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1 TENDÊNCIAS DA ARTE PARA O SÉCULO XXI A concepção de arte nos dias de hoje é fruto de mudanças velozes ocorridas nas últimas décadas do século XX. Para compreender o hoje e prever o amanhã há necessidade de se rever essas últimas décadas, pois não só mudaram os materiais e recursos, mas também o próprio conceito de arte. Os materiais e suportes utilizados na arte são infinitos; mais que tinta, pedra ou metal; também ar, luz, som, palavras, computadores, pessoas, comidas e muitas outras coisas são transformadas pela arte. 1.1 Revendo Os Anos 50 e 60 do século XX Cabe lembrar que no começo dos anos 60 ainda era muito difícil pensar a arte dissociada da pintura e escultura. As performances futuristas, as colagens cubistas, eventos dadaístas e a fotografia reivindicando seu reconhecimento como arte começaram a modificar esse pensamento. Marcel Duchamp (1887-1968), dadaístas como Tristan Tzara (1896-1963) e outros do Cabaret Voltaire de Zurique 4

D- Capítulo 1- Tendências da Arte para o século XXI

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1 TENDNCIAS DA ARTE PARA O SCULO XXI

A concepo de arte nos dias de hoje fruto de mudanas velozes ocorridas nas ltimas dcadas do sculo XX. Para compreender o hoje e prever o amanh h necessidade de se rever essas ltimas dcadas, pois no s mudaram os materiais e recursos, mas tambm o prprio conceito de arte. Os materiais e suportes utilizados na arte so infinitos; mais que tinta, pedra ou metal; tambm ar, luz, som, palavras, computadores, pessoas, comidas e muitas outras coisas so transformadas pela arte.

1.1 Revendo Os Anos 50 e 60 do sculo XX Cabe lembrar que no comeo dos anos 60 ainda era muito difcil pensar a arte dissociada da pintura e escultura. As performances futuristas, as colagens cubistas, eventos dadastas e a fotografia reivindicando seu reconhecimento como arte comearam a modificar esse pensamento. Marcel Duchamp (1887-1968), dadastas como Tristan Tzara (1896-1963) e outros do Cabaret Voltaire de Zurique (1916) comearam a revolucionar o mundo das artes. Os objetos fabricados em escala industrial escolhidos por Duchamp como obras de arte, por exemplo, foram denominados como readymade. A obra A Fonte (1917), um urinol masculino assinado R. Mutt1 , causou o maior escndalo na poca. Com os readymades, Duchamp pedia que o observador pensasse sobre o que definia a singularidade da obra de arte em meio multiplicidade de todos os outros objetos. Seria alguma coisa a

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Mutt: co vira-lata ou pessoa simplria. Nota do tradutor, segundo Archer, 2001: 3.

5 ser achada na prpria obra de arte ou nas atividades do artista ao redor do objeto? (ARCHER, 2001) Foram os readymades de Marcel Duchamp o ponto de partida para as modificaes na arte dos anos que se seguiram. No final dos anos 50, todos os impulsos evidentes nas obras de arte o interesse pelo corriqueiro, a disposio de abarcar o acaso (no apenas uma herana do Dadasmo, mas tambm o reconhecimento de que na vida as coisas simplesmente acontecem) e um novo senso do visual -levaram a arte a duas direes: o Pop e o Minimalismo. (ARCHER, 2001) At o comeo de 1963 aconteceram vrias exposies, entre elas: A Arte da Assemblage realizada no Museu de Arte Contempornea de Nova Iorque, A arte 1963: um novo vocabulrio realizada pelo Arts Coucil na Filadlfia e Os Novos Realistas realizada na Galeria Sidney Janis. Essas exposies foram muito importantes, pois revelaram artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Claes Oldenburg, James Rosenquist e Tom Wesselman, todos cujas obras usavam temas extrados da banalidade dos Estados Unidos e que viriam ser identificados por uma nova postura, como artistas da Pop Art. Alm disso, num desvio significativo dos estilos, emocionalmente, carregados dos expressionistas abstratos, o trabalho desses artistas tambm parecia depender das tcnicas da cultura visual de massa. (ARCHER, 2001). A Pop Art comeou na Inglaterra com Richard Hamilton no fim dos anos 50. O termo foi usado pela primeira vez pelo crtico Lawrwnce Alloway e em 1960 um grupo de artistas, muitos deles ligados ao Royal College of Arts de Londres, comearam a mostrar um trabalho que usava material figurativo selecionado dos meios de comunicao e das ruas de suas cidades. Entre eles Richard Smith, Allen Jones, Derek Boshier, Peter

