Direitos humanos e educação

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    SUMÁRIO

    DIREITOS HUMANOS E EDUCAÇÃO

    PROPOSTA PEDAGÓGICA........................................................................................................ 03Sabrina Moehlecke

    PGM 1 - POR UMA CULTURA EM DIREITOS HUMANOS ....................................................... 16

    Sabrina Moehlecke

    PGM 2 - DIREITOS HUMANOS NAS ESCOLAS....................................................................... 21

    Marcelo Andrade

    PGM 3 – OS DIREITOS HUMANOS NAS COMUNIDADES...................................................... 27

    Paulo César Carbonari

    PGM 4 - OS SISTEMAS DE JUSTIÇA E SEGURANÇA NA PROMOÇÃO DOS DIREITOS

    HUMANOS …............................................................................................................................. 33

    Beatri A!!onso

    PGM 5 – A RELAÇÃO DA MÍDIA COM OS DIREITOS HUMANOS........................................ 3"

     #o$o %oberto %i&&er e 'l()io Pachalski

     

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 2 .

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     promo&ão dos direitos humanos 6ontudo, esse ainda é um processo lento e conflituoso

    )ermanece em nossa sociedade uma distncia entre os direitos proclamados e sua real

    efetiva&ão, ou se(a, entre a teoria dos direitos humanos e sua prática cotidiana +iante de uma

    sociedade ainda marcada pela desigualdade, violência e práticas autoritárias, como é poss"vel

     pensar e atuar no sentido da constru&ão de uma cultura de direitos humanos e de que modo

    isso afeta a qualidade de vida dos brasileiros4

    O contexto histórico dos direitos humanos

    )rimeiramente, ao se iniciar uma reflexão sobre o papel dos direitos humanos em nossa

    sociedade, é importante considerar sua dimensão hist/rica e social, ou se(a, o modo como tais

    direitos evolu"ram ao longo do tempo e os contextos onde se inseriam +e acordo com

     *orberto 5obbio -1778., declarar que os homens nascem livres e iguais em direitos, como

    fi%eram as primeiras declara&'es de direitos humanos modernas, é uma exigência da ra%ão,

    mas não um dado hist/rico ou uma constata&ão da realidade +e fato, os homens não são

    livres nem iguais ! efetiva garantia de direitos implica um processo muito mais lento e

    incerto, permeado por disputas de poder e pro(etos de sociedade 9m exemplo disso é a

     pr/pria evolu&ão do que se entende por direitos humanos, ao longo dos séculos, até a

    formula&ão da no&ão contempornea de direitos humanos que ho(e nos serve de referência

    !s declara&'es de direitos humanos do mundo moderno surgiram a partir de correntes

    filos/ficas influenciadas pelo racionalismo e (usnaturalismo, nas quais os intelectuais

    europeus do século 2:333 estiveram imersos Esse per"odo foi caracteri%ado como o do

    apogeu do 3luminismo ou 3lustra&ão Sustentava$se, basicamente, que o homem, enquanto tal,

    teria direitos naturais 6ontudo, historicamente, a idéia de direito natural não surge com o

     (usnaturalismo moderno; remonta, antes, ao pensamento cristão e clássico, aos grandes

    moralistas, poetas e escritores da !ntig

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    !mericana de +ireitos, de 1??@, e a +eclara&ão Francesa dos +ireitos do omem e do

    6idadão, de 1?A7

    +e acordo com Barilena 6hau",

    C! prática de declarar direitos significa, em primeiro lugar, que não é um fato /bvio para

    todos os homens que eles são portadores de direitos e, por outro lado, significa que não é

    um fato /bvio que tais direitos devam ser reconhecidos por todos ! declara&ão de direitos

    inscreve os direitos no social e no pol"tico, afirma sua origem social e pol"tica e se

    apresenta como ob(eto que pede o reconhecimento de todos, exigindo o consentimento

    social e pol"ticoD -17A7, p 8.

     *esse momento, predominava, enquanto no&ão de direitos humanos, uma concep&ão

    individualista e liberal de sociedade, em que o indiv"duo, dotado de um valor em si, era o seu

    fundamento, consagrando$se o direito de liberdade como forma de limitar o poder de atua&ão

    do Estado em rela&ão a&ão do indiv"duo 6ontudo, no século 232, definido por Eric

    obsbaGn como a Cera das revolu&'esD, a luta por direitos buscou incorporar aos direitos

    civis e pol"ticos também os direitos sociais # movimento operário, principal protagonista das

    transforma&'es ocorridas no per"odo, exigia mais do que a igualdade civil reconhecida pelas

    declara&'es de direito até então *a +eclara&ão >ussa dos +ireitos do )ovo Hrabalhador e

    Explorado, de 171A, por exemplo, garantia$se o direito ao trabalho, educa&ão, saIde,

    moradia !ltera$se, desse modo, a rela&ão estabelecida entre indiv"duo e Estado +e uma idéia

    de não interferência nos direitos individuais, ou se(a, de uma postura negativa do Estado,

     passa$se a exigir deste uma a&ão positiva e ativa na garantia dos direitos sociais

    ! questão dos direitos humanos assumiu novas dimens'es diante dos horrores decorrentes da

    33 Juerra Bundial em meados do século 22, com a emergência do fenKmeno do totalitarismo

    na%ista e fascista !o final do conflito, a +eclara&ão 9niversal dos +ireitos umanos

    -+9+., aprovada em 17LA, assume nesse momento pretens'es globais e procura articular os

    direitos civis e pol"ticos aos direitos econKmicos, sociais e culturais, estabelecendo sua

    universalidade, indivisibilidade e interdependência #u se(a, incorporou$se na +9+ não

    *+%,+-S /MAS , ,*CA " .

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     *os anos seguintes, a +9+ e também vários pactos, acordos e conven&'es foram ampliando

    a abrangência de tais direitos e fortalecendo sua apropria&ão por meio dos Estados signatários,

    valendo ressaltar, dentre elesN

    $ 6onven&ão relativa Puta contra a +iscrimina&ão no 6ampo do Ensino -17@.;

    $ )acto 3nternacional dos +ireitos 6ivis e )ol"ticos -17@@.;

    $ )acto 3nternacional dos +ireitos EconKmicos, Sociais e 6ulturais -17@@.;

    $ 6onven&ão 3nternacional sobre a Elimina&ão de todas as Formas de +iscrimina&ão >acial

    -17@@.;

    $ 6onven&ão sobre a Elimina&ão de Hodas as Formas de +iscrimina&ão contra a Bulher

    -17?7.;$ 6onven&ão sobre os +ireitos da 6rian&a -17A7.;

    $ 6onven&ão para prote&ão e promo&ão da diversidade de express'es culturais -8Q.

    >ecentemente, foi acrescida no&ão de direitos humanos também uma terceira gera&ão de

    direitos, que abrange o direito a um meio ambiente equilibrado e não polu"do, uma qualidade

    de vida saudável, o direito autodetermina&ão dos povos, direito ao progresso, direito pa%,

     bem como a outros direitos difusos e coletivos, não mais restritos a indiv"duos ou a grupos

    espec"ficos, mas a toda a coletividade

     *o in"cio do século 223, a no&ão contempornea de direitos humanos com a qual se trabalha

    vem abarcar todas as gera&'es de direitos, consideradas igualmente fundamentais, sem

    hierarqui%a&'es, prevalecendo sua universalidade, indivisibilidade e interdependência, a partir

    de uma postura ativa do Estado como garantidor desses direitos

    A sociedade brasileira e os direitos humanos

     *o 5rasil, a 6onstitui&ão Federal de 17AA representa o principal marco (ur"dico do processo

    de transi&ão democrática e de institucionali%a&ão dos direitos humanos !o instituir o Estado

    +emocrático de +ireito, define como seus fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade

    da pessoa humana, os valores do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo pol"tico :ale

    ainda ressaltar que a >epIblica Federativa no 5rasil, regendo$se em suas rela&'es nacionais e

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 7 .

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    internacionais pelo respeito aos direitos humanos, tra% como seus ob(etivos fundamentais,

    dentre outros, a erradica&ão da pobre%a e da marginali%a&ão e a redu&ão das desigualdades

    sociais e regionais 3ndica, desse modo, sua consonncia com a concep&ão contempornea de

    direitos humanos, que abrange a garantia não apenas de direitos pol"ticos e civis, mas também

    de direitos econKmicos, sociais e culturais

    !ssociados no regime militar defesa dos direitos de presos pol"ticos, diante da violência

    institucional praticada pelo Estado, os direitos humanos no 5rasil se estenderam aos presos

    comuns e acabaram por ser identificados na sociedade como Cdireitos de bandidosD !pesar

    de essa visão ainda predominar em alguns setores, inclusive como um legado hist/rico do

    autoritarismo que marca nossa sociedade, os trabalhos atuais de direitos humanos vêm

    enfati%ando quão redu%ida é esta perspectiva diante do que se entende ho(e por direitos

    humanos Essa é a concep&ão de direitos humanos presente, por exemplo, no )lano *acional

    de +ireitos umanos -)*+. aprovado pelo Joverno Federal em 177@ e, especialmente, no

    )lano revisado em 88

     *o entanto, apesar dos avan&os nas declara&'es de direitos, na elabora&ão do )*+ e na

    amplia&ão do conceito de direitos humanos, ainda são necessários esfor&os no sentido de sua

    materiali%a&ão na sociedade brasileira, promovendo o fortalecimento de uma cultura de

    direitos humanos no pa"s nas várias esferas sociais 9m aspecto a ser enfrentado para que se

    alcance esse ob(etivo relaciona$se com o reconhecimento de todo cidadão brasileiro enquanto

    su(eito de direitos, capa% de participar das decis'es do pa"s )ara tanto, é fundamental que se

     passe de uma cidadania passiva M aquela que é outorgada pelo Estado, com a idéia moral da

    tutela e do favor M para uma cidadania ativa M aquela que institui o cidadão como portador de

    direitos e deveres, mas essencialmente criador de direitos para abrir espa&os de participa&ão e

     possibilitar a emergência de novos su(eitos pol"ticos -cf 5enevides, 177A, p1Q.

    á que se atentar também em nosso pa"s para a hierarqui%a&ão entre tipos diferentes de

    cidadãos de acordo com a classe social qual pertencem, sendo ainda comum a

    criminali%a&ão da pobre%a e a associa&ão generali%ada das classes populares ao banditismo e

    violênciaN

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 5 .

