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Cristologia. Atividade 1 Faça uma resenha crítica do texto a seguir, colocando seu entendimento e suas dúvidas de forma fundamentada. A resenha não é somente um resumo (este pode ser feito), mas é um comentário do seu entendimento e interpretação do texto, com notas críticas, feito com suas próprias palavras. As questões a seguir podem te ajudar nesta tarefa: 1. Tente descrever como que a cristologia do quérigma primitivo leva à compreensão da pré-existência do Filho de Deus. 2. Qual a importância do prólogo do Evangelho de João (Jo 1,1-18) para a cristologia neotestamentária? Metodologia. Em primeiro lugar leia o texto de forma exaustiva (uma, duas, três... quantas vezes forem necessárias). Procure entender de maneira geral qual o assunto tratado. Em seguida faça sua resenha, seguindo o esquema: Fazer no computador (Microsoft word) Folha A4 Margens: 2cm para os quatro lados Texto: fonte Times New Roman – tamanho 12 Espaçamento entre linhas: 1,5 Mínimo de páginas 4 e máximo 6 (nem mais, nem menos). Peça a alguém que te ajude na correção gramatical. Importante que o trabalho contenha seu nome completo e o curso (módulo) que está fazendo. Bom trabalho a todos.

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Cristologia.

Atividade 1

Faça uma resenha crítica do texto a seguir, colocando seu entendimento e suas dúvidas de forma fundamentada. A resenha não é somente um resumo (este pode ser feito), mas é um comentário do seu entendimento e interpretação do texto, com notas críticas, feito com suas próprias palavras. As questões a seguir podem te ajudar nesta tarefa:

1. Tente descrever como que a cristologia do quérigma primitivo leva à compreensão da pré-existência do Filho de Deus.

2. Qual a importância do prólogo do Evangelho de João (Jo 1,1-18) para a

cristologia neotestamentária? Metodologia.

Em primeiro lugar leia o texto de forma exaustiva (uma, duas, três... quantas vezes forem necessárias). Procure entender de maneira geral qual o assunto tratado. Em seguida faça sua resenha, seguindo o esquema: Fazer no computador (Microsoft word) Folha A4 Margens: 2cm para os quatro lados Texto: fonte Times New Roman – tamanho 12 Espaçamento entre linhas: 1,5 Mínimo de páginas 4 e máximo 6 (nem mais, nem menos). Peça a alguém que te ajude na correção gramatical. Importante que o trabalho contenha seu nome completo e o curso (módulo) que está fazendo. Bom trabalho a todos.

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,..._,

INTRODUÇAO À CRI STOLOGIA

1

. t i 1 .. ,,

JACQlJ ES DUPUIS

~ Edições Loyola

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INTRODUÇÃO A CRISTOLOGIA

Da proclamação do Ressia:itado à confissão do F'iUi

A 1 - . . ºdene ....proc amaçao pnmeira da fé pascal J., h . ....,d J . ª avia o[i quadro coerente e esus, mediante uma apres _ erecido . . entaçao . um va apenas o passo inaugural da cnstologia do No

que signifi d , , 1 d. ,. . vo Testa ca. verda e, e notave a 1stanc1a entre a cristologia d S Inento. N

· d d ' d d p · 0 enho R ª!la o enta o a e tra o ai, por ele constituíd r essus.

h , ·1· - 0 nosso s 1 a nos c amar a reconci iaçao com Deus e entre , . a Vador.. . . - . nos, naJu t' ,

amor, e a cn tolog1a da fihaçao divina de Jesu 'd s iça e no . , nasc1 0 de D nele preex1 tente. Mas o Novo Testamento consigna eus e . . I

, os avanços gress1vos e mmto re evantes dessa cristologia. E O q • pro.ue se ve não nas Cartas de Paulo, no Evangelho de João e no Ap 1. so, ��m também na Carta aos Hebreus e nos Sinóticos. Todos e ' . as - . sses escntos fixaram-se na pessoa de Jesus e nao mais simplesmente em su - I 'fi d d l d · · ª mis-sao sa v1 1ca, entro o p ano 1vmo. Obviamente, cada autor fará isso a seu modo, conforme sua

própria visão e seu objetivo teológico pessoal. Não temos intenção aqui, nem haveria espaço para tanto, de delinear a cristologia espe� cífica de cada escritor do Novo Testamento8

• Um rápido olhar para a cristologia de cada Evangelho sinótico mostraria como cada autor tem um jeito próprio de enfocar o mistério da pessoa de Jesus, e o Evangelho de João, por sua vez, caracteriza-se pela maneira profun­da, inigualável e nunca superada de tratar esse mistério. Pela riqueza de suas intuições peculiares, também mereceriam estudo à parte, entre outras, as cristologias de Paulo e da Carta aos Hebreus. Masaqui é-nos totalmente impossível essa empreitada. Preferimos esbo­çar, em termos gerais, o desenvolvimento orgânico da cristologia d�Novo Testamento, tal como ele emerge do "corpus" neotestamenta·rio, em seu conjunto. Nesse desenvolvimento, pode-se destacar alguns

marcos indicadores de um gradativo aclaramento da identidade pes­soal daquele que Deus constituiu Cristo e Senhor. Por eles, alé� hd

e. . d "Fd ooutros recursos, evidenciam-se várias fases de uma cnstologia 0

de Deus".

