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Data de Criação: 01/07/2020
Criado por: Biblioteca
Clipping SCA
Os artigos reproduzidos neste clipping de notícias são, tanto no conteúdo quanto
na forma, de inteira responsabilidade de seus autores. Não traduzem, por isso
mesmo, a opinião legal ou manifestação de integrante da SiqueiraCastro.
Sumário das
Matérias:
Uma economia marcada pela concentração
Valor ––01 de julho.............................................01
Rio eleva oferta para manter ajuda federal
Valor ––01 de julho.............................................04
Senado aprova projeto das ‘fake news’, que vai à Câmara
Valor ––01 de julho.............................................06
Câmara aprova medidas do Banco Central contra covid
Valor ––01 de julho.............................................08
Ação federal é necessária para conter desinformação, indica pesquisa
Valor ––01 de julho.............................................10
Equatorial analisa leilão de concessão de saneamento
Valor ––01 de julho.............................................12
“Conta Covid” reduz reajuste da Enel SP
Valor ––01 de julho.............................................14
Ecorodovias estuda parcerias e oferta de ações para crescer
Valor ––01 de julho.............................................15
Movimento falimentar
Valor ––01 de julho.............................................17
Com quase US$ 1 bilhão, Totvs se prepara para novas aquisições
Valor ––01 de julho.............................................18
Governo teme novas suspensões de frigoríficos pela China
Valor ––01 de julho.............................................19
Impacto da crise nas empresas é pior que em outras recessões
Valor ––01 de julho.............................................21
Cade revoga medida cautelar que impedia pagamento via WhatsApp
Valor ––01 de julho.............................................23
OAB barra na Justiça anúncios de sites que atuam contra empresas aéreas
Valor ––01 de julho.............................................24
Ordem determina retirada de vídeo de banca de redes sociais
Valor ––01 de julho.............................................27
STF estende exclusão do ICMS do PIS/Cofins
Valor ––01 de julho.............................................28
Congresso Nacional e as funções regulatórias
Valor ––01 de julho.............................................30
Finalmente aprovou-se o marco regulatório do saneamento
Folha ––01 de julho.............................................32
Cade libera pagamento via WhatsApp, mas volta do serviço depende de Banco Central
Folha ––01 de julho...............................................35
Anatel deve aprovar acordo com Algar para trocar multas por investimentos
OESP ––01 de julho................................................37
STF invalida uso da TR nas operações de crédito rural contratadas junto às instituições financeiras
Migalhas ––01 de julho...........................................39
Advogado contrair covid-19 é justa causa para restituir prazo recursal
Migalhas ––01 de julho...........................................40
Especial valor probatório das declarações do ofendido
Jota ––01 de julho..................................................41
Valor Econômico
Caderno: Brasil, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Uma economia marcada pela concentração
Modelo que faliu em 1982 nos
legou vários oligopólios
Quando um cidadão vai a um banco
solicitar empréstimo para comprar um
apartamento ou uma casa, fica sabendo
que, entre outras taxas, ele tem que
pagar R$ 3 mil para a “avaliação” do
imóvel. Sob qualquer escrutínio, é um
valor salgado. Muitos ou a maioria dos
clientes nem sequer tomam
conhecimento da cobrança, não porque
a considerem módica, mas
simplesmente por não saberem de sua
existência.
Incomodado com essa situação, um
brasileiro do Banco Central (BC)
avistou-se com banqueiros para saber
por que a taxa é tão alta e, também, o
porquê da cobrança. Mandaram-lhe
procurar representante dos peritos, os
profissionais autônomos encarregados
de avaliar imóveis.
Modelo que faliu em 1982 nos
legou vários oligopólios
A autoridade inquiriu o perito: “Vem cá,
por que R$ 3 mil?”. Constrangido, o
representante dos peritos respondeu:
“Doutor, na verdade, a nossa parte é R$
300”. “E os R$ 2.700?”, quis saber o
brasileiro do BC. “Vão para o banco,
doutor.”
01
Não mate o mensageiro, diz o provérbio
originário do latim "ne nuntium
necare". Diz a lenda que Dario III, rei
da Pérsia, foi derrotado pelas tropas de
Alexandre, o Grande, por ter matado
Charidemus, um de seus generais,
responsável por levar-lhe conselhos que
contrariavam toda a sua estratégia até
então. O brasileiro do BC respirou
fundo ao retornar aos banqueiros.
“Vamos lá, os peritos me contaram
outra história. Por que vocês ficam com
R$ 2.700 da avaliação sem fazer
absolutamente nada?”, questionou.
Embaraço geral, crianças foram
retiradas da sala e, assim, emergiu a
verdade nua e crua: “Margem, por
margem...”. Novamente: “Não mate o
mensageiro”, meditou o brasileiro dom
BC.
Margem, neste caso, é lucro ou aquilo
que se pode auferir de um negócio num
mercado controlado por poucas
empresas. Os R$ 3 mil são
rigorosamente cobrados por todos os
bancos - é provável que isso tenha
mudado, mas o fato serve para ilustrar
a falta de concorrência no setor
bancário.
O cliente não tem para onde correr,
afinal, dois bancos estatais - Banco do
Brasil e Caixa - respondem por 50% do
varejo bancário, e três privados - Itaú
Unibanco, Bradesco e Santander -, pelo
restante. Uma pergunta que não se cala:
a quem não interessa a privatização dos
bancos estatais?
A atual gestão do Banco Central tem
implementado agenda, desde sua
chegada a Brasília, há um ano e meio,
para tentar diminuir a concentração
bancária, um dos principais gargalos da
economia brasileira. Por que é um
gargalo? Porque o custo do crédito na
Ilha de Vera Cruz é altíssimo, e, no caso
das micro, pequenas e médias
empresas, proibitivo. Esta realidade
impede o desenvolvimento na base da
economia, onde estão os novos
empreendedores, a possibilidade de
inovação disruptiva e a maioria dos
empregos.
Durante décadas - e isso ainda não
acabou -, o Estado brasileiro deu
subsídio fiscal e creditício, por meio do
BNDES e outros bancos federais, a
grandes empresas, inclusive
multinacionais. Estas companhias não
tomam dinheiro nos bancos locais pela
mesma razão de todos nós: juro alto.
Mas, elas têm acesso a capital barato lá
fora, onde as taxas de juros são as
menores da história.
A Constituição, corretamente, proíbe
discriminar o capital estrangeiro
investido aqui, mas, convenhamos, não
faz nenhum sentido um país de 50
milhões de miseráveis e outros 100
milhões ou mais de pobres bancar as
margens de lucro dessas empresas, bem
como das grandes corporações
nacionais.
A liberdade de expressão está para a
democracia assim como a concorrência
está para a economia de mercado. Não
existe democracia sem que os cidadãos
tenham o direito de dizer o que pensam
de seus governantes. Do mesmo modo,
não há economia de mercado onde
monopólios e oligopólios vicejam.
Economias de mercado, em que há
verdadeira e acirrada competição entre
as empresas, se desenvolvem mais
rapidamente sob regimes democráticos.
Democracias onde o poder econômico
se concentra nas mãos de poucos são
02
mancas e sempre sujeitas à
instabilidade.
Na Ilha de Vera Cruz, os grandes
monopólios e oligopólios foram criados
pelo governo, como mencionado por
esta coluna nesta série dedicada à
história econômica do país desde 1964 -
o objetivo é tentar, humildemente,
saber onde estamos depois de duas
décadas diametralmente opostas neste
século: segundo o Valor Data, na
primeira, a economia avançou em
média 3,71% ao ano, e, na segunda, -
0,02%; como se vê, estamos no último
ano de uma década perdida.
A justificativa do Estado para estimular
a emergência de grandes empresas,
principalmente nos setores de matérias-
primas e bens intermediários, era a de
que não havia por aqui, na ocasião
(década de 1970), capitalistas com
capital suficiente para bancar
investimentos vultosos. Adotou-se o
modelo tripartite, que combinava a
participação de capital estatal, privado
nacional e estrangeiro.
Em alguns setores, considerados
"estratégicos", o controle estatal era
absoluto, como na Petrobras, fundada
muito antes, em 1953, na CSN (fundada
em 1941, mas inaugurada apenas em
1946), na Vale (1942) e na Eletrobras
(1962, que surgiu como uma empresa
de estudos na área energética, mas,
depois, tornou-se holding e incorporou,
durante o regime militar, uma série de
estatais).
O modelo de desenvolvimento vigente
era o de substituição de importações.
De fabricante de quase nada, a Ilha de
Vera Cruz transformou-se, graças aos
portões fechados e a um enorme
endividamento externo, em produtor de
quase tudo - o “quase” aqui é crucial
para entender que a economia fechada
fez o país ficar à margem da corrida
tecnológica, atraso que ainda nos custa
muito caro. Em 1982, com o advento do
que ficou conhecido como “crise da
dívida”, o modelo de substituição de
importações começou a ruir.
Cristiano Romero é editor-
executivo e escreve às quartas-
feiras
E-mail:
https://valor.globo.com/brasil/coluna/uma-
economia-marcada-pela-concentracao.ghtml
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03
Valor Econômico
Caderno: Brasil quarta-feira 01 de julho de 2020.
Rio eleva oferta para manter ajuda federal
Estado amplia para R$ 95 milhões
proposta de compensação
financeira de violações ao RRF
Por Rodrigo Carro — Do Rio
A Secretaria de Estado de Fazenda do
Rio de Janeiro apresentou ontem nova
proposta, desta vez no valor de R$ 95
milhões, para compensação financeira
de violações ao Regime de Recuperação
Fiscal (RRF) apontadas pelo conselho
de supervisão do acordo de socorro
financeiro. Em parecer datado de 22 de
junho, o Conselho de Supervisão do
RRF havia informado que o governo
fluminense precisaria compensar até
hoje (1º de julho) R$ 31 milhões em
violações.
Por precaução, a Fazenda fluminense
optou por oferecer um valor mais de
duas vezes superior ao exigido, uma vez
que a falha em compensar as violações
pode acarretar a exclusão do Estado do
RRF. “As medidas foram desenhadas
exatamente nos moldes daquelas que o
conselho já havia aceitado”, diz o
secretário estadual de Fazenda do Rio,
Guilherme Mercês.
Ao todo, o governo fluminense acumula
25 violações, num total de R$ 599,7
04
milhões a compensar, desde o início do
regime em 2017. No parecer do último
dia 22, o conselho de supervisão
esclareceu que aceitou medidas
compensatórias que totalizavam R$
568,7 milhões. Faltavam, portanto, R$
31 milhões para fechar o total
demandado pelo colegiado.
Foram apresentadas ontem quatro
medidas. Anteriormente, a Fazenda
havia proposto que fosse contabilizado
como compensação o bloqueio de 9.493
cargos vagos na administração pública
estadual, a partir de 2017. O conselho
de supervisão aceitou parcialmente a
medida e o Estado agora propõe o
bloqueio de mais 811 cargos vagos, o
que acarreta uma economia de R$ 31
milhões.
Outras duas medidas estão relacionadas
ao Fundo Orçamentário Temporário
(FOT), cujos recursos são provenientes
das empresas que se enquadram nos
regimes tributários diferenciados
(incentivos fiscais). Em maio, primeiro
mês de existência do FOT, a
arrecadação do fundo superou em R$
14 milhões o previsto. O valor foi
oferecido como compensação.
Além disso, a arrecadação do FOT vai
aumentar em R$ 21 milhões até 5 de
setembro, data de término do primeiro
período de três anos do RRF. Isso
porque foi promulgada lei, amparada
em convênio do Conselho Nacional de
Política Fazendária (Confaz), que
permite a concessão de benefício fiscal
no setor de petróleo e gás natural, o
Repetro. O novo regime tributário
especial vai trazer aumento de
arrecadação para o FOT.
Uma quarta medida de compensação
proposta está relacionada à recuperação
de créditos tributários. Mercês explica
que uma desistência por parte de
contribuinte de uma ação judicial que
tratava de incidência de ICMS vai
render ao Estado cerca de R$ 29
milhões em valores atualizados. “O
pedido de levantamento de depósito
judicial já foi realizado. É um
incremento de receita líquida e certa”,
diz. O conselho de supervisão deve
divulgar hoje parecer sobre a aceitação
ou não das compensações.
Ontem à noite, em live promovida pela
Escola Brasileira de Economia e
Finanças (FGV EPGE), Mercês disse
que o Estado conseguiu chegar a um
acordo com credores para evitar a
decretação de “default” (calote) em
contratos da Operação Delaware,
conjunto de empréstimos garantidos
por meio da antecipação de royalties e
participações especiais do petróleo.
Com a queda no preço da commodity, o
Estado deveria desembolsar cerca de
R$ 6 bilhões em 2020 e 2021.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/07/01/ri
o-eleva-oferta-para-manter-ajuda-federal.ghtml
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05
Valor Econômico
Caderno: Politica, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Senado aprova projeto das ‘fake news’, que vai à Câmara
Sem acordo, líder do governo
orientou voto contra a proposta
Por Vandson Lima — De Brasília
Ângelo Coronel: Relator fez concessões
e retirou exigência de cadastro com CPF
e telefone para conta em rede social —
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
O Senado aprovou ontem, por 44 votos
a 32, o texto principal do projeto que
visa combater a disseminação de
notícias falsas ou com conteúdo
difamatório - chamado projeto das
“fake news”. A matéria agora segue para
a Câmara dos Deputados.
O relator, senador Ângelo Coronel
(PSD-BA), procurou fazer uma série de
concessões e retirou da proposta, entre
outros pontos, a exigência de um
cadastro prévio, no qual o usuário teria
de fornecer CPF e número de telefone,
para abrir conta em rede social ou
aplicativo de mensagem.
06
Agora a identificação do usuário fica
condicionada à suspeita de conta
inautêntica ou automatizada não
identificada como tal e mediante ordem
judicial. Este era um dos pontos mais
criticados por especialistas e
companhias de mídia digital nas
versões anteriores do parecer do
senador.
Apesar disso, a matéria dividiu o
plenário, o que se refletiu na apertada
votação. O líder do governo, Fernando
Bezerra Coelho (MDB-PE), orientou o
voto contra a proposta. Segundo
Bezerra, o governo buscou até o último
momento um acordo com o relator para
mudar o dispositivo que prevê a
rastreabilidade de mensagens, exigindo
que os serviços de mensageria privada,
como o WhatsApp e Telegram, guardem
todos os registros dos envios de
mensagens veiculadas em
encaminhamentos em massa, pelo
prazo de três meses.
“Cheguei a trabalhar com o autor da
proposta, senador Alessandro Vieira
(Cidadania-SE), em um texto
alternativo no artigo 10, que trata da
rastreabilidade. Mas o relator não
aceitou. Aí é uma situação muito difícil.
