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CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE AVALIAÇÃO · escolares como o Projeto Político Pedagógico, a Proposta Pedagógica Curricular, o Plano de Trabalho Docente, documentos fundamentados nas

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CONCEPÇÃO E PRÁTICA DE AVALIAÇÃO: UM DESAFIO COTIDIANO DA

PRÁTICA ESCOLAR.

Autor: Terezinha Aparecida dos Santos Palma 1

Orientador: Dra. Conceição Solange Bution Perin 2

Resumo

O presente artigo é resultado de trabalhos realizados no (PDE) Programa de

Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná. O qual nos

oportunizou buscar alternativas para diminuir o distanciamento entre as concepções

de avaliação registradas nos documentos oficiais da escola e o fazer pedagógico,

dando origem ao Projeto de Intervenção Pedagógica na escola, cujo tema de

estudo foi: Concepção e Prática de Avaliação: uma contextualização histórica.

Nosso objetivo foi buscar através de estudos e pesquisas um embasamento teórico

mais consistente que nos desse suporte e clareza nas escolhas de nossas

metodologias e da tendência pedagógica que fundamenta nossa prática. Para tanto,

fizemos uma análise histórica da sociedade e da avaliação, desde a Visão Grega até

a atualidade e produzimos um material didático constituído por estes textos que

foram socializados com 21 professores do Colégio Estadual Paraná EFMP e com 7

professores do Grupo de Trabalho em Rede. Utilizamos a metodologia dialética e a

EaD. Provocamos reflexão, discussão, possibilitando que os professores percebam

como estão de saber pedagógico, aprofundem seus conhecimentos teóricos e

tenham condições de assumir um posicionamento pedagógico claro, explícito e

consciente sobre sua prática avaliativa, diminuindo assim, o descompasso entre

teoria e prática.

Palavras-chave: Avaliação; concepção; pratica; contextualização histórica.

1 Pedagoga no Colégio Estadual Paraná EFMP Graduada em Pedagogia pós-graduada em

Planejamento Educacional. [email protected]

2 Doutora pela UEM, Docente e Orientadora pela FAFIPA no Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE . [email protected]

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1. Introdução

As concepções de avaliação registradas no Projeto Político Pedagógico, no

Regimento Escolar e nos Planos de Trabalho Docente são as definidas pela

legislação vigente, deliberação 07/99: avaliação diagnóstica, formativa, cumulativa/

somativa processual e contínua. No entanto, há professores que pedem semana de

provas, deixam de partilhar com os alunos a análise de suas produções alegando

muitos alunos na sala, desinteresse dos mesmos e um maior compromisso do aluno

em comparecer e estudar no período de avaliação pré-estabelecido.

Percebe-se pelo discurso e postura de alguns professores que há

indagações e até contradições entre o que está registrado nos documentos

escolares e a prática pedagógica no dia a dia. Evidencia-se uma discrepância entre

teoria e prática, ou seja, há um distanciamento entre a teoria e a prática.

Segundo Carlos Cipriano Luckesi, 2005, o passo fundamental para

redirecionar os caminhos da prática da avaliação é a assunção de posicionamento

pedagógico claro e explícito de modo a orientar a prática pedagógica no

planejamento, na execução e evidentemente na avaliação. Referente à discussão de

Luckesi, consideramos essencial fazer uma análise sobre a avaliação, pois,

entendemos que os membros inseridos em uma Equipe Pedagógica, normalmente,

se deparam com dificuldades de encaminhar mudanças na prática pedagógica dos

professores.

Outro ponto fundamental a ser levado em consideração como proposta de

ação, segundo o autor, é a conversão de cada professor, de cada educador para

novos rumos da prática educacional. E essa conversão segundo ele, implica no

entendimento novo da situação e dos rumos a seguir e sua tradução na prática

diuturna. (Luckesi, 2005).

Assim, compreendemos que para um melhor entendimento sobre essa

questão, é necessário uma retomada das bases conceituais, partindo de uma

análise histórica da sociedade e da avaliação. Apropriando conhecimentos e clareza

para redirecionar nossa prática pedagógica rumos a uma nova cultura avaliativa que

ultrapasse o autoritarismo e permita um processo mais democrático na escola em

busca da transformação social.

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Como parte da programação proposta pelo PDE foi construída uma

Produção Didático – Pedagógica, material didático, utilizado como um dos recursos

na Intervenção Pedagógica na Escola e no Grupo de Trabalho em Rede (GTR). O

qual tem por objetivo consolidar a relação entre a teoria e a prática em um ciclo

dialético de ação - reflexão – ação. Pois esse material foi composto por uma

coletânia de textos sobre avaliação, fruto de conhecimentos socializados nos cursos

do PDE e de leituras e pesquisas de autores renomados, como Luckesi, Libâneo,

Vasconcelos e, outros, indicações dos orientadores. O estudo desses autores que

tratam sobre o tema em questão, nos trouxe um embasamento teórico mais

consistente e clareza nas escolhas de nossas metodologias e da tendência

pedagógica que fundamenta nossa prática. A nosso ver, nos deu condições de

assumir um posicionamento pedagógico claro, explícito e consciente sobre nossa

prática avaliativa e com certeza diminuirá o descompasso entre a teoria e a prática.

Desse modo, no primeiro capítulo do material pedagógico fizemos uma

análise histórica da sociedade e da avaliação a partir da visão grega até a visão

contemporânea. Identificando a concepção de homem, de trabalho, de sociedade,

de desigualdade e de avaliação em cada um desses momentos históricos. Para

maior embasamento teórico sobre essas questões, buscamos referência em um

trabalho realizado pela SEED em 1985, sobre a consultoria da professora Lizia

Helena Nagel

No segundo capítulo centramos a pesquisa sobre a avaliação partindo de

uma retrospectiva histórica da mesma no interior das diferentes tendências

pedagógicas a partir da Idade Contemporânea. Analisamos e refletimos sobre o

sentido e o papel da avaliação, conscientizando que ela vem refletindo uma teoria

educativa de ensino-aprendizagem e o professor, por sua vez, precisa ter clareza

dos objetivos do seu trabalho, de onde quer chegar e quais as consequências de

suas ações.

No terceiro capítulo focamos alguns passos fundamentais anunciados por

Luckesi como possibilidades de ação para redirecionar os caminhos da prática

avaliativa, apontando que para isso precisamos assumir um posicionamento

pedagógico claro e explícito que nos chamam à conversão entendida como

conscientização para novos rumos da prática educacional.

No quarto capítulo analisamos e refletimos sobre a prática escolar

predominante atualmente nas escolas, tendo como referência Luckesi, 2005 e

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também analisamos e refletimos sobre uma dicotomia fortemente estabelecida entre

a avaliação na escola e a avaliação em nossa vida. Texto embasado em Jussara

Hoffmann (1993) em seu livro “Avaliação Mediadora”

No quinto capítulo Identificamos a diferença entre avaliação da

aprendizagem como ato amoroso e avaliação/provas/exames e a origem da prática

de provas/exames e da denominação avaliação da aprendizagem. Para melhor

compreensão buscamos embasamento também nos escritos de Luckesi, 2005.

No sexto capítulo, aprofundamos os estudos sobre as concepções que dão

sustentação às propostas de educação numa perspectiva progressista. Concepções

que perpassaram pelas políticas educacionais do Estado do Paraná e atualmente,

são propostas para as práticas pedagógicas nas escolas através de documentos

escolares como o Projeto Político Pedagógico, a Proposta Pedagógica Curricular, o

Plano de Trabalho Docente, documentos fundamentados nas Diretrizes Curriculares

Estaduais.

E, finalmente, colocamos um levantamento de questões que envolveram

todos os temas trabalhados em cada capítulo. Foram questões utilizadas para

verificar o domínio que os cursistas já possuem e que uso fazem do conteúdo na

prática social cotidiana e deu direção ao trabalho desenvolvido, as discussões dos

problemas que tem origem na prática social, mas que procedem da falta de

interpretação teórica ou da transposição da teoria para a prática. E também, serviu

como fio condutor de atividades que os cursistas desenvolveram no processo de

construção do conhecimento. Nesse sentido, no decorrer do processo os

participantes responderam as questões levantadas e selecionadas na

problematização.

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2. Elementos teóricos

Segundo a Secretaria de Estado da Educação (SEED – PR, 1985) não

adianta falar sobre avaliação se não tocar no seu conteúdo, no porque avaliar, no

que é avaliável, no que tem valor para todos os homens de hoje. A avaliação é uma

técnica, um recurso de que as sociedades se utilizam para perceber a dimensão de

onde estão e para onde querem ir. Não pode haver seriedade em avaliações que

partem do desconhecimento de como a sociedade e a escola se comportam, frente

aos problemas do próprio homem.

“Como pode haver seriedade nas avaliações se não são reconhecidos -

pelos avaliadores - os erros contra os homens, cometidos de forma contínua e

sistemática?” (SEED, 1985, p.20).

