos Baptista Lopez Dalmau

Maurício Fernandes Pereira

Raimundo Nonato de Oliveira Lima

CONSELHO CIENTÍFICO – Liane Carly Hermes Zanella

Luis Moretto Neto

Luiz Salgado Klaes

Raimundo Nonato de Oliveira Lima

CONSELHO TÉCNICO – Maurício Fernandes Pereira

Alessandra de Linhares Jacobsen

DESIGN INSTRUCIONAL – Denise Aparecida Bunn

Rafael Pereira Ocampo Moré

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO – Annye Cristiny Tessaro

REVISÃO DE PORTUGUÊS – Sérgio Meira

ORGANIZAÇÃO DO CONTEÚDO – Julian Borba

Page 4: Ciencia Politica[1]

CRUZEIRO DO OESTE – PR

PREFEITO – José Carlos Becker de Oliveira e Silva

COORDENADORA DE PÓLO – Maria Florinda Santos Risseto

CIDADE GAUCHA – PR

PREFEITO – Vitor Manoel Alcobia Leitão

COORDENADORA DE PÓLO – Eliane da Silva Ribeiro

PARANAGUA – PR

PREFEITO – José Baka Filho

COORDENADORA DE PÓLO – Meire Ap. Xavier Nascimento

HULHA NEGRA – RS

PREFEITO – Marco Antônio Ballejo Canto

COORDENADORA DE PÓLO – Margarida de Souza Corrêa

JACUIZINHO – RS

PREFEITO – Antônio Gilson Brum

COORDENADORA DE PÓLO – Jaqueline Konzen de Oliveira

TIO HUGO – RS

PREFEITO – Gilmar Mühl

COORDENADORA DE PÓLO – Mara Elis Savadintzky Drehmer

SEBERI – RS

PREFEITO – Marcelino Galvão Bueno Sobrinho

COORDENADORA DE PÓLO – Ana Lúcia Rodrigues Guterra

TAPEJARA – RS

PREFEITO – Juliano Girardi

COORDENADORA DE PÓLO – Loreci Maria Biasi

SÃO FRANCISCO DE PAULA – RS

PREFEITO – Décio Antônio Colla

COORDENADORA DE PÓLO – Maria Lúcia da Silva Teixeira

MATA DE SÃO JOÃO – BA

PREFEITO – João Gualberto Vasconcelos

COORDENADORA DE PÓLO – Julieta Silva de Andrade

BOA VISTA – RR

PREFEITO – Iradilson Sampaio de Souza

COORDENADORA DE PÓLO – Débora Soares Alexandre Melo Silva

BONFIM – RR

PREFEITO – Rhomer Sousa Lima

COORDENADORA DE PÓLO – Tarcila Vieira Souza

MUCAJAÍ – RR

PREFEITO – Ecildon Pinto

COORDENADORA DE PÓLO – Ronilda Rodrigues Silva Torres

CAROEBE – RR

PREFEITO – Ivan Severo

COORDENADOR DE PÓLO – José Francisco Soares dos Santos

UIRAMUTÃ – RR

PREFEITO – Florany Maria dos Santos Mota

COORDENADOR DE PÓLO – José Francisco Franco dos Santos

CHAPECÓ – SC

PREFEITO – João Rodrigues

COORDENADORA DE PÓLO – Mariza de Lurdes Lamaison

CANOINHAS – SC

PREFEITO – Leoberto Weinert

COORDENADORA DE PÓLO – Sonia Sacheti

JOINVILLE – SC

PREFEITO – Marco Antônio Tebaldi

COORDENADORA DE PÓLO – a definir

FLORIANÓPOLIS – SC

PREFEITO – Dário Elias Berger

COORDENADOR DE PÓLO – Raimundo N. de Oliveira Lima

PALHOÇA – SC

PREFEITO – Ronério Heiderscheidt

COORDENADORA DE PÓLO – Luzinete Barbosa

LAGUNA – SC

PREFEITO – Célio Antônio

COORDENADORA DE PÓLO – Maria de Lourdes Corrêa

TUBARÃO – SC

PREFEITO – Carlos José Stüpp

COORDENADORA DE PÓLO – Flora M. Mendonça Figueiredo

CRICIÚMA – SC

PREFEITO – Anderlei José Antonelli

COORDENADOR DE PÓLO – Júlio César Viana

ARARANGUÁ – SC

PREFEITO – Mariano Mazzuco Neto

COORDENADORA DE PÓLO – Conceição Pereira José

LAGES – SC

PREFEITO – Renato Nunes de Oliveira

COORDENADORA DE PÓLO – Marilene Alves Silva

PÓLOS DE APOIO PRESENCIAL

Page 5: Ciencia Politica[1]

Apresentação

Olá! Seja bem vindo(a) ao estudo da Ciência Política!

Você está iniciando a disciplina de Ciência Política. Espera-mos que esta disciplina seja uma experiência interessante eenriquecedora para você. Nossa principal intenção é que você conhe-ça o conteúdo e se aproprie dos conceitos. Para tanto, a disciplinaestá organizada em torno de questões de suma importância, seja parao universo de atuação do futuro administrador, seja para a sua for-mação como cidadão atuante e consciente.

Muitos dos temas em análise fazem parte do nosso dia-a-dia.Nossa contribuição ao abordar tais questões a partir do olhar da "ci-ência" é fornecer novas possibi l idades de compreensão eposicionamento diante de problemas e questões relacionados à políti-ca e à administração de empresas.

Na modalidade de educação a distância, o seu desempenhoestá diretamente relacionado à sua dedicação não só ao conteúdopresente no material impresso, como também na busca de outras fon-tes de informação e da interface permanente com nossa equipe.

Um bom trabalho a todos.

Prof. Julian Borba

Page 6: Ciencia Politica[1]
Page 7: Ciencia Politica[1]

Sumário

Unidade 1 – Análise política: estudo das categorias, dos conceitos eproblemas básicos da Ciência Política

O que é politica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

O objeto da Ciência Política – O poder. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

O que é o Estado?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

Ciência política e filosofia política. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28

Os sistemas políticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Os recursos políticos e a influência política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Resumindo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Atividades de aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

Unidade 2 – Sistema político clássico e contemporâneo esuas influências em políticas empresariais

A história das idéias e das instituições políticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Atividade política de gregos e romanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

A Idade Média. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

O Renascimento e a Teoria Política Moderna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Karl Marx e a crítica ao Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

Liberalismo, Keynesianismo e Neoliberalismo: uma breve história das

idéias e instituições políticas nos Séculos XIX e XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66

O Estado de Bem Estar Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

A crise e o Estado Neoliberal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

E o Brasil?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Os sistemas políticos e as políticas empresariais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80

Resumindo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

Atividades de aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

Page 8: Ciencia Politica[1]

Unidade 3 – Planejamento e tomada de decisões

Decisões políticas, estratégicas,táticas e operacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

A seqüência das políticas públicas e as decisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

Decisão política e atores políticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

Decisões políticas e alternativas decisórias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

Desafios aos processos de decisão do moderno gestor público . . . . . . . . . . . . 104

Resumindo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

Atividades de aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

Unidade 4 – Participação e informação

O que é participação?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109

Tipos de participação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

Maneiras de participar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

Os graus e os níveis de participação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Por que participar?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

Condicionantes da participação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

Os principais espaços de participação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

Participação no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

Participação e informação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

Resumindo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Atividades de aprendizagem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

Minicurrículo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

Page 9: Ciencia Politica[1]

Objetivo

Nesta Unidade, você vai conhecer ou rever, caso já

conheça, o que é Ciência Política e os principais

elementos utilizados na análise política.

1UNIDADEAnálise política:

estudo das categorias,dos conceitos eproblemas básicos daCiência Política

Page 10: Ciencia Politica[1]

10 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1

Page 11: Ciencia Politica[1]

11Período 1

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ADE

1O que é política

Caro estudante!

Será um prazer poder interagir com você durante adisciplina de Ciência Política. Queremos mostrar aimportância da informação política para as deci-sões dos gestores administrativos nas organizaçõesonde atuam.

Para tanto, na Unidade 1, você vai conhecer o queé Ciência Política e quais os principais elementosutilizados na análise política.

Recomendamos que você faça as atividadessugeridas ao final da Unidade, pesquise as indica-ções sugeridas no Saiba mais, visite e participedas atividades propostas no Ambiente Virtual deEnsino-Aprendizagem, interagindo com seus cole-gas e tutor. Nós vamos estar com você, com muitaalegria, estimulando a aprendizagem e auxiliandona solução das dúvidas.

Então, não perca tempo, comece logo seus estudos!

É inquestionável que o universo empresarial tem profundasinterfaces com o que acontece no mundo da política. Exemplos nãofaltam para comprovar essa afirmação. Podemos citar desde o impac-to que crises políticas podem ter sobre a economia de um país, pas-sando por questões como a definição da taxa de juros pelo BancoCentral, chegando até as políticas públicas de infra-estrutura, segu-rança e bem-estar social.

Em outras palavras, a política afeta diretamente a dinâmicadas organizações, sendo fundamental ao administrador conhecer esseuniverso para o bom exercício de suas funções.

Comecemos, então, definindo política.

Para tratar dessa questão, vamos utilizar a argumentação de-senvolvida por Dallari (2004, p. 8), em seu livro O que é participaçãopolítica. Segundo ele, a palavra “política” tem origem grega, sendo

Page 12: Ciencia Politica[1]

12 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

1 especialmente importante para a com-preensão de seu sentido o exame daobra do filósofo Aristóteles, que viveu emAtenas no Século IV antes de Cristo:

Os gregos davam o nome de polis à cidade,isto é, ao lugar onde as pessoas viviam juntas.E Aristóteles diz que o homem é um animalpolítico, porque nenhum ser humano vive sozi-nho e todos precisam da companhia dos ou-tros. A própria natureza dos seres humanos éque exige que ninguém viva sozinho. Assimsendo, a “política” se refere à vida na polis, ouseja, à vida em comum, às regras de organiza-

ção dessa vida, aos objetivos da comunidade e às decisõessobre todos esses pontos (DALLARI, 2004, p. 8).

Com essas considerações, é possível perceber que a origem daidéia de política está relacionada à organização da vida emcoletividade e às maneiras de se organizar essa vida. Nessesentido, é bom lembrar que, por mais comum que sejam difundidas, nosdias de hoje, afirmações do tipo “eu odeio política”, ou “fora políticos”,ela é imprescindível para a organização da vida em sociedade. É atravésdela que se definem as normas de nossa convivência, bem como os pa-drões de conduta considerados válidos num determinado contexto.

Uma questão importante de ser lembrada é que as mudançasda história promoveram profundas alterações na forma de organiza-ção das sociedades. Essas mudanças, porém, não afetaram o núcleoda idéia de política, que continua a mesma desde a Grécia Antiga. Parailustrar esse significado histórico da idéia de política como ação e orga-nização da vida em coletividade, retiramos um exemplo da apresenta-ção do livro O que é política, de Wolfgang Leo Maar (2004, p. 7-8).

Em 1984, após vinte anos de Presidentes impostos pelos mili-tares, milhões foram às ruas em comícios por todo o país namemorável “Campanha das diretas” para se manifestarem pelaeleição direta, secreta e universal do Presidente da República.Como se sabe, este acabaria por ser indicado por um colégioeleitoral pela via indireta, porque a maioria dos congressistaseleitos foi contrária à eleição direta. Em 1985 este mesmo

Aristóteles (384 a 322 a.C)

Filósofo grego, considerado o fundador da Lógi-

ca. Desenvolve um sistema filosófico baseado

numa concepção rigorosa do Universo. De orien-

tação realista, defende a busca da realidade pela

experiência. O pensamento aristotélico foi preser-

vado por seus discípulos e atinge várias áreas do

conhecimento, como Lógica, Ética, Política, Teo-

logia, Metafísica, Poética, Retórica, Antropologia,

Psicologia, Física e Biologia. Seus escritos lógi-

cos estão reunidos no livro Organon. Fonte: http:/

/www.e-biografias.net

Tô a fim de saber

Page 13: Ciencia Politica[1]

13Período 1

UNID

ADE

1Congresso Nacional rejeitaria a proposta de convocação deuma Assembléia Nacional Constituinte livre e soberana,desvinculada do Congresso Nacional, anulando assim os es-forços populares para que os congressistas não agissem embenefício próprio. No início de 1986 o governo decretou o “planocruzado” promovendo uma reforma econômica em que seanunciavam benefícios à população majoritária de baixa ren-da, com o que conquistou amplo apoio nas eleições de 15 denovembro. Encerrado o pleito, o governo decretou novas me-didas altamente impopulares, levando as centrais sindicais aconvocar uma greve nacional de protesto contra a política eco-nômica. Em alguns lugares o exército foi às ruas para “garantira ordem e as instituições”, a exemplo do que fez em 1964.

Não é preciso se estender mais. Este breve recorte de algunsmomentos da história recente do Brasil elucida exemplarmen-te o significado da política através dos movimentos que visaminterferir na realidade social a partir da existência de conflitosque não podem ser resolvidos de nenhuma outra forma.

Após citar esse exemplo, Leo Maar (2004, p. 8) afirma que eleserve para demonstrar que a “política surge junto com a própria his-tória”, sendo resultado da “atividade dos próprios homens vivendoem sociedade”. Conclui afirmando que os homens têm todas as con-dições de interferir e desafiar a história, pois “[...] entre o voto e aforça das armas está uma gama variada de formas de ação desenvol-vidas historicamente visando resolver conflitos de interesses, configu-rando assim a atividade política em sua questão fundamental: suarelação com o poder” (LEO MAAR, 2004, p. 9).

Essa longa referência ao texto de Leo Maar serve paraexemplificar que a política, independente do contexto, sempre teve umnúcleo definidor comum, que, como vimos, está associado às formasde organização da vida em coletividade e sua relação com o poder.

Ainda de acordo com Leo Maar (2004), apesar da existência deum núcleo imutável na idéia de política, os significados atribuídos aela, hoje, estão relacionados a dois grandes espaços de expressão:

o poder político institucional associado à esferada política institucional: cita o autor, como exemplos,um deputado ou um órgão da administração pública, osquais são “políticos para a totalidade das pessoas”. Nesse v

O conceito de poder po-

lítico será desenvolvido

ainda nesta Unidade.

Page 14: Ciencia Politica[1]

14 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1 sentido, “todas as atividades associadas de algum modo àesfera institucional política, e o espaço onde se realizam,também são políticas” (LEO MAAR, 2004, p. 10).

a segunda esfera a que se remete a idéia de política é aque-la relacionada à ação de diversos grupos e organi-zações e às diversas formas de manifestação do con-flito na sociedade. Como exemplo, podemos citar:

Quanto se fala da política da Igreja, isto não se refere apenasàs relações entre a Igreja e as instituições políticas, mas àexistência de uma política que se expressa na Igreja em rela-ção a certas questões como a miséria, a violência, etc.Do mesmo modo, a política dos sindicatos não se refere uni-camente à política sindical, desenvolvida pelo governo para ossindicatos, mas às questões que dizem respeito à própria ativi-dade do sindicato em relação aos seus filiados e ao restanteda sociedade. A política feminista não se refere apenas aoEstado, mas aos homens e às mulheres em geral. As empresastêm políticas para realizarem determinadas metas no relacio-namento com outras empresas, ou com seus empregados.As pessoas no seu relacionamento cotidiano desenvolvem po-líticas para alcançar seus objetivos nas relações de trabalho,de amor ou de lazer [...] (LEO MAAR, 2004, p. 10).

É perceptível que o segundo significado é mais distante do quecomumente costumamos denominar de política hoje. Isso se deve, prin-cipalmente, segundo Leo Maar (2004) a uma delimitação rígida,estabelecida ao longo da história, associando a política ao espaçoinstitucional.

Para fixar o que discutimos até aqui, você deve lembrar quequando nos referimos à idéia de política é que ela pode se expressarde diversas formas e nos mais variados meios, estando, contudo, sem-pre associada à idéia do poder.

Desta forma, uma maneira mais precisa de caracterizar o fe-nômeno da política seria usar essa expressão no plural, ou seja, polí-ticas, pois somente assim teríamos condições de captar todas as for-mas em que esse fenômeno manifesta-se em nossas vidas. As Figuras1 e 2 são exemplos de que o exercício da política pode se desenvolverem diferentes esferas: a atuação de um movimento social, fazendouma reivindicação sobre determinada questão, é política (Figura 1),

Page 15: Ciencia Politica[1]

15Período 1

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ADE

1assim como a atuação de um parlamentar no Congresso Nacional (Fi-gura 2). Todos esses fenômenos dizem respeito à organização da vidaem coletividade e remetem à questão do poder.

Figura 1: Atuação de um movimento socialFonte: http://www.piratininga.org.br/boletim/03/sindical-sp.jpg.

Acesso em: 27 jul. 2007

Figura 2: O plenário da Câmara dos Deputados no BrasilFonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2mara_dos_deputados

Acesso em: 27 jul. 2007

Page 16: Ciencia Politica[1]

16 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1 O objeto da Ciência Política – O poder

Vimos na seção anterior que, desde Aristóteles, uma dimensãoda idéia de política é aquela associada à existência de autoridade ougoverno, ou seja, às regras de organização da vida em coletividade.

Partindo dessa idéia de que política implica autoridade ou go-verno, vários cientistas políticos buscaram definir a Ciência Políti-ca como uma disciplina que se dedicaria ao estudo da forma-ção e da divisão do poder (DAHL, 1970). Em outras palavras,estando a política associada à idéia de poder, a Ciência Política po-deria ser definida, de forma geral, como aquele campo disciplinar en-carregado do estudo científico do fenômeno do poder.

Considerando-se que a afirmação anterior é correta e que aCiência Política se dedica ao estudo da formação e da divisão dopoder, há necessidade de precisar o conceito de poder.

Você já parou para pensar no que é o poder?

Esse talvez seja um dos temas mais discutidos ao longo da his-tória da humanidade e pelas mais variadas perspectivas. Não temosaqui, a mínima pretensão de esgotar essa discussão. Pretendemosapenas, fazer algumas indicações que podem ser aprofundadas emestudos futuros.

Segundo o filósofo e cientista político italiano Norberto Bobbio(1987), não há estudioso da política que não inicie seus estudos, dev

Uma boa introdução ao

fenômeno do poder pode

ser encontrada em Bobbio

(1992, p. 933-943).

Norberto Bobbio (1909-2004)

Filósofo e escritor italiano, considerado um dos filósofos mais importantes do Século

XX. Iniciou um debate sobre socialismo, democracia, marxismo e comunismo, que

influenciou as novas gerações de toda Europa. Foi nomeado senador vitalício pelo então

presidente Sandro Pertini. Professor benemérito da Universidade de Turim, onde deu

aulas de Filosofia do Direito, Ciências Políticas e Filosofia da Política durante várias

décadas, escreveu para vários jornais e revistas, incluindo o Corriere della Sera, prin-

cipal diário do país. Ao longo de sua carreira, escreveu centenas de livros, ensaios e

artigos. Um de seus livros mais importantes foi Política e Cultura (1955), traduzido

para 19 idiomas. Fonte: www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2821.html (2007)

Tô afim de saber

Page 17: Ciencia Politica[1]

17Período 1

UNID

ADE

1alguma maneira, direta ou indiretamente, a partir de uma definiçãode poder e de uma análise do seu fenômeno.

Ainda de acordo com Bobbio (1987, p. 77-78), na filosofia po-lítica, o problema do poder foi tratado a partir de três teorias: asubstancialista, a subjetivista e a relacional.

Teoria substancialista: o poder é concebido como algoque se tem, uma posse, e que se usa como um outro bemqualquer. Típica interpretação substancialista do poder é ado filósofo Thomas Hobbes (1651), segundo a qual “o po-der de um homem [...] consiste nosmeios de que presentemente dispõepara obter qualquer visível bem futu-ro” (apud BOBBIO, 1987, p. 77). Taismeios podem ser os mais diversos,desde a inteligência, até a riqueza.

Teoria subjetivista: o filósofo JohnLocke (1694), definiu o “poder” nãocomo bem ou posse, mas como a ca-pacidade do sujeito de obter certos efei-tos através de sua vontade (apudBOBBIO, 1987, p.77). Paraexemplificar essa explicação, utiliza-se a frase de Bobbio (1987, p.77):“o fogo tem o poder de fundir metais[...] do mesmo modo que o soberanotem o poder de fazer as leis e, fazen-do as leis, de influir sobre a condutados súditos”.

Teoria relacional: trata o poder deuma forma, estabelecendo que atra-vés desse conceito se deve entender uma relação, onde oindivíduo (aquele que possui o poder) obtém do segundo(que não possui poder) um comportamento que, caso con-trário, não ocorreria (BOBBIO, 1977).

Visto que o conceito mais aceito de poder é o que o concebecomo um fenômeno relacional, vejamos a didática definição feita pelosociólogo inglês Anthony Giddens (2005, p. 342), que afirma que opoder consiste na “habilidade de os indivíduos ou grupos fazerem va-

vVocê vai ver ainda

nesta Unidade os

problemas básicos

com que lida a filo-

sofia política.

Thomas Hobbes (1588-1679)

Filósofo e cientista político inglês. Sabe-se que

Hobbes, em certas ocasiões, entre 1621 e 1625,

secretariou Bacon, ajudando-o a traduzir alguns

de seus Ensaios para o latim. O principal fruto

dos estudos clássicos a que se dedicou foi a tra-

dução da obra de Tucididas. Fonte:

www.geocities.com/cobra_pages/fmp-hobbes.html

(2007)

John Locke (1632-1704)

Destaca-se pela sua teoria das idéias e pelo seu

postulado da legitimidade da propriedade inseri-

do na sua teoria social e política. Para ele, o di-

reito de propriedade é a base da liberdade hu-

mana “porque todo homem tem uma proprieda-

de que é sua própria pessoa”. O governo existe para

proteger esse direito. Fonte: www.geocities.com/

cobra_pages/fmp-lockecont.html#Principais

(2007).

Tô afim de saber

Page 18: Ciencia Politica[1]

18 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 ler os próprios interesses ou as próprias preocupações, mesmo diantedas resistências de outras pessoas”.

Ainda segundo o autor, às vezes, essa postura implica o usodireto da força. Ele cita como exemplo disso o fato histórico ocorridoentre a Indonésia e o Timor Leste, em que as autoridades indonésiasse opuseram violentamente ao movimento democrático do Timor Les-te. Giddens (2005, p. 342) também afirma que o poder está presenteem quase todas as relações sociais “incluindo aquela que existe entreo empregador e o empregado”.

Importante!

Uma das brilhantes discussões sobre o fenômeno do poder en-contra-se na obra do filósofo francês Michel Foucault, onde apontapara a multidimensionalidade deste fenômeno, ressaltando que qual-quer relação social pode ser vista como uma relação de poder.

Sintetizando e exemplificando a questão do poder, pode-se afir-mar que este fenômeno está relacionado aos recursos que determina-do indivíduo ou grupo possuem.

Quando em nosso dia-a-dia usamos a expressão “olha, fulanoé poderoso”, em geral estamos fazendo referência a recursos econô-micos, tecnológicos, retóricos, etc., que fazem com que esse indivíduoseja percebido enquanto tal.

Tais recursos podem ser o dinheiro, a tecnologia, o conheci-mento, etc., os quais são utilizados nas relações com outras pessoasou grupos, com o objetivo de fazer valer seus interesses. Cada situa-ção define qual recurso de poder é mais importante de ser mobilizado.Como exemplo, podemos citar situações como a de uma guerra, ondemuitas vezes nos referimos ao poderio de determinado grupo (em ge-ral, expresso nas tecnologias de guerra e no número de combatentes),ou quando falamos dos “grupos poderosos”, para demonstrar que de-terminados atores têm mais facilidade de ter seus interesses e deman-das atendidos do que a maioria da população. As Figuras 3 e 4 nosoferecem alguns indicativos.

vPara aprofundar a dis-

cussão, veja indicação

de leitura no Saiba

mais.

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19Período 1

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1

Figura 3: Representação do poder da guerraFonte: http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v3n7/7a05f2.gif

Acesso em: 27 jul. 2007

Figura 4: O poder do dinheiroFonte: http://fashionbubbles.com/tabs/wp-content/uploads/2007/08/

dinheiro.jpgAcesso em: 27 jul. 2007

Feitas as distinções quanto às interpretações do fenômeno dopoder, devemos lembrar que a Ciência Política trata de um tipo espe-cífico de poder: o poder político. Assim, nosso próximo passo édiferenciar o poder político de todas as outras formas que pode assu-mir uma relação de poder.

Retornando a Bobbio (1987, p. 80), ele afirma que, do pontode vista dos critérios que foram utilizados na distinção quanto às vá-rias formas de poder, o poder político foi definido como o que está emcondições de recorrer em última instância à força, detendo o mono-pólio dela num determinado território.

Ainda segundo Bobbio (1987, p.80), essa é uma definição quese refere aos meios de que se serve o detentor do poder para obter os

vTal definição do poder

político é tributária de

Max Weber, como vere-

mos adiante.

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20 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 efeitos desejados quanto aos seus interesses. Como exemplo, pode-mos citar novamente o caso da Indonésia, em que o emprego da forçacontra o Timor Leste é apresentado como “uma defesa a favor daintegridade territorial Indonésia contra um movimento regional pelaindependência” (GIDDENS, 2005, p. 342).

No parágrafo anterior, colocamos a expressão “meio”, emnegrito, pois esse critério é o mais comumente usado, na proposiçãode uma tipologia do poder. Nesse sentido, os tipos de poder podem serdivididos em: econômico, ideológico e político, ou, em outras pala-vras, o poder da riqueza, do saber e da força (BOBBIO, 1987). Comessa tipologia, é possível identificar as várias faces com que esse fe-nômeno se apresenta em nossas sociedades.

Vejamos, então, como podem ser conceituadas as três formasde poder (BOBBIO, 1987, p. 82-84):

Poder econômico: vale-se da posse de certos bens neces-sários ou percebidos como tais, numa situação de escassez,para induzir os que não os possuem a adotar certa conduta,consistente principalmente na execução de um trabalho útil.Na posse dos meios de produção, reside enorme fonte de po-der por parte daqueles que os possuem contra os que não ospossuem, exatamente no sentido específico da capacidade dedeterminar o comportamento alheio. Em qualquer sociedadeem que existam proprietários e não-proprietários, o poder de-riva da possibilidade que a disposição exclusiva de um bemlhe dá de obter que o não-proprietário (ou proprietário apenasde sua força de trabalho) trabalhe para ele e apenas nas con-dições por ele estabelecidas.

Poder ideológico: vale-se da posse de certas formas desaber, doutrinas, conhecimentos, às vezes apenas de informa-ções, ou de códigos de conduta, para exercer influência nocomportamento alheio e induzir os membros do grupo a reali-zar ou não uma ação. Desse tipo de condicionamento deriva aimportância social daqueles que sabem, sejam eles os sacer-dotes nas sociedades tradicionais ou os literatos, os cientistas,os técnicos, os assim chamados "intelectuais", nas sociedadessecularizadas, porque mediante os conhecimentos por eles di-fundidos ou os valores por eles firmados e inculcados realiza-se o processo de socialização do qual todo grupo social neces-sita para poder estar junto.

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!

Poder político: o ca-minho mais usual paradiferenciar o poder políti-co das outras formas depoder é quanto ao uso daforça física. Em outraspalavras, o detentor dopoder político é aqueleque tem exclusividade dodireito de uso da força físi-ca sobre um determinado território. Quem tem o direito exclusi-vo de usar a força sobre um determinado território é o sobera-no. O sociólogo alemão Max Weber (1992) foi quem definiuessa especificidade do poder político. Weber define o Estadocomo detentor do monopólio da coação física legítima.

O elemento em comum dos três tipos de poder é queeles contribuem para “manter sociedades de pessoasdesiguais divididas em fortes e fracos com base nopoder político, em ricos e pobres com base no podereconômico, em sábios e ignorantes com base no po-der ideológico. Genericamente, em superiores e infe-riores” (BOBBIO, 1987, p. 84).

Analisada a distinção entre os tipos de poder, onde o poderpolítico deriva do monopólio da força legítima num determinado terri-tório e que a expressão desse poder é o fenômeno do Estado, surge aconceituação da Ciência Política como a ciência encarregada do es-tudo do poder político ou, em outras palavras, como um ramo dasciências sociais que trata da teoria, da organização, do governo e daspráticas do Estado (= poder político).

Nesse sentido, para o bom andamento de nossos trabalhos, vocêdeve, a partir de agora, buscar entender o que é o Estado.

Saiba mais...Sobre o poder em Foucault, ver a obra A microfísica do poder. 11 ed. Rio de

Janeiro: Graal, 1979.

Max Weber (1864-1920)

Foi um intelectual alemão e um dos fundadores

da Sociologia. É conhecido, sobretudo, pelo seu

trabalho sobre a Sociologia da religião. Suas obras

de mais destaque são “A Ética protestante” e O

espírito do capitalismo. Fonte: wikipedia.org/wiki/

Max_Weber#Biografia (2007)

Tô afim de saber

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22 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 O que é o Estado?

