29
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

Page 2: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

1 Pós graduação em Psicopedagogia; Graduação em Educação Física: atuando atualmente

no Colégio Estadual Rui Barbosa – Pr.

² Mestrado em Educação – Formação de Professores pela UEPG. Professora efetiva na

UENP – CCS – Campus Jacarezinho.

CULTURA POPULAR:

Conhecendo a Cultura Afrodescendente por intermédio do Movimento Hip Hop

Autora: Ilma Campos Bacon¹

Orientadora: Heres Faria Ferreira Becker Paiva²

RESUMO

O presente artigo teve como objetivo levar os alunos a refletirem a respeito dos males associados à desigualdade social e ao racismo, desenvolvendo a capacidade de leitura de mundo e postura crítica em relação às experiências cotidianas. Sendo assim, foi usado o movimento Hip Hop como estratégia para trabalhar a integração social e a ressocialização de jovens negros nas aulas de Educação Física escolar. O trabalho foi embasado na abordagem qualitativa, observando o processo materialismo histórico da cultura afrodescendente e movimento Hip Hop, através de observação sistemática, registros e análises das interações entre os alunos, com pesquisa etnográfica. O conteúdo é riquíssimo, os resultados apontam que os alunos pouco conhecem sobre a cultura afrodescendente e Hip Hop. Sendo aplicado o projeto a alunos de 5ª série do Ensino fundamental, os objetivos não foram totalmente obtidos devido à imaturidade dos mesmos e ao pouco tempo para a explanação do trabalho, visto que é abordado dois temas: o Afrodescendente e o Hip Hop. Nesta faixa etária é um desafio levá-los a reflexão e conscientização para lutarem pela superação de conflitos raciais. O projeto foi realizado no Colégio Estadual José Pavan, Vila São Pedro, em Jacarezinho-Pr, sendo um colégio de periferia cadastrado no SERE.

Palavras-chave: Cultura Afrodescendente; Hip Hop; Cidadania.

1 INTRODUÇÃO

O Hip Hop é um movimento político social de ampla envergadura e reflexo

na juventude, centrado em uma atitude de crítica social, o qual institui uma nova

forma de representação e relacionamento da população negra no Brasil. Por meio

Page 3: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

4

desse movimento, o negro passou a conquistar sua auto-estima e cidadania através

do talento e arte de rua que o afro-brasileiro expressa.

Percebi que a maioria dos adeptos do movimento pertencente a este bairro

não tinham conhecimento da história desta cultura e havia preconceito na

comunidade para com aqueles que faziam parte do mesmo. Sendo assim resolvi

pesquisar as possibilidades de aprendizagem e conscientização a respeito da

afrodescendência brasileira por meio da Cultura Hip Hop e dar condições por meio

do esforço focalizado, a busca de superação dos conflitos raciais. Foi possível

valorizar a habilidade ao executar os movimentos, desenvolvendo a sensibilidade, o

companheirismo, a criatividade, o equilíbrio emocional e a valorização da vida no

decorrer da mesma.

É por meio do canto, da dança e do grafite que os participantes do Hip Hop

demonstram suas posições políticas e ideológicas. Para eles, o fazer

político não está reservado somente aos que se especializam nessa área.

Com suas rimas no rap, seus passos no break e imagens transmitidas em

seus desenhos reproduzidos nos grafites, estão assumindo uma posição

política e fazendo aliança com outras formas de expressão que são, a um

só tempo políticas, sociais e culturais. (FELIX, 2007).

Temos que refletir a respeito do papel da educação no processo da cultura

de rua, bem como a importância de levá-la às escolas de Educação Básica,

utilizando para isso os mecanismos que a própria dinâmica da sociedade nos coloca

em mãos. Talvez seja o momento oportuno para revermos bases que sustentam

preconceitos, discriminações e desigualdades utilizando o movimento Hip Hop como

um espaço discursivo que deve adentrar as escolas públicas podendo ser

provocador de aprendizagens significativas, visto que há obrigatoriedade do ensino

da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-

Brasileira e Africana).

O movimento é cultural e envolve questões multidisciplinares, podendo ser

causador de aprendizagens significativas, facilitando o aprendizado e envolvimento

dos alunos e comunidade escolar como um todo, por identificação dos modos de

Page 4: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

5

expressão. É possível ensinar grafite em Artes; dança de rua em Educação Física;

produção textual, poesia e literatura africana na Língua Portuguesa; fazer paralelos

com a história do Hip Hop com a história africana, com a Filosofia e Sociologia,

podendo ser discutida e problematizada dentro do contexto de vida dos praticantes

de Hip Hop. Existe também a possibilidade de apresentar aos alunos uma produção

político-cultural para se debater questões fundamentais da sociedade brasileira,

como: racismo, violência policial e urbana, desigualdade, favelização, etc.

O Hip Hop surge como possibilidade dos alunos manifestarem sua opinião,

sonhos, desejos, indignação e solicitações de uma maneira saudável e artística,

fazendo uma revolução cultural, sem recorrer à violência, drogas e crimes. O

movimento vem para dar um grito de alerta a respeito das comunidades excluídas

pela sociedade e também promove uma profunda interferência na consciência da

juventude, à medida que estimula a solidariedade, a autoconfiança e a disseminação

da consciência racial e social. Assim, valorizar a cultura Hip Hop é estar valorizando

a cultura Afrodescendente.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 A Cultura Afrodescendente e o Movimento Hip Hop

2.1.1 O Movimento Hip Hop

Hip Hop, na tradução literal significa saltar movimentando os quadris, mas na

prática é mais que isso. É uma Cultura nascida na década de 1960, na Jamaica e

levado para os guetos de Bronx, de maioria negra, em Nova York em meados dos

anos 70, por Kool Herc. Foi ele quem introduziu o Toast, um modo de cantar

usando palavras banais, sexuais, ou politizadas, sendo bem fraseadas, ou cantadas

em cima de reggae instrumental, que daria origem ao Rap.

