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Resumo. Concursos Públicos. Advocacia Pública

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DIREITO PENAL RESUMO POR QUESTES AGU/PGF/PFN

DIREITO PENAL RESUMO POR QUESTES AGU/PGF/PFNDIREITO PENALI. PENAL PARTE GERAL 1. Certo O art. 2 do CPP adota a teoria do isolamento dos atos processuais. Essa teoria diz que a lei processual nova dever ser aplicada ao prximo ato processual isoladamente considerado, mesmo que ela entre em vigncia no curso de um processo ou no curso de uma fase processual (postulatria, ordinatria, instrutria, decisria e recursal). Todavia, a lei processual nova no pode atingir os atos processuais j praticados ou os seus efeitos (nesse sentido, Ada Pellegrini Grinover e outros, Teoria geral do processo, 22. ed., So Paulo, Malheiros, p. 105).

Observamos que a data do acontecimento do crime no dita as regras processuais, mas somente as normas de direito material (interferem no jus puniendi estatal). Se sobrevier lei penal material mais benfica, deve ser aplicada. No caso das leis puramente processuais (aquelas que no interferem com o jus puniendi do Estado), no importa se so prejudiciais ou mais benficas ao ru elas devem ser aplicadas imediatamente ao processo penal.

2. Certo O art. 66, I, da Lei de Execues Penais (Lei n. 7.210/84) determina que compete ao juiz da execuo aplicar aos casos julgados (com trnsito em julgado) lei posterior que, de qualquer modo, favorecer o condenado. Obviamente, referido dispositivo trata das normas de natureza penal, que podem ser aplicadas retroativamente, o que no pode ocorrer com as normas de natureza processual penal.

Tambm o que determina a Smula 611 do STF: Transitada em julgado a sentena condenatria, compete ao juzo das execues a aplicao de lei mais benigna.

Comentrio Extra: Novatio legis in mellius: a aplicao do princpio da retroatividade da lei penal material mais benigna. regra determinada pelo art. 2, pargrafo nico, do CP, que diz: A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentena condenatria transitada em julgado.

3. Certo A Smula 711 do STF orienta: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigncia anterior cessao da continuidade ou da permanncia.

A lei penal no pode retroagir para prejudicar o ru. Todavia, a Smula 711 do STF tratou os crimes integrantes do crime continuado (fico jurdica para efeitos de aplicao da pena, conforme o art. 71 do CP) como um s para os efeitos de aplicao da novatio legis in pejus (lei posterior que agrava a situao do agente do crime).

4. Errado Conforme o art. 5, 2, do CP, a lei penal brasileira aplicada no caso de navio particular ancorado em porto ou situado no mar territorial brasileiro. Todavia, a contrario sensu, no caso de o navio ser militar, ou seja, de natureza pblica ou a servio de outro Pas, aplica-se a lei penal do Pas ao qual o navio pertence ou para o qual est em servio.

5. Errado 6. Certo Em obedincia ao art. 5, XL, da CF, a lei penal retroagir somente para beneficiar o ru, mesmo que j tiver ocorrido o trnsito em julgado da sentena condenatria. Neste caso, houve a abolitio criminis, que ocorre quando lei posterior deixa de considerar um fato como criminoso, no devendo subsistir qualquer efeito da condenao nem principal (penas e medidas de segurana), nem secundrio (ex.: aps o trnsito em julgado, provocar a reincidncia no caso de prtica de outro crime ou contraveno). Assim, como a abolitio criminis causa de extino da punibilidade (art. 107, III, do CP), Mvio no permanecer sujeito pena prevista na sentena condenatria.

7. Certo A Constituio Federal, em seu art. 5, XL, determina que a lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru.

8. Errado A extino de punibilidade deve ser declarada de ofcio pelo Juzo, visto que no h mais crime.

9. Errado Nos termos do art. 17 do CP, as hipteses de crime impossvel so: ineficcia absoluta do meio e impropriedade absoluta do objeto material. No caso, no h impropriedade do objeto material, visto que as peas de roupa podem ser objeto material de furto.

J a ineficcia absoluta do meio s estaria presente se o meio empregado para a execuo do crime jamais pudesse lev-lo consumao. No o que acontece nos fatos narrados: a agente do crime, alm de ter retirado o lacre eletrnico das peas de roupa, colocou-as em sua bolsa, somente sendo impedida de consumar o crime (ter a posse mansa e pacfica da res) na sada do estabelecimento. Ora, poderia ter ocorrido falha do sistema de segurana e o crime poderia ter sido consumado.

Nesse sentido, o Informativo 261 do STJ noticiou o REsp 757.642: O sistema eletrnico de vigilncia do supermercado dificulta a ocorrncia de furtos no interior do estabelecimento, mas no capaz de impedir sua ocorrncia. Assim, no prevalece a tese do Tribunal a quo de que o esquema de vigilncia com uso de cmeras de vdeo instaladas no interior da loja torna ineficaz o meio para furtar mercadorias. Se no h absoluta impossibilidade de consumao do delito, no h que se falar em crime impossvel.

10. Certo Pedro no responder por homicdio consumado porque ocorreu a supervenincia de uma causa relativamente independente, nos termos do art. 13, 1, do CP. Ser incriminado apenas por tentativa de homicdio, pois a causa de sua morte foi o incndio, embora estivesse no hospital porque fora gravemente lesionado, e mesmo que os ferimentos pudessem acarretar a sua morte. Ora, o agente no ser punido por homicdio porque sua conduta no matou a vtima ocorreu um evento superveniente antes, que deu causa morte.

Primeiramente, devemos explicar que, nos crimes materiais, tambm chamados crimes de resultado, necessrio haver o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado naturalstico danoso. O Cdigo Penal (art. 13, caput), para identificar a conduta que produziu o resultado, adotou a teoria da equivalncia dos antecedentes causais ou teoria da conditio sine qua non (com a ressalva do 1), que diz que causa toda ao ou omisso sem a qual o resultado no teria ocorrido. Todavia, para evitar que o fabricante da arma utilizada num homicdio seja incriminado, e outras hipteses infinitamente absurdas, que levaria culpa de Ado e Eva, o nosso sistema penal incrimina apenas aquele que agiu com dolo ou culpa (no h a responsabilidade objetiva, em regra).

A teoria da equivalncia dos antecedentes causais aplicada com a ressalva do art. 13, 1, que trata da supervenincia de causa relativamente independente. Assim, se, aps a conduta do agente criminoso, ocorrer um fato (ou outro ato criminoso) independente e autnomo dessa conduta, que leve produo de resultado que no ocorreria somente com a conduta do agente (ou at poderia ocorrer, mas no deu tempo), devemos atribuir ao agente somente os fatos que praticou. Com isso, o resultado que ocorreu por causa do segundo evento no lhe pode ser atribudo, embora esteja ligado com sua conduta.

Ex.: uma vtima de tentativa de homicdio sendo tratada em um hospital que pegou fogo, e, por isso, acaba morrendo: o hospital pegar fogo uma causa relativamente independente conduta do agente: o resultado morte est ligado conduta do agente, pois se no houvesse leses corporais, a vtima no estaria no hospital. Todavia, o agente no ser punido pela morte da vtima (pois resultado de uma causa superveniente relativamente independente), mas somente pelos atos praticados antes do acontecimento desse segundo fato: ser punido por tentativa de homicdio. Nesse caso, mesmo que as leses pudessem realmente matar a vtima, no foram elas que provocaram a morte, mas, sim, o incndio.

A causa foi denominada relativamente independente porque, se fosse absolutamente independente, o segundo resultado no teria ligao alguma com a conduta praticada pelo agente. Por exemplo, se, no caso acima, a vtima morresse no hospital assassinada pelo seu amante, que no tem ligao alguma com o agente das leses, no haveria dvidas: a vtima de leses morreu por causa de outra pessoa.

Comentrio Extra: O nexo causal entre a conduta e o resultado naturalstico somente existe nos crimes materiais. Nos crimes de mera conduta (sem resultado naturalstico danoso) e nos crimes formais (o resultado naturalstico no necessrio para haver a consumao), no necessitamos da anlise da existncia de nexo causal, visto que o crime consumado sem a necessidade da ocorrncia do resultado naturalstico (todos os crimes produzem resultado jurdico).

11. Errado A redao a do art. 13, caput, do CP. Mas esse artigo no adota a teoria da causalidade adequada, e sim, a teoria da equivalncia dos antecedentes ou da conditio sine qua non restringida pelo 1, explicada na questo anterior. O nosso Cdigo Penal no adota a teoria da causalidade adequada, que diz que o agente somente produz o resultado quando sua conduta tiver aptido e idoneidade a produzi-lo. Para melhor esclarecer, utilizando-se o exemplo da fabricao da arma que ser vendida para o agente cometer um homicdio, se adotarmos a teoria da equivalncia dos antecedentes, o fabricante deu causa ao crime, mas no ser punido por falta de dolo ou culpa. Adotando a teoria da causalidade adequada, nem se adentrar anlise do dolo ou culpa: como a fabricao da arma no tem aptido nem idoneidade para produzir o resultado, o fabricante no deu causa ao crime.

12. Certo Primeiramente, cabe esclarecer que o art. 13, 2, determina que a omisso penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. Assim, no existe juridicamente o dever geral de agir para evitar a ocorrncia de um resultado danoso somente h essa obrigao se a situao se enquadra no art. 13, 2, do CP, ou se a omisso est prevista em lei como crime ( o caso do crime de omisso de socorro, previsto no art. 135 do CP).

Resta saber quando o agente deve agir para evitar o resultado. As hipteses esto previstas no art. 13, 2, a, b e c: quando, por lei, tenha obrigao de cuidado, proteo ou vigilncia; quando assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; e quando, com seu comportamento anterior, o agente criou o risco da ocorrncia do resultado.

E em que hipteses o agente no pode agir, para o efeito de excluir sua responsabilidade? Quando houver impossibilidade fsica de agir. Mas cuidado: ningum est obrigado a se matar para salvar outrem. Deve haver um juzo de valor sobre a possibilidade fsica de agir.

Dessa forma, o caso narrado na questo demonstra uma hiptese em que o agente, criando o risco da ocorrncia do resultado, devia e podia agir para impedi-lo. Tambm pode-se entender que Max tornou-se garantidor quando assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. Assim, pela omisso (pois devia e podia agir para impedir o resultado), deve ser responsabilizado: sua conduta deve ser subsumida ao art. 121 do CP, ou seja, homicdio doloso ou culposo.

Comentrio Extra: Cabe ressaltar: quando a omisso penalmente relevante, o omitente ser responsabilizado pelo resultado que no impediu que ocorresse. Por exemplo, a bab que no cuida de uma criana na piscina pode responder pelo seu afogamento, conduta subsumvel ao homicdio doloso ou culposo.

