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CONCEPÇÕES DE ENSINO E APRENDIZAGEM, MODELOS PEDAGÓGICOS E A IDEIA DE CONFIGURAÇÃO EPISTEMOLÓGICA José Dilson Beserra Cavalcanti 1 Anna Paula Avelar Brito Lima 2 RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade apresentar a ideia de Configuração Epistemológica com framework teórico para análise do ensino e aprendizagem da Matemática. Abordamos inicialmente uma discussão dos modelos pedagógicos proposta por Becker (2000) e das concepções de ensino e aprendizagem da Matemática abordadas por Câmara dos Santos (2002). Em seguida, situamos a ideia de configuração epistemológica no campo da Epistemologia e Didática da Matemática, delineando-a como uma rede de teorias interconectadas. As teorias consideradas de maneira articuladas como bases dessa ideia foram a Transposição Didática e as noções teóricas do Contrato Didático e da Relação ao Saber. Palavras-chave: Modelos pedagógicos/concepções, Configuração Epistemológica, Ensino e aprendizagem da Matemática. Introdução O presente trabalho tem por finalidade apresentar um esboço inicial da ideia de Configuração Epistemológica como framework teórico para análise do ensino e aprendizagem da Matemática. É importante situar que essa problemática vem sendo desenvolvida no doutoramento em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE, sob a orientação da profa. Dra. Anna Paula de Avelar Brito Lima. De maneira geral, podemos considerar que a Matemática tem sido objeto de interesse da humanidade desde a antiguidade. No entanto, as preocupações acerca do ensino de Matemática como campo de estudos começam a tomar corpo apenas no final do século XIX e início do século XX. É nesse período que se dá início à institucionalização da Educação Matemática 1 Professor da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE; Doutorando no Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Email: [email protected] 2 Professora do Programa Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Email: [email protected]

CONCEPÇÕES DE ENSINO E APRENDIZAGEM, MODELOS PEDAGÓGICOS E A IDEIA DE CONFIGURAÇÃO EPISTEMOLOGICA 18.06 - final

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CONCEPÇÕES DE ENSINO E APRENDIZAGEM, MODELOS PEDAGÓGICOS E A IDEIA DE

CONFIGURAÇÃO EPISTEMOLÓGICA

José Dilson Beserra Cavalcanti1

Anna Paula Avelar Brito Lima2

RESUMO: O presente trabalho tem por finalidade apresentar a ideia de Configuração Epistemológica com framework teórico para análise do ensino e aprendizagem da Matemática. Abordamos inicialmente uma discussão dos modelos pedagógicos proposta por Becker (2000) e das concepções de ensino e aprendizagem da Matemática abordadas por Câmara dos Santos (2002). Em seguida, situamos a ideia de configuração epistemológica no campo da Epistemologia e Didática da Matemática, delineando-a como uma rede de teorias interconectadas. As teorias consideradas de maneira articuladas como bases dessa ideia foram a Transposição Didática e as noções teóricas do Contrato Didático e da Relação ao Saber. Palavras-chave: Modelos pedagógicos/concepções, Configuração Epistemológica, Ensino e aprendizagem da Matemática. Introdução

O presente trabalho tem por finalidade apresentar um esboço inicial da

ideia de Configuração Epistemológica como framework teórico para análise do

ensino e aprendizagem da Matemática. É importante situar que essa

problemática vem sendo desenvolvida no doutoramento em Ensino de Ciências

e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE, sob a

orientação da profa. Dra. Anna Paula de Avelar Brito Lima.

De maneira geral, podemos considerar que a Matemática tem sido

objeto de interesse da humanidade desde a antiguidade. No entanto, as

preocupações acerca do ensino de Matemática como campo de estudos

começam a tomar corpo apenas no final do século XIX e início do século XX. É

nesse período que se dá início à institucionalização da Educação Matemática                                                                                                                          1 Professor da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE; Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Email: [email protected] 2 Professora do Programa Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco-UFRPE. Email: [email protected]

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como subárea da Matemática e da Educação tendo como marco, a criação da

Comissão Internacional de Instrução Matemática3. Essa comissão foi

estabelecida durante o IV Congresso Internacional da Matemática, realizado

em 1908, em Roma, tendo sido presidida por Felix Klein4 (MIGUEL, ibid.;

D’AMBRÓSIO, 2008; CAVALCANTI, 2007).

A Educação Matemática, atualmente, pode ser considerada como um

campo científico e profissional (LORENZATO e FIORENTINI, 2001) constituído

como uma interface na intersecção de diversos campos científicos (e.g.

