29
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · das necessidades e expectativas dos professores de Língua Portuguesa acerca da formação de leitores proficientes e críticos, elaborei três

  • Upload
    vanliem

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

NECESSIDADES, EXPECTATIVAS E SABERES DOS PROFESSORE S

DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES CR ÍTICOS

Profa. Marli Almeida de Jesus1

Profª. Dra. Márcia Sipavicius Seide2

Resumo

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa realizada a partir das inquietações dos professores de Língua Portuguesa da escola onde trabalho sobre a dificuldade em formar leitores proficientes e críticos. Para Silva (1996, p.45), “Ler é, em última instância, uma ponte para a tomada de consciência, mas também um modo de existir no qual o indivíduo compreende e interpreta a expressão registrada pela escrita e passa a compreender-se no mundo.” “Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem” (DCEB, 2008, p.56). Haja vista que um dos papéis da escola é o de formar leitores para a vida, após investigação das necessidades e expectativas dos professores de Língua Portuguesa acerca da formação de leitores proficientes e críticos, elaborei três oficinas pedagógicas. Na primeira oficina, abordei e debati com os professores e bibliotecária os dados obtidos com a análise das entrevistas e, na sequência, realizei atividades de reflexão acerca da leitura e dos textos de embasamento. Na segunda oficina, apresentei a fundamentação teórica sobre a Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (2001) que enfatiza a importância do conhecimento prévio no processo interpretativo e leva em consideração as expectativas e avaliações do leitor sobre o que ele interpreta. Esta começou com uma atividade de leitura, segundo a TR. Para isto, foi escolhido um fragmento do livro ‘O Leitor’, de Bernhard Schlink (2010, p.45-51). Teorizando a prática, houve análise da atividade, leitura e discussão sobre a TR e formação de leitores. Para a terceira oficina, selecionei textos voltados aos alunos com os quais os professores prepararam atividades de pré-leitura semelhantes às utilizadas na segunda oficina e aplicaram-nas aos colegas participantes.

1 - Professora PDE/2009/2010 do QPM (Quadro Próprio do Magistério) da Rede Pública Estadual do Estado do Paraná. O texto é resultado da implementação de atividades de conclusão do PDE 2009/2010 - Programa de Desenvolvimento Educacional da SEED – Secretaria Estadual de Educação – realizado na UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon, PR. [email protected] 2 - Professora Orientadora, Doutora em Linguística - Docente do Curso de Letras da UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon, PR. [email protected]

2

Palavras-Chave: Formação de leitores; Leitura; Teoria da Relevância.

Abstract

This paper is result of a search done through from the fidgets of Portuguese Language teachers of the school where I work about difficulty in forming proficient and critical readers. For Silva (1996, p.45), “Read it’s in last instance a connection for the conscience taking, but also a way to exist in which the person understands and interprets the registered expression for the writing and starts to understand himself in the world.” When reading, the person searches his experiences, his previous knowledge, his familiar, religious, cultural upbringing, at last, the same voices that constitute him” (DCEB, 2008, p.56). It has seen that one of the school’s functions is training of readers for the life, after research into the necessities and expectations of Portuguese Language teachers concerning formation of proficient and critical readers, I elaborated three pedagogical workshops. In the first workshop, I approached and I debated with the teachers and librarian about the information obtained with the analysis of the interviews and, in the sequence, I did activities of reflection concerning the reading and the texts of reference. In the second workshop, I showed the theoretical recital about the Relevance Theory, by Sperber and Wilson (2001) that it emphasizes the importance of the previous knowledge in the interpretative process and takes in consideration expectations and evaluations of the reader about what he interprets. This workshop started with an activity of reading, according to TR. For this it was chosen a book’s fragment `', The Reader” by Bernhard Schlink (2008, p.45-51). Theorizing the practice happened analysis of the activity, reading and debate about the TR and formation of readers. For the third workshop, I selected texts directed to the students with which the teachers had prepared activities of preliminary reading similar to the used ones in the second workshop and applied them to the participant colleagues.

Keywords: Formation of readers; Reading; Relevance Theory.

1 Introdução

“[...] Como fonte de prazer e de sabedoria, a leitura não esgota seu

poder de sedução nos estreitos círculos da escola. [...] lê-se para

entender o mundo, para viver melhor.”

Marisa Lojolo

3

Como a leitura é um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas

sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado

momento (DCEB, 2008, p. 56), cabe a nós professores, mediadores que somos no

processo ensino e aprendizagem, trabalharmos a leitura com o intuito de formar não

só leitores, mas leitores críticos, pois segundo Silva, “O leitor crítico movido por sua

intencionalidade desvela o significado pretendido pelo autor (emissor), mas não

permanece nesse nível – ele reage, questiona, problematiza, aprecia com

criticidade” (1996, p.80).

No entanto, percebe-se que os professores encontram dificuldades em

formar leitores. Diante disso, propus-me a investigar, junto aos professores de

Língua Portuguesa da escola onde trabalho, quais eram as necessidades e

expectativas deles acerca da formação de leitores críticos. Daí o título do projeto de

intervenção pedagógica na escola ser Necessidades e expectativas dos professores

de Língua Portuguesa para a formação de leitores críticos. Entretanto, no decorrer

dos trabalhos e na aplicação das oficinas pedagógicas, percebi que os professores

possuem muito mais saberes do que se imagina. Saberes estes que vão muito além

dos adquiridos na formação acadêmica. Diante disso, percebeu-se a necessidade e

a importância de mudar o título do trabalho para Necessidades, expectativas e

saberes dos professores de Língua Portuguesa para a formação de leitores críticos,

pois de acordo com Tardif (2002):

[...] o saber docente é um saber plural, oriundo da formação profissional (o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores); de saberes disciplinares (saberes que correspondem ao diverso campo do conhecimento e emergem da tradição cultural); saberes curriculares (programas escolares) e saberes experienciais (do trabalho cotidiano). O que exige do professor capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condição para sua prática (apud DINIZ, p.2. Disponível em: <http://www.uniube.br/propep/mestrado/revista/vol05/13/resenhas/R-13-001-Final.pdf.>. Acesso em: 17 nov. 2010)

2 Coleta de dados

Sabe-se que a leitura não é apenas um meio de que dispomos para adquirir

informações. Ela é uma atividade muito mais complexa e pessoal que não pode ser

4

estudada apenas com a observação, porque depende de um conjunto de atitudes

internas e externas, cognitivas e mentais, as quais não se mostram aos nossos

olhos.

Para Soares (2005, p. 28):

[...] a leitura é, fundamentalmente, processo político. Por isso aqueles que formam leitores – alfabetizadores, professores, bibliotecários – desempenham um papel político que poderá estar ou não comprometido com a transformação social, conforme estejam ou não conscientes da força de reprodução e, ao mesmo tempo, do espaço de contradição presentes nas condições sociais da leitura, e tenham ou não assumido a luta contra aquela e a ocupação deste como possibilidade de conscientização e questionamento da realidade em que o leitor insere.

Diante disso, que leitores queremos formar nesta e nas gerações futuras?

Será que nós, professores, estamos preparados para formar leitores críticos? Qual a

nossa responsabilidade e quais as nossas dificuldades como professores para o

sucesso da leitura do aluno, ou seja, para a formação de leitores críticos?

São oportunas pesquisa e discussão a respeito da formação de leitores

críticos, das dificuldades encontradas pelos profissionais da educação,

principalmente os professores de Língua Portuguesa, visto que o professor é o

agente transformador da sociedade e, como tal, precisa ter embasamento teórico,

metodologias e estratégias acerca do assunto em questão, além, é claro, de estar

instrumentalizado por uma arma imbatível denominada capacidade de comunicar-se.

Assim, buscou-se investigar os conhecimentos que os professores tinham sobre

leitura e metodologia de ensino de leitura e suas necessidades, isto é, do que

sentiam falta quando se deparavam com o desafio da formação de leitores,

mediante pesquisa de campo baseada em coleta de dados.

