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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO ~LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA~ Trabalho realizado no âmbito da cadeira de fontes de informação sociológica, pela discente: Rita Sofia Almeida Estrafalhote

DESPENALIZAÇÃO DO ABORTO - fe.uc.pt · aborto como a expulsão do feto do ventre materno, quando este ainda não puder sobreviver fora do meio intra-uterino, ou seja, no período

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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

~LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA~ Trabalho realizado no acircmbito da cadeira de fontes de informaccedilatildeo socioloacutegica

pela discente Rita Sofia Almeida Estrafalhote

IacuteNDICE

Introduccedilatildeo1 Avaliaccedilatildeo de um site da internet2

Descriccedilatildeo detalhada da pesquisa4

Desenvolvimento do tema

o Estado das Artes6 o A Igreja como meio de influecircncia da opiniatildeo puacuteblica10

o Movimentos de mulheres pela despenalizaccedilatildeo do

aborto13

Ficha de leitura15

Conclusatildeo18

Referecircncias bibliograacuteficas20

Anexos

o Anexo I site da internet avaliado

o Anexo II texto de suporte da ficha de leitura

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

INTRODUCcedilAtildeO

No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do

aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute

sociais como poliacuteticas e religiosas

Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam

explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob

o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem

aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute

dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a

razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -

como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo

considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito

dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que

irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves

abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da

Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido

uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se

mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a

despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10

Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a

Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio

Outro tema que achei relevante abordar foram os

movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto

em Portugal

Faculdade Economia 1

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas

e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo

domino bem as outras liacutenguas

A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei

acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga

pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto

sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me

baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha

e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao

tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em

me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do

aborto

AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET

O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o

httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)

Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do

aborto pertence a uma plataforma que defende a sua

descriminalizaccedilatildeo

Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema

No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante

actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-

nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos

anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa

Faculdade Economia 2

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo

Portuguesa de Mulheres Juristas)

A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo

devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual

falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees

que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com

as mulheres julgadas

Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo

aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela

Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo

Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo

entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo

ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia

A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos

a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio

Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um

texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a

IVG nos hospitais

O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas

incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se

encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo

seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele

podemos encontrar por vezes eacute neutra

Faculdade Economia 3

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

IacuteNDICE

Introduccedilatildeo1 Avaliaccedilatildeo de um site da internet2

Descriccedilatildeo detalhada da pesquisa4

Desenvolvimento do tema

o Estado das Artes6 o A Igreja como meio de influecircncia da opiniatildeo puacuteblica10

o Movimentos de mulheres pela despenalizaccedilatildeo do

aborto13

Ficha de leitura15

Conclusatildeo18

Referecircncias bibliograacuteficas20

Anexos

o Anexo I site da internet avaliado

o Anexo II texto de suporte da ficha de leitura

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

INTRODUCcedilAtildeO

No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do

aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute

sociais como poliacuteticas e religiosas

Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam

explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob

o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem

aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute

dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a

razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -

como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo

considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito

dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que

irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves

abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da

Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido

uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se

mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a

despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10

Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a

Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio

Outro tema que achei relevante abordar foram os

movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto

em Portugal

Faculdade Economia 1

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas

e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo

domino bem as outras liacutenguas

A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei

acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga

pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto

sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me

baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha

e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao

tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em

me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do

aborto

AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET

O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o

httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)

Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do

aborto pertence a uma plataforma que defende a sua

descriminalizaccedilatildeo

Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema

No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante

actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-

nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos

anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa

Faculdade Economia 2

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo

Portuguesa de Mulheres Juristas)

A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo

devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual

falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees

que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com

as mulheres julgadas

Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo

aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela

Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo

Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo

entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo

ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia

A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos

a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio

Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um

texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a

IVG nos hospitais

O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas

incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se

encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo

seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele

podemos encontrar por vezes eacute neutra

Faculdade Economia 3

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

INTRODUCcedilAtildeO

No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do

aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute

sociais como poliacuteticas e religiosas

Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam

explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob

o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem

aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute

dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a

razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -

como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo

considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito

dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que

irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves

abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da

Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido

uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se

mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a

despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10

Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a

Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio

Outro tema que achei relevante abordar foram os

movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto

em Portugal

Faculdade Economia 1

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas

e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo

domino bem as outras liacutenguas

A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei

acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga

pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto

sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me

baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha

e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao

tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em

me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do

aborto

AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET

O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o

httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)

Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do

aborto pertence a uma plataforma que defende a sua

descriminalizaccedilatildeo

Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema

No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante

actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-

nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos

anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa

Faculdade Economia 2

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo

Portuguesa de Mulheres Juristas)

A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo

devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual

falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees

que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com

as mulheres julgadas

Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo

aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela

Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo

Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo

entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo

ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia

A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos

a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio

Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um

texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a

IVG nos hospitais

O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas

incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se

encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo

seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele

podemos encontrar por vezes eacute neutra

Faculdade Economia 3

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas

e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo

domino bem as outras liacutenguas

A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei

acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga

pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto

sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me

baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha

e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao

tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em

me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do

aborto

AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET

O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o

httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)

Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do

aborto pertence a uma plataforma que defende a sua

descriminalizaccedilatildeo

Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema

No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante

actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-

nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos

anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa

Faculdade Economia 2

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo

Portuguesa de Mulheres Juristas)

A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo

devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual

falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees

que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com

as mulheres julgadas

Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo

aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela

Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo

Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo

entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo

ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia

A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos

a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio

Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um

texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a

IVG nos hospitais

O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas

incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se

encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo

seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele

podemos encontrar por vezes eacute neutra

Faculdade Economia 3

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo

Portuguesa de Mulheres Juristas)

