Coleção de Metalurgia

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    UNIVERSIDADE DO PORTOUNIVERSIDADE DO PORTOUNIVERSIDADE DO PORTOUNIVERSIDADE DO PORTO

    FACULDADE DE LETRASFACULDADE DE LETRASFACULDADE DE LETRASFACULDADE DE LETRAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS E TCNICAS DE PATRIMNIODEPARTAMENTO DE CINCIAS E TCNICAS DE PATRIMNIODEPARTAMENTO DE CINCIAS E TCNICAS DE PATRIMNIODEPARTAMENTO DE CINCIAS E TCNICAS DE PATRIMNIOSECO DE MUSEOLOGIASECO DE MUSEOLOGIASECO DE MUSEOLOGIASECO DE MUSEOLOGIA

    O ncleo de metalurgia O ncleo de metalurgia O ncleo de metalurgia O ncleo de metalurgia do Museu Parada Leito do Museu Parada Leito do Museu Parada Leito do Museu Parada Leito

    Reflexo Reflexo Reflexo Reflexo do ensino industrial e da metalurgia no sculo XIX do ensino industrial e da metalurgia no sculo XIX do ensino industrial e da metalurgia no sculo XIX do ensino industrial e da metalurgia no sculo XIX

    Estudo realizado por Patrcia Isabel da Silva Monteiro GeraldePatrcia Isabel da Silva Monteiro GeraldePatrcia Isabel da Silva Monteiro GeraldePatrcia Isabel da Silva Monteiro Geraldes

    No mbito da rea cientifica deGesto de ColecesGesto de ColecesGesto de ColecesGesto de Coleces

    Orientado pelaDoutora Alice SemedoDoutora Alice SemedoDoutora Alice SemedoDoutora Alice Semedo

    PORTOPORTOPORTOPORTO2007200720072007

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    I

    Ao Luciano, pelo tempo que no tive para ele.

    Aos colegas de trabalho, pela cooperao e incentivo constante.

    Ao Dr. Norman Pohl e ao Dr. Jrg Zaun, incansveis auxlios no outro lado da Europa, que fizeram dos seus os meus olhos.

    Doutora Alice Semedo, pela orientao.

    A todos os meus mais sinceros agradecimentos.

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    II

    SUMRIOSUMRIOSUMRIOSUMRIO

    Pg.Abreviaturas................................................................................................................................................ III Lista de Quadros.........................................................................................................................................IV Lista de Figuras ...........................................................................................................................................V

    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduo.................................................................................................................................................... 1 CaptuloCaptuloCaptuloCaptulo IIII:::: A coleco: contextos de produo, aquisio e utilizaoA coleco: contextos de produo, aquisio e utilizaoA coleco: contextos de produo, aquisio e utilizaoA coleco: contextos de produo, aquisio e utilizao ........................................................ 7

    1.1. As polticas do ensino industrial em Portugal no sculo XIX e o seu reflexo no Porto ......................7 1.1.1. O primeiro sistema pblico de ensino industrial ..........................................................................71.1.2. As primeiras reformas do ensino pblico industrial .....................................................................81.1.3. A componente comercial do ensino industrial .............................................................................91.1.4. O instituto Industrial do Porto: oito dcadas de espaos fsicos emprestados ........................10

    1.2. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: contedosprogramticos e gabinetes ..................................................................................................................... 111.3. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: fornecedores de

    material didctico ................................................................................................................................... 14CaptuloCaptuloCaptuloCaptulo II:II:II:II: Enquadramento cientificoEnquadramento cientificoEnquadramento cientificoEnquadramento cientifico da coleco: a arte das minas e metalurgiada coleco: a arte das minas e metalurgiada coleco: a arte das minas e metalurgiada coleco: a arte das minas e metalurgia................................... 17

    2.1. Breve histria da metalurgia e da sua aplicabilidade ...................................................................... 172.2. A situao da indstria mineira e metalrgica portuguesa no sculo XIX ....................................... 202.3. O percurso do minrio no sculo XIX: da explorao preparao mecnica...............................222.4. A extraco do metal no sculo XIX................................................................................................ 24

    2.4.1. A produo de ferro coado ........................................................................................................ 252.4.2. A produo de ferro macio ........................................................................................................ 272.4.3. A produo de ao..................................................................................................................... 282.4.4. A produo de zinco.................................................................................................................. 302.4.5. A produo de mercrio ............................................................................................................ 312.4.6. A produo de prata .................................................................................................................. 332.4.7. Outros fornos............................................................................................................................. 34

    ConclusoConclusoConclusoConcluso.................................................................................................................................................. 36 GlossrioGlossrioGlossrioGlossrio.................................................................................................................................................... 40 Anexos Anexos Anexos Anexos....................................................................................................................................................... 44

    Anexo 1 - Requisio de material para o Gabinete de Arte de Minas e Metalurgia (1886)................... 45Anexo 2 - Documento de aquisio: Requisio de material para o Instituto (1886) ............................ 48Anexo 3 - Material adquirido para o Gabinete de Arte de Minas e Metalurgia (1887-88)...................... 52Anexo 4 - Programa da 12 cadeira (Ano lectivo 1920-21) ................................................................... 54Anexo 5 - Programa para a 12 cadeira (1927)..................................................................................... 61

    Anexo 6 - Carta do director do Instituto para a Repartio do Comrcio e Industria a requisitar fundos para proceder ao pagamento da encomenda feita a Theodor Gersdorf.....................................67Anexo 7 - Carta de Theodor Gersdorf....................................................................................................69Anexo 8 - Despacho Alfandegrio da encomenda.................................................................................71Anexo 9 - Inventrio Geral do Instituto (1938)........................................................................................73Anexo 10 - Normas para o preenchimento das fichas de inventrio do ncleo de metalurgia ...............76Anexo 11 - Fichas de inventrio do ncleo de metalurgia ......................................................................87

    BibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografia ..............................................................................................................................................151

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    III

    ABREVIATURASABREVIATURASABREVIATURASABREVIATURAS

    ICOM International Council of Museums ISEP Instituto Superior de Engenharia do Porto

    MDA Museum Documentation Association MPL Museu Parada Leito

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    IV

    LISTA DE QUADROSLISTA DE QUADROSLISTA DE QUADROSLISTA DE QUADROS

    Pg.Quadro 1 Aplicabilidade do modelo adoptado ao estudo da coleco de metalurgia ............. 5Quadro 2 Aplicabilidade Quantidade de aparelhos e mquinas de extraco de metais

    existentes em Portugal em 1890 ........................................... .................................. 22Quadro 3 Quadro sntese de outras tipologias de fornos ...................................... .................. 35

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    LISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURAS

    Pg.Figura 1 Na sesso de homenagem ao Prof. Joo Augusto Ribeiro./ 15 Fev. 1929 (ttulo de autor) . 14Figura 2 Pormenor de um modelo de aparelhagem de poo de mina................ .................... 23Figura 3 Modelo de revestimento de poo de mina ......................................... ....................... 23Figura 4 Modelo de bocardo metlico californiano .......................................... ....................... 24Figura 5 Modelo de ventilador........................................ .................................................... ..... 24Figura 6 Modelo de cilindro de lavagem de minrios..................... ......................................... 24Figura 7 Modelo de crivo vibratrio ........................................ ................................................. 24Figura 8 Reconstituio grfica de um alto-forno simples .................................................. .... 25Figura 9 Reconstituio grfica de um alto-forno Pilz de Freiberg ......................................... 25Figura 10 Modelo de alto-forno simples existente no MPL (MPL586OBJ) ............................. 26Figura 11 Modelo de alto-forno Pilz existente no MPL (MPL465OBJ)............................. ....... 26

    Figura 12 Modelo de alto-forno com captao de gases existente no MPL (MPL571OBJ) ... 27Figura 13 Reconstituio grfica de um forno de pudlar ......................................... ............... 28Figura 14 Modelo de forno de pudlar existente no MPL (MPL573OBJ) ................................. 28Figura 15 Reconstituio grfica de um forno de pudlar com laboratrio mvel.................... 28Figura 16 Modelo de forno de pudlar com laboratrio mvel existente no MPL

    (MPL577OBJ) ...................................... .................................................... ............... 28Figura 17 Reconstituio grfica de um forno Martin-Siemens....................................... ....... 29Figura 18 Modelo de forno Martin-Siemens existente no MPL (MPL569OBJ) ....................... 29Figura 19 Reconstituio grfica de um conversor Bessemer....................... ......................... 30

    Figura 20 Modelo de Conversor Bessemer existente no MPL (MPL457OBJ)................... ..... 30Figura 21 Modelo de Conversor Bessemer existente no MPL (MPL457OBJ)................... ..... 30Figura 22 Reconstituio grfica de um forno belga para zinco ............................................ 31Figura 23 Reconstituio grfica dos tubos refractrios de um forno belga para zinco ......... 31Figura 24 Modelo de forno belga para zinco existente no MPL (MPL579OBJ)...................... 31Figura 25 Modelo de forno belga para zinco existente no MPL (MPL579OBJ): pormenor dos

    tubos refractrios ......................................... .................................................. ............ 31Figura 26 Reconstituio grfica de um forno de cuba para mercrio ................................... 32Figura 27 Modelo de forno de cuba para mercrio existente no MPL (MPL567OBJ) ............ 32Figura 28 Modelo de forno de mercrio com aparelhos de refrigerao existente no MPL

    (MPL570OBJ) .............................................. .................................................. ............ 33Figura 29 Reconstituio grfica de um forno de copelao alemo ..................................... 34Figura 30 Modelo de forno de copelao alemo existente no MPL (MPL568OBJ).............. 34Figura 31 Reconstituio grfica de um forno de copelao ingls ....................................... 34Figura 32 Modelo de forno de copelao ingls existente no MPL (MPL575OBJ) ................ 34

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    INTRODUOINTRODUOINTRODUOINTRODUO

    Mesmo quando devamos assumir que estes [os objectosmuseolgicos] so como que materializaes das teorias que os

    produziram. Bem como do conhecimento tcnico e tecnolgico que os permitem em qualquer momento. No h, contudo, simetria que

    permita conhecer a teoria a partir dos artefactos. Exige-se o conhecimento da teoria para explicar o artefacto que o produz.

    Pedro Borges de Arajo (1111)

    O presente relatrio foi realizado no mbito do Curso de Estudos Ps-Graduados emMuseologia, organizado e leccionado pelo Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnioda Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e foi orientado pela Doutora Alice Semedoresponsvel pela rea cientifica de Gesto de Coleces.

    O principal objectivo do trabalho proposto consiste na realizao de um estudo de umacoleco. Como pressupostos o estudo deveria ser indito, original e contribuir para ainterpretao e esclarecimento da coleco escolhida, promovendo desse modo umadivulgao, exposio e fruio mais coerentes, assertivas e enriquecedoras.