Há muitos dispositivos que criam uma
burocracia às plataformas, vai criar
uma leitura negativa do ponto de vista
do investimento. Não está adequada aos
interesses nacionais. A liberdade de
expressão está sendo arranhada,
tolhida”, criticou Bezerra.
Coronel afirmou que a manutenção
deste ponto era uma “questão de honra”
e sua retirada faria o projeto perder o
sentido. “O projeto não resolverá todos
os problemas. A sociedade quer uma
resposta, alguma coisa tem de ser feita
hoje”, alegou. “Ficar de braços cruzados
não é solução para nada. Por isso, o
substitutivo é formado, em sua quase
totalidade, por pontos de consenso”,
completou o relator.
A proposta provocou um debate
acalorado entre os senadores, apesar da
sessão à distância. Com troca de
acusações, opositores do texto disseram
que a proposta foi pouco discutida e
tem potencial de virar uma “lei da
mordaça”. Os favoráveis, entre eles o
presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP)
defenderam que era necessário
enfrentar o tema, mesmo sem acordo.
“O Senado dará um sinal claro na
votação dessa matéria, em defesa da
liberdade de expressão, mas que
infelizmente alguns criminosos utilizam
para destruir a vida de milhões de
brasileiros”, disse Alcolumbre.
A análise da proposta, apresentada há
pouco mais de um mês, foi
impulsionada pelo fato de vários
senadores, inclusive o presidente do
Senado, terem sofrido com a
propagação de notícias falsas contra si
recentemente.
Para o líder do MDB, Eduardo Braga
(MDB-AM), “não se trata de colocar
mordaça em alguém”. “Quem vai votar
em contrário quer permanecer dentro
de um sistema utilizado para atacar as
pessoas e que rende muito dinheiro.
Quem quiser criticar alguém que o faça,
mas não no anonimato”, disse.
O líder do Podemos, Alvaro Dias (PR),
atacou a pressa na votação. “Não
tivemos possibilidade de fazer
audiências públicas nem discutir para
oferecer uma legislação sem riscos à
liberdade de expressão, evitando a
exclusão digital e o avanço sobre a
privacidade de milhões de brasileiros.”
07
Pela proposta, deverão ser guardadas
informações de quem encaminhou, a
data e horário do encaminhamento e a
quantidade de usuários que receberam
a mensagem - os dados armazenados
sobre a cadeia de encaminhamento só
serão acessíveis por meio de ordem
judicial. Aqui adicionou-se que a guarda
dos metadados (o caminho das
mensagens) só acontece em mensagens
que atingiram mil ou mais usuários.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/07/01/
senado-aprova-projeto-das-fake-news-que-vai-a-
camara.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Politica, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Câmara aprova medidas do Banco Central contra covid
Medida provisória muda
tributação de hedge cambial
Por Raphael Di Cunto e Marcelo
Ribeiro — De Brasília
A Câmara dos Deputados aprovou
ontem a medida provisória 930, que
altera a tributação sobre o hedge
(proteção) de investimentos de
instituições financeiras no exterior,
acelera a implantação da “Lei do
Repasse” e autoriza a emissão de Letra
Financeira (LF) com prazo inferior a
um ano para permitir aumentar a
liquidez do mercado. O projeto segue
para o Senado.
A medida foi editada em meio à
pandemia da covid-19 e recebeu apoio
de todos os partidos. O relator,
deputado Antônio José Albuquerque
(PP-CE), fez poucas alterações no texto,
como permitir que filiais e sucursais
dos bancos também sejam atingidos
pela alteração no hedge - mas a
mudança, alertou, pode ter pouco efeito
prático porque dependerá da legislação
de cada país.
A mudança no hedge busca, segundo o
Banco Central (BC), diminuir
“distorções tributárias” de
investimentos das instituições
financeiras no exterior. A variação da
08
parcela com hedge do investimento
passará a ser contabilizada no lucro real
e na base da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL) dos bancos de
forma escalonada: 50% a partir de 2021
e 100% a partir de 2022.
Para o BC, os efeitos negativos da
assimetria que a MP busca corrigir
aparecem principalmente no câmbio e
se tornam mais intensos em momentos
de grande volatilidade no mercado,
como o atual. Com as alterações, a
autoridade monetária espera uma
volatilidade menor no câmbio e que o
impacto tributário seja neutro no longo
prazo.
A MP também acelerou a implantação
da Lei do Repasse, que proíbe que o
dinheiro devido por uma
administradora de cartão a um
vendedor seja objeto de penhora,
inclusive em caso de falência da
empresa. As mesmas regras valem para
a relação entre os bancos e a
administradora do cartão. Além disso,
esses recursos não poderão ser cedidos
como garantia fora do sistema de
pagamentos. A medida visa estimular
esse tipo de crédito por lojistas.
Por último, a MP permitiu que as letras
financeiras, usadas na concessão de
empréstimos pelo BC a instituições
financeiras, tenham prazo inferior a um
ano. O Banco Central anunciou, no
início da pandemia, que injetaria R$
670 bilhões em liquidez no sistema
financeiro utilizando esse lastro, para
incentivar a liberação de crédito para as
empresas.
Dos pontos propostos pelo BC, apenas
um acabou não aprovado: a previsão de
que os diretores e servidores do Banco
Central só seriam punidos
criminalmente por atos praticados no
exercício de suas funções quando
comprovada má intenção ou fraude.
Essa salvaguarda saiu do texto ainda no
começo da tramitação, por um acordo
entre governo e os senadores para
aprovação da emenda constitucional do
Orçamento de Guerra, que permitiu à
autarquia comprar títulos de crédito no
mercado secundário.
Os deputados também concluíram
ontem a aprovação de outra MP, a 944,
que criou uma linha de crédito de R$
40 bilhões para empresas pagarem
salários durante a pandemia da covid-
19. A proposta já teve os pontos
principais aprovados na semana
passada e ontem foram rejeitadas
quatro emendas. O texto segue para
votação no Senado.
A versão aprovada foi a construída pelo
relator, o deputado Zé Vitor (PL-MG),
que ampliou o projeto, permitindo que
empresas com faturamento entre R$
360 mil e R$ 50 milhões tenham direito
a utilizar a linha de crédito (o governo
limitava a R$ 10 milhões) e que o
financiamento possa quitar quatro
meses de salário (a MP original
estabelecia dois meses).
As empresas também poderão recorrer
ao empréstimo, que tem juros de 3,75%
ao ano, para pagar ações trabalhistas de
até R$ 15 mil cujas condenações
transitem em julgado entre março deste
ano e julho de 2021 ou cujos acordos
ocorram no mesmo período. Também
será permitido o uso para quitar verbas
rescisórias de empregados demitidos de
20 de março até a data de sanção da
MP, mas, nesse caso, será exigido que o
09
ex-funcionário seja recontratado pela
empresa. Para que as mudanças passem
a valer, elas ainda devem ser
sancionadas pelo presidente Jair
Bolsonaro.
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/
07/01/camara-aprova-medidas-do-banco-
central-contra-covid.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Especial, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Ação federal é necessária para conter desinformação, indica pesquisa
Regras de isolamento, por
exemplo, são desconhecidas por
grande parte da população,
segundo levantamento
Por Marli Olmos — De São Paulo
Uma pesquisa conjunta da
Universidade de São Paulo, da
Fundação Getúlio Vargas do Rio e da
Universidade de Oxford, no Reino
Unido, em oito capitais brasileiras
revelou que a pandemia revela
problemas comuns em diferentes
regiões do Brasil. “Isso mostra que
certas ações têm de ser guiadas pelo
governo federal”, afirma Lorena
Barberia, professora do departamento
de Ciências Políticas da USP.
Entre as revelações que mais chamaram
a atenção dos pesquisadores, aparece a
confusão que a população faz em
relação às regras de isolamento. Nem
todos que realmente precisam trancar-
se em casa porque apresentaram
sintomas da covid-19 parecem entender
que não podem nem sequer ir ao
supermercado.
Na pesquisa, 95% dos entrevistados
disseram acreditar, equivocadamente,
10
que durante o isolamento necessário
quando uma pessoa tem a doença
confirmada ela pode sair de casa para
comprar itens essenciais. “Isso revela a
necessidade de campanhas de
esclarecimento em nível nacional”,
destaca Lorena, que também coordena
a pesquisa solidária de políticas
públicas e sociedade.
A pesquisa foi realizada em maio, por
telefone, com 1.654 pessoas que vivem
em Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto
Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador
e São Paulo. Juntos, esses municípios
concentram 18% da população urbana
do país. As ligações foram feitas em
horários diferentes do dia e em finais de
semanas para evitar que pessoas que
atendessem ao telefone durante o dia,
por exemplo, fossem as que optaram
por ficar em casa.
No levantamento, 57% dos
entrevistados consideraram, de forma
errada, que o infectado pode se
comportar como os que não estão no
isolamento total, mas deve tentar não
tocar em outras pessoas, e 69%
indicaram, também de maneira
equivocada, que “o auto-isolamento
significa que você pode se comportar
como pessoas que não estão se
isolando, mas deve usar uma máscara”.
Muitas das perguntas do trabalho estão
relacionadas às recomendações da
Organização Mundial de Saúde. Os
resultados colocam em dúvida o fato de
o Brasil atender aos critérios da OMS
para flexibilizar restrições impostas
para combater a disseminação da
pandemia.
Os resultados da pesquisa também
revelaram que os testes não têm sido
frequentes. Apenas 5% das pessoas
relataram terem sido testadas para a
covid-19. Da mesma forma, o
rastreamento não tem sido eficaz. Entre
os que relataram terem tido contato
com pelo menos uma pessoa com
sintomas de covid-19, 9% obtiveram a
informação de um médico ou
funcionário público, enquanto a
maioria (79%) foi informada pela
própria pessoa que apresentou os
sintomas.
As principais fontes de informações
sobre a pandemia, segundo os
entrevistados, são os noticiários de TV
(59%), seguidos por jornais e sites de
jornais (18%).
“Ao longo da pandemia soubemos sobre
a mobilidade das pessoas por meio dos
celulares, por exemplo. Mas quando
ouvimos as pessoas percebemos quanta
informação ainda é necessária”, destaca
Lorena.
Para a pesquisadora, deveria ser uma
decisão urgente do poder público
acabar com a confusão das informações.
Porque já existem outros problemas
com os quais é mais difícil lidar. “É um
golpe duro para os governantes
perceber que o principal motivo de as
pessoas saírem é ir ao trabalho. Faltam
meios para se sustentar; então como
dizer não saia?”
A maioria da população sabe, porém,
que o problema é sério. A pesquisa
mostrou que 80% consideram o vírus
muito mais sério do que uma gripe
comum. Além disso, a maioria disse
considerar adequadas as políticas
governamentais adotadas em suas
regiões (52%). Mais de um terço (37%)
considera as medidas menos rigorosas
11
do que o necessário, e 11%, mais
rigorosas do que necessário.
Apenas 21% dos entrevistados
acreditam que o sistema de saúde
pública de suas regiões está bem
preparado (11%) ou muito bem
preparado (10%) para o surto e 86%
declararam estarem preocupados (12%)
ou muito preocupados (74%) com a
possibilidade de equipamentos, leitos
hospitalares ou médicos serem
insuficientes para a atender à demanda.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/07/01/a
cao-federal-e-necessaria-para-conter-desinformacao-
indica-pesquisa.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Equatorial analisa leilão de concessão de saneamento
Elétrica estuda participar do
certame da Companhia de
Saneamento de Alagoas (Casal),
previsto para o fim deste ano
Por Letícia Fucuchima — De São
Paulo
Segundo Miranda, novo marco regulatório
de saneamento estimulou a empresa a
avaliar as oportunidades no setor — Foto:
Claudio Belli/Valor
A Equatorial Energia estuda expandir
sua atuação para o setor de saneamento
e pode participar do leilão de
12
desestatização da Companhia de
Saneamento de Alagoas (Casal),
previsto para acontecer ainda neste
ano.
A intenção de eventualmente estrear
um novo braço de negócios foi
confirmada ontem pelo presidente da
elétrica, Augusto Miranda, em
teleconferência de resultados. O
executivo explicou que a companhia
tem uma área de fusões e aquisições
(M&A, na sigla em inglês) dedicada a
estudar uma série de oportunidades de
crescimento. “Saneamento é um
segmento naturalmente atrativo,
estamos olhando sim, até por
obrigação”, disse.
Ainda de acordo com Miranda, a
aprovação do novo marco regulatório
de saneamento pelo Congresso, na
semana passada, estimulou a
companhia. “Um tema que segurou
muito [o interesse] foi a falta do marco
regulatório. Na hora que ele vem, com
certezas as coisas ficam mais claras e
podemos pensar mais firmemente
nisso”.
Uma das possibilidades em estudo pela
Equatorial Energia é a participação no
projeto de desestatização da Casal, que
foi estruturado pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES). Mas, caso queira entrar na
concorrência pela concessão dos
serviços de esgoto e abastecimento de
água na região metropolitana de
Maceió, marcada para setembro, a
elétrica teria que se associar a uma
operadora de saneamento, já que o
edital prevê qualificação técnica das
licitantes.
A Equatorial já atua em Alagoas por
meio de uma distribuidora, que atende
1,0 milhão de consumidores no Estado.
O grupo detém outras três
concessionárias de distribuição, no
Pará, Maranhão e Piauí, que somam
mais 6,63 milhões de clientes. Ainda no
setor de energia, tem atividades em
transmissão, geração e comercialização.
Sobre os impactos da pandemia nos
negócios, a elétrica tem observado uma
melhora dos índices de inadimplência
apurados por suas distribuidoras.
Segundo os executivos da companhia,
os níveis de inadimplência atingiram
15% a 25% nas primeiras semanas da
pandemia, mas caíram para a faixa de
5% a 13% nos últimos dados
disponíveis, de meados de maio.
Já em termos de mercado, a energia
injetada pelas quatro distribuidoras
teve queda de 3% no acumulado de
abril e maio, enquanto o valor faturado
apresentou redução de 2,2% no mesmo
período. Segundo os executivos, a
queda de mercado, menos intensa se
comparada à média nacional, pode ser
explicada pelo perfil mais residencial
dos clientes das distribuidoras do
grupo.
A Equatorial está avaliando a adesão à
“Conta Covid”, empréstimo emergencial
ao setor elétrico. Caso decida pela
adesão, a companhia teria uma injeção
de cerca de R$ 1,6 bilhão. Na avaliação
dos executivos, os valores do
financiamento, somados aos R$ 5,7
bilhões que o grupo tinha em caixa no
encerramento de março, tornam a
estrutura de capital da empresa
“bastante confortável” para enfrentar a
crise.