STEINER, 1990; HIGGINSON, 1980; GODINO e BATANERO, 1998). Embora a

Educação Matemática como campo científico e profissional possa estar na

interseção de vários campos científicos, (Matemática, Psicologia, Pedagogia,

Sociologia, Epistemologia, Ciências Cognitivas, etc.) ela tem seus próprios

problemas e questões de estudo, e, dessa maneira, não cabe ser entendida

como aplicação particular desses campos (LORENZATO e FIORENTINI, ibid.).

Nessa direção, as finalidades básicas das pesquisas em Educação

Matemática podem ser de natureza pragmática e/ou científica. A primeira

compreende o interesse em melhorar a qualidade do ensino e aprendizagem

da Matemática. A segunda tem como foco desenvolver a Educação Matemática

enquanto campo de investigação, e, consequentemente, de produção de

conhecimentos.

Considerando essa segunda finalidade, é possível observar que no

cenário atual das pesquisas em Educação Matemática, os estudos acerca das

diferentes perspectivas e abordagens teóricas nas pesquisas em Educação

Matemática têm ganhado espaço como grupos de trabalhos de alguns eventos

internacionais, tais como, os últimos congressos da sociedade europeia para a

pesquisa em Educação Matemática-CERME (e.g. CERME 4, 5 e 6)5 e,

                                                                                                                         3 International Comittee of Mathematical Instruction – reconhecida pelas siglas ICMI e IMUK. 4 Christian Felix Klein – professor da Universidade de Göttingen (Alemanha). Para mais informações sobre a história de Felix Klein e do ICMI, acessar: http://www.icmihistory.unito.it/portrait/klein.php 5 CERME 4 – realizado em Sant Feliu de Guíxols-Espanha em 2005; CERME 5 – realizado em Lanarca-Cyprus em 2007; CERME 6 – realizado em Lyon-França em 2009.

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também, no décimo primeiro congresso internacional de Educação Matemática-

ICMI 116.

Arzarello et al. (2007) relatam que um dos mais importantes

direcionamentos e encaminhamentos futuros que emergiu do CERME 4, no

que diz respeito à heterogeneidade da diversidade de teorias em Educação

Matemática, foi a ideia de networking. Conforme Radford (2008), essa ideia,

que pode ser entendida no sentido de buscar novas formas de estabelecer

links e conectar diferentes teorias atuais na pesquisa em Educação

Matemática, surgiu já no CERME 5 como uma nova tendência. Com a

realização do ICMI 11, e, particularmente as discussões no GT 13, essa

tendência parece cada vez mais ganhar corpo.

Dessa maneira, é oportuno esclarecer que a discussão proposta nesse

trabalho insere-se nas questões acerca das teorias e abordagens de pesquisa

em Educação Matemática.

Modelos Pedagógicos e Concepções de Ensino-Aprendizagem A literatura que aborda o ensino e aprendizagem que tratam, em

particular, de modelos pedagógicos e/ou concepções de ensino-aprendizagem

é bastante ampla. Pode-se evidenciar que a definição de modelos/concepções

acerca do ensino-aprendizagem apresentam influências às vezes do campo da

Psicologia, às vezes do campo da Filosofia.

Como a limitação desse artigo não nos permite um aprofundamento

sobre essa questão, optamos por utilizar duas reflexões difundidas na

atualidade para encadear a ideia de configuração epistemológica. Um mais

geral, que trata dos modelos pedagógicos e modelos epistemológicos

(BECKER, 1999) e outro mais específico sobre concepções de ensino-

aprendizagem da Matemática (CÂMARA DOS SANTOS, 2002).

Na discussão realizada por Becker (1999), o autor propõe três modelos

pedagógicos como uma maneira de representar a relação

                                                                                                                         6 ICMI 11 – realizado em Monterrey-México em 2009.

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ensino/aprendizagem. São eles: pedagogia diretiva, pedagogia não diretiva e

pedagogia relacional. Becker (ibid.) argumenta que cada uma delas é apoiada

por uma determinada epistemologia. Em linhas gerais, a pedagogia diretiva

estaria associada a uma epistemologia empirista enquanto que, a pedagogia

não diretiva, a uma epistemologia apriorista. Já a pedagogia relacional, estaria

associada a uma epistemologia relacional representada pelo construtivismo. O

quadro abaixo apresenta a comparação entre os modelos pedagógicos e

epistemológicos, enfatizando a relação Sujeito-Objeto.

