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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AÇÃO RESCISÓRIA Por: Luciane Moretti de Mattos Orientador Jean Alvez RIO DE JANEIRO 2009

AÇÃO RESCISÓRIA Por: Luciane Moretti de Mattos Orientador ... · Foi dissertado desde a criação do processo de ação rescisória, ... reforça a tese de que a rescisória tem

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AÇÃO RESCISÓRIA

Por: Luciane Moretti de Mattos

Orientador

Jean Alvez

RIO DE JANEIRO

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AÇÃO RESCISÓRIA

OBJETIVOS:

O Objetivo deste labor é de se

alcançar requisito parcial para obtenção de

grau na especialidade de Processual Civil.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor e orientador Jean Alves, pelo incentivo indispensável para a realização deste trabalho.

Ao meu pai Nelson, pela importante ajuda.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Nelson e

Lourdes, carinho, dedicação e apoio

durante toda a minha vida.

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RESUMO

O Esforço deste trabalho tem como resultado fornecer uma

ferramenta ágil e usual a qualquer pessoa que necessite dos principais pontos

que se prende o tema. Tentou-se de uma forma muito objetiva e clara, passar a

segurança de toda interpretação da lei, com a ajuda de súmulas e

jurisprudências, mostrando o direcionamento correto, ou melhor, seguido em

nosso país. Foi dissertado desde a criação do processo de ação rescisória,

bem como até seu julgamento, abordando cada detalhe de forma precisa e

clara.

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METODOLOGIA

Interessante que as doutrinas buscadas, tanto as antigas,

quanto as modernas, pouco ofereceram diferença em seu teor, mas tão

somente em alguns pontos através de jurisprudências apenas com o fim de

esmiuçar um pensamento já bem sustentado nas doutrinas, e observado a

necessidade de compreensão segura de conceito, natureza jurídica, enfim, não

deixou-se aqui de lado a questão da evolução histórica e do direito comparado,

mesmo que de forma breve, dando mais valor a obra por demonstrar a sua

criação desde os primórdios e o porquê de sua existência.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

NATUREZA JURÍDICA 11

Evolução Histórica 14

Conceituação de Ação Rescisória 17

Caracterização da Ação Rescisória no Direito Comparado 19

CAPÍTULO II

REQUISITOS 24

Sentença de Mérito (Art. 485 do CPC) 24

Preclusão Decadencial de Dois Anos 25

Rol Taxativo do Art. 485 do CPC 26

CAPÍTULO III

COMPETÊNCIA 43

Legitimidade 43

CAPÍTULO IV

O PROCEDIMENTO PARA O JUÍZO DE MÉRITO 47

CAPÍTULO V

JULGAMENTO 50

CONCLUSÃO 53

BIBLIOGRAFIA 55

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ANEXOS 56

HORAS CULTURAIS 60

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INTRODUÇÃO

O direito brasileiro, à semelhança de outros ordenamentos,

conhece dois tipos de remédios utilizáveis contra decisões judiciais: os

recursos e as ações autônomas de impugnação, sendo que em nosso sistema,

o traço distintivo consiste em que, através de recurso, se impugna a decisão no

próprio processo em que for proferida, ao passo que o exercício de ação de

impugnação dá sempre lugar a instauração de outro processo, e que a ação

rescisória é o exemplo clássico da segunda espécie.

O processo caminha para frente e não olha para trás. Caminha

inexoravelmente para o desfecho final em sentença, contando-se com

eventuais vícios de procedimento convertem-se em fundamentos para possível

recurso, e a coisa julgada será a sanatória geral que tornará irrelevante todos

os vícios. Passado em julgado a sentença ou acórdão, se terá por firmes todas

as decisões interlocutórias proferidas ao longo do procedimento, de novo

rejeitados todos os possíveis fundamentos de defesa de alguma das partes

haja omitido. O poderoso efeito preclusivo da coisa julgada é elemento

impeditivo da reabertura de discussões sobre o processo em que se decidiu

definitivamente sobre a pretensão deduzida e a resistência oposta. Não fora,

contudo, a ação rescisória, as injustiças acobertadas pela coisa julgada e pela

sua eficácia preclusiva restariam eternamente imunes e permaneceriam por

todo o sempre. Por isso é que se diz que ela se caracteriza como um

instrumento da justiça para o equilíbrio daquele binômio de exigências

existentes no processo. A celeridade no decidir e a firmeza das decisões são

valores a preservar (prazos, preclusões, coisa julgada material), mas não se

descuida dos erros que podem ter sido cometidos e injustiças eventualmente

perpetradas.

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Assim, o legislador pátrio, ao mesmo tempo em que assegura a

estabilidade/segurança das decisões judiciais, também prevê, em

determinados casos expressamente previstos em lei, através de elenco

taxativo (artigo 485, CPC), que se possa, através de um remédio adequado,

vulnerar a coisa julgada, com utilização do meio processual denominado de

ação rescisória, rescindir a sentença de mérito, desde que proposta no prazo e

condição estatuída no artigo 495.

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CAPÍTULO I

NATUREZA JURÍDICA

É notório que no direito processual civil brasileiro encontremos

duas formas de se combater as decisões judiciais: os recursos e as ações

autônomas de impugnação. Enquanto nos recursos são interpostos na mesma

ação em que se gerou o inconformismo, nas ações autônomas de impugnação

propulsionam a formação de um novo processo.

Em especial a ação rescisória, é a ação apropriada para

desconstituir julgado protegido pela res iudicata, onde existe a possibilidade de

mudar esse julgado que pode ocorrer tanto no juízo rescindendo ou rescidente

(iudicium rescindens).

Assim, enquanto todos os recursos são interpostos antes de se

formar a coisa julgada, a ação rescisória já depende desta.

O art. 491, reforça a tese de que a rescisória tem natureza jurídica

de ação, por dispor que o relator mandará citar o réu, o que revela a

instauração de nova relação jurídica processual. Diversamente, nos recursos,

há mera intimação, com o conseqüente prosseguimento do mesmo processo

no qual foi proferida a decisão recorrida, tal como se lê no art. 527, inciso V (o

relator mandará intimar o agravado), bem como, no art. 542 (será intimado o

recorrido).

Os arts. 488 e 490 revelam que a rescisória é aforada por meio de

petição inicial, que é própria das ações (art. 488: “A petição inicial será

elaborada com observância dos requisitos essenciais do art. 282,...”. Art. 490:

“Será indeferida a petição inicial...”). Em relação aos recursos não há menção

da petição ser inicial, como se lê no art. 542: “Recebida a petição pela

secretaria do tribunal,...”, justamente porque no recurso se impugna a decisão

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no próprio processo em que foi proferida. Por fim, ressalta-se que o próprio

CPC dirime qualquer dúvida quanto ao fato da rescisória ser “ação”, por estar

classificada no Título IX, “Do Processo nos Tribunais”, destinado aos incidentes

e às ações de competência originária de tribunal judiciário, que é o Título X,

“Dos Recursos”, confirmando, destarte, o que acima ficou consignado, que os

dados do direito positivo é que são decisivos para a caracterização dos

remédios processuais.

Lembra-se, como já dito, que a "ação rescisória" não é recurso,

mas "ação autônoma de impugnação". A natureza de recurso não pode ser

atribuída a este instituto por uma razão muito simples: a "ação rescisória" só é

cabível após a formação da coisa julgada, ou seja, após o término do processo.

O recurso, por sua vez, surge na mesma relação processual em que se proferiu

a decisão atacada.

A "ação rescisória", portanto, faz surgir processo novo, distinto

daquele em que foi prolatada a sentença rescindenda.

Há que se dizer, ainda, que o julgamento da "ação rescisória"

deverá se dividir, ordinariamente, em duas fases, razão pela qual, via de regra,

terá o autor de formular dois pedidos ao demandar a rescisão da sentença. A

omissão do demandante em formular algum desses pedidos, quando ambos

tinham de constar da petição inicial, deverá levar ao indeferimento da mesma e

à conseqüente extinção do processo sem resolução do mérito.

As duas fases do julgamento da "ação rescisória" a que se fez

referência são o ‘juízo rescindente (iudicium rescindens)’ e o ‘juízo rescisório

(iudicium rescissorium)’. No primeiro deles, que ocorrerá em todas as "ações

rescisórias", se julga a pretensão de rescisão da sentença atacada. Procedente

que seja este pedido, passa-se (salvo em algumas hipóteses, que serão

adiante mencionadas, em que, mesmo que procedente o juízo rescindente, não

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haverá juízo rescisório) ao segundo momento, quando então julgar-se-á,

novamente, aquilo que fora objeto de apreciação pela sentença rescindida. O

juízo rescindente é, pois, preliminar ao rescisório, uma vez que a decisão ali

proferida pode impedir que se exerça este último.

A "ação rescisória" é demanda cognitiva, razão pela qual o

processo que se forma em razão de seu ajuizamento é processo de conheci-

mento.

Neste mister, menciona Marcia Conceição Alves Dinamarco:

“Os recursos são interponíveis ainda quando pendente o

processo, ou seja, presente a litispendência. A ação rescisória

pressupõe a existência da coisa julgada material, que é

justamente a inexistência da litispendência, dando lugar ao

nascimento de um novo processo, com formação de nova relação

jurídica, inclusive com a possibilidade de ocorrer a dilação

probatória e com a observância de todas as demais garantias

constitucionais, tais como contraditório e ampla defesa.” (Marcia

Conceição Alves Dinamarco, Ação Rescisória, 2004, p. 16)

A decisão de procedência proferida no juízo rescindente é cons-

titutiva, e a de procedência no juízo rescisório será, conforme o caso,

meramente declaratória, constitutiva ou condenatória (lembre-se que, no juízo

rescisório, o tribunal estará apreciando novamente a causa que fora objeto de

decisão pela sentença rescindida, o que faz com que este capítulo da decisão

tenha seu conteúdo determinado pela demanda original).