13. B O enunciado no foi claro porque no deu todos os elementos para haver um crime preterdoloso (espcie de crime qualificado pelo resultado), os quais so: a) prtica de um crime doloso, com todos os seus elementos (fato antecedente); b) produo posterior de um resultado agravador culposo, alm daquele que seria necessrio para a consumao do crime doloso antecedente (fato consequente), que acaba por tipificar a conduta total num crime mais grave.

Assim, pelo enunciado da questo, o efeito Y poderia consistir em um crime culposo ou em um crime preterdoloso. Seria o caso de crime preterdoloso se o efeito X tivesse sido praticado com todos os seus elementos. Mas o enunciado no esclareceu esse fato, apenas dizendo que A deseja produzir o efeito X.

14. C O enunciado da questo informou que Geraldo anteviu o resultado, esclarecendo que houve a previso. Como os crimes culposos no podem ter o elemento previso, ou o crime doloso ou h culpa consciente (o agente prev a ocorrncia do resultado, mas acredita sinceramente que ele no ocorrer). A questo nos informou, tambm, que Geraldo no desejou o resultado, mas assumiu o risco de sua ocorrncia. Essa uma caracterstica do dolo eventual. Explicamos:

Veja o art. 18, I, do CP: Diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Assim, o dolo pode ser direto (ou determinado), disposto na primeira parte do dispositivo, e indireto (ou eventual), constante da segunda parte. Com dolo indireto, o agente no quer o resultado, mas o prev (h previso) e no se importa se poder produzi-lo com sua conduta para ele, tanto faz. Dessa forma, a conduta de Geraldo corresponde a dolo eventual.

A conduta de Geraldo no identifica culpa consciente porque, nesse caso, embora exista a previso do resultado, o agente no assume o risco de produzi-lo porque acredita plenamente em suas habilidades ou outros fatos impeditivos da ocorrncia do resultado.

15. Errado Age com dolo eventual quem prev (age com previso, que a conscincia de que o resultado pode ser produzido com sua conduta) o resultado e pratica a conduta mesmo assim, no se importando se ele ocorra ou no. Assim, quem age com dolo eventual responsabilizado por crime doloso, tentado ou consumado. Portanto, Carlos responder por dois homicdios dolosos. Na culpa consciente, o agente prev o resultado, mas acredita sinceramente que ele no ocorrer (confia na sua habilidade ou outra causa impeditiva), o que no ocorreu nesse caso.

16. ANULADA No gabarito preliminar, a questo foi considerada correta. Todavia, no gabarito definitivo, foi anulada. Acreditamos que a redao do enunciado foi o motivo para a anulao, visto que no exps os elementos necessrios para uma resposta precisa. Ora, o fato de o professor imaginar que a pessoa viva seja um cadver no o exime imediatamente de ter praticado um crime culposo, pois a culpa deve ser aferida de acordo com as circunstncias do caso concreto.

Para verificarmos a presena da culpa necessitamos fazer um juzo de valor, comparando a conduta do agente com a conduta que um homem mdio (com prudncia mdia) praticaria em situao semelhante. Quando h prudncia mdia, h dever objetivo de cuidado, no havendo, por consequncia, culpa.

Assim, a situao narrada na questo hiptese de erro de tipo (erro sobre as elementares ou circunstncias do tipo penal), que sempre causa de excluso do dolo. Todavia, no temos elementos para saber se esse erro foi escusvel (hiptese em que a culpa excluda) ou inescusvel (hiptese em que o sujeito pratica crime culposo, se houver previso no tipo penal).

Comentrio Extra: O erro sobre elementos do tipo o engano do agente sobre elemento do tipo penal bsico, do tipo penal qualificado, ou sobre circunstncia do crime. Exclui o dolo, e, por isso, para a teoria finalista (dolo e culpa esto na tipicidade), exclui a tipicidade do crime.

H tambm outra espcie de erro sobre elementos do tipo, presente no art. 20, 1, que o erro sobre a incidncia de uma excludente de antijuridicidade ou de culpabilidade (exceto a menoridade), denominado pelo CP descriminantes putativas: o agente pratica uma conduta imaginando estar amparado por uma excludente, enganando-se sobre a existncia do fato agresso. Tambm exclui o dolo, e o agente pode ser punido por crime culposo, se houver culpa.

Todavia, ateno: se o erro sobre a incidncia de uma excludente de antijuridicidade ocorrer porque o sujeito se engana sobre a injustia da agresso (e no sobre a prpria agresso), no constitui mais erro de tipo, mas, sim, erro de proibio, disposto no art. 21 do CP (exclui a culpabilidade, se inevitvel. Se evitvel, diminui a pena). O engano sobre a injustia da agresso pode ocorrer de duas formas: a) o sujeito supe que existe uma excludente e que est amparado pelo sistema jurdico (ex.: homicdio por legtima defesa da honra no existe); b) supe erroneamente que a excludente prevista no Direito est incidindo na ocorrncia ftica, o que no ocorre (o sujeito acredita que est em legtima defesa quando comete homicdio para se defender de uma ameaa de morte que no uma agresso atual ou iminente).

17. A Adalberto responder por homicdio na forma tentada. O caso trata de erro na execuo do crime (arts. 73 e 74 do CP), tambm chamado de aberratio criminis. Adalberto pratica a conduta com dolo (vontade e conscincia) de matar Belina, mas, por circunstncias alheias sua vontade, no consegue executar o crime (da a tentativa). Mas, perguntamos: Adalberto no responder pela leso leve culposa provocada em Cardozo? No, porque o resultado no desejado um resultado menos grave que o homicdio tentado (desejado).

Ento, cabe esclarecermos as regras que devem ser aplicadas nos casos de aberratio criminis:

18. A O concurso formal imprprio est previsto no art. 70, segunda parte, do Cdigo Penal. Veja: Quando o agente, mediante uma s ao ou omisso, pratica dois ou mais crimes, idnticos ou no, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto at metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ao ou omisso dolosa e os crimes concorrentes resultam de desgnios autnomos, consoante o disposto no artigo anterior.

Pargrafo nico. No poder a pena exceder a que seria cabvel pela regra do art. 69 deste Cdigo.

Para haver concurso formal prprio de crimes (art. 70, primeira parte) exige-se uma conduta e dois ou mais resultados nesses moldes: a) um crime praticado por dolo e o(s) outro(s) provocado por culpa ou por dolo eventual; b) todos os crimes provocados por culpa.

Todavia, se os crimes resultam de desgnios autnomos (dolo em todos os resultados), caracteriza-se o concurso formal imprprio.

19. Errado Crimes plurissubjetivos so aqueles que exigem mais de um sujeito para a sua prtica, como o delito de quadrilha ou bando (art. 188 do CP). Os crimes plurissubjetivos so uma espcie dos delitos de concurso necessrio.

Ateno: no se confundem com os crimes unissubjetivos, quando eventualmente praticados com concurso de pessoas. Ex.: o homicdio um crime unissubjetivo, isto , pode ser praticado por um sujeito apenas, mas tambm pode ser praticado por dois ou mais agentes.

Assim, os crimes plurissubjetivos j tm previso, em seu tipo penal, do concurso de pessoas necessrio, havendo uma adequao tpica imediata. Dessa forma, os crimes plurissubjetivos no necessitam da utilizao do art. 29 do CP (que prev o concurso de pessoas), dispositivo necessrio para a tipificao de crime unissubjetivo cometido em concurso de pessoas (faz-se uma adequao tpica mediata).

20. Errado O concurso de pessoas, cujas espcies so coautoria e participao, no exige, para a sua existncia, o acordo prvio de vontades.

As condies necessrias para haver concurso de pessoas (coautoria ou participao) so:

a) Cada agente deve praticar, pelo menos, uma conduta (ao ou omisso) que leve ao resultado criminoso;

b) Unidade de desgnios, ou seja, vontade e conscincia de alcanar, em cooperao, o mesmo resultado criminoso (no necessariamente os agentes tm acordo prvio de vontades). A unidade de desgnios basta para haver o liame subjetivo entre os agentes do crime;

c) A(s) conduta(s) praticadas pelos agentes devem se somar, se unir, ou se agregar para a obteno do resultado criminoso.

21. Errado Primeiramente, ressaltamos que a questo excluiu a possibilidade de alegao de legtima defesa ou estrito cumprimento do dever legal (algumas hipteses de excludente de antijuridicidade ou ilicitude).

Tambm ressaltamos que no houve prvio acordo de vontades. Poderamos at pensar que houve vnculo subjetivo consistente na unidade de desgnios de alcanar, pela cooperao, o mesmo resultado criminoso. Todavia, entendimento do STJ, que, por ser a perseguio aos fugitivos desobedientes fato normal na atividade de policiamento, no se pode tom-la como suficiente a caracterizar a necessria unidade do elemento subjetivo dirigido causao solidria do resultado (REsp 37.280).

Assim, no caso narrado, para o STJ, ocorre a autoria colateral, que surge quando dois sujeitos, embora estejam agindo para a execuo de um mesmo fato delituoso, no esto ligados por qualquer liame subjetivo. Transcrevemos mais um trecho do REsp 37.280: nessa hiptese, os disparos devem ser examinados em relao a cada um dos responsveis, caracterizando-se, na espcie, a denominada autoria colateral. Assim, para o STJ, as condutas dos acusados que tambm atiraram (no caso, Joo e Jos) no integram uma ao conjunta de cooperao para o mesmo resultado (unidade de desgnios), tendo em vista as caractersticas particulares do caso. No ser necessria, dessa forma, a utilizao do art. 29 do CP (concurso de pessoas) para uma adequao tpica mediata ao crime de homicdio.

Como cada um responde pelo crime que praticou ou tentou praticar, o policial Joaquim responder por homicdio consumado, e os outros, Joo e Jos, respondero por homicdio tentado (pois tentaram matar o motorista, no conseguindo apenas por circunstncias alheias s suas vontades no caso, o erro de pontaria).

Comentrio Extra: Fala-se em concurso de pessoas quando duas ou mais pessoas concorrem para a prtica da infrao penal, podendo consistir em coautoria ou participao. A autoria colateral no espcie de concurso de pessoas, visto que no h o vnculo subjetivo (no h unidade de desgnios) entre os agentes do crime.

A coautoria, conforme a teoria formal objetiva, ocorre quando duas ou mais pessoas executam (ou tentam executar) os elementos do tipo penal (no necessariamente todos os coautores executam todos os elementos do tipo).

Para os que defendem a teoria do domnio do fato (normativa), coautor, alm de ser aquele que executa os elementos do tipo (nos termos da teoria formal objetiva), tambm pode ser aquele que, embora no execute essas elementares, teve uma conduta necessria e essencial para a prtica do crime.