De maneira semelhante à ideia de modelos pedagógicos apresentada

por Becker (idid.), Câmara dos Santos (2002) discute algumas concepções

mais frequentes sobre o ensino-aprendizagem da Matemática, colocando em

evidência três modelos: concepção baldista, concepção escadinha e

concepção sócio-construtivista.

Dito de maneira sintética, a concepção baldista é pautada no esquema

definição → exercícios resolvidos (exemplos) → exercícios de aplicação. A

concepção escadinha, por sua vez, é apoiada nas ideias behavioristas na

perspectiva de Skinner. Conforme Câmara dos Santos (2002), essa concepção

de ensino-aprendizagem corresponde à pedagogia por objetivos, pautada na

ideia de instrução programada, tendo sido bastante difundida no Brasil na

década de 80. Além disso, conforme Câmara dos Santos (ibid.), em grande

parte dos softwares educativos é possível notar essa concepção. A concepção

sócio-construtivista, por outro lado, é fundamentada nos trabalhos em

psicologia, particularmente, na epistemologia genética de Piaget. Contudo,

Câmara dos Santos (ibid.) esclarece que sua inserção na escola não

aconteceu de forma independente, mas a partir da conjugação de trabalhos

advindos de várias áreas do conhecimento, tais como, da Psicologia Social

Quadro  1  –  Comparação  entre  os  modelos  pedagógicos  e  epistemológicos  (BECKER,  1999)  

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(Perret-Clermont), da Epistemologia (Bachelard) e da Didática da Matemática

(Brousseau, Vergnaud).

Os trabalhos de Becker (1999) e Câmara dos Santos (2002) apresentam

uma descrição caricatural de modelos/concepções de ensino e aprendizagem.

Becker (ibid.) reconhece a existência de modelos epistemológicos como

fundamento dos modelos pedagógicos. Contudo, esse autor fala de

epistemologia como algo externo (empirista, apriorista, construtivista) aos

modelos pedagógicos. Dessa maneira, faria sentido falar também de outros

modelos pedagógicos, baseados, por exemplo, numa epistemologia

racionalista.

Câmara dos Santos (2002) ao discutir as concepções de ensino-

aprendizagem da Matemática em vez de fundamentá-las em epistemologias

externas, tal como fez Becker (ibid.), opta por Teorias da Aprendizagem como

o Behaviorismo e Sócio-construtivismo. No âmbito da Psicologia, a perspectiva

da Gestalt, em relação à aprendizagem por insight, também poderia ser

tomada como um exemplo de Teoria da Aprendizagem influenciando o campo

educacional (CHEVALLARD, 1980).

A ideia de configuração epistemológica

Apesar de reconhecer a contribuição e pertinência da discussão dos

modelos pedagógicos de Becker (1999) e das concepções de ensino

aprendizagem de Câmara dos Santos (2002), a ideia que propomos diferencia-

se desses estudos. Ao invés de considerar epistemologias externas ou Teorias

da Aprendizagem para determinar/caracterizar Modelos Pedagógicos ou

Concepções referentes ao ensino e aprendizagem, a ideia de configuração epistemológica pondera a existência de uma estrutura epistemológica interna

que, em nossa opinião, necessita de um estudo mais sistemático e

aprofundado.

Numa primeira projetação dessa ideia, pressupomos que a natureza e

dinâmica das relações estabelecidas nos processos de ensino e aprendizagem

configuram uma epistemologia interna ou são configuradas por uma

epistemologia interna associada a certos fenômenos didáticos que emergem

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nas aulas de Matemática. Por exemplo, numa aula de matemática arbitrária, há

uma manifestação de aspectos que envolvem a epistemologia dos saberes

matemáticos e sua transposição (CHEVALLARD, 1985) no lócus da sala de

aula; as relações que os sujeitos (professor e estudantes) estabelecem com

esses saberes (CÂMARA DOS SANTOS, 1995) e a negociação de significados

desses saberes incluindo os processos de validação, bem como os papéis

assumidos por esses sujeitos numa relação didática (BROUSSEAU, 1996).

Do ponto de vista prescritivo, o que, no momento, estamos

compreendendo como configuração epistemológica poder ser entendido de

duas maneiras: como um sistema estrutural de organização das variáveis que

permeiam um ambiente de ensino e aprendizagem da Matemática e que

permitem conceber uma concepção de ensino-aprendizagem; como um

framework teórico que permita descrever e compreender a natureza e

dinâmica das relações estabelecidas nos processos de ensino e aprendizagem

numa determinada concepção de ensino-aprendizagem.

