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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO A VEZ DO METRE AGRESSIVIDADE INFANTIL NA ESCOLA AUTOR: ALESSANDRA DE MATTOS TORRES Trabalho Monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Arteterapia em Educação e Saúde. Rio de Janeiro, RJ, abril/2003 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Crianças altamente agressivas poderão estar agindo agressivamente na tentativa de vivenciar o sentimento da própria existência

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO METRE

AGRESSIVIDADE INFANTIL NA ESCOLA

AUTOR:

ALESSANDRA DE MATTOS TORRES Trabalho Monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Arteterapia em

Educação e Saúde.

Rio de Janeiro, RJ, abril/2003

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Agradeço a Deus, a minha família e aos meus amigos.

Dedico esta pesquisa a todos que trabalham pela educação

e em prol das crianças.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------06

CAPÍTULO I: AGRESSIVIDADE------------------------------------------------09

2.1. AGRESSIVIDADE: DEFINIÇÃO--------------------------------------------10

2.2. AGRESSIVIDADE NA INFÂNCIA--------------------------------------- --12

2.3. AGRESSIVIDADE NA FAMÍLIA--------------------------------------------15

2.4. AGRESSIVIDADE NA ESCOLA--------------------------------------------18

CAPÍTULO II: ARTETERAPIA---------------------------------------------------26

3.1. ARTETERAPIA: DEFINIÇÃO-----------------------------------------------27

3.2. TÉCNICAS DE ARTETERAPIA--------------------------------------------31

4. CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------38

5. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA---------------------------------------------39

6. ANEXOS---------------------------------------------------------------------------41

RESUMO

No presente trabalho é proposto o estudo sobre a agressividade na

escola, de uma forma prática e concisa.Esclarecendo as distintas abordagens

feitas por pais e profissionais que lidam com essas crianças.

São apresentadas as principais teorias sobre a agressividade, suas

causas e manifestações na criança na fase escolar e também o papel da escola e

da família nesse processo.

Através dos conceitos relacionados à agressividade nesta fase da

vida, poderemos analisar e identificar técnicas de arteterapia que venham

favorecer o desenvolvimento intelectual e principalmente, amenizar a

agressividade da criança.

Encerrando o trabalho, podemos verificar e compreender como a

arteterapia podem oferecer ferramentas úteis e indispensáveis para uma maior

interação da criança com o mundo, num processo contínuo de fortalecimento da

auto- estima.

INTRODUÇÃO

O tema da presente monografia é o estudo da agressividade infantil

na escola com o objetivo de abordar mais detalhadamente este assunto que aflige

toda a sociedade.

Esse estudo contribui, de forma positiva, para pais e profissionais

que atuam com crianças agressivas, fornecendo-lhes mais uma ferramenta para o

crescimento e desenvolvimento social desta criança.

Numa sociedade com tantas injustiças sociais onde a fome e a

miséria crescem a cada dia o ser humano, que se tornou vítima de si mesmo,

perdeu o interesse por valores intelectuais e culturais. Afinal, em meio a tanta

violência e pobreza, é mais fácil para alguns comercializar drogas e obter mais

recursos materiais, do que estar enclausurado numa sala de aula por muitos anos

sem ter a certeza de um retorno financeiro que satisfaça as suas necessidades

básicas.

Há indivíduos que não tem a opção de escolher, pois nascem em

meio à criminalidade e vão “arrastados” para ela sem reação por desconhecerem

outra forma de viver.

A injustiça social não é caracterizada apenas pelas diferenças

financeiras; existe um fator que atualmente é determinante a inversão de valores.

A televisão mostra a todo o momento um modelo de felicidade onde a aquisição

de bens materiais e o consumo desnecessário é incentivado e estão no topo

desta felicidade. E esta é a consciência da classe baixa e o que gera tanta

violência na nossa sociedade.

Os cidadãos preocupados em buscar respostas para esta triste

realidade, muitas vezes, delegam a função de educar a família e à escola,

esquecendo que o processo educacional precisa ser vivido em parceria.

Veremos neste trabalho o papel da educação na sociedade e a sua

importância no preparo do indivíduo para o exercício da cidadania.

Finalizamos o trabalho, focalizando a utilização da arte e atividade

lúdicas, como meio de amenizar a agressividade da criança na fase escolar.

CAPÍTULO I

AGRESSIVIDADE

AGRESSIVIDADE

Muitas vezes, pais e profissionais não têm certeza se devem ou

não se preocupar com o comportamento de uma criança. Embora haja um padrão

geral de desenvolvimento infantil, cada criança se desenvolve num ritmo distinto e

numa direção distinta: assim, sempre existe a tentação de pressupor que a

criança vai sair da fase problemática naturalmente.

O comportamento indesejado pode ser ainda mais reforçado

pela reação intensa de um adulto, que poderá fazer todo o possível para evitar o

confronto com tal comportamento. Durante muito tempo, incidentes podem ter

sido tolerados. Mas o ressentimento se acumula à medida que o adulto, na

tentativa de evitar o estigma que acompanha o fato de ter uma criança difícil,

tenta se convencer de que a criança está apenas atravessando uma fase ruim.

Assim, não se inicia a intervenção necessária, que indicaria à

criança que há alguém que se preocupa com ela e que lhe daria o sentimento de

estar sendo controlada.

Chega o dia inevitável em que o adulto não agüenta mais e

então; sentimentos de vergonha, impotência e rejeição são liberados com muita

força.Nos casos em que criança infligiu um estresse prolongado a um adulto, os

danos contra- infligidos poderão ser graves. Os adultos que maltratam crianças

não acreditam na força de sua própria frustração.

Assim, é importante que sempre que pais, professores e outros

profissionais que cuidam de crianças sentirem-se estressados com uma criança,

eles adotarem medidas de intervenção.Devem buscar ajuda, e os profissionais a

quem recorrerem devem reconhecer que se nada for feito, podem ter perdido uma

boa oportunidade de evitar um grande problema no futuro. Ouvir é parte essencial

de qualquer programa de tratamento.

CONCEITO

Em todas as teorias sobre a agressividade há um tema comum: a

agressividade não é uma reação daquilo que ocorre em torno da pessoa, mas sim

um impulso inato e incontrolável. Os seres humanos nascem com um instinto

agressivo.

Agressividade é um impulso, uma força que vem de dentro de nós.

E dependendo da intensidade e da forma com que ele sai, pode leva a um

caminho positivo, para o nosso crescimento, ou para um caminho negativo para si

próprio e para os que os rodeiam.

