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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
1 Pós graduação em Psicopedagogia; Graduação em Educação Física: atuando atualmente
no Colégio Estadual Rui Barbosa – Pr.
² Mestrado em Educação – Formação de Professores pela UEPG. Professora efetiva na
UENP – CCS – Campus Jacarezinho.
CULTURA POPULAR:
Conhecendo a Cultura Afrodescendente por intermédio do Movimento Hip Hop
Autora: Ilma Campos Bacon¹
Orientadora: Heres Faria Ferreira Becker Paiva²
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo levar os alunos a refletirem a respeito dos males associados à desigualdade social e ao racismo, desenvolvendo a capacidade de leitura de mundo e postura crítica em relação às experiências cotidianas. Sendo assim, foi usado o movimento Hip Hop como estratégia para trabalhar a integração social e a ressocialização de jovens negros nas aulas de Educação Física escolar. O trabalho foi embasado na abordagem qualitativa, observando o processo materialismo histórico da cultura afrodescendente e movimento Hip Hop, através de observação sistemática, registros e análises das interações entre os alunos, com pesquisa etnográfica. O conteúdo é riquíssimo, os resultados apontam que os alunos pouco conhecem sobre a cultura afrodescendente e Hip Hop. Sendo aplicado o projeto a alunos de 5ª série do Ensino fundamental, os objetivos não foram totalmente obtidos devido à imaturidade dos mesmos e ao pouco tempo para a explanação do trabalho, visto que é abordado dois temas: o Afrodescendente e o Hip Hop. Nesta faixa etária é um desafio levá-los a reflexão e conscientização para lutarem pela superação de conflitos raciais. O projeto foi realizado no Colégio Estadual José Pavan, Vila São Pedro, em Jacarezinho-Pr, sendo um colégio de periferia cadastrado no SERE.
Palavras-chave: Cultura Afrodescendente; Hip Hop; Cidadania.
1 INTRODUÇÃO
O Hip Hop é um movimento político social de ampla envergadura e reflexo
na juventude, centrado em uma atitude de crítica social, o qual institui uma nova
forma de representação e relacionamento da população negra no Brasil. Por meio
4
desse movimento, o negro passou a conquistar sua auto-estima e cidadania através
do talento e arte de rua que o afro-brasileiro expressa.
Percebi que a maioria dos adeptos do movimento pertencente a este bairro
não tinham conhecimento da história desta cultura e havia preconceito na
comunidade para com aqueles que faziam parte do mesmo. Sendo assim resolvi
pesquisar as possibilidades de aprendizagem e conscientização a respeito da
afrodescendência brasileira por meio da Cultura Hip Hop e dar condições por meio
do esforço focalizado, a busca de superação dos conflitos raciais. Foi possível
valorizar a habilidade ao executar os movimentos, desenvolvendo a sensibilidade, o
companheirismo, a criatividade, o equilíbrio emocional e a valorização da vida no
decorrer da mesma.
É por meio do canto, da dança e do grafite que os participantes do Hip Hop
demonstram suas posições políticas e ideológicas. Para eles, o fazer
político não está reservado somente aos que se especializam nessa área.
Com suas rimas no rap, seus passos no break e imagens transmitidas em
seus desenhos reproduzidos nos grafites, estão assumindo uma posição
política e fazendo aliança com outras formas de expressão que são, a um
só tempo políticas, sociais e culturais. (FELIX, 2007).
Temos que refletir a respeito do papel da educação no processo da cultura
de rua, bem como a importância de levá-la às escolas de Educação Básica,
utilizando para isso os mecanismos que a própria dinâmica da sociedade nos coloca
em mãos. Talvez seja o momento oportuno para revermos bases que sustentam
preconceitos, discriminações e desigualdades utilizando o movimento Hip Hop como
um espaço discursivo que deve adentrar as escolas públicas podendo ser
provocador de aprendizagens significativas, visto que há obrigatoriedade do ensino
da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-
Brasileira e Africana).
O movimento é cultural e envolve questões multidisciplinares, podendo ser
causador de aprendizagens significativas, facilitando o aprendizado e envolvimento
dos alunos e comunidade escolar como um todo, por identificação dos modos de
5
expressão. É possível ensinar grafite em Artes; dança de rua em Educação Física;
produção textual, poesia e literatura africana na Língua Portuguesa; fazer paralelos
com a história do Hip Hop com a história africana, com a Filosofia e Sociologia,
podendo ser discutida e problematizada dentro do contexto de vida dos praticantes
de Hip Hop. Existe também a possibilidade de apresentar aos alunos uma produção
político-cultural para se debater questões fundamentais da sociedade brasileira,
como: racismo, violência policial e urbana, desigualdade, favelização, etc.
