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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Stephanie Alves da Silva DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO FALIDO São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO

Stephanie Alves da Silva

DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO

FALIDO

São Paulo

2011

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Stephanie Alves da Silva

R.A. 003200700447

DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO

FALIDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Direito da Universidade São

Francisco, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Prof. Me. Ivan de Oliveira Silva

São Paulo

2011

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347.736(81) Silva, Stephanie Alves da

S583d Dos efeitos da falência quanto à pessoa do falido. /

Stephanie Alves da Silva – São Paulo, 2011.

48 p.

Monografia (graduação) - Universidade São

Francisco.

Orientação de: Ivan de Oliveira Silva

1. Falência. 2. Sentença. 3. Efeitos quanto ao

devedor falido. I. Silva, Ivan de Oliveira. II. Título.

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Stephanie Alves da Silva

R.A. 003200700447

DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO

FALIDO

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado

pelo Curso de Direito da Universidade São

Francisco, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Data de aprovação: ___/___/_______.

Banca Examinadora:

________________________________________________

Prof. Me. Ivan de Oliveira Silva (Orientador)

Universidade São Francisco

________________________________________________

Prof. Me. Cicero Germano da Costa (Examinador)

Universidade São Francisco

________________________________________________

Prof.ª Ma. Silmara Faro Ribeiro (Examinadora)

Universidade São Francisco

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Aos meus pais José Fernando e Catarina,

Gabryella, Mauricio e André.

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Agradeço em primeiro lugar a Deus, por mais

essa oportunidade, e pela realização deste

trabalho.

Aos meus pais José Fernando e Catarina, a

Gabryella, ao Mauricio e ao André, por me

apoiarem durante toda essa trajetória, e nos

momentos mais difíceis, permanecerem ao

meu lado incentivando-me e dando-me forças.

Pois, a realização de um trabalho como este,

sempre exige sacrifícios pessoais, e também

atingem os que estão próximos, pela minha

ausência em alguns momentos e pela

resistência ao mau humor e ansiedade.

Aos meus colegas de trabalho, em especial a

minha Diretora Prof.ª Wany e a Prof.ª Me.

Nilza, pela colaboração e palavras de

incentivo.

Aos meus colegas e amigos do curso de direito

da Universidade São Francisco.

Ao prezado Prof. Me. Ivan de Oliveira Silva,

meu orientador, pelo estímulo, confiança,

dedicação e empenho, para efetivação deste

estudo e conclusão deste trabalho. Um

excelente exemplo de pessoa e mestre.

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“Nós vos pedimos com insistência -

Não digam nunca: isto é natural!

Diante dos acontecimentos de cada dia,

numa época em que reina a confusão,

em que corre sangue,

em que o arbitrário tem força de lei,

em que a humanidade se desumaniza,

não digam nunca: isto é natural!

Para que nada passe a ser imutável.”

(Bertolt Brecht)

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Siglas

ART: Artigo

CC: Código Civil

CTN: Código Tributário Nacional

LRE: Lei de Recuperação de Empresas

CPC: Código de Processo Civil

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SILVA, Stephanie Alves da. Dos Efeitos da Falência quanto à pessoa do falido. 48 pp.

Curso de Direito, São Paulo: USF, 2011.

RESUMO

A falência é considerada um processo de execução coletiva contra o devedor

empresário ou sociedade empresária insolventes. Com a decretação deste estado de falência,

ou seja, com a decretação da sentença declaratória de falência, surgem alguns efeitos quanto à

pessoa do falido. Dada a sua importância no âmbito do direito empresarial, nosso objetivo foi

uma análise quanto a esses efeitos, com relação, às pessoas declaradas falidas (sociedade

empresária e empresário individual) e os seus bens. Procurou-se responder a seguinte

pergunta: Quais são os efeitos com a decretação de falência em relação à pessoa do falido? A

problemática foi abordada sob o prisma doutrinário, legislativo e jurisprudencial.

Embasamos-nos, principalmente, em doutrinas como, Coelho (2008), Fazzio (2006) e

Almeida (2006). Nossa análise concluiu que houve uma melhora com a atual lei de falências

no âmbito da recuperação judicial e extrajudicial, pois, hoje, possibilita o pedido de

recuperação da sociedade empresária ou do empresário individual, antes de ter decretada sua

falência. Porém, no âmbito da falência propriamente dita, não houve tantas mudanças na atual

lei.

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Palavras-chave: Falência. Sentença. Efeitos quanto ao devedor falido.

SILVA, Stephanie Alves da. Dos Efeitos da Falência quanto à pessoa do falido. 48 pp.

Curso de Direito, São Paulo: USF, 2011.

ABSTRACT

Bankruptcy is considered a process of collective execution against the debtor insolvent

entrepreneur or entrepreneurial company. With the enactment of this state of bankruptcy, in

order words, with the enactment of the declaration of bankruptcy, there are some effects on

the person of the bankrupt. Given its importance in the context of business law, our objective

was an analysis on these effects, with respect to persons declared bankrupt (business

associations and individual entrepreneurs) and their property. We tried to answer the

following question: What are the effects with the adjudication of bankruptcy against the

person of the bankrupt? The issue was discussed in the light of doctrine, legislative and

judicial. We based it primarily on doctrines such as Coelho (2008), Fazzio (2006) and

Almeida (2006). Our analysis concluded that there was an improvement with the current

bankruptcy law in the context of judicial and extrajudicial recovery, because today, allows the

business associations and individual entrepreneurs, before having its bankruptcy. However,

under the bankruptcy itself, there were many changes in current law.

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Key words: Bankruptcy. Sentence. Effects on the debtor bankrupt.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12

1 DA FALÊNCIA .............................................................................................................. 14

1.1 HISTÓRIA .................................................................................................................... 14

1.2 CONCEITO ................................................................................................................... 16

1.3 DEVEDORES SUJEITOS À FALÊNCIA .................................................................... 16

1.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS PARA A EXISTÊNCIA DO ESTADO DE

FALÊNCIA ......................................................................................................................... 19

1.4.1 Insolvência Jurídica ................................................................................................. 20

1.4.2 Impontualidade Injustificada ................................................................................... 20

1.4.3 Execução Frustrada.................................................................................................. 21

1.5 LEGITIMIDADE ATIVA ............................................................................................. 22

1.5.1 Falência Requerida pelo Credor .............................................................................. 22

1.5.2 Falência Requerida pelo Próprio Devedor (Autofalência) ...................................... 23

1.5.3 Falência Requerida pelo Cônjuge Sobrevivente, Herdeiros e Inventariante (Falência do

Espólio) ................................................................................................................................ 24

1.5.4 Falência Requerida pelo Sócio ou Acionista ........................................................... 24

1.6 ÔNUS DA PROVA ....................................................................................................... 24

1.7 ATOS DE FALÊNCIA .................................................................................................. 25

2 DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA ............................................... 27

2.1 CONCEITO ................................................................................................................... 27

2.2 CARACTERÍSTICA E NATUREZA JURÍDICA ........................................................ 27

2.3 CONTEÚDO ................................................................................................................. 28

2.4 TERMO LEGAL ........................................................................................................... 29

2.5 ADMINISTRADOR JUDICIAL ................................................................................... 30

2.6 ASSEMBLÉIA GERAL E COMITÊ DE CREDORES ................................................ 31

2.7 PUBLICIDADE DA DECRETAÇÃO .......................................................................... 32

2.8 RECURSOS .................................................................................................................. 33

2.9 EFEITOS DA DECRETAÇÃO .................................................................................... 33

2.9.1 Massa Falida ............................................................................................................ 33

2.9.1.1 Arrecadação dos bens do devedor ..................................................................... 34

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2.9.2 Suspensão da Prescrição .......................................................................................... 34

2.9.3 Suspensão das Ações Individuais ............................................................................ 34

2.9.4 Suspensão da Fluência de Juros............................................................................... 36

2.9.5 Exigibilidade Antecipada dos Créditos Contra o Devedor ...................................... 36

3 DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO FALIDO .................... 38

3.1 EXTINÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA .......................................................... 38

3.2 DEVERES QUE LHE SÃO IMPOSTOS ..................................................................... 38

3.3 RESTRIÇÕES À CAPACIDADE PROCESSUAL DO FALIDO E À SUA LIBERDADE

DE LOCOMOÇÃO ............................................................................................................. 39

3.4 SUSPENSÃO DO DIREITO AO SIGILO DAS CORRESPONDÊNCIAS ................. 40

3.5 PROIBIÇÃO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL .......................... 40

3.5.1 Continuação do Negócio ......................................................................................... 41

3.6 PERDA DA ADMINISTRAÇÃO E DISPOSIÇÃO DOS BENS ................................ 41

3.6.1 Bens Não Compreendidos na Falência .................................................................... 43

3.7 EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO ......................................................... 44

3.8 SUJEIÇÃO À PRISÃO ................................................................................................. 45

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 47

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo, analisar os efeitos que traz a decretação de

falência sobre a pessoa do falido.

Verifica-se, a falência como um processo de execução coletivo contra o devedor

insolvente, em seqüência, a sentença que a decreta e os efeitos que dela decorrem sobre a

pessoa do falido.

Inicialmente, discorreremos sobre a história da falência, sua origem e localização no

tempo e no espaço jurídico; seu conceito; a legitimidade ativa (o próprio devedor, ou seja, a

autofalência, o credor, os sócios e/ou os acionistas, o cônjuge sobrevivente, os herdeiros e o

inventariante) e passiva (a sociedade empresária e o empresário individual) no processo

falimentar; os elementos necessários para a existência do estado de falência, quais sejam eles:

insolvência jurídica, impontualidade injustificada e execução frustrada; ônus da prova; e os

atos que a caracterizam, elencados no artigo 94, inciso III, da Lei de Falência e de

Recuperação de Empresas.