Na viso da teoria formal objetiva, a participao ocorre quando o sujeito no pratica os atos executrios do crime (elementos do tipo penal), mas concorre para que, de qualquer modo, o crime seja realizado, auxiliando o(s) autor(es) moral e/ou materialmente, de forma acessria.

Na viso da teoria do domnio do fato (normativa), partcipe ser aquele que, no executando os elementos do tipo, pratica uma atividade acessria, auxiliando moral ou materialmente o(s) autor(es) do crime.

22. Certo A legtima defesa pode ser real ou putativa. A real est prevista no art. 25 do CP. J a legtima defesa putativa um erro cometido pelo agente, que pensa estar, de fato, se defendendo (ou defendendo outrem) de uma agresso injusta, atual ou iminente.

Os requisitos da legtima defesa real esto previstos no art. 25 do CP, e, dentre eles, est a injusta agresso, no importando de quem parte essa agresso. Ora, se um inimputvel comete a agresso, a sua culpabilidade ser excluda (dependendo do caso, pode ser imposta medida de segurana), mas isso no interfere com o fato de a agresso atingir injustamente a pessoa agredida. Assim, para defender-se, o agredido pode sim praticar a legtima defesa real.

23. ANULADA O caso narrado uma hiptese de legtima defesa putativa, que pode constituir hiptese de: a) erro sobre situao de fato (previsto no CP, art. 20, 1), ou b) erro sobre a injustia da agresso (subsumvel ao art. 21 do CP). pacfico na doutrina que a segunda hiptese constitui erro de proibio, que exclui a culpabilidade. Todavia, a doutrina diverge com relao primeira hiptese, a qual est sendo abordada no enunciado desta questo: parte defende constituir erro de proibio; outra parte defende constituir erro de tipo. Assim, acreditamos que a questo foi anulada por causar essa discusso doutrinria.

Comentrio Extra: O erro sobre a injustia da agresso pode ocorrer de duas formas: a) o sujeito supe que existe uma excludente e que est amparado pelo sistema jurdico (ex.: homicdio por legtima defesa da honra no existe); b) supe erroneamente que a excludente prevista no Direito est incidindo na ocorrncia ftica, o que no ocorre (o sujeito acredita que est em legtima defesa quando comete homicdio para se defender de uma ameaa de morte que no uma agresso atual ou iminente).

24. Certo 25. Errado O estado de necessidade de terceiro possui os mesmos requisitos que o estado de necessidade prprio, que so: a) deve existir perigo atual; b) o agente no pode ter provocado o perigo por sua vontade; c) no deve haver outra forma de evitar o perigo; d) no deve ser razovel exigir-se o sacrifcio do bem preservado.

Para que a conduta seja justificvel pelo estado de necessidade, deve ser efetuada para defender ou salvar um bem de igual ou maior valor que o bem que seria atingido. Dessa forma, razovel o sacrifcio de um bem ou interesse para a preservao do outro de valor igual ou maior.

No caso da questo 24, o bombeiro deixou de atender a um incndio para atender a outro, de maior gravidade. Assim, o bombeiro agiu em estado de necessidade de terceiros, pois razovel e justificvel sua conduta, que buscou preservar os bens ou interesses de maior vulto.

Recomendamos ao candidato leitura atenta das questes. Veja que, quanto questo 25, est errada porque no est dito nela que o agente praticou o fato lesivo ao bem alheio para defender ou salvar o bem prprio.

26. Errado O princpio da legalidade est presente no art. 1 do Cdigo Penal e art. 5, XXXIX, da CF. Para a maioria dos doutrinadores, sinnimo de princpio da reserva legal: No h crime sem lei anterior que o defina. No h pena sem prvia cominao legal.

Todavia, tambm h o entendimento de que so princpios diversos: a) o princpio da legalidade, que tem determinao geral, a determinao disposta no art. 5, II, da CF: ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei; e b) o princpio da reserva legal est disposto nos arts. 1 do CP e 5, XXXIX, da CF (em ambos, apenas a primeira parte). J a segunda parte destes dois dispositivos expressa o princpio da anterioridade.

J o que nos parece que essa questo adotou o entendimento tambm esposado por Fernando Capez (Curso de direito penal parte geral, Saraiva, 2005, v. I, p. 40), em que o princpio da legalidade corresponde aos arts. 1 do CP e 5, XXXIX, da CF, e nele esto embutidos os princpios da reserva legal (1 parte) e da anterioridade (2 parte).

Com relao s medidas de segurana, no so consideradas penas, pois tm predominantemente carter curativo e preventivo. J as penas so sanes penais que predominantemente tm carter retributivo. Tambm, pressuposto da aplicao da pena a presena de culpabilidade, ausente nos inimputveis.

Dessa forma, as medidas de segurana no so penas, mas no deixam de ter natureza penal, tambm com um carter punitivo. Por ter natureza penal, os princpios da reserva legal e da anterioridade tambm se aplicam s medidas de segurana, e a parte geral do Cdigo Penal lhe perfeitamente aplicvel, at porque elas esto previstas na parte geral deste cdigo.

Tambm ressaltamos que a culpabilidade pressuposto de aplicao da pena, e no pressuposto do crime: os inimputveis cometem crime, mas no lhes so aplicadas penas, e, sim, medidas de segurana.

27. ANULADA Esta questo, em princpio, foi considerada correta, mas no gabarito definitivo foi anulada, tendo em vista as divergncias da poca. Transcrevemos a justificativa oficial do CESPE para a anulao da questo: O entendimento do Superior Tribunal de Justia, desde o advento da Lei n. 9.268/96, era no sentido de que Procuradoria da Fazenda Nacional competia o ajuizamento da ao fiscal, por se tratar de dvida de valor, aplicando-se o rito da Lei n. 6.830. Todavia, conforme se verifica a partir das decises abaixo relacionadas, a matria no est pacificada entre as turmas do STJ, j que na 6 Turma prevalece a orientao anterior, motivo suficiente para a anulao do item.

PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. ART. 51 DO CDIGO PENAL. MULTA. ILEGITIMIDADE DO MINISTRIO PBLICO PARA PROPOR AO DE EXECUO. Encontra-se pacificada no mbito desta Corte a orientao no sentido de que o Ministrio Pblico no mais detm legitimidade para propor ao de execuo de pena de multa, em razo da nova sistemtica trazida pela Lei n. 9.268/96, que deu nova redao ao art. 51 do Cdigo Penal, passando a titularidade para a Fazenda Pblica. (Precedentes) (STJ AgRg. no AG 572.041, Rel. Min. Felix Fischer, DJ 25/10/2004),

Ao julgar o REsp 699.286, a 5 Turma do STJ deu nova orientao matria, ao decidir que: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. EXECUO PENAL. MULTA. COMPETNCIA DO MINISTRIO PBLICO. INTERPRETAO DO ART. 51 DO CP, COM ALTERAO DADA PELA LEI 9.268/96. Nos termos do art. 129, I, da Constituio Federal, cabe ao Ministrio Pblico, enquanto titular da ao penal, promover a execuo da pena de multa, perante o Juzo das Execues Penais. Recurso desprovido (STJ, REsp 699.286, Rel. Min. Jos Arnaldo da Fonseca, DJ 5/12/2005).

Atualmente, pacfico que esta questo est errada, no tendo o Ministrio Pblico legitimidade para executar a pena de multa.

Com a publicao da Lei n. 9.268/96, o art. 51 do CP passou a prever que, transitada em julgado a sentena condenatria, a pena de multa ser considerada dvida de valor, devendo ser aplicadas as normas relativas dvida ativa da Fazenda Pblica (Lei n. 6.830/80). Assim, surgiram controvrsias sobre a legitimidade para promover a execuo dessa multa.

Alguns entendiam ser a legitimidade do Ministrio Pblico para propor execuo de pena de multa perante o Juzo das Execues Penais, com fundamento, em sntese, no carter sancionatrio que a pena de multa conserva e na ausncia de modificao da competncia do Juzo penal, visto que houve mudana apenas do procedimento a ser adotado.

Todavia, atualmente entendimento dos Tribunais Superiores que a legitimidade para promover a execuo dessa multa da Fazenda Pblica perante o Juzo das execues fiscais, com a inscrio na dvida ativa, visto que, transitada em julgado a sentena condenatria, a multa considerada dvida de valor.

Comentrio Extra: Vale ressaltar que, aps o trnsito em julgado da multa, compete ao Juzo de Execues Penais intimar o condenado para que efetue o seu pagamento, s comunicando Fazenda Pblica para que se proceda execuo fiscal no juzo especializado se transcorrido o prazo do art. 50 do Cdigo Penal.

28. Errado Conforme explicado nas duas questes anteriores, o art. 51 do CP prev que, transitada em julgado a sentena condenatria, a pena de multa ser considerada dvida de valor, devendo ser aplicadas as normas relativas dvida ativa da Fazenda Pblica (Lei n. 6.830/80). Assim, a pena de multa, passando a ser dvida de valor, no pode ser convertida em pena privativa de liberdade, restando, somente, ao juzo das execues penais comunicar Fazenda Pblica para que se proceda execuo fiscal em face do devedor.

29. Errado O nico critrio utilizado para a reduo de pena na tentativa a maior ou menor proximidade da consumao do crime. Para melhor esclarecimento, o iter criminis pode ser dividido em fases: cogitao, atos preparatrios, atos de execuo e consumao. A cogitao no punvel. Os atos preparatrios podem ser punveis desde que constituam um tipo penal autnomo, ou seja, a aquisio de uma arma com a inteno de matar, se feita de forma regular, no punvel, mas se feita de forma ilegal, pode ser subsumvel ao tipo penal de porte ilegal de arma, por exemplo. J os atos de execuo e a consumao so punveis.

Assim, na hiptese de o cometimento do crime exigir a prtica de diversos atos (crime plurissubsistente), para apurar-se a quantidade de diminuio de pena pela tentativa, deve-se verificar que, desde o primeiro ato de execuo at o ltimo ato antes da consumao, haver um aumento progressivo da pena, devido aproximao da consumao. Assim, quanto mais a conduta praticada se aproximou da consumao, menos o juiz deve diminuir a pena.

Dessa forma, na tentativa branca ou incruenta (no atinge o objeto material do crime ou no provoca leses) haver mais reduo de pena que a tentativa vermelha ou cruenta (chega a atingir o objeto material do crime, ou provoca leses), visto que nesta ltima h maior proximidade da consumao do crime.

30. Errado Configura-se arrependimento posterior apenas quando preenchidos os requisitos do art. 16 do CP: nos crimes cometidos sem violncia ou grave ameaa pessoa, reparado o dano ou restituda a coisa, at o recebimento da denncia ou da queixa, por ato voluntrio do agente, a pena ser reduzida de um a dois teros.