Para conceituar Estado, vamos seguir a proposta de AntônioCarlos Wolkmer, em seu livro Elementos para uma crítica do Estado(1990), e de Anthony Giddens (2005), em seu Sociologia.

No início de seu trabalho, Wolkmer (1990, p. 9) coloca que:

[...] a categoria teórica Estado deve ser entendida, no presenteensaio, como a instância politicamente organizada, munidade coerção e de poder, que, pela legitimidade da maioria, ad-ministra os múltiplos interesses antagônicos e os objetivos dotodo social, sendo sua área de atuação delimitada a um de-terminado espaço físico.

O sociólogo Anthony Giddens (2005, p. 343) detalha mais esseconceito, ao definir que o Estado:

[...] existe onde há um mecanismo político de governo (insti-tuições como um parlamento ou congresso, além de servido-res públicos) controlando determinado território, cuja autori-dade conta com o amparo de um sistema legal e da capacida-de de utilizar a força militar para implementar suas políticas.Todas as sociedades modernas são estados-nações, ou seja,estados nos quais a grande massa da população é compostapor cidadãos que se consideram parte de uma única nação(grifos nossos).

Da citação acima, como se pode observar nas palavras grifa-das, vários conceitos precisam ser esclarecidos, o que leva novamentea recorrer a Giddens (2005, p. 343).

Governo: refere-se à representação regular de políticas, de-cisões e assuntos de Estado por parte de servidores que com-põem um mecanismo político.

Autoridade: é o emprego legítimo do poder.

Legitimidade: entende-se que aqueles que se submetem àautoridade de um governo consentem nessa autoridade.

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23Período 1

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1Os conceitos de soberania, cidadania e nacionalismo tambémsão elaborados por Giddens (2005, p. 342-343):

Soberania: os territórios governados pelos estados tradicio-nais sempre foram maldefinidos, e o nível de controle exercidopelo governo central bastante fraco. A noção de soberania -de que o governo possui autoridade sobre uma área que tenhauma fronteira clara, dentro da qual ele representa o podersupremo - tinha pouca relevância. Contrastando com essa vi-são, todos os estados-nações são estados soberanos.

Cidadania: nos estados tradicionais, a maior parte da po-pulação governada pelo rei ou imperador demonstrava poucaconsciência, ou interesse, em relação aos seus governantes.Também não tinha nenhum direito político ou influência sobreesse aspecto. Normalmente, apenas as classes dominantes ouos grupos mais ricos tinham a sensação de pertencer a umacomunidade política global. Já nas sociedades modernas, amaioria das pessoas que vivem dentro dos limites de um siste-ma político é cidadã, as quais possuem direitos e deveres co-muns e se consideram parte de uma nação. Embora algumaspessoas sejam refugiadas políticas ou “apátridas”, quase to-dos os que vivem no mundo de hoje são membros de umaordem política nacional definida.

Nacionalismo: os estados-nações estão relacionados aocrescimento do nacionalismo, o qual pode ser definido comoum conjunto de símbolos e convicções responsáveis pelo sen-timento de pertencer a uma única comunidade política.Assim, ao serem britânicos, norte-americanos, canadenses ourussos, os indivíduos têm a sensação de orgulho e de pertencera essas comunidades. Esses são os sentimentos que deramímpeto à busca dos timorenses orientais pela independência.É provável que, de uma forma ou de outra, as pessoas te-nham sempre sentido algum tipo de identidade com grupossociais – a família, o vilarejo ou a comunidade religiosa.O nacionalismo, contudo, surgiu apenas com o desenvolvimen-to do estado moderno, sendo a principal expressão dos senti-mentos de identidade em uma comunidade soberana distinta.

Com os conceitos apresentados, temos um panorama dos prin-cipais elementos constituintes do conceito de Estado. Vamos agorasair um pouco da abstração desses conceitos e refletir sobre eles deforma prática. Para isso, vamos pensar na questão do Brasil. Com

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1 muita freqüência, encontramos afirmações do tipo: “o Estado brasilei-ro é ineficiente”, o “Estado brasileiro é grande”, etc. Para além doqualificativo conferido ao nosso Estado (ineficiente, grande), cabe-nos aqui entender quais são os indicadores que nos permitem utilizara expressão “Estado brasileiro”. Em outras palavras, que elementostornam possível afirmar que temos um Estado no Brasil?

Para responder a essa questão, temos que relacioná-la aos con-ceitos apresentados anteriormente. Nesse sentido, é possível afirmar,em primeiro lugar, que temos Estado no Brasil, pois, temos um terri-tório, formado por 26 Estados e um Distrito Federal, uma Constitui-ção Federal, nossa Lei maior, onde, entre outras questões é definidaa questão da forma e dos mecanismos de constituição do go-verno, os critérios que conferem legitimidade ao mesmo, bem comoas questões relacionadas à cidadania. Além disso, não somos ape-nas um Estado, somos um “Estado-nação”, pois comungamos de umdeterminado sentimento de nacionalidade, expresso, entre outros ele-mentos, pelo compartilhamento de uma mesma língua, falada e escri-ta e de um conjunto de símbolos, como a bandeira, os hinos e os heróisnacionais (Figuras 5 e 6). São tais valores e símbolos, construídos his-toricamente, que tornam possível a expressão de uma identidade naci-onal em afirmações do tipo: “Sou brasileiro!”.

Figura 5: Bandeira Nacional BrasileiraFonte: http://www.probrasil.com.br/bandeira_br.jpg

Acesso em: 27 jul. 2007

vAinda nesta Unidade,

você vai estudar a for-

ma de governo e os

mecanismos de cons-

tituição do governo

adotados no Brasil.

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25Período 1

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Figura 6: Brasão da RepúblicaFonte: http://www.prdf.mpf.gov.br/denuncia/imagens/brasao.jpg

Acesso em: 27 jul. 2007

Saiba mais...O Brasil tem a quinta maior área territorial do mundo, com 8.514.876,599km², e a quinta maior população do mundo, com aproximadamente 188milhões de habitantes. O país faz fronteira com os seguintes países: a nortecom a Venezuela, a Guiana, o Suriname e com o departamento ultramarinofrancês da Guiana Francesa; a sul com o Uruguai; a sudoeste com a Argenti-na e o Paraguai; a oeste com a Bolívia e o Peru e, por fim, a noroeste com aColômbia. Os únicos países sul-americanos que não têm uma fronteiracomum com o Brasil são o Chile e o Equador. O país é banhado peloOceano Atlântico ao longo de toda sua costa, ao nordeste, leste e sudeste.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil.

A Constituição em vigor no Brasil é a de 1988. Ao longo de nossa história,tivemos oito (8) Constituições. São elas, as de 1824, 1891, 1934, 1937,1946, 1967, 1969 e 1988. O elemento central na constituição da legitimida-de do Estado brasileiro (e da maioria das democracias) deriva do fato de queos governos são constituídos pelo voto direto e livre do povo (populaçãoconsiderada adulta). Os direitos políticos são regulados no Brasil pelaConstituição Federal em seu art. 14, que estabelece como princípio da partici-pação na vida política nacional o sufrágio universal. Nos termos da normaconstitucional, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maioresde dezoito anos e facultativos para os analfabetos, os maiores de dezesseis emenores de dezoito anos e os maiores de setenta anos. A Constituição proíbe oalistamento eleitoral dos estrangeiros e dos brasileiros conscritos no serviçomilitar obrigatório, considera a nacionalidade brasileira como condição deelegibilidade e remete à legislação infra-constitucional a regulamentação deoutros casos de inelegibilidade. Fonte: Lei complementar nº 64, de 18 de maiode 1990 e http://pt.wikipedia.org/wiki/Cidad%C3%A3o. Para a questão da

cidadania no Brasil em perspectiva histórica, ver Carvalho (2004).

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26 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 Até aqui, vimos uma série de conceitos relacionadosao poder político e sua manifestação no fenômenodo Estado. Vejamos agora, em termos históricos, comose deu o desenvolvimento dessa instituição.

Tal discussão é importante, pois você deve ter claroque nem sempre a humanidade se organizou politi-camente através da figura do Estado-nação. Este,por sinal, é um fenômeno bem recente na história.

Segundo Wolkmer (1990, p. 21), o fenômeno do Estado surgiuhistoricamente como resultante dos desdobramentos das transforma-ções verificadas nas formas de organização da vida social, derivadasda difusão do modo de produção capitalista (Século XVIII) e das ne-cessidades materiais da classe burguesa: “Também é importante con-siderar como fatores determinantes a crise na formação da estruturafeudal, as profundas transformações políticas, sociais e econômicas,bem como a junção particular de elementos internos e externos queabalaram algumas sociedades políticas européias”. Depreende-se,então, que o Estado é produto de transformações econômicas (desen-volvimento do capitalismo) e culturais (crise da estrutura feudal)vivenciadas pelos países da Europa Ocidental a partir do Século XVIII.

Ainda segundo Wolkmer (1990, p. 22), algumas teorias, princi-palmente vindas de orientações jurídicas, tentam explicar o surgimentodo Estado como uma continuidade histórica de seus “elementos ma-teriais constitutivos” (território, povo e poder soberano). SustentaWolkmer que isso é incorreto, pois “o Estado enquanto fenômeno his-tórico de dominação apresenta originalidade, desenvolvimento e ca-racterísticas próprias para cada momento histórico e para cada modode produção, com a subordinação plena das organizações políticasao poder da Igreja no feudalismo e com a secularização e unidadenacional da modernidade”.

Dessa forma, na interpretação desse autor, o moderno Estado,com todas as características constitutivas que vimos (nação, cidada-nia, autoridade, legitimidade e soberania), é produto das condiçõesestruturais inerentes ao capitalismo burguês europeu, não sendo, por-tanto, mera evolução ou aperfeiçoamento de outros tipos históricosanteriores (Estado-Antigo, Cidade-Estado, Estado Medieval).

Analisando a evolução histórica do fenômeno estatal, Wolkmer(1990, p. 25) afirma que o Estado moderno surge, num primeiro mo-v

Na Unidade 2, você

vai ver como se dá a

evolução histórica dos

vários sistemas polí-

ticos e o significado

de expressões como

liberalismo.

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27Período 1

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1mento, sob a forma de Estado Absolutista (legitimado pelo podermonárquico), evoluindo, posteriormente, para o Estado Liberal Capita-lista. Desse modo, na sua interpretação, o Estado Absolutista seria umaforma de transição para o advento do modelo de Estado Liberal.

Por ora, basta fixar a idéia de que o Estado com as característicasque destacamos é uma instituição típica da chamada “modernidade”.

Para prosseguir no objetivo traçado nesta Unidade, que é esta-belecer alguns conceitos e categorias centrais na análise política, énecessário um conceito que tenha certa neutralidade e que seja passí-vel de operacionalização. Acreditamos que uma boa maneira de se-guir nessa trajetória seja adotar a proposta de análise do Estado feitapor Max Weber (1992), e por nós esboçada quando tratamos da defi-nição do poder político.

Vejamos com mais detalhe o conceito de Estado. Para Weber(1992, p. 98):

por política entende-se todo tipo de liderança independenteem ação;

no ensaio A política como vocação, aborda apenas a lide-rança no contexto da associação política denominada deEstado;

para definir o que é Estado de um ponto de vista sociológi-co, afirma que não se pode partir dos seus fins, pois elesvariam com a história, mas dos meios específicos a ele.Desse modo, afirma que a especificidade da associaçãopolítica “Estado” se dá pelo uso da força física;

portanto, o Estado moderno, de maneira sociológica, podeser conceituado como “comunidade humana que preten-de, com êxito, o monopólio legítimo da força física, dentrode um determinado território”. O Estado é a única institui-ção com direito de usar a violência;

a partir dessa definição de Estado, define a política como“a participação no poder ou a luta para influir na distribui-ção do poder, seja entre estados ou grupos dentro de umEstado”; e

a existência do Estado e de todas as instituições políticassó pode ser compreendida pelo fato de que sua existênciase dá a partir de “homens dominando homens; relaçãomantida por meio da violência legítima”.

vA evolução do Es-

tado moderno será

analisada ao longo

da Unidade 2.

Page 28: Ciencia Politica[1]

28 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 Conceituando-se o Estado como a instituição que mantém omonopólio da força legítima num determinado território e sendo oEstado a maior expressão do poder político, fica mais clara a defini-ção anteriormente desenvolvida de Ciência Política como ciência en-carregada do estudo do poder político.

Cabe, porém, uma nova indagação: será a Ciência Política aúnica forma possível de se estudar o poder político? O que caracterizapropriamente uma ciência da política? Você vai ver de maneira maisapropriada como responder a essas questões na seção seguinte.

Ciência política e filosofia política

Bobbio (1987, p. 55) afirma que o estudo do poder políticoestá dividido entre duas disciplinas didaticamente distintas: a Filoso-fia Política e a Ciência Política. Segundo ele, na Filosofia Política sãocompreendidos três tipos de investigação:

da melhor forma de governo ou da ótima república;

do fundamento do Estado ou do poder político, com a con-seqüente justificação (ou injustificação) da obrigação po-lítica; e

da essência da categoria do político.

Por Ciência Política entende-se hoje uma investigação no cam-po da vida política capaz de satisfazer três condições:

o princípio de verificação ou de falsificação como critérioda aceitabilidade de seus resultados;

o uso de técnicas da razão que permitam dar uma explica-ção causal ao objeto de investigação; e

a abstenção ou abstinência de juízos de valor, a assim cha-mada “avaloratividade” (BOBBIO, 1987).

Segundo Sartori (1981), a expressão Ciência Política e suanoção podem ser precisadas em função de duas variáveis:

o estado da organização do saber; e

vO fundamento da obri-

gação política pode ser

compreendido na per-

gunta: por que os indi-

víduos (cidadãos) obe-

decem à autoridade?

CausalCausalCausalCausalCausal – Por causalidade,

deve-se entender o pressu-

posto de que todo fenômeno

social é determinado por uma

ou mais causas, as quais po-

dem ser identificadas e

explicadas pelo método de in-

vestigação científica. Fonte:

Elster (1994).

Page 29: Ciencia Politica[1]

29Período 1

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1

!

o grau de diferenciação cultural dos agregados humanos.

Nesse sentido, apesar de as duas disciplinas terem o mesmoobjeto como referência (o poder político), é possível identificar dife-renças significativas quanto à forma de abordar o fenômeno estuda-do. Enquanto a Filosofia está preocupada com os fundamentos dopoder político e a reflexão sobre “boas” ou “más” formas de governo,a Ciência Política adota como critério para sua constituição a idéiade ser “isenta de valores” quanto ao melhor ou pior sistema político, poissua preocupação central está em compreender e explicar os fenômenospolíticos, por meio da análise sistemática da forma como eles se apresen-tam nas diversas sociedades e nos tempos históricos mais variados.

Mediante essas formulações, verifica-se, então, que as diferen-ças entre as duas disciplinas estão em seus propósitos e na forma(método) como tratam os fenômenos da política.

Enquanto na Filosofia a preocupação fundamental estána busca dos fundamentos últimos da política e naconstrução de modelos ideais de organização, na Ci-ência Política está sobretudo na busca de explicaçõespara a dinâmica de funcionamento dos sistemas polí-ticos, utilizando procedimentos próprios do métodocientífico.

Os sistemas políticos

Caro estudante!

Como nos parágrafos anteriores utilizamos a ex-pressão “sistema político”, e a Unidade 2 prevê adiscussão dos sistemas políticos clássicos e con-temporâneos, cabem aqui algumas consideraçõessobre essa temática, pois, desde os anos 1960,uma série de cientistas políticos têm procuradoutilizar a linguagem dos sistemas para estudar omundo da política, o que tem provocado grandesalterações no vocabulário da disciplina, bem comonos resultados alcançados pelos estudos.

Page 30: Ciencia Politica[1]

30 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 Segundo Bobbio (1987), nessa teoria, a relação entre institui-ções políticas e o seu entorno (denominado de sistema social em seutodo) é abordada como uma relação demanda-resposta (input-output).Nesse caso, a função das instituições políticas é responder aos estí-mulos oriundos do ambiente social ou converter as demandas em res-postas. Nas palavras de Bobbio (1987, p. 60):

As respostas das instituições políticas são dadas sob a formade decisões coletivas vinculatórias para toda a sociedade. Porsua vez, estas respostas retroagem sobre a transformação doambiente social, do qual, em seqüência ao modo como sãodadas as respostas, nascem novas demandas, num processode mudança contínua que pode ser gradual quando existecorrespondência entre demandas e respostas, brusco quandopor uma sobrecarga de demandas sobre as respostas inter-rompe-se o fluxo da retroação, e as instituições políticas vigen-tes, não conseguindo mais dar respostas satisfatórias, sofremum processo de transformação que pode chegar à fase finalde completa modificação. [...] Ficando estabelecida a diversainterpretação da função do Estado na sociedade, a represen-tação sistêmica do Estado deseja propor um esquemaconceitual para analisar como as instituições políticas funcio-nam, como exercem a função que lhes é própria, seja qual fora interpretação de que lhes faça.

A linguagem da teoria dos sistemas teve uma forte penetraçãona Ciência Política contemporânea, tendo sido produzidos muitos es-tudos orientados por essa perspectiva. Muitos destes buscavam anali-sar problemas como o dos níveis diferenciados de “desenvolvimentopolítico” de diversos países, em especial, as diferenças entre os desen-volvidos economicamente e estáveis politicamente (Europa Ociden-tal, Estados Unidos, etc.) e aqueles subdesenvolvidos e instáveis (Pa-íses da América Latina e África, de maneira geral).

Características dos sistemas políticos

Uma primeira característica de todos os sistemas políticos co-nhecidos e estudados é que os recursos políticos são distribuídos desi-gualmente. Mas o que é um recurso político?

vA linguagem da teoria

dos sistemas traduzida

para a Ciência Política,

pode ser encontrada

em Easton (1970, p.

185-199).

Page 31: Ciencia Politica[1]

31Período 1

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1Para responder a essa questão, adotamos as definições deRobert Dahl (1970), em seu livro Análise política. Segundo ele, “re-curso político é um meio pelo qual uma pessoa consegue influenciar ocomportamento de outras; recurso político, por conseguinte, compre-ende dinheiro, informação, alimentação, ameaça de forças e outrascoisas” (DAHL, 1970, p. 29). Veja-se que o conceito de recurso políticoé uma derivação do conceito de poder discutido no início da Unidade.Como você viu, o poder de uma pessoa ou grupo é proporcional aosrecursos que ela possui na relação com outras pessoas ou grupos.

Existem, segundo Dahl (1970, p. 29-30), alguns motivos pelosquais os recursos políticos distribuem-se de maneira irregular em pra-ticamente todas as sociedades:

Toda sociedade se organiza através de uma certa especializa-ção de funções. Nas sociedades avançadas ela tende a sermais extensa. A especialização funcional (divisão do trabalho)produz diferenciações no acesso dos indivíduos aos diferentesrecursos políticos. Exemplo: um secretário de Estado e ummembro da Comissão de Relações Exteriores do Senado têmmais acesso a informações sobre a política externa norte-ame-ricana do que a maioria dos cidadãos. Em virtude de diferen-ciações herdadas socialmente, os indivíduos iniciam a vidacom acesso diferenciado aos recursos, e aqueles que saem nafrente geralmente ampliam sua vantagem ao longo do tempo.Exemplos: riqueza, posição social, grau cultural que diferenci-am uns dos outros.

Deve-se destacar, sempre segundo Dahl, que as oportunidadesde educação estão vinculadas, ao menos em parte, à riqueza, à posi-ção social ou à posição política do país. Por fim, tem-se as diferençasde motivação, as quais levam as diferenças em habilidades e em re-cursos, pois nem todos são motivados de maneira igualitária paraentrar ou participar da política.

Dessa forma podemos concluir que, por várias razõesé extremamente difícil (para alguns autores, impossível)criar uma sociedade em que os recursos políticos sejamuniformemente distribuídos entre todos os adultos.

vTal questão das desigual-

dades de acessos aos

recursos sociais, cultu-

rais, econômicos, etc.,

foi analisada de manei-

ra magistral por Pierre

Bourdieu, em seu livro

A distinção.

Page 32: Ciencia Politica[1]

32 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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1 Isso não implica afirmar a impossibilidade de existir uma soci-edade sem distribuição desigual de recursos políticos. Todos os proje-tos emancipatórios, como o socialismo e o anarquismo, partem doprincípio de que é desejável e possível construir uma sociedade comdistribuição igual do poder.

Os recursos políticos e a influência política

Dahl (1970, p. 31) afirma que “alguns membros do sistemapolítico procuram adquirir influência sobre as diretrizes, regras e de-cisões determinadas pelo governo – isso é influência política”. As pes-soas procuram influência política por objetivos diferenciados, os quais,porém, estão relacionados à satisfação de seus objetivos e valores.

Assim como os recursos políticos, a influência política distri-bui-se de maneira irregular e desigual entre os membros de um siste-ma político. Disso derivam duas proposições:

certas pessoas dispõem de mais recursos com os quais po-dem influenciar o sistema político, se e quando desejarem; e

inversamente, indivíduos com maior influência podem adquirircontrole sobre maiores recursos políticos (DAHL, 1970, p. 31).

Existem várias razões pelas quais a influência política distri-bui-se de modo desigual e irregular nos sistemas políticos. Vejamos ostrês fatores considerados fundamentais (DAHL, 1970, p. 32) nesseprocesso:

em virtude de desigualdades na distribuição de recursos,já discutido anteriormente;

em virtude das variações na habilidade com que diferen-tes indivíduos empregam seus recursos políticos. As diferençasna habilidade política, por sua vez, derivam das diferenças deoportunidade e estímulos para aprender e praticar a atividadepolítica; e

em virtude das variações na extensão com que diferentesindivíduos empregam seus recursos com objetivos políticos.Exemplo: entre duas pessoas ricas, uma pode aplicar maiores

Page 33: Ciencia Politica[1]

33Período 1

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1proporções de sua fortuna para adquirir influência política, aopasso que a outra o fará para alcançar êxito em seus negócios.

A cadeia causal pode ser ilustrada conforme a Figura 7:

Figura 7: Cadeia causalFonte: Dahl (1970, p. 33)

Tudo que foi discutido até aqui redunda numa conclusão desuma importância para a análise política (e também para a práticapolítica). Tal conclusão está relacionada ao mito da “igualdade deoportunidades”, que está na base da fórmula de organização políticadas sociedades liberal-democráticas.

Os elementos apresentados até aqui, a partir dos já clássicostrabalhos de Robert Dahl, indicam que tal igualdade não existe naprática, pois desde o “berço” as oportunidades e recursos políticossão apresentados de forma desigual aos diferentes membros de umacomunidade política. Tal diagnóstico da política, como você vai veradiante, esteve na base de todas as propostas revolucionárias, tendocomo principal exemplo o marxismo. Mais recentemente, o própriopensamento político liberal tem enfrentado essa questão. O principalesforço, nesse sentido, encontra-se na obra do filósofo John Rawls.

MarxismoMarxismoMarxismoMarxismoMarxismo – a teoria eco-

nômica que procura expli-

car como o modo de produ-

ção capitalista propicia a

acumulação contínua de

capi ta l . Defende que a

quantidade de trabalho so-

cialmente necessária para

produzir uma mercadoria é

o que determina seu valor.

A ampliação do capital ocor-

re porque o trabalho produz

valores superiores ao dos

salários (força de trabalho).

Fonte: www.portalbrasil.net

John Rawls (1921-2002)

Produziu uma teoria política fundamentada em três princípios:

Princípio da liberdade igual: a sociedade deve assegurar a máxima liberdade para

cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.

Princípio da diferença: a sociedade deve promover a distribuição igual da riqueza,

exceto se a existência de desigualdades econômicas e sociais gerar o maior benefício

para os menos favorecidos.

Princípio da oportunidade justa: as desigualdades econômicas e sociais devem

estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade

de oportunidades Fonte: Vaz (2006).

Tô a fim de saber

Page 34: Ciencia Politica[1]

34 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1

!!

Objetivos conflituosos nos sistemas políticos

Dahl (1970, p. 33) define que os membros de um sistema polí-tico perseguem, na maioria das vezes, “objetivos conflituosos, os quaissão tratados, dentre outras formas, pelo governo desse sistema”.

Conflitos e consenso são dois aspectos importantesde qualquer sistema político.

Com isso, quer dizer o autor que os conflitos estão na base daorganização política das sociedades e uma das funções centrais dasinstituições políticas é processar esses conflitos de forma a produzirconsensos e cooperação social.

Nas sociedades complexas, como a nossa, alguns conflitos sãomediados e/ou resolvidos pela própria sociedade, por meio de suasinstituições, como família, amigos, associações, movimentos sociais,etc. No entanto, o grande foco de resolução da maioria dos conflitossociais é o Estado.

Assim podemos dizer que o Estado é uma instituiçãoque surgiu para resolver os problemas da vida em co-co-co-co-co-letividadeletividadeletividadeletividadeletividade. Tais problemas ocorrem a partir do cha-mado processo de diferenciação social, quando a soci-edade passa a se organizar a partir de grupos porta-dores de identidades (classe, sexo, religião, cor), valo-res, interesses e opiniões divergentes.

Visando a evitar o conflito generalizado entre esses interessesdivergentes, uma escolha racional dos indivíduos é criar uma institui-ção que busque transformar esses focos potenciais de conflitos emformas cooperativas de ação.

Diante disso, surgiu o fenômeno do Estado. Daí vem a necessi-dade de ele ser o regulador da vida em sociedade e ter monopóliosobre o uso da força física e da coerção num determinado território.Como também já abordamos, o conceito de Estado, desenvolvido porWeber (1992) o considera como a instituição que tem o monopólio daviolência física num determinado território.

vVeja que voltamos aqui

ao conceito de política,

definido no início da

Unidade 1.

Page 35: Ciencia Politica[1]

35Período 1

UNID

ADE

1Para a resolução do conflito social, duas são as formas possí-veis de atuação: a coerção e a política (RUA, 1998). Segundo Rua(1998, p. 231), um dos problemas da coerção “pura e simples” estáno fato de que, “quanto mais utilizada, mais reduzido se torna seuimpacto e mais elevados seus custos”.

Resta-nos, então, a política. O que significa a política? Nova-mente voltamos ao que discutimos no início da Unidade. SegundoRua (1998, p. 232), a política pode ser definida como: “[...] o conjun-to de procedimentos formais e informais que expressam relações depoder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto abens públicos”.

Classificação dos sistemas políticos

Se há algo sobre o que não existe consenso na Ciência Políticaé quanto aos critérios de classificação dos sistemas políticos. Diver-sos autores desenvolveram esquemas classificatórios próprios. Dianteda necessidade de propor uma mínima classificação da diversidadedas formas de organização da vida política no mundo contemporâ-neo, adotamos o critério de classificação estabelecido por Giddens(2005, p. 343). Segundo ele, os três tipos fundamentais de sistemapolítico são: monarquia, democracia liberal e autoritarismo. Vejamoscada um deles:

Monarquia

Para Giddens (2005, p. 343)

a monarquia é um “sistema político” liderado por uma únicapessoa, cujo poder é legado a sua família através de gerações.As monarquias foram dominantes em todo mundo, na IdadeMédia, tendo as famílias reais exercido o domínio sobre seus“súditos” com base na tradição e no direito divino.

O fundamento da autoridade das monarquias está no costu-me, e não na lei. De acordo com Giddens (2005), apesar de algunsEstados modernos ainda terem monarcas, eles “tornam-se pouco maisdo que figuras decorativas”, desempenhando funções “simbólicas” ecomo foco de “identidade nacional”, porém, sem praticamente ne-nhuma influência no curso dos eventos políticos. Verifica-se nesse caso

vPara uma análise das

classificações dos siste-

mas pol í t icos, ver

Norberto Bobbio e seu

livro Teoria das formas

de governo (1997).

Page 36: Ciencia Politica[1]

36 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1 a figura dos monarcas constitucionais,“como a rainha do Reino Unido, o rei daSuécia e até mesmo o imperador do Japão –cujo poder efetivo encontra severas restriçõesna Constituição, a qual confere autoridadeàqueles que foram eleitos como representan-tes do povo” (GIDDENS, 2005, p. 343).

As Figuras 8 e 9 nos mostram doismomentos das monarquias na história dahumanidade. A Figura 8 corresponde a LuisXIV, o “Rei Sol”, representante do contextodas monarquias absolutas, em que ao mo-narca eram atribuídos poderes ilimitados.A Figura 9 corresponde à Rainha ElizabethII, da Inglaterra, representante da mais im-portante monarquia constitucional existenteno mundo atual.

Na grande maioria, os Estados exis-tentes hoje estão organizados na forma deRepúblicas (não possuem reis, nem rainhas),sendo a maior parte deles democráticos. Combase nisto, vejamos o conceito de democra-cia mais adiante.

Saiba mais...Importante!