A companhia fechou o primeiro
trimestre deste ano com um lucro
13
líquido atribuído ao controlador de R$
439,9 milhões, cifra 106,7% superior à
registrada nos primeiros três meses de
2019. A receita operacional líquida
alcançou R$ 4,20 bilhões, alta de 25,2%
na base anual, enquanto o Ebitda ficou
em R$ 1,14 bilhão, elevação de 98,7%.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/07/0
1/equatorial-analisa-leilao-de-concessao-de-
saneamento.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 01 de julho de 2020.
“Conta Covid” reduz reajuste da Enel SP
Distribuidora aplicará o aumento
de 6% nas tarifas dos
consumidores industriais e 3,58%
nas contas de luz de residências e
de pequenos estabelecimentos
comerciais
Por Rafael Bitencourt — De Brasília
A diretoria da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) aprovou ontem
o aumento médio de 4,23% das tarifas
da distribuidora Enel SP (Eletropaulo).
A atualização do custo da energia para o
consumidor se deu no âmbito do
processo de reajuste tarifário anual da
companhia.
No reajuste de 2020, a Enel SP aplicará
o aumento de 6,0% nas tarifas dos
consumidores industriais (alta tensão) e
3,58% nas contas de luz da classe
residencial e de pequenos
estabelecimentos comerciais (baixa
tensão).
Os índices do reajuste serão aplicados à
energia consumida a partir do próximo
sábado por 7 milhões de clientes de 24
municípios da região metropolitana. A
área de concessão da Enel SP abrange
um população estimada em 18 milhões
de habitantes. A companhia,
considerada a maior do país, responde
14
pelo faturamento anual de R$ 14,9
bilhões.
A distribuidora, a exemplo da Copel,
também usará recursos da “Conta
Covid”, mecanismo criado para injetar
liquidez no setor e conter aumento
extraordinário na conta de luz durante
a pandemia. O dinheiro será liberado
por meio da operação de crédito
preparada pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) em sindicato formado com
bancos públicos e privados. A Enel SP
usará R$ 1,292 bilhão do total de R$
16,1 bilhões.
A relatora do processo de atualização
das tarifas, diretora Elisa Bastos,
informou que, sem o financiamento da
“Conta Covid”, a Enel SP aplicaria o
índice médio de 12,22%, sendo 13,74%
para a classe de consumo de alta tensão
e 11,67% para a baixa tensão.
“A gente conseguiu aliviar grande parte
do aumento tarifário para esses
consumidores. Esse resultado é muito
importante nesse momento que é tão
crítico para a população que vem
sofrendo com os efeitos do isolamento
social e da retração da atividade
econômica”, disse Elisa.
A Aneel registrou que a tarifa da Enel
SP é formada em 33,8% pelo custo da
energia elétrica, 25,3% do pagamento
de tributos federal e estadual (20,8% de
ICMS e 4,5% de PIS/Cofins), 17,4% do
serviço de distribuição, 13,4% de
encargos setoriais e 10,1% do custo de
transmissão.
https://valor.globo.com/empresas/
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Ecorodovias estuda parcerias e oferta de ações para crescer
O grupo estuda dois leilões
federais, das rodovias Dutra e BR-
153, mas busca formas de garantir
seu fôlego financeiro
Por Taís Hirata — De São Paulo
Mesmo com a atual crise, a Ecorodovias
segue interessada em novos leilões de
rodovias. Para isso, a companhia avalia
formar consórcios ou fazer uma oferta
subsequente de ações (follow-on), na
qual os atuais sócios poderiam injetar
capital.
Há dois alvos em estudo: as rodovias
federais BR-153, entre Tocantins e
Goiás, e a Dutra, entre São Paulo e Rio
de Janeiro. Ambos são leilões de grande
porte, especialmente o da Dutra, cujo
novo contrato deverá exigir R$ 17
bilhões de investimento.
Em caso de vitória em um leilão, o
grupo poderá recorrer a uma oferta de
ações, afirmou ontem Marcello
Guidotti, diretor financeiro e de
relações com investidores, em
teleconferência.
O executivo sinalizou que, caso a oferta
se confirme, o grupo italiano Gavio deve
ampliar seus investimentos. “A
companhia tem manifestado interesse
em crescer na Ecorodovias e no Brasil.
15
[O eventual follow-on] está alinhado
com a estratégia deles”, disse.
A empresa italiana já é controladora da
Ecorodovias, ao lado do grupo
brasileiro CR Almeida. O controle é
compartilhado: cada um detém 50% da
Primav Infraestrutura, que por sua vez
tem 64% das ações ordinárias da
holding de concessões.
Questionada pela reportagem sobre a
possibilidade de os italianos assumirem
o controle, a Ecorodovias disse que, em
eventual follow-on, o aumento de
capital seria feito via Primav, tanto pela
Gavio quanto pela CR Almeida.
Outra possibilidade para ampliar o
fôlego financeiro da Ecorodovias nos
leilões é formar um consórcio, afirmou
Guidotti. “Sabemos que o volume de
investimento dos projetos são grandes.
Se tivermos a oportunidade de um
parceiro, será uma opção.”
Desde o início da crise, a Ecorodovias
tem trabalhado para rolar dívidas que
venceriam neste ano. Até agora, a
empresa já conseguiu refinanciar R$
1,55 bilhão de um total de R$ 3,37
bilhões de empréstimos que venceriam
até dezembro. As negociações de
créditos para o segundo semestre
também estão avançadas.
A companhia encerrou o primeiro
trimestre com resultados positivos,
impulsionados principalmente pelo
início da cobrança de pedágio nas
concessões Eco050 (ex-MGO) e Eco135,
além do reajuste tarifário médio de
1,4% nas demais rodovias.
O lucro líquido da empresa cresceu 8%,
chegando a R$ 148,1 milhões, e o
Ebitda (lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização) avançou
20,6%, para R$ 509,3 milhões no
trimestre.
Porém, assim como nas demais
operadoras do setor, a pandemia tem
derrubado receitas. No acumulado de
2020, a queda no tráfego consolidado já
é de 6,7% - se excluídas a Eco050 e
Eco35, a retração estaria em 13,2%.
Em relação aos reequilíbrios, Guidotti
diz que ainda não há uma definição
sobre a metodologia de cálculo, que está
sendo discutida com as demais
empresas.
Em São Paulo, ele afirma que está em
fase avançada a negociação de um
aditivo para a Ecovias dos Imigrantes,
que liga a capital paulista à Baixada
Santista.
As conversas já estavam em curso desde
o ano passado e deverão incluir
desequilíbrios antigos. “A expectativa é
positiva, em breve teremos uma
resolução total ou parcial”, afirmou.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020
/07/01/ecorodovias-estuda-parcerias-e-oferta-
de-acoes-para-crescer.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Movimento falimentar
Falências Requeridas
Requerido: Beloplastic Indústria de
Embalagens Plásticas Ltda. - CNPJ:
16.736.570/0001-84 - Endereço: Rua
Rodrigues do Prado, 217, Bairro
Ermelinda - Requerente: Toshinobu
Tasoko e Outros - Vara/Comarca: 1a
Vara Empresarial de Belo
Horizonte/MG
Processos de Falência Extintos
Requerido: Citrus Juice Eireli - CNPJ:
11.186.770/0001-97 - Requerente:
Argon Chemical Comércio e
Distribuição de Produtos Químicos
Ltda. - Vara/Comarca: Vara Única de
Itajobi/SP - Observação: Desistência
homologada.
Requerido: Delta Indústria, Comércio,
Importação e Exportação de Alimentos
Ltda. - CNPJ: 02.857.771/0001-25 -
Endereço: Rodovia Armando de Salles
Oliveira, Km 03, S/nº, Zona Rural -
Requerente: Sul Brasil Securitizadora
S/A - Vara/Comarca: 1a Vara de
Bebedouro/SP - Observação:
Desistência homologada.
Requerido: Rota Central Transportes
Ltda. Epp - CNPJ: 19.710.369/0001-16
- Requerente: Pedro Monteleone
Veículos e Motores Ltda. -
Vara/Comarca: 1a Vara de Barretos/SP
17
- Observação: Face à ausência de
interesse processual da autora.
Recuperação Judicial Requerida
Empresa: Brpacking Embalagens Ltda.
Epp - CNPJ: 10.563.600/0001-11 -
Endereço: Rua Miguel Ascêncio, 1559,
Bairro Brigadeiro Tobias -
Vara/Comarca: 5a Vara de Sorocaba/SP
Recuperação Judicial Deferida
Empresa: Proquimaq Indústria e
Comércio de Máquinas e Borrachas
Ltda. Epp Ou Proquimaq Indústria de
Borrachas e Comércio de Máquinas
Ltda. - CNPJ: 01.004.396/0001-08 -
Endereço: Rua Otílio Monteiro Santos,
2460, Distrito Industrial -
Administrador Judicial: Dr. Guilherme
Esteves Zumstein - Vara/Comarca: 3a
Vara de Franca/SP
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020
/07/01/1028db2b-movimento-falimentar.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Empresas, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Com quase US$ 1 bilhão, Totvs se prepara para novas aquisições
Presidente da companhia diz que
pandemia deve gerar
oportunidades para compra de
empresas
Por Dow Jones
A empresa brasileira de tecnologia e
serviços empresariais Totvs continua
sua estratégia de crescer por meio de
aquisições, mesmo em meio à
pandemia de covid-19, de acordo com o
presidente Dennis Herszkowicz.
A empresa, que fornece software e
serviços para áreas como manufatura,
finanças, jurídico e treinamento, teve
um bom ano no mercado de ações, com
alta acima de 7%, em comparação com
uma queda de mais de 15% do índice
Ibovespa.
Depois de uma oferta subsequente de
ações no ano passado, que arrecadou
um pouco mais de R$ 1 bilhão e três
aquisições desde então, a empresa
ainda tem quase US$ 1 bilhão para
financiar mais compras, disse
Herszkowicz.
Até o momento, a Totvs não está vendo
um aumento nas oportunidades de
aquisição por conta da crise gerada pelo
18
coronavírus, mas seu presidente
considera que pode haver mais daqui a
dois ou três meses, já que mais
empresas podem vir a sofrer uma
tensão financeira.
“Queremos apenas comprar empresas
de qualidade e, até agora, não vimos
boas empresas em uma situação ruim”,
afirmou. “As avaliações foram bastante
agressivas antes da pandemia. Algumas
podem cair agora, mas ainda é cedo
para dizer.”
Os clientes da Totvs tiveram um bom
desempenho durante a crise, com as
empresas de comércio eletrônico
ganhando com o fechamento de
negócios não essenciais e produtores e
varejistas de alimentos mantendo as
vendas na quarentena.
A pandemia também atingiu uma nova
geração de negócios, com empresas
relutantes em assinar novos contratos
em meio a toda a incerteza econômica.
Abril foi o mês mais lento para novos
negócios, mas em maio e junho a
situação melhorou, disse.
“Desde o início da pandemia, as
empresas que não são clientes não estão
muito abertas a iniciar novos projetos,
foi isso que mais nos impactou. Mas
estamos começando a ver uma
recuperação”, afirmou.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/07/0
1/com-quase-us-1-bilhao-totvs-se-prepara-para-novas-
aquisicoes.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Agronegócios, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Governo teme novas suspensões de frigoríficos pela China
Expectativa é que mais duas
unidades sejam barradas a
qualquer momento
Por Cristiano Zaia e Rafael
Walendorff — De Brasília
O governo brasileiro teme novas
suspensões de frigoríficos pela China,
além dos três já impedidos de exportar
por determinação do país asiático e de
outro barrado pelo próprio Ministério
da Agricultura, num momento em que
os chineses vêm endurecendo as
restrições sanitárias à importação de
alimentos diante de sinais de um novo
surto de casos de covid-19 naquele país.
Segundo o Valor apurou, mais duas
unidades podem entrar na lista de
Pequim, que vem pedindo informações
sobre casos de contaminação de
funcionários nas fábricas do segmento.
Além de estabelecimentos de carnes
bovina e frango, os chineses também
fizeram questionamentos sobre plantas
de abate de suínos - de grandes
empresas e de frigoríficos de menor
porte.
Antes das suspensões, 102 frigoríficos
do Brasil estavam habilitados a
exportar à China, principal destino das
exportações de carnes do país. Ainda
19
que o número de plantas suspensas seja
pequeno até agora, Brasília ainda busca
entender quais critérios técnicos vêm
sendo usados pela China para
suspender as plantas, mesmo que
temporariamente.
Por ora, o esforço é para afastar a
questão ideológica do debate comercial
com a China e levantar as suspensões
de forma “clara e técnica”. O governo
brasileiro vê a ação da China como um
movimento global, já que Pequim
também suspendeu a importação de
carnes de unidades de países como
Reino Unido, Holanda, EUA, Canadá e
Austrália.
Mas há uma percepção de que ruídos
recentes vêm tornando a relação
bilateral com a China mais delicada,
como ofensas de integrantes do governo
Bolsonaro aos chineses e a intenção do
Itamaraty de banir empresas chinesas
do leilão da tecnologia de 5G no Brasil.
"Antes da crise, a relação era excelente;
agora está apenas normal", diz uma
fonte.
Ontem, a ministra da Agricultura,
Tereza Cristina, sustentou, em conversa
com parlamentares da bancada
ruralista e diretores de mais de 40
associações de produtores e
exportadores, que não há “problema de
relação” com a China. De acordo com
informações de uma fonte, ela teria
pedido para que sejam evitadas
declarações à imprensa sobre o assunto.
Na segunda-feira, o Ministério da
Agricultura informou, em nota, que a
China suspendeu a importação de
carnes de três frigoríficos brasileiros
após tomar conhecimento de casos de
funcionários infectados com o novo
coronavírus por notícias veiculadas na
imprensa brasileira. “É uma questão de
segurança alimentar. A população
chinesa está com medo de um novo
surto e eles têm que dar uma resposta”,
afirmou a fonte.
Mas paira a dúvida sobre os critérios
científicos usados para as suspensões,
uma vez que não há comprovação ou
evidências científicas de que o novo
coronavírus seja transmitido por meio
de alimentos in natura ou processados.
É isso que aumenta o temor entre as
empresas exportadoras.
Entre as plantas suspensas estão as
unidades mato-grossenses de abate de
bovinos de Várzea Grande, da Marfrig,
e de Rondonópolis, que é da Agra
(Grupo Alibem). Na indústria avícola,
foram suspensas as exportações do
frango processado pela Minuano em
Lajeado e pela JBS em Passo Fundo -
ambas no Rio Grande do Sul, esta
última vetada pelo próprio Ministério
da Agricultura.
“Não há fundamento técnico algum
nessa suspensão. O produto está
chegando lá, sendo analisado sem
problema de qualquer natureza, sem
covid-19. Mas é uma forma de dar
satisfação ao consumidor chinês”, disse
o presidente da Associação Brasileira de
Proteína Animal (ABPA), Francisco
Turra.