    Por questes pessoais e profissionais, a escolha recaiu obrigatoriamente numa dascoleces existentes no MPL, local onde desempenho funes de Tcnica Superior e onde setm vindo a desenvolver estudos semelhantes.

    O Museu tem como misso reunir esplio para fins de estudo, investigao e divulgao dahistria do ensino tcnico e da tecnologia, das engenharias, da indstria e outras temticascom estas relacionadas. Assim sendo pretende:

    Coleccionar, conservar, comunicar e expor uma coleco; Ter um papel activo na vida cultural portuense, integrando o espao no circuito turstico da

    cidade; Promover a cincia e o patrimnio museolgico do ISEP junto da comunidade atravs de

    uma poltica de excelncia de acolhimento e de programao; Ensinar a importncia das antigas descobertas no mundo civilizado de hoje; Divulgar o estudo das cincias da engenharia, mostrando como se fez ontem, o que se faz

    hoje e projectando, sempre que possvel, o futuro; Promover parcerias com diversos sectores da sociedade e estabelecer intercmbios com

    outros museus, trocando experincias e informaes sobre as matrias abrangidas pelanossa coleco;

    1 in SILVA, Armando Coelho Ferreira da e SEMEDO, Alice (coordenao) -Coleces de cincias fsicas e tecnolgicas em museus universitrios: Homenagem a Fernando Bragana Gil . Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto Seco de Museologia do Departamento deCincias e Tcnicas do Patrimnio, 2005. pg.249

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    Promover exposies temporrias e conferncias a fim de divulgar a cincia, enquantomeio de desenvolvimento cultural e cientfico da sociedade;

    Incentivar e promover pesquisas e estudos em algumas reas cientficas.A escolha da coleco de modelos didcticos de fornos pareceu-me a mais lgica por ter

    encetado, pouco tempo antes desta proposta de trabalho acadmico, diligncias para iniciar o

    estudo da coleco de minas e metalurgia do museu. Visto que o ncleo de minas estava j emfase final de estudo e que, na sua totalidade, a coleco era algo numerosa, optei por seleccionar apenas o ncleo de metalurgia. Esta coleco constituda por 13 modelos escala de fornos provenientes da Alemanha, datados do final do sculo XIX e incorporados noMPL em 1998.

    Desde o incio um pressuposto condicionaria a evoluo deste estudo: sabia que era umacoleco de natureza sistemtica, organizada com o objectivo de ensinar e ilustrar asinovaes tcnicas e tecnolgicas da metalurgia no sculo XIX.

    Ao estudarmos uma coleco estamos, acima de tudo, a investigar os conceitos e valores

    que lhe esto subjacentes, a sua natureza, o seu papel e o seu significado ao longo dostempos. Esses estudos permitem contribuir, de uma forma simples, organizada efundamentada, para a histria das coleces e do acto de coleccionar, para um maior entendimento das razes que levam as pessoas a coleccionar e para serem adoptadaspoliticas de gesto adequadas a essas coleces.

    Ao longo dos tempos, muitos tm sido os que se dedicam a delinear modelos queconsideram ser os mais apropriados para o estudo de coleces. Apesar de muitos pontos emcomum, verifica-se que uns so mais ajustados a um tipo de coleces que outros, no sendopassveis de se enquadrar em todas as coleces. Consideremos alguns deles.

    O modelo de PrownPrownPrownPrown (1982) parte da anlise formal e descritiva do objecto. Esta descriodeve partir do geral para o particular, utilizando uma terminologia apropriada mascompreensvel para todos os que possam ter acesso a esta informao, deve ficar registada eapoiada por documentao grfica ou outra considerada relevante. A descrio deve ser ajustada ao que se v no momento da anlise e no ao que deveria ter sido o objecto, ou seja,deve ser crua, desprovida de qualquer influncia ou conhecimentos pr-adquiridos. A segundafase deste modelo a deduo, que j engloba no s o conhecimento do objecto que seadquiriu numa primeira fase, mas tambm toda a experincia e conhecimentos anteriores dequem est a realizar o estudo. A deduo ter que partir da experimentao do objecto emtodas as suas dimenses: sensorial, intelectual e dedutiva. Depois da interpretao da

    interaco entre o objecto e o sujeito, o estudo passa para a ltima fase: a especulao. tempo de formular hipteses e teorias e desenvolver um plano de pesquisa para as validar ouno. Este modelo no poder de todo ser aplicado a todo o tipo de coleces, sendo maisapropriado a estudos de coleces da histria de arte ou da arqueologia. No entanto, incluindonesses casos, apresenta algumas fragilidades, pois lida com dedues. Tanto a produoartstica como a deduo tm carga subjectiva logo podem surgir diferenas entre quem feze quem olha.

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    O modelo de ElliotElliotElliotElliot (1986) prope tambm que, pondo de lado todos os conhecimentospr-adquiridos, se faa um estudo partindo do objecto em si mesmo. Em primeiro lugar deve-seregistar todos os dados observveis no objecto, no que diz respeito ao material, construo,funo, provenincia e valor. De seguida, atravs da comparao com objectos similares,toma-se nota dos dados comparveis e, finalmente, atravs da anlise de outras fontes de

    documentao, retiram-se dados suplementares para o estudo. Deste modo, podem-se tirar concluses acertadas ou, caso no sejam, formular hipteses que justifiquem o facto de seremcontraditrias. O modelo de Eliott no se revela, no seu todo, s coleces de carcter cientfico, at porque estas necessitam de uma investigao prvia acerca dos princpiosencerrados nos objectos. Com este modelo, Eliott limita o trabalho do investigador ao que v,sem conhecimentos obtidos anteriormente.

    PearcePearcePearcePearce (1986) assume que as coleces so constitudas por artefactos, ou seja, objectosrealizados pelo homem atravs da aplicao de processos tecnolgicos. Enquanto artefactospossuem intrinsecamente informao de carcter nico acerca da sua natureza, diversidade e

    propriedades, caractersticas que, no seu conjunto, nos permitem criar e percepcionar o seupapel e importncia sociais. Pearce prope que se pergunte ao artefacto O que ?, Comofoi feito?, Quando, onde, por quem e porqu foi construdo?. A resposta a estas questespermitir-nos- organizar a informao acerca do artefacto em quatro grandes reasrelacionadas com o material, a histria, o seu contexto de criao e, partindo da anlise destestrs aspectos, interpretar o que representa, como demonstra ser um artefacto do seu tempo,como pode ser visto enquanto prtica social de uma poca... esta informao que, depois deretirada, tratada e organizada, serve como base de trabalho da coleco e permite d-la aconhecer em todas as suas dimenses. Este modelo apresenta-se tal como o de Eliott maisadequado a coleces de cultura material.

    BaBaBaBattttchelor chelor chelor chelor (1986) apresenta o estudo de coleces em seis fases: a primeira a inveno, ouseja, a evoluo de ideias e descobertas que deram origem ao objecto; a segunda acaracterizao do material de fabrico; a terceira, a definio da manufactura, a sua tcnica defabrico e quem a fabricou; a quarta trata do estudo do marketing, o custo do objecto e omercado onde se encontrava e era distribudo; a quinta caracteriza a arte, o design, estilo ehistria do objecto; por ltimo, a sexta fase, trata a funo utilitria e a sua aplicao. Estemodelo considera que as caractersticas so dependentes umas das outras, isto , se umamuda, altera as outras e por isso tm de ser estudadas como um todo. O objecto como eteve determinada evoluo para ter e por ter uma determinada funo, numa determinada

    poca, para a qual contriburam ideias, invenes, materiais, construtores, regras econcorrncias comerciais, estilos artsticos, etc. No final, o estudo do objecto deve conseguir coloc-lo no seu espao adequado na exposio e no dar-lhe relevo em relao aos outros,porque ele no existe por si s, mas porque est inserido num contexto, tem uma determinadafuno no mesmo e contribui para a sua existncia com aquelas caractersticas. No entanto,Batchelor peca por provocar um desligamento de uma etapa para a seguinte, no havendoconsequncias cumulativas para chegar a uma concluso geral.

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    O modelo de estudo adoptado para a interpretao do ncleo de metalurgia teve influnciasde todos os referidos, mas no seguiu nenhum deles de forma exaustiva.

    Em primeiro lugar, procedeu-se, atravs da observao directa ( semelhana do que propePrown), anlise, descrio das caractersticas e registo exaustivo de todos os dadosobservveis, recorrendo tambm a registo grfico. Assim, foi possvel preencher as

    informaes bsicas das fichas de inventrio dos objectos e registar graficamente o todo e ospormenores de cada um. Este primeiro contacto foi de grande utilidade: os objectos detinhammuita informao, pistas importantssimas para a sua identificao, tais como marcas,inscries e etiquetas com nmeros de inventrio anteriores.

    Posto isto, o segundo e terceiro passos basearam-se nessas pistas e, tal como sugere R.Elliot, esses dados foram confrontados com dados existentes na instituio (livros de inventrioantigos, catlogos de fornecedores e documentos arquivsticos e bibliogrficos) e com dadosexternos (atravs do intercmbio de informaes com instituies relacionadas com a colecoou atravs da consulta de fontes bibliogrficas secundrias), conseguindo-se, deste modo,

    reunir informaes acerca dos fornecedores, da rea cientfica da coleco e do seu contextoinstitucional. Esta foi uma fase algo conturbada, pois nenhuma informao do Arquivo Histricodo ISEP ou da Academia de Freiberg (entidade fornecedora) se encontra tratada, tendo ficado,por isso, a sensao de que alguma informao no foi contemplada. Sendo a Academia deFreiberg uma instituio de ensino situada na Alemanha e tida como a mais antiga instituiode ensino do mundo na rea das minas e metalurgia era de prever a existncia de arquivos emuseus organizados. Ora, pelo contrrio, deparei-me com informao dispersa, sem qualquer tipo de estrutura, sendo-me apenas de grande valia a disponibilidade dos funcionrios,incansveis na tentativa de me encontrarem solues e respostas para as situaes que meiam surgindo. Fruto disso, conseguimos alicerar uma ponte de intercmbio de informao queprevejo ser muito vantajosa no futuro para ambas as instituies.

    Aps recolha de toda a informao, colocaram-se questes a cada objecto, tal como propePearce, que permitiram organizar a informao, contextualizar o objecto, conhecer amentalidade da sua criao, aquisio e funo e preencher as fichas de inventrio.

    Depois de concludo este processo, a coleco ficou documentada o suficiente para seproceder sua fruio e divulgao de acordo com as polticas e procedimentos da instituio.No entanto, como sabemos, o estudo de uma coleco no um acto encerrado numa balizatemporal e, por isso mesmo, pode e deve ser complementado sempre que possvel.

