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I. Considerações iniciais Compreenda-se por defeitos dos negócios jurídicos as imperfeições que nele podem surgir, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou na sua declaração. Para ser juridicamente eficaz, a vontade tem de ser livre e incondicionada no seu nascimento e correta na sua expressão. Classificam-se esses vícios em: VÍCIO DE CONSENTIMENTO, quando a vontade exposta pelo agente diverge da verdadeira vontade. Como acontece no erro, dolo, estado de perigo, coação e lesão e VÍCIO SOCIAL, quando há o intuito do agente de prejudicar terceiros. Como ocorre na fraude contra credores.

D.Civil II - DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

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Defeitos no negócio jurídico

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Defeitos do negcio jurdico

I. Consideraes iniciaisCompreenda-se por defeitos dos negcios jurdicos as imperfeies que nele podem surgir, decorrentes de anomalias na formao da vontade ou na sua declarao.

Para ser juridicamente eficaz, a vontade tem de ser livre e incondicionada no seu nascimento e correta na sua expresso.

Classificam-se esses vcios em: VCIO DE CONSENTIMENTO, quando a vontade exposta pelo agente diverge da verdadeira vontade. Como acontece no erro, dolo, estado de perigo, coao e leso e VCIO SOCIAL, quando h o intuito do agente de prejudicar terceiros. Como ocorre na fraude contra credores. II. ESPCIESErro ou ignorncia: arts. 138 a 144, CCDolo: arts. 145 a 150, CCCoao: arts. 151 a 155, CCEstado de perigo: art. 156, CCLeso: art. 157, CCFraude contra credores: arts. 158 a 165, CCIII.ERRO OU IGNORNCIA: caracterizaoO Cdigo Civil equiparou o erro ignorncia quanto aos efeitos jurdicos: anulabilidade do negcio jurdico.

O erro consiste na compreenso errnea da realidade, isto , na incorreta interpretao de um fato.

A ignorncia o total desconhecimento a respeito de um fato.III.1.ERRO OU IGNORNCIA: compreensoD-se o erro ou ignorncia, portanto, quando o agente tem uma falsa noo dos elementos ou circunstncias do negcio jurdico, ou, ainda, pelo desconhecimento natural da matria. Ocorre uma divergncia entre a vontade declarada e uma vontade hipottica, a que existiria no agente caso no estivesse em erro, mas o prprio a gente tropea em sua ignorncia.

III.2.Erro ou ignorncia: classificaoNo qualquer erro que torna anulvel o negcio jurdico.

Exige-se, para a sua configurao, que se trate de erro

Substancial, Escusvel e RealIII.2.1. previsoArt. 138. So anulveis os negcios jurdicos, quando as declaraes de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligncia normal, em face das circunstncias do negcio.Art. 139. O erro substancial quando:I - interessa natureza do negcio, ao objeto principal da declarao, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;II - concerne identidade ou qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declarao de vontade, desde que tenha infludo nesta de modo relevante;III - sendo de direito e no implicando recusa aplicao da lei, for o motivo nico ou principal do negcio jurdico.Art. 140. O falso motivo s vicia a declarao de vontade quando expresso como razo determinante.Art. 141. A transmisso errnea da vontade por meios interpostos anulvel nos mesmos casos em que o a declarao direta.Art. 142. O erro de indicao da pessoa ou da coisa, a que se referir a declarao de vontade, no viciar o negcio quando, por seu contexto e pelas circunstncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.Art. 143. O erro de clculo apenas autoriza a retificao da declarao de vontade.Art. 144. O erro no prejudica a validade do negcio jurdico quando a pessoa, a quem a manifestao de vontade se dirige, se oferecer para execut-la na conformidade da vontade real do manifestante.III.3.Erro substancial ou essencialErro substancial ou essencial o que recai sobre circunstncias e aspectos relevantes do negcio jurdico.

Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vcio da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial quanto pessoa do outro.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cnjuge:I - o que diz respeito sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado;II - a ignorncia de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportvel a vida conjugal;III - a ignorncia, anterior ao casamento, de defeito fsico irremedivel, ou de molstia grave e transmissvel, pelo contgio ou herana, capaz de pr em risco a sade do outro cnjuge ou de sua descendncia;IV - a ignorncia, anterior ao casamento, de doena mental grave que, por sua natureza, torne insuportvel a vida em comum ao cnjuge enganado.III.3.1.ERRO SUBSTANCIAL E ERRO ACIDENTALO erro acidental se ope ao substancial, porque se refere a circunstncias secundrias do objeto ou da pessoa.

III.3.2.Erro substancial X VCIO REDIBITRIOO erro substancial no se confunde com o vcio redibitrio.

O erro essencial de natureza subjetiva e reside na manifestao da vontade.

O vcio redibitrio erro objetivo sobre a coisa, que contm um defeito oculto. V. arts. 441 a 446 do Cdigo Civil.

III.4.Erro escusvelAlm de substancial, o erro deve ser escusvel, isto , justificvel, desculpvel, pois o erro grosseiro ou inescusvel no implica na anulao do negcio jurdico.

O atributo da escusabilidade decorre da leitura do art. 138, CC: So anulveis os negcios jurdicos, quando as declaraes de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligncia normal, em face das circunstncias do negcio.III.5. erro realAlm de substancial (essencial) e escusvel, o erro dever ser real, isto , efetivo, tangvel, palpvel, concreto causador de prejuzo para o interessado.iii.6. Falso motivoArt. 140, CC: O falso motivo s vicia a declarao de vontade quando expresso como razo determinante.

Os motivos so as ideias, razes subjetivas, que normalmente no tm relevncia para a apreciao da validade do negcio. Exemplo: o que leva uma pessoa compra de um imvel comercial? III.6.1. FALSO MOTIVOPortanto, o erro quanto ao objetivo no vicia, via de regra, o negcio jurdico.

Mas pode ocorrer, por exemplo, que a aquisio de um imvel comercial tendo a perspectiva (falsa) de numerosa freguesia, que posteriormente se verifica ser falso.III.7. Transmisso errnea da vontadePrescreve o art. 141, CC:

A transmisso errnea da vontade por meios interpostos anulvel nos mesmos casos em que o a declarao direta.

Pessoa interposta: mensageiroMeio de comunicao: e-mail.

III.7.1. transmisso errnea da vontadeEm suma, haver vcio a anular o negcio jurdico se a transmisso da vontade (seja por pessoa interposta, seja pelo meio de comunicao utilizado) no foi feita de maneira fiel vontade, estabelecendo-se uma divergncia, uma discrepncia, entre o desejado e o que foi erroneamente transmitido.III.8.1. EFEITOS JURDICOS: anulaoA) Anulao do negcio jurdico, na forma do art. 171, inciso II, do CC.

H prazo decadencial para argio da anulabilidade: 4 (quatro) anos, a contar do dia em que se realizou o negcio jurdico (art. 178, inciso II, do CC). III.8.2. EFEITOS JURDICOS: convalescimentoHiptese do art. 144, CC/2002:O erro no prejudica a validade do negcio jurdico quando a pessoa, a quem a manifestao de vontade se dirige, se oferecer para execut-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Exemplo: Amrico pensa que comprou o lote n. 2, da quadra A, quando, em verdade, adquiriu o n. 2 da quadra B. Antes de se anular o negcio jurdico, o vendedor lhe entrega o lote da quadra A, no havendo qualquer dano para Amrico.

IV. DOLO: consideraes iniciaisO dolo consiste em artifcio, artimanha, engodo, encenao, desejo maligno tendendo a viciar a vontade do destinatrio, desviando-se da sua correta direo (dolo).

Vale notar que, h uma diferena entre DOLO CIVIL e o DOLO PENAL (CRIMINAL). Neste ltimo, h a inteno de praticar um ato que se sabe que contrrio s leis; aquele, assim considerado como todo e qualquer artifcio utilizado para enganar algum. V. Art. 18, I, CP.O DOLO PROCESSUAL, por seu turno, aquele onde uma das partes age de forma reprovvel nos autos do processo, contrria boa-f e que sujeita, tanto o autor como o ru que assim procedem, a diversas sanes. V. Art. 14, CPC.