6 Philips, o americano R.B. Kitaj e David Hockney. A Pop Art teve seu reconhecimento nos Estados Unidos. Os artistas da Pop Art, embora no tivessem percursos tericos, se inspiravam na postura esttica de John Cage, cuja receptividade aos rudos mais insignificantes e mesmo aparentemente triviais, ajudou a dirigir a ateno artstica para as mincias do mundo circundante. O dadasmo e o surrealismo chegaram a Pop Art americana atravs do trabalho de Jasper Johns e de Robert Rauchenberg nos anos 50. As obras de Johns e de Rauchenberg causaram reaes diversas, chamaram ateno pela quebra das estruturas da cena artstica estabelecida, ferindo as atenes tradicionais ligadas ao domnio da arte (MACCARTHY, sd). Havia a um certo paralelo com os readymades de Marcel Duchamp que, sem fazer particular referncia a um realismo trivial, como ser mais tarde o caso da Pop Art, no deixaram de constituir um ataque s concepes tradicionais da arte e dos museus. Jasper Johns se concentrava em coisas que eram vistas e no percebidas, como ele disse ao curador Walter Hopps em uma entrevista em 1965 (JONHS, apud MACARTHY, sd: 19). Essas coisas, com freqncia, vinham em formatos simples como crculos (alvos) e retngulos (bandeiras, nmeros e letras). Ele pintou essas formas em um estilo gestual, no bastante figurativo, enfatizando as qualidades pintadas e objetivas. Rauschenberg, nesse meio tempo, transformava a colagem em uma srie de combine paintings (tcnica combinada de colagem e pintura), que diluram significantemente as distines entre pintura e escultura, colagem e assemblage (uma colagem tridimensional, para ser vista s vezes de todos os lados).

7 Em particular, o uso por Rauschenberg de materiais achados, como quadrinhos, jornais, peas de trabalho decorativo em madeira e mesmo um espelho, tornava essas fontes legtimas para os artistas pop que seguiram seu exemplo. No final de 1962, um simpsio sobre a Pop Art foi realizado no Museu De Arte Contempornea de Nova Iorque. Um dos colaboradores, o crtico Henry Geldzahler, comentou:

A imprensa popular - especialmente e, de modo muito tpico, a revista Life -, a tela grande de cinema, com seus closes em preto-e-branco e tecnicolor, os espetculos extravagantes dos anncios e, finalmente, a introduo, via televiso so, deste apelo espalhafatoso ao nosso olhar dentro de casa, tudo isso tornou disponvel nossa sociedade, e tambm ao artista, um imaginrio to disseminado, persistente e compulsivo que tinha que ser notado. (GELDZAHLER, apud ARCHER, 2001: 6).

Andy Warhol, um dos mais importantes artistas da Pop Art, tinha uma maneira de trabalhar caracterizada por um processo de ao e reao constantes, onde os limites de produo, produto e reproduo, entre imagens e o objeto, nunca param. (OSTERWOLD, 2000) Warhol inverte as noes de elevao e baixeza. A arte elitista decai at os bastidores do cotidiano, enquanto os fenmenos da sub-cultura se tornam apresentveis.

