30
Direito de decidir Múltiplos olhares sobre o ABORTO MÔNICA BARA MAIA (ORG.)

Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Lançar luzes à discussãosobre o aborto induzido é re-fletir sobre uma gama com-plexa de questões que ultrapas-sam a difícil – quiçá impossível– tarefa de definir o que é vidae quando ela começa. Com a se-riedade, a complexidade, a cla-reza e o olhar multidisciplinarque o assunto merece, este li-vro, organizado por Mônica Ba-ra Maia, reúne artigos de espe-cialistas de diversas áreas do co-nhecimento (direito, medicina,psicologia, biologia, filosofia,história e sociologia), com oobjetivo de diversificar e quali-ficar os argumentos em defesada vida, da saúde física e mentale da autonomia das mulheres.

O livro se inicia a partir deduas perguntas que têm se apre-sentado como básicas nessa dis-cussão: O que é vida? Quandoela começa? Várias são as cor-rentes de pensamentos e teo-rias, apresentadas na parte ini-cial deste livro, que tentamchegar a uma definição. Porém,nem mesmo a biologia,“ciênciadedicada ao estudo dos seresvivos”, nos apresenta um únicoe definitivo conceito de vida.

A partir dessa constatação, osdois capítulos seguintes buscamcompreender o impacto do

aborto clandestino sobre a vidae a saúde física e mental dasmulheres. Posteriormente, de-bate-se o aborto tanto à luz dosprincípios constitucionais brasi-leiros quanto da pluralidade devozes nas sociedades complexase nas democracias laicas. Final-mente, a autonomia das mu-lheres é colocada no centro dodebate, e é apresentada a expe-riência de um serviço de abortolegal, em Belo Horizonte.

Atual e revelador, este livroé um importante passo para adiscussão das questões sobre oaborto voluntário no Brasil eum convite para que todos etodas possam experimentaruma nova visão sobre o tema.

A ORGANIZADORAMônica Bara Maia é graduadaem Ciências Biológicas pelaUniversidade Federal de MinasGerais, especializada em Edu-cação Sexual pela FundaçãoMineira de Educação e Cul-tura, mestre em Ciências So-ciais pela Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Geraise pesquisadora em gênero esaúde. Coordenou a área decomunicação da Rede Femi-nista de Saúde.

A aprovação da resolução que demandava do governo brasileiroiniciativas que viessem a rever, no sentido descriminalizante, a legis-lação brasileira inseriu o tema aborto no campo das políticas públi-cas, mais especificamente no âmbito da saúde pública.

Por outro lado, vale registrar que, no Brasil, seguindo uma ten-dência mundial, houve no mesmo período um acentuado crescimen-to e/ou explicitação de posições conservadoras quanto ao tema, porparte de diferentes grupamentos religiosos que ampliaram sua forçapolítica no Congresso Nacional.

Na sociedade brasileira, apesar da legislação restritiva e crimina-lizante, a prática clandestina do aborto ocorre em escala que colocaem risco a vida de milhares de mulheres, sobretudo nos extratos derenda mais baixos da população, configurando-se, dessa maneira,como a quarta causa de morte materna no Brasil.

Urge, portanto, aprofundar o debate entre nós com a delicadezaque o assunto merece e com a consciência da polêmica que desperta.

Nilcéa Freire

Direito de decidirMúltiplos olhares sobre o ABORTO

MÔNICA BARA MAIA (ORG.)

www.autenticaeditora.com.br

0800 2831322

9 7 8 8 5 7 5 2 6 3 3 5 8

ISBN 978-85-7526-335-8

Dir

eito

de

deci

dir

– M

últi

plos

olh

ares

sob

re o

AB

OR

TO

capa_direito_decidir_MONTADA.qxp 7/7/2008 15:30 Page 1

Page 2: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:múltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o aborto

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:281

Page 3: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:282

Page 4: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Mônica Bara Maia

ORGANIZADORA

Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:Direito de decidir:múltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o abortomúltiplos olhares sobre o aborto

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:283

Page 5: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Copyright © 2008 by os autores

CAPA

Patrícia De Michelissobre imagem de Bruno Sersocima, da stock.xchng (http://www.sxc.hu)

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Waldênia Alvarenga Santos AtaídeConrado Esteves

REVISÃO

Vera Lúcia de Simoni Castro

EDITORA RESPONSÁVEL

Rejane Dias

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte destapublicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos,seja via cópia xerográfica sem a autorização prévia da editora.

AUTÊNTICA EDITORA LTDA

Rua Aimorés, 981, 8º andar. Funcionários30140-071. Belo Horizonte. MGTel: (55 31) 3222 68 19TELEVENDAS: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.br

Direito de decidir : múltiplos olhares sobre o aborto / organizaçãoMônica Bara Maia. -- Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

Vários autores

ISBN 978-85-7526-335-8

1. Aborto 2. Aborto - Aspectos morais e éticos 3. Aborto - Aspectospsicológicos 4. Aborto - Aspectos religiosos 5. Aborto - Aspectos sociais6. Aborto - Leis e legislação 7. Mulheres - Saúde e higiene I. Maia,Mônica Bara.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

08-05484 CDD-301.5

Índices para catálogos sistemático:1. Aborto : Sociologia

301.5

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:284

Page 6: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

ApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoApresentaçãoNilcéa Freire

A polissemia do conceito vidaA polissemia do conceito vidaA polissemia do conceito vidaA polissemia do conceito vidaA polissemia do conceito vidaFrancisco Ângelo Coutinho, Mônica BaraMaia e Fábio Augusto Rodrigues Silva

Saúde da mulher e abortoSaúde da mulher e abortoSaúde da mulher e abortoSaúde da mulher e abortoSaúde da mulher e abortoRicardo Cabral Santiago

Aborto e saúde mentalAborto e saúde mentalAborto e saúde mentalAborto e saúde mentalAborto e saúde mentalWilza Villela, Eleonora Menicuccide Oliveira e Rosalina Carvalho da Silva

Entre normas e fatos, o direito de decidir: oEntre normas e fatos, o direito de decidir: oEntre normas e fatos, o direito de decidir: oEntre normas e fatos, o direito de decidir: oEntre normas e fatos, o direito de decidir: o debate debate debate debate debatesobre o aborto à luz dos princípios constitucionaissobre o aborto à luz dos princípios constitucionaissobre o aborto à luz dos princípios constitucionaissobre o aborto à luz dos princípios constitucionaissobre o aborto à luz dos princípios constitucionaisRoberto Chateaubriand Domingues

Pluralidade de vozes em democraciasPluralidade de vozes em democraciasPluralidade de vozes em democraciasPluralidade de vozes em democraciasPluralidade de vozes em democraciaslaicas: o desafio da alteridadelaicas: o desafio da alteridadelaicas: o desafio da alteridadelaicas: o desafio da alteridadelaicas: o desafio da alteridadeAlcilene Cavalcante e Samantha Buglione

