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Curso ENSINO RELIGIOSO Disciplina PSICOLOGIA

Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

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Page 1: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Curso ENSINO RELIGIOSO

Disciplina

PSICOLOGIA

Page 2: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Curso ENSINO RELIGIOSO

Disciplina

PSICOLOGIA

Henrique PEREIRA Hildeberto MARTINS

www.avm.edu.br

Page 3: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

So

bre

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tore

s

Eu me chamo HENRIQUE PEREIRA, sou psicólogo clínico, atuando

no Rio de Janeiro e em Niterói. Obtive o título de doutor

em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de

Janeiro. Em minha tese de doutorado, examinei a psicologia

analítica de Jung segundo a perspectiva sociológica da teoria do

ator-rede de Bruno Latour. Organizo e ministro cursos de

extensão em psicologia junguiana e pós-junguiana. Atualmente,

leciono nas universidades Candido Mendes e Estácio de Sá, e no

Centro Universitário de Maringá.

HILDEBERTO MARTINS é psicólogo, bacharel e licenciado em

Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ);

mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da

UERJ; professor substituto da Universidade Federal Fluminense

(UFF), no biênio 2002/2004 e da Universidade do Estado do Rio

de Janeiro (UERJ), campus São Gonçalo - Formação de

Professores em 2003; professor da Universidade Estácio de Sá

(UNESA); doutorando em Psicologia Social pela Universidade de

São Paulo (USP).

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Page 5: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Su

mário

07 Apresentação

09 Aula 1

Um pouco de história da psicologia:

as origens do fenômeno psicológico

29 Aula 2

A psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos.

41 Aula 3

As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica

61 Aula 4

Teorias psicológicas:

comportamentalismo

79

Aula 5

Jung e a psicologia da religião

107 AV1

Estudo dirigido da disciplina

110 AV2

Trabalho acadêmico de aprofundamento

111 Referências bibliográficas

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Psicologia

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ão

Este caderno apresenta as discussões mais relevantes sobre a

psicologia a partir da história da ciência psicológica, passando,

então, para os alcances e limites do campo psicológico para a

explicação da realidade e seus possíveis efeitos práticos na vida

do indivíduo moderno.

Discute as bases científicas das principais teorias psicológicas e as

suas explicações do ser humano a partir de determinados níveis

de análise, e como elas explicam as ações humanas, usando como

referencial teórico o Estruturalismo e o Funcionalismo. Discute as

seguintes teorias: o Comportamentalismo (Behaviorismo), a

Psicanálise e a Psicologia Sócio-Histórica.

Apresenta as principais ideias do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung

e discute aspectos relacionados à religião a partir do ponto de

vista deste autor. Por fim, são discutidas as religiões e a

religiosidade no mundo contemporâneo, dando especial atenção

aos conflitos e às divergências próprias da diversidade da era

moderna.

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Este caderno de estudos tem como objetivos:

Conhecer um pouco das origens históricas da Psicologia

enquanto saber filosófico e modelo científico, e o surgimento da

Psicologia no Brasil;

Saber quais são os possíveis papéis e modos de intervenção do

trabalho e do conhecimento psicológico para a compreensão

daquilo que chamamos “natureza humana”;

Conhecer as diferentes teorias psicológicas sobre a questão da

subjetividade humana (consciência), apresentando a biografia

e os principais conceitos elaborados por psicólogos

preocupados em conhecer a dinâmica da natureza humana;

Compreender e reconhecer as diferenças teóricas e

metodológicas entre as principais teorias psicológicas de ontem

e de hoje para poder utilizar este conhecimento no campo da

Teologia;

Apresentar a influência da religião na obra de Jung tendo como

pano de fundo sua história pessoal e sua compreensão acerca

da psique, além de discutir as religiões no mundo

contemporâneo que tem consequências na forma de vida em

sociedade e afeta as relações sociais e políticas.

Page 8: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA
Page 9: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Um Pouco de História da Psicologia: as Origens do Fenômeno

Psicológico

Hildeberto Martins

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ão

Nesta aula trataremos da história da Psicologia enquanto saber

filosófico e modelo científico. Tomando como “ponto de origem” os

trabalhos de pensadores gregos, discutiremos as origens

históricas desse campo, já que a própria raiz etimológica da

palavra (seu significado) é derivada da Grécia Antiga. Veremos

ainda o desenvolvimento e a delimitação desse campo a partir do

surgimento da ciência moderna, que surge em decorrência dos

trabalhos de Galileu Galilei, Isaac Newton e René Descartes, entre

outros. Discutiremos a passagem na história da humanidade de

uma visão teocêntrica sobre o funcionamento do Universo para

uma visão mecanicista sobre este mesmo funcionamento universal

e como isso acarretou mudanças sociais, políticas, psicológicas e

científicas em toda a sociedade ocidental moderna. Finalizaremos

com uma discussão sobre os alcances e limites do campo

psicológico para a explicação da realidade e seus possíveis efeitos

práticos para a vida do indivíduo moderno. Tenha uma boa aula!

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jeti

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s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Conhecer um pouco das origens históricas da Psicologia

enquanto saber filosófico e modelo científico;

Compreender o surgimento da Psicologia enquanto ciência

autônoma;

Discutir o surgimento da Psicologia no Brasil;

Perceber as principais contribuições da Psicologia para a

compreensão do indivíduo moderno;

Saber quais são os possíveis papéis e modos de intervenção do

trabalho e do conhecimento psicológico para a compreensão

daquilo que chamamos “natureza humana”.

Page 10: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 10

A Psicologia e seus antecedentes

históricos: origens históricas e campos de

aplicação.

A psicologia é um conceito resultante da

articulação de duas palavras: psyché e logos. As duas

expressões, derivadas da língua grega, possibilitam que

psicologia possa ser comumente definida como estudo

da mente ou da alma. Porém, mais recentemente,

alguns autores emprestaram a essa palavra um

significado mais próximo dos avanços alcançados pela

ciência moderna, definindo a psicologia como estudo do

comportamento e dos processos mentais. Essa última

definição permite uma articulação entre os aspectos

físicos (comportamento) e os aspectos mentais

(definindo o cérebro como sua principal sede) em uma

única e abrangente definição do objeto do campo

psicológico. Essa nova definição atende aos propósitos

de compreender o homem como o resultado dos mais

variados fatores (biológicos e psicológicos), questão

bastante atual dentro do campo das ciências

denominadas humanas e das chamadas neurociências.

Outro termo que define a psicologia e o seu objeto é o

conceito de consciência (por isso é que para alguns

psicólogos a psicologia se define como uma ciência da

consciência, e que isto será o seu principal ponto de

diferenciação em relação à psicanálise). A consciência

será tomada como a “dimensão subjetiva da atividade

psíquica”, ou seja, a capacidade que cada indivíduo tem

de “entrar em contato com a realidade, perceber e

conhecer os seus objetos” (Dalgalarrondo, 2000: 63).

Dica do professor

Psyché: O seu significado está relacionado a sopro vital, respiração, alma, ser vivo e, consequentemente, às faculdades da alma, tais como: sentimento, desejo, apetite.

Dica do professor

Logos: Possui vários significados, como ciência, tratado, palavra, porém o mais utilizado por nós é no sentido de estudo.

Segundo Dalgalarrondo, a ideia de consciência teria

pelo menos três definições diferentes:

A definição neuropsicológica: toma a

consciência no sentido de estado vigil, o estado

de estar desperto, acordado, lúcido;

A definição psicológica: a soma total das

experiências conscientes do indivíduo em um determinado momento, sua dimensão subjetiva;

Page 11: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 11

Além desses usos, o termo psicologia é

apropriado para uma maneira bastante variada,

produzindo sentidos diversos através de seus usos

comuns e cotidianos. Todo mundo tem um certo

conhecimento acerca do que é psicologia, mesmo que

esse conhecimento não se confunda objetivamente com

o que chamamos ciência psicológica. Hoje em dia é

bastante comum o uso do termo psicologia ou

psicológico em vários campos da atividade humana.

Ouvimos pessoas dizendo a todo instante que alguém

usou de “psicologia” para falar com seus jogadores,

alunos ou empregados, e até mesmo para conquistar

um(a) parceiro(a).

Esse tipo de “psicologia” não é a mesma que

abordaremos neste caderno de estudo, já que esta é

usada no cotidiano e a definimos como psicologia do

senso comum, ou seja, uma psicologia que não está

calcada em um embasamento científico. Ela é

resultante dos hábitos dos costumes de um

determinado grupo social. As pessoas o usam para

construir explicações plausíveis sobre os problemas do

dia a dia a partir de um ponto de vista considerado

psicológico (Bock, 2001). Essa é uma maneira de

produzir conhecimento acerca da realidade que nos

cerca, e que é uma forma diferente de apropriação da

mesma. Esse tipo de conhecimento diverge daquele

conseguido pelo uso dos métodos construídos pelo

conhecimento científico.

Esse conhecimento acumulado ao longo do

desenvolvimento da nossa humanidade ocidental

permitiu um certo domínio da realidade e nos

possibilitou a construção de “teorias” acerca do homem

A definição ético-filosófica: toma a consciência

como a capacidade de tomar ciência dos deveres

éticos e assumir as responsabilidades, os direitos e

os deveres concernentes a essa ética.

:: Psicologia do senso comum:

É uma maneira de compreender os fenômenos psicológicos que não estão calcados em um embasamento científico.

Page 12: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 12

e do mundo. Desse movimento surgiram especulações

capazes de descrever e determinar as forças e as

características inerentes a certas substâncias materiais

e imateriais (corpos humanos e celestes). A partir daí

surgiram os modelos filosóficos e religiosos, cujo

propósito seria tentar explicar as causas últimas dos

fenômenos humanos e naturais.

A psicologia, contudo, que fique claro, não é um

corpo de conhecimentos unificado e nem é uma ciência

exata. Seus campos de aplicação são inúmeros e,

geralmente, seus teóricos não possuem um consenso

sobre os principais pontos de discussão da psicologia, o

que nos coloca diante de respostas variadas sobre o

mesmo fenômeno psíquico. Além disso, existem vários

fenômenos que ainda não são totalmente

compreendidos pelos psicólogos ou pela ciência, alguns

deles considerados como propriamente do campo da

parapsicologia (como a telepatia, a clarividência). Por

estes motivos, existe uma grande discussão, pelo

menos para alguns, em torno do estatuto de

cientificidade da psicologia.

A psicologia enquanto saber acerca da natureza

humana surge inicialmente nos movimentos filosóficos

gregos, que estudavam, entre outras coisas, a alma

humana como forma do corpo vivo, mas também como

substância separada da matéria, ou seja, a alma faz

parte do ser (vivo), mas é um ser à parte. Para esses

autores, existem formas do ser (potências ou

possibilidades) que se apresentam de modos diferentes

(substâncias), cabendo ao filósofo entender as variadas

maneiras de reação dessas misturas. Eles acreditavam

que essa era uma questão do campo da física e não da

religião. Alguns autores discutiram a sua

transcendência, ou seja, a sua existência para além da

finitude do corpo humano (diferenças de propriedades).

Pensadores gregos como Sócrates (468-399 a.C.),

Page 13: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 13

Platão (429-347 a.C.), Aristóteles (384-322 a.C.) e

Parmênides (510-470 a.C.) discutiram questões

referentes ao que eles denominavam alma. Contudo,

mesmo que as suas ideias de alma sejam totalmente

diferentes das concepções mais modernas desse

conceito ainda estamos bastante próximos e somos

herdeiros do pensamento grego.

No mundo ocidental, mais precisamente até o

século XVI, o que define o modo de funcionamento da

realidade individual e social será o Paradigma

Teocêntrico. Esse paradigma permitiu à Igreja definir

e controlar o modo de investigar a realidade e,

consequentemente, a maneira de se produzir

conhecimento em um determinado período da história

da humanidade.

No final do século XVI, houve o surgimento do

que viria a ser denominado como Paradigma

Mecanicista. Com o surgimento de um modelo

mecanicista, há a construção de uma nova noção de

mundo. O mundo moderno é pensado à imagem e

semelhança de uma máquina, já que esse mesmo

mundo passa a ser controlado pelas regras mecânicas e

objetivas das leis da física (como a física newtoniana),

que se torna o novo credo de uma nova religião: a

ciência moderna. Deus passa a ser pensado como um

grande relojoeiro, construtor de uma máquina perfeita

e regulada por regras precisas, que devem ser

conhecidas e explicadas cientificamente. O Mundo

Máquina passa a ser uma realidade concreta em uma

sociedade que até bem pouco tempo ainda obedecia

aos preceitos divinos. Contudo, essa mudança não é

instantânea e foi necessário que esperássemos a

invenção e aceitação de novas teorias e desconstrução

de antigos dogmas religiosos para que esse novo

paradigma fosse aceito como uma “verdade absoluta”,

tal como na fé há pouco criticada.

Quer saber mais?

Paradigma Teocêntrico: Deus como a causa de todas as coisas. As questões da ciência da época faziam referência às causas que afetavam a alma humana a partir de Deus, sendo que os fenômenos da vida eram geralmente compreendidos

como resultantes da vontade divina.

Quer saber mais?

Paradigma Mecanicista: Movimento mais significativo da história recente do mundo ocidental, já que seus efeitos não se restringiram somente ao campo científico, afetando também os campos cultural, social e político.

Page 14: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 14

O que o paradigma mecanicista aponta, e isto foi

o seu grande trunfo na batalha contra a religião, é a

demonstração que tanto o mundo como o homem

segue um princípio lógico e regular de funcionamento,

um funcionamento mecânico que pode ser observado,

mensurado, reorganizado e reduzido a uma descrição

matemática, portanto precisa, através de um raciocínio

analítico que segue as pistas deixadas pela natureza. É

seguindo essa linha de análise, que se propõe objetiva,

que Nicolau Copérnico em seu De Revolutionibus

Orbium Coelestium (Sobre a revolução das orbes

celestes), publicado postumamente em 1543, preconiza

que a Terra se move em torno do Sol e apresenta um

novo modelo de sistema cosmológico: o sistema

heliocêntrico.

Seguindo essa lógica investigativa aberta

inicialmente por Copérnico, Galileu Galilei em seu

Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (Diálogo

Sir Isaac Newton (1642-1727), físico, astrônomo e

matemático inglês, considerado por muitos o mais

importante físico da era moderna, aprofundou a

concepção de Galileu sobre o funcionamento dos

corpos (mecânica), estabelecendo em sua obra

Philosophie Naturalis Principia Mathematica

(Princípios Matemáticos da Filosofia Natural), de

1686, a lei da gravitação dos corpos, o princípio da

igualdade entre ação e reação. Toda a concepção da

mecânica newtoniana está intimamente

correlacionada a um rigoroso determinismo, no qual

a gigantesca máquina cósmica é completamente causal e determinada por leis físicas.

Nicolau Copérnico (1473-1543), na verdade um

aportuguesamento de Nicolaus Copernicus, que é a

forma latinizada de Nikolaj Kopernik, nasceu em

Torun, na Polônia, em 14 de fevereiro de 1473.

Estudou, na Universidade de Cracóvia, astronomia e

matemática. Estudou ainda na Itália, mas regressou

à Polônia para assumir posto de cônego da catedral

de Frauenburg. Por medo da censura eclesiástica,

demorou a divulgar suas revolucionárias ideias

astronômicas. Faleceu nesta mesma cidade em 24 de maio de 1543.

Page 15: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 15

sobre os dois Grandes Sistemas do Mundo), em 1632,

afirma que o universo [é] um texto escrito em

caracteres matemáticos. Cada uma à sua maneira, mas

ambos usando de premissas científicas, pôde

determinar que homem não é o centro da Criação

Divina e nem a Terra é o centro do Universo, negando

uma tradição iniciada na Antiguidade Clássica por

Cláudio Ptolomeu (100-178 a.C.) e respondendo por

isso, às vezes, com a própria liberdade por afirmar

novas verdades científicas.

No campo da psicologia, o grande nome que

influenciou suas concepções científicas sobre a natureza

humana foi o de René Descartes. As suas obras

científicas acerca do funcionamento da natureza

buscavam criar uma metodologia própria que lhe

permitisse alcançar a verdade, e cujo método de

investigação fosse baseado na dúvida (a dúvida

cartesiana).

Galileu Galilei (1564-1642), aportuguesamento de

Galileo Galilei, nasceu em Pisa, na Itália, em 15 de

fevereiro de 1564. É considerado o inventor do

método de experimentação moderno, sendo

reconhecido como um dos principais difusores do

racionalismo científico, já que elimina a

intencionalidade divina como causa do

funcionamento do universo. Estudou medicina,

astronomia, física e matemática. Dedicando-se aos

estudos astronômicos, tentou comprovar as teorias

de Copérnico comparando-as com o modelo de

Ptolomeu. Ao comprovar suas teses, foi condenado

pelas instituições religiosas de sua época (Santo

Ofício), que o acusavam de heresia. Passou seus

últimos anos em semirreclusão, vindo a falecer em

Arcetri, em 08 de janeiro de 1642.

Dica de leitura

René Descartes em seu livro intitulado Discours de la méthode pour bien conduire la raison et chercher la verité dans les sciences (Discurso do método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências), mais conhecido como Discurso do Método, de 1637, tenta demonstrar como a dúvida conduz à razão, trajetória que tem como objetivo e sentido a busca da verdade nas ciências – o que nos leva à essência da natureza humana no pensamento.

René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye,

na Touraine (França). Filho de um conselheiro no

parlamento da Bretanha recebeu herança suficiente

para uma vida de viagens e estudos. O fato que

mudou a sua vida foi uma série de sonhos quando

servia o exército holandês. Descartes contou que

teria sido visitado pelo “Espírito da Verdade”, o que

incentivou que buscasse a certeza do conhecimento

através da Matemática, única ciência rigorosa, segundo a sua opinião. Morreu de pneumonia quando

Page 16: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 16

Esse caminho em busca da verdade levou

Descartes à formulação do que pode ser considerado a

síntese lapidar de sua teoria sobre a natureza humana

e que se exprime na célebre e conhecida frase

cartesiana “Cogito, ergo sum’” (Penso, logo sou).

A ciência, como nós a conhecemos hoje em dia,

é o resultado do desenvolvimento do método científico

(séculos XVI/XIX). É mediante tal formulação que será

possível ao investigador conhecer a natureza das

coisas, inclusive a natureza humana. É a observação

empírica da natureza que nos possibilita conhecê-la, e

ao conhecê-la modificá-la e controlá-la.

A psicologia, como nós a conhecemos hoje em

dia, foi estudada inicialmente pelo fisiologista Gustav

Fechner, que mostrou como os métodos científicos

poderiam ser aplicados aos processos mentais. Seu

principal trabalho foi Elementos de Psicofísica, de 1860,

onde tentava demonstrar como elementos

experimentais e matemáticos podiam ser utilizados

como verdadeiros recursos para o estudo da mente

humana.

ainda ministrava aulas para a Rainha Cristina da Suécia, em Estocolmo, em fevereiro de 1650.

OBSERVAÇÃO EMPÍRICA

Esse modelo científico se basearia em alguns

princípios norteadores, tais como o determinismo

(todo ato é determinado por eventos passados e,

portanto, tudo é previsível); o reducionismo

(método de análise que pressupõe reduzir o objeto

investigado ao seu elemento mais simples); a

generalização (o funcionamento ou ocorrência de

um fenômeno é universal e, portanto, pode ser

generalizado); a experimentação (o fenômeno pode

ser reproduzido incessantemente através da

experimentação). A formulação de uma Ciência

Positivista apresenta a verificação dos fatos e o seu

resultado como verdades inquestionáveis,

baseando-se exclusivamente na objetividade intrínseca ao fenômeno observável.

Page 17: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 17

O principal marco histórico da origem da

psicologia como ciência autônoma, ou seja,

independente de outros campos científicos, foi a

inauguração do primeiro laboratório de psicologia

experimental do mundo em 1879, na cidade de Leipzig,

Alemanha. O seu fundador foi Wilhelm Wundt, que

acreditava que a psicologia deveria estudar os

processos elementares da consciência (experiência

imediata), suas relações com o mundo objetivo e suas

possíveis combinações, além de dar extrema

importância ao estudo da atenção. Seu método de

atuação formal era a introspecção analítica.

Em finais do século XIX, mais precisamente em

1892, Edward Titchener inaugurou um novo laboratório

de psicologia experimental em Cornell, Estados Unidos.

Ele foi o precursor do movimento conhecido em

psicologia como Estruturalismo.

E já em finais do século XIX, William James

inaugurou o movimento que ficou conhecido como

Funcionalismo.

John Dewey, outro grande representante do

modelo funcionalista, foi fortemente influenciado pela

Gustav Theodor Fechner (1801-1887) nasceu em

Gross-Särchen, numa aldeia chamada Ndlausitz, na

Alemanha, em 19 de abril. Formado em Medicina,

Física e Matemática, ele fez praticamente toda a sua

formação em Leipzig. Afastou-se por um certo

tempo de suas atividades acadêmicas por um

problema de visão e ao retornar tornou-se professor

de Filosofia. Seus trabalhos tentavam articular a

especulação metafísica ao empirismo científico então

nascente, sendo considerado um dos precursores da

psicometria. Criou a lei da relação entre intensidade

do estímulo e intensidade da sensação, também

chamada de lei Weber-Fechner, que era uma

tentativa de estabelecer uma relação exata entre o

mundo físico e a realidade psíquica. Morreu em

Leipzig, em 18 de novembro de 1887.