A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo

devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual

falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees

que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com

as mulheres julgadas

Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo

aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela

Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo

Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo

entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo

ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia

A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos

a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio

Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um

texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a

IVG nos hospitais

O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas

incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se

encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo

seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele

podemos encontrar por vezes eacute neutra

Faculdade Economia 3

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente

informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra

Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo

do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada

Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com

a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante

interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo

para a realizaccedilatildeo deste trabalho

Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica

recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o

ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua

facilidade de utilizaccedilatildeo

Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo

ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita

com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a

expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas

com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF

natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3

meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web

Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis

saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do

aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa

simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e

natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a

pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da

Faculdade Economia 4

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um

site

Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das

mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa

simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi

extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa

avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo

obtive 7 registos

Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a

favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo

utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute

resultaram 1920 sites

Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que

encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho

Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas

relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que

haacute muito poucos registos

Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo

presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos

considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-

me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em

outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a

informaccedilatildeo seria vaacutelida

Faculdade Economia 5

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o ESTADO DAS ARTES

Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma

breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte

do trabalho

Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos

religiosos

O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa

Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do

filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta

praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na

primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute

Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem

desde muito cedo

Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto

relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora

continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na

histoacuteria da ciecircncia

Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses

No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse

legal ou natildeo

A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca

Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava

a crescer no ventre da mulher

Faculdade Economia 6

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

Faculdade Economia 7

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira

vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos

que tentaram proibir a praacutetica do aborto

A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto

Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical

Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de

crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a

medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo

Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase

todos os paiacuteses (Geraldo 2001)

Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel

Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler

um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual

Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio

Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado

pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra

a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc

consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art

140ordm do Coacutedigo Penal)

No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos

seguintes casos

a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de

morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida

b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

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Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

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o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

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o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

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Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo

d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)

Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute

adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil

aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o

feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia

e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o

crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa

pessoa com personalidade juriacutedica

No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o

aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este

ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no

periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto

provocado

Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei

informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998

Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17

mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a

niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres

Faculdade Economia 8

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada

acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em

ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da

gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10

semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo

Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a

despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres

que o tinham praticado

O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o

propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de

despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm

16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a

pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e

responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a

interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees

estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar

A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que

propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da

mulher ateacute agraves 12 semanas

Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do

aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das

mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez

vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres

Faculdade Economia 9

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute

referendado acerca do tema

Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a

toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar

o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA

Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente

oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees

religiosas

A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior

intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc

ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)

Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo

voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta

instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar

outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de

nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel

Faculdade Economia 10

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser

praticado

E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes

causas de uma gravidez indesejada

Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo

sexual forccedilada

A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do

crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro

e com o trauma sofrido

Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia

pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute

considerado pessoa (segundo os proacute-vida)

Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz

respeito ao aborto

ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo

(Pio XII apud Martins 1985 41)

Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao

aborto

Faculdade Economia 11

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de

mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as

condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo

sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis

Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de

Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se

contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais

D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que

as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as

crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as

instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees

Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e

muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave

falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica

de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de

abortos clandestinos

Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que

seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso

e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz

de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida

garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente

a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento

familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais

Faculdade Economia 12

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)

A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real

importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990

Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso

para esta luta

O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de

Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)

Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado

considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um

dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves

mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o

direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha

de educaccedilatildeo sexual esclarecedora

No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde

foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta

manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo

Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no

qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista

responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por

atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o

movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 13

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em

Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de

Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo

tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto

Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e

Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de

defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR

GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela

despenalizaccedilatildeo do aborto

Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um

abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento

familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo

deste

Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da

Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar

de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da

mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos

eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado

A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade

onde ele se tornou perigoso caro e humilhante

A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma

importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e

legalizaccedilatildeo do aborto

O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em

1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com

maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto

Faculdade Economia 14

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de

mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante

a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos

tiveram intensidades diferentes

ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)

FICHA DE LEITURA

O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de

leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em

Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela

Universidade Aberta

O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que

escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao

referendo

Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho

de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco

expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo

agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos

Faculdade Economia 15

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco

importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social

Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de

Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e

Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal

de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente

Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram

a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como

consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de

Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal

A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia

rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta

mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo

Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo

que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes

realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo

para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei

encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos

especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo

cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo

cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc

Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido

pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver

como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este

coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com

que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos

dos Portugueses

Faculdade Economia 16

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo

ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do

aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo

em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente

Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da

despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um

Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem

apresentou um Projecto da mesma natureza

Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela

Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica

O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil

assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da

Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo

promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto

Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute

em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes

pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares

2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores

recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao

aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores

condiccedilotildees

O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a

despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos

Projectos na Assembleia da Repuacuteblica

O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em

Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A

favor votaram apenas os do PCP e os Verdes

Faculdade Economia 17

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei

em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado

mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo

de um referendo sobre o aborto

Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um

movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se

contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo

criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta

altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um

direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias

O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num

discurso paternalista e conservador

Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa

D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto

era pior que o holocausto

Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do

aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no

Parlamento

CONCLUSAtildeO

A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos

tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda

divergem muito

Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute

muito tempo

Faculdade Economia 18

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente

na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o

era

Na internet encontra-se sobre o tema muito mais

informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter

socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes

Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do

trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais

apropriados para a abordagem do tema

Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que

me suscitou bastante interesse porque continua a ser um

problema bastante actual

Faculdade Economia 19

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

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o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

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o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

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o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

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  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO

Despenalizaccedilatildeo do Aborto

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt

o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt

o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema

criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora

o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em

lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt

o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em

lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt

o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em

Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte

o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em

lt bioeticamedupptgravidezhtml gt

Faculdade Economia 20

  • DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO