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A1 Tiragem: 43576
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Informação Geral
Pág: 34
Cores: Cor
Área: 16,16 x 30,68 cm²
Corte: 1 de 1ID: 45010514 01-12-2012
LUÍS BELO
Jim está em Viseu e viaja no início de 2013 para Porto e Lisboa
O palco abre-se sobre um corpo em
homenagem. Paulo Ribeiro dança
Indigo, de Bernardo Sassetti, pianis-
ta a quem tinha proposto construir,
em conjunto, um monumento core-
ográfi co e musical que perguntasse
de que modo pode hoje ser cons-
truído um corpo para os tempos,
revolucionários por certo, que es-
tamos a viver. Pelas piores razões,
Bernardo Sassetti não está presente,
e o corpo de Paulo Ribeiro carrega
esse vazio, como se a perda do cor-
po do outro pudesse materializar a
errância de um corpo em busca de
uma utopia.
Jim, que entretanto se foi cons-
truindo observando o modo como
parecem hoje absurdas, porque abs-
tractas, as utopias revolucionárias,
é um momento de detalhada obser-
vação de uma realidade em perda
de referências, de memórias, por
isso mesmo, de futuro.
O que é particularmente inte-
ressante em Jim, então, não será o
modo como aqueles corpos podem
corresponder a uma materialização
utópica da revolução que, intuitiva
ou inconscientemente, Jim Morri-
son protagonizava (ou sobre ele se
projectava). O que é interessante em
Jim – ou torna a peça ainda mais in-
teressante –, é o modo como expõe
a ambiguidade revolucionária na
qual habitam hoje os corpos, cor-
rendo apressados para expectativas
mal fundamentadas ou desistindo,
protegidos por um cansaço disfar-
çado de anarquia.
O palco, desenhado pela luz de
Nuno Meira, transforma as som-
bras dos projectores em esquissos
de edifícios, como se a paisagem
de uma nova cidade, de uma no-
va ordem mundial, de uma nova
realidade, pudesse ser imaginada,
ali mesmo, por cima dos corpos. E
é entre o reconhecimento dos es-
combros e a hipótese de uma nova
cidade, de uma nova utopia, que
se cria esta coreografi a, muitas ve-
zes comovente, tantas vezes assus-
tadora. É-o precisamente porque
revela, afi nal, a solidão, disfarçada
Paulo Ribeiro mostra-nos como construir um corpo para uma revolução
de viagem sensorial comunitária –
ao contrário do que acontecia, por
exemplo, em Publique, de Mathil-
de Monnier (que se apresentou na
Culturgest em 2006), onde as mú-
sicas de P.J.Harvey se constituíam
enquanto máquina uniformizante
de corpos solitários num mesmo
espaço, a discoteca.
Agora, com mais de 40 anos de
distância, as músicas de Jim Morri-
son, numa mistura de poesia de po-
bres versos e acordes de múltiplos
sentidos, parecem estranhamente
distantes, quase arcaicas, ingenua-
mente simples. A gravidade impres-
sa nos movimentos dos bailarinos
de Jim – Avelino Chantre, Carla Ri-
beiro, Leonor Keil, Pedro Mendes,
Sandra Rosado –, revela, afi nal, a
impossibilidade de uma utopia co-
mum, expressa em movimentos que
se afastam de um conforto orgânico
Crítica de Dança
Jim, de Paulo Ribeiro
24 Novembro, Centro Cultural Vila
Flor, Guimarães, 22h, meia sala.
Hoje e amanhã, Teatro Viriato, Viseu.
De 18 a 20 Janeiro (Teatro Nacional
São João, Porto); 1 a 3 Fevereiro 2013
(São Luiz, Lisboa).
Tiago Bartolomeu Costa
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e se aproximam, perigosamente, de
uma espiral de violência irreversí-
vel.
Ao longo de todo o espectáculo, o
que aqueles corpos nos estão a per-
guntar, imagina-se, é o modo como
podemos representar uma escolha
que seja, ao mesmo tempo, eféme-
ra e consciente. Efémera porque se
reconhece na estrutura um risco
de desaparecimento que imprime
a gravidade, a urgência, a angústia
face a um tempo distante, que só se
vê com nostalgia. Mas o que será um
movimento consciente?
