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Universidade do Minho Instituto de Educação Elaine Jesus Alves março de 2017 Formação de professores, Literacia Digital e Inclusão Sociodigital: Estudo de caso em curso a distância da Universidade Federal do Tocantins Elaine Jesus Alves Formação de professores, Literacia Digital e Inclusão Sociodigital: Estudo de caso em curso a distância da Universidade Federal do Tocantins UMinho|2017

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Universidade do MinhoInstituto de Educaccedilatildeo

Elaine Jesus Alves

marccedilo de 2017

Formaccedilatildeo de professores Literacia Digitale Inclusatildeo Sociodigital Estudo de casoem curso a distacircncia da UniversidadeFederal do Tocantins

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017

Elaine Jesus Alves

marccedilo de 2017

Formaccedilatildeo de professores Literacia Digitale Inclusatildeo Sociodigital Estudo de casoem curso a distacircncia da UniversidadeFederal do Tocantins

Trabalho efetuado sob a orientaccedilatildeo doProf Doutor Bento Duarte da Silva

Tese de Doutoramento em Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Especialidade de Tecnologia Educativa

Universidade do MinhoInstituto de Educaccedilatildeo

v

Dedico essa tese aos meus pais Pedro e Helena acircncoras que me mantiveram firme apesar das tempestades

E aos meus filhos Camilla Keven e Joatildeo minhas razotildees para seguir em frente

vii

Agradecimentos

Metaforicamente percebi que o doutorado constitui-se de uma longa jornada de trem da qual

passamos por diversas estaccedilotildees cujo percurso definido nos permite desfrutar a companhia de pessoas

que natildeo nos deixam solitaacuterios nesta viagem

Primeiro agradeccedilo agrave Deus sempre comigo nos momentos mais difiacuteceis da viagem quando achava que

natildeo chegaria ao destino Ele me fez acreditar que era possiacutevel

Aos meus pais Pedro e Helena exemplos de vida que me ensinaram valores como a honestidade

diligecircncia responsabilidade e perseveranccedila

Aos meus fllhos Camilla Keven e Joatildeo que sentiram a minha ausecircncia em alguns momentos mas

entenderam e me motivaram a continuar

Aos meus irmatildeos Cleidson Pedro Paulo e Cleciane que sempre me apoiaram e incentivaram a nunca

desistir

Ao professor Bento Silva meu orientador nesse percurso grata pela paciecircncia parceria e apoio na

construccedilatildeo da tese

A Nuno companheiro no final desta jornada

A Joseacute Lauro Martins por me apresentar agrave Universidade do Minho

A Universidade do Minho pela acolhida

A Universidade Federal do Tocantins pela oportunidade de desenvolvimento profissional

A equipe da Diretoria de Tecnologias Educacionais em especial os professores Moises Arantes e

Marcelo Leineker pelo apoio na pesquisa

A todos os alunos do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT que participaram do estudo

A todos os amigos e amigas que conheci neste percurso e que de alguma forma contribuiacuteram para a

conclusatildeo desta jornada dentre estes em especial a amiga Dorcas Weber

ix

Sonhar mais um sonho impossiacutevel Lutar quando eacute faacutecil ceder

Vencer o inimigo invenciacutevel Negar quando a regra eacute vender

Sofrer a tortura implacaacutevel Romper a incabiacutevel prisatildeo

Voar num limite improvaacutevel Tocar o inacessiacutevel chatildeo

Sonho impossiacutevel J Darion e M leighversatildeo de Chico Buarque e Ruy Guerra 1972 (dedicado aos professores que todos dias rompem barreiras para sobreviver e educar na sociedade em rede)

xi

Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins

Resumo

No cenaacuterio do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital em que os alunos usam cada vez mais cedo os artefatos tecnoloacutegicos e desenvolvem naturalmente habilidades para seu uso urge a necessidade do professor investir na criaccedilatildeo de competecircncias suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuaccedilatildeo efetiva no manuseio fluente das miacutedias e aplicaacute-las criativamente na sua praacutetica pedagoacutegica junto a seu alunado Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo docente teriam o papel de preparar os professores para tirarem proveito efetivo do potencial das Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC) no que diz respeito a construccedilatildeo do conhecimento dos alunos Nas ultimas deacutecadas poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de professores fomentaram cursos de formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia para professores em serviccedilo O contato direto destes professores com as tecnologias pressupotildee que estas formaccedilotildees deveriam proporcionar aos mesmos maiores habilidades e competecircncias neste campo o que os tornariam habilitados para fazerem uso das TDIC na sua praacutetica pedagoacutegica

Portanto este estudo busca compreender as implicacircncias que uma formaccedilatildeo docente a distacircncia pode ter na percepccedilatildeo do professor diante das tecnologias presentes nas escolas em especial os dispositivos moacuteveis nas matildeos dos seus alunos durante as aulas O estudo parte do pressuposto que a formaccedilatildeo de professor que desenvolve habilidades para a literacia digital os introduz na sociedade em rede e por consequecircncia gera sua inclusatildeo sociodigital Neste sentido a discussatildeo teoacuterica do trabalho parte de trecircs macros categorias sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital O texto foi redigidido usando a analogia da rede que integra liga e conecta as pessoas em uma grande teia mas que ao mesmo tempo exclui eou marginaliza os que natildeo tecircm condiccedilotildees plenas de estarem ligados a ela

O objeto de investigaccedilatildeo foi o curso de graduaccedilatildeo em Fiacutesica na modalidade a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins Foram selecionados como amostra os cursistas matriculados entre 2010 e 2012 totalizando 32 alunos Destes a maioria (51) atua ou jaacute atuaram como professores na rede puacuteblica de ensino A pesquisa de cunho qualitativo trata-se de um estudo de caso e os instrumentos metodoloacutegicos foram questionaacuterios (sondagem do perfil de uso de tecnologias no campo cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica) e entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender mais aprofundamente as percepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos dois campos

Sobre o uso das TDIC no cotidiano o estudo constatou que os participantes as utilizam de forma predominantemente elementar e baacutesica As atividades mais complexas que exigem maior grau de literacia digital encontram resistecircncia do uso mesmo pelo desconhecimento ou despreparo Os dados levantandos nos questionaacuterios e as percepccedilotildees apreendidas nas entrevistas apontaram que os professores da amostra fazem um uso limitado dos recursos tecnoloacutegicos na sua praacutetica pedagoacutegica Utilizam as tecnologias num vieacutes de repositoacuterio e reproduccedilatildeo de conteuacutedos e quase nunca interagem com seus alunos por meio de suporte tecnoloacutegicos fora dos momentos de aula

No entanto constatou-se que estes professores tatildeo somente reproduzem na sua praacutetica docente o modelo da formaccedilatildeo a distacircncia que participam conteudista e transmissivo A formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital foi apontada no estudo como a porta de entrada na rede para os professores que ainda encontram resistecircncia em utilizar as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

xiii

Teacher training Digital Literacy and Sociodigital Inclusion an ongoing case study at a distance from the Federal University of Tocantins

Abstract

In the world scenery connected in digital communication networks when students use more often and earlier technology artefacts and natural develop skills to use them urge the necessity of teachers to invest themselves in creation of competencies that will allow them to have an effective actuation in medias and apply them creatively in pedagogic practice Meanwhile academic courses will have the objective to prepare the professor to effectively profit from the potencial of digital comunication technologies and information (TDIC) when we talk about consolidation of students knowledge In the last decades public politiques of teachers formation fomented a modadity of distance learning courses for teachers in practice The direct contact with this kind of technologies should allow them better competencies and skills in this area and this will allow them to use TDIC in their pedagogic practice

Thus this study seeks to understand the implications of teachers distance formation could have in the perception of technologies in different schools specially the use of mobile devices by students during classes This study implies the fact that professors formation will develop habilities for the digital literacy this will introduce them in network society and therefore will generate the socialdigital inclusion Following this the theoreticaly discussion of work is divided in three macro categories network society sociodigital inclusion and digital literacy The text was drawn up by using network analogy that integrate link and conect people in a big web and at the same time exclude andor marginalize those who dont have full conditions to be linked with it

The object of study was the distance modality graduation course in Fisics in the Universidade Federal do Tocantins The sample selected were the students enrolled between 2010 and 2012 in a total of 32 students The majority of them (51) play or played as teachers in the public school network The research with a qualitative imprint is focused in a study case the methodologic instruments used were questionnaires ( surveys of technology usage profile in the daily life and pedagogic practice) and semi structured interviews with the propuse of deeply understand the teachers perceptions over technologies in two fields

About the daily use of TDIC the study found that the participants used them in a basic and elementary way predominantly The complex activities which demand a greater digital literacy level found resistence of use by lack of knowledge or unpreparedness The data collected in the questionnaires and the perceptions absorved in the interviews pointed that the teachers sample use the thecnology resources in a limited way in their pedagogic practice Technologies are used in a repository bias and reproduction of contents and barely never interact with the students out of classes by using technological support

Although the study realize that the teachers only reproduce in their daily practice the distance module where they normally participate - content and transmissible The teacher formation focused on digital literacy was pointed in this study as a gateway on the network for teachers that still find resistance in use TDIC in its pedagogical pratices

xv

AGRADECIMENTOS VII

FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES LITERACIA DIGITAL E INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL ESTUDO DE CASO EM CURSO A DISTAcircNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS XI

RESUMO XI

TEACHER TRAINING DIGITAL LITERACY AND SOCIODIGITAL INCLUSION AN ONGOING CASE STUDY AT A DISTANCE FROM THE FEDERAL UNIVERSITY OF TOCANTINS XIII

ABSTRACT XIII

LISTA DE FIGURAS XIX

LISTA DE QUADROS XXI

LISTA DE GRAacuteFICOS XXIII

LISTA DE SIGLAS XXV

INTRODUCcedilAtildeO 27

1 INIacuteCIO DO PERCURSO E QUESTOtildeES PELO CAMINHO 29 2 O PROJETO 31 3 OBJETIVO GERAL E ESPECIacuteFICOS 36 4 ORGANIZACcedilAtildeO DA TESE 36

CAPIacuteTULO 1 O MUNDO CONECTADO EM REDES 41

11 O ldquoESTAR DENTROrdquo 43 12 PROCESSOS CIVILIZATOacuteRIOS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMACcedilAtildeO E COMUNICACcedilAtildeO 55

121 Comunicaccedilatildeo interpessoal 60 122 Comunicaccedilatildeo de Elite 61 123 Comunicaccedilatildeo em massa 63 124 Comunicaccedilatildeo Individual 66 125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais 70 126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas 75

13 O PERFIL DOS USUAacuteRIOS DA INTERNET 84 131 A Geraccedilatildeo Net 86 132 Os Nativos e imigrantes digitais 87 133 As Geraccedilotildees X Y Z 87 134 Os residentes e os visitantes 88 135 O Caldeiratildeo digital 89 136 O homo zappiens 89 137 O Homo Sapiens Digitalis 90 138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet 91

CAPIacuteTULO 2 O MUNDO TODO ESTAacute MESMO CONECTADO 97

21 DO LADO DE FORA OU DENTRO NA MARGEM DA REDE 99 22 A INCLUSAtildeO DIGITAL NA AGENDA POLIacuteTICA 100 23 DEBATE CONCEITUAL DO TERMO EXCLUSAtildeO DIGITAL 109 24 A INCLUSAtildeO PARA ALEacuteM DO ACESSO Agrave MAacuteQUINA 112 25 NIacuteVEIS DE EXCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E BARREIRAS PARA A INCLUSAtildeO 117 26 O FOSSO DIGITAL NO CENAacuteRIO MUNDIAL E NO BRASIL 123

xvi

2 7 INCLUSAtildeO DIGITAL EDUCACcedilAtildeO E EMANCIPACcedilAtildeO 130

CAPIacuteTULO 3 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL 137

31 A POSSIBILIDADE DE ENTRADA NA REDE 139 32 CONCEITO DE LITERACIA DIGITAL 142 32 A LITERACIA DIGITAL NA AGENDA DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS 152 33 TECNOLOGIAS VERSUS PROFESSORES O CAMPO DE TENSAtildeO NAS ESCOLAS 164 3 4 DO QUADRO-NEGRO AO TABLET CONCEPCcedilOtildeES PEDAGOacuteGICAS DOS PROFESSORES ACERCA DAS TECNOLOGIAS 168 35 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL A POSSIBILIDADE DA ENTRADA NA REDE 179

CAPIacuteTULO 4 CONTEXTO E ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA PESQUISA 189

4 1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS NO CONTEXTO DA REGIAtildeO NORTE DO BRASIL 191 411 O estado do Tocantins 191 412 A Universidade Federal do Tocantins 194 413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins 196 414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT 199

42 O SISTEMA UAB 202 421 Estrutura administrativa da UAB 202 422 Gestatildeo financeira da UAB 205 423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB 207

43 O CURSO DE LICENCIATURA EM FIacuteSICA A DISTAcircNCIA NA UFT 211 431 O processo de implementaccedilatildeo 212 4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica 213 433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica 217 434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas 219 435 Organizaccedilatildeo curricular 220 436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle 221

44 ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA INVESTIGACcedilAtildeO 226 441 Objetivos da pesquisa 226 442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa 227 443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso 228 444 Participantes 229 445 Instrumentos da pesquisa 230 446 Procedimentos de Recolha de dados 233 447 Tratamentos dos dados 234 448 Aspectos eacuteticos 242

CAPIacuteTULO 5 APRESENTACcedilAtildeO ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS 243

51 INTRODUCcedilAtildeO 245 52 PERFIL DOS PROFESSORES CURSISTAS 246

521 Perfil socioeconocircmico 246 522 Perfil social 248 523 Perfil Acadecircmico 249

53 PROFESSORES E USO DAS TDIC NO COTIDIANO 259 531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso 259 532 Uso de tecnologias no cotidiano 261 533 Uso de celular com internet 270

xvii

534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital 272 54 PROFESSORES E USO DAS TDIC NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA 279

541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia 280 542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios 284 543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias 290

55 UMA PROPOSTA PARA A FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 294

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 307

1 DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA SOBRE SOCIEDADE EM REDE INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E LITERACIA DIGITAL 310 2 LEVANTAMENTO DO PERFIL SOCIOECONOcircMICO SOCIAL E ACADEcircMICO DOS PROFESSORES CURSISTAS 311 3 INVESTIGACcedilAtildeO DAS POSSIacuteVEIS MUDANCcedilAS QUE UM CURSO DE FORMACcedilAtildeO A DISTAcircNCIA PROMOVERIA NAS PRAacuteTICAS DE LITERACIA

DIGITAL DOS PARTICIPANTES 314 4 UMA PROPOSTA DE FORMACcedilAtildeO DOCENTE VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 317

BIBLIOGRAFIA 321

APEcircNDICES 341

APEcircNDICE 1 ndash QUESTIONAacuteRIO 343 APEcircNDICE 2 - GUIAtildeO DAS ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS 355 APEcircNDICE 3 - TRANSCRICcedilAtildeO DAS ENTREVISTAS 359

xix

Lista de figuras

Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa 37

Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana 59

Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia 172

Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX 175

Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet 176

Figura 6 - Modelo TPACK 186

Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins 192

Figura 8 - Funcionamento do sistema UAB203

Figura 9 - Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins205

Figura 10 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT 215

Figura 11 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT 223

Figura 12 - Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia

na UFT 224

Figura 13 - Ciclo holiacutestico da FIPELD 302

xxi

Lista de Quadros

Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 59

Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees 64

Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil 87

Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015 125

Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital 147

Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais 151

Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo 158

Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014 162

Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica

quantidade e tipo de instituiccedilatildeo 194

Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica 236

Quadro 11 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica 238

Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas 239

Quadro 13 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto 240

Quadro 14 - Categorias de anaacutelise sobre o professor e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica 280

Quadro 15 - Visatildeo dos cursistas sobre a educaccedilatildeo a distacircncia 280

Quadro 16 - Dificuldades com o uso da tecnologia na escola 289

Quadro 17 ndash Modelo FIPELD 300

xxiii

Lista de Graacuteficos

Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet por meio de microcomputador e somente por outros

equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -

Brasil - 20052013 126

Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na

populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil

ndash 2013 129

Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM) 247

Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia 249

Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia 250

Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT 252

Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores 262

Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes 263

Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes 264

Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1 266

Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2 267

Graacutefico 12 - Tipos de atividades realizadas no celular com internet 271

Graacutefico 13 - Meacutedia de tempo que os participantes tecircm acesso a computador com internet 273

Graacutefico 14 - Meios em que os participantes aprenderam a usar o computador 274

Graacutefico 15 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 1 285

Graacutefico 16 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 2 286

xxv

Lista de Siglas

ANDIFES ndash Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior

ATUAB ndash Ambiente de trabalho dos coordenadores da Universidade Aberta do Brasil

AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior

CETICbr - Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

CGIbr - Comitecirc Gestor da Internet no Brasil

CONSEPE - Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo

DTE ndash Diretoria de Tecnologias Educacionais

EU ndash Uniatildeo Europeia

FIPE ndash Formaccedilatildeo integrada permanente e evolutiva para a literacia digital

GPS ndash Sistema de Posicionamento Global

HTML - Hypertext Markup Language

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas

IES - Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

IFTO - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins

IP - Protocolo de Internet

ITU - Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees

LDO - Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NTE - Nuacutecleos de Tecnologia Educacional

NTIA - National Telecommunications and Information Administration

OEA - Uniatildeo dos Estados Americanos

ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

ONG ndash Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

ONU - Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas

Moodle - Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment

PARFOR - Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores

PNAP -Programa Nacional de Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP

PNE - Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PPC - Projeto Pedagoacutegico do Curso

PROFMAT - Poacutes Graduaccedilatildeo Stritu Senso em Matemaacutetica profissionalizante

PROFORMACcedilAtildeO ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio

PROUCA - Projeto Um computador por Aluno

xxvi

SECADI - Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEDUCTO- Secretaria de Educaccedilatildeo do Tocantins

SEED ndash Secretaria de Educaccedilatildeo a Distancia

SGB - Sistema de Gestatildeo de Bolsas

SISUAB ndash Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil

TDIC ndash Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge

UC- Unidade de Contexto

UAB ndash Universidade Aberta do Brasil

UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso

UFT ndash Universidade Federal do Tocantins

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRP - Universidade Federal Rural de Pernambuco

UMinho ndash Universidade do Minho

UNB - Universidade de Brasiacutelia

UNITINS - Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins

UNO - Unidades Operativas

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

WWW - Word Wide Web

Introduccedilatildeo

Introduccedilatildeo

29

1 Iniacutecio do percurso e questotildees pelo caminho

Partir significa pocircr-se a caminho ir-se deslocar-se de um ponto a outro e natildeo ficarrdquo (Freire 1992 p71)

Partir do ldquosaber da experiecircncia feita para superaacute-lordquo era defendido por Paulo Freire como um

movimento dialoacutegico para a transformaccedilatildeo do sujeito (Freire 1992) Neste sentido iniciamos esse

trabalho relatando o ponto de partida o iniacutecio do percurso que nos fez chegar agrave aacuterea da Tecnologia

Educativa na Universidade do Minho

Nosso primeiro contato com a tecnologia educativa se deu em 2006 ano da nossa graduaccedilatildeo

em Pedagogia e entrada como servidora puacuteblica na funccedilatildeo de Pedagoga na Universidade Federal do

Tocantins - UFT O convite para cursar a primeira formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia partiu de um

colega que coordenava o curso de extensatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo um programa do governo federal que

era voltado a formar professores no uso das miacutedias na escola com foco na autoria Como receacutem-

formada natildeo tiacutenhamos experiecircncia docente mas as trocas de experiecircncias realizadas durante a

formaccedilatildeo nos levaram a refletir sobre a tecnologia educativa como uma poliacutetica social de inclusatildeo O

puacuteblico alvo do curso era na maioria professores da rede puacuteblica residentes nas cidades do interior do

estado do Tocantins Nos encontros presenciais do curso percebia-se que alguns professores natildeo

sabiam nem ligar o computador do laboratoacuterio outros natildeo tinham e-mail e encontravam dificuldades

em navegar na internet Ao observar esta realidade questionaacutevamos sobre ateacute que ponto aquela

formaccedilatildeo possibilitava aos professores cursistas integrarem as tecnologias no seu cotidiano e nas suas

praacuteticas educativas

Nos anos seguintes de 2007 a 2010 atuamos como coordenadora do curso Miacutedias na

Educaccedilatildeo na UFT A posiccedilatildeo de gestora do curso nos proporcionou outra visatildeo das tecnologias

educativas nos fazendo indagar sobre outra questatildeo por que ocorria um alto iacutendice (50) de evasatildeo do

curso Realizamos uma pesquisa junto aos cursistas desistentes da 1ordm e 2ordm ofertas e constatamos que

as causas da evasatildeo estatildeo relacionadas com problemas de infraestrutura e suporte pedagoacutegico e

ainda falta de tempo por excesso de atividades que o curso exigia dos professores que jaacute cumpriam

carga horaacuteria pesada nas escolas Os cursistas desistentes tambeacutem relataram dificuldades com o

manuseio das tecnologias e uma sensaccedilatildeo de solidatildeo durante o curso (Alves e Faria 2011) Ao

participar dos encontros presenciais das ofertas posteriores em que os concluintes apresentavam seus

projetos de intervenccedilatildeo com o uso de miacutedias nas escolas algumas questotildees nos inquietavam O que

os cursistas fariam com esse conhecimento agora na condiccedilatildeo de egressos do curso Desenvolveriam

Introduccedilatildeo

30

os projetos que apresentaram naquela formaccedilatildeo Aqueles professores se sentiram inseridos na

sociedade em rede com capacidades e habilidades para atuarem como sujeitos criacuteticos e autocircnomos

Articulariam o uso das miacutedias nos planos de aulas e projetos pedagoacutegicos da escola que atuam O que

esta formaccedilatildeo mudaria no seu cotidiano no contato com as tecnologias em outros ambientes natildeo

escolares O conhecimento do mundo digital mudaria a perspectiva econocircmica desses indiviacuteduos

Nos anos de 2012 a 2013 na funccedilatildeo de coordenadora pedagoacutegica dos cursos de formaccedilatildeo

inicial e continuada mediados por tecnologia na UFT acompanhamos as anguacutestias dos coordenadores

de curso e professores no que diz respeito a alta evasatildeo dos cursistas e a dificuldades destes com as

ferramentas tecnoloacutegicas Constatamos que os cursos na aacuterea de exatas (Matemaacutetica Fiacutesica e

Quiacutemica) satildeo os que apresentavam maiores iacutendices de desistecircncia de alunos O curso de licenciatura

em Fiacutesica a distacircncia por exemplo iniciou sua primeira oferta em 2010 com 117 alunos matriculados

em quatro polos Em 2014 segundo relatoacuterio da coordenaccedilatildeo do curso havia 71 alunos frequentes

um iacutendice proacuteximo de 40 de evasatildeo O relatoacuterio por polo revelou que nas cidades do interior do

Estado do Tocantins os iacutendices de evasatildeo satildeo maiores que 50 No polo de Ananaacutes extremo norte do

Estado dos 25 matriculados em 2010 apenas 11 cursistas permaneciam No Polo de Cristalacircndia

cidade do interior com 7800 habitantes dos 24 cursistas apenas nove dos ingressantes em 2010

continuavam matriculados em 2014 Em reuniotildees pedagoacutegicas com a coordenaccedilatildeo do curso foram

apresentadas dificuldades dos cursistas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo do curso e ainda com a metodologia

de ensino a distacircncia da qual os cursistas cobravam aulas presenciais nos polos e manifestavam

dificuldades de interagir com os colegas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle

Todas essas questotildees nos fizeram refletir sobre o discurso de que a educaccedilatildeo a distacircncia

promove a inclusatildeo digital dos professores participantes das formaccedilotildees a distacircncia Considerando o

conceito de Warschauer (2002) sobre inclusatildeo digital que diz respeito natildeo apenas ao acesso fiacutesico a

computadores e agrave conectividade mas a recursos adicionais que permitam que as pessoas utilizem a

tecnologia de modo satisfatoacuterio comeccedilamos a pensar em ateacute que ponto estas formaccedilotildees na

modalidade a distacircncia estariam ldquoincluindordquo os professores no mundo digital e os ajudando a

apropriarem das tecnologias no seu cotidiano e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Poderiam estas

formaccedilotildees a distacircncia estar ldquoexcluindordquo ou ldquodeixando aacute margemrdquo estes professores agrave medida que

evadem dos cursos por natildeo se adaptarem agrave metodologia de educaccedilatildeo mediada por tecnologia ou

porque o acesso e a conexatildeo na cidade onde moram natildeo eacute satisfatoacuteria para um melhor desempenho

no curso Natildeo estaria a educaccedilatildeo a distacircncia sendo uma ldquoinclusatildeo excludenterdquo quando esta natildeo

Introduccedilatildeo

31

possibilita que todos os ingressantes permaneccedilam nas formaccedilotildees nesta modalidade e desenvolvam

habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias no seu cotidiano e na escola com seus alunos

Estes questionamentos permaneciam latentes durante nossa jornada como coordenadora

pedagoacutegica dos cursos Um colega que estava cursando o doutoramento em educaccedilatildeo na linha

tecnologias educativas na Universidade do Minho nos sugeriu a leitura da obra A Sociedade em Rede

de Manuel Castells (1999) A noccedilatildeo de rede nos foi apresentada como uma metaacutefora perfeita para

compreender que vivemos em uma sociedade conectada em ldquonoacutesrdquo que interligados produzem fluxos

ou extensas teias de telecomunicaccedilotildees avanccediladas que aleacutem de centros da vida social poliacutetica

econocircmica tornaram-se sistemas eletrocircnicos virtuais A desconexatildeo das pessoas aos ldquonoacutesrdquo da rede

nos pareceu como uma possiacutevel situaccedilatildeo vivida por muitos professores que natildeo conseguem se

apropriar das tecnologias nas suas vivecircncias cotidianas e pedagoacutegicas O ldquoestar na rederdquo estaacute

associado a pertencer existir neste fluxo de teias interligadas o ldquonatildeo estar na rederdquo seria natildeo

pertencer agrave sociedade em rede e estaria associada a novas formas de exclusatildeo Apoacutes refletirmos

nestas questotildees decidimos escrever um projeto que contemplasse estes questionamentos com

embasamento teoacuterico e empiacuterico

A princiacutepio pensamos em fazer a pesquisa com base experimental no curso de formaccedilatildeo

continuada Miacutedias na Educaccedilatildeo do qual tivemos experiecircncia como aluna e coordenadora Entramos em

contato com um professor do programa de doutoramento em Educaccedilatildeo da Universidade do Minho e

enviamos uma preacutevia do projeto Sob a orientaccedilatildeo do professor foram realizadas algumas modificaccedilotildees

como a mudanccedila do curso de especializaccedilatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo cujas ofertas jaacute estavam concluiacutedas

na UFT por um curso de licenciatura a distacircncia em oferta na universidade Assim optamos por usar

de forma instrumental o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT O projeto intitulado

Formaccedilatildeo de professores Letramento Digital e Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a

distacircncia da Universidade Federal do Tocantins foi submetido ao Conselho Cientiacutefico da Universidade

do Minho e aceito com algumas ressalvas dentre elas que se usasse o termo literacia digital em

substituiccedilatildeo de letramento digital considerando que o termo literacia eacute mais abrangente

2 O projeto

Para o projeto de pesquisa aprovado intitulado Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e

Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins

elegemos as categorias teoacutericas de anaacutelise sociedade do conhecimento inclusatildeo sociodigital

Introduccedilatildeo

32

formaccedilatildeo de professores literacia mediaacutetica ou digital A primeira categoria ldquosociedade do

conhecimentordquo constitui uma leitura do mundo conectado em redes e dos reflexos na sociedade

instituiccedilotildees poliacutetica educaccedilatildeo e na economia Entretanto no decorrer das leituras realizadas durante a

pesquisa bibliograacutefica compreendemos que o termo Sociedade em Rede seria mais apropriado para

esta categoria pois a metaacutefora da rede foi eleita para nortear todo o trabalho o mundo conectado em

rede e noacutes e as mudanccedilas advindas deste fenocircmeno Assim esta categoria analiacutetica buscou descrever

o cenaacuterio ou pano de fundo em que ocorrem as mudanccedilas socioteacutecnicas advindas da expansatildeo das

Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC)

Para construir este quadro do cenaacuterio em que a pesquisa se insere recorremos aos claacutessicos

da literatura da aacuterea de Comunicaccedilatildeo com intuito de compreender os processos evolutivos das

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no decorrer dos seacuteculos e as suas reconfiguraccedilotildees ateacute

nossos dias Marchall McLuhan (1977) Mauro Wolf (1985) e Alvin Toffler (1970) desenvolveram

pesquisas na aacuterea da Comunicaccedilatildeo que partem do pressuposto de que no processo civilizatoacuterio as

tecnologias embora natildeo sejam determinantes da evoluccedilatildeo cultural do homem estas constituem uma

das variaacuteveis mais importantes para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave

comunicaccedilatildeo e os artefatos por ele desenvolvidos e como estes artefatos tecnoloacutegicos contribuiacuteram

para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos Autores contemporacircneos como

Manuel Castells (1999 2003) Pierre Leacutevy (1996 1999) Michel Serres (2013) e Zygmunt Bauman

(2001 2007 2011) que vivenciaram as mudanccedilas ocorridas na modernidade levantam questotildees

sobre novos desafios que satildeo impostos agrave sociedade diante das novas formas de se comunicaccedilatildeo

trabalho educaccedilatildeo e vida social Castells (1999 2003) mapeia um cenaacuterio que mediado pelas TDIC

tem suas estruturas reformuladas O conceito de capitalismo informacional eacute construiacutedo como um novo

tipo de capitalismo pautado sobretudo na informaccedilatildeo e conhecimento e da capacidade tecnoloacutegica de

processar esta informaccedilatildeo e gerar conhecimento O autor analisa que o capitalismo informacional

tambeacutem geraria exclusatildeo Assim a rede mesmo com os recentes avanccedilos tecnoloacutegicos ainda exclui

ou manteacutem marginalizada uma parcela consideraacutevel da populaccedilatildeo mundial Neste sentido foi

escolhida a segunda categoria de anaacutelise do estudo a inclusatildeo sociodigital

Autores contemporacircneos criticam o uso do binocircmio inclusatildeoexclusatildeo digital pois estes

dividem os indiviacuteduos em duas uacutenicas categorias os que tecircm acesso e os que natildeo tecircm acesso aos

meios digitais Estes autores consideram que a exclusatildeo digital compreende vaacuterios niacuteveis e categorias

Neste sentido consideram mais apropriado utilizar outros termos como apartheid digital cisatildeo digital

Introduccedilatildeo

33

fratura digital brecha digital gap digital e outros termos correlativos (Brown e Czerniewicz 2010

Warschauer 2002) Demo (2011) usa a expressatildeo ldquomarginalizaccedilatildeordquo pois evita a dicotomizaccedilatildeo

trazida com o termo exclusatildeo que tende a ser radical ou fora ou dentro Segundo o autor mesmo

num contexto capitalista muito excludente as pessoas conseguem algum acesso ao mundo digital

ainda que de forma marginalizada Natildeo estatildeo completamente fora ou excluiacutedas mas ficam na

margem quase de fora

Assim o projeto de pesquisa em tela aborda a inclusatildeo sociodigital para aleacutem do acesso agraves

tecnologias digitais considerando que mesmo aqueles que possuem o acesso poderiam tecirc-lo de forma

restrita ou limitada Poderiam tambeacutem natildeo possuir as habilidades teacutecnicas e cognitivas para uso

praacutetico das tecnologias em suas vidas Levando para o campo educacional as tecnologias cada vez

mais presentes nas escolas constituem um desafio para os professores que lidam diariamente com

estudantes portando seus tablets e celulares na sala de aula Estes professores podem se sentir

excluiacutedos ou marginalizados digitalmente diante dos alunos conectados que estatildeo cada vez mais

navegando nas redes e acessando informaccedilotildees em tempo real e muitas vezes questionando o

conhecimento transmitido na escola

A rede eacute aberta mas exige dos seus usuaacuterios habilidades e competecircncias para manterem-se

conectados aos seus noacutes Neste sentido a categoria teoacuterica ldquoliteracia mediaacutetica ou digitalrdquo insere-se na

discussatildeo teoacuterica do projeto como uma possiacutevel porta de entrada para os ldquomarginalizadosrdquo

digitalmente inserir-se na sociedade em rede De acordo com Lopes (2013) literacia mediaacutetica ou

digital diz respeito agrave capacidade de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias

ainda criar comunicaccedilotildees em diferentes contextos Seguindo a analogia da rede os indiviacuteduos com

bons niacuteveis de literacia digital tendem a possuir maiores chances de manterem-se conectados agrave rede e

usufruir os benefiacutecios advindos do acesso filtragem e uso saacutebio das informaccedilotildees

A difusatildeo da internet acessada em aparelhos portaacuteteis que possibilitam a mobilidade

conectividade e acesso a informaccedilotildees em qualquer lugar e a qualquer hora causou profundos

impactos nas estruturas sociais econocircmicas culturais e cognitivas dos indiviacuteduos O tablet ou

celulares conectados agrave internet emergem como dispositivos ldquocheiosrdquo em contraste com o quadro-negro

que ldquovaziordquo precisa de um professor para que lhe escreva os conteuacutedos (Noacutevoa 2015) Assim o

professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento as informaccedilotildees estatildeo em toda a parte e os alunos

as acessam com facilidade e frequecircncia Neste sentido no campo educacional surgem novos espaccedilos

de aprendizagem aleacutem dos muros das escolas

Introduccedilatildeo

34

Prensky (2001) criou o termo ldquonativo digitalrdquo para designar a atual geraccedilatildeo de jovens que

segundo ele satildeo diferentes das geraccedilotildees anteriores natildeo apenas na vestimenta modo de falar se

comportar ou estilo O autor argumenta que estes nativos digitais jaacute nasceram cercados de

tecnologia usando computadores viacutedeo games tocadores de muacutesica digitais cacircmeras de viacutedeo

telefones celulares tablets notebooks jogos e outras parafernaacutelias da era digital Nesta loacutegica os

professores com mais de vinte anos satildeo ldquoimigrantesrdquo na sociedade do conhecimento Quer dizer

nasceram em outro ambiente e aprenderam a construir conhecimento de forma diferente desta

geraccedilatildeo denominada de nativos Embora essa tese de que existe uma geraccedilatildeo de nativos digitais

encontre controveacutersias no meio acadecircmico a realidade observada eacute que os professores satildeo

diariamente desafiados nas suas aulas a dialogar com os ldquonativosrdquo problematizar os acontecimentos

da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor atividades que integrem as miacutedias atuais

Neste contexto o desafio que se apresenta eacute formar professores preparados para pensar criticamente

com capacidade de influenciar de maneira positiva aos seus alunos a transformar informaccedilatildeo em

conhecimento e ao mesmo tempo mediar a inclusatildeo digital daqueles que natildeo satildeo nativos

O maior desafio poreacutem encontra-se no fato de que os jovens esterotipados como ldquonativos

digitaisrdquo possuem habilidades teacutecnicas com o uso das tecnologias mas possuem baixos niacuteveis de

literacia digital Alguns estudos comprovam que apesar do faacutecil manejo das TDIC estes jovens satildeo

dependentes de motores de pesquisa e possuem ldquopouca capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo

das fontes de informaccedilatildeordquo (Bennett Maton e Kervin 2008 Lage e Dias 2012) Portanto neste

cenaacuterio de jovens com amplo acesso as tecnologias mas sem senso criacutetico e anaacutelitico para coletar

processar e usar as informaccedilotildees para gerar conhecimento o papel do professor muda de portador do

conhecimento para problematizador instigador provocador e mediador no processo de ensino-

aprendizagem

Contudo estudos demonstram que os professores nos cursos de formaccedilatildeo natildeo satildeo

preparados para lidar com a realidade do mundo em redes (Demo 2011 Noacutevoa 2015) No campo da

formaccedilatildeo de professores o papel das universidades que ofertam cursos de licenciaturas eacute

fundamental para preparar os docentes para as mudanccedilas que as tecnologias vecircm causando nas

formas de aprender ensinar trabalhar e viver Poreacutem mesmo em condiccedilotildees em que o professor use

as tecnologias no seu cotidiano e socialmente natildeo significa que este as usaraacute com seus alunos em sala

de aula Do mesmo modo o mero fato de um professor ser cursista de uma licenciatura a distacircncia

pode natildeo alterar sua relaccedilatildeo com as tecnologias no cotidiano eou praacuteticas pedagoacutegicas Neste

Introduccedilatildeo

35

sentido formar o professor para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar

criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Por outro lado Lopes (2013) assinala que

a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos usuaacuterios da rede

produzindo a exclusatildeo social e desigualdade

Considerando estes pressupostos a pesquisa de doutoramento ldquoFormaccedilatildeo de professores

Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal

do Tocantins buscou investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente na modalidade a distacircncia

contribuem para o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores e sua possiacutevel

inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede Trata-se de um estudo de caso realizado com professores

que satildeo cursistas de licenciatura a distacircncia numa universidade puacuteblica no interior do Brasil cujos

instrumentos de coleta de dados foram o questionaacuterio e entrevistas semiestruturadas O total de alunos

frequentes do curso de licenciatura em estudo eacute de 32 alunos destes 25 (78) participaram Os

dados dos questionaacuterios buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das

tecnologias no cotidiano e na praacutetica docente As entrevistas buscaram aprofundar sobre as provaacuteveis

dificuldades eou resistecircncias encontradas nesse campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas

na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias depois do ingresso no referido curso a distacircncia Os dados

foram analisados qualitativamente com uso da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo

O sumaacuterio desta tese foi concebido a partir da analogia das redes de Manuel Castells No livro

A galaacutexia da Internet o autor aprofundou sobre os processos excludentes que a internet promoveria na

sociedade em rede Castells usou o termo ldquodivisatildeo digitalrdquo para definir a ldquodivisatildeo criada entre aqueles

indiviacuteduos firmas instituiccedilotildees regiotildees e sociedades que tecircm as condiccedilotildees materiais e culturais para

operar no mundo digital e os que natildeo tecircm ou natildeo conseguem adaptar agrave velocidade da mudanccedilardquo

(Castells 2003 p 221) O autor conclui que o resultado eacute a fragmentaccedilatildeo das sociedades e

instituiccedilotildees em paralelo agrave interconexatildeo das redes marginalizados e sem oportunidades

Pensando nesta metaacutefora da rede e da divisatildeo ou desconexatildeo com a rede com reflexos nos

processos educativos e a formaccedilatildeo de professores as questotildees que norteiam este estudo satildeo

bull O uso de tecnologias nas situaccedilotildees pedagoacutegicas do curso de licenciatura a distacircncia em Fiacutesica da UFT promoveu a literacia dital do professor cursista inserindo-o na sociedade em rede

bull Quais os impactos socioeconocircmicos cognitivos e teacutecnicos da introduccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas nas condiccedilotildees de vida dos cursistas

bull Que possiacuteveis mudanccedilas uma formaccedilatildeo a distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas suas praacuteticas docentes

Introduccedilatildeo

36

3 Objetivo geral e especiacuteficos

Considerando a problemaacutetica apresentada o objetivo principal desta tese foi investigar as

possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores da rede puacuteblica pode

causar na e literacia digital e inclusatildeo sociodigital dos participantes no que diz respeito agraves suas

respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo

Objetivos especiacuteficos

bull Compreender o conceito de literacia digital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em

rede e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos

processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

bull Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma

formaccedilatildeo na modalidade agrave distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as

tecnologias no que diz respeito agraves praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

bull Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na

sua atuaccedilatildeo docente

bull Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a

integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

4 Organizaccedilatildeo da tese

Esta tese encontra-se estruturada em cinco capiacutetulos (1) O mundo conectado em Redes (O

ldquoestar dentrordquo) (2) O mundo todo estaacute mesmo conectado(Do lado de fora ou dentro na margem da

rede) (3) Literacia digital na formaccedilatildeo de professores (a possibilidade da entrada na rede) (4) Contexto

e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa (5) Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados A

Introduccedilatildeo e as Consideraccedilotildees finais natildeo foram contadas como capiacutetulos

Na Introduccedilatildeo decorremos a delimitaccedilatildeo da problemaacutetica da investigaccedilatildeo descriccedilatildeo do

cenaacuterio e contexto em que a pesquisa eacute proposta e ainda a motivaccedilatildeo desta investigadora para o

estudo a partir da sua histoacuteria de vida e trabalhos desenvolvidos na aacuterea de tecnologia educativa A

seguir na apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa que originou esta tese dissertamos sobre as razotildees e

Introduccedilatildeo

37

pertinecircncia da escolha do tema categorias teoacutericas eleitas e a questatildeo central da investigaccedilatildeo seguida

dos objetivos e da descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo da tese

Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa

O Capiacutetulo 1 inicia com a descriccedilatildeo do cenaacuterio mundial interconectado em redes de

tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Usando a analogia da rede segundo a visatildeo de Castell

(1999) o texto aborda que assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e fios

modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda

uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI Essas mudanccedilas implicaram na quebra do paradigma da economia

industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as maacutequinas para o paradigma da informaccedilatildeo

baseado nas competecircncias para gerir a informaccedilatildeo e usaacute-la eficazmente Considerando que o potencial

avassalador de informaccedilotildees hoje difundidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em especial depois da

expansatildeo da internet requer habilidade do usuaacuterio para navegar se apropriar de dados confiaacuteveis e

realmente importantes transformando-os em conhecimento (Leacutevy 1998) Assim a compreensatildeo dos

processos civilizatoacuterios que desencadearam a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo desde a

invenccedilatildeo da escrita ateacute os dias atuais foi importante neste estudo pois ampliou o campo de visatildeo

sobre a estreita relaccedilatildeo entre os processos comunicativos e a educaccedilatildeo

Introduccedilatildeo

38

Portanto fazendo uso das seis configuraccedilotildees evolutivas dos processos comunicativos e

educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo segundo Silva (2008) no capiacutetulo 1

apresentamos o modelo de educaccedilatildeo vigente em cada periacuteodo histoacuterico e as respectivas tecnologias

existentes naquele periacuteodo Este retrospecto histoacuterico permitiu visualizar o caraacuteter de peso que as

tecnologias podem exercer nos processos educativos Apresentamos pontualmente as transformaccedilotildees

geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos estruturantes sobretudo na sociedade

contemporacircnea Partindo da invenccedilatildeo da tecnologia da escrita que mudou a forma de ensino antes

baseada na oralidade e que passou a ser materializada nos dispositivos disponiacuteveis em periacuteodo

histoacuterico paredes tabuinhas de argila papiros pergaminhos ateacute chegarmos aos dias atuais

concordamos que nunca se leu e escreveu tanto na histoacuteria da humanidade No entanto os

dispositivos agora satildeo outros celulares tablets notebooks e computadores Diferente das tabuinhas

de argilas os tablets e celulares smartphones permitem natildeo apenas a escrita fixa mas a interaccedilatildeo

simultacircnea com outras pessoas lugares e instituiccedilotildees A comunicaccedilatildeo passou a ser ubiacutequa pervasiva

onipresente Mudou-se de tal modo o perfil dos usuaacuterios destes dispositivos e por sua vez mudou a

forma como estes usuaacuterios aprendem (Santaella 2004) Entretanto a discussatildeo teoacuterica apontou que

este cenaacuterio demanda novos desafios agraves instituiccedilotildees escolares e aos professores que lidam no dia-dia

com a presenccedila dos alunos portando seus dispositivos conectados agrave internet nas salas de aulas

Por conseguinte ainda no Capiacutetulo 1 foi apresentado um panorama sobre os diferentes roacutetulos

e estereoacutetipos que os usuaacuterios da internet recebem por distintas linhas teoacutericas e as controveacutersias em

torno destas preacute-classificaccedilotildees Por exemplo discutiu-se que haacute uma linha de teoacutericos que

argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e

altamente especializada na internet (Prensky 2001 Tapscott 1998) Foram citados vaacuterios estudos

realizados em diferentes paiacuteses que comprovam que nem todos que estatildeo conectados agrave rede satildeo

nativos digitais altamente especializados e mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de

tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e

filtrar conteuacutedos fuacuteteis (Brown e Czerniewicz 2010 Lage e Dias 2012) Neste sentido compreendeu-se

que sobreviver no emaranhado de teias de comunicaccedilatildeo e manter-se dentro da rede requer mais que

do que obter o acesso miacutenimo e que a mesma rede que interliga pessoas lugares negoacutecios naccedilotildees

inteiras eacute a mesma que pode excluir aqueles que natildeo estatildeo preparados para navegar e tirar proveito do

tsunami de informaccedilotildees disponiacuteveis on-line

Introduccedilatildeo

39

Na sequecircncia o Capiacutetulo 2 seguindo a analogia da rede apresenta-se o debate conceitual e

teoacuterico sobre os ldquoexcluiacutedosrdquo ou ldquomarginalizadosrdquo e as implicacircncias que esta divisatildeo produz na vida

destes indiviacuteduos Buscamos resgatar as razotildees pelas quais a discussatildeo sobre inclusatildeo digital entrou

na agenda poliacutetica de forma a compreender o rumo que as poliacuteticas puacuteblicas nessa aacuterea tomaram nas

ultimas deacutecadas O estudo bibliograacutefico assinalou que as primeiras iniciativas poliacuteticas para inclusatildeo

digital eram voltadas nomeadamente para o acesso agraves redes de internet e neste sentido as poliacuteticas

puacuteblicas visavam a disponibilizaccedilatildeo de maacutequinas em escolas e telecentros No entanto o estudo

revelou que mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes o

ldquofosso digitalrdquo persistiu em abrir pois as tecnologias tendem a dar poder agravequeles que sabiamente se

apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio O capiacutetulo 2 apresenta tambeacutem um quadro do fosso digital

no Brasil e no mundo e os diferentes niacuteveis de ldquoexclusatildeordquo presentes na rede digital A autonomia ou

emancipaccedilatildeo digital com base na formaccedilatildeo em literacia digital foi defendida como a porta de entrada

dos indiviacuteduos marginalizados adentrarem agrave rede conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo

colaborativa de conhecimentos ampliando suas oportunidades de emprego e renda Neste sentido

ressaltamos que a formaccedilatildeo para a literacia digital constitui uma necessidade sine qua non nos dias

atuais em que a rede se propaga rapidamente

Assim o Capiacutetulo 3 apresenta o conceito de literacia digital Considerando que o termo natildeo eacute

comum no Brasil a compreensatildeo do conceito contribui para o entendimento da importacircncia desta para

a inserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente agrave rede Tambeacutem se considera neste capiacutetulo como a

literacia digital foi introduzida na agenda das poliacuteticas puacuteblicas tendo em vista que a visatildeo dos

formuladores de poliacuteticas influi profundamente na criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas de inclusatildeo

digital e literacia digital A discussatildeo sobre o cenaacuterio das tecnologias presentes nas escolas e o campo

de tensatildeo gerado entre professores e alunos foi apropriada para a compreensatildeo das razotildees pelas quais

muitos docentes ainda satildeo resistentes agraves tecnologias Esta discussatildeo foi aprofundada atraveacutes do

retrospecto histoacuterico sobre a introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas e suas respectivas conotaccedilotildees

pedagoacutegicas ateacute a chegada dos tablets nos dias atuais Compreendeu-se que as tecnologias sejam

elas um quadro-negro um retroprojetor um datashow ou mesmo o computador tablets e celulares

carregam consigo uma abordagem pedagoacutegica impliacutecita no seu uso E estudos constatam que muitos

professores ainda reproduzem praacuteticas pedagoacutegicas da idade meacutedia ldquocustomizadasrdquo ou ldquorepaginadasrdquo

com o uso das TDIC (Demo 2011 Lopes 2013) Logo o potencial das TDIC tem sido desperdiccedilado

por estes professores e na maioria das vezes por falta de um preparo ou uma formaccedilatildeo adequada

Neste sentido a introduccedilatildeo dos estudos sobre literacia digital nos cursos de formaccedilatildeo de professores

Introduccedilatildeo

40

foi apontada por esta pesquisa como uma possibilidade de entrada e permanecircncia destes professores

ldquomarginalizadosrdquo na sociedade em rede

O Capiacutetulo 4 apresenta o contexto e o enquadramento metodoloacutegico da pesquisa A partir da

descriccedilatildeo do contexto regional (Estado do Tocantins) em que a UFT se insere passando pela histoacuteria

de criaccedilatildeo da universidade a primeira parte do capiacutetulo busca situar o leitor na conjuntura social

econocircmica poliacutetica e educacional em que o estudo foi realizado Considerando que o curso de

licenciatura em Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo faz parte do Sistema Universidade Aberta do

Brasil (UAB) a segunda parte do capiacutetulo dois contempla a descriccedilatildeo de todo o sistema sua estrutura

administrativa gestatildeo financeira e gestatildeo pedagoacutegica do curso Na sequecircncia expomos um quadro

descritivo do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT desde o seu processo de implantaccedilatildeo

perpassando pela sua estrutura administrativa concepccedilatildeo didaacutetico pedagoacutegica e diretrizes

metodoloacutegicas As descriccedilotildees citadas contribuiacuteram para a compreensatildeo do cenaacuterio e contexto em que

o estudo foi realizado A uacuteltima seccedilatildeo do capiacutetulo 4 apresenta o enquadramento metodoloacutegico da

investigaccedilatildeo os objetivos e natureza da pesquisa justificativa da opccedilatildeo metodoloacutegica descriccedilatildeo dos

instrumentos de coleta de dados os procedimentos para tratamento dos dados e os aspectos eacuteticos

O Capiacutetulo 5 destina-se agrave apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados Nas

Consideraccedilotildees finais expomos as conclusotildees do estudo e apontamentos para uma proposta de

formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital cujo o foco eacute a motivaccedilatildeo preparaccedilatildeo e a

accedilatildeoavaliaccedilatildeoreaccedilatildeo do professor na integraccedilatildeo das TDIC agraves suas praacuteticas pedagoacutegicas num ciclo

contiacutenuo evolutivo e permanente

A terminar esta introduccedilatildeo referimos trecircs apontamentos sobre a organizaccedilatildeo e redaccedilatildeo da tese

bull Usamos o portuguecircs brasileiro em conformidade com as normas de escrita acadecircmica para referecircncias e citaccedilotildees da American Psychological Association (APA)

bull Nas citaccedilotildees diretas usamos a liacutengua do livro consultado fazendo uma traduccedilatildeo livre

bull Para iniciar cada capiacutetulo foi elaborada uma nuvem de palavras com a finalidade de destacar as palavras termos e expressotildees mais relevantes no respectivo texto

Capiacutetulo 1 O mundo conectado em redes

O mundo conectado em redes

43

11 O ldquoestar dentrordquo

No texto de abertura do livro ldquoA Galaacutexia da Internetrdquo Manuel Castells considera

A internet eacute o tecido de nossas vidas Se a tecnologia da informaccedilatildeo eacute hoje o que a eletricidade foi na Era industrial em nossa eacutepoca a internet poderia ser equiparada tanto a uma rede eleacutetrica quanto ao motor eleacutetrico em razatildeo da capacidade de distribuir a forccedila da informaccedilatildeo por todo o domiacutenio da atividade humana (Castells 2003 p 07)

A arte de tecer redes eacute uma praacutetica antiga na histoacuteria da humanidade A origem etimoloacutegica da

palavra rede vem do latim rete significando o entrelaccedilamento de fios e noacutes que formava uma espeacutecie

de tecido A provaacutevel origem das redes tecnologia utilizada para captura de peixes tem registro nas

eras preacute-helecircnicas e do Egito antigo Segundo Cacircmara Cascudo (Mar 2015) as primeiras redes eram

feitas de linho sisal ou cacircnhamo no periacuteodo neoliacutetico meacutedio A ideia da rede era obstruir o caminho do

peixe de forma que este fosse apanhado A rede era tecida com noacutes que entrelaccedilados formavam um

tecido resistente para a captura dos pescados A concepccedilatildeo de rede ou conexotildees ampliou-se para a

vida da sociedade na idade meacutedia quando uma estrutura feudal dividia a sociedade em ordens

hierarquizadas centralizadas no feudo do poder e da produccedilatildeo Deste entatildeo o conceito de rede tem

sido aplicado nos mais diversos campos de conhecimento como Biologia Fiacutesica Histoacuteria Economia

entre outros

Na Biologia a noccedilatildeo de rede eacute considerada o padratildeo de organizaccedilatildeo comum a todos os seres

vivos Capra (1996 p 67) afirma ldquoonde quer que encontremos sistemas vivos mdash organismos partes

de organismos ou comunidades de organismos mdash podemos observar que seus componentes estatildeo

arranjados agrave maneira de rede Sempre que olhamos para a vida olhamos para redesrdquo O autor explica

que a principal caracteriacutestica das redes eacute a sua natildeo linearidade sua extensatildeo em todas as direccedilotildees As

redes tambeacutem tecircm a capacidade de gerar laccedilos de alimentaccedilatildeo e regularem a si mesmas num sistema

de auto-organizaccedilatildeo Nos dias atuais a noccedilatildeo de redes ganhou vida e estaacute transformando-se em

ldquoredes de informaccedilatildeo energizadas pela internetrdquo (Castells 2003 p 07)

De acordo com Castells (2005) assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e

fios modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda

uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI O autor usou o termo ldquoSociedade em Rederdquo para se referir ao cenaacuterio

contemporacircneo da sociedade emergente

O mundo conectado em redes

44

A sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redes (Castells 2005 p 20)

As redes de comunicaccedilatildeo digital na visatildeo do autor satildeo redes formais e constituem a coluna

vertebral da sociedade contemporacircnea tal como as redes de energia eleacutetrica eram a infraestrutura ou

base da sociedade industrial

A ldquoloacutegica das redesrdquo eacute alistada por Castells como a terceira das caracteriacutesticas do novo

paradigma tecnoloacutegico A primeira caracteriacutestica citada pelo autor eacute o fato da informaccedilatildeo constituir sua

proacutepria mateacuteria prima As tecnologias estatildeo agindo sobre a informaccedilatildeo e natildeo apenas as informaccedilotildees

agem sobre as tecnologias como acontecia nas revoluccedilotildees anteriores A segunda caracteriacutestica eacute a

penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias Castells (1999 p 108) argumenta ldquocomo a

informaccedilatildeo eacute parte integral de toda atividade humana todos os processos de nossa existecircncia

individual e coletiva satildeo diretamente moldados pelo novo meio tecnoloacutegicordquo Antes de tratarmos mais

detalhadamente da loacutegica das redes a terceira caracteriacutestica alistamos a quarta caracteriacutestica

segundo Castells a flexibilidade Neste paradigma natildeo apenas os processos satildeo reversiacuteveis mas

organizaccedilotildees e instituiccedilotildees soacutelidas podem ser modificadas e alteradas A quinta caracteriacutestica eacute a

crescente convergecircncia de tecnologias especiacuteficas para um sistema altamente integrado A

telecomunicaccedilatildeo se integrou com a informaacutetica microeletrocircnica e os computadores estatildeo todos

integrados a um sistema de informaccedilatildeo mas que natildeo evolui para a criaccedilatildeo de um sistema fechado

mas ldquorumo a abertura como uma rede de acessos muacuteltiplosrdquo como conclui Castells (idem p 113)

Sobre a terceira caracteriacutestica a loacutegica das redes Castells explica que seu funcionamento tem

como siacutembolo a internet e outras tecnologias aplicaacuteveis A metaacutefora da rede se aplica bem ao efeito de

complexidade de interaccedilatildeo e crescimento exponencial que as redes de informaccedilatildeo e tecnologia

baseadas na internet podem proporcionar O autor acrescenta ldquoa penalidade por estar fora da rede

aumenta com o crescimento da rede em razatildeo do decliacutenio de oportunidades de alcanccedilar outros

elementos fora da rederdquo (idem p 108) Assim o ldquoestar dentrordquo da rede deveria abrir um universo de

oportunidades que se bem aproveitadas poderiam transformar as capacidades de comunicaccedilatildeo

produzir alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de vida e proveriam meios e ferramentas que possibilitariam a

autonomia e cidadania das pessoas

O mundo conectado em redes

45

No entanto o contraacuterio disso tambeacutem eacute verdadeiro a rede produz exclusotildees em vaacuterios niacuteveis

(Warschauer 2002) Apenas ldquoestar dentrordquo da rede natildeo significa que a pessoa chegou a um estaacutegio

superior de desenvolvimento humano Castells (2005 p 18) manteacutem um conceito realista sobre a

sociedade em rede ldquoneste iniacutecio de seacuteculo ela exclui a maior parte da humanidade embora toda a

humanidade seja afectada pela sua loacutegica e pelas relaccedilotildees de poder que interagem nas redes globais

da organizaccedilatildeo socialrdquo Portanto as redes de comunicaccedilatildeo digital natildeo se configuram a taacutebua de

salvaccedilatildeo da humanidade a soluccedilatildeo para todos os males como previam alguns futurologistas nem

tampouco constituem a causa principal das mazelas e exclusotildees presentes na sociedade Na anaacutelise

de Castells a sociedade em rede natildeo pode ser visualizada fora do campo de visatildeo da organizaccedilatildeo

social e das praacuteticas que datildeo corpo agrave logica da rede A economia a vida social a comunicaccedilatildeo a

poliacutetica a cultura e a educaccedilatildeo satildeo afetadas de alguma forma pelas relaccedilotildees estabelecidas pelos ldquonoacutesrdquo

da rede

Sobre os padrotildees de sobrevivecircncia no paradigma tecnoloacutegico das redes de comunicaccedilatildeo

digital Castells alertou

Mas para saber utilizaacute-lo no melhor do seu potencial e de acordo com os projectos e as decisotildees de cada sociedade precisamos de conhecer a dinacircmica os constrangimentos e as possibilidades desta nova estrutura social que lhe estaacute associada a sociedade em rede (2005 p 19)

Neste sentido este capiacutetulo usando a metaacutefora da rede pretende explorar as dinacircmicas de

relaccedilotildees sociais econocircmicas educacionais e poliacuteticas que estruturam a sociedade em rede e suas

implicaccedilotildees no modelo educacional vigente em cada periacuteodo em que revoluccedilotildees comunicacionais

ocorreram Na parte introdutoacuteria tece-se um breve quadro analiacutetico do cenaacuterio em que as redes de

tecnologia e comunicaccedilatildeo digital se organizam e se reestruturam e das interferecircncias destas no

cotidiano dos seus usuaacuterios e natildeo usuaacuterios Aborda as implicacircncias de estar ldquodentro da rederdquo numa

sociedade de consumo elitista em que a informaccedilatildeo tornou-se moeda de valor Na segunda seccedilatildeo do

capiacutetulo apresenta-se a evoluccedilatildeo dos processos civilizatoacuterios dos meios de comunicaccedilatildeo na histoacuteria

humana com destaque no campo educacional Tambeacutem aborda as relaccedilotildees existentes entre a evoluccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo humana com os processos educativos na histoacuteria do homem e aprofunda esta

discussatildeo ao discorrer sobre artefatos tecnoloacutegicos que alteraram as formas de se aprender e ensinar

em periacuteodos diferentes em contextos diversos A uacuteltima parte do capiacutetulo caracteriza o perfil

comportamental e cognitivo do usuaacuterio portador das tecnologias moacuteveis no seacuteculo XXI e aponta para

O mundo conectado em redes

46

desafios propostos aos professores ainda iniciantes na era digital tema a ser aprofundado no capiacutetulo

terceiro deste trabalho

No cenaacuterio conteporacircneo do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital algumas

previsotildees quanto ao futuro na virada do milecircnio foram acertadas Cenaacuterios futuristas com tecnologia

avanccedilada sempre estiveram no imaginaacuterio das pessoas Filmes e livros que tratavam do futuro natildeo raro

apresentavam inovaccedilotildees em diferentes contextos Carros que dirigem sozinhos robocircs que executam

diversos trabalhos maacutequinas adequadas a diferentes tarefas roupas que se adaptam ao clima

ambiente alimentos processados em laboratoacuterios e comunicaccedilatildeo virtual satildeo algumas previsotildees que

foram acertadas Isaac Asimov (1964) escritor famoso por ensaios futuristas e artigos de ficccedilatildeo

cientiacutefica apoacutes visitar a gigantesca Feira Mundial de Nova York no ano de 1964 publicou um artigo

vislumbrando o futuro dali a 50 anos Algumas das suas previsotildees foram concretizadas como por

exemplo o conceito de viacutedeo-chamada e da conexatildeo do mundo atraveacutes da telefonia Asimov (1964 p

1) escreveu

As comunicaccedilotildees combinaratildeo som e imagem e vocecirc vai ver e ouvir a pessoa para quem vocecirc telefonar A tela pode ser usada natildeo soacute para ver as pessoas para quem vocecirc liga mas tambeacutem para o estudo de documentos e fotografias e para ler trechos de livros

Acertadamente nos dias atuais empresas de internet oferecem pacotes de chamadas de voz e

de viacutedeo por meio da web Estes aplicativos oferecem aleacutem dos recursos de troca de mensagem

instantacircnea envio de fotos e outros arquivos e realizaccedilatildeo de chamadas de voz

No entanto algumas previsotildees de Asimov natildeo foram totalmente acertadas no campo

educacional Isaac Asimov acertou quando previu que os computadores se tornariam onipresentes ao

ponto de aprendermos a usaacute-los na escola No entanto ele disse que no ensino meacutedio a programaccedilatildeo

de computadores seria disciplina obrigatoacuteria e todos os alunos se tornariam ldquoproficientes em

aritmeacutetica binaacuteriardquo Infelizmente essa uacuteltima previsatildeo natildeo ocorreu pelo menos na maior parte dos

paiacuteses subdesenvolvidos pois em geral nas escolas o computador ainda eacute apenas utilizado tatildeo

somente como ferramenta de buscas e pesquisas na internet ou editor de textos

O mundo conectado em redes

47

Alan Kay (1972) cientista americano conhecido por ter sido um dos inventores da linguagem

de programaccedilatildeo Smalltalk1 publicou um artigo em 1972 no qual especulava sobre o aparecimento de

manipuladores de informaccedilatildeo portaacuteteis pessoais No iniacutecio do artigo Kay admite que aquele texto

deveria ser lido como ficccedilatildeo cientiacutefica mas que com a tendecircncia de miniaturizaccedilatildeo e reduccedilatildeo de

preccedilos que estava acontecendo no mercado de informaacutetica naquele periacuteodo ele acreditava que suas

previsotildees poderiam acontecer no futuro Com base nas teorias de Seymour Papert (1993) de que o

computador poderia potencializar a aprendizagem das crianccedilas e Jean Piajet sobre teorias de estaacutegio

de desenvolvimento Kay idealizou um dispositivo portaacutetil educacional que poderia ser usado pelas

crianccedilas a qualquer hora em qualquer lugar O artigo apresenta algumas caracteriacutesticas do protoacutetipo

chamado Dynabook seu tamanho natildeo seria maior que de um notebook sua interface permitiria o

utilizador editar seus textos e usar seus programas quando e onde ele escolher Ele imaginou uma

infinidade de usos para esses dispositivos em aacutereas tatildeo diversas como o desenho de imagens (para

crianccedilas em idade preacute-escolar) o armazenamento de informaccedilotildees (para os meacutedicos) instrumentos de

muacutesica (para compositores) a simulaccedilatildeo dinacircmica e animaccedilatildeo graacutefica dos modelos (para os

professores) a representaccedilatildeo de objetos em trecircs dimensotildees do espaccedilo (para os arquitetos e

designers) ou o caacutelculo dos estoques e fluxos de caixa dentro de uma empresa (para gestores)

Embora o autor achasse que estava escrevendo um artigo de ficccedilatildeo cientiacutefica o que ele estava a

descrever eacute o tablet que conhecemos hoje interativo portaacutetil conectado agrave internet possibilita a

interaccedilatildeo com outras pessoas fornece banco de dados infinitos sobre assuntos diversos e permite o

trabalho colaborativo entre as pessoas

Ainda numa visatildeo utoacutepica sobre a revoluccedilatildeo digital Ioneji Masuda (1985) socioacutelogo japonecircs

fez previsotildees futuristas em que a ldquoComputopiardquo seria um novo modelo de sociedade na qual as

tecnologias de informaccedilatildeo constituiriam o principal motor de desenvolvimento da sociedade da

informaccedilatildeo tal como o motor a vapor foi o impulsor da sociedade industrial Sobre a Computopia

Werthein (2002 p 74) comenta

Nessa utopia a tecnologia dos computadores teraacute como funccedilatildeo fundamental substituir e amplificar o trabalho mental dos homens permitiraacute a produccedilatildeo em massa de conteuacutedo cognitivo informaccedilatildeo sistematizada tecnologia e conhecimento

1 Smalltack foi a primeira linguagem de computador inteiramente baseado nas noccedilotildees de objeto e mensagens Ao propor essa linguagem Kay pretendia popularizar a programaccedilatildeo de computadores para natildeo especialistas inclusive para as crianccedilas Para mais detalhes sobre a linguagem Smalltack consulte o artigo Basic Aspects of Squeak and the Smalltalk-80 Programming Language disponiacutevel em httpwwwcosccanterburyacnzwolfgangkreutzercosc205smalltalk1htmlhistory Acesso em 23 de fev 2016

O mundo conectado em redes

48

[] A produccedilatildeo de informaccedilatildeo pelo proacuteprio usuaacuterio ganharaacute grande espaccedilo e importacircncia na estrutura econocircmica O mais relevante sujeito de accedilatildeo social seraacute a comunidade de voluntaacuterios natildeo a empresa ou grupos econocircmicos e a sociedade natildeo seraacute hieraacuterquica mas multicentrada complementar e de participaccedilatildeo voluntaacuteria

Embora a previsatildeo de Masuda natildeo tenha se concretizado plenamente sua visatildeo sobre a

importacircncia da informaccedilatildeo para sobreviver na sociedade em rede constitui uma realidade Na era

digital as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje

fica obsoleto em pouco tempo Segundo Gonzaacutelez (2004) a metade do conhecimento de hoje natildeo era

conhecido haacute 10 anos e a quantidade do conhecimento do mundo hoje se duplica a cada 18 meses

Assim as pessoas no cenaacuterio contemporacircneo enfrentam o desafio de aprender novas habilidades e

conhecimentos continuamente

Christopher Freeman economista inglecircs dedicado a pesquisas em inovaccedilatildeo econocircmica e

tecnoloacutegica classifica as mudanccedilas de comportamentos e padrotildees na economia poliacutetica educaccedilatildeo e

cultura do mundo ocorrido no final do seacuteculo XX e nos dias atuais como o ldquoparadigma da tecnologia

da informaccedilatildeordquo Segundo o autor

Um paradigma tecnoloacutegico eacute um agrupamento de inovaccedilotildees teacutecnicas organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas vantagens devem ser descobertas natildeo apenas em uma nova gama de produtos e sistemas mas sobretudo na dinacircmica da estrutura dos custos relativos de todos possiacuteveis insumos para a produccedilatildeo Em cada novo paradigma um insumo especiacutefico ou conjunto de insumos pode ser descrito como o lsquofator chaversquo desse paradigma caracterizado pela queda dos custos relativos e pela disponibilidade universal A mudanccedila contemporacircnea de paradigma pode ser vista como uma transferecircncia de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informaccedilatildeo derivados do avanccedilo da tecnologia em microeletrocircnica e telecomunicaccedilotildees (Freeman 1988 p 10)

Assim de uma economia industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as

maacutequinas o mundo sofreu um paradigma em que a informaccedilatildeo passa a ser a moeda de valor na

ldquoSociedade da informaccedilatildeordquo 2 De acordo com Demo (2000) a ideia de sociedade da informaccedilatildeo estaacute

relacionada com o princiacutepio de ldquoredesrdquo de Castells O conceito de rede subtende que estamos diante

de um universo comunicativo em que tudo estaacute ligado por noacutes (conexotildees) As possibilidades de

interaccedilatildeo e interatividade que ocorrem nas redes virtuais soacute satildeo possiacuteveis devido a conexatildeo com a

internet De acordo com Castells (2003 p 170) essas redes tecircm uma geografia proacutepria 2 O termo ldquosociedade da informaccedilatildeordquo usualmente tem sido utilizado para descrever a sociedade contemporacircnea Trata-se de uma expressatildeo de caraacuteter ideoloacutegico que descreve as novas configuraccedilotildees sociais culturais econocircmicas e poliacuteticas que tiveram impulso com o avanccedilo tecnoloacutegico iniciado na deacutecada de 1970 com o advento da informaacutetica (Castells 2005)

O mundo conectado em redes

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A era da internet foi aclamada como o fim da geografia De fato a internet tem uma geografia proacutepria uma geografia feita de redes e noacutes que processam o fluxo de informaccedilatildeo gerados e administrados a partir de lugares Como a unidade eacute a rede a arquitetura e a dinacircmica de muacuteltiplas redes satildeo as fontes de significados e funccedilatildeo para cada lugar

Esse fenocircmeno eacute o que o autor designa de Sociedade em Rede Alguns teoacutericos chamam esse

paradigma de ldquoSociedade da Informaccedilatildeordquo ou ldquoSociedade do Conhecimentordquo como substituto de um

conceito mais complexo de ldquoSociedade Poacutes-Industrialrdquo ligado agrave expansatildeo e reestruturaccedilatildeo do

capitalismo a partir da deacutecada de 1980 do seacuteculo XX que se caracteriza pela aceleraccedilatildeo das inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas digitais que exigem um perfil cada vez mais especializado de usuaacuterio capaz de converter

informaccedilatildeo em conhecimento

A rede estaacute saturada de informaccedilatildeo mas isso natildeo significa que os cidadatildeos conectados sejam

adequadamente informados Valente (2013 p 27) explica a diferenccedila entre informaccedilatildeo e

conhecimento

ter informaccedilatildeo natildeo implica ter conhecimento O conhecimento eacute o que cada indiviacuteduo constroacutei como produto do processamento da inter-relaccedilatildeo entre interpretar e compreender a informaccedilatildeo Eacute o significado que eacute atribuiacutedo e representado na mente de cada indiviacuteduo com base nas informaccedilotildees advindas do meio em que ele vive formado por pessoas e objetos

Neste sentido a sociedade da informaccedilatildeo pode ser ldquodesinformadardquo como analisa Demo

(2000 p 40) seja porque lhe eacute imposta pelos meios de comunicaccedilatildeo uma informaccedilatildeo residual ou

superficial ou porque lhe ldquoentope atabalhoadamenterdquo com notiacutecias sensacionalistas e supeacuterfluas O

autor acrescenta que ldquoa sociedade da informaccedilatildeo informa bem menos do que se imagina assim como

a globalizaccedilatildeo engloba as pessoas e povos bem menos do que se pretenderdquo (idem p 41) Assim

para Demo eacute essencial preservar o ambiente criacutetico e autocritico para reduzir e controlar a informaccedilatildeo

Portanto para que a sociedade da informaccedilatildeo seja equivalente agrave sociedade do conhecimento como

analisam Coutinho e Lisboa (2011 p 10) eacute fundamental que ldquose estabeleccedilam criteacuterios para organizar

e seleccionar as informaccedilotildees e natildeo simplesmente ser influenciado e ldquomoldadordquo pelos constantes

fluxos informativos disponiacuteveisrdquo Essa dinacircmica dizem as autoras demanda educaccedilatildeo para o longo da

vida de forma que as pessoas possam acompanhar as mudanccedilas tecnoloacutegicas e serem inovadores e

criativas

No livro A sociedade em rede A era da informaccedilatildeo (1999) Castells critica o termo sociedade

da informaccedilatildeo pois este enfatiza o papel da informaccedilatildeo na sociedade O autor explica que a

O mundo conectado em redes

50

informaccedilatildeo no sentido mais amplo foi crucial em todas as sociedades antigas principalmente na

Europa medieval que era mais estruturada intelectualmente Logo estas sociedades poderiam tambeacutem

serem chamadas de sociedades da informaccedilatildeo Castells (idem p 65) afirma que prefere o uso do

termo ldquosociedade informacionalrdquo Este se relaciona mais com uma forma de organizaccedilatildeo social em

que a ldquogeraccedilatildeo o processamento e a transmissatildeo da informaccedilatildeo tornam-se as fontes fundamentais de

produtividade e poder devido agraves novas condiccedilotildees tecnoloacutegicas surgidas nesse periacuteodo histoacutericordquo Para

Castells uma das principais caracteriacutesticas da sociedade informacional eacute a sua loacutegica de sua estrutura

baacutesica em redes Neste sentido a sociedade informacional estaacute inserida na sociedade em rede um

conceito mais amplo conforme explica o autor

Redes constituem uma nova morfologia social das nossas sociedades e a difusatildeo loacutegica de redes modifica de forma substancial a operaccedilatildeo e os resultados dos processos produtivos e de experiecircncia poder e cultura [] a presenccedila na rede e a ausecircncia dela e a dinacircmica de cada rede em relaccedilatildeo agraves outras satildeo fontes cruciais de dominaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de nossa sociedade uma sociedade que portanto podemos apropriadamente chamar de sociedade em rede (idem p 565)

Portanto considerando esses pressupostos usamos o termo sociedade em rede neste

trabalho em detrimento agrave expressatildeo sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do conhecimento por

entender que este primeiro eacute mais completo para definir o cenaacuterio de mudanccedilas socioteacutecnicas

advindas da convergecircncia das tecnologias da informaacutetica com a telecomunicaccedilatildeo

Observando o panorama mundial vecirc-se que o mundo nunca esteve tatildeo conectado em redes

como hoje Segundo relatoacuterio divulgado pela agecircncia Internet World Stats (Stats 2016) os usuaacuterios de

internet no mundo chegaram a quase 4 bilhotildees de pessoas (50 da populaccedilatildeo mundial) em 2016 O

nuacutemero da populaccedilatildeo com acesso agrave internet dobrou nos uacuteltimos cinco anos nos paiacuteses em

desenvolvimento Segundo a mesma fonte no Brasil cerca de 139 milhotildees de indiviacuteduos satildeo usuaacuterios

da internet o que corresponde a mais metade da populaccedilatildeo do paiacutes (675) Este levantamento

revelou ainda que cerca de 202 milhotildees de brasileiros satildeo assinantes de celulares moacuteveis o que

implica em 998 da populaccedilatildeo do paiacutes Um estudo realizado com dados de 240 paiacuteses intitulado

Digital Social e Mobile 2015 (Kemp 2015) revelou que mais de dois bilhotildees de pessoas no mundo

possuem contas ativas em redes sociais e que a penetraccedilatildeo dos aparelhos celulares na populaccedilatildeo

mundial ultrapassou os 50 em setembro de 2014 e o nuacutemero de conexotildees em aparelhos celulares

ativos superou o total da populaccedilatildeo mundial em dezembro do mesmo ano

O mundo conectado em redes

51

Neste emaranhado de relaccedilotildees interaccedilotildees e interconexotildees as informaccedilotildees fluem como

numa grande onda (tsunami) que leva consigo tudo que aparece pela frente (Leacutevy 1998) Requer

habilidade do usuaacuterio para navegar e se apropriar de dados confiaacuteveis e realmente importantes Nesta

mesma direccedilatildeo em tempos de ldquomodernidades liacutequidasrdquo o socioacutelogo polonecircs Zygmunt Bauman (2001

p 1) afirma que eacute imprescindiacutevel que o indiviacuteduo saiba distinguir entre informaccedilatildeo importante e muito

importante aleacutem de descartar as informaccedilotildees desnecessaacuterias Bauman usa a metaacutefora da ldquoliquidezrdquo

para caracterizar o estado da sociedade moderna comparada a liacutequidos incapazes de manter uma

forma definida Para o autor tudo eacute temporaacuterio nossas instituiccedilotildees estilos de vida convicccedilotildees e

crenccedilas mudam antes de se solidificarem em verdades Os empregos os relacionamentos o

conhecimento tendem a ficarem volaacuteteis desregulados e flexiacuteveis Na eacutepoca da modernidade soacutelida de

acordo com Bauman o aprendiz que entrava numa faacutebrica tinha perspectiva de uma longa carreira

Nos nossos dias afirma o autor ldquoquem trabalha para Bill Gates por um salaacuterio talvez cem vezes maior

natildeo tem ideia do que poderaacute lhe acontecer dali a meio ano E isso faz uma diferenccedila incriacutevel em todos

os aspectos da vida humanardquo 3 Assim os proprietaacuterios do conhecimento apropriado num contexto

especiacutefico abrem vantagem sobre os demais na sociedade cada vez mais informatizada

Na visatildeo de Castells (1999) a interatividade possibilitou a formaccedilatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo e induziu o que ele chama de mass self-comunication (a intercomunicaccedilatildeo em massa)

Este conceito abrange uma nova forma de comunicaccedilatildeo em massa em que os indiviacuteduos produzem

enviam e recebem informaccedilotildees em blogs vlogs redes sociais e paacuteginas pessoais Nas palavras de

Anderson (2006 p 61) sobre este fenocircmeno

A consequumlecircncia de tudo isso eacute que estamos deixando de ser apenas consumidores passivos para passar a atuar como produtores ativos () O fenocircmeno se manifesta por toda a parte ndash a extensatildeo em que os blogs amadores estatildeo disputando a atenccedilatildeo do puacuteblico com a grande miacutedia em que as bandas estatildeo lanccedilando muacutesicas sem selo de gravadora e em que os colegas consumidores dominam as avaliaccedilotildees on-line de produtos e serviccedilos eacute como se a configuraccedilatildeo baacutesica da produccedilatildeo tivesse mudado de ldquoConquiste o direito de fazecirc-lordquo para ldquoO que o estaacute impedindo de fazerrdquo

Neste cenaacuterio milhotildees de pessoas se expressam em blogs pessoais e foacuteruns sobre temas

especiacuteficos com direito a comentaacuterios e avaliaccedilotildees de produtos Os formadores de opiniatildeo passam a

serem os consumidores dos produtos o que altera a estrateacutegia de marketing das empresas Anderson

conclui que pela primeira vez na histoacuteria somos capazes de medir os padrotildees de consumo e as

preferecircncias do usuaacuterio em tempo real e tais condiccedilotildees permitem aos fornecedores de bens e serviccedilos 3 Entrevista de Bauman ao Jornal Folha de Satildeo Paulo em 19 de outubro de 2003 Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrfspmaisfs1910200305htm Acesso em 20 janeiro de 2016

O mundo conectado em redes

52

ajustarem as recomendaccedilotildees impostas na rede por formadores de preferencias que natildeo satildeo mais da

elite mas pessoas comuns que tecircm acesso agrave internet

Novos nichos no mercado e profissotildees ineacuteditas nascem na era digital Empresas de venda de

cupons de desconto on-line surgem como agregadoras de promoccedilotildees de diferentes empresas

fornecedoras de bens e serviccedilos Lojas on-line voltadas agrave personalizaccedilatildeo de objetos com fotos e

imagens do consumidor grandes varejistas e lojas de departamentos estatildeo presentes na rede

facilitando prazos e entregas dos produtos e uma variedade de profissionais na aacuterea de Tecnologia de

Informaccedilatildeo estatildeo abrindo empresas de criaccedilatildeo de jogos e aplicativos para a internet Sobre os

profissionais que emergem neste contexto citamos dentre outros os youtubers dos quais alguns satildeo

celebridades na internet devido ao altiacutessimo nuacutemero de seguidores dos seus canais no You Tube

Muitos destes profissionais faturam alto com as publicidades veiculadas no seu canal Assim altera-se

a economia e a relaccedilatildeo das pessoas com as tecnologias em que dispositivos de comunicaccedilatildeo passam

a ser meios de ganhar o sustento (Castells 2005)

A sociabilidade tambeacutem ganha novos contornos com a expansatildeo da internet No mundo virtual

todos estatildeo ao alcance e presentes a um clique de um botatildeo Bauman (2011 p 10) na sua obra 44

Cartas do mundo liacutequido moderno aborda a relaccedilatildeo de dependecircncia que se cria a partir das redes

sociais e aplicativos da internet

O dia inteiro sete dias por semana basta apertar um botatildeo para fazer aparecer uma companhia do meio de uma coleccedilatildeo de solitaacuterios Nesse mundo on-line ningueacutem jamais fica fora ou distante todos parecem constantemente ao alcance de um chamado ndash e mesmo que algueacutem por acaso esteja dormindo haacute muitos outros a quem enviar mensagens ou a quem alcanccedilar de imediato pelo Twitter para que a ausecircncia temporaacuteria nem seja notada

Os sites de bate-papo paacuteginas especializadas em encontrar pares romacircnticos e aplicativos

voltados para encontros sexuais que permitem conversas simultacircneas entre pessoas de diversos

lugares do mundo satildeo um exemplo do que Bauman (2011) descreve como ldquocerteza tranquilizadorardquo

As pessoas usam estes meios de comunicaccedilatildeo virtual para um escape da solidatildeo e ao mesmo tempo

natildeo expor-se agrave exigecircncia dos outros quando se tem o poder de deletar ou excluir aqueles que geram

incocircmodo Neste sentido Bauman reflete que as relaccedilotildees se tornam ldquoliacutequidasrdquo o contato pelas redes

sociais sem a necessidade de maior comprometimento resultam em relacionamentos momentacircneos

volaacuteteis e fraacutegeis A facilidade de conectar e se desconectar ao clique de um botatildeo faz com que as

pessoas descartem e sejam descartadas por versotildees mais atualizadas e melhores disponiacuteveis na rede

O mundo conectado em redes

53

As comunidades virtuais tambeacutem estatildeo se popularizando cada vez mais Voltando agrave ldquoera das

tribosrdquo as pessoas se organizam em grupos gregaacuterios e facccedilotildees com interesses em comum em que a

loacutegica da identidade (seja sexual profissional social poliacutetica) gera um sentimento de pertencimento

entre os participantes do grupo criando uma rede de pessoas que se relacionam efemeramente sem

necessidade de um envolvimento maior (Maffesoli 2004) Sobre este aspecto Castells (2003 p 274)

analisa

A sociabilidade estaacute se transformando atraveacutes daquilo que alguns chamam de privatizaccedilatildeo da sociabilidade que eacute a sociabilidade entre pessoas que constroem laccedilos eletivos que natildeo satildeo os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar que coincidem fisicamente mas pessoas que se buscam eu queria encontrar algueacutem que gostasse de andar de bicicleta comigo mas primeiro tenho que procurar esse algueacutem Por exemplo como criar um clube de ciclismo Como criar um clube de gente que se interesse por espeleologia

Os grupos formados nos aplicativos de mensagens instantacircneas como o Whatsapp4 satildeo um

exemplo claacutessico da ldquoprivatizaccedilatildeo da sociabilidaderdquo que ocorre nas relaccedilotildees sociais no mundo

contemporacircneo Estes grupos satildeo compostos por pessoas da mesma famiacutelia ou de colegas de

trabalho ou de moradores do mesmo bairro ou de estudantes de um curso categorias de

profissionais membros de religiatildeo ou pode se tratar de grupo de vendas e troca de mercadorias O

que estes grupos tecircm em comum satildeo os laccedilos eletivos baseados nas predileccedilotildees individuais e nos

relacionamentos estabelecidos por interesses comuns

Churc e Oliveira (2013) realizaram uma pesquisa sobre as motivaccedilotildees e percepccedilotildees que

levam a milhotildees de usuaacuterios no mundo a usarem o aplicativo whatsapp Os pesquisadores

entrevistaram 9 usuaacuterios ativos do aplicativo 5 homens e 4 mulheres todos residentes na Espanha

As pessoas recrutadas para a pesquisa segundo os pesquisadores eram de diversas profissotildees e

estilo de vida Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com trecircs toacutepicos em destaque (a)

necessidade do uso do aplicativo (b) razotildees para adoccedilatildeo e uso do whatsapp (c) motivos e intenccedilotildees

para comunicaccedilatildeo via whatsapp Os resultados apontaram pontualmente oito fatores que influenciam e

motivam os usuaacuterios a usar o aplicativo (1) custo (baixo custo em relaccedilatildeo a mensagens SMS) (2)

influecircncia social (familiares e amigos sugerem o uso) (3) natureza intenccedilatildeo (conversa informal) (4)

comunidade e senso de conexatildeo (usa-se o aplicativo com amigos proacuteximos e familiares) (5)

imediatismo (permite ver se o receptor da mensagem estaacute on-line e leu a mensagem) (6) 4 De acordo com o site do Whatsapp este se trata de um aplicativo de mensagens multiplataformas que permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS neste caso usa-se o pacote de internet do aparelho ou redes wifi disponiacuteveis Disponiacutevel em httpwwwwhatsappcom Acesso em 05 jan 2016

O mundo conectado em redes

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confiabilidade e garantia (certeza que a mensagem foi entregue e lida) (7) escolha da tecnologia

(muitos escolhem whatsapp para falar com quem tem o aplicativo) e (8) de mecanismos de

enfrentamentos (posiccedilatildeo com relaccedilatildeo as notificaccedilotildees frequentes)

Outro estudo de Jisha e Jebakumar (2014) realizado na Iacutendia sobre o uso do whatsapp entre

os jovens na regiatildeo de Chennai constatou que os jovens entre 18 a 23 anos passam em meacutedia 16

horas on-line no aplicativo e o usam trocando mensagens por 8 horas diaacuterias em meacutedia Em 2016 o

whatsapp ultrapassou o nuacutemero de mais de 1 bilhatildeo de usuaacuterios no mundo5 No Brasil o fenocircmeno

do uso do aplicativo mostrou sua forccedila quando no dia 17 de dezembro de 2015 este foi suspenso por

ordem judicial e causou uma comoccedilatildeo nas redes sociais e na miacutedia televisiva Os usuaacuterios baixaram

outros aplicativos semelhantes e tentaram alternativas para desbloquear o whatsapp

Na anaacutelise de Castells (2003) a internet afetou a economia (forma de organizaccedilatildeo das

empresas e induacutestrias) alterou os processos de trabalho (jornadas e formas de trabalho) mudou a

estrutura da poliacutetica formatou os relacionamentos sociais fortaleceu os movimentos sociais ampliou o

comeacutercio e criou novas formas de ensinar e se aprender no campo da educaccedilatildeo Este uacuteltimo trata-se

do campo que interessa a nossa pesquisa buscamos compreender as possiacuteveis reconfiguraccedilotildees que

as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo causaram nos processos educativos em contextos

formais e informais Tendo em vista que as tecnologias natildeo satildeo neutras Bento Silva afirma

Cada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuraccedilatildeo que lhes eacute devida e proporcionada pelo estado das suas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC) reordenando de um modo particular as relaccedilotildees espaccedilo-temporais nas suas diversas escalas (local regional nacional global) que o homem manteve e manteacutem com o mundo e estimulando e provocando transformaccedilotildees noutros niacuteveis do sistema sociocultural (educativo econoacutemico poliacutetico social religioso cultural etc) (Silva 2001 p 840)

Portanto tendo em vista que no processo civilizatoacuterio as tecnologias embora natildeo sejam

determinantes da evoluccedilatildeo cultural da humanidade constituem uma das variaacuteveis mais importantes

para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo apresentam-se na

proacutexima seccedilatildeo pressupostos teoacutericos de como os processos evolutivos dos artefatos tecnoloacutegicos

comunicacionais contribuiacuteram para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos

5 No Brasil estima-se cerca de 100 milhotildees de usuaacuterios ativos no aplicativo whatsaapDisponiacutevel em httpwww1folhauolcombrtec2016021736093-whatsapp-chega-a-1-bilhao-de-usuariosshtml Acesso em 22 dez 2016

O mundo conectado em redes

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12 Processos civilizatoacuterios das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Nos uacuteltimos vinte e cinco anos a humanidade tem presenciado uma transformaccedilatildeo histoacuterica

sem precedentes em escala e velocidade a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo Da

invenccedilatildeo da escrita aos modernos computadores o homem percorreu um caminho evolutivo sistecircmico

que se reconfigura ao passo que novos artefatos tecnoloacutegicos satildeo criados Neste sentido Silva e

Conceiccedilatildeo (2013 p 137) afirmam que ldquoa tecnologia eacute umas das variaacuteveis mais importantes para

compreender a evoluccedilatildeo sociocultural das sociedadesrdquo Os ldquoprocessos civilizatoacuteriosrdquo na visatildeo de Darcy

Ribeiro (1975 p 19) satildeo provenientes de uma sucessatildeo de revoluccedilotildees tecnoloacutegicas desde quando os

homens mudaram da condiccedilatildeo de caccedilador-coletores natildeo sedentaacuterios para a era neoliacutetica em que

passam a ser sedentaacuterios e desenvolveram novas teacutecnicas e artefatos tecnoloacutegicos para o manejo da

agricultura de subsistecircncia Sobre esse processo Luacutecia Santaella (2003 p 23) afirma

Jaacute estaacute se tornando lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo estatildeo mudando natildeo apenas as formas do entretenimento e do lazer mas potencialmente todas as esferas da sociedade o trabalho (roboacutetica e tecnologias para escritoacuterios) gerenciamento poliacutetico atividades militares e policiais (a guerra eletrocircnica) consumo (transferecircncia de fundos eletrocircnicos) comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo (aprendizagem a distacircncia) enfim estatildeo mudando toda acultura em geral

Santaella esclarece que as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas na aacuterea da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

advecircm de um processo cumulativo de complexificaccedilatildeo e que uma nova formaccedilatildeo comunicativa se

integra agrave anterior provocando reajustes reconfiguraccedilotildees e novas finalidades sociais para determinados

artefatos de comunicaccedilatildeo A autora denomina esses processos de ldquoformaccedilotildees culturaisrdquo por entender

que em cada periacuteodo histoacuterico a cultura de uma sociedade fica sob o domiacutenio da tecnologia de

comunicaccedilatildeo mais recente

Neste sentido Silva (2001) considera a tecnologia como uma estrateacutegia e natildeo somente um

instrumento ou meio que possibilitam a emissatildeo e recepccedilatildeo de informaccedilotildees ou conteuacutedo O autor

afirma ainda que as tecnologias contribuem fortemente para condicionar as estruturas (ecologias) das

sociedades Condicionam mas natildeo satildeo necessariamente determinantes como explicita Leacutevy (1999 p

25) ldquouma teacutecnica eacute produzida dentro de uma cultura e uma sociedade encontra-se condicionada por

suas teacutecnicasrdquo O autor argumenta que a invenccedilatildeo da prensa por Gutemberg natildeo determinou o

desenvolvimento da moderna ciecircncia europeia nem tampouco o crescimento dos ideais iluministas

mas condicionou-os abriu possibilidades nas palavras de Leacutevy ldquocontentou-se em fornecer uma parte

do ambiente global no qual essas formas culturais surgiramrdquo (idem p 26) Leacutevy acrescenta que

O mundo conectado em redes

56

mesmo abertas as possibilidades elas podem natildeo ser aproveitadas dependendo do contexto cultural

Portanto os meios de comunicaccedilatildeo natildeo determinam os modelos de educaccedilatildeo mas condicionam-os

Rodrigues (1999) afirma que natildeo satildeo as tecnologias que mudam a sociedade mas a sua utilizaccedilatildeo

dentro de um modo de produccedilatildeo e contexto histoacuterico cultural social econocircmico e poliacutetico moldam a

racionalidade a linguagem e o modo de vida das pessoas

Levando ao campo educacional segundo Silva (2008 p 840) como jaacute referido ldquocada eacutepoca

histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia comunicacional e educacional que

lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo Seguindo

este pressuposto a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo imbricadas (termo usado na botacircnica para inferir

que uma planta estaacute sobreposta agrave outra entrelaccedilada) Na analogia ldquoecologiardquo usada pelo autor infere-

se que a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo intimamente relacionadas como um organismo vivo ambas

as aacutereas satildeo interconectadas e impacta uma a outra concomitantemente dentro de contextos

especiacuteficos que satildeo determinados em cada eacutepoca pelo estado dos sistemas educativo econocircmico

poliacutetico social religioso cultural etc Assim neste movimento os processos educativos foram

estruturados de acordo com as tecnologias de comunicaccedilatildeo vigentes

Marchall McLuhan (1977) filoacutesofo canadense de destaque nas teorias de Comunicaccedilatildeo

afirmava que a evoluccedilatildeo histoacuterica das sociedades eacute produto do avanccedilo de seus meios de comunicaccedilatildeo

e segue duas rupturas fundamentais a invenccedilatildeo da escrita e o advento dos meios eletrocircnicos

Segundo o autor a criaccedilatildeo do alfabeto e da escrita provocou a quebra do estado tribal e oral da

humanidade Mais tarde a invenccedilatildeo da tipografia e a consequente publicaccedilatildeo de livros em larga escala

mudaram as estruturas de comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo daquele periacuteodo O livro natildeo era mais um objeto

guardado em bibliotecas passou a popularizar-se e o conhecimento estava disponiacutevel a todos e natildeo

apenas guardado com os mestres A segunda ruptura de acordo com McLuhan a invenccedilatildeo dos meios

eleacutetricos e eletrocircnicos foi um prenuacutencio da informaacutetica e da roboacutetica Para o autor os meios ou as

tecnologias satildeo uma ldquoextensatildeordquo do homem e possibilitam mudanccedilas na organizaccedilatildeo das sociedades

Assim para McLuhan a invenccedilatildeo da escrita permitiu a criaccedilatildeo e domiacutenio de vastos impeacuterios a

maacutequina a vapor possibilitou a expansatildeo capitalista e a eletricidade junto com a informaacutetica teriam

provocado o fenocircmeno Aldeia Global6

6 Aldeia Global trata-se de um conceito defendido por McLuhan na deacutecada de 60 do seacuteculo XX de que o mundo estaria interligado em uma cultura unificada por meio da tecnologia previsatildeo confirmada em finais do seacuteculo XX e sobretudo no iniacutecio do seacuteculo XXI com o desenvolvimento das tecnologias moacuteveis

O mundo conectado em redes

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Leacutevy (1998) tambeacutem relaciona a revoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com o progresso cientiacutefico e

tecnoloacutegico da humanidade O autor classifica trecircs revoluccedilotildees nos periacuteodos histoacutericos da humanidade

com foco na noccedilatildeo de espaccedilo territoacuterio linguagens e signos de comunicaccedilatildeo A revoluccedilatildeo paleoliacutetica eacute

o primeiro estaacutegio descrito por Leacutevy em que os homens de Neandertal se comunicavam por linguagem

rudimentar e habitavam a mesma regiatildeo demograacutefica passaram a se dispersar e a ocupar todos os

continentes levando consigo sua cultura liacutengua e costumes Esta diaacutespora segundo o autor levou o

homem ao distanciamento em grupos numa sociedade caracteristicamente nocircmade A segunda

revoluccedilatildeo a neoliacutetica causou uma ruptura profunda na cultura da humanidade o homem deixou de

ser nocircmade passa a ser sedentaacuterio concentra-se em territoacuterios acumula riquezas registra signos e

por fim inventa a escrita e o alfabeto Inverte-se o processo de dispersatildeo para reuniatildeo de povos em

cidades e impeacuterios mas segundo Leacutevy este ainda era um fenocircmeno regional a humanidade

continuava fragmentada geograficamente e com rudimentares meios de comunicaccedilatildeo

A terceira revoluccedilatildeo apontada por Leacutevy eacute a informacional que teve impulso com a expansatildeo

dos meios de transportes em plena Revoluccedilatildeo Industrial no seacuteculo XIX No fim da Idade Meacutedia ateacute

meados do seacuteculo XX a maioria das pessoas morava no campo eram agricultores e criavam animais

A invenccedilatildeo do motor a vapor das maacutequinas e o trabalho nas induacutestrias promoveu a migraccedilatildeo das

pessoas agraves cidades contribuindo para a explosatildeo demograacutefica das mesmas Leacutevy argumenta que

concomitante a este processo os meios de transportes foram melhorados e contribuiacuteram para a

mobilidade das pessoas de um centro comercial a outro e os meios de comunicaccedilatildeo em expansatildeo

permitiram que os espaccedilos geograacuteficos fossem reduzidos Esta conflagraccedilatildeo demograacutefica em paralelo

com a expansatildeo dos meios de transporte a o avanccedilo dos meios de comunicaccedilatildeo foi o campo

preparatoacuterio para o surgimento do Ciberespaccedilo Segundo a definiccedilatildeo de Leacutevy (1998 p 49) este

constitui um ldquomeio de comunicaccedilatildeo aberto pela intercomunicaccedilatildeo mundial de computadoresrdquo A

Revoluccedilatildeo Industrial trocou a madeira pelo ferro a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos seacuteculos XIX e XX trocou o

carvatildeo pelo binocircmio eletricidade e petroacuteleo e ainda no seacuteculo XX a revoluccedilatildeo da informaacutetica trocou o

tratamento analoacutegico das informaccedilotildees pelo processamento digital O autor afirmou que o ciberespaccedilo

destronou a TV jaacute na deacutecada de 1990 e previu que no futuro este seria o centro de gravidade da nova

ecologia de comunicaccedilatildeo o que realmente ocorreu no seacuteculo XXI

Sobre as transformaccedilotildees geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos

estruturantes em todos os matizes da sociedade Trivinho (2003 p 167) analisa

O mundo conectado em redes

58

Mais do que o espiacuterito de eacutepoca da sociedade tecnoloacutegica de fim de seacuteculo marcado por um excesso de comunicaccedilatildeo jamais visto e pela crise dos saberes em geral [] - eacute o ciberespaccedilo que na esteira das tecnologias informaacuteticas impotildee a essa teoria um ultimato convidando-a a fazer uma dura prova do real [] Ele redefine rearticula e reescalona de maneira original todos os elementos pertencentes agrave dimensatildeo tecnoloacutegica soacutecio-cultural e poliacutetica da comunicaccedilatildeo determinando novos rumos para as iniciativas acadecircmicas voltadas para a criacutetica metateoacuterica e a constituiccedilatildeo de um novo modelo reflexivo

Diante destes pressupostos teoacutericos infere-se que a cada inovaccedilatildeo tecnoloacutegica bem sucedida

os padrotildees de comportamento mudam Na aacuterea da Comunicaccedilatildeo um exemplo notaacutevel eacute a invenccedilatildeo do

telefone celular O telefone fixo foi uma inovaccedilatildeo importante reduziu os espaccedilos fiacutesicos possibilitando

que pessoas se comunicassem em tempo real mesmo estando a quilocircmetros de distacircncia Ademais

possuir o nome e endereccedilo na lista telefocircnica local era uma forma de identidade e definiccedilatildeo de

territoacuterio A telefonia celular mudou profundamente os padrotildees de tempo e espaccedilo Esta tecnologia natildeo

tornou obsoleto o telefone fixo mas ampliou as possibilidades de comunicaccedilatildeo promovendo a

mobilidade e a ubiquidade7 A internet sem fio nos aparelhos celulares empoderaram ainda mais as

possibilidade de conexatildeo a qualquer hora em qualquer lugar Estas inovaccedilotildees lanccedilam novas questotildees

em relaccedilatildeo ao espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado a privacidade e as relaccedilotildees sociais As novas formas

de comunicaccedilatildeo sem fio estatildeo reconfigurando o uso do espaccedilo de lugar e dos espaccedilos de fluxos

causando transformaccedilotildees impactantes na sociedade inclusive nos processos educacionais (Santaella

2010 2013a)

Fugindo do determinismo tecnoloacutegico as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo constituem

uma das variaacuteveis mais importantes para se compreender a evoluccedilatildeo sociocultural da humanidade

Silva (2008) apresenta uma imagem figurativa que descreve seis configuraccedilotildees evolutivas dos

processos comunicativos e educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo

7 Ubiquumlidade ldquopervasividaderdquo e senciente satildeo quase sinocircnimos Ubiquidade refere-se agrave possibilidade de estar em vaacuterios lugares ao mesmo tempo Por ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo ou ldquopervasivardquo compreende-se a disseminaccedilatildeo dos computadores em todos os lugares (Lemos amp Valentim 2006)

O mundo conectado em redes

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Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana (Silva 2008)

A figura acima retrata o processo evolutivo em que Bento Silva relaciona a forma de

comunicaccedilatildeo de um determinado periacuteodo com o modelo de educaccedilatildeo correspondente Segundo o

autor ldquocada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia

comunicacional e educacional que lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas

tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo (Silva 2008 p 1908) Este paradigma muda a configuraccedilatildeo dos

processos de aprendizagem e a ecologia educacional No quadro abaixo segue em siacutentese conforme

abordado pelo autor das caracteriacutesticas do processo educativo proveniente das respectivas tecnologias

vigentes num determinado periacuteodo de tempo

Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Tipo de comunicaccedilatildeo

Base da educaccedilatildeo

Tecnologia (medium)

Periacuteodo Caracteriacutesticas da educaccedilatildeo

Interpessoal Famiacutelia Gestos voz

iacutecones (50000 AC a 20000 AC)

Os pais passavam para os filhos por meio de rituais e teacutecnicas de imitaccedilatildeo as formas de subsistecircncia (caccedilar pescar defesa pessoal)

Comunicaccedilatildeo de elite

Elite sacerdoacutecio

realeza Escrita 4000 AC

A escola transforma algo que antes era informal (em famiacutelia) em algo formal a cargo de especialistas (dicotomia entre os que sabem e o natildeo sabem) Escola para elites

Comunicaccedilatildeo de massa

Escola Paralela

Livro impresso telefone TV

raacutedio cinema

Sec XV (tipografia) ateacute

sec XIX

Com a ampla difusatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa (TV raacutedio livros jornais) surge a escola paralela (conjunto de estiacutemulos fora da escola oficial)

Comunicaccedilatildeo individual

Auto-educaccedilatildeo

Fotografia gravador de

sons reprografia

(computador)

Iniacutecio do seacuteculo XX

Mudanccedila da relaccedilatildeo professoraluno Posto em causa o paradigma de transmissatildeo linear da comunicaccedilatildeo Satildeo abertos novos canais de interaccedilatildeo e produccedilatildeo do conhecimento

Ambientes virtuais

Redes Informaacutetica e digitalizaccedilatildeo

Fins do Seacuteculo XX ateacute iniacutecio do Seacuteculo XXI

O potencial comunicativo da informaacutetica possibilita a formaccedilatildeo de redes de comunidades de aprendizagem que constroem e compartilham conhecimento

Comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas poacutesmassivas

Aprendizagem ubiacutequa

Dispositivos moacuteveis conectados a internet

Dias atuais (2017)

Redes moacuteveis ubiacutequas de computaccedilatildeo permitem a aprendizagem em contextos formais informais e natildeo formais

Fonte Adapatado de Silva (2013)

O mundo conectado em redes

60

Assim observa-se uma correlaccedilatildeo da tecnologia de comunicaccedilatildeo em cada periacuteodo histoacuterico

com os processos educativos dos respectivos periacuteodos Consideramos a seguir com detalhes as seis

reconfiguraccedilotildees evolutivas citadas por Silva (2013)

121 Comunicaccedilatildeo interpessoal

Na primeira reconfiguraccedilatildeo evolutiva a comunicaccedilatildeo interpessoal natildeo existem intermediaacuterios

na comunicaccedilatildeo o homem eacute o proacuteprio medium e para que a comunicaccedilatildeo ocorra eacute necessaacuteria a

presenccedila fiacutesica de todos interlocutores (Silva 2002) Neste modelo o cunho da mensagem seja por

gestos expressotildees ou palavras eacute interpessoal e passada de pessoa a pessoa Esta forma de

comunicaccedilatildeo evoluiu quando o homem desenvolveu teacutecnicas de produccedilatildeo de representaccedilotildees icocircnicas

(reacuteplicas simboacutelicas das cenas visuais do mundo que o cercava) conhecidas posteriormente como

pintura ou arte rupestre Consistiam em pinturas e desenhos gravados em paredes e tetos das

cavernas Para produzir estes iacutecones ou desenhos o homem preacute-histoacuterico usava ossos de animais

ceracircmicas e pedras como pinceacuteis aleacutem de fabricar suas proacuteprias tinturas atraveacutes de folhas de aacutervores

sangue de animais e excrementos humanos Este conjunto de artefatos e teacutecnicas utilizados pelo

homem era a ldquotecnologia8rdquo disponiacutevel naquele periacuteodo

Neste contexto marcado pela comunicaccedilatildeo interpessoal limitada a poucos interlocutores e de

presenccedila fiacutesica obrigatoacuteria os processos educativos eram passados de pais para filhos no ambiente

familiar ou em comunidades Como analisa Silva (2008) numa sociedade de cultura de subsistecircncia

as ocasiotildees de aprendizagem eram informais e aconteciam no cotidiano (pai ensina filho a pescar

plantar colheita defesa pessoal matildee ensina filha a cozinhar cuidar dos filhos etc) Rituais mitos e

pressaacutegios eram passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo com o objetivo de preservar a heranccedila cultural da

comunidade ou tribo Silva (2002 p 780) explica

A exteriorizaccedilatildeo da mensagem pelo gesto e pela palavra tem uma natureza eminentemente interpessoal necessita da presenccedila de todos os interlocutores num mesmo espaccedilo e num mesmo momento A difusatildeo limita-se ao instante e ao meio imediato O seu raio de acccedilatildeo natildeo ultrapassa o territoacuterio local

Assim a comunicaccedilatildeo interpessoal nas famiacutelias e nas tribos constituiu o primeiro patamar da

base educacional num modelo centrado na oralidade compartilhamento de crenccedilas e culturas Neste

modelo a comunicaccedilatildeo era limitada ao grupo local e os conhecimentos fechados agrave tribo sendo

8 A palavra tecnologia vem do grego thecnecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e dizia respeito a termos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacutecios (Blanco amp Silva 1993)

O mundo conectado em redes

61

passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Natildeo existindo escolas formais a famiacutelia constituiacutea o espaccedilo educativo

por excelecircncia

122 Comunicaccedilatildeo de Elite

A segunda reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de acordo com Silva

(2008) ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita O avanccedilo da comunicaccedilatildeo por meio de gestos e linguagem

para o uso das teacutecnicas de produccedilatildeo dos iacutecones e desenhos foi um importante passo para o

desenvolvimento da escrita A tecnologia proporcionada pela teacutecnica da escrita e da capacidade de ler

causou um impacto significativo na estrutura comunicacional educativa e social da sociedade A partir

da invenccedilatildeo da escrita surge a escola como espaccedilo privilegiado de educaccedilatildeo Higounet (2003) monge

beneditino francecircs que se dedicou a estudar sobre a escrita afirma que a histoacuteria da humanidade se

divide em duas grandes eras antes e depois da escrita Segundo este autor etimologicamente a

palavra ldquoescritardquo significa gravar ou fazer uma marca Esta tecnologia foi desenvolvida de acordo com

a necessidade do homem no periacuteodo que este passou de nocircmade para sedentaacuterio e comeccedilou a cultivar

seu alimento (agricultura) e criar animais Logo se precisava de um recurso para registrar o nuacutemero de

animais do rebanho e quanto alimento era guardado A teacutecnica da escrita foi especializada e

posteriormente foi utilizada para anotar os dias do ano (calendaacuterio) registrar grandes feitos batalhas

tratados proclamaccedilotildees de governantes casamentos empreacutestimos oraccedilotildees e assim por diante

Pierre Leacutevy na sua obra As Tecnologias de Inteligecircncia afirma que a escrita permitia ao poder

estatal comandar tanto os signos quantos os homens O autor explica ldquoatraveacutes dos anais arquivos

administrativos leis regulamentos e cartas o Estado tenta de todas as maneiras congelar programar

represar ou estocar seu futuro e seu passadordquo (Leacutevy 1993 p 54) Leacutevy afirma ainda que a invenccedilatildeo

da escrita permitiu separar as mensagens das situaccedilotildees onde satildeo produzidos os discursos e suscitou

a ambiccedilatildeo teoacuterica para a intelectualidade O ser humano podia eternizar seus discursos em textos que

poderiam ser consultados posteriormente feito que natildeo era possiacutevel na cultura oral antes da escrita

De acordo com Silva (2002) a escrita exigia conhecimento de regras gramaticais um

conhecimento especializado No seacuteculo VI dC as ordens religiosas denominadas monasteacuterios

concentravam as tarefas de ensino e de escrita produziam textos para a liturgia e para as leituras

sagradas Entre os laicos poucos sabiam ler Os antigos escribas ou copistas que copiaram os textos

biacuteblicos o fizeram em papiros estes apresentavam fragilidade no seu manuseio e foram substituiacutedos

pelo pergaminho mais resistente por ser constituiacutedo de peles de animais Este novo artefato

O mundo conectado em redes

62

possibilitou a dobra e costura dos escritos surgindo assim a figura do codex ancestral do atual livro

(Olson 1996) Os monges responsaacuteveis pelas coacutepias dos codex possuiacuteam no mosteiro sua sala

individual de leitura e escrita com uma mesa e assento (scriptorium) onde os livros eram escritos a

matildeo por isso eram chamados de manuscritos A ediccedilatildeo de livros por iniciativa de cleacuterigos e da

burguesia ocorreu ateacute finais do seacuteculo XII a partir de entatildeo os copistas laicos juntaram-se aos monges

em associaccedilotildees que passaram a atender a burguesia comercial na redaccedilatildeo de livros e documentos

oficiais (Martins 1996)

Assim a escrita constituiacutea um saber que natildeo pertencia a todos o que deflagrava uma

dicotomia entre quem tinha o domiacutenio da teacutecnica (escrita e leitura) e os que natildeo tinham Nesta

configuraccedilatildeo a educaccedilatildeo era privileacutegio reservado agraves elites Silva (2005 p 35) afirma

Seja porque a escrita estava associada a um poder secreto e maacutegico (sendo considerada uma actividade perigosa para o leitor menos esclarecido) e a um instrumento de poder e controlo da populaccedilatildeo por parte dos Estados Reacutegios e das autoridades religiosas a sua aprendizagem generalizada tardou permanecendo durante muito tempo como uma forma de comunicaccedilatildeo elitista

Apoacutes a escrita explica Silva estabeleceu-se uma brecha entre os que dominavam sua teacutecnica

e os que natildeo sabiam Ateacute entatildeo a oralidade colocava todos em situaccedilatildeo nivelada com a escrita abriu-

se um fosso separando os letrados dos iletrados Conforme explanado pelo autor (idem p 35) ldquotodos

os sistemas pictograacuteficos e ideograacuteficos ao requerem um grande nuacutemero de siacutembolos exigem muito

tempo na elaboraccedilatildeo graacutefica e resultam elitistasrdquo Possivelmente conclui o Silva o escriba deve ter

sido o primeiro tecnocrata ao serviccedilo do palaacutecio real por deter os conhecimentos e teacutecnicas da escrita

Naquele periacuteodo da histoacuteria os estudos eram privileacutegios de poucos que natildeo precisavam

trabalhar e dispunham de tempo livre A palavra escola tem origem do grego scholeacute que significa lazer

ou tempo ocioso Assim poucos dispunham de tempo disponiacutevel para se dedicar aos estudos Apenas

uma elite tinha acesso agrave leitura e agrave escrita e frequentavam pequenas escolas nas paroacutequias das

cidades e vilarejos O movimento para a universalizaccedilatildeo da escola ocorreu apenas a partir do seacuteculo

XVII na eacutegide do Iluminismo Portanto a invenccedilatildeo da escrita assegurou o segundo marco das

reconfiguraccedilotildees que a tecnologia causou na educaccedilatildeo a aprendizagem organizada em escolas

reservadas a elites com intuito de aprenderem as teacutecnicas de leitura escrita e caacutelculos

O mundo conectado em redes

63

123 Comunicaccedilatildeo em massa

A terceira reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo segundo Silva (2008)

ocorreu com o surgimento da comunicaccedilatildeo em massa A invenccedilatildeo da tipografia no seacuteculo XV que

permitiu a produccedilatildeo de livros em grande escala e possibilitava o acesso ao conhecimento fora do

espaccedilo escolar Depois jaacute no seacuteculo XIX o invento do teleacutegrafo eleacutetrico em 1837 e do telefone em

1876 que tornou possiacutevel a reproduccedilatildeo do som e das palavras agrave distancia Estas invenccedilotildees abriram

caminho para o desenvolvimento de outras tecnologias de amplificaccedilatildeo de mensagens como a TV o

raacutedio e o cinema Segundo Silva (2002 p 781)

O aparecimento das tecnologias de amplificaccedilatildeo com a invenccedilatildeo da imprensa no seacuteculo XV e principalmente num segundo momento com os desenvolvimentos em meados do seacuteculo XIX de uma seacuterie de invenccedilotildees no acircmbito das telecomunicaccedilotildees (do teleacutegrafo e do telefone) do som e da imagem electroacutenicos (radiofonia cinema e televisatildeo) deu origem ao fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo processo que se firmou gradualmente e adquiriu muitas das caracteriacutesticas que ainda hoje tem

Neste cenaacuterio a escola natildeo era mais o uacutenico loacutecus privilegiado para a educaccedilatildeo A invenccedilatildeo da

imprensa que popularizou os livros foi um marco nas mudanccedilas ocorridas no meios de comunicaccedilatildeo

Sobre este invento McLuhan (1977 p 182) afirma que o livro impresso ldquoera o novo material didaacutetico

que tornado acessiacutevel a todos os estudantes fizera obsoleto o ensino antigo O livro era literalmente a

maacutequina de ensinar quando o manuscrito era tatildeo-soacute rude ferramenta de ensinordquo A expressatildeo

ldquomaacutequina de ensinarrdquo cunhada por McLuhan exprime a revoluccedilatildeo que o livro impresso causou nas

estruturas educacionais da eacutepoca Natildeo obstante no seacuteculo XVII o livro impresso em grandes

quantidades era criticado pelos professores e intelectuais com a premissa de que este retirava o

glamour do trabalho dos escritores e estimulavam ao oacutecio a preguiccedila e o individualismo

Para McLuhan (1977 p 119) a ldquoGalaacutexia de Gutembergrdquo reconfigurou o cenaacuterio cultural

poliacutetico e social de uma geraccedilatildeo

A diferenccedila entre o homem da palavra impressa e o da palavra manuscrita eacute quase tatildeo grande quanto a que existe entre o natildeo alfabetizado e o alfabetizado Os elementos constitutivos da tecnologia de Gutenberg natildeo eram novos Mas ao se conjugarem no seacuteculo quinze pela invenccedilatildeo da imprensa produziram tal aceleraccedilatildeo de accedilatildeo social e pessoal que se pode comparar a do take-off no sentido em que W W Rostow desenvolve esse conceito em The Stages of Economic Groivth (As fases de crescimento econocircmico) O take-off eacute aquele momento decisivo na histoacuteria de uma sociedade em que deflagra o seu desenvolvimento e este se torna sua condiccedilatildeo normal

O mundo conectado em redes

64

Assim o livro impresso causou uma revoluccedilatildeo nos processos educativos possibilitando a

mudanccedila do ensino baseado na oralidade para o ensino baseado na escrita disponiacutevel a qualquer

cidadatildeo Nas palavras de McLuan a invenccedilatildeo da imprensa foi um ldquomomento decisivordquo da histoacuteria da

sociedade este constituiu o embriatildeo do surgimento dos meios de comunicaccedilatildeo em massa que se

desenvolveram em meados do seacuteculo XIX e mudaram a forma da sociedade ver o mundo

Outra invenccedilatildeo no rol das que mais impactaram a aacuterea da comunicaccedilatildeo foi o telefone A

invenccedilatildeo do telefone retirou ao ser humano o seu caraacuteter privado ora tatildeo prezado Na anaacutelise de

McLuhan (1964 p 304) ldquoo telefone eacute um ldquoentratildeordquo irresistiacutevel em qualquer tempo e lugarrdquo O autor

analisa os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees dos sentidos humanos em destaque o sentido da

audiccedilatildeo e da visatildeo O telefone seria as ldquoorelhas de longa distacircnciardquo a escrita e a imprensa seriam as

extensotildees visuais Analisando o aforismo de McLuhan ldquoo meio eacute a mensagemrdquo Braga (2012 p 50)

diz sobre o telefone

Existe algo de revolucionaacuterio no telefone algo que transforma radicalmente a relaccedilatildeo dos seres humanos com o tempo e com o espaccedilo Tal dimensatildeo a ldquomensagem do meiordquo ndash aquilo que o telefone faz com a comunicaccedilatildeo humana ndash natildeo se encontra no ldquoconteuacutedordquo ou na ldquomensagemrdquo de nenhum telefonema particular

A invenccedilatildeo da tecnologia de telefonia celular moacutevel criada experimentalmente pela empresa

Motorola na deacutecada de 1970 e comercializada em 1984 no modo analoacutegico revolucionou o sistema de

telefonia Em meados dos anos de 1990 surgiu o primeiro telefone celular digital superando a 1ordm

geraccedilatildeo de celulares analoacutegicos Desde entatildeo os padrotildees de transmissatildeo continuaram a evoluir com

as tecnologias 2G 3G e atualmente 4G com traacutefego de dados em alta velocidade baseados em

Protocolo de Internet (IP) Segundo Leacutevy (1999) o telefone e o correio funcionam num sistema de rede

ponto a ponto (um para um) em que as mensagens podem ser endereccediladas com precisatildeo e trocadas

com reciprocidade No sistema de telefonia analoacutegico esta comunicaccedilatildeo natildeo criava puacuteblico era

particular e restrita Com a criaccedilatildeo do sistema digital o uso de mensagens e aplicativos de bate-papo e

chats possibilitou a interatividade e comunicaccedilatildeo simultacircnea de diversos sujeitos ao telefone

Ainda sobre os meios de comunicaccedilatildeo em massa que revolucionaram os padrotildees sociais e

culturais de uma geraccedilatildeo a invenccedilatildeo da TV se encontra entre os mais destacaacuteveis Nos fins da deacutecada

de 1930 ocorreram nos EUA as primeiras transmissotildees regulares de TV Assim como a imprensa e o

raacutedio a TV funciona num esquema ldquoum para todosrdquo um centro emissor envia mensagens na direccedilatildeo

de receptores passivos e sobretudo isolados uns dos outros Leacutevy (1999 p 44) comenta sobre esta

miacutedia

O mundo conectado em redes

65

O dispositivo de miacutedia cria comunidade pois um grande nuacutemero de pessoas recebe as mesmas mensagens e partilha em consequecircncia certo contexto Mas natildeo haacute reciprocidade nem interaccedilatildeo (ao menos no interior do dispositivo) e o contexto eacute imposto pelos centros emissores

Considerada por McLuhan (1964) como um ldquomeio friordquo de comunicaccedilatildeo por ser pobre em

informaccedilatildeo e exigir muito dos seus consumidores para dar sentido agraves mensagens a TV recebeu

criacuteticas de muitos intelectuais que se preocupam com seu efeito massificador Relata-se que em 1950

havia nos EUA mais pessoas vendo TV que ouvindo raacutedio Naquele periacuteodo iniciou-se um periacuteodo

tenebroso para o raacutedio em decorrecircncia da novidade proposta pela TV esta exibia som e imagem Sobre

o poder midiaacutetico da TV Silva (2005 p 37) afirma

Parte da forccedila deste media capaz de influenciar e organizar os estilos de vida e haacutebitos comunitaacuterios (hora das refeiccedilotildees de deitar e de levantar de sair de casa de conversar e conviverhellip) bem como condicionar culturalmente os cidadatildeos atraveacutes da disseminaccedilatildeo de ideias e modismos agrave escala planetaacuteria vem da nova configuraccedilatildeo comunicativa de recepccedilatildeo a mensagem televisiva tem penetraccedilatildeo na casa de qualquer pessoa ocupando por isso um lugar estrateacutegico de acircmbito sociocultural na ceacutelula familiar

Tendo em vista o efeito de amplificaccedilatildeo de mensagens que a TV possui sua difusatildeo promoveu

uma mudanccedila na configuraccedilatildeo comunicativa global tendo em vista seu amplo alcance de penetraccedilatildeo

nos domiciacutelios residenciais

No campo educacional a hegemonia da escola como a uacutenica fonte de transmissatildeo do saber eacute

ameaccedilada pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa como o livro o jornal o cinema com destaque

para a TV O conceito de ldquoEscola Paralela9rdquo originalmente expresso por Friedmann (1962) passa a

ganhar sentido com o amplo alcance e a presenccedila incontestaacutevel de aparelhos de TV nos domiciacutelios do

mundo todo Assim como a impressatildeo de livros em grande escala com a invenccedilatildeo da impressa a

propagaccedilatildeo da TV foi criticada por educadores nas deacutecadas de 1950 e 1960 Segundo Laurens (2009

p 8) para os educadores os meios de comunicaccedilatildeo em massa em especial a TV estimulavam a

passividade a dispersatildeo e a superficialidade

Os professores contudo criticavam o livro sob alegaccedilatildeo de que estimulava a preguiccedila e liberava do esforccedilo de memorizaccedilatildeo A invenccedilatildeo dos meios eleacutetricos e eletrocircnicos como o raacutedio a televisatildeo e o telefone provocaram em seguida uma nova ruptura transformando a relaccedilatildeo entre espaccedilo e tempo prenuacutencio da globalizaccedilatildeo da atividade e do pensamento humanos

9 Segundo Friedmann (1962) Escola Paralela trata-se do ldquoconjunto de estiacutemulos afectivos e intelectuais que recebem as crianccedilas desde a sua mais tenra infacircncia e fora da escola oficial a partir do meio ambiente da televisatildeo a raacutedio o telefone o transmissor os desenhos animados as revistas dos pais

O mundo conectado em redes

66

O autor conclui que para os professores a TV era percebida como uma ldquoconcorrente deslealrdquo

que favorecia o lazer a facilidade e a modernidade tornando os alunos entediados com a escola O

fato eacute que diante da expansatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa a escola deixou de ser a uacutenica

fonte de transmissatildeo do conhecimento e reconfigurou mais uma vez os processos educativos daquela

geraccedilatildeo (Silva 2005) Os cursos por correspondecircncia que jaacute ocorriam desde o final do seacuteculo XIX

(primeiras referecircncias por volta de 1885) com o advento do raacutedio e da TV expandiram seu puacuteblico na

Europa e nos EUA De acordo com Gomes (2008) o ldquotele-ensinordquo ou ensino mediado por suportes

visual aacuteudio escrita aacuteudio-visual e aacuteudio-escrito-visual tinha por principais caracteriacutesticas a

distribuiccedilatildeo de conteuacutedos via raacutedio ou TV a pouco frequente comunicaccedilatildeo professoraluno a

inexistente comunicaccedilatildeo alunosalunos e uma comunicaccedilatildeo siacutencrona fraacutegil efetuada com suporte do

telefone A autora afirma que nesse periacuteodo surgiram vaacuterias instituiccedilotildees de ensino voltadas

especificamente para a educaccedilatildeo a distacircncia e a escola tradicional perdia espaccedilo para novas formas

de aprendizagem

124 Comunicaccedilatildeo Individual

A quarta reconfiguraccedilatildeo dos meios de telecomunicaccedilatildeo ocorreu concomitante agrave expansatildeo dos

meios de comunicaccedilatildeo em massa (mass media) o fenocircmeno da self media surgiu como motor

propulsor das tecnologias em base individual A invenccedilatildeo da fotografia gravador de sons reprografia

videografia multigrafia (computador) e outros artefatos tecnoloacutegicos de produccedilatildeo de miacutedia permitiam

ao homo communicans a possibilidade de expressar-se em base individual de diferentes formas em

distintos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo Silva (2008) afirma que a fotografia foi o primeiro self media a fazer

parte do cotidiano das pessoas Com sua popularizaccedilatildeo a partir dos anos de 1970 a fotografia passou

a constituir um meio de registro da vida cotidiana e tambeacutem um modo de expressatildeo da arte de cunho

individual A invenccedilatildeo da reprografia foi outro importante feito para a distribuiccedilatildeo em grande escala de

informaccedilatildeo e libertou as pessoas da induacutestria da impressatildeo permitindo a produccedilatildeo de coacutepias e mais

liberdade na arte de compor e imprimir

No entanto a invenccedilatildeo de maior peso na era comunicativa da self media foi o computador

Desenvolvido inicialmente para fazer caacutelculos e promover armazenamento de dados o computador de

uma maacutequina de 30 toneladas de peso em 194510 transformou-se em microcomputador de mesa na

deacutecada de 1970 graccedilas agrave utilizaccedilatildeo de transitores e microprocessadores Segundo Castells (1999 p

82) o computador pessoal passou a se popularizar com o desenvolvimento de um novo software de 10 ENIAC Electronic Numerical Integrator and Computer

O mundo conectado em redes

67

sistema operacional que permitia a utilizaccedilatildeo da maacutequina sem a necessidade de ter os conhecimentos

de um programador Sobre a criaccedilatildeo e desenvolvimento da internet o autor relata que esta resultou de

uma ldquofusatildeo singular de estrateacutegia militar grande cooperaccedilatildeo cientiacutefica iniciativa tecnoloacutegica e

inovaccedilatildeo contraculturalrdquo Inicialmente criada para fins militares na deacutecada de 1950 a internet

comeccedilou a ser difundida na comunidade cientiacutefica para comunicaccedilatildeo entre pesquisadores e cientistas

das universidades dos EUA em meados da deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo da ARPANET11

Por volta de 1990 outro salto tecnoloacutegico permitiu a difusatildeo da internet para a comunidade

geral a criaccedilatildeo da Word Wide Web (www) que mudou a forma de organizaccedilatildeo dos siacutetios na internet

que antes eram agrupados por localizaccedilatildeo passaram a ser organizados por informaccedilatildeo A forma

padratildeo das informaccedilotildees do www eacute o hipertexto 12 que admite a interligaccedilatildeo entre diversos

documentos que podem ser localizados em diferentes servidores em distantes partes do mundo A

partir de entatildeo novos progressos nas telecomunicaccedilotildees e computaccedilatildeo provocaram mais mudanccedilas

tecnoloacutegicas como os sistemas mainframes 13 novos softwares criaccedilatildeo de estrutura de

telecomunicaccedilatildeo por fibras oacutepticas aumento da velocidade dos processadores ampliaccedilatildeo da

tecnologia de multimiacutedia e outros avanccedilos que conectaram o mundo numa ldquoaldeia globalrdquo como

previsto por McLuhan

Nascia o ldquociberespaccedilordquo que parecia ficccedilatildeo cientiacutefica quando o escritor Wilian Gibson (1984)

criou esta expressatildeo no seu romance Neuromancer em 1984 Para Gibson o ciberespaccedilo constituiacutea

tatildeo somente uma constelaccedilatildeo de dados de capacidade infinita O autor natildeo imaginava o potencial que

a internet teria para tornar essa ficccedilatildeo uma realidade Anos mais tarde Michael Benedikt (1993) na

sua obra El ciberespacio algunas propuestas usou a expressatildeo ciberespaccedilo para designar o espaccedilo

virtual paralelo da internet que abriga infinitos bancos de dados em incontaacuteveis sites paacuteginas e portais

Leacutevy (2008 p 40) utilizou o termo ciberespaccedilo para definir o meio de comunicaccedilatildeo aberto pela

interconexatildeo mundial dos computadores que emerge comordquo espaccedilo elaacutesticordquo que independe do lugar

e tempo de conexatildeo O ciberespaccedilo converte as tecnologias ldquoum para umrdquo (cartas telefone) e a ldquoum

para todosrdquo (televisatildeo raacutedio) para a comunicaccedilatildeo ldquotodos para todosrdquo (internet) A tecnologia fez surgir

11 Arpanet era um projeto que visava a construccedilatildeo de uma rede de computadores que pudessem trocar informaccedilotildees mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes aleacutem de permitir o compartilhamento de recursos escassos Disponiacutevel em httpssitesgooglecomsitesitesrecordo-que-e-arpanet Acesso em 13 jan 2015 12 O hipertexto eacute codificado com a linguagem HTML (Hypertext Markup Language) que possui um conjunto de marcas de codificaccedilatildeo que satildeo interpretadas pelos clientes WWW (que satildeo os browsers como o Netscape) em diferentes plataformas 13 Computador de grande porte capaz de oferecer serviccedilos de processamento a milhares de usuaacuterios atraveacutes de milhares de terminais conectados diretamente ou atraveacutes de uma rede

O mundo conectado em redes

68

termos como interatividade multimiacutedia (combinaccedilatildeo de texto imagem e som) e hipermiacutedia

(interconexatildeo de diversos textos entre si) que integraram a rotina comunicacional

Leacutevy (1999) no seu livro Cibercultura faz um retrospecto histoacuterico do ciberespaccedilo a partir da

invenccedilatildeo dos primeiros computadores na Inglaterra e nos Estados Unidos nos anos de 1945

passando pelo uso dos mesmos para fins beacutelicos durante a 2ordf Guerra Mundial pela disseminaccedilatildeo dos

computadores para fins cientiacuteficos nas universidades chegando ateacute agrave virada que ocorreu nos anos de

1970 quando se iniciou a comercializaccedilatildeo dos microprocessadores Segundo Leacutevy este foi um salto na

tecnologia pois os chips eletrocircnicos dos microprocessadores abriram uma nova fase na automaccedilatildeo da

produccedilatildeo industrial roboacutetica maacutequinas industriais com controles digitais automaccedilatildeo dos bancos

difusatildeo de aparelhos eletrocircnicos industriais e domeacutesticos Mas a criaccedilatildeo do computador pessoal nos

anos de 1980 eacute apontada pelo autor como um importante passo para efervescecircncia do ciberespaccedilo

Leacutevy (idem p 31) explica

Um verdadeiro movimento social nascido na Califoacuternia na efervescecircncia da ldquocontraculturardquo apossou-se das novas possibilidades teacutecnicas e inventou o computador pessoal Desde entatildeo o computador iria escapar progressivamente dos serviccedilos de processamento de dados das grandes empresas e dos programadores profissionais para tornar-se um instrumento de criaccedilatildeo (de textos de imagens de muacutesicas) de organizaccedilatildeo (bancos de dados planilhas) de simulaccedilatildeo (planilhas ferramentas de apoio atilde decisatildeo programas para pesquisa) e de diversatildeo (jogos) nas matildeos de uma proporccedilatildeo crescente da populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos

O computador pessoal popularizou a internet que antes era restrita apenas a grandes

empresas e instituiccedilotildees Leacutevy (idem p 32) analisa que nos final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

1990 emergiu outro movimento sociocultural que teve origem nas grandes cidades e nos campus

universitaacuterios americanos ldquosem que nenhuma instacircncia dirigisse esse processo as diferentes redes de

computadores que se formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas agraves outras enquanto o

nuacutemero de pessoas e de computadores conectados agrave inter-rede comeccedilou a crescer de forma

exponencialrdquo O autor explica que assim como no caso da invenccedilatildeo do computador pessoal impocircs um

curso diferente para o desenvolvimento socioeconomico e cultural das sociedades afetadas as

tecnologias digitais em rede surgiram como a infraestrutura fiacutesica do ciberespaccedilo um ldquonovo espaccedilo de

comunicaccedilatildeo de sociabilidade de organizaccedilatildeo e de transaccedilatildeo mas tambeacutem novo mercado da

informaccedilatildeo e do conhecimentordquo (idem p 32) No entanto para Leacutevy o ciberespaccedilo natildeo diz respeito

apenas agrave infraestrutura de rede de computadores mas ao universo de informaccedilatildeo que ela abriga e os

seres humanos que nela navegam e a alimentam

O mundo conectado em redes

69

Neste contexto nasce o conceito de ldquociberculturardquo Leacutevy (idem p 17) descreve esta como o

ldquoconjunto das teacutecnicas (materiais e intelectuais) as praacuteticas as atitudes as maneiras de pensar e os

valores que se desenvolvem conjuntamente com o crescimento do ciberespaccedilordquo A cibercultura

emergiu das relaccedilotildees digitais on-line entre os seres humanos e os conteuacutedos digitalizados acessados

na rede que reestruturam outras dinacircmicas sociais econocircmicas poliacuteticas culturais e educacionais Na

primeira fase da cibercultura (iniacutecio do uso da internet) segundo Santos (2014) exigia-se do usuaacuterio

conhecimento da linguagem HTML para se produzir conteuacutedos e interfaces Tambeacutem era necessaacuterio

ter acesso a um servidor quase sempre pago para se hospedar os conteuacutedos e interfaces A internet

constituiacutea um repositoacuterio de informaccedilotildees variadas para pesquisa mas ainda era limitada para

produccedilotildees pessoais A autora afirma que ldquoo ciberespaccedilo era um espaccedilo bastante distanciado dos

espaccedilos urbanos entre eles os espaccedilos escolaresrdquo Santos usa a metaacutefora download e upload para

descrever as praacuteticas educativas com o uso da internet naquele periacuteodo A praacutetica pedagoacutegica

download era baseada no acesso a conteuacutedos para serem reutilizados nas salas de aulas fiacutesicas ou

laboratoacuterio de informaacutetica com os alunos Com a popularizaccedilatildeo da linguagem HTML muitos

professores comeccedilaram a publicar em home pages sites pessoais ou institucionais constituindo a fase

do upload

A educaccedilatildeo nesta conjuntura deixou de ser intermediada exclusivamente pelas instituiccedilotildees

educativas Leacutevy (1998 p 45) apresenta algumas alteraccedilotildees visiacuteveis na forma de comunicaccedilatildeo no

ciberespaccedilo

Ateacute agora o espaccedilo puacuteblico de comunicaccedilatildeo era controlado atraveacutes de intermediaacuterios institucionais que preenchiam uma funccedilatildeo de filtragem e de difusatildeo entre os autores e os consumidores de informaccedilatildeo estaccedilotildees de televisatildeo de raacutedio jornais editoras gravadoras escolas etc Ora o surgimento do ciberespaccedilo cria uma situaccedilatildeo de desintermediaccedilatildeo cujas implicaccedilotildees poliacuteticas e culturais ainda natildeo terminamos de avaliar

Leacutevy cita a ldquodesintermediaccedilatildeordquo que a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo causaria na sociedade e nas instituiccedilotildees dentre elas a escola A escola filtrava os

conteuacutedos a serem estudados formalizando-os em um curriacuteculo fechado do qual os alunos seguiam por

intermeacutedio de livros didaacuteticos escolhidos pelo corpo docente da escola Com o ciberespaccedilo e o fomento

da cibercultura os processos de intermediaccedilatildeo deixam de ser hierarquizados e resultam dos proacuteprios

indiviacuteduos de acordo com suas necessidades e interesses

O mundo conectado em redes

70

A autoeducaccedilatildeo constituiu entatildeo uma caracteriacutestica marcante no contexto da expansatildeo dos

meios de comunicaccedilatildeo de caraacuteter individual baseados principalmente na internet Silva (2008 p

1916) explica

O aluno jaacute natildeo eacute apenas um mero estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida recebendo de uma forma mais ou menos passiva o saber transmitido pelo professor mas eacute fundamentalmente um auto-educando num amplo quadro de educaccedilatildeo permanente e aprendizagem autoacutenoma reforccedilado pela expressatildeo aprender a aprender

A interaccedilatildeo possibilitada pelo uso do correio eletrocircnico favoreceu a expansatildeo de cursos a

distacircncia a partir de 1985 Gomes (2008) explica que num periacuteodo anterior ao da internet a educaccedilatildeo

mediada por tecnologias como a TV o raacutedio e correspondecircncias tinha um caraacuteter pouco interativo

Embora a distribuiccedilatildeo de conteuacutedos fosse massiva a comunicaccedilatildeo entre professor e aluno era limitada

quase sempre por correspondecircncia ou telefone e a comunicaccedilatildeo aluno com outros alunos naquele

modelo era inexistente Com a internet o correio eletrocircnico favoreceu a interatividade professoraluno

e ateacute mesmo entre alunos Esta fase de uso de tecnologia mediada por computador e internet eacute

classificada pela autora como a terceira geraccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia sendo a primeira geraccedilatildeo

pautada pelo ensino por correspondecircncia e a segunda caracterizada pelo uso intensivo de TV e

transmissotildees radiofocircnicas cujo suporte mediaacutetico para comunicaccedilatildeo era o telefone

125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais

O fortalecimento e ampliaccedilatildeo do ciberespaccedilo e da cibercultura no seacuteculo XXI abriram campo

para a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com impacto na educaccedilatildeo apontada por Silva (2008) a

comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais por meio de comunidades de aprendizagem Da primeira fase da

internet chamada de Web 10 focalizada em site de buscas de informaccedilatildeo avanccedilou-se na virada do

milecircnio para a Web 20 sendo esta uacuteltima voltada para a interaccedilatildeo entre os usuaacuterios tambeacutem

chamada de Web Social Silva e Souza (2015 p 6) explicam que esse fenocircmeno ocorreu devido o

desenvolvimento de um ldquoconjunto alargado de programas centrados na interatividade entre utilizadores

que permitiram uma maior relacionamento socialrdquo A internet tornou-se uma interface de publicaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo em rede As interfaces amigaacuteveis de blogs foacuteruns vlogs wiks podcastings redes

sociais paacuteginas pessoais canais de viacutedeos possibilitaram que os usuaacuterios migrassem de receptores da

informaccedilatildeo para autores O ciberespaccedilo torna-se um espaccedilo democraacutetico em que satildeo dadas vozes aos

que antes natildeo tinham oportunidade de se expressar

O mundo conectado em redes

71

Sobre os efeitos das praacuteticas de comunicaccedilatildeo no espaccedilo virtual da internet Silva e Conceiccedilatildeo

(2013 p 140) afirmam

a ldquonavegaccedilatildeo pelo ciberespaccedilordquo natildeo se limita agrave obtenccedilatildeo de dados pelos indiviacuteduos mas se estabelece uma rede de conversaccedilatildeo onde se trocam reclamaccedilotildees e compromissos ofertas e promessas aceitaccedilotildees e recusas ou seja pela internet natildeo transitam simples informaccedilotildees mas ldquoatos de comunicaccedilatildeordquo onde o mundo privado da experiecircncia pessoal daqueles que os praticam eacute projetado no interior do mundo interpessoal e grupal das interaccedilotildees

Assim com a expansatildeo da internet novos padrotildees de sociabilidade substituiacuteram as formas de

interaccedilatildeo humana antes limitada pelas distacircncias geograacuteficas Neste contexto emergiram as

comunidades virtuais que reuacutenem no ciberespaccedilo pessoas com interesses comuns De acordo com

Rheingold (1994) o termo ldquocomunidade virtualrdquo foi concebido para definir o agrupamento de humanos

que frequentam o ciberespaccedilo por meio da rede de computadores

As comunidades virtuais satildeo uniotildees sociais que surgem na rede quando uma quantidade suficiente de pessoas leva a seacuterio essas discussotildees puacuteblicas durante um tempo suficente com grandes sentimentos humanos para formar redes de reaccedilotildees pessoais no espaccedilo ciberneacutetico (Rheingold 1994 p 20)

Neste sentido os distintos indiviacuteduos que compotildeem uma comunidade virtual reuacutenem-se por

um senso comum ou interesses muacutetuos e natildeo por mera agregaccedilatildeo geograacutefica ldquoOs usuaacuterios desses

serviccedilos se conectam habitualmente aos chat rooms ou salas de encontros virtuais que tem por tiacutetulo

assuntos que lhes satildeo relevantesrdquo acrescenta Primo (1997 p 3) Embora estas comunidades natildeo

tenham um endereccedilo fiacutesico pois residem no ciberespaccedilo tecircm um poder de uniatildeo e mobilizaccedilatildeo tanto

quanto a de uma comunidade fiacutesica

Segundo Castells (2003 p 105) a noccedilatildeo de ldquocomunidades virtuaisrdquo na visatildeo dos pioneiros da

interaccedilatildeo social na internet previa novos padrotildees de sociabilidade mais avanccedilados com possibilidades

mais complexas do que simplesmente trocar e-mails com uma pessoa Mas o autor considera que

neste contexto houve equiacutevocos como por exemplo o uso do termo ldquocomunidaderdquo com suas fortes

conotaccedilotildees ideoloacutegicas de laccedilos afetivos entre pessoas geograficamente proacuteximas como ocorria em

sociedades agriacutecolas Para Castells esta percepccedilatildeo gerou uma discussatildeo sobre a substituiccedilatildeo destas

formas de vida comunitaacuterias baseadas na localidade por ldquolaccedilos seletivos e mais fracos entre famiacutelias

espalhadas na metroacutepole anocircnimardquo No entanto o autor cita vaacuterios estudos que comprovam que o uso

da internet natildeo levou a menor interaccedilatildeo ou isolamento social antes os usuaacuterios da internet mantinham

mais contato com amigos e familiares do que os natildeo usuaacuterios O que ocorre em algumas situaccedilotildees