Quer saber mais?

Estruturalismo: Considerava que os psicólogos deveriam estudar as experiências sensoriais através da introspecção analítica em laboratório, analisando os processos mentais. Acreditava que a partir disso seria possível descobrir suas combinações e localizar no sistema nervoso as estruturas a eles

relacionadas.

Page 18: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 18

visão de William James e interessou-se pelo modo

como os processos mentais funcionavam na perspectiva

de melhor ajudar os homens a sobreviverem em um

mundo que estava se tornando àquela época cada vez

mais perigoso.

As ideias do movimento funcionalista deram

origem ao que hoje é conhecido como psicologia

cognitiva.

O Estruturalismo e o Funcionalismo enquanto

escolas psicológicas foram amplamente criticadas por

John Watson, que afirmava que os fatos da

consciência não podiam ser testados e nem

reproduzidos por observadores treinados, pois a

consciência é formada pelas impressões de cada

indivíduo.

Partindo dessa ideia inicial e estabelecendo uma

crítica radical ao modelo mentalista da psicologia,

Watson fundou, no início do século XX, uma nova

ciência psicológica denominada de Behaviorismo (ou

Comportamentalismo).

O Behaviorismo se preocupa em estudar os

eventos ambientais (estímulos) e o comportamento dito

observável (resposta) através de observações e

experimentações objetivas (descrição, explicação,

predição e controle do comportamento). Para os

behavioristas, a experiência influencia mais o

comportamento que a hereditariedade, mesmo que a

importância dada a esse fenômeno seja diferenciado

para cada autor representante dessa corrente

psicológica. Além disso, um dos principais propósitos

dos psicólogos behavioristas é empreender tarefas

práticas voltadas para a realidade cotidiana, como o

aprimoramento da aprendizagem, o aconselhamento de

pais, educadores e homens de negócio.

Quer saber mais?

Funcionalismo: Os funcionalistas acreditavam que os psicólogos deveriam estudar o funcionamento de todos os processos mentais através da introspecção informal (auto-observação e observação do outro) e de métodos objetivos como a experimentação. Além disso, os conhecimentos psicológicos deveriam ser aplicados a questões práticas, como a educação.

Page 19: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 19

A Psicanálise nasceu em finais do século XIX,

com Sigmund Freud, e se consolidou enquanto método

de intervenção terapêutica, através dos estudos deste

mesmo teórico, no século XX. A psicanálise interessou-

se inicialmente em encontrar repostas e produzir a cura

de pessoas que sofriam de problemas ou distúrbios

psíquicos e desordens neuróticas, como a histeria. O

método terapêutico difundido por Freud foi baseado na

associação livre. A intenção com este recurso

metodológico era permitir o acesso de conteúdos

inconscientes à consciência, melhor dizendo, atualizar o

conteúdo reprimido que estava no inconsciente. Os

principais conceitos para a teoria psicanalítica são o de

inconsciente, pulsão e recalque ou repressão. A

psicanálise propõe a discussão do funcionamento do

aparelho psíquico e de seus efeitos para a construção

da realidade. Para ela ele é dividido inicialmente em

inconsciente, consciente e pré-consciente (denominado

de primeira tópica) e, em um segundo momento, em

id, ego e superego (denominado de segunda tópica).

Surgido a partir das críticas levantadas em

relação às ideias propostas por certas escolas

Dica do professor

Associação Livre: O relato espontâneo do paciente de tudo o que lhe vinha à mente (definido como a regra fundamental da terapia psicanalítica).

Sigmund Freud nasceu em seis de maio de 1856,

na cidade de Freiberg, Moravia. Viveu grande parte

da sua vida em Viena, na Áustria. Por causa de sua

descendência judaica sofreu sérias dificuldades em

seus primeiros anos de estudos, formando-se

tardiamente em medicina no ano de 1881. Durante

a sua formação médica foi um grande discípulo das

ideias de Jean Martin Charcot (1825-1893) e Josef

Breuer (1842-1925) e, consequentemente, do método

hipnótico e da sugestão antes de inventar um

conceito-método fundamental para a ciência

psicanalítica: a associação livre. Contudo, o que

determinou definitivamente esse novo campo de

estudo sobre a subjetividade humana foi a

elaboração do conceito de inconsciente. Com o

acirramento do movimento nazista na Alemanha e a

perseguição aos intelectuais conseguiu transferir-se,

em 1938, para Londres, Inglaterra, onde se refugiou

em decorrência da perseguição nazista. Morreu em consequência de um câncer nesta capital, em 1939.

Page 20: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 20

psicológicas (como as ideias behavioristas), o

Cognitivismo é representado por uma gama de

teóricos das mais variadas formações e interesses

(como Jean Piaget e Lev Vygotsky). O que os torna

próximos é a tentativa de determinar os fatores

constituintes do processo de aquisição do conhecimento

humano. O que une tendências tão diversas em um

mesmo guarda-chuva conceitual é a premissa de

compreender, definir e descrever o ser humano como

um sujeito ativo e construtor do seu saber e,

consequentemente, do mundo, mesmo que para alguns

autores esse sujeito possa ser pensado como

invariavelmente universal, como exposto nos trabalhos

piagetianos, ou resultante de um processo histórico e

social característico da nossa espécie, como faz crer a

proposta vygotskyana.

Jean Piaget nasceu em Neuchâtel, na Suíça, no dia

9 de agosto de 1896. Desde muito cedo demonstrou

interesse em mecânica, zoologia e outros ramos da

ciência. Formou-se pela Universidade de Neuchâtel,

em 1918, publicando ainda nesta ocasião duas

composições filosóficas. Estudou e estagiou em

laboratórios de psicologia e psiquiatria, fazendo

estudos sobre desenvolvimento mental infantil.

Ocupou várias cadeiras, entre as quais as de

psicologia, sociologia e história de ciência em

Neuchâtel. Iniciou seus estudos em psicologia

genética e experimental em 1940. Ocupou a direção

do Instituto Jean-Jacques Rosseau, de Genebra, em

1923. Foi também diretor do Centro Internacional de

Educação, de 1929 a 1967. Esteve no Brasil em

1949 como professor-conferencista dando palestras

na Universidade do Brasil (atual Universidade

Federal do Rio de Janeiro). Em 1955, criou e dirigiu

com a ajuda financeira da Fundação Rockefeller, até

a sua morte, o Centro Internacional de Epistemologia Genética. Morreu em 1980.

Lev Semenovich Vygotsky nasceu em 17 de

novembro, na cidade de Orsha, Bielarus, na antiga

União Soviética. Sua formação educacional foi

iniciada por tutores particulares e só ingressa em

uma instituição escolar em 1911. Formou-se na

Universidade de Moscou em Direito fazendo um

trabalho sobre Hamlet, de Shakespeare. Estudou

ainda história, filosofia, literatura, medicina e psicolo-

Page 21: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 21

Apresentamos a vocês uma breve história da

psicologia, descrevendo de maneira bastante sucinta as

principais escolas de pensamento psicológico que

surgiram com o intuito de explicar e definir o que seria

o fenômeno psicológico. Contudo, o objetivo deste

caderno não é a análise de todas elas, mas sim das que

podem ter uma importância significativa para o campo

da Teologia e para a compreensão do desenvolvimento

psíquico humano e suas implicações sociais. Por isso,

trabalharemos basicamente com duas teorias

psicológicas: o Behaviorismo e a Psicanálise.

Acreditamos que essas duas escolas permitirão

um entendimento significativo das diferenças e

divergências presentes no campo da psicologia e ainda

servirão de “ferramentas” de análise para a

compreensão de certos fenômenos psicológicos.

Para navegar

Para saber um pouco mais de História da Psicologia, recomendamos que você leia o livro História da Psicologia Moderna (1999), de Duane Schultz e os sites http://www.geocities.com/Athens/Delphi/6061/linha.htm (acessado em 12/06/2008) http://www.scielo.br/pdf/epsic/v3n2/a03v03n2.pdf (acessado em 12/06/2008).

gia, sendo que algumas dessas formações nunca

foram concluídas. Outra área que lhe interessou foi

a pedologia (ciência da criança, que congrega

aspectos da biologia, psicologia e antropologia). Em

1917, começa a ministrar aulas de Psicologia em

Gomel e ainda cria um laboratório de Psicologia na

escola de formação de professores. Usaria como

base filosófica de suas pesquisas o materialismo

dialético. Vygotsky descobriu que estava tuberculoso

em 1920. Retornaria para Moscou em 1924 para

trabalhar no Instituto de Psicologia desta cidade. Já

em 1925, trabalhos de sua autoria são publicados,

recebendo certo reconhecimento acadêmico. Seus

principais trabalhos e ideias seriam publicados e

divulgados postumamente por seus discípulos, já

que veio a falecer em 11 de junho de 1934, com

somente 34 anos.

Page 22: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 22

EXERCÍCIO 1

O que significa psicologia e quais são os seus

antecedentes históricos?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

A Psicologia no Brasil

A psicologia surge no Brasil como objeto de

estudo desde o final do século XIX, sendo estudada

principalmente por religiosos e por médicos brasileiros.

Esses estudos se dividiram em torno dos aspectos da

alma e do livre-arbítrio (campo religioso) e a respeito

dos aspectos fisicalistas e comportamentais (campo da

medicina). Ambas as correntes tentavam explicar o

desenvolvimento da sociedade brasileira a partir de

determinados fatores relacionados a aspectos

psicológicos.

Os discursos sobre a psicologia e o seu ensino,

até o início do século XX, estavam vinculados ora ao

curso de filosofia, ora aos cursos de medicina (como foi

o caso dos estudos em Psicanálise), passando a ser

independentes somente bem mais tarde. As práticas

psicológicas eram exercidas no Brasil em vários setores

da nossa sociedade, sendo possível encontrar

atividades voltadas para esse objetivo no campo da

pedagogia, filosofia, direito, medicina, higiene mental

ou saúde mental, como se podia perceber pela criação

de um laboratório de psicologia na antiga Colônia de

Psicopatas do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro,

em 1923.

Page 23: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 23

A psicologia como ciência autônoma, ou seja,

desvinculada do campo médico, religioso ou filosófico,

surgiu no Brasil a partir do final da década de 1950,

quando há o desenvolvimento das primeiras faculdades

de Psicologia. O primeiro curso de psicologia no Brasil

surgiu em 1953, na Santa Casa de Misericórdia do Rio

de Janeiro, instituição que na época era filiada à

Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). O segundo

marco de sua autonomização definitiva seria a

promulgação da profissão de psicólogo, regulamentada

em todo o país em 27 de agosto de 1962.

EXERCÍCIO 2

Quais são os primeiros campos disciplinares que

discutem os fenômenos psicológicos no Brasil no século

XIX e quais são os temas discutidos?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Objetos de estudo da Psicologia

A psicologia estuda, entre outras coisas, a

aprendizagem, o desenvolvimento, a percepção, a

motivação, a memória, a consciência, as bases

fisiológicas do comportamento, a linguagem, a emoção,

a inteligência, as relações sociais, o comportamento

social e a subjetividade humana. Nesse programa,

especificamente, nos interessam os estudos sobre o

desenvolvimento e a aprendizagem relacionados ao

campo educacional.

Page 24: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 24

A PSICOLOGIA: CAMPO DE ATUAÇÃO

A psicologia pode ser pensada como uma prática

científica que deve promover o desenvolvimento

psicológico, intelectual, social e educacional de

crianças, jovens e adultos, estabelecendo programas e

propostas metodológicas voltadas para estes objetivos.

Pode ainda realizar pesquisas ou intervenções clínicas

que permitam o acompanhamento e apoio dos

indivíduos que porventura estejam sofrendo de algum

problema de ordem psicológica.

A psicologia, de modo geral, está voltada para a

promoção da saúde e seu trabalho social pode ser

clínico, institucional, social, organizacional ou

comunitário, não estando necessariamente preso às

definições acima descritas, mas sim articulado às

demandas produzidas a partir do trabalho de

intervenção proposto pelo psicólogo ou realizado em

conjunto com a equipe interdisciplinar da instituição da

qual ele faça parte.

EXERCÍCIO 3

Descreva de maneira breve as origens históricas da

psicologia no Brasil.

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

_______________________________________

No Brasil problemas sociais como alto índice de

analfabetismo, desigualdade social, violência, baixo

índice de alunos nas escolas, entre outros fatores,

possibilitavam uma discussão mais aprofundada sobre

a compreensão da nossa realidade social e como

determinadas disciplinas poderiam resolver tais

problemas, entre elas a psicologia.

Page 25: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 25

A crescente modernização e industrialização

brasileira já era um fato evidente e inquestionável no

início do século XX. As reformas realizadas por políticos

e industriais brasileiros se fazem notar e trazem como

consequência novos problemas relacionados ao

crescimento acelerado dos grandes centros urbanos,

característicos do início desse século. Temos como

exemplos de problemas que serão tratados pela

psicologia nascente o da menoridade, o da

aprendizagem escolar, o da delinquência, o do

abandono de crianças, o da negligência familiar e o da

importância da tutela do Estado nesses casos, entre

outras questões. Contudo, o surgimento desses

problemas estava relacionado a fatores extra-

psicológicos, marcadamente de cunho econômico-

social.

E como a psicologia respondeu a isso? Podemos

dizer que, em um primeiro momento, a psicologia foi

utilizada como recurso para separar o joio do trigo, ou

seja, ela foi pensada como uma maneira eficaz de

definir as capacidades e habilidades dos indivíduos e

separá-los caso se constatasse que o indivíduo fosse

portador de características consideradas negativas. O

método utilizado para isso foi o modelo psicométrico.

É nesse sentido que há a importação, tradução e

criação de testes psicológicos, como fez Lourenço

Filho e o seu teste ABC, e a investigação dos processos

psicológicos envolvidos no déficit de aprendizagem

infantil de algumas crianças, mas que estava ainda

voltado para a questão da absorção dos conteúdos das

matérias por essas mesmas crianças. O problema que

se colocava a partir dessa lógica é o de ajustamento e

adaptação dos indivíduos ao que seria pensado como o

modelo ideal para o desenvolvimento e o aprendizado

saudável do indivíduo.

Dica do professor

Método Psicométrico: A medição exaustiva

e rigorosa das habilidades e competências psicológicas e comportamentais de que um indivíduo pode ser portador.

Page 26: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 26

Nas décadas seguintes, essa questão ganhou

mais importância, sofrendo modificações que

permitissem ao modelo capitalista e industrial brasileiro

competir de maneira cada vez mais significativa como

os modelos europeus e americanos que, para alguns,

não se encontravam no estágio de subdesenvolvimento

que ainda se notava em nossa indústria. Era então

necessário encontrar ferramentas que colocassem o

homem certo no lugar certo, para com isso eliminar as

falhas que ainda se faziam notar em relação ao

processo de seleção da mão de obra brasileira,

considerada ainda muito pouco qualificada.

Devemos notar que esses primeiros momentos

da psicologia podem ser considerados de cunho

conservador, já que o enfoque está calcado em uma

visão bastante adaptativa, projeto que de forma

alguma é somente da Psicologia.

A concepção e o modelo em psicologia só

começaram a mudar no final da década de 1970 com o

Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970)

nasceu em 10 de março, na cidade de Porto

Ferreira, São Paulo. Trabalhou na imprensa durante

toda a sua formação secundária e ainda viria a

cursar medicina, carreira que não chegou a concluir.

Convidado pelo governo do Ceará, reformou todo o

seu modelo educacional, promovendo assim uma

das primeiras reformas de ensino da década de

1920. Tornou-se diretor-geral de ensino em São

Paulo, realizando uma ampla reforma também neste

Estado. Tornou-se professor de psicologia e

pedagogia na Escola Normal de Piracicaba em 1931.

Em 1932, transferiu-se para o Rio de Janeiro,

dirigindo o seu Instituto de Educação, além de

exercer função de chefe de gabinete junto ao

Ministério da Educação na mesma época de Anísio

Teixeira. Lourenço Filho foi muito importante para o

desenvolvimento do campo da psicologia e de

pedagogia no Brasil, traduzindo várias obras e

escrevendo sobre temas ligados a essas áreas.

Exerceu vários cargos nacionais e internacionais,

vindo a falecer em 03 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro.

Page 27: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 27

processo de redemocratização social pela qual passava

a sociedade brasileira. Sérias críticas serão feitas ao

papel conservador e conivente dos modelos

psicológicos vigentes. As concepções de indivíduo e

sociedade sofreriam uma intensa reflexão na busca da

construção de novas ferramentas de análise sobre a

realidade brasileira.

EXERCÍCIO 4

Quais são os problemas estudados pela psicologia no

início do século XX e por que ela será utilizada para

resolvê-los nesse período? Qual é o seu principal

método?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

As origens históricas e etimológicas da

Psicologia;

O surgimento e o desenvolvimento desse

campo a partir das descobertas da ciência

moderna em decorrência dos trabalhos de

Galileu Galilei, Isaac Newton e René

Descartes, entre outros;

Passagem da visão teocêntrica da realidade

para uma visão mecanicista sobre o

funcionamento do mundo e as mudanças soci-

Page 28: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 1| Um pouco de história da psicologia: as origens do fenômeno psicológico 28

ais, políticas, psicológicas e científicas de toda

uma sociedade;

Apresentação sucinta das primeiras teorias

científicas voltadas para o estudo do

psiquismo humano como o Funcionalismo, o

Estruturalismo, o Behaviorismo, a Psicanálise

e o Cognitivismo;

Breve histórico da Psicologia no Brasil e as

principais contribuições dessa área para a

compreensão da realidade social.

Page 29: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

A Psicologia frente às mudanças de

paradigmas científicos. Hildeberto Martins

AU

LA

2

Ap

res

en

taç

ão

Na aula anterior, discutimos as origens da psicologia a partir dos

pensadores gregos e de como eles compreendiam esse termo.

Mostramos a etimologia dessa palavra e como ainda hoje persiste

em seu uso o sentido originário. Outro assunto debatido foi o

desenvolvimento de uma nova psicologia a partir do surgimento

da ciência moderna, tendo como resultado mudanças sociais,

políticas, psicológicas e científicas em toda a sociedade ocidental.

Finalizamos a aula mostrando para você quais são as primeiras

teorias científicas voltadas para o estudo do psiquismo humano e

estabelecemos também uma cronologia histórica da psicologia,

que se encerra com a autonomização do campo psicológico no

Brasil e de seus primeiros cursos.

Nesta aula discutiremos as bases epistemológicas do saber

psicológico, resultado da construção do modelo racionalista

cartesiano e de sua grande influência nas ciências naturais e

humanas. Finalizaremos esta aula com as consequências práticas

dessa crise, que resultaram na revisão de certos paradigmas

científicos, a saber: uma crítica à neutralidade da ciência; uma

nova visão de ser humano e da história e a constituição de uma

nova visão de sociedade.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Perceber a importância da discussão das bases epistemológicas

da Psicologia para o entendimento das teorias psicológicas e de

sua concepção de sujeito humano;

Compreender o conceito de “crise de paradigmas” e os seus

efeitos na redefinição do campo científico atual;

Entender os problemas da neutralidade científica no campo das

ciências sociais e humanas;

Discutir a produção de uma visão crítica e histórica sobre o

funcionamento e constituição da subjetividade humana e sua

importância no campo educacional.

Page 30: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 30

Podemos afirmar que a questão do estatuto de

cientificidade da psicologia sempre foi um problema

para os psicólogos e não psicólogos durante muito

tempo. Diríamos mais, que tal questão está longe de

ser resolvida, já que a própria ideia de ciência ainda é

um assunto não resolvido em pleno século XXI.

Apontamos para você nas páginas acima como a

história da psicologia pode ser pensada a partir de uma

certa linearidade, mesmo que essa linearidade seja

uma invenção, no sentido de ser um recurso utilizado

pelo cientista para dar um sentido lógico à sua

argumentação teórica. Sabemos que, em relação às

Ciências Humanas, não podemos dizer que existe um

ponto fixo ou exato para começar a definir o seu objeto

de pesquisa, como existiu para as assim denominadas

Ciências Naturais ou Exatas. Mesmo que essa certeza

tenha vigorado por um tempo relativamente grande na

história da humanidade, hoje tudo pode ser pensado

como sendo descentrado (Hall, 2002). Um novo

momento surge a partir do instante em que se

vislumbra que a denominada natureza humana é um

produto da história, construída por esses mesmos

homens de ciência que acreditavam que as suas

verdades (sempre produzidas) podiam determinar o

funcionamento do Homem (enquanto ser universal) e

da Natureza.

Essa história começa, como foi exposto nas

páginas anteriores, com a certeza científica de Galileu

que uma nova maneira de pensar a realidade

significava uma nova metodologia (maneira de ver e

pensar) em relação aos fenômenos da natureza. É esse

mesmo Galileu que anuncia uma scienzia nuova

(ciência nova) a partir das descobertas iniciadas com

Nicolau Copérnico e seu novo modelo heliocêntrico.

Abre-se, a partir daí, uma crise sem precedentes na

história da humanidade, pois seria necessário pensar e

::Descentramento:

Processo histórico que produz a sensação individual e coletiva de que não há mais a

certeza da imutabilidade dos fatos históricos, já que a realidade é pensada e percebida como efeito das transformações constantes do mundo.

