22
CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 [email protected] .br auladesociologia.wordpres s.com

CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 [email protected] auladesociologia.wordpress.com

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

CSO 089 – Sociologia das Artes

Aula 5 – 02/04/[email protected]

auladesociologia.wordpress.com

Page 2: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

Walter Benjamin (1892-1940)

• Ensaísta e crítico berlinense avesso a rótulos, a definições peremptórias, a conceitos estagnados.

• Judaísmo• Marxismo• Idealismo• Amizade com Brecht, Adorno, Horkheimer.• Vida atribulada.• Suicídio em Portbou em 1940.

Page 3: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução

• Texto polêmico de 1935, realizado quando de seu exílio em Paris.

• Trata-se, segundo Benjamin, de primeira tentativa de se fundar uma análise materialista da arte, dos signficados dos condicionantes técnicos aprofundados pela conjuntura superestrutural do capitalismo em seu pleno desenvolvimento, e de se ensaiar a apreensão das possibilidades de emancipação congregadas nas novas formas artísticas.

Page 4: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

Teses

• O texto divide-se em quinze teses, nas quais Benjamin desfilará seus argumentos de modo a iluminar paulatinamente e muitas vezes de forma aparentemente contraditória o fato de que há possibilidades tanto de emancipação quanto de regressão política adormecidas no seio dos novos modos pelos quais a arte se insere na sociedade capitalista.

Page 5: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

Preâmbulo

• Renúncia a tratar a arte de modo extemporâneo. Trata-se de enquadrá-la como efeito da totalidade superestrutural.

• Conceitos como poder criativo, genialidade, valor de eternidade e mistério eram apropriados pelo nazismo para justificar a estetização da política em marcha àquela altura.

• Tenciona “formular exigências revolucionárias dentro da política da arte”. P. 5.

Page 6: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

I – Princípio de reprodução.

• Técnicas de reprodução são distintas da mera possibilidade de reprodução das obras artísticas. Elas se impuseram como formas originais de arte no Século XX (Cinema e fotografia).

• Litografia prenuncia o advento do jornal ilustrado.• Fotografia prenuncia o advento do cinema falado.• “Com ela [fotografia], a mão encontrou-se demitida

das tarefas artísticas essenciais que, a partir daí, foram reservadas ao olho fixo sobre a objetiva”. p. 6.

Page 7: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

II – Autenticidade

• Aqui e agora: unidade da presença da obra de arte original no local em que se encontra (duração material e testemunho histórico).

• Autenticidade: conceito que perde seu sentido quando confrontado com a reprodução técnica porque:

1 – Reprodução técnica se distancia do original (fotografia e aspectos novos, ignorados pela visão)2 – Reprodução inaugura novas situações, como a aproximação da obra ao ouvinte ou ao espectador.

Page 8: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

II - Autenticidade

• Atinge-se a aura na época da reprodução, pois objetos artísticos são afastados de seu âmbito de tradição.

• Objeto reproduzido oferece-se à visão e à audição, sendo permanentemente atual a partir de então.

• Tal modo de apropriação correlaciona-se com movimentos de massa (liquidação geral da tradição).

Page 9: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

III - Aura

• Aura: única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que esteja (montanhas, véu).

• Decadência da aura: 1 – Massas exigem que as coisas se tornem humanas e mais próximas (perdem função social).2 – Massas tendem a depreciar o caráter de unicidade das coisas.• Ao passo que imagem associa unidade e duração da obra de

arte, reprodução associa realidade fugidia e acessível ao infinito (repetição idêntica pelo mundo).

• Alinhamento da realidade pelas massas é contrapartida do alinhamento das massas pela realidade.

Page 10: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

IV - Tradição

• Aura provém da função primordial da obra de arte: o culto ritualístico mágico-religioso (Vênus de Milo).

• Passa-se ao culto à beleza, quando processo social seculariza a função ritualística da obra. Conceito de autenticidade substituiu valor de culto.

• Surgimento da fotografia levou artistas à reação da arte pela arte, ou seja, religiosificação explícita do domínio artístico.

• Aspecto positivo da reprodução técnica: arte se libera da existência parasitária como função ritualística. Ela se baseia não mais sobre ritual e noção de autenticidade, mas sobre a política.

Page 11: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

V – Valor de Culto e Valor de Exibição

• Arte se inicia como objeto mágico, se prestando ao culto, não à exibição (cavernas, igrejas góticas).

• Com o tempo, arte passa a ser exibível.• Com a reprodução técnica, valor de exibição

suplanta de longe o de culto, outorgando à arte funções jamais vistas, conforme podem ser entendidas a partir da fotografia e do cinema.

Page 12: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

VI - Fotografia

• Valor de culto passa a ser secundário, residindo apenas no rosto humano (culto ao retrato, fotografias substituem a aura).

• Clichês e fotografias de Eugène Atget esvaziam esse valor, pois se trata de ruas vazias, que requerem itinerário (legendas).

• Textos orientam a visão, preparando o advento do filme, ou seja, para a linguagem de sucessão de imagens.

Page 13: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

VII – Fotografia é arte?

• Questão equivocada, assentada em pressupostos antiquados de uma velha estética que não capta o sentido dessa invenção com respeito ao caráter geral da arte.