8 So . .,., mento, cf., por

· bre a cnstologia dos diferentes escritores do Novo .1esta

exemplo, R &ttNACKENBURG, op. cit, pp. 346-484.

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

J. Um desenvolvimento homogêneo em direção à "preexistência"

Mostrar esse aclaramento progressivo é tarefa realmente difícil. Na medida em que se deve distinguir as diversas etapas de com­preensão, é precis? �er cada �utor e cada te_xto em seu contexto e emseu significado ongmal. Sena enganoso nivelar todas as evidências,enaltecendo, a todo momento, uma profundidade de sentido alcan­çável apenas num estágio ulterior.

A propósito do título "Filho de Deus", acentuávamos seu signi­ficado metafórico no Velho Testamento e seu peso messiânico, se aplicado a Jesus, no querigma primitivo. Esse mesmo título irá ga­nhar, agora, pouco a pouco, uma significação "maior". Ao cabo desse desenvolvimento, ele se ligará, inequivocamente, à filiação única, on­tológica e divina de Jesus. Não se há de afirmar, porém, esse sentido onde ele não foi ainda entendido assim.

É claro, por exemplo, que a cristologia do Filho de Deus na narrativa da infância (Lc 1,32) diz apenas que o menino nascido de Maria veio de Deus e será chamado "Filho do Altíssimo". Nada, por enquanto, da filiação eterna e divina de Jesus, em sua preexistência. Refere-se apenas o fato de que ele vem de Deus, já em seu próprio nascimento.

Cada coisa é vista como se a condição divina de Jesus, contem­plado pelo querigma primitivo em seu estado glorioso de ressuscita­do, fosse, pouco a pouco, reconduzida ao passado, num processo de retroprojeção. Mas tudo isso acontece em etapas diferentes: nas narrativas da infância, o nascimento virginal é apresentado como sinal divino de que Jesus provém de Deus, desde o início de sua existência terrena. Não se toca na questão ulterior da origem eterna de Jesus como filho de Deus. Não se põe ainda, e por isso não se explica ainda, o problema da "preexistência" de Jesus, do mistério de sua pessoa antes e independentemente de sua vida terrestre. No momento e no lugar em que for considerado, esse problema levará Paulo e os fiéis de seu ambiente a novas intuições cristológicas (Fl 2,&-11; Cl 1,15-20; Ef 1,3-13 ... ) e, sobretudo no Evangelho de João, às alturas do Prólogo (1,1-18), onde, precisamente desse ponto de vista, a cristologia neotestamentária vai atingir sua culminância.

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

Tendo percebido na existência humana glorificada d S 1 . e Jesu condição divina e seu status de a vador universal, entre 8 sua. . ,,. 1 e . - gue a n. Por Deus era realmente, inevitave que a 1e cnsta meditas os' ' . se cada v mais no mistério de sua pessoa, pesquisando a origem de su ez· ·

e · ª excelsadignidade. Para tanto, o pnmeiro passo 1oi mostrar que O Jesu -pascal, desde o princípio e por toda a sua vida terrena, vin� pre-d . d ' l ' . fi 1 · ª deDeus e estava pre estina o a g ona, a ina manifestada pela r essur-reição. Os Sinóticos atestam esse ponto, quando Jesus é batizado rio Jordão, no começo de seu ministério público. Acontece aí u

noteofania que garante a origem divin� de Jesus (Me 1,11, com a du;:citação do SI 2, 7 e de Is 42, 1). Postenormente, a teofania no momen­to da transfiguração ressaltará a mesma realidade (Me 9, 7, com acitação de Is 42, 1). Voltar-se para os albores da vida terrena de Jesusfez os Sinóticos afirmarem a origem divina de seu nascimento huma­no (Lc 1,32), mas apenas isso! Ainda não se ultrapassou o limiar dapreexistência de Jesus.

Essa ultrapassagem, porém, seria inevitável e, além disso, pre­nhe de significação cristológica. Constituiria instância decisiva noestado da verdadeira identidade de Jesus, engendrando intuiçõesmais fundas do mistério de sua pessoa. Com efeito, se sua condiçãode Senhor ressuscitado era divina, coisa manifestada por Deus ecaptada pela fé, e se também essa condição divina, revelada em suaglória, permanecera oculta ao longo de seus dias terrenos, a começarde sua verdadeira origem divina, segue-se daí que, para além de suaorigem humana proveniente de Deus,Jesus estava e está com ele. Ele"preexistia", estava com Deus e em Deus, desde toda a eternidade,independentemente e antes de sua aparição corporal, visto que 0

homem não pode se tornar Deus nem mesmo pode de tornar tal por

obra de Deus. A condição divina de Jesus, que Deus exterioriz�u

quando da glorificação de sua existência humana, era apenas, e 0ª0

podia ser de outra maneira um reflexo em seu ser humano, daidentidade divina de que go;ava em sua �reexistência em Deus.

