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CENTRO UNIVERSITARIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS
DOCUMENTO NOVO NA AO RESCISRIA
RICARDO DE CAMARGO RA 447549-5 Turma: 319E
Fone: 3257-5721 Email: [email protected]
So Paulo 2003
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RICARDO DE CAMARGO
DOCUMENTO NOVO NA AO RESCISRIA
Monografia apresentada banca examinadora da Faculdade de Direito das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigncia parcial para obteno do grau de bacharel em direito, sob a orientao do professor Marcelo de Almeida Teixeira.
So Paulo 2003
9
Banca Examinadora: Professor Orientador
Professor Argidor ________________________________
Professor Argidor ________________________________
10
Aos Meus Pais
Terezinha e Jos Carlos
minha Famlia e Amigos
11
Agradecimento
Ao Prof. Marcelo de Almeida Teixeira, meu
orientador desde o primeiro momento, pela dedicao a mim
empenhada.
12
SUMRIO
1. Introduo ----------------------------------------------------------------------------07
2. O recurso e a Ao Rescisria
2.1. Recurso ------------------------------------------------------------------09
2.2. Ao Rescisria --------------------------------------------------------11
2.3. Do conhecimento -------------------------------------------------------12
3. A ao rescisria
3.1. Fundamentao ---------------------------------------------------------13
3.2. Definio ----------------------------------------------------------------14
3.3. rgo competente e prazo --------------------------------------------16
3.4. Pressupostos especficos ----------------------------------------------19
3.5. Legitimidade ------------------------------------------------------------20
3.6. Caractersticas ----------------------------------------------------------21
3.7. Procedimento -----------------------------------------------------------23
4. Documento novo
4.1. Fundamentao -----------------------------------------------------------28
4.2. Pareceres quanto ao documento novo -------------------------------28
4.3. Interpretao ------------------------------------------------------------30
4.4. Concepo de novo -------------------------------------------------31
4.5. Obteno de documento novo ----------------------------------------33
4.6. Novidade do documento. ---------------------------------------------35
4.7. Fundamento legal ------------------------------------------------------36
13
5. Consideraes Finais --------------------------------------------------------------38
6. Concluso-----------------------------------------------------------------------------41
7. Bibliografia --------------------------------------------------------------------------45
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1. Introduo
O presente estudo tem por finalidade demonstrar a possibilidade
disposta no ordenamento jurdico, precisamente no inciso VII do art. 485
do Cdigo de Processo Civil brasileiro, de se pleitear um novo
pronunciamento, agora favorvel, diferentemente da deciso de que se tem
a inteno de modificar, mesmo se esta j estiver transitada em julgado no
processo anterior. Trata-se de uma exceo regra do princpio da coisa
julgada, a qual a priori, imutvel, e tem a finalidade de dar segurana aos
ato decididos em juzo.
A idia deste analisar a definio de documento novo como requisito
para ensejar um pedido de resciso de um julgado, atravs de uma ao
rescisria. Essa anlise leva ao reconhecimento de uma outra ao
autnoma a que deu origem ao ato decisrio que se pretende rescindir,
baseando-se na obteno de um documento novo.
O trabalho, assim, foi dividido em duas partes: a primeira, de cunho
introdutrio, apresenta a ao rescisria de maneira a distingui-la dos
recursos, uma vez que estes pressupem a inocorrncia da coisa julgada. A
segunda parte, mais especfica, tratar da interpretao de documento novo,
15
como fundamento ao rescisria na busca de justia que, teoricamente,
no se fez na primeira demanda.
O documento novo estar-se- construindo um conjunto concatenado de
argumentos, dentre os quais, ser de tal fora capaz de proporcionar ao
autor de uma ao rescisria, conforme seu pedido, a resciso, anulao da
deciso por ela atacada e lhe garantir a satisfao do pedido formulado.
Inegvel, no entanto, a necessidade de que o autor somente tenha
conhecimento da existncia deste documento aps o julgamento e o trnsito
da lide anterior.
notrio o fato de que o direito, dentre outros aspectos, tem por escopo
a obteno da justia e dado o carter indeterminado do que se considera
como sendo justo, faz-se necessrio a existncia de um instrumento prprio
a capacitar um reexame do ato decisrio, consistindo a ao rescisria uma
ltima alternativa admitida processualmente.
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1. O recurso e a Ao rescisria
2.1. Recurso
O recurso, no sentido etimolgico da palavra: retorno, volta,
regresso, um instrumento nos sistemas processuais, o qual se pode
solicitar o reexame do ato decisrio. A sociedade regulada por normas
jurdicas, cabendo aos juzes a aplicao do direito, uma vez que eles so os
representantes do Estado e revestidos de jurisdio, ou seja, tm o poder de
dizer qual o direito. No entanto, suas decises judiciais podem estar
sujeitas a falhas, sendo necessrio uma anlise mais apurada no mrito para
garantir sociedade uma certeza da soluo adequada ao direito e justia.
Atravs do recurso tem-se o poder de recorrer, de buscar um novo
pronunciamento do pleito forense, livre de possveis vcios de juzo
errores in jucicando e vcios de atividade errores in procedendo. O
recurso um pedido cuja pretenso o reexame de uma deciso judicial,
podendo esta ser: uma sentena, uma deciso interlocutria ou um acrdo.
17
Sentena a deciso terminativa que pe fim ao processo com ou sem
julgamento de mrito. Em princpio, sentena o ato pelo qual o juiz pe
termo ao processo, decidindo ou no o mrito de causa1.