Page 31: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 31

viver diferentemente do que se vivia até aquele

momento. O que esse novo modelo apresentava era

uma crítica à concepção de mundo fechado,

predeterminado e hierarquicamente ordenado, contido

e explicado pelo modelo aristotélico, que foi

posteriormente seguido pelo modelo científico

medieval, e que determinava o modo de funcionamento

do cosmo.

A crise que se anunciava não foi só científica, foi

uma crise da visão de mundo e que por isso exigiu uma

nova metodologia para guiar o homem em busca de

novas certezas e novas verdades. Era necessário,

portanto, estabelecer os fundamentos dessa nova

ciência para que ela pudesse alcançar estatuto de

cientificidade, já que capaz a partir desse momento de

descrever a natureza, justificando-se assim como o

modelo por excelência de explicação da realidade.

Desse movimento de crise, saímos da era do mundo

fechado e passamos ao universo infinito.

Para que a nova ciência não cometesse os

mesmos equívocos perpetrados pela ciência clássica,

um problema se colocava para os novos homens de

ciência: qual é o método adequado para evitar o erro?

Essa resposta seria melhor respondida por alguém que

teve e ainda tem uma grande importância dentro do

campo da Psicologia. Esse homem foi René Descartes.

O modelo de Descartes é conhecido como

paradigma cartesiano ou mecanicista. Esse modelo

ou paradigma, sendo que esta última definição foi

criada por Thomas Khun para descrever esses

fenômenos, serviu de baliza para todas as discussões

sobre a natureza da subjetividade humana e de seus

possíveis limites físicos e espirituais.

:: Paradigma cartesiano:

Define o mundo como uma grande máquina regida por leis mecânicas e por construir um método racional que permitisse prever e analisar o funcionamento dessa grande máquina.

Page 32: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 32

Descartes inaugurou o que nós chamamos de

tradição racionalista, já que ele diz que é no homem

(em sua natureza sensível e racional) que

encontraremos a base e o fundamento da nova

concepção do conhecimento. O homem é a medida das

coisas, mas somente quando (e enquanto) este usar o

recurso da razão como único meio para se chegar a

certeza indubitável presente na verdade (científica ou

religiosa).

A racionalidade é o ponto de partida para a

eliminação dos preconceitos e crenças que levam o

homem ao erro. É esse o argumento do cogito

cartesiano, que pressupõe um indivíduo dotado de uma

natureza racional. A partir daí foi simples pensar que se

é possível alcançar a razão. Mas isso só acontece pelo

exercício inevitável do intelecto contra a desrazão (cujo

principal representante é a loucura). A partir desse

momento, o mundo poderia ser pensado numa lógica

oposicionista e que redundaria em categorias como

mundo externo e mundo interno, mente e real, sujeito

e objeto. Faces de uma mesma moeda, mas com

valores totalmente diferentes em decorrência do uso de

uma lógica hierarquizante (valorativa). Esse modelo

define a subjetividade como parâmetro último de

confiabilidade, pois é a partir do sujeito (livre do erro

sensível, causado pelos sentidos) que se pode

apreender verdadeiramente o objeto. Deve-se

desconfiar da experiência imediata (campo dos

sentidos), mas não se pode duvidar da certeza da

razão. O objeto é o que é, a causa do erro está no

homem quando este não usa a razão como recurso

para se chegar à verdade. O mentalismo cartesiano foi

essa nova concepção de mundo e de homem e lançou

uma outra maneira de apreensão da realidade.

A concepção da natureza na teoria cartesiana

dividiu o mundo e o homem em dois domínios

separados:

:: Mentalismo cartesiano:

Trata-se de um mentalismo dualista pensado a partir dos pares razão e emoção; mente e corpo. Mas, o mentalismo pode ser pensado numa concepção monista quando amiúde se identifica com o idealismo.

Page 33: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 33

Seguindo uma lógica baseada em princípios

mecânicos, tão comuns na época de Descartes por

conta da consolidação do modelo físico-matemático

como parâmetro de cientificidade e da realidade, essa

teoria estabeleceu o Dualismo Mente/Corpo. A partir

desse momento todos os processos naturais são

mecanicamente determinados e podem ser explicados

racionalmente pelas leis da física, ciência que se

tornará a base de todas as ciências. E, a partir disso, o

ser humano pode ser pensado em dois campos

distintos: o corpo (físico) e a mente (psíquico).

EXERCÍCIO 1

Quais são os primeiros pensadores a influenciar o

campo da psicologia? Quais são as principais ideias

presentes em suas teorias?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Partindo desse modelo de verdade, as novas

ciências que surgiam tentavam sempre usar os

princípios da física para definir a causa última das

coisas, sua essência, sua natureza e quais seriam os

mecanismos possíveis para a apreensão do real. Surge

com isso a grande dicotomia entre as Ciências Naturais,

que usam como parâmetro os modelos físico e

matemático, e que por isso ganham estatuto de

ciências reais, verdadeiras e exatas; e as Ciências

Humanas, que seriam consideradas imprecisas,

RES COGITANS (substância pensante) – mente Ciências Humanas

RES EXTENSA (substância material) – matéria (corpo) Ciências Naturais

Page 34: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 34

inexatas, sem métodos ou objeto bem definidos,

ocupando um espaço subalterno dentro do campo

científico, já que por muito tempo não seriam

consideradas “verdadeiras” ciências. Tomemos como

exemplo, para compreender a questão do estatuto de

cientificidade das ciências, o modelo sociológico criado

por Auguste Comte.

Para ele, a Sociologia só pode ganhar autonomia

e se legitimar como ciência ao se tornar uma ciência

positiva e se utilizar de métodos objetivos. Por isso, a

sociologia de Comte é uma física social, e só assim

podia vir a ser reconhecida enquanto ciência. Isso fica

mais evidente quando lembramos que para Comte a

Psicologia, que para ele não tinha ainda um método e

um objeto claros, estava fora da Escala

Enciclopédica. A Psicologia, para ele, seria um

capítulo especial do campo da biologia, ou seja, não

seria uma ciência autônoma, mas um ramo específico

de uma verdadeira ciência.

Isidore Auguste Marie François Xavier Comte

(1798-1857) nasceu em Montpeller a 19 de janeiro,

na França. Estabeleceu um conjunto teórico

denominado por ele de Curso de Filosofia Positiva, e

que teve um enorme sucesso. Acreditava que o

conhecimento humano passava por três estados: o

Teológico, ou fictício; O Metafísico, ou abstrato; o

Positivo, ou científico. Defendeu a aceitação de uma

nova ciência voltada para a transformação da

sociedade, denominada por ele de física social ou

sociologia. Em um segundo momento de sua obra,

formulou um modelo religioso que ele próprio

denominou de Religião da Humanidade. Morreu em Paris, em 05 de setembro de 1857.

:: Escala

Enciclopédica:

Padrão criado por Comte para definir em ordem de complexidade

crescente as ciências de sua época, na qual a Matemática ocupa o mais alto grau de complexidade e a Moral, o último.

Page 35: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 35

EXERCÍCIO 2

Qual é a importância do modelo cartesiano para a

Psicologia e quais são os seus limites?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Contudo, com o tempo, certos pensadores

questionaram essa separação simplória entre sujeito e

objeto como resultante de uma objetividade exterior ao

fenômeno, ou seja, independente da história. A partir

disso, torna-se possível perguntar qual teoria possui

unanimidade científica para descrever e dar conta

totalmente do seu objeto de análise. Começava-se a

questionar qual ciência pode ser tão totalizadora que

apreenderia o seu objeto de estudo de maneira tão

eficaz a ponto de definir a sua essência, pois não

sofreria a interferência humana, já que é resultante de

uma neutralidade asséptica.

A neutralidade científica, um ponto de

sustentação capital das ciências naturais, ainda seria

cabível ou plausível de ser pensada como possível

mesmo quando o objeto de investigação não é um

fenômeno natural, quando ele é o próprio homem? É

possível conceber a ideia de neutralidade dentro do

campo das ciências sociais e humanas, transpô-la ao

campo científico que tem o ser humano como “sujeito”

e “objeto” de estudo e mesmo assim produzir tal

objetividade radical? A resposta alcançada por muitos

teóricos foi um sonoro não, o que permitiu abrir

caminho para se pensar o estatuto de cientificidade da

ciência (seus paradigmas) e a sua produção de verdade

(Foucault, 1979; Costa, 1999). Era necessário e

Dica de leitura

Para saber um pouco mais sobre essa discussão, recomendamos o livro A crise dos paradigmas e a educação (2002), de Zaia Brandão (org.) ou Introdução a uma ciência pós-moderna, de Boaventura de Souza Santos (1989).

Page 36: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 36

imprescindível ampliar a compreensão sobre a natureza

humana e como esse mesmo ser humano era agente

das transformações sociais que se produziam na

sociedade, inclusive desenvolvendo o saber científico e

os seus “objetos”.

EXERCÍCIO 3

O que leva à ocorrência daquilo que denominamos

"crise de paradigmas" e como isso afeta o campo

científico?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Esse novo passo foi significativo para o avanço

das ciências sociais ou humanas, já que a partir disso

foi possível compreender que o homem é também o

agente dessas mudanças. Muitos autores tentaram

demonstrar que os modelos não existem fora da

realidade subjetiva construída pelos indivíduos, como

se ela os precedessem magicamente. A realidade é

criada por esses sujeitos, o que torna impossível o

esgotamento da natureza humana em uma única

natureza. Passa-se, a partir desse momento, a pensar o

ser humano não mais como um ser passivo diante do

mundo e de suas determinações (físicas, políticas,

ambientais). Seria preciso compreendê-lo como um ser

ativo e responsável por suas escolhas, como foi

afirmado por todo um novo movimento em Psicologia.

O ser humano não deveria mais ser visto como um

objeto, mas como um sujeito em interação com outros

sujeitos sociais no mundo, construtor dessa realidade.

Tornava-se evidente, então, que as ciências

humanas devem criar ferramentas que deem conta de

Page 37: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 37

determinados problemas a partir de um certo contexto

social, político e econômico, demonstrando o caráter de

singularidade que determina o fenômeno pesquisado.

Recorrendo a uma certa constatação irônica, é só nesse

momento de reflexão e mudança de enfoque que as

ciências e seus cientistas se tornam mais humanos,

pois levam em consideração a realidade social

constitutiva e constituída a partir dos fenômenos

engendrados por seu principal objeto de pesquisa: o

homem (Bock, 2002).

EXERCÍCIO 4

Qual seria o conceito mais criticado pelas ciências

sociais a partir da “crise de paradigmas”? E por quê?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Essa nova perspectiva foi bastante influente

para a constituição de uma nova visão do homem e da

subjetividade humana. A ciência agora estaria mais

voltada para os fatores socioculturais implicados no

processo de constituição da realidade. Isso pode ser

percebido na obra de grandes pensadores e educadores

como Vygotsky, Paulo Freire ou Carl Rogers. Essa nova

perspectiva sobre o ser humano permite a formulação

de uma concepção mais progressista e dinâmica acerca

da sua prática cotidiana, transformando-o em artífice

de sua história e, consequentemente, agente implicado

na construção de uma nova realidade. Esse sujeito será

visto não mais como um objeto que está no mundo (ser

passivo) e pode ser observado de maneira estática e

objetiva, mas sim como um sujeito que constrói

mundos possíveis em sua tentativa de existir enquanto

sujeito histórico.

Page 38: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 38

Depois dessa discussão, nós passaremos agora

para a apresentação das teorias e de seus respectivos

formuladores. Apresentaremos uma seleção de

pensadores os quais julgamos serem os que mais

contribuíram para a constituição de um campo de

discussão sobre o papel da Psicologia no que tange ao

tema da subjetividade humana, e como isso pode ser

relacionado ao campo da Teologia.

EXERCÍCIO 5

Comente de maneira breve qual seria a nova visão de

homem que surgiu a partir da crise do modelo

científico.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 6

Como o modelo cartesiano determina a constituição de

uma visão de homem? Como isso afeta o campo da

ciência?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Page 39: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 2| A Psicologia frente às mudanças de paradigmas científicos. 39

RESUMO

Vimos até agora:

As bases epistemológicas (teoria do

conhecimento) do saber psicológico;

O modelo racionalista cartesiano (Descartes)

e o comtiano (Comte) para a explicação do

funcionamento individual e social do homem;

A crise dos paradigmas científicos e a

modernidade: a separação entre sujeito e

objeto no campo das ciências sociais e

humanas;

A revisão dos paradigmas científicos: uma

crítica à neutralidade asséptica da ciência e

do trabalho do pesquisador;

A nova visão de ser humano dentro do campo

das ciências humanas e a constituição de uma

nova compreensão histórica da subjetividade

humana.

Page 40: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA
Page 41: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

As Escolas Psicológicas: as Origens da Psicologia

Científica

Hildeberto Martins

AU

LA

3

Ap

res

en

taç

ão

Na aula anterior, discutimos temas referentes ao problema das

bases epistemológicas do saber psicológico e como ele está

vinculado ao modelo racionalista cartesiano. Apresentamos

também o surgimento da crise dos paradigmas científicos como

consequência da separação simplória entre sujeito e objeto na

investigação científica. Por fim, apontamos para as consequências

resultantes da revisão de certos paradigmas: uma crítica à

neutralidade asséptica da ciência, uma nova visão de ser humano

e de sua produção subjetiva e a constituição de uma nova visão

de homem, voltada para a compreensão desse sujeito como

produto/produtor da história.

Nesta aula, apresentaremos e discutiremos as bases científicas

das principais teorias psicológicas e as suas explicações do ser

humano a partir de determinados níveis de análise: como ser

orgânico, ser afetivo ou ser social que aprende e interage com a

realidade. Falaremos das primeiras teorias psicológicas e como

elas explicam as ações humanas, usando como referencial as

seguintes teorias: o Estruturalismo e o Funcionalismo.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Conhecer as primeiras teorias psicológicas sobre a questão da

subjetividade humana (consciência);

Conhecer a biografia e os principais conceitos elaborados por

psicólogos preocupados em conhecer a dinâmica da natureza

humana;

Compreender o surgimento da Psicologia enquanto ciência

autônoma;

Compreender e reconhecer as diferenças teóricas e

metodológicas entre as principais teorias psicológicas de ontem

e de hoje;

Poder, a partir do conhecimento obtido através dessas teorias,

utilizar este conhecimento no campo da Teologia para uma

melhor compreensão da natureza humana.

Page 42: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 42

Introdução

A história da psicologia sempre foi marcada pelo

surgimento e desenvolvimento de determinadas ideias

e conceitos acerca do ser humano, dos processos

resultantes da sua interação com outros sujeitos

humanos, do contato com o meio ambiente que o

circunda e com a própria análise do ser humano como

objeto de reflexão, como ser único e individualizado.

A psicologia por isso mesmo sempre esteve

vinculada a uma discussão sobre os aspectos sociais

(denominados de coletivos ou públicos) e dos aspectos

individuais (denominados de singulares ou privados)

que constituem o desenvolvimento do ser humano.

Algumas dessas teorias e os seus criadores são de

capital importância para analisar e compreender como

se constrói o processo de aquisição do conhecimento

(aprendizagem) e as etapas de seu desenvolvimento

(físico, psíquico e social) na espécie humana.

Os trabalhos desenvolvidos por esses autores

permitiram compreender a dinâmica que está por trás

do simples processo de apropriação da realidade e

como ele pode se tornar cada vez mais complexo ao

longo de toda a nossa vida. Apresentaremos nas

páginas seguintes as primeiras teorias consideradas

científicas no campo da psicologia e os seus principais

idealizadores.

O Estruturalismo

O modelo estruturalista foi um movimento que

permitiu construir e edificar as bases para a

emergência da psicologia enquanto ciência moderna.

Ao abandonar a ideia de que a psicologia era o estudo

da alma e elegendo como métodos de análise da

natureza dos fenômenos psíquicos a observação

Quer saber mais?

O "estruturalismo" não se refere a uma "escola" claramente definida de autores,

embora o trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida. O estruturalismo é mais bem visto como uma abordagem geral com muitas variações diferentes. Como em qualquer movimento cultural, as influências e os desenvolvimentos são complexos. FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estruturalismo#Estruturalismo_na_Psicologia

Page 43: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 43

rigorosa e a experimentação laboratorial, métodos

considerados científicos, um novo caminho foi

inaugurado no que se refere ao estudo do homem e de

sua relação com o meio.

Esse modelo, para se tornar científico, utilizaria

os mesmos princípios das ciências naturais (como as

primeiras investigações realizadas por Fechner) com o

intuito de efetuar a compreensão da estrutura da

consciência. Para isso elege o estudo das experiências

conscientes elementares e os seus mecanismos de

funcionamento como objeto de análise e investigação

da Psicologia estruturalista.

A psicologia se convertia a uma ciência da

experiência, onde o que era necessário e imprescindível

era analisar como adquirimos conhecimentos a partir

do nosso mundo experiencial. Competia, portanto, ao

pesquisador chegar às experiências básicas da natureza

humana e, a partir disso, conseguir formular hipóteses

universais sobre a estrutura da mente humana ou das

atividades da consciência.

Os principais representantes do modelo teórico

da psicologia estruturalista são Wilhelm Wundt e

Edward B. Titchener. O primeiro é considerado o pai

fundador desse novo modelo teórico, o segundo é

considerado o seu principal continuador, ambos

O projeto elementarista da psicologia estrutural

compreendia a consciência como uma estrutura

separada em pequenas partes reduzíveis aos seus

elementos mais básicos, o que levou à conclusão de

que a consciência e os seus fenômenos mais

complexos eram o resultado da soma das partes que

o compunham, cabendo à psicologia investigá-los e

descrevê-los. Os psicólogos estruturalistas tinham

como propósito decompor a mente ou a consciência

às suas estruturas mais elementares, da mesma

forma que já se realizava dentro do campo da física

ou da química, modelos considerados à época como

capazes de descrever o seu objeto científico.

Page 44: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 44

contribuindo de maneira significativa para o

desenvolvimento da psicologia estruturalista (Cf.

Schultz, 1999).

Wilhelm Wundt (1832-1920) iniciou sua carreira

acadêmica em medicina, e mais tarde direcionou

seus interesses para a fisiologia. Enquanto realizava

suas pesquisas em fisiologia, iniciou seus estudos

em psicologia na Universidade de Heidelberg, e a

partir disso ministraria um curso de psicologia

fisiológica. Suas principais observações acerca desse

novo campo de interesse resultariam no livro

intitulado Grundzüge der physiologischen psychologie

(Princípios de Psicologia fisiológica), publicado em

duas partes em 1873 e 1874. Wundt ficou

particularmente conhecido pela criação do que foi

considerado como o primeiro laboratório de

psicologia experimental, em Leipzig. Esse laboratório

seguiu particularmente os moldes dos laboratórios

das ciências naturais da sua época. Para ele, o seu

modelo psicológico devia usar os métodos de

pesquisa desenvolvidos na fisiologia. Este

laboratório torna-se rapidamente um centro de

investigação e difusão da nascente psicologia

estrutural. Depois de consolidado o seu modelo e

método psicológico, Wundt se dedicaria à criação de

uma psicologia social. Esse projeto ficou conhecido

como Völkerpsychologie (Psicologia dos povos, das

massas), projeto que levou vinte anos para ser realizado. Morreu em Grossbothen, em 1920.

EDWARD B. TITCHENER

Nascido em Chichester, Inglaterra, Edward B.

Titchener (1867-1927) foi considerado o principal

representante do modelo estruturalista nos Estados

Unidos. Estudou filosofia na Universidade de Oxford

e mais tarde tornou-se assistente de pesquisa em

fisiologia nesta mesma Universidade. Ao entrar em

contato com a nova psicologia inaugurada por

Wundt, viajou para Leipzig para estudar durante

dois anos o modelo psicológico wundtiano. Com o

término da formação em Leipzig, retornou para a Inglaterra, mas suas teorias não despertam o interes

Para navegar

Para saber mais um pouco sobre Estruturalismo, recomendamos o site http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/07/05/004.htm, acessado em 10/12/2008.

Page 45: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 45

Podemos afirmar com certeza que, nos primeiros

anos da evolução da psicologia como disciplina

científica, esta foi profundamente influenciada por

Wilhelm Wundt, que determinou o objeto de estudo, o

método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os

objetivos da nova ciência. Sua proposta abraçava todos

os aspectos necessários para a criação e consolidação

de um modelo psicológico nos moldes científicos.

Influenciado pelas descobertas da química,

segundo as quais todas as substâncias químicas são

compostas por átomos, iria decompor a mente nos seus

elementos mais simples, que são as sensações. Tanto

para Wundt como para os seus seguidores, as

operações mentais resultavam da organização de

sensações elementares que se relacionam com a

estrutura do sistema nervoso.

Wundt recorria aos métodos experimentais de

pesquisa das ciências naturais, particularmente às

técnicas usadas pelos fisiologistas, adaptando os seus

métodos científicos de investigação aos objetivos da

psicologia. Desta forma, a Fisiologia e a Filosofia

ajudaram a moldar tanto o objeto de estudo da nova

se desejado. Resolve, então, viajar para os Estados

Unidos e torna-se professor de Psicologia e

coordenador de um laboratório na Universidade de

Cornell, onde ficaria lecionando até o final de sua

vida. Edward B. Titchener foi aluno de Wundt, mas

alterou em alguns aspectos o sistema deste último.