Na seção dois abordaremos a sentença declaratória de falência, seu conceito; sua

característica e natureza jurídica; bem como seu conteúdo, dentre eles, o termo legal de

falência, o seu administrador judicial, a constituição e composição da Assembléia Geral e a

constituição e as atribuições do Comitê de Credores; a obrigatoriedade de sua publicidade;

recursos cabíveis; e ainda, os efeitos que acarretam com a sua decretação, como: a formação

da massa falida (arrecadação dos bens do devedor), suspensão da prescrição, das ações

individuais e da fluência de juros e também da exigibilidade antecipada dos créditos contra o

devedor.

Finalmente, na terceira seção, discorreremos sobre os efeitos da falência quanto à

pessoa do falido, os deveres que lhe são impostos, restrições à capacidade processual e à sua

liberdade de locomoção, suspensão do direito ao sigilo de suas correspondências, a proibição

do exercício da atividade empresarial e também a possibilidade da continuação provisória do

negócio, perda da administração e disposição dos bens, como também a extinção das

obrigações e sujeição à prisão, pois no decorrer de todo o processo falimentar, a atual Lei de

Falência e de Recuperação de Empresas, prevê penas que variam da prestação de serviços à

comunidade à pena de reclusão.

Este trabalho não teve a pretensão de esgotar o aprofundamento sobre o tema, mas sim

teve a intenção de mostrar de forma simples e pueril a aplicação da atual lei de falência e de

recuperação de empresas sobre a pessoa do falido, com relação aos efeitos decorrentes dessa

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decretação.

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1 DA FALÊNCIA

1.1 História

Na antiguidade, o devedor respondia por suas obrigações não somente com seu

patrimônio, mas também com sua liberdade (aprisionamento e escravização) e até mesmo

com sua própria vida (ALMEIDA, 2006, p. 5).

Na fase mais primitiva do direito romano, direito quiritário, que antecede a codificação

da Lei das XII Tábuas1, prevaleceu à barbárie, o credor poderia vender o devedor insolvente

2

como escravo, ou até mesmo matá-lo, repartindo seu corpo de acordo com o número de

credores (ALMEIDA, 2006, p. 5; FAZZIO, 2006, p. 23). De acordo com Araújo (1996, p. 16)

“O credor fazia justiça com as próprias mãos, independente de mandado judicial, sujeitando o

devedor aos maiores e cruéis castigos”.

Este sistema perdurou até 428 a.C., pois com a promulgação da Lex Poetelia Papiria foi

abolido o critério da responsabilidade pessoal e introduzido a execução patrimonial

(ALMEIDA, 2006, p. 5; FAZZIO, 2006, p. 23).

Como cita Fazzio (2006, p. 23 apud MENDONÇA, 1946, p. 12),

O credor ou credores, munidos de sentença, procuravam o magistrado que,

causa cógnita, autorizava por decreto, a „missio in bona‟, e em virtude desta,

entravam na posse de todos os bens do devedor, procedendo depois à venda

mediante determinadas formalidades.

A missio não despia o devedor da propriedade nem da posse jurídica de seus

bens; privava-o apenas da administração, que passava ao curator, nomeado

pelo magistrado „ex consensu majoris partis creditorum‟. O patrimônio do

devedor constituía um penhor em beneficio dos credores.

Ou seja, pela bonorum venditio, a privação da posse dos bens do devedor era feito por

determinação do pretor, nomeando um curador para a administração dos bens. Sendo

facultativa ao devedor, a cessão de seus bens ao credor, que podia vendê-los separadamente,

cessio bonorum, criada pela Lex Julia Bonorum em 737 a.C., venda cujo valor ia até o

montante da dívida (ALMEIDA, 2006, p. 5; FAZZIO, 2006, p. 23).

1 A Lei das XII Tábuas foi o primeiro documento legislativo escrito dos romanos. Uma conquista dos plebeus,

que eram condicionados à submissão incerta dos costumes, pois, apenas os sacerdotes e magistrados patrícios

eram os intérpretes dos costumes e dos preceitos religiosos. Em virtude desta situação, reclamavam os plebeus

por uma lei escrita, que os contemplasse, em igualdade, com os patrícios. 2 Aquele que não tem condições de quitar suas dívidas; Inadimplente.

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Durante a Idade Média, a justiça foi atribuída ao Estado, ficando para o juiz o encargo

da execução do patrimônio do devedor. Nessa época, a falência era vista como um delito,

impondo ao falido, penas que vão de prisão à mutilação, estendendo-se esta a toda espécie de

devedor, podendo ser este comerciante ou não (ALMEIDA, 2006, p. 6; FERREIRA, 2005).

O Código Comercial francês, de 1807, conhecido como Código Napoleônico, abranda a

rigidez da falência, restringindo-a apenas ao devedor comerciante, e faz também uma nítida

distinção entre os devedores honestos e os desonestos, facultando aos honestos os benefícios

da moratória3, com o aperfeiçoamento da concordata

4 (ALMEIDA, 2006, p. 7).

Segundo Araújo (1996, p. 21),

Apesar do esforço de Napoleão para que os rigores da execução tivessem

abrigo no código, pouco conseguiu; entretanto, as extremas regras por ele

introduzidas foram amenizadas a partir das idéias liberais e humanitárias.

Podemos fixar que a partir do século XIX, a falência tomou feição própria,

sua natureza de fato econômico não criminal. Para evitar a fraude quando ela

acontecesse e reprimi-la no processo de falência, vários países do mundo

ocidental editaram leis capazes de coibir os abusos das fraudes cometidas

pelos falidos e seus colaboradores. A Bélgica, em 1832, editava a primeira

Lei de Concordata Preventiva, instituto que foi reformulado com a

introdução de normas modernas em 1837.

A atual Lei 11.101, de 09 de fevereiro de 2005, objeto deste trabalho, tem como um de

seus princípios a recuperação da empresa, que a lei anterior chamava de concordata, “a fim de

permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos

credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à

atividade econômica”, como enfatiza em seu artigo 47.

Entre as inovações, encontram-se à recuperação de empresas e também o fim da

concordata. Entretanto, não houve prejuízo às ações de concordatas e falências que se

encontravam em andamento com referência na antiga legislação – Decreto-Lei 7.661/1945.

Pois, de acordo com a atual legislação, as ações de concordatas ajuizadas anteriores a ela,

continuam sob a ótica daquela, conforme reza o caput do artigo 192 desta "Esta Lei não se

3 Para Fazzio (2006, p. 236), “A moratória consiste na concessão, pelo credor, de prazo suplementar para o

cumprimento da obrigação pelo devedor. É a dilação temporal a descaracterizar a impontualidade do devedor,

exonerando-o do desastre da falência.” 4 O conceito de concordata diz ser, cita Araújo (1996, p. 351 apud BESSONE, 1995, p. 179), “uma demanda,

tendo por objeto a regularização das relações patrimoniais entre o devedor e seus credores quirografários e, por

fim, evitar a declaração da falência, ou fazer cessar os efeitos dela, se já declarada”.

Havia dois tipos de concordatas no direito falimentar brasileiro, a preventiva e a suspensiva. A Concordata

preventiva era aquela pedida em juízo para evitar a quebra, prevenindo a falência. Já, a Concordata suspensiva,

era requerida em curso do processo da falência, ambas visavam à recomposição da empresa, com o pagamento,

mesmo que mínimo - no caso da suspensiva -, aos seus credores (ARAÚJO, 1996, pp. 337 e 338).

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aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua

vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945".

Todavia, no parágrafo 2º do mesmo artigo está exarado o seguinte:

§ 2º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não

obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver

descumprido obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido

baseado no plano especial de recuperação judicial para microempresas e

empresas de pequeno porte a que se refere à Seção V do Capítulo III desta

Lei.

Depreende-se do referido parágrafo que, embora a empresa devedora tenha ajuizado

pedido de concordata, não impede que a empresa, mesmo estando o processo de concordata

em andamento, requeira a recuperação judicial. Sendo deferido o pedido de recuperação

judicial, o processo de concordata será extinto e os créditos inscritos na concordata serão

inscritos, no valor original, no processo de recuperação judicial, conforme previsto no

parágrafo subseqüente. Tal fato somente será deferido se a empresa devedora estiver em dia

com as obrigações assumidas no processo de concordata.

Ressalvadas as microempresas e empresas de pequeno porte, que estejam com processo

de concordata em andamento, mesmo em dia com as obrigações acordadas na concordata,

estão proibidas de requerer a recuperação judicial com base no plano especial.

1.2 Conceito

A expressão falência tem sua origem do verbo latino fallere, em sentido pejorativo

significa enganar, falsear, faltar com a palavra e/ou confiança. Os falidos eram considerados

fraudadores, enganadores, velhacos (ALMEIDA, 2006, p. 16; FERREIRA, 2005).

Outras expressões também eram utilizadas, como por exemplo, “bancarrotta” utilizada

pelos franceses, expressão esta, que provém do antigo costume de os credores quebrarem o

banco em que o falido exibia suas mercadorias. E a palavra “Quebra”, utilizada pelos

portugueses, que deu origem à expressão “quebrado” (ALMEIDA, 2006, p. 16).

A Lei de Falências e de Recuperação de Empresas tem como conceito de falência, em

seu artigo 75, “[...] o processo que, pelo afastamento do devedor de suas atividades, visa a

preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os

intangíveis, da empresa”.