Feminismo e as lutas pelo aborto legal ou por queFeminismo e as lutas pelo aborto legal ou por queFeminismo e as lutas pelo aborto legal ou por queFeminismo e as lutas pelo aborto legal ou por queFeminismo e as lutas pelo aborto legal ou por quea autonomia das mulheres incomoda tanto?a autonomia das mulheres incomoda tanto?a autonomia das mulheres incomoda tanto?a autonomia das mulheres incomoda tanto?a autonomia das mulheres incomoda tanto?Claudia Mayorga e Manuela de Sousa Magalhães

Serviços de atendimento ao aborto legalServiços de atendimento ao aborto legalServiços de atendimento ao aborto legalServiços de atendimento ao aborto legalServiços de atendimento ao aborto legalFrancisco José Machado Viana

Os autoresOs autoresOs autoresOs autoresOs autores

Sumário

7

9

29

43

67

105

141

171

191

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:285

Page 7: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:286

Page 8: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

7

A discussão sobre o aborto no País e a primazia das mulheres emtomarem a decisão sobre sua realização foi, desde sempre, revestidade grande simbolismo, porque confronta a sociedade com temas “in-tocáveis”, como o início da vida humana e a “propriedade” sobre oscorpos femininos.

Nos últimos anos, e especialmente a partir da I Conferência Na-cional de Políticas para as Mulheres, o tratamento do tema ganhounovos contornos. A aprovação da resolução que demandava ao gover-no brasileiro iniciativas que viessem a rever, no sentido descriminali-zante, a legislação brasileira inseriu o tema aborto no campo das polí-ticas públicas, mais especificamente no âmbito da saúde pública.

Por outro lado, vale registrar que, no Brasil, seguindo uma ten-dência mundial, houve no mesmo período um acentuado crescimen-to e/ou explicitação de posições conservadoras quanto ao tema, porparte de diferentes grupamentos religiosos que ampliaram sua forçapolítica no Congresso Nacional.

Na sociedade brasileira, apesar da legislação restritiva e criminali-zante, a prática clandestina do aborto ocorre em escala que coloca emrisco a vida de milhares de mulheres, sobretudo nos extratos de rendamais baixos da população, configurando-se, dessa maneira, como aquarta causa de morte materna no Brasil.

Urge, portanto, aprofundar o debate entre nós com a delicadezaque o assunto merece e com a consciência da polêmica que desperta.Sendo partícipe da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas

Apresentação

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:287

Page 9: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

8

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

de Discriminação contra a Mulher e um dos signatários da Plataformade Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvi-mento (CAIRO, 1974), o Estado brasileiro deve garantir os direitossexuais e reprodutivos das mulheres brasileiras através da discussãolivre e informada.

É nesse sentido que me congratulo com os/as autores/as da pre-sente publicação. Trata-se de um conjunto de textos que contêm re-flexões/questionamentos da maior relevância para a compreensão doaborto no País. Mediante uma abordagem multidisciplinar, somos,todas e todos, instigados a buscar as razões pelas quais a controvérsiasobre o aborto segue essa trajetória de avanços e recuos nas sociedadesmodernas.

A leitura atenta deste livro talvez desperte em cada leitor/a maisdúvidas do que reafirme certezas. Mas, sem dúvida, ficará em cadaum/a a convicção de que o aborto está mais do que nunca em pauta eà sociedade brasileira, e em especial às mulheres, cabe decidir sobrequal devem ser os próximos passos.

Boa leitura!

Nilcéa FreireMinistra da Secretaria Especial de Políticas

para as Mulheres da Presidência da República

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:288

Page 10: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

9

A polissemia do conceito vidaFrancisco Ângelo Coutinho

Mônica Bara MaiaFábio Augusto Rodrigues Silva

Em 1802, o francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829) e o ale-mão Gottfried Treviranus (1776-1837) criaram, independentemente,o vocábulo “biologia” para se referir a uma “ciência dedicada ao estu-do dos seres vivos” (COUTINHO; MARTINS, 2002). Na raiz etimológicada palavra, tem-se que “bios” significa vida e “logos”, estudo. Aopropor esse termo, tais pensadores se colocaram na defesa de umanova ontologia que enfatizasse o que há de comum nas formas vivas eacentuasse suas distinções em relação ao não-vivo (KELLER, 2002).

A origem do termo representa um marco de transição para essecampo do conhecimento. Se antes do século XIX já existiam pesqui-sas “biológicas” que classificavam e descreviam os seres vivos, a iden-tificação da Biologia como uma ciência autônoma, dedicada à com-preensão da vida e dos seres vivos, permitiu avanços no entendimentoe na inferência sobre os fenômenos biológicos.

A Biologia chega ao século XXI como uma ciência com signifi-cativos avanços teórico-conceituais e tecnológicos e fornecendo inú-meras contribuições para a sociedade. Ela tem fundamentado refle-xões importantes e fomentado debates sobre as mais diferentes questões.E, após tantas pesquisas, discussões e estudos, espera-se que os biólo-gos possam apresentar um conceito para seu objeto de estudo: a vida.

No entanto, por incrível que pareça, há um ceticismo entre amaioria dos biólogos quanto à possibilidade de se estabelecer umadefinição para o conceito de vida. Assim, muitos consideram essa pro-cura uma especulação “meramente teórica” ou metafísica, em detrimento

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:289

Page 11: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

10

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

daquilo que realmente importaria: os “fatos” da pesquisa empírica.Para esses biólogos, definir vida não ajudaria em nada na resoluçãodos quebra-cabeças da ciência normal em Biologia. Por isso, as per-guntas “O que é vida?” e “Em que momento se pode considerar algu-ma coisa como viva?” não seriam relevantes.

Ernest Mayr, um dos biólogos mais importantes do século XX eautor de textos de história e filosofia da Biologia, aponta que já foramfeitas várias tentativas de se definir vida e que todos os esforços foramfúteis. Ele afirma que, atualmente, nenhuma substância especial, ob-jeto ou força pode ser definida como vida. O que resta ao biólogo édefinir e estudar os processos vitais (MAYR, 1982). Ele diz:

Elucidar a natureza dessa entidade chamada de “vida” temsido um dos maiores objetivos da biologia. O problemaaqui é que vida sugere alguma “coisa” – uma substânciaou força – e por séculos filósofos e biólogos têm tentadoidentificar essa substância viva ou força vital, sem provei-to. Na realidade, o nome “vida” é meramente a reifica-ção do processo de estar vivo. Ela não existe como umaentidade independente. (MAYR, 1997, p. 2)

Assim, os principais argumentos de Mayr para a questão da defi-nição de vida são: o termo “vida” não pode ser definido, uma vez quea noção de vida é um hipostaseamento ou uma reificação dos proces-sos vitais; a empreitada não é importante para a Biologia; e o que podeser definido, ou pelo menos aproximadamente demarcado, são os pro-cessos vitais, por meio de uma lista de propriedades.