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    C!s classes populares são geralmente vistas como Rclasses perigosas, amea&adoras pela

    feiIra da miséria, amea&adoras pelo grande nImero, amea&adoras pelo poss"vel desespero

    de quem nada tem a perder, e, assim, consolida$se o Rmedo atávico das massas famintas

    -. Esta é uma maneira de circunscrever a violência, que existe em toda a sociedade,apenas aos Rdesclassificados, que, portanto, mereceriam todo o rigor da pol"cia, da suspeita

     permanente, da indiferen&a diante de seus leg"timos anseiosD -5enevides, 8L, p Q.

    ! constru&ão e a consolida&ão de uma cultura em direitos humanos no 5rasil implicam, desse

    modo, enfrentar essa série de desafios e contradi&'es, ainda presente em nossa sociedade, que

    afeta todos os brasileiros em termos da sua qualidade de vida e das possibilidades de seu

     pleno desenvolvimento enquanto pessoa humana ! educa&ão, nesse contexto, aparece comoum espa&o privilegiado para a promo&ão dessa cultura de direitos humanos, contribuindo para

    a difusão de atitudes, valores e práticas coerentes com esses princ"pios, se(a por meio da

    educa&ão escolar, no n"vel básico ou superior, se(a pela educa&ão não$formal, por meio da

    atua&ão de organi%a&'es da sociedade civil, pela m"dia e os sistemas de (usti&a e seguran&a

    A educação em direitos humanos

    ! preocupa&ão e o interesse com a promo&ão de uma educa&ão orientada para os direitos

    humanos ganham maior pro(e&ão em meados dos anos 7 com a defini&ão, em 177Q, da

    década da educa&ão em direitos humanos, encerrada, em 8L, com a aprova&ão, no ano

    seguinte, do )rograma Bundial de Educa&ão em +ireitos umanos -)BE+. e seu )lano de

    !&ão Esse debate repercute no 5rasil no mesmo per"odo, especialmente no mbito das

    organi%a&'es da sociedade civil e, em 8T, ganha maior institucionalidade, com a cria&ão do

    6omitê *acional de Educa&ão em +ireitos umanos e o in"cio da elabora&ão de uma primeira

    versão do )lano *acional de Educa&ão em +ireitos umanos -)*E+. no pa"s, finalmente

    aprovado em sua forma final em 8@

    6onsidera$se o )*E+ um instrumento orientador e fomentador das a&'es de educa&ão em

    direitos humanos, especialmente por parte das pol"ticas pIblicas nas áreas da educa&ão básica,

    superior, educa&ão não$formal, dos sistemas de (usti&a e seguran&a e da m"dia # )lano visa,

    *+%,+-S /MAS , ,*CA  .

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    sobretudo, promover e difundir uma cultura de direitos humanos no pa"s ! educa&ão, por sua

    ve%, é entendida como um meio privilegiado para atuar nessa dire&ão -cf )*E+, 8@.

     *o entanto, o que significa educar em direitos humanos4 U poss"vel ensinar direitos

    humanos4 +e acordo com o )*E+, a educa&ão em direitos humanos deve ser promovida

    em três dimens'esN

    Ca. conhecimentos e habilidadeN compreender os direitos humanos e os mecanismos existentes

     para a sua prote&ão, assim como incentivar o exerc"cio de habilidades na vida cotidiana;

     b. valores, atitudes e comportamentosN desenvolver valores e fortalecer atitudes e

    comportamentos que respeitem os direitos humanos;c. a&'esN desencadear atividades para a promo&ão, defesa e repara&ão das viola&'es aos

    direitos humanosD -8@, p 8T.

    6onsidera$se, segundo essa defini&ão, a educa&ão em direitos humanos como uma educa&ão

     permanente e global, que não trabalha apenas com a dimensão da ra%ão e da aprendi%agem

    cognitiva, mas envolve também aspectos afetivos e valorativos que precisam ser sentidos,

    vivenciados U preciso experimentar os direitos liberdade, igualdade, (usti&a e

    dignidade para entender o que significam e, principalmente, para que se consiga difundi$los

    -cf 5enevides, 81. +esse modo, Cde nada adiantará levar programas de direitos humanos

     para a escola se a pr/pria escola não é democrática na sua rela&ão de respeito com os alunos,

    com os pais, com os professores, com os funcionários e com a comunidade que a cercaD

    -5enevides, 81, p L. )or outro lado, a introdu&ão dessa discussão na escola pode servir

     para questionar suas pr/prias contradi&'es e conflitos cotidianos, propiciando a busca de

    formas para enfrentá$los

    ! proposta é que a educa&ão em direitos humanos se(a um eixo central do trabalho

    desenvolvido nas escolas e permeie o curr"culo como um todo, a forma&ão inicial e

    continuada dos profissionais da educa&ão, o pro(eto pol"tico$pedag/gico da institui&ão, os

    materiais didático$pedag/gicos, o modelo de gestão e de avalia&ão e as metodologias e

     práticas desenvolvidas no con(unto do espa&o escolar 6omo observa :era 6andau -8T., é

    essencial enfati%ar processos que utili%em metodologias participativas e de constru&ão

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 10 .

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    coletiva, superando estratégias pedag/gicas meramente expositivas, e que empreguem uma

     pluralidade de linguagens e materiais de apoio, orientados para mudan&as de mentalidade,

    atitudes e práticas individuais e coletivas

    ! educa&ão em direitos humanos vai além de uma aprendi%agem de conteIdos; inclui o

    desenvolvimento social e emocional de todos os envolvidos no processo de ensino$

    aprendi%agem Seu ob(etivo é desenvolver uma cultura em direitos humanos, em que os

    direitos humanos são praticados e vividos na comunidade escolar e demais institui&'es

     pIblicas, em intera&ão com a comunidade local )ara tanto, é essencial garantir que o ensino e

    a aprendi%agem da educa&ão em direitos humanos ocorram em um ambiente direcionado para

    os direitos humanos U fundamental assegurar que os ob(etivos, práticas e organi%a&ão das

    institui&'es se(am consistentes com os seus valores e princ"pios 9ma escola assim orientada

    caracteri%a$se pelo entendimento mItuo, pelo respeito e pela responsabilidade; alme(a a

    igualdade de oportunidades, o sentido de pertencimento, a autonomia, a dignidade e a auto$

    estima de todos os membros da comunidade escolar -cf )BE+, 8Q.

    6onsidera$se, por fim, que a defesa, a prote&ão e a promo&ão da educa&ão em direitos

    humanos, como práticas a serem difundidas pelas várias esferas da sociedade, exigem que as

    escolas e demais institui&'es pIblicas assumam um compromisso permanente com o

    fortalecimento de uma cultura de direitos humanos no pa"s, consolidando o Estado

    +emocrático de direito e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da popula&ão

     brasileira

    T!"# $% #&'( )*"+,)(# " #&, Direitos Humanos e

    Educação/ $% #&0 "&#+")" ( S"+( "&" ( %+%&(T

    E#6("SEEDMEC/ ) 31 ) !"&7( " 4 ) "*&, ) 2889:

    O eixo articulador dos programas é a Educação como promotora de uma Cultura de Direitos

     Humanos, a partir das 5 áreas e instituições privilegiadas no Plano acional de Educação

    em Direitos Humanos, tra!al"ando com a noção contempor#nea de direitos "umanos$

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 11 .

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    PGM 1 - Por uma cultura em Direitos Humanos

    Este primeiro programa tem como ob(etivo debater com o professor a necessidade de se

    construir uma cultura em direitos humanos, a partir da no&ão contempornea de direitos

    humanos, associada defesa de uma cidadania ativa e preocupada com a forma&ão dos

    cidadãos enquanto su(eitos de direitos, capa%es de exercer o controle democrático das a&'es

    do Estado 6om base nos marcos normativos referentes aos direitos humanos, especialmente

    no )lano *acional de Educa&ão em +ireitos umanos -)*E+., pretende$se discutir de que

    modo é poss"vel, na sociedade brasileira, marcada pela desigualdade e pela violência

    institucionali%ada, contribuir para a afirma&ão de valores, atitudes e práticas que propiciem

    uma cultura de direitos humanos nas várias esferas sociais +entre outros, são ob(etivos do

    )*E+N enfati%ar o papel dos direitos humanos na constru&ão de uma sociedade (usta,

    eq

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    PGM ! " Os Direitos Humanos nas comunidades

    Este terceiro programa visa debater o papel da sociedade civil organi%ada e as experiências

    desenvolvidas nesse mbito em comunidades, movimentos ou organi%a&'es sociais,

    direcionadas para o trabalho de defesa dos direitos humanos de grupos marginali%ados

    socialmente eVou em situa&ão de vulnerabilidade social Serão analisados e problemati%ados

    os processos de denIncia de viola&'es e as possibilidades de formula&ão de propostas para a

     prote&ão e a promo&ão dos direitos humanos nesses espa&os não$formais de educa&ão

    PGM # - Os sistemas de $ustiça e se%urança na promoção dos Direitos Humanos

     *este quarto programa, pretende$se discutir a atua&ão dos sistemas de (usti&a e seguran&a no

    fortalecimento do Estado +emocrático de +ireito e na prote&ão e respeito dignidade dos

    cidadãos brasileiros, sem distin&'es étnico$raciais, religiosas, culturais, geracionais, de origem

    social, de gênero, de orienta&ão sexual, de op&ão pol"tica, de nacionalidade Entende$se que a

    constru&ão de pol"ticas pIblicas orientadas para os direitos humanos nessas áreas requer uma

    abordagem integrada dessas instncias e sua articula&ão com outras pol"ticas voltadas para a

    melhoria da qualidade de vida da popula&ão Serão analisados e debatidos, particularmente, os

    mecanismos de prote&ão dos direitos de crian&as e adolescentes e as possibilidades de uso de

    medidas socioeducativas no caso de (ovens em conflito com a lei

    PGM & " A relação da m'dia com os Direitos Humanos

    Este quinto programa se prop'e a debater a influência da m"dia, enquanto espa&o pol"tico eformativo, nos comportamentos, valores, cren&as e atitudes da popula&ão brasileira,

    especialmente naqueles relacionados promo&ão de uma cultura de não$violência e de

    respeito aos direitos humanos 0uais compromissos sociais as emissoras de televisão e de

    rádio que atuam por concess'es pIblicas podem assumir nessa dire&ão4 6omo os ve"culos da

    imprensa podem contribuir para o debate pIblico em torno da efetiva&ão dos direitos

    humanos no pa"s4 0uais as experiências que (á existem na área e quais os desafios postos para

    sua difusão nos principais meios de comunica&ão4

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 13 .