O Hip Hop surge como possibilidade dos alunos manifestarem sua opinião,
sonhos, desejos, indignação e solicitações de uma maneira saudável e artística,
fazendo uma revolução cultural, sem recorrer à violência, drogas e crimes. O
movimento vem para dar um grito de alerta a respeito das comunidades excluídas
pela sociedade e também promove uma profunda interferência na consciência da
juventude, à medida que estimula a solidariedade, a autoconfiança e a disseminação
da consciência racial e social. Assim, valorizar a cultura Hip Hop é estar valorizando
a cultura Afrodescendente.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A Cultura Afrodescendente e o Movimento Hip Hop
2.1.1 O Movimento Hip Hop
Hip Hop, na tradução literal significa saltar movimentando os quadris, mas na
prática é mais que isso. É uma Cultura nascida na década de 1960, na Jamaica e
levado para os guetos de Bronx, de maioria negra, em Nova York em meados dos
anos 70, por Kool Herc. Foi ele quem introduziu o Toast, um modo de cantar
usando palavras banais, sexuais, ou politizadas, sendo bem fraseadas, ou cantadas
em cima de reggae instrumental, que daria origem ao Rap.
6
As periferias de Nova York enfrentavam diversos problemas de ordem social
como: pobreza, racismo, tráfico de drogas, carência de infra-estrutura, de educação,
entre outros. Os negros e latinos usavam o Hip Hop como forma de protesto a
violência existente. Lutavam pelos seus direitos civis, e estavam fundamentados nas
ideologias de Martin Luther King, o qual fora defensor dos negros e mulheres nos
Estados Unidos e no mundo, mas morrera assassinado. Após sua morte, as
manifestações continuaram em contexto de grupos e se tornaram agressivas. As
pichações e as letras de rap conclamavam os afro-americanos a saírem em luta
armada contra os racistas. O preconceito e o desemprego aumentaram, as gangues
de rua foram aparecendo, aumentando a violência policial e urbana.
Afrika Bambaataa, nascido em 1957, criado no Bronx, participou das gangues
mais perigosas dos subúrbios de Nova York e foi líder de uma delas, a “Black
Spades”. Embora já tivesse trabalhado como DJ em festas desde 1979, adquiriu
mais interesse pela cultura Hip Hop depois de ter visto Kool Herc nos toca-discos em
1973. Bambaataa perdera o melhor amigo em uma guerra de gangues e percebendo
a grande catástrofe que essa atitude poderia causar, pensou em transformar a
violência insensata das gangues em energia positiva dando inicio a um trabalho de
conscientização entre os jovens da periferia.
Por ter participado de gangues anteriormente, Bambaataa teve um público fiel,
que consistiu em membros de gangues anteriores. Então, desafiou a cada grupo
para que unissem seus talentos e realizassem uma grande festa em nome do povo
negro, das origens africanas. O objetivo era unir os negros do bairro para atividades
artísticas usando o talento do break junto com o rap, iria juntar o talento dos
pichadores com a arte do grafite e haveria alguém para animar os participantes, o
qual era a figura do MC (mestre de cerimônia). Com esta proposta apresentou um
projeto para criar uma organização em que os quatro elementos do Hip Hop
estariam juntos para resgatar a auto-estima do negro, para denunciar o racismo e
manifestar talentos no mundo todo.
Em VENTURA (2009), podemos analisar que Bambaataa foi o idealizador da
junção dos quatro elementos: DJ (som), MC (Rap), Break(dança) e Grafite (arte),
mas já se praticava o 5º elemento do Hip Hop, que aqui no Brasil chamamos de
Consciência Social. A mensagem que Bambaataa usou para espalhar a sua idéia
7
ainda é: “lutar com criatividade e não com violência!”. Foram criadas leis não
escritas que todos obedeciam. Não se podia copiar o próximo em seus passos de
dança e cada grupo criaria o seu próprio estilo.
Outra lei respeitada era: paz, unidade, amor e divertimento, substituindo as
brigas entre as gangues pelos rachas entre grupos de Break. Muitas gangues
começaram a desaparecer, pois foram encontrando naquelas novas formas de arte,
uma maneira de direcionar a violência em que viviam, e passaram a freqüentar as
festas e a dançar Break. A vontade de competir com passos de dança e não mais
com armas foi contagiando e forçando todos a melhorar e ser o mais criativo
possível. Os grupos queriam fugir do anonimato, só se preocupavam em treinar e
mostrar suas coreografias, serem ouvidos e espalhar o nome deles por toda parte.
Se alguém quisesse melhorar suas habilidades teria que deixar de fazer coisas ruins
(drogas, crimes, etc..) por todo tempo e colocar a sua energia a disposição da
cultura Hip Hop, inspirando outras pessoas.
O Movimento Hip Hop é a maior expressão negra e urbana das últimas
décadas e surgiu como forma de discussão e protesto aos conflitos sociais
existentes nas classes menos favorecidas da sociedade; embora a mídia,
especialmente a brasileira, venha afirmar que este movimento está associado à
violência e ao tráfego de drogas. Só será possível compreender o Hip Hop se fizer
em seu contexto social, neste caso marginal, cheio de problemas sociais,
educacionais e de exclusão social, tendo muito a ver com o sentimento e não com a
moda vinda dos Estados Unidos. Os adeptos do movimento promovem uma guerra
pacífica e por meio da arte representam uma paz politizada, com estilo de orgulho
reconquistado, tendo como meta serem ouvidos, assim como lutava Afrika
Bambaataa, a fim de encontrarem o respeito que merecem.
