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Autores: Prof. André De Fillipis Prof. Gil Oliveira da Silva Junior Corporeidade e Motricidade Humana

Corporeidade e Motricidade Humana - UNIP.br · consequência de um processo histórico em que o contexto social interage de uma forma extremamente dinâmica, direcionando e modificando

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Autores: Prof. André De Fillipis Prof. Gil Oliveira da Silva Junior

Corporeidade e Motricidade Humana

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Professores conteudistas: André De Fillipis / Gil Oliveira da Silva Junior

André De Fillipis

Graduado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em 2007, especialista em Educação Física Escolar pela Universidade Nove de Julho, em 2011, e mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em 2012. Ministrou o módulo de Recreação e Lazer para o curso de Técnico em Hotelaria no Senac/Piracicaba. Possui experiência na área de Educação Física, atuando, principalmente, nos seguintes temas: recreação, lazer, motricidade humana e formação profissional. Experiência na área de hotelaria e turismo. Atualmente é docente da Universidade Paulista (UNIP) nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, nas disciplinas de Corporeidade e Motricidade Humana, Recreação e Lazer, Dimensões Filosóficas e História da Educação Física, e do Ensino Médio, no Colégio Madre Alix.

Gil Oliveira da Silva Junior

Graduado em Educação Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2007) e mestre em Treino Desportivo para Crianças e Jovens pela Universidade de Coimbra (2011), em Portugal, tendo o título reconhecido pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP). Trabalha no treinamento esportivo de pessoas com deficiência e alto rendimento, na modalidade remo. Desde 2012, é docente na Universidade Paulista (UNIP), na disciplina de Corporeidade e Motricidade Humana, além de atuar com ensino do esporte, aprendizagem e desenvolvimento motor, crescimento e desenvolvimento humano.

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z13 Zacariotto, William Antonio

Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.

il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230.

1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título

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Prof. Dr. João Carlos Di GenioReitor

Prof. Fábio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona-LopezVice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy

Prof. Marcelo Souza

Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão: Ana Fazzio Juliana Mendes

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SumárioCorporeidade e Motricidade Humana

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7

Unidade I

1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA ...........................................................................................91.1 A corporeidade na história da humanidade .................................................................................9

1.1.1 O pensamento do corpo – da Grécia Antiga à Idade Moderna .......................................... 101.1.2 O corpo – Do Renascimento a uma nova concepção com o capitalismo ....................... 171.1.3 A corporeidade contemporânea ...................................................................................................... 241.1.4 O corpo segundo Foucault .................................................................................................................. 29

2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................... 333 A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE .............................................................. 354 O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A CORPOREIDADE ...................................................... 42

Unidade II

5 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE................................................................................................................... 505.1 A percepção objetiva da qualidade de vida ............................................................................... 545.2 A percepção subjetiva da qualidade de vida ............................................................................. 585.3 A relação entre as esferas das percepções objetiva e subjetiva ........................................ 60

6 INSTRUMENTO PARA MEDIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ............................................................. 636.1 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ............................................................................... 646.2 Os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-bref .................................................................... 65

7 QUALIDADE DE VIDA E CORPOREIDADE ................................................................................................ 718 EDUCAÇÃO FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................... 76

8.1 Esporte e qualidade de vida ............................................................................................................. 84

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APRESENTAÇÃO

A disciplina Corporeidade e Motricidade Humana tem a finalidade de analisar as vivências da corporeidade ao longo da história, por meio da identificação dos paradigmas científicos e das teorias que influenciam suas diversas concepções de corpo, trazendo à tona o discurso da corporalidade e a vivência das possibilidades de identificar o corpo, de modo sensível e reflexivo, nas relações consigo, com o outro e com o mundo como lugar de construção de saberes, abrigo de múltiplas inteligências, sensações, emoções e inciativas crítico-criativas.

Os objetivos aqui propostos são estabelecer a compreensão da corporeidade e da motricidade, bem como de suas relações em diferentes esferas e épocas da vida humana, os seus desdobramentos em concepções atuais, oportunizando a análise das principais características dessas tendências em pressupostos que embasam a intervenção profissional na área.

Ao final desta disciplina, com o auxílio deste livro-texto, você será capaz de:

• Conhecer os paradigmas emergentes na ciência – e diversas áreas do conhecimento – e relacioná-los à corporeidade.

• Analisar as diferentes correntes de pensamento sobre o corpo.

• Refletir sobre o fenômeno da corporeidade e motricidade humana como fundamento para uma melhor atuação pedagógico-profissional.

• Ter como auxílio em seu trabalho teórico-prático, com a dimensão da corporeidade como dinamizadora de aprendizagem, valores e princípios, os quais reagem para uma atuação mais humanizada nas inúmeras possibilidades de trabalho com o corpo.

INTRODUÇÃO

Hoje em dia, o corpo pode ser estudado de diversas formas e em variados contextos, principalmente na Educação Física, em que as áreas de estudos podem ser divididas em contextos biológicos, psicológicos e sociais. Porém a observação do corpo deve ser vista e reconhecida como uma totalidade de aspectos, que interagem e se interligam criando uma reflexão de sensações que constituem esse corpo.

Mas, para entendermos essa totalidade, é necessário colocar esse corpo como um sujeito (corpo) que pertence a uma cultura e com ela se relaciona e se altera, tendo a absorção de ideias e objetos, principalmente mediante ao movimento no espaço. Desta forma, a corporeidade é caracterizada pelo preenchimento do espaço pela ação do movimento, criando um homem como o ser no mundo, resgatando a ideia de interação do sujeito influenciado pela cultura, e a cultura sendo modificada pelo sujeito.

Com isso, faz-se necessário compreender como ocorreu a transformação da conceituação de corpo por diversos anos de história da humanidade – da concepção grega de corpo até chegar à

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Era Contemporânea –, de que maneira a criação do trabalho mecanizado substituiu o trabalho manual alterando como o corpo se relaciona com a vida em sociedade e os produtos por ele gerados.

Chegando à abordagem contemporânea, principalmente a Educação Física, abordaremos a concepção de como a mídia altera e coloca padrões corporais em relação à cultura a ser seguida e reproduzida, trazendo os padrões de beleza e a corpolatria.

Por fim, veremos como a corporeidade e sua relação com a cultura em que o corpo está inserido afeta a qualidade de vida do indivíduo e sua motricidade.

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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

Unidade I1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

Os estudos e as ações do corpo do ser humano são divididos em diversas áreas, principalmente na Educação Física, como Psicologia, Anatomia, Biologia, Fisiologia Humana e do Exercício, dentre outras.

Porém essa segregação do corpo humano em partes é incapaz de retratá-lo por inteiro, especialmente a interação dessas áreas de estudo com a relação corpo-mente e as influências que o mundo exerce sobre esse corpo e essa mente, mas também a força inversa, do corpo e da mente, alterando o mundo em que estão inseridos (SCORSOLINI-COMIM, AMORIM, 2008).

Essa dicotomia de corpo e mente não é algo contemporâneo; vem desde o início dos pensamentos do ser humano, com os filósofos da Grécia Antiga, passando pela Idade Média e pelo Período Renascentista, seguida pela Revolução Industrial na Inglaterra, chegando à modernidade e à contemporaneidade (SCORSOLINI-COMIM, AMORIM, 2008).

A forma pela qual o homem lida com sua corporeidade é resultado de uma construção social, consequência de um processo histórico em que o contexto social interage de uma forma extremamente dinâmica, direcionando e modificando a maneira de o corpo se expressar.

O corpo do ser humano carrega a história acumulada de uma sociedade que contém seus valores, suas leis, suas crenças, ou seja, sua base de construção social.

1.1 A corporeidade na história da humanidade

O homem, por toda a sua história, apresenta diversas maneiras de entender e tratar seu corpo, que se comporta em determinado contexto social. Gonçalves (2012) retrata que os corpos variam as técnicas em relação:

• Aos movimentos das atividades diárias ou às habilidades motoras fundamentais (andar, correr e pular).

• Aos movimentos corporais expressivos (gestos, posturas, expressões faciais), que são formas de expressão não verbais.

• À ética corporal, que contempla as ideias e os sentimentos sobre a aparência do próprio corpo (pudor e ideal de beleza).

• Ao controle de estrutura dos impulsos e das necessidades.

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Unidade I

Apesar de serem contextos comuns, podem se diferenciar nas questões de ordenação e interação entre eles, mas também alterar a forma pela qual se manifestam na sociedade conforme características sociais, como sexo, idade, religião, ofício, classe social, dentre outros fatores socioculturais.

1.1.1 O pensamento do corpo – da Grécia Antiga à Idade Moderna

Os primeiros pensadores da Era Antiga, como os filósofos Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.), Parmênides de Eleia (530-460 a.C.) e Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.), mais precisamente da Grécia Antiga, tida como o berço do pensamento ocidental (CESTARI, 2002), não tinham a preocupação ou não colocavam em questão a dicotomia entre corpo e alma – entendida como mente (CARDIM, 2009).

Na concepção desses pensadores, essa separação não existia, pois corpo e mente são concebidos de modo harmônico, compondo um ser único, indivisível e visível. O corpo, para os gregos, era considerado uma forma bem abrangente, denominando soma (corpo), quantidade de matéria, psique (alma) e pneuma (sopro), que daria vida a essa quantidade de matéria definida (GALLO, 2006).

Para exemplificar como o corpo não era visto de uma maneira segregada da mente (alma), em Ilíada, de Homero (séc. VIII a.C.), e Antígona, de Sófocles (496 – 406 a.C.), ocorrem dois episódios de morte, nos quais fica claro que o corpo na sociedade grega tinha muita importância, pois era necessário enterrá-lo para que a alma pudesse se separar desse ser humano, que perdera a vida, para juntar-se ao reino das sombras.

Além disso, as obras gregas apresentam a representação do corpo nas pinturas, nos afrescos e nas esculturas, com grande detalhe e fidelidade às formas do ser humano (CARDIM, 2009).

Logo, soma e psique, ou seja, corpo e alma, não eram realidades segregadas ou separadas, mas ao contrário, se completavam (GALLO, 2006).

O filósofo grego Platão (429-347 a.C.) dá início ao platonismo, com o gesto teórico de fundação da oposição entre corpo e alma, considerados um contrário ao outro, obtendo, dessa forma, um dualismo (CARDIM, 2009; CAVALCANTI, 2005).

Platão desenvolveu uma visão fundamentada em uma divisão do mundo: real e ideal (GALLO, 2006):

• Mundo sensível: uma realidade sensível, captada pelos sentidos compostos de matéria, que é dado à corrupção. Os objetos produzidos nesse mundo são cópias das ideias (mundo ideal) perfeitas, porém a matéria é corroída pelo tempo e está fadada ao desaparecimento.

• Mundo inteligível: uma realidade ideal, captada somente pelo intelecto – a última verdade de todas as coisas –, perfeito e eterno, sem transformações, pois as coisas serão como sempre foram.