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1.1 - Evolução Histórica

As raízes históricas da distribuição dos remédios utilizados contra

decisões judiciais em duas classes fundamentais (recursos e ações autônomas

de impugnação) arrancou principalmente do direito medieval, embora não se

devam olvidar certos antecedente mais remotos. Com efeito, na Roma antiga,

ao lado da apelação, protótipo dos recursos, floresceu a restutio in integrum,

em que se podem identificar traços assimiláveis aos das modernas ações

impugnativas. A cristalização desta última categoria em figura de contornos

nítidos apenas o correria, porém, depois de fundamente alteradas as noções

correntes entre os romanos sobre a nulidade da sentença e os respectivos

efeitos. Chamava-se em Roma nulla setentia ao pronunciamento judicial eivado

de defeitos muito graves, notadamente de ordem processual; mas o conceito

que se exprimia por tais palavras correspondia ao que hoje, apesar de

reiteradas críticas doutrinárias, geralmente se designa pela locução "sentença

inexistente" e implicava a desnecessidade do uso de qualquer remédio. Sou

muito mais tarde, no direito intermédio, nos estatutos italianos, por influência do

direito germânico, v afirmasse o princípio de que mesmo os errores in

procedendo precisavam ser denunciados por meios específicos, sob pena de

ficar para recusa a sua argüição, prevalecendo para todos os efeitos a decisão

viciada. Essa a origem da querela nullitatis, instituto que se desenvolveu no

período intermédio, paralelamente à apelação, reservada esta, em regra, para

a denúncia de supostos errores in iudicando. A querela nullitatis era exercitado

de modo autônomo, não propriamente como ação, mas por simples imploratio

officii iudicis, comportava duas modalidades:a querela nullitatis sanabilis e a

querela nullitatis insanabilis. Na maioria dos ordenamentos europeus, a

primeira foi pouco a pouco dissolvida pela apelação, e a segunda acabou

desaparecendo, de modo que os motivos de invalidação da sentença passaram

a ter de alegar-se por meio de recurso, sob pena de ficarem preclusos com o

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esgotamento das vias recursais.

Diversa foi a evolução do direito português. No Código Filipino,

ordenação do LIII, Tít. XXV, aludia romanisticamente, a sentença que é por

direito nenhum, nunca em tempo algum passa em cousa julgada, como seria,

por exemplo, a proferida em citação da parte, ou contra a outra sentença

anterior. Entretanto, quer na doutrina, quer na prática judiciária, foi se firmando

a tese de que, mesmo em casos tais, a sentença conservava a auctoritas rei

iudicatae enquanto não anulada. Essa a concepção recebido do direito

brasileiro, que bem se refletir no texto regulamento número 737, de 25/11/1850,

onde o artigo 680 enumerar lá as hipóteses de sentença anula, mas o

dispositivo subseqüente apontava os motivos pelos quais podia ela ser

anulada.

Entre os aludidos remédios a par da apelação, da revista e dos

embargos a execução, figurava a ação rescisória. Concorreu também para

formá-lo a restitutio in integrum, de origem romana, mas sensivelmente

ampliada em seu campo de atuação no direito comum. Aqui, já não se tratava

de vício processual que afetasse a validade da decisão, mas de existência de

motivo que, segunda e a equidade, justificasse o reexame da matéria julgada, a

fim de impedir a cristalização definitiva de um resultado visto como errado. Era

o que acontecia, por exemplo, na hipótese do dolo da parte vencedora e do

juiz, bem como, a partir de certa época, na do descobrimento, após o término

do processo, de novas provas, capazes de modificar a convicção judicial.

Nas legislações dos países germânicos, permaneceu nítida a

marca de dualidade de fontes: a ação autônoma de impugnação, que ora

assume fisionomia correspondente à da querela nullitatis, ora à da restitutio in

integrum, sendo que recebe, num caso e noutro, diferentes denominações e

submete-se mesmo a diversidade de tratamento. No direito brasileiro, a fusão

foi mais completa: ambos os filetes históricos desembocaram na corrente da

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ação rescisória, apagando-se toda e qualquer distinção formal.

Assim leciona Luiz Gilherme Marinoni:

“Por isso, para casos excepcionais, o ordenamento

jurídico prevê instrumentos destinados a superar a coisa

julgada, autorizando a reapreciação da sentença que, em

princípios, seria indiscutível. São exemplos dessas figuras

a impugnação ao cumprimento de sentença (mormente o

caso do art. 475-L, inc. I e§ 1º),os embargos à execução

contra a Fazenda Pública (em especial art. 741, I, e seu

parágrafo único, do CPC), e sobretudo, a ação rescisória.

Esta última é ação destinada precipuamente a obter

anulação (e não declaração de nulidade) da coisa julgada

formada sobre decisão judicial, permitindo, então, por

conseguinte, a revisão do julgamento. Note-se que o

objeto da ação rescisória é desconstituir a força da coisa

julgada (eficácia preponderante anulatória), já que a

sentença transitada em julgado presume-se, até prova em

contrário, válida e eficaz.” (Luiz Guilherme Marinoni e

Sergio Cruz Arenhart, Manual do Processo de

Conhecimento, 2006, p. 649-650).

Não significa isso que não possam discernir, no elenco do art.

485, as hipóteses filiáveis à quarela nullitatis e as que remontam à restitutio in

integrum. O segundo grupo, aliás, apresenta maior vulto nos sistema atual do

que no Código anterior: o legislador de 1973 mostrou-se mais aberto que o de

1939 ao influxo da restitutio in integrum.

A ação rescisória, a seu turno, objetiva atingir, por meio da

desconstituição da coisa julgada, a nulidade da sentença. A distinção se afigura

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imensamente relevante, já que se trata de duas categorias distintas, de dois

grupos diferentes sentenças que padecem de “vícius” bem diferentes (é que a

inexistente jurídica pode ser vista como vício, em sentido lato), e é a própria

doutrina tradicional que sugere essa terminologia, já que, por exemplo, a

sentença proferida por juízo incompetente é nula, uma vez que está ausente

pressuposto processual de validade. E é rescindível. Menciona, ainda, decisão

do Superior Tribunal de Justiça nesse sentido, se o móvel da ação rescisória é

a falta de citação de confrontante (ora autor), em ação de usucapião, a

hipótese é de ação anulatória (quarela nullitatis) e não de pedido rescisório,

portanto falta a este último pressuposto lógico, vale dizer, sentença com

trânsito em julgado em relação a ele.

1.2 - Conceituação de Ação Rescisória

Como já se viu anteriormente, a formação da coisa julgada tem o

efeito de sanar todas as invalidades intrínsecas do processo (nulidades

absolutas e relativas e anulabilidades). Há casos, porém, em que no momento

do trânsito em julgado da sentença surge um novo tipo de vício, a que se

chamou rescindibilidade. Este tipo de vício, como já foi demonstrado na história

é passível de ataque através do remédio específico em questão, denominado

"ação rescisória".

É de se lembrar, ainda, que a coisa julgada material impede qual-

quer nova discussão sobre a matéria já decidida, o que torna difícil, para

alguns, compreender como a "ação rescisória" seria capaz de permitir que se

tomasse a discutir aquilo que se tomou indiscutível. Não há, porém, nenhuma

dificuldade. A "ação rescisória" faz desaparecer a coisa julgada, o que implica

remoção do obstáculo à nova discussão acerca daquilo que já havia sido

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decidido por sentença firme. Desaparecido o obstáculo, com a rescisão da

sentença coberta pela autoridade de coisa julgada, caberá ao órgão julgador da

"ação rescisória", em diversas oportunidades (mas não em todas, como se verá

adiante), rejulgar a matéria objeto de apreciação da sentença rescindida.

É com base nestas idéias que se pode definir a "ação rescisória"

como "ação por meio da qual se pede a desconstituição de sentença transitada

em julgado, com eventual rejulgamento, a seguir, da matéria nela julgada" .

Note-se que, com a "ação rescisória", não se pretende a anulação

(ou a nulificação) da sentença, eis que não há, in casu, nulidade ou anu-

labilidade. O que se quer, com esta demanda, é a rescisão da sentença. A

sentença rescindível, portanto, é sentença transitada em julgado, possui vício

elencado expressamente em lei e capaz de autorizar sua rescisão.

Nos termos do art. 495, o prazo decadencial da rescisória é

contado do trânsito em julgado da decisão, sendo que ao revés, o prazo

recursal tem como dies a quo a intimação da decisão, consoante o disposto

nos arts. 506, ou também como estatui o art. 242: “O prazo para a interposição

de recurso conta-se da data, em que os advogados são intimados da decisão,

da sentença, do acórdão”. E a ausência da interposição do recurso no prazo

legal acarreta a formação da coisa julgada, sendo que o art. 510 consigna que

“Transitado em julgado o acórdão, o escrivão, ou secretário,

independentemente de despacho, providenciará a baixa dos autos ao juízo de

origem, no prazo de cinco dias”.

No que tange ao prazo da rescisória, Arnaldo Esteves Lima

destaca bem:

“Há peculiaridade no que toca ao prazo para resposta,

que, em parte, é legal, e em outra, judicial, pois norma

estabelece limites mínimo (15 dias) e máximo (30 dias),

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deixando à discrição do mesmo, à luz do caso concreto,

estabelecer o seu quantitativo, observados aqueles

parâmetros. Caso, eventualmente, omita-se o relator em

assinar o prazo para resposta, há dúvida sobre se tal será

de 15 ou 30 dias.” (Arnaldo Esteves Lima, Ação

Rescisória, 2008, p. 73).

1.3 - Caracterização da Ação Rescisória no Direito Comparado

Os meios de ataque às decisões judiciais ora são concebidos e

regulados como recursos, ora como ações. Não há princípio algum a priori que

obrigue a considerá-los todos como recursos. Os dados do direito positivo (ius

positum) é que são decisivos para a caracterização. Pode certo remédio

figurar, num ordenamento, entre os recursos, e o remédio correspondente ser

tratado, em outro, como ação; a opção, de política legislativa, prende-se

fundamentalmente a razões de conveniência, não sendo desprezível, ademais,

a influência exercida, dentro de cada sistema jurídico, pelo peso dos resíduos

históricos. Só ao direito positivo cabe dizer quais remédios jurídicos são

recursos.