N- d rnar-seao pode o homem tornar-se Deus mas Deus Pº e to

homem E e J ' · ,, 1 chegana,. .

· 0 1.ez em esus Cristo. A essa afirmação 1ncnve JJl mevitavelmente, a reflexão de fé dos primeiros cristãos, graçasª �g-desenvolv' fi , • do quen imento pro undo das implicações cristologicas

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o DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

ma primitivo. Com espanto e maravilhados, fizeram tal descoberta e

a proclamaram jubilosamente, ao mundo todo, com a Boa Nova. Por

isso, pouco a pouco, se elaborou un:ia_ cris_t�logia neotesta�entária,

que não se limitava a afirmar a cond1çao d1vma de Jesus assim como

ficou patenteada em seu estado glorioso, nem se restringia a anun­

ciar a origem divina de sua existência humana. Seu escopo era pro­

por a preexistência de Jesus em Deus, de quem ele veio e por quemfoi enviado.

Essa cristologia irá desdobrar-se em duas partes complementares, caracterizada por dois movimentos: um para baixo e outro para cima, descendente e ascendente, se assim se pode dizer. Ela abrange todo o evento salvífico de Jesus Cristo, que veio de Deus, em quem "preexis­tia" eternamente, e, pelo mistério de sua morte a ressurreição, voltou para a glória de seu Pai. Nessa perspectiva, a glória da ressurreição não aparece mais como simples dom de Deus a Cristo, ao ressuscitá-lo dos mortos. Constitui também uma volta à glória que Jesus possuía em Deus, antes de ser enviado pelo Pai a cumprir sua missão terrena, e na verdade, "antes que o mundo existisse" (Jo 17,5).

Em Rm 1,3-4, encontramos um testemunho remoto do modo como, superando os limites do nascimento humano de Jesus, a refle­xão cristológica transpôs o limiar da "preexistência". Para Paulo, o Evangelho de Deus vê "Jesus Cristo nosso Senhor", "Filho seu, oriun­do, segundo a carne, da estirpe de Davi, estabelecido, segundo o Espírito Santo, Filho de Deus com poder, por sua ressurreição de entre os mortos". A descendência de Davi e a constituição com poder na ressurreição representam dois momentos, para baixo e para o alto, do evento Cristo. O primeiro é simbolizado pela "carne"; o segundo, pelo Espírito. Um é a entrada no mundo daquele que é o "Filho", preexistente em Deus; outro sua constituição como "Filho de Deus", glorificado pelo Pai. Tem-se, então, uma cristologia da pre­e�istência e descendente, anterior à cristologia da Páscoa, a cristolo­gia ascendente do querigma primitivo. O processo retrospectivo re­sultou, paradoxalmente, numa cristologia do "Filho" de Deus feitohomem, que se torna "Filho de Deus" na ressurreição.

Bom exemplo de um desenvolvimento cristológico completo,conjugando as linhas descendente e ascendente, deparamos com o

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

hino litúrgico citado por S. Paulo na Carta aos Fi�Ele fundara a Igreja de Filipos por volta de 49 d C ipenses (2,f>.11) · ·, e escr epístola pelo ano de 56 d.C. Contudo, se repararmo eveu essacitando um hino litúrgico transmitido aos filipense s que_ ele está. s precisa quando fundou aquela IgreJa, podemos concluir que es " mente d " . , . . 40 sa ªPote do crucifica o Jª ex1st1a nos anos . Ressaltando a i , 0se disso na evolução da cristologia neotestamentária, M. He;��:nciamente observou: g guda-

Tem-se a tentação de afirmar que, em menos de vinte anos O t . 1, . . d , eno-meno cnsto ogico seguiu um processo e proporções maiores d . , o queas alcançadas mais tarde, ao longo dos sete seculos seguintes, até adefinição dogmática da Igreja antiga9•

Trata-se de um hino de composição bem equilibrada. Pode ser dividido em duas partes, cada uma com três estrofes, que expõem, respectivamente, o movimento descendente e ascendente que inte­gra o evento Cristo em seu todo. As duas partes estão claramente interligadas pelo elo "por isso" (dio). Vamos transcrever esse hino, na seguinte composição métrica10:

