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Decisões Importantes CSM: Registro de Imóveis – Hipoteca Judicial – Qualificação registrária admissível – Falta de impugnação – Admissibilidade do conhecimento da dúvida – Pertinência da desqualificação do mandado judicial para registro – Hipoteca da totalidade do imóvel – Devedora proprietária de parte ideal do bem imóvel objeto da hipoteca – Promessa de venda irretratável da parte ideal – Cláusula de impenhorabilidade – Princípios da continuidade e da disponibilidade – Ausência de requisitos subjetivo e objetivo da hipoteca – Natureza propter rem da obrigação afastada – Dúvida procedente – Recurso não provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL N° 0000006- 12.2011.8.26.0587, da Comarca de SÃO SEBASTIÃO, em que é apelante ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DA ALDEIA DA BALEIA e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMÓVEIS, TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURÍDICA da referida Comarca. ‘ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em negar provimento à apelação, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justiça, JOSÉ GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça,ANTONIO AUGUSTO CORRÊA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, HAMILTON ELLIOT AKEL E ANTONIO CARLOS TRISTÃO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Seções de Direito Público, Privado, em exercício, e Criminal do Tribunal de Justiça. São Paulo, 24 de maio de 2012. (a) JOSÉ RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justiça e Relator VOTO REGISTRO DE IMÓVEIS – Hipoteca Judicial – Qualificação registrária admissível – Falta de impugnação – Admissibilidade do conhecimento da dúvida – Pertinência da desqualificação do mandado judicial para registro – Hipoteca da totalidade do imóvel – Devedora proprietária de parte ideal do bem imóvel objeto da hipoteca – Promessa de venda irretratável da parte ideal – Cláusula de impenhorabilidade – Princípios da continuidade e da disponibilidade – Ausência de requisitos subjetivo e objetivo da hipoteca – Natureza propter rem da obrigação afastada – Dúvida procedente – Recurso não provido. A interessada, ora apelante, inconformada com a desqualificação para registro do mandado de hipoteca judicial do imóvel objeto da matrícula n.º 29.394, requereu a suscitação da dúvida pelo apelado, Oficial de Registro de Imóveis da Comarca de São Sebastião/SP (fls. 07/10), que a providenciou, mas mantendo a qualificação negativa, pois, alega, a executada Ana Luíza não é proprietária exclusiva do imóvel; ela prometeu a venda de sua parte ideal a uma das condôminas, não tendo mais a faculdade de dispor do bem; os outros dois coproprietários não figuram como executados; a cláusula de impenhorabilidade torna a coisa onerada insuscetível de hipoteca; e, por fim, a natureza propter rem da obrigação não justifica a violação do princípio da continuidade (fls. 03/05). Ao requerer a suscitação da dúvida, a interessada ponderou: a obrigação da devedora tem naturezapropter rem; o bem imóvel responde pelo débito; a cláusula de impenhorabilidade não impede o registro da hipoteca; a promessa de venda não transferiu a propriedade

Decisões Importantes CSM (1)1

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Decises Importantes CSM:

Registro de Imveis Hipoteca Judicial Qualificao registrria admissvel Falta de impugnao Admissibilidade do conhecimento da dvida Pertinncia da desqualificao do mandado judicial para registro Hipoteca da totalidade do imvel Devedora proprietria de parte ideal do bem imvel objeto da hipoteca Promessa de venda irretratvel da parte ideal Clusula de impenhorabilidade Princpios da continuidade e da disponibilidade Ausncia de requisitos subjetivo e objetivo da hipoteca Natureza propter rem da obrigao afastada Dvida procedente Recurso no provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0000006-12.2011.8.26.0587 , da Comarca de SO SEBASTIO, em que apelante ASSOCIAO DOS AMIGOS DA ALDEIA DA BALEIA e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS, TTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento apelao, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia,ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, HAMILTON ELLIOT AKEL E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Privado, em exerccio, e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 24 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator VOTO REGISTRO DE IMVEIS Hipoteca Judicial Qualificao registrria admissvel Falta de impugnao Admissibilidade do conhecimento da dvida Pertinncia da desqualificao do mandado judicial para registro Hipoteca da totalidade do imvel Devedora proprietria de parte ideal do bem imvel objeto da hipoteca Promessa de venda irretratvel da parte ideal Clusula de impenhorabilidade Princpios da continuidade e da disponibilidade Ausncia de requisitos subjetivo e objetivo da hipoteca Natureza propter rem da obrigao afastada Dvida procedente Recurso no provido. A interessada, ora apelante, inconformada com a desqualificao para registro do mandado de hipoteca judicial do imvel objeto da matrcula n. 29.394, requereu a suscitao da dvida pelo apelado, Oficial de Registro de Imveis da Comarca de So Sebastio/SP (fls. 07/10), que a providenciou, mas mantendo a qualificao negativa, pois, alega, a executada Ana Luza no proprietria exclusiva do imvel; ela prometeu a venda de sua parte ideal a uma das condminas, no tendo mais a faculdade de dispor do bem; os outros dois coproprietrios no figuram como executados; a clusula de impenhorabilidade torna a coisa onerada insuscetvel de hipoteca; e, por fim, a natureza propter rem da obrigao no justifica a violao do princpio da continuidade (fls. 03/05). Ao requerer a suscitao da dvida, a interessada ponderou: a obrigao da devedora tem natureza propter rem; o bem imvel responde pelo dbito; a clusula de impenhorabilidade no impede o registro da hipoteca; a promessa de venda no transferiu a propriedade pertencente devedora; em resumo, o ttulo apresentado comporta registro imobilirio (fls. 07/10). Uma vez notificada (fls. 05 verso), a interessada no apresentou impugnao (fls. 34) e, depois da manifestao do Ministrio Pblico (fls. 36), o MM Juiz Corregedor Permanente julgou procedente a dvida, mas apenas porque a hipoteca no poderia recair sobre a totalidade do bem imvel, se a devedora somente coproprietria da coisa (fls. 38/39). Contra a sentena proferida, a interessada interps recurso de apelao, reiterando, em sntese, suas alegaes pretritas, com a finalidade de obter o julgamento improcedente da dvida e, subsidiariamente, a determinao visando ao registro de hipoteca sobre a parte ideal pertencente executada (fls. 46/54). Recebido o recurso (fls. 55), a Douta Procuradoria Geral da Justia props o no provimento do recurso (fls. 61/64). Por meio do site da ARISP, obteve-se cpia da matrcula n. 29.394 do Oficial de Registro de Imveis da Comarca de So Sebastio/SP, cuja juntada aos autos ora determinada. o relatrio. A origem judicial do ttulo (mandado de hipoteca judicial) apresentado para registro no torna prescindvel a qualificao: a prvia conferncia,

destinada ao exame do preenchimento das formalidades legais atreladas ao ato registral, indispensvel, inclusive nos termos do item 106 do Captulo XX das Normas de Servio da Corregedoria Geral da Justia. A falta de impugnao da dvida (fls. 34), embora formalizada a notificao imposta pelo inciso III do artigo 198 da Lei n. 6.015/1973 (fls. 05 verso), no obsta o seu conhecimento, nos termos do artigo 199 da Lei n. 6.015/1973. A hipoteca judicial, destinada a garantir, contra a possibilidade de inadimplemento, a satisfao do crdito extrado da sentena condenatria, recaiu sobre a totalidade do imvel matriculado sob o n. 29.394 do Oficial de Registro de Imveis da Comarca de So Sebastio/SP (fls. 11), mas Ana Luiza Pereira Fernandes, contra quem proferida a deciso judicial, proprietria apenas da parte ideal correspondente a 44% de tal bem (registro n. 08 da matrcula n. 29.394). Trata-se de circunstncia impeditiva do registro do mandado judicial, considerada a possibilidade de excusso, nsita garantia hipotecria: ora, o assento pretendido representaria violao do princpio da continuidade comprometendo o exato encadeamento subjetivo das sucessivas transmisses e aquisies de direitos reais imobilirios -, e vulnerao do princpio da disponibilidade, sob o ngulo quantitativo, porquanto a ningum dado transmitir mais direitos do que tem. Alis, se Ana Luiza Pereira Fernandes, condmina, est autorizada, exclusivamente, a alienar a sua parte ideal (artigo 504 e 1.314 do Cdigo Civil), a hipoteca, incidindo sobre a totalidade do bem imvel, invlida: o requisito subjetivo de validade, previsto na primeira parte do caput do artigo 1.420 do Cdigo Civil, restou inobservado. Ademais, a inviabilizar, inclusive, a hipoteca da parte ideal pertencente Ana Luiza Pereira Fernandes admitida, em tese, independentemente da divisibilidade do bem imvel e do consentimento das outras duas condminas ( 2. do artigo 1.420 do Cdigo Civil) -, observo: com o registro do instrumento particular de promessa de venda e compra por meio do qual ela se comprometeu a transferir, coproprietria Maria Lgia Vieira Gomes Pereira Fernandes, a frao ideal que possui no bem imvel, seu poder de dispor da coisa restou sensivelmente limitado (registro n. 10 da matrcula n. 29.394). Diante do registro do instrumento contratual, onde no se faz meno existncia de clusula de arrependimento, a propriedade do bem imvel valorado o direito real de aquisio constitudo em favor da promitente compradora (artigos 1.225, VII, 1.227 e 1.417 do Cdigo Civil) -, permanece sob a titularidade de Ana Luiza Pereira Fernandes, promitente vendedora, apenas como mera garantia do pagamento do preo. Marco Aurelio S. Viana, ao frisar que, pago o preo ajustado, o direito adjudicao compulsria do bem imvel decorre da impossibilidade de arrependimento, e no necessariamente do registro do instrumento contratual, pontua: em verdade no se justifica a exigncia de registro prvio do contrato seno como forma de tutelar o promitente comprador contra a alienao por parte do promitente vendedor, limitando ou reduzindo o poder de disposio deste, ao mesmo tempo que arma o adquirente de sequela, admitindo que obtenha a escritura at mesmo contra terceiro, na forma indicada no art. 1.418. Por isso, constitudo o direito real, novos atos de disposio ou de onerao praticados pelo promitente vendedor em benefcio de terceiros, ainda que de boa-f, so ineficazes frente ao promitente comprador. Logo, ainda que a propriedade exclusivamente tabular, esvaziada, integre o patrimnio da promitente vendedora, soa deveras contraditrio, dentro do contexto exposto, admitir o acesso do mandado de hipoteca judicial ao lbum imobilirio, porque se trata, repita-se, de garantia real vocacionada para alienao do bem sobre o qual recai, aqui estorvada. Com efeito, uma sequela evanescida, fragilizada, desprovida de aptido para sujeitar, por vnculo real, o bem imvel dado em garantia ao cumprimento da obrigao, incompatvel com a hipoteca. De mais a mais, se Ana Luiza Pereira Fernandes est privada da livre disposio de sua parte ideal, ento por fora do direito real de aquisio, e, com isso, no tem legitimao para alien-la, a hipoteca judicial tambm resta inexequvel (artigo 1.420, caput, 1. parte, do Cdigo Civil). Na realidade, poder-se-ia, em tese, cogitar de uma garantia que recasse sobre o saldo do preo no pago, a que, no caso, ainda tem direito a promitente vendedora, mas se trata de objeto insuscetvel de hipoteca, luz do rol taxativo contemplado no artigo 1.473 do Cdigo Civil. Em sntese: vista do seu contedo e de sua oponibilidade erga omnes, o direito real de aquisio atribudo Maria Lgia Vieira Gomes Pereira Fernandes obsta, logicamente, o registro constitutivo da hipoteca judicial. Sob outro prisma, a despeito da clusula restritiva de impenhorabilidade associada, no caso vertente, de incomunicabilidade (averbao n. 09 da matrcula n. 29.394) -, no implicar a inalienabilidade do bem imvel e, particularmente, da parte ideal pertencente Ana Luiza Pereira Fernandes, no h, no caso concreto, como descartar seu potencial impediente do registro do mandado de hipoteca judicial. De fato, tal espcie de hipoteca, no satisfeita a obrigao cujo cumprimento por ela garantida, leva, uma vez desencadeada a execuo, penhora do imvel sobre o qual recaiu, imprescindivelmente: eventual inrcia do credor importaria, alis devido ao comportamento concludente extrado da ausncia de manifestao de vontade no sentido da constrio judicial -, renncia tcita da garantia real.