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    Vejamos esquematicamente a aplicabilidade do modelo na coleco em estudo:

    Quadro n.1Quadro n.1Quadro n.1Quadro n.1 Aplicabilidade do modelo adoptado ao estudo da coleco de metalurgia

    Posto isto, este relatrio apresenta-se dividido em trs partes essenciais: o primeiro captulo apresenta uma abordagem aos contextos institucionais e didcticos da

    coleco, desde a sua origem at ao inicio do sculo XX, factos que, de algum modo,contriburam para a aquisio e permanncia da coleco at aos dias de hoje, contextosque no s a explicam como lhe do sentido de existncia. Neste ponto demonstra-se comoa coleco representativa de prticas sociais, na medida em que a aquisio de materialdidctico, principalmente no estrangeiro, era prova de poder e saber mais evoludo emrelao a instituies similares. Tudo o que vinha do estrangeiro reflectia modernidade,avano tecnolgico, inovaologo quem conseguia usufruir dessas caractersticas era, por certo, mais desenvolvido e progressista. Ao mesmo tempo, prova e fruto de uma dinmicade ensino muito mais prtica, baseada na experimentao ou na observao directa, de

    modo a criar profissionais e tcnicos com conhecimentos alargados dos mtodos eprocessos mais actualizados e inovadores da rea na poca;

    no segundo captulo, de uma forma sinttica e aps uma breve referncia situao dametalurgia portuguesa ( 2222), enquadram-se os objectos na rea cientfica que representam, oque permitiu definir terminologias e o glossrio apresentado no final do documento,comprovar a sua funo enquanto coleco e justificar a sua natureza taxionmica emetdica. Apesar de no serem objecto deste estudo, so referidos alguns objectos doncleo de minas que ilustram as fases anteriores da extraco dos metais para um melhor entendimento do ncleo de metalurgia Por razes relacionadas com o tempo disponvel ecom o nmero de pginas imposto, no se apresentaram todas as tipologias de fornosexistentes, mas apenas aqueles dos quais existem modelos na coleco em estudo, sendoapenas dada uma indicao de todos os outros. Neste ponto evidencia-se o contributoexcepcional da coleco para o conhecimento da rea da metalurgia, pois permitecaracterizar uma poca atravs de uma leitura visual facilitada, mais ainda se conjugada com

    2 Este ponto no foi muito desenvolvido por no se ter conseguido informao suficiente. Tinha como objectivo especificar a utilizao de fornosrepresentados na coleco em territrio portugus ou a participao de alunos na conduo dos mesmos. Os dados so inexistentes ou escassos.Esta investigao continua em desenvolvimento.

    OBSERVAO / DESCRIO

    PRODUO / AQUISIO / UTILIZA O

    IDEIA / INVENO

    ORGANIZAO

    CARACTERIZAO / REGISTO GRFICO

    CONTEXTUALIZAO / DATAO

    GLOSSRIO / TIPOLOGIAS

    INTERPRETAO

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    mtodos de exposio e explorao pedaggica que, em conjunto com outros ncleos,recriem o percurso do metal desde a extraco do minrio at reduo deste a metal.

    Por ltimo e em anexo apresenta-se o Manual de Normas e Procedimentos para oPreenchimento das Fichas de Inventrio e as fichas preenchidas com base em toda ainformao conseguida at ao momento.

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    CAPTULOCAPTULOCAPTULOCAPTULO IIIIA coleco: contextos de produo, aquisio e utilizao A coleco: contextos de produo, aquisio e utilizao A coleco: contextos de produo, aquisio e utilizao A coleco: contextos de produo, aquisio e utilizao

    1111.1. As polticas do ensino industrial em Portugal no sculo XIX e o seu reflexo no Porto.1. As polticas do ensino industrial em Portugal no sculo XIX e o seu reflexo no Porto.1. As polticas do ensino industrial em Portugal no sculo XIX e o seu reflexo no Porto.1. As polticas do ensino industrial em Portugal no sculo XIX e o seu reflexo no Porto

    No se encontram referncias significativas ao ensino industrial em Portugal na primeirametade do sculo XIX, pois no existia algo em Portugal que pudesse ser considerado comotal. Os operrios e mestres iam-se formando pela via tradicional, ou seja, aprendiamtrabalhando e eram ensinados por quem j trabalhava na rea. Deste modo, os saberes iampassando atravs das geraes, no existindo grandes alteraes no modo de fazer nem nomodo de saber. Era, por isso, um mtodo imitativo e estagnado que no contribua de modoalgum para o desenvolvimento industrial do pas.

    Fizeram-se algumas tentativas de melhoramento com a criao da Sociedade Promotora da

    Indstria Nacional e do Conservatrio de Artes e Ofcios e com cursos pontuais de desenho,geometria e mecnica aplicados s artes e ofcios, mas estes revelaram-se insuficientes.

    Em 1849 so redigidos os Estatutos da Associao Industrial Portuense, projecto colectivode professores e de representantes das diversas profisses fabris da cidade do Porto, mas queapenas seriam aprovados trs anos mais tarde. A Associao propunha desenvolver eaperfeioar a indstria nacional e instruir as classes industriais, particularmente os operrios,colocando o pas a par do desenvolvimento das outras naes e melhorando as condies devida e de trabalho dos operrios. Ao mesmo tempo, era criada a Escola Industrial Portuense,que tinha como objectivo a instruo especial e tcnica dos indivduos da classe industrial.

    Nestes dois estabelecimentos, a classe operria dispunha de biblioteca e gabinete de leitura,laboratrio qumico, gabinetes de histria natural, de fsica e mecnica industrial e de modelospara o estudo das construes, bem como oficinas de carpintaria de moldes e construes,torneiro, serralheiro, forjador, fundidor de metais, tinturaria e estamparia. No entanto, desdecedo viram os seus pedidos de dotaes governamentais negados, visto que o prprioGoverno pensava j na possibilidade de criar um Instituto em Lisboa e uma Escola no Portoque teriam os mesmos fins. A Associao e a Escola Portuense prosseguiram o seu intuitocom ajudas camarrias e doaes de cidados do Porto mas, por decreto governamental, seriacriado o subsistema do ensino industrial oficial e sugerido que apenas dessem apoio e

    cooperassem na implantao deste.

    1.1.1.1.1.1.1.1.1.1.1.1. O primeiro sistema pblico de ensino industrialO primeiro sistema pblico de ensino industrialO primeiro sistema pblico de ensino industrialO primeiro sistema pblico de ensino industrial

    A segunda metade do sculo XIX viria a ser o perodo de ascenso do liberalismo portugus,pela fora da ideia de progresso. Portugal era nesta poca um pas com uma estruturapredominantemente rural e de servios e, cada vez mais, se sentia a necessidade de evoluir anvel industrial para que fosse de encontro ao progresso que outros pases vinham registando.

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    Foi Fontes Pereira de Melo, ministro das Obras Pblicas, do Comrcio e da Indstria, quemlanou o primeiro sistema pblico de ensino industrial (3333), assente na ideia de educao para odesenvolvimento, onde a Escola Industrial do Porto foi uma das duas primeiras a tentar responder s necessidades emergentes que vinham sendo colocadas pelos intelectuais maisesclarecidos: () a instruo artstica, industrial, mecnica. Ora esta creio eu que ignoram

    todos, ou quase todos, os que ali [ na Associao Industrial Portuense] se erigiram em mestres.Estes mestres na sua maior parte so lentes da Politcnica aonde funcionam h anos. No me consta porm que desta academia tenha sado nem um s discpulo, capaz de dirigir qualquer estabelecimento industrial () (4444)

    As polticas do ensino industrial em Portugal durante o sculo XIX foram moldadas nas quese iam adoptando no resto da Europa, numa tentativa de seguir as mesmas vias dedesenvolvimento. No entanto, os recursos revelaram-se sempre demasiado escassos. Detodos os pases da Europa vinham exemplos de ensino industrial bem sucedidos, mas FontesPereira de Melo optou pela criao de um ensino suportado financeiramente e orientado pelo

    Estado, semelhana do que se fazia na Alemanha, Frana e Espanha. Alm disso, deupreferncia execuo menos dispendiosa e mais rpida: o ensino no era realizado emescolas especiais para cada ofcio, mas sim numa s, onde atravs de um conjunto dedisciplinas e mediante a combinao destas se encontrassem planos de estudo adequados acada arte e ofcio.

    Aquando da criao da Escola Industrial do Porto, os nveis de ensino eram trs: elementar,secundrio e complementar. No entanto, o ensino cedo se revelou como algo que no passavada formao base aos operrios j existentes, apostando-se essencialmente nas reas dodesenho, geometria, qumica, fsica e mecnica, disciplinas consideradas essenciais a todas as

    artes e officios (5555), no que diz respeito ao ensino terico e nas oficinas de forja, fundio,serralharia, modelao e manipulaes qumicas no ensino prtico.

    1.1.1.1.1.1.1.1.2.2.2.2. As primeiras reformas do ensino pblico industrialAs primeiras reformas do ensino pblico industrialAs primeiras reformas do ensino pblico industrialAs primeiras reformas do ensino pblico industrial

    Em 1864, sob a gide do Ministro Conselheiro Joo Crisstomo de Abreu e Sousa, efectuou-se uma ampla reforma e expanso do ensino industrial ( 6666). Pretendia-se que o ensino passassea ter dois nveis: o geral (comum a todas as artes e ofcios e profisses industriais) e o especial(apropriado a cada arte ou ofcio). Verificava-se que era necessrio difundir a formao por vrias reas no pas e procurou-se tornar o ensino profissional acessvel a um maior nmero

    dos que se dedicavam aos trabalhos industriais. Reorganizou-se, por isso, o ensino industrialna Escola Industrial do Porto e no Instituto Industrial de Lisboa e difundiu-se o ensinoelementar industrial por diversas escolas industriais criadas em diversos pontos do pas.

    3 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria de 30 de Dezembro de 18524 MAGALHES, Antnio da Silva Pereira (1853),Exposio Industrial dirigida ao Ex.mo. Snr. Visconde de Castro Silva . Porto: Tip. de Jos

    Loureno de Sousa, citado por CORDEIRO (2006)5 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 30 de Dezembro de 18526 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 20 de Dezembro de 1864

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    No entanto, mais uma vez, os meios econmicos revelavam-se insuficientes para criar cursostcnicos e profissionais de nvel superior, como os do Conservatrio de Artes e Ofcios deParis, e a organizao teve de ser adequada s necessidades e circunstncias do pas.

    Como consequncia, e apesar dos esforos, estas escolas elementares no puderam ser concretizadas, mantendo-se o ensino industrial circunscrito s cidades do Porto e Lisboa. Estepassa a estar dividido em duas partes: a primeira, inclua formao geral comum a todas asartes, ofcios e profisses industriais, integrando duas componentes o ensino terico,ministrado na Escola, e o ensino prtico, ministrado nas oficinas do Estado ou, sob acordo, emfbricas particulares ; a segunda inclua o ensino especializado de certas artes e ofcios, etambm de diversos servios pblicos tais como obras pblicas, minas e telgrafos. No mbitodesta reforma a Escola Industrial passa a Instituto Industrial do Porto, formando mestres,condutores e directores de fbrica.

