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ANO II, NúMERO 10 JUL / AGO 2014 NTU.ORG.BR ISSN: 2317-1960 Como atender as demandas sociais referentes ao transporte público? 14 Pesquisa encomendada pela NTU ouviu de lideranças ligadas ao setor quais as soluções para os anseios da população. Preço, qualidade e transparência são as palavras-chave para atender as exigências da sociedade TRANSPORTE INDIVIDUAL CUSTA MAIS E NãO ATENDE A TODOS 20 HOMENAGEM: RECONHECIMENTO AOS BEM FEITORES DO TRANSPORTE PúBLICO 28 32 SãO PAULO E RIO DE JANEIRO PERDERAM R$ 98 BI EM 2013 DEVIDO A CONGES- TIONAMENTOS

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Ano II, número 10JUL / AGO 2014

ntu.org.br

ISSN: 2317-1960

Como atender as demandas sociais referentes ao transporte público?

14Pesquisa encomendada pela NTU ouviu de lideranças

ligadas ao setor quais as soluções para os anseios da população. Preço, qualidade e transparência são as

palavras-chave para atender as exigências da sociedade

trAnsporte

IndIvIduAl

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Atende A todos

20

HomenAgem:

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Aos bem feItores

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Editorial

Biênio 2013-2015Conselho Diretor

Membros titulares e suplentes

Região CentRo-oeste

Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular

Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) suplente

Região noRDeste

Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular

Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente

Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular

Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente

Região suDeste

Albert Andrade (MG) titular

Wilson Reis Couto (MG) suplente

Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor

Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) suplente

Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular

Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) suplente

João Carlos Vieira de Sousa (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor

Júlio Luiz Marques (SP) suplente

João Antonio Setti Braga (SP) titular

Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente

Região sul

Ilso Pedro Menta (RS) titular

Enio Roberto Dias dos Reis (RS) suplente

Conselho FiscalMembros titulares e suplentes

Paulo Fernandes Gomes (PA) titular

Heloísio Lopes (BA) titular

Haroldo Isaak (PR) titular

Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) suplente

Jacob Barata Filho (RJ) suplente

José Roberto Iasbek Felício (SP) suplente

R ealizar 40 milhões de viagens por dia requer, antes de tudo, compro-metimento. E é com foco

nesse compromisso que empresá-rios do transporte urbano buscam cada vez mais melhorias no serviço. A evolução percebe-se ao longo da história quando, em 1908, os primeiros ônibus no Brasil, trans-portavam um pouco mais que cinco pessoas. Atualmente, a constante inovação e investimento do se-tor permitem transportar até 270 pessoas em um único ônibus, que conta ainda com conforto de ter ar condicionado e bancos estofados.

Claro que essa evolução tem sido gradativa e acontece na medida em que as pessoas, as cidades e o país também evoluem. É natural que, na medida em que uma nação experimenta coisas novas e melho-res, a exigência por qualidade nos serviços públicos acompanhe esse cenário cultural.

Em pesquisa recente realizada pela NTU sobre as demandas da socieda-de em relação ao transporte público, a regularidade do serviço (cumpri-mento do horário) e o tempo total da viagem foram apontados como os principais atributos para garantir qualidade no serviço de transporte

A evolução das demandas

público. A pesquisa ressalta ainda a importância dos investimentos em sistemas de alta capacidade, como BRT e Metrô, faixas exclusivas para ônibus e a participação de todos os segmentos sociais nas decisões so-bre o transporte público.

No entendimento da NTU, a pesqui-sa reforça a tese de que para fazer transporte público acessível e de qualidade no Brasil é preciso mais que planejamento de linhas e itine-rários. É necessário incentivo, prio-rização, subsídios e desonerações, participação e comprometimento de governos, empresários e, inclusi-ve, da sociedade.

Na intenção de continuar contri-buindo para a evolução do trans-porte público no Brasil , a NTU promove anualmente o Seminário Nacional NTU. Em 2014, a entida-de vai aprofundar o debate sobre os anseios da sociedade para o transporte. Além disso, colocará em pauta a qualidade e segurança nos sistemas BRT; a Lei Anticor-rupção e Políticas de Compliance; e realizará ainda oficinas sobre os Sistemas Inteligentes de Transpor-tes (ITS). São temas fundamentais para que o serviço de transporte público se renove e alcance as ex-pectativas dos cidadãos.

4 REVISTA NTU URBANo

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DiRetoRia exeCutiva

otávio vieira da Cunha Filho

Presidente

Marcos Bicalho dos santos

Diretor Administrativo e Institucional

andré Dantas

Diretor Técnico

SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A

Brasília (DF) CEP 70.070-944

Tel.: (61) 2103-9293

Fax: (61) 2103-9260

E-mail: [email protected]

Site: www.ntu.org.br

Editora responsável

Bárbara Renault (DF 7048 JP)

Editora assistente

Hellen tôrres (DF 9553 JP)

Colaborou nesta edição

Flávio neponucena

isabella R. silva

laisse nonato

Diagramação

Duo Design

Esta revista está disponível no site

www.ntu.org.br

siga a ntu nas ReDes soCiaiswww.twitter.com/ntunoticias

www.facebook.com/ntubrasil

www.flickr.com/ntubrasil

www.youtube.com/transporteurbanontu

ExpEdiEntESUMÁrio

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6 OPINIÃO DA NTU OtávIO CuNha

O desafio de atender as demandas sociais

ENTREVISTA FrederICO BuSSINger

Confira entrevista com o consultor do Instituto de Desenvolvimento,

Logística, Transportes e Meio Ambiente (Idelt)

DIÁLOGO TÉCNICO aNdré daNtaS

Atendendo as demandas sociais – o exemplo do município do Rio de Janeiro

PARADA OBRIGATÓRIANotinhas para você se agendar, se informar e se atualizar

CAPAComo atender as demandas sociais referentes ao transporte público?

PRIORIDADETransporte individual custa mais e não atende a todos

MOBILIDADE NA COPATransporte público eficiente na Copa do Mundo supera expectativas

ACONTECE NAS EMPRESASEmpresários de ônibus e do comércio se unem por soluções para greves em Natal

PELO MUNDOConheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora

EMBARQUE NESSA IDEIA LuIS aNtONIO LINdau

A mobilidade urbana além da Copa

HOMENAGEMReconhecimento aos bem feitores do transporte público

NTU EM AÇÃONTU investe em campanhas publicitárias nas redes sociais

PONTO DE ÔNIBUS adamO BazaNI

São Paulo e Rio de Janeiro perderam R$ 98 bi em 2013 devido a congestionamentos

ARTIGO CLarISSe LINke

Padrão de qualidade BRT

#NTURECOMENDADicas de livros, sites, aplicados e vídeos sobre transporte

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opinião da ntU

o desafio de atender as demandas sociais

Autor: otávio vieira da Cunha Filho (*)

A cobrança por um transpor-te público urbano de maior qualidade está no topo da lista de reivindicações da

sociedade. Propostas de melhorias para o setor surgem nas agendas de candidatos aos postos de alto comando do país. Entretanto, a des-peito das promessas de campanha, a NTU foi ouvir quem é de direito – buscou junto a empresários, gestores públicos, parlamentares, especia-listas, conselheiros do Conselho das Cidades, acadêmicos e jornalistas, entender o que, de fato, atende as de-mandas do cidadão que utiliza o ôni-bus urbano no deslocamento diário.

vistados, atentos à cena diária do des-locamento urbano, o que o cidadão mais deseja também é almejado pelo setor há mais de 20 anos: a oferta de um serviço eficiente, com preço justo e que leve o passageiro ao destino de-sejado, no menor tempo possível.

Lembramos que nessas duas déca-das, contando desde a promulgação da Constituição de 1988, os estados e municípios ficaram responsáveis pela organização e prestação dos serviços intramunicipais e intermu-nicipais de caráter urbano, deixando para a União a gestão das ligações interestaduais e a competência de instituir as diretrizes nacionais no campo dos transportes urbanos. Isso levou à extinção de órgãos impor-tantes para o setor, como a Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) e a Empresa Brasileira de Pla-nejamento de Transportes (Geipot).

Desde então, diante da incapaci-dade financeira dos municípios, assistimos à ausência de grandes investimentos na infraestrutura ur-bana. Na falta de uma política públi-ca para o setor, aliada ao incentivo oficial à compra de automóveis, o transporte público coletivo urbano por ônibus perdeu qualidade e au-mentou seus custos pela perda de desempenho, na contramão, por-tanto, dos anseios sociais.

Porém, para entender melhor esse contexto, o Seminário da NTU de-baterá essas e outras demandas da população baseada numa pesquisa esclarecedora. Isso nos dará opor-tunidade de discutir a correção de rumos, rever posicionamentos e op-tar por novas posturas que tragam o bom senso às ações de governo em relação ao transporte público urba-no em nosso país.

“maS já pOdemOS adIaNtar que Na avaLIaçãO dOS eNtrevIStadOS, ateNtOS à CeNa dIárIa dO deSLOCameNtO urBaNO, O que O CIdadãO maIS deSeja tamBém é aLmejadO peLO SetOr há maIS de 20 aNOS: a OFerta de um ServIçO eFICIeNte, COm preçO juStO e que Leve O paSSageIrO aO deStINO deSejadO, NO meNOr tempO pOSSíveL.”

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As respostas aos anseios populares, com base em 91 opiniões, serão de-batidas durante o Seminário Nacional da NTU, em Brasília. Mas já podemos adiantar que na avaliação dos entre-

*otávio vieiRa Da CunHa

FilHo é presidente executivo da

Associação Nacional das Empresas

de Transportes Urbanos (NTU).

Bacharel em Administração e

Ciências Contábeis, membro do

Conselho Diretor da Associação

Nacional de Transportes Públicos

(ANTP) e presidente da Seção

1 – Passageiros, da Confederação

Nacional do Transporte (CNT).

6 REVISTA NTU URBANo

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EntrEviSta

FReDeRiCo BussingeR*

mobilidade para pessoas, bens

e serviçosESPECIALISTA EM TRANSPORTES DEFENDE QUE NãO BASTA PLANEJAR A MOBILIDADE DAS PESSOAS NA CIDADE, É PRECISO MUDAR A GESTãO

DA DEMANDA, REDUzINDO DISTâNCIAS E DESLOCAMENTOS

E m meados da década de 90, quando participou da fundação do Instituto de Desenvolvimento, Logística,

Transporte e Meio Ambiente (Idelt), Frederico Bussinger carregava na bagagem a experiência de cinco anos na Direção de Operações do Metrô

de São Paulo e a presidência da Com-panhia Paulista de Trens Metropoli-tanos. Conhecia bem os gargalos no desenvolvimento da mobilidade ur-bana da maior cidade do Hemisfério Sul e já fazia prognósticos sobre a sa-turação da malha viária e consequen-te caos nos deslocamentos urbanos.

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EntrEviSta

Para ele, a solução está na forma de tratar o problema. “A qualidade de vida e a produtividade estão muito mais associadas à acessibilidade aos locais de trabalho, estudo, compras, e lazer, que à mobilidade. É possível ter índice de mobilidade menor e, ainda assim, ter maior acessibilida-de”, defende.

Bussinger é um dos participantes do painel “Como atender as demandas sociais” do Seminário Nacional NTU, debate que acontece em 27 de agos-to, em Brasília. Em entrevista à NTU URBANO, o especialista ressalta que a mobilidade urbana não é apenas uma questão de transporte público. A análise dessa problemática deve envolver tanto pessoas como cargas e serviços. Ele ainda fala sobre tarifa, projetos e planejamento.