Com a intenção de ilustrar um pouco mais essa ideia, tomamos agora,

como ponto de partida, a existência de uma concepção de ensino-

aprendizagem tradicional, no sentido de ser bastante usual na sala de aula de

Matemática. Tal concepção pode ser facilmente reconhecida através de

descrições como a do modelo referente à pedagogia diretiva (BECKER, 1999),

da concepção baldista (CÂMARA DOS SANTOS, 2002) e próxima à concepção

de ensino pautada na ideia de educação bancária discutida por Paulo Freire

em Pedagogia do Oprimido. Pode-se dizer que essa concepção apresenta uma

organização estrutural, a qual algumas variáveis podem ser descritas, tais

como:

• O status do saber matemático – informação pronta para ser transmitida;

• O professor e sua relação com o saber – o professor como aquele que

detém o saber matemático, e, portanto, assume o papel de emissor;

• O estudante e sua relação com o saber – relação pessoal x relação

institucional - inicialmente, tal relação inexiste, já que nessa concepção

não se considera os conhecimentos prévios. Após a emissão da

informação pelo professor, a relação do estudante com o saber é a de

receptor do conhecimento verbalizado pelo professor (emissor).

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Diversas variáveis podem ser consideradas, contudo, não é conveniente

esse aprofundamento, uma vez que a finalidade é apenas ilustrar para

encadear uma discussão. A combinação dessas variáveis permite sugerir que

há uma organização estrutural que, a nosso ver, não é simples, nem rígida.

Essa hipótese remete a um sistema complexo, envolvendo as

transformações do saber, o contrato didático e as diferentes relações com o

saber. Tais fenômenos, por sua vez, são impregnados de aspectos

epistemológicos, sociológicos, cognitivos e didáticos. Dada essa complexidade,

compreendemos que uma teoria da Educação Matemática não daria conta

dessa tarefa. Por essa razão, optamos em considerar esse framework como

uma rede de teorias interconectadas para essa finalidade, tomando como

fundamento a ideia de networking theories discutida nos últimos eventos do

CERME (4, 5 e 6) e no ICMI 11.

Nessa perspectiva, situamos os fundamentos teóricos da ideia de

configuração epistemológica no campo da Epistemologia e Didática da

Matemática. Desse campo, destacamos a teoria da Transposição Didática-(TD)

(Yves Chevallard); e as noções teóricas do Contrato Didático-(CD) (Guy

Brousseau); e da Relação ao Saber-(RS). Embora seja mais comum

encontrarmos estudos investigando um ou outro, avaliamos como coerente

colocar em questão também a possibilidade de inter-relações desses

fenômenos didáticos (TD X CD X RS).

Diferentemente da Transposição Didática e do Contrato Didático, a noção

de Relação ao Saber é desenvolvida sob diferentes abordagens, entre as

quais, destacamos a abordagem antropológica (Yves Chevallard) a abordagem

sociológica (Bernard Charlot) e a abordagem psicanalítica (representada pela

equipe de Jacky Beillerot). Além disso, embora a noção de relação ao saber

esteja inserida em pesquisas do quadro da Didática da Matemática, a mesma

tem também filiações epistemológicas no campo da Psicologia (Lacan) e da

Sociologia (Bordieu). Justificamos a intenção de considerar essas três

abordagens da relação ao saber de maneira articulada como uma tentativa de

evitar o reducionismo didático (foco na atividade, no saber); o reducionismo

psicanalítico (subjetividade) e o reducionismo sociológico (interação social e

cultural).

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Considerações finais

A literatura que aborda o ensino e aprendizagem que tratam, em particular, de

modelos pedagógicos e/ou concepções de ensino-aprendizagem é bastante

ampla. Pode-se evidenciar que a definição de modelos/concepções acerca do

ensino-aprendizagem apresentam influências às vezes do campo da

Psicologia, às vezes do campo da Filosofia.

Como a limitação desse artigo não nos permite um aprofundamento

sobre essa questão, optamos por utilizar duas reflexões difundidas na

atualidade para encadear a ideia de configuração epistemológica. Um mais

geral, que trata dos modelos pedagógicos e modelos epistemológicos

(BECKER, 1999) e outro mais específico sobre concepções de ensino-

aprendizagem da Matemática (CÂMARA DOS SANTOS, 2002).