8 Sua obra to ampla e complexa que estas caractersticas citadas no podem ser consideradas por si mesmas. Warhol mereceria uma pesquisa dedicada somente a ele, o que no o presente caso. Do final dos anos 50 surge tambm a arte cintica, que se desenvolveu de um interesse geral pelo construtivismo e de um interesse particular pelas primeiras peas cinticas de Naum Gabo (1890-1977). Centrada em Paris e particularmente na Galeria Denis Ren, esta reuniu um grupo de artistas, culturalmente diversos. Pol Bury, da Frana; o israelense Agam; o argentino Julio Le Parc; Jess Rafael Soto da Venezuela, e o suo Jean Tinguely produziam todos obras que se moviam por meio de motores e outros recursos, No final dos anos 60 surge a Op (Optical) Art. Essa arte explorava quanto a forma e a cor podiam ser usada para criar iluso de movimentos. Seus maiores representantes foram: Bridget Riley da Gr - Bretanha, o hngaro fixado em Paris Victor Vasarely e o francs Franois Morellet. Nos anos 60, se tem tambm o Luminismo; esse era o foco de grupos europeus que comearam a usar a luz na arte. Enquanto acontecia a Pop Art nos Estados Unidos, na Europa o mesmo no ocorria. Apesar disso, a Pop Art contava com muitos artistas na Alemanha, Frana e Itlia que a abordaram ou em seus temas ou nas suas tcnicas. Estados Unidos e Europa, por possurem tradies e condies de vida diferentes, produziram artes diferentes. A Pop Art o produto de uma sociedade afluente produzida e dirigida a uma gerao do ps-guerra: artistas que cresceram durante a Segunda -Guerra.

9 Para tanto, uma singela anlise da infncia de um francs, de um italiano, um alemo, um ingls e um americano que cresceram entre 1938 e 1948, aponta obviamente, diferenas fundamentais de culturas, tradies, ideologias e principalmente na produo artstica. (LIPPARD, 1976: 188) Ao salientar o pitoresco, o obscuro, os aspectos satricos dos temas comerciais, os Europeus esto coerentes com eles mesmos, embora haja poucos chauvinistas nas fileiras da Pop Art ou do novo realismo, os estilos populares so superimpostos em tradies nacionais que vem a altern-los consideravelmente. (LIPPARD,1976) As artes europias urbanas so denominadas neste momento de novo realismo2, termo este usado pelos ingleses e pela maioria dos americanos em razo de suas implicaes filosficas. O francs Pierre Restany formulou os fundamentos tericos do novo realismo em 16 de abril de 1960, em um manifesto elaborado por ocasio de uma exposio na Galeria Appollinaire, em Milo. Os principais artistas do novo realismo foram: Yves Klein, Martial Raysse, Edward Spoerri. O Minimalismo, um movimento usualmente mais identificado com a escultura, pode ento ser entendido, pelo menos em parte, como uma continuao da pintura por outros meios. Esse termo foi utilizado por crticos para descrever o trabalho de Donald Judd, Robert Morris, Dan Flavin e Carl Andr com inteno pejorativa. Kienholz, Niki de Saint-Phalle, Raymond Hains, Daniel Pommerville, Armand Fernandez Arman, Christo Javacheff e Daniel

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Termo traduzido pela presente autora do termo Noveaux Ralistes.

10 Judd, que comeou como pintor, escreveu em seu ensaio de 1965, Objetos especficos, que muito da arte que estava sendo feita no podia mais ser descrita como pintura ou escultura. Em lugar destes, ele usou o termo obra tridimensional (ARCHER, 2001). Para Judd, o aspecto vazio desta arte era sintomtico do que ele via como a crescente irrelevncia das atitudes estticas tradicionais. Seu trabalho era simples e formalmente aplainado por um desejo de no empregar efeitos composicionais. A composio enfatiza relaes internas entre as vrias partes de uma obra e, com isso, minimiza o impacto da obra com um todo. (opcit, 2001) O filsofo Richard Wollheim escreveu em 1965, que o carter vazio dessas obras ... poderia ser expresso dizendo-se que elas ou so, num grau extremo, indiferenciadas nelas mesmas e, portanto, possuem muito pouco contedo de qualquer espcie, ou porque a diferenciao que chegam a exibir, a qual pode ser bastante considervel em certos casos, no vem do artista, mas de uma fonte no artstica, como a natureza ou a fbrica. (ARCHER,2001: 45)

O Minimalismo, a Pop Art e o Novo Realismo expandem o campo da arte para alm dos museus, rompem barreiras de categorias e levam para a arte a interdisciplinaridade. Da metade dos anos 60 a meados dos 70 a arte assumiu muitas formas e muitos nomes, como: Conceitual, Ambiental, Land, Body, Performance, Poltica, Pblica e alguns outros.