Por República deve-se entender, na tipologia dasformas de Estado, uma contraposição às formasmonárquicas. Nas palavras de Matteucci (1992,p. 1.107):

[...] Nesta (Monarquia), o chefe do Estado temacesso ao supremo poder por direito hereditário;naquela, o chefe do Estado, que pode ser umasó pessoa ou colégio de várias pessoas (Suíça), éeleito pelo povo, quer direta ou indiretamente(através de assembléias primárias ou assembléiasrepresentativas). Contudo, o significado dotermo República envolve e muda profundamentecom o tempo [....].

Luís XIV de Bourbon (1638-1715)

Francês conhecido como

“Rei-Sol”, foi o maior monar-

ca absolutista da França, de

1643 à 1715. A ele é atri-

buída a famosa frase: “L’État

c’est moi” (O Estado sou eu),

apesar de grande parte dos

historiadores achar que isso

é apenas um mito. Construiu

o luxuoso palácio de Versalhes, em Versalhes, perto

de Paris. Fonte: wikipedia (2007)

Rainha Isabel II do Reino Unido

No Brasil chamada Elizabeth

II, nascida em Londres em

1926, é a atual rainha e che-

fe de estado do Reino Unido

da Grã-Bretanha e Irlanda do

Norte, bem como Rainha de

Antígua e Barbuda, Austrá-

lia, Bahamas, Barbados,

Belize, Canadá, Granada,

Jamaica, Nova Zelândia,

Papua Nova Guiné, São Cristóvão e Névis, Santa

Lúcia, São Vicente e Granadinas, Ilhas Salomão e

Tuvalu. Ela também é chefe da Comunidade Britâni-

ca, governante suprema da Igreja da Inglaterra, co-

mandante-chefe das Forças Armadas do Reino Uni-

do e Lorde de Mann. Reina com esses títulos desde

a morte de seu pai, Rei Jorge VI, em 1952. É atual-

mente a chefe de Estado que está no poder há mais

tempo na Europa, nas Américas, África e Oceania,

sendo a segunda no mundo, superada apenas pelo

Rei Rama IX da Tailândia. No Reino Unido, seu rei-

nado passou pelo governo de dez diferentes primei-

ros-ministros. É casada com Filipe, Duque de Edim-

burgo, e é mãe do príncipe herdeiro ao trono britâni-

co, Charles, Príncipe de Gales. Fonte: Wikipedia

(2007)

Tô afim de saber

Figura 8: Luís XIV

Figura 9:Rainha Elizabeth II

Page 37: Ciencia Politica[1]

37Período 1

UNID

ADE

1As variações a que se refere o autor lhe permitem diferenciar as “Repúblicasantigas” (Grécia e Roma) das “Repúblicas modernas” (cujos países precurso-res são França, após 1789, e Estados Unidos, após 1776). Nos parece que oelemento unificador das várias formas republicanas está numa forma deorganização política regida pelo império da Lei. O modelo republicano temsido objeto de uma grande retomada na teoria política contemporânea. Paraum balanço dessa discussão, ver Cardoso na obra Retorno aorepublicanismo; e também Starling (2006) no livro Reforma Política, disponí-vel em: http://www.democraciaparticipativa.org/files/livro_reformaPol.pdf.

Autoritarismo

Seguindo o critério de Giddens (2005, p. 344), o autoritarismosurge como um segundo modelo de sistema político contemporâneo.Nesse caso, há uma forma de organização política em que as

necessidades e os interesses do Estado ganham prioridade so-bre os dos cidadãos comuns, e nenhum mecanismo legal deresistência ao governo, ou para remover um líder do poder, érestituído.

Apesar de quase um terço dos países do mundo estar organiza-do de forma autoritária, um fato digno de nota é que a democraciatem se tornado a forma dominante de organização política. Vejamos,então, alguns aspectos centrais da democracia.

Democracia

Democracia significa, no seu sentido etimológico, essencialmen-te “o governo do povo”. Porém, como vários autores já apontaram(HELD, 1987; GIDDENS, 2005), os significados dessas expressõessofreram profundas alterações ao longo dos séculos. Como destacaGiddens (2005), a idéia de governo do povo depende das formas comoesse conceito é interpretado e praticado. Como exemplo, cita que aexpressão “o povo” pode ser interpretada de formas diversas, poden-do significar desde os “donos de propriedades” (como foi em boa par-te da história), até “homens brancos” (como, por exemplo, na Áfricado Apartheid), homens, mulheres e adultos (a idéia de povo nas de-mocracias contemporâneas) (GIDDENS, 2005, p. 343).

Ainda de acordo com Giddens (2005), o formato da democra-cia existente em cada sociedade é resultado de como seus valores e

EtimologiaEtimologiaEtimologiaEtimologiaEtimologia – parte da gra-

mática que trata da origem

e formação das palavras.

Fonte: Priberam (2007)

Page 38: Ciencia Politica[1]

38 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1 suas metas são compreendidos e priorizados e das conseqüentes es-colhas institucionais (e constitucionais). Nas palavras desse autor:

A democracia é geralmente vista como o sistema político maiscapaz de assegurar a igualdade política, de proteger a liberda-de e os direitos, de defender o interesse comum, de satisfazeràs necessidades dos cidadãos, de promover oautodesenvolvimento moral e de permitir uma tomada de de-cisões eficaz que leve em consideração os interesses de todos(HELD, 1996). O peso que se confere a essa diversidade demetas pode influenciar no fato de a democracia ser, ou não,considerada, antes de mais nada, uma forma de poder popu-lar (governo e regulação autônomos), ou ainda ela ser, ounão, vista como uma estrutura de apoio a outros na tomadade decisões (como um grupo de representantes eleitos)(GIDDENS, 2005, p. 342-344).

Importante!

Discutir o problema da democracia, de forma aprofundada,envolveria abordar o tema desde a Antigüidade grega, quando surgeessa forma de organização política, no Século VIII a.C., até sua con-formação nas sociedades contemporâneas. Isso foge aos nossos obje-tivos nesse material didático.

Dentre as várias modalidades em que a democracia pode seapresentar, Giddens (2005) destaca duas: a democracia participativae a democracia representativa.

Quanto à democracia participativa “as decisões são tomadasem comunidade por aqueles que são afetados por elas”. (GIDDENS,2005, p. 344). Em termos de sociedades modernas, os espaços para oexercício desse tipo de democracia são bastante limitados, tendo emvista problemas como a complexidade das decisões e o tamanho dasorganizações políticas. Exemplo: como implementar uma democraciaparticipativa numa sociedade como a brasileira, que tem 180 milhõesde habitantes? Como fazer para a população decidir sobre a maioriados assuntos relevantes?

Todavia, mesmo reconhecendo os limites desse formatoinstitucional de democracia, é possível verificar sua aplicação em vá-rios espaços. Giddens (2005) cita o exemplo das Comunidades deNew England, situada no nordeste dos EUA, que dão continuidade àprática das reuniões municipais anuais, quando a população reú-

vPara os que tiverem

interesse em se

aprofundar na discus-

são, remetemos a obra

de Held, Modelos de

democracia (1987) .

Ver também o excelen-

te trabalho de Sell, In-

trodução à Sociologia

Política (2006).

Page 39: Ciencia Politica[1]

39Período 1

UNID

ADE

1ne-se em dias marcados para deliberar a respeito de questões locais.Outro caso citado pelo autor é o emprego dos plebiscitos, nos quais opovo expressa sua opinião sobre questões específicas. Temos, comoexemplo, os plebiscitos realizados na Europa sobre a adesão ou nãode países à União Monetária Européia. No Brasil, tivemos o exemplodo plebiscito de 1992, em que a população decidiu sobre o país retornarao regime monárquico ou manter-se como República e quanto ao siste-ma de governo, no caso, o parlamentarismo ou presidencialismo. Comose sabe, a população decidiu por uma República Presidencialista. Ain-da em termos de Brasil, há outras formas de exercício da democraciaparticipativa, como os referendos e a iniciativa popular legislativa.Um dos exemplos mais bem-sucedidos desse tipo de democracia emnosso país tem sido a prática dos Orçamentos Participativos, em quea população é chamada para decidir sobre os destinos dos recursospúblicos de municípios e estados, bem como os casos de ConselhosGestores de Políticas Públicas.

Feitas essas considerações gerais sobre a democraciaparticipativa, vamos ver agora algumas dimensões daquela que é aforma de organização mais típica dos regimes democráticos contem-porâneos. Estamos nos referindo aqui à democracia representativa.

Nesse modelo “as decisões que afetam a comunidade não sãotomadas pelo conjunto de seus membros, mas pelas pessoas que eleselegeram para essa finalidade” (GIDDENS, 2005, p. 344).

O modelo da democracia representativa se expressa por meiode eleições que são disputadas por partidos políticos, nas quais, emgeral, os eleitores são a população adulta do país. Outros elementosutilizados para que uma democracia seja minimamente caracterizadacomo representativa são (DAHL, 1998):

a existência de cargos eleitos;

eleições livres, periódicas e imparciais;

liberdade de expressão;

liberdade de informação; e

direito de livre associação.

A existência dessas regras condiciona a existência da demo-cracia representativa, que se materializa em diferentes formatosinstitucionais, dependendo da articulação verificada quanto a suasregras internas. Dentre tais regras, podemos verificar uma série dediferenças internas entre os países.

Pleb isc i toP leb isc i toP leb isc i toP leb isc i toP leb isc i to – des igna o

voto expresso diretamente

pelo povo a respeito de uma

proposta, lei ou resolução,

que lhe é submetida; deci-

são do povo sobre um pro-

blema específico. Teorica-

mente, o plebiscito é a forma

perfeita da democracia dire-

ta. Fonte:

www.democracia.com.br

vPara verificar como es-

ses institutos apresen-

tam-se no Brasil, veja

os trabalhos de autoria

de Maria Victór ia

Benevides (1991),

Benevides (2003, p.

83-119) e o livro orga-

nizado por Leonardo

Avr i tzer e Fát ima

Anastasia (2006).

Page 40: Ciencia Politica[1]

40 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1 Veja algumas das principais características institucionais queas modernas democracias podem assumir.

Um primeiro elemento (e talvez o mais importante) da demo-cracia representativa é o “voto”, que se expressa através do mecanis-mo do sufrágio universal. Esse elemento materializa um dos pressu-postos centrais do liberalismo, quanto à igualdade de condições, quese expressa na fórmula: “um cidadão, um voto”.

A maioria das democracias contemporâneas reconhece o su-frágio universal, onde todos os cidadãos, adultos, de um país têm odireito ao mesmo. Em algumas democracias, o voto é tratado comoum direito e uma obrigação (como, por exemplo, no Brasil para osmaiores de 16 anos e menores de 65 anos). Em outras democracias, éconsiderado um direito facultado aos cidadãos, que podem escolherentre o ato de votar ou não (como os Estados Unidos, por exemplo).Temos aí, então, uma primeira diferença institucional no funciona-mento das democracias representativas.

As demais diferenças institucionais existentes nas democracias re-presentativas estão relacionadas principalmente ao sistema eleitoral, aosistema partidário e ao sistema de governo. Vamos ver cada uma delas.

Sistemas eleitorais

Em primeiro lugar, vamos discutir o que é um sistema eleitoral.Na definição de Nicolau (2001, p. 10) os sistemas eleitorais “são osmecanismos responsáveis pela transformação dos votos dados peloseleitores no dia das eleições em mandatos (cadeiras no Legislativo ouna chefia do Executivo)”. Tais mecanismos se materializam atravésdas diferentes legislações eleitorais adotadas pelos países.

Existem, segundo Nicolau (2001, p. 10), diversas tipologiasclassificatórias dos sistemas políticos, mas há um certo consenso queestas podem ser divididas em duas “macrofamílias”. São elas, a re-presentação proporcional e a representação majoritária. Paraeste autor, a diferença básica entre os dois modelos de sistema estárelacionada fundamentalmente aos seus propósitos: a divisão entreduas grandes “famílias” é meramente didática. Na verdade, as varia-ções são bem mais diversas. Uma análise detida dos vários sub-tiposde sistemas eleitorais pode ser encontrada em sua obra citada (2001)e em Tavares (1994):

os sistemas majoritários têm como propósito fundamental ga-rantir a eleição dos(s) candidato(s) com maior (es) contingente (s)

SSSSSufrágio universalufrágio universalufrágio universalufrágio universalufrágio universal – É o

processo através do qual

uma democracia outorga o

mandato político a seus re-

presentantes. Consiste em

consulta à opinião da co-

letividade, cuja resposta se

compõe de votos individu-

ais. O sufrágio universal

consta como um dos pon-

tos da Declaração Univer-

sal dos Direitos Humanos,

das Nações Unidas. Fonte:

www.democracia.com.br

vConforme vamos

ver na Unidade 2

Page 41: Ciencia Politica[1]

41Período 1

UNID

ADE

1de votos; os sistemas proporcionais tencionam distribuir ospostos em disputa de maneira equânime à votação obtidapelos competidores. Os defensores da representação majoritá-ria salientam a capacidade desta de produzir governosunipartidários, uma capacidade maior de controle dos repre-sentantes pelos representados e a representação territorial. Jáos defensores da representação proporcional destacam a ca-pacidade de se produzir uma relação equânime entre votos ecadeiras e a necessidade de o parlamento garantir a represen-tação de minorias (NICOLAU, 2001, p. 10).

Você pode perceber que, por trás dessas variações, estão propó-sitos diferenciados: representar os vários interesses e grupos existentesna sociedade (modelo proporcional) ou garantir a governabilidade (for-mar governos – modelo majoritário).

Veja alguns exemplos de países e sua classificação (Quadro 1)quanto aos sistemas eleitorais em suas eleições para a Câmara baixa(equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil).

MAJORITÁRIOS

PROPORCIONAIS

Bangladesh, Canadá, Estados Unidos, Índia, Malavi, Nepal,Paquistão, Reino Unido, Zâmbia, França, Austrália, Tailândia

África do Sul, Argentina, Áustria, Bélgica, Bulgária, Chile,Colômbia, Costa Rica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, Grécia

Quadro 1: Exemplos de países e sua classificação quanto aos sistemaseleitorais

Fonte: Nicolau (2001, p. 11-12)

Não vamos aqui analisar o problema do sistema eleitoral emseus detalhes, mas cabe destacar que esse é um dos temas de funda-mental importância no desempenho das democracias (Sobre o tema,ver LIJPHART, 2003). Além disso, se reveste de particular importân-cia entre nós brasileiros, pois no atual debate sobre reforma políticatem sido um dos principais temas da agenda. A propósito, você sabequal o modelo de sistema eleitoral prevalecente no Brasil?

No Brasil, adota-se a representação proporcional para os car-gos de Vereador, Deputado Estadual e Deputado Federal, e a repre-sentação majoritária para os cargos de Prefeito, Senador (Cada esta-do possui, igualmente três senadores, com mandatos de oito anos.As eleições elegem, alternadamente, um e dois senadores.) e Presiden-te da República. Em outras palavras, a fórmula eleitoral adotada noBrasil prevê que para os cargos do Legislativo, com exceção do Sena-

Page 42: Ciencia Politica[1]

42 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

1 do, cada partido será representado de acordo com sua votação. Alémdisso, existe a proporcionalidade da representação dos estados noâmbito da Câmara dos Deputados, sendo que São Paulo tem o maiornúmero de representantes, com 70, e os estados com menor númerotêm 8 cadeiras. Já no âmbito do Senado e dos cargos do Poder Exe-cutivo (Prefeito, Governador e Presidente), o que vale é a regra majo-ritária (o mais votado é eleito). Nos cargos para Presidente, Governa-dor e para cidades com mais de 200.000 eleitores, adota-se ainda aregra dos dois turnos, caso nenhum dos candidatos em disputa tenhaobtido mais de 50% dos votos válidos na primeira votação.

Saiba mais...A caracterização do sistema eleitoral no Brasil foi bastante parcial. Nãoabordamos alguns aspectos centrais do mesmo, como a questão do sistemade listas, as coligações, etc. Para uma análise dessas questões pesquisenovamente o trabalho de Nicolau (2001), Sistemas eleitorais.

Não existe consenso quanto ao melhor sistema eleitoral, bem como sobrequal deles é mais apropriado para cada tipo de sociedade. Como já destaca-do, existe um grande debate no Brasil sobre o tema, que está no bojo dadiscussão sobre reforma política. Para aqueles que quiserem se informar maissobre o assunto, sugerimos uma leitura do livro A reforma política no Brasil.de Avritzer e Anastasia, (2006).

Sistema partidário

Na maioria das democracias, os representantes, são eleitos porpartidos políticos, os quais podem ser definidos como “uma organiza-ção voltada para a conquista do controle legítimo do governo por meiodo processo eleitoral” (GIDDENS, 2005, p. 351).

Os partidos políticos podem ser compreendidos através de umatripla função: em primeiro lugar, eles agregam interesses, ou seja, teo-ricamente deveriam ser canais de junção dos interesses dos váriosgrupos existentes numa determinada sociedade. Diante de sociedadescomplexas e multifacetadas, os partidos seriam canais de expressãodos vários projetos de sociedade em disputa. Uma segunda função éa representativa, onde, após a junção dos interesses e formulação deuma linha programática, eles levam tal projeto para o Estado. Por fim,os partidos desempenham funções governativas, quando, através davitória numa disputa eleitoral, lhes é conferido exercer as funções degoverno numa determinada sociedade.

Page 43: Ciencia Politica[1]

43Período 1

UNID

ADE

1O que apresentamos no parágrafo anterior pode ser definidocomo uma tipologia ideal dos partidos políticos, onde os mesmos teriamideologias, programas e exerceriam mandatos na condição deformuladores e executores de tais projetos. A realidade das democra-cias não é bem assim. Existe um grande debate, em todo o mundo,sobre a “crise dos partidos políticos”, que tem apontado para umalimitação estrutural dos mesmos para executar as funções delineadasacima, nas condições do mundo contemporâneo.

No caso do Brasil, é conhecida a histórica debilidade dos par-tidos políticos. Tivemos ao longo de nossa história seis sistemas parti-dários diferentes. O Quadro 2 apresenta os cinco primeiros sistemaspartidários. O atual sistema inicia-se a partir de 1982 (ano da primeiraeleição com o novo sistema partidário), tendo como principais partidospolíticos: PFL (hoje DEM), PP, PTB, PL, PRONA, PSD, PST, PSC, PSL,PSDC, PMDB, PSDB, PMN, PT, PSB, PDT, PPS, PCdoB e PV.

vSobre o tema, ver

Baquero, na obra A

crise dos partidos e

a vulnerabilidade

da democracia na

América Lat ina

(2001).

Quadro 2: Os cinco primeiros sistemas partidáriosFonte: Sell (2006, p. 165-166)

1) Partido Conservador

2) Partido Liberal

3) Partido Republicano (1870)

REPÚBLICA VELHA (1889 – 1930)

Partidos Republicanos estaduais (partido único, com divisões estaduais)

Em 1922 é fundado o 1° partido de massas brasileiro: o PCB (Partido ComunistaBrasileiro)

PERÍODO GETULISTA (1930 – 1945)

Em boa parte do período, os partidos políticos são proibidos. Porém surgem duasorganizações importantes:

1) AIB (Ação Integralista Brasileira): direita facista

2) ANL (Aliança Nacional Libertadora): esquerda marxista

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA POPULISTA (1946 – 1964)

O Brasil apresenta um sistema partidário com feições modernas, com os seguin-tes partidos:

Os principais partidos deste período são:

1) UDN: União Democrática Nacional

2) PSD: Partido Social Democrático

3) PTB: Partido Trabalhista Brasileiro

4) PCB: Partido Comunista Brasileiro (1945-1947)

IMPÉRIO (1822 – 1889)

Page 44: Ciencia Politica[1]

44 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1

Além da descontinuidade quanto ao número de sistemas, nos-sos partidos são considerados frágeis em termos programáticos e ide-ológicos, com pouca base social e com baixa capacidade de transfor-mar as demandas da sociedade em políticas estatais (MAINWARING,2001). Além do mais, são conhecidos os problemas quanto ao “troca-troca” de partidos, conhecido na literatura por “migração partidária”(MELO, 2003).

Para se ter um exemplo, entre 1985 e 2001, 846 parlamentaresmudaram de partido político na Câmara dos Deputados (MELO, 2003,p. 322). Outro problema é quanto ao número de partidos. Temos umsistema partidário excessivamente fragmentado (derivado do grandenúmero de partidos em disputa e representados no âmbito do parla-mento). Para se ter um outro exemplo, em 2002 existiam 19 partidoscom representação na Câmara dos Deputados. Esse conjunto de ques-tões faz com que exista uma baixa identificação da população com ospartidos políticos e também que eles sejam uma das instituições con-sideradas menos confiáveis pela população brasileira, conforme podeser constatado em vários tipos de pesquisa.

Apesar desse conjunto de limitações dos partidos políticos bra-sileiros, apontadas pela literatura, deve-se destacar alguns trabalhosrecentes, como os de Figueiredo e Limongi (1999) e Rodrigues (2002),que têm apontado para uma dinâmica de funcionamento do sistema par-tidário no país muito mais estruturada do que é comumente apresentado

Quadro 2: Os cinco primeiros sistemas partidáriosFonte: Sell (2006, p. 165-166)

Os outros partidos deste período são:

5) PTN: Partido Trabalhista Nacional

6) PST: Partido Social Trabalhista

7) PRT: Partido Republicano Trabalhista

8) MRT: Movimento Trabalhista Renovador

9) PR: Partido Republicano

10) PSP: Partido Social Progressista

11) PDC: Partido Democrata Cristão

12) PRP: Partido de Representação Popular

13) PL: Partido Libertador

14) PBV: Partido da Boa Vontade

DITADURA MILITAR (1966 – 1979)

Pelo AI n. 02 foram extintos os partidos anteriores e criados:

1) ARENA: Aliança Renovadora Nacional

2) MDB: Movimento Democrático Brasileiro

vVer, entre outros, os

trabalhos Os brasilei-

ros e a democracia

(MOISÉS, 1995), A

crise dos partidos e a

vulnerabilidade da de-

mocracia na América

Latina (BAQUERO,

2001) e Democracia

brasileira e cultura po-

lítica no Rio Grande do

Sul (BAQUERO E PRÁ,

2007).

Page 45: Ciencia Politica[1]

45Período 1

UNID

ADE

1pelos meios de comunicação e pela maioria dos estudos. Para além davisão desses autores, o importante a destacar é que, apesar dos limitesvisualizados quanto à dinâmica dos partidos políticos no Brasil e no mundo,eles constituem uma instituição que é fundamental para a sobrevivênciada democracia. Somente através deles é possível existir a democracia, demodo que alguns autores os consideram os atores principais do jogo po-lítico democrático (BOBBIO, 1986).

Sistema de governo

No plano dos sistemas de governo, as mo-dernas democracias se organizam, em geral, emtorno de duas grandes “famílias”: os regimespresidencialistas e os parlamentaristas.

Presidencialismo: o Presidenteexerce a dupla função, de chefe deEstado e chefe de governo. Em geral,é eleito via eleição popular e não podeser demitido (destituído do cargo) du-rante o mandato, exceto em casos deimpedimento de mandato, como foio caso do Presidente Collor em 1992.

Parlamentarismo: conforme Sartori(1996), o parlamento é soberano.Existe uma partilha de poder entre oExecutivo e o Legislativo, existindo,em geral, um chefe de governo e um chefe de Estado. Paraalém dessa classificação ampla, existem modelos mistos,definidos por Sartori (1996) como “semipresidencialistas”.

Veja no Quadro 3 as diferenças básicas entre os dois modelosde sistema de governo:

Fernando Affonso Collor de Mello

Conhecido simplesmente como Fernando Collor,

(1949). Empresário e político brasileiro, foi o pri-

meiro presidente da República eleito pelo voto

direto após o Regime Militar, em 1989, tendo

governado o Brasil entre 1990 e 1992. Seu go-

verno foi marcado pelo Plano Collor, pela abertu-

ra do mercado nacional às importações e pelo

início do Programa Nacional de Desestatização.

Renunciou ao cargo em razão de um processo de

impeachment fundamentado em acusações de

corrupção. Teve seus direitos cassados por 8 anos

e só foi eleito para cargo público novamente em

2006, tomando posse como senador por Alagoas

em 2007. Fonte: www.collor.com (2007).

Tô a fim de saber

Page 46: Ciencia Politica[1]

46 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

1

Quadro 3: Diferenças básicas entre os dois modelos de sistema de governoFonte: adaptado de Cintra (2004)

Verifica-se uma grande discussão nocampo das análises dos sistemas de governo,sobre qual deles seria preferível, em termos dedesempenho. Estudos comparados sobre váriospaíses não chegaram a conclusões definitivasquanto a relação entre sistema de governo, esta-bilidade política e desempenho macro-econômi-co (LIJPHART, 2003).

No Brasil, que já adotou o parlamenta-rismo no contexto da crise política advinda darenúncia de Jânio Quadros em 1961 (CINTRA,2004), tivemos uma discussão extremante fortesobre o tema no contexto do plebiscito sobre osistema de governo, realizado em abril de 1993.Nesse contexto, nos foi dada a oportunidade deacompanhar defensores dos dois modelos. Aofinal, ganhou a opção presidencialista.

Por fim, deve-se destacar que trabalhosrecentes, como os de Figueiredo e Limongi

(2005), questionam, inclusive, a validade das distinções entre presi-dencialismo e parlamentarismo, pois mais importante do que a opçãopor um ou outro modelo seriam as regras que regem a relação entre ospoderes Executivo e Legislativo.

PRESIDENCIALISMO

Chefe de Estado e Chefede Governo

Presidente eleito poreleição popular

Fixo para o presidente epara o parlamento

Designada pelo Presiden-te, sendo responsávelperante ele (Ministério)

PARLAMENTARISMO

Chefe de Estado. O chefe degoverno é o primeiro ministro

Através do parlamento, de suamaioria, formada por um parti-do ou coalizão

Flexível. O governo dura en-quanto conta com a confiançado parlamento; faltando confi-ança, o governo cai. O parla-mento também pode ser dissol-vido antes do término dalegislatura, convocando-senovas eleições

Parlamento determina, emgeral, a composição ministerial

P res iden tePres iden tePres iden tePres iden tePres iden te

Forma deForma deForma deForma deForma dee l e i çãoe l e i çãoe l e i çãoe l e i çãoe l e i ção

MandatoMandatoMandatoMandatoMandato

Equipe deEquipe deEquipe deEquipe deEquipe degove rnogove rnogove rnogove rnogove rno

Jânio da Silva Quadros (1917-1992)

Político e o décimo-sétimo presidente do Brasil.

Seu lema durante a campanha à presidência da

República era "varrer a corrupção", alcançando

grande popularidade. Tomou posse em janeiro de

1961, renunciando sete meses depois, alegando

sofrer pressão de "forças terríveis", ato que teria

sido apenas uma manobra estratégica adotada

por ele. Seu governo foi caracterizado por uma

política interna conservadora de combate à infla-

ção e por ações externas progressistas de aproxi-

mação com países de regime socialista. Em 1964,

teve seus direitos políticos cassados pelo Regime

Militar. Em 1982, perdeu a disputa pelo governo

paulista, mas conseguiu sua última vitória políti-

ca em 1985, quando foi eleito prefeito de São

Paulo. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

Page 47: Ciencia Politica[1]

47Período 1

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ADE

1Com essas considerações gerais, tivemos a oportunidade devisualizar algumas opções institucionais disponíveis nas modernasdemocracias. Outras opções também são de suma importância. Porexemplo, podemos citar a opção entre um Estado Unitário,Confederativo e um Estado Federativo.

Com relação ao Federalismo, Lijphart (2003, p. 214) afirmaque “[...] é em geral descrito como uma divisão espacial ou territorialdo poder, em que as unidades componentes são definidasterritorialmente”. No Federalismo as atividades de governo são divididasentre os governos regionais e o governo central, existindo uma Constitui-ção única para todo o território, com autonomia política para seus entes.

De maneira contrária, os Estados unitários não apresentamdivisão territorial ou espacial do poder. A soberania, nesse caso, éuna e indivisível. Os Estados Unitários são, dessa forma, organizadosde forma centralizada. Já os Estados Confederados são uma junção de“unidades independentes territorialmente” (ABRÚCIO, 2003, p. 229).

O Quadro 4 apresenta a relação dos países federativos e quasefederativos existentes no mundo.