O mundo conectado em redes

72

com uso excessivo da internet segundo outros estudos conflitantes citados por Castells eacute o decliacutenio

da comunicaccedilatildeo entre os membros de uma famiacutelia residentes na mesma casa e agravamento da

depressatildeo e solidatildeo entre os usuaacuterios

Para Lemos (1996 p 21) o ciberespaccedilo loacutecus que habita as comunidades virtuais longe de

constituir um lugar que destroacutei a sociabilidade dos seus residentes promove a interaccedilatildeo entre diversos

atores e autores e potencializa novas formas de encontros entre seus interlocutores

O interesse estaacute no fato de que todas as formas de sociabilidade contemporacircneas encontram na tecnologia um potencializador um catalisador um instrumento de conexatildeo () O ciberespaccedilo natildeo eacute uma entidade puramente ciberneacutetica (no sentido etimoloacutegico de lsquocontrolersquo ou lsquopilotagemrsquo) mas uma entidade abstrata efervescente e caoacutetica

As comunidades virtuais avanccedilaram dos foacuteruns virtuais em sites especializados para grupos

fechados em redes sociais de amplo alcance O Orkut Facebook Linkedin Instagram e outras redes

sociais fomentam a interatividade e o compartilhamento de dados pessoais e profissionais entre as

pessoas Estas redes sociais permitem a publicaccedilatildeo de textos fotos e viacutedeos produzidos pelo seu

associado Tambeacutem possibilita que este visualize as postagens dos ldquoamigosrdquo da sua rede comentando

suas publicaccedilotildees Nas redes sociais ainda eacute possiacutevel falar em chats individuais com os amigos e fazer

conferecircncia por voz Os chats em salas de bate-papo temaacuteticas embora tenham perdido o glamour

que tiveram nos anos de 1990 ainda existem e tecircm puacuteblico cativo As salas virtuais satildeo divididas por

localizaccedilatildeo geograacutefica e idade ou categorias de interesse como amizade namoro sexo religiatildeo

profissotildees cultura esporte e idiomas Os usuaacuterios acessam com um apelido ou ldquonickrdquo em que podem

se passar por qualquer pessoa ou simular um personagem

Bauman (2011) refletindo sobre as relaccedilotildees sociais possibilitadas na internet afirma que

estas relaccedilotildees nos espaccedilos ciberneacuteticos em redes sociais ou comunidades virtuais satildeo constituiacutedas e

mantidas por duas atividades baacutesicas conectar e desconectar Pertencer a uma comunidade virtual

natildeo eacute garantia de laccedilos afetivos duradouros Bauman afirma que no contexto da sociedade liquida

ldquoestamos todos numa solidatildeo e numa multidatildeo ao mesmo tempordquo Segundo o autor o atrativo da rede

eacute a facilidade de fazer e desfazer amizades e viacutenculos

A interatividade proporcionada pela expansatildeo da web favoreceu os processos educativos

mediados por tecnologias Segundo Silva e Pereira (2012 p 11) assim como a forccedila da tecnologia da

escrita fez surgir a escola no seacuteculo IV a C com uma estrutura de ensino e aprendizagem que

O mundo conectado em redes

73

permaneceram soacutelidos por seacuteculos as tecnologias promovidas a partir da internet ldquoapresentam

potencialidades de renovar profundamente a escola tendo em vista a sua constituiccedilatildeo em verdadeiras

Comunidades de Aprendizagemrdquo Para os autores estas comunidades de aprendizagem emergiram da

dimensatildeo colaborativa e interativa entre escolas e outras instituiccedilotildees comunitaacuterias entre pessoas de

interesses comuns que se agrupam em torno de uma accedilatildeo ou projeto educacional com vistas agrave

construccedilatildeo do conhecimento Ainda sobre as comunidades de aprendizagem Dias (2000 p 157)

explica

A noccedilatildeo de comunidade de aprendizagem na Web implica uma concepccedilatildeo flexiacutevel e distribuiacuteda na qual a abordagem hipertexto e as tecnologias hipermeacutedia natildeo soacute constituem os meios para a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo e das representaccedilotildees na rede mas tambeacutem o meio de desenvolvimento de ambientes colaborativos extremamente poderosos para a realizaccedilatildeo das aprendizagens e a construccedilatildeo do conhecimento

Neste sentido o caraacuteter de interaccedilatildeo social promovido pela web possibilita que pessoas de

diferentes formaccedilotildees naveguem em hipertextos na web e estabeleccedilam redes de relaccedilotildees na promoccedilatildeo

de partilha e troca de conhecimentos com os membros das comunidades que participam num

processo de aprendizagem colaborativo

Retornando agraves geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia citadas por Gomes (2008) as comunidades

de aprendizagens emergiram na quarta geraccedilatildeo caracterizada pela interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo entre os

sujeitos do processo educativo A ldquoaprendizagem em rederdquo ou ldquoe-learningrdquo diferente da geraccedilatildeo

anterior natildeo mais faz uso apenas de materiais didaacuteticos interativos (mas estaacuteticos) como CDs

multimiacutedia e viacutedeos explicativos Com o potencial interativo da web a construccedilatildeo do conhecimento

colaborativo eacute ampliada e o ciberespaccedilo passa a constituir um lugar de publicaccedilatildeo partilha e

construccedilatildeo colaborativa do conhecimento A comunicaccedilatildeo antes possibilitada apenas por telefone ou

e-mail eacute entatildeo potencializada por meio de chatsfoacuteruns interativos siacutencronos em ambientes virtuais ou

videoconferecircncias em tempo real Gomes (2003 p 151) explica

A comunicaccedilatildeo directa e frequente entre todos os intervenientes (professores e alunos) possibilitada pelos diversos serviccedilos de comunicaccedilotildees mediadas por computador torna-se um princiacutepio caracteriacutestico desta geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica no ensino a distacircncia O desenho das situaccedilotildees de ensino eacute feito considerando como requisito a existecircncia de comunicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo frequentes dos formandos entre si e com os seus professores

Neste contexto satildeo desenvolvidos ambientes especiacuteficos na web que oferecem agraves comunidades

de aprendizagem um conjunto de recursos para compartilhamento de materiais de estudo publicaccedilatildeo

O mundo conectado em redes

74

de informes coleta e revisatildeo de tarefas avaliaccedilatildeo on-line registro de notas e comunicaccedilatildeo assiacutencrona

e siacutencrona entre os participantes

No Brasil usa-se o termo Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para denominar os softwares

educacionais via internet que tecircm por finalidade apoiar as atividades de educaccedilatildeo a distacircncia e

presencial oferecendo suporte para a comunicaccedilatildeo e troca de informaccedilotildees e interaccedilatildeo entre os

participantes filtrando o espaccedilo da web num ambiente favoraacutevel para a aprendizagem Os AVA aleacutem de

disponibilizarem grande volume de informaccedilatildeo modificam as formas de comunicaccedilatildeo por meios cada

vez mais complexos Atualmente existem inuacutemeras possibilidades que agrupam uma seacuterie de recursos

para concepccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de um AVA com a finalidade natildeo apenas limitada para disponibilizar

conteuacutedos mas tambeacutem para promover e gerenciar processos de ensino-aprendizagem Assim a

educaccedilatildeo por meio de comunidades de aprendizagem apoiada por ambientes virtuais de aprendizagem

constituiu a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com efeitos na educaccedilatildeo de acordo com Silva

(2008)

A aprendizagem mediada por ambientes virtuais foi designada de e-learning (aprendizagem

eletrocircnica) assim definido por Keegan Baptista Giro-Anett Micincovaacute Dias e Pimenta (2002 p 21)

O e-Learning eacute aqui definido como um tipo de aprendizagem interactiva no qual o conteuacutedo de aprendizagem se encontra disponiacutevel on-line estando assegurado o feedback automaacutetico das actividades de aprendizagem do estudante A comunicaccedilatildeo on-line em tempo real poderaacute ou natildeo estar incluiacuteda contudo a toacutenica do e-Learning centra-se mais no conteuacutedo da aprendizagem do que na comunicaccedilatildeo entre alunos e tutores

Esta modalidade abrange um conjunto de aplicaccedilotildees e processos como aprendizagem

mediada por computador disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos educativos na internet comunidades virtuais

de aprendizagem e salas de aulas virtuais Silva e Conceiccedilatildeo (2013) explicam que o e-learning assume

diferentes papeacuteis dependendo dos contextos niacuteveis de aprendizagem e dos sujeitos envolvidos

Segundo os autores no niacutevel de ensino baacutesico e secundaacuterio o e-learning assume uma vertente de

tutoria eletrocircnica na qual o professor disponibiliza materiais on-line aos alunos e pode ocorrer alguma

interaccedilatildeo com os mesmos

No ensino superior o e-learning caminha para a implementaccedilatildeo de plataformas mistas em

que aulas on-line complementam aulas presenciais Esta modalidade semipresencial ou hiacutebrida eacute

chamada na literatura de b-learning em que a letra ldquobrdquo eacute a inicial da palavra inglesa blended significa

misto ou combinado vem dar sentido ao conceito de combinaccedilatildeo das instacircncias presenciais e natildeo

O mundo conectado em redes

75

presenciais (on-line) Sobre as escolhas dos recursos a serem utilizados nessa modalidade Cabero

(2010 pp 12-13) explica

o espaccedilo do b-learning deveria ser matizado ou estratificado em funccedilatildeo da maior utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo siacutencronas e assiacutencronas assim como na amplitude de comunicaccedilatildeo textual aacuteudio visual ou audiovisual utilizada ou seja sincronia assincronia da ferramenta de comunicaccedilatildeo mobilizada e no grau de iconicidade dos materiais utilizados

Assim o b-learning vem atender aos anseios principalmente dos jovens alunos do ensino

superior que valorizam a personalizaccedilatildeo da aula presencial e a flexibilidade da produccedilatildeo on-line Osoacuterio

e Meirinhos (2007) afirmam que essa modalidade acarreta mais carga cognitiva dos envolvidos e pode

servir de base para transiccedilatildeo da modalidade presencial para a completamente on-line ao passo que os

estudantes desenvolvem capacidades de formaccedilatildeo e se apropriam das tecnologias Para Silva (2014)

estaacute em curso um avanccedilo voltado para a convergecircncia e conjugaccedilatildeo de diferentes modalidades de

educaccedilatildeo presencial (p-learning) e educaccedilatildeo a distacircncia (d-learning) para a aprendizagem moacutevel (m-

learning) O autor perspectiva uma evoluccedilatildeo ainda maior que eacute a aprendizagem ubiacutequa (u-learning) que

jaacute estaacute em curso e jaacute reconfigura o cenaacuterio educativo emergente jaacute presente em algumas situaccedilotildees

educativas

126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas

A sexta reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com reflexos na

educaccedilatildeo ainda a ocorrer em 2017 trata da comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas Segundo o dicionaacuterio

Aureacutelio on-line14 ubiquidade eacute o dom de poder estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo

Assim o termo tem sido usado para definir o estado do usuaacuterio que conectado agrave internet pode estar

presente em vaacuterios lugares e comunicar-se durante este deslocamento Santaella (2014 p 34) explica

a diferenccedila das redes ubiacutequas com as redes digitais da web 20

Enquanto as redes digitais por sua proacutepria natureza satildeo sempre moacuteveis a entrada nas redes implicava que o usuaacuterio estivesse parado agrave frente do ponto fixo do computador Agora ao carregar consigo um dispositivo moacutevel a mobilidade se torna dupla mobilidade informacional e mobilidade fiacutesica do usuaacuterio Para navegar de um ponto a outro das redes informacionais nas quais se entra e se sai para muacuteltiplos destinos YouTube sites blogs paacuteginas etc o usuaacuterio tambeacutem pode estar em movimento O acesso passa a se dar em qualquer momento e em qualquer lugar Acessar e enviar informaccedilotildees transitar entre elas conectar-se com as pessoas coordenar accedilotildees grupais e sociais em tempo real tornou-se corriqueiro

14 Disponiacutevel em httpwwwdicionariodoaureliocomubiquidade Acesso em 02 fev 2016

O mundo conectado em redes

76

Santaella (2003) chama esse fenocircmeno de era de cultura digital A autora utiliza uma divisatildeo

de eras culturais no decorrer da histoacuteria da humanidade constituiacuteda de seis formaccedilotildees a cultura oral a

cultura escrita a cultura impressa a cultura de massas a cultura das miacutedias e por fim a cultura digital

As divisotildees que Santaella apresenta se assemelham com o modelo proposto por Silva (2008

2013) exposto neste trabalho Para Santaella a era cultura digital eacute impar pois aleacutem da convivecircncia

de todas as culturas anteriores ocorre uma convergecircncia das miacutedias A cultura das massas e a cultura

das miacutedias produzem juntas uma exacerbaccedilatildeo de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo nunca antes registradas

As informaccedilotildees segundo Santaella natildeo satildeo conservadas e o acesso a elas resultam em poder A

autora explica

Eacute por essa razatildeo que a era digital vem sendo tambeacutem chamada de cultura do acesso uma formaccedilatildeo cultural estaacute nos colocando natildeo soacute no seio de uma revoluccedilatildeo teacutecnica mas tambeacutem de uma sublevaccedilatildeo cultural cuja propensatildeo eacute se alastrar tendo em vista que a tecnologia dos computadores tende a ficar cada vez mais barata (Santaella L 2003 p 28)

A cultura digital citada por Santaella estaacute presente natildeo apenas nos computadores fixos mas

em todos lugares por meios das redes wifi e dispositivos portaacuteteis conectados agrave internet O espaccedilo

fiacutesico se fundiu com o espaccedilo virtual A autora chama esses ambientes de espaccedilo de hipermobilidade e

espaccedilo intersticial ou espaccedilo hiacutebrido e misturado (Santaella 2007) Assim com a disponibilidade da

rede moacutevel acessiacutevel em todos os lugares as pessoas ganharam mobilidade em que se pode transitar

em vaacuterios destinos na rede

Na literatura jaacute se fala de ldquocyborguesrdquo ou seres hiacutebridos habitantes do ciberespaccedilo que na era

da ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo se apropriaram da tecnologia ao ponto que elas desaparecem se

incorporaram aos objetos a sua volta (Oliveira 2011 Santaella 2003) O termo ldquocomputaccedilatildeo uacutebiquardquo

foi criado por Mark Weiser (1991) numa perspectiva visionaacuteria em que o autor previa que a

computaccedilatildeo seria tatildeo comum e presente na vida das pessoas quanto a escrita se tornou com o passar

dos seacuteculos No seu artigo The Computer for the 21st Century Weiser (1991) argumenta que a escrita

no iniacutecio de seu uso exigia uma atenccedilatildeo especial para se aprender a teacutecnica de captar uma

representaccedilatildeo simboacutelica linguagem falada para armazenamento a longo prazo fazendo uso correto de

siacutembolos e coacutedigos No entanto o autor explica que hoje a escrita eacute onipresente nos paiacuteses

industrializados estaacute nos livros jornais placas de ruas outdoors e embalagens de produtos Assim a

tecnologia da escrita eacute ubiacutequa e hoje natildeo mais exige atenccedilatildeo ativa agraves teacutecnicas como o faziam os

escribas que tinham tanto de fazer a tinta como assar a argila para realizar a escrita

O mundo conectado em redes

77

Neste sentido Weiser acreditava que a tecnologia da computaccedilatildeo assim como ocorreu com a

escrita atingiria um patamar que se tornariam parte integrante da vida das pessoas Os computadores

onipresentes adaptados a diferentes tarefas previstos no artigo de Weiser hoje satildeo uma realidade Um

exemplo real satildeo as casas inteligentes automatizadas programaacuteveis e conectadas a internet sem fios

que realizam controle de consumo de energia de aacutegua temperatura e umidade em tempo real via

smartphone cuja comercializaccedilatildeo jaacute eacute realizada

A ldquoComputaccedilatildeo calmardquo ou ldquocomputaccedilatildeo pervasivardquo constituem reconfiguraccedilotildees avanccediladas da

tecnologia em que os objetos inteligentes natildeo se tornaratildeo apenas miniaturizados mas parte integrante

do nosso corpo (Oliveira 2011) Outros termos utilizados na literatura para este fenocircmeno satildeo

ldquoInternet das Coisasrdquo (Internet Of Thing) web das coisas internet do futuro cidades inteligentes Leacutevy

(1996) na sua obra O que eacute virtual citava a ldquovirtualizaccedilatildeordquo como um fenocircmeno que reinventa a

cultura nocircmade agrave medida que permite novas interaccedilotildees sociais em que o sujeito se desterritorializa

torna-se ldquonatildeo presenterdquo como eacute o caso das comunidades virtuais que reuacutenem pessoas de diferentes

lugares do mundo distintas formaccedilotildees classe econocircmica e faixa etaacuteria que se unem em torno de um

objetivo em comum num grupo fechado A geografia natildeo eacute mais ponto de referecircncia para essas

comunidades Leacutevy (idem p 9) explica ldquoela vive sem referecircncia estaacutevel em toda parte onde se

encontrem seus membros moacuteveis ou em parte algumardquo Hoje as comunidades virtuais ainda existem

mas os sites blogs e paacuteginas pessoais canais no YouTube e outros aplicativos e programas permitem

que o usuaacuterio mesmo em movimento possa conectar postar viacutedeos produzir conteuacutedos fazer

negoacutecios conhecer novos lugares falar com outras pessoas se estiver conectado agrave internet Assim a

mobilidade natildeo ocorre apenas com as redes disponiacuteveis em todos os lugares mas dos usuaacuterios com

seus dispositivos moacuteveis circulando na rede transitando entre textos mapas lugares comunidades e

redes sociais

Neste cenaacuterio a informaccedilatildeo tambeacutem se desmaterializou Antes presente em suportes fiacutesicos

como livros madeira pedra argila hoje estaacute desmaterializada em impulsos eleacutetricos de caraacuteter digital

disponiacuteveis na rede da web (Santos 2002) O ciberespaccedilo hoje se potencializa com o fato dos

computadores ganharem mobilidade natildeo mais se encontram fixos presos a cabos de fios ligados

numa tomada e num modem em cima de uma mesa antes estatildeo cada vez miniaturizados em

celulares tablets reloacutegios e ateacute pulseiras que com acesso a uma rede wifi permitem que a pessoa se

comunique com algueacutem por chamada de viacutedeo localize-se por meio de GPS realize compras on-line

acesse seu banco e faccedila trabalhos colaborativos com auxiacutelio de especialistas ou mesmo acompanhe

O mundo conectado em redes

78

seus exames meacutedicos A possibilidade de produzir conteuacutedo para a web e a mobilidade (da rede e do

usuaacuterio) permitiu que de receptores passivos de informaccedilatildeo passamos a ser ldquointeragentesrdquo ativos no

ciberespaccedilo

A partir de entatildeo mudou a relaccedilatildeo do usuaacuterio da internet com a rede Leacutevy (1999) usou o

exemplo dos correios para exemplificar como um sistema de comunicaccedilatildeo passa a ser incorporado

pela sociedade a partir da sua significaccedilatildeo social O autor cita que o sistema dos correios jaacute existia haacute

seacuteculos nas cidades europeias na Idade Meacutedia e ateacute mais remotamente no Impeacuterio Chinecircs era um

meio de comunicaccedilatildeo entre os reis e nobres natildeo disponiacutevel ao povo Mas a verdadeira inovaccedilatildeo social

que afetou a relaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo entre as pessoas de acordo com Pierre Leacutevy foi no seacuteculo XVII

quando se passou a usar teacutecnica do correio ponto a ponto em que uma pessoa podia enviar uma

correspondecircncia para outra pessoa distante O autor explica os desdobramentos desta mudanccedila

Foi dessa forma que floresceram as correspondecircncias econocircmicas e administrativas a literatura epistolar a repuacuteblica europeacuteia dos espiacuteritos (rede de saacutebios de filoacutesofos) e as cartas de amor O correio como sistema social de comunicaccedilatildeo encontra-se intimamente ligado agrave ascensatildeo das ideacuteias e das praacuteticas que valorizam a liberdade de expressatildeo e a noccedilatildeo de livre contrato entre indiviacuteduos Podemos ver claramente nesse caso como uma infraestrutura de comunicaccedilatildeo pode ser investida por uma corrente cultural que vai no mesmo movimento transformar seu significado social e estimular sua evoluccedilatildeo teacutecnica e organizacional (Leacutevy 1999 p 125)

Assim os correios como infra-instrutura teacutecnica de comunicaccedilatildeo embora existissem haacute

seacuteculos ganharam popularidade quando se inovou sua praacutetica de correspondecircncia entre indiviacuteduos

que ao se apropriarem desta inovaccedilatildeo investiram significado social aproveitando de seus recursos para

difundir sua cultura pensamentos poliacuteticos relacionamentos romacircnticos e transaccedilotildees comerciais

Igualmente o ciberespaccedilo ganhou novos contornos com a popularizaccedilatildeo da internet e da mobilidade

promovida pelas redes e pelos dispositivos portaacuteteis moacuteveis

A relaccedilatildeo das pessoas com a internet muda agrave medida que eles fazem uso social das suas

aplicaccedilotildees A dependecircncia das pessoas por uma rede wifi quando estatildeo em lugares puacuteblicos eacute bem

visiacutevel No metrocirc no ocircnibus ou no aereoporto eacute dificil encontrar alguem que natildeo esteja com seu celular

conectado a uma rede moacutevel ou wifi E as pessoas estatildeo conectadas porque aquilo que acessam

interessa a elas Uns estatildeo falando em aplicativos de mensagens instantacircneas outros acessando

redes sociais lendo livros on-line vendo viacutedeos ou escutando muacutesicas O significado social da internet

na vida das pessoas alterou sua rotina diaacuteria ao ponto de que para muitos imaginar um mundo sem

internet eacute impossiacutevel

O mundo conectado em redes

79

Aleacutem destas tecnologias dos dispositivos moacuteveis conectados agrave internet existem as tecnologias

que se configuram por meio de objetos e equipamentos nos espaccedilos urbanos que Lemos (2009 p

91) chama de ldquomiacutedias locativas digitaisrdquo

Podemos definir as miacutedias locativas como dispositivos sensores e redes digitais sem fios e seus respectivos bancos de dados ldquoatentosrdquo a lugares e contextos Dizer que as miacutedias satildeo atentas a lugares e a contextos significa dizer que elas reagem informacionalmente aos mesmos sendo eles compostos por pessoas objetos eou informaccedilatildeo fixo ou em movimento

Um exemplo de miacutedias locativas digitais satildeo os aplicativos diponiacuteveis em um celular com

sistema de geolocalizaccedilatildeo que podem identificar um restaurante em local mais proacuteximo e por meio

de links disponibilizar a foto do lugar e dar acesso ao cardaacutepio no site do restaurante As miacutedias

locativas digitais nos centros urbanos agregam conteuacutedo digital e podem exercer a funccedilatildeo de

mapeamento vigilacircncia localizaccedilatildeo anotaccedilatildeo ou jogos Assim os objetos dialogam com os

dispositivos digitais (smatphones tablets palms e laptops) coletando e enviando dados numa relaccedilatildeo

hiacutebrida de download e upload transformando os espaccedilos urbanos em nuvem de dados Lemos (2009)

classifica as miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees realidade aumentada mapeamento e

monitoramento geotags e anotaccedilatildeo urbana O quadro abaixo especifica melhor cada uma

Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees

Realidade Moacutevel Aumentada As miacutedias locativas permitem que informaccedilotildees sobre uma determinada localidade sejam visualizadas em um dispositivo moacutevel ldquoaumentandordquo a informaccedilatildeo Exemplo O celular pode identificar restaurantes hoteacuteis marcas geograacuteficas e links na web sobre os lugares apontados ampliando assim a realidade informacional do lugar

Mapeamento e Monitoramento de Movimento

Funccedilotildees locativas aplicadas a formas de mapeamento (mapping) e de monitoramento do movimento (tracing) do espaccedilo urbano atraveacutes de dispositivos moveis Exemplo uso de celulares e GPS para criar mapas de caminhos realizados pela cidade

Geotags Tem o objetivo de agregar informaccedilatildeo digital em mapas podendo ser acessadas por dispositivos moacuteveis Exemplo No sistema de compartilhamento de fotos Flickr eacute possiacutevel a partir de geotags agregar informaccedilatildeo textuais a mapas (Google Earth ou Yahoo Maps) de localidades especiacuteficas

Anotaccedilotildees urbanas Possibilitam formas de apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano a partir de escritas eletrocircnicas Exemplo O projeto Undersound no metrocirc de Londres permite que usuaacuterios faccedilam uploads de muacutesicas para o sistema e possam baixar muacutesicas deixadas por outros usuaacuterios no metrocirc com identificaccedilatildeo das estaccedilotildees

Fonte adaptado de Lemos (2009)

Portanto neste cenaacuterio em que os recursos tecnoacuteloacutegicos se hibridizam as miacutedias locativas se

convertem em diferentes versotildees e funccedilotildees dependendo do uso que lhe satildeo conferidas

Segundo Santos (2014) em tempos de cibercultura ubiacutequa o conceito de mobilidade tambeacutem

se modificou Desde a invenccedilatildeo da imprensa os leitores podiam circular com seus livros nos espaccedilos

O mundo conectado em redes

80

da cidade e isso tambeacutem ocorreu na ldquoera eletrocircnicardquo com a invenccedilatildeo das cacircmeras fotograacuteficas raacutedios

a pilha e walkmans que possibilitavam a mobilidade fisica dos usuaacuterios destas tecnologias Em tempos

de cibercultura avanccedilada Santos (idem p 32) ressalta ldquoa mobilidade ganha potecircncia por conta da

sua conexatildeo com o ciberespaccedilo Na era da mobilidade com conexotildees generalizadas em rede podemos

compartilhar e acessar simultaneamente vaacuterios lugaresrdquo Portanto a mobilidade natildeo se trata de

circular com os notebooks tablets e celulares pelos espaccedilos fiacutesicos mas aproveitar o potencial das

convergecircncias das miacutedias para circular no ciberespaccedilo com a capacidade de interagir ao mesmo

tempo em diferentes contextos lugares com diversas pessoas Santaella (2013 p 22) justifica que

nestes espaccedilos de hipermobilidade emergiu o ldquoleitor ubiacutequordquo descrito com uma prontidatildeo iacutempar de se

orientar entre noacutes e nexos de multimiacutedias sem perder a noccedilatildeo e o controle do espaccedilo fiacutesico a sua volta

A autora continua sua descriccedilatildeo

Ao mesmo tempo em que estaacute corporalmente presente perambulando e circulando pelos ambientes fiacutesicos ndash casa trabalho ruas parques avenidas estradas ndash lendo os sinais e signos que esses ambientes emitem sem interrupccedilatildeo esse leitor movente sem necessidade de mudar de marcha ou de lugar eacute tambeacutem um leitor imersivo Ao leve toque do seu dedo no celular em quaisquer circunstacircncias ele pode penetrar no ciberespaccedilo informacional assim como pode conversar silenciosamente com algueacutem ou com um grupo de pessoas a vinte centiacutemetros ou a continentes de distacircncia (idem p22)

Luacutecia Santaella afirma ainda que o perfil cognitivo do leitor ubiacutequo eacute resultante de processos de

transformaccedilotildees ocorridas na cultura digital desde a invenccedilatildeo da internet ateacute a Web 40 (uma web

ubiacutequa) que presenciamos a emergir nos dias atuais Na obra Navegar no Ciberespaccedilo O perfil

cognitivo do leitor imersivo (Santaella2004) com o objetivo de compreender o novo tipo de leitor que

emergiu com a expansatildeo das redes digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo sistematizou os leitores em

trecircs grandes tipos O leitor contemplativo o leitor movente e o leitor imersivo O leitor contemplativo

constitui aquele proveniente da era preacute-industrial que fazia uso do livro impresso e da imagem fixa

Nasceu no periacuteodo do renascimento e foi ateacute meados do seacuteculo XIX O leitor movente presenciou a

explosatildeo do jornal fotografia cinema e a televisatildeo Eacute assim um telespectador de misturas de signos

linguagens e imagens em movimento O leitor imersivo eacute aquele que nasceu nos novos espaccedilos das

redes de computadores O perfil cognitivo deste leitor que navega em diversas telas e programas para

a autora muda significamente em relaccedilatildeo aos dois tipos de leitores anteriores

Cognitivamente em estado de prontidatildeo esse leitor conecta-se entre noacutes e nexos seguindo roteiros multilineares multissequenciais e labiriacutenticos que ele proacuteprio ajuda a construir ao interagir com os noacutes que transitam entre textos imagens documentaccedilatildeo muacutesicas (Santaella 2013 p 1)

O mundo conectado em redes

81

Importante ressaltar que um perfil natildeo anulou o outro eles coexistem e se completam na

proporccedilatildeo que o usuaacuterio convive com as tecnologias e fazem uso delas

Santaella avanccedila a descriccedilatildeo dos tipos de leitores e descreve o leitor ubiacutequo Este herdou do

leitor imersivo a capacidade de ler e transitar entre diversos formatos de miacutedias nas telas dos ecratildes

mas avanccedila no sentido de que se libertou dos desktops modens e cabos de rede passando a acessar

o ciberespaccedilo com seus dispositivos moacuteveis a qualquer hora em qualquer lugar Sobre as habilidades

cognitivas adquiridas pelo leitor ubiacutequo nessa nova realidade em que a rede eacute onipresente a autora

escreveu

Natildeo haacute duacutevida de que a mente eacute distribuiacuteda capaz de processar paralela e conjuntamente informaccedilotildees de ordens diversas dando a elas igual magnitude tanto as informaccedilotildees que provecircm da situaccedilatildeo ao seu redor quanto aquelas miniaturizadas que estatildeo ao alcance dos dedos e que satildeo rastreadas com acuidade visual veloz e quase infaliacutevel como se os olhos adivinhassem antes de ver As accedilotildees reflexas do sistema nervoso central por sua vez ligam eletricamente o corpo ao ambiente tanto fiacutesico quanto ciber em igualdade de condiccedilotildees (Santaella 2010 p 9)

Observa-se portanto uma mudanccedila significativa na forma de viver e aprender dos usuaacuterios

frequentes de tecnologias No campo educacional o advento dos dispositivos moacuteveis e sua

popularizaccedilatildeo entre as pessoas intensificaram processos de aprendizagens abertos visto que o acesso

agrave informaccedilatildeo tornou-se livre e contiacutenuo

Neste sentido Santaella afirma que a era da mobilidade inaugurou um novo fenocircmeno a

aprendizagem uacutebiqua Esta natildeo deve ser confundida com a e-learning ou m-learning O e-learning

como jaacute abordado neste trabalho corresponde a aprendizagem mediada por computador em que os

conteuacutedos satildeo previamente organizados em um AVA ou site prevendo a aprendizagem ao passo que

o m-learning constitui uma extensatildeo da sala de aula em que os conteuacutedos satildeo previamente preparados

e disponibilizados em dispositivos moacuteveis A aprendizagem ubiacutequa natildeo eacute deliberada nem prescinde de

modelos educacionais preacutevios trata-se de ldquoum novo processo de aprendizagem sem ensinordquo segundo

Santaella (2013 p 26) Esta concepccedilatildeo de aprendizagem natildeo eacute recente Em 2004 George Siemens

pesquisador canadense propocircs a teoria do Conetivismo15 previu que com a expansatildeo das redes de

computadores ligados a internet a aprendizagem ocorreria de vaacuterias maneiras com destaque para a

15 O Conetivismo integra a teoria do caos a importacircncia das redes e os princiacutepios de auto-organizaccedilatildeo e da complexidade para explicar como ocorre a aprendizagem nos humanos Siemens refuta a ideia de que a aprendizagem seja um processo que ocorre internamente no indiviacuteduo para o autor a aprendizagem pode se encontrar presente em dispositivos ou aplicativos natildeo humanos (tecnologia) Com o advento da internet as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje fica obsoleto em pouco tempo Assim George Siemens aponta para a necessidade do indiviacuteduo criar e manter conexotildees para facilitar a aprendizagem contiacutenua (Siemens 2004)

O mundo conectado em redes

82

aprendizagem informal atraveacutes de comunidades de praacutetica redes pessoais e tambeacutem atividades

relacionadas ao trabalho

Anderson e Dron (2011) descrevem o Conetivismo natildeo como uma teoria de aprendizagem

mas como teoria do conhecimento que sustenta a tese de que com a abundacircncia de informaccedilatildeo hoje

presente nas miacutedias boa parte do processamento mental do indiviacuteduo e da resoluccedilatildeo de problemas

pode ser descarregada em maacutequinas Assim a aprendizagem natildeo mais eacute idealizada como

memorizaccedilatildeo ou mesmo compreensatildeo de tudo mas um processo de construccedilatildeo e manutenccedilatildeo de

conexotildees em rede de especialista possibilitando que o aprendente seja capaz de encontrar e aplicar

conhecimento quando e onde for necessaacuterio

Natildeo obstante independente do nome ou designaccedilatildeo que se decirc a esse fenocircmeno

concordamos com Santos e Weber (2013 p 291) quando afirmam sobre os processos de ensino-

aprendizagem ubiacutequos ldquoo que observamos eacute uma mudanccedila nas funccedilotildees sociais de cada tecnologia

envolvida nos processos comunicacionais fazendo emergir praacuteticas sociais novas suscitando

mudanccedilas tambeacutem nos espaccedilos-tempos de aprendizagemrdquo Mais uma vez retomando ao trabalho de

Gomes (2008 p 181) sobre as geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia vivemos no que a autora antevia

em 2008 como a sexta geraccedilatildeo caracterizada por ldquomundos virtuais e imersivosrdquo Segundo relatoacuterio

produzido pela UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo 2014) os dispositivos

moacuteveis seratildeo cada vez mais usados na educaccedilatildeo seja esta formal informal ou aprendizagem

contiacutenua A aprendizagem se tornaraacute cada vez mais independente de espaccedilos fiacutesicos e se tornaraacute

ubiacutequa ou onipresente

A evoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo e das tecnologias continuaraacute em escalas bem mais raacutepidas do que

as que ocorreram no passado e afetaratildeo ainda mais os processos educacionais Constituindo a sexta

reconfiguraccedilatildeo na ecologia comunicaccedilatildeoeducaccedilatildeo citada por Silva (2013) a aprendizagem ubiacutequa

natildeo substituiraacute a educaccedilatildeo formal informal e a natildeo formal assim como a internet natildeo substituiu o livro

impresso mas elas se completam e articulam entre si tendo em vista o novo perfil de leitores Acredita-

se em novos paradigmas no futuro das tecnologias de comunicaccedilatildeo e da educaccedilatildeo como expressou

Bauman (2011 p 25) na sua obra 44 cartas do mundo liacutequido e moderno

A educaccedilatildeo assumiu muitas formas no passado e se demonstrou capaz de adaptar-se agrave mudanccedila das circunstacircncias de definir novos objetivos e elaborar novas estrateacutegias Mas permitam-me repetir a mudanccedila atual natildeo eacute igual agraves que se verificaram no passado Em nenhum momento crucial da histoacuteria da humanidade os educadores enfrentaram desafio comparaacutevel ao divisor de aacuteguas que hoje nos eacute

O mundo conectado em redes

83

apresentado A verdade eacute que noacutes nunca estivemos antes nessa situaccedilatildeo Ainda eacute preciso aprender a arte de viver num mundo saturado de informaccedilotildees E tambeacutem a arte mais difiacutecil e fascinante de preparar seres humanos para essa vida

Por conseguinte estaacute em curso um paradigma impar na histoacuteria da humanidade Urge

portanto uma mudanccedila de paradigma sobre as competecircncias e habilidades necessaacuterias aos jovens

no atual cenaacuterio O modelo vertical em que a escola exerce relaccedilatildeo de poder e eacute portadora do

saber natildeo funciona mais no contexto da difusatildeo das tecnologias digitais Leacutevy (2015 p 1) fez

uma anaacutelise recente do cenaacuterio mundial conectado em redes

Estamos apenas no comeccedilo da revoluccedilatildeo do meio do algoritmo Nas proacuteximas deacutecadas acompanharemos vaacuterias mutaccedilotildees A computaccedilatildeo ubiacutequa que jaacute faz parte da nossa paisagem vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente conectada O acesso agrave anaacutelise de grandes quantidades de dados hoje nas matildeos de governos e de grandes empresas vai se democratizar Teremos cada vez mais imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real [] A esfera puacuteblica seraacute internacional e se organizaraacute por nuvens semacircnticas nas redes sociais

O autor analisa que os dispositivos moacuteveis de todos os tipos os computadores robocircs data-

centers tudo que eacute fiacutesico e localizado seratildeo dependentes das ldquonuvensrdquo que abrigam os dados e

informaccedilotildees da rede Leacutevy cita a ldquomemoacuteria coletivardquo disponiacutevel na rede como uma oportunidade de

aprendizagem em sistema de cooperaccedilatildeo com acesso universal a informaccedilatildeo e dados O autor finaliza

apresentando um desafio aos educadores

Eacute preciso ensinar a estabelecer prioridades a atrair a atenccedilatildeo a fazer uma escolha justa e uma anaacutelise criacutetica das fontes agraves quais nos conectamos Temos de prestar atenccedilatildeo na cultura daqueles com quem nos conectamos e precisamos aprender a identificar as narrativas feitas e as suas contradiccedilotildees (idem p 1)

Assim a literacia digital ganha novos contornos em tempos de cibercultura trata-se de usar as

redes com responsabilidade e criticidade No entanto a escola na sua forma tradicional ainda resiste

aos novos padrotildees impostos pelo paradigma tecnoloacutegico vigente

Sobre o modelo tradicional de escola Silva (2008 p 782) reflete que a ldquosociedade moderna

construiu uma escola imbuiacuteda na concepccedilatildeo elitista incorporando os seus traccedilos mais intriacutensecos o

formalismo o intelectualismo e o enciclopedismordquo E este modelo persiste ateacute os dias de hoje mesmo

com as mudanccedilas visiacuteveis na sociedade em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos Alvin Toffler escritor e

futurista norte-americano conhecido pelos seus escritos sobre a revoluccedilatildeo digital e comunicacional

analisa que o modelo de escola implementado no periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial em salas de aulas

com disciplina coletiva atividades repetitivas e com amplo grau de concentraccedilatildeo e silecircncio servia para

O mundo conectado em redes

84

preparar estes alunos para o mundo da faacutebrica regido pelo apito e pelo reloacutegio Em 1970 Toffler na

sua obra Choque de Futuro jaacute refletia sobre os efeitos dos avanccedilos tecnoloacutegicos sobre a sociedade do

seacuteculo XXI

No mundo de amanhatilde os atributos mais apreciados da era industrial tornar-se-atildeo desvantagens A tecnologia de amanhatilde natildeo precisa de milhotildees de homens pouco letrados capazes de trabalhar em uniacutessono em tarefas irremediavelmente repetitivas nem de homens que obedeccedilam sem pestanejar agraves ordens recebidas conscientes de que o preccedilo do seu patildeo eacute a obediecircncia maquinal agrave autoridade A tecnologia de amanhatilde precisa de homens capazes de julgar e decidir criteriosamente de abrir o seu caminho em ambientes novos de acompanhar a transformaccedilatildeo raacutepida e constante da realidade (Toffler 1970 p 396)

Assim o autor previa que o modelo educacional da era industrial seria obsoleto no futuro

Portanto haacute de se repensar sobre o modelo de escola a ser construiacutedo neste cenaacuterio de tecnologias e

tambeacutem na formaccedilatildeo dos professores aptos para lidar com a presenccedila destas no cotidiano dos alunos

O capiacutetulo 3 desta tese apresenta os desafios dos professores na sociedade em rede e o papel dos

cursos de formaccedilatildeo na preparaccedilatildeo destes para lidarem com os jovens cada vez mais conectados agraves

redes de comunicaccedilatildeo ubiacutequa A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo aprofunda a discussatildeo sobre o perfil dos

usuaacuterios da internet e as implicaccedilotildees da presenccedila crescente das tecnologias no processo educativo

13 O perfil dos usuaacuterios da internet

Joatildeo nasceu em 2004 e seus pais jaacute tinham aparelhos celulares e computadores com

acesso a internet Joatildeo cresceu sorrindo para cacircmeras digitais e aprendeu a manipulaacute-las

para tirar suas proacuteprias fotografias Os aparelhos celulares de seus pais foram ficando

modernos e Joatildeo gostava dos joguinhos disponiacuteveis neles Quando tinha 7 anos ele

pediu a sua matildee que criasse uma conta numa rede social para ele conversar com

amiguinhos Joatildeo passou a jogar no computador e nos celulares que tinha na sua casa

Hoje Joatildeo tem 13 anos e ouve muacutesica enquanto joga acessa redes sociais conversa com

colegas de outros paiacuteses usando o tradutor assiste viacutedeos sobre os macetes dos jogos

busca no Google termos que natildeo entende tira fotos no celular e as edita no computador

criou seu proacuteprio canal no Youtube grava viacutedeos sobre jogos e os publica na rede16

16 Relato da vida real que exemplifica um nativo digital no seacuteculo XXI redigido pela observaccedilatildeo de um jovem com 11 anos de idade

O mundo conectado em redes

85

Esta passagem eacute um relato de vida real de um jovem nativo digital Com efeito no presente

momento deste relato (2015) o perfil de crianccedilas e adolescentes como o Joatildeo eacute cada vez mais

comum Michael Serres (2013) filoacutesofo francecircs na sua obra A Polegarzinha descreve o perfil do

indiviacuteduo inserido no mundo digital O autor usou a expressatildeo ldquoPolegarzinhardquo para retratar a agilidade

dos dedos das crianccedilas e jovens quando utilizam seus dispositivos moacuteveis para acessar a internet e os

conhecimentos que ali se encontram disponiacuteveis Eles manipulam inuacutemeras informaccedilotildees ao mesmo

tempo e em qualquer lugar ldquopor celular tem acesso a todas as pessoas por GPS a todos os lugares

pela internet a todo saberrdquo (idem p 19) As mudanccedilas ocorridas nesta geraccedilatildeo de ldquodedos velozesrdquo

natildeo satildeo apenas nas habilidades com o uso dos celulares e tablets conectados agrave internet Serres cita a

mudanccedila na constituiccedilatildeo familiar no aumento da expectativa de vida na convivecircncia cotidiana com a

pluralidade religiosa cultural e eacutetnica e na informaccedilatildeo baseada na miacutedia como elementos constitutivos

deste novo ser que tem mente mais vazia por confiar o depoacutesito das informaccedilotildees que precisa nos

dispositivos tecnoloacutegicos Citando a obra de Serres Caldeira (2014 p 188) explica esse fenocircmeno

O saber aquilo que deveriacuteamos ensinar para elesas tinha como suporte a escrita os livros Agora com a internet ele estaacute disponiacutevel a todosas em todo lugar O antigo espaccedilo de concentraccedilatildeo do saber se dilui Ningueacutem precisa deslocar-se para aprender alguma coisa Diante disso sentimos ser necessaacuteria uma mudanccedila no ensino tal como os gregos precisaram criar a Pedagogia quando da invenccedilatildeo da escrita Afinal ao polegarzinhao tecircm sua cabeccedila fora de seu corpo o computador funciona como uma cabeccedila bem cheia na qual eacute possiacutevel acessar a qualquer informaccedilatildeo Elea natildeo mais precisa do saber transmitido Se a cabeccedila das geraccedilotildees anteriores servia para acumular saberes hoje haacute um vaacutecuo no lugar dessa cabeccedila no qual eacute possiacutevel criar e inventar

Sobre este aspecto jaacute citamos Castells (2014) sobre a disponibilidade das informaccedilotildees na

internet 97 da informaccedilatildeo mundial estatildeo digitalizadas e 80 estatildeo disponiacuteveis na internet O que

falta aos jovens segundo o autor natildeo satildeo informaccedilotildees mas criteacuterios para buscaacute-las e combinaacute-las

com projetos intelectuais As redes de comunicaccedilatildeo digital satildeo atualmente a ldquoBiblioteca de

Alexandriardquo que entre os seacuteculos III aC e IV dC continha praticamente todo o saber da Antiguidade

em cerca de 700 mil rolos de papiro e pergaminhos Leacutevy (2015) analisa que o acesso imediato a

dicionaacuterios enciclopeacutedias livros viacutedeos educativos e outros dispositivos fornece ao usuaacuterio da internet

acesso agraves imensas bibliotecas do mundo Eacute possiacutevel ser assinante de sites especializados e contar

com a ajuda de redes de pessoas com assuntos de interesse em comum constituindo um saber

colaborativo Neste sentido o usuaacuterio da internet tem diante de si um universo abundante de

informaccedilatildeo nunca antes disponibilizado na histoacuteria da humanidade basta-lhe apenas a capacidade de

buscar filtrar analisar e fazer conexotildees criacuteticas com os saberes que jaacute possui Possuir ldquoa cabeccedila fora

O mundo conectado em redes

86

do corpordquo implica em buscar as informaccedilotildees sem necessidade de memorizaacute-las como na eacutepoca do

ensino pela oralidade Na analogia de Serres seria o mundo nas matildeos destes seres conectados agrave

internet

Muito se produziu na literatura sobre o fenocircmeno do uso exacerbado das miacutedias digitais pelas

geraccedilotildees mais jovens o que gerou diferentes roacutetulos ou estereoacutetipos para os usuaacuterios destas

tecnologias Geraccedilatildeo Net (Tapscott 1998) nativos digitais versus imigrantes digitais (Prensky 2001)

residentes versus visitantes (White e Cornu 2011) Geraccedilotildees X Y e Z (Tapscott e Williams 2007)

caldeiratildeo digital (Stoerger 2009) Milennials (Howe e Strauss 2000) e mais recentemente homo

sapiens digital (Prensky 2009) e Homo zappiens (Veen e Vrakking 2009) dentre outros Tapscott

(1998) e Prensky (2001) tomaram uma perspectiva geracional e definiram os usuaacuterios das TDIC por

data de nascimento Apresentamos a seguir uma breve descriccedilatildeo de algumas terminologias mais

conhecidas para o perfil de usuaacuterio das TDIC

131 A Geraccedilatildeo Net

A expressatildeo Geraccedilatildeo Net foi usada pela primeira vez por Tapscott (1998) e refere-se a crianccedilas

nascidas depois do ano de 1985 do seacuteculo passado Nesta altura a utilizaccedilatildeo da internet estava

apenas emergindo como um fenocircmeno mundial A principal premissa da teoria da Geraccedilatildeo Net eacute a

familiaridade Para Tapscott as crianccedilas nascidas nessa geraccedilatildeo natildeo tecircm medo de tecnologias

adquirem naturalmente as habilidades necessaacuterias para usar as informaccedilotildees coletadas na rede e

usam os recursos digitais como se a tecnologia fosse parte do seu cotidiano e da paisagem que os

rodeia (Combes B 2009) Seguidores desta teoria descrevem os pertencentes agrave Geraccedilatildeo Net como

indiviacuteduos com maior acesso agrave internet e recursos eletrocircnicos o que confere a esta geraccedilatildeo uma base

de conhecimento maior que possibilita maior independecircncia e capacidade de questionar e confrontar

informaccedilotildees Afirmam que por intuiccedilatildeo os membros da geraccedilatildeo net satildeo comunicadores visuais por

excelecircncia tecircm fortes habilidades visuais-espaciais e facilidade de integrar o mundo fiacutesico com o virtual

(Oblinger e Oblinger 2005) Satildeo considerados aprendizes exploradores que retecircm as informaccedilotildees

descobertas e as usam de forma inovadora

Para Tapscott (1998) a Geraccedilatildeo Net estaacute reconfigurando a forma de trabalho tornando-a mais

colaborativa quebrando a hierarquia riacutegida das organizaccedilotildees forccedilando-as a repensarem outras formas

de recrutar desenvolver e supervisionar talentos O autor cita a mudanccedila no perfil dos consumidores

desta geraccedilatildeo exigem produtos melhores reclamam na rede quando natildeo estatildeo satisfeitos e avaliam os

O mundo conectado em redes

87

produtos e lojas compartilhando informaccedilotildees uacuteteis a outros consumidores Na famiacutelia satildeo especialistas

em internet e ajudam os pais e outros parentes mais velhos a usar os dispositivos tecnoloacutegicos

Tapscott conclui que a Geraccedilatildeo Net estaacute transformando a maneira como os serviccedilos do governo satildeo

concebidos e estaacute produzindo cidadatildeos mais engajados civicamente promovendo um poderoso

ativismo social

132 Os Nativos e imigrantes digitais

Prensky (2001) ao chamar a Geraccedilatildeo Net de ldquonativos digitaisrdquo faz analogia da linguagem

digital como se fosse um segundo idioma que o indiviacuteduo tem que aprender ao imigrar para um paiacutes

estrangeiro Assim para o autor os indiviacuteduos podem ser ldquonativos digitaisrdquo ou ldquoimigrantes digitaisrdquo

Segundo Prensky (2001) os nativos digitais satildeo definidos como os indiviacuteduos que nasceram entre

1980 e 1994 Estes satildeo portanto os jovens adultos que ldquonasceram no mundo digitalrdquo e cresceram

usando a internet e satildeo acostumados a obter informaccedilotildees de forma raacutepida e interagem diversas miacutedias

ao mesmo tempo em funccedilatildeo do contato diaacuterio e contiacutenuo com computadores viacutedeo game aacuteudio e

viacutedeo digital desde quando eram crianccedilas Nesta analogia estes jovens pensam e processam

informaccedilotildees de forma diferentes dos seus pais de uma geraccedilatildeo anterior

Por outro lado a geraccedilatildeo que nasceu no periacuteodo anterior a 1980 o autor a classifica como

imigrantes digitais Estes precisam aprender a linguagem digital para natildeo se sentirem marginalizados

ou inferiorizados em relaccedilatildeo aos nativos Prensky afirma ainda que mesmo que os imigrantes digitais

aprendam a linguagem digital eles ainda manifestam um certo ldquosotaquerdquo que pode ser observado

quando usam as tecnologias um exemplo seria o haacutebito destes que ao comprar um item buscam

informaccedilotildees de seu uso em manuais impressos e soacute em uacuteltimo caso recorrem a internet

133 As Geraccedilotildees X Y Z

Na mesma linha de divisatildeo por geraccedilotildees Tapscott e Wilians (2007) detalhando sobre a

Geraccedilatildeo Net sub-dividem os indiviacuteduos em geraccedilotildees subdivindo-os e classificando-os por letras do

alfabeto Satildeo a Geraccedilatildeo X (nascidos entre 1965 e 1976) Geraccedilatildeo Y (nascidos entre 1977 e 1997) e

Geraccedilatildeo Z (nascidos apoacutes 1998 ateacute os dias atuais) A Geraccedilatildeo X foi marcada principalmente por

vivenciar a tensatildeo e o fim da guerra fria e hoje correspondem aos adultos com meacutedia de 40 anos de

idade Considerando que naquele periacuteodo os aparelhos voltados aacutes miacutedias como o computador ainda

estavam em aprimoramento e natildeo era algo comum para a populaccedilatildeo os da geraccedilatildeo X caracterizam-se

pela sua capacidade de incorporar informaccedilotildees rapidamente e se adaptarem Constitui na visatildeo dos

O mundo conectado em redes

88

autores a geraccedilatildeo que viveu a chegada dos jogos de viacutedeo a televisatildeo a cabo e via sateacutelite e do viacutedeo

cassete (aparelho que permitia assistir filmes locados em casa)

A Geraccedilatildeo Y eacute classificada por Tapscott e Wilians (idem p29) como a geraccedilatildeo que vivenciou a

ascensatildeo exponencial do computador pessoal da internet e criaccedilatildeo de comunidades e redes sociais

Os autores argumentam ldquoenquanto as crianccedilas da Geraccedilatildeo Internet assimilaram a tecnologias porque

cresceram com ela noacutes como adultos tivemos de nos adaptar a ela ndash um tipo diferente e muito mais

difiacutecil de processo de aprendizadordquo Assim como a Geraccedilatildeo X os da Geraccedilatildeo Y tiveram que assimilar o

uso das tecnologias no seu cotidiano No entanto mesclam a miacutedia impressa com a eletrocircnica satildeo

mais seletivos no uso das TDIC prezam a seguranccedila na internet tomando precauccedilotildees no uso de

senhas e compras eletrocircnicas Usam a internet para fins praacuteticos como estudo busca de informaccedilatildeo

pagamento de contas entretenimento e outras atividades (Oliveira 2009)

No entanto Tapscott e Wilians (2007) avanccedilam na descriccedilatildeo das geraccedilotildees e apresenta a

Geraccedilatildeo Z tambeacutem conhecida como Geraccedilatildeo Next Nascida apoacutes 1998 presenciaram a inserccedilatildeo de

diversos aplicativos de miacutedias como o YouTube (2005) My Space (2003) Twitter (2003) e ainda redes

sociais como o Orkut (2004) Facebook (2006) Linkedin (2003) entre outros A geraccedilatildeo Z

acompanhou o boom do uso de celulares smartphones e tablets com acesso a internet O conceito de

Geraccedilatildeo Z propagado por Tapscott e Wilians tem similaridades com os nativos digitais de Prensky

Ambas as geraccedilotildees satildeo caracterizadas por terem crescido em um mundo digital e que estatildeo desde

sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC como dispositivos moacuteveis de comunicaccedilatildeo em

tempo real tocadores de muacutesicas e de viacutedeos comunidades e redes virtuais

134 Os residentes e os visitantes

White e Cornu (2011) propotildeem uma metaacutefora baseada na analogia da ferramenta espaccedilo e

lugar para descreverem os usuaacuterios das tecnologias desconstruindo a ideia de geraccedilatildeo de Prensky e

Tapscott White e Cornu argumentam que a natureza virtual da web proporciona aos seus usuaacuterios

estarem ldquopresentesrdquo em diferentes lugares ao mesmo tempo e que assim como os locais fiacutesicos em

que eacute possiacutevel percorrer ou navegar os softwares satildeo criados para navegabilidade em plataformas e

atraveacutes de ferramentas como redes sociais e foacuteruns proporcionam encontros virtuais entre os

indiviacuteduos Portanto os autores classificam os usuaacuterios das TDIC natildeo em funccedilatildeo do periacuteodo de

nascimento mas do perfil de utilizaccedilatildeo das ferramentas e das formas de acesso no espaccedilo virtual

Nessa classificaccedilatildeo os usuaacuterios da internet satildeo classificados como ldquovisitantesrdquo ou ldquoresidentesrdquo O

O mundo conectado em redes

89

visitante utiliza a internet para resolver questotildees praacuteticas e se desconectam evitando deixar uma

identidade digital Natildeo satildeo utilizadores intensivos das aplicaccedilotildees da internet nem participam de redes

sociais porque natildeo sentem necessidade de pertencer a este espaccedilo Para os autores os utilizadores

apenas utilizam as ferramentas que lhe satildeo uacuteteis durante o tempo e espaccedilo necessaacuterio e ldquosaemrdquo da

internet como se fossem apenas visitantes deste espaccedilo

Os residentes por sua vez na classificaccedilatildeo de White e Cornu (2011) vivem uma parte

significativa do seu tempo conectados Usam a internet natildeo apenas para realizar serviccedilos praacuteticos

como atividades bancaacuterias compras ou pesquisa eles vecircem a web como um espaccedilo para expressar

sua opiniatildeo Os residentes utilizam as ferramentas da web como parte integrante de suas vidas para

eles a internet e todos os aparelhos conectados a ela satildeo cruciais no seu dia-dia No entanto White e

Cornu explicam que a analogia de tempo e espaccedilo permite que os indiviacuteduos transitem da posiccedilatildeo de

residentes para visitantes e vice e versa sem rotulaacute-los

135 O Caldeiratildeo digital

Stoerger (2009) com o objetivo de refutar a tese dos nativos e imigrantes digitais de Prensky

propotildee a analogia do ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Esta proposta segundo a autora em vez de segregar os

indiviacuteduos em categorias segundo suas habilidades ou falta dela constitui o lugar em que todos os

indiviacuteduos incluindo os com baixo niacutevel de competecircncia ou experiecircncia em tecnologia possuem

possibilidades sem barreiras daiacute a expressatildeo ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Stoerger afirma ainda que o caldeiratildeo

digital pode ser a ponte entre as duas culturas (nativos e imigrantes) o que significa que com

capacitaccedilatildeo e ganho de experiecircncia eacute possiacutevel que um imigrante possua as mesmas habilidades do

nativo digital A autora considera que as instituiccedilotildees de educaccedilatildeo tecircm um importante papel no tocante

a fornecer a todos os indiviacuteduos a oportunidade de adquirirem aperfeiccediloarem e atualizarem

conhecimentos tecnoloacutegicos

136 O homo zappiens

O homo zappiens eacute outro roacutetulo para os usuaacuterios especializados em tecnologia O termo foi

utilizado pelo professor Wim Veen da Universidade de tecnologia de Delft na Holanda e Bem

Vrakking aluno e pesquisador de poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia de Sistemas Para os autores a

expressatildeo homo zappiens diz respeito agrave geraccedilatildeo emergente confrontada pela globalizaccedilatildeo que

conectada agrave rede processa uma sobrecarga de informaccedilatildeo procedente de diversas miacutedias e tecnologias

(Veen e Vrakking 2009)

O mundo conectado em redes

90

Para os autores trecircs aparelhos tiveram grande importacircncia a influenciar estes indiviacuteduos o

controle remoto o mouse do computador e o telefone celular De posse do controle remoto as

crianccedilas aprendem precocemente a ldquozappearrdquo por vaacuterios canais de TV e interpretar imagens antes

mesmo de aprenderem a ler Com o mouse do computador navegam em vaacuterios sites da internet

clicam em iacutecones abrem e fecham janelas fazem buscas de palavras desconhecidas assistem viacutedeos

jogam e conversam com outros jovens em redes sociais E com o aparelho celular conectado agrave internet

acessam agrave rede em qualquer lugar ouvem muacutesicas jogam enquanto digitam mensagens e enviam

fotos nos aplicativos de mensagem instantacircnea Veen e Vrakking (2011 p 2) descrevem a diferenccedila

destes com as geraccedilotildees anteriores

O Homo zappiens vive em um mundo cujos recursos de informaccedilatildeo satildeo muito ricos Ele adotou o computador e a tecnologia tal como as antigas geraccedilotildees fizeram com a eletricidade a informaccedilatildeo e a tecnologia da informaccedilatildeo tornaram-se parte integrante de sua vida As geraccedilotildees anteriores consideravam a tecnologia como cacircmeras de viacutedeo e aparelhos eletrocircnicos algo difiacutecil de dominar O Homo zappiens poreacutem trata a tecnologia como um amigo e quando um novo aparelho surge no mercado pergunta por seu funcionamento e quer entender como tal aparelho poderia ajudaacute-lo em seu cotidiano Para ele o principal criteacuterio para adotar a tecnologia natildeo eacute o fato de o software ou programa ter boa usabilidade mas o fato de dar conta ou natildeo de suas exigecircncias e necessidades

Assim para esses indiviacuteduos a tecnologia faz parte do seu cotidiano e natildeo pensam nelas como

aparelhos dos quais devem aprender a usar eles primeiro os usam e aprendem a utilizaacute-los com a

experiecircncia Os autores concluem que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis fornecem ao usuaacuterio o

controle de uma ampla variedade de informaccedilotildees O simples apertar de um botatildeo pode ativar acessar

navegar interromper o uso destes recursos Teoricamente o usuaacuterio teria o poder e controle de

decisatildeo sobre qual informaccedilatildeo escolher com eficiecircncia e utilizaacute-la para seu benefiacutecio

137 O Homo Sapiens Digitalis

Mais recentemente Marc Prensky reformulou sua teoria sobre os nativos digitais Da analogia

do idioma o autor parte para a analogia da evoluccedilatildeo das espeacutecies No artigo Homo Sapiens Digital

From Digital Immigrants and Digital Natives to Digital Wisdom Presnky (2009) explica que agrave medida

que todos vatildeo crescendo na era da tecnologia digital a distinccedilatildeo entre nativos e imigrantes digitais fica

menos relevante O autor sugere pensar em termos de ldquoSabedoria digitalrdquo Neste sentido Presnky

explica que este se trata de um conceito duplo pode ser referindo aacute sabedoria decorrente da utilizaccedilatildeo

da tecnologia digital para acessar o poder cognitivo aleacutem da nossa capacidade inata ou agrave sabedoria na

utilizaccedilatildeo prudente da tecnologia para melhorar nossas habilidades Prensky atenta para o fato de que

O mundo conectado em redes

91

com as informaccedilotildees cada vez mais disponiacuteveis na rede acessaacute-las natildeo seraacute o principal desafio deste

seacuteculo XXI mas o que as pessoas vatildeo fazer com esses recursos Na visatildeo do autor as tecnologias

proporcionam aprimoramento das habilidades humanas e o Homo Sapiens Digitalis seria o ser que

evoluiu no uso saacutebio das tecnologias para seu benefiacutecio proacuteprio

Esta designaccedilatildeo natildeo se trata de um neologismo de Prensky visto que ainda no seacuteculo

passado Joseacute Terceiro (1996) na obra Sociedade digital ndash do Homo Sapiens ao Homo Digitalis jaacute

previa que no ano 2000 o homem comeccedilaria a deixar de ser homo sapiens para ser homo digitalis

Mas como presenciou o avanccedilo das tecnologias de 1996 para os dias atuais Presnky avanccedila na

discussatildeo de que o homo digitallis sabe mais do que manipular a tecnologia com facilidade eacute capaz

de tomar decisotildees mais saacutebias com o reforccedilo das tecnologias nos campos da poliacutetica economia

educaccedilatildeo artes e outras aacutereas O autor aponta para o futuro em que chips digitais de aprimoramento

seratildeo implantados nos nossos filhos e netos potencializando a capacidade de manipulaccedilatildeo e

gerenciamento de informaccedilotildees para tomada de decisotildees acertadas As questotildees satildeo estatildeo todos

humanos evoluindo para essa situaccedilatildeo E acrescentamos noacutes quereratildeo evoluir para essa situaccedilatildeo

De quem depende a evoluccedilatildeo futura do ser humano A quem pertence o futuro Entendemos que

nestes assuntos a decisatildeo natildeo cabe apenas aos poliacuteticos e aos cientistas da tecnologia devendo os

cidadatildeos do seacuteculo XXI ter uma palavra a dizer sobre o seu futuro e o futuro da humanidade

138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet

Haacute uma linha de teoacutericos que argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos

digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e altamente especializada na internet (Bennett Maton e Kervin

2008 Combes 2009 Lage e Dias 2012 Brown e Czerniewicz 2010) Estes teoacutericos afirmam que

embora existam jovens altamente engajados com as tecnologias este grupo eacute minoritaacuterio dentro do

universo de todos jovens do mundo Benett Maton e Kervin (2008) citam estudo realizado em larga

escala com 4374 estudantes nos Estados Unidos onde constatou-se que embora a maioria

possuiacutesse computadores pessoais e telefones celulares o uso mais comum pelos jovens era a

navegaccedilatildeo em redes sociais processadores de texto sites de buscas e email Apenas uma pequena

proporccedilatildeo dos entrevistados (cerca de 21) estavam envolvidos na criaccedilatildeo do proacuteprio conteuacutedo e

multimiacutedias para a Web

Outro estudo citado pelos autores realizado na Austraacutelia com estudantes universitaacuterios

tambeacutem revelou que apesar dos estudantes estarem usando uma ampla gama de tecnologias no seu

O mundo conectado em redes

92

cotidiano existem aacutereas onde o uso e a familiaridade com as ferramentas tecnoloacutegicas estatildeo longe de

serem universais Bennett et al (2008) afirmam que existe em maior escala jovens que natildeo tecircm as

habilidades e competecircncias para o uso criacutetico das miacutedias do que os jovens ldquonativos digitaisrdquo Os

autores chamam a atenccedilatildeo para o perigo das generalizaccedilotildees designando toda uma geraccedilatildeo nascida a

partir de uma data como pessoas altamente especializadas no uso da internet o que poderia levar aos

formuladores de poliacuteticas puacuteblicas negligenciarem um largo contingente de pessoas que mesmo

nascidas no periacuteodo de boom das tecnologias continuam agrave margem delas e natildeo possuem habilidades

e competecircncias para seu uso em benefiacutecio proacuteprio

Na anaacutelise de Combes (2009) a teoria da Geraccedilatildeo Net ou Geraccedilatildeo Y de que os indiviacuteduos

nascidos depois de 1985 tecircm uma compreensatildeo em profundidade e quase um conhecimento intuitivo

de como usar a tecnologia simplesmente porque eles natildeo conheceram o mundo sem internet natildeo

tem base empiacuterica e teoacuterica Na sua pesquisa de doutorado a autora realizou estudo com 533 alunos

do primeiro ano do ensino meacutedio (entre 18 e 22 anos) de duas universidades A primeira fase da

pesquisa consistiu num inqueacuterito com perguntas para determinar os niacuteveis de confianccedila e o uso da

tecnologia dos participantes A terceira fase do estudo incluiu entrevista semiestruturada com 40

estudantes que se destacaram com uma gama de atributos da Geraccedilatildeo Net Os mesmos foram

convidados a realizar duas tarefas uma informal em que o participante deveria coletar dados e

informaccedilotildees na Web para uma viagem de feacuterias e outra acadecircmica em que o participante deveria

buscar informaccedilotildees na rede interpretaacute-las e preparar uma apresentaccedilatildeo Ao observar os participantes

realizarem as atividades a autora constatou que estes se mostraram bastante confiantes realizaram

multitarefas mas eram dependentes de motores de buscas e natildeo iam aleacutem do primeiro resultado que

encontravam na sua pesquisa Na pesquisa acadecircmica natildeo consultaram bibliotecas digitais

especializadas e a maioria usou apenas a Wikipeacutedia

Combes observou entatildeo que a confianccedila dos participantes nos motores de busca leva a uma

suposiccedilatildeo de autoridade Se o resultado do motor de busca eacute relevante agrave pesquisa eles consideram ter

informaccedilotildees fidedignas e confiaacuteveis caso contraacuterio se os participantes natildeo encontram nada depois de

vaacuterias pesquisas concluem que a informaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel e natildeo que eles falharam em a

encontrar Em siacutentese a tese de Combes (2009) concluiu que os altos niacuteveis de confianccedila e a falta de

compreensatildeo de como funciona a web por parte desta pressuposta Geraccedilatildeo Net demonstra que os

jovens natildeo conseguem perceber as limitaccedilotildees de suas habilidades tecircm baixa literacia digital

dependem de motores de buscas e confiam nos primeiros resultados encontrados nas pesquisas

O mundo conectado em redes

93

Igualmente Lage e Dias (2012) apontam para estudos realizados em amostras alargadas da

populaccedilatildeo europeia que revelam a fragilidade das habilidades e competecircncias destes jovens em

relaccedilatildeo ao manuseio das TDIC As autoras citam um estudo publicado em 2008 (Google Generation

Project) realizado pela University College of London em que se desmitificou a aparente familiaridade

com computadores da ldquogeraccedilatildeo googlerdquo realccedilando a sua dependecircncia dos motores de busca e a baixa

capacidade analiacutetica criacutetica de avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeo Lage e Dias (2012 p 7) analisam o

perfil destes jovens

Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas

Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets

smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo ou das geraccedilotildees XYZ

possuam habilidades excepcionais no uso das TDIC Lage e Dias (idem p 7) concluem ldquoas pessoas

passaram utilizar a Web de forma natural pois foram alfabetizadas digitalmenterdquo mas natildeo sabem

organizar as pesquisas e utilizar as informaccedilotildees obtidas Tambeacutem Demo (2011 p 16) corrobora que

existe uma ldquoeuforiardquo em torno desta nova geraccedilatildeo sendo vista quase como uma nova espeacutecie e

difundem-se mitos que generalizam em excesso inovaccedilotildees que ainda nem foram consumadas

Acrescenta que ldquoa nova geraccedilatildeo nem sempre se mostra tatildeo haacutebil assim em especial no que se refere

a potencialidades de aprendizagemrdquo (p 16) Trata-se de um ldquocampo transitoacuteriordquo finaliza Demo

embora os estudantes transitem pelo campo informal das tecnologias uma consideraacutevel parte natildeo

possui competecircncias e habilidades para o manejo criacutetico das miacutedias

Brown e Czerniewicz (2010) realizaram estudos entre jovens no ensino superior do Sul Africano

e constataram que natildeo se pode assumir uma homogeneidade quando se trata das experiecircncias dos

jovens com as tecnologias e que dentro de cada grupo etaacuterio existem estudantes com baixo meacutedio e

alto niacutevel de experiecircncia Os autores contestam que haja uma geraccedilatildeo de nativos digitais mas que

existe apenas uma pequena porcentagem de estudantes que preenchem os criteacuterios da Geraccedilatildeo Net

antes o maior contingente satildeo de jovens que tem baixa literacia digital O roacutetulo ldquonativordquo eacute criticado

pelos pesquisadores como alusivo a colonizaccedilatildeo ndash lembrando a colonizaccedilatildeo europeia a alguns paiacuteses e

ilhas do continente africano Para Brown e Czerniewicz os nativos digitais satildeo os povos colonizados e

foram forccedilados a adotar normas atitudes valores culturais dos colonizadores (grandes corporaccedilotildees de

O mundo conectado em redes

94

tecnologia) Levando agrave analogia de Prensky dos nativos digitais os autores questionam se os nativos

digitais natildeo satildeo uma categoria mais valorizada ou especializada antes satildeo frutos da colonizaccedilatildeo

ocidental que usa os meios de informaccedilao e comunicaccedilatildeo para ditar a linguagem pensamento

cultura e valores que devem ser adotados no cenaacuterio emergente de tecnologias

Do exposto fica evidente que nem todos estatildeo conectados agrave rede e tampouco todos jovens

satildeo altamente especializados em tecnologias Mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de

tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e

filtrar conteuacutedos fuacuteteis Em proporccedilatildeo de quantidade existem mais pessoas com dificuldades em lidar

com a tecnologia do que especialistas Logo classificar uma geraccedilatildeo que nasceu depois de um

determinado ano como nativos digitais ou geraccedilatildeo net e outros roacutetulos natildeo tem base teoacuterica

comprovada Existe sim um grande contigente de pessoas marginalizadas que natildeo tem acesso as

tecnologias ou que tem acesso precaacuterio e baixa literacia digital para fazer uso tecnologias para sua

autonomia e emancipaccedilatildeo Neste sentido noacutes educadores estamos diante de um duplo desafio lidar

com os jovens que satildeo altamente especializados nas tecnologias mas pouco senso criacutetico para filtrar

informaccedilotildees e usaacute-las sabiamente e ainda ajudar os demais jovens natildeo tatildeo especializados e com

pouco acesso agraves tecnologias a primeiro terem o acesso necessaacuterio e depois adquirirem literacia digital

para navegarem no oceano de informaccedilotildees da rede de forma a tiraram proveito disso na sua vida

acadecircmica profissional social e poliacutetica

Mas a questatildeo eacute mais complexa do que parece Para ajudar seus alunos nessas questotildees de

uso criacutetico das miacutedias o professor aleacutem do uso cotidiano das tecnologias necessita de sua

apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e

colaborativos com seus alunos Nas palavras de Almeida e Valente (2011 p 93)

O professor que se reconhece como protagonista de sua praacutetica e usa as TDIC de modo criacutetico e criativo voltando-se para a aprendizagem significativa do aluno coloca-se em sintonia com linguagens e siacutembolos que fazem parte do mundo do aluno respeita seu processo de aprendizagem e procura conhecer seu universo de conhecimentos por meio das representaccedilotildees que os alunos fazem em um suporte tecnoloacutegico

Neste sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o ldquodifusor

do conhecimentordquo pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a

manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados

por ela Nas palavras de Gadotti (2003 p 32) o professor ldquodeixaraacute de ser um lecionador para ser um

O mundo conectado em redes

95

organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um aprendiz

permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo Este novo perfil de professor demandado

pela expansatildeo das tecnologias requer das instituiccedilotildees de ensino (da escola agrave universidade) que

revisem os processos de aprendizagem com vista agrave formaccedilatildeo de sujeitos com visatildeo criacutetica das miacutedias

com capacidade de produzirem e difundirem conhecimento na web e portadores de competecircncias para

o trabalho colaborativo O capiacutetulo 3 deste trabalho analisaraacute de forma mais aprofundadada os desafios

encontrados pelos professores na aacuterea da tecnologia educativa e a questatildeo da formaccedilatildeo de professores

para a literacia digital

Em siacutentese neste capiacutetulo apresentamos o cenaacuterio resultante das revoluccedilotildees socioteacutecnicas

ocorridas em face do desenvolvimento estrateacutegico das tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaacutetica com

repercurssotildees na estrutura social da sociedade Usamos a analogia da rede para compreender que se

trata de um fenocircmeno sociocultural tendo em vista que as miacutedias se adequam e transformam os

ambientes sociais onde se instalam promovendo reestruturaccedilatildeo na cultura local Esse fenocircmeno

ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita que quebrou a cultura da oralidade tambeacutem com a invenccedilatildeo da

imprensa e da miacutedias eletrocircnicas que mudaram a forma de comunicaccedilatildeo da humanidade conforme

exposto neste capiacutetulo Compreendemos que estes processos evolutivos da comunicaccedilatildeo

condicionaram os modelos educativos vigentes em cada periacuteodo trazendo mudanccedilas significativas nas

formas de aprender e ensinar

Consideramos que no cenaacuterio de tecnologias uacutebiquas mudou tambeacutem o perfil das pessoas

que acessam as redes com efeito na sociabilidade mobilidade e aprendizagem Do exposto foi

explicitado que o ldquoestar dentrordquo da rede implica natildeo estar apenas conectado mas ser um noacute ativo

dela construindo conhecimento e compartilhando interagindo com demais usuaacuterios e tirando pleno

proveito das oportunidades oferecidas pelas rede O foco no capitulo seguinte seraacute naqueles que natildeo

estatildeo na rede ou que estatildeo mas de forma marginalizada inclusive de professores nesta situaccedilatildeo que

se vecircem confrontados com a expansatildeo das tecnologias mas seguem agrave margem das potencialidades

que as TDIC podem oferecer na sua vida cotidiana e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

Capiacutetulo 2 O mundo todo estaacute mesmo conectado

O mundo todo estaacute mesmo conectado

99

21 Do lado de fora ou dentro na margem da rede

Eacute realmente verdade que pessoas e paiacuteses tornam-se excluiacutedos por estarem desconectados de redes baseadas na Internet Ou ao contraacuterio eacute por estarem conectados que se tornam dependentes de economias e culturas numa relaccedilatildeo em que tecircm pouca chance de encontrar seu proacuteprio caminho de bem-estar material e identidade cultural (Castells 2003 p 203)

Apresentamos no capiacutetulo 1 deste trabalho o cenaacuterio de um mundo que entrou no seacuteculo XXI

num contexto diferente de todos demais seacuteculos anteriores integrado e globalizado pelas tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Muito jaacute se produziu na literatura sobre as mudanccedilas ocorridas desde a

invenccedilatildeo do computador ateacute agrave disseminaccedilatildeo em larga escala da internet e dos dispositivos moacuteveis

conectados agrave rede E existe tambeacutem uma vasta literatura que discute sobre a exclusatildeo digital

decorrente do processo de ampliaccedilatildeo das tecnologias (DiMaggio e Hargitta 2001 DijK e Kenneth

2003 Gunkel 2003) No entanto nosso enfoque neste capiacutetulo seraacute sobre a inclusatildeo sociodigital

como proposta de reinserccedilatildeo social dos marginalizados digitalmente Neste sentido algumas questotildees

relevantes satildeo levantadas Porquecirc incluir O que significa incluir digitalmente O que o sujeito vai fazer

com os dados que acessa quando for incluiacutedo Aos interesses de quem servem as poliacuteticas puacuteblicas de

inclusatildeo digital Incluir significa prover o acesso para todos Que barreiras existem para a inclusatildeo O

sujeito pode estar incluiacutedo e mesmo assim marginalizado Em que sentido as TDIC podem promover a

emancipaccedilatildeo dos marginalizados da sociedade em rede inclusive os professores

No capiacutetulo I exploramos a sociedade em rede nas suas dimensotildees poliacuteticas sociais

econocircmicas e apresentamos o perfil dos indiviacuteduos conectados agrave rede das geraccedilotildees que se formaram

com caracteriacutesticas inerentes ao padratildeo de tecnologias que lhe eram disponibilizadas Seguindo a

analogia proposta neste estudo sobre a rede e o posicionamento do individuo nesta o capiacutetulo 2 busca

apresentar o outro lado da moeda aqueles que natildeo estatildeo conectados agrave rede ou estatildeo conectados

marginalmente quase fora dela (Demo 2007) A problemaacutetica perpassa pela concepccedilatildeo do termo

inclusatildeo digital pelos formuladores de politicas publicas avanccedila pelo debate conceitual do referido

termo (digital divide fractura digital fosso digital em outros idiomas) e da discussatildeo sobre o acesso e

niacuteveis de exclusatildeo em diferentes categorias da sociedade

Na literatura o termo ldquoinclusatildeo digitalrdquo se tornou associado agrave expressatildeo comum ldquoinclusatildeo

socialrdquo E natildeo eacute por acaso que este fato acontece Quando se fala em inclusatildeo social pressupotildee-se que

existem excluiacutedos fora sem acesso agraves poliacuteticas sociais Assim o uso da expressatildeo inclusatildeo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

100

ldquosociodigitalrdquo delata que existem pessoas excluiacutedas do acesso agraves tecnologias e fora do mundo

informacional e que satildeo afetadas socialmente por permanecerem nesta condiccedilatildeo Enquanto poliacutetica

puacuteblica a inclusatildeo sociodigital se tornou parte da agenda governamental em face do acentuado

nuacutemero de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso miacutenimo agraves tecnologias e que satildeo cerceados do direito agrave

informaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo e agrave cidadania

Neste sentido este capiacutetulo inicia a discussatildeo sobre os cenaacuterios que levaram agrave entrada da

inclusatildeo sociodigital na agenda poliacutetica A discussatildeo avanccedila com a explanaccedilatildeo teoacuterico-conceitual do

termo inclusatildeo sociodigital com intuito de compreender os diferentes niacuteveis em que o indiviacuteduo pode se

encontrar posicionado (incluiacutedoexcluiacutedomarginalizado) na metaacutefora da rede O texto apresenta a

questatildeo da inclusatildeo para aleacutem do acesso agraves maacutequinas considerando as desigualdades relacionadas ao

tipo e local de acesso qualidade da banda larga capacidade cognitiva de resoluccedilatildeo de problemas com

o equipamento e ainda competecircncias de literacia digital O capiacutetulo finaliza delineando aspectos em

que programas de reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente podem contribuir para a autonomia

visatildeo poliacutetica e sua emancipaccedilatildeo cidadatilde

22 A inclusatildeo digital na agenda poliacutetica

A discussatildeo sobre inclusatildeo sociodigital ganha cada vez mais relevacircncia num cenaacuterio em que as

sociedades tomam as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como ferramentas para o

desenvolvimento econocircmico e poliacutetico e para o empoderamento cultural e social dos indiviacuteduos Nos

paiacuteses desenvolvidos com tendecircncia ao neoliberalismo a tecnologia a informaccedilatildeo e o conhecimento

constituem capitais basilares para o desenvolvimento econocircmico A internet neste contexto natildeo eacute

apenas uma tecnologia como afirma Castells (2003 p 220) esta ldquoeacute a ferramenta tecnoloacutegica e a

forma organizacional que distribui informaccedilatildeo poder geraccedilatildeo de conhecimento e capacidade de

interconexatildeo em todas as esferas de atividaderdquo Neste sentido paiacuteses em desenvolvimento satildeo

ldquocapturadosrdquo num emaranhado de rede Portanto conclui o autor estar desconectado ou com acesso

superficial equivale a se posicionar na margem do sistema global interconectado em suas palavras

ldquodesenvolvimento sem internet seria equivalente agrave industrializaccedilatildeo sem eletricidade na Era Industrialrdquo

Os padrotildees de consumo passaram a definir a posiccedilatildeo social e econocircmica do indiviacuteduo na sociedade

De acordo com Silva e Silva (2008 p 98) a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica na

agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a seleccedilatildeo

das questotildees que iratildeo compor essa agenda Segundo os autores no que tange agraves poliacuteticas sociais eacute

O mundo todo estaacute mesmo conectado

101

necessaacuterio primeiro pensaacute-las dentro dos quadros da totalidade social onde se situam vaacuterios sujeitos

que se relacionam conflitivamente quer sejam o Estado classes e fraccedilotildees de classe Assim demandas

sociais satildeo levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas eacute a formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que constitui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo

problema e a busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento

Na anaacutelise de Silveira (2005) a inclusatildeo digital passou a ser incluiacuteda na agenda da poliacutetica

puacuteblica social quando o capitalismo tornou a sociedade dependente das tecnologias da inteligecircncia e

que para sobreviver neste sistema se requer preparo e capacitaccedilatildeo complexa para o uso destas

tecnologias O autor afirma que existe um ldquoapartheidrdquo entre os grupos sociais que incorporam as

tecnologias para melhorar suas condiccedilotildees de vida e trabalho e aqueles que estatildeo privados do seu

acesso Para intervir neste contexto Silveira aponta o Estado como o principal interventor dos

processos discriminatoacuterios decorrentes do abismo existente entre os que possuem amplo acesso agraves

tecnologias e aqueles que vivem agrave margem ou excluiacutedos

Segundo Bonilla e Oliveira (2011) o campo para discussotildees sobre a inclusatildeo digital como

poliacutetica puacuteblica social tornou-se feacutertil nos anos de 1990 com os chamados ldquoProgramas para a

Sociedade da Informaccedilatildeordquo com expressatildeo notoacuteria dos EUA Uniatildeo Europeacuteia (UE) e Organismos

Internacionais como Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e a Uniatildeo dos Estados Americanos (OEA) A

discussatildeo sobre inclusatildeo digital no Brasil iniciou tardiamente em comparaccedilatildeo com os paiacuteses da

Ameacuterica do Norte e Europa O tema estaacute presente nas poliacuteticas puacuteblicas governamentais do paiacutes desde

o ano de 2000 na ocasiatildeo do lanccedilamento do Livro Verde ndash Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil

(Takahashi 2000) que conteacutem metas de implementaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no

Brasil O documento aponta para trecircs fenocircmenos que estavam a processar mudanccedilas na sociedade e

que seriam metas do programa brasileiro a convergecircncia da base tecnoloacutegica a dinacircmica da induacutestria

e o crescimento da internet Neste sentido o teor da discussatildeo no livro eacute pautado na questatildeo

tecnoloacutegica sem um aprofundamento teoacuterico sobre a questatildeo social da inclusatildeo digital O processo de

implantaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi dividido em trecircs etapas 1) Elaboraccedilatildeo

- do Livro Verde discussatildeo com a sociedade 2) Execuccedilatildeo - Accedilotildees operacionais no triecircnio (2001-2003)

3) Consolidaccedilatildeo - Avaliaccedilatildeo geral do programa elaboraccedilatildeo de conjunto de propostas para 2004 e anos

seguintes

O Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi respaldado por lei ndash o Decreto 329499

De acordo com Santos e Carvalho (2009) o referido programa foi construiacutedo com base em modelos de

O mundo todo estaacute mesmo conectado

102

programas similares na Europa A diferenccedila eacute que na Europa ocorreu uma ampla discussatildeo preacutevia

sobre a concepccedilatildeo do programa uns defendiam que o mesmo fosse nomeado como ldquosociedade do

conhecimentordquo e ldquoda informaccedilatildeordquo O documento europeu Construir a Sociedade Europeia de

Informaccedilatildeo para Todos (UE 1997 p 15) apresenta a problemaacutetica

Em primeiro lugar eacute fundamental estabelecer uma distinccedilatildeo clara entre dados informaccedilatildeo e saber Do nosso ponto de vista a produccedilatildeo de dados natildeo estruturados natildeo conduz automaticamente agrave criaccedilatildeo de informaccedilatildeo da mesma forma que nem toda a informaccedilatildeo eacute sinoacutenimo de saber Toda a informaccedilatildeo pode ser classificada analisada estudada e processada de qualquer outra forma a fim de gerar saber Nesta acepccedilatildeo tanto os dados como a informaccedilatildeo satildeo comparaacuteveis agraves mateacuterias-primas que a induacutestria transforma em bens

A discussatildeo nos parece relevante porque se a preocupaccedilatildeo principal do programa eacute constituir

a transmissatildeo disseminaccedilatildeo e armazenamento das informaccedilotildees atraveacutes das redes de internet

bastariam estrateacutegias de ampliaccedilatildeo do acesso Poreacutem o documento deixa expliacutecito que as tecnologias

criadas ateacute entatildeo natildeo tiveram efeito sobre a aquisiccedilatildeo do saber elas apenas distribuem informaccedilotildees

que podem ser usadas para o constructo de saberes que talvez melhorassem o bem estar de todos os

que usufruem delas O documento explica ldquoque eacute fundamental considerar a sociedade da informaccedilatildeo

como uma sociedade da aprendizagemrdquo que natildeo se conclui nos bancos escolares Por isso o

documento justifica ldquoa nossa lista de recomendaccedilotildees poliacuteticas com as que abordam este desafio

especiacutefico indo muito aleacutem das tradicionais sugestotildees de programas multimeacutedia e infra-estruturas de

apoio para a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo profissionalrdquo A primeira recomendaccedilatildeo do documento nesse

sentido foi estimular ativamente a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e competecircncias com investimento

pesado em equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas europeias e formaccedilatildeo de professores nesta aacuterea

com ecircnfase no trabalho colaborativo e em redes

No caso brasileiro natildeo houve essa discussatildeo preacutevia sobre a concepccedilatildeo de sociedade de

informaccedilatildeo que se pretendia implantar Na anaacutelise de Santos e Carvalho (2009 p 47) o documento

Brasileiro (Livro Verde da Informaccedilatildeo ) apresenta ldquofalta de solidez profundidade e subsiacutedios cientiacuteficos

nas discussotildeesrdquo e trata a questatildeo como sendo meramente tecnoloacutegica Sobre o objetivo principal do

programa o Livro Verde apresenta

O objetivo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute integrar coordenar e fomentar accedilotildees para a utilizaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de forma a contribuir para a inclusatildeo social de todos os brasileiros na nova sociedade e ao mesmo tempo contribuir para que a economia do Paiacutes tenha condiccedilotildees de competir no global (Takahashi 2000 p 11 grifo do autor)

O mundo todo estaacute mesmo conectado

103

A sociedade civil organizada Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONG) universidades setor

puacuteblico e privado foram convidados a participar do programa mas este teve descontinuidade com a

mudanccedila de governo em 2002 e suas accedilotildees foram direcionadas tatildeo somente o acesso e a

conectividade agraves redes (Santos e Carvalho 2009) Outros programas foram desenvolvidos nos uacuteltimos

dez anos a maioria se destaca na oferta de equipamentos de informaacutetica e conexatildeo banda larga

Segue quadro dos principais programas propostos no Brasil que no discurso institucional satildeo voltados

para inclusatildeo digital

Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil

Programa Proposta

Cidadatildeo Conectado ndash computador para todos

Promover a Inclusatildeo Digital mediante a aquisiccedilatildeo em condiccedilotildees facilitadas de soluccedilotildees de informaacutetica

Projeto Computadores para Inclusatildeo

Oferecer equipamentos de informaacutetica recondicionados em plenas condiccedilotildees operacionais para apoiar a disseminaccedilatildeo de telecentros comunitaacuterios e a informatizaccedilatildeo das escolas puacuteblicas e bibliotecas

Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE)

Conectar todas as escolas puacuteblicas urbanas agrave internet rede mundial de computadores por meio de tecnologias que propiciem qualidade velocidade e serviccedilos para incrementar o ensino puacuteblico no Paiacutes

Projeto Computadores para a Inclusatildeo

Modernizar a gestatildeo ampliar o acesso aos serviccedilos puacuteblicos e promover o desenvolvimento dos municiacutepios brasileiros por meio da tecnologia

Plano Nacional de Banda Larga Promover a inclusatildeo digital e a formaccedilatildeo de jovens de baixa renda em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social com a oferta de oficinas cursos treinamentos e outras atividades formativas com foco no recondicionamento e manutenccedilatildeo de equipamentos de informaacutetica e na conscientizaccedilatildeo ambiental sobre os resiacuteduos eletroeletrocircnicos

PROINFO Integrado Massificar o acesso agrave internet em banda larga no paiacutes principalmente nas regiotildees mais carentes da tecnologia

Um computador por aluno ndash PROUCA

Oferecer gratuitamente conexatildeo agrave internet em banda larga - por via terreste e sateacutelite - a telecentros escolas unidades de sauacutede aldeias indiacutegenas postos de fronteira e quilombos

Promover a inclusatildeo digital pedagoacutegica e o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem de alunos e professores das escolas puacuteblicas brasileiras mediante a utilizaccedilatildeo de computadores portaacuteteis denominados laptops educacionais

Fonte Portal do governo eletrocircnico httpwwwgovernoeletronicogovbracoes-e-projetosinclusao-digital (grifo da autora)

As informaccedilotildees sobre cada projeto disponibilizadas no quadro acima foram tiradas na sua

iacutentegra do portal do governo eletrocircnico Os destaques em negrito do discurso institucional do governo

demonstram a preocupaccedilatildeo dos gestores puacuteblicos na questatildeo da oferta de equipamentos de

informaacuteticas e acesso agraves redes

Silveira (2008) aponta uma problemaacutetica na visatildeo dos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas que

se limitam a pensar que ldquoinserirrdquo as pessoas constitui tornaacute-las consumidoras de produtos de

informaacutetica O efeito destas poliacuteticas pode produzir um resultado contraacuterio Segundo o autor estas

podem estender o ldquolocalismo globalizado de origem norte-americanardquo e constituiriam uma forma de

utilizar o esforccedilo puacuteblico das sociedades pobres para se tornarem consumidores dos produtos

O mundo todo estaacute mesmo conectado

104

tecnoloacutegicos dos paiacuteses desenvolvidos ou ainda serviriam para ldquoreforccedilar o domiacutenio oligopolista de

grandes grupos transnacionaisrdquo (idem p 48) Ao fazer esta anaacutelise Silveira apoia-se no conceito de

ldquoglobalizaccedilatildeo como fenocircmeno produzidordquo na visatildeo do autor Boaventura Souza Santos (Santos 2002)

A consequecircncia da produccedilatildeo do global implica na produccedilatildeo do local ou produccedilatildeo de localizaccedilatildeo O

Sistema Mundial em Transiccedilatildeo conceito criado por Souza Santos para designar as transformaccedilotildees

mundiais estabelece a hierarquizaccedilatildeo dominante Desta forma o local se integra com o global por

duas vias pela exclusatildeo ou inclusatildeo subalterna O local quando incluiacutedo eacute de forma subordinada

Silveira explica

Boaventura sustenta que apesar de na linguagem comum e no discurso poliacutetico o termo globalizaccedilatildeo transmitir a ideia de inclusatildeo o acircmbito real da inclusatildeo pela globalizaccedilatildeo sobretudo a econocircmica pode ser bastante limitado Vastas populaccedilotildees do mundo sobretudo em Aacutefrica estatildeo a ser globalizadas em termos do modo especiacutefico por que estatildeo a ser excluiacutedas pela globalizaccedilatildeo hegemocircnica O que caracteriza a produccedilatildeo de globalizaccedilatildeo eacute o fato de seu impacto se estender tanto agraves realidades que inclui como agraves realidades que exclui (Silveira 2013 p 3)

Observa-se portanto uma disparidade gritante entre dois tipos de cidadatildeos do mundo um

liderado por uma elite que tem pleno acesso agraves TDIC e tira proveito disso o outro atrofiado e

marginalizado pela falta de acesso a estas Luyt (2007) analisa que a partir de meados dos anos 1990

um nuacutemero crescente de relatoacuterios estudos de caso e documentos de discussatildeo sobre a tecnologia da

informaccedilatildeo para o desenvolvimento comeccedilaram a circular com o objetivo de desvendar a profundidade

do fosso digital que jaacute era percebido naquele momento Considerando que as poliacuteticas puacuteblicas natildeo

satildeo neutras e atendem a interesses de grupos poliacuteticos e econocircmicos Luyt afirma que existem grupos

de interesse na promoccedilatildeo da questatildeo da exclusatildeo ou fosso digital os paiacuteses desenvolvidos que

desejam alcanccedilar novos mercados com seus produtos tecnoloacutegicos Estas naccedilotildees mais desenvolvidas

oferecem novas oportunidades de trabalho para sua elite e perpetuam as limitaccedilotildees das perspectivas

econocircmicas da populaccedilatildeo pobre vendo-a como uma forccedila de trabalho indispensaacutevel aos interesses do

capital Os oacutergatildeos da sociedade civil tambeacutem se preocupam com a questatildeo da exclusatildeo digital pois

segundo o autor eles tentam capturar as tecnologias da rede para seus proacuteprios interesses e projetos

Na visatildeo de Lemos (2003) parece que aleacutem do discurso instituiacutedo de que a exclusatildeo digital

deve ser combatida existe pouco debate sobre o que esta significa como pode ser medida e

elucidada O autor questiona os programas de inclusatildeo digital promovidos em telecentros Em 2003

houve uma poliacutetica acirrada no Brasil de implantaccedilatildeo de telecentros nas comunidades com objetivo de

promover o acesso para todos Lemos jaacute previa que com a expansatildeo das redes cada vez mais ubiacutequas

O mundo todo estaacute mesmo conectado

105

os telecentros ficariam ultrapassados com o tempo o que de fato ocorreu Sobre a que interesses

estas poliacuteticas atendem Lemos (idem p 1) concluiu ldquofaz-se assim a felicidade de empresas ONGs e

tecnoutoacutepicos que vatildeo nos vender sob essa ideologia mais e mais brinquedinhos tecnoloacutegicosrdquo De

fato a induacutestria da tecnologia tem como objetivo incluir as pessoas num molde ou padratildeo de consumo

que as torna dependentes das parafernaacutelias tecnoloacutegicas lanccediladas no mercado em caraacuteter freneacutetico

Ainda sobre o objetivo da induacutestria da tecnologia Silveira (2011 p 59) afirma

O objetivo das grandes operadoras de telecom e da induacutestria do copyright eacute transformar a internet em uma ldquogrande rede de TV a cabordquo ou seja reduzir a sua interatividade filtrar os fluxos de informaccedilatildeo impedir o compartilhamento livre de arquivos digitais Com o discurso falacioso de melhorar o funcionamento da rede tal objetivo eacute tambeacutem diminuir o aumento do poder comunicacional dos indiviacuteduos e coletivos que usam a rede para ampliar a articulaccedilatildeo das pessoas em torno de suas causas sejam elas quais forem

Assim o autor conclui que a induacutestria tecnoloacutegica fomenta a inclusatildeo sem autonomia fornece

as informaccedilotildees aos cidadatildeos mas querem interatividade controlada sem a liberdade de criaccedilatildeo de

novos conteuacutedos e novas tecnologias de comunicaccedilatildeo

Um exemplo atual eacute a polecircmica envolvida no fato do aplicativo de mensagens instantacircneas

whatsapp permitir a realizaccedilatildeo de ligaccedilotildees telefocircnicas utilizando o nuacutemero de celular do usuaacuterio

Segundo portal de notiacutecias G117 em 2015 operadoras de telecomunicaccedilotildees no Brasil anunciaram que

entrariam com peticcedilatildeo judicial junto agrave Agencia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (Anatel) contra o

funcionamento do aplicativo whatsapp com ligaccedilotildees telefocircnicas O argumento das operadoras eacute que as

mesmas pagam tributos para cada linha autorizada o que natildeo acontece com o aplicativo Segundo o

portal de notiacutecias brasileiro Terra18 a consultoria de pesquisa tecnoloacutegica Ovum com sede em Londres

calculou em relatoacuterio divulgado em fevereiro de 2015 um prejuiacutezo de 139 bilhotildees de doacutelares para as

operadores em receitas com serviccedilos de texto em 2014 devido a expansatildeo do whatsapp

Aleacutem da questatildeo econocircmico-financeira as operadoras se queixam que estatildeo sujeitas a multas e agraves

obrigaccedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e qualidade pela Anatel e o aplicativo natildeo se submente a este controle Neste

sentido a induacutestria de comunicaccedilatildeo sente-se ameaccedilada a cada inovaccedilatildeo proporcionada pelas tecnologias

Considerando que estaacute em curso uma revoluccedilatildeo no setor das telecomunicaccedilotildees frente ao uso cada vez mais

frequente do celular para acessar internet as operadoras de telefones moacuteveis seratildeo cada vez mais

17 Mateacuteria Operadoras moacuteveis no Brasil preparam peticcedilatildeo contra Whatsapp Disponiacutevel em lthttpg1globocomtecnologianoticia201508operadoras-moveis-no-brasil-preparam-peticao-contra-whatsapphtmlgt acesso em 12 nov 2015 18 Mateacuteria WhatsApp diz que natildeo eacute ameaccedila a operadoras de telefonia moacutevel Disponiacutevel em lthttptecnologiaterracombrinternetwhatsapp-diz-que-nao-e-ameaca-a-operadoras-de-telefonia-movela5a9e194c2bda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRDhtml gt Acesso em 12 nov 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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provedoras de internet moacutevel Assim como os telecentros estatildeo ficando obsoletos com a expansatildeo do acesso

agraves redes nos tablets e celulares aleacutem do barateamento dos computadores e perifeacutericos ser portador de uma

linha telefocircnica moacutevel seraacute apenas a porta de entrada para o acesso agraves redes

Importante ressaltar que as poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo digital em geral focalizam

demasiadamente as estatiacutesticas de acesso Segundo Bonilla e Oliveira (2011 p 32) esta quantificaccedilatildeo

do acesso torna-se ldquoinsuficiente para se aproximar dos componentes culturais poliacuteticos e

econocircmicosrdquo dos beneficiaacuterios das poliacuteticas Os autores consideram o termo ldquodesfiliaccedilatildeordquo de Robert

Castel mais apropriado que exclusatildeo digital Assim a desfiliaccedilatildeo constitui ldquoa perda dos suportes

sociais que garantem o exerciacutecio de direitos iguais em uma sociedade democraacutetica e o desengajamento

material e simboacutelico dos indiviacuteduos no laccedilo socialrdquo (idem 2011 p 33) Nas palavras de Castells

(1998 p 32) ldquosatildeo menos excluiacutedos do que abandonados como se estivessem encalhados na

margem depois que a corrente das trocas produtivas se desviou delesrdquo Neste contexto o indiviacuteduo

ldquodesfiliadordquo natildeo eacute um excluiacutedo Ele natildeo possui uma total ausecircncia de viacutenculos com a sociedade como

estivesse fora mas encontra-se desprovido de oportunidades para galgar melhores posiccedilotildees A partir

destes pressupostos as poliacuteticas puacuteblicas deveriam considerar o contexto social econocircmico cultural

dos beneficiaacuterios para contemplar os marginalizados aqueles que embora tenham um miacutenimo acesso

precaacuterio natildeo possuem ldquosuportes sociaisrdquo para tirarem proveito das tecnologias para sua autonomia e

emancipaccedilatildeo

Portanto mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes

o ldquofosso digitalrdquo persiste em se alargar pois as tecnologias tendem a empoderar continuamente

aqueles que se apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio Neste sentido a ldquoexclusatildeo digitalrdquo eacute

delimitada natildeo apenas pelas condiccedilotildees de acesso fiacutesico a computadores ou dispositivos moacuteveis

conectados mas ao que as pessoas fazem com as informaccedilotildees e conteuacutedos acessados Segundo De

Maggio e Hargita (2001) com a raacutepida penetraccedilatildeo da internet nos lares das pessoas a tecnologia

antes restrita a uma reservada elite agora estaacute disponiacutevel entre ricos e pobres urbanos e rurais velhos

e jovens educados e sem instruccedilatildeo Mediante tal ampla difusatildeo os autores argumentam que o acesso

inclui os inicialmente excluiacutedos mas surgem outras desigualdades e disparidades relacionadas com a

qualidade da conexatildeo do padratildeo dos aparelhos utilizados e do conhecimento e habilidades do usuaacuterio

Castells (2003) jaacute apontava para os seus efeitos colaterais da expansatildeo da rede de internet por

afirmar que as principais atividades poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais em todo planeta estatildeo

sendo estruturadas ldquopela internet e em torno delardquo O autor conclui que ldquoser excluiacutedo dessas redes eacute

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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sofrer uma forma dolorosa de exclusatildeo em nossa economia e nossa culturardquo (idem p 8) Pierre Leacutevy

(1999) tambeacutem visionava a possibilidade da difusatildeo das tecnologias produzir a exclusatildeo O autor

escreveu

Estima-se frequentemente que o desenvolvimento da cibercultura poderia ser um fator suplementar de desigualdade e de exclusatildeo tanto entre classes de uma sociedade como entre naccedilotildees de paiacuteses ricos e pobres Esse risco eacute real O acesso ao ciberespaccedilo exige infra-estruturas de comunicaccedilatildeo e de caacutelculo de computadores de curto alto para regiotildees em desenvolvimento Aleacutem disso a apropriaccedilatildeo das competecircncias necessaacuterias para a montagem e manutenccedilatildeo de centros servidores representa um investimento consideraacutevel [] haacute em seguida os sentimentos de incompetecircncia e de desqualificaccedilatildeo frente agraves novas tecnologias (idem p 238)

Ao fazer esta anaacutelise Pierre Leacutevy explica que a exclusatildeo eacute uma consequecircncia previsiacutevel usando

o argumento de que ldquocada novo sistema de comunicaccedilatildeo fabrica excluiacutedosrdquo (Leacutevy p 238) O autor cita

o exemplo da invenccedilatildeo da escrita que criou a divisatildeo entre os que sabem ler e os que natildeo sabem

Embora a rede pareccedila democraacutetica reunindo de forma ldquocaoacuteticardquo todas as heresias Leacutevy argumenta

que suas fronteiras satildeo imprecisas moacuteveis e provisoacuterias e a ldquodesqualificaccedilatildeo dos excluiacutedosrdquo natildeo deixa

de ser terriacutevel (idem p 238) De acordo com Silveira (2013) Leacutevy ao afirmar que ldquotodo universal

produz excluiacutedosrdquofragiliza a possibilidade de lutar contra o processo da exclusatildeo uma vez que este eacute

inerente do surgimento de novas tecnologias Assim a rede que seria a ldquouniversalidade sem

totalidaderdquonatildeo poderia evitar o princiacutepio da exclusatildeo No entanto Leacutevy reconhece que o excluiacutedo estaacute

desconectado por natildeo participar da ldquodensidade relacional e cognitiva das comunidades virtuais e da

inteligecircncia coletivardquo (idem p 238) defendendo como possiacutevel soluccedilatildeo para esta situaccedilatildeo poliacuteticas

que privilegiem a autonomia das pessoas evitando o surgimento de ldquonovas dependecircnciasrdquo provocadas

pelo consumo de informaccedilotildees ou serviccedilos via internet

McLuan Fiore e Angel (1967) na obra The Medium is the Massage denominaram esse

fenocircmeno da expansatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de ldquoAldeia Globalrdquo suposta ideia

utoacutepica proposta para explicar a tendecircncia de evoluccedilatildeo do sistema mediaacutetico que tende a encurtar

distacircncias e o progresso tecnoloacutegico Para os autores os meios eletrocircnicos que divulgam um

acontecimento no momento que este acontece (estavam se a referir ao raacutedio e a TV pois ainda natildeo

tinha surgido a internet) estatildeo a colocar-nos novamente em contato com as emoccedilotildees tribais primitivas

que a impressa nos havia distanciado No entanto na visatildeo de Milton Santos (2001) esta ideia eacute uma

faacutebula O autor afirma que a falsa noccedilatildeo de que as ideias difundidas amplamente na rede satildeo reais e

natildeo a interpretaccedilatildeo dos detentores do monopoacutelio midiaacutetico somadas ao suposto encurtamento das

distacircncias e barreiras existentes entre os Estados constituem uma ldquoglobalizaccedilatildeo perversardquo O que se

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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instala segundo Santos eacute um mercado avassalador que acentua as desigualdades existentes entre

paiacuteses ou mesmo regiotildees dentro dos proacuteprios paiacuteses

Todavia no iniacutecio da expansatildeo da internet natildeo se pensou que os determinantes socioculturais

tais como raccedila gecircnero idade e geografia poderiam limitar o acesso de alguns agrave grande rede e causar

desigualdades sociais econocircmicas e cognitivas nos indiviacuteduos Ocorreu foi uma campanha publicitaacuteria

eufoacuterica sobre a internet e o mundo on-line nos anos de 1990 O termo para esse fenocircmeno segundo

Gausker (2003) eacute cyberbole uma expressatildeo que denota a importacircncia que a internet passou a ter no

mundo contemporacircneo Comemorava-se a criaccedilatildeo de um novo mundo de oportunidades ilimitadas que

a internet proporcionaria agrave sociedade

Warschauer (2006) analisa que as discussotildees sobre as desigualdades digitais ganhou

notoriedade com a expansatildeo da internet e da criaccedilatildeo de empresas pontocom19 no iniacutecio da deacutecada de

1990 Naquele periacuteodo de boom da internet as pessoas queriam se conectar a rede a qualquer preccedilo

para natildeo ficarem para traacutes das novidades que a internet oferecia Apesar da falecircncia do sistema

empresas pontocom a internet ganhou forccedila e as pessoas passaram a usaacute-la cada vez mais no

trabalho diversatildeo compras e a acesso a informaccedilotildees Naquele momento a preocupaccedilatildeo era prover o

acesso ao maior nuacutemero de pessoas

Como abordado por Demo (2005) com o avanccedilo acelerado das TDIC e a ampla difusatildeo da

internet o desafio imposto para reduccedilatildeo desta lacuna ou hiato da exclusatildeo digital aponta para aleacutem

do acesso agraves tecnologias a capacitaccedilatildeo dos indiviacuteduos para seu uso Assim a inclusatildeo digital ganhou

novos elementos complexos com destaque para as competecircncias informacionais Portanto era de se

esperar que a introduccedilatildeo de novos produtos tecnoloacutegicos no mercado aumentasse o niacutevel de limiar de

bens considerados necessaacuterios Na anaacutelise de Sorj (2008) por questotildees econocircmicas os ricos usufruem

por um periacuteodo de tempo maior os benefiacutecios ou domiacutenio dos novos produtos lanccedilado no mercado

Este fato aumenta a vantagem competitiva desta classe enquanto a falta do produto aumenta as

desvantagens dos grupos excluiacutedos Neste sentido o autor afirma que a exclusatildeo digital natildeo se trata

de um fenocircmeno simples que se refere a aqueles que tecircm ou natildeo acesso agrave internet Quando se trata

19 Empresas pontocom constituiacuteam novas empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIDC) baseadas na Internet que tiveram seu auge na deacutecada de 1990 O crescimento especulativo destas empresas atingiram o aacutepice entre 1995 com a ascensatildeo raacutepida do preccedilo das accedilotildees das empresas de comeacutercio eletrocircnico e aacutereas afins Este periacuteodo ficou conhecido como ldquobolha da internetrdquo Esta bolha ldquoestourourdquo em 2000 com a queda das accedilotildees no mercado financeiro e a falecircncia de diversas empresas deste nicho Disponiacutevel em httpeconomiaigcombrmercadosestouro-da-bolha-das-empresas-

de-tecnologia-completa-11-anosn1238148080645html Acesso em 21 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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de bens de consumo explica Sorj a classe pobre pode possuir um automoacutevel de menor valor e nem

mesmo possuir condiccedilotildees de abastececirc-lo Do mesmo modo possuir um computador em casa e natildeo

ter condiccedilotildees de atualizar os softwares ou mesmo pagar a internet eacute uma forma de exclusatildeo No

entanto para compreender o que significa estar excluiacutedo ou marginalizado na sociedade em rede faz-

se necessaacuterio conhecer em que contexto foi concebido o termo ldquoexclusatildeo digitalrdquo (ou digital divide

fosso digital e fractura digital)

23 Debate conceitual do termo exclusatildeo digital

As expressotildees ldquoexclusatildeo digitalrdquo popular no Brasil ou ldquodigital dividerdquo em inglecircs satildeo passiacuteveis

de debates conceituais A origem destas expressotildees permanecem incertas e ambiacuteguas Alguns estudos

afirmam que a origem do termo ldquodigital dividerdquo surgiu em meados dos anos 1990 nos EUA apoacutes um

largo debate sobre a percepccedilatildeo inicial dos grupos sociais excluiacutedos tecnologicamente naquele paiacutes De

acordo com Crispim (2008) a agecircncia estatal National Telecommunications and Information

Administration (NTIA) lanccedilou entre 1995 e 1998 quatro relatoacuterios intitulados Falling Throung the net

(em traduccedilatildeo livre ldquoCaindo na rederdquo) cujos dados revelaram as desigualdades de acesso dos

americanos agrave telefonia computadores domeacutesticos e modens Assim a expressatildeo ldquodigital dividerdquo

presente nos relatoacuterios passou a associar-se ao acesso agraves Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e

Comunicaccedilatildeo (TDIC) incluindo a internet e a busca por garantir aos cidadatildeos daquele paiacutes acesso aos

serviccedilos de telecomunicaccedilotildees O interesse dos EUA na integraccedilatildeo da naccedilatildeo ao uso das tecnologias era

liderar a ldquoSociedade do Conhecimentordquo que emergia naquele contexto Para Gunkel (2003) o termo

natildeo teve origem nos relatoacuterios da NTIA estes foram apenas os catalisadores para a popularidade do

termo ldquodigital dividerdquo O autor afirma que o uso original da referida expressatildeo foi no LA Times pelos

jornalistas Jonathan Webber e Amy Harmon que comeccedilaram a usaacute-la em 1996 para citar diferenccedilas

de opiniatildeo sobre a nova tecnologia e o aprofundamento da divisatildeo entre ricos e pobres

No idioma portuguecircs de Portugal o termo frequentemente usado nos documentos da Uniatildeo

Europeia para tratar da exclusatildeo digital eacute ldquofractura digitalrdquo Furtado (2007) considera que o termo

embora se tenha popularizado em algumas de suas formulaccedilotildees pode ser enganador O autor

argumenta que ao constatar a situaccedilatildeo de um grupo que natildeo tinha acesso agraves redes de internet nos

relatoacuterios da NTIA a estrateacutegia do governo americano foi promover poliacuteticas de disponibilidade das

tecnologias aos ldquoexcluiacutedosrdquo Apenas mais tarde com a expansatildeo do acesso outras disparidades foram

percebidas algumas pessoas acessam as tecnologias em primeiro lugar ou mais rapidamente dos que

outras ou algumas possuem equipamentos melhores e mais competecircncias para usaacute-los ou um

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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determinado grupo usa com mais frequecircncia as TDIC que outros E nesse contexto milhotildees de

pessoas tecircm algum acesso miacutenimo mas insuficiente para sentirem-se inseridos na rede

No entanto alguns teoacutericos tecircm atribuiacutedo a origem da discussatildeo sobre o acesso agrave internet

como recurso econocircmico poliacutetico cultural e social essencial para a emancipaccedilatildeo democraacutetica por

volta da elaboraccedilatildeo do ldquoRelatoacuterio Nora e Mincrdquo (1980) solicitado agraves ordens do governo francecircs O

documento eacute um relatoacuterio sobre a informatizaccedilatildeo da sociedade elaborado em 1977 por dois alto-

funcionaacuterios do governo francecircs Simon Nora e Alain Minc No relatoacuterio eacute lanccedilado o neologismo da

expressatildeo ldquotelemaacuteticardquo para indicar a combinaccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo e computador Segundo

previsatildeo de Nora e Minc a telemaacutetica deveria integrar imagens sons e memoacuterias o que exprimia a

possibilidade de integrar os meios de comunicaccedilatildeo de massa preexistentes - o jornal o raacutedio e a

televisatildeo com a informaacutetica que se ampliava apoacutes a invenccedilatildeo dos microprocessadores No Relatoacuterio

fica clara a preocupaccedilatildeo do governo francecircs em relaccedilatildeo agraves consequecircncias que o desenvolvimento

tecnoloacutegico que se ampliava naquele momento histoacuterico na sociedade contemporacircnea Balboni (2007)

afirma que a preocupaccedilatildeo do relatoacuterio era focada no papel do Estado na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das

tecnologias e do conhecimento garantindo a participaccedilatildeo da Franccedila nesse processo O governo francecircs

investiu entatildeo na fusatildeo das tecnologias de telecomunicaccedilotildees existentes com a informaacutetica criando o

Minitel um pequeno terminal de consulta de banco de dados comerciais existentes nos Correios nas

Telecomunicaccedilotildees e nas Teledifusotildees existentes na Franccedila

De acordo com Dijk (2005) na liacutengua inglesa utiliza-se ainda a expressatildeo digital gap (associado

agrave noccedilatildeo de brecha abismo) e digital apatheid fazendo alusatildeo a noccedilatildeo de separaccedilatildeo dos grupos sociais

nos Estados Unidos na deacutecada de 1960 No idioma francecircs satildeo usadas as expressotildees fracture

numeacuterique e fosseacute numeacuteric lembrando a metaacutefora da divisatildeo abismo separaccedilatildeo como um rio que

divide duas cidades apartando seus limites Dijk (1999) considera uma armadilha o uso da metaacutefora da

expressatildeo ldquodigital dividerdquo associada agrave existecircncia de um ldquoabismordquo separando os que tecircm acesso aos

meios digitais e os que natildeo tecircm acesso O autor considera que a metaacutefora serviu para chamar atenccedilatildeo

para os elaboradores de poliacuteticas puacuteblicas se atentarem ao fenocircmeno da desigualdade de acesso as

tecnologias digitais mas por outro lado simplificou a problemaacutetica sugerindo uma divisatildeo binaacuteria e

simplista entre dois grupos claramente divididos com um fosso entre eles Dijk argumenta que no

espaccedilo entre a elite da informaccedilatildeo e os totalmente excluiacutedos das tecnologias digitais encontram-se

vaacuterios grupos de pessoas que tecircm algum acesso e que de uma forma ou de outra utilizam a

tecnologia digital para um determinado objetivo A possiacutevel existecircncia de um ldquoabismo ou fossordquo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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segundo o autor pode tambeacutem parecer que essas desigualdades sejam intransponiacuteveis o que natildeo eacute o

caso se os governos estabelecerem politicas puacuteblicas efetivas voltadas a essa aacuterea Outra conotaccedilatildeo

errada que a metaacutefora digital divide sugere de acordo com Dijk eacute a ideia de que a divisatildeo eacute uma

condiccedilatildeo estaacutetica pelo contraacuterio os acessos satildeo mutaacuteveis e estatildeo em constante movimento algumas

desigualdades crescem enquanto outras diminuem

Cisler (2000) tambeacutem considera o termo digital divide simplista por ser definido pelo fato de

estar on-line ou off-line Para o autor natildeo existe uma divisatildeo binaacuteria entre os ldquoricos de informaccedilatildeordquo e os

ldquosem total informaccedilatildeordquo mas haacute uma gradaccedilatildeo com base em diferentes graus de acesso agrave tecnologia

da informaccedilatildeo Se compararmos um professor em Satildeo Paulo com uma excelente velocidade de

conexatildeo agrave internet em seu laboratoacuterio um professor no interior do Tocantins que usa a lan house para

enviar suas atividades do seu curso de formaccedilatildeo a distacircncia ou ainda um professor no Amazonas que

mora numa aldeia indiacutegena sem acesso a internet teremos exemplos dos diferentes graus de exclusatildeo

sociodigital Neste sentido Mossberger Tolbert e Stansbury (2003) usam o termo ldquodesigualdade

virtualrdquo ao tratarem das dinacircmicas relacionadas com os diferentes graus de acesso e uso das

tecnologias Os autores argumentam que a desigualdade virtual eacute definida em quatro bases

discriminatoacuterias

bull Access divide - discriminaccedilatildeo de acesso condicionada a cor raccedila renda educaccedilatildeo e gecircnero

bull Skills divide - discriminaccedilatildeo de habilidades teacutecnica para operar sistemas e outra de alfabetizaccedilatildeo de informaccedilatildeo Esta uacuteltima significa o individuo ter a habilidade de reconhecer quando e que informaccedilatildeo pode resolver um problema ou preencher uma necessidade e saber efetivamente como usar os recursos de informaccedilatildeo

bull Economic opportunity divide - discriminaccedilatildeo de oportunidade econocircmica que torna marginalizado o sujeito e grupos que natildeo acompanham as transformaccedilotildees ocorridas na economia globalizada

bull Democratic divide - discriminaccedilatildeo democraacutetica ou poliacutetica A internet pode aumentar a participaccedilatildeo poliacutetica dos seus usuaacuterios mas apenas entre os grupos predispostos a participar e ainda entre aqueles com habilidades necessaacuterias para aproveitar o ambiente eletrocircnico

Assim segundo esses autores a exclusatildeo digital passa por niacuteveis de desigualdades que podem

manifestar suas caracteriacutesticas em base individual ou em grupos especiacuteficos

Demo (2007) considera que estas muacuteltiplas visotildees discriminatoacuterias da exclusatildeo digital

embora enriqueccedila o debate satildeo formuladas a partir de bases neoliberais em que as habilidades e

competecircncias dos sujeitos satildeo valorizadas para atingirem o seu potencial Demo afirma que de fato a

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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marginalizaccedilatildeo ou desigualdade digital independente do nome que esta assume (exclusatildeo fosso gap)

segrega pessoas e sociedades do usufruto tecnoloacutegico e ainda agrava a pobreza poliacutetica O autor

explica que mesmo que as pessoas consigam algum acesso agraves redes num contexto capitalista de

exclusatildeo esse acesso eacute marginalizado ou seja precarizado por diversos fatores Neste sentido Demo

prefere usar o termo marginalizaccedilatildeo agrave exclusatildeo Argumenta que a expressatildeo exclusatildeo eacute muito

estanque ou se estaacute fora ou dentro E neste intervalo encontram-se indiviacuteduos que embora tenham

algum acesso agraves tecnologias satildeo desprovidos de equipamentos e softwares eficientes natildeo acessam a

banda larga possuem poucas competecircncias para resoluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e baixos niacuteveis de

literacia digital Demo escreveu

Digital divide tornou-se metaacutefora insatisfatoacuteria i) sugere divisatildeo simples estanque encobrindo complexidade das diferenciaccedilotildees social econocircmica e cultural ii) sugere ser intransponiacutevel para os marginalizados enquanto na praacutetica eacute difiacutecil desafiadora podendo-se fazer muita coisa pertinente iii) giraria em torno de desigualdades absolutas quando satildeo relativas iv) haveria uma soacute enquanto o cenaacuterio se mostra complexo ao extremo (Demo 2007 p 12)

Deste modo o autor apresenta as desigualdades de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como um

subconjunto da desigualdade social As relaccedilotildees satildeo niacutetidas nas categorias da sociedade e as

distinccedilotildees mais evidentes em niacutevel micro Segundo Demo (idem) seriam gerentes e executivos

empregadores e (des)empregados pessoas com altos e baixos niacuteveis de educaccedilatildeo homens e

mulheres velhos e jovens pais e filhos brancos e pretos cidadatildeos e migrantes Em niacutevel macro os

paiacuteses mais ricos adotam as tecnologias em vantagem dos paiacuteses menos desenvolvidos e usam essa

vantagem para aumentar o poder sobre estes Demo conclui que essas disparidades evoluem para

discriminaccedilotildees e marginalizaccedilatildeo dos indiviacuteduos que embora tenham o acesso continuam agrave margem

das oportunidades e vantagens promovidas pelas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste

sentido a questatildeo da inclusatildeo digital avanccedila para aleacutem do acesso porque mesmo com o acesso

miacutenimo o sujeito pode natildeo tirar proveito das informaccedilotildees obtidas na internet

24 A inclusatildeo para aleacutem do acesso agrave maacutequina

Conforme exposto independente da origem a expressatildeo digital divide quando foi concebida se

limitava na desigualdade relacionada ao acesso agraves tecnologias sendo compreendida como uma fratura

ou brecha entre os que tinham e os que natildeo tinham o acesso Os estudos sobre digital divide na

deacutecada de 90 eram focados no acesso e na infraestrutura Mais recentemente o discurso sobre a

exclusatildeo digital tem se expandido para outras preocupaccedilotildees e os fatores que geram as desigualdades

O mundo todo estaacute mesmo conectado

113

digitais ou seja modos diferenciados de uso e desenvolvimento econocircmico Ainda em 2001 a

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) definia digital divide como uma

ldquolacuna entre indiviacuteduos empresas e aacutereas geograacuteficas de diferentes niacuteveis socioeconocircmicos em

relaccedilatildeo agraves oportunidades de acesso agraves tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e ao uso da internet

para diversas atividadesrdquo (OCDE 2001 p4)

Para DiMaggio e Hargittai (2001) a visatildeo dicotocircmica do fosso digital ou digital divide como

uma distinccedilatildeo entre pessoas que tinham e as que natildeo tinham acesso agrave internet era natural no iniacutecio

daquele processo de difusatildeo da rede Os autores destacam que os primeiros estudos sobre o digital

divide realizados pelo National Telecommunications and Information Administration (NTIA) em meados

dos anos 1990 continham informaccedilotildees apenas sobre famiacutelias separadas por categorias rurais

urbanas e enfatizavam uma distinccedilatildeo binaacuteria de tecircmnatildeo tecircm acesso (NTIA 1995 1998) Com a

evoluccedilatildeo da pesquisa o NTIA em 1999 lanccedilou outro relatoacuterio em que foram elaborados relatoacuterios

separados sobre ldquoos que natildeo tecircm acessordquo baseados nas categorias de raccedila renda sauacutede idade

educaccedilatildeo e invalidez (NTIA 1999) DiMaggio e Hargittai argumentam que naquele periacuteodo especiacutefico

estes relatoacuterios serviram de base para elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o novo

fenocircmeno da internet mas que agora o foco deve ser outro Com a ampla penetraccedilatildeo da internet na

vida das pessoas que inicialmente estavam excluiacutedas novas dimensotildees relacionadas agrave qualidade do

uso tornam-se importantes para compreender o que as pessoas estatildeo fazendo enquanto estatildeo on-line e

que benefiacutecios obtecircm disso Os autores concluem que os padrotildees de desigualdade refletem natildeo

apenas nas diferenccedilas de recursos individuais de acesso mas tambeacutem com contexto socioeconocircmico

poliacutetico e cultural de cada indiviacuteduo

A noccedilatildeo de acesso a redes tem ganhado cada vez mais importacircncia na reconfiguraccedilatildeo da

dinacircmica social de um mundo cada vem mais conectado De acordo com Rifkin (2002) ateacute o fim dos

anos de 1980 a palavra acesso restringia-se a questotildees de ingresso num determinado espaccedilo fiacutesico O

autor explica que em 1990 a oitava ediccedilatildeo do Concise Oxford Dictionary incluiu o verbo access

(acessar) pela primeira vez indicando o seu novo uso relacionado com o acesso agraves tecnologias digitais

Em suas palavras

Agora acessar eacute um dos termos mais usados na vida social Quando as pessoas ouvem a palavra acessar provavelmente pensam na abertura para mundos totalmente novos de possibilidades e oportunidades O acesso tornou-se o bilhete de ingresso para o avanccedilo e para a realizaccedilatildeo pessoal sendo tatildeo poderoso quanto a visatildeo democraacutetica foi para geraccedilotildees anteriores Eacute uma palavra cheia de significado poliacutetico Acessar afinal diz respeito a distinccedilotildees e divisotildees sobre quem deveraacute ser

O mundo todo estaacute mesmo conectado

114

incluiacutedo e quem seraacute excluiacutedo Acessar estaacute se tornando uma ferramenta conceitual potente para repensar nossa visatildeo de mundo bem como nossa visatildeo econocircmica tornando-se a metaacutefora mais poderosa da proacutexima era (Rifkin 2002 p 12)

Rifkin afirma que o mundo parece estaacute envolto em uma espeacutecie de sistema nervoso central

com as redes de internet As tecnologias modernas possibilitaram uma nova forma de desenvolvimento

de negoacutecios que ocorrem no ciberespaccedilo Numa economia global cada vez mais dominada por uma

rede de comeacutercio eletrocircnico e comunicaccedilotildees garantir o acesso seguro torna-se tatildeo importante como

era o acesso a bens materiais no iniacutecio da era industrial

Pipa Norris (2001) considera que o acesso natildeo eacute tudo mas eacute uma porta larga para entrada

dos excluiacutedos na sociedade do conhecimento A estrutura de oportunidades de cada paiacutes pode

influenciar na cultura e haacutebitos da populaccedilatildeo A autora argumenta que a internet tambeacutem oferece

promessa na prestaccedilatildeo de serviccedilos baacutesicos como educaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre sauacutede a regiotildees

distantes permitindo por exemplo que um professor ou um meacutedico em Gana ou Calcutaacute acesso agraves

mesmas informaccedilotildees do banco de dados como um profissional de Londres ou Nova York Em todos

esses aspectos conclui a autora a Internet promete nivelar e reduzir as desvantagens tradicionais do

mundo em desenvolvimento Mas o acesso baacutesico eacute essencial para que as pessoas sejam

beneficiadas

Nesta mesma direccedilatildeo Sorj (2008) afirma que a universalizaccedilatildeo do acesso eacute antes de tudo um

instrumento para diminuir os danos sociais do ponto de vista da desigualdade O acesso embora seja

apenas a porta de entrada eacute essencial para a inserccedilatildeo dos que estatildeo fora da rede ou agrave margem dela

Segundo o autor a desigualdade inicia no acesso Os produtos tecnoloacutegicos novos satildeo apresentados

aos ricos que tecircm condiccedilatildeo de adquiri-los em primeira matildeo enquanto os menos favorecidos

economicamente tecircm acesso a estes bens um tempo depois quando jaacute surgiram novos lanccedilamentos

Este fenocircmeno segue o efeito trikle-down ou seja gotejamento de cima para baixo Tal princiacutepio parte

do pressuposto que algumas partes da populaccedilatildeo (em especial as mais favorecidas economicamente)

vatildeo ter acesso e comprar a nova tecnologia Este segmento paga mais caro por esta tecnologia que

passa a se difundir e torna-se popular barateando os custos e tornando-a acessiacutevel agrave populaccedilatildeo menos

favorecida Um exemplo deste efeito foi o aparelho celular que a princiacutepio era um dispositivo caro com

recepccedilatildeo peacutessima e ligaccedilotildees de alto custo Ter um celular era considerado sinal de status social

contudo com o passar do tempo os custos do aparelho baratearam a tecnologia para transmissatildeo de

dados foi melhorada e os valores das ligaccedilotildees caiacuteram Possuir um celular natildeo eacute hoje um sinal de

status criaram-se novas aplicaccedilotildees nos aparelhos que disponibilizam benefiacutecios que apenas os mais

O mundo todo estaacute mesmo conectado

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caros fornecem perpetuando o efeito trikle-down (Dijk 2005) Desta forma ter acesso a um aparelho

celular comum natildeo gera status mas possuir aparelhos de marcas famosas com funccedilotildees iacutempares eacute

para poucos usufruiacuterem Eacute o que sucede com o smartphone da Apple o Iphone que por ser mais caro

eacute inacessiacutevel para muitas pessoas20

Na anaacutelise de Warschauer (2002) o preccedilo de compra real de um computador eacute apenas a

pequena parte do que pode ser considerado o custo total de propriedade que inclui o preccedilo de

software manutenccedilatildeo e perifeacutericos DiMaggio e Hargitta (2001) lamentam que o acesso agrave internet seja

usado como sinocircnimo de uso Numa mesma residecircncia os adolescentes passam mais tempo on-line

do que os adultos citam os autores baseando-se em estudos Diferenccedilas de gecircnero e renda tambeacutem

satildeo apontadas como fatores que determinam o uso da internet em diversos contextos

Para os formuladores de poliacuteticas eacute mais viaacutevel olhar os elementos baacutesicos do fosso digital em

vez de aprofundar nos aspectos que requerem uma apreciaccedilatildeo mais complexa do contexto Barzilai-

Nahon (2006) afirma que eacute importante a construccedilatildeo de um iacutendice composto onde a dinacircmica entre

diferentes variaacuteveis seja levada em consideraccedilatildeo para se medir o fosso digital A autora cita o Iacutendice

de Acesso Digital proposto pelo ITU (Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees) que considera os

seguintes fatores infraestrutura acessibilidade conhecimento (alfabetizaccedilatildeo de adultos e matriacutecula

escolar) qualidade (largura de banda per capita e os assinantes de banda larga) e uso (ITU 2003)

No entanto Barzilai-Nahon reconhece que a ITU concentra-se principalmente nas divisotildees e diferenccedilas

internacionais e tende a ignorar niacuteveis mais locais e micro de anaacutelise tais como comunidades escolas

grupos familiares e minorias de gecircnero e eacutetnicas

Sorj (2008) considera que medir a exclusatildeo digital tomando como paracircmetro o acessonatildeo

acesso a internet trata-se de uma medida ldquoprimitivardquo considerando que dentro do contexto do acesso

existem inuacutemeras variaacuteveis que determinam se o mesmo eacute de qualidade e se o usuaacuterio da tecnologia

obteacutem significativo proveito dela Para o autor o modelo mais usual para pensar sobre o acesso agrave

tecnologia eacute o baseado na propriedade ou da disponibilidade de um dispositivo neste caso um

computador Assim o uso da internet primeiramente estaacute relacionada com a disponibilidade e os

custos de tecnologia incluindo o preccedilo de hardware e software provedores de internet e telefone

serviccedilos Segundo Sorj (2003 p 60) vaacuterios estudos internacionais buscaram desenvolver indicadores 20 Este modelo gera status entre os jovens de tal modo que em algumas regiotildees do Brasil haacute sistemas de aluguel temporaacuterio do aparelho para os jovens se apresentarem em festas com ele Disponiacutevel em httpstecnologiauolcombrnoticiasredacao20141017jovens-pagam-ate-r-170-por-aluguel-de-iphone-para-ostentar-na-baladahtm Acesso em 23 de fev 2017

O mundo todo estaacute mesmo conectado

116

que classificassem a posiccedilatildeo relativa dos paiacuteses na questatildeo de desenvolvimento telemaacutetico usando o

conceito de e-readiness Este conceito tem sido utilizado por agecircncias internacionais como um meio de

retratar a situaccedilatildeo da infraestrutura de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de um paiacutes aleacutem de

analisar a habilidade de seus consumidores governo e empresas de usar essa tecnologia Conforme

indica o autor ldquoa posiccedilatildeo de um paiacutes em termos de e-readiness natildeo possui correlaccedilatildeo necessaacuteria com

o niacutevel de exclusatildeo digital no interior da proacutepria sociedade embora as poliacuteticas de luta contra a

exclusatildeo digital afetem positivamente a capacidade nacional em termos de e-readinessrdquo

O relatoacuterio do e-readiness referente a 2015 organizado pelo World Economic Forum (WEF

2015) aponta para uma indiscutiacutevel revoluccedilatildeo moacutevel nos paiacuteses em desenvolvimento que embora seja

notaacutevel encontra limites na infraestrutura nas variaacuteveis ruralurbano e nas condiccedilotildees

socioeconocircmicas dos respectivos paiacuteses O relatoacuterio cita por exemplo a questatildeo do nuacutemero de

celulares no planeta poreacutem mesmo que haja quase tantas assinaturas de telefone quanto habitantes

no planeta isso natildeo implica que todos no mundo satildeo portadores de um aparelho celular Assim o

relatoacuterio conclui que existe parte do mundo em desenvolvimento que natildeo eacute abrangido por um sinal de

celular citando dados da Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees (UIT) no final de 2012 cerca de

450 milhotildees de pessoas em todo o mundo vivia sem um alcance de sinal de telefonia

Na visatildeo de Warschauer (2002) o acesso a tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo um

determinante entre a marginalizaccedilatildeo e a inclusatildeo na nova era socioeconocircmica instalada com a

globalizaccedilatildeo Segundo o autor a estratificaccedilatildeo que existe sobre o acesso agraves redes de informaccedilotildees on-

line tem pouco a ver com a internet em si estaacute sim relacionada com contextos poliacuteticos econocircmicos

institucionais culturais e linguiacutesticos que moldam o significado da internet na vida das pessoas

Warschauer (2003) realizou um estudo de caso no Egito tendo como foco os impactos resultantes do

investimento do governo local em introduzir computadores internet e outras tecnologias nas escolas

Entre as iniciativas do governo o autor cita (a) a criaccedilatildeo de centros de multimiacutedia na maioria das

escolas governamentais egiacutepcias (b) criaccedilatildeo de laboratoacuterios de informaacutetica na maioria das escolas

secundaacuterias egiacutepcias e (c) desenvolvimento de software educacional O estudo apontou resultados

insatisfatoacuterios Warschauer afirma que a tecnologia foi introduzida de forma verticalizada sem um

trabalho envolvendo a comunidade A maioria do financiamento e atenccedilatildeo do projeto foi para recursos

fiacutesicos especificamente para compra de hardware para centros multimiacutedia e recursos digitais Poreacutem

houve pouco gasto com formaccedilatildeo de professores ou apoio institucional para o uso das tecnologias

disponiacuteveis Neste sentido o estudo de caso no Egito sugeriu que uma ecircnfase excessiva na mera

O mundo todo estaacute mesmo conectado

117

presenccedila de computadores ou conexatildeoacesso a internet ligaccedilotildees sem uma atenccedilatildeo necessaacuteria para

a mobilizaccedilatildeo social e de transformaccedilatildeo pode desperdiccedilar recursos deixando intacta a desigualdade

Portanto a exclusatildeo digital natildeo deve ser analisada apenas pela questatildeo do acesso agraves

tecnologias pois embora este seja a porta de entrada um acesso limitado sem orientaccedilatildeo perita

conteuacutedo de interesse no idioma do usuaacuterio e contexto social apropriado natildeo resultaraacute em benefiacutecios

efetivos aos utilizadores da rede Ademais existem niacuteveis de exclusatildeo digital e barreiras para a inclusatildeo

que devem ser vencidas para a reduccedilatildeo das desigualdades virtuais

25 Niacuteveis de exclusatildeo sociodigital e barreiras para a inclusatildeo

A Revoluccedilatildeo Industrial ocorrida a partir do seacuteculo XVIII favoreceu a expansatildeo das classes

burguesas e marginalizou milhotildees de pessoas agrave condiccedilotildees precaacuterias de trabalho nas faacutebricas O ecircxodo

rural provocou o excesso de populaccedilatildeo nas cidades concentrando um grande nuacutemero de

desempregos o que proporcionava ao empresaacuterio capitalista um amplo contingente de matildeo de obra

por um preccedilo irrisoacuterio Os detentores dos novos meios de produccedilatildeo naquele periacuteodo usufruiacuteram

plenamente os lucros resultantes da pobreza instaladas nas cidades (Lis e Soly 1984) Deste modo se

por um lado a Revoluccedilatildeo Industrial provocou mudanccedilas profundas nos meios de produccedilatildeo humanos

ateacute entatildeo conhecidos afetando diretamente nos modelos econocircmicos e sociais da sociedade por outro

lado contribuiu para o crescimento da desigualdade social e a geraccedilatildeo de extrema pobreza em

algumas regiotildees superpopulosas da Europa

Igualmente a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a partir dos anos de 1990 mudou a estrutura social

econocircmica e cultural da sociedade As tecnologias emergentes de fato contribuiacuteram para a celeridade

na comunicaccedilatildeo seguranccedila agilidade de processos divulgaccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecircm sido

usadas amplamente no campo da sauacutede e da educaccedilatildeo A internet permitiu que negoacutecios eletrocircnicos

fossem realizados mesmo em milhares de quilocircmetros de distacircncia O trabalho foi facilitado em

algumas funccedilotildees em que a maacutequina (o computador) eacute programada para trabalhar com precisatildeo e

velocidade tambeacutem favoreceu a mobilidade urbana e mudou os padrotildees sociais de propriedade e

privacidades dos usuaacuterios Por outro lado a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica tornou a sociedade dependente das

tecnologias de inteligecircncia ampliando a necessidade de gerar conhecimento o que requer preparo e

capacitaccedilatildeo complexa (Silveira 2005) Aqueles que natildeo possuem estas competecircncias ficam agrave margem

da sociedade com poucas chances no mercado de trabalho e excluiacutedos das possibilidades de

ascensatildeo social

O mundo todo estaacute mesmo conectado

118

Benakouche (2002) considera o uso da categoria lsquoexclusatildeorsquo para o estudo das questotildees

sociais como ldquocontrovertidordquo Ou seja existem controveacutersias sobre a polaridade da expressatildeo exclusatildeo

que remete a extremidades dentro ou fora Benakouche entende que natildeo existe exclusatildeo absoluta em

relaccedilatildeo a alguma forma de consumo no entanto pode ocorrer que o sujeito seja mais ou menos

incluiacutedo ou excluiacutedo em relaccedilatildeo agrave capacidade de consumir de outros indiviacuteduos Neste sentido alguns

autores consideram mais apropriados utilizar termos como apartheid digital cisatildeo digital fractura

digital brecha digital gap digital e outros termos (Brown amp Czerniewicz 2010 Warschauer 2003

Furtado 2007)

Castells (2003 p 220) numa visatildeo mais ampla afirma que a ldquodivisatildeo digitalrdquo natildeo eacute medida

pelo nuacutemero de conexotildees com a internet mas pelas ldquoconsequecircncias tanto da conexatildeo quanto da falta

de conexatildeordquo Neste sentido o autor argumenta ldquoestar desconectado ou superficialmente conectado

com a internet equivale estar agrave margem do sistema global interconectadordquo Seria o equivalente a viver

sem energia eleacutetrica na eacutepoca da Revoluccedilatildeo Industrial Seguindo esta analogia Silveira (2005 p 15)

explica

Porque a informatizaccedilatildeo penetrou na sociedade tal como a energia eleacutetrica resultante da Segunda Revoluccedilatildeo Industrial reconfigurou a vida das cidades O computador iacutecone da nova revoluccedilatildeo ligado em rede estaacute alterando a relaccedilatildeo das pessoas com o tempo e com o espaccedilo

Balboni (2007) considera que pensar na categoria exclusatildeo implica em definir fronteiras do

ldquoestarrdquo e ldquonatildeo estarrdquo inserido ldquoem algum lugarrdquo levando em conta o ponto de vista de quem faz essas

limitaccedilotildees Neste sentido na visatildeo da autora o incluiacutedo eacute quem determina aquele que estaacute excluiacutedo

Nas suas palavras ldquoas limitaccedilotildees que definem o excluiacutedo digital natildeo satildeo apenas econocircmicas mas

podem ser sociais como idade ou sexo fiacutesicas como deficiecircncias e necessidades especiais ou ainda

culturais como religiosidade entre outrosrdquo (idem p12) Assim a noccedilatildeo de binaacuteria de exclusatildeo

baseada entre os que tecircm e natildeo tecircm acesso agraves tecnologias pode ser imprecisa ou mesmo mais

excludente ainda Como observado por Warschauer (2002) nos EUA os afro-americanos satildeo

retratados frequentemente como pessoas excluiacutedas digitalmente quando na verdade o acesso agrave

internet entre os negros e outras minorias varia bastante de acordo com a faixa de renda Portanto

conclui Warschauer a classificaccedilatildeo de grupos minoritaacuterios por estereoacutetipos pode levar a mais

estratificaccedilatildeo social visto que desencoraja provedores de conteuacutedo a focar nesses grupos