Alguns pesquisadores acreditam que várias áreas do cérebro

controlam impulsos como a agressividade ou a fuga; afirmam que as explosões

de raiva podem ser ativadas ou inibidas por meio da estimulação elétrica.

Consideram a agressividade como um estado de equilíbrio, no qual o equilíbrio é

mantido pelas partes do cérebro responsáveis por ativação e inibição. A

estimulação elétrica em episódios de agressividade.

Todos esses episódios de agressividade, expressados através da

raiva, são destrutivos e conseqüentemente acompanhados de uma grande culpa

em relação a quem agredimos, principalmente se for os pais, o irmão ou um

amigo.Essa culpa fica ainda pior, quando essa explosão vem acompanhada de

uma perda ou punição: uma amizade ou uma semana sem sair de casa.É

evidente que esse ato agressivo sai de forma inadequada.

A cada dia aumentam os noticiários de adolescentes doentes, que

comentem crimes. E tudo isso ocorre porque as pessoas não estão sabendo lidar

com sua agressividade.

Os psicanalistas acreditam que o caráter de uma pessoa é uma

combinação de sua experiência do mundo. Segundo esta teoria, os seres

humanos nascem com certas qualidades e as dificuldades vivenciadas na vida

podem criar características como teimosia ou meticulosidade. Existe uma

tendência inata para o amor, uma tendência para destruição.Tais tendências ou

impulsos variam entre uma criança e outro. No entanto, desde o início da vida, a

criança também interage com o mundo a seu redor.

Normalmente, somos agressivos ou quando queremos nos defender

ou quando necessitamos adquirir algo como alimento. Na agressividade movida a

raiva, no entanto, estamos num estado de mobilização emocional; em casos

extremos, a recompensa pela agressividade poderá ser a dor que infligimos a

outra pessoa.

Crianças altamente agressivas poderão estar agindo

agressivamente na tentativa de vivenciar o sentimento da própria existência. Esse

pode ser o único veículo de contato com os outros. Quanto mais vulneráveis

forem as crianças, mais elas expressam a agressividade movida a raiva e mais

intensa e grave será sua reação.A agressividade que destrói, na verdade costuma

ser composta de muita raiva acumulada que se põe para fora de uma só vez, sem

ver nada e nem ninguém pela frente.

Muitas vezes, a agressividade é uma ação de defesa que a

pessoa devolve quando sente muito medo, ou seja: com medo de ser agredido, a

pessoa torna-se um agressor.Age impulsivamente.No entanto, toda a

agressividade que fica retida traz muita infelicidade para a pessoa que

guarda.Torna-se uma pessoa com repressão constante, sem expressar seus

verdadeiros sentimentos.

AGRESSIVIDADE NA INFÂNCIA

Qualquer tipo de crescimento implica algum grau de agressividade.

Se nascêssemos sem agressividade, seríamos incapazes de sobreviver durante

os primeiros estágios da vida e posteriormente, não poderíamos progredir em

nosso desenvolvimento. A agressividade advém de uma tendência inata para

crescer e dominar o mundo a nosso redor. Pode ser percebida como uma

característica de todas as formas de vida.

No início da vida, o bebê é completo. Ele e a mãe são únicos. O

bebê recebe o alimento através dela, e tudo que ele necessita e deseja é

nomeado pela mãe. Isto o torna totalmente dependente da mãe.

No decorrer do seu desenvolvimento, entra em cena um “terceiro”

que tanto pode ser o pai biológico ou algo que desvie o olhar da mãe, ou seja, a

“função paterna”.O pai, então, vai “cortar” este vínculo, para que o indivíduo possa

ganhar um lugar como sujeito.

A criança vive essa separação de forma “violenta”, pois é tirada de

um lugar onde tudo era completo para outro, onde ela vai ter que se relacionar

para conseguir algo. Inicia-se a fala e outras tentativas de expressar seus

sentimentos com o seu corpo. Para ela, a diferença entre o seu corpo e o mundo

externo não existe.

E na medida em que se desenvolve em suas brincadeiras e na

relação com o outro, a criança vai obtendo a oportunidade de vivenciar sua

agressividade de forma lúdica: construindo, destruindo, montando e desmontando

brinquedos.

Conclui-se, então que a agressividade é parte do desenvolvimento de

qualquer criança. É necessária para a sobrevivência desde o nascimento.À

medida que a criança cresce, a agressividade se modifica qualitativamente. A

criança passa da utilização da agressividade para suprir necessidades físicas à

sua utilização apenas quando se sente ameaçada. Ao progredir para a vida

adulta, sua agressividade bruta é refinada até o ponto em que se disfarça na

forma de mecanismos sutis de defesa, que lhe permitem manter seu senso de

identidade.(Train,2001,p.41)

Nas pré-escolas, têm sido observados três tipos de categorias

amplas de agressividade infantil.Há crianças que, durante o jogo, tornam-se

fisicamente descontroladas e perdem os limites. Sua agressividade é muito bruta

e intimida a todos, mas limita-se às situações que geralmente envolvem a

fantasia.Em outros momentos, elas são tímidas, conversam muito pouco e fazem

poucas tentativas de organizar o outro. Têm pouco sucesso na resolução das

disputas.

Outras crianças são fisicamente agressivas em disputas e se

mostram muito controladoras. Especializam-se em provocar os outros e, mesmo

sem terem sido provocadas, dirigem agressividade repetidamente à mesma

pessoa, continuamente provocando-a e ameaçando-a Conversam pouco e,

quando isso acontece, muitas vezes falam sussurrando. Essas crianças estão

entre as mais agressivas e violentas.

Um terceiro grupo inclui as crianças que são agressivas e

dominadoras em sua fala, mas não são fisicamente violentas. Sua agressividade

ocorre fora do contexto do jogo. Elas geralmente são percebidas pelas outras

crianças como chatas, por causa de sua preocupação excessiva consigo mesma.

São vista como crianças mais bem adaptadas socialmente. Seu nível de

agressividade é relativamente baixo e demonstram pouca violência em todas as

situações. Podem ser muito persuasivas, não apenas dominadoras, e embora

falem muito, podem ser muito interessantes. Tendem a não se preocupar com

seus relacionamentos com os outros.

Esses padrões de comportamento geralmente persistem ao menos

até a idade de 7 ou 8 anos.

Precisa-se da agressividade para sermos capazes de controlar

nosso ambiente. Pois é dessa forma que nos tornamos independentes. A

agressividade geralmente é maior quanto mais próximos estivermos da infância. À

medida que se envelhece, adquirimos cada vez menos dependentes dos outros.

Sente-se menos ameaçados e assim é menos provável que tenhamos reações

agressivas.

A sociedade exerce influência sobre o desenvolvimento da criança

por meio de suas definições culturais e, em particular, pela maneira como atribui

papéis para homens e mulheres. As crianças são expostas a essas tradições a

partir do momento de seu nascimento.

Muitas das dificuldades apresentadas por homens e mulheres

jovens poderiam ser evitados se fossem consideradas suas necessidades.Pode-

se chegar as próprias conclusões sobre as razões que levam as crianças a se

comportarem da forma agressiva, e depois formular algum plano de ação. Talvez

um princípio norteador seja o de que é preciso distanciar-se dela, olhar sua

agressividade como um estado que requer atenção, em vez de ser parte de seu

estilo interacional.As crianças agressivas são agressivas porque são

emocionalmente frágeis e reagem com extrema sensibilidade ao contexto no qual

se encontram.

Essas crianças vulneráveis e agressivas necessitam de fortes

sentimentos de segurança, de pertencer a um grupo e de controle externo.Antes

de serem capazes de se tornar independentes, precisam saber que sempre

pertencerão àquele grupo. Eles têm uma percepção distorcida do mundo a seu

redor e necessitam que alguém esclareça seus objetivos, protegendo-as de

críticas insensíveis e fornecendo-lhes par6ametros claros de regras justas e

coerentes. Se não houver quem faça isso, na sua frustração, elas reagirão com

agressividade e raiva.

A FAMÍLIA

A criança vulnerável encontra dificuldade para lidar com as

exigências emocionais de sua família, mas ao mesmo tempo necessita de algum

tipo de ambiente protegido no qual possa sentir segura.Seu ambiente familiar

deve oferecer coerência nas rotinas e regras e regulamentos claramente

definidos; as decisões, quer tomadas individualmente pela mãe ou pelo pai quer

tomadas em conjunto, não devem resultar em discórdia e conflito. Os membros da

família devem ter prazer nas experiências partilhadas, pois essas experiências

são a pedra fundamental da disciplina e do controle.

“A violência nas famílias parece ser quase endêmica. O

espancamento de esposas sempre ocorreu: na época dos romanos, era

considerado um direito conjugal. Os antropólogos reconhecem que, desde que as

pessoas passaram a viver juntas em pequenas unidades, construindo paredes em

volta de si, começaram a se agredir”.(Train,2001,p.80)

A violência ocorre mais freqüentemente nas famílias do que em

outros contextos e a maioria dos incidentes não é denunciada; as crianças, a

despeito dos maus-tratos que possam ter recebido, são leais aos pais. Se existe

violência em nossa sociedade, é justamente aqui que ela ocorre, nas complexas

interações emocionais da família.

Não se deve, no entanto, presumir que é somente o ambiente da

criança que a torna agressiva. Os pais, particularmente, deveriam reconhecer

que, embora tenha trazido a criança ao mundo, não são responsáveis pela

natureza desse ser humano único; se tiverem outros filhos, saberão que cada um

reage de maneira diferente aos estresses inevitáveis da convivência em família.

No mundo inteiro, a enorme freqüência e gravidade dos maus

tratos contra criança e adolescentes vêm mobilizando profissionais de diversas

áreas e a sociedade em geral. Os maus tratos praticados pelos próprios pais e

responsáveis são extremamente comuns, assumindo índices assustadores

naqueles países que se organizam para o recebimento de denúncias e que

mantém pesquisas regulares. Nos Estados Unidos, por exemplo, são registrados

anualmente mais de 1,5 milhão de casos de maus tratos contra criança e

adolescente, com mil óbitos anuais, 3000 mil casos registrados de abuso sexual

contra crianças e adolescentes e, entre esses, 4 mil casos de incesto

pai/filha.”No Reino Unido, uma das causas mais comuns de morte entre pré-

escolares é o resultado dos maus-tratos dos pais. Os pais que espancam vêm de

todas as classes sociais e a ocorrência é mais comum em famílias nas quais a

mãe tem entre 20 e 30 anos de idade e o pai cerca de 26 anos”.(Train,2001,p.80)

Proteger crianças e adolescentes é uma tarefa que requer

sensibilidade, habilidade e alguns conhecimentos específicos. Quando os maus

tratos ocorrem dentro da família, isto significa que os pais ou responsáveis não

estão conseguindo cuidar e proteger suas crianças. Nesses casos, a intervenção

dos profissionais que lidam com a violência doméstica se faz necessária.

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente

(Lei 8069 de 13/07/1990) dispõem sobre a proteção da criança e do adolescente

contra qualquer forma de maus tratos, e determinam penalidades, não apenas

para os que praticam o ato, mas, também, para os que se omitem.Como por

exemplo, o Art.130: “Verificada a hipótese de maus tratos, opressão ou abuso

sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá

determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia

comum”.

As crianças também sofrem nas mãos de irmãos e irmãs; 80% das

crianças entre 3 e 17 anos se envolvem em pelo menos um incidente anual de

conflito violento com seus irmãos. Um entre dez adolescentes faz uma investida

violenta contra seus pais anualmente; 35 desses ataques podem ser

considerados como ataque físico sério.

No Brasil o trabalho realizado por órgãos do governo e

organizações, (CRANI/SP, ABRAPIA/RJ), em vários estados brasileiros vem

demonstrando que a violência doméstica aqui é tão freqüente quanto nos países

do Primeiro Mundo.Inúmeros são os fatores que desencadeiam, facilitam e

perpetuam os maus tratos contra crianças e adolescentes. Há, no entanto, um

fator comum a todas as situações: o abuso do poder do mais forte (o adulto)

contra o mais fraco (a criança).

Muitas pessoas têm dificultado em comunicar possíveis casos de

violência às autoridades. No entanto, as conseqüências de não notificarem podem

ser fatais. Outro fator que dificulta a denúncia é a descrença nas possíveis

soluções.

O lar que melhor conduz o desenvolvimento de crianças bem

ajustadas é aquele no qual os pais estão no controle, e seu controle é bem vindo

porque envolve progressivamente as crianças no processo de tomada de decisão

conforme elas crescem.Se os controles tiverem sido aplicados com eficácia, seu

sistema de valores inerente será utilizado pela criança pelo resto da vida. Isso a

proverá de pontos coerentes de apoio para suas atitudes e seu desempenho.

Muitos adultos se preocupam com a agressividade e a violência na

televisão e com o impacto que isso tem sobre as crianças. Mas o efeito mais forte

da violência na televisão está na exposição repetida.Uma boa educação familiar

reduz este efeito, onde a criança começa a aceitar que são permitidas soluções

violentas para os problemas.