Pode - se utilizar e parafrasear Sêneca neste contexto, pois como nenhum

vento sopra em favor de quem não sabe pra onde ir, assim, se educadores não têm

ciência do que é útil, importante e necessário para todos os homens, fica muito difícil

avaliar e avançar em direção a um projeto de vida para os homens. É preciso saber

onde se quer chegar, planejar a caminhada e caminhar rumo ao alvo desejado. Não

temos como avaliar se não sabemos o que é avaliável o que tem valor para todos os

homens. Toda atividade avaliativa se situa entre a intenção e o resultado. No

cotidiano escolar ao planejar o professor já deve ter em mente onde ele quer chegar

e expressar essa intenção através dos objetivos propostos. Em relação a um projeto

social não poderá ser diferente, precisamos conhecer a sociedade que temos e

intencionalmente, planejadamente agir em busca da sociedade que queremos.

Segundo a SEED – PR, 1985, a avaliação parte de um projeto social, de um

ideário de sociedade, pois ela está a serviço de uma pedagogia que é uma

concepção teórica da educação, que por sua vez, traduz uma concepção teórica de

sociedade. Porém, a maioria dos educadores desconhecem a organização, o

funcionamento, a história da sociedade, sendo-lhes, portanto, impossível definir o

que é útil, necessário e importante para os homens terem a sua humanização

garantida. E contribui trazendo uma análise histórica da sociedade e da avaliação.

que veremos a seguir:

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NA VISÃO GREGA - ANTIGUIDADE

O homem é conceituado como um animal racional, o que lhe faz diferente

de todos os outros seres. O que deve ser aprimorado nessa visão é o discurso, a

argumentação, a retórica, a arte de bem falar e de pensar. Ele trás dentro de si a

potência, a possibilidade de, cada vez mais, pensar com maior precisão, pois o

raciocínio pode ser aprimorado.

O trabalho era determinado pelo interesse de status social e não

considerado como agente de transformação. Era considerado “algo não racional”, é

serviço para classe inferior, para os artesãos e escravos da época.

A sociedade era vista como eterna, imutável, essencialmente dividida entre

pessoas livres e escravos, organizada hierarquicamente. Acreditavam que cada

sujeito nascia predestinado a ser escravo, ou artesão, ou cidadão. Só o cidadão

tinha direito ao ócio, ao tempo total para se dedicar a pensar, argumentar, discursar.

O trabalho escravo era natural e necessário – supria todas as necessidades de vida

e/ou de sobrevivência do cidadão.

A desigualdade era vista com serenidade por todos, acreditavam que uns

nasciam para pensar, para serem racionais, outros nasciam para trabalhar e suprir

as necessidades dos pensantes. O mundo estava em ordem e seguiam essa ordem

de acordo com a herança de seus antepassados. Cada um fazia sua parte

cumprindo sua predestinação e essa condição era aceita por ser “determinada” por

uma força maior.

A avaliação mantinha esta sociedade considerada ideal e perfeita, servia

para aprimorar cada um, ou cada grupo de pessoas em suas atividades para as

quais haviam nascido. Logo, o escravo era avaliado pela correção das atividades

físicas, pela qualidade dos produtos que oferecia à mesa, à casa do senhor. O

artesão pela qualidade de serviço que oferecia ao cidadão. E o cidadão, pela

qualidade de argumentar, descrever, classificar, fazer diferenças e ver semelhanças

entre as coisas do mundo.

NA VISÃO FEUDAL - IDADE MÉDIA.

Na Visão Feudal passam a acreditar que o homem só é um animal racional

porque Deus lhe deu uma alma, que lhe faz diferente de todos os outros seres do

mundo. Isso fez com que todo empenho educativo se dirigisse ao aprimoramento

espiritual e religioso de cada um. Passou a valorizar o conhecimento de Teologia,

das Sagradas Escrituras, conhecimentos religiosos. Daí surgiram as primeiras

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universidades onde só poderiam ser ensinados assuntos da igreja por teólogos e

sacerdotes.

O trabalho pouco se alterou. Produzia-se apenas o necessário para o

consumo imediato. O progresso era lento e a visão de ordem e de mundo foi

mantida.

Na sociedade a visão de “ordem” e de “hierarquia”, agora era explicada

como desejo ou desígnio estabelecido por Deus. O homem já nascia com seu lugar

definido na sociedade. Discutia-se, por exemplo, se o escravo tinha ou não alma.

A desigualdade entre os homens era explicada com argumentos que

superavam as responsabilidades do próprio homem. Escravos e camponeses tinham

a incumbência de prover a subsistência das camadas superiores na hierarquia da

sociedade.

Na avaliação a preocupação com conhecimento religioso exigia

instrumentos de avaliação para que cada um conseguisse atingir a felicidade

celeste, o supremo bem do homem. A preocupação em manter a ordem social exigia

mecanismo de avaliação para correção de comportamento de homens, que

pudessem querer subverter a estrutura social já definida por leis divinas.

A inquisição Religiosa com apoio dos governantes do estado cumpriu o

papel de oprimir ideias e pessoas que sugerissem uma nova forma de pensar, de

viver ou de trabalhar.

NA VISÃO MODERNA – (AFIRMAÇÃO DO CAPITALISMO)

O homem passa a ser entendido como animal racional que trabalha

planejando e executando atividades para melhorar o mundo dos homens, através da

produção em maior quantidade. Pois, o trabalho constante e cada vez mais

aprimorado dos homens oportunizou a descoberta da bússola, da pólvora, do

canhão com alça de mira etc. Isso levou os homens para outros mundos e para

outras ideias. A valorização do trabalho começa diante dos resultados dos antigos

trabalhos “escravos” e “artesanais”.

O trabalho passa a ser visto como fonte de riqueza para melhorar as

condições de vida de todos os homens. E como fonte de abundância não é mais

entendido como destinados a seres inferiores.

A sociedade não é mais vista como imutável eterna e hierárquica. Não mais

se justifica a escravidão, nem o poder absoluto dos papas e reis. Todos podem

participar da organização e das decisões do Estado e o regime político do

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absolutismo vai cedendo lugar às monarquias institucionais, ao parlamentarismo e a

representação de todos os cidadãos através da democracia.

A desigualdade começa a ser questionada. A ideia de igualdade entre os

homens toma corpo. Criaturas da mesma espécie são iguais e têm liberdade para

trabalhar ou não. Começa-se a pensar que o trabalho do corpo e das mãos das

pessoas é propriedade de quem o realizou, que cultivar a terra é ter domínio sobre

ela. Uma nova concepção de mundo e de homem exige novos parâmetros para a

avaliação. O mundo novo exige que o trabalho e não o discurso ou conhecimentos

religiosos sejam ponto de referência para as avaliações. Os conhecimentos antigos

se abrem para novas descobertas, novas obras em favor do homem. Exaltam agora

a liberdade para a transformação social. O domínio das ciências naturais, da física,

da química é imprescindível para as mudanças sociais. A retórica, a teologia, as

artes, as disputas professoais, acadêmicas, cedem lugar ao estudo e ao

ensinamento das coisas da natureza e da possibilidade de suas transformações.

NA VISÃO CONTEMPORÂNEA - (AVANÇO DO CAPITALISMO)

O homem dominou a produção, produziu além de suas necessidades. Criou

a fábrica, a divisão do trabalho, pôs a energia das forças da natureza nas máquinas,

deu condições técnicas para que elas funcionassem. Efetivou a grande produção, a

produção de massa e a superprodução sob a qual hoje, os alimentos básicos são

até queimados em praça pública, em protesto ao baixo preço. O homem apareceu

como animal racional que trabalha e tem sucesso. Porém, ele conseguiu dominar a

natureza, mas não realizou a tão sonhada igualdade entre os homens.

A sociedade não sabe como conceituar o homem, porque não realizou a

igualdade, embora tivesse realizado a riqueza dessa sociedade. O discurso todos

os homens são iguais perde diariamente o sentido, hoje, como foi perdendo o

sentido todos os homens são diferentes da Antiguidade Clássica e da Idade Média.

Diante do exposto acima percebemos que na Antiguidade, na Idade média e

na Modernidade tinha-se claro e definido a visão de homem, de trabalho, de

sociedade, o foco de interesses, das aspirações sociais de cada época. E a

educação, os métodos e a avaliação correspondiam às necessidades de cada

momento histórico. Porém, na sociedade contemporânea, em um determinado

momento, o homem se encontrou num impasse, dominou a natureza, a produção,

mesmo sem muita clareza percebe-se que os beneficios trazidos pela ciência e pelo

trabalho são de uso de uma minoría. Todavia não conseguia apresentar problemas,

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nem encaminhar um novo método de análise da realidade e, tampouco, tinha

coragem de apresentar novas aspirações sociais.

“E é nesse contexto que a escola se insere com o drama de ter que escolher

propósitos, currículos, conteúdos e avaliações adequadas.”(SEED–PR, 1985, p. 07).

Passamos por um período de crise da sociedade, um período de transição

onde nem a sociedade conseguia circunscrever, delimitar, estabelecer seus

problemas. E como a escola reflete o social nos deparamos com uma escola sem

propósitos. No entanto “[...] é dentro de cada crise da sociedade que emergem as

formas novas de viver, de trabalhar, de ver o mundo, de ver os homens”. (SEED –

PR, 1985, p. 07) Tal como ocorreu com as mudanças históricas em períodos

anteriores.