A consciência social, no Brasil, é realizada através do trabalho de
conscientização e luta, pelos direitos civis, através de oficinas e grupos de posses
inserido em um conjunto de dança, música, poesia e artes plásticas. Eles se reúnem
com pessoas simpatizantes do movimento Hip Hop pertencentes à comunidade, ou
que residem em proximidade geográfica, com o objetivo de aperfeiçoamento artístico
e desenvolvimento das ações políticas e comunitárias. Os integrantes usam o
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movimento utilizando a letra das músicas para contar histórias reais, refletindo
angústia e protesto. Através de suas rimas não só descreve, mas também lança
mensagens de alerta e orientação, mostrando várias formas de reivindicação e
injustiças com as classes sociais mais desfavorecidas, despertando na comunidade
o poder de transformação através da conscientização.
Para aqueles que vivem intensamente a cultura Hip Hop, cantar um Rap
significa o encontro com a própria identidade, marcada por uma luta contra a miséria
e preconceito enraizado na sociedade capitalista.
O DJ, Jéfferson dos Santos, um dos articuladores do grupo Consciência Suburbana, transita livremente em ambientes freqüentados pelas classes média e alta, mas denuncia. Existe muito preconceito em relação a nossa cor da pele, pela origem humilde e pela roupa que vestimos, por mais que o modismo do Hip Hop tenha se propagado em outros meios. (Resch, 2005).
Santos; Damico e Freitas (2006) alegam que as experiências provocadas
por esta invisibilidade fazem com que os jovens negros tenham uma relação com o
espaço público da rua distinta da que têm os jovens não negros. Não há como
apagar essa realidade da mente desses jovens, que se sentem estrangeiros dentro
de seu próprio país. Sua circulação nos bairros não periféricos, onde são minorias, é
vigiada, e muitas vezes a ação policial os submete a humilhações.
Para o grupo Consciência Suburbana, em Rech (2005), Hip Hop não é só
gostar do som e dançar, é necessário possuir conscientização e compreender o que
representa o movimento, refletindo sobre o significado das letras. Eles se
consideram guerreiros urbanos, pois possuem vontade de viver e passam esta
filosofia através do movimento.
Temos capacidade de se indignar e se mobilizar para tentar modificar a vida que estávamos tendo. É a briga para nos transformarmos em uma exceção dentro de uma regra que nunca nos favoreceu. O hip hop foi feito por renegados e marginalizados e caiu como uma luva para a luta contra a marginalização e exclusão dos pretos. (Antunes, 2009).
9
Muitos grupos de Hip Hop, assim como este agora citado, além de cantar são
envolvidos com trabalhos sociais, utilizando a força do Hip Hop como transformador
social. A visão deles é revolucionária, pois oferecem seu trabalho voluntário em
escolas, em bairros, e demais locais, onde possam atrair jovens. Fazem trabalhos
nas escolas utilizando as letras das músicas, em conjunto com professores da
Língua Portuguesa, para estudarem análise sintática e interpretação dos textos.
Também desenvolvem trabalhos com artes plásticas promovendo oficinas e
trabalhos em grafite, onde levam alegria com o movimento Hip Hop nas periferias,
cantando suas músicas expondo a forma crua da realidade nas favelas e guetos
trazendo a tona os fatos que a sociedade desconhece e levam o público a refletir.
Faz o som no meio da rua, interagindo com a comunidade, deixando artistas locais
participarem e levando brindes de marcas de roupa. Também realizam oficinas
ensinando habilidades de Hip Hop, grafite, break e danças para criança, juntamente
com importantes aulas educativas, tais como: aulas de computador de formação e
artes de grafite e luta contra a crise da indústria musical. Essas atividades são
bancadas do bolso de cada grupo. Eles possuem como lema revelar a injustiça
social e busca conscientizar as pessoas que vivem marginalizadas e excluídas da
sociedade por problemas sociais, políticos e educacionais. O objetivo é dar a eles
condições de lutar e sair vencedores em seus sonhos, alegando haver outro
caminho para o jovem sair da marginalidade.
Realizam um trabalho de ação e reflexão, assim como escreveu Paulo Freire
em seu livro Conscientização (1980), principalmente nos bairros periféricos,
passando valores de cidadania e alertando-os para a necessidade de lutarem por
um ideal, não se sentindo como estorvo para a sociedade. Elevando a sua auto-
estima através da luta por uma mudança de vida, sabendo o que querem e
conhecendo aquilo que querem denunciar. Ser consciente é ser crítico. Não
podemos pensar no lugar dos outros ou sem os outros. Temos que saber que somos
capazes e que podemos mudar a situação em que nos encontramos, descobrindo-
se como criador de cultura e fazedor da história. (FREIRE, 1980).
10
2.1.2 O AFRODESCENDENTE, HIP HOP E A ESCOLA
O Brasil possui a maior população negra fora da África e a cultura africana
está muito presente e atuante em nosso convívio diário, atuando no processo de
desenvolvimento da identidade e cidadania do Brasil. A sociedade brasileira valoriza
a cultura branca européia, contribuindo assim para que o afrodescendente
desenvolva auto-imagem negativa, acompanhada de baixa auto-estima, gerando
assim condições desumanas de existência, provocando exclusões provocadas por
vários mecanismos sociais.
É importante que os afrodescendentes recebam ajuda necessária para que
possam exercer o seu direito de cidadania através da valorização de sua identidade.