• Benjamin dá exemplos de avaliações estetizantes transpostas ao cinema que tencionavam atá-lo às grandes artes, à Tradição.

Page 14: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

VIII - Performance

• Performance do ator no teatro difere frontalmente da do cinema pelo fato de não necessitar de mediação de conjunto de aparelhos.

• No filme, a realidade a ser reproduzida é sempre de segunda ordem, pois depende de série de intermediários entre o ato representacional e o público.

• Público se posta como perito que julga, sem contato pessoal com intérprete, mas com aparelho. É como se examinasse um teste, o que encerra de vez com o valor de culto artístico.

Page 15: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

IX – Cinema e privação da aura

• Pirandello: Homem atua com sua personalidade viva, mas privado de sua aura, do aqui e agora, pois público é substituído pelo aparelho.

• Ator é acessório no filme: não pode encarnar personagem de fato, como no teatro, pois tomadas são interrompidas, ajustadas, recortadas e montadas.

• Arte, definitivamente, abandona terreno da “bela aparência”, o que é revolucionário para Benjamin.

Page 16: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

X- Princípios de Alienação

• Imagem é transportada para o público. Ator vende não só força de trabalho, mas todo seu corpo, tornando-se um produto fabricado.

• Por um lado restringe aura; por outro, constrói “personalidade” vendável.

• Por enquanto, cinema tem como positivo crítica radical do antigo conceito de arte.

• Técnica do cinema requer semi-especialistas, como no esporte: todos querem falar sobre e participar (exemplo dos escritores e da internet).

Page 17: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

XI – Cinema e teatro

• Aparato necessário para o filme falado torna inconcebível comparação com teatro, forma que necessita apenas de um local.

• No cinema, aparelho técnico essencialmente cria uma nova realidade, a do cinema (variação de ângulos, montagens etc.).

• Comparação entre operador e pintor (cirurgião - interventor mecânico, e curandeiro - autoridade de homem para homem).

• Imagem do cinema é mais significativa do que pintura na modernidade, pois atinge aspectos que penetram na realidade.

Page 18: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

XII – Massa e arte

• Diminuindo importância social da arte, há divórcio na massa entre espírito crítico e sentimento de fruição. Desfruta-se o convencional, o próximo, sem criticar.

• No cinema não ocorreu tal dissociação. Caráter coletivo do julgamento é novo na história da arte.

• Reprodução destina-se à exibição às massas, ao contrário da pintura, por exemplo.

• Pintura, por mais progressista fosse, não poderia ser controlada nem consumida, atraindo o ódio das massas (surrealismo e comédia).

Page 19: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

XIII – Cinema e Psicanálise

• Psicanálise prestou-se a esclarecer a realidade individual através de aspectos aparentemente irrelevantes (ato falho).

• Cinema permanece na esteira do aprofundamento da percepção. “Ela [câmera] nos abre, pela primeira vez, a experiência do inconsciente visual, assim como a psicanálise nos abre a experiência do inconsciente instintivo”. P. 23.

• Em relação à pintura, proporciona um levantamento da realidade mais preciso. Em relação ao teatro, isola número maior de elementos constituintes da realidade.

• Cinema congrega a identidade entre arte e ciência. • Primeiro plano e ralenti.

Page 20: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

XIV – Suscitar a realidade

• Arte deve suscitar realidades que ainda não estão maduras, que só se concretizarão a partir do desenvolvimento material (técnica).

• “Cada vez que surge uma indagação fundamentalmente nova abrindo o futuro aos nossos olhos, ela ultrapassa seu propósito”. P. 24.

• Dadaístas: obra de arte como escândalo, como choque. Benjamin traça paralelo com o cinema, que trabalha por meio do choque no espectador.

• Contemplação (associação de idéias) X Esforço maior de atenção (idéias já vêm associadas).

Page 21: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

XV - Diversão

• Denúncia das massas: diversão X concentração. Para Benjamin, problema é mal posto.

• “Diversão é a obra de arte que penetra na massa”. P. 26.• Exemplo da arquitetura para ilustrar seu argumento.

Contemplação tátil (uso) e visual (culto). Tátil se dirige pelo hábito.

• Distração opera por meio de hábitos que a modernidade nos infundiu. Modo de percepção hodierno corresponde à atitude de diversão instigado pela nova arte, capaz da mobilização das massas por meio da diversão implícita que contém.

• Aficionado não necessita de esforço de atenção – é um examinador que se distrai.

Page 22: CSO 089 – Sociologia das Artes Aula 5 – 02/04/2012 dmitri.fernandes@ufjf.edu.br auladesociologia.wordpress.com

Epílogo

• Massas, propriedade e estetização da vida política como sucedâneos de mudanças reais nas relações de propriedade.

• Culto de um chefe, aparelhos técnicos a serviço da religião nazista.

• Guerra é o cume da estetização da política (Marinetti).• Forças produtivas e relações de produção: técnica é órgão

de destruição, não de humanização.• Fiat ars, pereat mundus. Satisfação artística de uma

percepção sensível modificada pela técnica. • Arte pela arte. Solução é politizar a arte.