PAÍS

Argentina

Austrália

Áustria

Bélgica

Brasil

Canadá

Ilhas Comoros

Etiópia

Alemanha

Índia

Malásia

México

Micronésia

Nigéria

Paquistão

Rússia

Ilha de Saint Kittse Nevis

ENTES FEDERATIVOS E TERRITÓRIOS VINCULADOS À UNIÃO

22 províncias + 1 território nacional + 1 distrito federal

6 estados + 1 território + 1 capital federal + 7 administra-ções territoriais

9 Länder

3 regiões + 3 comunidades culturais

26 estados + 1 distrito federal + 5.507 municípios

10 províncias + 3 territórios + organizações aborígenes

4 ilhas

9 estados + 1 área metropolitana

16 Länder

25 estados + 7 territórios da União + 260 mil governos locais

13 estados

31 estados + 1 distrito federal

4 estados

36 estados + 1 território federal

4 províncias + 6 áreas tribais + 1 capital federal

89 repúblicas e 22 regiões

2 ilhas

Quadro 4: Relação dos países federativos existentes no mundoFonte: Abrúcio (2003, p. 233)

Page 48: Ciencia Politica[1]

48 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

1

Quadro 4: Relação dos países federativos existentes no mundoFonte: Abrúcio (2003, p. 233)

Como você sabe, a organização política do Brasil está organi-zada sob o Federalismo. Somos uma República Federativa. A configu-ração de nossa federação sofreu várias alterações ao longo da histó-ria, culminando com o modelo implementado na Constituição Federalde 1988, que teve como marca central a descentralização.

Saiba mais...A evolução da federação brasileira e suas relações com o tema da reformapolítica podem ser analisadas em Abrúcio no artigo Reforma política efederalismo, da obra Reforma política e cidadania (BENEVIDES, M. V;VANUCCHI, P.; KERCHE, F., 2003) e no livro organizado por LeonardoAvritzer e Fátima Anastásia, A reforma política no Brasil (2006).

E a reforma política?

Sistema eleitoral proporcional para alguns cargos, majoritáriopara outros, multipartidarismo, Presidencialismo e Federalismo. Essassão algumas das principais características institucionais da democra-cia brasileira. São elas que definem a forma institucional como seestrutura a política no Brasil. Para além da análise dessas variáveis deforma isolada, deve-se destacar que cada uma exerce impactos sobreas demais. É da conjugação delas que irão se definir as característi-cas básicas do sistema político brasileiro, suas possibilidades e limitesem termos de estabilidade política e desempenho econômico. Alguns

PAÍS

África do Sul*

Espanha*

Suíça

Emirados Árabes

Estados Unidos

Venezuela

Iugoslávia

ENTES FEDERATIVOS E TERRITÓRIOS VINCULADOS À UNIÃO

9 províncias

17 regiões autônomas

26 cantões

7 emirados

50 estados + 2 entes associados + 130 nações indígenasdependentes da União

20 estados + 2 territórios + 1 distrito federal + 2 depen-dências federais + 72 ilhas

2 repúblicas

(*) Espanha e África do Sul são quase-federações.

Page 49: Ciencia Politica[1]

49Período 1

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ADE

1estudiosos dizem que vivemos no “pior dos mundos”, que essa conju-gação institucional é nefasta. Outros dizem que tal configuração é amais indicada para nossa realidade e que é possível produzirgovernabilidade e democracia através desse arranjo institucional.Aqueles que não estão satisfeitos, apostam em amplas reformas po-líticas como solução aos problemas nacionais. Já os que acham quenossas instituições funcionam, preferem reformas pontuais. E você,como se posiciona com relação a essas questões?

Saiba mais...O livro de Avritzer e Anastasia está disponível em http://www.democraciaparticipativa.org/files/livro_reformaPol.pdf. O material estádisponibilizado, também, no Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem.

Sobre a história do Federalismo no Brasil, suas características e problemas,ver Costa, V. Federalismo. In: AVELAR, L. & CINTRA, A. O. Sistemapolítico brasileiro: uma introdução. Rio de Janeiro: Fundação KonradAdenauer e São Paulo: UNESP, 2004.

Sobre o tema do voto, ver o interessante trabalho de: PORTO, Costa.Dicionário do Voto. Brasília: UNB, São Paulo: Imprensa Oficial, 2000.

Sobre a questão do voto obrigatório no Brasil, ver o artigo de Renato JanineRibeiro, disponível no livro organizado por Leonardo Avritzer e FátimaAnastasia. Disponível em: http://www.democraciaparticipativa.org/files/livro_reformaPol.pdf.

Sobre a composição do eleitorado brasileiro, ver Mônica Castro (2004, pp.285-293): Eleitorado brasileiro: composição e grau de participação. In:AVELAR, L. & CINTRA, A. O. Sistema político brasileiro: uma introdução.Rio de Janeiro: Fundação Konrad Adenauer e São Paulo: UNESP, 2004

Sobre a teoria dos partidos existe uma vasta literatura. Para uma didáticaapresentação, ver SELL. Introdução à Sociologia Política. Petrópolis: Vozes,2006.

Você encontrará detalhes sobre as regras eleitorais no Brasil, bem como asdiscussões sobre reforma, em Nicolau (2003, p. 201-224) e em Nicolau(2006). Disponível em: <http://www.democraciaparticipativa.org/files/livro_reformaPol.pdf>

A fórmula para a transformação do número de votos em vagas parlamenta-res no Brasil encontra-se devidamente explicada em: NICOLAU. Sistemaseleitorais. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2001. p. 37-41, que pode também serencontrada para pesquisa e melhor compreensão no site: www.tse.gov.br.

Page 50: Ciencia Politica[1]

50 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

1 rRRRRResumindoesumindoesumindoesumindoesumindoA Unidade 1 tratou, num primeiro momento, de uma de-

finição mínima de política, afirmando que ela está diretamente

associada ao fenômeno do poder. Isto nos levou também à ne-

cessidade de definir e classificar tal fenômeno. Num segundo

momento, definimos a Ciência Política como um tipo de conhe-

cimento dedicado ao estudo do fenômeno do poder político, para

em seguida tratar dos sistemas políticos e suas respectivas clas-

sificações. Aí, vimos a diferenciação entre democracia,

autoritarismo e monarquia. Tratamos de forma detalhada da or-

ganização institucional das democracias, bem como suas ca-

racterísticas no Brasil. E finalizamos com uma discussão sobre

reforma política.

Page 51: Ciencia Politica[1]

51Período 1

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ADE

1AAAAAtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprendizagemendizagemendizagemendizagemendizagem

A Unidade 1 traçou considerações importantes so-bre política, poder e sistemas políticos, entre ou-tros. É importante que você tenha tido boa com-preensão da discussão. Para certificar-se que en-tendeu, procure resolver as atividades propostas.Caso tenha ficado alguma dúvida, faça umareleitura cuidadosa dos conceitos ainda não bementendidos ou, se achar necessário, entre em con-tato com seu tutor.

1. Com base na discussão sobre o conceito de política visto

nesta Unidade, descreva os pr incipais espaços

institucionais e não institucionais para seu exercício no

Brasil de hoje.

2. Identifique formas de manifestação dos três tipos de poder

(poderes políticos, econômicos e ideológicos) no mundo

contemporâneo.

3. Tomando por base a discussão sobre a democracia e suas

instituições, descreva os pontos principais da democracia,

a partir do material da apostila e da bibliografia comple-

mentar, e caracterize os elementos centrais do sistema elei-

toral, do sistema partidário e do sistema de governo adota-

do no Brasil.

Page 52: Ciencia Politica[1]
Page 53: Ciencia Politica[1]

Objetivo

Nesta Unidade, você vai desenvolver algumas

considerações teóricas e históricas sobre os sistemas

políticos, destacando suas possíveis interfaces com

o universo das organizações.

2UNIDADESistema político

clássico econtemporâneo esuas influências empolíticas empresariais

Page 54: Ciencia Politica[1]

54 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2

Page 55: Ciencia Politica[1]

55Período 1

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ADE

2A história das idéias e dasinstituições políticas

Caro estudante!

Você já parou para pensar sobre o que é um siste-ma político? Como o sistema político se desenvol-veu ao longo da história? Quais as interfaces como universo das organizações?

A resposta a essas e outras perguntas você vai en-contrar ao longo desta Unidade. E então, o queestá esperando? Inicie a leitura e busque as res-postas; e não esqueça que continuamos juntoscom você!

Um primeiro aspecto a ser destacado, quando analisamos apolítica em perspectiva histórica, é que ela é resultado de um “longoprocesso [...], durante o qual ela se firmou como atividade na vidasocial dos homens” (LEO MAAR, 2004, p. 28).

Essa afirmação leva à conclusão de que a atividade políticasempre está em constante transformação, seja no plano das idéias,das práticas ou das instituições. Um exemplo disso é o fato de que,embora os partidos políticos sejam instituições fundamentais para acaracterização de nossos sistemas políticos democráticos, isso nãosignifica que eles não tenham sofrido ou venham a sofrer alteraçõesao longo da história ou mesmo que se tornem dispensáveis em futurasformas de organização política.

Veja, então, alguns importantes elementos históricos caracte-rísticos dos sistemas políticos.

Page 56: Ciencia Politica[1]

56 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

2 Atividade política de gregos e romanos

Qualquer manual de Ciência Política, quando vai tratar da his-tória (das idéias e instituições), deve iniciar pela Grécia, pelo simplesfato, como vimos na Unidade 1, de que a idéia de política surgiu naGrécia antiga, por volta do Século VI antes de Cristo. Segundo LeoMaar (2004, p. 30) a origem do termo está associada “a partir da

atividade social desenvolvida pelos homens dapolis, a ‘cidade estado’ grega”. O fato de a polí-tica, no contexto grego, ser uma “atividade soci-al” a diferenciava de outros contextos, como oda Pérsia ou do Egito, onde a atividade políticaseria “a do governante, que comandava autocra-ticamente o coletivo em direção a certos objeti-vos”. Dessa forma, conclui Leo Maar que “o quea política grega acrescenta aos outros estados éa referência à cidade, ao coletivo da polis, aodiscurso, à cidadania, à soberania, à lei” (idem).

Dois pensadores são fundamentais emqualquer referência à vida política grega: Platãoe Aristóteles. A obra desses dois pensadores foidedicada, dentre outras questões, à busca dosfundamentos de qual seria a melhor forma deorganização política das sociedades (LEOMAAR, 2004, p. 31). Nesse sentido, temos emPlatão uma aposta na virtude do governante, que

deveria conhecer “os fins da Polis”, de modo a oferecer uma luz queretirasse os súditos da “escuridão”. Já Aristóteles, principal discípulode Platão, defende a idéia de que a “política utiliza todas as outrasciências e todas elas perseguem um determinado bem, o fim que elapersegue pode englobar todos os outros fins, a ponto de este fim ser obem supremo dos homens” (idem). Em Aristóteles, temos a distinçãoentre esfera pública e esfera privada (SELL, 2006, p. 25): “a esferaprivada era governada pelo homem que tinha poder absoluto sobre osescravos a mulher e os filhos. A esfera pública deveria ter como fina-lidade o bem comum e poderia ser organizada segundo três tipos dife-rentes de governo: a monarquia, a aristocracia e a política (ou suasformas corrompidas: a tirania, a oligarquia e a democracia)” (idem).

Platão (428 a.C-347 a.C)

Nasceu em Atenas, em De pais aristocráticos e

abastados, de antiga e nobre prosápia, tempera-

mento artístico e dialético – manifestação carac-

terística e suma do gênio grego – deu, na moci-

dade, livre curso ao seu talento poético, que o

acompanhou durante a vida toda, manifestando-

se na expressão estética de seus escritos. Aos

vinte anos, travou relação com Sócrates e gozou

por oito anos do ensinamento e da amizade do

mestre. A coleção de suas obras compreende trin-

ta e cinco diálogos e um conjunto de treze car-

tas, entre elas: Apologia de Sócrates, Banquete

ou Do Bem, República – l ivros II a X –,

Parménides ou Das Formas. Fonte:

www.educ.fc.ul.pt/docentes/ (2007).

Tô a fim de saber

Page 57: Ciencia Politica[1]

57Período 1

UNID

ADE

2Um aspecto importante da experiência grega (em especial nomodelo da democracia ateniense) a ser destacado é a associação quese verifica nesse contexto entre as idéias de ética e política. A política,nesse caso, seria a própria materialização da ética, “[...] um referencialpara o comportamento individual em face do coletivo social, damultiplicidade da polis” (ibidem).

Quanto ao modelo romano, três pensadores são de fundamen-tal importância: Cícero, Políbio e Marco Aurélio. Sobre Roma, cabedestacar o fato de termos aí a experiência dapolítica como atividade “centralizada e exercidapor um Estado forte e centralizador” (LEOMAAR, 2004, p. 32). A atividade política, nessecontexto, dizia respeito à relação entre a autori-dade do governante e os direitos e deveres dosgovernados, e seria efetuada por meio do ins-trumento do direito: o Direito Romano. Por ele,garantia-se a “não-interferência do Estado napropriedade privada, nos interesses patrícios, anão-ingerência do público, coletivo, no particu-lar” (LEO MAAR, 2004, p. 33).

Saiba mais...Sobre a experiência da Democracia ateniense, ver,entre outros, Sell, Introdução à Sociologia Política(2006).

A Idade Média

A Idade Média teve como elemento cen-tral de sua organização política a associaçãoentre o poder político e a religião (HELD, 1987).Nesse contexto, de acordo com Leo Maar (2004,p. 35), presenciaria uma duplicidade do poder,sendo o político “exercido pela nobreza” e o ci-vil “exercido pelo clero religioso”. Os pensado-res mais expressivos desse contexto foram San-to Agostinho e Santo Tomás de Aquino. Este

Cícero (106 a.C.-43 a.C.)

Considerado o primeiro romano que chegou aos

principais postos do governo com base na sua

eloquência, e ao mérito com que exerceu as suas

funções de magistrado civil. No Oriente concluiu

a sua formação filosófica e retórica. Eleito côn-

sul em 62 a.C., para o exercício do ano seguinte,

conseguiu destruir a Conjuração de Catilina, ten-

do sido declarado Pai da Pátria por essa atuação

em defesa das instituições republicanas. Fonte:

http://www.arqnet.pt/portal/biografias/cicero.html

Políbio (203 a.C.-120 a.C.)

Geográfo e historiador grego, famoso pela sua

obra Histórias, escrita com o objectivo de expli-

car aos gregos as razões da ascensão de Roma,

procurando convencê-los da inevitabilidade da

aceitação do domínio romano. É também atribu-

ída a ele a invenção de um sistema critográfico

de transliteração de letras em números. Fonte:

www.biografias.netsaber.com.br

Marco Aurélio (121 a.C.-180 a.C.)

Filósofo e imperador romano. O mais nobre dos

imperadores pagãos, para muitos historiadores,

seu reinado coincidiu com a idade de ouro do

Império Romano. Considerado o último grande

estóico da antigüidade, escreveu vasta correspondên-

cia e deixou um pequeno e extraordinário livro, Recor-

dações ou Meditações, onde condensou todo seu

pensamento. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

Page 58: Ciencia Politica[1]

58 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

2 último, segundo Sell (2006, p. 25) “tentou aplicar os princípios deAristóteles à teologia cristã”.

O Renascimento e a Teoria Política Moderna

Quando se trata do pensamento e da or-ganização política da Idade Média, não se podeesquecer do Renascimento (Século XV), e nessecaso é obrigatório destacar a presença do pen-sador Nicolau Maquiavel, que marca o início deum pensamento moderno sobre a política, ondeesta aparece como uma atividade separada dareligião. Além disso, ele constrói aquilo que podeser denominado de uma teoria realista da políti-ca. Em sua famosa obra O Príncipe, esse pensa-dor formula uma série de conselhos no sentidode o soberano conquistar e manter seu poder.Numa interpretação do pensamento deMaquiavel, pode-se afirmar que, para ele, a fun-ção da política seria colocar “ordem” no mundo,a qual poderia ser interpretada como uma lutapara “conquistar”, “manter” e “conter” o poder(HELD, 1987).

Esse pensador também desenvolveu asidéias de virtude e fortuna, que apontavam nosentido de que o bom governo é aquele porta-dor da virtude, ou seja, o conhecimento e a de-dicação à coisa pública e à fortuna, que estavaassociada à dimensão do acaso, da sorte quetodo governante precisa ter para se manter nopoder. Por fim, temos em Maquiavel um concei-to de governo republicano, que seria formado,segundo Magalhães (2001, p. 46), por:

Santo Agostinho (354-430)

Filósofo e um dos maiores gênios teológicos de

todos os tempos. Suas principais obras são: Con-

fissões (400), A Cidade de Deus, Contra Faustum,

De spiritu et littera, De natura er gratia, De gratia

et libero arbitrio, De genesi ad litteram, Tratado

sobre o Evangelho de São João e De catechizandis

rudibus, cerca de 400 sermões e muitas cartas.

Fonte: www.monergismo.com

Santo Tomás de Aquino (1227-1274)

Santo e filósofo do catolicismo. Aborda questões

metafísicas, explicando o percurso da consciên-

cia humana entre a sensação e a concepção. Duas

Sumas, compõem a sua obra, a Suma teológica

e a Suma contra os gentios, que influenciam até

hoje católicos, filósofos e estudiosos. Fonte:

www.consciencia.org

Nicolau Maquiavel (1469-1527)

Historiador, diplomata e poeta italiano do

Renascimento. Tornou-se um conhecedor profun-

do dos mecanismos políticos, por conviver com

vários dirigentes políticos. Devido à sua ligação

ao governo republicano, retirou-se da vida públi-

ca. Em 1513, suspeito de envolvimento numa cons-

piração contra o novo governo, foi preso e tortura-

do. Em 1527, tentou reocupar o seu lugar na Chan-

celaria, o que lhe fora negado devido à reputação

que O Príncipe já lhe tinha rendido. Suas principais

obras são: O Príncipe (1513), A Mandrágora

(1518) e o tratado A Arte da Guerra (1519-1520).

Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

Page 59: Ciencia Politica[1]

59Período 1

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2mecanismos capazes de fazer valer a vontade da maioria eeducar os membros da comunidade para viverem de acordocom a liberdade cívica e que criem limites para o exercício dopoder arbitrário, seja ele do príncipe, da aristocracia ou dopróprio povo.

A partir do Século XVII, a grande inovação nas formas de pen-sar a política aconteceu no movimento intelectual conhecido comocontratualista. Segundo Bobbio e Bovero (1994), num sentido amplo,por contratualismo deveria se entender uma escola de pensamentopolítico europeu, surgida entre os Séculos XVII e XVIII, que colocavaos fundamentos ou a origem do poder político num contrato firmadoentre os homens. Os principais autores dessa escola foram ThomasHobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau.

Deve-se destacar que cada um desses pensadores tinha uma vi-são diferenciada sobre a melhor forma de organizar o poder político. En-quanto Hobbes defendia o modelo das monarquias absolutas, Locke eramilitante da causa da monarquia constitucional. Já Rousseau era defen-sor de um modelo republicano de organização.

O que unifica esses pensadores é o fato de colocarem a origem doEstado na vontade dos homens. A idéia do contrato pode ser vista comouma abstração, no sentido de justificar o fenômeno estatal como construídopela ação humana.

Alguns conceitos são fundamentais no vocabulário contratualista(apesar das particularidades que cada autor confere a esses conceitos):

estado de natureza: momento emque os homens vivem sem normas eregras de regulação da vida social;

direitos naturais: direitos dos se-res humanos que não são oriundosdo Estado, mas derivados da razãohumana (MAGALHÃES, 2001); e

contrato social: momento em queos homens saem do Estado de natu-reza e decidem criar o Estado comoinstituição capaz de regular a vidasocial.

Jean Jacques Rousseau (1712-1778)

Declarou-se inimigo do progresso. Para ele, o pro-

gresso das ciências e das artes tornou o homem

vicioso e mau, corrompendo sua natureza ínti-

ma. Freqüentemente se resume a tese de Rousseau

aos seguintes termos: o homem é bom por nature-

za, a sociedade o corrompe. Sua obra mais polê-

mica e discutida é O contrato social, onde ele pes-

quisa as condições de um Estado social que fosse

legítimo, que não mais corrompesse o homem.

Fonte: www.mundodosfilosofos.com.br (2007)

Tô a fim de saber

Page 60: Ciencia Politica[1]

60 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2 O Quadro 5, ajuda a ilustrar melhor essa questão:

Quadro 5: Teoria do contrato socialFonte: Sell (2006, p. 27)

Vejamos alguns aspectos da teoria política de Hobbes, Locke eRousseau. O primeiro deles, identificava no estado de natureza umasituação de guerra. Tal situação seria derivada do direito natural quetodos possuem, sobre todas as coisas, que faz com que os homensentrem em guerra uns contra os outros. Para fugir dessa situação,Hobbes identifica a origem do Estado (sociedade civil) como um cál-culo da razão, que através do “cálculo de interesses e o desejo de paz”(RUBY, 1998, p. 79) leva os homens a se associarem, formando umaassociação política dedicada à garantia da conservação da vida decada um a longo prazo:

Ela se conjura pela transferência da soberania para um só,que conserva seu direito contra todos os outros. Tal esforço depaz consolida-se no Estado, esse soberano instituído, cujo pa-pel consiste em proteger cada um, privando a todos (daí seunome, Leviatã, réplica do monstro bíblico, sob a forma de umanimal artificial), que submete cada um a concessões recípro-cas, que realiza a paz alienando cada direito natural singular(RUBY, 1998, p. 79).

O Estado, na visão de Hobbes seria fruto de um contrato desujeição, onde os homens o autorizariam a governar sem qualquertipo de limite, desde que esteja atuando para a realização dos finspara os quais foi criado. Nas palavras de Hobbes: “Uma pessoa decujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos uns comos outros, foi instituída por cada um como autora de modo a ela po-der usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerarconveniente, para assegurar a paz e a defesa comum” (Livro II, Cap.XVII, apud RUBY, 1998, p. 80).

Enquanto o Modelo Contratualista de Thomas Hobbes vai de-rivar no Estado Aboluto (sem limites), em John Locke temos a defesa

TEORIA DO CONTRATO SOCIAL

Estado de natureza

Contrato social

Sociedade civil

Estágio pré-social/Vida não civilizada

Acordo/Pacto social

Surgimento do Estado/Vida civilizada

Page 61: Ciencia Politica[1]

61Período 1

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2

!

do Estado Constitucional. Vejamos os seus argumentos. Para ele, osdireitos naturais correspondem à liberdade, igualdade e propriedade.É para garantir esses direitos que os indivíduos criam a associaçãopolítica. Ou seja, as leis devem garantir os direitos individuais e paraisso o Estado deve ter sua ação regulada por uma Constituição.

Já em Rousseau, temos a defesa do “cidadão legislador”.Ele analisa o surgimento do Estado em dois momentos. Um primeiro,que pode ser denominado de “falso contrato”, onde se instaura umaassociação política destinada a perpetuar as desigualdades que sur-gem da instituição da propriedade privada. Já o segundo, o “verda-deiro” contrato, nasce do momento em que os homens decidem colo-car os seus destinos nas suas próprias mãos, através da colocação dasoberania nas mãos do povo. Nas palavras de Ruby (1998, p. 82-83):

[...] Cada um contrata consigo mesmo, assim como com ocorpo social (o todo), do qual, cada um é membro indivisível.Princípio fundador do exercício da soberania democrática, opovo soberano não se identifica a uma multidão demográfica,mas percebe-se como um no ato de alienação (positiva) peloqual cada um, unindo-se a todos, não obedece senão a simesmo (I, 6), e encontra sua verdadeira liberdade na obediên-cia à lei que deseja.

Para além desse universo conceitual, o que deve serretido na análise dos pensadores acima é o fato deque temos aí a construção de uma teoria da política,em que esta é vista como produto da vontade dos ho-mens, os quais têm direitos (os direitos naturais); e afunção do Estado é protegê-los. Dessa afirmação deri-va a idéia de que com os contratualistas surgiram asprimeiras construções intelectuais sobre o Estado limi-tado, seja no campo de suas funções, seja no campode seus poderes.

Conforme a avaliação de Sell (2006, p. 28), a grande diferençaentre a teoria política contratualista e as teorias políticas anteriores foia inclusão do problema dos fundamentos do poder e da legitimidade dopoder político. Em outras palavras, foi perguntar, por que as pessoasdevem obedecer à autoridade política? Quais os seus fundamentos?

Page 62: Ciencia Politica[1]

62 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

2 A temática do Estado limitado em seus poderes e funções, quejá está presente nos contratualistas, foi ampliada por outros pensado-res, como o Barão de Montesquieu, John Stuart Mill e Adam Smith.

Esses pensadores podem ser enquadrados na tradição do libe-ralismo, que justamente tem como princípio a defesa de que o Estadodeve ter funções delimitadas, seja no campo de seus poderes (libera-lismo político), seja no campo de suas funções (liberalismo econômi-co). A idéia do cidadão como sendo possuidor de direitos invioláveis,

como a vida ou a propriedade, é argumento deorigem tipicamente liberal, assim como tambémo é a defesa de que o Estado deve ter suas fun-ções limitadas para garantir o funcionamentodo mercado, pois este resolveria os problemasde geração do bem-estar coletivo, por meio damão invisível (BOBBIO; BOVERO, 1994).

Em autores como Montesquieu e JohnStuart Mill, temos a defesa do Estado limitadoem seus poderes, ou seja, a questão central desuas reflexões é como garantir que o poder doEstado não se torne absoluto. Para isso, o primei-ro deles defendeu a idéia de que a melhor maneirade limitar o poder estatal é por sua divisão em três:os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.Dessa forma, cada um deles teria funções delimi-tadas e seria exercido por pessoas distintas, funci-onando como um sistema de pesos e contra-pe-sos, cada um controlando os demais. O objetivoda teoria da “tripartição de poderes” seria a liber-dade política (RUBY, 1998, p. 82), cujo fundamen-to seria “(...) um poder exercido 'pelas' leis e nãosegundo as leis” (RUBY, 1998, p. 82).

É fundamental destacar que a teoria da tripartição de poderesde Montesquieu deriva de sua teoria das formas de governo, onde cadagoverno tem sua mola propulsora: “O despotismo, o temor e as delíci-as do Príncipe; a monarquia, a honra e sua glória, assim como a doEstado; a república, a virtude (seu objeto não é indicado)” (RUBY,1998, p. 82).

Já John Stuart Mill defendeu a idéia de que a melhor maneirade evitar um governo despótico (de poderes ilimitados) seria o gover-no representativo, ou seja, uma forma de organização institucional

Barão de Montesquieu (1689-1755)

Desempenhou um papel de destaque na transfor-

mação da França do Século XVIII. Foi presidente

do Parlamento de Bordéus, escritor, filósofo e his-

toriador. Sua obra fundamental, que corresponde

a 40 anos de observação, denomina-se O espírito

das leis. Fonte: www.freemasons-freemasonry.com

(2007)

John Stuart Mill (1806-1875)

Filósofo e economista, um dos pensadores libe-

rais mais influentes do Século XIX. Sucessor do

liberal ismo de John Locke. Fonte:

www.espacoacademico.com.br (2007)

Adam Smith (1723-1790)

Considerado o formulador da teoria econômica.

Grande parte de suas contribuições para o cam-

po da economia não foi original, porém, ele foi o

primeiro a lançar os fundamentos para o campo

dessa ciência. Fonte: www.economiabr.net (2007)

Tô a fim de saber

Page 63: Ciencia Politica[1]

63Período 1

UNID

ADE

2em que os vários setores e as forças da sociedade pudessem estarrepresentados no parlamento. Tais representantes, porém, deveriamter liberdade, em relação a seus representados, para tomar as deci-sões que acreditassem ser as melhores para a sociedade.

No campo dessa discussão sobre teorias políticas que pensamo Estado limitado em suas funções, é importante também destacar opapel dos federalistas norte-americanos, os pais fundadores da Cons-tituição norte-americana, de 1787, James Madison, John Jay eAlexander Hamilton. Tais pensadores tiveram en-tre seus méritos, o de propor uma Constituiçãodestinada a um Estado marcado por uma gran-de extensão territorial. Sua grande questão eracomo impedir o “domínio das facções” na polí-tica, e a conseqüente “tirania da maioria”.

Nesse sentido, acreditavam que a liber-dade política deveria depender menos da quali-dade dos homens do que das instituições. É daforça das instituições que surgiria a força de umaRepública. Nesse sentido, no desenho que pro-puseram para a Constituição norte-americana,destaca-se o papel atribuído à Federação (Estados autônomos einterdependentes) e à divisão de poderes (Executivo, Legislativo e Ju-diciário, sendo o Legislativo dividido em Câmara dos Deputados eSenado da República), peças-chave na engrenagem institucional dademocracia nos Estados Unidos.

Para finalizar, cabe apresentar a contribuição de Adam Smith,onde temos a defesa do Estado limitado em suas funções, aquilo queficou conhecido como liberalismo econômico. Esse autor, vai defendero argumento de que o bom governo é aquele que não intervém de modonenhum na ordem econômica. Sua função seria proteger a ordem nasociedade, bem como garantir a vigência do princípio da propriedadeprivada. Segundo Smith, o governo, ao deixar a economia funcionarpor conta própria, estaria contribuindo para a produção do bem co-mum, pois haveria algo como uma “mão invisível” que guiaria o mer-cado, de modo que, mesmo numa situação em que todos os participan-tes do mercado busquem o lucro e a acumulação, o resultado seria obem-estar coletivo. Os argumentos de Adam Smith são até hoje forte-mente utilizados por pensadores liberais que defendem a idéia de que omercado deve ser a principal fonte de regulação da vida social.