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Para Coelho (2008a, p. 192), “A falência é [...] o processo judicial de execução

concursal do patrimônio do devedor empresário, que, normalmente, é uma pessoa jurídica

revestida da forma de sociedade por quotas de responsabilidade limitada ou anônima”.

A falência pode ser conceituada sob dois aspectos distintos, o primeiro é o conceito

jurídico e o segundo, econômico.

Sob o prisma jurídico, a falência é um processo judicial de execução coletiva, expressão

atualmente chamada de concurso de credores, em face de um devedor empresário ou

sociedade empresária. Pois, na falência, para evitar a injustiça, em vez de um único credor

receber tudo, todos recebem um pouco, de forma proporcional ao seu crédito (ALMEIDA,

2006, p. 17; BARROS, 2009, p. 10).

Sob o aspecto econômico, a falência é o saneamento da atividade econômica, porquanto

o devedor é privado dos seus bens, os credores, muitas vezes, não recebem a integralidade dos

seus créditos, os trabalhadores têm seus contratos de trabalho rescindidos e o Fisco, perde um

contribuinte. Logo, a falência torna-se uma medida excepcional (BARROS, 2009, p. 11).

1.3 Devedores Sujeitos à Falência

Devedor é o sujeito passivo de uma obrigação. Conforme define Venosa (2009, p. 14),

“Devedor é a pessoa que deve praticar certa conduta, determinada atividade, em prol do

credor, ou de quem este determinar. Trata-se, enfim, da pessoa sobre a qual recai o dever de

efetuar a prestação”.

Em principio, estão sujeitos a falência, os devedores que exercem atividade econômica

de forma empresarial (COELHO, 2008a, p. 194).

Vale ressaltar que a Lei 11.101/2005, abrange, em seu artigo 1º, a falência do

empresário individual e das sociedades empresárias, declinadas nos artigos 1.039 a 1.092, do

atual Código Civil. Por conseguinte, tornam-se necessários os conceitos de empresário e

sociedade empresária.

Para Fazzio (2006, p. 45),

[...] identifica-se como empresário tanto a pessoa física ou jurídica que, em

seu próprio nome, exercita profissionalmente atividade negocial com intuito

de lucro, como a pessoa jurídica nas mesmas condições. Ou seja, tanto o

empresário unipessoal como a sociedade empresária são destinatários legais

dos mecanismos judiciais de recuperação e falência.

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De acordo com o Código Civil de 2002, em seu artigo 966 “considera-se empresário

quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou

circulação de bens ou de serviços”.

Para Coelho (2008a, p. 18),

O empresário individual, em regra, não explora atividade economicamente

importante. Em primeiro lugar, porque negócios de vulto exigem

naturalmente grandes investimentos. Além disso, o risco de insucesso,

inerente a empreendimento de qualquer natureza e tamanho, é proporcional

às dimensões do negócio: quanto maior e mais complexa a atividade,

maiores os riscos. Em conseqüência, as atividades de maior envergadura

econômica são exploradas por sociedades empresárias anônimas ou

limitadas, que são os tipos societários que melhor viabilizam a conjugação

de capitais e limitação de perdas.

Da mesma forma, para Almeida (2006, p. 49),

Sociedade empresária é aquela estruturada empresarialmente, reunindo todos

os fatores produtivos – empresários (capital), força laboral (empregados),

estabelecimento e atividade voltada para a produção e circulação de bens e

serviços.

Ou seja, “a empresa pode ser explorada por uma pessoa física ou jurídica. No primeiro

caso, o exercente da atividade econômica se chama empresário individual; no segundo,

sociedade empresária” (COELHO, 2008b, p. 64).

Importante acentuar segundo Coelho (2008a, p. 18) que,

[...] quando pessoas (naturais) unem seus esforços para, em sociedade,

ganhar dinheiro com a exploração empresarial de uma atividade econômica,

elas não se tornam empresárias. A sociedade por elas constituída, uma

pessoa jurídica com personalidade autônoma, sujeito de direito

independente, é que será empresária, para todos os efeitos legais. Os sócios

da sociedade empresária são empreendedores ou investidores, de acordo com

a colaboração dada à sociedade.

Contudo, a Lei de Falências e de Recuperação de Empresas não é aplicada a todos os

exercentes de atividade econômica empresarial, sendo prevista a exclusão total ou parcial de

alguns empresários (COELHO, 2008a, p. 195).

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19

A Lei de Falências e de Recuperação de Empresas não pode ser aplicada às empresas

públicas e a sociedade de economia mista (artigo 2º, inciso I) 5

, sociedade cooperativa (artigo

2º, inciso II), câmaras ou prestadoras de serviços de compensação e de liquidação financeira

(artigo 194).

Os devedores parcialmente excluídos da falência são: as companhias de seguro,

operadoras de planos privados de assistência à saúde e instituições financeiras (COELHO,

2008a, p. 196).

1.4 Elementos Essenciais para a Existência do Estado de Falência

De acordo com o autor, “Estado de falência e estado de liquidação são expressões que

servem para designar a insolvência ou a crise econômico-financeira da sociedade ou

empresário, insuscetível de recuperação judicial” (FAZZIO, 2006, p. 187).

Existem três pressupostos da falência, são eles: o devedor, necessariamente ser

empresário individual ou sociedade empresária; a insolvência; e a sentença de falência.

De acordo com o artigo 94, “caput” e inciso I, “será decretada a falência do devedor

que: sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida6

materializada em título ou títulos executivos protestados7 cuja soma ultrapasse o equivalente a

quarenta salários-mínimos na data do pedido de falência”.

Segundo Almeida (2006, p. 43), “a falência é uma situação jurídica que decorre da

insolvência do empresário, revelada essa pela impontualidade no pagamento de obrigação

líquida, ou por atos inequívocos que demonstrem manifesto desequilíbrio econômico,

patenteando situação financeira ruinosa”.

5 As empresas públicas e a sociedade de economia mista, para Coelho (2008a, p. 196), “Como são sociedades

exercentes de atividade econômica controladas direta ou indiretamente por pessoas jurídicas de direito público

(União, Estados, Distrito Federal, Territórios ou Municípios), os credores têm sua garantia representada pela

disposição dos controladores em mantê-las solventes. Não é do interesse público a falência de entes integrantes

da Administração indireta, ou seja, de desmembramento do Estado. Caindo elas em insolvência, os credores

podem demandar seus créditos diretamente contra a pessoa jurídica de direito público controladora”. 6 Obrigações líquidas são aquelas que, “acham-se presentes os requisitos que permitem a imediata identificação

do objeto da obrigação, sua qualidade, quantidade e natureza” (VENOSA, 2009, p.120). 7 Segundo Fazzio (2006, p. 235), “A ausência do protesto especial ou a irregularidade na tirada do mesmo torna

o título imprestável para instruir pedido de falência, posto que a impontualidade integrante da cessação de

pagamentos não resta caracterizada”.

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20

1.4.1 Insolvência jurídica

A insolvência “é a condição de quem não pode saldar suas dívidas. Diz-se do devedor

que possui um passivo sensivelmente maior que o ativo. Por outras palavras, significa que a

pessoa (física ou jurídica) deve em proporção maior do que pode pagar, isto é, tem

compromissos superiores aos seus rendimentos ou ao seu patrimônio” (ALMEIDA, 2006, p.

23).

Com isso, “diante da impontualidade no pagamento da obrigação líquida, ou na

existência de outros atos reveladores de situação financeira ruinosa, requer-se a falência no

pressuposto de que o patrimônio do devedor é insuficiente para pagar seus débitos,

caracterizando-se a insolvência” (ALMEIDA, 2006, p. 24).

Em conformidade, para Coelho (2008a, p. 252), “o pressuposto da insolvência não se

caracteriza por um determinado estado patrimonial, mas pela ocorrência de um dos fatos

previstos em lei como ensejadores da quebra”. Se o empresário for, sem justificativa,

impontual no cumprimento de obrigação líquida (inciso I, art. 94 da Lei 11.101, de 09 de

fevereiro de 2005), se incorrer em tríplice omissão (inciso II dispositivo citado) ou se praticar

ato de falência (inciso III).

1.4.2 Impontualidade injustificada

A impontualidade injustificada deve referir-se a obrigação líquida, representada em

título executivo8, judicial ou extrajudicial protestado, ou seja, qualquer título que possibilite a

execução individual, de acordo com a legislação processual civil em seus artigos 583 e 585,

cuja soma ultrapasse ao equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, na data do pedido da

falência. A prova da impontualidade é o protesto9 do título por falta de pagamento (COELHO,

2008a, pp. 253 e 254).

De acordo com Fazzio (2006, p. 193), “a impontualidade do devedor ocupa o primeiro

plano, na constatação da insolvência. Significa o inadimplemento, sem justa causa, de

obrigação líquida no vencimento”.

8 Título Executivo, para Greco (2008, p. 25), é “[...] o documento ou o ato documentado que consagra obrigação

certa e que permite a utilização direta da via executiva.” 9 Protesto, do latim protestor, significa declarar, protestar, afirmar. Há duas distinções jurídicas para protesto, a

primeira é o judicial; o segundo, extrajudicial. O extrajudicial “[...] constitui-se no meio legal que objetiva

comprovar a falta ou recusa de aceite ou falta de pagamento de uma obrigação constante de título de crédito”

(ALMEIDA, 2006, p. 25).