Em Jim a pergunta impõe-se fa-
ce a um movimento de abstracção,
que tenta encontrar uma realidade,
ou um estado emocional que, no
fundo, possa produzir um escape
à própria realidade. Mas a procura
desse movimento consciente, ou
dessa consciência, é a chave para
uma coreografi a aberta, especula-
tiva e imaginária. Uma coreografi a
que nos mergulha directamente no
palco, ao ponto de provocar uma
estranha sensação de presença,
de identifi cação, de partilha. Será,
enfi m, um movimento consciente
aquele que souber chamar para a
sua completude a acção de olhar e
a intenção de agir do espectador.
E Jim faz isso através de um com-
plexo jogo de sedução, com uma
coreografi a dengosa, falsamente
ligeira, intensamente provocadora.
O corpo revolucionário será, então,
aquele que souber agir sobre o aqui
e o agora, como pedem, afi nal, os
bailarinos nas palavras fi nais de um
espectáculo do qual saímos, feliz-
mente, perturbados.
O que é interessante em Jim é o modo como expõe a ambiguidade revolucionária na qual habitam hoje os corpos, correndo apressados para expectativas mal fundamentadas ou desistindo
A1
Tiragem: 10500
País: Portugal
Period.: Quinzenal
Âmbito: Lazer
Pág: 22
Cores: Cor
Área: 26,14 x 16,04 cm²
Corte: 1 de 1ID: 44958885 28-11-2012
Página 1
A1 Tiragem: 117400
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 22
Cores: Cor
Área: 24,88 x 29,85 cm²
Corte: 1 de 1ID: 44903587 24-11-2012 | Atual
A1
Tiragem: 43576
País: Portugal
Period.: Semanal
Âmbito: Informação Geral
Pág: 28
Cores: Cor
Área: 27,31 x 31,82 cm²
Corte: 1 de 1ID: 44885448 23-11-2012 | Ípsilon
Paulo Ribeiro pensou fazer
um espectáculo claramen-
te político, mas a poesia foi
mais forte. Mesmo assim,
quando falamos com o co-
reógrafo, política e poesia
andam sempre ligadas — como se
houvesse um conflito e a ideia ori-
ginal não quisesse deixar de se im-
por. Trabalhar a partir de um artista
contraditório também não ajudou a
resolver a luta. Jim, a sua nova cria-
ção, pronta a estrear em Guimarães
amanhã às 22h, no Grande Auditório
do Centro Cultural Vila Flor (a peça
passará depois pelo Teatro Viriato,
em Viseu, nos dias 30 de Novembro
e 1 de Dezembro, pelo Teatro Nacio-
nal São João, no Porto, a 24 e 26 de
Janeiro, e pelo Teatro Municipal São
Luiz, em Lisboa, onde estará de 31
de Janeiro a 2 de Fevereiro), é uma
viagem de regresso à poesia e à mú-
sica de Jim Morrison.
“Se há aqui um manifesto, é o be-
lo e o imaterial”, sintetiza Paulo Ri-
beiro. O coreógrafo quis pensar o
papel da dança num momento con-
turbado e isso fazia-o antecipar a
criação de uma peça contestatária,
inspirada nos anos 1960 e num dos
ícones desse tempo de contra-cul-
tura. Mas foram as palavras e a mú-
sica do líder dos The Doors que se
impuseram. E Morrison mudou-lhe
os planos, pela poesia, mas também
por causa dos valores centrais do
movimento juvenil devoto do cantor
norte-americano: a espiritualidade
e a humanidade. Tanto mais que
hoje estão afastados da primeira li-
nha dos discursos. “À primeira vis-
ta”, o bem comum não é hoje “uma
preocupação geral”, avalia Paulo
Ribeiro. Essa é a principal ligação
que estabelece entre o seu novo es-
pectáculo e a realidade actual. “Ho-
je, não podemos pensar em mais
nada a não ser em sobreviver”, aler-
ta. Porque a sociedade se degradou
e se foi tornando cada vez mais
orwelliana. Mas, como nos serviram
a mudança em “doses homeopáti-
cas”, demorámos a tomar consciên-
cia do que estava a passar-se.