A finalidade do presente trabalho foi apresentar, em linhas gerais, os

modelos pedagógicos propostos por Becker (2000), as concepções de ensino e

aprendizagem da Matemática propostas discutidas por Câmara dos Santos

(2002) e um esboço inicial da ideia de configuração epistemológica.

Como foi abordada, essa ideia pode ser entendida em duas

perspectivas. Como uma organização estrutural de variáveis que permeiam o

ambiente de ensino de Matemática, e como um framework teórico para análise

do ensino e aprendizagem da Matemática. Tal ideia foi proposta no projeto de

doutorado apresentado em 2011 no Programa de Pós-Graduação em Ensino

de Ciências e Matemática da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

No momento, estamos discutindo e aprofundando os estudos acerca da

Transposição Didática, do Contrato Didático e da Relação ao Saber. A hipótese

subjacente é que com a combinação dos elementos desses três fenômenos

didáticos seja possível sistematizar essa ideia como uma possível noção

teórica no campo da Didática da Matemática.

Após a sistematização da ideia de configuração epistemológica a nível

teórico, o passo seguinte em nosso planejamento é utilizá-la como ferramenta

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em uma pesquisa empírica com a finalidade de analisar sua pertinência para

descrever a dinâmica das relações estabelecidas num ambiente cuja finalidade

é o ensino e a aprendizagem da Matemática. Acreditamos que essa ideia

apresenta um poder heurístico para análise da epistemologia interna do ensino

e aprendizagem, em particular, da Matemática.

Referências ARZARELLO, F.; BOSCH, M.; LENFANT, A.; PREDIGER, S. Different Theoretical Perspectives in Research. In: PITTA-PANTAZI, D.; PHILLIPOU, G. (Orgs.): Proceedings of the 5th Congress of the European Society for Research in Mathematics Education (CERME 5), Cyprus, 2007. BECKER, F. Modelos pedagógicos e modelos epistemológicos. Educação e Realidade, v. 19, n. 1, p. 89-96. Porto Alegre, RS, 1999. BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do professor. Em: PARRA, C. & SAIZ, I. (orgs.). Didática da Matemática: Reflexões Psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 48-72. CÂMARA DOS SANTOS, M.. Algumas concepções sobre o ensino e a aprendizagem em matemática. Educação Matemática em Revista, n. 12, p. 38-46. São Paulo, 2002. CÂMARA DOS SANTOS, M. Le Rapport au Savoir de l’Eiseignant de Mathématique en Situation Didactique: Une Approche par l’Analyse de son Discours. Tese de Doutoramento, Université Paris-X, 1995. CAVALCANTI, J. D. B.; MENEZES, J. E. Uma Reflexão sobre o Ensino de Matemática na Primeira Metade do Século XX. In: MENEZES, J. E. (Org.). Didática da Matemática: [...], 1ª ed., v.4, p. 31-44. Recife: Editora Universitária da UFRPE, 2007. CHEVALLARD, Y. La transposition didactique. Grenoble: La pensée Sauvage, 1985. CHEVALLARD, Y. Mathématiques, langage, enseignement : La reforme des années soixante. La politique de la l’ignorance. Revue Recherches, n. 41, septembre.Paris, 1980. D’AMBRÓSIO, U. Uma História Concisa da Matemática no Brasil. 1ª. ed., v. 1. Petrópolis: Editora VOZES, 2008. 126 p. LORENZATO, S. A.; FIORENTINI, D.; Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. Disponível em:

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<http://sites.unisanta.br/teiadosaber/apostila/matematica/O profissional em Educacao Matematica-Erica2108.pdf >. Acessado em setembro de 2011. GODINO, J. D.; BATANERO, C. (1998). Clarifying the meaning of mathematical objects as a priority area of research in mathematics education. In: A. SIERPINSKA, A. & KILPATRICK, J. (orgs.), Mathematics Education as a Research Domain […], p. 177-195). Dordrecht: Kluwer, 1998. MIGUEL, A.; GARNICA, A. V. M.; IGLIORI, S. B. C.; D AMBRÓSIO, U. Educação Matemática: breve histórico, ações implementadas e questões sobre sua disciplinarização. Revista Brasileira de Educação, v. 27, p. 70-93, 2004. RADFORD, L. (2008). Theories in Mathematics Education: A Brief Inquiry into their Conceptual Differences. Working Paper. Prepared for the ICMI Survey Team 7. The notion and role of theory in mathematics education research. STEINER, H. G. Teoria da Educação Matemática (TEM): uma introdução. Lisboa: Quadrante: Revista Teórica e de Investigação, v. 2 (1), 1993.