O ser humano é composto por um corpo; porção de matéria que habita o mundo real ou sensível, portanto corrupto e que tende à morte, e por uma alma, que é pertencente ao mundo ideal, logo perfeita e imortal.

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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

O mundo das ideias

Para Platão, o conhecimento verdadeiro é dividido

O mundo inteligível

• Eterno e imutável

• Onde reside a verdade

• Perfeito

Mundo da razão = causa de tudo o que existe

Prevalecem as aparências = enganosas

Verdade absoluta Reflete a opinião

O mundo sensível

• Percebido pelos sentidos

• Universo material

• Cópias físicas do inteligível

Figura 1 – Representação dos mundos, segundo Platão

Para Platão, a alma comandava e polarizava todas as ações do corpo, ou seja, movia o corpo do seu interior, sendo ela o princípio do movimento; o corpo, que é movido pela alma, é ao mesmo tempo a prisão da alma e seu túmulo. Mesmo com essa afirmação, o homem não é somente corpo físico ou alma, mas necessariamente uma junção dessas duas realidades (GALLO, 2006).

Com essa separação, a alma acaba assumindo um papel de uma “quase divindade” imortal, tendo a capacidade de pensar, denotando um ser único e com identidade. Em contrapartida, o corpo é tido como mortal, assumindo várias formas, desprovido de inteligência, sujeito ao processo de decomposição, por isso nunca permanecerá idêntico (CARDIM, 2009).

O homem é composto por três tipos de alma que, segundo Platão, são distintos, dois de natureza inferior, totalmente ligados ao corpo, portanto imperfeitos e mortais, e o terceiro, ligado a uma natureza superior, ao mundo ideal, ou seja, perfeito e imortal (GALLO, 2006).

Corpo

Alma superior

Almas inferiores Alma irascível

Figura 2 – Separação dos tipos de alma, segundo Platão

A alma superior está ligada à racionalidade, é responsável pelos pensamentos e, segundo o filósofo, está localizada na cabeça. As almas inferiores, ligadas a bens materiais e à luxúria – responsável pelos desejos –, têm sua localização na região abaixo do abdome. Por fim, a alma irascível, responsável pelas emoções e paixões, encontra-se no peito do ser humano (GONÇALVES, 2012).

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Unidade I

Observação

Alma: identificação de diversas faculdades, das mais simples para as mais complexas.

Faculdade sensitiva: função de sentir dor e prazer.

Figura 3 – Platão

Com essa separação entre corpo e alma, é interessante observar, como dito anteriormente, a noção de imortalidade da alma e a relação do homem com as divindades gregas, pois era por meio da alma que os homens se relacionavam com os deuses e estes os influenciavam. “Por ser intermédio do corpo que a alma dá expressão ao que quer manifestar” (CARDIM, 2009, p. 25).

Tendo essa ideia de corpo controlado pela alma, Platão afirma que existem três tipos de temperamento ou caráter, que advêm dessas almas, os quais determinavam a ordem social e educacional da Grécia Antiga (GALLO, 2006):

• Caráter concupiscível: a alma inferior é predominante e faz tomar decisões com base nos desejos.

• Caráter irascível: a alma que predomina marca as decisões do ser humano com base nas emoções.

• Caráter racional: a alma superior predomina, e as decisões são funamentadas na racionalidade ou no uso da razão.

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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

Alma racional ou intelectual

Alma irascível

Alma concupiscente

Figura 4 – Localização das almas, segundo Platão

Na obra República, Platão (2000) descreve que os tipos de caráter determinam como seria a educação das crianças, a partir da identificação da alma predominante, uma vez que essa identificação direciona para o lugar na sociedade.

Para as pessoas com caráter concupiscível, eram destinados os trabalhos como artesão, aos indivíduos com caráter irascível, a função de guerreiros e guardiões da cidade, e por último, os cargos de filósofos, magistrados e governantes das cidades, às pessoas com predominância de caráter racional.

O Estado assume o papel da educação

Educação para todos até os 20 anos de idade

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O Estado orienta a eugenia (reprodução humana)

1º: 20 anos – pessoas com caráter concupiscível –

trabalhos de artesão

2º: 30 anos – pessoas com caráter irascível – guardiões e guerreiros

3º: 50 anos – pessoas com caráter racional – governo

da cidade

Figura 5 – Separação dos indivíduos na sociedade, segundo os tipos de alma

Para Platão, o corpo era algo tão insignificante que ele considerava que a alma de um filósofo deveria afastar-se do corpo, pois atrapalhava os raciocínios, impedindo a percepção da verdadeira realidade, pelos sentidos e sensações do corpo, como a visão, a audição ou a dor (QUEIROZ, 2008).

Os olhos e os ouvidos transmitem alguma verdade ou os poetas têm razão em repetir sem cessar que nada ouvimos ou vemos? Visto que, se estes dois sentidos são inseguros, então os outros o serão ainda mais, uma vez que são inferiores a eles [...] quando não é perturbada pela vista, nem pela audição, nem pela dor, nem pela volúpia e, encerrada em si mesma, deixe que o corpo lide com essas coisas sozinho [...] (PLATÃO, 1999, p. 126).

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O corpo, na ótica platônica, acaba causando guerras, sendo corrupto, e a inteligência ou a alma é a única esfera em que se deve investir para ter conhecimento total do mundo em que se vive (QUEIROZ, 2008; CARDIM, 2009).

Figura 6 – Escola de Atenas

É importante deixar claro que essa relação que Platão impõe da alma sobre o corpo está estreitamente ligada à visão de uma compreensão total do mundo e da humanidade. Esta visão, principalmente sobre o aspecto da imortalidade da alma, tem uma forte relação do homem com o divino, no caso, os deuses da Antiga Grécia, pois, por intermédio da alma, os deuses influenciavam os homens, os quais devem ser justos e dominar a si mesmos, tendo uma harmonia do corpo, dando qualidade à alma (CARDIM, 2009).

Foi desenvolvido por Platão esse dualismo, tendo a concepção de que corpo e alma possuem realidades completamente diferentes, porém estão relacionadas, necessariamente. Se o corpo é mortal e imperfeito, faz-se necessário que a alma seja exercitada, para que o indivíduo se aproxime cada vez mais da perfeição que está muito distante do mundo físico (GONÇALVES, 2012).

No pensamento a respeito dessa relação corpo e alma, na Grécia Antiga, deve-se citar o filosofo Aristóteles, que sustenta um pensamento diferente do platonismo, uma vez que coloca a alma como uma forma interior da vida, mas que está inteiramente ligada ao corpo (CARDIM, 2009).

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Figura 7 – Aristóteles

De acordo com Aristóteles, o homem deve investigar a realidade da natureza e o corpo pertencente à natureza, contemplando essa realidade, em um mundo que já é o ideal. A alma deve ser entendida como um princípio vital de todo ser vivo, como um ato do corpo organizado (CARDIM, 2009).

Aristóteles também criou a Teoria do Hilemorfismo, considerando que o conteúdo (alma) não poderia ser separado da forma (alma), pois um fazia parte do outro, ou seja, o corpo era uma extensão, uma realidade física limitada por uma superfície (MOREIRA, 2006). Portanto, corpo e alma são dois aspectos distintos, porém inseparáveis, de uma mesma realidade.

A alma era responsável por conservar e reproduzir a vida por meio das faculdades de nutrição e reprodução, além das faculdades sensitivas, que eram divididas progressivamente pelos sentidos, dos mais simples, como o tato, até os mais complexos, como paladar, olfato, audição e visão, além da função de sentir dor e prazer (GALLO, 2006).

Era inconcebível e sem sentido, para Aristóteles, uma visão dualista de separação entre corpo e alma, pois só é possível as ações das faculdades anímicas com uma relação entre corpo e alma (GALLO, 2006).

Observação

Faculdades anímica: nutrição, reprodução, sensação, imaginação – movimentos que tornam a vida dinâmica.

Mediante essa relação colocada por Aristóteles, a alma é aquilo que anima o corpo gerando o movimento, ou seja, qualquer movimento físico só é realizado por intermédio da alma. O pensamento também só é realizado porque é uma faculdade da alma, uma vez que temos o corpo estabelecendo uma dependência entre ambos.

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A preocupação desse filósofo com o corpo fica clara quando Aristóteles recomenda às mulheres que, durante a gravidez, não fiquem ociosas, se alimentem bem, exercitem o corpo e mantenham o equilíbrio espiritual para um bom desenvolvimento de suas crianças (MOREIRA, 2006).

Para Aristóteles, é importante que o corpo se mantenha ativo e seja educado desde a infância, porém sem excessos e esgotamentos físicos, evitando problemas, inclusive danos físicos (GALLO, 2006).

Na Idade Média, período que é compreendido do século V ao século XV, o corpo acaba sofrendo um processo de descorporalização, em que se tem uma evolução contínua da racionalização, ideia muito semelhante à do filósofo grego Platão (GONÇALVES, 2012).

Para se entender isso, a maioria das ações do homem em sua vida cotidiana estava ligada a atividades corporais, e o seu corpo era instrumento de trabalho, sustento e comunicação com a sociedade. Segundo Gonçalves (2012), o corpo tinha a característica para as ações humanas de noção de tempo, personalidade e economia.

As ações humanas relacionadas à noção de tempo estão ligadas ao desenrolar natural do tempo, às estações do ano que vão determinar os períodos de plantar e colher, que, por sua vez, estão relacionadas com o crescimento das plantas e o ritmo de reprodução dos animais.

A ideia de personalidade sobre as ações do corpo no homem está ligada ao sistema de castas imposto pela Idade Média, em que o indivíduo nascia “dentro ou fora dos muros”, e dessa condição ele não poderia sair. A personalidade da pessoa era renegada em razão das características do sistema feudal, que era fundamentado em um princípio de trabalho, domínio e prazer.

Figura 8 – Representação da sociedade feudal, durante a Idade Média, com separação em classes sociais, que determinava como o corpo e as ideias iriam se apresentar

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A economia, por sua vez, era orientada para a subsistência, ou seja, os indivíduos tinham atividades, como a agricultura, para seu sustento e o de sua família. As sensações de fome e sede regiam a relação econômica; quase não se conhecia a necessidade de planejamento e cálculos com ideias monetárias. Logo, a economia estava ligada à satisfação das necessidades básicas (HUIZINGA, [s.d.]).

Essa descorporalização se dá principalmente por questões religiosas impostas na Idade Média, uma vez que a Igreja tinha grande influência no sistema social, comercial e político nessa época (DUBY, 2011).

Um dos responsáveis pela concepção de corpo na Igreja foi Santo Agostinho, que o definiu como um cárcere da alma, sendo uma parte orgânica, concebida ao homem, como forma de punição (SILVA, 2013).

Essas ideias vão ao encontro do conceito platônico e acabaram sendo um dos fundamentos da Igreja, aplicando esse dualismo, que tinha a oposição entre bem e mal, graça e pecado, corpo e matéria, Deus e homem e, principalmente, luz divina e trevas eternas (ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008).

Agostinho tinha um pessimismo em relação ao corpo do ser humano, às sensações que ele produzia e às criações terrenas, que poderiam ser belas e atraentes, mas que não passavam de objetos sem valor (AGOSTINHO, 1996).

A alma deveria governar e manter vigilância constante sobre o corpo e seus sentidos para que estes não impedissem que se conhecesse a verdade divina e somente a alma pudesse salvar o corpo, colocado no caminho da divindade (AGOSTINHO, 1996; QUEIROZ, 2008). Essa visão dualista e negativa do corpo, primeiramente proposta por Platão e incorporada aos ensinamentos da Igreja, teria reflexos sociais, políticos e educacionais por muitos séculos seguintes (ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008).

1.1.2 O corpo – Do Renascimento a uma nova concepção com o capitalismo

A partir do Renascimento, foi favorecida a racionalidade, apoiada em uma série de avanços científicos e técnicos, tendo uma valorização do trabalho, principalmente do intelecto e da capacidade de criação e transformação do mundo, modificados conforme a necessidade do homem (NASCIMENTO; BAUAB, 2010; GONÇALVES, 2012). Isso traz a ideia de que o homem é um animal racional, junto a um esquema mecanicista, que é utilizado em todas as experiências (CARDIM, 2009).

No campo do pensamento do local ou lugar que o corpo e a alma ocupam, o filósofo francês René Descartes (1596-1650) tem na base de seu pensamento a importância do método como ponto principal para a construção do saber (CARDIM, 2009).

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Unidade I

• Não aceitar uma verdade cuja evidência não se conheça.

• Dividir as possibilidades em quantas partes forem possíveis.

• Conduzir os pensamentos por ordem, em etapas – do simples para o composto

• Fazer enumerações completas e revisões para não se omitir nada.

Evidência

Análise

Síntese

Exaustivo

Figura 9 – O ordenamento do método, segundo Descartes

Esse método, desenvolvido por Descartes (2009), é a única maneira de obter o entendimento do conhecimento e da ciência, aplicando-se em todas as perspectivas da sociedade, até mesmo para o próprio corpo, ao considerar “um pensamento puro a correspondência ou adequação da ideia ao ideado, do sujeito e objeto, a existência e a veracidade divinas [...] e a distinção real entre alma e corpo” (CARDIM, 2009, p. 30).

Lembrete

Método: instrumento que ajuda a controlar cada um dos passos dados e a deduzir algo desconhecido de algo conhecido.

Figura 10 – René Descartes

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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

Descartes estabelece a subjetividade entre o que ele chama de coisa-pensamento – o sujeito –, em oposição radical ao corpo – objeto, separando assim o sujeito do objeto, o espírito da matéria, estabelecendo a oposição entre o homem e a natureza e todo o pensamento posterior sobre corpo e corporeidade com uma concepção separatista e redutora (QUEIROZ, 2008; GONÇALVES, 2012).

Essa separação proposta por Descartes pode parecer semelhante ao proposto por Platão, que também apresentava uma separação entre o sensível (corpo) e o inteligível (alma/mente), porém nesta nova forma de se separar corpo e alma é colocada uma concepção cartesiana – quase matemática – em que a alma é o pensamento e o corpo é somente uma extensão da alma – um não depende do outro (CARDIM, 2009).

Sob essas circunstâncias, o corpo-máquina é manipulado e dominado tendo em vista o modelo mecanicista: é o modelo da máquina que torna possível a compreensão do corpo. [...] por um lado, o homem sabe usar as palavras, por outro, ele age tendo em vista o conhecimento (CARDIM, 2009, p. 32).

O ser humano é composto por duas substâncias: o corpo é a substância, ou a coisa extensa, e a alma é a substância pensante, ou a coisa pensante. Assim, Descartes (2009) confere ao corpo e à alma uma autonomia completa e independente; apesar de a alma estar inserida no corpo, o pensamento (alma) e a extensão (corpo) não estão ligados.

Corpo

Espírito

Figura 11 – Mesmo tendo passado muito anos, ainda existe o dualismo corpo e mente

Para esse filósofo, fica claro que é o pensamento que controla a extensão, ou seja, o corpo não é capaz de se movimentar, sentir e pensar, mas é movido por algo que lhe é tocado, no caso, o que move o corpo é a alma (GALLO, 2006).

Logo, o corpo é movido, porém não por si, trazendo a ideia de corpo-máquina, que é manipulado e dominado tendo em vista um modelo mecanicista (GALLO, 2006; CARDIM, 2009).

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Quadro 1

Mente Corpo

Consciência pura Sensações

Pensamento Movimentos

Vontade Emoções e paixões

Não biológica Biológico

Compreensão/vontade Áreas confusas entre mente e corpo (emoções e percepções)Julgamento

A filosofia cartesiana proposta por Descartes toma como verdade a alma em detrimento do corpo, por causa da busca do conhecimento verdadeiro, e a única forma de obter e produzir esse conhecimento é pela razão, que é uma faculdade da alma, enquanto o corpo, por meio dos sentidos e das sensações, como sede, é capaz de enganar o ser humano.

Com esse pensamento, Descartes foi um dos precursores da Era Moderna com o paradigma cartesiano (VILELA; MENDES, 2003), pelo qual se julgava que a única forma de se adquirir conhecimento era por meio da razão e do pensamento intelectual.

O pensamento científico acelerou o surgimento de diversas áreas da ciência, de como o trabalho era executado, principalmente em virtuda da Revolução Industrial na Inglaterra, onde ocorreu a mecanização do trabalho e da mão de obra, sendo o corpo reduzido a um mero instrumento da alma. Porém deveria ser exercitado para cumprir as ordens da alma (GONÇALVES, 2012).

Além da racionalidade, a crescente ideia do capitalismo mudou como o corpo é visto e encarado, pois ele perde a ideia de proibição que era proposta pela Igreja, na Idade Média (CAVALCANTI, 2005).

Na perspectiva científica, o corpo passa a ser um objeto de estudo em diversas áreas, principalmente pela medicina, nos estudos da anatomia, chegando-se ao ponto de submeter pessoas, ainda vivas, a estudos anatômicos para tentar compreender como o comportamento do corpo junto à alma acontecia, uma vez que a vida estava ligada à presença de uma alma (CAVALCANTI, 2005; CARDIM, 2009).

Com o surgimento de uma nova visão do corpo como um objeto científico, o capitalismo coloca uma nova percepção de encarar o corpo na sociedade, haja vista a religião não apresentar mais tanta legitimidade sobre essa perspectiva.

Porém, em oposição a como o corpo era tratado e encarado, e principalmente contrário aos pensamentos cartesianos propostos por Descartes, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) descarta a ideia de que o corpo é mera extensão controlável da alma (GALLO, 2006).

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Figura 12 – Friedrich Nietzsche

Nietzsche trata o corpo vivo como uma perspectiva ambiente, ou seja, o corpo em um contexto social no qual é inserido, diferentemente da visão platônica e religiosa, que despreza o corpo e o mundo em que ele está presente, isto é, a vida em detrimento do mundo inteligível ou perfeito. O filósofo investiga os estados de saúde e doença, bem como a vida afetiva e fisiológica que dominam as experiências de um homem vivo.

O corpo humano, no qual tanto o passado mais longínquo quanto o mais próximo de todo o devir orgânico torna-se de novo vivo e corporal, por meio do qual, sobre o qual e no qual e para além do qual parece fluir uma torrente imensa e inaudível: o corpo é um pensamento mais espantoso que a antiga alma (NIETZSCHE, 2011, p. 202).

Com essas palavras, o filósofo inverte as concepções anteriores segundo as quais alma se sobrepõe ao corpo e o substitui, como era abordado pela religião, pelo corpo vivido, que interage interna e externamente por meio de seus sentidos e sensações.

A partir dessa perspectiva de corpo vivo, Nietzsche reconhece que é necessário interpretar o que o corpo faz, decifrando a linguagem que ele transmite, pois é por meio do corpo que se conhece a alma, e não o inverso (CARDIM, 2009).

O corpo é uma grande razão, uma mesma multiplicidade com um único sentido, uma grande guerra e uma paz, um rebanho e um pastor. Instrumento do teu corpo também a tua pequena razão [...]. Há mais razão no teu corpo do que na tua pequena sabedoria (NIETZSCHE, 1987, p. 51).

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Lembrete

As ideias de um corpo único promovem uma nova visão sobre o entendimento do corpo e de suas relações internas e externas.

Na mesma concepção de um corpo interagir com o meio em que vive, Karl Marx (1818-1883), com o recurso de seus sentidos, e não apenas em seu pensamento, observa que o trabalho é a ideia central para se entender o homem e sua corporeidade, pois no trabalho o homem exerce movimentos que pertencem à sua corporalidade – braços e pernas, entre outras partes – com o objetivo de alterar e utilizar a matéria natural para sua utilidade, assim o corpo se torna humano por sua atividade produtiva (GONÇALVES, 2012).

Figura 13 – Karl Marx

Porém, com a concepção capitalista – produção em massa e linhas de produção –, o processo de criação e produção por esse corpo foi alienado, sendo somente um mero reprodutor de movimentos produtivos, tratando o trabalhador como uma mercadoria (GONÇALVES, 2012).

No livro Manifesto Comunista (MARX; ENGELS, 1998, p. 15), os autores condenam com veemência a exploração do corpo do trabalhador, de sua força de trabalho, em que as características corporais do ser humano, como idade e sexo, não possuem valor ou significado, ou seja, “diferenças de sexo e idade não têm qualquer relevância social para a classe trabalhadora, só instrumento de trabalho, cujo preço varia conforme a idade e o sexo”.

Aquele corpo vivo, participante do processo de criação e produção, transformou-se em um corpo mecanizado, diferentemente da ideia de Descartes, principalmente após a Revolução Industrial, na qual é inserida a mecanização, a automatização das tarefas, tendo a mínima participação criativa e corporal do homem.

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O corpo do trabalhador não é somente alienado, mas é um corpo deformado pela mecanização e pelas condições precárias de realização de movimentos. Enquanto o trabalho com máquinas agride o sistema nervoso ao máximo, ele reprime o jogo polivalente dos músculos e confisca toda a livre atividade corpórea e espiritual (GONÇALVES, 2012, p. 63).

Figura 14

Figura 15 – Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII, onde se iniciaram a automatização e a mecanização do processo produtivo

Saiba mais

Para entender um pouco mais como a Revolução Industrial, além de transformar a economia da época, alterou a forma do corpo de se relacionar com o trabalho e a sociedade, assista ao filme:

TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Estados Unidos: 1936. 89 minutos.

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Figura 16 – Cena do filme Tempos Modernos

Quadro 2 – Os filósofos e suas concepções a respeito do corpo

Filósofo Concepção sobre o corpo

Platão

Platão baseava suas reflexões na concepção de dois mundos, o mundo inteligível e o mundo real, cujo corpo fazia parte do mundo real, sendo este imperfeito, corruptível e suscetível a erros. Já a alma pertencia ao mundo inteligível, perfeito, sem erros e

imortal. Traçando assim uma divisão entre corpo e alma, renegando a vida que ocorre no mundo real, em detrimento da busca do mundo perfeito ou inteligível.