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21

Nesse sentido, o acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

“EMENTA: FALÊNCIA - IMPONTUALIDADE - REDUZIDO VALOR

DO TÍTULO - AUSÊNCIA DE INTERESSE - SUBSTITUIÇÃO DA

EXECUÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. - A falência caracteriza-se pela

impontualidade, consoante art. 1º, ou pela prática de qualquer ato de

falência, enumerados no art. 2º, ambos do Decreto-lei 7.661/45. - A

impontualidade injustificada se caracteriza pelo inadimplemento do devedor,

sem relevante razão jurídica, no cumprimento de obrigação fundamentada

por títulos executivos. A impontualidade deverá ser provada necessariamente

pelo protesto dos títulos que embasarão o pedido e que deverão somar pelo

menos 40 (quarenta) salários mínimos, vigente à época da interposição da

ação falimentar, parâmetro inspirado na Lei 11.101/2005, que veio apenas

positivar entendimento já existente. - A falência não deve ser usada como

mero instrumento de coação do devedor que não cumpriu injustificadamente

a sua obrigação, mas como meio de exceção, quando frustrada a execução ou

a ação de cobrança.

TJMG. APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0702.04.137146-0/001 - COMARCA DE

UBERLÂNDIA - APELANTE(S): MERIAL SAUDE ANIMAL LTDA -

APELADO(A)(S): MASSA FALIDA TRIAPEC IND COM REPRES

LTDA - RELATOR: EXMO. SR. DES. DÁRCIO LOPARDI MENDES.

DATA DO JULGAMENTO: 28/06/2007. DATA DA PUBLICAÇÃO:

12/07/2007”.

1.4.3 Execução frustrada

Para Greco (2008, v. 3, p. 8), a execução é “[...] como o conjunto de atos jurisdicionais

materiais concretos de invasão do patrimônio do devedor para satisfazer a obrigação

consagrada num título”.

Em outras palavras, podemos dizer que “A execução é o instrumento processual posto à

disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação, por meio da retirada

de bens do patrimônio do devedor ou do responsável, suficientes para a plena satisfação do

exeqüente” (FIGUEIREDO; SÁ, 2009, p. 172).

Portanto, a execução frustrada é aquela considerada improdutiva. Para Fazzio (2006, p.

213), “É a tentativa infrutífera encetada pelo credor, no sentido de dar atuação à sanção, de

densificar a exigibilidade do título. É a falta de prestação do agente econômico devedor em

face da exigência do credor. É a não-obtenção do bem devido”.

Nesse sentido, o acórdão do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais:

“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE FALÊNCIA -

EXECUÇÃO FRUSTRADA (ART. 94, II, DA LEI 11.101/05) -

REQUISITOS LEGAIS - PRESENÇA - ALEGAÇÃO DE NULIDADES -

NÃO-COMPROVAÇÃO - FALÊNCIA DECRETADA. - Demonstrado que

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a EXECUÇÃO restou FRUSTRADA pela falta de bens à penhora, criando

obstáculos ao recebimento do crédito, configura-se a insolvência do devedor,

ensejando a decretação de sua FALÊNCIA.

TJMG. AGRAVO DE INSTRUMENTO N° 1.0702.08.448826-2/001 -

COMARCA DE UBERLÂNDIA - AGRAVANTE(S): ENGEPAV

CONSTRUTORA LTDA - AGRAVADO(A)(S): BETUNEL IND COM

LTDA - RELATOR: EXMO. SR. DES. GERALDO AUGUSTO. DATA

DO JULGAMENTO: 02/03/2010. DATA DA PUBLICAÇÃO: 12/03/2010”.

1.5 Legitimidade Ativa

Para requerer a falência, a atual lei de falência, em seu artigo 97, atribui à legitimidade

ativa ao próprio devedor, ao cônjuge sobrevivente, aos herdeiros e ao inventariante, aos sócios

ou acionistas e ao credor. A falência de oficio pelo juiz é vedada, salvo quando houver pedido

de recuperação judicial que não atende aos requisitos legais, ou quando o devedor, após obter

a recuperação judicial deixa de cumpri-la. O Ministério Público também não tem legitimidade

para requerer a falência, diante da falta de previsão legal.

1.5.1 Falência requerida pelo credor

Em regra, o credor é o maior interessado para requerer a falência. Nesse sentido afirma

o autor,

O comum é a liquidação involuntária do devedor ser postulada pelo credor

que evidencia essa condição. Para requerer a falência do agente econômico

que se apresenta real ou presumivelmente insolvente, o credor deve exibir

prova dessa qualidade, em qualquer das hipóteses do art. 94 (FAZZIO, 2006,

p. 249).

Para Coelho (2008a, p. 263),

[...] o pedido de falência tem-se revelado um eficaz instrumento de cobrança.

Na verdade, o credor ao ajuizar o pedido de falência, em função da

impontualidade do devedor, quer mais o recebimento de seu crédito e menos,

consideravelmente menos, a falência do devedor. A melhor forma de

entender essa ação judicial, essa etapa do processo falimentar, é considerá-la

espécie de cobrança judicial.

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23

1.5.2 Falência requerida pelo próprio devedor (autofalência)

A autofalência “[...] é quando o próprio devedor insolvente requer a sua falência, em

razão de não atender aos requisitos para a recuperação judicial [...]” (BARROS, 2009, p. 22).

Segundo Coelho (2008a, p. 263),

A Lei Falimentar impõe ao próprio devedor a obrigação de requerer a

autofalência, quando estiver insolvente e considerar que não atende aos

requisitos para pleitear a recuperação judicial. Trata-se, porém, de obrigação

desprovida de sanção. Nenhum devedor, por isso, costuma requerer a

autofalência como manda a lei, e, mesmo assim, não sofre punição ou

enfrenta qualquer conseqüência. O requerimento da autofalência deve ser

entendido, assim, como recomendação ao empresário insolvente que não

reúne as condições para obter em juízo a reorganização de sua empresa.

Na autofalência, “[...] a liquidação do agente econômico é voluntária. Pode exsurgir

tanto da insolvência real como da insolvência potencial. Afinal, ninguém melhor que o

empresário devedor conhece sua conjuntura patrimonial” (FAZZIO, 2006, p. 196).

De acordo com o artigo 105 da Lei de Falência e de Recuperação Judicial, o pedido de

autofalência deve vir instruído com uma série de documentos, sendo eles:

- demonstrações contábeis dos últimos três exercícios e especialmente levantadas para o

pedido;

- relação dos credores;

- relação dos bens e direitos do ativo acompanhados dos documentos comprobatórios de

propriedade;

- prova da condição de empresário, se não houver, a indicação e qualificação de todos os

sócios acompanhada da relação de seus bens;

- livros obrigatórios e documentos contábeis exigidos por lei;

- relação dos administradores nos últimos cinco anos.

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1.5.3 Falência requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros e inventariante (falência

do espólio)

Na ocorrência de morte do devedor, o cônjuge sobrevivente, os herdeiros e o

inventariante podem requerer a falência do espólio10

.

Observa Fazzio (2006, p. 254),

[...] que não se trata de ordem sucessiva; a legitimação é concorrente.

Qualquer dos nomeados pela lei poderá pleitear a falência do espólio,

devendo ser observado, entretanto, que o inventariante é o representante do

espólio insolvente.

Almeida (2006, p. 62) entende que, “O termo herdeiros empregado pelo legislador não

significa a exigência de unanimidade, mas tão-somente a legitimação ativa de qualquer

deles”.

1.5.4 Falência requerida pelo sócio ou acionista

De acordo com Barros (2009, p. 22), “O sócio pode requerer a falência da sociedade

devedora com o intuito de liquidá-la. Mas se a maioria é favorável à falência, a hipótese

transmuda-se para a autofalência requerida pela própria sociedade”.

Para Coelho (2008a, p. 263), o pedido de falência requerido pelo sócio ou acionista, “É

hipótese rara. [...] porque só tem cabimento quando a maioria dos sócios não considera

oportuna a instauração do concurso de credores [...]”.

1.6 Ônus da Prova

Segundo Fazzio (2006, p. 250),

No processo da ação falimentar, compete ao devedor requerido, em defesa,

opor a circunstância de não ser agente econômico, provando-a por qualquer

meio idôneo, até mesmo porque o réu pode ser empresário de fato ou

10

De acordo com Almeida (2006, p. 53), “Espólio [...] são os bens deixados pelo morto, via de regra designado

pela expressão latina de cujus, abreviatura de de cujus sucessione agitur, isto é, de cuja sucessão se trata,

servindo, portanto, para indicar o falecido”.

O artigo 597, do Código de Processo Civil, assim dispõe “O espólio responde pelas dívidas do falecido; mas,

feita a partilha, cada herdeiro responde por elas na proporção da parte que na herança lhe coube”.

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sociedade irregular. Tal circunstância eventualmente desconhecida dos que

negociam com o agente econômico não pode beneficiá-lo.

Portanto, no que tange à questão de se saber se o requerente da falência está,

ou não, obrigado a provar a condição de empresário do devedor, há que tal

exigência é descabida, vez que o requerido pode ser empresário não

personalizado (de fato ou sem contrato registrado no órgão competente).

Esse contestará a qualidade que se lhe atribui e, nesse caso, terá a

incumbência probatória.

1.7 Atos de Falência

O artigo 94, inciso III, da Lei 11.101/05, prevê atos praticados pelo devedor que geram

presunção de insolvência, conhecidos como atos de falência, sendo eles:

a) Liquidação precipitada. Poderá ocorrer quando o devedor vende de forma abrupta

bens do ativo não circulante, ou seja, aqueles indispensáveis às suas atividades (máquinas,

mobiliário); ou também, quando emprega meios ruinosos (juros excessivos) ou fraudulentos

para realizar pagamentos (COELHO, 2008a, p. 256);

b) Negócio simulado. É quando a empresa tenta retardar ou frustrar credores por meio

de negócio simulado, ou ainda, aliena parcial ou totalmente elementos de seu ativo não

circulante (COELHO, 2008a, p. 256)

Para Fazzio (2006, p. 218),

O negócio simulado é o que apresenta aparência diversa do realmente

pretendido pelas partes. É negócio disfarçado, simulacro de negócio. Em

outras palavras, as partes fingem um negócio, pretextam contratar, quando

na verdade há mera fuga de bens do ativo para terceiro, credores ou não. O

negócio é ficto;

c) Alienação irregular de estabelecimento. A empresa deve conservar bens suficientes

para responder pelo passivo, deve havendo a alienação do estabelecimento ocorrer à anuência

dos credores (regularidade do trespasse11

), isso para ter plena eficácia (COELHO, 2008a, p.