No entanto, se for utilizada de forma seletiva, a televisão pode ser

uma influência positiva, mesmo que alguém estaria controlando o comportamento

da criança.Se os pais debatessem com os filhos o conteúdo dos programas, e

possível que se torne menos vulneráveis.

A AGRESSIVIDADE NA ESCOLA

Na verdade, os profissionais da área da educação, no Brasil, não

estão preparados para conduzir casos de maus tratos contra criança, tão

freqüentes em sala de aula. Não existe, nas nossas escolas e universidades, uma

abordagem específica para o assunto. Os diagnósticos, muitas vezes óbvios, não

são esclarecidos, e, a vítima continua a ser maltratada, correndo o risco de vida.

Outras vezes, o diagnóstico é firmado, mas o profissional da educação por falta

de orientação ou medo das implicações legais, abandona o caso, supondo que

apenas as medidas emergenciais são de sua responsabilidade.

É dever do professor, quando têm em sua sala de aula uma

criança ou adolescente vítima de maus tratos, fazer um relatório com seu parecer,

e encaminhar este relatório ao Comitê de Defesa da Criança e Adolescente ou ao

Diretor da Escola. Quando necessário, haverá intervenção das autoridades

competentes, Juizado da Infância e da Juventude e Conselhos Tutelares.

É importante, também, a questão da reprodução da violência:

crianças maltratadas freqüentemente se tornam adultos violentos. Nessas

circunstâncias é necessário proteger a criança e prevenir novas agressões. Uma

criança que chega na escola com graves lesões, possivelmente já sofreu maus

tratos menos severos sem que nada fosse feito.Muitas das vezes, esta série de

omissões leva uma criança ao hospital, com lesões que irão ocasionar seqüelas

físicas e emocionais, podendo até levar à sua morte.

Identificar maus tratos e notifica-los às autoridades são obrigações

dos profissionais que lidam com crianças e adolescentes e, em especial, dos

profissionais da área de educacional. Estes,devem atuar também,

preventivamente.Ou seja, antes que ocorra a agressão.É importante que eles

conheçam e considerem a realidade da vida de seu aluno, orientando os pais ou

responsáveis sobre a necessidade de respeitar a criança em situações de risco,

sobretudo às que vivem em famílias com dificuldades sócio-econômicas.

Proteger essas crianças e adolescentes é uma tarefa que requer

sensibilidade, habilidade e alguns conhecimentos específicos. Quando os maus

tratos ocorrem dentro da família, isto significa que os pais ou responsáveis não

estão conseguindo cuidar e proteger suas crianças. Nesses casos, a intervenção

dos profissionais que lidam com a violência doméstica se faz necessária.

Na escola, a criança pode utilizar a agressividade para questionar

e perguntar, pois isso faz parte do desejo de buscar conhecimento, pesquisar e

diferenciar-se do colega e do professor. Essa agressividade leva o indivíduo a

pensar e a simbolizar, o que é extremamente necessário no processo de

aprendizagem.Para que haja aprendizagem, então, é necessário que a criança,

busque de modo ativo, que haja investimento e no mundo externo. Mesmo em

situações favoráveis de educação, as crianças manifestam fantasias agressivas.

É fundamental que qualquer pessoa que esteja trabalhando com

uma criança difícil e agressiva tenha ajuda e apoio de outras pessoas. As

crianças agressivas conseguem depositar uma enorme quantidade de estresse

sobre os que estão a seu redor. Uma terceira pessoa pode aliviar

consideravelmente esse peso, mesmo que um pai, um professor ou uma pessoa

responsável pelos cuidados da criança está passando.(Train,2001,p.203)

Crianças que aprendem através da violência tendem a pensar que

essa é a única forma de conseguir as coisas. Por causa disso, sofrerão muito até

descobrirem (se descobrirem) que existem vários e melhores meios de conviver

com outras pessoas e resolver os problemas.Sabe-se que os problemas existem,

e os conflitos acontecem. Ter problemas é natural, o que não é natural é que eles

acabem por gerar mais problemas e violência.

EDUCAÇÃO E VIOLENCIA; QUAL É O PAPEL DA ESCOLA?

Nos últimos anos muito se tem falado de violência, até porque esta

passou a fazer parte do nosso cotidiano, o que explica o interesse em discuti-la.

Esta motivação é comprovada em pesquisa realizada recentemente pelos meios

de comunicação, sobre os problemas que mais inquietam a população. A

violência, entre outros, foi destacada por pessoas de diferentes camadas, como

um dos principais problemas, principalmente aquela que atinge a vida e a

integridade física dos indivíduos.

Para que possa entender melhor o determinante da violência e o

papel da educação, algumas questões nos parecem pertinentes para ajudar a

minha reflexão. De que forma a violência é engendrada na nossa sociedade?

Quais os valores que tem norteado as diferentes práticas sociais e, entre estas, a

educacional?

Estas são perguntas fundamentais.A violência escolar se manifesta

de forma subjetiva nas relações sociais no interior da escola.

E a sociedade do mundo capitalista que valoriza, essencialmente, o

consumo, as coisas materiais, a aparência em detrenimento da essência da

pessoa humana. É um total desvirtuamento do significado de ser gente, ser

sujeito, ser pessoa. Valores como solidariedade, humildade, companheirismo,

respeito, tolerância são pouco estimulados nas práticas de convivência social,

quer seja na família, na escola, no trabalho ou em locais de lazer. A inexistência

destas práticas dá lugar ao individualismo. A lei do mais forte, à necessidade de

se levar vantagens em tudo, e daí a brutalidade e a tolerância.

A agressividade escolar necessita encontrar pela frente algo que

lhe oponha resistência, isto é, um limite. Então, no caso da escola, o professor

deve utilizar-se deste potencial agressivo e canaliza-lo para a aprendizagem, para

a criatividade, para o desafio de conhecer. Quando não é proporcionado à criança

esse espaço para que ela expresse a agressividade de forma saudável,

diferenciadora e lúdica, a agressividade será atuada ao invés de ser simbolizada,

manifestando-se como ato agressivo.

No ato agressivo a criança não utiliza a sua capacidade de

simbolizar. Isso quer dizer que ela não consegue refletir, pensar no que está

fazendo. Muitas vezes são encontradas na escola crianças que batem nos

colegas por qualquer motivo e são rotuladas de agressivas. E, se, em vez de

rotular essa criança de agressiva, tentarmos traduzir o que quer dizer com esse

ato agressivo.

É necessário dá a criança a oportunidade de pensar e simbolizar.

Muitas vezes, ela está repetindo ativamente o que sofre passivamente no seu

relacionamento com a família, dotado de agressões físicas e maus tratos.