AristótelesDiferentemente de Platão, não considerava corpo e alma dois seres distintos, mas que a alma era a vida do corpo, sendo observado como um complemento do outro, tendo

como pensamento-chave a observação da vida.

Santo AgostinhoO corpo era o cárcere ou a prisão da alma, o qual levava a alma, que era pura e perfeita,

ao pecado e, consequentemente, à morte, sendo um dos preceitos da Igreja, como forma de controle e doutrinamento na Idade Média.

DescartesO corpo era formado por duas substâncias, uma material e outra pensante, na qual a alma, que é a substância pensante, controla o corpo. A razão era a única forma de se

adquirir conhecimento, implementando, assim, o pensamento ou a ideia cartesiana de que a razão sempre será a razão e controlará o corpo.

NietzscheContrário à ideia cartesiana de Descartes, não acreditava que o corpo fosse somente

um máquina controlada pela alma, e o conhecimento, adquirido apenas pela razão, mas que o corpo interagisse com o ambiente, a sociedade em que ele está inserido. Só seria

possível entender a alma conhecendo o corpo primeiramente, e não o contrário.

Karl MarxO trabalho era a ideia-chave para entender como a corporeidade do homem se

expressava, pois o seu corpo era utilizado para construir e alterar a natureza para o seu uso, porém o ideal capitalista deforma e desfigura o corpo tornando-o totalmente

alheio à produção e ao processo criativo.

1.1.3 A corporeidade contemporânea

A visão dualista, desenvolvida principalmente pelos filósofos Platão e René Descartes, é antiga, porém ainda permanece fortemente no homem e na sociedade.

Pensadores, como Nietzsche e Marx, mudam a forma de ver o homem e, principalmente, como o corpo é observado, pois no pensamento dualístico e cartesiano o corpo sempre é oprimido, ou pela alma, ou pela razão.

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Porém, no pensamento contemporâneo se tem dado uma atenção especial – já vindo de Nietzsche e Marx – para a importância do corpo dentro de uma visão mais complexa do que é o ser humano e sua relação com o mundo.

Michel Foucault (1926-1984) e Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961), pensadores contemporâneos, podem ser destacados por terem uma visão complexa e abrangente das relações do corpo com o mundo, alterando o próprio mundo e o próprio corpo.

Figura 17 – Maurice Merleau-Ponty

O filósofo Merleau-Ponty traz em seus trabalhos a ideia totalmente contrária ao dualismo, visão cartesiana e mecanicista introduzida por Descartes, ao afirmar que o homem é um ser vivo, inserido em um meio definido, que parte de um desenvolvimento de projetos e atua na mudança desse meio (QUEIROZ, 2008).

Figura 18 – Michel Foucault

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Michel Foucault trata o corpo como uma esfera política, alvo de relações de poder na sociedade moderna, utilizado desde a Idade Média, por intermédio de castigos corporais e torturas, até a Idade Moderna e a Pós-Moderna (contemporânea), tendo um corpo treinado, submisso e dócil, passível de controle e manipulação (QUEIROZ, 2008).

O corpo segundo Merleau-Ponty

O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty dá início a uma nova época na filosofia para a vida, à historicidade, à subjetividade e à cultura do indivíduo e da sociedade cujo corpo tem sua plenitude em subjetividade e é recortado pela história, sendo o corpo presente nesse elo entre o indivíduo e a história, que irá refletir em decisões teóricas e práticas da vida e do conhecimento (NÓBREGA, 2007).

Saiba mais

Leia o artigo a seguir para compreender a trajetória de Merleau-Ponty:

NOBREGA, T. P. Merleau-Ponty: o filósofo, o corpo e o mundo de toda a gente! CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15., 2007, Recife. Anais eletrônicos... Recife: Conbrace, 2007. Disponível em: <http://www.cbce.org.br/docs/cd/resumos/129.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2016.

O ponto marcante da concepção de Merleau-Ponty sobre o corpo é a exclusão da ideia cartesiana e da separação, ao eliminar os pensamentos do empirismo e do racionalismo, em que é preciso escolher um dos lados, o racional, e tem como julgamento o saber ou a coisa como consciência (GONÇALVES, 2012; CARDIM, 2009).

Observação

O pensamento empírico, ou empirismo, toma o mundo com a realidade em si, sem reflexão. O racionalismo reduz todos os fenômenos do mundo a uma validação do conhecimento racional.

Merleau-Ponty apresenta uma visão diferente a respeito do corpo, ao encarar a percepção como algo distinto das sensações, mesmo sendo uma casualidade na questão de uma resposta condizente com um estímulo dado pelo mundo (NÓBREGA, 2008).

Por conseguinte, as sensações são fundamentais para a percepção, uma vez que a sensação não é um estado ou uma qualidade, nem consciência ou estado de qualidade, mas, sim, compreendida como um movimento da percepção, que, por sua vez, é uma atitude corpórea, tendo um pensamento diferente do empirismo ou do racionalismo, em que se considera somente a relação estímulo-resposta. Assim, a percepção é a apreensão do sentido ou dos sentidos que se

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faz através do corpo, pelo corpo, sendo este uma expressão criadora, com diferentes formas de observar o mundo e interagir com ele (NÓBREGA, 2007; 2008).

Esse pensamento tem como objetivo buscar a compreensão do homem de uma forma integral, desenvolvendo a ideia de um “ser no mundo”, o qual recebe um caráter ambíguo, sem a separação de corpo e alma, corpo e objeto, ao pensar no corpo sob a experiência do próprio corpo, em uma relação com o mundo ou outro corpo (GONÇALVES, 2012; CARDIM, 2009).

O corpo é tratado como um campo criador de sentidos, porque a percepção não é uma representação da mente, mas, sim, acontecimento da corporeidade. O corpo sensível, que é feito da mesma matéria que o mundo, pode interagir com ele, dando sentido aos seus acontecimentos, e ao mesmo tempo tem a difícil tarefa de escolher e tomar decisões (NÓBREGA, 2007; 2008).

Dessa forma, é interessante observar um ponto principal de o corpo ter uma intencionalidade, refletida pelo movimento, que é uma concepção principal, trazendo a ideia de que a percepção do corpo é uma inabilidade na falta de movimento.

Com essa realidade do corpo, ou a sua intencionalidade, que é refletida pelo movimento, é permitido a esse corpo sentir e perceber o mundo, os objetos e os outros corpos, possibilitando ao indivíduo imaginar, sonhar, desejar e pensar em outras características do corpo e do sujeito. Esse comportamento é reconhecido como exercício da corporeidade (MERLEAU-PONTY, 2006; NÓBREGA, 2007; 2008; MACHADO, 2010).

Tenho consciência de meu corpo através do mundo e tenho consciência do mundo devido a meu corpo [...]. O corpo é o veículo do ser do mundo, e ter o corpo é, para uma pessoa viva, juntar-se a um meio definido, confundir-se com alguns projetos e engajar-se continuamente neles. O corpo é o lugar onde a transcendência do sujeito articula-se com o mundo (GONÇALVES, 2012, p. 66).

Essa realidade e intencionalidade, ou seja, a subjetividade de Merleau-Ponty, está ligada à noção de liberdade, em que o mundo existe independentemente das formulações individuais do homem a respeito dos fatos, porém o mundo não está totalmente constituído e construído, dependendo das ações individuais e coletivas.

Logo, liberdade é a interação entre o interior e o exterior do ser humano e as escolhas, que são feitas em determinadas situações, resultado de estrutura psicológica e histórica, tendo uma mistura entre tempo natural, tempo afetivo e tempo histórico.

O gosto pessoal, as preferências, as rejeições e os desejos são confundidos por uma análise subjetiva, na qual se relaciona com o tempo vivido, o corpo, a sociedade, os objetos e os outros corpos. Esse comportamento é dirigido para as ações do corpo no mundo, porque essas ações subjetivas têm seu início no mundo, sendo significativas no conjunto de relações com o mundo vivido.

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Merleau-Ponty também considera, do que ele chama de campo da subjetividade, o contexto histórico, as relações sociais e o diálogo em relação à afetividade do sujeito. Já a experiência corporal e não intelectual é conquistada pelo movimento e pela percepção:

A percepção sinestésica é regra, e, se não percebemos isso, é porque o saber científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a ouvir e, em geral, a sentir para deduzir de nossa organização corporal e do mundo tal como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 308).

Considerando, dessa forma, que o homem desaprendeu a conviver com a realidade do corpo e a experiência que os sentidos trazem, sempre privilegiando a razão ou o intelecto (NÓBREGA, 2008).

Saiba mais

A respeito da relação entre a corporeidade e a subjetividade desenvolvida por Merleau-Ponty, leia:

DENTZ. R. A. Corporeidade e Subjetividade em Merleau-Ponty. Intuitio, v. 1, n. 2, p. 298-307, 2008. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/intuitio/article/view/4238/3356>. Acesso em: 3 nov. 2016.

Merleau-Ponty não concebe o corpo em partes, ou um conjunto de órgãos de sentido com funções e atitudes passivas de somente captar os estímulos, mas o corpo de um indivíduo/sujeito que olha, observa e sente. Essa experiência faz que o corpo reconheça o espaço como expressivo e simbólico. Esse comportamento é o potencial da atividade do ser humano criativo, sendo o principal constructo da capacidade de superar e criar estruturas nas experiências vividas pela percepção (MACHADO, 2010; NÓBREGA, 2008).

Os significados, trazidos pela percepção do mundo, expressam realidades estruturais que são manifestadas na corporeidade. Pelo corpo do ser humano, de forma sensível, ele se efetiva no mundo, que envolve toda percepção do ser humano e de seu corpo. O ser no mundo é reconhecido no corpo de forma sensível, não se reduzindo aos dados sensíveis, revelando propriedades do objeto ao mesmo tempo que revelam o caráter inesgotável das coisas (MACHADO, 2010).

Cardim (2009, p. 89) relata que “não podemos abrir mão, nem do ponto de vista subjetivo, nem do objetivo. O homem é simultaneamente sujeito e objeto, ativo e passivo”, em uma tensão dialética (GONÇALVES, 2012).

A experiência do corpo consigo mesmo é fundamental para o entendimento na relação homem-mundo, uma vez que nessa experiência existe a ambiguidade do corpo vidente e visível,

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“sentiente” e sensível. Quando a mão toca algum objeto, ao mesmo tempo, ela é tocada, ou seja, tem-se a existência de uma exploração do mundo com o conhecimento do corpo.

A reflexão não é constituída por uma consciência pura, mas, sim, enraíza-se na experiência sensível, na qual se encontram a gênese do sentido e o fundamento do mundo cultural [...]. A reflexão nunca abarca a realidade em sua totalidade, mas permanece aberta para novas significações (GONÇALVES, 2012, p. 68).

