Ed64 Fasc Seletividade Cap17

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    1/11

    30A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade

    O objetivo maior de um estudo de seletividade

    determinar os ajustes dos dispositivos de proteo, de

    forma que, na ocorrncia de um curto-circuito, opere

    apenas o dispositivo mais prximo da falta, isolando

    a menor poro do sistema eltrico, no menor tempo

    possvel e ainda protegendo os equipamentos e o

    sistema. Historicamente, a seletividade apareceu no

    comeo da dcada de 1950.

    A folha de seletividadePara que se possa fazer um estudo de seletividade,

    importante primeiro conhecer a folha de vericao

    grca de seletividade (em ingls conhecida como

    TCC Time Current Curves).

    A seletividade feita em um papel em escala

    bilogaritmica, em que so plotadas as curvas para a

    Por Cludio Mardegan*

    Captulo XVII

    A seletividade

    Figura 1 Escala bilogartmica utilizada em folhas de seletividade.

    vericao grca. A escala de tempo vai usualmente

    de 0.1 s a 1000 s.

    A escala de corrente vai normalmente de 0.5 A a

    10000 A, podendo ainda ser multiplicada por 10 ou por

    100. Assim, nas folhas, os espaamentos (1 a 10, 10 a

    100, 100 a 1000 e 1000 a 10000) se repetem na forma

    de dcadas. O espaamento de cada dcada xo,

    ou seja, a distncia entre 1 e 10 a mesma daquela

    entre 10 e 100, 15 e 150, 200 e 2000, etc.). A Figura1 apresenta um pedao da folha de seletividade

    mostrando os espaamentos normalmente anotados.

    Mesmo dispondo-se de um software para a

    elaborao das folhas de seletividade, saber trabalhar

    com a escala bilogartmica imprescindvel, pois,

    muitas vezes, necessrio levantar as curvas fornecidas

    pelos fabricantes.

    Para manipular a escala logartmica, necessitamos

    conhecer duas equaes: a primeira nos informa a

    distncia d(mm) de um determinado ponto a partir

    do incio de sua dcada correspondente e a segundafornece o valor que corresponde quela distncia na

    escala. Veja as equaes:

    Exemplo 1

    Ao receber uma curva de um fabricante, mediu-se

    log 10 10 D (mm)

    log 10 10 d (mm)

    d (mm) = D. log10

    N, ou

    N = 10d

    D

    Equao 1

    Equao 2

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    2/11

    31Apoio

    Figura 2 Escala bilogartmica utilizada em folhas de seletividade.

    a dcada de corrente e obteve-se 56 mm (D). Identicado um ponto

    na escala de corrente que est 10 mm (d) de distncia do incio da

    dcada 100, qual o valor da corrente?

    N = 10(10/56)= 1.5086 A.

    Como a medio inicia-se na dcada de 100, o valor real dacorrente ser:

    I = N x 100 = 150.86 A

    Seletividade amperimtricaA seletividade amperimtrica aquela que utilizada quando

    existe uma impedncia muito grande entre os pontos em que se

    est fazendo a seletividade. Neste caso, a corrente de falta vista

    pelo dispositivo de proteo montante muito maior que aquela

    vista pelo dispositivo de proteo instalado jusante. Enquadram-se

    aqui os dispositivos instantneos instalados no primrio detransformadores.

    Seletividade cronolgicaA seletividade cronolgica aquela realizada aplicando

    intervalos de tempo entre os dispositivos de proteo situados

    jusante e montante, de forma que se garanta que eles iro operar

    de forma seletiva e coordenada.

    Seletividade lgicaA seletividade lgica aplicada por meio de rels digitais que

    permitem que as unidades situadas mais prximas da falta possam

    elimin-la em um tempo muito pequeno, normalmente entre 50 ms

    e 100 ms como mostra a Figura 2.

    Em alguns casos no possvel utilizar temporizaes entre

    50 ms e 100 ms, uma vez que podem existir fusveis jusantee, assim, deve-se permitir que eles operem antes e o tempo total

    para extino do arco pode chegar at a ordem de 200 ms. Assim,

    quando ocorre este fato, o ajuste da unidade de sobrecorrente do

    rel deve ser de 250 ms. Neste caso, a temporizao dos rels

    montante ser de 100 ms.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    3/11

    32A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade A explicao da losoa da Figura 2 a seguinte:

    (a) As funes I>> so denidas para no dar trip por pick up.

    (b) Para um curto-circuito no ponto A, todos os rels 1, 2 e 3

    enxergam a falta.