A União Europeia, por exemplo.
Criada como um “projecto ambicio-
so de união dos povos”, os seus va-
lores iam no sentido da “generosida-
de” entre as nações, que foi, entre-
tanto substituída pelo materialismo
e pela tecnocracia. Mas dizer isto não
é uma afirmação política? É, pois.
Nem pode ser de outra maneira, por-
que esse é o espírito da arte, diz Ri-
beiro: “A dança a é sempre interven-
tiva, no sentido da consciência total
que ela alberga”.
De Morrison a SassettiQuando Paulo Ribeiro começou a
pensar na peça, Jim Morrison era
apenas um dos nomes que estavam
em cima da mesa. A ideia inicial era
criar um espectáculo que pensasse
nos vários poetas malditos que, como
o líder dos The Doors, morreram pre-
maturamente. Viviam-se então os
tempos da Primavera Árabe, que o
coreógrafo imaginou poderem mu-
dar a forma como os jovens intervêm
na sociedade. Abordar o trabalho
desses criadores era uma forma de
retratar os movimentos de juventude
a que eles estiveram ligados e a forma
como foram mudando o mundo.
Mas desde então o mundo mudou
outra vez e com ele a ideia de Ribeiro.
A Primavera Árabe passou para se-
gundo plano, com a emergência a
que chegou a Europa. Desde então,
o coreógrafo focou-se cada vez mais
na obra de Morrison, sobretudo pela
aproximação que esta permite à mú-
sica. A discografia dos The Doors es-
tá presente ao longo de Jim, pelo va-
lor “intemporal” que Paulo Ribeiro
reconhece ao trabalho da banda nas-
cida em Los Angeles. A base da peça
é, de resto, An American Prayer, o
disco lançado após a morte de Mor-
rison, em 1971 — incluído integral-
mente no espectáculo —, mas tam-
bém há outras canções da banda e
excertos de poemas que Morrison
escreveu e nunca musicou.
Apesar da presença central de Jim
Morrison, a peça começa com Indi-
go, a composição que abre o álbum
homónimo lançado por Bernardo
Sassetti em 2004. O pianista portu-
guês tinha acordado com Paulo Ri-
beiro participar neste espectáculo,
compondo a banda sonora original
a partir dos The Doors, mas a sua
morte, em Maio, impediu a colabo-
ração. Por causa disso, em Jim va-
mos também ver Ribeiro novamen-
te como intérprete, num solo — a
que o criador prefere chamar uma
“participação mínima” — a partir da
música de Sassetti, que surge aqui
como uma forma de homenagem a
um amigo.
Além da música dos Doors e de
Sassetti, Jim terá também vídeo, nu-
ma nova colaboração de Paulo Ri-
beiro com Fábio Iaquone e Luca
Attilii, artistas com que havia já co-
laborado em Du Don de Soi, o espec-
táculo que criou, no ano passado,
para a Companhia Nacional de Bai-
lado, a partir do universo do cineas-
ta russo Andrey Tarkovsky. Mas este
é, acima de tudo, um espectáculo
com uma clara componente de dan-
ça. “O corpo tem uma presença mui-
to forte”, resume Paulo Ribeiro.
Um corpo que é claramente co-
lectivo: os seis bailarinos estão qua-
se sempre juntos em cena, como se
Jim nos dissesse que apenas juntos
conseguimos atravessar momentos
conturbados. E cá está a política ou-
tra vez.
Jim, a nova criação de Paulo Ribeiro que amanhã se estreia em Guimarães, era para ter sido um manifesto contestatário a partir de um ícone da contra-cultura americana, Jim Morrison. Foi mais do que isso porque outros valores se levantaram entretanto, explica o coreógrafo.
Samuel Silva
A política e a poesia lutam com Paulo Ribeiro
LUÍS
MEL
O
Página 1
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COMPANHIA PAULO RIBEIRO, ASSOCIAÇÃO CULTURAL
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