A Deciso interlocutria um ato do juiz que resolve questes, pontos
controvertidos de fato e de direito, no curso do processo, determinando
providncias para o andamento processual. Conceitua-se como sendo o
ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questes incidentes2.
Enquanto, o Acrdo que deriva de acordam, forma adotada para
iniciar o texto da deciso de um rgo judicirio colegiado, porque
significa pem-se de acordo, ficam ou esto de acordo. o julgamento
proferido pelos tribunais superiores3.
O pedido recursal pode ser feito no mesmo processo, ou corre em autos
apartados, como no caso de interposio de agravo de instrumento por
exemplo (art. 522 CPC) e busca a reforma total ou parcial, esclarecimento,
invalidao ou integrao do ato decisrio impugnado. O recurso pode ser
formulado ao prprio rgo que proferiu a deciso judicial ou a outro rgo
hierarquicamente superior (Tribunais). Geralmente, os recursos buscam a
1 Marcus Cludio Acquaviva, Dicionrio Bsico de Direito Acquaviva, p. 263. 2 Idem, p.132. 3 Idem, p. 65.
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no formao da chamada coisa julgada, que pode ser formal ou material,
entretanto, quando esta ocorreu e j se tem o trnsito em julgado da
sentena proferida pelo juiz de primeira instncia, pode a parte
desfavorecida com tal deciso, fazer uso de um instrumento processual
denominado ao rescisria, que uma ao autnoma de impugnao em
face de uma deciso do judicirio transitada em julgado, uma sentena tida
como processualmente defeituosa, contra a qual no cabe mais qualquer
recurso, desde que atendidos os requisitos necessrios sua procedncia.
2.2. Ao rescisria
A ao rescisria no um recurso. Este, um ato processual que tem
origem no mbito do processo e tem como objetivo principal o
impedimento da formao de coisa julgada e a reapreciao de um ato do
judicirio, buscando a reforma total ou parcial deste ato tido pelo recorrente
como errneo.
J a ao rescisria um ato originrio e tem a funo de desconstituir
uma deciso que j transitou em julgado materialmente e constituiu coisa
julgada, enquanto que, no recurso a deciso ainda no transitada, pois o
recurso depende da existncia de um processo principal. Ao contrrio do
recurso, a ao rescisria no persegue a reapreciao do ato judicial, mas a
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desconstituio do julgado que, em certas situaes, pode ensejar um novo
julgamento, exigindo a presena das condies da ao e de seus requisitos
gerais e especficos, devendo o seu propositor requerer impreterivelmente o
novo julgamento.
2.3. Do conhecimento do recurso
O conhecimento de um recurso depende de certos pressupostos,
denominados de admissibilidade, prprios dos recursos. So eles, alm da
legitimidade e do interesse, que esto ligados pessoa do recorrido, so
tambm pressupostos: a recorribilidade, a tempestividade, a singularidade
do recurso, a adequao, o preparo e a motivao, estes decorrentes do
recurso propriamente dito.
O recurso poder at desconstituir a deciso para que um novo
julgamento se proceda, agora em superior instncia, por rgo colegiado.
Na ao rescisria no h de se falar em nulidade ou anulabilidade do
mrito julgado, tendo em vista que, a ao rescisria busca a
rescindibilidade do julgado com argumentos slidos e eficazes, em casos
especficos, sem analisar com a boa ou a m apreciao de uma prova, ou a
justia ou a injustia da deciso.
20
2. Ao rescisria
3.1. Fundamentao
A ao rescisria esta regulamentada no atual Cdigo de Processo Civil
, no Livro I, ttulo IX, Do processo nos Tribunais, captulo IV, artigo 485.
Narra o artigo 485 A sentena de mrito, transitada em julgado, pode
ser rescindida quando:
I- se verificar que foi dada por prevaricao, concusso ou corrupo do
Juiz;
II- proferida por Juiz impedido ou absolutamente incompetente;
III- resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida
ou de coluso entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV- ofender a coisa julgada;
V- violar literal disposio de lei;
VI- se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo
criminal, ou seja, provada na prpria ao rescisria;
21
VII- depois da sentena, o autor obtiver documento novo, cuja
existncia ignorava, ou de que no pde fazer uso, capaz, por si s, de lhe
assegurar pronunciamento favorvel;
VIII- houver fundamento para invalidar confisso, desistncia ou
transao, em que se baseou a sentena;
IX- fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da
causa.
3.2. Definio
A ao rescisria, como define o Professor Acquaviva, a ao que
tem por objetivo a decretao da nulidade de sentena transitada em
julgado. Cabe apenas contra sentena que j no pode mais ser alcanada
por recurso ordinrio ou extraordinrio4.
V-se que a ao rescisria um instrumento processual que viabiliza a
anulao da sentena que julgou o mrito e transitou em julgado, e por
intermdio desta ao, pode-se pleitear a anulao da sentena e
eventualmente, um novo julgamento.
4 Marcus Cludio Acquaviva, Dicionrio Bsico de Direito Acquaviva, p. 62.
22
notrio que a ao rescisria uma exceo, na qual, a regra : a
sentena transitou em julgado, imutvel , ou seja, lei entre as partes. E
eventualmente, se uma das hipteses do artigo 485 do Cdigo de Processo
Civil se fizer presente, pode a parte prejudicada pleitear a anulao desta
sentena.
23
3.3. rgo competente e prazo
O rgo do judicirio competente para julgar a ao rescisria ser
sempre o rgo colegiado, esta ao sempre comea no tribunal e nunca
ser julgada por um juiz singular de primeiro grau de jurisdio.
A competncia, segundo o Cdigo de Processo Civil, para processar e
julgar a ao rescisria originariamente dos tribunais. Esta competncia
tem natureza absoluta e fixada funcional e verticalmente, ou ainda, por
hierarquia (art. 93 do CPC).
Com relao ao Supremo Tribunal Federal (alnea g, inciso I do artigo
102 da CF), de sua competncia o processamento da ao rescisria,
assim como ao Superior Tribunal de Justia (alnea e, inciso I do artigo 105
da CF). A CF, em seu artigo 108, I, b confere tambm aos Tribunais
Regionais Federais a competncia para rescindir seus julgados ou
sentenas, desde que de mrito e proferidas por juzes federais da regio
pela qual o TRF competente ou por juzes estaduais, quando delegada a
competncia a este tribunal (pargrafo 3o do artigo 109 da CF). E ainda, so
competentes para processar e julgar a ao rescisria, os Tribunais de
Justia, e onde houver, e os Tribunais de Alada, cabendo ao regimento
interno dessas cortes determinar qual julgar a demanda.
24
Se o autor da ao rescisria, erroneamente, vier a prop-la em rgo
incompetente, poder ter sua pretenso julgada extinta, com fundamento no
art. 267, VI do CPC. No entanto, pelos princpios da economia processual,
da utilidade e da efetividade, a ao erradamente endereada, poder ser
aproveitada conforme sua natureza instrumental, sendo facultado ao juzo
incompetente remeter os autos a quem lhe compete.
Geralmente, a ao rescisria da competncia do tribunal que
conheceria ou conheceu do recurso da deciso rescindenda5. E cabe s
Constituies dos Estados, ou sua Lei Orgnica, no caso do Distrito
Federal, disciplinar sobre a competncia, cabendo ao regimento interno de
cada tribunal definir o rgo que julgar as rescisrias.
Conforme as Smulas do STF: competente o STF para a ao
rescisria, quando embora no tenha conhecido do recurso extraordinrio,
ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questo federal
controvertida (smula 249 STF). A competncia para a ao rescisria
no do STF, quando a questo federal apreciada no recurso extraordinrio
ou no agravo de instrumento, seja diverso do que foi suscitado no pedido
da rescisria (smula 515 STF).
5 Arnaldo Esteves Lima, Ao Rescisria, p. 55.
25
Finalmente, com relao execuo do julgado resultante da rescisria,
a competncia do prprio tribunal que proferiu este julgado, conforme
dispe o art. 575, I do Cdigo de Processo Civil.
O prazo para propositura da ao rescisria de dois anos contados a
partir da data em que houve o trnsito, devendo ser observadas as regras
do artigo 184 do CPC. Se no for respeitado este prazo de dois anos impera
a coisa julgada e no haver mais mecanismos para discutir a sentena.
Este prazo decadncial e no prescricional, no tendo interrupo nem
suspenso, estipulado o incio ele decorre ininterruptamente at o ltimo
dia.
O termo inicial do binio o trnsito em julgado da ltima deciso,
proferida nos autos, ou seja, se o tribunal no conhecer do recurso, o incio
do prazo de dois anos para rescisria, ser a data em que passar o trnsito
em julgado desta deciso.
A prescrio poder ocorrer quando o autor for responsvel pela
paralisao da ao rescisria por mais de cinco anos, todavia, se a demora
decorrer da inrcia do Poder Judicirio, no prejudicar a parte
26
interessada6. E, ocorrendo justa causa ou obstculo judicial, o prazo para
propositura da rescisria poder ser restitudo.
O prazo decadncial de dois anos inicia-se no dia til imediatamente
seguinte quele em que houve o trnsito da ltima deciso, terminando no
dia posterior ao fechamento dos dois anos. Uma vez decorrido o prazo
ocorrer a coisa soberanamente julgada.
3.4. Pressupostos especficos da ao rescisria
Somente pode ser atacada por ao rescisria a sentena ou o acrdo
de mrito, como tal, se entende aquele que pe fim demanda, definindo a
lide. No admitida a rescisria em face de sentena que no julgou o
mrito, pois nesta hiptese, ajuza-se novamente a ao para aquela que no
julgou o mrito.
A ao rescisria depende necessariamente da presena de uma das
condies taxativas previstas no artigo 485 do CPC, onde deve existir pelo
menos uma das situaes. O artigo 485 contm um rol fechado, ou se
enquadra em uma de suas hipteses, ou no cabvel ao rescisria e os
incisos do dispositivo no aceitam interpretao por analogia.
6 Conforme Smulas: 78/TRF e 106/STJ.
27
H uma nica exceo (artigo 741, inciso I do CPC), denominada
querela nullitatis, que consiste na falta de citao ou na citao nula, onde
no havendo contestao, e gerada a revelia do ru, violaria os princpios
do contraditrio e do devido processo legal, ambos previstos na
Constituio Federal. Sendo esta irregularidade um defeito insanvel, que
permaneceu no processo gerador da coisa julgada e que pode ser alegado a
qualquer momento, mesmo depois de decorridos os dois anos do trnsito
em julgado prazo para rescisria- da sentena defeituosa com relao
citao, este defeito anterior possibilita a anulao do ato decisrio.
3.5. Legitimidade para ao rescisria
O artigo 487 do Cdigo de Processo Civil traz a legitimidade para
propositura de ao rescisria:
Tm legitimidade as partes: A parte vencida ou seu sucessor a ttulo
unilateral ou singular, herdeiros quando o inventrio estiver em trmite, ou
os herdeiros j individualizados, respectivamente. As partes normalmente
so as maiores interessadas na propositura da ao rescisria, pois so elas
que buscam um pronunciamento mais favorvel a si.
28
Tambm est legitimado o terceiro juridicamente interessado possuindo
interesse jurdico e no apenas interesse econmico, devendo-se questionar:
a) se o terceiro, agora que quer promover a ao rescisria, poderia ter
funcionado como assistente na primeira ao? se no poderia, no tem
ento legitimidade para propor a ao rescisria, j, se poderia ter sido
assistente, ento poder propor rescisria. b) se o terceiro deveria ter sido
chamado para o mesmo processo, mais no foi? se deveria ter sido
chamado e no foi, ento tem legitimidade, podendo propor ao rescisria.
Finalmente, o artigo 487 do CPC faculta ao Ministrio Pblico a
possibilidade de impetrao. O Ministrio Pblico tem legitimidade para
propositura de ao rescisria, mesmo se deveria ter participado do
primeiro processo e no foi chamado.
3.6. Caractersticas
As caractersticas da ao rescisria so: a ao rescisria sempre ser
julgada por um rgo colegiado, esta ao sempre nasce num tribunal, que
para a ao rescisria o primeiro grau. Se tiver uma sentena publicada, a
parte tem prazo de quinze dias para apelar (interpor um recurso de
apelao) e no apela, esta sentena transitar em julgado. A parte que
perdeu o processo, tem ento um prazo de dois anos para, se for o caso,
29
impetrar um a ao rescisria em um dos tribunais hierarquicamente do
mesmo nvel Tribunal de Justia; 1o ou 2o Tribunal de Alada Cvel. No
entanto, se houver uma sentena, o vencido apelar e esta apelao for
remetida ao Tribunal de Justia, que por sua vez prolatado o acrdo, neste
caso abre-se prazo para recurso especial ou recurso extraordinrio. O
recurso especial ser julgado pelo Superior Tribunal de Justia (STJ),
enquanto que o recurso extraordinrio pelo Supremo Tribunal Federal
(STF).
A finalidade, portanto, da ao rescisria, rescindir, anular, ab-rogar,
fazer cessar os efeitos de uma sentena que, por j ter transitado em
julgado, tornou-se imutvel e irretratvel, com ou sem a utilizao de
recursos cabveis, ainda que contra ela no se tenha esgotada toda a via
recursal, com graves danos para a harmonia coletiva, devendo o pedido
rescisrio conter, alm da resciso, o pedido de um novo julgamento da
causa. A ao rescisria de natureza constitutiva negativa, ao
autnoma, que para sua propositura deve atender aos pressupostos
processuais bsicos desse tipo de ao, e especficos dela prpria, dentre os
quais pode se destacar a necessidade de ter ocorrido o trnsito em julgado
da sentena que se pretende combater por rescisria.
30
3.7. Procedimento
O procedimento da ao rescisria, como se trata de uma ao, depende
ela de uma petio inicial com todos os requisitos do artigo 282 do CPC. O
autor ter que fazer um depsito equivalente a 5% sobre o valor da causa, e
este valor ser destinado ao ru da ao se a mesma for julgada
improcedente ou inadmissvel por votao unnime.
Apresentada a ao rescisria, o ru ser citado para contestar e ter um
prazo variante de 15 a 30 dias, a ser fixado pelo relator da rescisria.
Oferecida a contestao, todas as provas que tiverem que ser produzidas
dependero necessariamente da expedio de carta de ordem, ou seja, o
tribunal manda que um juiz de primeira instncia produza aquela
determinada prova; encerrando-se a fase probatria, as partes tero 10 dias
cada uma para se manifestar. O Ministrio Pblico ouvido sempre na
ao rescisria. E, em seguida haver o julgamento da ao por cinco
magistrados julgadores. O acrdo que julga a rescisria pode comportar a
interposio de recurso especial, recurso extraordinrio ou embargos de
declarao.
Para o direito brasileiro, a ao rescisria uma ao autnoma, no um
recurso, e tem por objetivo a decretao da anulao de sentena transitada
31
em julgado. A coisa julgada uma criao da lei e decorre dos imperativos
da ordem poltica, social, tica e jurdica e uma vez publicada a sentena,
sendo as partes intimadas sem recurso, esta sentena no pode mais ser
alterada, nem pelos juzes singular, nem pelos tribunais. A sentena,
portanto, no ser mais alvo de apreciao, salvo se proferida ilegalmente
ou se fundada em vcios que possibilitem sua invalidao. Nestes casos,
cabe a ao rescisria objetivando assegurar a perfeita distribuio da
justia, ou seja, no havendo a res judicata, no h como se falar em ao
rescisria.
A interposio deve ocorrer dentro do prazo de dois anos delimitados
pelo primeiro dia til que susceder ao ltimo dia de prazo para interposio
de recursos. Assim, pode a sentena transitar em julgado na instncia
originria sem qualquer recurso, pode transitar em julgado depois de
esgotados todos os recursos cabveis, inclusive recurso extraordinrio e
agravo de instrumento. H tambm a possibilidade de ao rescisria de
deciso proferida em outra rescisria, uma vez que o vigente Cdigo de
Processo Civil silenciou a respeito da matria, e em silenciar tornou sempre
possvel a resciso do julgamento que, em ao rescisria, incidir em
qualquer dos vcios enumerados no artigo 485.
32
Ao propor a ao, o autor dever depositar a importncia
correspondente a 5% do valor da causa, que reverter em favor do ru caso
haja improcedncia da ao.
No Juizado Especial Cvel de pequenas causas no se admite a ao
rescisria, porque este se funda na rapidez da soluo dos pequenos
conflitos no justificando a anlise respectiva.
A sentena no somente suscetvel de resciso pelo seu prprio
defeito, mas por algum outro ato que a tornou vulnervel. Com a
propositura da rescisria, todo aquele que tem capacidade para estar em
juzo pode ser autor, inclusive as partes e seus sucessores, o reconvinte e
seus sucessores, o credor, fiador e os sub-rogados, e at mesmo, o scio da
firma falida podem requerer a resciso da sentena de abertura da falncia,
podem ser requerentes e autores da ao rescisria, havendo a a
instaurao de uma nova relao jurdica processual.
A ao rescisria cumulada com ao reivindicatria no tem seu
processo nulo, se deixarem de ser citados para ela os possuidores do imvel
reivindicado, o que preciso que as partes tenham sido citadas, segundo
entende o Tribunal de Justia de So Paulo. Qualquer ato de renncia ou
33
desistncia pode dar ensejo rescisria, desde que esteja dentro dos ante-
supostos legais para exerccio desta ao.
Uma sentena rescindvel, passvel de ao rescisria, no se
confunde com sentena nula nem com sentena inexistente e os meios de
ataque a estas decises judiciais ora so concebidos e regulados como
recursos, ora com ao, no sendo obrigados, a priori, serem considerados
todos como recurso. Embora no sistema do Cdigo anterior houvesse a
possibilidade da resciso de sentenas no definitivas, que no se
projetaram ao trnsito em julgado material, no Cdigo atual, apenas as
sentenas de mrito podem ser rescindidas, passando assim a ser objeto da
ao rescisria a desconstituio da coisa julgada, apenas as sentenas que
decidiram a lide que comportam resciso. Desta sorte, cabe ao
rescisria contra o acrdo proferido em agravo de instrumento desde que
este tenha examinado o mrito controvertido e a ele ps termo. evidente
que a lei quando se refere sentena, no est excluindo os acrdos dos
tribunais que tambm so rescindveis nas mesmas hipteses legais, desde
que seja ato terminativo de mrito, seja proferido por juiz ou tribunal, o que
acarretaria apenas na mudana da competncia para o processo e
julgamento da ao rescisria, que de natureza constitutiva negativa, pois
modifica o mundo jurdico.
34
A competncia para a rescisria privativa dos tribunais, ou seja, se
tratar de resciso de sentena, de competncia do rgo do tribunal para
o julgamento de eventual apelao. J, se a resciso for de acrdo,
compete ao prprio tribunal que o proferiu, sendo alterado, se for o caso, o
rgo interno julgador obedecidas as regras de organizao judiciria que
estruturam o Tribunal e a Lei Orgnica da Magistratura Nacional.
O fundamento de uma rescisria pode residir na nulidade da
sentena, e nunca na sua eventual injustia, pois o objeto imediato da ao
rescisria a deciso, a sentena transitada, o acrdo e no a controvrsia
originria entre as partes. Ela no promove reviso do conjunto probatrio
e nem se presta a apreciar a justia da deciso, a boa ou a m interpretao
dos fatos. Nela no se examina o direito da parte, mas a sentena passada
em julgado e a prestao jurisdicional entregue pelo julgamento. A ao
rescisria pode ser entendida, a grosso modo, como um julgamento de
julgamento, no entrando no seu mbito discutir a justia da deciso
atacada. Pode-se concluir que a ao rescisria uma ao secundium quid,
na sua formulao, entretanto, revestida de um essencial carter recursal,
o que porm, no significa que seja recurso, mas somente uma ao que
gera um novo incidente processual.
35
4. Documento novo
4.1. Fundamentao
O Cdigo de Processo Civil, no inciso VII do artigo 485, possibilita a
interposio de ao rescisria se: ...depois da sentena, o autor obtiver
documento novo, cuja existncia ignorava, ou de que no pde fazer uso,
capaz, por si s, de lhe assegurar pronunciamento favorvel;
Permite o referido inciso VII a resciso da sentena no caso de o
autor obter documente novo, capaz de alterar o mrito da deciso em seu
favor.
4.2. Pareceres quanto ao documento novo
H diversos entendimentos, contudo, prevalece um certo consenso
em relao definio de documento novo, que para Vicente Greco Filho
o documento novo no quer dizer produzido aps a sentena, mas
documento at ento desconhecido ou de utilizao impossvel devido a
circunstncias alheias vontade do autor da rescisria. Arnaldo Esteves
Lima entende ser documento novo aquele que s agora a parte teve acesso
36
a ele, a sua obteno ou descoberta, conforme o caso, que foi realizado
posteriormente ao trnsito em julgado da deciso rescindenda7.