    (c) A unidade I>> ento ativada e envia o bloqueio (funo ANSI

    68) para a unidade t>> do dispositivo imediatamente montante.

    (d) Todos os rels 1, 2 e 3 iniciam a contagem do tempo, porm,apenas o rel 1 opera, visto que os demais esto bloqueados,

    embora j estejam operados.

    (e) A funo t>> do rel deve operar o disjuntor correspondente,

    no caso, o 52-1.

    (f) Aps contado o tempo ajustado em CBF (Circuit Breaker Failure

    normalmente em torno de 200 ms), se o disjuntor 52-1 no abriu,

    o bloqueio de t>> do rel 1 retirado, habilitando a funo t>> a

    atuar e enviar o sinal de trip sem retardo ao disjuntor 52-2, visto

    que o rel j estava operado.

    (g) Caso o disjuntor 52-2 falhe, a situao descrita em (f) se repete,

    agora para o disjuntor 52-3.

    Algumas prticas para um bom projeto deseletividade lgicaAs seguintes prticas so fundamentais para um bom projeto de

    seletividade lgica:

    Ajustar o pick-up dos rels da seletividade lgica acima da

    somatria de corrente de carga mais a corrente de partida do maior

    motor da barra.

    Ajustar o pick-up dos rels da seletividade lgica acima da

    corrente de contribuio para o curto-circuito dos motores quecam jusante do rel, no nvel de tenso do motor e vericar

    tambm o valor no primrio do transformador.

    Ajustar o pick-up dos rels da seletividade lgica acima da

    corrente inrush dos transformadores.

    Habilitar as funes de sobrecorrente utilizadas na seletividade

    lgica com caracterstica de tempo denido.

    Utilizar o pick-up da unidade temporizada (I>>) para bloquear a

    funo t>> da proteo montante.

    Utilizar a temporizao (t>>) para desligar o disjuntor mais

    prximo da falta.

    Utilizar o breaker failure para retirar o bloqueio do relcorrespondente.

    Utilizar todos os contatos dos rels de sada vinculados

    seletividade lgica com selamento ajustado para unlatched.

    Quando os rels no permitem a programao do desligamento

    pelo pick-up e pela temporizao, constitui-se um bom

    procedimento para que se possa fazer seletividade lgica, utilizar

    rels com trs unidades de sobrecorrente de fase e trs de terra, pois

    assim utiliza-se uma unidade para a seletividade convencional,

    uma unidade para bloqueio e outra para trip. Quando no for

    possvel, interessante que o rel possua break failure.

    Utilizar as funes I> e t> para fazer a seletividade convencional,

    bem como I>>>, quando disponvel.

    Quando se faz seletividade entre primrio e secundrio de

    transformador e os nveis de curto-circuito cam muito prximos,

    utilizar um tempo de seletividade lgica menor (50 ms, por

    exemplo), pois, neste caso, a corrente de falta ainda conter

    assimetria e, normalmente, o X/R do primrio maior que o do

    secundrio e, assim, as correntes que cada dispositivo enxergar noinstante de falta ser diferente.

    Seletividade convencionalA seletividade convencional consiste da aplicao dos recursos

    da seletividade cronolgica e/ou da amperimtrica.

    Escolha da caracterstica do rel de sobrecorrente

    A escolha da caracterstica de um rel de sobrecorrente envolve

    uma anlise, na qual se deve observar, no mnimo, o seguinte:

    Se a proteo de fase; Se a proteo de terra;

    Quando envolve transformador, a sua conexo;

    A caracterstica dos dispositivos de proteo (fusveis, rels,

    disjuntores de BT) que esto jusante;

    Os equipamentos que esto sendo protegidos (I2t).

    Caracterstica de tempo denido

    (a) Proteo de fase - Os rels de tempo denidos preferencialmente

    no devem ser utilizados para proteo temporizada de fase em

    todos os nveis, uma vez que, em um sistema eltrico, a proteo

    se inicia na carga e, como envolve muitas outras protees atchegar entrada (vrios nveis), preciso existir certo intervalo de

    coordenao entre elas. Se houver mais de trs nveis, chega-se

    com tempos superiores a 1 segundo na entrada, o que no um

    bom procedimento.

    (b) Proteo de terra -Para proteo de terra, em sistemas industriais,

    a caracterstica de tempo denido excelente, considerando que:

    A maior parte dos transformadores em sistemas industriais tem

    conexo tringulo-estrela.