O BRASIL TEM VIVENCIADO UMA CRISE DE MOBILIDADE URBANA E A CADA DIA AS CIDADES PARAM AINDA MAIS. ALÉM DA QUALIDADE DE VIDA, ESSA SITUAÇÃO IMPACTA DIRETAMENTE NA PRODUTIVIDADE E COMPETITIVIDADE DO PAíS. QUAIS AS SOLUÇõES EM MOBILIDADE PODERIAM SER IMPLEMENTADAS EM CURTO E LONGO PRAzOS PARA EQUACIONAR ESSE PROBLEMA?Não há saída nem simples e nem fácil. Para enfrentar o desafio, enten-do que devemos começar a mudar profundamente a forma de tratar o problema. Há uma ideia arraigada mesmo entre planejadores, projetis-tas e gestores do setor, de que quan-to mais mobilidade melhor. Mas nem sempre. A qualidade de vida e a produtividade estão muito mais as-sociadas à acessibilidade aos locais

de trabalho, estudo, compras, e lazer do que à mobilidade. É possível ter índice de mobilidade menor e, ainda assim, ter maior acessibilidade.

Quando falamos de mobilidade, nor-malmente temos pessoas em mente. Nos esquecemos que cargas e servi-ços também precisam se deslocar no tecido urbano. Não há uma mobilida-de de pessoas e outra mobilidade de cargas e de serviços. Todos utilizam e disputam praticamente o mesmo espaço, a mesma infraestrutura.

A busca por soluções, normalmente, se concentra no aumento da oferta com a participação do transporte co-letivo na matriz de transportes para enfrentar os congestionamentos crescentes. Mas, como a história bra-sileira já demonstrou, todo aumento de oferta implementada isoladamen-te e “atrás da demanda” tem prazo de validade curto. Assim, seria dese-jável explorar a gestão da demanda, que consiste em reduzir a necessi-dade de deslocamento, as distâncias percorridas e os fatores de pico.

“NãO NOS eNgaNemOS e Nem queIramOS eNgaNar OS OutrOS! é uma ILuSãO, um deSServIçO veNder-Se Ou deIxar-Se veICuLar aCrItICameNte a IdeIa de que é pOSSíveL meLhOrar a quaLIdade dO traNSpOrte COLetIvO maNteNdO aS tarIFaS vIgeNteS. meNOS aINda Se reduzI-LaS.”

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EntrEviSta

Para o eficaz enfrentamento da men-cionada “crise”, tão ou mais impor-tante que ela, são as mudanças con-ceituais e de abordagem e a forma de organização da economia e da cidade.

UMA DAS QUESTõES QUE IMPULSIONARAM AS MANIfESTAÇõES EM JUNHO DE 2013 fOI O REAJUSTE TARIfÁRIO DO TRANSPORTE COLETIVO POR ÔNIBUS. OS GOVERNOS MUNICIPAIS NÃO TêM CONDIÇõES DE SUBSIDIAR AS TARIfAS E, CEDENDO àS PRESSõES POPULARES, DESESTRUTURAM O ORÇAMENTO PúBLICO. QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE ESSE CENÁRIO?Não nos enganemos e nem queiramos enganar os outros. É uma ilusão, um desserviço vender-se ou deixar-se veicular acriticamente a ideia de que é possível melhorar a qualidade do transporte coletivo mantendo as tari-fas vigentes. Menos ainda se reduzi-las.

Outro caminho requer que, além dos usuários, também seus bene-ficiários participem do “funding” do setor (custeio e investimentos): empregadores, concedentes de gratuidades (idosos, estudantes, etc.) e, principalmente, usuários de transporte individual. Esse é o conceito que fundamenta, por exemplo, o Vale-Transporte e a destinação da CIDE para o trans-porte coletivo.

A solução passa, inexoravelmente, por aumento de tarifas ou aumento de subsídios ao setor. E até mesmo a combinação dos dois. Mas ainda com todas essas contribuições, cer-tamente, a forma de financiamento do setor precisará também ser revista. Seja para seu custeio, seja para os investimentos necessários para se atingir o padrão de qualida-de desejado.

E, em tempo, o que é tarifa social? Penso não haver clareza sobre o que seja. Muito menos consenso.

“a BuSCa pOr SOLuçõeS, NOrmaLmeNte, Se CONCeNtra NO aumeNtO da OFerta COm a partICIpaçãO dO traNSpOrte COLetIvO Na matrIz de traNSpOrteS para eNFreNtar OS CONgeStIONameNtOS CreSCeNteS. maS COmO a hIStórIa BraSILeIra já demONStrOu, tOdO aumeNtO de OFerta ImpLemeNtada ISOLadameNte e “atráS da demaNda” tem prazO de vaLIdade CurtO. aSSIm, SerIa deSejáveL expLOrar a geStãO da demaNda, que CONSISte em reduzIr a NeCeSSIdade de deSLOCameNtO, aS dIStâNCIaS perCOrrIdaS e OS FatOreS de pICO.”

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EntrEviSta

PERfIL

Frederico Bussinger é en-genheiro, economista, pós-graduado em Administra-ção de Empresas e consultor do Instituto de Desenvol-vimento, Logística, Trans-portes e Meio Ambiente (Idelt). Foi secretário de Transportes de São Paulo, presidente da Companhia Paulista de Trens Metropo-litanos (CPTM), diretor do Metrô/SP e presidente do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia).

COMO PAíS SEDE DA COPA DO MUNDO, O GOVERNO fEDERAL DISPONIBILIzOU VERBA A PROJETOS VOLTADOS PARA MOBILIDADE URBANA E TRANSPORTE PúBLICO. ALGUNS SAíRAM DA MATRIz DE RESPONSABILIDADE E A GRANDE PARTE NÃO fICOU PRONTA A TEMPO DO MUNDIAL. QUAIS AS SUAS ExPECTATIVAS EM RELAÇÃO A ESSES PROJETOS? PODEM SER UM LEGADO fUTURO? Certamente as obras ficarão prontas um dia. Mas elas padecem de uma dificuldade que é bem mais ampla no país. Abrange quase todos os setores de infraestrutura e serviços públicos.

Os projetos são necessários, mas, sem que se tenham claro quais são suas premissas e objetivos, grandes investimentos podem até resultar na geração de outros problemas.

A métrica da ação não pode, por-tanto, ser apenas volume de inves-timentos. Associados aos objetivos devem ser estabelecidos indicado-

res de resultados e, principalmente, serem diligentemente monitorados.

O QUE fALTA PARA QUE AS CIDADES E MUNICíPIO PLANEJEM ADEQUADAMENTE O TRANSPORTE PúBLICO E MOBILIDADE URBANA? ESSA QUESTÃO ESTARIA LIGADA A VONTADE POLíTICA E CAPACITAÇÃO TÉCNICA DOS ÓRGÃOS GESTORES?No Brasil, “falta de planejamento” é bordão recorrente. Mas que planeja-mento? Normalmente, o foco é ape-nas o plano e esse, restrito ao o que ser feito. No entanto, tão importante quanto o plano é seu processo de elaboração. É ele que pode facilitar a geração de compromissos. Tam-bém é preciso levar em considera-ção fontes de recursos e variáveis ambientais. Caso contrário, não se pode considerá-lo um plano. A Lei 12.587/2012, em si, é boa. Mas é in-suficiente para mudar a realidade. Aposto muito mais em articulações, participação, projetos e gestão.

É preciso também definir uma políti-ca clara de financiamento do trans-porte público. Enquanto você com-prar uma moto com o dinheiro do vale-transporte e pagar a prestação de carro com o valor menor do que a de um salário mínimo, nós teremos pouca chance de solução. Já quan-

“eNquaNtO vOCê COmprar uma mOtO COm O dINheIrO dO vaLe-traNSpOrte e pagar a preStaçãO de CarrO COm O vaLOr meNOr dO que a de um SaLárIO míNImO, NóS teremOS pOuCa ChaNCe de SOLuçãO. já quaNdO Se trIButa O COmBuStíveL, pOr exempLO, eNCareCe O aNdar de CarrO e mOtO e gera reCurSOS para meLhOrar a maLha vIárIa dO muNICípIO.”

do se tributa o combustível, por exemplo, encarece o andar de carro e moto e gera recursos para melho-rar a malha viária do município.

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andré Dantas, PhD, diretor técnico da NTU

diÁlogo téCniCo

A recente visita à cidade do Rio de Janeiro deixou-me mais otimista em rela-ção ao atendimento das

demandas sociais relacionadas ao transporte público. Logo na chegada ao Aeroporto do Galeão, nosso gru-po percebeu a facilidade em adquirir o Bilhete Único Carioca e embarcar no veículo articulado do BRT Trans-Carioca, que faz ligação expressa à Barra da Tijuca. Ao longo do trajeto de 39 km de vias segregadas, fomos percebendo a magnitude dos es-forços e recursos empenhados na construção de toda a infraestrutura, que compreende 147 veículos articu-lados, 47 estações, diversas obras-de-arte para transposição de avenidas, rios e outros obstáculos naturais.

A cada quilômetro percorrido, ob-servamos que a execução do projeto não foi tarefa fácil e ficamos cada vez mais impressionados, pois o BRT TransCarioca atende 27 bairros em uma área densamente ocupada em termos populacionais e de ativida-des socioeconômicas. Chegamos ao Terminal Alvorada, na Barra da Tiju-ca, depois de 90 minutos de viagem, que anteriormente a implantação do BRT consumia no mínimo 150 mi-nutos. No dia seguinte, realizamos o mesmo percurso no sentido oposto verificamos que o tempo de viagem foi o mesmo (90 minutos), o que indica um altíssimo nível de confiabi-lidade proporcionado pelo BRT. Essa confiabilidade e a redução do tempo

Atendendo as demandas sociais – o exemplo do munícipio do rio de Janeiro

de viagem representam indicadores muito importantes da transformação na vida dos usuários, que realizam 320 mil viagens por dia nesse BRT.

O sucesso da implantação do BRT TransCarioca, as intervenções recen-temente adotadas e o conjunto de projetos para os próximos anos são o resultado da determinação políti-ca e técnica visando o atendimento das demandas sociais. Os atores envolvidos têm trabalhado para que essa determinação seja convertida em ações de planejamento, investi-mento, capacitação, desoneração, custeio das gratuidades e subven-ção pública da infraestrutura e dos serviços de transporte público.

A partir da construção de relações de confiança e parceria, a Prefeitura, a FETRANSPOR/Rio Ônibus e a socie-dade civil organizada desenvolveram projetos, viabilizaram recursos, prio-rizaram a qualidade e a inclusão social e atuaram com transparência no sen-tido de produzir resultados de curto, médio e longo prazos. Essas ações produziram conquistas históricas, tais como a criação da Bilhete Único Carioca, a construção e operação de 60 km de infraestrutura do BRT Tran-sOeste e a introdução de 11 corredo-res exclusivos BRS que totalizam 38 km. Até 2016, há ainda a previsão de que os sistemas BRT TransOlímpica e TransBrasil estejam em operação e contribuam para efetivação do siste-ma multimodo de transportes.

O exemplo do município do Rio de Janeiro demonstra que é possível superar desafios e quebrar paradig-mas em prol do objetivo maior que é ofertar serviços de transporte público de qualidade. O poder público empe-nhou-se em buscar e/ou criar novas formas de recursos financeiros, assim como estabeleceu parcerias com a iniciativa privada para otimizar a efeti-vidade dos investimentos. Aliás, a par-ceria com as empresas do transporte público potencializou sinergias diver-sas, tais como o desenvolvimento de projetos de acordo com a realidade operacional e a concepção e opera-cionalização de sistemas inteligentes de transportes para o monitoramento e controle dos serviços ofertados.