Page 5: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

6

As periferias de Nova York enfrentavam diversos problemas de ordem social

como: pobreza, racismo, tráfico de drogas, carência de infra-estrutura, de educação,

entre outros. Os negros e latinos usavam o Hip Hop como forma de protesto a

violência existente. Lutavam pelos seus direitos civis, e estavam fundamentados nas

ideologias de Martin Luther King, o qual fora defensor dos negros e mulheres nos

Estados Unidos e no mundo, mas morrera assassinado. Após sua morte, as

manifestações continuaram em contexto de grupos e se tornaram agressivas. As

pichações e as letras de rap conclamavam os afro-americanos a saírem em luta

armada contra os racistas. O preconceito e o desemprego aumentaram, as gangues

de rua foram aparecendo, aumentando a violência policial e urbana.

Afrika Bambaataa, nascido em 1957, criado no Bronx, participou das gangues

mais perigosas dos subúrbios de Nova York e foi líder de uma delas, a “Black

Spades”. Embora já tivesse trabalhado como DJ em festas desde 1979, adquiriu

mais interesse pela cultura Hip Hop depois de ter visto Kool Herc nos toca-discos em

1973. Bambaataa perdera o melhor amigo em uma guerra de gangues e percebendo

a grande catástrofe que essa atitude poderia causar, pensou em transformar a

violência insensata das gangues em energia positiva dando inicio a um trabalho de

conscientização entre os jovens da periferia.

Por ter participado de gangues anteriormente, Bambaataa teve um público fiel,

que consistiu em membros de gangues anteriores. Então, desafiou a cada grupo

para que unissem seus talentos e realizassem uma grande festa em nome do povo

negro, das origens africanas. O objetivo era unir os negros do bairro para atividades

artísticas usando o talento do break junto com o rap, iria juntar o talento dos

pichadores com a arte do grafite e haveria alguém para animar os participantes, o

qual era a figura do MC (mestre de cerimônia). Com esta proposta apresentou um

projeto para criar uma organização em que os quatro elementos do Hip Hop

estariam juntos para resgatar a auto-estima do negro, para denunciar o racismo e

manifestar talentos no mundo todo.

Em VENTURA (2009), podemos analisar que Bambaataa foi o idealizador da

junção dos quatro elementos: DJ (som), MC (Rap), Break(dança) e Grafite (arte),

mas já se praticava o 5º elemento do Hip Hop, que aqui no Brasil chamamos de

Consciência Social. A mensagem que Bambaataa usou para espalhar a sua idéia

Page 6: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

7

ainda é: “lutar com criatividade e não com violência!”. Foram criadas leis não

escritas que todos obedeciam. Não se podia copiar o próximo em seus passos de

dança e cada grupo criaria o seu próprio estilo.

Outra lei respeitada era: paz, unidade, amor e divertimento, substituindo as

brigas entre as gangues pelos rachas entre grupos de Break. Muitas gangues

começaram a desaparecer, pois foram encontrando naquelas novas formas de arte,

uma maneira de direcionar a violência em que viviam, e passaram a freqüentar as

festas e a dançar Break. A vontade de competir com passos de dança e não mais

com armas foi contagiando e forçando todos a melhorar e ser o mais criativo

possível. Os grupos queriam fugir do anonimato, só se preocupavam em treinar e

mostrar suas coreografias, serem ouvidos e espalhar o nome deles por toda parte.

Se alguém quisesse melhorar suas habilidades teria que deixar de fazer coisas ruins

(drogas, crimes, etc..) por todo tempo e colocar a sua energia a disposição da

cultura Hip Hop, inspirando outras pessoas.

O Movimento Hip Hop é a maior expressão negra e urbana das últimas

décadas e surgiu como forma de discussão e protesto aos conflitos sociais

existentes nas classes menos favorecidas da sociedade; embora a mídia,

especialmente a brasileira, venha afirmar que este movimento está associado à

violência e ao tráfego de drogas. Só será possível compreender o Hip Hop se fizer

em seu contexto social, neste caso marginal, cheio de problemas sociais,

educacionais e de exclusão social, tendo muito a ver com o sentimento e não com a

moda vinda dos Estados Unidos. Os adeptos do movimento promovem uma guerra

pacífica e por meio da arte representam uma paz politizada, com estilo de orgulho

reconquistado, tendo como meta serem ouvidos, assim como lutava Afrika

Bambaataa, a fim de encontrarem o respeito que merecem.

A consciência social, no Brasil, é realizada através do trabalho de

conscientização e luta, pelos direitos civis, através de oficinas e grupos de posses

inserido em um conjunto de dança, música, poesia e artes plásticas. Eles se reúnem

com pessoas simpatizantes do movimento Hip Hop pertencentes à comunidade, ou

que residem em proximidade geográfica, com o objetivo de aperfeiçoamento artístico

e desenvolvimento das ações políticas e comunitárias. Os integrantes usam o

Page 7: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

8

movimento utilizando a letra das músicas para contar histórias reais, refletindo

angústia e protesto. Através de suas rimas não só descreve, mas também lança

mensagens de alerta e orientação, mostrando várias formas de reivindicação e

injustiças com as classes sociais mais desfavorecidas, despertando na comunidade

o poder de transformação através da conscientização.

Para aqueles que vivem intensamente a cultura Hip Hop, cantar um Rap

significa o encontro com a própria identidade, marcada por uma luta contra a miséria

e preconceito enraizado na sociedade capitalista.

O DJ, Jéfferson dos Santos, um dos articuladores do grupo Consciência Suburbana, transita livremente em ambientes freqüentados pelas classes média e alta, mas denuncia. Existe muito preconceito em relação a nossa cor da pele, pela origem humilde e pela roupa que vestimos, por mais que o modismo do Hip Hop tenha se propagado em outros meios. (Resch, 2005).