A coleta de dados foi feita através da aplicação de entrevista, com o intuito

de obter informações concretas da situação da prática de leitura vivenciada por eles.

Inicialmente, foi elaborado um roteiro de entrevista e, em seguida, as entrevistas

foram realizadas. Quatro professoras efetivas foram entrevistadas, as quais serão

chamadas ao longo deste trabalho como: E1, E2, E3 e E4. A primeira entrevista foi

feita a uma professora, doravante E1, com 26 anos de experiência docente que,

além de docência, exercia a função de Direção auxiliar. No ano de 2010, lecionava

5

para turmas bem diferenciadas: 5a série, 1o ano do Ensino Médio e Educação de

Jovens e Adultos (EJA). A segunda entrevista foi realizada com uma professora,

doravante E2, com 21 anos de experiência docente. Em 2010 trabalhava em duas

escolas e lecionava para as 5as e 6as séries (Língua Portuguesa em uma escola e, na

outra, Língua Inglesa). A terceira entrevistada, doravante E3, trabalhava há 15 anos

como docente. No ano de 2010, trabalhava em duas escolas, sendo uma municipal

(com a 4a série) e a outra, estadual (com duas 6as séries e um 3o ano do EM). A

quarta entrevista foi feita a uma professora aposentada, doravante E4, que, no ano

de 2009, voltou a ser docente pelo regime PSS (Processo Seletivo Simplificado). Em

2010 lecionou em duas escolas, com séries diversificadas: 1os anos do EM e 7as

séries (Língua Portuguesa) e 5as, 6as e 7as séries (Língua Inglesa).

As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas. Com posse da

análise quantitativa e qualitativa dos dados, fez-se a descrição das necessidades e

dos anseios das professoras e, a partir disso, foram montadas as oficinas

pedagógicas as quais foram trabalhadas no segundo semestre de 2010, com os

professores de Língua Portuguesa e com a bibliotecária do Colégio Estadual

Presidente da Costa e Silva – EFM, município de Terra Roxa - PR, NRE de Toledo –

PR. Vejamos, a seguir, a análise dos dados.

2.1 A análise dos dados

Os dados obtidos com a análise quantitativa e qualitativa das entrevistas

realizadas com as professoras de Língua Portuguesa foram analisados com

embasamento em fundamentações teóricas de diversos autores.

Conforme revela em sua fala, E1 é uma professora que, por gostar de ler

torna-se um modelo para seus alunos. Pinheiro (2009), em seus cursos de formação

para professores, lembra-nos que “só ensinamos o que sabemos e que com

crianças e adolescentes a política do <<faça o que eu digo, não o que eu faço>> não

emplaca>>” (p.2). Em outras palavras, se o professor almeja que seus alunos

gostem de ler e leiam, ele próprio precisa gostar de ler e ter o hábito da leitura, pois,

para Kleiman (2008), “para formar leitores, devemos ter paixão pela leitura” (p.15).

Segundo Magalhães e Silva (2007, p. 15), “O professor precisa ser o <<espelho>>

6

para seu aluno, ele deverá ser o exemplo de um bom leitor, pois o educador tem a

função de mediador entre o aluno e a aquisição do hábito da leitura”.

Este ponto de vista, é sintetizado por Douglas (1971) que afirma:

O professor é, para a criança, o adulto cujo exemplo tem o máximo de peso, nessa fase de sua formação. Se não usa a biblioteca para suas leituras e documentação, e não encoraja os alunos a imitá-lo, depois será talvez muito tarde para incutir-lhes o hábito de pesquisa pessoal e da análise crítica dos fatos; talvez também jamais venham a conhecer as alegrias da leitura (apud SILVA, 2004, p. 15).

A importância de o professor ser um modelo de leitor para o aluno também é

evidenciada por Zilberman (apud PINHEIRO, 2009, p.4): “O professor que ensina a

ler, ser ele mesmo leitor, á ainda mais fundamental quando se trata de ensinar a ler

textos literários”, uma vez que o ensino de literatura deve ser visto como mais uma

etapa de letramento.

Não se deve pensar, contudo, que apenas o professor deva investir em si

mesmo enquanto leitor. Na verdade, o letramento literário deve ser tratado como um

investimento contínuo de cada cidadão, é preciso levar em consideração que, “o

letramento literário é uma narrativa de identidade pessoal, que seguramente mais do

que qualquer outra coisa, se caracteriza por se revelar sempre imperfeita"(PINTO,

2002, p.95 apud BARROS, 2009, p.7).

A relação entre letramento literário e construção da identidade do indivíduo

fica evidente quando se considera o impacto da literatura na vida das pessoas,

assim descrito por Coenga (2008):

A leitura literária desencadeia em nós nossa quota de humanidade, na medida em que nos torna mais compreensivos, tolerantes e sensíveis, porque tratam de assuntos que afetam a dimensão humana (p.1). [...] Ela exige do leitor experiência, habilidades e conhecimentos de mundo, de língua e de texto, a fim de que ele possa, durante o processo de interação, projetar algo de si mesmo na construção de um sentido para o texto e, ao mesmo tempo, buscar no outro a descoberta do seu próprio ser (p.3). (Disponível em: <http://www.ice.edu.br/TNX/storage/webdisco/2008/12/19/>. Acesso em: 27 mai. 2010).

7

Também sobre esta questão, na série Ler e escrever: compromisso da

escola, que foi apresentada de 12 a 16 de agosto de 2002, no Programa Salto para

o Futuro, da TV Escola, a Equipe do Núcleo de Integração Universidade Escola da

Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS - NIUE/UFRGS defende que:

Se considerarmos a formação de um público leitor de Literatura, a escola surge, entre outras instituições, como elemento vital para a sua qualificação: é de sua competência ensinar a ler Literatura, atribuindo ao texto significados relacionados à sua capacidade de problematizar, contextualizar, refletir enfim sobre as questões tematizadas pela obra. Nesse contexto, é possível deduzir que a mediação do professor é fundamental, pois dele poderá depender a interação do estudante com a obra, condição de desenvolvimento da comunicação. (Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/ler/ler0.htm>. Acesso em: 20 mai. 2010).

No entanto, a dificuldade em formar leitores e, principalmente, leitores de

literatura é grande. Isso ficou claro nas falas de E1: “Se a gente pega um.. bem, o

duro é ler os clássicos, né?” e na de E3: “No EM procuram ler por causa do

vestibular, senão não iam até a biblioteca, não”.

Sobre a razão de as crianças gostarem de ler e os jovens não, Carvalho

(1997) levanta a hipótese de que isso parece estar ligado à diferença entre a

literatura produzida para a infância e a produzida para a juventude. Segundo ele, os

livros infantis brasileiros atingiram, em grande parte, um nível estético muito bom,

tanto no que se refere à qualidade do texto, das ilustrações, do aspecto gráfico e do

papel utilizado (p.8 apud NUNES, 2008, p.3).

Entretanto, de acordo com Bordini, para que a leitura da obra literária ocorra,

dentre outros elementos, é necessário que exista o “professor leitor e com boa

fundamentação teórica e metodológica” (apud PINHEIRO, 2009, p.2). Esta

afirmação também ficou constatada nas falas das professoras entrevistadas, quando

questionadas sobre as características de um professor para trabalhar com leitura.

Vejamos: E1: “Primeira coisa tem que gostar. Se não gostar, como ele vai motivar o

aluno a ler, se nem ele gosta” (fevereiro, 2010); E2: “Ele tem que ler, tem que ser o

exemplo” (idem); E3: ”Como ele vai cobrar do aluno se ele também não faz a ação”

(março, 2010); E4: “Eu acho que o professor tem que ser um bom leitor. Inclusive

quando eu faço minhas aulas de leitura, eu também leio” (idem).