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    R;&5!, !,

    F!>3!, *, J#+3*#, H -org.  %ul"er e pol&tica' g(nero e )eminismo no

     Partido dos *ra!al"adores São )auloN Ed Fund )erseu !bramo, 177A

    5E*E:3+ES, B :  Educação em direitos "umanos' de +ue se trata  6onvenit

    3nternacional -9S)., v @, p LT$Q, 81

    5#553#, *orberto - era dos direitos >io de WaneiroN 6ampus, 1778

    6!9X, Barilena +ireitos humanos e medo 3nN Fester, !6> -org. +ireitos

    humanos e 1Y ed São )auloN 5rasiliense, 17A7, v, p 1Q$T@

    6!*+!9, :era Baria Ferrão -org.; S!6!:3*#, Susana -org.  Educar em Direitos

     Humanos . Construir Cidadania 8Y ed >io de WaneiroN +)Z! editora, 8T v

    1 17@ p

    I),6"7># ) ,+%&"#:

    S63PP3*J, Flávia -org. +ireitos umanos e Educa&ãoN outras palavras, outras práticas

    São )auloN 6orte%, 8Q

    6!>:!P#, Wosé Sérgio -org. Educa&ão, 6idadania e +ireitos umanos )etr/polis, >WN

    :o%es, 8L

    6!*+!9, :era Baria Ferrão -org. #ficinas )edag/gicas de +ireitos umanos Qa ed

    )etr/polis, >WN :o%es, 8T 18Q p

    S,+#:

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 14 .

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    $ GGGpresidenciagovbrVsedh -Secretaria Especial de +ireitos umanos.

    $ GGGcamaragovbrVcomiss'esVpermanentesVcdhm  -6omissão de +ireitos umanos da

    6mara.

    $ mndhorgbr -Bovimento *acional de +ireitos umanos.

    $  GGGunescoorgbr -#rgani%a&ão das *a&'es 9nidas para a Educa&ão, a 6iência e a

    6ultura.

    ota

     Soci8lo9a: &ro!essora ad;unta da 'aculdade de ,duca

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    PROGRAMA 1PROGRAMA 1

    POR UMA CULTURA EM DIREITOS HUMANOS Sabrina Moehlecke1

    # que significa promover uma cultura em direitos humanos no 5rasil4 #s direitos humanos (á

    fa%em parte de nossos hábitos cotidianos4 )ara in"cio de conversa, é preciso considerar que a

     pr/pria expressão direitos humanos assume, em nossa sociedade, uma multiplicidade de

    sentidos, dependendo de quem a evoca e em que contexto o fa% *o senso comum, difundido

    especialmente em programas de H:, rádio e (ornais de uma m"dia sensacionalista, o termodireitos humanos continua sendo associado Cdefesa de bandidosD e interferência no modo

    de trabalhar da pol"cia em defesa das Cpessoas de bemD  8 eran&a de nossa hist/ria escravista,

    autoritária e patrimonialista, essa visão, que restringe os direitos humanos basicamente aos

    direitos civis, marca parte de nossa cultura pol"tica e a a&ão institucional de parcela do poder

     pIblico )or outro lado, especialmente a partir da aprova&ão da 6onstitui&ão Federal de 17AA,

    com o estabelecimento de um Estado +emocrático de +ireito, come&a a se difundir no pa"s a

    idéia do respeito integral aos direitos fundamentais do indiv"duo e da coletividade,garantindo$se a dignidade da pessoa humana, sem distin&'es de ra&a, cor, sexo, classe social,

    idade, credo, orienta&ão pol"tica Em consonncia com esses princ"pios, o )lano *acional de

    Educa&ão em +ireitos umanos -)*E+., aprovado em 8@, compreende a educa&ão e a

    escola como espa&os privilegiados para a promo&ão de uma nova cultura em direitos

    humanos, de modo a possibilitar que os avan&os conquistados no plano normativo também se

    concreti%em enquanto orienta&'es de valores e condutas dos cidadãos brasileiros

    ! cultura em direitos humanos é compreendida no )*E+ como um processo dinmico,

    sistemático e permanente que orienta a forma&ão do su(eito de direitos, articulando as

    seguintes dimens'esN

    Ca. apreensão de conhecimentos historicamente constru"dos sobre direitos humanos e a sua

    rela&ão com os contextos internacional, nacional e local;

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 16 .

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     b. afirma&ão de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a cultura dos direitos

    humanos em todos os espa&os da sociedade;

    c. forma&ão de uma consciência cidadã capa% de se fa%er presente nos n"veis cognitivo, social,

    ético e pol"tico;

    d. desenvolvimento de processos metodol/gicos participativos e de constru&ão coletiva,

    utili%ando linguagens e materiais didáticos contextuali%ados;

    e. fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem a&'es e instrumentos em favor

    da promo&ão, da prote&ão e da defesa dos direitos humanos, bem como da repara&ão das

    viola&'esD -)*E+, 8@, p 1?.

    +esse modo, sendo a educa&ão um meio privilegiado na promo&ão dos direitos humanos,cabe priori%ar a forma&ão de agentes pIblicos e sociais para atuar no campo formal e não$

    formal, abrangendo os sistemas de educa&ão, saIde, comunica&ão e informa&ão, (usti&a e

    seguran&a, m"dia e outros 0uais são, no entanto, os desafios atuais para que isso se viabili%e4

    Wosé Burilo de 6arvalho -8T., ao analisar a cultura pol"tica e a constru&ão hist/rica dos

    direitos no 5rasil, observa que em nosso pa"s houve um maior desenvolvimento dos

    chamados direitos pol"ticos e sociais do que dos direitos civis *ão conseguimos atingir,ainda, a igualdade de tratamento perante a lei, o que significa, em uma expressão que se

    tornou comum na área, que Ctodos são iguais, mas que alguns são mais iguais do que outrosD

    +esse modo, a lei e a respectiva garantia e o respeito aos direitos funcionam de forma

    desigual, dependendo principalmente da classe social e do grupo étnico$racial ao qual

     pertencemos 6arvalho identifica na sociedade brasileira três classes de cidadãos, o doutor, o

    crente e o macumbeiro, que ilustram o tratamento hierarqui%ado dispensado popula&ão #

    CdoutorD é o cidadão de primeira classe, branco, educado, rico, merecedor de respeito dosagentes da lei e capa% de defender seus direitos e mesmo seus privilégios # CcrenteD é o

     pobre honesto, trabalhador com carteira assinada, que pode ter alguns direitos violados, mas

    ainda merece respeito # CmacumbeiroD representa a imensa maioria da popula&ão brasileira,

     pobre ou miserável, negra ou mesti&a, praticamente analfabeta, que vive de trabalhos

    eventuais e não tem direitos nem pode ser considerada cidadã -cf 6arvalho, 1778.

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 17 .

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    >omper com esse tratamento diferenciado dispensado aos cidadãos brasileiros não apenas

     pelos agentes da lei, mas também pela escola e pela m"dia, e que se fa% presente nas mais

    diversas situa&'es cotidianas que vivenciamos, é um passo fundamental em dire&ão

    constru&ão de uma cultura em direitos humanos em nosso pa"s # respeito mItuo s/ é poss"vel

    de ser estabelecido entre aqueles que consideramos nossos iguais, ainda que diferentes

    9m segundo desafio em rela&ão constru&ão de uma cultura em direitos humanos di% respeito

    garantia e defesa dos direitos sociais, superando o que :era Silva Helles -177L. definiu

    como uma Ccidadania da dádivaD +e acordo com a autora, predomina, ainda, entre a maioria

    da popula&ão brasileira, especialmente a mais carente economicamente, uma rela&ão de

    subserviência com o Estado e com a classe pol"tica que o representa Entende que se

    estabelece uma rela&ão de favor entre a popula&ão beneficiária de programas sociais e os

    agentes do )oder Executivo em especial, refor&ando uma rela&ão personalista, individualista e

     privada *esse sentido, a popula&ão não se percebe enquanto su(eito de direitos, consciente e

    capa% de agir em defesa destes !o contrário, ignora que pol"ticas sociais, como aquelas que

    abrangem a garantia de moradia, educa&ão, saIde, entre outras, são direitos

    constitucionalmente garantidos a todos os cidadãos, aos quais os governantes estão

    submetidos 6abe, nesse caso, encontrar caminhos que permitam popula&ão deixar o lugar

    de ob(eto passivo de pol"ticas sociais para assumir seu papel de participante ativo e

    reivindicativo de direitos +entro desse contexto, os direitos humanos, ao invés de se

    constitu"rem em um discurso meramente abstrato, cr"tica que s ve%es lhes é feita,

    configuram$se e concreti%am$se por meio da organi%a&ão e da a&ão sociais reali%adas em prol

    de sua efetiva&ão #u se(a, os direitos não são um dado da nature%a, mas constru&'es

    hist/ricas que envolvem embates, conflitos, avan&os e retrocessos

    :ale lembrar, nessa dire&ão, a concep&ão ampla e contempornea de direitos humanos com a

    qual trabalha o )*E+N

    C9ma concep&ão contempornea de direitos humanos incorpora os conceitos de cidadania

    democrática, cidadania ativa e cidadania planetária, por sua ve% inspiradas em valores

    humanistas e embasadas nos princ"pios da liberdade, da igualdade, da equidade e da

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 15 .

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    diversidade, afirmando sua universalidade, indivisibilidade e interdependência # processo de

    constru&ão da concep&ão de uma cidadania planetária e do exerc"cio da cidadania ativa

    requer, necessariamente, a forma&ão de cidadãos-ãs. conscientes de seus direitos e deveres,

     protagonistas da materialidade das normas e pactos que os-as. protegem, reconhecendo o

     princ"pio normativo da dignidade humana -. !lém disso, prop'e a forma&ão de cada

    cidadão-ã. como su(eito de direitos, capa% de exercitar o controle democrático das a&'es do

    Estado -.D -)*E+, 8@, p 1@.

    6abe, por fim, perguntarN é poss"vel ensinar direitos humanos4 +iante dos desafios

    apresentados em dire&ão constru&ão de uma cultura em direitos humanos em nosso pa"s,

    como promovê$los4 Em uma sociedade como a brasileira, marcada pelas heran&as do

    escravismo, autoritarismo, patrimonialismo e tantos outros CismosD, a afirma&ão de direitos se

    dá em um ambiente de contradi&'es !o mesmo tempo em que observamos avan&os, como no

    caso da defini&ão do )*E+ como uma pol"tica pIblica voltada para o fortalecimento dos

    direitos humanos, também continuam a ocorrer recorrentemente viola&'es desses direitos, nos

    mais variados espa&os 6abe a todos aqueles preocupados com a constru&ão de uma sociedade

    mais inclusiva, (usta e igualitária estarem atentos viola&ão dos direitos humanos e

     promoverem, mesmo que no mbito de suas rela&'es cotidianas mais pr/ximas, sua defesa !

    educa&ão em direitos humanos, nesse sentido, se dá não apenas por meio de uma

    aprendi%agem cognitiva e informativa, por meio da qual conhecemos nossos direitos, mas

    envolve, especialmente, aspectos afetivos, atitudes e valores que exteriori%amos diariamente

    em nossas práticas e intera&'es sociais

    %e!er=ncias biblio9r(!icas

    6!P+E3>!, H)> +ireitos umanos ou [)rivilégios de 5andidos[4 +esventuras da

    +emocrati%a&ão 5rasileira, ovos Estudos, T, 6E5>!) -Wulho, 1771., p1@8$

    1?L

    6!>:!P#, W B /rasileiro' cidadão  São )auloN Ed 6ultura, 1778

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 1 .