    Normalmente, a cada delta de transformador, um novo sistema deproteo de terra se inicia e o problema relatado para a proteo de

    fase (item (a)) no se aplica.

    Tendo em vista que faltas por arco, que so extremamente

    destrutivas, podem atingir valores que normalmente variam entre

    20% e 100% da falta franca, com a utilizao do rel de tempo

    denido obtm-se um tempo xo e praticamente independente da

    corrente dentro desta faixa.

    Caracterstica de tempo inverso

    (a) Proteo de fase - Os rels com caracterstica extremamente

    inversa so muito rpidos para faltas elevadas e muito lentos para

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    4/11

    34A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade faltas de baixo valor ou sobrecargas. Coordenam muito bem com

    fusveis e com o I2t dos equipamentos.

    Os rels com caracterstica normal inversa so muito lentos para

    faltas elevadas e rpidos para faltas de baixo valor ou sobrecargas.

    No coordenam adequadamente com fusveis/elos e com o I2t dos

    equipamentos.

    Os rels com caracterstica muito inversa apresentam atuaoadequada para faltas elevadas e razovel para faltas de baixo valor

    ou sobrecargas. Coordenam bem com fusveis e com o I2t dos

    equipamentos.

    Assim, a caracterstica muito inversa se constitui uma alternativa

    atrativa para a proteo de sistemas eltricos industriais.

    (b) Proteo de terra - Para a proteo de terra, entre os rels de

    tempo inverso o que apresenta mais vantagens o normal inverso,

    porm o de tempo denido ainda melhor.

    Intervalos de coordenaoChama-se intervalo de coordenao o intervalo de tempo que

    garante que a proteo mais prxima da falta ir operar primeiro e

    que a proteo situada imediatamente montante no ir operar, a

    menos que a proteo mais prxima falhe.

    Com o advento das caixas de calibrao de rels, que garantiam

    o tempo de operao dos rels, pode-se baixar o valor do intervalo

    de coordenao, como segue:

    Coordenao entre rels de sobrecorrente em srie

    Tempo de interrupo do disjuntor (8 ciclos) ................ 133 ms

    Tolerncia do fabricante/erro/overtravel........................100 msFator de segurana...........................................................67 ms

    Intervalo de coordenao 300 ms

    Para rels estticos, o overtravel substitudo pelo overshoot

    e este tempo reduzido para 50 ms. Assim, pode-se obter um

    intervalo de coordenao de 0.25 s.

    A Tabela 1 traz os valores praticados de intervalos de

    coordenao.

    Importante:

    Os rels de entrada de painis devem ser ajustados no mximo

    em 1 segundo, procurando no passar este valor, pois todos os

    Rel Esttico

    Rel Eletromecnico

    Disjuntor BT

    Fusvel

    0.25 s

    0.30 s

    0.20 s

    0.20 s

    0.30 s

    0.30 s

    0.30 s

    0.30 s

    0.20 s

    0.20 s

    Nota 1

    Nota 3

    0.20 s

    0.20 s

    Nota 2

    Nota 4

    Tabela 1 ValoresdeinTerValodecoordenaopraTicados

    INTERVALOS DE COORDENAO

    Dispositivo Montante

    Dispositivo Jusante

    Rel Esttico Rel Eletromecnico Disjuntor BT Fusvel

    Notas:

    1 - Basta a parte inferior da curva do disjuntor a montante car acima do jusante.

    2 - Basta a parte inferior da curva do disjuntor car acima da curva de tempo mximo de fuso.

    3 - Basta a curva tempo mnimo de fuso car acima da parte superior da curva do disjuntor.

    4 - necessrio que o I2t do fusvel a jusante seja menor que o do situado a montante.

    equipamentos so dimensionados para a corrente de curto-circuito

    durante 1 segundo.

    Seletividade lgica

    - Entre dispositivos que se comunicam na seletividade lgica -

    0.050 s

    - Entre dispositivos que no se comunicam na seletividadelgica - tdj + tc

    Em que: tdj - Tempo do dispositivo jusante

    tc - Intervalo de coordenao (0.050 s)

    Conceito de maior sada

    Este conceito importante para entender como coordenar um

    dispositivo montante com outro jusante.

    (a) Elementos em srie

    O exemplo a seguir ilustra o conceito:

    Dado o sistema apresentado na Figura 3, com qual dispositivo orel 3 tem de ser seletivo, com o 1 ou com o 2?

    Soluo:

    Para a anlise, deve-se olhar o grfico tempo versus

    corrente.

