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FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
~LICENCIATURA EM SOCIOLOGIA~ Trabalho realizado no acircmbito da cadeira de fontes de informaccedilatildeo socioloacutegica
pela discente Rita Sofia Almeida Estrafalhote
IacuteNDICE
Introduccedilatildeo1 Avaliaccedilatildeo de um site da internet2
Descriccedilatildeo detalhada da pesquisa4
Desenvolvimento do tema
o Estado das Artes6 o A Igreja como meio de influecircncia da opiniatildeo puacuteblica10
o Movimentos de mulheres pela despenalizaccedilatildeo do
aborto13
Ficha de leitura15
Conclusatildeo18
Referecircncias bibliograacuteficas20
Anexos
o Anexo I site da internet avaliado
o Anexo II texto de suporte da ficha de leitura
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
INTRODUCcedilAtildeO
No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do
aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute
sociais como poliacuteticas e religiosas
Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam
explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob
o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem
aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute
dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a
razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -
como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo
considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito
dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que
irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves
abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da
Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido
uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se
mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a
despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10
Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a
Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio
Outro tema que achei relevante abordar foram os
movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto
em Portugal
Faculdade Economia 1
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas
e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo
domino bem as outras liacutenguas
A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei
acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga
pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto
sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me
baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha
e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao
tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em
me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do
aborto
AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET
O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o
httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)
Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do
aborto pertence a uma plataforma que defende a sua
descriminalizaccedilatildeo
Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema
No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante
actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-
nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos
anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa
Faculdade Economia 2
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo
Portuguesa de Mulheres Juristas)
A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo
devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual
falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees
que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com
as mulheres julgadas
Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo
aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela
Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo
Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo
entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo
ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia
A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos
a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio
Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um
texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a
IVG nos hospitais
O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas
incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se
encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo
seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele
podemos encontrar por vezes eacute neutra
Faculdade Economia 3
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
Faculdade Economia 4
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
IacuteNDICE
Introduccedilatildeo1 Avaliaccedilatildeo de um site da internet2
Descriccedilatildeo detalhada da pesquisa4
Desenvolvimento do tema
o Estado das Artes6 o A Igreja como meio de influecircncia da opiniatildeo puacuteblica10
o Movimentos de mulheres pela despenalizaccedilatildeo do
aborto13
Ficha de leitura15
Conclusatildeo18
Referecircncias bibliograacuteficas20
Anexos
o Anexo I site da internet avaliado
o Anexo II texto de suporte da ficha de leitura
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
INTRODUCcedilAtildeO
No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do
aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute
sociais como poliacuteticas e religiosas
Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam
explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob
o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem
aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute
dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a
razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -
como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo
considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito
dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que
irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves
abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da
Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido
uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se
mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a
despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10
Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a
Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio
Outro tema que achei relevante abordar foram os
movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto
em Portugal
Faculdade Economia 1
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas
e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo
domino bem as outras liacutenguas
A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei
acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga
pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto
sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me
baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha
e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao
tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em
me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do
aborto
AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET
O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o
httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)
Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do
aborto pertence a uma plataforma que defende a sua
descriminalizaccedilatildeo
Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema
No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante
actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-
nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos
anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa
Faculdade Economia 2
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo
Portuguesa de Mulheres Juristas)
A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo
devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual
falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees
que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com
as mulheres julgadas
Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo
aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela
Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo
Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo
entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo
ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia
A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos
a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio
Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um
texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a
IVG nos hospitais
O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas
incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se
encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo
seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele
podemos encontrar por vezes eacute neutra
Faculdade Economia 3
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
Faculdade Economia 4
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
INTRODUCcedilAtildeO
No meu trabalho irei abordar a questatildeo da despenalizaccedilatildeo do
aborto tema em constante debate e que envolve questotildees natildeo soacute
sociais como poliacuteticas e religiosas
Existem os movimentos proacute-vida e proacute-aborto que tentam
explicar o aborto de uma forma religiosa ou bioloacutegica ou ainda sob
o ponto de vista dos direitos das mulheres ndash direito a escolherem
aquilo que querem fazer com o seu corpo e com aquilo que estaacute
dentro dele - mas verdadeiramente penso que nenhum tem a
razatildeo absoluta pois o aborto estaacute ainda rodeado de misteacuterios -
como sendo por exemplo se todos incluindo o feto satildeo
considerados pessoas e se o feto tem igual direito agrave vida - soacute muito
dificilmente a humanidade os conseguiraacute desvendar Os temas que
irei abordar no meu trabalho seratildeo o estado das artes relativo agraves
abordagens sobre o aborto em Portugal tentarei expor a posiccedilatildeo da
Igreja em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo que como sabemos tem tido
uma posiccedilatildeo constante ao longo dos tempos ou seja tem-se
mostrado claramente contra a praacutetica do aborto logo eacute contra a
despenalizaccedilatildeo deste A Igreja considera o aborto um crime Nos 10
Mandamentos da Lei de Deus um deles diz-nosrdquo Natildeo mataraacutesrdquo a
Igreja considera entatildeo esta praacutetica um homiciacutedio
Outro tema que achei relevante abordar foram os
movimentos de mulheres na luta pela descriminilizaccedilatildeo do aborto
em Portugal
Faculdade Economia 1
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas
e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo
domino bem as outras liacutenguas
A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei
acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga
pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto
sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me
baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha
e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao
tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em
me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do
aborto
AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET
O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o
httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)
Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do