Requisitos para a configurao do doloA) Inteno de induzir o declarante a praticar o ato jurdico;B) Utilizao de recursos fraudulentos graves;C) Que esses artifcios sejam a causa determinante da declarao da vontade, eD) Que procedam do outro contratante ou sejam por este conhecidos como procedentes de terceiros.Dolo essencialExpediente astucioso empregado para induzir algum prtica de um ato jurdico que o prejudica, em proveito do autor do dolo, sem o qual o lesado no o teria praticado, tornando viciada a vontade e conduzindo anulao do ato (art. 145).

DOLO ACIDENTALDolo acidental: expediente praticado no curso de negociao j iniciada, que apenas legitima a responsabilizao por perdas e danos, mas no conduz anulao do ato (art. 146).

Dolo positivo x dolo negativoDolo positivo ou comissivo: se d mediante expedientes enganatrios, verbais que importam em uma srie de atos, perfazendo uma conduta. Exemplo: Impresso falsa da Bolsa de Valores para induzir algum a adquirir certas aes.

Dolo negativo ou omissivo: se d mediante a ausncia maliciosa de ao para incutir falsa ideia ao declaratrio. V. Art. 147, CC.DOLUS BONUS x dolus malusDolus bonus: aquele ato tolerado pelas partes, que no conduz anulao do ato. Exemplo: atitude do comerciante que elogia exageradamente sua mercadoria em detrimento dos concorrentes.

Dolus malus: o dolo que prejudica efetivamente a vtima, capaz de viciar sua vontade, tornando o negcio anulvel. E um artifcio fraudulento que consegue enganar at mesmo as pessoas mais cautelosas e instrudas.Dolo de terceiroGeralmente o dolo vem de uma das partes contratantes. Porem, neste caso, o dolo intencionado por um terceiro for a da eficcia direta do negocio jurdico. De uma forma genrica o dolo de terceiro pode ocorrer diretamente, ou seja, por parte de um dos contratantes. Dolo de terceiro, estranho ao negocio jurdico, mas com cumplicidade de uma das partes. Pode ocorrer tambm com mero conhecimento da parte a quem aproveita. E ainda exclusivamente de terceiro, sem que dele tenha conhecimento o favorecido, sendo assim, neste caso o negocio persiste mas o autor do dolo responde por perdas e danos por praticar o ato ilcito .Sendo que nos trs primeiros casos, so passiveis de anulao. (V. Art. 148, CC.)Dolo do representante legal aquele praticado pelo representante, cuja soluo se d pela regra que obriga o representado a responder civilmente ate a importncia do proveito que tirou , deixando-se aberto a questo da nulidade do ato.

V. Art. 149, CC.

Dolo de ambas as partesOcorre quando o dolo provm das duas partes contratantes. Se ambas as partes procederam com dolo, nenhuma pode alega-lo para anular o ato , ou reclamar indenizao.Aplicao da regra: nemo propriam turpidinem allegans.

V. Art. 150, CC.conclusesTrata-se de vcio de consentimento, conduzindo-se anulao do negcio jurdico. na forma do art. 171, inciso II, do CC.

H prazo decadencial para arguio da anulabilidade: 4 (quatro) anos, a contar do dia em que se realizou o negcio jurdico (art. 178, inciso II, do CC).

V. Art. 145, CC.V. coaoCoao toda ameaa ou presso injusta exercida sobre um indivduo para for-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negcio.

O que a caracteriza o emprego da violncia psicolgica para viciar a vontade. No a coao, em si, um vcio da vontade, mas sim o temor que ela inspira, tornando defeituosa a manifestao de querer do agente. Nosso direito positivo referindo-se a esse defeito, ora o chama de coao (arts. 151 a 155, e 171, II), ora de violncia (art. 1.814, III).Esta o vcio mais grave e profundo que pode afetar o negcio jurdico, mais at do que o dolo, pois impede a livre manifestao da vontade, enquanto este incide sobre a inteligncia da vtima.