    Falta no ponto A:

    Pelo grfico t x I, uma falta no ponto A, o rel 2 tira primeiro.

    Falta no ponto B:

    Pelo grfico t x I, uma falta no ponto B, s o rel 2 enxerga

    e tira primeiro.

    Concluso:

    O rel 3 deve ser seletivo com o rel 2. Mesmo havendo

    um erro de ajuste do rel 1, para falta em qualquer ponto,

    o rel 2 tira primeiro. bvio que o erro de ajuste foi feito

    propositalmente. Caso o rel 1 estivesse abaixo do 2, para uma

    falta no ponto A, o rel 1 tiraria primeiro. Para uma falta no

    Figura 3 Conceito de maior sada para dispositivos de proteo em srie.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    5/11

    35Apoio

    Figura 4 Esquema unilar para um dispositivo de entrada e vrias sadas.

    Figura 5 Curva tempo versus corrente (a) dos dispositivos de sada e

    (b) da envoltria da maior sada.

    ponto B, o rel 2 que tiraria e, assim, o rel 3, da mesma forma

    que, no caso errado, deve ser seletivo com o rel 2.

    Ou seja:

    Quando dois dispositivos de proteo esto em srie,

    deve-se fazer a seletividade com aquele imediatamente

    jusante, independentemente dos ajustes.

    Dispositivo geralversus dispositivos paralelos jusanteRegra:

    O dispositivo de entrada deve fazer seletividade com a

    envoltria composta pelas curvas de cada sada. As Figuras 4 e

    5 ilustram a situao.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    6/11

    36A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade Onde aplicar o intervalo de coordenao?

    (a) Regra

    Deve-se aplicar o intervalo de coordenao no valor da

    corrente de curto-circuito vista pelo dispositivo analisado, ou seja,

    curto trifsico (transitrio para dispositivos temporizados) para a

    seletividade de fase e curto-circuito fase-terra para a seletividade

    de terra. A Figura 6 ilustra esta regra.

    (b) Particularidades

    Circuitos operando em paralelo + sadas

    Deve-se aplicar o intervalo de coordenao ao valor da corrente de

    curto-circuito vista por cada dispositivo.

    Curto-circuito bifsico no secundrio de transformador tringulo-

    estrela

    Deve-se aplicar o intervalo de coordenao entre o valor de

    Icc2 (dispositivo do secundrio) e o valor de Icc3 (dispositivo do

    primrio).

    Problemas de seletividade em funo de tempos de

    resetQuando se tem um rel de disco de induo montante de um

    rel digital jusante, pode-se perder a seletividade se o tempo de

    reset do rel digital for instantneo, e a falta for intermitente e/ou

    houver religamento enquanto ocorre o reset. Veja a Figura 9.

    O tempo de reset do rel de disco de induo linear (devido

    constante de mola). Como o rel digital tem reset instantneo, se a

    falta for intermitente ou houver religamento, o rel digital jusante

    reseta e inicia a contagem dos tempos ao passo que o rel de disco

    de induo ainda est com o disco no meio do caminho e recomea

    a contagem de tempo a partir daquela posio intermediria, o

    Figura 6 Aplicao do intervalo de coordenao na corrente de

    curto-circuito: (a) esquema unilar e (b) curva tempo versus corrente

    correspondente.

    Figura 7 Aplicao do intervalo de coordenao na situao de duas

    entradas e uma sada.

    Figura 8 Aplicao do intervalo de coordenao entre a proteo

    primria e secundria de um transformador tringulo (primrio)

    estrela (secundrio) sob curto-circuito bifsico.

    Figura 9 Ilustrao da perda de seletividade em funo do tempo de

    reset entre rels digitais e eletromecnicos.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    7/11

    38A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade que, obviamente, atuar num tempo inferior ao previsto, podendo

    implicar perda de seletividade.

    Onde assumir compromissos de seletividadeAps fazer um estudo de seletividade, algumas vezes, acaba-se

    chegando com tempos superiores a 1 segundo no secundrio dos

    transformadores e/ou nas entradas. Nestas situaes, devem sertomadas aes no sentido de reduzir estes tempos. Uma tcnica

    utilizada consiste em assumir compromissos de seletividade que

    podem e, neste caso, devem ser assumidos, pois a maior parte dos

    equipamentos do sistema (TCs, painis, etc.), dimensionada para

    a corrente de curto-circuito durante 1 segundo.