Assim é que, o moderno processo português veios adotar a

orientação já vitoriosa em boa parte do continente europeu, de que vícios

iguais ou assemelhados aos que, entre nós, fundamenta a ação rescisória são

denunciáveis através do requerimento de revisar, figura que se inclui no rol dos

recursos (Código de Processo Civil de 1967, art. 676, 2ª alínea), embora

interponível contra decisão já passada em julgado (CF art. 677). No

ordenamento francês e no italiano, bem como no espanhol e em muitos de

linhagem hispânica, as hipóteses da nossa ação rescisória correspondem, em

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parte, às do recurso de cassação, e em parte, respectivamente, às do recours

em révision (França), da revocazione (Itália) e da revisión (Espanha), que são

também recursos.

Nesta seara, ensina Jose Carlos Barbosa Moreira:

“No direito italiano, o meio através do qual se pretende

impugnar as sentenças, objetivando a sua revogação,

com a conseqüente eliminação da coisa julgada, é a

revocazione, que é classificada como autêntico recurso,

mesmo não impedindo o trânsito em julgado da

sentença.” (Jose Carlos Barbosa Moreira, Comentários ao

Código de Processo Civil, 1985, p. 20-21)

Luiz Eulalio Bueno Vidigal ensina:

“Já no direito alemão, o remédio que se assemelha ao

instituto da nossa ação rescisória, a Wiederaufnahme dês

Verfahrens, é verdadeira ação que requer o término do

processo com sentença transitada em julgado.” (Luis

Eulálio de Bueno Vidigal, Comentários ao Código de

Processo Civil, 1976, p. 15-17)

Conseqüentemente, ao contrário, pois do que aconteceu noutros

países, no Brasil subsistiu a dicotomia “recursos x ações autônomas de

impugnação”. Assim também se deu no ordenamento alemão e no austríaco,

que, além dos recursos, possuem duas classes de ações impugnativas

autônomas, cabíveis contra decisões em processo encerrados.

Como exemplo Marcia Conceição Alves Dinamarco cita:

“O mesmo ocorre no direito espanhol, onde a revisão não

é na realidade um recurso, mas sim uma ação autônoma,

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posto que inicia uma nova relação processual.” (Marcia

Conceição Alves Dinamarco, Ação Rescisória, 2004, p.

21).

Voltando à contraposição básica entre recursos e ações

impugnativas autônomas, convém assinar que ela não exclui o reconhecimento

do fenômeno da interferência ou da “contaminação” recíproca entre essas duas

classes de remédios. Assim é que mediante apelação, cabe alegar vícios de

atividade (errores in procedendo) e pedir não a reforma, senão a anulação da

sentença; e, inversamente, a ação rescisória pode servir de veículo à denúncia

de vícios de juízo (errores in iudicando), como na hipótese do art. 485, V, do

CPC. Não é exata, portanto, a correlação estabelecida por certos autores entre

os termos do binômio recurso-ação impugnativa autônoma, de um lado, e os

termos do binômio injustiça-invalidade da sentença, de outro.

No direito brasileiro, a ação rescisória, espécime característico

das ações autônomas de impugnação, conserva a nota tradicionalmente indica:

dirige-se contra decisões passadas em julgado, Não nos parece, entretanto,

que se posa, de lege lata, fazer repousar na presença ou na ausência dessa

circunstância o critério essencial da diferenciação ente ações impugnativas e

recursos. A construção há de fundar-se nos dados do direito positivo, com as

suas peculiaridades. Ora, não pode sofrer dúvida que, ente nós, todos os

recursos impedem à formação da coisa julgada. Mas esse traço não basta para

a demarcação da divisa: tira-se da regra legal que não é recurso, para o direito

brasileiro, remédio algum utilizável contra decisão passada em julgado; mas

não se tira que seja necessariamente recurso qualquer remédio utilizável

contra decisão ainda não passada em julgado. O núcleo irredutível do conceito

há de ser, pois, buscando alheres.

Não ministra o CPC uma definição de “recurso”: examinando-se,

porém, as várias figuras ali arroladas sob esse nomen iuris, verifica-se que o

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denominador comum de todas elas consiste em que o seu uso não dá ensejo à

instauração de novo processo, senão apenas produz a extensão do mesmo

processo até então fluente. Eis aí, a nosso ver, o traço característico do

instituto, tal como a disciplina o vigente direito processual civil brasileiro, e já

disciplinava o Código anterior. Não será recurso, pois, remédio algum cujo uso

produza a instauração de processo distinto daquele em que se proferiu a

decisão impugnada: assim, obviamente, a ação rescisória, mas também o

mandado de segurança contra ato judicial, a despeito de não pressupor o

trânsito em julgado, segundo outro critério, do elenco das ações autônomas de

impugnação, no qual para nós, indubitavelmente se inscreve.

A luz das considerações acima, pode-se conceituar recurso, no

direito processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar,

dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a

integração de decisão judicial que se impugna. Ressalta-se que é dentro do

mesmo processo, mas não necessariamente dos mesmos autos: o Agravo de

Instrumento poderá correr em autos apartados; bifurca-se o procedimento, mas

o processo permanece uno.

O art. 467 do CPC afirma: “Denomina-se coisa julgada material a

eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a

recurso ordinário ou extraordinário”, sendo que, conforme o art. 468 do CPC, “A

sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da

lide e das questões decididas”, ou seja, a parte dispositiva da sentença é que

faz coisa julgada, pelo que se depreende, a contrario sensu, do art. 469, bem

como do art. 498 ao se referir ao dispositivo do acórdão. Assim, ressalta-se,

também faz coisa julgada a resolução da questão prejudicial, como assinala o

art. 468, e dispõem os arts. 470, 5º e 325, se a parte o requerer, que sobre ela

o juiz profira sentença incidente.

O art. 485 diz: “A sentença de mérito, transitada em julgado, pode

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ser rescindida”, nas situações previstas taxativamente nas alíneas do referido

artigo.

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CAPÍTULO II

REQUISITOS

Com propriedade, Luiz Guilherme Marinoni sustenta:

“Em todas essas circunstâncias, a sentença de mérito

pode ser revista, como decorrência da anulação da coisa

julgada que se busca por meio da ação rescisória. Para

tanto, basta que se preencham os seguintes

pressupostos:

I- Sentença (ou acórdão) que, efetivamente, aprecie o

mérito da demanda, acolhendo ou rejeitando, no todo ou

em parte, o pedido formulado (art. 269, I, do CPC);

II- Ocorrência de coisa julgada material sobre essa

sentença, em função da preclusão da faculdade recursal

sobre ela;

III- Presença de uma das causas apontadas no art. 485

do CPC;

IV- Não exaurimento do prazo previsto para ação

rescisória (art. 495, CPC).” (Luiz Guilherme Marinoni e

Sergio Cruz Arenhart, Manual do Processo de

Conhecimento, 2006, p. 654)

2.1 – Sentença de Mérito (art. 485 do CPC)

A "ação rescisória" só é cabível, em nosso sistema, contra

sentenças de mérito cobertas pela autoridade de coisa julgada. É o que se

extrai do texto do art. 485 do Código de Processo Civil, cuja redação afirma

que "a sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida

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quando...". Incabível, pois, a propositura de "ação rescisória" para atacar

sentença terminativa, devendo-se considerar que tal demanda é juridicamente

impossível.

Além disso, é de se frisar que as sentenças rescindíveis são tran-

sitadas em julgado. A coisa julgada é, aliás, requisito para que se possa

considerar uma sentença como rescindível, eis que antes do trânsito em

julgado ela será tão-somente nula ou anulável. Após a preclusão das vias

recursais (o que se dá no momento em que a sentença transita em julgado),

sanada estará a nulidade, podendo surgir, então, a rescindibilidade.

As hipóteses de rescindibilidade da sentença são expressamente

previstas em lei e devem ser interpretadas restritivamente, uma vez que a

possibilidade de ataque à coisa julgada substancial é de todo excepcional.

Apenas nos casos previstos no art. 485 do CPC é que se terá como admissível

a rescisão da sentença.

2.2 – Preclusão Decadencial de Dois Anos

Lembremos aqui a máxima latina: “dormientibus non sucurrit jus”

(“o direito não socorre aos que dormem).

Trata-se aqui especificamente do interesse processual, ou

diretamente de decadência instrumental.

Se existe a decadência material, não remanescerá outra

alternativa processual.

Vale apena destacar a hipótese de ser interposto recurso contra

sentença de mérito, todavia sendo esta não conhecida por intempestiva, o

prazo inicial retroagirá à data em que ocorreu a preclusão máxima, ou seja, da

data em que iniciou-se o trânsito em julgado. Em diferente hipótese encontra-

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se quando o tribunal não conhecendo do recurso por pressuposto diverso de

sua intempestividade ou falta de previsão legal, o início do prazo será a data do

trânsito desta decisão.

Pode ocorrer decadência ainda quando, embora ajuizada a ação,

não haver pagamento de custas no prazo determinado pelo juízo, assim como,

por falta de iniciativa da parte em qualquer andamento processual. Devendo

portanto serem observadas as regras do art. 184 do CPC.

2.3 – Rol Taxativo do art. 485 do CPC

A primeira delas é a de sentença proferida por juiz que a tenha

dado por prevaricação, concussão ou corrupção (art. 485, I, do CPC). Trata-se

do tradicionalmente denominado "juiz peitado" , denominação que decorre do

fato de os crimes que hoje são conhecidos como de corrupção passiva,

concussão e prevaricação terem sido chamados, na legislação penal mais

antiga, de "peita ou suborno" .