ESPCIES DE COAOa) Coao absoluta ou fsica e coao relativa ou moral

Na coao absoluta incorre qualquer consentimento ou manifestao da vontade. A vantagem pretendida pelo coator obtida mediante o emprego de fora fsica. Por exemplo: a colocao da impresso digital do analfabeto no contrato, agarrando-se fora o seu brao. Embora, por inexistir nesse caso qualquer manifestao da vontade, os autores em geral considerem nulo o negcio jurdico, trata-se na realidade de hiptese de inexistncias, que a declarao da vontade.A coao que constitui vcio da vontade e torna anulvel o negcio jurdico (CC, art. 171, II) a relativa ou moral. Nesta, deixa-se uma opo ou escolha vtima: praticar o ato exigido pelo coator ou correr o risco de sofrer as conseqncias da ameaa por ele feita. Trata-se, portanto, de uma coao psicolgica. o que ocorre, por exemplo, quando o assaltante ameaa a vtima, apontando-lhe a arma e propondo-lhe a alternativa: o relgio ou a vida.

ESPCIES DE COAOb) Coao principal e coao acidental

Embora o Cdigo Civil no faa diferena, a doutrina entende existir coao principal e acidental, como no dolo. Aquela seria a causa determinante do negcio; esta influencia apenas as condies da avena, ou seja, sem ela o negcio assim mesmo se realizaria, mas em condies menos desfavorveis vtima.A coao principal constitui causa de anulao do negcio jurdico; a acidental somente obriga ao ressarcimento do prejuzo.

COAO ACIDENTALApelao n. 9257701-06.2005.8.26.0000 Rel. CLVIS CASTELOrgo julgador: 35 Cmara do D.OITAVO Grupo (TJ/SP) Data do julgamento: 18/06/2007 PRESTAO DE SERVIOS - ENERGIA ELTRICA - CONSUMO NO REGISTRADO PELO RELGIO MEDIDOR - TERMO DE OCORRNCIA DE IRREGULARIDADE - ACORDO DE PARCELAMENTO DO DBITO COMO CONDIO PARA O RESTABELECIMENTO DO SERVIO - ANULAO DE ACORDO QUITADO C.C. REPETIO DO INDBITO - COAO - CC/2002, ARTS. 171, 151 E 153 - EXERCCIO REGULAR DE DIREITO - EXCESSO - RESTITUIO - ADMISSIBILIDADE. Via de regra, constatada a fraude no relgio medidor e elaborado o termo de ocorrncia de irregularidade, a ameaa de corte/suspenso do fornecimento de energia eltrica, em princpio, no caracteriza coao apta a anular o instrumento de confisso de dvida e parcelamento de dbito, posto que inseridos no procedimento autorizado pela Lei n 8.987/95 e Resoluo Aneel n 456/00, consubstanciando exerccio regular de direito que exclui a possibilidade de anulao do negcio jurdico assim obtido (CC/2002, arts. 153 e 171). Contudo, restando comprovado que a ameaa constituiu causa determinante para que o negcio entabulado o fosse em condies muito desfavorveis ao usurio, tem-se por caracterizada hiptese de coao 'acidental', qu conquanto no anule o negcio jurdico, obriga a devoluo da quan excessiva (CC/2002, arts. 876 e 884). Requisitos da coaoConfira-se:

Art. 151. A coao, para viciar a declarao da vontade, h de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considervel sua pessoa, sua famlia, ou aos seus bens.

Pargrafo nico. Se disser respeito a pessoa no pertencente famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstncias, decidir se houve coao.