11 No final dos anos 60 e incio dos 70, qualquer coisa que alimentasse o mercado e com isso contribusse para o bem estar comercial das economias ocidentais era percebida por alguns artistas, principalmente o que dizia respeito ao envolvimento dos EUA na guerra do Vietn. Havia, assim, uma razo a mais para explorar a natureza no-mercenria do Conceitualismo e a transitoriedade da performance, arte que nega o potencial vendvel dos objetos e que carregava uma certa fora poltica e ideolgica contrria aos dogmas da economia capitalista de mercado. E uma vez que a nfase na arte comeara a se deslocar do produto final para o processo de sua feitura, um reconhecimento da presena corporal do artista como fator crucial desse processo tornou-se inevitvel. Ao longo dos anos 60 vrios artistas passaram a fazer performances. Entre eles Gilbert poltico. Gilbert & Gerges designavam suas vidas inteiras como arte de uma maneira pblica: Quando samos da faculdade e no tnhamos nem um tosto, estvamos sem fazer nada...Pusemos maquiagem metlica e nos tornamos esculturas. Nossas vidas so grandes esculturas. (GILBERT & GERGES, apud ARCHER, 2001:109). Tambm nesse perodo, o acesso e uso de tecnologias de comunicao cresce consideravelmente, no apenas a fotografia e o filme, mas tambm o som, com a introduo do cassete, e a disponibilidade e aparecimento no mercado de equipamentos de gravao e vdeo fazem a arte explorar essas tecnologias. O vdeo era um recurso muito novo; foi a Sony que disponibilizou no mercado o primeiro equipamento domstico em meados dos anos 60. Um dos primeiros a utilizar a tecnologia em seu trabalho foi o coreano Nam June Paik (1932-). Paik havia estudado msica no Japo e depois & George, Stanley Brown, Marina Ambrovic e Rudolf Schwarzkogler. As performances exercem um carter socializante e

12 foi para a Alemanha, onde trabalhou com msicos do crculo de Karlheinz Stockhausen, embora seu interesse pela casualidade e eventos aleatrios, bem como o uso de instrumentos preparados com junco, o aproximasse, em esprito, a John Cage. Na Alemanha e mais tarde em Nova Iorque, ele se envolveu com o grupo Fluxus e sua mescla de artistas, poetas, e compositores, como Beuys, Vostell, George Maciunas, Yoko Ono e muitos outros. O primeiro trabalho de Paik em vdeo, de 1965, era um filme da visita do papa Paulo VI a Nova York, feito no mesmo dia em que foi exibido. Mais tarde ele produziu muitos trabalhos, que passaram pela escultura, performance, msica, vdeo e TV, freqentemente em colaborao com a violoncelista Charlotte Moorman. As gravaes de Paik, mordazmente editadas e cheias de cores, tais como Fissura Global (1973), mostram que o veculo da TV que d forma ao contedo de seu trabalho, e no o tema especfico na tela. 1.2 Tecnologias e Questionamentos na Arte dos Anos 70 Nos anos 70, o uso de novas tecnologias e os questionamentos desenvolvidos nos anos precedentes seriam de pouco valor se a compreenso dos artistas por eles revelada - da importncia de coisas como meio ambiente, o poder, a propriedade e a identidade cultural e sexual na determinao do significado da obra de arte - no pudesse ser usada. O sistema comercial de galerias era, evidentemente, apenas uma parte da economia de mercado capitalista mais ampla. Inevitavelmente, havia o conflito de quando a arte que expressava sua rejeio desse sistema era forada a depender dele para ser exibida, apreciada e consumida. A arte pblica desenvolveu-se, em parte, como resultado do desejo de no depender desse mercado. Usando lugares alternativos como lojas, hospitais, bibliotecas e a prpria rua como espao de exposio, e os meios de comunicao - televiso, rdio e publicidade - em busca de um