257);

d) Transferência simulada do principal estabelecimento. O empresário tem a liberdade

de transferir o seu principal estabelecimento para onde entender conveniente, entretanto se o

objetivo da mudança ocorre sem justificativa empresarial tendo como causa prejudicar

11

Com relação ao trespasse irregular, segundo Coelho (2008a, 348), “é ineficaz a alienação do estabelecimento

empresarial (trespasse) sem a anuência expressa ou tácita de todos os credores ou seu pagamento, salvo se o

empresário conservou, em seu patrimônio, bens suficientes para garantir o atendimento do passivo”.

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credores, dificultando o exercício dos seus direitos, será considerada simulada,

caracterizando-se como ato de falência (COELHO, 2008a, p. 257);

e) Garantia real. Ocorre quando o devedor dá ou reforça a garantia real a credor, por

dívida contraída anteriormente, sem ficar com bens livres e desembaraçados para atender às

suas dívidas (BARROS, 2009, pp. 20 e 21);

f) Abandono do estabelecimento empresarial. Se ocorrer o abandono, por parte do

representante legal, sem constituir procurador com poderes e recursos suficiente para

responder pelas obrigações sociais, caracterizará ato de falência (BARROS, 2009, p. 21);

g) Descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação judicial.

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2 DA SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA

2.1 Conceito

Sentença, do verbo latino sentire. O juiz sente o fato e o direito e faz incidir o direito

sobre o fato (LEAL; PIRES, 2011).

De acordo com o Autor,

Sentença, em direito romano, era o ato decisório da causa, o ato pelo qual o

juiz decidia do pedido do autor, acolhendo-o ou rejeitando-o. Todos os

demais atos decisórios se abrangiam sob a denominação de interlocutiones,

decisões no curso do processo, em oposição à sentença, no sentido estrito, ou

sentença definitiva, que resolvia o mérito da causa (SANTOS, 2010, p. 4).

A sentença pode ser classificada em terminativa e definitiva. A primeira põe fim ao

processo sem resolver o mérito. A segunda, decide o mérito total ou parcialmente e extingue o

direito de ação. “Deve-se [...] conceituar como sentença definitiva o ato decisório do juiz que,

em primeiro grau de jurisdição, conclui a fase cognitiva do processo” (THEODORO, 2009, p.

231).

Da mesma forma, para Santos (2010, p. 6) a sentença,

[...] no sentido estrito, no sentido romano de sententia, decidem do pedido,

julgando-o procedente ou improcedente. Põem termo à relação processual,

mas também à ação. Encerram o processo com resolução de mérito. Sua

característica está em julgar o mérito, isto é, decidir da relação de direito

substancial posta em juízo, é, pois, em acolher ou repelir o pedido contido na

inicial. São as sentenças finais por excelência, a que a técnica processual

denomina sentenças definitivas.

O artigo 468 do Código de Processo Civil, assim dispõe “A sentença, que julgar total ou

parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas”.

2.2 Característica e Natureza Jurídica

Segundo Fazzio (2006, p. 196), “A falência nasce de uma decisão judiciária. Sem

provimento jurisdicional inexiste estado jurídico de falência, assente a impossibilidade de

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liquidação virtual. Sem um pedido do interessado (o credor, o próprio devedor ou as demais

pessoas legitimadas) e a resposta jurisdicional (a sentença) não há falência [...]”.

Com a sentença extingue-se o direito de ação, declarando, assim, a disposição legal

aplicável. “A sentença falimentar, todavia, apresenta uma peculiaridade que a distingue das

demais sentenças do processo comum, pois, reconhecendo uma situação de fato, declara a

falência, dando início à execução coletiva” (ALMEIDA, 2006, p. 106).

Para Roque (2005, p. 197),

A sentença declaratória da falência é do tipo declaratório e constitutivo. É

declaratória porque declara a existência do direito pretendido pelo autor;

julga o mérito, declarando quem tem razão, reconhecendo o acerto de sua

alegação. É constitutiva porque cria novas relações jurídicas e modifica o

„status‟ da empresa requerida; solvente antes da sentença, passou ela a ser

insolvente.

Barros (2009, p. 29) afirma que, “[...] trata-se de sentença constitutiva, porque cria uma

situação jurídica nova, isto é, o status de falido, fazendo incidir uma série de normas

especificas do direito falimentar, que afastam as normas comuns. Além disso, produz uma

série de efeitos prospectivos e retroativos”.

A natureza jurídica da sentença é a de afirmação da vontade da lei, declarada pelo juiz,

como órgão do Estado, conforme disposto no artigo 162, Parágrafo Primeiro, do Código de

Processo Civil, aplicada a um caso concreto a ele submetido. Trata-se de um ato de comando,

de um ato lógico, envolvendo um ato de vontade do magistrado, na afirmação da lei, como

órgão investido de jurisdição pelo Estado.

Na medida em que produz uma nova situação jurídica, consubstanciada no concurso de

credores e execução coletiva incidente sobre o patrimônio do devedor, a sentença que decreta

a falência do devedor é um provimento jurisdicional de conhecimento, na modalidade

constitutiva, responsável pelo estado jurídico de falência.

2.3 Conteúdo

De acordo com o artigo 99, da Lei 11.101/2005, “a sentença que decretar a falência do

devedor, dentre outras determinações”:

a) deverá conter a síntese do pedido, com a respectiva identificação do falido e os nomes de

seus administradores;

b) fixará o termo legal da falência;

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c) ordenará ao falido que apresente relação nominal dos credores, indicando endereço,

importância, natureza e classificação dos respectivos créditos;

d) explicitará o prazo para as habilitações de crédito;

e) ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido;

f) proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido;

g) determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes

envolvidas;

h) ordenará ao Registro Público de Empresas, para que conste a expressão "Falido" no

registro do devedor;

i) nomeará o administrador judicial;

j) determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras entidades para

que informem a existência de bens e direitos do falido;

k) pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido ou da lacração

dos estabelecimentos;

l) determinará a convocação da assembléia-geral de credores para a constituição de Comitê de

Credores, podendo autorizar a manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na

recuperação judicial quando da decretação da falência;

m) ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas

Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento,

para que tomem conhecimento da falência.

2.4 Termo Legal

Cita Almeida (2006, p. 186 apud REQUIÃO, 1984),

O termo legal da falência, fixado na sentença pelo juiz, compreende um

espaço de tempo imediatamente anterior à declaração da falência, no qual os

atos do devedor são considerados suspeitos de fraude e, por isso, suscetíveis

de investigação, podendo ser declarados ineficazes em relação à massa12

.

Ensina Coelho (2008a, pp. 342 e 343),

O devedor (em caso de empresário individual) e os sócios, acionista

controlador ou administradores de uma sociedade empresária, ao

12

O art. 129, da Lei 11.101, assim dispõe “São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante

conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores”.

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pressentirem que a empresa se encontra em situação econômica pré-

falimentar – caracterizada pela dificuldade de receber e realizar pagamentos,

redução da demanda dos produtos e serviços oferecidos, retração do crédito

bancário –, podem ser tentados a evitar a decretação da quebra ou a

contornar suas conseqüências por meios ilícitos, fraudando os credores ou as

finalidades da execução concursal (que são a realização do ativo, o

pagamento do passivo, o tratamento paritário dos credores etc.). Poderão,

nesse contexto, simular atos de alienação de bens do patrimônio social ou

instituir, em favor de credor quirografário, garantia real em troca de alguma

vantagem indevida. Mesmo inexistente o instituto fraudulento, podem

frustrar-se os objetivos do processo de falência pela prática de atos de gestão

empresarial incompatíveis com a sua realização.

Para coibir esses comportamentos, a lei de Falências considera determinados

atos praticados pelo empresário individual em nome da sociedade falida

antes da quebra como ineficazes perante a massa.

Ainda, de acordo com Coelho (2008a, p. 273), “O termo da falência é o período anterior

à decretação da quebra, que serve de referência para a auditoria dos atos praticados pelo

falido”.

Em outras palavras, é o período suspeito que antecede a decretação da falência, em que,

presumivelmente, já ocorriam irregularidades, ou seja, o momento em que, teriam ocorrido

atos fraudulentos (BARROS, 2009, p. 31).

Todavia, para Fazzio (2006, p. 270), “O período suspeito é mais longo que o termo

legal, até porque, ainda que insolvente, o empresário pode prorrogar sua agonia à custa de

atitudes protelatórias. Depois, há atos nocivos aos interesses dos credores que podem ter sido

praticados em data anterior ao termo legal”.

Porém, conforme artigo 99, inciso II, da Lei 11.101/2005, o juiz não poderá retrotrair o

termo legal além de 90 (noventa) dias contados do primeiro protesto por falta de pagamento;

ou do despacho do pedido inicial de falência; ou do requerimento do pedido de recuperação,

se caso de convolação13

; ou ainda, do requerimento de autofalência.