aborto pertence a uma plataforma que defende a sua
descriminalizaccedilatildeo
Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema
No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante
actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-
nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos
anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa
Faculdade Economia 2
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo
Portuguesa de Mulheres Juristas)
A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo
devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual
falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees
que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com
as mulheres julgadas
Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo
aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela
Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo
Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo
entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo
ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia
A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos
a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio
Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um
texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a
IVG nos hospitais
O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas
incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se
encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo
seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele
podemos encontrar por vezes eacute neutra
Faculdade Economia 3
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Para a realizaccedilatildeo deste trabalho procurei fontes bibliograacuteficas
e principalmente sites da internet em portuguecircs porque natildeo
domino bem as outras liacutenguas
A informaccedilatildeo que procurei atraveacutes dos livros que encontrei
acerca do tema natildeo foi muita e pareceu-me relativamente vaga
pois natildeo me dizia propriamente nada em concreto Falava do aborto
sim mas pouco da despenalizaccedilatildeo do mesmo Por isso mesmo me
baseei mais nos sites da Internet que me ofereceram mais escolha
e mais procura Senti algumas dificuldades da pesquisa relativa ao
tema pois eacute um tema um pouco generalista e tive dificuldade em
me centrar apenas num determinado ponto a despenalizaccedilatildeo do
aborto
AVALIACcedilAtildeO DE UM SITE DA INTERNET
O site que escolhi para fazer a avaliaccedilatildeo foi o
httpdireitodeoptarwebptindexhtm (sa)
Este site fala-nos uacutenica e exclusivamente da despenalizaccedilatildeo do
aborto pertence a uma plataforma que defende a sua
descriminalizaccedilatildeo
Nele podemos encontrar muitiacutessima informaccedilatildeo acerca do tema
No item actualidades podemos encontrar informaccedilatildeo bastante
actual principalmente reportagens que tecircm saiacutedo em jornais Datildeo-
nos a conhecer todas as organizaccedilotildees que tecircm lutado ao longo dos
anos para que o aborto deixe de ser punido na Lei portuguesa
Faculdade Economia 2
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo
Portuguesa de Mulheres Juristas)
A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo
devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual
falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees
que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com
as mulheres julgadas
Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo
aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela
Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo
Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo
entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo
ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia
A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos
a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio
Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um
texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a
IVG nos hospitais
O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas
incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se
encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo
seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele
podemos encontrar por vezes eacute neutra
Faculdade Economia 3
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
Faculdade Economia 4
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
(entre elas temos a associaccedilatildeo ABRIL UMAR Associaccedilatildeo
Portuguesa de Mulheres Juristas)
A sua apresentaccedilatildeo chamou-me particularmente a atenccedilatildeo
devido ao seu conteuacutedo Eacute um site com informaccedilatildeo bastante actual
falam-nos do julgamento da Maia por exemplo de manifestaccedilotildees
que foram organizadas para demonstrarem solidariedade para com
as mulheres julgadas
Podemos encontrar tambeacutem uma cronologia do movimento pelo
aborto e contracepccedilatildeo em Portugal baseado no livro de Manuela
Tavares ldquoMovimentos de mulheres nas deacutecadas de 70 e 80rdquo
Temos ainda acesso a uma lista de acontecimentos poacutes-referendo
entre eles o novo Projecto de Lei apresentado pelo PCP em relaccedilatildeo
ao acesso aos medicamentos de contracepccedilatildeo de emergecircncia
A actual legislaccedilatildeo em vigor tambeacutem natildeo eacute esquecida Datildeo-nos
a conhecer todos os artigos da Lei 684 de 11 de Maio
Duarte Vilar Socioacutelogo e Director Executivo da APF tem um
texto escrito que nos fala das estatiacutesticas sobre como funciona a
IVG nos hospitais
O site pode e deve ser consultado por todo o tipo de pessoas
incluindo os que satildeo contra o aborto nesta paacutegina pode-se
encontrar informaccedilatildeo muito uacutetil para todos Embora a sua posiccedilatildeo