O conteúdo das preocupações sociais sempre se expressou dentro da

escola. As indagações que os homens faziam e fazem sempre esteve presente

através dos conteúdos e da busca do método adequado na Grécia, na Idade Média,

na Idade Moderna. Na Idade Contemporânea, surge a reflexão sobre quais

conteúdos, quais métodos e qual avaliação correspondem à época em que se vive.

Mas para definição dos novos conteúdos, dos novos métodos e da nova dimensão

que deve assumir a nova avaliação, faz-se necessário perguntar qual é realmente o

problema dos homens de hoje, qual é o problema da sociedade contemporânea?

A partir da definição da problemática da sociedade contemporânea aí, sim, a definição dos conteúdos a serem ministrados pela escola torna-se mais clara e possível de ser bem encaminhada pela instituição que avança junto com a humanidade. (SEED, PR, 1985, p. 09).

Concordamos com a citação acima, pois não se pode enfrentar ou

solucionar um problema se não se sabe qual é o problema. Porém, pela

superprodução de alimentos e de mercadorias no mundo contemporâneo pode-se

afirmar que o problema desta sociedade não mais reside no domínio da natureza,

para se produzir a abundância, mas reside naquele que embora sendo desejado

pela idade moderna não foi consumado, a igualdade entre os homens. “O problema

de hoje é, sim, o problema de ontem que não foi equacionado: a igualdade humana

dentro de uma sociedade de abundância”. (SEED, PR, 1985, p. 09).

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Na visão moderna o trabalho já era visto como fonte de riqueza para

melhorar a vida de todos os homens. E, realmente, o trabalho trouxe abundância. Se

em épocas anteriores a abundancia não existia, na idade contemporânea a

produção e a técnica foram além do esperado. O problema agora, o conteúdo

central do questionamento do nosso século é o homem na sociedade.

Na visão grega o homem se constituía no homem racional que deve pensar

bem; na visão feudal no homem religioso que deve relacionar-se bem com Deus; na

visão moderna ele se constitui no homem trabalhador que deve relacionar-se bem

com o mundo da produção e da técnica; “[...] hoje, parece que o homem deve ser

pensado através das relações que o homem mantém com os outros homens na

sociedade”. (SEED, PR, 1985, p. 10).

A escola tem uma vida interior independente de códigos legislativos, pode

trabalhar com o homem nessa nova dimensão, bastando para isso que o coletivo

escolar se disponha a estabelecer um novo projeto de reflexão e de ação. Não

importa se o professor trabalha com o primeiro ou o segundo graus o que importa é

que a história do homem, o homem como principal personagem do mundo em suas

relações sociais pode ser visto em qualquer disciplina: Português, Literatura,

História, Geografia, Ciências, Física, Química, Educação Física, dentre outras.

Todas as disciplinas contêm subsídios (para busca de um novo homem).

Segundo Luckesi (2005) precisa-se estar ciente de que a avaliação

educacional em geral e a avaliação da aprendizagem escolar, em particular, são

meios e não fins, em si mesmas, estando assim delimitadas pela teoria e pela

prática que as circunstancializam. Não se dá e nem se dará num vazio conceitual,

mas sim, dimensionada por um modelo teórico de mundo e de educação traduzido

em prática pedagógica.

[...] o atual exercício da avaliação escolar não está sendo efetuado gratuitamente. Está a serviço de uma pedagogia, que nada mais é do que uma concepção teórica da educação, que, por sua vez, traduz uma concepção teórica da sociedade. (LUCKESI, 2005, p.28).

Diante do exposto do autor, se faz necessário questionar se todos os

educadores têm essa consciência e estão embasados teoricamente em uma

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pedagogia, fruto de pesquisa de autores competentes que analisaram a sociedade,

os homens e a educação em uma perspectiva histórica? Ou trabalham no achismo?

O mais intrigante ainda: será que estamos conscientes, embasados

teoricamente em uma pedagogia que propõe uma educação em favor ou contra as

aspirações do homem de hoje?

Numa sociedade de classes, não há espaço para a neutralidade: posicionar-se como neutro, diante dos interesses conflitantes, é estar a favor da classe dominante, que não quer que outros interesses prevaleçam sobre os seus. Afinal de contas, a favor de quem, contra quem se coloca nossa escola, o trabalho de cada educador? (VASCONCELLOS, 2005, p. 56).

A citação acima, nos leva a refletir sobre o Projeto Político Pedagógico,

documento que organiza todo o trabalho pedagógico dentro da escola e que traz em

seu corpo, objetivos da educação escolar, a concepção de educação, de homem, de

sociedade etc. Não podemos agir com indiferença ao tipo de homem e de sociedade

que se deseja formar. Precisamos refletir sobre a nossa prática efetiva e a proposta

de educação registrada neste documento. Nas palavras de Vasconcellos:

“Evidentemente, o sentido dado pelo professor à avaliação está intimamente

relacionado à sua concepção de educação:” (VASCONCELLOS, 2005, p.56)

Concepção Tarefa Transmissor => Transmitir e fiscalizar a absorção do transmitido Avaliação = Controle/Coerção Professor Educador => Ensinar e fazer tudo para que o aluno aprenda Avaliação = Acompanhamento/Ajuda

- Esquema: Postura do professor frente ao Ensino e à Avaliação

O que pode estar acontecendo segundo Luckesi (2005) é que, hoje, se

exercite a atual prática da avaliação da aprendizagem escolar ingênua e

inconscientemente, como se ela não estivesse a serviço de um modelo teórico de

sociedade e de educação, como se ela fosse uma atividade neutra. Postura essa

que segundo ele indica uma defasagem no entendimento e na compreensão da

prática social.

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Luckesi chama atenção para o que poderá estar ocorrendo com o avaliador:

ingenuidade, inconsciência, defasagem no entendimento e na compreensão da

prática social. No entanto é fundamental que o professor tenha clareza da teoria

pedagógica que fundamenta a sua prática. A ingenuidade, ou a ausência de uma

concepção clara da teoria que orienta e encaminha a prática pedagógica, dificulta o

trabalho do professor, impedindo um posicionamento consciente e até uma prática

coerente com as necessidades, os anseios e as aspirações do homem atual e a

democratização da escola.

Diante do exposto achamos por bem retomar a questão da avaliação

partindo de uma retrospectiva histórica da mesma no interior das diferentes

tendências pedagógicas a partir da Idade Contemporânea. Pois a avaliação tem um

sentido e um papel muito amplo e vem refletindo uma teoria educativa de ensino-

aprendizagem. O professor, por sua vez, precisa ter clareza dos objetivos de seu

trabalho, de onde quer chegar e quais as consequências de suas ações.

Segundo Luckesi o modelo liberal conservador da sociedade produziu três

pedagogias diferentes, mas relacionadas entre si com um mesmo propósito

conservar a sociedade, garantir o sistema social na sua integridade.

A pedagogia tradicional, centrada no intelecto, na transmissão do conteúdo e

na pessoa do professor; a pedagogia renovada ou escolanovista, centrada nos

sentimentos, na espontaneidade da produção do conhecimento e no educando com

suas diferenças individuais; e a pedagogia tecnicista, centrada na exacerbação dos

meios técnicos de transmissão e apreensão dos conteúdos e no princípio do

rendimento. Todas são traduções do modelo liberal conservador da nossa

sociedade, tentando produzir sem conseguir, a equalização social, pois há garantia

de que todos são formalmente iguais. (Luckesi, 2005, apud Saviani, 1983).

A desejada e legalmente definida equalização social não pode acontecer,

porque o modelo social não o permite. As três pedagogias citadas acima movendo

dentro do modelo social conservador não poderiam propor e nem tentar ultrapassá-

lo, já que os elementos dessas três pedagogias é garantir o sistema social na sua

integridade.

Todavia, no seio e contexto da prática social liberal conservadora, surge o

desejo de um modelo social em que a igualdade entre os seres humanos e a sua

liberdade saísse da lei para a realidade. Foi-se formulando um entendimento

socializante da sociedade e uma nova pedagogia foi nascendo para este modelo

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social. Nesse contexto, sobressai a pedagogia denominada libertadora, fundada e

representada pelo pensamento e prática pedagógica inspirada nas atividades de

Paulo Freire. Pedagogia marcada pela ideia de que a transformação virá pela

emancipação das camadas populares, que se define pelo processo de

conscientização cultural e política fora dos muros da escola, por isso destinada

fundamentalmente para a Educação de Jovens e Adultos.

Luckesi (2005), nos traz a lembrança que também há entre nós a

manifestação da pedagogia libertária, através das contribuições dos anti-autoritários

e autogestionários defensores da escola como instrumento de conscientização e

organização política dos educandos. E recentemente formula-se a pedagogia dos

conteúdos socioculturais, representada pelo professor Demerval Saviani e seu

grupo. Centrada na ideia de igualdade, de oportunidade de educação para todos e

na prática educacional voltada a transmissão e assimilação dos conteúdos de

conhecimentos sistematizados pela humanidade e na aquisição de habilidades de

assimilação e transformação desses conteúdos no contexto de uma prática social.

Por meio da utilização de uma expressão de Paulo Freire (1975), Luckesi

(2005) resume em dois grupos as pedagogias: As pedagogias de domesticação e

as de humanização. Sendo que as pedagogias de domesticação pretendem a

conservação da sociedade e enquadram os educandos em um modelo social

(reprodução e conservação social) e as pedagogias de humanização volta-se a

perspectivas de transformação social, oferecendo ao educando meios pelos quais

possam ser sujeitos do processo e não objeto de ajustamento. Esses dois grupos de

pedagogias, circunstancializados pelos dois modelos sociais, exigem duas práticas

diferentes de avaliação. Dentro do modelo liberal conservador a avaliação se

manifestará de forma autoritária, pois esse caráter pertence à essência dessa

perspectiva de sociedade, que exige controle e enquadramento dos indivíduos nos

parâmetros pré-estabelecido de equilibro social. A avaliação aí será um instrumento

disciplinador. A prática da avaliação, nas pedagogias preocupadas com a

transformação social procurará superar o autoritarismo e estabelecer a autonomia

do indivíduo, pois o novo modelo exige a participação de todos. Nesse contexto a

avaliação deverá manifestar-se como mecanismo de diagnóstico da situação, tendo

em vista o avanço e o crescimento e não a estagnação.

Assim, evidencia-se que a avaliação escolar pode estar tanto a serviço da

manutenção de uma sociedade indesejada que aí está, ou atenta ao avanço, ao

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crescimento, a autonomia do educando e a transformação da sociedade a favor do

ser humano.

Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento, terá de se situar e estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social e não com a sua conservação. (LUCKESI, 2005, p. 42).

Portanto, o autor destaca que o educador que estiver disposto a dar um

novo encaminhamento à prática da avaliação escolar deverá estar preocupado em

definir ou redefinir os rumos de sua ação pedagógica, pois ela não é neutra. Ela se

insere num contexto maior e está a serviço dele. Logo o primeiro passo fundamental

segundo ele para redirecionar os caminhos da prática da avaliação é assumir um

posicionamento pedagógico claro e explícito.

Um educador, que se preocupa com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explicita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. (LUCKESI, 2005, p. 46).

Decorrente desse passo um segundo ponto fundamental como proposta de

ação é a conversão, entendida como conscientização de todos educadores para

novos rumos da prática educacional. Apenas entender a necessidade de uma nova

pedagogia e da mudança da prática da avaliação não é o suficiente. Faz-se

necessário que o entendimento, venha unido à compreensão dos novos rumos e de

sua tradução na prática educativa. A teoria e a prática mesmo sendo distintas unem-

se na ação para a transformação. E para que aconteça a conversão em cada um de

nós, precisa-se significação da tradução histórica, pessoal, da teoria em prática.

O último aspecto que o autor considera, refere-se à avaliação em sua

essência constitutiva. Isto é que ela dimensionada por uma pedagogia que visa a

transformação seja efetivamente um julgamento de valor sobre manifestações

relevantes da realidade, para uma tomada de decisão. As manifestações relevantes

da realidade seria o que se propõem como objetivo maior. Assim, a avaliação estará

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se propondo a atingir esse objetivo maior que é a transformação social. Coloca

também, como elemento essencial, para que se dê à avaliação educacional escolar

um rumo oposto ao que vem acontecendo o resgate de sua função diagnóstica. Para

isso a avaliação deverá ser um instrumento dialético do avanço, de identificação de

novos rumos, de reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos

caminhos a serem percorridos.

Conduzir a uma tomada de decisão exige um posicionamento de não

indiferença sobre os resultados obtidos, significa obrigatoriedade de uma tomada de

decisão sobre o objeto avaliado durante o processo de ensino aprendizagem.

Com função classificatória, a avaliação constitui-se num instrumento estático e frenador do processo de crescimento; com a função diagnóstica, ao contrário, ela constitui-se num momento dialético do processo de avançar no desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia, do crescimento para a competência etc. (LUCKESI, 2005, p.35).

Como proceder então?

Segundo Luckesi, dependerá de que cada educador assuma ser

companheiro de jornada no processo de formação e capacitação dos educandos no

recôndito de sua sala de aula. Isso implica relação de reciprocidade (LUCKESI,

2005)

Diante do exposto entendemos que nesta concepção o professor assume o

papel de observador que investiga quais as dificuldades os alunos enfrentam e por

que: estudando suas produções, sua respostas, dialogando com eles sobre o que os

levou a dar tal resposta ou a produzir de tal forma e não de outra, ouvindo suas

argumentações ele vai descobrir o que está emperrando o processo. Só assim o

professor irá perceber o que os alunos não entenderam, porque interpretaram desta

ou daquela forma o que os levaram a cometer esse ou aquele engano. Ao

compreender a interpretação do aluno o professor poderá organizar melhor seu

trabalho rever sua prática e orientar melhor seus alunos transformando erros

cometidos durante o processo em situações de aprendizagem.

Somente assim, a avaliação será um instrumento de aprendizagem. E

também quando o professor observa e registra constantemente suas observações

durante o processo ensino e aprendizagem e interagem dialogando com os alunos,

partilhando com eles a análise de suas produções e no final do processo leva o

16

aluno a comparar suas primeiras produções com as últimas para que ele possa ver

seus avanços, suas dificuldades, seu crescimento e também para desenvolver neles

a consciência dos progressos feitos em relação às situações anteriores.

A prática escolar predominante hoje se realiza dentro de um modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. (LUCKESI, 2005, p.28 apud ALTHUSSER, S/D; BOURDIEU E PASSERON, 1975).

Para garantir esse modelo social a prática da avaliação manifesta-se de

forma autoritária e está a serviço de uma pedagogia dominante que por sua vez

serve um modelo social dominante identificado como modelo social liberal

conservador (LUCKESI, 2005).

É bom lembrar que apesar de termos um conhecimento relativo das

concepções teóricas de avaliação numa abordagem progressista, somos frutos da

pedagogia tradicional, fomos alfabetizados por ela, recebemos nossa formação e

ensinamos nessa abordagem arraigada em nós durante anos. Sabendo que o

professor traz subjacente à sua prática um posicionamento teórico e esse

posicionamento é consequência de seu aprendizado e convivência num cenário

onde perpassaram várias concepções pedagógicas, concordamos que a prática

escolar predominante hoje, ainda se realiza dentro do modelo teórico que pressupõe

a educação como mecanismo de conservação e reprodução da sociedade, pois

foram as pedagogias que permaneceram por mais tempo no cenário educacional

brasileiro. Isso não parece tão grave para os professores ingênuos, que não têm

consciência das consequências e estragos que vem causando com práticas

ultrapassadas delimitadas por uma pedagogia conservadora que traz uma

concepção teórica de educação como mecanismo de conservação e reprodução

social. De uma pedagogia que talvez tenha sido pensada numa época em que se

desejava manter a sociedade como estava.

Jussara Hoffmann (1993) em seu livro “Avaliação Mediadora” nos fala de

uma dicotomia fortemente estabelecida entre a avaliação na escola e a avaliação em

nossa vida. A avaliação na escola se refere a um sentido diferente da avaliação do

nosso dia-a-dia. Na escola a avaliação acontece num tempo programado (dia de

provas, assinatura de boletins, dia de apresentar resultados), num espaço

17

característico e artificial: classes separadas, professores vigilantes. Contudo, a

avaliação dos nossos atos diários faz referência ao ato de reflexão para mudança,

para tentar melhorar a vida. Fazemos isso diariamente, sem programações ou

registros formais sobre nossos desacertos. Tentamos inúmeras vezes descobrir as

melhores soluções para um determinado problema e amadurecemos com as nossas

frustrantes tentativas.

Segundo a autora, através da formalização do processo perdeu-se o bom

senso em relação ao significado da avaliação. E nos remete à lembrança que o

homem é o único ser provido de razão, portanto, capaz de refletir diante dos seus

atos e agir diferentemente dos outros. Toda e qualquer reflexão parte de uma

relação dialética. É um ciclo de ação-reflexão. Portanto, não dá para separar o agir

e o pensar. Diante do exposto faz-se um questionamento:

Mas não é assim que se imagina que acontece na escola? Há o tempo de agir (dar aulas, explicações, fazer exercícios), separado do tempo de refletir, julgar resultados (corrigir, verificar, atribuir notas e conceitos, fazer pareceres). Os professores dizem que gostam muito de dar aulas, mas não gostam de avaliar! E essa dicotomia é possível, pensando-se no verdadeiro sentido das ações avaliativas? (HOFFMANN, 1993, p. 189).

HOFFMANN (1993) nos leva a perceber que até Deus estabeleceu juízos de

valor sobre sua criação. Ao avaliar o que tinha feito considerou-os muito bons. Mas,

ao perceber o homem sem companheira julgou que não estava tão bom e em

seguida tomou providências. É histórico e bíblico o primeiro juízo de valor, assim

como tomar providências imediatas diante de juízos negativos. Mas a escola,

segundo ela, não toma providências imediatas, ou então se resume nas declarações

dos juízos feitos. Nesse último caso queira ou não o professor, o ciclo ação-reflexão

e ação efetivou-se de qualquer forma. A ação, todavia, teve o grave caráter de

omissão: julgar que não está bom e nada fazer a respeito.

Todas às vezes que a avaliação é utilizada com um fim em si mesma,

quando se avalia e atribui uma nota ou um conceito insuficiente e para ali. A ação foi

omitida. O ciclo foi interrompido.

Mais uma vez a autora nos leva a reflexão:

18

Se a avaliação na vida tem gosto de recomeçar, de partir para melhor, de fazer muitas outras tentativas, por que, na escola, se mantém o significado sentencivo, de constatação, provas de fracasso, periodicidade rígida? (HOFFMANN, 1993, p. 191).

Por via de consequência, sua rigidez e formalização se tornam obstáculo à

espontaneidade natural ao processo ensino-aprendizagem, visto que impede

educador e educando de valorizarem suas dúvidas e verem seus erros como

tentativas de acertos, como etapa natural no seu desenvolvimento.

Na relação dialética, presente na avaliação, o educando confronta-se com o objeto do conhecimento, que o levará a participação ativa, valorizando o fazer e o refletir. Assim, o erro no processo ensino aprendizagem assume caráter mediador, permitindo tanto ao educando como ao educador rever os caminhos para compreender e agir sobre o conhecimento, sendo um ponto de partida para o avanço na investigação e suporte para a internalização. (DCE DA EJA, 2005, p.43).

Nessa perspectiva, o erro dá direção à prática pedagógica, já que permite

aos envolvidos no processo, a percepção do conhecimento construído e

descaracteriza-se o processo de controle enquanto instrumento de aprovação ou

reprovação. E o acerto sinaliza possibilidades de superação dos saberes

apropriados para novos conhecimentos. (DCE DA EJA, 2005)

A avaliação usada no processo de forma contínua, mediadora age em

benefício do educando e acontece pela proximidade entre educador e educando.

“Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me

é possível o diálogo”. (HOFFMANN, 1993, p.191, apud FREIRE,1979, p.94).

Essa afirmação de Paulo Freire nos leva a seguinte reflexão: Se não

amamos, não nos é possível dialogar, se não nos é possível dialogar, seria - nos

possível avaliar? Nos leva também ao professor Luckesi que define a avaliação da

aprendizagem como um ato amoroso. E explica que o ato amoroso acolhe

incondicionalmente, e, se manifesta assim consigo e com os outros e afirma que o

mandamento “ama teu próximo como a ti mesmo” implica o ato amoroso, que

primeiro inclui a si mesmo e, consequentemente pode incluir os outros. Pelo fato da

avaliação como ato amoroso acolher incondicionalmente, tem a característica de

não julgar. Julgamentos poderão aparecer, mas não para excluir. O autor nos traz à

lembrança a passagem de Maria Madalena onde Jesus Cristo a incluiu no seio dos

19

seres humanos comuns enfrentando os fariseus com a frase: “Atire a primeira pedra

quem não tiver pecado.” Com essa expressão, ele a acolheu e pelo fato de ter sido

acolhida ela foi curada no corpo e na alma. E afirma, o acolhimento integra, o

julgamento afasta. O ato amoroso é acolhedor, integrativo, inclusivo.

Defino a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. (LUCKESI, 2005, p. 172).

A avaliação como ato amoroso e função diagnóstica, conforme o autor tem

por objetivo a inclusão e não a exclusão, a inclusão e não a seleção que leva a

exclusão. Já que a partir do diagnóstico a pretensão é incluir o educando pelos mais

variados meios no curso da aprendizagem satisfatória, que integre todas as suas

experiências de vida.

Porém, o autor afirma que a prática escolar usualmente denominada de

avaliação da aprendizagem pouco tem a ver com avaliação. Ela constitui-se muito

mais de provas/exames do que de avaliação. Provas/exames têm por finalidade

verificar o nível de desempenho do aluno em relação ao conteúdo, classificá-lo em

termo de aprovação/reprovação utilizando-se dos conceitos ou notas, separando os

eleitos dos não eleitos. Essa prática exclui uma grande parte dos alunos, e admite

como aceitos outra. Manifesta-se, portanto como uma prática seletiva.

A prática de provas/exames não acontece gratuitamente, está comprometida

com o modelo de prática educativa e, consequentemente, com o modelo de

sociedade a qual serve. E nos informa que essa prática tem sua origem na escola

moderna, do sec. XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa. As

pedagogias jesuíticas (sec.XVI), comeniana (sec.XVII), lassalista (fins do sec.XVII e

inícios do XVIII) são expressões das experiências pedagógicas desse período e

sistematizadora das provas/exames. As provas/exames são expressões desse

período que herdamos do momento histórico que se efetivou a sociedade burguesa,

que se constitui pela exclusão e marginalização de grande parte de seus elementos.

20

A sociedade burguesa é uma sociedade marcada pela exclusão e marginalização de grande parte de seus membros. Ela não se constitui num modelo amoroso de sociedade. Seria sua negação. Basta observar que os slogans da Revolução Francesa (revolução burguesa por excelência), por si, eram amorosos, mas nenhum deles pode ser traduzido em prática histórica concreta dentro dessa sociedade. (LUCKESI, 2005, p. 169).

A lei burguesa definia a liberdade e a igualdade, porém a fraternidade

permaneceu como palavra que o vento levou. Praticar a fraternidade seria negar as

possibilidades da sociedade burguesa de exploração do outro pela apropriação da

parte não paga do seu trabalho. Nesse contexto, explica o autor, a avaliação como

ato amoroso opor-se ia ao modelo de sociedade do qual emergem e no qual se

sustenta. A serviço da sociedade burguesa, como tem sido, a avaliação deve

continuar autoritária, seletiva e por vezes rancorosa.

A denominação avaliação da aprendizagem é recente. Ela é atribuída a

Ralph Tyler, que reivindicou e ganhou o reconhecimento da paternidade, definido o

período de 1930 a 1945 como períodos ”tyleriano” da avaliação da aprendizagem.

Tyler inventou a denominação de avaliação da aprendizagem e juntamente com

outros estudiosos defendeu na prática educativa a ideia de que a avaliação poderia

e deveria subsidiar de forma eficiente o ensino. Todavia mudou a denominação, mas

a prática continuou a mesma, de provas e exames.

Luckesi (2005) cita os estudos de Libâneo, sobre a prática pedagógica dos

professores das escolas públicas de São Paulo quando reconhece que a avaliação

da aprendizagem é o âmbito da ação pedagógica em que os professores são mais

resistentes a mudança. Ele afirma que essa dificuldade de mudança na prática

acontece devido ao fato de que a avaliação, por si, é um ato amoroso e a sociedade

na qual está sendo praticada não é amorosa e, daí, vence a sociedade e não a

avaliação. Em nossa prática escolar, hoje, usamos a denominação de avaliação e

praticamos provas e exames por essas serem mais compatível com o senso comum

exigido pela sociedade burguesa e por isso mais fácil e costumeira de ser

executada.

Provas e exames implicam julgamento, com consequente exclusão, suas

finalidades são compatíveis com a sociedade. Avaliação pressupõe acolhimento,

tendo em vista a transformação da sociedade.

Com a democratização da sociedade brasileira, período em que intensificou

as discussões sobre a escola, cresceu também a crítica às concepções de avaliação

21

ultrapassadas, praticadas nas escolas como um dos fatores que contribui para o

fracasso escolar que exclui um grande número de alunos do acesso à educação ao

conhecimento sistematizado. Essa prática é uma trava para o processo de

democratização da escola, já que constitui - se em obstáculo ao sucesso e

permanência de todos na escola.

Diante disto fez - se necessárias novas concepções de avaliação que

colocadas em práticas pudessem promover a transformação, superar o

autoritarismo, estabelecer a autonomia, favorecer a participação. E reverter o quadro

caótico da seletividade e exclusão, isto é, da repetência e da evasão, contribuindo

para a permanência e o sucesso de todos na escola. Vejamos a seguir um quadro

com o fruto dessas contribuições defendido por grandes e renomados teóricos como

Luckesi, Hoffmann, Vasconcellos, Haydt, Libâneo, Perrenoud, entre outros.

Proposta (modalidade)

Função Propósito

(para que usar) Época

(quando aplicar)

Diagnóstica Diagnosticar

- Verificar a presença ou ausência de pré-

requisitos para novas aprendizagens;

- Detectar dificuldades específicas de aprendizagem,

tentando identificar suas causas;

Início do ano ou semestre letivos, ou

no início de uma nova unidade de

ensino;

Formativa Controlar

- Constatar se os objetivos

estabelecidos foram alcançados pelos

alunos; - Fornecer dados para aperfeiçoar o processo ensino-aprendizagem;

Durante o ano letivo, isto é, ao longo do processo ensino-aprendizagem;

Cumulativa ou somativa

Classificar

Classificar os resultados de aprendizagem

alcançados pelos alunos de acordo com

níveis de aproveitamento estabelecidos;

Ao final de um ano ou semestre letivo, ou

ao final de uma unidade de ensino;

22

Concepções que dão sustentação às propostas de educação numa

perspectiva progressista, que perpassaram pelas políticas educacionais do Estado

do Paraná e, atualmente são propostas para as práticas pedagógicas nas escolas

através de documentos escolares como o Projeto Político Pedagógico, a Proposta

Pedagógica Curricular e o Plano de Trabalho Docente. Documentos fundamentados

nas Diretrizes Curriculares Estaduais. O Projeto Político Pedagógico é fruto de um

trabalho coletivo da comunidade escolar e organiza todo o trabalho pedagógico

dentro da escola. Nele está explícito, a concepção de escola, de educação e indica

que tipo de homem se quer formar para que tipo de sociedade se deseja construir

em consonância com as Diretrizes Curriculares para a Educação Básica que:

Propõe-se formar sujeitos que construam sentidos para o mundo, que compreendam criticamente o contexto social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam capazes de uma inserção cidadã e transformadora da sociedade. (DCEB, de Língua Portuguesa, 2008, p. 31).