Concussão, corrupção passiva e prevaricação são crimes

previstos no Código Penal, nos arts. 316, 317 e 319. Assim é que, nos termos

do art. 316 do CP, concussão é "exigir, para si ou para outrem, direta ou

indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-Ia, mas em razão

dela, vantagem indevida". A corrupção passiva é definida no art. 317 do CP

como "solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,

ainda que fora da função ou antes de assumi-Ia, mas em razão dela, vantagem

indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem". Por fim, a prevaricação (art.

319 do CP) consiste em "retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de

ofício, ou praticá-Io contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse

ou sentimento pessoal".

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A prática, pelo juiz, de qualquer destes ilícitos toma rescindível a

sentença. Aliás, nem poderia ser de outra forma. Como se verá mais adiante, a

sentença é rescindível quando viola o direito em tese (art. 485, V: "violar literal

disposição de lei"), ainda que o erro tenha se dado sem que o juiz tivesse a

intenção de prejudicar alguma das partes. É óbvio, pois, que a sentença

proferida por juiz peitado, em que é nítida a intenção de favorecer uma das

partes, deve ser também rescindível.

Note-se que, nesta hipótese de rescindibilidade, não se poderá

julgar improcedente o pedido de rescisão da sentença sob o argumento de que

a mesma é justa, tendo dado a adequada solução à demanda que apreciou.6 A

sentença deverá ser rescindida e, em seguida, no juízo rescisório, deverá o

tribunal julgar novamente a causa (e, se for o caso, dar nova decisão, de

idêntico teor ao da sentença desconstituída).

É de se referir, ainda, que não há a necessidade de que o juiz

tenha sido condenado, na esfera criminal, pela prática de um daqueles crimes

previstos no texto do inciso I do art. 485.7 Caberá ao juízo competente para a

"ação rescisória" verificar se ocorreu algum daqueles ilícitos e, em caso

positivo, rescindir a sentença. Eventual decisão em processo penal anterior ao

pedido de rescisão, porém, terá influência sobre o julgamento da rescisória.

Assim, se o juiz tiver sido condenado por alguma das infrações penais

mencionadas na lei, não poderá o tribunal negar a rescisão por considerar que

não houve a prática do crime. De outro lado, a sentença absolutória no

processo penal impedirá a rescisão da sentença se tiver afirmado a

inexistência material do ilícito penal, mas não na hipótese de se ter absolvido o

magistrado sem que se afirmasse a inexistência do fato criminoso (e.g.,

decisão absolutória por insuficiência de provas). Nestes casos, fica o tribunal

livre para apreciar a ocorrência ou não da causa de rescisão da sentença.

Questão interessante é a de saber se é rescindível um acórdão

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quando um dos magistrados que participou do julgamento colegiado tiver

praticado alguma das infrações penais mencionadas no art. 485, I, do CPC.

Parece-nos que a melhor posição é considerar rescindível o acór-

dão se o magistrado peitado tiver votado no sentido que tenha, afinal,

prevalecido na decisão (em outras palavras, o acórdão será rescindível se for

unânime ou, sendo por maioria, se o voto do juiz peitado for um dos

vencedores), mas não se o voto do juiz peitado for vencido. Aplica-se, aqui, a

nosso juízo, o princípio do prejuízo, entendendo-se que não há invalidade se o

ato processual não prejudicou a parte a quem aproveitaria o reconhecimento

do vício.

Por fim, há que se afirmar que a sentença de primeiro grau de

jurisdição proferida por juiz peitado não será rescindível se tiver sido julgado

algum recurso (admissível) contra a mesma, pois neste caso o acórdão

substitui a sentença, desaparecendo o ato ilegal..

A segunda causa de rescindibilidade da sentença é ter sido a

mesma proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente

(art. 485, II). Os conceitos de impedimento e de incompetência absoluta foram

estudados em passagem anterior desta obra, razão pela qual dispensamo-nos

de repetí-Ios.

É de se notar, aliás, que há um erro de redação no inciso II do art.

485, que se refere a "juiz absolutamente incompetente", quando é certo que a

incompetência não é do juiz, mas sim do juízo, sendo as duas figuras

inconfundíveis.

Verifica-se, pela leitura do dispositivo ora em análise, que apenas

o impedimento, e não a suspeição, gera rescindibilidade. Assim, sentença

proferida por juiz suspeito, uma vez transitada em julgado, não poderá ser

atacada através de "ação rescisória" (ao menos por este fundamento, sendo

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óbvio que se outra causa de rescindibiiidade houver a rescisão se faz possível).

Tal se dá pelo fato de o sistema processual vigente considerar o impedimento

vício mais grave que a suspeição, determinando sua sobrevivência ao trânsito

em julgado.

Não se pode deixar de afirmar que, quanto às decisões proferidas

por órgão colegiado, em que um dos juízes era impedido, aplicam-se as

mesmas observações feitas para a hipótese de juiz peitado que participa de

julgamento colegiado, feitas a propósito do disposto no art. 485, I, do CPC.

O CPC também dá tratamento diferenciado às incompetências

absoluta e relativa. Aquela, e não esta, permite a rescisão da sentença

definitiva coberta pela autoridade de coisa julgada substancial. A razão da

limitação aos casos de incompetência absoluta da rescindibilidade da sentença

é facilmente verificada. A incompetência relativa, inerte o demandado em argüi-

Ia, provoca a prorrogação da competência. Significa isto dizer, como já se

sabe, que o juízo relativamente incompetente tornar-se-á competente se a

incompetência não for excepcionada a tempo. Com isto se conclui que, no

momento da prolação da sentença de mérito, o juízo já se terá tornado

competente, inexistindo, pois, qualquer vício que pudesse fundamentar um

pedido de rescisão.

A única hipótese a se ressalvar é a de juízo relativamente incom-

petente que, ao apreciar a petição inicial, e antes da citação do demandado,

reconhece a prescrição (se é que esta possibilidade existe!) ou a decadência

(esta sim, sem sombra de dúvida, passível de conhecimento de ofício),

proferindo sentença de mérito. Tal sentença teria sido proferida antes de

ocorrer a prorrogação da competência, mas, ainda assim, será impossível sua

rescisão. Fácil entender o motivo. O réu da demanda onde se proferiu a

sentença, obviamente, não teria interesse em rescindi-Ia, já que a mesma fora

favorável a seus propósitos. Interesse poderia haver, tão-somente, por parte do

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autor, mas este sabia estar propondo sua demanda perante juízo incompetente

(relembre-se que, nos termos da Lei de Introdução ao Código Civil, a ninguém

é dado alegar o desconhecimento da lei como desculpa para suas condutas), e

admitir que pleiteasse sua rescisão seria compactuar com a utilização, em seu

proveito, de sua própria torpeza.

Por fim, há que se ressaltar que nas "ações rescisórias" fundadas

no inciso II do art. 485 não haverá o juízo rescisório, devendo o tribunal, após

rescindir a sentença (juízo rescindente), remeter os autos ao juízo competente

(ou a um juiz imparcial) para que julgue novamente a causa.

Logo a seguir, no inciso III do art. 485, prevê o CPC como causa

de rescindibilidade da sentença ter a mesma resultado "de dolo da parte

vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a

fim de fraudar a lei".

Há, neste dispositivo, duas hipóteses distintas a considerar: dolo

da parte vencedora e colusão processual. Falar-se-á das duas separadamente.

Quanto à primeira, há que se dizer, em primeiro lugar, que ocorre

o dolo referido toda vez que a parte vencedora, faltando a seu dever de

lealdade e boa-fé (art. 14, lI, do CPC), haja impedido ou dificultado a atuação

processual do vencido, ou influenciado a formação do juízo do magistrado,

afastando-o da verdade.

É de se afirmar, desde logo, que não se enquadra no disposto

neste inciso III a produção de prova que se sabia falsa, pois esta, em tendo se

constituído em fundamento da sentença, permitirá a rescisão com base no

disposto no inciso VI, o qual dispensa a apreciação da intenção de quem a

produziu.

Afirme-se, ainda, que é fundamental que o resultado final do pro-

cesso tenha sido o que foi em razão do dolo. Em outros termos, se não tivesse

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havido comportamento doloso, o resultado do processo teria sido diverso. Caso

contrário, a sentença não poderá ser rescindida.

Além disso, considera-se que ao dolo da parte vencedora se equi-

param, sendo por isso capazes de permitir a rescisão da sentença, o dolo do

representante legal da parte e o de seu advogado.

Hipótese diversa, mas que mereceu tratamento no mesmo dispo-

sitivo de lei, é a da colusão processual. Esta se encontra definida no art. 129 do

CPC, segundo o qual, "convencendo-se, pelas circunstâncias da causa, de que

autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir

fim proibido por lei, o juiz proferirá sentença que obste aos objetivos das

partes".

A colusão processual é o fato consistente na utilização do proces-

so, pelas partes, para praticar ato simulado ou atingir fim ilícito. Pensasse no

homem casado que pretenda doar um bem a sua amante, o que é vedado pela

lei civil. Utilizam-se, então, de um artifício, ela propõe demanda pleiteando o

reconhecimento do domínio do imóvel, e ele reconhece a procedência do

pedido. As partes alcançam, assim, com o processo, um fim ilícito, o que não

pode ser aceito pelo ordenamento jurídico. Determina, assim, o art. 129 que o

juiz profira sentença que obste a intenção das partes (O que se daria pela

prolação de sentença que pusesse termo ao processo sem resolução do

mérito).

O art. 485, m, leva ao extremo a intenção do legislador de comba-

ter a colusão processual, permitindo a rescisão da sentença de mérito, a qual

terá sido proferida se o juiz não verificou a colusão no curso do processo

original.

É de se afirmar que na hipótese de colusão processual exige-se o

concerto das partes, ou seja, exige-se aqui que ambas as partes estejam de

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acordo quanto à utilização do processo para alcançar fim ilícito ou praticar ato

simulado.

O art. 485, IV; do CPC torna rescindível a sentença que "ofender

a coisa julgada". Trata-se de hipótese que decorre logicamente da situação

jurídica de imutabilidade e indiscutibilidade do que ficou decidido por sentença

de mérito coberta pela autoridade de coisa julgada substancial.