Dessa forma, como a questo trata de crime de roubo (houve grave ameaa), no pode haver a diminuio de pena consistente no arrependimento posterior. O juiz dever aplicar a atenuante prevista no art. 65, III, b, segunda parte, que considera circunstncia atenuante o agente, antes do julgamento, ter reparado o dano, visto que nesse dispositivo no h determinao expressa excluindo os crimes cometidos com violncia ou grave ameaa.

31. Errado O perdo judicial hiptese de extino da punibilidade, nos termos do art. 107, IX, do CP. Assim, o ru no sofre nenhum efeito da sentena penal, nem principal (imposio de pena ou medida de segurana), nem secundrio, como, por exemplo, a caracterizao da reincidncia.

Comentrio Extra: A sentena que concede o perdo judicial, extinguindo a punibilidade do agente, tem natureza declaratria, e no condenatria. Nesse sentido, a Smula 18 do STJ: A sentena concessiva do perdo judicial declaratria da extino da punibilidade, no subsistindo qualquer efeito condenatrio.

32. Certo O indulto causa de extino de punibilidade, nos termos do art. 107, II, do CP. A concesso do indulto alcana apenas os efeitos principais da condenao (imposio de pena ou medida de segurana), no atingindo os efeitos secundrios da condenao, penais e extrapenais. Assim, a concesso do indulto no devolve a primariedade ao agente que, cometendo novo delito, ser considerado reincidente.

Comentrio Extra: O indulto pode ser benefcio de carter individual ou coletivo. Quando individual, tambm denominado graa. Nos termos do art. 2, I, da Lei n. 8.072/90, os crimes hediondos, a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo so insuscetveis de anistia, graa e indulto.

33. Certo As normas penais em branco so aquelas cujo tipo penal incompleto, dependendo de outra disposio normativa (outra lei ou atos administrativos, como, por exemplo, portarias administrativas com tabelas de preos) para complement-lo. Observamos que a sano, que o preceito secundrio da norma, determinada.

Comentrio Extra: As normas penais em branco podem ser classificadas em normas penais em branco em sentido lato (ou homogneas) e em sentido estrito (ou heterogneas).

As homogneas so aquelas que precisam, para completar seu tipo penal, de normas que so criadas pela mesma fonte formal da qual elas provieram. Por exemplo: lei que depende de lei para ser complementada. As heterogneas so complementadas por normas criadas por fonte formal diversa, como, por exemplo, lei que depende se uma portaria administrativa para ser complementada.

34. Certo Inimputabilidade a incapacidade total, real ou presumida (no caso da menoridade) de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

O critrio utilizado pela legislao penal brasileira para verificar a inimputabilidade devido maturidade do agente o critrio biolgico, analisando-se apenas a idade do autor do fato. Assim, no interessa analisar no caso concreto se o agente possua ou no incapacidade total de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se com esse entendimento no momento do crime. Por isso, presume-se essa incapacidade se o agente tem menos de dezoito anos.

Comentrio Extra: J o critrio utilizado pela legislao para verificar a inimputabilidade quanto sade mental o critrio biopsicolgico, que analisa no agente: a) a presena de doena mental e b) se, no momento do fato, tinha capacidade de entender a ilicitude do ato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Assim, para ser considerado inimputvel, o agente precisa possuir doena mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado somando-se incapacidade total de entender o carter ilcito do fato ou de determinar-se com esse entendimento no momento do crime.

35. Errado A abolitio criminis (causa da extino de punibilidade) ocorre quando uma lei deixa de considerar um fato como criminoso, revogando a lei anterior.

A lei posterior que deixa de considerar um fato como crime dever retroagir, no devendo subsistir qualquer efeito da condenao nem principal (imposio de penas e medidas de segurana), nem secundrio (ex.: aps o trnsito em julgado, provocar a reincidncia no caso de prtica de outro crime ou contraveno; lanamento do nome do ru no rol dos culpados etc.), conforme determina o art. 2 do CP: Ningum pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execuo e os efeitos penais da sentena condenatria.

A cessao dos efeitos da condenao tambm ocorre em virtude do art. 5, LX, da Constituio Federal, que diz: A lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru.

36. Certo De acordo com o art. 92, a, do CP, so efeitos da condenao a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica.

Ressaltamos que esses efeitos no so automticos, devendo ser motivadamente declarados na sentena.

37. Certo So efeitos especficos da condenao, de acordo com o art. 92, a, do CP, a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao de dever para com a Administrao Pblica.

Nesse caso, a perda do cargo, funo ou mandato permanente. At porque o art. 93, pargrafo nico, ressalta que est vedada a reintegrao na situao anterior.

Esse efeito especfico da condenao no se confunde com a pena de interdio temporria de direitos, prevista no art. 47 do CP. Uma dessas interdies temporrias a proibio de exerccio de cargo, funo, atividade pblica ou mandato eletivo. Guilherme de Souza Nucci (Cdigo Penal comentado, 9. ed., Revista dos Tribunais, p. 47-48) critica a aplicao dessa pena, que est dissociada dos princpios regeneradores da pena. Sustenta que, caso o erro cometido no exerccio da funo seja muito grave, deve deixar o cargo, funo, atividade ou mandato em definitivo.

38. Errado O art. 92, I e II, do CP determina a perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo somente nos seguintes casos:

a) Quando aplicada (pena in concreto, aplicada na sentena) pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a 1 (um) ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violao do dever para com a Administrao Pblica (esse efeito especfico da condenao pode ser aplicado somente pela prtica de crimes cometidos em decorrncia do exerccio da funo pblica).

b) Quando for aplicada (pena in concreto, aplicada na sentena) pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos (nos delitos que no so cometidos em razo do exerccio da funo).

Dessa forma, a questo est errada porque Fabrcio praticou um crime no decorrente do exerccio de suas funes pblicas, e, para haver a perda do cargo nos crimes comuns, a pena aplicada a Fabrcio deveria ser superior a 4 anos.

39. Errado O art. 92, III, do CP determina a inabilitao para dirigir veculo quando este utilizado como meio para a prtica de crime doloso, no podendo ser aplicada a inabilitao quando o crime culposo.

40. Errado Todas as hipteses previstas no art. 92 do CP (que determina os efeitos especficos da condenao) necessitam de declarao motivada na sentena, conforme determina o pargrafo nico do dispositivo.

41. Errado A restrio ao exerccio de cargo pblico um efeito especfico da condenao (art. 92 do Cdigo Penal) e necessita, para ser aplicada, conforme previso do pargrafo nico, de declarao motivada na sentena.

42. Errado Conforme Guilherme de Souza Nucci (Cdigo Penal comentado, 9. ed., Revista dos Tribunais, p. 92), reabilitao a declarao judicial de reinsero do sentenciado ao gozo de determinados direitos que foram atingidos pela condenao, e tem por finalidade estimular a regenerao.

O art. 93 do CP diz que a reabilitao assegura ao condenado o sigilo dos registros sobre seu processo e condenao. Pode ser requerida decorridos 2 (dois) anos do dia em que a pena for extinta ou cumprida.

Assim, a reabilitao alcana quaisquer penas aplicadas em sentena definitiva (art. 93), no sentido de que garante o sigilo dos registros sobre a condenao e aplicao das penas. Nos termos do art. 93, pargrafo nico, do CP, a reabilitao poder, tambm, atingir os efeitos da condenao previstos no art. 92 (no tocante ao sigilo dos registros) perda de cargo, funo pblica ou mandato eletivo; incapacidade para o exerccio do poder familiar, tutela ou curatela; e inabilitao para dirigir veculo , vedada a reintegrao na situao anterior nos dois primeiros casos.

43. Errado Nos termos de Guilherme de Souza Nucci (Cdigo Penal comentado, 9. ed., Revista dos Tribunais, p. 373), a perda de bens e valores uma sano penal com carter confiscatrio ( um confisco legalmente previsto).

O art. 5, XLVI, da Constituio Federal dispe que a lei adotar, entre outras, as seguintes penas: a) privao ou restrio de liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestao social alternativa; e) suspenso ou interdio de direitos.

Dessa forma, a perda de bens como sano criminal est prevista na Constituio Federal, estando regulada pelo Cdigo Penal, arts. 43, II, e 45, 3, que diz: a perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-, ressalvada a legislao especial, em favor do Fundo Penitencirio Nacional, e seu valor ter como teto o que for maior o montante do prejuzo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequncia da prtica do crime.

Tambm o CP trata da perda de bens em seu art. 91, que determina ser efeito da condenao: a perda de bens, em favor da Unio, dos instrumentos do crime (desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienao, uso, porte ou deteno constitua fato ilcito) e do produto do crime ou de qualquer outro bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prtica do fato criminoso.

Tambm, na Constituio Federal, h outra hiptese de confisco, previsto no art. 243 da Constituio Federal, que diz: as glebas de qualquer regio do Pas onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrpicas sero imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentcios e medicamentosos, sem qualquer indenizao ao proprietrio e sem prejuzo de outras sanes previstas em lei. Pargrafo nico: Todo e qualquer bem de valor econmico apreendido em decorrncia do trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins ser confiscado e reverter em benefcio de instituies e pessoal especializados no tratamento e recuperao de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalizao, controle, preveno e represso do crime de trfico dessas substncias.

Assim, nos casos acima expostos pela Constituio Federal e pela legislao Penal, o patrimnio dos indivduos no est garantido contra o confisco. Ateno: a Constituio Federal dispe sobre a proibio do confisco no art. 150, IV norma sobre as limitaes ao poder de tributar, a qual probe a Unio, os Estados, o DF e os Municpios de utilizar tributo com efeito de confisco.

44. Certo O art. 114, I e II, do Cdigo Penal determina: A prescrio da pena de multa ocorrer: I em dois anos, quando a multa for a nica cominada ou aplicada; II no mesmo prazo estabelecido para prescrio da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada.

45. Certo O art. 119 do Cdigo Penal diz: No caso de concurso de crimes, a extino da punibilidade incidir sobre a pena de cada um, isoladamente.