seja declaradamente a favor do aborto a informaccedilatildeo que nele
podemos encontrar por vezes eacute neutra
Faculdade Economia 3
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
Faculdade Economia 4
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
DESCRICcedilAtildeO DETALHADA DA PESQUISA Para iniciar a minha pesquisa procurei principalmente
informaccedilatildeo na base de dados da Biblioteca da Faculdade de
Economia da Universidade de Coimbra
Nesta primeira fase procurei com a expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo
do abortordquo Os resultados foram nulos natildeo surgiu nada
Tive de tornar a pesquisa mais generalista e procurei apenas com
a palavra aborto Do resultado surgiram livros bastante
interessantes deste modo recorri a alguns para retirar informaccedilatildeo
para a realizaccedilatildeo deste trabalho
Como natildeo me podia basear apenas na informaccedilatildeo bibliograacutefica
recorri tambeacutem agrave internet O motor de busca que escolhi foi o
ldquoGooglerdquo porque achei que era um dos melhores devido agrave sua
facilidade de utilizaccedilatildeo
Na primeira pesquisa usei em pesquisa simples a expressatildeo
ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo obtive 1860 registos Natildeo satisfeita
com o resultado tentei no modo de pesquisa avanccedilada com a
expressatildeo ldquodespenalizaccedilatildeo do abortordquo no tiacutetulo da paacutegina apenas
com paacuteginas em portuguecircs em qualquer formato visto que em PDF
natildeo obtive resultados e por fim com actualizaccedilatildeo nos uacuteltimos 3
meses O resultado foi de 19 paacuteginas Web
Como a Igreja eacute uma instituiccedilatildeo importante nesta questatildeo quis
saber qual a posiccedilatildeo da mesma em relaccedilatildeo agrave despenalizaccedilatildeo do
aborto Tentei com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo em pesquisa
simples Surgiram 13400 registos Achei que eram demasiados e
natildeo iria ter tempo para os consultar a todos Entatildeo voltei a usar a
pesquisa avanccedilada com a expressatildeo ldquoIgreja e abortordquo no tiacutetulo da
Faculdade Economia 4
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
paacutegina e actualizado nos uacuteltimos 3 meses Resultou daiacute apenas um
site
Estava ainda interessada em saber como eacute que os direitos das
mulheres influenciavam este tema Fiz primeiramente pesquisa
simples com aborto + direitos das mulheres o resultado foi
extremamente ruidoso 13100 sites Novamente recorri agrave pesquisa
avanccedilada com a expressatildeo ldquoo aborto e os direitos das mulheresrdquo
obtive 7 registos
Finalmente quis saber se os movimentos de mulheres contra e a
favor do aborto eram importantes Na pesquisa simples do ldquoGooglerdquo
utilizei a expressatildeo ldquomovimentos contra e a favor do abortordquo Daiacute
resultaram 1920 sites
Satisfeita com a minha pesquisa foi em muitos destes sites que
encontrei informaccedilatildeo muito uacutetil para a realizaccedilatildeo do trabalho
Considero os livros uma importante fonte de informaccedilatildeo mas
relativamente a este tema ndash despenalizaccedilatildeo do aborto ndash acho que
haacute muito poucos registos
Foi na internet que encontrei a maior parte da informaccedilatildeo
presente neste trabalho Natildeo sei ateacute que ponto poderemos
considerar toda a informaccedilatildeo cibernaacuteutica fiaacutevel mas tentei basear-
me naquilo que me pareceu mais fiaacutevel porque pude constatar em
outras fontes como artigos de jornais e livros que realmente a
informaccedilatildeo seria vaacutelida
Faculdade Economia 5
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o ESTADO DAS ARTES
Podemos encontrar no site ldquoPaacuteginas Vidardquo (Geraldo 2001) uma
breve histoacuteria do aborto na qual me baseei para redigir esta parte
do trabalho
Seraacute que nas praacuteticas que proiacutebem o aborto estatildeo motivos
religiosos
O aborto desde sempre foi uma praacutetica muito perigosa
Raramente era praticado pois ou resultava na morte da matildee e do
filho ou falhava O aborto foi entatildeo preterido pelo infanticiacutedio Esta
praacutetica ndash o aborto ndash apareceu explicitamente condenada na
primeira paacutegina de um escrito cristatildeo do seacuteculo I ndash o Didakeacute
Podemos concluir que a posiccedilatildeo da Igreja contra o aborto jaacute vem
desde muito cedo
Tertuliano em 1750 descobriu uma teacutecnica de aborto
relativamente parecida com a actual dilataccedilatildeo e extracccedilatildeo Embora
continuasse a matar foi um grande passo dado em frente na
histoacuteria da ciecircncia
Com esta descoberta o aborto tornou-se legal em muitos paiacuteses
No seacuteculo XIX o aborto era uma praacutetica muito vulgar quer fosse
legal ou natildeo
A legalizaccedilatildeo baseava-se em conhecimentos cientiacuteficos da eacutepoca
Pensavam que cada espermatezoacuteide era um homem que se limitava
a crescer no ventre da mulher
Faculdade Economia 6
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
Faculdade Economia 7
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Soacute em 1827 eacute que Karl Emst von Boar descreveu pela primeira
vez o processo de concepccedilatildeo A partir daiacute muitos foram os meacutedicos
que tentaram proibir a praacutetica do aborto
A Inglaterra foi em 1869 o primeiro paiacutes a banir o aborto
Num relatoacuterio realizado em 1871 pela ldquoAmerican Medical
Associationrdquo consideraram o aborto ldquo() uma destruiccedilatildeo massiva de
crianccedilas por nascer () os meacutedicos que o fazem desonram a
medicina satildeo falsos profissionais assassinos cultos e carrascosrdquo
Como consequecircncia deste relatoacuterio o aborto foi proibido em quase