Santos; Damico e Freitas (2006) alegam que as experiências provocadas

por esta invisibilidade fazem com que os jovens negros tenham uma relação com o

espaço público da rua distinta da que têm os jovens não negros. Não há como

apagar essa realidade da mente desses jovens, que se sentem estrangeiros dentro

de seu próprio país. Sua circulação nos bairros não periféricos, onde são minorias, é

vigiada, e muitas vezes a ação policial os submete a humilhações.

Para o grupo Consciência Suburbana, em Rech (2005), Hip Hop não é só

gostar do som e dançar, é necessário possuir conscientização e compreender o que

representa o movimento, refletindo sobre o significado das letras. Eles se

consideram guerreiros urbanos, pois possuem vontade de viver e passam esta

filosofia através do movimento.

Temos capacidade de se indignar e se mobilizar para tentar modificar a vida que estávamos tendo. É a briga para nos transformarmos em uma exceção dentro de uma regra que nunca nos favoreceu. O hip hop foi feito por renegados e marginalizados e caiu como uma luva para a luta contra a marginalização e exclusão dos pretos. (Antunes, 2009).

Page 8: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

9

Muitos grupos de Hip Hop, assim como este agora citado, além de cantar são

envolvidos com trabalhos sociais, utilizando a força do Hip Hop como transformador

social. A visão deles é revolucionária, pois oferecem seu trabalho voluntário em

escolas, em bairros, e demais locais, onde possam atrair jovens. Fazem trabalhos

nas escolas utilizando as letras das músicas, em conjunto com professores da

Língua Portuguesa, para estudarem análise sintática e interpretação dos textos.

Também desenvolvem trabalhos com artes plásticas promovendo oficinas e

trabalhos em grafite, onde levam alegria com o movimento Hip Hop nas periferias,

cantando suas músicas expondo a forma crua da realidade nas favelas e guetos

trazendo a tona os fatos que a sociedade desconhece e levam o público a refletir.

Faz o som no meio da rua, interagindo com a comunidade, deixando artistas locais

participarem e levando brindes de marcas de roupa. Também realizam oficinas

ensinando habilidades de Hip Hop, grafite, break e danças para criança, juntamente

com importantes aulas educativas, tais como: aulas de computador de formação e

artes de grafite e luta contra a crise da indústria musical. Essas atividades são

bancadas do bolso de cada grupo. Eles possuem como lema revelar a injustiça

social e busca conscientizar as pessoas que vivem marginalizadas e excluídas da

sociedade por problemas sociais, políticos e educacionais. O objetivo é dar a eles

condições de lutar e sair vencedores em seus sonhos, alegando haver outro

caminho para o jovem sair da marginalidade.

Realizam um trabalho de ação e reflexão, assim como escreveu Paulo Freire

em seu livro Conscientização (1980), principalmente nos bairros periféricos,

passando valores de cidadania e alertando-os para a necessidade de lutarem por

um ideal, não se sentindo como estorvo para a sociedade. Elevando a sua auto-

estima através da luta por uma mudança de vida, sabendo o que querem e

conhecendo aquilo que querem denunciar. Ser consciente é ser crítico. Não

podemos pensar no lugar dos outros ou sem os outros. Temos que saber que somos

capazes e que podemos mudar a situação em que nos encontramos, descobrindo-

se como criador de cultura e fazedor da história. (FREIRE, 1980).

Page 9: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

10

2.1.2 O AFRODESCENDENTE, HIP HOP E A ESCOLA

O Brasil possui a maior população negra fora da África e a cultura africana

está muito presente e atuante em nosso convívio diário, atuando no processo de

desenvolvimento da identidade e cidadania do Brasil. A sociedade brasileira valoriza

a cultura branca européia, contribuindo assim para que o afrodescendente

desenvolva auto-imagem negativa, acompanhada de baixa auto-estima, gerando

assim condições desumanas de existência, provocando exclusões provocadas por

vários mecanismos sociais.

É importante que os afrodescendentes recebam ajuda necessária para que

possam exercer o seu direito de cidadania através da valorização de sua identidade.

É necessário que desenvolvam atitudes de enfrentamentos em situações em que se

vê negativamente discriminado, onde valores possam ser revisados e transformados

positivamente, favorecendo o processo de socialização e adquirindo

relacionamentos saudáveis.

King (1996) alega haver imprecisões, distorções e omissões da história dos

negros nos livros didáticos e na história do Brasil como um todo. Os estudantes

fixaram somente sobre a cultura dominante e os negros e demais etnias existentes

no Brasil precisam conhecer a sua cultura, a fim de que possam compreender a

história dentro do seu contexto de vida.

O homem de origem africana antes mesmo de descobrir o Brasil, já era

desvalorizado pelo europeu e já se transportavam escravos para a Arábia e

mercados do mar Mediterrâneo oriental. Os africanos foram perseguidos por causa

de sua prática religiosa e viraram vítimas de expedições que vinham para explorá-

los e levá-los cativos. Os negros eram chamados de a “madeira de ébano”, os quais

seriam extraídos de sua terra de origem e transportados em porões de navios

negreiros, em condições subumanas.

(www.suapesquisa.com/afric/educaterra.terra.com.br/Voltaire/mundo/áfrica.htm.13k..

Os próprios negros faziam guerras entre suas tribos e os tiranos aprisionavam

os derrotados em barracões a beira-mar e ficava a espera de navios para trocá-los

por armas, pólvora e cavalos. Devido à procura de mão-de-obra escrava, eles se

associavam aos europeus e afirmavam a sua autoridade através da força

Page 10: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

11

aprisionando seus inimigos, os quais eram levados como carga humana. Devido às

condições dos navios, muitos negros morriam e eram atirados ao mar. Eram

comprados por sultões árabes e mais tarde por fazendeiros e senhores de engenho

que os tratavam de forma cruel. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros,

úmidos e com pouca higiene), acorrentados, para evitar fugas e o açoite era a

punição mais comum. Os europeus vendiam os negros como se fossem moedas e

eram trocados pelos produtos, como: tecidos, pólvora, ferro, armas e rum vindos das

colônias. Os negros eram o valor de troca, o dinheiro; e o valor de uso era à força do

seu trabalho.