Foi através do seu empenho que o modelo

wundtiano pôde ser transplantado para os Estados

Unidos. Ele propunha uma nova abordagem e que

designou Estruturalismo, afirmando que esta

apresentava a forma de Psicologia postulada por seu

mestre. Contudo, os dois sistemas são em muitos

aspectos diferentes e o rótulo de Estruturalismo só

pode ser estritamente aplicado à concepção de

Titchener. O Estruturalismo foi estabelecido, por

este autor, como a primeira escola de pensamento

no campo da psicologia moderna. Ele morreu vítima

de um tumor cerebral, aos 60 anos de idade, em 1927.

Page 46: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 46

ciência como os seus métodos de investigação,

contribuindo para definir de modo claro a sua Psicologia

estrutural.

Esse autor definiu como objeto da psicologia o

estudo da mente, e fez da experiência consciente do

homem (ainda visto como ser universal) - a consciência

– o meio de conseguir alcançar resultados objetivos. E

foi no seu laboratório, em Leipzig, que Wundt vai

procurar conhecer os elementos constitutivos da

consciência, buscando descobrir a forma como se

relacionam e associam (concepção associacionista).

Para atingir esses objetivos, Wundt utilizou

como método de estudo a introspecção formal ou

controlada. Através do método introspectivo, os

sujeitos descreviam as suas percepções resultantes de

estímulos sensoriais: visuais, auditivos e tácteis.

Tomemos um exemplo: os observadores ouviam um

som e em seguida deveriam descrever nos mínimos

detalhes o que haviam sentido, já que só a partir deste

método era possível, segundo Wundt, o acesso à

experiência consciente do indivíduo.

O emprego da introspecção como método de

investigação da mente humana viria da física, onde

este método já tinha sido utilizado para estudar

fenômenos como a luz e o som. Esse método também

era utilizado na fisiologia, em que fora aplicado ao

estudo dos órgãos dos sentidos.

A introspecção ou percepção interior, tal como

era praticada no laboratório experimental criado por

Wundt, seguia condições bastante restritas e obedecia

a regras explícitas definidas por ele. Wundt raramente

usava um tipo de introspecção denominada de

qualitativa em que o sujeito apenas descreve as suas

experiências interiores, não sendo sujeito a qualquer

Importante

Introspecção controlada: Técnica que consistia em, no laboratório, observadores bem treinados descreverem as suas experiências resultantes de uma situação experimental.

Page 47: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 47

método objetivo e rigoroso. A introspecção seria

adotada também por Edward Titchener e Oswald Külpe,

ambos alunos de Wundt.

O outro grande representante do modelo

estruturalista foi Edward Titchener. Os estudos de

Titchener se centravam nos elementos que compõem a

estrutura da consciência, desvalorizando os fenômenos

que permitiam a sua associação e, diferentemente de

Wundt, dizia, a mente não tem o poder de sintetizar

espontaneamente os elementos básicos que a compõem.

Para ele, existiriam três estados elementares de

consciência: sensações, imagens e estados afetivos.

Segundo Titchener, a tarefa fundamental da psicologia

é descobrir a natureza das experiências conscientes

elementares, ou seja, analisar a consciência nas suas

partes constituintes para assim determinar a sua

estrutura. Com isso, ele afirmaria que o objeto da

psicologia, à semelhança do modelo Wundt, é a

experiência consciente. Afirmou que todas as ciências

compartilham deste mesmo objeto, ocupando-se cada

qual somente de um aspecto diferente.

O objeto de estudo é assim, para Titchener, a

experiência sensível enquanto dependente dos

observadores (chamados de reagentes) que passam

por ela. Tomemos um exemplo: a luz e o som são

estudados por físicos e psicólogos; os físicos veem

esses fenômenos e seus efeitos da perspectiva dos

processos físicos envolvidos, não necessitando utilizar

como recurso experimental que os indivíduos passem

pela experiência sensível para estudarem os fenômenos

físicos, sendo por isso pensados e descritos por eles

como independentes da experiência individual. Ao

contrário, para os psicólogos que estudam os mesmos

fenômenos, as sensações, compete analisá-las em

termos do modo como tais fenômenos são vivenciados

Page 48: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 48

pelo indivíduo (aspecto psicológico), e, portanto, como

são dependentes das experiências das pessoas

(singularidade).

Esse modelo psicológico definiu a consciência

como uma simples soma das nossas experiências num

dado momento de tempo, sendo que a mente é o

resultado da soma das nossas experiências acumuladas

ao longo da vida (processo cumulativo e evolutivo).

Para Titchener, os problemas ou finalidades da

Psicologia seriam:

Reduzir os processos conscientes nos seus

componentes mais simples;

Determinar as leis mediante as quais esses

elementos se associam;

Conectar esses elementos às suas condições

fisiológicas.

Contribuições da psicologia estruturalista

Os estruturalistas contribuíram, sem dúvida, de

maneira significativa para o desenvolvimento da

psicologia em todo o mundo. Esse modelo definiu

claramente o seu objeto de estudo no campo da

ciência: a experiência consciente. Os seus métodos de

pesquisa seguiram a melhor tradição científica de sua

época, envolvendo a observação, experimentação e

medição. Seus estudos tinham como objetivo

demonstrar como a consciência era mais bem percebida

pelo sujeito que tinha consciência da experiência. Por

isso, para eles, o método de estudo deveria ser o da

autoanálise (método introspectivo).

Embora, na atualidade, se considere que o objeto

de estudo dos estruturalistas esteja verdadeiramente

ultrapassado, o método introspectivo é ainda usado em

algumas áreas da psicologia. Com a ajuda de Wilhelm

Importante

O estruturalismo O Estruturalismo é uma modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades. Metodologicamente, analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários. Partindo da

Linguistica e da Psicologia do princípio do século XX, alcançou o seu apogeu na época da Antropologia Estrutural, ao redor dos anos de 1960. O Estruturalismo fez do francês Claude Lévi-Strauss o seu mais celebrado representante. FONTE: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/2002/07/05/004.htm, acessado em 22/09/10.

Claude Lévi-Strauss

Page 49: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 49

Wundt, Edward Titchener e dos estruturalistas

treinados e formados por eles, a psicologia conseguiu

avançar para além das suas fronteiras iniciais.

Críticas à psicologia estruturalista

Podemos dizer que as críticas mais contundentes

ao Estruturalismo foram dirigidas ao seu método de

investigação, ou seja, ao modelo introspectivo,

especialmente a introspecção qualitativa praticada pela

escola americana, pois estava voltada mais para os

relatos determinados como subjetivos dos elementos

da consciência, enquanto que a concepção wundtiana

estava mais voltada para respostas objetivas a

estímulos externos.

O Estruturalismo ainda seria criticado quanto ao

método introspectivo, pois ele era visto como um

processo obscuro e não confiável. Os estruturalistas

consideravam fenômenos complexos, como

pensamento e linguagem, impróprios para estudos

introspectivos, logo, fora do alcance da ciência. Além

disso, eram contra a orientação de seu modelo

experimental para a solução de assuntos práticos.

O movimento estruturalista foi também acusado

por alguns psicólogos de ser artificialista por causa da

sua tentativa de analisar processos conscientes através

da sua decomposição em elementos. Os seus críticos

alegavam que a totalidade de uma experiência não

pode ser recuperada por nenhuma associação das suas

partes elementares. Para tais críticos, a experiência não

ocorre em termos de sensações, imagens ou estados

afetivos, mas em totalidades unificadas que configuram

a realidade vivida.

Algo da experiência consciente é

inevitavelmente perdido em qualquer esforço artificial

Quer saber mais?

Psicologia da Gestalt: Movimento de

origem alemã cujo significado pode ser definido aproximadamente como o todo, a estrutura, a forma ou configuração. Criado por Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Kofka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967) no início do século XX. Opondo-se ao estudo fragmentado do comportamento humano, característico do modelo estruturalista, esse movimento prega que as informações que partem do meio externo são processadas em dois níveis, o da sensação e o da percepção. Para os gestaltistas, a percepção que temos de um objeto qualquer é um todo, tem um caráter global, é uma gestalt. Eles ainda rejeitariam a visão do homem enquanto um ser passivo, particularmente em relação à percepção e à aprendizagem.

Page 50: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 50

de analisá-la e a psicologia da Gestalt, uma das

principais correntes de oposição em relação ao princípio

associacionista, fez uso desta crítica para lançar e

difundir as suas ideias contra o Estruturalismo e lançar

as bases em um novo campo investigativo para a

Psicologia.

EXERCÍCIO 1

O que é Estruturalismo e quais são os seus principais

autores?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 2

Qual é a mudança que o Estruturalismo estabelece

sobre o objeto da psicologia e qual é o método

empregado para isso?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Page 51: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 51

EXERCÍCIO 3

Qual é a importância de Wundt para o desenvolvimento

da psicologia, qual é o seu método e o seu principal

objeto de estudo?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Quais são os problemas ou finalidades para a

psicologia, segundo Titchener?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Funcionalismo

O modelo funcionalista é considerado por muitos

autores a primeira sistematização teórica genuinamente

norte-americana de estudos em psicologia, já que o

Estruturalismo teria surgido inicialmente na Alemanha

com Wundt.

Para alguns autores (Bock et al., 1999), esse

movimento é o reflexo de uma sociedade em evidente

expansão industrial e social, resultante de um modelo

urbano em crescente transformação e que exigia uma

ordem pragmática para o seu desenvolvimento

econômico. Esse princípio acabaria por se impor aos

cientistas americanos, criando um certo espírito

Page 52: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 52

pragmatista na percepção da função da ciência para a

transformação e desenvolvimento humano.

Esse espírito da época, que caracterizaria toda

uma produção intelectual, fica evidente nos trabalhos

de William James (1842-1910) e John Dewey (1859-

1952), os principais expoentes desse modelo teórico.

Assim, para James importaria a ciência responder

questões capitais como o que fazem os homens e por

que o fazem.

WILLIAM JAMES

William James nasceu em Nova Iorque, Estados

Unidos. Filho mais velho de Henry James e irmão de

um famoso romancista inglês também chamado de

Henry James. Freqüentou diversas escolas nos mais

variados países da Europa. Foi um viajante assíduo

e inquieto, aspecto que repercutiu e caracterizou a

sua formação profissional, interessando-se pelas

mais diversas atividades como a medicina, biologia,

artes e química. Em uma de suas viagens veio ao

Brasil, mais especificamente conhecer a Amazônia.

Em 1861, regressando aos Estados Unidos,

ingressou na Universidade de Harvard para estudar

química no intuito de aprofundar seus estudos em

Fisiologia experimental. Em 1869, recebeu o grau de

doutor em Medicina na Universidade de Cambridge.

Três anos depois, ocupou o cargo de instrutor de

anatomia e fisiologia em Harvard, passando, no ano

seguinte, a professor auxiliar de fisiologia, filosofia e

psicologia. Em 1889, passou a ocupar a cadeira de

psicologia. Faleceu em Chocorua, New Hampshire,

em 26 de agosto de 1910.

Quer saber mais?

William James escreveu sobre todos os aspectos da psicologia humana, do funcionamento cerebral até o êxtase religioso, da percepção espacial até a mediunidade psíquica. Ele se concentrou na compreensão e explicação das unidades básicas do pensamento. Conceitos fundamentais, tais como as características do pensamento, atenção, hábito e sentimento de racionalidade, prenderam seu interesse. James considerava que a Psicologia não era ainda uma ciência madura; não possuía suficiente conhecimento para formular leis consistentes sobre a percepção, a sensação ou a natureza da consciência.

Page 53: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 53

Segundo William James, para que a ciência

possa responder a essas duas questões seria necessário

criar condições para entender os mecanismos que

regem o funcionamento da mente humana (nesse caso,

as bases fisiológicas de seu funcionamento), já que a

psicologia seria a ciência da vida mental, tanto de seus

fenômenos como de suas condições. Para isso, James

escolheu a consciência como o centro de suas

preocupações e procurou compreender nos mínimos

detalhes o seu funcionamento, na medida em que o ser

humano a utiliza como principal ferramenta para

adaptar-se ao meio.

JOHN DEWEY

John Dewey nasceu em Burlington, Vermont,

Estados Unidos. Iniciou sua carreia acadêmica nas

Universidades de Vermont e John Hopkins, e

recebeu nessa última, em 1884, o grau de doutor

em filosofia. Ministrou aulas ainda em Chicago, onde

desenvolveu o seu laboratório ou, como definiu, a

sua Escola Experimental, na qual foram aplicadas

algumas das suas mais importantes ideias. Esse

projeto permitiu o surgimento do movimento

intitulado Educação Progressiva. Definindo o seu

modelo teórico de naturalismo empírico, preocupou-

se em aplicar a psicologia aos problemas

educacionais da época, apontando que o ensino

deve estar voltado para o estudante e não para o

objeto de estudo. Dewey contribuiu intensamente

para a divulgação dos princípios do movimento

educacional que veio a se chamar Escola Nova.

Dewey deixou extensa obra sobre o processo

pedagógico e a importância do(a) educador(a) e da

escola para o desenvolvimento saudável dos

indivíduos. Morreu em Nova Iorque, em 1º de junho de 1952, com 92 anos de idade.

Dewey acreditava que escolas que atuavam dentro de uma linha de obediência e submissão não eram efetivas quanto ao processo de ensino-aprendizagem. Seus trabalhos alinhavam-se com o pensamento liberal norte-americano e influenciaram vários países, inclusive o movimento da Escola Nova no Brasil.

Page 54: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 54

Devemos, ainda, apontar para um aspecto que

teve bastante importância para a definição e

constituição das bases do modelo funcionalista. O

Funcionalismo apropriou-se de maneira bastante

evidente de algumas ideias provenientes do modelo

evolucionista de Charles Darwin, associando suas

pesquisas a esse princípio teórico e objetivando com

isso descobrir de que maneiras diferentes o homem se

ajusta ao meio em que vive. Na interação homem e

meio (meio que ainda não é problematizado em seus

aspectos históricos e sociais), evidencia-se a

importância da realização de diferenciadas funções

mentais.

Passemos agora para a apresentação dos seus

principais idealizadores e dos seus principais preceitos

teóricos.

William James contribui de maneira significativa

em três campos distintos: na psicologia, na filosofia da

religião e na teoria do conhecimento. No âmbito da

filosofia, uma das principais contribuições de James

consiste em suas investigações acerca da verdade,

sendo sua investigação filosófica denominada

pragmatismo. Contudo, esse mesmo autor a definia

como um empirismo radical. Essa proposta filosófica

rejeita tanto a interpretação realista clássica da

verdade quanto a interpretação idealista. A verdade se

constitui, dentro do modelo filosófico de William James,

como algo que nos possibilita acesso e orientação em

uma determinada realidade.

James escreveu sobre vários aspectos da

psicologia humana, do funcionamento cerebral até o

êxtase religioso, pesquisando aspectos totalmente

divergentes da realidade psicológica. Ele se interessou

pelo estudo da personalidade, questão capital para os

principais psicólogos da sua época. A personalidade,

Para navegar

Para saber um pouco mais sobre o Funcionalismo, recomendamos o site http://www.euniverso.com.br/Psyche/Psicologia/geral/funcionalismo.htm, acessado em 10/12/2008.

Page 55: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 55

para ele, emerge da interação entre aspectos ligados ao

campo dos instintos (naturais) e ao campo dos hábitos

(meio ambiente), levando ainda em consideração os

fatores inter-relacionados ao âmbito da consciência.

No final da sua vida acadêmica, já bastante

certo da impossibilidade de pensar os métodos

psicológicos como capacitados para obter o rigor

suficientemente necessário ao campo da ciência, dizia

que a psicologia era um sistema de elaboração do

óbvio.

O objetivo principal da teoria psicológica de

William James era encontrar respostas objetivas sobre

determinados aspectos do funcionamento mental. Suas

pesquisas, neste campo, inauguraram algumas novas

vias de investigação, já que preconizava que a todo

estado de consciência corresponderia uma reação

fisiológica. Podemos considerar tal ideia um dos

princípios precursores do modelo behaviorista de John

Watson e mesmo da psicofisiologia moderna.

Seguindo essa linha de análise, formulou uma

teoria das emoções que preconizava que eram as

perturbações viscerais que originavam os estados

emocionais e não o inverso, contestando o modelo

vigente de sua época. Essa teoria emocional foi

bastante importante para os estudos posteriores sobre

o comportamento emocional e suas bases fisiológicas.

Um de seus interesses dentro do campo da

psicologia foram as relações entre os fenômenos

psíquicos e a fisiologia do sistema nervoso. Para ele,

não se apresentam modificações psíquicas sem que

estas venham acompanhadas de mudanças corporais e

vice-versa. Seguindo essa linha investigativa, chegou a

formular a noção de fluxo da consciência, onde esta

não pode ser pensada de maneira substancialista, mas

Importante

Psicofisiologia é o ramo biológico da psicologia que estuda as relações mentais e as funções físicas, procurando o entendimento da relação corpo-mente e dos processos psíquicos com os fisiológicos.

Page 56: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 56

sim como um processo contínuo e flexível, em

constante mutação.

Já o modelo pedagógico pensado por John

Dewey questionava a proposta da educação pela

instrução, propondo a educação pela ação; perspectiva

que criticava severamente o modelo educacional

tradicional, principalmente no que se refere à ênfase

dada ao intelectualismo e à memorização (aspectos

mais voltados para o acúmulo do conhecimento).

Dentro da nova perspectiva de Dewey, era mais

importante dar ênfase no processo do que no conteúdo.

Para Dewey, o conhecimento não pode ser

pensado como uma atividade dirigida que não tem um

fim em si mesmo, mas que deve estar dirigida para a

experiência. As ideias são hipóteses de ação e se

tornam verdadeiras quando funcionam com o propósito

de orientar essa ação.

Podemos afirmar que o conceito norteador do

pensamento de John Dewey e o seu principal objeto de

análise é a experiência, consistindo em dois aspectos

intimamente interligados, a saber: por um lado, em

experimentar e, por outro, em provar. Seria com base

nos acontecimentos que vivencia (nas experiências que

prova) que a experiência educativa torna-se para a

criança um ato de constante reconstrução.

Podemos dizer que o conceito de experiência é a

questão capital de seus pressupostos educacionais.

Essa experiência deveria ser ampliada em lugares

especiais como a escola, chegando mesmo a afirmar

que a escola não pode ser imaginada como uma

preparação para a vida, mas sim que ela é a própria

vida. Para Dewey a vida, a experiência e a

aprendizagem formam um único processo, já que estão

desde o princípio unidas, e de tal maneira que a função

Dica de leitura

Livros de John Dewey publicados em português: Como pensamos. Como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo: uma reexposição. São Paulo: Nacional, 1959. Experiência e educação. São Paulo: Nacional, 1979. Democracia e educação: introdução à filosofia da educação. São Paulo: Nacional, 1979. A criança e o programa escolar. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores). Interesse e esforço. São Paulo: Abril Cultural, 1980. (Os pensadores).

Page 57: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 57

principal da escola é se constituir como espaço de

reconstrução permanente feita pela criança através da

experiência. Era por isso que, para Dewey, mais

importante que aprender, é aprender a aprender, como

um modelo dinâmico que congrega vários aspectos em

um só processo. Segundo essa linha argumentativa, é

mais relevante “estar de posse de esquemas de solução

de problemas do que ter a ilusão de deter um

conhecimento único de solução de problemas”

(Ghiraldelli Junior, 2000:17).

Dewey via a escola, a partir de seus ideais

democráticos, como o instrumento ideal para estender

a todos os indivíduos os benefícios da sociedade, sendo

o papel da Educação funcionar como veículo

democratizador, capaz de igualar as oportunidades.

Principais contribuições da psicologia

funcionalista

Devemos apontar que o conceito de

Funcionalismo não estava presente de modo explícito

na obra de James, mas suas principais conclusões e

princípios já apontavam de maneira evidente para a

demarcação de um campo totalmente distinto do

modelo estruturalista de Wundt ou Titchener.

Em seu livro Os Princípios de Psicologia, ele já

apontava para o aspecto principal do modelo

funcionalista: o estudo da pessoa enquanto ser que se

adapta ao seu meio. Para James, o papel da psicologia

é buscar compreender as funções da consciência já que

esta é a bússola que guia o organismo em sua

necessidade de sobrevivência. Ele afirmou ainda que a

consciência é como um órgão particularmente

apropriado às necessidades de um organismo complexo

como é o corpo humano e que sem seu pleno

desenvolvimento o processo de evolução não teria

Page 58: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 58

existido na espécie humana, seguindo de perto as

principais ideias difundidas da teoria darwinista.

Seguindo um rumo diferente da psicologia alemã

de sua época, James percebe os processos mentais

como atividades funcionais úteis para os seres vivos, na

medida em que permitem a eles manter-se e adaptar-

se no mundo natural. Esse autor enfatizou tanto os

aspectos racionais como os não racionais relacionados

aos processos humanos, demonstrando com isso que

não considerava o ser humano como um ser guiado

somente pelo caminho da racionalidade, sugerindo

outros meios de compreensão da realidade. Isso fica

bastante claro em seus trabalhos sobre o misticismo e

a religião.

E em relação aos trabalhos de Dewey, podemos

dizer que eles serão significativos para a compreensão

da função da escola e da importância da descoberta de

novos métodos de intervenção junto ao processo

educativo (ensino-aprendizagem), na busca de formar

cidadãos cada vez mais conscientes do seu papel junto

à sociedade.

Críticas à Psicologia funcionalista

Como resultado natural de todo processo de

constituição de um novo campo científico, o movimento

funcionalista sofreu diversos ataques quanto as suas

propostas para o campo da psicologia. Algumas dessas

críticas viriam dos psicólogos estruturalistas.