A abordagem adotada pelos cario-cas poderia ser uma referência para aqueles municípios que enfrentam dificuldades na gestão da mobilidade urbana. Tendo como base a determi-nação política e técnica observada no Rio de Janeiro, outros municípios po-deriam superar essas dificuldades por meio da estruturação e implantação de planos de mobilidade, que devem ser elaborados de acordo com a Lei nº 12.587/2012 (Política Nacional da Mo-bilidade Urbana). À medida em que mais municípios tenham experiências exitosas como as do Rio de Janeiro, a expectativa é que gradualmente as demandas sociais sejam devidamen-te atendidas e a questão da mobilida-de não seja um entrave no desenvolvi-mento da sociedade brasileira.

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parada obrigatória

APROVADO AUMENTO DE MISTURA DE BIODIESEL NO ÓLEO DIESEL

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou no mês de julho

a Medida Provisória 647/2014,

que aumenta os percentuais

de biodiesel ao óleo die-

sel. O texto aprovado foi

proposto pela comissão

mista do Congresso e

será avaliado pelo Sena-

do na primeira semana

de setembro.

Pelo texto, o percentual

obrigatório de mistura

do biodiesel ao óleo die-

sel - que já subiu para 6%

em 1º de julho - pas-

sará para 7% a partir

de 1º de novembro deste ano. Até a edição da MP 647, o per-

centual era de 5%. A MP também traz o aumento da mistura de

etanol à gasolina dos atuais 25% para 27,5%.

“Como implementar os projetos de

cidades inteligentes no Brasil” é o

tema do “Smart Cities Brasil Fórum”,

que acontecerá no dia 23 de se-

tembro, em São Paulo e já está com

inscrições abertas. O evento conta

com a parceria da NTU e está sendo

organizado pelo grupo do Valor

Econômico e pela Hiria. O Fórum visa

abordar o desenvolvimento urbano

atual e maneiras inteligentes e cria-

tivas de solucionar questões mais

urgentes para as cidades.

Vários temas serão debatidos e

englobam problemas ligados à edu-

cação, saúde, mobilidade urbana e

PASSAGEIROS CONECTADOS

A frota de ônibus da cidade de Santos, município de São

Paulo, dispõe agora de internet grátis em todos os veículos.

É a primeira cidade brasileira que fornece o serviço wireless

(wi-fi) em 100% dos ônibus. A inciativa faz parte das ações de

melhoria do transporte público que começaram em janeiro de

2013. A inovação e a modernização das frotas fazem parte das

principais estratégias do plano de melhoria implantado pela

prefeitura. Para ter acesso à rede não precisa de senha, basta

os usuários conectar a rede piracicabana.

saneamento, entre outros. Estudos

de casos brasileiros serão apresen-

tados e, entre eles, os projetos de

mobilidade urbana do Rio de Janei-

ro, que serão expostos pela Fede-

ração das Empresas de Transportes

de Passageiros do Estado do Rio de

Janeiro (Fetranspor).

INSCRIÇõES

Para inscrições, entre em contato

pelo telefone (11) 5093-7847 ou envie

um e-mail para [email protected].

Mais informações podem ser conferi-

das no site do evento:

http://smartcitiesforumbrasil.com.br

INSCRIÇõES ABERTAS PARA O fÓRUM SMART CITIES

REVISTA NTU URBANo 13

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Capa

14 REVISTA NTU URBANo

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Capa

como atender as demandas sociais

referentes ao transporte público?

PESQUISA ENCOMENDADA PELA NTU OUVIU DE LIDERANçAS LIGADAS AO SETOR QUAIS AS SOLUçõES PARA OS ANSEIOS DA POPULAçãO.

PREçO, QUALIDADE E TRANSPARêNCIA SãO AS PALAVRAS-CHAVE PARA ATENDER

AS ExIGêNCIAS DA SOCIEDADE

O transporte público é responsável pelo des-locamento diário de 46 milhões de brasileiros.

Estima-se que 87% dessas viagens são feitas por ônibus. Cada dia é um desafio para gestores públi-cos e operadores desses sistemas atenderem as exigências da socie-dade. As reivindicações populares que mobilizaram o país em junho de 2013, e tinham o transporte e a mobilidade como alvos prioritários dos protestos e vandalismos, moti-varam a NTU a ouvir de lideranças ligadas ao setor quais seriam as so-luções para atender essas deman-das da sociedade.

Realizada pela Soma Opinião e Mer-cado, a pesquisa ouviu 91 formado-res de opinião, entre eles gestores públicos, empresários, jornalistas, especialistas, parlamentares, aca-

dêmicos e conselheiros do Conselho das Cidades. Deles, foram ouvidos os posicionamentos e propostas sobre os temas que acalentam mais discussões no transporte público.

A tarifa, a qualidade e a transpa-rência do serviço foram as pala-vras-chave que permearam todos os discursos. Os resultados podem suscitar planos e ações daqueles que são responsáveis por estruturar, pla-nejar e operar o sistema de transpor-te público do país a fim de atender a sociedade da forma que se espera.

Na opinião dos entrevistados, as manifestações de junho de 2013 estavam mais atribuídas ao cenário político do que ao descontentamen-to com o transporte público em si. O fato dele aparecer de forma mais veemente, segundo os entrevista-dos, deve-se a vários fatores, como

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a exposição/influência, impacto maior do segmento na sociedade e na mídia e a relação estreita de estu-dantes com o setor.

Para 81% dos entrevistados, a popula-ção está mais preocupada com os rea-justes dados ao transporte público do que com as contas de água, luz e tele-

fone, por exemplo, porque se trata de um gasto diário. Ou seja, mais percep-tível que os gastos mensais de outros serviços, diluídos ao longo do tempo.

RAzõES PELAS QUAIS O USUÁRIO SE PREOCUPA MAIS COM OS REAJUSTES DADOS AO TRANSPORTE PúBLICO

*A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas.

604530150

Por ser um gasto diário

O transporte público é mais importante para a população

Por ser um serviço para as classes sociais mais baixas

Faltam propostas e fiscalização do Governo

É o único reajuste explícito

56,8%

28,4%

4,1%

2,7%

1,4%

Tem maior envolvimento com a classe estudantil 1,4%

TARIfAS

A tarifa do transporte público está sempre em pauta. Inclusive, a insatis-fação com o preço das passagens foi o que motivou as manifestações po-pulares do ano passado. Foi das ruas que se fortaleceu o coro de diversos segmentos sobre a tarifa zero.

Para 40% dos entrevistados, uma tarifa social ou acessível seria aque-la que não compromete a renda do trabalhador. Todos os segmentos defendem que deveria haver uma diferenciação no valor da passa-gem de acordo com as classes sociais e subsidiada em parte pelo poder público.

Na opinião de um dos represen-tantes que compôs o grupo dos gestores públicos da pesquisa, “ta-rifa social é adequar o preço que o transporte precisa ter pra custear

um ótimo serviço, e o governo sub-sidiar a parte que não cabe no bolso do trabalhador”.

“O que se percebe é que a popu-lação não quer apenas uma tarifa acessível, mas também qualidade nos serviços oferecidos. No entan-to, transporte público de qualidade custa caro. Não é barato”, pondera o presidente da NTU, Otávio Cunha.

O presidente da Associação explica que o custo do transporte está di-retamente ligado à qualidade desse serviço. Para ele, o Brasil segue na contramão de outros países. “É uma constatação mundial, onde você tem serviços de transporte eficiente os governos ou a sociedade subsi-diam o sistema, enquanto no Brasil, apenas a tarifa remunera o custo do serviço. Essa é uma questão de polí-tica tarifária que precisa ser mudada urgente no país”, defende.

A Política Nacional de Mobilidade Urbana (Lei n°12.587/2012) define as diretrizes da política tarifária, no qual se instituiu a separação da tarifa de remuneração dos opera-dores do serviço e a tarifa pública, que é paga pelos usuários. A lei também exige mais clareza nas gratuidades, estabelecendo que os municípios terão que divulgar periodicamente os impactos dos benefícios tarifários - que hoje estão em torno de 19% - e a contri-buição dos benefícios diretos e in-diretos para o custeio da operação dos serviços.

Sobre os critérios de concessão das gratuidades, para 40,7% dos entre-vistados, o benefício deve ocorrer para o usuário idoso por meio de seleção por classe de renda indivi-dual. No caso dos estudantes, 44% acredita que a gratuidade deve ser concedida somente aos estudantes

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SUBVENÇÃO DO TRANSPORTE COLETIVO COM ORÇAMENTO PúBLICO

Capa

de escolas da Rede Pública. Em am-bos os casos, as gratuidades devem ser subsidiadas pelo poder público e não onerar o valor da tarifa.

SUBVENÇÃO E DESONERAÇÃO

Uma das soluções para o baratea-mento das passagens do transporte público é a subvenção dos custos do serviço. Para este fim, 92,3% dos entrevistados apoiam a cobrança nos estacionamentos públicos; 85% também concordam com a taxação da gasolina; 65,9% com o pedágio urbano; e 51,6% com o aumento do IPTU dos imóveis mais caros.

Em cidades importantes da Euro-pa, o usuário paga menos de 50% do custo da tarifa. De acordo com levantamento da Associação de Au-toridades Metropolitanas de Trans-portes Europeus (EMTA), em Berlin, Alemanha, e em Barcelona, Espa-nha, o usuário paga 46% do custo da passagem; em Paris, França, 40%; em Turim, Itália, 32% e na cidade de Praga, na República Tcheca, 26%.

No Brasil, algumas capitais disponi-bilizam subsídios a estudantes, ido-sos e portadores de necessidades especiais. O município de São Paulo, por exemplo, se destaca ao subsi-

diar, desde 1992, o sistema de trans-porte urbano. Atualmente, o valor para manter o sistema é de quase dois bilhões de reais por ano.

As desonerações tributárias tam-bém são importantes para o equilí-brio econômico-financeiro do ser-viço oferecido. É apontada como uma solução de suma importância para a redução nas tarifas de trans-porte. De acordo com os entrevis-tados, essa é uma relação direta. Apesar de a maioria julgar a extre-ma importância dessa desoneração, poucos acreditam que está perto de se concretizar.

403020100

Não compromete a renda e não onera o trabalhador

Cem por cento subsidiada pelo Governo Federal

Apenas para aqueles que precisam

Tarifa única para todas as Classes Sociais

Outros

39,6%

23,1%

18,7%

8,8%

19,8%

*A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas.

DEfINIÇÃO DE TARIfA SOCIAL JUSTA OU ACESSíVEL

1007550250

Cobrar por estacionamento público

Taxar a gasolina

Cobrar pedágio urbano nas áreas centrais das grandes cidades

Aumentar IPTU dos imóveis mais caros

92,3%

85%

65,9%

51,6%

*A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas.

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Capa

Recentemente, o governo federal mudou a sistemática de cobrança dos encargos sociais das operadoras do transporte público urbano, feita agora com base no faturamento e não mais sobre a folha de pagamento. Ainda por decisão tomada no âmbito federal, os transportes públicos estão isentos do pagamento de valores referentes ao Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS).

Além disso, diversos Estados já concederam redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), incidente sobre o óleo diesel, e também alguns muni-cípios reduziram – em alguns casos,

a zero – a alíquota do Imposto So-bre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre o transporte público e/ou reduziram ou extinguiram a taxa de administração desse serviço.

QUALIDADE NO TRANSPORTE

Quanto à qualidade do serviço, os participantes da pesquisa julgam necessário os investimentos públi-cos em sistemas de alta capacidade, como BRT e Metrô, em faixas exclu-sivas e tecnologias, como sistemas inteligentes de transporte e bilheta-gem eletrônica. Dentre os principais atributos atributos da qualidade, na opinião deles, o usuário julga como os mais importantes: cumprimento

dos horários, tempo total de viagem incluindo a espera e segurança den-tro e fora dos veículos.