Conforme explicitado por DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo

fazendo e o que elas satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que

O mundo todo estaacute mesmo conectado

119

caracterizam a exclusatildeo digital medindo pelos nuacutemeros de acessos e quantidade de computadores

com internet nas residecircncias com o argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes

excluiacutedos passa pela qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Diante deste

cenaacuterio segundo DiMaggio e Hargittai (idem) surgiram novos tipos de desigualdades entre os usuaacuterios

da internet referindo cinco tipos

A primeira desigualdade citada pelos autores trata-se da variaccedilatildeo dos meios teacutecnicos (hardware

e conexotildees) pelo qual as pessoas acessam a web DiMaggio e Hargittai (idem) partem do pressuposto

de que os que possuem aparato teacutecnico inferior tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com

conexotildees lentas software e hardware antigos encontram dificuldades de acessar determinados sites e

tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a

usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias

A segunda desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz respeito a

que local e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Os autores argumentam que existe diferenccedila

em acessar a internet em casa ou fora de casa como acessar por exemplo no trabalho ou numa lan

house Se acessar fora de casa o usuaacuterio talvez precise deslocar longas distacircncias ou tem horaacuterio

reduzido para o acesso Se o acesso ocorre no trabalho pode haver uma filtragem ou monitoraccedilatildeo dos

sites acessados E mesmo em casa o acesso pode ser limitado pelas accedilotildees de outros membros da

famiacutelia

A terceira desigualdade apontada por DiMaggio e Hargittai eacute a habilidade teacutecnica para o uso

das tecnologias Para os autores os usuaacuterios da internet necessitam de pelo menos quatro

competecircncias teacutecnicas (1) como fazer o login (2) realizar buscas e fazer download de informaccedilotildees (3)

conhecimento teacutecnico sobre como a web funciona e (4) conhecimento teacutecnico sobre software e

hardware Estas habilidades estatildeo diretamente relacionadas com a capacidade dos indiviacuteduos de

utilizar a internet para os fins que eles escolhem

A desigualdade na disponibilidade de apoio social eacute apontada pelos autores como a quarta

variaacutevel que faz diferenccedila na experiecircncia com o uso da internet Indiviacuteduos que tecircm suporte e apoio

teacutecnico ao lidarem com computadores satildeo propensos a adquirirem mais habilidades e competecircncias

neste campo A assistecircncia pode ser formal (equipe de suporte em escritoacuterios laboratoacuterios ou escolas)

teacutecnica de amigos e familiares ou mesmo na forma de reforccedilo emocional de amigos que partilham

suas experiecircncias

O mundo todo estaacute mesmo conectado

120

Por fim a quinta desigualdade tratada pelos autores eacute em relaccedilatildeo agrave variaccedilatildeo dos fins do uso

da internet Do ponto de vista das poliacuteticas puacuteblicas nem todos os usos satildeo iguais DiMaggio e

Hargittai apontam objetivos diferenciados que podem ser determinantes na questatildeo da desigualdade

Alguns usuaacuterios da internet a utilizam para o aumento da sua produtividade econocircmica (aprender novo

idioma cursos de aperfeiccediloamento a distacircncia e acesso a sites de agecircncias de emprego) Outros

usuaacuterios usam a internet para enriquecer seu capital cultural ou social por exemplo usando a internet

para acompanhar as notiacutecias reunir informaccedilotildees relevantes para a tomada de decisatildeo eleitoral

aprender sobre questotildees puacuteblicas estabelecer um diaacutelogo ciacutevico ou participar ou organizar atividades

de movimentos sociais E tem aqueles usuaacuterios que navegam apenas para entretenimento Para

concluir os autores recomendam que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a inclusatildeo digital levem em

consideraccedilatildeo todas as variaacuteveis de desigualdade que determinam situaccedilotildees de exclusatildeo ou

marginalizaccedilatildeo quanto ao uso da internet

Retomando as questotildees que se levantam diante da penetraccedilatildeo da internet na vida social dos

indiviacuteduos satildeo quem tem realmente o acesso de qualidade agrave internet O que as pessoas estatildeo fazendo

e o que satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Embora as tecnologias proporcionem a ampliaccedilatildeo

da capacidade de pensar e a precisatildeo das atividades humanas a disponibilidade do acesso a estas em

si natildeo garantem a facilidade do seu uso universal conforme os argumentos ja expostos neste capiacutetulo

Segundo Resnick (2002) mesmo que as pessoas em todos os lugares tenham acesso agraves tecnologias

digitais existe um risco real de que apenas um pequeno grupo seja capaz de usaacute-las fluentemente A

lacuna do acesso pode encolher mas a lacuna da fluecircncia tende a permanecer O autor compara a

fluecircncia tecnoloacutegica com a fluecircncia em determinado idioma natildeo se pode dizer que se eacute fluente na

liacutengua inglesa se sabemos apenas toacutepicos frasais eacute preciso ser capaz de articular uma ideia complexa

ou contar uma histoacuteria envolvente Assim reflete Resnick fluecircncia natildeo significa apenas acessar

informaccedilotildees na web mas criar seu proacuteprio conteuacutedo Assim natildeo se trata de apenas ler texto ou ver

viacutedeos mas gerar e compartilhar conhecimentos em comunidades de aprendizagem produzir editar e

publicar textos e viacutedeos na rede

Existem barreiras que dificultam o sujeito ao consumo e produccedilatildeo de conteuacutedos de maneira

criacutetica na sociedade em rede Holanda e DallrsquoAntonia (2006) formularam um modelo de barreiras agrave

inclusatildeo baseado na realidade brasileira identificada a partir do perfil socioeconocircmico cultural e

escolaridade No modelo a primeira barreira trata- do acesso a terminais e a web Para os autores as

barreiras tecnoloacutegicas da divisatildeo estatildeo fortemente ligadas com aspectos socioculturais da populaccedilatildeo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

121

da mesma forma que regiotildees de baixa renda satildeo fracamente ligadas a infraestrutura de

telecomunicaccedilotildees O fato de ampliaccedilatildeo da capacidade de rede de acesso chegando natildeo eacute suficiente

para paiacuteses com altas taxas de pobreza Um exemplo nesse caso eacute o Brasil segundo estudo realizado

pelo Comitecirc Gestor da internet no Brasil (CGIbr21) com dados de referecircncia de 2014 nos domiciacutelios

da classe A o acesso agrave internet encontrava-se praticamente universalizado enquanto

aproximadamente 30 milhotildees de domiciacutelios das classes C e DE estavam desconectados o que

representa quase metade do total de domiciacutelios brasileiros O estudo aponta tambeacutem uma penetraccedilatildeo

de computadores no domiciacutelios brasileiros desigualmente distribuiacuteda entre regiotildees geograacuteficas As

maiores proporccedilotildees de presenccedila de computadores nos domiciacutelios satildeo verificadas no Sudeste (59) e

no Sul (54) regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes Enquanto nas regiotildees Centro-Oeste Nordeste e

Norte essas proporccedilotildees satildeo de 44 38 e 30 respectivamente sendo estas as regiotildees menos

favorecidas economicamente A mesma pesquisa tambeacutem inferiou os motivos pelos quais parte dos

domiciacutelios brasileiros natildeo tinham acesso agrave internet O motivo prepoderante foi o custo elevado dos

serviccedilos (60) seguido da falta de interesse dos moradores (51) e da falta de computador no

domiciacutelio (50) Em algumas regiotildees mais carentes como a Regiatildeo Norte outra barreira apontada foi o

serviccedilo natildeo disponiacutevel (57) e entre os domiacutecilio de aacuterea rural desta regiatildeo um porcentual de 53

tambeacutem declaram que o serviccedilo de internet natildeo estava disponiacutevel para contrataccedilatildeo

O cenaacuterio brasileiro vislumbra um alto iacutendice de desigualdade de renda Enquanto os 5 mais

ricos possuem 28 da renda bruta do paiacutes os 20 mais pobres tecircm apenas 35 de direitos liquidos22

O problema da concentraccedilatildeo de propriedade e de uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

tambeacutem constitui uma lamentaacutevel realidade De acordo com o Mapeamento da Miacutedia Digital no Brasil

(Mizukami Reia e Varon 2014) apesar de 40 dos domiciacutelios brasileiros terem acesso agrave internet em

2012 a exclusatildeo era ldquogritanterdquo principalmente nas classes com menos poder aquisitivo e nas

residecircncias nas aacutereas rurais em que apenas 10 dos domiciacutelios estavam conectados Na anaacutelise de

Horta (2007 p 5) essa desigualdade eacute uma tendecircncia em diferentes paiacuteses

Ainda que o acesso telemaacutetico jaacute ocupe uma funccedilatildeo infra-estrutural ao possibilitar o desenvolvimento da ldquosociedade da informaccedilatildeordquo ele seraacute diferenciado de regiatildeo para regiatildeo em um mesmo paiacutes e de paiacutes para paiacutes de acordo com o niacutevel de desenvolvimento alcanccedilado por cada um ateacute este momento

21 Disponiacutevel em httpwwwcgibrmediadocspublicacoes2TIC_Dom_2015_LIVRO_ELETRONICOpdf Acesso em 16 de out 2015 22 Relatoacuterio sobre a distribuiccedilatildeo de renda e da riqueza da populaccedilatildeo brasileira Disponiacutevel em httpwwwfazendagovbrcentrais-de-conteudospublicacoestransparencia-fiscaldistribuicao-renda-e-riquezarelatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09pdf Acesso em 22 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

122

Neste sentido a autora conclui que na exclusatildeo digital assim como a desigualdade social

trata-se de uma questatildeo estrutural da sociedade A combinaccedilatildeo ldquopaiacutes de baixa rendardquo mais ldquorestriccedilatildeo

de acesso digitalrdquo somado com ldquobaixo niacutevel de escolaridaderdquo resulta no impedimento do avanccedilo das

poliacuteticas de inclusatildeo digital no Brasil Todos estes fatores corroboram para que coexistam cidadatildeos

com acesso amplo agraves tecnologias e em vantagem econocircmica social e cultural em contraponto com

cidadatildeos com pouco ou nenhum acesso agraves miacutedias em seacuterias desvantagens

A segunda barreira para a inclusatildeo de acordo com Holanda e DallrsquoAntonia (2006) eacute a

acessibilidade e a usabilidade Em estudo realizado pelos autores no Brasil cerca de 25 milhotildees de

pessoas apresentam alguma deficiecircncia fiacutesica mental ou sensorial Este puacuteblico exige soluccedilotildees

especiacuteficas de acessibilidade para usarem com efetividade artefatos tecnoloacutegicos o que em geral natildeo

ocorre

A terceira barreira trata da inteligibilidade Esta se relaciona com a falta de habilidades para o

uso das tecnologias e com a escassez de conteuacutedo de linguagem compreensiacutevel para pessoas

ldquoanalfabetas funcionais23rdquoPara estas pessoas o mais importante natildeo eacute a disponibilidade do dispositivo

de computaccedilatildeo ou a linha de internet mas as habilidades e competecircncias para fazer uso destes

dispositivos em torno de praacuteticas sociais significativas Logo o sujeito que natildeo sabe ler nunca

aprendeu a usar um computador ou ainda natildeo sabe qualquer um dos principais idiomas que

dominam os conteuacutedos da internet vai ter dificuldade ateacute mesmo de ficar on-line e natildeo poderaacute usar a

internet de forma produtiva (Warschauer 2002)

Alguns estudos revelam que a exclusatildeo digital enquanto fenocircmeno da sociedade da

informaccedilatildeo estaacute se aprofundando e predispotildee a se tornar um ciacuterculo vicioso Dijk (2005) considera

que eacute fundamental superar o determinismo tecnoloacutegico que deposita na tecnologia todos os possiacuteveis

avanccedilos da sociedade Assim como a chegada da TV e do raacutedio no seu tempo natildeo superaram a

desigualdade da informaccedilatildeo a internet por si soacute natildeo o faraacute Para o autor a desigualdade da

informaccedilatildeo e do uso das tecnologias digitais eacute um subconjunto da desigualdade social da sociedade

Nesta perspectiva os grupos que teriam uma relaccedilatildeo de distinccedilatildeo entre si seriam ricos e pobres

homens e mulheres brancos e pretos cidadatildeos e imigrantes empregador e empregado (ou

desempregados) pessoas com alto niacutevel de formaccedilatildeo e analfabetas funcionais e outros grupos sociais

23 Uma definiccedilatildeo adotada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e aceita pela UNESCO eacute a de que analfabetos funcionais satildeo pessoas agraves quais falta domiacutenio de habilidades em leitura escrita caacutelculos e ciecircncias correspondentes a uma escolaridade de ateacute 3 seacuteries completas do ensino fundamental ou antigo primaacuterio ou seja menos de 4 anos de estudo (RIBEIRO et al 2011 p 4)

O mundo todo estaacute mesmo conectado

123

com caracteriacutesticas antagocircnicas O circulo vicioso da desigualdade eacute portanto descrito por Dijk (2005

p 15)

- Desigualdades categoriais na sociedade produzem uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos - Uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos causa acesso desigual a tecnologias digitais - Acesso desigual a tecnologias digitais tambeacutem depende de caracteriacutesticas dessas tecnologias - Acesso desigual a tecnologias digitais traz consigo participaccedilatildeo desigual na sociedade - Participaccedilatildeo desigual na sociedade reforccedila desigualdades categoriais e distribuiccedilotildees desiguais de recursos

Assim a expansatildeo da globalizaccedilatildeo e o fortalecimento do capitalismo contribuem para o

aumento das desigualdades sociais e econocircmicas principalmente nos paiacuteses em desenvolvimento A

introduccedilatildeo das tecnologias no sistema bancaacuterio no Brasil ilustra esta situaccedilatildeo do ciacuterculo vicioso da

exclusatildeo Com o sistema do banco informatizado milhares de empregados bancaacuterios perderam seu

emprego ou tiveram de adaptar a um niacutevel maior de responsabilidade para permanecerem nos cargos

O mesmo aconteceu com a informatizaccedilatildeo dos ocircnibus de transportes urbanos setores da induacutestria e

do agronegoacutecio Neste sentido a luta contra a exclusatildeo digital eacute uma das muitas dimensotildees da luta

contra a pobreza e a desigualdade social Consideremos no ponto seguinte um retrato sinoacuteptico do

cenaacuterio do fosso digital no Brasil e no mundo

26 O fosso digital no cenaacuterio mundial e no Brasil

A Cuacutepula do Milecircnio organizada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e realizada em 2000

na cidade de Nova York reuniu 191 liacutederes governamentais do mundo todo com o objetivo de

debaterem sobre os principais problemas que afetam o mundo no novo milecircnio Como resultado dos

debates realizados durante esse evento foram estabelecidos os ldquoObjetivos de Desenvolvimento do

Milecircniordquo (ODM) em que os presidentes participantes se comprometeram a colocar em praacutetica accedilotildees

para que tais objetivos fossem alcanccedilados ateacute ao ano de 2015 De entre esses objetivos constava na

agenda a erradicaccedilatildeo da miseacuteria e da pobreza Assegurar os benefiacutecios das tecnologias de informaccedilatildeo

e comunicaccedilatildeo a todos foi designada como uma das metas para a erradicaccedilatildeo da pobreza Em 2003

a ONU realizou em Genebra a Cuacutepula Mundial sobre a Sociedade da Informaccedilatildeo (CMSI) cuja meta

principal era diminuir a chamada exclusatildeo digital atraveacutes da ampliaccedilatildeo do acesso da internet para os

paiacuteses em desenvolvimento A International Telecommunication Union (ITU) agecircncia especializada das

O mundo todo estaacute mesmo conectado

124

Naccedilotildees Unidas para a tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo elaborou um plano de accedilatildeo24 com o

objetivo de atingir a meta de promover o acesso agraves redes de internet a pelo menos metade da

populaccedilatildeo mundial ateacute 2015 As metas propostas de acordo com o plano eram

a Conectar aldeias com as TIC e estabelecer pontos de acesso comunitaacuterio b Conectar universidades faculdades escolas secundaacuterias e escolas primaacuterias com as TIC c Ligar os centros cientiacuteficos e de investigaccedilatildeo com as TIC d Conectar as bibliotecas puacuteblicas centros culturais museus estaccedilotildees de correios e arquivos com as TIC e Ligar centros de sauacutede e hospitais com as TIC f Interligar todos os departamentos do governo local e central e estabelecer sites e endereccedilos de e-mail g A adaptaccedilatildeo de todos os curriacuteculos do ensino primaacuterio e secundaacuterio para enfrentar os desafios da sociedade da informaccedilatildeo tendo em conta as circunstacircncias nacionais h Garantir que toda a populaccedilatildeo do mundo tenha acesso a serviccedilos de televisatildeo e raacutedio i Incentivar o desenvolvimento de conteuacutedos e de pocircr em praacutetica as condiccedilotildees teacutecnicas a fim de facilitar a presenccedila e utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas do mundo na internet j Garantir que mais de metade dos habitantes do mundo tenham acesso agraves TIC

O destaque segundo o documento era dar prioridade aos paiacuteses em desenvolvimento e aos

povos e etnias considerados minorias De acordo com o relatoacuterio da ICT intitulado ICT Facts and

Figures ndash The world in 201525middot neste ano de 2015 os governos estavam a fazer a avaliaccedilatildeo final dos

ldquoObjetivos de Desenvolvimento do Mileacutenio das Naccedilotildees Unidasrdquo (ODM) acordados em 2000 na

Cuacutepula do Milecircnio No prefaacutecio do relatoacuterio Brahima Sanou Diretor da ITU observa que ao longo dos

uacuteltimos 15 anos ocorreu uma revoluccedilatildeo das TDIC que tem impulsionado o desenvolvimento global de

uma forma sem precedentes O progresso tecnoloacutegico a implantaccedilatildeo de infraestrutura e a queda dos

preccedilos trouxe crescimento inesperado nas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo proporcionando o

acesso e a conectividade para bilhotildees de pessoas ao redor do mundo A telefonia moacutevel eacute outro destaque

do relatoacuterio em 2015 referindo-se que o nuacutemero de assinaturas em todo mundo ultrapassa 7 bilhotildees

Outro segmento do mercado apontado pelo relatoacuterio como dinacircmico eacute a banda larga moacutevel com penetraccedilatildeo

global de 47 em 2015 um valor que aumentou 12 vezes desde 2007 Globalmente 32 bilhotildees de

pessoas estatildeo usando a internet dos quais 2 bilhotildees satildeo de paiacuteses em desenvolvimento

24 Disponiacutevel em lt httpwwwituintnetwsisdocsgenevaofficialpoahtml gt Acesso em 20 dez 2015 25 Relatoacuterio disponiacutevel em lt httpwwwituintenITU-DStatisticsDocumentsfactsICTFactsFigures2015pdfgt Acesso em 19 out 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

125

Poreacutem o relatoacuterio apresenta um quadro representativo das lacunas relacionada ao acesso agraves redes

ainda existentes entre os paiacuteses desenvolvidos paiacuteses em desenvolvimento e os paiacuteses com

desenvolvimento miacutenimo apresentados pela sigla LDCs

Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015

Fonte Relatoacuterio ICT -2015

O quadro mostra um ciclo evolutivo no periacuteodo de 2000 a 2015 em que houve um salto significativo

de 400 milhotildees de usuaacuterios em 2000 para 32 bilhotildees em 2015 No primeiro periacuteodo a penetraccedilatildeo da

internet nos paiacuteses em desenvolvimento era de 100 milhotildees de usuaacuterios em comparaccedilatildeo com 300 milhotildees

nos paiacuteses desenvolvidos Em 2015 apesar da elevada penetraccedilatildeo da internet nos paiacuteses em

desenvolvimento eles concentram o maior nuacutemero de pessoas off-line cerca de 4 bilhotildees de usuaacuterios natildeo

tecircm acesso regular agrave rede Nestes paiacuteses apenas 7 dos domiciacutelios tecircm acesso a internet em comparaccedilatildeo

com a meacutedia mundial de 46 O relatoacuterio cita a Aacutefrica em que uma em cada cinco pessoas usa a internet

em comparaccedilatildeo com quase duas em cinco dos continentes da Aacutesia e Paciacutefico e trecircs em cada cinco pessoas

nos paiacuteses desenvolvidos Esses nuacutemeros mostram que uma fatia significante da populaccedilatildeo mundial

sobretudo nos paiacuteses menos desenvolvidos estaacute desconectada marginalizada ou fora da rede

O mesmo relatoacuterio afirma que nos paiacuteses menos desenvolvidos apenas uma em cada dez pessoas

fica on-line O fosso digital na questatildeo de gecircnero tambeacutem apresenta disparidade maior quantidade de

homens acessam a internet O relatoacuterio conclui que capacitar as pessoas atraveacutes do acesso agrave banda larga

exige muito mais do que infraestrutura mas o melhor uso possiacutevel das ferramentas disponiacuteveis Cita por

exemplo que dentre os quatro bilhotildees de pessoas que natildeo estatildeo on-line pode ser por natildeo compreenderem o

O mundo todo estaacute mesmo conectado

126

potencial da internet ou natildeo encontre conteuacutedo uacutetil no seu idioma nativo Conclui portanto que o momento eacute

mais importante do que nunca para que os paiacuteses em desenvolvimento priorizem o aprimoramento digital

com fins de melhorar sua competividade nacional e beneficiar os cidadatildeos com o potencial que a internet

proporciona

No Brasil este cenaacuterio eacute uma realidade Para o efeito vamos utilizar os dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacuteticas (IBGE) publicado no relatoacuterio intitulado Pesquisa Nacional por

Amostra de Domiciacutelios (Pnad26) Acesso agrave internet e posse de telefone moacutevel celular para uso pessoal

dos brasileiros (IBGE 2015) cuja pesquisa por amostragem de domiciacutelios foi realizada em todo

territoacuterio nacional no periacuteodo de 2013 Com relaccedilatildeo agrave utilizaccedilatildeo da internet pelos brasileiros o estudo

revelou que devido agrave ampliaccedilatildeo dos tipos de aparelhos que acessam a rede (microcomputador

telefone moacutevel tablet e outros) estimou-se que 856 milhotildees (499 da populaccedilatildeo) do contigente de

pessoas de 10 anos ou mais de idade utilizaram a internet pelo menos uma vez dentro de trecircs meses

do periacuteodo de referecircncia da pesquisa

Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet por meio de microcomputador e somente por outros equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -

Brasil - 20052013

Fonte IBGE (2015) Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 20052013

O graacutefico mostra um aumento de quase 30 de utilizaccedilatildeo da internet no periacuteodo de oito anos

No ultimo periacuteodo a utilizaccedilatildeo de outros dispositivos com acesso a internet foram utilizados por mais 26 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (Pnad) se trata de um levantamento estatiacutestico sobre a populaccedilatildeo brasileira que visa suprir a falta de informaccedilotildees sobre a mesma durante o periacuteodo intercensitaacuterio e ampliar os temas pouco abordados no Censo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

127

de 4 da populaccedilatildeo da amostra O estudo revelou que a utilizaccedilatildeo da internet eacute desigual nas diferentes

regiotildees brasileiras As regiotildees Sul Sudeste e Centro-Oeste mais desenvolvidas satildeo as que mais

utilizam a internet nos computadores de mesa (531 50 e 543 respectivamente) Um aspecto a

assinalar eacute que na regiatildeo Norte um amplo nuacutemero de usuaacuterios (87) utiliza a internet nos dispositivos

moacuteveis como tablets e celulares Por se tratar de uma regiatildeo em que muitas vezes o acesso mais

tradicional seja por fibra ou ADSL natildeo alcanccedila a telefonia moacutevel acaba sendo a uacutenica alternativa de

conexatildeo mesmo que em geral tenha um fraco sinal

No que se refere ao tipo de conexatildeo o estudo do IBGE constatou que dos 312 milhotildees de

domiciacutelios com utilizaccedilatildeo de internet em 2013 23 (725 mil) possuiacuteam exclusivamente a conexatildeo

discada e 977 (305 milhotildees) utilizavam a conexatildeo em banda larga sendo que 771 (241

milhotildees) usavam os serviccedilos da banda larga fixa e 435 (136 milhotildees) conectavam utilizando a

banda larga moacutevel Em 230 (72milhotildees) dos domiciacutelios existiam as duas modalidades de conexatildeo

Sobre a presenccedila de tablets (dispositivos moacuteveis) no cotidiano das pessoas a pesquisa revela que em

71 milhotildees (108) dos 651 milhotildees de domiciacutelios particulares permanentes do Paiacutes havia um

aparelho Mais da metade destes (39 milhotildees) estatildeo concentrados na Regiatildeo Sudeste (mais

desenvolvida) Na Regiatildeo Norte os Estados do Piauiacute (50) Maranhatildeo (49) e Rondocircnia (48)

regiotildees mais pobres do Brasil concentram os menores iacutendices de aquisiccedilatildeo dos tablets A renda

econocircmica das famiacutelias constitui um fator de peso quando se trata de adquirir equipamentos com

acesso a internet A pesquisa revela que os domiciacutelios que possuiacuteam tablets e microcomputadores satildeo

aqueles cuja renda meacutedia mensal per capita era de R$ 157200 por outro lado nos domiciacutelios que

natildeo tinham esses aparelhos a renda meacutedia era de R$ 68700 Estes dados corroboram com a

afirmaccedilatildeo de Sorj (2008) de que os mais altos niacuteveis de exclusatildeo digital satildeo encontrados nas famiacutelias

de baixa renda

A anaacutelise por gecircnero da pesquisa do IBGE mostrou que natildeo existe uma diferenccedila significativa

entre homens (493) e mulheres (495) que usavam a internet no Brasil em 2013 Na distribuiccedilatildeo

etaacuteria constatou-se um decliacutenio de uso a medida que a idade avanccedila Nos grupos de pessoas de 15 a

17 anos a maior proporccedilatildeo alcanccedila 757 na faixa dos 10 a 39 anos o uso da internet ultrapassava

50 e na faixa dos 60 anos ou mais o porcentual cai para 126 No tocante agrave escolaridade observa-

se uma proporccedilatildeo crescente aos mais escolarizados O relatoacuterio diz

Para as pessoas com ateacute 7 anos de estudo o porcentual era inferior ao total nacional (494) enquanto para aquelas com 8 anos ou mais de estudo a

O mundo todo estaacute mesmo conectado

128

proporccedilatildeo era maior O maior porcentual foi observado na populaccedilatildeo com 15 anos ou mais de estudo (898) (IBGE 2015 p 40)

Pipa Norris (2001) em estudos realizados nos paiacuteses norte-americanos constatou que trecircs

quartos de todos os graduados em universidades usam a internet em comparaccedilatildeo com menos de um

quinto dos que natildeo conseguiram concluir o ensino meacutedio

Sobre a ocupaccedilatildeo das pessoas que utilizavam a internet em 2013 de acordo com os

grupamentos ocupacionais o relatoacuterio do IBGE (2015 p 41) constatou que os profissionais das

ciecircncias e das artes apresentaram o maior porcentual de pessoas que utilizavam a internet (913)

seguidos pelos grupamentos dos membros das forccedilas armadas e auxiliares (889) dos trabalhadores

dos serviccedilos administrativos (855) dos dirigentes em geral (835) e dos teacutecnicos de niacutevel meacutedio

(821) Em relaccedilatildeo aos grupamentos de atividade as pessoas ocupadas em ldquoOutras atividadesrdquo

(819) e em Educaccedilatildeo Sauacutede e Serviccedilos Sociais (815) apresentavam as maiores proporccedilotildees

enquanto na Atividade Agriacutecola (114) Serviccedilos Domeacutesticos (283) e Construccedilatildeo (346) menos da

metade das pessoas ocupadas utilizavam a Internet em 2013

No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o uso da internet e a renda econocircmica das famiacutelias a

pesquisa do IBGE revelou que a proporccedilatildeo de pessoas que utilizavam internet era crescente conforme

aumentava a classe de rendimento mensal domiciliar per capita Em 2013 como eacute possiacutevel visualizar

no graacutefico 2 o maior porcentual (899) foi observado na classe de mais de 10 salaacuterios miacutenimos

enquanto o menor (239) na classe sem rendimento a frac14 do salaacuterio miacutenimo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

129

Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil

ndash 2013

Fonte IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013

A pesquisa ldquoTIC Domiciacuteliosrdquo realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias de

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (CETICbr) com o objetivo de medir o acesso e os usos da populaccedilatildeo

brasileira em relaccedilatildeo agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no periacuteodo de outubro de 2014 a

marccedilo de 2015 numa proporccedilatildeo menor que o estudo do IBGE apresenta dados que corroboram com

o aumento da penetraccedilatildeo da internet nos lares brasileiros A partir da base total de domiciacutelios

brasileiros 64 milhotildees a pesquisa CETIC constatou por amostragem que 322 milhotildees de domiciacutelios

possuem conexatildeo agrave internet e 54 destes estatildeo na aacuterea urbana Dos 942 milhotildees de usuaacuterios de

internet 19 o fazem apenas do telefone celular 23 apenas do computador e 56 usam ambos Do

universo de 1482 milhotildees de usuaacuterios de aparelhos celulares no Brasil 815 acessaram a internet

dos seus dispositivos em 2014 Na questatildeo da renda a pesquisa CETIC usa a classificaccedilatildeo por classes

sociais27 e constata que na classe A cerca de 96 satildeo usuaacuterios da internet e no outro extremo na

classe E apenas 21 tecircm acesso agraves redes

Estes dados mostram que existem clivagens digitais geradas como um subproduto de velhas

desigualdades sociais (Dijk 2005) Estas desigualdades soacute poderatildeo ser amenizadas quando os

gestores puacuteblicos compreenderem que ldquoincluir digitalmenterdquo natildeo se trata de inserir um indiviacuteduo num

determinado espaccedilo com computadores e acesso agrave internet senatildeo bastaria criar telecentros e

27 Segundo a Fundaccedilatildeo Getulio Vargas as classes satildeo definidas de acordo com a sua renda familiar Classe A Acima de R$974500 Classe B de R$747500 a R$974500 Classe C de R$1734 a R$747500 Classe D de R$108500 a R$173400 Classe E de R$000 a de R$108500

Disponiacutevel em httpcpsfgvbrnode3999 Acesso em 07 nov 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

130

laboratoacuterios de informaacutetica em vaacuterias partes das cidades Assim como colocar um analfabeto numa

biblioteca natildeo o faraacute obter o conhecimento apenas por ter acesso a livros inserir o marginalizado

digitalmente na sociedade em rede requer poliacuteticas publicas que contemplem as questotildees de conteuacutedo

de interesse idioma do usuaacuterio educaccedilatildeo literacia ou recursos comunitaacuterios que decircem respaldo e

suporte para a emancipaccedilatildeo do individuo

2 7 Inclusatildeo digital educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo

Diante do exposto nesse capiacutetulo sobre o cenaacuterio da exclusatildeo digital no Brasil e no mundo os

niacuteveis de desigualdades e barreiras para a inclusatildeo percebe-se o perigo da subclasse de ldquoinfo-pobresrdquo

ficarem ainda mais marginalizados nas sociedades onde as habilidades baacutesicas do computador estatildeo

se tornando essencial para o sucesso econocircmico promoccedilatildeo pessoal entrada para boa carreira

oportunidades educacionais e oportunidades para engajamento ciacutevico (Norris 2001) Assim Leacutevy

(1999 p 238) afirma que natildeo basta colocar o usuaacuterio diante de uma tela de computador em frente a

interfaces amigaacuteveis eacute preciso promover condiccedilotildees para que este cidadatildeo seja capaz de participar

ativamente nos processos de inteligecircncia coletiva presentes no ciberespaccedilo O autor conclui

Em outras palavras na perspectiva da cibercultura assim como nas abordagens mais claacutessicas as poliacuteticas voluntaristas de luta contra as desigualdades e a exclusatildeo devem visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos Devem em contrapartida evitar o surgimento de novas dependecircncias provocadas pelo consumo de informaccedilotildees ou de serviccedilos de comunicaccedilatildeo concebidos e produzidos em uma oacuteptica puramente comercial ou imperial e que tecircm como efeito muitas vezes desqualificar os saberes e as competecircncias tradicionais dos grupos sociais e das regiotildees desfavorecidas

A autonomia ou emancipaccedilatildeo digital eacute defendida por outros autores como a capacidade dos

indiviacuteduos de formarem redes conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo colaborativa de

conhecimentos que ampliam suas oportunidades de emprego e renda possibilitando maior capacidade

de mobilizaccedilatildeo social e participaccedilatildeo ativa em todas as instacircncias (Schwartz 2006 Borges 2012)

De acordo com Warschauer (2006) apenas as classes meacutedias e altas dos paiacuteses ricos e

desenvolvidos e a elite dos paiacuteses pobres foram capazes de beneficiarem da revoluccedilatildeo das tecnologias

o que gerou um crescimento desproporcional e desigual em ambas agraves categorias O autor propotildee

portanto a interseccedilatildeo entre as TDIC e a inclusatildeo social Assim a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na rede seria

para aleacutem dos benefiacutecios econocircmicos englobaria todos os aspectos cotidianos educaccedilatildeo poliacutetica

cultura entretenimento e viacutenculos sociais A integraccedilatildeo social da tecnologia proposta por Warschauer

O mundo todo estaacute mesmo conectado

131

vai aleacutem da questatildeo de prover o acesso a internet agraves pessoas trata-se mais do empoderamento do

capital social dos indiviacuteduos ou seja prover meios para que os usuaacuterios da internet obtenham

habilidades para localizar avaliar armazenar usar as informaccedilotildees encontradas na rede

transformando-as em conhecimento para beneficio proacuteprio

Segundo Demo (2007) as sociedades capitalistas tendem a ldquocolocar agrave margem grandes

maioriasrdquo que servindo aos privileacutegios de poucos da elite constroem contextos de sobrevivecircncia numa

forma miacutenima de acesso aos bens de consumo e das tecnologias Neste cenaacuterio as oportunidades e a

melhoria de qualidade de vida satildeo definidas a partir do acesso ao conhecimento e das competecircncias

de manejo das plataformas tecnoloacutegicas Para o autor estes excluiacutedos ou marginalizados satildeo

necessaacuterios para o sistema capitalista e natildeo eacute por acaso que permanecem nessa situaccedilatildeo satildeo a base

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos para a elite Demo (2005) cita o exemplo da introduccedilatildeo de

computadores nas escolas os alunos pobres que natildeo possuem computador em casa satildeo incluiacutedos ateacute

certo ponto no entanto o autor considera esta inclusatildeo mero ldquoefeito de poderrdquo agrave medida que se

reserva aos alunos ldquoequipamentos sucatados cursos precaacuterios ambientes improvisados treinamentos

encurtados programas baratosrdquo(idem p 37) Neste caso mesmo com o acesso o autor conclui que

se a escola persistir em continuar com as formas tradicionais de pedagogia o aluno sofre outra

discriminaccedilatildeo digital o analfabetismo digital Embora acesse as redes este aluno natildeo saberaacute

compreender interpretar ou reconstruir o conhecimento

O educador Paulo Freire escreveu ldquoa primeira condiccedilatildeo para que um ser possa assumir um ato

comprometido estaacute em ser capaz de agir e refletirrdquo (Freire 1983 p 16) Assim no acircmbito do uso da

internet este se tornaraacute socialmente vaacutelido apenas se forem construiacutedas relaccedilotildees cognitivas e sociais

do interesse do usuaacuterio O uso descontextualizado das tecnologias como instrumento de pesquisa

desprovido de um objetivo transferido de ldquocima para baixordquo na hierarquia escolar natildeo constitui um

meio eficaz para a inclusatildeo sociodigital do aluno Programas vendidos agraves escolas como ldquopacotes

educacionaisrdquo voltados a puacuteblicos especiacuteficos podem constituir apenas um aprimoramento do

instrucionismo com testes de muacuteltiplas escolhas sem possibilitar ao estudante uma reflexatildeo teoacuterica

mais aprofundada nos estudos O computador visto nas escolas como ldquomaacutequina de ensinarrdquo usado

como editor de textos colagens de figuras e pesquisas sem olhar criacutetico vem a ser um mero reprodutor

do ensino instrucionista com uma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais (quadro

livros cadernos) que servem para transmitir o conhecimento (Papert 1993) Assim projetos de

inclusatildeo digital nas escolas ou espaccedilos comunitaacuterios que visam o acesso agraves maquinas desprovidos de

O mundo todo estaacute mesmo conectado

132

um acompanhamento pedagoacutegico sem levar em conta o contexto social econocircmico e cultural dos

usuaacuterios tendem a natildeo atender agrave demanda dos que realmente estatildeo marginalizados do sistema

Neste sentido Warschauer (2002) cita o exemplo de um projeto de inclusatildeo digital

implementado em Nova Deli na Iacutendia A ideia do projeto era fornecer acesso a computadores para as

crianccedilas de rua da cidade Foi disponibilizado um quiosque em que os computadores estavam dentro

de uma cabine Os monitores se projetavam atraveacutes dos buracos nas paredes e joysticks e bototildees

substituiacuteam os mouses e teclados Um voluntaacuterio dentro da cabine mantinha os computadores

conectados agrave internet Segundo Warschauer natildeo havia professores ou instrutores para orientar em

nenhum momento as crianccedilas que utilizavam o terminal a proposta era permitir o acesso ao terminal

24 horas e que estas aprendessem no seu ritmo e velocidade sem amarras ou diretrizes As crianccedilas

comeccedilaram a fazer algumas atividades baacutesicas com os computadores como arrastar objetos copiar e

colar pintar entrar na internet mudar o papel de paredes e outras baacutesicas A princiacutepio o programa foi

saudado pelos funcionaacuterios do governo como inovador por oferecer agraves populaccedilotildees pobres da Iacutendia o

acesso ao computador com internet Entretanto Warschauer afirma que em visitas ao quiosque

percebeu uma realidade diferente o acesso agrave internet natildeo era uacutetil porque quase natildeo funcionava por

causa da conexatildeo ruim natildeo existia nenhum programa de educaccedilatildeo especiacutefico para as crianccedilas e natildeo

havia conteuacutedo disponibilizado no idioma hindi uacutenica linguagem que as crianccedilas conheciam Natildeo

houve engajamento da comunidade ateacute porque este natildeo foi solicitado alguns pais se manifestaram

contra o projeto se queixando que os filhos passavam a maior parte do tempo jogando no quiosque em

prejuiacutezo das atividades escolares O autor concluiu que na praacutetica o projeto que propunha uma

educaccedilatildeo minimamente evasiva foi no miacutenimo ineficaz

Ao citar o exemplo deste projeto Warschauer (2002) argumentava que para se promover a

reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente o foco natildeo deve ser na tecnologia mas na transformaccedilatildeo

social que pode acontecer com pessoas que tirem proveito das informaccedilotildees contidas nas redes Para

Neri (2012) que realizou a pesquisa Mapa da Exclusatildeo digital no Brasil a inclusatildeo digital representa

ldquoum canal privilegiado para equalizaccedilatildeo de oportunidades da nossa desigual sociedade em plena era

do conhecimentordquo (p6) Segundo o autor a inclusatildeo digital estaacute cada vez mais relacionada com a

cidadania e da inclusatildeo social desde o apertar do voto das urnas eletrocircnicas aos cartotildees eletrocircnicos do

Programa Bolsa-Escola passando pelo contato inicial do jovem ao computador como passaporte ao

primeiro emprego

O mundo todo estaacute mesmo conectado

133

Embora estejamos cercados de jovens caracterizados como ldquonativos digitaisrdquo por terem

crescido em um mundo digital e estatildeo desde sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC

Lage e Dias (2012) analisam que existe uma supervalorizaccedilatildeo por parte de alguns pesquisadores e da

proacutepria sociedade sobre as competecircncias de informaccedilatildeo destes jovens tambeacutem chamados de ldquogeraccedilatildeo

Googlerdquo As autoras analisam que em geral os mais jovens embora tenham habilidades teacutecnicas com

o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos tem dependecircncia de motores de pesquisa e possuem ldquopouca

capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeordquo Citando estudos na aacuterea Lage e

Dias (idem p 7) discorrem sobre as caracteriacutesticas destes jovens

Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas

Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets

smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo geraccedilatildeo XYZ e possuam

habilidades excepcionais no uso das TIC Segundo Demo (2011) pode soar estranho mas ainda existe

estudantes conservadores que transitam entre os meios formais e informais de fonte de informaccedilotildees

Estudo realizado com estudantes portugueses comprovou que a internet natildeo interfere na importacircncia

que o jovem daacute ao livro antes ela eacute um complemento para potencializar sua aprendizagem (Silva e

Pereira 2011) Neste sentido inferimos que pessoas mesmo com acesso a internet com alguma

habilidade instrumental mas que natildeo possuam habilidades e competecircncias cognitivas e criacuteticas para

usa-la podem se encontrar marginalizadas ou sem capacidade de usar as informaccedilotildees da rede para

benefiacutecio profissional cultural ou social

Pedro Demo (2011) faz uma anaacutelise criacutetica sobre a elevada euforia em torno da chamada

geraccedilatildeo internet que se apresenta quase como ldquouma nova espeacutecierdquo como se todos os jovens fossem

usuaacuterios haacutebeis das tecnologias Um dos fatores que o autor aponta que deve ser levado em conta ao

fazer tal anaacutelise eacute o iacutendice elevado de pessoas que natildeo tem nenhum acesso a internet ndash estatildeo

excluiacutedas digitalmente Onde essas pessoas se enquadrariam nas analogias e roacutetulos estereotipados

pregados por alguns autores Na versatildeo de Presnky que usa a analogia da linguagem seriam

ldquoanalfabetosrdquo digitais ou poderiacuteamos chama-los de ldquoinativosrdquo digitais Na analogia do tempo e espaccedilo

de White seriam eles chamados de ldquoforasteirosrdquo (o que estaacute de fora) No conceito sobre as Geraccedilotildees

X Y e Z que letra seria apropriada para descrever aqueles que independente da data de nascimento

O mundo todo estaacute mesmo conectado

134

nunca tiveram oportunidade de acessar a internet seja por morar numa regiatildeo remota ou viver em

situaccedilatildeo de absoluta miseacuteria ou mesmo porque natildeo teve oportunidade

A analogia do ldquoforasteirordquo nos parece apropriada Segundo o dicionaacuterio Aureacutelio forasteiro

significa que estaacute de fora peregrino estranho Trazendo esta analogia para o campo das tecnologias

encontrariacuteamos muitos forasteiros alheios e sem acesso ao menos a um computador ou celular com

internet Este grupo estaacute nas estatiacutesticas da ldquoexclusatildeo sociodigitalrdquo Como forasteiros sem condiccedilotildees

de acesso agraves TIC perambulam em busca de informaccedilotildees e vantagens que apenas aqueles

privilegiados possuem (Alves 2014) No caso do Brasil os 25 dos jovens natildeo conectados agrave internet28

eacute um nuacutemero consideraacutevel e natildeo haacute como generalizar que todos jovens na idade de 15 a 17 anos satildeo

ldquonativos digitaisrdquo em especial num paiacutes com alto iacutendice de desigualdade social E mesmo que o jovem

tenha acesso a internet como apresentado por Warschauer (2002) apenas prover o acesso em

telecentros ou escolas sem uma infraestrutura com apoio de monitores capacitados natildeo torna esse

indiviacuteduo tecnologizado como prover livros a alunos natildeo os alfabetiza Silva Jambeiro Lima e Brandatildeo

(2015 p 32) (2005 p 32) afirmam

Se a inclusatildeo digital eacute uma necessidade inerente desse seacuteculo entatildeo isso significa que o ldquocidadatildeordquo do seacuteculo XXI entre outras coisas deve considerar esse novo fator de cidadania que eacute a inclusatildeo digital E que constitui uma questatildeo eacutetica oferecer essa oportunidade a todos ou seja o indiviacuteduo tem o direito agrave inclusatildeo digital e o incluiacutedo tem o dever de reconhecer que esse direito deve ser estendido a todos Dessa forma inclusatildeo digital eacute um processo que deve levar o indiviacuteduo agrave aprendizagem no uso das TICs e ao acesso agrave informaccedilatildeo disponiacutevel nas redes especialmente aquela que faraacute diferenccedila para a sua vida e para a comunidade na qual estaacute inserido

Neste sentido o sujeito excluiacutedo digitalmente estaacute sendo privado do direito de acesso ao que

haacute de mais moderno nas tecnologias da inteligecircncia Conforme afirma Demo (2007 p 9) ldquoa

marginalizaccedilatildeo mais draacutestica eacute a poliacutetica porque impede a autonomia das pessoas e sociedadesrdquo

Assim presencia-se nos tempos atuais uma divisatildeo evidente entre aqueles que tecircm a possibilidade de

trabalhar com uma quantidade de informaccedilotildees muito maior do que os sujeitos que natildeo estatildeo

conectados em rede E isso reproduz e amplia o distanciamento entre quem jaacute tinha condiccedilotildees sociais

melhores e as pessoas mais pauperizadas da nossa sociedade

Em siacutentese o perfil que contextualizamos neste estudo que trata da inclusatildeo digital eacute o modelo

de Costa e Lemos (2005) em que esta eacute ldquocompreendida sob o pano defundo dos quatro capitais

28 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013 realizada pelo IBGE revelou que 75 dos jovens entre 15 e 17 anos satildeo usuaacuterios da internet Disponiacutevel em httpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94414pdf Acesso em 22 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

135

(social teacutecnico cultural e intelectual) que constituem todo processo coletivordquo (p 01) Segundo o

autores a questatildeo da inclusatildeo digital natildeo pode ser apenas teacutecnica ou econocircmica mas tambeacutem

cognitiva e social Para eles o capital teacutecnico eacute importante mas natildeo o uacutenico A perspectiva meramente

teacutecnica deve ser abandonada a favor de uma visatildeo mais complexa do processo de inclusatildeo O processo

de ldquoinclusatildeordquo deve ser visto entatildeo sob os indicadores

bull Econocircmico ter condiccedilotildees financeiras de acesso agraves novas tecnologias bull Cognitivo estar dotado de uma visatildeo criacutetica e de capacidade independente

de uso e apropriaccedilatildeo dos novos meios digitais transformar informaccedilatildeo em conhecimento

bull Teacutecnico possuir conhecimentos operacionais de programas e de acesso agrave internet

Por isso as categorias econocircmica e cognitiva satildeo tatildeo ou mais importantes que a categoria

teacutecnica nos processos de inclusatildeo digital Aplicando esses pressupostos aos professores da rede

puacuteblica a inclusatildeo sociodigital dos mesmos vai aleacutem da inserccedilatildeo de computadores nas escolas ou

mesmo do acesso agraves maquinas Sampaio e Leite (1999 p 15) escreveram

O papel da educaccedilatildeo deve voltar-se tambeacutem para a democratizaccedilatildeo do acesso ao conhecimento produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das tecnologias suas linguagens e consequumlecircncias Para isso torna-se necessaacuterio preparar o professor para utilizar pedagogicamente as tecnologias ne formaccedilatildeo de cidadatildeos que deveratildeo produzir e interpretar as novas linguagens do mundo atual e futuro

Neste sentido este estudo visa compreender se o uso das tecnologias na formaccedilatildeo de

professores tem possibilitado a inclusatildeo sociodigital dos mesmos na sociedade em rede Tambeacutem

analisar se as praacuteticas de usos mediaacuteticos da tecnologia possibilitaram aos professores em formaccedilatildeo o

letramento digital provocado mudanccedilas no seu cotidiano social e profissional No capiacutetulo 3 seratildeo

apresentados os desafios enfrentados pelos professores que por vezes estatildeo marginalizados da

sociedade em rede e estatildeo na linha de frente no contato com alunos que possuem habilidades

teacutecnicasinstrumentais com as tecnologias mas com pouca visatildeo criacutetica e analiacutetica das informaccedilotildees

encontradas Contudo antes seraacute abordado o conceito de literacia digital como uma possibilidade de

reinserccedilatildeo ou realocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade em rede

Capiacutetulo 3 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

139

31 A possibilidade de entrada na rede

Agrave semelhanccedila de outras literacias entendidas como a capacidade de compreender e usar determinados tipos de informaccedilatildeo a literacia digital vai aleacutem do simples conhecimento sobre as tecnologias O domiacutenio do digital implica ser capaz de utilizar criacutetica e eficazmente as tecnologias de modo a fazer algo construtivo e significativo com elas Esta competecircncia digital tornou-se fundamental na sociedade contemporacircnea tendo inclusive sido reconhecida como uma das competecircncias-chave para a aprendizagem ao longo da vida Inevitavelmente a escola tem de participar neste processo de formaccedilatildeo dos cidadatildeos proporcionando situaccedilotildees de aprendizagem que envolvam as tecnologias e assumindo a literacia digital como mais uma meta de aprendizagem (Costa 2013 p44)

O Seacuteculo XIX inaugurou uma seacuterie de invenccedilotildees tecnoloacutegicas que transformaram a vida das

pessoas como o cinema a fotografia o raacutedio o telefone entre outras Essas transformaccedilotildees instauram

uma nova organizaccedilatildeo de mundo ressignificando os modos de produccedilatildeo novos haacutebitos e mudanccedilas

na rotina dos indiviacuteduos como exposto nas discussotildees do capiacutetulo primeiro e segundo desta tese Para

Leacutevy (1999) neste cenaacuterio em movimento os processos tradicionais de aprendizagem tornam-se

rapidamente obsoletos em funccedilatildeo da constante necessidade de renovaccedilatildeo dos saberes da nova

configuraccedilatildeo do mundo do trabalho e da velocidade da informaccedilatildeo

Portanto para o professor atuar com destreza nesse cenaacuterio conseguindo selecionar o que

realmente iraacute favorecer a aquisiccedilatildeo de um capital cultural dos seus alunos levando-os a autonomia

criacutetica exige-se uma formaccedilatildeo adequada agrave inovaccedilatildeo exigida pela sociedade digital em rede Assim

este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica nos cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a desenvolver competecircncias e habilidades para o uso

criacutetico das miacutedias

No capiacutetulo 1 deste trabalho foi apresentado o cenaacuterio contemporacircneo socioteacutecnico com

profundas transformaccedilotildees no desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico comunicacional cultural poliacutetico

e econocircmico A analogia do mundo integrado em redes foi usada para ilustrar a grande teia de

conexotildees que a rede digital de computadores conectados agrave internet proporciona Consideramos

tambeacutem o conceito de sociedade em rede e compreendemos de acordo com Castells (1999) numa

visatildeo morfoloacutegica que uma rede eacute composta por um conjunto de noacutes interconectados No caso da

sociedade em rede estes noacutes constituem os atores que moldam as estruturas sociais da rede por meio

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

140

da interaccedilatildeo e construccedilatildeo de laccedilos sociais Trata-se de noacutes vivos relaccedilotildees construiacutedas em torno de um

objetivo especiacutefico Neste sentido Velazqueacutez Aacutelvarez e Aguilar (2005 p 3) explicam

Quando se fala em rede se entende como um grupo de indiviacuteduos que em forma agrupada ou individual se relacionam com outros com um propoacutesito especiacutefico caracterizado pela existecircncia de fluxos de informaccedilatildeo [] Uma rede se compotildee portanto de trecircs elementos baacutesicos que satildeo os noacutes ou atores viacutenculos ou relaccedilotildees e fluxos

Assim as redes satildeo construiacutedas por usuaacuterios que conectados no ciberespaccedilo constituem

relaccedilotildees sociais afetivas comerciais culturais poliacuteticas e ideoloacutegicas com outros indiviacuteduos com os

mesmos interesses e que tambeacutem estatildeo conectados Tendo em vista esse aspecto concordamos com

Santos (2014 p 60) que entende a ideia de rede ldquocomo fluxo e feixe de relaccedilotildees entre seres

humanos objetos teacutecnicos e as interfaces digitaisrdquo A autora explana o que implica o sujeito estar

conectado na rede

Rede significa que estamos engendrados por uma composiccedilatildeo comunicativa socioteacutecnica que se atualiza a cada relaccedilatildeo e conexatildeo que estabelecemos em qualquer ponto desta grande rede Tempo e espaccedilos ganham novos arranjos influenciando novas e diferentes sociabilidades (idem p 60)

Destarte o cidadatildeo conectado agrave rede tem a possibilidade de comunicar produzir co-criar e

compartilhar conteuacutedos e informaccedilotildees nas interfaces digitais No entanto como abordamos no capiacutetulo

2 existem milhotildees de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso a rede ou estatildeo na margem dela com acesso

limitado e improdutivo De entre estes estatildeo os professores logo os que mais lidam com a geraccedilatildeo de

jovens considerados ldquonativos digitaisrdquo navegadores incansaacuteveis do tsunami que a internet se tornou

nos dias atuais (Leacutevy 1998) e tambeacutem daqueles que natildeo tecircm tal acesso e estatildeo marginalizados na

rede

Explanamos ainda no capiacutetulo 2 que estes jovens embora estejam conectados agrave rede e

tenham habilidades teacutecnicas apuradas no manuseio dos dispositivos tecnoloacutegicos carecem de

orientaccedilatildeo para fazer uso seletivo criacutetico responsaacutevel e proveitoso das informaccedilotildees que coletam No

campo educacional cabe ao professor ser o orientador mediador e articulador junto aos estudantes de

forma a ajudaacute-los a selecionarem e filtrarem as informaccedilotildees relevantes para a construccedilatildeo do

conhecimento Nas palavras de Gadotti (2003 p 32)ldquoo professor deixaraacute de ser um lecionador para

ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um

aprendiz permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo No entanto estudos revelam que

os professores ainda encontram dificuldades no manuseio instrumental das tecnologias satildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

141

desprovidos de habilidades para o tratamento criacutetico das miacutedias produccedilatildeo e compartilhamento nas

redes e necessitam de formaccedilatildeo voltada para a literacia digital em contextos educativos (Melatildeo 2011

Lopes 2013 Lage e Dias 2012)

Trata-se portanto de um problema ambiacuteguo de um lado temos jovens que tecircm permanente

contato com as miacutedias e tecnologias mas que carecem de ajuda e orientaccedilatildeo para conduzir nortear e

mediar a construccedilatildeo do conhecimento em face da enxurrada de informaccedilotildees disponiacuteveis na rede e de

outro lado estaacute o professor que deveria fazer esse papel de conduccedilatildeo e orientaccedilatildeo destes jovens mas

que falta-lhe tambeacutem a capacidade de filtrar selecionar avaliar e criticar responsavelmente os

conteuacutedos midiaacuteticos que acessa Mais agravante se torna o quadro quando o professor nem mesmo

tem acesso agrave rede seja por vontade proacutepria ou por circunstancias alheias a sua vontade e isto o deixa

agrave margem da rede e impotente para lidar com os alunos usuaacuterios de tecnologias Como poderia o

professor personagem fundamental no processo de formaccedilatildeo dos estudantes ser inserido na rede de

forma a integrar-se com as tecnologias usando-as como aliadas nos processos de construccedilatildeo do

conhecimento dos seus alunos

Voltando agrave metaacutefora da rede conforme discutido no capiacutetulo dois deste trabalho ldquoestar dentrordquo

desta requer mais que acesso agraves redes de computadores inclui accedilatildeo interaccedilatildeo movimento pois a

rede eacute dinacircmica sistecircmica moacutevel articulada e aberta Usando a analogia das redes com a tecelagem

de vaacuterios fios para formar um tecido Beauclair (2007 p 268) escreveu

A tecelagem a ser feita inicia-se a partir do principal componente desta teia o sujeito aprendente A rede eacute uma estruturaccedilatildeo comunicacional onde desejos sonhos realidades e poderes circulam de modo a darem corpo a um conjunto de informaccedilotildees onde sujeitos se comunicam e geram movimentos de sustentabilidade agrave proacutepria rede a partir do seu interesse na solidariedade no compartilhamento de ideacuteias e opiniotildees na partilha de saberes e de ignoracircncias enfim no estarjuntocom atuando em prol de uma concepccedilatildeo mais aberta e articulada superando o modelo de agir pautado no individualismo para um outro modelo mais articulado e sistecircmico

Portanto conectar agrave rede requer accedilatildeo movimento e interesse dos que estatildeo marginalizados ou

fora dela Contudo conforme discutido no capiacutetulo 2 deste trabalho a questatildeo da exclusatildeodivisatildeo

digital possui elementos de natureza complexa como questotildees de ordem social cultural geograacutefica e

econocircmica Deste modo natildeo se trata de querer ou natildeo fazer parte da rede pois como Castells (1999)

destaca a rede eacute excludente por natureza No que diz respeito aos professores urge a necessidade de

poliacuteticas puacuteblicas que forneccedilam oportunidades e condiccedilotildees para que os mesmos enquanto usuaacuterios da

rede tenham possibilidade de tirar o maacuteximo proveito de suas informaccedilotildees em favor da sua formaccedilatildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

142

intelectual da sua profissionalizaccedilatildeo do enriquecimento da sua cultura da emancipaccedilatildeo poliacutetica e

para sociabilidade Esta formaccedilatildeo deveria iniciar na base nos cursos de formaccedilatildeo de professores e

continuar por toda a carreira docente (Noacutevoa 2014)

Posta essa problemaacutetica este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica

nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a usar as

tecnologias para aleacutem da posiccedilatildeo de consumidores de programas e informaccedilotildees mas que venham a

atingir os patamares da anaacutelise criacutetica autoria compartilhamento e interaccedilatildeo com seus alunos dentro

e fora dos espaccedilos fiacutesicos da escola Neste sentido praacuteticas de literacia digital desde a formaccedilatildeo inicial

dos professores e a integraccedilatildeo desta com a atividade docente satildeo recomendadas como importante

passo para acompanhar os novos rumos que a educaccedilatildeo tem tomado nos uacuteltimos 25 anos com a

expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo digitais

Considerando a importacircncia de compreender o conceito de literacia digital no acircmbito das

tecnologias educativas com vistas agrave inserccedilatildeo do professor na rede a primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo

apresenta uma revisatildeo bibliograacutefica sobre este aspecto conceitual Na seccedilatildeo seguinte aprofundamos a

discussatildeo sobre os desafios enfrentados pelos professores que estatildeo na vanguarda das mudanccedilas

ocorridas na era moderna com base em estudos que revelam como lidam com a presenccedila das

tecnologias na sala de aula

Na terceira seccedilatildeo com fins de compreender o perfil dos professores ainda resistentes agraves

tecnologias nas praacuteticas pedagoacutegicas apresentamos um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das

tecnologias no acircmbito educacional a partir da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O capiacutetulo

finaliza com apontamentos para a necessidade de investimento na formaccedilatildeo de professores voltada

para a literacia digital em contextos educativos

32 Conceito de literacia digital

A compreensatildeo do conceito de literacia digital eacute fundamental para a elaboraccedilatildeo e fomento de

poliacuteticas puacuteblicas efetivas de formaccedilatildeo de professores com integraccedilatildeo das tecnologias ao curriacuteculo da

escola natildeo somente como uma ferramenta instrumental mas um ldquofenocircmeno da ciberculturardquo que

pode potencializar praacuteticas comunicacionais hipertextuais a mobilidade e a interaccedilatildeo mediada por

interfaces digitais (Santos 2014) Neste aspecto compreende-se que a literacia digital eacute essencial para

a entrada dos ldquoexcluiacutedosrdquo na rede Silva e Pereira (2011 p 9) afirmam que satildeo ldquoos usos e as

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

143

competecircncias que interferem no grau de literacia digital passiacutevel de condicionar as oportunidades que

as tecnologias podem propiciar no desenvolvimento de capacidades e de conhecimentordquo As praacuteticas

de literacia digital de acordo com Petrella (2012 p 208) deveriam ser ldquoum caminho que passe pela

aprendizagem das competecircncias culturais e das habilidades sociais e cognitivas que permitam agraves

novas geraccedilotildees agir criacutetica e criativamente no panorama dos novos medias e de participar como

protagonistas na cultura contemporacircneardquo Assim a temaacutetica literacia digital eacute pertinente e urgente

dentro das escolas loacutecus privilegiado da formaccedilatildeo educacional Neste cenaacuterio o papel do professor eacute

fundamental Noacutevoa (2009 p 11) justifica

Os professores reaparecem neste iniacutecio do seacuteculo XXI como elementos insubstituiacuteveis natildeo soacute na promoccedilatildeo das aprendizagens mas tambeacutem na construccedilatildeo de processos de inclusatildeo que respondam aos desafios da diversidade e no desenvolvimento de meacutetodos apropriados de utilizaccedilatildeo das novas tecnologias

Considerando estes pressupostos defendemos a tese de que a formaccedilatildeo dos professores

voltada para a literacia digital constitui um passo fundamental para a inserccedilatildeo destes na sociedade em

rede Por sua vez o professor integrado agraves tecnologias sente-se motivado a usar as suas

potencialidades na sua praacutetica pedagoacutegica provocando mudanccedilas visiacuteveis na escola Para Almeida e

Valente (2011 p 9) essas mudanccedilas vatildeo aleacutem de ldquopraacuteticas esporaacutedicas em espaccedilos delimitados e

laboratoacuterios de informaacuteticardquo mas devem alcanccedilar mudanccedilas nas relaccedilotildees com o conhecimento e o

curriacuteculo De acordo com Belonni (1998) qualquer melhoria ou inovaccedilatildeo em educaccedilatildeo passa

necessariamente pela melhoria e inovaccedilatildeo na formaccedilatildeo de formadores Afirma a autora que ldquoos

professores formam um grupo prioritaacuterio e estrateacutegico para qualquer melhoria dos sistemas

educacionaisrdquo (idem p 16)No entanto a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

significa mais que disponibilizar computadores e tablets nas escolas eou promover oficinas de

capacitaccedilatildeo para o uso instrumental das tecnologias

Utilizamos neste trabalho a concepccedilatildeo de literacia digital ou mediaacutetica transcrita no documento

ldquoRecomendaccedilotildees sobre a Educaccedilatildeo para Literacia Mediaacuteticardquo (CNE 2011) do Conselho Nacional de

Educaccedilatildeo de Portugal O referido documento aborda trecircs tipos de aprendizagens necessaacuterias para

noccedilatildeo integrada de literacia digital

bull O acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo mdash o saber procurar guardar arrumar partilhar citar tratar e avaliar criticamente a informaccedilatildeo pertinente atentando tambeacutem agrave credibilidade das fontes

bull A compreensatildeo criacutetica dos media e da mensagem mediaacutetica mdash quem produz o quecirc porquecirc para quecirc por que meios

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

144

bull O uso criativo e responsaacutevel dos media para expressar e comunicar ideias para deles fazer um uso eficaz de participaccedilatildeo ciacutevica

Portanto a literacia digital ou mediaacutetica que trata este estudo diz respeito agrave capacidade do

indiviacuteduo de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias e ainda criar

comunicaccedilotildees em diferentes contextos (Lopes 2013) No caso dos professores estaacute envolvido aleacutem

do uso instrumental cotidiano das tecnologias a sua apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado

na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e colaborativos Diversos autores utilizam tambeacutem o

conceito de literacia mediaacutetica pela incidecircncia na abordagem dos media a qual significa ― possuir a

capacidade de utilizar meios de comunicaccedilatildeo e os media em geral de compreender e ajuizar

criticamente seus diversos aspectos e conteuacutedos e de comunicar em diferentes contextos (Lage e Dias

2012)

Segundo McQuail (2003) o termo media constitui uma abreviatura da expressatildeo ldquomedia de

massasrdquo ou seja diz respeito a meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que todos conhecem como

jornais revistas raacutedio televisatildeo filmes ou muacutesica gravada Com a chegada da internet estas passaram

a ser todo o ldquoecossistema informativo multimiacutedia interactivo e dinacircmicordquo formado pela convergecircncia

dos meios tradicionais e recentes (Pinto 2004 p 2) Esta designaccedilatildeo eacute bastante utilizada na acepccedilatildeo

da educaccedilatildeo para os media poreacutem ao considerarmos que o digital estaacute cada vez mais presente na

sociedade e nomeadamente nos media podemos mesmo dizer que vivemos numa era digital

Livingstone Couvering e Thumin (2005) entendem que na literatura existem dois corpos

distintos de investigaccedilatildeo a literacia mediaacutetica que diz respeito agrave compreensatildeo criacutetica e criaccedilatildeo de

materiais de miacutedia e envolve miacutedias mais tradicionais como a TV raacutedio cinema e outra a literacia

digital da informaccedilatildeo que parte de uma perspectiva da recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e treinamento

instrumental da informaacutetica Os autores metaforicamente dizem que a literacia mediaacutetica vecirc a miacutedia

como uma lente atraveacutes da qual o mundo pode ver e se expressar enquanto a literacia digital vecirc a

informaccedilatildeo como uma ferramenta para agir sobre o mundo Assim optamos pelo uso do termo

literacia digital neste trabalho por tratarmos de questotildees relacionadas diretamente da relaccedilatildeo dos

usuaacuterios com as tecnologias digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo na sociedade em rede

Assim poderiacuteamos definir a literacia mediaacutetica digital ou educaccedilatildeo para os medias tal qual

Pinto Pereira Pereira Ferreira e Dias (2011 p 24) caracterizaram no estudo Educaccedilatildeo para os Media

em Portugal experiecircncias actores e contextos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

145

trata-se do conjunto de conhecimentos capacidades e competecircncias (e os processos da respectiva aquisiccedilatildeo) relativas ao acesso uso esclarecido pesquisa e anaacutelise criacutetica dos media bem como as capacidades e expressatildeo e de comunicaccedilatildeo atraveacutes desses mesmos media

Portanto a literacia digital envolve mais que a mera capacidade de operar um dispositivo

digital ou usar um software inclui um complexo cognitivo motor socioloacutegico emocional e socioloacutegico

do usuaacuterio De acordo com Luke (2000) no contexto da cibercultura especialista natildeo eacute quem estaacute a

par de todas noticias e informaccedilotildees mas aquele que tomando conhecimento dos fatos

descontextualizados procura a conexatildeo entre os recortes de informaccedilotildees associa outras informaccedilotildees

relevantes e consegue fazer uma leitura criacutetica da situaccedilatildeo Poreacutem na anaacutelise de Buckingham (2008)

a maioria das discussotildees sobre a literacia digital continua a focar a informaccedilatildeo e tendem a negligenciar

os usos culturais e sociais da internet Segundo o autor a preocupaccedilatildeo geral dos formuladores de

poliacuteticas puacuteblicas eacute mais com a promoccedilatildeo eficiente do meio equipar escolas e telecentros com

maacutequinas e fomentar cursos para uso instrumental dos equipamentos Ateacute mesmo os guias populares

(Gilster 1997 Warlick 2005) para a literacia digital que abordam a necessidade de avaliar o conteuacutedo

on-line possuem formulaccedilotildees concentradas no know-how teacutecnico que relativamente natildeo eacute difiacutecil de

conseguir e em habilidades que se tornam obsoletas muito rapidamente

Buckingham (2008) defende que a associaccedilatildeo da palavra lsquodigitalrdquo agrave lsquoliteraciarsquo daacute um status

privilegiado aos estudos dos meios digitais considerando que o campo da literacia constitui uma aacuterea

de saber relevante na aacuterea cientifica Contudo o autor afirma que a utilizaccedilatildeo da expressatildeo literacia

digital (que faz analogia entre a escrita e a miacutedia audiovisual) implica uma forma mais ampla de

educaccedilatildeo sobre miacutedia que natildeo se restringe agraves habilidades mecacircnicas ou formas instrumentais de

competecircncia funcional Para Goodson e Mangan (1996) o conceito de literacia digital para a

informaacutetica muitas vezes eacute mal definido pelos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Assim os

argumentos que justificam os computadores em sala de aula satildeo principalmente de ordem profissional

e praacutetica Os argumentos pedagoacutegicos satildeo de ordem secundaacuteria e a literacia ou alfabetizaccedilatildeo digital

constitui apenas um conjunto miacutenimo de competecircncias para o usuaacuterio operar eficazmente as

ferramentas de software ou na realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas instrumentais na rede

Com o objetivo de renovar a noccedilatildeo de literacia digital associada ao claacutessico conceito de

alfabetizaccedilatildeo Peacuterez e Varis (2010) identificaram trecircs fases da literacia a claacutessica audiovisual e digital

A literacia claacutessica segundo os autores perpassou o periacuteodo apoacutes a invenccedilatildeo da imprensa em que o

nuacutemero de pessoas com acesso agrave escrita e textos se alargou e houve uma abertura para a influecircncia

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

146

social por alfabetizaccedilatildeo No periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial com a urbanizaccedilatildeo das cidades e a

industrializaccedilatildeo ser alfabetizado constituiacutea uma porta de entrada para a cidadania Neste contexto a

escola exercia um papel central na alfabetizaccedilatildeo (leitura e escrita) A segunda fase a audiovisual teve

impulso com a chegada dos meios de comunicaccedilatildeo eleacutetricos como cinema raacutedio televisatildeo Estas

novas miacutedias massivas geraram novas linguagens e coacutedigos que exigiam novas aptidotildees que se

estendiam para aleacutem do que era considerado como competecircncia da alfabetizaccedilatildeo ateacute entatildeo A escola

deixou de ser o uacutenico espaccedilo de referecircncia da educaccedilatildeo embora continuasse a exercer poder sobre a

certificaccedilatildeo oficial do ensino A convergecircncia das miacutedias analoacutegicas com as digitais trouxe consigo a

demanda pela alfabetizaccedilatildeo ou literacia digital No entanto os autores afirmam que pelo fato das fases

da literacia estarem ligadas agrave evoluccedilatildeo das novas linguagens de comunicaccedilatildeo e agraves redes digitais por

vezes equivocadamente a literacia digital eacute associada tatildeo somente a competecircncias teacutecnicas e

instrumentais no manuseio de softwares

Potter (2004) define literacia digital como um conjunto de perspectivas a partir da qual

expomo-nos para os meios de comunicaccedilatildeo e interpretamos o significado das mensagens encontradas

Aleacutem disso o autor explica que as pessoas para serem capazes de classificar a informaccedilatildeo e organizaacute-

la precisam de habilidades de anaacutelise avaliaccedilatildeo agrupamento induccedilatildeo deduccedilatildeo siacutentese e abstraccedilatildeo

Lage e Dias (2011 p 3) relacionam trecircs objetivos fundamentais da literacia digital nos processos

formativos para o uso das miacutedias

1) Promover o acesso agraves TIC ndash A literacia mediaacutetica parte da premissa de que todos tenham acesso agraves miacutedias com fins de reduzir os obstaacuteculos agrave mobilidade profissional e as dificuldades da vida cotidiana Cabe ao governo garantir o acesso de todos agraves TIC diminuindo a exclusatildeo digital e a desigualdade social 2) Capacitar o cidadatildeo a avaliar criticamente em que medida o teor e a forma dos conteuacutedos difundidos satildeo influenciados por interesses dos produtores mediaacuteticos Ou seja a capacidade de seleccedilatildeo criacutetica para ler nas entrelinhas e decodificar imagens e sons avaliando assim os conteuacutedos 3) Habilitar o cidadatildeo a produzir seus proacuteprios textos informativos e mediaacuteticos utilizando de forma segura as TIC A produccedilatildeo mediaacutetica deve estar associada a uma reflexatildeo criacutetica sobre o processo de produccedilatildeo e atender os princiacutepios relativos a direitos autorais e seguranccedila dos dados

Assim formar o cidadatildeo para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar

criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Eshet-Alkalai (2012) propocircs um modelo

conceitual de literacia digital com base em seis distintas e complementares literacias conforme

discriminado no quadro 05

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

147

Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital

Tipo de literacia Habilidades e competecircncias

Literacia foto-visual Boa memoacuteria visual e forte pensamento intuitivo-associativo facilidade de decodificar e compreender mensagens visuais Competecircncia para realizar leitura sincronizada de textos e imagens

Literacia para a reproduccedilatildeo Capacidade de criar novos significados ou novas interpretaccedilotildees combinando materiais preacute-preexistentes ou trechos de informaccedilotildees independentes em qualquer forma de miacutedia

Literacia para a informaccedilatildeo Habilidade de avaliar informaccedilotildees de forma criacutetica e eficaz anaacutelise de informaccedilotildees subjetivas capacidade de distinguir o vieacutes tendencioso das notiacutecias ou mesmo a credibilidade das mesmas

Literacia para hipermiacutedia Elevado grau de liberdade na navegaccedilatildeo atraveacutes de websites e hipertextos Utilizaccedilatildeo natildeo-linear de diversas estrateacutegias de buscas a informaccedilotildees relevantes capacidade de orientaccedilatildeo no ciberespaccedilo competecircncia de criar modelos mentais mapas conceituais e outros formas de representaccedilatildeo abstrata da estrutura da web

Literacia soacutecio-emocional Capacidade de compartilhar emoccedilotildees na web sem ser enganado aptidatildeo para evitar armadilhas como fraudes e viacuterus na internet habilidade de se relacionar socialmente com as pessoas na web consciente dos riscos e perigos

Literacia para o pensamento em tempo real

Habilidade para processar de forma eficaz os estiacutemulos simultacircneos da Web capacidade de executar diferentes tarefas simultaneamente competecircncia de sincronizar de forma raacutepida e eficaz os estiacutemulos da multimiacutedia em um coerente corpo de conhecimento

Fonte adaptado de Eshet-Alkalai (2012)

A pesquisa realizada por Eshet-Alkalai (2012) investigou a aplicaccedilatildeo deste modelo conceitual

em diferentes grupos de utilizadores Os resultados indicaram que os participantes mais jovens

possuem um desempenho melhor do que os mais velhos no que diz respeito agraves tarefas relacionadas

com a literacia foto visual e a literacia para a hipermiacutedia No entanto os participantes com mais

idades foram considerados mais habilidosos na literacia de reproduccedilatildeo e na literacia para a

informaccedilatildeo Para Loureiro e Rocha (2012 p 2729) a literacia digital pressupotildee

bull saber como aceder a informaccedilatildeo e saber como a recolher em ambientes virtuaisdigitais

bull gerir e organizar informaccedilatildeo para a poder utilizar no futuro bull avaliar integrar interpretar e comparar informaccedilatildeo de muacuteltiplas fontes bull criar e gerar conhecimento adaptando aplicando e recreando nova

informaccedilatildeo bull comunicar e transmitir informaccedilatildeo para diferentes e variadas audiecircncias

atraveacutes de meios adequados

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

148

Por outro lado a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos

indiviacuteduos produzindo a exclusatildeo social e desigualdade (Lopes 2012) Eacute imperativo portanto que a

literacia digital seja amplamente difundida nos diversos campos da sociedade na formaccedilatildeo de

professores e teacutecnicos nas escolas nas universidades e em programas voltados a adultos e idosos

(Lage e Dias 2012) O foco deste estudo satildeo os professores da rede puacuteblica que em geral satildeo

provenientes de um contexto de desigualdade social e possuem dificuldades com o uso das miacutedias no

seu cotidiano e na sua praacutetica docente

Silva e Pereira (2011) definiram trecircs grupos de competecircncias advindas da literacia digital ou

mediaacutetica as funcionais soacutecio-comunicativas e teacutecnico-criativas Segundo os autores as competecircncias

funcionais dizem respeito ao caraacuteter instrumental do uso do computador e da internet na condiccedilatildeo de

ldquoferramentas de produtividaderdquo (editor de texto apresentaccedilatildeo de trabalhos motor de busca de

pesquisa etc) As competecircncias socio-comunicativas estatildeo relacionadas com os recursos

comunicativos fomentados na web como redes sociais mensageiros instantacircneos (msn Skype

watsapp) email foacuteruns e outras formas de mensagens assiacutecronos e siacutencronos As competecircncias

teacutecnico-criativas satildeo aquelas ligadas agraves habilidades de criaccedilatildeo de conteuacutedos na web co-autoria

elaboraccedilatildeo de paacuteginas e ateacute mesmo instalaccedilatildeo de software e resoluccedilatildeo de problemas Os autores

concluem que a escola desempenha um papel fundamental no suporte da cultura tecnoloacutegica da

sociedade globalizada Neste sentido a formaccedilatildeo dos professores para a literacia digital eacute crucial para

que os jovens tambeacutem desenvolvam essas competecircncias

Em pesquisa realizada nos repositoacuterios institucionais de universidades puacuteblicas no Brasil

encontramos poucos estudos relacionados especificamente com a literacia digital ou mediaacutetica A

maioria dos estudos nessa aacuterea diz respeito agrave ldquoletramento digitalrdquo termo usado no Brasil que

corresponde agrave literacia digital na Europa A expressatildeo ldquoletramentordquo vem do inglecircs literacy (derivado do

latim littera que significa ldquoletrardquo) Conceitualmente para Soares (2002 p 145) letramento constitui

ldquoo estado ou condiccedilatildeo de indiviacuteduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem

efetivamente as praacuteticas sociais de leitura e de escrita participam competentemente de eventos de

letramentordquo A autora analisa que diante da realidade vivida na sociedade com a introduccedilatildeo de

tecnologias de comunicaccedilatildeo digital em que outros espaccedilos de leitura satildeo criados como por exemplo a

tela do computador o conceito de letramento se reformula

Eacute assim um momento privilegiado para na ocasiatildeo mesma em que essas novas praacuteticas de leitura e de escrita estatildeo sendo introduzidas captar o estado ou

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

149

condiccedilatildeo que estatildeo instituindo um momento privilegiado para identificar se as praacuteticas de leitura e de escrita digitais o letramento na cibercultura conduzem a um estado ou condiccedilatildeo diferente daquele a que conduzem as praacuteticas de leitura e de escrita quirograacuteficas e tipograacuteficas o letramento na cultura do papel (idem p146)

Soares denomina essa fase do letramento digital de ldquocultura da telardquo em que os espaccedilos de

escrita em formato de hipertextos satildeo natildeo-linerares pouco controlaacuteveis de faacutecil ediccedilatildeo e possibilitam o

leitor a intervir no texto alterar co-criar definir seu caminho de leitura e compartilhar com outros da

rede Citando Chartier (1994) a autora refere-se agrave cultura da tela como um retorno metafoacuterico ao

tempo antes da invenccedilatildeo da imprensa em que os copistas alteravam o texto dos manuscritos seja por

erro ou por intervenccedilatildeo consciente de forma que as coacutepias nunca eram idecircnticas eram acrescentados

tiacutetulos notas observaccedilotildees pessoais em espaccedilos em brancos que eram deixados para essa finalidade

(Soares 2002 pp 152-153) Assim conclui Soares a tela como espaccedilo de escrita e de leitura traz

natildeo apenas novas formas de se comunicar e acessar as informaccedilotildees mas tambeacutem ldquonovos processos

cognitivos novas formas de conhecimento novas maneiras de ler e de escrever enfim um novo

letramento isto eacute um novo estado ou condiccedilatildeo para aqueles que exercem praacuteticas de escrita e de

leitura na telardquo (idem p155) Neste sentido o estudo do letramento digital corresponde agrave literacia

digital no tocante agraves novas formas de competecircncias criacuteticas e habilidades analiacuteticas demandadas pela

crescente atualizaccedilatildeo das tecnologias

Fazendo uma analogia da literacia com o letramento Bakhtin (1992) analisa que um sujeito

letrado eacute algueacutem que conhece e pratica diferentes formas de falar ler e escrever que satildeo construiacutedas

socialmente e culturalmente Nas diferentes esferas da vida (escolar artiacutestica poliacutetica profissional)

este sujeito eacute capaz de acionar modelos correspondentes a situaccedilotildees especiacuteficas para interpretar

prever criar questionar avaliar e escolher atitudes Levando para o campo do uso das tecnologias eacute

importante que os professores integrem o computador e suas parafernaacutelias agrave sua praacutetica docente

transformando-a para serem inseridos no contexto de sociedade em rede

Soares (2002) reflete que o confronto entre tecnologias tipograacuteficas e digitais e seus efeitos

diferenciados sobre o estado ou condiccedilatildeo de quem as utiliza sugere que se pluralize a palavra

letramento de modo que diferentes tecnologias de escrita estabelecem vaacuterias formas de letramentos

A autora cita o exemplo da alteraccedilatildeo no controle das publicaccedilotildees jaacute que na cultura impressa os

editores e conselhos editoriais decidiam o que ia ser impresso determinavam os criteacuterios de qualidade

e definiam o que era oferecido aos leitores ao passo que agorao computador

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

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possibilita a publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo na tela de textos que escapam agrave avaliaccedilatildeo e ao controle de qualidade qualquer um pode colocar na rede e para o mundo inteiro o que quiser por exemplo um artigo cientiacutefico pode ser posto na rede sem o controle dos conselhos editoriais dos referees e ficar disponiacutevel para qualquer um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade ou natildeo (Soares p155)

Portanto diante dos contextos midiaacuteticos ineacuteditos novas praacuteticas e habilidades de leitura e

escrita satildeo requisitadas do escritor e do leitor da mensagem em tela Se antes o espaccedilo da publicaccedilatildeo

era limitado a intelectuais e jornalistas agora com a internet eacute possiacutevel publicar um texto e tornaacute-lo

disponiacutevel a milhotildees de pessoas na rede A mesma situaccedilatildeo ocorre com a pesquisa antes restrita a

livros nas bibliotecas agora disponiacutevel em milhares de bibliotecas virtuais e repositoacuterios na rede de

internet Estas mudanccedilas de espaccedilos de escrita mecanismos de produccedilatildeo reproduccedilatildeo e difusatildeo da

informaccedilatildeo demandaram novas habilidades e competecircncias mesmo depois da criaccedilatildeo da internet A

Web 10 com seus programas de coacutedigo fechado e exposiccedilatildeo massiva de informaccedilotildees com ecircnfase no

usuaacuterio evoluiu para a Web 20 com coacutedigo aberto permitindo uma construccedilatildeo coletiva do

conhecimento mudando assim o perfil do usuaacuterio Saito e Souza (2011 p 133) explicam esse

fenocircmeno

Nesse contexto as categorias de leitor e autor confundem-se em novas categorias hiacutebridas leitor-co-autor leitor-contribuinte leitor-colaborador Aleacutem disso a Web 20 traz novas perspectivas ontoloacutegicas para os usuaacuterios (os modos de ser as identidades assumidas nos vaacuterios profiles dos sites sociais como Facebook Orkut etc) e epistemoloacutegicas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo (novas relaccedilotildees com a publicaccedilatildeo compartilhamento e construccedilatildeo colaborativa do conhecimento por exemplo a Wikipedia)

Segundo Spivack (2007) vivenciamos desde 2010 a Web 30 que o autor previa ser a Web

Semacircntica marcada pelo uso de metadados para codificar o significado da informaccedilatildeo o que

possibilitaria as pessoas a recuperar informaccedilotildees especiacuteficas na grande rede A Web Semacircntica de

acordo com o autor resolveria o problema da sobrecarga de informaccedilatildeo na rede de computadores

mas exigiria dos usuaacuterios habilidades para buscar filtrar selecionar analisar criticamente e fazer uso

saacutebio das informaccedilotildees encontradas Em 2016 vivenciamos a era da Web 40 que Spivack chamou de

Web Ubiacutequa marcada notadamente conforme afirmam Silva e Souza (2015 p 6) por ldquoum notaacutevel

desenvolvimento das tecnologias moacuteveis (cujos maiores destaques recaem na invenccedilotildees em torno dos

smartphones e dos tablets) a par das redes sem fios proporcionando um reforccedilo da conectividade

mobilidade e ubiquidaderdquo Neste sentido fala-se de ldquomultiliteraciasrdquo ou ldquomultiletramentosrdquo digitais

para abranger a ampla gama de habilidades requeridas para o uso eficaz e proveitoso da internet

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

151

Selber (2004) construiu um modelo teoacuterico de multiliteracias na sua obra Multiliteracies for a

Digital Age O modelo de Selber eacute baseado em trecircs niacuteveis e categorias principais que satildeo

independentes entre si mas que se relacionam de forma dinacircmica Saito e Souza (2011) sintetizaram

em um quadro o modelo de Selber em que os autores traduziram as categorias usando o termo

Letramento em todas elas (1) Letramento Digital Funcional (2) Letramento Digital Criacutetico (3)

Letramento Digital Retoacuterico Interessante ressaltar que Selber usou para cada categoria metaacuteforas

explicativas paracircmetros de anaacutelise e habilidades a serem desenvolvidas em cada niacutevel

Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais

Multiletramentos Digitais Niacutevel de LD LD Funcional LD Criacutetico LD Retoacuterico

Metaacutefora relacionada agraves

TICs

TICs como ferramentas TICs como artefatos culturais TICs como miacutedia hipertextual

Posiccedilatildeo de sujeito

Indiviacuteduos como usuaacuterios competentes de TICs

Indiviacuteduos como questionadores informados das TICs

Indiviacuteduos como produtores reflexivos de TICs

Paracircmetros e qualidades a serem explorados

1) Fins educacionais atingir objetivos educacionais atraveacutes das TICs 2) Convenccedilotildees sociais entender as convenccedilotildees sociais que determinam os usos das TICs 3)Discursos especializados usar adequadamente os discursos associados agraves TICs 4) Atividades gerenciais gerenciar de modo inteligente o mundo on-line 5) Impasses tecnoloacutegicos resolver os impasses tecnoloacutegicos de modo confiante e estrateacutegico

1) Culturas de design investigar as perspectivas dominantes que constituem as culturas de design das TICs e seus artefatos 2) Contextos de uso compreender os contextos de uso como aspecto inseparaacutevel das TICs que ajudam a constituiacute-las e contextualizaacute-las 3) Forccedilas institucionais entender as forccedilas institucionais que modelam os usos das TICs 4) Representaccedilotildees populares investigar as representaccedilotildees que as TICs tecircm no imaginaacuterio das pessoas

1) Persuasatildeo entender que a persuasatildeo permeia os contextos de design de interface de modo impliacutecito e expliacutecito e que isso sempre envolve forccedilas e estruturas maiores (por exemplo contextos de uso ideologias) 2) Deliberaccedilatildeo entender que os problemas de design de interface satildeo problemas maldefinidos cujas soluccedilotildees satildeo argumentos representacionais aos quais se chega atraveacutes de vaacuterias atividades deliberativas 3) Reflexatildeo articular o conhecimento de design de interface em um niacutevel consciente e sujeitar as accedilotildees e praacuteticas agrave avaliaccedilatildeo criacutetica 4) Accedilatildeo social compreender o design de interface como uma forma de accedilatildeo social e natildeo apenas como accedilatildeo teacutecnica

Fonte adaptado de Selber (2004) por Saito e Souza (2011)

No modelo de Selber observa-se que cada um dos paracircmetros expande a noccedilatildeo de letramento

anterior partindo do uso baacutesico e instrumental das tecnologias para o uso avanccedilado e criacutetico das

mesmas capacitando seus usuaacuterios a serem produtores reflexivos e natildeo apenas usuaacuterios

minimamente competentes No campo educacional espera-se dos professores o domiacutenio destas

habilidades com as tecnologias digitais como se espera que um alfabetizador seja alfabetizado De

acordo com Selfe (1999) neste novo mundo de processamento de dados e comunicaccedilatildeo virtual

ensinar os alunos a usar um computador para se comunicar eacute tatildeo fundamental como ensinaacute-los a

escrever Prensky (2005) incentiva os professores a abandonarem seus ldquoinstintos preacute-digitaisrdquo e sua

ldquozona de confortordquo e se abrirem para aprenderem com seus proacuteprios alunos como usar determinada

tecnologia para se obter um resultado Esta atitude exige humildade do professor em solicitar dos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

152

alunos uma ajuda no tocante ao uso das tecnologias ou mesmo solicitar que se expressem a partir dos

conhecimentos que obteram na Web Pode-se envolver os alunos fazendo as seguintes perguntas

Algueacutem da sala sabe fazer qualquer coisa na Web que eacute relevante para o que estamos discutindo ou

Vocecircs conseguem pensar em qualquer exemplos deste problema (matemaacutetico) em seus jogos de

computador Estas atitudes segundo Prensky mantecircm os alunos engajados e motivados porque estatildeo

envolvidos com as tecnologias nas suas casas fora da sala de aula

No entanto os professores precisam de formaccedilatildeo adequada para lidarem com as tecnologias

cada vez mais presentes na escola Noacutevoa (2014 p 2) quando em entrevista foi questionado sobre o

que eacute preciso para construir as mudanccedilas na escola considerando o fato de que o modelo atual natildeo

condiz com a cultura contemporacircnea respondeu

Eacute preciso haver trecircs respostas que satildeo trecircs prioridades primeira os professores segunda os professores terceira os professores Eacute preciso reforccedilar a autonomia e a centralidade dos professores valorizar o magisteacuterio Eacute inuacutetil procurar outras soluccedilotildees Os professores satildeo a peccedila central de qualquer mudanccedila mas natildeo podemos exigir-lhes tudo e dar-lhes quase nada

Assim a literacia digital dos professores constitui uma poliacutetica puacuteblica fundamental para a

inserccedilatildeo destes na sociedade em rede e a chave de igniccedilatildeo para a promoccedilatildeo de mudanccedilas na escola

A proacutexima seccedilatildeo consideraraacute a inclusatildeo da literacia digital na agenda poliacutetica

32 A literacia digital na agenda das poliacuteticas puacuteblicas

Conforme destacado no capiacutetulo 2 desta tese a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica

na agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a

seleccedilatildeo das questotildees que iratildeo compocirc-la (Silva e Silva 2008) Nesse sentido demandas sociais satildeo

levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas eacute a

formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que institui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo problema e a

busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento Nesse momento de construccedilatildeo das poliacuteticas os

especialistas e teacutecnicos na aacuterea constituem sujeitos fundamentais no processo sendo responsaacuteveis

pelo desenvolvimento de alternativas para os problemas da agenda puacuteblica (Alves 2010) A difusatildeo e

expansatildeo dos meios de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo gerou a demanda por conhecimentos especiacuteficos

para acessaacute-los compreendecirc-los e uso eficaz dos mesmos Melatildeo (2011 p 90) afirma que o conceito

de ldquoliteracia digitalrdquo surgiu da necessidade de enquadrar as habilidades e competecircncias necessaacuterias

aos cidadatildeos confrontados em permanecircncia com a evoluccedilatildeo das tecnologias digitais Assim a literacia

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

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digital entrou na agenda poliacutetica primeiramente nos paiacuteses mais desenvolvidos e mais tarde nos paiacuteses

em desenvolvimento

Na Europa a literacia digital constitui uma preocupaccedilatildeo dos oacutergatildeos de educaccedilatildeo puacuteblica tal

como no Brasil fala-se muito em letramento digital Essa temaacutetica eacute reconhecida nos paiacuteses europeus

como um componente inseparaacutevel da cidadania e foi objeto da Directiva 200765CE do Parlamento

Europeu e do Conselho29 de 11 de Dezembro de 2007 em que no inciso 37 reza

A educaccedilatildeo para os media visa as competecircncias os conhecimentos e a compreensatildeo que permitem aos consumidores utilizarem os meios de comunicaccedilatildeo social de forma eficaz e segura as pessoas educadas para os media satildeo capazes de fazer escolhas informadas compreender a natureza dos conteuacutedos e serviccedilos e tirar partido de toda a gama de oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias das comunicaccedilotildees [estando] mais aptas a protegerem-se e a protegerem as suas famiacutelias contra material nocivo ou atentatoacuterio

No acircmbito das poliacuteticas europeias para os media30 a literacia digital serve principalmente ao

objetivo de fortalecer a competitividade e promover a inclusatildeo na economia mundial ndash hoje

fundamentada na informaccedilatildeo e no conhecimento

Sousa (2011) afirma que no acircmbito da Comissatildeo Europeia foram produzidos vaacuterios

documentos que tratam separadamente da educaccedilatildeo para os medias e da literacia digital De acordo

com Pinto et al (2011) a preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo para o consumo criacutetico e criterioso dos meios

de comunicaccedilatildeo natildeo eacute recente no rol de formulaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas Segundo os autores em

1982 um grupo de peritos da UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e

a Cultura) se reuniram na cidade alematilde de Gruumlnwald e publicou-se entatildeo a Declaraccedilatildeo de Gruumlnwald

sobre Educaccedilatildeo para os Media31 que alertava para a necessidade de preparar os jovens para lidarem

com as informaccedilotildees amplamente divulgadas nos meios de comunicaccedilatildeo disponiacuteveis na eacutepoca No texto

da Declaraccedilatildeo eacute evidente que os peritos reconheciam que estavam diante de um paradigma

tecnoloacutegico sem volta

Mais do que condenar ou apoiar o indubitaacutevel poder dos media torna-se necessaacuterio aceitar o seu impacto significativo e a sua difusatildeo por todo o mundo como um facto consumado valorizando ao mesmo tempo a sua relevacircncia como um importante elemento de cultura no mundo contemporacircneo

29 Disponiacutevel em lthttpwwwanacomptrenderjspcontentId=971531VsHP4_krLIUgt Acesso em 15 fev 2016 30 Media no portuguecircs lusitano eacute o mesmo que miacutedia meios de comunicaccedilatildeo no Brasil 31 Documento disponiacutevel no siacutetio lthttpwwwunescoorgeducationpdfMEDIA_EPDFgt Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

154

A preocupaccedilatildeo do documento eacute voltada para ldquoa educaccedilatildeo para os media como preparaccedilatildeo

para o exerciacutecio de uma cidadania responsaacutevelrdquo e convoca os educadores a natildeo ignorarem o

desenvolvimento na aacuterea comunicacional mas antes ldquoretirar algum ensinamento dos seus efeitosrdquo O

documento finaliza com um apelo as autoridades no sentido de fomentarem programas integrados de

educaccedilatildeo para os media do preacute-escolar agrave universidade desenvolverem cursos de formaccedilatildeo de

professores para ldquoaumentar seus conhecimentos e compreensatildeo dos mediasrdquo e incentivo agrave

cooperaccedilatildeo internacional na aacuterea da educaccedilatildeo para os media

Ainda segundo Pinto et al (2011) em 1984 a UNESCO produziu um documento intitulado

Lrsquoeacuteducation aux medias que reconhece a educaccedilatildeo para os media e informaccedilotildees como fundamentais

para a liberdade de expressatildeo e informaccedilatildeo tambeacutem para capacitar os cidadatildeos a entender as

funccedilotildees dos meios de comunicaccedilatildeo e ainda a habilitaacute-los a avaliar criticamente os conteuacutedos e tomar

decisotildees informadas como utilizadores e produtores de informaccedilatildeo

Em 1990 na cidade francesa de Toulouse membros da Conferecircncia Internacional sobre

Educaccedilatildeo para os Media evento tambeacutem promovido pela UNESCO produziram o documento lsquoNovas

Direccedilotildees na Educaccedilatildeo para os Mediarsquo32 Neste o foco foi a definiccedilatildeo de um termo especiacutefico para a

educaccedilatildeo para os media

Existe ainda muita discussatildeo sobre se a expressatildeo correta eacute educaccedilatildeo para os media consciecircncia mediaacutetica ou ldquoliteracia dos media Parece que literacia dos media vai prevalecer por causa da associaccedilatildeo mental com ldquoliteracia que significa a capacidade de ler e processar informaccedilatildeo a fim de participar plenamente na sociedade

Importante ressaltar o amadurecimento que o documento apresenta com relaccedilatildeo a como os

meios de comunicaccedilatildeo e suas mensagens atingem a sociedade e a reaccedilatildeo desta neste processo Nos

anos de 1950 e 1960 pensava-se no expectador das miacutedias como um mero receptor de mensagens

midiaacuteticas uma ldquotaacutebula rasa ou lousa em brancordquo que recebia as informaccedilotildees por meio dos meios de

comunicaccedilatildeo em massa Neste contexto argumenta o documento as poliacuteticas educacionais eram

voltadas a proteger as famiacutelias do excesso de informaccedilatildeo difundidas na miacutedia estabelecendo criteacuterios

do que era bom ou ruim Nos anos de 1970 e 1980 o foco foram questotildees mais ideoloacutegicas e de

ordem esteacutetica no que diz respeito ao uso criacutetico das informaccedilotildees veiculadas a que servem quais

seus interesses como estatildeo organizadas Neste momento o desenvolvimento da capacidade analiacutetica

e criacutetica com relaccedilatildeo aos meios de comunicaccedilatildeo foram demandas dos oacutergatildeos formuladores de 32 disponiacutevel em httpmilunescounaocorgnew-directions-in-media-education-unesco-1990 Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

155

poliacuteticas puacuteblicas O documento conclui que na deacutecada de 1990 jaacute tinham uma compreensatildeo de que

existia uma constante interaccedilatildeo entre o texto da mensagem o contexto do evento da miacutedia a

experiecircncia do expectador e o sistema de valores vigentes Assim o foco da educaccedilatildeo a partir deste

entendimento deveria ser a capacitaccedilatildeo para o espectador processar as mensagens dos meios de

comunicaccedilatildeo e produzir significados e sentidos proacuteprios

Outro importante evento tambeacutem promovido pela UNESCO a Conferecircncia de Viena realizada

em 1999 produziu um documento intitulado Educar para os Media na Era Digital33 O objetivo era

preparar um programa especiacutefico em educaccedilatildeo para os medias e a criaccedilatildeo de um espaccedilo mediaacutetico

para os jovens A preocupaccedilatildeo com as definiccedilotildees sobre educaccedilatildeo para os medias mais uma vez eacute

evidenciada com a descriccedilatildeo do seu campo de accedilatildeo conforme delimitado no documento

- habilidade de lidar com todos os meios de comunicaccedilatildeo e inclui a palavra impressa o som bem como a imagem em movimento distribuiacuteda em qualquer tipo de tecnologia

- confere agraves pessoas a capacidade de compreenderem os meios de comunicaccedilatildeo usados no seu contexto social e o seu modo de funcionamento e permite adquirir competecircncias para usar esses meios para comunicar com os outros

- garante que as pessoas aprendem a analisar a refletir criticamente e a criar textos mediaacuteticos aprendem a identificar as fontes de textos mediaacuteticos os interesses poliacuteticos sociais comerciais e interesses culturais e seus contextos aprendem a interpretar as mensagens e os valores veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo aprendem a selecionar meios adequados para comunicar as suas proacuteprias mensagens ou histoacuterias e para atingir o puacuteblico a quem se destina a mensagem

Na Conferecircncia de Viena as ldquonovas tecnologias digitaisrdquo foram introduzidas no rol dos meios

de comunicaccedilatildeo em ampla expansatildeo e destacou-se a necessidade da inclusatildeo nos curriacuteculos nacionais

da educaccedilatildeo para o medias O documento produzido na Conferecircncia dizia ldquoA educaccedilatildeo para os media

eacute parte integrante do direito baacutesico de todo cidadatildeo em todos os paiacuteses do mundo como o eacute a

liberdade de expressatildeo e o direito agrave informaccedilatildeo e eacute fundamental na construccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da

democraciardquo

Jaacute na virada do milecircnio em face da expansatildeo das tecnologias digitais de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo foi realizado em 2002 o Seminaacuterio sobre Educaccedilatildeo para os Media34 em Sevilha na

33 Disponiacutevel em httpwwwmediamilioncom199904conferencia-de-viena-E2809Ceducando-para-la-era-digitalE2809D-1999 Acesso em 16 fev 2016 34 Disponiacutevel em httpmilunescounaocorgyouth-media-education-seminar-in-seville Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

156

Espanha O objetivo do evento foi avanccedilar nas discussotildees da conferecircncia de Viena no que respeita agrave

definiccedilotildees e conceitos de educaccedilatildeo para os medias e partir para a operacionalizaccedilatildeo com accedilotildees

especiacuteficas visando sua visibilidade e legitimidade O seminaacuterio estabeleceu algumas afirmativas

consensuais

Educaccedilatildeo para os Media estaacute mais relacionado com ensinar e aprender acerca dos media mais do que atraveacutes dos media envolve a anaacutelise criacutetica e produccedilatildeo criativa pode e deve ocorrer em contextos formais e informais deve promover o sentido de comunidade e de responsabilidade social bem como realizaccedilatildeo individual

Assim reconheceu-se que a ecircnfase natildeo deve ser no uso da ferramenta ou na tecnologia mas

aprender com a tecnologia em contextos educativos Neste sentido propotildee-se a educaccedilatildeo para os

medias com foco nos jovens em fase de desenvolvimento tambeacutem programas que envolvam os pais

nos contextos mediaacuteticos e ainda o reforccedilo na formaccedilatildeo de professores e outros profissionais visando

o conhecimento analiacutetico criacutetico dos medias e a produccedilatildeo criativa

De acordo com Lopes (2012) em 2006 foi formado um grupo de peritos europeus em literacia

mediaacutetica com o objetivo de definir objetivos e tendecircncias destacar boas praacuteticas e propor accedilotildees nesta

aacuterea Mediante consulta puacuteblica realizada com especialistas dos estados-membros da Uniatildeo Europeia

(empresas e instituiccedilotildees da miacutedia produtores de conteuacutedos oacutergatildeos reguladores e associaccedilatildeo de

cidadatildeos) formulou-se uma definiccedilatildeo europeia para literacia mediaacutetica ldquoa capacidade de aceder aos

medias de compreender e avaliar de modo criacutetico os diferentes aspectos dos medias e dos seus

conteuacutedos e de criar comunicaccedilotildees em diferentes contextosrdquo (LOPES 2012 p5)

A UNESCO35 em 2011 publicou a Declaraccedilatildeo de Fez sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos

Media onde se considera que ldquoa atual era digital e de convergecircncia das tecnologias da comunicaccedilatildeo

carecem de literacia mediaacutetica e informativa de modo a conseguir o desenvolvimento humano e

sustentaacutevel e sociedades participativasrdquo O referido documento foi elaborado durante o 1 ordm Foacuterum

Internacional sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos Media na cidade Marroquina de Fez promovido pela

UNESCO A literacia da informaccedilatildeo e dos medias foi reafirmada como direito humano fundamental

que deve ser assegurado a todo cidadatildeo No que diz respeito agrave educaccedilatildeo o documento recomenda

como metas ldquodotar professores e alunos com competecircncias em literacia informativa e para os media

de modo a edificar sociedades alfabetizadas neste acircmbito criando as condiccedilotildees para as sociedades do

35 UNESCO (2011) Recuperado em 10 fevereiro de 2016 de lthttpwwwunescoorgnewfileadminMULTIMEDIAHQCICIpdfnewsFez20Declarationpdfgt

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

157

conhecimentordquo Assim entende-se que a literacia mediatica ou digital estaacute relacionada com a educaccedilatildeo

para tecnologias sendo esta primeira imprescindiacutevel no processo de inclusatildeo na era digital

A publicaccedilatildeo Media and information Literacy (UNESCO 2013) recomenda algumas diretrizes e

orientaccedilotildees para os paiacuteses membros da UNESCO desenvolverem poliacuteticas estrateacutegicas de fomento ao

uso criacutetico e responsaacutevel das TDIC A referida publicaccedilatildeo apresenta experiecircncias de paiacuteses que

investiram fortemente em poliacuteticas de literacia mediaacutetica como a Argentina Marrocos Austraacutelia e

Finlacircndia O diferencial destes paiacuteses eacute a integraccedilatildeo das universidades empresas privadas

comunidades famiacutelias e o governo local na implantaccedilatildeo de projetos de formaccedilatildeo para a literacia

mediaacutetica

O Brasil como paiacutes membro da UNESCO tem buscado implementar poliacuteticas puacuteblicas de

formaccedilatildeo de professores para o uso das TDIC nos contextos educativos No sitei da UNESCOBrasil a

entidade informa que coopera com o governo brasileiro na promoccedilatildeo de accedilotildees de disseminaccedilatildeo de

TDIC nas escolas com o objetivo de melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem O marco

legal que regulamenta a formaccedilatildeo de professores a distacircncia no Brasil eacute a Lei de Diretrizes e Bases da

Educaccedilatildeo (LDB nordm939496) que no seu artigo 63 inciso III determina aos institutos superiores de

educaccedilatildeo que mantenham programas de formaccedilatildeo continuada de professores em diversos niacuteveis

Tambeacutem no artigo 87 Inciso III das disposiccedilotildees transitoacuterias os municiacutepios o Estado e a Uniatildeo satildeo

convocados a ldquorealizar programas de capacitaccedilatildeo para todos os professores em exerciacutecio utilizando

tambeacutem para isto os recursos de educaccedilatildeo a distacircnciardquo

No entanto segundo Toschi (2001) as tentativas de se instituir o ensino a distacircncia como

modalidade de educaccedilatildeo no Brasil datam os anos de 1960 mas natildeo obtiveram sucesso como

programas de alcance nacional Por exemplo entre 1967 e 1974 foi implementado em caraacuteter

experimental o Sistema Avanccedilado de Comunicaccedilotildees Interdisciplinares (Projeto Saci) com o objetivo de

estabelecer um sistema nacional de teleducaccedilatildeo com o uso de sateacutelites O referido projeto utilizava o

formato de telenovela Segundo Saraiva (1996) um projeto piloto inicial no estado do Rio Grande do

Norte era subdivido em dois projetos um destinado a alunos das trecircs primeiras seacuteries do ensino

fundamental e outro voltado para capacitar os professores Eram utilizados radio eou televisatildeo A

autora explica que aleacutem do uso da TV e o raacutedio o projeto oferecia mecanismos de feedback dos alunos

por meio de textos de instruccedilatildeo programada e sistema de de correccedilatildeo de testes por computador

Menezes e Santos (2001 p 1) apresentam a justificativa e os resultados obtidos do Projeto Saci

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

158

A adoccedilatildeo de educaccedilatildeo por sateacutelite foi vista como uma soluccedilatildeo no contexto dos anos 70 quando o nuacutemero de analfabetos no Brasil era considerado um entrave agrave modernizaccedilatildeo do paiacutes principalmente nas regiotildees Norte e Nordeste [] O projeto foi interrompido em 1978 sob o argumento dos altos custos de manutenccedilatildeo de sateacutelites e das diferenccedilas culturais entre o perfil dos programas produzidos no interior do estado de Satildeo Paulo

Embora o projeto Saci natildeo fosse especificamente voltado para a formaccedilatildeo dos professores

Draibe e Perez (1999) afirmam que durante deacutecadas no Brasil foram realizadas inuacutemeras iniciativas

pontuais com uso de raacutedio e TV para capacitar digitalmente os professores Segundo Almeida (2008)

ateacute agrave deacutecada de 1970 as atividades de tecnologia educativas no Brasil ocorreram por iniciativas

isoladas de grupos de pesquisadores pioneiros Embora contassem com algum financiamento puacuteblico

para as pesquisas natildeo havia diretrizes poliacuteticas puacuteblicas definidas para aacuterea A primeira iniciativa

nesse sentido foi a estruturaccedilatildeo da Comissatildeo Especial de Informaacutetica na Educaccedilatildeo (SEI) dentro do

Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) que realizou nos anos de 1981 a 1982 seminaacuterios temaacuteticos

com participaccedilatildeo da comunidade cientiacutefica a qual recomendou a realizaccedilatildeo de experimentos com

objetivo de instituir referecircncias para uma apropriado emprego das tecnologias antecedendo a sua

disseminaccedilatildeo massiva No quadro 07 estatildeo relacionadas as iniciativas pioneiras no Brasil de

informaacutetica na educaccedilatildeo segundo Almeida (2008 p 26)

Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo

ProgramaProjeto Objetivos Resultados Projeto EDUCOM ndash Educaccedilatildeo com Computador promovido pelo Ministeacuterio de Educaccedilatildeo do Brasil (MEC) no periacuteodo de 1984 a 1989

Visava a criaccedilatildeo de centros-piloto em cinco universidades puacuteblicas brasileiras com a finalidade de realizar pesquisa multidisciplinar e capacitar recursos humanos para subsidiar a decisatildeo de informatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica brasileira

Tais centros apresentaram resultados em relaccedilatildeo a produccedilatildeo de software educativo aplicaccedilatildeo experimental desses softwares em escolas puacuteblicas mediante o uso do computador como ferramenta para desenvolvimento dos projetos

Projeto FORMAR criado pelo MEC em 1987

Promover cursos de especializaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu com 360h ou mais por meio do qual os professores eram preparados para atuar nesses centros como multiplicadores na formaccedilatildeo de outros professores mediante a oferta de cursos de informaacutetica na educaccedilatildeo

Os professores aprendiam a dominar a tecnologia estudavam teorias educacionais para compreender as concepccedilotildees inerentes ao uso da informaacutetica em educaccedilatildeo criavam propostas de disseminaccedilatildeo do uso do computador em suas instituiccedilotildees de origem

Programa Nacional de Informaacutetica Educativa ndash Proinfo em 1996

Desenvolver accedilotildees de capacitaccedilatildeo de professores e teacutecnicos implantar centros de informaacutetica na educaccedilatildeo apoiar a aquisiccedilatildeo de equipamentos computacionais e a produccedilatildeo aquisiccedilatildeo adaptaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de software educativo

Havia a expectativa de superar a abordagem educacional baseada na transmissatildeo de informaccedilotildees no entanto as praacuteticas inovadoras natildeo sustentavam diante das dificuldades enfrentadas pelos professores para levar avante o trabalho com projetos interdisciplinares ateacute chegar agrave sistematizaccedilatildeo do conhecimento produzido

Fonte adaptado de Almeida (2008)

O programa Salto para o Futuro produzido desde 1991 pela Fundaccedilatildeo Roquete Pinto foi o

embriatildeo para se pensar em uma poliacutetica efetiva de formaccedilatildeo de professores para as miacutedias Segundo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

159

Draibe e Perez (1999 p 31) foi nesse contexto que o MEC criou em 1995 o programa TV Escola que

consistia num ldquocomplexo de accedilotildees televisivas destinadas agrave capacitaccedilatildeo docente e agrave ampliaccedilatildeo dos

alunos agraves novas informaccedilotildeesrdquo Tambeacutem naquele ano foi implementado o Programa de Apoio

Tecnoloacutegico (PAT) que previa a distribuiccedilatildeo de Kits tecnoloacutegicos compostos por uma televisatildeo uma

antena paraboacutelica um viacutedeo cassete e uma caixa de fitas VHS Atualmente a programaccedilatildeo do

programa TV Escola estaacute dividida em faixas ensino infantil ensino fundamental ensino meacutedio Salto

para o futuro e Escola aberta Leva ao ar diariamente documentaacuterios estrangeiros cursos de

capacitaccedilatildeo a distacircncia e seacuteries Existe uma produccedilatildeo proacutepria de conteuacutedos que tanto pode ser vista

hoje na TV pelo sinal analoacutegico como pelo sinal digital Diferentes estudos revelam que o programa TV

Escola apesar de problemas relacionados com a infraestrutura e falta de teacutecnicos no suporte do

mesmo alcanccedilou seus objetivos em difundir as miacutedias nas escolas (Draibe e Perez 1999 Pretto

2002 Barreto 2004)

Apesar da UNESCO citar apenas o programa TV Escola como accedilatildeo efetiva das poliacuteticas para a

formaccedilatildeo de professores para o uso das miacutedias outra accedilatildeo relevante nesta aacuterea eacute o Programa

Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo) Trata-se de um programa educacional criado pela

Portaria nordm 522MEC de 9 de abril de 1997 para promover o uso pedagoacutegico das TDIC na rede

puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Segundo Holanda (2003) a concepccedilatildeo do programa eacute a

modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica das escolas Aleacutem de equipar as escolas com computadores e perifeacutericos o

programa criou as estruturas dos Nuacutecleos de Tecnologia Educacional ndash NTE (unidades vinculadas agraves

Secretarias Estaduais ou Municipais de Educaccedilatildeo) que foram criadas para dar suporte ao ProInfo com

capacitaccedilatildeo assistecircncia teacutecnica e apoio pedagoacutegico

Em 2010 o programa Proinfo foi remodelado e passou a chamar-se Proinfo Integrado De

acordo com o site 36 do programa o seu objetivo eacute ldquoarticular as distribuiccedilatildeo dos equipamentos

tecnoloacutegicos nas escolas com oferta de conteuacutedos e recursos multimiacutedia e digitais oferecidos pelo

Portal do Professor pela TV Escola e DVD Escola pelo Domiacutenio Puacuteblico e pelo Banco Internacional de

Objetos Educacionaisrdquo Segundo a mesma fonte satildeo ofertados nos NTE das escolas os seguintes

cursos de capacitaccedilatildeo de professores curso Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Digital (60h) curso Tecnologias na

Educaccedilatildeo ensinando e aprendendo com as TIC (60h) curso Elaboraccedilatildeo de Projetos (40h) e o curso

Redes de Aprendizagem (40h) O ldquoProjeto Um Computador por Alunordquo (PROUCA) faz parte do Proinfo

36 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=13156proinfo-integradoampcatid=271seed Acesso em 22 marccedilo 2015

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

160

Integrado Este de acordo com o mesmo site ldquoprocura preparar os participantes para o uso dos

programas do laptop educacional e propor atividades que proporcionem um melhor entendimento de

suas potencialidadesrdquo Estudos sobre a eficaacutecia do Proinfo e do PROUCA revelam que em regiotildees mais

afastadas dos grandes centros os impactos do programa satildeo mais efetivos e satildeo um diferencial na

formaccedilatildeo dos professores locais embora existam problemas relacionados com o vieacutes tecnoloacutegico em

detrimento com a formaccedilatildeo social dos envolvidos (Damaceno Bonilla e Passos 2012 Nassri 2012

Lima 2015)

O Proformaccedilatildeo ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio criado em

1999 foi criado com o objetivo de formar os professores ldquoleigosrdquo atuantes nas escolas puacuteblicas do

Brasil O referido programa foi idealizado para atingir prioritariamente as Regiotildees Norte Nordeste e

Centro-Oeste locais onde existia um nuacutemero elevado de professores leigos a maior parte sem o

ensino fundamental (antigo 1ordm grau) Estudos realizados em diferentes cidades brasileiras revelaram

que o Proformaccedilatildeo contribuiu para a melhoria da qualidade dos profissionais que participaram com

influecircncia nas suas atividades de ensino Para os professores que chegaram a concluir o curso o

Programa garantiu natildeo apenas uma diplomaccedilatildeo em niacutevel meacutedio mas a certeza da apreensatildeo e

incorporaccedilatildeo de novos conhecimentos e atitudes (Joia 2001 Alencar 2006 Andreacute 2008) Outros

estudos apontaram fragilidades do programa como o aligeiramento da formaccedilatildeo com a incorporaccedilatildeo

da praacutetica do professor na carga horaacuteria do curso a baixa possibilidade de comunicaccedilatildeo do professor

cursista com o professor formador que gerava limitaccedilotildees na apreensatildeo e aprofundamento de

conceitos teoacutericos a dificuldade de deslocamento nas zonas rurais a contrataccedilatildeo de novos leigos a

natildeo atuaccedilatildeo do programa nas condiccedilotildees de trabalho dos professores e visatildeo mercadoloacutegica de ensino

em massa (Andrade 2009 Moraes 2003)

Outra importante accedilatildeo do MEC no que tange aacute formaccedilatildeo de professores para o uso das

miacutedias eacute o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo Criado em 2006 trata-se de um curso de especializaccedilatildeo a

distacircncia promovido atualmente pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior -

Capes37 dedicado ao uso das miacutedias no processo de ensino e aprendizagem de forma integradora

articulada e autoral com o objetivo de integrar as miacutedias e as tecnologias renovar as estrateacutegias

didaacuteticas garantindo aos educadores a possibilidade de lidar com linguagens de quatro miacutedias baacutesicas

material impresso TV e viacutedeo raacutedio e informaacutetica Esta proposta de curso eacute parecida com os princiacutepios 37 A Capes trata-se de uma fundaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) que fomenta a expansatildeo e consolidaccedilatildeo da qualidade da poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federaccedilatildeo Criada inicialmente para coordenar o alto padratildeo do Sistema Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo brasileiro passou a partir de 2007 a induzir e fomentar a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores para a educaccedilatildeo baacutesica na modalidade presencial semi-presencial ou a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwcapesgovbrhistoria-e-missao Acesso em 16 abril 2014

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

161

da literacia mediaacutetica focaliza o uso criacutetico da aplicabilidade integrada das TIC enfatizando a autoria

autocircnoma e significativa dos professores cursistas O curso eacute ofertado em quase todos estados do

Brasil em 32 universidades puacuteblicas atingindo mais de cem mil professores jaacute capacitados pelo

programa No entanto estudos sobre o programa apontam para algumas fragilidades do programa

como seu caraacuteter fortemente instrumental (Tereya amp Moraes 2009) necessidades de ajustes na

metodologia (Arauacutejo 2009) problemas relacionados com infraestrutura e descentralizaccedilatildeo de recursos

que impactam diretamente nos resultados (Moura 2012) e ainda alto iacutendice de evasatildeo (Alves e Faria

2011)

No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores o governo

federal do Brasil investiu na educaccedilatildeo a distacircncia como uma estrateacutegia para alcanccedilar os municiacutepios

mais remotos deste paiacutes continental Em 2006 o MEC criou a Universidade Aberta do Brasil (UAB)38

O Sistema UAB foi instituiacutedo pelo Decreto 5800 de 8 de junho de 20064 em parceria com a

ANDIFES 39 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a Capes visando a expansatildeo da

Educaccedilatildeo Superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Natildeo se trata de uma

universidade virtual o Sistema UAB funciona como articulador entre as instituiccedilotildees de ensino superior

e os governos estaduais e municipais com vistas a atender agraves demandas locais por educaccedilatildeo superior

O puacuteblico em geral eacute atendido mas os professores que atuam na educaccedilatildeo baacutesica tecircm prioridade de

formaccedilatildeo seguidos dos dirigentes gestores e trabalhadores em educaccedilatildeo baacutesica dos estados

municiacutepios e do Distrito Federal Atualmente a UAB tem a adesatildeo de 96 universidades e institutos

federais e oferta cursos em diversos niacuteveis desde o aperfeiccediloamento ateacute os programas de Mestrado

Profissional a distacircncia em 776 polos de educaccedilatildeo a distacircncia Em 2014 foram ofertadas 775857

vagas sendo que 277045 satildeo destinadas a professores da rede baacutesica conforme apresentado no

Quadro 08

38 Criada em 2005 o sistema UAB eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwuabcapesgovbr Acesso em 10 abril 2016 39 A Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (ANDIFES) constitui a representante oficial das universidades federais na interlocuccedilatildeo com o governo federal com as associaccedilotildees de professores de teacutecnico-administrativos de estudantes e com a sociedade em geral Disponiacutevel em httpwwwandifesorgbrinstitucionala-andifes Acesso em 26 dez2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

162

Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014

Fonte httpwwwbibeadufrjbrapresentacoesbibead2014-ap-apresentacao-UABpdf

No capiacutetulo quarto deste trabalho seratildeo apresentadas mais especificidades da UAB

considerando que o curso de graduaccedilatildeo a distacircncia em questatildeo nesta pesquisa eacute ofertado pelo referido

sistema

Ainda dentro das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores apoiada

por TDIC em 2009 o MEC lanccedilou o Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores ndash PARFOR Trata-se

de um programa emergencial instituiacutedo para atender o disposto no artigo 11 inciso III do Decreto nordm

67552009 que prevecirc como uma das funccedilotildees da Capes fomentar oferta emergencial de cursos de

licenciaturas e de cursos ou programas especiais dirigidos aos docentes em exerciacutecio haacute pelo menos trecircs

anos na rede puacuteblica de educaccedilatildeo baacutesica que sejam graduados natildeo licenciados licenciados em aacuterea

diversa da atuaccedilatildeo docente e de niacutevel meacutedio na modalidade Normal Visando cumprir o disposto

neste Decreto o Parfor foi implantado em regime de colaboraccedilatildeo entre a Capes os estados

municiacutepios o Distrito Federal e as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior ndash IE

Atendendo as recomendaccedilotildees da Capes os cursos do PARFOR satildeo presenciais modulados

com ofertas geralmente nos meses de feacuterias docentes janeiro fevereiro e julho conforme calendaacuterio

preacute-definido pela instituiccedilatildeo ofertante As disciplinas ministradas presencialmente contemplam um total

equivalente a 80 da sua carga horaacuteria Os 20 remanescentes satildeo ministrados via Plataforma Moodle

ou por meio de estudos orientados e produccedilatildeo de material No entanto estudos realizados

constataram que o PARFOR tem sido executado na maioria das universidades em regime semi-

presencial com restriccedilotildees agrave efetiva participaccedilatildeo dos alunos no ambiente acadecircmico das universidades

ofertantes contrataccedilatildeo de docentes novos sem qualquer viacutenculo institucional (e quase sempre sem

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

163

experiecircncia no ensino superior) e conteuacutedos programados de forma aligeirada (Bello 2009 Mororoacute

2012) Outros estudos revelam a dificuldades que os alunos do Parfor (professores da rede baacutesica)

enfrentam ao lidar com as tecnologias e o uso do computador e suas ferramentas satildeo subutilizadas

uma vez que se restringe na maior parte dos casos ao uso de envio e recebimento de e-mails

Tambeacutem se constatou uma preocupaccedilatildeo no aligeiramento e urgecircncia da formaccedilatildeo em detrimento do

processo pedagoacutegico e da comunicaccedilatildeo entre os participantes dos cursos na Plataforma Moodle

(Gonccedilalves 2014 Atayde 2012)

Em 2016 o MEC lanccedilou a Rede Universidade do Professor Esta tem como objetivo oferecer

oportunidades de 1ordf Licenciatura para professores sem niacutevel superior a 2ordf Licenciatura para

professores licenciados mas que atuam fora de sua aacuterea de formaccedilatildeo e a Formaccedilatildeo Pedagoacutegica para

professores graduados natildeo licenciados O site da Plataforma Freire (httpfreirecapesgovbr) em

que os professores devem se inscrever explica que o referido programa tem por objetivo sistematizar a

oferta de formaccedilatildeo inicial e continuada dos professores da rede puacuteblica da Educaccedilatildeo Baacutesica No

lanccedilamento do programa foram ofertadas 105 mil vagas visando o cumprimento da Meta 15 do Plano

Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) para o alcance de uma Educaccedilatildeo de qualidade

Meta 15 garantir em regime de colaboraccedilatildeo entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios no prazo de 1 (um) ano de vigecircncia deste PNE poliacutetica nacional de formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo de que tratam os incisos I II e III do caput do art 61 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 assegurado que todos os professores e as professoras da educaccedilatildeo baacutesica possuam formaccedilatildeo especiacutefica de niacutevel superior obtida em curso de licenciatura na aacuterea de conhecimento em que atuam

Os cursos seratildeo ofertados na modalidade a distacircncia na UAB e na modalidade presencial

regular em vagas remanescentes das instituiccedilotildees federais Assim o governo federal tem investido na

educaccedilatildeo mediada por tecnologias para a formaccedilatildeo em serviccedilo dos professores da rede puacuteblica de

ensino A necessidade de formar estes professores para apropriaccedilatildeo das TDIC para o melhor

aproveitamento dos cursos eacute fundamental tendo em vista que muitos natildeo possuem niacuteveis de literacia

digital favoraacuteveis

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute abordado o campo de tensatildeo ainda existente nas escolas e

universidades em relaccedilatildeo agraves tecnologias Mesmo natildeo sendo mais ldquonovasrdquo as tecnologias carregam

esse adjetivo e ainda satildeo alvo de resistecircncia de alguns professores e demais profissionais da educaccedilatildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

164

33 Tecnologias versus professores o campo de tensatildeo nas escolas

No campo educacional a entrada das tecnologias enfrenta tensotildees A presenccedila de aparelhos

celulares tablets e computadores durante as aulas constitui ponto de controveacutersia entre professores

gestores e formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Educadores se queixam da dispersatildeo dos alunos nas

aulas e da dificuldade de conduzir as aulas enquanto os jovens estatildeo trocando mensagens jogando

tirando fotos ou ouvindo muacutesicas nos celulares e tablets Segundo Kolb (2008) a presenccedila dos

aparelhos celulares gera desconforto ateacute mesmo aos funcionaacuterios da escola que dispensam tempo e

energia para desenvolver procedimentos sobre como manter o celular fora da sala de aula Mesmo

quando o professor propotildee uma atividade que requer pesquisa na internet os alunos utilizam motores

de busca mas possuem baixo senso criacutetico em relaccedilatildeo agrave credibilidade das informaccedilotildees copiam e

colam os textos sem referenciar as fontes e tecircm dificuldade em analisar interpretar e construir textos a

partir das leituras quase sempre raacutepidas em resumos (Lage e Dias 2012)

A soluccedilatildeo encontrada na maioria das escolas eacute a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares e tablets

nas salas de aula alguns estabelecimentos de educaccedilatildeo natildeo toleram os dispositivos nem mesmo em

outros ambientes da escola No Brasil existe uma proposta em anaacutelise na Cacircmara dos Deputados (PL

1041540) que proiacutebe o uso de aparelhos eletrocircnicos portaacuteteis como celulares e tablets nas salas de

aula da educaccedilatildeo baacutesica e superior de todo o paiacutes O projeto prevecirc que os aparelhos somente seratildeo

admitidos em sala se integrar as atividades didaacutetico-pedagoacutegicas e forem autorizados pelos

professores A justificativa do deputado autor do projeto eacute que ldquoos equipamentos eletrocircnicos portaacuteteis

desviam a atenccedilatildeo do aluno do trabalho didaacutetico desenvolvido pelo professorrdquo Certamente se o

professor natildeo tiver um objetivo e um plano direcionado para usar o celular em uma determinada aula

os alunos iratildeo se dispersar

A proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares na escola natildeo eacute restrita aos alunos professores e

funcionaacuterios das escolas tambeacutem satildeo considerados ldquorefeacutensrdquo das tecnologias O Projeto de Lei

18712015 (PL 2015) de autoria do deputado Heuler Cruvinel foi considerado pelo seu relator

Deputado Cesar Halum como procedente a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares com extensatildeo para os

professores e funcionaacuterios da escola O relator justificou a preocupaccedilatildeo do colega que submeteu a PL

em questatildeo agrave Cacircmera Parlamentar

40 Disponiacutevel em httpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=945492 Acesso em 08 mar 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

165

Com razatildeo ele se preocupa com os efeitos deleteacuterios do uso improacuteprio dos celulares no ambiente escolar principalmente nas salas de aula para fins outros que natildeo o ensino ou a aprendizagem E natildeo eacute um problema que afete apenas os estudantes tambeacutem os professores e o pessoal das escolas praticamente vivem de telefone celular na matildeo ou a seu faacutecil alcance teclando ou consultando sua telinha neste novo mundo em rede que todos noacutes hoje habitamos (Projeto de Lei 187115 2015 p 3)

No Estado do Tocantins o uso de celulares na sala de aula tambeacutem eacute proibido por lei O aluno

ldquoflagradordquo usando o celular em aula tem o dispositivo apreendido pela coordenaccedilatildeo da escola e

dependendo do caso apenas os pais podem retiraacute-lo O projeto de Lei 31312 justifica o motivo da

proibiccedilatildeo ldquoA mateacuteria foi embasada em reclamaccedilotildees de professores que relataram a dificuldade de

trabalhar em razatildeo da constante troca de torpedos entre alunos em sala de aula A intenccedilatildeo eacute fazer

com que a atenccedilatildeo do aluno fique integralmente voltada aos estudosrdquo Esta proibiccedilatildeo veda as

tentativas de alguns poucos professores em trabalhar com os tablets e celulares na sala de aula

Na visatildeo de Adelina Moura (2009) pesquisadora portuguesa na aacuterea de tecnologia educativa

as causas da proibiccedilatildeo do uso de celulares na escola parte dos professores que reclamam da falta de

atenccedilatildeo e dispersatildeo dos alunos provocados pelos aparelhos Segundo a autora os pais datildeo celulares

aos filhos na expectativa que tenham controle sobre eles mas o que ocorre eacute que nem os pais

tampouco os filhos que portam o celular na escola usam-no com respeito os pais ficam ligando para

os filhos por motivos banais no horaacuterio das aulas e os filhos conversando e trocando mensagens com

os colegas na aula Em consequecircncia o celular eacute ldquodemonizadordquo pela escola e pelos oacutergatildeos

reguladores da educaccedilatildeo

Moura (2009) entende que a proibiccedilatildeo do uso dos aparelhos celulares na sala de aula natildeo eacute

uma soluccedilatildeo viaacutevel A autora afirma que em vez de banir os dispositivos moacuteveis a escola deveria

integraacute-los agraves atividades pedagoacutegicas Moura questiona

se entregarmos um kit a um professor com uma cacircmera fotograacutefica uma cacircmera de viacutedeo um gravador de som um reprodutor de aacuteudio e um dispositivo que possibilita a navegaccedilatildeo na internet para cada aluno e garantirmos ao professor que natildeo teraacute de ensinar aos alunos a manuseaacute-lo seraacute realidade ou ficccedilatildeo (idem p74)

O celular ou o tablet possuem todos os recursos deste kit e a maioria dos alunos jaacute tecircm um

destes dispositivos Assim conclui a autora os professores natildeo podem virar as costas para as

possibilidades que os dispositivos moacuteveis proporcionam devem aproveitar as funcionalidades deste

recurso e a motivaccedilatildeo dos alunos em usaacute-lo Para tanto os professores precisam aprender e apreender

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

166

as tecnologias para entatildeo as trabalharem com seus alunos levando-os a entender os dispositivos

moacuteveis como potencializadores da comunicaccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento e que haacute momentos e

ocasiotildees apropriadas para seu uso

A inserccedilatildeo de equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas desprovida de uma discussatildeo teoacuterica e

metodoloacutegica com os envolvidos (professores teacutecnicos educacionais gestores escolares e alunos) tem

constituiacutedo outra barreira para a integraccedilatildeo das tecnologias no ambiente escolar Em 2005 foi

realizado um estudo investigativo (Silva amp Silva 2005) nas escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico no

Norte de Portugal em que foram dirigidos questionaacuterios a todos coordenadores das 39 escolas da

rede recolhendo dados sobre a integraccedilatildeo das TDIC e as condiccedilotildees de funcionamento dos

equipamentos Tambeacutem foi dirigido um questionaacuterio a todos os professores que lecionam nessas

escolas sobre a utilizaccedilatildeo das TDIC Segundo os autores da pesquisa constatou-se um ldquochoque

tecnoloacutegicordquo advindo dos programas de aparelhamento das escolas com computadores perifeacutericos

softwares e internet e a consequente falta de integraccedilatildeo dos professores com essas parafernaacutelias

tecnoloacutegicas No tocante ao conhecimento dos professores na aacuterea das TDIC Silva e Silva (idem p

2712) verificaram apoacutes tabulaccedilatildeo dos questionaacuterios que ldquomuitos possuem conhecimentos suficientes

para poderem utilizar de forma adequada pedagoacutegica e comunicacional o computador o viacutedeo e

principalmente a internetrdquo Sobre formaccedilatildeo nesta aacuterea apenas 17 a 15 mencionaram ter realizado

No aspecto da utilizaccedilatildeo das TDIC o estudo constatou que apenas um nuacutemero reduzido de

professores utiliza alguma tecnologia na preparaccedilatildeo das aulas ou na sala de aula com os alunos Os

professores com menos de 40 anos se destacaram como usuaacuterios mais frequentes das tecnologias

em especial o computador Na dimensatildeo sobre a atitude dos professores diante o uso das TDIC as

constataccedilotildees segundo autores satildeo contraditoacuterias

A anaacutelise da informaccedilatildeo revela alguma contradiccedilatildeo pois se a maioria dos professores discorda da ideia de que trabalhar com as TIC os potildee tensos o mesmo natildeo se passa perante o facto consumado em que apenas uma minoria afirma que se sente bem a trabalhar com tecnologias Se por um lado a maioria dos professores revela que tem prazer na utilizaccedilatildeo das TIC por outro lado tambeacutem afirmam que natildeo satildeo de lidar bem com as tecnologias O consenso eacute atingido quando a grande maioria dos professores (acima dos 90) manifesta interesse e a intenccedilatildeo em aprender mais sobre aplicaccedilotildees das TIC na aprendizagem (idem 2173)

Assim explica-se o termo ldquochoque tecnoloacutegicordquo pois ao mesmo tempo em que estes

professores revelam sentir prazer quando utilizam as TDIC eles natildeo se sentem habilitados a lidar bem

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

167

com elas Embora o estudo tenha averiguado que as escolas possuam equipamentos multimiacutedia como

computador ligado agrave internet verificou-se que esta prerrogativa natildeo eacute suficiente para a utilizaccedilatildeo destes

pelos professores O referido estudo aponta para a formaccedilatildeo dos professores como uma estrateacutegia

para vencer os obstaacuteculos para qualquer inovaccedilatildeo tecnoloacutegica inserida na escola

No Ensino Superior num estudo realizado no Brasil Mazurkievicz (2012) constatou que os

professores receacutem-formados estatildeo mais dispostos a usarem as tecnologias digitais na sua praacutetica

pedagoacutegica Entrevistas e relatos de experiecircncias com professores universitaacuterios revelaram que os

professores mais experientes no Ensino Superior demonstram ser mais relutantes em incorporar a

tecnologia em suas aulas e na interaccedilatildeo com os alunos fora dos espaccedilos escolares Sobre a

concepccedilatildeo de literacia digital para os docentes o autor concluiu

Neste contexto a concepccedilatildeo de literacia digital eacute desconhecida pelo maioria dos docentes bem como o processo e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de TIC e ainda as atividades dos professores dentro do AVA institucional restringe-se a ferramentas ldquoengessadasrdquo visto que a utilizaccedilatildeo de outras ferramentas de interaccedilatildeo com os alunos natildeo satildeo estimuladas (idem p173)

Mazurkievicz aponta a formaccedilatildeo continuada articulada com praacuteticas de literacia digital no

acircmbito escolar como fundamental para a agregaccedilatildeo dos professores aos recursos tecnoloacutegicos que

estatildeo nas matildeos dos alunos

Na visatildeo de Buzato (2006) o que se espera do professor e tambeacutem do aluno eacute que os

mesmos ultrapassem o limite do conhecimento das teacutecnicas siacutembolos ou habilidades associadas ao

uso das TIC e sejam estimulados a praticar as TIC socialmente dominem diferentes gecircneros digitais

que estatildeo sendo construiacutedos socialmente na teia de relaccedilotildees sociais Conforme Freitas (2010 p 348)

o aluno nativo digital traz para a escola o que descobriu em suas navegaccedilotildees de internauta e estaacute

disposto a discutir com seus colegas e principalmente com o seu professor Dessa forma

[] Ele natildeo vecirc mais o professor como um transmissor ou a principal fonte de conhecimento mas espera que ele se apresente como um orientador das discussotildees travadas em sala de aula ou mesmo nos ambientes on-line integrados agraves atividades escolares A possibilidade de pesquisar ler e conhecer sobre os mais variados assuntos navegando na internet confere ao aluno um novo perfil de estudante que exige tambeacutem novo perfil de professor Cabe ao professor estar atento a essa nova fonte de informaccedilotildees para transformaacute-las junto com os alunos em conhecimento

Assim algumas das caracteriacutesticas da literacia digital seriam a capacidade de associar

informaccedilotildees ter uma perspectiva criacutetica diante delas transformando-as em conhecimento Neste

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

168

sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o difusor do

conhecimento pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a

manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados

por ela (Roman 2006)

Considerando o cenaacuterio atual em que as tecnologias estatildeo em processo de expansatildeo de forma

vertiginosa eacute claro e visiacutevel que a tendecircncia da educaccedilatildeo eacute extrapolar os muros das escolas e

universidades As aprendizagens ocorrem em espaccedilos natildeo formais em ambientes virtuais mediados

por tutores especializados ou em comunidades virtuais e outros espaccedilos natildeo escolares Para os

estudantes que jaacute nascem cercados das tecnologias em suas residecircncias a tecnologia natildeo eacute um

problema Mas ao levarem seus celulares e tablets para a escola estatildeo estendendo aos professores

uma demanda clara estes precisam integrar as tecnologias digitais aos processos de aprendizagem

dos alunos Desta forma os professores nas aulas presenciais satildeo desafiados a dialogar com os

alunos problematizar os acontecimentos da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor

atividades que integrem as miacutedias atuais

No entanto os tablets e outros dispositivos moacuteveis natildeo obtiveram respaldo nas praacuteticas

docentes como ocorreu com a introduccedilatildeo do quadro-negro Considerando estes pressupostos faz-se

necessaacuterio conhecer o cenaacuterio atual e investigar as raiacutezes das praacuteticas educativas com o uso de

tecnologia para se compreender a resistecircncia do professor agraves mesmas A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo

apresenta um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das tecnologias no acircmbito educacional a partir da

introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas tecnologia fundamental na elaboraccedilatildeo da concepccedilatildeo de

escola que prevalece a mais de 150 anos

3 4 Do quadro-negro ao tablet concepccedilotildees pedagoacutegicas dos professores acerca das tecnologias

A tecnologia sempre esteve presente no acircmbito escolar Desde a invenccedilatildeo da escrita aos dias

atuais com o uso de lousas digitais Conforme jaacute mencionado anteriormente no capiacutetulo 1 deste

trabalho o termo tecnologia vem do grego technecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e referiacutea-se a

ldquotermos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas as suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacuteciosrdquo

(Blanco e Silva 1993 p 37) Silva (2001 p 842) esclarecendo sobre o mesmo termo argumenta

que tecnologia pressupotildee ldquomais do que a familiarizaccedilatildeo com o saber teacutecnico uma formulaccedilatildeo

discursiva reflectida e teoacuterica Ao integrar os elementos baacutesicos do fazer e a reflexatildeo teoacuterica do saber a

tecnologia pode ser considerada como a teoria da teacutecnicardquo O autor afirma que a escola foi herdeira do

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

169

uso da linguagem escrita que exigia do escriba aleacutem do conhecimento da teacutecnica de cozer as taacutebuas

de argilas ou preparar o papel (pergaminho ou papiro) e a tinta para escrever demandava tambeacutem

uma formulaccedilatildeo discursiva mais elaborada o entendimento dos signos alfabeacuteticos e sua posiccedilatildeo

correta regras e coacutedigos especiacuteficos

Assim a escrita exigia do escriba um local preparaccedilatildeo intrumentos suportes e tintas

Igualmente com a invenccedilatildeo das prensas tipograacuteficas por Gutemberg aleacutem das teacutecnicas e do

conhecimento para imprimir livros em seacuterie eram necessaacuterias maacutequinas e instrumentos especiacuteficos

para realizar Logo as tecnologias satildeo ligadas a instrumentos ou artefatos que possibilitam sua

existencia Silva (2001 p 842) chama esses instrumentos de maacutequina Em suas palavras ldquomaacutequina

apresenta-se como um objecto concreto um instrumento certamente produto da teacutecnica e que

necessita dela para a sua concepccedilatildeo produccedilatildeo e utilizaccedilatildeordquo Silva explica que nem sempre a teacutecnica

exige a existecircncia de uma maacutequina mas toda maacutequina ou instrumento eacute produto de uma teacutecnica

Neste sentido os objetos instrumentos ou artefatos tecnoloacutegicos usados na escola desde os

primoacuterdios da invenccedilatildeo da escrita satildeo produtos de uma teacutecnica e como tal natildeo satildeo neutros De tal

modo a tecnologia e os artefatos produzidos por ela refletem os planos propoacutesitos e valores de uma

sociedade

Fazer tecnologia eacute sem duacutevida fazer poliacutetica e dado que a poliacutetica eacute um assunto de interesse geral deveriacuteamos ter a oportunidade de decidir que tipo de tecnologia desejamos Mantendo o discurso que a tecnologia eacute neutra favorece a intervenccedilatildeo de experts que decidem o que eacute correto baseando-se em uma avaliaccedilatildeo objetiva e impede por sua vez a participaccedilatildeo democraacutetica na discussatildeo sobre planejamento e inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (Garciacutea Cerezo e Loacutepez 1996 p 132)

Considerando estes pressupostos no acircmbito da escola a inserccedilatildeo de determinado artefato

mobiliaacuterio instrumentos e outros assessoacuterios de uso pedagoacutegico estatildeo imbuiacutedos da concepccedilatildeo

pedagoacutegica da poliacutetica educacional vigente A tecnologia da escrita foi concebida no ensino baseado na

oralidade e possuiacutea instrumentos especiacuteficos que validavam essa concepccedilatildeo Mais tarde com a

invenccedilatildeo da tecnologia da imprensa e a produccedilatildeo de livros o foco era a pedagogia da transmissatildeo O

quadro-negro e o giz foram por muito tempo a tecnologia mais usada pelo professor para ldquotransmitirrdquo

o conhecimento a seus alunos

Segundo Blanco e Silva (1993 p 41) foi somente apoacutes a primeira guerra mundial que as

escolas sob pressatildeo da induacutestria de instrumentaccedilatildeo oacuteptica comeccedilaram a receber aparelhos

audiovisuais que de acordo com os autores foram adquiridos precipitadamente sem atender as