Analistas consultados pelo Valor
também observaram que as suspensões
ocorrem depois importações firmes
chinesas de grãos e carnes nos últimos
meses.
https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2020/0
7/01/governo-teme-novas-suspensoes-de-frigorificos-
pela-china.ghtml
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20
Valor Econômico
Caderno: Finanças, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Impacto da crise nas empresas é pior que em outras recessões
Segundo o BIS, queda média no
lucro operacional de companhias
brasileiras em 2020 deve ficar em
37,4%
Por Assis Moreira — De Genebra
Agustin Carstens, do BIS: “A resposta
dos bancos centrais foi rápida e
contundente e impediu um colapso
financeiro” — Foto: Mikael
Sjoberg/Bloomberg
O Banco de Compensações
Internacionais (BIS), espécie de banco
dos bancos centrais, projeta redução de
37,4% no lucro operacional médio de
companhias brasileiras em 2020, na
esteira da súbita paralisação da
atividade econômica global causada
pela covid-19.
O banco projeta também que a escassez
de financiamento (“funding shortfall”)
pode alcançar 31,8% no país. Isso
21
significa que as receitas operacionais e
de caixa devem ficar aquém dos custos
operacionais e do pagamento de dívidas
de curto prazo em 31,8% na empresa
brasileira típica em 2020.
Em seu relatório anual, a instituição
aponta que o brusco freio da atividade
econômica reduziu os ganhos das
firmas que vão muito além do que
aconteceu em recessões anteriores.
Estima que várias companhias
globalmente podem não sobreviver
mesmo se usarem todos os
instrumentos possíveis para compensar
as perdas, incluindo utilização de ativos
líquidos, rolagem de dívidas, novos
empréstimos e corte de custos.
O BIS fez simulações baseadas em
balanços e comunicados financeiros de
33.250 firmas de 19 grandes economias
desenvolvidas e emergentes. E avalia
que a rolagem de dívidas e novos
empréstimos até podem dar algum
alívio, mas ainda assim a lacuna de
financiamento persiste. O apoio do
governo é considerado essencial para
fechar o “gap”.
As simulações utilizam a hipótese de
que as receitas das empresas em 2020
permaneçam inalteradas em relação a
2019 ou declinem 25% ou 50%,
dependendo dos efeitos do surto em
diferentes setores. Receitas na área de
entretenimento, por exemplo, são
estimadas em declinar 50%, enquanto
em “utilities” ficariam constantes.
A conclusão é a de que um grande
número de firmas poderá enfrentar
perdas operacionais em 2020. Em
todos os países pesquisados, as firmas
médias podem oscilar de lucros
confortáveis, acima de 5% de receitas,
em 2019, para perdas claramente
superiores a 20% de sua receita do ano
passado.
Em relação ao Brasil, os custos
operacionais devem exceder as receitas
operacionais em 37,4% na empresa
mediana em 2020, resultando nesse
percentual de contração do lucro. Fica
entre -50% no caso de companhias
russas e em -25% em firmas dos EUA.
As perdas podem ser maiores,
dependendo da composição da
produção. O BIS exemplifica que um
severo choque de receita poderia jogar
companhias do Brasil e do Canadá
profundamente no vermelho, apesar
dos fortes lucros de 2019, refletindo
principalmente a contração nas
commodities.
A lacuna de financiamento é de 31,8%
em 2020 para as empresas brasileiras,
na média. As simulações indicam que a
escassez de financiamento para
companhias médias, entre os países
pesquisados, fica em 20% da soma das
despesas operacionais e custos do
serviço da dívida, e pode chegar a 40%
em algumas economias.
Para o BIS, as firmas vão precisar de
apoio financeiro e sugere que isso pode
vir em várias formas. Aponta, primeiro,
rolagem da dívida. Segundo, a
possibilidade de pegarem emprestado
dando seus ativos como garantia,
mesmo se esses estão temporariamente
ilíquidos. E terceiro, com subsídios,
garantias de crédito, empréstimos
diretos ou esquemas que reduzam
custos operacionais, cobrindo parte da
conta de salários.
“Essas medidas poderiam fazer uma
grande diferença”, estima o banco.
Exemplifica que num cenário em que
22
firmas não podem pegar emprestado e
têm que pagar dívidas que estão
vencendo, a necessidade de apoio do
governo seria equivalente a seis meses
da receita. Mas poderia cair para dois
meses, na média, se as companhias
rolarem mais da metade da dívida que
vence em 2020 e conseguirem crédito
equivalente a 80% de seus ativos de
curto prazo.
No relatório, o BIS nota que, no geral,
mesmo o dinheiro em caixa mantido
por grandes companhias é pouco em
relação à dimensão da súbita
paralisação que enfrentam. Metade das
companhias guardou dinheiro
equivalente a dois meses da receita de
2019, incluindo o Brasil. A exceção é a
China, com quatro meses.
https://valor.globo.com/financas/notic
ia/2020/07/01/impacto-da-crise-nas-
empresas-e-pior-que-em-outras-
recessoes.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Finanças, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Cade revoga medida cautelar que impedia pagamento via WhatsApp
Decisão do Banco Central (BC), no
entanto, ainda impede que ele
seja oferecido
Por Flávia Furlan — De São Paulo
O Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) revogou medida
cautelar que suspendia o serviço de
pagamento via WhatsApp no país,
diante de argumentações expostas pela
credenciadora de cartões Cielo e a rede
social Facebook, dona do aplicativo de
mensagens. Decisão do Banco Central
(BC), no entanto, ainda impede que ele
seja oferecido.
Lançado em 15 de junho, o pagamento
via WhatsApp foi suspenso pelo Cade e
o BC oito dias depois sob a
argumentação de potencial danos ao
ambiente competitivo e aumento da
concentração de mercado. Procurada, a
Cielo não comentou.
Embora tenha derrubado a medida, o
Cade disse que continua a apuração
para atestar que a operação devia - ou
não - ter sido notificada. “Vale ainda
ressaltar que eventuais condutas
anticompetitivas adotadas pelas partes
podem ser objeto de investigação.”
23
A suspensão foi feita com base no
entendimento de que a parceria poderia
trazer riscos ao mercado pela
possibilidade de haver exclusividade,
contratual ou de fato. O Cade levou em
consideração o fato de a Cielo ter fatia
de mercado acima de 40% e o
WhatsApp, 120 milhões de usuários no
país. Havia, ainda, preocupação com
grandes bancos, dado que Banco do
Brasil e Bradesco são acionistas da
Cielo e emissores de cartões. Uma
oferta restrita aos portadores desses
plásticos poderia gerar distorções.
Em sua defesa, a Cielo destacou não
haver incentivos para que as transações
via WhatsApp sejam privilegiadas. Da
mesma forma, não há razão para o
Facebook privilegiar a Cielo. As
empresas destacaram que emissores
como Nubank e Sicredi estão no acordo,
indicando que novos emissores, não
apenas acionistas da Cielo, estão aptos a
participar. As empresas disseram que a
operação pode ser, a qualquer
momento, revertida ou cessada,
afastando eventuais efeitos negativos ao
mercado.
https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/
07/01/cade-revoga-medida-cautelar-que-
impedia-pagamento-via-whatsapp.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 01 de julho de 2020.
OAB barra na Justiça anúncios de sites que atuam contra empresas aéreas
TRF da 2ª Região entendeu que
startups exercem atividades
típicas da advocacia
Por Beatriz Olivon e Arthur
Rosa — De Brasília e São Paulo
Ary Raghiant: “O objetivo da OAB não é
proteger as companhias aéreas, mas o
mercado de trabalho do advogado” —
Foto: Divulgação
A Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB) obteve pelo menos duas vitórias
em segunda instância contra sites que
compram o direito de passageiros em
processos contra companhias aéreas ou
oferecem defesa em troca de um bom
percentual do valor a receber. Os casos
foram analisados pelo Tribunal
24
Regional Federal (TRF) da 2ª Região,
com sede no Rio de Janeiro. Os
desembargadores entenderam que as
startups exercem atividades típicas da
advocacia e ordenaram a retirada de
anúncios sobre os serviços oferecidos.
Esses sites chamaram a atenção da OAB
por incentivar e facilitar o caminho do
consumidor ao Judiciário. Basta entrar
em um deles e digitar todas as
informações para verificar a
possibilidade de ingressar com um
pedido de indenização por danos
materiais e morais. São cerca de 30
empresas em atuação que, de acordo
com a Associação Brasileira das
Empresas Aéreas (Abear), respondem
hoje por uma boa parte dos processos
judiciais em tramitação no país.
A atividade surgiu com a jurisprudência
favorável aos passageiros que tiveram
problemas com atraso ou voo
cancelado, overbooking ou com
bagagens. Em sua página na internet, a
Liberfly (Zamorfe Mediações
Administrativas), uma das startups
processadas, oferece dois caminhos ao
consumidor. Ele pode vender o direito
que teria a uma indenização e receber,
em 48 horas, R$ 1 mil ou pagar uma
“taxa de sucesso” de 30% pela prestação
do serviço.
A decisão mais recente foi dada em
processo ajuizado pela seccional da
OAB no Espírito Santo contra a
Liberfly. A entidade alega que a
atividade oferecida é exclusiva da
advocacia. Afirma ainda que a startup
não está constituída como sociedade de
advogados e que realiza captação de
clientela, oferecendo serviços de
assessoria jurídica, o que configuraria
publicidade ilícita e mercantilização da
advocacia, vedados pela Lei nº 9.906,
de 1994, e pelo Código de Ética e
Disciplina da OAB.
Em sua defesa, a Liberfly destaca que
não pratica atos privativos da advocacia
e que é especializada em negociação e
intermediação administrativa de
conflitos entre passageiros e
companhias aéreas. Em caso de
judicialização, acrescenta, os processos
são enviados a bancas parceiras.
De acordo com o Gabriel Zanette
Koehlert, diretor comercial da Liberfly,
a ação da OAB não trata da legalidade
da operação, mas da forma de captação
de clientela. “Estamos muito longe de
ser um escritório. A ação da OAB acaba
prejudicando o consumidor, por retirar
sua autonomia de escolha”, diz. “Os
métodos tradicionais são caros e
acabam desestimulando o consumidor.”
Ao analisar o caso, porém, a 5ª Turma
Especializada do TRF da 2ª Região, que
abrange os Estados do Rio de Janeiro e
Espírito Santo, deu razão à OAB. Em
uma análise preliminar (processo nº
5011626-69. 2019.4.02.0000), os
desembargadores concederam tutela de
urgência (espécie de liminar) ao
entender que “a sociedade [Liberfly]
parece exercer atividades típicas da
advocacia”. Cabe recurso.
De acordo com os julgadores, o
procedimento narrado no site da
empresa parece guardar semelhança
com a mercantilização da advocacia.
“Ainda que sejam contratados
advogados terceirizados para o
ajuizamento da demanda judicial
buscando a indenização, o serviço da
empresa implica indiretamente a
captação de clientela, vedado nos
termos do Código de Ética da OAB”, diz
o acórdão, que cita entendimento da
25
mesma turma contrário à QuickBrasil,
que tentava reverter decisão de
primeira instância.
Há pelo menos dez processos
semelhantes em tramitação. O
Conselho Federal da OAB monitora o
tema nacionalmente e, junto com as
seccionais, tem proposto as ações. As
primeiras foram apresentadas por
seccionais, como as do Espírito Santo e
Rio de Janeiro.
“A OAB não tolera mais a tentativa de
ganhar mercado privativo do
advogado”, afirma Ary Raghiant,
coordenador nacional de Fiscalização
da Atividade Profissional da Advocacia
da OAB. Ele acrescenta que combater
empresas de tecnologia que oferecem
serviço jurídico é um dos focos do
Conselho Federal. “Nós avaliamos
quem são as empresas, seus objetivos e
o que fazem.”
Ele considera “um grande negócio” as
atividades desenvolvidas pelas startups
que atuam no setor aéreo. “O objetivo
da OAB não é proteger as companhias
aéreas, mas o mercado de trabalho do
advogado. Essas empresas fazem
concorrência desleal”, diz. “Que o
advogado processe a companhia aérea,
com honorários, e dê todo o pagamento
ao cliente.”
Para o advogado Ricardo Bernardi,
sócio do escritório Bernardi e Schnapp,
esses sites desenvolvem uma atividade
ilegal. “Pagam pouco aos consumidores,
utilizam o aparato judicial e acabam
lucrando muito”, afirma ele,
acrescentando que, no fim, a conta é
dos contribuintes.
Bernardi lembra que o grande nó do
Judiciário é o dano moral. Hoje, diz,
boa parte dos juízes entende que as
companhias aéreas devem indenizar,
seja qual for o motivo do atraso ou
cancelamento do voo - mesmo
condições meteorológicas - e não é
preciso comprovar o dano sofrido. Seria
presumido. “Como se fosse parte do
risco do negócio.”
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/07/0
1/oab-barra-na-justica-anuncios-de-sites-que-atuam-
contra-empresas-aereas.ghtml
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26
Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Ordem determina retirada de vídeo de banca de redes sociais
Juristas elogiam escritório e
imagens mostram sócios saindo
de carros de luxo ou entrando em
jatinhos
Por Beatriz Olivon — De Brasília
Um vídeo comemorativo de 20 anos do
escritório Nelson Wilians & Advogados
Associados chamou a atenção da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB). A
entidade decidiu notificar
extrajudicialmente a banca por
considerar que haveria indícios de
propaganda irregular.
“Somos maiores em número de
processos, profissionais e advogados
nas filiais e nas audiências”, afirma o
sócio Nelson Wilians logo no início do
vídeo. Ao longo dos quase cinco
minutos, importantes juristas elogiam a
banca, além de serem exibidas imagens
do escritório e sócios saindo de carros
de luxo ou entrando em jatinhos.
Divulgado no Instagram e no Youtube,
o vídeo traz, em tese, publicidade
irregular, segundo a notificação da
Ordem. Há indícios de “autopromoção”,
uso de “frases persuasivas” e outras
violações à ética da advocacia, com
caráter de captação de clientes. A OAB
pediu que o vídeo fosse retirado da
internet em 48 horas.
27
Em nota, o advogado Nelson Wilians
afirma que o conteúdo do vídeo jamais
representou qualquer forma de
autopromoção ou foi produzido com a
finalidade de atingir potenciais clientes.
“Mas, sim, verdadeira e genuína
comemoração por ocasião do
aniversário de 20 anos do NWADV”,
diz.
O sócio acrescenta que o vídeo seria
excluído de suas redes sociais. “Para
evitar o desvirtuamento do real
propósito do vídeo, qual seja,
compartilhar entre sócios,
colaboradores, clientes e amigos a
nossa alegria pelo aniversário de nosso
escritório”, afirma.
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/202
0/07/01/ordem-determina-retirada-de-video-
de-banca-de-redes-sociais.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 01 de julho de 2020.