    Os melhores locais para se assumir os compromissos so os

    alimentadores e os transformadores, pois se for a proteo jusante

    ou montante que operar primeiro desliga-se o mesmo circuito.

    Entretanto, preciso pensar tambm no pessoal de operao

    e manuteno da planta, vericando qual o melhor local para se

    adotar este compromisso (em funo da distncia, do tempo dereenergizao, etc.

    Onde utilizar outros grupos de ajustesMuito se tem falado a respeito dos rels digitais e dos IEDs,

    entretanto, pouco se fala da aplicao de certos recursos que eles

    possuem, tal como os grupos de ajustes.

    A maior parte dos rels digitais possui mais de um grupo

    de ajustes. O grupo de ajuste um conjunto de parmetros de

    todas as funes. Ter outro ou outros grupos de ajustes implica

    disponibilizar outro conjunto ou conjuntos de ajustes que sejam

    rplica do primeiro, para todas as funes que o rel dispe.Existem casos em que interessante utilizar outros grupos

    de ajustes.

    (a) Paralelismo de gerador com a concessionria

    Um desses casos ocorre quando se tem geradores que podem

    operar em paralelo com a rede, por exemplo, em horrio de ponta.

    As concessionrias normalmente exigem que a funo 67

    esteja ativada quando houver paralelismo. Assim, para evitar

    atuaes indevidas da funo 67 (quando se tem, por exemplo,

    capacitores xos), so feitos dois grupos de ajustes (Grupo A e

    Grupo B). Quando a gerao est fora, trabalha-se com as funesdo Grupo A (que no tem a funo 67 ativada). Quando entra o

    gerador, ativa-se o segundo grupo de ajustes (Grupo B) que contm

    os ajustes da funo 67.

    (b) Transformadores que suprem inversores com mais

    de 24 pulsos

    Muitas vezes se faz necessrio dispor de mais de um grupo

    de ajustes, visto que necessrio permitir a energizao do

    transformador e, ao mesmo tempo, proteger as correntes indicadas

    pelos fabricantes dos inversores. Na energizao, o ajuste da

    unidade instantnea permite circular a corrente de energizao do

    transformador (corrente inrush) no Grupo A.

    Aps a energizao do transformador, comuta-se a proteo

    para o Grupo B, de forma que a unidade instantnea que ajustada

    para um valor bem inferior ao da corrente inrush e que proteja o

    inversor conforme prescrio do fabricante.

    (c) Sistemas que possuem condies operacionais quemudem bastante o valor da corrente de curto-circuito e/

    ou de carga

    Existem situaes em que o nvel de curto-circuito e/ou de carga

    muda substancialmente, dependendo da condio operacional.

    Assim, podem-se fazer dois grupos de ajustes, um para a condio

    de valor inferior de corrente de falta e/ou de carga e outro grupo

    para o valor superior.

    Locais de baixa corrente de regime e elevado nvel

    de curto

    Conseguir denir TCs + rels para sistemas em que a corrente de

    regime baixa e o nvel de curto-circuito alto, muitas vezes,torna-se uma tarefa rdua. Tem-se que conciliar:

    Faixa de ajuste do rel

    Corrente de curta-durao do rel

    Ajuste da unidade instantnea

    Saturao do TC

    Locais que tipicamente apresentam estas caractersticas so

    os sistemas de 23 kV, como um sistema de 23 kV que supre um

    transformador de 300 kVA e nvel de curto-circuto de 500 MVA.

    A corrente nominal do transformador 7,5 A. A corrente de curto-circuito de 12.551 A. A faixa inferior de ajuste dos rels de

    sobrecorrente normalmente de 0.1 In, ou seja, 0,5 A. Para car

    dentro da faixa de ajuste, a relao deveria ser de 7,5/0,5 = 15

    75-5 A. O ajuste seria de 0.12 In = 0,6 A. A de curto-circuito

    no secundrio seria 12.551/15 = 836, ou seja, o rel digital que

    apresenta uma suportabilidade trmica de 500 A 1 s no suporta

    a corrente. Outro problema seria a saturao do rel.

    As seguintes alternativas que se apresentam nessa situao so:

    Utilizar IEDs com seis entradas de corrente (trs para a unidade

    temporizada conectada a TCs de baixa relao e trs para a unidadeinstantnea conectada a TCs de alta relao).

    Utilizar fusveis.