46. Certo A questo trata da prescrio virtual, tambm denominada antecipada, projetada ou em perspectiva. Essa prescrio, no prevista na legislao, era reconhecida por alguns Juzes com base em provvel pena que seria aplicada se houvesse o prosseguimento do processo e a condenao. Esclarecendo: h trs espcies de prescrio da pretenso punitiva legalmente previstas:

a) Propriamente dita: pronunciada antes da sentena de primeiro grau. calculada com base na pena mxima abstratamente cominada no tipo penal. Ocorre pela inrcia do Estado (considerando-se as causas suspensivas e interruptivas da prescrio, pelo tempo previsto no art. 109) desde a prtica do crime at a sentena condenatria.

b) Intercorrente ou superveniente sentena condenatria: pronunciada depois da sentena condenatria de primeiro grau. Calculada com base na pena concretamente aplicada na sentena condenatria (ou no acrdo substitutivo da sentena), ocorre pela inrcia do Estado (pelo tempo previsto no art. 109 do CP) a partir da sentena condenatria.

c) Retroativa: pronunciada depois da sentena condenatria de primeiro grau. Calculada com base na pena concretamente aplicada na sentena condenatria (ou no acrdo substitutivo da sentena) e ocorre pela inrcia do Estado (considerando-se as causas suspensivas e interruptivas da prescrio, pelo tempo previsto no art. 109 do CP) desde a prtica do crime at a sentena condenatria.

Observamos que, nos casos de prescrio intercorrente e retroativa, se houver recurso da acusao, deve-se aguardar o acrdo substitutivo da sentena para declar-las, pois a pena pode ser aumentada. Se somente houver recurso da defesa, pode-se declar-las imediatamente, pois a pena no poder ser aumentada.

A prescrio virtual era pronunciada antes da sentena, calculada com base na pena que provavelmente seria aplicada na sentena condenatria. Assim, utilizava-se como base da extino de punibilidade uma pena ainda no aplicada, ainda no fundamentada. Por esse motivo, os tribunais a renegaram: a pena concretamente aplicada somente pode ser considerada aps a prolao da sentena, e no antes, como ocorria com o reconhecimento da prescrio virtual, numa atividade juridicamente inexistente, sem fundamento, quase beirando uma vidncia jurdica.

Atualmente, a Smula 438 do STJ a probe, orientando ser inadmissvel a extino da punibilidade pela prescrio da pretenso punitiva com fundamento em pena hipottica, independentemente da existncia ou sorte do processo penal.

O STJ, no RHC 18.569/MG, entendeu que a chamada prescrio antecipada, em perspectiva ou virtual, no tem previso legal e repudiada pela jurisprudncia do STF e do STJ, visto violar o princpio da presuno de inocncia e da individualizao da pena (que ser ainda aplicada). O mero fato de ser a recorrente primria e de bons antecedentes no lhe garante a aplicao, por presuno, de pena mnima para efeito do cmputo do prazo prescricional, pois o juzo singular quem deve aplic-la no caso de eventual condenao, valorando cada uma das circunstncias do art. 59 do CP.

Comentrio Extra: A prescrio da pretenso executria (que atinge a execuo da pena imposta na sentena condenatria) pode ocorrer somente aps o trnsito em julgado para a acusao, distinguindo-se, por isso, da prescrio da pretenso punitiva. Outra caracterstica diferencial que a prescrio da pretenso executria s extingue a pena principal, no produzindo efeitos sobre os efeitos secundrios da condenao, penais ou extrapenais.

47. Errado A decadncia a perda do direito de promover a ao penal exclusivamente privada ou a ao penal privada subsidiria da pblica, e a perda do direito de representar nas aes penais pblicas condicionadas representao.

A perda do direito de punir, pelo Estado, denomina-se prescrio, e ocorre em todos os tipos de aes. Nas aes exclusivamente privadas, essa perda do direito de punir ocorre junto com a perda do direito de promover a ao penal (decadncia).

48. Errado A questo, poca, foi considerada correta, pois o art. 107 do CP, que dispe sobre as causas de extino da punibilidade, ainda no tinha sido modificado pela Lei n. 11.106/2005. Essa lei revogou expressamente o inciso VII desse dispositivo, que determinava a extino da punibilidade pelo casamento do agente com a vtima nos crimes contra os costumes.

49. Errado 50. Errado Nos termos do art. 108 do CP, segunda parte, nos crimes conexos, a extino da punibilidade de um deles no impede, quanto aos outros, a agravao da pena resultante da conexo.

51. Certo A medida de segurana espcie de sano penal, e, por isso, sujeita-se ao instituto da prescrio.

de diferenciar a prescrio da pretenso executria da medida de segurana (da qual se trata na questo) com o prazo mximo de cumprimento da medida de segurana (durao da medida de segurana), caso que tambm tratado (acreditamos que impropriamente) como prescrio da medida de segurana.

Esta questo trata do prazo que o Estado tem para executar (ou continuar executando, no caso de interrupo do cumprimento, ex vi legis, no caso de fuga) a medida de segurana imposta ao ru (se o ru est cumprindo a pena, o prazo prescricional est interrompido).

entendimento pacfico nos Tribunais Superiores que haver prescrio da pretenso executria se, entre o trnsito em julgado (para a acusao) da sentena absolutria imprpria e o incio de cumprimento da medida de segurana (ou entre a interrupo do cumprimento da medida e a continuao do seu cumprimento), transcorrer prazo superior ao tempo previsto no art. 109 do CP, considerada a pena mxima cominada abstratamente ao crime praticado. Isso porque, tratando-se de sentena absolutria, em razo da inimputabilidade do ru, no h pena concretizada em sentena, devendo-se trabalhar com o mximo da pena cominada ao crime.

Comentrio Extra: Quanto ao tempo mximo de cumprimento da medida de segurana (prescrio da medida de segurana), o STJ e o STF tm entendimento de que a medida de segurana deve durar enquanto perdurar a periculosidade do agente. Todavia, segundo o entendimento do STF, diante da inexistncia de priso de carter perptuo, o prazo limita-se a 30 anos, por analogia ao art. 75 do CP. Ressaltamos que, recentemente, o STJ est decidindo pela limitao temporal de 30 anos.

Impende ressaltar que h entendimentos isolados de que a sentena que aplica medida de segurana, por ser absolutria, no tem o condo de interromper o curso do prazo prescricional, nos termos do inciso IV do art. 117 do CP (refere-se sentena condenatria), devendo o prazo prescricional da medida de segurana ser contado do recebimento da denncia at o incio do cumprimento da medida de segurana, oportunidade em que ser interrompido, nos termos do art. 117, V, do CP. Nesse caso, aps o trnsito em julgado da sentena para a acusao, as prescries da pretenso punitiva e executria se confundem.

52. Certo Crimes prprios so aqueles que no podem ser cometidos por qualquer pessoa, pois o agente do crime precisa ter ou estar numa condio especfica exigida pelo tipo penal. Ex.: est previsto no tipo penal do crime de peculato que o sujeito ativo o funcionrio pblico. Dessa forma, no toda pessoa que pode praticar o crime de peculato. Ento, um crime prprio.

Todavia, existem situaes em que os crimes prprios podem ser praticados por algum que no tenha ou no esteja na situao especial exigida pelo tipo penal. Ex.: uma pessoa comum pode praticar peculato se estiver agindo em concurso de pessoas com um funcionrio pblico. Assim, nesse caso, esse sujeito comum depende do funcionrio pblico para praticar o crime. Isso decorre da aplicao da teoria unitria, monista ou monstica, presente no art. 29 do CP: quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas.

Todavia, o Cdigo Penal exclui, em alguns crimes (o que ocorre em alguns crimes prprios), a aplicao da teoria monista (aplicando-se, nesses casos, a teoria pluralstica), fazendo existir outro tipo penal no qual se subsume o sujeito no qualificado pela condio especfica exigida pelo tipo penal (provavelmente porque o legislador achou mais conveniente a separao de condutas ou porque o sujeito que no detm a condio especial deva receber uma punio diferenciada, dentre outras hipteses). Ex.: em vez de o agente provocador do aborto responder por aborto juntamente com a grvida (art. 124: provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque), h um tipo penal diverso para ele (art. 126: provocar aborto com o consentimento da gestante), cominando pena mais grave.

Dessa forma, h casos em que o Cdigo Penal excepciona a teoria monista, prevendo outro crime no qual se adapta o sujeito que seria o coautor do crime prprio. Esse outro crime classificado como crime prprio impuro necessariamente, um dos elementos de seu tipo a pessoa que est ou tem uma condio especial (ex.: um dos elementos do tipo do art. 126 a gestante).

II. PENAL PARTE ESPECIAL1. E O art. 16 do Cdigo Penal prev o arrependimento posterior (posterior consumao do crime): Nos crimes cometidos sem violncia ou grave ameaa pessoa, reparado o dano ou restituda a coisa, at o recebimento da denncia ou da queixa, por ato voluntrio do agente, a pena ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois teros).

Transcrevemos os dispositivos legais referentes s alternativas transcritas erroneamente d e c:

Art. 21 do Cdigo Penal (alternativa d): O desconhecimento da lei inescusvel. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitvel, isenta de pena; se evitvel, poder diminu-la de um sexto a um tero.

Art. 22 do Cdigo Penal (alternativa c) Se o fato cometido sob coao irresistvel ou em estrita obedincia a ordem, no manifestamente ilegal, de superior hierrquico, s punvel o autor da coao ou da ordem.

Com relao alternativa b, a simples presena do sistema eletrnico de vigilncia no supermercado no torna o crime impossvel, de acordo com pacfica jurisprudncia do STJ: O sistema eletrnico de vigilncia do supermercado dificulta a ocorrncia de furtos no interior do estabelecimento, mas no capaz de impedir sua ocorrncia. Assim, no prevalece a tese do Tribunal a quo de que o esquema de vigilncia com uso de cmeras de vdeo instaladas no interior da loja torna ineficaz o meio para furtar mercadorias. Se no h absoluta impossibilidade de consumao do delito, no h que se falar em crime impossvel (REsp 757.642/RS). Ainda: No comporta, para o reconhecimento de crime impossvel, a simples alegao de que o ru foi observado ou flagrado pelo servio de segurana do estabelecimento, uma vez que tal servio nem sempre consegue, de forma absoluta, impedir a consumao dos delitos patrimoniais (HC 186.737, julgado em 23/4/2013).

Finalmente, a alternativa a est errada porque no ocorre caso de culpa por impercia, mas, sim, causa de aumento de pena (1/3 um tero) devido inobservncia de regra tcnica de profisso, com previso no art. 121, 4 (no caso de homicdio culposo) ou no art. 129, 7 (no caso de leso corporal culposa).

2. C O art. 181, I e II, do Cdigo Penal prev iseno de pena (imunidade absoluta) para os sujeitos que praticarem alguns crimes contra o patrimnio contra o cnjuge, na constncia da sociedade conjugal, e contra ascendente ou descendente.

O art. 183, I e III, determina que no se aplica a imunidade absoluta se o crime utilizado com o emprego de grave ameaa ou violncia pessoa e se o crime praticado contra pessoa com idade igual ou superior a sessenta anos. Dessa forma, tendo em vista esta ltima disposio legal, Roberto praticou crime de furto, pois se a vtima possui idade igual ou superior a sessenta anos, no h qualquer imunidade para o agente.