Para os estruturalistas, os funcionalistas usavam

o conceito de função ora para descrever uma atividade

e outras vezes para se referirem à utilidade da

atividade.

Quer saber mais?

O Funcionalismo baseia-se no pragmatismo e na utilidade – Ideais Americanos. Refere-se ao funcionamento da mente ou ao uso que o organismo faz dela para se adaptar ao ambiente. Os funcionalistas não estudavam a mente do ponto de vista da sua composição (dos seus elementos básicos e estrutura), mas como um aglomerado ou acumulação de funções e processos que resultavam em consequências práticas no mundo real.

Page 59: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 59

Em decorrência dessa constatação teórica, seus

críticos apontavam ainda para o grande interesse que

os psicólogos funcionais demonstravam pelas

atividades de natureza prática ou aplicada, para o

entendimento e o progresso do desenvolvimento do

conhecimento. Contudo, para os funcionalistas, o

importante era construir uma psicologia aplicada à

realidade, e isto pode ser considerado uma grande

contribuição do Funcionalismo. Esse era o resultado da

antiga discussão sobre as diferenças entre ciência pura

e aplicada e a validade científica de cada uma delas.

Edward Titchener foi um severo crítico desse

pensamento e sua principal oposição dizia respeito ao

próprio sentido ou definição do que é a Psicologia. Para

ele, o Funcionalismo nada tinha de psicologia, pois esse

modelo não se restringia unicamente ao campo de

investigação comumente definido para o estudo dos

fenômenos psicológicos. Para Titchener, o objeto de

estudo e a metodologia da psicologia já haviam sido

definidos e o modelo funcionalista não seguia tais

delimitações.

EXERCÍCIO 5

O que é o Funcionalismo e quais os seus principais

autores?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Page 60: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 3| As escolas psicológicas: as origens da psicologia científica 60

EXERCÍCIO 6

Comente a teoria psicológica de William James e cite o

seu principal objeto de análise.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

O início da Psicologia enquanto ciência: o

Estruturalismo de Wilhelm Wundt e Edward B.

Titchener;

O modelo Estruturalista e a definição do

objeto de estudo da Psicologia: a consciência;

A criação de um método de pesquisa: a

introspecção;

A resposta ao modelo estruturalista: o

Funcionalismo de William James e John

Dewey;

Contribuições e problemas metodológicos e

teóricos das teorias apresentadas;

Definição e compreensão da importância de

cada teoria para o campo da Teologia.

Page 61: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Teorias Psicológicas:

Comportamentalismo

Hildeberto Martins

AU

LA

4

Ap

res

en

taç

ão

Na aula anterior, discutimos temas referentes ao surgimento das

bases científicas das principais teorias psicológicas e as suas

explicações do ser humano. Apresentamos as primeiras teorias

psicológicas e como elas explicam as ações humanas, usando

como referencial o Estruturalismo e o Funcionalismo. Nesta e nas

próximas aulas, apresentaremos e discutiremos as principais

teorias psicológicas contemporâneas e as explicações

desenvolvidas por elas na tentativa de definir uma natureza

psicológica para o ser humano a partir de determinados níveis de

análise: como ser orgânico, ser psicológico ou ser social que

aprende e interage com a realidade. Falaremos das grandes

teorias psicológicas e como elas explicam as ações humanas,

usando como referencial as seguintes teorias: o

Comportamentalismo (Behaviorismo), a Psicanálise e a Psicologia

Sócio-Histórica. Articulado a isso, nós discutiremos as

contribuições e as questões metodológicas e teóricas propostas

pelas teorias apresentadas. Sinalizaremos a importância que cada

teoria tem para o campo da Teologia. Tenha uma boa aula!

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Conhecer um pouco das origens históricas das principais

teorias psicológicas contemporâneas;

Perceber as principais contribuições do Comportamentalismo

para o campo da Teologia;

Conhecer a biografia e os principais conceitos elaborados por

psicólogos preocupados em conhecer a dinâmica da natureza

humana;

Saber quais são os possíveis papéis e modos de definição da

natureza subjetiva humana a partir da compreensão dos

principais conceitos e ideias presentes nas teorias psicológicas

apresentadas.

Page 62: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 62

Comportamentalismo (Behaviorismo)

Com o surgimento dos modelos funcionalista e

estruturalista, estava aberto o caminho para a difusão e

o crescimento da ciência psicológica. Nos Estados

Unidos um movimento em especial assumiu um papel

capital para a consolidação de uma Psicologia

genuinamente americana. Esse movimento foi

denominado por seu idealizador, John Watson, de

Comportamentalismo (Behaviorismo).

O modelo comportamentalista ou behaviorista

foi uma reposta radical a tudo que havia sido pensado

até aquele momento como sendo a Psicologia, pois

diferentemente do modelo funcionalista, que para

alguns só modificou alguns princípios ou ideias da

Psicologia estruturalista, a Psicologia

comportamentalista era vista como um rompimento

revolucionário aos métodos e ideias do que era

verdadeiramente a Psicologia, já que este movimento

rompia com os principais conceitos mentalistas que

embasavam as pesquisas e os trabalhos psicológicos da

época.

Nas páginas seguintes, iremos denominar essa

escola ora de comportamentalismo, ora de

behaviorismo, já que ambos os conceitos podem ser

utilizados como sinônimos.

O principal objetivo do modelo comportamentalista

era fundar uma Psicologia totalmente objetiva,

voltada para a constituição de uma ciência do

comportamento. Para esse modelo, o objeto da

Psicologia é o comportamento estritamente

observável, os atos observáveis de conduta, um

modelo no qual os comportamentos poderiam ser

descritos de maneira objetiva, usando o princípio

fisiológico de estímulo – reposta, fórmula que se

tornaria clássica dentro dessa linha psicológica.

Page 63: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 63

A história inicial dessa nova corrente psicológica

está intimamente relacionada com a vida de seu

principal idealizador, John Watson. Para que possamos

conhecer um pouco mais sobre ela, apresentaremos em

linhas gerais as ideias desse autor e do principal revisor

das teorias comportamentalistas, B. Skinner, que

conseguiu ampliar as aplicações desse. Passemos,

então, para a apresentação de suas teorias.

A natureza do sistema

O behaviorismo surgiu com Watson no início do

séc. XX. Watson se preocupou em estudar os eventos

ambientais (estímulos) e o comportamento observável

JOHN BROADUS WATSON (1878-1958)

John Broadus Watson nasceu em Greenville,

Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Estudou

filosofia e psicologia, na Universidade de Chicago,

dedicando parte de sua vida a esta última. Foi

professor também na Universidade de Johns

Hopkins, de 1908 a 1920. Conheceu enorme

sucesso bastante cedo no campo da Psicologia,

sendo reconhecido por sua vigorosa defesa de um

novo modelo psicológico totalmente objetivo cujo

propósito era a eliminação de todos os aspectos

abstratos relacionados ao campo psicológico.

Sua carreira acadêmica transcorreu relativamente

bem até que um problema pessoal o obrigou a

abandoná-la prematuramente. Com o seu

afastamento da vida acadêmica, decidiu investir na

carreira publicitária, onde conseguiu obter relativo

sucesso profissional devido a sua postura arrojada.

Morreu em Nova Iorque, em 25 de setembro de

1958.

Para navegar

Para saber um pouco mais sobre Comportamentalismos recomendamos o site http://penta.ufrgs.br/~jairo/1compor1.htm e http://www.uniriotec.br/~pimentel/disciplinas/ie2/infoeduc/aprcomportamentalismo.html, acessados em 10/12/2008.

Page 64: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 64

(resposta), que são comumente definidos como

associacionismo ou condicionamento.

Dentro do campo de estudo da Psicologia

comportamental existem dois tipos de

condicionamento, o denominado de condicionamento

clássico (ou respondente) e o condicionamento

operante.

O condicionamento clássico foi descoberto e

estudado inicialmente por Ivan Petrovitch Pavlov.

Esse mecanismo explica como um estímulo

neutro pode eliciar um reflexo antes condicionado por

um estímulo incondicionado, ou seja, o estímulo neutro

adquire o poder de eliciar a resposta que originalmente

era eliciada pelo estímulo incondicionado. Por exemplo,

um cachorro faminto, que, antes do condicionamento,

reagia salivando ao estímulo incondicionado carne e

não mostrava a mesma reação diante do estímulo

neutro campainha. Depois da apresentação simultânea

e repetida dos estímulos carne e campainha, o cachorro

passa a reagir à apresentação isolada do estímulo

originalmente neutro campainha como se estivesse na

presença do estímulo incondicionado carne. Esse

modelo foi inicialmente denominado de salivação

psíquica por Pavlov, denominação que foi

posteriormente abandonada.

Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936) nasceu na

cidade de Riazan, na antiga União Soviética.

Estudou em escolas religiosas e no seminário de sua

cidade natal, preparando-se para a vida clerical,

mas resolveu abandoná-la para estudar Medicina e

Fisiologia. Especializou-se em Fisiologia animal na

Universidade de São Petersburgo, onde criou seu

laboratório. Em 1904, recebeu o prêmio Nobel de

Medicina por seus trabalhos sobre digestão e

circulação do sangue, o que lhe possibilitou

reconhecimento internacional e mais liberdade para

as suas pesquisas. Morreu em Leningrado, em 27 de

fevereiro de 1936.

Quer saber mais?

Para que surja um reflexo condicionado é preciso que existam certas condições: 1. coexistência no tempo, várias vezes repetida, entre o agente indiferente e o estímulo incondicionado (no caso, o som da campainha e a apresentação da carne); 2. o agente indiferente deve preceder em pouco tempo o estímulo incondicionado. Se dermos a carne primeiro e tocarmos a campainha depois, a reação condicionada não se estabelece;

3. inexistência naquele momento de outros estímulos que possam provocar inibição de causa externa. Se simultaneamente damos uma chicotada no animal ou lhe jogamos água gelada, provocamos inibição, desencadeando reação de defesa no animal; 4. para que o reflexo condicionado se mantenha, é necessário que periodicamente o reforcemos. Uma vez que o reflexo se formou, o mero som da campainha substitui a apresentação da carne. Mas, se tocarmos repetidamente a campainha e não mais apresentarmos a carne, depois de um certo número de vezes o animal deixa de reagir com salivação e secreção digestiva.

Page 65: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 65

No modelo comportamentalista de Watson, o ser

humano não tem um papel tão importante como era

definido no modelo funcionalista, por exemplo. O ser

humano é descrito como um objeto a ser observado e

analisado pela Psicologia, o que o coloca em uma

posição secundária. Como o ser humano seria o

resultado da sua capacidade de resposta, compete à

Psicologia comportamental predizer qual seria a

resposta produzida em decorrência do estímulo

adequado e ainda predizer o estímulo antecedente dada

a resposta, já que o homem seria uma máquina

estímulo-resposta.

A teoria behaviorista de Watson não se dedicou

ao estudo do cérebro (que ele denominava de caixa

misteriosa), pois em sua visão o comportamento não

era restrito ao sistema nervoso e, portanto, era mais

interessante compreender o organismo como um todo

do que se dedicar a um aspecto específico e ainda

pouco acessível dentro do campo científico de sua

época. Suas pesquisas foram mais voltadas para

os comportamentos humanos mais complexos e

da sua interação com o meio ambiente.

Objetivos principais

John Watson dedica-se significativamente ao

estudo do comportamento animal, já que não via

diferenças tão relevantes entre este e o comportamento

humano, servindo mesmo de recurso principal para um

melhor conhecimento deste último. Outra área de seu

interesse foi a análise e a compreensão do

comportamento infantil, utilizando a observação direta

dos próprios filhos como modelo de referência e de

análise experimental.

Para ele, os métodos adequados para o campo

da Psicologia eram o da observação e do relato verbal,

Page 66: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 66

o método do reflexo condicionado e o uso de testes

objetivos. Cada um desses métodos servia para

garantir uma maior precisão e fidedignidade ao estudo

do comportamento.

Para Watson, toda a abordagem

comportamentalista podia e devia ser reduzida ao

estudo do comportamento a partir de suas unidades

mais elementares, as reações estímulo-resposta. Essa

unidade básica fornecia a base científica para a

compreensão dos comportamentos mais

complexos do ser humano. Essa metodologia

também garantia que a investigação se desse no

espaço de laboratório, o que garantia maior respaldo na

busca da objetividade desejada.

EXERCÍCIO 1

O que é o Comportamentalismo de Watson?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 2

Quais são os métodos utilizados pelo Behaviorismo de

Watson para o estudo do comportamento humano?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Page 67: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 67

A natureza do sistema

A teoria de Skinner baseia-se no princípio

pavloviano dos reflexos condicionados (definido por

Skinner pelo nome de comportamento respondente),

mas acrescenta a ele a sua grande contribuição ao

campo da Psicologia: ideia de condicionamento

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990)

O BEHAVIORISMO RADICAL DE BURRHUS

FREDERIC SKINNER

Burrhus Frederic Skinner nasceu em Susquehanna,

Pensilvânia, em 20 de março de 1904, nos Estados

Unidos. Interessa-se inicialmente por literatura, mas

reconhece sua pouca vocação para as artes,

abandonando rapidamente esse caminho. Estudou e

doutorou-se em Psicologia pela Universidade de

Harvard, em 1931. Lecionou na Universidade de

Minnesota, em 1936. Começou sua carreira

produzindo trabalhos sobre o comportamento e

reavaliando o papel da Psicologia comportamental.

Elaborou várias pesquisas experimentais sobre o

condicionamento operante na tentativa de construir

uma metodologia própria para esse novo campo da

Psicologia. Os trabalhos de Skinner são voltados

para a aplicação prática do conhecimento, o que

possibilitou que se interessasse pelas mais variadas

áreas como a linguagem, considerada por ele como

comportamento verbal, devendo ser pensada como

tal. Teve papel significativo no campo da educação,

onde propõe uma abordagem comportamentalista

para a compreensão e o avanço do campo

educacional e que lança as bases para a sua crítica

ao modelo educacional norte-americano, propondo

ao mesmo tempo uma nova perspectiva baseada em

sua teoria do reforço (presente no livro intitulado A

tecnologia do ensino, de 1968). Skinner é

considerado por muitos psicólogos o mais

importante teórico da Psicologia da era moderna. Morreu em 1990.

Dica do professor

Condicionamento operante: Conceito psicológico que trabalha sobre a ideia de reforço ou reforçamento, que é o processo que favorece, aumenta a probabilidade de uma resposta ser repetida em circunstâncias similares. Para que o condicionamento se efetue, é necessário que o organismo seja estimulado pelas consequências (positivas ou negativas) de seu comportamento. A resposta é operante porque opera sobre o ambiente, e por isso é variável.

Page 68: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 68

operante. Seus primeiros estudos experimentais sobre

esse tema utilizavam ratos na tentativa de desenvolver

e ampliar a pesquisa do comportamento operante, mas

o que não o impediu de ampliar as suas descobertas

iniciais para outro âmbito que considerava bastante

próximo, o do comportamento humano.

O condicionamento operante era considerado

por Skinner mais representativo para os esquemas de

aprendizagem humana do que o comportamento

respondente. Para Skinner, a ciência do

comportamento devia estar direcionada para estudar o

condicionamento e a extinção de comportamentos

operantes.

Para esse autor, são muitos os fatores envolvidos

no processo de modelagem de um comportamento.

Entre esses fatores, ele descreveu a discriminação

(processo de responder a estímulos cada vez mais

sutis) e o reforço generalizado (reforços, como o

dinheiro ou a aprovação social, que atuam sobre o

organismo independentemente de qualquer privação

específica). Esses fatores possibilitam relações as mais

variadas, o que permite, como consequência, diversas

alternativas como resultado de uma estimulação.

Skinner amplia o campo de estudos

comportamentais ao admitir que os sentimentos e

outros aspectos da cognição humana podem ser

investigados desde que estes sejam analisados em

consequência de suas manifestações exteriores, ou

seja, propõe que o experimentador seja capaz:

(...) de entender as circunstâncias

objetivamente apreensíveis que

cercam o indivíduo quando ele

manifesta ‘tristeza’, ou estudar o

comportamento verbal que ele emite

quando se diz ‘deprimido’, por

exemplo.

Page 69: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 69

Contudo, fica claro que, apesar dessa abertura,

o que interessa para o modelo skinneriano é descartar

qualquer terminologia subjetivista, qualquer recurso

não observável pelo método experimental. Nesse

sentido, como muitos autores apontam, essa

abordagem é uma crítica a determinados modelos

psicológicos, como a psicanálise e o seu método

clínico.

Para Skinner, o processo de aprendizado do ser

humano é a consequência de uma série de reforços

bem planejados e desenvolvidos pelos pais ou figuras

de autoridade.

A punição tem, então, para Skinner, função de

controle e está relacionada amplamente à situação de

fracasso do ensino, que a utiliza como reforço negativo

no dia a dia escolar sem perceber que seus efeitos são

ineficazes em relação ao processo de aprendizagem de

novas informações.

Por esse princípio lógico, o resultado educacional

final desejado depende somente da definição objetiva e

rigorosa daquilo que se espera alcançar como resposta

comportamental do indivíduo. O repertório final de

respostas (comportamentos) deve ser decidido

Dica de leitura

CUNHA. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

Dica de leitura

Para saber um pouco mais sobre a teoria de Skinner, recomendamos o livro Sobre o Behaviorismo (1989) e Questões recentes na análise comportamental (1991), escritos por ele.

O processo educacional, segundo Skinner, consistiria

na programação meticulosa do ensino de qualquer

assunto/temática a partir de sua divisão em tópicos

ordenados. Cada tópico seria então desenvolvido em

pequenas etapas pelos alunos individualmente, e

que seria reforçado sempre que ele acertasse o

conteúdo proposto nesta etapa. Para ele, com essa

metodologia, a aprendizagem de qualquer assunto

se tornaria rápida e eficaz, pois seria possível a

programação de qualquer disciplina, eliminando

ainda um outro aspecto bastante reprovado por

Skinner que era a prática tradicional da punição

(física ou psicológica) representada pelas

reprovações, notas baixas e outras técnicas

coercitivas (limitadoras) existentes nas instituições

de ensino.

Page 70: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 70

previamente pelo(a) educador(a), já que a partir disso

pode ser alcançado o objetivo educacional esperado,

formando um indivíduo mais capacitado. Essa

abordagem foi acusada por muitos de ser bastante

utilitarista, já que pressupõe que todo o processo

educacional pode ser reduzido a um mero circuito de

estímulo-resposta, e que quando bem controlado

modelaria o comportamento e a personalidade do

sujeito à maneira do seu programador, tal qual um

computador que recebe programas específicos e segue

caminhos predefinidos pela sua programação.

Para este autor, as ideias religiosas e suas

complexas leis de funcionamento são o resultado de

uma série de contingências de reforçamento que se

tornaram mais poderosas ao longo do processo de

evolução da sociedade. Esses reforços, e as situações

contingenciais ligadas a eles, foram codificados em

advertências (religiosas) capazes de instruir a maneira

de pensar e agir do indivíduo. O seu conjunto definiu as

leis religiosas que marcam os diferentes tipos de

religiões que existem na humanidade.

Skinner argumenta que os comportamentos

considerados pelo grupo religioso como “maus” seriam

punidos (castigados). A punição seria a forma

elementar que definiu a maneira como certas atitudes

(comportamentos) seriam definidas como válidas

(parâmetro) para uma determinada sociedade. Ele

aponta que mesmo aqueles que não são prejudicados

por esse comportamento reforçam o comportamento de

“crítica” do grupo. A codificação dessas advertências

seriam passadas para as gerações seguintes na forma

de reforçamento de certos comportamentos

aprendidos. Como ele mesmo afirma: “Obedecendo à

lei, a pessoa evita a punição” (Skinner, 1991: 107).

Page 71: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 71

Skinner coloca as leis religiosas em um patamar

diferenciado, já que acredita que são contingências

especiais que organizam as formas de reforçamento

dessas leis. Muito em decorrência do convívio social e

de suas regras particulares (a importância do meio).

Para Skinner, o ser humano começa sua vida

como um organismo e se torna um indivíduo à medida

que adquire ao longo da vida um variado repertório de

comportamentos. Sua proposta aponta para uma

interação mais complexa do homem com o seu

ambiente, já esse repertório comportamental pode ser

alterado em decorrência dos reforçadores presentes em

determinada situação ambiental. Dizendo de outro

modo, nossa resposta depende de um inúmero

leque de possibilidades apresentadas em uma

dada situação. Mesmo que uma resposta possa

ser a mais previsível, ela dependerá (positiva ou

negativamente) dos reforçadores apresentados.

Skinner considerava que devíamos atender às

diferenças individuais em relação ao ritmo pessoal de

aprendizado de cada um e em relação à seleção de

reforços adequados aos indivíduos, pois só assim

podíamos garantir o melhor desempenho possível para

cada indivíduo.

Para ele, a sociedade só seria melhor no

momento em que ela rompesse com as suas regras

tradicionais e as substituísse por um modelo de

planejamento baseado nos princípios da teoria do

reforço. Essa ideia foi explicitada de modo claro em seu

best-seller de ficção Walden II, publicado em 1948.

Objetivos principais

O principal objetivo de Skinner era produzir um

sistema psicológico estritamente empírico. Interessava,

Dica de leitura

SKINNER, B.F. - Walden II: uma sociedade do futuro. S. Paulo, EPU, 1978.