James Madison (1751-1836)

Presidente dos EUA entre 1809-1816. Contribuiu

de forma importante para a ratificação da Cons-

tituição ao escrever, juntamente com Alexander

Hamilton e John Jay, os Ensaios Federalistas.

No Congresso, ajudou a esboçar a Carta dos Di-

reitos e, de sua oposição às propostas financei-

ras de Hamilton, se desenvolveu o Partido Repu-

blicano. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

(2007)

Tô a fim de saber

Page 64: Ciencia Politica[1]

64 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

2 As teorias liberais ofereceram as bases para a organização damaioria dos Estados europeus no período posterior à Revolução Fran-cesa (1789), em que foram destituídas as monarquias absolutas. Nes-se novo contexto, as idéias de “livre mercado e direitos do cidadão”foram disseminadas e instituídas em boa parte dos países da Europa.

Saiba mais...Renascimento: foi “um movimento intelectual, científico e artístico que tevesua maior expressão na Itália e representou precisamente a primeira erupçãoda nova mentalidade racionalista, secular, que busca centrar a finalidade doconhecimento no homem e na vida material, desvinculando as atividadespolíticas de finalidades religiosas e passando a considerá-las um conjunto deatividade com objetivos essencialmente mundanos”. Fonte: Magalhães (2001,p. 41).

Para saber mais sobre o tema, consultar o importante trabalho de:BELLAMY, Liberalismo e sociedade moderna. São Paulo: Ed. UNESP, 1992.

Sobre as diferenciações entre liberalismo político e liberalismoeconômico, ver: BOBBIO, Norberto. Liberalismo e democracia. 3. ed.Brasília: Ed. UNB, 1990.

Sobre o contratualismo e os conceitos de república, monarquia,constitucionalismo, absolutismo, ver: BOBBIO, Norberto et al. Dicioná-rio de política. Brasília: UNB, 1992. 2 vol.

Karl Marx e a crítica ao Estado

Se os liberais estavam preocupados com defender um Estadolimitado em suas funções e poderes, o filósofo e economista alemão

Karl Marx denunciou a sociedade capitalistacomo alienadora e repressiva e o Estado comoum dos instrumentos que garantiriam a repro-dução desse tipo de sociedade. Nessa perspec-tiva, o Estado seria um “órgão de classe”, poissuas funções estariam relacionadas para garan-tir a reprodução do modo de produção capita-lista, cuja essência seria a divisão da sociedadeem classes (sendo as duas classes fundamentais

Karl Marx (1818-1883)

Filósofo e socialista. Foi co-fundador da Associ-

ação Internacional dos Operários, depois chama-

da I Internacional, desempenhando dominante

papel de direção. Em 1867, publicou o primeiro

volume da sua obra principal, O Capital. Fonte:

www.culturabrasil.pro.br (2007)

Tô a fim de saber

Page 65: Ciencia Politica[1]

65Período 1

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ADE

2

vO Manifesto do Partido

Comunista foi elaborado

por Marx e Engels como

programa da Liga dos

Comunistas por decisão

do seu II Congresso, re-

alizado em Londres, na

Inglaterra, entre 29 de

novembro e 8 de de-

zembro de 1847.

a burguesia e o proletariado) e a exploração de uma maioria (proleta-riado) por uma minoria (burguesia).

Na perspectiva de Marx, os ideais de liberdade e igualdade nãopassariam de uma maquiagem ideológica para garantir a dominação daburguesia, no contexto do capitalismo. Haveria, no modo de produçãocapitalista, uma contradição entre a igualdade formal (perante a lei) e aigualdade real (ser proprietário ou não das relações de produção).

Apesar disso, Marx identificava no modo de produção capita-lista um caráter revolucionário, pois este tinha como característicabásica o fato de transformar constantemente a sociedade, mediante,por exemplo, as contínuas mudanças tecnológicas. Esse fato, segundoMarx, ao mesmo tempo em que seria a força desse modo de produ-ção, seria também sua fraqueza, pois dessa mudança constante surgi-riam aqueles que poderiam pôr fim à “exploração do homem pelohomem”, ou seja, os “proletários”. Nesse sentido, os proletários seri-am a classe que poria fim à dominação burguesa pela instauração docomunismo.

Nas palavras de Sell (2001, p. 176),

O centro das preocupações políticas de Marx estava voltadopara a superação da ordem social capitalista. Ele afirmavaque somente a classe operária, pelo seu papel chave no capi-talismo, tinha as forças e as condições para a revolução quederrubaria a burguesia e começaria uma nova etapa da hu-manidade: a sociedade comunista.

Esse processo em que o proletariado se torna uma classe revo-lucionária estaria marcado por sua organização política por meio,primeiro, dos sindicatos e, depois, na forma de um partido político.O livro Manifesto do partido comunista foi escrito por Marx (1847)com o propósito de pensar um programa político para o proletariado.Nessa obra, que inicia com a famosa frase “Proletários do mundo,uni-vos!”, identificam-se também algumas considerações sobre o queseria uma sociedade comunista. Apesar de Marx ter escrito muito poucosobre isso, dois elementos são essenciais ao pensar o comunismo(SELL, 2001, p. 178):

a abolição das classes sociais; e

a abolição do Estado.

Page 66: Ciencia Politica[1]

66 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

2 Marx acreditava que o comunismo seria marcado pela associ-ação livre dos trabalhadores, em que “o livre desenvolvimento de cadaum é a condição para o livre desenvolvimento de todos” (SELL, 2001,p. 178). Assim, não teríamos mais classes sociais na sociedade comu-nista.

Dessa formulação conclui-se que, se o Estado era produto dadivisão da sociedade em classes, uma derivação lógica disso é que,quando as classes sociais fossem extintas com o comunismo, o Esta-do não teria mais razão de existir. Assim, uma segunda característicado comunismo seria a extinção do Estado.

As idéias de Marx forneceram o substrato ideológico para ospartidos comunistas e socialistas em todo o Século XX. Tiveram suaaplicação nos experimentos socialistas derivados de revoluções, comoa Revolução Russa de 1917, a Revolução Chinesa de 1949 e a Revo-lução Cubana de 1959, além de muitas outras. O chamado socialis-mo real entrou em grande crise após a queda do muro de Berlim, em1989, e a posterior dissolução da União Soviética em 1991.

Liberalismo, Keynesianismo e Neoliberalismo:uma breve história das idéias e das instituiçõespolíticas nos Séculos XIX e XX

Caro estudante!

Abordamos até agora, algumas das principais idéi-as políticas desenvolvidas ao longo da história. Naspróximas páginas, você vai ver como algumas des-sas idéias se materializaram em instituições. Paraisso, vamos analisar o conjunto de transformaçõespelas quais passou o Estado nos Séculos XIX e XX.

Como você viu, o Estado é uma inst i tuição t ípica damodernidade. Uma série de fatores contribuiu para a sua constitui-ção. De acordo com Sell (2006, p. 123), tais fatores poderiam ser di-vididos em três:

vDestaca Sell (2001,

p. 179) que a Revolu-

ção Russa, liderada por

Lênin e Trotsky, “foi a

primeira tentativa de

suplantar o capitalis-

mo e construir uma

nova sociedade. Toda-

via, a primeira experi-

ência de socialismo

acabou se tornando

uma ditadura com eco-

nomia estatizada sob

as mãos de Josef

Stálin (1879-1953),

que permaneceu no

poder até morrer. As-

sim, a URSS (União

das Repúblicas Socia-

listas Soviéticas) aca-

bou se desagregando

no ano de 1991”.

Page 67: Ciencia Politica[1]

67Período 1

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ADE

2 as mudanças econômicas derivadas da mudança de umaeconomia feudal para uma economia capitalista, que promo-veram o surgimento da burguesia, incentivaram as navega-ções e a intensificação do comércio;

as mudanças culturais derivadas da divisão do mundo cris-tão entre católicos e protestantes, que impulsionou a separa-ção entre Igreja e Estado; e

do ponto de vista político, a constituição do estado envolveua unificação dos territórios, sob o comando de uma únicaautoridade, superando a fragmentação da organização políti-ca feudal.

A primeira manifestação do fenômeno estatal, deu-se sob a for-ma de Estado absolutista, o qual pode ser compreendido como umaforma de governo marcada pelo exercício sem controles do poder, poraquele que o detém. Os exemplos mais significativos de formação dasmonarquias nacionais são: Portugal, Espanha, França e Inglaterra(SELL, 2006, p. 124).

Um segundo modelo de organização estatal se deu sob a formado Estado liberal. Este, nasce, principalmente a partir dos processosrevolucionários francês (1789) e americano (1776), tendo sua grandeinspiração na Revolução Gloriosa, da Inglaterra.

A conseqüência comum desses três processos revolucionáriosfoi a materialização de uma forma de Estado limitado pela lei. Umaspecto que deve ser destacado sobre o Estado liberal, é que ele não ésinônimo de democratização. Conforme muito bem aponta Sell (2006,p. 126), o direito ao voto (sufrágio universal) foi uma conquista bas-tante lenta e ocorreu de forma diferenciada em cada país.

Talvez o elemento mais visível e marcante do Estado liberal,tenha sido a sua forma de se relacionar com a economia. Nesse as-pecto, é interessante destacar, de acordo com Tosi Rodrigues (1995),que na maioria dos países do mundo vigorou até os anos 30 do Sécu-lo XX o argumento da “mão invisível”, formulado por Adam Smith, noqual o capitalismo aparecia como um tipo ideal, portador deracionalidade e eficiência (TOSI RODRIGUES, 1995). Nesse construto,as funções do Estado deveriam limitar-se a fazer cumprir os contratose garantir a propriedade privada.

Porém, já no final do referido século, o funcionamento real docapitalismo começava a apresentar evidências que contrariavam suasteorias justificadoras. Em vez da “mão invisível” que produziria o “bem

vPara saber mais sobre

estes processos revolu-

cionários, consulte indi-

cações propostas no Sai-

ba mais.

Page 68: Ciencia Politica[1]

68 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

2 comum”, o que se observava era a concentração de renda, juntamen-te com desigualdades sociais. O resultado dessa organizaçãoinstitucional do capitalismo foi o aumento de sua instabilidade, cul-minando com a Grande Depressão de 1929:

A Grande Depressão dos anos trinta foi um fenômeno mundi-al, que afetou todas as grandes economias capitalistas. NosEstados Unidos, por exemplo, em 24 de outubro de 1929 (umdia que ficou conhecido como ‘quinta-feira negra’), a bolsa devalores de Nova Iorque teve uma queda brusca nas cotaçõesdos títulos, fenômeno que acabou destruindo toda a confian-ça na economia. Com isso, os empresários reduziram a produ-ção e os investimentos, o que causou a diminuição da rendanacional e do número de empregos, diminuindo mais ainda aconfiança na economia. Antes de encerrado o processo, mi-lhares de empresas tinham ido à falência, milhões de pessoastinham ficado sem emprego e estava sendo preparada umadas maiores catástrofes da história (HUNT, 1984 apud TOSIRODRIGUES, 1995, p. 3).

Saiba mais...A Revolução Francesa é considerada a principal referência da modernidade.Seu principal símbolo foi a derrubada da bastilha em 4 de julho de 1789.No bojo da Revolução também é redigida a Daclaração dos Direitos doHomem e do Cidadão (pode ser encontrada em http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/dec1793.htm). Para maiores aprofundamentos, ver:FLORENZANO. As revoluções burguesas. 11. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.p. 15-66

A Revolução Americana se dá com a independência em 1776, ano em que éelaborada a Constituição do país.

A revolução gloriosa teve como marca central a consolidação do modelo daMonarquia Constitucional na Inglaterra, tendo como uma de suas expressõescentrais a Carta de Direitos dos Cidadãos (1689) – Bill of Rights. Ver:FLORENZANO. As revoluções burguesas. 11 ed. São Paulo: Ed. Brasiliense,1991. p. 67-115.

Por uma questão de espaço, nada abordamos sobre os Estados totalitários,que foram um dos grandes (e trágicos) fenômenos políticos do Século XX.As maiores expressões desse tipo de Estado foram os fenômenos do Nazismo,na Alemanha, e do Fascismo na Itália. Alguns autores consideram oStalinismo como um movimento totalitário. Sobre os três movimentos, ver:SELL. Introdução à Sociologia Política. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 127-129.

vPara compreender

elementos da teoria

política e econômica

de Adam Smith e a

idéia de mão invisí-

vel, ver Châtelet et al.

(1985, p. 68-70).

Page 69: Ciencia Politica[1]

69Período 1

UNID

ADE

2O Estado de Bem Estar Social

A teoria que propiciou uma saída para a crise vivenciada eforneceu as bases teóricas para um novo modelo de Estado, foi a for-mulada por John Maynard Keynes. Já em 1926, Keynes postulou aruptura com as bases do capitalismo laissez-faire. Nas palavras desseeconomista: “Não constitui uma dedução correta dos princípios daeconomia que o auto-interesse esclarecido sem-pre atua a favor do interesse público. Nem é ver-dade que o auto-interesse seja geralmente es-clarecido” (KEYNES apud TOSI RODRIGUES,1995, p. 3).

A aplicação das teses keynesianas deuorigem a uma grande intervenção do Estado naeconomia, sendo o germe daquilo que no perío-do posterior à Segunda Guerra Mundial veio de-nominar-se Welfare State (Estado de Bem-estarSocial, ou Estado-providência, é um tipo de or-ganização política e econômica que coloca oEstado (nação) como agente da promoção (pro-tetor e defensor) social e organizador da econo-mia. Fonte: Wikipédia (2007)). Tal modelo deEstado, marcado pela ação intensiva do Estado na regulação do capi-talismo e na garantia do bem estar aos cidadãos através de políticassociais, deu origem a um período marcado por grande desenvolvimen-to, estabilidade e prosperidade sem precedentes na história do capita-lismo (TOSI RODRIGUES, 1995).

A crise e o Estado Neoliberal

A partir do final dos anos 1960, inicia-se a crise nos paísescentrais do capitalismo, cujos maiores indicadores foram a estagna-ção econômica e os processos inflacionários. Na análise de TosiRodrigues (1995): “O ‘círculo virtuoso’ (ganhos de produtividade ali-mentando aumentos reais de salário e vice-versa), então, cedeu lugar

John Maynard Keynes (1883-1946)

Foi um dos mais importantes economistas de

toda a história. Em 1919, publicou a obra As

Conseqüências Econômicas da Paz. Seu traba-

lho teve grande impacto político em praticamente

todas as nações capitalistas. Durante os anos

1920, suas teorias econômicas analisaram a ne-

cessidade da interferência do Estado nos merca-

dos instáveis do pós-guerra. Em 1932, redigiu

seu Tratado Sobre a Reforma Econômica. Sua

última obra foi publicada em 1936, a Teoria Geral

do Emprego, do Juro e da Moeda. Fonte:

www.biografias.netsaber.com.br (2007)

Tô a fim de saber

Laissez-faireLaissez-faireLaissez-faireLaissez-faireLaissez-faire – doutr ina

que diz que os negócios

econômicos são otimizados

pelas decisões individuais,

pelo mercado e pelo meca-

nismo de preços, com vir-

tual exclusão governamen-

tal. Fonte: Lacombe (2004)

Page 70: Ciencia Politica[1]

70 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

2 ao círculo vicioso de inflação, com estagnação econômica que se ins-talou na maior parte dos países desenvolvidos”.

Esse período de grande estabilidade econômica, política e so-cial foi objeto de várias interpretações por parte dos cientistas sociais.Para alguns se estava diante do fim das ideologias (Bell, Aron), paraoutros, estaríamos imersos numa sociedade controlada, “unidimensional”,guiada exclusivamente pela racionalidade instrumental.

Nesse contexto, ganhou fôlego uma série de críticas que vinhamsendo feitas ao Estado Intervencionista/Keynesiano presente na Euro-pa e nos Estados Unidos. Tais críticas voltaram-se contra qualquerlimite estabelecido por parte do Estado ao funcionamento dos mecanis-mos do mercado: “o ‘mercado livre’ é a garantia da liberdade econômi-ca e política, esta última também ameaçada pelo intervencionismo”(FILGUEIRAS, 2000, p. 45).

O argumento básico desse “novo liberalismo” foi sintetizado naspalavras de um de seus mais destacados pensadores, da seguinte forma:

O problema básico da organização social é como coordenaras atividades econômicas de um grande número de pessoas.Mesmo nas sociedades relativamente atrasadas se requer umaextensa divisão do trabalho e de especialização de funções, afim de fazer um uso seletivo dos recursos disponíveis. Nas soci-

edades avançadas, a escala em que a coordenação érequerida, para aproveitar plenamente as oportuni-dades oferecidas pela ciência e pelas tecnologias mo-dernas, é muito maior [...]. O desafio para o crentena liberdade é reconciliar esta generalizadainterdependência com a liberdade individual. [...].

Fundamentalmente, existem só dois modos de coor-denar as atividades econômicas de milhões de pes-soas. Um é a direção centralizada que implica o usoda coerção – a técnica do exército e do modernoEstado totalitário. O outro é a cooperação voluntá-ria dos indivíduos – a técnica do mercado(FRIEDMAN apud BORON, 1994, pp. 51-52).

Friedman trabalha com o princípio deque Estado e mercado são formas de orga-nização social antagônicas e irreconciliáveis.O mercado seria importante não só por ga-rantir desenvolvimento econômico, mas tam-

Margaret Thatcher

Ex-política britânica, nas-

cida em 1925. Foi primei-

ra-ministra de seu país, de

1979 a 1990. Seus postu-

lados principais foram o li-

beralismo e o monetarismo

estritos. Conseguiu reduzir

a inflação, mas diminuiu a

produção industrial, geran-

do desemprego e a quebra de empresas e bancos.

Thatcher recusou a união social e política do Reino

Unido com a Europa e criou o imposto regressivo, o

poll tax, o qual sofreu uma violenta e vitoriosa resis-

tência popular e a levou a perder o apoio de seu

próprio partido. Fonte: www.margaretthatcher.org

Tô a fim de saber

Figura 10: Margaret TatcherFonte: Wikipédia

Page 71: Ciencia Politica[1]

71Período 1

UNID

ADE

2bém liberdade econômica e política. Já o Estado é visto como o Locusdo autoritarismo e da coerção.

As idéias neoliberais acabaram sendo colocadas em prática,sobretudo com a chegada ao poder do Partido Conservador na Ingla-terra, com Margaret Tatcher, em 1979, e do Partido Republicano, comRonald Reagan, nos EUA, em 1980.

Esses governos poderiam ser caracterizados, conformeAnderson (1995), como representantes da “primeira onda” doneoliberalismo. Naquele que ficou conheci-do como o modelo mais puro doneoliberalismo – o Inglês – foram adotadasmedidas como:

controle da emissão monetária;

elevação da taxa de juros;

abolição do controle de fluxos fi-nanceiros;

repressão aos sindicatos;

legislação anti-sindical; e

corte de gastos e privatização.

No Governo de Reagan, também foiimplementada uma série de medidas, porém,com bem menos radicalismo que na Ingla-terra e, além disso, fazendo junção entre o neoliberalismo nas políti-cas econômicas e a manutenção do “Keynesianismo” militar(ANDERSON, 1995). No restante da Europa, o neoliberalismo tevemenor força, realizando somente algumas políticas de disciplina orça-mentária e reforma fiscal (idem).

Uma questão que se coloca nessa primeira onda doneoliberalismo é se ele conseguiu cumprir suas promessas. Verifican-do a maioria das experiências de governos neoliberais na Europa enos EUA, podemos perceber que foi obtido êxito em uma série depolíticas, principalmente no combate à inflação e na elevação da taxade lucros (Cf. ANDERSON, 1995). Porém, como objetivo global, ob-serva-se que o neoliberalismo não cumpriu seu fim, que era promoveruma reaceleração das taxas de crescimento da economia capitalista.Além disso, assistiu-se a um aumento sem precentes do desemprego

Ronald Wilson Reagan (1911-2004)

Foi o 40º Presidente dos

Estados Unidos da Améri-

ca e o 33º governador da

Califórnia, assumindo-se

membro do partido Repu-

blicano. Seu governo foi

mrcado por importantes

acontecimentos no plano

interno e, sobretudo, no in-

ternacional, optando por praticar uma política exter-

na agressiva, investindo na esfera da defesa e da di-

plomacia com o objectivo claro de combater o comu-

nismo internacional. Fonte: www.reagan.utexas.edu

Tô a fim de saber

Figura 11: Ronald ReaganFonte: Wikipédia

Page 72: Ciencia Politica[1]

72 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

2 em toda a Europa, que veio acompanhado de aumento nos índices dedesigualdade social (ANDERSON, 1995).

Como questão se coloca o porquê da recuperação dos lucrosnão ter resultado em crescimento. A resposta de Anderson (1995) vaino sentido de que, com o processo de globalização, e a conseqüentedesregulamentação financeira da economia capitalista mundial, hou-ve uma inversão do investimento de capital: do capital produtivo parao capital financeiro. Observa-se, cada vez mais, um deslocamento docapital, da esfera da produção para o espaço dos mercados financei-ros, os quais, graças ao constante processo de sofisticação tecnológicae globalização da economia, circulam por todo o mundo na busca desegurança e rentabilidade (FIORI, 1995; FIORI; TAVARES, 1993).

Já que falamos em globalização, veja algumas con-siderações a seu respeito.

A globalização

Caro estudante!

A partir de agora, você vai conhecer ou rever outroelemento importante na organização dos sistemaspolíticos contemporâneos: a globalização. Não setem intenção de fazer uma reconstituição do deba-te em torno deste conceito, e sim mostrar como aglobalização constitui importante elemento na con-figuração do mundo contemporâneo.

Vamos começar afirmando que não existe explicação consensualpara o fenômeno, de modo que Held e McGrew (2001) identificamduas grandes linhas de argumentação: de um lado, os que a conside-ram um fenômeno histórico real e significativo – os globalistas –, deoutro, aqueles que a concebem como uma construção ideológica – oscéticos. Para os autores, tal dualismo, mesmo sendo simplista, é váli-do se utilizado como tipo ideal.

Os céticos, segundo Held e Mcgrew (2001), têm como ponto departida a seguinte questão: “O que é global na globalização?” Para

Page 73: Ciencia Politica[1]

73Período 1

UNID

ADE

2

!

eles, só teria sentido falar de globalização, se por esse conceito se abor-dasse uma fenômeno realmente universal (com validade para todo omundo). Na ausência de universalidade, faltaria delimitação clara eprecisa para o conceito. Enfim, para os críticos, na inexistência dereferenciais geográficos claros, fica impossível distinguir o que é regi-onal do que seria realmente global.

Held e McGrew (2001), ao analisar a posição dos céticos, sus-tentam que eles, em geral, constroem um modelo abstrato sobre o queseria a economia global ou a cultura global e comparam-no com arealidade. Descartam, por completo, qualquer pretensão descritiva ouexplicativa para o conceito. Em vez de globalização, defendem queuma definição mais válida das tendências atuais seria através dostermos “internacionalização”, isto é, laços crescentes entre economi-as ou sociedades nacionais essencialmente distintas, e “regionalização”ou “triadização”, ou seja, o agrupamento geográfico de trocas econô-micas e sociais transfronteiriças (HELD e MCGREW, 2001, p. 15).

Assim, segundo a perspectiva dos céticos, o discursosobre a globalização seria primordialmente uma cons-trução ideológica que ajuda a legitimar e justificar oprojeto neoliberal. Nesse aspecto, o conceito deglobalização funcionaria como um “mito necessário”,em que os governos e políticos disciplinam seus cida-dãos para que eles satisfaçam os requisitos do merca-do global (HELD; MCGREW, 2001, p. 15).

A visão globalista, sempre segundo Held; McGrew (2001), nãoconsidera esse fenômeno apenas como uma ideologia. Segundo essaperspectiva, existiriam mudanças substantivas que estariam ocorren-do na organização social e que precisariam de um conceito que possi-bilitasse a sua compreensão. As evidências de tal novo fenômeno es-tariam, por exemplo, na internacionalização das empresas capitalistase na valorização dos problemas ambientais como problemas globais.“Em vez de conceber a globalização como um fenômeno exclusivamen-te econômico, a análise globalista confere um status equiparável a ou-tras dimensões da atividade social” (HELD; MCGREW, 2001, p. 16).

As diferenças entre as duas perspectivas dão-se praticamenteem todas as esferas em que o mundo contemporâneo é analisado.O Quadro 6 resume o debate.

vUma t ípica anál ise

“globalista” encontra-se

na obra de Anthony

Giddens, Para além da

esquerda e da direito

(1996).

Page 74: Ciencia Politica[1]

74 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2

Quadro 6: Diferenças entre as perspectivas dos céticos e dos globalistassobre a globalização

Fonte: adaptado de Held; McGrew (2001, p. 92)

Como se pode observar no Quadro 4, globalistas e céticos têmconcepções completamente diferenciadas da globalização, sendo queos argumentos tendem a refutar-se mutuamente. Porém, numa análisemais detida das duas perspectivas, podem-se identificar alguns pon-tos que são praticamente consensuais entre as duas análises. ParaHeld e McGrew (2001), os dois lados admitiram que:

houve aumento, nos últimos anos, da interligação econô-mica nas e entre as regiões;

a competição global desafia as velhas ordens e gera novasdesigualdades de riqueza, poder e status;

alguns problemas políticos, como a lavagem de dinheiro ea questão ambiental, fogem da esfera de responsabilidadedas tradicionais instituições dos governos nacionais; e

1. Conceitos

2. Poder

3. Cultura

4. Economia

5. Desigualdade

6. Ordem

CÉTICOS

Internacionalização,não-globalização,regionalização

Predomina o Estado nacio-nal, intergovernamentalismo

Ressurgimento do nacionalis-mo e da identidade nacional

Desenvolvimento de blocosregionais, formação de gru-pos (triadização), novo impe-rialismo

Defasagem crescente entre onorte e o sul, conflitos deinteresse irreconciliáveis

Sociedade Internacional deEstados, persiste inevitavel-mente o conflito entre osEstados, gestão internacionale geopolítica, comunitarismo

GLOBALISTAS

Um só mundo, moldado porfluxos, movimentos e redessumamente extensos, intensi-vos e rápidos através das regi-ões e dos continentes

Desgaste da soberania, daautonomia e da legitimidadedo Estado, declínio do Estado-nação, aumento domultilateralismo

Surgimento da cultura popularglobal, desgaste das identida-des políticas fixas,hibridização.

Capitalismo global,informacional, economiatransnacional, nova divisãoregional do trabalho

Desigualdade crescente nas eentre as sociedades, desgastedas antigas hierarquias

Gestão global em camadasmúltiplas, sociedade civil glo-bal, organização política glo-bal, cosmopolitismo

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75Período 1

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2 houve expansão da gestão internacional nos planos regio-nal e global – por exemplo, os blocos econômicos regionais(MERCOSUL e União Européia, p. ex.) e a OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC).

E o Brasil?

Olá!

Até aqui, tratamos basicamente do processo deformação e das transformações do Estado, a partirda experiência Européia. Resta saber, mesmo querapidamente, que no Brasil (e na América Latina,como um todo), tal processo se desenvolveu deforma diferenciada. Veja, então, algumas caracte-rísticas do Estado brasileiro.

Como se sabe, nossa história políticacomeça em 1500, porém, o elementodinamizador da construção das estruturas esta-tais no país vai se dar a partir de 1806, com avinda da família real para o Brasil. Em 1822,temos a Independência, onde efetivamente cons-titui-se o Estado brasileiro. Até 1889, tal Estadofoi organizado de forma monárquica, e de 1889a 1930, temos a Primeira República. É impor-tante destacar que durante todo esse contexto,existia um aparelho estatal extremamente frágile a própria idéia de uma nação brasileira nãoera algo disseminado em todo o território.

Somente a partir de 1930, mais especifi-camente com a Revolução de 1930, capitanea-da por Getúlio Vargas, é que começa a se for-mar um aparelho de Estado em todo o território.Inicia também, nesse contexto, a constituição deuma burocracia estatal, destinada a planejar,organizar, gerenciar e controlar as políticas de

Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954)

Ingressou na política em 1909, como deputado

estadual pelo PRP (Partido Republicano Rio-

Grandense). Foi o comandante da Revolução de

1930 e Presidente do Brasil de 3/11/1930 a 29/

10/1945. Em 1934, promulgou uma nova Cons-

tituição. Em 1937, instalou o Estado Novo. Criou

a Justiça do Trabalho (1930), o Ministério da

Justiça e o salário mínimo (1940), a CLT (Con-

solidação das Leis do Trabalho) (1943), a cartei-

ra profissional, a semana de 48 horas de traba-

lho, as férias remuneradas, a Companhia Side-

rúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do

Rio Doce (1942), a Hidrelétrica do Vale do São

Francisco (1945) e entidades como o IBGE (Ins-

tituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

1938). Foi derrubado pelos militares em 1945.

Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

Page 76: Ciencia Politica[1]

76 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

2 Estado. Enfim, é dos anos 1930 que tem-se o desenvolvimento do cha-mado Estado desenvolvimentista no país. Através desse conceito, bus-ca-se caracterizar uma forma de Estado marcada pela intervenção ma-ciça na economia, seja de forma indireta, através do planejamento eco-nômico, seja de forma direta, via investimentos em indústrias de base ena criação de infra-estrutura para o desenvolvimento econômico.

O processo de formação do Estado desenvolvimentista no Bra-sil está relacionado a um contexto onde a economia internacional es-

tava em recessão (1930) e onde não conseguia-se mais reproduzir o modelo econômico adota-do até então no país, qual seja: a exportação debens primários (principalmente o café) e a im-portação de produtos industrializados. Diantedessa situação, a estratégia possível era promo-ver a industrialização nacional para fins de eli-minar nossa dependência com relação aos paí-ses desenvolvidos. Porém, o país carecia de umaburguesia local que se encarregasse de tal pro-cesso, como aconteceu nos países da Europa.Diante disso, o único ator com capacidade parapromover as transformações pelas quais a eco-nomia necessitava era o Estado. E foi assim queaconteceu. Desde 1930, verificou-se o início deum longo processo, que somente vai ter seu fimna década de 1980, marcado pela preponderân-cia do Estado na organização da economia.

É importante destacar, como faz Sell(2006, p. 141), que sob o rótulo “Estadodesenvolvimentista”, temos vários momentos denossa história, bem como distintos regimes po-líticos. O desenvolvimentismo conviveu comperíodos autoritários – o Estado Novo, de 1937a 1945 e o Regime Militar, de 1964 a 1985 – edemocráticos (1946-1964). Com relação à di-mensão econômica, tem-se também diferentesmomentos desse modelo de Estado: o períodonacionalista (principalmente nos anos de 1950,com o II Governo Vargas e durante o Governo

João Goulart) e o período de integração à economia internacional(no Governo JK e no Período Militar).

João Belchior Marques Goulart (1918-1976)

Presidente do Brasil de 1961 a 1963 e fundador

do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), em 1946.

Popularmente conhecido como Jango, tomou

posse em 1961, após aprovação da emenda

institucional que instaurou uma república parla-

mentarista na qual o chefe do poder executivo é

o primeiro-ministro e não o presidente. Acusado

de comunista devido a sua aproximação com re-

presentantes das classes trabalhadoras, foi de-

posto pelo golpe militar de 1964 e exilado no

Uruguai. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976)

Presidente do Brasil de 1956 a 1961. Foi eleito

governador em Minas Gerais (1950 a 1954).

Venceu a eleição para presidente da República,

com o slogan “Cinqüenta Anos em Cinco”. Um

de seus principais feitos foi a construção da cidade

de Brasília e instituição do Distrito Federal, em

1960. Em 1962 teve seu mandato cassado e os

direitos políticos suspensos em 1964, pelo regime

militar. Em 1966 tentou organizar uma frente pela

redemocratização do país, junto com Carlos Lacerda

e João Goulart, mas não voltou mais ao poder. Se

afastou da política e dedicou-se ao trabalho como

empresário. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

Page 77: Ciencia Politica[1]

77Período 1

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2 A partir da década de 1970, acompanhando o contexto derecessão da economia mundial derivada da crise do petróleo, inicia-se um período de crise do modelo desenvolvimentista no país. As ta-xas de crescimento começam a cair (de 14% em 1973 – auge do “mi-lagre econômico brasileiro” – passam a 8,2% em 1974 e 5,2% em1975) e a inflação começa a se tornar um problema de grandes pro-porções. As estratégias governamentais, porém, não oferecem umaresposta a esse problema. Pelo contrário, o Estado continua investin-do e intervindo.

Nos anos 1980, tem-se a abertura políti-ca e a transição para a democracia, de modoque em 1985 tem-se o fim do período militar,com a eleição, via colégio eleitoral, de TancredoNeves para presidir o país. Em função de suamorte quem acaba assumindo o governo é JoséSarney. Seu governo foi marcado peloaprofundamento da crise econômica, cujos mai-ores indicadores foram a hiperinflação e a es-tagnação econômica. Para combater o descon-trole inflacionário foram lançados cinco planoseconômicos, somente no seu governo. Nenhumdeles conseguiu por fim a esse fenômeno, queera tratado como a grande “doença nacional”.

Em 1989, o Brasil realiza a primeira elei-ção direta para Presidente da República. Os bra-sileiros elegem Fernando Collor de Mello. Esteassume com uma platafoma modernizante, pro-metendo desestatizar a economia e fazer o paísvoltar a crescer. Collor representa a primeira ten-tativa de se estabelecer um Estado neoliberal noBrasil. Durante seu governo foram adotadas me-didas de desregulamentação da economia, aber-tura comercial e privatizações. Juntamente comisso, um plano econômico, o Plano Collor, quepretendia por fim à inflação. Em poucos meses apóso plano, a inflação volta a patamares elevados e,em pouco mais de dois anos após ter assumido omandato, denúncias de corrupção culminaram como afastamento de Collor da Presidência.

Tancredo de Almeida Neves (1910-1985)

Político eleito presidente do Brasil em 1985, não

chegando a tomar posse. Foi um dos líderes do

MDB (Movimento Democrático Brasileiro), parti-

do criado em 1965. Ingressou no PMDB (Partido

do Movimento Democrático Brasileiro) e foi eleito

governador de Minas Gerais (1983-1984). Em

1984, com a derrota da emenda que instituía as

eleições diretas para presidente da República,

Tancredo foi escolhido para representar uma coli-

gação de partidos de oposição reunidos na Alian-

ça Democrática. Em 1985, foi eleito presidente

pelo Colégio Eleitoral, ano em que veio a falecer,

tendo o cargo assumido pelo vice-presidente José

Sarney. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

José Ribamar Ferreira de Araújo Costa

Político e escritor brasileiro, nascido no estado

do Maranhão, em 1930. Foi presidente da Repú-

blica entre 1985 e 1990. Em 1979 participou

da fundação do PDS (Partido Democrático Soci-

al). Ingressou no PMDB (Partido do Movimento

Democrático Brasileiro) e, em virtude do faleci-

mento de Tancredo, assumiu a presidência em

1985. Promulgada em 1988, a Carta estabele-

ceu eleições diretas em dois turnos para presi-

dente, governador e prefeito. Em 1986, estabele-

ceu o Plano Cruzado, uma tentativa fracassada

de ampla reforma monetár ia. Fonte:

www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

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78 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2 Em seu lugar, assume o vice, Itamar Fran-co, que durante o mandato, convida o então Mi-nistro das Relações Exteriores, FernandoHenrique Cardoso, para assumir o Ministério daFazenda. A partir de 1994, este começa aimplementar um plano de estabilização econô-mica, o Plano Real, o qual finalmente conseguiupor fim ao descontrole inflacionário. FernandoHenrique acumula capital político por sua atu-ação como bem sucedido Ministro da Fazendae se elege Presidente da República em 1994.Durante seu governo é adotada uma grandeagenda de reforma do Estado, via privatizaçãode empresas estatais, juntamente com reformasconstitucionais destinadas a “enxugar” o Esta-do. As principais reformas foram a da Previdên-cia e a da quebra dos monopólios estatais nasáreas de telecomunicações, gás canalizado, pe-tróleo e navegação.

Alguns autores afirmam que FernandoHenrique Cardoso conseguiu implementar o Es-tado neoliberal que havia sido ensaiado nogoverno Collor. Outros, que as reformas eramnecessárias para promover a integração do paísna economia internacional e para garantir cres-cimento e estabilidade econômica.

Fernando Henrique, durante seu primei-ro mandato, também promove uma mudançaconstitucional no plano político, criando o insti-tuto da reeleição para cargos do Poder Executi-vo. Beneficiando-se da nova legislação, reelege-se Presidente. O segundo mandato foi marcadopor várias crises internacionais que afetaramprofundamente a economia brasileira. Isso, en-tre outros fatores, se refletiu nos baixos índicesde crescimento econômico do país.

Em 2002, os brasileiros elegeram o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, Presiden-te da República. Este, após três derrotas eleito-rais e representante do Partido dos Trabalhado-

Itamar Augusto Cautiero Franco

Nascido em 1930, foi presidente do Brasil entre

1992 e 1995. Foi vice-presidente da República

em 1989, no governo de Fernando Collor de Mello,

e assumiu a presidência durante o processo de

impeachment. Em 1º de março de 1994, estabele-

cido pelo então ministro da Fazenda, Fernando

Henrique Cardoso, lançou o Plano Real, alcançan-

do estabilidade econômica e alto índice de aprova-

ção popular. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Fernando Henrique Cardoso

Sociólogo e político brasileiro, nasceu em 1930.

Foi presidente do Brasil de 1995 a 2002. Em

1969, publicou seu mais importante livro, De-

pendência e Desenvolvimento na América Lati-

na (com Enzo Faletto); em 1971, Política e De-

senvolvimento em Sociedades Dependentes: ide-

ologias do empresariado industrial argentino e bra-

sileiro; e, em 1975, Autoritarismo e Democrati-

zação. De ministro das Relações Exteriores no go-

verno Itamar Franco (1992-1993), passou a mi-

nistro da Fazenda (1993-1994) e lançou o Plano

Real. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Luís Inácio Lula da Silva

Político brasileiro e atual Presidente da Repúbli-

ca, eleito em 2002. Foi líder das primeiras movi-

mentações operárias após o período da ditadura

militar no Brasil e co-fundador do Partido dos Tra-

balhadores (PT), em 1980. Candidato à Presidên-

cia da República em 1989, foi derrotado por

Fernando Collor de Mello. Candidato novamente em

1994 e em 1998, foi derrotado em ambas por

Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, elegeu-se

presidente no segundo turno das eleições. Foi reeleito

no segundo turno das eleições de 2006, derrotan-

do Geraldo Alckmin, com mais de 58 milhões de

votos. Fonte: www.biografias.netsaber.com.br

Tô a fim de saber

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79Período 1

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2res, chega ao poder com uma plataforma de mudança. Sob o sloganda “esperança” e de que um “outro país é possível”, Lula prometiadesenvolvimento econômico e inclusão social, equação nunca atingi-da na história política brasileira. Ao longo do seu primeiro mandato,preservou as características básicas da política econômica do gover-no Fernando Henrique, bem como implementou novas reformas.Porém, a principal marca do primeiro mandato de Lula foi sua agen-da no campo social, estruturada em torno do Programa “Fome Zero”,tendo como principal política o “Bolsa Família”.

A manutenção de uma política econômica ortodoxa fez que opaís continuasse com baixos índices de crescimento econômico du-rante todo o primeiro mandato de Lula. Este, porém, consegue suareeleição fortemente amparado na popularidade obtida através dosprogramas sociais acima citados.

Para finalizar, cabe agora, perguntar: no segundomandato do Presidente Lula, que tipo de Estadoestá sendo construído no Brasil?

Faça uma reflexão sobre esse questionamento.

Saiba mais...

Sobre os vários momentos do Estado desenvolvimentista no Brasil, ver o livrode: IANNI, Otávio. Estado e planejamento econômico no Brasil. São Paulo:Civilização Brasileira, 1991.

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80 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2 Os sistemas políticos e as políticas empresariais

Caro estudante!

Até aqui tratamos basicamente da evolução histó-rica das idéias políticas, bem como das mudançaspelas quais passaram os sistemas políticos ao lon-go da história. Nesse sentido, você teve a oportu-nidade de ver alguns traços da organização políti-ca de Atenas, da Roma, da Idade Média, bem comoaquilo que foi denominado de Estado liberal, o so-cialismo e o keynesianismo. Por fim, você teve aoportunidade de visualizar rapidamente os princi-pais elementos do neoliberalismo e da globalização.

Nosso foco agora é fazer com que você compreen-da como a forma de organização dos sistemas polí-ticos afeta a vida das organizações e as políticasempresariais.

Nesse sentido, mais do que teorizar essas questões,vamos tratá-las na forma de exemplos e associações.

Bons estudos!

Em primeiro lugar, podemos afirmar que, quando nos reporta-mos à idéia de liberalismo, estamos pensando numa forma de organi-zação do Estado em que ele pouco intervém na regulação da vidaeconômica, podendo se materializar em políticas de privatização de em-presas estatais, abertura comercial, estímulo à livre concorrência, etc.

Vários estudos têm apontado que a organização típica do Es-tado liberal tem impactos diferenciados sobre países, regiões, indústri-as e setores da economia. Um exemplo típico disso são as políticas deabertura comercial. Nesse caso, um país pode estimular importaçõesbaixando tarifas de determinados produtos. Foi a política adotada peloBrasil no período em que foi administrado pelo presidente Collor.

Qual é o impacto dessas políticas? De um lado, elas podem tero impacto positivo de favorecer a modernização de determinados se-tores da indústria e de serviços, como afirmam seus defensores. Outraconseqüência é o fechamento de indústrias nacionais e o desempre-

Page 81: Ciencia Politica[1]

81Período 1

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2go, derivados do fato de que muitos setores não conseguem competircom os produtos importados. Essa questão, em geral, é apontada pe-los críticos.

Outros exemplos podem ser citados. Poderíamos perguntar so-bre o impacto na vida das organizações causado pelas políticas deproteção comercial e pelo pleno emprego, típicas do Estado Keynesiano.Essas são questões que administradores, economistas, cientistas polí-ticos e outros profissionais devem enfrentar, ao definir políticas em-presariais em diferentes contextos sociopolíticos.

No entanto, deve ficar claro que a organização dos sistemaspolíticos forma um dos elementos do contexto em que são formuladase definidas as decisões empresariais. Nesse sentido, é importante terem mente não apenas os elementos mais estruturais de um sistema po-lítico, ou seja, o fato de este tratar-se de uma democracia ou ditaduraou se o Estado está organizado de forma liberal ou intervencionista.

Tão importante quanto esses elementos são as variáveis relaci-onadas à estabilidade e instabilidade política e econômica de umaregião ou um país. Não é sem motivos que as organizações internaci-onais desenvolvem tantos índices destinados a mensurar questões comoa solidez das instituições de um país, suas perspectivas de futuro, seusriscos. Tais índices, apesar de seu caráter ideológico, no sentido devalorizar apenas alguns aspectos da organização política e econômi-ca nacional, adquirem cada vez mais importância, no contexto de umaeconomia globalizada. Exemplo mais significativo disso é aquele re-presentado pela expressão “risco país”.

Importante ao abordar essas questões é ter em mente que taisíndices só têm sentido de existir no contexto de uma economiaglobalizada, em que o fluxo e a velocidade das informações se acentuarapidamente, bem como a capacidade de ação dos governos nacio-nais se vê seriamente pressionada pelo poder das grandes corporaçõestransnacionais.

A questão do fluxo de informações é abordada por Giddens(2005, p. 64) ao assinalar que “[...] a difusão da tecnologia da infor-mação expandiu as possibilidades de contato entre as pessoas ao re-dor do mundo. Facilitou também o fluxo de informação sobre pessoase acontecimentos em lugares distantes [...]”.

Nesse sentido, sejamos “céticos” ou “globalistas”, não pode-mos deixar de reconhecer que existem mudanças significativas acon-tecendo no mundo e que tais mudanças afetam tanto a forma como a

vSobre o risco país, veja em:

www.portalbrasil.net/

economia_riscopais.htm

vO papel das corporações

transnacionais na econo-

mia globalizada pode ser

analisado em Giddens

(2005, p. 65-66)

Page 82: Ciencia Politica[1]

82 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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ADE

2 política se organiza nas diferentes sociedades quanto as estratégiasdas organizações e principalmente nossas vidas.

Essa questão do impacto da globalização em nossas vidas é abor-dada diretamente por Giddens (2005). Acreditamos que seja oportunodiscuti-la para finalizar esta Unidade, pois ela ajuda na compreensãoda temática abordada. Destaca Giddens (2005, p. 68) que:

[...] a globalização está fundamentalmente mudando a natu-reza de nossas experiências cotidianas. Como as sociedadesnas quais vivemos passa por profundas transformações, asinstituições estabelecidas que outrora as sustentavam perde-ram seu lugar. Isso está forçando uma redefinição de aspectosíntimos e pessoais de nossas vidas, tais como família, os pa-péis de gênero, a sexualidade, a identidade pessoal, as nossasinterações com os outros e nossas relações com o trabalho. Omodo como pensamos nós mesmos e nossas ligações comoutras pessoas está sendo profundamente alterado pelaglobalização.

Dentre os principais impactos da globalização em nossas vi-das, Giddens (2005, p. 68) destaca:

A ascensão de um novo individualismo, em que as tradi-ções culturais, étnicas e religiosas vão perdendo força. “Nopassado, as identidades pessoais dos indivíduos eram for-madas no contexto da comunidade onde nasciam” (p. 68).Nas condições da globalização, tem-se um novo individua-l ismo, no qual “as pessoas devem ativamente seautoconstituir e construir suas próprias identidades”. Comoexemplo, o autor cita o caso de um filho primogênito de umalfaiate, que hoje em geral poderia escolher qualquer ca-minho profissional futuro, contra o fato de que, em épocasanteriores, isso “poderia significar que um jovem aprende-ria o ofício do pai e o praticaria por toda a vida”.

Um segundo impacto é quanto aos padrões de trabalho, emque temos novos padrões de comércio, novos tipos de in-dústria e serviços que trazem novas exigências aos traba-lhadores. Nas palavras de Giddens (2005, p. 70):

Se antigamente a vida de trabalho das pessoas era dominadapelo emprego garantido por apenas um empregador ao longo

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83Período 1

UNID

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2de muitas décadas - o conhecido modelo do "emprego para avida inteira" -, hoje, um número maior de indivíduos traça suaprópria carreira, perseguindo metas individuais e exercendo aescolha para sua realização. Muitas vezes, isso envolve trocarde emprego várias vezes durante a carreira, constituindo no-vas capacidades e habilidades e transferindo-as aos diversoscontextos de trabalho. Os modelos tradicionais de trabalhoem tempo integral estão se transformando em formas mais fle-xíveis: trabalho em casa auxiliado por tecnologia de informa-ção, trabalho em equipe, projetos de consultoria de curta dura-ção, horário flexível de trabalho e assim por diante.

No plano da cultura, temos a emergência de uma ordemhegemônica de informação, que é transmitida de formamassiva para todo o globo. O autor cita um interessanteexemplo dessa questão, ao analisar a difusão do filme Titanic,que reproduzimos aqui (GIDDENS, 2005, pp. 70-71):

O que pode explicar a enorme popularidade de um filme comoTitanic? E o que o seu sucesso nos diz sobre a globalização?A um primeiro nível. Titanic tornou-se popular por razões mui-to simples: combinava uma trama relativamente simples (umromance com um pano de fundo trágico) com um evento his-tórico conhecido – o naufrágio, em 1912, do Titanic, no qualmais de 1.600 pessoas morreram. O filme foi também rica-mente produzido, com grande atenção aos detalhes e incluiuefeitos especiais de última geração.

Mas outra razão para a popularidade de Titanic é que elerefletia um conjunto particular de idéias e valores que repercu-tiu junto às audiências do mundo inteiro. Um dos temas cen-trais do filme é a possibilidade de o amor romântico prevale-cer sobre as diferenças de classe e as tradições familiares.Embora tais idéias sejam de modo geral aceitas na maioriados países ocidentais, estão ainda se firmando em muitas ou-tras partes do mundo. O sucesso de um filme como Titanicreflete a mudança de atitudes para com os relacionamentospessoais e o casamento, por exemplo, em lugares do mundoonde têm prevalecido valores mais tradicionais, É possível di-zer, mesmo assim, que Titanic, juntamente com outros filmesocidentais, contribui para essa mudança dos valores. Filmes eprogramas de televisão feitos nos moldes da cultura ocidentale que dominam a mídia global tendem a apresentar um con-junto de pautas políticas, sociais e econômicas que reflete uma

Page 84: Ciencia Politica[1]

84 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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2

r

visão de mundo especificamente ocidental. Alguns se preocu-pam com o fato de que a globalização esteja conduzindo acriação de uma “cultura global” em que os valores de maiorpoder e riqueza – como filmes produzidos em Hollywood –tenham um efeito devastador sobre a força dos costumes lo-cais e da tradição. De acordo com essa visão, a globalização éuma forma de “imperialismo cultural” em que os valores, osestilos e as visões do mundo ocidental são difundidos de modotão agressivo que sufocam culturas nacionais particulares.

RRRRResumindoesumindoesumindoesumindoesumindoA Unidade 2 tratou da história das idéias e das institui-

ções políticas, do mundo antigo aos dias atuais. Vimos que a

origem da idéia de política está ligada aos gregos; passamos

pelos romanos, a Idade Média e o Renascimento; discutimos

em detalhes os significados e aplicações do liberalismo, bem

como o pensamento e a experiência socialistas; e chegamos ao

neoliberalismo e à globalização, onde tematizamos sobre os im-

pactos da política nas organizações.

Page 85: Ciencia Politica[1]

85Período 1

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2AAAAAtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprendizagemendizagemendizagemendizagemendizagem

Ao longo desta Unidade, desenvolvemos importan-tes considerações teóricas e históricas sobre os sis-temas políticos, destacando suas interfaces com ouniverso das organizações. Para certificar-se de queentendeu toda a discussão, responda às ativida-des propostas.

Importante: não é desejável que você responda oureflita somente sobre o que está neste livro. Dese-jamos que você tenha opinião crítica sobre o assun-to tratado e a exponha aos colegas nos Fóruns dediscussão e também ao responder às atividades.

1. Analisando a evolução histórica das idéias políticas, tive-

mos a oportunidade de estudar o liberalismo. Descreva o

que você entendeu por liberalismo, citando algumas ma-

nifestações dessas idéias no mundo contemporâneo.

2. Ao concluir a leitura da Unidade, identifique três maneiras

de como a organização dos sistemas políticos afeta as polí-

ticas empresariais.

3. Descreva algumas maneiras de como a globalização afeta

nossas vidas no Brasil.

Page 86: Ciencia Politica[1]
Page 87: Ciencia Politica[1]

Objetivo

Nesta Unidade, você vai conhecer e compreender

as temáticas do planejamento e do processo

decisório, sob o ângulo da Ciência Política.

3UNIDADE

Planejamentoe tomada de decisões

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88 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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89Período 1

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3Decisões políticas, estratégicas,táticas e operacionais

Caro estudante!

A Unidade 3 vai tratar do planejamento e do pro-cesso decisório de acordo com a visão da CiênciaPolítica. Leia com atenção e realize as atividadesque estão indicadas ao final da Unidade. Sua lei-tura, a realização das atividades e os contatos como tutor e o professor têm um só objetivo: ajudá-lono processo de construção do conhecimento e nodesenvolvimento de habilidades que caracteriza-rão seu novo perfil profissional ao final do curso.E então? O que está esperando? Vamos juntos nabusca de mais conhecimento.

Ao falar sobre decisão, não estou lidando com um aspectoaltamente especial do processo político, mas com seu núcleocentral. Votar, legislar, adjudiciar e administrar têm sido sem-pre concebidos como processos de tomada de decisão.As ferramentas da análise política – legais históricas ecomportamentais - têm sido sempre adaptadas à análise dadecisão. O uso de uma estrutura da tomada de decisão para apesquisa política não é novo; ao contrário, representa o desen-volvimento contínuo por caminhos que se estendem até osprimórdios da ciência política (SCHWARTZMAN, 1970, p. 24).

odo estudante de Administração aprende, desde as fases inici-ais de seu curso, que o Planejamento é uma das funções doadministrador. Nesse sentido, as “Ciências da Administração”

dividiram o processo de planejamento em três modalidades:

Planejamento estratégico: trata das decisões de longo prazo;

Planejamento tático: aborda o médio prazo; e

Planejamento operacional: refere-se a decisões de curto prazo.

T

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90 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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Quadro 7: Níveis de decisão e tipos de planejamentoFonte: adaptado de Oliveira (1998)

Toda organização, para um bom desempenho de suas funções,deveria trabalhar de forma articulada com essas três dimensões doplanejamento e da tomada de decisão, de modo a obter os melhoresresultados. Em síntese, a contribuição do processo de planejamento éestabelecer metas para o futuro (distante e próximo) com base nosdados do presente e do passado. Quanto maior for a quantidade e aqualidade de informações disponíveis e quanto mais claros forem amissão e os objetivos da organização, melhores serão as chances deobter bons resultados com o planejamento.

Apesar de o planejamento ser uma função administrativa am-plamente difundida no universo empresarial, ele tem grande possibili-dade de uso no universo da Administração Pública. Aliás é digno dedestaque que a primeira aplicação sistemática das técnicas de plane-jamento social surgiu na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS), quando, em 1918, foi elaborado o Plano Nacional de Eletrifi-cação (GIOVANELLA, 1991).

Considerando essas discussões mais gerais sobre o planeja-mento e a tomada de decisões, vamos ver, nesta Unidade, quais sãoas principais características dos processos de decisão política.

Já tivemos a oportunidade de discutir anteriormente as princi-pais características dos sistemas políticos, bem como suas transfor-mações ao longo da história. No aspecto histórico, vimos que o Esta-do assume diferentes feições, dependendo do contexto histórico, e que,no Século XX, presenciamos os processos de expansão (a partir dosanos 1930) e retração do Estado (a partir da década de 1970) naoferta de serviços públicos e na regulação das atividades econômicas.

Nesse processo, identificamos que o Estado como instituiçãosurgiu para resolver os problemas da vida em coletividade e que apolítica é o meio pelo qual existe a expressão de procedimentos desti-nados à resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos (MA-GALHÃES, 2001).

A relação entre planejamento estratégico e decisões estratégi-cas pode ser observada no Quadro 7:

Nível estratégico

Nível tático

Nível operacional

Decisões estratégicas

Decisões táticas

Decisões operacionais

Planejamento estratégico

Planejamento tático

Planejamento operacional

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!

Conforme Muller (apud RUA, 1998, p. 237 ), três são os níveisem que a política está presente na sociedade:

Plano Constitucional (Polity): é o espaço de distinçãoentre a esfera da política e a da sociedade, podendo a fron-teira entre as duas variar conforme os lugares e as épocas;

Plano da Atividade Política (Politics): designa a ati-vidade política em geral, como as disputas partidárias, acompetição eleitoral etc.; e

Plano das Políticas (Policies): designa, enfim, a políti-ca pública, ou seja, o processo pelo qual são elaborados eimplementados os programas de ação pública.

Retomando a discussão do processo decisório, quando acon-tece determinada ação governamental, em geral, dizemos que ela éuma decisão política. Esse tipo de decisão materializa-se naquilo quese denomina de Política Pública.

Segundo o trabalho de Magalhães (2001, p. 252), as políticaspúblicas podem ser entendidas como produtos, “resultantes de ativi-dades políticas: compreendem o conjunto de decisões e ações relati-vas à alocação imperativa de valores”. Em outras palavras, e seguin-do-se o vocabulário acima, pode-se dizer que:

As políticas públicas (policies) compreendem as açõespúblicas, exercidas por meio dos processos políticos(politics), que são regulados por um plano normativo/constitucional (polity)

Diante desse conceito, torna-se necessário distinguir a políticapública e a decisão política. De acordo com Magalhães (2001, p. 252):

Decisão política: corresponde a uma escolha dentre umleque de alternativas, conforme a hierarquia de preferênci-as dos autores envolvidos, expressando uma certa adequa-ção entre os fins pretendidos e os meios disponíveis. Exem-plo: emenda de reeleição presidencial.

Política pública: geralmente envolve mais do que umadecisão e requer diversas ações estrategicamente

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92 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 selecionadas para implementar as decisões tomadas. Exem-plo: privatização de estatais e reforma agrária .

Considerando-se o fato de que as políticas públi-cas são mais amplas do que as decisões públicas,veja como se dá o desenvolvimento seqüencial daspolíticas e das decisões políticas, na próxima seção.

Saiba mais...Uma análise histórica do uso das técnicas de planejamento nos setorespúblico e privado pode ser encontrada em: GIOVANELLA. As origens e ascorrentes atuais do enfoque estratégico em planejamento de saúde naAmérica Latina. Cadernos de Saúde Pública, 7 (1), jan./mar., 1991. p. 26-44. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v7n1/v7n1a04.pdf>.

A seqüência das políticas públicas e as decisões

A partir dessa conceituação, vamos discutir sobre o chamadociclo das políticas públicas. Em geral, a abordagem seqüencial definea construção da agenda pública, a produção de soluções e/ou alterna-tivas, a decisão pública, a análise e avaliação do programa e a im-plantação do programa, como fases de uma política pública (MULLERapud RUA, 1998). Veja os detalhes de cada uma das fases:

Construção da agenda pública

Você sabe como um problema social se transformanum problema público? Vamos ver juntos!