    Em 1869, uma nova reforma (7777) mantm os dois graus de ensino, mas vem diminuir asdespesas com o ensino: reduz-se o nmero de professores auxiliares, aceita-se a explorao

    da oficina de instrumentos de preciso de Lisboa e reduz-se as verbas para os museustecnolgicos e laboratrios. Esta compresso de despesas mantm-se durante cerca de umdcada, mas com a criao de mais cadeiras e de novos cursos, reduz-se.

    Em 1881, durante a visita ao Porto do rei D. Lus, o ento Ministro do Reino, Toms Ribeiro,e o Ministro das Obras Pblicas, Rodrigues de Freitas, propem a fuso das duas escolas detopo do ensino industrial - a Academia Polytchnica do Porto e o Instituto Industrial do Porto -numa s denominada Instituto Polytchnico do Porto. O Conselho Escolar do Instituto,considerando que tal projecto era contrrio ao seu percurso histrico recusa o projecto defuso com a Academia Polytchnica , dando desse modo corpo a uma cultura institucional que

    perdura at hoje: ensinar, no s o saber conhecer, mas tambm, o saber fazer (8888). Anos mais tarde, em 1883 ( 9999), o Governo considera de extrema relevncia a criao de

    museus industriais e comerciais junto aos institutos, como complemento dos conhecimentosobtidos. Regressa-se assim, ao ensino contemplativo e imitativo do incio do sculo.

    No ano seguinte (10101010), criam-se vrias escolas de desenho industrial pelo pas e o regulamentodos museus aprovado, instituindo-se duas exposies de carcter permanente no pas.

    1.1.3.1.1.3.1.1.3.1.1.3. A componente comercial do ensino industrialA componente comercial do ensino industrialA componente comercial do ensino industrialA componente comercial do ensino industrialEm 1886 (11111111), tal como j tinha acontecido em 1869 com o antigo Instituto Industrial de

    Lisboa, o Instituto Industrial do Porto altera a sua designao para Instituto Industrial e Commercial do Porto, pois passa tambm a facultar o ensino comercial. Com esta reforma oscursos no sofrem grandes alteraes, excepto ao nvel dos contedos programticos. So

    7 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 30 de Dezembro de 18698 In http://www.ipp.pt/ipp.php?content=apresentacao (20 de Dezembro de 2006)9 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 24 de Dezembro de 188310 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 06 de Maio de 188411 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 20 de Dezembro de 1886

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    fixados novamente trs graus de ensino: o elementar (para formao de operrios),preparatrio (para acesso ao grau seguinte) e o especial.

    Em 1888, o grau de ensino especial passa a ser reservado aos directores, condutores,construtores, desenhadores e telegrafistas.

    Trs anos depois, o Instituto Industrial e Comercial do Porto vai sofrer uma nova

    reformulao muito importante: por ordem ministeriala reforma dos institutos industriaes e commerciaes limita-os ao ensino mdio , retirando-lhes os cursos especiaes ou superiores (12121212),o que vai provocar profundas mudanas ao nvel das cadeiras leccionadas e respectivoscontedos programticos.

    A situao do Instituto Industrial e Comercial do Porto mantm-se inalterada at 1905, alturaem que o ensino industrial em Portugal sofre nova reestruturao e que o Instituto recebeautorizao para leccionar os to pretendidos cursos superiores. Assim, para alm dos cursossecundrios industriais e comerciais o Instituto passa a leccionar o Curso Superior Industrial eo Curso Superior Comercial (13131313).

    1.1.4.1.1.4.1.1.4.1.1.4. OOOO Instituto Industrial doInstituto Industrial doInstituto Industrial doInstituto Industrial do PortoPortoPortoPorto: oito dcadas de espaos: oito dcadas de espaos: oito dcadas de espaos: oito dcadas de espaos fsicosfsicosfsicosfsicos emprestadosemprestadosemprestadosemprestados

    A Escola Industrial do Porto foi ocupar em 1854 algumas salas da Associao IndustrialPortuense, onde funcionaram os primeiros cursos. Nesse mesmo ano, passou para o edifcioda antiga Assembleia Portuense, sito no Largo da Trindade, continuando, no entanto, a utilizar o laboratrio de qumica da Associao Industrial Portuense.

    Aps algumas obras efectuadas no edifcio onde estava instalada a Academia Politcnica, o j Instituto Industrial do Porto transferiu-se para o Edifcio da Graa, onde permaneceriadurante cerca de oito dcadas. Ao longo dos tempos, os diversos directores do Instituto

    tentaram que lhes fosse cedido um espao para instalar o Instituto, mas viram sempre os seusdesejos frustrados.

    Quando o Instituto j no podia ampliar mais o Edifcio da Graa e quando as coleces e osalunos se amontoavam, foi decidido alugar algumas salas do antigo Convento das Carmelitas.No entanto, em 1890 j se tornara insuficiente e previa-se uma expulso do espao para ali seinstalar o novo mercado municipal.

    No final do sculo, as aulas eram mesmo consideradas imprprias para o ensino, no haviaum nico gabinete ou laboratrio instalado convenientemente, algumas cadeiras no podiamser leccionadas, o material de ensino de bastante valor encontrava-se acumulado em cantos,stos e afins, a biblioteca chegou a servir como secretaria e sala dos professores eraurgente um edifcio novo, amplo, apropriado e completo.

    A dcada de 30 do sculo XX marcada pela instalao do Instituto num edifcio prprio,situado na Rua do Breyner, onde permaneceu at 1968, altura em que, j Instituto Superior deEngenharia do Porto, se muda definitivamente para o local actual na rua de S. Tom.

    12 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria de 08 de Outubro de 189113 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria de 03 de Novembro de 1905

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    1111....2222. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: contedos: contedos: contedos: contedosprogramticosprogramticosprogramticosprogramticos eeee gabinetesgabinetesgabinetesgabinetes

    A arte de minas no mais que o conjunto de processos e operaes acessrias que serealizam para explorar os jazigos minerais, ou seja, as minas, enquanto que a metalurgia oprocesso de extrair os metais dos minrios que o Homem vai buscar ao seio da Terra e adapt-los s necessidades da indstria.

    O estudo da arte de minas e da metalurgia sempre teve importncia, porque sempre foi vistocomo meio de medida do grau de progresso de um povo. No sculo XIX, poca em quelocalizamos temporalmente a coleco em estudo, Portugal encontrava-se singularmente atrazado sob este ponto de vista, pois a metalurgia nacional se reduz [ia] a uma ou outra fundio de chumbo e estanho e ao preparo de cobre bruto, por via hmida (SEGURADO,[s.d.]): o cobre bruto era enviado para o estrangeiro para fundir e purificar, a falta decombustveis fsseis apropriados no contribua para a instalao de altos-fornos para ofabrico de ferro e ao e o teor de ferro nos minrios era fraco.

    Assim, os desenvolvimentos metalrgicos eram vistos como um trunfo para o aproveitamentodos jazigos que existiam no nosso pas. Mediante esse facto, o ensino tentava sempre estar apar das modernidades do estrangeiro e transmiti-las comunidade em geral e aos estudantesem particular.

    Tal como todas as outras matrias, o ensino da arte de minas e metalurgia foi sofrendodiversas alteraes que acompanharam as diferentes politicas decretadas pelo Governo e oprogresso que se foi registando ao longo dos tempos nesta rea.

    Esta rea s integrou o plano de estudos com a reforma de 1864 ( 14141414), com a denominao de7 cadeira - Arte de minas, docimasia e metallurgia, leccionada pelo professor Antnio FerreiraGiro desde 1867 e substitudo por Manoel Rodrigues de Miranda Jnior em 1880. Noexistem documentos que descrevam o contedo programtico da disciplina.

    Nesta poca, quando o ensino industrial se torna mais especializado, comea tambm a ser promovida a existncia de locais de ensino auxiliar, onde estivessem reunidos exemplares de machinas mais perfeitas, modelos industriaes de differente ordem, colleces de matrias primas (15151515) entre outros objectos e informaes que contribussem para a instruco e apurar o bom gosto das classes industriaes (16161616).... Os museus e os gabinetes so um exemplo disso.

    Atravs de correspondncia ( 17171717), sabe-se que em 1867 j existia um Gabinete deMineralogia, mesmo sem nunca ter sido criado por decreto governamental. Mas em 1869 que

    14 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 20 de Dezembro de 186415 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 20 de Dezembro de 186416 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 20 de Dezembro de 186417 Carta enviada pelo Director Interino ao Conselheiro Director Geral do Ministrio das Obras Pblicas, em 1 de Junho de 1967

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    esta rea ganha relevo no Porto ao ser decretado que o curso de condutores de minas e demestres mineiros passar a ser unicamente leccionado nesta cidade.

    De 1867 a 1883, o objectivo das aquisies feitas para este gabinete era apenas o deconseguir uma considervel coleco de minerais, minrios, rochas e fsseis. A partir de 1883,o nmero de aquisies e de ofertas aumenta consideravelmente e, para alm dos exemplaresde mineralogia, passa-se a dar ateno necessidade de incorporar modelos didcticos demetalurgia na coleco.

    Em 1886, com a reorganizao do ensino industrial e comercial ( 18181818), a disciplina dividida emduas: 15 cadeira Mineralogia e geologia e 16 cadeira Arte de minas e mettalurgia . No seencontraram, at ao momento, registos quanto ao contedo programtico das cadeiras.

    decretada a criao oficial do Gabinete de Mineralogia e Arte de Minas (passando adenominar-se apenas Gabinete de Arte de Minas em 1887 e Laboratrio Metalrgico em 1889)para o qual so adquiridos diversos objectos e modelos didcticos: modelos de ferramentas demineiros, revestimentos de galerias, poos verticais, ventiladores de minas, modelos de

    bombas centrifugas, minrios, modelos de lavra de minas, modelos de fornos e de aparelhosde perfurao, modelos de recuperao de ar quente, modelos de aparelhos metalrgicos eoutros aparelhos e mecanismos empregues nas minas ( 19191919).

    A instalao do gabinete de arte de minas e metalurgia fica a cargo do professor MirandaJnior que requisita uma lista de material didctico indispensvel criao deste novo espaoauxiliar de ensino. Nesta lista, apresentada em anexo ( 20202020) esto includos os modelos de fornosem estudo, sendo uma exigncia dele que o s modelos requisitados nesta nota devero ser pedidos ao constructor Thomaz [Theodor]Gersdorf de Freiberg fornecedor da escola de minas daquella cidade (20202020). Esta requisio foi autorizada pelo director do Instituto como prova a

    listagem em anexo ( 21212121) e, posteriormente, autorizada pelo Ministrio como prova a relao dematerial adquirido em 1888-1889 (22222222).