8

As professoras entrevistadas, contudo, relatam que a maioria dos

professores não são leitores: “Você... encontra muita gente que não lê. Até mesmo

de LP. Lê o que é necessário, o que é essencial, o que é obrigado”, “Acredito que

muitos professores têm que fazer bastante leitura, só uma minoria que faz”.

Essas revelações se confirmam, segundo Pinheiro (2009), quando há cursos

de formação continuada e o instrutor indaga, no intuito de conhecer o público com

quem irá dialogar, o que é Literatura para eles, como selecionam o texto a ser

discutido, como acontecem suas aulas de Literatura, qual o último livro que leram ou

que estão lendo etc. Feitos estes questionamentos, Pinheiro relata que raramente, o

professor de Língua Portuguesa e de Literatura lembra-se do último livro literário que

leu na íntegra (idem).

Por que os professores não leem? Para Neves, é preciso fazer uma análise

da conjuntura econômico-social, pois, segundo ele, a pouca ou má formação do

profissional se dá por ganharem mal, trabalharem muito e em mais de uma escola,

não disponibilizarem de tempo para leitura nem para outras atividades culturais,

além da falta de respeito do governo, da sociedade e das famílias dos alunos.

Mesmo com tudo isso, segundo Neves, alguns professores mostram vontade de

acertar e de melhorar seu desempenho, no entanto, o que lhes faltam são melhores

condições pessoais e institucionais (2003, apud SILVA, 2005, p.3).

Mas, será que são só os professores de Língua Portuguesa que não

leem? E ensinar a ler, é tarefa só de Língua Portuguesa ou de todas as disciplinas?

De acordo com a reportagem ‘O desafio de ler e compreender’ publicada na Edição

Especial da revista Nova Escola ‘Ler em todas as disciplinas’ (janeiro, 2010), “O

primeiro passo é firmar um compromisso: ensinar a ler é tarefa de todas as

disciplinas, não apenas de Língua Portuguesa” (RATIER, 2010, p.10).

Assim como Ratier, as professoras entrevistadas também relatam que todos

os professores, das mais diversas disciplinas, têm que trabalhar leitura. Essas falas

podem ser resumidas na de E4: segundo ela, ensinar a ler foi, é e sempre será uma

tarefa de todas as disciplinas. O posicionamento de E4 é idêntico ao de Solé, a qual,

quando questionada, em uma entrevista dada a Ratier e publicada na revista Nova

Escola, sobre como os professores das diferentes áreas devem se articular, afirma:

9

O que aprendi em minhas conversas com professores é que os da área de línguas têm um papel importantíssimo para ajudar os alunos a melhorar a leitura e a composição de textos no campo de ação da própria língua e da literatura. Os responsáveis pelas demais disciplinas, por sua vez, podem lidar com textos mais específicos. Aliás, como assinalam muitos especialistas, quem leciona também deve aprender progressivamente a compreender e produzir os textos próprios de suas áreas. Em seguida, uma assembleia de professores ou a coordenação podem planejar que, digamos, o titular de História ensine a resumir textos como relatos, que o de Ciências ajude a produzir relatórios e a entender textos instrucionais e assim por diante. “Outra proposta é, sempre que possível, trabalhar com enfoques mais globalizantes, com toda a equipe reforçando procedimentos de leitura e produção escrita” (SOLÉ, 2010, p.16).

Se ler e escrever são tarefas da escola, é necessário que todos os

professores, não só os de Língua Portuguesa, mas também os de Matemática, Arte,

Biologia, Ciências, História, Geografia, Educação Física, Arte, Língua Estrangeira,

Química, Filosofia, Sociologia e também os bibliotecários, assumam seu papel de

mediadores de leitura e escrita.

Para Pinheiro (2009), “Nos dias de hoje, a falta de leitura por parte do

público em geral, também soma-se a família e os professores que se recusam à

leitura (p.4). Ainda, segundo Pinheiro, “é flagrante a falta de compromisso com a

leitura por parte de pais, da escola, dos alunos e de autoridades políticas” (ibidem,

p.1).

Este descompromisso é também percebido por E1 que denuncia: “apesar do

governo não investir, que a gente precisa há muito tempo de uma biblioteca, a nossa

biblioteca é numa sala de aula, falta espaço. Então, a gente vai trabalhando na

medida do possível”.

Conforme enfatiza Lajolo, é fundamental que as políticas de incentivo à

leitura se descolem da mera organização de feiras ou da criação de bibliotecas e

salas de leitura. O mais importante, segundo ela, é investir na formação de

mediadores de leitura, professores e bibliotecários capazes de espalhar, semear o

prazer da leitura por todo o país. “Mediadores são os instrumentos mais eficientes

para fazer da leitura uma prática social mais difundida e aproveitada” (LAJOLO apud

LINARDI e LIMA, 2008, p.9).

Nas falas de duas das professoras entrevistadas fica evidente a importância

dos bibliotecários, “... a bibliotecária tem que ajudar de alguma forma... na hora da

10

escolha, né?” (E2, fevereiro, 2010), “... fui à biblioteca e junto com a bibliotecária fiz

uma seleção de livros a nível dos alunos, a nível da série...”(E4, março, 2010).

A influência do desempenho dos estudantes para o alcance de maior

aprendizagem na leitura, na escrita, na resolução de problemas etc, fica evidente

quando bibliotecários e professores trabalham em conjunto. Essa afirmação está no

Manifesto da UNESCO (1999):

A biblioteca escolar habilita os estudantes para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-os para viver como cidadãos responsáveis [...]. Está comprovado que bibliotecários e professores, ao trabalharem em conjunto, influenciam o desempenho dos estudantes para o alcance de maior nível de literacia na leitura e escrita, aprendizagem, resolução de problemas, uso da informação e das tecnologias de comunicação e informação. [...] A biblioteca escolar é essencial a qualquer tipo de estratégia de longo prazo no que respeita a competências à leitura e escrita, à educação e informação e ao desenvolvimento econômico, social e cultural. A responsabilidade sobre a biblioteca escolar cabe às autoridades locais, regionais e nacionais, portanto deve essa agência ser apoiada por política e legislação específicas. [...] O bibliotecário escolar é o membro profissionalmente qualificado, responsável pelo planejamento e gestão da biblioteca escolar. Deve ser apoiado tanto quanto possível por equipe adequada, [...] Os bibliotecários escolares devem tornar-se competentes no planejamento e na instrução das diferentes habilidades para o manuseio de novas ferramentas de informação, tanto a professores como a estudantes. Portanto, devem obter contínuo treinamento e desenvolvimento profissional. (Disponível em: <http://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2010).

Outro fator importante para a formação do leitor é ter os pais como exemplo

de leitores, uma vez que é na família que a maioria dos alunos tem os primeiros

contatos com os livros. Conforme Raimundo (2007), “Se as crianças são criadas em

um ambiente receptivo à leitura, em contato ativo com materiais que sugerem a

recepção de textos é provável que no futuro ela conserve o gosto de ler” (p.111-

112).

A importância da família para a formação do leitor também é reconhecida

pelas professoras entrevistadas. E1 explica: “Desde que ele tenha o contato desde

pequeno, tenha os próprios pais em casa que já incentivam. Por exemplo, na minha

casa é... a gente tem o jornal diário, né? A revista semanal. Com isso as minhas

filhas todas gostam de ler”.

Confirmando o ponto de vista das professoras Vieira afirma que, “a formação

do leitor inicia-se no âmbito familiar e se processa em longo prazo, tendo

11

mediadores como bibliotecários, professores, e no caso especifico retratado: a

família, pois é através da leitura que encontramos a possibilidade de nos instruir,

educar e também divertir” (2004, p.4).