É necessário que desenvolvam atitudes de enfrentamentos em situações em que se
vê negativamente discriminado, onde valores possam ser revisados e transformados
positivamente, favorecendo o processo de socialização e adquirindo
relacionamentos saudáveis.
King (1996) alega haver imprecisões, distorções e omissões da história dos
negros nos livros didáticos e na história do Brasil como um todo. Os estudantes
fixaram somente sobre a cultura dominante e os negros e demais etnias existentes
no Brasil precisam conhecer a sua cultura, a fim de que possam compreender a
história dentro do seu contexto de vida.
O homem de origem africana antes mesmo de descobrir o Brasil, já era
desvalorizado pelo europeu e já se transportavam escravos para a Arábia e
mercados do mar Mediterrâneo oriental. Os africanos foram perseguidos por causa
de sua prática religiosa e viraram vítimas de expedições que vinham para explorá-
los e levá-los cativos. Os negros eram chamados de a “madeira de ébano”, os quais
seriam extraídos de sua terra de origem e transportados em porões de navios
negreiros, em condições subumanas.
(www.suapesquisa.com/afric/educaterra.terra.com.br/Voltaire/mundo/áfrica.htm.13k..
Os próprios negros faziam guerras entre suas tribos e os tiranos aprisionavam
os derrotados em barracões a beira-mar e ficava a espera de navios para trocá-los
por armas, pólvora e cavalos. Devido à procura de mão-de-obra escrava, eles se
associavam aos europeus e afirmavam a sua autoridade através da força
11
aprisionando seus inimigos, os quais eram levados como carga humana. Devido às
condições dos navios, muitos negros morriam e eram atirados ao mar. Eram
comprados por sultões árabes e mais tarde por fazendeiros e senhores de engenho
que os tratavam de forma cruel. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros,
úmidos e com pouca higiene), acorrentados, para evitar fugas e o açoite era a
punição mais comum. Os europeus vendiam os negros como se fossem moedas e
eram trocados pelos produtos, como: tecidos, pólvora, ferro, armas e rum vindos das
colônias. Os negros eram o valor de troca, o dinheiro; e o valor de uso era à força do
seu trabalho.
Eram proibidos de praticar a sua religião de origem africana e realizar suas
festas e rituais, mas mesmo com todas essas restrições e imposições eles não
deixavam a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais e festas
e mantiveram vivas as suas manifestações artísticas, tipo de alimentação e até
desenvolveram, no Brasil, a luta da Capoeira. As mulheres negras eram utilizadas
para os trabalhos domésticos, como arrumadeiras, cozinheiras, amas de leite, etc.
Após a abolição dos escravos, mesmo sendo pessoas livres ficaram escravos de um
regime capitalista. Os afrodescendentes ficaram presos pela cultura dominante,
alienados socialmente, pois negavam a história africana, a sua língua, sua cultura e
sua arte. A história valorizada ainda continuava sendo a do homem branco e
reproduzindo nos negros a baixa auto-estima, pois os consideravam como seres
incapazes. Os negros achavam que a única salvação estaria em tornar-se “brancos”
ou “pretos de alma branca”. Eram renegados e excluídos para fora da escola sendo
enfatizado o sentimento de inferioridade, de incapacidade em face de seu fracasso.
Ainda hoje é necessário “libertar as mentes”, levando o afrodescendente a exercitar
uma postura crítica diante da realidade.
Mesmo livres, ainda são escravos, a sua maioria continua alienados,
encontram-se em situações de marginalidade e dependentes de uma sociedade
capitalista, que não tem interesse que a classe trabalhadora tenha consciência
política. O treinamento técnico da mão-de-obra qualificada abafa a consciência
política dos trabalhadores. Os empreendedores estão comprando a força do trabalho
e vão sendo capacitados para ser cada vez mais eficiente neste processo. Quanto
12
mais ciência e quanto mais sofisticada for à máquina, tão menos o trabalhador terá
controle e compreensão e não entenderá o processo.
O processo de libertação será através da reconquista de sua palavra, obtendo
o direito de dizê-la, de “pronunciar” e de “nomear” o mundo. Tendo consciência
política, possuindo voz ativa para participar na transformação e recriação de sua
sociedade. Não é uma revolução com armas, mas uma revolução cultural.
Freire (1978) nos fala do Círculo da Cultura onde educando e educadores
juntos, discutem os seus ideais, problematizando as questões do dia-a-dia,
exercitando a reflexão crítica sobre a maneira espontânea como os seres humanos
“se movem” no mundo. Sendo assim, o afrodescendente tem que aprender a ocupar
o seu espaço, conhecer os seus direitos, construindo a sua história através do
conhecimento, havendo conscientização das questões culturais relacionadas à sua
descendência, se ajudando mutuamente e escrevendo uma nova história.
O Brasil tem grande diversidade étnica e cultural. Os brasileiros têm
condições de criações artísticas e científicas de fazer inveja, destacando-se a
música popular e suas danças, mas não nos achamos geniais, não nos valorizamos.
Achamos que “somos desleixados, cachaceiros, escuros demais para sermos
refinados”. Este é um exemplo do chamado complexo, que nos leva a um
sentimento de inferioridade.