    Como Miranda Jnior teve conhecimento deste construtor no existem, at ao momento,certezas, mas algumas evidncias indicam que o professor tenha visitado a Academia deFreiberg, pois foi encontrado um desenho com a assinatura dele nos arquivos desta Academia.Provado est que Miranda Jnior ter tido acesso ao catlogo dos produtos de Gersdorf, poisna requisio de material, referida acima, indica que os nmeros da 1. columna referem-se ao catalogo do mesmo constructor. No entanto, at ao momento esse catlogo no foi encontrado,sugerindo que ou foi destrudo ou foi consultado noutro local como por exemplo, numa das

    muitas exposies internacionais visitadas pelo professor ou at mesmo na Academia deFreiberg.

    18 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 30 de Dezembro de 188619 Carta enviada pelo Director ao Conselheiro Director Geral do Ministrio das Obras Pblicas, em 18 de Novembro de 188620 Anexo 1 Requisio de material para o laboratrio de metalurgia (1886) 21 Anexo 2 Requisio de material para o Instituto (1886-1888) 22 Anexo 3 Relao de material adquirido em 1888-1889

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    Em 1891, foi decretada nova reorganizao do ensino ( 23232323) e nova modificao nestascadeiras: a 15 cadeira passa a ser a 7 dividida em a) mineralogia e petrografia geral e industrial e b) geologia geral e industria, leccionada por Jos Diogo Arajo (sendo estesubstitudo em 1894 por Roberto Frias, por desempenhar cargo de deputado nas Cortes); a 16passa a ser a 12 dividida em a) metalurgia e artes de minas (1 parte) e b) arte de minas (2

    parte) e legislao mineira . No existem registos de contedos programticos, mas sabe-seque a 7 cadeira comum a todos os cursos, enquanto que a 12 apenas leccionada nocurso de Mecnica Industrial, ramo metalurgia.

    Com esta mudana surgem tambm novos meios de ensino: para alm do laboratriodevidamente instalado, os docentes redigem manuais em portugus e de acordo com oscontedos programticos, facilitando o ensino e a aprendizagem.

    Com as alteraes no ensino implementadas em 1905 ( 24242424), surgem novamente alteraesnas denominaes e subdivises: passa a existir a 8 cadeira dividida em 1 parte mineralogia e 2 parte geologia e a 11 cadeira dividida em 1 parte metalurgia e legislao

    mineira e 2 parte arte de minas e topografia subterrnea . A cadeira de metalurgia passa aser leccionada no Curso Superior Industrial, no Curso de Artes Qumicas e no Curso de Minas.

    Com a reforma de 1919, todas estas subdivises so novamente reunidas numa sdisciplina, como demonstram o Regulamento do Instituto Industrial do Porto (25252525) datado desseano e os primeiros programas que chegaram aos nossos dias, os do ano lectivo 1920-21 ( 26262626) eos de 1927 ( 27272727). Passou a ser denominada de 12 cadeira e era dividida em 2 partes: 1 parte - Arte de minas e Jazigos e 2 parte - Metalurgia .

    A 1 parte compreendia essencialmente a classificao, a gnese, os elementos geomtricose os acidentes dos jazigos, principalmente dos portugueses. Alm disso, dava especial ateno

    s pesquisas, sondagens, avaliao, projectos e relatrios de misses mineiras ( 28282828), o querevelava a componente prtica da disciplina. Na 2 parte, o percurso dos minrios, desde aabertura de poos, extraco, passando pela preparao mecnica, anlise dos produtossiderrgicos e dos fornos at aos projectos de metalurgia e siderurgia. Estas cadeiras eramapenas leccionadas no curso especializado de minas e no de indstrias qumicas.

    Os estabelecimentos auxiliares desta rea passam a ser o Laboratrio de Metalurgia e aoficina de fundio e forja.

    A componente prtica era muito difcil de colocar em aco visto que em Portugal, a indstriametalrgica estava pouco ou nada desenvolvida. Vejamos as observaes do autor de um dos

    manuais manuscritos que ainda hoje existem: Para os alunos fazerem uma ideia da produo dos diversos materiais e da riqueza mineral do nosso pas () tem sido qusi nula a nossa

    23 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, de 8 de Outubro de 189124 Decreto do Ministrio das Obras Publicas, Commercio e Industria, 190525 Direco Geral do Ensino Industrial e Comercial do Ministrio do Comrcio e Comunicaes -Regulamento do Instituto Industrial do Porto

    aprovado por Decreto n. 6:099, de 15 de Setembro de 1919 26 Anexo 4 Programa da 12 cadeira de 1920-21 27 Anexo 5 Programa da cadeira de 1927 28 Ainda em fase de investigao esto os locais que podem ter sido alvo de visitas e misses

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    produo de minrios de ferro, apesar de possuirmos jazigos deste metal () em Bragana () acresce ainda a circunstncia de no termos jazigos de carvo prprio para a siderurgia.() A produo portuguesa [de ao] nula. () No nosso pas trabalham as minas [de cobre]do Vale do Vouga, Aljustrel e S. Domingos. Os minrios das ltimas tm pouco cobre. () Aproduo portuguesa de minrios de chumbo tem sido insignificante. () No nosso pas h

    muitos jazigos de estanho nas Beiras, Minho, Trs-os-Montes (). (29)Assim sendo, os alunos perante a impossibilidade de se deslocarem ao estrangeiro e das

    poucas opes nacionais, tinham a oportunidade, atravs dos modelos escala, de entrar emcontacto com as tecnologias existentes de um modo visualmente mais compreensvel.

    Fig. 1 - Na sesso de homenagem ao Prof. Joo Augusto Ribeiro./ 15 Fev. 1929 (ttulo de autor). Fotografiapertencente ao esplio do Museu Parada Leito (N. Inventrio MPL6249FOT)Podem visualizar-se alguns dos modelos pertencentes coleco de minas e metalurgia.

    1.3. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: fornecedores de1.3. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: fornecedores de1.3. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: fornecedores de1.3. O ensino da arte de minas e metalurgia no Instituto Industrial do Porto: fornecedores dematerial didcticomaterial didcticomaterial didcticomaterial didctico

    Entre os fornecedores de material didctico para as cadeiras de minas e metalurgia, surgemprincipalmente a Schrder e a Academia de Freiberg, ambos de origem alem pois era este opas visto como mais desenvolvido nesta rea na poca.

    29 Lies de Mercadorias Metais , Instituto Industrial e Comercial do Prto

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    A Academia de Minas de Freiberg (Alemanha) foi criada em 1765, sendo por isso auniversidade mineira mais antiga do mundo e uma fonte de conhecimento e desenvolvimentona rea importantssima. Aqui foram realizadas variadssimas descobertas, por l passarammuitos professores de renome internacional e formaram-se alunos que vieram a tornar-seelementos essenciais no ensino e inovao tcnica e tecnolgica da rea.

    Fruto disso, a Academia, tornou-se, desde a sua criao, o expoente mximo do saber aonvel da engenharia metalrgica e de minas e um exemplo a seguir pelos pases quepretendiam desenvolver universidades similares.

    Sob a alada da Academia de Freiberg (tal como aconteceu em Portugal por exemplo com aOficina de Instrumentos de Preciso de Lisboa) estavam diversas oficinas e laboratrios deensino auxiliar. Uma delas era a Modellwerkstatt der Knigl Bergakademie zu Freiberg , ou seja,a Oficina da Real Academia Mineira de Freiberg, que tinha como actividade principal construir material didctico, desmontvel e escala para utilizao na universidade e fornecer outras emtodo o mundo.

    Como s muito recentemente se iniciou a organizao dessas coleces em Freiberg, asinformaes que podem ser fornecidas so ainda escassas.

    Sabe-se que entre 1874 at 1880 o responsvel por esta oficina foi Schulmann, passando aser, entre 1880 e 1894, Theodor Gersdorf, e, finalmente de 1908 at 1920, Richard Braun,compreendendo-se o porqu da autoria dos modelos didcticos nas diferentes pocas ser assinada por eles. No entanto, at ao momento, no foi encontrado qualquer registo sobre avida e obra destes artificies (30303030).

    Os modelos de minas e metalurgia encomendados pelo professor Miranda Jnior ( 31313131) em1888 para o Instituto foram construdos por Theodor Gersdorf, como provam as placasidentificativas dos mesmos, a correspondncia expedida e recebida do instituto nesta poca ea baliza temporal em que esteve responsvel pela oficina. No se sabe exactamente seGersdorf realizou a encomenda a ttulo particular ou por pedido oficial Academia. Noexistem registos em Freiberg que confirmem a encomenda, mas era comum que os funcionrios construssem objectos a ttulo particular mas colocassem as inscries habituais (32323232), como vm provar a carta remetida assinada por ele ( 33333333) e o despacho alfandegrio, queinforma que foi o prprio o destinatrio da encomenda e no a Academia de Freiberg ( 34343434).

    Os modelos ainda existentes em Freiberg no so exactamente iguais aos do Instituto, atporque foram construdos na sua maioria por Schulmman e Braun. At ao momento, apenasforam encontrados na academia dois iguais construdos por Gersdorf. Modelos idnticos foram

    exportados pelo menos para a Universidade de St. Petersburg (Rssia) e para a Universidadede Kyushu (Japo), estes ltimos construdos por Schulmman e Braun. Apesar dos pedidos

    30 Fonte: Jrg Zaun (Academia de Freiberg, 2006)31 Anexo 6 e 7 32 Fonte: Jrg Zaun (Academia de Freiberg, 2006) 33 Anexo 7 34 Anexo 8

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    efectuados, no foi fornecida, at ao momento, qualquer tipo de informao por essasinstituies.

    Um dos fornos deste ncleo foi fabricado por J. Schrder, empresa fundada em 1837 esedeada no Polytechnisches Arbeits-Institut em Darmstadt na Alemanha, mas no se conheceo estatuto de J. Schrder nesta instituio de ensino. Atravs de catlogos sabe-se que a

    empresa foi agraciada com vrios prmios e medalhas em diversos certames e exposiesinternacionais, o que demonstra a sua importncia e mrito na poca.

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    CAPTULOCAPTULOCAPTULOCAPTULO IIIIIIII....

    E EE Enquadramento cientifico da coleco nquadramento cientifico da coleco nquadramento cientifico da coleco nquadramento cientifico da coleco: a arte das minas e metalurgia : a arte das minas e metalurgia : a arte das minas e metalurgia : a arte das minas e metalurgia

    2222.1. Breve histria.1. Breve histria.1. Breve histria.1. Breve histria da metalurgia e da sua aplicabilidadeda metalurgia e da sua aplicabilidadeda metalurgia e da sua aplicabilidadeda metalurgia e da sua aplicabilidade

    O enorme progresso alcanado hoje em dia a nvel tecnolgico deve-se em grande parte evoluo no domnio dos metais que se faz sentir desde os povos neolticos.