Quando um adulto não consegue lidar bem com sua agressividade,

ele tem receio de deixar que a criança manifeste a sua, reprimindo-a, censurando-

a.

Geralmente o ato agressivo é dirigido ao professor como

representante da autoridade e não à pessoa. Com freqüência, este se identifica

com o agredido, criando uma situação de confronto, colocando-se no mesmo

nível da criança.

Outras vezes, a criança atua agressivamente, batendo nos colegas

porque eles têm uma posição de destaque. Isso remete a uma situação vivida em

família, da qual a criança não tem consciência muitas vezes, sentindo-se

excluída. Então a escola vai atuar. Se o ato é interpretado, abre0se uma

possibilidade à criança de sair do nível da imaginação e passar para um nível

simbólico.

Freqüentemente observa-se em escola, crianças que se expressam

de forma agressiva e com manifestações de ansiedade, para encobrir um

rendimento escolar insatisfatório.Isso geralmente interfere em seu relacionamento

com colegas, com professores e com a equipe pedagógica. Ë necessário, então,

que se avalie esta criança, eliminando os rótulos, identificando as causas dessas

manifestações, para que se encontre uma forma de ajuda.

No entanto, percebe-se que o comportamento agressivo pode estar

mascarando uma inadequação do meio escolar, o que tem imobilizado o

educando, impedindo à busca de novas soluções.

A escola é tida como espaço de violência porque quando o

professor fala que um aluno está perdido porque ele é indisciplinado ou então,

quando acredita que o aluno não quer nada com a escola e que por ele já está

reprovado. E o mais interessante é que os professores não vêem estas formas de

relacionamento com os alunos como desrespeitosas ou violentas.Para estes, a

violência na escola aparece, basicamente, na relação entre os alunos e destes

para com o professor. É como se o professor pudesse ficar isento de tais práticas,

mas, na verdade, todos nós somos produtos do conjunto das relações sociais e

de uma determinada sociedade da qual fazemos parte. Daí a importância de

termos conhecimentos de como essas relações são produzidas para podemos

pensar alternativas de superação.

Se entendermos que a educação é um processo de construção

coletiva, contínua e permanente de formação do indivíduo, que se dá na relação

entre os indivíduos e entre estes e a natureza. A escola é, portanto, o local

privilegiado dessa formação, porque trabalha com o conhecimento, com os

valores, atitudes e a formação dos hábitos.

Dependendo da concepção e da direção que a escola venha

assumir, está poderá ser local de respeito e de busca pela materialização dos

direitos de todos os cidadãos, ou seja, da construção da cidadania.

Entende-se que um projeto de escola que busque a formação da

cidadania, precisa ter como objetivos tratar todos os indivíduos com dignidade,

com respeito à divergência, valorizando o que cada um tem de bom, fazer com

que a escola se torne mais atualizada para que os alunos gostem dela, trabalhar

a problemática da violência e dos direitos humanos, a partir do processo de

conscientização permanente, relacionado esses conteúdos ao currículo

escolar,incentivar comportamentos de troca, de solidariedade e de diálogo

pública.

A escola hoje é o lugar privilegiado pela educação numa todo. Ao

mesmo tempo tornou-se “culpada”, e responsável pelos desmandos da atual

sociedade, da qual é um verdadeiro espelho. Cada profissional que compõe a

escola poderá, como muitos outros profissionais de outras áreas, estar envolvido

por uma ética, fruto de um subjetivo marcante que, possivelmente, norteará a sua

postura. Assim, boa parte das ações violentas ligadas por um solipismo: só o eu

importa.

O resultado desta característica negativa, firmada na modernidade,

é que toda a comunidade escolar poderá estar vulnerável a ideologia do interesse

de poucos incentivando a violência. A filosofia educacional será hedonista educar-

se-á para a competição, a informação estará acima da transformação.A noção de

cidadania será de ‘ter mais’. A escola deve buscar a alteridade, contando com a

ambivalência humana, por mais que ela seja utópica. Atribuir a violência a um mal

externo e misterioso e não levar em conta que a violência é praticada por homens

e mulheres e,ainda que a sociedade violenta é uma opção humana, é cair na

alienação, tornar-se apático e sentir-se importante diante da alienação.

Todo educador, em especial o professor, ao analisar a situação

perceberá que o caminho deve ser, ao contrário, o de cessar o surto de violência

também nas escolas.Seu trabalho nesse sentido exige três atitudes emergenciais:

escuta, esforço educativo e reconhecimento da alteridade. É preciso desarmar as

pessoas, facilitar o diálogo, a abertura à identidade para que o outro posso existir,

para que a diferença encontre sua cidadania.

Mas é preciso também que os professores sejam treinados para

lidar com crianças difíceis na escola.Os cursos de treinamento devem abarcar

técnicas preventivas e dar ênfase ao fato de que os professores são empregados

justamente porque as crianças precisam deles como pessoas. Se o

comportamento das crianças fosse visto como preocupação primária e não como

questão secundária, seria possível o currículo ser trabalhado num processo muito

mais tranqüilo. As crianças difíceis não seriam vistas como um aborrecimento, e

suas necessidades seriam atendidas. E como resultado, os outros se

beneficiariam.

Se todos os professores adaptassem os seus recursos e o currículo

de forma a atender as necessidades da criança difícil, o comportamento difícil

cessaria. E o trabalho de apoio à família pode resultar numa diminuição dramática

no nível do comportamento perturbado. Os pais ficam fortalecidos a tal ponto que

conseguem começar a controlar os filhos; as crianças sentem que alguém está

começando a compreender sua vida pessoal.

Um fator que se tornou muito freqüente atualmente, é a exclusão

escolar.Quando se exclui uma criança da escola é porque provavelmente não

está do interesse das outras crianças que ela permaneça ali, pois deve ter

cometido alguma ofensa séria. Algumas vezes trata-se de um episódio isolado,

mas, diante da gravidade do episódio, a exclusão torna-se inevitável.Na maioria

dos casos, no entanto, a ofensa que resulta na exclusão é a última gota, ou seja,

o auge de uma série de episódios anti-sociais.Ao chegar neste momento, a

criança terá se tornado extremamente malquista e antipática para o restante da

escola.

Se você for um dos pais, nunca deve lutar contra uma proposta de

excluir seu filho da escola, quer o motivo seja justificado ou não, você pode ter

certeza de que, se sugeriram a exclusão, ele não é querido lá.

Para evitar um aumento no número de crianças excluídas da escola,

precisamos reconhecer que essas crianças necessitam de adaptações especiais

e que precisam ser tratadas como cidadãos.