2.5 Administrador judicial

Afirma Almeida (2006, p. 215) que,

O administrador deve ser profissional idôneo, preferencialmente advogado,

economista, administrador de empresas ou contador, podendo ser, também,

pessoa jurídica ou especializada (art. 21). Nessa última hipótese, ao firmar

13

De acordo com Coelho (2008a, p. 185), “No direito brasileiro, abstraída a hipótese de desistência, não há

terceira alternativa: quem requer o beneficio da recuperação judicial ou o obtém e cumpre ou terá sua falência

decretada”.

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31

compromisso, declarar-se-á o nome do profissional responsável pela

condução do processo de falência.

Entende Fazzio (2006, p. 271), “[...] que o administrador judicial da massa falida não é

um representante dos credores, mas, isto sim, um auxiliar do juízo. Não patrocina os direitos

dos credores nem os do devedor; garante a integridade do ativo liquidando e sua distribuição

equitativa aos credores”.

Acrescentando ao que já foi dito, ensina Coelho (2008a, p. 61),

De um modo geral, cabe ao administrador judicial auxiliar o juiz na

administração da falência e representar a comunhão dos interesses dos

credores. Como auxiliar do juiz, ele deve-se [sic] manifestar nos autos

sempre que determinado, bem como tomar a iniciativa de propor medidas

úteis ao bom andamento do processo falimentar. Como representante legal

da comunhão dos interesses dos credores, deve administrar os bens da massa

visando obter a otimização dos recursos disponíveis.

Sua missão consiste em procurar maximizar o resultado da realização do

ativo. Quanto mais dinheiro ingressar na conta da massa falida em função da

cobrança dos devedores e venda dos bens do falido, maiores serão os

recursos disponíveis para o pagamento dos credores. Esse objetivo –

otimização dos recursos da massa – norteia a atuação do administrador

judicial, e, portanto, também a avaliação do seu desempenho.

2.6 Assembléia Geral e Comitê de Credores

Segundo Almeida (2006, p. 215), “O Comitê de Credores é facultativo, dependendo

para a sua constituição da complexidade da falência [...]”.

Frisa o autor,

A instalação do comitê pode ser determinada pelo juiz na sentença de

falência ou, então, mediante deliberação, em assembléia, de qualquer das

classes dos credores.

O comitê é composto por um representante eleito por cada classe de

credores, além de dois suplentes. Assim, há um representante para classe de

credores trabalhistas, um representante para classe de credores com garantia

real e um representante para classe de credores quirografários. Estes são

eleitos pelos membros das respectivas classes, em assembléia de credores. A

falta de indicação de representante de qualquer uma dessas classes não

impede o funcionamento do comitê. Este pode funcionar com número

inferior a 3 (três) representantes. Ademais, o próprio juiz,

independentemente de assembléia, pode nomear ou substituir os membros do

comitê, deferindo pedidos subscritos pelos credores componentes da maioria

dos créditos da respectiva classe.

Conforme Fazzio (2006, pp. 271 e 272),

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32

A assembléia geral é presidida pelo administrador judicial, permitindo-se a

representação de qualquer credor por mandatário ou representante legal.

Conforme a lei, art. 38, o voto do credor é proporcional ao valor de seu

crédito, o que não significa que devam ser prejudicados, por tratamento

desfavorável, os credores minoritários.

Na falência, incumbe à assembléia geral de credores o exame de qualquer

matéria que possa afetar o interesse dos credores. Por isso, é sua atribuição a

constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua

eventual substituição.

Compete ao Comitê de Credores, o constante nas alíneas do inciso I, artigo 27, da atual

Lei de Falência, quais sejam:

- fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial;

- zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei;

- representar ao juiz sobre violação de direitos ou ocorrência de prejuízo aos interesses dos

credores;

- apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações;

- requerer ao juiz, quando necessário, a convocação da assembléia geral de credores.

2.7 Publicidade da Decretação

A lei estabelece que a sentença declaratória de falência deve ser publicada por edital em

órgão oficial.

De acordo com Fazzio (2006, p. 273),

O parágrafo único do art. 99 determina a publicação, pelo escrivão, da

sentença decretatória e da relação de credores. Como a relação de credores

pode não vir com a sentença, o que aliás é a maioria dos casos, entende-se

que pode haver duas publicações distintas, sempre contendo a epígrafe

“falência de...”.

A LRE, no art. 99, não diz onde deverá ser encetada a publicação do edital,

valendo a regra geral que traz no art. 191, segundo a qual as publicações que

ordena serão feitas preferencialmente na imprensa oficial e, se o devedor ou

a massa liquidanda comportar, em jornal ou revista de circulação regional ou

nacional, bem como em quaisquer outros periódicos que circulem em todo o

país.

Ademais, há outras regras pertinentes a publicidade da sentença que declarar a falência,

sendo elas, a intimação do Ministério Público e envio de comunicação à Fazenda Federal e às

dos Estados e Municípios em que a falida possuir estabelecimento ou filial, e também a

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comunicação à Junta Comercial em que o falido tem seus atos arquivados (COELHO, 2008a,

p.275).

2.8 Recursos

Segundo Almeida (2006, p. 115),

Recurso é o meio de que se vale a parte, objetivando a reforma de uma

sentença que lhe tenha sido, no todo ou em parte, desfavorável [...].

O termo recurso, pois, indica o pedido de reforma de uma decisão prolatada,

isto é, proferida, pronunciada.

Da sentença que declarar a falência caberá agravo, de acordo com o artigo 100, da Lei

de Falência e de Recuperação de Empresas.

Fazzio (2006, p. 275), afirma que “A sentença que decreta a falência, longe de terminar,

inaugura a falência propriamente dita. É decisão interlocutória porque, simplesmente, se

interlocuta entre a cognição e a execução”.

Para Coelho (2008a, p. 277),

O prazo, a tramitação e os efeitos do agravo são os dispostos no Código de

Processo Civil, assim preceitua a Lei de Falências (art. 189). Desse modo, o

falido que não se conformou com a declaração da falência, deve, nos 10

(dez) dias seguintes à publicação da sentença no Diário Oficial, interpor,

perante o tribunal competente, o agravo, instruindo-o de acordo com a lei

processual civil (CPC, arts. 524 e 525) e comunicando, nos 3 dias

subseqüentes, o juízo falimentar, para eventual retratação deste.

2.9 Efeitos da Decretação

Os efeitos da sentença que decreta a falência, em resumo, são: a) formação da massa

falida subjetiva; b) suspensão da prescrição; c) suspensão das ações individuais; d) suspensão

da fluência de juros; e) exigibilidade antecipada dos créditos contra o devedor (COELHO,

2008a, p. 309; FAZZIO, 2006, p. 282).

2.9.1 Massa falida

Ensina Coelho (2008a, pp. 309 e 310),

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A expressão “massa falida” encontra-se na lei em dois sentidos diferentes:

subjetivo e objetivo. A massa falida subjetiva (também chamada de massa

passiva ou dos credores) é o sujeito de direito despersonalizado voltado à

defesa dos interesses gerais dos credores de um empresário falido.

[...]

A massa falida objetiva, por sua vez, é o conjunto de bens arrecadados do

patrimônio do falido. É chamada, também, de massa ativa. Não se confunde

com a comunhão de interesses dos credores (massa falida subjetiva), embora

a lei a chame esta e aquela indistinta e simplesmente de “massa falida”.

Para Fazzio (2006, p. 283), “[...] a massa falida subjetiva concorre sobre os bens que

estão a cargo da massa falida objetiva. A massa falida não tem bens, uma vez que estes

pertencem ao devedor de cuja posse e administração é privado em decorrência da sentença

falencial”.

2.9.1.1 Arrecadação dos bens do devedor

No caso de empresário individual, para Coelho (2008a, p. 295),

O administrador judicial deve arrecadar todos os bens de propriedade do

empresário individual falido, mesmo que se achem na posse de terceiros, a

título de locação ou comodato, por exemplo. A arrecadação deve também

abranger todos os bens na posse do falido. Destes serão excluídos aqueles

que, embora possuídos por ele, não lhe pertencem, mediante pedido de

restituição.

Em se tratando de sociedade empresária, Coelho (2008a, p. 295) afirma que, “[...] os

bens que serão arrecadados para integração à massa falida são exclusivamente os da

sociedade”.

2.9.2 Suspensão da prescrição

O artigo 6º, da atual Lei de Falência, declara que no decorrer do processo de falência

fica suspenso o curso da prescrição relativa a obrigações de responsabilidade do devedor.

Contudo, com o trânsito em julgado da sentença que decretou a falência, o prazo prescricional

voltará a fluir, de acordo com o artigo 157 da referida lei.

Segundo Fazzio (2006, p. 292),

Trata-se na espécie de suspensão e não de interrupção. Com efeito, o art. 157

da LRE diz que a prescrição relativa às obrigações do devedor recomeça a

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correr a partir da data em que se transitar em julgado a sentença de

encerramento da falência. Se recomeça é porque foi suspenso e não

interrompido. O tempo anteriormente transcorrido entra na contagem da

prescrição. É o caso pois de paralisação do curso prescricional que recomeça

a fluir quando cessado o impedimento legal.

2.9.3 Suspensão das ações individuais

Conforme Coelho (2008a, p. 36),

Um dos principais efeitos da decretação da falência em relação aos credores

do falido é a suspensão das execuções individuais em curso. Cuida-se de

conseqüência da edição da sentença declaratória da falência, que inicia o

processo de execução concursal do empresário individual ou da sociedade

empresária insolvável. Seria de fato despropositado que os credores

pudessem continuar exercendo individualmente seu direito à cobrança

judicial, concomitante à tramitação do concurso. Estariam, nesse caso, sendo

desenvolvidas duas medidas judiciais de idênticas finalidades, a execução

individual e concursal. Por essa razão, suspendem-se as execuções em que

seja executado o falido (aquelas em que ele é exeqüente prosseguem).