    Actualmente a nossa sociedade encontra-se extremamente dependente dos metais. Emtransportes, estruturas e ferramentas so usadas grandes quantidades de ferro fundido e ao.Em quase todas as aplicaes elctricas utilizado cobre. nossa volta observa-se umacrescente utilizao de alumnio e de outros metais leves.

    De modo a fazer-se uma distino entre a era moderna e a era neoltica (Idade da Pedra), osarquelogos tiveram necessidade de classificar os estdios de desenvolvimento dascivilizaes em Idade do Cobre, Idade do Bronze e Idade do Ferro. Os povos que melhor dominavam as tcnicas de processamento e extraco de metais, foram os que sesuplantaram e se destacaram dos outros, tanto a nvel de melhores condies de vida, comoem vitrias nas batalhas, dando assim origem aos grandes imprios que existiram.

    Calcula-se hoje, que o primeiro contacto com os metais se deu na era neoltica por volta de6000 a 4000 anos AC com o uso de xidos vermelhos (de ferro) em corantes para rituais eprticas funerrias, em decorao e polimento, assim como os minerais azuis e verdes (decobre) na Mesopotmia e no Egipto. Em Creta pequenas peas de azurite foram tambmdescobertas em algumas habitaes. O ouro, a prata e o cobre foram os primeiros metais aserem descobertos, dado que existiam no seu estado nativo. O ouro estava bem distribudo superfcie da Terra e era muito resistente corroso, pelo que o seu brilho atraiu a ateno doHomem Primitivo. Os ornamentos eram uma das mltiplas aplicaes deste metal.

    O cobre existia no solo em grande quantidade. Era facilmente martelado com o auxlio depedras, o que lhe causava um certo endurecimento, convertendo-se depois em utenslios. Ostrabalhos mais antigos do cobre datam de 6000 AC e foram descobertos no Mdio Orienteparticularmente em redor de Ur. Foi neste local, cerca de 3500 AC, que em escavaesefectuadas se encontraram ornamentos e armas de metal fundido e vazado, isto ,praticamente 2000 anos aps ter sido encontrado o primeiro artigo em metal toscamentemartelado com pedras. Tambm foram encontrados trabalhos antigos no Egipto e na ndia.

    Hoje pensa-se que, mais por acidente do que por inteno, foi produzida uma liga de cobre eestanho, surgindo assim o bronze por volta de 3000 anos AC na Sumria. Esta liga era maisdura e mais resistente que o cobre, era mais apta a ser vazada em moldes originando produtosde melhor impresso.

    Como a proporo de cobre e estanho era crtica (entre 1% e 10% de estanho) e os minriosde estanho no eram to abundantes e bem distribudos como os de cobre, em certos lugares,como no Egipto, a Idade do Cobre prolongou-se at mais tarde. Os Egpcios comearam tarde

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    na manufactura do bronze (obtido de Tria e Creta) mas apresentaram uma tcnica devazamento em moldes muito avanada ("host wax"). Este perodo, denominado Idade doBronze, estendeu-se at Era Romana.

    Na China por volta de 2000 AC descoberto um novo metal, o ferro. Este no ocorre noestado nativo e pensa-se mesmo que as primeiras formas de ferro a serem usadas pelo

    Homem Primitivo provieram de meteoritos (o ferro encontrado possua quantidadessignificativas de nquel, caracterstica do ferro meterico). Este ferro era trabalhado de formaidntica ao ouro, prata e cobre, s que tinha a particularidade de ser mais duro. O seu preoera elevado devido sua raridade. Os povos antigos associavam o ferro a divindades,considerando-o um "enviado do cu". S mais tarde que o ferro foi usado com maior abundncia quando se descobriu como extra-lo do seu minrio. O ferro comeou por ser aquecido em fornos primitivos abaixo do seu ponto de fuso, separando-se a "ganga"(impurezas com menor ponto de fuso), a qual se deslocava para a superfcie sendo removidasob a forma de escria, restando a esponja de ferro, a qual era trabalhada na bigorna, obtendo-

    se as ferramentas e utenslios existentes naquela altura (2500 a 500 AC). O lato ( liga decobre e zinco) foi descoberto entre 1600 a 600 AC na Prsia, China e Palestina.

    O primeiro artigo de ferro manufacturado, que data de 1350 AC, era uma lmina de punhalencontrada no tmulo do Fara - Tutankhamon. Este punhal foi encontrado no local de maior importncia e destaque do tmulo. O baixo teor de carbono encontrado no ferro conferia-lheuma grande resistncia corroso e por isso foram encontrados pregos praticamente intactosusados em navios Vikings que estavam enterrados h mais de 1000 anos. Os utenslios deferro trabalhado produzidos pelos Hittitas em 3500 AC no eram muito melhores do que ocobre e o bronze. S quando se desenvolveram tcnicas de tratamento trmico do ferro(contendo carbono) que se conseguiram produtos fortes e resistentes. Por exemplo, atmpera foi desenvolvida pelos Gregos e pelos Romanos e os produtos endurecidos tinhammltiplas vantagens que se reflectiam nas vitrias militares contribuindo para a edificao deImprios. Exemplo deste facto foi uma batalha travada cerca de 220 AC entre Romanos eGauleses em que as espadas Gallic de ferro (s quais no eram aplicados quaisquer tratamentos trmicos) eram muito menos resistentes que as armas dos romanos (estas simapresentavam tratamentos trmicos dando assim vantagem de combate aos romanos).

    Por volta de 400 AC os Gregos desenvolveram um tratamento trmico denominado revenido,que consistia em aquecer o metal a uma temperatura conveniente tornando-o menos frgil.Com a sua aplicao melhoraram a produo de pontas de lanas e espadas. Deste modo, o

    ferro tornou-se cada vez mais importante na vida do Homem e na sua Cultura.Foi na ndia que se deu incio produo de ao. Chamaram-lhe Ao Wootz (processo de

    carbonizao conhecido pelos Egpcios antigos) e era obtido a partir da esponja de ferroproduzida num alto-forno (sc. XIV). Como a temperatura atingida no permitia a fuso doferro, esta esponja de ferro era trabalhada com um martelo para expelir os resduos (forja); emseguida era colocada entre placas de madeira num cadinho o qual era isolado do ar, posto num

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    forno e coberto de carvo vegetal, dando-se assim a absoro de carbono. Aps algumashoras de aquecimento do cadinho o metal era forjado at adquirir a forma de barras.

    No perodo que se seguiu queda do Imprio Romano, o mundo estagnou e deixou de ser produtivo em termos metalrgicos; apenas se verificou uma crescente produo de ferro. Osalquimistas rabes, na sua busca da "pedra filosofal" (que curaria todos os males e permitiria a

    transmutao dos metais) fizeram descobertas que viriam a servir de base cincia qumica,bem como para o desenvolvimento de outros ramos da cincia.

    A partir do ano 500 observa-se ento uma indstria rejuvenescida. A Metalurgia definia-se,assim, como a tecnologia de extraco de metais dos minrios e a sua adaptao ao usoatravs da fundio e da forja. Estas tcnicas eram funo dos mestres artfices que eramhomens de prestgio e de importncia vital na estrutura social, e o seu conhecimento, queprovinha de geraes anteriores, era transmitido aos seus melhores aprendizes. Porm, osartfices no sabiam explicar porque que a lmina da espada quando aquecida at ao rubro eem seguida arrefecida numa tina de gua endurecia e quando permanecia toda a noite

    colocada sobre as brasas da forja tornava-se macia e fcil de deformar.

    A revoluo cientfica do sc. XVII e a revoluo industrial do sc. XVIII no se reflectiram deimediato sobre a tecnologia metalrgica. No entanto, as primeiras observaes com carcter cientfico das propriedades dos metais foram feitas por Jousse em 1627, e, por volta de 1722,Raumur tentou relacionar as propriedades do ferro fundido com a estrutura que observavacom o auxlio dum microscpio.

    S a partir do sc. XVIII que a metalurgia descrita como uma cincia do estudo dosmetais: cincia que estuda a estrutura, a composio, as caractersticas e as propriedades dosmetais. Passa a ter como objectivo no s fabricar produtos metalrgicos como tambm assuas causas e efeitos. Deste modo, metalurgia extractiva j existente associou-se umametalurgia fsica, cincia dos materiais.

    A partir de 1855 com o ferro to bem implantado nos materiais de construo, um novometal, o alumnio, torna-se importante no desenvolvimento industrial da civilizao. O alumnio,metal de baixa densidade, dctil, estvel e facilmente fundido no era fcil de produzir (envolvia muita energia). Preparava-se segundo a sequncia bauxite alumina, alumniometalrgico, e foi nesta altura que se comeou a aplicar electricidade metalurgia.

    Neste perodo (1855-1957) assistiu-se tambm introduo nos processos metalrgicos desistemas de produo de ao. A capacidade dos altos-fornos de conter ferro cresceu

    intensamente desde o primeiro alto-forno.O processo que Bessemer sugeriu foi fundir o "pig iron" (produto de alto forno, que ferro no

    estado natural e normalmente contem 4.5 % de carbono e impurezas como fsforo, enxofre esilcio) num forno reverberatrio e descarboniz-lo atravs do fluxo de ar pela sua superfcie.Para evitar que as barras quentes de ferro expostas s deslocaes de ar sofressemdescarbonizao, Bessemer introduziu o primeiro conversor e, com este processo, fez reduzir

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    suficientemente o preo do ao de modo a que este fosse usado em muito maioresquantidades.

    Em 1875 a quantidade produzida de ao Bessemer em Inglaterra era superior a 700.000toneladas e era usado por companhias de caminho de ferro, armamento e construo naval.

    O conversor Bessemer, juntamente com os fornos Martin-Siemens, e a produo de

    conversores de ao e de fluxo de oxignio constituram as inovaes que estiveram na base dametalurgia moderna.

    A partir de 1863, usando uma tcnica de polimento elaborada que envolvia abrasivossucessivamente mais finos, Henry Clifton Sorby desenvolveu tcnicas de observaomicroscpica e apercebeu-se que a textura da superfcie de fractura dos aos depende dostratamentos trmicos a que estes haviam sido submetidos e da sua composio qumicaexacta. Aps polimento e contrastao da superfcie, Sorby observou pela primeira vez a microestrutura metalogrfica do ao e descreveu a perlite. Os seus trabalhos esto na origem dametalurgia fsica que consiste no estudo das propriedades e composies dos metais. Estes

    estudos levaram ao desenvolvimento de ligas inovadoras mais apropriadas para aplicaesparticulares.