REQUISITOSa) A coao deve ser a causa determinante do ato

Deve haver uma relao de causalidade entre a coao e o ato extorquido, isto , o negocio deve ter sido realizado somente por ter havido grave ameaa ou violncia, que provocou na vtima fundado receio de dano sua pessoa, sua famlia ou aos seus bens. Sem ela, o negcio no se teria concretizado.Incumbe parte que pretende a anulao do negcio jurdico o nus de provar o nexo de causalidade e efeito entre a violncia e a anuncia.

requisitosb) Deve ser grave:

A coao, para viciar a manifestao de vontade, h de ser de tal intensidade que efetivamente incuta na vtima um fundado temor de dano a bem que considera relevante. Esse dano pode ser moral ou patrimonial.Para aferir a gravidade ou no da coao, no se considera o critrio abstrato do vir medius, isto , no se compara a reao da vtima com o homem mdio, de diligncia normal. Por esse critrio, se a mdia das pessoas se sentir atemorizada na situao da vtima, ento a coao ser considerada grave.

REQUISITOSDiz o art. 153, segunda parte, do novo estatuto civil, que no se considera coao o simples temos reverencial. Assim, no se reveste de gravidade para anular o ato o receio de desgostar os pais ou outras pessoas a quem se deve obedincia e respeito, como os superiores hierrquicos. Por exemplo, na ameaa do pai para seu filho, que se este no fizer a lio de casa ficar sem comer macarro um ms, ou ento, a ameaa do chefe para seu funcionrio, que se este no finalizar uma determinada tarefa no tempo j estipulado, haver diminuio em seu salrio. No casamento, consideram-se coao, e no simples temos reverencial, as graves ameaas de castigo filha, para obrig-la a casar. Do mesmo modo, nas relaes trabalhistas transforma-se em coao o temor reverencial do empregado quando o patro faz ameaas ao seu comportamento normal. Em concluso: o simples temor reverencial no se equipara coao, mas, se for acompanhado de ameaas ou violncias, transforma-se em vcio da vontade.

requisitosc) Deve ser injusta deve ser entendida como ilcita, contraria ao direito, ou abusiva. Prescreve, com efeito, o art. 153, primeira parte, do Cdigo Civil: no se considera coao a ameaa do exerccio normal de um direito. Assim, por exemplo, no constitui coao a ameaa feita pelo credor de protestar ou executar o ttulo de crdito vencido e no pago, a intimidao feita pela mulher a um homem de propor contra ele ao de investigao de paternidade etc. Neste casos cabe proceder um acordo com o seu direito.O citado no dispositivo em tela emprega o adjetivo normal, referindo-se ao exerccio do direito. Desse modo, configura-se a coao no apenas quando o ato praticado pelo coator contraria o direito, como tambm quando sua conduta, conquanto jurdica, constitui exerccio anormal ou abusivo de um direito. Assim, injusta a conduta de quem se vale dos meios legais para obter vantagem indevida. Por exemplo: a do credor que ameaa proceder execuo da hipoteca contra sua devedora caso esta no concorde em despos-lo, a do indivduo que, surpreendendo algum a praticar algum crime, ameaa denunci-lo caso no realize com ele determinado negcio. O problema no se altera pelo fato de haver a vtima da coao agido com culpa.

REQUISITOSd) Deve dizer respeito a dano atual ou iminente A lei refere-se a dano iminente, que significa atual e inevitvel, pois a ameaa de um mal impossvel, remoto ou evitvel, no constitui coao capaz de viciar o ato. Tem ela em vista aquele prestes a se consumar, variando a apreciao temporal segundo as circunstancias de cada caso.O mal iminente sempre que a vtima no tenha meio para furtar-se ao dano, quer com os prprios recursos, quer mediante auxlio de outrem, ou da autoridade pblica. A existncia de dilatado intervalo entra a ameaa e o desfecho do ato extorquido permite vtima ilidir-se os efeitos, socorrendo-se de outras pessoas.A iminncia do dano, exigida pelo Cdigo, no significa que a ameaa deva realizar-se imediatamente. Basta que provoque, desde logo, no esprito da vtima, um temor de intensidade suficiente para conduzi-la a contratar.