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

170

necessidades de produccedilatildeo de documentos pedagogicamente adequados e agrave formaccedilatildeo de professores

para sua utilizaccedilatildeo teacutecnica e didaacutetica Na deacutecada de 1960 do seacuteculo XX com o avanccedilo dos meios de

comunicaccedilatildeo em massa como a TV e o raacutedio a discussatildeo sobre o uso das tecnologias entrou na pauta

dos elaboradores de curriacuteculo A esta altura jaacute se usava nas escolas mimeoacutegrafos retroprojetores

televisatildeo filmes e outros artefatos tecnoloacutegicos

No entanto muito antes de se chegar agraves escolas a informaacutetica e outras inovaccedilotildees um objeto

simples o quadro-negro presente em todas as salas de aulas contribuiria para uma revoluccedilatildeo

pedagoacutegica Noacutevoa (2014) chega a afirmar que o quadro-negro inventou o modelo escolar que perdura

ateacute os nossos dias Tambeacutem Heacutebrard (Heacutebrard 1995 p 7) compartilha a mesma visatildeo

A invenccedilatildeo do quadro-negro eacute portanto uma revoluccedilatildeo pedagoacutegica de grandes proporccedilotildees Permite a classes numerosas aprender a escrever e a contar Permite tambeacutem substituir a tradicional aprendizagem uacutenica da leitura pelo tripeacute do lerndashescreverndashcontar sem o qual a partir do seacuteculo XVIII natildeo existe mais escola no sentido que esta palavra entatildeo adquiriu

Assim segundo esses autores a introduccedilatildeo do quadro-negro (um dispositivo de ensino coletivo)

nas escolas marcou a discussatildeo sobre o modo de organizar a escola (organizaccedilatildeo das classes

mobiliaacuterio curriacuteculo) e redefiniu a simultaneidade do ensino (Barra 2001) Para uma melhor

compreensatildeo de como isso ocorreu retomamos agrave idade meacutedia para conhecer o meacutetodo de ensino

daquele periacuteodo e as mudanccedilas trazidas com a introduccedilatildeo do quadro-negro nas salas de aulas

Na idade meacutedia entre os seacuteculos XV e XVIII o ensino era elitista e individual As familias

aristocraacuteticas contavam com um preceptor que atendia agrave educaccedilatildeo moral e intelecutual da crianccedila ou

jovem na sua proacutepria casa Era um ensino personalizado que de acordo com Arauacutejo (2006 p 19)

implicava a relaccedilao intersubjetiva de um professor com o seu aluno com as preocupaccedilotildees do primeiro se estruturando em vistas das necessidades dos obstaacuteculos das possibilidades e das dificuldades do segundo com quem ele mantinha um comprometimento em vista de seu desenvolvimento fundamentalmente intelectual e moral

Portanto como jaacute foi exposto no capiacutetulo primeiro deste trabalho a educaccedilatildeo nesse periacuteodo

era reservada a poucos privilegiados que tinham acesso aos mestres preceptores A escola puacuteblica

gratuita e universal surge na Europa no fim do seacuteculo XVIII na eacutegide da conflaglaccedilatildeo dos ideiais

iluministas O contexto econocircmico dos paiacuteses europeus era a crescente industrializaccedilatildeo Sousa e Fino

(2008) afirmam que a expansatildeo das faacutebricas provocou a migraccedilatildeo do campo para a cidade de grandes

massas de operaacuterios que passaram a viver em condiccedilotildees precaacuterias e insalubres As jornadas de

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

171

trabalho excessivas em troca de salaacuterios miacuteseros fizeram com que as pessoas se unissem em

sindicatos trabalhistas para se fortaleceram em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho A instituiccedilatildeo

da escola puacuteblica para todos surge entatildeo como o espaccedilo que poderia promover a pacificaccedilatildeo social e

formar um novo tipo de homem adaptado ao modelo de produccedilatildeo da faacutebrica Assim as escolas foram

organizadas no modelo parecido os das faacutebricas com sirenes salas divididas para diferentes mateacuterias

crianccedilas separadas por grupos por faixa etaacuteria e testes padronizados para testar a ldquoqualidaderdquo dos

mesmos

A disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio da escola com lugares fixos individuais quadro-negro na base da

sala e mesa do professor agrave frente das carteiras dos alunos promovia uma disciplina riacutegida que

possibilitava a vigilacircncia incansaacutevel do professor inflexiacutevel Sobre este modelo de ensino em massa

Tofller (1970 p 396) afirma

A soluccedilatildeo soacute podia ser um sistema educacional que na sua proacutepria estrutura simulasse esse mundo novo Tal sistema natildeo surgiu logo ainda hoje conserva elementos retroacutegrados da sociedade preacute-industrial No entanto a ideia geral de reunir multidotildees de estudantes (mateacuteria-prima) destinados a ser processados por professores (operaacuterios) numa escola central (faacutebrica) foi uma demonstraccedilatildeo de geacutenio industrial

De tal modo ensinar e treinar vaacuterias pessoas ao mesmo tempo constituiacutea uma necessidade

urgente naqueles tempos de expansatildeo industrial Emergiam as ldquoescolas muacutetuasrdquo que de acordo com

Cardoso (1999) surgiram na Inglaterra no final do seacuteculo XVIII e tiveram como mentores Joseph

Lancaster e Andreacute Bell A proposta consistia na divisatildeo dos alunos em pequenos grupos que recebiam

a liccedilatildeo do professor O aluno que se sobressaiacutesse seria o ldquoagente principalrdquo e era previamente

preparado pelo professor para ensinar os demais Assim um professor poderia ldquoinstruir muitas

centenas de crianccedilasrdquo (Eby 1978 p 325) O ldquomeacutetodo muacutetuo ou simultacircneordquo como foi chamado o

ensino dirigido a muitos alunos numa sala de aula foi facilitado com a chegada do quadro-negro nas

escolas no iniacutecio do seacuteculo XIX Sobre este novo meacutetodo Luzuriaga (2001 pp 54-55) escreveu

[] se instruiacutea ao mesmo tempo a muitos alunos com poucos professores ficando os primeiros sob o cuidado dos chamados monitores O sistema se estendeu rapidamente pelo aumento da populaccedilatildeo devido agrave Revoluccedilatildeo Industrial e agrave necessidade de atender rapidamente ao seu ensino

Logo o quadro-negro constituiu uma tecnologia inovadora que possibilitava ensinar mais pessoas ao

mesmo tempo com baixo custo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

172

Segundo Bastos (2005) inicialmente natildeo soacute o professor tinha seu quadro mas tambeacutem os

alunos A princiacutepio o quadro usado era feito de um pedra chamada ardoacutesia comum na Europa cuja a

vantagem era seu baixo custo mas que por outro lado relatam-se suas desvantagens era dura pesada

e fria Barra (2013) relata que diante destes inconvenientes criaram-se novas formas de

aperfeiccediloamento da ardoacutesia fixaccedilatildeo na mesa e enquadramento de madeira Cada aluno possuiacutea sua

lousa de ardoacutesia individual Esta constituiacutea de uma fina placa de xisto de ardoacutesia retangular de 20

centiacutemetros de cumprimento por 30 centiacutemetros de largura protegido por uma moldura em madeira

Os alunos usavam um laacutepis com ponta de ardoacutesia para escrever na lousa para apagar usavam um

pedaccedilo de couro parecido com sola de sapato ou mesmo cuspe (este uacuteltimo era proibido) Somente

depois que os alunos aperfeiccediloassem a escrita usando a sua pedra de lousa eacute que lhes era permitido

comeccedilar a escrever com tinta e pena de accedilo Segundo o autor ldquoa utilizaccedilatildeo de materiais como o papel

ou a pena de ganso era inviaacutevel do ponto de vista econocircmico o preparo da pena exigia habilidade e era

tarefa do professorrdquo (Barra 2013 p 122) Tambeacutem o papel era caro e exigia uma mesa com vaacuterios

assessoacuterios como tinteiro pena reacutegua e laacutepis

Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia (Fonte httpsacervofeufgbrindexphplousa-de-ardosia-tendo-abaixo-lapis-1945)

Foi no final do seacuteculo XIX com a consolidaccedilatildeo dos sistemas puacuteblicos de instruccedilatildeo elementar e

crescimento das exigecircncias de um miacutenimo de mobiliaacuterio e material escolar que o uso do quadro-negro

pelo professor voltando ao ensino de muitos alunos instala-se nas escolas e comeccedila a ocupar um

espaccedilo central na sala de aula Bastos (2005 p 136) explica

O ensino muacutetuomonitorial inaugura uma arquitetura do espaccedilo escolar em que mobiliaacuterio e material passam a ser dispositivos fundamentais para o sucesso do meacutetodo Os quadros-negros satildeo sistematicamente utilizados especialmente para o desenho linear e para a aritmeacutetica ndash medem 1m de comprimento por 070 de largura na parte superior tecircm um metro moacutevel e satildeo colocados no interior de cada semiciacuterculo sendo de uso constante dos monitores dos alunos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

173

Neste contexto o quadro-negro natildeo mais era de ardoacutesia assumiu a forma de uma prancha de

madeira com dimensotildees maiores suportada por cavaletes com superfiacutecie pintada de cor escura para

ser usada com giz Segundo Barra (2013) os primeiros quadros eram portaacuteteis regulaacuteveis e moacuteveis O

meacutetodo ensino muacutetuo ou simultacircneo previa a existecircncia de uma material coletivo que garantisse maior

rapidez no ensino da leitura a principio eram afixados cartotildees de papelatildeo na parede das salas de

aulas Barra (2013 p 127) explica ldquoa carta mural era um quadro com a liccedilatildeo de leitura impressa []

cujo caraacuteter coletivo possibilitava a superaccedilatildeo do ensino individual pela instituiccedilatildeo da intervenccedilatildeo

simultacircnea do ensinordquo Considerando que o livro naquele periacuteodo era caro a sua substituiccedilatildeo por

quadros com liccedilotildees de leitura disponiacuteveis nas paredes das salas de aulas conferiu um caraacuteter social e

coletivo a estas cartas murais que mais tarde foram substituiacutedas pelo quadro-negro Bastos ( 2005 p

136) descreve as funcionalidades do quadro naquele contexto

As vantagens do uso do quadro-negro residiam na possibilidade de o professor utilizar-se desse dispositivo para o ensino simultacircneo das primeiras liccedilotildees de leitura e de escrita O quadro-negro para o professor e a lousa para o aluno eram meios pelos quais seria conhecido o alfabeto e seriam desenhadas as letras Aleacutem disso era um excelente meio de ensinar em pouco tempo os alunos a ler e escrever Um auxiliar indispensaacutevel para a liccedilatildeo oral um suporte de escrita ndash um ritual diaacuterio de escrita para fixar discursos e praacuteticas pedagoacutegicas

Assim o quadro-negro era uma novidade bem aceita pelos alunos e professores e marcou o

viacutenculo entre o meacutetodo (ensino simultacircneo) e o materialinstrumento (quadro-negro) O seu atrativo

residia na possibilidade do professor escrever sua aula uma vez para que dezenas de alunos

simultaneamente pudessem ler e escrever nos seus cadernos Este feito natildeo era possiacutevel no modelo

da instruccedilatildeo oral antes da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O meacutetodo muacutetuo segundo Bastos

(1999 p 212) concretizou-se como ldquouma proposta redentora para os setores da produccedilatildeo que

anseiam por um operaacuterio doacutecil disciplinado e limitado em sua capacidade humana aos rudimentos da

leitura escrita e aritmeacuteticardquo Outro objetivo do meacutetodo era reduzir custos e despesas considerando

que um professor podia ensinar vaacuterios alunos ao mesmo tempo

Estudos realizados em diferentes partes do mundo sobre a difusatildeo do meacutetodo de ensino

simultacircneo identificaram sua ampla aceitaccedilatildeo e revelou ainda que o quadro-negro foi absorvido sem

ressalvas como parte integrante do meacutetodo (Lesage 1999 Cardoso 1999 Barra 2001) Surge

portanto a questatildeo por que o quadro-negro natildeo encontrou resistecircncia entre os professores daquele

periacuteodo A resposta pode ser encontrada na concepccedilatildeo pedagoacutegica vigente na eacutepoca instrucionista e

conteudista Nas palavras de Paulo Freire (1987) era uma concepccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo de educaccedilatildeo em

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

174

que a uacutenica margem de accedilatildeo que se oferecia aos educandos era de receberem os depoacutesitos guardaacute-

los e arquivaacute-los O quadro-negro constituiacutea um excelente retroprojetor deste meacutetodo visto que ao

escrever no quadro o professor projetava a todos os alunos simultaneamente o conteuacutedo que desejava

ldquodepositarrdquo nas suas mentes

Noacutevoa (2014) analisa que a presenccedila do quadro-negro na sala de aula haacute 150 anos instituiu

um modelo de educaccedilatildeo verticalizada centrada no professor Atribui ao quadro-negro trecircs adjetivos

que na sua visatildeo definem a concepccedilatildeo pedagoacutegica em torno deste dispositivo vazio fixo e vertical O

quadro-negro eacute um dispositivo vazio tem utilidade pedagoacutegica apenas se tiver um professor

(pressuposto detentor do conhecimento) para lhe dar sentido ao escrever nele os conteuacutedos Um

quadro-negro sem nada escrito constitui tatildeo somente um quadro com moldura pendurado na parede

Neste sentido o quadro-negro vazio centralizava no professor a posse do conhecimento fortalecendo a

pedagogia transmissiva ou instrucionista vigente naquele periacuteodo

Noacutevoa atenta para o fato de o quadro-negro ser fixo e assim definir o espaccedilo onde devem

ocorrer os processos educativos - na sala de aula Segundo o autor ldquoos preacutedios escolares o mobiliaacuterio

escolar e a organizaccedilatildeo dos alunos satildeo feitos para uso do quadro-negrordquo (Novoa 2014 p 1) O

quadro-negro permanecendo inerte na parede agrave espera do professor para preenchecirc-lo de conteuacutedos

constituiacutea um instrumento simboacutelico da espacialidade em que deveriam ocorrer os processos

educativos Frago e Escolano (1998) ao tratarem dos simbolismos que a linguagem arquitetocircnica

expressa apresentam a disposiccedilatildeo da arquitetura escolar como um espaccedilo fixo estaacutevel e fixo

determinado para o ensino Assim o espaccedilo da aprendizagem era delimitado para a sala de aula

especificamente a partir do professor agrave frente da sala fazendo uso do quadro-negro para

transmitirdepositar conhecimentos aos alunos

Ao descrever o quadro-negro como um dispositivo vertical Noacutevoa tratava da posiccedilatildeo

hieraacuterquica que a disposiccedilatildeo do quadro-negro agrave frente da sala de aula confere ao professor o papel de

principal regente que submetia o saber aos alunos sentados e em silecircncio Citando os estudos de

Anthony Giddens os autores Frago e Escolano (1998) mostraram que a separaccedilatildeo das salas de aulas

(graus sexo caracteriacutesticas dos alunos) e a disposiccedilatildeo das carteiras uma atraacutes da outra separadas

por pequenos corredores tinha a funccedilatildeo do professor exercer o poder disciplinador Bastos (2005) cita

um trecho de Ziraldo (1995 p 98) que descreve uma sala de aula nos fins do seacuteculo XIX ldquoQuando as

aulas comeccedilaram no ano seguinte natildeo era ela que estava sentada na cadeira atraacutes da mesa sobre o

estrado diante do quadro-negrordquo O estrado mencionado no trecho de Ziraldo era uma elevaccedilatildeo de

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

175

madeira colocada logo abaixo do quadro-negro No estrado encontrava-se a mesa do professor

marcando o distanciamento e autoridade deste em relaccedilatildeo aos alunos Neste sentido o mestre agrave frente

dos alunos na sala de aula posicionado sobre o estrado munido do seu giz e quadro-negro carregava

uma conotaccedilatildeo de poder e autoridade cuja imagem era de detentor da instruccedilatildeo e do conhecimento

Ainda segundo Bastos (idem) no imaginaacuterio de muitos alunos o quadro-negro configurava um

instrumento de constrangimento quando tinham que ir agrave frente dos colegas resolver contas aritmeacuteticas

ou pelo castigo de escreverem no quadro vaacuterias vezes as mesmas frases Tambeacutem era cansativo para

os alunos escreverem em pouco tempo disponiacutevel extensas liccedilotildees e deveres para casa que o professor

escrevia no quadro e rapidamente apagava para adicionar novas atividades Portanto o quadro-negro

enquanto mobiliaacuterio escolar garantia ao professor sua autoridade maacutexima na sala de aula numa

posiccedilatildeo estrateacutegica que permitia o controle e a vigilacircncia sobre os alunos

Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX (Fonte imagem de internet Disponiacutevel em httpwwwfitininetescolacomercialhistoriahtml)

Noacutevoa usou a metaacutefora destes trecircs atributos do quadro-negro para mostrar que este foi

facilmente aceite pelos professores porque validava o modelo de educaccedilatildeo instrucionista e conteudista

daquele periacuteodo O autor conclui que este ainda eacute o modelo vigente de educaccedilatildeo na maior parte das

escolas atualmente mas que natildeo condiz com a cultura contemporacircnea em que predomina o acesso

dos jovens agraves tecnologias digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O que mudou Noacutevoa responde esta

pergunta com outra metaacutefora usando o tablet Fazendo analogia sobre a aparecircncia de formato de

ambos os dispositivos (o quadro-negro e o tablet) o autor descreve trecircs adjetivos antagocircnicos do tablet

em relaccedilatildeo ao quadro-negro que direcionam para uma nova concepccedilatildeo de educaccedilatildeo o tablet eacute cheio

moacutevel e horizontal

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

176

Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet (Fonte Bento Silva ndash palestra no I SEMEADRN 2012)

O tablet eacute cheio Segundo Noacutevoa pode-se afirmar que o tablet eacute um dispositivo cheio pois

conectado agrave internet daacute acesso a incontaacuteveis informaccedilotildees e dados dos quais os alunos tecircm acesso

instantacircneo Portanto ldquoele induz praacuteticas pedagoacutegicas centradas no estudo individual e na

investigaccedilatildeo na relaccedilatildeo no trabalho conjunto e na cooperaccedilatildeordquo (Noacutevoa 2015 p 24) Apesar da

semelhanccedila fiacutesica no seu formato com as pedras de ardoacutesias individuais o tablet apresenta diferenccedilas

abissais destas primeiras a comeccedilar pela sua possibilidade de armazenamento de dados conexatildeo agraves

redes moacuteveis de internet e comunicaccedilatildeointeraccedilatildeo com outros usuaacuterios em tempo e espaccedilos

diferentes

O tablet eacute moacutevel Ao trazer atenccedilatildeo da mobilidade do tablet Noacutevoa traccedila um antagonismo

com o quadro-negro que eacute fixo Ao contraacuterio do quadro que delimita o espaccedilo de sala de aula o tablet

possibilita a mobilidade do usuaacuterio permitindo que a aprendizagem ocorra em tempos e espaccedilos

diferentes dos preconizados pela escola A mobilidade do tablet vai aleacutem do seu deslocamento fiacutesico

pois as pedras de ardoacutesias individuais tambeacutem eram moacuteveis

O tablet permite a ubiquidade portabilidade conectividade convergecircncia de vaacuterias miacutedias

memoacuteria e armazenamento de dados O usuaacuterio mesmo em deslocamento pode estar presente em

vaacuterios lugares realizando diversos tipos de atividades e interagindo com outras pessoas que tambeacutem

estejam conectadas

O tablet eacute horizontal Noacutevoa (2014 p 1) argumenta ldquoenquanto o quadro-negro provoca

formas lsquoverticaisrsquo de comunicaccedilatildeo a partir de um centro o tablet sugere formas individualizadas de

estudo e relaccedilotildees lsquohorizontaisrsquo entre alunos entre alunos e professores entre pessoas que estatildeo

dentro e fora da escolardquo Assim mesmo sendo um dispositivo individual o tablet permite conexotildees

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

177

com outras pessoas contribuindo para o trabalho colaborativo e a coautoria tornando a aprendizagem

horizontal O quadro-negro centralizava o processo educativo no professor enquanto o tablet fornece

diferentes fontes de pesquisas possibilita contato com grupos de pesquisas em diferentes aacutereas

disponibiliza cursos e materiais didaacuteticos de diferentes formatos (aacuteudio viacutedeo texto) e permite a

interaccedilatildeo em comunidades de aprendizagem com especialistas e profissionais dos mais diferentes

segmentos

Ao fazer essas metaacuteforas Noacutevoa argumenta sobre as mudanccedilas que a revoluccedilatildeo digital causou

nas estruturas econocircmicas sociais culturais e educacionais A transiccedilatildeo na metaacutefora do quadro-negro

para o tablet nos daacute pistas de que os novos objetos tecnoloacutegicos rompem com a loacutegica instituiacuteda o

professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento Nas palavras de Noacutevoa (2015 p 24) os saberes

ldquojaacute natildeo satildeo dominados primordialmente pelo professor satildeo mutaacuteveis e apresentam vaacuterias

possibilidades de utilizaccedilatildeo que permitem obter respostas a perguntas vaacuterias favorecem a autonomia

do aluno reforccedilam a sua capacidade de accedilatildeo e fazem apelo a uma nova atitude do professorrdquo O autor

destaca que natildeo eacute a tecnologia instrumental em si que revoluciona as estruturas educacionais nem os

artefatos tecnoloacutegicos mas a relaccedilatildeo do homem com estes A partir do momento em que o homem se

apropria de uma tecnologia esta o condiciona a novos haacutebitos valores e interesses

Neste sentido o descompasso que ocorre no acircmbito educacional constitui o fato de que as

crianccedilas e jovens apropriaram-se rapidamente das tecnologias e os professores ainda resistem a elas

Seymor Papert (1993) argumentando sobre o modelo retroacutegrado do sistema educacional vigente na

introduccedilatildeo do livro A maacutequina das Crianccedilas usa uma paraacutebola para ilustrar que a escola precisa de

mudanccedilas estruturais para atender a este novo cenaacuterio Na paraacutebola Papert descreve a reaccedilatildeo de um

grupo de viajantes do tempo advindos do seacuteculo XIX que viajaram para o final do seacuteculo XX O grupo

era composto de meacutedicos e professores do ensino baacutesico Sobre o grupo de meacutedicos visitando os

hospitais do futuro o autor relata que estes ficariam espantadiacutessimos com o avanccedilo da medicina

comparando a seu tempo e concluiriam que seria difiacutecil para eles exercerem sua profissatildeo diante de

demasiado avanccedilo no conhecimento nas teacutecnicas e nos aparelhos modernos Por outro lado Papert

diz que o grupo de professores ao visitarem as escolas adentrariam na sala de aula e desconheceriam

alguns poucos materiais novos mas natildeo teriam dificuldade de darem uma aula tradicional jaacute que o

quadro o giz ou outro suporte para escrita estaria disponiacutevel Assim os professores sentir-se-iam agrave

vontade para ldquotransmitirrdquo conhecimento na sua aula Nesta perspectiva Papert (1993) critica o papel

conservador da escola em que os objetos do cenaacuterio satildeo mudados tira-se o quadro-negro e os trocam

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

178

por lousas digitais mas o professor continua sendo o ldquotransmissorrdquo do conhecimento Mas o que fazer

se agora os alunos tecircm em matildeos suas proacuteprias lousas em formato de tablets

O quadro-negro natildeo constitui mais o artefato em que os jovens esperavam que o professor

depositasse o conhecimento Para os jovens de hoje o quadro-negro natildeo tem o mesmo significado que

tinha para os jovens dos anos de 1950 que se natildeo copiassem a liccedilatildeo do quadro teriam que pegar o

caderno com o colega Hoje o jovem pode fazer uma pesquisa na rede de internet sobre qualquer aacuterea

de conhecimento e conseguir as informaccedilotildees que natildeo copiou O colega pode tirar uma foto do quadro

e enviar ao seu e-mail ou por mensagem instantacircnea Pode-se ateacute filmar a aula pelo celular e o colega

assistir ao vivo Natildeo tecircm mais paciecircncia de escrever no caderno tiram foto do quadro-negro para

estudarem em seus tablets Fazem estudos com os colegas pelo Skype ou Hangouts se comunicam

por aplicativos raacutepidos de mensagem (whatsapp messenger imo) A ldquoGeraccedilatildeo Internetrdquo como designa

Tapscott e Wiliams (2007 p 54) a geraccedilatildeo que nasceu a partir de 1998 em meio agrave ascensatildeo das

tecnologias estaacute transformando a forma de viver e de pensar do mundo Portanto eacute inegaacutevel que

ocorreram mudanccedilas significativas nas formas de aprender das pessoas em especial dos jovens em

idade escolar

Poreacutem continuar a educaacute-los no mesmo modelo do seacuteculo XIX com aulas expositivas

centradas no conteuacutedo do livro e escrita no quadro-negro natildeo eacute eficaz assim como natildeo seria eficaz

retomando os termos de Papert sobre a evoluccedilatildeo dos tempos usar aparelhos e equipamentos meacutedicos

do seacuteculo XIX em hospitais modernos Seguindo esse argumento Noacutevoa acrescenta (2014 p 1)

Haacute cerca de 150 anos em meados do seacuteculo XIX inventou-se a escola tal como a conhecemos Foi uma enorme transformaccedilatildeo Depois disso houve muitas tentativas de mudanccedila e de inovaccedilatildeo mas os seus traccedilos fundamentais natildeo se alteraram [] uma coisa eacute certa nada seraacute como antes Desde meados do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo foi pensada a partir de uma matriz escolar Hoje tem de ser ldquodesescolarizadardquo tem de valorizar outros espaccedilos sociais e culturais Precisamos de um novo contrato social pela educaccedilatildeo que explore todas as possibilidades educativas da cidade e da sociedade

Neste novo paradigma o conhecimento ultrapassa os muros da escola e por meio das redes

do ciberespaccedilo passa a ser reelaborado redesenhado e compartilhado para qualquer usuaacuterio O papel

do professor passa de detentor para condutororientador do conhecimento Considerando que as

informaccedilotildees estatildeo disponiacuteveis na rede o professor passa a ter o papel de orientar os alunos a acessar

organizar sistematizar as informaccedilotildees relevantes dando um significado criacutetico a elas transformando-as

em conhecimento

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

179

Contudo as tecnologias digitais natildeo tecircm a mesma aceitaccedilatildeo no acircmbito da escola pelos

professores e gestores como tiveram o quadro-negro Este uacuteltimo foi aceite sem restriccedilotildees porque seu

uso reforccedilava a pedagogia bancaacuteria de transmissatildeo de conteuacutedos centrada no professor As tecnologias

digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por sua vez vatildeo de encontro a esta pedagogia por retirar do

professor o poder da informaccedilatildeo e do conhecimento e disponibilizando estes gratuitamente nas redes

de internet No entanto o papel do professor continua sendo fundamental ldquoEacute preciso compreender a

importacircncia do novo papel do professor Os alunos tecircm acesso direto individual agraves informaccedilotildees que

estatildeo na teia (web) poreacutem necessitam da mediaccedilatildeo do professor para transformaacute-las em

conhecimento e aprendizagemrdquo disse Noacutevoa (2014 p 2) Muda-se a forma de se obter o

conhecimento e consequentemente muda o papel do professor

Obviamente outras tecnologias surgiratildeo e o tablet como conhecemos hoje poderaacute ter se

tornado um dispositivo ultrapassado e vire peccedila de museu como os quadros de ardoacutesia individuais que

os alunos usavam no seacuteculo passado Embora natildeo existam mais nas escolas estes quadros

cumpriram seu papel dentro do projeto pedagoacutegico que estavam inseridos Igualmente as tecnologias

digitais presentes nas escolas natildeo estatildeo a concorrer com o professor e nem deveratildeo substituiacute-lo antes

podem ser importantes aliadas no desenvolvimento de projetos de aprendizagem colaborativa Ignorar

as tecnologias no processo pedagoacutegico seria um retrocesso agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo baseada na

transmissatildeo de conteuacutedos introduzidos na idade meacutedia O professor desconectado da rede perde

infinitas possibilidades de interagir com seus alunos no compartilhamento de informaccedilotildees lugares

interesses e conhecimento A proacutexima seccedilatildeo apresenta a formaccedilatildeo de professor com foco na literacia

digital como uma proposta viaacutevel de inserccedilatildeo do mesmo na sociedade em rede

35 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital a possibilidade da entrada na rede

No iniacutecio do seacuteculo XXI os professores voltaram a ocupar um lugar estrateacutegico nas poliacuteticas

puacuteblicas educacionais com foco no futuro da escola frente agrave crescente disseminaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das

tecnologias pelos alunos Autores contemporacircneos tecircm investido discussatildeo da necessidade de

mudanccedilas nas estruturas educacionais em face das mudanccedilas que as tecnologias de comunicaccedilatildeo e

informaccedilatildeo provocaram na sociedade (Noacutevoa 2015 Silva e Cilento 2014 Santos 2014 Castells

2014 Costa 2013) Para Noacutevoa (2009) o professor constitui peccedila central nesse processo O autor

lembra que nos anos de 1970 o foco era a pedagogia dos objetivos do controle e planejamento Nos

anos de 1980 as reformas educativas eram centradas nas estruturas dos sistemas escolares e na

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

180

engenharia do curriacuteculo A deacutecada de 1990 foi marcada pela gestatildeo e administraccedilatildeo das organizaccedilotildees

escolares O autor argumenta que nos dias atuais a atenccedilatildeo estaacute voltada agrave aprendizagem e natildeo se

pode falar de aprendizagem sem destacar a figura do professor

A discussatildeo sobre as competecircncias dos professores para o uso das tecnologias na praacutetica

pedagoacutegica natildeo eacute recente Em meados dos anos de 1980 com o desenvolvimento e expansatildeo da

informaacutetica surgiu o termo Novas Tecnologias de Informaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo destas tecnologias no

contexto educativo segundo Blanco e Silva (1993) reforccedilou as pesquisas sobre esta relaccedilatildeo homem

maacutequina e a anaacutelise de ambientes tecnoloacutegicos voltados para a educaccedilatildeo No entanto atualmente esta

discussatildeo se torna cada vez mais relevante e pertinente considerando o contexto da crescente

penetraccedilatildeo da internet no cotidiano das pessoas Ao mesmo tempo em que cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada mediados por tecnologias satildeo ofertados aos professores para seu aperfeiccediloamento estudos

recentes apontam para um deacuteficit de literacia digital destes em relaccedilatildeo ao uso social e criacutetico das

tecnologias e sua eventual inserccedilatildeo na era digital (Silva e Cilento 2014)

Alguns autores como Costa e Lemos (2005) e Warschauer (2006) acreditam que o acesso as

TDIC nos cursos de formaccedilatildeo se configuram como uma forma de inclusatildeo social para os professores e

esta pode ser facilitadora para outras inclusotildees como econocircmica e cultural Segundo os autores o

sujeito com acesso as tecnologias possui um canal privilegiado para a criaccedilatildeo e a socializaccedilatildeo de

oportunidades de geraccedilatildeo de renda e cidadania na era do conhecimento em que este se torna um

capital imprescindiacutevel O professor que estaacute incluiacutedo digitalmente (natildeo apenas com o acesso mas de

todas as ferramentas teacutecnicas e cognitivas) tem mais possibilidades de adquirir as competecircncias da

literacia digital e usar a tecnologia na sua praacutetica docente e tem capacidade para orientar seus alunos

a produzirem conhecimento com uso das miacutedias

Por quase dois seacuteculos o modelo instrucionista vertical e avaliativo permeia as escolas com

poucas mudanccedilas na sua estrutura desde a revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX Os cursos de formaccedilatildeo

de professores reproduzem essa loacutegica aos futuros docentes No entanto algumas propostas de cursos

de formaccedilatildeo on-line apresentam-se como uma reproduccedilatildeo do modelo tradicional de educaccedilatildeo voltado

para a transmissatildeo e recepccedilatildeo de conteuacutedos De acordo com Papert (1993 p 127) as tecnologias

digitais nestas propostas constituem ldquouma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais

(quadro livros cadernos) que serviam para transmitir ou replicar conhecimentordquo Programas de

formaccedilatildeo calcados em repositoacuterio de conteuacutedos e provas objetivas impedem a inventividade e a

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

181

construccedilatildeo de sentidos dos professores sobre o trabalho coletivo e limitam suas possibilidades de

trabalhar com miacutedias integradas em projetos pedagoacutegicos

Almeida e Valente (2011) apontam a abordagem instrucionista dos cursos de formaccedilatildeo on-line

como um dos fatores para o insucesso da integraccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das miacutedias pelos professores

atendendo a grande massa de alunos por meio de transmissatildeo de conteuacutedos via miacutedias tradicionais

Assim os cursos satildeo realizados em plataformas virtuais estaacuteticas que constituem depositoacuterios de

conteuacutedos com pouca ou nenhuma interaccedilatildeo Estudos recentes revelam que mesmo em formaccedilatildeo on-

line nesses programas alguns professores encontram dificuldade com a fluecircncia tecnoloacutegica natildeo

apenas no uso instrumental das tecnologias mas tambeacutem seu campo social e coletivo levando muitos

a evadirem das formaccedilotildees (Alves e Faria 2011 Ataiacutede 2012 Meneses 2011)

Segundo Silva e Cilento (2014) o professor formado numa perspectiva de transmissatildeo de

saberes iraacute reproduzir esse modus operandi na sua praacutetica docente A coerecircncia entre as exigecircncias

que se requer do professor para que seja antenado conectado e expert na integraccedilatildeo das miacutedias no

contexto escolar deve estar em sintonia com a sua formaccedilatildeo Ainda nas palavras de Noacutevoa (2014)

sobre a mudanccedila de postura imposta aos professores ldquonatildeo podemos exigir-lhe quase tudo e dar-lhe

quase nadardquo Portanto os cursos de formaccedilatildeo on-line deveriam constituir um espaccedilo privilegiado para

possibilitar ao professor vivenciar as tecnologias e apropriar-se delas de modo reflexivo na sua praacutetica

pedagoacutegica O autor defende que a formaccedilatildeo de professores a priori deve ocorrer nos espaccedilos

escolares Noacutevoa (2009 p 6) cita o exemplo dos futuros meacutedicos que durante a formaccedilatildeo atuam

como residentes em hospitais universitaacuterios observam os pacientes fazem relatoacuterios de

acompanhamento supotildeem um diagnoacutestico e terapia e discutem com os colegas e com meacutedico que os

supervisionam e ainda participam de seminaacuterios temaacuteticos sobre as experiecircncias O autor sugere uma

dinacircmica parecida nos cursos de formaccedilatildeo de professores

(i) estudo aprofundado de cada caso sobretudo dos casos de insucesso escolar (ii) anaacutelise colectiva das praacuteticas pedagoacutegicas (iii) obstinaccedilatildeo e persistecircncia profissional para responder agraves necessidades e anseios dos alunos (iv) compromisso social e vontade de mudanccedila

Noacutevoa (2014 p 2) reforccedila que natildeo podemos continuar a reproduzir e justificar modelos

pedagoacutegicos que fazem parte de um passado que jaacute estaacute ultrapassado que foi concebido para jovens

que natildeo agiam nem pensavam e nem aprendiam como nossos jovens hoje aprendem Neste sentido

o autor afirma que o trabalho dos professores deve ser apoiado por trecircs movimentos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

182

Primeiro uma organizaccedilatildeo mais aberta e diversificada dos espaccedilos e dos tempos escolares Segundo um curriacuteculo centrado nos alunos e em suas aprendizagens e natildeo em listas interminaacuteveis de conhecimentos ou competecircncias Terceiro uma pedagogia com dimensatildeo fortemente colaborativa que utilize a relaccedilatildeo (as redes) como dispositivo de comunicaccedilatildeo e aprendizagem

O terceiro movimento citado por Noacutevoa estaacute relacionado com as praacuteticas de literacia digital do

professor Sobre esse aspecto Petrella (2012 p 213) elenca oito competecircncias e habilidades que

podem ser desenvolvidos pelos professores na escola

bull Expressatildeo criativa ndash utilizar as miacutedias para expressar suas ideias e representaacute-las em formas de sons imagens e textos

bull Experimentaccedilatildeo ndash Fazer experiecircncias atraveacutes do jogo e da simulaccedilatildeo construccedilatildeo manipulaccedilatildeo e representaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees

bull Exploraccedilatildeo ndash capacidade de explorar com seguranccedila o universo mediaacutetico escolhendo informaccedilotildees fidedignas e gerir os riscos que esta exploraccedilatildeo produz

bull Multiculturalismo ndash ser sensiacutevel para compreender e respeitar perspectivas diferentes dotados de competecircncias necessaacuterias para negociar os significados culturais

bull Colaboraccedilatildeo e criaccedilatildeo de redes ndash capacidade de procurar escolher partilhar e confrontar opiniotildees e informaccedilotildees dentro das proacuteprias redes aprendendo a trabalhar em equipe

bull Reflexibilidade ndash Utilizar as tecnologias como chave de leitura da sociedade contemporacircnea dos processos econocircmicos e da produccedilatildeo cultural

bull Pensamento criacutetico ndash capacidade de avaliar cada fragmento de informaccedilatildeo a credibilidade da fonte buscando compreender o contexto em que os conteuacutedos foram gerados e com que objetivo

bull Responsabilidade e participaccedilatildeo social ndash competecircncias culturais e habilidades sociais para a participaccedilatildeo na vida social com livre cidadania

Petrella (2012 p 216) conclui que a aquisiccedilatildeo destas habilidades e competecircncias exige um

esforccedilo sineacutergico entre o governo a escola e a famiacutelia A literacia digital deveria perpassar o curriacuteculo

das escolas de modo que os professores devem fazer a ldquoligaccedilatildeo entre as competecircncias mediaacuteticas dos

alunos e operando uma avaliaccedilatildeo do contributo que estas podem dar ao processo de aquisiccedilatildeo de

competecircnciasrdquo O uso de jogos simuladores laboratoacuterios virtuais atividade de anaacutelise de conteuacutedos de

blog sites outras miacutedias satildeo atividades pedagoacutegicas que podem ser utilizadas para uma capacitaccedilatildeo

em literacia mediaacutetica O desenvolvimento da capacidade criacutetica pode ser realizado por incentivar os

alunos procurarem na web as vaacuterias versotildees da mesma notiacutecia e relatar as diferentes abordagens

utilizadas e o contexto em que foram produzidas Outras experiecircncias como uso do raacutedio construccedilatildeo

de redes de aprendizagem webquest blogs e outras miacutedias podem se constituir propostas para a

construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre as miacutedias

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

183

Almeida e Prado (2012) refletem que a integraccedilatildeo das tecnologias no curriacuteculo dos cursos de

formaccedilatildeo de professores no Brasil ainda eacute deficitaacuteria e na maioria das vezes eacute relegada ao plano da

formaccedilatildeo continuada As autoras defendem a formaccedilatildeo de professores voltada para a integraccedilatildeo das

TDIC ao curriacuteculo por meio de projetos Nesse modelo elas explicam

Eacute preciso propiciar ao professor cursista situaccedilotildees nas quais ele possa experienciar o trabalho com projetos com o uso dessas tecnologias e ao mesmo tempo refletir sobre essas praacuteticas para que possa identificar tanto as contribuiccedilotildees das TIC agrave proacutepria aprendizagem e ao desenvolvimento do curriacuteculo como criar com os alunos situaccedilotildees de uso das TIC voltadas agrave melhoria da aprendizagem

Experiecircncias voltadas para a integraccedilatildeo das TDIC ao curriacuteculo com a integraccedilatildeo dos

professores satildeo desenvolvidas pontualmente em escolas e universidades O Projeto de pesquisa

Curriacuteculo da escola do seacuteculo XXI ndash Integraccedilatildeo das TIC ao curriacuteculo inovaccedilatildeo conhecimento cientiacutefico

e aprendizagem coordenado pela professora Elizabeth Almeida no acircmbito do Programa de Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo curriacuteculo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) nos

anos 2011 a 2013 teve como objetivo principal identificar as contribuiccedilotildees e dificuldades das accedilotildees de

formaccedilatildeo e das praacuteticas realizadas nas escolas participantes do Projeto Um computador por Aluno41

No acircmbito do referido projeto foram publicados diversos trabalhos acadecircmicos que evidenciaram as

contribuiccedilotildees do uso do laptop nas praacuteticas pedagoacutegicas em que os professores e alunos participantes

desenvolveram atividades como pesquisas em diversas fontes tambeacutem fizeram uso de recursos de

multimiacutedia produziram texto com uso de palavras imagens aacuteudios viacutedeos e uso de jogos No que diz

respeito agrave formaccedilatildeo dos professores para lidarem com as tecnologias na escola foram apontadas as

necessidades de momentos presenciais com oficinas praacuteticas e reflexatildeo das accedilotildees realizadas nas salas

de aulas com uso do laptop do programa Poreacutem embora a reflexatildeo sobre a praacutetica seja fundamental

o professor precisa reconhecer os pressupostos teoacutericos que embasam suas novas praacuteticas de trabalho

com uso das tecnologias

Peralta e Costa (2007) realizaram um estudo de caso muacuteltiplo de natureza qualitativa sobre a

competecircncia e a confianccedila dos professores do ensino baacutesico no uso das TDIC nas praacuteticas educativas

em cinco paiacuteses europeus Os autores constataram que uma efetiva integraccedilatildeo das TDIC no curriacuteculo

41 O Projeto Um Computador por Aluno (UCA) foi implantado com o objetivo de intensificar as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo (TIC) nas escolas por meio da distribuiccedilatildeo de computadores portaacuteteis aos alunos da rede puacuteblica de ensino Foi um projeto que complementou as accedilotildees do MEC referentes a tecnologias na educaccedilatildeo em especial os laboratoacuterios de informaacutetica produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de objetivos educacionais na internet dentro do ProInfo Integrado que promove o uso pedagoacutegico da informaacutetica na rede puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Disponiacutevel em httpwwwfndegovbrprogramasprograma-nacional-de-tecnologia-educacional-proinfoproinfo-projeto-um-computador-por-aluno-uca Acesso em 07 abril 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

184

implica investimento em dois campos na atitude dos professores e numa adequada capacitaccedilatildeo dos

mesmos Na conclusatildeo do estudo os autores escreveram

Em suma fica a ideia geral de que natildeo haacute muitos professores competentes no uso das TIC no ensino pelo que se torna necessaacuterio investir na sua re-educaccedilatildeo Mesmo os professores que estatildeo agora a iniciar a sua profissatildeo natildeo foram adequadamente preparados para o uso das novas tecnologias Por isso preparar os professores para usar as tecnologias eacute uma responsabilidade que as instituiccedilotildees de ensino superior responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo devem assumir (idem p 85)

Peralta e Costa (2007) assinalaram trecircs dimensotildees principais das quais o trabalho com as

TDIC com objetivo pedagoacutegico devem ser contemplados em cursos de formaccedilatildeo docente (1) o

conhecimento e as capacidades de base dos professores (o que aprenderam anteriormente e como o

aprenderam) (2) caracteriacutesticas individuais de natureza cognitiva afetiva ou social e (3) fatores de

ordem contextual no plano micro (ambiente da escola que leciona) ou macro (cidade onde vive

poliacuteticas vigentes)

No sentido de propor um referencial teoacuterico que fundamente a investigaccedilatildeo na aacuterea de

formaccedilatildeo de professores na aacuterea de tecnologia educativa Mishra e Koehler (2006) apresentaram um

novo referencial teoacuterico que denominaram de Technological Pedagogical Content Knowledge tambeacutem

chamado abreviadamente de TPACK O pressuposto teoacuterico do conceito do TPACK eacute que a atitude do

professor no tocante agraves tecnologias depende da combinaccedilatildeo de conhecimentos a niacutevel cientiacutefico ou dos

conteuacutedos a niacutevel pedagoacutegico e a niacutevel tecnoloacutegico Sampaio e Coutinho (2010) explicam que em

termos teoacutericos o TPACK resulta da intersecccedilatildeo de trecircs tipos diferentes de conhecimento

bull Pedagogical Content Knowledge Capacidade de ensinar um determinado conteuacutedo curricular

bull Technological Content Knowledge Habilidade de selecionar os recursos tecnoloacutegicos mais adequados para comunicar um determinado conteuacutedo curricular

bull Technological Pedagogical Knowledge Competecircncia para esses recursos no processo de ensino e aprendizagem

Misrha e Koehler (2008) argumentam que os professores que tecircm este tipo de

conhecimento integrado satildeo caracterizados como criativos flexiacuteveis e adaptaacuteveis a quaisquer

circunstacircncias didaacutetica apoiada por tecnologias No acircmbito TPACK a literacia do professor surge a

partir de muacuteltiplas interaccedilotildees entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico A figura

06 descreve o modelo TPACK no contexto pedagoacutegico

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

185

Figura 6 ndash Modelo TPACK Fonte Mishra e Koehler (2006)

Assim na esfera do TPACK a literacia do professor surge a partir de muacuteltiplas interaccedilotildees

entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico Em siacutentese o modelo engloba trecircs

dimensotildees baacutesicas

bull Conhecimento preacutevio relacionada ao conteuacutedo dos alunos e pressupostos epistemoloacutegicos

bull Uso de teacutecnicas pedagoacutegicas que se aplicam tecnologias de forma construtiva para ensinar o conteuacutedo de maneiras diferenciadas adaptada agrave aprendizagem dos alunos

bull Compreensatildeo de como as tecnologias podem ser usadas para construir conhecimentos preacutevios para desenvolver novas epistemologias ou fortalecer os antigos conceitos

Sampaio e Coutinho (2010 p 3983) que realizaram uma investigaccedilatildeo com professores de

duas turmas de diferentes escolas aacutereas disciplinares idades tempos de serviccedilo e niacuteveis de ensino

no acircmbito da formaccedilatildeo contiacutenua em contexto de praacutetica efetiva (oficina de formaccedilatildeo) cujo pressuposto

teoacuterico era baseado no TPACK concluiram

Os resultados do nosso estudo apontam nesse sentido para um professor integrar as TIC na sala de aula deve ter tempo para frequentar formaccedilatildeo no uso das tecnologias tempo para planear actividades curriculares inovadoras onde se integrem as TIC e conhecimentos ao niacutevel do potencial educativo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Portanto requer tempo para que ocorra o amadurecimento do professor na integraccedilatildeo das

TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Numa proposta de desenvolvimento profissional de professores

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

186

elaborada pela Unesco (2002) citada por Almeida e Valente (2011 p 45) o processo de apropriaccedilatildeo

tecnoloacutegica da parte do professor contemplam quatro estaacutegios

bull Habilidades e conhecimentos iniciais Fase com ecircnfase nos aspectos tecnoloacutegicos uso do editor de texto busca de informaccedilatildeo na internet realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas e instrumentais na internet para fins pessoais e instrumentais

bull Aplicaccedilatildeo das TDIC na aacuterea de especializaccedilatildeo Uso aplicativo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica em toacutepicos especiacuteficos da disciplina de atuaccedilatildeo

bull Integraccedilatildeo das TDIC para melhorar a aprendizagem Uso das TDIC adequada e adaptada agrave realidade e perfil de aprendizagem dos alunos e trabalho com resoluccedilatildeo de problemas e desenvolvimento de projetos especiacuteficos

bull Transformaccedilatildeo pedagoacutegica A praacutetica de utilizaccedilatildeo das TDIC eacute incorporada na vivecircncia pedagoacutegica de alunos e professores com o objetivo de aprendizagem individual e desenvolvimento do grupo

Trata-se portanto de uma formaccedilatildeo processual num estaacutegio contiacutenuo e evolutivo pois o

processo de apropriaccedilatildeo tecnoloacutegica acontece em fases e que deve levar em consideraccedilatildeo o contexto

em que vive o professor a escola que trabalha sua carga horaacuteria de trabalho a disciplina que leciona

seus conhecimentos preacutevios a cultura situaccedilatildeo econocircmica sua relaccedilatildeo com a tecnologia no cotidiano

e na escola e outros fatores que devem ser considerados

Para Silva (2001) a formaccedilatildeo de professores para a integraccedilatildeo curricular das TDIC deve

abarcar uma triacuteplice abordagem tecnoloacutegica expressiva e pedagoacutegica A formaccedilatildeo tecnoloacutegica diz

respeito ao conhecimento instrumental e modos de operaccedilatildeo das TDIC A expressiva implica o

conhecimento dos discursos e linguagens inerente em cada tecnologia E a abordagem pedagoacutegica

concentra o conhecimento para integrar as tecnologias no processo de desenvolvimento curricular Ao

niacutevel das metodologias Silva (2001) acrescenta que a formaccedilatildeo deve incluir uma triacuteplice abordagem

bull Teoacuterica anaacutelise de informaccedilotildees importantes colhidas de diversas fontes (comunicacionais psicoloacutegicas e pedagoacutegicas)

bull Apresentaccedilatildeo de casos simulaccedilotildees e exerciacutecios exemplares bull Praacuteticas em situaccedilatildeo de formaccedilatildeo anaacutelise de situaccedilotildees de aprendizagens

concretas com fins de garantir o domiacutenio progressivo das novas ideias e habilidades relacionadas com o uso pedagoacutegico das TIC

Logo essa formaccedilatildeo integrada para a literacia digital deve em primeira instacircncia ocorrer no

espaccedilo escolar dentro de um programa contiacutenuo de formaccedilatildeo institucionalizado e fomentado pelo

sistema de ensino Neste cenaacuterio a formaccedilatildeo docente contemplaria momentos de vivecircncias on-line

alternado com estudos presenciais de tal forma que gradativamente o professor possa adaptando sua

praacutetica pedagoacutegica ao uso das tecnologias que tem disponiacutevel e de acordo com o perfil e das

necessidades dos seus alunos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

187

Ao longo da sua formaccedilatildeo e no decorrer da praacutetica diaacuteria na docecircncia os professores

desenvolvem concepccedilotildees de ensino aprendizagem que vecircm a formar a base das suas decisotildees

metodoloacutegicas inclusive se iratildeo fazer uso das tecnologias Sobre este aspecto Almeida e Valente

(2011 p 47) comentam que essas concepccedilotildees vecircm a constituir crenccedilas que ldquoajudam o professor a

negociar incertezas do trabalho na escola e provavelmente a aderir ou natildeo agraves mudanccedilas para algo que

ainda natildeo foi totalmente comprovadordquo Os autores concluem que estas crenccedilas natildeo podem ser

ignoradas pois elas podem fazer um efeito contraacuterio e constituiacuterem obstaacuteculos ao processo de

mudanccedila

Os estudos mostraram que negligenciar as crenccedilas e teorias pessoais pode acarretar o choque de duas culturas opostas a cultura transformadora dos proponentes da inovaccedilatildeo e a cultura das praacuteticas existentes que passam a ser criacuteticas resistentes e defensivas (idem p 47)

Neste sentido a formaccedilatildeo docente para a literacia digital deve criar condiccedilotildees para que o

professor experimente e vivencie novas experiecircncias com as TDIC de forma que ele reflita sobre suas

crenccedilas e avalie a necessidade de mudanccedilas e inovaccedilotildees

Considerando estes pressupostos teoacutericos no capiacutetulo cinco desta tese jaacute em consequecircncia

dos resultados dos estudo empiacuterico mas com articulaccedilatildeo com estes embasamentos teoacutericos

propomos um modelo de formaccedilatildeo cujas diretrizes apontam para a importacircncia da atitude favoraacutevel do

professor e de sua apropriaccedilatildeo das tecnologias para que o mesmo mobilize energias para integraacute-las

na sua praacutetica docente Antes poreacutem no capiacutetulo quarto apresentamos o cenaacuterio e o enquadramento

metodoloacutegico da pesquisa

Capiacutetulo 4 Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

191

4 1 A Universidade Federal do Tocantins no contexto da regiatildeo Norte do Brasil

Este capiacutetulo se dedica a contextualizar o objeto da pesquisa e apresentar a metodologia de

investigaccedilatildeo utilizada neste estudo Na primeira seccedilatildeo cabe uma breve descriccedilatildeo do contexto

socioeconocircmico e histoacuterico do Estado do Tocantins e da Universidade Federal do Tocantins (UFT) mais

especificamente na oferta do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT A segunda seccedilatildeo tem como objetivo

descrever a organizaccedilatildeo administrativa e financeira do Sistema UAB cujo curso objeto deste estudo eacute

fomentado Na terceira seccedilatildeo expomos a concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica e a organizaccedilatildeo

administrativa e curricular do referido curso Na quarta seccedilatildeo satildeo apresentadas as bases

metodoloacutegicas da investigaccedilatildeo seguida da descriccedilatildeo da metodologia e aplicaccedilatildeo dos instrumentos de

avaliaccedilatildeo Na sequecircncia satildeo abordados os procedimentos do tratamento dos dados e as questotildees

eacuteticas da investigaccedilatildeo

A presente pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Tocantins (UFT) Esta possui

estrutura multicampi localizada em sete municiacutepios do Estado do Tocantins42 Regiatildeo Norte do Brasil A

histoacuteria da UFT se entrelaccedila com a histoacuteria da criaccedilatildeo do Estado do Tocantins Considerado um estado

jovem 43 o Tocantins pertencia ao norte goiano e com seu desmembramento do estado de Goiaacutes

passou a ser o mais novo estado da Federaccedilatildeo (Nascimento 2009) Nesse contexto havia a

necessidade visiacutevel de uma universidade puacuteblica federal no novo estado Apresentamos a seguir uma

breve descriccedilatildeo do contexto econocircmico social e cultural do estado do Tocantins para fins de melhor

compreensatildeo da necessidade de uma universidade federal na regiatildeo

411 O estado do Tocantins

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas (IBGE 2010) o estado do

Tocantins possui 1383453 habitantes o que representa um porcentual de 07 dos brasileiros

sendo que 788 do total de habitantes residem na zona urbana enquanto 212 vivem no campo

Constituiacutedo por 139 municiacutepios o Tocantins possui uma aacuterea de 277720520km2 a densidade

populacional eacute de 42 habitantes por quilocircmetro quadrado e a taxa de analfabetismo varia em meacutedia de

13 A capital recebeu tambeacutem pessoas do Sul e Sudeste do Brasil o que contribuiu para a

diversidade cultural do estado Os provenientes de outros estados satildeo 351 (no Brasil a taxa dos

42 A organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa da Repuacuteblica Federativa do Brasil compreende a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios todos autocircnomos O paiacutes possui 27 Estados e um Distrito Federal o Tocantins eacute o mais novo Estado da federaccedilatildeo sendo criado por lei em 1988 com o desmembramento do Estado de Goiaacutes (Nascimento 2009) 43O Estado do Tocantins foi criado em 5 de outubro de 1989 com a promulgaccedilatildeo da Carta Constitucional Em 1ordm de janeiro de 1989 foi instalada a capital provisoacuteria do novo Estado na cidade de Miracema do Tocantins e em 1ordm de janeiro de 1990 Palmas tornou-se sua capital definitiva (Pinho 2007)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

192

migrantes nacionais eacute de 19) residindo 74 no espaccedilo urbano O estado tem tambeacutem uma

populaccedilatildeo de cerca de seis mil indiacutegenas distribuiacutedos em sete etnias os povos Karajaacute Javaeacute Xambioaacute

Xerentes Krahocirc Krahocirc-canela e Apinayeacute44 Assim o Tocantins manteacutem uma riqueza cultural e eacutetnica

com uma populaccedilatildeo heterogecircnea proveniente de vaacuterios estados do Paiacutes Entre os habitantes atuais do

Tocantins 568 satildeo pardos 334 brancos 75 negros e 11 indiacutegenas (Pinho 2007)

O estado do Tocantins localiza-se na regiatildeo Norte do Brasil e faz divisa com os estados de

Maranhatildeo Goiaacutes Paraacute Bahia Piauiacute e Mato Grosso (Nascimento 2009) No mapa abaixo (figura 08) eacute

possiacutevel visualizar sua localizaccedilatildeo geograacutefica

Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins (Fonte httpptwikipediaorgwikiTocantins)

A economia local eacute gerada pelo extrativismo pecuaacuteria e o comeacutercio Um estudo do IBGE45

sobre o mapa da pobreza nos estados brasileiros revelou que esta alcanccedilava alguns municiacutepios do

Tocantins com a meacutedia porcentual de 49 no ano de 2003 O mesmo estudo revelou trecircs municiacutepios

com o iacutendice de pobreza acima de 80 Campos Lindos (8063) Mateiros (8154) e Muricilacircndia

(8182) que lideravam o ranking de iacutendice de pobreza do Brasil na eacutepoca Na pesquisa a pobreza

absoluta eacute medida a partir de criteacuterios definidos por especialistas que analisam a capacidade de

consumo das pessoas sendo considerada pobre aquela pessoa que natildeo consegue ter acesso a uma

cesta alimentar e de bens miacutenimos necessaacuterios a sua sobrevivecircncia A medida subjetiva de pobreza eacute 44 Fonte Os povos indiacutegenas do Tocantins Disponiacutevel em lthttpwwwpalmasorgtocantinsindioshtmgt Acesso em 12 abril 2016

45 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=17ampcodmun=170210ampidtema=19ampcodv=v01ampsearch=tocantins|araguaina|sintese-das-informacoes-2003gt Acesso em 21 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

193

derivada da opiniatildeo dos entrevistados e calculada levando-se em consideraccedilatildeo a proacutepria percepccedilatildeo

das pessoas sobre suas condiccedilotildees de vida (Alves 2010)

O pesquisador do Centro de Poliacuteticas Sociais da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Marcelo Neacuteri teceu

um comentaacuterio no Jornal Tribuna do Norte 46 em 2008 sobre o iacutendice de pobreza do estado

ldquoTocantins eacute o estado com a maior proporccedilatildeo de jovens do Paiacutes Isto significa que a taxa de natalidade

nas uacuteltimas trecircs deacutecadas foi muito elevadardquo Para o pesquisador a pobreza estaacute relacionada com a

elevada taxa de natalidade da populaccedilatildeo (219) a mais alta do paiacutes que comparada a Santos cidade

citada no estudo com o menor iacutendice de pobreza do paiacutes eacute de apenas 14 por mulher (a meacutedia

nacional eacute de 189) Portanto neste contexto socioeconocircmico a UFT se insere como uma instituiccedilatildeo

de ensino superior puacuteblico cujo compromisso social eacute interiorizar a educaccedilatildeo aos rincotildees mais pobres

do estado

Sobre a estrutura educacional e o sistema de ensino do estado do Tocantins o Censo Escolar

da Educaccedilatildeo Baacutesica de 2014 (INEP 2014) registrou 1689 unidades escolares de Educaccedilatildeo Baacutesica

312 escolas de Ensino Meacutedio e 46 estabelecimento de Ensino Profissional Na Educaccedilatildeo Superior

(INEP 2015) foram computadas 27 instituiccedilotildees (entre universidades centros universitaacuterios

faculdades e institutos federais e tecnoloacutegicos) assim distribuiacutedas 2 instituiccedilotildees federais (UFT e IFTO)

1 universidade estadual (UNITINS) 2 centros universitaacuterios (UNIRG e ULBRA) e 22 faculdades

privadas Considerando a extensatildeo territorial do estado do Tocantins as instituiccedilotildees de ensino superior

atendem na sua maioria as cidades maiores (Araguaiacutena e Gurupi) e a capital Palmas Dos 139

municiacutepios apenas 17 (dezessete) possuem instituiccedilatildeo de ensino superior ou campus universitaacuterio

Estas estatildeo relacionadas no quadro 9

46 Entrevista disponiacutevel em httpwwwtribunadonortecombrnoticiamapa-do-ibge-mostra-a-pobreza-no-rn96094 Acesso em 08 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

194

Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica quantidade e tipo de instituiccedilatildeo

Cidade Localizaccedilatildeo Quantidade Tipo de instituiccedilatildeo 1 Araguaiacutena Norte 14 1 campus instituto federal

1 campus universidade federal 12 faculdades privadas

2 Augustinoacutepolis Norte 2 1 faculdade 1 campus universidade estadual

3 Arraias Sudeste 1 1 campus universidade federal 4 Araguatins Norte 3 1 campus instituto federal

1 campus universidade estadual 1 faculdade municipal

5 Colinas Centro 2 1 campus instituto federal 1 faculdade municipal

6 Dianoacutepolis Sudeste 2 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 faculdade privada

7 Formoso do Araguaia Sudoeste 1 1 campus instituto federal 8 Guaraiacute Centro 1 1 faculdade municipal 9 Gurupi Sul 2 1 campus universidade federal

1 centro universitaacuterio privado 10 Lagoa da Confusatildeo Sudoeste 1 1 campus instituto federal 11 Miracema do

Tocantins Centro 1 1 campus universidade federal

12 Palmas Centro 12 1 campus universidade federal 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 centro universitaacuterio privado 8 faculdades privadas

13 Paraiacuteso do Tocantins Centro 3 2 faculdades privada 1 faculdade puacuteblica 1 campus instituto federal

14 Pedro Afonso Oeste 1 1 faculdade municipal 15 Pium Sudoeste 1 1 faculdade municipal 16 Porto Nacional Centro 4 2 faculdades privadas

1 campus de instituto 1 campus de universidade federal

17 Tocantinoacutepolis Norte 1 1 campus de universidade federal

Fonte INEP (2014)

Observa-se portanto que as instituiccedilotildees de ensino superior estatildeo localizadas na sua maioria

na regiatildeo norte e central do Tocantins As demais regiotildees do estado embora algumas cidades

possuam um campus de universidade puacuteblica ou instituto federal ainda carecem de ofertas de vagas

para o ensino superior voltada para as vocaccedilotildees da localidade e para a formaccedilatildeo de professores De

seguida voltamos atenccedilatildeo agrave UFT seu histoacuterico caracteriacutesticas e vocaccedilatildeo

412 A Universidade Federal do Tocantins

A UFT foi criada pela Lei 10032 de 23 de outubro de 2000 mas iniciou suas atividades

somente a partir de maio de 2003 com a posse dos primeiros professores concursados efetivos A

missatildeo da UFT de acordo com o Planejamento Estrateacutegico da instituiccedilatildeo (UFT 2014 p 10) constitui

em ldquoformar profissionais cidadatildeos e produzir conhecimentos com inovaccedilatildeo e qualidade que

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

195

contribuam para o desenvolvimento socioambiental do Estado do Tocantins e da Amazocircnia Legalrdquo A

visatildeo da universidade segundo o mesmo documento eacute ldquoser reconhecida nacionalmente ateacute 2022

pela excelecircncia no ensino pesquisa e extensatildeordquo A UFT permaneceu como uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica

federal de ensino superior do estado do Tocantins ateacute a criaccedilatildeo do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins (IFTO) em dezembro de 2008 A estrutura multicampi da UFT

permite que esta atenda a todas macroregiotildees do estado do Tocantins conforme se pode visualizar na

figura 8

Figura 8 - Localizaccedilatildeo dos campi da Universidade Federal do Tocantins (Fonte Diretoria de Comunicaccedilatildeo (DicomUFT))

O contexto histoacuterico da implantaccedilatildeo da UFT no estado do Tocantins em 2003 iniciou-se com

as reformas e reestruturaccedilotildees da Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins (Unitins) esta uacuteltima criada pelo

Decreto nordm 25290 de 21 de fevereiro de 1990 A Unitins foi organizada como uma fundaccedilatildeo de

direito puacuteblico ou seja uma instituiccedilatildeo de caraacuteter puacuteblico subsidiada pelo estado que permaneceu

sob esse regime ateacute o ano de 1992 quando foi reestruturada passando agrave condiccedilatildeo de uma autarquia

do sistema estadual (Souza 2006) Pinho (2007) afirma que ateacute 1999 a Unitins chegou a ter dez

campi distribuiacutedos no estado nas cidades de Arraias Araguaiacutena Tocantinoacutepolis Porto Nacional

Palmas Miracema Gurupi Paraiacuteso Colinas e Guaraiacute aleacutem de ter assumido a gestatildeo do Coleacutegio

Agriacutecola de Natividade

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

196

Assim a Unitins uma universidade estadual era considerada uma importante instituiccedilatildeo de

ensino puacuteblico no receacutem-criado estado de Tocantins No entanto segundo o estudo realizado por Souza

(2006) sobre a trajetoacuteria da Unitins rumo agrave criaccedilatildeo da UFT no ano de 1996 existiram tentativas do

governo estadual de privatizar a Unitins alegando gastos onerosos com quase oito mil alunos da

instituiccedilatildeo Poreacutem frente agrave pressatildeo dos estudantes por meio de passeatas manifestaccedilotildees e

paralisaccedilotildees num movimento chamado SOS Unitins e tambeacutem pressatildeo dos docentes o governo

estadual ciente do desgaste de sua imagem em ano eleitoral decidiu suspender a cobranccedila de

mensalidades e taxas e perdoar as diacutevidas dos alunos inadimplentes

Portanto como alternativa aos problemas da Unitins e agrave forte oposiccedilatildeo dos estudantes e

docentes agrave privatizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo o governo do Tocantins propocircs a criaccedilatildeo de uma universidade

federal Desta forma em junho de 2000 o entatildeo governador Joseacute Wilson Siqueira Campos sancionou

a Lei nordm 1160 que de acordo com o artigo 18 os bens patrimoniais da instituiccedilatildeo poderiam ser

transferidos no todo ou em parte por doaccedilatildeo ou cessatildeo para a futura Universidade Federal do

Tocantins (Pinho 2007) Em outubro do mesmo ano o presidente Fernando Henrique Cardoso

sancionou a Lei 10032 que criava a Universidade Federal do Tocantins

Atualmente com dezesseis anos de criaccedilatildeo a UFT instalou-se como importante instituiccedilatildeo de

promoccedilatildeo do ensino superior gratuito e de qualidade na regiatildeo (PINHO 2007) Em 2015 a UFT

ofertava 59 cursos de graduaccedilatildeo presencial 5 cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia 14 cursos de

mestrado acadecircmicos e 8 mestrados profissionais 5 programas de doutorado atendendo a mais de

18 mil alunos (UFT 2015) Considerando a vocaccedilatildeo de desenvolvimento do Tocantins a UFT oferece

oportunidade de formaccedilatildeo nas aacutereas de Ciecircncias Sociais Aplicadas Humanas Agraacuterias e Ciecircncias

Bioloacutegicas Apresentamos de seguida e com mais detalhes o histoacuterico da inserccedilatildeo da UFT em projetos

de cursos mediados por tecnologias

413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins

A UFT participou pela primeira vez em um projeto de educaccedilatildeo mediada por tecnologias em

2005 quando aderiu ao projeto do Consoacutercio Setentrional47 para oferta do curso em Licenciatura em

Biologia a distacircncia De acordo com Perdigatildeo-Nass (2012) a Chamada Puacuteblica MECSeed 012004

exigia que as Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) se organizassem em consoacutercios para ofertarem 47 O consoacutercio Setentrional era formado pelas seguintes IFES Universidade de Brasiacutelia ndash UnB Universidade Federal de Goiaacutes ndash UFG Universidade Estadual de Goiaacutes ndash UEG Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ndash UFMS Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul ndash UEMS Universidade Federal do Paraacute ndash UFPA Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) ndash UESC Universidade Federal do Tocantins ndash UFT e Universidade Federal de Rondocircnia ndash UNIR

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

197

cursos a distacircncia A UFT participou desta Chamada e em 2005 sua primeira oferta abriu 75 vagas da

Licenciatura em Biologia a distancia para os polos de Arraias Araguaiacutena e Gurupi A segunda turma

em 2006 aleacutem da oferta nos polos jaacute ofertantes abriu vagas para o polo de Porto Nacional O total de

vagas ofertadas foram 200 nos 4 polos (50 em cada) e destas 126 tiveram suas matriacuteculas efetivadas

(ALVES 2007) Ainda em 2005 com a criaccedilatildeo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) 48 a UFT

participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB tendo sido aprovada a oferta do curso

de licenciatura em Biologia a distacircncia

Em 2006 a UAB abriu segunda chamada para oferta de cursos e a UFT foi contemplada com

a aprovaccedilatildeo dos cursos de Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a distacircncia

Apenas o curso de Biologia iniciou no ano seguinte integrando com o curso de Biologia jaacute ofertado pelo

Consoacutercio Setentrional Em 2007 a UFT passou a ofertar o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo que

constitui de um curso modular de formaccedilatildeo continuada de professores da rede puacuteblica A primeira

turma desta especializaccedilatildeo concluiu o curso em 2011 e o ciclo baacutesico formou 5 turmas entre 2007 e

2011 Ainda em 2008 a UFT passou a participar do Programa Nacional Escola de Gestores49 Dentro

deste foi ofertado o curso de especializaccedilatildeo latu sensu Gestatildeo Escolar voltado para gestores escolares

em exerciacutecio na Rede Puacuteblica de Ensino Foram ofertadas 400 vagas no Tocantins atingindo 116

municiacutepios (Alves amp Macedo 2012)

Os cursos de licenciatura em Quiacutemica e Fiacutesica aprovados em 2006 tiveram efetivo iniacutecio de

aulas somente em 2009 devido a problemas de descentralizaccedilatildeo de recursos A partir de 2010

ampliou-se as vagas por cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a adesatildeo da UFT ao Programa Nacional de

Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP na oferta dos cursos Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica

Municipal e Gestatildeo em Sauacutede Naquele ano a UFT aderiu ao PARFOR na oferta de 13 cursos de

licenciaturas semipresenciais atendendo a mais de mil alunos (professores da rede puacuteblica de ensino)

em seis campi da universidade Apoacutes seis anos de implementaccedilatildeo do programa com informaccedilotildees da

SEDUCTO50 ateacute 2016 438 professores haviam concluiacutedo os cursos de graduaccedilatildeo e foram formadas

58 turmas dos cursos de Pedagogia Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Bioloacutegicas Letras

Informaacutetica Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Teatro e Letras Libras

48 A Universidade Aberta do Brasil eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponivel em httpwwwcapesgovbracessoainformacaoperguntas-frequenteseducacao-a-distancia-uab4144-o-que-e Acesso em 30 de abril 2016 49 Programa Nacional Escola de Gestores eacute uma accedilatildeo do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo (MEC) ndash por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica ndash em parceria com dez universidades federais (entre as quais a UFT) e vaacuterias entidades representativas de educadores Dentre as atividades desse Programa estaacute o curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo Escolar na modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia com carga horaacuteria de 400haula 50 Disponiacutevel em httpseductogovbrnoticia2016127seminario-avalia-os-seis-anos-da-implantacao-do-parfor-no-tocantins Acesso em 25 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

198

Em 2012 e 2013 a UFT atendeu cerca de 2000 alunos distribuiacutedos em trecircs cursos de

graduaccedilatildeo (licenciatura em Biologia Licenciatura em Fiacutesica e Licenciatura em Quiacutemica) um curso de

Poacutes Graduaccedilatildeo stritu senso em Matemaacutetica profissionalizante ndash PROFMAT) quatro cursos de

Especializaccedilatildeo (Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica Municipal Gestatildeo em Sauacutede e Miacutedias na Educaccedilatildeo) e

seis cursos de Aperfeiccediloamento (Educaccedilatildeo Ambiental Formaccedilatildeo de Gestores Indiacutegenas Cultura e

Histoacuteria dos povos indiacutegenas Educaccedilatildeo para Diversidade e Cidadania Miacutedias na Educaccedilatildeo) todos na

modalidade a distacircncia

Nos anos de 2014 e 2015 no acircmbito da Rede para Diversidade51 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECADI) em parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo a

Distacircncia (SEED) e a Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) foram

ofertados sete cursos de especializaccedilatildeo na modalidade a distacircncia nas diferentes temaacuteticas Histoacuteria e

Cultura Afro-brasileira e Africana Gecircnero e Diversidade na Escola Educaccedilatildeo e Direitos Humanos

Educaccedilatildeo Ambiental com ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e

Adultos na Diversidade Escola de Gestores - Coordenadores Escolares Sauacutede na Escola ndash Crack Em

2015 iniciou-se tambeacutem o curso de bacharelado em Administraccedilatildeo Puacuteblica a distacircncia com oferta de

480 vagas em dez polos do estado do Tocantins

No ano de 2016 estavam sendo ofertados pelo sistema UAB cinco cursos de graduaccedilatildeo na

instituiccedilatildeo distribuiacutedos nos dezesseis polos de apoio presencial conforme apresentado no quadro a

seguir

51 A Rede de Educaccedilatildeo para a Diversidade (Rede) eacute um grupo permanente de instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior dedicado agrave formaccedilatildeo continuada de profissionais de educaccedilatildeo O objetivo eacute disseminar e desenvolver metodologias educacionais para a inserccedilatildeo dos temas da diversidade no cotidiano das salas de aula Satildeo ofertados cursos de formaccedilatildeo continuada para professores da rede puacuteblica da educaccedilatildeo baacutesica em oito aacutereas da diversidade relaccedilotildees eacutetnico-raciais gecircnero e diversidade formaccedilatildeo de tutores jovens e adultos educaccedilatildeo do campo educaccedilatildeo integral e integrada ambiental e diversidade e cidadania Disponiacutevel em httpportalmecgovbrrede-de-educacao-para-a-diversidade Acesso em 25 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

199

Quadro 10 - Quantitativo de alunos matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia no acircmbito das graduaccedilotildees via UABCAPES distribuiacutedos por polos em 2016

Polo Adm Puacuteblica Bacharelado

Biologia Licenciatura

Fiacutesica Licenciatura

Matemaacutetica Licenciatura

Quiacutemica Licenciatura

Alvorada - - - 16 - Ananaacutes 78 - 11 24 - Araguatins - 20 - - - Araguaiacutena 40 41 - - - Araguacema 40 - - - - Arraias 88 50 - 9 - Cristalacircndia - - 9 - - Dianoacutepolis 50 - - 10 5 Guaraiacute 88 - - 19 - Gurupi 87 62 12 28 19 Mateiros 11 - Nova Olinda 50 - - 12 - Palmas - - 40 - 28 Pedro Afonso 36 - - - - Porto Nacional 68 - - 18 Taguatinga 55 - - 21 - Total 612 245 72 150 70

Total geral de alunos matriculados em graduaccedilotildees a distacircncia UABUFT 1079

Fonte SISUAB52 (2016)

Assim ao longo dos dez anos de educaccedilatildeo mediada por tecnologias os cursos ofertados pela

UFT vinculados ao sistema Universidade Aberta do Brasil possibilitaram a formaccedilatildeo superior ou

formaccedilatildeo continuada de milhares de pessoas que natildeo poderiam ter acesso ao ensino superior nas

cidades onde residem o que certamente os impediriam de disputar vagas no mercado de trabalho

414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT

Para Becker e Marques (2002) a educaccedilatildeo mediada por tecnologias tem sido apontada com

uma alternativa agrave formaccedilatildeo de professores considerando que o Brasil um paiacutes com extensatildeo

continental apresenta uma distribuiccedilatildeo desigual de acesso ao ensino superior com contrastes

relevantes entre regiotildees com crescimento industrial e niacutevel de vida equivalente ao do Primeiro Mundo e

outras regiotildees de extremo atraso e miseacuteria Diante dessas realidades abissais a educaccedilatildeo a distacircncia

apresenta-se como uma tentativa de minimizar do ponto de vista educacional essas diferenccedilas

sociais Neste sentido a universidade puacuteblica ciente do seu papel social em atingir o maior nuacutemero de

pessoas com educaccedilatildeo de qualidade tem aderido ao uso de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

para mediar a aprendizagem em espaccedilos e tempos diferentes

52 O Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil - SISUAB eacute uma plataforma de suporte para a execuccedilatildeo acompanhamento e gestatildeo de processos da Universidade Aberta do Brasil Estaacute preparado para o cadastramento e consulta de informaccedilotildees sobre instituiccedilotildees poacutelos cursos material didaacutetico articulaccedilotildees colaboradores e mantenedores O acesso ao SISUAB eacute permitido apenas aos usuaacuterios previamente autorizados (coordenadores UAB e coordenadores de curso coordenadores de poacutelos de apoio presencial e colaboradores da CAPES)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

200

Segundo Oliveira e Gasparin (2012) em 1998 havia aproximadamente 830 mil professores

sem formaccedilatildeo de niacutevel superior atuando na educaccedilatildeo baacutesica brasileira De acordo com o censo da

educaccedilatildeo daquele ano o nuacutemero de professores com formaccedilatildeo em niacutevel meacutedio (antigo magisteacuterio) e

ainda professores leigos que atuavam em vaacuterios pontos do paiacutes fez surgir um grande movimento entre

pesquisadores legisladores e gestores municipais e estaduais O Plano Nacional da Educaccedilatildeo de 2001

(PNE 2001) previa metas concretas a meacutedio e longo prazo para a formaccedilatildeo de professores em

exerciacutecio De entre estas metas a nuacutemero 19 previa no prazo de dez anos a formaccedilatildeo em niacutevel

superior dos professores de ensino meacutedio na sua aacuterea de atuaccedilatildeo No item seis do PNE cujo tiacutetulo era

Educaccedilatildeo agrave distacircncia e tecnologias educacionais enfatizava a necessidade de incentivo agrave utilizaccedilatildeo de

tecnologias de educaccedilatildeo agrave distacircncia para a formaccedilatildeo de professores

Segundo levantamento do MEC53 em 2009 havia um deacuteficit de 240 mil professores na aacuterea

das Ciecircncias Exatas no Brasil A mesma pesquisa revela que a Fiacutesica tinha o maior deacuteficit do Brasil

apenas sete mil professores se formaram entre 2001 e 2008No Tocantins esse deacuteficit chega a mais

de 60 e os professores de Fiacutesica satildeo na maioria formados em Matemaacutetica ou aacuterea afins O ganho

mais significativo na promoccedilatildeo de cursos a distacircncia pela UFT eacute a formaccedilatildeo de professores leigos que

atuam no ensino meacutedio e natildeo possuem formaccedilatildeo ou se a possuem natildeo estaacute sendo usada

adequadamente no exerciacutecio da profissatildeo Eacute importante sinalizar que este quantitativo no estado do

Tocantins ultrapassa 11000 professores Portanto eacute possiacutevel inferir que a oferta de cursos a distacircncia

tem contribuiacutedo para fortalecer a qualidade do ensino fundamental e meacutedio neste estado

Ao melhorar a qualidade do ensino meacutedio a educaccedilatildeo a distacircncia tambeacutem estaacute colaborando

para melhorar a qualidade do ensino superior uma vez que estes alunos estaratildeo potencialmente

capacitados a ingressar em universidades puacuteblicas por meio de vestibulares Ao permitir o acesso

destes alunos agraves universidades de comprovada qualidade a UAB estaacute tambeacutem cumprindo com um

importante papel social que eacute criar igualdade de oportunidades a todos Assim indiretamente

reduzindo as desigualdades sociais das regiotildees mais pobres do estado do Tocantins

Neste sentido a educaccedilatildeo mediada por tecnologias foi adotada pela UFT como uma

metodologia de ensino que promove o alcance da educaccedilatildeo superior aos municiacutepios mais distantes do

estado Segundo o Mapa da Inclusatildeo digital (Neri 2012) Tocantins ocupava em 2012 a 22ordf posiccedilatildeo

no ranking de acesso por estados brasileiros com 2374 dos habitantes com conexatildeo banda larga

53 Disponiacutevel em lthttpwwwsindutemgorgbrnovositeconteudophpMENU=1ampLISTA=detalheampID=633gt Acesso em 12 set 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

201

fixa Dados recentes do IBGE do ano de 2013 revelaram que 437 dos domiciacutelios tocantinenses

utilizam somente computador de mesa com internet e 215 utilizam apenas internet moacutevel pelo tablet

ou telefone celular Comparando este porcentual agrave meacutedia nacional do Brasil (45) o Tocantins possui

um nuacutemero significativo de habitantes conectados agrave internet No entanto problemas relacionados com

a qualidade do acesso e falta de portas de conexatildeo em algumas cidades tambeacutem satildeo recorrentes no

estado do Tocantins54 Logo o desafio da UFT vai aleacutem de promover cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada mediados por tecnologias no estado mas lidar com as dificuldades de infraestrutura de

acesso e qualidade da internet na regiatildeo

Outro dado importante sobre o Tocantins trata-se da meacutedia de escolas que possuem internet

de banda larga que eacute de 525 iacutendice razoaacutevel considerando que se trata de um estado com rincotildees

de pobreza e alto iacutendice de analfabetismo 1309 sendo o iacutendice superior ao nacional que eacute de 961

(Alves e Silva 2014) Poreacutem ainda que exista o acesso digital nas escolas do estado pesquisas

apontam para uma fragilidade dos professores no uso das tecnologias enquanto ainda satildeo cursistas

(formaccedilatildeo inicial e continuada) nas atividades sociais bem como na sua praacutetica pedagoacutegica (Alves e

Faria 2011 Martins e Silva 2012) Assim a questatildeo do niacutevel de literacia digital dos professores

constitui outro desafio para a eficaacutecia dos cursos mediados por tecnologias Neste sentido este

trabalho buscou investigar os impactos dos cursos de formaccedilatildeo on-line de professores sobre as

suas habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias digitais no seu cotidiano e praacuteticas

pedagoacutegicas

Portanto este estudo que utiliza instrumentalmente o curso de licenciatura a distacircncia de

Fiacutesica da UFT busca investigar se o fato destes professores (alunos do curso) estudarem na

modalidade a distacircncia contribuiu para desenvolvimento da literacia digital no seu cotidiano e na

sua praacutetica docente O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade

Federal do Tocantins faz parte do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) e conforme o quadro

10 (p212) em 2016 era ofertado em quatro polos do Tocantins atendendo a 72 alunos Antes de

aprofundarmos sobre as caracteriacutesticas inerentes do curso em questatildeo apresentamos mais

detalhadamente o funcionamento e dinacircmica do programa UAB no qual este estaacute inserido

54 Notiacutecia disponiacutevel em httpg1globocomtotocantinsnoticia201311lentidao-na-internet-lidera-reclamacoes-na-anatel-no-tocantinshtml Acesso

20 jul 2015

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

202

42 O sistema UAB

O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do

Tocantins (objeto do presente estudo) faz parte do Programa UAB Este programa foi instituiacutedo pelo

Decreto 5800 de 8 de junho de 2006 55 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a

Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES com vista agrave expansatildeo da

educaccedilatildeo superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

A legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia prevista no artigo 80 da Lei de Diretrizes e

bases da Educaccedilatildeo (LDB 94961996) regula que esta modalidade deve ser ofertada por instituiccedilotildees

especificamente credenciadas pela Uniatildeo Tambeacutem os Decretos nordm 56222005 e nordm 57732006

bem como as Portarias Ministeriais Normativas 1 e 2 de janeiro de 2007 estabelecem a necessidade

de que as instituiccedilotildees credenciem polos de apoio presencial para oferta dos cursos a distacircncia Assim

o modelo de educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil eacute baseado nestas prerrogativas de encontros presenciais

obrigatoacuterios em polos previamente avaliados pela Uniatildeo

No Brasil importantes projetos de cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia foram desenvolvidos nas

uacuteltimas deacutecadas alguns isoladamente nas universidades federais como eacute o caso do curso de

Pedagogia na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em 1995 e de

outros projetos que foram concebidos em formato de consoacutercio entre diversas universidades como eacute o

caso do Consoacutercio CEDERJ56 que ofertou cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e o curso

de bacharelado em Administraccedilatildeo no ano de 2000 Na visatildeo de Costa e Pimentel (2009) experiecircncias

como estas foram precursoras do modelo atual do sistema Universidade Aberta do Brasil Costa (2007)

destaca quatro elementos essenciais que configuram o suporte e a execuccedilatildeo de cursos superiores a

distacircncia que estavam presentes no modelo do CEDERJ e estatildeo presentes no modelo da UAB

financiamento avaliaccedilatildeo institucional gestatildeo operacional e gestatildeo acadecircmica No caso da UAB

acrescenta-se a este modelo a induccedilatildeo de ofertas de cursos por meio de editais

421 Estrutura administrativa da UAB

Segundo o Decreto 58002006 o Sistema UAB foi criado visando o desenvolvimento da

modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e

55 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062006DecretoD5800htmgt Acesso em 24 de set 2015 56 O CEDERJ foi uma iniciativa do governo do estado do Rio de Janeiro em parceria com as universidades puacuteblicas daquele estado Participaram do consoacutercio a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

203

programas de educaccedilatildeo superior no Paiacutes Fomenta a modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia nas

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior bem como apoia pesquisas em metodologias inovadoras de

ensino superior respaldadas em tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste modelo a UAB natildeo

eacute uma instituiccedilatildeo de ensino a distacircncia antes constitui um oacutergatildeo articulador das instituiccedilotildees puacuteblicas

responsaacuteveis pela oferta de cursos superiores puacuteblicos a distacircncia Essa articulaccedilatildeo estabelece qual

instituiccedilatildeo de ensino deve ser responsaacutevel por ministrar determinado curso em certo municiacutepio ou

certa microrregiatildeo por meio dos polos de apoio presencial A UAB eacute responsaacutevel pelo financiamento e a

avaliaccedilatildeo enquanto a gestatildeo acadecircmica e operacional estaacute a cargo das instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino

Figura 7 - Funcionamento do sistema UAB Fonte DTEUFT

O processo de articulaccedilatildeo ocorre numa primeira etapa quando a UAB publica editais para

ofertas dos cursos anualmente e as universidades puacuteblicas interessadas devem propor novos cursos de

acordo com os paracircmetros previstos nas chamadas puacuteblicas Em geral essas chamadas especificam

os cursos a serem ofertados e as respectivas modalidades (extensatildeo aperfeiccediloamento graduaccedilatildeo ou

especializaccedilatildeo) Abertas as chamadas a universidade discute internamente que cursos tem interesse

de ofertar e envia um projeto pedagoacutegico curricular (PPC) de cada curso junto com planilha de

financiamento de previsatildeo de custeio e pagamento de bolsas

Na segunda etapa ocorre a resposta agrave articulaccedilatildeo ou seja trata-se da adesatildeo ou natildeo da oferta

entre o rol de cursos previamente aprovados para a universidade nas chamadas ou editais da primeira

etapa No caso de adesatildeo a universidade deve informar os polos UAB da oferta o nuacutemero de vagas

por polo UAB e a forma de ingresso e aguardar a anaacutelise dos oacutergatildeos financiadores A terceira etapa eacute a

negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das planilhas e implementaccedilatildeo dos cursos Os cursos e polos aprovados na

articulaccedilatildeo com o oacutergatildeo financiador poderatildeo ser implementados apoacutes a negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

204

planilhas Estas tratam do custeio dos cursos (diaacuterias passagens reprografia material de consumo

etc) e tambeacutem das bolsas para a coordenaccedilatildeo professores tutores e demais profissionais da equipe

multidisciplinar de cada curso

Apoacutes a articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino e dos polos de apoio presencial o

sistema UAB assegura o fomento dos cursos financiando sua implementaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os polos de

apoio presencial satildeo selecionados via edital e tecircm a funccedilatildeo de promover o desenvolvimento

descentralizado de atividades pedagoacutegicas relativas aos cursos e programas ofertados a distacircncia pelas

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior no acircmbito da UAB Satildeo mantidos por municiacutepios ou governos

de estado que asseguram a infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e pedagoacutegica para que os alunos possam

acompanhar os cursos a distacircncia Assim o polo da UAB abriga turmas de um determinado curso na

modalidade a distacircncia e natildeo o curso Neste sentido o polo natildeo eacute de uma universidade especiacutefica ele

atende as universidades previamente aprovadas nas articulaccedilotildees O primeiro edital da UAB foi

publicado em 2005 e selecionou 292 polos de apoio presencial 190 cursos e 49 instituiccedilotildees federais

aprovadas para a oferta de 45000 vagas Em 2016 o SISUAB registrou 781 polos em todas as

regiotildees do paiacutes

As proposiccedilotildees para abertura de polos presenciais devem ser do prefeito do municiacutepio

interessado ou do governador do estado As regras deste edital exigem que toda infraestrutura fiacutesica e

de pessoal do polo presencial fica a cargo da prefeitura sede ou governo do estado enquanto a UAB se

responsabiliza pelas despesas de custeio dos cursos nas instituiccedilotildees ofertantes incluindo o pagamento

de bolsas para professores e tutores Segundo o Guia de orientaccedilotildees baacutesicas sobre o Sistema

Universidade Aberta do Brasil (2013) os polos precisam atender aos seguintes requisitos

1 Infraestrutura fiacutesica e tecnoloacutegica a) Ambientes administrativos sala para coordenaccedilatildeo do polo (obrigatoacuteria) sala para secretaria (obrigatoacuteria) sala para reuniatildeo b) Ambientes acadecircmicos salas multiuso (tutoria aula prova viacutedeowebconferecircncia etc) Laboratoacuterios pedagoacutegicos (especiacuteficos para cada curso) c) Ambientes de apoio (obrigatoacuterios) laboratoacuterio de informaacutetica proacuteprio conectados agrave internet de no miacutenimo 2Mb com instalaccedilotildees eleacutetricas adequadas biblioteca com espaccedilo para estudo d) Ambientes geraisbanheiros (pelo menos um feminino e um masculino que atendam as normas de acessibilidade)

2 Recursos Humanos Eacute necessaacuterio que o polo tenha minimamente Coordenador de polo Secretaacuteria(o) ou apoio administrativo de polo Teacutecnico(s) de Informaacutetica Biblioteconomista ou auxiliar de biblioteca Teacutecnico(s) de Laboratoacuterio

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

205

Pedagoacutegico (se for o caso) Seguranccedila Serviccedilos gerais (manutenccedilatildeo e limpeza)

Aleacutem destas exigecircncias miacutenimas o Guia salienta que os diversos ambientes do polo apresentem boas

condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo ventilaccedilatildeoclimatizaccedilatildeo obrigatoacuteria no laboratoacuterio de informaacutetica aleacutem de

mobiliaacuterio adequado agraves finalidades de uso de cada ambiente Na figura 8 eacute possiacutevel visualizar a

distribuiccedilatildeo geograacutefica dos polos UAB no Tocantins

Figura 8 ndash Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins (Fonte DTEUFT)

Assim no Tocantins dezesseis polos estatildeo ativos no ano de 2016 Destes 14 satildeo mantidos

pelo governo estadual e 2 (Nova Olinda e Ananaacutes) tecircm o apoio das prefeituras locais

422 Gestatildeo financeira da UAB

Sobre a gestatildeo financeira dos cursos da UAB segundo o Guia de Guia de orientaccedilotildees baacutesicas

sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil (2013) no caso das Instituiccedilotildees Federais de Ensino

(IFEs) os cursos podem ser financiados (custeio - diaacuterias passagens reprografia material de

consumo) com orccedilamento proveniente de duas fontes orccedilamento destinado pela Lei de diretrizes

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

206

orccedilamentaacuterias (LDO) do ano corrente na proacutepria estrutura da universidade (Matriz Orccedilamentaacuteria) e

orccedilamento da CAPES descentralizado para execuccedilatildeo da universidade (descentralizaccedilatildeo) O

pagamento dos professores e demais profissionais eacute efetuado por meio de bolsas Segundo o Guia

(2013) satildeo elegiacuteveis para o recebimento de bolsas nas Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) as

seguintes funccedilotildees que estatildeo cadastradas no Sistema de Gestatildeo de Bolsas (SGB)57 Tutor (presencial e

a distacircncia) Professor (pesquisador conteudista revisor equipe multidisciplinar) Coordenador curso

Coordenador de tutoria Coordenador de polo Coordenador UAB Coordenador UAB adjunto

A admissatildeo dos professores e demais profissionais envolvidos nos cursos da UABUFT satildeo

realizadas por anaacutelise curricular por cada coordenador de curso Os tutores presenciais e a distacircncia

satildeo selecionados via edital de seleccedilatildeo em que satildeo analisados os criteacuterios de formaccedilatildeo acadecircmica

tempo de docecircncia na aacuterea de educaccedilatildeo a distacircncia e produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea do curso que iraacute

atuar

A CAPES na funccedilatildeo de oacutergatildeo financiador do sistema UAB publica editais de fomento para

possibilitar que as IES participantes do sistema se qualifiquem no que se refere agrave sua infraestrutura

fiacutesica tecnoloacutegica estrutural bem como na formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo do quadro de colaboradores que

atuam na modalidade em diferentes funccedilotildees A UFT recebeu recursos provenientes de Editais de

fomento da CapesUAB para a estruturaccedilatildeo do centro de educaccedilatildeo a distacircncia formaccedilatildeo continuada

dos profissionais atuantes na modalidade na instituiccedilatildeo (cursos e capacitaccedilotildees) e estruturaccedilatildeo

tecnoloacutegica (material permanente equipamentos tecnoloacutegicos) Estes recursos possibilitaram a

estruturaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia na UFT Hoje a Diretoria de

Tecnologias Educacionais (DTE) departamento responsaacutevel pela modalidade na UFT possui preacutedio

proacuteprio com infraestrutura adequada para a oferta e acompanhamento dos cursos a distacircncia58 No

entanto em consulta a relatoacuterios de cumprimento de objeto dos recursos aprovados para a modalidade

na instituiccedilatildeo um bom aporte dos mesmos foi devolvido para o oacutergatildeo fomentador pela razatildeo da sua

chegada tardia na matriz orccedilamentaacuteria da instituiccedilatildeo59

57 O Sistema de Gestatildeo de Bolsas - SGB eacute utilizado para gerir bolsas-auxiacutelio fornecidas pelos programas que participam da poliacutetica de incentivo agrave educaccedilatildeo do governo federal O gerenciamento das Bolsas UAB foi realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) ateacute julho de 2011 A partir de entatildeo essa responsabilidade passou a ser da CAPES que utiliza sistema semelhante ao do FNDE (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 11) 58 Para mais informaccedilotildees sobre a institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT pode consultar o artigo A Implementaccedilatildeo e Institucionalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo a Distacircncia na Universidade Federal do Tocantins Caminhos Percorridos e a Percorrer (Alves e Macedo 2012) 59 Um exemplo em 2008 o recurso destinado para capacitaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT (Processo 234000065492008-66) foi devolvido por ter sido descentralizado no dia 23 de dezembro de 2008 Segundo o relatoacuterio de cumprimento do objeto enviado agrave CAPES a devoluccedilatildeo se deu devido a impossibilidade de cumprir os preceitos da Lei 81661993 que trata da legislaccedilatildeo e prazos para licitaccedilatildeo e contratos puacuteblicos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

207

423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB

A gestatildeo pedagoacutegica dos cursos do sistema UAB fica designada para cada instituiccedilatildeo ofertante

com a ressalva que cumpram as orientaccedilotildees e paracircmetros designados pelo sistema Os cursos devem

ter um Projeto Pedagoacutegico de Curso (PPC) aprovado pelo colegiado maacuteximo da instituiccedilatildeo O PPC deve

contemplar entre outros itens o perfil do egresso a estrutura curricular do curso (nuacutemero de

moacuteduloaula ementas carga horaacuteria bibliografia baacutesica e complementar) diretrizes metodoloacutegicas

modalidade do curso (semi-presencial ou totalmente a distacircncia60) definiccedilatildeo de encontros presenciais

orientaccedilotildees para a praacutetica e estaacutegio supervisionado proposta de avaliaccedilatildeo do processo de ensino-

aprendizagem e orientaccedilotildees para o trabalho de conclusatildeo de curso

O curso deve ter obrigatoriamente um colegiado composto por um quadro de professores

qualificado para atender agraves diretrizes dos Referenciais de qualidade para a Educaccedilatildeo Superior a

distacircncia (2007 p 18) o qual prioriza que o corpo docente seja ldquovinculado agrave proacutepria instituiccedilatildeo com

formaccedilatildeo e experiecircncia na aacuterea de ensino e em educaccedilatildeo a distacircnciardquo O mesmo documento lista as

habilidades que se exigem do professor na modalidade a distacircncia

a) estabelecer os fundamentos teoacutericos do projeto b) selecionar e preparar todo o conteuacutedo curricular articulado a procedimentos e atividades pedagoacutegicas c) identificar os objetivos referentes a competecircncias cognitivas habilidades e atitudes d) definir bibliografia videografia iconografia audiografia tanto baacutesicas quanto complementares e) elaborar o material didaacutetico para programas a distacircncia f) realizar a gestatildeo acadecircmica do processo de ensino-aprendizagem em particular motivar orientar acompanhar e avaliar os estudantes g) avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distacircncia

Assim a UAB daacute autonomia agraves IES que selecionem seu quadro de professores de acordo com

esses criteacuterios e realizem a capacitaccedilatildeo necessaacuteria para a formaccedilatildeo continuada dos mesmos em

relaccedilatildeo agraves tecnologias e miacutedias A seleccedilatildeo de professores e tutores tambeacutem deve ser realizada segundo

os paracircmetros de Fomento do Sistema UAB descritos no Ofiacutecio Circular 292012 a) 1 cota de bolsa a

cada 30 horas-aulas de carga-horaacuteria por grupo de 15 alunos ou b) 1 tutor (12 cotas de bolsas) por

grupo de 25 alunos e 1 tutor (12 cotas de bolsas) por polo por grupo de 25 alunos

60 Obedecendo a legislaccedilatildeo brasileira os cursos de graduaccedilatildeo ou especializaccedilatildeo no sistema UAB devem ter obrigatoriamente encontros presenciais cuja frequecircncia deve ser determinada pela natureza da aacuterea do curso oferecido e pela metodologia de ensino utilizada

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

208

O sistema exige que as funccedilotildees de cada profissional envolvido num curso sejam claramente

definidas de forma que o mesmo ocorra seguindo um fluxo exitoso A publicaccedilatildeo Orientaccedilotildees Gerais

Oferta de cursos na modalidade a distacircncia na UFT e Formaccedilatildeo de tutores para a atuar em EAD

(Flores 2010) apresenta o papel dos diversos profissionais envolvidos na oferta dos cursos a distacircncia

na UFTSegue a descriccedilatildeo com algumas adaptaccedilotildees

a) Coordenador de polo

Responsaacutevel pelas condiccedilotildees para a permanecircncia do aluno no curso criando um viacutenculo mais proacuteximo

com a universidade responsaacutevel pelas atividades acadecircmicas dos cursos ofertados nos polos Cabe ao

coordenador fazer a gestatildeo do polo fornecer informaccedilotildees necessaacuterias aos coordenadores UAB para

instrumentalizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de projetos e planejamento de accedilotildees mediar as relaccedilotildees entre os

partiacutecipes da UAB - Governo Federal Estados e Municiacutepios planejar e articular horaacuterios e calendaacuterios

de uso dos espaccedilos e equipamentos do polo acompanhar atividades desenvolvidas pelos tutores

presenciais entre outras

b) Coordenador de curso

O Coordenador de Curso eacute um professor ou pesquisador designadoindicado pelas Instituiccedilotildees

Puacuteblicas de Ensino Superior (IPES) vinculadas ao Sistema UAB que atua nas atividades de

coordenaccedilatildeo de curso implantado no acircmbito do Sistema UAB e no desenvolvimento de projetos de

pesquisa relacionados aos cursos Satildeo atribuiccedilotildees do Coordenador de Curso

- Coordenar acompanhar e avaliar as atividades acadecircmicas do curso - Participar das atividades de capacitaccedilatildeo e de atualizaccedilatildeo desenvolvidas na instituiccedilatildeo de ensino - Participar de grupos de trabalho para o desenvolvimento de metodologia elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a modalidade a distacircncia e sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Realizar o planejamento e o desenvolvimento das atividades de seleccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no curso - Elaborar em conjunto com o corpo docente do curso o sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Participar dos foacuteruns virtuais e presenciais da aacuterea de atuaccedilatildeo - Realizar o planejamento e o desenvolvimento dos processos seletivos de alunos em conjunto com o coordenador UAB - Acompanhar o registro acadecircmico dos alunos matriculados no curso - Verificar in loco o andamento dos cursos - Acompanhar e supervisionar as atividades dos tutores dos professores do coordenador de tutoria e dos coordenadores de polo - Informar o coordenador UAB a relaccedilatildeo mensal de bolsistas aptos e inaptos para recebimento

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

209

Nos cursos na modalidade a distacircncia oferecidos na UFT em parceria com a UAB cabe ainda

aos coordenadores de curso a elaboraccedilatildeo dos documentos exigidos pelo sistema projetos planilhas

orccedilamentaacuterias e financeiras relatoacuterios pedagoacutegicos e de execuccedilatildeo financeira e ainda a alimentaccedilatildeo

dos dados dos sistemas ATUAB61 e SISUAB

c) Professor Autor (conteudista)

Os professores autores ou conteudistas satildeo os responsaacuteveis pela produccedilatildeo do material didaacutetico

do curso Deveratildeo ser professores da aacuterea do conhecimento do curso de preferecircncia do quadro de

servidores da UFT Satildeo atribuiccedilotildees dos professores autores

- Elaborar o plano de curso da disciplina prevendo a elaboraccedilatildeo de recursos e o uso de miacutedias da EaD (ambiente virtual materiais didaacuteticos viacutedeos simulaccedilotildees etc) e estrateacutegias didaacuteticas aplicadas agrave EaD - Desenvolver organizar e selecionar os materiais didaacuteticos para o curso em articulaccedilatildeo com as equipes de produccedilatildeo das IFEs - Redigir o texto didaacutetico para EaD utilizando de linguagem adaptada para essa modalidade - Seguir o cronograma de entrega do material obedecendo aos fluxos previstos pela coordenaccedilatildeo do curso

d) Professor formador

O professor formador atua diretamente como mediador pedagoacutegico dos alunos na sala virtual

Este eacute responsaacutevel pela disponibilizaccedilatildeo dos conteuacutedos nas respectivas salas do ambiente virtual

Moodle Cabe a ele a orientaccedilatildeo dos tutores no que se refere agrave temaacutetica do componente curricular

conteuacutedos conceituais e atividades propostas O professor da disciplina pode ser o mesmo professor

autor Caso natildeo seja o responsaacutevel pelo conteuacutedo do moacutedulo o professor deveraacute estar em constante

contato com o(s) professor(es) autor(es) Satildeo atribuiccedilotildees do professor formador

- Mediar o conhecimento dos alunos por meio de estudos dirigidos foacuteruns postagem de miacutedias e outras ferramentas digitais - Acompanhar o desenvolvimento da sua disciplina ou moacutedulo em seus aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos e operacionais - Acompanhar os tutores a distacircncia capacitando-os segundo o Projeto Pedagoacutegico do Curso minimizando as disparidades na conduccedilatildeo da ementa da disciplina e do curriacuteculo do curso - Participar dos foacuteruns e chat de debates fazendo provocaccedilotildees teoacutericas junto aos tutores e alunos - Acessar regularmente a plataforma virtual respondendo duacutevidas pertinentes a sua disciplina moacutedulo

61 O ATUAB eacute o Ambiente Virtual de Trabalho da Universidade Aberta do Brasil restrito aos seus colaboradores Configura-se na Personalizaccedilatildeo do Ambiente Virtual de aprendizagem (AVA) Moodle para o compartilhamento de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo da CAPES com as IES e os polos (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 12)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

210

e) Tutor presencial

Os tutores presenciais exercem tutoria em cursos mediados por tecnologias nos polos de

apoio presencial ao acadecircmicoaprimorando e fortalecendo o elo de ligaccedilatildeo entre os extremos do

sistema instituiccedilatildeo ndash acadecircmico no qual o controle do aprendizado eacute realizado mais intensamente pelo

acadecircmico do que pelo professor Satildeo suas atribuiccedilotildees

- Acompanhar os acadecircmicos presencialmente no polo de apoio presencial em que natildeo haacute ldquoaulasrdquo no sentido claacutessico da palavra e estes(as) estudam de forma independente - Acompanhar o desenvolvimento teoacuterico-metodoloacutegico do curso atraveacutes da comunicaccedilatildeo siacutencrona (on-line em tempo real) eou assiacutencrona (com defasagem de tempo) com dinamismo lideranccedila e iniciativa de realizar com eficaacutecia o trabalho de facilitador junto ao grupo de acadecircmicos (as) sob sua tutoria - Demonstrar competecircncia individual e de equipe para analisar realidades formulando planos de accedilatildeo coerentes com os resultados analiacuteticos e de avaliaccedilatildeo e mantendo desse modo uma atitude reflexiva e criacutetica sobre a teoria e a proacutepria praacutetica educativa envolvida no processo de educaccedilatildeo mediada - Acompanhar os encontros presenciais e as praacuteticas pedagoacutegicas realizados nos polos UAB eou nos campi da UFT verificando a integraccedilatildeo professortutor-acadecircmico(a) como fatores importantes para a aprendizagem independente - Manter registro da participaccedilatildeo dos acadecircmicos nas atividades do curso zelando pela aprendizagem colaborativa do acadecircmico (a)

f) Tutor a distacircncia

O tutor a distacircncia exerce tutoria em cursos a distacircncia desenvolvendo e apoiando atividades

formativas mediadas pelas tecnologias Satildeo suas atribuiccedilotildees

- Monitorar osas acadecircmicos(as) sobre as dificuldades de conteuacutedo do curso auxiliando-os no acesso e navegabilidade da plataforma virtual Moodle (Moodle) fornecendo feedback (resposta) sempre com comentaacuterios devolutivos e sugestotildees objetivas e claras dos comentaacuterios (de textos aacuteudios e viacutedeos) postados - Moderar os relatoacuterios das atividades relatoacuterios de participaccedilatildeo os logs e estatiacutesticas do ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem arquivando coacutepia dos comentaacuterios para que posteriormente possa acompanhar o desempenho do(a) acadecircmico demonstrando manejo das ferramentas que estatildeo agrave sua disposiccedilatildeo para o exerciacutecio da tutoria - Manter mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica regular com osas acadecircmicos(as) durante o curso dos processos de ensino e aprendizagem orientando a usabilidade das tecnologias digitais evitando oa acadecircmico a se sentir desamparado e abandonar o curso - Moderar a interaccedilatildeointeratividade no ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem dos itens acrescentados arquivos enviados textos postados e participaccedilatildeo nos foacuteruns chat ou seccedilatildeo bate-papo e demais atividades on-line - Realizar relatoacuterios individuais sobre a turma e enviar coordenaccedilatildeo do curso

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

211

O modelo de educaccedilatildeo a distacircncia proposto pelo Sistema UAB tem sido questionado por

pesquisadores na aacuterea com relaccedilatildeo a diversos fatores falta de um projeto pedagoacutegico expliacutecito

(Barreto 2010) fraacutegil relaccedilatildeo pedagoacutegica entre os agentes educacionais (professorestutoresalunos)

envolvidos no processo de educaccedilatildeo a distacircncia (Zuin 2006) aligeiramento das formaccedilotildees e falta de

qualidade de alguns cursos especialmente de formaccedilatildeo de professores (Giolo 2008) precarizaccedilatildeo do

trabalho docente (Lapa e Pretto 2010) e outros entraves relacionados com o financiamento da

educaccedilatildeo a distacircncia (Dourado 2008) e a regularizaccedilatildeo do trabalho do tutor (Oliveira 2006) No

entanto eacute inegaacutevel que a UAB expandiu as vagas para o ensino superior no Brasil Segundo Censo da

Educaccedilatildeo Superior (INEP 2015)entre os anos de 2010 a 2013 as matriacuteculas de graduaccedilatildeo na

modalidade a distacircncia tiveram crescimento de 240 atingindo o total de 1153572 em 2013

Conforme jaacute exposto a UFT aderiu agrave Universidade Aberta do Brasil desde a sua criaccedilatildeo em

2005 quando participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB e foi aprovada a oferta do

curso de licenciatura em Biologia a distacircncia Em 2016 a instituiccedilatildeo ofertava no acircmbito da UAB cinco

graduaccedilotildees sendo que quatro satildeo licenciaturas e um bacharelado atendendo a 1079 alunos

Apresentamos com mais detalhes o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia visto ter sido o curso

utilizado no presente estudo investigativo

43 O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia na UFT

Em 2006 a UFT participou do Edital 012006 para ofertas de licenciaturas no acircmbito da UAB

e foi contemplada com os cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a

distacircncia O curso de Licenciatura em Fiacutesica foi aprovado a princiacutepio para oferta de 150 vagas nos

municiacutepios polos de Araguacema Araguatins Campos Lindos Cristalacircndia Dianoacutepolis e Porto

Nacional com previsatildeo de iniacutecio em 2008 mas devido a problemas com descentralizaccedilatildeo de recursos

o mesmo iniciou oferta apenas em 2010 em polos diferentes Palmas Cristalacircndia Gurupi e Ananaacutes

De acordo com o Projeto Pedagoacutegico do Curso (PPC) de Licenciatura em Fiacutesica da UFT a

opccedilatildeo pela oferta de curso nesta aacuterea deve-se ao fato de que existe no estado do Tocantins um deacuteficit

de professores graduados na aacuterea de Fiacutesica ldquosegundo dados da Secretaria de Educaccedilatildeo do estado do

Tocantins haacute uma demanda de aproximadamente 400 professores para serem capacitados aleacutem da

demanda reprimida vinda dos egressos do ensino meacutediordquo ( (UFT 2009 p 19) Neste sentido o PPC

do referido curso define seu objetivo

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

212

Este projeto tem como objetivo contribuir para a formaccedilatildeo de professores no campo da Fiacutesica cientes de sua condiccedilatildeo de cidadatildeos comprometidos com princiacutepios eacuteticos inserccedilatildeo histoacuterico-social (dignidade humana respeito muacutetuo responsabilidade solidariedade) envolvimento com as questotildees ambientais e compromissos com a sociedade

A proposta do curso constituia garantir um quantitativo de vagas para professores leigos em

exerciacutecio na rede puacuteblica de ensino nos anosseacuteries finais do ensino Fundamental eou no Ensino

Meacutedio sem licenciatura em Fiacutesica Assim o processo de seleccedilatildeo foi realizado mediante inscriccedilatildeo preacutevia

dos candidatos pela Secretaria de Educaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do estado e como o nuacutemero de vagas natildeo

foi completo abriu-se um edital de seleccedilatildeo para a comunidade local nas vagas remanescentes Para

uma melhor compreensatildeo da proposta do curso faz-se importante conhecer o contexto em que o

mesmo foi concebido e implementado na UFT

431 O processo de implementaccedilatildeo

Em 2009 quando ocorreram as discussotildees para a implementaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a

distacircncia na UFT foi acordado com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que jaacute

ofertava um curso de licenciatura em Fiacutesica nesta modalidade desde 2006 de que esta cederia agrave UFT

o seu projeto pedagoacutegico do curso e material didaacutetico jaacute produzido Sobre este processo Perdigatildeo-

Nass (2012) analisa que na eacutepoca apesar de a UFT jaacute ofertar um curso de licenciatura em Fiacutesica

presencial em um dos seus campi (Araguaiacutena) natildeo foi aproveitado deste nem recursos humanos nem

tampouco seu projeto pedagoacutegico O autor acrescenta que o PPC da UFRN foi elaborado na perspectiva

Freireana a partir de temas geradores 62 baseados na realidade de seca da regiatildeo do Nordeste 63

Caberia portanto agrave equipe pedagoacutegica responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do PPC da UFT adaptar os temas

geradores para a realidade do Tocantins Perdigatildeo-Nass (idem pp 93-94) explica esse processo

Os elaboradores do PPC da UFT compreendiam a falta de aplicabilidade do tema gerador potigar agrave realidade tocantinense e jaacute havia uma sugestatildeo detectadas pelos elaboradores de que o novo tema geraccedilatildeo poderia ter relaccedilatildeo com os biomas caracteriacutesticos do Tocantins A inclusatildeo do tema gerador ldquoenergias alternativasrdquo tambeacutem tem a sua razatildeo de ser trata-se de uma das cinco temaacuteticas prioritaacuterias da UFT as quais satildeo ldquoidentidade cultura e territorialidaderdquo ldquoagropecuaacuteria e meio ambienterdquo ldquobiodiversidade e mudanccedilas climaacuteticasrdquo ldquoeducaccedilatildeordquo e ldquofontes de energia renovadardquo

62 Paulo Freire (1987) na sua obra Pedagogia do Oprimido difundiu a ideia de formaccedilatildeo dialeacutetica com uso de ldquotemas geradoresrdquo como forma de organizaccedilatildeometodologia numa perspectiva do educador utilizar-se da praacutetica-teoria-praacutetica como forma de construir seu fazer-pensar Neste sentido todo tema gerador constitui um problema vivenciado pela comunidade cuja superaccedilatildeo natildeo eacute por ela percebida Segundo Gouveia (1996) este envolve apreensatildeo da realidade anaacutelise organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo originando programas de ensino a partir do diaacutelogo 63 A regiatildeo Nordeste do Brasil destaca-se como principal caracteriacutestica a seca causada pela escassez de chuvas proporcionando pobreza e fome O Sertatildeo nordestino apresenta as menores incidecircncias de chuvas isso em acircmbito nacional A longa estiagem provoca uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como perda de plantaccedilotildees e animais a falta de produtividade causada pela seca provoca a fome

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

213

Com o objetivo de adaptar a proposta do curso da UFRN com a realidade do estado do

Tocantins o PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT previa a produccedilatildeo por docentes da instituiccedilatildeo

de material didaacutetico complementar na forma de fasciacuteculos e atividades abordando ldquocaracteriacutesticas

peculiares do Estado como os Biomas do Cerrado Amazocircnia Pantanal e a transiccedilatildeo de biomas aleacutem

de um fasciacuteculo que aborde a questatildeo das energias alternativasrdquo (UFT 2009 p 16)

Os tracircmites de aprovaccedilatildeo do curso de licenciatura em Fiacutesica na UFT ocorreram em 2009 com

aprovaccedilatildeo do PPC por meio da Resoluccedilatildeo 142009 do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo

(Consepe) da universidade Em meados de 2010 foi lanccedilado edital de Vestibular para seleccedilatildeo dos

alunos da primeira turma Foram ofertadas 75 vagas distribuiacutedas em Ananaacutes (25 vagas) Cristalacircndia

(25 vagas) e Palmas (25 vagas) Destas vagas foram efetivadas 71 matriacuteculas e atualmente 31 alunos

estatildeo ativos no curso De acordo com o coordenador do curso no ano de 2016 11 cursistas desta

primeira turma concluiacuteram a graduaccedilatildeo

Em 2012 realizou-se segundo vestibular com 100 vagas sendo 50 para o polo de Gurupi e 50

vagas para Palmas Das 100 vagas do edital foram realizadas 47 matriacuteculas e atualmente (2014) 21

estudantes estatildeo regularmente matriculados Os dados mostram que embora exista um iacutendice elevado

de professores da rede puacuteblica sem formaccedilatildeo adequada na aacuterea de Fiacutesica um nuacutemero expressivo as

vagas ofertadas na modalidade a distacircncia permanecem ociosas No ano de 2014 foi realizado

vestibular para entrada de uma terceira turma do curso Houve a oferta de 10 vagas somente para o

polo de Palmas e 10 alunos foram matriculados Mas segundo o coordenador de curso destes

matriculados apenas seis estavam ativos no curso no primeiro semestre de 2016 Para uma melhor

compreensatildeo dos dados relativos ao curso segue uma descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo administrativa e

didaacutetico-pedagoacutegica do mesmo

4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica

A coordenaccedilatildeo geral do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia eacute subordinada agrave Diretoria

de Tecnologias Educacionais que tem como gestor o Coordenador da UAB na UFT Este eacute responsaacutevel

pelo funcionamento de todos os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia do sistema UAB na instituiccedilatildeo e

delibera sobre as questotildees administrativas (logiacutestica recursos humanos) acadecircmicas (tutoria material

didaacutetico) e de financiamento (descentralizaccedilatildeo dos recursos)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

214

Sobre as atribuiccedilotildees do coordenador do curso de graduaccedilatildeo a distacircncia o PPC do curso de

Fiacutesica afirma que se seguem as normas prescritas no Regimento Geral da UFT para cursos presenciais

e a distacircncia da qual a pessoa responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do curso ldquotem responsabilidade direta

e imediata com as questotildees acadecircmicas do curso tais como projeto pedagoacutegico oferta das

componentes curriculares elaboraccedilatildeo e avaliaccedilatildeo do material didaacutetico e questotildees que envolvam o

andamento dos alunos no cursordquo(UFT 2009 p12) A coordenaccedilatildeo do curso tambeacutem eacute responsaacutevel

pela coordenaccedilatildeo de tutoria

O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia possui um colegiado de professores segundo as

normas do Regimento Geral da UFT O colegiado em 2016 era composto por 16 professores 1

coordenador de curso (prof doutor) 1 coordenador de tutoria (prof mestre) 2 coordenadores de

Programa Institucional de Bolsa a Iniciaccedilatildeo a Docecircncia - Pibid ( profs doutores) 1 coordenador de

estaacutegio (prof doutor) e 11 professores formadores (4 mestres e 7 doutores) O colegiado eacute presidido

pelo coordenador do curso e de acordo com o PPC (2009 p 10) sua funccedilatildeo eacute

- Opinar e decidir sobre a filosofia os objetivos e a orientaccedilatildeo pedagoacutegica do Curso - Propor quando necessaacuterio a modificaccedilatildeo do nuacutemero de vagas ofertadas para o ingresso no Curso via vestibular a criaccedilatildeo ou a extinccedilatildeo de disciplinas bem como a alteraccedilatildeo de carga horaacuteria e de programas respeitando a legislaccedilatildeo vigente - Manter permanente pesquisa de mercado de trabalho para identificar e adequar o ensino agraves exigecircncias da comunidade - Elaborar a lista de oferta semestral de disciplinas - Propor medidas para o bom desenvolvimento das atividades acadecircmicas -Examinar decidindo em primeira instacircncia as questotildees acadecircmicas suscitadas pelos corpos discente e docente e administraccedilatildeo superior

O coordenador do curso tambeacutem eacute responsaacutevel pelas operaccedilotildees logiacutesticas do curso no que diz

respeito agrave organizaccedilatildeo dos encontros presenciais requisiccedilatildeo de diaacuterias e passagens para os

professores e solicitaccedilatildeo de laboratoacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia cursos de graduaccedilatildeo nesta

modalidade carecem de encontros presenciais para uso de laboratoacuterios e realizaccedilatildeo de provas Assim

no curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia aleacutem dos polos presenciais o PPC prevecirc a existecircncia

das Unidades Operativas (UNO) Estas constituem unidades de apoio aos polos presenciais da UAB

Localizadas nos campi da UFT (Arraias Araguaiacutena e Palmas) que possuem laboratoacuterios especiacuteficos

para aulas experimentais bibliotecas e outros serviccedilos de apoio ao estudante contribuindo para sua

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

215

fixaccedilatildeo no curso e criando uma relaccedilatildeo de identidade do mesmo com a universidade aleacutem de

contribuir com a integraccedilatildeo dos alunos com os colegas de curso

Em 2016 o curso de licenciatura em Fiacutesica estava sendo ofertado nos polos presenciais da

UAB de Ananaacutes Cristalacircndia Gurupi e Palmas conforme apresentado na Figura 9

Figura 9 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte DTEUFT)

A cidade de Ananaacutes localiza-se no extremo norte do estado do Tocantins na regiatildeo chamada de

ldquoPortal do Bico do Papagaio64rdquo Trata-se de um municiacutepio pequeno sua populaccedilatildeo foi estimada em

2015 com 9848 habitantes Sua economia se baseia principalmente das atividades agropecuaacuterias

Natildeo haacute instituiccedilotildees de ensino superior na cidade No polo da UAB aleacutem do curso de licenciatura em

Fiacutesica da UFT satildeo ofertados os cursos de licenciatura em Biologia da UFT e Computaccedilatildeo (licenciatura)

pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP) A UNO que atende os alunos do curso de

Fiacutesica e Biologia do polo de Ananaacutes eacute o campus da UFT em Araguaiacutena localizado a 131 km de

distacircncia Considerando que neste campus tem o curso de licenciatura em Fiacutesica presencial os alunos

da modalidade a distacircncia fazem usos dos laboratoacuterios disponiacuteveis no campus

Cristalacircndia igualmente a Ananaacutes eacute um pequeno municiacutepio com populaccedilatildeo estimada em

7386 no ano de 201565 A sua economia tambeacutem eacute baseada predominantemente na agropecuaacuteria

64 A microrregiatildeo do Bico do Papagaio eacute uma das microrregiotildees do estado brasileiro do Tocantins pertencente agrave mesorregiatildeo Ocidental do Tocantins Foi assim denominada devido ao formato geograacutefico parecido a bico de papagaio desta regiatildeo do extremo Norte do Estado 65 Dados de acordo com o IBGE Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=170610ampsearch=tocantins|cristalandia Acesso em 23 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

216

Cristalacircndia tambem natildeo possui nenhuma instituiccedilatildeo de ensino superior e o polo da UAB (mantido pelo

governo do estado) abriga trecircs licenciaturas a distacircncia da UFT Biologia Quiacutemica e Fiacutesica A Unitins

tambeacutem oferta quatro cursos no polo de Cristalacircndia Administraccedilatildeo Puacuteblica (bacharelado)

Computaccedilatildeo (licenciatura) Letras (licenciatura com habilitaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa Liacutengua

Espanhola e respectivas Literaturas) e Pedagogia (licenciatura)

A cidade de Gurupi com populaccedilatildeo estimada em 83707 habitantes em 2015 eacute considerando

um municiacutepio com mais oportunidades na aacuterea de educaccedilatildeo Teve por muitos anos sua economia

baseada no setor agropecuaacuterio e comeacutercio mas nos uacuteltimos 10 anos tornou-se uma cidade

universitaacuteria com a criaccedilatildeo de um centro universitaacuterio privado com oferta de 15 cursos entre eles

Medicina Direito e Engenharia Civil A procura de estudantes do Brasil inteiro por esses cursos gera

uma injeccedilatildeo de recursos na economia local Gurupi possui tambeacutem um campus da UFT com quatro

cursos presenciais (Agronomia Engenharia Biotecnoloacutegica Engenharia Florestal e Quiacutemica ambiental

e trecircs cursos a distacircncia (Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica) ofertados no polo de apoio

presencial que se localiza dentro do campus da universidade

Palmas eacute a capital administrativa do estado do Tocantins Uma cidade jovem e planejada com

apenas 28 anos de criaccedilatildeo em 2015 possuiacutea a populaccedilatildeo estimada em 272726 habitantes A

economia de Palmas eacute fortemente baseada no funcionalismo puacuteblico embora ultimamente o setor do

turismo e o comeacutercio tambeacutem se tenha fortalecido Com 12 instituiccedilotildees de ensino superior (puacuteblicos e

privados) a menor capital das unidades federativas do Brasil concentra o maior nuacutemero de oferta de

vagas de graduaccedilatildeo no estado do Tocantins Segundo o SISUAB o polo da UAB de Palmas tinha em

2016 170 alunos matriculados em nove cursos (duas especializaccedilotildees lato sensu seis licenciaturas

um bacharelado) ofertados por quatro IES diferentes De entre estas configura-se a UFT ofertando

nesse polo o curso de licenciatura em Fiacutesica e Quiacutemica com respectivamente 40 e 28 alunos

matriculados em 2016

Os polos de apoio presencial satildeo fundamentais no modelo de educaccedilatildeo a distacircncia da UAB No

curso de Fiacutesica o PPC prevecirc que o aluno deve frequentar o polo todos os fins de semana para o

desenvolvimento de atividades presenciais O curso eacute dividido em moacutedulos temaacuteticos e o periacuteodo letivo

eacute semestral e desenvolvido ao longo de 18 semanas assim distribuiacutedas dois moacutedulos por semestre

trabalhados em 9 semanas cada com no maacuteximo trecircs disciplinas por moacutedulo O aluno deve estar

presente nos finais de semana no polo para o desenvolvimento das atividades presenciais com

frequecircncia miacutenima de 75 e durante a semana ele desenvolveraacute as atividades a distacircncia propostas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

217

pelo professor da disciplina Sobre as atividades do curso (presenciais e a distacircncia) o PPC (UFT

2009 p 32) explica o procedimento

As atividades presenciais seratildeo desenvolvidas pelo tutor presencial orientado pelo professor da disciplina por meio do material impresso viacutedeo conferecircncia web ou mesmo em uma visita do docente ao polo As atividades a distacircncia seratildeo acompanhadas preferencialmente pelo tutor a distacircncia podendo tambeacutem ser orientado pelo tutor presencial supervisionado pelo professor da disciplina Essas atividades desenvolvidas a distacircncia seratildeo sequecircncia das atividades desenvolvidas presencialmente devem ocorrer por meio das mesmas miacutedias usadas nas atividades presenciais com ecircnfase nas atividades propostas na web

Nos polos de apoio presencial tambeacutem ocorrem as duas avaliaccedilotildees presenciais obrigatoacuterias

por disciplina do curso e ainda seminaacuterios temaacuteticos Em cada polo onde o curso eacute ofertado existe um

tutor presencial na aacuterea de formaccedilatildeo do mesmo para atender os alunos nas suas duacutevidas sobre

atividades e uso da plataforma virtual

433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica

No PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT os professores que elaboraram a proposta

procuraram deixar clara a diferenccedila entre a modalidade a distacircncia e a presencial Enfatizam que a

educaccedilatildeo a distacircncia tem caracteriacutesticas singulares que a faz distinta e particular no enfoque dos

objetivos meios meacutetodos e estrateacutegias O conceito de educaccedilatildeo a distacircncia que utilizam eacute ldquoA

educaccedilatildeo a distacircncia se baseia em um diaacutelogo didaacutetico mediado entre o professor (instituiccedilatildeo) e o

estudante que localizado em espaccedilo diferente daquele aprende de forma independente (cooperativa)rdquo

(Garcia 2001 p 41) Neste sentido o PPC do curso defende que por suas caracteriacutesticas a

educaccedilatildeo a distacircncia supotildee um tipo de ensino em que o foco estaacute no aluno e natildeo na turma ldquoeste

aluno deve ser considerado como um sujeito do seu aprendizado desenvolvendo autonomia e

independecircncia em relaccedilatildeo ao professor que o orienta no sentido do ldquoaprender a aprender e aprender

a fazerrdquo (UFT 2009 p 14)

Considerando que o curso precede de momentos presenciais e natildeo eacute totalmente a distacircncia

entende-se que se trata de uma proposta de curso na modalidade semipresencial misto ou B-learning

(blended significa algo misto ou combinado) Assim de acordo com Silva (2013 p 147) a apropriaccedilatildeo

desta modalidade implica que sejam combinados momentos presenciais e natildeo presenciais (on-line)

cabendo aos professores da equipe envolvida ldquoselecionar os recursos mais adequados para melhorar

as situaccedilotildees de aprendizagem em funccedilatildeo dos objetivos e resultados educativosrdquo Segundo Meirinhos e

Osoacuterio (2006 p 960) o uso da modalidade b-learning precede os seguintes pressupostos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

218

Ser mais aconselhaacutevel para formandos com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo da Informaacutetica

Ser mais aconselhaacutevel a utilizadores com pouca experiecircncia na formaccedilatildeo a distacircncia

Aproveitar o que melhor tem a formaccedilatildeo presencial e a formaccedilatildeo a distacircncia Permitir o desenvolvimento de capacidades necessaacuterias a uma formaccedilatildeo

completamente a distacircncia

Assim a modalidade eacute bastante apropriada considerando o perfil dos cursistas da graduaccedilatildeo a

distacircncia em Fiacutesica professores com idades entre 29 a 34 anos e com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo

da informaacutetica O PPC enfatiza a importacircncia do material didaacutetico impresso do curso ser concebido

segundo as especificidades da educaccedilatildeo a distacircncia e focados na realidade do aluno Tambeacutem eacute

ressaltada a importacircncia da produccedilatildeo de materiais para web utilizaccedilatildeo de meios digitais como o CD-

ROM No curso de Fiacutesica os professores tecircm autonomia para trabalhar diversas miacutedias com os alunos

como postar viacutedeos-aulas filmar experimentos e compartilhar indicar sites para pesquisa mais

aprofundada No referido curso utiliza-se o material didaacutetico do curso de Fiacutesica a Distacircncia da UFRN

Nas disciplinas que natildeo possuem material disponiacutevel na UFRN satildeo usados os materiais didaacuteticos

postados no repositoacuterio do SISUAB Os materiais didaacuteticos em formato PDF ou os arquivos multimiacutedias

satildeo disponibilizados no Ambiente Virtual Moodle

O PPC prevecirc que cada componente curricular deve contar com um professor que responderaacute

pelos conteuacutedos de acordo com suas especialidades Cabe ao professor formador a orientaccedilatildeo dos

tutores referente a temaacutetica do componente curricular conteuacutedos conceituais atividades e avaliaccedilatildeo

O perfil exigido para o professor que este deva ser de preferecircncia doutor podendo ser do quadro ativo

ou aposentado da UFT

A tutoria eacute reconhecida no PPC do curso de importacircncia fundamental para a orientaccedilatildeo dos

estudos organizaccedilatildeo das atividades em grupo e uma mediadora na relaccedilatildeo de confiabilidade dos

alunos com a instituiccedilatildeo O PPC prevecirc que os tutores tenham conhecimento natildeo apenas na aacuterea de

conhecimento do curso mas tenham competecircncia para gerenciar grupos orientar e motivar para os

estudos Ainda de acordo com os PPC estes devem ser selecionados entre professores da rede de

ensino alunos de poacutes-graduaccedilatildeo ou outros profissionais de niacutevel superior que tenham as competecircncias

requisitadas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

219

434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas

De acordo com o PPC do curso de licenciatura de Fiacutesica a distacircncia o objetivo do curso eacute a

formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica com ecircnfase na formaccedilatildeo para as uacuteltimas seacuteries

(notadamente a 9ordm seacuterie) do Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio Sobre o perfil do egresso o PPC

(UFT 2009 p 19) aborda que o profissional licenciado em Fiacutesica ldquodeveraacute apresentar um forte

conhecimento dos conteuacutedos e meacutetodos da Fiacutesicardquo com destaque as seguintes competecircncias e

habilidades especiacuteficas

- O planejamento e o desenvolvimento de diferentes experiecircncias didaacuteticas em Fiacutesica reconhecendo os elementos relevantes agraves estrateacutegias adequadas

- A elaboraccedilatildeo ou adaptaccedilatildeo de materiais didaacuteticos de diferentes natureza identificando seus objetivos formativos de aprendizagem e educacionais

- A formaccedilatildeo do Fiacutesico mesmo atraveacutes de Ensino a Distacircncia natildeo pode prescindir de uma seacuterie de vivecircncias que vatildeo tornando o processo educacional mais integrado (UFT 2009 p 21)

As vivecircncias mencionadas no PPC dizem respeito a experiecircncias que o aluno de curso a

distacircncia deve experimentar num grau de igualdade com aluno de cursos presenciais como realizar

experimentos em laboratoacuterio manuseio de equipamentos de informaacutetica realizar pesquisas

bibliograacuteficas com habilidade de identificar e localizar fontes de informaccedilotildees elaborar um artigo

projeto ou intervenccedilatildeo em sala de aula e demais atividades de ensino

Ressalta-se que o projeto natildeo contempla de entre as habilidades dos egressos a questatildeo do

uso de tecnologias na praacutetica pedagoacutegica Uma ressalva neste sentido verifica-se no item 226 do

PPC sobre os campos de atuaccedilatildeo profissional que cita o loacutecus em que o licenciado em Fiacutesica poderaacute

atuar ldquodedica-se agrave discussatildeo anaacutelise e disseminaccedilatildeo do saber cientiacutefico seja atraveacutes da atuaccedilatildeo no

ensino formal de niacutevel meacutedio seja atraveacutes de novas formas de ensino (como viacutedeos softwares

educativos Educaccedilatildeo agrave Distacircncia etc) e dedica-se ainda agrave extensatildeo e agrave pesquisa em Ensino de

Fiacutesicardquo O texto no PPC que mais se aproxima desta proposta eacute

O licenciado em Fiacutesica na modalidade de ensino a distacircncia deveraacute ter ainda capacidades especiacuteficas do educador em Fiacutesica tais como capacidade de desenvolver estrateacutegias de ensino que favoreccedilam a criatividade a autonomia e a flexibilidade do pensamento cientiacutefico dos educandos buscando trabalhar com mais ecircnfase nos conceitos fiacutesicos (UFT 2009 p22)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

220

O primeiro semestre do curso prevecirc uma oficina de nivelamento na aacuterea de informaacutetica para

ajudar aqueles alunos com dificuldades de acesso e navegaccedilatildeo na plataforma virtual de aprendizagem

a realizar suas atividades como postar arquivos responder foacuteruns baixar arquivos e outras atividades

baacutesicas Mas natildeo tem previsatildeo de uma disciplina especiacutefica que discuta a apropriaccedilatildeo das tecnologias

na praacutetica pedagoacutegica dos professores cursistas

435 Organizaccedilatildeo curricular

Segundo o PPC do curso a proposta curricular foi planejada prevendo uma duraccedilatildeo miacutenima de

8 e maacutexima de 12 periacuteodos letivos para sua integralizaccedilatildeo A proposta prevecirc que os quatro primeiros

semestres contemplem componentes curriculares das aacutereas de Matemaacutetica Quiacutemica FiacutesicaBiologia e

pedagoacutegicas A partir do quinto semestre satildeo estudados os conteuacutedos especiacuteficos da aacuterea do

conhecimento que satildeo trabalhados em dois tipos de eventos Atividades de formaccedilatildeo e encontros

presenciais para apresentaccedilatildeo de resultados praacuteticos por meio de projetos de intervenccedilatildeo

Nos componentes curriculares ldquoCiecircncias da Naturezardquo e ldquoRealidade e Educaccedilatildeo e Realidaderdquo

propotildeem-se atividades praacuteticas de levantamento de dados e informaccedilotildees sobre a realidade social e

cultural do aluno para que o mesmo compreenda os problemas e conflitos ambientais da regiatildeo

Ocorrem atividades de estaacutegio com atividades praacuteticas dos alunos na sala de aula das escolas que satildeo

encaminhados O PPC apresenta quatro componentes curriculares voltadas para o estaacutegio

Aleacutem das atividades curriculares regulares o PPC prevecirc a exigecircncia que o aluno apresente no

final do curso certificados que comprovem 200 horas de atividades chamadas ldquode formaccedilatildeordquo

atividades de caraacuteter cientiacutefico-cultural que visam fornecer ao mesmo uma maior inserccedilatildeo no meio

acadecircmico onde compartilharaacute seus conhecimentos com os colegas e professores

Seguindo a legislaccedilatildeo que normatiza os cursos a distancia no Brasil nos finais de semana

programados no cronograma eacute obrigatoacuteria a participaccedilatildeo dos alunos no polo para o desenvolvimento

das atividades presenciais com frequecircncia miacutenima de 75 De acordo com o Decreto 5622 de 19 de

dezembro de 2005 os momentos presenciais obrigatoacuterios satildeo para

I - avaliaccedilotildees de estudantes II - estaacutegios obrigatoacuterios quando previstos na legislaccedilatildeo pertinente III - defesa de trabalhos de conclusatildeo de curso IV - atividades relacionadas a laboratoacuterios de ensino quando for o caso

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

221

Segundo o coordenador do curso satildeo realizados dez encontros presenciais por semestre

Nestes podem ocorrer atividades em grupo orientadas pelo tutor presencial atividades praacuteticas no

laboratoacuterio de Fiacutesica provas e seminaacuterios As atividades presenciais satildeo desenvolvidas junto ao tutor

presencial Cabe ao professor da disciplina orientar o tutor presencial e a distacircncia para que atividades

atinjam seus objetivos acadecircmicos De acordo com o PPC este poderaacute fazecirc-lo por meio de material

didaacutetico impresso viacutedeoconferecircncia web ou visita presencial no polo

Para cumprir o requisito das avaliaccedilotildees presenciais o PPC prevecirc que devem ser feitas no

miacutenimo duas avaliaccedilotildees presenciais nos polos presenciais com datas preacute-definidas pela coordenaccedilatildeo

do curso e amplamente divulgadas aos alunos e agraves respectivas coordenaccedilotildees dos polos em que o

curso eacute ofertado As avaliaccedilotildees presenciais satildeo somativas e representam 70 da nota da disciplina

Os demais 30 deve ser composto pelas atividades realizadas a distacircncia definidas pelo coordenador

do curso Sobre os que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio o PPC orienta

Para os alunos que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio (meacutedia parcial igualou superior a 40 e inferior a 70) haveraacute duas semanas ao final do segundo moacutedulo para a realizaccedilatildeo de estudos de reforccedilo e da avaliaccedilatildeo final (exame) Neste periacuteodo de reforccedilo haveraacute conteuacutedo especiacutefico preparado pelo professor de cada disciplina e disponibilizado na web com o acompanhamento do tutor presencial e tambeacutem do tutor(UFT2009 p 32)

Na hipoacutetese do aluno natildeo conseguir uma nota satisfatoacuteria para aprovaccedilatildeo na disciplina o PPC

orienta que este poderaacute cursar as disciplinas em regime de dependecircncia depois do final do semestre

(periacuteodo de feacuterias) sendo que o aluno tem o direito de cursar novamente todas as disciplinas que natildeo

obteve aprovaccedilatildeo

436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle

O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT utiliza o Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA) Moodle (Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment) Este foi

desenvolvido pelo educador e cientista computacional Martin Dougiamas como produccedilatildeo da sua tese

de doutoramento (Delgado 2009) O Moodle foi construiacutedo com base em teorias construtivistas e

construcionistas conforme afirma o autor

O moodle foi criado com base nos conceitos de teorias construtivistas que possuem a interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo como premissa para o processo de construccedilatildeo do conhecimento Com base nesse conceito o proacuteprio software surge com a ideacuteia de colaboraccedilatildeo ou seja os usuaacuterios mantecircm um portal na internet para colaboraccedilatildeo e aprimoramento da ferramenta (Delgado 2009 p 49)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

222

Importante ressaltar a funcionalidade do software que possui uma estrutura administrativa em

o administrador pode ser o professor ou outra pessoa em que ele delegue a funccedilatildeo Trata-se de um

software ldquoaltamente customizaacutevelrdquo em que os professores podem criar cursos utilizando as diferentes

ferramentas de interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo podem publicar materiais de diferentes formatos e inuacutemeros

recursos para a criaccedilatildeo de atividades como exerciacutecio de pesquisa muacuteltipla escolha wiki entre outros

O Moodle possui colaboradores que constantemente melhoram o seu desempenho Assim vatildeo

sendo lanccediladas ao longo dos anos cerca de dezoito novas versotildees do programa Atualmente o Moodle

encontra-se na versatildeo 217 atualizada em maio de 201466 A versatildeo utilizada pela Universidade Federal

do Tocantins eacute a 1917 uma versatildeo jaacute algo ultrapassada considerando que instituiccedilotildees como a

Universidade de Brasiacutelia (UNB) usam a versatildeo 207 e Universidade Federal da Bahia o Moodle 261

No iniacutecio da oferta do curso no primeiro semestre a coordenaccedilatildeo do curso organiza um

encontro presencial para o acesso dos alunos agrave plataforma e uma oficina com instruccedilotildees para

utilizaccedilatildeo das ferramentas do ambiente Moodle Nestas oficinas os alunos satildeo orientados a acessar as

salas postar atividades interagir com colegas e aprender outras funcionalidades do AVA

Os professores tecircm autonomia para customizar as salas de acordo com a proposta da

disciplina que lecionam Cada disciplina ou mateacuteria aparece para o aluno em uma sala virtual dentro

do Moodle Apresentamos um print de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia na disciplina de

Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica (figura 10)

66 Fonte lt httpsdocsmoodleorgdevReleasesMoodle_27gt Acesso em 31 out 2015

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

223

Figura 10 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT (Fonte MoodleUFT)

O professor desta disciplina dividiu o conteuacutedo programaacutetico em aulas que foram desenvolvidas

em nove semanas Em cada ldquoaulardquo eacute disponibilizado um material de leitura baacutesico e outros textos

complementares (figura 11) O professor fez uso de viacutedeos e muacutesicas como atividades para estimular a

reflexatildeo dos alunos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

224

Figura 11 ndash Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte MoodleUFT)

As atividades incluem envio de tarefas foacuteruns wiki e outras que tarefas que exigem leitura dos

estudantes Nas orientaccedilotildees iniciais (disponiacutevel em arquivo PDF na sala virtual da referida disciplina)

para o cursista o professor explicou

Trata- se de uma disciplina que exige leitura e reflexatildeo sobre aquilo que estaraacute sendo tratado Seratildeo ldquopostadosrdquo arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) de interaccedilatildeo ldquoobrigatoacuteriardquo e arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) que visam o aprofundamento nos temas trabalhados (interaccedilatildeo natildeo obrigatoacuteria) Cada texto possui aproximadamente 25 peacuteginas portanto para aqueles menos habituados com a leitura sugere-se que se organizem de tal forma que consigam ler pelo menos o texto obrigatoacuterio de segunda a quarta feira Toda a segunda feira um novo tema de estudo eacute iniciado e espera-se que ateacute a quarta-feira todos os alunos estejam com as leituras ldquoem diardquo para as atividades que seratildeo sugeridas (foacuteruns resumos resenhas etc )