13 caminho mais direto para um pblico mais amplo e igualitrio, a arte pblica deu as costas s galerias. A arte com base na comunidade no estava mais livre das limitaes econmicas que a arte da qual ela tentava se distanciar. A dificuldade de se consumir a Performance, a Instalao e a arte pblica da maneira normal (comprar e levar pra casa) significava que ela exigia um fundo subsidirio para poder existir. Alm desses novos tipos de arte a pintura e escultura tambm mantiveram seu lugar nas exposies em galerias. 1.3 Um Novo Esprito era Preconizado nos Anos 80 Nos anos 80 houve uma volta pintura e os negociantes de arte voltaram a trabalhar com seus prprios recursos. Muitos crticos falam de um novo esprito na pintura, mas a histria da arte nunca mais voltaria a ser linear depois de tantas descobertas e de novas formas de expresso; a arte no evoluiria mais passo a passo, a multiplicidade de atitudes e abordagens dava a arte liberdade de buscar inspirao em todos lugares e no ter fronteiras, surgindo assim a arte ps-moderna. A cultura ps-moderna era de citaes, vendo o mundo como um simulacro. A citao podia aparecer sob inmeras formas - cpias, pastiche, referncia irnica, imitao, duplicao, e assim por diante. O tipo de arte do ps - modernismo foi bastante criticado e era acusado de no ter nenhum senso histrico, que seus produtos eram cnica e desordenadamente juntados a partir de elementos emprestados devido a seu apelo visual superficial, tratando-se, portanto, de uma arte de superfcie, a qual faltava substncia. Em contraste com o negativismo de opinies como esta, descritas pelo Crtico americano Hal Foster como ps - modernismo de reao, tambm havia um ps modernismo crtico e radical.

14 Longe do colapso de idia do progresso como algo que leva a uma situao de qualquer coisa serve, em que todos os gestos lies e das interpretaes duas tinham igual validade, era possvel, tendo absorvido as dcadas anteriores, questionar os pressupostos e significados que estavam por trs dos emprstimos de arte. (FOSTER, apud ACHER, 2001:157)

Na Alemanha, a obra de vrios artistas preocupou-se com as causas e conseqncias da 2 Guerra. Anselm Kiefer (1945-) examinou de maneira crtica a dimenso mstica e histrica do sentido que os alemes faziam da identidade e da nacionalidade. As pinturas de 1974 sobre terra devastada, mostravam paisagens enegrecidas devido queima ou depredaes da guerra, como Maikfer Flief. O poder transformador do fogo era repetidamente usado por Kiefer como metfora do processo artstico. O uso que o artista alemo Sigmar Polke fazia das imagens e da mdia serviu como paradigma da natureza ecltica da arte dos anos 80. Sua obra teve uma notvel influncia, fora da Alemanha, na pintura de Julian Schnabel, cujo estilo caracterstico, no incio dos anos 80, era pintar uma srie variada da arte mais requintada a anncios e caricaturas sobre cacos de cermica. A percepo que Schnabel tinha dos significados de materiais era compartilhada por Polke e Kiefer. Ele escreveu:

Muitos americanos ainda no entendem que foi Beys quem incentivou o atual rumo da arte. Eles acham que o rumo provm do reducionismo e do minimalismo, com uma

15 pintura morta que depois ressuscitou mas eu estou falando de um envolvimento com materiais.( ...) Mesmo que os materiais sejam manufaturados, ou paream novos, a obra tem que estar relacionada com o poder alqumico e acumulativo dos ... objetos. (SCHNABEL, apud ARCHER, 2001: 165)