Page 72: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 72

como já foi dito anteriormente, construir um modelo

que pudesse descartar qualquer terminologia

subjetivista, qualquer recurso não observável pelo

método experimental.

Com o objetivo de elaborar tal proposta, esse

autor elaborou alguns conceitos capitais para o avanço

e produção de pesquisas psicológicas preocupadas em

descrever e compreender o comportamento humano. O

conceito de comportamento operante, já descrito, é um

deles.

Outros conceitos importantes são o de punição e

o de reforçamento. Skinner denominava de reforço os

eventos que tornam uma reação mais frequente, que

aumentam a probabilidade de sua ocorrência. Para ele,

os eventos reforçadores podem ser classificados em

positivos (acréscimo de algo a uma determinada

situação) e negativos (remoção de algo diante de

determinada situação como, por exemplo, o choque).

Devemos destacar que em ambos os casos o efeito do

reforço é o mesmo que foi mencionado anteriormente,

ou seja, aumentar a probabilidade da resposta. Skinner

se preocupou em determinar quais eram os esquemas

de reforçamento em nosso ambiente social, afirmando

que nem sempre esses esquemas são consistentes no

mundo real como são em laboratório.

A punição tem, para Skinner, função de controle

e é ineficaz em relação ao processo de aprendizagem

de novas informações, já que somente permite ao

sujeito saber o que não fazer simplesmente. Segundo

esse autor, a punição só reforça o agente da ação

punitiva.

Page 73: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 73

EXERCÍCIO 3

O que é comportamento operante para Skinner?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Quais são os fatores envolvidos no processo de

modelagem de comportamento segundo Skinner?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 5

Cite e discuta outro conceito importante da teoria de

Skinner.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

Contribuições do modelo

comportamentalista

É inegável a contribuição da teoria

comportamentalista no campo da aprendizagem

Page 74: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 74

humana e na compreensão de determinados padrões

comportamentais presentes em nosso cotidiano. Ao

radicalizar a ideia wundtiana de que o objeto de estudo

da Psicologia é o comportamento, o modelo

comportamental permitiu que o campo da pesquisa

experimental sobre o comportamento humano pudesse

alcançar um vasto espectro das ações humanas. Com o

advento do Behaviorismo, o comportamento humano

ganhou um novo status e passou a ser objeto de

exaustiva análise da ciência. Com estes autores, o

comportamento ganhou uma definição mais clara e

precisa, o que permitiu delimitar o campo da Psicologia

com mais precisão. O comportamento foi definido como

uma resposta do organismo aos estímulos provenientes

do ambiente, fenômeno que podia ser observado,

registrado e analisado objetivamente.

Outra grande contribuição desse modelo foi no

campo do estudo sobre o condicionamento animal e

humano e os seus mecanismos de funcionamento,

abrindo novas perspectivas dentro do campo da

psicopatologia, psicofisiologia e da neuropsicologia, por

exemplo.

Mais recentemente podemos apontar para a

contribuição da ideia de modelagem e a sua

importância para a produção de grande parte das

respostas sociais, já que estas seriam adquiridas

através de indicações fornecidas por modelos. Esse

modelo permite a compreensão de fenômenos atuais

que afetam o cotidiano de boa parte da população

global, o que permite visualizar novos caminhos para o

uso da teoria comportamental.

Para finalizar, não podemos nos esquecer da

contribuição de Skinner e sua crítica feroz ao modelo

educacional americano, que resultou na criação de uma

nova tecnologia de ensino (que alguns consideraram

Quer saber mais?

Entre as principais contribuições da NEUROPSICOLOGIA, estão os resultados de pesquisas científicas para elaborar intervenções em casos de lesão cerebral quando se verifica o comprometimento da cognição e de alguns aspectos do comportamento. FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neuropsicolo

gia

Page 75: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 75

totalmente voltada para os aspectos técnicos do

processo de ensino-aprendizagem, acarretando enorme

prejuízo para os aspectos criativos do processo

educacional) denominada de aprendizagem

programada.

Com este autor, a ideia de ensino e

aprendizagem ganha uma conotação produtivista nunca

antes alcançada. A partir dessa perspectiva, ensinar

passa a ser visto pelo seu viés prático, eficaz e

econômico, já que é possível estabelecer um plano

executivo que leve em conta o controle dos

procedimentos para a obtenção de um resultado

esperado, com o menor custo possível (material e

humano). Como você já deve ter notado, foi colocada

essa observação do modelo comportamentalista no

tópico das contribuições e não das críticas ao modelo,

pois acreditamos que este aspecto da teoria não seja

negativo a priori.

Críticas ao modelo comportamentalista

O modelo comportamentalista não pode ser

visto como um modelo unificado, já que existem

divergências significativas entre os seus principais

pensadores. Contudo, podemos constatar que também

existem enormes semelhanças que serviram de base

para uma crítica contundente a determinadas ideias

presentes neste modelo teórico.

A ideia, bastante presente no modelo

comportamentalista, de que o processo de

aprendizagem do ser humano é determinado pelo

ambiente, sofre intensa e severa crítica ainda hoje,

mesmo que alguns de seus autores tenham dado uma

importância significativa aos fatores genéticos ou

inatos, como foi o caso de Skinner. Mesmo assim, seus

autores acreditam que o homem é um resultado do

Quer saber mais?

A Máquina de Ensinar A mais conhecida aplicação educacional do trabalho de Skinner é, sem dúvida, Instrução programada, e máquinas de ensinar. Skinner acreditava que as máquinas de ensinar apresentam várias vantagens sobre outros métodos. Estudantes podem compor sua própria resposta em lugar de escolhê-la em um conjunto de alternativas. Exige-se que lembrem mais, e não apenas que reconheçam - que deem respostas e que também vejam quais são as

respostas corretas. A máquina assegura que esses passos sejam dados em uma ordem cuidadosamente prescrita. Embora, é claro, que a máquina propriamente dita não ensine, ela coloca estudantes em contato com o professor ou a pessoa que escreve o programa. A máquina de Skinner permite que o professor dedique suas energias a formas mais sutis de instrução, como discussão. FONTE: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/per07.htm

Page 76: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 76

meio (ser passivo), o que impede que certos problemas

educacionais possam ser explicados e/ou

compreendidos a partir de sua teoria.

Devemos lembrar, ainda, que o modelo

comportamentalista reduziu de maneira um pouco

simplória determinados fenômenos do comportamento

e a própria concepção de homem ao comparar suas

ações com a dos animais. O caso mais evidente foi em

relação à linguagem, já que para Skinner a linguagem

nada mais era do que comportamento verbal, mero

efeito de reforçamentos induzidos pelo processo de

ensino-aprendizagem, não levando em consideração os

aspectos culturais e políticos envolvidos na própria

construção da linguagem.

EXERCÍCIO 6

Como a teoria comportamentalista explica a ideia

religiosa? Qual é o seu principal meio de efetivação?

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

A apresentação, o estudo das teorias

psicológicas e as possíveis explicações acerca

do ser humano como ser orgânico, ser

psicológico ou ser social que aprende e

interage com o mundo;

O que é o Comportamentalismo? Quais são os

seus principais autores e teorias?

Page 77: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 4| Teorias psicológicas: Comportamentalismo 77

O surgimento do Behaviorismo: o modelo

comportamentalista de Watson e o

Neocomportamentalismo de Skinner;

Difrenças teóricas e aplicações práticas na

compreensão do ser humano nas teorias

comportamentalistas;

Contribuições e problemas metodológicos e

teóricos das teorias apresentadas;

Definição e compreensão da importância de

cada teoria para o campo da Teologia.

Page 78: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA
Page 79: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Jung e a Psicologia da

Religião

Henrique Pereira

AU

LA

5

Ap

res

en

taç

ão

Esta aula apresenta as principais ideias do psiquiatra suíço Carl

Gustav Jung e discute aspectos relacionados à religião a partir do

ponto de vista deste autor. Destaca a particular forma como Jung

concebe a personalidade, além de esclarecer os conceitos

essenciais que facilitam a compreensão de sua obra, uma vez que

em algumas circunstâncias foi interpretado equivocadamente

devido à relação entre psique e religião proposta pelo autor.

Posteriormente, são discutidas as religiões e a religiosidade no

mundo contemporâneo dando especial atenção aos conflitos e às

divergências próprias da diversidade na era moderna.

Ob

jeti

vo

s

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja

capaz de:

Apresentar a influência da religião na obra de Jung tendo como

pano de fundo sua história pessoal e sua compreensão acerca

da psique;

Reconhecer concepções próprias de Jung sobre o fenômeno

religioso na estruturação psíquica que atua como sistema

terapêutico e promove a cura, pois a religião para ele seria

uma “função no inconsciente”;

Identificar os conceitos que organizam a teorização de Jung

sobre a personalidade, sendo que estes guardam elementos da

religiosidade e de uma história ancestral da humanidade;

Discutir as religiões no mundo contemporâneo que têm

consequências na forma de vida em sociedade e afetam as

relações sociais e políticas.

Page 80: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 80

Introdução

O ano é 1958. Carl Gustav Jung (1875-1961), o

renomado psiquiatra suíço, então com 82 anos, estava

sendo entrevistado pela rede de comunicação inglesa

BBC. O repórter lhe pergunta: “O senhor acredita em

Deus?”. Jung responde: “Difícil responder [pausa]. Eu

sei. Eu não preciso acreditar, eu sei” [Difficult to

answer. I know, I don’t need to believe, I know]. Esta

fala rendeu-lhe posteriormente uma avalanche de

cartas. O que exatamente Jung estava querendo dizer

ao afirmar que “conhecia” Deus? O leitor sem

intimidade com sua obra escrita poderia, baseado

apenas nesta sentença, facilmente imaginar Jung como

uma espécie de “místico” ou profeta. Alguém iluminado

pelo conhecimento e luz divinos e, consequentemente,

possuidor de uma sabedoria sobrenatural. Mas será que

é disto que se trata? Qual a posição de Jung diante de

Deus e da religião?

Atendendo aos pedidos de esclarecimento da

polêmica que ele mesmo ajudou a criar sem querer,

Jung escreveu uma carta ao jornal inglês The Listener,

na qual explicou, com muita clareza, o que tentava

dizer quando afirmara que “conhecia Deus”. Com esta

expressão, argumenta, não fazia nenhuma afirmação

de cunho metafísico, mas tão somente referia-se a uma

experiência psíquica cuja origem última é insondável:

[Deus] é um nome apropriado para

todas as grandes emoções que

ocorrem em meu próprio sistema

psíquico e que dominam minha

vontade consciente, apoderando-se do

controle sobre mim mesmo. É por este

nome que designo tudo o que se (sic)

atravessa, de forma violenta e

desapiedada, o itinerário por mim

traçado; tudo o que subverte minha

concepções subjetivas, meus planos

objetivos, e interfere no curso de

minha vida, seja para o bem seja para

o mal.

(Jung, 1988a, p. 645)

Carl Gustav Jung (1875-1961)

Page 81: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 81

Acrescenta que não tem a menor pretensão de

igualar a sua experiência pessoal deste poderoso fator

psíquico com “o Ser Supremo universal e metafísico do

credo religioso ou das ‘filosofias’” (id., ibid. p. 646).

Este episódio é ilustrativo do ponto de vista que

Jung adotou sobre a religião durante sua vida:

essencialmente, ele abordou esse tema em termos

psicológicos. Com efeito, sua posição nem sempre foi

bem compreendida, levando-o a ser acusado tanto de

“materialista” como de “místico”.

Esta apostila visa, então, a apresentar as

principais contribuições deste importante autor para o

estudo psicológico do fenômeno religioso.

A religião na vida de Jung

Carl Gustav Jung nasceu no ano de 1875, em

Kesswil, cantão da Turgóvia, Suíça. O pai de Jung era

pastor da Igreja Reformada Suíça, assim como muitos

de seus tios, o que fez de sua infância um período

envolto de religiosidade protestante. Contudo, desde

muito cedo, Jung teve sentimentos ambivalentes em

relação à religião cristã institucionalizada, conforme

relatou em sua biografia (1985). Sentimentos que,

amiúde, expressavam-se na forma de sonhos.

Quando tinha cerca de três anos de idade, Jung

teve um sonho especialmente significativo. Viu-se

numa campina. Descobriu ali uma cova e, hesitante,

nela entrou. Deparou-se com um espaço retangular de

cerca de dez metros de comprimento, com chão de

azulejos e teto abobadado. Sobre um tapete vermelho

havia um trono e, neste, uma forma gigantesca, que

parecia feita de “pele e carne viva”. Não tinha cabelos

nem rosto, apenas um único olho. Jung (1985) conta

que ficou horrorizado com aquela visão e escutou, no

Quer saber mais?

As melhores fontes bibliográficas sobre a vida de Jung são Memórias, sonhos, reflexões, a biografia que Jung escreveu conjuntamente com Aniela Jaffé; e Jung: a Biography (livro já traduzido para o português), da escritora norte-americana Deidre Bair.

Page 82: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 82

sonho, sua mãe lhe dizer: “Sim, olhe-o bem, isto é o

devorador de homens!” (p. 26). Acordou assustado e

por várias noites não queria dormir, temendo ter um

sonho similar. Mais tarde, já adulto, interpretou a figura

monstruosa do sonho como um “falo ritualístico”, uma

espécie de deus subterrâneo pagão.

Outra lembrança de Jung da infância tem

relação mais direta com a figura de Jesus,

demonstrando um precoce questionamento da religião

de sua família e cultura:

O ‘Senhor Jesus’ se me afigurava, não

sei porque (sic), uma espécie de deus

dos mortos-protetor, uma vez que

expulsava os demônios da noite, mas

em si mesmo temível, pois era um

cadáver sangrento e sacrificado. Seu

amor e sua bondade, incessantemente

louvados diante de mim, pareciam-me

suspeitos, pois aqueles que me

falavam do ‘Bom Senhor Jesus’ eram

principalmente pessoas de fraque

negro, sapatos reluzentes e que

sempre me lembravam os enterros —

os colegas de meu pai e oito tios,

todos pastores. Eles me infundiram

angústia durante muitos anos, sem

falar nos padres católicos que

apareciam eventualmente e que me

lembravam o jesuíta que me

apavorara. Estes mesmos jesuítas

tinham causado a meu pai temor e

irritação. Nos anos que se seguiram,

até a minha crisma, esforcei-me

penosamente por estabelecer apesar

de tudo uma relação positiva com

Cristo, tal qual esperavam de mim.

(id., ibid. pp. 26-27)

Essa atitude de desconfiança de Jung em face do

cristianismo que o cercava quando criança parece ter

perdurado ao longo de sua vida. Outro episódio que o

marcou profundamente foi uma visão de quando tinha

então doze anos. Jung conta que tudo começou em um

belo dia de verão com céu azul em que, retornando da

escola, passara pela praça da catedral da cidade.

Page 83: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 83

Naquele momento sentiu-se maravilhado com a beleza

do mundo e da igreja, e também com o bom Deus que,

de seu trono de ouro no Céu, assistia a tudo aquilo. A

seguir, porém, lhe sobreveio uma espécie de asfixia:

um pressentimento de que algo terrível estava para

acontecer, mas não sabia exatamente o quê. Não

queria pensar naquilo. Passou a lutar contra essa ideia

proibida e, ao mesmo tempo, ignorada. Com o tempo,

sua angústia tornou-se insuportável e, reunindo toda a

coragem que tinha, deixou o pensamento emergir. Eis o

que adveio, nas palavras do próprio Jung (ibid.): “Deus

está sentado em seu trono de ouro, muito alto acima

do mundo e, debaixo do trono, um enorme excremento

cai sobre o teto novo e colorido da igreja; este se

despedaça e os muros desabam” (p. 47).

Esta experiência “blasfema”, explica o

psiquiatra, mostrou-lhe que o Deus vivo é uma

experiência imediata que supera a tradição e a própria

Bíblia, podendo obrigar o homem a renunciar suas

maiores crenças e opiniões. “Deus não se prende a

tradições, por mais sagradas que sejam”, escreveu (id.,

ibid, p. 48). Relatou que o sonho do falo gigante e a

visão da catedral derrubada pelo excremento divino

foram “os conhecimentos decisivos de minha vida” (id,

ibid., p. 54).

Em contraste com essas experiências

fundamentais, Jung relembrou, novamente na sua

autobiografia, a frustração que foi seu crisma.

Descreveu-o como uma celebração solene, porém

totalmente desprovida da presença efetiva de Deus,

potência que ele já pudera sentir na alma. Em

Memórias, relatou:

Pouco a pouco tornou-se claro para

mim que aquela comunhão fora uma

deplorável experiência. Dela só

resultara o vazio, pior ainda, uma

perda. Sabia que nunca mais poderia par

Quer saber mais?

“De repente ficou claro para mim que Deus era uma experiência imediata e das mais convincentes. Não fora eu que inventara a terrível história da catedral. Pelo contrário, ela me fora imposta e eu tinha sido constrangido — com a maior crueldade — a pensá-la. Mas depois uma graça indizível me invadira” (Jung, 1985, p. 65).

Page 84: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 84

ticipar dessa cerimônia. Para mim, não

se tratava de uma religião, mas uma

ausência de Deus. Não voltaria mais à

igreja que, para mim, não era um

lugar de vida, mas de morte.

(id., ibid., p. 60)

Jung forma-se em psiquiatria em 1900 e no final

deste mesmo ano começa a trabalhar como psiquiatra

no Hospital Burghölzli, em Zurique, de onde só foi sair

nove anos depois. O Burghölzli era considerado naquele

tempo uma das mais importantes instituições

psiquiátricas da Europa.

Entre os anos 1907 e 1913, Jung associa-se a

Freud, ajudando na formação da psicanálise como

movimento internacional. Nesses anos, pode-se

observar seu interesse crescente pela mitologia, como

via de entrada nas profundezas — o inconsciente — da

psique. Com seu afastamento do movimento

psicanalítico, Jung desenvolve a psicologia analítica,

que é como passou a denominar sua teoria e prática

clínicas. Na segunda década do século XX, aproxima-se

da gnose, também com o intuito de relacioná-la com a

psicologia. É deste período a pequena monografia “Sete

sermões aos mortos” (cf. Jung, 1985).

No final dos anos 1920, Jung “descobre” a

alquimia; primeiramente, a alquimia chinesa, depois a

ocidental. Interessa-lhe a alquimia como uma espécie

de “protopsicologia” do inconsciente: os alquimistas

teriam observado processos de transformação da

personalidade, similares ao que Jung identificara em si

e nos seus pacientes, só que projetados na matéria.

Além disso, a alquimia no ocidente, durante a Idade

Média, sobretudo, constituíra uma importante

compensação à unilateralidade da visão de mundo

cristã.

Sigmund Freud (1856-1939), o

criador da psicanálise.

Você sabia?

A palavra gnose é oriunda do grego e significa “conhecimento”. Segundo Japiassu e Marcondes (1990), “na história das religiões, o termo gnose é reservado ao conjunto de doutrinas heréticas que, nos séculos II e III, ameaçaram a unidade do Cristianismo” (p. 111).

Importante

O interesse de Jung pelo fenômeno religioso foi amplo. Não estava restrito à esfera cristã, mas abarcava religiões de sociedades tradicionais ou “primitivas” da Austrália e África, por exemplo, assim como as religiões da Índia, China e Tibete. A maioria de seus escritos sobre as religiões orientais está reunida em Psicologia da religião ocidental e oriental (cf. Jung, 1988a).

Page 85: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 85

Em 1939, Jung (cf. 1988a) publica “Psicologia e

religião”, originalmente um conjunto de conferências

pronunciadas na Universidade de Yale, nos Estados

Unidos. Nesse texto, explica de modo detalhado o que

entende por “religião”. Em 1944, “Psicologia e alquimia”

(id., 1994). Em 1951, é publicado Aion, livro em que

Jung (cf. 1978) discorre profundamente sobre a

simbolismo de Cristo. Um ano depois, é lançado

“Resposta a Jó” (id., 1988a), monografia que causou

grande mal-estar entre teólogos católicos assim como

protestantes.

Ao lerem-se os volumes de correspondência de

Jung, percebe-se grande quantidade de interlocutores

teólogos. Como o psiquiatra suíço havia interpretado o

cristianismo de modo não convencional, pastores e

padres mostravam dificuldade em entender suas ideias

e, principalmente, de aceitá-las. Jung, então, procurava

explicar-se e, às vezes, com certa irritação. A uma

pastora americana, em 1953, que insistia em não

compreender sua psicologia, escreve:

Realmente não é fácil entrar em

diálogo com os teólogos: eles não

escutam o outro (o que está errado de

antemão), mas apenas a si mesmos (e

chamam isto de palavra de Deus). Isto

talvez provenha do fato de terem de

pregar de cima do púlpito, a que

ninguém tem direito de responder.

Esta atitude, que encontrei quase em

toda parte, afugentou-me da Igreja,

bem como muitos outros.

(id., 2002, p. 285)

Para o padre Victor White, que fizera uma

resenha duríssima a “Resposta a Jó” e mais ainda ao

seu autor, Jung, com ironia, respondeu: “Acho que sou

um herege (...). Decididamente não estou do lado do

vencedor, mas sou muito impopular tanto na esquerda

quando na direita. Não sei se mereço ser incluído em

suas orações” (id., ibid., p. 148).

Page 86: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 86

Em resumo, estes foram alguns dos principais

episódios relacionados à religião que marcaram a vida e

a obra de Jung.