Percebe-se que o AVA Moodle neste modelo de curso torna-se um repositoacuterio de material

didaacutetico e um local em que as atividades devem ser ldquopostadasrdquo As atividades de interaccedilatildeo que o AVA

permite satildeo limitadas e os professores utilizam mais o recurso ldquoFoacuterumrdquo No entanto em visita a uma

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

225

destes foacuteruns virtuais verificamos pouca interaccedilatildeo entre os participantes em geral estudantes postam

a sua resposta agrave questatildeo levantada pelo professor e natildeo interagem entre si

Importante ressaltar que uma das aulas (Aula 8) desta disciplina apresenta uma discussatildeo

sobre ldquoNoccedilotildees sobre Tecnologia no Ensinordquo Este recorte sobre essa disciplina se faz importante

considerando o foco da nossa pesquisa que diz respeito sobre a formaccedilatildeo de professores para a

literacia digital O texto baacutesico desta aula foi extraiacutedo do livro Novas Tecnologias e Mediaccedilatildeo Pedagoacutegica

(Moran Masseto e Behrens 2003) O artigo intitulado Mediaccedilatildeo pedagoacutegica e o uso da tecnologia de

Masseto discute sobre a preocupaccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores voltada para o domiacutenio

do conteuacutedo em detrimento da formaccedilatildeo para uso das tecnologias que colaborem para uma

aprendizagem mais eficaz Assim depois de postar o referido artigo em formato PDF na sala virtual o

professor da disciplina Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica abriu um foacuterum de discussatildeo com a

seguinte questatildeo A partir das ideias extraiacutedas no texto baacutesico participe do foacuterum cujo tema eacute Como e

quais tecnologias podem ajudar em minha sala de aula No total de oito alunos matriculados seis

participaram do foacuterum apenas uma aluna participou com mais de uma resposta mas natildeo estava

interagindo com demais colegas pois postou duas respostas seguidas

O que se percebe das observaccedilotildees nas salas de aulas virtuais do curso em questatildeo eacute que os

alunos usam estes ambientes virtuais para acessar o material do curso e postar atividades requisitadas

pelo professor e muito pouco para interagir com os colegas professores e tutores Um trecho do artigo

discutido no Foacuterum mencionado anteriormente descreve o que acontece no proacuteprio curso de Fiacutesica do

qual os alunos participam

Desenvolvem-se cursos a distacircncia com ensino a distacircncia quando por meio das novas tecnologias privilegiam a transmissatildeo de informaccedilatildeo o acesso a elas e sua reproduccedilatildeo as atividades do professor ou do teacutecnico em informaacutetica abastecem o computador com uma base de dados ou de softwares apenas para que os alunos ali se apossem das informaccedilotildees (Masseto 2003)

Neste sentido o layout da sala a disposiccedilatildeo dos conteuacutedos e recursos utilizados diz muito

sobre a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que se propotildee em cursos mediados por tecnologia Na visatildeo de Weber

(2015) o layout dos ambientes virtuais de aprendizagem natildeo constitui apenas ldquouma organizaccedilatildeo de

elementosrdquo mas ldquoespaccedilo de ensino e aprendizagemrdquo E como espaccedilos assim como as estruturas

arquitetocircnicas satildeo pensadas e planejadas a disposiccedilatildeo dos materiais didaacuteticos no espaccedilo virtual revela

a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que determinada proposta de curso se insere Assim como a disposiccedilatildeo do

quadro-negro na sala de aula revela a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo baseada na transmissatildeo de

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

226

conteuacutedos e recepccedilatildeo passiva dos mesmos pelos alunos como apresentado no capiacutetulo trecircs deste

trabalho a disposiccedilatildeo do material didaacutetico e o layout da sala virtual revelam a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

do curso Apoacutes a consideraccedilatildeo de todas estas particularidades do estado do Tocantins da UFT da UAB

e do curso de Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo a seguir apresentamos o enquadramento

metodoloacutegico desta pesquisa

44 Enquadramento metodoloacutegico da investigaccedilatildeo

O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa em que se pretende analisar em que

medida a formaccedilatildeo a distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados

seu contexto pessoal social e profissional A pesquisa inscreve-se na metodologia de um estudo de

caso tomando como caso especiacutefico os alunos do curso de graduaccedilatildeo em Licenciatura em Fiacutesica a

distacircncia da Universidade Federal do Tocantins A escolha do referido curso foi por se tratar de uma

formaccedilatildeo inicial a distacircncia voltada para professores da rede puacuteblica de ensino O curso foi usado

instrumentalmente pois poderia ter sido usado qualquer outro curso de licenciatura a distacircncia voltado

para formaccedilatildeo de professores

A situaccedilatildeo de atuar como pedagoga na Diretoria de Tecnologias Educacionais da UFT contribuiu

para obter acesso a dados relacionados com o curso em questatildeo e de manter contato permanente

com o coordenador do mesmo Por outro lado dificuldades como conseguir que o maacuteximo possiacutevel de

alunos participantes da pesquisa respondessem aos questionaacuterios on-line e agendar entrevistas com

uma parte da amostra (residentes em cidades do interior do Tocantins) foram desafios enfrentados

pela pesquisadora Por tais motivos tivemos uma atenccedilatildeo especial ao cumprimento dos aspetos eacuteticos

da pesquisa

441 Objetivos da pesquisa

Como jaacute exposto na introduccedilatildeo desta tese o objetivo principal proposto para este estudo

constituiu em analisar as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores

da rede puacuteblica pode causar na inclusatildeo sociodigital e literacia digital dos participantes no que diz

respeito as suas respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Os objetivos especiacuteficos foram

(1) Compreender o conceito de literacia mediaacuteticadigital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em redes e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

227

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

(2) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

(3) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente

(4) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

Neste sentido a pesquisa de cunho qualitativo pretendeu analisar em que medida a formaccedilatildeo a

distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados seu contexto pessoal

social e profissional

442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa

Neste trabalho utiliza-se a definiccedilatildeo para o termo ldquopesquisardquo de acordo com Ander-egg

(1978 p 29) de que esta se trata de um ldquoprocesso social que utilizando metodologia cientiacutefica

permite novos conhecimentos no campo da realidade socialrdquo A pesquisa natildeo constitui uma atividade

neutra esta traz consigo uma carga de valores conhecimentos interesses e preferecircncias do

pesquisador Ludke (1986 p 3) referindo-se ao pesquisador diante da pesquisa escreveu

Assim a sua visatildeo do mundo os pontos de partida os fundamentos para compreensatildeo e explicaccedilatildeo desse mundo iratildeo influenciar a maneira como ele propotildee suas pesquisas ou em outras palavras os pressupostos que orientam seu pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisa

Considerando nossa formaccedilatildeo em niacutevel de mestrado na aacuterea de poliacuteticas sociais em que

realizamos pesquisa de cunho quanti-qualitativo com estudantes de baixa renda de uma universidade

puacuteblica compreendemos que essa abordagem eacute a melhor qualificada para se estudar um fenocircmeno

na perspectiva dos participantes da situaccedilatildeo (Alves 2010) Segundo Bogdan e Taylor (1975) a

abordagem qualitativa permite ao pesquisador maior subjetividade em busca do conhecimento e

disponibiliza um leque maior de procedimentos metodoloacutegicos a serem usados na

investigaccedilatildeoContudo devido ao uso do questionaacuterio e ao tratamento estatiacutestico dos dados esta

pesquisa tambeacutem tem um cunho quantitativo Daiacute que apesar de termos um foco privilegiado na

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

228

anaacutelise qualitativa a pesquisa tem esta vertente mista combinando a abordagem qualitativa e a

quantitativa

Trivinos (1987) salienta que mesmo um pesquisador experiente ao iniciar sua investigaccedilatildeo

deve apoiar-se de fundamentaccedilatildeo teoacuterica e revisatildeo aprofundada da literatura em torno do toacutepico em

foco O autor explica que a necessidade da teoria surgiraacute em face das interrogativas que surgiratildeo

durante a pesquisa Neste sentido esta pesquisa investigativa cujo relatoacuterio dos resultados estatildeo

descritos nesta tese iniciou-se a partir de revisatildeo teoacuterica da literatura claacutessica e contemporacircnea de

autores que discutem as categorias teoacutericas do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores

inclusao sociodigital e literacia digital

443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso

Escolheu-se o estudo de caso pois este de acordo com Yin (2001 p 20) tem por objetivo

ldquoinvestigar um fenocircmeno contemporacircneo no seu contexto real especialmente quando os limites entre o

fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente definidosrdquo Assim o estudo de caso enquanto pesquisa

qualitativa baseia-se no pensamento indutivo que depende fortemente do trabalho de campo usando

fontes de dados muacuteltiplas e variadas

Trivintildeos (1987 p 133) define estudo de caso como ldquouma categoria de pesquisa cujo objeto eacute

uma unidade que se analisa aprofundadamenterdquo O autor explica que esta definiccedilatildeo determina suas

caracteriacutesticas que satildeo dadas por duas circunstacircncias (1) a natureza e abrangecircncia da unidade e (2)

os suportes teoacutericos que servem de orientaccedilatildeo para o trabalho do pesquisador Satildeo em tese estudos

descritivos e exigem uma descriccedilatildeo meticulosa de teacutecnicas modelos e teorias que poderatildeo o orientar a

coleta e interpretaccedilatildeo de dados Para Yin (1993) os estudos de caso podem ser exploratoacuterios

descritivos ou explanatoacuterios Sobre esta tipologia Meirinhos e Osoacuterio (2010 p 57) esclarecem

Os estudos exploratoacuterios tecircm como finalidade definir as questotildees ou hipoacuteteses para uma investigaccedilatildeo posterior Isto eacute satildeo o preluacutedio para uma investigaccedilatildeo subsequente mas natildeo necessariamente um estudo de caso []os estudos descritivos representam a descriccedilatildeo completa de um fenoacutemeno inserido no seu contexto [] Os estudos explanatoacuterios procuram informaccedilatildeo que possibilite o estabelecimento de relaccedilotildees de causa e feito ou seja procuram a causa que melhor explica o fenoacutemeno estudado e todas as suas relaccedilotildees causais

No caso do estudo proposto nesta investigaccedilatildeo trata-se de uma abordagem exploratoacuteria em

que com base nos dados recolhidos e analisados sobre as praacuteticas cotidianas dos professores no

tocante ao uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no dia-dia e na praacutetica docente a

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

229

pesquisa revelou um perfil especiacutefico de profissionais da educaccedilatildeo que ainda encontram resistecircncia agraves

tecnologias e sendo poucos qualificados nessa aacuterea acabam excluidos da rede ou agrave margem dela

Para Stake (1999) os estudos de caso satildeo clasificados de acordo com seus objetivos e podem

ser intriacutensecos instrumentais ou coletivos Nos estudos de casos intriacutensecos a atenccedilatildeo eacute voltada

exclusivamente para o caso particular independente da sua relaccedilatildeo com outros casos ou problemas

relacionados Na situaccedilatildeo dos estudos de caso instrumentais o caso em si eacute usado apenas para se

compreender uma problemaacutetica Assim o pesquisador buscando conhecer e compreender um

fenocircmeno se debruccedila num caso particular cuja funccedilatildeo eacute ser um suporte para facilitar a compreensatildeo

de uma problemaacutetica Nos estudos de caso coletivos satildeo estudados vaacuterios casos diferentes com o

objetivo de fazer uma melhor anaacutelise para posterior teorizaccedilatildeo Neste sentido o caraacuteter do presente

estudo de caso eacute de natureza instrumental O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT foi

utilizado instrumentalmente para a investigaccedilatildeo sobre os impactos da formaccedilatildeo a distacircncia na literacia

digital dos cursistas nos acircmbitos de vida cotidiana e praacuteticas pedagoacutegicas

444 Participantes

Os participantes da pesquisa satildeo todos alunos do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia

da UFT ingressantes em 2010 e 2012 nos respectivos vestibulares realizados pela UFT Em 2014 (ano

em que foi realizada a primeira etapa da pesquisa de campo) havia 32 alunos matriculados no curso

11 alunos ingressantes no primeiro vestibular de 2010 e 21 alunos com entrada em 2012 No

universo dos 32 alunos matriculados no curso em questatildeo 25 participaram da primeira fase

(questionaacuterios) e dentre estes 6 participaram da segunda fase (entrevistas) do estudo

Os participantes das entrevistas foram selecionados de entre os 25 alunos que responderam o

questionaacuterio on-line conforme os seguintes criteacuterios cursistas de ambos os sexos ingressantes em 2010

e 2012 atuantes e natildeo atuantes em sala de aula residentes na capital do estado do Tocantins e os que

morassem no interior Assim o perfil dos entrevistados eacute o seguinte

bull Entrevistado 1 (E1) ndash professor da rede puacuteblica licenciado em Histoacuteria ingressante em 2010 residente em Palmas Tocantins

bull Entrevistado 2 (E2) - Natildeo atua em sala de aula primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Palmas

bull Entrevistado 3 (E3) ndash Professor de atualidade em escola privada( cursinho preacute-vestibular) formado em Recursos Humanos ingressante em 2010 residente em Gurupi Tocantins

bull Entrevistado 4 (E4) ndash Professor de ensino religioso na rede puacuteblica de ensino primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Cariri do Tocantins

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

230

bull Entrevistada 5 (E5) ndash Professora de matemaacutetica na rede puacuteblica de ensino formada em Ciecircncias Contaacutebeis ingressante em 2010 moradora em Gurupi

bull Entrevistada 6 (E6) - Professora de matemaacutetica em rede puacuteblica de ensino licenciada em Matemaacutetica ingressante em 2010 residente em Alvorada do Tocantins

445 Instrumentos da pesquisa

Sobre os instrumentos de coleta de dados a serem usados em uma pesquisa qualitativa

Trivintildeos (1987) salienta que podem ser os mesmos usados para a pesquisa quantitativa Segundo o

autor questionaacuterios e entrevistas ldquosatildeo meios neutros que adquirem vida definida quando o

pesquisador os ilumina com determinada teoriardquo (p 37) Os instrumentos de investigaccedilatildeo utilizados

foram a pesquisa bibliograacutefica e documental e a pesquisa de campo com aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

on-line e realizaccedilatildeo de entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender os impactos da

formaccedilatildeo mediada por tecnologias na literacia digital dos professores

4451 Pesquisa bibliograacutefica e Documental

Inicialmente foi realizado um levantamento bibliograacutefico para a devida compreensatildeo e anaacutelise

aprofundada das categorias de anaacutelise do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores

inclusatildeo sociodigital e literacia digital Com o objetivo de descrever o cenaacuterio da sociedade em rede

pano de fundo da pesquisa em que as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo avanccedilam cada vez

mais para o interior das escolas foram consultados autores que tecircm uma reflexatildeo significativa sobre o

a sociedade contemporacircnea como o filoacutesofo Pierre Leacutevy (1999) e os socioacutelogos Manuel Castells

(Castells 2005) e Zygmunt Bauman (2001) autores que tecircm servido de embasamento societal

teoacuterico para uma abordagem criacutetica da aacuterea de Tecnologia Educativa Tambeacutem foi realizada uma

revisatildeo de literatura em livros revistas cientiacuteficas artigos e teses de doutoramento que versam sobre o

binocircmio inclusatildeoexclusatildeo sociodigital com o intuito de compreender conceitos do termo e o contexto

em que vivem as pessoas marginalizadas da rede ou sem acesso a ela A revisatildeo bibliograacutefica incluiu

anaacutelise de estudos cientiacuteficos que revelam o perfil do professor frente agraves tecnologias no cotidiano e nas

praacuteticas docentes e ainda foram consultados estudos sobre o papel que os cursos de formaccedilatildeo

docente (inicial e continuada) exercem na literacia digital dos professores participantes Como intuito

de se resgatar o histoacuterico do curso de Fiacutesica da UFT foram consultados relatoacuterios projetos ambiente

virtual e mesmo a coordenaccedilatildeo do mesmo curso para uma melhor compreensatildeo da sua organizaccedilatildeo

logiacutestica e pedagoacutegica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

231

4452 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo foi realizada em duas fases A primeira consistiu numa sondagem do

perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos participantes e investigaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo destes com

as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico Nesta fase o

instrumento utilizado foi o questionaacuterio com questotildees fechadas Na segunda fase foram realizadas

entrevistas (semi-estruturadas) com seis elementos da amostra (cursistas) para compreender de forma

mais aprofundada os impactos da tecnologia no seu cotidiano suas praacuteticas de literacia digital e ainda

se estas promoveram sua inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede

a) Questionaacuterio

Lejano (2006) trata o fenocircmeno de uma determinada poliacutetica como algo que soacute pode ser entendido

por algueacutem que tenha experimentado ou vivido no contexto dos fatos Neste sentido a aplicaccedilatildeo de

questionaacuterios fechados com a populaccedilatildeo alvo da pesquisa teve o objetivo de conhecer sua realidade

social suas condiccedilotildees socioeconocircmicas culturais e inclusive do acesso aos meios tecnoloacutegicos Do

total de 32 alunos frequentes do curso (matriculados entre 2010 e 2012) 25 responderam ao

questionaacuterio on-line enviado via e-mail O questionaacuterio foi elaborado no Google Docs e contemplava trecircs

partes

1 Perfil econocircmico sociocultural e sobre uso da internet

2 Escala do uso de tecnologias digitais no cotidiano

3 Escala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegica

Para o referido questionaacuterio foi feita uma adaptaccedilatildeo da escala AliDiP ndash Avaliaccedilatildeo da Literacia

Digital para Professores (Joly Martins Almeida Silva Arauacutejo e Vendramini 2014) que mensura a

competecircncia docente no uso de tecnologias digitais no cotidiano e no contexto pedagoacutegico em dois

fatores competecircncia instrumental e competecircncia de gestatildeo pedagoacutegica Segundos os autores da

escala ela eacute resultante de um estudo transcultural (Brasil e Portugal) que apresenta boas

caracteriacutesticas psicomeacutetricas O primeiro fator ldquocompetecircncia instrumentalrdquo (α = 091) agrupa 17 itens

relacionados com os conhecimentos baacutesicos das ferramentas e procedimentos das TDIC e sua

utilizaccedilatildeo no contexto pessoal e profissional O segundo fator designado ldquoCompetecircncia em Gestatildeo

Pedagoacutegicardquo (α = 092) reuacutene 16 itens versando conhecimentos fundamentados das ferramentas TDIC

relativas agraves disciplinas eou aacutereas disciplinares que os professores lecionam traduzindo sobretudo as

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

232

suas atitudes ou competecircncias pedagoacutegicas relativamente agrave sua utilizaccedilatildeo no seu ensino e nas

aprendizagens dos alunos enquanto recurso pedagoacutegico

No nosso estudo para a construccedilatildeo do questionaacuterio efetuamos uma adaptaccedilatildeo desta escala

para a qual recorremos agrave sua validaccedilatildeo de conteuacutedo junto de trecircs especialistas que aprovaram a

mesma com algumas recomendaccedilotildees como a inserccedilatildeo de uma questatildeo sobre o grau de satisfaccedilatildeo

dos participantes sobre o curso que frequenta e tambeacutem o grau de satisfaccedilatildeo sobre o atendimento do

tutor presencial no polo de apoio As recomendaccedilotildees das especialistas foram acatadas no questionaacuterio

Assim alguns dos itens do 1ordm fator passaram a constituir uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais

no cotidianordquo constituiacuteda por 20 questotildees que abordam o uso das tecnologias pelos participantes no

tocante a atividades cotidianas como obter notiacutecias fazer transaccedilotildees bancaacuterias compras on-line

autoria e disseminaccedilatildeo de conhecimento comunicaccedilatildeo com pessoas distantes e outras e alguns dos

itens do 2ordm fator formaram uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegicardquo

constituiacuteda por 15 questotildees relacionados ao planejamento e aplicaccedilatildeo de estrateacutegias didaacuteticas com o

uso de tecnologias orientaccedilatildeo e supervisatildeo de atividades mediadas por tecnologias uso das redes

sociais para contato dos alunos fora do ambiente formal das aulas dentre outras Esta adaptaccedilatildeo

resulta de fato de os participantes no estudo serem simultaneamente docentes e cursistas de uma

licenciatura

b) Entrevistas

Segundo Rigotto (1999) as teacutecnicas de relatos orais como um todo coloca o sujeito num lugar

de destaque valorizando as experiecircncias que viveu e o que tem a dizer sobre elas Por isso foi

utilizada outra teacutecnica de pesquisa para complementar o questionaacuterio no caso a entrevista

semiestruturada Para Trivintildeos (1987 p 146) esta teacutecnica de coleta de dados constitui uma

ferramenta eficiente para o pesquisador

Queremos privilegiar a entrevista semi-estruturada porque esta ao mesmo tempo que valoriza a presenccedila do investigador oferece todas as perspectivas possiacuteveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessaacuterias enriquecendo a investigaccedilatildeo

Assim as entrevistas possibilitam ao pesquisador fazer uma espeacutecie de mergulho em

profundidade coletando indiacutecios dos modos como cada um dos sujeitos percebe e significa sua

realidade e levantando informaccedilotildees consistentes que lhe permitam descrever e compreender a loacutegica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

233

que preside as relaccedilotildees que se estabelecem no interior do grupo o que em geral eacute mais difiacutecil obter

com outros instrumentos de coleta de dados

Com o objetivo de aprofundar sobre os impactos da formaccedilatildeo mediada por tecnologias na

literacia digital dos professores realizou-se a entrevista semiestructurada com seis participantes do

curso que responderam o questionaacuterio As entrevistas contemplavam questotildees como trajetoacuteria

acadecircmica razatildeo da escolha pela formaccedilatildeo on-line expectativas e realidades constatadas no curso

possiacuteveis dificuldades com o manuseio das tecnologias concepccedilatildeo do cursista sobre educaccedilatildeo a

distacircncia vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica (se o curso alterou sua visatildeo das tecnologias na

escola) auto avaliaccedilatildeo do niacutevel de literacia praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologia percepccedilatildeo

das tecnologias na escola As entrevistas foram gravadas e posteriormente digitadas em documento

word (Apecircndice 3 p359)

446 Procedimentos de Recolha de dados

Para obter o contato dos cursistas da amostra recorremos ao coordenador do curso de Fiacutesica

Ead para solicitar e-mail e telefone dos respectivos alunos matriculados no curso dentro do periacuteodo de

2010 a 2012 Os cursistas foram contatados por e-mail cujo link para o questionaacuterio on-line foi

disponibilizado No referido e-mail foram fornecidas informaccedilotildees sobre do que se tratava a pesquisa

um convite para o cursista participar e a garantia de que a identidade dos mesmos seria mantida em

sigilo Foram enviados e-mails a 32 alunos dos quais 25 responderam dentro do periacuteodo de 09 de

janeiro de 2014 e 03 de fevereiro de 2015 Muitos cursistas natildeo acessam o e-mail rotineiramente e

natildeo deram retorno sobre o questionaacuterio dentro do primeiro mecircs Considerando que se tratava de mecircs

de feacuterias dos professorescursistas alguns natildeo entravam nos seus e-mails assim em alguns casos

houve necessidade de ligar para os cursistas explicando sobre a pesquisa e solicitando que

participassem No entanto mesmo com as ligaccedilotildees alguns optaram por natildeo participar da pesquisa

Considerou-se que 25 questionaacuterios respondidos (78) constituiu uma amostra vaacutelida tendo em vista o

universo de 32 matriculados

No que diz respeito agraves entrevistas semiestruturadas estas foram realizadas nos polos de

Palmas e Gurupi O coordenador do curso de Fiacutesica a distacircncia informou que o melhor dia para

encontrar os cursistas seria nos saacutebados porque eles compareciam ao polo para grupos de estudos

com a presenccedila do tutor presencial Num saacutebado de marccedilo de 2015 no polo de Palmas encontramos

um grupo de cerca de oito cursistas reunidos para estudar Convidamos para a pesquisa trecircs

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

234

participantes que atendessem aos criteacuterios e perfil jaacute mencionados anteriormente a amostra teria que

contemplar ambos os sexos cursistas ingressantes em 2010 e 2012 cursistas atuantes e natildeo

atuantes em sala de aula cursistas que morassem na capital do estado do Tocantins e os que

morassem no interior As entrevistas foram individuais e realizadas numa sala de aula do polo (que

fica numa escola de ensino meacutedio)

No polo de Gurupi cidade a 280 km de Palmas agendamos com o tutor presencial daquele

polo uma visita para entrevistar os cursistas da qual foi realizada numa tarde de saacutebado de abril de

2015 Os alunos jaacute haviam sido informados das entrevistas pelo tutor e foram selecionados trecircs de

acordo com os criteacuterios preacute-estabelecidos As entrevistas foram realizadas numa sala do polo tambeacutem

individualmente Todas as entrevistas foram gravadas com o consentimento dos participantes que

tiveram acesso posterior ao aacuteudio da gravaccedilatildeo e a transcriccedilatildeo das mesmas em editor de texto

447 Tratamentos dos dados

No processo de tratamento dos dados a preocupaccedilatildeo foi com a anaacutelise integral das

informaccedilotildees recolhidas nos instrumentos questionaacuterio e entrevistas No que diz respeito ao

questionaacuterio sua elaboraccedilatildeo na ferramenta Google Docs facilitou a tabulaccedilatildeo dos dados pois agrave

medida que os participantes respondiam as informaccedilotildees ficavam disponiacuteveis numa planilha de Excel

A ferramenta Google Docs permitiu tambeacutem a geraccedilatildeo de graacuteficos de dados selecionados por colunas

Assim o tratamento dos dados nessa etapa da pesquisa foi estatiacutestico consistiu em tabular e gerar

planilhas ou tabelas relacionadas com o perfil dos participantes Os dados sobre o uso das tecnologias

no cotidiano e praacutetica docente dos participantes foram comparados com estatiacutesticas de outras regiotildees

ou estados e ateacute mesmo com a meacutedia nacional

Como jaacute exposto o questionaacuterio on-line tinha a finalidade de levantar o perfil social

econocircmico acadecircmico e de uso de tecnologias no cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica dos participantes

da pesquisa De acordo com Trivintildeos (1987) eacute possiacutevel o uso de questionaacuterios fechados em pesquisas

qualitativas mas estes devem caracterizar um grupo de acordo com seus traccedilos gerais (atividades

ocupacionais niacutevel de escolaridade estado civil e outras informaccedilotildees de perfil) Neste sentido os

dados recolhidos no questionaacuterio foram reunidos organizados e classificados de acordo com os

objetivos da pesquisa

Os dados das entrevistas semiestruturadas foram tratados no enfoque qualitativo utilizando a

teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo Segundo Bardin (1977) o que caracteriza uma anaacutelise qualitativa eacute o

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

235

fato de a inferecircncia (deduccedilatildeo pelo raciociacutenio ou loacutegica) ser fundada na presenccedila do iacutendice (o tema

palavra ou personagem) e natildeo sobre a frequecircncia da sua apariccedilatildeo como ocorre na anaacutelise quantitativa

A autora explica

Natildeo se trata de atravessar significantes para atingir significados agrave semelhanccedila de decifraccedilatildeo normal mas atingir atraveacutes de significantes ou de significados (manipulados) outros significados de natureza psicoloacutegica socioloacutegica poliacutetica histoacuterica etc (idem p 41)

Neste sentido dentro do enfoque qualitativo a anaacutelise de conteuacutedo constitui uma teacutecnica

apropriada para investigar posturas percepccedilotildees atitudes motivaccedilotildees presentes no discurso dos

sujeitos dentro do contexto que estes se inserem com fins de compreender as suas representaccedilotildees

associaccedilatildeo de ideias contradiccedilotildees e interesses

4471 Procedimentos da anaacutelise de conteuacutedo

Vala (1990) considera que em niacutevel de investigaccedilatildeo empiacuterica a anaacutelise de conteuacutedo deve ser

voltada aos objetivos do trabalho de investigaccedilatildeo Esta pode descrever fenocircmenos (niacutevel descritivo)

descobrir covariaccedilotildees ou associaccedilotildees entre fenocircmenos (niacutevel correlacional) encontrar relaccedilotildees de

causa-efeito entre fenocircmenos (niacutevel causal) Segundo Bardin (1977 p 42) a anaacutelise de conteuacutedo

constitui

Um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das comunicaccedilotildees visando obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo de conteuacutedo das mensagens indicadores (quantitativos ou natildeo) que permitam a inferecircncia de conhecimentos relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo (variaacuteveis inferidas) destas mensagens

A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo abrange diversos procedimentos que dependem dos objetivos

a serem alcanccedilados na pesquisa Minayo (1998 p 93) classifica a anaacutelise de conteuacutedos em diversos

tipos de expressatildeo das relaccedilotildees de avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e categorial temaacutetica Nesta mesma

direccedilatildeo Bardin (1977 p 95) afirma que o desenvolvimento de uma anaacutelise de conteuacutedo eacute processual

e perpassa por trecircs etapas (1) a preacute-anaacutelise (2) a exploraccedilatildeo do material (3) o tratamento dos

resultados a inferecircncia e a interpretaccedilatildeoAssim considerando ambas as visotildees sobre os

procedimentos para a realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica o quadro 10 sistematiza o

roteiro da teacutecnica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

236

Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica (Adaptado de Bardin (1977) e Minayo (1998))

Etapas Objetivos Accedilotildees 1ordf etapa preacute-anaacutelise

- Retomada do objeto e objetivos da pesquisa - Seleccedilatildeo inicial dos documentos - definiccedilatildeo de unidades de preacute-anaacutelise registro palavras-chave ou frases e unidade de contexto - delimitaccedilatildeo do contexto (se necessaacuterio)

- Leitura flutuante Contato inicial com os textos captando o conteuacutedo genericamente sem maiores preocupaccedilotildees teacutecnicas Constituiccedilatildeo do corpus seguir normas de validade 1- Exaustividade - dar conta do roteiro 2- Representatividade - dar conta do universo pretendido 3- Homogeneidade - coerecircncia interna de temas teacutecnicas e interlocutores necessaacuterio 4- Pertinecircncia - adequaccedilatildeo ao objeto e objetivos do estudo

2ordf etapa exploraccedilatildeo do material

- Definiccedilatildeo dos iacutendices e elaboraccedilatildeo dos indicadores recortes do texto e categorizaccedilatildeo - preparaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do material (alinhamento)

- Desconstituiccedilatildeo do texto em unidadescategorias e isolamento dos elementos - Reagrupamento por categorias para anaacutelise posterior - Classificaccedilatildeo organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos

3ordf etapa Tratamento dos dados e interpretaccedilatildeo

- Interpretaccedilatildeo dos dados brutos - Elaboraccedilatildeo de quadro de resultados destacando as informaccedilotildees fornecidas na anaacutelise

Inferecircncias com uma abordagem variantequalitativa com foco nas significaccedilotildees

A partir da compreensatildeo da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedos a etapa de preacute-anaacutelise foi iniciada

com a retomada dos objetivos da pesquisa Considerando que o objetivo da pesquisa eacute investigar se o

fato de estudar em um curso a distacircncia contribuiu para o desenvolvimento da literacia digital dos

estudantes em particular se estes forem professores em processo de formaccedilatildeo as entrevistas

semiestruturadas permitiram aprofundar as questotildees jaacute levantadas sobre o perfil dos participantes

atraveacutes dos questionaacuterios As questotildees da entrevista indagaram subjetivamente se esta formaccedilatildeo a

distacircncia cooperou para a inserccedilatildeo deste formando na sociedade em rede incluindo-o digitalmente e

tornando-o haacutebil para usar as tecnologias criticamente no seu cotidiano e na sua praacutetica docente

Assim a entrevista foi estruturada com o objetivo de captar as expressotildees dos participantes bem

como suas perspectivas e anseios em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica a distancia da UFT O guiatildeo da

entrevista contemplava os seguintes temas

Trajetoacuteria acadecircmica razatildeo da escolha por um curso a distacircncia Expectativas quando iniciou o curso e percepccedilatildeo atual Provaacuteveis dificuldades e desafios em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia Percepccedilatildeo sobre cursos a distacircncia Vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica na escola que atua Auto-avaliaccedilatildeo sobre seu niacutevel de literacia digital Interaccedilatildeo com alunos em redes sociais Percepccedilatildeo das tecnologias nas escolas Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

237

Para Moraes (1994) grandes temas de anaacutelise satildeo chamados de categorias a priori Na visatildeo

do autor estas satildeo ldquoconstruccedilotildees que o pesquisador elabora antes de realizar a anaacutelise propriamente

dita dos dados Proveacutem das teorias em que fundamenta o trabalhordquo Para o autor no processo de

desconstruccedilatildeo do texto o que Bardin (1977) chama de exploraccedilatildeo do material a definiccedilatildeo do corpus

da pesquisa inclui a leitura do material a ser analisado com o objetivo de ldquoperceber os sentidos dos

textos em diferentes limites de pormenoresrdquo Trata-se de um processo de desmontagem ou

desintegraccedilatildeo dos textos destacando seus elementos constituintesConsiderando os objetivos desta

pesquisa foram elencadas quatro grandes categorias a priori

1 Intenccedilatildeo e expectativa sobre a formaccedilatildeo a distacircncia 2 Relaccedilatildeo pessoal com as tecnologias 3 Percepccedilatildeo sobre educaccedilatildeo a distacircncia e do curso de Fiacutesica em EaD 4 Tecnologias na praacutetica pedagoacutegica

Estas categorias em niacutevel macro nortearam a construccedilatildeo das categorias emergentes ou

categorias de anaacutelise textual que foram elencadas apoacutes o processo de categorizaccedilatildeo

O passo seguinte constituiu na categorizaccedilatildeo Para Vala (1990 p 111) uma categoria eacute

ldquocomposta por um termo-chave que indica a significaccedilatildeo central do conceito que se quer apreender e

de outros indicadores que descrevem o campo semacircntico do conceitordquo Na visatildeo de Bardin (1977)

categorias satildeo rubricas ou classes que reuacutenem um grupo de elementos com caracteriacutesticas comuns

sob um tiacutetulo geneacuterico A categorizaccedilatildeo consiste em duas etapas isolar os elementos (inventaacuterio) e

classificaacute-los organizando-os Segundo o autor a categorizaccedilatildeo fornece ldquopor condensaccedilatildeo uma

representaccedilatildeo simplificada dos dados brutosrdquo (idem p 119) O criteacuterio de categorizaccedilatildeo pode ser

semacircntico (categorias temaacuteticas) sintaacutetico (verbos e adjetivos) e leacutexico (classificaccedilatildeo das palavras

segundo o seu sentido)

Bardin (1977) explica que a categorizaccedilatildeo pode ser realizada por dois processos fornece-se

um sistema de categorias e os elementos vatildeo sendo inseridos neles agrave medida que satildeo encontrados

como se fossem caixas que organizam por criteacuterios previamente selecionados no outro processo natildeo

se fornece o sistema de categorias e o procedimento eacute fornecido por ldquomilhasrdquo (o analista identifica a

categoria percorrendo a milha em que consiste o corpus da pesquisa) Na pesquisa em questatildeo

utilizamos o primeiro sistema em que as categorias de anaacutelise foram criadas de antematildeo e as

informaccedilotildees encontradas no corpus da pesquisa foram classificados segundo temas comuns

Assim a anaacutelise categorial temaacutetica foi escolhida como teacutecnica para tratamento dos dados

desta pesquisa Minayo (1998) afirma que a anaacutelise categorial temaacutetica deve ser realizada por etapas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

238

por intervenccedilotildees de desmembramento do texto em unidades e em categorias com objetivo de fazer um

reagrupamento analiacutetico posterior Portanto esta se efetiva em dois momentos o isolamento dos

elementos e a classificaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos Segundo

a autora esta teacutecnica visa descobrir os nuacutecleos de sentido que compotildeem uma comunicaccedilatildeo cuja

presenccedila ou frequecircncia signifiquem alguma coisa para o objetivo analiacutetico visado empregando-a de

forma mais interpretativa natildeo somente realizando inferecircncias estatiacutesticas O quadro 11 apresenta a

siacutentese das categorias de anaacutelise temaacuteticas retiradas apoacutes preacute-anaacutelise das transcriccedilotildees das entrevistas

semiestruturadas com os participantes

Quadro 9 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica

Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica

Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia

C1- Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia

C2 - Expectativa sobre o curso de Fisica EaD

Relaccedilatildeo Pessoal com as tecnologias

C3- Percepccedilatildeo sobre as tecnologias no cotidiano

C4- Dificuldades com manuseios das tecnologias

C5- Auto avaliaccedilatildeo da Literacia

C6- Mudanccedilas em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois do curso on-line

Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia

C7 - Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a distacircncia

C8 - Percepccedilatildeo sobre o curso de Fisica EaD

C 9 - Indicaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a outros

C10 - Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Tecnologia na Praacutetica Pedagoacutegica

C11 - Percepccedilatildeo da presenccedila das tecnologias na escola

C12 - Dificuldades e desafios da tecnologia na praacutetica docente

C13 - Experiecircncias com tecnologias na escola

Apoacutes a categorizaccedilatildeo o passo seguinte constituiu na definiccedilatildeo das unidades de registros que

segundo Esteves (2006 p 114) se instituem como elementos de significaccedilatildeo a codificar classificar

ou atribuir a uma dada categoria De acordo com Vala (1990 p 114) usualmente existem dois tipos

de unidades as formais e as semacircnticas Unidades de registros formais incluem a palavra a frase

uma personagem a intervenccedilatildeo de um locutor numa discussatildeo uma interaccedilatildeo a outro item As

unidades de registros semacircnticas satildeo baseadas no tema e constituem expressotildees que datildeo sentido ou

significado independente das palavras usadas na mensagem Sobre a unidade de registro semacircnticas

baseada no tema Bardim (1977 p 106) afirma

O tema eacute geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivaccedilotildees de opiniotildees de atitudes de crenccedilas de tendecircncias etc As respostas a questotildees abertas as entrevistas (natildeo directivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo [] podem ser e satildeo frequentemente analisados tendo o tema por base

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

239

Neste sentido fazer uma anaacutelise de conteuacutedo temaacutetica consiste em desvendar os sentidos que

compotildeem uma mensagem Como afirma Esteves (2006 p 114) ldquouma soacute ideia do emissor da

mensagem pode estar expressa por uma soacute frase por duas ou mais frases articuladas ou por uma

parte de uma frase que conteacutem duas ou mais ideias diferentesrdquo A frequecircncia de uma determinada

expressatildeo tambeacutem pode ter algum significado no contexto da anaacutelise Sobre o processo de ldquorecorterdquo

das unidades de registro a autora escreveu

O recorte das unidades de registro a codificar eacute uma das operaccedilotildees mais delicadas de um processo de anaacutelise temaacutetica ndash implica decidir qual o mais pequeno segmento do discurso dotado de sentido proacuteprio [] certas condiccedilotildees de produccedilatildeo de mensagens ndash a produccedilatildeo oral por exemplo no quadro de uma entrevista satildeo feacuterteis na emissatildeo de frases incompletas na ocorrecircncia de saltos de sentidos dentro de uma mesma frase de repeticcedilotildees que dificultam a delimitaccedilatildeo ou recorte das unidades semacircnticas a codificar pelo analista porque o que lhe interessa eacute isolar os sentidos diversos presentes no que foi dito e natildeo na forma como o foi (idem p 114)

A definiccedilatildeo da unidade de contexto (UC) eacute importante para delimitar o segmento da mensagem

de que a unidade de registro faz parte Esteves (idem p 115) explica que usualmente em protocolos

de entrevistas considera-se cada entrevista como uma unidade de contexto ldquoporque eacute ela na sua

integralidade que permite compreender o sentido de cada unidade de registro que foram recortadas e

que se pretende codificarrdquo Assim na pesquisa em questatildeo cada entrevista transcrita foi considerada

uma unidade de contexto As seis entrevistas foram assim enumeradas E1 E2 E3 E4 E5 e E6

Usamos uma planilha de excel para realizar a categorizaccedilatildeo e extraccedilatildeo das unidades de

registros das entrevistas identificando a respectiva unidade de contexto Segue um exemplo da planilha

elaborada

Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas

Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica

Unidade de anaacutelise ou de registro UC

Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia

C1 - Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho

E4

C2 - Expectativa sobre o curso de Fiacutesica EaD

Este dai eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero mas eu me enganei

E4

Apoacutes esgotar todas as entrevistas e categorias dividindo em ldquocaixasrdquo as unidades de registro o

passo seguinte foi fazer o reagrupamento por categorias de anaacutelise das expressotildees de todas as

unidades de contexto conforme um exemplo no quadro abaixo

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

240

Quadro 103 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto

Categoria Unidade de registro UC

C 1 Intenccedilatildeo em fazer curso

a distacircncia

Aleacutem de querer fazer Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionava E1 O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias a noite (flexibilidade) E2

Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do cursSegundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura E3 Como era uma oferta de curso de uma instituiccedilatildeo de renome com facilidade de acesso E3

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho E4

Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis E5 Entatildeo para mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelente E6

Apoacutes realizaccedilatildeo dos tratamentos dos dados definidas as categorias e unidades de registros a

terceira e ultima fase da analise de conteuacutedo de acordo com Bardin consiste na interpretaccedilatildeo dos

dados A inferecircncia ou seja a operaccedilatildeo logica atraveacutes do qual se admite uma preposiccedilatildeo em virtude

de sua ligaccedilatildeo com outras proposiccedilotildees jaacute aceitas como verdadeiras constitui uma etapa importante no

processo final de analise de conteuacutedos Nesta fase busca-se colocar em relevo as informaccedilotildees

fornecidas pela anaacutelise com objetivo de compreender os sentidos e significados impliacutecitos no discurso

dos entrevistados

Assim as entrevistas passaram por duas anaacutelises diferentes A primeira teve o objetivo de

identificar os conceitos reunindo todos os momentos nos quais cada participante falou sobre uma

categoria especiacutefica Um mesmo trecho ou fragmentos serviram em algumas situaccedilotildees para mostrar

conceitos diferentes Foi construiacutedo um quadro analiacutetico em que foram apresentados os principais

conceitos impliacutecitos em cada unidade de registro e respectivas unidades de contexto

A segunda anaacutelise baseou-se na teacutecnica de anaacutelise da enunciaccedilatildeo de DUnrug (1974) Bardin

(1977) considera este tipo de anaacutelise adequada para entrevistas natildeo diretivas pois esta parte de uma

concepccedilatildeo da comunicaccedilatildeo como processo e natildeo como dado O discurso natildeo implica uma

transposiccedilatildeo transparente de opiniotildees ou representaccedilotildees que existiriam previamente A autora explica

O discurso natildeo eacute um produto acabado mas um momento num processo de elaboraccedilatildeo com tudo o que isso comporta de contradiccedilotildees de incoerecircncias de inperfeiccediloes Isto eacute particularmente evidente nas entrevistas em que a produccedilatildeo eacute ao mesmo tempo espontacircnea e constrangida pela situaccedilatildeo (idem p 170)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

241

Neste sentido a anaacutelise da enunciaccedilatildeo permite identificar os polos de possiacuteveis incoerecircncias e

contradiccedilotildees e mostrar tambeacutem os compromissos ou soluccedilotildees construiacutedas durante a entrevista para

dar conta das contradiccedilotildees Para realizar a segunda anaacutelise os textos das entrevistas jaacute dispostos nas

unidades de registro foram divididos em proposiccedilotildees e sequecircncias Bardin (idem p 175) entende por

proposiccedilatildeo ldquouma afirmaccedilatildeo uma declaraccedilatildeo um juiacutezo (ou ate mesmo uma pergunta ou uma

negaccedilatildeo) em suma uma frase ou um elemento da frase que instaure tal como a preposiccedilatildeo logica

uma relaccedilatildeo entre dois ou mais termosrdquo Assim o texto foi medido frase por frase com objetivo de

observar a sucessatildeo de preposiccedilotildees que potildeem em evidencias relaccedilotildees e formas de raciociacutenio

Em seguida realizamos a anaacutelise sequencial em que foram analisados os diversos polos do

discurso durante a entrevista considerando as recorrecircncias conjunccedilotildees e reduccedilotildees De acordo com

DUnrug (1974) satildeo recorrecircncias aqueles casos em que mesmas ideias retornam no discurso em

diferentes contextos e quando se destaca alguma ambivalecircncia em relaccedilatildeo a algum tema Para Bardin

(idem) as recorrecircncias podem se um indicador de importacircncia (frequecircncia de um tema revela o

investimento da pessoa nesse tema) de ambivalecircncia (se o tema ressurge como por um acidente em

diferente contexto a relaccedilatildeo pode ser de desejorecusa) de negaccedilatildeo (voltar sem descanso no mesmo

assunto pode ser o sinal do desejo de convencermos de uma ideia) e da presenccedila indiscutiacutevel da ideia

recusada (repeticcedilatildeo de uma ideia rejeitada pelo subconsciente do entrevistado)

As conjunccedilotildees tecircm por objetivo conciliar ideias incompatiacuteveis assim nas entrevistas o sujeito

sempre que percebe incompatibilidade entre dois fatos ou ideias procura restabelecer a consonacircncia e

a harmonia Bardin (idem) explica que se pode tentar fazer isso pela manipulaccedilatildeo do paradoxo

(reunindo ideias aparentemente inconciliaacuteveis) ou da hipeacuterbole (aumento ou diminuiccedilatildeo excessiva das

coisas) Sobre as reduccedilotildees Bardin cita duas figuras de linguagem mais recorrentes nas analises de

enunciaccedilatildeo

Metoniacutemia Trata-se de uma reduccedilatildeo do tipo logico Consiste em empregar um termo no lugar de outro havendo entre ambos estreita afinidade ou relaccedilatildeo de sentido (ou uma parte eacute tomada pelo todo)Permite chamar a atenccedilatildeo do interlocutor para somente um aspecto para desviar a sua atenccedilatildeo de qualquer coisa por ocultaccedilatildeo Muito utilizada em comunicaccedilotildees de massa como medida subversiva (p183)

Metaacutefora Figura de linguagem do tipo associativo Designa qualquer coisa por outra Geralmente o significante da substituiccedilatildeo eacute mais simboacutelico Linguisticamente a metaacutefora eacute verificada entre dois significantes existindo uma substituiccedilatildeo onde na cadeia significante um assume o lugar do outro numa relaccedilatildeo de analogia(p184)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

242

Assim as unidades de registro foram analisadas considerando estes aspectos da analise do

enunciado proposto por DUnrug (1974) e explicitados e difundidos por Bardin (1977)

448 Aspectos eacuteticos

A reflexatildeo teoacuterica sobre a eacutetica convida o pesquisador a examinar suas accedilotildees e os meacutetodos

adotados na pesquisa (Guilhem e Diniz 2008)Segundo Bogdan e Biklen (2013 p 75) duas questotildees

satildeo relevantes no campo da eacutetica relativa agrave pesquisa com seres humanos o consentimento informado

e a proteccedilatildeo dos sujeitos contra a qualquer espeacutecie de danos Os autores afirmam que essas normas

se atentam a assegurar as seguintes prerrogativas (a) Os sujeitos aderem voluntariamente aos projetos

de investigaccedilatildeo cientes da natureza do estudo e dos perigos e obrigaccedilotildees nele envolvidos (b) Os

sujeitos natildeo satildeo expostos a riscos superiores aos ganhos que possam advir

Neste sentido esta pesquisa assegurou de que os participantes tivessem suas identidades

preservadas Nos questionaacuterios enviados via e-mail os participantes foram informados do que tratava a

pesquisa e que os dados seriam analisados de forma global e natildeo individualmente No cabeccedilalho do

formulaacuterio on-line do questionaacuterio constava a informaccedilatildeo de os dados seriam tratados de forma

confidencial e natildeo havia campo para identificaccedilatildeo pessoal Na apresentaccedilatildeo dos resultados as

entrevistas foram tratadas como unidade de contexto e foram identificadas com abreviaccedilotildees e nuacutemero

(E1 E2 E3 E4 E5 e E6) de forma que a identificaccedilatildeo dos entrevistados foi preservada

Bogdan e Biklen (2013) enfatizam a importacircncia do consentimento dos participantes em

participar de entrevistas em que aconteccedila gravaccedilatildeo de conversas eou imagens Assim asseguramos

que os participantes tivessem perfeito conhecimento de que as entrevistas seriam gravadas e

transcritas na iacutentegra Os textos transcritos junto com a respectiva gravaccedilatildeo de cada participante foram

enviados para o e-mail pessoal de cada um para que pudessem contestar qualquer equiacutevoco No

proacuteximo capiacutetulo satildeo apresentados analisados e discutidos os resultados desta pesquisa a partir dos

objetivos propostos

Capiacutetulo 5 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

245

51 Introduccedilatildeo

Seguindo a proposta do projeto de pesquisa deste trabalho apoacutes as operaccedilotildees de campo

realizou-se uma anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados de acordo com os objetivos previstos Ressaltando

que o foco principal do estudo foi investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente on-line contribuem para

o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores no seu cotidiano e na sua atuaccedilatildeo

docente o estudo de caso realizado com os cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT

revelou aspectos importantes sobre a realidade do professor em face das tecnologias digitais presentes

no cotidiano e na escola

Segundo Bauer e Gaskell (2002) a finalidade real de uma pesquisa mista (quanti-qualitativa)

natildeo eacute contar opiniotildees ou pessoas antes explorar o espectro de opiniotildees e as diferentes representaccedilotildees

sobre o assunto em questatildeo Portanto todos os dados coletados foram analisados com o intuito de

compreender as percepccedilotildees dos alunos sobre a formaccedilatildeo agrave distacircncia que participaram bem como os

impactos desta no seu contexto social A anaacutelise foi realizada considerando a tabulaccedilatildeo dos dados dos

questionaacuterios (perfil dos participantes da pesquisa e avaliaccedilatildeo de suas competecircncias docentes em

tecnologias digitais da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) e tambeacutem as categorias a levantar nas entrevistas

Salientando que o trabalho privilegia uma abordagem qualitativa ressalta-se que seu foco eacute

principalmente ldquoa exploraccedilatildeo do conjunto de opiniotildees e representaccedilotildees sociais sobre o tema que

pretende investigar (Gomes 2012 p 79) Neste sentido os dados coletados nas entrevistas satildeo

apresentados por agrupamento das convergecircncias encontradas nos depoimentos dos entrevistados

bem como as divergecircncias e antagonismos achados nos discursos

Neste capiacutetulo satildeo apresentados os resultados da investigaccedilatildeo de acordo com os objetivos

empiacutericos propostos no projeto de pesquisa

(1) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

(2) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente

(3) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

246

Assim o texto estaacute dividido em trecircs seccedilotildees A primeira trata do perfil de identificaccedilatildeo dos

participantes da pesquisa no que diz respeito agraves questotildees socioeconocircmicas socioculturais e da

formaccedilatildeo acadecircmica dos mesmos A segunda seccedilatildeo apresenta a anaacutelise dos dados coletados nos

questionaacuterios e entrevistas relacionados ao engajamento dos participantes com as tecnologias no seu

cotidiano A terceira seccedilatildeo expotildee os dados coletados na investigaccedilatildeo referentes ao domiacutenio das

tecnologias por parte dos participantes na sua praacutetica pedagoacutegica E a quarta seccedilatildeo aborda a proposta

de uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital de professores A apresentaccedilatildeo a anaacutelise e discussatildeo

dos resultados foi permeada pela revisatildeo de literatura cuja base teoacuterica fundamenta este estudo

52 Perfil dos professores cursistas

Considerando que esta pesquisa adota a metodologia de um estudo de caso conhecer o

contexto e o perfil dos participantes da pesquisa eacute essencial para se compreender fenocircmenos sociais

complexos Nesse sentido Yin (2005) ao definir um estudo de caso atribui uma importacircncia

significativa ao estudo do contexto em que os indiviacuteduos pesquisados fazem parte ldquoum estudo de caso

eacute uma investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenoacutemeno contemporacircneo dentro do seu contexto de

vida real especialmente quando limites entre o fenoacutemeno e o contexto natildeo estatildeo claramente definidosrdquo

(idem p 32) Nesta mesma direccedilatildeo Yacuzzi (2005) se referindo agraves principais caracteriacutesticas de um

estudo de caso afirma que ldquoo seu valor reside em que natildeo apenas se estuda um fenoacutemeno mas

tambeacutem o seu contexto Isto implica a presenccedila de tantas variaacuteveis que o nuacutemero de casos necessaacuterios

para as tratar estatisticamente seria impossiacutevel de estudarrdquo (idem p 9) Portanto tomar conhecimento

do contexto social dos participantes e das diferentes variaacuteveis que influenciam o impacto das

tecnologias na sua vida pessoal e profissional constitui um elemento vital deste estudo de caso Assim

esta seccedilatildeo estaacute organizada em trecircs toacutepicos principais o perfil socioeconocircmico o perfil sociocultural e o

perfil acadecircmico Conhecer o contexto socioeconocircmico sociocultural e acadecircmico dos participantes da

pesquisa contribuiu para a compreensatildeo de determinadas atitudes e comportamentos dos mesmos em

relaccedilatildeo ao uso ou natildeo uso das tecnologias no seu dia-dia e nas praacuteticas pedagoacutegicas

521 Perfil socioeconocircmico

A primeira parte do questionaacuterio buscou traccedilar um perfil de identificaccedilatildeo dos participantes da

pesquisa Os dados colhidos no referido instrumento revelam que a maior parte dos cursistas eacute do sexo

masculino (72) e moram na zona urbana (100) A idade dos participantes varia entre 25 a 34 anos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

247

(36) e 35 a 44 anos (60) Este dado eacute um indicativo que em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos diz que um

consideraacutevel nuacutemero dos cursistas eacute ldquoimigrante digitalrdquo ou seja nasceram num periacuteodo em que as

tecnologias ainda estavam em desenvolvimento e tiveram que se adaptar agrave introduccedilatildeo destas no seu

cotidiano

Sobre o perfil socioeconocircmico dos participantes os dados do questionaacuterio indicaram que 48

possuem renda bruta familiar de dois a quatro salaacuterios miacutenimos67(SM) o que eacute considerado no Brasil

proveniente de classe social niacutevel D68 O graacutefico 03 apresenta a distribuiccedilatildeo porcentual de renda dos

participantes

Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM)

Esta informaccedilatildeo constatada no questionaacuterio sobre a situaccedilatildeo econocircmica dos participantes da

pesquisa eacute relevante visto que constitui uma das variaacuteveis importantes para o acesso das pessoas ao

universo das tecnologias Na anaacutelise teoacuterica apresentada no capiacutetulo dois deste trabalho as barreiras

para o acesso agrave internet nos domiciacutelios brasileiros estatildeo associadas a problemas de custo e de

infraestrutura Devido ao alto custo dos equipamentos softwares e conexatildeo muitos preferem acessar a

internet do local de trabalho ou mesmo na casa de amigos fato que pode ser limitante do potencial

das TDIC a estes usuaacuterios Assim pessoas com situaccedilatildeo financeira vulneraacutevel podem ateacute possuir

algum acesso agraves tecnologias mas este eacute limitado e de pouca qualidadeNeste sentido a classe

econocircmica dos participantes indica que tecircm limitaccedilotildees financeiras para adquirir maacutequinas e softwares

com qualidade para utilizarem no seu cotidiano A situaccedilatildeo agrava-se mais em cidades do Tocantins 67 No Brasil um salaacuterio miacutenimo em 2016 era de R$ 88000 convertido em euros na mesma data equivalia em meacutedia a 220 euros 68 Designa-se da classe A segundo o IBGE pessoas cuja renda bruta familiar seja acima de 20 salaacuterios miacutenimos Classe B satildeo aqueles que recebem de 10 a 20SM Classe C de 4 a 10 SM Classe D de 2 a 4 SM e Classe E os que recebem ateacute 2 SM

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

248

em que a internet possui uma infraestrutura fraacutegil e precaacuteria 69 A insuficiecircncia econocircmica para

necessidades baacutesicas como moradia alimentaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo e transporte torna inviaacutevel a

possibilidade de possuir aparelhos modernos com tecnologia digital de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

eou acesso a uma boa conexatildeo com a rede de internet Fato que pode gerar a exclusatildeo sociodigital

dos professores ou a sua marginalizaccedilatildeo da rede (Demo 2005)

522 Perfil social

No tocante agraves questotildees que envolvem haacutebitos culturais dos participantes a pergunta do

questionaacuterio foi ldquoqual o principal meio de comunicaccedilatildeo mais utilizado para informaccedilotildees sobre os

acontecimentos atuaisrdquo De entre as opccedilotildees apresentadas (jornal raacutedio TV internet conversas com

outras pessoas ou natildeo usa meios de comunicaccedilatildeo de miacutedia para se informar) os dados revelam que

76 dos participantes afirmaram se informar por meio da internet Esta apresenta ser uma tendecircncia

na atualidade as pessoas informam-se pela internet sobretudo pelas redes sociais Tendo em vista

que eacute necessaacuterio selecionar e filtrar os conteuacutedos veiculados na rede de computadores a demanda por

uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital eacute pertinente para este grupo de professores participantes

da pesquisa

Um dado preocupante foi sobre a frequecircncia dos professorescursistas participantes da

pesquisa em programas culturais Quase metade dos participantes natildeo vecircem programas culturais

como se pode observar no graacutefico 04

69 Em um levantamento sobre a Banda Larga no Tocantins nenhum municiacutepio atingiu o niacutevel de 12mbps a 34mbps O levantamento considerou os cinco tipos de faixa de classificaccedilatildeo (0 a 512 Kbps 512 Kbps a 2 Mbps 2 Mbps a 12 Mbps 12 Mbps a 34 Mbps e acima de 34 Mbps) O estudo aponta ainda que existem no Brasil 243 milhotildees de pontos de acesso de banda larga fixa No Tocantins Palmas possui o maior nuacutemero de ponto de acesso com 33440 seguida por Araguaiacutena (12884 pontos) Gurupi (6513 pontos) e Porto Nacional (3505 pontos) Disponiacutevel em lthttpwwwatitudetocombrinternet-discrepancia-na-velocidade-da-banda-larga-no-brasi gt Acesso em 13 mai 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

249

Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia

Dos participantes apenas seis afirmaram morar na cidade de Palmas capital do estado do

Tocantins os demais moram nas cidades do interior em que os programas culturais como teatro e

cinema satildeo escassos Esta talvez seja a justificativa para que um porcentual significativo dos

participantes afirmarem natildeo terem participado destas modalidades de programas culturais No tocante

agrave frequecircncia nas bibliotecas disponiacuteveis nos polos de apoio presencial 60 dos participantes

afirmaram fazer consultas nas mesmas numa frequecircncia esporaacutedica de 1 a 3 vezes no mecircs Sobre o

domiacutenio de uma liacutengua estrangeira 60 disseram natildeo falar outro idioma para aleacutem do portuguecircs

Ainda foram questionados se o fato de natildeo dominarem uma liacutengua estrangeira (para os que disseram

que natildeo tecircm domiacutenio) dificultava o uso da internet tendo 70 respondido que natildeo

523 Perfil Acadecircmico

No que diz respeito ao perfil de formaccedilatildeo acadecircmica dos participantes da pesquisa 52

responderam no questionaacuterio que jaacute possuem uma graduaccedilatildeo concluiacuteda e 48 satildeo professores da

rede puacuteblica de ensino atuando como docentes na sua maioria (53) por mais de 11 anos Quando

questionados se lecionavam nas suas respectivas aacutereas de formaccedilatildeo 55 disseram que natildeo Esta eacute

uma realidade presente no cotidiano das escolas puacuteblicas principalmente nos estados brasileiros da

regiatildeo Norte e Nordeste Numa pesquisa70 realizado pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) no Brasil

em 2014 faltavam 32 mil professores com formaccedilatildeo especiacutefica para lecionar no ensino meacutedio da rede

70 Disponiacutevel em httpg1globocomeducacaonoticia201403auditoria-do-tcu-aponta-deficit-de-32-mil-professores-no-ensino-mediohtml Acesso em 13 maio 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

250

puacuteblica de ensino Os maiores deacuteficits apontados pelo estudo satildeo de professores com formaccedilatildeo

especiacutefica nas disciplinas de Fiacutesica Quiacutemica e Sociologia Assim os professores de aacutereas afins

lecionam em disciplinas diferentes da sua formaccedilatildeo (exemplo professor de Matemaacutetica que leciona

Fiacutesica ou Quiacutemica) Esta situaccedilatildeo mobiliza os professores a buscarem nos cursos a distacircncia a

possibilidade de formarem na aacuterea que estatildeo lecionando considerando a flexibilidade que essa

modalidade proporciona

Na questatildeo 29 do questionaacuterio buscamos compreender as razotildees de os participantes terem

escolhido fazer um curso na modalidade a distacircncia O graacutefico 05 mostra que um consideraacutevel nuacutemero

de participantes (36) respondeu que optaram por essa modalidade por residirem longe de uma

universidade e outra parte relevante (32) citaram a questatildeo do tempo que natildeo dispunham de tempo

para estudar num curso presencial

Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia

Assim a modalidade a distacircncia no estado do Tocantins em que as universidades se

concentram praticamente em trecircs cidades (no extremo norte na parte central e no sul) possibilita o

acesso das pessoas que moram no interior ao ensino superior gratuito

Nas entrevistas buscamos aprofundar a compreensatildeo sobre a intenccedilatildeo dos participantes em

fazer um curso na modalidade a distacircncia O que exatamente os levou a se inscreverem num curso a

distacircncia Trata-se de uma questatildeo relevante pois a motivaccedilatildeo do cursista revela muito sobre a

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

251

percepccedilatildeo que tem do curso de Fiacutesica EaD e das possiacuteveis mudanccedilas que esta formaccedilatildeo a distacircncia

proporcionou na sua vida pessoal e profissional Um dos participantes revelou que sua intenccedilatildeo foi

movida pela curiosidade de saber se um curso a distacircncia realmente funcionava ldquoaleacutem de querer fazer

Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionavardquo(E1) A flexibilidade que um curso a distacircncia

proporciona foi um fator de peso para o participante E2

O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias agrave noite [] entatildeo o curso a distacircncia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

Dois participantes citaram o fato de o curso ser ofertado por uma universidade federal de

renome como fator relevante para optarem pela licenciatura em Fiacutesica a distacircncia No Tocantins outras

instituiccedilotildees de ensino superior ofertam cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia mas natildeo satildeo gratuitos Assim

a UFT aleacutem da prerrogativa da qualidade do ensino oferece oportunidade de formaccedilatildeo superior

puacuteblica e gratuiacuteta

A oportunidade de graduar na aacuterea que leciona foi pontuada pela participante E6 como

relevante na escolha do curso em questatildeo ldquopara mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter

licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelenterdquo Alguns participantes

afirmaram jaacute possuir formaccedilatildeo superior mas optaram pelo curso devido agrave flexibilidade do tempo

possuiacuterem afinidades na aacuterea de Fiacutesica ou porque eram professores mas natildeo tinham formaccedilatildeo em

uma licenciatura

Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do curso Segundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura Comecei a cursar licenciatura e parei E meu curso eacute na parte de administraccedilatildeo natildeo eacute licenciatura e eu estou em sala de aula desde 2002 (E3)

Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica e com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis (E5)

Para outros cursistas o curso de Fiacutesica a distacircncia constituiacutea uma oportunidade para a

primeira graduaccedilatildeo por residirem numa cidade que natildeo possui campus de uma universidade puacuteblica

O participante E4 residente num municiacutepio pequeno no interior do Tocantins professor de ensino

religioso desejava graduar na aacuterea das exatas especificamente em Matemaacutetica mas por falta de

oferta pelo curso na regiatildeo ele se propocircs a fazer o curso de Fiacutesica Segue seu relato

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

252

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho mas na aacuterea da matemaacutetica eu gosto da matemaacutetica e aqui na regiatildeo natildeo tinha e ai mudei voltei para caacute natildeo tinha a matemaacutetica agora tem Mas tinha a fiacutesica ai pensei vou fazer tudo incluiacutedo mesmo (E4)

Percebe-se nas expressotildees dos cursistas a importacircncia social que o curso de Fiacutesica EaD

representa na vida dos mesmos Mesmo aqueles que jaacute possuiacuteam uma graduaccedilatildeo o curso agregou

conhecimentos para a docecircncia nas disciplinas que lecionam Para os que cursavam a primeira

graduaccedilatildeo o curso significou a porta de acesso ao ensino superior gratuito cuja entrada estava limitada

por fatores como localizaccedilatildeo geograacutefica limitaccedilatildeo financeira ou indisponibilidade de tempo para um

curso presencial

O questionaacuterio no acircmbito do perfil acadecircmico dos participantes indagou ainda dos

participantes sobre o que achavam do curso de Fiacutesica na modalidade EaD do qual eram alunos O

graacutefico 06 apresenta os resultados

Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT

Percebe-se portanto um bom grau de satisfaccedilatildeo com o curso da parte dos participantes

Apenas um respondeu que o curso era ruim e dois participantes achavam o mesmo razoaacutevel Nas

entrevistas os cursistas expressaram mais objetivamente suas percepccedilotildees sobre o curso de Fiacutesica em

EaD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

253

Bom as expectativas a princiacutepio era curiosidade saber como seria isso na praticidade um curso de fiacutesica considerando difiacutecil caacutelculos e eu imaginava com algueacutem do seu lado eacute complicado imagina a distacircncia Quando vocecirc tiver duacutevida como vocecirc vai tirar E muita coisa do curso assim as minhas anguacutestias natildeo foram saciadas elas ficaram (E1)

A expectativa era de mudar de aacuterea porque onde eu estou natildeo me daacute muitas condiccedilotildees de tempo para continuar estudando dai mudando de aacuterea que eacute uma aacuterea que eu gosto tambeacutem que eacute a educaccedilatildeo isso dai me faz com que eu tenha mais tempo e condiccedilotildees de dar continuidade aos meus estudos (E2)

Bom eu tinha uma perspectiva de que iria ter um atendimento e uma presenccedila maior dos tutores entendeu que ia ter uma participaccedilatildeo maior dos tutores com relaccedilatildeo a resposta e retorno (E3)

Este daiacute eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero Mas eu me enganei (E4)

Nota-se que os cursistas tinham expectativas diversas em relaccedilatildeo ao curso Para o participante

E1 a preocupaccedilatildeo era como seria estudar uma aacuterea considerada difiacutecil na modalidade a distacircncia

Afirma que jaacute estava no quinto periacuteodo e que suas anguacutestias natildeo tiveram respostas Outras expressotildees

tambeacutem denotam uma relativa ldquosolidatildeordquo dos cursistas com relaccedilatildeo ao acompanhamento dos tutores e

professores O participante E3 por exemplo parece decepcionado pois esperava ter uma atenccedilatildeo

maior da parte dos tutores visto se tratar de uma formaccedilatildeo a distacircncia Tambeacutem a participante E6

relatou ldquoagraves vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc

precisa ter um professor do lado para tirar uma duvida ou outra vocecirc tem o tutor a distacircncia mas o

corre-corre do diardquo Portanto muitos se sentem frustrados quando iniciam um curso a distacircncia porque

esperam que vaacute ter um suporte e acompanhamento dos tutores e professores e terminam por sentirem

solitaacuterios no curso

O participante E2 que natildeo eacute professor entrou no curso de Fiacutesica EaD com a expectativa que a

licenciatura lhe permitisse mudar da aacuterea teacutecnica para a docecircncia Na expressatildeo do participante E4

quando o mesmo revela que se enganou em relaccedilatildeo agrave metodologia nota-se que ele natildeo pensava na

necessidade de disciplina e organizaccedilatildeo do tempo que se requer num curso a distacircncia A cursista E5

jaacute se surpreendeu com a metodologia a distacircncia acreditava que era inviaacutevel um curso na aacuterea das

exatas ser ofertado nesta modalidade

A minha surpresa foi justamente um curso de exatas a distacircncia vocecirc natildeo ter o professor presente para te explicar entatildeo eu achei que natildeo ia prestar de forma alguma Mas de repente fui surpreendida porque eacute de uma qualidade tatildeo imensa que hoje a gente tem tudo (E5)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

254

Por outro lado a participante E6 jaacute considera que no seu iniacutecio o curso deixou a desejar na

questatildeo da coordenaccedilatildeo A mesma afirmou ldquosempre tem alguns problemas com as coordenaccedilotildees

passamos por vaacuterias coordenaccedilotildees durante nosso periacuteodo algumas coordenaccedilotildees natildeo foram boas

natildeo aconteceu como deveriardquo Assim o curso para alguns surpreendeu positivamente pela qualidade

e para outros deixou a desejar na organizaccedilatildeo administrativa e falta de acompanhamento da parte dos

professores e tutores

As representaccedilotildees e percepccedilotildees dos participantes em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica EaD apoacutes

anaacutelise aprofundada dos depoimentos nas entrevistas podem ser divididas em trecircs niacuteveis (a) de

conteuacutedo (b) da aprendizagem e (c) da comunicaccedilatildeo e interatividade

(a) Niacutevel de conteuacutedo

Os conteuacutedos na verdade eles satildeo muito sucintos entatildeo vocecirc tem que ir mais (E1)

Agora a minha expectativa eacute que fosse estudar coisas referentes agrave Fiacutesica do ensino meacutedio que eacute o que se propotildee uma licenciatura em Fiacutesica Porque natildeo eacute licenciatura de Fiacutesica de ensino superior soacute que todos nos deparamos dentro do curso com disciplinas extremamente complexas e que natildeo satildeo utilizadas em salas de aulas por mais que o professor tente justificar e tente dizer que eacute (E3)

Este conteuacutedo de fiacutesica que a gente estuda na UFT noacutes jamais iremos usar isso em sala de aula [] Jamais iremos usar em sala de aula o grau de grandeza do que eacute ensinado eacute tatildeo grande esse conhecimento que noacutes natildeo iremos usar no ensino meacutedio (E5)

Observa-se nas expressotildees extraiacutedas das entrevistas um ponto comum sobre o conteuacutedo do

curso de Fiacutesica EaD da UFT eacute sucinto e complexo Os participantes chamam atenccedilatildeo para o grau de

complexidade das disciplinas alegando que estas natildeo seratildeo usadas quando forem lecionar no ensino

meacutedio A participante E5 expressou sua preocupaccedilatildeo neste aspecto ldquoIsso deixa a gente eu mesma

que natildeo tenho tanta praacutetica com sala de aula e nem com Fiacutesica eu acredito assim que nunca vou

usar nunca vou dar contardquo O participante E3 tambeacutem afirma que alguns conteuacutedos natildeo tecircm valor

praacutetico nenhum para os professores que iratildeo lecionar a disciplina de Fiacutesica no ensino meacutedio

Noacutes temos no nosso grupo dois professores um formado em matemaacutetica que quer se graduar em Fiacutesica e um formado em contabilidade que jaacute daacute aula de Fiacutesica e ambos disseram que na segunda e terceira serie do preacute-vestibular natildeo se trabalha alguns conteuacutedos de Caacutelculo I Calculo II e Calculo III Natildeo tem aplicaccedilatildeo Para licenciatura natildeo tem e isso satildeo professores em coleacutegio de ponta da regiatildeo Entatildeo imagina no ensino puacuteblico um local que tem mais carecircncia de ensino nesta aacuterea

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

255

O participante E3 conclui que estas disciplinas complexas vatildeo eliminando alunos alguns sendo

reprovados e outros desistem devido a dificuldade dos conteuacutedos Aleacutem do que afasta outros de

ingressarem no curso de Fiacutesica ldquoporque cada um que sai e diz que natildeo dava conta jaacute fala para dois ou

trecircs que jaacute natildeo vatildeo procurarrdquo afirma o participante De fato segundo dados da coordenaccedilatildeo do curso

no vestibular de 2014 foram ofertadas 10 vagas para o polo de Gurupi e 10 vagas para o polo de

Palmas houve apenas dois inscritos para o polo de Gurupi (natildeo sendo possiacutevel abrir turma) e no polo

de Palmas foram matriculados dez cursistas mas apenas seis continuam no curso em 2016 A

questatildeo da evasatildeo natildeo constitui foco deste estudo mas estes dados revelam muito sobre a percepccedilatildeo

que os participantes tecircm do curso

(b) Niacutevel de aprendizagem

Vocecirc tem muita dificuldade de tirar duacutevidas marcar grupo de estudos [] entatildeo as duacutevidas vocecirc natildeo tira praticamente vocecirc tem que estudar quebrar a cabeccedila agora assim ajuda uma coisa te ajuda a ser autodidata e gostar de tecnologia (E1)

A questatildeo da Fiacutesica ela exige que vocecirc tenha uma certa concentraccedilatildeo na expressatildeo que vocecirc estaacute utilizando naquela equaccedilatildeo matemaacutetica equaccedilatildeo fiacutesica (E2)

O que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tecircm um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar (E5)

Nesse curso agora nos temos o diferencial que satildeo as exatas que exigem uma dedicaccedilatildeo maior e muito mais exigente da parte do aluno (E6)

As expressotildees acima demonstram que os participantes sentiram que numa formaccedilatildeo a

distacircncia de qualidade eacute preciso desenvolver qualidades como a autonomia dedicaccedilatildeo e disciplina O

participante E1 usa o termo ldquoautodidatardquo ao se referir a uma das qualidades que o aprendiz desenvolve

na modalidade a distacircncia De acordo com o dicionaacuterio Aureacutelio on-line71 autodidata eacute uma pessoa que

instrui a si mesma ou mestre de si mesmo Neste sentido o curso a distacircncia proporciona maiores

oportunidades para o aprendiz desenvolver sua autonomia Segundo Preti (1996) a autonomia na

aprendizagem exige disciplina planejamento decisatildeo organizaccedilatildeo persistecircncia motivaccedilatildeo avaliaccedilatildeo

e responsabilidade No entanto o autor explica que a instituiccedilatildeo ofertante ldquodeve oferecer suportes e

estruturar um sistema que viabilizem e incentivem a autonomia dos estudantes nos processos de

aprendizagemrdquo (idem p 25) Assim autonomia natildeo eacute sinocircnimo de abandono ou deixar os cursistas

sozinhos ldquoconstruindo o seu conhecimentordquo

71 Disponiacutevel em httpsdicionariodoaureliocomautodidata Acesso em 27 jun 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

256

A modalidade EaD de fato exige um maior niacutevel de esforccedilo do estudante em manter-se

focado e motivado para os estudos O mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais

independentes autocircnomos e com capacidade de manuseio das ferramentas tecnoloacutegicas numa visatildeo

criacutetica e inovadora Sobre este aspecto Andreacute e Costa (2004 p 85) afirmaram

A era do conhecimento requer cada vez mais que as pessoas sejam capazes de construir conhecimentos e habilidades com outros e transmitir-lhes o que sabem instigando-os a enriquecerem seus horizontes vitais e estimulando-os ao desenvolvimento contiacutenuo de seus potenciais ao longo da vida Aleacutem disso a melhor forma de aprender eacute ensinar

Neste sentido a educaccedilatildeo a distacircncia ofertada em instituiccedilotildees de ensino de qualidade apoiada

por uma equipe pedagoacutegica que decirc o necessaacuterio suporte de acompanhamento aos estudantes

contribui para que os mesmos desenvolvam a autonomia nos processos de aprendizagem No entanto

a falta deste acompanhamento pode surtir um efeito contraacuterio e os estudantes sentirem-se sozinhos e

abandonados no processo

( c ) Niacutevel de comunicaccedilatildeo e interatividade

No comeccedilo muitas pessoas desistiram porque vocecirc mandava a pergunta e natildeo tinha resposta natildeo tinha este feedback dos professores estava complicado o curso estava meio largado (E3)

Quando vocecirc tem retorno raacutepido aiacute eacute bom Igual aqui noacutes temos provas de 15 em 15 dias ai vocecirc ta na duacutevida e ela demora a ser respondida ai chega perto da prova vocecirc tem aquela duacutevida e e ai (E4)

Nesse periacuteodo agora noacutes [temos] um diaacutelogo muito mais estreito com os professores e cada periacuteodo que passa a gente vai se aproximando mais Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessimo essa questatildeo da interatividade (E5)

Entatildeo a comunicaccedilatildeo ai trava muito desmotiva muito e espanta inclusive novos alunos para a EaD []as vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc precisa ter um professor do lado para tirar uma duacutevida ou outra (E6)

Os excertos acima extraiacutedos das entrevistas revelam as angustias da maior parte dos

entrevistados no que diz respeito agrave comunicaccedilatildeo e a interatividade no curso Uma questatildeo recorrente eacute

a demora no retorno (feedback) dos professores e tutores para responder agraves duacutevidas dos cursistas

Percebe-se nos depoimentos que no iniacutecio do curso a situaccedilatildeo da interatividade entre cursistas e

professores eou tutores era bastante criacutetica e que com o passar dos semestres foi melhorando Outra

participante apresenta queixa com relaccedilatildeo ao niacutevel de dificuldade de alguns conteuacutedos e da

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

257

necessidade de mais momentos presenciais durantes estas para tornar possiacutevel que os cursistas tirem

suas duacutevidas

Entatildeo se tiver um pouco mais de apoio uma parte maior de presencial somente para essas mateacuterias especificas talvez fosse o diferencial entre o curso de fiacutesica e matemaacutetica natildeo morrer e progredir [] desmotiva muito essa solidatildeo em certas mateacuterias entatildeo talvez alguma complementaccedilatildeo um complemento para certos niacuteveis de mateacuterias seria interessante (E6)

Compreende-se deste excerto que este participante compartilha sua sensaccedilatildeo de solidatildeo em

alguns momentos do curso principalmente nas disciplinas (mateacuterias) que satildeo mais complexas Neste

aspecto Preti (1996) lembra que em cursos mediados por tecnologias a comunicaccedilatildeo deve ser

biredicional ldquoo estudante natildeo eacute mero receptor de informaccedilotildees de mensagens apesar da distacircncia

buscam-se estabelecer relaccedilotildees dialogais criativas criacuteticas e participativasrdquo(idem p 25) O autor

ressalta que a relaccedilatildeo educativa entre estudante e professor na EaD natildeo eacute direta mas sim mediada

Neste sentido a comunicaccedilatildeo deve ser sem entraves com fluxo livre e de feedback raacutepido O que

parece natildeo ter ocorrido durante o curso de Fiacutesica em tela segundo os depoimentos dos entrevistados

Perguntamos aos entrevistados se recomendariam o curso de Fiacutesica EaD da UFT para outras

pessoas O participante E1 recomenda o curso com algumas ressalvas

Eu indicaria acredito que eacute algo que todo mundo deveria conhecer Soacute que eu indicaria fazer um presencial para ela ter uma comparaccedilatildeo [] mesmo que natildeo eacute o curso ideal mas se naquele momento eacute aquele que daacute para vocecirc fazer entatildeo faccedila depois vocecirc consegue fazer outro [] eu acredito que eacute uma educaccedilatildeo boa mas que a pessoa deveria fazer um comparativo ter as duas experiecircncias [] Eu tiro por mim eu tenho vontade de fazer Fiacutesica mas assim se fosse meu primeiro curso superior eu natildeo faria telepresencial a distacircncia eu faria presencial mesmo

Assim o participante E1 afirma que recomendaria o curso mas acha que a pessoa tem que

ter as duas experiecircncias primeiro um curso presencial e soacute depois outro curso na modalidade a

distacircncia Algumas razotildees subentendidas no contexto do depoimento do referido participante satildeo que

as pessoas natildeo compreendem plenamente como eacute estudar a distacircncia e ingressam em cursos nessa

modalidade com uma ideia preconcebida de que vai se faacutecil e que natildeo precisaratildeo fazer esforccedilos logo

estatildeo frustrados pois estes cursos talvez natildeo atendam as suas expectativas O participante explicou

ldquoentatildeo assim as pessoas natildeo entram com esta ideia de pesquisador de se empolgar com o estudo

entatildeo se faz por fazerrdquo Neste sentido compreende-se que o participante E1 acredite que a educaccedilatildeo a

distancia exige certo grau de amadurecimento do estudante

O participante E2 disse que indicaria o curso e inclusive jaacute o fez com um colega de trabalho

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

258

Uma pessoa que fez o curso teacutecnico junto comigo eu falei para ela do curso a distancia de Fiacutesica na aacuterea de exata que tem muito a ver tambeacutem com o curso de eletroteacutecnica ele achou bastante interessante a ideia ele fez o vestibular e estaacute cursando hoje o primeiro periacuteodo

Embora indique o curso de Fiacutesica EaD o participante E3 como jaacute o fez para dois ex-alunos que

gostam muito de Fiacutesica ressalta que somente as observaccedilotildees que o mesmo fez com relaccedilatildeo agrave

complexidade do conteuacutedo e agrave falta de feedback da equipe de tutoria sejam analisadas pela gestatildeo e

resolvidas Ainda sobre a indicaccedilatildeo o participante E4 respondeu ldquoSim Apesar das dificuldades que a

gente teve no iniacutecio mas todo comeccedilo eacute difiacutecil mas depois a gente vai vendo que vai aprendendo mais

atraveacutes das viacutedeos aulasrdquo A participante E5 respondeu sorrindo que indicaria mas que ningueacutem quer

As expressotildees dos entrevistados de modo geral demonstram que satildeo favoraacuteveis a indicar o curso o

que sugere a sua satisfaccedilatildeo com o curso mesmo que alguns tenham observaccedilotildees sobre melhorias

que devem ser implementadas no mesmo

Quando perguntamos que polo de apoio presencial o participante frequentava a maior parte

(52) afirmou pertencer ao polo de Palmas a capital administrativa do Tocantins As demais cidades

que concentram polos tiveram a seguinte distribuiccedilatildeo de cursistas Ananaacutes (22) Cristalacircndia (16) e

Gurupi (12) Sobre a frequecircncia que vatildeo ao polo 48 afirmaram ir quinzenalmente 36 uma vez por

semana e 12 visitam o polo ateacute duas vezes por semana Indagamos se o cursista solicitou ajuda de

um tutor presencial no polo para ajudaacute-lo em alguma atividade e 88 responderam que sim Sobre a

ajuda 80 afirmaram ficar satisfeitos com a intervenccedilatildeo do tutor A uacuteltima questatildeo sobre a vida

acadecircmica dos participantes averiguava se o cursista jaacute tinha pensando em desistir do curso por falta

de habilidade com o uso de computador com internet e 76 disseram que natildeo

Percebe-se portanto com base nos dados que os participantes da pesquisa apresentam um

perfil homogecircneo na sua maioria de professores da rede baacutesica pertecentes a mesma faixa econocircmica

(classe D) frequentam poucos programas culturais e moram no interior do estado do Tocantins Alguns

ingressaram na graduaccedilatildeo a distacircncia como uma possibilidade de graduar na aacuterea que jaacute atuam

outros porque era a uacutenica opccedilatildeo de estudo na regiatildeo em que residem Sobre o curso encontraram

dificuldades no iniacutecio da formaccedilatildeo porque de fato natildeo conheciam a modalidade a distacircncia o que

ocasionou surpresas para alguns e expectativas frustradas para outros Percebe-se uma dificuldade

com a autonomia que a formaccedilatildeo a distacircncia demanda nos registros em que alguns se queixam

sentirem-se sozinhos ou abandonadosEsta questatildeo se relaciona com o fato de alguns terem maior

contato com as TDIC apenas depois que iniciaram o curso Neste sentido a sondagem sobre o uso das

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

259

TDIC no cotidiano dos professores participantes eacute importante para a constataccedilatildeo dos niacuteveis de literacia

digital dos mesmos

53 Professores e uso das TDIC no cotidiano

Tendo em vista o foco deste estudo que buscou investigar se um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

propicia aos participantes maiores habilidades para a literacia digital esta seccedilatildeo apresenta os dados

coletados nos questionaacuterios bem como as impressotildees e percepccedilotildees inferidas nas entrevistas que

buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das tecnologias nas suas praacuteticas

cotidianas Sobretudo as entrevistas buscaram investigar as provaacuteveis dificuldades encontradas nesse

campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias

depois do ingresso no curso de Fiacutesica EaD

A apresentaccedilatildeo dos resultados estaacute organizada em quatro subseccedilotildees (1) Dados sobre posse

de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso (2) Uso de Tecnologias no cotidiano (3) Uso

de celular com internet (4) Experiecircncia com as tecnologias e niacutevel de literacia digital

531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso

Como abordado no capiacutetulo dois deste trabalho a variaccedilatildeo de posse dos meios teacutecnicos

(hardware e conexotildees) resulta de um niacutevel de desigualdade que impede o aproveitamento do potencial

das TDIC DiMaggio e Hargittai (2001) afirmaram que aqueles usuaacuterios de aparato teacutecnico inferior

tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com conexotildees lentas software e hardware antigos

encontram dificuldades de acessar determinados sites e tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter

uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias

Os autores citam que outra desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz

respeito a onde e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Existe uma clara diferenccedila de usufruto da

experiecircncia com as TDIC do usuaacuterio que acessa a internet em casa daquele que precisa acessar em

outros lugares como no trabalho ou lan house Neste sentido a segunda seccedilatildeo do questionaacuterio

procurou investigar o tipo de equipamentos conexotildees e lugar de acesso dos participantes da pesquisa

As questotildees 15 a 17 do questionaacuterio eram direcionadas apenas aos que afirmassem ter

computador em casa Na questatildeo 15 solicitou-se aos participantes que indicassem os equipamentos

ou dispositivos relacionados agrave tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que possuem em casa As

alternativas apresentadas (o participante podia assinalar mais que uma) e os percentuais de

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

260

afirmativas de posse dos equipamentos foram computador de mesa (32) notebook (72)

impressora (40) scanner (28) ligaccedilatildeo a internet (76) tablet (28) smartphone (36) Percebe-se

uma tendecircncia de queda do uso de computador de mesa para acesso a internet como apontado na

Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD2014) suplemento de Tecnologias da Informaccedilatildeo

e Comunicaccedilatildeo (TIC)72 realizada pelo Comitecirc Gestor da Internet no Brasil (CGIbr 2015) A pesquisa

aponta que essa eacute uma tendecircncia no Brasil em que o acesso agrave internet via celular (804) ultrapassou

o uso de computadores (766) para esta funccedilatildeo O estudo revela ainda que em 881 dos domiciacutelios

particulares no Tocantins o acesso agrave internet eacute via celular em contraponto com o uso do computador

de mesa (65)

No entanto verificamos que para os participantes da amostra do nosso estudo o acesso agrave

internet ocorre mais frequentemente pelo notebook O baixo iacutendice de presenccedila do dispositivo tablet

nas residecircncias dos participantes (28) tambeacutem acompanha a tendecircncia nacional Na pesquisa ldquoTIC

Domiciacutelios 2014rdquo enquanto o computador de mesa estaacute presente em 56 dos domiciacutelios e o notebook

em 60 o tablet apresenta uma presenccedila mediana de 33 Ainda dentro do bloco de acesso e uso da

internet o questionaacuterio sondou o tipo de internet dos cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da

UFT Esta questatildeo eacute pertinente considerando que a qualidade do acesso e da navegaccedilatildeo depende do

tipo de conexatildeo utilizada (Warschauer 2003) Os resultados apontaram um equiliacutebrio entre o uso de

banda larga fixa via linha telefocircnica (478) e banda larga via raacutedio (478)

Sobre a velocidade da conexatildeo os participantes indicaram na sua maioria (522) a

velocidade de mais de 1 Mbps a 2 Mbps Trata-se de uma conexatildeo de qualidade questionaacutevel visto

que a velocidade de internet ideal seria acima de 20 Mpps (meacutedia da internet da Coreia do Sul liacuteder do

ranking mundial de conexotildees mais raacutepidas do mundo 73 ) Neste sentido a velocidade de conexatildeo

apontada pelos participantes da pesquisa configura-se lenta para os padrotildees miacutenimos necessaacuterios

Dos participantes da pesquisa 12 afirmaram natildeo ter internet em casa O questionaacuterio sondou

o motivo e 50 responderam que achavam o custo da internet pesado e natildeo podiam pagar Galperin

(2015) pesquisou sobre as barreiras para a conectividade da internet na Ameacuterica Latina e os

resultados revelaram que ldquoapesar da queda significativa nos preccedilos do acesso agrave internet nos uacuteltimos

cinco anos o custo dos serviccedilos continua sendo uma importante barreira para o usordquo (idem p 62) A

72 Disponiacutevel em httpceticbrmediadocspublicacoes2TIC_Domicilios_2014_livro_eletronicopdf Acesso em 16 maio 2016 73 A velocidade meacutedia da internet mundial eacute de 38 Mbps No Brasil a meacutedia nacional em 2016 era de 27 Mbps Disponiacutevel em httpstecnoblognet155343velocidade-internet-brasil-akamai-relatorio-2013 Acesso em 16 maio 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

261

pesquisa ldquoTIC Domiciacutelios 2014rdquo tambeacutem apontou o custo elevado dos serviccedilos como o principal

motivo para natildeo ter acesso agrave internet citado em 49 dos domiciacutelios sem conexatildeo o que indica que a

internet segue sendo um item de alto custo para o orccedilamento dos brasileiros A referida pesquisa

indica que os maiores niacuteveis de exclusatildeo (famiacutelias sem acesso agrave internet) satildeo verificados entre as

classes C e D e E bem como populaccedilotildees residentes em aacutereas rurais e em algumas aacutereas das regiotildees

Norte e Nordeste do Brasil

No que respeita ao local em que a maioria dos cursistas fazem acesso o questionaacuterio verificou

que 31 fazem o acesso em casa 24 acessam no trabalho e 19 dos professores utilizam o

laboratoacuterio de informaacutetica da escola para realizarem suas atividades on-line Outras opccedilotildees do

questionaacuterio (o participante podia marcar mais de uma alternativa de local) foram o acesso em locais

puacuteblicos com wifi (14) casa de amigos e familiares (7) e lan house (6) Esta sondagem trata-se do

acesso em computadores de mesa ou notebooks o acesso da internet pelo smartphone foi tratada em

uma questatildeo diferente do questionaacuterio Percebe-se que o acesso dos cursistas eacute equilibrado entre a

sua residecircncia e o local de trabalho Alguns participantes marcaram mais de uma opccedilatildeo denotando

que o acesso agrave internet natildeo eacute uma problemaacutetica marcante pois todos possuem algum acesso agrave

internet

Portanto sobre a posse de equipamentos de informaacutetica os dados mostram que os

professores possuem equipamentos baacutesicos como computadores de mesa e notebook nas suas

residecircncias Fazem pouco uso de tablets e possuem uma conexatildeo de internet ruim comparada aos

padrotildees ideais Este uacuteltimo dado pode ser um limitador das potencialidades das TDIC na vida cotidiana

dos participantes da pesquisa considerando que a maioria dos cursistas moram em cidades do

interior onde o sinal de internet eacute fraco No toacutepico a seguir apresentamos mais detalhadamente o uso

das tecnologias no dia-dia dos participantes

532 Uso de tecnologias no cotidiano

A segunda parte do questionaacuterio intitulada ldquoEscala do uso das tecnologias no cotidianordquo

abordou questotildees mais especiacuteficas pertinentes ao uso dos recursos digitais pelos participantes na sua

rotina diaacuteria Constituindo uma escala a questatildeo uacutenica era ldquoAssinale (com um ldquoXrdquo) a frequecircncia com

que utiliza as Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo no seu dia-a-diardquo Foram

apresentadas opccedilotildees de diferentes recursos tecnoloacutegicos dos quais o participante deveria assinalar

quais fazia uso e com que frequecircncia Os recursos foram divididos em trecircs dimensotildees (1) Hardware

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

262

(2) Software e (3) Internet As alternativas de frequecircncia eram ldquonatildeo usardquo ldquouso esporaacutedicordquo (1 a 3

vezes por mecircs) ldquouso semanalrdquo ou ldquouso diaacuteriordquo

A dimensatildeo Hardware trata dos aparelhos tecnoloacutegicos que os participantes da pesquisa fazem

uso e sua respectiva frequecircncia O graacutefico 07 apresenta os resultados coletados no questionaacuterio

Nota-se que o computador (96) seguido do notebook (66) constituem os dispositivos mais

utilizados pelos cursistas Por outro lado 68 dos participantes revelaram natildeo fazer uso do tablet o

que jaacute havia sido constatado na primeira parte do questionaacuterio em que apenas 28 afirmaram possuir

o dispositivo Trata-se de um dado interessante que diz muito sobre as possibilidades de acesso dos

participantes agraves tecnologias o que pode estar relacionado ao poder de compra ou mesmo a uma

escolha pessoal de natildeo desejar obter determinado dispositivo tecnoloacutegico por falta de familiaridade

com seu manuseio (Balboni 2007)

A dimensatildeo Software considera os aplicativos mais utilizados pelos participantes no seu

cotidiano e sua respectiva frequecircncia No mesmo formato do enunciado da questatildeo da dimensatildeo

Hardware a questatildeo 35 contemplava a frequecircncia dos usos de software pelos participantes A

pesquisa revelou que os softwares mais utilizados satildeo o navegador e buscador web (84) o editor de

texto (60) e o leitor de documentos (44) conforme pode ser visualizado no graacutefico 8

Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores

0 20 40 60 80

100 computador

tablets

mp3

DVD

Data-show

celular

AVA

Notebook

natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

263

Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes

Percebe-se assim uma tendecircncia da parte dos participantes para o uso das aplicaccedilotildees menos

complexas das tecnologias Nas entrevistas realizadas com alguns dos cursistas muitos discursos

revelaram certo despreparo com as tecnologias e portanto a negaccedilatildeo de usar alguns aplicativos que

exigem um conhecimento teacutecnico aprofundado dos softwares

Eu jaacute natildeo gosto de tecnologia ainda preciso me adaptar a isso natildeo gosto muito de ficar em computador cinco seis horas durante o dia isso natildeo era minha praacutetica (E1)

No inicio foi difiacutecil eu mal conseguia acessar o moodle (E4)

Essas afirmativas revelam que alguns dos participantes da pesquisa iniciaram o curso de Fiacutesica

a distacircncia com algumas limitaccedilotildees com relaccedilatildeo ao uso do computador e seus programas Na fala do

participante E1 nota-se que houve necessidade de adaptaccedilatildeo ao uso das TDIC durante o curso

A sondagem do uso das TDIC no cotidiano buscou verificar o tipo de aplicatiso que os

participantes utilizam no dia-dia Os aplicativos presentes nos celulares e tablets introduziram novos

costumes e praacuteticas dos usuaacuterios com seus dispositivos Segundo Matias (2011)

Vivemos uma era em que o celular natildeo eacute mais soacute um aparelho para fazer ligaccedilotildees ou conectar-se agrave internet Com programas especiacuteficos ele se metamorfoseia em todo tipo de ferramenta Haacute aplicativos para achar o carro no estacionamento que

0 20 40 60 80

100

Editor de texto

Ferramenta de

apresentaccedilatildeo

Navegador e buscador

web

Planilha de caacutelculo

Leitor de documento

Imagens e viacutedeos

tutoriais e simuladores natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

264

traccedilam o percurso que vocecirc precisa percorrer para chegar a algum lugar que diz quais constelaccedilotildees estatildeo acima de sua cabeccedila que convertem medidas e moedas que permitem ediccedilatildeo de fotos e viacutedeos entre um sem-nuacutemero de opccedilotildees

Assim os aplicativos disponiacuteveis nos dispositivos portaacuteteis e nos computadores em geral

permitem ao usuaacuterio infinitas opccedilotildees de atividades que vatildeo desde a conversar com pessoas distantes

por mensagem viacutedeo e voz como tambeacutem realizar transaccedilotildees bancaacuterias e compras sem sair de casa

A este respeito na dimensatildeo ldquoUso da internetrdquo abordada na primeira parte do questionaacuterio os

participantes mostraram-se propensos a seguir a mesma tendecircncia ateacute aqui observada evitam

atividades mais complexas e limitam-se a tarefas simples Conforme apresentado no graacutefico 12 a

linha azul mostra que o Blog (60) Voip Skype (60) e Jogos virtuais (80) satildeo os aplicativos menos

usados pelos participantes Os mais utilizados satildeo navegaccedilatildeo na internet (88) acesso a e-mail (84)

e redes sociais (64) Assim percebe-se que os participantes da pesquisa natildeo estatildeo completamente

ldquoforardquo ou ldquoexcluiacutedosrdquo da rede subentende-se pelos dados coletados que eles tecircm um acesso baacutesico e

fazem um uso limitado dos aplicativos dos seus dispositivos como revela o graacutefico 09

Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes

O graacutefico sinaliza que os participantes de alguma forma estatildeo on-line na rede de

computadores No entanto o fato dos cursistas terem acesso agrave internet nos seus dispositivos moacuteveis

no computador de mesa na sua casa ou em outros lugares como na escola e no trabalho natildeo diz

muito a respeito da literacia digital dos mesmos (Alves e Silva 2015) Conforme explicitado por

0 20 40 60 80

100 Internet

E-mail

Blog

Biblioteca virtual

Redes sociais Voip (Skype)

E-book

You tube

Jogos virtuais

natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

265

DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo fazendo e o que elas satildeo capazes de

fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que caracterizam a exclusatildeo sociodigital

medida pelos nuacutemero de acessos e quantidade de computadores com internet nas residecircncias com o

argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes excluiacutedos digitalmente passa pela

qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Neste sentido a questatildeo 36 indagava

dos participantes sobre o que conseguem fazer quando estatildeo on-line ou seja que usos fazem das

aplicaccedilotildees disponiacuteveis na rede O questionaacuterio sugere algumas atividades que podem ser realizadas na

internet e os participantes deviam assinalar a frequecircncia de sua utilizaccedilatildeo fazendo uso dos valores

ldquoNuncardquo ldquoAlgumas vezesrdquo Muitas vezesrdquo ou ldquoSemprerdquo

Retomando o conceito de literacia digital que trata da ldquocapacidade de compreender e criar

comunicaccedilotildees numa variedade de contextosrdquo (Joatildeo e Menezes 2008) a questatildeo 36 do questionaacuterio

buscou averiguar as diferentes habilidades e competencias dos participantes quanto ao uso da internet

e suas aplicaccedilotildees Os resultados podem ser visualizados nos graacuteficos 10 e 11

O graacutefico 10 apresenta dados sobre o uso instrumental das tecnologias como resolver

problemas teacutecnicos uso de mecanismos de buscas eficientes e capacidade do usuaacuterio em avaliar a

procedecircncia e credibilidade de um determinado site Tambeacutem tratou do uso das tecnologias para a

tomada de decisatildeo e participaccedilatildeo em comunidades virtuais

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

266

Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1

Os resultados mostram que na questatildeo instrumental e teacutecnica as respostas ldquosemprerdquo e

ldquomuitas vezesrdquo foram relevantemente usadas de forma positiva Sobre o uso criacutetico das tecnologias

com relaccedilatildeo a pesquisas em sites confiaacuteveis 36 dos participantes afirmaram sempre utilizarem essa

busca e 48 disseram que muitas vezes conseguem avaliar a usabilidade e a acessibilidade de um

site A participaccedilatildeo em comunidades virtuais tambeacutem obteve a expressiva participaccedilatildeo da resposta

ldquomuitas vezesrdquo (44) e 60 afirmaram utilizar a internet para se manterem informados Considerando

a concepccedilatildeo de literacia digital deste trabalho que vai para aleacutem do acesso e uso das tecnologias

envolvendo uma avaliaccedilatildeo criacutetica das mensagens veiculadas e a produccedilatildeo de miacutedias para a rede

observa-se no perfil dos participantes um baixo emprego de literacia digital visiacutevel na questatildeo

apresentada sobre a capacidade de identificar ciberbullying na rede em que 44 dos participantes

afirmaram natildeo serem capazes

No graacutefico 11 satildeo apresentados os resultados sobre as questotildees relativas ao uso da internet

para compras e transaccedilotildees bancaacuterias e ainda as habilidades de produccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo na rede

0 20 40 60 80

Resolve problemas relacionados com a hellip

Endende o que o pessoal especializado na hellip

Usa programas que protegem os hellip

Usa tecnologias para manter-se informado hellip

Usa tecnologias para tomada de decisotildees

Avalia a usabilidade e acessibilidade de um site

Participa em comunidades virtuais na hellip

Eacute capaz de identificar ciberbullyng na internet

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

267

Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2

Observa-se que os participantes da pesquisa utilizam a tecnologia no seu cotidiano possuem

dispositivos conectados agrave internet poreacutem utilizam os mesmos de forma instrumental e elementar Como por

exemplo sempre comunicam com outras pessoas usando as redes (53) pesquisam na internet para

compras (48) fazem compras on-line com certa frequecircncia (40) e pesquisam sites educativos (40) Mas

as atividades que exigem um grau maior de literacia digital dos participantes satildeo menos efetuadas 28

afirmaram produzir e compartilhar viacutedeos algumas vezes 36 disseram que eventualmente produzem

apresentaccedilatildeo com viacutedeos e imagens e 68 alegaram nunca efetuar transaccedilotildees bancaacuterias pela internet

Portanto verifica-se um niacutevel mediano de literacia digital dos participantes no que diz respeito agrave produccedilatildeo e

compartilhamento de conteuacutedo nas redes Constatou-se o uso baacutesico de aplicativos e certo receio com

transaccedilotildees bancaacuterias na internet

Nas entrevistas buscamos apreender das expressotildees dos participantes suas percepccedilotildees sobre

a presenccedila das tecnologias no seu cotidiano e que uso fazem destas As respostas dos participantes

0 20 40 60 80

Faz compras online

Pesquisa sites educativos

Recorre agrave Internet para divulgar notiacutecias ideacuteias projetosetc

Faz download de documentos com diferentes suportes hellip

Produz e compartilha viacutedeos usando tecnologias digitais

Elaboraapresentaccedilotildees com imagens sons e animaccedilotildees

Usa a Internet para fazer transaccedilotildees bancaacuterias

Acessa o internet para pagamento de impostos ou taxas do governo

Usa a internet paracomunicar com pessoas distantes fisicamente

Pesquisa produtos na Internet para comprar

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

268

condizem com os dados levantados no questionaacuterio on-line fazem uso essencialmente baacutesico das

tecnologias como pode ser observado nos trechos das entrevistas

Assim vocecirc tem que ter uma disciplina para vocecirc ter acesso E quem natildeo gosta tem grande dificuldade vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado [] Eu prefiro ler um livro do que ficar horas na internet fuccedilando (E1)

Natildeo eu natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapp e participo dos foacuteruns do portal (E2)

Porque assim eu sempre fui atualizado mas natildeo era frequente a gente quase natildeo usava antigamente era o Orkut entrava laacute via o que tinha e saia Agora natildeo vocecirc tem que olhar o e-mail da faculdade tem que ver o e-mail pessoal que eacute sobre os trabalhos (E4)

Usamos muito whatsapp ali a gente posta relatoacuterios a gente posta informaccedilotildees (E5)

Santaella (2004) chama atenccedilatildeo de que usuaacuterios de hipermiacutedia utilizam habilidades diferentes

daqueles que leem um texto impresso que por sua vez tambeacutem se diferem dos usuaacuterios que recebem

imagens pela TV cinema Assim compreende-se a dificuldade que o participante E1 manifestou em

relaccedilatildeo a se adaptar da leitura do livro impresso para as telas do computador O participante E2

embora natildeo publique na internet em redes sociais ou blog afirma que participa dos foacuteruns do curso de

Fiacutesica Trata-se de um dado importante haja vista que uma das dificuldades apontadas por outros

participantes do curso foi a interatividade entre os alunos e tutores na plataforma

O participante E5 relatou que ldquoa dificuldade mesmo foi da interatividade com o grupo natildeo da

ferramentardquo A questatildeo passa pela ldquoapropriaccedilatildeordquo dos recursos tecnoloacutegicos pelo uso destas pelos

professores ou mesmo apoacutes participarem de um curso a distacircncia mudarem sua postura em relaccedilatildeo

agraves tecnologias Percebe-se na expressatildeo do participante E4 que antes do curso Fiacutesica EaD ele entrava

numa rede social de vez emquando e saia mas que agora precisa acessar seus e-mails regularmente

devido aos trabalhos que o curso demanda Assim as proacuteprias circunstacircncias apoacutes o ingresso no curso

ldquoforccedilaramrdquo o participante a mudar de atitude com relaccedilatildeo agrave frequecircncia de uso das tecnologias

O participante E3 alega fazer muito uso das tecnologias inclusive com seus alunos e a

participante E5 diz usar muito as TDIC no trabalho A participante E6 afirma que aprendeu com a

praacutetica ldquoentatildeo eu posso natildeo ser a superstar nas tecnologias mas eu lido com ela a par de anos mas o

que vocecirc natildeo sabe vocecirc aprende o que vocecirc precisa vocecirc descobrerdquo Assim percebe-se dos

entrevistados uma busca no engajamento com as tecnologias mesmo os que tecircm dificuldade se

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

269

esforccedilam para se adaptar a elas e aqueles que jaacute fazem uso frequente estatildeo em constante

aprendizado

Uma questatildeo fundamental nas entrevistas foi sobre as mudanccedilas sentidas pelos participantes

em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois que ingressaram num curso de graduaccedilatildeo a distacircncia O participante

E3 que jaacute havia afirmado ser bastante engajando com as tecnologias inclusive na praacutetica pedagoacutegica

alegou que nada mudou

Natildeo mudou Natildeo porque eu natildeo queira na verdade eu jaacute aplicava porque eu sempre tive a praacutetica de sala de aula associada a informaacutetica Quando tinha datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu datashow jaacute comprei o meu porque vocecirc chegava na escola para dar aula natildeo tinha ou estava queimando ou natildeo tinha ningueacutem para poder ligar Entatildeo eu jaacute pegava minha bolsinha uma maletinha com o datashow minha extensatildeo minha caixa de som estava tudo ali

Neste sentido o participante E3 acredita que o fato de realizar uma formaccedilatildeo a distacircncia natildeo

mudou sua relaccedilatildeo com as tecnologias que jaacute era frequente Por outro lado o participante E4 jaacute

considera que houve uma mudanccedila radical de postura no que diz respeito a cultura de frequecircncia na

navegaccedilatildeo na internet ldquoAcho que melhorou uns 100 porque assim eu sempre fui atualizado mas

natildeo era frequente a gente quase natildeo usavardquo Tambeacutem a participante E5 afirma que houve mudanccedilas

evidentes na rotina dela e dos colegas a partir do uso das tecnologias demandadas pelo curso

Mudou Noacutes passamos a nos comunicar muito por e-mails passou a se comunicar por redes sociais [] Sim acrescentou muito depois que iniciei o curso de fiacutesica O curso de fiacutesica me trouxe um amadurecimento tatildeo grande que eu passei a gostar demais das tecnologias [] E eu passei a usar muito mais a tecnologia de forma mais valiosa porque eu jaacute usava

Na fala da participante E5 podemos identificar trecircs mudanccedilas ocorridas depois do ingresso da

mesma no curso de Fiacutesica EaD aumento da assiduidade da comunicaccedilatildeo em redes sociais

amadurecimento quanto ao uso das tecnologias e uso mais frequente das tecnologias em geral Os

outros participantes natildeo descreveram claramente as mudanccedilas que por ventura tenham ocorrido

mas algumas expressotildees datildeo a entender que algumas posturas mudaram em relaccedilatildeo agraves tecnologias

Vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado Mas assim mudou um pouco hoje eu consigo jaacute (E1)

Entatildeo eu considero que eu uso bem a internet e a questatildeo da literacia a gente usa bastante porque como o curso eacute a distacircncia a gente tem que desde o iniacutecio jaacute trabalhar esta questatildeo para melhorar o aprendizado (E2)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

270

Assim o participante E1 manifestou que houve uma pequena mudanccedila em relaccedilatildeo a se

habituar em usar o computador e o participante E2 reconhece a importacircncia de trabalhar a literacia

nos cursos a distacircncia com foco na melhoria do aprendizado Neste sentido de modo geral a maioria

dos entrevistados observou alguma mudanccedila positiva na sua relaccedilatildeo com as tecnologias depois de

ingressarem no curso de Fiacutesica na modalidade a distacircncia

533 Uso de celular com internet

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD) de 2013 realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2015) constatou que o numero de pessoas com telefone

moacutevel no Brasil cresceu 49 Segundo o estudo houve um salto de 1322 milhotildees portadores de

aparelhos celulares em 2013 para 1366 milhotildees em 2014 o que corresponde a 779 da populaccedilatildeo

do paiacutes com 10 anos ou mais A regiatildeo Norte (onde se localiza o Tocantins) apresentou o maior

porcentual de domiciacutelios que usaram o celular para acessar a internet (754) enquanto no Brasil o

uso do computador foi predominante Esse fenocircmeno de expansatildeo do acesso da internet pelo celular

fez que pela primeira vez mais da metade da populaccedilatildeo do paiacutes usasse a internet nos seus

dispositivos moacuteveis celulares em 2014 Segundo a pesquisa essa proporccedilatildeo cresceu de 494 em

2013 para 544 em 2014 (954 milhotildees de pessoas)

Considerando estas estatiacutesticas acrescentamos no questionaacuterio uma seccedilatildeo especiacutefica para

investigar o uso do celular com internet com os participantes da pesquisa Primeiramente sondou-se

quantos cursistas tinham celular com internet Dos 25 participantes apenas seis afirmaram natildeo ter

um celular conectado agraves redes Em seguida os que afirmaram possuir o dispositivo foram

questionados sobre que tipo de conexatildeo utilizavam Foram dadas as seguintes opccedilotildees 3G 4G wifi ou

outras que o respondente podia responder livremente A maioria (611) afirmou utilizar a rede wifi

ficando a rede 3G com 333 das respostas Quanto agrave frequecircncia que utilizam a internet no celular

565 responderam que usam diariamente contrastando com 174 que afirmaram natildeo usar de forma

alguma Sobre que atividades mais realizam quando conectados os resultados satildeo apresentados no

graacutefico a seguir (os respondentes podiam assinalar mais de uma opccedilatildeo)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

271

Graacutefico 12 - Tipos de atividades realizadas no celular com internet

Pela anaacutelise dos dados do graacutefico verifica-se que as atividades mais complexas como jogar

games baixar aplicativos ouvir muacutesicas compartilhar conteuacutedos na internet satildeo competecircncias de

poucos participantes da pesquisa A grande maioria usa o celular para atividades mais simples como

efetuar e receber chamadas enviar e receber SMS tirar fotos e acessar as redes sociais

Estes dados parecem seguir uma tendecircncia entre os professores conforme estudo realizado

por Silva Arauacutejo Vendramini Martins Piovezan e Prates (2014) com grupos de educadores de

Portugal e do Brasil em que avaliaram a competecircncia docente de 505 professores do ensino superior

de ambos paiacuteses no uso de tecnologias digitais no cotidiano e na gestatildeo pedagoacutegica Segundo os

autores os resultados sugerem que os recursos complexos das tecnologias eram usados de forma

esporaacutedica pelos professores pois estes exigiam maior investimento na sua aquisiccedilatildeo e utilizaccedilatildeo Os

autores explicam

Os resultados desta investigaccedilatildeo revelam que a maioria dos professores apresenta um bom desempenho com as TDIC no seu cotidiano (utilizaccedilatildeo pessoal) mas que ainda se encontra num processo de desenvolvimento quanto agraves suas competecircncias de desempenho na gestatildeo pedagoacutegica Esta transposiccedilatildeo do uso pessoal das tecnologias e mesmo do uso profissional para a utilizaccedilatildeo pedagoacutegica eacute a etapa mais complexa na integraccedilatildeo das TDIC na Educaccedilatildeo (idem p 14)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

100

Efetuar e receber chamadas telefocircnicas

Enviar e receber sms ( mensagens

Tirar fotos

Ouvir muacutesicas

Jogar games

Assistir viacutedeos

Acessar redes sociais (facebook whatsapp outras

Compartilhar viacutedeos fotos

textos

Acessar email

Buscar informaccedilotildees em sites da internet

Baixar aplicativos

Gps (mapas)

Tipo de atividade

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

272

Embora o estudo citado natildeo tenha sido focado no uso do celular com internet mas qualquer

dispositivo que acessa a internet pelos referidos professores foi constatada uma preferecircncia dos

pesquisados por aplicativos e programas de faacutecil uso e com exigecircncias menos complexas Assim essa

preferecircncia do uso do celular para atividades elementares e baacutesicas tambeacutem foi constatada nos

participantes da pesquisa

534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital

O engajamento do professor com as tecnologias pode ser influenciado por diversas variaacuteveis o

ambiente em que convive com presenccedila de tecnologias a sua condiccedilatildeo socioeconocircmica que permite a

posse de melhores dispositivos e acesso a internet com velocidade e qualidade o conviacutevio com

pessoas que satildeo engajadas com as tecnologias a formaccedilatildeo acadecircmica com participaccedilatildeo em cursos

on-lines e outros fatores que podem favorecer o domiacutenio das habilidades e competecircncias para com o

uso das TDIC achar uma fonte O contraacuterio tambeacutem eacute verdadeiro condiccedilotildees adversas como viver num

ambiente ou regiatildeo com pouco ou nenhum acesso agraves tecnologias ou condiccedilatildeo financeira desfavoraacutevel

para a obtenccedilatildeo de dispositivos tecnoloacutegicos podem ser fatores que impactam negativamente no niacutevel

de literacia digital dos professores O tempo que o usuaacuterio tem de utilizaccedilatildeo e contato com as

tecnologias tambeacutem pode ser um fator que impacta sua familiaridade com os dispositivos e por sua vez

favorece a sua literacia digital Neste sentido os participantes foram indagados sobre haacute quanto tempo

utilizam o computador e 52 responderam que haacute mais de 10 anos E quando questionados sobre haacute

quanto tempo usam computador com internet o graacutefico 13 apresenta os resultados mostrando que a

maior parte dos participantes possui um tempo razoaacutevel de acesso agrave internet (entre 6 a 10 anos)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

273

Graacutefico 13 ndash Meacutedia de tempo que os participantes tecircm acesso a computador com internet

Considerando que a internet se popularizou no Brasil haacute cerca de 20 anos e os participantes

da pesquisa tecircm uma meacutedia de idade de 35 a 44 anos pode-se afirmar que estes ldquomigraramrdquo para o

mundo da informaacutetica jaacute jovem ou adulto e tiveram que aprender essa nova forma de comunicaccedilatildeo

De acordo com Prensky (2005) autor da teoria dos nativos digitais diferente das crianccedilas que

nasceram na era digital que se sentem totalmente agrave vontade com a tecnologia os ldquoimigrantes digitaisrdquo

chegaram jaacute maduros neste mundo conectado e precisam fazer um enorme esforccedilo para aprender esta

nova liacutengua Talvez ateacute mesmo usar manuais ou fazer cursos especiacuteficos na aacuterea de informaacutetica Neste

sentido questionamos os participantes sobre como aprenderam a usar o computador O graacutefico 14

apresenta os resultados obtidos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

274

Graacutefico 14 - Meios em que os participantes aprenderam a usar o computador

Assim 56 dos participantes afirmaram que fizeram cursos de informaacutetica para aprenderem a

usar o computador Geralmente os cursos de informaacutetica satildeo voltados para a capacitaccedilatildeo do usuaacuterio

nas questotildees teacutecnicas instrumentais e funcionais do computador Raramente essas formaccedilotildees satildeo

voltadas para o uso criacutetico das informaccedilotildees veiculadas nas redes de computadores com foco na

literacia digital

Nas entrevistas quando indagados sobre as dificuldades que enfrentaram no uso das

tecnologias quando ingressaram no curso de Fiacutesica EaD a maior parte dos entrevistados afirmou que

em geral natildeo tiveram dificuldades No entanto em alguns trechos das entrevistas encontramos

algumas expressotildees que denotam certo niacutevel de dificuldade em lidar com a tecnologia

A minha dificuldade maior era essa quando eu fazia faculdade normal sem ser a distacircncia noacutes usaacutevamos o computador soacute para trabalho a gente ficava muito tempo vendo viacutedeo e fazendo pesquisa mas natildeo era assim internet (E1)

O participante E1 demonstra recorrentemente uma resistecircncia com relaccedilatildeo ao computador

em especial agrave internet Formado em Histoacuteria fez sua primeira graduaccedilatildeo presencial em outro trecho

ele fala de como era o estudo presencial ldquojaacute tinha internet mas natildeo dedicava tanto porque era difiacutecil

ter uma literatura toda pronta entatildeo ficava mais nos livros mesmo E como eu vim pra Fiacutesica e era

uma modalidade diferente entatildeo eu tive esta grande dificuldade de adaptaccedilatildeordquo A adaptaccedilatildeo da qual o

participante trata consiste na necessidade de realizar pesquisa na internet fazer leitura na tela do

computador e assistir viacutedeos algo que o mesmo afirmou natildeo gostar ldquoJaacute gosto de ler texto atraveacutes do

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

275

computador natildeo gosto muito de ver viacutedeo mudou alguma coisardquo O perfil deste participante se

adequa agrave descriccedilatildeo de Santaella (2014 p 29) sobre o leitor contemplativo

O perfil cognitivo do leitor do livro pressupotildee a praacutetica que se tornou dominante a partir do seacuteculo XVI da leitura individual solitaacuteria silenciosa Ela implica a relaccedilatildeo iacutentima entre o leitor e o livro leitura do manuseio da intimidade em retiro voluntaacuterio num espaccedilo retirado e privado que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento pois o espaccedilo de leitura deve ser separado dos lugares de um divertimento mais mundano

Com a introduccedilatildeo das TDIC este perfil de leitor teve que se adaptar agraves imagens sons ruiacutedos e

falas proporcionadas nos meios de comunicaccedilatildeo em massa como a TV o raacutedio e o cinema Nesta

transiccedilatildeo Santaella (2014) designa o novo perfil necessaacuterio para acompanhar a revoluccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo - o leitor movente ldquoleitor de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos

leitor de direccedilotildees traccedilos cores leitor de luzes que se acendem e se apagam leitor cujo organismo

mudou de marcha sincronizando-se agrave aceleraccedilatildeo do mundordquo (idem p 30) A transiccedilatildeo do leitor

contemplativo para o movente segundo a autora preparou a sensibilidade perceptiva humana para o

surgimento do leitor imersivo que no ciberespaccedilo navega entre ldquonoacutes e conexotildees alinearesrdquo No

entanto essa passagem natildeo eacute simples para alguns leitores e muitos ainda resistem agraves tecnologias

Dificuldades relacionadas com a navegaccedilatildeo no ambiente virtual de aprendizagem Moodle

tambeacutem foram recorrentes nas expressotildees dos participantes

Natildeo tivemos um treinamento abria a janela do ambiente virtual e dizia esse aqui eacute pra isso este aqui eacute pra isso e vai indo E ai ldquovocecircs estatildeo fazendo o curso de Fiacutesicardquo (E4)

Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessima essa questatildeo da interatividade A falha da gente que natildeo sabia usar o Moodle ainda e a falha dos professores foi um periacuteodo difiacutecil tambeacutem (E5)

No iniacutecio das ofertas do curso de Fiacutesica a distacircncia ocorre uma oficina para treinamento do

uso das ferramentas do AVA Moodle Percebe-se pela expressatildeo do participante E4 que esta oficina

natildeo foi suficiente para tirar suas duacutevidas quanto ao uso do AVA Apoacutes o referido participante relatar

suas dificuldades iniciais com o ambiente virtual perguntamos se natildeo houve uma oficina de

treinamento ele respondeu ldquoteve sim mas natildeo foi com a imagem do Moodle Teve o formato ainda

bem que depois laacute no Cariri um rapaz laacute jaacute fazia poacutes a distacircncia e ele foi me ajudourdquo Assim quando

natildeo compreendem bem assuntos relacionados agrave tecnologia agraves vezes por vergonha ou timidez nessas

oficinas de treinamento com o AVA os cursistas natildeo fazem perguntas para sanar as suas duacutevidas com

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

276

o instrutor Usualmente estes cursistas recorrem posteriormente a outras pessoas proacuteximas para

sanarem suas duacutevidas

A participante E5 disse que o iniacutecio do curso foi difiacutecil para o grupo por falta de conhecimento

sobre o AVA A participante relata que esse desconhecimento afetou a interatividade do grupo naquele

periacuteodo A ldquofalha dos professoresrdquo citada pela participante subentende-se que esteja relacionada a

estes natildeo perceberem essas dificuldades dos alunos em relaccedilatildeo ao Moodle e providenciarem medidas

raacutepidas para sanar as duacutevidas dos cursistas e ambientaacute-los no referido AVA

Sobre os conhecimentos baacutesicos de informaacutetica e uso da internet o questionaacuterio solicitou que

os participantes respondessem considerando quatro niacuteveis ruim razoaacutevel bom ou muito bom Dos

respondentes 24 afirmaram ter um niacutevel ldquomuito bomrdquo 32 disseram ter um conhecimento ldquobomrdquo e

44 alegaram ter um niacutevel razoaacutevel Esta questatildeo foi uma sondagem inicial para que os participantes

autodeclarem seus niacuteveis de literacia digital Nas entrevistas esta questatildeo foi aprofundada quando

solicitamos que os cursistas autoavaliassem seu grau de literacia digital num niacutevel de zero a dez

Compreendendo que a expressatildeo literacia digital natildeo eacute comum no Brasil explicamos aos entrevistados

este conceito no contexto da pesquisa Na autoavaliaccedilatildeo dos participantes vaacuterias respostas sinalizaram

que o conceito de literacia digital continua sem uma compreensatildeo miacutenima entre os participantes

Na internet eu realmente sou assim muito aqueacutem natildeo sou muito fatilde de internet natildeo sinceramente eu daria nota zero [] Eu acho interessante mas natildeo tenho aquela empolgaccedilatildeo (E1)

Eu daria talvez um oito ou oito e meio porque eu uso a internet para fazer muitas coisas comprar um moacutevel eletrocircnico eletrodomeacutestico pagar aquela conta acessar fazer transferecircncia bancaacuteria (E2)

Eu natildeo vou ser modesto de me dar 5 mas tambeacutem natildeo vou ser exagerado de me dar 10 porque falta muita coisa para corrigir Acho que no miacutenimo oito eu jaacute tenho Faccedilo muita utilizaccedilatildeo da informaacutetica (E3)

A minha nota eacute sete porque a tecnologia por mais que vocecirc conheccedila vocecirc natildeo conhece tudo (E5)

As expressotildees dos participantes revelam que na sua maioria afirmam possuir um bom grau de

literacia Com exceccedilatildeo do participante E1 que se autoavaliou com nota miacutenima (zero) os demais

alegaram ter bons niacuteveis de literacia O participante E1 afirma natildeo ter ldquoaquela empolgaccedilatildeordquo com a

internet Quando diz que eacute ldquoaqueacutemrdquo na internet confessa que deixa a desejar longe do desejado

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

277

insuficiente fraco74 Outras expressotildees do participante E1 nos ajudam a entender a sua concepccedilatildeo

sobre as tecnologias

Porque assim eu debato na escola a tecnologia eacute oacutetima soacute que ela preenche interesses particulares ela natildeo preenche em alguns momentos interesses coletivos

Todo mundo estaacute com celular na matildeo whatsapp todo mundo tem e porque natildeo funciona Ai eu penso sempre assim ela me satisfaz o interesse que eu quero natildeo o que o outro estaacute querendo

Percebe-se que o participante E1 jaacute tem um conceito formado sobre os interesses pelos quais

a tecnologia visa atender Para o participante os usuaacuterios de tecnologias natildeo buscam o interesse

coletivo mas usa para suas necessidades Ele relata a dificuldade de trabalhar com o celular na sala

de aula devido ao fato de cada usuaacuterio navegar em sites que lhe interessam ldquoo aluno ele faz aquilo

que pede faccedila isso para mim como fosse obrigatoacuterio pesado para ele entatildeo natildeo interessa Agora ele

sozinho ele pode fazer se natildeo tiver ningueacutem orientandordquo Assim para o participante E1 sua literacia

digital eacute baixa porque natildeo tem um engajamento com as tecnologias e desacredita que estas possam

ajudar os alunos na sala de aula

Conforme abordado no capiacutetulo terceiro deste trabalho ldquoos professores ao longo da sua

formaccedilatildeo e da sua praacutetica desenvolvem concepccedilotildees de ensino e aprendizagem que formam a base das

perspectivas sobre o que eacute certo ou errado e sobre como conduzir a escolardquo (Almeida e Valente 2011

p 46) Os autores afirmam que essas crenccedilas constituiacutedas ao longo da carreira docente ajudam o

professor a negociar suas incertezas e decidir sobre a adesatildeo ou natildeo adesatildeo agraves mudanccedilas que lhe

satildeo impostas na escola Assim se uma determinada inovaccedilatildeo se encaixa na sua concepccedilatildeo de ensino

e aprendizagem o professor estaraacute mais propenso a aceitaacute-la Contudo Almeida e Valente ressaltam

que as crenccedilas dos professores podem constituir um obstaacuteculo ao processo de mudanccedila De qualquer

forma nos cursos de formaccedilatildeo estas crenccedilas natildeo podem ser ignoradas Neste sentido o depoimento

do participante E1 demonstra uma concepccedilatildeo de descrenccedila na tecnologia como mediadora da

aprendizagem o que reforccedila sua resistecircncia ao uso desta na sua praacutetica docente

O participante E2 mediu sua literacia pelo uso que faz das tecnologias no cotidiano faz

compras na net paga conta e realiza transaccedilotildees bancaacuterias Esta eacute de fato uma faceta da literacia

digital mas existem outras atividades relacionadas aacute literacia digital que o participante afirmou em

outro momento natildeo realizar como por exemplo publicar na web O mesmo disse anteriormente ldquoeu 74 Dicionaacuterio da liacutengua informal Disponiacutevel em httpwwwdicionarioinformalcombraquC3A9m Acesso em 24 jun 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

278

natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapprdquo Como vimos a literacia digital vai aleacutem de usar a

internet para atividades cotidianas como sendo consumidor das miacutedias envolve ser autor produtor e

compartilhador de ideias e conteuacutedos (Buzato 2006)

Para o participante E3 a literacia digital estaacute relacionada com a frequecircncia que usa as

tecnologias Na condiccedilatildeo de professor de atualidades em um curso preacute-vestibular o participante afirma

utilizar em suas aulas com frequecircncia as TDIC

Eu publico muito material para os alunos no facebook eu tenho blog para os alunos terem acesso ao conteuacutedo das mateacuterias E eu uso muito whatsapp em sala de aula para poder tirar duacutevidas de alunos fazer esta interaccedilatildeo fora [] Olha a uacutenica coisa que ainda me falta eacute voltar a fazer o que jaacute fiz no passado que foi dar aula com os alunos usando notebook em sala de aula [] Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablet ou notebook para sala de aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo

Nota-se portanto um engajamento do participante E3 com as tecnologias que condiz com a

nota que se avaliou (8 em 10 pontos) Aleacutem de publicar materiais para o aluno numa rede social

popular entre os alunos o mesmo manteacutem um blog em que os conteuacutedos das aulas ficam disponiacuteveis

O uso do whatsapp tambeacutem foi citado pelo participante como meio para a interaccedilatildeo fora dos muros

escolares Poreacutem o mesmo reconhece suas limitaccedilotildees em relaccedilatildeo a conseguir trabalhar com os

alunos portando seus celulares e tablets simultaneamente nas suas aulas

A participante E5 reconhece que estaacute em constante aprendizado e que uma autoavaliaccedilatildeo natildeo

poderia ser definitiva porque nunca se conhece tudo sobre as tecnologias Ponderando sobre a

velocidade em que as tecnologias vatildeo se transformando de fato constitui um desafio para o professor

acompanhar as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Refletindo sobre o salto tecnoloacutegico dos uacuteltimos 60 anos a

partir da invenccedilatildeo da TV e do raacutedio Pretto (2011 p 98) afirma

Uma uacutenica geraccedilatildeo eacute capaz de ver nascer e desaparecer uma dessas tecnologias especialmente as digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo muitas vezes sem nem mesmo se aperceber disso Implanta-se a cultura da velocidade e a essa associa-se de forma intensa com a velocidade com que satildeo descartadas soluccedilotildees tecnoloacutegicas que mal foram criadas

Entretanto natildeo se trata do professor se tornar um ldquoexpertrdquo de cada inovaccedilatildeo que a tecnologia

apresentar este feito seria na praacutetica impossiacutevel Contudo cursos de formaccedilotildees que levem o professor

a refletir sobre a necessidade de integrar o novo com o que jaacute eacute usado no dia-dia das escolas dando

significado a estas praacuteticas num processo de apropriaccedilatildeo e entrelaccedilamentos socioteacutecnicos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

279

contribuiriam para aumentar os niacuteveis de literacia digital natildeo apenas do professor mas do seu

alunado

Nos depoimentos dos entrevistados percebe-se que devido ao fato de desconhecerem o conceito

de literacia digital acreditam que ldquousar muito a informaacuteticardquo seria um fator meacutetrico para se

autoavaliarem positivamente O niacutevel de literacia digital ideal conforme proposto por Buzato (2006)

seria de professores e alunos que se ldquoapropriam criacutetica e criativamente da tecnologia e lhe datildeo

significado e funccedilatildeo em lugar de consumi-las passivamente ou o que seria pior em lugar de serem

consumidos por elasrdquo (idem p 10) Nota-se nas expressotildees dos entrevistados que mesmos os mais

engajados com as tecnologias encontram dificuldades na integraccedilatildeo destas na sua praacutetica pedagoacutegica

54 Professores e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica

Ateacute esta altura a investigaccedilatildeo sobre o uso das TDIC no cotidiano dos professores participantes

da pesquisa revelou que os mesmos possuem pouco engajamento e fazem uso baacutesico e instrumental

dos dispositivos tecnoloacutegicos no seu cotidiano Com objetivo de compreender a relaccedilatildeo dos

participantes com as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas e suas percepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo

mediada por tecnologias no ambiente escolar nos instrumentos de coleta de dados da pesquisa

constavam questotildees especiacuteficas sobre este aspecto

Assim a parte 3 do questionaacuterio intitulada ldquoEscala do uso de tecnologias digitais na praacutetica

pedagoacutegicardquo buscou investigar o uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas dos cursistas

da licenciatura em Fiacutesica EaD na UFT Os participantes que natildeo eram professores atuantes na sala de

aula (48) foram dispensados de responder a esta parte do questionaacuterio Foram aplicadas questotildees

em funccedilatildeo da frequecircncia que os professores utilizam ou implementam as tecnologias digitais nos

campo pedagoacutegico junto aos seus alunos Os valores meacutetricos de frequecircncia foram ldquoNuncardquo ldquoAlgumas

vezesrdquo ldquoMuitas vezesrdquo e ldquoSemprerdquo

Nas entrevistas quatro categorias principais foram levantadas para a anaacutelise da percepccedilatildeo dos

participantes em relaccedilatildeo aacutes TDIC na sua praacutetica docente conforme retrata o quadro 14

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

280

Quadro 14 - Categorias de anaacutelise sobre o professor e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica

Categorias de anaacutelise Objetivos C7 - Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia Entender como o participante vecirc a educaccedilatildeo mediada por

tecnologias numa forma ampla e geral

C10 - Futuro da Educaccedilatildeo a Distacircncia Compreender a visatildeo de futuro que o participante tem sobre a Educaccedilatildeo a Distancia

C11 - Percepccedilatildeo da presenccedila das tecnologias na escola

Apreender como o participante percebe a presenccedila das tecnologias na escola

C12 - Dificuldades e desafios da tecnologia na praacutetica docente

Levantar as dificuldades que os participantes enfrentam diante da crescente presenccedila de TDIC na escola

C13 - Experiecircncias com tecnologias na escola Reunir relatos de experiecircncias dos participantes no tocante ao uso das TDIC na sua praacutetica docente

541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia

A visatildeo que o cursista tem sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia diz muito sobre o que este espera de

uma formaccedilatildeo on-line e expotildee subjetivamente sobre sua relaccedilatildeo com as TDIC Apresentamos um

recorte da planilha utilizada na categorizaccedilatildeo em que foram retirados excertos das entrevistas e suas

respectivas unidades de contexto (UC) inseridos na Categoria 7 ndash Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia

No quadro 15 eacute possiacutevel visualizar nas entrelinhas das expressotildees dos cursistas como estes vecircem a

educaccedilatildeo a distacircncia de modo geral

Quadro 15 - Visatildeo dos cursistas sobre a educaccedilatildeo a distacircncia

Categoria 07 Visatildeo

sobre educaccedilatildeo a distacircncia

Unidade de Registro UC Eu sempre penso que a educaccedilatildeo a distacircncia eacute um facilitador de conhecimento [] acredito que com a educaccedilatildeo a distacircncia soacute natildeo estuda quem quer porque facilitou muito

E1

Natildeo eacute desmerecendo mas eu acho que o presencial ele daacute mais disciplina Ele te capacita ele te treina e quando vocecirc entra num telepresencial a pessoa jaacute tem que ter esta disciplina

Por mais que tenha toda uma campanha em cima da educaccedilatildeo a distacircncia hoje tem um trabalho voltado para isso mas a gente percebe que haacute uma decadecircncia sim Decadecircncia que eu falo natildeo eacute do modo mas das proacuteprias pessoas Porque eacute necessaacuterio vocecirc ter uma disciplina de estudo e eu penso quem quer fazer a distacircncia pensa que tem que estudar pouco O curso a distancia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

E2

Eu sempre achei que natildeo fosse possiacutevel estudar a distancia porque toda vida a gente teve aquele contato com a sala de aula Eu acho interessante porque ela da esta condiccedilatildeo para as pessoas que natildeo tecircm tempo para estarem na sala de aula todos os dias cursar o que gosta aquilo que vocecirc tem mais interesse Para mim a educaccedilatildeo a distacircncia eacute determinante para dar acesso agraves pessoas

E3 Ela eacute mais determinante que uma cota ou do que de repente de um projeto de eacutetnica questatildeo financeira

Ateacute mais que Fies ou Prouni Porque a educaccedilatildeo a distacircncia ela vai no local onde a pessoa estaacute Eu acho que ela veio para ficar mesmo E4 O que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tem um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar

E5 A educaccedilatildeo a distancia traz a maturidade para o profissional autonomia

Eu ateacute acredito que a educaccedilatildeo a distancia o profissional eacute bem melhor do que o profissional que faz sem ser a distancia O meacuterito da pessoa que consegue fazer um curso ead com qualidade a distacircncia o meacuterito dele eacute ateacute maior por causa das barreiras ele teve que ser muito disciplinado para conseguir

E6

Como ferramenta educacional para pessoas adultas para pessoas focadas eacute perfeito mas para focados EaD para mim eacute fundamental sim ela rompe barreiras ela tem o seu valor

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

281

As expressotildees dos cursistas em destaque no quadro revelam muito sobre a percepccedilatildeo que os

mesmos tecircm sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia Algumas falas expressam ambiguidade ou contradiccedilatildeo O

participante E1 por exemplo acredita que a modalidade EaD constitui um facilitador de conhecimento

mas que por sua vez exige muita disciplina do aluno No entanto logo em seguida ele afirma que a

modalidade presencial proporciona maior disciplina ao aluno e que existe uma ldquodecadecircnciardquo natildeo na

EaD explica o entrevistado mas nas pessoas que pensam que nesta modalidade precisam estudar

pouco o que natildeo ocorre

O participante E2 enfatizou dois fatores positivos da EaD o faacutecil acesso e a flexibilidade do

tempo para estudos Importante ressaltar a visatildeo do participante antes de ingressar no curso de Fiacutesica

EaD natildeo achava que era possiacutevel estudar a distacircncia pois a vida toda conheceu apenas a educaccedilatildeo

presencial na sala de aula Outro ponto que o entrevistado E2 destacou eacute a possibilidade de se estudar

o que realmente gosta na modalidade EaD Muitas pessoas jaacute graduadas fazem outros cursos a

distacircncia na aacuterea de seu interesse pois muitas vezes a sua formaccedilatildeo de origem natildeo era a ideal mas

foi o que podia fazer na eacutepoca

O participante E3 frisou que a modalidade EaD eacute um fator determinante para o acesso ao

ensino superior porque ela vai onde o cursista estaacute De fato programas como o Prouni (Programa

Universidade para Todos) que possibilita a entrada dos menos favorecidos economicamente nas

instituiccedilotildees puacuteblicas e o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) que financia os estudos em

universidades privadas promovem ateacute certo ponto o acesso ao ensino superior mas apenas na

modalidade presencial em cidades que tecircm campus de uma instituiccedilatildeo superior A EaD por sua vez

abre portas para o acesso agrave formaccedilatildeo superior a pessoas que de outra forma natildeo poderiam estudar

devido agrave indisponibilidade de se deslocar para cidades que tenham faculdades ou universidades

A autonomia proporcionada pela Educaccedilatildeo a Distacircncia foi destaque nas expressotildees da

participante E5 A mesma afirma que ao estudar sozinho o cursista adquire maturidade que vai levar

para o campo profissional Sobre comparaccedilotildees de desempenho de alunos de cursos superiores

presenciais com alunos de cursos a distacircncia o professor Joseacute Manuel Moran cita um estudo realizado

com dados do Enade (Exame Nacional de desempenho da Educaccedilatildeo Superior) de 2005 e 2006 em

que se constatou em 7 das 13 aacutereas onde essa comparaccedilatildeo eacute possiacutevel que os alunos da modalidade

a distacircncia se saiacuteram melhor que os demais O autor relata

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

282

Quando a anaacutelise eacute feita apenas levando em conta os alunos que ainda estatildeo na fase inicial do curso - o Enade permite separar o desempenho de ingressantes e concluintes- o quadro eacute ainda mais favoraacutevel ao ensino a distacircncia em nove das 13 aacutereas o resultado foi melhor Nesses casos turismo e ciecircncias sociais apresentaram a maior vantagem favoraacutevel aos cursos a distacircncia Geografia e histoacuteria foram os cursos em que o ensino presencial apresentou melhor desempenho (Moran 2009 p63)

Portanto cursos na modalidade a distacircncia de qualidade podem contribuir para que o aluno

adquira autonomia Um estudo realizado no Brasil (Martins 2014) com 400 professores cursistas de

uma especializaccedilatildeo a distacircncia que investigou a apropriaccedilatildeo da autonomia dos estudantes no

processo de aprendizagem num ambiente virtual identificou trecircs niacuteveis de apropriaccedilatildeo de autonomia

observadas na amostra autonomia instrumental (capacidade resolver problemas do entorno da

aprendecircncia) autonomia cognitiva conceitual (apropriaccedilatildeo de novos conceitos) e aprendecircncia criacutetica

(associaccedilatildeo da teoacuterica e praacutetica) O estudo concluiu que para que haja a apropriaccedilatildeo da autonomia da

parte dos estudantes as formaccedilotildees a distacircncia devem ser pautadas em forte mediaccedilatildeo pedagoacutegica e

na integraccedilatildeo de conteuacutedos e tecnologia Poreacutem deve-se ressaltar que nem todos os programas de

formaccedilatildeo a distacircncia promovem a autonomia nos estudantes Formaccedilotildees aligeiradas de qualidade

duvidosa e voltadas para a instruccedilatildeo programada natildeo incentivam a pesquisa a criatividade e a

emancipaccedilatildeo dos estudantes

Com o intuito de compreender a visatildeo de futuro dos entrevistados sobre a influencia da TDIC

nos processos educativos questionamos sobre que cenaacuterio vislumbravam para a posterioridade da

educaccedilatildeo O participante E1 crecirc que a educaccedilatildeo eacute tradicional por natureza

A educaccedilatildeo no fundo no fundo ela eacute tradicional ela nunca vai conseguir abrir matildeo o suficiente para dizer que eacute inovador totalmente inovador [] vai depender muitos dos profissionais que se formaram e conseguiram engajar no mercado e conseguiram reproduzir isso de forma positiva