STF estende exclusão do ICMS do PIS/Cofins
Para ministros, decisão vale para
o período posterior à Lei 12.973,
que passou a definir a receita
bruta como base de cálculo do
PIS/Cofins
Por Beatriz Olivon — De Brasília
Ministro Luiz Fux: conclusão baseou-se em
dispositivos constitucionais — Foto: Leo
Pinheiro/Valor
A 1ª Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) derrubou um dos
argumentos apresentados pela
28
Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional (PGFN) para tentar reduzir o
impacto de R$ 250 bilhões da exclusão
do ICMS da base de cálculo do PIS e da
Cofins. Os ministros, por maioria de
votos, entenderam que a decisão se
aplica mesmo após a entrada em vigor
da Lei nº 12.973, de 2014.
A norma, que entrou em vigor em 2015,
passou a definir a receita bruta como
base de cálculo do PIS e da Cofins. A
partir dela, alguns desembargadores de
Tribunais Regionais Federais (TRF)
vêm limitando a aplicação da decisão do
Supremo de 2017 (RE 574706).
O TRF da 4ª Região (Sul do país), por
exemplo, costuma limitar a exclusão do
ICMS até o fim de 2014. Foi justamente
uma reclamação proposta em decisão
do regional, pela transportadora
Cadomar, que chegou à 1ª Turma do
Supremo (Rcl 35572).
O relator, ministro Luiz Fux, afirma em
seu voto que, apesar de o acórdão que
excluiu o ICMS da base do PIS e da
Cofins mencionar a Lei nº 9.718, de
1998, a decisão se deu a partir da
análise do conceito de faturamento
(base de cálculo do PIS e da Cofins),
conforme dispositivos constitucionais,
sobretudo a regra da não
cumulatividade.
Segundo Fux, a conclusão a que chegou
o Plenário em 2017 baseou-se na
interpretação de dispositivos
constitucionais. “Não parece ser
possível que alteração legislativa
superveniente pudesse proceder à
inclusão do ICMS na base de cálculo
das contribuições sociais incidentes
sobre o faturamento”, diz.
Mesmo votos vencidos do “leading
case” mencionam a aplicação ao
período posterior à vigência da Lei nº
12.973. “O STF analisou a perspectiva
constitucional e não legal [a validade de
uma lei], até porque isso seria feito pelo
Superior Tribunal de Justiça”, afirma a
tributarista Priscila Faricelli, sócia do
escritório Demarest Advogados.
O julgamento por maioria, de acordo
com a advogada, mostra que há divisão
no STF sobre o assunto. “São os
malefícios que a demora na definição do
assunto gera. Muita incerteza, muitos
casos julgados de diferentes formas”,
diz. O ministro Alexandre de Moraes
ficou vencido.
A decisão não vincula juízes ou
desembargadores, mas pode influenciá-
los. “Tem um peso por ser a
interpretação dos ministros do
Supremo sobre sua decisão”, afirma
Priscila. O assunto também pode chegar
ao Plenário, se a 2ª Turma decidir o
assunto de forma contrária.
Na reclamação, a PGFN vai apresentar
embargos de declaração, alegando
omissão. Segundo o procurador da
Fazenda Nacional Paulo Mendes, a
reclamação não deveria ter sido aceita.
Esse recurso só poderia ser usado se o
TRF tivesse negado o recurso
extraordinário da empresa.
Nos embargos propostos na decisão de
2017, a PGFN também pede que seja
subtraído só o ICMS efetivamente pago,
não o declarado na nota fiscal (que é
maior), e que a decisão só retroceda
para quem já havia pedido a exclusão
do imposto estadual na Justiça.
29
Enquanto os embargos não são
apreciados, os recursos sobre o assunto
que chegam ao STF têm sido
paralisados (sobrestados), segundo o
procurador. Recentemente, a ministra
Cármen Lúcia aplicou a suspensão (RE
1273360).
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/202
0/07/01/stf-estende-exclusao-do-icms-do-pis-
cofins.ghtml
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Valor Econômico
Caderno: Legislação e Tributos, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Congresso Nacional e as funções regulatórias
Leis aprovadas às pressas e sem
amplo escrutínio não deveriam
substituir normas amplamente
debatidas com a sociedade
Por Sérgio Guerra e Natasha
Salinas
Uma questão de grande complexidade e
relevância, especialmente em tempos de
pandemia, diz respeito à legitimidade
da atuação do Congresso Nacional para
restringir a autonomia das agências
reguladoras. Entramos, aqui, num
terreno arenoso, cujas discussões são
marcadas por divergências sobre
modelos de Estado (rule of law) e sobre
as implicações da teoria da tripartição
dos poderes. Para alguns, o Congresso
sempre poderá avocar competências
das agências reguladoras, promovendo
o que a literatura denomina de “by pass
regulatório”.
Quem o defende entende que o Poder
Legislativo sempre poderá retirar
competência que concedeu a um órgão
da administração pública. Para outros,
o Congresso não pode repactuar a
competência das agências reguladoras
porque é preciso respeitar o arranjo
político original, que atribuiu funções
regulatórias específicas a órgãos
30
dotados de ampla capacidade e
expertise técnica (reserva do
regulador).
Leis aprovadas às pressas e sem
amplo escrutínio não deveriam
substituir normas amplamente
debatidas com a sociedade
No dia 28 de maio, o presidente
Bolsonaro sancionou a Lei nº 14.006,
que obriga a Anvisa a adotar processo
simplificado para autorizar a
importação e distribuição de materiais,
medicamentos, equipamentos e
insumos estrangeiros de saúde
utilizados no combate à pandemia da
covid-19. Antes da promulgação desta
lei, proposta pelo deputado federal Luiz
Antonio Teixeira Jr (PP-RJ), a Anvisa já
vinha editando diversas normas para
simplificar seus atos de liberação
econômica.
A lei recém aprovada, no entanto,
introduziu obrigação genérica para a
agência reguladora autorizar a
importação e distribuição de
substâncias e produtos já registrados
em órgãos sanitários específicos, como
a americana Food and Drug
Administration e a European Medicines
Agency.
Esse exemplo de by pass regulatório
não é atípico ou isolado. Diversas leis
têm sido aprovadas pelo Congresso
Nacional com o objetivo de restringir a
autonomia regulatória das agências. Em
passado recente, o Congresso aprovou
duas outras leis que também
impactaram diretamente a atuação da
Anvisa.
Em 2016, foi aprovada a Lei nº 13.269,
que autorizou o uso da substância
fosfoetanolamina sintética, também
conhecida como “pílula do câncer”, por
pacientes diagnosticados com neoplasia
maligna. A norma, que foi
posteriormente objeto de ação direta de
inconstitucionalidade perante o
Supremo Tribunal Federal (STF),
autorizou a produção e distribuição da
pílula do câncer independentemente de
registro prévio na Anvisa.
Em 2017, o Congresso aprovou a Lei nº
13.454, que teve como efeito prático
proibir a agência reguladora de vedar a
produção, comercialização e consumo
das substâncias sibutramina,
anfepramona, femproporex e mazindol,
utilizadas na produção de remédios
para emagrecimento.
Esse tipo de produção legislativa do
Congresso Nacional não se restringe, no
entanto, à Anvisa. Estudo prévio do
projeto Regulação em Números da FGV
Direito Rio identificou, entre 1996, ano
de criação das agências, até 2017, mais
de 500 projetos de lei com o objetivo de
disciplinar competências normativas e
fiscalizatórias envolvendo todas as
agências reguladoras federais. Embora
algumas dessas iniciativas visassem
criar e ampliar competências
regulatórias, outras, em maior número,
levaram ao condicionamento ou
restrição do seu exercício.
Iniciativas legislativas desta natureza
até podem ser imbuídas do melhor dos
propósitos, de tornar mais céleres as
ações dos órgãos reguladores. Resta, no
entanto, avaliar se elas são necessárias e
sobretudo legítimas.
Quando o Congresso Nacional propõe
uma lei que restringe a autonomia
normativa de uma agência reguladora,
31
ele objetiva impulsioná-la a agir em
certa direção, seja porque ela pode não
estar atuando ou age de forma lenta em
determinados temas, seja porque
discorda de suas escolhas. Essas
iniciativas são, portanto, fruto de uma
aparente insatisfação de certos
parlamentares e seus constituintes com
formas de agir adotadas pelas agências
reguladoras.
No exemplo mais recente de
intervenção do Congresso Nacional na
atuação da Anvisa, essa insatisfação nos
parece infundada. Em monitoramento
que estamos realizando sobre ações das
agências reguladoras federais no
combate à pandemia, identificamos, até
o fim do mês de maio, 268 medidas, das
quais 119 (44,4% do total) foram
adotadas pela Anvisa. Foram diversas
as normas editadas pela agência para
acelerar a importação de testes,
medicamentos e equipamentos
hospitalares.
Exemplo dessa natureza é a Resolução
da Diretoria Colegiada da Anvisa nº
379/20, que deferiu automaticamente a
importação de máscaras, respiradores e
outros equipamentos de proteção
individual considerados prioritários no
tratamento de doentes da covid-19.
Percebe-se, portanto, no que se refere
aos impactos trazidos pela covid-19, que
a agência reguladora vem agindo de
forma célere e diligente, o que nos leva
a questionar a necessidade de
intervenção legislativa em sua atuação
regulatória.
Não é preciso ser um obstinado
defensor do modelo de Estado
regulador para questionar a
legitimidade do by pass regulatório tal
como hoje é praticado pelo Congresso
Nacional. Leis aprovadas às pressas e
sem amplo escrutínio não deveriam
substituir normas amplamente
debatidas com a sociedade e precedidas
de estudos conduzidos por órgãos
técnico-especializados e ancorados em
análises de impacto econômico, social e
ambiental.
Sérgio Guerra e Natasha Salinas
são, respectivamente, professor
titular da FGV Direito Rio e
professora adjunta da FGV Direito
Rio
Este artigo reflete as opiniões do
autor, e não do jornal Valor
Econômico. O jornal não se
responsabiliza e nem pode ser
responsabilizado pelas
informações acima ou por
prejuízos de qualquer natureza
em decorrência do uso dessas
informações
https://valor.globo.com/legislacao/noticia/2020/07/0
1/congresso-nacional-e-as-funcoes-regulatorias.ghtml
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32
Caderno: Mercado, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Finalmente aprovou-se o marco regulatório do saneamento
Pusemos em marcha o início da
redução da desigualdade de
oportunidades
O que define uma sociedade civilizada é
a perseverança com que ela promove a
igualdade de oportunidades para seus
cidadãos. É ela que minimiza os efeitos
da história e da geografia, ou seja, do
ambiente do nascimento sobre o
destino de cada um. O objetivo moral
permanente do Estado deve ser,
portanto, coordenar e dar efetividade à
sua construção.
Pois bem. A igualdade de
oportunidades começa com políticas
públicas que cuidem da gestante com
relação à sua saúde e alimentação e do
suprimento de dois bens dos quais
ninguém pode ser privado: água limpa
encanada e esgoto tratado. Numa larga
medida, são estes que determinam a
higidez e a capacidade cognitiva do
futuro cidadão.
Há 32 anos, a Constituição determinou
que compete aos municípios os serviços
de água e saneamento, mas ainda
amargamos vergonhosos índices nos
dois mais importantes supridores de
igualdade de oportunidades: apenas
80% dos cidadãos têm água encanada e
limpa, e menos de 50% têm esgoto
tratado, sem falar no desperdício da
água já tratada, que ronda 38%.
33
Enquanto isso, o marco regulatório do
setor dormia no Congresso desde 2001!
Na semana passada, tivemos uma
epifania, que revelou que as instituições
estão funcionando. A competente
colaboração dos presidentes Davi
Alcolumbre e Rodrigo Maia com o
ministro Paulo Guedes ajudou a
aprovar o excelente projeto relatado
pelo ilustre senador Tasso Jereissati,
que cria, afinal, o novo marco legal do
saneamento. Para dar garantia jurídica
aos novos contratos, o setor será
regulado por uma reforçada Agência
Nacional de Águas (ANA). Criou-se,
assim, um ambiente para que possam
coexistir empresas públicas
competitivas, parcerias público-
privadas e empresas privadas
prestadoras de bons serviços a preços
competitivos.
Abriu-se um formidável espaço para
investimentos —qualquer coisa entre
R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões em
dois ou três anos— que, ao mesmo
tempo em que aumentará a igualdade
oportunidades, economizará em gastos
de saúde e, primordialmente,
aumentará a eficiência da educação.
Basta lembrar que 49% das escolas
primárias dispersas pelo Brasil não
estão ligadas à rede de esgoto, 26% não
têm acesso a água limpa encanada e
quase 20% delas não têm nem sequer
banheiro dentro do prédio em que
funcionam.
Para surpresa geral, com um presidente
comandado pelos piores preconceitos
identitários e religiosos, demos um
salto duplo "twist" carpado e pusemos
em marcha uma importante medida
civilizatória: o início da redução da
desigualdade de oportunidades que até
agora infelicitou a sociedade brasileira.
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda
(1967-1974). É autor de “O Problema do
Café no Brasil”.
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim
/2020/06/finalmente-aprovou-se-o-marco-
regulatorio-do-saneamento.shtml
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34
Caderno: Mercado, quarta-feira 01 de julho de 2020.
Cade libera pagamento via WhatsApp, mas volta do serviço depende de Banco Central
Órgão de defesa da concorrência acatou
pedido de reconsideração do Facebook,
dono do aplicativo
Julio Wiziack
BRASÍLIA
A Superintendência-Geral do Cade
(Conselho Administrativo de Defesa
Econômica) atendeu o pedido do
Facebook, dono do WhatsApp, e da
Cielo e cancelou, nesta terça-feira (30),
a suspensão do serviço de pagamentos e
transferências realizados entre usuários
do aplicativo.
O Cade e o Banco Central barraram o
serviço na semana passada até que se
esclareça a natureza do negócio.
Com a decisão do Cade, regulador da
livre concorrência, abre-se caminho
para que o BC, órgão de regulação do
mercado financeiro, também libere o
serviço. Até que isso ocorra, as
transações via WhatsApp continuam
suspensas.
A superintendência é a porta de entrada
das empresas no Cade para reclamações
de concorrentes ou pedidos de anuência
ao conselho.
35
Brasileiros poderão enviar dinheiro pelo
Whatsapp - Reprodução
A decisão desta terça-feira não
compromete o andamento do processo
que segue em tramitação junto ao
conselho do Cade para avaliar se o
acordo entre as empresas deveria ter
sido notificado previamente, como
apontaram Cade e BC em suas decisões
de suspensão do serviço.
Nos bastidores, os técnicos do Cade
consideravam que a chance de reversão
a favor do WhatsApp era muito baixa.