Diante do proposto a avaliação visa contribuir para compreensão das

dificuldades de aprendizagem dos alunos, objetivando as mudanças necessárias

para que a aprendizagem se efetive e a escola cumpra a sua função social no atual

contexto histórico.

Portanto, no processo educativo, a avaliação deve servir tanto como meio

diagnóstico do processo ensino-aprendizagem, quanto como instrumento de

investigação da prática pedagógica, assumindo uma dimensão formadora, já que o

fim desse processo é a aprendizagem. Sendo assim, não há sentido em processos

avaliativos que apenas constatam o que o aluno aprendeu ou não e o faz refém

dessas constatações, tomadas como sentenças definitivas. Se a proposta curricular

busca a formação de sujeitos que se apropriem do conhecimento para aprender as

relações humanas, suas contradições e conflitos, logo a ação pedagógica que se

realiza em sala de aula precisa contribuir para essa formação. (DCE, 2008)

Nessa perspectiva, entendemos que está se propondo uma nova cultura

avaliativa, que propicia à escola refletir sobre seu papel diante da sociedade e

comprometer-se no sentido de cumprir sua função social na construção e

socialização de um conhecimento emancipatório. E para isso, a avaliação não

poderá ser um fim, em si mesma, usada como instrumento somente para classificar

23

os alunos, aprová-los ou reprová-los no final do processo. Mas, deve fazer parte

integrante do trabalho realizado em sala de aula, no cotidiano escolar. Deve ser

concebida como um instrumento para ajudar o aluno aprender mais e o professor

ensinar melhor. Pois a partir do permanente diagnóstico resultado das avaliações

formativas, contínuas que acontece durante o processo, o professor poderá rever

seus procedimentos e replanejar seu trabalho e os alunos poderão perceber os

avanços e dificuldades rumo à aprendizagem.

Haydt (2002) reconhece que num sistema escolar seriado como o nosso,

onde se faz necessário promover os alunos de série, grau e curso, de acordo com o

aproveitamento e nível de conhecimento alcançado nas disciplinas é necessário

utilizar a avaliação somativa com função classificatória. Pois ela consiste em

classificar os resultados da aprendizagem alcançados pelos alunos num final de

semestre, ano ou curso, de acordo com o nível de aproveitamento pré-estabelecido.

É através da avaliação somativa que atribui ao aluno uma nota ou conceito final para

fins de promoção. Porém, nos recomenda eliminar comparações entre alunos,

fazendo com que os resultados da aprendizagem se refiram a critérios pré-

estabelecidos (através dos objetivos) ou ao empenho anterior do próprio educando.

E nos traz a lembrança que a avaliação somativa supõe comparação e que a ênfase

no aspecto comparativo é própria da escola tradicional, no entanto, atualmente, com

a expansão qualitativa da educação, a avaliação, está perdendo seu caráter seletivo

e competitivo, para se tornar orientadora e cooperativa.

A avaliação não deve ser utilizada como instrumento corretivo e punitivo nas

escolas, mas deve ser utilizada como instrumentos de estímulo e motivação, de

forma que o aluno perceba-se no processo e atinja com esforço os objetivos

propostos, sem tortura e nem punição. Pois, o aluno conhecendo os resultados de

sua aprendizagem, logo após o término da prova saberá seus acertos e erros e

quantos mais forem imediatos esse conhecimento de seus erros, mais rápido

buscará corrigi-los e aperfeiçoá-los. (HAYDT, 2002)

Diante de tudo que foi visto até aqui sobre a avaliação diagnóstica, formativa

e somativa concluímos que o professor deve utilizar adequadamente no tempo certo

essas concepções de avaliação respeitando e utilizando o ciclo dialético de ação-

reflexão-ação levando sempre em conta que os resultados das avaliações avaliam

também o seu trabalho, pois ele faz um planejamento, definem objetivos a serem

alcançados e a avaliação é que vai permitir verificar se foram atingidos aqueles

24

objetivos que se pretendeu alcançar. Portanto, a qualidade fundamental a ser

explorada na avaliação para que ela seja um recurso auxiliar do professor é: indicar

o que foi dominado pelo aluno, o que deve ser revisto, aprofundado, replanejado,

apresentado de outra forma pelo professor e lançar mão de outros recursos.

As avaliações diagnóstica, formativa e somativa aplicadas no seu tempo,

com o propósito para qual cada concepção foi determinada jamais será arma usada

contra o aluno e, sim, um indicador do rendimento do aluno e do professor na

proposta em andamento.

Vimos no decorrer dessa pesquisa que os grandes teóricos, estudiosos em

avaliação procuram desvendar as tramas dessa prática que vem sendo exercitada

em nossas escolas definindo-as como práticas ameaçadoras, autoritárias e

seletivas. Denunciando o processo de exclusão que a prática de avaliação da

aprendizagem escolar vem exercitando em relação aos educandos. Mas, sempre

anunciando possibilidades de ação para redirecionar os caminhos da prática

avaliativa, apontando que para isso precisamos assumir um posicionamento

pedagógico claro e explícito e nos chamam à conversão entendida como

conscientização para novos rumos da prática educacional.

“Teoria e prática, apesar de serem abstratamente distinguíveis, formam uma

unidade na ação para a transformação.” (LUCKESI, 2005, p 43).

Apenas entender a necessidade de uma nova pedagogia e da mudança não

é suficiente. É necessário que esse entendimento venha unido da vontade, do

desejo de agir.

“Novas ideias abrem possibilidades de mudança, mas não mudam. O que

muda a realidade é a prática”. (VASCONCELLOS, 2005, p. 65).

3. Intervenção Pedagógica na Escola

A Implementação do projeto de intervenção ocorreu no Colégio Estadual

Paraná EFMP, com 21 cursistas, pedagogos, professores e o diretor do colégio. A

carga horária foi de 40 horas, sendo 32 horas presenciais distribuídas em 4 dias

alternados, realizados no período matutino e vespertino e 8 horas extra-classe

destinados a leitura dos materiais e intervenção dos professores junto aos alunos.

25

No primeiro encontro iniciamos com a leitura do poema: ” O pensamento” de

Rubem Alves. Após a leitura do poema, pensamos e voamos sobre o que não

sabemos, ou sobre o que sabemos de forma sincrética, como diz o professor

Gasparin.

Promovemos um exercício de reflexão que se encontra nas páginas 6,7 e 8

da Produção Didático-Pedagógica. Isso nos levou a perceber, certo receio, por

parte da maioria dos cursistas, medo de mostrar o que acreditam que sabem e estar

errados. Fizemos uma reflexão sobre aquela inteligente frase de Aristóteles “ Sábio

é aquele que sabe que não sabe tudo.” Falamos das nossas dificuldades, lembrando

que, quanto mais se estuda, mais se percebe o tamanho da ignorância. E que o

principal objetivo desse trabalho é justamente buscar suporte teórico que nos traga

clareza para fazer nossas escolhas. Eles se soltaram e retomamos nosso trabalho.

A partir daí foi apresentado sucessivamente aos cursistas o capítulo que

seria trabalhado no dia. Dialogando com eles sobre o tema, buscando verificar qual

domínio eles já possuem e que uso fazem do conteúdo na prática social cotidiana,

procurando contextualizar o conteúdo ou tema a ser trabalhado e utilizando um

levantamento de questões envolvendo essa temática.

Essas questões orientaram todo o trabalho desenvolvido, as discussões dos

problemas que tem origem na prática social, mas que procedem dos conteúdos a

serem trabalhados. Foram questões que nos levaram a questionar o conteúdo

relacionado à prática social em função dos problemas que precisam ser resolvidos

no cotidiano escolar e também serviram como fio condutor de atividades que os

cursistas desenvolveram no processo de construção do conhecimento teórico.

A medida que cada capítulo foram sendo trabalhados através de ações

didático pedagógica diversificadas e necessárias na construção do conhecimento,

fomos respondendo questões levantadas e selecionadas na problematização.

Esses momentos nos levaram a pensar, a refletir, estabelecer relações,

analisar, levantar hipóteses, deduzir, discutir, e comparar as concepções teóricas

com a prática efetiva do dia a dia.

A intenção é consolidar a relação entre o pensar e o fazer, entre a teoria e a

prática numa relação indissociável que alguns autores chamam de Práxis

pedagógica, já que: “Teoria e prática, apesar de serem abstratamente distinguíveis,

formam uma unidade na ação para a transformação.” (LUCKESI,2005,p. 43).