Como é sabido, a coisa julgada material impede qualquer nova

discussão e decisão a respeito do que ficou coberto por seus limites. É proibida

a prolação de qualquer sentença que desconsidere a coisa julgada, pouco

importando se a nova sentença tem conteúdo igualou diverso da sentença

transitada em julgado.

Assim sendo, ofende a coisa julgada a sentença que decide de-

manda idêntica àquela que gerou a sentença firme. Imagine-se, por exemplo, a

hipótese de sentença que tenha declarado inexistente uma obrigação, já

transitada em julgado, sobrevindo demanda em que se pede a condenação do

réu ao cumprimento daquela mesma prestação. Eventual julgamento desta

demanda ofenderia a coisa julgada já formada, qualquer que fosse o teor da

sentença.

Da mesma forma, haverá ofensa à coisa julgada se, em julgamen-

to de questão diversa da que fora decidida por sentença transitada em julgado,

mas a ela subordinada, não se levar em consideração o que se decidiu acerca

da questão subordinante. Assim, por exemplo, se uma sentença declarou

inexistente uma obrigação de pagar dinheiro, ofende a coisa julgada sentença

posterior que determine o réu a pagar os juros devidos em razão daquela

obrigação. Da mesma forma, se uma sentença declarou que Fulano não é pai

de Beltrano, ofende a coisa julgada a sentença que, com base na existência da

filiação, condena aquele a prestar alimentos a este.

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Estas sentenças serão, pois, rescindíveis, por força do disposto

no art. 485, IV; do Código de Processo Civil.

Não há, porém, ofensa à coisa julgada se a segunda sentença

contraria os fundamentos da primeira. Assim, por exemplo, transitada em

julgado sentença que, considerando Fulano pai de Beltrano, condenou aquele

a prestar alimentos a este, não há ofensa à coisa julgada se sentença posterior

declarar que Fulano não é pai de Beltrano. Uma das sentenças,

indubitavelmente, será injusta, mas a injustiça da sentença não é causa de sua

rescisão. A contradição entre as sentenças é meramente lógica, mas inexiste

óbice jurídico a que tal se dê. Incabível, pois, a rescisão da segunda sentença

por ofensa à coisa julgada, porque não havia coisa julgada a ser ofendida (já

que, como se sabe, não fazem coisa julgada os motivos da sentença).

Dispõe o art. 485, V. do CPC que é rescindível a sentença que

"violar literal disposição de lei". Trata-se de dispositivo de redação criticável,

uma vez que o direito não se exaure no texto frio da lei, sendo certo que a

interpretação literal da norma jurídica raramente é capaz de permitir resultados

satisfatórios na atividade hermenêutica. Melhor seria que se tivesse dito "violar

direito em tese", como tem sido da preferência dos doutrinadores que

apreciaram a matéria.

Ocorre a violação do Direito em tese quando o órgão prolator da

sentença rescindenda afronta o direito positivo, entendendo-se a palavra "lei",

contida no dispositivo, em sentido amplo. Não se considera violadora do

Direito, porém, decisão contrária à jurisprudência dominante, ainda que esta se

encontre fixada em súmula. No Direito brasileiro não há jurisprudência

vinculante, (salvo em matéria constitucional, conforme o art. 103-A, da

Constituição da República) e não se pode mesmo negar a hipótese de ser a

súmula a violar o direito em tese. Tanto as normas jurídicas materiais quanto

as processuais, uma vez violadas, permitem a rescisão da sentença. Assim,

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por exemplo, será rescindível a sentença que julgue ultra petita ou extra petita,

violando preceito decorrente de norma processual, da mesma forma que será

rescindível a sentença que violar regra de direito material, como a que decretar

o despejo de ex-companheira do locatário que deixa o imóvel, por considerar

que esta não pode ser considerada sucessora da posição contratual do

locatário, negando o disposto no art. 12 da Lei de Locações.

É também rescindível a sentença que "se fundar em prova, cuja

falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria

ação rescisória" (art. 485, VI, do CPC).

Permite a lei que se rescinda sentença fundada em prova falsa. É

preciso que se verifique se a sentença subsistiria sem a prova apontada como

falsa, ou seja, somente a prova falsa que funcione como suporte da sentença é

que permitirá a rescisão. Significa isto dizer que, nas hipóteses em que o

resultado do processo seria o mesmo, ainda que não houvesse a prova falsa,

não seria possível a rescisão da sentença.

A prova falsa que permite a revisão é aquela em que se sustenta

a sentença, não se admitindo a desconstituição da decisão se havia outro

fundamento suficiente para o referido provimento jurisdicional.

A prova falsa pode ser de qualquer natureza, pouco importando

tratar-se de falsidade material ou ideológica. É também irrelevante saber se a

falsidade foi ou não alegada no processo onde se proferiu a sentença

rescindenda. Impossível, porém, a rescisão, se houve a instauração de

incidente de argüição de falsidade, tendo sentença transitada em julgado

afirmado autêntico o documento argüido de falso (salvo se, obviamente, se

puder rescindir, também, esta decisão).

A falsidade da prova que serviu de base à sentença rescindenda

pode ser apurada no próprio processo da "ação rescisória". Pode, também,

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ocorrer de tal falsidade já ter sido apurada e declarada por sentença penal

transitada em julgado. Não é preciso que se tenha proferido tal sentença em

processo penal condenatório. A falsidade da prova pode ter sido declarada em

sentença prolatada em processo de revisão criminal ou habeas corpus, ou

qualquer outro onde se declare, com força de coisa julgada, a falsidade da

prova. Nesta hipótese, não poderá o tribunal que julgar a rescisória

desconsiderar a coisa julgada criminal, sendo de se considerar,

necessariamente, que a prova é falsa. A defesa do réu, neste caso, só poderá

se fundar (quanto ao mérito) em que a prova falsa não era o fundamento único

da sentença, ou seja, que havia outro fundamento suficiente a embasar a

sentença rescindenda.

É curioso notar que a existência de sentença civil transitada em

julgado declarando a falsidade da prova não é suficiente para que se possa

pleitear a rescisão da sentença que nela se baseou. A falsidade, neste caso,

terá de ser novamente demonstrada no processo da "ação rescisória". A

sentença civil, neste caso, funcionará, tão-somente, como meio de prova, a fim

de convencer os julgadores da demanda rescisória da falsidade da prova.

Assim, apesar da existência de coisa julgada sobre o tema, pode ocorrer de o

tribunal, no julgamento da "ação rescisória", considerar que a prova é

autêntica, sem que se possa considerar que este acórdão é rescindível por

ofensa à coisa julgada. Trata-se de fenômeno singular na sistemática

processual brasileira, por desconsiderar os limites da coisa julgada material.

Nos termos do art. 485, VII, do CPC, é rescindível a sentença

quando, "depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência

ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar

pronunciamento favorável".

Trata-se de dispositivo que permite um paradoxo, já que, por força

de sua incidência, é mais fácil rescindir a coisa julgada do que impedir sua

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formação. Isto porque a obtenção de documento novo não aproveita à parte

durante a pendência do processo, quando se quer interpor recurso especial ou

extraordinário, onde somente se pode discutir matéria de direito (e não matéria

de fato). Assim sendo, não poderá a parte reformar a sentença no mesmo

processo em que ela foi proferida, mas terá a possibilidade de obter sua

rescisão, após a formação da coisa julgada substancial.

Permite o dispositivo ora em exame que a parte que obtém

"documento novo" pleiteie a rescisão da sentença. Fala o art. 485, VII, em

"autor", para se referir, obviamente, àquele que propõe a "ação rescisória" (e

que não será, necessariamente, o autor da demanda original).

É de se verificar que a referência a "documento novo" não pode

levar à conclusão de que trata a lei de documento cuja formação se deu

após a sentença. Ao contrário, o documento que permite a rescisão da coisa

julgada já tinha de existir ao tempo da prolação da sentença que se quer

atacar. Isto porque fala a lei em documento "cuja existência" a parte

"ignorava". Ora, só se pode ignorar a existência de algo que já existe.

Admite-se, ainda, que se trate de documento que, embora conhecido, .não

pôde ser utilizado pela parte (mas, ainda aqui, já deveria existir o

documento). É preciso, nesta última hipótese, que a impossibilidade de

utilização do documento não decorra de culpa da própria parte, caso .em

que será impossível a rescisão.

Há que se dizer, ainda, que há um requisito temporal para que se

permita a rescisão da sentença com base neste dispositivo. Exige-se que o

documento novo tenha sido obtido depois da sentença. Há que se ter

cuidado na interpretação desta parte do dispositivo. Em primeiro lugar, tem-

se de considerar que sentença está, aqui, com o sentido de designar a

decisão que se quer rescindir. Pode ocorrer, assim (e freqüentemente

ocorrerá), que a "ação rescisória" se volte não contra a sentença proferida

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pelo juízo de primeiro grau de jurisdição, mas contra um acórdão :proferido

pelo tribunal, em grau de recurso. Nesta hipótese, pouco importa se a

obtenção do documento foi posterior à prolação da sentença, já que esta

terá sido substituída pelo acórdão, e apenas os documentos obtidos após

sua prolação poderão fundamentar a rescisão.

Além disso, não se pode esquecer que há momentos adequados

para a juntada aos autos de prova documental. De nada adianta, por

exemplo, obter documento após esgotados os recursos ordinários, já que em

fase de recurso extraordinário ou especial não se pode mais discutir matéria

de fato. Assim sendo, a referência a "depois da sentença" deve ser

entendida como "depois do último momento em que teria sido lícito à parte

utilizar o documento no feito onde se proferiu a decisão rescindenda".