No entanto, ao analisar os documentos
anexados ao pedido de revisão da
medida na sexta-feira (26), o
superintendente-geral do Cade,
Alexandre Cordeiro de Macedo, se
convenceu de que a principal razão para
o bloqueio do serviço estava superada.
Havia a preocupação de que a parceria,
anunciada em meados de junho, fosse
exclusiva entre a credenciadora Cielo,
responsável pelo processamento
financeiro das transferências e uma das
maiores no ramo das maquininhas de
pagamentos, as redes de cartões de
crédito e de débito do Banco do Brasil,
Nubank e Sicredi.
Segundo pessoas envolvidas nas
discussões, Macedo queria garantir que
o acordo entre as duas empresas
permitiria a participação de qualquer
outra instituição financeira do mercado.
Na defesa ao Cade, foram apresentados
contratos do WhatsApp com outras
instituições financeiras que ainda não
se tornaram públicas.
Diante disso, o superintendente da
autarquia decidiu acatar o pedido de
suspensão.
Em sua decisão, ele afirma que poderá
ainda determinar nova suspensão caso
novas dúvidas sobre travas à entrada de
novos integrantes ao sistema.
No pedido de reconsideração da
suspensão do serviço, as empresas
afirmaram ainda que o acordo não
prevê que, futuramente, elas passem a
atuar no mercado de pagamento ou
credenciamento (maquininhas), hoje
nas mãos de instituições financeiras
reguladas pelo BC.
Por isso, os advogados das empresas
negaram a existência de uma joint
venture (que exigiria notificações
prévias ao BC e ao Cade).
"As partes entendem que a operação
não configura um ato de concentração,
porque o contrato celebrado entre Cielo
e Facebook não envolverá uma fusão,
aquisição de participação societária ou
de ativos, incorporação ou criação de
consórcio ou joint venture", escrevem
no ofício.
"Além disso, e mais importante, não é
possível afirmar que Cielo e Facebook
seriam concorrentes em qualquer
mercado relevante objeto do contrato."
Os representantes das duas empresas
consideram ainda que não haverá
tomada de decisão em conjunto e que as
empresas seguirão independentes em
36
suas áreas de negócio. Afirmam que
tanto Facebook quanto WhatsApp "não
atuam na área de pagamentos no
Brasil". Por isso, não são reguladas pelo
BC, ainda segundo os advogados.
O aplicativo serviria somente como "um
canal adicional para a realização de
transações de pagamento entre
usuários".
Mesmo assim, o processo que investiga
se o acordo deveria ter sido
previamente notificado terá
andamento.
Se o entendimento do conselho do Cade
confirmar a notificação prévia, as
empresas deverão ser multadas
porque o serviço já estava sendo
prestado.
A multa máxima em casos similares é
de R$ 60 milhões, mas pode haver
redução mediante acordo.
Nos bastidores, tanto BC quanto Cade
consideraram a operação uma joint
venture (parceria), o que significa que
as empresas deverão apresentar um
pedido de notificação se quiserem
prosseguir com esse acordo.
O Cade poderá aprovar sem restrições
ou impor condicionantes. A outra opção
é a reprovação.
No país, o WhatsApp conta com mais
de 120 milhões de usuários, mais do
que possuem os bancos comerciais em
atividade no país.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/
06/cade-libera-pagamento-via-whatsapp-mas-
volta-do-servico-depende-de-banco-
central.shtml
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Caderno: Mercado quarta-feira 01 de julho de 2020.
Anatel deve aprovar acordo com Algar para trocar multas por investimentos
Anne Warth
Crédito da foto: Nilton Fukuda/Estadão
A Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel) deve
aprovar nesta semana mais um acordo
para substituir multas por
investimentos. Dessa vez, com a
operadora Algar Telecom. A exemplo do
Termo de Ajustamento de Conduta
(TAC) firmado com a TIM, a proposta já
passou pelo crivo do Conselho Diretor
do órgão regulador e do Tribunal de
Contas da União (TCU), e só precisará
ter os valores atualizados.
O relator, conselheiro Vicente Aquino,
pediu no domingo, 28, a realização de
uma reunião extraordinária para
aprovar o acordo até o fim de junho.
Dessa forma, os efeitos do TAC
poderiam ser incluídos no balanço da
empresa ainda no segundo trimestre,
reduzindo perdas relacionadas aos
efeitos da pandemia. O pedido teve
apoio dos conselheiros Carlos Baigorri e
37
Moisés Moreira. Mesmo assim, o
presidente da Anatel, Leonardo Euler
de Morais, decidiu, monocraticamente,
marcar a reunião para 2 de julho.
Em nota à Coluna, a Anatel informou
que a análise de Aquino foi enviada aos
membros do Conselho Diretor apenas
no domingo. Reuniões extraordinárias
devem ter a pauta publicada com 24
horas de antecedência, enquanto o voto
deve ser distribuído pelo menos três
dias úteis antes – prazo que não foi
exigido na análise de outros processos
relevantes, como na fusão entre AT&T e
Warner Media e no edital do 5G.
TAC da Algar prevê investimentos
de R$ 34,6 milhões
O TAC da Algar Telecom prevê R$ 34,6
milhões de investimentos em 4G em
Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, São
Paulo e Goiás. A empresa terá de levar a
tecnologia a mais de 30 cidades hoje
sem o serviço, além de fornecer
cobertura em diversas rodovias do
Triângulo Mineiro. Em troca, não
precisará mais provisionar R$ 45,4
milhões em multas.
Aquino disse à Coluna que correu
contra o tempo para avaliar o TAC. Ele
tinha prazo de 120 dias, mas usou
apenas dez. Segundo ele, os efeitos do
TAC podem contribuir na manutenção
dos empregos de 19 mil profissionais da
companhia. O acordo prevê
ressarcimento de valores a milhões de
clientes. Em sua avaliação, deixar a
análise para julho “maltrata” a empresa.
Procurada, a Algar Telecom disse que
reforça seu compromisso com o sistema
de telecomunicações brasileiro, bem
como com as comunidades e sociedades
onde presta serviços há mais de 60
anos.
https://economia.estadao.com.br/blogs/coluna-
do-broad/anatel-deve-aprovar-acordo-com-
algar-para-trocar-multas-por-investimentos/
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38
Quarta-feira, 01 de julho de 2020
Crédito Rural
STF invalida uso da TR nas operações de crédito rural contratadas junto às instituições financeiras
Por maioria, os ministros entenderam
que o dispositivo é inconstitucional,
pois atinge a coisa julgada e o ato
jurídico perfeito, abrangendo os
contratos celebrados anteriormente.
Nesta quarta-feira, 1, os ministros do
STF julgaram inconstitucional a
substituição do IPC - Índice de Preço ao
Consumidor pela TR nas operações de
crédito rural contratadas junto às
instituições financeiras.
A PGR ajuizou ação contra o art. 26 da
Lei 8.177/91 sob o entendimento de que
a norma contraria a vedação de
retroatividade da lei e atinge o ato
jurídico perfeito, pois os contratos
vigentes antes da edição da norma
passam a ser alcançados pela alteração
no índice de atualização.
Em 2019, o ministro Ricardo
Lewandowski, relator, votou pela
procedência do pedido. De acordo com
o ministro, o dispositivo é
inconstitucional, pois atinge a coisa
39
julgada e o ato jurídico perfeito,
abrangendo os contratos celebrados
anteriormente. O relator destacou que o
índice deve valer apenas a partir da
promulgação da lei e no tocante às
operações subsequentes. Naquela data,
o ministro Alexandre de Moraes
acompanhou o relator.
Na sessão de hoje, os ministros Marco
Aurélio, Edson Fachin, Rosa Weber,
Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar
Mendes e Dias Toffoli também
seguiram o relator.
No julgamento em 2019, o ministro
Luís Roberto Barroso divergiu do
relator e votou pela improcedência da
ação. Para Barroso, é razoável que se
exija do Estado a correção de suas
dívidas por índice de preços, uma vez
que no sistema de precatórios isso é
obrigatório e regulamenta a forma de
pagamento dos débitos da Fazenda com
os cidadãos.
• Processo: ADIn 3.005
https://migalhas.com.br/quentes/330031/stf-invalida-uso-da-tr-nas-
operacoes-de-credito-rural-contratadas-junto-as-instituicoes-
financeiras
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Quarta-feira, 01 de julho de 2020
Advogado contrair covid-19 é justa causa para restituir prazo recursal
Decisão é do ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, do STJ, após única
advogada da parte contrair o vírus.
O ministro do STJ Paulo de Tarso
Sanseverino decidiu restituir o prazo
processual em um agravo em recurso
especial em virtude de a única advogada
constituída por uma das partes ter sido
acometida pelo novo coronavírus.
No pedido de devolução do prazo, a
advogada apresentou atestado médico
com a recomendação de que, em razão
da doença, ela deveria ficar afastada de
suas atividades profissionais e
permanecer em isolamento domiciliar
durante 21 dias, contados da realização
do teste sorológico.
Além disso, a advogada alegou que,
também por causa da pandemia, não
conseguiu substabelecer o mandato a
outro profissional, tendo em vista que
os advogados que atuam na sua região
estão em quarentena ou em isolamento.
Ao deferir o pedido, o ministro
Sanseverino destacou que, conforme a
40
jurisprudência do STJ, a doença que
atinge o advogado e o impede
totalmente de praticar atos processuais
constitui justa causa para efeito do
artigo 223, parágrafo 1º, do Código de
Processo Civil, quando o defensor for o
único constituído nos autos.
• Processo: AREsp 1.541.258
Veja a decisão.
_____________
https://migalhas.com.br/quentes/330017/advogado-contrair-covid-
19-e-justa-causa-para-restituir-prazo-recursal
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Quarta-feira, 01 de julho de 2020
Especial valor probatório das declarações do ofendido
Critério legítimo de valoração da
prova ou clichê jurisprudencial?
• RONAN ROCHA
Processos do STF. Crédito: Carlos
Humberto/SCO/STF
I. Introdução
A valoração da prova pelo juiz ocupa
papel central no processo
penal.[1] Apesar disso, ela tem
recebido apenas um limitado
interesse por parte da
doutrina,[2] que, pelo menos no
cenário nacional, ainda não cuidou de
desenvolver critérios racionais e
objetivos para auxiliar os juízes no
desempenho dessa difícil atribuição.
A valoração da prova, nesse contexto,
é, seguramente, um dos pontos mais
obscuros da prática processual penal,
o que se deve não apenas à falta de
clareza a respeito dos critérios
determinantes para uma valoração
racional da prova, mas também a uma
fundamentação comumente lacônica,
que não explicita todas as etapas do
41
raciocínio judicial percorrido, nas
variadas instâncias, para chegar-se a
determinada conclusão de mérito
sobre a imputação
(absolvição/condenação;
provimento/desprovimento de
recursos).
Ante o relativo desinteresse da
doutrina nacional[3], poderiam os
Tribunais ter tomado a iniciativa de
aprimorar a compreensão racional do
tema. Contudo, o que se observa é que
os Tribunais também se mostram
tímidos em avançar na construção de
um sistema de valoração da prova. Os
poucos critérios de valoração da
prova admitidos são, via de regra,
esparsos e não dialogam uns com os
outros.
Dentre esses critérios, construídos de
forma pontual a partir de exames de
casos semelhantes, mas
desconectados de um verdadeiro
sistema de valoração da prova, um
deles merece especial atenção, ante a
frequência com que é repetido e a
certeza de sua correção por parte de
seus defensores.
Trata-se da firme orientação
jurisprudencial do Superior Tribunal
de Justiça no sentido de que a palavra
da vítima[4] possui especial relevância
probatória, desde que esteja em
consonância com as demais provas
acostadas aos autos.[5]
Essa orientação é amplamente
acolhida pelos Tribunais Estaduais e
juízes de primeiro grau, a ponto de
serem raras as sentenças que não a
invocam, e é defendida, também, no
âmbito doutrinário.[6] A despeito do
prestígio do critério, ele é inadequado
por várias razões, que serão
examinadas na sequência (II). Por
fim, darei breve notícia de como o
tema é tratado no direito alemão (III).
II. Aspectos problemáticos do
critério atinente ao especial
valor probatório da palavra da
vítima
Uma característica desse critério que
logo salta aos olhos consiste na sua
imprecisão. O que significa
exatamente especial valor probatório?
Por maior esforço que se faça,
permanece difícil determinar a carga
semântica do vocábulo especial nesse
contexto, a ponto de torná-lo um
adjetivo que ampare uma conclusão
clara e segura sobre o peso probatório
das declarações do ofendido e das
consequências que podem ser
derivadas desse critério
jurisprudencial.
Embora jurisprudência e doutrina
não esclareçam em que consiste a
especialidade do valor probatório das
declarações da vítima, é possível
arriscar uma resposta que pode ser
inferida dos julgados que fazem
referência a esse critério: o especial
valor probante das declarações do
ofendido significa que sua versão deve
prevalecer, isto é, deve ser acolhida
como resultado da valoração das
provas.
Contudo, essa resposta não é
satisfatória. Ao dar a entender que a
palavra da vítima, abstratamente
considerada, deve preponderar, o
critério do STJ flerta com o
abandonado sistema tarifado de
provas, segundo o qual as provas têm
o seu peso determinado
aprioristicamente, isto é,
independentemente do caso concreto,
42
o que acaba por gerar uma hierarquia
abstrata de provas.
Esse não foi o sistema adotado pelo
legislador brasileiro: o Código de
Processo Penal não adota o sistema
tarifado de provas, mas o da livre
valoração[7] (art. 155), que envolve o
exame concreto das provas sem uma
ordem valorativa preestabelecida.
Os defensores do critério poderiam
replicar que é possível construir uma
interpretação que passe ao largo
dessa crítica. A prevalência da palavra
da vítima insinuada pelo critério em
exame – diriam os partidários da tese
– deve ser aferida concretamente.
A réplica, no entanto, permanece
insatisfatória, já que a mudança da
expressão formal, linguística do
critério não acarreta alteração do
conteúdo. Quando não são apontados
indicadores concretos para que seja
aferida a credibilidade ou o peso de
cada uma das versões, a escolha de
uma delas, apenas com base na sua
origem, continua a ter caráter
abstrato, a priori, em inadequada
proximidade com um sistema tarifado
de provas.
Em outras palavras, a simples
adição do advérbio
“concretamente” não altera a
natureza do exame, que, caso
realizado em conformidade com
o critério, continua a atribuir à
palavra do ofendido maior
peso a priori.
Se sairmos desse plano puramente
abstrato e tentarmos dar concretude
ao critério, fica logo clara a sua
incapacidade de oferecer respostas
adequadas a várias situações com as
quais se deparam os juízes.
A palavra do ofendido deve
prevalecer: (a) mesmo quando é
contraditória? (b) Quando é lacônica,
incapaz de esclarecer integralmente a
dinâmica fática? (c) Quando conflita
com a conclusão do laudo do exame
pericial (de modo mais claro: vítima
aponta acusado como autor de crime
sexual, mas o exame pericial do
material genético colhido conclui que
o DNA é de outra pessoa)? A resposta
a esses questionamentos, como é fácil
perceber, deve ser negativa.