Para tentar amenizar os impactos desse tempo de viagem é necessário investir na priorização do transporte coletivo. Com esse intuito a NTU, em novembro de 2013, encaminhou ao Ministério das Cidades uma propos-ta de qualificação das redes conven-cionais de ônibus, na qual teve a in-tenção de incentivar a qualificação e redução dos custos de operação do transporte coletivo por meio da im-plantação de quatro mil quilômetros de faixas exclusivas em 46 municí-pios com população superior a 500 mil habitantes, em 12 meses.

806040200

Sistemas de alta capacidade como BRT e Metrô

Faixas exclusivas para ônibus

Tecnologia como sistemas inteligentes de transporte e bilhetagem eletrônica

Monitoramento da frota

Pontos de parada

74,7%

69,2%

68,1%

57,1%

54,9%

*A soma dos percentuais não equivale a 100%, pois a pergunta permitia múltiplas respostas.

PRINCIPAIS INVESTIMENTOS PúBLICOS EM MOBILIDADE URBANA

A entidade lançou também duas publ icações direcionadas aos gestores públicos e empresários sobre como implantar faixas ex-clusivas de ônibus. A primeira “Faixas Exclusivas – experiências de sucesso” mostra exemplos bem-sucedidos de cidades que investiram na priorização e a ou-tra, “Qualificação e racionalização do transporte público urbano por

ônibus”, explica o passo a passo de implantação das faixas. Ambas estão disponíveis no portal da NTU (www.ntu.org.br).

Atualmente, os carros particulares realizam apenas 30% das viagens urbanas, mas ocupam 70% das ruas públicas. Na opinião do Coor-denador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público

de Qualidade para todos (MDT), Nazareno Affonso, é preciso de-mocratizar os espaços viários. “Os carros já se transformaram em ví-cio. Então, para reduzir o número de veículos nas regiões centrais não basta só investir em transpor-te público de qualidade. É preciso restringir o uso do automóvel, sim”, afirma Nazareno em entrevis-ta para o jornal O Dia.

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Anuncieaqui

[email protected]

(61) 2103-9293

entRe eM Contato ConosCo

Capa

As faixas exclusivas e sistemas BRT atendem as necessidades dos usuários em relação a tempo de viagem, qualidade, agilidade, se-gurança, entre outras. Além disso, sistemas de transporte melhores organizados proporcionam mais transparência ao serviço prestado já que possuem tecnologia mais avançada e permite que se faça um controle operacional mais preciso e em tempo real da frota.

“Transporte Público Urbano: Como atender as demandas so-ciais?” é o tema do primeiro painel do Seminário Nacional NTU 2014, no dia 27 de agosto de 2014, às 10h30. O debate será mediado pelo jornalista e apresentador Alexandre Garcia e terá a partici-

pação do presidente executivo da NTU, Otávio Cunha; do coordena-dor do MDT, Nazareno Affonso; do especialista em Transporte Frederico Bussinger; do represen-tante da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), Getúlio Vargas.

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prioridadE

EM CONTRA PARTIDA, NOVOS INVESTIMENTOS EM TRANSPORTE

PÚBLICO TêM INCENTIVADO, AOS POUCOS, OS BRASILEIROS A DEIxAREM O CARRO EM CASA

transporte individual custa

mais e não atende a todos

Durante anos o governo bra-sileiro incentiva a compra e o uso de automóveis in-dividuais e o carro passou

a ser um bem de consumo associado ao “status” da pessoa. Tanto, que os transportes motorizados consomem R$ 174 milhões, o equivalente a 85% de todos os custos de mobilidade

urbana e ainda recebe três vezes mais recursos que o transporte cole-tivo, segundo dados da Associação Nacional dos Transportes Públicos (ANTP) divulgados em julho.

No entanto, mesmo custando mais, os transportes individuais não aten-dem à maioria da população. No

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prioridadE

relatório da pesquisa do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da ANTP as pessoas percorrem 432 bilhões de quilômetros por ano, sendo que o transporte coletivo é responsável por percorrer 57,2% das distâncias nas viagens habituais, ou seja, a maior parte das distâncias são realizadas pelo transporte co-letivo. Já os carros são usados em apenas 31% das distâncias. “No perí-odo de 2012, o total das viagens rea-lizadas em transporte coletivo (18,2 bilhões) nas cidades brasileiras com mais de 60 mil habitantes, 70% delas aconteceram em ônibus municipais, 17% em ônibus metropolitanos e 13% em trilhos”, diz a ANTP em nota.

Nesses deslocamentos os habitantes das cidades que formam o universo da pesquisa (com mais de 60 mil moradores) gastam, por ano, 22,4 bilhões de horas para deslocar-se. A maior parte do tempo é gasta nos ve-ículos de transporte público (49%), seguido pelas viagens a pé (25%).

Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, é preciso investir cada vez mais em melhorias no transporte público para que esse deslocamento seja feito de forma rápida. “Se uma parte da verba gasta com o trans-porte individual fosse investida em novas faixas exclusivas de ônibus e até mesmo em sistemas de alta capa-cidade como o BRT, esses desloca-mentos seriam em média 30 minutos mais rápidos”, explica.

INVESTIMENTOS ATRAEM BRASILEIROS PARA O TRANSPORTE PúBLICO

Os recentes investimentos em mo-bilidade urbana e transporte público é o motivo pelo qual os cariocas tro-caram o carro pelo transporte cole-

tivo urbano, colocando o Rio de Ja-neiro no “ranking” das cidades que os brasileiros mais abandonaram o carro. Segundo pesquisa realizada pela Liberty Seguros com seis cida-des-sede da copa, nos últimos cinco anos, 37% dos moradores do Rio op-taram em ir ao trabalho de transpor-te público. Enquanto a média das outras cidades corresponde a 26%.

Desde 2012 investimentos em trans-porte coletivo vem sendo feitos no Rio de Janeiro. O primeiro foi quando a capital inaugurou o BRT Transoes-te, que atualmente opera com cerca de 100 ônibus articulados e transpor-ta aproximadamente 120 mil pessoas diariamente. E recentemente entrou em operação o BRT Transcarioca, que liga o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim à Barra da Tiju-ca e tem a expectativa de transportar 450 mil passageiros por dia com redução de até 60% do tempo de deslocamento no trajeto. O segundo sistema faz integração com o trem, o Metrô, o BRT Transoeste e todas as diversas linhas de ônibus.

Dados de uma pesquisa do instituto DATAFOLHA, divulgados em ju-nho, também apontam melhora na avaliação do transporte público em São Paulo. Dos 1.001 entrevistados, 31% avaliaram o transporte público da cidade com bom ou ótimo. No mesmo período do ano de 2013, apenas 15% compartilhavam desse ponto de vista.

A maioria dos paulistanos, 61%, acre-dita que a expansão do rodízio de veículos para ruas e avenidas possa ser boa para a melhora do tráfego na cidade. A medida reduziria o número de veículos nas ruas e automatica-mente mais pessoas optariam pelo transporte público.

A ampliação das faixas exclusivas em São Paulo foi aprovada por 79% dos entrevistados; 64% inclusive já veem melhora no trânsito após o uso delas. “O aumento da velocidade e a redução do tempo de viagem, já constatados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP), são os fatores preponderantes do sucesso das faixas”, enfatiza o pre-sidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense Pires, em artigo publica-do em julho.

No Distrito Federal, priorização e melhorias no transporte urbano também vêm sendo feitas. Atual-mente, regiões administrativas da capital acumulam um total de 55 km de faixas exclusivas, além de mais 43 km de corredores de ônibus do Expresso DF (sistema BRT recém implantando).

Moradora do DF a secretária Euni-ce de Carvalho diz ter carro, mas prefere o transporte público pela agilidade. “Eu pego ônibus todos os dias há quatro anos ”, conta Eunice, que deixa o carro em casa para tra-balhar. “É muito mais rápido e bara-to”, completa.

“Se uma parte da verBa gaSta COm O traNSpOrte INdIvIduaL FOSSe INveStIda em NOvaS FaIxaS exCLuSIvaS de ôNIBuS e até meSmO em SIStemaS de aLta CapaCIdade COmO O Brt, eSSeS deSLOCameNtOS SerIam em médIa 30 mINutOS maIS rápIdOS”

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Copa do MUndo

transporte público eficiente na copa do mundo supera expectativas

CIDADES-SEDE ADOTARAM AçõES ESTRATÉGICAS NO TRANSPORTE COLETIVO URBANO E GARANTIRAM BOA FUNCIONALIDADE DO SERVIçO

Durante os preparativos para a Copa do Mundo, a mobilidade urbana e o transporte público foram

motivos de preocupação para os or-ganizadores do evento. A expectati-va, principalmente da imprensa inter-nacional, era de “caos iminente”. No entanto, jornais do País acompanha-ram e noticiaram, durante o torneio, a preferência da maioria dos torce-dores pelo transporte coletivo. Para atender a demanda de passageiros que se deslocaram até os estádios, empresas de ônibus organizaram linhas especiais e promoveram inicia-tivas exclusivas para a competição.

Fortaleza (CE), por exemplo, conquis-tou elogios e foi avaliada pelo jornal O Povo (um dos principais da capital) com “ótimo desempenho” no deslo-camento dos torcedores dos bolsões de estacionamento até a Arena Cas-telão. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) contribuiu dis-ponibilizando 350 ônibus, sendo 300 veículos para realizar os trajetos entre o estádio e os bolsões de estaciona-mento, aeroporto e zona hoteleira, e 50 para atendimento à Fan Fest local. “A cada jogo foram transpor-tados cerca de 45 mil passageiros e também não houve nenhum registro de acidente com os torcedores trans-portados”, ressalta a assessora de im-prensa do sindicato, Juliana de Paula.

Em Belo Horizonte (MG), uma mé-dia de 100 mil pessoas utilizaram o transporte público para ir até o estádio Mineirão, de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo do município. Desse total, 30 mil torcedores aderiram ao BRT/Move que, entre algumas vantagens, foi considerado o meio mais rápido de chegar ao estádio — segundo testes realizados por uma equipe do jornal O Estado de Minas. Uma pulseirinha de uso obrigatório no valor de R$ 5,70, com validade das 8h às 18h, permitiu o trajeto de ida e volta do Mineirão.

A diretora de comunicação e marke-ting do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), Miriam Cança-do Andrade, relata que o serviço foi

diferenciado e as empresas ofere-ceram treinamento. “Houve treina-mento intensivo para os operadores, além do aumento de frota. Tivemos, inclusive, o Expresso Copa, com o reforço de mais de 400 ônibus con-vencionais, com serviço exclusivo para os torcedores, e pontos de em-barque em pontos estratégicos de Belo Horizonte”, explica.

Já a capital federal do país, Brasília, contou com oito linhas especiais para levar os torcedores da área central ao estádio Mané Garrincha. Essas linhas começavam a circu-lar quatro horas antes dos jogos e funcionavam até três horas após a partida. “No geral, a mobilidade em Brasília, durante a Copa, teve boa repercussão. Contribuíram para isso ações provisórias de trânsito,

Seco

pa-

PE

CAMPANHA PARA A

COPA PROMOVIDA PELA

SPURBANUSS EM PARCERIA

COM A SPTRANS

22 REVISTA NTU URBANo

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Copa do MUndo

porte) promoveu o curso “Transpor-te Coletivo na Copa” aos motoristas, que foi dividido em cinco módulos: relacionamento interpessoal; aten-dimento ao passageiro com neces-sidade especial; sistema de tráfego e trânsito; marketing no transporte coletivo e direção defensiva. Foram aproximadamente 200 motoristas capacitados pelo programa iniciado no final de março, com 25 alunos por turma, treinados nos turnos matutino e vespertino, totalizando uma dura-ção de 24 horas/aula.