REQUISITOSe) Deve constituir ameaa de prejuzo pessoa ou a bens da vtima ou a pessoas de sua famlia A intimidao pessoa pode ocorrer de diversas formas, como sofrimentos fsicos, crcere privado, tortura etc. Pode configurar coao tambm a ameaa de provocao de dano patrimonial, como incndio, depredao, greve etc. O lesado pode se sentir intimado, ainda, com ameaa de dano a pessoa de sua famlia, o termo famlia usado no art. 151, tem, hoje, acepo ampla, compreendendo a que resulta do casamento como tambm a decorrente de unio estvel. O Cdigo Civil brasileiro de 2002, inovando, adota essa orientao, dispondo, no pargrafo nico do art. 151, que se a coao disser respeito a pessoa no pertence famlia do paciente, o juiz, com base nas circunstancias, decidir se houve coao. O texto bastante amplo, abrangendo inclusive pessoas no ligadas ao coacto por laos de amizades.

Efeitos jurdicosTrata-se de vcio de consentimento, conduzindo-se anulao do negcio jurdico. na forma do art. 171, inciso II, do CC.

H prazo decadencial para arguio da anulabilidade: 4 (quatro) anos, a contar do dia em que se realizou o negcio jurdico (art. 178, inciso II, do CC).

VI. Estado de perigoSituao de temor que leva o necessitado a praticar um ato que em outras condies no faria, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigao excessivamente onerosa. Acarreta anulabilidade e vicio de consentimentoEstado de perigoArt. 156. Configura-se o estado de perigo quando algum, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua famlia, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigao excessivamente onerosa.Pargrafo nico. Tratando-se de pessoa no pertencente famlia do declarante, o juiz decidir segundo as circunstncias.

Diferenas entre coao e estado de perigoO perigo de dano representa uma violncia que diminui ou at elimina a liberdade que deve haver no momento da declarao da vontade para que o negcio seja vlido socialmente. Todavia, tal ameaa pode ter sido praticada at pela prpria vtima. Quem provocou no importa. O que importa o violento temor de dano que tomou conta do declarante e o fez participar de um negcio excessivamente oneroso.Portanto, principalmente nesse aspecto que o negcio em estado de perigo se diferencia do negcio viciado pela coao. Na coao, apenas o aspecto subjetivo levado em considerao; naquele temos a vontade, que pode estar realmente viciada, e o contrato em condies objetivamente inquas. essa iniquidade, esse desequilbrio, aliados vontade perturbada, que caracteriza o negcio em estado de perigo.TERESA ANCONA LOPEZVII. LesoArt. 157. Ocorre a leso quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperincia, se obriga a prestao manifestamente desproporcional ao valor da prestao oposta. 1. Aprecia-se a desproporo das prestaes segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negcio jurdico. 2. No se decretar a anulao do negcio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a reduo do proveito.ConceitoPrejuzo econmico que resulta da desproporo entre as prestaes de um contrato, diante de necessidade premente ou, ainda, inexperincia do agente.Quando uma pessoa natural, sob necessidade, ou por inexperincia, se obriga a prestao desproporcional ao valor da prestao proposta. Acarreta anulabilidade e vcio de consentimento.

RequisitosA) Objetivo: lucro exagerado, pela desproporo das prestaes que fornece um dos contratantes.

B) Subjetivo: dolo de aproveitamento, isto , na circunstncia de uma das partes aproveitar-se da outra pela inexperincia, leviandade ou estado de premente necessidade.EfeitosTrata-se de vcio de consentimento, conduzindo-se anulao do negcio jurdico. na forma do art. 171, inciso II, do CC.

H prazo decadencial para arguio da anulabilidade: 4 (quatro) anos, a contar do dia em que se realizou o negcio jurdico (art. 178, inciso II, do CC).

VIII Fraude contra credoresTrata-se de vcio social de desconformidade entre a declarao de vontade e a ordem jurdica, exteriorizado por qualquer ato praticado pelo devedor j insolvente ou por esse ato levado insolvncia com prejuzos de seus credores.

Em suma, quando o devedor age com malcia, para depauperar deliberadamente seu patrimnio, h fraude, podendo os credores se insurgirem contra os atos fraudulentos por meio da ao pauliana.