Eram proibidos de praticar a sua religião de origem africana e realizar suas

festas e rituais, mas mesmo com todas essas restrições e imposições eles não

deixavam a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais e festas

e mantiveram vivas as suas manifestações artísticas, tipo de alimentação e até

desenvolveram, no Brasil, a luta da Capoeira. As mulheres negras eram utilizadas

para os trabalhos domésticos, como arrumadeiras, cozinheiras, amas de leite, etc.

Após a abolição dos escravos, mesmo sendo pessoas livres ficaram escravos de um

regime capitalista. Os afrodescendentes ficaram presos pela cultura dominante,

alienados socialmente, pois negavam a história africana, a sua língua, sua cultura e

sua arte. A história valorizada ainda continuava sendo a do homem branco e

reproduzindo nos negros a baixa auto-estima, pois os consideravam como seres

incapazes. Os negros achavam que a única salvação estaria em tornar-se “brancos”

ou “pretos de alma branca”. Eram renegados e excluídos para fora da escola sendo

enfatizado o sentimento de inferioridade, de incapacidade em face de seu fracasso.

Ainda hoje é necessário “libertar as mentes”, levando o afrodescendente a exercitar

uma postura crítica diante da realidade.

Mesmo livres, ainda são escravos, a sua maioria continua alienados,

encontram-se em situações de marginalidade e dependentes de uma sociedade

capitalista, que não tem interesse que a classe trabalhadora tenha consciência

política. O treinamento técnico da mão-de-obra qualificada abafa a consciência

política dos trabalhadores. Os empreendedores estão comprando a força do trabalho

e vão sendo capacitados para ser cada vez mais eficiente neste processo. Quanto

Page 11: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

12

mais ciência e quanto mais sofisticada for à máquina, tão menos o trabalhador terá

controle e compreensão e não entenderá o processo.

O processo de libertação será através da reconquista de sua palavra, obtendo

o direito de dizê-la, de “pronunciar” e de “nomear” o mundo. Tendo consciência

política, possuindo voz ativa para participar na transformação e recriação de sua

sociedade. Não é uma revolução com armas, mas uma revolução cultural.

Freire (1978) nos fala do Círculo da Cultura onde educando e educadores

juntos, discutem os seus ideais, problematizando as questões do dia-a-dia,

exercitando a reflexão crítica sobre a maneira espontânea como os seres humanos

“se movem” no mundo. Sendo assim, o afrodescendente tem que aprender a ocupar

o seu espaço, conhecer os seus direitos, construindo a sua história através do

conhecimento, havendo conscientização das questões culturais relacionadas à sua

descendência, se ajudando mutuamente e escrevendo uma nova história.

O Brasil tem grande diversidade étnica e cultural. Os brasileiros têm

condições de criações artísticas e científicas de fazer inveja, destacando-se a

música popular e suas danças, mas não nos achamos geniais, não nos valorizamos.

Achamos que “somos desleixados, cachaceiros, escuros demais para sermos

refinados”. Este é um exemplo do chamado complexo, que nos leva a um

sentimento de inferioridade.

Ferreira (2000) em seus relatos alega ser uma ironia nacional o fato dos

afrodescendentes serem discriminados como “minoria” , quando na verdade,

constitui um grupo, cujo número atinge quase, ou mais da metade da população

brasileira. O desenvolvimento da identidade do brasileiro está absolutamente

condicionado à participação dos africanos na vida brasileira e sua sabedoria está

presente nas manifestações culturais, nos gestos e nas relações.

Apesar de a cultura negra ser a energia que dá ritmo à vida nacional, considerando ainda a dívida imensa do Brasil para com a África, não se observa uma equivalência desses pesos na vida e na política. Não é um exagero considerar um escândalo a ignorância em relação à África. Dessa forma, a terra-brasilis é um filho demasiadamente ingrato. A grande maioria dos brasileiros considera o continente africano como um bloco homogêneo: tudo igual e todos negros. (SANTOS, 2001, p. 247).

Page 12: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

13

O Afrodescendente precisa conhecer a sua história, a sua origem, saber de

sua contribuição na formação deste Brasil em que vivemos. A pessoa negra traz do

passado a negação da tradição africana, a condição de escravo e a cicatriz de ser

objeto de uso como instrumento de trabalho. No presente enfrenta a constante

discriminação racial, de forma aberta ou mesmo encoberta.

Scandiucci (2005) afirma que no Brasil, o racismo é encoberto, em relação a

países como os Estados Unidos ou a África do Sul onde o racismo é aberto, visível a

todos. Os brasileiros definem as categorias “raciais” baseados na aparência, e não

na ascendência, como fazem os norte-americanos. O mito da democracia racial

encobre o preconceito e se torna muito mais difícil o combate efetivo da injustiça

para com os indivíduos e grupos étno-raciais diversos do branco-europeu. Assim, a

discriminação opera no nível dos indivíduos de maneira inconsciente e nem sempre

identificável como tal. A cor da pele e as características genéticas acabam

operando como referências que associam de forma inseparável a raça e a condição

social, levando o afrodescendente a incorporar um julgamento de inferioridade não

somente em relação ao aspecto racial, mas também em relação às condições sócio-

econômicas.

A elite brasileira auto-identifica-se como branca, assim, assumem as

características de branco-europeu. Em contrapartida ser negro é visto como tipo

étnico e culturalmente inferior. Estabeleceu-se uma escala de valores em que à

pessoa que se aproxima do tipo branco tende a ser mais valorizada e as que se

aproximam do tipo negro tende a ser desvalorizada e socialmente repelida.

No Brasil foi criada a ”ideologia do branqueamento”, pois o negro encontra

necessidade de “limpar o sangue”, por meio de sucessivos casamentos entre negros

e brancos. A miscigenação tem servido de argumento para se afirmar o quanto o

brasileiro “aceita” a convivência de raças, alegando não haver preconceito no Brasil.