Há de se destacar, no entanto, que essa idéia de lista de proprie-dades traz muitos problemas. Afinal, podem surgir as seguintes ques-tões: quais e quantas seriam as propriedades suficientes para a classifi-cação de um ser como vivo? Qual a lista de propriedades mais correta?Além disso, há formas limítrofes – vírus e outras estruturas molecula-res – que podem ter características tanto de seres vivos quanto de seresinanimados (EMMECHE; EL-HANI, 1999; EMMECHE; EL-HANI, 2001).

Por outro lado, o que nos parece problemático quanto ao ceticis-mo sobre a possibilidade de definição de vida e à preferência pordefinições baseadas em lista de propriedades é a atitude subjacente, a

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2810

Page 12: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

11

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

qual nós podemos chamar de “essencialismo”, que se sustentaria, porsua vez, em uma metafísica objetivista (LAKOFF, 1987). Vejamos comoisso ocorre.

Corretamente, Mayr considera que vida não é uma entidade domundo. No entanto, também não é um hipostaseamento de proces-sos, como ele pensa, porque, quando buscamos definir vida, não esta-mos lidando com uma coisa, mas com um conceito teórico. Ao procu-rar as propriedades definidoras de processos vitais, Mayr e outros céticosconfundem a definição de um conceito teórico com o inventário depropriedades essenciais pelas quais uma coisa pertence ou não a umacategoria, no caso, das coisas vivas. É a essa atitude que chamamos deessencialismo.

Essencialismo é a suposição de que as coisas possuem uma natu-reza íntima, ou propriedades essenciais, que faz com que elas sejamo que são ou, sem a qual, as coisas não podem ser o que são. Aspropriedades essenciais seriam aquelas que uma determinada enti-dade não poderia perder e continuar a ser entendida como perten-cente a uma dada categoria. Ao longo de toda a história da Filosofia,houve muitas tentativas de encontrar tais essências e, muitas vezes, oconhecimento verdadeiro foi concebido como aquele capaz de cap-tar as essências.

Orientados por uma crítica da visão essencialista, Emmeche e El-Hani (1999 e 2001) apresentam um novo tipo de abordagem. Elesdefendem que conceitos como vida, mente, consciência e maté-ria estão situados na fronteira tênue entre a Ontologia e a Ciên-cia, sendo, portanto, termos muito gerais. Esses conceitos gerais sãodenominados por eles de ontodefinições. Para Emmeche e El-Hani, asontodefinições:

[...] definem, de forma mais geral, o que os cientistas es-tão buscando em uma ou mais áreas da pesquisa científicae, ao mesmo tempo, fornecem um esquema básico para acompreensão e explicação da natureza de seus objetos deestudo. As ontodefinições têm um caráter integrativo, masfreqüentemente vago e implícito, no interior dos para-digmas científicos. (EMMECHE; EL-HANI, 2001, p. 36)

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2811

Page 13: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

12

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

As ontodefinições seriam construções teóricas que se estruturama partir de um paradigma científico. Muitas vezes, para se alcançar adefinição do conceito de um programa de pesquisa da Biologia con-temporânea, é necessário analisar a teoria que o fundamenta. Comisso, definir vida não é uma tarefa inatingível, mas também não temum resultado homogêneo, sendo que diferentes definições podemser encontradas nos diversos programas de pesquisa da Biologia e nahistória da Ciência (EMMECHE; EL-HANI, 2001; COUTINHO, 2005).

Assim, para contribuir com o debate sobre o conceito de vida,vamos apresentar alguns dos programas de pesquisa da Biologia con-temporânea e tentaremos mostrar como existe uma diversidade gran-de de significados que podem ser atribuídos ao conceito mais impor-tante desse campo de conhecimentos.

O conceito de vida na Biologia Molecular

A Teoria Sintética da Evolução é o resultado do trabalho de dife-rentes pesquisadores do século XX que se preocuparam em respon-der por que as coisas vivas se apresentam em tamanha diversidade deformas ou por que elas se transformam ao longo do tempo (MEYER;EL-HANI, 2001). Essa teoria tem fundamentado inúmeros programasde pesquisa da Biologia contemporânea e é considerada, por algunspensadores, como central ao pensamento biológico moderno. Nes-se sentido, muitos biólogos fazem eco à declaração de TheodosiusDobzhansky (1900-1975), importante pesquisador do século XX, afir-mando que: “Nada em Biologia faz sentido exceto à luz da evolução”(DOBZHANSKY, 1973).

O que chamamos de Teoria Sintética da Evolução é, na verdade,uma estrutura complexa que resulta da união da Teoria de SeleçãoNatural de Charles Darwin (1809-1882) e da Teoria Genética da He-rança de Mendel (1822-1884). Posteriormente, ela foi incrementadapelo modelo dupla-hélice do DNA e pelas contribuições da genéticamolecular. Ao longo do século XX, essa teoria foi sendo estudada,debatida, questionada e reformulada em um processo que resultou nodesenvolvimento de uma heterogeneidade de concepções associadasao seu corpo teórico. Por isso, analisando os principais programas da

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2812

Page 14: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

13

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

Teoria Sintética, podemos obter pelo menos três definições de vidadiferentes: duas que se alicerçam no papel central dos genes e outraque se atenta para as interações entre os organismos e o ambiente(COUTINHO, 2005).

Entretanto, antes de apresentar essas diferentes definições de vida,vamos expor as idéias centrais compartilhadas por pesquisadores, teó-ricos e programas de pesquisa da Teoria Sintética.

Em comum, esses programas identificam o mecanismo de sele-ção natural proposto por Charles Darwin (1809-1882) e Alfred RusselWallace (1823-1913) como a principal explicação para o problema dadiversidade e da modificação dos seres vivos. O mecanismo de sele-ção natural foi apresentado ao grande público quando Darwin publi-cou, em 1859, o livro denominado A Origem das Espécies. Para enten-der o princípio da seleção natural, vamos considerar as seguintesinformações: em uma população natural existe variabilidade de carac-terísticas entre os organismos de uma mesma espécie, sendo que algu-mas dessas variações podem ser herdadas pelas gerações futuras. Ge-ralmente, todas as espécies têm um grande potencial reprodutivo e, setodos os indivíduos conseguissem reproduzir, as populações cresceriamem progressão exponencial.

Essa tendência de aumento exponencial da população propicia oestabelecimento de uma luta pela sobrevivência. Os indivíduos damesma espécie passam a competir pelos recursos do ambiente. Osindivíduos que possuem uma ou mais características que lhes forne-çam maiores vantagens para a sobrevivência, em determinado meio,têm maiores probabilidades de reproduzir e gerar descendentes comcaracterísticas semelhantes. Esse processo de seleção, acontecendo aolongo de várias gerações, permitiu e permite o estabelecimento dediferenças entre as espécies.