Ferreira (2000) em seus relatos alega ser uma ironia nacional o fato dos
afrodescendentes serem discriminados como “minoria” , quando na verdade,
constitui um grupo, cujo número atinge quase, ou mais da metade da população
brasileira. O desenvolvimento da identidade do brasileiro está absolutamente
condicionado à participação dos africanos na vida brasileira e sua sabedoria está
presente nas manifestações culturais, nos gestos e nas relações.
Apesar de a cultura negra ser a energia que dá ritmo à vida nacional, considerando ainda a dívida imensa do Brasil para com a África, não se observa uma equivalência desses pesos na vida e na política. Não é um exagero considerar um escândalo a ignorância em relação à África. Dessa forma, a terra-brasilis é um filho demasiadamente ingrato. A grande maioria dos brasileiros considera o continente africano como um bloco homogêneo: tudo igual e todos negros. (SANTOS, 2001, p. 247).
13
O Afrodescendente precisa conhecer a sua história, a sua origem, saber de
sua contribuição na formação deste Brasil em que vivemos. A pessoa negra traz do
passado a negação da tradição africana, a condição de escravo e a cicatriz de ser
objeto de uso como instrumento de trabalho. No presente enfrenta a constante
discriminação racial, de forma aberta ou mesmo encoberta.
Scandiucci (2005) afirma que no Brasil, o racismo é encoberto, em relação a
países como os Estados Unidos ou a África do Sul onde o racismo é aberto, visível a
todos. Os brasileiros definem as categorias “raciais” baseados na aparência, e não
na ascendência, como fazem os norte-americanos. O mito da democracia racial
encobre o preconceito e se torna muito mais difícil o combate efetivo da injustiça
para com os indivíduos e grupos étno-raciais diversos do branco-europeu. Assim, a
discriminação opera no nível dos indivíduos de maneira inconsciente e nem sempre
identificável como tal. A cor da pele e as características genéticas acabam
operando como referências que associam de forma inseparável a raça e a condição
social, levando o afrodescendente a incorporar um julgamento de inferioridade não
somente em relação ao aspecto racial, mas também em relação às condições sócio-
econômicas.
A elite brasileira auto-identifica-se como branca, assim, assumem as
características de branco-europeu. Em contrapartida ser negro é visto como tipo
étnico e culturalmente inferior. Estabeleceu-se uma escala de valores em que à
pessoa que se aproxima do tipo branco tende a ser mais valorizada e as que se
aproximam do tipo negro tende a ser desvalorizada e socialmente repelida.
No Brasil foi criada a ”ideologia do branqueamento”, pois o negro encontra
necessidade de “limpar o sangue”, por meio de sucessivos casamentos entre negros
e brancos. A miscigenação tem servido de argumento para se afirmar o quanto o
brasileiro “aceita” a convivência de raças, alegando não haver preconceito no Brasil.
Isso não é verdade, pois as oportunidades de trabalho e ascensão social não são
iguais para negros e brancos.
Santos (2001), ativista do movimento negro há 30 anos, afirma que a
exclusão do negro acabou provocando a existência de dois Brasis: o Brasil moderno,
rico, inclusivo, em que o negro não participa; e o Brasil pobre em que temos um
déficit habitacional, com falta de milhões de moradias. Para ele, a inclusão do negro
14
é que vai permitir o desenvolvimento com sustentação social e que provocará o
desenvolvimento integral no Brasil. Segundo ele, concordando com Freire (1978),
para diminuir essas desigualdades raciais é necessário haver duas coisas: educação
e trabalho, pois, além de capacitar as pessoas também são importantes que exista a
diversidade no mercado de trabalho. Aliás, antes de discutir emprego, ele acha
interessante discutir empregabilidade, o qual é para quem tem que ser capacitado, é
para os analfabetos funcionais.
Assim, os negro-mestiços estão bem mais próximos, em geral, do negro, em
termos de posição financeira, educacional e social, mas os negros no Brasil
acreditam no mito da democracia racial, pois os brancos são bem vindos em
ambientes onde há predominância de negros. Criando para o negro-descendente
conflito enorme de identidade, seguido de rebaixamento da auto-estima.
De acordo com Santos (2001) “Inúmeros brasileiros negros estão distantes de
construir sua identidade racial, pois ainda se encontram em uma fase de absoluta
submissão. Esses brasileiros, inconscientemente, trabalham com a idéia de que ser
branco é algo positivo, e, ser negro, não. Essa crença consolida-se ao longo do
tempo, desde a escola infantil. Para justificar a colocação do mundo branco em uma
posição superior, esses brasileiros afastam-se de suas raízes negras tentando
escapar de um desconforto maior, em virtude de estarem diante de um conflito.
Nessa fase de absoluta submissão, inventam um escudo branco para defender-se
do mundo negro que eles rejeitam” gerando assim o conflito.
Holanda apud Scandiucci (2005) nos afirma termos que trabalhar de alguma
forma com esse sentimento, senão, iremos nos julgar sempre subdesenvolvidos,
subaculturados e subalternos as grandes culturas brancas de origem européias.
Esse complexo também revela, por outro lado, a posição de arrogância geralmente
adotada pelas elites brancas, que vêem os negro-descendentes como serviçais e
sentem-se “verdadeiros” cidadãos.