Moacir Amaral Santos acrescenta que por documento novo, deve-se
entender no s o escrito, com fora probande, mas tambm todo e
qualquer representao material destinada a reproduzir duradouramente
uma representao do pensamento. Assim como Christino Almeida do
Valle, que define ser documento novo, aquele que aps a soluo da
causa, consegue o vencido, documento que ignorava ou no pde juntar na
tramitao do processo8. Alexandre de Paula tambm alerta para o
desconhecimento por parte do autor da rescisria, conceituando como: o
documento novo, aquele diferente dos demais at ento reunidos no
processo onde a sentena rescindenda foi prolatada. Mas j deveria existir
ao tempo da sua prolatao, embora o autor ignorasse a sua existncia, ou,
se no ignorava, no teria tido possibilidade de, por qualquer motivo
pondervel, utiliz-lo ento9, bem como se constata nas lies de Barbosa
Moreira o documento, cuja existncia a parte ignorava obviamente,
documento novo, documento que existia; documento de que ela no pde
fazer uso , tambm, documento que, noutras circunstncias, poderia ter
sido utilizado e portanto, existia. O documento deve ser tal, que a
7 Arnaldo Esteves Lima, Ao Rescisria, p. 37. 8 Christino Almeida do Valle, Teoria e prtica da ao rescisria, p. 183. 9 Alexandre de Paula, Cdigo de processo civil anotado, p. 1971.
37
respectiva produo por si s, fosse capaz de assegurar parte
pronunciamento favorvel.
Segundo o entendimento de Pinto Ferreira para fundamentar a ao
rescisria o documento novo no pode ser constitudo posteriormente ao
processo, mas sim um documento que j existia ao tempo do processo no
qual foi proferida a sentena10. E, finalmente, para fins de rescisria, por
documento novo no se deve entender, aqui o constitudo posteriormente.
O adjetivo novo expressa o fato de s agora ser ele utilizado, no a
ocasio em que o documento j existisse ao tempo do processo em que se
proferiu a sentena Theotnio Negro11.
Conclui-se que o documento novo apenas para o processo anterior,
e no que este foi constitudo posteriormente ao seu desfecho
4.3. Interpretao
Desenvolvido numa concatenao lgica, por documento novo deve-
se interpretar aquele existente ao tempo da prolao da sentena, cuja
existncia ignorava o autor da rescisria, parte vencida no processo
originrio, e este documento somente veio parar em mos do autor aps a
10 Pinto Ferreira, Teoria e prtica dos recursos e da ao rescisria no processo civil , p. 282. 11 Theotnio Negro, Cdigo de processo civil anotado e legislao processual em vigor, p. 488.
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sentena que se quer rescindir, isentando-o de culpa pela sua no
apresentao, ou seja, o documento novo aquele que j existia quando a
sentena foi proferida, mas sua existncia era ignorada ou no sabida pelo
autor da ao rescisria, ou ainda que dele no pde fazer uso. O
documento novo deve ser de tal ordem que, sozinho, seja capaz de
modificar o resultado desta sentena rescindenda, vindo ento a favorecer o
autor da rescisria sob pena de no ser idneo para o decreto de resciso.
4.4. Concepo de novo
No considerado documento novo pelo inciso VII do artigo 485,
documento novo, aquele que antes da deciso na ao anterior, poderia pelo
autor ser utilizado. A ao rescisria uma ao autnoma de impugnao,
de natureza constitutiva negativa, quando o juiz rescindendo que proferiu a
sentena qual se busca a alterao de seu estado jurdico existente,
baseando-se na obteno de um documento juridicamente considerado
novo, d ensejo instaurao de outra relao processual distinta daquela
que foi proferida deciso, sem ter o documento novo feito parte do
processo. Cabe ao autor o dever de apresentar o documento novo, o qual
em sua concepo, justificaria a propositura da ao.
Por exemplo, em uma ao de indenizao por acidente de veculos
julgada improcedente, no constitui documento novo para ao rescisria a
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posterior sentena condenatria de preposto da r(1o Tribunal de Alada
Civil de So Paulo)12.
Para ao rescisria, so considerados documentos indispensveis
aos autores: a exibio nos autos do inteiro teor do acrdo rescindendo,
apesar de reiteradamente intimados, ensejando a sua improcedncia, caso
no sejam exibidos.
No h de se falar em ao rescisria para resciso de deciso
definitiva por prova testemunhal nova, no sendo esta prevista em lei
como documento novo do disposto no artigo 485 do Cdigo. Em outras
palavras, testemunha nova no caracteriza documento novo para fim de
ao rescisria.
Dispe a lei sobre a possibilidade da sentena de mrito transitada
em julgado ser rescindida pela obteno de documento novo, no entanto, o
qualificativo novo para o legislador, no o documento que novo mas
a obteno deste documento que nova. Para que o documento seja tido
como novo na rescisria, no significa que teve existncia aps o
julgamento da lide, pelo contrrio, a sua existncia deve ser anterior ao
e que por algum motivo alheio vontade da parte, agora autora, somente
12 1o TACivil SP, 4o Gr, ao rescisria 481964, relator Alares Lbo, j. 08/09/1992
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dele veio a ter conhecimento aps o trnsito daquela. Se o autor da ao
rescisria tinha conhecimento da existncia do documento e por opo sua
no o utilizou, no poder faz-lo na rescisria, ou seja, se tinha o
conhecimento e negligenciou na sua apresentao, ou no relatou o fato a
seu advogado, neste caso, de documento novo no se cuida a acepo
conceitual jurdica do termo novo.