Tambm nos Estados Unidos, as pinturas de David Salle encaixavam-se mais nitidamente no conceito conhecido como apropriao, que foi amplamente divulgado no incio dos anos 80. A apropriao, as coisas tomadas oportunamente por e para o nosso uso, era a atividade a que ns estvamos condenados devido a nossa condio de ps-modernos. Em meados dos anos 80 houve novamente um desequilbrio econmico e os colecionadores de arte exerceram uma nova influncia no mercado de arte. Como acontece em outros mercados, o estoque restrito elevou o preo das obras e a arte pblica voltou a sua rbita. Nos EUA, o florescimento de grafites urbanos em quadros coloridos em grande escala foi reconhecido como uma vvida forma de arte. Usando no apenas as paredes, mas tambm locais mveis como vages de trem, que levavam a obra da cidade para os subrbios e alm deles, a arte do grafite rapidamente se tornou uma presena difusa em todos os Estados Unidos e Europa. Kenny Scharf, Keith Haring e Jean - Michel Basquiat usaram o estilo do grafite como objetivo expressivo em suas obras. Basquiat ficou conhecido como SAMO, escrevendo este pseudnimo numa campanha bem sucedida de autopromoo, nas paredes externas dos melhores locais de exposio do mundo da arte. Suas pinturas eram cheias de palavras e frases que haviam sido riscadas, alteradas e

16 substitudas por melhores verses. Longe de indicar indiferena ou irreflexo, este difuso procedimento representava um esforo de esclarecimento e comunicao. (ARCHER, 2001) Os seres humanos e animais com contornos marcados da autoria de Keith Haring saltitavam com a luz do dia. Eles comearam a surgir no incio dos anos 80 como desenhos a giz em papel negro colado como psteres afixados em estaes do metr, e sua obra sempre conservou essa conexo. Ele exibiu suas pinturas em grandes galerias como a de Lo Castelli e Tony Shamazi. Seus desenhos com figuras de contornos marcados eram colocados tambm em camisetas, etiquetas e psteres vendidos na sua loja em Nova Iorque; ele tambm desenhava para campanhas publicitrias e beneficentes, em especial as relacionadas a AIDS, de que morreu em 1990. Na dcada de 80, em termos cronolgicos e prticos, a pintura foi psconceitual e a cultura contempornea formada por superfcies (suportes) e imagens. A popularizao da Instalao, a maturidade da vdeo-arte, as estratgias transformadas da arte pblica e a continuada relevncia da obra especificamente dirigida para os problemas sociais da opresso, racismo e sexualidade, marcaram essa dcada. 1.4 Do Simulacro Dos Anos 90 s Novas Mdias Nos anos 90, a apropriao de imagens, o simulacro, a pintura ps -conceitual, a explorao dos suportes e materiais tiveram continuidade, as experincias das dcadas anteriores com uso de tecnologias fez evoluir o uso de novas mdias na arte. O uso do termo mdias se ampliou e no se refere somente aos meios de comunicao de massas; tambm passou a se referir a quaisquer tipos de meios de comunicao e at a aparelhos, dispositivos ou mesmo programas auxiliares da comunicao (SANTAELLA, 2002: 7)

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Surge ento a ciberarte:

A ciberarte, marcada pela interatividade, insere no contexto artstico o uso de tecnologias computadorizadas, resultados das descobertas da microinformtica e da telemtica, para gerar ambientes que usam a expressividade do ciberespao, espao de computadores pessoais ou conectados em redes. (DOMINGUES, 2002: 59)

Os artistas encontraram novas possibilidades miditicas e poticas (SOGABE, 2001) com a aproximao entre Arte, Cincia e Tecnologia. Esses novos campos que esto sendo explorados resultam na web art, na criao de ambientes imersivos, realidade virtual, ciberinstalaes, redes robticas e de outros tipos de explorao da luz e de imagens. Nos dias de hoje v-se o crescimento dos VJs3 artistas, que criam ou se apropriam de imagens, e as manipulam no tempo real de sua exibio. Conseguem trazer para outros lugares, na maioria das vezes festas, toda a bagagem das ltimas quatro dcadas em que a arte rompeu tantas barreiras.

Est acontecendo uma revoluo cultural profunda, cujos efeitos estamos apenas comeando a registrar. Do mesmo modo que a prensa manual do sculo XIV e a fotografia3

VJ se refere a vdeo jockers.

18 no sculo XIX no e uma exerceram um impacto desenvolvimento modernas, nas e formas das hoje de culturas virada

revolucionrio sociedades mdias e

estamos no meio de uma revoluo nas produo, distribuio comunicao

mediadas por computadores que dever trazer conseqncias muito mais profundas do que as anteriores. (MANOVICH, apud SANTAELLA, 2002: 9)