todos os paiacuteses (Geraldo 2001)
Em Portugal o aborto ainda eacute condenaacutevel
Numa paacutegina de Margarida Brito Correia (sd) podemos ler
um artigo que nos fala do aborto na lei portuguesa actual
Seraacute que o aborto se pode considerar um homiciacutedio
Tal como nos diz o artigo 140ordm do Coacutedigo Penal vigente ndash aprovado
pelo Dec - Lei 4895 de 15 de Marccedilo - o aborto eacute um crime contra
a vida intra-uterina A pena para ldquoa mulher graacutevida que decirc
consentimento ao aborto eacute de prisatildeo ateacute 3 anosrdquo (nordm 2 do art
140ordm do Coacutedigo Penal)
No nosso paiacutes o aborto foi despenalizado apenas nos
seguintes casos
a) ldquoQuando constituir o uacutenico meio de remover perigo de
morte ou de grave e irreversiacutevel lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida
b) Quando se mostrar indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesatildeo para o corpo ou para a sauacutede fiacutesica ou psiacutequica da mulher graacutevida e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
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lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
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Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
c) Se houver seguros motivos para prever que o nascituro viragrave a sofrer de forma incuraacutevel de grave doenccedila ou malformaccedilatildeo congeacutenita e for realizada nas primeiras 24 semanas da gravidez comprovadas ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges artis excepcionando-se as situaccedilotildees de fetos inviaacuteveis caso em que a interrupccedilatildeo poderaacute ser praticada a todo o tempo
d) Se a gravidez tiver resultado de crime contra a liberdade e autodeterminaccedilatildeo sexual e a interrupccedilatildeo for realizada nas primeiras 16 semanasrdquo (Correia sd)
Por outro lado a Lei portuguesa diz-nos que uma pessoa soacute
adquire personalidade juriacutedica nos termos do art 68 do Coacutedigo Civil
aquando do seu nascimento completo e com vida sendo assim o
feto natildeo pode ser considerado pessoa porque natildeo tem autonomia
e nos termos da Lei Penal portuguesa soacute natildeo se pode cometer o
crime de homiciacutedio descrito no art 131 do Coacutedigo Penal numa
pessoa com personalidade juriacutedica
No site ldquoBioeacuteticardquo (Universidade do Porto sd) definem-nos o
aborto como a expulsatildeo do feto do ventre materno quando este
ainda natildeo puder sobreviver fora do meio intra-uterino ou seja no
periacuteodo anterior ao iniacutecio do trabalho de parto Refiro-me ao aborto
provocado
Na paacutegina da Web ldquoSIConline (aborto) rdquo (Silva 2002) encontrei
informaccedilatildeo sobre o julgamento na Maia e o referendo de 1998
Em Maio de 1998 o julgamento no Tribunal da Maia de 17
mulheres acusadas de praticarem o aborto clandestino suscitou a
niacutevel nacional uma onda de solidariedade para com estas mulheres
Faculdade Economia 8
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Tal demonstrou que grande parte da populaccedilatildeo aceitava de facto a
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 28 de Maio de 1998 a populaccedilatildeo portuguesa foi referendada
acerca da despenalizaccedilatildeo do aborto A questatildeo consistia em
ldquoConcorda com a despenalizaccedilatildeo da interrupccedilatildeo voluntaacuteria da
gravidez se realizada por opccedilatildeo da mulher nas primeiras 10
semanas em estabelecimento de sauacutede legalmente autorizadordquo
Contudo 509 dos inquiridos natildeo concordaram com a
despenalizaccedilatildeo o que fez com que a Lei se aplicasse agraves mulheres
que o tinham praticado
O PCP imediatamente a seguir ao referendo anunciou o
propoacutesito de voltar a apresentar um Projecto de Lei de
despenalizaccedilatildeo do aborto e fecirc-lo atraveacutes do Pojecto de Lei nordm
16VIII em que propunha a exclusatildeo da ilicitude da interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez quando realizada nas primeiras 12 semanas a
pedido da mulher para garantir o direito agrave maternidade consciente e
responsaacutevel a despenalizaccedilatildeo da conduta da mulher que consinta a
interrupccedilatildeo voluntaacuteria da gravidez fora dos prazos e das condiccedilotildees
estabelecidas na Lei acesso a consultas de planeamento familiar
A Juventude Socialista apresentou tambeacutem um projecto em que
propunha despenalizar a praacutetica do aborto por livre vontade da
mulher ateacute agraves 12 semanas
Actualmente voltou a reacender-se esta discussatildeo em torno do
aborto por causa do julgamento no Tribunal de Aveiro das
mulheres acusadas da praacutetica clandestina do aborto Mais uma vez
vaacuterios movimentos mostraram-se solidaacuterios com as mulheres
Faculdade Economia 9
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
acusadas Resta saber se mais uma vez o povo portuguecircs seraacute
referendado acerca do tema
Seraacute preferiacutevel a clandestinidade e muitas vezes a morte ou a
toleracircncia e a aceitaccedilatildeo do facto da mulher poder optar
o A IGREJA COMO MEIO DE INFLUEcircNCIA DA OPINIAtildeO PUacuteBLICA
Para muitos proacute-aborto a legitimidade do aborto eacute absolutamente
oacutebvia e as pessoas que se opotildeem os proacute-vida fazem-no por razotildees
religiosas
A luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto surge com maior
intensidade na poliacutetica portuguesa a partir de 1980 Porquecirc
ldquoO peso da Igreja e de um longo periacuteodo de 48 anos de autoritarismo e obscurantismo na formaccedilatildeo das consciecircncias onde as questotildees relacionadas com a sexualidade eram lsquotabursquo o atraso dos maiores partidos em termos de eleitorado na adesatildeo a esta lsquocausarsquo prende-se com concepccedilotildees conservadoras existentes no seu seio e com o receio de enfrentarem o poder da Igreja Catoacutelica na sociedade portuguesardquo (Tavares 2000 55)