O Sindicato das Empresas de Trans-porte Coletivo Urbano de Passa-geiros de São Paulo (SPUrbanuss)

OBSERVATÓRIO DA ANTP

O programa “Observadores da Mobili-

dade na Copa FIFA 2014” foi criado pela

Comissão Técnica de Sistema Inteligente

de Transporte (ITS) da Associação Na-

cional de Transportes Públicos (ANTP)

para avaliar os acertos e erros na im-

plantação dos planos de mobilidade

elaborados pelos comitês responsáveis

pela condução do evento. Segundo a

coordenadora nacional do programa,

Valeska Peres Pinto, até o final do mês de

agosto serão apresentados os primeiros

resultados do trabalho.

“Estes resultados serão confrontados

com os Planos de Mobilidade elabora-

dos pelos gestores locais. O relatório

final será apresentado na 51ª Reunião

da Comissão de ITS, prevista para o dia

5 de novembro, no Rio de Janeiro, inte-

grando a programação paralela do 16º

Etransport – Congresso sobre Transpor-

te de Passageiros”, explica a coordena-

dora do projeto.

itEnS avaliadoS naS CidadES-SEdE pElo obSErvatório dE MobilidadE da antp

• Sinalizaçãoecomunicação

sobre mobilidade urbana

para todos os públicos;

• Exploraçãodomarketingedo

merchandising associado ao setor;

• Bilhetagemeacessoaosjogospor

meio do transporte público;

• Gerenciamentodotráfego

para os diversos públicos;

• Informaçãosobreserviçosregulares

e alternativos de transporte;

• Divulgaçãodeorientações

para os torcedores e população

nos dias de jogos;

• Estruturaedisponibilidadede

estacionamentos para veículos privados;

• Serviçosprivadosalocados–

fretamento, táxi, carona;

• Atuaçãodosvoluntários;

• Atuaçãodasforçasdesegurança;

• Coordenaçãodasaçõesdemobilidade

– Centros de Controle Operacionais.

“hOuve treINameNtO INteNSIvO para OS OperadOreS, aLém dO aumeNtO de FrOta. tIvemOS, INCLuSIve, O expreSSO COpa, COm O reFOrçO de maIS de 400 ôNIBuS CONveNCIONaIS, COm ServIçO exCLuSIvO para OS tOrCedOreS, e pONtOS de emBarque em pONtOS eStratégICOS de BeLO hOrIzONte”, mIrIam CaNçadO, SetraBh.

transporte público e, principalmen-te, reduções de expediente e pontos facultativos”, avalia o arquiteto, Cláudio Oliveira.

Para o diretor administrativo e ins-titucional da NTU, Marcos Bicalho, a boa funcionalidade do transporte coletivo nos dias de jogos ocorreu pelo fato do Brasil já ter conhecimen-to no processo de atender grandes eventos esportivos. “Já houve diver-sos casos em que o transporte públi-co atendeu demandas muito supe-riores àquelas que foram verificadas nos jogos da Copa”, relata o diretor.

CAPACITAÇÃO

Algumas cidades-sede também investiram em capacitação de mo-toristas e cobradores para o evento. Em Recife (PE), empresas treinaram seus operadores especialmente para trabalharem no sistema BRT — mo-dal ainda recente na capital pernam-bucana, mas que acabou recebendo grande aprovação dos torcedores.

Em Cuiabá (MT), o Sest/Senat (Ser-viço Social do Transporte e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Trans-

procurou facilitar a busca por ope-radores que tivessem conhecimento de algum idioma estrangeiro, como inglês e espanhol, para empresas associadas a entidade. O sindicato ainda auxiliou na distribuição de panfletos para motoristas e cobra-dores contendo orientações para facilitar a comunicação entre opera-dores e torcedores estrangeiros. Em parceria com a São Paulo Transpor-tes (SPTrans) — autarquia municipal gestora do transporte público por ônibus na cidade —, o SPUrbanuss também produziu adesivos para mais de três mil ônibus com mensa-gens de boas-vindas em português, inglês e espanhol.

REVISTA NTU URBANo 23

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aContECE naS EMprESaS

Em plena Copa do Mundo, a cidade de Natal vivenciou 14 dias de greve marcada por prejuízos a população,

empresários e também comercian-tes que dependem dos serviços de transporte público para atrair o seus clientes. Cerca de 520 mil pessoas foram atingidas pela paralisação do serviço de transporte. O prejuízo para o comércio de rua chegou a 60% em algumas lojas, segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Natal.

Na busca por soluções e a fim de evitar futuras greves no transporte público, empresários do segmento e do comércio uniram-se para ela-borar propostas e apresentá-las à Prefeitura de Natal. O Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Passageiros do Município do Natal (Seturn) abriu as planilhas financeiras do setor e sensibilizou o segmento do comércio da ne-cessidade de reajuste tarifário para cobrir os custos do sistema.

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Tu-rismo  (Fecomércio) do Rio Grande do Norte, Marcelo Fernandes de Queiroz, relata que a greve gerou graves transtornos para a cidade e que englobou todo o período em que ocorreram os jogos da Copa do Mundo na cidade. Esse fato acabou arruinando os efeitos positivos para o segmento da presença maciça de turistas na capital potiguar. “Houve casos em que lojas de rua chega-

empresários de ônibus e do comércio se unem por soluções

para greves em natal

AUMENTO TARIFáRIO PARA RECOMPOR OS CUSTOS DO SERVIçO É APONTADO COMO PRINCIPAL ALTERNATIVA

PARA EVITAR PROBLEMAS COM A CATEGORIA

Jorn

al d

e H

oje

24 REVISTA NTU URBANo

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aContECE naS EMprESaS

ram a contabilizar dias inteiros com venda “zero””, relata.

Os danos incalculáveis levaram à federação a se envolver de forma mais direta, intermediando con-versas entre os operadores do transporte público e a prefeitura de Natal e a Justiça do Trabalho no intuito de abreviar os transtornos. “Foi uma união proficiente e que, sem dúvidas, poderá ser repetida em outros momentos, já que ela se deu com base no interesse comum daqueles que geram emprego e renda para o estado, da população em geral. Além disso, lutamos até mesmo para garantir que uma de-terminação judicial fosse cumpri-da”, reforça Marcelo.

Na época, havia uma determinação da Justiça do Trabalho de que fosse garantida a circulação de até 90% da frota de ônibus em alguns dias e horários e que não estava sendo cumprida pelos grevistas.

Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, os transtornos de uma greve de rodoviários vão além dos financeiros. “O tráfego de veículos de passeio fica mais intenso nos dias de greve, causando, conse-quentemente, mais acidentes e deixando a ida e volta das pessoas para o trabalho mais estressante por causa dos engarrafamentos e o desgaste em outros meios de transporte que acabam ficando superlotado”, alerta o presidente da Associação.

Ele ainda faz uma observação quan-to ao iminente risco do transporte pirata, em que muitas pessoas se arriscam, e o fato de que alguns tra-balhadores não conseguem cumprir os horários de trabalho.

REAJUSTE TARIfÁRIO

Apesar da união entre os dois seg-mentos ter facilitado o diálogo com o poder público e a justiça, a greve só foi encerrada após as empresas cederem e atenderem às reivindica-ções dos motoristas, que cobravam reajuste salarial e aumento no valor do vale-alimentação.

Após quase um mês do acordo, a tarifa foi reajustada em R$ 0,15, pas-sando de R$ 2,20 para R$ 2,35. Há três anos o valor não era reajustado e, de acordo com o Seturn, essa última correção é insuficiente para sanar o desequilíbrio econômico e financeiro das empresas.

Nos últimos anos, as empresas vêm arcando sozinhas com todos os prejuízos, incluindo os dissídios co-letivos. Para o engenheiro civil com especialização em transporte e por-ta-voz do sindicato na negociação, Nilson Queiroba, seria necessário, para a recomposição dos custos do serviço, que o preço da passagem de ônibus fosse de R$ 2,80. “Com a passagem corrigida para R$ 2,80, seria possível fazer a correção dos custos, recompor as perdas do siste-ma e reestabelecer o bom funciona-mento do serviço”, explica.

PREJUízOS NO RIO DE JANEIRO

No Rio de Janeiro, em três dias de greve, ocorrida em maio deste ano, os prejuízos chegaram a R$ 800 mi-lhões, segundo estimativas do Sin-dicato dos Lojistas do Comércio do Município do Rio de Janeiro (SindLo-jas-RJ). Em apenas um dia as perdas de faturamento do comércio da ci-dade com a paralisação dos rodovi-ários chegaram a 60%, o equivalente a R$ 250 milhões. Segundo o presi-

dente do sindicato, Aldo Gonçalves, as lojas da cidade movimentam cer-ca de R$ 400 milhões por dia.

Por meio de nota, a Fecomércio RJ estimou o impacto da greve de rodo-viários sobre o setor. “Considerando os passageiros que utilizam o ônibus como primeira condução para ir de casa ao trabalho, a estimativa é de que 888,5 mil trabalhadores do setor do comércio tenham sido afetados pela greve dos ônibus. O contingen-te corresponde a 44% dos cerca de 2 milhões de passageiros que so-freram consequências da interrup-ção da circulação dos coletivos”.

DIREITOS E DEVERES

A Lei 7.782/1989 determina

que Art.1 “é assegurado o di-

reito de greve, competindo aos

trabalhadores decidir sobre a

oportunidade de exercê-lo e

sobre os interesses que devam

por meio dele defender”. No

entanto, em seu Parágrafo Úni-

co “a entidade patronal corres-

pondente ou os empregadores

diretamente interessados serão

notificados, com antecedência

mínima de 48 (quarenta e oito)

horas, da paralisação” e ainda

em seu Art.13 traz que no caso

da greve ser em serviços ou

atividades essenciais, como

o transporte público, “ficam

as entidades sindicais ou os

trabalhadores, conforme o

caso, obrigados a comunicar

a decisão aos empregadores e

aos usuários com antecedência

mínima de 72 (setenta e duas)

horas da paralisação”.

REVISTA NTU URBANo 25

Page 26: Como atender as demandas sociais referentes ao transporte ...€¦ · A mobilidade urbana além da Copa HOMENAGEM Reconhecimento aos bem feitores do transporte público NTU EM AÇÃO

HELSINQUE PRETENDE INVESTIR EM TRANSPORTE PúBLICO E SE “LIVRAR” DOS CARROS ATÉ 2025

fINLâNDIA

Nessa ferramenta os usuários ainda poderão

solicitar paradas de ônibus fora dos pontos

para maior comodidade e também pedir e

pagar por outros tipos de serviços como taxis

e bicicletas. O objetivo é que esse sistema com

tamanha excelência provoque nas pessoas a

vontade de trocar o transporte individual pelo

transporte público espontaneamente.

A capital da Finlândia, Helsinque, quer aca-

bar com os carros até 2025, e a solução é o

transporte coletivo com um sistema eficien-

te. Esse processo será feito por meio da inte-

gração dos modais e o acesso à informação

sobre trajetos e horários dos ônibus que os

passageiros poderão acompanhar a mobili-

dade em tempo real.

pElo MUndo

BARCELONA INVESTE EM fROTA MODERNA COM TECNOLOGIA A DIESEL-ELÉTRICO HíBRIDO

ESPANHA

ESTADOS UNIDOS

UM PONTO DE ÔNIBUS DIfERENTE

Pensando em tornar a espera pelo

ônibus mais agradável, a empresa

Mmmm Emilio Alarcón localizada

em Highlandtown, nos Estados

Unidos, teve uma ideia bem dife-

rente. Criar uma parada de ônibus

obvia, mas bem atraente. A parada

é chamada de “um ponto de ônibus

obvio”, tem 14 metros de altura e

possui três grandes esculturas que

formam a palavra “bus”, cada letra

tem espaço para 2 a 4 pessoas. O

“B” pode proteger os passageiros

da chuva e no “S” eles podem até

esperar deitados.