26

Acreditamos ter conseguido atingir o objetivo em relação a primeira ação

possibilitando a percepção real de como está nossa formação para o trabalho

educativo, como estamos de conhecimentos teóricos.

Percebemos o embaraço dos cursistas diante da realidade confrontada e o

interesse deles em saber mais mediante perguntas, indagações e participação ativa

nas ações e atividades propostas em cada capítulo. Ainda no primeiro encontro

brincamos de problematizar a problematização e estudamos o capítulo 6. Iniciamos

pelo capítulo 6 devido ao tempo e o conteúdo do capítulo que precisávamos utilizar

na intervenção dos professores junto aos alunos. (Orientação para intervenção com

alunos páginas 38 e 39 da produção)

Esse capítulo merece destaque, não somente por despertar o interesse dos

cursistas, porque isso aconteceu em todos os capítulos, mas por arrancar

depoimentos tipo: ainda não tinha clareza sobre as concepções de avaliação

diagnóstica, formativa e cumulativa ou somativa e não sabia utilizá-las

adequadamente com suas funções, propósito e época de se aplicar cada

concepção. E também por ter levado os professores cursistas a redirecionarem suas

práticas avaliativas e influenciarem os colegas mediante depoimentos de conclusões

tiradas após o curso e suas intervenções com alunos.

No segundo encontro iniciamos no capítulo um, onde estudamos e refletimos sobre

uma Análise histórica da sociedade e da avaliação a partir da visão grega até a

visão contemporânea e continuamos sucessivamente até o capítulo 5 estudando,

analisando e refletindo sobre: a avaliação escolar e as diferentes tendências

pedagógica; alguns passos fundamentais para um novo encaminhamento da prática

de avaliação escolar; a prática de avaliação predominante atualmente nas escolas;

avaliação como ato amoroso e avaliação/provas/exames. O estudo desses capítulos

nos levaram a perceber que como a educação, os métodos e a avaliação

correspondem ás necessidades de cada momento histórico, estamos

desatualizados, pois a prática de avaliação na escola atualmente continua se

realizando dentro de um modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação

como mecanismo de conservação e reprodução da sociedade.

A prática escolar predominante hoje se realiza dentro de um modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como mecanismo de conservação e reprodução da sociedade. (LUCKESI, 2005, p.28 apud ALTHUSSER, S/D; BOURDIEU E PASSERON, 1975).

27

No entanto, o homem deseja evidentemente uma sociedade mais justa.

“O problema de hoje é, sim, o problema de ontem que não foi equacionado: a

igualdade humana dentro de uma sociedade de abundância.”(SEED, PR,1985 p 09).

Logo estamos repetindo os erros cometidos contra os homens de forma

contínua e sistemática. “Como pode haver seriedade nas avaliações se não são

reconhecidos - pelos avaliadores - os erros contra os homens, cometidos de forma

continua e sistemática?” (SEED, 1985, p.20).

A sociedade mudou, não podemos avaliar os alunos do século XXI, como

fomos avaliados ou como se avaliavam no século XVI e XVII, são depoimentos de

professores cursistas. A prática de provas/exames não acontece gratuitamente, está

comprometida com o modelo de prática educativa e, conseqüentemente, com o

modelo de sociedade a qual serve. Essa prática tem sua origem na escola

moderna, do sec. XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa (LUCKESI,

2005)

O estudo da avaliação escolar e as diferentes tendências pedagógicas

permitiu aos professores cursistas se situarem teoricamente e posicionar-se

conscientemente, com clareza na escolha da Tendência Pedagógica que

fundamentará sua prática avaliativa.

Um educador, que se preocupa com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma decisão clara e explicita do que está fazendo e para onde possivelmente está encaminhando os resultados de sua ação. (LUCKESI, 2005, p. 46).

As ações propostas em cada encontro, foram de extrema relevância na intervenção

pedagógica, pois possibilitou uma ampla reflexão acerca da nossa prática

pedagógica, bem como, da teoria a qual tem embasado nosso trabalho, sua validade

para a época em que foi pensada e suas consequências na atualidade, nos levou a

perceber se estamos trabalhando em favor ou contra as aspirações dos homens de

hoje, se nossa prática avaliativa é inclusiva ou exclusiva.

28

Defino a avaliação da aprendizagem como um ato amoroso, no sentido de que a avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só então), ajuizar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se necessário. (LUCKESI, 2005, p. 172).

A avaliação como ato amoroso e função diagnóstica, conforme o autor tem

por objetivo a inclusão e não a exclusão, a inclusão e não a seleção que leva a

exclusão. Já que a partir do diagnóstico a pretensão é incluir o educando pelos mais

variados meios no curso da aprendizagem satisfatória, que integre todas as suas

experiências de vida.

Uma das etapas ou exigência do Programa PDE mais surpreendente foi a

implementação do projeto, ouve uma aceitação em massa por parte dos cursistas,

demonstração de interesse, participação ativa em todas as ações e atividades

propostas, perguntas, indagações e contribuição com reflexões e colocações.

No final do quarto encontro, após o trabalho com o último capítulo aflorou

emoção, valorização do trabalho aos olhos dos colegas cursistas demonstrados com

aplausos, abraços, palavras de agradecimentos, incentivos e propósito de

mudanças na prática avaliativa.

Na semana pedagógica de 2012 foi nos sugerido alguns temas para se

trabalhar oficinas, optamos por trabalhar com o tema avaliação. Trabalhamos uma

entrevista do professor Luckesi, que reforça o que foi trabalhado durante a

intervenção pedagógica na escola e passamos para o todo coletivo escolar, parte

do trabalho feito na intervenção. Após leituras, discussões, reflexões e comparações

das concepções teórica com a prática efetiva do dia a dia, decidimos, coletivamente

redirecionar nossa prática avaliativa e deixamos essa decisão registrada em livro

ata na escola.

As ações realizadas e os objetivos almejados nos quatro encontros durante

a intervenção se encontra no cronograma de ações que inicia na página seguinte.

29

AÇÃO Nº

DATA AÇÃO OBJETIVOS

1 16/08/2011 - Leitura do Poema: O

“Pensamento” de Rubem Alves e

Exercícios de reflexão (páginas 6, 7

e 8 da Produção)

- Leitura do cap.6 - A

democratização da sociedade

brasileira, as novas concepções de

avaliação e as DCEs

-Possibilitar a percepção real de

nosso saber teórico e despertar-

nos a buscar formação para o

trabalho educativo, saber

pedagógico que direciona nossas

ações e nos dá clareza em nossas

escolhas metodológicas, buscando

qualificação nos estudos teóricos.

- Classificar as concepções de

avaliação (diagnóstica, formativa e

somativa), identificando a função,

propósito e época de se aplicar

cada concepção. Objetivando a

utilização adequada de cada

concepção por parte dos

professores.

- Instigar, impulsionar os cursistas,

buscando suporte teórico que os -

leve, a compreensão que a

avaliação é uma contribuição para

a compreensão das dificuldades de

aprendizagem dos alunos,

objetivando as mudanças

necessárias para que a

aprendizagem se efetive e a escola

cumpra sua função social no atual

contexto histórico.

- Atividades referentes ao capítulo

estudado

- Verificar o domínio que os

cursitas, já possuem e que uso

eles fazem do conteúdo na prática

social cotidiana, dar direção ao

trabalho pedagógico a ser

desenvolvido e servirão também

30

como fio condutor de ações que os

cursistas desenvolverão no

processo de construção do

conhecimento.

2 19/09/2011 - Leitura do cap.1 - Análise histórica

da sociedade e da avaliação a

partir da visão grega até a visão

contemporânea

- Identificar a visão de homem, de

trabalho, de sociedade, de

desigualdade e de avaliação a

partir da visão grega até a visão

contemporânea, com o propósito

de perceber os erros cometidos de

forma contínua e sistemática contra

os homens no decorrer da história.

- Conhecer e refletir criticamente

sobre a sociedade que temos. E

intencionalmente, planejadamente

agir em busca da sociedade que

queremos, definindo o que é útil,

necessário e importante para que

os homens tenham sua

humanização garantida.

- Atividades referentes ao capítulo

estudado

- Idem aos objetivos das atividades

do cap.6

3 07/10/2011 - Leitura do cap.2 e 3 - A avaliação

escolar e as diferentes tendências

pedagógicas e alguns passos

fundamentais para um novo

encaminhamento da prática de

avaliação escolar

- Analisar as Tendências

pedagógicas para que possamos

identificar o modelo teórico de

sociedade e de educação de cada

concepção e nos posicionar

conscientemente e com clareza na

escolha da Tendência pedagógica

que continuará fundamentando a

nossa prática avaliativa.

- Buscar clareza e compreensão de

novos rumos para redirecionar os

31

4. O grupo de Trabalho em Rede

O grupo de trabalho em Rede, ( GTR) constitui uma das atividades do PDE e

caracteriza – se pela interação à distância entre o professor PDE e os demais

professores da Rede Pública Estadual, cujo objetivo é a socialização e discussão

das produções e atividades desenvolvidas.