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     \\\\\\\\\\\\\ Cidadania no /rasil' o longo camin"o >io de WaneiroN 6ivili%a&ão

    5rasileira, 8T

    )P!*# *!63#*!P +E E+96!]^# EB +3>E3H#S 9B!*#S 5ras"lia, +FNSE+ $ )residência da >epIblicaVBE6VBW, 8@

    HEPPES, : S 6ultura da dádiva, avesso da cidadania 0evista /rasileira de Ci(ncias

    1ociais, São )aulo, v 8Q, p LQ$LA, 177L

    otas

     Soci8lo9a: &ro!essora ad;unta da 'aculdade de ,duca

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    PROGRAMA 2

    DIREITOS HUMANOS NAS ESCOLAS Marcelo Andrade

    1

    ( a educação um direito humano)

    Jeralmente, quando se fala em direitos humanos e educa&ão, é muito comum que se associe

    esta discussão ao acesso escola, ou se(a, o tema mais recorrente sobre o direito humano

    educa&ão seria a possibilidade de estar e permanecer numa institui&ão escolar !ssim, num

     primeiro momento, parece que os direitos humanos, em rela&ão educa&ão, se restringiriam obrigatoriedade de se cumprir certa quantidade de anos numa institui&ão de educa&ão formal

     *o entanto, minha perspectiva neste texto não é refletir sobre o direito escola em seu marco

     (ur"dico, se(a em leis nacionais -como a 6onstitui&ão e a P+5. ou declara&'es ou programas

    internacionais -como a +eclara&ão 9niversal dos +ireitos umanos ou o )rograma Educa&ão

     para Hodos, da 9nesco. Binha inten&ão é discutir as ra%'es suficientes para que a educa&ão

    se(a considerada um direito humano Se entendermos melhor porque a educa&ão é,verdadeiramente, um direito humano, talve% possamos valori%á$la ainda mais como estratégia

    central para expansão de outros direitos, tais como saIde, trabalho, cultura, etc

    Direitos humanos* entre o $ur'dico e o axioló%ico

    Binha inten&ão aqui não é despre%ar os direitos humanos em seus marcos (ur"dicos, mas

    chamar a aten&ão de que, antes do aspecto (ur"dico, há um marco axiol/gico -de valores. parase entender a educa&ão como um direito humano e é a este con(unto de valores que mais

    quero me referir neste texto

    Hoda e qualquer sociedade funciona com um marco de leis, normas e direitos que podem ou

    não estar expressos formalmente em documentos Em geral, as sociedades modernas e

    complexas se caracteri%am por uma série de c/digos legais -civil, penal, trabalhista, etc. que

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 21 .

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    garantem direitos e exigem deveres Bas estes c/digos tão somente expressam em leis o que

    uma sociedade acorda como certo ou errado, como (usto ou in(usto, como bom ou adequado

    #u se(a, as leis estão, em Iltima instncia, ancoradas em valores que uma sociedade quer

    manter ou combater

    !ssim, a pergunta central dessa reflexão, ainda que breve e preliminar, é se a educa&ão se

    constitui um direito humano e por quê á ra%'es suficientes e valores socialmente válidos

    que amparem a educa&ão para que ela se(a considerada um direito de todos os seres humanos4

    Se há, quais são as (ustifica&'es racionais que podemos estabelecer para fundamentar tal

    direito4

    ! partir das quest'es levantadas (á se pode imaginar que estou considerando a educa&ão como

    uma realidade que não se dá apenas no ambiente formal !ssim, ao entender a educa&ão como

    algo que engloba a escola, mas não se redu% a ela, é /bvio que tentarei entender o direito

    educa&ão como um direito que não se redu% ao acesso e permanência na escola 3mporta,

    então, delimitar a concep&ão de educa&ão adotada para esta reflexão e indicar a que se refere o

    direito humano que da" se deriva

     A educação + um processo de humani,ação

    Segundo o antrop/logo e educador 6arlos 5randão, Cninguém escapa da educa&ãoD Hal

    afirma&ão pode dar a entender que a educa&ão é uma realidade que nos é imposta, como se

    fosse algo que temos que aceitar, obrigatoriamente +e certa forma tal percep&ão está correta

    Bas, podemos ameni%á$la se entendermos o que significa este caráter obrigat/rio dos

     processos educativos na vida humana E aqui não estou me referindo obrigatoriedade do

    ensino formal como dever do Estado e da fam"lia para com os cidadãos ou para com a sua

     prole ! educa&ão como algo obrigat/rio refere$se a uma necessidade primordial dos seres

    humanos de serem ensinados a CfuncionarD neste mundo no qual se encontram

    Estou consciente da aversão que o conceito de Cadapta&ão ao mundoD causa, tanto no

     pensamento educacional quanto no sociopol"tico, pois ele pode referir$se acomoda&ão,

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 22 .

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     passividade e submissão )orém, não tenho outra sa"da senão, inicialmente, recorrer idéia

    de educa&ão como adapta&ão ao mundo para (ustificar o direito educa&ão

    # fato é que o ser humano é um tipo de animal que necessita adaptar$se ao mundo )ara

    annah !rendt, n/s, humanos, ao chegarmos a este mundo, vindos não sabemos bem de

    onde, estamos totalmente despreparados para funcionar nele # filhote humano, ao contrário

    da maioria dos outros filhotes, não possui nenhuma Cprograma&ão biol/gicaD que o fa&a

    funcionar adequadamente no mundo *ecessitamos ser adaptados, ou se(a, educados para

    entender o mundo e atuar nele E esta atua&ão pode, e inclusive deve, ser transformadora

    Bas, a atua&ão transformadora não retira a necessidade de entender o que é o mundo e como

    ele funciona Segundo )aulo Freire, esse entendimento sobre o mundo que habitamos, se for

    cr"tico, não será uma simples Cadapta&ãoD, mas uma inser&ão consciente no mundo e uma

     possibilidade efetiva de transformá$lo

    er humano* um ser inacabado

    E por que temos que nos adaptar ou nos inserir no mundo4 )orque, ao contrário dos outros

    animais, somos inacabados, ou se(a, sem programa&ão biol/gica determinante 9m filhote de

    gato, por exemplo, pode ser retirado do conv"vio de outros gatos e continuará se

    CcomportandoD como um gato U improvável, senão absurdo, imaginar que um gatinho que

    desde seu nascimento conviva com os cães venha a aprender a latir ou enterrar ossos como

    farão os seus convivas caninos 9m gato é um gato Está biologicamente programado para sê$

    lo e sem nenhuma consciência de tal programa&ão

    # que quero indicar, e o que tão bem (á sabemos, é que, ao contrário dos outros animais,

    dependemos totalmente dos nossos convivas *o >io de Waneiro, em 3stambul ou em Jenebra,

    o gatinho do nosso exemplo miará feito um gato, lamber$se$á feito um gato e fará tudo o mais

    feito um gato 9m ser humano que nas&a e cres&a no >io de Waneiro não falará a mesma

    l"ngua, não se alimentará das mesmas comidas, não terá os mesmo valores morais e estéticos,

    não se vestirá da mesma forma, não se submeterá mesma ordem pol"tica e (ur"dica que um

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 23 .

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    ser humano nascido e criado em 3stambul ou Jenebra #s seres humanos são bastante

    diferentes M ainda que nunca deixem de ser seres humanos M dependendo de onde nas&am, de

    que l"ngua falem, de que valores acreditem, de que comida comam, de que roupas vistam

    !ssim, ao contrário da maioria dos animais, os seres humanos não têm uma programa&ão

     biol/gica que oriente sua maneira de comer, vestir, amar, comunicar$se, etc #s seres

    humanos necessitam obrigatoriamente de uma Cambienta&ão culturalD para se adaptarem e,

    conseq

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    !final, o que quer di%er tudo isso4 SimplesN s/ somos verdadeiramente humanos se passarmos

     por um processo educativo *inguém nasce pronto e acabado como ser humano !o contrário,

    nos tornamos humanos por um processo, que chamamos de educa&ão, e ao qual temos o

    direito humano de vivenciar +iferentes dos outros animais que aprendem de dentro para fora

    -programa&ão biol/gica. através de respostas aos seus instintos, n/s, seres humanos,

    aprendemos de fora para dentro -ambienta&ão cultural., através dos processos educativos, em

    resposta nossa condi&ão de inacabados, chamados a Csermos maisD, (unto com outros

    humanos

     *esta perspectiva, educa&ão é um sinKnimo muito espec"fico de humani%a&ão, porque é uma

    resposta nossa consciência de sermos seres inacabados, chamados a sermos mais Hornamo$

    nos humanos na medida em que convivemos com outros humanos e nesta convivência nos

    educamos !ssim, temos que a educa&ão é um direito humano fundamental, porque sem ela

    não poder"amos reflexivamente nos tornar humanos, tampouco ter consciência de que somos

    humanos e, por isso mesmo, seres merecedores de toda dignidade U em defesa da condi&ão

    inegociável da dignidade humana que se estabeleceram M e seguirão sendo estabelecidos M

    todos os direitos que reconhecemos e ainda viremos a reconhecer

     *este sentido, a escola M como uma das principais institui&'es educativas e humani%adoras de

    nossa sociedade M deveria questionar$se continuamente se colabora e como colabora no

     processo de fa%er com que crian&as e (ovens se(am, cada ve% mais, mais humanos

    ?,*,(=&";,"

    !>E*+H, annah ! crise na educa&ão 3nN Entre o passado e o )uturo São )auloN

    )erspectiva, 177?

    5>!*+^#, 6arlos O +ue é educação São )auloN 5rasilense, 17A1

    F>E3>E, )aulo Pedagogia do Oprimido >io de WaneiroN )a% e Herra, 17?

    ota

     Pro!essor da PC%io.

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 2" .