A RELIGIÃO COMO EXPERIÊNCIA PSÍQUICA

Voltemos agora à questão inicial: o que Jung

precisamente entende por “religião”? Convém estarmos

atentos aos seus textos para não cometer erros tolos

de interpretação. Um de seus escritos que elucida

muito bem o assunto é exatamente a monografia

“Psicologia e religião”, de 1939. Nesse texto, Jung faz a

importante distinção entre “religião” e “confissão de fé

religiosa”. A palavra “religião”, explica, é proveniente

do latim religio ou religere, que significa

uma consideração e observação cuidadosas de

certos fatores dinâmicos concebidos como ‘potências’:

espíritos, demônios, deuses, leis, ideias, ideais, ou

qualquer outra denominação dada pelo homem a tais

fatores; dentro de seu mundo próprio, a experiência

ter-lhe-ia mostrado suficientemente poderosos,

perigosos ou mesmo úteis, para merecerem respeitosa

consideração, ou suficientemente grandes, belos e

racionais, para serem piedosamente adorados e

amados (Jung, 1988a, p. 4).

De acordo com o sentido exposto acima, a

religião seria então primeiramente uma “função no

inconsciente”, uma “atitude do espírito humano”.

Atitude esta que, por sua vez, se funda na experiência

de um tipo particular de fenômeno, que Jung denomina

“o numinoso”. “Numinoso” é a expressão utilizada por

Rudolf Otto para designar a experiência na consciência

de um dinamismo não causado por um ato voluntário

do sujeito. O numinoso, portanto, é independente da

vontade individual. Nós sofremos o seu efeito. Nesse

sentido, observa Jung (ibid.), a religião se torna “a

Importante

Jung define o significado de “religião” a partir de sua etimologia clássica, tal como aparece em Cícero (106-43 a. C.): “Religião é aquilo que nos incute zelo e um sentimento de reverência por uma certa natureza de ordem superior que chamamos divina (apud Jung, 1988a, p. 4, nota).

Importante

Rudolf Otto (1879-1937), eminente historiador das religiões e teólogo, buscou investigar o fenômeno religioso sob seu aspecto irracional. Para ele, o sagrado envolve, antes de tudo, um mysterium tremendum, uma experiência de pavor.

Page 87: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 87

atitude particular de uma consciência transformada pela

experiência do numinoso” (p. 4). Consequentemente, a

crença em um ente superior, um “Deus”, torna-se

desnecessária. Ou seja, não é preciso “ter fé” ou

“acreditar em Deus”, quando se tem ou teve,

efetivamente, a experiência do numinoso (daí Jung ter

podido afirmar que “não precisava acreditar em Deus”).

Por outro lado, as confissões de fé religiosas são

formalizações e sistematizações da experiência

numinosa originária, condicionadas historicamente.

Suas práticas e seus rituais buscam provocar o

numinoso nos participantes do culto. Na confissão de

fé, por conseguinte, o que era originalmente uma

experiência espontânea individual do numinoso, tornou-

se institucionalizada em dogmas e ritos coletivos.

Esclarecida a diferença entre religião e confissão

de fé, permanece o problema de identificar a origem do

numinoso. Até este ponto, segundo a perspectiva de

Jung, a investigação psicológica e a teológica podiam

andar juntas. De agora em diante, elas se afastam para

não se encontrarem novamente. O teólogo cristão, a

título de exemplo, diria que a causa última do

numinoso é um ser transcendente, uma potência

incomensurável, chamado “Deus”. Assim, se o cristão

praticante obtém alívio para a dor de sua alma é

porque neste caso houve uma intervenção divina.

Para Jung, as pretensões de resposta da

psicologia do inconsciente para a questão da origem do

numinoso são bem mais modestas. Saber em que

consiste a essência do numinoso ou a causa última da

experiência do numinoso, o que vem a dar no mesmo,

é um problema metafísico que não cabe à psicologia ou

psiquiatria responder. A psicologia científica deve se

preocupar exclusivamente com o fenômeno psíquico,

isto é, com as imagens, representações e afetos que

Page 88: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 88

surgem na psique. Por isso, pode-se afirmar que, em

um sentido estrito, ciência e credo religioso não

combinam.

Ora, se uma ou muitas pessoas acreditam em

Deus, como o criador do mundo e do homem, isso não

comprova nem refuta Sua existência. Para Jung, a

única conclusão razoável a que podemos chegar é que

existe a ideia psíquica de Deus. A psicologia da religião,

então, vai se interessar por Deus — ou pelos deuses,

espíritos, demônios etc. — como realidade psíquica,

que é a única realidade com que ela efetivamente

trabalha. Isso não implica o desmerecimento de outros

tipos de saber. Trata-se tão somente de uma distinção

necessária dos objetos de investigação: psicólogo e

teólogo vão tratar diferentemente o fenômeno religioso.

Que é “metafísica”? “Metafísica” significa

literalmente “aquilo que está além da física

(natureza)”. Na filosofia, a metafísica é

habitualmente entendida como o estudo dos

princípios ou do ser e, nesse sentido, é idêntica à

“ontologia”. O pensamento moderno, por sua vez,

privilegia as questões epistemológicas (isto é,

relativas ao conhecimento) em detrimento das

questões metafísicas ou ontológicas. Este é o caso

da filosofia crítica de I. Kant (1724-1804), pensador

que muito influenciou Jung. Kant impôs “limites às

pretensões a conhecimento da metafísica,

considerando que devemos distinguir o domínio da

razão, que produz conhecimento, que possui objetos

da experiência, que constitui a ciência, portanto, do

domínio da razão especulativa, em que esta se põe

questões que, em última análise, não pode

solucionar, embora essas questões sejam

inevitáveis” (Japiassu & Marcondes, 1990, p. 166).

Outra definição de metafísica, dessa vez de A.

Schopenhauer (1788-1860) — outro pensador que

influenciou Jung — pode nos ajudar a esclarecer a

questão: “Por metafísica entendo toda pretensão a

conhecimento que busque ultrapassar o campo da

experiência possível, e, por conseguinte a natureza,

ou a aparência das coisas tal como nos é dada, para

nos fornecer aberturas àquilo pelo qual esta é

condicionada; ou para falar de forma mais popular,

sobre aquilo que se oculta por trás da natureza, e a

torna possível” (id., ibid., p. 166).

Page 89: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 89

Consequentemente, o psicólogo vai concentrar-

se na experiência religiosa originária e desconsiderar a

pretensão de verdade das confissões de fé. Nas

palavras de Jung (ibid.):

O psicólogo, que se coloca numa

posição puramente científica, não deve

considerar a pretensão de verdade de

todo credo religioso: a de ser

possuidor da verdade exclusiva e

eterna. Uma vez que trata da

experiência religiosa primordial, deve

concentrar sua atenção no aspecto

humano do problema religioso,

abstraindo o que as confissões

religiosas fizeram com ele.

(p. 5)

Embora Jung tenha descrito sua abordagem

como “fenomenológica” (cf. Jung 1988a), ele próprio foi

além do fenômeno psíquico observado na consciência e

hipotetizou a existência de estruturas psicossomáticas

que atuariam como matrizes da experiência religiosa.

Sua experiência clínica somada à vivência pessoal

levou-o à formulação da hipótese do inconsciente

coletivo e de seus conteúdos, os arquétipos. Haveria,

para além da consciência subjetiva e do inconsciente

pessoal, que são individuais, uma espécie de “região”

mental comum à espécie humana. Jung chamou-a de

“inconsciente coletivo” exatamente porque se trata de

uma camada psíquica compartilhada por todas as

pessoas independentemente de gênero1, etnia ou lugar.

1 Apenas anima e animus, o arquétipo da sizígia, são dependentes do gênero.

“O conceito de arquétipo, que é um correlato

indispensável da ideia de inconsciente coletivo,

indica a existência de formas definidas na psique

que parecem estar presentes sempre e em todo

lugar. A pesquisa mitológica as denomina ‘motivos’;

na psicologia dos primitivos, elas correspondem ao

conceito de Lévy-Bruhl de ‘represéntations

collectives’, e no campo da religião comparada, elas

têm sido definidas por Hubert e Mauss como

‘categorias da imaginação’. Adolf Bastian tempos

atrás as chamou de ‘pensamentos elementares’ ou

‘primordiais’. A partir destas referências, deve estar suficientemente claro que minha ideia de arquétipo

Importante

A psique, segundo Jung, pode ser descrita como dividida em três “camadas”: a consciência, cujo centro é formado pelo eu ou ego (Ich), o inconsciente pessoal, organizado em complexos, e o inconsciente coletivo, constituído de arquétipos. Apenas esta última camada é universal, isto é, compartilhada de modo idêntico por todas as pessoas.

Page 90: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 90

Ao nível do inconsciente coletivo, portanto,

somos todos similares. Os conteúdos do inconsciente

coletivo Jung denominou “arquétipos”, isto é,

predisposições herdadas que organizam nossa vida

anímica e nosso comportamento. Equivalentes

psíquicos dos instintos, eles se referem às situações

típicas da vida humana, tais como cuidado e proteção

maternos, separação do núcleo familiar e a

consequente luta pela sobrevivência, busca por

significado existencial.

Assim, por trás da vivência do numinoso,

haveria a participação de um ou mais arquétipos.

Contudo, o arquétipo a que Jung deu mais destaque em

sua obra foi o arquétipo do si-mesmo (em alemão,

Selbst).

O SI-MESMO E A TOTALIDADE DA

PERSONALIDADE

Jung descreve o si-mesmo como,

simultaneamente, parte e totalidade da personalidade.

Como parte, o si-mesmo é um entre os vários

arquétipos que compõem o psiquismo humano, tais

como sombra e anima/animus. Como totalidade, o si-

mesmo envolve o somatório da psique consciente e

inconsciente. Neste último sentido, por conseguinte, o

si-mesmo abarca toda a psique humana. Mas que Jung

quer dizer mais precisamente com “totalidade da

personalidade”?

A totalidade, aqui, refere-se aos opostos

complementares que caracterizam a condição humana.

Em termos psicológicos, somos dotados de uma

— literalmente uma forma pré-existente — não está

sozinha, mas é algo reconhecido e nomeado em

outros campos do conhecimento” (Jung, 1990a, pp. 42-43).

:: Arquétipos:

Arquétipo, significa a forma imaterial à qual os fenômenos psíquicos tendem a se moldar. C.G.Jung usou o termo para se referir aos modelos inatos que servem de matriz para o desenvolvimento da psique. Eles são as tendências estruturais invisíveis dos símbolos. Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz que as "imagens primordiais", um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações. Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências.

Importante

A sombra refere-se ao lado negativo da personalidade, a tudo que poderíamos ter sido e não fomos. Anima e animus referem-se às contrapartes inconscientes da psique do homem e da mulher, respectivamente. A anima habitualmente se expressa como humores incontroláveis e o animus, como “opiniões” ou “preconceitos”.

Page 91: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 91

consciência e um inconsciente, de mente e corpo,

temos aspectos masculinos e femininos, somos bons e

maus. A nossa tendência, porém, é a de identificarmo-

nos apenas com um polo dos opostos, relegando ao

inconsciente o polo restante. Deste modo, nos

alienamos de uma parte de nossa própria alma. E, em

decorrência, tornamo-nos presa de pensamentos e

humores incontroláveis, cuja origem está em nós

mesmos, mas que nos são estranhos.

Entretanto, Jung observou em si e nos seus

pacientes um movimento espontâneo no sentido da

realização da totalidade da personalidade. Denominou

este processo de autoconhecimento “individuação”. O

indivíduo costuma vivenciar o processo de individuação

na forma de sonhos, fantasias e projeções que o levam

à tomada de consciência, ao encontro do “outro” que

nele habita. Esta conscientização, porém, não é de

modo algum tarefa fácil, já que a experiência dos

opostos é vivenciada pelo ego consciente como conflito.

A individuação implica, portanto, um questionamento

ético do indivíduo para consigo mesmo: Quero assumir

o risco de conhecer quem de fato sou ou prefiro

permanecer na ignorância de mim mesmo?

Jung (cf. 1978, 1990a) constatou a recorrência

de determinados símbolos, em seus pacientes assim

como em povos de diferentes culturas, representativos

da totalidade paradoxal que é o si-mesmo. Trata-se de

símbolos que exprimem, além da ideia de totalidade, o

sentido de unidade e ordem. Nesse aspecto, as

principais imagens do si-mesmo seriam o círculo (ou

esfera) — a mandala — e a quaternidade (figuras

divididas em quatro ou na forma de cruz). Jung (1978)

explica que o círculo caracteriza a totalidade por causa

de sua forma “perfeita” e a quaternidade, pelo fato de o

quatro ser “o número mínimo de partes no qual o

círculo pode ser naturalmente dividido (sic)” (id. ibid.,

Quer saber mais?

Individuação não é o mesmo que “individualismo”. Escreve Jung (1966): “Individuação significa precisamente a melhor e mais completa realização das qualidades coletivas do ser humano, visto que a consideração adequada da

peculiaridade do indivíduo é mais conducente a um melhor desempenho social do que quando a peculiaridade é negligenciada ou reprimida” (p. 173).

Quer saber mais?

Mandala significa “círculo” ou “círculo mágico”, em sânscrito. Trata-se, habitualmente, de um círculo, que pode ser associado a um sistema quaternário (quadratura do círculo). Comentou Jung (1994): “A verdadeira mandala é sempre uma imagem interior, construída pouco a pouco através da imaginação (ativa) somente em períodos de distúrbio do equilíbrio anímico, ou quando se busca um pensamento difícil de ser encontrado por não figurar na doutrina sagrada”. (p. 104)

Page 92: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 92

p.224). Acredita ainda haver uma variante especial do

motivo da quaternidade, qual seja, o dilema do 3 + 1.

O três, quando relacionado ao si-mesmo, indica uma

quaternidade defeituosa ou incompleta. O cinco, por

sua vez, corresponderia “à indistinguibilidade de

quaternidade e unidade” (id., ibid., p. 224).

Pode-se incluir, por analogia, como pertencente

à família dos motivos do círculo e do quadrado, todo

um grupo particular de símbolos: cidade, castelo,

igreja, casa, vaso. Estas figuras indicam que o eu está

contido em algo que o supera, qual seja, o si-mesmo.

Outra imagem a somar-se a este grupo é a da “roda”,

cuja significação psicológica é a da rotação em torno de

um centro (o centro do círculo). O habitante a

preencher o centro do espaço quadrado ou circular

pode ser um deus, uma figura de aspecto divino, um

príncipe, um sacerdote, um pai querido, uma pessoa

admirável. Isto é, “uma figura que transcenda a

personalidade do ego do sonhador” (id., ibid., p.235).

Convém ressaltar que nenhuma imagem ou

símbolo particular esgota o significado de um arquétipo.

Enquanto tal, um arquétipo em si é uma “forma vazia”

de conteúdos, isto é, um conceito que se refere a um

fator estruturante da vida anímica cujo significado

último é insondável. Deste modo, o círculo, o quadrado

e seus variantes devem ser entendidos como

representações do arquétipo do si-mesmo, mas não o

arquétipo enquanto tal.

Além de produzir significado, toda experiência

de um arquétipo é marcada por uma intensidade

afetiva elevada. Dito de outro modo, a consciência

subjetiva sempre vivencia um arquétipo como uma

potência fascinante. E já que esta potência, por

apresentar relativa autonomia, escapa de um modo ou

de outro ao seu controle, ela se revela numinosa. Ora,

Você sabia?

Em uma

correspondência datada de 28 de maio de 1953 Jung (2002) explica que a visão de Ezequiel (1:4-28) está na base de seu modelo do si-mesmo. Jung chama a atenção, por exemplo, para o fato de, na visão, haver quatro querubins, o que sugere um sentido de totalidade característico do si-mesmo.

Importante

Nunca temos acesso ao arquétipo em si que é, portanto, incognoscível. Podemos apenas experimentar seu efeito sobre a consciência, na forma de imagens, representações ou afetos arquetípicos.

Você sabia?

Na Grécia Antiga, chamava-se de daimon ou daimonion uma potência ou

divindade, de categoria inferior, intermediário entre os homens e os deuses. O daimonion grego, diferentemente do “demônio” cristão, não tem conotação pejorativa.

Page 93: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 93

porque é numinoso e produz forte emoção é que Jung

compara a influência do si-mesmo sobre o indivíduo

como a “vontade de Deus”. Mas não “deus” na acepção

cristã habitual e, sim, no sentido grego de daimon e

daimonion. Segundo Jung (1978), estas palavras

“expressam uma força determinante que chega ao

homem vinda do exterior, como providência ou destino,

embora a decisão ética seja deixada ao homem” (p. 27).

Processo de individuação e realização do si-

mesmo são expressões sinônimas para a experiência

universal de confronto do ego com as suas contrapartes

psíquicas, o seu “oposto”. Essa experiência, contudo,

não é exclusivamente individual. Jung notou que, em

diferentes épocas e lugares, a psique do homem

produziu e compartilhou símbolos que exprimem a

totalidade da personalidade, ou seja, símbolos do si-

mesmo. Para Jung, a figura de Cristo, no mundo

cristão, seria uma expressão simbólica da totalidade

psíquica que é o si-mesmo.

CRISTO COMO SÍMBOLO DO SI-MESMO

As religiões são sistemas psicoterapêuticos,

observou Jung. Na citação abaixo, o psiquiatra

esclarece:

(...) todas as religiões, e mesmo as

formas mágicas das religiões dos

primitivos, são psicoterapias, são

formas de cuidar e curar os

sofrimentos da alma e os

padecimentos corporais de origem

psíquica. Até que ponto a medicina

atual ainda é terapia por sugestão, é

um assunto sobre o qual gostaria de

não opinar.

(Jung, 1988b, p. 13)

As religiões — e aqui nos referimos às confissões

de fé —, enquanto práticas coletivas de rito e culto,

atuam como continente para a psicopatologia do

Importante

Os símbolos do si-mesmo são o modo como o homem imagina Deus. Buda, assim como Cristo, é um destes símbolos.

Cristo como símbolo do si-

mesmo

Page 94: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 94

homem. Os aspectos anômalos, aflitivos e bizarros da

psique humana encontram nas diferentes formas de

religião um lugar de acolhimento e sentido. No

Ocidente, o cristianismo vem desempenhando esta

função há cerca de dois mil anos, porém não sem

problemas.

O principal símbolo cristão é a figura de Cristo.

De acordo com Jung (1978), Cristo simboliza para o

mundo cristão o si-mesmo psíquico, isto é, a totalidade

da personalidade: “Cristo exemplifica o arquétipo do si-

mesmo. Representa uma totalidade de uma espécie

divina ou celestial, um homem glorificado, um filho de

Deus sine macula peccati, sem a mácula do pecado” (p.

37). Nesta acepção, Cristo significa a referência e o

modelo maiores para a vida humana.

Ora, vimos que o si-mesmo compreende as

posições contrárias na psique, que se complementam.

Assim, embora possamos nos identificar

conscientemente com o bem (os valores considerados

positivos ou benéficos em nossa cultura), isto não nos

livra de, potencialmente, sermos capazes de vivenciar o

seu oposto em pensamentos e ações, ou seja, o mal. O

símbolo de Cristo, contudo, não inclui este aspecto

malévolo do ser humano, posto que exclusivamente

bom: “Falta totalidade ao símbolo de Cristo no sentido

psicológico moderno, visto que não inclui o lado escuro

das coisas, mas especificamente o exclui na forma de

um oponente luciferiano” (id., ibid, p. 41).

Jung chama a atenção, ainda, para o fato de a

Igreja Católica considerar o mal como desprovido de

substância própria, reduzindo-o a uma “falta de

perfeição”.

Alguns sectos protestantes chegam, seguindo

esta lógica, até mesmo a eliminar a figura do diabo. A

Importante

Para Jung, o cristianismo deixa o conflito entre o bem e o mal em aberto; no si-mesmo, diversamente, esta oposição aparece unificada.

Importante

Jung rejeita a doutrina da privatio boni (privação do bem), difundida no pensamento cristão porque não corresponde à experiência psicológica empírica.

Quer saber mais?

“Quando, mediante a exploração do inconsciente, a consciência se aproxima do arquétipo, o indivíduo é confrontado com a contradição abissal da natureza humana, o que lhe proporciona uma experiência imediata da luz e da treva, do Cristo e do demônio” (Jung, 1994, p. 31).

Page 95: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 95

doutrina católica da privatio boni (privação do bem) vai

completamente de encontro à psicologia empírica. O

mal, para nós que vivemos o dia a dia, é

absolutamente real: basta sairmos à rua ou abrirmos

um jornal ou fazermos um exercício de introspecção

pessoal minimamente honesto para percebermos sua

existência.

O símbolo cristão, portanto, apresenta uma

divisão que não traduz a realidade paradoxal do si-

mesmo. Neste último, luz e sombra se complementam,

enquanto que no primeiro, “o arquétipo está

desesperadamente cindido em duas irreconciliáveis

metades, conduzindo finalmente a um dualismo

metafísico — a separação final do reino dos céus do

ardente mundo dos danados” (id., ibid., p. 42). Para

Jung, a figura de Cristo corresponde a apenas uma

metade do arquétipo do si-mesmo. A outra metade

recai, consequentemente, sobre a figura de seu

opositor, o Anticristo. Psicologicamente, porém, somos

uma totalidade em processo: somos tanto Cristo

quanto Anticristo.