Ainda segundo Vieira (2004), um dos valores que pode ser instituído no

espaço familiar é a leitura como valor social importante na construção

socioeducacional das crianças e adolescentes (p. 5), pois é nesse momento que há

a criação de um vínculo mais forte entre pais e filhos. Para ela, os pais podem iniciar

contando histórias para os filhos dormirem, uma vez que são pequenas ações

cotidianas que podem levar o fomento à leitura. Isso se confirma na fala de E3:

“Porque se o pai lê um jornal, lê uma revista, ou mesmo a mãe, mesmo que for uma

fotonovela, gibi, já vai direcionando a criança a fazer leituras”. Por fim, E4 sintetiza a

questão da seguinte maneira: “Porque a família é a chave de tudo. Se tem um pai

leitor, uma mãe leitora, com certeza o filho vai gostar de lê”.

De acordo com Araújo (1999), não é o ambiente socioeconômico que

determina o gosto pela leitura, mas a convivência com esses materiais e o estímulo

dos pais, seja através do jornal que lê para encontrar emprego ou no caderno de

receitas da mãe. De fato, já está comprovado, através de pesquisas e estudos, que

o leitor que se inicia dentro da família, ou seja, no âmbito familiar, tem mais

facilidade em lidar com os signos, em compreender melhor o mundo no qual está

inserido, dentre outras habilidades. Todos os incentivos são válidos para a

construção do gosto pela leitura (apud VIEIRA, 2004, p.7-8).

A pouca importância da classe social para a formação do leitor apontada por

Araújo é também confirmada por E1: “o aluno que gosta de ler, não importa a classe

social, é... a renda familiar. Se nele foi despertado o gosto pela leitura, ele vai gostar

de ler sempre”. Diante de todas essas constatações, fica clara a importância da

família na formação do leitor.

Outro aspecto relevante abordado por muitos é que a leitura é vista como

capaz de promover o sucesso profissional. Acredita-se que, para o indivíduo ter

ascensão profissional, ele tem que ser leitor. No entanto, Britto (2003) discorre sobre

a visão mitificadora da leitura, presente no discurso corrente na escola. O mito

ocorre, principalmente pela inculcação da ideologia salvacionista da leitura capaz de

levar o indivíduo a ascender profissionalmente ou tornar-se mais solidário ou

cidadão (apud ALMEIDA, 2009, p.3).

12

Esse mito é percebido em uma das falas de E2, quando ela relaciona

capacidade de leitura com sucesso profissional: “Ele tem que ler, ele tem que ser o

exemplo e passar pro aluno aquilo que é importante, mostrar também é... a questão

do mercado de trabalho, né! Quem se prepara melhor pra vida. Gostar de ler

também é... além de servir pra gente, pro futuro...”.

É necessário lembrar também, de que forma os professores

escolhem/selecionam o material utilizado nas aulas de leitura e quais estratégias

utilizam nessas aulas. Estes elementos são fundamentais para se obter uma aula de

leitura com qualidade, prazerosa; pois, segundo Silva (2005), “Se refletirmos bem,

veremos que o professor é o intelectual que delimita todos os quadrantes do terreno

da leitura escolar. Sem a sua presença atuante, sem o seu trabalho competente,

dificilmente chegará a produzir leitura e leitores assíduos e maduros” (p.19).

No decorrer das entrevistas, as professoras foram questionadas de que

forma elas escolhiam o material para suas aulas de leitura. Segundo elas, a escolha

é feita de acordo com a série, temas que têm a ver com a idade e que sejam

interessantes para eles ou o aluno vai até a biblioteca e escolhe o livro que lhe

interessar. Coenga afirma que, para favorecer uma leitura prazerosa, é importante

que o professor tenha a preocupação e o cuidado da seleção, organização e no

tratamento dos textos, mas antes disso, é necessário saber quem é seu aluno, seu

ambiente familiar, com que frequência lê e qual o tipo de leitura favorita, pois se o

professor tiver conhecimento de seus alunos, das expectativas deles, certamente ele

terá muito mais êxito e acerto no trabalho com textos e consequentemente com a

leitura (2008, p.4-5). Na mesma direção, Silva diz que “analisar o perfil do leitor,

selecionar material e preparar a abordagem do texto com antecedência é algo

básico” (idem, p.9).

A importância de o professor analisar o perfil de seus alunos enquanto

leitores também é ressaltada por Lajolo (2000):

É importante frisar também que a prática de leitura patrocinada pela escola precisa ocorrer num espaço de maior liberdade possível. A leitura só se torna livre quando se respeita, ao menos em momentos iniciais do aprendizado, o prazer ou a aversão de cada leitor em relação a cada livro. Ou seja, quando não se obriga toda uma classe à leitura de um mesmo livro, com a justificativa de que tal livro é apropriado para a faixa etária daqueles alunos, ou que se trata de um tema que interessa àquele tipo de criança: a relação entre livros e faixas etárias, entre faixas etárias,

13

interesses e habilidades de leitura é bem mais relativa do que fazem crer pedagogias e marketing. (LAJOLO, 2000, p.108-109).

Diante disso, percebe-se que o professor precisa atuar como mediador. Ele

pode criar um ambiente em que todos possam participar, expressar suas opiniões e

perceber que a leitura do professor não é a única, mas que existem outras

possibilidades de leitura. O professor também é aquele que apresenta aos alunos as

diferentes possibilidades de leitura, os diferentes tipos de textos e, aí ele precisa

perceber que cada aluno é diferente, que cada um tem sua história de vida, uma

leitura de mundo, cabendo, portanto, ao professor administrar e contornar essas

diferenças.

Sendo fundamental que o professor, enquanto mediador, na formação de

alunos-leitores, tenha claro quais são seus objetivos quando prepara uma aula de

leitura, foi perguntado às professoras com que objetivos eles davam suas aulas de

leitura.

Para E2, o seu objetivo quando prepara uma aula de leitura é que seus

alunos realmente gostem e participem e, que aquela leitura faça algum efeito na vida

deles, quer seja na aprendizagem, quer seja no desenvolvimento em geral. O

objetivo de E3 é que os educandos possam opinar sobre o assunto debatido e que

consigam relacionar (o assunto) com o seu contexto pessoal e social. O primeiro

objetivo de E4 é fazer com que seus alunos sintam o gosto pela leitura, pois

segundo ela, depois que o gosto pela leitura for despertado, certamente teremos

leitores críticos e assíduos.

Pelas respostas dadas, percebe-se que os professores informaram qual era

o objetivo deles, isto é, o que eles esperavam como produto final das aulas dadas.

Contudo, para que os alunos possam desenvolver as habilidades citadas, é

necessário ter mais clareza sobre os objetivos que os alunos devem ter quando

leem.

Brown (1984) considera que os objetivos da leitura determinam a forma em

que um leitor se situa frente ela e controla a consecução do seu objetivo, isto é, a

compreensão do texto (apud SOLÉ, 1998, p. 92). Portanto, se os objetivos não

estiverem claros no momento da leitura, provavelmente, a

compreensão/interpretação do leitor/ouvinte será prejudicada.

14

Para Solé, os objetivos dos leitores com relação a um texto podem ser muito

variados; haverá tantos objetivos como leitores, em diferentes situações e momentos

(1998, p. 93). Eis alguns objetivos apresentados por ela: ler para obter uma

informação precisa; ler para seguir instruções; ler para obter uma informação de

caráter geral; ler para aprender; ler para revisar um escrito próprio; ler para

comunicar um texto a um auditório; ler para praticar a leitura em voz alta e ler para

verificar o que se compreendeu. O propósito de ensinar os educandos a ler com

diferentes objetivos, segundo Solé, é que, com o tempo, elas mesmas sejam

capazes de se colocar objetivos de leitura que lhes interessem e que sejam

adequados (idem, p. 101).

Considerando, agora, os objetivos do docente, para favorecer uma leitura

prazerosa, além de o professor ter claro quais são seus objetivos quando prepara

uma aula de leitura, ele também deve dar condições de leitura, de compreensão,

pois para Martins (2007), “A função do educador não seria precisamente a de

ensinar a ler, mas a de criar condições para o educando realizar sua própria

aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias,

segundo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta” (p. 34).

Uma dessas condições são as estratégias utilizadas pelo professor em suas

aulas de leitura, pois segundo Kleiman, “Quando falamos de ESTRATÉGIAS DE

LEITURA, estamos falando de operações regulares para abordar o texto” (2008, p.

49), ou seja, os meios utilizados para conseguir mais eficiência na leitura, chegando,

assim, à compreensão do texto. Kleiman lembra, ainda, que as estratégias do leitor

são classificadas em ESTRATÉGIAS COGNITIVAS e ESTRATÉGIAS

METACOGNITIVAS. As METACOGNITIVAS são aquelas operações realizadas com

algum objetivo em mente, sobre as quais temos controle consciente e somos

capazes de explicar e dizer as nossas ações. Já as COGNITIVAS são aquelas

operações inconscientes do leitor, no sentido de não ter chegado ainda ao nível

consciente, que ele realiza para atingir algum objetivo de leitura (idem, p. 50).

De acordo com Solé:

Se considerarmos que as estratégias de leitura são procedimentos de ordem elevada que envolvem o cognitivo e o metacognitivo, no ensino elas não podem ser tratadas como técnicas precisas, receitas infalíveis ou habilidades específicas. O que caracteriza a mentalidade estratégica é sua capacidade de representar e analisar os problemas e a flexibilidade para

15

encontrar soluções. Por isso, ao ensinar estratégias de compreensão leitora, entre os alunos deve predominar a construção e o uso de procedimentos de tipo geral, que possam ser transferidos sem maiores dificuldades para situações de leitura múltiplas e variadas (p.70). É necessário ensinar estratégias de compreensão porque queremos formar leitores autônomos, capazes de enfrentar de forma inteligente textos de índole muito diversa, diferentes dos utilizados durante a instrução, leitores capazes de aprender a partir dos textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes (SOLÉ, 1998, p. 72).

Algumas das estratégias citadas pelas pesquisadoras são utilizadas pelos

professores entrevistados. E1 relata o seguinte: “Por exemplo, numa 5a série é... tem

às vezes, que a gente pega série que não gosta muito de ler. Então, eu pego um

livro e começo ler um capítulo por aula, aí trago os outros livros de leitura e vou

lendo, né?”. E4 e E2 também utilizaram a mesma estratégia. “[...] eu gosto sempre

de começar contando história pra eles, eu lendo. Aí, depois a gente faz leitura

compartilhada...” (E2); “Então, primeiramente eu comecei contando pra eles uma

parte da história. Aí eu deixei um ponto de interrogação. É como se fosse uma

novela pra eles assistirem no outro dia e saber o que ia acontecer. Eu fiz e vi

resultado, porque eles queriam ler o livro para saber o final” (E4). Para instigar os

alunos de uma turma de 7ª série a lerem o livro “O menino do dedo verde”, a

professora leu algumas páginas do livro. Depois de feita essa leitura, ela pediu que

cada aluno fosse à biblioteca e pegasse o seu livro para assim fazer a leitura e saber

o final da história. Segundo a professora, só foi possível todos os alunos lerem o

mesmo livro porque na escola havia exemplares para toda a turma.

Além da estratégia citada pela professora, muitas outras podem ser

utilizadas. Na seção seguinte são propostas algumas alternativas.

3 Alternativas metodológicas

Durante a leitura de um texto, o leitor utiliza tanto seu conhecimento textual

quanto seu conhecimento de mundo para, assim, construir uma interpretação sobre

o mesmo. No entanto, qualquer informação só é considerada relevante, ou seja,

16

importante, se ela for ao encontro dos conhecimentos enciclopédicos armazenados

pelo ouvinte/leitor. Partindo de seu conhecimento de mundo, o indivíduo tece

algumas reflexões acerca do texto em análise, pois a leitura não é simplesmente um

processo de decodificação, ela também é algo que se inscreve na dimensão

simbólica das atividades humanas. Isso é assim descrito por Kleiman (2009):

São vários os níveis de conhecimento que entram em jogo durante a leitura e que a compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de conhecimento, como o conhecimento linguístico, o textual, o conhecimento de mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é considerada um processo interativo (KLEIMAN, 2009, p. 13).

E o que o professor deve fazer para que os alunos tenham autonomia como

leitores em todas as áreas? Em primeiro lugar, para Cândido (2009, p.5-6), o

professor não deve sucumbir à tentação de querer contornar as dificuldades de

leitura dos alunos fazendo uma espécie de tradução do texto escrito, pois segundo

ele, o aluno tem que aprender a ler sozinho, porque, caso contrário, dependerá

sempre do professor ou de alguém para interpretar o que está escrito. Ainda,

segundo Cândido (idem), seja no Ensino Fundamental ou no Ensino Médio, as

estratégias para ensinar os alunos a serem leitores proficientes são simples e,

certamente, já conhecidas pela maioria dos docentes, entretanto, pouco colocadas

em prática.

Segundo Cândido (2009), as estratégias dividem-se em três períodos: antes,

durante e depois da leitura. Para ele, antes da leitura, o professor deve encaminhar

os objetivos da leitura, deve fazer também, um levantamento do que já sabem sobre

o conteúdo a ser ministrado; examinar o texto como um todo (título, subtítulo,

ilustrações etc.) e antecipar as informações que o autor do texto pressupõe que os

leitores conheçam, ou seja, é necessário que o professor prepare atividades de pré-

leitura, que desperte no aluno interesse pelo texto antes da leitura. Dessa forma, o

professor ativará o conhecimento prévio do educando, que é essencial à

compreensão de qualquer texto porque é o conhecimento que o leitor tem sobre o

17

assunto que o ajudará a fazer inferências e a tecer algumas reflexões acerca do

texto em análise. De acordo com Silva, Gaffuri e Menegassi (2006):

Uma das atividades a serem desenvolvidas para o resgate de informações do mundo exterior do texto é o trabalho com a pré-leitura, que consiste em um recurso pelo qual o conhecimento prévio é trazido à tona para um choque com as novas informações, a fim de aprimorar e organizar o conhecimento para que a leitura a ser realizada não se torne uma atividade estática, de mera decodificação, mas sim um processo que se inicia na decodificação e que perpassa as outras etapas do processo de leitura (SILVA, GAFFURI e MENEGASSI, 2006, p. 2).

Percebe-se assim, que a atividade de pré-leitura ajuda o leitor a selecionar,

no decorrer da leitura, informações que serão importantes e que vão ao encontro

dos conhecimentos enciclopédicos armazenados por ele. Assim, cada informação

nova é ajustada ao conhecimento de mundo, geralmente adquirido informalmente,

quer seja através das experiências ou pelo convívio numa sociedade e que são

relevantes, necessários para uma melhor compreensão do texto.

No decorrer da leitura o professor deve incentivar os alunos a inferirem o

sentido de termos ou expressões cujo sentido eles desconheçam, pois de acordo

com Cândido (2009), à medida que a leitura vai avançando, o mediador deve ajudar

os alunos na compreensão global do texto, ou seja, a ideia principal e as

secundárias. Procurar, também, durante a leitura, relacionar sempre o conteúdo lido

ao conhecimento prévio dos alunos.

Por fim, o professor deve trabalhar as atividades de pós-leitura, pois é nesse

momento que se pode fazer uma síntese do material trabalhado; avaliar com os

alunos o que foi lido, relacionar o texto à realidade dos leitores, contextualizando,

trocando ideias, discutindo e esclarecendo dúvidas, ou seja, refletindo sobre as

questões tematizadas pelo texto. Considerando todas essas colocações, Martins

afirma o seguinte:

A leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido – seja escrito, sonoro, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento. Esse diálogo é referenciado por um tempo e um espaço, uma situação; desenvolvido de acordo com os desafios e as respostas que o objeto

18

apresenta, em função de expectativas e necessidades, do prazer das descobertas e do reconhecimento de vivências do leitor (MARTINS, 2007, p. 33).