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    PROGRAMA 3

    OS DIREITOS HUMANOS NAS COMUNIDADESD,&,+(# H%!"(# #(6,)") 6,@,  P( ),&,+( ) ,=,&P( ),&,+( ) ,=,& 

    ),&,+(#),&,+(#

     Paulo César Carbonari 1

    # direito a ter direitos constitui a base da cidadania moderna e um dos principais ganhos da

    democracia -e também a principal perda decorrente de regimes autoritários. # direito de

    exigir direitos é complemento ao direito a ter direitos )ensar sobre estes temas é o desafio a

    que nos propomos num tempo em que é cada ve% mais dif"cil concreti%ar estes direitos,

     procurando identificar as diferentes responsabilidades em matéria de direitos humanos e,

    sobretudo, o lugar das organi%a&'es e movimentos populares da sociedade civil

    Em termos hist/ricos, antes mesmo da >evolu&ão Francesa, marco da afirma&ão da cidadania

    moderna, )ierre ! 6 de 5eaumarchais, em 1??L, registrou o aparecimento da idéia de

    cidadania !pelou opinião pIblica nos seguintes termosN C Eu sou um cidadão, não sou nem

    !an+ueiro, nem a!ade, nem cortesão, nem )avorito, nada da+uilo +ue se c"ama uma

     pot(ncia2 eu sou um cidadão, isto é, alguma coisa de novo, alguma coisa de imprevisto e de

    descon"ecido na 3rança2 eu sou um cidadão, +uer di4er, a+uilo +ue á dev&eis ser "á

    du4entos anos e +ue sereis dentro de vinte talve467$ >essaltamosN o nIcleo da idéia de

    cidadania, em geral esquecido, é que ser cidadão significa ser 8alguma coisa de novo, algumacoisa de imprevisto e de descon"ecido7$

    !s atrocidades que marcaram o século 22, com duas grandes guerras e milhares de outras

     pequenas e grandes guerras, de vários tipos, levaram as *a&'es 9nidas a estabelecerem a

    no&ão de direitos humanos como valor para toda a humanidade através da +eclara&ão

    9niversal dos +ireitos umanos, em 17LA -há sessenta anos. # marco da +eclara&ão ense(ou

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 26 .

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    o seguimento de um processo de reconhecimento formal e institucional dos vários direitos

    humanos através da promulga&ão de )actos, 6onven&'es e Hratados e também ao

    estabelecimento de acordos sobre seu sentido e abrangência, como na 33 6onferência Bundial

    dos +ireitos umanos -:iena, 177T., que os entendeu universais, indivis"veis e

    interdependentes #s diversos pa"ses do mundo M mesmo que muitos ainda não o tenham feito

     M foram incorporando estes valores em seus ordenamentos (ur"dicos

    Hodavia, para a maioria das pessoas do mundo, a vida é ainda muito dif"cil ! pobre%a, a

     baixa participa&ão social, a opressão e as ditaduras, os conflitos e a violência estão presentes

    no seu cotidiano Soma$se a eles a desigualdade, que p'e milh'es em situa&ão de

    inferioridade e distantes do acesso aos bens pIblicos e também da possibilidade de ter acesso

    a eles em curto pra%o Em outras palavras, milh'es de pessoas ainda não desfrutam dos

    direitos humanos como conteIdo efetivo no cotidiano de suas vidas; pior, são v"timas de

    viola&'es

    á esperan&as !lguns passos têm sido dados no sentido de melhorar a vida das pessoas á

    garantias legais e programas de inclusão Hodavia, ainda são insuficientes para fa%er frente s

    hist/ricas escolhas Sim_ São escolhas sociais, pol"ticas, econKmicas e culturais que fa%em a

    vida ser melhor ou pior *ão é exagero di%er que as classes dirigentes, historicamente,

    escolheram mais em seu favor do que para efetivamente garantir melhores condi&'es de vida

    s classes populares Escolheram pela desigualdade, pela violência e pelo conservadorismo

    Estas escolhas fa%em com que os abismos que separam as pessoas se(am imensos,

    comprometendo a efetiva&ão dos direitos e dos valores proclamados

    Besmo assim, as pessoas que sentem na carne a explora&ão, a expropria&ão, a escravidão, a

     pobre%a e a opressão não se calam #rgani%am$se e fa%em lutas Foi e continua sendo assim

    que os pobres, do campo e da cidade, constroem lutas por direitos U nas lutas populares que

    nascem os direitos humanos U porque os que não têm direitos exigem reconhecimento que os

    direitos humanos passam a ser garantidos U porque as v"timas de viola&'es dos direitos

    humanos reclamam repara&ão que os direitos precisam ser efetivados U porque continuam na

    luta, mesmo contra todo tipo de CdonoD e todo tipo de CcercaD, enfrentando todo tipo de

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 27 .

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    adversidade e repressão, que a sociedade toda passa a ter direitos U por isso que os direitos

    humanos são constru&ão hist/rica que nasce das lutas populares Sua institucionali%a&ão em

    documentos (ur"dicos é resultado de processos largos e contradit/rios de luta !o serem

    institucionali%ados, passam a ser exigência para todos #u se(a, toda pessoa, toda organi%a&ão

    social e, de modo particular, o poder pIblico, estão comprometidos com o respeito e a

     promo&ão dos direitos, não somente os seus, mas os de todas as pessoas *a sua base, porém,

    está o direito a ter direitos

    # direito a ter direitos parte do princ"pio de que cada pessoa está situada no mundo, que é um

    lugar pol"tico #u se(a, cada pessoa fa% parte de uma comunidade pol"tica na qual é

    reconhecida e pode reconhecer os demais semelhantes, todos, indistintamente, como su(eitos

     pol"ticos, como cidadãos, como su(eitos de direitos

    Em contraste, a nega&ão da possibilidade de participa&ão numa comunidade pol"tica implica

    na nega&ão da humanidade fundamental que está em cada pessoa +a" que todas as

    experiências hist/ricas de Cestado de exce&ãoD, modelos excludentes M s ve%es autoritários,

    outras ve%es mantidos dentro de Estados supostamente democráticos M, são formas de negar a

    grupos ou segmentos sociais as condi&'es básicas da cidadania 0uando se instala a

    Cexce&ãoD, deixa$se de reconhecer o direito a ter direitos -e também o direito a exigir

    direitos. Em outras palavras, produ%$se completo estranhamento, formal e material, dos

    humanos que passam a ser considerados, por algum argumento unilateral e autoritário, como

    sendo Cquase$humanosD ou Cnão$humanosD

    U comum, no cotidiano, ouvirmos o argumento repisado de que até se aceita direitos

    humanos, mas somente para Chumanos direitosD #ra, posi&'es deste tipo têm na base

    exatamente a idéia de que nem todos os seres humanos podem ser inclu"dos na categoria dos

    ChumanosD +ito de outro modo, excepcionalmente, há humanos que não estão inclu"dos na

    comunidade pol"tica constitutiva dos direitos e, por isso, pass"veis de tratamento que pode

     passar ao largo dos direitos reconhecidos como comuns aos demais M isto vai desde a

    discrimina&ão sutil, até as formas mais graves de violência e elimina&ão sumária -produ%ida

     pela a&ão ou omissão do Estado ou mesmo por particulares. ! (ustificativa, produ%ida por

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 25 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    quem está inclu"do na ordem dos direitos, contra os que são exclu"dos dela, é que estes, por

    terem quebrado a ordem que os reconheceria como su(eitos de direitos, merecem tratamento

    margem do +ireito 3sto significa di%er que, se estão em posi&ão inferior, é por sua pr/pria

    culpa +ito de outra forma, é leg"timo, a quem está inclu"do na ordem, determinar que certos

    tipos que se rebelaram contra ela ou que, aos olhos de quem determina a ordem, assim são

    entendidos, se(am tratados excepcionalmente, fora da ordem, fora do +ireito # mais

    surpreendente deste tipo de discurso é que a barbárie é legitimada como a&ão civili%at/ria

    )or (á não participarem da comunidade da cidadania, desalo(ados que foram da condi&ão de

    su(eitos que têm direito a ter direitos, não lhes resta também o direito de exigir direitos )ara

    ser mais exato, resta$lhes calar e submeter$se ordem dos que têm direitos, impossibilitados,

    inclusive, de reclamar ou mesmo de declarar como in(usta a ordem que os encerrou na

    categoria dos desordeiros, dos que não mais podem conviver na comunidade dos cidadãos

    Seu grito ecoa como bagun&a, incKmodo

    )ara evitar qualquer audiência aos que ordeiramente seguem seus afa%eres pIblicos e privados

    resta ordem afastá$los da vista *unca faltam motivos, s ve%es aparentemente altos e

    significativos, para impedi$los de aparecer e de di%er ! ordem pIblica, constitu"da

    exatamente na base da participa&ão M na possibilidade do aparecer e do di%er M de cada um e

    de cada uma, é invocada como impedimento para que esses CunsD que, por motivo (usto se

    rebelam contra ela, dela tomem parte, aparecendo e di%endo U o fim da ordem pIblica_ U o

    fim do Estado de +ireito_

    #ra, um Estado de +ireito que, em nome do +ireito declara que cidadãos que dele participam,

     por se rebelarem contra a in(usti&a, deixam de ter a prote&ão do +ireito e a condi&ão de

    su(eitos de direitos é, contraditoriamente, um Estado de não$+ireito, sinKnimo de

    autoritarismo # autoritarismo vem revestido de a&ão democráticaN o melhor a fa%er com este

    tipo de gente, em nome da democracia, é afastá$lo da convivência democrática -mais que

    criminali%ando sua atua&ão, desmorali%ando sua causa.