REQUISITOS PARA A CONFIGURAORequisitos para configurao da Fraude contra Credores, abrindo-se a possibilidade da Ao Pauliana:

A) Anterioridade do crdito (art. 158, 2) = o crdito deve ser anterior ao ato tido como fraudulento.

B) consilium fraudis = elemento subjetivo: dispensa-se a inteno precpua de prejudicar, bastando para a existncia da fraude o conhecimento dos danos resultantes da prtica do ato.

REQUISITOS PARA A CONFIGURAOC) eventus damni: o prejuzo decorrente do ato praticado pelo devedor que, deliberadamente, pratica ato em prejuzo de determinado credor.

Observao:

Devedor solvente = Aquele que possui suficiente patrimnio para saldar todos os seus compromissos.

Devedor insolvente = Aquele que no possui suficiente patrimnio para saldar todos os seus compromissos. AO PAULIANAA origem da ao pauliana remonta ao direito romano.Em razo do pretor Paulo, que introduziu a anulabilidade nos casos de fraude contra credores no direito romano, houve esta nomeao. esta ao ajuizada pelos credores em relao aos atos fraudulentos. A ao pauliana tem natureza DESCONSTITUTIVA DO NEGCIO JURDICO, uma vez que anula o negcio fraudulento.

AO PAULIANARevolucionou a ideia de reparabilidade quando, ento, introduziu-se a possibilidade da actio pauliana, como medida para punir a fraude contra credores, protegendo os credores, a igualdade entre eles e o patrimnio do devedor.

O objeto da ao pauliana, enfim, ANULAR o ato tido como prejudicial ao credor.AO PAULIANA- Legitimidade Ativa Apenas podem ajuizar a ao pauliana: a) CREDORES QUIROGRAFRIOS: uma vez que no possuem qualquer garantia especial do recebimento de seus crditos. b) CREDORES QUE J OCUPAVAM ESTE CARGO AO TEMPO DA ALIENAO FRAUDULENTA: no possvel que algum que se tornou credor APS a operao fraudulenta deseje ajuizar uma ao.

AO PAULIANA- Legitimidade Passiva

A ao pauliana ou revocatria dever ser ajuizada contra:A) o devedor insolvente,B) contra a pessoa que com ele celebrou a estipulao considerada fraudulenta,C) contra terceiros adquirentes que tenham agido de m-f.

AO PAULIANAFraude no ultimada ou concretizada

Na hiptese do negcio fraudulento ainda no tenha sido efetivamente cumprido, permite-se ao adquirente (que est comprando determinado bem mvel ou imvel), que promova o depsito em Juzo, requerendo a citao por edital de todos os interessados.

V. Art. 160, CC.AO PAULIANAValidade excepcional dos negcios ordinrios celebrados de boa-f pelo devedor

Art. 164. Presumem-se, porm, de boa-f e valem os negcios ordinrios indispensveis manuteno de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou subsistncia do devedor e de sua famlia.FRAUDE EXECUO: DiferenasFraude execuoFraude contra credores incidente do processo civil, regulado pelo direito pblico. defeito do negcio jurdico , regrado pelo direito privadoPressupe processo em tramitao.Ainda no existe qualquer ao ou execuo em demanda.Acarreta a declarao de ineficcia da alienao fraudulenta.Acarreta a anulao do negcio jurdico, com o retorno dos bens ao devedor.Somente beneficia ao exeqente.Aproveita a todos os credores, sempre que reconhecida.O vcio frustra a atuao do Poder Judicirio.O vcio irradia eficcia aos particulares prejudicados pelo ato fraudulento.Efeitos jurdicos da fraude contra credores.Hiptese de anulabilidade ou nulidade relativa (art. 171, inciso II, CC).

Trata-se de vcio social, conduzindo-se anulao do negcio jurdico. na forma do art. 171, inciso II, do CC.

H prazo decadencial para arguio da anulabilidade, por meio da Ao Pauliana ou Revocatria, que dever ser exercido referido direito no prazo de 4 (quatro) anos, a contar do dia em que se realizou o negcio jurdico (art. 178, inciso II, do CC).