Os primeiros ônibus biarticulados de Barce-

lona entraram em operação em outubro de

2013 e a Transports Metropolitans de Barce-

lona (TBM) anunciou recentemente que am-

pliará a frota com criação de novas linhas. O

modelo dos biarticulados é chamado de Van

Hool Exquicity, no qual possui tecnologia a

diesel-elétrico híbrido o veículo tem 24 me-

tros de extensão e dispõe de sistema de som

que avisa aos passageiros a próxima esta-

ção e ar condicionado. O Van Hool Exquicity

foi fabricado por um empresa belga em Ko-

ningshooikt e utilizado principalmente para

as linhas de BRT.

26 REVISTA NTU URBANo

Page 27: Como atender as demandas sociais referentes ao transporte ...€¦ · A mobilidade urbana além da Copa HOMENAGEM Reconhecimento aos bem feitores do transporte público NTU EM AÇÃO

EMbarQUE nESSa idEia

luis antonio lindau, PhD, presidente da EMBARQ Brasil

A mobilidade urbana além da copa

A Copa do Mundo, no até en-tão país do futebol, gerou expectativas e preocupa-ções dentro e fora do Bra-

sil. No total, 3,5 milhões de pessoas foram aos estádios e 5 milhões vibra-ram por suas seleções nas Fan Fests. Do milhão de estrangeiros que veio para cá, 95% declarou ter o desejo de voltar1 . Estes números parecem ter aliviado parte da desconfiança. Contudo, os gastos bilionários em in-fraestrutura para os jogos geraram, e continuam gerando, questionamento sobre os reais benefícios que os inves-timentos trarão aos brasileiros no lon-go prazo. Pelo prisma da mobilidade urbana, a perspectiva é favorável.

Uma pesquisa contratada pelo CNPq junto a universidades federais das cidades-sede está sendo concluída para indicar o verdadeiro legado que a Copa deixou2 . Por ora, sabemos que os aportes financeiros do Governo Federal voltados à mobilidade nas ci-dades-sede totalizam R$ 8,2 bilhões, sendo R$ 6,3 bilhões já licitados3. Estes investimentos estão possibili-tando o financiamento de requalifi-cações e implantações de sistemas de transporte sustentável que devem beneficiar os brasileiros por muito tempo. Dos 18 projetos previstos na última versão da Matriz de Responsa-bilidades da Copa voltados à qualifi-cação do transporte por ônibus, 11 sa-íram do papel a tempo dos jogos nas cidades do Rio, Belo Horizonte, Recife

e Curitiba. Até o final do torneio, mais cinco sistemas – entre BRT e faixas prioritárias – entraram em operação, totalizando 130 quilômetros de novos corredores dedicados aos ônibus4.

No Rio, os BRT TransOeste e Trans-Carioca são apenas o início de uma rede que, até os Jogos Olímpicos de 2016, contará com 160 km e trans-portará mais de 1,5 milhão de passa-geiros por dia. No TransOeste, que liga os bairros da Barra da Tijuca e de Santa Cruz, o tempo de percurso caiu pela metade, levando o sistema a conquistar 93% de aprovação en-tre os usuários5. Já o TransCarioca, com pouco mais de um mês e meio de operação, gerou uma valorização de 150% dos empreendimentos e terrenos ao longo de seu percurso6 e se mostrou um importante elo de conexão entre o Aeroporto Galeão e a zona Oeste do Rio.

Na capital mineira, o MOVE já pro-vou ser três vezes mais rápido do que o carro durante os horários de pico. Quando em operação plena, irá transportar 700 mil passagei-ros por dia. Além disso, o sistema também está melhorando as áreas circundantes de seus corredores e ajudando a revitalizar o centro de Belo Horizonte, devolvendo espaço às pessoas. O MOVE também foi protagonista na Copa ao possibilitar a ligação entre o centro e o Mineirão em aproximadamente 20 minutos

– 75% a menos que os 80 minutos despendidos via veículo privado.7 É inegável que os BRT e a priorização do ônibus estão oportunizando um transporte coletivo mais rápido e confiável, o que resulta em mais oportunidades de acesso a trabalho, educação, serviços e lazer.

Quanto às obras inacabadas ou àque-las que sequer iniciaram, a perspec-tiva é de que não parem. O Ministério das Cidades sinalizou que estes pro-jetos, quando readequados, devem ser inseridos em outros programas governamentais, como forma de ga-rantir suas execuções. Dessa forma, habitantes de outras cidades-sede poderão usufruir de um melhor trans-porte público em um futuro breve. 1 http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20140714_3.html

2 http://www.cnpq.br/web/guest/noticiasviews/-/journal_content/56_INSTANCE_a6MO/10157/1302499

3 http://www.portaltransparencia.gov.br/copa2014/empreendimentos/tema.seam?tema=8

4 http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/07/heranca-da-copa-contempla-130-km-para-mobilidade http://www.brasil.gov.br/infraestrutura/2014/07/heranca-da-copa-contempla-130-km-para-mobilidade

5 http://thecityfixbrasil.com/2013/06/20/aprovacao-do-brt-transoeste-e-de-93/

6 http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2014-07-05/brt-renova-bairros-e-incrementa-o-comercio.html

7 http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2014/06/18/interna_gerais,540296/transporte-publico-e-o-meio-mais-rapido-para-chegar-ao-mineirao.shtml

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HoMEnagEM

NTU HOMENAGEIA E CONDECORA COM MEDALHA DO MÉRITO DO TRANSPORTE URBANO BRASILEIRO PERSONALIDADES DO SETOR

reconhecimento aos bem feitores do transporte público

L utar por um transporte públi-co de melhor qualidade que atenda às necessidades da população é a sina de muitos

brasileiros que, há 17 anos, a NTU tem a honra de reconhecer e home-nagear com a Medalha do Mérito do Transporte Urbano Brasileiro.

No dia 27 de agosto, nove persona-lidades receberão a condecoração da NTU nas categorias Empresário, Especial e In Memoriam. Entre eles estão empresários, especialistas e gestores públicos. É o caso do mi-neiro Heloisio Silveira, que iniciou a trajetória no transporte aos 21 anos com sua primeira linha de ônibus, depois de ter vivido anos de sua in-fância como vendedor de verduras para ajudar no orçamento familiar.

“Fico feliz em afirmar que venci. Hoje sou esposo, pai, avô e empre-sário”, orgulha-se o empresário, que é diretor-presidente do Grupo Rodap, um dos grupos empresariais mais renomados de Minas Gerais com frota de 700 veículos distribuí-dos entre seis empresas prestadoras de serviço e que gera em torno de 10 mil empregos na capital mineira e Região Metropolitana.

Ao falar da honraria que está pres-tes a receber, Heloisio demonstra o sentimento de ser reconhecimento após anos de trabalho. “Para mim, é motivo de muita honra e satisfação

ter o meu trabalho reconhecido por uma instituição tão renomada como a NTU”, diz. Ele ainda dedica a me-dalha a todos os trabalhadores do transporte coletivo urbano.

O relator de um dos projetos de lei mais importante para o setor, o PL 310/2009, que institui o Regime

Especial de Incentivos para o Trans-porte Coletivo Urbano e Metropo-litano de Passageiros (REITUP), o senador Ricardo Ferraço, também será agraciado com a medalha na categoria Especial.

Ferraço ingressou na carreira po-lítica ainda bastante jovem, aos 19 anos. Foi vice-governador do Espirito Santo em 2007, quando assumiu a Secretaria de Estado dos Transportes e Obras Públicas (Se-top). Em 2010, foi eleito senador e na casa legislativa, também foi o relator do projeto de lei que regula-menta a profissão de motorista (PL 319/2009). É presidente da Comis-são de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal.

Na categoria In Memoriam, a NTU presta homenagem póstuma a grandes personalidades do se-tor. Entre os homenageados, está Wilson Silva Couto. E falar dele é sinônimo de orgulho para o seu fi-lho Wilson Reis, ou Wilsinho como é chamado pelos colegas. “Não é por ser meu pai, mas eu sou rea-lista, ele foi um homem que lutou muito pelo transporte e por sua região, que era muito pobre”, rela-ta. Wilson ainda lembra que alguns trechos da cidade não havia sequer estradas para o ônibus chegar ao destino. “Ele foi lá e construiu”, emociona-se ao lembrar do pai que faleceu neste ano.

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HoMEnagEM

CategoRia eMPResáRio

Frederico lopes Fernandes Junior é sócio e diretor da Auto Viação Dragão do Mar e da Viação Urbana, de Fortaleza (CE). Destacou-se por implantar de maneira pioneira o sistema de gestão de qualidade no ramo de transporte da cidade.

Heloisio Marcos silveira é diretor-presidente do Grupo Rodap, composto por 6 empresas da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). Aos 21 anos adquiriu a sua primeira empresa de ônibus, a Viação Ermelinda.

Josué adolfo da silva atualmente é sócio da Auto Viação Santa Cruz, em Recife. Iniciou suas atividades empresariais em setembro de 1957 com um veículo, atuando na área de Jaboatão dos Guararapes.

CategoRia esPeCial

Carlos Roberto osório trabalha a serviço da cidade do Rio de Janeiro. Foi o secretário responsável por criar a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, cargo que ocupou no período de fevereiro de 2010 a outubro de 2012, quando assumiu a pasta de Transportes, onde trabalhou até abril de 2014.

Ricardo de Rezende Ferraço é senador da República desde 2010 e presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal e relator dos Projetos de Lei 319/2009, que regulamenta a profissão de motorista, e 310/2009, que institui o REITUP.

João Batista Meira Braga é Secretário de Mobilidade e Controle Urbano na Prefeitura da cidade do Recife. Foi secretário Municipal de Infraestrutura, Secretário Estadual de Justiça e Direitos Humanos e Secretário de Defesa Social do Estado de Pernambuco.

CategoRia IN MEMORIAM

Jurandyr Mathias Ricão (1923 – 2012)foi fundador do Grupo Ipiranga em 1951 e da escola para menores carentes dentro da Viação Ipiranga, onde formou profissionais técnicos em atividades ligadas ao transporte.

Hilário schwambach (1932 – 2013)se dedicou aos processos de manutenção e adequação das estruturas operacionais nos segmentos de transportes urbanos, intermunicipal e interestadual. Foi sócio do Grupo Borborema, onde buscou a reutilização de recursos hídricos e processos de contenção de resíduos sólidos e líquidos.

Wilson silva Couto (1934 – 2014)foi alfaiate, comerciante, caminhoneiro (trabalhou na construção de Brasília), cafeicultor. Em 1972, trocou o transporte de combustível pelo transporte de passageiros urbanos adquirindo a Expresso Monte Castelo e, posteriormente, a Laguna Auto Ônibus.

hOmeNageadOSConheça os homenageados da Medalha do

Mérito do Transporte Urbano Brasileiro 2014.