Mas, onde entra a arteterapia nisso tudo? A arte se define pela

diversidade, por propor algo que é pessoal e único. O que ela oferece ao

indivíduo é que este entre em contato consigo mesmo, que se conheça e se

aceite como um sujeito único que pode e deve exercer esta singularidade. Ao se

conhecer e se acolher pode também aceitar os outros com suas características

próprias e a partir daí travar com eles relações de complementaridade e não de

dominação ou rivalidade. É a partir destas relações que a troca se estabelece,

que se encontram os meios de fazer valer os direitos e deveres dos que vivem em

sociedade. Atos isolados demandam muita energia e resultam em pouco. A união

de forças potencializa os efeitos, muito embora cada um deva contribuir com sua

parte.

CAPÍTULO II

ARTETERAPIA

ARTETERAPIA: DEFINIÇÃO

A arteterapia, segundo Anjela Phillippini:

“Não se traduz apenas pela terapia através da arte, e

sim com um processo terapêutico decorrente da utilização de modalidades

expressivas diversas, que servem à materialização de símbolos. Estas criações

simbólicas expressam e representam níveis profundos e inconscientes da psique,

configurando um documentário que permite o confronto, no nível da consciência,

destas informações, propiciando insights e posterior transformação e expansão da

estrutura psíquica”.(Phillippini,1998,p.5)

Este conceito demonstra o verdadeiro significado e a importância

da Arteterapia em qualquer tratamento psicoterapêutico.

A arte surge, a princípio como meio mágico de relação do homem

com o mundo. Toda forma de arte nasce do vazio dessa relação, de onde surge a

magia do instinto religioso. A necessidade premente da humanidade de

compreender essa realidade em sua totalidade, a remete à Deus, que encerra em

si todas as verdades.

Segundo Jung, essa religiosidade torna possível o encontro do

consciente com fatores do inconsciente, dotados de grande poder.Essa

característica faz da arte a expressão do sublime, para a representação divina.

Nessa procura do sublime a arte expressa os valores dos povos, que se

manifestam através da interpretação que o artista faz do seu tempo.(Silveira,

1994, p.154)

As teorias e técnicas da arteterapia foram sendo desenvolvidas na

prática, visto não ter ela um início demarcado, ou um teórico que se fundamenta

de forma clara e objetiva.Essa característica da arteterapia tem como

conseqüência à diversidade de abordagens sob este nome.

Pode-se afirmar também que a arte é um meio de comunicação. Ela foi

usada para perpetuar a história dos povos, mesmo daqueles que já dispunham da

escrita, da qual ela também é precursora.Ela nasce da necessidade humana da

representação simbólica. Essa representação é a invocação do ausente, através

do qual, ele se torna presente. Ela está impregnada de sinais/símbolos que

carregamos desde tempos imemoriais, alguns com a sua significação perdida

desde muito tempo, porém não necessariamente sem força ou apelo.

Quando empregada num processo terapêutico; a arte é vista como

elemento capaz de produzir mudanças intra e interpessoais. Criando novas

formas, o paciente busca transformar sua vida e suas relações com os outros.

A arte assim praticada é uma forma de trabalho interior, que se

concretiza em séries de produções, que exigem empenho, energia.Um trabalho

que vai, aos poucos, mudando a vida cotidiana, ampliando a consciência e a

liberdade de quem produz. Partindo de um brincar com materiais,

descompromissado e lúdico, o paciente na arteterapia pode experimentar, como a

criança, as novas possibilidades de uma relação progressivamente mais madura

e criativa com os materiais expressivos, com si mesmo e com os outros. Pode

experimentar uma arte que não produza um prazer momentâneo, mas uma

transformação vital.

É através dom prazer promovido pela experiência sensorial que o

trabalho se dá. Nessa experiência o corpo se descobre capaz e integrado, unindo

sensação, emoção, pensamento e ação.Envolvendo experimentação,

conhecimento das formas e materiais empregados, esforço, sucessos e

fracassos, alegrias e sofrimentos, aprendizado e crescimento. Está longe,

portanto, desta crença no dom especial, que se aplica apenas a um pequeno

punhado de grandes gênios, e que, aliás, não é suficiente para explicar o

desempenho destes.

Sua principal característica é o diálogo do indivíduo com a matéria.

Nessa relação, as possibilidades são infinitas, limitadas apenas pelas leis da

física e da química: a matéria é o que é.

Podemos falar em arteterapia levando em consideração o realizar

como meio terapêutico. Essa realização dá ao participante a verdadeira noção de

sua autonomia e resgata valores da auto-estima.

Esse fazer vem acompanhado de comunicação que produz

profundo alívio nos que a praticam. É comum colher depoimentos de participantes

que revelam o aspecto de desabafo do trabalho de criação espontânea. A

criatividade promovida pela liberdade de expressão é capaz de falar na linguagem

apropriada do inconsciente. Porém, a arteterapia não se restringe a promover

emoções de satisfação. Muitas vezes no processo se faz necessário o enquadre

de aspectos dolorosos. Por vezes ela revela situações das quais o autor-artista

preferia não tomar conhecimento, fazendo com que ele rejeite o trabalho. Porém,

sem dúvida é mais fácil elaborar essa dificuldade no campo das imagens,

podendo posteriormente resgata-la exatamente como concebida.

Como atividade criativa, a arte apresenta, segundo Rollo Mary, duas

características iniciais a de um encontro e de um engajamento.É preciso para

produzir criativamente que se estabeleça uma relação e uma relação

comprometida.

A criatividade se caracteriza ainda pela intensidade de percepção e

por um alto nível de consciência. Mary destaca que a criatividade envolve níveis

não controlados, diretamente pela vontade, mas deve ficar bem claro que

pertencem a áreas nas quais trabalhamos com afinco e dedicação. A

determinação é um fenômeno muito mais complexo do que a força de

vontade.(May,1982,p.45)

Alguns só compreendem a arteterapia se ela fizer acompanhar da

elaboração através da fala, para resgate ao consciente do processo inconsciente

que se deu no trabalho. Mas não é essa a realidade observada na prática. O

resgate se dá no próprio processo e não através da fala, apesar desta ser um

meio importante.A realidade inconsciente exposta no trabalho, muitas vezes é

indizível, um segredo a ser velado até para seu próprio autor. O arteterapeuta se

torna assim, um guardião dos segredos mais profundos e sagrados.

TÉCNICAS DE ARTETERAPIA

A arte guarda, em seu aspecto prático, uma forte característica do

lúdico. Na arte, a criação é fonte de prazer, a medida que cores, texturas, formas

e materiais se oferecem à exploração e, a partir desta, à criação livre e

espontânea.