Destarte, vedada a penhora do bem especializado, a hipoteca inadmissvel, porquanto no possvel preencher o seu requisito objetivo de validade, estabelecido no artigo 1.420, caput, 2. parte, do Cdigo Civil. A propsito, Ademar Fioranelli perfilha idntico entendimento: Por seu lado, a clusula de impenhorabilidade visa subtrair o imvel da garantia de credores, que no podem apreender o bem para satisfao de obrigaes. Ainda que o proprietrio detenha o poder de disposio, pela imposio isolada da mesma clusula, no poder oferecer o bem assim gravado em garantia hipotecria ou de alienao fiduciria, direitos reais de garantia tpicos que tm como escopo assegurar a satisfao dos crditos concedidos. As conseqncias imediatas, quando promovida a execuo para cumprimento da obrigao contrada, so a penhora e a expropriao da coisa; e para a alienao fiduciria, a perda do domnio em favor do credor fiducirio, aps purgada a mora. Por fim, as obrigaes da devedora no nasceram de um direito real, no se qualificando, por conseguinte, e ao contrrio do afirmado pela interessada, como propter rem: a sua fonte, na verdade, o enriquecimento sem causa. Realmente, o que a tornou devedora foram os servios prestados em seu benefcio ou apenas postos sua disposio, ainda que no usufrudos. De acordo com Luciano de Camargo Penteado, as obrigaes reais, chamadas propter rem (por causa da coisa), caracterizam-se pela sua causa aquisitiva, assentada na titularidade de uma situao jurdica de direito das coisas, e no, assim, na manifestao de vontade, na lei ou no enriquecimento sem causa . Desse modo, tambm sob esse enfoque, o registro do mandado de hipoteca judicial, contemplando a garantia a totalidade do bem imvel especializado, resta inviabilizado. Pelo todo exposto, nego provimento apelao. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator (D.J.E. de 01.08.2012)

Registro de Imveis Dvida julgada procedente carta de adjudicao apresentao de CND do INSS e da Receita Federal exigncia de absoluta impossibilidade de cumprimento pelo recorrente excepcionalidade demonstrada Recurso provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0000004-82.2011.8.26.0315, da Comarca de LARANJAL PAULISTA, em que apelante VALDIR GERALDO SACCON e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS, TTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em dar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores, IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia,ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOS SILVEIRA PAULILO E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Direito Privado e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 17 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator VOTO REGISTRO DE IMVEIS Dvida julgada procedente carta de adjudicao apresentao de CND do INSS e da Receita Federal exigncia de absoluta impossibilidade de cumprimento pelo recorrente excepcionalidade demonstrada Recurso provido. Trata-se de apelao interposta por Valdir Geraldo Saccon contra a r sentena de fls. 113/117, que julgou procedente a dvida suscitada, mantendo a exigncia da apresentao das Certides Negativas de Dbito do INSS e da Receita Federal para o registro, no imvel objeto da matrcula n 4.607, daquela Serventia de Imveis, da carta de adjudicao expedida nos autos do processo n 1056/10, que tramitou perante a E. Vara Judicial da Comarca de Laranjal Paulista. O apelante sustentou a nulidade da deciso por falta de fundamentao e no mrito a possibilidade do registro imvel por no integrar o ativo circulante da vendedora, a impossibilidade da obteno dos documentos e ainda a ocorrncia de usucapio, o qual deveria ser reconhecido no

presente processo. A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso. o relatrio. A preliminar de nulidade no ocorre em razo da ampla fundamentao do decidido pela MM Juza Corregedora Permanente, no obstante a compreenso diversa da causa pelo do apelante. A exceo da apresentao das Certides Negativas de Dbito (CND) do INSS e da Receita Federal as demais exigncias foram cumpridas (a fls. 07/10 e 113/117). Diante disso, o Oficial de Registro de Imveis, Ttulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurdicas da Comarca de Laranjal Paulista negou o registro da carta de adjudicao expedida nos autos do processo n 1056/10, que tramitou perante a E. Vara Judicial da Comarca de Laranjal Paulista, no imvel objeto da matrcula n 4.607. De incio, observe-se que os ttulos judiciais no so imunes qualificao do registrador de imveis, conforme tranquila jurisprudncia deste C. Conselho. Por todas, cite-se a apelao cvel n 464-6/9, de So Jos do Rio Preto: Apesar de se tratar de ttulo judicial, est ele sujeito qualificao registrria. O fato de tratar-se o ttulo de mandado judicial no o torna imune qualificao registrria, sob o estrito ngulo da regularidade formal, O exame da legalidade no promove incurso sobre o mrito da deciso judicial, mas apreciao das formalidades extrnsecas da ordem e conexo de seus dados com o registro e a sua formalizao instrumental. Fica claro, destarte, que o fato de se tratar de ttulo judicial no implica automtico ingresso no registro tabular. Na questo de fundo, o recurso comporta provimento, em virtude da excepcionalidade do caso. A sentena proferida na ao de adjudicao compulsria supre apenas a recusa do promitente vendedor em outorgar o ttulo hbil para a transmisso da propriedade imvel, sem atingir as obrigaes laterais como apresentao de CNDs ou da guia de recolhimento de ITBI. E a obrigao de apresentao das certides negativas de dbito do INSS e da Receita Federal decorre do art. 47, da Lei n 8212/91: exigida Certido Negativa de Dbito-CND, fornecida pelo rgo competente, nos seguintes casos: I da empresa: b) na alienao ou onerao, a qualquer ttulo, de bem imvel ou direito a ele relativo Alm de a exigncia decorrer de texto expresso de lei, o presente caso no se amolda s hipteses em que este E. Conselho vem dispensando a apresentao de referidas certides desde atendidos os requisitos do art. 16, da Portaria Conjunta da PGFN/SRF n 3: Fica dispensada a apresentao de certido conjunta na alienao ou onerao, a qualquer ttulo, de bem imvel ou direito a ele relativo, que envolva empresa que explore exclusivamente atividade de compra e venda de imveis, locao, desmembramento ou loteamento de terrenos, incorporao imobiliria ou construo de imveis destinados venda, desde que o imvel objeto da transao esteja contabilmente lanado no ativo circulante e no conste, nem tenha constado, do ativo permanente da empresa. Isto porque, do exame das alteraes do contrato social de fls. 87/109, verifica-se que o objeto social da vendedora a Incorporao de Empreendimentos Imobilirios e outras Sociedades de Participao, exceto Holdings, assim, no ocorre a situao de exclusividade exigida pela norma administrativa referida. Alm disso, no h prova do lanamento do imvel no ativo circulante daquela. Anote-se, ainda, que no sistema dos registros pblicos vige o princpio tempus regit actum, segundo o qual na qualificao do ttulo incidem as exigncias contemporneas ao registro, e no as que vigoravam quando de sua lavratura. Por isso, no prevalece o argumento do recorrente de que ao tempo da celebrao e pagamento do negcio jurdico seria possvel o registro nos termos acima referidos. O quadro acima demonstra que a recusa do Oficial deveria ser mantida, no fosse a peculiaridade que se passa a demonstrar. O recorrente celebrou, em 31.05.89, contrato de compromisso de compra e venda com a empresa Sidepar Participaes e Imobiliria S/A Ltda. (fls. 44/46). Depois de cumprir com sua obrigao de pagar integralmente o preo ajustado, teve frustrado pela promitente vendedora seu legtimo direito lavratura da escritura pblica de compra e venda, ttulo necessrio para adquirir o domnio do imvel na forma do art. 1.245, do Cdigo

Civil. Ajuizou, por isso, ao de adjudicao compulsria, que foi julgada procedente (fls. 25/32), culminando com a expedio da carta de adjudicao (fl. 12/ 47), cujo registro foi recusado pelo Oficial de Registro de Imveis porque no apresentadas as certides negativas de dbito CNDs da empresa vendedora. A exigncia, conquanto legal, de impossvel cumprimento pelo recorrente, porque fora de seu alcance, haja vista que no tem como obrigar a empresa vendedora a regularizar sua situao junto ao INSS ou Receita Federal. E, mantida a recusa do Oficial, outra sada no lhe restar a no ser ajuizar ao de usucapio, que fatalmente ser julgada procedente, principalmente em razo do trnsito em julgado da r sentena que julgou procedente o pedido de adjudicao compulsria. Ressalte-se a impossibilidade do reconhecimento da aquisio por usucapio nesta ao, como pretendido pelo apelante, em virtude da natureza administrativa deste processo de dvida. Ocorre que a ao de usucapio, alm de movimentar desnecessariamente a mquina do Judicirio pois serviria apenas reafirmar, ainda que por outro ttulo, o que j foi reconhecido pela r sentena da ao de adjudicao compulsria traria ainda mais prejuzos ao recorrente, notadamente em virtude do tempo, uma vez que, como se sabe, apenas seu ciclo citatrio no raro leva anos para ser concludo. importante frisar, tambm, que a usucapio constitui modo originrio de aquisio da propriedade, o que dispensaria a apresentao das certides ora exigidas para o registro da sentena. Assim, a manuteno da recusa serviria apenas para postergar, com elevados custos ao interessado, o registro ora perseguido, que ser alcanado da mesma forma ora pleiteada, isto , sem a apresentao das certides negativas de dbito. Diante desse quadro excepcional, mostra-se possvel a aplicao da ressalva contida no art. 198, da Lei n 6.015/73, que autoriza o juiz a afastar exigncia de impossvel cumprimento pelo interessado. Portanto, embora com respaldo legal, porque de absoluta impossibilidade de cumprimento pelo recorrente, a recusa do Oficial deve ser afastada, permitindo-se o registro do ttulo, garantindo-se ao recorrente o direito constitucional propriedade. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao recurso. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator (D.J.E. de 01.08.2012)

CSM|SP: Registro Civil das Pessoas Naturais Dvida Recusa do registro de escritura pblica de emancipao Exclusiva manifestao da me Exerccio integral do ptrio poder que no implica na imediata conferncia isolada da legitimidade negocial a cada um dos genitores Alegaes no constantes do ttulo Registro invivel Recurso desprovido. ACORDO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 96.914-0/9, da Comarca de AMERICANA, em que so apelantes E.A.Z.S e OUTRO e apelado o OFICIAL DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS E DE INTERDIES E TUTELA da mesma Comarca.

ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do relator que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores SERGIO AUGUSTO NIGRO CONCEIO, Presidente do Tribunal de Justia, e LUS DE MACEDO, Vice-Presidente do Tribunal de Justia.

So Paulo, 29 de novembro de 2002.

(a) LUIZ TMBARA, Corregedor Geral da Justia e Relator

VOTO

EMENTA: Registro Civil das Pessoas Naturais Dvida Recusa do registro de escritura pblica de emancipao Exclusiva manifestao da me Exerccio integral do ptrio poder que no implica na imediata conferncia isolada da legitimidade negocial a cada um dos genitores Alegaes no constantes do ttulo Registro invivel Recurso desprovido.

Cuida-se de recurso de apelao tempestivamente interposto por E.F.da S. e EA.Z.S contra r. deciso prolatada pelo MM. Juiz Corregedor Permanente do Oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais e de Interdies e Tutelas da sede da Comarca de Americana, que manteve a recusa ao registro de escritura pblica de emancipao lavrada nas notas do 2. Tabelio local (L.500; fls.181) e datada de 15 de fevereiro de 2002, onde constam, como outorgante, E.A.Z.S e, como outorgado, E.F.da S., ora apelantes.

A deciso atacada (fls.19/21) fundou-se na ausncia de expresso consentimento do pai do menor, A. da S., requisito para a validade e a plena eficcia da emancipao.

Os recorrentes argumentam (fls.24/29) que o paradeiro do genitor desconhecido, sabendo-se, apenas e to somente, que reside na Comarca de Mau, no se harmonizando a negativa de registro com o disposto nos artigos 5, inciso I da Constituio da Repblica e 12, inciso II do vigente Cdigo Civil.

O Ministrio Pblico, em segunda instncia, opinou seja negado provimento ao recurso interposto.

o relatrio.

A questo controvertida, no mbito do presente feito, diz respeito viabilidade, a partir da manifestao exclusiva de um nico genitor, da consecuo de uma emancipao, isto , discute-se a exigibilidade da manifestao de ambos os pais, como requisito de validade do ato em relevo.

Conforme o documento de fls.09, correspondente ao traslado do instrumento pblico examinado, a apelante, e EA.Z.S, na qualidade de me de E.F., emitiu declarao de vontade no sentido de conferir plena capacidade civil de gozo a seu filho, ficando este apto prtica de todos os atos atinentes vida civil.

Ressalto, num primeiro plano, que, materializada a negativa de um ato de registro em sentido estrito, ainda que atinente ao registro civil das pessoas naturais, trata-se de dvida, tal como disciplinada pelos artigos 198 e seguintes da Lei Federal 6.015/73 e, no presente caso, dado o disposto no artigo 89 do mesmo diploma, est sendo postulado o registro especial atinente emancipao.

A emancipao definida por Clvis (Teoria Geral do Direito Civil, Ministrio da Justia, Braslla, 1972, p.104) como: Emancipao a aquisio

da capacidade civil, antes da idade legal.

Cuidando-se da emancipao voluntria, isto , daquela efetivada a partir de ato de vontade emanado dos titulares do ptrio poder, os artigos 9, 1, inciso I e 12, inciso II do Cdigo Civil vigente, tal como editado em 1916, conferia a legitimidade negocial para a prtica do ato, com exclusividade, ao pai, s podendo, excepcionalmente, atuar a me, na completa impossibilidade da atuao do genitor-varo, em especial diante de sua morte.

Tal dispositivo foi alterado com o advento da Lei Federal 6.515/73, que conferiu a legitimidade para a outorga da emancipao tanto ao pai, quanto me, em concorrncia e igualdade de condies, atendendo repartio do ptrio poder entre os dois genitores, sem qualquer distino, como antes reconhecido pela Lei Federal 4.121/62 (Estatuto da Mulher Casada) e, na atualidade, cristalizado pelo artigo 21 da Lei Federal 8.069/90 (Estatuto da Criana e do Adolescente).

Consuma-se um ato jurdico em sentido estrito, de natureza unilateral, que, hoje, pode ser formalizado por instrumento pblico ou particular. Diante da legislao vigente, os atributos atinentes ao ptrio poder so conferidos, em sua integridade, a cada um dos pais, seus titulares primrios e, em regra, podem ser exercitados por completo, com independncia e harmonia por cada um dos pais, restando examinar as peculiaridades da emancipao voluntria, que provocar a extino do prprio ptrio poder.

Considerada a questo controvertida, preciso assentar no ser a atuao conjunta dos pais da natureza da emancipao voluntria e, ainda que muitos entendam ser necessria, excluda apenas a hiptese de ausncia reconhecida em Juzo, a atuao conjunta de ambos os pais, enquanto titulares do ptrio poder (Cf., pe., Jos Antonio de Paula Santos Neto, Do Ptrio Poder, RT, 1994, pp.119-20), tal afirmao parte de uma interpretao restritiva dos dispositivos constantes do vigente Cdigo Civil, que entendo no ser a mais adequada e nem sempre se harmoniza com a realidade concreta.

So comuns, infelizmente, os casos de completa falncia do ncleo familiar e de inviabilidade da colheita do consentimento expresso de um ou de outro genitor, dada a total perda de contato com sua prole. O ptrio poder exercido, ento, efetivamente, apenas por um dos pais, que mantm contato direto com o filho menor e, concretamente, pode avaliar seu discernimento e sua aptido para a aquisio da capacidade civil plena.

Em ateno a essa realidade social, no mesmo sentido, consta do subitem 112.1 do Captulo XVII das Normas de Servio desta Corregedoria Geral que: O registro da emancipao por outorga do pai e/ou da me no depende de homologao judicial, devendo ser efetivado junto ao Oficial de Registro Civil do 1 Subdistrito da Comarca onde resida o emancipado.

O texto do artigo 5, nico, inciso I do novo Cdigo Civil, cuja vigncia est prevista para se iniciar em 11 de janeiro 2003, no destoa e confere a legitimidade negocial a ambos os pais, ou a um deles na falta do outro, cabendo entender significar o vocbulo falta, no apenas a ausncia ou a morte, mas a no-presena.

Em suma, a regra a ser observada da manifestao conjunta de ambos os pais, mas diante da falta de um destes, devidamente, declarada no instrumento de emancipao, conferida a legitimidade, isoladamente, a um dos pais.

Na espcie, no consta do ttulo a menor referncia atual situao do genitor, o Sr. A. da S., com o que descaracteriza-se a hiptese exceptiva. Sua falta foi alegada perante o MM. Juiz Corregedor Permanente e nas razes recursais, mas este dado no foi incorporado escritura pblica lavrada e apresentada ao registrador, o que seria de rigor.

Isto posto, nego provimento ao recurso interposto.

(a)

LUIZ TMBARA, Relator (D.O.E. de 18.12.2002)

CSM|SP: Registro De Imveis Dvida Inversa Admissibilidade Ttulo judicial Qualificao Cabimento Irresignao Parcial Dvida prejudicada Atendimento de exigncias no curso da dvida Prorrogao inaceitvel do prazo da prenotao Declarao de quitao dos dbitos condominiais Exigncia no mais justificvel Revogao tcita do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 pelo artigo 1.345 do Cdigo Civil de 2002 Recurso no provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0028707-86.2011.8.26.0100, da Comarca de CAPITAL, em que apelante PRIMAFER INC. S/A e apelado o 5 OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEISda referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento ao recurso, de modo a confirmar a r. sentena que deu por prejudicada a dvida, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia,ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, HAMILTON ELLIOT AKEL E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Privado, em exerccio, e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 24 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator

VOTO REGISTRO DE IMVEIS Dvida Inversa Admissibilidade Ttulo judicial Qualificao Cabimento Irresignao Parcial Dvida prejudicada Atendimento de exigncias no curso da dvida Prorrogao inaceitvel do prazo da prenotao Declarao de quitao dos dbitos condominiais Exigncia no mais justificvel Revogao tcita do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 pelo artigo 1.345 do Cdigo Civil de 2002 Recurso no provido. Primafer Inc. S/A adjudicou, em processo judicial, os direitos e as obrigaes relacionados ao bem imvel matriculado sob o n. 25.690 do 5. Oficial de Registro de Imveis de So Paulo, que, no entanto, apresentado o ttulo correspondente para registro, negou seu acesso ao flio real, porquanto, entre outras exigncias no questionadas, condicionou-o exibio da declarao de quitao dos dbitos condominiais. Inconformada seja porque a exigncia impugnada impossvel de ser cumprida, diante da discusso judicial sobre a existncia da dvida, seja porque prescindvel a prova de quitao das contribuies condominiais, luz da redao do artigo 1.345 do Cdigo Civil, que revogou o pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 -, a interessada, suscitando dvida inversa, acompanhada de documentos (fls. 06/54), pede o registro da carta de adjudicao (fls. 02/05). Provocado, o 5. Oficial de Registro de Imveis de So Paulo ponderou: o conhecimento da dvida est prejudicado, pois a interessada se insurge contra apenas uma das vrias exigncias formuladas; a lei de condomnio criou, h muito, uma hiptese de liquidao antecipada dos dbitos como condio para aquisio do direito real; o texto do artigo 1.345 do Cdigo Civil representa simplesmente a enunciao de regra que era perfeitamente assimilada e assente na doutrina e na jurisprudncia sob a gide do Cdigo de 1916; e o Conselho Superior da Magistratura entendeu, em mais de um julgamento, que o pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 no foi revogado pelo artigo 1.345 do Cdigo Civil (fls. 56/58). Depois da manifestao do Ministrio Pblico (fls. 61/62), o juiz sentenciante deu por prejudicada a dvida, porque evidenciada a irresignao parcial, mas assinalou que seria julgada procedente, se superado fosse o obstculo processual, porquanto, destacando o seu posicionamento em outro sentido, o Conselho Superior da Magistratura firmou o entendimento de que a regra do pargrafo nico do art. 4 da Lei n 4.591/64 no foi revogada pela do artigo 1.345 do Cdigo Civil (fls. 64/67).