Iniciamos nosso Grupo de Trabalho em Rede com dez cursistas, pedagogas

e professoras. Dessas, duas delas só entraram uma vez, todavia não se

apresentaram, nem postaram nada. Uma iniciou a temática 1, porém não terminou.

As sete restantes fizeram todas as atividades do Fórum e Diário, interagiram com as

colegas fizeram a temática 1, 2 e 3, portanto, concluíram o curso.

O Grupo acredita que algumas das causas do distanciamento entre a teoria

e a prática são:

Agir inconscientemente e irrefletidamente;

O fato do professor não ter entendimento, compreensão clara do que

está escrito nos documentos escolares dificulta a transposição da teoria para a

prática no dia-a-dia;

A falta de embasamento que venha fundamentar nossas ações e trazer

clareza e direção para nossas escolhas metodológicas;

caminhos da prática avaliativa,

dimensionada por uma pedagogia

que visa á transformação social.

- Atividades referentes ao capítulo

estudado

- Idem aos objetivos das atividades

dos capítulos anteriores

4 21/10/2011 - Leitura do cap.4 e 5 – A prática de

avaliação predominante atualmente

nas escolas, avaliação como ato

amoroso e

avaliação/provas/exames.

- Refletir criticamente sobre a

prática escolar predominante

atualmente nas escolas, seu

modelo teórico, sua validade para a

época em que foi pensada e suas

consequências na atualidade.

- Atividades referentes ao capítulo

estudado

- Idem aos objetivos das atividades

dos capítulos anteriores.

32

Praticar a avaliação só para atribuir notas e classificar os alunos, não

levando em conta o trabalho, a prática do professor;

Desvincular a avaliação do processo de ensino-aprendizagem;

Não utilizar os erros dos alunos para retomar conteúdos, elaborar

novas atividades, redirecionar a prática pedagógica;

Avaliar os alunos de hoje como eram avaliados os alunos do século

XVI e XVII;

A falta de vontade, do desejo de agir, por parte de alguns professores;

O fato de muitos professores não terem clareza da teoria pedagógica

que fundamenta a sua prática, isso dificulta o seu trabalho e impede um

posicionamento consciente e uma prática coerente com as necessidades, anseios,

aspirações do homem atual e da democratização da escola.

Na temática 2 no Fórum de discussão as cursistas postaram suas

observações, referente à Produção Didático–Pedagógica e no Diário escreveram

sobre a relevância das ações e atividades propostas na Produção para a realidade

da escola pública.

As observações postadas pelo grupo no fórum e no diário, referente à

Produção Didático-Pedagógica foram de grande valia na avaliação do nosso

trabalho. Muitos elogios justificados com inteligentes e convincentes observações e

colocações, que nos levaram a perceber que as cursistas fizeram a leitura e tiveram

uma ótima compreensão do conteúdo dos materiais postados. Entenderam o

enunciado das questões e apropriaram novos conhecimentos, informações que com

certeza vem acrescentar o seu saber pedagógico e trazer clareza para suas

escolhas metodológicas. E acreditam na relevância das ações e atividades

propostas na Produção para a realidade da escola pública.

Na temática 3 socializamos com o grupo os avanços e desafios enfrentado

durante a fase de Implementação Pedagógica. Relatamos experiências e os

resultados observados no desenvolvimento do projeto na escola. Cada cursista fez

sua reflexão e deu sua opinião sobre os resultados que apresentamos, e trouxe

inteligentes e significativas contribuições para o debate.

No Fórum Vivenciando a Prática recebemos excelentes sugestões para

trabalhar com professores na hora atividade ou em reuniões pedagógicas. Houve

também quem utilizou ações que foram trabalhadas na implementação para

33

trabalhar em suas escolas. Assim como houve professores cursistas que utilizaram a

sugestão de Intervenção com alunos, da página, 38 da Produção Didático-

Pedagógica e aplicaram em suas escolas.

Todas as cursistas contribuíram efetivamente para o sucesso de nosso

Grupo de Trabalho em Rede. Através da socialização de conhecimentos, das

discussões, opiniões, observações referentes às produções e as atividades e ações

desenvolvidas. E nos deixaram sugestões e experiências de grande valia para o

nosso trabalho.

Essa troca de experiências e sugestões nos proporcionaram um suporte

maior para trabalhar com professores em nossas escolas, nos acrescentaram novos

conhecimentos e ampliaram a nossa visão para o que vem acontecendo em outras

escolas do Paraná.

5. Conclusão

O Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná

PDE/PR, um importante avanço na sua consolidação como política de formação

continuada articulada à progressão na carreira, vem transformando a Educação

Pública no Estado. Aproximando a Educação Básica e o Ensino Superior,

viabilizando uma interação entre os professores da Educação Básica da Escola

Pública e os professores do Ensino Superior nas Universidades. Possibilitando aos

professores da Escola Pública momentos de estudos, pesquisas e produções, sob a

orientação de professores universitários. E posteriormente intervenções em suas

escolas.

Enfim, o PDE abriu caminho para instrumentalizar teoricamente os

professores da Educação Básica, ofertando – lhes atividades como: Seminários,

Cursos, Encontros de Orientação, Encontros de área, Formação Tecnológica

presencial, Formação Tecnológica à distância(tutoria) e Grupo de Trabalho em Rede

(GTR). Constitui também como atividades obrigatórias do Programa: a produção do

Projeto de intervenção na Escola que foi elaborado a partir da intenção manifestada

pelo professor PDE e do diagnóstico realizado em sua escola de atuação; a

Produção didático–Pedagógica, elaborado para utilização no processo de

implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola e este Artigo

34

centrado nos resultados observados durante as atividades e a fase de

Implementação do Projeto.

No decorrer das atividades propostas pelo Programa PDE, aprendemos,

crescemos, e superamos limites como: disciplina para estudar, pesquisar e produzir.

Durante a intervenção pedagógica na escola observamos na prática o que

os grandes e renomados teóricos pesquisados afirmam na teoria, podemos perceber

através dos exercícios de reflexão e das respostas a questionamentos e ações

propostas, a falta de embasamento teórico por parte de um grande número de

professores cursistas. Dos 21 professores cursitas apenas 2 aproximaram da

resposta correta diante da pergunta: Qual o fundamento teórico metodológico que dá

embasamento para as Diretrizes Curriculares Estaduais e que chega, ou, deveria

chegar até nossas salas de aula e quais os documentos ele perpassa? Vamos

pensar, responder e apresentar esse caminho através de um cronograma.

Isso significa que a maioria desconhecem o fundamento teórico

metodológico que dá embasamento para o trabalho escolar e os documentos que

organiza esse trabalho pedagógico na escola e que deveria fundamentar seu Plano

de Trabalho Docente( DCEs, PPP, PPC). Fica evidente também pelas suas

respostas a questionamentos utilizados antes de iniciar o estudo de cada capítulo:

A falta de clareza quanto a classificação das concepções de avaliação

diagnóstica, formativa e somativa, suas funções, propósito e época de se aplicar

cada concepção;

A falta de reflexão crítica e de consciência em relação à avaliação em

sua essência constitutiva. Há uma grande defasagem no entendimento e na

compreensão da prática social;

A falta de conhecimento, reflexão e clareza da teoria ou tendência

pedagógica que deveria fundamentar sua prática avaliativa;

Acreditamos que através da socialização dos conhecimentos teóricos na

escola e no Grupo de Trabalho em Rede, alcançamos objetivos propostos no projeto

e nas ações. Recebemos clareza para escolher conscientemente nossas

metodologias e tendência pedagógica que fundamentam e dá direção para nossa

prática. E esperamos que esse trabalho venha consolidar a relação entre a teoria e a

prática em uma práxis pedagógica, isto é, que todos educadores cursistas sintam a

necessidade da ação, da reflexão e evidentemente da nova ação, renovada pela

reflexão teórica diante de um resultado negativo.

35

Que possamos assumir um posicionamento pedagógico claro, explícito e

consciente sobre nossa prática avaliativa e aceitar o desafio lançado, pelos grandes

e respeitados teóricos. Colocando em prática o que aprendemos teoricamente que

venha contribuir para a aprendizagem dos alunos e para a transformação da

sociedade.

REFERÊNCIAS:

Deliberação nº007/99. Conselho Estadual de Educação. Estado do Paraná.

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná. Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2008.

Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos do Estado do Paraná. Secretaria de Estado do Paraná, 2005.

HAYDT, Cazaux Regina. Avaliação do Processo ensino-aprendizagem. 6 ed. São Paulo: Ática, 2002.

HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação Mediadora. Uma prática em construção da pré-escola à universidade. Educação & Realidade. Porto Alegre RS. 1993.

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9394/96. Conselho Nacional de Educação,1996.

LIBÂNEO, José Carlos, Didática, São Paulo, SP: Cortez, 2004.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação e Aprendizagem Escolar: estudos e proposições – 17 ed. - São Paulo: Cortez, 2005.

NAGEL, Lizia Helena. Avaliação, Sociedade e Escola: Fundamentos para reflexão. SEED, Curitiba: 1985.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção dialética libertadora do processo de avaliação escolar – 15 ed. São Paulo, SP: Libertad, 2005. http://pensador.uol.com.br/frase/MTgyMTA/, acessado em 10/02/2010