Igualmente o participante E2 expressa uma visatildeo parecida ldquoEu acho que a tecnologia o

ensino a distacircncia hoje soacute vem crescendo [] soacute que ele comeccedilou primeiro nas universidades Poreacutem

a escola a meu ver ainda natildeo tem entrado nesta filosofia de educaccedilatildeo a distacircnciardquo Assim para este

entrevistado a educaccedilatildeo a distacircncia encontra lugar nas universidades mas na escola ele encontra

resistecircncia

O participante E3 jaacute apresenta uma opiniatildeo mais radical sobre o assunto ldquomas o professor

ldquocuspe e gizrdquo aquele que soacute fala e escreve acabou ele estaacute soacute esperando para ser enterradordquo O

termo ldquocuspe e gizrdquo eacute comum no meio docente para designar a metodologia de aulas expositivas em

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

283

que o professor faz uso da voz e do quadro-negro para expor um conteuacutedo Na visatildeo deste participante

a escola do futuro natildeo teraacute lugar para essa metodologia ldquoEu acho que a tecnologia veio realmente

para ser um auxiliar da educaccedilatildeo e natildeo substituta do professor ela natildeo veio substituir ela veio auxiliar

agora quem natildeo adota realmente vai se aposentarrdquo O participante E4 expressa uma visatildeo parecida

Eu acho que daqui 5 a 10 anos natildeo vai ter professor em sala mais natildeo vai ser soacute a distacircncia vai ter um tutor [] O professor natildeo vai estar na sala ele vai estar a distacircncia Entatildeo vai ter o professor mas ele natildeo vai estar na sala vai estar o tutor [] Eu acho que o quadro natildeo vai existir mais entatildeo eu acho que vai ser dai para frente Acabou o tempo que o professor soacute ficava na frente ele tem que ficar interagindo no meio

Esta reflexatildeo remete agrave discussatildeo do capiacutetulo trecircs desta tese sobre a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que a introduccedilatildeo do quadro-negro configurou nas escolas O professor ldquona frenterdquo dos alunos com o

giz em seu poder era o uacutenico detentor do conhecimento que escrevia no quadro-negro poreacutem

atualmente com a introduccedilatildeo das tecnologias moacuteveis conectadas agrave internet o professor jaacute natildeo eacute mais

o uacutenico detentor do conhecimento antes seu papel deve mudar para mediador problematizador e

orientador dos alunos O participante E4 acredita que no futuro nem o quadro existiraacute mais e o

professor sairaacute da frente da sala para o meio Embora natildeo saibamos o futuro do quadro-negro por um

bom tempo ele resiste nas escolas como mobiliaacuterio fundamental das salas de aulas conjugado com

praacuteticas de educaccedilatildeo voltada para a transmissatildeo de conteuacutedos

A participante E5 pondera que ldquoa sala de aula eacute uma continuidade da vida social laacute fora entatildeo

tem que continuar o uso da tecnologia na sala de aulardquo Neste sentido constituindo a sala de aula uma

extensatildeo da vida em sociedade a participante acredita que com a expansatildeo das tecnologias no

cotidiano das pessoas a escola deveraacute ter espaccedilo para elas A participante E6 conclui

Eu posso avaliar que o espaccedilo que a EaD adquiriu ateacute agora ele natildeo tem tendecircncia para ser retroativo natildeo a tendecircncia eacute cada vez aumentar[] Mas acho que vai chegar um processo de maturaccedilatildeo em que isso (o celular) vai deixar de ser uma ferramenta soacute de comunicaccedilatildeo e vai ser uma ferramenta de estudo

Percebe-se portanto analisando as expressotildees dos participantes que estes acreditam que a

tendecircncia da educaccedilatildeo mediada por tecnologias iraacute evoluir nas escolas e que seraacute preciso maturidade

do professor para entender que precisa acompanhar este avanccedilo de alguma forma

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

284

542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios

Como exposto no capiacutetulo um sobre o perfil do jovens no cenaacuterio da sociedade em rede eles

estatildeo conectados em redes sociais possuem blogs canais de viacutedeos jogam e interagem entre si

mediados pela tecnologia moacutevel Neste sentido de acordo com Freitas (2010 p 341) ldquoos professores

precisam conhecer os gecircneros discursivos e linguagens digitais que satildeo usados pelos alunos para

integraacute-los de forma criativa e construtiva ao cotidiano escolarrdquo A autora conclui que integrar natildeo

significa abandonar as praacuteticas jaacute existentes mas apropriar-se criticamente das tecnologias e

acrescentar o novo agraves suas praacuteticas Para que esta integraccedilatildeo ocorra as praacuteticas mediaacuteticas digitais

devem ser compreendidas para aleacutem do uso meramente instrumental o que constitui um desafio para

os professores

Os dados levantados nos questionaacuterios e entrevistas revelaram que no uso pedagoacutegico as

tecnologias parecem ser percebidas pelos participantes como instrumentos para apresentaccedilatildeo das

aulas (vide o uso do datashow) e quase nunca para a interatividade entre professoraluno

alunoprofessor na sala de aula e fora dela Assim natildeo eacute costume incentivar seus alunos a produzir e

compartilhar conhecimentos em blogs sites ou redes sociais Tambeacutem raramente interagem com os

seus alunos em redes sociais

O graacutefico 15 sinaliza que organizar o material didaacutetico fazendo uso do computador eacute a

atividade mais frequente entre os pesquisados (47) Por outro lado constatou-se que 26 nunca

usaram o computador em atividades na sala de aula A falta de planejamento para atividades que

estimulem os alunos a usarem as TDIC constitui outro dado apresentado na pesquisa Dos

participantes apenas 26 fazem este planejamento

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

285

Graacutefico 15 ndash Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 1

O graacutefico 15 apresenta outros dados importantes Como por exemplo 35 dos professores

participantes nunca avaliaram os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua aprendizagem

Freitas (2010 p 342) afirma que em muitas escolas os professores adotam uma posiccedilatildeo defensiva

diante das tecnologias como se ldquopudessem deter seu impactordquo A autora conclui que alguns docentes

sentem-se ameaccedilados do seu lugar como detentores do saber na escola

Importante ressaltar outro dado interessante apontado na pesquisa 526 dos professores

participantes afirmou nunca disponibilizar tempo para interagir com seus alunos usando meios de

comunicaccedilatildeo on-line e 632 nunca utilizaram uma rede social para comunicar com alunos em

horaacuterios informais Assim constatou-se que a comunicaccedilatildeo com os alunos usando tecnologias digitais

ou ambientes virtuais conforme mostra o graacutefico natildeo eacute praacutetica comum dos professores da pesquisa

0 10 20 30 40 50

Planeja atividades em que os alunos usam o computador

Usa o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos

Usa o computador para organizar material didaacutetico

Planeja atividades que estimule o aluno adquirir competecircncias

digitais

Implementa estrateacutegias didaacuteticas que usem o computador nas aulas

Usa o computador nas aulas garantindo igualdade de acesso

aos alunos

Planeja as estrateacutegias de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

usando o computador

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

286

Graacutefico 16 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 2

A barra azul do graacutefico 16 mostra que 73 dos professores nunca orientaram seus alunos

utilizando um ambiente virtual de aprendizagem e apenas 10 usam regularmente o computador para

comunicar os resultados do desempenho dos seus alunos Entretanto 36 dos professores afirmaram

que muitas vezes criam apresentaccedilotildees com recursos do computador nas disciplinas que lecionam Nas

entrevistas alguns dos participantes revelaram que aplicaccedilotildees das TDIC gostam de utilizar com seus

alunos

Assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatsapp (E1)

Quando tinha datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu datashow (E3)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Cria apresentaccedilotildees com recursos do computador para usar na sala de

aula

Orienta as atividades dos alunos por meio de ambiente virtual de

aprendizagem

Usa computador para comunicar os resultados de seu desempenho aos

alunos

Utiliza redes sociais para interagir com os alunos em horaacuterios

informais

Disponibiliza tempo para interagir com seus alunos usando meios

de comunicaccedilatildeo online

Incentiva seus alunos a compartilharem seus

conhecimentos em blogs ou redes sociais

Avalia os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua

aprendizagem

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

287

Tento resumir no datashow e lanccedilo dai faccedilo um grupo no e-mail e lanccedilo porque se eu deixar eles copiarem os resumos que eu coloquei natildeo da tempo natildeo da pra fazer milagre (E6)

Assim percebe-se que ainda eacute comum o uso das TDIC para ldquoadornar procedimentos

obsoletosrdquo como aula expositiva apenas com uso de datashow substituindo o antigo retroprojetor

(Demo 2011) Entretanto as tecnologias digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TDIC) presentes nos

dispositivos digitais conectados a internet (computador notebook tablet ou celular) natildeo satildeo apenas

um meio de comunicaccedilatildeo quando usados em contextos educativos O quadro-negro eacute especificamente

um meio um recurso que o professor utiliza para dar suas aulas Assim como o eacute o datashow ou

qualquer dispositivo utilizado na sala de aula para apresentar um conteuacutedo No entanto na vida

cotidiana o aluno natildeo vai precisar aprender usar o quadro-negro ou o aparelho de datashow para

resoluccedilatildeo de problemas ou tomadas de decisotildees Por outro lado acessar informaccedilotildees importantes na

internet selecionar e filtrar dados relevantes produzir um trabalho colaborativo em redes compartilhar

conhecimento usando as TDIC satildeo accedilotildees que os estudantes na sua vida cotidiana e profissional

precisaratildeo realizar frequentemente

Neste sentido reduzir o ldquousordquo das TDIC na praacutetica educativa a ldquomeiosrdquo para se transmitir um

conteuacutedo coibindo os alunos de acessarem seus dispositivos durante as aulas constitui um fator que

contribui para a baixa literacia digital dos estudantes limitando suas possibilidades de preparo para a

atuaccedilatildeo na sociedade em rede O desafio dos professores neste contexto eacute duplo necessitam ter bons

niacuteveis de literacia digital para entatildeo atuarem como orientadores dos seus alunos no uso saacutebio das

informaccedilotildees acessadas nas TDIC A questatildeo vai aleacutem do uso instrumental das TDIC mas da filtragem

de conteuacutedos acessados em sites de credibilidade da seleccedilatildeo das informaccedilotildees confiaacuteveis e relevantes

da manipulaccedilatildeo criacutetica dos dados encontrados e do compartilhamento de novos conhecimentos

gerados

Com o intuito de compreender como os entrevistados reagem agrave presenccedila das tecnologias na

sala de aula indagamos dos mesmos como as percebem no seu cotidiano na escola Dos depoimentos

percebe-se uma apreensatildeo dos professores devido agrave dispersatildeo que os dispositivos causam nos alunos

Aiacute o aluno dos 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento dar uma direccedilatildeo (E1)

Eu natildeo ligo se o aluno vai pegar o celular para olhar a hora se o aluno tira foto do quadro eu natildeo ligo mas me deixa profundamente irritado se o telefone toca e ele quer atender ou se de repente chega uma mensagem e ele quer ver (E3)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

288

Laacute na escola eacute proibido Eu acho que natildeo devia Acho que devia ser aberto mas sempre com um combinado focado na aula Se o aluno disser ldquodeixa eu pesquisar este conteuacutedo aiacuterdquo mas fica no whatsapp conversando com coleguinhas (E4)

Como citado pelo participante E4 em algumas escolas eacute expressamente proibido uso de

celulares mesmo fora da sala de aula Outras permitem o seu uso limitado para atividades

pedagoacutegicas Uma ajuda para combater a dispersatildeo seria o ldquocombinadordquo com os alunos sobre o que

pode e o que natildeo pode ser realizado com o celular ou tablet na sala de aula A participante E5 explica

como faz esse combinado com seus alunos

Mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possam acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala

Para que o combinado decirc resultados a participante E6 lembra que os estudantes precisam ser

ldquofocadosrdquo e maduros o suficiente para compreenderem os objetivos do uso dos dispositivos moacuteveis na

sala de aula Neste aspecto a participante acredita que estudantes do ensino meacutedio ainda natildeo tecircm

esse amadurecimento

Eu acho que ele passa por uma maturaccedilatildeo Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso (E6)

Para Prensky (2010) os alunos usam o tempo de sala de aula para aprender por conta

proacutepria assim como fazem quando saem da escola usam a tecnologia para aprenderem sozinhos

assuntos que lhes interessam Poreacutem na sala de aula a tecnologia tornou para esses alunos a nova

ldquobolinha de papelrdquo O autor explica

Os alunos rotineiramente abusam (a partir do ponto de vista dos professores) da tecnologia em aula usando-a como um professor a descreve como ldquoa nova bolinha de papelrdquo Isso tambeacutem faz sentido os alunos tecircm agrave sua disposiccedilatildeo ferramentas poderosas de aprendizagem as quais sequer tecircm oportunidade de aprender a usar (idem p 203)

Marc Prensky finaliza afirmando que o papel do professor natildeo eacute tecnoloacutegico mas intelectual

Assim o papel do professor constitui em prover orientaccedilotildees e assegurar qualidade e ajuda

individualizada ldquodevem parar de palestrar e comeccedilar a deixar que os alunos aprendam por si

mesmosrdquo(idem 204) Este se trata de um dos desafios que os professores enfrentam na atualidade

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

289

As entrevistas contemplaram ainda uma questatildeo sobre as possiacuteveis dificuldades que os

participantes que satildeo professores encontram no uso das tecnologias nas suas praacuteticas docente No

quadro 16 apresentamos alguns enxertos dos depoimentos dos entrevistados

Quadro 16 - Dificuldades com o uso da tecnologia na escola

O participante E1 que se autodenomina ldquonatildeo muito dominador de tecnologiasrdquo expressou que

sua maior dificuldade eacute canalizar os objetivos didaacuteticos dentro da rede ou seja conseguir direcionar os

alunos para usar os aplicativos de forma efetiva dentro dos objetivos previstos Nota-se no primeiro

trecho que o participante se sente ldquorefeacutemrdquo do aluno a partir do momento que este abre um site

porque na situaccedilatildeo de professor natildeo se tem controle dos sites que o aluno estaacute abrindo O participante

E2 que ainda natildeo atua como professor acredita que natildeo teraacute dificuldades em trabalhar a tecnologia

com seus futuros alunos

A capacidade de trabalhar a interaccedilatildeo na sala de aula com os alunos portando com seus

tablets eou celulares eacute o maior desafio que o participante E3 confessa enfrentar A participante E6

que leciona para jovens no ensino meacutedio queixa-se da falta de compromisso dos alunos no uso dos

celulares durante as aulas

Com uso de tecnologias mas ateacute certo ponto ateacute porque vocecirc esbarra no quesito aluno compromissado vocecirc tem aquela sala cheia inflada com 40 41 alunos num espaccedilo que cabia 36 [] E sala de aula lotada vocecirc vai vigiar o celular de todo mundo Vocecirc vai vigiar se estatildeo no whatsapp Eles ficam batendo papo Estaacute proibido eles sabem que estaacute proibido mas natildeo estou olhando natildeo estou vigiando 41 alunos natildeo vou natildeo tem condiccedilotildees

Categoria 12 Dificuldades e

desafios da tecnologia na pratica docente

Quando um aluno abre um site ele consegue fazer tudo que ele quer ele viaja o mundo sentado na cadeira escolar e a gente fica laacute refeacutem Porque quando vocecirc chega proacuteximo ele muda de site entatildeo vocecirc sabe que natildeo estaacute tendo produtividade E1 E a minha grande dificuldade eacute isso eu ateacute pensei assim mas como eu natildeo sou muito dominador da tecnologia E1 O que eu tenho dificuldade eacute essa eacute como usar a expressatildeo como canalizar os seus objetivos dentro das redes ou dentro do meio tecnoloacutegico E1 Eu acho que natildeo vou ter muitas dificuldades porque hoje em dia vocecirc pode utilizar a internet e aplicativos no proacuteprio celular ou tablet para fazer simulaccedilotildees de experimentos daquela foacutermula matemaacutetica aquela forma fiacutesica vocecirc pode analisaacute-la como funciona entatildeo isso dai vai colaborar para o aprendizado E2 Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablet ou notebook para sala de aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo E3 Vocecirc passa metade da aula brigando porque eles ficam no whatsapp porque eles natildeo tecircm maturidade E6 E ele vai laacute soacute para isso ele fica laacute com o celular o tempo inteiro A quantidade de ocorrecircncia dele com uso de celular em sala de aula falta de compromisso eacute enorme e eacute a maioria E6

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

290

Percebe-se neste depoimento a angustia da professora diante da presenccedila dos dispositivos de

rede moacutevel durante as aulas Nesse sentido Alves e Pretto (2008 p 30) explicam que este choque

tecnoloacutegico reside no fato de que as crianccedilas e jovens vivem num mundo high tech (alta tecnologia) e a

ldquoescola ainda se manteacutem com a tecnologia low tech (baixa tecnologia) resistindo em atender agraves novas

demandas sociais e cognitivas e as necessidades desse novo sujeito em construccedilatildeordquo O autor

acrescenta que as tecnologias chegam agrave escola em pacotes prontos atraveacutes de projetos poliacuteticos e

pressatildeo do mercado com pouca ou nenhuma formaccedilatildeo criacutetica do professor para a literacia digital

543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias

Na conclusatildeo das entrevistas com os cursistas solicitamos que narrassem alguma experiecircncia

que tiveram com atividades que envolvessem o uso das TDIC com seus alunos O participante E1

explica que ateacute tentou algumas atividades em que os alunos usavam seus aparelhos celulares mas o

resultado foi a dispersatildeo da atenccedilatildeo

Eu ateacute tentei fazer muitas experiecircncias por exemplo tentar que os meninos acessassem os sites lerem textos porque estavam com o celular na matildeo todo mundo e interagia e em baixo laacute tinha os questionaacuterios parece que o texto o tempo de leitura era dois minutos era bem raacutepido e os alunos quando viram eles acharam muito extenso entatildeo eles comeccedilaram a navegar em outras [] eles natildeo fazem o que vocecirc pediu fogem sempre

Segundo Sibilia (2012 p 211) a dispersatildeo tem sido a marca do mundo conectado em redes

A autora analisa que na contemporaneidade as conexotildees estabelecidas por meio dos aparatos

tecnoloacutegicos desafiam a hierarquia disciplinar da escola Assim o alunos natildeo mais aceitam de forma

passiva a transmissatildeo do conhecimento pelo professor eles querem se expressar negociar discutir

opiniotildees Esta situaccedilatildeo abala os papeacuteis de professor e de aluno desenhados na escola medieval Neste

cenaacuterio Sibilia afirma que as tecnologias natildeo podem ser idealizadas como garantia de excelecircncia

escolar mas sim como espaccedilos de encontro e diaacutelogo O desafio imposto ao professor eacute saber

conduzir esse processo Se a tecnologia for usada para reproduzir o que jaacute eacute feito com o quadro-negro

a transmissatildeo de conteuacutedos natildeo cumpriraacute seus objetivos O participante E1 relata que tenta usar as

tecnologias mais tradicionais

Assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatssapp

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

291

Observa-se portanto que o participante E1 segue o padratildeo dos cursistas da amostra que

responderam aos questionaacuterios tendecircncia a usar as tecnologias baacutesicas que requerem pouco

conhecimento teacutecnico e reproduzem atividades e atitudes das quais estatildeo acostumados O uso dos

slides por exemplo alguns ao elaborarem uma apresentaccedilatildeo ldquolanccedilamrdquo o conteuacutedo no slide muitas

vezes com excesso de toacutepicos e textos que acarretam efeito contraacuterio causa uma sobrecarga na

capacidade cognitiva do aluno e por sua vez um retrocesso no processo de aprendizagem (Agostinho

Tindall-Ford e Roodenrys 2011) O participante E3 afirma que faz uso dos slides haacute muito tempo mas

percebeu que apenas uso de toacutepicos e textos entediam os alunos

Soacute que eu fui um pouco mais aleacutem de usar o datashow como projetor como muitos professores fazem jaacute natildeo uso mais tantos textos uso mais imagens com eles porque fica entediante vocecirc soacute jogar o texto na sala de aula e eu tambeacutem uso muitas miacutedias sociais

O participante E3 relata que aleacutem do uso dos slides publica material para os alunos no

Facebook manteacutem um blog em que posta os conteuacutedos estudados e usa o aplicativo whatsapp para

tirar as duacutevidas dos alunos A interaccedilatildeo fora dos espaccedilos escolares foi pouco citada pelos participantes

O participante E4 citou algo que faz a respeito da interaccedilatildeo fora da aula ldquoa uacutenica que uso para

conversar com eles eacute no Facebook eacute alguns alunos que tenho na rede eles perguntam e eu

respondordquoO uso de redes sociais com objetivos pedagoacutegicos tem sido alvo de estudos de

pesquisadores da aacuterea de tecnologia educativa (Reis 2014 Miranda Morais Alves e Dias 2014

Carreira e Ramos 2011) Estes estudos tecircm em comum o fato de que os jovens estatildeo muito

habituados agraves redes sociais e a interaccedilatildeo com professores e colegas destes espaccedilos para fins

pedagoacutegicos satildeo bem aceitos pelos estudantes

No depoimento dos entrevistados percebe-se tambeacutem que as suas tiacutemidas iniciativas em

articular as tecnologias com a praacutetica pedagoacutegica esbarra nos entraves administrativos da escola O

relato do participante E4 sobre a experiecircncia no ldquoProjeto um computador por alunordquo (Prouca) constitui

um exemplo dessa realidade

Ano passado teve um curso do Prouca e eles deram aqueles laptopzinhos e fomos envolvendo com aquilo laacute Dai eu pensei ldquovou comeccedilar a utilizar mais estes laptops porque eacute novidade e eles ficam louquinhos com novidaderdquo Daiacute cada um fica com um tem um joguinho da matemaacutetica que eacute tabuada que eacute muito bom E eles ficaram incutidos com aquilo eu passei para eles uma olimpiacuteada competiccedilatildeo Depois eu disse ldquoa prova de vocecircs vai ser um simulado no computadorrdquo Todos eles tiraram notas boas Porque tipo assim o papel o interesse eacute tatildeo pouco que 10 da turma ficaram de recuperaccedilatildeo e quando eu passei no laptop trecircs soacute ficaram trecircs alunos Daiacute eu ateacute falei para a coordenadora para ver se podia dar a prova ou testes

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

292

no laptop Porque laacute eacute assim trabalho teste e prova Daiacute ela falou assim ldquo uma eacute que natildeo tem nada escritordquo Aiacute eu falei para ela ldquonatildeo tem mas a gente pode tirar uma foto do aluno mostrando o computador rdquo Porque laacute o simulado ele jaacute daacute a nota na hora mas ela disse que natildeo me aconselhava a fazer isso natildeo Aiacute falei entatildeo taacute bom

Essa narrativa de uma atividade cotidiana na escola revela que no modelo educacional vigente

regido por avaliaccedilotildees escritas e palpaacuteveis a gestatildeo da escola natildeo recebe bem iniciativas inovadoras da

parte dos professores Para Almeida (2009) a resistecircncia dos professores muitas vezes se esbarra na

gestatildeo das tecnologias nas escolas

Gradativamente as tecnologias satildeo introduzidas nos espaccedilos das escolas mas mesmo quando haacute utilizaccedilatildeo adequada os equipamentos se encontram confinados em salas isoladas ou trancados em laboratoacuterios em quantidade insuficiente para atender todos os alunos Em muitos casos pode-se observar ainda o desenvolvimento de praacuteticas centradas em determinada tecnologia definida agrave frente dos objetivos pedagoacutegicos (idem p 76)

Nesta mesma direccedilatildeo Gomes (2008) enumerou a natureza de algumas das principais resistecircncias que

ocorrem na implantaccedilatildeo de praacuteticas de e-learning nas instituiccedilotildees de ensino Segundo a autora a

resistecircncia pode ser individual ou institucional declarada ou omitida ativa ou passiva Sobre os

desafios institucionais Gomes (2012 p 11) aponta quatro dimensotildees (i) desafios ao niacutevel das

infraestruturas e apoio teacutecnico (ii) desafios ao niacutevel da gestatildeo administrativa (iii) desafios ao niacutevel das

competecircncias e reconhecimento profissional e (iv) desafios ao niacutevel da disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e

recursos pedagoacutegicos Ainda segundo Almeida e Valente (2011) a resistecircncia dos professores agrave

integraccedilatildeo de suas praacuteticas agraves tecnologias pode estar relacionada com organizaccedilatildeo do curriacuteculo e do

sistema de ensino riacutegido e engessado em horasaulas presenciais

Formaccedilatildeo inadequada do professor para fazer essa integraccedilatildeo e a falta de preparo dos gestores educacionais para dar o suporte agraves inovaccedilotildees pedagoacutegicas a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino que dificultam novas formas de organizaccedilatildeo do tempo e espaccedilo das aulas e a falta de apoio do professor para auxiliaacute-lo nas mudanccedilas de crenccedilas pessoais de concepccedilotildees e mais concretamente de postura diante do novo (idem p40)

De acordo com Buckingham (2008) muitos professores resistem ao uso das tecnologias natildeo

porque satildeo ldquoantiquados ou ignorantesrdquo mas porque reconhecem que estas natildeo contribuem

efetivamente para o alcance dos seus objetivos O autor analisa ldquoeacute claro que alguns professores estatildeo

usando a tecnologia de modo bastante criterioso e criativo poreacutem na maioria dos casos o uso de

tecnologia nas escolas eacute estreito sem imaginaccedilatildeo e instrumentalrdquo (idem p 9) A visatildeo das tecnologias

como mero auxilio didaacutetico instrumental ferramenta ou teacutecnica eacute apontada por Buckingham como um

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

293

entrave para a integraccedilatildeo destas nas praacuteticas cotidianas na escola O autor citou Humberto Eco que

escreveu que se quisermos usar a televisatildeo para ensinar algueacutem primeiro precisamos ensinaacute-lo a usar

a televisatildeo Neste sentido Buckingham (2008 p 11) completa

Se quisermos usar a internet os jogos ou outros meios digitais para ensinar precisamos equipar os alunos para compreendecirc-los e ter uma visatildeo criacutetica desses meios natildeo podemos consideraacute-los simplesmente como meios neutros de veicular informaccedilotildees e natildeo devemos usaacute-los de um modo meramente funcional ou instrumental Precisamos nesse caso eacute de uma concepccedilatildeo coerente e rigorosa de ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo mdash em outras palavras do que as crianccedilas precisam saber sobre esses meios

Assim a ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo citada pelo autor abrange muito aleacutem do conhecimento teacutecnico

no manuseio de um projetor de miacutedias (datashow) ou discernir se determinado site eacute confiaacutevel ou natildeo

O autor finaliza que a alfabetizaccedilatildeo digital em harmonia com os princiacutepios da literacia digital precede

de dois tipos de anaacutelises a anaacutelise sistemaacutetica da linguagem (gramaacutetica ou retoacuterica) da web como

meio (links projeto visual formas de saudaccedilatildeo etc) e a anaacutelise da produccedilatildeo dos interesses

comerciais e institucionais em jogo de como os textos da web satildeo produzidos e de como se

relacionam com outros meios

A integraccedilatildeo dos conhecimentos de uso das TDIC do professor com a praacutetica pedagaacutegocia

seria o ideal Se o professor no seu dia-dia usa o celular para suas atividades pessoais porque natildeo

usar algum aplicativo em atividades com os alunos Numa pesquisa realizada com um grupo de

professores com vista a analisar o que faziam com seus smartphones em suas praacuteticas e vivecircncias

cotidianas em Salvador na Bahia os pesquisadores concluiacuteram

A uacuteltima conclusatildeo que destacamos eacute que a vida on-line tambeacutem eacute um aprendizado constante das muitas e diferentes linguagens tecnoloacutegicas O tempo para esse aprendizado tambeacutem deve fazer parte da formaccedilatildeo dos professores Natildeo se trata apenas de desenvolver habilidades para usar os dispositivos moacuteveis para explorar seus recursos para se atualizar por meio dos aplicativos A cultura da mobilidade viabiliza velocidades muacuteltiplas da cesso produccedilatildeo e difusatildeo de saberes articuladas em diferentes aacutereas do conhecimento Ela pressupotildee organizaccedilotildees tambeacutem flexiacuteveis dos saberes em constantes transformaccedilotildees Eacute sobretudo nesse sentido que a cultura da mobilidade desafia tanto a formaccedilatildeo quanto a atuaccedilatildeo docente (Silva e Couto 2015)

Como ressaltam os autores natildeo se trata de apenas desenvolver habilidades e competecircncias

para explorar as tecnologias e seus recursos pois implica em numa imersatildeo na ldquocultura da

mobilidaderdquo desafio posto na formaccedilatildeo de professores

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

294

Do exposto sobre o uso das TDIC nas praacuteticas pedagoacutegicas professores cursistas da

graduaccedilatildeo em Fiacutesica EaD da UFT apreende-se nos depoimentos dos entrevistados um niacutevel elementar

de literacia digital em que as tecnologias satildeo percebidas como instrumentos para repositoacuterio (uso do

Moodle) exposiccedilatildeo de conteuacutedos (datashow) e compartilhamento de atividades (e-mail) A dispersatildeo

dos alunos foi citada por alguns participantes como entrave mais relevante quando os dispositivos

moacuteveis satildeo conjugados com atividades em sala de aula Portanto muitos optam por manter o controle

da sala proibindo o uso total dos dispositivos em suas aulas Observou-se tambeacutem que os professores

participantes da pesquisa usam pouco as TDIC para interagir com seus alunos em horaacuterios fora do

expediente das aulas situaccedilatildeo que vivenciam como alunos da graduaccedilatildeo on-line em que constatou-se

pouca ou nenhuma interaccedilatildeo entre professoraluno Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo continuam a

reproduzir a loacutegica da transmissatildeo de conteuacutedos mesmo utilizando as TDIC e torna-se um ciacuterculo

vicioso agrave medida que os professores saem destas formaccedilotildees reproduzindo esta mesma loacutegica com

seus alunos

Como jaacute referido este trabalho aponta a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

que contemple o histoacuterico pessoal dos mesmos com as tecnologias suas vivecircncias e contextos no

contato com o mundo virtual respeitando as diversidades e experiecircncias de cada aprendiz Neste

sentido apresentamos a seguir uma proposta de formaccedilatildeo que integra a motivaccedilatildeo do professor

aliada com sua preparaccedilatildeo e constante avaliaccedilatildeo criacutetica do trabalho com as TDIC junto aos alunos

55 Uma proposta para a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

A possibilidade de apresentar uma proposta de modelo de formaccedilatildeo de professores com

foco na literacia digital nos ocorreu com mais forccedila durante a vertente empiacuterica do trabalho apesar

de constituir um objetivo formulado ainda em projeto da tese No entanto durante a realizaccedilatildeo do

trabalho de campo ficou mais evidente a constataccedilatildeo do fator de peso que um curso de formaccedilatildeo

voltado para a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica representa na decisatildeo do professor em

inovar e experimentar estas tecnologias Assim a presente proposta ldquoFormaccedilatildeo Integrada Permanente

e Evolutiva para a Literacia Digitalrdquo(FIPELD) foi elaborada a partir dos pressupostos teoacutericos

apresentados no capiacutetulo terceiro desta tese em que foram apresentados estudos que comprovam a

necessidade de novas competecircncias e habilidades do professor face aos novos contextos midiaacuteticos

presentes na sociedade em rede Ressaltamos que a FIPELD natildeo se trata de um modelo restrito de

curso de formaccedilatildeo antes constitui uma concepccedilatildeo de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

295

Trata-se de uma proposta praacutetica que pode ser aplicada individualmente ou por grupos de professores

numa escola sem necessariamente que estes estejam ligados a um curso formal

Concordamos com Costa (2013 p 49) quando afirma que eacute ldquoinegaacutevel que estamos perante

de algo radicalmente diferente do que se passou com todas outras tecnologias que ao longo de mais

de um seacuteculo foram sendo trazidas para a escola e experimentadasrdquo O autor analisa que a priori as

tecnologias foram introduzidas na escola com um uacutenico objetivo eram destinadas ao professor e ao

ensino natildeo diretamente ao aluno A funccedilatildeo principal destas tecnologias era dar suporte ao professor

na sua missatildeo de transmitirtransferir conteuacutedos escolares aos alunos O autor explica que eacute neste

aspecto que as TDIC satildeo singulares e diferentes das tecnologias analoacutegicas

Elas natildeo satildeo ferramentas destinadas principalmente aos professores mas sim ferramentas do aluno natildeo satildeo ferramentas para apoiar a transmissatildeo do conhecimento mas sim ferramentas que permitem e implicam a participaccedilatildeo ativa por cada um na construccedilatildeo do seu proacuteprio conhecimento (idem p 50)

Portanto diferente do quadro-negro que reproduz de forma estaacutetica os conteuacutedos ou

mesmo do aparelho retroprojetor (com uso de transparecircncias) e do mais recente datashow que

desempenham o papel de dar suporte para o professor transmitir o conteuacutedo as TDIC possuem

ferramentas e aplicativos dinacircmicos interativos e colaborativos voltados para a construccedilatildeo ativa do

conhecimento do aluno No tratamento dos dados da pesquisa com os participantes do curso de Fiacutesica

em EaD da UFT sobretudo nos trechos das entrevistas nota-se que os cursistas (professores)

percebem as tecnologias como meros meios para ldquopostarrdquo determinado conteuacutedo ou fazer pesquisas

Os participantes relatam

Na nossa escola fizemos isso tentamos fazer dois meses isso tentar fazer aulas on-lineteve um professor que criou uma espeacutecie de moodle dentro da escola e cada um postava um tipo de conteuacutedo e pedia para realizar as atividades e ai natildeo deu certo (E1) Eu valorizo na minha aula eu valorizo muito a presenccedila da tecnologia Dai o que eu faccedilo eu mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possa acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala (E2)

A percepccedilatildeo das TDIC apenas como ferramentas de pesquisa ou depoacutesito de material

subestima o potencial destas no tocante agraves infinitas possibilidades de aprendizagens que as redes

proporcionam agravequeles que aleacutem do acesso a informaccedilotildees possuem a capacidade de filtrar

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

296

selecionar verificar a veracidade e procedecircncia fazer anaacutelise criacutetica relacionar com outros dados e

produzir novos conhecimentos Sobre este aspecto Fernando Costa acrescenta

Ferramentas em que natildeo eacute a posse do saber que conta mdash um saber geralmente inerte acumulado nos manuais mdash mas a capacidade de acesso que cada um pode ter a conhecimento autecircntico rico e uacutetil e a capacidade para avaliar e selecionar a informaccedilatildeo disponiacutevel em funccedilatildeo de criteacuterios de qualidade e de pertinecircncia relativamente ao que num determinado momento se estaacute a explorar e a aprender (idem p50)

Assim partindo deste princiacutepio de que hoje a presenccedila das TDIC nas escolas em especial

as tecnologias moacuteveis (smartphone tablet notebooks e outros) na matildeo dos alunos configurou uma

mudanccedila radical na funccedilatildeo que as tecnologias exerciam ateacute entatildeo no contexto escolar

compreendemos que a formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital deve ser direcionada a formar

docentes capazes de trabalhar com as tecnologias junto a seus alunos preparando-os para as

mudanccedilas que o mercado profissional vivencia no cenaacuterio da sociedade em rede Entretanto o foco da

formaccedilatildeo natildeo seraacute a parte instrumental da tecnologia mas a compreensatildeo de como esta pode

potencializar a construccedilatildeo do conhecimento dos alunos

Considerando o cenaacuterio de tecnologias ubiacutequas moacuteveis interativas e convergentes a

aprendizagem pode ocorrer em qualquer dispositivo espaccedilo e tempo Neste sentido a formaccedilatildeo

docente para a literacia digital natildeo precisa advir necessariamente em um curso de formaccedilatildeo com

carga horaacuteria definida e tempo preacute-estabelecido A concepccedilatildeo da FIPELD parte da premissa de que o

professor deve tomar partido das TDIC para sua autoformaccedilatildeo mas com foco na aplicaccedilatildeo destas na

sua praacutetica pedagoacutegica junto a seus alunos Esta formaccedilatildeo eacute integrada no sentido de que o professor

precisa estar envolvido no processo O termo ldquointegradordquo vem do latim integratu que segundo

dicionaacuterio da liacutengua portuguesa75 significa assimilado adaptado metido dentro Outra definiccedilatildeo eacute fazer

parte de alguma coisa ou grupo76 Portanto a formaccedilatildeo docente integrada parte da premissa inicial que

o professor estaacute envolvido interessado no processo e buscando a adaptaccedilatildeo necessaacuteria para a

apropriaccedilatildeo das TDIC na vida cotidiana e profissional

Neste sentido a FIPELD propotildee que uma formaccedilatildeo integrada para a literacia digital a partir da

escola em que o docente leciona numa concepccedilatildeo de envolvimento e comprometimento deste no

75 Disponiacutevel em httpmichaelisuolcombrmodernoportugues Acesso em 15 abril de 2016 76 Disponiacutevel em httpwwwdicionarioinformalcombrintegrada Acesso em 15 de abril de 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

297

processo formativo Tambeacutem deve ser integrada no sentido do compartilhamento das experiecircncias com

os pares Sobre este aspecto Costa Rodrigues Cruz e Fradatildeo (2012 p 96) analisam

Embora o conhecimento sobre as tecnologias disponiacuteveis seja uma condiccedilatildeo essencial para que os professores possam compreender o seu potencial para o ensino e para a aprendizagem eacute necessaacuterio criar oportunidades para que experimentem tal potencial em situaccedilotildees concretas de aulas Eacute portanto fundamental apostar em tipos de formaccedilatildeo assentes na colaboraccedilatildeo entre pares e em problemas da realidade profissional que possibilitem aos professores refletirem questionarem aprenderem partilharem e desenvolverem novos meacutetodos de ensino com as tecnologias digitais

De tal modo a formaccedilatildeo ideal confome aponta Boavida (2009) seria a disponibilizada no

espaccedilo de trabalho dos docentes ou seja na escola dentro do exercicio laboral do professor num

tempo destinado agrave formaccedilatildeo contiacutenua A autora acrescenta que esta formaccedilatildeo docente ldquodevia estar

orientada para a aacuterea especiacutefica recorrendo agraves Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo cruzando o

presencial com a componente on-line facilitando ao professor a organizaccedilatildeo e gestatildeo do seu plano de

formaccedilatildeordquo (idem p107) Esta formaccedilatildeo eacute integrada tambeacutem no sentido de que precisa ser

incorporada na carga horaacuteria dos professores fora do momento do planejamento O professor tem o

momento para planejar mas quase nunca tem tempo para refletir sobre os resultados do seu

planejamento ou discutir com um colega sobre uma metodologia ou recurso didaacutetico que utilizou E

quando se trata do uso de tecnologias integradas agraves praacuteticas pedagoacutegicas as formaccedilotildees ocorrem

pontualmente em laboratoacuterios de informaacutetica focadas em questotildees instrumentais da tecnologia e

dificilmente da sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica (Almeida e Valente 2011)

Contudo considerando que a aprendizagem do aluno natildeo ocorre apenas nos espaccedilos

escolares tendo em vista o acesso ao conhecimento que as tecnologias propiciam a formaccedilatildeo do

professor para a literacia digital tambeacutem deve ser ubiacutequa e ocorrer em diferentes espaccedilos e situaccedilotildees

fora dos muros da escola Portanto esta deve ser uma aprendizagem permanente ao longo da vida

Assim a FIPELD propotildee uma formaccedilatildeo permanente ou contiacutenua Isso significa que esta deve ter um

periacuteodo para comeccedilar quando o professor adentrou num curso de normalistas ou ingressou numa

licenciatura mas natildeo tem periacuteodo para concluir ela deve ser ao longo da vida A formaccedilatildeo permanente

para a literacia digital implica que sendo as tecnologias voluacuteveis e instaacuteveis podendo ficar obsoletas

em espaccedilo curto de tempo o professor precisa acompanhar dentro de suas possibilidades os recursos

que a tecnologia disponibiliza e suas aplicaccedilotildees pedagoacutegicas Neste sentido Almeida e Valente (2011

p 50) afirmam

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

298

A formaccedilatildeo do professor portanto envolve muito mais do que provecirc-lo com conhecimento teacutecnico sobre as TDIC Ela deve criar condiccedilotildees para o professor construir conhecimentos sobre os aspectos computacionais compreender as perspectivas educacionais subjacentes aos softwares em uso isso eacute as noccedilotildees de ensino aprendizagem e conhecimentos impliacutecitas no software e entender porque e como integrar o computador com o curriacuteculo e como concretizar esse processo na sua praacutetica pedagoacutegica

Almeida e Valente (idem p 49) acrescentam que o professor preparado para a era digital

pode ainda ldquoidentificar quais os conceitos trabalhados de modo equivocado questionar os alunos

provocar-lhes a compreensatildeo dos proacuteprios erros e orientaacute-los no sentido de uma adequada

reconstruccedilatildeordquo Trata-se assim de uma formaccedilatildeo constante orientada e reorientada a partir das

experiecircncias vivenciadas A formaccedilatildeo permanente natildeo eacute limitada a nuacutemeros de certificados de cursos e

eventos que o professor participou nem com as progressotildees que ele fez na carreira mas trata-se de

um contiacutenuo ciclo de busca pelo aperfeiccediloamento nas praacuteticas de literacia digital

A formaccedilatildeo docente para a literacia digital deve ser evolutiva A FIPELD sugere que os

professores compreendam que as TDIC natildeo satildeo apenas ferramentas para se chegar a um meio mas

ldquoprocessos a serem desenvolvidosrdquo (Castells 1999 p 51) Quando se fala em evoluccedilatildeo pensa-se em

processo Portanto a formaccedilatildeo para a literacia digital deve ser evolutiva e processual tendo em vista

que o processo de apropriaccedilatildeo das tecnologias pelos professores eacute gradual sujeita a diferentes

variaacuteveis e requer tempo para ser assimilado nas praacuteticas docentesSobre esse aspecto Almeida e

Valente (2011) citam o Projeto Aple Classrrom of Tomorrow (ACOT) desenvolvido entre 1985 a 1995

cuja meta era o uso massivo de computadores em algumas salas de aulas dos EUA A questatildeo do

tempo foi um destaque nesse projeto os autores explicam

Os professores solicitavam tempo para estudar tempo para desenvolver projetos tempo para repensar sua praacutetica e tempo para explorar os recursos do computador O processo de apropriaccedilatildeo da tecnologia e sua integraccedilatildeo nas atividades curriculares demandam tempo e acontecem de modo gradativo como foi constatado no projeto ACOT (idem pp 43-44)

Deste modo a evoluccedilatildeo aconteceu por fases e exigiu tempo para que os professores se

apropriassem das tecnologias e as incorporassem na sua praacutetica didaacutetica Um estudo publicado sobre

os resultados do projeto ACOT identificou cinco estaacutegios da apropriaccedilatildeo do professor exposto agraves

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no cotidiano da escola

1 Exposiccedilatildeo Professores que tinham pouca ou nenhuma experiecircncia com computadores passaram cinco semanas do projeto em contato direto com as maacutequinas instalando e conhecendo os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis Neste

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

299

periacuteodo lidaram com o medo e a frustraccedilatildeo resultante dos erros cometidos nessa primeira fase

2 Adoccedilatildeo Professores passaram a utilizar o computador para apoiar a instruccedilatildeo de exerciacutecio de repeticcedilatildeo e praacutetica ndash uma modalidade de instruccedilatildeo programada

3 Adaptaccedilatildeo Expostos mais tempo aos computadores os professores comeccedilam a integrar o computador em atividades tradicionais como ediccedilatildeo de textos pesquisa planilhas de caacutelculo e recursos de comunicaccedilatildeo Os professores observam que com a ajuda do recurso do computador os alunos produzem mais e num ritmo mais acelerado

4 Apropriaccedilatildeo Observando mudanccedilas no comportamento dos alunos os professores comeccedilam mudar sua atitude em relaccedilatildeo as tecnologias e utilizam o computador em projetos interdisciplinares e colaborativos Este foi considerado o marco da pesquisa porque a praacutetica dos professores refletia mudanccedilas evidentes na sua atitude pessoal em relaccedilatildeo ao computador e demais tecnologias

5 Inovaccedilatildeo Professores passam a experimentar novos padrotildees de uso das tecnologias em diversos contextos modificando a relaccedilatildeo com seus alunos e outros professoresNesta fase satildeo capazes de adequar o potencial de cada recurso tecnoloacutegico para aplicaccedilatildeo em atividades didaacuteticas com seus alunos (Sandholtz Ringstaff e Dwyer 1997)

Portanto a evoluccedilatildeo das fases natildeo depende apenas de habilidades teacutecnicas ou

instrumentais com a tecnologia mas da atitude do professor e seu envolvimento no processo

Considerando todos estes aspectos o quadro 18 apresenta as caracteriacutesticas objetivos e resultados da

FIPELD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

300

Quadro 11 - Caracteriacutesticas do modelo FIPELD (Fonte elaborado pela autora a partir de Costa etal (2012)

Formaccedilatildeo Caracteriacutesticas Objetivos Resultados Integrada - Inicia na escola com apoio

institucional - Estudo da teoria com observaccedilatildeo da realidade - Base experimental em contextos de aprendizagem significativos - Troca de experiecircncias com os pares

- Incentivar o educador a refletir na sua proacutepria praacutetica inovadora considerando o potencial das TDIC em situaccedilotildees de aprendizagem e circunstacircncias concretas - Criar a cultura do trabalho colaborativo entre os professores - promover a apropriaccedilatildeo dos professores agraves TDIC

-Ganho de experiecircncia e habilidades teacutecnicas no manejo das TDIC - Iniacutecio do uso das TDIC no contexto educativo de forma instrumental - Criaccedilatildeo de comunidades de praacuteticas em que os professores podem trocar experiecircncias com seus pares

Permanente - Natildeo depende de certificaccedilatildeo - Pode ser feita em qualquer espaccedilo e tempo com uso de diversos tipos de tecnologias - Aberta a descobertas e experimentaccedilotildees - Segue uma rota individual de acordo com interesses e experiecircncias

- Motivar os educadores a buscarem aperfeiccediloar continuamente seus conhecimentos em prol de equacionar estrateacutegias de uso das TDIC com seus alunos - Levar os educadores a compreender que as TDIC natildeo satildeo meras ferramentas de transmissatildeo de conhecimento mas estrateacutegias que podem potencializar a aprendizagem dos alunos

- Avanccedilo do educador do niacutevel de uso instrumental das TDIC para o uso pedagoacutegico com os alunos na sala de aula e fora dela - Compreensatildeo de que o uso das TDIC vai aleacutem do objetivo de transferir conhecimentos e de que o aluno natildeo eacute mero consumidor passivo - Ganho de autonomia disciplina e senso criacutetico no manejo das TDIC

Evolutiva - processual e gradual - simultacircnea a outras aprendizagens - Acumula aprendizados que servem de base para novos saberes

- Atualizar o educador dos recursos mais recentes e suas aplicaccedilotildees pedagoacutegicas - Manter o educador motivado a acompanhar as evoluccedilotildees tecnoloacutegicas das quais seus alunos satildeo usuaacuterios

- Avanccedilo do educador para o niacutevel de uso das TDIC com vistas a inovar sua praacutetica pedagoacutegica - Competecircncias para acessar selecionar avaliar produzir e compartilhar conhecimento na rede ajudando seus alunos a fazerem o mesmo

Ateacute chegar a condiccedilatildeo plena de literacia digital o professor haacute de percorrer um longo caminho

Antes de aproximar-se do niacutevel de ser capaz de trabalhar com tecnologias junto aos alunos o professor

deveraacute aprender sobre tecnologia (Jonassen 1996) ldquoAprender com tecnologiasrdquo na perspectiva de

Jonassen compreende encarar as TDIC como ferramentas cognitivas em que o estudante toma partido

efetivo do seu potencial usando-as para ampliar seu conhecimento Neste caso a partiacutecula ldquocomrdquo

indica parceria ou seja o estudante natildeo eacute controlado pela tecnologia antes assume o domiacutenio desta

para atender a seus objetivos de aprendizagem

Por outro lado Costa (2013 p 58) explica que ldquoaprender sobre tecnologiardquo significa tomaacute-la

como objeto de estudo ldquoa ideia central desta perspectiva eacute a de que as tecnologias digitais constituem

em si mesmas um corpo de conhecimento indispensaacutevel para que o aluno possa inserir com sucesso

na sociedade digitalrdquo Neste sentido a formaccedilatildeo docente para a literacia digital precede de

conhecimento teacutecnico das TDIC Conhecer com clareza as ferramentas e aplicaccedilotildees das TDIC que iraacute

utilizar com seus alunos eacute imprescindiacutevel para o sucesso da experiecircncia No entanto o motor de

igniccedilatildeo para dar partida a esta situaccedilatildeo se chama motivaccedilatildeo

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

301

A decisatildeo de usar ou natildeo tecnologias digitais com seus alunos eacute pessoal Embora existam

recomendaccedilotildees sobre uso de programas softwares e aplicativos educativos cabe ao professor decidir

se vai tirar proveito do potencial pedagoacutegico das tecnologias De acordo com Costa et al (2012)

embora existam muacuteltiplos fatores envolvidos na concepccedilatildeo de condiccedilotildees necessaacuterias ao uso das TDIC

a decisatildeo individual de cada educador constitui o fator mais determinante neste processo No caso dos

professores cursistas da licenciatura EaD em Fiacutesica na UFT os graacuteficos apresentados no capiacutetulo 5

sinalizaram que embora faccedilam amplo uso das tecnologias na sua vida cotidiana e nas suas atividades

docentes este uso eacute bastante restrito Nas entrevistas com os participantes sondou-se que os

participantes satildeo favoraacuteveis aos processos de educaccedilatildeo mediada por tecnologia voltada para pessoas

adultas e focadas mas percebe-se um descreacutedito nesta modalidade para jovens imaturos Sobre o

perfil destes jovens os entrevistados E1 e E6 comentaram

Ai o aluno do 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento da uma direccedilatildeo (E1) Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso (E6)

Este descreacutedito na modalidade voltada para jovens potildee cabo ao desejo do professor de

procurar conhecer novas possibilidades de aplicaccedilatildeo das tecnologias com seus alunos

Neste sentido a proposta FIPELD propotildee a fusatildeo da face motivacional tecnoloacutegica e

pedagoacutegica com ecircnfase na apropriaccedilatildeo do professor nestas facetas de uma forma contiacutenua e gradual

O processo ciacuteclico inicia-se com uma chama que acenda o desejo do professor para tirar partido das

TDIC A figura 13 apresenta o ciclo do modelo FIPELD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

302

Figura 6 - Ciclo holiacutestico da FIPELD (Fonte elaborado pela autora a partir de Costa et al (2012)

Assim a decisatildeo de cada professor de integrar as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas passa

pelo reconhecimento da importacircncia destas na aprendizagem e uma expectativa positiva diante dos

possiacuteveis impactos que as TDIC podem ter no rendimento escolar dos alunos A motivaccedilatildeo portanto eacute

o primeiro passo para que o professor se mostre disposto a conhecer as potencialidades das TDIC e se

apropriem delas na sua praacutetica pedagoacutegica

Segundo Borges (2009) que realizou um investigaccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo tecnoloacutegica por

gestores educacionais o aspecto emocional eacute muito importante para o professor em processo de

formaccedilatildeo para a literacia avanccedilar nas graduais fases a serem vencidas ldquose o lado emocional estaacute bem

cuidado o professor se engaja em um processo de apropriaccedilatildeo que passa por diferentes fases

evoluindo uma espiral ascendente e com possibilidade de atingir os estaacutegios de transformaccedilatildeo

pedagoacutegicardquo Borges na conclusatildeo do estudo escreveu sobre os desafios da formaccedilatildeo de

professores com vistas agrave apropriaccedilatildeo das tecnologias nas praacuteticas pedagoacutegicas dos mesmos

Um desses desafios seria o planejamento de cursos de formaccedilatildeo de professores com momentos presenciais e a distacircncia cujo design educacional e desenvolvimento contemplassem accedilotildees que levassem o cursista a se apropriar das tecnologias digitais Outro seria incluir nos cursos de formaccedilatildeo de educadores o desvelamento do processo de Apropriaccedilatildeo das tecnologias digitais pelo sujeito permitindo ao cursista ser coautor do seu proacuteprio processo e compreendecirc-lo

Fase 3 Accedilatildeo

Fase 4 Avaliaccedilatildeo

Fase 5 Reaccedilatildeo

Fase 1 Motivaccedilatildeo

Fase 2 Preparaccedilatildeo

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

303

enquanto um processo subjetivo relacional complexo e em espiral (Borges 2009 p 253)

No entanto Costa et al (2012) ressaltam que apenas a motivaccedilatildeo do professor natildeo eacute o

bastante para que estes possam integrar as TDIC no contexto escolar Os autores explicam

Esta atitude favoraacutevel soacute faz sentido no entanto se cada professor estiver na posse do conhecimento sobre o que pode ser feito com as tecnologias disponiacuteveis para depois articulaacute-las com os objetivos curriculares Digamos que natildeo basta reconhecer a importacircncia das tecnologias e estar motivado para a sua utilizaccedilatildeo mas que eacute imprescindiacutevel ter algum conhecimento tecnoloacutegico sem o qual seraacute difiacutecil uma tomada de decisatildeo fundamentada e esclarecida Tratar-se-ia neste caso de procurar saber que tecnologias existem o que permitem fazer qual o seu grau de dificuldade em termos de aprendizagem que requisitos teacutecnicos satildeo necessaacuterios para poderem ser utilizadas pelos alunos para referirmos apenas alguns dos aspetos essenciais ao seu uso efetivo (idem p24)

Logo uma formaccedilatildeo eficaz deve partir do que o professor conhece das tecnologias

disponiacuteveis e da decisatildeo do que eacute possiacutevel se fazer com elas na sala de aula com os alunos Como se

destacou na citaccedilatildeo acima ldquoter algum conhecimento tecnoloacutegicordquo eacute imprescindiacutevel Na pesquisa em

questatildeo deste trabalho constatou-se que os professores participantes embora manifestem a intenccedilatildeo

de trabalhar com os alunos usando as tecnologias esbarram na questatildeo da falta de preparo e

desconhecimento das tecnologias o que resulta na dispersatildeo e falta de controle sobre os alunos

Conforme jaacute relatado um dos participantes chegou a dizer que se sentia ldquorefeacutenrdquo dos alunos quando os

mesmos comeccedilavam a navegar nos sites

Costa (2013) aponta o desconhecimento do potencial das TDIC da parte dos docentes como um

dos fatores que levam estes a natildeo tirarem partido do potencial pedagoacutegico didaacutetico das tecnologias

Outro fator apontado pelo autor eacute o despreparo dos docentes que em geral tiveram uma ldquopreparaccedilatildeo

de cariz predominantemente teacutecnico com claro prejuiacutezo para uma preparaccedilatildeo metodoloacutegica assente na

reflexatildeo sobre os benefiacutecios e sobre os modos adequados de utilizaccedilatildeo das TIC no curriacuteculordquo (idem

p48) Neste sentido a segunda fase da proposta FIPELD trata-se da preparaccedilatildeo

A fase da preparaccedilatildeo eacute subdividida em duas etapas o conhecimento teacutecnico e a aplicaccedilatildeo

pedagoacutegica das TDIC Costa et al (2012) argumentam que o conhecimento de como funcionam

tecnicamente as TDIC eacute indispensaacutevel para que o professor adquira confianccedila para utiliza-las com seus

alunos No entanto vencida essa barreira teacutecnica o autor explica que o desafio seguinte do professor eacute

perceber o potencial pedagoacutegico das TDIC no seu contexto escolar Os autores ponderam

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

304

Mas antes mesmo de pensarmos como proceder do ponto de vista metodoloacutegico para as integrar no processo de ensino-aprendizagem haacute um conjunto de questotildees a colocar De entre essas questotildees eacute crucial perguntar-mo-nos para quecirc utilizar determinada ferramenta e em que aacutereas concretas do curriacuteculo poderaacute fazer sentido utilizaacute-la ou seja para que tipo de objetivos e para que aprendizagens especiacuteficas Por outro lado temos de ponderar as implicaccedilotildees de as usar quer em termos de recursos necessaacuterios quer em termos do valor que seraacute ou natildeo acrescentado relativamente aos objetivos e agraves estrateacutegias de aprendizagem habitualmente utilizados (idem p 25)

Na praacutetica seria a ponderaccedilatildeo do professor sobre a viabilidade de recorrer a uma

determinada ferramenta tecnoloacutegica em termos de eficaacutecia e eficiecircncia Portanto o professor ao fazer

este planejamento deve equacionar o que eacute possiacutevel fazer sem as TDIC e o que estas podem

proporcionar em termos de atingir os objetivos de aprendizagem Costa et al (idem p 27) comentam

sobre esta fase ldquoo primeiro passo seraacute proceder ao elenco do que uma determinada tecnologia

permite fazer relacionando-a com as partes do programa disciplinar em que poderaacute ser utilizada antes

mesmo de comeccedilar a pensar em estrateacutegias de aprendizagemrdquo Assim a preparaccedilatildeo requer que o

professor experimente de antematildeo a ferramenta ou aplicativo que almeja usar leia relatos de

experiecircncias eou estudos de outros educadores que fizeram uso e troque ideias com os pares sobre o

que se pretende fazer Este procedimento segundo Costa (2013) permite ao professor construir suas

hipoacuteteses de trabalho coerentes com os objetivos de aprendizagem e tomar uma decisatildeo esclarecida e

acertada sobre a escolha das TDIC que vai ou natildeo usar

A terceira fase da proposta FIPELD compreende a accedilatildeo o momento em que o professor iraacute por

em praacutetica o plano de accedilatildeo do uso das TDIC alinhado aos objetivos de aprendizagem Nesta fase as

ideias projetadas satildeo executadas e postas agrave prova ficando sujeitas a imprevistos dificuldades e

gargalos Esta fase exige cuidadoso registro do professor sobre o desenvolvimento das atividades

Anotando os incidentes criacuteticos as duacutevidas levantadas pelos estudantes em relaccedilatildeo agrave ferramenta

utilizada e ainda registrando suas proacuteprias dificuldades com relaccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo da atividade Estes

registros vatildeo ser importantes para o professor posteriormente refletir sobre a experiecircncia e

compartilhar com seus pares e formadores os resultados obtidos

A fase da avaliaccedilatildeo constitui o momento em que o professor decorrida a aplicaccedilatildeo da

atividade retoma seus registros faz uma avaliaccedilatildeo pessoal franca sobre os pontos fortes e fracos

obtidos na accedilatildeo e compartilha com os colegas e formadores estas informaccedilotildees Costa et al (2012 p

99) denominam essa fase de interaccedilatildeo na qual ldquoespera-se precisamente que o professor interaja e

discuta com o formador ou com os colegas sobre o processo e os resultados de forma a partilhar o

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

305

que foi feito e assim poder receber achegas sobre como resolver problemas e superar obstaacuteculosrdquo

Para Noacutevoa (2012) eacute na escola que o professor defronta casos reais em que pode refletir e reconstruir

suas praacuteticas pedagoacutegicas O autor apresenta como desafio para a educaccedilatildeo no futuro a formaccedilatildeo de

professores mais centrada nas praacuteticas e nas suas anaacutelises

A formaccedilatildeo do professor eacute por vezes excessivamente teoacuterica outras vezes excessivamente metodoloacutegica mas haacute um deacuteficit de praacuteticas de refletir sobre as praacuteticas de trabalhar sobre as praacuteticas de saber como fazer Eacute desesperante ver certos professores que tecircm genuinamente uma enorme vontade de fazer de outro modo e natildeo sabem como Tecircm o corpo e a cabeccedila cheios de teoria de livros de teses de autores mas natildeo sabem como aquilo tudo se transforma em praacutetica como aquilo tudo se organiza numa praacutetica coerente (Noacutevoa 2007 p 14)

Antoacutenio Noacutevoa critica o excesso de discursos sobre a necessidade de o professor ser

reflexivo e cita um episoacutedio ocorrido com o educador John Dewey que ao terminar uma palestra nos

anos de 1930 foi abordado por um professor que afirmava ser professor havia 10 anos e que tinha

muita experiecircncia naquele assunto Dewey o questionou ldquotem mesmo dez anos de experiecircncia

profissional ou apenas um ano de experiecircncia repetida dez vezesrdquo Noacutevoa ao trazer agrave tona esse

ocorrido conclui que ldquonatildeo eacute a praacutetica que eacute formadora mas sim a reflexatildeo sobre a praacuteticardquo( 2007 p

16) Para o autor a formaccedilatildeo de professores continua prisioneira de modelos teoacutericos formais e

tradicionais que datildeo pouca importacircncia a praacutetica e reflexatildeo do professor Neste sentido Noacutevoa propotildee

a criaccedilatildeo de redes colaborativas de trabalho que promova troca de experiecircncias entre os professores

que permita a troca de experiecircncias e a partilha de saberes Assim as ldquocomunidades de praacuteticardquo

constituem locus privilegiado para uma formaccedilatildeo muacutetua inter-pares em que as trocas de experiecircncias e

histoacuterias (no sentido de situaccedilotildees narradas teorizadas) adaptadas agraves tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo produzem uma transformaccedilatildeo natildeo apenas na escola mas na matriz pedagoacutegica e

curricular

A ultima etapa do ciclo da FIPELD foi denominada de reaccedilatildeo pois esta se relaciona agrave

tomada de decisatildeo que o professor diante do feedback da etapa anterior teraacute que adotar diante das

constataccedilotildees que a experiecircncia proporcionou Ao fazer esta anaacutelise do percurso sobre como as

atividades decorreram o que foi bem sucedido e o que houve de gargalo o professor vai refletir sobre

os ganhos e perdas que o uso das TDIC proporcionou na atividade com os alunos A cada ciclo de accedilatildeo

com a docecircncia integrada agraves TDIC o professor ganha experiecircncia confianccedila e autonomia para

continuar evoluindo seus niacuteveis de literacia digital e por conseguinte orientar os alunos nesta mesma

direccedilatildeo Costa et al (2012) explicam que ao fazer esta reflexatildeo sobre como as atividades decorreram

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

306

o professor estaraacute apto para em atividades futuras antecipar as dificuldades distribuir melhor o

tempo organizar os espaccedilos (virtuais ou fiacutesicos) e por fim teraacute condiccedilotildees de ponderar se o uso das

TDIC implicou em mudanccedilas concretas na sua praacutetica

Do exposto compreendemos que a formaccedilatildeo de professores para a literacia digital constitui

um processo integrado permanente e evolutivo que necessita de respaldo institucional (poliacuteticas

puacuteblicas efetivas de formaccedilatildeo) tempo dentro da carga horaacuteria para reflexatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas

com suporte das tecnologias esforccedilo coletivo dos professores em compartilhar experiecircncias e a

compreensatildeo de que o processo eacute demorado e complexo e que os niacuteveis de avanccedilos satildeo individuais

No capiacutetulo das consideraccedilotildees finais deste trabalho retomaremos a proposta FIPELDem contraponto

com os resultados da pesquisa no intuito de fazer apontamentos que contribuam para a formaccedilatildeo de

professores para a literacia digital

Consideraccedilotildees finais

Consideraccedilotildees finais

309

Na introduccedilatildeo desta tese citamos Paulo Freire (1992 p 70) que refletiu ldquoPartir significa pocircr-

se a caminho ir-se deslocar-se de um ponto a outro e natildeo ficarrdquo Quando propusemos esta

investigaccedilatildeo estaacutevamos iniciando uma jornada ao desconhecido embora muitas hipoacuteteses povoassem

nosso imaginaacuterio Partimos como fez o canoeiro do conto A terceira margem do rio de Joatildeo Guimaratildees

Rosa (1968) que seguiu o curso do rio a sua terceira margem O canoeiro foge da sua vida mediacuteocre

e sem sentido em busca de respostas de ordem existencial que natildeo foram respondidas na sua vida

apagada e insossa Na terceira margem o curso do rio o canoeiro segue buscando respostas para

suas questotildees Na procura de respostas agraves suas inquietaccedilotildees o homem passa anos no curso do rio

meditando e refletindo no sentido da vida e sua existecircncia

Assim a jornada do doutoramento agraves vezes solitaacuteria como a do canoeiro constituiu uma

viagem para encontrarmos respostas a inquietaccedilotildees resultantes das nossas experiecircncias vividas

Partimos nos pusemos a caminho deslocamo-nos de um ponto da nossa jornada e chegamos agrave outra

margem Assim como o rio nunca eacute o mesmo estaacute sempre em correnteza natildeo chegamos no fim da

jornada iguais ao que eacuteramos na partida Obtivemos respostas a algumas questotildees e outras foram

levantadas inquietaccedilotildees foram resolvidas e surgiram outras no caminho Chegamos ao fim da jornada

com novas perspectivas sobre a realidade observada conscientes de que esta tambeacutem estaacute em

constante movimento como o ldquomundo liacutequidordquo que vivemos (Bauman 2001) As consideraccedilotildees finais

desta tese natildeo satildeo assim conclusotildees nem mesmo verdades encontradas mas um apanhado das

teorias estudadas das evidecircncias encontradas e caminhos percorridos Portanto retomamos aos

objetivos que esta pesquisa se propocircs cumprir de modo a verificarmos se estes foram contemplados

no decorrer da pesquisa

O objetivo geral da pesquisa constituia em investigar as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de

formaccedilatildeo a distacircncia para professores da rede puacuteblica pode causar na literacia digital e inclusatildeo

sociodigital dos participantes no que diz respeito agraves suas respectivas praacuteticas sociais cotidianas e

pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste sentido foram propostos

quatro objetivos especiacuteficos no intuiacuteto de cumprir o objetivo geral

bull Compreender o conceito de literacia digital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em

rede e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos

processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

Consideraccedilotildees finais

310

bull Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma

formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as

tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

bull Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na

sua atuaccedilatildeo docente

bull Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a

integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

1 Discussatildeo teoacuterica sobre sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital

O primeiro objetivo foi atingido na discussatildeo teoacuterica apresentadas nos capiacutetulos 1 2 e 3 deste

trabalho a descriccedilatildeo do cenaacuterio do mundo contemporacircneo conectado em redes em que as tecnologias

estatildeo cada vez mais presentes na escola o estudo bibliograacutefico sobre conceitos inclusatildeoexclusatildeo

sociodigital e de literacia digital contribuiacuteram para a compreensatildeo de que mudanccedilas ocorreram e estatildeo

a ocorrer no mundo com impacto nos processos educativos

Apoacutes exaustivo estudo da literatura especializada organizamos a redaccedilatildeo do referencial teoacuterico

da tese em trecircs macros temas a sociedade em rede exclusatildeo sociodigital e literacia digital No

capiacutetulo 1 intitulado O mundo conectado em redes (o estar dentro) foi apresentado o cenaacuterio da

Sociedade em Rede e os processos civilizatoacuterios de meios de comunicaccedilatildeo que desencadearam a

expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo com destaque no campo educacional Usando a metaacutefora da

rede o texto abordou as implicacircncias de estar ldquodentro da rederdquo numa sociedade de consumo elitista

em que a informaccedilatildeo tornou-se moeda de valor O capiacutetulo caracterizou o perfil comportamental e

cognitivo do jovem portador das tecnologias moacuteveis no seacuteculo XXI e os desafios propostos aos

professores ainda iniciantes na era digital

No capiacutetulo 2 tratamos de outra face da moeda O mundo estaacute todo conectado (Do lado de

fora ou dentro na margem) Este capiacutetulo apresentou um quadro teoacuterico conceitual sobre

inclusatildeoexclusatildeo digital com o objetivo de compreender os diferentes niacuteveis em que o individuo pode

se encontrar na rede na margem ou fora dela O texto aprofundou a discussatildeo sobre os reflexos que a

marginalizaccedilatildeo digital sobrepotildee nos processos educativos com foco nas praacuteticas pedagoacutegicas dos

professores Literacia Digital na formaccedilatildeo de professores (a possibilidade da entrada) foi o tema do

Consideraccedilotildees finais

311

capitulo 3 Seguindo a metaacutefora da rede e possibilidade de inserccedilatildeo do professor nesta o capiacutetulo

apresentou a formaccedilatildeo de professor com foco na literacia digital como uma proposta viaacutevel de inserccedilatildeo

do mesmo na sociedade em rede Neste capiacutetulo apresentou-se ainda o conceito de literacia digital

com base em teoacutericos contemporacircneos sua entrada na agenda poliacutetica e o campo de tensatildeo existente

nas escolas diante da inserccedilatildeo cada vez mais proeminente de tecnologias sobretudo portaacuteteis e

moacuteveis

Em siacutentese a discussatildeo teoacuterica apresentada nos trecircs primeiros capiacutetulos da tese descreveu o

cenaacuterio expocircs a problemaacutetica e apresentou a porta de saiacuteda Assim consideramos que o primeiro

objetivo deste trabalho foi atingido com a revisatildeo de literatura efetuada Posta a problemaacutetica e os

esclarecimentos sobre os pressupostos teoacutericos da pesquisa partimos a campo em prol de buscar

respostas agraves questotildees levantadas O uso de tecnologias nas situaccedilotildees pedagoacutegicas do curso de

licenciatura on-line em Fiacutesica da UFT promoveu a literacia digital do professor cursista inserindo-o na

sociedade em rede Quais os impactos socioeconocircmicos cognitivos e teacutecnicos da introduccedilatildeo de

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas nas condiccedilotildees de vida dos cursitas Que possiacuteveis mudanccedilas uma formaccedilatildeo a

distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas suas praacuteticas

docentes

2 Levantamento do perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos professores cursistas

O segundo objetivo da pesquisa era a realizaccedilatildeo de sondagem sobre o perfil dos

socioeconocircmico social e acadecircmico dos cursistas com vista a compreender o contexto em que estes

se inserem Na apresentaccedilatildeo dos resultados expomos detalhadamente o perfil dos participantes da

pesquisa bem como suas percepccedilotildees sobre as tecnologias no seu dia-dia e nas praacuteticas pedagoacutegicas

de acordo com os objetivos propostos Aqui procedemos ao apontamento de algumas questotildees que

consideramos mais relevantes em relaccedilatildeo ao perfil dos participantes Estes apontamentos remetem agraves

questotildees iniciais da pesquisa e procuramos descrevecirc-los e entrelaccedilaacute-los a estas questotildees agrave medida que

discorremos a anaacutelise sucinta dos resultados do estudo

Ao iniciarmos a pesquisa empiacuterica colocamos a pensar quem eram os alunos de licenciatura

de Fiacutesica da UFT Onde estes moravam Eram alunos do sexo feminino ou masculino Que classes

sociais pertenciam Eram todos professores docentes Tinham acesso agraves tecnologias nas suas casas

Que uso faziam delas no dia-dia Enfrentavam dificuldades para lidar com os dispositivos tecnoloacutegicos

Consideraccedilotildees finais

312

Qual era o niacutevel de literacia digital deles E uma questatildeo central a formaccedilatildeo a distacircncia proporcionou-

lhes aptidotildees para a literacia digital

Em siacutentese sobre o perfil socioeconocircmico dos participantes levantado nos questionaacuterios

verificou-se que 48 possuem renda de dois a quatro salaacuterio miacutenimos satildeo na maioria do sexo

masculino (72) e todos moram na zona urbana A questatildeo da renda econocircmica chama a atenccedilatildeo

pois caracteriza os participantes da pesquisa como pessoas limitadas financeiramente Este dado eacute um

indicador que explica porque muitos natildeo possuem equipamentos conectados agrave internet Dos que

afirmaram no questionaacuterio natildeo possuir internet em casa trecircs responderam que achavam o custo da

internet elevado e natildeo podiam pagar e dois participantes disseram acessar a rede em outros lugares

Estas constataccedilotildees nos fizeram pensar a respeito da discussatildeo teoacuterica sobre as diversas

formas de exclusatildeo da rede Retomando sobre as muacuteltiplas formas de se estar marginalizado da rede

citamos Demo (2007) que prefere usar o termo marginalizaccedilatildeo agrave exclusatildeo dado que segundo o autor

a expressatildeo exclusatildeo eacute muito estanque ou se estaacute fora ou dentro A marginalizaccedilatildeo assume diversas

gradaccedilotildees em que os indiviacuteduos natildeo estatildeo totalmente fora da rede mas no limite na sua margem Eacute

neste espaccedilo que se encontram os indiviacuteduos que embora tenham algum acesso agraves tecnologias satildeo

desprovidos de equipamentos e softwares eficientes natildeo acessam a banda larga e possuem poucas

competecircncias para resoluccedilatildeo de problemas teacutecnicos

Para os participantes da pesquisa o acesso aos equipamentos de tecnologia natildeo constitui um

problema relevante Quando questionados sobre que dispositivos possuem para acesso agrave rede os

participantes afirmaram possuir nas suas residecircncias computador de mesa (348) notebook (783)

impressora (435) ligaccedilatildeo agrave internet (826) tablet (304) e smartphone (391) Assim a questatildeo

do acesso agrave internet parece natildeo ser um fator que os exclua da rede Como apontado por DiMaggio e

Hargittai (2001) existem diferentes niacuteveis e tipo de desigualdade quando se trata do acesso e uso das

tecnologias tendo sido diagnosticadas outras dificuldades nesta investigaccedilatildeo Por exemplo foi

constatado que a velocidade de conexatildeo da internet dos cursistas que varia de 1 Mbps a 2 Mbps eacute

considerada baixa para os padrotildees miacutenimos necessaacuterios Para os cursistas que residem nas cidades

do interior do Estado a situaccedilatildeo se agrava considerando que a rede por vezes oscila e fica indisponiacutevel

Outro tipo de desigualdade encontrada na pesquisa refere-se ao local em que os participantes tecircm

acesso ao computador com internet O estudo constatou que na maioria das vezes os cursistas

revezam o seu acesso entre sua residecircncia e local de trabalho DiMaggio e Hargittai (2001)

apontaram que o acesso agrave rede no trabalho eacute limitado pelo tempo e monitoramento de uso e mesmo o

Consideraccedilotildees finais

313

acesso numa casa com um uacutenico computador que pode ser dividido para o uso de vaacuterios membros da

famiacutelia eacute limitante tambeacutem do acesso

Seguindo a linha de desigualdades assinaladas por DiMaggio e Hargittai (2001) as habilidades

teacutecnicas para o uso das tecnologias satildeo consideradas pelos autores fator de peso para o indiviacuteduo tirar

pleno proveito da rede Neste sentido a pesquisa buscou investigar o que os cursistas eram capazes

de fazer quando estavam on-line Sobre a frequecircncia segundo os participantes o dispositivo com uso

mais frequente eacute o computador de mesa 96 afirmaram usaacute-lo diariamente O notebook computador

portaacutetil tambeacutem eacute utilizado por 70 dos participantes O tablet aparece como um dispositivo com baixo

uso pelos participantes (30) enquanto 72 afirmam usar celular com internet Percebe-se que neste

quesito da frequecircncia os participantes parecem assiacuteduos ao uso das tecnologias digitais com exceccedilatildeo

ao uso do tablet que se configurou com uso pouco comum da parte dos cursistas

Em relaccedilatildeo ao perfil social dos participantes da pesquisa constatou-se que os mesmos

frequentam poucos programas culturais se informam quase sempre pela internet e raramente

frequentam bibliotecas O fato de se informarem pela internet mostra que os participantes natildeo satildeo

totalmente avessos agraves tecnologias no seu cotidiando embora conforme exposto prefiram realizar

atividades mais elementares Por exemplo sobre as atividades mais comuns que realizam no celular

com internet o estudo constatou que os participantes mostraram-se propensos a evitar atividades mais

complexas e se limitarem a tarefas simples como pesquisas em sites de buscas sites educativos e

compras na internet As atividades mais difiacuteceis que exigem maior grau de literacia digital como

compartilhar conteuacutedo na internet criar apresentaccedilotildees elaboradas com viacutedeo e imagem ou realizar

transaccedilotildees bancaacuterias satildeo menos comuns no cotidiano dos cursistas Neste sentido considerando os

pressupostos teoacutericos sobre exclusatildeo digital ou desigualdades digitais percebe-se que os cursistas

estatildeo conectados agraves redes possuem acesso mas encontram limitaccedilotildees quer sejam relativas ao tipo de

conexatildeo do local de acesso ou mesmo da falta de habilidades relacionadas agrave literacia digital Estas

limitaccedilotildees natildeo os excluem da rede mas os deixa agrave margem de situaccedilotildees e oportunidades que a rede

proporciona aos que possuem bons niacuteveis de literacia digital

No tocante ao perfil acadecircmico dos participantes da pesquisa o estudo revelou que metade

dos participantes atua na sala de aula como professores mas quando questionados se lecionavam na

aacuterea que eram formados 53 responderam negativamente Sobre as razotildees da escolha por uma

formaccedilatildeo a distacircncia os dados obtidos revelaram que o fato de moraram longe de um campus de

universidade foi fator de peso para optarem pela modalidade a distacircncia Outra questatildeo relevante foi o

Consideraccedilotildees finais

314

tempo pois como a maioria trabalha realizar uma formaccedilatildeo a distacircncia eacute conviniente No entanto as

entrevistas aprofundaram essa questatildeo e os participantes revelaram outras razotildees pelas quais

escolheram o curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT tais como o fato de ser um curso numa universidade

federal conceituada na regiatildeo a oportunidade de graduar na aacuterea que jaacute lecionam e a chance de fazer

a primeira graduaccedilatildeo depois que jaacute estavam no mercado de trabalho

Sobre as expectativas e realidade que constataram ao ingressarem no curso de Fiacutesica em EaD os

participantes responderam nos questionaacuterios que tecircm uma boa percepccedilatildeo do curso (53 disseram que

o curso eacute bom) No entanto nas entrevistas foram apresentados algumas constataccedilotildees

decepcionantes com a realidade e gargalos do curso Os cursistas acharam por exemplo que teriam

um acompanhamento constante do tutor durante o curso poreacutem alegaram sentir-se ldquoabandonadosrdquo

durante o processo diante da ausecircncia de respostas agraves suas duacutevidas A falta de interatividade entre os

cursistas na plataforma virtual tambeacutem foi observado na pesquisa como um fator de peso que justifica

que os mesmos se sintam ldquosolitaacuteriosrdquo na formaccedilatildeo Os conteuacutedos do curso tambeacutem foram

considerados difiacuteceis de entender fato que somado agrave falta de suporte do tutor leva a que muitos

desistam do curso Apesar destas constataccedilotildees quando questionados se alguma vez pensaram em

desistir do curso por dificuldades em lidar com as tecnologias 76 disseram que este natildeo seria um

motivo para desistecircncia Assim em siacutentese percebe-se que os participantes da pesquisa possuem

acesso agraves tecnologias baacutesicas como computadores notebooks tablets e smartphones com acesso agrave

internet e realizam operaccedilotildees simples no seu dia-dia Esta sondagem foi importante no estudo pois

revelou que os professores do estudo natildeo satildeo avessos agraves tecnologias na sua praacutetica cotidiana restou

constatar se o fato de realizarem uma formaccedilatildeo a distacircncia tornou-os mais aptos nas praacuteticas de

literacia digital no campo pessoal e profisisonal

3 Investigaccedilatildeo das possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos participantes

Retomando a uma das questotildees da pesquisa a formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia

proporcionou aos cursistas aptidotildees para a literacia digital Nas entrevistas realizadas com uma

amostra dos participantes uma questatildeo especiacutefica contemplou essa questatildeo A maior parte dos

entrevistados revelou que participar de uma formaccedilatildeo a distacircncia mudou a relaccedilatildeo deles com as

tecnologias Algumas mudanccedilas apontadas pelos cursistas foram o aumento da assiduidade da

comunicaccedilatildeo em redes sociais amadurecimento quanto ao uso das tecnologias e uso mais frequente

Consideraccedilotildees finais

315

das tecnologias em geral Alguns relataram que antes natildeo tinham o haacutebito frequente de entrar na

internet mas o curso ldquoforccedilou-osrdquo a fazerem isso e foi bom para a sua vida pessoal No entanto os

participantes revelaram algumas dificuldades encontradas neste percurso sobretudo em relaccedilatildeo agrave

metodologia a distacircncia do curso de Fiacutesica Foram relatadas dificuldades de adaptaccedilatildeo com o AVA

Moodle no iniacutecio do curso Ainda sobre o AVA Moodle alguns cursistas narraram baixa interaccedilatildeo na

plataforma entre professorestutores e alunos o que causava uma sensaccedilatildeo de ldquosolidatildeordquo e

ldquoabandonordquo entre os cursistas O modelo de curso mediado por tecnologias era desacreditado por

alguns que confessaram iniciar a formaccedilatildeo para ver se realmente funcionava Em destaque a

investigaccedilatildeo averiguou que a visatildeo dos cursistas em relaccedilatildeo agrave cursos na modalidade a distacircncia

mudou significamente para melhor

Ainda considerando os anaacutelise dos questionaacuterios e das expressotildees captadas nas entrevistas a

pesquisa revelou que embora a formaccedilatildeo a distacircncia tenha favorecido em alguns aspectos a

capacidade de uso e manejo das tecnologias poreacutem no que diz respeito agraves aptidotildees de literacia

digital os resultados mostraram que os cursistas ainda estatildeo em um niacutevel de iniciantes O fato

averiguado eacute que os cursistas natildeo tinham conhecimento do conceito de literacia digital seja porque

natildeo tiveram contato com o termo na formaccedilatildeo inicial docente seja porque a temaacutetica natildeo era de

interesse para a sua formaccedilatildeo

A pesquisa tambeacutem constatou que no curriacuteculo do curso de Fiacutesica EaD natildeo contempla

disciplinas especiacuteficas sobre as tecnologias na praacutetica pedagoacutegica e mesmo a sala virtual do curso

pareceu estaacutetica e propensa a ser mero repositoacuterio de conteuacutedos De acordo com o exposto no capiacutetulo

3 deste trabalho esta perspectiva de curso a distacircncia ser pouco interativa tende a reproduzir nos

professores cursistas a visatildeo de que as tecnologias devem ser usadas no contexto educativo para

expordepositar conteuacutedos como se faz a seacuteculos usando o quadro-negro Neste sentido apontamos

como importante uma formaccedilatildeo docente para a literacia cujo foco deva ser a integraccedilatildeoapropriaccedilatildeo

do professor com as tecnologias Entretanto que estas natildeo sejam consideradas pelos professores

formandos como meras ldquoferramentasrdquo ou ldquomeiordquo mas como estrateacutegias que podem potencializar a

aprendizagem do alunado

No caso do curso de formaccedilatildeo em questatildeo mesmo sendo um curso a distacircncia o mesmo natildeo

disponibiliza ferramentas ou recursos interativos seu AVA constitui um repositoacuterio de conteuacutedos os

foacuteruns de discussatildeo satildeo subutilizados e natildeo existe uma discussatildeo sobre a integraccedilatildeo das TDIC na

Consideraccedilotildees finais

316

praacutetica docente Neste sentido compreendem-se os resultados da pesquisa sobre a aparente

resistecircncia dos professores cursistas diante das tecnologias integradas agraves suas atividades docentes

A segunda questatildeo importante levantada neste trabalho foi ldquoque possiacuteveis mudanccedilas uma

formaccedilatildeo a distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas

suas praacuteticas docentesrdquo Assim esta pesquisa buscou investigar se o fato dos cursistas realizarem

uma formaccedilatildeo on-line causou alguma mudanccedila positiva na postura docente frente agraves tecnologias

presentes na escola sobretudo os dispositivos moacuteveis como tablets e celulares dos alunos em uso na

sala de aula Embora as expressotildees dos cursistas demonstrem que encaram a educaccedilatildeo mediada por

tecnologias como o futuro da educaccedilatildeo a pesquisa constatou que nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

ainda estaacute presente o ranccedilo da tradicional educaccedilatildeo voltada para a transmissatildeo de conhecimentos

centralizada no professor

Os dados levantados no questionaacuterio e as percepccedilotildees apreendidas nas entrevistas apontaram

para um uso limitado dos recursos tecnoloacutegicos na sala de aula Criar apresentaccedilotildees em slides e

projetar aos alunos constitui uma atividade frequente constatada nos questionaacuterios (28 dos

participantes afirmaram que muitas vezes fazem apresentaccedilotildees com aparelho datashow) e tambeacutem

nas entrevistas alguns participantes quando questionados sobre o uso das tecnologias na sala de aula

afirmavam que projetavam suas aulas com uso de slides Percebe-se assim um uso instrumental da

tecnologia na praacutetica pedagoacutegica pelos professores participantes da pesquisa voltado a projetar na

parede o que escreveriam no quadro-negro ou ligar a TV e passar viacutedeos para os alunos sem nenhuma

discussatildeo relevante Segundo Silva e Cilento (2014 p 219) a TV o viacutedeo e o raacutedio por se tratarem

meios de comunicaccedilatildeo unidireccional massivos satildeo mais faacuteceis para apropriaccedilatildeo docente porque

operam no paradigma da pedagogia da transmissatildeo da qual os professores estatildeo acostumados Os

autores concluem que os meios digitais mais complexos com base na autoria do usuaacuterio e na

perspectiva da interatividade ldquodemandam do professor nova postura comunicacional e superaccedilatildeo da

prevalecircncia da praacutetica docente unidirecionalrdquo No caso do estudo em questatildeo os professores tendem a

reproduzir o que eles vivenciaramm no curso a distacircncia que participaram baixa interatividade entre

professortutoralunos e uso da tecnologia para a reproduccedilatildeo de conteuacutedos

Sobre usar um ambiente virtual de aprendizagem para orientar as atividades dos alunos 56

responderam que nunca o fizeram e 48 afirmaram que nunca usaram redes sociais para interagir

com os alunos em espaccedilos informais Outro dado relevante eacute que 26 nunca usou o computador para

atividades em sala de aula No que diz respeito ao uso do celular ou tablet na sala de aula os

Consideraccedilotildees finais

317

participantes da pesquisa afirmaram que encontram dificuldades em conduzir uma aula com os alunos

portando seus dispositivos conectados agrave internet pois os mesmos ldquodispersamrdquo e ficam fora do

controle Um dos entrevistados usou o termo ldquorefeacutemrdquo para designar como se sente quando os seus

alunos estatildeo a navegar com seus dispositivos na durante a aula

Outra constataccedilatildeo encontrada na pesquisa foi em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo dos participantes com

seus alunos nas redes sociais em situaccedilotildees fora da aula O estudo revelou que 526 dos professores

nunca interagiram com seus alunos usando meios de comunicaccedilatildeo on-line e 632 nunca fizeram uso

de uma rede social para comunicar com os alunos em horaacuterios informais Estes dados reforccedilam a

discussatildeo teoacuterica de que os professores ainda encontram resistecircncia em usar as TDIC em praacuteticas

pedagoacutegicas que natildeo sejam dentro dos muros escolares Considerando a ubiquidade que as TDIC

permitem aos alunos deixar de usar a rede para alcanccedilaacute-los onde quer que eles estejam seria uma

perda de oportunidade para o professor auxiliaacute-los na busca pelo conhecimento

4 Uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital

Os ldquoachadosrdquo desta pesquisa apontaram para um quadro preocupante visiacutevel nos cursos de

formaccedilotildees na modalidade a distacircncia a reproduccedilatildeo de um modelo de formaccedilatildeo ultrapassado

conforme expresso pelo professor Manuel Sarmento77 ldquotemos um sistema de ensino do seacuteculo XIX

ministrado por professores do seacuteculo XX e frequentado por alunos do seacuteculo XXIrdquo Embora o referido

professor estivesse se referindo ao contexto de Portugal este fenocircmeno se repete no Brasil e em

muitos outros paiacuteses Aplicando esta citaccedilatildeo ao contexto socioteacutecnico em que as tecnologias estatildeo a

fazer parte do cotidiano pessoal e profissional dos indiviacuteduos os cursos de formaccedilatildeo docente satildeo do

formato do seacuteculo XIX com praacuteticas e tecnologias do seacuteculo XX cujos professores formandos lidam

com alunos do seacuteculo XXI Portanto existe um descompasso temporal cultural e social de concepccedilotildees

praacuteticas e conceitos sobre o papel das tecnologias no acircmbito da escola Se antes eram tecnologias

para o professor transmitir conteuacutedos hoje elas assumem novas formas e formatos em que o objetivo

deve ser trabalhar com os alunos fazendo uso eficaz das TDIC para potenciar seus conhecimentos

Neste sentido a importacircncia da formaccedilatildeo voltada para a literacia digital Natildeo se pode exigir do

professor uma postura de integraccedilatildeo e apropriaccedilatildeo agraves tecnologias na sua praacutetica docente se natildeo lhes

for proporcionada uma formaccedilatildeo que possibilite experiecircncias reais e praacuteticas com as TDIC bem como

77 Seminaacuterio 30 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo realizado na Universidade do Minho Braga PT no dia 18 de outubro de 2016 Disponiacutevel em httpswwwieuminhoptptEventosnoticiasDocumentsdocumento20DMpdf Acesso em 16 dez 2016

Consideraccedilotildees finais

318

a interaccedilatildeo com os pares e professores formadores mais experientes num ambiente (escola) em que

tais praacuteticas sejam valorizadas institucionalizadas e apoiadas

Considerando o histoacuterico dos avanccedilos que a tecnologia tem tomado nos uacuteltimos vinte anos

novas reconfiguraccedilotildees estatildeo previstas a acontecer nos espaccedilos educativos Futuramente poderatildeo

surgir novos dispositivos que iratildeo substituir os tablets de hoje e novas formas de aprender e ensinar

podem ser concebidas mas o professor continuaraacute a ser o condutor o guia e mediador em direccedilatildeo do

saber Poreacutem este precisa saber o caminho sobretudo conhecer o percurso e possuir habilidades e

competecircncias para desbravar novos horizontes Resistir agraves mudanccedilas visiacuteveis nos processos educativos

ou ignoraacute-las seria um retrocesso ao modelo de educaccedilatildeo transmissiva e em massa concebida na

eacutepoca da Revoluccedilatildeo Industrial voltada para civilizar as populaccedilotildees rurais que migraram para as

cidades

Poreacutem para que ocorram mudanccedilas estruturais na praacutetica docente integrada agraves tecnologias

os cursos de formaccedilatildeo de professores precisam mudar seu modelo tradicional Noacutevoa (2014 p 2)

aponta uma possibilidade ldquoque a formaccedilatildeo continuada fosse organizada nas escolas em torno de uma

reflexatildeo conjunta dos professores sobre o proacuteprio trabalho Nessas sessotildees poderiam experimentar

novas praacuteticas e novos processos pedagoacutegicos Sabemos poreacutem que natildeo eacute assimrdquo O autor defende

que a formaccedilatildeo deve envolver interaccedilotildees em grupo entre os professores de diferentes aacutereas como

acontece na aacuterea da sauacutede em que uma equipe de muacuteltiplos profissionais estudam um caso e

analisam as possibilidades de tratamento do paciente Ou seja a formaccedilatildeo dos professores deveria

partir de casos concretos em que os mesmos assistiriam aulas reais analisariam e debateriam as

situaccedilotildees encontradas com base nas teorias de educaccedilatildeo Utilizar alguma tecnologia nesse contexto

seria tatildeo natural para o professor como eacute para um meacutedico escolher uma tecnologia (remeacutedio aparelho

proacutetese etc) para tratar o paciente

Portanto as tecnologias natildeo deveriam parecer para o professor como algo novo nem

tampouco algo complicado de se lidar Antes deveriam ser vistas como aliadas ao processo de ensino-

aprendizagem da mesma forma que o quadro-negro se tornou um aliado ao ensino simultacircneo no

seacuteculo XIX As reconfiguraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas culturais sociais comunicacionais e

informacionais ocorridas desde entatildeo impactaram a escola que por sua vez resiste agraves mudanccedilas Do

quadro-negro ao tablet o papel do professor continua a ser fundamental no processo de formaccedilatildeo do

indiviacuteduo No entanto na era digital o professor passa ser um coadjuvante coautor co-orientador e

assume uma posiccedilatildeo horizontal em pares coletivamente e colaborativamente conduzindo e orientando

os alunos a construir e compartilhar conhecimento a partir das redes

Consideraccedilotildees finais

319

Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo inicial ou continuada a distacircncia ou presenciais

deveriam constituir oportunidades de trabalho coletivo e colaborativo entre os professores Deveriam

ser momentos de dar voz ao professor que na maioria dos eventos sobre educaccedilatildeo apenas escuta e

guarda suas anguacutestias Tambeacutem deveria haver nessas formaccedilotildees oficinas praacuteticas em que a integraccedilatildeo

das tecnologias na praacutetica docente se constituiacutesse em trocas de experiecircncias e aprendizado contiacutenuo

entre os professores

Do exposto consideramos que este trabalho cumpriu seu objetivo maior que foi averiguar se

cursos de formaccedilatildeo na modalidade EaD promovem a inserccedilatildeo dos professores na sociedade em rede e

se por sua vez aumentam seus niacuteveis de literacia digital Tendo em vista os resultados deste estudo

em que se constatou um baixo niacutevel de literacia digital no grupo de professores participantes de uma

formaccedilatildeo a distacircncia ressaltamos a importacircncia de propostas de formaccedilotildees que contemplem

transversalmente nos seus curriacuteculos oportunidades em os professores (formandos) tenham contato

com as TDIC conheccedilam suas aplicaccedilotildees e funcionalidades e que acima de tudo as usem as

explorem estabeleccedilam conexotildees com as tecnologias que jaacute usam inovem registrem os erros e

dificuldades anotem e compartilhem as experiecircncias de sucesso Eacute neste ciclo de

motivaccedilatildeopreparaccedilatildeoaccedilatildeoavaliaccedilatildeoreaccedilatildeo que o professor adquire expertise para trabalhar com

tecnologias junto aos seus alunos

Assim o modelo FIPELD apresentado no capiacutetulo cinco deste trabalho eacute apropriado para propor

a junccedilatildeo da face motivacional tecnoloacutegica e pedagoacutegica do professor num modelo ciacuteclico contiacutenuo

permanente e gradual considerando a dinacircmica em que as tecnologias vatildeo se reformulando e

inovando Durante o ciclo da FIPELD os professores vatildeo adquirindo novas competecircncias e habilidades

com as tecnologias e com o tempo de uso vatildeo se aperfeiccediloando Por sua vez a experimentaccedilatildeo praacutetica

das TDIC junto aos alunos no ambiente escolar permitiraacute a este professor em processo contiacutenuo de

formaccedilatildeo refletir sobre sua praacutetica fazer ajustes adequados evitar erros em outras experiecircncias e se

apropriar do que foi positivo Neste exerciacutecio continuado e inacabado apoiado por colegas mais

experientes e pela escola em que atua o professor poderaacute sentir-se seguro e confiante para

experimentar inovar e tirar partido do potencial que as TDIC oferecem aos que buscam o grau de

excelecircncia em literacia digital saindo da marginalizaccedilatildeo digital e adentrando na sociedade em rede

Portanto este estudo sinaliza para a necessidade de uma discussatildeo mais ampliada no Brasil

para a formaccedilatildeo inicial e continuada(a distacircncia ou presencial) de professores com foco na literacia

Consideraccedilotildees finais

320

digital Tambeacutem eacute fundamental a ampliaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo a uma amostra mais alargada como

por exemplo em todos os cursos de licenciatura a distacircncia da UFT ou mesmo um estudo comparativo

com outras instituiccedilotildees de ensino superior no Brasil ou no exterior Esperamos que outras

investigaccedilotildees sobre a literacia digital de professores venham somar ao nosso estudo e que esta

temaacutetica constitua alvo dos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas no Brasil como jaacute acontece em outros

paiacuteses Sobre a proposta FIPELD seria interessante sua aplicaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de forma que numa

investigaccedilatildeo futura esta possa ser consolidada como um modelo efetivo de formaccedilatildeo integrada

evolutiva e permanente de formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

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Apecircndices

Apecircndice 1 ndash Questionaacuterio

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

345

PESQUISA SOBRE AVALIACcedilAtildeO DE COMPETEcircNCIA DOCENTE EM TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMACcedilAtildeO E COMUNICACcedilAtildeO (TDIC)

Caro (a) Estudante

Este formulaacuterio estaacute dividido em 3 partes 1- Um questionaacuterio para caracterizaccedilatildeo do perfil econocircmico sociocultural uso de internet e aparelhos celulares frequencia ao curso EaD e atividades profissionais do professor 2- Uma Escala do uso tecnologias digitais no cotidiano 3- Uma Escala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegica A sua participaccedilatildeo seraacute de extrema importacircncia e nesse sentido solicitamos que responda ao questionaacuterio que se segue Considerando que se trata de uma investigaccedilatildeo os resultados obtidos natildeo seratildeo analisados individualmente mas sim de forma global Os seus dados seratildeo tratados de forma confidencial protegendo assim o seu anonimato

Grata

Profa Ms Elaine Jesus Alves

PARTE 1 - QUESTIONAacuteRIO DO PERFIL ECONOcircMICO SOCIOCULTURAL E SOBRE USO DA INTERNET

I - Identificaccedilatildeo do Entrevistado

1 Idade

( ) Ateacute 24 anos ( ) De 25 a 34 anos ( ) De 35 a 44 anos ( ) De 45 a 54 anos ( ) Mais de 55 anos

2 Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

3 Mora em que localidade atualmente

( ) Urbana ( ) Rural

31 Se vive em cidade indique qual _______________________ 32 Se vive em zona rural indique qual e em localidade fica ___________________

4 Renda familiar bruta familiar

( ) Ateacute 2 salaacuterios miacutenimos (SM) ( ) De 2 a 4 SM ( ) De 4 a 10 SM

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

346

( ) De 10 a 20 SM ( ) Acima de 20 SM

5 Jaacute possui uma graduaccedilatildeo

( ) Sim ( ) natildeo

51 Se possui qual _______________________

6 Atua como professor atualmente

( ) Sim ( ) natildeo

7 Tempo de docecircncia ano(s)

( ) Ateacute 1 ano ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 6 a 10 anos

( ) Mais de 11 anos 8 Leciona na aacuterea da sua formaccedilatildeo

( ) Sim ( ) natildeo

81 Se natildeo qual eacute a aacuterea que leciona_____________________________

9 Qual periacuteodo do curso de Licenciatura em Fiacutesica estaacute cursando ( )

II - Questotildees de iacutendole sociocultural

10 Qual o principal meio de comunicaccedilatildeo mais utilizado para informaccedilotildees sobre os acontecimentos atuais

( ) Jornal ( ) Raacutedio ( ) Televisatildeo ( ) Internet ( ) Conversa com outras pessoas ( ) Outro Qual ______________________ ( ) Natildeo uso meios de comunicaccedilatildeo para me informar

11 Que programas culturais vocecirc tem acesso com mais frequecircncia

( ) Teatro ( ) Shows culturais ( ) Biblioteca puacuteblicas ( ) Cinema

( ) Outro ___________________________ ( ) Natildeo tem feito programas culturais

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

347

12 Vocecirc faz consulta na biblioteca do seu polo presencial

( ) Natildeo ( ) Esporaacutedica (1 a 3 vezes ao mecircs) ( ) Semanal (1 ou 2 vezes) ( ) Diaacuteria

13 Domina alguma liacutengua estrangeira

( ) Sim ( ) Natildeo

131 Se sim qual liacutengua estrangeira que domina _____

132 Se natildeo domina uma liacutengua estrangeira este fato dificulta o uso da internet

( ) Sim ( ) Natildeo

14 Tem computador em casa

( ) Sim ( ) Natildeo

III - Acesso e uso da internet Responda as questotildees 15 a 17 apenas se tiver computador em casa

15 Da lista que se segue indique o(s) equipamento(s) que possui em sua casa (pode assinalar mais de uma resposta)

( ) Computador de mesa ( ) Notebook (laptop) ( ) Impressora ( ) Scanner ( ) Ligaccedilatildeo agrave Internet ( ) Tablets ( ) Smartphone ( ) Outro(s) ________________

16 Sua internet eacute de que tipo

( ) Acesso discado ( ) Banda larga fixa via linha telefocircnica (DSL) ( ) Banda larga fixa via raacutedio ( ) Banda larga fixa via sateacutelite ( ) Banda larga moacutevel 3G ( ) Banda larga moacutevel 4G

17 Qual a velocidade da internet da sua casa ( ) Ateacute 256 Kbps ( ) Mais de 256 Kbps a 1Mbps ( ) Mais de 1Mbps a 2Mbps

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

348

( ) Mais de 2Mbps a 4Mbps ( ) Mais de 4Mbps a 8Mbps ( ) Acima de 8Mbps 18 Se vocecirc natildeo possui computador com internet em casa responda o motivo ( ) Custo elevado e natildeo pode pagar ( ) Falta de necessidade ou interesse ( ) Custobenefiacutecio natildeo vale a pena ( ) Tem acesso a internet em outro lugar ( ) Outros Qual _____________________________ 19 Vocecirc acha que seu conhecimento em informaacutetica e uso da internet eacute ( ) Ruim ( ) razoaacutevel ( ) Bom ( ) Muito bom 20 Haacute quanto tempo utiliza computador ( ) Menos de 1 ano ( ) 1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 21 Haacute quanto tempo utiliza computador com internet ( ) Menos de 1 ano ( ) 1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 22 Como aprendeu a usar o computador

( ) Aprendi sozinho em casa ( ) Aprendi com os meus pais irmatildeos ou com outros familiares ( ) Aprendi com um amigo ou colega de escola ( ) Aprendi no meu trabalho ( ) Aprendi em cursos de informaacutetica ( ) outros Qual ________________ 23 Locais de acesso a internet

( ) Casa ( ) Trabalho ( ) Escola (laboratoacuterio de informaacutetica) ( ) Lan-houses ( ) Casa familiaresamigos ( ) Locais puacuteblicos com wifi ( ) Outro Qual ______

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

349

IV ndash O uso do celular com internet

Sobre o uso do aparelho celular com internet responda as questotildees 24 a 28

24 Possui aparelho celular com internet

( ) Sim ( ) Natildeo

25 Se possui que tipo de conexatildeo utiliza

( ) 3 G ( ) 4 G ( ) Wifi ( ) Outra Qual _______________ 26 Com que frequencia usa a internet no celular ( ) Natildeo usa ( ) Usa esporadicamente (uma vez ao mes) ( ) Semanal ( uma a duas vezes por semana) ( ) Diariamente 27 Quais tipos de atividades realiza com o celular Pode assinalar mais de uma opccedilatildeo ( ) Efetuar e receber chamadas telefocircnicas ( ) Enviar e receber sms ( mensagens) ( ) Tirar fotos ( ) Ouvir muacutesicas ( ) Jogar games ( ) Assistir viacutedeos ( ) Acessar redes sociais (facebook whatsapp outras) ( ) Compartilhar viacutedeos fotos textos ( ) Acessar email ( ) Baixar aplicativosBuscar informaccedilotildees em sites da internet ( ) Gps (mapas) ( ) Outros ____________________

V - Frequencia do curso em EaD

28 Qual sua opiniatildeo sobre o curso que vocecirc frequenta

( ) Ruim ( ) Razoaacutevel ( ) Bom

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

350

( ) Muito bom

29 Porque escolheu o curso na modalidade a distacircncia

( ) Falta de tempo para frequentar diariamente um curso ( ) Mora longe de uma universidade ( ) Achava que eacute mais faacutecil que o curso presencial ( ) Vergonha de frequentar o curso junto com pessoas mais jovens ( ) Era a uacutenica alternativa para a regiatildeo que moro ( ) Outra Especifique ___________________

30 Que polo vocecirc frequenta

( ) Palmas ( ) Cristalacircndia ( ) Ananaacutes ( ) Cristalacircndia

31 Vocecirc vai ao polo presencial com que frequecircncia

( ) Mais de trecircs vezes por semana ( ) Ateacute duas vezes por semana ( ) Uma vez por semana ( ) Uma vez por mecircs

32 Solicita a ajuda do tutor presencial para realizar algumas das atividades do curso

( ) Sim ( ) Natildeo

33 Vocecirc ficou satisfeito(a) com a ajuda do tutor

( ) Sim ( ) Natildeo

34 Jaacute pensou em desistir do curso por falta de habilidade com o uso do computador com Internet

( ) Sim ( ) Natildeo

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

351

PARTE 2 - ESCALA DO USO TECNOLOGIAS DIGITAIS NO COTIDIANO

VI - Tecnologias e sua aplicaccedilatildeo

35 Assinale (com um ldquoXrdquo) a frequecircncia com que utiliza as Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo no seu dia-a-dia

Tipo de tecnologias Natildeo usa Esporaacutedica (1 a 3 vezes

ao mecircs)

Semanal (1 ou 2 vezes)

Diaacuteria

1 Computador 2 Tablets 3 MP3 Players 4 DVD 5 Projetor multimidiamultimeacutedia

6 CelularTelemoacutevel 7 Ambiente virtual de aprendizagem

8 Notebook

9 Softwares Seguranccedila Editor de textos Ferramenta de aplicaccedilatildeo Navegador e buscador Web Planilha electroacutenicacalculo Leitor de documentos Simulaccedilatildeo Imagem e viacutedeo Tutoriais e simuladores 10 Internet e-mail Blog Biblioteca online Redes sociais Portal de informaccedilotildees Bases de Dados VoIP (Skype) Filmes e-books Musicas (You Tube) Jogos virtuais Outro (Especificar)

36 Com respeito ao uso das aplicaccedilotildees das tecnologias no seu dia-dia responda os itens de 1 a 20

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

352

Itens Nunca Algumas

vezes Muitas vezes

Sempre

1 Procuro manter-me informado sobre as tecnologias digitais disponiacuteveis para usar no meu dia-a-dia

2 Resolvo problemas ligados agraves minhas tarefas usando as tecnologias digitais

3 Entendo o que o pessoal especializado em tecnologia diz

4 Uso programas que protegem os meus equipamentos contra invasotildees ou divulgaccedilatildeo de minhas informaccedilotildees sigilosas

5 Uso a internet para me manter informado das notiacutecias cotidianas

6 Uso as tecnologias digitais de que disponho como apoio na tomada de decisotildees das minhas atividades em geral

7 Avalio a usabilidade e acessibilidade de um site 8 Participo em comunidades virtuais que estatildeo relacionadas com a minha aacuterea de interesse

9 Sou capaz de identificar situaccedilotildees de cyberbullying nas redes sociais

10 Utilizo mecanismos de busca para filtrar somente as informaccedilotildees que desejo

11 Recorro agrave Internet para divulgar notiacutecias ideacuteias projetosetc

12 Pesquiso sites educativos na Internet 13 Faccedilo download de documentos com diferentes suportes midiaacuteticosmediaacuteticos

14 Produzo e compartilho viacutedeos usando tecnologias digitais

15 Elaboro apresentaccedilotildees com imagens sons e animaccedilotildees

16 Pesquiso produtos na Internet para comprar procurando melhores ofertas de produtos e preccedilos

17 Uso a Internet para fazer as minhas transaccedilotildees bancaacuterias

18 Uso a Internet para fazer compras online 19 Acesso o internet para pagamento de impostos taxas ou multas do governo

20 Uso a internet para me comunicar com pessoas que estatildeo longe do meu conviacutevio fiacutesico

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

353

PARTE 3 - ESCALA DO USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA

VII tecnologias e praacuteticas pedagoacutegicas

37 Como eacute professora refira-se ao uso do computadorInternet nas atividades de ensino e aprendizagem a seguir indicadas

Itens atividades Nunca Algumas vezes

Muitas vezes

Sempre

1 Planejo atividades nas quais os alunos utilizem o computador nas aulas que leciono

2 Uso o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos meus alunos

2 Uso o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos meus alunos

4 Planejo atividades que possibilitem ao aluno adquirir competecircncias para usar o computador

5 Uso o computador para processar dados e informaccedilotildees relativos ao desempenho dos alunos

6 Implemento estrateacutegias didaacuteticas que usem o computador nas aulas que leciono

7 Uso o computador nas aulas garantindo igualdade de acesso aos alunos pelas estrateacutegias de trabalho utilizadas

8 Avalio os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua aprendizagem

9 Planejo as estrateacutegias de avaliaccedilatildeo da aprendizagem usando o computador

10 Crio apresentaccedilotildees com recurso do computador para usar nas disciplinas que leciono

11 Oriento ou supervisiono as atividades dos alunos por meio de ambiente virtual de aprendizagem

12 Uso computador para comunicar aos alunos os resultados de seu desempenho

13 Utilizo redes sociais para interagir com os meus alunos em horaacuterios informais

14 Disponibiliza tempo para interagir com os alunos em ambiente virtual ou em outros meios disponiacuteveis para comunicaccedilatildeo online

15 Incentivo meus alunos a compartilharem seus conhecimentos divulgando em blogs sites ou redes sociais

Muito obrigada pela sua participaccedilatildeo

Apecircndice 2 - Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas

Apecircndice 2 ndash Guiatildeo de entrevistas semi-estruturadas

357

Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas

Trajetoacuteria acadecircmica razatildeo da escolha por um curso a distacircncia

Expectativas quando iniciou o curso e percepccedilatildeo atual

Provaacuteveis dificuldades e desafios em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia

Concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia

Percepccedilatildeo sobre cursos a distacircncia

Vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica na escola que atua

Auto-avaliaccedilatildeo sobre seu niacutevel de literacia digital

Interaccedilatildeo com alunos em redes sociais

Percepccedilatildeo das tecnologias nas escolas

Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Apecircndice 3 - Transcriccedilatildeo das entrevistas

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

361

Transcriccedilatildeo da Entrevista 1 (E1)

Perfil professor de filosofia na rede puacuteblica estadual Formaccedilatildeo Licenciatura em Histoacuteria

Entrevistadora - Primeiramente gostaria que vocecirc falasse sobre sua trajetoacuteria acadecircmica por que vocecirc decidiu fazer um curso a distacircncia

E1 - Bom eu fiz porque era um curso que eu tinha pretensatildeo de fazer muito tempo ai surgiu no instagran e eu por curiosidade de conhecer o sistema optei fazer fiacutesica Eu natildeo queria fazer graduaccedilatildeo todo o periacuteodo numa faculdade como eu jaacute tinha feito uma outra faculdade falei natildeo como eacute a distacircncia vai ser bem interessante Para eu saber como funcionava esta questatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia mesmo eu tinha curiosidade de saber disso aleacutem de querer fazer fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionava

Entrevistadora - E quais eram suas expectativas quando iniciou o curso e quais satildeo as percepccedilotildees que hoje vocecirc tem Estaacute em qual periacuteodo

E1 - Quinto periacuteodo Bom as expectativas a princiacutepio era curiosidade saber como seria isso na praticidade um curso de fiacutesica considerando difiacutecil caacutelculos e eu imaginava com algueacutem do seu lado eacute complicado imagina a distacircncia Quando vocecirc tiver duacutevida como vocecirc vai tirar E muita coisa do curso assim as minhas anguacutestias natildeo foram saciadas elas ficaram

Entrevistadora - Continuam

E1 - Continua sim vocecirc tem muita dificuldade de tirar duacutevidas marcar grupo de estudos como eacute dinacircmico os colegas trabalham entatildeo vocecirc tem muita dificuldade de marcar estudo entatildeo as duacutevidas vocecirc natildeo tira praticamente vocecirc tem que estudar quebrar a cabeccedila Agora assim ajuda uma coisa te ajuda a ser autodidata e tambeacutem a gostar de tecnologia Eu jaacute natildeo gosto de tecnologia ainda preciso me adaptar a isso natildeo gosto muito de ficar em computador cinco seis horas durante o dia isso natildeo era minha praacutetica Ai hoje muda um pouco eu jaacute consigo faze isso Jaacute gosto de ler texto atraveacutes do computador natildeo gosto muito de ver viacutedeo mudou alguma coisa

Entrevistadora - A pergunta que vou fazer eacute em relaccedilatildeo a isso qual a dificuldade que vocecirc enfrentou no iniacutecio com relaccedilatildeo agrave tecnologia vocecirc ateacute jaacute falou um pouco como a sua visatildeo da tecnologia alterou ou natildeo durante o curso

E1 - Porque assim a minha dificuldade maior era essa quando eu fazia faculdade normal sem ser a distacircncia noacutes usaacutevamos o computador soacute para trabalho a gente ficava muito tempo vendo viacutedeo e fazendo pesquisa mas natildeo era assim internet Jaacute tinha internet mas natildeo dedicava tanto porque era difiacutecil ter uma literatura toda pronta entatildeo ficava mais nos livros mesmo E como eu vim pra fiacutesica e era uma modalidade diferente entatildeo eu tive esta grande dificuldade de adaptaccedilatildeo Vocecirc tem que usar a tecnologia constantemente todo dia vocecirc tem que ter acesso ao computador tem que ler umas duas horas trecircs horas Assim vocecirc tem que ter uma disciplina para vocecirc ter acesso E quem natildeo gosta tem grande dificuldade vocecirc imagina esta lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado Mas assim mudou um pouco hoje eu consigo jaacute

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

362

Entrevistadora - E qual a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia Como vocecirc ve a educaccedilatildeo adistacircncia Vocecirc acredita que ela tem algum potencial social

E - Olha eu acredito assim eu acredito que eacute um meio que possibilita as pessoas eu sempre penso que a educaccedilatildeo a distacircncia eacute um facilitador de conhecimento Facilita muito vocecirc imagina a pessoa quer fazer um curso soacute tem em Palmas e ele mora laacute no bico do papagaio ndash Augustinoacutepolis como ele vai fazer Era inviaacutevel entatildeo a (educaccedilatildeo) distacircncia ela facilita isso Faz com que a pessoa encontre o curso que quer Assim tem a expressatildeo que todo o canto virou centro com a questatildeo da tecnologia Ela chama todo mundo para o centro e dialoga Mesma coisa que vocecirc em Palmas vocecirc ve laacute na cidadezinha do interior e por ai vai Hoje soacute natildeo estuda assim acredito que com a educaccedilatildeo a distacircncia soacute natildeo estuda quem quer porque facilitou muito Mesmo que natildeo eacute o curso ideal mas se naquele momento eacute aquele que daacute para vocecirc fazer entatildeo faccedila depois vocecirc consegue fazer outro

Entrevistadora - Voce indicaria a um colega ou conhecido a fazer um curso a distacircncia

E1 - Eu indicaria acredito que eacute algo que todo mundo deveria conhecer Soacute que eu indicaria fazer um presencial para ela ter uma comparaccedilatildeo Porque se a pessoa faz soacute a distacircncia por mais que tenha toda uma campanha em cima da educaccedilatildeo a distacircncia hoje tem um trabalho voltado para isso mas a gente percebe que haacute uma decadecircncia sim Decadecircncia que eu falo natildeo eacute do modo mas das proacuteprias pessoas Porque eacute necessaacuterio vocecirc ter uma disciplina de estudo e eu penso quem quer fazer a distacircncia pensa que tem que estudar pouco Os conteuacutedos na verdade eles satildeo muito sucintos entatildeo vocecirc tem que ir mais porque natildeo daacute para vocecirc ficar vocecirc trabalha geralmente as pessoas trabalham entatildeo assim as pessoas natildeo entram com esta ideia de pesquisador de se empolgar com o estudo entatildeo se faz por fazer Eu tiro por mim eu tenho vontade de fazer fiacutesica mas assim se fosse meu primeiro curso superior eu natildeo faria telepresencial a distacircncia eu faria presencial mesmo Natildeo eacute desmerecendo mas eu acho que o presencial ele daacute mais disciplina Ele te capacita ele te treina e quando vocecirc entra num telepresencial A pessoa jaacute tem que ter esta disciplinaAi as pessoas no Brasil mesmo natildeo tem o haacutebito de estudar satildeo poucas pessoas que tem o haacutebito de estudar ler trecircs ou quatro horas por dia As vezes o adolescente ou a crianccedila estuda um periacuteodo o outro ele fica vago ele natildeo tem habilidade Entatildeo imagina isso a distacircncia Ai as vezes tem um aluno que se destaca e todo mundo fica nas costas daquele e vai para frente Mas eu indicaria assim com algumas ressalvas mas eu acredito que eacute uma educaccedilatildeo boa mas que a pessoa deveria fazer um comparativo ter as duas experiecircncias Mas entre todas se haacute a possibilidade de fazer soacute a distacircncia faccedila melhor que natildeo fazer natildeo eacute

Entrevistadora - Me fale um pouco sobre a sua vivecircncia universitaacuteria neste percurso ateacute o quinto periacuteodo na sua praacutetica praacutetica pedagoacutegica embora vocecirc natildeo decirc aula de Fiacutesica mas a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo alterou alguma coisa na sala de aula alterou alguma coisa sobre sua visatildeo das tecnologias

E1 - Como eu trabalho a disciplina de Filosofia e ela parece que eacute contramatildeo do meio tecnoloacutegico Porque Eu ateacute tentei fazer muitas experiecircncias por exemplo tentar que os meninos acessassem os sites lerem textos porque estavam com o celular na matildeo todo mundo e interagia e em baixo laacute tinha os questionaacuterios parece que o texto o tempo de leitura era dois minutos era bem raacutepido e os alunos

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

363

quando viram eles acharam muito extenso entatildeo eles comeccedilaram a navegar em outras O que eu tenho dificuldade eacute essa eacute como usar a expressatildeo como canalizar os seus objetivos dentro das redes ou dentro do meio tecnoloacutegico entendeu Eu acredito que tem algum ambiente que faccedila isso mas na nossa escola natildeo conseguimos fazer Quando um aluno abre um site ele consegue fazer tudo que ele quer ele viaja o mundo sentado na cadeira escolar e a gente fica laacute refeacutem Porque quando vocecirc chega proacuteximo ele muda de site entatildeo vocecirc sabe que natildeo estaacute tendo produtividade e eles adoram que a gente faccedila isso por que Porque eles natildeo fazem o que vocecirc pediu fogem sempre E a minha grande dificuldade eacute isso eu ateacute pensei assim mas como eu natildeo sou muito dominador da tecnologia como poderia dentro de uma escola vocecirc criar um ambiente proacuteprio tipo ter uma aula de fiacutesica filosofia ou de ciecircncia ou de portuguecircs ter sites direcionados soacute para aquilo se o aluno quisesse natildeo tinha como ele navegar para outro site somente aqueles Eu acho natildeo sei se eacute faacutecil ou se eacute difiacutecil mas assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais Datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatssapp

Entrevistadora - Eacute isso que eu ia ateacute te perguntar vocecirc usa algum aplicativo de celular whatsapp ou redes sociais como facebook para interagir com seus alunos

E1 - Assim no face natildeo interage no whatsapp eacute mais interessante Vocecirc pega pequenas frases e mandar soacute que eu natildeo tenho whatsapp tambeacutem Eacute o seguinte se vocecirc usa para o trabalho oacutetimo mas soacute que o whatsapp vocecirc natildeo usa soacute para o trabalho vocecirc comeccedila a espalhar o nuacutemero eacute um nuacutemero de uso praticamente e ai parece que vocecirc recebe muitas coisas que vocecirc natildeo quer receber entatildeo no momento eu optei por natildeo estar usando whatsapp ainda

Entrevistadora - E facebook vocecirc tem

E1 ndash Tenho

Entrevistadora - Mas vocecirc fala com algum aluno pela rede

E1 - Alguns alunos a gente comunica mas assim tipo vocecirc manda alguma atividade para interacionar natildeo tem como Porque assim eu debato na escola a tecnologia eacute oacutetima soacute que ela preenche interesses particulares ela natildeo preenche em alguns momentos interesses coletivos entendeu Claro que preenche quando vocecirc faz manifestaccedilotildees mas assim numa sala de aula acho que eacute fato aula de portuguecircs por exemplo numa sala de quarenta alunos talvez 10 goste e 30 natildeo gosteou vice e versa e este que natildeo gostam eles conseguem pertubar o suficiente o conviacutevio social entendeu Porque Na nossa escola fizemos isso tentamos fazer dois meses isso tentar fazer aulas online entendeu teve um professor que criou uma espeacutecie de moodle dentro da escola e cada um postava um tipo de conteuacutedo e pedia para realizar as atividades e ai natildeo deu certo

Entrevistadora - Natildeo foi pra frente

E1 - Natildeo foi assim e todo mundo estaacute com celular na matildeo whatsapp todo mundo tem e porque natildeo funciona Ai eu penso sempre assim ela me satisfaz o interesse que eu quero natildeo o que o outro estaacute querendo

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

364

Entrevistadora - Eacute isso que ia te perguntar agora justamente sobre a questatildeo da tecnologia como vocecirc encara a presenccedila dos celulares ou tablets natildeo sei se a sua escola permite que o aluno o aluno leve tem algumas escolas que proiacutebem

E1 - A nossa escola tambeacutem vai ateacute contramatildeo ela proiacutebe

Entrevistadora - Proiacutebe totalmente O que vocecirc acha disso

E1 - Olha a principio em termo educacional como por limite regra

Entrevistadora - Ele natildeo pode nem levar

E1 - Natildeo porque quando ele leva se ele usasse para as aulas porque fica bem claro assim ldquovocecirc usa para as aulasrdquo o aluno diz que natildeo ele natildeo interessa pesquisar noacutes fizemos uma pesquisa dentro da escola satildeo 1300 alunos

Entrevistadora - Escola estadual

E1 - Escola integral municipal entatildeo eacute fase pequena imagina vocecirc trabalhar com aluninho do primeiro ao 8ordm ano ateacute que do 6ordm para frente vocecirc consegue entendeu agora o aluno do 1ordm ano vocecirc acha que vai conseguir dominar ele suficiente soacute para ir onde vocecirc quere ai o aluno do 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento da uma direccedilatildeo Eacute bem complicado mesmo Entatildeo a escola os alunos pedem mas dentro do regimento interno da escola eacute proibido

Entrevistadora - Mas e na hora do intervalo eles usam

E1 - Eacute proibido mesmo usa se vocecirc chegar vocecirc ve aluno usando mas assim enquanto norma da escola eacute proibido

Entrevistadora - Mas tem algum momento em que eles vao para o laboratoacuterio

E1 - Tem os laboratoacuterios de informaacutetica que eles tecircm acesso ai tem alguns celulares que o professor consegue jogar o conteuacutedo para o proacuteprio celular deles entendeu mas como eu jaacute havia falado quando usa este meacutetodo eacute meio difiacutecil para o professor conduzir entende Assim objetivamente fica uma coisa assim dei por dar mas natildeo tem produtividade A dificuldade eacute alcanccedilar o objetivo mesmo projetado Natildeo sei se vocecirc entende a expressatildeo o aluno ele faz aquilo que pede faccedila isso para mim como fosse obrigatoacuterio pesado para ele entatildeo natildeo interessa Se ele sozinho ele pode fazer se natildeo tiver ningueacutem orientando Mas agora se pede parece que eacute uma coisa que perdeu a graccedila entendeu Acho que o engraccedilado com o celular eacute fazer o que eu quero e natildeo o que vocecirc quer que eu faccedila

Entrevistadora - Jaacute que estamos falando de tecnologia na escola da situaccedilatildeo que vocecirc presencia qual vocecirc acha ser o futuro da educaccedilatildeo considerando o avanccedilo tecnoloacutegico as crianccedilas com jogos na matildeo tecnologia tecnologia de ponta qual vocecirc acha que vai ser o futuro das escolas Vai abolir de vez ou vai ter que se adaptar com as tecnologias o que vocecirc pensa sobre isso

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

365

E1 - Eu penso o seguinte que a educaccedilatildeo no fundo no fundo ela eacute tradicional ela nunca vai conseguir abrir matildeo o suficiente para dizer que eacute inovador totalmente inovador ela vai como se fosse numa espeacutecie de braccedilo aberto segurando uma hora um laacute outra hora um ca Sobre a tecnologia eu tambeacutem acho ateacute um pouco difiacutecil para proacutepria educaccedilatildeo porque a tecnologia por ser tecnologia ela tem muita informaccedilatildeo e eu fico pensando assim ldquoum educador quanto tempo vocecirc estuda para chegar num ponto de dominar mais ou menos isso aqui vocecirc leva 3 a quatros anos e a tecnologia ela muda em meses ou segundos e por ai vai Entatildeo assim a educaccedilatildeo a niacutevel de educaccedilatildeo de qualidade mesmo eu acredito que ela natildeo acompanha E eu acredito assim vai chegar um tempo que isso vai dar uma freada abolir acho natildeo vai agregar muitas coisas vai melhorar mas acompanhar o ritmo e talvez chegar numa educaccedilatildeo futura todo mundo a distacircncia tambeacutem natildeo acredito muito nessa educaccedilatildeo natildeo Eu acredito que ela vai ter uma melhora as pessoas vatildeo se conscientizar mais talvez vai parar de ser vista como aquela educaccedilatildeo soacute feita por fazer A proacutepria sociedade vai reconhecer entendeu vai depender muitos dos profissionais que se formaram e conseguiram engajar no mercado e conseguiram reproduzir isso de forma positiva E para noacutes aqui no Brasil aqui eacute nova a educaccedilatildeo a distancia A historia do ensino talvez tenha ai uns quinze dezesseis anos

Entrevistadora - Agora a pergunta final sobre literacia que eu tinha dito sobre a capacidade de analisar processar apreender e avaliar aleacutem disso criar comunicaccedilotildees que eacute outra coisa hoje a internet permite que vocecirc seja autor Hoje vocecirc pode colocar um blog e falar o que vocecirc pensaque nota vocecirc daria a si mesmo sendo sincero desta sua literacia digamos de 0 a 10 como vocecirc se autoavalia nesta capacidade de fazer tudo isso

E1 - Olha professora na internet eu realmente sou assim muito aqueacutem natildeo sou muito fatilde de internet natildeo sinceramente eu daria nota zero Porque assim natildeo sou esta pessoa interacionista na internet eu leio alguma coisa eu pesquiso mas assim eu acho que a gente como professor dava para contribuir muito mais E porque vocecirc natildeo contribui as vezes a gente faz esta pergunta As vezes eacute falta de compromisso ou de interesse com aquele ambiente entendeu Eu acho interessante mas natildeo tenho aquela empolgaccedilatildeo Eu prefiro ler um livro do que ficar horas na internet fuccedilando Entatildeo assim eu preciso melhora muito nisso eu natildeo sou muito entusiasmado com este negocio de internet natildeo

Entrevistadora - Ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

366

Transcriccedilatildeo da Entrevista 2 (E2)

Perfil Natildeo eacute professor mas pretende ser quando finalizar o curso

Entrevistadora - Primeiramente gostaria que vocecirc falasse sobre a sua trajetoacuteria acadecircmica assim bem breve porque vocecirc decidiu fazer um curso a distancia o que te levou a isso

E2 - Foi mais a questatildeo do trabalho o meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias a noite

Entrevistadora - O que vocecirc faz

E2 - Eu sou teacutecnico em eletroteacutecnica eu trabalho com usinas hidreleacutetricas e elas natildeo estatildeo situadas proacuteximas as cidades estatildeo mais deslocadas para o interior que eacute aonde estatildeo os rios maiores Entao foi por este motivo que eu natildeo tive condiccedilotildees de cursar presencial jaacute tentei mas natildeo foi possiacutevel Entatildeo o curso a distancia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

Entrevistadora - E quais eram as suas expectativas quando iniciou o curso e qual a percepccedilatildeo que tens hoje

E2 - A expectativa era de mudar de aacuterea porque onde eu estou natildeo me da muitas condiccedilotildees de tempo para continuar estudando dai mudando de aacuterea que eacute uma aacuterea que eu gosto tambeacutem que eacute a educaccedilatildeo isso dai me faz com que eu tenha mais tempo e condiccedilotildees de dar continuidade aos meus estudos

Entrevistadora - Neste caso vocecirc faz uma licenciatura porque pretende ser professor

E2 - Pretendo ser professor exatamente porque gosto e quero mudar de aacuterea tambeacutem Onde estou natildeo me propicia a continuar estudando

Entrevistadora - Em relaccedilatildeo a tecnologia que eacute um curso a distancia vocecirc teve alguma dificuldade com relaccedilatildeo a metodologia do curso como que era sua visatildeo com respeito a tecnologia antes do curso

E2 - Eu sempre achei que natildeo fosse possiacutevel estudar a distancia porque toda vida a gente teve aquele contato com a sala de aula mas pelo fato de eu jaacute ter feito um curso teacutecnico eu jaacute tive bastante contato com esta tecnologia tambeacutem com informaacutetica experimentaccedilatildeo na internet entatildeo eu natildeo tive muita dificuldade com o curso e a proacutepria matemaacutetica tambeacutem Eacute uma coisa que eu sempre gostei

Entrevistadora - Com respeito a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo o que vocecirc acha da modalidade em sim com respeito a questatildeo social

E2 - Eu acho interessante porque ela da esta condiccedilatildeo para as pessoas que natildeo tem tempo para estarem na sala de aula todos os dias cursar o que gosta aquilo que vocecirc tem mais interesse porque hoje em dia ateacute os cursos de exata eacute possiacutevel fazer a distacircncia

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

367

Entrevistadora - Voce indicaria a um colega ou conhecido fazer um curso a distacircncia

E2 - Sim ateacute jaacute fiz isso uma pessoa que fez o curso teacutecnico junto comigo eu falei para ela do curso a distancia de Fiacutesica na aacuterea de exata que tem muito a ver tambeacutem com o curso de eletroteacutecnica ele achou bastante interessante a ideia ele fez o vestibular e estaacute cursando hoje o primeiro periacuteodo

Entrevistadora - Agora como vocecirc natildeo eacute professor pretende ser com respeito ao uso das tecnologias quando vocecirc for professor como vocecirc pretende fazer uso destas com seus alunos considerando o modelo que vocecirc obteve no curso

E2 - Eu acho que natildeo vou ter muitas dificuldades porque hoje em dia vocecirc pode utilizara internet e aplicativos no proacuteprio celular ou tablete para fazer simulaccedilotildees de experimentos daquela formula matemaacutetica aquela forma fiacutesica vocecirc pode analisa-la como funciona entatildeo isso dai vai colaborar para o aprendizado

Entrevistadora - Vocecirc se comunicaria com seus alunos utilizando redes sociais aplicativo whatsapp o que vocecirc acha sobre isso

E2 - Eu acho muito interessante porque a gente usa esta ferramenta hoje no curso de Fiacutesica a distacircncia a gente se falava no dia-dia que tem um determinado trabalho tem um foacuterum um encontro Eu acho muito interessante esta ferramenta entatildeo vocecirc pode fazer com seus alunos para explicar determinado conteuacutedo que eles natildeo entenderam acho que vai ser de grande impotancia

Entrevistadora - Como vocecirc encararia vamos supor os seus alunos com celulares e tabletes durante a sua aula

E2 - A questatildeo da fiacutesica ela exige que vocecirc tenha uma certa concentraccedilatildeo na expressatildeo que vocecirc estaacute utilizando naquela equaccedilatildeo matemaacutetica equaccedilatildeo fiacutesica entatildeo o tablete seria mais uma ferramenta para ser usado naquela hora certa e natildeo numa aula na qual eu tivesse explicando determinada foacutermula ou determinando conteuacutedo

Entrevistadora - Sobre o futuro da educaccedilatildeo da escola em si vocecirc acredita que as tecnologias vatildeo se consolidar ou se retrair o que vocecirc acha que vai acontecer com as tecnologia s na escola

E2 - Eu acho que a tecnologia o ensino a distancia hoje soacute vem crescendo So que ele comeccedilou primeiro nas universidades jaacute tem uma gama enorme de cursos Poreacutem a escola a meu ver ainda natildeo tem entrado nesta filosofia de educaccedilatildeo a distacircncia Mas eacute uma filosofia muito interessante que natildeo deixa o aluno dependente do professor mas sim que o aluno procure pesquisar entender aquilo que estaacute escrito Por exemplo se tivesse uma determinada mateacuteria que eacute toda ensinada a distacircncia laacute tem foacuteruns laacute tem sala de comunicaccedilatildeo em que o professor passa determinado conteuacutedo e o aluno teria que correr atraacutes soacute para tentar entender tentar participar para que isso jaacute venha fazendo parte da cabeccedila do aluno para o futuro proacuteximo que seria a universidade

Entrevistadora - Sobre a literacia como eu expliquei o que se trata Na sua concepccedilatildeo qual nota daria nas suas habilidades nesta aacuterea

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

368

E2 - Eu daria talvez um 8 ou 85 porque eu uso a internet para fazer muitas coisas comprar um moacutevel eletrocircnico eletrodomeacutestico pagar aquela conta acessar fazer transferecircncia bancaacuteria Entatildeo eu considero que eu uso bem a internet e a questatildeo da literacia a gente usa bastante porque como o curso eacute a distancia a gente tem que desde o iniacutecio jaacute trabalhar esta questatildeo para melhorar o aprendizado

Entrevistadora - Mas vocecirc cria alguma coisa tem algum blog rede social

E2 - Natildeo eu natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapp e participo dos foacuteruns do portal

Entrevistadora - Ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 3 (E3)

Perfil professor de atualidades da rede particular formado em Recursos Humanos

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc falasse um pouco da sua trajetoacuteria acadecircmica vocecirc me disse que jaacute tem uma graduaccedilatildeo porque vocecirc resolveu fazer um curso a distacircncia

E3 - Eu resolvi fazer um curso a distacircncia primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do curso Segundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura comecei a cursar licenciatura parei e meu curso eacute na parte de administraccedilatildeo natildeo eacute licenciatura e eu estou em sala de aula desde 2002 Esta foi a razatildeo pelas quais veio o desejo de fazer este curso como era uma oferta de curso de uma instituiccedilatildeo de renome com facilidade de acesso entatildeo resolvi fazer o processo seletivo

Entrevistadora - E quais eram as suas expectativas quando iniciou o curso e qual a percepccedilatildeo que tu tens hoje

E3 - Bom eu tinha uma perspectiva de que iria ter um atendimento e uma presenccedila maior dos tutores entendeu que ia ter uma participaccedilatildeo maior dos tutores com relaccedilatildeo a resposta e retorno Soacute que depois eu vi que na verdade era uma situaccedilatildeo le ce fair no comeccedilo muitas pessoas desistiram porque vocecirc mandava a pergunta e natildeo tinha resposta natildeo tinha este feedback dos professores estava complicado o curso estava meio largado Depois que comeccedilou realmente a funcionar Agora a minha expectativa eacute que fosse estudar coisas referentes aacute Fisica do ensino meacutedio que eacute o que se propotildee uma licenciatura em Fiacutesica Porque natildeo eacute licenciatura de Fiacutesica de ensino superior soacute que todos nos deparamos dentro do curso com disciplinas extremamente complexas e que natildeo satildeo utilizadas em salas de aulas por mais que o professor tente justificar e tente dizer que eacute Noacutes temos no nosso grupo dois professores um formado em matemaacutetica que quer se graduar em Fiacutesica e um formado em contabilidade que jaacute daacute aula de Fiacutesica e ambos disseram que na segunda e terceira serie do pre-vestibular natildeo se trabalha alguns conteuacutedos de caacutelculo I Calculo II e Calculo III Natildeo tem aplicaccedilatildeo Para licenciatura natildeo tem e isso satildeo professores em coleacutegio de ponta da regiatildeo Entatildeo imagina no ensino puacuteblico um local que tem mais carecircncia de ensino nesta aacuterea Entatildeo se tornam mateacuterias que vatildeo eliminando os acadecircmicos afastando outros porque cada um que sai e diz que natildeo dava conta jaacute fala para dois ou trecircs que jaacute natildeo vatildeo procurar Por exemplo o professor Reynaldo (aluno de fiacutesica) estaacute organizando trabalho com alunos de velocidade em ambiente variado fazendo uma competiccedilatildeo de carrinho de rolematilde ele estaacute fazendo uma competiccedilatildeo sobre velocidade inicial velocidade final plano de inclinaccedilatildeo e eacute este tipo de coisas que noacutes pensaacutevamos que o curso fosse proporcionar Estas maneiras de abordagem diferenciadas para sala de aula e natildeo caacutelculos complexos que ensinem como eacute que 1 + 1 eacute igual a 2 Que natildeo tem utilidade nenhuma para noacutes a natildeo ser brincar de que sabe a mateacuteria entatildeo deveria ser uma coisa bem interessante de ser abordada ai Eacute um questionamento ateacute em relaccedilatildeo ao curso porque todos os professores que nos conversamos hoje sobre o curso dizem que eacute necessaacuterio mas natildeo existe eu tenho um software de gerenciamento de questotildees e vocecirc pega as questotildees natildeo haacute uma em que vocecirc vai utilizar a equaccedilatildeo de diferenciaccedilatildeo ordinaacuteria que quase reprovou muita gente

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

370

Entrevistadora - Qual a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia que papel social vocecirc acha que ela pode ter numa regiatildeo como aqui

E3 - Para mim a educaccedilatildeo a distacircncia eacute determinante para dar acesso as pessoas Posso ate adiantar que ela eacute mais determinante que uma cota ou do que de repente de um projeto de eacutetnica questatildeo financeira Ateacute mais que Fies ou Prouni Porque a educaccedilatildeo a distacircncia ela vai no local onde a pessoa estaacute e se houve uma participaccedilatildeo efetiva do tutor estar proacuteximo do aluno conscientizando desde o comeccedilo qual o limite e qual a participaccedilatildeo do que tem que fazer disponibilizando local para acesso eacute determinante natildeo soacute no ensino superior mas ateacute mesmo no ensino meacutedio como complementaccedilatildeo

Entrevistadora - Vocecirc indicaria a um colega seu fazer um curso de Fiacutesica EaD ou um curso EaD

E3 - Eu indicaria a um colega e inclusive jaacute indiquei Tem dois ex- alunos meus que indiquei para fazer o processo seletivo que gostam muito de fiacutesica Natildeo entraram nesta seleccedilatildeo porque Fiacutesica natildeo fechou turma aqui Ai o que acontece tem um inclusive que ele daacute aula particular de Fiacutesica mas que eu indicaria sim para qualquer pessoa So estas observaccedilotildees que acho que o curso deveria refletir sobre

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc falasse um pouco da sua vivencia universitaacuteria sua condiccedilatildeo enquanto aluno de Fiacutesica e a sua praacutetica pedagoacutegica se vocecirc acha que mudou alguma coisa na sua visatildeo de tecnologia ou natildeo mudou o que aconteceu depois que vocecirc comeccedilou o curso a distacircncia

E3 - A minha vivencia de universidade cursei pedagogia na Unirg natildeo terminei parei no sexto periacuteodo No Rio de Janeiro por questotildees de trabalho mesmo eu acabei cursando gestatildeo de recursos humanos depois voltei para Gurupi e voltei para a sala de aula e sempre tive vontade de cursar Fiacutesica ou Geografia Soacute que natildeo tive oportunidade e acabei cursando Fiacutesica para ter um diploma na aacuterea de licenciatura esta foi a minha intenccedilatildeo Agora com relaccedilatildeo a segunda pergunta que a senhora colocou na verdade natildeo mudou Natildeo mudou natildeo porque eu natildeo queira na verdade eu jaacute aplicava porque eu sempre tive a praacutetica de sala de aula associada a informaacutetica Quando tinha Datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu Datashow jaacute comprei o meu porque vocecirc chegava na escola para dar aula natildeo tinha ou estava queimando ou natildeo tinha ningueacutem para poder ligar Entatildeo eu jaacute pegava minha bolsinha uma maletinha com o Datashow minha extensatildeo minha caixa de som estava tudo ali Soacute que eu fui um pouco mais aleacutem de usar o Datashow como projetor como muitos professores fazem jaacute natildeo uso mais tantos textos uso mais imagens com eles porque fica entediante vocecirc so jogar o texto na sala de aula e eu tambeacutem uso muitas miacutedias sociais Eu publico muito material para os alunos no facebook eu tenho blog para os alunos terem acesso ao conteuacutedo das mateacuterias E eu uso muito whatsapp em sala de aula para poder tirar duacutevidas de alunos fazer esta interaccedilatildeo fora Entatildeo jaacute fazia isso antes jaacute tinha esta praacutetica

Entrevistadora - Com respeito a literacia digital que nota vocecirc daacute a si mesmo

E3 - Olha a uacutenica coisa que ainda me falta eacute voltar a fazer o que jaacute fiz no passado que foi dar aula com os alunos usando notebook em sala de aula Falta voltar para este niacutevel porque na eacutepoca natildeo fiz com notebook era um laboratoacuterio de informaacutetica que os alunos acessaram dentro do laboratoacuterio Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablete ou notebook para sala de

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo Acho que me falta isso eu natildeo vou ser modesto de me dar 5 mas tambeacutem natildeo vou ser exagerado de me dar 10 porque falta muita coisa para corrigir mas acho que no miacutenimo 8 eu jaacute tenho Faccedilo muita utilizaccedilatildeo da informaacutetica