Quanto a terceiros coautores e partcipes, o art. 183, II, determina que no se aplica a imunidade penal ao estranho que participa do crime. Assim, Felipe pratica receptao culposa, prevista no art. 180, 3, do CP: Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporo entre o valor e o preo, ou pela condio de quem oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.

3. Certo Nas palavras de Damsio Evangelista de Jesus, honra subjetiva o sentimento de cada um a respeito de seus atributos fsicos, intelectuais, morais e demais dotes da pessoa humana. aquilo que cada um pensa a respeito de si mesmo em relao a tais atributos. J a honra objetiva a reputao, aquilo que os outros pensam a respeito da pessoa no tocante a seus atributos fsicos, intelectuais, morais etc. o sentimento alheio incidindo sobre nossos atributos (Direito penal parte especial, 22. ed., Saraiva, v. 2, p. 197). Quem ofende a honra subjetiva de outrem, imputando-lhe qualidades negativas, pratica injria.

Nos termos da Smula 714 do STF, concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministrio Pblico, condicionada representao do ofendido, para a ao penal por crime contra a honra de servidor pblico em razo do exerccio de suas funes. Assim, a ao penal poder ser proposta pelo ofendido ou pelo Ministrio Pblico. Caso a ao seja proposta pelo ofendido mediante queixa, ser privada. Todavia, caso seja proposta pelo MP, a ao penal deve ser pblica condicionada representao do ofendido.

Comentrio Extra: A difamao imputao, vtima, de fato (verdadeiro ou no) que ofenda sua honra objetiva, ou seja, sua reputao. J a calnia a falsa imputao de fato descrito como crime. Atinge, como na difamao, a honra objetiva da vtima.

4. D necessrio explicar as diferenas entre os crimes de injria, difamao e calnia.

A injria a ofensa honra subjetiva da vtima (sentimento que temos a respeito de nossos atributos fsicos, intelectuais e morais), imputando a ela qualidades negativas (e no a prtica de fatos, o que ocorre na difamao). Conforme explica Damsio E. de Jesus (Direito penal parte especial, 22. ed., Saraiva, v. 2, p. 197), a honra subjetiva pode ser classificada em honra dignidade, que o conjunto de atributos morais da pessoa, e honra decoro, que o conjunto de atributos fsicos e intelectuais da pessoa.

A difamao imputao, a algum, de fato (verdadeiro ou no) que ofenda sua honra objetiva, ou seja, fatos ofensivos sua reputao (aquilo que os outros pensam a respeito da pessoa no tocante a seus atributos fsicos, intelectuais e morais).

A calnia a falsa imputao, a algum, de fato descrito como crime. Atinge, como na difamao, a honra objetiva da vtima.

Assim, qualificando A de burro e canalha, pratica crime de injria, pois atribui qualidades negativas vtima (no atribui fatos, o que ocorre na difamao e calnia), ofendendo o sentimento que tem a respeito de seus prprios atributos morais.

5. Certo O art. 140, 1, diz que o juiz pode deixar de aplicar a pena quando: a) o ofendido, de forma reprovvel, provocou diretamente a injria, e b) no caso de retorso imediata, que consista em outra injria.

O juiz aplica o perdo judicial ao deixar de aplicar a pena, extinguindo a punibilidade do agente. O art. 107, IX, do CP, que dispe sobre as causas de extino de punibilidade, prev: extingue-se a punibilidade do agente: pelo perdo judicial, nos casos previstos em lei.

Comentrio Extra: Com o perdo judicial, o ru no sofre nenhum efeito da sentena penal, nem principal (imposio de pena ou medida de segurana), nem secundrio, como, por exemplo, a caracterizao da reincidncia.

6. Certo O art. 202 do CP dispe sobre o crime de invaso de estabelecimento industrial, comercial ou agrcola: Invadir ou ocupar estabelecimento industrial, comercial ou agrcola, com o intuito de impedir ou embaraar o curso normal do trabalho (...). Esse mesmo artigo tambm prev o crime de sabotagem: (...) ou com o mesmo fim danificar o estabelecimento ou as coisas nele existentes ou delas dispor. Ressaltamos que deve haver o elemento subjetivo do tipo com o intuito de impedir ou embaraar o curso normal do trabalho.

7. Certo A competncia s da Justia Federal quando os fatos ocorridos corresponderem a pelo menos uma das hipteses previstas no art. 109 da Constituio Federal. Esse artigo, inciso VI, primeira parte, determina ser da competncia dos Juzes Federais processar e julgar os crimes contra a organizao do trabalho.

Todavia, esse dispositivo constitucional trata dos crimes contra a organizao do trabalho que afetem somente a organizao do trabalho como um todo. Dessa forma, se houver cometimento de crime contra a organizao do trabalho previsto no Cdigo Penal e que afete apenas grupo delimitado de trabalhadores ou trabalhadores individualmente considerados, a competncia da Justia Estadual. Nesse sentido, consultar Informativo STJ 258, de agosto de 2005. Ver tambm no STJ: CC 108.867/SP, julgamento em 24/3/2010.

8. Certo Nesse caso, houve a falsificao de documento pblico para, posteriormente, utilizar o objeto do crime, com um nexo de dependncia entre os crimes.

O STJ, no HC 107.103/GO, julgado em 19/10/2010, esclareceu: ... observou o Min. Relator ser pacfico o entendimento doutrinrio e jurisprudencial de que o agente que pratica as condutas de falsificar documento e de us-lo deve responder por apenas um delito. Assim, a questo consistiria em saber em que tipo penal, se falsificao de documento pblico ou uso de documento falso, estaria incurso o paciente. Para o Min. Relator, seguindo entendimento do STF, se o mesmo sujeito falsifica documento e, em seguida, faz uso dele, responde apenas pela falsificao. Destarte, impe-se o afastamento da condenao do ora paciente pelo crime de uso de documento falso, remanescendo a imputao de falsificao de documento pblico. Registrou que, apesar de seu comportamento reprovvel, a condenao pelo falso (art. 297 do CP) e pelo uso de documento falso (art. 304 do CP) traduz ofensa ao princpio que veda o bis in idem, j que a utilizao pelo prprio agente do documento que anteriormente falsificara constitui fato posterior impunvel, principalmente porque o bem jurdico tutelado, ou seja, a f pblica, foi malferido no momento em que se constituiu a falsificao. Significa, portanto, que a posterior utilizao do documento pelo prprio autor do falso consubstancia, em si, desdobramento dos efeitos da infrao anterior.

No Informativo 136, de maio de 2002, o STJ veiculou julgado que entendeu que o uso de documento falso pelo prprio autor da falsificao configura um nico delito: o do art. 297 do CP (falsificao de documento pblico), pois, na hiptese, o uso do documento falsificado mero exaurimento do crime de falsum. Assim, nesse caso, o uso de documento falso post factum impunvel.

Guilherme de Souza Nucci, em seus comentrios sobre a aplicao do princpio da consuno nos crimes contra a f pblica, leciona: (...) quando a infrao prevista na primeira norma constituir simples fase de realizao da segunda infrao, prevista em dispositivo diverso, deve-se aplicar apenas a ltima. Trata-se da hiptese do crime-meio e do crime-fim. Conforme esclarece Nics, ocorre a consuno quando determinado tipo penal absorve o desvalor de outro, excluindo-se este da sua funo punitiva. A consuno provoca o esvaziamento de uma das normas, que desaparece subsumida pela outra (Cdigo Penal comentado, 6. ed., So Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 111).

Comentrio Extra: No STF, foi publicado no Informativo 361, de setembro de 2004, o seguinte: Entendeu-se, com base na jurisprudncia do STF, que o uso de documento falso, pelo prprio autor da falsificao, configura um s crime, qual seja, o de falsificao.

Nesse julgado, foi citada orientao de Damsio de Jesus (Direito penal parte especial, v. 4/85, item n. 6, 12. ed., Saraiva, 2002): Se o sujeito falsifica o documento e em seguida usa-o, responde por um s delito: o de falsidade, em qualquer de suas formas tpicas (falsificao de documento pblico ou particular, falsidade ideolgica etc.). A unidade complexa que, segundo a doutrina, considerada uma s conduta, composta de duas aes simples (falsificar e usar o documento), apresenta os requisitos exigidos para que, na progresso criminosa, seja aplicado o princpio do post factum impunvel: unidade de objeto material, ofensa ao mesmo bem jurdico (f pblica), de titularidade do mesmo sujeito passivo (o Estado). O delito de falso possui a potencialidade lesiva que o uso do objeto material procura concretizar. Consumado o falso, o sujeito realiza o fato posterior do uso, atingindo o mesmo bem jurdico e do mesmo sujeito passivo, procurando tirar proveito da conduta antecedente, mas sem causar ofensa jurdica diversa.

9. B O art. 299, caput, do Cdigo Penal, tipifica o crime de falsidade ideolgica: Omitir, em documento pblico ou particular, declarao que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declarao falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigao ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

Ressaltamos que deve haver, para a tipificao do crime, o elemento subjetivo especfico, que o dolo de prejudicar direito, criar obrigao ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.

10. Errado O art. 297 do Cdigo Penal determina, em seu 1, que, se o agente funcionrio pblico, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

Dessa forma, no um indiferente penal ser funcionrio pblico e ter se prevalecido do cargo, visto que uma causa de aumento de pena.

11. Errado O art. 289 do Cdigo Penal prev o crime de moeda falsa: Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metlica ou papel-moeda de curso legal no pas ou no estrangeiro. O seu 4 determina: Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulao no estava ainda autorizada. Assim, a conduta narrada na questo est tipificada como crime neste ltimo dispositivo.

12. Errado A questo no deveria ter sido considerada errada, pois a afirmao verdadeira. Explicamos:

O crime de moeda falsa formal, pois no exige, para sua consumao, que ocorra algum resultado naturalstico danoso resultante da falsificao, fabricao, alterao da moeda falsa, dentre outras condutas previstas no art. 289 e seus pargrafos. irrelevante, para haver a consumao do crime formal, que o dano efetivamente ocorra ou no.

crime de perigo porque, para haver a consumao, basta que o bem seja exposto ao perigo de dano, prescindindo do resultado lesivo a terceiros (ao contrrio dos crimes de dano, que somente se consumam com a efetiva leso ao bem jurdico).

Sobre o fato de o crime de moeda falsa admitir tentativa, devemos falar na possibilidade de haver tentativa se o crime plurissubsistente, ou seja, constitudo por vrios atos.

O crime de moeda falsa um crime de ao mltipla ou de contedo variado (o tipo penal descreve vrios modos de realizao do crime), ou seja, pode ser cometido por vrias condutas, como exposto no art. 289 e seus pargrafos. Entendemos que a maioria das condutas admite a tentativa, visto que podem consistir em crimes plurissubsistentes, ou seja, praticados por vrios atos, podendo a conduta, assim, ser fracionada. Dessa forma, se cometido na forma plurissubsistente, admite tentativa; se cometido na forma unissubsistente, no a admite.