Ele, que é de condição divina (en morphé tou theou)não considerou como presa a agarrar ( arpagmos) o ser igual a Deus. Mas despojou-se ( ekenõsen)tomando a condição de servo ( morphe doulou),tornando-se semelhante aos homens, e por seu aspecto, reconhecido como homem; ele se rebaixou, tornando-se obediente até a morte e morte numa cruz. Foi por isso (dio) que Deus o exaltou soberanamente e lhe conferiu o Nome que está acima de todo nome, a fim de que ao nome de Jesus todo joelho se dobre, 9. M. HENCEL, // Figlio di Dio Paideia Brescia, 1984, P· 18· acrésciJJl05

' ' . - h' e os

10. Quanto a outras opiniões sobre a compos1çao do �no392-408,

feitos por Paulo ao texto original, cf. R. ScHNACKENBURG, op. cit., PP· 94

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

Ce'us na terra e debaixo da terranos e toda língua confesse que

Jesus Cristo é o Senhor (_Kyrios),

para a glória de Deus Pai (Fl 2,6-11).

Sem entrar em minúcias exegéticas, podemos pinçar alguns pon­

tos importantes desse texto.

Salta aos olhos o duplo movimento, para baixo e para cima,

cada um com três estrofes das seis que compõem o hino. Jesus veio

de Deus, em cuja glória ( morphe theou) estava ( uparkõn) antes de suavida humana e, mercê da ressurreição, a ele retornou com sua exis­tência humana glorificada. A vida humana e a morte de Jesus na cruz são vistas como "auto-esvaziamento" (kenõsis) e realizam a figura tra­çada no Dêutero-Isaías do "Servo de Deus" ( morphe doulou) em cujos termos o mesmo Jesus contemplou a própria morte.

Em sentido contrário, mas análogo, a exaltação da ressurreição é apresentada numa forma que lembra muito os termos do querigma primitivo: o nome que está acima de todo nome, recebido por Jesus em sua ressurreição, é o nome de "Senhor" (Kyrios). Como se vê, essa cristologia não invalida a cristologia anterior, mas penetra com mais profundidade no mistério da pessoa de Jesus, suscitando e tentando explicar a questão de sua "preexistência" em Deus. A novidade, porém, decorre do anúncio pascal do Senhor Ressuscitado e abre espaço para uma cristologia mais avançada, que apenas expõe o que estava latente no querigma primitivo: quem é, realmente, esse Jesus Ressus­citado, que o próprio Deus fez Senhor? O que ele é para nós implica quem el.e é em si mesmo.

A cristologia funcional elimina, naturalmente, os problemas acer­ca da pessoa de Jesus Cristo. Responder a esses problemas significará o início de uma cristologia que passa do nível funcional para o onto­lógico. O dinamismo interno da fé pascal passa de um ao outro.

Mas não se deve considerar a Epístola aos Filipenses de forma est�n�ue. As cartas da prisão e as pastorais trazem outros hinos cris­�ologicos, igualmente ricos de doutrina cristológica. São textos mdi�ativos também da direção seguida pela cristologia paulina e pelaIgreja apostólica, rumo à transição gradativa do nível funcional ao

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

ontológico. Entre outros, vejam-se: Ef 2, 14-16; Cl l,15-20· lT Hb 1,3; IPd 3,18-20. ' rn 3,16;

É com razão, pois, que os teólogos encarecem a rei • . . . . . 1 . d N

evanc1a d hinolog1a pnm1t1va para a cnsto og1a o ovo Testamento G Se a . . . gal! por exemplo, assim escreve: a,

Quanto ao conteúdo cristológico, percebe-se logo a enorme im h. I - d . I . portan. eia dos mos na evo uçao a cnsto og1a, tanto na concepção da . , . d . • . D pessoade Cnsto, max1me e sua preex1stenc1a em eus, quanto na e

preensão de sua missão redentora universal, no espaço e no tem º�·po

2. Da preexistência à filiação divina

Afirmar, porém, a existência latente de uma cristologia ontoló­gica na cristologia funcional do primeiro querigma não significa dizer que aquela fosse deduzível desta ou que o fosse de fato, por mero procedimento dedutivo. Importa compreender, com efeito, que a preexistência e a identidade divina de Jesus não só vinham sendo pouco a pouco assentadas, como também tudo era tomado, precisa­mente, em termos de filiação divina. O título "Filho de Deus", com o sentido ontológico estrito que, gradualmente, assumirá quandoatribuído a Jesus, tornar-se-á a expressão privilegiada e acabada desua verdadeira identidade pessoal. Para entender isso, precisamos,passando além da experiência pascal dos primeiros fiéis, voltar aopróprio Jesus e a seus dias terrenos, tais como as primeiras comuni­dades cristãs os guardaram na memória. Separada do testemunhoque Jesus deu de si mesmo, a experiência pascal não seria suficientepor si só para explicar a fé cristológica da Igreja. Jesus, porém, vi:eusua filiação divina, em todas as suas atitudes e ações e, muito parucu· larmente, na oração, ao chamar a Deus de "Abba." Assim o fazia, sob o olhar estupefato dos discípulos, que partilhavam seu dia-a�ia. Sua consciência humana, como já notamos, era essencialmente fibal. Porcerto, apesar da novidade dessa oração de Jesus ao Pai, com O termo"Abba", os discípulos não chegavam a captar a profundeza desse rdª.