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 2 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

    30/49

    3nfeli%mente assistimos a este tipo de posi&ão nos discursos replicados contra as mobili%a&'es

    de Csem terraD, de mulheres, de negros, de pessoas com deficiência, de ind"genas, de pobres

    Essas pessoas podem ser consideradas como CpessoasD, contanto que fiquem quietas e que

    não apare&am 0uando resolvem aparecer, para cobrar a (usti&a e a igualdade propalada pela

    ordem, (á não podem ser reconhecidas pelos seus Chumanos direitosD Sentados em nossas

    confortáveis poltronas cidadãs, nem precisamos tapar nossos ouvidos ou su(ar nossas

    consciências M e muito menos nossas mãos M pois os encarregados de manter a ordem, de

    fa%er cumprir a lei é que cuidam disso !té quando continuaremos nos reconhecendo cidadãos

    deixando de reconhecer a cidadania dos outros4

    >eafirmamosN todas as pessoas têm que respeitar e reconhecer os direitos humanos *ão por

    ra%'es ego"stas, ou se(a, para que seus pr/prios direitos se(am respeitados e reconhecidos

    6abe$lhes o dever de respeitar e reconhecer os direitos dos outros simplesmente porque são

    direitos humanos, das outras pessoas, de todas as pessoas !s organi%a&'es e movimentos

     populares, neste sentido, são agentes fundamentais no processo de luta por direitos, se(a para

    criar novos direitos, se(a para fa%er com que aqueles que foram institucionali%ados deixem de

    ser Cletra mortaD e se transformem em a&ão, em pol"ticas pIblicas

    !s responsabilidades são de todos, mas o tipo de responsabilidade é diferente ! uma pessoa,

    individualmente, cabe reconhecer o outro ser humano como su(eito de direitos, não o

    agredindo nem o discriminando e, sim, respeitando$o em sua dignidade !s organi%a&'es e

    movimentos da sociedade civil têm a tarefa de mobili%ar as pessoas e articular suas lutas para

    apresentar agendas novas e renovadas de direitos; para prestar aten&ão, vigiar, controlar,

    monitorar para que nem indiv"duos, nem empresas, nem o poder pIblico violem os direitos e,

    mais do que isso, para propor alternativas para avan&ar na efetiva&ão dos direitos !s

    empresas e grupos privados não podem transformar sua voca&ão para o lucro e a apropria&ão

     privada dos bens pIblicos em instrumentos de viola&ão dos direitos # )oder )Iblico, o

    Estado, nas suas diversas esferas e poderes, tem a responsabilidade de atender s demandas

    sociais e de regular as rela&'es, de forma a garantir que os direitos se(am reali%ados e as

    viola&'es se(am reparadas

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 30 .

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    +e modo particular, as organi%a&'es e movimentos populares são agentes pol"ticos que

    demandam o alargamento dos direitos humanos e das identidades sociais Fa%em isto pela

    constru&ão hist/rica de su(eitos -sociais e pol"ticos., através da organi%a&ão autKnoma e

    independente de pessoas e segmentos, em geral exclu"dos social e politicamente Hêm a

     pretensão de transformar a realidade, alargando a cidadania Fa%em isto mediante a

    apresenta&ão de demandas leg"timas que, do singular -indiv"duo., ou do particular -grupos,

    segmentos., pretendem se(am mais ou menos universali%adas para o con(unto da sociedade

    Hêm no Estado o principal foco demandado, mas também lutam por transforma&'es nas

    rela&'es econKmicas e culturais Em suma, con(ugam +3>E3H#S e 3+E*H3+!+ES como

    demandas e exigem )!>H363)!]^# e 6#*H>#PE S#63!P São agentes de alargamento

    da democracia, na medida em que suas demandas coincidem com direitos e identidades,

     participa&ão e controle social, pelo viés participativo )or outro lado, são considerados

    desa(ustes sistêmicos, que atentam contra a ordem e o equil"brio social, sendo, portanto, pelo

    viés funcionalista, essencialmente antidemocráticos São, por ess(ncia, agentes de crise e de

    desestabili%a&ão socialN ao demandarem direitos e identidades, participa&ão e controle social,

    estão sempre exercitando o dese(o -9topia. de constru&ão de novas formas de organi%a&ão

    social, apontando para a substantividade radical da democracia e dos direitos humanos

    6ontrastam, sobremaneira, com a institucionalidade -do Estado e do Bercado. que, em geral,

     prima pela manuten&ão da ordem e da estabilidade social

    Em suma, entendemos que as organi%a&'es e movimentos populares da sociedade civil têm

    uma contribui&ão essencial na promo&ão da luta pelos direitos humanos !través das diversas

    organi%a&'es autKnomas e independentes, cabe$lhesN a. monitorar   os compromissos com

    direitos humanos -do Estado e do Bercado.; b. organi%ar as demandas sociais por direitos,

    fa%endo$as convergir em lutas comuns e em agendas de articula&ão e em pautas de

    reivindica&ão; c. em suma, cabe$lhes ser, em grande medida, o Cgrilo socialD -a exemplo do

    CgriloD de )in/quio., ou se(a, parte da consciência coletiva de (usti&a

    )ara finali%ar, 5oaventura de Sousa Santos lembra que direitos humanos podem ser parte da

    solu&ão, mas também podem ser parte do problema a ser enfrentado pelas lutas populares e

    libertárias ! acuidade de sua leitura chama a aten&ão para a hist/rica utili%a&ão do discurso

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 31 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    dos direitos humanos como legitimador exatamente de sua inviabili%a&ão hist/rica, como

    recurso de domina&ão Bostra, por outro lado, que são as lutas populares por direitos que

    alimentam o alargamento de uma concep&ão emancipat/ria, radicalmente profunda, exigência

    dos direitos humanos 6om isso, chama a aten&ão para a necessidade de sempre nos

     perguntarmos a servi&o de que estão nossas estratégias e nossas a&'es, para além de nossas

    melhores inten&'es

    ota

      Mestre e? 'iloso!ia @': &ro!essor de 'iloso!ia no +nstituto Berthier@+'+B,: Passo 'undo: %S: coordenador nacional de !or?a

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    PROGRAMA 4

    OS SISTEMAS DE JUSTIÇA E SEGURANÇA NA PROMOÇÃO DOSDIREITOS HUMANOS

     Beatriz Affonso1

    ! consolida&ão da democracia na !mérica Patina, em geral, e no 5rasil, em particular, tem se

    confrontado com uma série de obstáculos Buitos desses obstáculos resultam do legado do

     per"odo autoritário, que ainda recorrentemente esbarram na efetiva prática democrática

    9m Estado democrático tem caracter"sticas imprescind"veis que ultrapassam o direito a eleger

    seus representantes *esse sentido, tem que serN eficiente M respeitando as normas legais e

    constitucionais para condu%ir seu mandato pol"tico; responsável M aceitando responder pelas

    conseq

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    !s viola&'es de direitos humanos praticadas por agentes pIblicos, ao longo dos anos de

    chumbo, passaram a ser utili%adas em ampla escala, agora vitimando as pessoas das classes

    menos favorecidas que, aos olhos do Estado, são reconhecidas como criminosas em potencial

    Pogo, o uso de tortura nos recintos policiais, o péssimo tratamento aos presos, os assassinatos

    extra(udiciais cometidos pela pol"cia, a execu&ão de crian&as e adolescentes de rua, a

    forma&ão de grupos de exterm"nio são a&'es que afetam a ampla maioria da sociedade

     *os maiores centros urbanos brasileiros, a pol"cia mata muitas ve%es sem (ustificativa

    Executam$se, sumariamente, suspeitos e criminosos Buitas dessas v"timas vivem nas

     periferias e fa%em parte dos grupos mais vulneráveisN os pobres, os negros e os sem$teto +o

     ponto de vista das pol"cias, especialmente a militar, essas mortes fa%em parte de uma

    Cestratégia de confronto com criminososD, que visa redu%ir a criminalidade -)inheiro, 177?a,

     p LA.

    Esses casos têm um denominador comumN a impunidade Este é certamente, um dos

     principais fatores que estimulam a viola&ão do direito vida, integridade pessoal e a outros

    direitos consagrados por agentes que estão representando a lei perante a sociedade !

    fragilidade do sistema de aplica&ão do direito M pelas instncias do Wudiciário, do Binistério

    )Iblico e de pol"cias na investiga&ão de viola&'es aos direitos humanos e na puni&ão dos

    responsáveis M assegura a impunidade e estimula a vingan&a privada, os grupos de exterm"nio

    e a pr/pria violência policial !tuam como se o Estado não fosse responsável por controlar a

    violência cometida pelo seu pr/prio aparato repressivo

    9ma provável explica&ão para esse fenKmeno é que a forma social de Cautoritarismo

    socialmente implantadoD pode sobreviver muito bem ao impacto da democrati%a&ão pol"tica

    -#+onnell, 17A@; )inheiro, 1771.

    Se, por um lado, são estas as institui&'es de vital importncia para a ordem democráticaN o

    Wudiciário, o Binistério )Iblico e a pol"cia, por outro lado, a não atua&ão em conformidade

    com as suas prerrogativas fragili%a o mesmo Estado democrático

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 34 .

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    ! 6onstitui&ão Federal de 17AA estabeleceu todo um novo arcabou&o de prerrogativas para

    estas institui&'es, buscando adequá$las ordem democrática

    Esta 6onstitui&ão cristali%ou um processo de transforma&ão que vinha ocorrendo na

    institui&ão, desde o per"odo da transi&ão democrática, inaugurado em 17A8 com as elei&'es

    diretas para governadores dos Estados Federados )assou também a, efetivamente, ser mais

    atuante e comprometida com a promo&ão e defesa dos direitos fundamentais

     *o que di% respeito ao Binistério )Iblico, a nova 6onstitui&ão Federal ampliou as atribui&'es

    e conferiu novas prerrogativas para a atua&ão dos promotores de (usti&a Entre outras fun&'es

    espec"ficas, passou a ter a incumbência de exercer o controle externo das pol"cias -artigo 1T1,

    incisos :33 e :333. 6om autoridade não s/ para denunciar as a&'es ilegais cometidas por

     policiais, o Binistério )Iblico, por go%ar de autonomia e independência e, ainda, por contar

    com uma estrutura institucional fortalecida que lhe permite desenvolver essa tarefa, disp'e de

     prerrogativas para avaliar e monitorar as atividades das pol"cias, inclusive acompanhando as

    investiga&'es e solicitando novas diligências ou testemunhas quando avaliar que estão

    incompletas as investiga&'es reali%adas pelas pol"cias *esse sentido, a atua&ão do Binistério

    )Iblico lhe confere poder para exercer o controle externo das pol"cias sem que suas

    determina&'es possam vir a ser questionadas por outra institui&ão 3ndependentemente de os

    /rgãos de controle interno M a saber, as corregedorias M serem eficientes ou não, a atua&ão do

    Binistério )Iblico não interfere nos processos administrativos internos das institui&'es

     policiais Hal controle externo da atividade policial pelo Binistério )Iblico não tem o intuito

    de criar uma hierarquia e, tampouco, de subordinar a autoridade policial aos agentes do

    Binistério )Iblico # que se pretendeu foi proporcionar melhor qualidade aos inquéritos

     policiais, para que a promotoria possa desenvolver com mais eficácia o seu trabalho *o

    5rasil, a violência está institucionali%ada e é importante que o Binistério )Iblico combata os

    abusos praticados pelo poder de pol"cia

     *o caso do )oder Wudiciário, a 6onstitui&ão permitiu que sua organi%a&ão institucional

     pudesse estar disposta de forma a garantir a independência dos (u"%es, garantindo que

    qualquer interven&ão pol"tica não mais pudesse condicionar ou coagir as decis'es dos (u"%es