A vivência na percepção e na motricidade é a intencionalidade do corpo pelo movimento, o pensamento e as relações do homem com os outros e o mundo que o cerca. Tal vivência ocorre bem antes do que a dicotomia ou a separação entre o mundo e o ser humano, sujeito e objeto, como foi proposto por Platão e Descartes.

As experiências corporais só poderão ser devidamente compreendidas quando for superada a separação do sujeito-objeto, aceitando-se que o corpo sinérgico não é mero objeto, composto por partes com receptores sensíveis, como olhos e mãos, mas uma estrutura reflexiva do corpo. Não se pode cometer o erro de pensar que o corpo é somente corpo, nem somente espírito, e, sim, a união dessas estruturas contrárias.

O pensamento de Merleau-Ponty é composto de uma ambiguidade de um ser humano com uma intencionalidade – não somente uma máquina de representação da alma, mas também com consciência e corpo –, tendo uma unidade de raiz sensível, corpórea e da experiência original de ser no mundo.

1.1.4 O corpo segundo Foucault

A constituição do trabalho de Michael Foucault na concepção do homem moderno está ligada ao estudo das relações entre o poder, o saber e o corpo (SILVEIRA; FURLAN, 2003).

A história dos seres humanos é criada por diversos meios, e esse corpo reflete a cultura em que está inserido, tornando-se sujeito, em três linhas conceituais (ALMEIDA; BELLO, 2015):

• O sujeito produtivo.

• Como o sujeito se constitui ao longo da vida, por questões internas e externas.

• A forma pela qual o ser humano torna-se sujeito.

O corpo sofre os efeitos do poder, e os principais procedimentos de como o poder é manifestado sobre o corpo são a disciplina e a regulamentação (CARDIM, 2009). O poder intervém no indivíduo materialmente, refletindo no sujeito, em seu corpo, ou seja, em sua corporeidade, seus hábitos, sentimentos, emoções e ações (SILVEIRA; FURLAN, 2003).

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Esse poder que interfere materialmente na realidade mais concreta do sujeito – o seu corpo, o corpo social, adentrando sua vida cotidiana, é caracterizado como micropoder ou subpoder (SILVEIRA, 2007).

O controle que Foucault retrata em seus trabalhos não está relacionado ao poder político governamental, como disseminado pela filosofia marxista, mas em todos os locais – esferas sociais – e atinge todas as pessoas no processo de instalação de relações, na ação ou no conjunto de ações de um indivíduo sobre o outro.

Assim, estabelece não um poder único, mas diversas práticas de um poder cotidiano, que abrange todas as estruturas socias, por algum mecanismo de poder no qual se destaca a disciplina. Esta, por sua vez, instaura uma política do corpo humano por meio de uma série de intervenções e controles reguladores, sendo uma biopolítica da população, um controle de massa, e não individual, como era realizado na Antiguidade por meio de penitências e suplícios, portanto em uma microestrutura e em uma macroestrutura (ALMEIDA; BELLO, 2015; CARDIM, 2009).

Dentre as práticas disciplinadoras, podem-se ilustrar e enumerar a imposição de gestos, atividades, usos, repartições espaciais, cálculo de tempo e os sistemas disciplinadores – prisões, hospitais e escolas –, que são formas pelas quais o poder se constitui sobre o corpo na Idade Contemporânea.

Figura 19 – Ambiente escolar, onde os corpos são disciplinados

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Figura 20 – A escola tradicional moldando a corporeidade pelo uso da disciplina

Figura 21 – O sistema prisional é utilizado para uma doutrinação, por meio de uma disciplina punitiva, para os sujeitos que não têm ações condizentes com as estruturas sociais vigentes

Figura 22 – A cultura de uma pessoa perpassa pelo corpo

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Um corpo disciplinado significa aquele mantido sob controle, que, por sua vez, torna um corpo introjetado, ou seja, sem a consciência de questionamento pelo indivíduo. Essa disciplina leva a um autocontrole, sem necessitar de comando externo (GALLO, 2006).

Esse corpo dócil está relacionado a uma política de controle da energia produtiva individual cuja disciplina se baseia em quatro elementos (ALMEIDA; BELLO, 2015):

• A distribuição dos corpos em função predeterminada.

• O controle da atividade individual mediante reconstrução do corpo como portadores de forças dirigidas.

• Organização da formação pela internalização e aprendizagem de funções.

• Composição das forças pela articulação funcional das forças corporais em aparelhos eficientes.

Segundo Foucault (1987), a origem da disciplina se configura por meio de três formas de adestramento do corpo: a vigilância hierárquica, as sanções normalizadoras e o exame.

1.1.4.1 Vigilância hierárquica

Um sistema de controle sobre o corpo, que integra uma rede de controle vertical (hierarquia), utilizando-se de meio de observação e conferindo o efeito de fiscalização de produção, principalmente em sistemas produtivos, tendo como objetivo o lucro (por exemplo, as fábricas).

Figura 23 – Os sistemas produtivos utilizam-se da hierarquização da disciplina, para a fiscalização do processo de produção, otimizando os lucros

1.1.4.2 Sanção normalizadora

Um sistema duplo de recompensa e punição, com o objetivo de corrigir e minimizar os desvios do sujeito na sociedade onde vive, tendo como premissa a micropenalidade, com base em tempo e comportamento, fundamentando-se em leis, programas e regulamentos.

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Figura 24 – Caso o indivíduo não tenha atitudes condizentes com as normas e as lei sociais, ele acaba marginalizado e punido

1.1.4.3 Exame

Relacionado com as duas técnicas anteriores (vigilância e sanção) cujas relações de poder constroem o saber e constituem o sujeito de relações de poder e saber.

Esses são mecanismos de disciplina com os quais o poder, utilizado sobre o corpo, torna-o objeto e alvo de submissão. Por isso a disciplina tem como objetivo fabricar corpos exercitados para desempenhos e tarefas específicas, aumentando, assim, a força dos corpos em questões econômicas de utilidade, mas ao mesmo tempo diminuindo o corpo em termos políticos de obediência (SANTIN, 2008; MOREIRA, 2008; ALMEIDA; BELLO, 2015).

Foucault compreende o fenômeno corpóreo do ponto de vista bélico, como um jogo de forças, por meio do disciplinamento do corpo por uma força política, tendo a disciplina novas relações nos meios em que ela ocorre – tanto com barreiras arquitetônicas quanto escolares e instituições com níveis sociais.

Assim o corpo é educado, com relação à sua expressividade, sensibilidade e criatividade, tendo uma reflexão sobre os poderes e as práticas que moldam esse corpo na idade atual.

O corpo até hoje não alcançou uma libertação, pois sempre esteve preso a esquemas que o controlassem, desde um corpo manchado, que continha uma alma purificada, até um corpo sujeito de poder, que perpassa pela docilidade proposta por Foucault. Hoje o corpo esportivizado pode ser a última forma de uma imagem corporal – belo e forte –, pela qual se pode ter a ideia de mente sã em corpo são, criando os padrões de beleza atuais.

2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA

O corpo em movimento sempre foi e será um dos encantos para a Educação Física, independentemente de que área ou esfera esse movimento seja executado: um jogo recreativo, um ambiente escolar, uma dança ou no contexto de esporte de alto rendimento.

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Porém, se a compreensão desse movimento for realizada de uma maneira segregada – por exemplo, somente nos aspectos fisiológicos, como a via energética utilizada, ou nos aspectos psicológicos, como a aferição dos níveis de estresse ou ansiedade –, será que os seus resultados irão se expressar de maneira geral e completa?

Em muitos casos, a Educação Física acaba por ter uma visão reducionista do homem em movimento, sem o entendimento das necessidades do corpo ou do ser humano em movimento, pois acaba por excluir a complexidade de um ser ou um corpo físico, psicológico, cultural, econômico e político, ou seja, uma interação complexa e interdependente (ZOBOLI; BARRETO, 2011).

Tojal (2011) tem como base a obra do filósofo português Manuel Sérgio, na qual a motricidade emerge com um sinal da corporeidade de quem está no mundo para alguma coisa ou um objetivo. Com esse pensamento, o movimento está relacionado ao entendimento de uma compreensão e interação com o mundo e do mundo com o corpo/sujeito em respeito à complexidade do ser humano.

A motricidade representa a vocação de abertura do homem aos outros e ao mundo, funcionando, em certo sentido, como provocação (pro-vocação) que o liberta da solidão, para inseri-lo no plano da convivência. É ela também a verdade da percepção, entendendo esse perceber com o sentido de tornar presente qualquer coisa com ajuda do corpo (TOJAL, 2011, p. 27).

De acordo com Sérgio (1986, p. 11), “não estou diante do meu corpo, estou no meu corpo, sou o meu corpo”. Com isso, tem-se a ideia de uma linha complexa entre os componentes internos, como o sistema nervoso, e dos componentes externos, como a cultura captada a partir das experiências do sujeito, conferindo, deste modo, uma intencionalidade.

Filosofia

Antropologia

Desporto

História Sociologia

Epistemologia

Fisiologia

Dança

Psicologia

Biomecânica

Reabilitação

Etc.

Educação Física

Ergonomia Circo Etc.

Áreas científicas

Domínios de atividade e de estudo

Motricidade Humana(objeto de estudo)

Figura 25 – A motricidade humana envolve diversos aspectos e áreas de estudos do ser humano

Assim, a motricidade revela a intencionalidade operante do homem de se movimentar com sentido e conteúdo, relacionado à existência do ser humano, que tem como objetivo sempre se superar, e não apenas uma mera reprodução de movimentos preestabelecidos (TOJAL, 2011).

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Com esse pressuposto, a motricidade irá evidenciar a busca da superação de algo que interessa ao sujeito, que é particular, tendo como foco o seu máximo (TOJAL, 2011).

A educação não pode observar o corpo somente como uma estrutura composta por músculos, esqueleto e articulações, que compõem o sistema locomotor, ou seja, não deve se preocupar somente com o movimento produzido, mas também com o sujeito, o ser humano que produz o movimento (MOREIRA; NÓBREGA, 2008).

A motricidade representa um significado para o próprio corpo, pois apresenta um sentido, refletindo e manifestando a intenção do próprio corpo, aumentando o entendimento da percepção, que é a ligação entre o corpo e o mundo (MOREIRA; NÓBREGA, 2008).

Dessa forma, motricidade é muito mais do que um organismo, composto por um conjunto de conceitos, é o homem integral em movimento, expressando a sua corporeidade nos belos movimentos corporais, sempre com intencionalidades, em consonância com o mundo, relacionando-se com as coisas e inserindo o ser humano em um processo construtivo.

O homem tem suas primeiras experiências de exploração do mundo pelo movimento – motricidade –, constituindo um processo de humanização, pois a aprendizagem de cada indivíduo ocorre em sua relação com o meio social.

A motricidade humana é um fenômeno com extrema complexidade, pois ela não nasce pronta, não tem uma ordem cronológica, nem estágio que acontece, pois é influenciada pelo meio social, dependendo de uma interação. Apesar de se observar o ser humano como uma única expressão, esse ser unitário apresenta múltiplas dimensões que vão influenciar a sua motricidade; decorrente disso, a construção pode ser feita de uma infinidade de possibilidades.