Entrevistadora - Vocecirc se comunica com seus alunos usando whatsapp ou outra rede

E3 -Se usar outra rede natildeo daacute eu uso whatsapp e facebook

Entrevistadora - Como vocecirc percebe as tecnologias na escola se em algum momento chega a te irritar o aluno estar com o tablete como eacute que eacute na sua escola se eacute proibido porque algumas escolas eacute proibido o que vocecirc acha disso desta resistecircncia que a escola tem com respeito as tecnologias ou ateacute mesmo a gente como vocecirc falou vocecirc tem um niacutevel de saber lidar com isso

E3- Na verdade eu penso que o aluno eacute chamado 20 a principio o conteuacutedo da aula estaacute interessante o aluno estaacute interessado se o conteuacutedo da aula natildeo estaacute interessante o aluno ldquomuda de paacuteginardquo vamos dizer assim igual quando ele estaacute na internet ele se desliga ai que vai ter a conversa dai que vai ter a bagunccedila ai eacute que vai ter o mexer no celular Eu natildeo ligo se o aluno vai pegar o celular para olhar a hora se o aluno tira foto do quadro eu natildeo ligo mas me deixa profundamente irritado se o telefone toca e ele quer atender ou se de repente chega uma mensagem e ele quer ver Entatildeo isso dai eu deixo bem claro logo no comeccedilo do processo Eu tambeacutem natildeo faccedilo eu jaacute vi professores que fala que natildeo pode mas eles mesmos fazemrdquo Ah eacute porque eacute muito importanterdquo entatildeo o que eacute muito importante para mim vocecirc estaacute pouco se lichando o que eacute importante para vocecirc eu natildeo estou nem ai Entatildeo o aluno vai dizer que a namorada querendo falar eacute tatildeo importante quanto que meu filho falar que machucou entendeu Entatildeo eu natildeo tenho muitos problemas em relaccedilatildeo a isso no comeccedilo isso jaacute fica bem claro eacute tipo um combinado Inclusive falo com eles que a utilizaccedilatildeo de celular em sala de aula eacute uma questatildeo minha natildeo eacute uma questatildeo da escola na minha aula fico de boa tranquilo eu soacute natildeo quero conversa e atender telefone E agora de resto tirar foto inclusive ano passado eu tive um aluno que estava tirando foto do quadro quando eu estava saindo da sala dai entrou uma professora e ela muito tradicional ai ela chamou a atenccedilatildeo do aluno e ele foi para a coordenaccedilatildeo E eu fui junto para a coordenaccedilatildeo com o aluno e falei que foi por autorizaccedilatildeo minha ele tirar foto do quadro Eu acho que existe muita hipocrisia tambeacutem ldquoah porque estaacute faltando respeitordquo se daacute o respeito que eu te dou

Entrevistadora - E para finalizar qual o futuro da educaccedilatildeo e as tecnologias que perspectivas vocecirc ve neste processo da tecnologia ateacute onde vai chegar na escola

E3 - Acho que para mim acho ateacute uma conotaccedilatildeo pesada mas o professor ldquocuspe e gizrdquo aquele que soacute fala e escreve acabou ele estaacute soacute esperando para ser enterrado Acho que a perspectiva da educaccedilatildeo eacute que se vocecirc quiser soacute um professor ldquocuspe e gizrdquo vocecirc vai ver viacutedeo no youtube assiste a aula volta natildeo vai ter professor com ignoracircncia entatildeo o professor tem estar um pouco aleacutem um pouco a mais do que liberar conteuacutedo e chega na sala de aula e natildeo faz nada Eu acho que a tecnologia veio realmente para ser um auxiliar da educaccedilatildeo e natildeo substituta do professor ela natildeo veio substituir ela veio auxiliar agora quem natildeo adota realmente vai se aposentar

Entrevistadora ndash Ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 4 (E4)

Perfil professor de ensino religioso na rede puacuteblica em cidade do interior

Entrevistadora - Fale sobre sua trajetoacuteria acadecircmica Porque decidiu fazer um curso a distacircncia

E4 - Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho mas na aacuterea da matemaacutetica eu gosto da matemaacutetica e aqui na regiatildeo natildeo tinha e ai mudei voltei para ca natildeo tinha a matemaacutetica agora tem Mas tinha a fiacutesica ai pensei vou fazer tudo incluiacutedo mesmo graccedilas a Deus estamos indo bem

Entrevistadora Quais eram suas expectativas quando iniciou o curso e que percepccedilatildeo tem hoje sobre o mesmo

E4 - Eu pensava assim este dai eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha soacute eu que trabalho laacute em casa a mulher faz os biquinhos dela mas natildeo eacute salaacuterio fixo Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero mas eu me enganei

Entrevistadora - Voce achou difiacutecil o que achou

E4 - No inicio foi difiacutecil eu mal conseguia acessar o moodle

Entrevistadora - Esta eacute a terceira pergunta a respeito das tecnologias Enfrentou alguma dificuldade em relaccedilatildeo agraves tecnologias Se a resposta for sim quais

E4 - Sim no inicio sim porque nos natildeo tivemos um treinamento abria ajanela do ambiente virtual e dizia esse aqui eacute pra isso este aqui eacute pra isso e vai indo E ai ldquovocecircs estatildeo fazendo o curso de Fiacutesicardquo

Entrevistadora - Mas natildeo teve uma oficina um treinamento

E4 - Teve assim mas natildeo foi com a imagem do moodle Teve o formato ainda bem que depois laacute no Cariri um rapaz laacute jaacute fazia poacutes a distacircncia e ele foi me ajudou

Entrevistadora - E vocecirc acha que seu manejo com a tecnologia mudou depois do curso Melhorou ou piorou O que aconteceu

E4 - Acho que melhorou uns 100 porque assim eu sempre fui atualizado mas natildeo era frequente a gente quase natildeo usava antigamente era o Orkut entrava laacute via o que tinha e saia Agora natildeo vocecirc tem que olhar o email da faculdade tem que ver o email pessoal que eacute sobre os trabalhos Porque eu tenho uma colega que tambeacutem da aula de ensino religioso e noacutes ficamos trocando figurinhas Agora sim eacute diaacuterio sobrou um tempinho ali eu jaacute acesso

Entrevistadora - Com respeito agrave educaccedilatildeo a distacircncia Qual sua concepccedilatildeo Que papel social acha que esta pode exercer papel social na sociedade

E4 - Eu acho que daqui 5 a 10 anos natildeo vai ter professor em sala mais natildeo vai ser soacute a distancia vai ter um tutor

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora - E qual a diferenccedila do tutor com o professor

E4 - Eu acho assim o tutor estaacute ali para fazer o que o professor mandou ele passar Se vocecirc quiser tirar a duvida passe um email para seu professor Tem alguma duacutevida passe um foacuterum para ele laacute que ele responde E o tutor O tutor fala com o aluno Mas e ai se acabar o professor O professor natildeo vai estar na sala ele vai estar a distacircncia Entatildeo vai ter o professor mas ele natildeo vai estar na sala vai estar o tutor

Entrevistadora - Entatildeo vocecirc acha que eacute uma tendecircncia a educaccedilatildeo a distacircncia aumentar

E4 - Eu acho que ela veio para ficar mesmo

Entrevistadora - E vocecirc Indicaria a um colega fazer um curso de graduaccedilatildeo a distacircncia

E4 - Sim Apesar das dificuldades que a gente teve no iniacutecio mas todo comeccedilo eacute difiacutecil mas depois a gente vai vendo que vai aprendendo mais atraveacutes das viacutedeos aulas Eacute muito interessante apesar que a gente tem uma duacutevida manda para eles e demora uns trecircs dias mas vem Tem umas que parece que natildeo viram natildeo sei se foram para eles os e-mails Tem uns que natildeo manda natildeo mas tem outros que eacute diretoigual agora tem estaacutegio e eu estava com muita duacutevida e ai todo email que eu mandava no outro dia eu ia abria e estava laacute A professora respondia dai o tutor falava assim ldquoeu conversei com ela a respeito do que vocecirc esta perguntando mas pode ficar tranquilo que ela responderdquo Quando vocecirc tem retorno raacutepido aiacute eacute bom Igual aqui noacutes temos provas de 15 em 15 dias ai vocecirc ta na duacutevida e ela demora a ser respondida ai chega perto da prova vocecirc tem aquela duacutevida e e ai

Entrevistadora - Sobre sua praacutetica pedagoacutegica vocecirc usa tecnologias com seus alunos

E4 - Ano passado teve um curso do Prouca e eles deram aqueles laptopzinho e fomos envolvendo com aquilo laacute Dai eu pensei ldquovou comeccedilar a utilizar mais estes laptop porque eacute novidade e eles ficam louquinhos com novidaderdquo Daiacute cada um fica com um tem um joguinho da matemaacutetica que eacute tabuada que eacute muito bom E eles ficaram incutidos com aquilo eu passei para eles uma olimpiacuteada competiccedilatildeo Depois eu disse ldquoa prova de vocecircs vai ser um simulado no computadorrdquo Todos eles tiraram notas boas Porque tipo assim o papel o interesse eacute tatildeo pouco que 10 da turma ficaram de recuperaccedilatildeo e quando eu passei no laptop trecircs soacute ficaram trecircs alunos Dai eu ateacute falei para a coordenadora para ver se podia dar a prova ou testes no laptop Porque laacute eacute assim trabalho teste e prova Dai ela falou assim ldquo uma eacute que natildeo tem nada escritordquo Aiacute eu falei para ela ldquonatildeo tem mas a gente pode tirar uma foto do aluno mostrando o computador rdquo Porque laacute o simulado ele jaacute daacute a nota na hora mas ela disse que natildeo me aconselhava a fazer isso natildeo Ai falei entatildeo taacute bom

Entrevistadora - E ai vocecirc desanimou de usar

E4 - O tutor nosso que estava neste curso (prouca) estava meio lento natildeo estava mais explicando direito as atividade para noacutes daiacute mandaram ele embora E todos subiram em mim falaram ldquojoatildeo vocecirc que vai assumirrdquo Porque tipo assim eu sempre gostei de interagir com as pessoas embora eu seja tiacutemido porque eu gosto mais de ouvir e ai eu disse que natildeo dava conta e a secretaacuteria insistindo e eu disse que natildeo vou natildeo Jaacute tem a faculdade a primeira coisa que eu me preocupo eacute o curso ( de

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Fiacutesica) porque aqui que vai ser o futuro Ai ela disse que iria ajudar eles eu falei que natildeo que o dia que eu puder ajudar eles eu ajudo Mas sem o compromisso de ser o tutor

Entrevistadora - Vocecirc Comunica com seus alunos usando redes sociais ou por meio de aplicativos de celulares

E4 - A uacutenica que uso para conversar com eles eacute no facebook eacute alguns alunos que tenho na rede eles perguntam e eu respondo

Entrevistadora - Nunca pensou em criar um grupo

E4 - Ateacute la na escola o diretor falou para eu fazer um grupo eu falei para ele que seria muito bom fazer isso ai seria uma boa maneira para os alunos interagir mais com o professor Mas ele falou que esta esperando um projeto que um professor estaacute fazendo ai mas eu disse para ele natildeo esperar natildeo porque quanto mais cedo ele fazer melhor

Entrevistadora - Como vocecirc percebe as tecnologias na sua escola Como encara a presenccedila do celular e tablete nas matildeos dos alunos

E4 - Laacute na escola eacute proibido Eu acho que natildeo devia Acho que devia ser aberto mas sempre com um combinado focado na aula Se o aluno disser ldquodeixa eu pesquisar este conteuacutedo airdquo mas ficar no whatsapp conversando com coleguinhas

Entrevistadora - Finalizando vocecirc jaacute disse um pouco Qual considera ser o futuro da escola diante do cenaacuterio das tecnologias

E4 - Eu acho que o quadro natildeo vai existir mais entatildeo eu acho que vai ser dai para frente Acabou o tempo que o professor so ficava na frente ele tem que ficar interagindo no meio Mas laacute (na escola que leciono) eacute assim eles fizeram o mapa da sala Natildeo pode mudar as carteiras eacute uma atraacutes da outra

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 5 (E5)

Perfil Professora da rede puacuteblica Entrevistadora - Porque vocecirc decidiu fazer o curso a distacircncia gostaria que vocecirc contasse para a gente jaacute que vocecirc diz que tem outra formaccedilatildeo porque decidiu fazer fiacutesica a distacircncia na UFT

E5 - Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis Achei muito importante o uso das tecnologias foi tudo maravilhoso passei a usar na sala de aula tambeacutem na escola eu uso slides retroprojetorhoje eu natildeo atuo mas quando atuava era assim E eu passei a usar muito mais a tecnologia de forma mais valiosa porque eu jaacute usava Hoje ateacute no meu trabalho eu valorizo o uso da tecnologia eu treino toda minha equipe os trabalhos e sistemas e tenho maior prazer de explicar todos os detalhes

Entrevistadora - Vocecirc acha que isso mudou depois do curso

E5 - Sim acrescentou muito depois que iniciei o curso de fiacutesica O curso de fiacutesica me trouxe um amadurecimento tatildeo grande que eu passei a gostar demais apesar de tanta dificuldade porque o conteuacutedo eacute dificiacutelimo Este conteuacutedo de fiacutesica que a gente estuda na UFT noacutes jamais iremos usar isso em sala de aula

Entrevistadora - O outro professor comentou isso

E5 - Jamais iremos usar em sala de aula o grau de grandeza do que eacute ensinado eacute tatildeo grande esse conhecimento que noacutes natildeo iremos usar no ensino meacutedio jamais mesmo Isso deixa a gente eu mesma que natildeo tenho tanta praacutetica com sala de aula e nem com fiacutesica eu acredito assim que nunca vou usar nunca vou dar conta Eu conversando com a professora de estaacutegio eu tenho medo de enfrentar alunos para dar aula de fiacutesica eu tenho esse constrangimento natildeo sei se na praacutetica vai ser diferente

Entrevistadora - Um pouco sobre sua expectativa sobre o curso e o que vocecirc percebe

E5 - A minha surpresa foi que justamente um curso de exatas a distacircncia vocecirc natildeo ter o professor presente para te explicar entatildeo eu achei que natildeo ia prestar de forma alguma Isso natildeo vai dar certo Mas de repente fui surpreendida porque eacute de uma qualidade tatildeo imensa que hoje a gente tem tudo Nesse periacuteodo agora noacutes um diaacutelogo muito mais estreito com os professores e cada periacutedo que passa a gente vai se aproximando mais Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessimo essa questatildeo da interatividade A falha da gente que natildeo sabia usar o Moodle ainda e a falha dos professores foi um periacuteodo difiacutecil tambeacutem Agora mudou a coordenaccedilatildeo hoje eu acho excelente natildeo tenho nenhuma dificuldade

Entrevistadora - Isso que ia te perguntar sobre a tecnologia vocecirc teve alguma dificuldade com o uso da tecnologia no inicio do curso ou tem ateacute hoje o que vocecirc achou mais complicado

E5 - Natildeo eu natildeo tive dificuldade eu jaacute era usuaacuteria no meu ambiente de trabalho a gente usa muito a tecnologia eacute o estado secretaria da sauacutede eacute um trabalho que a gente trabalha em rede entatildeo eu

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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desenvolvo tudo via web mesmo com uso de sistemas e tem outras pessoas que satildeo os analistas que a gente troca essas ideias entatildeo eu natildeo tive nenhum pouco de dificuldade A dificuldade mesmo foi da interatividade com o grupo natildeo da ferramenta

Entrevistadora - Qual sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distancia acredita que ela tem um papel social na sociedade

E5 - Eu acredito so que hoje natildeo tem tanto preconceito antes tinha mais hoje as pessoas valorizam mais antes ningueacutem quer saber se vocecirc esta fazendo educaccedilatildeo a distacircncia ou natildeo Ele olha seu perfil profissional o que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tem um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar nos somos iguais no mercado de trabalho natildeo tem diferenccedila diferente de ser ead ou natildeo natildeo esta diferenccedila Eu vejo igual e eu ateacute acredito que a educaccedilatildeo a distancia o profissional eacute bem melhor do que o profissional que faz sem ser a distancia

Entrevistadora - Voce acha que eacute mais passivo Ele fica meio so esperando

E5 - Ele fica so esperando natildeo sabe se virar sozinho e jaacute a educaccedilatildeo a distancia traz a maturidade para o profissional autonomia

Entrevistadora - E vocecirc indicaria a um colega fazer o curso da EaD

E5 - Indicaria so que nninguem quereu indicaria porque para mim foi uma experiecircncia maravilhosa foi o topo da minha carreira profissional natildeo preciso de mais nada

Entrevistadora - Sobre sua praacutetica pedagoacutegica depois que vocecirc fez esse curso que vocecirc teve contato com a tecnologia de forma acadecircmica se isos mudou sua visatildeo da tecnologia na sala de aula

E5 - Mudou Nos passamos a nos comunicar muito por emails passou a se comunicar por redes sociais entatildeo a gente natildeo tinha essa barreira de esperar e todo alunado eu passava o treinamento para eles aqueles que tinham dificuldade De repente a pessoa jaacute estava comprando computador celular para acompanharno periacuteodo da aula mesmo se tem dificuldades eles jaacute pesquisam na internet o que eles precisam Entatildeo mudou mudou muito mesmo acho super importante o uso da internet e o uso da tecnologia na sala de aula

Entrevistadora - Como vocecirc percebe isso na sala de aula Porque tem escola que eacute proibido o que vocecirc pensa dissoda presenccedila das tecnologias na sala de aula

Eu valorizo na minha aula eu valorizo muito a presenccedila da tecnologia Dai o que eu faccediloeu mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possa acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala

Entrevistadora - E eles colaboram

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E5 - Colaboram eu natildeo sei de onde eu tirei mas eu tenho uma dinacircmica de me dar super bem com meus alunos eu jaacute tive em sala de 40 alunos e natildeo tive problema de conter a turma e todo mundo participar eles tem uma simpatia muito grande por mim

Entrevistadora - E ai vocecirc comunica com eles usando rede sociacomunicam se fora da aula

E5 - Usamos muito whatsapp ali a gente posta relatoacuterios a gente posta informaccedilotildees E teve uma aula que eu achei tudo na minha vida Um aula em que a gente editava a aula Colocamos um notebook a disposiccedilatildeo na sala e refletor a aula ia acontecendo e uma pessoa ia redigindo o texto Do que estava sendo explicado das falas das pessoas e no final nos tiacutenhamos um material maravilhoso daquela aula Uma produccedilatildeoaonde eu usei isso a primeira vez No curso da Fiocruz eu achei aquilo super interessante so que naquele curso da Fiocruz natildeo vi tanto valor eu encontrei um grau de dificuldade muito grande para usar E fui aplicar isso ai na minha sala de aula e deu supercerto E de repente o aluno quietinho da sala de aula levantou veio explicava o outro mostrava aquele texto que o outro redigia

Entrevistadora - Foi uma espeacutecie de wiki natildeo eacutetodo mundo construiu junto e foi publicado

E5 - nteressante eacute que todos participavam no final foi distribuiacutedo copias atraveacutes de email Entatildeo essa minha aula foi inesqueciacutevel

Entrevistadora Uma boa experiecircncia podia publicar O pessoal natildeo publica nada que fazOutra pergunta sobre a literacia qual sua auto avaliaccedilatildeo nesse campo

E5 - Olha se eu natildeo fosse uma pessoa que conhece tatildeo bem esse lado tecnoloacutegico eu me daria 10 mas eu vou ser bem modesta a minha nota eacute 7 porque a tecnologia por mais que vocecirc conheccedila vocecirc natildeo conhece tudo Um simples computador que vocecirc acha que vocecirc sabe ligar mexer com ele vocecirc sabe acessarvoce natildeo conhece tudo porque natildeo eacute soacute isso que existe Tem uma serie de ferramentas que vocecirc pode usar uma serie de programas que vocecirc pode usar e aprendendo isso porque eu passo treinamento para funcionaacuterios puacuteblicos a cada momento eu vou aprendendo entatildeo nunca se aprende tudo eacute uma coisa tatildeo raacutepida que a cada momento vai surgindo uma nova ferramenta uma nova forma de vocecirc lidar com a situaccedilotildees usando miacutedias usando computadores imagens

Entrevistadora - Qual sua percepccedilatildeo das tecnologias na escola qual o futuro da educaccedilatildeo

E5 - Essa pergunta que vocecirc fez nos faz refletir porque quando vocecirc fala ao aluno copia ele natildeo copia ele fotografa e o outro jaacute gravou a aula Eu tive situaccedilotildees em que eu tive que explicar pro aluno com muito cuidado porque ele estava gravando a minha aula E eu nem sei por onde anda esses viacutedeos E nos mesmos que estudamos ead a gente valoriza muito as viacutedeos aulas Eu acho muito importante sou muito a favor da tecnologia sou muito a favor do aluno usar o computador na sala de aula ele usar o celular para pesquisar desde que seja aquele assunto voltado para aquela aacuterea desde que seja em acordo com o professor para melhorar o seu conhecimento eu sou a favor Seria uma grande perda o mundo laacute fora ser todo tecnoloacutegico e na sala de aula o aluno ser proibido disso Entatildeo a sala de aula eacute uma continuidade da vida social la fora entatildeo tem que continuar o uso da tecnologia na sala de aulaeu sou super a favor a favor eu sou uma aluna rebelde o professor estaacute falando eu to digitando

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora ndash ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 6 (E6)

Professora ensino meacutedio rede publica jaacute tem uma graduaccedilatildeo em matemaacutetica

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc comeccedilasse a dizer porque decidiu fazer o curso de fiacutesica

E6 - Haacute quatro periacuteodos atraacutes eu me encontrava na sala de aula dando aula de fiacutesica mas era graduada em matemaacutetica Entatildeo houve um convite pela seduc para que a gente que estivesse desviado de funccedilatildeo dando aula de uma mateacuteria especifica que natildeo fosse da nossa formaccedilatildeo que a gente fizesse esse vestibular e ingressasse nesse curso Entatildeo esta proposta naquele momento em que eu natildeo estava fazendo outro curso superior na ocasiatildeo e eeu estava sem estudar entatildeo era interessante eu fiz e comecei Entatildeo para mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelente tanto eu como meus alunos tiacutenhamos muito a ganhar com isso So que no meio do caminho surgiu na cidade um curso de engenharia civil dai eu eu estou fazendo tambeacutem Mas isso a trecircs periacuteodos atraacutes mas eu jaacute estava na licenciatura em fiacutesica quando eu comecei essa nova graduaccedilatildeo Entatildeo eu sou estudante em duas universidades uma presencial e uma a distacircncia e entatildeo eu tenho uma visatildeo atualizada das duas Em primeiro momento a minha visatildeo em relaccedilatildeo ao curso de ead natildeo era novidade para mim eu jaacute havia feito outros mas nenhum na aacuterea de exatas Na aacuterea das exatas tem um diferencial meu conhecimento em ead era como tutora como tutora presencial era com cursos que a gente faz nessas teorias era com texto discussotildees nesse curso agora nos temos o diferencial que satildeo as exatas que exigem uma dedicaccedilatildeo maior e muito mais exigente da parte do aluno entatildeo eacute muito mais faacutecil vocecirc se perder num curso a distacircncia na aacuterea de exatas do que num curso de humanas que daacute para vocecirc ler pesquisar e articular Ta daacute para pesquisar muita coisa tambeacutem pela internet para as exatas mas as vezes vocecirc fica meio abandonado as vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono as vezes vocecirc precisa ter um professor do lado para tirar uma duvida ou outra vocecirc tem o tutor a distancia mas o corre corre do dia as vezes eu sinto que comparando os dois cursos o curso de fiacutesica ead eacute muito mais difiacutecil do que as humanas isso eu falo com conhecimento de causa Eacute muito mais exigente do aluno o meacuterito da pessoa que consegue fazer um curso ead com qualidade a distacircncia o meacuterito dele eacute ateacute maior por causa das barreiras ele teve que ser muito disciplinado para conseguir porque natildeo eacute faacutecil natildeo eacute muito difiacutecil conseguir

Entrevistadora - Entatildeo com respeito a sua expectativa teve alguma decepccedilatildeo ou surpresa

E6 - Sempre tem alguns problemas com as coordenaccedilotildees passamos por varias coordenaccedilotildees durante nosso periacuteodo algumas coordenaccedilotildees natildeo foram natildeo aconteceu como deveria bimestre passado foi de um jeito esse foi de outro a gente tem algumas reclamaccedilotildees ainda algumas carecircncia ainda com relaccedilatildeo a postagem de material que as vezes demora as vezes chega na quinta feira a gente natildeo sabe se vai ter prova no saacutebado um exemplo no nosso calendaacuterio era para a gente ter tido prova hoje cedo e natildeo teve entatildeo a gente nem ficou sabendo a gente ficou sabendo porque o tutor presencial nos avisou a gente estava na expectativa que ia ter estava no calendaacuterio Mas natildeo teve e ningueacutem natildeo falou o nosso tutor presencial que disse ningueacutem avisou nada entatildeo natildeo vai ter nem ele sabia Entatildeo a comunicaccedilatildeo ai trava muito desmotiva muito e espanta inclusive novos alunos para a ead abriu seleccedilatildeo a pouco tempo e natildeo teve Haacute mais sera que eacute so por isso Porque quando fala assim Fisica muita gente sai correndo mas aqueles que querem pensam duas ou trez vezes quando eles veem que o curso natildeo esta tao bem aceitadinho bem organizadinho pensa duas vezes antes de embarcar num curso deste porque satildeo quatro anos de dedicaccedilatildeo Entatildeo as vezes o proacuteprio fato do curso de fiacutesica ja ser difiacutecil o fato de o curso ser ead logo ser mais ficil para exatas jaacute eacute outro diferencial aleacutem do fato que a coisa natildeo estar andando como deveria (as vezes a pessoa se informa com algueacutem) Exato entatildeo a gente acaba falando Eu mesmo natildeo guardo sigilo para ningueacutem eu falo eu natildeo ficar mentindo Ninguem me

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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contratou para ficar falando bem a respeito do curso Eu falo a realidade Entatildeo eacute isso que estaacute acontecendo o curso hoje estaacute apenas com seis alunos atualmente Comeccedilamos com 11 estamos com seis atualmente e natildeo sei se teraacute outro curso aqui em Gurupi talvez os motivos sejam esses

Entrevistadora ndash Em Relaccedilatildeo com a tecnologia enfrentou alguma dificuldade

E6 - Natildeo porque inclusive eu jaacute tinha sido ateacute tutora eu natildeo tinha dificuldade com o moodle entatildeo eu posso natildeo ser a superstar nas tecnologias mas eu lido com ela a par de anos mas o que vocecirc natildeo sabe vocecirc aprende o que vocecirc precisa vocecirc descobre E como ferramenta educacional para pessoas adultas para pessoas focadas eacute perfeito mas para focados Natildeo da pra vocecirc falar que usar miacutedias em todas ocasiotildees eacute bom nem sempre eacute mas para o curso ead eacute fundamental Para vocecirc pesquisar buscar viacutedeos aulas buscar material vocecirc ter que pesquisar fundamental mas porque somos pessoas adultas e estamos focadas nisso Mas se vocecirc vai no curso ead e chama todo mundo para o laboratoacuterio mesmo que o professor natildeo fique olhando natildeo tem ningueacutem no paciecircncia natildeo tem ningueacutem no whatsapp ningueacutem no joguinho e face porque satildeo pessoas adultas e focadas natildeo satildeo do ensino meacutedio entatildeo satildeo realidades diferentes

Entrevistadora - Sobre a educaccedilatildeo a distancia vocecirc acha que ela desempenha algum papel social

E6 - Nossa grande grande no estado do Tocantins quando a gente entrou a estimativa era que tinha nove professores de fiacutesica formados em todo estado em fiacutesica e atuantes porque acontece de ser formado e esta em outra aacuterea Inclusive essa informaccedilatildeo quem passou foi o coordenador eu nem sabia que era tatildeo pouco porque a gente sabe que toda escola de ensino meacutedio tem o professor de fiacutesica mas eacute como eu professor de matemaacutetica dava aula de fiacutesica professor de historia dava aula de fiacutesica mas formado em fiacutesica era pouco Eu fiquei estarrecida eu achava que era mais natildeo sei como estaacute hoje porque isso foi a trecircs anos atraacutes

Entrevistadora - Mas tambeacutem ainda natildeo formou ningueacutem de fiacutesica a natildeo ser que veio de fora concurso

E6 - Pode ter formado nesse interim pode ter vindo pessoas de fora

Entrevistadora - Eacute ate um dado para ser analisado

E6 - Agora onde estaria outra universidade que propiciaria o ensino de fiacutesica senatildeo ead Em palmas 240 km daqui eu natildeo poderia ir la e voltar para fazer essa graduaccedilatildeo 40 horas natildeo poderia Entatildeo para mim o curso ead rompe uma barreira geograacutefica eu natildeo consigo fazer maacutegica de me teletransportar para palmas E natildeo daria para fazer diferente entatildeo ead para mim eacute fundamental sim ela rompe barreiras ela tem o seu valor Eu posso avaliar que o espaccedilo que a ead adquiriu ate agora ele natildeo tem tendecircncia para ser retroativo natildeo a tendecircncia eacute cada vez aumentar Porque cada vez que passa seu tempo diminuia sensaccedilatildeo de o dia estaacute mais curto o estaacute mais curto que o mecircs esta acabando antes de comeccedilar porque a coisa esta acontecendo muito raacutepido entatildeo vocecirc natildeo tem tempo para um monte de coisa e o ead te propicia isso essa agilidade e flexibilidade entatildeo as conquistas que jaacute teve no ead nesses uacuteltimos 10 anos ela natildeo tem jeito de regredir a tendecircncia eacute so aumentarmas precisa melhorar em alguns aspectos Precisa principalmente com relaccedilatildeo aos cursos que satildeo de exatas deveria ter um pouquinho mais de presencial para aqueles casos daquelas mateacuterias natildeo para todas tambeacutem mas principalmente para aquelas que exigem mais caacutelculos tipo calculo I calculo II fiacutesica praacutetica vocecirc precisa de um pouco mais de apoio tem alunos que natildeo conseguem sem esse apoio ficam totalmente perdidos A gente se apoia muito a gente eacute um grupinho que se apoia muito mas mesmo assim o tempo eacute curso entatildeo se tiver um pouco mais de apoio uma parte maior de presencial somente para essas mateacuterias especificas talvez fosse o diferencial entre o curso de fiacutesica e matemaacutetica natildeo morrer e progredir entedeu Porque como eu disse para vocecirc desmotiva muito essa solidatildeo em certas mateacuterias entatildeo talvez

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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alguma complementaccedilatildeo um complemento para certos niacuteveis de mateacuterias seria interessante fazer essa pontuaccedilatildeo mas regredir jamais eacute uma tendecircncia que tende a aumentar jaacute estaacute se falando em ensino meacutedio a distancia jaacute existe essa cogitaccedilatildeo natildeo para agora mas os proacuteximos dez anos jaacute existe essa cogitaccedilatildeo de algumas mateacuterias seremcomeccedila pelo ensino meacutedio nosso aluno tem uma aula de fiacutesica por semana Se ele pudesse ter esta uma hora presencial e o resto mediado ai sim podia ter um apoio mediaacutetico interessante

Entrevistadora - Agora sua visatildeo sobre tecnologia depois que entrou no curso e tal a sua praacutetica pedagoacutegica vocecirc costuma utilizar alguma tecnologia

E6 -Foi interessante que quando entrei no curso de fiacutesica foi na metade do ano tinha acabado de acontecer aquela mudanccedila de carga horaacuteria e a mudanccedila de quantidade de aulas antes fiacutesica era duas aulas por semana e caiu para uma e eu estava naquela transiccedilatildeo Olha dar aula de fiacutesica fazer aquele conteuacutedo inteiro funcionar em quarenta horas anuais eacute milagre Ai vocecirc natildeo consegue fazer milagre nem com varinha de condatildeo e olha que a gente usa pincel La eu tenho que fazer milagres como eu vou fazer milagres Com uso de tencologias mas ateacute certo ponto ateacute porque vocecirc esbarra no quesito aluno compromissado vocecirc tem aquela sala cheia inflada com 40 41 alunos num espaccedilo que cabia 36 agora mudou e usa carteira mesmo entatildeo aquela carteira ocupa mais espaccedilo que esta entatildeo cabia quando era aquele modelo agora com esse modelo natildeo cabe Entatildeo uma sala lotada inflada que pra vocecirc distribuir as provas tem que circular entre as carteiras entre um e outro e dai como vocecirc faz a avaliaccedilatildeo assim E sala de aula lotada vocecirc vai vigiar o celular de todo mundovoce vai vigiar se estatildeo no whatsapp Eles ficam batendo papo Esta proibido eles sabem que estaacute proibindo mas natildeo estou olhando natildeo estou vigiando 41 alunos natildeo vou natildeo tem condiccedilotildees

Entrevistadora ndash Laacute natildeo eacute proibido entrar com celular Porque tem escola que natildeo pode

E6 -Eacute mais esbarra numa questatildeo muito seacuteria existe a regra a lei natildeo eacute bem recente eacute de outro mandato de Marcelo Miranda Tem uma lei estadual estaacute na parede uma lei que eacute proibido usar celular nas dependecircncias eacute uma lei que estaacute em vigor eacute uma lei do Marcelo Miranda que continua em vigor soacute que vocecirc natildeo consegue coibir porque esse bem eacute particular eacute dele vocecirc natildeo pode tomar dele vocecirc natildeo pode nem obrigar te entregar vocecirc pode pedir para ele guardar ele faz com o aparelho dele o que ele quiser Agora vocecirc pode mandar ele sair da sua sala Ai ele diz eu estou com fone de ouvido estaacute desligado ai vocecirc diz guarda o fone de ouvido Voce passa metade da aula brigando porque eles ficam no whatsapp porque eles natildeo tem maturidade Essa semana foi semana de avaliaccedilatildeo tinha tres provas e o menino fez as trecircs provas em menos de 1 hora a quantidade de tempo para ele ficar em sala era 1 hora

Entrevistadora - Ou ele eacute gecircnio ou ele natildeo sabia de nada

E6 -Ele natildeo sabia de nada na hora que ele ficou pedindo e insistindo eu disse quer muito A sua prova vai ser anulada porque vocecirc esta saindo fora da hora Vocecirc tem toda liberdade natildeo vou te proibir natildeo mas se vocecirc sair fora da hora eu anulo a sua provaGente dai eu pensei esse caboclo vem para escola igual boi Sabe final de tarde O boi natildeo vai pro trilho Entatildeo ele sai pro trilho todo dia de manha Natildeo sabe nem oque vai fazer na escola Entatildeo eacute esse aluno que natildeo sabe que eu tenho a maioria na sala de aulae eu dou aula no centro de ensino meacutedio um dos trecircs da cidade E ele vai la so para isso ele fica laacute com o celular o tempo inteiro A quantidade de ocorrecircncia dele com uso de celular em sala de aula falta de compromisso eacute enorme e eacute a maioria Dai vocecirc pensa assim tem aluno que salva antigamente vocecirc contava em duas matildeos hoje vocecirc conta em uma Sabe aquele que vocecirc sabe porque esta indo la que natildeo vai so porque bateram no cocho

Entrevistadora - Dai passa por uma questatildeo social tambeacutem neh

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E6 - Sim passa mas pensa comigo ele eacute um jovem natildeo tem perspectiva como ele vai trabalhar ele vai ser balconista entregador como ele vai trabalhar Qual o futuro dele ele vem de um lar de drogado de becircbado de pobre quer dizer se ele continuar assim eacute a mesma ele mexe com drogas pra poder melhorar de vida ele leva as vezes para traficar na escola As vezes vocecirc desconfia as vezes vocecirc ate sabe e tenta coibir mas vocecirc natildeo tem poder de policia Isso eacute muito perigoso vocecirc tem que lidar com isso com muita sabedoria

Entrevistadora - Vocecirc daacute aula a noite

E6 -De manha e de tarde mas eacute isso vocecirc jaacute ouviu falar de 420 eacute o horaacuterio que eles vatildeo para os banheiros trocar as drogas Entatildeo vocecirc pensa eles estatildeo indo pra escola para que Qual o atrativo da escola para ele Aqui natildeo tem shopping o que shopping tem Praccedila de alimentaccedilatildeo cinema nos temos aqui um auditoacuterio que passa filme as vezes a gente deixa ate levar pipoca a escola tem wifi mesmo que natildeo seja livre eles encontram a senha

Entrevistadora - A escola eacute o shopping deles

E6 - Sim eacute o shopping eacute o lugar que eles encontram os amigos eles natildeo vao la para estudar eu estou falando da grande maioria tem um ou outro Entatildeo a maioria 30 dos mais de 30 alunos que estatildeo na minha sala querem so isso eu tenho soacute uns menos de dez que querem estudar o que eu faccedilo Ponho eles mais na frente e dou aulas para eles uma aula por semana Preciso da miacutedia Preciso Tento resumir no Datashow e lanccedilo dai faccedilo um grupo no email e lanccedilo porque se eu deixar eles copiarem os resumos que eu coloquei natildeo da tempo natildeo da pra fazer milagre

Entrevistadora - Eles tiram foto

E6 - Eu natildeo deixo eu prefiro mandar por email eles natildeo vao ler isso direito se eles quiserem usar no celular eacute so eles baixarem daacute pra fazer eu faccedilo isso na faculdade entatildeo eu prefiro botar no email O meu slide eu jogo no email deles Os exerciacutecios estatildeo la tambeacutem Tento coibir mas natildeo tento bater de frente porque natildeo sou besta nem doida

Entrevistadora - Sobre o futuro da educaccedilatildeo a distacircnciao que pensa

E6 - Eu acho que ele passa por uma maturaccedilatildeo Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso Eles usam para bater bapo marca encontro conversar fiado postar fotografia para isso que eles usam Mas acho que vai chegar um processo de maturaccedilatildeo em que isso (0 celular) vai deixar de ser uma ferramenta so de comunicaccedilatildeo e vai ser uma ferramenta de estudo Natildeo da para fazer de conta na minha aula eacute proibido Claro que eacute proibido ate porque tem um regimento escolar agora posso ter em determinado tempo o uso dessa miacutedia Posso dou aula de matemaacutetica tambeacutemdo maioria aula de matemaacutetica entatildeo eu encho o quadro de exerciacutecios ai os alunos professora pode fotografar Beleza pode fotografar Entatildeo eu natildeo vou ficar esperando entatildeo eu digo fotografa tudo isso que eu vou apagar e passar outro Entatildeo eu uso mais de uma maneira ponderada Entatildeo tem professor que so quer usar a miacutedia A sua aula natildeo tem que ser o show usar a tecnologia natildeo quer dizer isso aquela professora da show Eu tenho uma ementa ridicularmente grande para cumprir A grande questatildeo eacute que o centro natildeo pode ser a tecnologia esta eacute um meio deve ser natural usa-la (como pegar aqui o celular e ligar pra meu marido)Agora mesmo o professor falando que vamos trabalhar tal viacutedeo com os alunos Ele vai ter que assistir o filme de novo Eu vou pedir um pouco que aquilo eacute um momento de lazer e diversatildeo eacute uma parte de shopping que eu estou propiciando pra ele

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  • Tese agora simpdf
    • Agradecimentos
    • Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins
    • Resumo
    • Teacher training Digital Literacy and Sociodigital Inclusion an ongoing case study at a distance from the Federal University of Tocantins
    • Abstract
    • Lista de figuras
    • Lista de Quadros
    • Lista de Graacuteficos
    • Lista de Siglas
    • Introduccedilatildeo
      • 1 Iniacutecio do percurso e questotildees pelo caminho
      • 2 O projeto
      • 3 Objetivo geral e especiacuteficos
      • 4 Organizaccedilatildeo da tese
        • Capiacutetulo 1 O mundo conectado em redes
          • 11 O ldquoestar dentrordquo
          • 12 Processos civilizatoacuterios das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
            • 121 Comunicaccedilatildeo interpessoal
            • 122 Comunicaccedilatildeo de Elite
            • 123 Comunicaccedilatildeo em massa
            • 124 Comunicaccedilatildeo Individual
            • 125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais
            • 126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas
              • 13 O perfil dos usuaacuterios da internet
                • 131 A Geraccedilatildeo Net
                • 132 Os Nativos e imigrantes digitais
                • 133 As Geraccedilotildees X Y Z
                • 134 Os residentes e os visitantes
                • Os residentes por sua vez na classificaccedilatildeo de White e Cornu (2011) vivem uma parte significativa do seu tempo conectados Usam a internet natildeo apenas para realizar serviccedilos praacuteticos como atividades bancaacuterias compras ou pesquisa eles vecircem a web com
                • 135 O Caldeiratildeo digital
                • 136 O homo zappiens
                • 137 O Homo Sapiens Digitalis
                • 138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet
                    • Capiacutetulo 2 O mundo todo estaacute mesmo conectado
                      • 21 Do lado de fora ou dentro na margem da rede
                      • 22 A inclusatildeo digital na agenda poliacutetica
                      • 23 Debate conceitual do termo exclusatildeo digital
                      • 24 A inclusatildeo para aleacutem do acesso agrave maacutequina
                      • 25 Niacuteveis de exclusatildeo sociodigital e barreiras para a inclusatildeo
                      • 26 O fosso digital no cenaacuterio mundial e no Brasil
                      • 2 7 Inclusatildeo digital educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo
                        • Capiacutetulo 3 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
                          • 31 A possibilidade de entrada na rede
                          • 32 Conceito de literacia digital
                          • 32 A literacia digital na agenda das poliacuteticas puacuteblicas
                          • 33 Tecnologias versus professores o campo de tensatildeo nas escolas
                          • 3 4 Do quadro-negro ao tablet concepccedilotildees pedagoacutegicas dos professores acerca das tecnologias
                          • 35 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital a possibilidade da entrada na rede
                            • Capiacutetulo 4 Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
                              • 4 1 A Universidade Federal do Tocantins no contexto da regiatildeo Norte do Brasil
                                • 411 O estado do Tocantins
                                • 412 A Universidade Federal do Tocantins
                                • 413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins
                                • 414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT
                                  • 42 O sistema UAB
                                    • 421 Estrutura administrativa da UAB
                                    • 422 Gestatildeo financeira da UAB
                                    • 423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB
                                      • 43 O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia na UFT
                                        • 431 O processo de implementaccedilatildeo
                                        • 4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica
                                        • 433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica
                                        • 434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas
                                        • 435 Organizaccedilatildeo curricular
                                        • 436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle
                                          • 44 Enquadramento metodoloacutegico da investigaccedilatildeo
                                            • 441 Objetivos da pesquisa
                                            • 442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa
                                            • 443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso
                                            • 444 Participantes
                                            • 445 Instrumentos da pesquisa
                                              • 4451 Pesquisa bibliograacutefica e Documental
                                              • 4452 Pesquisa de campo
                                                • a) Questionaacuterio
                                                • b) Entrevistas
                                                    • 446 Procedimentos de Recolha de dados
                                                    • 447 Tratamentos dos dados
                                                      • 4471 Procedimentos da anaacutelise de conteuacutedo
                                                        • 448 Aspectos eacuteticos
                                                            • Capiacutetulo 5 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
                                                              • 51 Introduccedilatildeo
                                                              • 52 Perfil dos professores cursistas
                                                                • 521 Perfil socioeconocircmico
                                                                • 522 Perfil social
                                                                • 523 Perfil Acadecircmico
                                                                  • (a) Niacutevel de conteuacutedo
                                                                  • (b) Niacutevel de aprendizagem
                                                                  • ( c ) Niacutevel de comunicaccedilatildeo e interatividade
                                                                      • 53 Professores e uso das TDIC no cotidiano
                                                                        • 531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso
                                                                        • 532 Uso de tecnologias no cotidiano
                                                                        • 533 Uso de celular com internet
                                                                        • 534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital
                                                                          • 54 Professores e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica
                                                                            • 541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia
                                                                            • 542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios
                                                                            • 543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias
                                                                              • 55 Uma proposta para a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital
                                                                                • Consideraccedilotildees finais
                                                                                  • 1 Discussatildeo teoacuterica sobre sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital
                                                                                  • 2 Levantamento do perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos professores cursistas
                                                                                  • 3 Investigaccedilatildeo das possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos participantes
                                                                                  • 4 Uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital
                                                                                    • Bibliografia
                                                                                    • Apecircndices
                                                                                      • Apecircndice 1 ndash Questionaacuterio
                                                                                      • I - Identificaccedilatildeo do Entrevistado
                                                                                      • II - Questotildees de iacutendole sociocultural
                                                                                      • III - Acesso e uso da internet
                                                                                      • IV ndash O uso do celular com internet
                                                                                      • V - Frequencia do curso em EaD
                                                                                      • VI - Tecnologias e sua aplicaccedilatildeo
                                                                                      • PARTE 3 - ESCALA DO USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA
                                                                                      • VII tecnologias e praacuteticas pedagoacutegicas
                                                                                      • Muito obrigada pela sua participaccedilatildeo
                                                                                      • Apecircndice 2 - Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas
                                                                                      • Apecircndice 3 - Transcriccedilatildeo das entrevistas
                                                                                        • Perfil Natildeo eacute professor mas pretende ser quando finalizar o curso
                                                                                        • Perfil professor de atualidades da rede particular formado em Recursos Humanos
                                                                                          • Perfil professor de ensino religioso na rede puacuteblica em cidade do interior
                                                                                            • Perfil Professora da rede puacuteblica
                                                                                              • Professora ensino meacutedio rede publica jaacute tem uma graduaccedilatildeo em matemaacutetica
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Elaine Jesus Alves

marccedilo de 2017

Formaccedilatildeo de professores Literacia Digitale Inclusatildeo Sociodigital Estudo de casoem curso a distacircncia da UniversidadeFederal do Tocantins

Trabalho efetuado sob a orientaccedilatildeo doProf Doutor Bento Duarte da Silva

Tese de Doutoramento em Ciecircncias da Educaccedilatildeo

Especialidade de Tecnologia Educativa

Universidade do MinhoInstituto de Educaccedilatildeo

v

Dedico essa tese aos meus pais Pedro e Helena acircncoras que me mantiveram firme apesar das tempestades

E aos meus filhos Camilla Keven e Joatildeo minhas razotildees para seguir em frente

vii

Agradecimentos

Metaforicamente percebi que o doutorado constitui-se de uma longa jornada de trem da qual

passamos por diversas estaccedilotildees cujo percurso definido nos permite desfrutar a companhia de pessoas

que natildeo nos deixam solitaacuterios nesta viagem

Primeiro agradeccedilo agrave Deus sempre comigo nos momentos mais difiacuteceis da viagem quando achava que

natildeo chegaria ao destino Ele me fez acreditar que era possiacutevel

Aos meus pais Pedro e Helena exemplos de vida que me ensinaram valores como a honestidade

diligecircncia responsabilidade e perseveranccedila

Aos meus fllhos Camilla Keven e Joatildeo que sentiram a minha ausecircncia em alguns momentos mas

entenderam e me motivaram a continuar

Aos meus irmatildeos Cleidson Pedro Paulo e Cleciane que sempre me apoiaram e incentivaram a nunca

desistir

Ao professor Bento Silva meu orientador nesse percurso grata pela paciecircncia parceria e apoio na

construccedilatildeo da tese

A Nuno companheiro no final desta jornada

A Joseacute Lauro Martins por me apresentar agrave Universidade do Minho

A Universidade do Minho pela acolhida

A Universidade Federal do Tocantins pela oportunidade de desenvolvimento profissional

A equipe da Diretoria de Tecnologias Educacionais em especial os professores Moises Arantes e

Marcelo Leineker pelo apoio na pesquisa

A todos os alunos do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT que participaram do estudo

A todos os amigos e amigas que conheci neste percurso e que de alguma forma contribuiacuteram para a

conclusatildeo desta jornada dentre estes em especial a amiga Dorcas Weber

ix

Sonhar mais um sonho impossiacutevel Lutar quando eacute faacutecil ceder

Vencer o inimigo invenciacutevel Negar quando a regra eacute vender

Sofrer a tortura implacaacutevel Romper a incabiacutevel prisatildeo

Voar num limite improvaacutevel Tocar o inacessiacutevel chatildeo

Sonho impossiacutevel J Darion e M leighversatildeo de Chico Buarque e Ruy Guerra 1972 (dedicado aos professores que todos dias rompem barreiras para sobreviver e educar na sociedade em rede)

xi

Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins

Resumo

No cenaacuterio do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital em que os alunos usam cada vez mais cedo os artefatos tecnoloacutegicos e desenvolvem naturalmente habilidades para seu uso urge a necessidade do professor investir na criaccedilatildeo de competecircncias suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuaccedilatildeo efetiva no manuseio fluente das miacutedias e aplicaacute-las criativamente na sua praacutetica pedagoacutegica junto a seu alunado Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo docente teriam o papel de preparar os professores para tirarem proveito efetivo do potencial das Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC) no que diz respeito a construccedilatildeo do conhecimento dos alunos Nas ultimas deacutecadas poliacuteticas puacuteblicas de formaccedilatildeo de professores fomentaram cursos de formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia para professores em serviccedilo O contato direto destes professores com as tecnologias pressupotildee que estas formaccedilotildees deveriam proporcionar aos mesmos maiores habilidades e competecircncias neste campo o que os tornariam habilitados para fazerem uso das TDIC na sua praacutetica pedagoacutegica

Portanto este estudo busca compreender as implicacircncias que uma formaccedilatildeo docente a distacircncia pode ter na percepccedilatildeo do professor diante das tecnologias presentes nas escolas em especial os dispositivos moacuteveis nas matildeos dos seus alunos durante as aulas O estudo parte do pressuposto que a formaccedilatildeo de professor que desenvolve habilidades para a literacia digital os introduz na sociedade em rede e por consequecircncia gera sua inclusatildeo sociodigital Neste sentido a discussatildeo teoacuterica do trabalho parte de trecircs macros categorias sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital O texto foi redigidido usando a analogia da rede que integra liga e conecta as pessoas em uma grande teia mas que ao mesmo tempo exclui eou marginaliza os que natildeo tecircm condiccedilotildees plenas de estarem ligados a ela

O objeto de investigaccedilatildeo foi o curso de graduaccedilatildeo em Fiacutesica na modalidade a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins Foram selecionados como amostra os cursistas matriculados entre 2010 e 2012 totalizando 32 alunos Destes a maioria (51) atua ou jaacute atuaram como professores na rede puacuteblica de ensino A pesquisa de cunho qualitativo trata-se de um estudo de caso e os instrumentos metodoloacutegicos foram questionaacuterios (sondagem do perfil de uso de tecnologias no campo cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica) e entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender mais aprofundamente as percepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos dois campos

Sobre o uso das TDIC no cotidiano o estudo constatou que os participantes as utilizam de forma predominantemente elementar e baacutesica As atividades mais complexas que exigem maior grau de literacia digital encontram resistecircncia do uso mesmo pelo desconhecimento ou despreparo Os dados levantandos nos questionaacuterios e as percepccedilotildees apreendidas nas entrevistas apontaram que os professores da amostra fazem um uso limitado dos recursos tecnoloacutegicos na sua praacutetica pedagoacutegica Utilizam as tecnologias num vieacutes de repositoacuterio e reproduccedilatildeo de conteuacutedos e quase nunca interagem com seus alunos por meio de suporte tecnoloacutegicos fora dos momentos de aula

No entanto constatou-se que estes professores tatildeo somente reproduzem na sua praacutetica docente o modelo da formaccedilatildeo a distacircncia que participam conteudista e transmissivo A formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital foi apontada no estudo como a porta de entrada na rede para os professores que ainda encontram resistecircncia em utilizar as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

xiii

Teacher training Digital Literacy and Sociodigital Inclusion an ongoing case study at a distance from the Federal University of Tocantins

Abstract

In the world scenery connected in digital communication networks when students use more often and earlier technology artefacts and natural develop skills to use them urge the necessity of teachers to invest themselves in creation of competencies that will allow them to have an effective actuation in medias and apply them creatively in pedagogic practice Meanwhile academic courses will have the objective to prepare the professor to effectively profit from the potencial of digital comunication technologies and information (TDIC) when we talk about consolidation of students knowledge In the last decades public politiques of teachers formation fomented a modadity of distance learning courses for teachers in practice The direct contact with this kind of technologies should allow them better competencies and skills in this area and this will allow them to use TDIC in their pedagogic practice

Thus this study seeks to understand the implications of teachers distance formation could have in the perception of technologies in different schools specially the use of mobile devices by students during classes This study implies the fact that professors formation will develop habilities for the digital literacy this will introduce them in network society and therefore will generate the socialdigital inclusion Following this the theoreticaly discussion of work is divided in three macro categories network society sociodigital inclusion and digital literacy The text was drawn up by using network analogy that integrate link and conect people in a big web and at the same time exclude andor marginalize those who dont have full conditions to be linked with it

The object of study was the distance modality graduation course in Fisics in the Universidade Federal do Tocantins The sample selected were the students enrolled between 2010 and 2012 in a total of 32 students The majority of them (51) play or played as teachers in the public school network The research with a qualitative imprint is focused in a study case the methodologic instruments used were questionnaires ( surveys of technology usage profile in the daily life and pedagogic practice) and semi structured interviews with the propuse of deeply understand the teachers perceptions over technologies in two fields

About the daily use of TDIC the study found that the participants used them in a basic and elementary way predominantly The complex activities which demand a greater digital literacy level found resistence of use by lack of knowledge or unpreparedness The data collected in the questionnaires and the perceptions absorved in the interviews pointed that the teachers sample use the thecnology resources in a limited way in their pedagogic practice Technologies are used in a repository bias and reproduction of contents and barely never interact with the students out of classes by using technological support

Although the study realize that the teachers only reproduce in their daily practice the distance module where they normally participate - content and transmissible The teacher formation focused on digital literacy was pointed in this study as a gateway on the network for teachers that still find resistance in use TDIC in its pedagogical pratices

xv

AGRADECIMENTOS VII

FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES LITERACIA DIGITAL E INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL ESTUDO DE CASO EM CURSO A DISTAcircNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS XI

RESUMO XI

TEACHER TRAINING DIGITAL LITERACY AND SOCIODIGITAL INCLUSION AN ONGOING CASE STUDY AT A DISTANCE FROM THE FEDERAL UNIVERSITY OF TOCANTINS XIII

ABSTRACT XIII

LISTA DE FIGURAS XIX

LISTA DE QUADROS XXI

LISTA DE GRAacuteFICOS XXIII

LISTA DE SIGLAS XXV

INTRODUCcedilAtildeO 27

1 INIacuteCIO DO PERCURSO E QUESTOtildeES PELO CAMINHO 29 2 O PROJETO 31 3 OBJETIVO GERAL E ESPECIacuteFICOS 36 4 ORGANIZACcedilAtildeO DA TESE 36

CAPIacuteTULO 1 O MUNDO CONECTADO EM REDES 41

11 O ldquoESTAR DENTROrdquo 43 12 PROCESSOS CIVILIZATOacuteRIOS DAS TECNOLOGIAS DE INFORMACcedilAtildeO E COMUNICACcedilAtildeO 55

121 Comunicaccedilatildeo interpessoal 60 122 Comunicaccedilatildeo de Elite 61 123 Comunicaccedilatildeo em massa 63 124 Comunicaccedilatildeo Individual 66 125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais 70 126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas 75

13 O PERFIL DOS USUAacuteRIOS DA INTERNET 84 131 A Geraccedilatildeo Net 86 132 Os Nativos e imigrantes digitais 87 133 As Geraccedilotildees X Y Z 87 134 Os residentes e os visitantes 88 135 O Caldeiratildeo digital 89 136 O homo zappiens 89 137 O Homo Sapiens Digitalis 90 138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet 91

CAPIacuteTULO 2 O MUNDO TODO ESTAacute MESMO CONECTADO 97

21 DO LADO DE FORA OU DENTRO NA MARGEM DA REDE 99 22 A INCLUSAtildeO DIGITAL NA AGENDA POLIacuteTICA 100 23 DEBATE CONCEITUAL DO TERMO EXCLUSAtildeO DIGITAL 109 24 A INCLUSAtildeO PARA ALEacuteM DO ACESSO Agrave MAacuteQUINA 112 25 NIacuteVEIS DE EXCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E BARREIRAS PARA A INCLUSAtildeO 117 26 O FOSSO DIGITAL NO CENAacuteRIO MUNDIAL E NO BRASIL 123

xvi

2 7 INCLUSAtildeO DIGITAL EDUCACcedilAtildeO E EMANCIPACcedilAtildeO 130

CAPIacuteTULO 3 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL 137

31 A POSSIBILIDADE DE ENTRADA NA REDE 139 32 CONCEITO DE LITERACIA DIGITAL 142 32 A LITERACIA DIGITAL NA AGENDA DAS POLIacuteTICAS PUacuteBLICAS 152 33 TECNOLOGIAS VERSUS PROFESSORES O CAMPO DE TENSAtildeO NAS ESCOLAS 164 3 4 DO QUADRO-NEGRO AO TABLET CONCEPCcedilOtildeES PEDAGOacuteGICAS DOS PROFESSORES ACERCA DAS TECNOLOGIAS 168 35 FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES COM FOCO NA LITERACIA DIGITAL A POSSIBILIDADE DA ENTRADA NA REDE 179

CAPIacuteTULO 4 CONTEXTO E ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA PESQUISA 189

4 1 A UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS NO CONTEXTO DA REGIAtildeO NORTE DO BRASIL 191 411 O estado do Tocantins 191 412 A Universidade Federal do Tocantins 194 413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins 196 414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT 199

42 O SISTEMA UAB 202 421 Estrutura administrativa da UAB 202 422 Gestatildeo financeira da UAB 205 423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB 207

43 O CURSO DE LICENCIATURA EM FIacuteSICA A DISTAcircNCIA NA UFT 211 431 O processo de implementaccedilatildeo 212 4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica 213 433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica 217 434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas 219 435 Organizaccedilatildeo curricular 220 436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle 221

44 ENQUADRAMENTO METODOLOacuteGICO DA INVESTIGACcedilAtildeO 226 441 Objetivos da pesquisa 226 442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa 227 443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso 228 444 Participantes 229 445 Instrumentos da pesquisa 230 446 Procedimentos de Recolha de dados 233 447 Tratamentos dos dados 234 448 Aspectos eacuteticos 242

CAPIacuteTULO 5 APRESENTACcedilAtildeO ANAacuteLISE E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS 243

51 INTRODUCcedilAtildeO 245 52 PERFIL DOS PROFESSORES CURSISTAS 246

521 Perfil socioeconocircmico 246 522 Perfil social 248 523 Perfil Acadecircmico 249

53 PROFESSORES E USO DAS TDIC NO COTIDIANO 259 531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso 259 532 Uso de tecnologias no cotidiano 261 533 Uso de celular com internet 270

xvii

534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital 272 54 PROFESSORES E USO DAS TDIC NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA 279

541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia 280 542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios 284 543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias 290

55 UMA PROPOSTA PARA A FORMACcedilAtildeO DE PROFESSORES VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 294

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 307

1 DISCUSSAtildeO TEOacuteRICA SOBRE SOCIEDADE EM REDE INCLUSAtildeO SOCIODIGITAL E LITERACIA DIGITAL 310 2 LEVANTAMENTO DO PERFIL SOCIOECONOcircMICO SOCIAL E ACADEcircMICO DOS PROFESSORES CURSISTAS 311 3 INVESTIGACcedilAtildeO DAS POSSIacuteVEIS MUDANCcedilAS QUE UM CURSO DE FORMACcedilAtildeO A DISTAcircNCIA PROMOVERIA NAS PRAacuteTICAS DE LITERACIA

DIGITAL DOS PARTICIPANTES 314 4 UMA PROPOSTA DE FORMACcedilAtildeO DOCENTE VOLTADA PARA A LITERACIA DIGITAL 317

BIBLIOGRAFIA 321

APEcircNDICES 341

APEcircNDICE 1 ndash QUESTIONAacuteRIO 343 APEcircNDICE 2 - GUIAtildeO DAS ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS 355 APEcircNDICE 3 - TRANSCRICcedilAtildeO DAS ENTREVISTAS 359

xix

Lista de figuras

Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa 37

Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana 59

Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia 172

Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX 175

Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet 176

Figura 6 - Modelo TPACK 186

Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins 192

Figura 8 - Funcionamento do sistema UAB203

Figura 9 - Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins205

Figura 10 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT 215

Figura 11 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT 223

Figura 12 - Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia

na UFT 224

Figura 13 - Ciclo holiacutestico da FIPELD 302

xxi

Lista de Quadros

Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo 59

Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees 64

Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil 87

Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015 125

Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital 147

Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais 151

Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo 158

Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014 162

Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica

quantidade e tipo de instituiccedilatildeo 194

Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica 236

Quadro 11 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica 238

Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas 239

Quadro 13 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto 240

Quadro 14 - Categorias de anaacutelise sobre o professor e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica 280

Quadro 15 - Visatildeo dos cursistas sobre a educaccedilatildeo a distacircncia 280

Quadro 16 - Dificuldades com o uso da tecnologia na escola 289

Quadro 17 ndash Modelo FIPELD 300

xxiii

Lista de Graacuteficos

Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet por meio de microcomputador e somente por outros

equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -

Brasil - 20052013 126

Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a Internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na

populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil

ndash 2013 129

Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM) 247

Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia 249

Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia 250

Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT 252

Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores 262

Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes 263

Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes 264

Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1 266

Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2 267

Graacutefico 12 - Tipos de atividades realizadas no celular com internet 271

Graacutefico 13 - Meacutedia de tempo que os participantes tecircm acesso a computador com internet 273

Graacutefico 14 - Meios em que os participantes aprenderam a usar o computador 274

Graacutefico 15 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 1 285

Graacutefico 16 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 2 286

xxv

Lista de Siglas

ANDIFES ndash Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees de Ensino Superior

ATUAB ndash Ambiente de trabalho dos coordenadores da Universidade Aberta do Brasil

AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem

CAPES - Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior

CETICbr - Centro de Estudos sobre as Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

CGIbr - Comitecirc Gestor da Internet no Brasil

CONSEPE - Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo

DTE ndash Diretoria de Tecnologias Educacionais

EU ndash Uniatildeo Europeia

FIPE ndash Formaccedilatildeo integrada permanente e evolutiva para a literacia digital

GPS ndash Sistema de Posicionamento Global

HTML - Hypertext Markup Language

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas

IES - Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

IFTO - Instituto Federal de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins

IP - Protocolo de Internet

ITU - Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees

LDO - Lei de Diretrizes Orccedilamentaacuterias

MEC ndash Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

NTE - Nuacutecleos de Tecnologia Educacional

NTIA - National Telecommunications and Information Administration

OEA - Uniatildeo dos Estados Americanos

ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milecircnio

ONG ndash Organizaccedilatildeo natildeo Governamental

ONU - Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas

Moodle - Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment

PARFOR - Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores

PNAP -Programa Nacional de Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP

PNE - Plano Nacional de Educaccedilatildeo

PPC - Projeto Pedagoacutegico do Curso

PROFMAT - Poacutes Graduaccedilatildeo Stritu Senso em Matemaacutetica profissionalizante

PROFORMACcedilAtildeO ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio

PROUCA - Projeto Um computador por Aluno

xxvi

SECADI - Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade

SEDUCTO- Secretaria de Educaccedilatildeo do Tocantins

SEED ndash Secretaria de Educaccedilatildeo a Distancia

SGB - Sistema de Gestatildeo de Bolsas

SISUAB ndash Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil

TDIC ndash Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo

TPACK - Technological Pedagogical Content Knowledge

UC- Unidade de Contexto

UAB ndash Universidade Aberta do Brasil

UFMT - Universidade Federal do Mato Grosso

UFT ndash Universidade Federal do Tocantins

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRP - Universidade Federal Rural de Pernambuco

UMinho ndash Universidade do Minho

UNB - Universidade de Brasiacutelia

UNITINS - Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins

UNO - Unidades Operativas

UNESCO ndash Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura

WWW - Word Wide Web

Introduccedilatildeo

Introduccedilatildeo

29

1 Iniacutecio do percurso e questotildees pelo caminho

Partir significa pocircr-se a caminho ir-se deslocar-se de um ponto a outro e natildeo ficarrdquo (Freire 1992 p71)

Partir do ldquosaber da experiecircncia feita para superaacute-lordquo era defendido por Paulo Freire como um

movimento dialoacutegico para a transformaccedilatildeo do sujeito (Freire 1992) Neste sentido iniciamos esse

trabalho relatando o ponto de partida o iniacutecio do percurso que nos fez chegar agrave aacuterea da Tecnologia

Educativa na Universidade do Minho

Nosso primeiro contato com a tecnologia educativa se deu em 2006 ano da nossa graduaccedilatildeo

em Pedagogia e entrada como servidora puacuteblica na funccedilatildeo de Pedagoga na Universidade Federal do

Tocantins - UFT O convite para cursar a primeira formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia partiu de um

colega que coordenava o curso de extensatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo um programa do governo federal que

era voltado a formar professores no uso das miacutedias na escola com foco na autoria Como receacutem-

formada natildeo tiacutenhamos experiecircncia docente mas as trocas de experiecircncias realizadas durante a

formaccedilatildeo nos levaram a refletir sobre a tecnologia educativa como uma poliacutetica social de inclusatildeo O

puacuteblico alvo do curso era na maioria professores da rede puacuteblica residentes nas cidades do interior do

estado do Tocantins Nos encontros presenciais do curso percebia-se que alguns professores natildeo

sabiam nem ligar o computador do laboratoacuterio outros natildeo tinham e-mail e encontravam dificuldades

em navegar na internet Ao observar esta realidade questionaacutevamos sobre ateacute que ponto aquela

formaccedilatildeo possibilitava aos professores cursistas integrarem as tecnologias no seu cotidiano e nas suas

praacuteticas educativas

Nos anos seguintes de 2007 a 2010 atuamos como coordenadora do curso Miacutedias na

Educaccedilatildeo na UFT A posiccedilatildeo de gestora do curso nos proporcionou outra visatildeo das tecnologias

educativas nos fazendo indagar sobre outra questatildeo por que ocorria um alto iacutendice (50) de evasatildeo do

curso Realizamos uma pesquisa junto aos cursistas desistentes da 1ordm e 2ordm ofertas e constatamos que

as causas da evasatildeo estatildeo relacionadas com problemas de infraestrutura e suporte pedagoacutegico e

ainda falta de tempo por excesso de atividades que o curso exigia dos professores que jaacute cumpriam

carga horaacuteria pesada nas escolas Os cursistas desistentes tambeacutem relataram dificuldades com o

manuseio das tecnologias e uma sensaccedilatildeo de solidatildeo durante o curso (Alves e Faria 2011) Ao

participar dos encontros presenciais das ofertas posteriores em que os concluintes apresentavam seus

projetos de intervenccedilatildeo com o uso de miacutedias nas escolas algumas questotildees nos inquietavam O que

os cursistas fariam com esse conhecimento agora na condiccedilatildeo de egressos do curso Desenvolveriam

Introduccedilatildeo

30

os projetos que apresentaram naquela formaccedilatildeo Aqueles professores se sentiram inseridos na

sociedade em rede com capacidades e habilidades para atuarem como sujeitos criacuteticos e autocircnomos

Articulariam o uso das miacutedias nos planos de aulas e projetos pedagoacutegicos da escola que atuam O que

esta formaccedilatildeo mudaria no seu cotidiano no contato com as tecnologias em outros ambientes natildeo

escolares O conhecimento do mundo digital mudaria a perspectiva econocircmica desses indiviacuteduos

Nos anos de 2012 a 2013 na funccedilatildeo de coordenadora pedagoacutegica dos cursos de formaccedilatildeo

inicial e continuada mediados por tecnologia na UFT acompanhamos as anguacutestias dos coordenadores

de curso e professores no que diz respeito a alta evasatildeo dos cursistas e a dificuldades destes com as

ferramentas tecnoloacutegicas Constatamos que os cursos na aacuterea de exatas (Matemaacutetica Fiacutesica e

Quiacutemica) satildeo os que apresentavam maiores iacutendices de desistecircncia de alunos O curso de licenciatura

em Fiacutesica a distacircncia por exemplo iniciou sua primeira oferta em 2010 com 117 alunos matriculados

em quatro polos Em 2014 segundo relatoacuterio da coordenaccedilatildeo do curso havia 71 alunos frequentes

um iacutendice proacuteximo de 40 de evasatildeo O relatoacuterio por polo revelou que nas cidades do interior do

Estado do Tocantins os iacutendices de evasatildeo satildeo maiores que 50 No polo de Ananaacutes extremo norte do

Estado dos 25 matriculados em 2010 apenas 11 cursistas permaneciam No Polo de Cristalacircndia

cidade do interior com 7800 habitantes dos 24 cursistas apenas nove dos ingressantes em 2010

continuavam matriculados em 2014 Em reuniotildees pedagoacutegicas com a coordenaccedilatildeo do curso foram

apresentadas dificuldades dos cursistas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo do curso e ainda com a metodologia

de ensino a distacircncia da qual os cursistas cobravam aulas presenciais nos polos e manifestavam

dificuldades de interagir com os colegas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle

Todas essas questotildees nos fizeram refletir sobre o discurso de que a educaccedilatildeo a distacircncia

promove a inclusatildeo digital dos professores participantes das formaccedilotildees a distacircncia Considerando o

conceito de Warschauer (2002) sobre inclusatildeo digital que diz respeito natildeo apenas ao acesso fiacutesico a

computadores e agrave conectividade mas a recursos adicionais que permitam que as pessoas utilizem a

tecnologia de modo satisfatoacuterio comeccedilamos a pensar em ateacute que ponto estas formaccedilotildees na

modalidade a distacircncia estariam ldquoincluindordquo os professores no mundo digital e os ajudando a

apropriarem das tecnologias no seu cotidiano e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Poderiam estas

formaccedilotildees a distacircncia estar ldquoexcluindordquo ou ldquodeixando aacute margemrdquo estes professores agrave medida que

evadem dos cursos por natildeo se adaptarem agrave metodologia de educaccedilatildeo mediada por tecnologia ou

porque o acesso e a conexatildeo na cidade onde moram natildeo eacute satisfatoacuteria para um melhor desempenho

no curso Natildeo estaria a educaccedilatildeo a distacircncia sendo uma ldquoinclusatildeo excludenterdquo quando esta natildeo

Introduccedilatildeo

31

possibilita que todos os ingressantes permaneccedilam nas formaccedilotildees nesta modalidade e desenvolvam

habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias no seu cotidiano e na escola com seus alunos

Estes questionamentos permaneciam latentes durante nossa jornada como coordenadora

pedagoacutegica dos cursos Um colega que estava cursando o doutoramento em educaccedilatildeo na linha

tecnologias educativas na Universidade do Minho nos sugeriu a leitura da obra A Sociedade em Rede

de Manuel Castells (1999) A noccedilatildeo de rede nos foi apresentada como uma metaacutefora perfeita para

compreender que vivemos em uma sociedade conectada em ldquonoacutesrdquo que interligados produzem fluxos

ou extensas teias de telecomunicaccedilotildees avanccediladas que aleacutem de centros da vida social poliacutetica

econocircmica tornaram-se sistemas eletrocircnicos virtuais A desconexatildeo das pessoas aos ldquonoacutesrdquo da rede

nos pareceu como uma possiacutevel situaccedilatildeo vivida por muitos professores que natildeo conseguem se

apropriar das tecnologias nas suas vivecircncias cotidianas e pedagoacutegicas O ldquoestar na rederdquo estaacute

associado a pertencer existir neste fluxo de teias interligadas o ldquonatildeo estar na rederdquo seria natildeo

pertencer agrave sociedade em rede e estaria associada a novas formas de exclusatildeo Apoacutes refletirmos

nestas questotildees decidimos escrever um projeto que contemplasse estes questionamentos com

embasamento teoacuterico e empiacuterico

A princiacutepio pensamos em fazer a pesquisa com base experimental no curso de formaccedilatildeo

continuada Miacutedias na Educaccedilatildeo do qual tivemos experiecircncia como aluna e coordenadora Entramos em

contato com um professor do programa de doutoramento em Educaccedilatildeo da Universidade do Minho e

enviamos uma preacutevia do projeto Sob a orientaccedilatildeo do professor foram realizadas algumas modificaccedilotildees

como a mudanccedila do curso de especializaccedilatildeo Miacutedias na Educaccedilatildeo cujas ofertas jaacute estavam concluiacutedas

na UFT por um curso de licenciatura a distacircncia em oferta na universidade Assim optamos por usar

de forma instrumental o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT O projeto intitulado

Formaccedilatildeo de professores Letramento Digital e Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a

distacircncia da Universidade Federal do Tocantins foi submetido ao Conselho Cientiacutefico da Universidade

do Minho e aceito com algumas ressalvas dentre elas que se usasse o termo literacia digital em

substituiccedilatildeo de letramento digital considerando que o termo literacia eacute mais abrangente

2 O projeto

Para o projeto de pesquisa aprovado intitulado Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e

Inclusatildeo Sociodigital Estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins

elegemos as categorias teoacutericas de anaacutelise sociedade do conhecimento inclusatildeo sociodigital

Introduccedilatildeo

32

formaccedilatildeo de professores literacia mediaacutetica ou digital A primeira categoria ldquosociedade do

conhecimentordquo constitui uma leitura do mundo conectado em redes e dos reflexos na sociedade

instituiccedilotildees poliacutetica educaccedilatildeo e na economia Entretanto no decorrer das leituras realizadas durante a

pesquisa bibliograacutefica compreendemos que o termo Sociedade em Rede seria mais apropriado para

esta categoria pois a metaacutefora da rede foi eleita para nortear todo o trabalho o mundo conectado em

rede e noacutes e as mudanccedilas advindas deste fenocircmeno Assim esta categoria analiacutetica buscou descrever

o cenaacuterio ou pano de fundo em que ocorrem as mudanccedilas socioteacutecnicas advindas da expansatildeo das

Tecnologias Digitais de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (TDIC)

Para construir este quadro do cenaacuterio em que a pesquisa se insere recorremos aos claacutessicos

da literatura da aacuterea de Comunicaccedilatildeo com intuito de compreender os processos evolutivos das

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no decorrer dos seacuteculos e as suas reconfiguraccedilotildees ateacute

nossos dias Marchall McLuhan (1977) Mauro Wolf (1985) e Alvin Toffler (1970) desenvolveram

pesquisas na aacuterea da Comunicaccedilatildeo que partem do pressuposto de que no processo civilizatoacuterio as

tecnologias embora natildeo sejam determinantes da evoluccedilatildeo cultural do homem estas constituem uma

das variaacuteveis mais importantes para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave

comunicaccedilatildeo e os artefatos por ele desenvolvidos e como estes artefatos tecnoloacutegicos contribuiacuteram

para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos Autores contemporacircneos como

Manuel Castells (1999 2003) Pierre Leacutevy (1996 1999) Michel Serres (2013) e Zygmunt Bauman

(2001 2007 2011) que vivenciaram as mudanccedilas ocorridas na modernidade levantam questotildees

sobre novos desafios que satildeo impostos agrave sociedade diante das novas formas de se comunicaccedilatildeo

trabalho educaccedilatildeo e vida social Castells (1999 2003) mapeia um cenaacuterio que mediado pelas TDIC

tem suas estruturas reformuladas O conceito de capitalismo informacional eacute construiacutedo como um novo

tipo de capitalismo pautado sobretudo na informaccedilatildeo e conhecimento e da capacidade tecnoloacutegica de

processar esta informaccedilatildeo e gerar conhecimento O autor analisa que o capitalismo informacional

tambeacutem geraria exclusatildeo Assim a rede mesmo com os recentes avanccedilos tecnoloacutegicos ainda exclui

ou manteacutem marginalizada uma parcela consideraacutevel da populaccedilatildeo mundial Neste sentido foi

escolhida a segunda categoria de anaacutelise do estudo a inclusatildeo sociodigital

Autores contemporacircneos criticam o uso do binocircmio inclusatildeoexclusatildeo digital pois estes

dividem os indiviacuteduos em duas uacutenicas categorias os que tecircm acesso e os que natildeo tecircm acesso aos

meios digitais Estes autores consideram que a exclusatildeo digital compreende vaacuterios niacuteveis e categorias

Neste sentido consideram mais apropriado utilizar outros termos como apartheid digital cisatildeo digital

Introduccedilatildeo

33

fratura digital brecha digital gap digital e outros termos correlativos (Brown e Czerniewicz 2010

Warschauer 2002) Demo (2011) usa a expressatildeo ldquomarginalizaccedilatildeordquo pois evita a dicotomizaccedilatildeo

trazida com o termo exclusatildeo que tende a ser radical ou fora ou dentro Segundo o autor mesmo

num contexto capitalista muito excludente as pessoas conseguem algum acesso ao mundo digital

ainda que de forma marginalizada Natildeo estatildeo completamente fora ou excluiacutedas mas ficam na

margem quase de fora

Assim o projeto de pesquisa em tela aborda a inclusatildeo sociodigital para aleacutem do acesso agraves

tecnologias digitais considerando que mesmo aqueles que possuem o acesso poderiam tecirc-lo de forma

restrita ou limitada Poderiam tambeacutem natildeo possuir as habilidades teacutecnicas e cognitivas para uso

praacutetico das tecnologias em suas vidas Levando para o campo educacional as tecnologias cada vez

mais presentes nas escolas constituem um desafio para os professores que lidam diariamente com

estudantes portando seus tablets e celulares na sala de aula Estes professores podem se sentir

excluiacutedos ou marginalizados digitalmente diante dos alunos conectados que estatildeo cada vez mais

navegando nas redes e acessando informaccedilotildees em tempo real e muitas vezes questionando o

conhecimento transmitido na escola

A rede eacute aberta mas exige dos seus usuaacuterios habilidades e competecircncias para manterem-se

conectados aos seus noacutes Neste sentido a categoria teoacuterica ldquoliteracia mediaacutetica ou digitalrdquo insere-se na

discussatildeo teoacuterica do projeto como uma possiacutevel porta de entrada para os ldquomarginalizadosrdquo

digitalmente inserir-se na sociedade em rede De acordo com Lopes (2013) literacia mediaacutetica ou

digital diz respeito agrave capacidade de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias

ainda criar comunicaccedilotildees em diferentes contextos Seguindo a analogia da rede os indiviacuteduos com

bons niacuteveis de literacia digital tendem a possuir maiores chances de manterem-se conectados agrave rede e

usufruir os benefiacutecios advindos do acesso filtragem e uso saacutebio das informaccedilotildees

A difusatildeo da internet acessada em aparelhos portaacuteteis que possibilitam a mobilidade

conectividade e acesso a informaccedilotildees em qualquer lugar e a qualquer hora causou profundos

impactos nas estruturas sociais econocircmicas culturais e cognitivas dos indiviacuteduos O tablet ou

celulares conectados agrave internet emergem como dispositivos ldquocheiosrdquo em contraste com o quadro-negro

que ldquovaziordquo precisa de um professor para que lhe escreva os conteuacutedos (Noacutevoa 2015) Assim o

professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento as informaccedilotildees estatildeo em toda a parte e os alunos

as acessam com facilidade e frequecircncia Neste sentido no campo educacional surgem novos espaccedilos

de aprendizagem aleacutem dos muros das escolas

Introduccedilatildeo

34

Prensky (2001) criou o termo ldquonativo digitalrdquo para designar a atual geraccedilatildeo de jovens que

segundo ele satildeo diferentes das geraccedilotildees anteriores natildeo apenas na vestimenta modo de falar se

comportar ou estilo O autor argumenta que estes nativos digitais jaacute nasceram cercados de

tecnologia usando computadores viacutedeo games tocadores de muacutesica digitais cacircmeras de viacutedeo

telefones celulares tablets notebooks jogos e outras parafernaacutelias da era digital Nesta loacutegica os

professores com mais de vinte anos satildeo ldquoimigrantesrdquo na sociedade do conhecimento Quer dizer

nasceram em outro ambiente e aprenderam a construir conhecimento de forma diferente desta

geraccedilatildeo denominada de nativos Embora essa tese de que existe uma geraccedilatildeo de nativos digitais

encontre controveacutersias no meio acadecircmico a realidade observada eacute que os professores satildeo

diariamente desafiados nas suas aulas a dialogar com os ldquonativosrdquo problematizar os acontecimentos

da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor atividades que integrem as miacutedias atuais

Neste contexto o desafio que se apresenta eacute formar professores preparados para pensar criticamente

com capacidade de influenciar de maneira positiva aos seus alunos a transformar informaccedilatildeo em

conhecimento e ao mesmo tempo mediar a inclusatildeo digital daqueles que natildeo satildeo nativos

O maior desafio poreacutem encontra-se no fato de que os jovens esterotipados como ldquonativos

digitaisrdquo possuem habilidades teacutecnicas com o uso das tecnologias mas possuem baixos niacuteveis de

literacia digital Alguns estudos comprovam que apesar do faacutecil manejo das TDIC estes jovens satildeo

dependentes de motores de pesquisa e possuem ldquopouca capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo

das fontes de informaccedilatildeordquo (Bennett Maton e Kervin 2008 Lage e Dias 2012) Portanto neste

cenaacuterio de jovens com amplo acesso as tecnologias mas sem senso criacutetico e anaacutelitico para coletar

processar e usar as informaccedilotildees para gerar conhecimento o papel do professor muda de portador do

conhecimento para problematizador instigador provocador e mediador no processo de ensino-

aprendizagem

Contudo estudos demonstram que os professores nos cursos de formaccedilatildeo natildeo satildeo

preparados para lidar com a realidade do mundo em redes (Demo 2011 Noacutevoa 2015) No campo da

formaccedilatildeo de professores o papel das universidades que ofertam cursos de licenciaturas eacute

fundamental para preparar os docentes para as mudanccedilas que as tecnologias vecircm causando nas

formas de aprender ensinar trabalhar e viver Poreacutem mesmo em condiccedilotildees em que o professor use

as tecnologias no seu cotidiano e socialmente natildeo significa que este as usaraacute com seus alunos em sala

de aula Do mesmo modo o mero fato de um professor ser cursista de uma licenciatura a distacircncia

pode natildeo alterar sua relaccedilatildeo com as tecnologias no cotidiano eou praacuteticas pedagoacutegicas Neste

Introduccedilatildeo

35

sentido formar o professor para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar

criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Por outro lado Lopes (2013) assinala que

a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos usuaacuterios da rede

produzindo a exclusatildeo social e desigualdade

Considerando estes pressupostos a pesquisa de doutoramento ldquoFormaccedilatildeo de professores

Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal

do Tocantins buscou investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente na modalidade a distacircncia

contribuem para o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores e sua possiacutevel

inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede Trata-se de um estudo de caso realizado com professores

que satildeo cursistas de licenciatura a distacircncia numa universidade puacuteblica no interior do Brasil cujos

instrumentos de coleta de dados foram o questionaacuterio e entrevistas semiestruturadas O total de alunos

frequentes do curso de licenciatura em estudo eacute de 32 alunos destes 25 (78) participaram Os

dados dos questionaacuterios buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das

tecnologias no cotidiano e na praacutetica docente As entrevistas buscaram aprofundar sobre as provaacuteveis

dificuldades eou resistecircncias encontradas nesse campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas

na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias depois do ingresso no referido curso a distacircncia Os dados

foram analisados qualitativamente com uso da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo

O sumaacuterio desta tese foi concebido a partir da analogia das redes de Manuel Castells No livro

A galaacutexia da Internet o autor aprofundou sobre os processos excludentes que a internet promoveria na

sociedade em rede Castells usou o termo ldquodivisatildeo digitalrdquo para definir a ldquodivisatildeo criada entre aqueles

indiviacuteduos firmas instituiccedilotildees regiotildees e sociedades que tecircm as condiccedilotildees materiais e culturais para

operar no mundo digital e os que natildeo tecircm ou natildeo conseguem adaptar agrave velocidade da mudanccedilardquo

(Castells 2003 p 221) O autor conclui que o resultado eacute a fragmentaccedilatildeo das sociedades e

instituiccedilotildees em paralelo agrave interconexatildeo das redes marginalizados e sem oportunidades

Pensando nesta metaacutefora da rede e da divisatildeo ou desconexatildeo com a rede com reflexos nos

processos educativos e a formaccedilatildeo de professores as questotildees que norteiam este estudo satildeo

bull O uso de tecnologias nas situaccedilotildees pedagoacutegicas do curso de licenciatura a distacircncia em Fiacutesica da UFT promoveu a literacia dital do professor cursista inserindo-o na sociedade em rede

bull Quais os impactos socioeconocircmicos cognitivos e teacutecnicos da introduccedilatildeo de inovaccedilotildees tecnoloacutegicas nas condiccedilotildees de vida dos cursistas

bull Que possiacuteveis mudanccedilas uma formaccedilatildeo a distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas suas praacuteticas docentes

Introduccedilatildeo

36

3 Objetivo geral e especiacuteficos

Considerando a problemaacutetica apresentada o objetivo principal desta tese foi investigar as

possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores da rede puacuteblica pode

causar na e literacia digital e inclusatildeo sociodigital dos participantes no que diz respeito agraves suas

respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo

Objetivos especiacuteficos

bull Compreender o conceito de literacia digital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em

rede e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos

processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

bull Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma

formaccedilatildeo na modalidade agrave distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as

tecnologias no que diz respeito agraves praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

bull Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na

sua atuaccedilatildeo docente

bull Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a

integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

4 Organizaccedilatildeo da tese

Esta tese encontra-se estruturada em cinco capiacutetulos (1) O mundo conectado em Redes (O

ldquoestar dentrordquo) (2) O mundo todo estaacute mesmo conectado(Do lado de fora ou dentro na margem da

rede) (3) Literacia digital na formaccedilatildeo de professores (a possibilidade da entrada na rede) (4) Contexto

e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa (5) Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados A

Introduccedilatildeo e as Consideraccedilotildees finais natildeo foram contadas como capiacutetulos

Na Introduccedilatildeo decorremos a delimitaccedilatildeo da problemaacutetica da investigaccedilatildeo descriccedilatildeo do

cenaacuterio e contexto em que a pesquisa eacute proposta e ainda a motivaccedilatildeo desta investigadora para o

estudo a partir da sua histoacuteria de vida e trabalhos desenvolvidos na aacuterea de tecnologia educativa A

seguir na apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa que originou esta tese dissertamos sobre as razotildees e

Introduccedilatildeo

37

pertinecircncia da escolha do tema categorias teoacutericas eleitas e a questatildeo central da investigaccedilatildeo seguida

dos objetivos e da descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo da tese

Figura 1 - Siacutentese da pesquisa investigativa

O Capiacutetulo 1 inicia com a descriccedilatildeo do cenaacuterio mundial interconectado em redes de

tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Usando a analogia da rede segundo a visatildeo de Castell

(1999) o texto aborda que assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e fios

modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda

uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI Essas mudanccedilas implicaram na quebra do paradigma da economia

industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as maacutequinas para o paradigma da informaccedilatildeo

baseado nas competecircncias para gerir a informaccedilatildeo e usaacute-la eficazmente Considerando que o potencial

avassalador de informaccedilotildees hoje difundidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em especial depois da

expansatildeo da internet requer habilidade do usuaacuterio para navegar se apropriar de dados confiaacuteveis e

realmente importantes transformando-os em conhecimento (Leacutevy 1998) Assim a compreensatildeo dos

processos civilizatoacuterios que desencadearam a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo desde a

invenccedilatildeo da escrita ateacute os dias atuais foi importante neste estudo pois ampliou o campo de visatildeo

sobre a estreita relaccedilatildeo entre os processos comunicativos e a educaccedilatildeo

Introduccedilatildeo

38

Portanto fazendo uso das seis configuraccedilotildees evolutivas dos processos comunicativos e

educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo segundo Silva (2008) no capiacutetulo 1

apresentamos o modelo de educaccedilatildeo vigente em cada periacuteodo histoacuterico e as respectivas tecnologias

existentes naquele periacuteodo Este retrospecto histoacuterico permitiu visualizar o caraacuteter de peso que as

tecnologias podem exercer nos processos educativos Apresentamos pontualmente as transformaccedilotildees

geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos estruturantes sobretudo na sociedade

contemporacircnea Partindo da invenccedilatildeo da tecnologia da escrita que mudou a forma de ensino antes

baseada na oralidade e que passou a ser materializada nos dispositivos disponiacuteveis em periacuteodo

histoacuterico paredes tabuinhas de argila papiros pergaminhos ateacute chegarmos aos dias atuais

concordamos que nunca se leu e escreveu tanto na histoacuteria da humanidade No entanto os

dispositivos agora satildeo outros celulares tablets notebooks e computadores Diferente das tabuinhas

de argilas os tablets e celulares smartphones permitem natildeo apenas a escrita fixa mas a interaccedilatildeo

simultacircnea com outras pessoas lugares e instituiccedilotildees A comunicaccedilatildeo passou a ser ubiacutequa pervasiva

onipresente Mudou-se de tal modo o perfil dos usuaacuterios destes dispositivos e por sua vez mudou a

forma como estes usuaacuterios aprendem (Santaella 2004) Entretanto a discussatildeo teoacuterica apontou que

este cenaacuterio demanda novos desafios agraves instituiccedilotildees escolares e aos professores que lidam no dia-dia

com a presenccedila dos alunos portando seus dispositivos conectados agrave internet nas salas de aulas

Por conseguinte ainda no Capiacutetulo 1 foi apresentado um panorama sobre os diferentes roacutetulos

e estereoacutetipos que os usuaacuterios da internet recebem por distintas linhas teoacutericas e as controveacutersias em

torno destas preacute-classificaccedilotildees Por exemplo discutiu-se que haacute uma linha de teoacutericos que

argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e

altamente especializada na internet (Prensky 2001 Tapscott 1998) Foram citados vaacuterios estudos

realizados em diferentes paiacuteses que comprovam que nem todos que estatildeo conectados agrave rede satildeo

nativos digitais altamente especializados e mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de

tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e

filtrar conteuacutedos fuacuteteis (Brown e Czerniewicz 2010 Lage e Dias 2012) Neste sentido compreendeu-se

que sobreviver no emaranhado de teias de comunicaccedilatildeo e manter-se dentro da rede requer mais que

do que obter o acesso miacutenimo e que a mesma rede que interliga pessoas lugares negoacutecios naccedilotildees

inteiras eacute a mesma que pode excluir aqueles que natildeo estatildeo preparados para navegar e tirar proveito do

tsunami de informaccedilotildees disponiacuteveis on-line

Introduccedilatildeo

39

Na sequecircncia o Capiacutetulo 2 seguindo a analogia da rede apresenta-se o debate conceitual e

teoacuterico sobre os ldquoexcluiacutedosrdquo ou ldquomarginalizadosrdquo e as implicacircncias que esta divisatildeo produz na vida

destes indiviacuteduos Buscamos resgatar as razotildees pelas quais a discussatildeo sobre inclusatildeo digital entrou

na agenda poliacutetica de forma a compreender o rumo que as poliacuteticas puacuteblicas nessa aacuterea tomaram nas

ultimas deacutecadas O estudo bibliograacutefico assinalou que as primeiras iniciativas poliacuteticas para inclusatildeo

digital eram voltadas nomeadamente para o acesso agraves redes de internet e neste sentido as poliacuteticas

puacuteblicas visavam a disponibilizaccedilatildeo de maacutequinas em escolas e telecentros No entanto o estudo

revelou que mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes o

ldquofosso digitalrdquo persistiu em abrir pois as tecnologias tendem a dar poder agravequeles que sabiamente se

apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio O capiacutetulo 2 apresenta tambeacutem um quadro do fosso digital

no Brasil e no mundo e os diferentes niacuteveis de ldquoexclusatildeordquo presentes na rede digital A autonomia ou

emancipaccedilatildeo digital com base na formaccedilatildeo em literacia digital foi defendida como a porta de entrada

dos indiviacuteduos marginalizados adentrarem agrave rede conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo

colaborativa de conhecimentos ampliando suas oportunidades de emprego e renda Neste sentido

ressaltamos que a formaccedilatildeo para a literacia digital constitui uma necessidade sine qua non nos dias

atuais em que a rede se propaga rapidamente

Assim o Capiacutetulo 3 apresenta o conceito de literacia digital Considerando que o termo natildeo eacute

comum no Brasil a compreensatildeo do conceito contribui para o entendimento da importacircncia desta para

a inserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente agrave rede Tambeacutem se considera neste capiacutetulo como a

literacia digital foi introduzida na agenda das poliacuteticas puacuteblicas tendo em vista que a visatildeo dos

formuladores de poliacuteticas influi profundamente na criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas efetivas de inclusatildeo

digital e literacia digital A discussatildeo sobre o cenaacuterio das tecnologias presentes nas escolas e o campo

de tensatildeo gerado entre professores e alunos foi apropriada para a compreensatildeo das razotildees pelas quais

muitos docentes ainda satildeo resistentes agraves tecnologias Esta discussatildeo foi aprofundada atraveacutes do

retrospecto histoacuterico sobre a introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas e suas respectivas conotaccedilotildees

pedagoacutegicas ateacute a chegada dos tablets nos dias atuais Compreendeu-se que as tecnologias sejam

elas um quadro-negro um retroprojetor um datashow ou mesmo o computador tablets e celulares

carregam consigo uma abordagem pedagoacutegica impliacutecita no seu uso E estudos constatam que muitos

professores ainda reproduzem praacuteticas pedagoacutegicas da idade meacutedia ldquocustomizadasrdquo ou ldquorepaginadasrdquo

com o uso das TDIC (Demo 2011 Lopes 2013) Logo o potencial das TDIC tem sido desperdiccedilado

por estes professores e na maioria das vezes por falta de um preparo ou uma formaccedilatildeo adequada

Neste sentido a introduccedilatildeo dos estudos sobre literacia digital nos cursos de formaccedilatildeo de professores

Introduccedilatildeo

40

foi apontada por esta pesquisa como uma possibilidade de entrada e permanecircncia destes professores

ldquomarginalizadosrdquo na sociedade em rede

O Capiacutetulo 4 apresenta o contexto e o enquadramento metodoloacutegico da pesquisa A partir da

descriccedilatildeo do contexto regional (Estado do Tocantins) em que a UFT se insere passando pela histoacuteria

de criaccedilatildeo da universidade a primeira parte do capiacutetulo busca situar o leitor na conjuntura social

econocircmica poliacutetica e educacional em que o estudo foi realizado Considerando que o curso de

licenciatura em Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo faz parte do Sistema Universidade Aberta do

Brasil (UAB) a segunda parte do capiacutetulo dois contempla a descriccedilatildeo de todo o sistema sua estrutura

administrativa gestatildeo financeira e gestatildeo pedagoacutegica do curso Na sequecircncia expomos um quadro

descritivo do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT desde o seu processo de implantaccedilatildeo

perpassando pela sua estrutura administrativa concepccedilatildeo didaacutetico pedagoacutegica e diretrizes

metodoloacutegicas As descriccedilotildees citadas contribuiacuteram para a compreensatildeo do cenaacuterio e contexto em que

o estudo foi realizado A uacuteltima seccedilatildeo do capiacutetulo 4 apresenta o enquadramento metodoloacutegico da

investigaccedilatildeo os objetivos e natureza da pesquisa justificativa da opccedilatildeo metodoloacutegica descriccedilatildeo dos

instrumentos de coleta de dados os procedimentos para tratamento dos dados e os aspectos eacuteticos

O Capiacutetulo 5 destina-se agrave apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados Nas

Consideraccedilotildees finais expomos as conclusotildees do estudo e apontamentos para uma proposta de

formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital cujo o foco eacute a motivaccedilatildeo preparaccedilatildeo e a

accedilatildeoavaliaccedilatildeoreaccedilatildeo do professor na integraccedilatildeo das TDIC agraves suas praacuteticas pedagoacutegicas num ciclo

contiacutenuo evolutivo e permanente

A terminar esta introduccedilatildeo referimos trecircs apontamentos sobre a organizaccedilatildeo e redaccedilatildeo da tese

bull Usamos o portuguecircs brasileiro em conformidade com as normas de escrita acadecircmica para referecircncias e citaccedilotildees da American Psychological Association (APA)

bull Nas citaccedilotildees diretas usamos a liacutengua do livro consultado fazendo uma traduccedilatildeo livre

bull Para iniciar cada capiacutetulo foi elaborada uma nuvem de palavras com a finalidade de destacar as palavras termos e expressotildees mais relevantes no respectivo texto

Capiacutetulo 1 O mundo conectado em redes

O mundo conectado em redes

43

11 O ldquoestar dentrordquo

No texto de abertura do livro ldquoA Galaacutexia da Internetrdquo Manuel Castells considera

A internet eacute o tecido de nossas vidas Se a tecnologia da informaccedilatildeo eacute hoje o que a eletricidade foi na Era industrial em nossa eacutepoca a internet poderia ser equiparada tanto a uma rede eleacutetrica quanto ao motor eleacutetrico em razatildeo da capacidade de distribuir a forccedila da informaccedilatildeo por todo o domiacutenio da atividade humana (Castells 2003 p 07)

A arte de tecer redes eacute uma praacutetica antiga na histoacuteria da humanidade A origem etimoloacutegica da

palavra rede vem do latim rete significando o entrelaccedilamento de fios e noacutes que formava uma espeacutecie

de tecido A provaacutevel origem das redes tecnologia utilizada para captura de peixes tem registro nas

eras preacute-helecircnicas e do Egito antigo Segundo Cacircmara Cascudo (Mar 2015) as primeiras redes eram

feitas de linho sisal ou cacircnhamo no periacuteodo neoliacutetico meacutedio A ideia da rede era obstruir o caminho do

peixe de forma que este fosse apanhado A rede era tecida com noacutes que entrelaccedilados formavam um

tecido resistente para a captura dos pescados A concepccedilatildeo de rede ou conexotildees ampliou-se para a

vida da sociedade na idade meacutedia quando uma estrutura feudal dividia a sociedade em ordens

hierarquizadas centralizadas no feudo do poder e da produccedilatildeo Deste entatildeo o conceito de rede tem

sido aplicado nos mais diversos campos de conhecimento como Biologia Fiacutesica Histoacuteria Economia

entre outros

Na Biologia a noccedilatildeo de rede eacute considerada o padratildeo de organizaccedilatildeo comum a todos os seres

vivos Capra (1996 p 67) afirma ldquoonde quer que encontremos sistemas vivos mdash organismos partes

de organismos ou comunidades de organismos mdash podemos observar que seus componentes estatildeo

arranjados agrave maneira de rede Sempre que olhamos para a vida olhamos para redesrdquo O autor explica

que a principal caracteriacutestica das redes eacute a sua natildeo linearidade sua extensatildeo em todas as direccedilotildees As

redes tambeacutem tecircm a capacidade de gerar laccedilos de alimentaccedilatildeo e regularem a si mesmas num sistema

de auto-organizaccedilatildeo Nos dias atuais a noccedilatildeo de redes ganhou vida e estaacute transformando-se em

ldquoredes de informaccedilatildeo energizadas pela internetrdquo (Castells 2003 p 07)

De acordo com Castells (2005) assim como a rede de eletricidade visiacutevel por meio de cabos e

fios modificou a vida da sociedade no seacuteculo XIX a rede da internet alterou haacutebitos e costumes de toda

uma geraccedilatildeo no seacuteculo XXI O autor usou o termo ldquoSociedade em Rederdquo para se referir ao cenaacuterio

contemporacircneo da sociedade emergente

O mundo conectado em redes

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A sociedade em rede em termos simples eacute uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo fundamentadas na microelectroacutenica e em redes digitais de computadores que geram processam e distribuem informaccedilatildeo a partir de conhecimento acumulado nos noacutes dessas redes (Castells 2005 p 20)

As redes de comunicaccedilatildeo digital na visatildeo do autor satildeo redes formais e constituem a coluna

vertebral da sociedade contemporacircnea tal como as redes de energia eleacutetrica eram a infraestrutura ou

base da sociedade industrial

A ldquoloacutegica das redesrdquo eacute alistada por Castells como a terceira das caracteriacutesticas do novo

paradigma tecnoloacutegico A primeira caracteriacutestica citada pelo autor eacute o fato da informaccedilatildeo constituir sua

proacutepria mateacuteria prima As tecnologias estatildeo agindo sobre a informaccedilatildeo e natildeo apenas as informaccedilotildees

agem sobre as tecnologias como acontecia nas revoluccedilotildees anteriores A segunda caracteriacutestica eacute a

penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias Castells (1999 p 108) argumenta ldquocomo a

informaccedilatildeo eacute parte integral de toda atividade humana todos os processos de nossa existecircncia

individual e coletiva satildeo diretamente moldados pelo novo meio tecnoloacutegicordquo Antes de tratarmos mais

detalhadamente da loacutegica das redes a terceira caracteriacutestica alistamos a quarta caracteriacutestica

segundo Castells a flexibilidade Neste paradigma natildeo apenas os processos satildeo reversiacuteveis mas

organizaccedilotildees e instituiccedilotildees soacutelidas podem ser modificadas e alteradas A quinta caracteriacutestica eacute a

crescente convergecircncia de tecnologias especiacuteficas para um sistema altamente integrado A

telecomunicaccedilatildeo se integrou com a informaacutetica microeletrocircnica e os computadores estatildeo todos

integrados a um sistema de informaccedilatildeo mas que natildeo evolui para a criaccedilatildeo de um sistema fechado

mas ldquorumo a abertura como uma rede de acessos muacuteltiplosrdquo como conclui Castells (idem p 113)

Sobre a terceira caracteriacutestica a loacutegica das redes Castells explica que seu funcionamento tem

como siacutembolo a internet e outras tecnologias aplicaacuteveis A metaacutefora da rede se aplica bem ao efeito de

complexidade de interaccedilatildeo e crescimento exponencial que as redes de informaccedilatildeo e tecnologia

baseadas na internet podem proporcionar O autor acrescenta ldquoa penalidade por estar fora da rede

aumenta com o crescimento da rede em razatildeo do decliacutenio de oportunidades de alcanccedilar outros

elementos fora da rederdquo (idem p 108) Assim o ldquoestar dentrordquo da rede deveria abrir um universo de

oportunidades que se bem aproveitadas poderiam transformar as capacidades de comunicaccedilatildeo

produzir alteraccedilotildees nas condiccedilotildees de vida e proveriam meios e ferramentas que possibilitariam a

autonomia e cidadania das pessoas

O mundo conectado em redes

45

No entanto o contraacuterio disso tambeacutem eacute verdadeiro a rede produz exclusotildees em vaacuterios niacuteveis

(Warschauer 2002) Apenas ldquoestar dentrordquo da rede natildeo significa que a pessoa chegou a um estaacutegio

superior de desenvolvimento humano Castells (2005 p 18) manteacutem um conceito realista sobre a

sociedade em rede ldquoneste iniacutecio de seacuteculo ela exclui a maior parte da humanidade embora toda a

humanidade seja afectada pela sua loacutegica e pelas relaccedilotildees de poder que interagem nas redes globais

da organizaccedilatildeo socialrdquo Portanto as redes de comunicaccedilatildeo digital natildeo se configuram a taacutebua de

salvaccedilatildeo da humanidade a soluccedilatildeo para todos os males como previam alguns futurologistas nem

tampouco constituem a causa principal das mazelas e exclusotildees presentes na sociedade Na anaacutelise

de Castells a sociedade em rede natildeo pode ser visualizada fora do campo de visatildeo da organizaccedilatildeo

social e das praacuteticas que datildeo corpo agrave logica da rede A economia a vida social a comunicaccedilatildeo a

poliacutetica a cultura e a educaccedilatildeo satildeo afetadas de alguma forma pelas relaccedilotildees estabelecidas pelos ldquonoacutesrdquo

da rede

Sobre os padrotildees de sobrevivecircncia no paradigma tecnoloacutegico das redes de comunicaccedilatildeo

digital Castells alertou

Mas para saber utilizaacute-lo no melhor do seu potencial e de acordo com os projectos e as decisotildees de cada sociedade precisamos de conhecer a dinacircmica os constrangimentos e as possibilidades desta nova estrutura social que lhe estaacute associada a sociedade em rede (2005 p 19)

Neste sentido este capiacutetulo usando a metaacutefora da rede pretende explorar as dinacircmicas de

relaccedilotildees sociais econocircmicas educacionais e poliacuteticas que estruturam a sociedade em rede e suas

implicaccedilotildees no modelo educacional vigente em cada periacuteodo em que revoluccedilotildees comunicacionais

ocorreram Na parte introdutoacuteria tece-se um breve quadro analiacutetico do cenaacuterio em que as redes de

tecnologia e comunicaccedilatildeo digital se organizam e se reestruturam e das interferecircncias destas no

cotidiano dos seus usuaacuterios e natildeo usuaacuterios Aborda as implicacircncias de estar ldquodentro da rederdquo numa

sociedade de consumo elitista em que a informaccedilatildeo tornou-se moeda de valor Na segunda seccedilatildeo do

capiacutetulo apresenta-se a evoluccedilatildeo dos processos civilizatoacuterios dos meios de comunicaccedilatildeo na histoacuteria

humana com destaque no campo educacional Tambeacutem aborda as relaccedilotildees existentes entre a evoluccedilatildeo

da comunicaccedilatildeo humana com os processos educativos na histoacuteria do homem e aprofunda esta

discussatildeo ao discorrer sobre artefatos tecnoloacutegicos que alteraram as formas de se aprender e ensinar

em periacuteodos diferentes em contextos diversos A uacuteltima parte do capiacutetulo caracteriza o perfil

comportamental e cognitivo do usuaacuterio portador das tecnologias moacuteveis no seacuteculo XXI e aponta para

O mundo conectado em redes

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desafios propostos aos professores ainda iniciantes na era digital tema a ser aprofundado no capiacutetulo

terceiro deste trabalho

No cenaacuterio conteporacircneo do mundo conectado em redes de comunicaccedilatildeo digital algumas

previsotildees quanto ao futuro na virada do milecircnio foram acertadas Cenaacuterios futuristas com tecnologia

avanccedilada sempre estiveram no imaginaacuterio das pessoas Filmes e livros que tratavam do futuro natildeo raro

apresentavam inovaccedilotildees em diferentes contextos Carros que dirigem sozinhos robocircs que executam

diversos trabalhos maacutequinas adequadas a diferentes tarefas roupas que se adaptam ao clima

ambiente alimentos processados em laboratoacuterios e comunicaccedilatildeo virtual satildeo algumas previsotildees que

foram acertadas Isaac Asimov (1964) escritor famoso por ensaios futuristas e artigos de ficccedilatildeo

cientiacutefica apoacutes visitar a gigantesca Feira Mundial de Nova York no ano de 1964 publicou um artigo

vislumbrando o futuro dali a 50 anos Algumas das suas previsotildees foram concretizadas como por

exemplo o conceito de viacutedeo-chamada e da conexatildeo do mundo atraveacutes da telefonia Asimov (1964 p

1) escreveu

As comunicaccedilotildees combinaratildeo som e imagem e vocecirc vai ver e ouvir a pessoa para quem vocecirc telefonar A tela pode ser usada natildeo soacute para ver as pessoas para quem vocecirc liga mas tambeacutem para o estudo de documentos e fotografias e para ler trechos de livros

Acertadamente nos dias atuais empresas de internet oferecem pacotes de chamadas de voz e

de viacutedeo por meio da web Estes aplicativos oferecem aleacutem dos recursos de troca de mensagem

instantacircnea envio de fotos e outros arquivos e realizaccedilatildeo de chamadas de voz

No entanto algumas previsotildees de Asimov natildeo foram totalmente acertadas no campo

educacional Isaac Asimov acertou quando previu que os computadores se tornariam onipresentes ao

ponto de aprendermos a usaacute-los na escola No entanto ele disse que no ensino meacutedio a programaccedilatildeo

de computadores seria disciplina obrigatoacuteria e todos os alunos se tornariam ldquoproficientes em

aritmeacutetica binaacuteriardquo Infelizmente essa uacuteltima previsatildeo natildeo ocorreu pelo menos na maior parte dos

paiacuteses subdesenvolvidos pois em geral nas escolas o computador ainda eacute apenas utilizado tatildeo

somente como ferramenta de buscas e pesquisas na internet ou editor de textos

O mundo conectado em redes

47

Alan Kay (1972) cientista americano conhecido por ter sido um dos inventores da linguagem

de programaccedilatildeo Smalltalk1 publicou um artigo em 1972 no qual especulava sobre o aparecimento de

manipuladores de informaccedilatildeo portaacuteteis pessoais No iniacutecio do artigo Kay admite que aquele texto

deveria ser lido como ficccedilatildeo cientiacutefica mas que com a tendecircncia de miniaturizaccedilatildeo e reduccedilatildeo de

preccedilos que estava acontecendo no mercado de informaacutetica naquele periacuteodo ele acreditava que suas

previsotildees poderiam acontecer no futuro Com base nas teorias de Seymour Papert (1993) de que o

computador poderia potencializar a aprendizagem das crianccedilas e Jean Piajet sobre teorias de estaacutegio

de desenvolvimento Kay idealizou um dispositivo portaacutetil educacional que poderia ser usado pelas

crianccedilas a qualquer hora em qualquer lugar O artigo apresenta algumas caracteriacutesticas do protoacutetipo

chamado Dynabook seu tamanho natildeo seria maior que de um notebook sua interface permitiria o

utilizador editar seus textos e usar seus programas quando e onde ele escolher Ele imaginou uma

infinidade de usos para esses dispositivos em aacutereas tatildeo diversas como o desenho de imagens (para

crianccedilas em idade preacute-escolar) o armazenamento de informaccedilotildees (para os meacutedicos) instrumentos de

muacutesica (para compositores) a simulaccedilatildeo dinacircmica e animaccedilatildeo graacutefica dos modelos (para os

professores) a representaccedilatildeo de objetos em trecircs dimensotildees do espaccedilo (para os arquitetos e

designers) ou o caacutelculo dos estoques e fluxos de caixa dentro de uma empresa (para gestores)

Embora o autor achasse que estava escrevendo um artigo de ficccedilatildeo cientiacutefica o que ele estava a

descrever eacute o tablet que conhecemos hoje interativo portaacutetil conectado agrave internet possibilita a

interaccedilatildeo com outras pessoas fornece banco de dados infinitos sobre assuntos diversos e permite o

trabalho colaborativo entre as pessoas

Ainda numa visatildeo utoacutepica sobre a revoluccedilatildeo digital Ioneji Masuda (1985) socioacutelogo japonecircs

fez previsotildees futuristas em que a ldquoComputopiardquo seria um novo modelo de sociedade na qual as

tecnologias de informaccedilatildeo constituiriam o principal motor de desenvolvimento da sociedade da

informaccedilatildeo tal como o motor a vapor foi o impulsor da sociedade industrial Sobre a Computopia

Werthein (2002 p 74) comenta

Nessa utopia a tecnologia dos computadores teraacute como funccedilatildeo fundamental substituir e amplificar o trabalho mental dos homens permitiraacute a produccedilatildeo em massa de conteuacutedo cognitivo informaccedilatildeo sistematizada tecnologia e conhecimento

1 Smalltack foi a primeira linguagem de computador inteiramente baseado nas noccedilotildees de objeto e mensagens Ao propor essa linguagem Kay pretendia popularizar a programaccedilatildeo de computadores para natildeo especialistas inclusive para as crianccedilas Para mais detalhes sobre a linguagem Smalltack consulte o artigo Basic Aspects of Squeak and the Smalltalk-80 Programming Language disponiacutevel em httpwwwcosccanterburyacnzwolfgangkreutzercosc205smalltalk1htmlhistory Acesso em 23 de fev 2016

O mundo conectado em redes

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[] A produccedilatildeo de informaccedilatildeo pelo proacuteprio usuaacuterio ganharaacute grande espaccedilo e importacircncia na estrutura econocircmica O mais relevante sujeito de accedilatildeo social seraacute a comunidade de voluntaacuterios natildeo a empresa ou grupos econocircmicos e a sociedade natildeo seraacute hieraacuterquica mas multicentrada complementar e de participaccedilatildeo voluntaacuteria

Embora a previsatildeo de Masuda natildeo tenha se concretizado plenamente sua visatildeo sobre a

importacircncia da informaccedilatildeo para sobreviver na sociedade em rede constitui uma realidade Na era

digital as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje

fica obsoleto em pouco tempo Segundo Gonzaacutelez (2004) a metade do conhecimento de hoje natildeo era

conhecido haacute 10 anos e a quantidade do conhecimento do mundo hoje se duplica a cada 18 meses

Assim as pessoas no cenaacuterio contemporacircneo enfrentam o desafio de aprender novas habilidades e

conhecimentos continuamente

Christopher Freeman economista inglecircs dedicado a pesquisas em inovaccedilatildeo econocircmica e

tecnoloacutegica classifica as mudanccedilas de comportamentos e padrotildees na economia poliacutetica educaccedilatildeo e

cultura do mundo ocorrido no final do seacuteculo XX e nos dias atuais como o ldquoparadigma da tecnologia

da informaccedilatildeordquo Segundo o autor

Um paradigma tecnoloacutegico eacute um agrupamento de inovaccedilotildees teacutecnicas organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas vantagens devem ser descobertas natildeo apenas em uma nova gama de produtos e sistemas mas sobretudo na dinacircmica da estrutura dos custos relativos de todos possiacuteveis insumos para a produccedilatildeo Em cada novo paradigma um insumo especiacutefico ou conjunto de insumos pode ser descrito como o lsquofator chaversquo desse paradigma caracterizado pela queda dos custos relativos e pela disponibilidade universal A mudanccedila contemporacircnea de paradigma pode ser vista como uma transferecircncia de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informaccedilatildeo derivados do avanccedilo da tecnologia em microeletrocircnica e telecomunicaccedilotildees (Freeman 1988 p 10)

Assim de uma economia industrial baseada na matildeo de obra humana que operava as

maacutequinas o mundo sofreu um paradigma em que a informaccedilatildeo passa a ser a moeda de valor na

ldquoSociedade da informaccedilatildeordquo 2 De acordo com Demo (2000) a ideia de sociedade da informaccedilatildeo estaacute

relacionada com o princiacutepio de ldquoredesrdquo de Castells O conceito de rede subtende que estamos diante

de um universo comunicativo em que tudo estaacute ligado por noacutes (conexotildees) As possibilidades de

interaccedilatildeo e interatividade que ocorrem nas redes virtuais soacute satildeo possiacuteveis devido a conexatildeo com a

internet De acordo com Castells (2003 p 170) essas redes tecircm uma geografia proacutepria 2 O termo ldquosociedade da informaccedilatildeordquo usualmente tem sido utilizado para descrever a sociedade contemporacircnea Trata-se de uma expressatildeo de caraacuteter ideoloacutegico que descreve as novas configuraccedilotildees sociais culturais econocircmicas e poliacuteticas que tiveram impulso com o avanccedilo tecnoloacutegico iniciado na deacutecada de 1970 com o advento da informaacutetica (Castells 2005)

O mundo conectado em redes

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A era da internet foi aclamada como o fim da geografia De fato a internet tem uma geografia proacutepria uma geografia feita de redes e noacutes que processam o fluxo de informaccedilatildeo gerados e administrados a partir de lugares Como a unidade eacute a rede a arquitetura e a dinacircmica de muacuteltiplas redes satildeo as fontes de significados e funccedilatildeo para cada lugar

Esse fenocircmeno eacute o que o autor designa de Sociedade em Rede Alguns teoacutericos chamam esse

paradigma de ldquoSociedade da Informaccedilatildeordquo ou ldquoSociedade do Conhecimentordquo como substituto de um

conceito mais complexo de ldquoSociedade Poacutes-Industrialrdquo ligado agrave expansatildeo e reestruturaccedilatildeo do

capitalismo a partir da deacutecada de 1980 do seacuteculo XX que se caracteriza pela aceleraccedilatildeo das inovaccedilotildees

tecnoloacutegicas digitais que exigem um perfil cada vez mais especializado de usuaacuterio capaz de converter

informaccedilatildeo em conhecimento

A rede estaacute saturada de informaccedilatildeo mas isso natildeo significa que os cidadatildeos conectados sejam

adequadamente informados Valente (2013 p 27) explica a diferenccedila entre informaccedilatildeo e

conhecimento

ter informaccedilatildeo natildeo implica ter conhecimento O conhecimento eacute o que cada indiviacuteduo constroacutei como produto do processamento da inter-relaccedilatildeo entre interpretar e compreender a informaccedilatildeo Eacute o significado que eacute atribuiacutedo e representado na mente de cada indiviacuteduo com base nas informaccedilotildees advindas do meio em que ele vive formado por pessoas e objetos

Neste sentido a sociedade da informaccedilatildeo pode ser ldquodesinformadardquo como analisa Demo

(2000 p 40) seja porque lhe eacute imposta pelos meios de comunicaccedilatildeo uma informaccedilatildeo residual ou

superficial ou porque lhe ldquoentope atabalhoadamenterdquo com notiacutecias sensacionalistas e supeacuterfluas O

autor acrescenta que ldquoa sociedade da informaccedilatildeo informa bem menos do que se imagina assim como

a globalizaccedilatildeo engloba as pessoas e povos bem menos do que se pretenderdquo (idem p 41) Assim

para Demo eacute essencial preservar o ambiente criacutetico e autocritico para reduzir e controlar a informaccedilatildeo

Portanto para que a sociedade da informaccedilatildeo seja equivalente agrave sociedade do conhecimento como

analisam Coutinho e Lisboa (2011 p 10) eacute fundamental que ldquose estabeleccedilam criteacuterios para organizar

e seleccionar as informaccedilotildees e natildeo simplesmente ser influenciado e ldquomoldadordquo pelos constantes

fluxos informativos disponiacuteveisrdquo Essa dinacircmica dizem as autoras demanda educaccedilatildeo para o longo da

vida de forma que as pessoas possam acompanhar as mudanccedilas tecnoloacutegicas e serem inovadores e

criativas

No livro A sociedade em rede A era da informaccedilatildeo (1999) Castells critica o termo sociedade

da informaccedilatildeo pois este enfatiza o papel da informaccedilatildeo na sociedade O autor explica que a

O mundo conectado em redes

50

informaccedilatildeo no sentido mais amplo foi crucial em todas as sociedades antigas principalmente na

Europa medieval que era mais estruturada intelectualmente Logo estas sociedades poderiam tambeacutem

serem chamadas de sociedades da informaccedilatildeo Castells (idem p 65) afirma que prefere o uso do

termo ldquosociedade informacionalrdquo Este se relaciona mais com uma forma de organizaccedilatildeo social em

que a ldquogeraccedilatildeo o processamento e a transmissatildeo da informaccedilatildeo tornam-se as fontes fundamentais de

produtividade e poder devido agraves novas condiccedilotildees tecnoloacutegicas surgidas nesse periacuteodo histoacutericordquo Para

Castells uma das principais caracteriacutesticas da sociedade informacional eacute a sua loacutegica de sua estrutura

baacutesica em redes Neste sentido a sociedade informacional estaacute inserida na sociedade em rede um

conceito mais amplo conforme explica o autor

Redes constituem uma nova morfologia social das nossas sociedades e a difusatildeo loacutegica de redes modifica de forma substancial a operaccedilatildeo e os resultados dos processos produtivos e de experiecircncia poder e cultura [] a presenccedila na rede e a ausecircncia dela e a dinacircmica de cada rede em relaccedilatildeo agraves outras satildeo fontes cruciais de dominaccedilatildeo e transformaccedilatildeo de nossa sociedade uma sociedade que portanto podemos apropriadamente chamar de sociedade em rede (idem p 565)

Portanto considerando esses pressupostos usamos o termo sociedade em rede neste

trabalho em detrimento agrave expressatildeo sociedade da informaccedilatildeo ou sociedade do conhecimento por

entender que este primeiro eacute mais completo para definir o cenaacuterio de mudanccedilas socioteacutecnicas

advindas da convergecircncia das tecnologias da informaacutetica com a telecomunicaccedilatildeo

Observando o panorama mundial vecirc-se que o mundo nunca esteve tatildeo conectado em redes

como hoje Segundo relatoacuterio divulgado pela agecircncia Internet World Stats (Stats 2016) os usuaacuterios de

internet no mundo chegaram a quase 4 bilhotildees de pessoas (50 da populaccedilatildeo mundial) em 2016 O

nuacutemero da populaccedilatildeo com acesso agrave internet dobrou nos uacuteltimos cinco anos nos paiacuteses em

desenvolvimento Segundo a mesma fonte no Brasil cerca de 139 milhotildees de indiviacuteduos satildeo usuaacuterios

da internet o que corresponde a mais metade da populaccedilatildeo do paiacutes (675) Este levantamento

revelou ainda que cerca de 202 milhotildees de brasileiros satildeo assinantes de celulares moacuteveis o que

implica em 998 da populaccedilatildeo do paiacutes Um estudo realizado com dados de 240 paiacuteses intitulado

Digital Social e Mobile 2015 (Kemp 2015) revelou que mais de dois bilhotildees de pessoas no mundo

possuem contas ativas em redes sociais e que a penetraccedilatildeo dos aparelhos celulares na populaccedilatildeo

mundial ultrapassou os 50 em setembro de 2014 e o nuacutemero de conexotildees em aparelhos celulares

ativos superou o total da populaccedilatildeo mundial em dezembro do mesmo ano

O mundo conectado em redes

51

Neste emaranhado de relaccedilotildees interaccedilotildees e interconexotildees as informaccedilotildees fluem como

numa grande onda (tsunami) que leva consigo tudo que aparece pela frente (Leacutevy 1998) Requer

habilidade do usuaacuterio para navegar e se apropriar de dados confiaacuteveis e realmente importantes Nesta

mesma direccedilatildeo em tempos de ldquomodernidades liacutequidasrdquo o socioacutelogo polonecircs Zygmunt Bauman (2001

p 1) afirma que eacute imprescindiacutevel que o indiviacuteduo saiba distinguir entre informaccedilatildeo importante e muito

importante aleacutem de descartar as informaccedilotildees desnecessaacuterias Bauman usa a metaacutefora da ldquoliquidezrdquo

para caracterizar o estado da sociedade moderna comparada a liacutequidos incapazes de manter uma

forma definida Para o autor tudo eacute temporaacuterio nossas instituiccedilotildees estilos de vida convicccedilotildees e

crenccedilas mudam antes de se solidificarem em verdades Os empregos os relacionamentos o

conhecimento tendem a ficarem volaacuteteis desregulados e flexiacuteveis Na eacutepoca da modernidade soacutelida de

acordo com Bauman o aprendiz que entrava numa faacutebrica tinha perspectiva de uma longa carreira

Nos nossos dias afirma o autor ldquoquem trabalha para Bill Gates por um salaacuterio talvez cem vezes maior

natildeo tem ideia do que poderaacute lhe acontecer dali a meio ano E isso faz uma diferenccedila incriacutevel em todos

os aspectos da vida humanardquo 3 Assim os proprietaacuterios do conhecimento apropriado num contexto

especiacutefico abrem vantagem sobre os demais na sociedade cada vez mais informatizada

Na visatildeo de Castells (1999) a interatividade possibilitou a formaccedilatildeo de redes horizontais de

comunicaccedilatildeo e induziu o que ele chama de mass self-comunication (a intercomunicaccedilatildeo em massa)

Este conceito abrange uma nova forma de comunicaccedilatildeo em massa em que os indiviacuteduos produzem

enviam e recebem informaccedilotildees em blogs vlogs redes sociais e paacuteginas pessoais Nas palavras de

Anderson (2006 p 61) sobre este fenocircmeno

A consequumlecircncia de tudo isso eacute que estamos deixando de ser apenas consumidores passivos para passar a atuar como produtores ativos () O fenocircmeno se manifesta por toda a parte ndash a extensatildeo em que os blogs amadores estatildeo disputando a atenccedilatildeo do puacuteblico com a grande miacutedia em que as bandas estatildeo lanccedilando muacutesicas sem selo de gravadora e em que os colegas consumidores dominam as avaliaccedilotildees on-line de produtos e serviccedilos eacute como se a configuraccedilatildeo baacutesica da produccedilatildeo tivesse mudado de ldquoConquiste o direito de fazecirc-lordquo para ldquoO que o estaacute impedindo de fazerrdquo

Neste cenaacuterio milhotildees de pessoas se expressam em blogs pessoais e foacuteruns sobre temas

especiacuteficos com direito a comentaacuterios e avaliaccedilotildees de produtos Os formadores de opiniatildeo passam a

serem os consumidores dos produtos o que altera a estrateacutegia de marketing das empresas Anderson

conclui que pela primeira vez na histoacuteria somos capazes de medir os padrotildees de consumo e as

preferecircncias do usuaacuterio em tempo real e tais condiccedilotildees permitem aos fornecedores de bens e serviccedilos 3 Entrevista de Bauman ao Jornal Folha de Satildeo Paulo em 19 de outubro de 2003 Disponiacutevel em httpwww1folhauolcombrfspmaisfs1910200305htm Acesso em 20 janeiro de 2016

O mundo conectado em redes

52

ajustarem as recomendaccedilotildees impostas na rede por formadores de preferencias que natildeo satildeo mais da

elite mas pessoas comuns que tecircm acesso agrave internet

Novos nichos no mercado e profissotildees ineacuteditas nascem na era digital Empresas de venda de

cupons de desconto on-line surgem como agregadoras de promoccedilotildees de diferentes empresas

fornecedoras de bens e serviccedilos Lojas on-line voltadas agrave personalizaccedilatildeo de objetos com fotos e

imagens do consumidor grandes varejistas e lojas de departamentos estatildeo presentes na rede

facilitando prazos e entregas dos produtos e uma variedade de profissionais na aacuterea de Tecnologia de

Informaccedilatildeo estatildeo abrindo empresas de criaccedilatildeo de jogos e aplicativos para a internet Sobre os

profissionais que emergem neste contexto citamos dentre outros os youtubers dos quais alguns satildeo

celebridades na internet devido ao altiacutessimo nuacutemero de seguidores dos seus canais no You Tube

Muitos destes profissionais faturam alto com as publicidades veiculadas no seu canal Assim altera-se

a economia e a relaccedilatildeo das pessoas com as tecnologias em que dispositivos de comunicaccedilatildeo passam

a ser meios de ganhar o sustento (Castells 2005)

A sociabilidade tambeacutem ganha novos contornos com a expansatildeo da internet No mundo virtual

todos estatildeo ao alcance e presentes a um clique de um botatildeo Bauman (2011 p 10) na sua obra 44

Cartas do mundo liacutequido moderno aborda a relaccedilatildeo de dependecircncia que se cria a partir das redes

sociais e aplicativos da internet

O dia inteiro sete dias por semana basta apertar um botatildeo para fazer aparecer uma companhia do meio de uma coleccedilatildeo de solitaacuterios Nesse mundo on-line ningueacutem jamais fica fora ou distante todos parecem constantemente ao alcance de um chamado ndash e mesmo que algueacutem por acaso esteja dormindo haacute muitos outros a quem enviar mensagens ou a quem alcanccedilar de imediato pelo Twitter para que a ausecircncia temporaacuteria nem seja notada

Os sites de bate-papo paacuteginas especializadas em encontrar pares romacircnticos e aplicativos

voltados para encontros sexuais que permitem conversas simultacircneas entre pessoas de diversos

lugares do mundo satildeo um exemplo do que Bauman (2011) descreve como ldquocerteza tranquilizadorardquo

As pessoas usam estes meios de comunicaccedilatildeo virtual para um escape da solidatildeo e ao mesmo tempo

natildeo expor-se agrave exigecircncia dos outros quando se tem o poder de deletar ou excluir aqueles que geram

incocircmodo Neste sentido Bauman reflete que as relaccedilotildees se tornam ldquoliacutequidasrdquo o contato pelas redes

sociais sem a necessidade de maior comprometimento resultam em relacionamentos momentacircneos

volaacuteteis e fraacutegeis A facilidade de conectar e se desconectar ao clique de um botatildeo faz com que as

pessoas descartem e sejam descartadas por versotildees mais atualizadas e melhores disponiacuteveis na rede

O mundo conectado em redes

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As comunidades virtuais tambeacutem estatildeo se popularizando cada vez mais Voltando agrave ldquoera das

tribosrdquo as pessoas se organizam em grupos gregaacuterios e facccedilotildees com interesses em comum em que a

loacutegica da identidade (seja sexual profissional social poliacutetica) gera um sentimento de pertencimento

entre os participantes do grupo criando uma rede de pessoas que se relacionam efemeramente sem

necessidade de um envolvimento maior (Maffesoli 2004) Sobre este aspecto Castells (2003 p 274)

analisa

A sociabilidade estaacute se transformando atraveacutes daquilo que alguns chamam de privatizaccedilatildeo da sociabilidade que eacute a sociabilidade entre pessoas que constroem laccedilos eletivos que natildeo satildeo os que trabalham ou vivem em um mesmo lugar que coincidem fisicamente mas pessoas que se buscam eu queria encontrar algueacutem que gostasse de andar de bicicleta comigo mas primeiro tenho que procurar esse algueacutem Por exemplo como criar um clube de ciclismo Como criar um clube de gente que se interesse por espeleologia

Os grupos formados nos aplicativos de mensagens instantacircneas como o Whatsapp4 satildeo um

exemplo claacutessico da ldquoprivatizaccedilatildeo da sociabilidaderdquo que ocorre nas relaccedilotildees sociais no mundo

contemporacircneo Estes grupos satildeo compostos por pessoas da mesma famiacutelia ou de colegas de

trabalho ou de moradores do mesmo bairro ou de estudantes de um curso categorias de

profissionais membros de religiatildeo ou pode se tratar de grupo de vendas e troca de mercadorias O

que estes grupos tecircm em comum satildeo os laccedilos eletivos baseados nas predileccedilotildees individuais e nos

relacionamentos estabelecidos por interesses comuns

Churc e Oliveira (2013) realizaram uma pesquisa sobre as motivaccedilotildees e percepccedilotildees que

levam a milhotildees de usuaacuterios no mundo a usarem o aplicativo whatsapp Os pesquisadores

entrevistaram 9 usuaacuterios ativos do aplicativo 5 homens e 4 mulheres todos residentes na Espanha

As pessoas recrutadas para a pesquisa segundo os pesquisadores eram de diversas profissotildees e

estilo de vida Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com trecircs toacutepicos em destaque (a)

necessidade do uso do aplicativo (b) razotildees para adoccedilatildeo e uso do whatsapp (c) motivos e intenccedilotildees

para comunicaccedilatildeo via whatsapp Os resultados apontaram pontualmente oito fatores que influenciam e

motivam os usuaacuterios a usar o aplicativo (1) custo (baixo custo em relaccedilatildeo a mensagens SMS) (2)

influecircncia social (familiares e amigos sugerem o uso) (3) natureza intenccedilatildeo (conversa informal) (4)

comunidade e senso de conexatildeo (usa-se o aplicativo com amigos proacuteximos e familiares) (5)

imediatismo (permite ver se o receptor da mensagem estaacute on-line e leu a mensagem) (6) 4 De acordo com o site do Whatsapp este se trata de um aplicativo de mensagens multiplataformas que permite trocar mensagens pelo celular sem pagar por SMS neste caso usa-se o pacote de internet do aparelho ou redes wifi disponiacuteveis Disponiacutevel em httpwwwwhatsappcom Acesso em 05 jan 2016

O mundo conectado em redes

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confiabilidade e garantia (certeza que a mensagem foi entregue e lida) (7) escolha da tecnologia

(muitos escolhem whatsapp para falar com quem tem o aplicativo) e (8) de mecanismos de

enfrentamentos (posiccedilatildeo com relaccedilatildeo as notificaccedilotildees frequentes)

Outro estudo de Jisha e Jebakumar (2014) realizado na Iacutendia sobre o uso do whatsapp entre

os jovens na regiatildeo de Chennai constatou que os jovens entre 18 a 23 anos passam em meacutedia 16

horas on-line no aplicativo e o usam trocando mensagens por 8 horas diaacuterias em meacutedia Em 2016 o

whatsapp ultrapassou o nuacutemero de mais de 1 bilhatildeo de usuaacuterios no mundo5 No Brasil o fenocircmeno

do uso do aplicativo mostrou sua forccedila quando no dia 17 de dezembro de 2015 este foi suspenso por

ordem judicial e causou uma comoccedilatildeo nas redes sociais e na miacutedia televisiva Os usuaacuterios baixaram

outros aplicativos semelhantes e tentaram alternativas para desbloquear o whatsapp

Na anaacutelise de Castells (2003) a internet afetou a economia (forma de organizaccedilatildeo das

empresas e induacutestrias) alterou os processos de trabalho (jornadas e formas de trabalho) mudou a

estrutura da poliacutetica formatou os relacionamentos sociais fortaleceu os movimentos sociais ampliou o

comeacutercio e criou novas formas de ensinar e se aprender no campo da educaccedilatildeo Este uacuteltimo trata-se

do campo que interessa a nossa pesquisa buscamos compreender as possiacuteveis reconfiguraccedilotildees que

as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo causaram nos processos educativos em contextos

formais e informais Tendo em vista que as tecnologias natildeo satildeo neutras Bento Silva afirma

Cada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possuem uma determinada configuraccedilatildeo que lhes eacute devida e proporcionada pelo estado das suas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIC) reordenando de um modo particular as relaccedilotildees espaccedilo-temporais nas suas diversas escalas (local regional nacional global) que o homem manteve e manteacutem com o mundo e estimulando e provocando transformaccedilotildees noutros niacuteveis do sistema sociocultural (educativo econoacutemico poliacutetico social religioso cultural etc) (Silva 2001 p 840)

Portanto tendo em vista que no processo civilizatoacuterio as tecnologias embora natildeo sejam

determinantes da evoluccedilatildeo cultural da humanidade constituem uma das variaacuteveis mais importantes

para se compreender o desenvolvimento do homem com relaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo apresentam-se na

proacutexima seccedilatildeo pressupostos teoacutericos de como os processos evolutivos dos artefatos tecnoloacutegicos

comunicacionais contribuiacuteram para o modelo de educaccedilatildeo nos diferentes periacuteodos e contextos

5 No Brasil estima-se cerca de 100 milhotildees de usuaacuterios ativos no aplicativo whatsaapDisponiacutevel em httpwww1folhauolcombrtec2016021736093-whatsapp-chega-a-1-bilhao-de-usuariosshtml Acesso em 22 dez 2016

O mundo conectado em redes

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12 Processos civilizatoacuterios das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Nos uacuteltimos vinte e cinco anos a humanidade tem presenciado uma transformaccedilatildeo histoacuterica

sem precedentes em escala e velocidade a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos meios de comunicaccedilatildeo Da

invenccedilatildeo da escrita aos modernos computadores o homem percorreu um caminho evolutivo sistecircmico

que se reconfigura ao passo que novos artefatos tecnoloacutegicos satildeo criados Neste sentido Silva e

Conceiccedilatildeo (2013 p 137) afirmam que ldquoa tecnologia eacute umas das variaacuteveis mais importantes para

compreender a evoluccedilatildeo sociocultural das sociedadesrdquo Os ldquoprocessos civilizatoacuteriosrdquo na visatildeo de Darcy

Ribeiro (1975 p 19) satildeo provenientes de uma sucessatildeo de revoluccedilotildees tecnoloacutegicas desde quando os

homens mudaram da condiccedilatildeo de caccedilador-coletores natildeo sedentaacuterios para a era neoliacutetica em que

passam a ser sedentaacuterios e desenvolveram novas teacutecnicas e artefatos tecnoloacutegicos para o manejo da

agricultura de subsistecircncia Sobre esse processo Luacutecia Santaella (2003 p 23) afirma

Jaacute estaacute se tornando lugar-comum afirmar que as novas tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo estatildeo mudando natildeo apenas as formas do entretenimento e do lazer mas potencialmente todas as esferas da sociedade o trabalho (roboacutetica e tecnologias para escritoacuterios) gerenciamento poliacutetico atividades militares e policiais (a guerra eletrocircnica) consumo (transferecircncia de fundos eletrocircnicos) comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo (aprendizagem a distacircncia) enfim estatildeo mudando toda acultura em geral

Santaella esclarece que as transformaccedilotildees tecnoloacutegicas na aacuterea da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

advecircm de um processo cumulativo de complexificaccedilatildeo e que uma nova formaccedilatildeo comunicativa se

integra agrave anterior provocando reajustes reconfiguraccedilotildees e novas finalidades sociais para determinados

artefatos de comunicaccedilatildeo A autora denomina esses processos de ldquoformaccedilotildees culturaisrdquo por entender

que em cada periacuteodo histoacuterico a cultura de uma sociedade fica sob o domiacutenio da tecnologia de

comunicaccedilatildeo mais recente

Neste sentido Silva (2001) considera a tecnologia como uma estrateacutegia e natildeo somente um

instrumento ou meio que possibilitam a emissatildeo e recepccedilatildeo de informaccedilotildees ou conteuacutedo O autor

afirma ainda que as tecnologias contribuem fortemente para condicionar as estruturas (ecologias) das

sociedades Condicionam mas natildeo satildeo necessariamente determinantes como explicita Leacutevy (1999 p

25) ldquouma teacutecnica eacute produzida dentro de uma cultura e uma sociedade encontra-se condicionada por

suas teacutecnicasrdquo O autor argumenta que a invenccedilatildeo da prensa por Gutemberg natildeo determinou o

desenvolvimento da moderna ciecircncia europeia nem tampouco o crescimento dos ideais iluministas

mas condicionou-os abriu possibilidades nas palavras de Leacutevy ldquocontentou-se em fornecer uma parte

do ambiente global no qual essas formas culturais surgiramrdquo (idem p 26) Leacutevy acrescenta que

O mundo conectado em redes

56

mesmo abertas as possibilidades elas podem natildeo ser aproveitadas dependendo do contexto cultural

Portanto os meios de comunicaccedilatildeo natildeo determinam os modelos de educaccedilatildeo mas condicionam-os

Rodrigues (1999) afirma que natildeo satildeo as tecnologias que mudam a sociedade mas a sua utilizaccedilatildeo

dentro de um modo de produccedilatildeo e contexto histoacuterico cultural social econocircmico e poliacutetico moldam a

racionalidade a linguagem e o modo de vida das pessoas

Levando ao campo educacional segundo Silva (2008 p 840) como jaacute referido ldquocada eacutepoca

histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia comunicacional e educacional que

lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo Seguindo

este pressuposto a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo imbricadas (termo usado na botacircnica para inferir

que uma planta estaacute sobreposta agrave outra entrelaccedilada) Na analogia ldquoecologiardquo usada pelo autor infere-

se que a comunicaccedilatildeo e a educaccedilatildeo estatildeo intimamente relacionadas como um organismo vivo ambas

as aacutereas satildeo interconectadas e impacta uma a outra concomitantemente dentro de contextos

especiacuteficos que satildeo determinados em cada eacutepoca pelo estado dos sistemas educativo econocircmico

poliacutetico social religioso cultural etc Assim neste movimento os processos educativos foram

estruturados de acordo com as tecnologias de comunicaccedilatildeo vigentes

Marchall McLuhan (1977) filoacutesofo canadense de destaque nas teorias de Comunicaccedilatildeo

afirmava que a evoluccedilatildeo histoacuterica das sociedades eacute produto do avanccedilo de seus meios de comunicaccedilatildeo

e segue duas rupturas fundamentais a invenccedilatildeo da escrita e o advento dos meios eletrocircnicos

Segundo o autor a criaccedilatildeo do alfabeto e da escrita provocou a quebra do estado tribal e oral da

humanidade Mais tarde a invenccedilatildeo da tipografia e a consequente publicaccedilatildeo de livros em larga escala

mudaram as estruturas de comunicaccedilatildeo e educaccedilatildeo daquele periacuteodo O livro natildeo era mais um objeto

guardado em bibliotecas passou a popularizar-se e o conhecimento estava disponiacutevel a todos e natildeo

apenas guardado com os mestres A segunda ruptura de acordo com McLuhan a invenccedilatildeo dos meios

eleacutetricos e eletrocircnicos foi um prenuacutencio da informaacutetica e da roboacutetica Para o autor os meios ou as

tecnologias satildeo uma ldquoextensatildeordquo do homem e possibilitam mudanccedilas na organizaccedilatildeo das sociedades