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3Segundo Rua (1998), podemos ter um dado “estado de coisas”que incomode e prejudique muitas pessoas, durante um longo períodode tempo. Quando esse “estado de coisas” começa a chamar a aten-ção das autoridades governamentais, podemos dizer que temos umproblema político, ou seja, o problema chegou à agenda pública. Se-gundo a análise de Boudouin (2000, p. 267), uma política pública“[...] advém quando um conjunto de problemas são vistos como apos-tas que obrigam por conseguinte as autoridades políticas a inscrevê-las na agenda governamental, a fortiori a tratá-las activamente e dar-lhes respostas mais ou menos coerentes”.

Grande parte da atividade política dos governantes destina-seà tentativa de dar respostas e de satisfazer às demandas que lhes sãocolocadas pelos grupos sociais ou aquelas formuladas pelos própriosatores do sistema político. É na tentativa de processar as demandas quese desenvolvem aqueles “procedimentos formais e informais de resolu-ção pacífica de conflitos” que caracterizam a política (RUA, 1998).

Segundo Rua (1998), existem três tipos de demandas: as no-vas, as recorrentes e as reprimidas, que se subdividem em: estado decoisa e não decisão. Veja:

demandas novas: são aquelas decorrentes do surgimentode novos atores políticos ou de novos problemas, a saber:

novos atores: são atores que surgem a partir denovos problemas “públicos” ou aqueles que já existi-am antes, mas eram desorganizados, e a partir dedeterminado contexto passam a se organizar e pres-sionar o sistema político. Exemplo: bancada evangé-lica do Congresso Nacional; e

novos problemas: são problemas que não existiam(como a AIDS) ou que não pressionavam o sistemapolítico para exigir uma solução (como a questãoambiental).

demandas recorrentes: são aquelas que materializamproblemas não resolvidos ou mal resolvidos pelo sistemapolítico, que estão sempre voltando a aparecer no debatepúblico e na agenda dos governantes. No caso brasileiro,um exemplo é a Reforma Agrária, que desde muito tempoé uma questão com soluções parciais, as quais prolongamuma solução efetiva.

FotioriFotioriFotioriFotioriFotiori – é o início de uma

expressão latina - a fortiori

ratione - que significa por

causa de uma razão mais

forte, ou seja, com muito

mais razão. Fonte:

www.sualingua.com.br

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94 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 demandas reprimidas: são aquelas que não conseguempenetrar/chegar ao sistema político, sendo barradas ou ten-do seu processo decisório trancado. Não entram na pautada ação estatal, pois ameaçam fortes interesses ou contra-riam códigos de valores estabelecidos. Nesse sentido, ten-dem a encontrar grandes resistências para serem aceitascomo um problema político (problema público) legítimo.Temos dois tipos de demandas reprimidas (RUA, 1998):

estado de coisas: ocorre quando uma situação per-siste durante muito tempo, incomodando as pessoasgrupos sociais e gerando insatisfação sem, entretan-to, conseguir mobilizar as autoridades governamen-tais, não chegando a constituir um item da agendagovernamental; e

não-decisão: um determinado “estado de coisas”também pode permanecer pela não-decisão, que “sig-nifica que determinadas temáticas que ameaçam for-tes interesses, ou que contrariam os códigos de valo-res de uma sociedade – e, da mesma forma, amea-çam interesses – encontram obstáculos diversos e devariada intensidade à sua transformação de estadode coisas em problema político – e, portanto, à suainclusão na agenda governamental. Trata-se, portan-to, de algo como uma demanda reprimida.” (RUA,1998, p. 239). O conceito foi desenvolvido porBacarach e Baratz (1979).

Em geral, três são as formas em que um estado de coisas setransforma num problema político (Cf. RUA, 1998):

crise/catástrofes;

mobilização dos atores sociais; e

oportunidade política.

É facilmente perceptível que, no Brasil, as duas primeiras sãoas formas mais comuns de problemas sociais a chegar à agenda pú-blica. Um exemplo típico de catástrofe são os desabamentos em en-costas de morros, ou seja, os problemas da ocupação do espaço e dapolítica habitacional só existem quando há uma tragédia que obrigaas autoridades governamentais a agir.

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3A mobilização social ocorre geralmente por meio de movimen-tos sociais que se constituem em função de alguma demanda por di-reitos ou serviços, em que recorrem ao Estado para a resolução deseus problemas. No Brasil, os movimentos de maior visibilidade sãoaqueles relacionados à luta pela terra e os de ambientalistas. Temos,igualmente, importantes manifestações no campo dos movimentospelos direitos humanos.

A terceira forma de um problema se transformar numa agendapública é quando o gestor público se antecipa à própria mobilizaçãosocial e identifica uma oportunidade política na implementação deum programa governamental. Isso é caso raro no Brasil, mas temosalguns exemplos de gestores que identificam, por exemplo, a oportuni-dade de implementar uma política industrial oude infra-estrutura, visando a propiciar o desen-volvimento econômico.

Ainda com relação à formação da agen-da pública, deve-se destacar que as dimensõesestruturais e ideológicas ocupam papel signifi-cativo nesse processo. O sociólogo alemão ClausOffe (1984) considera que o sistema de normaslegais e culturais existentes na sociedade se cons-titui num sistema de filtros que atuam na seleção do que merece ounão ser alvo da ação do Estado. Como exemplo, o fato da Constitui-ção de um país regulamentar a idéia de propriedade privada vai serum definidor do horizonte da ação estatal.

Produção de soluções e/ou alternativas

A partir do momento em que é diagnosticado o problema ouque uma demanda chega à agenda do Estado, a tarefa seguinte é abusca de soluções para sua resolução. De acordo com Boudouin(2000, p. 271):

O estudo e a escolha de soluções concebíveis representa umaprimeira etapa em que é freqüente deparar-se com modelosde mobilização e antecipação. Os “decisores” mobilizam, comefeito, as competências e o saber-fazer dos círculos mais oumenos alargados: círculos “técnicos” em que é requerido oparecer dos peritos para imaginar cenários, calcular custos eembaraços, avaliar as performances; círculos “jurídicos” desti-

vO tema dos atores

do processo de

decisão política

será abordado

com mais detalhes

na segunda parte

desta Unidade.

Claus Offe

sociólogo alemão, nascido em 1940. É professor

de sociologia no Instituto de Sociologia Política da

Universidade Humboldt de Berlim e membro da

segunda geração da Escola de Frankfurt e sua teo-

ria crítica. Fonte: www.infoamerica.org (2007)

Tô a fim de saber

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96 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 nados a apreciar a legalidade ou até mesmo aconstitucionalidade de medidas encaradas; círculos mais “po-líticos” – amigos pessoais, conselheiros, líderes influentes dosmeios partidários ou parlamentares – convidados a apreciar aaceitabilidade social do projecto.

Nesse processo de produção de soluções, alguns passos mere-cem melhor esclarecimento:

O primeiro passo é o gestor se municiar com o maior nú-mero de informações sobre o problema em questão. Dentreas informações fundamentais estão os indicadores, (ou seja,o problema deve ser, quando possível, quantificado pormeio de todas as informações disponíveis). Exemplo: se oproblema que desejo resolver é o desemprego, é fundamen-tal que eu tenha em mãos dados sobre o número de desem-pregados em minha região, as causas do desemprego e osíndices de crescimento econômico, entre outros.

Outro tipo de informação fundamental no diagnóstico é aconsulta à legislação sobre a política que se pretendeimplementar. A questão aí é evitar problemas como ainconstitucionalidade de uma decisão ou formular uma po-lítica em desacordo com as diretrizes estabelecidas nas leisorgânicas e nos estatutos de determinada área. Exemplo: aoreformular um plano diretor, é fundamental que esse proces-so seja realizado de acordo com o Estatuto das Cidades.

Com bons indicadores em mãos, o gestor tem a sua dispo-sição uma série de instrumentos para auxiliar seu processodecisório. O próximo passo, então, é o planejamento dapolítica. Nesse caso, busca-se estabelecer possíveis ca-minhos para solução do problema identificado. Duas sãoas formas de planejar uma política pública. A primeira é oplanejamento tradicional ou tecnocrático, cujo gestor,amparado em seu conhecimento técnico, decide sozinhoou com um grupo de especialistas a melhor forma de atua-ção. Esse tipo de planejamento, apesar de ganhar emracionalidade, tem, muitas vezes, sérios problemas de legi-timidade, ou seja, os atingidos pela política em questãonão reconhecem aquela política como legítima. Pode ain-da ter problemas de viabilidade, isto é, nem todas as va-

vPara obter informações

sobre as principais fon-

tes de indicadores no

Brasil, ver a obra de

Paulo Januzzi, Indica-

dores sociais no Bra-

sil (2003)

vSobre o tema do

gerenciamento das ci-

dades, os planos di-

retores e o Estatuto da

Cidade, consultar o

material produzido

pelo Instituto Polis

(2005), intitulado Kit

das cidades.

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97Período 1

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3riáveis podem ser consideradas no processo de planeja-mento, o que acarreta a inviabilização do projeto em ques-tão. Diante dessas deficiências do planejamento tecnocrático,no final da década de 1980 começou a ganhar cada vezmais força aquilo que ficou denominado de planejamen-to participativo. Nesse tipo de planejamento, os váriosatores envolvidos na política são chamados para decidir,junto com o poder público, as melhores soluções. Esse tipode planejamento tem a vantagem de superar os problemasde legitimidade e viabilidade do modelo anterior, promo-vendo ainda a possibilidade de mudanças culturais, no sen-tido de produzir uma sociedade mais participativa e co-gestora dos projetos governamentais. O Brasil tem vivenciadovárias experiências de planejamento participativo. Dentre asprincipais estão o orçamento participativo e os congressosda cidade. No primeiro, a população define, juntamentecom o poder público, as prioridades de investimentos parao ano seguinte. Já os congressos da cidade definem umplanejamento de que tipo de cidade os cidadãos querempara o futuro. Os reflexos mais imediatos desses congres-sos são as reformulações dos planos diretores municipais.

Uma derivação do planejamento da política pública é ofinanciamento para o programa em questão, ou seja,concomitante ao ato de planejar, o gestor deve buscar to-das as informações necessárias sobre o financiamento dapolítica que está propondo, sob pena de comprometer to-das as demais fases do processo.

A decisão pública

Finalizado o planejamento, parte-se para a decisão sobre osrumos de atuação. Nesse processo, há um entrelaçamento entre aspolicies, politics e polity, de modo que o conteúdo da política deve seravaliado pelos atores envolvidos com o tema.

O processo decisório pode assumir diversas formas, dependen-do do tipo de política em questão e dos atores que estão envolvidos noprocesso (Dentre os principais atores políticos “públicos”, podemoscitar os políticos e a burocracia do Estado. Dentre os atores políticos“privados”, destacam-se empresários, movimentos sociais, trabalha-

v

Sobre tais temas e ex-

periências desenvolvi-

das no Brasil, importan-

te fonte de consulta são

as publicações do Insti-

tuto Polis na série De-

safios da Gestão Muni-

cipal e o boletim Dicas:

idéias para ação muni-

cipal. Informações sobre

tais publicações podem

ser obt idas em:

<www.polis.org.br>.

vPara maiores informa-

ções sobre os processos

de financiamento das

políticas públicas no

Brasil, ver a obra de José

Matias Pereira, Finanças

Públicas (2003). No

campo específico do or-

çamento público, ver a

obra de James

Giacomoni, Orçamento

público (1994).

Page 98: Ciencia Politica[1]

98 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 dores (movimento sindical), agências internacionais e a mídia.). Den-tre os modelos de processo decisório, destacam-se o incremental eo racional-compreensivo.

Modelo incremental: de acordo com Rua (1998), parte-se do pressuposto de que a decisão pública deve ser gradu-al, num processo contínuo de negociação, ouvindo as vári-as partes interessadas, sem produzir grandes modificaçõese sem provocar rupturas.

Modelo racional-compreensivo: parte do princípio deque é possível conhecer o problema de forma objetiva etécnica, de tal forma que se possam tomar decisões de gran-de impacto, ou seja, nesse modelo, “os decisores estabele-cem quais os valores a serem maximizados e as alternati-vas que melhor poderão levar a isso” (RUA, 1998, p. 246).

Os dois modelos de processo decisório oferecem apenas umagama de possibilidades que estão abertas ao gestor público no mo-mento de decidir sobre o curso de ação que deverá adotar paraimplementar uma determinada política. Não constituem, porém, ne-nhuma garantia de que tal política será executada, pois, como obser-va Rua (1998, pp. 250-251):

[...] a rigor, uma decisão em política pública representa ape-nas um amontoado de intenções sobre a solução de um pro-blema, expressas na forma de determinações legais: decretos,resoluções, etc. Nada disso garante que a decisão se transfor-me em ação e que a demanda que deu origem ao processoseja efetivamente atendida.

A implementação do programa

Essa fase diz respeito aos meios necessários para que as fasesanteriores saiam do papel e consigam produzir reflexos sobre a reali-dade (mudar o “estado de coisas”). Estudos têm demonstrado quetrês variáveis são fundamentais para o sucesso de programas e proje-tos governamentais:

compromisso governamental;

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99Período 1

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3 desenho institucional; e

capital social.

A variável compromisso indica o grau de comprometimento(organizacional, técnico e financeiro) do governo com o programa queestá sendo implementado. Já o desenho institucional indica desdea precisão do diagnóstico até a adequação do programa (regras, es-trutura e procedimentos) aos atores e interesses em disputa na políti-ca em questão. Por fim, a variável capital social vem recebendoatenção especial dos estudos sobre políticas públicas, pois identificao tipo de base social que é necessária à implementação de um projetocom bons resultados.

Putnam (1996), em um exaustivo estudo sobre a Itália, identifi-cou que os resultados de um programa de descentralização político-administrativo estavam diretamente relacionados aos níveis deassociativismo e confiança (interpessoal e institucional) da sociedadeque era objeto dessa política.

Ainda com relação a implementação é importante destacar aavaliação feita por Boudouin (2000, p. 272):

A execução [implica] (...) que sejam postas à disposição dasinstâncias responsáveis os recursos financeiros, os meios ad-ministrativos e os equipamentos técnicos sem os quais ficarialetra-morta. Mas ao mesmo tempo que tenta inscrever no di-reito e nos factos um programa determinado, gera novos ci-clos que não estacam necessariamente incluídos no cenárioinicial. É raro que uma política pública produza efeitos abso-lutamente previsíveis e totalmente virtuosos. É quase sempreuma escolha no incerto, provocando efeitos não requeridos eindesejáveis. Quando um governo não sabe reunir os apoiosnecessários à aplicação serena de sua política, corre o risco desuscitar a formação de “grupos-veto” que do interior ou doexterior da esfera governamental se mobilizarão para renegociareste ou aquele aspecto do projecto ou mesmo exigir a suaretirada pura e simples. É igualmente freqüente que o governoencontre na aplicação de suas decisões a resistência silenciosae eficaz de suas próprias administrações. O executor podemostrar-se cordato ou obstrutor.

Page 100: Ciencia Politica[1]

100 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 Análise e avaliação do programa

Após a implementação, o próximo passo é a análise e avalia-ção de seus resultados. Por análise, entende-se o estudo da configura-ção institucional e dos traços constitutivos da política. Visa-se, pormeio desta, identificar os principais elementos caracterizadores dapolítica e de suas possíveis correlações com o êxito ou fracasso doprograma em questão. Já a avaliação busca identificar relações decausalidade entre o programa em questão e o problema que ele sepropôs a resolver. Três são as formas de avaliação de políticas: eficá-cia, eficiência e efetividade (ARRETCHE, 2001):

por avaliação de eficácia, entende-se a relação entre osobjetivos e instrumentos explícitos de um programa e seusresultados efetivos;

já a avaliação de eficiência busca verificar a relação en-tre o esforço empregado na implementação e os resultadosalcançados (ou seja, a melhor relação custo/benefício); e

por fim, a avaliação de efetividade verifica a relação en-tre o programa e seus impactos e resultados (sucesso oufracasso na mudança das condições de vida).

A grande dificuldade para avaliar uma política pública é con-seguir estabelecer as relações causais entre os fenômenos, isto é, iso-lar as variáveis corretas e identificar que tal resultado foi causado exa-tamente por tal ação. Exemplo: Como conseguir identificar que amelhoria nos índices de mortalidade infantil foi resultado de um pro-grama de saúde da família? Como isolar as variáveis? Que outroselementos podem ter influenciado esses indicadores?

Conclusão do programa

A conclusão de um programa é algo não consensual entre ospesquisadores, pois o fim de um programa pode significar tanto suaextinção quanto a realização dos objetivos para os quais ele foi cria-do. Na verdade, conforme Rua (1998) a finalização de políticas públi-cas no Brasil tem sido muito mais resultado da limitação de recursosfinanceiros, humanos e organizacionais do que da resolução dos pro-blemas para os quais elas foram criadas.

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101Período 1

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3Decisão política e atores políticos

Como você viu, a mobilização social é uma dasformas para os problemas públicos entraram naagenda decisória do Estado. No entanto, é funda-mental ter clareza, como vimos na Unidade 1, queos recursos políticos e a influência dos diversosatores sociais se distribuem de maneira desigualna sociedade, o que confere capacidades diferen-ciadas para os diferentes grupos organizados te-rem suas demandas atendidas pelo Estado. Agoravocê deve estar se perguntando: quem são os ato-res sociais mais importantes do processo de deci-são política? Como se articulam e influenciam aspolíticas públicas? Pois bem, vamos as respostas!

Destaca Magalhães (2001) que um tema de crescente interessena análise do processo de decisão tem a ver com a afinidade entre osmétodos de formulação de políticas públicas e a maneira como searticulam os atores organizados com as arenas decisórias do Estado.

Da análise de Rua (1998) identifica-se que os atores políticossão todos aqueles que estão envolvidos com as decisões públicas. Elespodem ser divididos em dois grupos, conforme a autora:

Atores públicos: aqueles que exercem funções públicas.Eles podem se dividir também em dois subgrupos:

políticos: cuja posição resulta de mandatos obtidospelo voto popular e cuja atuação é condicionada pelopertencimento a partidos políticos; e

burocratas: ocupam cargos públicos dentro de umaestrutura de carreira e sua atuação requer um co-nhecimento especializado seja sobre procedimentosburocráticos (burocracia), seja sobre questões técni-cas (tecnocracia).

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102 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 Atores privados: são aqueles que não mantêm vínculocom o Estado e devem contar com recursos privados parafazer valer seus interesses. Exemplos de atores privados sãoos empresários organizados em suas entidades de classe, ostrabalhadores em seus sindicatos, as organizações não-go-vernamentais e as associações de moradores, entre outros.

A articulação desses vários atores públicos e privados por meiode diferentes espaços (mídia, manifestações, lobbies) vai definir acapacidade de influência que cada um deles terá no processo de deci-são política. Em geral, os estudos sobre decisão política têm demons-trado que existe distribuição desigual na capacidade dos diferentesgrupos de influenciar a política e que essa desigualdade está associa-da, principalmente, ao poder econômico.

Decisões políticas e alternativas decisórias

Como foi visto, cada ator tem recursos de poder diferenciados,bem como suas preferências, que se articulam em torno de questões. As-sim, a formulação de alternativas decisórias envolve, segundo Rua (1998):

preferências: que podem ser entendidas como o tipo desolução que o ator prefere para o problema em questão;

recursos de poder: são os instrumentos à disposição dosatores para influenciar a escolha de determinada política;é a capacidade de afetar o funcionamento do sistema;

issues e questões: referem-se a uma dimensão da deci-são que impacta os interesses de vários atores, provocan-do sua mobilização e gerando conflitos entre eles. Exem-plo: na reforma agrária, seriam issues (RUA, 1998): o con-ceito de terra improdutiva; a forma de indenização; e o ritode desapropriação.

Segundo Magalhães (2001, p. 269) eles são issues ou ques-tões, porque, de acordo com a decisão a ser tomada quanto a essesconceitos e procedimentos, alguns atores ganham e outros perdem, de

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103Período 1

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3forma que seus interesses são impactados pela política, e vão assumiruma configuração ou outra.

Ainda no campo das alternativas decisórias é interessante in-cluir as reflexões de Dahl (1970, p. 137). Para esse autor: “as decisõesque tomamos são influenciadas pela avaliação que fazemos do mun-do, de nossa posição nele. Sempre que decidimos comprar um auto-móvel, aceitar um emprego, tomar férias, votar nas eleições... estamosfazendo avaliações”.

Ainda segundo Dahl, os tipos de avaliação que fazemos sãosempre os mesmos, independentemente do conteúdo das decisões.O que varia são a substância e o conteúdo das avaliações, ou seja,“não usamos as mesmas informações para decidir sobre automóveise candidatos presidenciais” (DAHL, 1970, p. 137). Nesse sentido, citao autor os principais tipos de avaliação presentes nos processos dedecisão, os quais reproduzimos na seqüência, com o intuito de facili-tar a compreensão da problemática envolvida no processo decisório(DAHL, 1970, pp. 138-140):

Primeiro, as decisões de um indivíduo dependem do que, aseu ver, constituem as alternativas de linhas de ação de que“dispõe” ou que lhe estejam “abertas”, se é que existem (...).

Segundo, a decisão de um indivíduo depende de como ele vêas possíveis conseqüências de cada uma das linhas deação.(...).

Terceiro, as decisões dependem do valor atribuído às conse-qüências de cada alternativa (...).

Quarto, pois, em situações de incerteza, a decisão dependedas suposições, pressentimentos ou estimativas do indivíduoem relação à probabilidade de ocorrência real das váriasconseqüências. (...).

Quinto, em situações de incerteza, a decisão dependerá dasatitudes em relação a riscos, incertezas e jogo.(...).

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104 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 Desafios aos processos de decisãodo moderno gestor público

Dentre os modernos desafios colocados ao moderno gestor pú-blico, destacamos três:

necessidade cada vez maior de conciliar participa-ção e eficiência nos processos de gestão das polí-ticas: as mudanças nos planos jurídico, político e culturalvêm demandando dos gestores a criação de espaçosdeliberativos para que os cidadãos possam interferir norumo da ação do Estado. A partir da Constituição Federalde 1988, esses espaços ganharam força de lei em algumasáreas. Tem-se hoje a obrigação dos vários entes da federa-ção constituírem conselhos gestores de saúde, educação,meio ambiente, etc. Além disso, a pressão popular vemdemandando a criação de outros espaços de participaçãoda população nos assuntos da vida pública.

Essa participação, porém, deve ser cada vez mais condi-zente com uma atuação eficiente, eficaz e efetiva da Admi-nistração Pública na resolução dos problemas sociais.É necessário, cada vez mais, buscar a conciliação entreesses dois princípios que, num primeiro momento, são ti-dos como opostos. Essa conciliação entre participação eeficiência tem demandado toda uma discussão, que vemsendo abordada mediante o conceito de “governançainterativa”, que, segundo Frey (2004, p.8), é

[...] orientada pela lógica governamental, [mas] reconhece,porém, a importância de criação de novas estruturas interativas,não apenas com o intuito de tranqüilizar ou reprimir o protes-to social, mas, antes de tudo, como objetivo de reinventar asformas de gestão no sentido de transformar os atores da soci-edade civil em aliados na busca de melhores resultados tantoreferente ao desempenho administrativo quanto em relaçãoao aumento da legitimidade democrática.

necessidade de incluir a temática da sustentabilidadeambiental em todas as políticas públicas: a questão

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105Período 1

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3

r

da sustentabilidade ambiental das políticas e dos progra-mas governamentais deve ser tratada de forma transversal,vindo a impactar todos os programas e órgãos governa-mentais. A administração municipal sofre de maneira maisaguda esses impactos, pois novos instrumentos, como oEstatuto das Cidades e a Agenda 21, demandam essaintegração entre as várias polí t icas e o tema dasustentabilidade.

o Estado vem perdendo o monopólio dos processosde formulação e gestão das políticas públicas: osurgimento e a dinamização do terceiro setor vêm provo-cando uma série de mudanças na relação Estado e Socie-dade, em que esta assume não somente espaços de partici-pação decisória como destacado acima, mas também tomaparte na elaboração e implementação de programas. Al-guns autores denominam esse processo de surgimento deum “público não estatal”, enquanto outros identificam aíum processo de “privatização do Estado”. Independente-mente da forma como interpretamos essa questão, surge odesafio e a necessidade de lidar com uma série de novosatores que atuam juntamente com o Estado na resoluçãodos problemas derivados da vida em coletividade.

RRRRResumindoesumindoesumindoesumindoesumindoA Unidade 3 foi dedicada ao plano das decisões políti-

cas. Vimos aí a distinção entre decisões estratégias, táticas e

operacionais, bem como sua aplicação no universo da política.

Nesse sentido, tratamos do ciclo das decisões políticas, onde fo-

ram apresentadas as diferentes fases da definição de agenda,

formulação, implementação e análise/avaliação de uma decisão.

Agenda 21Agenda 21Agenda 21Agenda 21Agenda 21– oficialmente

chamada de Conferência

das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente, é o resulta-

do do encontro que reuniu

179 países no Rio de Ja-

neiro em 1992. Neste encon-

tro, foram abordados assun-

tos relacionados com a polui-

ção, o esgotamento dos recur-

sos naturais e a qualidade de

vida humana e sua relação

com o desenvolvimento eco-

nômico. Conheça a Agenda 21

brasileira em: http://

www.ambiente.sp.gov.br/

a g e n d a 2 1 b r a s /

agendabras.htm

Estatuto da CidadeEstatuto da CidadeEstatuto da CidadeEstatuto da CidadeEstatuto da Cidade – é

a denominação oficial da Lei

nº 10.257/2001. Suas

principais características estão

na atribuição aos municípios

da implementação de planos

diretores participativos para as

suas cidades, definindo uma

série de instrumentos urba-

nísticos que têm no com-

bate à especulação imobi-

liária e na regularização

fundiária dos imóveis urba-

nos seus principais objeti-

vos. Fonte:

www.estatutodacidade.com.br

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106 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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3 AAAAAtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprendizagemendizagemendizagemendizagemendizagem

Nesta Unidade você estudou o planejamento e oprocesso decisório, na visão da Ciência Política.Se você entendeu o conteúdo, não terá dificulda-des de responder as atividades propostas. Depoisde respondidas, encaminhe-as para seu tutor atra-vés o Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem.

1. Estabeleça diferenciações entre as decisões estratégicas,

táticas e operacionais, citando exemplos de sua aplicação

na realidade das organizações.

2. Entre os elementos constituintes do ciclo das políticas pú-

blicas está o processo decisório. O que você entende por

decisão pública, citando exemplos na realidade, de apli-

cação dos modelos incremental e racional-compreensivo?

Page 107: Ciencia Politica[1]

107Período 1

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3

Objetivo

Nesta Unidade, você vai estudar um dos temas mais

clássicos da Ciência Política: a participação.

4UNIDADE

Participação einformação

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108 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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4

Page 109: Ciencia Politica[1]

109Período 1

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4O que é participação?

Neste momento você deve estar se perguntando:Mas o que significa participar? Qual é sua impor-tância para nossas vidas? Qual é a relação entre apolítica e a participação? Como se relacionam par-ticipação e informação? Pois bem, essas são algu-mas questões que buscaremos desenvolver ao lon-go desta Unidade.

Sugerimos que você busque ampliar seus conheci-mentos em outras fontes de pesquisa de seu inte-resse, como sites, livros e artigos, entre outros.Procure estar sempre atualizado, pois isto é funda-mental para um bom profissional. Se tiver dúvidas,faça contato com seu tutor!

ara responder o que é participação, recorremos ao livro deBordenave, (1994). O autor inicia sua argumentação afirman-do que o interesse por participação tem se generalizado no Bra-

sil nos últimos anos. Diversas são as formas em que a sociedade semobiliza: associações, organizações não-governamentais, comunida-des de base e outras.

Bordenave identifica uma certa contradição entre os impulsosmassificadores e individualizadores do mundo contemporâneo, atra-vés da comunicação de massa e do incentivo ao consumo, e o desejodas pessoas de participarem e se envolverem nos negócios públicos.É como se o mundo conspirasse para a apatia, mas a sociedade, emalguns espaços, resistisse a isso, através de sua mobilização.

Antes de prosseguir na discussão sobre as razões que levam aspessoas a participar, temos de formular um conceito claro sobre o que éparticipação. Destaca Bordenave (1994, p. 22) que quando nos referi-mos a essa expressão, estamos nos remetendo a uma das três dimensões:

fazer parte;

tomar parte; e

ter parte.

P

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110 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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!

Nas palavras do autor “De fato, a palavra participação vem dapalavra parte. Participação é fazer parte, tomar parte ou ter parte [...]”(BORDENAVE, 1994, p. 22).

Mas será que as três expressões possuem o mes-mo significado?

A resposta é não, pois alguém pode fazer parte de um grupo(ex. uma associação de moradores) sem tomar parte das reuniões oufazer parte da população de um país sem tomar parte nas grandesdecisões, ou, enfim, fazer parte de uma empresa sem ter parte algumana sociedade (BORDENAVE, 1994).