Estes resultados mostram que se torna cada vez mais necessário a

dedicação de todos na formação de leitores proficientes e críticos. No entanto, para

que isso se concretize, é necessário que se aplique, nas aulas de leitura, uma

metodologia que seja capaz de despertar no aluno o gosto pela leitura. É preciso ter

objetivos claros quando se prepara uma aula de leitura, promovendo desta forma, o

encontro do leitor com a leitura, uma maneira de se alcançar este resultado é

mediante aplicação didática dos princípios da Teoria da Relevância, alternativa

metodológica a seguir descrita.

3.1. Contribuição da Teoria da Relevância para o en sino de leitura

A Teoria da Relevância baseia-se numa definição de relevância e em dois

princípios gerais: o Princípio Cognitivo de que a cognição humana tende a dirigir-

se para a maximização da relevância; e o Princípio Comunicativo de que as

elocuções criam expectativas de relevância (SPERBER; WILSON, 2001, p. 10-11).

A TR mostra que a compreensão de textos verbais e de não-verbais está

baseada na construção do contexto cognitivo inicial e expandido, pois a partir dos

estímulos visuais e verbais os leitores expandem o contexto inicial, fazendo

suposições, sendo que algumas são mais relevantes para quem fala e para quem

ouve. Assim, cada informação nova é ajustada ao conhecimento de mundo e às

unidades de conhecimento enciclopédico (UCE). Desta forma, o indivíduo expande o

seu conhecimento e a compreensão se dá sob o ponto de vista psicológico e

cognitivo: partindo das suposições, cada um forma o seu conhecimento, ou seja, o

ambiente cognitivo. Ela propõe também que a mente humana procura obter o

máximo de informação com o mínimo de esforço.

O ser humano utiliza a leitura em vários locais e com diversas finalidades e,

“Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a

sua formação: familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.”

19

(DCEB, 2008, p.56), pois de acordo com a Teoria da Relevância, se os

leitores/ouvintes não tiverem nenhuma representação mental do assunto lido, jamais

chegarão às inferências só com as informações presentes no texto, uma vez que

para que seja feita a interpretação, compreensão de qualquer texto, quer seja ele,

verbal ou não-verbal, é necessário que o leitor/ouvinte tenha um conhecimento

enciclopédico, valores e conhecimentos de uma comunidade, social e culturalmente

estabelecidos, acerca do assunto presente em cada texto lido. Para Seide (2006):

Psicologicamente, do ponto de vista do indivíduo que está interpretando um enunciado, a decodificação traz informações que formam um contexto cognitivo inicial. A partir dele, o sujeito elabora suposições formuladas no interior de determinado contexto cognitivo formado por uma porção de informação enciclopédica. Ao longo do processo, as informações que vão sendo adicionadas (seja, no caso da oralidade, pelo desenvolvimento da conversa seja, no caso da linguagem escrita, pela continuação da leitura) podem ensejar a ativação de outras porções de informação, provocando uma extensão de contexto. Ao mesmo tempo, suposições não relevantes são automaticamente excluídas. Ao longo da comunicação, o conjunto de contextos acessíveis ao sujeito é responsável pela formação de um novo ambiente cognitivo (p.106).

Daí a importância de o professor preparar atividades de pré-leitura, pois

assim ele despertará no aluno interesse pelo texto antes da leitura.

Conforme mostra a análise das entrevistas feitas, os professores têm

bastante conhecimento sobre leitura e o que pode ser feito para a formação de leitor

em sala de aula. Contudo, nem todos utilizam estratégias variadas ou tem noção de

quais seriam as alternativas metodológicas para que as dificuldades por eles

mesmos apontadas pudessem ser superadas. Diante disso e devido às dificuldades

que os professores têm em formar leitores proficientes e críticos, elaborou-se um

Projeto de Intervenção com sugestões de atividades sobre leitura cuja elaboração e

aplicação mostrar-se-á a seguir.

4 O projeto de intervenção

O projeto foi desenvolvido no segundo semestre de 2010, com professores

de Língua Portuguesa e bibliotecária do colégio onde trabalho com o objetivo de

20

apresentar aos participantes que os docentes mais bem sucedidos na formação de

leitores são aqueles que levam em consideração o conhecimento de mundo dos

alunos leitores, pois para Freire (1986, p.11-12):

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.

Assim, a familiarização, em sala de aula ou fora dela, com diferentes textos

produzidos em diversas esferas sociais – jornalísticas, judiciária, didático-

pedagógica, midiática etc, pressupõe que o leitor acionará sua memória e ativará os

diversos tipos de conhecimentos, atribuindo a eles significados, visto que a leitura

não é simplesmente um processo de decodificação, ela também é algo que se

inscreve na dimensão simbólica das atividades humanas. Este trabalho resultou nas

oficinas pedagógicas que foram trabalhadas com os professores de LP e

bibliotecária.

4.1 As oficinas pedagógicas

Com posse dos dados obtidos com as entrevistas realizadas com quatro

professoras de LP, montei as oficinas pedagógicas as quais foram aplicadas aos

professores de Língua Portuguesa e bibliotecária.

Na primeira oficina pedagógica foram abordados e debatidos com os

professores e bibliotecária, os dados obtidos com a análise das entrevistas. Na

sequência, foram realizadas atividades de reflexão acerca da leitura e dos textos de

embasamento. Foi muito satisfatório, uma vez que os participantes expuseram

opiniões a respeito do tema em questão, deram sugestões, enfim, demonstraram

interesse pelo projeto.

Segundo uma participante, o tema do projeto logo a instigou à participação,

pois, para um educador, não é nada fácil lidar com a questão da formação de

“leitores críticos”. Ainda, segundo ela, por vários motivos o professor acaba

21

encontrando dificuldades em formar tais leitores. De acordo com outra participante,

os materiais utilizados nas oficinas auxiliaram na compreensão do tema proposto e a

condução das atividades foi clara e objetiva.

Outra professora relatou que, por mais desinteressado e descomprometido

que um aluno seja, quando surge uma nova metodologia, diferente e mais atrativa,

ele deixará sua postura de passividade e tornar-se-á ativo no processo ensino-

aprendizagem, e é justamente isso que o projeto propõe. Ainda, segundo essa

professora, este trabalho veio justamente para suprir tal necessidade, pois não

apenas questiona o assunto e fala dos seus problemas, mas apresenta sugestões,

práticas de como agir em sala de aula, para que se faça um bom trabalho em

relação à leitura. Outro fator importante, segundo os participantes, foi que eles

tiveram ainda a oportunidade de discutir e trocar experiências com os colegas, uma

vez que nem sempre dispõem de oportunidades como esta.

Na segunda oficina, apresentei a fundamentação teórica sobre a Teoria da

Relevância, de Sperber e Wilson (2001) que enfatiza a importância do conhecimento

prévio no processo interpretativo que leva em consideração as expectativas e

avaliações do leitor sobre o que ele interpreta.

A oficina começou com uma atividade de leitura, segundo a TR. Para isto foi

escolhido um fragmento do livro ‘O Leitor’(SCHLINK, 2010. p. 45-51). Antes da

leitura do texto, foram realizadas atividades de pré-leitura, para instigar a curiosidade

dos participantes em relação ao assunto do livro. Foi muito interessante, pois uma

professora havia começado a leitura do livro e outra havia assistido ao filme no dia

anterior à oficina, mas ambas não sabiam que seria trabalhado um fragmento do

livro/filme nessa oficina. Outro texto trabalhado nessa oficina foi “Felicidade

clandestina”, de Clarice Lispector, narrado por Araci Balabanian.

