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Departamento de Psicologia CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA IMPLÍCITA PARA AVALIAR NEUROTICISMO Aluna: Karina Specht Silva Menezes Orientador: Jean Carlos Natividade Introdução Neste relatório serão descritos os procedimentos para levantamento de itens que farão parte de um instrumento de medida implícita para aferir um dos fatores de personalidade do modelo dos cinco grandes fatores. O fator em questão neste estudo denomina-se Neuroticismo. O levantamento de itens é uma etapa inicial e fundamental para a construção do instrumento. As medidas implícitas avaliam de modo indireto um construto, buscando acessar um fenômeno psicológico com o mínimo de processamento deliberativo possível sobre o fenômeno em si. Ao contrário, medidas explícitas questionam diretamente o respondente sobre construto alvo e permitem reflexão para fornecer a resposta. Entre as medidas que podem ser consideradas implícitas, o teste de associação implícita (IAT) tem se destacado por sua ampla gama de possibilidade de utilização para a mensuração de construtos variados. Testes de associação têm sido utilizados para medir atitudes, estereótipos, preconceito, autoestima e personalidade. De maneira ampla, a personalidade pode ser entendida como o padrão de funcionamento dos sentimentos, pensamentos e comportamentos de uma pessoa, tal que a caracteriza e a distingue das demais. Entre as muitas teorias e modelos explicativos sobre a personalidade, aquelas derivadas da Teoria dos Traços destacam-se por sua abrangência e aplicabilidade. Um pressuposto das pesquisas conduzidas para identificar traços sugere que na língua falada por um povo há termos capazes de caracterizar as pessoas e informar marcadores de diferenças individuais. De acordo com essa abordagem, denominada lexical, as pessoas ao longo da história inventaram palavras para descrever diferenças importantes entre indivíduos. Em consequência, as palavras usadas com bastante frequência difundiram-se e tornaram-se comuns no vocabulário de todos. Os estudos conduzidos sob essa égide valem-se de investigações em dicionários e na linguagem natural a fim de demarcar termos reveladores de características de personalidade. O modelo dos Cinco Grandes Fatores tem sido amplamente usado no contexto brasileiro. Essa abordagem teórica entende a personalidade a partir de cinco fatores independentes, sendo eles: Extroversão uma tendência a buscar estimulação na interação com outros, a ser ativo e comunicativo; Socialização uma tendência a demonstrar empatia, altruísmo e comportamentos pró-social; Realização uma tendência ao autocontrole na realização de tarefas que conduzem a um objetivo, a ser disciplinado e organizado; Neuroticismo - uma tendência a demonstrar instabilidade emocional, a experimentar emoções negativas, ansiedade, depressão; Abertura uma tendência a experimentar coisas novas, a demonstrar curiosidade e complexidade intelectual (John, Nauman & Soto, 2010; Nunes et al., 2010) Objetivos Revisar a literatura brasileira e internacional, selecionar adjetivos descritores do neuroticismo e elaborar a lista de itens para o teste.

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Departamento de Psicologia

CONSTRUÇÃO DE UMA MEDIDA IMPLÍCITA PARA AVALIAR

NEUROTICISMO

Aluna: Karina Specht Silva Menezes

Orientador: Jean Carlos Natividade

Introdução

Neste relatório serão descritos os procedimentos para levantamento de itens que farão

parte de um instrumento de medida implícita para aferir um dos fatores de personalidade do

modelo dos cinco grandes fatores. O fator em questão neste estudo denomina-se

Neuroticismo. O levantamento de itens é uma etapa inicial e fundamental para a construção

do instrumento. As medidas implícitas avaliam de modo indireto um construto, buscando

acessar um fenômeno psicológico com o mínimo de processamento deliberativo possível

sobre o fenômeno em si. Ao contrário, medidas explícitas questionam diretamente o

respondente sobre construto alvo e permitem reflexão para fornecer a resposta. Entre as

medidas que podem ser consideradas implícitas, o teste de associação implícita (IAT) tem se

destacado por sua ampla gama de possibilidade de utilização para a mensuração de construtos

variados. Testes de associação têm sido utilizados para medir atitudes, estereótipos,

preconceito, autoestima e personalidade.