Na época do lançamento do A Origem das Espécies, o grande ques-tionamento ao mecanismo de seleção natural estava relacionado aofato de que Darwin não produziu uma boa explicação para a origemdas variações e para a transmissão das características hereditárias, ele-mentos essenciais de sua estrutura teórica. Essas explicações foram aporta-das pelos trabalhos de Gregor Mendel e de Hugo de Vries (1848-1935) e

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2813

Page 15: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

14

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

permitiram atribuir aos genes e às mutações – alterações nos genes – aorigem da diversidade entre os seres vivos.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a teoria darwinista da evolu-ção, baseada no mecanismo da seleção natural, recebeu outros aportesimportantes provenientes da genética mendeliana, da observação depopulações naturais, de experimentos de laboratório, da paleontolo-gia e da matemática (BLANC, 1994). Essas contribuições reformularamos princípios da Teoria da Evolução, que, denominada de Teoria Sin-tética ou Síntese Moderna, repousa em duas proposições principais: 1) aevolução consiste no surgimento de outras variantes de genes por muta-ção cega ou não-dirigida pelo ambiente, nas populações, seguida dasubstituição gradual, sob a ação da seleção natural, das variantes menosadaptadas pelas mais adaptadas; 2) o mesmo mecanismo de modifica-ção da composição genética das populações, a seleção natural, permiteexplicar como uma espécie gradualmente dá origem à outra, em con-seqüência da diferenciação genética de uma de suas subespécies.

Coutinho (2005) argumenta que esses pressupostos criaram umcontexto para o estabelecimento de um vínculo do pensamento evolu-cionista a uma compreensão dos sistemas vivos que podemos denomi-nar de “concepção genecêntrica”. A evolução passa a ser entendida comoum processo de transmissão de genes mais competitivos para as futurasgerações, sendo essas entidades consideradas a unidade de seleção.

Então, dentro dessa visão genecêntrica da Teoria Sintética, en-contramos nos trabalhos de Richard Dawkins (1941-) uma defini-ção implícita para o conceito de vida. Na visão de Dawkins, o geneé entendido como a unidade de seleção que, sofrendo a ação daseleção natural, sobrevive ao longo das gerações. Os organismossão simplesmente veículos ou máquinas de sobrevivência dos genes(DAWKINS, 1979).

Dawkins construiu esse argumento propondo um cenário de ori-gem da vida no qual, do mundo pré-biótico inicial, surgiram molécu-las denominadas de replicadores (entidades que fazem cópias de si mes-mas). Tais moléculas teriam surgido por meio da união espontânea deseus monômeros constituintes, que estariam na sopa primordial, e te-riam a capacidade fundamental de servir de molde para a síntese decópias de si mesmas. Na medida em que os blocos de construção para

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2814

Page 16: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

15

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

esses replicadores foram ficando mais escassos, muito provavelmenteocorreu uma competição entre essas moléculas. As moléculas que erammais estáveis e se replicavam com maior velocidade e precisão tendiama sobreviver, enquanto as outras tendiam, aos poucos, a se extingui-rem. Dessa forma, ocorria no cenário primordial uma verdadeira lutapela sobrevivência entre as linhagens de replicadores. O processo demelhoramento das moléculas era cumulativo. Aquelas moléculas ca-pazes de aumentar sua estabilidade e de diminuir a de seus rivais erammais eficientes. Algumas variedades podem ter encontrado uma formade quebrar quimicamente as moléculas de linhagens “rivais”, de ma-neira a utilizar seus constituintes para fazer as próprias cópias. Outrosreplicadores poderiam também ter encontrado meios de protegerem-se dos ataques rivais, formando uma barreira de proteínas ou lipídeosao redor de si.

A partir desse momento, os replicadores começaram a constituir en-voltórios protetores, que seriam veículos para sua existência ininterrupta.Os replicadores que sobreviveram foram aqueles que construíram as má-quinas de sobrevivência mais eficazes para morarem. Esses replicadoresque sobreviveram, segundo Dawkins, recebem hoje o nome de genes(DAWKINS, 1979). Por tudo isso, considera-se que a concepção deDawkins reduz a vida à seleção natural de replicadores ou genes (EMME-CHE; EL-HANI, 2001). Esses replicadores ou genes seriam aquilo que,na matéria, é responsável pelo processo da vida, ou que, em si, seria aprópria vida e que utiliza os organismos como veículos de sobrevivência.

A outra definição de vida, associada ao papel dos genes, que po-demos extrair da Teoria Sintética está totalmente assentada sobre esseconceito e sobre o que se pensou ser um gene. De certa forma, essaconcepção de vida está fundamentada em importantes resultados daBiologia e da genética moleculares que contribuíram para definir oque são genes. Esses resultados influenciaram os estudos evolutivos jáque um dos pressupostos básicos da Teoria Sintética é a mudança nacomposição gênica da população.

Durante os últimos 150 anos, pesquisadores da Biologia molecu-lar trouxeram muitas contribuições para a compreensão dos processosrelacionados à hereditariedade. Entre essas contribuições, pode-se citar:a descoberta do DNA em 1869 – um polímero de nucleotídeos – e

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2815

Page 17: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

16

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

sua posterior identificação como a substância responsável pela especifi-cidade biológica; a proposta de um modelo dupla-hélice para a molé-cula de DNA, por Watson e Crick em 1953; e a sugestão de Crick, em1957, de que o DNA, por meio da seqüência de nucleotídeos, serviriade código para a construção de proteínas.

Em 1944, o físico Erwin Schrödinger, em um livro fundamentalpara o desenvolvimento da Biologia molecular e para a própria pes-quisa sobre a estrutura molecular do DNA, já assegurava sobre a pos-sibilidade de existência de um código. Schrödinger (1997) afirmavaque os cromossomos, estruturas compostas por DNA e presentes nonúcleo das células, contêm sob a forma de algum código todo o pa-drão do desenvolvimento futuro do indivíduo e de seu funcionamen-to no estado maduro.

Em 1961, François Jacob e Jacques Monod apresentaram umaconcepção semelhante à de Schrödinger. Eles afirmaram que o geno-ma contém um programa que coordena a síntese protéica, e, por conse-qüência, o desenvolvimento de um ser vivo (JACOB; MONOD, 1961).Essa metáfora do programa introduz um espaço conceitual não só parapensar-se a realização de um organismo completo a partir de um ovo– denominado de paradoxo do desenvolvimento – mas, principal-mente, para pensar a própria noção de ser vivo.