11. Cf. Il problema cristologico oggi, Cittadella, Assis, 1973, P· 71.

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

cionament� �e J�s�s com Deus. Todavia, desde que Deus permitiuque a cond1çao d1v1na de Jesu� se_ revelasse com a ressurreição, come­çou a se aclarar para eles o s1gn1ficado pleno dessa filiação divina.

A complexa cristologia neotestamentária da divina filiação onto­lógica de Jesus confere expressão objetiva à consciência filial queestava no cerne da experiência pessoal (subjetiva) que Jesus teve de

Deus, durante sua vida terrena. Somente agora se tornava claro para os discípulos o que antes vagamente vislumbravam. Em última aná­lise, a cristologia da filiação divina de Jesus tem e podia ter como base própria e definitiva somente,ª consciência filial do próprio Je­sus. No fundo, esta é sua origem. E apenas voltando atrás, repensan­do o que Jesus dissera de si mesmo, que se podia, afinal, perceber o mistério de sua identidade com Deus. "Quando Jesus se levantou dentre os mortos, os seus discípulos lembraram-se do que ele havia dito", escreve João no Evangelho (2,22), sinalizando o exercício de

memória pelo qual os discípulos, após a Páscoa, chegaram a com­preender quem era Jesus. Na seqüência, João mostra que esse proce­dimento de recordação e compreensão só podia acontecer sob a luz do Espírito Santo. Ele é que "vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que eu vos disse" (cf. Jo 14,26; 16,12-13).

Nesse nível do desenvolvimento da cristologia neotestamentária a que chegamos, dá-se, pois, uma interação constante entre as ques­tões levantadas pela reflexão cristã sobre Jesus e o testemunho do

próprio Jesus, tal qual foi gravado na memória dos fiéis. Na interpre­tação neotestamentária de Jesus encontramos o "círculo hermenêu­tico", e é por esse processo que se desenvolveram as respostas da fé, rumo à proclamação de Jesus como o Filho de Deus. O Jesus da história, exatamente como a exegese crítica é capaz de o revelar hoje, mediante a tradição dos Evangelhos, fez e declarou o suficiente Pª:ª justificar a interpretação de fé acerca de sua esposa, inter�retaçao

que a Igreja apostólica foi construindo pouco a pouco, a luz d�experiência pascal. Basta evocar alguns elementos acenados no capi­tulo anterior, como a autoridade com que Jesus anunciou O _plano e

- d ' Deus· 0 pensamento de Deus como se os visse no coraçao O propno ' ' · as mas sua certeza de que o Reino de Deus não estava prox•�? apen '

realmente começava por meio dele , por sua vida e auvidade; ª segu-

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,--INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

rança de que sua atitude em relação ao povo e às in�t· . · d - d •��o miJ2ores exprimiam a autu e e a açao o próprio Deu . es e seu �- - 1 ... s, sua s Ção de que estar aberto a e e e a sua mensagem era convie:, d. ... corresp pela conversão e pelo arrepen 1mento, a oferta divina d ºnder · 1 · a salva , , tornar-se discípulo seu equ1va 1a a entrar no Reino de D Çao e eus; e . ' de tudo, sua intimidade sem par com Deus, na oração. ' ac1nia

Os questionamentos que a vida e a pregação de J esus hnhsuscitado lograram, finalmente, �ma res�osta decisiva: Jesus é O F· ªlllde Deus. Retomava-se a expressao 151bhca tradicional, mas . ilho , . d fl - ... aphcad agora a Jesus, apos muitos anos e re exao; a luz da ex . A

a . � . d . , . d penenciapascal, à luz da expenenc1a o m1steno e sua pessoa, ela a _ _ . ssurne uma conotaçao tao nova que passa a caractenzar com propried d -d F'lh P · E · ª e a singular relaçao e 1 o com ai. assim se transmite e b . d d d d . , . , . , m ora

1na equa amente, mas com ver a e, o m1steno un1co e inefável d comunhão com Deus vivida por Jesus, o crucificado que ressur . ªd fil. - d' . d J b . - giu.Aclara a a 1 1açao 1v1na e esus, a na-se entao nova perspectivpara o discurso da fé. Já não se partia mais, como no querigm:primitivo, do sen_horio do Ressuscitado, n:as, inve_rtendo-se o enfoque,o ponto de partida era agora a comunhao de vida, o estar junto doPai e do Filho, antes e independentemente da missão que o Filhorecebeu do Pai. A preexistência de Jesus, antes de sua vida terrena,postulada pela condição divina de seu status de ressuscitado, era, narealidade, a existência na eternidade de Deus.