Winnicott diz:

”a terapia acontece no encontro do brincar criativo do

paciente e do terapeuta. Mas quando o paciente não é capaz de brincar, o

trabalho a ser realizado é criar o meio ambiente favorável para o desenvolvimento

de sua capacidade criativa, na qual o brincar é a primeira expressão”

.(D.W.,1975,p.60)

Todos reconhecem a importância das brincadeiras de criança. É

durante a brincadeira que a criança começa a conseguir enfrentar o seu mundo.

Ela existe nas próprias fantasia e apenas gradativamente será capaz de manejar

o mundo a seu redor. Ao brincar, explora sentimentos e dissipa ansiedades;

ensaia eventos no intuito de controlar resultados; e pratica habilidades sociais.

É por meio da brincadeira que a criança desenvolve a capacidade

de utilização da linguagem e,em seguida, do pensamento simbólico. Se sua

habilidade nessa área for restringida, sua capacidade para uma comunicação

eficaz será, por sua vez, limitada. Ela pode se tornar frustrada e excessivamente

agressiva.

Segundo Alan Train, ao brincar, as crianças gradativamente se

tornam capazes de se separar dos pais. O vínculo entre mãe e filho, que permite

a sobrevivência da criança ao nascimento,vai enfraquecendo. À medida que a

criança se separa, ela se utiliza de apoios transicionais- objetos com os quais se

identifica. Esses objetos se tornam uma parte dela mesma, tanto quanto a mãe

era, mas ela se apóia neles cada vez menos, conforme encontra formas de se

relacionar com os outros. O caminho do desenvolvimento em direção a um eu

separado é amenizado pelo processo do brincar.

Esse é o princípio da representação simbólica, que invoca o

ausente através de algo que não é ele. Winnicott vê na religião e nas artes esse

mesmo princípio. O jogo de transformar algo que “não é” em “com se fosse” que

se inicia o brincar.

A brincadeira, como arte, exerce sua importância na interseção, que

o sujeito faz, entre a realidade externa objetiva e realidade interna psíquica. O

brincar e a arte são experiências criativas.

O autor descreve, no resumo de sua teoria sobre o brincar, pontos

perfeitamente compatíveis com a prática de arte criativa: ele observa a

preocupação da criança na brincadeira, a qual podemos comparar com o enlevo

que toma o artista no momento da criação, forjando uma área de difícil acesso,

para outros, e difícil abandono, para a criança; que esta área está fora da criança,

porém não é mundo externo, como arte, onde a obra, mesmo sendo objeto

externamente percebido, pertence a realidade interna; que os objetos utilizados

nela são fenômenos e materiais provenientes do meio externo, mas se encontram

a serviço da realidade interna, idem à arte; que essa atividade envolve o corpo

devido o manuseio de objetos e porque alguns núcleos de interesse acarretam

excitação corporal, como na arte, onde o material apela à sensorialidade; que o

brincar satisfaz, mesmo quando leva a certo grau de ansiedade; e que esse

brincar é precário pois trata-se de um jogo na mente da criança entre o que é

subjetivo e o que objetivamente percebido. Todas essas afirmações pertinentes

ao brincar e, que se enquadram na atividade artística criativa, nos permite afirmar

que criação artística é uma extensão do brincar criativo.

O autor afirma que “é no brincar que o indivíduo, pode ser criativo e

utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo

descobre o eu”. (D.W.,1975,p.80)

Por esse comentário ele observa que, na arte, não é a qualidade

da produção que torna possível o encontro do “eu”, mas o gesto verdadeiramente

criativo. Não intencional, sem relação causal ou de conseqüência.

Mas, uma pergunta emerge: o que seria o brincar? Qual seria esse

espaço de interseção entre mundo interno e realidade externa, onde esse ato

criativo acontece?

Winnicott passa a tratar do que ele chamou de experiência cultural.

Ele afirma que a experiência cultural é o fruto do brincar criativo da criança. Esse

brincar, que tem seu espaço delimitado entre a realidade objetiva e o

subjetivamente concebido, só é possível no espaço de confiança conquistado

pela mãe, junto ao bebê.Ele traça o seguinte raciocínio: a mãe, perfeitamente

adaptada às necessidades do seu bebê, promove na criança seu

desenvolvimento; ela, mãe, conquista, junto a essa criança, através do seu

cuidado, a confiança necessária para que a criança permita seu afastamento,

elegendo um símbolo para a união entre elas. Essa confiança também será

concedida ao meio, do qual essa mãe é representante.

Essa ausência cria o espaço potencial, que é preenchido pelo

brincar criativo, pelo símbolo e por todos os elementos que, no desenvolvimento

da criança, formarão a cultura.

Podemos então afirmar que, para a inserção cultural do indivíduo,

faz-se necessário a formação de ambiente propício, onde a confiança seja

exercida, possibilitando a separação do que antes estava unido na indiferença,

promovendo o espaço necessário para o brincar criativo, que é o princípio da

experiência cultural.

Nesse espaço potencial que se forma, serão colocados, além da

experiência pessoal da criança, a própria tradição cultural, que será para essa

criança o legado deixado a ela pela humanidade, na vivência dessa mesma

experiência.

Brincar é parte essencial do desenvolvimento. No entanto, pais e

profissionais às vezes se preocupam com o fato de que, ao permitir que uma

criança brinque de luta ou com facas e revólveres de brinquedo, eles poderiam

estar estimulando a agressividade.

Estudos demonstram que as brincadeiras de guerra das crianças

não promovem maior agressividade do que quaisquer outras brincadeiras e que

as crianças podem ser tão agressivas com um urso de pelúcia quanto com um

revólver de brinquedo.

Tendo dito isso, a indicação é de que, se a criança já se mostra

agressiva de início, esse comportamento tende a se exacerbar se a oportunidade

surgir.

Deve-se conceder à criança agressiva toda oportunidade de passar

pelo processo de brincar, mesmo que você tenha de fornecer instalações

especiais. Você se conscientizará de como ele reage a diferentes brinquedos e

jogos. Se tiver dúvidas quanto ao efeito de aumento ou não da agressividade,

tente oferecer algo completamente diferente e procure perceber em sua própria

mente se você se sente mais confortável. Como adulto, confie em sua intuição,

não se prenda a uma abordagem rígida. Se você tiver realizado uma avaliação

precisa do nível de agressividade de seu filho, você será capaz de oferecer-lhe o

tipo certo de brinquedos e jogos. Você deve tomar as rédeas e decidir quais

recursos lúdicos estarão disponíveis. Se brinquedos e jogos agressivos não forem

fornecidos, será negada a ele a oportunidade de estimular a agressividade; se

você permitir uma escolha, ele escolherá brincar de forma agressiva.