Lembrete

A motricidade é a corporeidade representada pela intencionalidade de movimento.

3 A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE

Qual o foco dos estudos da Educação Física? Como a Educação Física compreende e intervém nele?

A resposta, para parte dessas perguntas, é que o principal objetivo dos estudos e da compreensão da Educação Física é o corpo do ser humano, que é estudado de uma maneira segregada e esquadrinhada em diversas áreas de atuação, como Anatomia, Fisiologia Humana, Biologia e Psicologia.

Existe uma tendência a uma visão dualista do homem na Educação Física, principalmente pelas pesquisas realizadas, cuja procura estava relacionada a constatações de corpos medidos, comparados, desmembrados em variáveis e tipologias (GONÇALVES, 2012).

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Essa separação em áreas é ruim para a compreensão do corpo do ser humano? Depende. Como foi discorrido até agora, percebe-se que a separação acaba por não entender o corpo como um ser único e indivisível, mesmo que, para um pensamento racional e científico, seja interessante o aprofundamento do conhecimento específico de cada área, e isso é muito válido.

[...] é fundamental que os especialistas não percam de vista a totalidade do ser humano. [...] as diferentes áreas do saber são apenas perspectivas, parcialização do homem, que, embora cooperem para o seu conhecimento, não desvelam seu ser total, mascarando muitas vezes sua essência (GONÇALVES, 2012, p. 140).

A Educação Física está relacionada à corporeidade e ao movimento do ser humano, ou seja, na intencionalidade do homem de um ser corpóreo e motriz, tendo como abrangências as diversas formas de atividades físicas, por exemplo, as ginásticas em geral, os jogos e as manifestações rítmicas, que incluem diversos tipos de danças, e os esportes em geral (GONÇALVES, 2012).

Essas formas de atividades físicas representam a cultura ou os fenômenos culturais de determinada região ou sociedade, e isso corresponde a uma apropriação pelo sujeito ou pelo homem, integrando a sua história, ao ser uma realidade sócio-histórica pertencente ao processo de formação da história da humanidade.

Por conseguinte, a Educação Física tem de tratar o conceito de corpo-objeto para o corpo-sujeito, aquele que apresenta uma intencionalidade, o que irá caracterizar a corporeidade, como apresentado na ideia de Merleau-Ponty (MOREIRA; SIMÕES, 2013).

Diferentes discussões envolvem a corporeidade, em diversas perspectivas teóricas que têm o objetivo de restabelecer a relação entre o corpo e a mente, ou seja, a corporeidade se apresenta como uma proposta de superar a visão mecanicista ou a dicotomia fragmentadora de uma unidade do ser humano. Dessa forma, o movimento passa a ser o reflexo ou a intencionalidade de um corpo com dimensões indissociáveis na constituição do sujeito (JOÃO; BRITO, 2004).

Mesmo por meio da ciência, na tentativa de compreensão do ser humano em suas diversas facetas, ele como um ser no mundo, que necessita ter o seu relacionamento com o meio em que se desenvolve para que lhe confira um significado, dentro da Educação Física, ainda se discute a abordagem de que o corpo é tratado com uma máquina de reprodução de movimentos preestabelecidos e determinados, muitas vezes chamados de técnicas, retratando um mecanizado.

A ideia de corpo-máquina, ou corpo-objeto, foi desenvolvida por Descartes, para quem corpo é concebido com o cárcere da alma ou da mente e só se movimenta pela ação da mente, sem nenhum tipo de reflexão ou intencionalidade.

Descartes relaciona o corpo-máquina a um relógio, que realiza um trabalho mecânico sem reflexão nem intencionalidade, o qual, caso apresente qualquer defeito, pode ser consertado, ou suas peças, substituídas, e voltar a funcionar corretamente (MOREIRA; SIMÕES, 2013).

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Figura 26 – Corpo-máquina: o corpo é tratado como um objeto, que pode ser reparado e modificado, sem considerar o contexto individual e cultural em que foi desenvolvido

Essa visão de corpo-objeto pode ser encontrada em conceitos estéticos das sociedades modernas, em que se tem um padrão a ser seguido na questão corporal segundo um modelo preestabelecido, por exemplo: se estão faltando seios, implanta-se organismos não pertencentes ao corpo; falta volume nas nádegas, também se implanta, tratando o corpo como um objeto passível de manipulação em busca de uma beleza padronizada (MOREIRA; SIMÕES, 2013).

O corpo-objeto participa de um mundo objetivo de trocas, e a sua realidade é determinada pelos interesses de um sistema social, uma vez que sua divisão possibilita ao corpo transformar-se em um objeto, uma mercadoria, que obedecerá a uma lógica de sistema. Logo, o corpo nunca será real, mas haverá modelos em que a realidade corporal deverá se ajustar com as suas transições e mudanças. Segundo Melani (2011), esses modelos instigam e forçam o consumo de bens do corpo real para se atingir o corpo ideal, porém são normalmente inatingíveis, gerando um fracasso e, consequentemente, uma angústia.

Deste modo, o corpo-máquina ou corpo-objeto é conhecido e trabalhado em seus mínimos detalhes e “mecanismos”, manipulando suas partes, ajustando, moldando e ditando seu funcionamento. Por isso está relacionado à Educação Física com uma abordagem mais biológica, pertinente à manutenção da saúde corporal, à conquista de aptidão física, que está envolvida com o desenvolvimento de capacidades físicas, habilidades motoras e desempenho esportivo (GONÇALVES, 2012).

Por exemplo, correr em volta da quadra, realizar movimentos preestabelecidos de alongamento sem saber o motivo e quais as funções desse movimento em processo repetitivo, em alguns casos até a exaustão, e, quando não se consegue obter os resultados esperados, apela-se para o uso de anabolizantes com o intuito de passar o limite imposto pelo corpo (MOREIRA; SIMÕES, 2013).

É o corpo-máquina, por isso mesmo acrítico, que busca, nas academias de ginásticas – templos modernos de adoração ao corpo –, modelar a massa muscular, espelhado em “Rambos” ou em atrizes e modelos famosos (MOREIRA; SIMÕES, 2013, p. 99).

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Tem-se na concepção de corpo-máquina as ideias desenvolvidas de um corpo dócil, um objeto de poder, pois pode ser manipulado, modelado, treinado, sendo o homem passivo perante o mundo real, e o ato de se obter conhecimento é uma mera adequação à realidade vivente, ou seja, um conformismo.

Assim, traz a ideia de um corpo-mercadoria, um corpo que pode ser comprado, modificado e trocado de acordo com ondas de modismos da cultura social vigente, relacionada com o capitalismo de consumo exagerado e desenfreado. Isso pode ser observado em diversas ações de marketing para padrões e expressões corporais da “atualidade” que têm resultado econômico extremamente vantajoso para quem controla as tendências vendendo ideias distorcidas (MORAIS, 2008).

Essa ideia de corpo-mercadoria, que vive de conceitos e padrões preestabelecidos pela cultura social vigente, como visto anteriormente, pode afetar o corpo e a corporeidade dos indivíduos de uma maneira danosa e prejudicial. Segundo Saikali et al. (2004), as questões culturais que determinam as normas sociais de relacionamento com o corpo, ditando práticas de beleza, manipulação e mutilação, têm um significado superficial e simbólico.

Em algumas sociedades, alterações no formato do corpo, no tamanho e na aparência têm papéis importantes, pois esses aspectos comunicam as informações sobre a posição/classe social a que o sujeito pertence. Ao longo do tempo, o corpo vem sofrendo alterações; por exemplo, até o início do século XX, a mulher tinha o corpo com mais concentração de gordura nos quadris, nas coxas, no abdome e no seios, pois na Era Pré-Industrial, em razão dos períodos de escassez de alimento, presumia-se que essas mulheres tivessem uma força de trabalho maior (BOSI et al., 2006).

No decorrer do século XX, principalmente após 1960, o padrão vem se alterando: busca-se um corpo magro com forma definida, adotada como um padrão de beleza e boa aceitação pela sociedade, que passa a constituir um corpo-objeto de consumo, levado em consideração um mercado crescente (BOSI et al., 2006; SAIKALI et al., 2004).

Tal busca pelo padrão de corpo ditado pela sociedade pode acarretar alguns problemas, como uma visão deturpada da imagem corporal, que é uma figura do próprio corpo, construída na mente, em relação ao tamanho, à imagem e às formas, haja vista que essa formação inclui processos que podem ser influenciados por fatores como crenças e valores inseridos pela cultura (RIBEIRO; VEIGA, 2010; SCHERER et al., 2010).

De acordo com Saikali et al. (2004), o conceito de autoimagem ou imagem corporal envolve três componentes:

• Perceptivo: relacionado à forma precisa da aparência física, que envolve estimativa do tamanho e do peso corporal.

• Subjetivo: relacionado à satisfação da aparência, associado à preocupação e à ansiedade.

• Comportamental: relacionado a situações de fuga pelo indivíduo, por ter momentos de desconforto ligados à aparência corporal.

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Essa construção da autoimagem e, principalmente, dos comportamentos relacionados a ela são acentuados por meio do reforço social, que é o processo de internalização de atitudes e comportamentos, mediante a aprovação dos outros, e da modelagem, em que se observa o comportamento de outras pessoas e, a partir disso, tenta-se reproduzi-lo ou imitá-lo.

Buscando essa afirmação pela sociedade, acaba-se gerando uma insatisfação com o próprio corpo, “frequentemente associada a uma discrepância da percepção e do desejo relativo a um tamanho e uma forma corporal” (BOSI et al., 2006, p. 109).

Com essa percepção deturpada da autoimagem, podem ocorrer os transtornos de conduta alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia, que têm as mulheres como principal vítima, acarretando problemas clínicos de comprometimento da saúde, levando ao afastamento de atividades profissionais e, em casos extremos, à morte (RIBEIRO; VEIGA, 2010).

A anorexia ou autoinanição pode ser fatal, e os indivíduos acometidos por esse transtorno têm uma imagem corporal distorcida; embora, geralmente, estejam abaixo do peso ideal, acreditam que estejam gordos ou obesos.

Figura 27 – A anorexia leva o indivíduo a ter uma imagem corporal distorcida

Os primeiros sinais da anorexia estão relacionados à realização de dietas determinadas e secretas, à insatisfação após perda de peso, às metas de peso mais baixas após atingir o peso inicial desejado, ao excesso de exercício e, nas mulheres, à interrupção da menstruação (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

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Já a bulimia está ligada ao consumo elevado de uma grande quantidade de alimento em um curto período de tempo e à eliminação desse alimento ingerido, principalmente, por indução do vômito, dietas rigorosas ou jejum, exercícios de altíssima intensidade ou laxantes e diuréticos. As pessoas com bulimia geralmente não estão acima do peso, porém têm uma preocupação com a boa forma e a sua manutenção (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Figura 28 – Apesar de ser um transtorno alimentar, uma pessoa que tem anorexia não necessariamente terá bulimia

Apesar de as mulheres serem mais suscetíveis à anorexia e à bulimia, os homens não estão isentos de apresentar algum tipo de transtorno de imagem corporal.