Portanto, tornou-se possível mudar toda a reflexão cristológica, partindo da contemplação do mistério indizível da comunhão do Pai e do Filho, na intimidade divina. Esse acento na preexistência de Jesus Cristo em Deus, como seu Filho, provocou expressiva alteração de perspectiva na cristologia e em toda teologia, como bem mostrou W. Kasper:Os enunciados neotestamentários sobre a preexistência expõem, ba­sicamente, de modo novo e com maior profundidade, o traço esca to­lógico da pessoa e da obra de Jesus de Nazaré. Nele Deus se �anife�tou e se comunicou de forma tão definitiva, incondicional e msupe

, l ... . terna derave , que Jesus incorpora a própria definição da essencia e D D ..

e · decorre queeus. o carater escatológico do evento Jesus nsto Jesus é Filho de Deus desde toda a eternidade e Deus, deSde ª eter-98

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

nidade, é o "Pai do Senhor Jesus Cristo". A história e o destino de Je u fundamentam-se, pois, na essência de Deus. Por ele, a natureza divina se manifesta como acontecimento. Por isso, os argumentos neo­testamentários sobre a preexistência conduzem a uma reinterpretação

mais ampla do conceito de Deus 12•

Realmente, essa abordagem eleva a cristologia do Novo Testa­mento a seu ápice. Sua expressão maior brilha no prólogo do Evan­gelho de João (1,1-18), ponto culminante da reflexão cristológica neotestamentária.

--

No início era o Verbo (logos), e o Verbo estava voltado para Deus ( ho theos) e o Verbo era Deus ( theos). Ele estava, no início, voltado para Deus. Tudo se fez por meio dele; e sem ele nada se fez do que foi feito. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, e as trevas não a compreenderam ... (1-5) E o Verbo se fez (egeneto) carne (sarx) e habitou (eskenõsen) entre nós e nós vimos a sua glória ( doxa); glória essa que, filho único ( monogenes) cheio de graça ( charis) e de verdade ( alitheia), ele tem da parte do Pai ... (14) De sua plenitude, com efeito, todos nós recebemos, e graça ( charis) sobre graça. Se a lei foi dada por Moisés, a graça (he charis) e a verdade (he alitheia) vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; Deus Filho único ( monogenes), que está no seio do Pai, no-lo revelou (exegesato). (16-18)

12. W. KAsPER, Gesu il Cristo, Queriniana, Brescia, 1975, P· 242,

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

Sem pretender uma exegese acabada do tex�IO o, a gurn ções nos parecem oportunas. autor aplica ao Filh as observ conceito de "Verbo" ( dabar) de Deus, extraindo-o � pr�ex:istente a.piencial do Velho Testamento. Distingue Deus, 0

p .ª literatura:.Verbo que é "Deus" (theos) 13• "E o Verbo se fez carnª1,, (

(ho theos), do

e sarx exprime o fazer-se pessoalmente homem do Verbo e " egeneto) , . . - , a carne". . a fragil cond1çao humana que ele compartilha com O h Indica h b. , " ( L .!..,. , ) l d , s ornens �Ea 1tou entre nos esru;nosen a u e a teologia veterotesta , . · shekinah, em razão da qual a Sabedoria "arma sua tenda"mentánadaentre os homens. Malgrado a debilidade da "carne" a 1�ª�ª morar - ' g ona (doxa)de Deus transparece, segundo Joao, por meio da existênci h d J d d • , . a uma. na e esus, es e seu 1n1c10, enquanto, para Paulo, a manifi d 1 , . , , d estaça0e sua g ona so acontecera no tempo e sua ressurreição e ex l a taçao.Jesus Cristo, o Verbo feito carne, é o "Filho único ( mono , )d D ,, D , genes e eus . . a1 que seu �er eterna?1ente g�;ª�º pelo Pai é expressode forma diferente do titulo func10nal de pnmogênito" (prototokos)dos mortos, atribuído a Jesus em sua ressurreição (cf. Cl 1,18).Definir o Verbo encarnado como "cheio de graça e de verdade" significa que ele é, pessoalmente, o máximo da bondade (emit, cha­ris) e da fidelidade ( hesed, alitheia) de Deus para com seu povo, porque, se a lei dada por Deus por intermédio de Moisés já era uma graça (charis),Jesus Cristo é a graça suprema (he charis) de Deus e sua mais alta manifestação de fidelidade a seu plano de salvação (he aletheia).