Considerado o desfecho dado em primeiro grau, a interessada, ora recorrente, interps apelao, instruda com documentos (fls. 94/128), e, perseguindo a reforma da sentena, com determinao voltada ao registro do ttulo judicial, argumentou: o conhecimento da dvida possvel; exceo da impugnada, cumpriu todas as demais exigncias formulados pelo registrador; a regra do 3. do artigo 515 do Cdigo de Processo Civil deve ser aplicada; a exigncia de declarao de quitao assinada pelo sndico descabida, pois suficiente a subscrita pela administradora do condomnio; a revogao tcita do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 pelo artigo 1.345 do Cdigo Civil , de todo modo, indiscutvel; h um conluio entre o executado e o condomnio; e a pretenso do condomnio relativa ao dbito condominial discutido em juzo est prescrita (fls. 71/93). Recebido o recurso (fls. 129), a Procuradoria Geral de Justia, aps manifestao do Ministrio Pblico em primeiro grau (fls. 131/132), props o desprovimento do recurso (fls. 137/139). o relatrio. A dvida inversa, suscitada, com fundamento em criao pretoriana, pela interessada, ora apelante que, inconformada com uma das exigncias formuladas pelo registrador, ao invs de requerer-lhe a suscitao, apresentou-a diretamente ao MM Juiz Corregedor Permanente -, , consoante jurisprudncia consolidada, admitida pelo Conselho Superior da Magistratura deste Egrgio Tribunal de Justia. A origem judicial do ttulo (carta de adjudicao) apresentado para registro no torna prescindvel a qualificao: a prvia conferncia, destinada ao exame do preenchimento das formalidades legais atreladas ao ato registral, indispensvel, inclusive nos termos do item 106 do Captulo XX das Normas de Servio da Corregedoria Geral da Justia. A apelante, ao suscitar a dvida inversa, impugnou apenas uma das cinco exigncias formuladas pelo registrador (fls. 02/05 e 20), enfim, questionou exclusivamente o condicionamento do acesso ao lbum imobilirio exibio da declarao de quitao dos dbitos condominiais, ressalvando que estava adotando as providncias necessrias ao atendimento das demais (fls. 03), ou seja, a irresignao parcial, inibidora do conhecimento da dvida, porque inadmissvel a prolao de uma deciso condicional, resta caracterizada. A apelante, de fato, ao conformar-se com algumas das exigncias, deveria, primeiro, cumpri-las, reapresentar o ttulo e, aps uma nova qualificao, mantida a recusa, ento, agora, luz da nica efetivamente questionada, requerer a suscitao da dvida ou suscitar dvida inversa. Ademais, para viabilizar o exame, o conhecimento da dvida suscitada, inaceitvel, no curso do procedimento correspondente, admitir o atendimento das exigncias no impugnadas, sob pena de tolerar-se imprpria prorrogao do prazo da prenotao, com cumprimento, assim, fora do trintdio legal (artigo 205 da Lei n. 6.015/1973). Contudo, se o obstculo ao registro da carta de adjudicao se limitasse exigncia de declarao de quitao dos dbitos condominiais, a ser subscrita pelo sndico, a hiptese seria de julgamento improcedente da dvida , de acordo, inclusive, com o entendimento pessoal do juiz sentenciante (cf. sentena proferida nos autos n. 100.09.165632-6, em 21.08.2009), que, ressalvando-o, acedeu ao ento prevalecente posicionamento do Colendo Conselho Superior da Magistratura. Todavia, com o recente julgamento da Apelao Cvel n. 0019751-81.2011.8.26.0100 , ocorrido no dia 12 de abril de 2012, o Conselho Superior da Magistratura, ao acompanhar o voto que proferi, sinalizou - embora negado provimento ao recurso por votao unnime, com confirmao da sentena que deu a dvida por prejudicada -, a reviso da compreenso que vigorava. Conforme l assinalado, a regra do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964, com a entrada em vigor do novo Cdigo Civil e, mormente, do seu artigo 1.345, foi revogada. Naquele julgamento, uma vez desenvolvidas as caractersticas das obrigaes reais e enfocada a sua eventual ambulatoriedade, assentou-se: a obrigao de pagar as contribuies condominiais, impostas aos condminos proprietrios, a quem equiparados, para os fins do artigo 1.334 do Cdigo Civil, e por fora do 2. desta disposio legal, os promitentes compradores e os cessionrios de direitos relativos s unidades autnomas -, qualifica-se como propter rem (artigo 1.336, I, do Cdigo Civil). Tambm se afirmou: com o advento do Cdigo Civil de 2002, a obrigao dos condminos foi, no plano do direito positivo, ampliada em prestgio de jurisprudncia consolidada -, pois, nos termos do artigo 1.345, o adquirente de unidade responde pelos dbitos do alienante, em relao ao condomnio, inclusive multa e juros moratrios. E a positivao de tal regra confirmou porque, caso contrrio, seria despicienda -, a intransmissibilidade da obrigao propter rem de dare, que, na realidade, ontologicamente, vista de sua natureza, no contempla, por si, os dbitos nascidos antes da assuno de direitos sobre a coisa: quer dizer, o novo titular de direitos sobre a coisa no responde por tais dbitos pretritos. Enfim, concluiu-se que as obrigaes reais de dare no importam, em regra, responsabilidade pelas dvidas constitudas antes da aquisio de direitos sobre a coisa, ao contrrio das obrigaes reais de facere, que acompanham a coisa, transmitindose ao sucessor, independentemente de manifestao de vontade e do conhecimento de sua existncia. Alis, se a obrigao de pagar as contribuies condominiais tpica obrigao propter rem de dare que se autonomiza no momento em que se

vence, desatando-se da relao jurdica de natureza real, sua matriz -, contemplasse, por si, a responsabilidade pelo pagamento das contribuies condominiais constitudas antes da titularizao de direitos sobre a unidade condominial, a positivao da regra insculpida no artigo 1.345 do Cdigo Civil seria prescindvel: cuidar-se-ia de disposio legal incua, vista do artigo 1.336, I, do mesmo diploma legal. Alm disso, a regra do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964 no faria sentido, uma vez valorado o comando emergente do artigo 12 da Lei n. 4.591/1964, que, antes do Cdigo Civil de 2002, j revelava a natureza propter rem da obrigao de pagamento das contribuies condominiais. No seria razovel condicionar a alienao da unidade condominial e a transferncia de direitos a ela relacionados prvia comprovao da quitao das obrigaes do alienante para com o condomnio, se a obrigao propter rem de dare, por sua natureza, abrangesse os dbitos constitudos anteriormente aquisio de direitos sobre a coisa. Ora, se o novo titular de direitos sobre a unidade condominial respondesse, a par dos dbitos atuais, tambm pelos passados, estes tambm exigveis do alienante, qual seria, ento, a lgica razovel do condicionamento, ainda mais vista da garantia representada pelo imvel, passvel de penhora em futura execuo? Na realidade, nenhuma. Sob outro prisma, a atual redao do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964, dada pela Lei n. 7.182/1984, veio substituir a sua verso original, reproduzida, no entanto, pelo texto do artigo 1.345 do novo Cdigo Civil, ressalvada a referncia, agora feita, aos juros moratrios. Quer dizer: as modificaes legislativas reforam, em primeiro lugar, a intransmissibilidade da obrigao propter rem de dare e, por fim, porque incompatvel com a regra do artigo 1.345 do Cdigo Civil, a revogao tcita do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964. Com efeito, o restabelecimento, pelo artigo 1.345 do Cdigo Civil de 2002 com o acrscimo relativo aos juros moratrios -, do texto original do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964, antes suprimido pela sua redao atual, oriunda da Lei n. 7.182/1984, sintomtico da revogao assinalada. Em suma: as caractersticas da obrigao propter rem de dare, especialmente no tocante amplitude da responsabilidade do titular de direitos sobre a coisa pelos dbitos a ela atrelados extrados da interpretao sistemtica, primeiro, do artigo 12 com o pargrafo nico do artigo 4. (em suas duas verses), ambos da Lei n. 4.591/1964, e, depois, do artigo 1.336, I, com o artigo 1.345, do Cdigo Civil de 2002 -, e a evoluo histrica das modificaes legislativas confortam a revogao afirmada. A ratio do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964, direcionada tutela da sade financeira e do equilbrio econmico do condomnio, fica esvaziada, diante da norma retirada do texto do artigo 1.345 do Cdigo Civil de 2002, igualmente voltada, em substituio norma anterior, proteo, sob nova e mais consistente capa, da propriedade comum. Tal regra, certo, perdeu a sua instrumentalidade, no podendo subsistir no apenas em razo da revogao tcita aludida -, mas tambm porque, sem finalidade que a justifique razoavelmente, entrava o trfego econmico, a circulao dos bens imveis e a correspondncia entre a realidade registrria e a factual. Por isso, revogada a regra do pargrafo nico do artigo 4. da Lei n. 4.591/1964, a prvia comprovao de quitao dos dbitos condominiais no mais condio para transferncia de direitos relativos unidade condominial. Pelo exposto, nego provimento ao recurso, de modo a confirmar a respeitvel sentena que deu por prejudicada a dvida . (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator (D.J.E. de 26.07.2012)

CSM|SP: Registro Civil das Pessoas Naturais recurso interposto contra sentena que deferiu o registro da converso de unio estvel homoafetiva em casamento orientao emanada em carter definitivo pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 4277), seguida pelo Superior Tribunal de Justia (Resp 1.183.378) Impossibilidade de a via administrativa alterar a tendncia sacramentada na via jurisdicional Recurso no provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0001545-82.2011.8.26.0564 , da Comarca de SO BERNARDO DO CAMPO, em que apelante MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SO PAULO e apeladas SIMONE DE OLIVEIRA CAMARGO E DEBORA MEYADO PALADINO. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado.

Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia,JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, HAMILTON ELLIOT AKEL E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Privado, em exerccio, e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 14 de junho de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator VOTO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS recurso interposto contra sentena que deferiu o registro da converso de unio estvel homoafetiva em casamento orientao emanada em carter definitivo pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 4277), seguida pelo Superior Tribunal de Justia (Resp 1.183.378) Impossibilidade de a via administrativa alterar a tendncia sacramentada na via jurisdicional Recurso no provido. Trata-se de apelao interposta pelo Ministrio Pblico do Estado de So Paulo contra a r sentena de fls. 16/18 que, nos autos do procedimento administrativo de habilitao para o casamento, homologou a disposio de vontades declarada por Simone de Oliveira Camargo e Debora Meyado Paladino, converteu em casamento a unio estvel por elas mantida e determinou o subsequente registro. Aduz o apelante que: a) o art. 1.514, do Cdigo Civil, s permite o casamento entre pessoas de sexos distintos; b) referido dispositivo legal encontra-se em vigor, o que impede a via administrativa, porque vinculada aos termos legais, de se conduzir como se lei no houvesse ou como se existisse declarao de inconstitucionalidade especfica; c) inexiste prova ou indcio eficiente de que a alegada unio estvel exista, sendo insuficiente a declarao constante da escritura pblica juntada aos autos. A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso (fls. 33/39). o relatrio. Embora no haja hierarquia entre cortes judicirias, o Supremo Tribunal Federal tem por atribuio a guarda precpua da Constituio da Repblica e o Superior Tribunal de Justia a misso de unificar a interpretao do ordenamento em todo o Brasil. Ambos decidiram ser possvel o reconhecimento da proteo jurdica a conviventes do mesmo sexo. As ementas da Adi 4277-DF, 5.5.2011, relatoria do atual Presidente do STF, Ministro AYRES BRITO, so eloquentes: PROIBIO DE DISCRIMINAO DAS PESSOAS EM RAZO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/ MULHER (GNERO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIO DO PRECONCEITO COMO CAPTULO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SOCIOPOLTICO- CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO INDIVDUO, EXPRESSO QUE DA AUTONOMIA DE VONTADE. DIREITO INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. CLUSULA PTREA. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIO DA FAMLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A CONSTITUIO FEDERAL NO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO FAMLIA NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRPRIA TCNICA JURDICA. A FAMLIA COMO CATEGORIA SOCIO-CULTURAL E PRINCPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE CONSTITUIR FAMLIA. INTERPRETAO NO-REDUCIONISTA. UNIO ESTVEL. NORMAO CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEO DESTA LTIMA. FOCADO PROPSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAES JURDICAS HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GNERO HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE ENTIDADE FAMILIAR E FAMLIA. Idntica a clareza das ementas redigidas pelo Ministro LUIS FELIPE SALOMO, relator do REsp. 1.183.378-RS: DIREITO DE FAMLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO (HOMOAFETIVO). INTERPRETAO DOS ARTS. 1514, 1521, 1523, 1535 E 1565 DO CDIGO CIVIL DE 2002. INEXISTNCIA DE VEDAO EXPRESSA A QUE SE HABILITEM PARA O CASAMENTO PESSOAS DO MESMO SEXO. VEDAO IMPLCITA CONSTITUCIONALMENTE INACEITVEL. ORIENTAO PRINCIPIOLGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF 132/RJ E DA ADI N. 4277/DF. Observe-se que nesse julgado o Superior Tribunal de Justia, respaldado nos princpios fincados na Adi 4277/DF, do STF, admitiu a habilitao direta para o casamento entre pessoas do mesmo sexo sem a necessidade do prvio reconhecimento da unio estvel. A partir da sinalizao das Cortes Superiores, inmeras as decises amparadas e fundamentadas nesses julgados. Inclusive em So Paulo. Se, na via administrativa, fosse alterada essa tendncia, o Judicirio se veria invocado a decidir, agora na esfera jurisdicional, matria j sacramentada nos Tribunais com jurisdio para todo o territrio nacional. Como servos da Constituio interpretada por aquele Colegiado que o pacto federativo encarregou guard-la os juzes e rgos do Poder Judicirio no podem se afastar da orientao emanada em carter definitivo pelo STF.

por isso que, doravante, os dispositivos legais e Constitucionais relativos ao casamento e unio estvel no podem mais ser interpretados revelia da nova acepo jurdica que lhes deram o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justia. Assim, a despeito das jurdicas razes contidas no recurso e no r parecer do Ministrio Pblico, a r sentena deve ser mantida. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator (D.J.E. de 23.07.2012)

CSM|SP: Registro de Imveis. Dvida. Escritura pblica de venda e compra. Casal de estrangeiros como vendedores, hoje em lugar incerto e no sabido, que receberam o imvel em inventrio, com formal de partilha registrado em 1998, qualificados no R.1 da matrcula. Qualificao idntica constante da escritura, notadamente quanto a nomes, profisses, estado civil e nmeros de documentos de identidade. Falta dos nmeros de inscrio dos vendedores no CPF. Situao tabular anterior ao advento de normas imperativas a respeito. Cabimento do registro postulado, dadas as peculiaridades do caso, como corolrio dos princpios da especialidade pessoal e da continuidade. Recurso provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao Cvel n 860-6/6, da Comarca de So Bernardo do Campo, em que so apelantes Luiz Paulo Daltrino e Lourdes Galhardi Daltrino e apelado o 1 Oficial de Registro de Imveis, Ttulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurdica da mesma Comarca. Acordam os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em dar provimento ao recurso, de conformidade com os votos do Desembargador Relator e do Desembargador Revisor que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores Roberto Vallim Bellocchi, Presidente do Tribunal de Justia e Jarbas Mazzoni, Vice-Presidente do Tribunal de Justia.So Paulo, 08 de julho de 2008 Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justia e Relator VOTORegistro de Imveis. Dvida. Escritura pblica de venda e compra. Casal de estrangeiros como vendedores, hoje em lugar incerto e no sabido, que receberam o imvel em inventrio, com formal de partilha registrado em 1998, qualificados no R.1 da matrcula. Qualificao idntica constante da escritura, notadamente quanto a nomes, profisses, estado civil e nmeros de documentos de identidade. Falta dos nmeros de inscrio dos vendedores no CPF. Situao tabular anterior ao advento de normas imperativas a respeito. Cabimento do registro postulado, dadas as peculiaridades do caso, como corolrio dos princpios da especialidade pessoal e da continuidade. Recurso provido. Cuida-se de apelao interposta por Luiz Paulo Daltrino e sua mulher Lourdes Galhardi Daltrino contra sentena que julgou procedente a dvida suscitada pelo 1 Oficial de Registro de Imveis de So Bernardo do Campo e manteve sua recusa quanto ao registro de escritura de venda e compra referente ao imvel da matrcula n 80.779, sob o fundamento de que dela no constaram os nmeros de inscrio dos outorgantesvendedores no Cadastro de Pessoas Fsicas CPF. Sustentam os apelantes, outorgados-compradores, que os vendedores so estrangeiros, no residentes no Brasil, os quais se encontram em local incerto e no sabido. Afirmam que o negcio, na verdade, foi celebrado em 1993, por instrumento particular juntado aos autos, sendo que o registro do formal de partilha a favor dos vendedores s sobreveio em 1998, tudo, de qualquer forma, antes do advento de normatizao sobre a inscrio no CPF. Salientam a plena regularidade da aquisio, a impossibilidade de localizar os alienantes e o grave prejuzo em perspectiva (fls. 52/55). O Ministrio Pblico, em derradeira manifestao, opina pela manuteno da recusa e da sentena, por seus fundamentos (fls. 61/63). o relatrio. As peculiaridades da hiptese concreta esto a revelar que o acesso almejado no representa ameaa ao sistema. De se notar que o imvel est devidamente matriculado, encontrando-se os ora alienantes nomeados e qualificados no derradeiro registro, sendo certo que no se discute, aqui, a possibilidade, ou no, de seu ingresso no flio real como sujeitos de direito, mesmo porque ali j figuram. Cogitase, isto sim, de transmisso que fazem (de modo a serem excludos do lbum) aos recorrentes, por venda.

Deveras, j existe na matrcula (fls. 72) registro vlido em nome dos vendedores (R.1), efetuado em 20 de julho de 1998, com seus dados de qualificao, referente ao ingresso do formal de partilha oriundo do inventrio de Jos Ramiro Cao Hermida. Tal registro precedeu o advento de normas impositivas referentes inscrio no Cadastro de Pessoas Fsicas CPF (Dec. 3.000/99, Instruo Normativa 461/04 e Dec. n 4.166/02) e foi realizado na vigncia do art. 176, 1, III, 2, a, da Lei n 6.015/73, que perdura. De se observar, neste diapaso, que h plena coincidncia entre os dados de qualificao pessoal constantes do registro citado e os consignados na escritura de venda e compra apresentada, tais como nomes, profisses, nmeros de documentos de identidade e estado civil. Assim, sob a gide dos princpios da especialidade pessoal, com identificao segura dos alienantes, e da continuidade, uma vez que figuram em registro lanado na matrcula, achando-se tabularmente legitimados para transferir o imvel no mbito de cadeia dominial, exsurge a viabilidade do ato registrrio postulado. Confira-se, nesse rumo, o esclio de Afrnio de Carvalho: A seqncia natural a indagao da identidade das partes e do imvel constantes do ttulo submetido ao registro. H que verificar se esses dois elementos da relao jurdica, pessoal e real, se acham precisamente indicados no ttulo e coincidem com os consignados no registro. Acompanhando a ordem lgica deles, atende-se em primeiro lugar identidade das partes, a fim de se chegar logo certeza sobre o sujeito do direito, sem a qual no curial prosseguir, sendo, portanto, eliminatrias estas duas verificaes: a) identidade das partes nomeadas no ttulo com as pessoas a quem os nomes pertencem; b) identidade da parte disponente do direito com a pessoa inscrita no livro como titular dele (Registro de Imveis, 4 edio, Forense, Rio de Janeiro, 1998, pg. 243). Bem demonstrada, como dito, essa identidade, para efeito registrrio, a isto se restringindo a anlise aqui levada a efeito. Assim, em face da peculiaridade e especificidade do caso concreto analisado nos autos, afigura-se possvel o registro postulado. Diante do exposto, dou provimento ao recurso, para julgar improcedente a dvida. Ruy Camilo, Corregedor Geral da Justia e Relator VOTO1. Trata-se de recurso interposto contra sentena que julgou procedente dvida suscitada pelo 1 Oficial de Registro de Imveis da Comarca de So Bernardo do Campo, que recusou o registro de escritura pblica de venda e compra, sob o alicerce de que dela no constaram os nmeros de inscrio dos outorgantes-vendedores no Cadastro de Pessoas Fsicas CPF, do Ministrio da Fazenda. Alegam os recorrentes, outorgados-compradores, que os vendedores so estrangeiros, que no residem no pas e que se encontram em local incerto e no sabido. Asseveram que o negcio, verdadeiramente, foi celebrado em 1993, por instrumento particular juntado aos autos, sendo que o registro do formal de partilha a favor dos vendedores s aconteceu em 1998, tudo, de qualquer modo, antes do surgimento da normatizao sobre a inscrio no CPF/MF. Destacam a cabal regularidade da aquisio, a dificuldade de localizar os alienantes e a sria probabilidade de prejuzo. A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso. a sntese do necessrio. As particularidades do caso sub examem esto a indicar que o pretendido ingresso ao registro, no representa ameaa ao sistema. Por promio, nota-se que, na matrcula anterior, h elementos suficientes que identificam e qualificam os alienantes, no se podendo discutir, neste momento, a possibilidade, ou no, de sua admisso no flio real como sujeitos de direito, pois nele j figuram. Realmente, j existe na referida matrcula, registro vlido em nome dos vendedores. Este registro ocorreu antes do advento das normas imperativas referentes inscrio no Cadastro de Pessoas Fsicas CPF (Decreto n 3.000/1999, Instruo Normativa n 461/2004 e Decreto n 4.166/2002) e foi efetuado na vigncia do artigo 176, 1, III, 2, a, da Lei n 6.015/1973, que permanece. Observa-se, ainda, que h perfeita concordncia entre os dados de qualificao pessoal constantes do registro citado e os declarados na escritura de venda e compra apresentada. Assim, bem demonstrada essa identidade, perante a peculiaridade e especificidade do caso em concreto analisado nos autos, apresenta-se vivel o registro postulado. Por essas razes, d-se provimento ao recurso, julgando-se improcedente a dvida. 2. Recurso provido. Dvida julgada improcedente. Registro de escritura pblica de venda e compra, em conformidade com os elementos indicativos na matrcula anterior. Princpios da especialidade e da continuidade respeitados. Jarbas Mazzoni, Vice-Presidente do Tribunal de Justia