    Otimizao dos estudos de seletividade para aproteo de pessoasNos primrdios dos sistemas eltricos em corrente

    alternada, o foco foi a proteo do sistema. Na dcada de 1950,

    iniciou-se uma nova linha filosfica que, alm da proteo,

    devia haver seletividade. Com o advento das faltas por arco

    iniciaram-se os papers, o que culminou, em 1978, com a

    incluso da seo 230-95 no NEC, entretanto, hoje somente

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    8/11

    39Apoio

    isso no mais suficiente, pois o foco de proteo de sistemas

    e equipamentos foi expandido e deve-se tambm proteger as

    pessoas.

    O que mais importante na eliminao da falta: o tempo

    ou a corrente?

    Para a proteo das pessoas, o importante diminuir a energiaincidente. Sabe-se da eletrotcnica que:

    Energia = Potncia . Tempo Potncia I2 Energia I2 . t

    O que mais importante: a reduo do tempo ou da

    corrente?

    A corrente de arco possui um valor menor do que as

    faltas francas, entretanto, so mais destrutivas. E o tempo atua

    proporcionalmente na energia. Veja a Figura 10.

    Assim, ambos so importantes. A prpria evoluo do

    tipo de sistema de aterramento demonstra que importantea reduo do valor da corrente de falta terra. O sistema de

    aterramento, por meio de resistor de baixo valor, surgiu para

    diminuir os danos em caso de faltas terra no estator de

    mquinas girantes para preservar a chaparia das mquinas.

    Como o tempo e a corrente so importantes, a integrao

    do estudo de curto-circuito, de seletividade e de proteo para

    que se possa diminuir a energia incidente fundamental.Figura 10 Importncia do tempo de eliminao da falta.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    9/11

    40A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade Tcnicas para melhorar a proteo de pessoas contra arco

    So apresentadas a seguir algumas tcnicas para melhorar

    um sistema no que tange proteo das pessoas quanto aos

    riscos do arco eltrico:

    (a) Ajuste adequado do disjuntor de baixa tenso (ISTD < IArco);

    (b) Utilizao de disjuntor de baixa tenso com ISTD de faixa maisbaixa;

    (c) Substituio de rels eletromecnicos por digitais;

    (d) Utilizao de rels digitais com ajustes otimizados;

    (e) Utilizao de seletividade lgica com rels digitais;

    (f) Utilizao de transformadores de fora de no mximo 2000

    kVA na baixa tenso;

    (g) Utilizao de rels de arco;

    (h) Utilizao de bottoms sensores de arco acoplado a rels de

    arco para operadores durante as manobras;

    (i) Utilizao de um segundo grupo de ajuste mais baixo quando

    a planta est parada para manuteno;(j) Utilizao de disjuntores com menor tempo de interrupo;

    (k) Utilizao da caracterstica de tempo denido para a proteo

    de terra;

    (l) Limitao da corrente de falta terra.

    (a) Ajuste adequado do disjuntor de baixa tenso (ISTD < IArco)

    A Figura 11 ilustra a situao. Antes da utilizao do ajuste da

    corrente de STD (Short Time Delay) abaixo da corrente arco, o tempo

    de atuao da proteo Ta (tempo antes) e, com a implantao

    do ajuste abaixo da corrente de arco, o tempo reduz a Td (tempo

    depois). Como o Td < Ta, a energia incidente ca mais baixa e,consequentemente, aumenta o nvel de proteo das pessoas.

    (c) Substituio de rels eletromecnicos por digitais

    A Figura 13 ilustra a aplicao. A utilizao de rels digitais,

    alm de permitir um menor intervalo de coordenao entre rels,

    leva a vantagem dos diais de tempo poderem ser ajustados em

    steps da ordem de 0.01. J nos rels eletromecnicos, os stepsde ajustes so da ordem de 0.5.

    (d) Utilizao de rels digitais com ajustes otimizados

    A Figura 14 mostra a aplicao. Sem a utilizao desta tcnica (por

    exemplo, uma empresa sem especializao), para o valor da corrente

    de arco, os tempos de atuao dos dispositivos de proteo seriam T3

    e T3 para os rels 2 e 3, respectivamente. Com a utilizao da tcnica

    de ajuste dos trs estgios, os ajustes passam a ser T2 e T3 e o ganho

    muito grande, obviamente, diminuindo o tempo, a energia incidente e

    os danos aos equipamentos e s pessoas.