Outro aspecto fundamental da psicologia

humana negligenciado na tradição cristã é o princípio

feminino. O cristianismo é essencialmente “masculino”

porque seu deus, enquanto trindade, está associado a

este princípio. O masculino, aqui, designa o número

três, o pai, o espírito, o bem e a luz. Enquanto o

feminino corresponde ao quatro, à mãe, à matéria, ao

mal e à escuridão (cf Jung, 1994). O mito de Adão e

Eva ilustra bem o papel inferior que cabe à mulher na

mentalidade cristã. De acordo com o Gênesis, Adão foi

criado em primeiro lugar. Mais ainda, é superior a Eva

porque foi feito à imagem e semelhança de Deus. É

mais consciente que ela, já que esta foi criada durante

seu sono (Jacob Boehme, por exemplo, acreditava que

Adão não tinha pestanas). Eva nasce da costela de

“Adão e Eva” em quadro de

Michelangelo.

Quer saber mais?

A alquimia surgiu em Alexandria (Egito), no início da era Cristã, oriunda

do cruzamento de diversos saberes: filosóficos, médicos, artesanais e religiosos. Provavelmente recebeu influência indiana e chinesa. Era uma forma de conhecimento esotérico (esoterikós = não acessível ao público em geral). Chegou à Europa por meio dos árabes, que conquistaram a península ibérica. Com a luta para sua reconquista pelos cristãos, no séc. XIII, o conhecimento alquímico se espalhou pelo continente europeu. Entrou em decadência no séc. XVII, com a ascensão da ciência moderna.

Page 96: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 96

Adão, ou seja, o masculino é a precondição do

feminino. Finalmente, é Eva quem se deixa seduzir

primeiro por Satanás (cf. Hillman, 1992), o que

explicaria a natureza mais fraca da mulher.

A unilateralidade do símbolo cristão, identificado

com o aspecto luminoso, espiritual e masculino, acabou

por produzir na Europa durante o período medieval,

sobretudo, um movimento cultural compensatório na

forma da alquimia. Para Jung, a alquimia ou filosofia

hermética, como também era conhecida, valorizou

exatamente o que a tradição cristã dominante

desprezou, isto é, a matéria e o feminino. Os

alquimistas tinham por objetivo produzir uma

substância arcana, que podia receber diferentes nomes:

“pedra filosofal” (lapis philosophorum), “substância

celeste”, “verdade”, “bálsamo” etc. Esta substância,

uma vez concebida, permitiria transformar outros

elementos, como o mercúrio ou o chumbo, em ouro.

Nenhum alquimista conseguiu produzir a pedra

filosofal (ainda que alguns alegassem que sim).

Entretanto, não é do ponto de vista da química que a

alquimia deve ser avaliada, observa Jung. Mas, sim,

como uma experiência psíquico-religiosa, que buscou

compensar as lacunas da visão cristã dominante. A

interpretação de Jung encontra respaldo no relato de

determinados alquimistas que perceberam o sentido

psicológico mais profundo de sua obra. Dorneus,

alquimista do século XVI, por exemplo, afirmou: “Se o

pesquisador estiver longe de possuir semelhança (com

a obra), não galgaria a altura que descrevi, nem

atingiria o caminho que conduz à meta”.

No cristianismo, acredita-se que Cristo morreu

na cruz para redimir o homem. Para o alquimista,

porém, “não é o homem o primeiro a necessitar de

redenção, e sim a divindade, perdida e adormecida na

Importante

“Assim como jamais foi produzido um lapis philosophorum com suas forças miraculosas, da mesma forma também não se consegue uma totalidade psíquica empírica, pois a consciência é muito acanhada e muito unilateral para abranger o inventário completo da psique. Devemos sempre de novo recomeçar tudo outra vez” (Jung, 1990b, p. 291).

Importante

“As operações alquímicas eram reais, entretanto esta realidade não era física, mas psicológica. A alquimia representa a projeção de um drama cósmico e espiritual em termos laboratoriais. O opus magnum tinha duas metas: o resgate da alma humana e a salvação do cosmos” (Jung apud Marlan, 2006, p. 263).

Page 97: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 97

matéria” (Jung, 1994, p. 324). Quer dizer, para os

filósofos herméticos, o mundo, e não apenas o homem,

está atravessado de falhas decorrentes do pecado

original. O alquimista tinha então a tarefa de salvar o

macrocosmo (a matéria, a natureza). Por preocupar-se

sobremodo com a face telúrica e escura do mundo é

que os alquimistas ocasionalmente eram acusados de

heresia. Giordano Bruno (1548-1600), queimado na

fogueira como herege, por exemplo, foi denunciado

pela Igreja como “pitagórico”, isto é, alquimista.

Entre os alquimistas, o lapis assumiu um

significado simbólico similar ao de Cristo, ou seja, uma

imagem da totalidade da personalidade humana. Nos

termos de Jung, a pedra seria uma imagem arquetípica

do si-mesmo, mas com uma importante diferença: o

processo de produção do lapis necessitava da

conjunção de substâncias opostas. Isto era descrito

mediante expressões como “matrimônio sagrado do rei

e da rainha” ou “conjunção dos elementos”. Neste

sentido, o princípio feminino elevava-se à mesma altura

do masculino. E as próprias mulheres tinham igualdade

de direitos entre os alquimistas.

No século XVIII, a alquimia entra em declínio,

enquanto a ciência experimental se solidifica,

anunciando de certa maneira um novo Espírito do

Tempo, uma nova era marcada pelo materialismo. Jung

(cf. 1981) entende que à inflação do espírito, que

caracterizou o período medieval, seguiu-se a inflação

da matéria própria da modernidade e da qual somos

herdeiros. Isto significa, consequentemente, que a

religiosidade humana feneceu? Ou que, conforme as

palavras de Nietzsche, “Deus está morto”? Em caso de

uma resposta negativa, quais seriam então as formas

de religiosidade no mundo atual, de uma perspectiva

junguiana?

Importante

Friedrich Nietzsche (1844-1900), um dos filósofos mais importantes do século XIX e que muito impressionou Jung, formulou uma crítica cáustica dos valores cristãos.

Page 98: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 98

A RELIGIÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O século XX foi um século profundamente

marcado por transformações sociais e tecnológicas. No

primeiro caso, podemos citar as duas Grandes Guerras,

a revolução bolchevique de 1917 na Rússia, a luta por

igualdade civil dos negros nos EUA, o movimento de

emancipação das mulheres ocorrido na Europa e nos

Estados Unidos durante os anos 1960. Em relação à

tecnologia, a ciência vem produzindo desde o século XX

enormes progressos na medicina, enquanto que, por

outro lado, a invenção da bomba atômica colocou em

risco a existência da espécie humana, que pode ser

eliminada da face da Terra em caso de uma terceira

guerra mundial. Não esqueçamos, ainda, os efeitos

perniciosos da industrialização crescente sobre o meio

ambiente. A revolução digital das últimas décadas, por

sua vez, vem modificando nossas vidas numa dimensão

difícil de avaliar, já que somos ao mesmo tempo atores

e espectadores deste vertiginoso avanço tecnológico.

Como seria de se esperar, a religiosidade

humana não ficou imune a essas transformações

culturais. Podem-se distinguir pelo menos dois “novos”

fenômenos que indicam os modos como o homem vem

exercendo a religião na contemporaneidade: a

ressacralização do mundo material e o

fundamentalismo.

Jung nos sugere que o homem do século XX

herdou um problema metafísico dos séculos anteriores,

qual seja, a radical separação entre Espírito e Matéria.

O espírito, despido de sua contraparte material ctônia,

teria ficado reduzido a faculdades abstratas racionais e

idealizações acerca do ser humano. A matéria, por sua

vez, privada de espírito ou de alma, torna-se uma

substância passível de manipulação sem limites,

permitindo a produção tanto da bomba atômica quanto

Você sabia?

O dogma da Assunção de Maria foi proclamado pelo papa Pio XII, em 1950. Trata-se da afirmação de que Maria foi elevada em corpo e espírito à glória celestial.

Page 99: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 99

da catástrofe ecológica de que somos hoje

testemunhas. O problema metafísico torna-se, então,

um problema ético.

Entretanto, uma mudança nesse estado de

coisas teria sido antecipada pelo dogma da Assunção de

Maria. Virgem Maria, “a terra da qual Cristo nasceu”,

simboliza as qualidades femininas e telúricas

negligenciadas pela visão cristã tradicional. Assim, a

Assunção, segundo Jung (2003), indicaria uma

aproximação simbólica entre Céu e Terra ou Espírito e

Matéria:

[A psicologia] considera a relação com

a terra e a matéria uma qualidade

inalienável do arquétipo materno.

Quando uma figura condicionada por

esse arquétipo é representada como

sendo recebida no céu, isto é, no reino

do espírito, isso indica uma união de

terra e céu, isto é, de matéria e

espírito.

(p.115)

A observação de Jung, simbolicamente, sobre a

Assunção de Maria prenuncia ou mesmo reflete uma

mudança no Espírito do Tempo tem se mostrado

certeira. Segundo o analista junguiano inglês Andrew

Samuels, ao mesmo tempo em que observamos o

desgaste das formas tradicionais de representação

política, assistimos na época atual à ressacralização do

mundo material. Ressacralização que deve ser tomada

como a “nossa tentativa contemporânea de deslocar

um sentido de santidade para o mundo material e

secular” (Samuels, 1995, p. 30). No seu cerne parece

haver o desejo de uma nova base ética para sociedade.

Podemos compreender a preocupação ecológica

globalmente crescente como resultante deste processo

de santificação do mundo.

O filósofo francês Luc Ferry faz uma análise do

mundo contemporâneo em termos semelhantes aos de

Importante

A ecologia seria uma das principais expressões do processo contemporâneo de ressacralização do mundo.

Page 100: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 100

Samuels. Ferry descreve uma nova forma de

transcendência, que denomina “transcendência

horizontal”. Assim como Jung, Ferry (2007) entende

que o materialismo moderno não eliminou

definitivamente a experiência da transcendência:

Em outros termos, as transcendências

de outrora — as de Deus, da pátria ou

da revolução — não foram

absolutamente substituídas pela

imanência radical prezada pelo

materialismo, pela renúncia ao

sagrado e pelo sacrifício, mas sim por

formas novas de transcendência,

transcendências ‘horizontais’ e não

mais verticais: enraizadas em seres

que estão no mesmo plano que nós, e

não mais em entidades situadas acima

de nossas cabeças.

(p. 278)

A hipótese da transcendência para Ferry não

tem nada a ver com um “anseio” ou “aspiração”

humano. Trata-se, diferentemente, de uma

necessidade lógica. Quer dizer, não é necessário crer

em um deus transcendente para seguirmos vivendo

nossas vidas. Mas não podemos deixar de reconhecer a

transcendência das noções de verdade, beleza, justiça

e amor. Por exemplo, não sou quem crio o amor, mas,

antes, sou por ele arrebatado. O amor, portanto, me

transcende. Essas transcendências horizontais vão,

então, desembocar no que Ferry chama de “humanismo

não metafísico”. (É interessante observar que os

exemplos de transcendência apresentados por Ferry —

verdade, beleza, justiça e amor — podem

perfeitamente ser personificados nos antigos deuses

gregos, respectivamente Apolo, Afrodite, Atena e Eros).

Outra forma marcante de religiosidade no

mundo contemporâneo é o fenômeno do

fundamentalismo. Por “fundamentalismo religioso”

entenda-se a doutrina de um grupo de adeptos baseada

na observação dos fundamentos ou princípios de uma

Quer saber mais?

Luc Ferry (1951), filósofo francês e ex-ministro da educação da França (2002-2004), entende que a filosofia, assim como as religiões, tem como questão precípua a salvação. Diferem, contudo, quanto ao meio de alcançá-la: a filosofia por meio da razão e a religião mediante a fé.

Importante

O fundamentalismo tem alimentado muitos conflitos entre nações, assim como entre populações intranacionais.

Page 101: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 101

religião. Na prática, a atitude fundamentalista torna-se

amiúde fanática porque inquestionável, já que

respaldada em princípios ou dogmas divinos. Apesar de

não ter sido um tema que tenha abordado diretamente,

visto que não se tratava de um problema de seu

tempo, Jung (1990c) nos deixou reflexões sobre a

psicologia do nazismo e do comunismo bolchevista

muito úteis para entendermos o fundamentalismo

contemporâneo.

Nossa época tem sido testemunha do

crescimento do fundamentalismo religioso no mundo,

sobretudo o cristão e o muçulmano. Afirmar que o

mundo foi criado tal como escrito literalmente no

Gênesis, na contramão de toda pesquisa científica

existente, significa assumir uma posição

fundamentalista. Por outro lado, é possível ler o mesmo

texto, o Gênesis, e interpretá-lo de maneira simbólica

ou metafórica. Nem por isso se é “menos” cristão. Em

outra escala, atribuir-se o direito de matar “infiéis”

porque o Corão assim ordena ou disto os absolve, como

ocorreu no terrível evento de 11 de setembro, nos EUA,

também é uma demonstração da atitude

fundamentalista. Como entender, então,

psicologicamente o fundamentalismo?

Transpondo a análise de Jung da psicologia

nazista para o fenômeno do fundamentalismo, poder-

se-ia dizer que o fundamentalista é um “histérico”, isto

é, alguém que sofre de uma grave cisão da

personalidade que faz com que desconheça sua própria

sombra, seu mal pessoal. Assim, nas palavras de Jung,

“uma mão não sabe o que faz a outra”. Não obstante, o

indivíduo tenta superar essa dissociação projetando sua

sombra sobre o “inimigo”, tal qual Fausto projeta sua

sombra em Mefistófeles. Na Alemanha sob o domínio

nazista, o inimigo era o judeu. Hoje, o inimigo para o

fundamentalista islâmico, por exemplo, além do judeu,

é o cristão; na verdade, qualquer “infiel” é odiado.

Você sabia?

J. W. Von Goethe (1749-1832) escreveu o Fausto baseado na lenda de um médico homônimo, que teria feito um pacto com o diabo (Mefistófeles). O Fausto de Goethe é considerado uma das maiores obras literárias de todos os tempos.

Page 102: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 102

A ignorância ou a alienação de si-mesmo própria

da dissociação histérica gera no indivíduo uma profunda

insegurança, que pode ser maximizada por condições

sociais exteriores. As últimas décadas do século XX

foram palco de rápidas transformações sociais, como o

ocaso da Cortina de Ferro, nos anos 1980, e inovações

tecnológicas, como a revolução digital que hoje

estamos vivenciando. Mudanças, as velozes, sobretudo,

costumam produzir insegurança. A reação psíquica

automática compensatória é a ativação do arquétipo da

ordem, qual seja, o si-mesmo. Jung (1990c) observou

em 1946:

O caos e a ordem do mundo refletem-

se de modo análogo na mente do

indivíduo, mas essa falta de orientação

é compensada no inconsciente pelos

arquétipos da ordem (sic). Devo mais

uma vez repetir que, caso esses

símbolos da ordem não sejam

absorvidos pela consciência, as forças

por eles expressas acumulam-se de

modo perigoso, como foi o caso há

vinte e cinco anos com as forças de

destruição e do caos. A integração de

conteúdos inconscientes consiste num

ato individual de realização,

compreensão e valoração moral.

Trata-se de uma tarefa extremamente

difícil que exige um alto grau de

responsabilidade ética.

(p.42)

Jung parecia pessimista no pós-guerra porque

achava que grande parte da população europeia era

incapaz de “integrar as forças da ordem”. Essas forças

não integradas então assaltavam violentamente a

consciência, tornando as pessoas massa de manobra,

escravos dos estados totalitários como a União

Soviética. No fundamentalismo contemporâneo,

observamos um processo similar. As incertezas sociais

e econômicas ativam forças ordenadoras que, como

não são elaboradas pela consciência, emergem em

doutrinas religiosas totalitárias e comportamento

intolerante. Aqui no Brasil, a título de exemplo, são

Importante

“Assistimos agora a este espetáculo assombroso: Estados exigindo a teocracia arcaica, isto é, a da totalidade que pressupõe, inevitavelmente, a repressão das liberdades. Vemos mais uma vez pessoas se digladiarem por teorias pueris como, por exemplo, a

construção de um paraíso terrestre” (Jung, 1990c, p. 53).

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Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 103

frequentes os relatos na imprensa de templos de

religiões afro-brasileiras atacados por fundamentalistas

cristãos.

Jung criticava o fato de que, com a crise da

visão de mundo cristã, desde o século XVIII,

principalmente, o Estado foi assumindo o lugar sagrado

anteriormente atribuído a Deus. Entretanto, com o

fracasso do comunismo há poucas décadas, estamos

testemunhando um “retorno à religião”, mas de uma

forma radical e intolerante: o fundamentalismo.

CONCLUSÃO

Jung interessou-se seriamente pelo fenômeno

religioso, por razões pessoais e profissionais, conforme

vimos. Abordou o assunto, convém mais uma vez

afirmar, de um ponto de vista psicológico. Pare ele, o

elemento mais importante no fenômeno religioso era a

vivência e não a crença. Estava ciente de que este não

era o único modo de se tratar a religião, que pode, é

claro, ser objeto de investigação do historiador, do

sociólogo e do teólogo.

Para Jung, se a psicologia pretendia ser tratada

como ciência, deveria centrar-se na experiência

psíquica do evento ou fenômeno numinoso e abster-se

de fazer pronunciamentos metafísicos. Contudo, sua

posição epistêmica nem sempre foi bem compreendida,

conforme atestam as discussões que teve com teólogos

ao longo de sua vida.

Embora Jung tivesse escrito mais sobre o

simbolismo cristão — afinal, ele próprio era proveniente

de uma cultura cristã —, não deixou de refletir sobre

outras tradições religiosas, como o taoísmo e o

budismo. As formas de religiosidade das sociedades

tradicionais ou “primitivas” de África e Austrália, por

Page 104: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 104

exemplo, também foram objeto de sua pesquisa

psicológica.

Finalmente, vale observar que a perspectiva de

Jung não esgota o que a própria psicologia tem a dizer

sobre o assunto, mas sem dúvida é uma

importantíssima contribuição para quem deseja

investigar a religião de maneira honesta e isenta de

preconceitos.

EXERCÍCIO 1

Em um sentido estrito, Jung entendia “Religião” como:

( A ) Uma consideração e observação de fatores

dinâmicos concebidos como potências;

( B ) O Cristianismo;

( C ) A palavra de Cristo tal como apresentada no Novo

Testamento;

( D ) Qualquer confissão religiosa;

( E ) Ilusão.

EXERCÍCIO 2

Jung descreveu o “numinoso” como:

( A ) A doutrina cristã;

( B ) A experiência na consciência de um dinamismo

não causado voluntariamente pelo sujeito;

( C ) Os limites às pretensões ao conhecimento da

metafísica;

( D ) Formalizações e sistematizações da experiência

psíquica originária;

( E ) O deus transcendente.

Page 105: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 105

EXERCÍCIO 3

Segundo Jung, qual é a figura considerada um símbolo

do si-mesmo? Explique por quê.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Identifique e explique quais são as duas expressões da

religiosidade no mundo contemporâneo.

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

Jung, durante toda sua vida, abordou a

religião em termos psicológicos, e isso,

ocasionou incompreensões e levou a

acusações ou de ser “materialista” ou de ser

“místico”;

Seu interesse crescente pela mitologia, como

via de entrada nas profundezas — o

inconsciente — da psique. Com seu

afastamento do movimento psicanalítico, Jung

desenvolve a psicologia analítica, que é como

passou a denominar sua teoria e prática

clínicas;

Page 106: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

Aula 5 | Jung e a psicologia da religião 106

Jung chamou de “inconsciente coletivo” uma

camada psíquica que é compartilhada por

todas as pessoas, e que está para além da

consciência subjetiva e do inconsciente

pessoal, que são individuais. Os conteúdos

do inconsciente coletivo Jung denominou

“arquétipos”, isto é, predisposições

herdadas que organizam nossa vida anímica

e nosso comportamento;

No século XX, a religiosidade humana teve a

influência das transformações culturais e

podem-se distinguir pelo menos dois

“novos” fenômenos que indicam os modos

como o homem vem exercendo a religião na

contemporaneidade: a ressacralização do

mundo material e o fundamentalismo.

Page 107: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina

CURSO: Ensino Religioso

DISCIPLINA: Psicologia

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

QUESTÃO 1: O que significa psicologia e quais são os seus antecedentes

históricos?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Qual é a importância de Wundt para o desenvolvimento da psicologia,

qual é o seu método e o seu principal objeto de estudo?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

Page 108: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

QUESTÃO 3: Como a teoria comportamentalista explica a ideia religiosa? Qual é o

seu principal meio de efetivação?

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Segundo Jung, qual é a figura considerada um símbolo do si-mesmo?

Explique por quê.

Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:

endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

Page 109: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma

argumentação com suas próprias palavras.

Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender

aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é

fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem

outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas

(citações), quando este for o caso.

Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados

com freqüência para as respostas das avaliações.

Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas

e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.

AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO

SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.

Page 110: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

110

AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento

CURSO: Ensino Religioso

DISCIPLINA: Psicologia

ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA:

_____/_____/___________

Assista ao filme “A onda” e analise qual (ou quais) escola(s) da psicologia é aplicada ao longo de seu roteiro. Escreva um texto

de no mínimo duas páginas descrevendo sua análise.

Page 111: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

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Page 114: Curso ENSINO RELIGIOSO PSICOLOGIA

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