4.5. Obteno de documento novo
A obteno do documento novo deve ter sido aps a prolao da
sentena ou, em outra hiptese, deve ter sido obtido depois do
encerramento da instruo probatria da deciso rescindenda, aps a fase
de instruir as provas, excetuada a previso do artigo 517 do Cdigo de
Processo Civil, que possibilita a apreciao de questes em recursos, desde
que provada a existncia de fora maior, a qual comprovaria que o motivo
foi alheio a vontade da parte. O documento deve ser desconhecido ou de
utilizao impossvel, que no foi utilizado pela parte originria por
impossibilidade a que ela no deu causa, no pode ter decorrido de culpa de
quem alega a impossibilidade, devendo a parte ter procedido com as
cautelas normais e adequadas obteno deste documento.
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Exige-se ainda que o documento, alm de ter sido obtido depois do
julgamento da lide tenha, por si s, fora de favorecer o direito de quem o
invocou, sendo de valor notoriamente probandi, de tal intensidade que
sozinho seria capaz de assegurar parte uma pretenso favorvel.
O documento novo tambm deve ser suficiente a admitir-se que se
tivesse sido produzido na ao anterior, o rgo julgador teria uma
convico diversa da que chegou e julgaria de maneira diferente da deciso
a que se pretende anular, deve haver um nexo de causalidade entre o fato de
no se haver produzido o documento e o de ter julgado como se julgou.
Para o direito brasileiro, o conceito de documento novo abrangente,
devendo este j existir quando da prolao da sentena ou do acrdo, e
que no se pde utiliz-lo por desconhecimento ou dele no poder fazer
uso, aproveit-lo. No documento novo hbil a estribar a rescisria, a
declarao extrajudicial de pessoa que regularmente prestou depoimento no
processo cuja deciso se visa desconstituir. No cabe tambm, ao
rescisria fundada em documento novo, se o fato de que o documento
venha provar no ter sido alegado na primeira ao.
Por exemplo: no documento novo o que j constava de registro
pblico ao tempo da sentena rescindenda (RTJ 125/439), pois o
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documento pblico no tido como novo e nem se pode alegar a
impossibilidade de sua utilizao.
Ao autorizar a resciso da sentena pela obteno de um documento
novo, a Comisso Revisora sugeria a eliminao deste dispositivo temendo
o confronto com a autoridade da coisa julgada. No entanto, para propor a
ao rescisria, no importa a posio processual anterior, podendo tratar-
se at de pessoa estranha ao primeiro processo desde que legitimada
rescisria.
4.6. A novidade do documento
Ressalta-se que por documento novo, no se deve entender o
constitudo posteriormente. A novidade do documento h de se referir ao
processo anterior. O documento deve ser novo no sentido de que no foi
produzido no processo de que emanou a sentena cuja resciso se requer,
ele deve ter sido obtido depois da sentena. Para admitir-se a ao
rescisria preciso que o documento j existisse ao tempo do processo
anterior, e cuja existncia era ignorada ou impossibilitada de fazer uso,
logicamente sem culpa da parte, como por exemplo: o documento fora
furtado do local onde se encontrava, ou estava em poder de terceira pessoa
a qual no foi localizada, etc
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Se a impossibilidade decorrer de ato do adversrio poder configurar
o fundamento contemplado como dolo da parte vencedora e que, de
maneira alguma, exclui a viabilidade da rescisria.
4.7. Fundamento legal
A stima fundamentao da ao rescisria documento novo13
refere-se possibilidade da parte vencida de propor uma ao que permita
mudar o convencimento da autoridade judicante e tem como finalidade a
modificao da deciso rescindenda, para isso, o sucumbente dever ter
conseguido um documento novo, que anteriormente ignorava ou de que no
pde utilizar-se na poca apropriada, se tal documento realmente puder
alterar a sentena. O mais relevante o fato de que o documento seja capaz
de, sozinho, garantir um julgamento de acordo com o interesse do autor da
rescisria, que aps a soluo da causa originria, o vencido consegue um
documento novo de que no tinha conhecimento ou se conhecia, no teve
como junt-lo na tramitao do processo, e agora, nele apoiado e com base
legal, requer a rescisria.
A ao rescisria para resciso de sentena, por fora da obteno de
documento novo, no seria vivel se fosse deixado de alegar, por parte de
13 Inciso VII do artigo 485 do Cdigo de processo civil
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seu autor, a ignorncia da existncia de documento que sabia ser
importante para a deslinde da causa, cabendo a parte propositora da
rescisria o nus do prova dessa impossibilidade do uso deste documento
novo no curso do processo originrio que se teve como desfecho o arresto
rescindendo em instncia inferior.
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5. Consideraes Finais
Deve-se entender como documento novo, aquele que s depois da
sentena rescindenda poderia ser utilizado. A certido emitida pelo
Cartrio de Registro de Imveis, por exemplo, no se qualifica como
documento novo para efeito do disposto no inciso VII do artigo 785 do
CPC, uma vez que, poderia sem qualquer dificuldade, ter sido obtido pelo
autor que pretende a rescisria quando em curso a precedente ao, mesmo
que este documento tenha sido obtido pela parte aps a sentena, no
novo na acepo de tal preceito, e nem, de existncia ignorada, mesmo que
seja capaz de alterar a deciso assegurando-lhe um pronunciamento mais
favorvel.
A incria de quem no procura provas com empenho e nem as utiliza
da maneira e oportunidade que a lei lhe oferece, no autoriza o direito de
demandar a resciso. De maneira suscinta, aquele que negligenciou na
instruo da primeira ao no poder pleitear a anulao da deciso nem
lanar mo de recurso da rescisria.