    (b) Utilizao de disjuntor de baixa tenso com ISTD de faixa

    mais baixa

    A Figura 12 ilustra a situao. Os disjuntores de baixa tenso

    mais antigos possuem faixa de corrente de STD da ordem de

    (4 a 10) x In, (4 a 12) x In. A utilizao de disjuntores com

    disparadores eletrnicos/digitais abaixa a faixa inferior para

    correntes da ordem de 4 x In para 1 a 2 x In.

    Figura 11 Ajuste da corrente de Short Time Delay abaixo da corrente

    de arco.

    Figura 12 Utilizao de disjuntor de baixa tenso com ISTD de faixa

    mais baixa.

    Figura 13 Ganho no tempo com a substituio de rels eletromecnicos

    por digitais.

    Figura 14 Ajustes com rels digitais utilizando-se trs estgios.

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    10/11

    42A

    poio

    Proteo

    e

    selet

    ividade (e) Utilizao de seletividade lgica com rels digitais

    A Figura 15 ilustra a aplicao. Como pode ser observado nesta

    gura, os tempos da seletividade lgica so extremamente menores

    que os da seletividade convencional (cronolgica).

    (f) Utilizao de transformadores de fora de, no mximo, 2.000

    kVA na baixa tensoA utilizao de transformadores maiores que 2.000 kVA para

    suprir cargas/painis de baixa tenso implica elevadas correntes de

    falta e, consequentemente, elevadas correntes de arco, o que se

    traduz em danos em caso de falta por arco, tanto para o equipamento,

    como para o sistema e para as pessoas. Adicionalmente, potncias

    de 2.000 kVA vo implicar disjuntores/painis de custo bem mais

    elevado devido capacidade de interrupo/correntes trmicas e

    dinmicas dos equipamentos.

    (g) Utilizao de rels de arco

    A utilizao de rels de arco ir auxiliar na diminuio dotempo de eliminao da falta e, consequentemente, ir auxiliar

    tambm na diminuio dos danos aos equipamentos, ao sistema

    e s pessoas e ainda no time to repair, que signica menor

    tempo para restabelecer a energia na planta e a recolocao do

    sistema em marcha. Os tempos envolvidos nas sadas digitais

    dos rels de arco so da ordem de 3 ms a 5 ms e as sadas a rels

    so da ordem de 15 ms.

    (h) Utilizao de bottoms sensores de arco acoplado a rels de

    arco para operadores durante as manobras

    Com a utilizao de rels de arco, possvel equipar osoperadores com bottoms que so colocados em seus uniformes e

    ligados aos rels de arco. Quando o operador vai fazer a manobra

    no painel, no caso de arco, o sensor fotoeltrico do bottom

    sensibilizado e comanda o desligamento do rel de arco.

    (i) Utilizao de um segundo grupo de ajuste mais baixo quando a

    planta est parada para manuteno

    Durante as paradas para manuteno, o risco de acidente

    normalmente acaba aumentando devido elevada quantidade de

    pessoas externas planta. A programao do rel com outro grupo

    de ajustes mais baixo constitui-se uma tcnica eciente, pois, em

    Figura 15 Utilizao de seletividade lgica com rels digitais.

    caso de curto-circuito, o tempo de eliminao ser bem mais rpido

    e, consequentemente, o nvel de proteo de pessoas ir aumentar.

    (j) Utilizao de disjuntores com menor tempo de interrupo

    A utilizao de disjuntores com menor tempo de interrupo

    diminui o tempo de eliminao e, consequentemente, a energia

    incidente, o dano aos equipamentos, ao sistema e s pessoas.

    (k) Utilizao da caracterstica de tempo defnido para a proteo

    de terra

    Como mais de 90% das faltas em sistemas industriais iniciam-se

    com faltas terra, a utilizao de rels de tempo denido para a

    proteo de faltas terra uma forma eciente de se proteger o

    sistema, visto que a corrente de arco sempre menor que a da

    falta franca e, assim, a utilizao de rels de tempo inverso apenas

    aumentaria o tempo e a energia incidente.

    (l) Limitao da corrente de falta terraUtilizao de resistores de aterramento de alto valor na baixa

    tenso e de baixo valor em mdia tenso reduzem drasticamente

    a intensidade da corrente de falta e tambm a energia incidente.

    Assim, essas tcnicas esto sendo cada vez mais aplicadas.

    Adicionalmente, no caso de aterramento por resistor de alto valor,

    a falta no precisa ser eliminada imediatamente, visto que o valor

    da corrente de falta muito baixo.