REVISTA NTU URBANo 29

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ntU EM ação

ntu investe em campanhas publicitárias nas redes sociais

AçõES BUSCAM ENGAJAMENTO DOS USUáRIOS PELA MELHORIA DA MOBILIDADE URBANA E FORTALECIMENTO DO SETOR

Na intenção de contri-buir para a melhoria da imagem do transporte público coletivo e com

a mobilidade urbana nas cidades, a NTU a cada dia se renova e lança campanhas com temas que envol-vem o setor e que buscam sensibili-zar o poder público e a sociedade de maneira geral. Nos últimos 12 meses, foram trabalhadas quatro campa-nhas de marketing e publicidade nas redes sociais com o apoio de entida-des filiadas e parceiros.

Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, a atuação e o posiciona-mento do setor nas mídias digitais é fundamental para construir uma nova imagem do transporte coleti-vo na mente das pessoas e tornar a mobilidade sustentável uma realida-de brasileira. “Não basta mudar os ônibus e a estrutura física de todo o sistema. É preciso mudar também a cultura dos cidadãos. O transporte público é o melhor caminho para uma mobilidade sustentável. Temos a missão de levar esse conhecimen-to às pessoas para que elas possam também apostar nesse estilo de vida”, defende.

#EUfAÇOBEM

A busca diária por um transporte de qualidade e eficiente também passa pela boa convivência entre os passageiros. A tolerância, o respei-to e a gentileza são fundamentais para que a vida dos usuários do transporte público se torne menos estressante e melhor aproveitada. É necessário que o ser humano tam-bém busque essa melhora pessoal cotidianamente e passe a conviver em sociedade com harmonia. Para contribuir com esse crescimento no convívio coletivo, a NTU propôs a campanha digital #euFaÇoBeM.

AS PEçAS PUBLICITáRIAS DAS CAMPANHAS PoDEM SER ACESSADAS NoS PERFIS DAS REDES SoCIAIS:

WWW.FACEBOOK.COM.BR/ntuBRasil

WWW.TWITTER.COM.BR/ntunotiCias

30 REVISTA NTU URBANo

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ntU EM ação

Algumas peças da campanha já foram publicadas nas redes sociais da entidade (Facebook e Twitter). A previsão é que até o final do mês de agosto ela seja totalmente divulga-da, segundo o diretor administrativo e institucional da entidade, Marcos Bicalho. “#EUFAçOBEM é uma cam-panha de conscientização. Para que os usuários do transporte coletivo compreendam que gentileza dentro do ônibus é uma questão de cidada-nia. Não basta apenas as empresas oferecerem treinamentos aos mo-toristas e cobradores de como se comportar com os passageiros se não existir reciprocidade”, reforça.

amigos. Ter mais qualidade de vida. “Esses e outros benefícios podem ser atingidos de maneira simples e rápida, basta a vontade dos órgãos públicos para priorizar o transporte coletivo nas vias urbanas”, enfatiza Marcos Bicalho.

Mostrar como é fácil implantar faixas exclusivas e como aproveitar o tempo ganho com elas foi a proposta de duas campanhas da NTU relacionadas ao tema. A primeira, “Campanha Nacional de Qualificação das Redes Convencio-nais de Transporte Público Urbano”, lançada em novembro de 2013, teve a intenção de incentivar a qualificação e redução dos custos de operação do transporte coletivo por meio da im-plantação de quatro mil quilômetros de faixas exclusivas em 46 municípios com população superior a 500 mil ha-bitantes, nos próximos 12 meses.

Essa campanha teve a parceria das entidades filiadas à NTU e do Movi-mento Nacional pelo Direito ao Trans-porte Público de Qualidade para To-dos (MDT), na qual foram divulgadas peças publicitárias (cartazes, folders, busdoor); vídeos institucionais; co-mercial para rádio (spot); e anúncios na mídia eletrônica, com foco na im-portância do uso da faixa exclusiva.

A segunda campanha, “Faixas Exclu-sivas = Qualidade de Vida”, foi veicula-da, por enquanto, somente nas redes sociais. As peças retratam momentos de lazer e alegria proporcionados pela

rapidez da viagem de ônibus quando é realizada nas faixas exclusivas, como chegar mais cedo para ficar com a família ou simplesmente jogar uma pelada com os amigos.

fAIxAS ExCLUSIVAS

Oferecer faixas prioritárias ao trans-porte coletivo não significa apenas democratizar o espaço viário e dar mais rapidez ao ônibus. Significa também proporcionar aos passagei-ros desse modal a oportunidade de viver mais tempo com a sua família e

#VOUDEÔNIBUSNACOPA

No intuito de auxiliar a busca por informações sobre como se deslo-car de transporte público durante o Mundial e incentivar o uso do ônibus urbano durante os dias de jogos, a entidade apostou na campanha #vouDeoniBusnaCoPa.

O projeto consistiu em um site espe-cial com o mapa do transporte pú-blico das cidades-sede da Copa do Mundo. A página apresentava uma seleção de sites e aplicativos com informações sobre linhas e horários dos ônibus e dicas relacionadas a outros modais, como metrôs, trens e barcas. Peças publicitárias da cam-panha também foram divulgadas nas redes sociais.

#euFaÇoBeM #vouDeÔniBusnaCoPa Faixas exClusivas

85.156 266.086 370.064

CaMpanHaS EM núMEroS

* O número de pessoas que visualizaram a publicação.

alCanCe*

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ponto dE ônibUS

adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN especializado em transportes e blogueiro

são paulo e rio de Janeiro perderamr$ 98 biem 2013 devido a congestionamentos

Já ouviu a expressão: virou fumaça? Normalmente se refere quando algum esforço, recurso ou tra-

balho são empregados de maneira intensa e acabam dando em nada. É o que normalmente ocorre com as indústrias, comércios e pessoas por causa dos congestionamentos e da falta de investimentos sérios no transporte público.

Estudo divulgado, em julho, pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), ao qual o Grupo Globo de Comunicação teve acesso, mostra que em 2013 os congestio-namentos custaram R$ 98 bilhões somente nas cidades do Rio de Ja-neiro e de São Paulo. Isso equivale a aproximadamente 2% do PIB – Pro-duto Interno Bruto Brasileiro.

O contrassenso das políticas que ainda insistem em privilegiar o trans-porte individual e não promover desenvolvimento para geração de renda e emprego nas periferias é tão grande que só com o que São Paulo e Rio de Janeiro jogaram fora por cau-sa dos congestionamentos em 2013, daria para construir 39 mil e 200 qui-lômetros de corredores modernos, do tipo BRT, que oferecem acessibi-lidade e rapidez aos transportes de ônibus; 1.960 quilômetros de metrô pesado subterrâneo e de alta tecno-logia; ou 10 mil quilômetros de VLT.

O estudo da Firjan somente leva em conta as horas de trabalhos perdidas

e o combustível desperdiçado. Mas diz que o custo do congestionamen-to é maior já que envolve os gastos na saúde pública – devido ao agrava-mento de doenças por causa da po-luição –; desgastes nos veículos; de-gradação da estrutura viária; horas extras; queda de produtividade dos trabalhadores que já chegam cansa-dos no serviço; e até mesmo perdas de vendas do comércio – o trânsito e a falta de qualidade dos transportes públicos têm desestimulado as pes-soas a passearem e se divertirem e, consequentemente, consumirem.

Além disso, há a perda de projeção de crescimento profissional. As pessoas não conseguem tempo para estudar e se qualificar. O estudo conclui que a principal medida para que o dinheiro pare de ser queimado são investi-mentos em transportes públicos.

INVESTIMENTOS EM TRANSPORTES NÃO PODEM CRIAR SEGREGAÇÃO

Quando se fala em investir em trans-porte público, questões de marke-ting político e até mesmo de bene-ficiamento de grupos econômicos podem fazer com que as verbas para a mobilidade não sejam apli-cadas adequadamente. As cidades como um todo precisam de investi-mentos e não apenas alguns eixos.

O que se vê hoje são projetos novos, que politicamente chamam a aten-ção, quase que faraônicos e suntu-

osos, mas que atendem apenas a demandas localizadas.

Um dos principais fatores que devem ser levados em consideração é a de-manda e a projeção do crescimento do número de passageiros. Além dis-so, os investimentos em transportes devem abraçar toda a cidade.

Gastar uma grande quantidade de re-cursos somente em um modal numa determinada área é como se fosse criar uma segregação.  Não haverá recursos para as outras regiões que continuarão sem privilégio ao trans-porte público. Não somente as áreas centrais ou de altíssima demanda merecem transporte de qualidade.

Nesse aspecto, os corredores comuns de ônibus e os mais modernos (BRT – Bus Rapid Transit) mostram-se ainda soluções mais adequadas. São mais baratos que outros modais, a implan-tação é mais fácil e rápida, o que é es-sencial para uma situação que precisa de medidas urgentes. E o melhor, não se esgotam com o tempo, pois, pelas obras serem simples, há flexibilidade de expansões e alterações em trajetos que os outros modais não têm.

Uma rede de transporte que conju-gue corredores modernos de ônibus e metrô de alta capacidade para as grandes e médias cidades, sem dúvida, é a solução mais coerente para evitar que se perca dinheiro e qualidade de vida devido ao trânsito e aos congestionamentos.

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SEgUrança

Janeiro terminou com cerca de 720 veículos depredados.

Segundo a Associação Nacional das Empresas de Transportes Ur-banos (NTU), práticas criminosas já atingem 63 cidades brasileiras no primeiro semestre de 2014. Dados da entidade também revelam que atear fogo nos veículos é um dos atos de violência mais recorrentes. O estado do Rio de Janeiro registrou 97 casos de ônibus incendiados de

sistema de segurança do consórcio brt rio é referência para o transporte público

CIDADES-SEDE ADOTARAM AçõES ESTRATÉGICAS NO TRANSPORTE COLETIVO URBANO E GARANTIRAM BOA FUNCIONALIDADE DO SERVIçO

Nos últimos meses o setor de transporte público foi constantemente pauta-do pela mídia devido à

ação de vândalos que agiram incen-diando ou depredando ônibus. A estatística em relação aos ataques é preocupante e demanda mais investimento em segurança nos co-letivos. Para se ter uma ideia da pro-porção tomada pela destruição nos ônibus, somente no mês de maio, a greve dos rodoviários do Rio de

janeiro a julho deste ano, enquanto o de São Paulo o número de casos sobe para 208 no mesmo período. Com o objetivo de coibir a violência nos coletivos, empresas do setor investem cada vez mais em recursos tecnológicos que compõem moder-nos sistemas de segurança.

No Rio de Janeiro, o chamado “bo-tão de emergência”, implantado nos ônibus que circulam nos corredores Transcarioca e Transoeste, é uma

INAUGURAçãO DO

CENTRO DE CONTROLE

OPERACIONAL (CCO)

DOS SISTEMAS BRT

DO RIO DE JANEIRO.

Art

hur M

our

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SEgUrança

das iniciativas mais eficientes no combate à violência. Os veículos, que totalizam uma frota de 236 ôni-bus — dos quais 90 rodam no Trans-carioca e 146 no Transoeste —, foram equipados com o botão de emer-gência já no processo de fabricação, tanto pela Volvo quanto pela Merce-dez, as duas empresas responsáveis pela montagem dos ônibus que operam nos dois corredores.

O funcionamento do sistema é rela-tivamente simples. Quando houver necessidade, o motorista deve aper-tar o botão, que fica no painel do condutor do veículo. No Centro de Controle Operacional (CCO) do BRT Rio — localizado no Terminal Alvora-da, na Barra da Tijuca —, o operador do sistema verifica em seu painel informativo que o ícone do ônibus, normalmente de cor verde, tem a cor alterada para vermelho. Ele então re-conhece que há uma situação de pe-rigo, aciona a polícia e instrui o moto-rista a reduzir a velocidade do ônibus.