CSM|SP: Registro Civil das Pessoas Naturais recurso interposto contra deciso que indeferiu a habilitao para o casamento entre pessoas do mesmo sexo orientao emanada em carter definitivo pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 4277), seguida pelo Superior Tribunal de Justia (Resp 1.183.378) Impossibilidade de a via administrativa alterar a tendncia sacramentada na via jurisdicional Recurso provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0034412-55.2011.8.26.0071 , da Comarca de BAURU, em que so apelantes CHARLES BULHES TREVISAN DA SILVA E CAU DE OLIVEIRA SENA RICARTE e apelado o JUZO DE DIREITO DA 1 VARA DA FAMLIA E DAS SUCESSES da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em dar provimento ao recurso para determinar o prosseguimento do processo de converso da unio estvel em casamento, salvo se por outro motivo estiverem as partes interessadas impedidas de contrair matrimnio, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, HAMILTON ELLIOT AKEL E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Privado, em exerccio, e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 31 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia, e Relator. Voto REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS recurso interposto contra deciso que indeferiu a habilitao para o casamento entre pessoas do mesmo sexo orientao emanada em carter definitivo pelo Supremo Tribunal Federal (ADI 4277), seguida pelo Superior Tribunal de Justia (Resp 1.183.378) Impossibilidade de a via administrativa alterar a tendncia sacramentada na via jurisdicional Recurso provido. Trata-se de apelao interposta por Charles Bulhes Trevisan da Silva e Cau de Oliveira Sena Ricarte contra a r sentena de fls. 90/92, que indeferiu o pedido de converso de unio estvel em casamento. Aduzem os apelantes que a converso requerida encontra amparo na ADPF n 132 e ADIn n 4277, no art. 5, II, da Constituio Federal, e no art. 1.726, do Cdigo Civil. A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso (fls. 282/286). o relatrio. Embora no haja hierarquia entre cortes judicirias, o Supremo Tribunal Federal tem por atribuio a guarda precpua da Constituio da Repblica e o Superior Tribunal de Justia a misso de unificar a interpretao do ordenamento em todo o Brasil. Ambos decidiram ser possvel o reconhecimento da proteo jurdica a conviventes do mesmo sexo. As ementas da Adi 4277-DF, 5.5.2011, relatoria do atual Presidente do STF, Ministro AYRES BRITO, so eloquentes: PROIBIO DE DISCRIMINAO DAS PESSOAS EM RAZO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA HOMEM/MULHER (GNERO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAO SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIO DO PRECONCEITO COMO CAPTULO DO CONSTITUCIONALISMO FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SOCIOPOLTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRPRIA SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO INDIVDUO, EXPRESSO QUE DA AUTONOMIA DE VONTADE. DIREITO INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. CLUSULA PTREA. TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DA INSTITUIO DA FAMLIA. RECONHECIMENTO DE QUE A CONSTITUIO FEDERAL NO EMPRESTA AO SUBSTANTIVO FAMLIA NENHUM SIGNIFICADO ORTODOXO OU DA PRPRIA TCNICA JURDICA. A FAMLIA COMO CATEGORIA SOCIO-CULTURAL E PRINCPIO ESPIRITUAL. DIREITO SUBJETIVO DE CONSTITUIR FAMLIA.

INTERPRETAO NO-REDUCIONISTA. UNIO ESTVEL. NORMAO CONSTITUCIONAL REFERIDA A HOMEM E MULHER, MAS APENAS PARA ESPECIAL PROTEO DESTA LTIMA. FOCADO PROPSITO CONSTITUCIONAL DE ESTABELECER RELAES JURDICAS HORIZONTAIS OU SEM HIERARQUIA ENTRE AS DUAS TIPOLOGIAS DO GNERO HUMANO. IDENTIDADE CONSTITUCIONAL DOS CONCEITOS DE ENTIDADE FAMILIAR E FAMLIA. Idntica a clareza das ementas redigidas pelo Ministro LUIS FELIPE SALOMO, relator do REsp. 1.183.378-RS: DIREITO DE FAMLIA. CASAMENTO CIVIL ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO (HOMOAFETIVO). INTERPRETAO DOS ARTS. 1514, 1521, 1523, 1535 E 1565 DO CDIGO CIVIL DE 2002. INEXISTNCIA DE VEDAO EXPRESSA A QUE SE HABILITEM PARA O CASAMENTO PESSOAS DO MESMO SEXO. VEDAO IMPLCITA CONSTITUCIONALMENTE INACEITVEL. ORIENTAO PRINCIPIOLGICA CONFERIDA PELO STF NO JULGAMENTO DA ADPF 132/RJ E DA ADI N. 4277/DF. Observe-se que nesse julgado o Superior Tribunal de Justia, respaldado nos princpios fincados na Adi 4277/DF, do STF, admitiu a habilitao direta para o casamento entre pessoas do mesmo sexo sem a necessidade do prvio reconhecimento da unio estvel. A partir da sinalizao das Cortes Superiores, inmeras as decises amparadas e fundamentadas nesses julgados. Inclusive em So Paulo. Se, na via administrativa, fosse alterada essa tendncia, o Judicirio se veria invocado a decidir, agora na esfera jurisdicional, matria j sacramentada nos Tribunais com jurisdio para todo o territrio nacional. Como servos da Constituio interpretada por aquele Colegiado que o pacto federativo encarregou guard-la os juzes e rgos do Poder Judicirio no podem se afastar da orientao emanada em carter definitivo pelo STF. por isso que, doravante, os dispositivos legais e Constitucionais relativos ao casamento e unio estvel no podem mais ser interpretados revelia da nova acepo jurdica que lhes deram o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justia. Assim, a despeito das jurdicas razes contidas na sentena e no r parecer do Ministrio Pblico, o recurso merece acolhimento. Ante o exposto, dou provimento ao recurso para determinar o prosseguimento do processo de converso da unio estvel em casamento, salvo se por outro motivo estiverem as partes interessadas impedidas de contrair matrimnio. (a) Jos Renato Nalini, Corregedor Geral da Justia e Relator.

CSM|SP: Registro de Imveis Apossamento Desapropriao Indireta Possibilidade de alienao do imvel desde que anterior ao pagamento da indenizao Recurso provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0000013-88.2011.8.26.0462, da Comarca de PO, em que apelante PROL PARTICIPAES LTDA e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS, TTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em dar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, no impedimento ocasional do Presidente, SRGIO JACINTHO GUERRIERI REZENDE, decano, em exerccio, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOS SILVEIRA PAULILO E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO , respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Direito Privado e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 29 de maro de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. Voto

EMENTA REGISTRO DE IMVEIS Apossamento Desapropriao Indireta Possibilidade de alienao do imvel desde que anterior ao pagamento da indenizao Recurso provido. Trata-se de apelao interposta por Prol Participaes Ltda., objetivando a reforma da r sentena de fls. 58/61, que julgou procedente a dvida suscitada pelo Oficial de Registro de Imveis da Comarca de Po, e recusou o registro da escritura pblica de compra e venda lavrada em 05.12.08 nas notas do 1 Tabelio de Notas de Po nos imveis matriculados sob os ns 32.447 e 45.765, daquela Serventia de Imveis. Alega o apelante que os imveis constantes do ttulo recusado no foram transferidos ao domnio pblico, e que a averbao do apossamento descabida, motivos pelos quais o ttulo deve ser registrado. A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso (fls. 78/81). o relatrio. O recurso, a despeito do entendimento do Oficial de Registro de Imveis, do MM. Juiz Corregedor Permanente, e da Procuradoria de Justia, merece provimento. De acordo com o traslado da escritura pblica de compra e venda lavrada em 05.12.08 pelo 1 Tabelio de Notas de Po, o recorrente, antes denominado Perez Negcios Imobilirios Ltda., adquiriu de Albano Sousa Almeida e sua mulher Carminada de Jesus Sousa Almeida, e de Antonio Sousa Almeida e sua mulher Maria da Gloria Pereira de Abreu Sousa Almeida reas remanescentes das matrculas ns 32.447 e 45.765 (fls. 31/33). O ttulo foi recusado pelo Oficial de Registro de Imveis por trs vezes. Na ltima delas, o Oficial aduziu que o registro no era vivel porque, de acordo com as averbaes ns 14 e 11, das matrculas ns 32.447 e 45.765, os imveis encontram-se sob o domnio da Prefeitura Municipal, que os utilizou para abertura de via pblica (fl. 29). Sucede que os imveis ainda no foram desapropriados. Conquanto tenha havido apossamento deles, no h notcia de que tenha havido indenizao aos titulares tabulares de domnio, de modo que no se pode falar em transferncia de titularidade em favor da Municipalidade. O apossamento situao de fato que, ocorrida, torna o imvel insuscetvel de reintegrao. Contudo, no tem o condo, por si s, de transferir o domnio do imvel apossado, o que s ocorre aps o pagamento da indenizao. Nesse sentido a jurisprudncia do E. Superior Tribunal de Justia: Sem controvrsia a propriedade, o apossamento e a legalidade da aquisio, sem o pagamento de justa indenizao inocorre a transferncia ao domnio pblico. Inerente ao domnio reparao devida, vivo este, enquanto no satisfeito o pagamento indenizatrio, pela irreversibilidade da incorporao do imvel ao patrimnio pblico, permanece intangido o direito de receber. Salvo a ocorrncia do prazo prescricional, certo que dado ao proprietrio alienar o imvel mesmo antes de ser indenizado, o adquirente superveniente da propriedade sub-roga-se nos direitos e aes (REsp 132.193/MG, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, 1 Turma, DJ de 22.05.2000). Precedentes: REsp 416.511/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, 2 Turma, DJ de 06.10.2003; REsp 442.360/SP, Rel. Min. Jos Delgado, 1 Turma, DJ de 24.03.2003 (Resp REsp 750897 / MG). Assim, se o imvel ainda no foi transferido ao domnio pblico, inexiste bice para que seja alienado pelos atuais titulares de domnio, que so os que constaram no ttulo recusado. Observe-se, por fim, que os apossamentos averbados, conquanto sem previso legal e sem ttulo para ingresso no flio real, em nada interferem no registro do ttulo recusado, de modo que prescindem de apreciao no caso em debate, cabendo ao interessado, se assim entender, questionlos por meio de procedimento junto ao MM. Juiz Corregedor Permanente. Diante do exposto, dou provimento ao recurso para julgar improcedente a dvida e determinar o registro do ttulo. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. (D.J.E. de 02.07.2012)