Esses problemas tornam manifesta a
necessidade de correção ou
aprimoramento do critério, para que
ele ganhe em termos de precisão e
possa, assim, ter alguma utilidade
prática.
Ciente dessas dificuldades, os
defensores da orientação em análise
propuseram um acréscimo: a palavra
do ofendido deve ter especial valor
probatório quando, além coerente
(isto é, sem contradições), está em
sintonia com o restante do acervo
probatório.[8]
O especial valor probatório das
declarações do ofendido passa a ser o
resultado da equação que tem como
variáveis a ausência de contradição e
o amparo na prova dos autos.
O aparente ganho de racionalidade do
critério depois de corrigido não
resiste, porém, a um exame mais
acurado. Ao contrário do que promete
entregar, a correção acaba por
acentuar quão vazio é o conteúdo do
postulado. Para que se perceba isso,
basta substituir a palavra do ofendido
por outro meio de prova.
Pensemos na palavra do réu em uma
acusação que verse sobre crime
43
contra a liberdade sexual. Na hipótese
de confronto entre versões do
ofendido e do acusado, sem que o
conflito possa ser dirimido com
amparo em outro elemento de prova
(hipótese recorrente em casos de
imputação de crime sexual sem
testemunhas e sem vestígios), a
versão do acusado, quando é coerente
e tem amparo no acervo probatório,
pode gerar um estado de dúvida no
juiz.
Quando a dúvida não é suscetível de
ser rejeitada racionalmente, deve ser
proferida sentença absolutória.[9] Em
outras palavras, significa que a
palavra do acusado deve, nesse
contexto, prevalecer.[10]
Note-se que, com os mesmos
critérios, chegamos, agora, à
prevalência da versão do acusado.
Isso mostra que, em verdade, as
declarações da vítima, em si, nada
têm de especial, já que a defendida
prevalência não se confirma quando
submetida a esse teste simples e
corriqueiro.
Da mesma forma, quando um relato
fático coerente feito por uma
testemunha encontra ressonância no
acervo probatório dos autos, há um
aumento da probabilidade de o relato
ser verdadeiro,[11] o que incrementa
sua força probante. Pela “lógica”
subjacente à orientação sob exame,
poderia ser dito que a palavra da
testemunha, nesse contexto, também
tem “especial valor probatório”.
Ora, se é possível estender a ideia de
especial valor probatório tanto à
palavra do acusado quanto à da
testemunha, não fica claro por que
doutrina e jurisprudência aplicam
esse critério apenas à palavra da
vítima. Isso demonstra que o critério
é vazio de conteúdo.
Além de impreciso e carente de
conteúdo, o critério é apresentado de
forma axiomática, sem a devida
fundamentação. O que o justifica? De
que modo poderia o Poder Judiciário
fundamentar perante o réu e a
sociedade[12] a assertiva de que apenas
a palavra da vítima tem especial valor
probante? Como o Estado de Direito
não convive com escolhas do Poder
Público pautadas por critérios
arbitrários[13], é imprescindível o
oferecimento de fundamento racional.
Poder-se-ia argumentar que palavra
da vítima deve prevalecer porque ela
não tem outro interesse além da
apuração da verdade. Esse
argumento, todavia, não convence.
Inicialmente, porquanto ele é
contingente: se ele pode ser afirmado
em alguns casos, não há dúvida,
porém, de que ele comporta exceções,
já que há casos em que a vítima tem
interesses distintos da apuração da
verdade.[14]
Não é difícil pensar em interesses
políticos (prejudicar, por exemplo,
um desafeto detentor de mandato
eletivo), na projeção social que uma
acusação falsa contra celebridade
pode acarretar, tampouco pode ser
descartado o interesse em obter
reparação de danos.
Além disso, a “ausência de outro
interesse” deveria ser demonstrada
em todo caso em que o critério fosse
invocado, o que não é feito. A isso se
soma a dificuldade prática de
demonstrar a inexistência de outro
interesse por parte da vítima. A
fragilidade do fundamento conduz,
portanto, ao seu descarte.
44
Uma razão comumente invocada para
lastrear a orientação jurisprudencial
em tela consiste nas “dificuldades que
envolvem a obtenção de provas de
crimes da espécie dos aqui narrados
(crimes contra a liberdade sexual),
praticados, no mais das vezes, longe
dos olhos de testemunhas e,
normalmente, sem vestígios físicos
que permitam a comprovação dos
eventos.”[15]
De acordo com o que insinua esse
raciocínio, se não for adotado o
especial valor probatório da palavra
do ofendido, poderia ser inviabilizada
a apuração de determinados crimes
(como os delitos contra a liberdade
sexual que não deixam vestígios).
Consequentemente, ficaria
prejudicada a punição dos autores dos
respectivos fatos.
A dificuldade de apuração desses
crimes é notória, não apenas pela
ainda deficiente estruturação das
Polícias Judiciárias do país, como
também por fatores próprios dessa
modalidade de crimes, na medida em
que os seus autores costumam
cometê-los longe dos olhares de
testemunhas e sem deixar vestígios.
No entanto, o problema dessa solução
é que ela deriva, de um aspecto fático
(a dificuldade de produzir prova
nesses casos), uma norma (a de que,
por isso, a palavra da vítima deve ser
o elemento probatório decisivo), o
que é um equívoco conhecido
como falácia naturalista:[16] o dever-
ser não pode ser derivado do ser.
O argumento tem, ademais, caráter
utilitarista. Não é difícil perceber que
a ideia por trás dele é a de que, como
deve haver a punição dos autores
desses delitos, seria legítimo
contornar a dificuldade probatória
mediante o emprego
desse topos argumentativo, o que
equivale a dizer que o fim justificaria
o meio.
Esse tipo de raciocínio, entretanto, é
incompatível com o processo penal. O
pensamento de que apenas os fins
interessam conduz ao que Luís Greco
denomina de “maquiavelismo
processual”,[17] que enseja a
desconsideração das regras
processuais e viabiliza a justificação
de tudo quanto se pretenda.
Caso os fins autorizassem o desprezo
pelos meios, o processo deixaria de
ser um procedimento legitimado pela
atuação discursiva das partes, com
balizas de atuação previamente
definidas e delimitadoras da
interferência estatal na esfera dos
cidadãos para transformar-se em um
vale-tudo.
O respeito às regras é uma garantia
civilizatória do processo, fruto da
tradição iluminista, e não deve ser
confundido com o formalismo (apego
irracional às formas). A submissão da
observância das regras processuais a
juízos de conveniência equivale a
torná-las inócuas, a despeito do
relevante papel que elas
desempenham.[18]
Essas reflexões, situadas no plano
processual, são robustecidas quando
voltamos nossa atenção para a
Constituição da República, mais
precisamente para o artigo 5º, incisos
II e LIV, que consagram os princípios
da legalidade e do devido processo
legal.
Deles resulta o imperativo de respeito
à conformação dada ao processo pelo
45
legislador, tanto no tocante à
estrutura quanto ao conteúdo das
normas que disciplinam a persecução
penal. Não é por outro motivo que se
afirma que a verdade, no processo
penal, não deve ser buscada a
qualquer custo.[19]
A eleição do critério sob exame como
decisivo para a valoração da prova
deveria, portanto, estar ancorada
normativamente.[20] Entretanto, o
fundamento normativo da tese nunca
foi apresentado por seus defensores, o
que autoriza suspeitar que a
orientação em análise não deriva da
ordem jurídica em vigor.
O argumento padece, ainda, de outro
grave equívoco. A dificuldade de
investigação de um crime não
autoriza o intérprete a criar, sem
amparo legal, um regime probatório
especial, setorizado, com exigências
diferenciadas em relação aos demais
crimes, sobretudo no tocante
ao standard probatório para a
prolação de sentença condenatória.
A “criatividade” do intérprete colide
com as escolhas feitas pelo legislador,
que, pelo menos até o momento, não
optou pela formulação de regime
jurídico-probatório especial em caso
de crimes sexuais.[21]
A dificuldade de investigação, em vez
de ser artificialmente contornada
mediante o afrouxamento das regras
existentes, deve ser superada com
maior empenho nas investigações;
mediante emprego, sempre que
possível, de recursos tecnológicos, de
pareceres periciais psicológicos;
colheita mais cuidadosa da prova oral
(o que envolve o respeito a
protocolos, ausência de indução a
respostas, registro audiovisual
inclusive na fase de
investigação);[22]especialização de
profissionais que atuarão nas
distintas etapas da persecução
criminal, dentre outras medidas, tudo
isso sem extrapolar as fronteiras do
direito positivo. Levado a sério o
princípio do Estado de Direito, não há
como buscar soluções fora da ordem
jurídica.
O critério em questão não explica,
ainda, por que motivo a balança da
justiça deve pender para um dos
lados, especialmente quando se leva
em conta que o que se espera do
Poder Judiciário não é a tutela da
vítima em todos os casos (não podem
ser olvidadas as falsas acusações),
mas a realização de justiça,
consistente na condenação dos
culpados e na absolvição dos
inocentes.
Ao Poder Judiciário deve interessar
em igual medida tanto a condenação
dos culpados quanto a absolvição dos
inocentes. Quando opta pelo prestígio
abstrato, a priori, da palavra da
vítima, o Estado revela uma atuação
preconceituosa, já que, de antemão,
presume que, no conflito entre a
palavra do ofendido e do acusado, o
ofendido fala a verdade e deve ser
tutelado. É isso o que, de forma
dissimulada, está por trás desse
critério: um preconceito.[23]
Em um Estado efetivamente
preocupado com a justiça de suas
decisões, o determinante não é quem
profere a versão (a fonte de prova),
mas a versão em si concretamente
considerada, sua consistência,
constância, grau de detalhamento,
abrangência, motivação,
credibilidade, em suma, seu valor
probatório concreto.
46
A Psicologia Judiciária e a prática
revelam que as pessoas mentem ou se
equivocam pelos mais variados
motivos,[24] de sorte que não se deve
fazer juízo a priori sobre a
credibilidade de quem é ouvido na
audiência de instrução e julgamento.
A avaliação, como juízo sintético
(fundado na experiência),[25] deve
ser a posteriori, sempre a partir dos
elementos concretos trazidos por
vítimas, testemunhas, informantes e
acusados, após minucioso exame e
confronto com outros elementos
probatórios dos autos.
O elemento de prova que satisfizer de
forma mais abrangente os critérios de
credibilidade é que deverá prevalecer,
sempre de forma concreta,
independentemente de quem esteja
vinculado a ele. Assim, se a versão do
réu for constante, coerente,
abrangente, clara, detalhada, etc. sem
que essas características possam ser
divisadas nas declarações da vítima
ou no depoimento da testemunha
presencial, deverá prevalecer a
palavra do réu.
Deve ser enfatizada a importância do
ceticismo metódico para a edificação
do conhecimento, à semelhança do
que propõe Descartes.[26] Um juiz
crédulo ou que julga com base em
estereótipos e ideologias dificilmente
conseguirá realizar a sua missão de
decidir com justiça os casos que lhe
são confiados.
Além das razões acima aduzidas, um
olhar para além das fronteiras do
nosso ordenamento jurídico pode
facilitar a compreensão de que é
viável a adoção de postura distinta em
relação ao valor probatório das
declarações do ofendido.
III. Breve panorama do
tratamento do tema no direito
alemão
Na Alemanha, o § 261 da StPO
consagra o princípio da livre
valoração judicial da prova ao dispor
que o Tribunal decide sobre o
resultado da produção probatória de
acordo com o seu livre
convencimento, formado a partir do
conjunto das provas da audiência de
instrução e julgamento.[27]
O Bundesgerichtshof (BGH), tribunal
federativo equivalente ao Superior
Tribunal de Justiça, ao interpretar o
referido dispositivo legal, tem
decidido, acertadamente, que a
palavra da vítima, por si só, não tem
maior peso do que a palavra do
acusado:
“Se as declarações de uma vítima –
em especial de uma única vítima – e
(o interrogatório) do acusado forem
incompatíveis (‘palavra contra
palavra’), o Tribunal não pode,
porque ela deflagrou a persecução
criminal e é (eventualmente) a parte
lesada, atribuir em princípio um peso
às declarações da vítima
decisivamente superior às
informações do acusado. Decisiva não
é mera posição formal de quem fala
no processo, mas o valor inerente de
um depoimento, portanto a sua
credibilidade. Deve antes decidir,
numa avaliação global, se pode
acolher essa declaração da
vítima.” [28]
O BGH considera, portanto, que o
peso da prova oral não deve ser
previamente determinado em função
de sua fonte, pois decorre da concreta
valoração de suas características
intrínsecas.
47
O exame de um dado fático, ainda de
acordo com o BGH, deve observar o
princípio metódico por ele
denominado de “hipótese zero”
(Nullhypothese), segundo o qual deve
o Tribunal partir da premissa de que
uma narrativa é falsa e cogitar
possíveis fundamentos para a sua
falsidade.
Em seguida, esses fundamentos
devem ser confrontados com os
demais elementos de prova. Somente
quando todos os possíveis
fundamentos para a falsidade da
narrativa puderem ser descartados,
isto é, apenas quando a falsidade for
incompatível com os demais
elementos de prova coligidos, deve
ser tida a narrativa como verdadeira,
no sentido de ser correspondente à
realidade.[29]
A doutrina, de igual modo, defende
que o valor de cada relato em
audiência deve ser aferido
concretamente, a partir de todos os
dados disponíveis[30], e não a priori,
como é sustentado no Brasil.
Sustenta-se que não se deve atribuir
maior peso probatório às declarações
do ofendido pela simples razão de que
possa ser ele a vítima do fato
punível.[31] Afirma-se, corretamente,
que nenhum dos relatos tem,
abstratamente, maior valor
probatório.[32]
IV. Conclusão
Essas breves reflexões revelam que o
critério do “especial valor probatório
das declarações do ofendido”,
amplamente acolhido por doutrina e
jurisprudência, é impreciso, vazio de
conteúdo, carente de fundamentação
normativa e desnecessário, já que
nada acrescenta à fundamentação da
valoração judicial das provas.
As suas graves falhas demonstram
que é ilusório considerar que ele
possa ser tido como verdadeiro
reforço argumentativo ou que ele
tenha aptidão para contornar a
dificuldade de apuração de crimes
cometidos de forma clandestina. Não
é nenhum exagero, pois, qualificá-lo
como clichê jurisprudencial.