Para fins de sustentação, trazemos a lume o parecer de Bernardo

Pimentel Souza:

“No que tange ao prazo decadencial da rescisória, incide

a regra da inexistência da interrupção e de suspensão,

conforme o disposto no artigo 207 do Código Civil de

2002. Porém, ocorre a prorrogação do prazo quando o

biênio termina em dia em que não há expediente forense

normal, conforme entendimento jurisprudencial

predominante.” (Bernardo Pimentel Souza, Introdução aos

Recursos Cíveis e à Ação Rescisória, 2007, p. 515)

Também não se pode esquecer que o "documento novo" deve ser

capaz, por si só, de garantir ao autor (de "ação rescisória", frise-se) resultado

favorável. Não poderá a parte aproveitar o novo processo que se forma para

querer produzir outras provas, além do "documento novo".

Por fim, há que se referir que apenas "documento novo"

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referente a fatos que tenham sido alegados no processo original podem ser

trazidos à "ação rescisória". Não é possível a alegação, agora, de fato que

poderia ter sido deduzido no processo e não o foi, pois que tais fatos encon-

tram-se cobertos pela eficácia preclusiva da coisa julgada material.

O inciso VIII do art. 485 permite a rescisão da sentença

"quando houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou

transação, em que se baseou a sentença".

Em primeiro lugar, há que se dizer que a referência à "confissão"

deve ser interpretada extensivamente, para abranger também o

reconhecimento jurídico do pedido. Isto porque o reconhecimento do pedido é

fato suscetível de acarretar a prolação de sentença definitiva (art. 269, 11, do

CPC), e a existência de fundamento capaz de invalidar deve permitir a rescisão

da sentença que o homologou. Não se pode, porém, afirmar simplesmente que

onde se lê "confissão" deve-se ler "reconhecimento do pedido", por força do

que dispõe o art. 352 do CPC, que prevê a possibilidade de rescisão da

sentença quando houver causa de invalidade da confissão que dela tenha sido

o único fundamento (suficiente).

Outro problema surge com relação à "desistência". Isto porque,

em nosso sistema, a desistência leva à prolação de sentença terminativa (art.

267, VIII), a qual não pode, obviamente, ser rescindida (à luz do que dispõe o

art. 485, caput). 'fiata-se, aqui sim, de mero erro de redação, já que o legislador

não se deu conta de que o CPC português de 1939, de onde extraiu o

dispositivo que ora se analisa, chamava de "desistência do pedido" o que para

nós é a "renúncia à pretensão" (art. 269, V). A nossa desistência da ação (art.

267, VIII) era, no sistema português, chamada "desistência da instância", e não

se confundia com a "desistência do pedido".

Vê-se, pois, que o verdadeiro sentido deste inciso VIII é o de per-

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mitir a rescisão da sentença quando houver fundamento para invalidar

"confissão, reconhecimento do pedido, renúncia ou transação em que se tenha

baseado a sentença".

Há, ainda, um problema a considerar. É que o art. 486 prevê o

cabimento de "ação anulatória" (e não de "ação rescisória") nos casos em que

se quer atacar ato judicial que independe de sentença (como é o caso da

arrematação de bem em hasta pública), ou nos casos em que a sentença é

meramente homologatória. Ocorre que nas hipóteses de reconhecimento do

pedido, renúncia à pretensão e transação, a sentença do juiz limita-se a

homologar o ato de autocomposição praticado pelas partes. Há que se buscar

uma forma de compatibilizar as duas normas, as quais, ao menos

aparentemente, estão em conflito.

Basta pensar num exemplo para compreender-se a extensão do

problema. Havendo fundamento para invalidar sentença homologatória de

transação, deve ser proposta "ação anulatória" ou "ação rescisória"? Autores

há que tentam resolver o problema distinguindo as sentenças "meramente

homologatórias" das sentenças homologatórias que não o sejam "meramente".

Esta não parece, porém, uma forma convincente de resolver o

problema. Toda sentença homologatória será meramente homologatória, já que

o juiz limita-se, nestes casos, a homologar o ato das partes. Parece preferível

considerar, assim, que outra é a solução da questão.

Com bom juízo, é de se considerar que nos casos de confissão,

reconhecimento do pedido, renúncia à pretensão ou transação o remédio

adequado será a "ação anulatória" se ainda não tiver ocorrido o trânsito em

julgado da sentença homologatória, e a "ação rescisória" se revelará como o

único meio de impugnação adequado após o trânsito em julgado. Outra

interpretação levaria a considerar que existe uma superabundância de meios

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de impugnação que não se justifica. Já nos casos de sentenças homologatórias

de outros atos judiciais (pense-se, por exemplo, na sentença que homologa um

divórcio consensual, ou na que homologa a desistência da ação), não sendo

caso de rescindibilidade, cabível será, apenas, a "ação anulatória" .

Admite-se, ainda, a rescisão da sentença de mérito coberta pela

autoridade de coisa julgada, no caso previsto no inciso IX do art. 485, que é o

de ter a mesma se fundado em "erro de fato, resultante de atos ou de

documentos da causa". Dispõe, ainda, o CPC que "há erro, quando a sentença

admitir um fato inexistente, ou quando considerar inexistente um fato

efetivamente ocorrido" (art. 485, § 12), e que tanto num como noutro caso é

indispensável "que não tenha havido controvérsia, nem pronunciamento judicial

sobre o fato" (art. 485, § 22).

Esta causa de rescindibilidade da sentença é oriunda do Direito

italiano, pois o Código daquele país prevê como fundamento da revocazione o

"errore di fatto risultante dagli atti o documenti della causa" A tradução para o

português, porém, foi mal feita, pois que risultante não significa "resultante"

(aquilo que resulta), mas "emergente" (aquilo que emerge, que transparece). A

lei, portanto, quer se referir ao erro de fato que emerge, que ressalta dos lIatti o

documenti della causa". Aqui, aliás, outro equívoco de tradução. A palavra atti

está empregada aqui não no sentido de "atos", como diz a lei brasileira, mas no

de "autos" .

Assim sendo, há que se concluir que a verdadeira vontade da lei é

a de ter por rescindível a sentença que se funda em erro de fato que

transparece dos autos e documentos do processo.

Há que se considerar, porém, que não é qualquer erro do juiz que

deve ser capaz de ensejar a rescisão da sentença. A "ação rescisória" não é

remédio destinado a atacar sentenças injustas, mas sentenças viciadas,

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inválidas. Por esta razão, o CPC, nos dois parágrafos do art. 485, regulamenta

a admissibilidade da "ação rescisória" fundada no erro de fato.

Em primeiro lugar, o Código de Processo Civil diz haver erro de

fato quando a sentença admite um fato existente ou considera inexistente um

fato que efetivamente ocorreu (§ 12). Assim, para que a sentença possa ser

rescindida com base neste fundamento, é preciso que a sentença tenha sido

fundada no erro de fato e que tal erro seja apurável pelo mero exame dos autos

e documentos do processo (não sendo possível, pois, que se produza qualquer

outra prova com o fim de alcançar resultado favorável ao demandante da

rescisão).

Além disso, é preciso que sobre o fato não tenha havido

controvérsia, e que tampouco tenha havido sobre ele provimento judicial (§ 22).

Não se pode negar a dificuldade em interpretar o presente dispositivo. Como

pode haver erro se não houve pronunciamento judicial sobre o fato, o qual não

foi, nem mesmo, objeto de controvérsia?

A vontade da lei, porém, é facilmente compreendida. É preciso,

em primeiro lugar, que o fato que ocorreu e foi tido como inexistente (ou vice-

versa) seja incontroverso, o que se dará, por exemplo, quando tiver sido

alegado pelo autor e não impugnado pelo réu. É preciso, ainda, que a

sentença tenha ignorado tal fato, sem que tenha havido, pois, pronunciamento

expresso sobre o mesmo. Em outros termos, é preciso que a decisão tenha

silenciado sobre o fato, mas de sua conclusão se verifique uma

incompatibilidade lógica com a existência ou inexistência do fato. Isto significa

dizer que só será rescindível a sentença quando for razoável supor que o juiz

teria decidido de outra forma se tivesse atentado para as provas dos autos, o

que o levaria a ter considerado existente o fato que efetivamente tenha

ocorrido (ou, ao contrário, que teria por inexistente o fato que não ocorreu).

Não tendo atentado para a prova (e, por conseguinte, tendo silenciado sobre o

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fato), acabou o juiz por chegar a conclusões erradas. Pense-se, por exemplo,

numa demanda em que se tenha pedido a condenação do réu ao pagamento

de dívida decorrente de contrato de mútuo, em que estava provado o

pagamento, sem que tenha havido controvérsia entre as partes acerca do

ponto. Na hipótese de o juiz, apesar disso, condenar o réu, silenciando sobre

o pagamento, será rescindível a sentença, porque não considerou aquele fato

extintivo da obrigação como existente. Pouco importa, no caso, que o juiz

tenha considerado inexistente o pagamento ou que, simplesmente, não tenha

atentado para a questão, deixando, simplesmente, de considerá-Ia. De

qualquer forma, será rescindível a sentença por erro de fato. Se, porém, tiver

o juiz negado expressamente em sua sentença o pagamento, a sentença não

será rescindível, ainda que injusta. Não se pode confundir falta de apreciação

da prova (que permite a rescisão) com má apreciação da prova.

Já no que tange ao depósito, este veremos no procedimento, por

ser entender ser mais adequado ao estudo.

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CAPÍTULO III

COMPETÊNCIA

A ação rescisória será julgada por tribunal, assim dispõe a vasta

fundamentação jurídica (arts. 102, I, ”j”, 105, I, “e” e 108, I, ”b” da CF; 494 do

CPC).

No próprio título IX, capítulo IV no código de processo civil

menciona quais os processos a serem usados no tribunal.

Pela simples leitura dos artigos mencionados, verifica-se que a

segunda instância é competente para julgar ação rescisória tanto de primeiro

grau, como de sua instância.

A despeito do Superior Tribunal de Justiça, a estes só cabem

julgar ação rescisória apenas do próprio tribunal. Assim também com o

Supremo Tribunal Federal.