Verifica-se que a obteno de um documento novo, mesmo que este
enseje no ajuizamento da ao rescisria, deve preexistir deciso, ou seja,
uma sentena para fins de ao rescisria, no pressupe que a parte tivesse
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esgotada toda a via recursal at os Tribunais Superiores, porque no se
pode obrigar a parte a recorrer e se recorreu, os recursos extraordinrios e
especiais so cabveis em situaes jurdicas determinadas e no fazem
parte dos princpios constitucional do duplo grau de jurisdio.
Ante a multiplicidade do dado, tambm no se pode considerar como
documento novo aquele que mencionado nos autos da ao anterior, e que
se encontra em livro do Tabelionato de Notas, que a qualquer tempo pode
ser obtido mediante uma solicitao de certido, no caracterizando a
impossibilidade do seu uso pela parte interessada.
Dessa forma, no se reputa o documento, como sendo novo para fins
de resciso, aquele que por si s, em nada afeta o mrito da questo j
decidido, de modo a assegurar um posterior pronunciamento favorvel ao
autor ou aos autores da ao rescisria. Portanto, soma-se a isso o fato de
que o artifcio novo caracteriza o documento que sem culpa do autor da
rescisria, teve sua obteno descoberta ou acesso posteriormente
ocorrncia do trnsito, alm do desconhecimento ou ignorncia, deve o
documento novo ser suficientemente relevante para modificar, total ou
parcialmente, o resultado da demanda a que se pretende atacar, de maneira
a proporcionar um pronunciamento mais favorvel na deciso da ao
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rescisria. O documento, alm de novo, deve ser tambm capaz, ou seja,
eficiente na concepo de alterar o decidido.
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6. Concluso
A ao rescisria, embora tenha como finalidade prtica
desconstituir a coisa julgada material, o que pressupe-se tenha ocorrido
litigiosamente a qual se ps fim com apreciao do seu mrito, esta uma
assertiva, que a ao visa assegurar ao ordenamento jurdico, em definitivo,
o valor segurana jurdica.
Procurando maior penetrao, maior exatido, importante ressaltar
que o princpio da razoabilidade e o princpio da proporcionalidade devem
ser sopesados criteriosamente na aferio de cada situao concreta posta a
ao rescisria, neste caso, devido a obteno por parte do autor da
rescisria, de um documento novo- novo no no sentido adjetivo da
palavra, mas sim, no sentido de ter sua existncia ou utilidade possvel
somente agora que garanta favorecer sua pretenso, para se concluir pela
opo que mais atenda finalidade da lei, levando em considerao que a
lei deve atender aos interesses sociais e ao bem comum, preservando a
estabilidade jurdica resultante da coisa julgada material, desde que esta
no seja decorrncia resultante de uma deciso injusta a ser impugnada.
Em uma conciso, o documento novo, para fundar e proporcionar a
instaurao de ao rescisria, buscando um novo julgamento, agora com
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garantia de resultado diverso e benfico, s pde ter sido obtido depois da
prescrio do prazo da coisa julgada, ou seu interessado somente veio a ter
conhecimento da sua existncia agora, ou ento estava ele impossibilitado
de fazer a utilizao devida estando o documento em posse de terceiro ou
do prprio adversrio alm disso, este documento deve ser capaz de por
si s orientar-se a garantir que a sentena da ao rescisria seja em seu
favor, beneficiando seu autor. Tudo isso, dentro do prazo legal,
estabelecido por ser de dois anos para propositura de ao rescisria,
contados a partir do trnsito da sentena rescindenda.
mister definir exatamente o documento novo, purificando-o de
seus elementos contigentes, pois o documento que se enquadrar como
novo para ao rescisria, garante a sua propositura e assegura o seu
resultado, favorecendo a seu autor e conseqente justia, haja visto que
foi respeitado todo disposto no texto legal.
Isto ressalta a necessidade do ajuizamento prvio ou incidental de
uma ao cautelar, ou ainda de um pedido de tutela antecipada para
assegurar a efetividade e o resultado da ao rescisria, uma vez que
segundo dispe o art. 489 do CPC: A ao rescisria no suspende a
execuo da sentena rescindenda. A impetrao de cautelar, desde que
atendidos seus requisitos, e se justifique sua necessidade ao ajuizamento da
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rescisria, pode desconstituir a eficcia exeqvel da deciso transitada em
julgado, mesmo a coisa julgada sendo instituto de segurana das relaes
jurdicas. Tanto a coisa julgada quanto a possibilidade de rescindi-la so
institutos que visam garantir a justia do direito.
Por fim, a fora do documento novo, com absoluta objetividade,
deve ser de tal maneira eficiente na concepo de alterar o decidido na
primeira ao, ou seja, ser suficientemente relevante para modificar, total
ou parcialmente, o resultado do ato decisrio que na tica do autor da
rescisria, feriu seu direito, e agora com este documento garante para si um
pronunciamento favorvel ao seu interesse.
Sendo assim, se um documento legalmente admitido capaz de
garantir a satisfao do direito do autor da ao rescisria, nada mais justo
que ele busque a sua realizao.
O documento novo a causa de pedir da ao rescisria, ou seja,
atravs dele e somente por causa dele que o autor pleiteia a resciso, e
portanto, este documento ser submetido ao contraditrio podendo a parte
contrria buscar provar sua veracidade, autenticidade ou o meio como foi
obtido. O autor da ao rescisria fundada em documento novo, s poder
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se valer deste documento para provar eventual equvoco da deciso
rescindenda.
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Anotaes particulares do aluno em sala de aula.