Hoje em dia a Igreja continua a condenar a interrupccedilatildeo
voluntaacuteria da gravidez mesmo que por motivos terapecircuticos Esta
instituiccedilatildeo diz-nos que natildeo devemos matar uma ldquopessoardquo para curar
outra A sua posiccedilatildeo eacute que eacute preciso provar que o bebeacute antes de
nascer natildeo eacute pessoa exactamente o que jaacute se viu natildeo ser possiacutevel
Faculdade Economia 10
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Esta instituiccedilatildeo diz-nos que em caso algum o aborto deve ser
praticado
E em casos de violaccedilatildeo e abusos sexuais que satildeo muitas vezes
causas de uma gravidez indesejada
Como eacute que uma mulher pode aceitar o fruto de uma relaccedilatildeo
sexual forccedilada
A natildeo interrupccedilatildeo da gravidez equivaleria a uma perpetuaccedilatildeo do
crime praticado uma confrontaccedilatildeo constante com um acto baacuterbaro
e com o trauma sofrido
Se para os proacute-aborto uma pessoa eacute dotada de consciecircncia
pensamento capacidades entatildeo um indiviacuteduo em coma natildeo eacute
considerado pessoa (segundo os proacute-vida)
Antoacutenio Carvalho Martins no seu livro ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo transcreve-nos uma opiniatildeo de um Papa no que diz
respeito ao aborto
ldquo() cada ser humano e tambeacutem a crianccedila no seio materno recebe o direito agrave vida imediatamente de Deus e natildeo dos pais nem de qualquer sociedade ou autoridade humana Portanto natildeo haacute nenhum homem nenhuma autoridade humana nenhuma ciecircncia nenhuma lsquoindicaccedilatildeorsquo meacutedica eugeacutenica social econoacutemica ou moral que possa apresentar ou dar tiacutetulo vaacutelido para a disposiccedilatildeo directa e deliberada de uma vida humana inocente quer como fim quer como meio para outro fim que de si talvez natildeo seja iliacutecitordquo
(Pio XII apud Martins 1985 41)
Pio XII mostra-nos claramente a posiccedilatildeo da Igreja quanto ao
aborto
Faculdade Economia 11
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Pessoalmente considero a posiccedilatildeo da Igreja conservadora de
mais pois hoje em dia temos de nos preocupar tambeacutem com as
condiccedilotildees sociais e natildeo apenas limitarmo-nos a pocircr filhos no mundo
sem termos meios para lhes darmos condiccedilotildees de vida razoaacuteveis
Recentemente em entrevista ao semanaacuterio ldquoExpressordquo de 13 de
Dezembro de 2003 D Armindo Coelho - Bispo do Porto - afirmou-se
contra a penalizaccedilatildeo do aborto principalmente por motivos sociais
D Armindo defende que se devem criar condiccedilotildees sociais para que
as famiacutelias possam criar os seus filhos Defende tambeacutem que as
crianccedilas devem ser criadas e amadas pelos pais por isso as
instituiccedilotildees natildeo satildeo soluccedilotildees
Em Portugal a existecircncia de uma classe social muito baixa e
muita gente a viver em situaccedilotildees extremamente precaacuterias aliada agrave
falta de informaccedilatildeo a niacutevel de planeamento familiar e uma poliacutetica
de assistecircncia social deficitaacuteria conduzem a um nuacutemero elevado de
abortos clandestinos
Para que os ideais da Igreja se mantenham eacute necessaacuterio que
seja o Estado a tomar as providecircncias quanto ao assunto Eacute preciso
e imprescindiacutevel promover uma poliacutetica de assistecircncia social capaz
de dar uma resposta a esta situaccedilatildeo melhorar as condiccedilotildees de vida
garantir uma maior protecccedilatildeo materno-infantil educar sexualmente
a sociedade colocar agrave disposiccedilatildeo de todos um cuidado planeamento
familiar e insistir na divulgaccedilatildeo dos meios anticoncepcionais
Faculdade Economia 12
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
o MOVIMENTOS DE MULHERES PELA DESPENALIZACcedilAtildeO DO ABORTO
ldquoAs associaccedilotildees de mulheres satildeo indispensaacuteveis a vaacuterios niacuteveis na elaboraccedilatildeo de um pensamento sobre as proacuteprias mulheres e a sua identidade na sua intervenccedilatildeo com sinal proacuteprio e na criaccedilatildeo de espaccedilos para a sua afirmaccedilatildeo na sociedaderdquo (Pintasilgo apud Tavares 2000)
A contracepccedilatildeo e a legalizaccedilatildeo do aborto ganharam real
importacircncia nas deacutecadas de 1970 a 1990
Foram as associaccedilotildees de mulheres que deram o grande impulso
para esta luta
O MLM - Movimento de Libertaccedilatildeo da Mulher - surgiu a 14 de
Maio de 1974 (formado depois do 25 de Abril)
Este movimento reivindicava entre outras coisas que o Estado
considerasse as leis sobre a infacircncia e a maternidade como um
dever da sociedade para com o seu futuro e natildeo como protecccedilatildeo agraves
mulheres creches e equipamentos sociais pagos pelo Estado o
direito agrave contracepccedilatildeo e ao aborto livre e gratuito e uma campanha
de educaccedilatildeo sexual esclarecedora
No dia 13 de Janeiro o MLM realizou uma manifestaccedilatildeo onde
foram queimados os siacutembolos de opressatildeo feminina Esta
manifestaccedilatildeo ficou conhecida como a ldquoqueima dos soutiensrdquo
Em 1976 criou-se o programa televisivo ldquoNome ndash Mulherrdquo no
qual foi emitido uma reportagem sobre o Aborto A jornalista
responsaacutevel pelo programa Maria Antoacutenia Palla foi processada por
atentado ao pudor e incentivo ao crime No mesmo ano o
movimento sindical ndash CGTP ndash reivindicou pela legalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 13