Na visão desses autores, um ser vivo é a “realização de um pro-grama prescrito pela hereditariedade” (JACOB, 1983, p. 10) ou “obje-tos dotados de um projeto” (MONOD, 1976, p. 21). Jacob e Monodoferecem uma possível compreensão da vida como o produto de umprograma codificado no genoma. O DNA carrega o projeto, na formade um programa interno ao ser vivo, de construção dos organismos. Éa posse desse programa que caracteriza um objeto como ser vivo, jáque é esse programa que o realiza, ou seja, é ele que é seu projeto.Ainda, segundo Jacob, “um organismo é apenas uma transição, umaetapa entre o que foi e o que será. A reprodução é ao mesmo temposua origem e seu fim, sua causa e seu objetivo” (JACOB, 1983, p. 10).

A terceira definição de vida que pode ser extraída da Teoria Sin-tética se distancia das concepções genecêntricas e foi apresentada porDavid Hull (HULL, 1980; HULL, 2001). O trabalho de Hull aponta paraum profundo engano na visão de que a vida e o processo de seleção

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2816

Page 18: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

17

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

natural se resumem a uma seleção de replicadores ou de um programadeterminado por um conjunto de genes. Hull identifica os genes comounidades de replicação fundamentais ao processo evolutivo, mas elesnão seriam os agentes causais da seleção natural.

A argumentação de Hull busca mostrar que genes formam so-mente um dos níveis de organização biológica; nível este que é distin-to e não pode realizar as funções de outros níveis, como organismos eespécies. Na sua visão, na evolução biológica a seleção natural atualsobre múltiplos níveis, sendo um processo hierárquico.

Hull, então, introduz o termo geral Interator para designar “qual-quer entidade que produz replicação diferencial, interagindo comoum todo coeso com o seu ambiente”. Utiliza ainda o termo Replica-dor em referência “a qualquer entidade que passa sua estrutura direta-mente por replicação”. Segundo Hull, uma explicação da seleção na-tural deve incluir ambos os conceitos. Diz ele: “[...] evolução por meiode seleção natural requer uma interação entre replicadores e interato-res. Ambos os processos são necessários. Nenhum é suficiente” (HULL,1980, p. 319).

O sucesso adaptativo dos seres vivos dependeria da ação recípro-ca entre interatores e replicadores, isto é, da replicação da informaçãogenética e da interação dos organismos com o ambiente. Nesse senti-do, os replicadores estão causalmente relacionados a interatores, e asobrevivência desses interatores é causalmente responsável pela per-petuação diferencial dos replicadores (HULL, 2001). Pode-se dizer,então, que a seleção natural atua na interação, não na replicação(GOULD, 2002).

Ao estabelecer que a evolução biológica é um processo hierár-quico no qual a unidade de seleção diz respeito ao nível de interação,Hull fornece uma definição de vida em termos de relações. A vida éseleção de níveis que possuem a propriedade da interação.

O conceito de vida na Teoria da Autopoiese

Além da Teoria Sintética da Evolução, outros programas de pes-quisa da Biologia, no século XX, ofereceram diferentes visões sobre anatureza e se distanciaram da noção de informação genética ou bioló-

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2817

Page 19: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

18

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

gica como algo necessário à vida. Como exemplo, vamos apresentar aTeoria da Autopoiese de Humberto Maturana (1928-) e FranciscoVarella (1946-2001) proposta na década de 1970.

Essa teoria procura oferecer uma definição explícita do conceitode vida. Para construir essa acepção de vida, Maturana e Varella se va-lem de uma proposição quantitativamente universal, contendo maiorpoder preditivo e conteúdo passível de falseamento. Segundo essaversão, “todo organismo vivo possível é feito de células” (BARBIERI,2001, p. 21). Dessa forma, a célula é identificada como componentefundamental de toda forma de vida que poderia existir, incluindo pos-síveis seres vivos extraterrestres e criaturas vivas que poderiam ser pro-duzidas pelo programa de pesquisa em vida artificial.

Nessa versão da teoria, a célula é a unidade lógica do mundovivo, tanto quanto os átomos são as unidades lógicas do mundo físico.Em outras palavras, o que se declara aqui é que não existe vida semcélulas, podendo-se propor, assim, a seguinte definição de vida: “vidaé o estado de atividade da célula e dos sistemas celulares”. A grandequestão da Biologia, “o que é vida?”, torna-se, dessa forma, equiva-lente à seguinte pergunta: “o que é a célula?” (BARBIERI, 2001, p. 22).Baseando-se na idéia de que a célula é a unidade fundamental da vida,Varela, Maturana e Uribe fizeram uma importante contribuição paraas discussões sobre as definições de vida (VARELA et al., 1974). Nesseartigo de 1974, hoje clássico, os autores introduziram a palavra “auto-poiese” para caracterizar o ser vivo.

O conceito de autopoiese estaria relacionado ao fato de que podeser percebida, em todos os seres considerados vivos, a capacidade decontínua reparação por si mesmos. Essa característica está relacionada àsegunda lei da termodinâmica que impõe pensar que os organismosdevem estar em perpétuo estado de atividade, a fim de poderem conti-nuar vivendo. Um organismo deve estar constantemente reparando-se,ou seja, ele deve ser capaz de permanente autoprodução ou autopoiese.

Segundo Maturana e Varela, o que caracteriza e define então umser vivo, e, por conseqüência, a vida, é a organização autopoiética, ummodelo que procura capturar o ser vivo como um sistema e o qualificacomo um tipo particular de sistema. Esse sistema especial seria umarede de componentes nos quais os componentes produzem a própria

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2818

Page 20: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

19

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

rede que, por sua vez, produz os componentes. Essa proposta deMaturana e Varela (1995) procura uma resposta que foge da enumera-ção de propriedades, simplificando o problema da definição para oconceito de vida a uma noção que envolve a questão da organização.

Segundo eles, a célula, a unidade mínima de vida de acordo coma teoria celular, é um sistema que se define por sua organização auto-poiética. Mas podemos perguntar, especificamente, o que é essa orga-nização autopoiética celular, esse construir-se a si mesmo?

Em primeiro lugar, dizem os autores, os componentes molecula-res devem estar dinamicamente relacionados em uma rede de intera-ções. Essa rede de interações é o que se chama de metabolismo celulare tem a peculiaridade de produzir componentes que integram a pró-pria rede que os produzem. Em segundo lugar, alguns desses compo-nentes constituem uma membrana, uma fronteira para essa rede detransformações. Essa membrana torna possível uma clivagem no espa-ço. É bom que se diga, no entanto, que essa fronteira não só limita aextensão da rede que produziu seus componentes integrantes, comotambém participa da rede. Assim, outra característica marcante de umser vivo é que ele cria a si próprio e se constitui como distinto do meiocircundante mediante uma dinâmica própria.