13. Temos aqui, ao que parece, o primeiro exemplo, no Novo Testamento, douso da palavra "theos" referida, claramente, a Jesus. Outros casos iguais aparecem"?Evangelho de João: a profissão de fé, depois da ressurreição, do apóstolo Tome(20,28); 1,18, em alguns manuscritos (monogenes theos) e, provavelmente, IJo \2�:Certos exegetas apontam ainda outros lugares no Novo Testamento, como Rm ' 'Cl 2,2; Tt 2,10; 2,13-14; At 20,28; 2Pd 1,1. Mas aí a referência ao Pai cabe melh

door.J ' hama Pelo que se estabelece em 1 Cor 8 6 Deus ( theos) refere-se ao Pai e esus e e ' ' . . . o no Novode Senhor (Kyrios). Parece então que, realmente, João foi o pnmei� '. hoTestamento, a usar, com referência a Jesus, o termo "Deus" ( theos), d1stl.n�o d

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L _ • • d "d1vm a e '

t,i.eos, aplicado ao Pai. Fica, assim, o sentido da palavra ampha O Pª� " N vo, . u• uca do o que se atribui tanto ao Pai como ao Filho. E a terminologia on , den·Testamento evoluindo para a terminologia "ontológica". Em Hb 1,8 theos eSW. GesiJ

da . - d R E BROWN, tro citaçao o Salmo 45,7. Ver sobre a questão, entre outros, · · Dio e Uomo, Cittadella, Assis, 1970.

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

Partindo do Prólogo, se lançarmos um olhar panorâmico sobredo O Evangelho de João, ficará evidente que o evento Cristo avulta,to

" d " " . d " O F'lh em sua plenitude, do exo os _ para � _a1so os . , 1. o eternamen-·unto do Pai, sua encarnaçao, a v1sao de sua glona na condição te J . - f - d E ., · humana, culminando na cruz e na ressurre1çao, a e usao o sp1nto,

tudo isso constitui o mistério de Jesus Cristo e seu acontecimento emsua amplidão total.

Apesar das semelhanças entre o hino cristológico da Epístola aos Filipenses e o Prólogo de João, cumpre admitir, sem reservas, ovalor do itinerário percorrido de um ao outro pela cristologia, con­forme R. Schnackenburg observou com justeza e agudez:

Não obstante a cristologia da exaltação e da glorificação, para João aparece um novo fulcro com a encarnação. Se o hino cristológico de Filipenses (2,6-11) visa ainda plenamente à entronização de Cristo como senhor do mundo e toma a preexistência somente como ponto de partida da vida de Cristo para entender a realidade inaudita de seu "aniquilamento" e "rebaixamento", é também sumamente importante para João a primeira mudança do mundo celeste para a moradia na terra. Agora, toda a vida de Jesus é vista de forma unitária, como um descer e um subir do Filho do homem (3,13.31; 6,62), como vinda do "Filho de Deus" ao mundo, para voltar de novo ao Pai (13,1; 16,28),

retomando novamente a glória primeira que lhe pertencia desde a criação do mundo (17,5.24) 14•

Com o Prólogo, pois, alcançou-se o patamar máximo, insuperá­vel. Fechou-se um círculo completo, que vai desde a condição divina do Ressuscitado até o mistério da comunhão eterna do Filho com o Pai. A economia divina de salvação produziu a teologia da vida ínti­ma de Deus. A cristologia funcional, pelo impulso do dinamismo interior da fé, desembocou na cristologia ontológica. À luz da expe­riência pascal, a resposta oferecida pela fé à pergunta "o que é Jesus para nós?" levou à resposta definitiva que a fé pode e deve dar à pergunta "quem é Jesus?".

Podemos afirmar que a cristologia do prólogo de João constitui ª resposta cristã decisiva à pergunta de Jesus a seus discípulos: "E vós,

14. R. ScHNACKENBURG, op. cit, p. 429.

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

quem dizeis que eu sou?" (Mt 16,15). Mas essa res-----------posta . l 'h d d so se t possível 00 final de onga camin a a e reflexão crist 1. . orn0uo og1ca A cri tologia com que se encerra o Novo Testamen . · " Vi . to e a . louia "para baixo . imos antes em que sentido se pode d' cristo.-o· . . . . , " lZer q cristologia do quengma pnm1tivo e para o alto", a saber Ue a

de que a condição divina de Jesus foi primeiro vista e afi ' pelo fato. ,. . h irmada p l estado glorificado de sua ex1stencia umana. Seguimos a e e o. . . . - orrente d questionamentos que essa pnme1ra mtu1çao desencadeou e. . e a rnu dança de perspecuva que, progressivamente, se realizou à . · , . d . f

, medida que se buscava, em n1veis ca a vez mais pro undos, a raiz dessa dição divina, que, afinal, seria posta no segredo da vida ínti con .