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 3" .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    #utro instrumento important"ssimo que a mesma 6onstitui&ão criou foi a +efensoria )Iblica,

    /rgão vinculado aos poderes executivos estaduais que garante popula&ão de baixa renda

    orienta&ão e defesa (ur"dica, possibilitando o real acesso (usti&a quela camada da sociedade

    que, até aquele momento, não tinha sequer capacidade de ser defendida com qualidade

    +e maneira indireta, mas igualmente importante, a mesma 6onstitui&ão determinou ser crime

    no 5rasil tanto a prática da tortura quanto a da discrimina&ão racial Bais tarde, Peis Federais

    foram promulgadas, tipificando e estabelecendo penas para esses crimes, possibilitando que o

    )oder Wudiciário pudesse conhecer e (ulgar casos de tortura e discrimina&ão racial

     *o ano de 177?, outro importante instrumento foi efetivadoN a Pei Federal n 7877, que

    transferiu a competência do (ulgamento dos homic"dios dolosos contra a vida cometidos por

     policiais militares da Wusti&a Bilitar para a Wusti&a 6omum !inda que as investiga&'es desses

    casos continuem sendo reali%adas por policiais militares, tais processos passaram a ser

     (ulgados pela Wusti&a 6omum, onde os Wu"%es não são militares, e quando denunciados pelo

    Binistério )Iblico, se a denIncia é acatada pelos (u"%es responsáveis, são (ulgados por um

     (Iri composto de civis ! transferência dos crimes dolosos cometidos por policiais militares

     para a competência da Wusti&a comum possibilitou, teoricamente, que execu&'es extra(udiciais

    de civis se(am (ulgadas de acordo com as leis civis

    Bais recente e igualmente importante, foi a cria&ão das #uvidorias de )ol"cia em quase todos

    os estados da federa&ão +otada de Pei Federal que determina que o om!usdman ou ouvidor

    deva ser autKnomo e independente, a institui&ão tem por fun&ão receber denIncias,

    reclama&'es e representa&'es sobre a&'es praticadas por servidores civis e militares da

    Secretaria da Seguran&a )Iblica de cada estado, as quais são consideradas arbitrárias e

    desonestas, ou, ainda, que violem os direitos humanos 6om prerrogativas para propor a

    instaura&ão de sindicncias, inquéritos e outros procedimentos investigativos, não foram

    conferidas aos ouvidores a possibilidade de apurar diretamente uma viola&ão, mas sim a

     possibilidade de acompanhar os casos e inquéritos, contribuindo para a agilidade e o rigor nas

    investiga&'es

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 36 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    ! #uvidoria recebe a denIncia da popula&ão e encaminha a queixa s corregedorias e ao

    Binistério )Iblico e segue acompanhando, por of"cio, o desenrolar das investiga&'es Hem

    competência para solicitar diretamente, de qualquer /rgão estadual, informa&'es, certid'es de

    documentos em geral, o que lhe garante acesso a dados que até então eram restritos s

    institui&'es policiais, como o 3)B, por exemplo U também responsável pelos pro(etos

     propositivos que visem ao aperfei&oamento dos trabalhos prestados popula&ão pelos

     policiais e também pelos /rgãos pIblicos

    # desafio da #uvidoria de )ol"cia é dar transparência ao processo correcional da entidade

     policial, atuando como um mecanismo externo, além de fiscali%ar os mecanismos

    constitucionais de controle externo e interno das atividades policiais, que são as corregedorias

    de pol"cia e o Binistério )Iblico

    Entre as excrescências que funcionaram durante a ditadura para encobrir os crimes cometidos

     pelos agentes pIblicos, que ainda estão vigentes, se destacamN as corregedorias das pol"cias e

    a continuidade da Wusti&a Bilitar para o (ulgamento de crimes comuns cometidos por policiais

    militares

    !s 6orregedorias são /rgãos das )ol"cias Bilitar e 6ivil, responsáveis pelo controle interno

    das atividades dos policiais e têm por atribui&ão apurar as in)rações penais no #m!ito da

    instituição penal militar e civil estadual 

    ! 6orregedoria da )ol"cia Bilitar coordena a apura&ão dos fatos que é reali%ada em cada

     batalhão ao qual pertence o policial investigado *os batalh'es existe uma estrutura que

    coordena a reali%a&ão das investiga&'es, sindicncias, processos e os inquéritos policiais

    militares -3)Bs. nos casos de denIncias envolvendo policiais militares em Ccrimes militaresD

    -tipificados no 6/digo )enal Bilitar., em homic"dios dolosos contra a vida, em tortura,

    estupro, etc 9m policial da pr/pria unidade investiga seus colegas, o que muitas ve%es

     prenuncia a possibilidade de uma investiga&ão tendenciosa ou corporativa

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 37 .

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    #s policiais militares envolvidos em crimes comuns ainda são investigados e punidos pela

    Wusti&a Bilitar # 3nquérito )olicial Bilitar muitas ve%es foi questionado nos relat/rios de

    comiss'es de direitos humanos á cr"ticas severas quanto condu&ão das investiga&'es,

    consideradas parciais e limitadas por rela&'es corporativistas, (á que são reali%adas dentro dos

     pr/prios batalh'es policiais

    ! realidade tem demonstrado que os procedimentos adotados na reali%a&ão do 3)B

    apresentam distor&'es que impedem que o processo administrativo funcione adequadamente

    como um mecanismo de controle interno das atividades policiais de forma isenta e imparcial

    )ortanto, conclui$se que a efetiva aplica&ão desses novos instrumentos legais e prerrogativas

    determinadas ao Binistério )Iblico, Wudiciário e pol"ticas de seguran&a pIblica ainda se

    deparam com v"cios do passado, herdados do per"odo autoritário, como pode ser observado

    nos processos de homic"dios dolosos cometidos por policiais militares contra civis, os

    mesmos que são investigados como Cresistência seguida de morteD e denunciados nas

    #uvidorias de pol"cia !inda se verifica, por meio de pesquisas acadêmicas e relat/rios das

    mesmas ouvidorias que, na grande maioria dos casos, os promotores de (usti&a ainda têm

    opinado pelo arquivamento do inquérito, com base em excludente de anti(uridicidade, ou se(a,

    na suposta inexistência de crime

    # que se tem verificado é uma distncia entre o que está na 6onstitui&ão Federal como

    garantias de direito fundamental e a efetiva prote&ão dos direitos humanos para o cidadão

    comum E esta distncia existe porque o processo de democrati%a&ão não foi suficiente para

    fa%er as institui&'es capa%es de aplicarem a lei de forma eficiente # resultado é que muitos

    crimes e viola&'es de direitos humanos nunca se transformam em processos e, quando isso

    acontece, muitas ve%es não desfrutam do empenho e da aten&ão devidos por parte dos

     profissionais de direito que atuam no sistema (udiciário

    !s a&'es ilegais promovidas por agentes policiais, em particular o uso excessivo da for&a, são

    incompat"veis com as atribui&'es que os mesmos receberam da sociedade para protegê$la #

    monop/lio leg"timo do uso da violência f"sica por parte do Estado é um meio para garantir o

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 35 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    respeito lei e não pode ser utili%ado de forma abusiva, sem respeitar os princ"pios da

    legalidade, contribuindo para o aumento de a&'es ilegais que tra%em inseguran&a para a

    sociedade # controle externo das institui&'es de (usti&a e seguran&a e o controle do uso

    abusivo da for&a pelos agentes policiais são temas caros para o respeito aos direitos humanos

    nos regimes democráticos

    002OG3AFA

    P3*`, Wuan; SHE)!*, !lfred  Pro!lens o) transition and consolidation' 1out"ern

     Europe, 1out" -merica and Eastern Europe 177L

    #+#**EPP, Juilermo Contrapontos -utoritarismo e Democrati4ação São )auloN

    :értice, 17A@

    #+#**EPP, Juilermo *o intervieG GithN 6iti%enship, social authoritarianism and

    democratic consolidations =ellog 3nstitute, Wanuar, number 8, 177L

    )3*E3>#, )aulo Sérgio; +3BE*SHE3*, Jilberto C# )assado não está mortoN nem

     passado é aindaD Democracia em Pedaços 9 Direitos Humanos no /rasil$ São

    )aulo, 6ompanhia das Petras, 177@

    ota

      +iretora do 6entro pela Wusti&a e o +ireito 3nternacional M 6EW3P

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 3 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

    40/49

    PROGRAMA 5PROGRAMA 5

    A %,DA *A ME*+A CM S *+%,+-S /MAS

    *ireito hu?ano F in!or?a

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

    41/49

    :ivemos numa sociedade globali%ada, interdependente, bombardeada 8L horas com uma

    carga nunca vista de informa&ão, de imagens, de dados C)lataformasD informacionais estão

    nas onipresentes H:s, nos celulares em todos os ouvidos, na internet em milh'es de sites e

    chats :ivemos cercados por imagens on line de tudo e mais um pouco

    9ma sociedade complexa, desigual e heterogênea, com uma grande indIstria globali%ada com

     potencialidades incomparáveis, mas que amea&a a sobrevivência do planeta !ssim como a

    sociedade, são os meios de comunica&ão, que nela se espelham

    :ivemos num mundo cu(as tecnologias de informa&ão passaram a ter enorme impacto na

    forma&ão das opini'es e nas rela&'es sociais entre seres humanos, na constru&ão dos

    imaginários sociais e individuais

    !s chamadas tecnologias de informa&ão -H36. criam potencialidades enormes para a

    intera&ão entre indiv"duos e conformam imensos espa&os inter$relacionais de forma&ão e

    difusão de idéias, de imagens, por todas as coletividades, com recursos extremamente ágeis,

    dinmicos e populari%ados Bas, assim como os resultados econKmicos da imensa capacidade

     produtiva do mundo não se distribuem igualitariamente entre todos os cidadãos, comunidades

    e pa"ses, a produ&ão e a distribui&ão industrial globali%ada de informa&ão e bens culturais não

    são capa%es, por elas mesmas, de assegurar equanimidade e similaridade dos seus benef"cios

     para todos

     *a realidade, amplas maiorias ainda estão, ou são colocadas, na condi&ão de espectadores, de

    meros receptores e consumidores da produ&ão e divulga&ão das imagens, das falas e atitudes

    desenvolvidas por alguns poucos e multiplicadas pela for&a da economia sob controle de

    outros poucos, senhores quase feudais dos meios de comunica&ão, assim como dos meios

    econKmicos

    +ireito informa&ão, liberdade de expressão, direitos que permitem e até garantem outros

    direitos, são bens sociais de alta relevncia para os seres humanos, mas distribuem$se de

    modo muito desigual nas sociedades

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 41 .