Isso não é verdade, pois as oportunidades de trabalho e ascensão social não são

iguais para negros e brancos.

Santos (2001), ativista do movimento negro há 30 anos, afirma que a

exclusão do negro acabou provocando a existência de dois Brasis: o Brasil moderno,

rico, inclusivo, em que o negro não participa; e o Brasil pobre em que temos um

déficit habitacional, com falta de milhões de moradias. Para ele, a inclusão do negro

Page 13: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

14

é que vai permitir o desenvolvimento com sustentação social e que provocará o

desenvolvimento integral no Brasil. Segundo ele, concordando com Freire (1978),

para diminuir essas desigualdades raciais é necessário haver duas coisas: educação

e trabalho, pois, além de capacitar as pessoas também são importantes que exista a

diversidade no mercado de trabalho. Aliás, antes de discutir emprego, ele acha

interessante discutir empregabilidade, o qual é para quem tem que ser capacitado, é

para os analfabetos funcionais.

Assim, os negro-mestiços estão bem mais próximos, em geral, do negro, em

termos de posição financeira, educacional e social, mas os negros no Brasil

acreditam no mito da democracia racial, pois os brancos são bem vindos em

ambientes onde há predominância de negros. Criando para o negro-descendente

conflito enorme de identidade, seguido de rebaixamento da auto-estima.

De acordo com Santos (2001) “Inúmeros brasileiros negros estão distantes de

construir sua identidade racial, pois ainda se encontram em uma fase de absoluta

submissão. Esses brasileiros, inconscientemente, trabalham com a idéia de que ser

branco é algo positivo, e, ser negro, não. Essa crença consolida-se ao longo do

tempo, desde a escola infantil. Para justificar a colocação do mundo branco em uma

posição superior, esses brasileiros afastam-se de suas raízes negras tentando

escapar de um desconforto maior, em virtude de estarem diante de um conflito.

Nessa fase de absoluta submissão, inventam um escudo branco para defender-se

do mundo negro que eles rejeitam” gerando assim o conflito.

Holanda apud Scandiucci (2005) nos afirma termos que trabalhar de alguma

forma com esse sentimento, senão, iremos nos julgar sempre subdesenvolvidos,

subaculturados e subalternos as grandes culturas brancas de origem européias.

Esse complexo também revela, por outro lado, a posição de arrogância geralmente

adotada pelas elites brancas, que vêem os negro-descendentes como serviçais e

sentem-se “verdadeiros” cidadãos.

O movimento Hip Hop veio para o Brasil e nos ajudou muito a trabalhar com a

identidade do afrodescendente e pode ser caracterizado como uma prática social

promovida pelos jovens pobres, principalmente pelos negros. O rap é a expressão

que mais difunde este movimento, inclusive na mídia. Traz à tona o preconceito

Page 14: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

15

racial e social, a pobreza, a violência, etc., presentes no cotidiano dessas

comunidades.

O Hip Hop é uma manifestação essencialmente da periferia excluída, traz o

que é inconsciente para a consciência, que pode, então, se reestruturar

continuamente, a fim de assimilar aspectos até então relegados, e levá-los às ações

e interações mais discriminadas. Faz isso ao trazer a tona, sem meias-palavras, o

problema da desigualdade racial, comumente camuflado pela nossa sociedade (seja

consciente ou inconscientemente).

O movimento, por vezes, faz uma tentativa de resgatar as culturas africanas

e afro-brasileiras – seja através do trabalho das posses em suas comunidades, seja

mediante os ritmos e as letras presentes nos diversos raps. Uma criança ou um

adolescente negro-descendente que saiba um pouco da história de seus

antepassados, de como eram na África e de como e para que eles foram trazidos ao

Brasil, provavelmente terá a percepção de si marcada, condenada; mas, se esta

mesma criança for atingida profundamente pelas reflexões presentes nas letras de

determinados raps, se engajar em um trabalho proposto pela posse de sua região,

ou se identificar com as expressões das grafites dos muros vizinhos e passar a se

interessar por esta arte, poderá trabalhar com o complexo nascido há 500 anos e se

perpetua ao longo da história de exclusão, no país. De acordo com a duração da

experiência de engajamento com o Hip Hop e dependendo da profundidade da

conscientização, essa criança terá chance de se confrontar conscientemente com o

complexo e ganhar liberdade diante dele. (Carril, 2003 apud Scandiucci, 2005).

Portanto, o movimento Hip Hop atua como possibilidade de expressão da

população negra, como possibilidade de ajudar na constituição da identidade e no

crescimento da auto-estima do negro-descendente da periferia, como possibilidade

de dissolução de um complexo. A postura positiva e com propósito, na busca pelo

fortalecimento da identidade racial faz o diferencial do Hip Hop, em relação a outros

ritmos negros. Dessa forma, julgo que o rap e a atuação dos militantes do Hip Hop

carregam uma atuação poderosa, transformadora, falando a linguagem do jovem

excluído. Em longo prazo, os elementos do Hip Hop podem mexer com a estrutura

psíquica de nossa sociedade, através da violência simbólica, da confrontação em

relação àquilo que faz o negro-descendente colocar-se em posição de inferioridade.

Page 15: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

16

Ao defender claramente um lugar para o negro na sociedade, o Hip Hop vem

chocar as classes média e alta predominantemente, brancas. Se não for uma

pessoa conhecida, o branco nem sempre é bem-vindo em ambientes da cultura Hip

Hop. Reconhecer a beleza e as qualidades do negro não é nada comum no Brasil,

tanto entre “brancos” quanto entre os próprios negro-descendentes. O Hip Hop é

uma alternativa interessante para quebrar esse pensamento arraigado em nossas

cabeças. É uma linguagem que atinge os jovens e vai ao encontro daqueles que

vivenciando a cultura Hip Hop, podem levar novas formas de encarar a sociedade

excludente aos seus colegas, familiares e, principalmente, aos seus filhos.