CSM|SP: Registro de Imveis Carta de Arrematao Diversidade entre os titulares da propriedade constantes da matrcula necessidade de prvio registro da partilha efetuada no divrcio dos proprietrios princpio da continuidade Recurso no provido. ACRDO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0029783-48.2011.8.26.0100, da Comarca da CAPITAL, em que apelante TELLER FACTORING FOMENTO MERCANTIL LTDA e apelado o 8 OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores, IVAN RICARDO GARISIO SARTORI, Presidente do Tribunal de Justia, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOS SILVEIRA PAULILO E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Direito Privado e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 12 de abril de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. Voto REGISTRO DE IMVEIS Carta de Arrematao Diversidade entre os titulares da propriedade constantes da matrcula necessidade de prvio registro da partilha efetuada no divrcio dos proprietrios princpio da continuidade Recurso no provido. Trata-se de apelao interposta contra r. sentena que reconheceu impossibilidade do registro de carta de arrematao em virtude de no ter sido registrada a partilha ocorrida no divrcio dos proprietrios constantes da matrcula, julgando procedente a dvida suscitada. Sustenta a apelante, em preliminar a nulidade da deciso por no ter sido apreciada sua petio, pois, juntada aps a sentena e, no mrito, a possibilidade do registro por no lhe ser possvel o registro da partilha no divrcio (a fls. 122/126). A douta Procuradoria Geral de Justia opina pelo no provimento do recurso (a fls. 134). o relatrio. Apesar do equvoco da serventia ao juntar a impugnao da apelante aps a prolao da r. sentena, compreendido o processo administrativo em sua instrumentalidade no cabe o reconhecimento de nulidade, pois, em razo das caractersticas prprias da dvida, na sentena houve exame das razes contidas na impugnao. Na referida pea a impugnante sustentava a possibilidade do registro com base na certido de objeto e p da ao de divrcio por ausente, a seu compreender, qualquer afronta ao princpio da continuidade, de outra parte, o i. sentenciante fundou suas razes na insuficincia da documentao apresentada referindo o contedo da certido (renncia da esposa quanto ao imvel ora objeto do registro) como razo do no respeito ao princpio da continuidade. Alm disso, na apelao no h alegao de prejuzo ao princpio do contraditrio, no sendo o caso da repetio dos atos processuais em apego ao formalismo exagerado. Considerado o processo em sua instrumentalidade no houve prejuzo aos direitos fundamentais da recorrente; superada a preliminar passamos ao exame das razes de mrito. O ttulo judicial submete-se qualificao registrria (item 106 do Captulo XX das Normas de Servio da Corregedoria Geral da Justia), no havendo qualquer exame de contedo da deciso judicial, to s so apreciadas as formalidades extrnsecas da ordem e da conexo dos dados do ttulo com o registro (Apelao Cvel n 681-6/9, Rel. Des. Gilberto Passos de Freitas, j. 26.4.07). Como se observa de fls. 33/103 foi expedida carta de arrematao em favor da apelante referentemente tera parte ideal dos imveis matriculados sob os nmeros 106.308 e 67.235 no Oitavo Registro de Imveis da Capital, na qual os proprietrios Eduardo Bortoletto e Elisabeth Martins so qualificados como divorciados. No obstante, nas matrculas dos imveis os Srs. Eduardo e Elisabeth so qualificados como casados (a fls. 21/25), malgrado a ocorrncia de divrcio consensual com atribuio dos bens supra ao Sr. Eduardo (a fls. 91) no houve o registro da partilha. Em conformidade ao disposto nos artigos 195 e 237 da Lei dos Registros Pblicos, o princpio da continuidade ou do trato sucessivo estabelece que cada registro encontre sua procedncia no anterior configurando o encadeamento de aquisio, gravames e transferncia dos direitos reais constantes da matrcula do imvel, permitindo o exame de seu histrico. O princpio da continuidade correlato especialidade subjetiva, assim, somente ser possvel o ingresso de novo ttulo na tbua registraria se

houver coincidncia na titularidade e qualificao dos titulares do direito real anterior. Essa situao no ocorre no caso em exame, nas matrculas constam como titulares da tera parte da propriedade os Srs. Eduardo e Elisabeth, qualificados como casados, no ttulo judicial aqueles so qualificados como divorciados, bem como a propriedade da parte ideal em questo foi transmitida, ao que consta, unicamente em favor do Sr. Eduardo. Nessa linha de raciocnio, invivel o acesso do ttulo judicial ao registro imobilirio por violar o princpio da continuidade, porquanto falta o registro anterior de transmisso da propriedade entre os proprietrios da parte ideal e tambm a mudana do estado civil. No possvel o ingresso da certido de objeto e p da ao de divrcio consensual dos proprietrios por no encerrar esse documento ttulo passvel de registro na forma do art. 221 da Lei n. 6.015/73; no cabvel a substituio de uma carta de sentena por uma certido, esta somente possvel em no sendo hiptese de carta de sentena, o que no o caso. Desse modo, dever o apelante, em conformidade a seu interesse jurdico, adotar os meios necessrios para o registro do ttulo anterior para a subsequente realizao do registro ora pretendido. H diversos precedentes administrativos do Conselho Superior da Magistratura no sentido do ora decidido, a exemplo das Apelaes ns. 990.10.031.118-2, 30.06.2010, Rel. Munhoz Soares, e 207-6/7, 8/11/2004, Rel. Des. Jos Mrio Antonio Cardinale. Fica prejudicado o exame da questo atinente apresentao de cpia da certido e ausncia de prova de recolhimento de tributo, entretanto, encerra pacfico entendimento do Conselho Superior da Magistratura a necessidade de ser apresentado o original do ttulo, bem como a comprovao do pagamento dos impostos incidentes. Pelo exposto, nego provimento ao recurso. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. (D.J.E. de 05.07.2012)

CSM|SP: Registro de imveis Dvida Arrematao de imvel em hasta pblica Forma originria de aquisio de propriedade Inexistncia de relao jurdica entre o arrematante e o anterior proprietrio do bem Imvel penhorado com base no art. 53, 1, da Lei 8.212/91 Indisponibilidade que obsta apenas a alienao voluntria Incidncia de ITBI nas arremataes judiciais por expressa determinao legal Recurso no provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0007969-54.2010.8.26.0604, da Comarca de SUMAR, em que apelante IMPORTADORA E EXPORTADORA DE CEREAIS S/A e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS, TTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em negar provimento ao recurso, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, no impedimento ocasional do Presidente, ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOS SILVEIRA PAULILO E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Direito Privado e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 10 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. Voto Registro de imveis Dvida Arrematao de imvel em hasta pblica Forma originria de aquisio de propriedade Inexistncia de relao jurdica entre o arrematante e o anterior proprietrio do bem Imvel penhorado com base no art. 53, 1, da Lei 8.212/91 Indisponibilidade que obsta apenas a alienao voluntria Incidncia de ITBI nas arremataes judiciais por expressa determinao legal Recurso no provido.

Trata-se de apelao interposta por Importadora e Exportadora de Cereais S/A, objetivando a reforma da r sentena de fls. 161/162v, que julgou procedente a dvida suscitada pelo Oficial de Registro de Imveis e Anexos da Comarca de Sumar, e manteve a recusa do registro da carta de arrematao extrada dos autos da execuo n 1.057/98, da E. 1 Vara Cvel de Sumar na matrcula n 65295, daquela Serventia de Imveis. Alega o apelante, em suma, que foi a primeira a averbar a penhora na matrcula do imvel, o que afasta a incidncia do art. 53, 1, da Lei 8.212/91; que o arrolamento previsto no art. 64, 5, da Lei n 9.537/97, no obsta a averbao de penhoras nem o registro da carta de arrematao; inaplicabilidade dos precedentes citados pelo Oficial de Registro de Imveis porque a penhora fiscal era anterior cvel; desnecessidade de recolhimento de ITBI, por se tratar de aquisio originria da propriedade, e da apresentao da certido de IPTU porque os dbitos tributrios sub-rogam-se no preo pago; e desnecessidade de juntada da CND do INSS e de Tributos Federais (fls. 168/181). A Procuradoria Geral de Justia opinou pelo no provimento do recurso (fls. 192/193). Aps a juntada da certido da matrcula do imvel pela apelante, o Ministrio Pblico reiterou os termos do r parecer (fls. 194/195 e 206). o relatrio. De incio, observe-se que a dvida no se encontra prejudicada porque a juntada das certides das matrculas no se deu em cumprimento exigncia feita pelo Oficial de Registro de Imveis. Diversas so as questes levantadas pela apelante. A primeira delas diz respeito natureza jurdica da aquisio de imvel por meio de arrematao judicial que, segundo a apelante, constitui modo originrio de aquisio da propriedade imvel. Contudo, consolidou-se neste Conselho Superior da Magistratura e na E. Corregedoria Geral da Justia entendimento em sentido diverso, isto , que se trata de forma derivada de aquisio da propriedade: REGISTRO DE IMVEIS Dvida julgada procedente Carta de arrematao expedida em ao de execuo fiscal movida pela Fazenda Estadual Imvel penhorado em outras execues movidas pela Fazenda Nacional e pelo Instituto Nacional do Seguro Social INSS Arrematao que no constitui forma originria de aquisio de propriedade imvel Impossibilidade de registro, enquanto no cancelados os registros das penhoras pela Fazenda Nacional e pelo INSS, por fora do artigo 53, pargrafo 1, da Lei n 8.212/91 Registro invivel Recurso no provido. (CSM Ap. Cvel n 1.223-6/7, grifouse). O E. Superior Tribunal de Justia, intrprete maior da legislao federal, entende que a arrematao judicial de imvel em hasta pblica configura forma originria de aquisio da propriedade, sendo oportuno citar, por todos, o Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n AgRg no Ag 1225813, relatado pela Ministra Eliana Calmon, assim ementado: EXECUO FISCAL IPTU ARREMATAO DE BEM IMVEL AQUISIO ORIGINRIA INEXISTNCIA DE RESPONSABILIDADE TRIBUTRIA DO ARREMATANTE APLICAO DO ART. 130, PARGRAFO NICO, DO CTN. 1. A arrematao de bem mvel ou imvel em hasta pblica considerada como aquisio originria , inexistindo relao jurdica entre o arrematante e o anterior proprietrio do bem, de maneira que os dbitos tributrios anteriores arrematao sub-rogamse no preo da hasta. 2. Agravo regimental no provido. (grifou-se). No mesmo sentido: REsp n 1179056/MG, AgRg no Ag n 1225813/SP, REsp n 1038800/RJ, REsp n 807455/RS e REsp n 40191/SP. De fato, a despeito do respeitvel entendimento firmado neste Conselho Superior da Magistratura, foroso reconhecer que, na arrematao, inexiste relao jurdica ou negocial entre o antigo proprietrio e o novo, de modo que no h como se afirmar que se est diante de aquisio derivada da propriedade. A doutrina tambm caminha no sentido de que a aquisio derivada depende sempre de uma relao negocial, aperfeioada pela manifestao de vontade, entre o antigo proprietrio e o adquirente. Para Carlos Roberto Gonalves, a aquisio derivada quando resulta de uma relao negocial entre o anterior proprietrio e o adquirente, havendo, pois, uma transmisso do domnio em razo da manifestao de vontade. Assim, sempre que no houver relao causal entre a propriedade adquirida e a situao anterior da coisa, est-se diante da aquisio originria ( Direito civil brasileiro, v. V. So Paulo: Saraiva, 2006, p. 231). Francisco Eduardo Loureiro, in Cdigo Civil Comentado, ao definir a natureza jurdica da aquisio da propriedade pela usucapio, acentua que se trata de modo originrio porque no h relao pessoal entre um precedente e um subsequente sujeito de direito (2 ed., So Paulo: Manole, 2008, p. 1161). Arnaldo Rizzardo, por sua vez, aduz que na aquisio derivada est sempre presente um vnculo entre duas pessoas, estabelecido em uma relao inter vivos ou causa mortis, ao passo que na originria no se constata uma relao jurdica entre o adquirente e o antigo proprietrio (Direito das coisas. 3 ed. So Paulo: Forense, 2007, p. 244).

Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barbosa e Maria Celina Bodin de Moraes observam que a aquisio originria se verifica quando o modo aquisitivo no guarda relao de causalidade com o estado jurdico anterior de domnio, e que no decorre de relao jurdica estabelecida com o proprietrio anterior como ocorre no contrato de compra e venda ( Cdigo civil interpretado conforme a constituio da repblica , v. III. Rio de Janeiro: Renovar, 2011, p. 519). Em sentido diverso, a doutrina de Caio Mrio da Silva Pereira, para quem apenas a ocupao configura meio originrio de aquisio da propriedade, porque, nesse caso, a coisa jamais esteve sob o domnio de algum ( Instituies de direito civil. 20 ed., v. IV. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 97). Sucede que, quando o bem arrematado judicialmente, no h relao negocial entre o anterior proprietrio e o adquirente, e a transmisso de domnio no decorre de manifestao de vontade. Assim, no h que se falar em aquisio derivada da propriedade. Verifica-se, destarte, que o entendimento deste Conselho Superior da Magistratura, embora lastreado em excelentes fundamentos, no mais se encontra em harmonia com a jurisprudncia do E. Superior Tribunal de Justia nem com o esprito da doutrina majoritria, motivo por que sua alterao de rigor em prol da segurana jurdica. No que diz respeito possibilidade de o bem penhorado com base no art. 53, 1, da Lei n 8.212/91, poder ser arrematado em execuo diversa, malgrado o entendimento atual deste Conselho, parece mais preciso o que decidiu o E. Superior Tribunal de Justia nos autos do Recurso Especial n 512.398, cujo voto do eminente relator Ministro Felix Fischer traz a seguinte considerao: Tenho contudo, que a indisponibilidade a que se refere o dispositivo (referindo-se ao 1, do art. 53, da Lei 8.212/91) traduz-se na invalidade, em relao ao ente Fazendrio, de qualquer ato de alienao do bem penhorado, praticado sponte prpria pelo devedor-executado aps a efetivao da constrio judicial. Sendo assim, a referida indisponibilidade no impede que haja a alienao forada do bem em decorrncia da segunda penhora, realizada nos autos de execuo proposta por particular, desde que resguardados, dentro do montante auferido, os valores ao crdito fazendrio relativo ao primeiro gravame imposto. Verifica-se, destarte, que a indisponibilidade decorrente do 1, do art. 53, da Lei n 8.212/91, incide apenas sobre a alienao voluntria e no sobre a forada, como no caso da arrematao judicial. No que diz respeito incidncia do ITBI na hiptese, observe-se o que diz o art. 130, da Consolidao da Legislao Tributria do Municpio de So Paulo, Decreto n 52.703/11: Art. 130. Esto compreendidos na incidncia do imposto (art. 2 da Lei n 11.154, de 30/12/91, com a redao da Lei n 13.402, de 05/08/02, e da Lei n 14.125, de 29/12/05): () V a arrematao, a adjudicao e a remio; Tratando-se de imposio legal, descabe a este Conselho Superior da Magistratura, em processo administrativo de dvida, examinar qualquer aspecto relacionado sua constitucionalidade, devendo a recorrente buscar guarida na via judicial competente (v. Proc CG 487/2007). Por isso, nem mesmo o fato de se tratar de aquisio originria tem o condo de afastar a exigncia que decorre de expressa determinao legal. Ressalve-se, para que no haja analogias imprprias, que no caso da usucapio o recolhimento do ITBI no exigido porque inexiste a correspondente hiptese de incidncia na lei, e no porque se trata de aquisio originria. Em relao apresentao das CNDs e certides de IPTU, o Oficial de Registro de Imveis se retratou nas informaes que prestou, de modo que ficaram superadas essas exigncias (fls. 147/150). Por fim, observe-se que tambm os ttulos judiciais submetem-se qualificao registrria, conforme pacfico entendimento do E. Conselho Superior da Magistratura: Apesar de se tratar de ttulo judicial, est ele sujeito qualificao registrria. O fato de tratar-se o ttulo de mandado judicial no o torna imune qualificao registrria, sob o estrito ngulo da regularidade formal, O exame da legalidade no promove incurso sobre o mrito da deciso judicial, mas apreciao das formalidades extrnsecas da ordem e conexo de seus dados com o registro e a sua formalizao instrumental (Ap. Cvel n 31881-0/1). Assim, observadas as ressalvas feitas, a recusa do Oficial de Registro de Imveis deve ser mantida porque permaneceu hgida a exigncia relativa ao recolhimento do ITBI. Isto posto, nego provimento ao recurso.

(a)

JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. (D.J.E. de 04.07.2012)

CSM|SP: Registro de Imveis Dvida registrria Instrumento particular de constituio de sociedade limitada Integralizao de quotas sociais Conferncia de imveis sociedade empresarial constituda Incorporao das nuas-propriedades dos bens imveis Usufruto deducto Negcio jurdico nico Incidncia da regra do artigo 64 da Lei n. 8.934/1994 Inaplicabilidade do artigo 108 do Cdigo Civil Desqualificao registrria afastada Recurso provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAO CVEL N 0003562-82.2011.8.26.0664, da Comarca de VOTUPORANGA, em que apelante AGROMACHADO ADMINISTRAO E PARTICIPAO LTDA e apelado o OFICIAL DE REGISTRO DE IMVEIS, TTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DE PESSOA JURDICA da referida Comarca. ACORDAM os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votao unnime, em dar provimento apelao para julgar improcedente a dvida suscitada, determinando, ao Oficial do Registro de Imveis e Anexos da Comarca de Votuporanga, o registro da certido passada pela JUCESP (fls. 24/116), de modo a viabilizar a transferncia apelante das nuas-propriedades dos imveis matriculados sob os ns. 17.697, 20.076, 1.655 e 20.060, bem como a constituio dos usufrutos reservados aos scios alienantes, de conformidade com o voto do Desembargador Relator, que fica fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Desembargadores, JOS GASPAR GONZAGA FRANCESCHINI, Vice-Presidente do Tribunal de Justia, no impedimento ocasional do Presidente, ANTONIO AUGUSTO CORRA VIANNA, decano, SAMUEL ALVES DE MELO JUNIOR, ANTONIO JOS SILVEIRA PAULILO E ANTONIO CARLOS TRISTO RIBEIRO, respectivamente, Presidentes das Sees de Direito Pblico, Direito Privado e Criminal do Tribunal de Justia. So Paulo, 10 de maio de 2012. (a) JOS RENATO NALINI, Corregedor Geral da Justia e Relator. Voto REGISTRO DE IMVEIS Dvida registrria Instrumento particular de constituio de sociedade limitada Integralizao de quotas sociais Conferncia de imveis sociedade empresarial constituda Incorporao das nuas-propriedades dos bens imveis Usufruto deducto Negcio jurdico nico Incidncia da regra do artigo 64 da Lei n. 8.934/1994 Inaplicabilidade do artigo 108 do Cdigo Civil Desqualificao registrria afastada Recurso provido. O Oficial de Registro de Imveis e Anexos da Comarca de Votuporanga, diante do requerimento formulado pela interessada (fls. 09/18), ora apelante inconformada com a desqualificao registrria do instrumento particular de constituio de sociedade limitada, que contempla, entre outras disposies visando integralizao das quotas sociais subscritas, a transferncia, em seu favor, das nuas-propriedades dos imveis matriculados sob os n.s 17.697, 20.076, 1.655 e 20.060 -, suscitou dvida ao MM Juiz Corregedor Permanente, mas mantendo a exigncia impugnada e a recusa de acesso do ttulo ao flio real, porquanto, considerados os usufrutos reservados aos scios alienantes e os valores dos bens imveis, a escritura pblica, nos termos do artigo 108 do Cdigo Civil, requisito de validade do negcio jurdico (fls. 02/04). A interessada, na impugnao oferecida, ponderou: a Lei n. 8.934/1994 autoriza a integralizao de quotas sociais, ainda que representada por conferncia de bens imveis, independentemente dos valores destes, por meio de instrumento particular; o instrumento particular foi registrado na Junta Comercial do Estado de So Paulo; se a transferncia da propriedade plena de bens imveis, que o mais, pode ser realizada, na hiptese discutida, mediante registro imobilirio de instrumento particular, no h razo para obstar a das nuas-propriedades, se utilizada tal forma; as transferncias contaram com as anuncias dos cnjuges; inexistiu constituio, transferncia, modificao ou renncia de usufruto, razo pela qual a regra do artigo 108 inaplicvel; em suma, a dvida deve ser julgada improcedente, determinando-se, assim, o registro do instrumento particular de constituio de sociedade limitada (fls. 145/154). Aps o parecer do Ministrio Pblico, alinhado com as argumentaes da interessada (fls. 156/158), a dvida foi julgada procedente (fls. 160/161), por meio de sentena contra a qual interposta apelao pela interessada, que reiterou suas alegaes passadas, objetivando, em sntese, o registro do ttulo prenotado (fls. 170/182). Recebida a apelao nos seus regulares efeitos (fls. 187), a Douta Procuradoria Geral de Justia props o provimento do recurso, pois, com a transmisso das nuas-propriedades, no houve necessidade de constituio de usufruto, o que torna desnecessria a lavratura de escritura pblica

para fins de registro no flio real, inclusive do usufruto reservado (fls. 198/201). o relatrio. A apelante, AGROMACHADO Administrao e Participao Ltda., uma vez autorizada pela legislao em vigor (artigo 1.054 combinado com o artigo 997, ambos do Cdigo Civil), foi constituda por meio de instrumento particular, no qual lanadas, no que pertinente, as informaes relacionadas no artigo 997 do Cdigo Civil e prevista, na clusula dcima-quinta (fls. 115), tambm com fundamento em permissivo legal (artigo 1.053 do Cdigo Civil), a regncia supletiva de tal sociedade empresarial limitada pelas normas da sociedade annima (fls. 24/116). O instrumento particular sob exame meio pelo qual formalizado negcio jurdico nico, plurilateral, marcado pela presena de mais de duas partes, scios, com interesses convergentes, concorrentes, coordenados pelo fim comum -, foi, em harmonia com as regras dos artigos 45, 985 e 1.150 do Cdigo Civil, registrado, por meio de arquivamento, aps qualificao positiva, na Junta Comercial do Estado de So Paulo JUCESP, nos termos do artigo 32, II, a, da Lei n. 8.934/1994, que dispe a respeito do registro pblico de empresas mercantis e atividades afins. O acordo aperfeioado entre os scios da apelante ao definir o capital social da sociedade empresria limitada, dividi-lo em quotas, distribui-las entre os scios e regrar o modo de integraliz-las -, previu que o capital social seria formado por meio de contribuies em dinheiro e incorporaes de bens imveis (fls. 26/108). Particularmente,