3.1 - Legitmidade

O art. 487 do Código de Processo Civil, ao regular a legitimação

para o ajuizamento da rescisória, em seus três incisos, reconhece por ativamente

legitimado, em primeiro lugar, quem foi parte no processo onde se prolatou a

sentença rescindenda ou o seu sucessor a título universal ou singular,

estendendo, também, a legitimação ao terceiro juridicamente interessado e ao

Ministério Público.

As partes do processo primitivo, tanto o autor como o réu, poderão

demandar a rescisão da sentença e o mesmo se diga em relação ao assistente.

Quem pretende rescindir a sentença deve ter sido parte no momento

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em que ela foi proferida, não importando se figurou na relação processual desde o

princípio, ou se nela só ingressou no curso do feito. Ademais, deve-se ressaltar

que a revelia não exclui a condição de parte e, consequentemente, a legitimidade

ativa para a rescisória.

Confere igual legitimidade ao sucessor da parte, a título universal ou

singular, pois este passa a ocupar, em razão da sucessão, a posição jurídica que

pertencia originalmente à parte. Porém, neste caso há exceção. Tratando-se de

ação rescisória de sentença baseada em confissão viciada por erro, dolo ou

coação, a legitimidade ativa recai apenas no próprio confitente e só transfere para

os herdeiros, se ele falecer após a propositura da ação, conforme o disposto no

art. 352, parágrafo único, do Código de Processo Civil.

A respeito da legitimação de terceiro para propor ação rescisória,

apesar de não ter participado do processo originário, haverá interesse caso tenha

sido prejudicado do ponto de vista jurídico pelo decisum nele proferido, ainda que

indiretamente. Aliás, para admitir a rescisória promovida por terceiro exige-se um

inter-relacionamento entre a situação jurídica decidida pela sentença e a invocada

por este, de tal modo que não tenha perante o direito material, fundamento para

recompor a situação anterior por meio de ação própria.

Assim, têm legitimidade ativa na condição de terceiro interessado os

que poderiam ter ingressado no processo primitivo como assistente e litisconsorte

necessário.

Quanto ao Ministério Público, duas situações o inciso III do art. 487

do CPC prevê para propor a ação rescisória: quando não foi ouvido no processo

em que deveria intervir como fiscal da lei e quando a sentença é rescindível por

ter sido fruto de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei, sendo que, neste

caso, o Parquet pode demandar a rescisão da sentença ainda que tenha

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participado do processo original.

No entanto, ao interpretar as hipóteses elencadas no inciso III do

art. 487, prevalece a orientação jurisprudencial de que são apenas

exemplificativas.

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça reconhece a legitimidade do

Ministério Público quando houver o comprometimento de interesses indisponíveis,

por sua natureza, conforme se verifica, na seguinte ementa:

“Processo Civil. Ação Rescisória. 1. Legitimidade ativa do

Ministério Público. As hipóteses do art. 487, III, do Código

de Processo Civil, não são exaustivas; o Ministério Público

também está legitimado a pedir a rescisão de sentença em

que há comprometimento de interesses públicos

indisponíveis. 2. Prescrição. A citação interrompe a

prescrição, dela não se podendo cogitar enquanto a ação

pende de julgamento; esse efeito, todavia, só se produz em

relação ao que foi objeto do pedido. Ação rescisória

procedente, em parte”. (AR. 384/PR, Rel. Ministro Ari

Pargendler, Primeira Seção, DJ 14/05/1997).

Neste norte, o Exmo. Sr. Ministro João Otávio de Noronha, da

Colenda Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, também relatou que:

“o Ministério Público tem legitimidade para propor ação

rescisória nos feitos em que atuou como custos legis,

especialmente quando o interesse público é evidente. As

hipóteses previstas no art. 487, inciso III, do CPC, são

meramente exemplificativas.”(EAR 384/PR, DJ 06/03/2006,

p. 133)

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No tocante à legitimidade passiva, leciona Alexandre Câmara:

“(...) se a “ação rescisória” tiver sido proposta pelo Ministério

Público (ou por terceiro interessado), serão réus todas as

partes do processo original. Se, por outro lado, a “ação

rescisória” tiver sido proposta por uma das partes do

processo onde se proferiu a sentença rescindenda, serão

demandados todos os demais (pouco importando se, no

processo original, figuravam no pólo ativo ou passiva da

demanda).” (Câmara, Alexandre Freitas, Lições de Direito

Processual Civil, Vol.II, 2007, p. 27).

Sendo assim, a regra da legitimidade passiva para a demanda é a

de que quem figurou como parte no processo originário também deve participar

do processo da ação rescisória, tratando-se, na verdade, da figura do

litisconsórcio necessário.

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CAPÍTULO IV

O PROCEDIMENTO PARA O JUÍZO DE MÉRITO

O procedimento da "ação rescisória" está regulado nos arts. 488 a

494 do CPC e se desenvolve perante o tribunal competente. Inicia-se,

obviamente, com uma petição inicial, a qual deve ser elaborada com base nos

requisitos previstos no art. 282 do CPC, devendo ainda o demandante formular,

além do pedido de rescisão (iudicium rescindens) , o pedido de novo

julgamento (iudicium rescissorium), toda vez que este for cabível.

Torna-se oportuno acrescentar a exposição de Luiz Guilherme

Marinoni:

“Ao contrário, como estabelece expressamente o art. 488,

I, do CPC, pode a parte autora da ação rescisória cumular

o pedido de rescisão da coisa julgada (iudicium

rescindens) com o de novo julgamento da causa

submetida anteriormente ao exame jurisprudencial

(iudicium rescinssorium).” (Luiz Guilherme Marinoni e

Sergio Cruz Arenhart, Manual do Processo de

Conhecimento, 2006, p. 657)

Assim conclui Bernardo Pimentel Souza:

“É no iudicium rescindens que o tribunal decide se o

julgado impugnado deve, ou não, ser desconstituído,

tendo em vista a existência, ou não, do vício que autoriza

a rescisão. Portanto, é no juízo rescindendo que o

colegiado julgador verifica se houve na espécie o vício

apontado pelo autor.Realmente, enquanto no juízo de

admissibilidade da rescisória ocorre uma análise em tese

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da possibilidade jurídica em sentido amplo, no juízo

rescindente tal verificação se dá in concreto, ou seja, no

caso concreto.” (Bernardo Pimentel Souza, Introdução

aos Recursos Cíveis e à Ação Rescisória, 2007, p. 533)

Além disso, deverá o demandante depositar a importância de

cinco por cento sobre o valor da causa, à disposição do juízo, valor este que

será entregue ao demandado, a título de multa, se o pedido de rescisão for, por

unanimidade de votos, julgado improcedente, ou se o processo da "ação

rescisória" for extinto sem resolução do mérito (também aqui se exigindo

unanimidade de votos). Sendo outro o resultado, poderá o demandante

levantar este depósito ao final do processo.

É dispensado o depósito se a "ação rescisória" for proposta pela

União, Estado, Município ou Ministério Público. Além destes, está também

dispensado do depósito o beneficiário da gratuidade de justiça.

A propositura da "ação rescisória" não impede a produção dos

efeitos da sentença rescindenda (ou, como diz sem muita propriedade o art.

489, "o ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença

ou acórdão rescindendo, ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob

os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou

antecipatória de tutela", o que faz parecer que a regra se aplica somente às

sentenças condenatórias, o que não corresponde à realidade). Trata-se de

regra destinada a proteger a plena eficácia de uma sentença transitada em

julgado, pois é certo que esta só poderia ser infringida após a desconstituição

da autoridade de coisa julgada. Pode ocorrer, porém, hipótese excepcional, em

que se admitirá a suspensão da eficácia da sentença rescindenda, até o

julgamento da "ação rescisória", o que seria obtido através da concessão de

medida de urgência (que a lei não define se tem natureza cautelar ou ante-

cipatória de tutela, mas a nosso juízo terá, sempre, aquela primeira natureza).

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Presentes os requisitos da tutela jurisdicional cautelar, pois, poderá ser

suspensa a eficácia da sentença rescindenda, até que se julgue a demanda

rescisória.

Proposta a "ação rescisória", será a demanda distribuída a um

relator, que poderá indeferir a petição inicial nos casos previstos no art. 295 do

CPC, ou quando não tiver sido efetuado o depósito exigido no art. 488, II

(salvo, obviamente, naqueles casos em que o depósito é dispensado).

Arnaldo Esteves Lima complementa:

“Ainda no campo da competência, saliente-se que a

execução do julgado resultante da rescisória pertence ao

respectivo tribunal que o proferiu, nos termos do art. 575,

I, do CPC.” (Arnaldo Esteves Lima, Ação Rescisória,

2008, p. 66)

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CAPÍTULO V

JULGAMENTO

Proferido despacho liminar de conteúdo positivo, onde se

determina a citação do demandado, deverá ser fixado pelo relator o prazo de

que o mesmo disporá para oferecer sua resposta. Tal prazo não será jamais

inferior a quinze dias, nem superior a trinta.

Admite-se o oferecimento, pelo réu, além da contestação, de

exceção (de incompetência, impedimento ou suspeição), bem assim de recon-

venção (a qual terá de conter, também, uma demanda rescisória).

Após o decurso do prazo da resposta, tenha esta sido ou não

apresentada, o procedimento segue os rumos do rito ordinário, com as pro-

vidências preliminares e o julgamento conforme o estado do processo,

aplicando-se tais disposições no que couber.

Quanto ao assunto, não se pode deixar de mencionar Luiz

Guilherme Marinoni:

“Não se aplicam, à ação rescisória, as alterações de

prazo previstas pelos arts.188 e 191 do CPC. A

flexibilidade do prazo de resposta, expresso pelo art. 491,

visa prazo de resposta às peculiaridades da situação

concreta. Além disso, tratando a ação rescisória de direito

indisponível (coisa julgada), não incidem os efeitos da

revelia, caso o réu (ou réus) deixe de oferecer defesa no

prazo fixado.” (Luiz Guilherme Marinoni e Sergio Cruz

Arenhart, Manual do Processo de Conhecimento, 2006, p.