Isso tudo indica, segundo Bordenave, que é possível fazer partesem tomar parte e que “a segunda expressão representa um nível maisintenso de participação” (BORDENAVE, 1994, p. 22). Disso deriva adiferenciação entre participação ativa e participação passiva:

Na participação ativa o cidadão toma parte, age frenteà realidade, enquanto na passiva o cidadão faz parte,apenas integrando a realidade.

Tipos de participação

Em qualquer manual de Sociologia, podemos encontrar afir-mações de que, ao longo de nossas vidas, somos socializados por di-versas instituições. Em geral, estas são classificadas em primárias,secundárias e terciárias, e é através delas que desenvolvemos as nos-sas práticas participativas:

grupos primários: família, amigos, vizinhos;

grupos secundários: associações profissionais e sindica-tos; e

grupos terciários: partidos políticos e movimentos de clas-se (BORDENAVE, 1994, p. 23).

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111Período 1

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4Em função desses grupos, podemos falar em processos demicro e macroparticipação.

Para Meister (apud BORDENAVE, 1994, p. 24), a micro-par-ticipação é a associação voluntária de duas ou mais pessoas numaatividade comum na qual elas não pretendem unicamente tirar bene-fícios pessoais e imediatos.

Já a macroparticipação, segundo Bordenave (1994, p. 24),é a intervenção das pessoas nos processos de constituição ou modifi-cação social, quer dizer, “na história da sociedade”.

Conclui Bordenave (1994, p. 25) que uma sociedadeparticipativa:

[...] seria, então, aquela em que todos os cidadãos têm partena produção, gerência e usufruto dos bens da sociedade demaneira eqüitativa. Toda a estrutura social e todas as institui-ções estariam organizadas para tornar isso possível.

Podemos questionar até que ponto esse tipo de participação épossível ou mesmo desejável, diante de uma sociedade como a brasi-leira, com 180 milhões de habitantes e com um nível de complexidadesocial extremamente grande. Como garantir diversos canais de parti-cipação para toda a população? Seria viável?

Essas são questões para as quais não temos respostas. Existe,sobre isso, uma longa discussão entre filósofos, cientistas políticos esociólogos, mas não se tem consenso. Alguns afirmam que uma soci-edade amplamente participativa e mobilizada seria desejável e ajuda-ria na resolução de problemas políticos, econômicos e sociais. Alémdo mais, produziria cidadãos mais preocupados com a coisa pública.Já os críticos da participação dizem que ela, quando em excesso, pro-duz desordens e excesso de demandas para os governantes.

Com o intuito de melhorar o posicionamento sobreessas questões, vejamos mais algumas definiçõesrelacionadas ao tema da participação.

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112 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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4 Maneiras de participar

Bordenave (1994) diferencia seis maneiras de participar: defato, espontânea, imposta, voluntária, provocada e concedida. Veja-mos cada uma delas:

De fato: aquele tipo em que a simples existência da socie-dade nos impele a fazer parte, ou seja, a participação nafamília, no trabalho, na busca pela subsistência. Em outraspalavras, é o tipo de participação a que todos os seres hu-manos estão sujeitos a partir do momento em que decidi-ram viver em sociedade.

Participação espontânea: está relacionada ao ato doindivíduo se inserir em determinados grupos, por livre op-ção, como os grupos de vizinhos e amigos, os quais nãopossuem “organização estável ou propósitos claros e defi-nidos a não ser os de satisfazer necessidades psicológicasde pertencer, expressar-se, receber e dar afeto; obter reco-nhecimento e prestígio” (BORDENAVE, 1994, p. 27).

Participação imposta: os indivíduos são levados a par-ticipar, seja por códigos morais de determinados grupos, sejapor legislação específica que define a obrigação de partici-par. O caso mais típico no Brasil é o voto obrigatório.

Participação voluntária: o grupo é criado pelos própri-os participantes que definem sua forma de organização,objetivos e métodos. Bordenave cita, como exemplos des-se tipo, os sindicatos livres, as associações de moradores,as cooperativas e os partidos políticos.

Participação provocada: é impulsionada por um agenteexterno. Nesse caso, cita como exemplo o papel que o ser-viço social, o desenvolvimento de comunidades, a exten-são rural, a educação em saúde e as pastorais desempe-nham nesse modelo.

Participação concedida: acontece quando organizaçõese/ou agentes públicos conferem poder de decisão aos su-bordinados e/ou aos cidadãos. Como exemplos, teríamosas chamadas “participações nos lucros”, adotadas por cer-

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113Período 1

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4tas empresas, os “comitês de fábricas”, bem como as ex-periências de “planejamento participativo” adotadas porórgãos públicos.

Os graus e os níveis de participação

Segundo Bordenave, ao se avaliar a participação num grupoou organização, duas perguntas são fundamentais:

Qual é o grau de controle dos membros sobre as decisões?

Quão importante são as decisões de que se pode participar?

Do cruzamento das possíveis respostas feitas a essas questões,deriva uma escala com os diferentes graus de participação.

Tem-se, assim, uma escala que vai da participação/informa-ção, cujos membros de um grupo são apenas informados sobre algo,passando pela consulta, a recomendação, a co-gestão, a delegação echegando até ao estágio máximo de participação, que é a autogestão.

O Quadro 8 define algumas características de cada um dosgraus de participação. Veja:

GRAU

Informação/reação

Consultafacultativa

Consultaobrigatória

Elaboração/recomendação

CARACTERÍSTICAS

Os membros informam deuma decisão já tomada

Solicitação de críticas e su-gestões

Subordinados são consultadosobrigatoriamente, mas a deci-são é da administração

Processo de elaboração deplanos e medidas que a ad-ministração pode aceitar ourejeitar, sempre justificandosuas posições

EXEMPLOS

A informação repassada aostrabalhadores de uma fábricaque uma de suas unidadesserá fechada dentro de algunsmeses

Caixa de sugestões dentro deuma empresa

A negociação salarial entrepatrões e empregados

Ato de a população fazer umasugestão de uma política públi-ca para uma área específica,com anuência da administra-ção pública

Quadro 8: Graus, características e exemplos de participaçãoFonte: adaptado de Bordenave (1994)

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114 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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Quadro 8: Graus, características e exemplos de participaçãoFonte: adaptado de Bordenave (1994)

Uma segunda distinção quanto à participação é aquela que serefere aos seus níveis de importância. Nesse sentido, Bordenave(1994, p. 34) adota a seguinte classificação, partindo do nível maisalto até o mais baixo:

Nível 1: formulação da doutrina e da política da instituição.

Nível 2: determinação dos objetivos e estabelecimento dasestratégias.

Nível 3: elaboração de planos, programas e projetos.

Nível 4: alocação de recursos e administração de operações.

Nível 5: execução das ações.

Nível 6: avaliação dos resultados.

Segundo Bordenave (1994, p. 34), quanto mais próximo donível 1, maior é o poder decisório da população envolvida no proces-so participativo, estando relacionada tanto a “capacitação e experi-ência” quanto a lutas contra os poderes estabelecidos na sociedade.

GRAU

Co-gestão

Delegação

Autogestão

CARACTERÍSTICAS

Administração compartilhadapor mecanismos de co-deci-são e colegiado

Autonomia em certos camposou jurisdições antes reserva-dos aos administradores

O grupo determina objetivos,escolhas, meios e controles,sem qualquer autoridadeexterna

EXEMPLOS

Comitês de fábricas, conselhosgestores de políticas públicas(saúde, educação), orçamen-tos participativos

Empresas que delegam autono-mia decisória para os funcioná-rios em determinadas áreas.

Empresas autogeridas por tra-balhadores

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115Período 1

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4Por que participar?

Como vimos até aqui, a participação é um fenôme-no que pode ser mensurado através de níveis eescalas. Tivemos a oportunidade de verificar tam-bém que esta pode se desenvolver de diversas for-mas. Para continuarmos nossa discussão sobre otema, uma questão central ainda precisa ser res-pondida: por que defender a participação?

A teoria política de todos os tempos sempre esteve envolta comessa questão. Em geral os defensores da participação, desde a GréciaAntiga, utilizam como defesa do processo participativo o fato de queeste contribui para o desenvolvimento de nossas qualidades cívicas emorais, além de estar no âmago da própria idéia de ser humano.

Nesse sentido, apontam para a idéia derivada de Aristóteles deque o homem é um “animal político”. Mas o que significa essa afir-mação?

Segundo Dallari (2004, p. 12) a idéia de animal político estárelacionada ao fato de que o homem não vive sozinho, “pois todo serhumano, desde que nasce até o momento em que morre, precisa dacompanhia de outros seres humanos”.

Ainda segundo Dallari (2004), a questão de o homem precisardos outros para sobreviver não está apenas relacionada à satisfaçãode suas necessidades materiais (alimentação, segurança, moradia en-tre outras). Ela relaciona-se principalmente ao fato de que todo serhumano “tem necessidades afetivas, psicológicas e espirituais, que sópodem ser atendidas com a ajuda e a participação de outrosseres humanos” (DALLARI, 2004, p. 13, grifos nossos).

Verifica-se, com isso, que a própria idéia de um ser humanosó tem sentido quando este se insere na vida em coletividade. É nasrelações com outros seres “humanos” que somos capazes de consti-tuir uma sociedade. Sendo a sociedade o resultado da ação huma-na, pode-se considerar que a política é o meio como se dá oconstante processo de criação da ação humana no mundo.

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116 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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4 Vale aqui incluir uma citação de Dallari (2004, p. 16 e 17) paramelhor esclarecer essa questão:

Em conclusão, o ser humano não é apenas um animal quevive, é também um animal que convive, ou seja, o ser huma-no sente a necessidade de viver mas ao mesmo tempo sentetambém a necessidade de viver junto com outros seres huma-nos. E como essa convivência cria sempre a possibilida-de de conflitos é preciso encontrar uma forma de orga-nização social que torne menos graves os conflitos eque solucione as divergências, de modo que fique assegu-rado o respeito à individualidade de cada um.

Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que todos os seres huma-nos são essencialmente iguais por natureza. Em conseqüên-cia, não será justa uma sociedade em que apenas uma partepossa decidir sobre a organização social e tenha respeitadasua individualidade (grifos nossos).

Com a idéia do "homem político", temos uma possibilidade dejustificação de por que participar. Devemos destacar, porém, que essaidéia não é consensual na teoria política.

Alguns pensadores, como o filósofo Thomas Hobbes, afirmamque o homem não é um ser político. Esse autor parte do princípio deuma natureza humana utilitarista e maximizadora, e que a função dapolítica é evitar que os indivíduos cheguem a um estágio de uma “guerrade todos contra todos”. Assim, para evitar a guerra generalizada, oshomens criaram a figura do Estado. Nesse ato, deveriam entregar to-dos os seus direitos à figura do soberano. Através dessa argumenta-ção ele estava querendo justificar o poder absoluto nas mãos de umhomem (soberano), através da defesa da monarquia absoluta.

Porém, para além das especificidades históricas de Hobbes, oque temos de guardar é o seu argumento de uma natureza humana“não política”, argumento até hoje utilizado no processo de defesa deregimes autoritários e totalitários. É como se a política fosse algo ins-trumental, uma invenção no sentido de proteger o homem de sua pró-pria maldade.

Diante desses dois modelos de homem: o “político” e o “nãopolítico”, temos condições de voltar ao nosso questionamento feitoacima, ou seja, por que participar?

vOs conceitos de demo-

cracia e autoritarismo

foram abordados na

Unidade 1. Você lem-

bra? Se não lembrar,

retome a leitura!

Page 117: Ciencia Politica[1]

117Período 1

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4!Se adotamos o critério de Hobbes, a resposta é quenão devemos participar e sim, no máximo escolherum governante que trate de administrar nossas vidas.Já se seguimos o critério aristotélico, a reposta seriaque devemos participar, pois só assim estamos nosafirmando como seres humanos em toda nossapotencialidade.

Partindo do princípio, como vimos na Unidade 1, de que amaioria dos países do mundo contemporâneo está organizada sob aégide de regimes democráticos, em que os cidadãos possuem di-reitos e deveres para com a política, podemos argumentar que aidéia de homem político é defensável e que a participação é funda-mental, tanto quando considerada sob o ângulo de nossos benefíciospessoais, como quando dos benefícios coletivos.

Condicionantes da participação

Se partirmos do princípio de que devemos participar, cabe-nosperguntar quais são os condicionantes da participação. Por que al-guns grupos/comunidades participam mais que outros? Que forçasatuam favoravelmente sobre a participação? Quais as forças que atu-am no sentido contrário, ou seja, da apatia?

Podemos citar alguns fatores que limitam os processosparticipativos (BORDENAVE, 1994):

Qualidades pessoais de algum membro: “pai autori-tário, mãe submissa, filhos acostumados a obedecer portemor ou por respeito” (BORDENAVE, 1994, p. 39). Asqualidades pessoais, em nossa opinião, não podem ser ana-lisadas como se fossem características inatas de uma pes-soa, grupo ou organização. Esse tipo de interpretação podelevar a vários equívocos. Quando nos referimos a essascaracterísticas, estamos nos remetendo a característicaspessoais que são resultado de processos históricos de soci-alização. Assim, “o pai autoritário” não pode ser dissociado

Page 118: Ciencia Politica[1]

118 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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4 de seu contexto (por exemplo: pobre, baixo nível educacio-nal, sub-empregado, entre outros).

A filosofia social da instituição ou do grupo: nessecaso, o conjunto de valores disseminado dentro de um gru-po pode atuar no sentido da produção da apatia.Bordenave (1994) cita o exemplo de um Serviço de Exten-são Rural para exemplificar a questão:

O serviço de extensão rural no município de Rebouças, mes-mo oferecendo aos agricultores a participação no planejamentodas ações, reserva-se o direito de fazer o diagnóstico da situa-ção utilizando exclusivamente seus próprios técnicos [....] Suafilosofia social, como instituição, concede ao técnico o papelde pensar e ao agricultor o papel de beneficiar-se do pensa-mento do técnico. Atribui um papel meramente instrumentalà participação e não deseja abrir mão do controle do processo(BORDENAVE, 1994, p. 39).

A estrutura social: o fato de a sociedade estar estratificadasocialmente, com desigualdades de renda, nível educacio-nal e cultural, promove grandes diferenciações no acessoàs possibilidades de participação. Pesquisas recentes feitasno Brasil apontam para a forma como as desigualdades derenda e educação afetam o acesso das pessoas aos canaisde participação (FERREIRA, 2000; KERBAUY, 2004).

Apontaríamos também os condicionantes históri-cos como promotores da apatia. Sociedades marcadas porrelações sociais autoritárias e/ou governadas por longos pe-ríodos de forma autoritária são propícias para o desenvol-vimento de cidadãos apáticos e desinteressados pela vidaem coletividade.

Os limites derivados da complexidade e do tama-nho de uma organização e/ou sistema político. Quan-to maior o número de pessoas envolvidas no processo, bemcomo a quantidade e a complexidade das decisões, maisdif íci l se torna o desencadeamento de processosparticipativos. É nesse sentido que muitos autores defen-dem a idéia de descentralização do poder como forma deviabilizar processos participativos, ou seja, o pressuposto

vÉ importante relacionar

essa temática com

aquilo que vimos na

Unidade 1 sobre as

desigualdades de aces-

so ao sistema político.

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119Período 1

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4é quanto mais próximos os centros decisórios estiverem daspessoas, mais elas terão condições de controlar e partici-par das decisões.

Se existem condicionantes que l imitam os processosparticipativos, temos também forças que atuam a favor da participa-ção. Como destacam vários autores, entre eles Held (1987) e Pateman(1992), a participação é um processo de aprendizado. É como se hou-vesse um círculo virtuoso: quanto mais o indivíduo participa, maisse sente compelido a participar. É nesse sentido que apontam pesqui-sas, como as realizadas por Paulo Krischke (2004) sobre o “aprendi-zado da democracia” e Luciano Fedozzi (2002) sobre os processos de“desenvolvimento moral” dos indivíduos que estão inseridos em práti-cas participativas, como o Orçamento Participativo.

Vale aqui lembrar uma observação de Bordenave (1994, p. 46):“o homem não nasce sabendo participar. A participação é uma habi-lidade que se aprende e se aperfeiçoa”.

Quais seriam então os mecanismos que atuam afavor da participação?

Vejamos alguns exemplos apontados por Bordenave (1994,p. 48-52):

A força das instituições sociais . Instituiçõesparticipativas tendem a cidadãos participativos [...].

A atmosfera geral de um grupo deriva em parte do estilo deliderança existente e que pode ser autoritário, democráticoou permissivo (laissez-faire)[...].

A participação acontece quando existe conhecimento e infor-mação.

A participação se realimenta [...]

Sua maior força para a participação é o diálogo [...].

O tamanho dos grupos influencia sobre o grau de participa-ção. “Embora um grupo grande conte com mais recursos queum pequeno, o nível de participação de cada membro tende abaixar. Daí por que têm se desenvolvido técnicas para quebrarum grupo grande (assembléia) em grupos pequenos”.

Page 120: Ciencia Politica[1]

120 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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4 Os principais espaços de participação

Vimos até agora o conceito de participação, os ti-pos e os condicionantes. Falta, porém fazermos umadiscussão sobre quais são os principais espaçosem que os indivíduos podem exercer sua partici-pação. É esse o tema desta seção!

Podemos exercer nossa participação, desde a esfera da famí-lia, passando pela comunidade, através de associações de morado-res ou outros movimentos de bairro. Outras formas de exercer a parti-cipação é através do espaço de trabalho, aquilo que se chama departicipação na organização ou participação na fábrica. Temos tam-bém as diversas modalidades de participação política. Nesse caso,a literatura especializada distingue dois tipos: a tradicional ou con-vencional, que inclui o ato de votar em eleições, plebiscitos e referendos,e de participar em campanhas políticas. Também é conhecida comoparticipação política institucional, por referir-se àquelas ativi-dades integradas aos mecanismos governamentais de tomada de de-cisões. Por sua vez, a participação política não convencional ca-racteriza-se por ações e atividades fora dos canais formais e da arenainstitucional, que tem por objetivo exercer pressão sobre as políticasgovernamentais. As manifestações e protestos, as petições encami-nhadas a órgãos públicos, a doação de dinheiro para ONGs (Organi-zações Não-Governamentais), a participação em movimentos femi-nistas, ambientalistas e de defesa dos direitos humanos e a adesão aboicotes de produtos em supermercados são algumas ações aponta-das pela literatura como novas formas de participação e de ativismopolítico (TEORELL, TORCAL e MONTERO, 2003).

Para finalizar esta Unidade, cabe destacar que, no campo daparticipação política, o Brasil tem sido um terreno fértil para o desen-volvimento de novas práticas. Temos presenciado nos últimos anos aabertura de vários canais, como as experiências de OrçamentoParticipativo, que já se aplicam em mais de 100 municípios brasi-leiros e em alguns estados.

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121Período 1

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4Nesse tipo de experiência, a população é chamada para parti-cipar do processo de definição das prioridades e investimentos domunicípio (FEDOZZI, 1997; FEDOZZI, 2002).

Outra forma de participação bastante difundida, principalmentea partir da Constituição Federal de 1988, foram os ConselhosGestores de Políticas Públicas. Nesse caso, a legislação tem cria-do uma série de espaços de decisão que controlam e definem as prio-ridades para determinadas políticas públicas. Esses espaços, em ge-ral, contam com representantes de vários setores envolvidos na políti-ca em questão. Exemplo: nos Conselhos de Saúde, que, por lei devemexistir nos planos municipal, estadual e federal, participam usuários,prestadores de serviços e representantes do governo. Estudos têm apon-tado como essas novas esferas participativas têm conferido uma novadinâmica para a democracia brasileira (AVRITZER; NAVARRO, 2003;TATAGIBA, 2002).

Participação no Brasil

Vamos apresentar agora alguns dados retirados de pesquisasou estatísticas oficiais sobre as diversas formas como os brasileirosparticipam. Veja:

Analisando (Quadro 9) dados de uma pesquisa realizada em1990, Ferreira (2000) apresenta a distribuição das modalidades departicipação dos paulistas.

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122 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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Quadro 9: Participação política no Estado de São Paulo – 1990 (%)Fonte: Pesquisa de opinião Pública. IBOPE, 19 a 28 de fevereiro de 1990

(apud FERREIRA, 1999)

Como você pode ver, na distribuição das formas de participa-ção, as mais desenvolvidas são aquelas relacionadas a clubes recreati-vos, sindicatos e realização de propaganda política. A participação co-munitária, em geral, é pouco desenvolvida entre os paulistas.

O mesmo autor, em outro artigo (FERREIRA, 1999), utilizando da-dos da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do IBGE, nas regiõesmetropolitanas do Brasil, apresenta os seguintes dados (Quadro 10).

MODALIDADE DE PARTICIPAÇÃO

PPPPPararararar t icipação polí t icaticipação polí t icaticipação polí t icaticipação polí t icaticipação polí t ica

Clube recreativo

Associação profissional

Associação beneficiente

Grupo de defesa dos direitos da mulher

Grupo de defesa dos direitos raciais

Associação de bairro ou de moradores

Comunidades eclesiais de base

É ou já foi filiado ao sindicato de sua categoria?

Partidos políticos

Greve

PPPPPararararar t icipação eleitoralt icipação eleitoralt icipação eleitoralt icipação eleitoralt icipação eleitoral

Boca de urna

Deu dinheiro para campanha de candidato

Trabalhou como fiscal de partido

Recolheu dinheiro para campanha

Fez propaganda de candidatos

Distribuiu material de propaganda política

Usou camiseta, botton, adesivo

Comícios, passeatas, carreatas, etc.

Persuadiu voto alheio

N ã oN ã oN ã oN ã oN ã o

69,3

93

85,9

98,6

97,6

91,8

92,8

71,6

93,9

82,5

93,5

97,1

97,8

98

63,5

87

81

72,4

60,5

PERTENCIMENTO OU

ATUAÇÃO POLÍTICA

S i mS i mS i mS i mS i m

30,8

7

14,1

1,4

2,4

8,3

7,3

28,4

6,1

17,5

6,5

2,9

2,3

2

36,5

13

19

27,6

39,5

Page 123: Ciencia Politica[1]

123Período 1

UNID

ADE

4

*Ponderado pelo peso do indivíduo na amostra

**Em conseqüência da utilização de pesos fracionários, os totais podem apresentar um valor

distinto de 100%.

Quadro 10: Percentuais de filiação a sindicatos e a associações de emprega-dos nas regiões metropolitanas – Brasil, 1988 e 1996

Fonte: PNAD – 1988 e PME, abril de 1996 (apud FERREIRA, 1999)

Com relação a participação em sindicatos, verifica-se que,apesar de um crescimento substantivo entre 1988 e 1996, esta ainda éa forma minoritária de participação, pois apenas 15,7% dos entrevis-tados são filiados. Já com relação às associações de empregados, osnúmeros decrescem nesse período, de 3,3% para 1,9%.

Com relação à participação em associações, o grande desta-que é para as entidades “esportivas e culturais”, onde 10,9% dos en-trevistados responderam positivamente em 1996 (Quadro 11).

*Ponderado pelo pedo do indivíduo na amostra

**Em conseqüência da utilização de pesos fracionários, os totais podem apresentar umvalor distinto de 100%.

Sindicato

Associações de empregados

Ambos

Não

Total

N*

19961996199619961996

15,7

1,9

0,6

81,8

100,0**

19881988198819881988

8,8

3,3

1,4

86,5

100,00

PERCENTUAIS DE FILIAÇÃO A SINDICATOS

E A ASSOCIAÇÕES DE EMPREGADOS NAS

REGIÕES METROPOLITANAS

Associação de bairro

Associação religiosa

Associação filantrópica

Associação esportiva/cultural

Participação em mais de ummovimento associativo

Não é filiado

Total

N*

19961996199619961996

2,5

5,0

0,7

10,9

0,7

87,9

100,00**

22.474.513

19881988198819881988

2,3

3,6

7,0

1,5

85,7

100,0

25.502,933

PERCENTUAIS DE FILIAÇÃO A MOVIMENTOS

ASSOCIATIVOS NAS REGIÕES METROPOLITANAS –BRASIL, 1988 E 1996

Quadro 11: Percentuais de filiação a movimentos associativos nas regiões metropo-litanas – Brasil, 1988 e 1996

Fonte: PNDA-1988 e PME, abril de 1996 (apud FERREIRA, 1999)

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124 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

4 Os dados apresentados aqui têm apenas o propó-sito de levantar algumas questões sobre as formasde participação dos brasileiros, destacando a baixadisseminação de práticas participativas no país, qual-quer que seja a forma de participação analisada.

Participação e informação

Para finalizar esta Unidade, temos de discutir a relação entreparticipação e informação. A forma como propomos essa discussãoestá relacionada a duas dimensões:

dados de pesquisas levadas a cabo no Brasil e em outrospaíses do mundo destacam que existe uma estreita ligaçãoentre o acesso dos indivíduos à informação e sua inserçãoem práticas participativas. Quanto maior a escolaridade,por exemplo, maior as possibilidades dos indivíduos parti-ciparem; e

o segundo ponto está relacionado ao ato destacado porBordenave (1994, p. 68): “[...] não há participação popu-lar sem informação quali tat ivamente pert inente equantitativamente abundante sobre os problemas, os pla-nos e os recursos públicos”. Ainda segundo o autor “umgoverno democrático aberto à participação é aquele queinforma corretamente, ouve cuidadosamente e consultaativamente a população” (BORDENAVE, 1994, p. 69). Essaquestão leva à necessidade de refletirmos sobre a qualida-de das informações que nos são disponibilizadas pelosmeios de comunicação e o papel deles na expansão e/ou limitação de uma sociedade participativa.

Essa dupla dimensão da informação (educação e os meios decomunicação), apenas esboçada aqui, é fundamental para qualquerreflexão sobre a temática da participação, que foi o objeto destanossa última Unidade.

Page 125: Ciencia Politica[1]

125Período 1

UNID

ADE

4RRRRResumindoesumindoesumindoesumindoesumindoA Unidade 4 tratou do fenômeno da participação e sua

relação com a informação. Definiu-se, num primeiro momento,

a história e os significados atribuídos a idéia de participação,

os seus tipos, bem como apresentou-se uma série de dados so-

bre participação política no Brasil. Por fim, abordou-se a ques-

tão da informação e sua relação com os processos participativos.

AAAAAtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprtividades de aprendizagemendizagemendizagemendizagemendizagem

Vamos conferir se você consegue responder as ques-tões propostas no início da Unidade. Lembra? Oque significa participar? Qual a sua importânciapara nossas vidas? Qual é a relação entre a políti-ca e a participação? Como se relacionam partici-pação e informação?

Para saber, procure, então, resolver as atividadespropostas a seguir. Caso tenha dúvidas, faça umareleitura cuidadosa dos conceitos ainda não bementendidos. Depois de respondidas, encaminhe-as para seu tutor através do Ambiente Virtual deAprendizagem.

1. Com base na discussão sobre os tipos de participação, em quais

das formas descritas na Unidade você tem exercido sua parti-

cipação? Qual a importância de participar, em sua opinião?

2. No texto, apresentamos alguns dados retirados do artigo de

Ferreira (1999) sobre a participação no Brasil. Como você

avalia os níveis de participação dos brasileiros?

3. Que relações você identifica entre os conceitos de partici-

pação e informação?

r

Page 126: Ciencia Politica[1]

126 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

UNID

ADE

4 Caro estudante!

Chegamos ao final da disciplina. É evidente que,numa disciplina de 60 horas, não podemosaprofundar muito a temática, mas temos a certezade que você possui agora elementos suficientespara compreender melhor a importância da Ciên-cia Política para a profissão de administrador.

Não pare por aqui! É importante que você reflitasobre tudo o que discutimos e se questione sobrea importância de cada tema, relacionando-os coma sua prática profissional. Certamente, você vai verque tem muito por aprender.

Foi um enorme prazer poder contribuir com você!

Page 127: Ciencia Politica[1]

127Período 1

UNID

ADE

4�RRRRRefefefefeferererererenciasenciasenciasenciasenciasABRÚCIO, Fernando Luiz. Reforma política e federalismo. In:BENEVIDES, M. V. et al. Reforma política e cidadania. São Paulo:Ed. Fundação Perseu Abramo, 2003.

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^̂̂̂̂

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130 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

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134 Curso de Graduação em Administração, modalidade a distância

MIN

ICUR

RÍCU

LO Julian BorJulian BorJulian BorJulian BorJulian Borbababababa

Possui graduação em Ciências da Ad-

ministração pela Universidade Federal de

Santa Catarina (1995), mestrado em Socio-

logia Política pela Universidade Federal de

Santa Catarina (1998) e doutorado em Ci-

ência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

(2002). Atualmente é professor Adjunto I da Universidade Fe-

deral de Santa Catarina. Tem experiência na área de Ciência Po-

lítica, com ênfase em Estado e Governo, atuando principalmente

nos seguintes temas: democracia, políticas públicas, tecnocracia,

eleições e poder.