Para a terceira oficina, selecionei três textos: “Pai Ambrósio”, “O baile – O

ciúme de Verinha”, de Érico Veríssimo e Menor perverso”, de Olavo Bilac. O primeiro

e o segundo textos fazem parte do trabalho desenvolvido pela professora PDE/2009

Aparecida Russiu Nabão Penteado com os seus alunos de 8ª série. Já o terceiro

texto faz parte do trabalho desenvolvido pela professora PDE/2009 Marinesta

Joaquim Tomadon. Todos os textos eram voltados aos alunos para os quais os

professores participantes das oficinas prepararam atividades de pré-leitura

semelhantes às utilizadas na segunda oficina e aplicou-as aos colegas participantes.

Foi uma atividade muito enriquecedora, pois os participantes perceberam a

22

importância de se ter um objetivo quando se prepara uma aula de leitura e também a

importância de se fazer atividades de pré-leitura.

Após o término das oficinas, os participantes fizeram, individualmente, uma

avaliação de todo o trabalho desenvolvido ao longo das oficinas. Sua análise,

apresentada a seguir, mostra em que medida o projeto de intervenção conseguiu

atingir seu objetivo: auxiliar os professores no desafio de formar leitores.

5 Avaliação das oficinas por parte dos professores e bibliotecária

A implementação do Projeto resultou nas oficinas pedagógicas que foram

trabalhadas com os professores de LP e bibliotecária. Penso que os objetivos foram

alcançados, uma vez que os registros das avaliações feitas pelos participantes

demonstram isso. De acordo com uma participante, a Teoria da Relevância é um

método interessante e fácil de se trabalhar com a leitura. Segundo os professores

que participaram das oficinas, as estratégias utilizadas, os materiais e as atividades

propostas os auxiliarão no desafio de formar leitores.

De acordo com um participante, quando falamos em educação, não há como

fugir de responsabilidades que transcendem o espaço físico de uma sala de aula:

Falamos do social, ou seja, da formação de alguém que leva para a sociedade o que aprendeu ou deveria ter aprendido por intermédio de alguém que está ali para também educar. Mas como atingir este objetivo se a cada dia as sociedades se transformam, fazem e desfazem-se? As tecnologias mudam o trabalho, a comunicação, a vida, o cotidiano e até o pensamento das pessoas. Quais lições podemos tirar para a formação de professores que têm um minúsculo campo de ação e uma responsabilidade imensa na formação da sociedade? Para buscar respostas e conhecimentos para tais indagações, professores e bibliotecária se reúnem para troca de experiências que possam atender as expectativas de um grupo preocupado com os anseios da comunidade social. Para tanto, as oficinas pedagógicas e o material didático-pedagógico do projeto “Necessidades e expectativas dos professores de Língua Portuguesa para a formação de leitores críticos” vêm reforçar tais pontos, já que a própria ideia de que as transformações da sociedade clamam automaticamente por evoluções na escola e na formação de profissionais. Nestas oficinas pudemos abordar vários pontos que norteiam a leitura até mesmo de um texto simples. O que pode despertar o interesse dos alunos em um texto? Ou para ser mais otimista, estimulá-lo a ler tornando esse um hábito prazeroso? [...] compreendemos que o objetivo do projeto foi atingido, já que a prática veio concretizar as teorias que o mesmo trazia. Por tratar de algo palpável a nós e ser

23

ministrado por alguém capacitado e que compreende as mesmas dificuldades nossas, a produção didático-pedagógica trouxe ideias novas para contribuir e aprimorar não só a minha prática pedagógica, mas a de todos que dela participaram.

As oficinas realizadas por mim, segundo uma professora, foram

enriquecedoras, pois proporcionaram um espaço aberto para expor nossas ideias,

opiniões e experiências vividas em sala de aula. Ainda, de acordo com essa

professora, as oficinas foram apresentadas de uma forma dinâmica, criativa; além de

o material apresentado ser muito rico, podendo servir como sugestões para auxiliar

o professor a ter mais embasamento teórico em relação ao tema proposto.

De acordo com outra professora participante das oficinas, é importante

ressaltar que é sempre mais fácil criticar do que sugerir formas de solucionar os

problemas. Corroborando seu ponto de vista, ela enfatiza que o que vemos em

muitos documentos são críticas vazias, sem nenhuma apresentação de soluções.

Por isso, segundo ela, o trabalho aqui apresentado é de grande relevância para o

ensino da leitura na Escola Pública.

Uma outra participante relatou que, além de o tema ser de grande

relevância, o material utilizado e a condução do trabalho foram excelentes. Ela

afirma, inclusive, já ter adaptado à sua prática alguns dos conhecimentos produzidos

nas oficinas, pesquisando o que a instiga saber ainda mais sobre a TR e, o que é

principal, refletindo sempre sobre a sua prática e o que ela pode fazer em prol da

formação de leitores proficientes, cultos e críticos.

Segundo a bibliotecária, depois de conhecer um pouco sobre a TR, ela

conseguiu perceber que os processos descritos pela teoria são utilizados por todos

cotidianamente, independente de as pessoas terem qualquer conhecimento prévio

dessa teoria. Ela também ressaltou a importância da TR para o ensino de leitura.

Para outra participante, a proposta apresentada neste projeto foi de grande

valia para o desenvolvimento do seu trabalho em sala de aula, pois veio tirar

algumas dúvidas de como trabalhar aulas de leitura e de produção textual, tornando-

a mais segura para desenvolver o trabalho com os alunos.

De acordo com outra professora, os trabalhos realizados nas três oficinas

vieram somar à maneira como ela vinha trabalhando no decorrer dos anos e que a

condução das atividades foram claras, objetivas e sugestivas para o bom andamento

24

do trabalho pedagógico na sala de aula. Com isso, foram surgindo ideias, as quais

vieram aprimorar a prática pedagógica docente.

Os comentários dos participantes mostram que pelo menos algumas das

necessidades dos educadores quanto à formação de leitores proficientes e críticos

foram supridas, pelo menos parcialmente. Acredito que as atividades propostas

possam ser aplicadas em sala de aula, que a ativação dos conhecimentos prévios

dos alunos possibilita uma melhor compreensão do texto, promovendo, assim,

mudanças no indivíduo e, consequentemente, mudanças sociais, uma vez que:

A leitura vai além do texto (seja ele qual for) e começa antes do contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser mero decodificador ou receptor passivo. Além disso, tanto o contexto em que ele atua quanto as pessoas com quem ele convive têm influência apreciável em seu desempenho na leitura (MARTINS, 2007,p. 32-33).

Considerações finais

Com os resultados da pesquisa e com a aplicação das oficinas pedagógicas

verificou-se que há uma grande preocupação, por parte dos participantes, em formar

leitores, no entanto, segundo eles, esta não é uma tarefa fácil e todos (professores,

bibliotecários e pais) devem participar mais deste processo. Para eles, é possível

formar leitores só que primeiramente, tem que fazê-los sentir o gosto pela leitura.

De acordo com as DCEB (2008), a leitura é vista como um ato dialógico,

interlocutivo e, que o leitor, nesse contexto, tem um papel ativo. No entanto, para se

efetivar como co-produtor, ele tem que procurar pistas formais, formular e reformular

hipóteses, aceitar ou rejeitar conclusões, usar estratégias baseadas no seu

conhecimento linguístico, nas suas experiências e na sua vivência sócio-cultural (p.

71). Isso também se confirma na Teoria da Relevância, de Sperber e Wilson (2001)

que enfatiza a importância do conhecimento prévio no processo interpretativo e leva

em consideração as expectativas e avaliações do leitor/ouvinte sobre o que ele

interpreta. Diante disso, o professor deve atuar como mediador, realizar atividades

que propiciem reflexão e discussão, dando, assim, condições para que o aluno

atribua sentidos a sua leitura.