661)

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Assim é que, por exemplo, não poderá o relator da "ação

rescisória" (a quem caberá dirigir o processo nesta fase) proferir o "julgamento

antecipado da lide", devendo, se este for cabível, levar o processo a julgamento

pelo órgão colegiado competente para apreciar o mérito da causa.

Nada impede, a nosso juízo, que o relator determine a realização

de audiência preliminar, prevista no art. 331 do CPC, onde se poderá alcançar

a conciliação das partes quanto ao objeto do processo original. Não sendo

alcançada esta, deverá então o relator declarar saneado o processo e

organizar a instrução, fixando os pontos controvertidos e deferindo as provas

que serão produzidas.

Havendo necessidade de produção de provas, o relator deverá

terminar que as mesmas sejam colhidas pelo juízo de direito da comarca onde

as mesmas devam ser produzidas. Fixar-se-á, neste caso, prazo para a

devolução dos autos, entre quarenta e cinco e noventa dias.

Após a colheita das provas, poderão as partes apresentar alega-

ções finais, no prazo de dez dias sucessivos (manifestando-se, obviamente, o

autor em primeiro lugar, e o demandado em seguida).

Depois de produzidas as alegações finais, será a demanda

rescisória julgada pelo órgão colegiado competente, o qual exercerá, em

primeiro lugar, O iudicium rescindens e, se for o caso, passará em seguida ao

iudicium rescissorium.

Complementa Luiz Guilherme Marinoni:

“O julgamento da ação rescisória deve obedecer aos

ditames fixados nos Regimentos Internos (tribunais

superiores e federais (ou nas leis de organização

judiciária, em relação aos tribunais estaduais. Em regra,

tais previsões não diferem das regras atinentes aos

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julgamentos dos recursos, razão pela qual desmerecem

maiores observações. Os juízes que tiverem participado

do julgamento rescindendo não estão, só por esta

circunstância, impedidos de julgar a ação rescisória

(Súmula 252 do STF).” (Luiz Guilherme Marinoni e Sergio

Cruz Arenhart, Manual do Processo de Conhecimento,

2006, p. 661)

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CONCLUSÃO

À conveniência da rápida composição dos litígios, para o pronto

restabelecimento da ordem social, contrapõe-se o anseio de garantir, na

medida do possível, a conformidade da solução ao direito. Entre essa duas

solicitações, até certo ponto antagônicas, procuram os ordenamentos uma via

média que não sacrifique, além do limite razoável, a segurança à justiça, ou

esta àquela. Fazer inimpugnáveis quaisquer decisões, desde que proferidas,

atenderia ao primeiro interesse (segurança), mas com insuportável detrimento

do segundo (justiça); multiplicar ad infinitum os meios de impugnação

produziria efeito diametralmente oposto e igualmente danoso. Ante a inafatável

possibilidade de erro judicial, adotam as leis posições intermediárias:

propiciam, mas limitam-lhe os casos e as oportunidades de uso. A oscilação

entre uma e outra tendência marca a evolução histórica de todos os grandes

sistemas jurídicos do chamado mundo ocidental.

E é por isso que Marcia Conceição Alves Dinamarco diz:

“A ação rescisória, não obstante excepcional e apta a ser

qualificada como ação típica, nem por isso deixa de

figurar na ordem jurídico-processual como instrumento

predisposto ao aprimoramento das decisões judiciais,

banido aquelas que se mostrem por algum motivo (os

incisos do art. 485, do CPC) flagrantemente contrárias ao

direito e lesivas a direitos e interesses.” (Marcia

Conceição Alves Dinamarco, Ação Rescisória, 2004, p.

23).

As injustiças que determinado mecanismo de realização do Direito

possa acarretar constituem, em geral, o preço que se paga pela segurança.

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Nas modernas organizações estatais o processo, embora se orientado como

sempre por objetivos de paz social, procura atender o mais possível à

exigência de justiça. Seguro indício dessa tendência é o estabelecimento do

duplo grau de jurisdição. Apesar disso, pode acontecer que a decisão final

venha a consagrar a injustiça, por vários motivos. Mesmo nesse caso, em

regra, no interesse da certeza e da segurança do Direito, a coisa julgada torna-

se inatacável e prevalece a injustiça. Há casos, porém, em que a veemência

dos vícios da sentença vem realmente abalar as razões em que se fundamenta

a imutabilidade dos julgados, fazendo com que, sempre no interesse público, a

exigência de justiça prevaleça sobre a segurança. Previu nosso ordenamento,

para esses casos, o remédio específico da ação rescisória, pelo qual,

instaurando-se nova relação jurídica processual, pode ser desconstituída a

sentença. Rescisória é, pois, ação pela qual visa rescindir a sentença

transitada em julgado.

A coisa julgada preserva a segurança das relações jurídicas,

enquanto a rescisória visa a obter justiça. Esta constitui, assim, a exceção, e

aquela, regra.

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BIBLIOGRAFIA

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Paulo, 2004.

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MOREIRA, Jose Carlos Barbosa. Comentários co Código de

Processo Civil. 6ª Edição. Rio de Janeiro, 1993.

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SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos Recursos Cíveis e à

Ação Rescisória. 4ª Edição, São Paulo, 2007.

VIDIGAL, Luis Eulálio de Bueno. Comentários ao Código de

Processo Civil, São Paulo, 1976.

www.tj.rj.gov.br, ícone jurisprudência, Rio de Janeiro – Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

www.tjmg.gov.br, ícone jurisprudência, Minas Gerais – Tribunal de

Justiça do Estado de Minas Gerais.

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ANEXOS

Índice de Anexos

Esta parte foi dedicada a uma Ação rescisória, como exemplo, e

nos moldes de como tudo foi dissetardo.

ANEXO 1................Modelo de Ação Rescisória

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ANEXO 1

MODELO DE AÇÃO RESCISÓRIA

Exmo. Sr. Dr. Juiz Presidente do Egrégio Tribunal da Justiça Federal, da

Seção Judiciária do Rio de Janeiro

Autor, (Nacionalidade), (Profissão), (Estado Civil),

portador da Carteira de Identidade nº (xxx), inscrito no CPF sob o nº (xxx),

residente e domiciliado à Rua (xxx), nº (xxx), Bairro (xxx), Cidade (xxx), Cep.

(xxx), no Estado (xxx), por seu procurador infra-assinado, mandato anexo

(doc.1), vem à presença de V. Exa., propor:

AÇÃO RESCISÓRIA

Nos termos do art. 485, V, do Código de Processo

Civil, da sentença definitiva e transitada em julgado na (xxxª) Vara Federal da

Seção Judiciária do Rio de Janeiro, conforme cópia autenticada em anexo

(doc. 2 e 3), de natureza condenatória ( que pode ser ainda declaratória ou,

Constitutiva), nos autos da Ação (XXX), distribuída sob o nº (xxx), que moveu

em face de UNIÃO FEDERAL, devendo ser citada no endereço da

procuradoria sito à Rua (xxx), nº (xxx), bairro (xxx), cidade (xxx), Cep. (xxx), no

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Estado (xxx), pelos fundamentos expostos:

1. Verifica-se que a intimação da r. sentença de

mérito, cujo julgou procedente o pedido do Autor, ora Requerido, ocorreu em

(xx/xx/xxxx), portanto transitada em julgado, conforme alude o art. 485 do

Código de Processo Civil. Destarte, verificar-se-á, ainda, que a proposição da

presente ação rescisória é tempestiva, visto que não decorreu o prazo

estipulado pelo art. 495 do mesmo Diploma Legal.

2. Ressalta-se ainda, que o Requerente figurava no

pólo ativo dos autos nº (xxx), resultante na r. sentença ora rescindenda. Com

efeito, legitimado está para propor a presente ação, conforme alude o art. 487

do Código de Processo Civil.

3. O Requerido obteve a improcedência do pedido,

conforme cópia devidamente autenticada da sentença. Ocorre que, o referido

processo tramitou sem a devida citação em alguns atos processuais do ora

Requerente, conforme cópia da certidão anexa (doc. x).

4. Transcorridos (xxx) meses da data da intimação

da sentença, cujo julgou procedente o pedido do Autor, o Requerente tomou

conhecimento de sua existência. Sendo assim, não há outra alternativa senão

valer-se da presente ação para rescindir a r. sentença de 1º grau proferida pelo

Juízo da (xxxª) Vara Federal nos autos do processo nº (xxx) cujo violou literais

dispositivos de lei, quais sejam:

‘FUNDAMENTOS’

5. Com efeito, as normas supra mencionadas

impõem para a validade do processo seja citado o Réu, na forma de sua

pessoa, onde quer que este se encontre. Contudo, não ocorrendo a intimação

pessoal verifica-se que o processo e a conseqüente sentença são nulos de

pleno direito.

Pelo exposto, REQUER:

Seja ordenada a distribuição do feito a uma das

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Colendas Câmaras deste Eg. Tribunal, formalizando todos os atos necessários.

A juntada do comprovante de depósito na

importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, conforme alude o

art. 488, II, do Código de Processo Civil.

A citação da União Federal, para, querendo,

apresente defesa nos termos do art. 285 do Código de Processo Civil.

Seja julgado procedente o pedido, qual seja,

rescindir a r. sentença de 1º grau proferida pelo juízo da (xxxª) Vara Federal

nos autos do processo nº (xxx), nos termos do art. 485, V do Código de

Processo Civil, declarando a nulidade de todos os atos praticados após a

citação.

Seja condenado o Réu a pagar as despesas, custas

e honorários advocatícios no montante de 20%.

Provar o alegado por todos os meios de provas

admitidos em direito, ainda que não especificados pelo Código de Processo

Civil, conforme art. 332 do mesmo Diploma Legal, notadamente a documental,

a documental, pericial e inspeção judicial, bem como o depoimento pessoal do

Requerido.

Dá-se à causa o valor de R$ (xxx) (valor expresso).

Termos que,

cumpridas as formalidades legais,

Pede referido deferimento.

Rio de Janeiro, data e ano.

Nome e assinatura do advogado

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