O movimento Hip Hop veio para o Brasil e nos ajudou muito a trabalhar com a
identidade do afrodescendente e pode ser caracterizado como uma prática social
promovida pelos jovens pobres, principalmente pelos negros. O rap é a expressão
que mais difunde este movimento, inclusive na mídia. Traz à tona o preconceito
15
racial e social, a pobreza, a violência, etc., presentes no cotidiano dessas
comunidades.
O Hip Hop é uma manifestação essencialmente da periferia excluída, traz o
que é inconsciente para a consciência, que pode, então, se reestruturar
continuamente, a fim de assimilar aspectos até então relegados, e levá-los às ações
e interações mais discriminadas. Faz isso ao trazer a tona, sem meias-palavras, o
problema da desigualdade racial, comumente camuflado pela nossa sociedade (seja
consciente ou inconscientemente).
O movimento, por vezes, faz uma tentativa de resgatar as culturas africanas
e afro-brasileiras – seja através do trabalho das posses em suas comunidades, seja
mediante os ritmos e as letras presentes nos diversos raps. Uma criança ou um
adolescente negro-descendente que saiba um pouco da história de seus
antepassados, de como eram na África e de como e para que eles foram trazidos ao
Brasil, provavelmente terá a percepção de si marcada, condenada; mas, se esta
mesma criança for atingida profundamente pelas reflexões presentes nas letras de
determinados raps, se engajar em um trabalho proposto pela posse de sua região,
ou se identificar com as expressões das grafites dos muros vizinhos e passar a se
interessar por esta arte, poderá trabalhar com o complexo nascido há 500 anos e se
perpetua ao longo da história de exclusão, no país. De acordo com a duração da
experiência de engajamento com o Hip Hop e dependendo da profundidade da
conscientização, essa criança terá chance de se confrontar conscientemente com o
complexo e ganhar liberdade diante dele. (Carril, 2003 apud Scandiucci, 2005).
Portanto, o movimento Hip Hop atua como possibilidade de expressão da
população negra, como possibilidade de ajudar na constituição da identidade e no
crescimento da auto-estima do negro-descendente da periferia, como possibilidade
de dissolução de um complexo. A postura positiva e com propósito, na busca pelo
fortalecimento da identidade racial faz o diferencial do Hip Hop, em relação a outros
ritmos negros. Dessa forma, julgo que o rap e a atuação dos militantes do Hip Hop
carregam uma atuação poderosa, transformadora, falando a linguagem do jovem
excluído. Em longo prazo, os elementos do Hip Hop podem mexer com a estrutura
psíquica de nossa sociedade, através da violência simbólica, da confrontação em
relação àquilo que faz o negro-descendente colocar-se em posição de inferioridade.
16
Ao defender claramente um lugar para o negro na sociedade, o Hip Hop vem
chocar as classes média e alta predominantemente, brancas. Se não for uma
pessoa conhecida, o branco nem sempre é bem-vindo em ambientes da cultura Hip
Hop. Reconhecer a beleza e as qualidades do negro não é nada comum no Brasil,
tanto entre “brancos” quanto entre os próprios negro-descendentes. O Hip Hop é
uma alternativa interessante para quebrar esse pensamento arraigado em nossas
cabeças. É uma linguagem que atinge os jovens e vai ao encontro daqueles que
vivenciando a cultura Hip Hop, podem levar novas formas de encarar a sociedade
excludente aos seus colegas, familiares e, principalmente, aos seus filhos.
Assim, o Hip Hop parece recriar a africanidade, “refazendo” os jovens que
nele se engajam. Não é sempre regra, mas pertencer a um grupo pode fortalecer a
auto-estima do indivíduo e o movimento busca interpretar a realidade social
colocando-se como contraponto à miséria, às drogas, ao crime e à violência. Seu
objetivo é encontrar saída e fornecer outra alternativa à população excluída.
Um dos papéis da escola é a construção cultural do sujeito através da
reflexão aprofundada de sua realidade, mas para isso é preciso ter a intervenção do
professor levando a problematização das questões, levando a modificação de
posturas adotadas. Trabalhar com a realidade do aluno, fazer transformação, formar
sujeitos críticos, pensando como cidadãos. O Hip Hop, assim como os demais
conhecimentos escolares são socialmente construídos, desafiando preconceitos e
discriminação racial dentro e fora das escolas. É necessário ver o Hip Hop como
possibilidade, proposta e inclusão de várias questões nos currículos e salas de aula,
mas há riscos, desafios e tensões a serem enfrentadas.
Conhecer a cultura Hip Hop e a afrodescendente e saber os direitos de
cidadania, dá ao jovem a possibilidade de criar, trocar e transmitir informações, em
uma convivência decente e digna. Saber o que é respeito, reflexão e educação faz
com que os alunos atuem como conquistadores de consciência, levando para outros
locais a experiência adquirida.
Com a expansão cultural do movimento e o teor político desenvolvido nas
músicas de rap sobre a identidade negra, muitos afrodescendentes reconquistaram
17
a auto-estima e passaram a partir de então a valorizar o cabelo crespo, a cor da
pele, e até mesmo seu modo de vestir. (Leão, 2006).