Comentrio Extra: O art. 291 do CP tipifica o crime de petrechos para falsificao de moeda. Observamos que, se no houvesse esse tipo penal, as condutas a ele subsumveis no seriam punveis, pois pertencentes apenas fase de preparao do iter criminis do crime de moeda falsa.

Ressaltamos, ainda, que, se o sujeito responsabilizado pelo crime de moeda falsa (art. 289 do CP), no ser punido pelo art. 291 do CP (crime subsidirio ao de moeda falsa), pois o crime de petrechos para falsificao de moeda ser absorvido por aquele.

13. Errado A falsidade material cria um novo documento ou altera o documento verdadeiro. A criao de um documento falso significa que o instrumento (ou parte dele) que contm ou demonstra as informaes no se origina da fonte verdadeira. J a modificao do documento que era verdadeiro implica introduzir ou suprimir elementos no instrumento verdadeiro.

J no crime de falsidade ideolgica, a falsidade incide sobre o contedo do documento, que, em sua materialidade perfeito. A ideia lanada no documento que falsa (Rogrio Greco, Cdigo Penal comentado, Impetus, 2008, p. 1.175).

14. Errado A introduo de foto na carteira de identidade de outrem significa alterar documento pblico verdadeiro falsidade material. Somente com esse raciocnio j daria para responder questo corretamente.

Todavia, a conduta foi praticada apenas com a finalidade de entrar no clube esportivo, no havendo dolo do agente em atingir a f pblica. Com isso, no demonstrou-se potencialidade lesiva da conduta para atingir o objeto jurdico tutelado no crime de falsificao de documento pblico. Assim, a conduta no constitui crime, pois o nico objetivo era entrar no clube esportivo.

15. Errado A questo foi considerada errada pelo fato de no admitir que o crime de Falsidade de Atestado Mdico admita tentativa. Para quem entende no haver possibilidade de tentativa, a elaborao do atestado falso no faz parte da fase executria do iter criminis, sendo conduta criminosa apenas o verbo dar. Com esse raciocnio, o crime seria unissubsistente (praticado por um ato incindvel), no admitindo, por isso, a tentativa.

Segundo nosso entendimento, nada impede que o fornecimento de atestado mdico possa ser tentado: pode haver a tentativa de dar o atestado mdico falso com a mera confeco do atestado, por exemplo.

Outrossim, a questo est correta quando afirma que o crime prprio, porque somente pode ser sujeito ativo pessoa que tenha a qualificao de mdico.

16. Errado O art. 291 do CP transforma em crime a fase de preparao para a falsificao de moeda consistente na posse dos petrechos para falsificao. Estando prevista a conduta em tipo penal autnomo, no necessria a adequao tpica de subordinao mediata, consistente na aplicao do art. 14, II (tentativa), em concurso com o crime de moeda falsa. Todavia, se o agente efetivamente pratica a falsificao da moeda, no responder pelos dois crimes, porque o crime de petrechos para falsificao de moeda ser absorvido pelo crime de moeda falsa.

17. Errado A afirmativa pode estar errada sob duas ticas: pode-se entender que h apenas o crime de falsidade de documento pblico e pode-se entender que no houve o cometimento de crime.

a) Justificativa para o primeiro caso (existncia apenas do crime de falsidade de documento pblico): Maria inseriu dados falsos em sua carteira de trabalho, conduta descrita no art. 297, 3, II, do Cdigo Penal: (...) insere ou faz inserir na Carteira de Trabalho e Previdncia Social do empregado (...), declarao falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita). O objetivo no era produzir efeitos perante a Previdncia Social, mas houve a prtica da conduta ofensiva f pblica, at porque os dados falsos, permanecendo na Carteira Profissional, esto aptos (h potencialidade lesiva) para causar danos f pblica.

No tocante ao concurso de crimes, Maria inseriu os dados falsos porque visava adquirir alguns bens a crdito, e, para isso, deveria fazer uso da Carteira de Trabalho. Assim, o uso do documento falso foi apenas uma decorrncia necessria da falsificao a inteno do uso foi tirar proveito da falsificao, sem causar ofensa jurdica diversa. Nesse caso, o crime de uso de documento falso constituiu exaurimento do crime de falsidade de documento pblico, ou seja, constitui um post factum impunvel, e o agente deve ser responsabilizado apenas pela falsificao, pois o crime meio absorve o crime fim. Nesse sentido: STJ, CC 31.571: de se reconhecer a ocorrncia de consuno, quando o uso do documento falso constitui exaurimento do crime de falsidade ideolgica. O uso de documento falso pelo prprio autor da falsificao configura um s crime, qual seja, o de falsificao, devendo a competncia ser definida pelo lugar onde este delito se consumou.

b) Justificativa para a ausncia de crime: o crime de falsificao de documento pblico tutela a f pblica. Especificamente, o art. 297, 3, II, do Cdigo Penal tutela a f pblica no contexto da Previdncia Social. Como a questo demonstrou que Maria anotou dados falsos na Carteira Profissional apenas com o fim de adquirir alguns bens a crdito, no indicando qualquer inteno em utilizar os dados para obter qualquer outra vantagem, no h potencialidade lesiva para causar danos f pblica e, dessa forma, no h crime.

18. Errado O STJ no entende a conduta descrita nesta questo como tpica, ou seja, no h o dolo do crime de falsa identidade. O agente pratica a conduta para evitar o cerceamento de sua liberdade, por desdobramento do direito ao silncio, pela garantia constitucional de permanecer calado, constitucionalmente protegida (art. 5, LXIII, da CF/88).

O STJ, no HC 130.309, de 4/6/2009, entendeu que a conduta do acusado que, em interrogatrio policial, atribui-se falsa identidade, visa impedir o cerceamento da liberdade, e no ofender a f pblica, consistindo, assim, em exerccio da autodefesa, ante o princpio nemo tenetur se detegere, o qual consagra o direito do acusado de permanecer silente, no sendo compelido a produzir prova contra si mesmo.

Tambm, no HC 56.824/SP, noticiado no Informativo STJ 393, de maio de 2009, entendeu-se que a conduta de um foragido da Justia, ao apresentar a autoridade policial documento falso, embora se amolde prevista no art. 304 do Cdigo Penal, pode ser caracterizada como autodefesa. No caso, o paciente fez uso de documento falso ao apresentar autoridade policial uma carteira de habilitao falsa.

Todavia, o STF, por maioria, entende que a atribuio de falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar antecedentes no configura autodefesa (RE 561.704, 3/3/2009, Informativo 537).

19. Errado O art. 299 do CP, que prev o crime de falsidade ideolgica, descreve trs condutas tpicas, dentre as quais a de inserir declarao falsa em documento pblico ou particular. Todavia, em que pese a conduta descrita na questo possuir os mesmos elementos do tipo penal da falsidade ideolgica, a conduta narrada, em obedincia ao princpio da especialidade, deve subsumir-se ao art. 293, V, do CP, que prev o crime de falsificao de papis pblicos. Dessa forma, como esse dispositivo refere-se a guia, isto , impresso para pagamento de tributos, depsitos ou qualquer outro documento relativo arrecadao de rendas pblicas, um tipo penal com conduta mais especfica, o qual contm elementos do tipo que se adaptam perfeitamente ao fato delituoso da questo (REsp 705.288, j. em 4/8/2005).

20. Certo Segundo entendimento do STJ, a falsificao grosseira, notada pelo homem comum, afasta a tipicidade do crime de uso de documento falso, por absoluta ineficcia do meio empregado (HC 119.054).

Assim, para se verificar a tipicidade da conduta, h de se verificar se o documento falsificado tem potencialidade para lesar a f pblica. Sendo nitidamente grosseira a falsificao, no configura, por si, o falsum (ou o crime de uso do falsum), podendo, todavia, ser meio ou instrumento para a prtica de outro crime (STJ, HC 24.853).

21. Errado Para a ocorrncia do crime de emisso de ttulo ao portador sem permisso legal, previsto no art. 292, do Cdigo Penal, necessria a emisso de nota (ou bilhete, ficha, vale, ttulo) ao portador ou sem o nome do destinatrio, que contenha promessa de pagamento em dinheiro, sem permisso legal.

A finalidade de existncia deste tipo penal evitar que papis no autorizados pela lei passem a ocupar, gradativamente, o lugar da moeda. Ora, se a nota inominada, pode ser negociada, entrar em circulao e substituir a moeda (Guilherme de Souza Nucci, Cdigo Penal comentado, 9. ed., Revista dos Tribunais, 2009, p. 1.010).

A questo est errada porque foi emitida uma nota promissria, que um ttulo de crdito regulamentado por lei especfica, a qual confere a possibilidade de circulao sem a indicao do beneficirio (endosso em branco).

O art. 54 do Decreto n. 57.663/96 (Lei Uniforme de Genebra) especifica os requisitos essenciais de uma nota promissria. Em seu 1 est disposto: Presume-se ter o portador o mandato para inserir a data e lugar da emisso da nota promissria que no contiver estes requisitos.

Comentrio Extra: O STJ, no REsp 598.891, proferiu a seguinte deciso: lcito emitir nota promissria em branco, para que o valor seja posteriormente preenchido pelo credor. O preenchimento, entretanto, pode acarretar a nulidade do ttulo se o credor agir de m-f, impondo ao devedor obrigao cambial sabidamente superior prometida. Ainda que se afaste a tese da existncia de falsidade ideolgica, o ttulo fica maculado pela quebra da boa-f, princpio regente do direito privado e ignorado por quem preencheu a nota promissria.

22. Errado O vereador praticou o crime de concusso. Observamos que o elemento diferenciador da concusso e da corrupo passiva, dois crimes praticados por funcionrio pblico em razo do exerccio de suas funes, o fato de que, na concusso, h exigncia, e na corrupo passiva, h solicitao, aceitao ou recebimento de valores. A exigncia consiste num ato intimidativo ou ameaador, no precisando ser violento.

23. Errado Na verdade, a questo no exigiu a diferena entre os crimes, mas, sim, os elementos de cada um. Assim, quando referiu-se ao crime de corrupo passiva, no mencionou outra conduta, tambm pertencente ao tipo penal: aceitar promessa de tal vantagem. Observe que o termo nica j nos d a dica de que algo pode estar errado. Muito cuidado com as transcries de lei pode haver uma pequena mudana ou omisso que torna a alternativa errada.

24. Errado A conduta subsume-se perfeitamente ao tipo penal do art. 317 do CP (corrupo passiva), pois o funcionrio pblico recebeu, para outrem (a repartio pblica), vantagem indevida, em razo de sua funo. O crime no deixa de existir por causa da finalidade ou aplicao da vantagem recebida.