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
A UMAR - Uniatildeo de Mulheres Alternativa e Resposta - surgiu em
Setembro de 1976 Foram as mulheres que participaram no 25 de
Abril que criaram esta associaccedilatildeo No mesmo ano a associaccedilatildeo
tomou posiccedilatildeo puacuteblica pela legalizaccedilatildeo do aborto
Em 1979 formou-se a CNAC (Campanha Nacional pelo Aborto e
Contracepccedilatildeo) como resultado da junccedilatildeo de vaacuterios grupos de
defesa dos direitos das mulheres (entre eles constam a MLM UMAR
GMAP) que teve como principal objectivo a luta pela
despenalizaccedilatildeo do aborto
Em 8 de Marccedilo de 1981 a UMAR entrega no Parlamento um
abaixo-assinado onde exige a descentralizaccedilatildeo do planeamento
familiar revogaccedilatildeo da lei que pune o aborto e por fim a legalizaccedilatildeo
deste
Em Fevereiro de 1983 o PCP apresentou na Assembleia da
Repuacuteblica trecircs Projectos-Lei Contou com o apoio da CNAC apesar
de os Projectos-Lei natildeo incluirem o direito ao aborto a pedido da
mulher Mesmo sendo apenas por motivos socioeconoacutemicos
eugeacutenicos ou violaccedilotildees o Projecto-Lei foi recusado
A proibiccedilatildeo do aborto apenas o fez entrar na clandestinidade
onde ele se tornou perigoso caro e humilhante
A APF (Associaccedilatildeo para o Planeamento da Famiacutelia) teve uma
importante intervenccedilatildeo no processo de luta pela contracepccedilatildeo e
legalizaccedilatildeo do aborto
O Movimento Democraacutetico de Mulheres - MDM - apareceu em
1968 mas foi a partir dos anos 80 que se comeccedilou a dedicar com
maior intensidade agrave luta pela despenalizaccedilatildeo do aborto
Faculdade Economia 14
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Em suma houve dois momentos na formaccedilatildeo de movimentos de
mulheres O primeiro foi no poacutes 25 de Abril e o segundo foi durante
a deacutecada de 80 Os grupos pertencentes a cada um dos periacuteodos
tiveram intensidades diferentes
ldquoFruto da grande participaccedilatildeo no 25 de Abril as associaccedilotildees da deacutecada de 70 foram associaccedilotildees mais enraizadas e que conseguiram desencadear movimentos proacuteprios em especial na luta pela contracepccedilatildeo e despenalizaccedilatildeo do aborto tendo sido este o uacutenico momento de constituiccedilatildeo de uma plataforma de acccedilatildeo comum a CNAC As associaccedilotildees dos anos 80 () adoptam uma postura mais instituicional em termos de plataforma de acccedilatildeo comum o Conselho Consultivo da Comissatildeo pela Igualdade e Direitos das Mulheresrdquo (Tavares 2000 83)
FICHA DE LEITURA
O texto que serviu de base para a realizaccedilatildeo desta ficha de
leitura eacute da autoria de Manuela Tavares - Licenciada em
Economia e mestre em estudos sobre as mulheres pela
Universidade Aberta
O capiacutetulo do livro ldquoAborto e contracepccedilatildeo em Portugalrdquo que
escolhi foi o que se refere agrave deacutecada de 90 nomeadamente ao
referendo
Os anos 90 ficaram marcados pelo referendo de 28 de Junho
de 1998 sobre o aborto O referendo teve um resultado pouco
expressivo uma vez que 68 dos eleitores se abstiveram o natildeo
agrave despenalizaccedilatildeo recolheu 51 e o sim 49 dos votos
Faculdade Economia 15
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
Faculdade Economia 19
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
Faculdade Economia 20
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Entre 1984 e 1990 o aborto foi considerado pouco
importante pelos poliacuteticos e pela comunicaccedilatildeo social
Em Setembro de 1990 publicou-se uma notiacutecia no Diaacuterio de
Lisboa em que a UMAR (Uniatildeo de Mulheres Alternativa e
Resposta) contestava a peritagem do Instituito de Medicina Legal
de mulheres acusadas de terem abortado clandestinamente
Fez-se uma sessatildeo na associaccedilatildeo ABRIL em que participaram
a UMAR APF e a Associaccedilatildeo de Mulheres Juristas Como
consequecircncia desta sessatildeo criou-se o MODAP - Movimento de
Opiniatildeo pela Despenalizaccedilatildeo do Aborto em Portugal
A APF comeccedilou a preparar um Coloacutequio em que pretendia
rever a Lei 684 quando esta fizesse 10 anos Em 1993 esta
mesma associaccedilatildeo apresentou um relatoacuterio da Interrupccedilatildeo
Voluntaacuteria da Gravidez em Portugal Tirou-se como conclusatildeo
que ldquoa IVG legal ocupa uma dimensatildeo diminuta das IVGacutes
realizadas em Portugalrdquo (APF apud Tavares 2003 34) Mesmo
para se realizar um aborto nos casos previstos pela Lei
encontram-se dificuldades pois haacute uma inexistecircncia de serviccedilos
especializados nos hospitais objecccedilatildeo de consciecircncia do corpo
cliacutenico falta de condiccedilotildees financeiras e ateacute mesmo o natildeo
cumprimento dos prazos que a Lei prevecirc
Em 19 de Marccedilo de 1994 foi realizado o coloacutequio promovido
pela MODAP Foi feito um balanccedilo dos uacuteltimos 10 anos para ver
como tinha evoluido o problema do aborto em Portugal Este
coloacutequio desenvolveu um conjunto de iniciativas que fizeram com
que o problema do aborto natildeo continuasse indiferente aos olhos
dos Portugueses
Faculdade Economia 16
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
Faculdade Economia 17
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
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Despenalizaccedilatildeo do Aborto
REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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O MODAP apresentou na Comissatildeo Parlamentar no mesmo
ano alteraccedilotildees no Coacutedigo Penal para a discriminalizaccedilatildeo do
aborto Em 1995 apresentou uma ldquoCarta Aberta aos Partidosrdquo