25

Verificou-se também, neste estudo, que os professores e os demais

envolvidos com o processo ensino e aprendizagem possuem saberes que vão além

dos adquiridos na formação acadêmica, pois segundo Tardif (2002), o saber docente

é plural, uma vez que os professores possuem saberes acadêmicos, disciplinares,

curriculares e experienciais; os quais exigem dos professores capacidade de

dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condição para sua prática.

Após analisar os resultados obtidos na implementação do projeto, percebi o

quanto foi enriquecedor participar do PDE e trabalhar este tema, o qual teve o

propósito de proporcionar fundamentação teórica acerca do assunto em questão,

estratégias e materiais didáticos motivadores, de modo a suscitar a discussão sobre

o trabalho com leitura na sala de aula e a formação do leitor proficiente e crítico.

Como síntese das conclusões a que cheguei com todo este trabalho, percebi ser

imprescindível “mostrar que cada um precisa buscar o seu jeito de ler e aprimorá-lo

para a leitura se tornar cada vez mais gratificante” (MARTINS, 2007, p.85).

Referências

ALMEIDA, Adriana Aparecida Borin de. BRITTO, Luiz Percival Leme. A Literatura no Ensino Médio: perspectivas de intervenção metodológica. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 17., 2009, Campinas. Anais do 17º COLE, Campinas, SP,: ALB, 2009. Disponível em: <http://www.alb.com.br/portal.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BIBLIOTECÁRIOS, ARQUIVISTAS E DOCUMENTALISTAS. Manifesto da Unesco sobre as bibliotecas escolares (1999). Disponível em: <http://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf>. Acesso em 20 mai. 2010.

BARROS, Deusa Castro. Leitura literária no Ensino Médio: estratégias de formação do leitor em cursos técnicos do IF-Goiás. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 17., 2009, Campinas. Anais do 17º COLE, Campinas, SP,: ALB, 2009. Disponível em: <http://www.alb.com.br/portal.html>. Acesso em: 22 abr. 2009.

CÂNDIDO, Gláucia Vieira. MINI-CURSO “LEITURA E ESCRITA” . 2009, p. 5-6. Disponível em: < http://www.unucseh.ueg.br/gicli/Glaucia/MiniCurso.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2010.

26

COENGA, Rosemar. Ler por prazer : perspectivas para a leitura literária na escola. Disponível em: <http://www.ice.edu.br/TNX/storage/webdisco/2008/12/19/>. Acesso em: 27 mai. 2010.

GUEDES, Paulo Coimbra; SOUZA, Jane Mari de. Leitura e escrita são tarefas da escola e não só do professor de português. 2008, p. 2. Disponível em: <http://uniamericas.com.br/download/portugues3/mai08/Apostila.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2010.

KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria & prática. 12a ed. Campinas, SP: Pontes, 2008.

_________. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da Leitura. 12a ed. Campinas, SP: Pontes, 2009.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo . 6a ed. São Paulo: Ática. 2000.

LINARDI, Fred; LIMA, Eduardo. Ler por prazer: O X da questão . In: Revista NOVA Escola, Edição Especial, No 18, 2008, p.9. LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina . In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=7339. Acesso em: 10 jul. 2010.

MAGALHÃES, Cristiane de Carvalho; SILVA, Patrícia Maria da. A importância do professor na formação do aluno leitor da educação d e jovens e adultos. In: Enciclopédia Biosfera, N.04, 2007 ISSN 1809-0583. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2007B/IMPORTANCIA%20DO%20PROFESSOR.pdf>. Acesso em: 07 jul.2010

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura . São Paulo: Brasiliense, 2007. – (Coleção Primeiros Passos; 74).

NUNES, Izabel Cordeiro dos Santos. O texto literário no Ensino Fundamental. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/901-4.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2010.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Língua Portuguesa. Paraná: SEED, 2008.

PENTEADO, Aparecida Russiu Nabão. Linguagem, preconceito e leitura: construindo sentidos para desconstruir preconceitos. In: Produção Didático-Pedagógica, apresentada como um dos requisitos para a conclusão do PDE –

27

Programa de Desenvolvimento Educacional 2009/2010, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em parceria com a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento. 2010, p. 30-31.

PINHEIRO, A.S. Leitura e ensino: o papel do professor leitor na formação de leitores literários. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 17., 2009, Campinas. Anais do 17º COLE, Campinas, SP,: ALB, 2009. Disponível em: <http://www.alb.com.br/portal.html>. Acesso em: 22 abr. 2009. ISSN: 2175-0939

RAIMUNDO, Ana Paula Peres. A mediação na formação do leitor. In: CELLI - COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá. Anais... Maringá, 2009, p. 107-117. Disponível em: <http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_literarios/pdf_literario/010.pdf>. Acesso em: 19 mai. 2010.

RATIER, Rodrigo. O desafio de ler e compreender . In: Revista NOVA Escola, Edição Especial, No 28, 2010, p.10.

SCHLINK, Bernhard. O Leitor . Trad. de Pedro Süssekind. 10a ed. – Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 45-51.

SEIDE, Márcia Sipavícius. As histórias de Mafalda e o ensino de Língua Portuguesa. In: Revista Trama. V. 2, No 3, 1o semestre, 2006, p. 105-107. Disponível em: <<http://e-revista.unioeste.br/index.php/trama/article/view/277>. Acesso em: 07 jul. 2010.

SÉRIE Ler e escrever: compromisso da escola. Programa Salto para o Futuro. TV Escola. Equipe do Núcleo de Integração Universidade Escola da Pró-Reitoria de Extensão da UFRGS - NIUE/UFRGS, Ago. 2002. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/ler/ler0.htm>. Acesso em: 20 mai. 2010.

SILVA, Ana Maria da; GAFFURI, Priscila; MENEGASSI, Renilson José. Leitura e pré-leitura na sala de aula do Ensino Fundamental . Artigo publicado nos Anais do I CONGRESSO NACIONAL DE LINGUAGEM EM INTERAÇÃO. Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, 18 a 21 de outubro de 2006. Disponível em: <http://www.escrita.uem.br/escrita/pdf/amsilva.pdf>. Acesso em: 5 jul. 2010.

SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 1996.

SILVA, Mônica do Amparo. Biblioteca escolar e educação . In: III Seminário Biblioteca Escolar: espaço de ação pedagógica. Belo Horizonte, 2004, p. 15. Disponível em: <http://gebe.eci.ufmg.br/downloads/323.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2010.

28

SOARES, Magda Becker. As condições sociais da leitura: uma reflexão em contraponto. In: Leitura: perspectivas interdisciplinares. 5ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2005.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura . 6a ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.

________. Fala, mestre! In: Revista NOVA Escola, Edição Especial, No 28, 2010, p.16.

SPERBER, Dan; WILSON, Deirdre. Relevância: comunicação e cognição. Trad. Helen Santos Alves. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. Marise Soares Diniz. Disponível em: <http://www.uniube.br/propep/mestrado/revista/vol05/13/resenhas/R-13-001-Final.pdf.>. Acesso em: 17 nov. 2010.

TOMADON, Marinesta Joaquim. Estratégias para tornar a leitura relevante aos alunos do Ensino Médio. In: Produção Didático-Pedagógica, apresentada como um dos requisitos para a conclusão do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional 2009/2010, ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em parceria com a Secretaria de Tecnologia e Desenvolvimento. 2010, p. 12-13.

VIEIRA, Letícia Alves. Formação do leitor: a família em questão. In: III SEMINÁRIO BIBLIOTECA ESCOLAR: ESPAÇO DE AÇÃO PEDAGÓGICA. 2004, Belo Horizonte. Disponível em: <http://gebe.eci.ufmg.br/?Semin%E1rios:III_Semin%E1rio_Biblioteca_Escolar>. Acesso em: 20 mai. 2010.