    Conclusesa) Apenas ter software de renome internacional de curto-circuito

    e seletividade e possuir um estudo de curto-circuito e seletividadeno garante um estudo que protege os equipamentos, o sistema e

    as pessoas. Assim, importante contratar empresas especializadas

    com prossionais experientes.

    b)Com o emprego de rels digitais (que possuem pelo menos trs

    estgios de sobrecorrente) pode-se otimizar (diminuir) os ajustes

    de forma que se obtenha um tempo menor de atuao para a

    corrente de arco.

    c) A implementao de seletividade lgica por meio da utilizao

    de rels digitais/IEDs apresenta resultados mais satisfatrios do que

    a seletividade convencional no que tange energia incidente.

    d) preciso buscar sempre tcnicas para melhorar os ajustes/grupos de ajustes, quando em manuteno, para diminuir a

    energia incidente.

    e) Embora no se consiga visualizar por intermdio dos softwares

    que calculam as energias incidentes segundo o IEEE Std 1584,

    medidas que atenuam as correntes de falta terra, como a

    utilizao de resistores de aterramento de alto valor em sistemas

    de baixa tenso e de baixo valor em sistemas de mdia tenso,

    devem ser buscadas e incentivadas, visto que mais de 90% das

    faltas iniciam-se com faltas terra em sistemas industriais. Dessa

    maneira, so reduzidos os danos aos equipamentos, ao sistema

    e s pessoas. Esta tcnica, associada reduo dos tempos das

  • 7/31/2019 Ed64 Fasc Seletividade Cap17

    11/11

    43Apoio

    protees e dos dispositivos de interrupo, ir atingir um grau de

    proteo excelente, alm de muitas vezes evitar que a falta evolua

    para uma falta trifsica.

    f) As normas atuais utilizam o curto-circuito trifsico tomando

    como premissa que as faltas terra evoluem rapidamente para as

    trifsicas. No entanto, as normas deveriam tambm ser revistas

    de maneira a inserir as faltas terra, assim, seria possvelvisualizar os benefcios que se obtm do fato de se reduzir o

    valor da falta terra, bem como os respectivos tempos dos rels

    de terra.

    g) Tem-se observado que muitos painis acabam no suportando

    as presses desenvolvidas dentro dos painis. As normas atuais

    devem tambm implementar requisitos mnimos para que as

    presses desenvolvidas internamente aos painis quem em

    limites que no causem danos aos trabalhadores.

    h) Sugere-se aos fabricantes de disjuntores de baixa tenso para

    que implementem mais de um grupo de ajustes nos rels dos

    disparadores eletrnicos, para que em caso de manutenopermita a alternncia de forma automtica e independente das

    pessoas, o que evita erros e melhora a performance do sistema

    como um todo.

    i) As normas brasileiras deveriam ser mais enfticas e explcitas

    quanto obrigatoriedade de utilizao de placa de advertncia

    nos painis, contendo o nvel de energia incidente e os

    Equipamentos de Proteo Individual (EPIs) recomendados.

    j) A utilizao de painis prova de arco est hoje muito mais

    acessvel e assim deve-se conscientizar os projetistas, os EPCistas

    e os investidores do custo-benefcio desta escolha.

    k) A utilizao de bottoms sensores de arco no uniforme dos

    operadores em atividades de manobra ou insero de disjuntores

    extraveis ir minimizar o tempo de exposio do operador em

    caso de falta por arco.l) Deve haver maior conscientizao das empresas,

    especialmente da alta direo, de forma que as manutenes

    possam ser realizadas com zero kV (desenergizadas). A vida

    deve estar acima dos valores econmicos.

    *CLUDIO MARDEGAN engenheiro eletricista formado pela Escola Federalde Engenharia de Itajub (atualmente Unifei). Trabalhou como engenheiro deestudos e desenvolveu softwares de curto-circuito, load ow e seletividade

    na plataforma do AutoCad. Alm disso, tem experincia na rea de projetos,engenharia de campo, montagem, manuteno, comissionamento e start

    up. Em 1995 fundou a empresa EngePower Engenharia e Comrcio Ltda,especializada em engenharia eltrica, benchmark e em estudos eltricos noBrasil, na qual atualmente scio diretor. O material apresentado nestesfascculos colecionveis uma sntese de parte de um livro que est para ser

    publicado pelo autor, resultado de 30 anos de trabalho.

    FIMEncerramos nesta edio o ascculo sobre Proteo e

    seletividade. Confra todos os artigos desta srie em www.osetoreletrico.com.br

    Dvidas, sugestes e comentrios podem ser encaminhados parao e-mail [email protected]