De maneira ampla, a personalidade pode ser entendida como o padrão de

funcionamento dos sentimentos, pensamentos e comportamentos de uma pessoa, tal que a

caracteriza e a distingue das demais. Entre as muitas teorias e modelos explicativos sobre a

personalidade, aquelas derivadas da Teoria dos Traços destacam-se por sua abrangência e

aplicabilidade. Um pressuposto das pesquisas conduzidas para identificar traços sugere que na

língua falada por um povo há termos capazes de caracterizar as pessoas e informar

marcadores de diferenças individuais. De acordo com essa abordagem, denominada lexical, as

pessoas ao longo da história inventaram palavras para descrever diferenças importantes entre

indivíduos. Em consequência, as palavras usadas com bastante frequência difundiram-se e

tornaram-se comuns no vocabulário de todos. Os estudos conduzidos sob essa égide valem-se

de investigações em dicionários e na linguagem natural a fim de demarcar termos reveladores

de características de personalidade.

O modelo dos Cinco Grandes Fatores tem sido amplamente usado no contexto

brasileiro. Essa abordagem teórica entende a personalidade a partir de cinco fatores

independentes, sendo eles: Extroversão – uma tendência a buscar estimulação na interação

com outros, a ser ativo e comunicativo; Socialização – uma tendência a demonstrar empatia,

altruísmo e comportamentos pró-social; Realização – uma tendência ao autocontrole na

realização de tarefas que conduzem a um objetivo, a ser disciplinado e organizado;

Neuroticismo - uma tendência a demonstrar instabilidade emocional, a experimentar emoções

negativas, ansiedade, depressão; Abertura – uma tendência a experimentar coisas novas, a

demonstrar curiosidade e complexidade intelectual (John, Nauman & Soto, 2010; Nunes et

al., 2010)

Objetivos

Revisar a literatura brasileira e internacional, selecionar adjetivos descritores do

neuroticismo e elaborar a lista de itens para o teste.

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Departamento de Psicologia

Procedimentos

Foi realizada uma revisão de literatura incluindo-se pesquisas relacionadas aos

descritores de personalidade, sendo selecionados 11 diferentes estudos com a finalidade de

fornecer adjetivos que pudessem ser descritores do neuroticismo. Esse processo foi realizado

em duas etapas. A primeira etapa baseou-se na lista de adjetivos de Pinho e Guzzo [1], cuja

pesquisa consistiu na seleção de características de personalidade em um dicionário de

português do Brasil. Nessa lista havia 243 descritores da personalidade. Dois juízes avaliaram

os 243 descritores de Pinho e Guzzo [1] e selecionaram aqueles que julgaram representar o

fator neuroticismo. Em um segundo momento, partiu-se para outros estudos que previamente

demarcaram adjetivos como representativos do neuroticismo, por exemplo: Vazquez, Zanon

& Hutz [2]; Soto & John [3]; Nunes, Hutz, Silveira, Serra, Anton e Wieczoreck [4]; Hauck,

Machado, Teixeira & Bandeira [5]; Hauck, Machado, Teixeira & Bandeira [6].

Resultados

A seleção de itens resultou em um total de 281 descritores de Neuroticismo. Além

disso, criaram-se mais 55 itens para descrever antônimos dos adjetivos previamente

selecionados. O tipo de medida implícita a ser construída requer a necessidade de adjetivos e

seus antônimos (opostos). Os adjetivos mais frequentes foram ansioso, deprimido, inseguro,

pessimista, aborrecida, calmo, emotivo e triste.

Referências

1. PINHO, Cristina Coutinho Marques de; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Taxonomy of

personality descriptors. Aval. psicol. Porto Alegre , v. 2, n. 2, p. 81-97, 2003 .

2. VAZQUEZ, Ana Claudia; ZANON, Cristian; HUTZ, Claudio Simon. Estabilidade

temporal da escala fatorial de neuroticismo. Avaliação Psicológica, v.9,n.2, p.333-335, 2010.

3. SOTO, Christopher J.; JOHN, Oliver P. Using the California Psychological Inventory to

assess the Big Five personality domains: A hierarchical approach. Journal of Research in

Personality. Ed 43, p. 25-38. 2009.

4. HUTZ, Claudio Simon et al. O desenvolvimento de marcadores para a avaliação da

personalidade no modelo dos cinco grandes fatores. Psicol. Reflex. Crit., v.11, n.2, p.395-411,

1998.

5. HAUCK; Nelson, MACHADO, Wagner de Lara; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira;

BANDEIRA, Denise Ruschel. Evidências de Validade de Marcadores Reduzidos para

Avaliação da Personalidade no Modelo dos Cinco Grandes Fatores. Psicologia: Teoria e

Pesquisa. v. 28, n. 4, pp. 417-423. Out-dez 2012.

6. HAUCK, Nelson; MACHADO, Wagner de Lara; TEIXEIRA, Marco Antônio Pereira;

BANDEIRA, Denise Ruschel. Marcadores reduzidos para a avaliação da personalidade em

adolescentes. Psico-USF, v. 17, n. 2, p. 253-261, 2012.