. d d d . ,. . ma de Deus, antes e 1n epen entemente a ex1stenc1a terrena de Je sus. Acristologia nascida desse enfoque totalmente novo torna-se nece · l d" b' "P d ' ssa-namente, vo ta a para a1xo . arte o ser eterno do Filho com

0 Pai, para chegar a seu fazer-se homem, na missão dele recebida, e a seu retorno à glória do Pai, por meio do mistério pascal. O Filho de Deus passou por um processo de crescimento huma­

no, vivenciando uma história humana própria. Seria puramente ca­sual a seqüência testemunhada pelo desenvolvimento da fé do Novo Testamento, seqüência que vai da cristologia para o alto à cristolo�a para baixo? Ou devemos afirmar, ao contrário, que esse envolvimen­to fora necessário, porque provocado por uma dinâmica intensa? Essa é a alternativa correta, pois, em última análise, a condição divi­na de Jesus Cristo, entrevista primeiramente pela fé, graças à sua manifestação na humanidade glorificada de Jesus, não podia, à medida que se tornava reflexa, continuar a ser posta apenas em sua hu��­nidade. Isso porque a humanidade glorificada era só uma de�il amostra de sua natureza divina. Era inevitável e necessária a inver�ºde perspectiva, pelos frutos que acarretou. Somente assim a reflexaosobre o mistério de Jesus Cristo pôde chegar a uma fase ma�urade• 1 " anuna a encontrar expressoes adequadas. A cristologia "para o a to , pelo dinamismo da fé, levou à cristologia "para baixo".

N• . d nte tenha ao se quer dizer, porém, que a cristologia descen e . to-b · 'd d A cns su st1tua o a ascendente, como se a tornasse ultrapassa a. • mal . d p , 1 d queng og1a o ro ogo e do Evangelho de João não anulou a O

0ud I . . . . das duas a greJa pnm1t1va, nem nos cabe, hoje, escolher uma 102

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O DESENVOLVIMENTO DA CRISTOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

eleger como principal uma das diferentes cristologias dos diversosautores do Novo Testamen,t�. Na_ verdade, elas subsistem comoenfoques distintos, fragn:entanos e 1ntercomplementares do mistériode Jesus Cristo, que, de �•, extrapola a todas, sempre superior à nossacompreensão cabal. Hoje, como na Igreja primitiva, as várias cristo­logias do Novo Testamento precisam ser valorizadas. A tensão entreelas deve gerar diálogos frutíferos que não nos façam escolher umaem detrimento de outra, impedindo-nos de incluir, em nossa visãoparticular, a plenitude do mistério e assim, talvez, perder de vista tanto a autêntica humanidade de Jesus como sua real filiação divina.

Por isso, embora a cristologia do Evangelho de João e, especial­mente, a do Prólogo representem, de certo modo, o ápice da cristo­logia neotestamentária, não podem transformar-se em modelo abso­luto e exclusivo, alijando por completo a cristologia anterior do que­rigma primitivo. Infelizmente, como se verá depois, isso aconteceu com certa intensidade e com conseqüências perigosas e negativas na história da cristologia, após o Concílio de Calcedônia, ainda que em relação indireta com ele. Ultimamente, verifica-se o contrário: inú­meros tratados cristológicos promovem uma reação maciça ao mono­pólio secular e unilateral do padrão cristológico "do alto".

Resta saber, porém, se a cristologia "de baixo", com a qual a reflexão cristológica recente se alia de novo à do querigma primitivo, poderá ser suficiente em si mesma e plenamente adequada se desti­tuída da visão complementar da cristologia "do alto". A julgar pela pluralidade de cristologias na unidade da fé, muito bem testificada pelo Novo Testamento, pode-se prever que os estudos cristológicos, para fugir a qualquer rumo unilateral, deverão sempre respeitar esse caminho duplo "do alto" e "de baixo", ou, o que é a mesma coisa, partindo da soteriologia, se chegará à cristologia e vice-versa, para assim perfazer o circuito completo, trilhando duas vezes todo o cami­nho acima citado. Talvez esteja aí o enfoque "integral" da cristologia.

Essa cristologia integral assinalará o papel legítimo e neces�ário da abordagem ascendente, atenta à forma pela qual o quengma primitivo apresentou a pessoa e a obra de Jesus: 'Jesus, o Nazoreu, h�mem que Deus tinha acreditado junto de vós, operando_ por e�emilagres, prodígios e sinais no meio de vós ... " (At 2,22) • A cnstologia

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INTRODUÇÃO À CRISTOLOGIA

de Pedro, no dia de Pentecostes, foi a cristologia da presença e daação de Deus no homem:Jesus. Uma cristologia de "Deus no ho­mem" e não do "Deus homem". Que quer dizer isso, hoje, para nós?

Finalmente, observamos atrás que, na meditação progressiva daIgreja sobre o mistério de Jesus Cristo, o Novo Testamento ocupa um espaço privilegiado, como ponto de referência necessário a qualquerelaboração ulterior. É o deve ser sempre a "norma última" ( norma

normans). Isso porque a cristologia neotestamentária representa a interpretação autêntica do mistério pela comunidade apostólica dos primórdios, interpretação inspirada pelo Espírito Santo e reconheci­da pela Igreja como Palavra de Deus. Vale ressaltar, contudo, que esse testemunho não é monolítico. Existe uma fé única, mas na plu­ralidade dos testemunhos. A tensão na unidade das diferentes cristo­logias do Novo Testamento garante, ainda hoje, a legitimidade e a necessidade de uma pluralidade de cristologias.

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