Assim, o Hip Hop parece recriar a africanidade, “refazendo” os jovens que

nele se engajam. Não é sempre regra, mas pertencer a um grupo pode fortalecer a

auto-estima do indivíduo e o movimento busca interpretar a realidade social

colocando-se como contraponto à miséria, às drogas, ao crime e à violência. Seu

objetivo é encontrar saída e fornecer outra alternativa à população excluída.

Um dos papéis da escola é a construção cultural do sujeito através da

reflexão aprofundada de sua realidade, mas para isso é preciso ter a intervenção do

professor levando a problematização das questões, levando a modificação de

posturas adotadas. Trabalhar com a realidade do aluno, fazer transformação, formar

sujeitos críticos, pensando como cidadãos. O Hip Hop, assim como os demais

conhecimentos escolares são socialmente construídos, desafiando preconceitos e

discriminação racial dentro e fora das escolas. É necessário ver o Hip Hop como

possibilidade, proposta e inclusão de várias questões nos currículos e salas de aula,

mas há riscos, desafios e tensões a serem enfrentadas.

Conhecer a cultura Hip Hop e a afrodescendente e saber os direitos de

cidadania, dá ao jovem a possibilidade de criar, trocar e transmitir informações, em

uma convivência decente e digna. Saber o que é respeito, reflexão e educação faz

com que os alunos atuem como conquistadores de consciência, levando para outros

locais a experiência adquirida.

Com a expansão cultural do movimento e o teor político desenvolvido nas

músicas de rap sobre a identidade negra, muitos afrodescendentes reconquistaram

Page 16: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

17

a auto-estima e passaram a partir de então a valorizar o cabelo crespo, a cor da

pele, e até mesmo seu modo de vestir. (Leão, 2006).

O homem tem que ser integrado ao seu contexto de vida, tem que ser levado

a refletir e agir sobre a situação encontrada, estabelecendo relações de

afrontamento e de desafios. Dando respostas a si mesmo, mudando a cada dia a

sua forma de vida através da reflexão crítica, invenção, eleição, decisão,

organização e ação.

Freire (1980) nos fala de como devemos agir conscientemente sobre a realidade

através da reflexão e ação sobre este mundo em que vivemos. A prática da

liberdade através da educação é um ato de conhecimento, levando os alunos a

problematizar as situações existenciais, tirando proveito das possibilidades reais e

únicas que existem, caminhando para a proclamação de uma nova realidade que

pode ser criada por eles mesmos. O melhor método a ser utilizado deve ser o

diálogo, pois o aluno se convencerá da necessidade de lutar, pois os alunos que se

sentem discriminados socialmente ouvem dizer que não servem para nada, que não

conseguem reter conhecimento, que são preguiçosos e improdutivos, que são

débeis, sendo assim acabam por convencer-se de sua própria incapacidade. A

educação deve procurar desenvolver neste aluno uma tomada de consciência,

estando comprometido e pronto a intervir na realidade para poder mudá-la,

possuindo uma atitude crítica, o qual ele escolhe e decide, e se liberta.

Não devemos ver, portanto o Hip Hop como o salvador e o grande transformador

do mundo, mas muito contribuirá para a prática da conscientização em nossos

alunos, levando-os a encarar situações de frente, enfrentando a discriminação e o

preconceito de cabeça erguida, tendo conhecimento do seu valor na sociedade.

O material pedagógico elaborado foi um Folhas, contendo informações sobre o

Hip Hop e Afrodescendente, com perguntas para os alunos refletirem, pesquisarem,

havendo ilustrações, sugestões de leitura e filmes para assistirem e levá-los a

debater a situação criada. Houve sugestões dos participantes do GTR, os quais

muito contribuíram para a elaboração deste trabalho. Por ter abordado dois temas e

Page 17: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

18

as atividades que contem o Hip Hop são extensa, o tempo estipulado para a

implementação do projeto foi pouco. Poderia ter sido melhor se houvesse interação

com os professores de Língua Portuguesa, Artes e História, mas era lotada no

município e tive que aplicar o projeto em outra escola, a qual nunca trabalhara e no

segundo semestre.

HIP HOP...

É dança?

... É cultura?

... Ou

movimento?

Ei!!!

Você tem facilidade em

dançar?

... Ou se segura porque tem

vergonha de se expressar?

Você sabe qual a diferença entre a dança como manifestação cultural e a

dança como cultura corporal?

Page 18: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

19

Que tal organizarem grupos de estudo, pesquisar e realizarmos um debate?

E aí, vamos aprender a dançar Hip Hop?

Será que podemos aprender a Cultura Afrodescendente através deste

movimento?

E você, mesmo praticando o Hip Hop, conhece a história desta arte popular?

A partir de agora vamos conhecer esta história e descobrirmos se podemos ou

não aprender sobre o afrodescendente através do movimento Hip Hop.

Page 19: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

20

Hum!!!

Que lugar é este?

Onde fica a

Jamaica?

Para entender melhor este movimento, que tal pesquisar sobre Martin Luther King e

compartilhar conosco o que descobriu.

E Afrika Bambaataa

você sabe

quem é?

Será que ele ainda faz

shows aqui no Brasil?

Que tal pesquisar?

“LUTAR COM CRIATIVIDADE E NÃO COM VIOLÊNCIA”!!!

Page 20: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

21

MC BREAK DJ GRAFITE

Se você quiser compreender

melhor este parágrafo assista

ao filme: Entre nessa dança.

Após assistir escreva, no mínimo,

dez linhas dizendo o que eles mais

gostavam de fazer e quais

problemas enfrentavam.

Você é convidado também a assistir ao filme: Ela dança, eu danço e veja o

romance entre um jovem de periferia que dançava Hip Hop com uma garota

de classe média que dançava balé. É muito interessante a abordagem que se

faz no filme entre esses diferentes tipos de dança e das diferenças de classe.