Para reforçar a segurança, o Sindi-cato das Empresas de Ônibus da Cidade do Rio de Janeiro (Rio Ôni-bus) auxilia o Consórcio BRT Rio contratando agentes de segurança para se posicionarem nos corredo-res e agirem imediatamente quan-do são solicitados pelo operador do centro de controle. O serviço é realizado através do Programa Es-tadual de Integração à Segurança (Proeis), que permite aos policiais do estado, em horário de folga, trabalhar para empresas privadas mediante gratificação.

NOS ÔNIBUS CONVENCIONAIS

O gerente do Consórcio BRT Rio, Alexandre Castro, pontua que 100% da frota que circula nos dois corre-

dores é equipada com o botão de emergência, fato que ajuda na efe-tividade do sistema. “No tocante as outras regiões que fogem da com-petência do Consórcio BRT, ou seja, fora do Transoeste e do Transcario-ca, o Rio Ônibus vem trabalhando para expandir o sistema às outras lo-calidades da cidade”, complementa.

A expectativa é de que o dispositivo também passe a integrar os ônibus convencionais do Rio, cuja frota é de aproximadamente 8.800 veículos. A novidade foi anunciada no início de junho pelo vice-presidente do Rio Ônibus, Otacílio Monteiro, durante audiência na Comissão de Transpor-tes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). “Nosso objetivo é buscar sempre projetos que possam melhorar a qualidade do transporte público coletivo, que também passa pela segurança do passageiro”, re-força Monteiro.

Atualmente, os ônibus convencio-nais são monitorados através do sistema GPS. Segundo a assessoria do Rio Ônibus, com o anúncio de que o botão de emergência pode compor a frota convencional, o sin-dicato já recebeu vários pedidos de empresas de ônibus para acelerar o projeto. Depois de vários estudos, o Rio Ônibus acredita que a implanta-ção desse sistema nos ônibus con-vencionais tem grandes chances de viabilidade para essas empresas.

BILHETAGEM ELETRÔNICA COMO MEDIDA DE SEGURANÇA

Somente nos três primeiros meses de 2014, foram registrados cerca de 250 assaltos em ônibus de Aracaju (SE). Em contrapartida, o número de assaltos no interior dos ônibus de Campo Grande (MS) foi zerado. A

medida tomada na capital do Mato Grosso do Sul foi acabar com a cir-culação de dinheiro nos coletivos e aceitar o pagamento da passagem somente através do cartão eletrôni-co. O sistema foi adotado em agosto de 2011 em grande parte da frota de Campo Grande e, em fevereiro de 2012, passou a ser obrigatório em todos os ônibus da capital.

Segundo a Associação das Empre-sas de Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande (Assetur), desde a obrigatoriedade do cartão, não foram registrados mais assaltos no interior dos coletivos. Para Maurício Gazola que trabalha como motorista de ônibus da Jaguar Transportes há doze anos, e vítima de quinze assal-tos durante o expediente, a iniciativa contribuiu para a qualidade de vida dos operadores. “Antes do cartão, eu e meus colegas vivíamos com medo porque os assaltos ocorriam a qual-quer hora do dia e da noite. Mas de-pois que o cartão passou a ser obri-gatório, a situação mudou”, revela.

A cidade de São Paulo utiliza o siste-ma de bilhetagem eletrônica há dez anos. Quando  esse sistema foi lan-çado, em maio de 2004, as tarifas de utilização do sistema de transporte eram pagas somente com dinheiro e vale-transporte de papel. Segundo os dados fornecidos pela São Paulo Transportes (SPTrans), como reflexo imediato, observou-se uma curva descendente no número de assaltos.

Em 2003, foram 11.394 casos regis-trados. Em 2004, esse número caiu para 6.426. Ainda de acordo com a SPTrans, o Bilhete Único deu tão certo que, atualmente, apenas 8% dos usuários do transporte coletivo da cidade usam dinheiro para pagar a passagem.

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artigo

padrão de Qualidade brt

ClaRisse linke*

O conceito de corredo-res exclusivos para ôni-bus nasceu no Brasil, em Curitiba, nos 70. A ideia

foi replicada em diferentes cidades brasileiras, e trinta anos depois “exportada” para Bogotá, onde foi aprimorada, se tornando o que hoje entendemos como sistemas de Bus Rapid Transit (BRT).

Até há alguns anos atrás não havia um entendimento sobre o que é um sistema de BRT. A falta de um alinhamento conceitual entre pla-nejadores e engenheiros fez com que, para cada novo corredor de BRT de alta qualidade, dezenas de outros corredores de ônibus fos-sem abertos e chamados incorre-tamente de BRT.

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artigo

*Clarisse linke trabalha em

planejamento e implementação

de políticas públicas e

programas sociais desde 2001,

com experiência no Brasil,

Moçambique e Namíbia. É

mestre em Políticas Sociais,

ONGs e Desenvolvimento pela

London School of Economics

and Political Science e pós-

graduada em Terceiro Setor pelo

Instituto de Economia da UFRJ.

Atualmente, Clarisse Linke é

diretora do Instituto de Políticas

de Transporte e Desenvolvimento

(ITDP Brasil).

Por isso, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, da sigla em inglês) criou o Padrão de Qualidade de BRT, que estabelece uma definição comum dos sistemas de operação exclusiva em corredores de ônibus e reconhece os sistemas de BRT de mais alta qualidade já implan-tados em todo o mundo.

O Padrão de Qualidade BRT funcio-na como uma ferramenta de avalia-ção dos sistemas de BRT com base nas melhores práticas internacio-nais. Hoje, ele é peça central de um esforço global feito pelos líderes da área de transportes para estabele-cer uma definição comum do BRT e garantir que esses sistemas possam oferecer uma experiência mais uni-forme aos seus usuários, além de be-nefícios econômicos e ambientais.

Segundo o Padrão de Qualidade, BRT é um corredor de ônibus de alta capacidade com capacidade equi-valente aos sistemas de metrô, pro-porcionando um serviço rápido, con-fortável e de alto custo-benefício.

São cinco as características essen-ciais que definem um sistema BRT.  O primeiro deles são as faixas exclusi-vas de ônibus, que tornam viagens mais rápidas e reduzem atrasos devi-do ao tráfego misto.

Outra característica importante é o alinhamento das faixas de ônibus. O corredor no eixo central evita que os ônibus tenham que circular nas faixas próximas às calçadas, onde há muito movimento de carros e cami-nhões parando.

O pagamento da tarifa fora do ôni-bus feito na própria estação e não no interior dos ônibus elimina os atra-sos causados por passageiros espe-

rando sua vez para pagar dentro dos ônibus, e é a terceira característica que define um sistema BRT.

A quarta é o tratamento das inter-seções. A proibição de que outros veículos atravessem as faixas de ôni-bus para virar nas interseções reduz atrasos que isso pode provocar no movimento dos ônibus e facilita sua passagem pelas interseções.

A quinta e última característica que define um sistema BRT são as plata-formas de embarque em nível, alinha-das com o piso dos ônibus. Elas ga-rantem um embarque rápido e fácil, com acessibilidade total para passa-geiros com necessidades especiais.

Mais do que um manual, o Padrão de Qualidade também estabelece um ranking, no qual os corredores de BRT são classificados segundo uma série de categorias que refletem o desem-penho e a qualidade do serviço, rece-bendo uma pontuação de 0 a 100. Os corredores de BRT de mais alta pon-tuação são classificados nos rankings Ouro, Prata, Bronze e Básico.

Os elementos que receberam pon-tos no Padrão de Qualidade de BRT são avaliados em uma grande varie-dade de contextos, não só pelo ITDP mas também pelos maiores especia-listas técnicos em BRT do mundo. A certificação estabelece um padrão reconhecido internacionalmente do que é o BRT e de quais são as melho-res práticas nesse tipo de sistema.

Entre os bons exemplos de BRTs es-tão o Metrobús da Cidade do México e o My CiTi, da Cidade do Cabo. Nos Estados Unidos, os melhores exem-plos são a HealthLine de Cleveland, a Emerald Express Green Line de Eugene, o Martin Luther King Jr. East

Busway de Pittsburgh, o Downtown Express que circula pela via princi-pal (Strip) de Las Vegas, e a Orange Line de Los Angeles.

Para ver mais detalhes sobre o Pa-drão de Qualidade de BRT e exem-plos das melhores práticas, acesse brtstandard.org

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#ntUrECoMEnda

apps livros redes Sociais

CITTABUS ACESSIBILIDADE

Os portadores de deficiência visual de São

Caetano (SP) agora têm um grande parceiro

na hora de pegar seu ônibus. O aplicativo Cit-

tabus Acessibilidade informa aos deficientes

a chegada dos ônibus nos pontos sendo

acionado por comando de voz. A ferramenta

foi idealizada por Luiz Eduardo Porto que

também é deficiente visual, em parceria com a

Viação Padre Eustáquio (VIPE). O dispositivo

ainda informa quais as paradas mais próximas

e as linhas que por ali transitam. Para ter aces-

so ao app basta fazer download, é gratuito e

compatível com smartphones e qualquer outra

plataforma com acesso à internet.

BILHETE úNICO NO PONTO CERTO

Chegou a São Paulo o primeiro aplicativo

que possibilita a recarga do bilhete único

através do celular. Nessa ferramenta o usuá-

rio terá acesso ao saldo de todos os tipos do

bilhete único, além de fazer a recarga do vale

transporte e compra de créditos de passe

comum. O aplicativo pode ser baixado em

celulares que possuem a tecnologia de Comu-

nicação por Campo de Proximidade ou NFC

(Near Field Communication). Basta encostar

o cartão no celular, gerar um boleto na loja vir-

tual e aguardar um dia útil após o pagamento,

para receber os créditos.

GUIA DE MOBILIDADE INTELIGENTE

O Guia de Mobilidade Inteligente é um dos pro-

jetos lançados pelo Programa de Mobilidade

Volvo e traz em seu conteúdo alguns desafios

urbanos atuais. Abordando as vantagens do

BRT, como a flexibilidade e a facilidade e rapi-

dez em sua implantação a publicação ainda ex-

plica os conceitos dos sistemas de transportes

de alta e média capacidade, além de apontar

soluções que podem ser aplicadas no sistema

de transporte.

TRANSPORTE COLETIVO URBANO DE MANAUS: BONDES, ÔNIBUS DE MADEIRA E METÁLICOS.

A obra é de autoria

da Soraia Pereira

Magalhães Mestra

em Soc iedade e

Cultura. E faz uma

reflexão sobre evo-

lução do transporte

público de Manaus

entre as décadas de

1896 a 1980. O livro

foi fruto de quatro anos de

mestrado da escritora e seu conteúdo é base-

ado em serie de documentos oficiais, fotogra-

fias, matérias feitas pela imprensa que trazem

informações sobre esse período e remonta

um pedaço da história sobre o transporte pú-

blico em Manaus.

CARTÃO BOM

A Fan Page Oficial do Cartão eletrônico de

transporte de São Paulo e Região Metropolita-

na tem uma variedade de informações e posts

de interação com os usuários. Com mais de 68

mil curtidas na página, os seguidores podem

saber mais como funcionam os cartões do

sistema e acompanhar novidades e mudanças

que ocorrem no dia a dia do transporte público

em São Paulo. Fique por dentro e participe no

www.facebook.com/cartaobom.

RIO ÔNIBUS

O Rio Ônibus é o sindicato que representa os

quatro consórcios que operam no sistema de

transporte coletivo na cidade do Rio de Ja-

neiro. Em sua página na rede social Facebook,

com mais de 118 mil curtidas, procuram intera-

ção com o público mostrando ações positivas

do transporte urbano na cidade e também as

novidades dos sistemas BRT e BRS. Saiba mais

no www.facebook.com/rioonibus.

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