Ocorre uma grande pressão, principalmente por parte da mídia e da sociedade, em relação ao melhoramento corporal, vinculando o corpo perfeito à prática de atividade física como uma promoção da saúde e da credibilidade social, porém o excesso de atividade física pode acarretar riscos à saúde e desenvolver o transtorno de imagem corporal, como a dismorfia muscular (LIMA; MORAES; KIRSTEN, 2010; DEZAN; MACHADO, 2011).

Essa dismorfia muscular é um tipo de transtorno de imagem corporal em que o indivíduo tem a percepção de que é fraco e pequeno em relação à quantidade ou ao tamanho de sua massa muscular, mas na verdade apresenta uma musculatura desenvolvida em níveis acima da média populacional (FEITOSA FILHO, 2008).

A partir desse tipo de transtorno, é apresentada a vigorexia em que os indivíduos demonstram a descrição anteriormente relatada, manifestando uma preocupação anormal com a massa muscular, que pode levar ao excesso de atividades de força (musculação), práticas de dietas hiperproteicas (quantidades elevadas de proteínas), hiperglicídicas (quantidade elevada de carboidratos), hipolipídicas

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(pouca quantidade de lipídios e gorduras), uso de suplementos proteicos e, em casos extremos, consumo de esteroides anabolizantes (CAMARGO et al., 2008).

Em contrapartida, pessoas com vigorexia não fazem atividades com características aeróbias, pois acreditam que esse tipo de atividade acarrete perda de massa muscular, além de evitar a exposição de seus corpos, por sentirem vergonha (CAMARGO et al., 2008; DEZAN; MACHADO, 2011).

Para homens, a principal faixa etária acometida pela vigorexia é entre 18 a 35 anos, porém as mulheres que realizam atividades esportivas, principalmente musculação de forma intensa e contínua, sem respeitar as características de descanso e recuperação, com a intensão de aumentar a massa muscular e ter maior definição muscular possível, não se importam com as consequências da rotina de atividade ao sacrificar a vida social, os relacionamentos e o emprego, não estão isentas de apresentarem esse quadro (DEZAN; MACHADO, 2011).

Pope Junior, Phillips e Olivardia (2000) listam uma série de sinais de uma pessoa com vigorexia:

• Preocupação frequente de que seu corpo não seja magro e musculoso.

• Perda de oportunidades sociais, que teria usufruído em outras circunstâncias, especialmente por estar na academia.

• Gastar muito dinheiro em alimentos especiais ou suplementos dietéticos para aumentar a musculatura.

• Evitar a exposição do corpo, principalmente em situação em que possam vê-lo, como piscina, praia e vestiários.

• Realizar atividades físicas em situações de restrição médica e/ou de lesão.

• Ingerir drogas, como anabolizantes.

As principais causas na alteração da percepção da imagem corporal é uma imposição, pela mídia, pela sociedade e pelo meio esportivo, de um padrão considerado ideal e de que sem ele o indivíduo não terá sucesso e felicidade, tornando o corpo prisioneiro de um sistema de poder, ditado e modificado por regras, afetando a corporeidade de um indivíduo e até de uma população.

Falar de corporeidade, ou do seu conceito, é complexo e enganador, pois representa a superação da ideia ou do ideal de um corpo mutilado, que foi esquadrinhado observacional e laboratorialmente e tem o foco no ser humano integral e completo – o corpo que é vivo, complexo e existente (MORAIS, 2008; MOREIRA; SIMÕES; CARBINATTO, 2010).

O corpo carrega regras sociais, por isso é importante que, durante o processo de educação, o educador/professor conheça como o corpo do indivíduo funciona, seu organismo e seus movimentos, uma vez que o movimento humano é mais do que uma mera junção ou resultado de aspectos fisiológicos ou biomecânicos ou de um processo de aprendizagem motora (GONÇALVES, 2012).

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A corporeidade implica vida e existência do ser que pensa no mundo em que está inserido, pensa no outro e em si, com o intuito de perceber e entender as relações. Reaprender a todo o momento a enxergar a vida e o mundo. Buscar a existencialidade, ver os objetos tendo a perspectiva de entendê-los e, assim, aprender ou incorporar os mais variados significados, com o maior número possível de perspectivas.

A concepção do homem como uma unidade que se relaciona com o mundo permite visão e entendimento mais amplos do ser humano, que podem se tornar um facilitador, trazendo um sentido teórico-prático às diversas especializações ocasionadas pela racionalidade (mutilação) junto a uma conexão entre as diversas ciências que compõem a Educação Física.

Portanto, corporeidade é um conceito aberto, que requer compromisso com a existência. Conceber, perceber, viver e conhecer o corpo na Educação Física, individual e coletivamente, tendo como regra de qualificação do gênero humano.

4 O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A CORPOREIDADE

O profissional de Educação Física pode apresentar dificuldades em perceber a corporeidade na atuação profissional tanto pela característica do meio acadêmico (processo científico) quanto pela divisão na qual o ser humano em movimento é estudado para um aprofundamento em diversas áreas.

Porém ele deve formular uma concepção diferenciada em relação ao corpo humano; não ter a ideia de uma máquina perfeita ou a ser melhorada nas questões de rendimento, mas, sim, em uma corporeidade viva, existencial, racional e sensível (MOREIRA; SIMÕES; CARBINATO, 2010).

A corporeidade considera o sujeito, ao mesmo tempo, um ser biológico e um ser social, relacionado ao seu contexto social, o que muitas vezes não é entendido ou concebido por algumas áreas de conhecimento em razão das ideias de divisão do ser humano. O profissional de Educação Física deve ser capaz de compreender o homem em sua totalidade e produzir uma intervenção condizendo com essa realidade de um novo homem.

Aplicar essa concepção em sua atuação irá exigir do profissional a busca de um corpo possível em uma prática de atividade e exercícios físicos sistematizados, deixando de lado a ideia de um corpo ideal ou perfeito, abandonando o modismo que acontece sazonalmente nas diversas áreas da Educação Física.

A corporeidade está relacionada a uma interação do ser humano com o mundo em que vive, e isso é representado pelo movimento, ou seja, a motricidade, que é a intencionalidade, provocando a superação. O sujeito, por intermédio da prática de atividades físicas, tem de buscar essa superação e ir além das possibilidades, mas tendo como foco cada sujeito, de acordo com suas características, e não utilizando exclusivamente tabelas e referências de desempenho e aptidões físicas.

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Além disso, o profissional precisa buscar a inclusão de diversos tipos de corpos nos exercícios físicos, e não somente aqueles que apresentam um “potencial” para atingir a perfeição estética e performática.

Como dito anteriormente, o corpo não é uma junção de diversas partes ou diversos órgãos com funções distintas, como uma máquina, nem um ser de causa e efeito que recebe um estímulo e tem uma resposta condizente sem qualquer tipo de reflexão ou pensamento. O corpo é uma unidade integrada e complexa, com sentidos, razões e diversas experiências com o mundo, no qual mantém uma relação de dependência e individualidade.

O profissional não pode desprezar as experiências do sujeito e o sistema social ou a cultura em que está inserido, por isso sempre deve procurar contribuir para o desenvolvimento desse corpo real ou existencial que, ao se movimentar, busca a constante superação.

Isso faz que o profissional se utilize do corpo do sujeito, o qual é o autor de toda a sua história e sua cultura, que saiba trabalhar com o “sujeito relacional, criativo, dependente de conhecimento de si, dos outros e do mundo” (MOREIRA; SIMÕES; CARBINATO, 2010). Assim:

Viver é conviver, ou seja, viver com o outro, seja esse outro homem, mulher, criança, idoso, corpo escultural pelos padrões da moda, corpo dotado de restrições, mas todos, indistintamente, buscando superação (MOREIRA; SIMÕES; CARBINATO, 2010, p. 121).

Quando o profissional de Educação Física compreender essa concepção de um corpo-sujeito, um corpo dotado de uma percepção do mundo, ele agregará diversos valores que darão suporte à sua atuação.

Essa corporeidade exigirá um trabalho amplo do profissional, pois ele irá atuar com uma gama de sujeitos em contextos socioculturais distintos, ou seja, não apenas aquele que apresenta dificuldades em suas habilidades, mas também aquele com dificuldade em conseguir uma nova concepção no que diz respeito ao corpo, principalmente pelas mensagens vinculadas a diversos meios de comunicação em relação aos padrões estéticos e tipos de corpos aceitos pela sociedade, e até mesmo as atividades que devem ser realizadas para atingir esse corpo.

Na área de Educação Física, a compreensão de uma corporeidade integral faz que o profissional tenha consciência dos rumos que a área apresenta, com novos dualismos de ideia que tendem a distanciar o corpo da pessoa, por meio de um novo modelo de corpo, o sentido de humanidade.

O profissional deve valorizar esse sentido de humanidade, do entendimento de corpo do sujeito-autor, ao mesmo tempo, modificador de seu destino, e produzir uma história e uma cultura que também possa alterar.

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Resumo

Vimos nesta unidade que o estudo da Educação Física é dividido em áreas para uma compreensão mais aprofundada de cada aspecto do ser humano, porém isso acaba por não contemplar o ser integral, trazendo uma corporeidade limitada e não realista.

Desde a Grécia Antiga, o corpo do homem é objeto de estudos e reflexões, principalmente pelos filósofos, em diversos tipos de contexto, como no dia a dia, em condições de trabalho e nas criações de projetos. A concepção dos primeiros filósofos era de um corpo integral e belo, porém alguns começaram a criar a ideia de divisão – dicotomia entre o corpo (soma) e a alma (psique) –, que está relacionada com a mente.

O filósofo Platão é o precursor dessa separação e oposição radical entre o corpo e a alma do ser humano, obtendo, assim, um dualismo de realidade. Também concebeu o ideal de duas realidades ou mundos, quais sejam, o mundo real e o mundo das ideias. O mundo real, segundo Platão, é uma realidade sensível, captada pelos sentidos e composta de matéria, que é dada à corrupção. Os objetos produzidos nesse mundo são cópias das ideias (mundo ideal) perfeitas, mas nunca será perfeito, pois a matéria é corroída pelo tempo e está fadada ao desaparecimento. Já o mundo das ideias é uma realidade ideal, captada somente pelo intelecto, que seria a última verdade de todas as coisas, perfeita e eterna, sem transformações nem movimento, pois as coisas sempre serão como são.

Com essa concepção – de um mundo imperfeito e outro perfeito –, Platão considera que o corpo é algo pertencente ao mundo real, pois é feito de matéria, imperfeito – sempre tendendo a erros – e mortal. Já a alma é pertencente ao mundo ideal, portanto, perfeita e imortal. Com isso, o corpo é concebido como o cárcere – a prisão da alma, dando a ela uma característica quase divina –, e feito de uma matéria desprovida de inteligência.