Essa organização autopoiética permite interpretar os seres vivoscomo unidades autônomas – ou seja, sistemas capazes de especificar aspróprias leis (MATURANA; VARELA, 1995). É a partir dessa autonomiaque os seres vivos simultaneamente se realizam e se especificam. “Oser e o fazer de uma unidade autopoiética são inseparáveis, e esseconstitui seu modo específico de organização” (MATURANA; VARE-LA, 1995, p. 89).

Disso resulta que o ser vivo é um sistema fechado. A vida é umoperar que impõe uma fratura espacial, cuja própria clausura faz partedo operar. Embora não haja nada que possa ser apontado, interna-mente ao sistema, como hierarquicamente determinante das proprie-dades do ser vivo, a vida é, de acordo com a Teoria da Autopoiese,um determinado tipo de fechamento operacional.

Até o momento, tudo que foi dito sobre Teoria da Autopoieseutilizou a célula como modelo privilegiado de descrição dos sistemasvivos. No entanto, além dos seres vivos unicelulares, há os organis-

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2819

Page 21: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

20

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

mos multicelulares. Será que estes organismos podem ser considera-dos unidades autopoiéticas? Maturana e Valera os chamam, provisoria-mente, de “sistemas autopoiéticos de segunda ordem” (MATURANA;VARELA, 1995, p. 124). Reconhecendo a dificuldade da pergunta,deixam-na em aberto e afirmam que, de qualquer forma, o que énecessário reconhecer é que também os seres multicelulares possuemclausura operacional.

O conceito de vida na Teoria Biossemiótica

Outra definição de vida alternativa à Teoria Sintética nos é ofe-recida pela Biossemiótica. A Biossemiótica (bios = vida & semion = signo)é um campo de investigação interdisciplinar que estuda a comunica-ção e a significação em sistemas vivos (SHAROV, 1998a). Ela tem sido con-siderada como um novo programa de pesquisa da Biologia (ou Biologiateórica) no século XXI, cujo objetivo “é reconstruir a história naturaldos signos, descrevendo a evolução dos diferentes sistemas de signos ede interpretação de signos da natureza, desde os sistemas genéticos atélinguagem humana” (EMMECHE; EL-HANI, 2001, p. 48).

Os pesquisadores desse campo defendem que as entidades vivasinteragem como corpos físicos e como mensagens. A Biossemióticaconsidera a interpretação de signos a propriedade fundamental dossistemas vivos e a toma como definidora da vida (EMMECHE, 1997;EMMECHE, 1998).

O desenvolvimento dessa visão das entidades vivas está relacio-nado ao livro de Jacob von Uexküllv intitulado Umwelt und Innenweltder Tiere (Ambiente e mundo interior dos animais). Nesse livro de 1909,von Uexküllv identificou os animais como intérpretes de seus ambien-tes. Esse ambiente seria subjetivamente interpretado somente por or-ganismos vivos. O ambiente se refere ao mundo fenomênico do orga-nismo, o mundo ao seu redor tal como percebido por ele. SegundoUexküll, a habilidade dos animais de interpretar o mundo é uma con-dição necessária para que possam sobreviver. O trabalho de Sebeok(1972), no qual encontramos uma teoria de zoosemiótica, contribuiupara a subseqüente integração da Biologia e da semiótica. SegundoSebeok, os signos utilizados por animais (visuais, acústicos e quími-

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2820

Page 22: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

21

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

cos) são processados por seus sistemas nervosos da mesma forma comoem humanos. Assim, noções da semiótica humana devem, em suavisão, ser estendidas à zoosemiótica.

Estudos posteriores argumentam que a interpretação de signosnão requer necessariamente um sistema nervoso. Por exemplo, Kram-pen (1981) sugeriu que mesmo plantas são capazes de interpretar sig-nos – um exemplo seria a capacidade delas de crescer em direção à luz– e Hoffmeyer (1996) desenvolveu a teoria de que os organismos sãomensagens, que descrevem a arte de sobreviver e reproduzir para asgerações futuras.

Seguindo Hoffmeyer, defrontamo-nos com a concepção de queos organismos são mensagens, no sentido de que todo organismo temuma autodescrição escrita na forma de DNA. Essa autodescrição vemde gerações passadas e sumariza as experiências dos ancestrais na arte desobreviver. Assim, os organismos têm uma natureza dual: eles repre-sentam a eles mesmos e são mensagens expedidas às gerações futuras.

Um dos problemas básicos do paradigma biossemiótico é o de ex-plicar como surgiram sistemas capazes de interpretar o mundo (SHAROV,1998b). Em organismos menos complexos, a interpretação é semprereduzida a alguma ação simples. Por exemplo, para uma mariposa, osom de um morcego significa “fuja”; já para uma alga unicelular, umafonte de luz significa “mova para cá” (SHAROV, 1998b).

De acordo com Sharov (1998b), muitos acreditam que a ativida-de de um organismo esteja predeterminada em sua estrutura. Mas issoé somente metade da resposta, dado que a ação e a estrutura fazemparte do que se chama “organização”. Dessa forma, a ação e a estruturaestão integradas em um organismo. Faz-se necessária, então, outranoção, que nos permita entender o fenômeno da interpretação. Talnoção é introduzida, para Sharov, com o termo Valor. Valores podemser aplicados a vários tipos de atividade: comer, dormir, mover, cres-cer, reproduzir, etc.

Avaliando objetos e processos, o organismo interpreta subjetiva-mente o mundo e a ele mesmo e, ao fazê-lo, constrói seu ambiente(SHAROV, 1998a). Deve-se compreender, porém, que o valor não é umaqualidade nem do organismo nem do objeto. Por exemplo, preferimos

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2821

Page 23: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

22

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

uma barra de ouro a um copo d’água. Contudo, em uma situação extre-ma, o copo d’água pode ser muito mais preferível, por exprimir a diferen-ça entre a vida e a morte. O valor se situa, assim, na relação entre o objetoe o organismo.

Assim, a noção de valor é muito importante para entender-se ofenômeno da vida. Componentes do ambiente podem ter valor posi-tivo ou valor negativo para um organismo. Por exemplo, recursos têmvalores positivos, e objetos perigosos (por exemplo, inimigos) têmvalores negativos. Também podem ser aplicados valores a vários tiposde atividade: comer, dormir, locomover, crescer, reproduzir, etc. Aação do organismo em relação a objetos externos, então, torna-se in-corporada à organização (ação-estrutura). Como resultado, o organis-mo desenvolve seu ambiente ao associar objetos externos a ações es-pecíficas, ou seja, ao interpretar o mundo.