    No sculo XX deu-se o desenvolvimento de uma srie de novos elementos de anlise, comoos microscpios electrnicos de varrimento e de transmisso e o difractmetro de raios X, oque permitiu aos cientistas estudarem as estruturas existentes nos materiais e correlacionarem-nas com as propriedades observadas. Deste modo, os novos materiais que permitiram aconstruo de novos equipamentos levaram descoberta de novas caractersticas econsequentemente de novos materiais que podem ter aplicao nas mais diversas reas.

    2.2.2.2.2.2.2.2. A situao da indstria mineira e metalrgica portuguesa no sculo XIXA situao da indstria mineira e metalrgica portuguesa no sculo XIXA situao da indstria mineira e metalrgica portuguesa no sculo XIXA situao da indstria mineira e metalrgica portuguesa no sculo XIX

    Torna-se complicado descrever o peso relativo da indstria mineira e metalrgica no contextonacional, durante a segunda metade do sculo XIX e o primeiro tero do sculo XX. Um dosproblemas fundamentais do sector prendia-se com a natureza, dimenso e rentabilidade dosrecursos geolgicos existentes. A ideia de que Portugal era um dos pases mais ricos emdepsitos minerais esbarra com o problema do escasso conhecimento do subsolo e o estadoda sua explorao. Ezequiel de Campos ( 35353535), revelando algum cepticismo quanto riqueza donosso subsolo, chamava a ateno para o facto de estar muito longe de regular o estudo dos nossos jazigos minerais . Em alguns casos, havia apenas notcias , noutros, pesquisas insignificantes . Alm disso, embora fosse grande a variedade dos nossos minrios, eles eramgeralmente pobres, como pobres eram os jazigos que os continham, afirmava ManuelRodrigues Jnior (35353535).

    35 Citado por VITORINO, Francisco emEstruturas empresariais e investimento estrangeiro nas minas do distrito de Aveiro: o caso das Minas do Vale do Vouga

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    O pas possua recursos diversificados, distribudos um pouco por toda a parte,predominando o volfrmio, o cobre, o chumbo, o ferro, o antimnio, o zinco, o estanho, omagnsio, etc. As minas de volfrmio ocupariam cerca de 35% da superfcie total, as de ferro14%, de cobre 10% e as de chumbo, cerca de 6%. A maior parte do movimento mineiro do pasconcentrava-se nos distritos de Beja, Castelo Branco, Guarda, Vila Real, Bragana e Aveiro.

    Os minrios de ferro que se encontravam em Portugal eram essencialmente os xidos, ferrooligisto, hematite e magnetite e os maiores jazigos eram os de Moncorvo, ainda por explorar, ealguns no Alentejo, explorados irregularmente.

    Os minrios de cobre podiam ser encontrados com relativa abundncia no Alentejo,principalmente nas minas de S. Domingos e Aljustrel, onde a pirite de ferro cuprfera explorada em larga escala, e em Barrancos a calcosite e outros minrios associados. No Valedo Vouga e em Trs-os-Montes existiam tambm jazigos de cobre, alguns em lavra activa.

    No caso do chumbo, encontravam-se no nosso pas diversos pontos, em files de riquezavarivel, mas em lavra regular apenas existiam as minas do Braal e do Vale do Bicho, em

    Aveiro.O zinco no se encontra na natureza em estado livre, mas sempre combinado, sendo os

    seus principais minrios a blenda e a calamina. Em Portugal no h minas de blenda emexplorao e os jazigos de calamina achavam-se esgotados.

    O estanho predominava nas Beiras e em Trs-os-Montes e encontrava-se muitas vezesassociado com o volfrmio e o titnio, enquanto que o antimnio predominava no distrito doPorto, no concelho de Gondomar.

    A minerao desempenhou nos concelhos localizados entre o Douro e o Mondego,sobretudo nos da parte ocidental, uma importncia relevante na sua estrutura produtiva, aoassumir-se como um interessante complemento da actividade econmica de base: aagricultura. As caractersticas geolgicas do territrio permitiram exploraes de mineraismetlicos e no metlicos, contribuindo para o florescimento de uma indstria extractivarelativamente pujante, desde a primeira metade do sculo XIX.

    No obstante o facto de alguns destes empreendimentos terem despertado interesse dealgumas figuras de proa das burguesia portuguesa, durante a segunda metade do sculo XIX eos primeiros anos do sculo XX, foram essencialmente investidores estrangeiros os grandesresponsveis pela dimenso que obtiveram, num sector onde os capitais, as estruturasempresariais e os saberes tcnicos nacionais eram francamente dbeis.

    Numa fase de transio de uma economia industrial, assente no dinamismo do sector txtil,

    para uma nova liderana assumida pelo sector metalrgico que privilegiava a exportao demquinas, solues tcnicas e capitais, o controlo das minas portuguesas pelos grandescentros industriais europeus revelava-se essencial.

    Sabe-se que em 1861, aquando da Exposio Industrial promovida pela AssociaoIndustrial Portuense, as minas com maior qualidade eram as que tinham nas suas direcesestrangeiros, principalmente alemes. Vejamos o exemplo: [com o responsvel alemo, a minado Braal conheceu] um crescimento fulgurante, constituindo uma espcie de mola propulsora

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    da indstria mineira circundante, chegando a ser considerada como a mais importante mina de chumbo do pas. () os dois dos sectores mais representativos do complexo mineiro do Braal eram as oficinas de preparao mecnica e os fornos de tratamento metalrgico. A fase do tratamento mecnico correspondia ao processo de separao da parte til do minrio, em relao s gangas que o acompanhavam.

    A metodologia seguida era semelhante utilizada na Alemanha, sendo, por isso, mais longa e cuidada do que aquela que se praticava em Inglaterra, um pas onde era possvel obter o combustvel a preos mais vantajosos. Reduzindo, partida, o minrio a um maior estado de pureza, podia obter-se um tratamento metalrgico com recurso a uma menor quantidade de combustvel. Estratgia que vinha, alis, ao encontro das principais dificuldades que se sentiam no Braal, onde o combustvel vegetal era diminuto e o recurso ao combustvel mineral implicava elevados custos (36363636).

    A ausncia de um sector transformador capaz de integrar a lavra de minas numa lgica decrescimento e de desenvolvimento econmico, explica, em boa parte, a dependncia

    portuguesa em relao ao exterior.No foi encontrada informao suficiente para se afirmar com certeza absoluta a quantidade

    e a tipologia de fornos e conversores existentes em Portugal no sculo XIX. A nica refernciaespecfica apresentada no Inqurito Industrial de 1890. Vejamos o quadro ( 37373737):

    APARELHOS E MQUINASAPARELHOS E MQUINASAPARELHOS E MQUINASAPARELHOS E MQUINASCONCELHOCONCELHOCONCELHOCONCELHO

    ESTABELECIMENTOESTABELECIMENTOESTABELECIMENTOESTABELECIMENTOMETALRGICOMETALRGICOMETALRGICOMETALRGICO

    Forno para fundio docobre

    Conversor Bessemer

    Lisboa Casal das Rollas 1 8

    Gondomar Stio do Corgo 1 8

    Quadro n.2Quadro n.2Quadro n.2Quadro n.2 Quantidade de aparelhos e mquinas de extraco de metais existentes em Portugal em 1890

    2.3.2.3.2.3.2.3. O percurso do minrioO percurso do minrioO percurso do minrioO percurso do minrio no sculo XIXno sculo XIXno sculo XIXno sculo XIX: da explorao preparao: da explorao preparao: da explorao preparao: da explorao preparao mecnicamecnicamecnicamecnica

    Os jazigos minerais eram explorados de diversos modos, dependendo da sua natureza. Os jazigos superficiais eram explorados a cu aberto, ou seja, fazia-se a escavao da rocha ao ar livre, indo alargando o corte em largura, comprimento e profundidade.

    Dependendo da natureza da rocha empregavam-se ferramentas diversas para o seudesmonte: os aluvies, como os areais dos leitos dos rios, cavavam-se p ou picareta; as

    rochas brandas e duras desmontavam-se picareta ou com explosivos, como nas pedreiras.Enquanto a profundidade fosse pequena, removiam-se a terra, areias e rochas com uma

    simples p. medida que se descia, recorria-se a outros meios: carrinhos de mo, cubas ecestos; vagonetas, baldes e cubas levantadas por guindastes, cbreas ou elevadores; ouescavadoras mecnicas.

    36 Fonte: Inqurito Industrial 1890 37 Fonte:Inqurito Industrial 1890

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    Quando existiam files, massas ou camadas profundas, era necessrio cavar poos (fig.2)e/ou galerias (fig.3). Estes podiam ser revestidos com madeira, ferro, muros de alvenaria ou detijolo quando o terreno no apresentasse consistncia e se receassem desabamentos. Ospoos verticais eram quase sempre revestidos totalmente de madeira e alvenaria, as galerias,umas vezes, tinham apenas o tecto escorado, outras, tinham tambm as paredes.

    Fig.Fig.Fig.Fig.2222 Pormenor de um modelo de aparelhagemde poo de mina (MPL459OBJ)

    Fig.Fig.Fig.Fig.3333 Modelo de revestimento de poo de mina(MPL4534OBJ)

    A ventilao (fig.5) era outro aspecto j tido em considerao: algumas vezes bastava aabertura de poos de ventilao (chamins); outras vezes utilizavam-se ventiladoresmecnicos.

    A iluminao dos trabalhos era outro factor que os profissionais tinham de levar em conta.Anteriormente iluminava-se com candis mas, o aparecimento do acetileno nas minas realizouum progresso na iluminao que se manteve mesmo depois do aparecimento da luz elctrica,pois esta era um processo muito difcil e caro para ser instalado.

    O minrio no constitui por si s o enchimento dos files e das massas ou a totalidade deuma camada ou estrato. sempre acompanhado por minerais diversos, em que abunda oquartzo e os silicatos, formando o que se chama a ganga, que necessrio separar para autilizao do minrio nas oficinas metalrgicas. A esta operao chama-se preparaomecnica ou lavagem.

    Depois da extraco do minrio, necessrio separ-lo de impurezas para poder ser submetido s subsequentes operaes metalrgicas. Esta operao realizada em mquinasdas mais variadas formas e tamanhos apropriadas aos diversos tipos de minrio. Entre elas,algumas tm por fim a triturao dos minrios, ou seja a sua reduo a fragmentos. Atravs dautilizao de gua corrente e abundante, que serve de veculo aos fragmentos de rocha eminrios triturados, consegue-se a separao por diferena de densidades. A triturao pode

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    ser feita atravs de trituradores de maxilas, trituradores de cilindros ou piles (fig. 4) e geralmente acompanhada de crivao (fig.7).

    Este estudo no engloba as fases pelas quais passa o minrio desde a sua extraco at preparao. De qualquer modo, apresenta-se de seguida alguns desses objectos que partilhama mesma provenincia.