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

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    4 A realidade* distintos direitos e poderes de in5ormação e comunicação

    5obbio nos chama a aten&ão para as diferen&as e incompatibilidades nos direitos humanos,

    exemplificando exatamente com o direito de livre expressão versus  direito a não ser

    enganado, in(uriado, vilipendiado ou enganado

    E, disse também, que não é na formula&ão, nem nos fundamentos te/ricos e filos/ficos, que

    se estampam as diferen&as entre vis'es progressistas e reacionárias na sociedade sobre os

    direitos humanos

    U na realidade da sua aplica&ão, na concreti%a&ão dos direitos sociais, entre eles o de

    comunica&ão e de acesso informa&ão, que são percebidos e se enfrentam as diferen&as de

    opinião e seus efeitos sociais

    )ortanto, não se trata de reafirmar fundamentos te/ricos e filos/ficos dos direitos

    comunica&ão como direito humano Hrata$se de buscar, social e politicamente, os caminhos de

    concreti%a&ão destes direitos, de prote&ão a sua exe+>i!ilidade -5obbio. em sociedade, paratodos e qualquer um

     *o 5rasil, nossa sociedade entende e aceita, com muita facilidade, as conseq

  • 8/19/2019 Direitos humanos e educação

    43/49

    0uando a classe média vê moradores de áreas pobres e favelas como Cpotencialmente

    criminososD, grande parte de sua opinião está formada com olhos e vo%es assentados nos

     (ornais, rádios e H:s *o outro lado, também nas áreas pobres, por meio de tais ve"culos de

    comunica&ão, sobretudo a H:, são formados olhares e valores de autoconsidera&ão +a" a

    grande responsabilidade da produ&ão industrial de comunica&ão, cu(a atra&ão para o noticiário

    CespetáculoD tende a repetir chav'es, a banali%ar situa&'es, a expor um olhar Inico redutor

    das comunidades e seus problemas a uma pauta pré$programada de idéias de fácil digestão no

    horário nobre das aten&'es

    ! morte de uma menina na >ocinha, o massacre no 6omplexo do !lemão em represália

    morte de policial, as imagens de policiais rindo enquanto carregam corpos de traficantes de

     baixo escalão não são apenas banali%a&ão da morte no segmento pobre da sociedade, também

    empobrecem nossa cultura social +esrespeitam não apenas os direitos humanos das v"timas

    expostas, desqualificam toda a sociedade

    !s desigualdades de acesso a terrenos e créditos de constru&ão e a ausência de pol"ticas

    sociais democráticas e igualitárias de urbani%a&ão não são pautas CpopularesD, não atraem

    nem recebem aten&ão ! violência nas ruas, sim :ende (ornal, chama a aten&ão para o

    noticiário de H:, enquanto estigmati%a e divide as comunidades em cacos bons e ruins

    !4 6untando os cacos de comunidades partidas

    0uando o O!servat:rio de 3avelas, por meio do pro(eto ?magens do Povo, forma fot/grafos

     populares, desenvolvendo uma grade escolar que é a maior e a mais aprofundada em

    fotografia humanitária em todo o 5rasil, e seus (ovens fot/grafos documentam realidades nas

    favelas, a partir de pontes de intercmbio concreto com os moradores, estão humani%ando não

    apenas a vida social daquelas comunidades como também as suas pr/prias *ão apenas

    constroem novos valores sociais com o seu novo olhar sobre aquela realidade, ou elevam a

    auto$estima das comunidades -., também dão formato e concretude ao direito humano de

     procurar verdades, de documentar realidades a partir da experiência e do olhar dos seus

     protagonistas, vencendo as fronteiras entre produtores e consumidores de infocomunica&ão

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 43 .

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    Hal experiência social amplia a cultura social não s/ dos que passaram pela escola popular de

    fot/grafos e sua comunidade, mas alarga a cultura de toda a sociedade, expondo a rique%a do

    exerc"cio dos direitos humanos

    !ssim, também, as atividades do escrit/rio$pro(eto pIblicointeresse, recebendo mandato de

    contingente de trabalhadores para desenvolver (ornalismo investigativo em busca da

    informa&ão estratégica que lhes permita enfrentar uma disputa de interesses sociais e

    econKmicos com um grande grupo empresarial; ou mandato de familiares para a(udar a

    desvendar e a punir crimes contra a vida de (ovens de fam"lias pobres, não se limitam a

    mostrar a importncia estratégica do direito humano a procurar a informa&ão que possa fa%er

    diferen&a

    5uscando outros olhares, outros fa%eres em termos de infocomunica&ão, indo atrás de outras

    verdades, compartilhando informa&ão e experiência com outros seres humanos, tratam da

    essência do direito humano comunica&ão

    E, enfrentam divergências de opini'es e avalia&'es por parte de outros seres humanos, pois,

    como escreveu 5obbioN

    C-. dado que é sempre uma questão de opinião estabelecer qual o ponto em que um

    -direito. termina e o outro -direito. come&a, a delimita&ão do mbito de um direito

    fundamental do homem é extremamente variável e não pode ser estabelecida de uma ve%

     por todasD

    !ssim, também, tem estado em (ogo uma disputa de opini'es quando comunidades pobres

    come&am a produ%ir a pr/pria comunica&ão, procurando informar$se do que querem, do que

     precisam, do que é fundamental para a melhoria de suas vidas E passam a informar os demais

    com (ornais pr/prios, rádios comunitárias, fotografia comunitária, sites espec"ficos

    6onformam alternativas que vão além do discurso da liberdade de expressão 5uscam

    construir poder pr/prio de comunica&ão, vencendo muitas ve%es as divis'es, (untando os

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 44 .

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    cacos de cidades e dos meios de comunica&ão social Fa%em comunica&ão que concreti%a a

    igualdade de direitos, fotografando e relatando como iguais entre iguais

    6om isto, (untam as partes, os cacos, de um vaso social que é mais bonito quando inteiro

    #4 0uscar as sa'das do discurso

    8*odo o "omem tem direito = li!erdade de opinião e expressão2 este direito inclui a

    li!erdade de, sem inter)er(ncias, ter opiniões e de procurar, rece!er e transmitir in)ormações

    e idéias por +uais+uer meios, independentemente de )ronteiras$7 . -rtigo @A . DeclaraçãoBniversal dos Direitos do Homem, @A$

    !ssim como o direito ao tra!al"o nasceu com a indIstria moderna e a revolu&ão nos modos

    de produ&ão anteriores, não podemos debater o direito comunica&ão, no século 223, sem

    colocá$lo no contexto da revolu&ão digital, da sociedade da informa&ão, da evolu&ão

    vertiginosa das tecnologias de informa&ão

     *ão podemos deixar de confrontar tais avan&os tecnol/gicos com a realidade atrasada da

    distribui&ão das rique%as, do exerc"cio feudal dos poderes pol"ticos, da distribui&ão de meios

    de comunica&ão pIblicos como sesmarias a nobres e aventureiros *ão podemos deixar de

    considerar que os Cneg/cios de informa&ãoD conformam mais do que um poder de influenciar

    a sociedade, apropriam$se de bens e conhecimentos coletivos para fins privados, nem sempre

    com qualquer sentido de interesse pIblico

    )or isso tudo, não dá para contentar$se com enunciados politicamente corretos; é preciso

    abordar a realidade do direito comunica&ão, em nosso tempo, não apenas como exerc"cio de

    liberdade, mas, sobretudo como uma disputa de poderes$

    )oder se constr/i a partir da consolida&ão da liberdade e do reconhecimento dos direitos, mas

    também a partir da movimenta&ão social, da conquista organi%ada de novos espa&os e

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 4" .

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    métodos, da atra&ão de novas alian&as, da forma&ão de novos protagonistas e novos

    contingentes de pessoas dispostas a mudar a realidade, come&ando com as suas pr/prias

    !s formas de informa&ão e comunica&ão popular são express'es de um processo de

    conforma&ão de novos poderes # uso da internet, a dissemina&ão da fotografia digital, as

     possibilidades de produ&ão e distribui&ão de imagensVdados, denIncias sociais, por meios

    digitais, a grandes grupos de outras comunidades mostram caminhos potenciais

    &4 O direito 7 comunicação e 7 in5ormação

    # direito comunica&ão e informa&ão como liberdade e direito fundamental do homem foi

    formatado em 17LA, pelo texto da +eclara&ão 9niversal dos +ireitos umanos, em seu artigo

    17, acima citado

     Hal formato foi um come&o )recisamos pensar na atuali%a&ão dos modos de produ&ão da

    informa&ão e comunica&ão de interesse pIblico e social, com respeito integral ao homem e

    suas comunidades, em direito pr/pria imagem, em protagonismo de cidadãos, emqualifica&ão de todas as vo%es e de respeito a todas as imagens )ensar infocomunica&ão

    como ferramenta de solidariedade, de preserva&ão cultural, de conquista de igualdade, de

     balanceamento simétrico das sociedades

    +evemos pensar como proteger, como disse 5obbio, a comunica&ão dos segmentos CpobresD,

    CfracosD, CfeiosD e Cnão$oficiaisD da sociedade +isputando meios e espa&os com a excessiva

    exposi&ão do lado CricoD, CforteD, CbonitoD e CoficialD )recisamos considerar que, muitasve%es, se trata de enfrentar for&as sociais opostas

     Pois, direitos )undamentais = li!erdade e = integridade )&sica signi)icaram o !animento da

    li!erdade de escravi4ação de seres "umanos e en)rentaram a resist(ncia não s: dos donos de

    escravos mas dos +ue lucravam com a produção !aseada na mão.de.o!ra escrava$

    *+%,+-S /MAS , ,*CA 46 .

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    das antecipa&'es iluminadas dos fil/sofos, das cora(osas formula&'es dos (uristas, dos

    esfor&os dos pol"ticos de boa vontade, o caminho a percorrer é ainda longoD

    otas

     'ot89ra!o do ru&o +?a9ens /u?anas.

    2 #ornalista H coordenador do site &Iblicointeresse.

      *+%,+-S /MAS , ,*CA 45 .

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    )residente da >epIblica u&s ?nácio ula da 1ilva

    Binistro da Educa&ão

     3ernando Haddad 

    Secretário de Educa&ão a +istnciaCarlos Eduardo /ielsc"oFsG

    89 :;O2A< A28O PA3A O F=8=3O