No paradigma Biossemiótico, o foco não é a organização de mo-léculas nem a seleção natural de moléculas replicadoras, mas a comu-nicação de signos na natureza (EMMECHE, 1998). É a relação de signosem várias escalas biológicas que deve ser encarada como objeto pró-prio da Biologia, uma vez que a vida é fundamentalmente comunica-ção (PATTEE, 1995). Aqui, então, encontramos mais uma vez a defini-ção de vida em termos de relação. A compreensão de que vida é relaçãoé melhor alcançada quando levamos em consideração a própria natu-reza do signo. Sendo a vida compreendida como comunicação, pode-se então dizer que a unidade de estudo da Biologia é a relação sígnica,mais do que relações entre moléculas. A vida não é algo possuído oudoado a uma determinada entidade, não é instância material e, por-tanto, uma substância no mundo – pois, fundamentalmente, a vidaacontece nas relações semióticas entre os organismos e o ambiente.

O conceito de vida nos estudos sobre vida artificial

O programa da Vida Artificial é um campo de pesquisa preocu-pado em estabelecer uma definição explícita de vida. Segundo More-no e Fernandez (2001), a Vida Artificial é o estudo de sistemas cons-truídos pelo homem que exibem comportamentos característicos dos

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2822

Page 24: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

23

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

seres vivos.1 Bedau (1996) afirma que esse campo interdisciplinar ten-ta entender a essência natural dos seres vivos por meio de modelosimplementados por computadores. Esse programa de pesquisas pro-põe ultrapassar o estudo da vida para além dos sistemas constituídospor carbono, substrato material do qual todos os seres vivos conheci-dos são feitos.

Segundo Langton (1989), na prática, a Biologia tem se dedicado aapenas um único tipo de vida conhecido até o momento. Mas, emprincípio, não há nada que restrinja a Biologia a esse tipo de estudo,dado que nada impede que a vida possua outras bases materiais, alémdo carbono. Assim, a Biologia teórica poderia ser entendida como oestudo da forma dinâmica da vida, sem referência ao substrato mate-rial. Langton argumentou que é difícil de encontrar princípios geraisquando se tem somente um exemplo de vida. Todos os seres vivos daTerra compartilham a mesma base bioquímica e, com raríssimas ex-ceções, o mesmo código genético. Mais ainda, todos eles evoluíramem resposta a acidentes históricos locais. Por isso, a Biologia teórica temenfrentado o problema da impossibilidade de derivar teorias gerais deum único exemplo, uma vez que uma definição de vida não pode serrestrita à forma de vida terrestre, baseada na química do carbono(RAY, 1996). Segundo Langton, a Vida Artificial, através da síntese denovos sistemas reconhecíveis como formas alternativas de vida, podeauxiliar na busca de construção de uma teoria e de uma definição uni-versal de vida.

Os estudos são feitos por meio de simulações de computadorque propiciam “condições materiais e formais tais que, a partir de in-terações simples, podem emergir estruturas e comportamentos com-plexos e funcionais análogos àqueles que caracterizam o universo bio-lógico” (MORENO; FERNANDEZ, 2001 p. 261). A Vida Artificial segueos passos da proposta da Inteligência Artificial, assumindo uma orien-tação funcionalista, segundo a qual as propriedades dos sistemas vivossão conseqüência de uma determinada organização, e não de sua ma-terialidade (MORENO; FERNANDEZ, 2001).

1 Exemplos de Vida Artificial podem ser encontrados na página de Karl Sims,disponível em: <http://www.genarts.com/karl/>.

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2823

Page 25: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

24

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

Entre os pesquisadores e filósofos da Vida Artificial, encontra-mos Mark Bedau, em cujos estudos há uma tentativa de se definir vidanão utilizando listas de propriedades, estereótipos ou modelos da vidacotidiana. Na tentativa de definir vida, Bedau (1996) afirma que avida é um tipo natural e propõe uma definição evolucionária radical,segundo a qual vida é “adaptação flexível” (supple adaptation). Nor-malmente as definições de vida estão focadas sobre algum tipo deindividualidade (seja ela a célula, o organismo, o gene). No entanto,sistemas vivos estão continuamente explorando seus nichos e trocan-do material, energia e informação com seus ambientes locais. Assim,Bedau, ao invés de focar na individualidade, afirma que um sistemacapaz de adaptação às contingências de um ambiente imprevisível(adaptação flexível) deveria ser considerado como a forma de vidaprimária. Um sistema exibe adaptação flexível quando produz e al-cança novos tipos de resposta significativa a novos tipos de desafio eoportunidade adaptativa. Pode-se compreender um sistema que exi-be adaptação flexível como uma população ou um ecossistema ou,finalmente, toda a biosfera, entendidos todos eles em suas múltiplasinterações (BEDAU, 1998).

Na visão de Bedau, componentes particulares dentro de um sis-tema que exibe adaptação flexível, como um único organismo, porexemplo, não são capazes de evolução – pois essa é uma propriedadede populações – e, por não serem capazes de evolução, não podemser entendidos como vivos. O componente deve ser qualificado comovivo – forma secundária de vida – somente em virtude de suas rela-ções dentro do sistema que exibe um processo evolutivo de contínuaadaptação às mudanças ambientais. A mula, por exemplo, que não écapaz de reprodução, pode, dentro da concepção de Bedau, ser qua-lificada como ser vivo em função de participar de uma população re-produtiva, mas deve ser entendida como forma secundária de vida.Como já dito, a população reprodutiva mais ampla é que é a formaprimária de vida (BEDAU, 1998).

Novamente, podemos dizer que encontramos com a definiçãode Bedau, mais uma vez, uma definição de vida em termos de rela-ções de entidades do mundo. A vida, nessa abordagem, deve ser com-preendida como uma relação, basicamente porque sistemas que exibem

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2824

Page 26: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

25

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

adaptação flexível pressupõem, no mínimo, relações entre entidades edessas entidades com o meio. Sendo assim, por ser essencialmenterelação, a vida existe em diferentes níveis de organização, e a distinçãoentre vivo e não-vivo é uma questão de grau, e não uma distinçãotudo-ou-nada.

Por exemplo, um organismo multicelular é considerado uma for-ma de vida por participar de uma população reprodutora que exibeadaptação flexível. Isso não significa que não se possa atribuir algumgrau de vida às suas células componentes.

Então, conceber vida como algo inerente aos sistemas que pos-suem adaptação flexível é entendê-la como uma relação das entidadesdo mundo entre si e dessas entidades com o ambiente (COUTINHO,2005). A vida é uma relação que existe em diferentes níveis de organi-zação, e a distinção do vivo e não-vivo depende do nível que estásendo analisado.

Considerações finais

O presente ensaio não é, definitivamente, uma tentativa de con-sensuar o que seja a vida. Nesta pequena trajetória, a única conclusãoque se pode afirmar categoricamente é que a própria Biologia, a “ciên-cia dedicada ao estudo dos seres vivos”, não nos apresenta um único edefinitivo conceito de vida.