    Fig.Fig.Fig.Fig.4444 Modelo de bocardo metlico californiano(MPL461OBJ)

    Fig.Fig.Fig.Fig.5555 Modelo de ventilador (MPL566OBJ)

    Fig.Fig.Fig.Fig.6666 Modelo de cilindro de lavagem deminrios (MPL1214OBJ)

    Fig.Fig.Fig.Fig.7777 Modelo de crivo vibratrio (MPL462OBJ)

    2222....4444. A extraco do metal. A extraco do metal. A extraco do metal. A extraco do metal no sculo XIXno sculo XIXno sculo XIXno sculo XIX

    Atravs da metalurgiametalurgiametalurgiametalurgia extrai-se o metal dos seus minrios, de modo a adapt-lo aos finsindustriais. Esta extraco pode fazer-se por meios qumicos ou elctricos, constituindo doismtodos distintos:

    - Termo-metalurgia: utiliza-se o calor produzido por um combustvel queimado em fornos;

    - Electro-metalurgia: aproveita-se a corrente elctrica para produzir os seus efeitoselectrolticos, precipitando o metal das suas solues salinas.

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    Neste estudo, o que nos interessa aprofundar o mtodo termo-metalrgico, visto que soos fornos que utilizam o calor produzido por combustveis o nosso objecto de anlise, pelo quedeixaremos de parte o mtodo electro-metalrgico. Ficam tambm excludos todos os mtodostermo-metalrgicos que no se relacionem directamente com os objectos da coleco.

    Os fornos podem classificar-se:

    - segundo a natureza do combustvel: combustvel slido (carves fsseis, carvopulverizado, etc.); combustvel lquido (leos minerais); combustvel gasoso (gases);

    - segundo a posio relativa das matrias a tratar e do combustvel: forno de cuba (ocombustvel est em contacto com o minrio); forno de revrbero (as matrias ficam emcontacto apenas com os produtos de combusto); fornos de cadinho, de mufla (os minrios noesto em contacto com o combustvel).

    2222.4.4.4.4.1. A produo de ferro coado.1. A produo de ferro coado.1. A produo de ferro coado.1. A produo de ferro coado

    Nos altos-fornos (fig.8 e 9), produz-se ferro coado, atravs da reduo dos xidos de ferroem presena de carvo. Alm disso, permitem tambm separar a ganga do minrio, atravs doemprego do fundente apropriado, ficando como resduo a escria e separando-se o ferro coadopor liquao.

    Fig.Fig.Fig.Fig.8888 Reconstituio grfica de um Alto-forno simples Fig.Fig.Fig.Fig. 9999 Reconstituio de um Alto-forno Pilz

    um todo nico, protegido por um macio de alvenaria, apoiado numa srie de abbadasque do acesso s tubeiras dos algaravizes.

    A boca do alto-forno aberta e prolongada por uma chamin para a sada dos gases, tendolateralmente uma porta para o seu carregamento.

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    Compreende quatro zonas principais: a cuba, as talagens, o laboratrio (ou soleira) e ocadinho.

    Existe, para alm destes, outro alto-forno com uma outra estrutura: o macio do alto-fornodescansa numa srie de colunas de ferro, de modo que a sua parte inferior deixa de ser solidria com a parte superior do forno.

    A boca fechada por uma tampa cnica denominada cup and cone e est suspensa numbalanceiro ou similar para facilitar as manobras de abertura e fecho. Dos lados ficam asaberturas de comunicao com os recuperadores de calor.

    Esta ltima estrutura apresenta vantagens em relao anterior porque permite efectuar reparaes na parte inferior do alto-forno, sem mexer na superior, visto que a que maisfacilmente se deteriora em consequncia de sofrer mais fortemente a aco do calor.

    Para funcionar, carrega-se o alto-forno pela boca, alternando camadas de minrio, fundentee combustvel. O ar insuflado e processa-se a reduo do minrio a metal. Mais leve queeste, a escria mantm-se superfcie do metal. Pelo sangrador do fundo sai o metal emfuso, pelo de cima a escria.

    Fig.Fig.Fig.Fig.10101010 Modelo de Alto-forno simples existente noMPL (MPL586OBJ)

    Fig.Fig.Fig.Fig. 11111111 Modelo de Alto-forno Pilz existente no MPL(MPL465OBJ)

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    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.12222 ---- Modelo de Alto-forno com captao de gases existente no MPL(MPL571OBJ)

    2222....4444.2. A produo de ferro macio.2. A produo de ferro macio.2. A produo de ferro macio.2. A produo de ferro macio

    O ferro macio (tambm denominado por ferro forjado) pode ser obtido por dois processos: odirecto, em que pelo tratamento imediato dos minrios de ferro se obtm o ferro macio; ou,indirecto, em que se parte do ferro coado, branco ou cinzento, afinando-o ou purificando-o paraobter produto semelhante.

    No primeiro caso, faz-se o tratamento na forja catal ou pelo forno Siemens. Este mtodo s aplicado a minrios ricos, acompanhados de pouca ganga. No segundo faz-se peloprocesso conts ( 38383838) e pela pudlagem e suas variantes.

    A pudlagem, processo de afinao pelo mtodo ingls, faz-se em fornos de revrberoempregando carvo de pedra ou hulha como combustvel.

    Este tipo de fornos (fig.13) formado por trs partes distintas: a fornalha (com a sua grelha,sob a qual fica o cinzeiro, e em que se queima carvo de pedra), a cuba (onde se deita o ferrocoado e onde se do as reaces de que resulta o ferro macio) e a rampa (que se segue cuba e comunica com a chamin).

    O ferro impuro obtido entrava em contacto com os gases oxidantes. Mediante a agitao por meio de barras ( to puddle , em ingls), todo o banho entra em contacto com o oxignio dosgases e assim, gradualmente, queima-se o carbono e a gusa transforma-se em ferro pudlado.

    38 Do francs Comtois, nome de uma antiga provncia de Frana: Franche Comtois

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    Fig.Fig.Fig.Fig.11113333 Reconstituio grfica de um Forno dePudlar

    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.14444 Modelo de Forno de Pudlar existente no MPL(MPL573BJ)

    Outro tipo de forno de pudlar, mas com soleira mvel o Forno Pernot (fig. 15). Este tem aabbada e as paredes fixas, mas a soleira formada por uma tina circular mvel em torno deum eixo. O movimento transmitido por engrenagem e alavanca. Para se poder reparar a

    soleira, esta est colocada sobre um carro que se pode retirar do laboratrio. Pode-se carregar o ferro coado em lingotes ou em fuso vindo directamente de um alto-forno ou de um forno derevrbero.

    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.15555 Reconstituio grfica de um Forno dePudlar de laboratrio mvel

    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.16666 Modelo de Forno de Pudlar de laboratrio mvelexistente no MPL (MPL577OBJ)

    2222....4444.3. A produo de ao.3. A produo de ao.3. A produo de ao.3. A produo de ao

    Para fabricar ao existem dois processos: aproveitando a descarbonizao parcial do ferrocoado, obtendo-se ao natural, ao pudlado ou ao Martin-Siemens ou fazendo a carbonizaodo ferro macio, obtendo-se o ao Bessemer e o ao cementado.

    Processo de descarbonizao do ferro

    O ao pudlado obtido descarbonizando gradualmente o ferro coado atravs de um fornoconts, de um forno de pudlar, de um forno Pernot ou de um Martin-Siemens.

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    O ao pudlado, pouco homogneo, um produto intermdio entre o ferro e o ao macio.Deve ser refundido antes da sua utilizao na indstria metalrgica. A produo deste tipo deao diminuiu consideravelmente com o aparecimento dos fornos Martin-Siemens, quepermitiam obter aos com todas as propores de carbono.

    No forno Martin-Siemens (fig.17) produz-se ao homogneo porque, ao contrrio do quesucede no forno de pudlar ordinrio, o metal no se obtm no estado pastoso, mas sim no defuso. Este tipo de forno de revrbero e aquecido por um gasgeno Siemens.

    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.17777 Reconstituio grfica de um Forno Martin-Siemens

    Fig.1Fig.1Fig.1Fig.18888 Modelo de Forno Martin-Siemens existente noMPL (MPL569OBJ)

    A cuba do forno ladeada por economizadores (tambm denominados recuperadores) cadaum dos quais formado por dois compartimentos (constitudos por uma srie de divisrias detijolo): o de gs e o de ar.

    o tipo de soleira do forno que exerce influncia na qualidade do ao produzido:

    - a soleira cida serve para o fabrico de aos extra-duros (como por exemplo os usados na

    blindagem dos navios de guerra);- a soleira neutra utilizada para o fabrico de aos macios de extrema qualidade, de

    propriedades mecnicas prximas das dos ferros laminados e forjados;

    - as soleiras bsicas so usadas no tratamento do ferro coado fosforoso, em que o teor defsforo seja fraco, sendo este o processo mais dispendioso.

    Processo de carbonizao do ferro

    O ao de cementao obtm-se pela carbonizao directa do ferro, sem passar pelo estadode fuso nem pelo estado pastoso. um processo conhecido desde a Antiguidade e utilizado

    para o fabrico de ferramentas cortantes.

    O ao preparado deste modo no homogneo, porque a sua carbonizao irregular, nopodendo, por isso, ser empregue directamente. Para se obter um produto de melhor qualidade indispensvel forj-lo a quente, pois a fundio do ao torna-o mais homogneo. Faz-se afuso do metal em cadinhos ou em fornos Martin-Siemens.

  • 8/2/2019 Coleo de Metalurgia

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    No processo Bessemer para a produo de ao (convertendo o ferro coado em ao), utiliza-se a insuflao do ar comprimido, num banho de ferro em fuso, para produzir a suadescarbonizao. Aps esta etapa, junta-se uma nova poro de ferro, de modo a fornecer aoferro descarbonizado o carbono necessrio paraproduzir ao. Esta descarbonizao faz-se nos

    Conversores Bessemer (fig.19).

    O conversor, de forma oval, de ferro forjado e revestido no seu interior por tijolo e barro refractrio. Naextremidade superior tem uma abertura por onde entrao ferro e por onde, posteriormente, sai o produto final. Aoutra extremidade perfurada, de modo a forar ainjeco de ar. O conversor suspenso por dois braos assentes numa cremalheira que opermite girar, de forma a entrarem e sarem os produtos e a mant-lo na vertical durante oprocesso.

    FFFFig.ig.ig.ig. 20202020 e 2e 2e 2e 21111 ---- Modelo Conversor de Bessemer existente no MPL (MPL458OBJ)

    2222....4444.4. A produo de zinco.4. A produo de zinco.4. A produo de zinco.4. A produo de zinco

    O zinco no se encontra na natureza em estado livre, mas sempre combinado. Os seusprincipais minrios so a blenda (principal minrio do zinco) e a calamina (actualmentedesignada por silicato hidratado de zinco).

    Para se extrair o zinco utiliza-se dois mtodos em fases diferentes: calcinao e ustulaoe/ou reduo ( 39393939).

    Um dos mtodos