25. Certo O art. 312 do CP dispe que comete peculato o funcionrio pblico que se apropria de dinheiro, valor ou qualquer outro bem mvel (pblico ou particular), de que tem a posse em razo do cargo. Esse o chamado peculato-apropriao, crime narrado pela questo: o funcionrio pblico subtraiu as armas que estavam em sua posse. Assemelha-se a uma apropriao indbita, mas cometida por um funcionrio pblico, que, na posse do bem em razo de seu cargo, toma-o para si, como se fosse senhor do bem.

Outra modalidade de peculato o peculato-desvio. Difere do peculato-apropriao porque o peculato-desvio exige a alterao do destino do dinheiro ou bem, em proveito prprio ou alheio, em carter definitivo ou temporrio, com causao de danos Administrao Pblica (geralmente no h crime se h o retorno do bem repartio pblica ou lugar adequado sem danos e sem prejuzo Administrao Pblica).

Assim, no peculato-apropriao, o funcionrio toma o bem para si, como se fosse senhor do bem ou seu proprietrio. J no peculato-desvio, o funcionrio altera a destinao do bem, em proveito prprio ou alheio.

Impende ressaltar que, se as armas no estivessem sob sua guarda, ou seja, se o funcionrio pblico, no tendo a posse do dinheiro ou bem, o subtrai, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionrio, cometeria peculato-furto. Ateno: se o funcionrio pblico, nas condies do enunciado, subtrasse o bem sem se valer de qualquer facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionrio, cometeria furto.

Ateno: Os conceitos de posse para o Direito Penal abrangem o conceito civil de posse e de deteno.

26. D Entendeu-se que a conduta corresponde ao crime de peculato-desvio. Todavia, acreditamos ter sido cometido peculato de uso, que no crime o que explicaremos adiante. O peculato-desvio ocorre quando o funcionrio pblico, em razo de seu cargo, tendo a posse do bem pblico, d destinao diversa a ele, em proveito prprio ou de outrem, auferindo vantagem no necessariamente econmica. Assim, para caracterizar peculato-desvio, essa destinao diversa dada ao bem deve ter carter definitivo ou temporrio com causao de danos Administrao Pblica. Dessa forma, geralmente no se configura peculato-desvio se h o retorno do bem repartio pblica ou lugar adequado sem danos ou prejuzo Administrao Pblica.

Entendemos que o caso caracteriza peculato de uso porque Delbio, aproveitando-se de sua condio de funcionrio pblico, utilizou um bem pblico infungvel com a inteno de devolv-lo, ou seja, sem o dolo de apropriar-se do bem, desvi-lo ou subtra-lo definitivamente. Ressaltamos que, caso o bem seja fungvel, indiscutivelmente ocorre o peculato (Guilherme de Souza Nucci, Cdigo Penal comentado, p. 1.057). Ademais, o bem foi utilizado para fins particulares num final de semana, no prejudicando, em tese, o andamento dos servios pblicos. Tambm no se falou da ocorrncia de qualquer dano ao veculo. Dessa forma, entendemos, nos termos narrados, que a conduta no constitui crime, no sendo punvel na esfera penal, visto que no houve o dolo necessrio para caracterizar qualquer espcie de peculato constante do art. 312 do Cdigo Penal. Nesse caso, pode haver punio administrativa disciplinar, ou at mesmo ato de improbidade administrativa, previsto na Lei n. 8.429/92.

Rogrio Sanches Cunha (Direito penal parte especial, 3. ed., Revista dos Tribunais, 2010, Coleo Cincias Criminais, v. 3) argumenta: Discute-se se haver o crime em caso de nimo de uso. A resposta est umbilicalmente ligada natureza da coisa apoderada (ou desviada) momentaneamente. Sendo consumvel com o uso, existe o crime; se no consumvel, teremos mero ilcito civil.

Comentrio Extra: Realmente, h uma linha muito fina, no caso dessa questo, entre o crime de peculato-desvio e o peculato de uso. Cabe a anlise casustica da conduta, sendo defensvel, no caso da utilizao do veculo, o cometimento de peculato com relao ao combustvel consumido.

Observando o enunciado da questo, pode ter sido relevante para a caracterizao da conduta como peculato-desvio o tempo em que Delbio utilizou o bem para fins particulares. de admitir que quanto mais o lapso temporal se prolonga, mais a conduta se aproxima do peculato-desvio, ainda mais se tratando de veculo, em que h o gasto de combustvel. Tambm no devemos ignorar se o bem infungvel sofreu algum dano ou se sua falta causou algum prejuzo Administrao Pblica.

27. ANULADA O gabarito provisrio apontou o item 72 como correto (peculato-furto). Todavia, o gabarito definitivo anulou a questo. Acreditamos que foi anulada por falta de clareza. Explicamos:

Analisamos que o enunciado ressaltou estarem as rendas pblicas temporariamente em poder do Prefeito antes de encaminh-las ao Secretrio da Fazenda, este, sim, responsvel pela posse das verbas.

Assim, podemos tentar enquadrar o fato em dois crimes do CP: peculato-apropriao ou peculato-furto, dependendo de quem tem a posse das verbas. O caput do art. 312 prev os crimes de peculato-apropriao e peculato-desvio, exigindo a posse em razo do cargo; e o 1 (peculato-furto) prev que o funcionrio pblico subtrai o bem sem ter a sua posse.

Assim, no ficou claro se as rendas pblicas que estavam temporariamente em poder do Prefeito o faziam possuidor das verbas ou no. O fato que, se fosse considerado que o Prefeito no detinha a posse das verbas, o crime praticado seria peculato-furto; se fosse considerado que o Prefeito estava com a posse temporria das verbas, teria praticado peculato-apropriao hiptese que no est presente nas alternativas.

Ressaltamos que a maioria da doutrina no diferencia a posse prevista no art. 312, 1, da deteno, considerando essa posse um termo genrico, no necessariamente coincidente com os significados de posse e deteno do Cdigo Civil.

Outrossim, por ser o sujeito ativo do crime Prefeito Municipal, estamos obrigados a consultar o Decreto-lei n. 201/67, que dispe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores. Com isso, verificamos que a conduta descrita tambm poderia se amoldar ao art. 1, II, do referido decreto: utilizar-se, indevidamente, em proveito prprio ou alheio, de bens, rendas ou servios pblicos.

Comentrio Extra: No existe diferenciao tpica entre os crimes de peculato-apropriao e peculato-desvio, previstos no art. 312, caput, do CP e, respectivamente, os crimes previstos no art. 1, I, primeira e segunda parte, do Decreto-lei n. 201/67 (nesse sentido, STJ, HC 30.832 e REsp 647.457). Veja que o STJ, na ao penal 358, entendeu no haver constrangimento ilegal na condenao de Prefeito pela prtica do delito do art. 312 do Cdigo Penal, ainda que a descrio normativa tenha sido reproduzida no art. 1, I, do Decreto-lei n. 201/67.

Para concluir a anlise da questo, pela conduta narrada, no houve desvio de verbas municipais, crime previsto no art. 1, III (desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas pblicas). Tambm, no houve o emprego irregular de verbas ou rendas pblicas, previsto no art. 315 do CP, tambm subsumvel ao art. 1, III (desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas pblicas), e ao art. 1, IV, ambos do Decreto-lei n. 201/67 (empregar subvenes, auxlios, emprstimos ou recursos de qualquer natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam). Isso porque, nesses crimes, no h o emprego dos recursos em proveito prprio ou alheio.

Tambm no houve peculato culposo, pois a conduta envolveu dolo.

Outrossim, no o caso de apropriao indbita, pois nesse crime no pode funcionrio pblico valer-se de sua funo para a prtica da conduta delituosa.

28. Certo O art. 61, II, g, do CP prev como circunstncia agravante ter o agente cometido o crime com abuso de poder ou violao de dever inerente ao cargo, ofcio, ministrio ou profisso. O caput desse artigo determina que circunstncias agravantes so circunstncias que sempre agravam a pena, quando no constituem ou qualificam o crime.

Assim, se a circunstncia for um elemento do tipo penal principal ou derivado (crime qualificado), j foi considerada para constituir o crime, no podendo ser utilizada mais uma vez para agravar a pena, em obedincia ao princpio do non bis in idem (STJ, HC 57.473).

Comentrio Extra: O tipo penal qualificado aquele que apresenta, da mesma forma que no tipo penal bsico, pena mnima e mxima, permitindo ao juiz aplicar a quantidade de pena cabvel dentro destas balizas legais. Esse crime qualificado contm os elementos do tipo penal bsico, sempre com o acrscimo de outras circunstncias que o tornam um crime mais grave.

29. Errado O STJ entende que os mdicos de hospital particular credenciado pelo Sistema nico de Sade (SUS) exercem atividades tpicas da Administrao Pblica, enquadrando-se no conceito de funcionrio pblico por equiparao (art. 327, 1, do CP) por exercer funo pblica delegada (entendimento noticiado no Informativo 324, de junho de 2007).

Ademais, estando o mdico na funo de administrador de hospital, deve ser reconhecida a causa de aumento da pena prevista no art. 327, 2, do CP, pois est caracterizada a funo de direo prevista no dispositivo.

Comentrio Extra: Interessante transcrever o art. 327 do CP, que dispe sobre o conceito de funcionrio pblico:

Art. 327. Considera-se funcionrio pblico, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remunerao, exerce cargo, emprego ou funo pblica.

1 Equipara-se a funcionrio pblico quem exerce cargo, emprego ou funo em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de servio contratada ou conveniada para a execuo de atividade tpica da Administrao Pblica.

2 A pena ser aumentada da tera parte quando os autores dos crimes previstos neste Captulo forem ocupantes de cargos em comisso ou de funo de direo ou assessoramento de rgo da administrao direta, sociedade de economia mista, empresa pblica ou fundao instituda pelo poder pblico.

30. Errado O peculato-desvio um delito plurissubsistente, ou seja, sua conduta pode ser fracionada em vrios atos. O momento consumativo deste crime ocorre quando h efetiva destinao diversa do dinheiro ou valor de que tem posse o agente, independente da obteno material do proveito prprio ou alheio. Nesse sentido, AgRg no REsp 1.045.631, julgado em 8/11/2011. Dessa forma, no necessria, para a consumao do crime, a obteno do proveito prprio ou alheio, constituindo mero exaurimento do crime.

31. ANULADA A questo foi anulada, certamente, por no ser posio adotada de forma pacfica no STF.

posio pacfica do STJ que no se aplica o princpio da insignificncia aos crimes contra a Administrao Pblica, ainda que o valor da leso possa ser considerado nfimo, uma vez que a norma visa resguar