Um filósofo com extrema importância na Grécia Antiga foi Aristóteles, que tinha uma concepção diferenciada de Platão. Para Aristóteles, ainda havia uma separação entre o corpo e a alma, porém não renegava ou rebaixava o corpo em detrimento da alma. Ele a considerava uma porção interior de vida que estava inteiramente ligada ao corpo, concebendo a ideia de um corpo real (mundo real), diferentemente de Platão, que tinha seu pensamento no mundo ideal. A alma era responsável por conservar

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e reproduzir a vida, trazendo a ideia de que o corpo tinha de ser forte e saudável. Aristóteles recomendava a prática de atividades físicas e exercícios, pois em sua visão a alma não sobrevivia sem o corpo.

Na Idade Média, o corpo era o fundamental e principal instrumento de sobrevivência do ser humano, uma vez que estava envolvido em todas as atividades de subsistência e comunicação com a sociedade. Todas as ações humanas estavam ligadas à noção de tempo, como as estações do ano, os períodos de semear e de colher, e o ritmo de reprodução dos animais.

Mas todas as ações estavam ligadas aos aspectos sociais da Idade Média, no caso, ao sistema de castas, ou seja, quem nascia em determinada classe social não tinha a possibilidade de mudar e melhorar suas condições sociais. Esse período também é marcado por um processo de descorporalização, principalmente por questões religiosas cujas instituições tinham o controle sobre diversas questões de ordem social vigentes.

Um dos responsáveis por esse processo foi Santo Agostinho, que definiu o corpo como a prisão da alma, o corpo concebido como forma de punição. Esse ideal está ligado ao platonismo, ou seja, a dicotomia entre corpo e alma, em que esta se sobressai em depreciação do corpo. Para Santo Agostinho, a função da alma é de vigilância sobre o corpo, pois tende a cometer pecados, impedindo de conhecer a verdade divina. Tal conceito perdurou por muitos séculos.

Entrando na era do descobrimento científico, o filosofo francês René Descartes, um dos precursores da sistematização do conhecimento científico, atribui à razão uma importância primordial no desenvolvimento do ser humano, formado por duas substâncias: uma substância material, que é o corpo, e outra pensante, que é alma, a qual controla o corpo. Esse pensamento coloca, então, a divisão cartesiana proposta por Descartes em que o corpo é somente uma simples máquina controlada pelo pensamento.

O pensamento cartesiano perdura até os dias atuais, em que as características do pensamento e das questões intelectuais se sobressaem sobre as questões corporais, como as sensações e a relação com o meio em que o sujeito está inserido.

Com uma visão diferente e oposta à de Descartes, Nietzsche não acredita que o corpo seja somente uma máquina controlada pelo pensamento, sem a concepção mecanicista. Ele considera que o conhecimento é adquirido pela razão, quando o corpo interage com o ambiente no qual o sujeito está inserido, e que só seja possível entender a alma quando se compreende o corpo.

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Em concordância com essa aproximação do corpo e da razão proposta por Nietzsche, tem-se o pensamento a respeito do corpo, de Karl Marx, cuja ideia-chave é compreender a corporeidade humana, no tocante a como o corpo consegue alterar o meio em que vive, tendo benefícios para seu uso, pelo trabalho. Porém a ideia capitalista deforma e, assim, corrompe o corpo, tornando-o alheio às alterações pelo processo produtivo e criativo.

Já na Idade Contemporânea, a concepção de um corpo integral é formulada principalmente por dois filósofos, Michel Foucault e Maurice Merleau-Ponty, com um pensamento mais complexo e abrangente de uma relação do corpo com o mundo.

Merleau-Ponty apresenta uma visão em relação ao corpo, diferentemente da visão do positivismo, que encara a percepção como algo distinto das sensações, mesmo sendo uma casualidade na questão de uma resposta condizente com um estímulo dado pelo mundo. Esse pensamento objetiva buscar a compreensão do homem de uma forma integral, tendo-o como o “ser no mundo”, recebendo um caráter ambíguo, sem a separação de corpo e alma, corpo e objeto, pensando no corpo sob a experiência do próprio corpo, em uma relação com o mundo ou com outro corpo.

A constituição do trabalho de Michel Foucault na concepção do homem moderno está ligada ao estudo da relação entre o poder, o saber e o corpo, que sofre os efeitos do poder, tendo a disciplina e a regulamentação como procedimentos principais de como o poder é manifestado sobre o corpo. O poder intervém no indivíduo materialmente, e este é refletido no sujeito e em seu corpo, interferindo em sua corporeidade, seus hábitos, sentimentos, emoções e ações.

O pensamento de Foucault e Merleau-Ponty conduziu as ideias a respeito da corporeidade e da motricidade atual na Educação Física, trazendo o conteito de observação e estudos de um ser integral, inserido em seu contexto social.

A motricidade humana representa a intencionalidade da corporeidade, uma compreensão do mundo em que o ser humano está inserido, considerando sempre as características biológicas junto aos aspectos socioculturais tanto do meio quanto dos que estão inseridos nos indivíduos. Pela motricidade, o homem tem suas primeiras experiências de exploração do mundo pelo movimento, constituindo um processo de humanização, pois a aprendizagem de cada indivíduo ocorre em sua relação com o meio social. Ela é um fenômeno complexo, uma

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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA

vez que observa o indivíduo como um ser unitário, o qual apresenta diversas dimensões que influenciarão seu desenvolvimento e sua interação no meio.

A Educação Física está relacionada à corporeidade e ao movimento do ser humano, ou seja, a intencionalidade do homem de um ser corpóreo e motriz, tendo por abrangência as diversas formas de atividades físicas, como as ginásticas, os jogos, as manifestações rítmicas – que incluem diversos tipos de danças – e os esportes em geral. Essas formas de atividades físicas representam a cultura ou os fenômenos culturais de determinada região ou sociedade, e isso corresponde a uma apropriação pelo sujeito ou pelo homem, integrando a sua história, ao ser uma realidade sócio-histórica pertencente ao processo de formação da história da humanidade.

Porém, mesmo tendo essa concepção de um ser integral, o corpo atualmente é tratado como um objeto ou uma máquina, com a ideia de corpo-objeto, capaz de manipular, mudar e trabalhar como uma máquina. O corpo-objeto, as características do consumismo e a busca de um corpo ideal acabam por trazer consequências de como os indivíduos se relacionam com seu corpo ou como eles concebem seu corpo. Isso pode acarretar alguns transtornos alimentares e de imagem, por exemplo, a anorexia, a bulimia e a vigorexia.

O profissional de Educação Física deve compreender o trabalho com o ser humano, que está em constante modificação e adaptação em virtude da sua interação com o meio. Dessa forma, o entendimento da corporeidade e da motricidade dará suporte para que ele saiba lidar com as características internas e do meio.

Exercícios

Questão 1. (Enade, 2007)

“- Culto obsessivo ao corpo pode provocar distúrbios.”

“- A gente prefere estar bonito a cuidar da saúde.”

A busca exagerada pelo físico perfeito atinge jovens que estão cada dia mais preocupados com a aparência. O problema acontece quando isso se torna uma doença e eles passam a praticar exercícios físicos em excesso e fazem uso de anabolizantes, ignorando efeitos e complicações ocasionados por tal procedimento.

Folha de S. Paulo, Caderno de Saúde, 4/9/2005 (com adaptações).

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Unidade I

Considerando o fragmento de reportagem apresentado anteriormente e a intervenção adequada do profissional de Educação Física, em termos éticos, é correto afirmar que, para promover um estilo de vida saudável entre os jovens na instituição em que trabalha, o profissional de Educação Física deve:

A) Proibir que esses jovens façam qualquer menção ou tirem dúvidas acerca do uso de esteroides anabolizantes, de modo a não dar publicidade a esse tema.

B) Fiscalizar a venda e o consumo de substâncias ergogênicas farmacológicas no local de trabalho, para reduzir o uso indiscriminado desses produtos.

C) Criar um selo que ateste a autenticidade dos esteroides anabolizantes para impedir a comercialização e o uso de produtos falsificados.

D) Estimular a prática de exercícios físicos para uma vida saudável e esclarecer as finalidades e os riscos do emprego dos esteroides anabolizantes.

E) Divulgar, entre esses jovens, casos de uso dos esteroides anabolizantes com fins estéticos que priorizam o culto ao corpo idealizado.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: pois também é responsabilidade do profissional de Educação Física informar quais são os malefícios do uso de esteroides anabolizantes e, assim, criar uma consciência sobre os danos desse uso no corpo humano.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: uma vez que a fiscalização sobre a venda de tais produtos cabe à Federação, aos estados e aos municípios, e essas substâncias ergogênicas só podem ser receitadas por médicos e dentistas, de acordo com a Lei nº 9.965, de 27 de abril de 2000.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: está incorreta, pois quem libera e atesta se um produto é verdadeiro e confiável para o uso em seres humanos é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os profissionais de Educação Física não têm essa autonomia.

D) Alternativa correta.

Justificativa: essa abordagem cria uma consciência a respeito do uso de recursos ergogênicos, principalmente o uso em tempo prolongado, e também dos motivos que levam um indivíduo a usar essas substâncias para a obtenção de um corpo aceito por uma sociedade padronizada.

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E) Alternativa incorreta.

Justificativa: em partes. É correto divulgar casos do uso de esteroides anabolizantes, porém não com o viés de que o seu uso seja a única forma de se obter um corpo idealizado por uma cultura que manipula o corpo para determinado estereótipo.

Questão 2. (Enade, 2007) Um profissional de Educação Física, no âmbito em que trabalha, diagnostica o grande interesse dos jovens pelas práticas corporais divulgadas pelas mídias impressas e nos programas de televisão que indicam dietas, medicamentos, cremes, peças de vestuários, calçados e aparelhos de musculação de última geração, que prometem que a pessoa atinja, em tempo reduzido, um corpo nos padrões divulgados como ideais pela mídia.

O profissional, então, sente-se desafiado a satisfazer essa demanda e, ao mesmo tempo, promover a capacidade crítica desses jovens.

Considerando-se as alternativas de fazer pedagógico diante do desafio dessa situação hipotética, como um profissional de Educação Física pode favorecer o desenvolvimento da crítica dos jovens às relações ideológicas entre corpo, subjetividade e cultura de consumo?

A) Comparando as principais vantagens dos métodos de emagrecimento comumente divulgados nas revistas de grande circulação.

B) Identificando as barreiras que impedem os jovens de experimentar as práticas corporais que sempre apresentam na televisão.

C) Comentando as características de novos equipamentos esportivos destacadas pelas propagandas para prática de exercícios.

D) Reconhecendo os conflitos de interesse existentes dentro do grupo em relação ao corpo e verificando a melhor maneira de harmonizá-los.

E) Debatendo vantagens e desvantagens das atividades corporais associadas com o conhecimento de si e de sua realidade social.

Resposta correta: alternativa E.

Resolução desta questão na plataforma.