Atenção pessoal!

Será que a ideologia de Afrika

Bambaataa não lembra a

ideologia de Martin Luther King?

Page 21: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

22

A propósito, que tal realizar uma pesquisa sobre a história da África e me

responda:

Seria verdadeiro o fato que as tribos disputavam território dentro da própria África

e que o vencedor vendia seus compatriotas prisioneiros ao contrabando de

escravos?

Traga o resultado de sua pesquisa para debate e em seguida faremos à

análise se havia ou não consciência social, isto é, cidadania naquela época.

MV Bill apud Antunes (2009)

declara que:

“O preto tem que ser duas vezes

melhor, não basta ser bom”.

Há uma música com o título: A vida é

desafio, dos Racionais Mc`s, que

questiona esta fala do MV Bill, vamos

ouví-la para ver se concordamos com

eles!

MV Bill junto com Celso Athayde assumiram o lado marginal e suas

contradições ao escreveram os livros Falcão – Meninos do Tráfico; Falcão –

Mulheres e o tráfico e Cabeça de Porco. Ganharam três Best Seller, sendo este

último escrito com a participação do antropólogo Luiz Eduardo Soares. Bill participou

do documentário Falcão – Meninos do Tráfico como cineasta contribuindo para

mudar a história da Televisão no Brasil.

Na internet, no Google, você encontra resumos destes livros. Que tal

pesquisar um deles e contar o que leu para a turma? Se não quiser

contar pode escrever e entregar ao seu professor para ler.

Page 22: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

23

Vocês acham que o Grupo

Consciência Suburbana, Celso

Athayde e MV Bill são discípulos de

Afrika Bambaataa?

Você já ouviu falar da lei

10.639/2003 que foi

autorizada pelo presidente

Lula, o qual obriga a

inclusão nos conteúdos das

escolas, o estudo da

História e Cultura Afro-

brasileira?

Já ouviram falar na “ideologia do

branqueamento?”.

Vamos pesquisar e contar aos nossos colegas

o que descobrimos.

Page 23: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

24

Assim, como ter uma identidade

de negro-descendente se a

pessoa é estimulada a ser

branca, e ao mesmo tempo, vive

com os negros em termos de

posição social?

Porque a sociedade

brasileira valoriza a cultura

branca européia?

Isto não provocaria auto-

imagem negativa, baixa

auto-estima no

afrodescendente?

E o direito a cidadania,

onde se encontra nesta

situação?

Por favor, responda-me a

estas perguntas:

Page 24: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

25

E agora, será capaz de me responder:

Hip Hop é ...

Dança?!? ... Cultura?!? ... Ou Movimento?!? ...

O que aprendeu sobre o afrodescendente através do movimento Hip Hop?

HORA DO DESAFIO!!!

Vocês conheceram toda a história do Hip Hop, então chegou à hora de

mostrar o que aprenderam. Não se esqueçam de colocar em suas produções o

5º elemento: Consciência Social.

Você é convidado a participar e se organizar em um dos três grupos:

Deve haver um grupo para composição de Rap;

Page 25: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

26

... Outro para compor coreografia de Break;

... E outro para a produção de Grafite.

Vocês pedirão autorização e ajuda ao diretor, ao professor de Língua

Portuguesa, Arte e aos grupos praticantes de Hip Hop na comunidade para a

produção das atividades. Marcaremos um dia e faremos à apresentação. Pode

convidar os grupos que lhes ajudaram para também fazer uma apresentação.

O que acham!!! Legal, não é mesmo? Confio em vocês.

3 Conclusão

Este trabalho teve por objetivo: fazer com que o aluno afrodescendente fosse

conduzido a momentos de reflexão e ação a respeito dos males associados à

desigualdade social através de uma postura crítica, que houvesse a ressocialização

e a integração dos mesmos com as causas sociais que os afligem e que

conquistasse a sua auto-estima.

O projeto foi aplicado em duas 5ªs séries, em um colégio de periferia cadastrado

no SERE. Devido à idade dos alunos e sua imaturidade apresento como sugestão a

continuidade do processo ensino aprendizado deste conteúdo com uma seqüência

gradativa do conteúdo em séries posteriores, para que os objetivos sejam totalmente

alcançados e estes sejam levados: a reflexão e conscientização, a fim de que lutem

para superar seus conflitos raciais. Fica registrado neste trabalho, que professores

das séries subseqüentes busquem um aprofundamento do conteúdo proposto para

este trabalho. Houve aulas expositivas, filmes e pesquisa sobre o contexto histórico

Page 26: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

27

do Hip Hop, abrangendo a cultura afrodescendente e os alunos foram desafiados a

buscarem ajuda e criaram as suas próprias coreografias que foram apresentadas as

demais séries no dia da Consciência Negra. Consegui levá-los a mudar de atitudes e

respeitar os seus colegas na elaboração dos passos da dança. Quanto ao Grafite e

a composição dos Haps não houve condições para isso, devido ao pouco tempo de

explanação do trabalho.

O ideal seria aplicar este projeto em um contexto multidisciplinar, em todas as

séries do Ensino Fundamental e Médio, onde professores de Educação Física,

Artes, história e Língua Portuguesa, junto com a Gestão e Equipe Pedagógica se

unissem e ao mesmo tempo desenvolvessem o mesmo tema. Sendo assim, a escola

toda se envolvendo, promovendo debates, concurso de Rap e dança de Break, um

aluno contaminaria o outro com a idéia de que temos o direito de lutar pela nossa

conquista de aceitação, através de uma postura crítica, a fim de que houvesse a

ressocialização, a integração do negro com as causas sociais que os afligem e que

conquistasse a sua auto-estima, na atual sociedade em que vivemos.