em que reivindica as Leis 684 pois consideram-na insuficiente
Em 20 de Junho de 1996 foi a vez do PCP se mostrar a favor da
despenalizaccedilatildeo do aborto apresentando no Parlamento um
Projecto-Lei No mesmo ano a Juventude Socialista tambeacutem
apresentou um Projecto da mesma natureza
Logo no princiacutepio de 1997 nasce o movimento ldquoJuntos pela
Vidardquo - grupo de pessoas anti-aborto ligados agrave Igreja Catoacutelica
O MODAP divulgou em Fevereiro de 1997 a recolha de 15 mil
assinaturas e entregou-as ao Presidente da Assembleia da
Repuacuteblica Na mesma altura o movimento ldquoJuntos pela Vidardquo
promoveu uma vigiacutelia para defender a sua posiccedilatildeo anti-aborto
Segundo nos diz Aacutelvaro Cunhal ldquoo aborto nas classes ricas eacute
em regra um aborto de luxo ao contraacuterio do aborto nas classes
pobres que eacute um aborto de necessidaderdquo (Cunhal apud Tavares
2003 35) ou seja as mulheres ricas tecircm muito mais e melhores
recursos que as mulheres pobres que tecircm de se sujeitar ao
aborto clandestino o qual nem sempre eacute praticado nas melhores
condiccedilotildees
O ex-Primeiro Ministro Antoacutenio Guterres declarou-se contra a
despenalizaccedilatildeo do aborto alguns dias antes da votaccedilatildeo dos
Projectos na Assembleia da Repuacuteblica
O Projecto da Juventude Socialista natildeo foi aprovado em
Assembleia Os Deputados do PSD e CDS-PP votaram contra A
favor votaram apenas os do PCP e os Verdes
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O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
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Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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O PCP e a JS voltaram a apresentar dois novos Projectos-Lei
em 1998 O do PCP natildeo foi aprovado O segundo foi aprovado
mas foi negociado entre os dirigentes do PS e PSD a realizaccedilatildeo
de um referendo sobre o aborto
Perante o referendo sobre o aborto foi necessaacuterio formar um
movimento que esclarecesse as duacutevidas dos cidadatildeos e que se
contrabalanccedilasse aos movimentos da Igeja Catoacutelica Foi entatildeo
criado o movimento ldquoSim pela Toleracircnciardquo O aborto surgiu nesta
altura como um problema de sauacutede puacuteblica ao inveacutes de ser um
direito das mulheres optarem e decidirem por si proacuteprias
O estatuto de distacircncia face ao problema assentou num
discurso paternalista e conservador
Este foi um tempo de grande debate na sociedae portuguesa
D Antoacutenio Rafael Bispo de Braganccedila considerava que o aborto
era pior que o holocausto
Com a vitoacuteria do natildeo no referendo sobre a despenalizaccedilatildeo do
aborto nem o PS nem o PCP retomaram o processo no
Parlamento
CONCLUSAtildeO
A despenalizaccedilatildeo do aborto eacute e tem sido ao longo dos
tempos de difiacutecil abordagem visto que as opiniotildees ainda
divergem muito
Este tema natildeo eacute recente jaacute vem sido debatido desde haacute
muito tempo
Faculdade Economia 18
Despenalizaccedilatildeo do Aborto
Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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Como eacute bastante complexo senti dificuldades principalmente
na separaccedilatildeo da informaccedilatildeo que era importante da que natildeo o
era
Na internet encontra-se sobre o tema muito mais
informaccedilatildeo de caraacutecter meacutedico do que propriamente de caraacutecter
socioloacutegico Daiacute que tenha sido complicada a selecccedilatildeo das fontes
Senti dificuldades tambeacutem na elaboraccedilatildeo da estrutura do
trabalho pois natildeo sabia muito bem quais os sub-temas mais
apropriados para a abordagem do tema
Pessoalmente gostei de realizar o trabalho foi um tema que
me suscitou bastante interesse porque continua a ser um
problema bastante actual
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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS
o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
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o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
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o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
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o APF (sd) ldquoAPF Alentejo ndash 9 razotildees para despenalizar o abortordquo Paacutegina consultada em 6 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpwwwterravistaptmeco1347razczb5eabortohtml gt
o Correia Margarida Brito (sd) ldquoO aborto na lei penal portuguesa actualrdquo Paacutegina consultada em 8 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwterravistaptenseada1881lei-penalhtml gt
o Geraldo Paulo Jorge (2001) ldquoBreve histoacuteria do abortordquo Paacutegina consultada em 15 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt httppaginasvidanosapoptbrevehistoriahtm gt o Martins Antoacutenio Carvalho (1985) ldquoO aborto e o problema
criminalrdquo Coimbra Coimbra Editora
o Silva Isabel Marques da (2002) Discussatildeo sobre o aborto reacende Sic online Paacutegina consultada em 15 de Dezembro de 2003 disponiacutevel em
lt wwwsiconlineptarticle29visual4htmlgt
o (sa) ldquoDireito de optarrdquo Paacutegina consultada em 12 de Janeiro de 2004 disponiacutevel em
lt httpdireitodeoptarwebptindexhtm gt
o Tavares Manuela (2000) ldquoMovimentos de mulheres em Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Tavares Manuela (2003) ldquoAborto e contracepccedilatildeo em
Portugalrdquo Lisboa Livros Horizonte
o Universidade do Porto (sd) ldquoBioeacutetica ndash lsquoabortorsquo rdquo Paacutegina consultada em 12 de Novembro de 2003 disponiacutevel em
lt bioeticamedupptgravidezhtml gt
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