O homem tem que ser integrado ao seu contexto de vida, tem que ser levado
a refletir e agir sobre a situação encontrada, estabelecendo relações de
afrontamento e de desafios. Dando respostas a si mesmo, mudando a cada dia a
sua forma de vida através da reflexão crítica, invenção, eleição, decisão,
organização e ação.
Freire (1980) nos fala de como devemos agir conscientemente sobre a realidade
através da reflexão e ação sobre este mundo em que vivemos. A prática da
liberdade através da educação é um ato de conhecimento, levando os alunos a
problematizar as situações existenciais, tirando proveito das possibilidades reais e
únicas que existem, caminhando para a proclamação de uma nova realidade que
pode ser criada por eles mesmos. O melhor método a ser utilizado deve ser o
diálogo, pois o aluno se convencerá da necessidade de lutar, pois os alunos que se
sentem discriminados socialmente ouvem dizer que não servem para nada, que não
conseguem reter conhecimento, que são preguiçosos e improdutivos, que são
débeis, sendo assim acabam por convencer-se de sua própria incapacidade. A
educação deve procurar desenvolver neste aluno uma tomada de consciência,
estando comprometido e pronto a intervir na realidade para poder mudá-la,
possuindo uma atitude crítica, o qual ele escolhe e decide, e se liberta.
Não devemos ver, portanto o Hip Hop como o salvador e o grande transformador
do mundo, mas muito contribuirá para a prática da conscientização em nossos
alunos, levando-os a encarar situações de frente, enfrentando a discriminação e o
preconceito de cabeça erguida, tendo conhecimento do seu valor na sociedade.
O material pedagógico elaborado foi um Folhas, contendo informações sobre o
Hip Hop e Afrodescendente, com perguntas para os alunos refletirem, pesquisarem,
havendo ilustrações, sugestões de leitura e filmes para assistirem e levá-los a
debater a situação criada. Houve sugestões dos participantes do GTR, os quais
muito contribuíram para a elaboração deste trabalho. Por ter abordado dois temas e
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as atividades que contem o Hip Hop são extensa, o tempo estipulado para a
implementação do projeto foi pouco. Poderia ter sido melhor se houvesse interação
com os professores de Língua Portuguesa, Artes e História, mas era lotada no
município e tive que aplicar o projeto em outra escola, a qual nunca trabalhara e no
segundo semestre.
HIP HOP...
É dança?
... É cultura?
... Ou
movimento?
Ei!!!
Você tem facilidade em
dançar?
... Ou se segura porque tem
vergonha de se expressar?
Você sabe qual a diferença entre a dança como manifestação cultural e a
dança como cultura corporal?
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Que tal organizarem grupos de estudo, pesquisar e realizarmos um debate?
E aí, vamos aprender a dançar Hip Hop?
Será que podemos aprender a Cultura Afrodescendente através deste
movimento?
E você, mesmo praticando o Hip Hop, conhece a história desta arte popular?
A partir de agora vamos conhecer esta história e descobrirmos se podemos ou
não aprender sobre o afrodescendente através do movimento Hip Hop.
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Hum!!!
Que lugar é este?
Onde fica a
Jamaica?
Para entender melhor este movimento, que tal pesquisar sobre Martin Luther King e
compartilhar conosco o que descobriu.
E Afrika Bambaataa
você sabe
quem é?
Será que ele ainda faz
shows aqui no Brasil?
Que tal pesquisar?
“LUTAR COM CRIATIVIDADE E NÃO COM VIOLÊNCIA”!!!
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MC BREAK DJ GRAFITE
Se você quiser compreender
melhor este parágrafo assista
ao filme: Entre nessa dança.
Após assistir escreva, no mínimo,
dez linhas dizendo o que eles mais
gostavam de fazer e quais
problemas enfrentavam.
Você é convidado também a assistir ao filme: Ela dança, eu danço e veja o
romance entre um jovem de periferia que dançava Hip Hop com uma garota
de classe média que dançava balé. É muito interessante a abordagem que se
faz no filme entre esses diferentes tipos de dança e das diferenças de classe.
Atenção pessoal!
Será que a ideologia de Afrika
Bambaataa não lembra a
ideologia de Martin Luther King?
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A propósito, que tal realizar uma pesquisa sobre a história da África e me
responda:
Seria verdadeiro o fato que as tribos disputavam território dentro da própria África
e que o vencedor vendia seus compatriotas prisioneiros ao contrabando de
escravos?
Traga o resultado de sua pesquisa para debate e em seguida faremos à
análise se havia ou não consciência social, isto é, cidadania naquela época.
MV Bill apud Antunes (2009)
declara que:
“O preto tem que ser duas vezes
melhor, não basta ser bom”.
Há uma música com o título: A vida é
desafio, dos Racionais Mc`s, que
questiona esta fala do MV Bill, vamos
ouví-la para ver se concordamos com
eles!
MV Bill junto com Celso Athayde assumiram o lado marginal e suas
contradições ao escreveram os livros Falcão – Meninos do Tráfico; Falcão –
Mulheres e o tráfico e Cabeça de Porco. Ganharam três Best Seller, sendo este
último escrito com a participação do antropólogo Luiz Eduardo Soares. Bill participou
do documentário Falcão – Meninos do Tráfico como cineasta contribuindo para
mudar a história da Televisão no Brasil.