Aplicar o Projeto de Intervenção no 2º semestre não foi o ideal, pois é necessário

um planejamento para tal atividade. Seria necessário que fosse discutido o apoio

dos demais professores e estes terem conhecimento do conteúdo, pois o trabalho

abrange a Cultura Afrodescendente e o Movimento Hip Hop. Deveria existir um livro

didático no Ensino Fundamental, contendo este conteúdo, de tal forma que o aluno

pudesse acompanhar toda seqüência do trabalho e não ficasse repetitivo

anualmente por cada professor que assumisse a turma. O conteúdo é extenso, mas

riquíssimo e não havendo muita literatura sobre o assunto o professor tem

dificuldade em abordar o assunto, visto não ter, o mesmo, tempo que nós,

professores PDE tivemos para pesquisa.

REFERÊNCIAS

ATHAYDE, C. et AL. Cabeça de porco. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

ARANTES, A. A. O que é Cultura Popular. São Paulo: Brasiliense, 1985. 8ª ed.

Page 27: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

28

FERREIRA, R. F. Afro-descendente: identidade em construção. Rio de Janeiro:

Pallas, 2000. São Paulo: EDUC.

FREIRE, Paulo. Cartas a Guiné-Bissau – Registro de uma experiência em

processo. 2ª ed. Editora Paz e Terra. Coleção O Mundo Hoje – volume 22, 1978.

Meio eletrônico – documento PDF, em 08/10/2009.

_______. Conscientização – Teoria e prática da libertação. São Paulo: Moraes,

1980. 3ª ed.

MARQUES, I. A. Dançando na escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2007.

PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Educação física.

2008.

FONTES ON-LINE

ALVES, Francisco Filho. Entrevista Luis Eduardo Soares. Disponível em:

<http://www.terra.com.br/istoe/1852/1852 vermelhas 01.htm>. Acesso em

18/06/2009.

ANTUNES, Angela. Entrevista MV Bill. Disponível em:

<http://portal,rpc.com.br/gazetadopovo/cadernog/conteudo.phtml?id=83601 2>. e

<http://www.netsaber.com.br/resumos/ver resumo c 2267. html>. Acesso em

19/09/2009.

FELIX, J. B. J. Hip Hop: cultura e política no contexto paulistano. Artigo

Humanidades. Disponível em:

<http://192.168.0.1/login?dst=http%3A%2Fgoogleads.g.double.eliek.net%Fpagead...

>. Acesso em 06/02/2010.

Page 28: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

29

HIP HOP – A cultura Marginal. Disponível em:

<http://www.ciranda.net/spip/article1226.html>. Acesso em 20/06/2009.

HIP HOP. Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:

<HTTP//pt.wikipedia.org/wiki/Hip_hop>. Acesso em 19/12/2009.

HISTÓRIA DO HIP HOP. Secretaria do Estado da Educação do Paraná –

Educação Física. Portal Educacional do Estado do Paraná. Dia-a-dia educação.

Educação Física. Disponível em:

<http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteúdo/conteudo.php?conteud

o=60>. Acesso em 08/05/2009.

KING, J. E. A passagem média revisitada: a educação para a liberdade humana

e a crítica epistemológica feita pelos estudos negros. In: SILVA, L. H. ET El

(Orgs.). Reestruturação curricular: novos mapas culturais, novas perspectivas

educacionais. Porto Alegre: Sulina, p. 75-101. 1996. Meio eletrônico.

LEÃO, M. A. S. O negro no mercado de trabalho pela cultura Hip Hop. XV

Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP – Faculdade Diadema,

Caxambú – MG, 18 a 22 de set. 2006. Meio eletrônico.

MOREIRA, I. O Hip Hop e sua história – parte 1. Disponível em:

http://www.cufacampinas.com.br/noticias/o-hip-hop--e-sua-história-parte-1>. Acesso

em 19/12/2009.

PENA, S. D. J; BORTOLINI, M. C. Pode a genética definir quem deve se

beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas? Estudos

avançados / Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 18, n. 50, PP. 31-50, 2004).

Meio eletrônico.

RECH, G. 2005 – Hip Hop é arte, letra, dança, som e ação social – Paraná –

Online. Disponível em: <http://www.parana-

online.com.br/editoria/almanaque/news/155604/ >. Acesso em 20/06/2009.

Page 29: DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009€¦ · da história e literatura africana, conforme a Lei 10.639/03 (Historia e Cultura Afro-Brasileira e Africana). O movimento é cultural e

30

RIBEIRO, W. G. 2008. Hiphopologia: o que dizem pesquisadores brasileiros

sobre o hip Hop na escola? UFRJ. GT 21: afro Brasileiros e Educação.

SANTOS, E. S.; DAMICO, J. G.; FREITAS, A. L. C. Pensando o lazer a partir das

perspectivas étnicas. Arquivos em movimento. Revista eletrônica da Escola de

Educação Física e Desportos – UFRJ, Rio de Janeiro, v.2, n.2, jul./dez. 2006. Meio

eletrônico.

SANTOS, H. A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso.

São Paulo: Ed. SENAC, 2001. Meio eletrônico.

SCANDIUCCI, G. Juventude negro-descendente e a cultura hip hop na periferia

de São Paulo: possibilidades de desenvolvimento humano sob a ótica da

psicologia analítica. 2005. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de

Psicologia, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2005. Meio eletrônico.

SILVA, L. H. ET EI (Orgs.). KING, J. E. A passagem média revisitada: a educação

para a liberdade humana e a crítica epistemológica feita pelos estudos negros.

Reestruturação curricular: novos mapas culturais, novas perspectivas

educacionais. Porto Alegre: p. 75-101. 1996. Meio eletrônico.

VENTURA, B. Conspiração Subterrânea Crew. Disponível em:

<http://www.consubter.rg3.net>. Acesso em 08/05/2009.

<www.sua pesquisa.com/afric/educaterra.terra.com.br/Voltaire/mundo/áfrica.htm. 13

k>.

WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Celso

Athayde>. Acesso em 18/06/2009

_______. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Eu_Tenho_Um_Sonho>. Martin Luther King Jr.

Acesso em 09/02/2010.