A maior parte do trabalho que você será capaz de realizar com uma

criança agressiva focaliza a minimização da possibilidade de uma crise. Quanto

mais ela puder operar de forma não agressiva mais seu novo comportamento

será reforçado.

Depois da fase de socialização do paciente e o terapeuta, onde a

confiança é conquistada reciprocamente, pode inicia o trabalho de construção

através da atividade artística, onde introduz materiais plásticos que resultaram

num trabalho de imagem.O material proposto para crianças de difícil

comportamento, primeiramente será a massinha de modelar, variando-se a

textura com massas caseiras, argila, tintas pouco fluídas, pintura a dedo, cola

colorida, papel marche e outros.Toda a atividade deve ser voltada para a sua

identificação, na matéria, do resultado da ação do participante.

Todas essas técnicas levam tempo até serem adquiridas, e ainda

assim acontecem rejeições e retrocessos no trabalho terapêutico. Deve-se, então

respeitar o tempo e o desenvolvimento de cada paciente, permitindo ele a ser, o

que lhe for possível, em cada momento.

Será observada uma grande dificuldade em produzir um ambiente

suficientemente satisfatório para o desenvolvimento do trabalho criativo. Caso as

experiências com as técnicas anteriores não surtirem efeitos positivos, deve-se

retroceder e aplicar técnicas onde não espunha o paciente ou até mesmo o

terapeuta, como: o giz de cera, lápis de cor ou hidrocória. Estes materiais não

ameaçam a segurança do paciente em ser dominado.

Com a confiança conquistada, o terapeuta pode sugerir atividades

que permitam uma nova fase de experimentação.Essa sugestão não se faz de

maneira direta, mas abrindo caminhos para essa prática, colocando a disposição

do paciente o material que ele já tenha condições de utilizar e promovendo

situações de observação da realidade externa, que foram enriquecendo o mundo

interno.

O paciente com tempo de tratamento pode escolher seu próprio

caminho. Desenvolvendo-se em seu ritmo e tempos próprios, com suas eficiência

e limites sendo respeitados e usufruindo de sua parte na herança que lhe deixou

a humanidade, a própria cultura.

As técnicas propostas variam de acordo com a faixa etária da criança

e a gravidade de sua agressividade. Todas merecem ser consideradas.

Segundo Alan Train,

“Há técnicas que podem ser utilizadas para auxiliar no

autocontrole da raiva. Os desencadeadores que disparam a raiva são

examinados; o sentimento que é provocado e a reação que se segue são

examinados com cuidado pelo especialista e pela criança. Lida-se com a raiva

removendo-se os desencadeadores.Isso é realizado quando a criança faz

afirmações sobre si mesma, passando a reconhecer que, do ponto de vista de

suas ações, ela tem uma escolha. Técnicas de relaxamento podem ser

introduzidas para levar a criança reconhecer que pode controlar a si

mesma”.(Train,2001,p.211)

No entanto, as terapias verbais, nas quais as crianças são ajudadas

a mergulhar no passado, num esforço para avaliar sua ação no presente, devem

ser evitadas. Elas partem do pressuposto que há um grau de estabilidade e

maturidade emocional que as crianças vulneráveis não possuem; ao cavoucar

nas fundações instáveis de suas vidas, pode-se causar prejuízos ainda maiores.

E muito melhor a abordagem na qual as crianças são levadas a considerar os

aspectos positivos de sua existência atual; assim, elas se tornarão fortes o

suficiente para serem capazes de caminhar em direção a um novo futuro.

A prática artística traz em si a necessidade de se submeter a ações

corajosas, criativas e ordenadores que liberem conteúdos muitas vezes

desconhecidos.Isso implica na expansão da comunicação integradora do homem

consigo mesmo, com o outro e o meio. É evidente sua eficácia como instrumento

terapêutico, educativo e social.A incorporação desta prática no cotidiano e na

instrumentação do profissional é o aporte do artista em favor da área científica,

resgatando a arte como agente transformador.

CONCLUSÃO

A agressividade está presente em todos estes contextos, então

saber como lidar, ou pelo menos saber buscar meios, formas para compreender

este tema tão discutido, dentro da sociedade, se faz extremamente necessário.

A educação vai além dos muros da escola e o seu principal objetivo

é levar o aluno a interagir com o social para ser um cidadão crítico e ativo na

sociedade.Além de se comprometer em detectar atitudes de maus tratos e

denunciá-los às autoridades. Podemos concluir que, o sucesso de qualquer

abordagem, seja ela através de técnicas da arteterapia ou não, deve-se à

personalidade do terapeuta e de sua interação com a criança agressiva.

Espera-se com esse trabalho minimizar o número de episódios de

agressividade numa criança, elogiando-a, encorajando-a e dando-lhe atenção em

outros momentos para que ela possa aprender a se relacionar conosco de forma

positiva e agradável. Desta forma seu comportamento indesejável será instinto.

BIBLIOGRAFIA

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Oficial da República Federativa do Brasil,1990.

HELLER, AGNES.O Cotidiano e a História.São Paulo: Paz e

Terra,1992.

MARY, ROLLO. A Coragem de criar. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira,1982.

PAIN,SARA. Teoria e técnica de arte-terapia: a compreensão do

sujeito.Sara Pain e Gladys Jarreau: trad.Rosana Severino Di Leone.-Porto Alegre:

Artes Médicas, 1996.

PHILIPPINI, A. “Mas o que é mesmo arteterapia?” REVISTA Imagens

da transformação, Nº 5. Vol.5, Setembro de 1998.

SILVEIRA,N.da. Jung:vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1994.

TRAIN,ALAN. Ajudando a criança agressiva.Campinas,SP:

Papirus,1997.

WHITAKER, DULCE. Violência na escola. Em Revistas Idéias. Nº 21.

FDE-SP,1994.

WINNOCOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro:

Imago,1975.

ANEXOS

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSO“

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AGRESSIVIDADE INFANTIL NA ESCOLA

AUTOR: _______________________________________

ALESSANDRA DE MATTOS TORRES

AVALIADA POR: _________________________________

DATA DE ENTREGA: __ /__/__

CONCEITO FINAL: _______

Rio de Janeiro,__de____________de 2003.

____________________________________

Coordenação do Curso

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO A VEZ DO MESTRE

AGRESSIVIDADE INFANTIL NA ESCOLA

AUTOR:

ALESSANDRA DE MATTOS TORRES

ORIENTADOR:

ANTÔNIO NEY

Rio de Janeiro, RJ, Abril/2003.