O seu abandono definitivo não trará,
desse modo, nenhum prejuízo para a
aplicação da lei penal. A valoração da
prova não deve dar-se com base em
critérios abstratos de prevalência de
um meio de prova em detrimento de
outro, por se tratar de atividade que
deve ser desempenhada sempre com
base em dados concretos, em toda a
sua riqueza de detalhes, que devem
ser analisados, categorizados e
sopesados, individual e globalmente,
em fundamentação racional e
estruturada.
[1] FRISCH,
Wolfgang, Beweiswürdigung und
richterliche Überzeugung, ZIS
10/2016, p. 707.
[2] KOCH, Hans-Joachim; RÜßMANN,
Helmut, Juristische
Begründungslehre, München: C. H.
Beck, 1982, p. 2.
[3] Exceção digna de registro é a
recente tese de cátedra de BADARÓ,
Gustavo. Epistemologia judiciária e
prova penal. São Paulo: Thomson
Reuters, 2019.
48
[4] Emprego os termos vítima e
ofendido como sinônimos, sem que
tenha relevância para a exposição a
distinção entre os enfoques
criminológico e processual,
comumente associada aos vocábulos.
[5] Essa orientação consta da
publicação “Jurisprudência em
Temas”, disponibilizada pelo próprio
STJ em
seu site (https://scon.stj.jus.br/S
CON/jt/toc.jsp?edicao=EDI%C7
%C3O%20N.%20111:%20PROVA
S%20NO%20PROCESSO%20PEN
AL%20-%20II ), com a indicação de
vários julgados em que ela foi
aplicada.
[6] Cf., por todos, TOURINHO FILHO,
Fernando da Costa. Processo Penal,
19. ed., São Paulo, Saraiva, v. III, p.
296.
[7] Não entrarei na polêmica sobre a
nomenclatura do sistema adotado por
ser irrelevante para a compreensão
dos argumentos desenvolvidos no
texto. Emprego a terminologia que
decorre do texto da lei, sem que isso
signifique tomada de posição no
referido debate.
[8] Nesse sentido: “Nos crimes contra
a dignidade sexual, quase sempre
praticados às escondidas, a palavra da
vítima ganha especial relevo,
mormente, como no caso concreto,
quando coerente, sem contradições e
em consonância com as (sic) demais
elementos colhidos nos autos.” (STJ,
AgRg nos EDcl no AREsp nº
1.147.225, 5ª Turma, julgamento
realizado em 02.08.2018). Na mesma
linha: “Embora a jurisprudência desta
Corte atribua especial relevo à palavra
da vítima nos crimes sexuais, a
conclusão pela culpabilidade depende
da coerência com os demais
elementos de prova carreados aos
autos.” (STJ, AgRg no AREsp
1616398, 5ª Turma, julgamento
realizado em 10.03.2020).
[9] FRISCH, Wolfgang. Freie
Beweiswürdigung und Beweismaβ:
historische und
erkenntnistheoretische Grundlagen.
In: BRUNS, Alexander
(Hrsg.). Festschrift für Rolf Stürner
zum 70. Geburtstag. Tübigen: Mohr
Siebeck, 2013, p. 859; KUNZ, Karl-
Ludwig. Tatbeweis jenseits eines
vernünftigen Zweifels. Zur
Rationalität der Beweiswürdigung bei
der Tatsachenfeststellung. ZStW (121)
2009, p. 572.
[10] A essa conclusão pode-se chegar
tanto a partir da aplicação de critérios
de valoração da prova quanto do
princípio in dubio pro
reo, compreendido, aqui, como regra
de julgamento. Naturalmente,
pensamos na generalidade dos casos e
com o mesmo grau de abstração que
envolve a orientação jurisprudencial
criticada. Evidentemente, é possível
conceber exceções ao que foi
afirmado, como a hipótese em que a
versão do acusado encontra amparo
parcial nos autos, mas, além de não
explicar a integralidade da dinâmica
fática, pode ser refutada pelas provas
produzidas pela acusação (por
exemplo: acusado comprova
parcialmente o álibi alegado, o que
não afasta a hipótese narrada na
denúncia, por não haver coincidência
temporal entre os eventos).
[11] Nesse sentido, dentre outros:
BENDER, Rolf; NACK, Armin e
TREUER, Wolf-
Dieter. Tatsachenfeststellung vor
Gericht. 4. Aufl., München, C. H.
49
Beck, 2014, p. 158; VELTEN, Petra.
In: WOLTER, Jürgen
(Hrsg.). Systematischer Kommentar
zur Strafprozessordnung, 4. Aufl.,
Köln: Carl Heymanns, 2012, p. 561;
COHEN, L. Jonathan. The Probable
and The Provable. Oxford: Claredon
Press, 1977, p. 107, 176 e 278;
FERRER BELTRÁN, Jordi. La
valoración racional de la
prueba. Madri: Marcial Pons, 2007,
p. 75.
[12] Sobre os níveis de justificação do
processo penal, cf. GRECO,
Luís. Strafprozesstheorie und
materielle Rechtskraft, Berlin:
Duncker & Humblot, 2015, p. 157 e ss.
[13] Jarass, em comentário à Lei
Fundamental alemã, anota que
o Bundesverfassgunsgericht decidiu,
em várias oportunidades, que, do
princípio do Estado de Direito, deriva
uma proibição geral de arbítrio.
(BVerfGE 86, 148/251; 89, 132/141;
137, 108, Rn. 107f.).
JARASS/PIEROTH, GG-Kommentar,
15. Aufl., München, C. H. Beck, 2018,
p. 541. Esse raciocínio é aplicável ao
nosso ordenamento jurídico, que
também se estrutura a partir do
princípio do Estado de Direito
(Constituição da República, art.
1°, caput).
[14] Cf. BARTON, Stephan. Wenn
Aussage gegen Aussage steht – die
justizielle Bewältigung von
Vergewaltigungsvorwürfen. In:
ROTSCH, Thomas; BRÜNING,
Janique; SCHADY, Jan. Strafrecht –
Jugendstrafrecht –
Kriminalprävention in Wissenschaft
und Praxis. Festschrift für Hebibert
Ostendorf. Baden-Baden: Nomos,
2015, p. 41-56.
[15] STJ, AgRg no AResp nº 1.245.796,
5ª Turma, julgamento realizado em
07.08.2018.
[16] Cf. NEUMANN, Bedingungen der
Validität des „naturalistischen ‚Fehl‘-
Schlusses. In: MAHLMANN, Matthias
(Hrsg.). Gesellschaft und
Gerechtigkeit. Festschrift für Hubert
Rottleuthner. Baden-Baden: Nomos,
2011, p. 62 ss.
[17] GRECO, Luís. Strafprozesstheorie
und materielle Rechtskraft, Berlin:
Duncker & Humblot, 2015, p. 155-156.
[18] Como enfatiza Greco, no processo
penal, as regras incorporam um
imperativo jurídico e moral de
respeito ao outro como pessoa, de que
todas as interações com ele ocorram
no plano da comunicação e não
permaneçam no da violência
(Strafprozesstheorie und materielle
Rechtskraft, p. 253). Ferrajoli, de
modo convergente, assevera que, na
jurisdição, o fim nunca justifica os
meios, dado que os meios, vale dizer,
as regras e as formas, são as garantias
de verdade e de liberdade e, como
tais, têm mais valor para os
momentos difíceis do que para os
fáceis (Derecho e Razón, Trad.
Perfecto Andrés Ibáñez et al, Madri:
Trotta, 1995, p. 830). Roxin e
Schünemann salientam que, em um
processo penal de um Estado de
Direito, a defesa do respeito ao devido
processo legal (Justizförmigkeit) não
é menos importante do que a
condenação de um culpado e o
restabelecimento da paz jurídica
(Strafverfahrensrecht, 29. Aufl.,
München, C. H. Beck, 2017, p. 2.). Cf.,
ainda, BADARÓ,
Gustavo. Epistemologia judiciária e
prova penal. São Paulo: Thomson
50
Reuters, 2019, p. RB-1.2 (versão
eletrônica).
[19] Roxin/Schünemann, Strafverfahr
ensrecht, cit., p. 2. A diretriz de que a
verdade não deve ser buscada a
qualquer custo não inviabiliza a
consideração da verdade como
objetivo cognitivo do processo, como
enfatizam, dentre outros, Petra Velten
(Systematischer Kommentar zur
Strafprozessordnung, 4. Aufl., Köln:
Carl Heymanns, 2012, p. 478) e Jordi
Ferrer Beltrán (La valoración
racional de la prueba, Madri: Marcial
Pons, 2007, p. 82-83).
[20] Sobre a importância de uma
fundamentação deontológica em
confronto com razões simplesmente
consequencialistas, v. GRECO,
Luís. Lebendiges und totes in
Feuerbachs Straftheorie: ein Beitrag
zur gegenwärtigen strafrechtlichen
Grundlagendiskussion, Berlin:
Duncker & Humblot, 2009, p. 120 e
ss. Há tradução da obra para o
espanhol: Lo vivo y lo muerto en la
teoria de la pena de Feuerbach: una
contribuición al debate actual sobre
los fundamentos del Derecho Penal.
Trad. Paola Dropulich y José R.
Béguelin. Madri-São Paulo: Marcial
Pons, 2015.
[21] O caráter político da definição
do standard probatório salta aos
olhos quando se considera que o que
está em pauta é a distribuição do risco
de erro nos julgamentos criminais. Cf.
LAUDAN, Larry. Truth, Error and
Criminal Law, New York: Cambrige
University Press, 2006, p. 63 e ss.,
68; FERRER BELTRÁN, Jordi. Op.
cit., p. 83; STEIN, Alex. Foundations
of Evidence Law, Oxford: Oxford
University Press, 2005, p. 13 e 16.
[22] De modo convergente: MATIDA,
Janaína. O que deve significar o
especial valor probatório da palavra
da vítima nos crimes de gênero,
Trincheira Democracia, Boletim
Revista do IBDPP, n. 3, 2019, p. 7-9.
[23] Essa postura viola, de acordo com
Dworkin, o dever político
fundamental do Estado de tratar seus
cidadãos com igual interesse e
respeito. Cf. DWORKIN, Ronald. A
matter of principle, Cambridge:
Harvard University Press, 1985, p.
190-191.
[24] Cf. ARNTZEN,
Friedrich. Psychologie der
Zeugenaussage, 5. Aufl., München, C.
H. Beck, 2011; BENDER, Rolf; NACK,
Armin e TREUER, Wolf-
Dieter. Tatsachenfeststellung vor
Gericht. 4. Aufl., München, C. H.
Beck, 2014.
[25] KANT, Immanuel. Kritik der
reinen Vernunft, Hamburg: Felix
Meiner, 1998, p. 57 e 59.
[26] DESCARTES, René. Discurso do
método. Trad. Maria Ermantina
Galvão, São Paulo: Martins Fontes,
2001. Ferrajoli, de modo convergente,
defende a dúvida como hábito
profissional e estilo intelectual do juiz
(Derecho y Razón, op. cit., p. 546).
Bender, Nack e Treuer também
registram a necessidade de começar-
se pela dúvida na valoração das
provas (Tatsachenfeststellung vor
Gericht, op. cit., p. 73).
[27] As provas, portanto, suscetíveis de
serem consideradas no julgamento
são aquelas produzidas ou
reproduzidas na audiência de
instrução e julgamento, desde que
não haja proibição de valoração
51
(sobre o conceito de proibição de
valoração da prova, cf. GRECO, Luís.
Introdução. In: WOLTER, Jürgen, O
inviolável e o intocável no direito
processual penal. Trad. Luís Greco,
Alaor Leite e Eduardo Viana, Madri-
São Paulo: Marcial Pons, 2018, p. 64-
67). Essa prescrição do § 261 da StPO
tem supedâneo nos princípios da
oralidade, publicidade e imediatidade
(nesse sentido:
MIEBACH, Münchener Kommentar
zur StPO, § 261, Rn. 7, 1. Aufl., 2016;
VELTEN, Petra. Systematischer
Kommentar zur
Strafprozessordnung, 4. Aufl., Köln,
Carl Heymanns, 2012, Vor § 261, Rn.
26). Significa isso dizer que, mesmo
que uma informação seja obtida na
fase inquisitiva, o juiz não está
impedido de considerá-la na
sentença, desde que ela tenha sido
introduzida na audiência de instrução
e julgamento, de modo a viabilizar a
observância, em relação a ela, do
contraditório. Ao contrário do que se
passa no Brasil, em que a doutrina,
em contrariedade ao comando do art.
155, caput, do CPP, caminha para um
total desprezo do que é produzido na
fase investigativa, na Alemanha os
elementos de informação
relacionados à prova oral, uma vez
apresentados e debatidos em
audiência, são considerados
relevantes para a aferição da
credibilidade do relato feito
oralmente por vítimas, testemunhas e
acusados, especialmente no que diz
respeito à sua constância, que envolve
a aferição de variações dos relatos ao
longo do tempo. Cf. BGH, Beschl. v.
11.12.2018 – 2 StR 487/18 [= StV 8
2019, 519, (520)].
[28] BGH NStZ 2004, p. 635-636.
[29] BENDER, Rolf; NACK, Armin e
TREUER, Wolf-
Dieter. Tatsachenfeststellung vor
Gericht. 4. Aufl., München, C. H.
Beck, 2014, p. 70. BGH, Urteil vom
30. 7. 1999 – 1 StR 618/98 [= NJW
1999, 2746, (2747)]. Próximo:
FERRER BELTRÁN, Op. cit., p. 123.
V. ainda, nota 23.
[30] Registra a necessidade de ser
valorado concretamente cada
elemento de prova: EISENBERG,
Ulrich. Beweisrecht der StPO, 10.
Aufl., München: C. H. Beck, 2017, p.
55.
[31] HAUSTEIN, Eliane. Zu
Entscheidungsnormen bei Aussage
gegen Aussage, Frankfurt am Main:
Peter Lang, 2017, p. 95; VOLK, Klaus;
ENGLÄNDER, Armin. Grundkurs
StPO. 9. Aufl., München: C. H. Beck,
2018, p. 277; SCHMITT In: MEYER-
GOßNER/SCHMITT StPO, 62. Aufl.,
München: C. H. Beck, 2019, p. 1.251
(que cita, além da decisão do BGH
acima referida, outra publicada na
NStZ-RR 16, 44 no mesmo sentido).
[32] HAUSTEIN, Eliane. Op. cit, p. 119;
MAIER, Stefan. Aussage gegen
Aussage und freie
Beweiswürdigung. NStZ 2005, p. 247
e 250.
52
RONAN ROCHA – Juiz de Direito
em MG, mestre em Direito pela
UFMG e doutorando em Direito pela
Universidade Humboldt em Berlim. O
autor agradece a Heloísa Estellita,
Orlandino Gleizer, Alaor Leite e
Américo Bedê Freire Jr. pelas
contribuições para elaboração deste
artigo.
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/penal-em-
foco/especial-valor-probatorio-das-declaracoes-do-
ofendido-01072020
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