Na internet, no Google, você encontra resumos destes livros. Que tal
pesquisar um deles e contar o que leu para a turma? Se não quiser
contar pode escrever e entregar ao seu professor para ler.
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Vocês acham que o Grupo
Consciência Suburbana, Celso
Athayde e MV Bill são discípulos de
Afrika Bambaataa?
Você já ouviu falar da lei
10.639/2003 que foi
autorizada pelo presidente
Lula, o qual obriga a
inclusão nos conteúdos das
escolas, o estudo da
História e Cultura Afro-
brasileira?
Já ouviram falar na “ideologia do
branqueamento?”.
Vamos pesquisar e contar aos nossos colegas
o que descobrimos.
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Assim, como ter uma identidade
de negro-descendente se a
pessoa é estimulada a ser
branca, e ao mesmo tempo, vive
com os negros em termos de
posição social?
Porque a sociedade
brasileira valoriza a cultura
branca européia?
Isto não provocaria auto-
imagem negativa, baixa
auto-estima no
afrodescendente?
E o direito a cidadania,
onde se encontra nesta
situação?
Por favor, responda-me a
estas perguntas:
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E agora, será capaz de me responder:
Hip Hop é ...
Dança?!? ... Cultura?!? ... Ou Movimento?!? ...
O que aprendeu sobre o afrodescendente através do movimento Hip Hop?
HORA DO DESAFIO!!!
Vocês conheceram toda a história do Hip Hop, então chegou à hora de
mostrar o que aprenderam. Não se esqueçam de colocar em suas produções o
5º elemento: Consciência Social.
Você é convidado a participar e se organizar em um dos três grupos:
Deve haver um grupo para composição de Rap;
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... Outro para compor coreografia de Break;
... E outro para a produção de Grafite.
Vocês pedirão autorização e ajuda ao diretor, ao professor de Língua
Portuguesa, Arte e aos grupos praticantes de Hip Hop na comunidade para a
produção das atividades. Marcaremos um dia e faremos à apresentação. Pode
convidar os grupos que lhes ajudaram para também fazer uma apresentação.
O que acham!!! Legal, não é mesmo? Confio em vocês.
3 Conclusão
Este trabalho teve por objetivo: fazer com que o aluno afrodescendente fosse
conduzido a momentos de reflexão e ação a respeito dos males associados à
desigualdade social através de uma postura crítica, que houvesse a ressocialização
e a integração dos mesmos com as causas sociais que os afligem e que
conquistasse a sua auto-estima.
O projeto foi aplicado em duas 5ªs séries, em um colégio de periferia cadastrado
no SERE. Devido à idade dos alunos e sua imaturidade apresento como sugestão a
continuidade do processo ensino aprendizado deste conteúdo com uma seqüência
gradativa do conteúdo em séries posteriores, para que os objetivos sejam totalmente
alcançados e estes sejam levados: a reflexão e conscientização, a fim de que lutem
para superar seus conflitos raciais. Fica registrado neste trabalho, que professores
das séries subseqüentes busquem um aprofundamento do conteúdo proposto para
este trabalho. Houve aulas expositivas, filmes e pesquisa sobre o contexto histórico
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do Hip Hop, abrangendo a cultura afrodescendente e os alunos foram desafiados a
buscarem ajuda e criaram as suas próprias coreografias que foram apresentadas as
demais séries no dia da Consciência Negra. Consegui levá-los a mudar de atitudes e
respeitar os seus colegas na elaboração dos passos da dança. Quanto ao Grafite e
a composição dos Haps não houve condições para isso, devido ao pouco tempo de
explanação do trabalho.
O ideal seria aplicar este projeto em um contexto multidisciplinar, em todas as
séries do Ensino Fundamental e Médio, onde professores de Educação Física,
Artes, história e Língua Portuguesa, junto com a Gestão e Equipe Pedagógica se
unissem e ao mesmo tempo desenvolvessem o mesmo tema. Sendo assim, a escola
toda se envolvendo, promovendo debates, concurso de Rap e dança de Break, um
aluno contaminaria o outro com a idéia de que temos o direito de lutar pela nossa
conquista de aceitação, através de uma postura crítica, a fim de que houvesse a
ressocialização, a integração do negro com as causas sociais que os afligem e que
conquistasse a sua auto-estima, na atual sociedade em que vivemos.
Aplicar o Projeto de Intervenção no 2º semestre não foi o ideal, pois é necessário
um planejamento para tal atividade. Seria necessário que fosse discutido o apoio
dos demais professores e estes terem conhecimento do conteúdo, pois o trabalho
abrange a Cultura Afrodescendente e o Movimento Hip Hop. Deveria existir um livro
didático no Ensino Fundamental, contendo este conteúdo, de tal forma que o aluno
pudesse acompanhar toda seqüência do trabalho e não ficasse repetitivo
anualmente por cada professor que assumisse a turma. O conteúdo é extenso, mas
riquíssimo e não havendo muita literatura sobre o assunto o professor tem
dificuldade em abordar o assunto, visto não ter, o mesmo, tempo que nós,
professores PDE tivemos para pesquisa.
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