Ao mesmo tempo em que este ensaio não busca responder aoque seja a “vida”, ele traz inúmeras outras questões: como podemosdemarcar a fronteira da vida, quando se trata de seres humanos? Comodizer quando a vida começa ou quando ela termina? Como fazer adistinção entre o vivo e o não-vivo? A quem cabe a palavra final?

Se adotarmos a visão genecêntrica, até espermatozóides e óvulosseriam uma forma de vida, e toda prática contraceptiva – bem como amasturbação – teria de ser condenada. Mesmo que algumas religiõesprofessem tal crença, não se trata de um consenso nem entre as religiões,muito menos um consenso social e cultural.

Por outro lado, em termos do sentimento religioso, a idéia devida está pacificada sobre a crença de que toda vida é dada por Deus, e

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2825

Page 27: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

26

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

só por ele pode ser disposta. Tal profissão de fé se baseia em umdogma sobre o qual não nos compete tocar aqui: o de que existe umser superior onipresente, onisciente e onipotente que planejou e ar-quitetou o mundo tal como o conhecemos.

Partindo, então, da constatação de que não há consenso cientí-fico sobre o conceito de vida e de que o consenso religioso se aplicaapenas a parcelas da sociedade, e não a toda ela, nossas reflexõesfinais estão no sentido de buscar um consenso político quando talconceito se fizer necessário. Tal consenso não deve ser dogmáticoou imutável e deve atender à diversidade cultural e complexidadedas sociedades contemporâneas e manter a dignidade das pessoas,principalmente a das mulheres.

Referências

BARBIERI, M. The organic codes. Ancora: Pequod, 2001.

BEDAU, M. The nature of life. In: BODEN, M. A. (Ed.). The philosophy ofartificial life. Oxford: Oxford University Press, 1996.

BEDAU, M. Four puzzles about life. Artificial Life, v. 4, n. 2, p. 125-140, 1998.

BLANC, M. Os herdeiros de Darwin. São Paulo: Scritta, 1994.

COUTINHO, F. A.; MARTINS, R. P. Uma ciência autônoma. CiênciaHoje, v. 32, n. 188, p. 65-67, 2002.

COUTINHO, F. A. A construção de um perfil conceitual de vida. Tese (douto-rado) – Faculdade de Educação da UFMG, Belo Horizonte, 2005.

DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Editora da USP, 1979.

DOBZHANSKY, T. Nothing in biology makes sense except in the light ofevolution. The American Biology Teacher, v. 35, p. 125-129, 1973.

EMMECHE, C. Defining life, explaining emergence. 1997. Disponível em:<http://www.nbi.dk/~emmeche/cePubl/97e.defLife.v3f.html>.

EMMECHE, C. Defining life as a semiotic phenomenon. Cybernetics &Human Knowing, v. 5, n. 1, p. 3-17, 1998.

EMMECHE, C.; EL-HANI, C. N. Definindo vida, explicando emergência. 1999.Disponível em:<http://www.nbi.dk/~emmeche/>. Acesso em: 8 jan. 2003.

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2826

Page 28: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

27

A POLISSEMIA DO CONCEITO VIDA

EMMECHE, C.; EL-HANI, C. N. Definindo vida. In: EL-HANI, C. N.;VIDEIRA, A. A. P. (Org.) O que é vida? Para entender a Biologia do séculoXXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 2001.

GOULD, S. J. The structure of evolutionary theory. Cambridge: The BelknapPress of Harvard University Press, 2002.

HOFFMEYER, J. Signs of meaning in the Universe. Blomington: IndianaUniversity Press, 1996.

HULL, D. Individuality and selection. Annual Review of Ecology and Syste-matics, v. 11, p. 311-332, 1980.

HULL, D. Science and selection. Cambridge: Cambridge University Press,2001.

JACOB, F. A lógica da vida. Rio de Janeiro: Graal, 1983.

JACOB, F.; MONOD, J. Genetic regulatory mechanisms in the synthesisof proteins. Journal of Molecular Biology, v. 3, p. 318-356, 1961.

KELLER, E. F. O século do gene. 1. ed. Belo Horizonte: Editora Crisálida,2002.

KRAMPEN, M. Phytosemiotics. Semiotica, v. 36, n. 3/4, p. 187-209, 1981.

LAKOFF, G. Women, fire, and dangerous things. Chicago: The University ofChicago Press, 1987.

LANGTON, C. G. Artificial Life. In: LANGTON, C. G. (Ed.). ArtificialLife: The proceedings of an interdisciplinary workshop on the synthesis and simulationof living systems. Santa Fe Institute Studies in the Science of Complexity,Vol. VI. Redwood City: Addinson-Wesley, 1989.

MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento. Campinas:Whorkshopsy, 1995.

MAYR, E. The growth of biological thought. Cambridge: Harvard UniversityPress, 1982.

MAYR, E. This is biology: the science of the living world. Cambridge: HarvardUniversity Press, 1997.

MEYER, D.; EL-HANI, C.N. Evolução. In: EL-HANI, C. N.; VIDEI-RA, A. A. P. (Org.). O que é vida? Para entender a Biologia do século XXI. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Relume Dumará, 2001.

MONOD, J. O acaso e a necessidade. Petrópolis: Vozes, 1976.

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2827

Page 29: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

28

DIREITO DE DECIDIR: MÚLTIPLOS OLHARES SOBRE O ABORTO

MORENO, A.; FERNÁNDEZ, J. A vida artificial como projeto para acriação de uma Biologia universal. In: EL-HANI, C. N.; VIDEIRA, A. A.P. (Org.). O que é vida? Para entender a Biologia do século XXI. 2. ed. Rio deJaneiro: Editora Relume Dumará, 2001.

PATTEE, H. H. Cell psychology: an evolutionary approach to the symbol-matter problem. Cognition and Brain Theory, v. 5, p. 325-341, 1995.

RAY, T. An approach to the synthesis of life. In: BODEN. M. A. (Ed.).The Philosophy of Artificial Life. Oxford: Oxford University Press, 1996.

SCHRÖDINGER, E. O que é vida? São Paulo: Editora da UNESP, 1997.

SEBEOK, T. A. Perspectives in zoosemiotics. Mouton: Hague, 1972.

SHAROV, A. What is biosemiotics? 1998a. Disponível em: <http://www.gypsymoth. ento.vt.edu/~sharov/biosem/geninfo.html>.

SHAROV, A. From cybernetics to semiotics in biology. Semiotica, v. 120,p. 403-419, 1998b.

VARELA, F.; MATURANA, H.; URIBE, R. Organization of living sys-tems, its characterization and a model. Biosystems, v. 5, p. 187-196, 1974.

Direito de decidir-multiplos olhares sobre o aborto170708finalgrafica_Diogo.pmd 28/7/2009, 11:2828

Page 30: Direito de decidir - Múltiplos olhares sobre o ABORTO

www.autenticaeditora.com.brwww.twitter.com/autentica_ed

www.facebook.com/editora.autentica