Essa suspensão, na grande maioria das vezes, será definitiva, isto é,

corresponderá à extinção do processo. As execuções individuais apenas

retornarão seu curso regular caso a decretação da falência seja reformada no

julgamento de recurso (agravo ou embargos).

Essa suspensão das ações vem disposto no artigo 6º da atual Lei de Falência,

ressalvadas as hipóteses em seus parágrafos. Pois, nem todas as ações iniciadas antes da

falência são suspensas, mas sim tem o seu prosseguimento com o administrador judicial, o

representante da massa, como dito anteriormente (FAZZIO, 2006, p. 287).

Preceitua Coelho (2008a, p. 39),

As ações de conhecimento contra o devedor falido [...] não se suspendem

pela sobrevinda da falência ou do processo visando o beneficio. Não são

execuções e, ademais, o legislador reservou a elas um dispositivo especifico

preceituando o prosseguimento (§ 1º).

As ações monitórias também não se suspendem se estiverem tramitando para

discussão de obrigação ilíquida. Mas se não foram embargadas, como

deveriam prosseguir com observância das normas atinentes às execuções

(CPC, art. 1.102c), as ações monitórias se suspendem.

Nas reclamações trabalhistas e nas ações que não se suspendem, cabe a

reserva do valor em discussão. Prevê a lei atual – diferentemente da anterior

– que a competência para determinar a reserva é a do juiz perante o qual

tramita a reclamação trabalhista ou a ação não suspensa.

Porém, conforme Fazzio (2006, pp. 287 e 288),

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36

Na execução14

tratando-se de bens já arrematados, não há o que suspender.

Esses bens já não integram o patrimônio do agente econômico devedor. Para

a massa somente virá eventual sobra verificada após a satisfação do

exeqüente.

Sobre as ações de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente em

garantia, a decretação da falência não impede seu prosseguimento com a

ação de depósito, desnecessário, então, o pedido de restituição em face da

massa.

2.9.4 Suspensão da fluência de juros

Após a decretação de falência, dispõe o artigo 124, da Lei de Falência e de Recuperação

de Empresas, que não são exigíveis juros vencidos contra a massa falida.

Assim, entende Coelho (2008a, p. 338),

Apenas os juros devidos à data da decretação da falência podem ser

cobrados da massa. Após, a quebra, não mais correm juros enquanto não se

pagar o principal corrigido devido à todos os credores. Se a venda dos bens

da falida gerou produto suficiente para pagar as dívidas da massa e a

totalidade dos credores do falido (isto é, o valor da obrigação com correção

monetária até a data do pagamento) e ainda sobraram recursos, então pagam-

se os juros posteriores à quebra, observando-se novamente a ordem de

classificação.

Conforme o parágrafo único, do artigo da lei já citado, estão excluídos da regra os juros

atinentes às debêntures e aos créditos com garantia real. Pois, estes, serão satisfeitos pelo

produto dos bens dados em garantia.

2.9.5 Exigibilidade antecipada dos créditos contra o devedor

Nos casos de insolvência do devedor, a dívida considera-se vencida se o devedor incidir

em falência, de acordo com o artigo 1.425, inciso II, do atual Código Civil.

Conforme preceitua o CC no “caput” e inciso, do “Artigo 333. Ao credor assistirá o

direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado neste

Código: I – no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores [...]”.

De acordo com Fazzio (2006, p. 290),

14

Segundo Coelho (2008a, p.37), “A única exceção da lei à regra da suspensão das execuções diz respeito às

fiscais. Isto porque, tecnicamente falando, as ações que demandam quantia ilíquida e as reclamações trabalhistas

não são execuções, mas processos de conhecimento. Com ênfase, de acordo com a lei, a instauração da execução

concursal apenas não inibe o prosseguimento das execuções fiscais. O art. 187 do CTN determina que o crédito

tributário não participa de concurso de credores”.

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37

Trata-se, pois, de interesse de agir excepcional reconhecido por lei ao credor,

precisamente porque os bens do devedor não são suficientes para o

pagamento dos credores.

Porém, o fato de a dívida se tornar exigível não enseja ao credor o direito de

pleiteá-lo singularmente. Precisa observar as regras do processo falimentar,

efetivando-se no instante aprazado, conforme a classificação dos créditos

habilitados. O que os credores têm, em verdade, é o direito ao rateio que lhes

tocar na liquidação do ativo do patrimônio do agente econômico.

A LRE insere os credores num quadro lastreado na igualdade de condições,

pois afasta as vantagens que poderiam ter, com a antecipação do vencimento,

os portadores de títulos ainda não exigíveis por ocasião da abertura da

falência.

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3 DOS EFEITOS DA FALÊNCIA QUANTO À PESSOA DO FALIDO

3.1 Extinção da Sociedade Empresária

Na sociedade empresária, especificamente, com a decretação de falência ocorre à

extinção da pessoa jurídica, ou seja, a dissolução desta. Segundo Coelho (2008a, p. 285),

[...] trata-se de ato judicial que instaura uma forma específica de liquidação

do patrimônio social, para que a realização do ativo e a satisfação do passivo

sejam feitas não por um liquidante escolhido pelos sócios ou nomeado pelo

juiz da ação de dissolução, mas sim pelo próprio Poder Judiciário, no âmbito

do juiz falimentar, com a colaboração do administrador judicial. A falência é

hipótese de dissolução total judicial. A sentença declaratória da falência

desfaz todos os vínculos existentes entre os sócios ou acionistas e inaugura o

processo judicial de terminação da personalidade jurídica da sociedade.

3.2 Deveres que Lhe São Impostos

Os deveres do falido, de acordo com o artigo 104 da Lei de Falência e de Recuperação

de Empresas, são:

- assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de comparecimento, com a

indicação do nome, nacionalidade, estado civil, endereço completo do domicílio, devendo

ainda declarar, para constar do dito termo:

a) as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos credores;

b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios, acionistas

controladores, diretores ou administradores, apresentando o contrato ou estatuto social e a

prova do respectivo registro, bem como suas alterações;

c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios;

d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome e endereço do

mandatário;

e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento;

f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato;

g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em andamento em que

for autor ou réu;

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- depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de comparecimento, os seus livros

obrigatórios, a fim de serem entregues ao administrador judicial, depois de encerrados por

termos assinados pelo juiz;

- não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação

expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei;

- comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por procurador, quando

não for indispensável sua presença;

- entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos ao administrador judicial,

indicando-lhe, para serem arrecadados, os bens que porventura tenha em poder de terceiros;

- prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou Ministério

Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à falência;

- auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;

- examinar as habilitações de crédito apresentadas;

- assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros;

- manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;

- apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores;

- examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial.

Se faltar com o cumprimento de quaisquer dos deveres, após intimado pelo juiz a fazê-

lo, o falido responderá por crime de desobediência, previsto no Código Penal de 1940, em seu

artigo 330:

“Artigo 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:

Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa”.

3.3 Restrições à Capacidade Processual do Falido e à Sua Liberdade de Locomoção

Depois de declarada a sentença de falência, por conseqüência, o falido sofre algumas

restrições, como a liberdade de locomoção e a capacidade processual.

A respeito da liberdade de locomoção, o falido está obrigado a não se ausentar, sem

autorização judicial, do lugar da falência, conforme artigo 104, inciso III, da Lei de Falência e

de Recuperação de Empresas:

Artigo 104. A decretação da falência impõe ao falido os seguintes deveres:

[...]

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III - não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e

comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob as

penas cominadas na lei.

De acordo com o autor,

A restrição em apreço justifica-se pelo fato de estar o falido obrigado a

comparecer a todos os atos da falência, auxiliando e prestando, verbalmente

ou por escrito, as informações reclamadas pelo juiz, administrador,

Ministério Público e credores em geral, devendo ainda examinar as

declarações de crédito, assistir ao levantamento e verificação do balanço,

proferindo, outrossim, parecer sobre as contas do síndico (ALMEIDA, 2006,

p. 144).

Com relação à capacidade processual, o falido, não pode

[...] figurar como autor ou réu em ações patrimoniais de interesse da massa,

ficando impedido, inclusive, de praticar qualquer ato que se refira, direta ou

indiretamente, aos bens, interesses, direitos e obrigações compreendidos na

falência, sob pena de nulidade, a ser declarada ex officio, independentemente

de prova de prejuízo (ALMEIDA, 2006, p. 144).

3.4 Suspensão do Direito ao Sigilo das Correspondências

“Fica suspenso [...], o direito constitucional de sigilo à correspondência quanto aos

assuntos pertinentes ao seu negócio. A partir da decretação da quebra, o administrador judicial

recolhe a correspondência endereçada ao falido e está legalmente autorizado a abri-la. Caso

constate que a correspondência tem conteúdo estranho à atividade empresarial, deve entregá-

la ao falido” (COELHO, 2008a, p. 284).

Portanto, a partir da sentença, o Correio é informado de que todas as correspondências

endereçadas ao falido devem ser entregues ao administrador judicial da massa falida, que

deverá abri-las, na presença do falido ou de seu representante, ciente das que são de conteúdo

comercial. Além disso, retém também as cartas de cunho pessoal, porém as devolve de

imediato ao falido, sem ter o direito de lê-las.

3.5 Proibição do Exercício da Atividade Empresarial

Com a sentença, o falido tem suspenso o direito de exercer atividade empresarial. Essa

proibição, é mais uma restrição imposta pela Lei de Falência e de Recuperação de Empresas:

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Artigo 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade

empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue

suas obrigações, respeitando o disposto no § 1º do artigo 181 desta lei.

Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao

juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.

O direito ao exercício da atividade empresarial é suspenso até a sua reabilitação.

Entretanto, não impede que o falido exerça qualquer outra atividade, e o seu salário, por ser

impenhorável, não poderá ser arrecadado.

3.5.1 Continuação do negócio

Para preservar a empresa, a Lei de Falência e de Recuperação de Empresas, em seu

artigo 99, inciso XI, faculta ao juiz decidir pela continuação provisória das atividades do

falido com o administrador judicial, se interessante para os credores, em vez da lacração do

estabelecimento.

Segundo Coelho (2008a, p. 274),

A continuação provisória das atividades do falido se justificam em casos

excepcionais, quando ao juiz parecer que a empresa em funcionamento pode

ser vendida com rapidez, no interesse da otimização dos recursos do falido.

Se, pela tradição da marca explorada ou pela particular relevância social e

econômica da empresa, parecer ao magistrado, no momento da decretação da

quebra, que o encerramento da atividade agravará não só o prejuízo dos

credores como poderá produzir efeitos deletérios à economia regional, local

ou nacional, convém que ele autorize a continuação provisória dos negócios.

3.6 Perda da Administração e Disposição dos Bens

A Lei de Falências e Recuperação de Empresas enuncia, em seu parágrafo único do

artigo 103, os direitos do devedor:

Artigo 103. Desde a decretação da falência ou do seqüestro, o devedor perde

o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.

Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da

falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus

direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa

falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo

os recursos cabíveis.

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Segundo Barros (2009, p. 56), “O falido tem o direito de fiscalizar a administração da

massa falida e intervir como assistente nos processos em que esta for parte ou interessada,

podendo inclusive interpor os recursos cabíveis, independentemente da concordância do

administrador judicial”.

Para o autor, “Na medida em que o devedor, com a sentença, perde a administração e a

disponibilidade dos seus bens, frutos e direitos a eles inerentes e, não imediatamente, a

propriedade dos mesmos, é do seu interesse, e mesmo da massa, o exercício daqueles direitos

mínimos” (FAZZIO, 2006, p. 298).

Antes da declaração de falência, o devedor tinha a administração do seu patrimônio,

porém, com a declaração quem passa a reger o patrimônio do então falido, é o administrador

judicial.

No mesmo sentido, segundo Barros (2009, p. 55),

O falido não perde a personalidade jurídica com a falência, tampouco se

torna incapaz, mas a sua capacidade civil é restringida, porque, a partir do

momento em que houve decretação da quebra, ele perde a livre

disponibilidade do seu patrimônio, não podendo mais administrar os seus

bens, embora se mantenha na propriedade deles, cuja perda só se concretiza

após a venda na fase de liquidação.

Em outras palavras, o devedor assiste “[...] o direito de postular a venda dos bens de

fácil perecimento ou guarda difícil ou dispendiosa, mas não poderá exercer nenhuma

faculdade relativa ao domínio dos bens, perdendo o direito à percepção dos seus frutos e até

mesmo o direito de reaver os bens na posse injusta de outrem” (FAZZIO, 2006, p. 299).

Em conseqüência, os atos praticados pelo falido quanto aos bens poderão ser nulos.

Segundo Almeida (2006, p. 155), “Desde o momento da abertura da falência, ou do seqüestro

preliminar, não pode o falido praticar qualquer ato que se refira, direta ou indiretamente, aos

bens, interesses, direitos ou obrigações compreendidos na quebra – sob pena de nulidade a ser

declarada ex officio”.

O juiz poderá arbitrar remuneração ao devedor, se a massa comportar e ficar

evidenciada sua diligência no cumprimento dos deveres impostos, a lei não impede. E cessará,

com a extinção das obrigações ou com sua morte, porém nada impede que a família do

devedor a receba. Contra essa decisão, o síndico, qualquer credor habilitado e até mesmo o

representante do Ministério Público, poderão agravar (FAZZIO, 2006, p. 299).

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3.6.1 Bens não compreendidos na Falência

A falência só alcança os bens disponíveis. Os bens inalienáveis ou impenhoráveis não

são abrangidos. Tais bens são: os inalienáveis por força de lei; por ato voluntário; e os

absolutamente impenhoráveis.

Os bens inalienáveis por força de lei são os bens públicos e o bem de família15

,

compreendidos no atual Código Civil, em seus artigos:

Artigo 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial

são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a

lei determinar.

Artigo 1711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura

pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de

família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente

ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do

imóvel residencial estabelecida em lei especial.

São inalienáveis por ato voluntário, os bens gravados por testadores, como assim dispõe

o Código Civil de 2002 em seu artigo:

Artigo 1911. A cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de

liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade.

Os absolutamente impenhoráveis estão elencados nos artigos 649 e 650 do Código de

Processo Civil:

Artigo 649. São absolutamente impenhoráveis:

I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à

execução;

II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência

do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades

comuns correspondentes a um médio padrão de vida;

III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,

salvo se de elevado valor;

IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de

aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os

ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,

observado o disposto no § 3º deste artigo;

15

Nos termos da Lei 8.009 /90.

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V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou

outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;

VI - o seguro de vida;

VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas

forem penhoradas;

VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que

trabalhada pela família;

IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação

compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em

caderneta de poupança;

XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei,

por partido político.

Artigo 650. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e

rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados à satisfação de

prestação alimentícia.

I - os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis, salvo se destinados a

alimentos de incapazes, bem como de mulher viúva, solteira, desquitada, ou

de pessoas idosas;

II - as imagens e os objetos do culto religioso, sendo de grande valor.

Conforme Almeida (2006, p. 152) “Os bens inalienáveis, ainda que expressamente não

contenham cláusula de impenhorabilidade, são, também, absolutamente impenhoráveis, por

isso que inalienáveis”.

Nos termos do artigo 108, parágrafo quarto, da Lei 11.101/2005, “não serão arrecadados

os bens absolutamente impenhoráveis”.

3.7 Extinção das Obrigações do Falido

De acordo com o artigo 158, da atual Lei de Falência, extingue as obrigações do falido

com:

- o pagamento de todos os créditos;

- o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% dos créditos quirografários;

- o decurso do prazo de 5 anos, contados do encerramento da falência, se não tiver sido

condenado por crime previsto na Lei de falência; ou 10 anos, se tiver sido condenado.

Para Coelho (2008a, pp. 388 e 389),

As regras sobre reabilitação do falido também se aplicam, em tese, à

hipótese de falência de sociedade empresária. Mas não há nenhum interesse

em reabilitar pessoas jurídicas quebradas; em relação ao empresário

individual, entretanto, o quadro é diverso: para poder voltar a exercer

atividade empresarial como pessoa física, integrar sociedade limitada como

sócio ou exercer cargo de administrador de sociedade anônima, ele deve

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necessariamente requerer a sua reabilitação no juízo falimentar. Por essa

razão, só se costuma verificar, na prática, o procedimento de reabilitação

quando o falido era empresário individual ou se o representante legal da

sociedade empresária falida foi condenado por crime falimentar. A

reabilitação compreende a extinção das responsabilidades civis e penais do

falido.

3.8 Sujeição à Prisão

O falido está sujeito à prisão desde a declaração da falência, constados pelo juiz prova

de crime falimentar:

Artigo 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras

determinações:

[...]

VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses

das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de

seus administradores quando requerida com fundamento em provas da

prática de crime definido nesta Lei.

Além disso, faltando ao cumprimento dos deveres que lhe são impostos pela Lei

11.101/2005, responderá o falido pelo Crime de Desobediência, de acordo com o artigo 104,

parágrafo único.

De outro lado, as disposições penais da Lei de Falência e de Recuperação de Empresas

prevêem, na ocorrência de crimes falimentares, penas que variam da prestação de serviços à

comunidade à pena de reclusão, conforme previsto em seus artigos 168 a 178.

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CONCLUSÃO

O devedor insolvente, na antiguidade, respondia por suas obrigações com sua liberdade,

ocasionando, aprisionamento e escravização, e em alguns casos até mesmo com sua própria

vida.

Esse instituto foi evoluindo e se desenvolvendo gradativamente, sendo aprimorado com

o passar dos anos.

A atual lei de falência, objeto deste estudo, é um grande avanço ao nosso Direito

Empresarial, não abrangendo apenas o direito, mas também a Economia, pois a partir de sua

introdução, ampliou-se o Instituto Falimentar e gerou dois novos mecanismos jurídicos:

Recuperação Judicial e Extrajudicial, aumentando a abrangência e a flexibilidade nos

processos de recuperação de empresas.

O estado de falência ocorre quando, a pessoa que se encontra em insolvência ou crise

econômico-financeira, está insuscetível de recuperação judicial. Os pressupostos essenciais

são: o devedor, necessariamente ser empresário individual ou sociedade empresária; a

insolvência; e a sentença de falência.

Dessa forma, com a decretação de falência, através da sentença, fica, o falido, sujeito a

determinadas obrigações/deveres, estes que só serão extintos ou com o pagamento, ou com o

decurso do prazo de cinco anos, contados do encerramento da falência, se não tiver sido

condenado por crime previsto na Lei de falência; ou dez anos, se tiver sido condenado.

Além do mais, no decorrer de todo o processo falimentar, a lei de recuperação de

empresas prevê algumas hipóteses, na ocorrência de crimes falimentares, de penas que variam

da prestação de serviços à comunidade à pena de reclusão.

Contudo, este trabalho não pretendeu esgotar o tema aqui abordado, mas sim contribuir

com um futuro estudo, pois ampla é a busca pelo conhecimento.

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