Assim para McLuhan a invenccedilatildeo da escrita permitiu a criaccedilatildeo e domiacutenio de vastos impeacuterios a

maacutequina a vapor possibilitou a expansatildeo capitalista e a eletricidade junto com a informaacutetica teriam

provocado o fenocircmeno Aldeia Global6

6 Aldeia Global trata-se de um conceito defendido por McLuhan na deacutecada de 60 do seacuteculo XX de que o mundo estaria interligado em uma cultura unificada por meio da tecnologia previsatildeo confirmada em finais do seacuteculo XX e sobretudo no iniacutecio do seacuteculo XXI com o desenvolvimento das tecnologias moacuteveis

O mundo conectado em redes

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Leacutevy (1998) tambeacutem relaciona a revoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com o progresso cientiacutefico e

tecnoloacutegico da humanidade O autor classifica trecircs revoluccedilotildees nos periacuteodos histoacutericos da humanidade

com foco na noccedilatildeo de espaccedilo territoacuterio linguagens e signos de comunicaccedilatildeo A revoluccedilatildeo paleoliacutetica eacute

o primeiro estaacutegio descrito por Leacutevy em que os homens de Neandertal se comunicavam por linguagem

rudimentar e habitavam a mesma regiatildeo demograacutefica passaram a se dispersar e a ocupar todos os

continentes levando consigo sua cultura liacutengua e costumes Esta diaacutespora segundo o autor levou o

homem ao distanciamento em grupos numa sociedade caracteristicamente nocircmade A segunda

revoluccedilatildeo a neoliacutetica causou uma ruptura profunda na cultura da humanidade o homem deixou de

ser nocircmade passa a ser sedentaacuterio concentra-se em territoacuterios acumula riquezas registra signos e

por fim inventa a escrita e o alfabeto Inverte-se o processo de dispersatildeo para reuniatildeo de povos em

cidades e impeacuterios mas segundo Leacutevy este ainda era um fenocircmeno regional a humanidade

continuava fragmentada geograficamente e com rudimentares meios de comunicaccedilatildeo

A terceira revoluccedilatildeo apontada por Leacutevy eacute a informacional que teve impulso com a expansatildeo

dos meios de transportes em plena Revoluccedilatildeo Industrial no seacuteculo XIX No fim da Idade Meacutedia ateacute

meados do seacuteculo XX a maioria das pessoas morava no campo eram agricultores e criavam animais

A invenccedilatildeo do motor a vapor das maacutequinas e o trabalho nas induacutestrias promoveu a migraccedilatildeo das

pessoas agraves cidades contribuindo para a explosatildeo demograacutefica das mesmas Leacutevy argumenta que

concomitante a este processo os meios de transportes foram melhorados e contribuiacuteram para a

mobilidade das pessoas de um centro comercial a outro e os meios de comunicaccedilatildeo em expansatildeo

permitiram que os espaccedilos geograacuteficos fossem reduzidos Esta conflagraccedilatildeo demograacutefica em paralelo

com a expansatildeo dos meios de transporte a o avanccedilo dos meios de comunicaccedilatildeo foi o campo

preparatoacuterio para o surgimento do Ciberespaccedilo Segundo a definiccedilatildeo de Leacutevy (1998 p 49) este

constitui um ldquomeio de comunicaccedilatildeo aberto pela intercomunicaccedilatildeo mundial de computadoresrdquo A

Revoluccedilatildeo Industrial trocou a madeira pelo ferro a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica dos seacuteculos XIX e XX trocou o

carvatildeo pelo binocircmio eletricidade e petroacuteleo e ainda no seacuteculo XX a revoluccedilatildeo da informaacutetica trocou o

tratamento analoacutegico das informaccedilotildees pelo processamento digital O autor afirmou que o ciberespaccedilo

destronou a TV jaacute na deacutecada de 1990 e previu que no futuro este seria o centro de gravidade da nova

ecologia de comunicaccedilatildeo o que realmente ocorreu no seacuteculo XXI

Sobre as transformaccedilotildees geradas a partir do surgimento do ciberespaccedilo com reflexos

estruturantes em todos os matizes da sociedade Trivinho (2003 p 167) analisa

O mundo conectado em redes

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Mais do que o espiacuterito de eacutepoca da sociedade tecnoloacutegica de fim de seacuteculo marcado por um excesso de comunicaccedilatildeo jamais visto e pela crise dos saberes em geral [] - eacute o ciberespaccedilo que na esteira das tecnologias informaacuteticas impotildee a essa teoria um ultimato convidando-a a fazer uma dura prova do real [] Ele redefine rearticula e reescalona de maneira original todos os elementos pertencentes agrave dimensatildeo tecnoloacutegica soacutecio-cultural e poliacutetica da comunicaccedilatildeo determinando novos rumos para as iniciativas acadecircmicas voltadas para a criacutetica metateoacuterica e a constituiccedilatildeo de um novo modelo reflexivo

Diante destes pressupostos teoacutericos infere-se que a cada inovaccedilatildeo tecnoloacutegica bem sucedida

os padrotildees de comportamento mudam Na aacuterea da Comunicaccedilatildeo um exemplo notaacutevel eacute a invenccedilatildeo do

telefone celular O telefone fixo foi uma inovaccedilatildeo importante reduziu os espaccedilos fiacutesicos possibilitando

que pessoas se comunicassem em tempo real mesmo estando a quilocircmetros de distacircncia Ademais

possuir o nome e endereccedilo na lista telefocircnica local era uma forma de identidade e definiccedilatildeo de

territoacuterio A telefonia celular mudou profundamente os padrotildees de tempo e espaccedilo Esta tecnologia natildeo

tornou obsoleto o telefone fixo mas ampliou as possibilidades de comunicaccedilatildeo promovendo a

mobilidade e a ubiquidade7 A internet sem fio nos aparelhos celulares empoderaram ainda mais as

possibilidade de conexatildeo a qualquer hora em qualquer lugar Estas inovaccedilotildees lanccedilam novas questotildees

em relaccedilatildeo ao espaccedilo puacuteblico e espaccedilo privado a privacidade e as relaccedilotildees sociais As novas formas

de comunicaccedilatildeo sem fio estatildeo reconfigurando o uso do espaccedilo de lugar e dos espaccedilos de fluxos

causando transformaccedilotildees impactantes na sociedade inclusive nos processos educacionais (Santaella

2010 2013a)

Fugindo do determinismo tecnoloacutegico as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo constituem

uma das variaacuteveis mais importantes para se compreender a evoluccedilatildeo sociocultural da humanidade

Silva (2008) apresenta uma imagem figurativa que descreve seis configuraccedilotildees evolutivas dos

processos comunicativos e educacionais na corrente do tempo com reflexos na educaccedilatildeo

7 Ubiquumlidade ldquopervasividaderdquo e senciente satildeo quase sinocircnimos Ubiquidade refere-se agrave possibilidade de estar em vaacuterios lugares ao mesmo tempo Por ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo ou ldquopervasivardquo compreende-se a disseminaccedilatildeo dos computadores em todos os lugares (Lemos amp Valentim 2006)

O mundo conectado em redes

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Figura 2 - Processos comunicativos educacionais na evoluccedilatildeo sociocultural da civilizaccedilatildeo humana (Silva 2008)

A figura acima retrata o processo evolutivo em que Bento Silva relaciona a forma de

comunicaccedilatildeo de um determinado periacuteodo com o modelo de educaccedilatildeo correspondente Segundo o

autor ldquocada eacutepoca histoacuterica e cada tipo de sociedade possui uma determinada ecologia

comunicacional e educacional que lhe proporcionada pelo estado dos seus media e sistemas

tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeordquo (Silva 2008 p 1908) Este paradigma muda a configuraccedilatildeo dos

processos de aprendizagem e a ecologia educacional No quadro abaixo segue em siacutentese conforme

abordado pelo autor das caracteriacutesticas do processo educativo proveniente das respectivas tecnologias

vigentes num determinado periacuteodo de tempo

Quadro 1 - Siacutentese do processo educativo proveniente das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Tipo de comunicaccedilatildeo

Base da educaccedilatildeo

Tecnologia (medium)

Periacuteodo Caracteriacutesticas da educaccedilatildeo

Interpessoal Famiacutelia Gestos voz

iacutecones (50000 AC a 20000 AC)

Os pais passavam para os filhos por meio de rituais e teacutecnicas de imitaccedilatildeo as formas de subsistecircncia (caccedilar pescar defesa pessoal)

Comunicaccedilatildeo de elite

Elite sacerdoacutecio

realeza Escrita 4000 AC

A escola transforma algo que antes era informal (em famiacutelia) em algo formal a cargo de especialistas (dicotomia entre os que sabem e o natildeo sabem) Escola para elites

Comunicaccedilatildeo de massa

Escola Paralela

Livro impresso telefone TV

raacutedio cinema

Sec XV (tipografia) ateacute

sec XIX

Com a ampla difusatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa (TV raacutedio livros jornais) surge a escola paralela (conjunto de estiacutemulos fora da escola oficial)

Comunicaccedilatildeo individual

Auto-educaccedilatildeo

Fotografia gravador de

sons reprografia

(computador)

Iniacutecio do seacuteculo XX

Mudanccedila da relaccedilatildeo professoraluno Posto em causa o paradigma de transmissatildeo linear da comunicaccedilatildeo Satildeo abertos novos canais de interaccedilatildeo e produccedilatildeo do conhecimento

Ambientes virtuais

Redes Informaacutetica e digitalizaccedilatildeo

Fins do Seacuteculo XX ateacute iniacutecio do Seacuteculo XXI

O potencial comunicativo da informaacutetica possibilita a formaccedilatildeo de redes de comunidades de aprendizagem que constroem e compartilham conhecimento

Comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas poacutesmassivas

Aprendizagem ubiacutequa

Dispositivos moacuteveis conectados a internet

Dias atuais (2017)

Redes moacuteveis ubiacutequas de computaccedilatildeo permitem a aprendizagem em contextos formais informais e natildeo formais

Fonte Adapatado de Silva (2013)

O mundo conectado em redes

60

Assim observa-se uma correlaccedilatildeo da tecnologia de comunicaccedilatildeo em cada periacuteodo histoacuterico

com os processos educativos dos respectivos periacuteodos Consideramos a seguir com detalhes as seis

reconfiguraccedilotildees evolutivas citadas por Silva (2013)

121 Comunicaccedilatildeo interpessoal

Na primeira reconfiguraccedilatildeo evolutiva a comunicaccedilatildeo interpessoal natildeo existem intermediaacuterios

na comunicaccedilatildeo o homem eacute o proacuteprio medium e para que a comunicaccedilatildeo ocorra eacute necessaacuteria a

presenccedila fiacutesica de todos interlocutores (Silva 2002) Neste modelo o cunho da mensagem seja por

gestos expressotildees ou palavras eacute interpessoal e passada de pessoa a pessoa Esta forma de

comunicaccedilatildeo evoluiu quando o homem desenvolveu teacutecnicas de produccedilatildeo de representaccedilotildees icocircnicas

(reacuteplicas simboacutelicas das cenas visuais do mundo que o cercava) conhecidas posteriormente como

pintura ou arte rupestre Consistiam em pinturas e desenhos gravados em paredes e tetos das

cavernas Para produzir estes iacutecones ou desenhos o homem preacute-histoacuterico usava ossos de animais

ceracircmicas e pedras como pinceacuteis aleacutem de fabricar suas proacuteprias tinturas atraveacutes de folhas de aacutervores

sangue de animais e excrementos humanos Este conjunto de artefatos e teacutecnicas utilizados pelo

homem era a ldquotecnologia8rdquo disponiacutevel naquele periacuteodo

Neste contexto marcado pela comunicaccedilatildeo interpessoal limitada a poucos interlocutores e de

presenccedila fiacutesica obrigatoacuteria os processos educativos eram passados de pais para filhos no ambiente

familiar ou em comunidades Como analisa Silva (2008) numa sociedade de cultura de subsistecircncia

as ocasiotildees de aprendizagem eram informais e aconteciam no cotidiano (pai ensina filho a pescar

plantar colheita defesa pessoal matildee ensina filha a cozinhar cuidar dos filhos etc) Rituais mitos e

pressaacutegios eram passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo com o objetivo de preservar a heranccedila cultural da

comunidade ou tribo Silva (2002 p 780) explica

A exteriorizaccedilatildeo da mensagem pelo gesto e pela palavra tem uma natureza eminentemente interpessoal necessita da presenccedila de todos os interlocutores num mesmo espaccedilo e num mesmo momento A difusatildeo limita-se ao instante e ao meio imediato O seu raio de acccedilatildeo natildeo ultrapassa o territoacuterio local

Assim a comunicaccedilatildeo interpessoal nas famiacutelias e nas tribos constituiu o primeiro patamar da

base educacional num modelo centrado na oralidade compartilhamento de crenccedilas e culturas Neste

modelo a comunicaccedilatildeo era limitada ao grupo local e os conhecimentos fechados agrave tribo sendo

8 A palavra tecnologia vem do grego thecnecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e dizia respeito a termos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacutecios (Blanco amp Silva 1993)

O mundo conectado em redes

61

passados de geraccedilatildeo a geraccedilatildeo Natildeo existindo escolas formais a famiacutelia constituiacutea o espaccedilo educativo

por excelecircncia

122 Comunicaccedilatildeo de Elite

A segunda reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de acordo com Silva

(2008) ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita O avanccedilo da comunicaccedilatildeo por meio de gestos e linguagem

para o uso das teacutecnicas de produccedilatildeo dos iacutecones e desenhos foi um importante passo para o

desenvolvimento da escrita A tecnologia proporcionada pela teacutecnica da escrita e da capacidade de ler

causou um impacto significativo na estrutura comunicacional educativa e social da sociedade A partir

da invenccedilatildeo da escrita surge a escola como espaccedilo privilegiado de educaccedilatildeo Higounet (2003) monge

beneditino francecircs que se dedicou a estudar sobre a escrita afirma que a histoacuteria da humanidade se

divide em duas grandes eras antes e depois da escrita Segundo este autor etimologicamente a

palavra ldquoescritardquo significa gravar ou fazer uma marca Esta tecnologia foi desenvolvida de acordo com

a necessidade do homem no periacuteodo que este passou de nocircmade para sedentaacuterio e comeccedilou a cultivar

seu alimento (agricultura) e criar animais Logo se precisava de um recurso para registrar o nuacutemero de

animais do rebanho e quanto alimento era guardado A teacutecnica da escrita foi especializada e

posteriormente foi utilizada para anotar os dias do ano (calendaacuterio) registrar grandes feitos batalhas

tratados proclamaccedilotildees de governantes casamentos empreacutestimos oraccedilotildees e assim por diante

Pierre Leacutevy na sua obra As Tecnologias de Inteligecircncia afirma que a escrita permitia ao poder

estatal comandar tanto os signos quantos os homens O autor explica ldquoatraveacutes dos anais arquivos

administrativos leis regulamentos e cartas o Estado tenta de todas as maneiras congelar programar

represar ou estocar seu futuro e seu passadordquo (Leacutevy 1993 p 54) Leacutevy afirma ainda que a invenccedilatildeo

da escrita permitiu separar as mensagens das situaccedilotildees onde satildeo produzidos os discursos e suscitou

a ambiccedilatildeo teoacuterica para a intelectualidade O ser humano podia eternizar seus discursos em textos que

poderiam ser consultados posteriormente feito que natildeo era possiacutevel na cultura oral antes da escrita

De acordo com Silva (2002) a escrita exigia conhecimento de regras gramaticais um

conhecimento especializado No seacuteculo VI dC as ordens religiosas denominadas monasteacuterios

concentravam as tarefas de ensino e de escrita produziam textos para a liturgia e para as leituras

sagradas Entre os laicos poucos sabiam ler Os antigos escribas ou copistas que copiaram os textos

biacuteblicos o fizeram em papiros estes apresentavam fragilidade no seu manuseio e foram substituiacutedos

pelo pergaminho mais resistente por ser constituiacutedo de peles de animais Este novo artefato

O mundo conectado em redes

62

possibilitou a dobra e costura dos escritos surgindo assim a figura do codex ancestral do atual livro

(Olson 1996) Os monges responsaacuteveis pelas coacutepias dos codex possuiacuteam no mosteiro sua sala

individual de leitura e escrita com uma mesa e assento (scriptorium) onde os livros eram escritos a

matildeo por isso eram chamados de manuscritos A ediccedilatildeo de livros por iniciativa de cleacuterigos e da

burguesia ocorreu ateacute finais do seacuteculo XII a partir de entatildeo os copistas laicos juntaram-se aos monges

em associaccedilotildees que passaram a atender a burguesia comercial na redaccedilatildeo de livros e documentos

oficiais (Martins 1996)

Assim a escrita constituiacutea um saber que natildeo pertencia a todos o que deflagrava uma

dicotomia entre quem tinha o domiacutenio da teacutecnica (escrita e leitura) e os que natildeo tinham Nesta

configuraccedilatildeo a educaccedilatildeo era privileacutegio reservado agraves elites Silva (2005 p 35) afirma

Seja porque a escrita estava associada a um poder secreto e maacutegico (sendo considerada uma actividade perigosa para o leitor menos esclarecido) e a um instrumento de poder e controlo da populaccedilatildeo por parte dos Estados Reacutegios e das autoridades religiosas a sua aprendizagem generalizada tardou permanecendo durante muito tempo como uma forma de comunicaccedilatildeo elitista

Apoacutes a escrita explica Silva estabeleceu-se uma brecha entre os que dominavam sua teacutecnica

e os que natildeo sabiam Ateacute entatildeo a oralidade colocava todos em situaccedilatildeo nivelada com a escrita abriu-

se um fosso separando os letrados dos iletrados Conforme explanado pelo autor (idem p 35) ldquotodos

os sistemas pictograacuteficos e ideograacuteficos ao requerem um grande nuacutemero de siacutembolos exigem muito

tempo na elaboraccedilatildeo graacutefica e resultam elitistasrdquo Possivelmente conclui o Silva o escriba deve ter

sido o primeiro tecnocrata ao serviccedilo do palaacutecio real por deter os conhecimentos e teacutecnicas da escrita

Naquele periacuteodo da histoacuteria os estudos eram privileacutegios de poucos que natildeo precisavam

trabalhar e dispunham de tempo livre A palavra escola tem origem do grego scholeacute que significa lazer

ou tempo ocioso Assim poucos dispunham de tempo disponiacutevel para se dedicar aos estudos Apenas

uma elite tinha acesso agrave leitura e agrave escrita e frequentavam pequenas escolas nas paroacutequias das

cidades e vilarejos O movimento para a universalizaccedilatildeo da escola ocorreu apenas a partir do seacuteculo

XVII na eacutegide do Iluminismo Portanto a invenccedilatildeo da escrita assegurou o segundo marco das

reconfiguraccedilotildees que a tecnologia causou na educaccedilatildeo a aprendizagem organizada em escolas

reservadas a elites com intuito de aprenderem as teacutecnicas de leitura escrita e caacutelculos

O mundo conectado em redes

63

123 Comunicaccedilatildeo em massa

A terceira reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo segundo Silva (2008)

ocorreu com o surgimento da comunicaccedilatildeo em massa A invenccedilatildeo da tipografia no seacuteculo XV que

permitiu a produccedilatildeo de livros em grande escala e possibilitava o acesso ao conhecimento fora do

espaccedilo escolar Depois jaacute no seacuteculo XIX o invento do teleacutegrafo eleacutetrico em 1837 e do telefone em

1876 que tornou possiacutevel a reproduccedilatildeo do som e das palavras agrave distancia Estas invenccedilotildees abriram

caminho para o desenvolvimento de outras tecnologias de amplificaccedilatildeo de mensagens como a TV o

raacutedio e o cinema Segundo Silva (2002 p 781)

O aparecimento das tecnologias de amplificaccedilatildeo com a invenccedilatildeo da imprensa no seacuteculo XV e principalmente num segundo momento com os desenvolvimentos em meados do seacuteculo XIX de uma seacuterie de invenccedilotildees no acircmbito das telecomunicaccedilotildees (do teleacutegrafo e do telefone) do som e da imagem electroacutenicos (radiofonia cinema e televisatildeo) deu origem ao fenoacutemeno da globalizaccedilatildeo processo que se firmou gradualmente e adquiriu muitas das caracteriacutesticas que ainda hoje tem

Neste cenaacuterio a escola natildeo era mais o uacutenico loacutecus privilegiado para a educaccedilatildeo A invenccedilatildeo da

imprensa que popularizou os livros foi um marco nas mudanccedilas ocorridas no meios de comunicaccedilatildeo

Sobre este invento McLuhan (1977 p 182) afirma que o livro impresso ldquoera o novo material didaacutetico

que tornado acessiacutevel a todos os estudantes fizera obsoleto o ensino antigo O livro era literalmente a

maacutequina de ensinar quando o manuscrito era tatildeo-soacute rude ferramenta de ensinordquo A expressatildeo

ldquomaacutequina de ensinarrdquo cunhada por McLuhan exprime a revoluccedilatildeo que o livro impresso causou nas

estruturas educacionais da eacutepoca Natildeo obstante no seacuteculo XVII o livro impresso em grandes

quantidades era criticado pelos professores e intelectuais com a premissa de que este retirava o

glamour do trabalho dos escritores e estimulavam ao oacutecio a preguiccedila e o individualismo

Para McLuhan (1977 p 119) a ldquoGalaacutexia de Gutembergrdquo reconfigurou o cenaacuterio cultural

poliacutetico e social de uma geraccedilatildeo

A diferenccedila entre o homem da palavra impressa e o da palavra manuscrita eacute quase tatildeo grande quanto a que existe entre o natildeo alfabetizado e o alfabetizado Os elementos constitutivos da tecnologia de Gutenberg natildeo eram novos Mas ao se conjugarem no seacuteculo quinze pela invenccedilatildeo da imprensa produziram tal aceleraccedilatildeo de accedilatildeo social e pessoal que se pode comparar a do take-off no sentido em que W W Rostow desenvolve esse conceito em The Stages of Economic Groivth (As fases de crescimento econocircmico) O take-off eacute aquele momento decisivo na histoacuteria de uma sociedade em que deflagra o seu desenvolvimento e este se torna sua condiccedilatildeo normal

O mundo conectado em redes

64

Assim o livro impresso causou uma revoluccedilatildeo nos processos educativos possibilitando a

mudanccedila do ensino baseado na oralidade para o ensino baseado na escrita disponiacutevel a qualquer

cidadatildeo Nas palavras de McLuan a invenccedilatildeo da imprensa foi um ldquomomento decisivordquo da histoacuteria da

sociedade este constituiu o embriatildeo do surgimento dos meios de comunicaccedilatildeo em massa que se

desenvolveram em meados do seacuteculo XIX e mudaram a forma da sociedade ver o mundo

Outra invenccedilatildeo no rol das que mais impactaram a aacuterea da comunicaccedilatildeo foi o telefone A

invenccedilatildeo do telefone retirou ao ser humano o seu caraacuteter privado ora tatildeo prezado Na anaacutelise de

McLuhan (1964 p 304) ldquoo telefone eacute um ldquoentratildeordquo irresistiacutevel em qualquer tempo e lugarrdquo O autor

analisa os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees dos sentidos humanos em destaque o sentido da

audiccedilatildeo e da visatildeo O telefone seria as ldquoorelhas de longa distacircnciardquo a escrita e a imprensa seriam as

extensotildees visuais Analisando o aforismo de McLuhan ldquoo meio eacute a mensagemrdquo Braga (2012 p 50)

diz sobre o telefone

Existe algo de revolucionaacuterio no telefone algo que transforma radicalmente a relaccedilatildeo dos seres humanos com o tempo e com o espaccedilo Tal dimensatildeo a ldquomensagem do meiordquo ndash aquilo que o telefone faz com a comunicaccedilatildeo humana ndash natildeo se encontra no ldquoconteuacutedordquo ou na ldquomensagemrdquo de nenhum telefonema particular

A invenccedilatildeo da tecnologia de telefonia celular moacutevel criada experimentalmente pela empresa

Motorola na deacutecada de 1970 e comercializada em 1984 no modo analoacutegico revolucionou o sistema de

telefonia Em meados dos anos de 1990 surgiu o primeiro telefone celular digital superando a 1ordm

geraccedilatildeo de celulares analoacutegicos Desde entatildeo os padrotildees de transmissatildeo continuaram a evoluir com

as tecnologias 2G 3G e atualmente 4G com traacutefego de dados em alta velocidade baseados em

Protocolo de Internet (IP) Segundo Leacutevy (1999) o telefone e o correio funcionam num sistema de rede

ponto a ponto (um para um) em que as mensagens podem ser endereccediladas com precisatildeo e trocadas

com reciprocidade No sistema de telefonia analoacutegico esta comunicaccedilatildeo natildeo criava puacuteblico era

particular e restrita Com a criaccedilatildeo do sistema digital o uso de mensagens e aplicativos de bate-papo e

chats possibilitou a interatividade e comunicaccedilatildeo simultacircnea de diversos sujeitos ao telefone

Ainda sobre os meios de comunicaccedilatildeo em massa que revolucionaram os padrotildees sociais e

culturais de uma geraccedilatildeo a invenccedilatildeo da TV se encontra entre os mais destacaacuteveis Nos fins da deacutecada

de 1930 ocorreram nos EUA as primeiras transmissotildees regulares de TV Assim como a imprensa e o

raacutedio a TV funciona num esquema ldquoum para todosrdquo um centro emissor envia mensagens na direccedilatildeo

de receptores passivos e sobretudo isolados uns dos outros Leacutevy (1999 p 44) comenta sobre esta

miacutedia

O mundo conectado em redes

65

O dispositivo de miacutedia cria comunidade pois um grande nuacutemero de pessoas recebe as mesmas mensagens e partilha em consequecircncia certo contexto Mas natildeo haacute reciprocidade nem interaccedilatildeo (ao menos no interior do dispositivo) e o contexto eacute imposto pelos centros emissores

Considerada por McLuhan (1964) como um ldquomeio friordquo de comunicaccedilatildeo por ser pobre em

informaccedilatildeo e exigir muito dos seus consumidores para dar sentido agraves mensagens a TV recebeu

criacuteticas de muitos intelectuais que se preocupam com seu efeito massificador Relata-se que em 1950

havia nos EUA mais pessoas vendo TV que ouvindo raacutedio Naquele periacuteodo iniciou-se um periacuteodo

tenebroso para o raacutedio em decorrecircncia da novidade proposta pela TV esta exibia som e imagem Sobre

o poder midiaacutetico da TV Silva (2005 p 37) afirma

Parte da forccedila deste media capaz de influenciar e organizar os estilos de vida e haacutebitos comunitaacuterios (hora das refeiccedilotildees de deitar e de levantar de sair de casa de conversar e conviverhellip) bem como condicionar culturalmente os cidadatildeos atraveacutes da disseminaccedilatildeo de ideias e modismos agrave escala planetaacuteria vem da nova configuraccedilatildeo comunicativa de recepccedilatildeo a mensagem televisiva tem penetraccedilatildeo na casa de qualquer pessoa ocupando por isso um lugar estrateacutegico de acircmbito sociocultural na ceacutelula familiar

Tendo em vista o efeito de amplificaccedilatildeo de mensagens que a TV possui sua difusatildeo promoveu

uma mudanccedila na configuraccedilatildeo comunicativa global tendo em vista seu amplo alcance de penetraccedilatildeo

nos domiciacutelios residenciais

No campo educacional a hegemonia da escola como a uacutenica fonte de transmissatildeo do saber eacute

ameaccedilada pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa como o livro o jornal o cinema com destaque

para a TV O conceito de ldquoEscola Paralela9rdquo originalmente expresso por Friedmann (1962) passa a

ganhar sentido com o amplo alcance e a presenccedila incontestaacutevel de aparelhos de TV nos domiciacutelios do

mundo todo Assim como a impressatildeo de livros em grande escala com a invenccedilatildeo da impressa a

propagaccedilatildeo da TV foi criticada por educadores nas deacutecadas de 1950 e 1960 Segundo Laurens (2009

p 8) para os educadores os meios de comunicaccedilatildeo em massa em especial a TV estimulavam a

passividade a dispersatildeo e a superficialidade

Os professores contudo criticavam o livro sob alegaccedilatildeo de que estimulava a preguiccedila e liberava do esforccedilo de memorizaccedilatildeo A invenccedilatildeo dos meios eleacutetricos e eletrocircnicos como o raacutedio a televisatildeo e o telefone provocaram em seguida uma nova ruptura transformando a relaccedilatildeo entre espaccedilo e tempo prenuacutencio da globalizaccedilatildeo da atividade e do pensamento humanos

9 Segundo Friedmann (1962) Escola Paralela trata-se do ldquoconjunto de estiacutemulos afectivos e intelectuais que recebem as crianccedilas desde a sua mais tenra infacircncia e fora da escola oficial a partir do meio ambiente da televisatildeo a raacutedio o telefone o transmissor os desenhos animados as revistas dos pais

O mundo conectado em redes

66

O autor conclui que para os professores a TV era percebida como uma ldquoconcorrente deslealrdquo

que favorecia o lazer a facilidade e a modernidade tornando os alunos entediados com a escola O

fato eacute que diante da expansatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo em massa a escola deixou de ser a uacutenica

fonte de transmissatildeo do conhecimento e reconfigurou mais uma vez os processos educativos daquela

geraccedilatildeo (Silva 2005) Os cursos por correspondecircncia que jaacute ocorriam desde o final do seacuteculo XIX

(primeiras referecircncias por volta de 1885) com o advento do raacutedio e da TV expandiram seu puacuteblico na

Europa e nos EUA De acordo com Gomes (2008) o ldquotele-ensinordquo ou ensino mediado por suportes

visual aacuteudio escrita aacuteudio-visual e aacuteudio-escrito-visual tinha por principais caracteriacutesticas a

distribuiccedilatildeo de conteuacutedos via raacutedio ou TV a pouco frequente comunicaccedilatildeo professoraluno a

inexistente comunicaccedilatildeo alunosalunos e uma comunicaccedilatildeo siacutencrona fraacutegil efetuada com suporte do

telefone A autora afirma que nesse periacuteodo surgiram vaacuterias instituiccedilotildees de ensino voltadas

especificamente para a educaccedilatildeo a distacircncia e a escola tradicional perdia espaccedilo para novas formas

de aprendizagem

124 Comunicaccedilatildeo Individual

A quarta reconfiguraccedilatildeo dos meios de telecomunicaccedilatildeo ocorreu concomitante agrave expansatildeo dos

meios de comunicaccedilatildeo em massa (mass media) o fenocircmeno da self media surgiu como motor

propulsor das tecnologias em base individual A invenccedilatildeo da fotografia gravador de sons reprografia

videografia multigrafia (computador) e outros artefatos tecnoloacutegicos de produccedilatildeo de miacutedia permitiam

ao homo communicans a possibilidade de expressar-se em base individual de diferentes formas em

distintos veiacuteculos de comunicaccedilatildeo Silva (2008) afirma que a fotografia foi o primeiro self media a fazer

parte do cotidiano das pessoas Com sua popularizaccedilatildeo a partir dos anos de 1970 a fotografia passou

a constituir um meio de registro da vida cotidiana e tambeacutem um modo de expressatildeo da arte de cunho

individual A invenccedilatildeo da reprografia foi outro importante feito para a distribuiccedilatildeo em grande escala de

informaccedilatildeo e libertou as pessoas da induacutestria da impressatildeo permitindo a produccedilatildeo de coacutepias e mais

liberdade na arte de compor e imprimir

No entanto a invenccedilatildeo de maior peso na era comunicativa da self media foi o computador

Desenvolvido inicialmente para fazer caacutelculos e promover armazenamento de dados o computador de

uma maacutequina de 30 toneladas de peso em 194510 transformou-se em microcomputador de mesa na

deacutecada de 1970 graccedilas agrave utilizaccedilatildeo de transitores e microprocessadores Segundo Castells (1999 p

82) o computador pessoal passou a se popularizar com o desenvolvimento de um novo software de 10 ENIAC Electronic Numerical Integrator and Computer

O mundo conectado em redes

67

sistema operacional que permitia a utilizaccedilatildeo da maacutequina sem a necessidade de ter os conhecimentos

de um programador Sobre a criaccedilatildeo e desenvolvimento da internet o autor relata que esta resultou de

uma ldquofusatildeo singular de estrateacutegia militar grande cooperaccedilatildeo cientiacutefica iniciativa tecnoloacutegica e

inovaccedilatildeo contraculturalrdquo Inicialmente criada para fins militares na deacutecada de 1950 a internet

comeccedilou a ser difundida na comunidade cientiacutefica para comunicaccedilatildeo entre pesquisadores e cientistas

das universidades dos EUA em meados da deacutecada de 1960 com a criaccedilatildeo da ARPANET11

Por volta de 1990 outro salto tecnoloacutegico permitiu a difusatildeo da internet para a comunidade

geral a criaccedilatildeo da Word Wide Web (www) que mudou a forma de organizaccedilatildeo dos siacutetios na internet

que antes eram agrupados por localizaccedilatildeo passaram a ser organizados por informaccedilatildeo A forma

padratildeo das informaccedilotildees do www eacute o hipertexto 12 que admite a interligaccedilatildeo entre diversos

documentos que podem ser localizados em diferentes servidores em distantes partes do mundo A

partir de entatildeo novos progressos nas telecomunicaccedilotildees e computaccedilatildeo provocaram mais mudanccedilas

tecnoloacutegicas como os sistemas mainframes 13 novos softwares criaccedilatildeo de estrutura de

telecomunicaccedilatildeo por fibras oacutepticas aumento da velocidade dos processadores ampliaccedilatildeo da

tecnologia de multimiacutedia e outros avanccedilos que conectaram o mundo numa ldquoaldeia globalrdquo como

previsto por McLuhan

Nascia o ldquociberespaccedilordquo que parecia ficccedilatildeo cientiacutefica quando o escritor Wilian Gibson (1984)

criou esta expressatildeo no seu romance Neuromancer em 1984 Para Gibson o ciberespaccedilo constituiacutea

tatildeo somente uma constelaccedilatildeo de dados de capacidade infinita O autor natildeo imaginava o potencial que

a internet teria para tornar essa ficccedilatildeo uma realidade Anos mais tarde Michael Benedikt (1993) na

sua obra El ciberespacio algunas propuestas usou a expressatildeo ciberespaccedilo para designar o espaccedilo

virtual paralelo da internet que abriga infinitos bancos de dados em incontaacuteveis sites paacuteginas e portais

Leacutevy (2008 p 40) utilizou o termo ciberespaccedilo para definir o meio de comunicaccedilatildeo aberto pela

interconexatildeo mundial dos computadores que emerge comordquo espaccedilo elaacutesticordquo que independe do lugar

e tempo de conexatildeo O ciberespaccedilo converte as tecnologias ldquoum para umrdquo (cartas telefone) e a ldquoum

para todosrdquo (televisatildeo raacutedio) para a comunicaccedilatildeo ldquotodos para todosrdquo (internet) A tecnologia fez surgir

11 Arpanet era um projeto que visava a construccedilatildeo de uma rede de computadores que pudessem trocar informaccedilotildees mesmo que fossem integrados por pessoas geograficamente distantes aleacutem de permitir o compartilhamento de recursos escassos Disponiacutevel em httpssitesgooglecomsitesitesrecordo-que-e-arpanet Acesso em 13 jan 2015 12 O hipertexto eacute codificado com a linguagem HTML (Hypertext Markup Language) que possui um conjunto de marcas de codificaccedilatildeo que satildeo interpretadas pelos clientes WWW (que satildeo os browsers como o Netscape) em diferentes plataformas 13 Computador de grande porte capaz de oferecer serviccedilos de processamento a milhares de usuaacuterios atraveacutes de milhares de terminais conectados diretamente ou atraveacutes de uma rede

O mundo conectado em redes

68

termos como interatividade multimiacutedia (combinaccedilatildeo de texto imagem e som) e hipermiacutedia

(interconexatildeo de diversos textos entre si) que integraram a rotina comunicacional

Leacutevy (1999) no seu livro Cibercultura faz um retrospecto histoacuterico do ciberespaccedilo a partir da

invenccedilatildeo dos primeiros computadores na Inglaterra e nos Estados Unidos nos anos de 1945

passando pelo uso dos mesmos para fins beacutelicos durante a 2ordf Guerra Mundial pela disseminaccedilatildeo dos

computadores para fins cientiacuteficos nas universidades chegando ateacute agrave virada que ocorreu nos anos de

1970 quando se iniciou a comercializaccedilatildeo dos microprocessadores Segundo Leacutevy este foi um salto na

tecnologia pois os chips eletrocircnicos dos microprocessadores abriram uma nova fase na automaccedilatildeo da

produccedilatildeo industrial roboacutetica maacutequinas industriais com controles digitais automaccedilatildeo dos bancos

difusatildeo de aparelhos eletrocircnicos industriais e domeacutesticos Mas a criaccedilatildeo do computador pessoal nos

anos de 1980 eacute apontada pelo autor como um importante passo para efervescecircncia do ciberespaccedilo

Leacutevy (idem p 31) explica

Um verdadeiro movimento social nascido na Califoacuternia na efervescecircncia da ldquocontraculturardquo apossou-se das novas possibilidades teacutecnicas e inventou o computador pessoal Desde entatildeo o computador iria escapar progressivamente dos serviccedilos de processamento de dados das grandes empresas e dos programadores profissionais para tornar-se um instrumento de criaccedilatildeo (de textos de imagens de muacutesicas) de organizaccedilatildeo (bancos de dados planilhas) de simulaccedilatildeo (planilhas ferramentas de apoio atilde decisatildeo programas para pesquisa) e de diversatildeo (jogos) nas matildeos de uma proporccedilatildeo crescente da populaccedilatildeo dos paiacuteses desenvolvidos

O computador pessoal popularizou a internet que antes era restrita apenas a grandes

empresas e instituiccedilotildees Leacutevy (idem p 32) analisa que nos final dos anos de 1980 e iniacutecio dos anos

1990 emergiu outro movimento sociocultural que teve origem nas grandes cidades e nos campus

universitaacuterios americanos ldquosem que nenhuma instacircncia dirigisse esse processo as diferentes redes de

computadores que se formaram desde o final dos anos 70 se juntaram umas agraves outras enquanto o

nuacutemero de pessoas e de computadores conectados agrave inter-rede comeccedilou a crescer de forma

exponencialrdquo O autor explica que assim como no caso da invenccedilatildeo do computador pessoal impocircs um

curso diferente para o desenvolvimento socioeconomico e cultural das sociedades afetadas as

tecnologias digitais em rede surgiram como a infraestrutura fiacutesica do ciberespaccedilo um ldquonovo espaccedilo de

comunicaccedilatildeo de sociabilidade de organizaccedilatildeo e de transaccedilatildeo mas tambeacutem novo mercado da

informaccedilatildeo e do conhecimentordquo (idem p 32) No entanto para Leacutevy o ciberespaccedilo natildeo diz respeito

apenas agrave infraestrutura de rede de computadores mas ao universo de informaccedilatildeo que ela abriga e os

seres humanos que nela navegam e a alimentam

O mundo conectado em redes

69

Neste contexto nasce o conceito de ldquociberculturardquo Leacutevy (idem p 17) descreve esta como o

ldquoconjunto das teacutecnicas (materiais e intelectuais) as praacuteticas as atitudes as maneiras de pensar e os

valores que se desenvolvem conjuntamente com o crescimento do ciberespaccedilordquo A cibercultura

emergiu das relaccedilotildees digitais on-line entre os seres humanos e os conteuacutedos digitalizados acessados

na rede que reestruturam outras dinacircmicas sociais econocircmicas poliacuteticas culturais e educacionais Na

primeira fase da cibercultura (iniacutecio do uso da internet) segundo Santos (2014) exigia-se do usuaacuterio

conhecimento da linguagem HTML para se produzir conteuacutedos e interfaces Tambeacutem era necessaacuterio

ter acesso a um servidor quase sempre pago para se hospedar os conteuacutedos e interfaces A internet

constituiacutea um repositoacuterio de informaccedilotildees variadas para pesquisa mas ainda era limitada para

produccedilotildees pessoais A autora afirma que ldquoo ciberespaccedilo era um espaccedilo bastante distanciado dos

espaccedilos urbanos entre eles os espaccedilos escolaresrdquo Santos usa a metaacutefora download e upload para

descrever as praacuteticas educativas com o uso da internet naquele periacuteodo A praacutetica pedagoacutegica

download era baseada no acesso a conteuacutedos para serem reutilizados nas salas de aulas fiacutesicas ou

laboratoacuterio de informaacutetica com os alunos Com a popularizaccedilatildeo da linguagem HTML muitos

professores comeccedilaram a publicar em home pages sites pessoais ou institucionais constituindo a fase

do upload

A educaccedilatildeo nesta conjuntura deixou de ser intermediada exclusivamente pelas instituiccedilotildees

educativas Leacutevy (1998 p 45) apresenta algumas alteraccedilotildees visiacuteveis na forma de comunicaccedilatildeo no

ciberespaccedilo

Ateacute agora o espaccedilo puacuteblico de comunicaccedilatildeo era controlado atraveacutes de intermediaacuterios institucionais que preenchiam uma funccedilatildeo de filtragem e de difusatildeo entre os autores e os consumidores de informaccedilatildeo estaccedilotildees de televisatildeo de raacutedio jornais editoras gravadoras escolas etc Ora o surgimento do ciberespaccedilo cria uma situaccedilatildeo de desintermediaccedilatildeo cujas implicaccedilotildees poliacuteticas e culturais ainda natildeo terminamos de avaliar

Leacutevy cita a ldquodesintermediaccedilatildeordquo que a expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo causaria na sociedade e nas instituiccedilotildees dentre elas a escola A escola filtrava os

conteuacutedos a serem estudados formalizando-os em um curriacuteculo fechado do qual os alunos seguiam por

intermeacutedio de livros didaacuteticos escolhidos pelo corpo docente da escola Com o ciberespaccedilo e o fomento

da cibercultura os processos de intermediaccedilatildeo deixam de ser hierarquizados e resultam dos proacuteprios

indiviacuteduos de acordo com suas necessidades e interesses

O mundo conectado em redes

70

A autoeducaccedilatildeo constituiu entatildeo uma caracteriacutestica marcante no contexto da expansatildeo dos

meios de comunicaccedilatildeo de caraacuteter individual baseados principalmente na internet Silva (2008 p

1916) explica

O aluno jaacute natildeo eacute apenas um mero estudante que frequenta cursos durante alguns anos da sua vida recebendo de uma forma mais ou menos passiva o saber transmitido pelo professor mas eacute fundamentalmente um auto-educando num amplo quadro de educaccedilatildeo permanente e aprendizagem autoacutenoma reforccedilado pela expressatildeo aprender a aprender

A interaccedilatildeo possibilitada pelo uso do correio eletrocircnico favoreceu a expansatildeo de cursos a

distacircncia a partir de 1985 Gomes (2008) explica que num periacuteodo anterior ao da internet a educaccedilatildeo

mediada por tecnologias como a TV o raacutedio e correspondecircncias tinha um caraacuteter pouco interativo

Embora a distribuiccedilatildeo de conteuacutedos fosse massiva a comunicaccedilatildeo entre professor e aluno era limitada

quase sempre por correspondecircncia ou telefone e a comunicaccedilatildeo aluno com outros alunos naquele

modelo era inexistente Com a internet o correio eletrocircnico favoreceu a interatividade professoraluno

e ateacute mesmo entre alunos Esta fase de uso de tecnologia mediada por computador e internet eacute

classificada pela autora como a terceira geraccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia sendo a primeira geraccedilatildeo

pautada pelo ensino por correspondecircncia e a segunda caracterizada pelo uso intensivo de TV e

transmissotildees radiofocircnicas cujo suporte mediaacutetico para comunicaccedilatildeo era o telefone

125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais

O fortalecimento e ampliaccedilatildeo do ciberespaccedilo e da cibercultura no seacuteculo XXI abriram campo

para a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com impacto na educaccedilatildeo apontada por Silva (2008) a

comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais por meio de comunidades de aprendizagem Da primeira fase da

internet chamada de Web 10 focalizada em site de buscas de informaccedilatildeo avanccedilou-se na virada do

milecircnio para a Web 20 sendo esta uacuteltima voltada para a interaccedilatildeo entre os usuaacuterios tambeacutem

chamada de Web Social Silva e Souza (2015 p 6) explicam que esse fenocircmeno ocorreu devido o

desenvolvimento de um ldquoconjunto alargado de programas centrados na interatividade entre utilizadores

que permitiram uma maior relacionamento socialrdquo A internet tornou-se uma interface de publicaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo em rede As interfaces amigaacuteveis de blogs foacuteruns vlogs wiks podcastings redes

sociais paacuteginas pessoais canais de viacutedeos possibilitaram que os usuaacuterios migrassem de receptores da

informaccedilatildeo para autores O ciberespaccedilo torna-se um espaccedilo democraacutetico em que satildeo dadas vozes aos

que antes natildeo tinham oportunidade de se expressar

O mundo conectado em redes

71

Sobre os efeitos das praacuteticas de comunicaccedilatildeo no espaccedilo virtual da internet Silva e Conceiccedilatildeo

(2013 p 140) afirmam

a ldquonavegaccedilatildeo pelo ciberespaccedilordquo natildeo se limita agrave obtenccedilatildeo de dados pelos indiviacuteduos mas se estabelece uma rede de conversaccedilatildeo onde se trocam reclamaccedilotildees e compromissos ofertas e promessas aceitaccedilotildees e recusas ou seja pela internet natildeo transitam simples informaccedilotildees mas ldquoatos de comunicaccedilatildeordquo onde o mundo privado da experiecircncia pessoal daqueles que os praticam eacute projetado no interior do mundo interpessoal e grupal das interaccedilotildees

Assim com a expansatildeo da internet novos padrotildees de sociabilidade substituiacuteram as formas de

interaccedilatildeo humana antes limitada pelas distacircncias geograacuteficas Neste contexto emergiram as

comunidades virtuais que reuacutenem no ciberespaccedilo pessoas com interesses comuns De acordo com

Rheingold (1994) o termo ldquocomunidade virtualrdquo foi concebido para definir o agrupamento de humanos

que frequentam o ciberespaccedilo por meio da rede de computadores

As comunidades virtuais satildeo uniotildees sociais que surgem na rede quando uma quantidade suficiente de pessoas leva a seacuterio essas discussotildees puacuteblicas durante um tempo suficente com grandes sentimentos humanos para formar redes de reaccedilotildees pessoais no espaccedilo ciberneacutetico (Rheingold 1994 p 20)

Neste sentido os distintos indiviacuteduos que compotildeem uma comunidade virtual reuacutenem-se por

um senso comum ou interesses muacutetuos e natildeo por mera agregaccedilatildeo geograacutefica ldquoOs usuaacuterios desses

serviccedilos se conectam habitualmente aos chat rooms ou salas de encontros virtuais que tem por tiacutetulo

assuntos que lhes satildeo relevantesrdquo acrescenta Primo (1997 p 3) Embora estas comunidades natildeo

tenham um endereccedilo fiacutesico pois residem no ciberespaccedilo tecircm um poder de uniatildeo e mobilizaccedilatildeo tanto

quanto a de uma comunidade fiacutesica

Segundo Castells (2003 p 105) a noccedilatildeo de ldquocomunidades virtuaisrdquo na visatildeo dos pioneiros da

interaccedilatildeo social na internet previa novos padrotildees de sociabilidade mais avanccedilados com possibilidades

mais complexas do que simplesmente trocar e-mails com uma pessoa Mas o autor considera que

neste contexto houve equiacutevocos como por exemplo o uso do termo ldquocomunidaderdquo com suas fortes

conotaccedilotildees ideoloacutegicas de laccedilos afetivos entre pessoas geograficamente proacuteximas como ocorria em

sociedades agriacutecolas Para Castells esta percepccedilatildeo gerou uma discussatildeo sobre a substituiccedilatildeo destas

formas de vida comunitaacuterias baseadas na localidade por ldquolaccedilos seletivos e mais fracos entre famiacutelias

espalhadas na metroacutepole anocircnimardquo No entanto o autor cita vaacuterios estudos que comprovam que o uso

da internet natildeo levou a menor interaccedilatildeo ou isolamento social antes os usuaacuterios da internet mantinham

mais contato com amigos e familiares do que os natildeo usuaacuterios O que ocorre em algumas situaccedilotildees

O mundo conectado em redes

72

com uso excessivo da internet segundo outros estudos conflitantes citados por Castells eacute o decliacutenio

da comunicaccedilatildeo entre os membros de uma famiacutelia residentes na mesma casa e agravamento da

depressatildeo e solidatildeo entre os usuaacuterios

Para Lemos (1996 p 21) o ciberespaccedilo loacutecus que habita as comunidades virtuais longe de

constituir um lugar que destroacutei a sociabilidade dos seus residentes promove a interaccedilatildeo entre diversos

atores e autores e potencializa novas formas de encontros entre seus interlocutores

O interesse estaacute no fato de que todas as formas de sociabilidade contemporacircneas encontram na tecnologia um potencializador um catalisador um instrumento de conexatildeo () O ciberespaccedilo natildeo eacute uma entidade puramente ciberneacutetica (no sentido etimoloacutegico de lsquocontrolersquo ou lsquopilotagemrsquo) mas uma entidade abstrata efervescente e caoacutetica

As comunidades virtuais avanccedilaram dos foacuteruns virtuais em sites especializados para grupos

fechados em redes sociais de amplo alcance O Orkut Facebook Linkedin Instagram e outras redes

sociais fomentam a interatividade e o compartilhamento de dados pessoais e profissionais entre as

pessoas Estas redes sociais permitem a publicaccedilatildeo de textos fotos e viacutedeos produzidos pelo seu

associado Tambeacutem possibilita que este visualize as postagens dos ldquoamigosrdquo da sua rede comentando

suas publicaccedilotildees Nas redes sociais ainda eacute possiacutevel falar em chats individuais com os amigos e fazer

conferecircncia por voz Os chats em salas de bate-papo temaacuteticas embora tenham perdido o glamour

que tiveram nos anos de 1990 ainda existem e tecircm puacuteblico cativo As salas virtuais satildeo divididas por

localizaccedilatildeo geograacutefica e idade ou categorias de interesse como amizade namoro sexo religiatildeo

profissotildees cultura esporte e idiomas Os usuaacuterios acessam com um apelido ou ldquonickrdquo em que podem

se passar por qualquer pessoa ou simular um personagem

Bauman (2011) refletindo sobre as relaccedilotildees sociais possibilitadas na internet afirma que

estas relaccedilotildees nos espaccedilos ciberneacuteticos em redes sociais ou comunidades virtuais satildeo constituiacutedas e

mantidas por duas atividades baacutesicas conectar e desconectar Pertencer a uma comunidade virtual

natildeo eacute garantia de laccedilos afetivos duradouros Bauman afirma que no contexto da sociedade liquida

ldquoestamos todos numa solidatildeo e numa multidatildeo ao mesmo tempordquo Segundo o autor o atrativo da rede

eacute a facilidade de fazer e desfazer amizades e viacutenculos

A interatividade proporcionada pela expansatildeo da web favoreceu os processos educativos

mediados por tecnologias Segundo Silva e Pereira (2012 p 11) assim como a forccedila da tecnologia da

escrita fez surgir a escola no seacuteculo IV a C com uma estrutura de ensino e aprendizagem que

O mundo conectado em redes

73

permaneceram soacutelidos por seacuteculos as tecnologias promovidas a partir da internet ldquoapresentam

potencialidades de renovar profundamente a escola tendo em vista a sua constituiccedilatildeo em verdadeiras

Comunidades de Aprendizagemrdquo Para os autores estas comunidades de aprendizagem emergiram da

dimensatildeo colaborativa e interativa entre escolas e outras instituiccedilotildees comunitaacuterias entre pessoas de

interesses comuns que se agrupam em torno de uma accedilatildeo ou projeto educacional com vistas agrave

construccedilatildeo do conhecimento Ainda sobre as comunidades de aprendizagem Dias (2000 p 157)

explica

A noccedilatildeo de comunidade de aprendizagem na Web implica uma concepccedilatildeo flexiacutevel e distribuiacuteda na qual a abordagem hipertexto e as tecnologias hipermeacutedia natildeo soacute constituem os meios para a organizaccedilatildeo da informaccedilatildeo e das representaccedilotildees na rede mas tambeacutem o meio de desenvolvimento de ambientes colaborativos extremamente poderosos para a realizaccedilatildeo das aprendizagens e a construccedilatildeo do conhecimento

Neste sentido o caraacuteter de interaccedilatildeo social promovido pela web possibilita que pessoas de

diferentes formaccedilotildees naveguem em hipertextos na web e estabeleccedilam redes de relaccedilotildees na promoccedilatildeo

de partilha e troca de conhecimentos com os membros das comunidades que participam num

processo de aprendizagem colaborativo

Retornando agraves geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia citadas por Gomes (2008) as comunidades

de aprendizagens emergiram na quarta geraccedilatildeo caracterizada pela interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo entre os

sujeitos do processo educativo A ldquoaprendizagem em rederdquo ou ldquoe-learningrdquo diferente da geraccedilatildeo

anterior natildeo mais faz uso apenas de materiais didaacuteticos interativos (mas estaacuteticos) como CDs

multimiacutedia e viacutedeos explicativos Com o potencial interativo da web a construccedilatildeo do conhecimento

colaborativo eacute ampliada e o ciberespaccedilo passa a constituir um lugar de publicaccedilatildeo partilha e

construccedilatildeo colaborativa do conhecimento A comunicaccedilatildeo antes possibilitada apenas por telefone ou

e-mail eacute entatildeo potencializada por meio de chatsfoacuteruns interativos siacutencronos em ambientes virtuais ou

videoconferecircncias em tempo real Gomes (2003 p 151) explica

A comunicaccedilatildeo directa e frequente entre todos os intervenientes (professores e alunos) possibilitada pelos diversos serviccedilos de comunicaccedilotildees mediadas por computador torna-se um princiacutepio caracteriacutestico desta geraccedilatildeo de inovaccedilatildeo tecnoloacutegica no ensino a distacircncia O desenho das situaccedilotildees de ensino eacute feito considerando como requisito a existecircncia de comunicaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo frequentes dos formandos entre si e com os seus professores

Neste contexto satildeo desenvolvidos ambientes especiacuteficos na web que oferecem agraves comunidades

de aprendizagem um conjunto de recursos para compartilhamento de materiais de estudo publicaccedilatildeo

O mundo conectado em redes

74

de informes coleta e revisatildeo de tarefas avaliaccedilatildeo on-line registro de notas e comunicaccedilatildeo assiacutencrona

e siacutencrona entre os participantes

No Brasil usa-se o termo Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) para denominar os softwares

educacionais via internet que tecircm por finalidade apoiar as atividades de educaccedilatildeo a distacircncia e

presencial oferecendo suporte para a comunicaccedilatildeo e troca de informaccedilotildees e interaccedilatildeo entre os

participantes filtrando o espaccedilo da web num ambiente favoraacutevel para a aprendizagem Os AVA aleacutem de

disponibilizarem grande volume de informaccedilatildeo modificam as formas de comunicaccedilatildeo por meios cada

vez mais complexos Atualmente existem inuacutemeras possibilidades que agrupam uma seacuterie de recursos

para concepccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de um AVA com a finalidade natildeo apenas limitada para disponibilizar

conteuacutedos mas tambeacutem para promover e gerenciar processos de ensino-aprendizagem Assim a

educaccedilatildeo por meio de comunidades de aprendizagem apoiada por ambientes virtuais de aprendizagem

constituiu a quinta reconfiguraccedilatildeo da comunicaccedilatildeo com efeitos na educaccedilatildeo de acordo com Silva

(2008)

A aprendizagem mediada por ambientes virtuais foi designada de e-learning (aprendizagem

eletrocircnica) assim definido por Keegan Baptista Giro-Anett Micincovaacute Dias e Pimenta (2002 p 21)

O e-Learning eacute aqui definido como um tipo de aprendizagem interactiva no qual o conteuacutedo de aprendizagem se encontra disponiacutevel on-line estando assegurado o feedback automaacutetico das actividades de aprendizagem do estudante A comunicaccedilatildeo on-line em tempo real poderaacute ou natildeo estar incluiacuteda contudo a toacutenica do e-Learning centra-se mais no conteuacutedo da aprendizagem do que na comunicaccedilatildeo entre alunos e tutores

Esta modalidade abrange um conjunto de aplicaccedilotildees e processos como aprendizagem

mediada por computador disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos educativos na internet comunidades virtuais

de aprendizagem e salas de aulas virtuais Silva e Conceiccedilatildeo (2013) explicam que o e-learning assume

diferentes papeacuteis dependendo dos contextos niacuteveis de aprendizagem e dos sujeitos envolvidos

Segundo os autores no niacutevel de ensino baacutesico e secundaacuterio o e-learning assume uma vertente de

tutoria eletrocircnica na qual o professor disponibiliza materiais on-line aos alunos e pode ocorrer alguma

interaccedilatildeo com os mesmos

No ensino superior o e-learning caminha para a implementaccedilatildeo de plataformas mistas em

que aulas on-line complementam aulas presenciais Esta modalidade semipresencial ou hiacutebrida eacute

chamada na literatura de b-learning em que a letra ldquobrdquo eacute a inicial da palavra inglesa blended significa

misto ou combinado vem dar sentido ao conceito de combinaccedilatildeo das instacircncias presenciais e natildeo

O mundo conectado em redes

75

presenciais (on-line) Sobre as escolhas dos recursos a serem utilizados nessa modalidade Cabero

(2010 pp 12-13) explica

o espaccedilo do b-learning deveria ser matizado ou estratificado em funccedilatildeo da maior utilizaccedilatildeo das ferramentas de comunicaccedilatildeo siacutencronas e assiacutencronas assim como na amplitude de comunicaccedilatildeo textual aacuteudio visual ou audiovisual utilizada ou seja sincronia assincronia da ferramenta de comunicaccedilatildeo mobilizada e no grau de iconicidade dos materiais utilizados

Assim o b-learning vem atender aos anseios principalmente dos jovens alunos do ensino

superior que valorizam a personalizaccedilatildeo da aula presencial e a flexibilidade da produccedilatildeo on-line Osoacuterio

e Meirinhos (2007) afirmam que essa modalidade acarreta mais carga cognitiva dos envolvidos e pode

servir de base para transiccedilatildeo da modalidade presencial para a completamente on-line ao passo que os

estudantes desenvolvem capacidades de formaccedilatildeo e se apropriam das tecnologias Para Silva (2014)

estaacute em curso um avanccedilo voltado para a convergecircncia e conjugaccedilatildeo de diferentes modalidades de

educaccedilatildeo presencial (p-learning) e educaccedilatildeo a distacircncia (d-learning) para a aprendizagem moacutevel (m-

learning) O autor perspectiva uma evoluccedilatildeo ainda maior que eacute a aprendizagem ubiacutequa (u-learning) que

jaacute estaacute em curso e jaacute reconfigura o cenaacuterio educativo emergente jaacute presente em algumas situaccedilotildees

educativas

126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas

A sexta reconfiguraccedilatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com reflexos na

educaccedilatildeo ainda a ocorrer em 2017 trata da comunicaccedilatildeo em redes ubiacutequas Segundo o dicionaacuterio

Aureacutelio on-line14 ubiquidade eacute o dom de poder estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo

Assim o termo tem sido usado para definir o estado do usuaacuterio que conectado agrave internet pode estar

presente em vaacuterios lugares e comunicar-se durante este deslocamento Santaella (2014 p 34) explica

a diferenccedila das redes ubiacutequas com as redes digitais da web 20

Enquanto as redes digitais por sua proacutepria natureza satildeo sempre moacuteveis a entrada nas redes implicava que o usuaacuterio estivesse parado agrave frente do ponto fixo do computador Agora ao carregar consigo um dispositivo moacutevel a mobilidade se torna dupla mobilidade informacional e mobilidade fiacutesica do usuaacuterio Para navegar de um ponto a outro das redes informacionais nas quais se entra e se sai para muacuteltiplos destinos YouTube sites blogs paacuteginas etc o usuaacuterio tambeacutem pode estar em movimento O acesso passa a se dar em qualquer momento e em qualquer lugar Acessar e enviar informaccedilotildees transitar entre elas conectar-se com as pessoas coordenar accedilotildees grupais e sociais em tempo real tornou-se corriqueiro

14 Disponiacutevel em httpwwwdicionariodoaureliocomubiquidade Acesso em 02 fev 2016

O mundo conectado em redes

76

Santaella (2003) chama esse fenocircmeno de era de cultura digital A autora utiliza uma divisatildeo

de eras culturais no decorrer da histoacuteria da humanidade constituiacuteda de seis formaccedilotildees a cultura oral a

cultura escrita a cultura impressa a cultura de massas a cultura das miacutedias e por fim a cultura digital

As divisotildees que Santaella apresenta se assemelham com o modelo proposto por Silva (2008

2013) exposto neste trabalho Para Santaella a era cultura digital eacute impar pois aleacutem da convivecircncia

de todas as culturas anteriores ocorre uma convergecircncia das miacutedias A cultura das massas e a cultura

das miacutedias produzem juntas uma exacerbaccedilatildeo de circulaccedilatildeo de informaccedilatildeo nunca antes registradas

As informaccedilotildees segundo Santaella natildeo satildeo conservadas e o acesso a elas resultam em poder A

autora explica

Eacute por essa razatildeo que a era digital vem sendo tambeacutem chamada de cultura do acesso uma formaccedilatildeo cultural estaacute nos colocando natildeo soacute no seio de uma revoluccedilatildeo teacutecnica mas tambeacutem de uma sublevaccedilatildeo cultural cuja propensatildeo eacute se alastrar tendo em vista que a tecnologia dos computadores tende a ficar cada vez mais barata (Santaella L 2003 p 28)

A cultura digital citada por Santaella estaacute presente natildeo apenas nos computadores fixos mas

em todos lugares por meios das redes wifi e dispositivos portaacuteteis conectados agrave internet O espaccedilo

fiacutesico se fundiu com o espaccedilo virtual A autora chama esses ambientes de espaccedilo de hipermobilidade e

espaccedilo intersticial ou espaccedilo hiacutebrido e misturado (Santaella 2007) Assim com a disponibilidade da

rede moacutevel acessiacutevel em todos os lugares as pessoas ganharam mobilidade em que se pode transitar

em vaacuterios destinos na rede

Na literatura jaacute se fala de ldquocyborguesrdquo ou seres hiacutebridos habitantes do ciberespaccedilo que na era

da ldquocomputaccedilatildeo ubiacutequardquo se apropriaram da tecnologia ao ponto que elas desaparecem se

incorporaram aos objetos a sua volta (Oliveira 2011 Santaella 2003) O termo ldquocomputaccedilatildeo uacutebiquardquo

foi criado por Mark Weiser (1991) numa perspectiva visionaacuteria em que o autor previa que a

computaccedilatildeo seria tatildeo comum e presente na vida das pessoas quanto a escrita se tornou com o passar

dos seacuteculos No seu artigo The Computer for the 21st Century Weiser (1991) argumenta que a escrita

no iniacutecio de seu uso exigia uma atenccedilatildeo especial para se aprender a teacutecnica de captar uma

representaccedilatildeo simboacutelica linguagem falada para armazenamento a longo prazo fazendo uso correto de

siacutembolos e coacutedigos No entanto o autor explica que hoje a escrita eacute onipresente nos paiacuteses

industrializados estaacute nos livros jornais placas de ruas outdoors e embalagens de produtos Assim a

tecnologia da escrita eacute ubiacutequa e hoje natildeo mais exige atenccedilatildeo ativa agraves teacutecnicas como o faziam os

escribas que tinham tanto de fazer a tinta como assar a argila para realizar a escrita

O mundo conectado em redes

77

Neste sentido Weiser acreditava que a tecnologia da computaccedilatildeo assim como ocorreu com a

escrita atingiria um patamar que se tornariam parte integrante da vida das pessoas Os computadores

onipresentes adaptados a diferentes tarefas previstos no artigo de Weiser hoje satildeo uma realidade Um

exemplo real satildeo as casas inteligentes automatizadas programaacuteveis e conectadas a internet sem fios

que realizam controle de consumo de energia de aacutegua temperatura e umidade em tempo real via

smartphone cuja comercializaccedilatildeo jaacute eacute realizada

A ldquoComputaccedilatildeo calmardquo ou ldquocomputaccedilatildeo pervasivardquo constituem reconfiguraccedilotildees avanccediladas da

tecnologia em que os objetos inteligentes natildeo se tornaratildeo apenas miniaturizados mas parte integrante

do nosso corpo (Oliveira 2011) Outros termos utilizados na literatura para este fenocircmeno satildeo

ldquoInternet das Coisasrdquo (Internet Of Thing) web das coisas internet do futuro cidades inteligentes Leacutevy

(1996) na sua obra O que eacute virtual citava a ldquovirtualizaccedilatildeordquo como um fenocircmeno que reinventa a

cultura nocircmade agrave medida que permite novas interaccedilotildees sociais em que o sujeito se desterritorializa

torna-se ldquonatildeo presenterdquo como eacute o caso das comunidades virtuais que reuacutenem pessoas de diferentes

lugares do mundo distintas formaccedilotildees classe econocircmica e faixa etaacuteria que se unem em torno de um

objetivo em comum num grupo fechado A geografia natildeo eacute mais ponto de referecircncia para essas

comunidades Leacutevy (idem p 9) explica ldquoela vive sem referecircncia estaacutevel em toda parte onde se

encontrem seus membros moacuteveis ou em parte algumardquo Hoje as comunidades virtuais ainda existem

mas os sites blogs e paacuteginas pessoais canais no YouTube e outros aplicativos e programas permitem

que o usuaacuterio mesmo em movimento possa conectar postar viacutedeos produzir conteuacutedos fazer

negoacutecios conhecer novos lugares falar com outras pessoas se estiver conectado agrave internet Assim a

mobilidade natildeo ocorre apenas com as redes disponiacuteveis em todos os lugares mas dos usuaacuterios com

seus dispositivos moacuteveis circulando na rede transitando entre textos mapas lugares comunidades e

redes sociais

Neste cenaacuterio a informaccedilatildeo tambeacutem se desmaterializou Antes presente em suportes fiacutesicos

como livros madeira pedra argila hoje estaacute desmaterializada em impulsos eleacutetricos de caraacuteter digital

disponiacuteveis na rede da web (Santos 2002) O ciberespaccedilo hoje se potencializa com o fato dos

computadores ganharem mobilidade natildeo mais se encontram fixos presos a cabos de fios ligados

numa tomada e num modem em cima de uma mesa antes estatildeo cada vez miniaturizados em

celulares tablets reloacutegios e ateacute pulseiras que com acesso a uma rede wifi permitem que a pessoa se

comunique com algueacutem por chamada de viacutedeo localize-se por meio de GPS realize compras on-line

acesse seu banco e faccedila trabalhos colaborativos com auxiacutelio de especialistas ou mesmo acompanhe

O mundo conectado em redes

78

seus exames meacutedicos A possibilidade de produzir conteuacutedo para a web e a mobilidade (da rede e do

usuaacuterio) permitiu que de receptores passivos de informaccedilatildeo passamos a ser ldquointeragentesrdquo ativos no

ciberespaccedilo

A partir de entatildeo mudou a relaccedilatildeo do usuaacuterio da internet com a rede Leacutevy (1999) usou o

exemplo dos correios para exemplificar como um sistema de comunicaccedilatildeo passa a ser incorporado

pela sociedade a partir da sua significaccedilatildeo social O autor cita que o sistema dos correios jaacute existia haacute

seacuteculos nas cidades europeias na Idade Meacutedia e ateacute mais remotamente no Impeacuterio Chinecircs era um

meio de comunicaccedilatildeo entre os reis e nobres natildeo disponiacutevel ao povo Mas a verdadeira inovaccedilatildeo social

que afetou a relaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo entre as pessoas de acordo com Pierre Leacutevy foi no seacuteculo XVII

quando se passou a usar teacutecnica do correio ponto a ponto em que uma pessoa podia enviar uma

correspondecircncia para outra pessoa distante O autor explica os desdobramentos desta mudanccedila

Foi dessa forma que floresceram as correspondecircncias econocircmicas e administrativas a literatura epistolar a repuacuteblica europeacuteia dos espiacuteritos (rede de saacutebios de filoacutesofos) e as cartas de amor O correio como sistema social de comunicaccedilatildeo encontra-se intimamente ligado agrave ascensatildeo das ideacuteias e das praacuteticas que valorizam a liberdade de expressatildeo e a noccedilatildeo de livre contrato entre indiviacuteduos Podemos ver claramente nesse caso como uma infraestrutura de comunicaccedilatildeo pode ser investida por uma corrente cultural que vai no mesmo movimento transformar seu significado social e estimular sua evoluccedilatildeo teacutecnica e organizacional (Leacutevy 1999 p 125)

Assim os correios como infra-instrutura teacutecnica de comunicaccedilatildeo embora existissem haacute

seacuteculos ganharam popularidade quando se inovou sua praacutetica de correspondecircncia entre indiviacuteduos

que ao se apropriarem desta inovaccedilatildeo investiram significado social aproveitando de seus recursos para

difundir sua cultura pensamentos poliacuteticos relacionamentos romacircnticos e transaccedilotildees comerciais

Igualmente o ciberespaccedilo ganhou novos contornos com a popularizaccedilatildeo da internet e da mobilidade

promovida pelas redes e pelos dispositivos portaacuteteis moacuteveis

A relaccedilatildeo das pessoas com a internet muda agrave medida que eles fazem uso social das suas

aplicaccedilotildees A dependecircncia das pessoas por uma rede wifi quando estatildeo em lugares puacuteblicos eacute bem

visiacutevel No metrocirc no ocircnibus ou no aereoporto eacute dificil encontrar alguem que natildeo esteja com seu celular

conectado a uma rede moacutevel ou wifi E as pessoas estatildeo conectadas porque aquilo que acessam

interessa a elas Uns estatildeo falando em aplicativos de mensagens instantacircneas outros acessando

redes sociais lendo livros on-line vendo viacutedeos ou escutando muacutesicas O significado social da internet

na vida das pessoas alterou sua rotina diaacuteria ao ponto de que para muitos imaginar um mundo sem

internet eacute impossiacutevel

O mundo conectado em redes

79

Aleacutem destas tecnologias dos dispositivos moacuteveis conectados agrave internet existem as tecnologias

que se configuram por meio de objetos e equipamentos nos espaccedilos urbanos que Lemos (2009 p

91) chama de ldquomiacutedias locativas digitaisrdquo

Podemos definir as miacutedias locativas como dispositivos sensores e redes digitais sem fios e seus respectivos bancos de dados ldquoatentosrdquo a lugares e contextos Dizer que as miacutedias satildeo atentas a lugares e a contextos significa dizer que elas reagem informacionalmente aos mesmos sendo eles compostos por pessoas objetos eou informaccedilatildeo fixo ou em movimento

Um exemplo de miacutedias locativas digitais satildeo os aplicativos diponiacuteveis em um celular com

sistema de geolocalizaccedilatildeo que podem identificar um restaurante em local mais proacuteximo e por meio

de links disponibilizar a foto do lugar e dar acesso ao cardaacutepio no site do restaurante As miacutedias

locativas digitais nos centros urbanos agregam conteuacutedo digital e podem exercer a funccedilatildeo de

mapeamento vigilacircncia localizaccedilatildeo anotaccedilatildeo ou jogos Assim os objetos dialogam com os

dispositivos digitais (smatphones tablets palms e laptops) coletando e enviando dados numa relaccedilatildeo

hiacutebrida de download e upload transformando os espaccedilos urbanos em nuvem de dados Lemos (2009)

classifica as miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees realidade aumentada mapeamento e

monitoramento geotags e anotaccedilatildeo urbana O quadro abaixo especifica melhor cada uma

Quadro 2 - Classificaccedilatildeo das miacutedias locativas a partir de suas funccedilotildees

Realidade Moacutevel Aumentada As miacutedias locativas permitem que informaccedilotildees sobre uma determinada localidade sejam visualizadas em um dispositivo moacutevel ldquoaumentandordquo a informaccedilatildeo Exemplo O celular pode identificar restaurantes hoteacuteis marcas geograacuteficas e links na web sobre os lugares apontados ampliando assim a realidade informacional do lugar

Mapeamento e Monitoramento de Movimento

Funccedilotildees locativas aplicadas a formas de mapeamento (mapping) e de monitoramento do movimento (tracing) do espaccedilo urbano atraveacutes de dispositivos moveis Exemplo uso de celulares e GPS para criar mapas de caminhos realizados pela cidade

Geotags Tem o objetivo de agregar informaccedilatildeo digital em mapas podendo ser acessadas por dispositivos moacuteveis Exemplo No sistema de compartilhamento de fotos Flickr eacute possiacutevel a partir de geotags agregar informaccedilatildeo textuais a mapas (Google Earth ou Yahoo Maps) de localidades especiacuteficas

Anotaccedilotildees urbanas Possibilitam formas de apropriaccedilatildeo do espaccedilo urbano a partir de escritas eletrocircnicas Exemplo O projeto Undersound no metrocirc de Londres permite que usuaacuterios faccedilam uploads de muacutesicas para o sistema e possam baixar muacutesicas deixadas por outros usuaacuterios no metrocirc com identificaccedilatildeo das estaccedilotildees

Fonte adaptado de Lemos (2009)

Portanto neste cenaacuterio em que os recursos tecnoacuteloacutegicos se hibridizam as miacutedias locativas se

convertem em diferentes versotildees e funccedilotildees dependendo do uso que lhe satildeo conferidas

Segundo Santos (2014) em tempos de cibercultura ubiacutequa o conceito de mobilidade tambeacutem

se modificou Desde a invenccedilatildeo da imprensa os leitores podiam circular com seus livros nos espaccedilos

O mundo conectado em redes

80

da cidade e isso tambeacutem ocorreu na ldquoera eletrocircnicardquo com a invenccedilatildeo das cacircmeras fotograacuteficas raacutedios

a pilha e walkmans que possibilitavam a mobilidade fisica dos usuaacuterios destas tecnologias Em tempos

de cibercultura avanccedilada Santos (idem p 32) ressalta ldquoa mobilidade ganha potecircncia por conta da

sua conexatildeo com o ciberespaccedilo Na era da mobilidade com conexotildees generalizadas em rede podemos

compartilhar e acessar simultaneamente vaacuterios lugaresrdquo Portanto a mobilidade natildeo se trata de

circular com os notebooks tablets e celulares pelos espaccedilos fiacutesicos mas aproveitar o potencial das

convergecircncias das miacutedias para circular no ciberespaccedilo com a capacidade de interagir ao mesmo

tempo em diferentes contextos lugares com diversas pessoas Santaella (2013 p 22) justifica que

nestes espaccedilos de hipermobilidade emergiu o ldquoleitor ubiacutequordquo descrito com uma prontidatildeo iacutempar de se

orientar entre noacutes e nexos de multimiacutedias sem perder a noccedilatildeo e o controle do espaccedilo fiacutesico a sua volta

A autora continua sua descriccedilatildeo

Ao mesmo tempo em que estaacute corporalmente presente perambulando e circulando pelos ambientes fiacutesicos ndash casa trabalho ruas parques avenidas estradas ndash lendo os sinais e signos que esses ambientes emitem sem interrupccedilatildeo esse leitor movente sem necessidade de mudar de marcha ou de lugar eacute tambeacutem um leitor imersivo Ao leve toque do seu dedo no celular em quaisquer circunstacircncias ele pode penetrar no ciberespaccedilo informacional assim como pode conversar silenciosamente com algueacutem ou com um grupo de pessoas a vinte centiacutemetros ou a continentes de distacircncia (idem p22)

Luacutecia Santaella afirma ainda que o perfil cognitivo do leitor ubiacutequo eacute resultante de processos de

transformaccedilotildees ocorridas na cultura digital desde a invenccedilatildeo da internet ateacute a Web 40 (uma web

ubiacutequa) que presenciamos a emergir nos dias atuais Na obra Navegar no Ciberespaccedilo O perfil

cognitivo do leitor imersivo (Santaella2004) com o objetivo de compreender o novo tipo de leitor que

emergiu com a expansatildeo das redes digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo sistematizou os leitores em

trecircs grandes tipos O leitor contemplativo o leitor movente e o leitor imersivo O leitor contemplativo

constitui aquele proveniente da era preacute-industrial que fazia uso do livro impresso e da imagem fixa

Nasceu no periacuteodo do renascimento e foi ateacute meados do seacuteculo XIX O leitor movente presenciou a

explosatildeo do jornal fotografia cinema e a televisatildeo Eacute assim um telespectador de misturas de signos

linguagens e imagens em movimento O leitor imersivo eacute aquele que nasceu nos novos espaccedilos das

redes de computadores O perfil cognitivo deste leitor que navega em diversas telas e programas para

a autora muda significamente em relaccedilatildeo aos dois tipos de leitores anteriores

Cognitivamente em estado de prontidatildeo esse leitor conecta-se entre noacutes e nexos seguindo roteiros multilineares multissequenciais e labiriacutenticos que ele proacuteprio ajuda a construir ao interagir com os noacutes que transitam entre textos imagens documentaccedilatildeo muacutesicas (Santaella 2013 p 1)

O mundo conectado em redes

81

Importante ressaltar que um perfil natildeo anulou o outro eles coexistem e se completam na

proporccedilatildeo que o usuaacuterio convive com as tecnologias e fazem uso delas

Santaella avanccedila a descriccedilatildeo dos tipos de leitores e descreve o leitor ubiacutequo Este herdou do

leitor imersivo a capacidade de ler e transitar entre diversos formatos de miacutedias nas telas dos ecratildes

mas avanccedila no sentido de que se libertou dos desktops modens e cabos de rede passando a acessar

o ciberespaccedilo com seus dispositivos moacuteveis a qualquer hora em qualquer lugar Sobre as habilidades

cognitivas adquiridas pelo leitor ubiacutequo nessa nova realidade em que a rede eacute onipresente a autora

escreveu

Natildeo haacute duacutevida de que a mente eacute distribuiacuteda capaz de processar paralela e conjuntamente informaccedilotildees de ordens diversas dando a elas igual magnitude tanto as informaccedilotildees que provecircm da situaccedilatildeo ao seu redor quanto aquelas miniaturizadas que estatildeo ao alcance dos dedos e que satildeo rastreadas com acuidade visual veloz e quase infaliacutevel como se os olhos adivinhassem antes de ver As accedilotildees reflexas do sistema nervoso central por sua vez ligam eletricamente o corpo ao ambiente tanto fiacutesico quanto ciber em igualdade de condiccedilotildees (Santaella 2010 p 9)

Observa-se portanto uma mudanccedila significativa na forma de viver e aprender dos usuaacuterios

frequentes de tecnologias No campo educacional o advento dos dispositivos moacuteveis e sua

popularizaccedilatildeo entre as pessoas intensificaram processos de aprendizagens abertos visto que o acesso

agrave informaccedilatildeo tornou-se livre e contiacutenuo

Neste sentido Santaella afirma que a era da mobilidade inaugurou um novo fenocircmeno a

aprendizagem uacutebiqua Esta natildeo deve ser confundida com a e-learning ou m-learning O e-learning

como jaacute abordado neste trabalho corresponde a aprendizagem mediada por computador em que os

conteuacutedos satildeo previamente organizados em um AVA ou site prevendo a aprendizagem ao passo que

o m-learning constitui uma extensatildeo da sala de aula em que os conteuacutedos satildeo previamente preparados

e disponibilizados em dispositivos moacuteveis A aprendizagem ubiacutequa natildeo eacute deliberada nem prescinde de

modelos educacionais preacutevios trata-se de ldquoum novo processo de aprendizagem sem ensinordquo segundo

Santaella (2013 p 26) Esta concepccedilatildeo de aprendizagem natildeo eacute recente Em 2004 George Siemens

pesquisador canadense propocircs a teoria do Conetivismo15 previu que com a expansatildeo das redes de

computadores ligados a internet a aprendizagem ocorreria de vaacuterias maneiras com destaque para a

15 O Conetivismo integra a teoria do caos a importacircncia das redes e os princiacutepios de auto-organizaccedilatildeo e da complexidade para explicar como ocorre a aprendizagem nos humanos Siemens refuta a ideia de que a aprendizagem seja um processo que ocorre internamente no indiviacuteduo para o autor a aprendizagem pode se encontrar presente em dispositivos ou aplicativos natildeo humanos (tecnologia) Com o advento da internet as informaccedilotildees passaram a ser disseminadas em alta escala e o conhecimento adquirido hoje fica obsoleto em pouco tempo Assim George Siemens aponta para a necessidade do indiviacuteduo criar e manter conexotildees para facilitar a aprendizagem contiacutenua (Siemens 2004)

O mundo conectado em redes

82

aprendizagem informal atraveacutes de comunidades de praacutetica redes pessoais e tambeacutem atividades

relacionadas ao trabalho

Anderson e Dron (2011) descrevem o Conetivismo natildeo como uma teoria de aprendizagem

mas como teoria do conhecimento que sustenta a tese de que com a abundacircncia de informaccedilatildeo hoje

presente nas miacutedias boa parte do processamento mental do indiviacuteduo e da resoluccedilatildeo de problemas

pode ser descarregada em maacutequinas Assim a aprendizagem natildeo mais eacute idealizada como

memorizaccedilatildeo ou mesmo compreensatildeo de tudo mas um processo de construccedilatildeo e manutenccedilatildeo de

conexotildees em rede de especialista possibilitando que o aprendente seja capaz de encontrar e aplicar

conhecimento quando e onde for necessaacuterio

Natildeo obstante independente do nome ou designaccedilatildeo que se decirc a esse fenocircmeno

concordamos com Santos e Weber (2013 p 291) quando afirmam sobre os processos de ensino-

aprendizagem ubiacutequos ldquoo que observamos eacute uma mudanccedila nas funccedilotildees sociais de cada tecnologia

envolvida nos processos comunicacionais fazendo emergir praacuteticas sociais novas suscitando

mudanccedilas tambeacutem nos espaccedilos-tempos de aprendizagemrdquo Mais uma vez retomando ao trabalho de

Gomes (2008 p 181) sobre as geraccedilotildees da educaccedilatildeo a distacircncia vivemos no que a autora antevia

em 2008 como a sexta geraccedilatildeo caracterizada por ldquomundos virtuais e imersivosrdquo Segundo relatoacuterio

produzido pela UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo 2014) os dispositivos

moacuteveis seratildeo cada vez mais usados na educaccedilatildeo seja esta formal informal ou aprendizagem

contiacutenua A aprendizagem se tornaraacute cada vez mais independente de espaccedilos fiacutesicos e se tornaraacute

ubiacutequa ou onipresente

A evoluccedilatildeo da comunicaccedilatildeo e das tecnologias continuaraacute em escalas bem mais raacutepidas do que

as que ocorreram no passado e afetaratildeo ainda mais os processos educacionais Constituindo a sexta

reconfiguraccedilatildeo na ecologia comunicaccedilatildeoeducaccedilatildeo citada por Silva (2013) a aprendizagem ubiacutequa

natildeo substituiraacute a educaccedilatildeo formal informal e a natildeo formal assim como a internet natildeo substituiu o livro

impresso mas elas se completam e articulam entre si tendo em vista o novo perfil de leitores Acredita-

se em novos paradigmas no futuro das tecnologias de comunicaccedilatildeo e da educaccedilatildeo como expressou

Bauman (2011 p 25) na sua obra 44 cartas do mundo liacutequido e moderno

A educaccedilatildeo assumiu muitas formas no passado e se demonstrou capaz de adaptar-se agrave mudanccedila das circunstacircncias de definir novos objetivos e elaborar novas estrateacutegias Mas permitam-me repetir a mudanccedila atual natildeo eacute igual agraves que se verificaram no passado Em nenhum momento crucial da histoacuteria da humanidade os educadores enfrentaram desafio comparaacutevel ao divisor de aacuteguas que hoje nos eacute

O mundo conectado em redes

83

apresentado A verdade eacute que noacutes nunca estivemos antes nessa situaccedilatildeo Ainda eacute preciso aprender a arte de viver num mundo saturado de informaccedilotildees E tambeacutem a arte mais difiacutecil e fascinante de preparar seres humanos para essa vida

Por conseguinte estaacute em curso um paradigma impar na histoacuteria da humanidade Urge

portanto uma mudanccedila de paradigma sobre as competecircncias e habilidades necessaacuterias aos jovens

no atual cenaacuterio O modelo vertical em que a escola exerce relaccedilatildeo de poder e eacute portadora do

saber natildeo funciona mais no contexto da difusatildeo das tecnologias digitais Leacutevy (2015 p 1) fez

uma anaacutelise recente do cenaacuterio mundial conectado em redes

Estamos apenas no comeccedilo da revoluccedilatildeo do meio do algoritmo Nas proacuteximas deacutecadas acompanharemos vaacuterias mutaccedilotildees A computaccedilatildeo ubiacutequa que jaacute faz parte da nossa paisagem vai se generalizar fazendo com que a maioria esteja permanentemente conectada O acesso agrave anaacutelise de grandes quantidades de dados hoje nas matildeos de governos e de grandes empresas vai se democratizar Teremos cada vez mais imagens de nosso funcionamento coletivo em tempo real [] A esfera puacuteblica seraacute internacional e se organizaraacute por nuvens semacircnticas nas redes sociais

O autor analisa que os dispositivos moacuteveis de todos os tipos os computadores robocircs data-

centers tudo que eacute fiacutesico e localizado seratildeo dependentes das ldquonuvensrdquo que abrigam os dados e

informaccedilotildees da rede Leacutevy cita a ldquomemoacuteria coletivardquo disponiacutevel na rede como uma oportunidade de

aprendizagem em sistema de cooperaccedilatildeo com acesso universal a informaccedilatildeo e dados O autor finaliza

apresentando um desafio aos educadores

Eacute preciso ensinar a estabelecer prioridades a atrair a atenccedilatildeo a fazer uma escolha justa e uma anaacutelise criacutetica das fontes agraves quais nos conectamos Temos de prestar atenccedilatildeo na cultura daqueles com quem nos conectamos e precisamos aprender a identificar as narrativas feitas e as suas contradiccedilotildees (idem p 1)

Assim a literacia digital ganha novos contornos em tempos de cibercultura trata-se de usar as

redes com responsabilidade e criticidade No entanto a escola na sua forma tradicional ainda resiste

aos novos padrotildees impostos pelo paradigma tecnoloacutegico vigente

Sobre o modelo tradicional de escola Silva (2008 p 782) reflete que a ldquosociedade moderna

construiu uma escola imbuiacuteda na concepccedilatildeo elitista incorporando os seus traccedilos mais intriacutensecos o

formalismo o intelectualismo e o enciclopedismordquo E este modelo persiste ateacute os dias de hoje mesmo

com as mudanccedilas visiacuteveis na sociedade em funccedilatildeo dos avanccedilos tecnoloacutegicos Alvin Toffler escritor e

futurista norte-americano conhecido pelos seus escritos sobre a revoluccedilatildeo digital e comunicacional

analisa que o modelo de escola implementado no periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial em salas de aulas

com disciplina coletiva atividades repetitivas e com amplo grau de concentraccedilatildeo e silecircncio servia para

O mundo conectado em redes

84

preparar estes alunos para o mundo da faacutebrica regido pelo apito e pelo reloacutegio Em 1970 Toffler na

sua obra Choque de Futuro jaacute refletia sobre os efeitos dos avanccedilos tecnoloacutegicos sobre a sociedade do

seacuteculo XXI

No mundo de amanhatilde os atributos mais apreciados da era industrial tornar-se-atildeo desvantagens A tecnologia de amanhatilde natildeo precisa de milhotildees de homens pouco letrados capazes de trabalhar em uniacutessono em tarefas irremediavelmente repetitivas nem de homens que obedeccedilam sem pestanejar agraves ordens recebidas conscientes de que o preccedilo do seu patildeo eacute a obediecircncia maquinal agrave autoridade A tecnologia de amanhatilde precisa de homens capazes de julgar e decidir criteriosamente de abrir o seu caminho em ambientes novos de acompanhar a transformaccedilatildeo raacutepida e constante da realidade (Toffler 1970 p 396)

Assim o autor previa que o modelo educacional da era industrial seria obsoleto no futuro

Portanto haacute de se repensar sobre o modelo de escola a ser construiacutedo neste cenaacuterio de tecnologias e

tambeacutem na formaccedilatildeo dos professores aptos para lidar com a presenccedila destas no cotidiano dos alunos

O capiacutetulo 3 desta tese apresenta os desafios dos professores na sociedade em rede e o papel dos

cursos de formaccedilatildeo na preparaccedilatildeo destes para lidarem com os jovens cada vez mais conectados agraves

redes de comunicaccedilatildeo ubiacutequa A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo aprofunda a discussatildeo sobre o perfil dos

usuaacuterios da internet e as implicaccedilotildees da presenccedila crescente das tecnologias no processo educativo

13 O perfil dos usuaacuterios da internet

Joatildeo nasceu em 2004 e seus pais jaacute tinham aparelhos celulares e computadores com

acesso a internet Joatildeo cresceu sorrindo para cacircmeras digitais e aprendeu a manipulaacute-las

para tirar suas proacuteprias fotografias Os aparelhos celulares de seus pais foram ficando

modernos e Joatildeo gostava dos joguinhos disponiacuteveis neles Quando tinha 7 anos ele

pediu a sua matildee que criasse uma conta numa rede social para ele conversar com

amiguinhos Joatildeo passou a jogar no computador e nos celulares que tinha na sua casa

Hoje Joatildeo tem 13 anos e ouve muacutesica enquanto joga acessa redes sociais conversa com

colegas de outros paiacuteses usando o tradutor assiste viacutedeos sobre os macetes dos jogos

busca no Google termos que natildeo entende tira fotos no celular e as edita no computador

criou seu proacuteprio canal no Youtube grava viacutedeos sobre jogos e os publica na rede16

16 Relato da vida real que exemplifica um nativo digital no seacuteculo XXI redigido pela observaccedilatildeo de um jovem com 11 anos de idade

O mundo conectado em redes

85

Esta passagem eacute um relato de vida real de um jovem nativo digital Com efeito no presente

momento deste relato (2015) o perfil de crianccedilas e adolescentes como o Joatildeo eacute cada vez mais

comum Michael Serres (2013) filoacutesofo francecircs na sua obra A Polegarzinha descreve o perfil do

indiviacuteduo inserido no mundo digital O autor usou a expressatildeo ldquoPolegarzinhardquo para retratar a agilidade

dos dedos das crianccedilas e jovens quando utilizam seus dispositivos moacuteveis para acessar a internet e os

conhecimentos que ali se encontram disponiacuteveis Eles manipulam inuacutemeras informaccedilotildees ao mesmo

tempo e em qualquer lugar ldquopor celular tem acesso a todas as pessoas por GPS a todos os lugares

pela internet a todo saberrdquo (idem p 19) As mudanccedilas ocorridas nesta geraccedilatildeo de ldquodedos velozesrdquo

natildeo satildeo apenas nas habilidades com o uso dos celulares e tablets conectados agrave internet Serres cita a

mudanccedila na constituiccedilatildeo familiar no aumento da expectativa de vida na convivecircncia cotidiana com a

pluralidade religiosa cultural e eacutetnica e na informaccedilatildeo baseada na miacutedia como elementos constitutivos

deste novo ser que tem mente mais vazia por confiar o depoacutesito das informaccedilotildees que precisa nos

dispositivos tecnoloacutegicos Citando a obra de Serres Caldeira (2014 p 188) explica esse fenocircmeno

O saber aquilo que deveriacuteamos ensinar para elesas tinha como suporte a escrita os livros Agora com a internet ele estaacute disponiacutevel a todosas em todo lugar O antigo espaccedilo de concentraccedilatildeo do saber se dilui Ningueacutem precisa deslocar-se para aprender alguma coisa Diante disso sentimos ser necessaacuteria uma mudanccedila no ensino tal como os gregos precisaram criar a Pedagogia quando da invenccedilatildeo da escrita Afinal ao polegarzinhao tecircm sua cabeccedila fora de seu corpo o computador funciona como uma cabeccedila bem cheia na qual eacute possiacutevel acessar a qualquer informaccedilatildeo Elea natildeo mais precisa do saber transmitido Se a cabeccedila das geraccedilotildees anteriores servia para acumular saberes hoje haacute um vaacutecuo no lugar dessa cabeccedila no qual eacute possiacutevel criar e inventar

Sobre este aspecto jaacute citamos Castells (2014) sobre a disponibilidade das informaccedilotildees na

internet 97 da informaccedilatildeo mundial estatildeo digitalizadas e 80 estatildeo disponiacuteveis na internet O que

falta aos jovens segundo o autor natildeo satildeo informaccedilotildees mas criteacuterios para buscaacute-las e combinaacute-las

com projetos intelectuais As redes de comunicaccedilatildeo digital satildeo atualmente a ldquoBiblioteca de

Alexandriardquo que entre os seacuteculos III aC e IV dC continha praticamente todo o saber da Antiguidade

em cerca de 700 mil rolos de papiro e pergaminhos Leacutevy (2015) analisa que o acesso imediato a

dicionaacuterios enciclopeacutedias livros viacutedeos educativos e outros dispositivos fornece ao usuaacuterio da internet

acesso agraves imensas bibliotecas do mundo Eacute possiacutevel ser assinante de sites especializados e contar

com a ajuda de redes de pessoas com assuntos de interesse em comum constituindo um saber

colaborativo Neste sentido o usuaacuterio da internet tem diante de si um universo abundante de

informaccedilatildeo nunca antes disponibilizado na histoacuteria da humanidade basta-lhe apenas a capacidade de

buscar filtrar analisar e fazer conexotildees criacuteticas com os saberes que jaacute possui Possuir ldquoa cabeccedila fora

O mundo conectado em redes

86

do corpordquo implica em buscar as informaccedilotildees sem necessidade de memorizaacute-las como na eacutepoca do

ensino pela oralidade Na analogia de Serres seria o mundo nas matildeos destes seres conectados agrave

internet

Muito se produziu na literatura sobre o fenocircmeno do uso exacerbado das miacutedias digitais pelas

geraccedilotildees mais jovens o que gerou diferentes roacutetulos ou estereoacutetipos para os usuaacuterios destas

tecnologias Geraccedilatildeo Net (Tapscott 1998) nativos digitais versus imigrantes digitais (Prensky 2001)

residentes versus visitantes (White e Cornu 2011) Geraccedilotildees X Y e Z (Tapscott e Williams 2007)

caldeiratildeo digital (Stoerger 2009) Milennials (Howe e Strauss 2000) e mais recentemente homo

sapiens digital (Prensky 2009) e Homo zappiens (Veen e Vrakking 2009) dentre outros Tapscott

(1998) e Prensky (2001) tomaram uma perspectiva geracional e definiram os usuaacuterios das TDIC por

data de nascimento Apresentamos a seguir uma breve descriccedilatildeo de algumas terminologias mais

conhecidas para o perfil de usuaacuterio das TDIC

131 A Geraccedilatildeo Net

A expressatildeo Geraccedilatildeo Net foi usada pela primeira vez por Tapscott (1998) e refere-se a crianccedilas

nascidas depois do ano de 1985 do seacuteculo passado Nesta altura a utilizaccedilatildeo da internet estava

apenas emergindo como um fenocircmeno mundial A principal premissa da teoria da Geraccedilatildeo Net eacute a

familiaridade Para Tapscott as crianccedilas nascidas nessa geraccedilatildeo natildeo tecircm medo de tecnologias

adquirem naturalmente as habilidades necessaacuterias para usar as informaccedilotildees coletadas na rede e

usam os recursos digitais como se a tecnologia fosse parte do seu cotidiano e da paisagem que os

rodeia (Combes B 2009) Seguidores desta teoria descrevem os pertencentes agrave Geraccedilatildeo Net como

indiviacuteduos com maior acesso agrave internet e recursos eletrocircnicos o que confere a esta geraccedilatildeo uma base

de conhecimento maior que possibilita maior independecircncia e capacidade de questionar e confrontar

informaccedilotildees Afirmam que por intuiccedilatildeo os membros da geraccedilatildeo net satildeo comunicadores visuais por

excelecircncia tecircm fortes habilidades visuais-espaciais e facilidade de integrar o mundo fiacutesico com o virtual

(Oblinger e Oblinger 2005) Satildeo considerados aprendizes exploradores que retecircm as informaccedilotildees

descobertas e as usam de forma inovadora

Para Tapscott (1998) a Geraccedilatildeo Net estaacute reconfigurando a forma de trabalho tornando-a mais

colaborativa quebrando a hierarquia riacutegida das organizaccedilotildees forccedilando-as a repensarem outras formas

de recrutar desenvolver e supervisionar talentos O autor cita a mudanccedila no perfil dos consumidores

desta geraccedilatildeo exigem produtos melhores reclamam na rede quando natildeo estatildeo satisfeitos e avaliam os

O mundo conectado em redes

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produtos e lojas compartilhando informaccedilotildees uacuteteis a outros consumidores Na famiacutelia satildeo especialistas

em internet e ajudam os pais e outros parentes mais velhos a usar os dispositivos tecnoloacutegicos

Tapscott conclui que a Geraccedilatildeo Net estaacute transformando a maneira como os serviccedilos do governo satildeo

concebidos e estaacute produzindo cidadatildeos mais engajados civicamente promovendo um poderoso

ativismo social

132 Os Nativos e imigrantes digitais

Prensky (2001) ao chamar a Geraccedilatildeo Net de ldquonativos digitaisrdquo faz analogia da linguagem

digital como se fosse um segundo idioma que o indiviacuteduo tem que aprender ao imigrar para um paiacutes

estrangeiro Assim para o autor os indiviacuteduos podem ser ldquonativos digitaisrdquo ou ldquoimigrantes digitaisrdquo

Segundo Prensky (2001) os nativos digitais satildeo definidos como os indiviacuteduos que nasceram entre

1980 e 1994 Estes satildeo portanto os jovens adultos que ldquonasceram no mundo digitalrdquo e cresceram

usando a internet e satildeo acostumados a obter informaccedilotildees de forma raacutepida e interagem diversas miacutedias

ao mesmo tempo em funccedilatildeo do contato diaacuterio e contiacutenuo com computadores viacutedeo game aacuteudio e

viacutedeo digital desde quando eram crianccedilas Nesta analogia estes jovens pensam e processam

informaccedilotildees de forma diferentes dos seus pais de uma geraccedilatildeo anterior

Por outro lado a geraccedilatildeo que nasceu no periacuteodo anterior a 1980 o autor a classifica como

imigrantes digitais Estes precisam aprender a linguagem digital para natildeo se sentirem marginalizados

ou inferiorizados em relaccedilatildeo aos nativos Prensky afirma ainda que mesmo que os imigrantes digitais

aprendam a linguagem digital eles ainda manifestam um certo ldquosotaquerdquo que pode ser observado

quando usam as tecnologias um exemplo seria o haacutebito destes que ao comprar um item buscam

informaccedilotildees de seu uso em manuais impressos e soacute em uacuteltimo caso recorrem a internet

133 As Geraccedilotildees X Y Z

Na mesma linha de divisatildeo por geraccedilotildees Tapscott e Wilians (2007) detalhando sobre a

Geraccedilatildeo Net sub-dividem os indiviacuteduos em geraccedilotildees subdivindo-os e classificando-os por letras do

alfabeto Satildeo a Geraccedilatildeo X (nascidos entre 1965 e 1976) Geraccedilatildeo Y (nascidos entre 1977 e 1997) e

Geraccedilatildeo Z (nascidos apoacutes 1998 ateacute os dias atuais) A Geraccedilatildeo X foi marcada principalmente por

vivenciar a tensatildeo e o fim da guerra fria e hoje correspondem aos adultos com meacutedia de 40 anos de

idade Considerando que naquele periacuteodo os aparelhos voltados aacutes miacutedias como o computador ainda

estavam em aprimoramento e natildeo era algo comum para a populaccedilatildeo os da geraccedilatildeo X caracterizam-se

pela sua capacidade de incorporar informaccedilotildees rapidamente e se adaptarem Constitui na visatildeo dos

O mundo conectado em redes

88

autores a geraccedilatildeo que viveu a chegada dos jogos de viacutedeo a televisatildeo a cabo e via sateacutelite e do viacutedeo

cassete (aparelho que permitia assistir filmes locados em casa)

A Geraccedilatildeo Y eacute classificada por Tapscott e Wilians (idem p29) como a geraccedilatildeo que vivenciou a

ascensatildeo exponencial do computador pessoal da internet e criaccedilatildeo de comunidades e redes sociais

Os autores argumentam ldquoenquanto as crianccedilas da Geraccedilatildeo Internet assimilaram a tecnologias porque

cresceram com ela noacutes como adultos tivemos de nos adaptar a ela ndash um tipo diferente e muito mais

difiacutecil de processo de aprendizadordquo Assim como a Geraccedilatildeo X os da Geraccedilatildeo Y tiveram que assimilar o

uso das tecnologias no seu cotidiano No entanto mesclam a miacutedia impressa com a eletrocircnica satildeo

mais seletivos no uso das TDIC prezam a seguranccedila na internet tomando precauccedilotildees no uso de

senhas e compras eletrocircnicas Usam a internet para fins praacuteticos como estudo busca de informaccedilatildeo

pagamento de contas entretenimento e outras atividades (Oliveira 2009)

No entanto Tapscott e Wilians (2007) avanccedilam na descriccedilatildeo das geraccedilotildees e apresenta a

Geraccedilatildeo Z tambeacutem conhecida como Geraccedilatildeo Next Nascida apoacutes 1998 presenciaram a inserccedilatildeo de

diversos aplicativos de miacutedias como o YouTube (2005) My Space (2003) Twitter (2003) e ainda redes

sociais como o Orkut (2004) Facebook (2006) Linkedin (2003) entre outros A geraccedilatildeo Z

acompanhou o boom do uso de celulares smartphones e tablets com acesso a internet O conceito de

Geraccedilatildeo Z propagado por Tapscott e Wilians tem similaridades com os nativos digitais de Prensky

Ambas as geraccedilotildees satildeo caracterizadas por terem crescido em um mundo digital e que estatildeo desde

sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC como dispositivos moacuteveis de comunicaccedilatildeo em

tempo real tocadores de muacutesicas e de viacutedeos comunidades e redes virtuais

134 Os residentes e os visitantes

White e Cornu (2011) propotildeem uma metaacutefora baseada na analogia da ferramenta espaccedilo e

lugar para descreverem os usuaacuterios das tecnologias desconstruindo a ideia de geraccedilatildeo de Prensky e

Tapscott White e Cornu argumentam que a natureza virtual da web proporciona aos seus usuaacuterios

estarem ldquopresentesrdquo em diferentes lugares ao mesmo tempo e que assim como os locais fiacutesicos em

que eacute possiacutevel percorrer ou navegar os softwares satildeo criados para navegabilidade em plataformas e

atraveacutes de ferramentas como redes sociais e foacuteruns proporcionam encontros virtuais entre os

indiviacuteduos Portanto os autores classificam os usuaacuterios das TDIC natildeo em funccedilatildeo do periacuteodo de

nascimento mas do perfil de utilizaccedilatildeo das ferramentas e das formas de acesso no espaccedilo virtual

Nessa classificaccedilatildeo os usuaacuterios da internet satildeo classificados como ldquovisitantesrdquo ou ldquoresidentesrdquo O

O mundo conectado em redes

89

visitante utiliza a internet para resolver questotildees praacuteticas e se desconectam evitando deixar uma

identidade digital Natildeo satildeo utilizadores intensivos das aplicaccedilotildees da internet nem participam de redes

sociais porque natildeo sentem necessidade de pertencer a este espaccedilo Para os autores os utilizadores

apenas utilizam as ferramentas que lhe satildeo uacuteteis durante o tempo e espaccedilo necessaacuterio e ldquosaemrdquo da

internet como se fossem apenas visitantes deste espaccedilo

Os residentes por sua vez na classificaccedilatildeo de White e Cornu (2011) vivem uma parte

significativa do seu tempo conectados Usam a internet natildeo apenas para realizar serviccedilos praacuteticos

como atividades bancaacuterias compras ou pesquisa eles vecircem a web como um espaccedilo para expressar

sua opiniatildeo Os residentes utilizam as ferramentas da web como parte integrante de suas vidas para

eles a internet e todos os aparelhos conectados a ela satildeo cruciais no seu dia-dia No entanto White e

Cornu explicam que a analogia de tempo e espaccedilo permite que os indiviacuteduos transitem da posiccedilatildeo de

residentes para visitantes e vice e versa sem rotulaacute-los

135 O Caldeiratildeo digital

Stoerger (2009) com o objetivo de refutar a tese dos nativos e imigrantes digitais de Prensky

propotildee a analogia do ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Esta proposta segundo a autora em vez de segregar os

indiviacuteduos em categorias segundo suas habilidades ou falta dela constitui o lugar em que todos os

indiviacuteduos incluindo os com baixo niacutevel de competecircncia ou experiecircncia em tecnologia possuem

possibilidades sem barreiras daiacute a expressatildeo ldquocaldeiratildeo digitalrdquo Stoerger afirma ainda que o caldeiratildeo

digital pode ser a ponte entre as duas culturas (nativos e imigrantes) o que significa que com

capacitaccedilatildeo e ganho de experiecircncia eacute possiacutevel que um imigrante possua as mesmas habilidades do

nativo digital A autora considera que as instituiccedilotildees de educaccedilatildeo tecircm um importante papel no tocante

a fornecer a todos os indiviacuteduos a oportunidade de adquirirem aperfeiccediloarem e atualizarem

conhecimentos tecnoloacutegicos

136 O homo zappiens

O homo zappiens eacute outro roacutetulo para os usuaacuterios especializados em tecnologia O termo foi

utilizado pelo professor Wim Veen da Universidade de tecnologia de Delft na Holanda e Bem

Vrakking aluno e pesquisador de poacutes-graduaccedilatildeo em Engenharia de Sistemas Para os autores a

expressatildeo homo zappiens diz respeito agrave geraccedilatildeo emergente confrontada pela globalizaccedilatildeo que

conectada agrave rede processa uma sobrecarga de informaccedilatildeo procedente de diversas miacutedias e tecnologias

(Veen e Vrakking 2009)

O mundo conectado em redes

90

Para os autores trecircs aparelhos tiveram grande importacircncia a influenciar estes indiviacuteduos o

controle remoto o mouse do computador e o telefone celular De posse do controle remoto as

crianccedilas aprendem precocemente a ldquozappearrdquo por vaacuterios canais de TV e interpretar imagens antes

mesmo de aprenderem a ler Com o mouse do computador navegam em vaacuterios sites da internet

clicam em iacutecones abrem e fecham janelas fazem buscas de palavras desconhecidas assistem viacutedeos

jogam e conversam com outros jovens em redes sociais E com o aparelho celular conectado agrave internet

acessam agrave rede em qualquer lugar ouvem muacutesicas jogam enquanto digitam mensagens e enviam

fotos nos aplicativos de mensagem instantacircnea Veen e Vrakking (2011 p 2) descrevem a diferenccedila

destes com as geraccedilotildees anteriores

O Homo zappiens vive em um mundo cujos recursos de informaccedilatildeo satildeo muito ricos Ele adotou o computador e a tecnologia tal como as antigas geraccedilotildees fizeram com a eletricidade a informaccedilatildeo e a tecnologia da informaccedilatildeo tornaram-se parte integrante de sua vida As geraccedilotildees anteriores consideravam a tecnologia como cacircmeras de viacutedeo e aparelhos eletrocircnicos algo difiacutecil de dominar O Homo zappiens poreacutem trata a tecnologia como um amigo e quando um novo aparelho surge no mercado pergunta por seu funcionamento e quer entender como tal aparelho poderia ajudaacute-lo em seu cotidiano Para ele o principal criteacuterio para adotar a tecnologia natildeo eacute o fato de o software ou programa ter boa usabilidade mas o fato de dar conta ou natildeo de suas exigecircncias e necessidades

Assim para esses indiviacuteduos a tecnologia faz parte do seu cotidiano e natildeo pensam nelas como

aparelhos dos quais devem aprender a usar eles primeiro os usam e aprendem a utilizaacute-los com a

experiecircncia Os autores concluem que os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis fornecem ao usuaacuterio o

controle de uma ampla variedade de informaccedilotildees O simples apertar de um botatildeo pode ativar acessar

navegar interromper o uso destes recursos Teoricamente o usuaacuterio teria o poder e controle de

decisatildeo sobre qual informaccedilatildeo escolher com eficiecircncia e utilizaacute-la para seu benefiacutecio

137 O Homo Sapiens Digitalis

Mais recentemente Marc Prensky reformulou sua teoria sobre os nativos digitais Da analogia

do idioma o autor parte para a analogia da evoluccedilatildeo das espeacutecies No artigo Homo Sapiens Digital

From Digital Immigrants and Digital Natives to Digital Wisdom Presnky (2009) explica que agrave medida

que todos vatildeo crescendo na era da tecnologia digital a distinccedilatildeo entre nativos e imigrantes digitais fica

menos relevante O autor sugere pensar em termos de ldquoSabedoria digitalrdquo Neste sentido Presnky

explica que este se trata de um conceito duplo pode ser referindo aacute sabedoria decorrente da utilizaccedilatildeo

da tecnologia digital para acessar o poder cognitivo aleacutem da nossa capacidade inata ou agrave sabedoria na

utilizaccedilatildeo prudente da tecnologia para melhorar nossas habilidades Prensky atenta para o fato de que

O mundo conectado em redes

91

com as informaccedilotildees cada vez mais disponiacuteveis na rede acessaacute-las natildeo seraacute o principal desafio deste

seacuteculo XXI mas o que as pessoas vatildeo fazer com esses recursos Na visatildeo do autor as tecnologias

proporcionam aprimoramento das habilidades humanas e o Homo Sapiens Digitalis seria o ser que

evoluiu no uso saacutebio das tecnologias para seu benefiacutecio proacuteprio

Esta designaccedilatildeo natildeo se trata de um neologismo de Prensky visto que ainda no seacuteculo

passado Joseacute Terceiro (1996) na obra Sociedade digital ndash do Homo Sapiens ao Homo Digitalis jaacute

previa que no ano 2000 o homem comeccedilaria a deixar de ser homo sapiens para ser homo digitalis

Mas como presenciou o avanccedilo das tecnologias de 1996 para os dias atuais Presnky avanccedila na

discussatildeo de que o homo digitallis sabe mais do que manipular a tecnologia com facilidade eacute capaz

de tomar decisotildees mais saacutebias com o reforccedilo das tecnologias nos campos da poliacutetica economia

educaccedilatildeo artes e outras aacutereas O autor aponta para o futuro em que chips digitais de aprimoramento

seratildeo implantados nos nossos filhos e netos potencializando a capacidade de manipulaccedilatildeo e

gerenciamento de informaccedilotildees para tomada de decisotildees acertadas As questotildees satildeo estatildeo todos

humanos evoluindo para essa situaccedilatildeo E acrescentamos noacutes quereratildeo evoluir para essa situaccedilatildeo

De quem depende a evoluccedilatildeo futura do ser humano A quem pertence o futuro Entendemos que

nestes assuntos a decisatildeo natildeo cabe apenas aos poliacuteticos e aos cientistas da tecnologia devendo os

cidadatildeos do seacuteculo XXI ter uma palavra a dizer sobre o seu futuro e o futuro da humanidade

138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet

Haacute uma linha de teoacutericos que argumentam contra a existecircncia de uma ldquogeraccedilatildeordquo de nativos

digitais ou geraccedilatildeo Net evoluiacuteda e altamente especializada na internet (Bennett Maton e Kervin

2008 Combes 2009 Lage e Dias 2012 Brown e Czerniewicz 2010) Estes teoacutericos afirmam que

embora existam jovens altamente engajados com as tecnologias este grupo eacute minoritaacuterio dentro do

universo de todos jovens do mundo Benett Maton e Kervin (2008) citam estudo realizado em larga

escala com 4374 estudantes nos Estados Unidos onde constatou-se que embora a maioria

possuiacutesse computadores pessoais e telefones celulares o uso mais comum pelos jovens era a

navegaccedilatildeo em redes sociais processadores de texto sites de buscas e email Apenas uma pequena

proporccedilatildeo dos entrevistados (cerca de 21) estavam envolvidos na criaccedilatildeo do proacuteprio conteuacutedo e

multimiacutedias para a Web

Outro estudo citado pelos autores realizado na Austraacutelia com estudantes universitaacuterios

tambeacutem revelou que apesar dos estudantes estarem usando uma ampla gama de tecnologias no seu

O mundo conectado em redes

92

cotidiano existem aacutereas onde o uso e a familiaridade com as ferramentas tecnoloacutegicas estatildeo longe de

serem universais Bennett et al (2008) afirmam que existe em maior escala jovens que natildeo tecircm as

habilidades e competecircncias para o uso criacutetico das miacutedias do que os jovens ldquonativos digitaisrdquo Os

autores chamam a atenccedilatildeo para o perigo das generalizaccedilotildees designando toda uma geraccedilatildeo nascida a

partir de uma data como pessoas altamente especializadas no uso da internet o que poderia levar aos

formuladores de poliacuteticas puacuteblicas negligenciarem um largo contingente de pessoas que mesmo

nascidas no periacuteodo de boom das tecnologias continuam agrave margem delas e natildeo possuem habilidades

e competecircncias para seu uso em benefiacutecio proacuteprio

Na anaacutelise de Combes (2009) a teoria da Geraccedilatildeo Net ou Geraccedilatildeo Y de que os indiviacuteduos

nascidos depois de 1985 tecircm uma compreensatildeo em profundidade e quase um conhecimento intuitivo

de como usar a tecnologia simplesmente porque eles natildeo conheceram o mundo sem internet natildeo

tem base empiacuterica e teoacuterica Na sua pesquisa de doutorado a autora realizou estudo com 533 alunos

do primeiro ano do ensino meacutedio (entre 18 e 22 anos) de duas universidades A primeira fase da

pesquisa consistiu num inqueacuterito com perguntas para determinar os niacuteveis de confianccedila e o uso da

tecnologia dos participantes A terceira fase do estudo incluiu entrevista semiestruturada com 40

estudantes que se destacaram com uma gama de atributos da Geraccedilatildeo Net Os mesmos foram

convidados a realizar duas tarefas uma informal em que o participante deveria coletar dados e

informaccedilotildees na Web para uma viagem de feacuterias e outra acadecircmica em que o participante deveria

buscar informaccedilotildees na rede interpretaacute-las e preparar uma apresentaccedilatildeo Ao observar os participantes

realizarem as atividades a autora constatou que estes se mostraram bastante confiantes realizaram

multitarefas mas eram dependentes de motores de buscas e natildeo iam aleacutem do primeiro resultado que

encontravam na sua pesquisa Na pesquisa acadecircmica natildeo consultaram bibliotecas digitais

especializadas e a maioria usou apenas a Wikipeacutedia

Combes observou entatildeo que a confianccedila dos participantes nos motores de busca leva a uma

suposiccedilatildeo de autoridade Se o resultado do motor de busca eacute relevante agrave pesquisa eles consideram ter

informaccedilotildees fidedignas e confiaacuteveis caso contraacuterio se os participantes natildeo encontram nada depois de

vaacuterias pesquisas concluem que a informaccedilatildeo natildeo estaacute disponiacutevel e natildeo que eles falharam em a

encontrar Em siacutentese a tese de Combes (2009) concluiu que os altos niacuteveis de confianccedila e a falta de

compreensatildeo de como funciona a web por parte desta pressuposta Geraccedilatildeo Net demonstra que os

jovens natildeo conseguem perceber as limitaccedilotildees de suas habilidades tecircm baixa literacia digital

dependem de motores de buscas e confiam nos primeiros resultados encontrados nas pesquisas

O mundo conectado em redes

93

Igualmente Lage e Dias (2012) apontam para estudos realizados em amostras alargadas da

populaccedilatildeo europeia que revelam a fragilidade das habilidades e competecircncias destes jovens em

relaccedilatildeo ao manuseio das TDIC As autoras citam um estudo publicado em 2008 (Google Generation

Project) realizado pela University College of London em que se desmitificou a aparente familiaridade

com computadores da ldquogeraccedilatildeo googlerdquo realccedilando a sua dependecircncia dos motores de busca e a baixa

capacidade analiacutetica criacutetica de avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeo Lage e Dias (2012 p 7) analisam o

perfil destes jovens

Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas

Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets

smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo ou das geraccedilotildees XYZ

possuam habilidades excepcionais no uso das TDIC Lage e Dias (idem p 7) concluem ldquoas pessoas

passaram utilizar a Web de forma natural pois foram alfabetizadas digitalmenterdquo mas natildeo sabem

organizar as pesquisas e utilizar as informaccedilotildees obtidas Tambeacutem Demo (2011 p 16) corrobora que

existe uma ldquoeuforiardquo em torno desta nova geraccedilatildeo sendo vista quase como uma nova espeacutecie e

difundem-se mitos que generalizam em excesso inovaccedilotildees que ainda nem foram consumadas

Acrescenta que ldquoa nova geraccedilatildeo nem sempre se mostra tatildeo haacutebil assim em especial no que se refere

a potencialidades de aprendizagemrdquo (p 16) Trata-se de um ldquocampo transitoacuteriordquo finaliza Demo

embora os estudantes transitem pelo campo informal das tecnologias uma consideraacutevel parte natildeo

possui competecircncias e habilidades para o manejo criacutetico das miacutedias

Brown e Czerniewicz (2010) realizaram estudos entre jovens no ensino superior do Sul Africano

e constataram que natildeo se pode assumir uma homogeneidade quando se trata das experiecircncias dos

jovens com as tecnologias e que dentro de cada grupo etaacuterio existem estudantes com baixo meacutedio e

alto niacutevel de experiecircncia Os autores contestam que haja uma geraccedilatildeo de nativos digitais mas que

existe apenas uma pequena porcentagem de estudantes que preenchem os criteacuterios da Geraccedilatildeo Net

antes o maior contingente satildeo de jovens que tem baixa literacia digital O roacutetulo ldquonativordquo eacute criticado

pelos pesquisadores como alusivo a colonizaccedilatildeo ndash lembrando a colonizaccedilatildeo europeia a alguns paiacuteses e

ilhas do continente africano Para Brown e Czerniewicz os nativos digitais satildeo os povos colonizados e

foram forccedilados a adotar normas atitudes valores culturais dos colonizadores (grandes corporaccedilotildees de

O mundo conectado em redes

94

tecnologia) Levando agrave analogia de Prensky dos nativos digitais os autores questionam se os nativos

digitais natildeo satildeo uma categoria mais valorizada ou especializada antes satildeo frutos da colonizaccedilatildeo

ocidental que usa os meios de informaccedilao e comunicaccedilatildeo para ditar a linguagem pensamento

cultura e valores que devem ser adotados no cenaacuterio emergente de tecnologias

Do exposto fica evidente que nem todos estatildeo conectados agrave rede e tampouco todos jovens

satildeo altamente especializados em tecnologias Mesmo os que tecircm facilidades com o manuseio de

tecnologias digitais carecem de senso criacutetico para selecionar as informaccedilotildees realmente relevantes e

filtrar conteuacutedos fuacuteteis Em proporccedilatildeo de quantidade existem mais pessoas com dificuldades em lidar

com a tecnologia do que especialistas Logo classificar uma geraccedilatildeo que nasceu depois de um

determinado ano como nativos digitais ou geraccedilatildeo net e outros roacutetulos natildeo tem base teoacuterica

comprovada Existe sim um grande contigente de pessoas marginalizadas que natildeo tem acesso as

tecnologias ou que tem acesso precaacuterio e baixa literacia digital para fazer uso tecnologias para sua

autonomia e emancipaccedilatildeo Neste sentido noacutes educadores estamos diante de um duplo desafio lidar

com os jovens que satildeo altamente especializados nas tecnologias mas pouco senso criacutetico para filtrar

informaccedilotildees e usaacute-las sabiamente e ainda ajudar os demais jovens natildeo tatildeo especializados e com

pouco acesso agraves tecnologias a primeiro terem o acesso necessaacuterio e depois adquirirem literacia digital

para navegarem no oceano de informaccedilotildees da rede de forma a tiraram proveito disso na sua vida

acadecircmica profissional social e poliacutetica

Mas a questatildeo eacute mais complexa do que parece Para ajudar seus alunos nessas questotildees de

uso criacutetico das miacutedias o professor aleacutem do uso cotidiano das tecnologias necessita de sua

apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e

colaborativos com seus alunos Nas palavras de Almeida e Valente (2011 p 93)

O professor que se reconhece como protagonista de sua praacutetica e usa as TDIC de modo criacutetico e criativo voltando-se para a aprendizagem significativa do aluno coloca-se em sintonia com linguagens e siacutembolos que fazem parte do mundo do aluno respeita seu processo de aprendizagem e procura conhecer seu universo de conhecimentos por meio das representaccedilotildees que os alunos fazem em um suporte tecnoloacutegico

Neste sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o ldquodifusor

do conhecimentordquo pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a

manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados

por ela Nas palavras de Gadotti (2003 p 32) o professor ldquodeixaraacute de ser um lecionador para ser um

O mundo conectado em redes

95

organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um aprendiz

permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo Este novo perfil de professor demandado

pela expansatildeo das tecnologias requer das instituiccedilotildees de ensino (da escola agrave universidade) que

revisem os processos de aprendizagem com vista agrave formaccedilatildeo de sujeitos com visatildeo criacutetica das miacutedias

com capacidade de produzirem e difundirem conhecimento na web e portadores de competecircncias para

o trabalho colaborativo O capiacutetulo 3 deste trabalho analisaraacute de forma mais aprofundadada os desafios

encontrados pelos professores na aacuterea da tecnologia educativa e a questatildeo da formaccedilatildeo de professores

para a literacia digital

Em siacutentese neste capiacutetulo apresentamos o cenaacuterio resultante das revoluccedilotildees socioteacutecnicas

ocorridas em face do desenvolvimento estrateacutegico das tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaacutetica com

repercurssotildees na estrutura social da sociedade Usamos a analogia da rede para compreender que se

trata de um fenocircmeno sociocultural tendo em vista que as miacutedias se adequam e transformam os

ambientes sociais onde se instalam promovendo reestruturaccedilatildeo na cultura local Esse fenocircmeno

ocorreu com a invenccedilatildeo da escrita que quebrou a cultura da oralidade tambeacutem com a invenccedilatildeo da

imprensa e da miacutedias eletrocircnicas que mudaram a forma de comunicaccedilatildeo da humanidade conforme

exposto neste capiacutetulo Compreendemos que estes processos evolutivos da comunicaccedilatildeo

condicionaram os modelos educativos vigentes em cada periacuteodo trazendo mudanccedilas significativas nas

formas de aprender e ensinar

Consideramos que no cenaacuterio de tecnologias uacutebiquas mudou tambeacutem o perfil das pessoas

que acessam as redes com efeito na sociabilidade mobilidade e aprendizagem Do exposto foi

explicitado que o ldquoestar dentrordquo da rede implica natildeo estar apenas conectado mas ser um noacute ativo

dela construindo conhecimento e compartilhando interagindo com demais usuaacuterios e tirando pleno

proveito das oportunidades oferecidas pelas rede O foco no capitulo seguinte seraacute naqueles que natildeo

estatildeo na rede ou que estatildeo mas de forma marginalizada inclusive de professores nesta situaccedilatildeo que

se vecircem confrontados com a expansatildeo das tecnologias mas seguem agrave margem das potencialidades

que as TDIC podem oferecer na sua vida cotidiana e nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

Capiacutetulo 2 O mundo todo estaacute mesmo conectado

O mundo todo estaacute mesmo conectado

99

21 Do lado de fora ou dentro na margem da rede

Eacute realmente verdade que pessoas e paiacuteses tornam-se excluiacutedos por estarem desconectados de redes baseadas na Internet Ou ao contraacuterio eacute por estarem conectados que se tornam dependentes de economias e culturas numa relaccedilatildeo em que tecircm pouca chance de encontrar seu proacuteprio caminho de bem-estar material e identidade cultural (Castells 2003 p 203)

Apresentamos no capiacutetulo 1 deste trabalho o cenaacuterio de um mundo que entrou no seacuteculo XXI

num contexto diferente de todos demais seacuteculos anteriores integrado e globalizado pelas tecnologias

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Muito jaacute se produziu na literatura sobre as mudanccedilas ocorridas desde a

invenccedilatildeo do computador ateacute agrave disseminaccedilatildeo em larga escala da internet e dos dispositivos moacuteveis

conectados agrave rede E existe tambeacutem uma vasta literatura que discute sobre a exclusatildeo digital

decorrente do processo de ampliaccedilatildeo das tecnologias (DiMaggio e Hargitta 2001 DijK e Kenneth

2003 Gunkel 2003) No entanto nosso enfoque neste capiacutetulo seraacute sobre a inclusatildeo sociodigital

como proposta de reinserccedilatildeo social dos marginalizados digitalmente Neste sentido algumas questotildees

relevantes satildeo levantadas Porquecirc incluir O que significa incluir digitalmente O que o sujeito vai fazer

com os dados que acessa quando for incluiacutedo Aos interesses de quem servem as poliacuteticas puacuteblicas de

inclusatildeo digital Incluir significa prover o acesso para todos Que barreiras existem para a inclusatildeo O

sujeito pode estar incluiacutedo e mesmo assim marginalizado Em que sentido as TDIC podem promover a

emancipaccedilatildeo dos marginalizados da sociedade em rede inclusive os professores

No capiacutetulo I exploramos a sociedade em rede nas suas dimensotildees poliacuteticas sociais

econocircmicas e apresentamos o perfil dos indiviacuteduos conectados agrave rede das geraccedilotildees que se formaram

com caracteriacutesticas inerentes ao padratildeo de tecnologias que lhe eram disponibilizadas Seguindo a

analogia proposta neste estudo sobre a rede e o posicionamento do individuo nesta o capiacutetulo 2 busca

apresentar o outro lado da moeda aqueles que natildeo estatildeo conectados agrave rede ou estatildeo conectados

marginalmente quase fora dela (Demo 2007) A problemaacutetica perpassa pela concepccedilatildeo do termo

inclusatildeo digital pelos formuladores de politicas publicas avanccedila pelo debate conceitual do referido

termo (digital divide fractura digital fosso digital em outros idiomas) e da discussatildeo sobre o acesso e

niacuteveis de exclusatildeo em diferentes categorias da sociedade

Na literatura o termo ldquoinclusatildeo digitalrdquo se tornou associado agrave expressatildeo comum ldquoinclusatildeo

socialrdquo E natildeo eacute por acaso que este fato acontece Quando se fala em inclusatildeo social pressupotildee-se que

existem excluiacutedos fora sem acesso agraves poliacuteticas sociais Assim o uso da expressatildeo inclusatildeo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

100

ldquosociodigitalrdquo delata que existem pessoas excluiacutedas do acesso agraves tecnologias e fora do mundo

informacional e que satildeo afetadas socialmente por permanecerem nesta condiccedilatildeo Enquanto poliacutetica

puacuteblica a inclusatildeo sociodigital se tornou parte da agenda governamental em face do acentuado

nuacutemero de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso miacutenimo agraves tecnologias e que satildeo cerceados do direito agrave

informaccedilatildeo agrave comunicaccedilatildeo e agrave cidadania

Neste sentido este capiacutetulo inicia a discussatildeo sobre os cenaacuterios que levaram agrave entrada da

inclusatildeo sociodigital na agenda poliacutetica A discussatildeo avanccedila com a explanaccedilatildeo teoacuterico-conceitual do

termo inclusatildeo sociodigital com intuito de compreender os diferentes niacuteveis em que o indiviacuteduo pode se

encontrar posicionado (incluiacutedoexcluiacutedomarginalizado) na metaacutefora da rede O texto apresenta a

questatildeo da inclusatildeo para aleacutem do acesso agraves maacutequinas considerando as desigualdades relacionadas ao

tipo e local de acesso qualidade da banda larga capacidade cognitiva de resoluccedilatildeo de problemas com

o equipamento e ainda competecircncias de literacia digital O capiacutetulo finaliza delineando aspectos em

que programas de reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente podem contribuir para a autonomia

visatildeo poliacutetica e sua emancipaccedilatildeo cidadatilde

22 A inclusatildeo digital na agenda poliacutetica

A discussatildeo sobre inclusatildeo sociodigital ganha cada vez mais relevacircncia num cenaacuterio em que as

sociedades tomam as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como ferramentas para o

desenvolvimento econocircmico e poliacutetico e para o empoderamento cultural e social dos indiviacuteduos Nos

paiacuteses desenvolvidos com tendecircncia ao neoliberalismo a tecnologia a informaccedilatildeo e o conhecimento

constituem capitais basilares para o desenvolvimento econocircmico A internet neste contexto natildeo eacute

apenas uma tecnologia como afirma Castells (2003 p 220) esta ldquoeacute a ferramenta tecnoloacutegica e a

forma organizacional que distribui informaccedilatildeo poder geraccedilatildeo de conhecimento e capacidade de

interconexatildeo em todas as esferas de atividaderdquo Neste sentido paiacuteses em desenvolvimento satildeo

ldquocapturadosrdquo num emaranhado de rede Portanto conclui o autor estar desconectado ou com acesso

superficial equivale a se posicionar na margem do sistema global interconectado em suas palavras

ldquodesenvolvimento sem internet seria equivalente agrave industrializaccedilatildeo sem eletricidade na Era Industrialrdquo

Os padrotildees de consumo passaram a definir a posiccedilatildeo social e econocircmica do indiviacuteduo na sociedade

De acordo com Silva e Silva (2008 p 98) a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica na

agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a seleccedilatildeo

das questotildees que iratildeo compor essa agenda Segundo os autores no que tange agraves poliacuteticas sociais eacute

O mundo todo estaacute mesmo conectado

101

necessaacuterio primeiro pensaacute-las dentro dos quadros da totalidade social onde se situam vaacuterios sujeitos

que se relacionam conflitivamente quer sejam o Estado classes e fraccedilotildees de classe Assim demandas

sociais satildeo levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas eacute a formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que constitui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo

problema e a busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento

Na anaacutelise de Silveira (2005) a inclusatildeo digital passou a ser incluiacuteda na agenda da poliacutetica

puacuteblica social quando o capitalismo tornou a sociedade dependente das tecnologias da inteligecircncia e

que para sobreviver neste sistema se requer preparo e capacitaccedilatildeo complexa para o uso destas

tecnologias O autor afirma que existe um ldquoapartheidrdquo entre os grupos sociais que incorporam as

tecnologias para melhorar suas condiccedilotildees de vida e trabalho e aqueles que estatildeo privados do seu

acesso Para intervir neste contexto Silveira aponta o Estado como o principal interventor dos

processos discriminatoacuterios decorrentes do abismo existente entre os que possuem amplo acesso agraves

tecnologias e aqueles que vivem agrave margem ou excluiacutedos

Segundo Bonilla e Oliveira (2011) o campo para discussotildees sobre a inclusatildeo digital como

poliacutetica puacuteblica social tornou-se feacutertil nos anos de 1990 com os chamados ldquoProgramas para a

Sociedade da Informaccedilatildeordquo com expressatildeo notoacuteria dos EUA Uniatildeo Europeacuteia (UE) e Organismos

Internacionais como Uniatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e a Uniatildeo dos Estados Americanos (OEA) A

discussatildeo sobre inclusatildeo digital no Brasil iniciou tardiamente em comparaccedilatildeo com os paiacuteses da

Ameacuterica do Norte e Europa O tema estaacute presente nas poliacuteticas puacuteblicas governamentais do paiacutes desde

o ano de 2000 na ocasiatildeo do lanccedilamento do Livro Verde ndash Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil

(Takahashi 2000) que conteacutem metas de implementaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no

Brasil O documento aponta para trecircs fenocircmenos que estavam a processar mudanccedilas na sociedade e

que seriam metas do programa brasileiro a convergecircncia da base tecnoloacutegica a dinacircmica da induacutestria

e o crescimento da internet Neste sentido o teor da discussatildeo no livro eacute pautado na questatildeo

tecnoloacutegica sem um aprofundamento teoacuterico sobre a questatildeo social da inclusatildeo digital O processo de

implantaccedilatildeo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi dividido em trecircs etapas 1) Elaboraccedilatildeo

- do Livro Verde discussatildeo com a sociedade 2) Execuccedilatildeo - Accedilotildees operacionais no triecircnio (2001-2003)

3) Consolidaccedilatildeo - Avaliaccedilatildeo geral do programa elaboraccedilatildeo de conjunto de propostas para 2004 e anos

seguintes

O Programa Sociedade da Informaccedilatildeo no Brasil foi respaldado por lei ndash o Decreto 329499

De acordo com Santos e Carvalho (2009) o referido programa foi construiacutedo com base em modelos de

O mundo todo estaacute mesmo conectado

102

programas similares na Europa A diferenccedila eacute que na Europa ocorreu uma ampla discussatildeo preacutevia

sobre a concepccedilatildeo do programa uns defendiam que o mesmo fosse nomeado como ldquosociedade do

conhecimentordquo e ldquoda informaccedilatildeordquo O documento europeu Construir a Sociedade Europeia de

Informaccedilatildeo para Todos (UE 1997 p 15) apresenta a problemaacutetica

Em primeiro lugar eacute fundamental estabelecer uma distinccedilatildeo clara entre dados informaccedilatildeo e saber Do nosso ponto de vista a produccedilatildeo de dados natildeo estruturados natildeo conduz automaticamente agrave criaccedilatildeo de informaccedilatildeo da mesma forma que nem toda a informaccedilatildeo eacute sinoacutenimo de saber Toda a informaccedilatildeo pode ser classificada analisada estudada e processada de qualquer outra forma a fim de gerar saber Nesta acepccedilatildeo tanto os dados como a informaccedilatildeo satildeo comparaacuteveis agraves mateacuterias-primas que a induacutestria transforma em bens

A discussatildeo nos parece relevante porque se a preocupaccedilatildeo principal do programa eacute constituir

a transmissatildeo disseminaccedilatildeo e armazenamento das informaccedilotildees atraveacutes das redes de internet

bastariam estrateacutegias de ampliaccedilatildeo do acesso Poreacutem o documento deixa expliacutecito que as tecnologias

criadas ateacute entatildeo natildeo tiveram efeito sobre a aquisiccedilatildeo do saber elas apenas distribuem informaccedilotildees

que podem ser usadas para o constructo de saberes que talvez melhorassem o bem estar de todos os

que usufruem delas O documento explica ldquoque eacute fundamental considerar a sociedade da informaccedilatildeo

como uma sociedade da aprendizagemrdquo que natildeo se conclui nos bancos escolares Por isso o

documento justifica ldquoa nossa lista de recomendaccedilotildees poliacuteticas com as que abordam este desafio

especiacutefico indo muito aleacutem das tradicionais sugestotildees de programas multimeacutedia e infra-estruturas de

apoio para a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo profissionalrdquo A primeira recomendaccedilatildeo do documento nesse

sentido foi estimular ativamente a aquisiccedilatildeo de conhecimentos e competecircncias com investimento

pesado em equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas europeias e formaccedilatildeo de professores nesta aacuterea

com ecircnfase no trabalho colaborativo e em redes

No caso brasileiro natildeo houve essa discussatildeo preacutevia sobre a concepccedilatildeo de sociedade de

informaccedilatildeo que se pretendia implantar Na anaacutelise de Santos e Carvalho (2009 p 47) o documento

Brasileiro (Livro Verde da Informaccedilatildeo ) apresenta ldquofalta de solidez profundidade e subsiacutedios cientiacuteficos

nas discussotildeesrdquo e trata a questatildeo como sendo meramente tecnoloacutegica Sobre o objetivo principal do

programa o Livro Verde apresenta

O objetivo do Programa Sociedade da Informaccedilatildeo eacute integrar coordenar e fomentar accedilotildees para a utilizaccedilatildeo de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de forma a contribuir para a inclusatildeo social de todos os brasileiros na nova sociedade e ao mesmo tempo contribuir para que a economia do Paiacutes tenha condiccedilotildees de competir no global (Takahashi 2000 p 11 grifo do autor)

O mundo todo estaacute mesmo conectado

103

A sociedade civil organizada Organizaccedilotildees Natildeo Governamentais (ONG) universidades setor

puacuteblico e privado foram convidados a participar do programa mas este teve descontinuidade com a

mudanccedila de governo em 2002 e suas accedilotildees foram direcionadas tatildeo somente o acesso e a

conectividade agraves redes (Santos e Carvalho 2009) Outros programas foram desenvolvidos nos uacuteltimos

dez anos a maioria se destaca na oferta de equipamentos de informaacutetica e conexatildeo banda larga

Segue quadro dos principais programas propostos no Brasil que no discurso institucional satildeo voltados

para inclusatildeo digital

Quadro 3 - Programas e Projetos de inclusatildeo digital propostos pelo Governo Federal no Brasil

Programa Proposta

Cidadatildeo Conectado ndash computador para todos

Promover a Inclusatildeo Digital mediante a aquisiccedilatildeo em condiccedilotildees facilitadas de soluccedilotildees de informaacutetica

Projeto Computadores para Inclusatildeo

Oferecer equipamentos de informaacutetica recondicionados em plenas condiccedilotildees operacionais para apoiar a disseminaccedilatildeo de telecentros comunitaacuterios e a informatizaccedilatildeo das escolas puacuteblicas e bibliotecas

Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE)

Conectar todas as escolas puacuteblicas urbanas agrave internet rede mundial de computadores por meio de tecnologias que propiciem qualidade velocidade e serviccedilos para incrementar o ensino puacuteblico no Paiacutes

Projeto Computadores para a Inclusatildeo

Modernizar a gestatildeo ampliar o acesso aos serviccedilos puacuteblicos e promover o desenvolvimento dos municiacutepios brasileiros por meio da tecnologia

Plano Nacional de Banda Larga Promover a inclusatildeo digital e a formaccedilatildeo de jovens de baixa renda em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social com a oferta de oficinas cursos treinamentos e outras atividades formativas com foco no recondicionamento e manutenccedilatildeo de equipamentos de informaacutetica e na conscientizaccedilatildeo ambiental sobre os resiacuteduos eletroeletrocircnicos

PROINFO Integrado Massificar o acesso agrave internet em banda larga no paiacutes principalmente nas regiotildees mais carentes da tecnologia

Um computador por aluno ndash PROUCA

Oferecer gratuitamente conexatildeo agrave internet em banda larga - por via terreste e sateacutelite - a telecentros escolas unidades de sauacutede aldeias indiacutegenas postos de fronteira e quilombos

Promover a inclusatildeo digital pedagoacutegica e o desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem de alunos e professores das escolas puacuteblicas brasileiras mediante a utilizaccedilatildeo de computadores portaacuteteis denominados laptops educacionais

Fonte Portal do governo eletrocircnico httpwwwgovernoeletronicogovbracoes-e-projetosinclusao-digital (grifo da autora)

As informaccedilotildees sobre cada projeto disponibilizadas no quadro acima foram tiradas na sua

iacutentegra do portal do governo eletrocircnico Os destaques em negrito do discurso institucional do governo

demonstram a preocupaccedilatildeo dos gestores puacuteblicos na questatildeo da oferta de equipamentos de

informaacuteticas e acesso agraves redes

Silveira (2008) aponta uma problemaacutetica na visatildeo dos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas que

se limitam a pensar que ldquoinserirrdquo as pessoas constitui tornaacute-las consumidoras de produtos de

informaacutetica O efeito destas poliacuteticas pode produzir um resultado contraacuterio Segundo o autor estas

podem estender o ldquolocalismo globalizado de origem norte-americanardquo e constituiriam uma forma de

utilizar o esforccedilo puacuteblico das sociedades pobres para se tornarem consumidores dos produtos

O mundo todo estaacute mesmo conectado

104

tecnoloacutegicos dos paiacuteses desenvolvidos ou ainda serviriam para ldquoreforccedilar o domiacutenio oligopolista de

grandes grupos transnacionaisrdquo (idem p 48) Ao fazer esta anaacutelise Silveira apoia-se no conceito de

ldquoglobalizaccedilatildeo como fenocircmeno produzidordquo na visatildeo do autor Boaventura Souza Santos (Santos 2002)

A consequecircncia da produccedilatildeo do global implica na produccedilatildeo do local ou produccedilatildeo de localizaccedilatildeo O

Sistema Mundial em Transiccedilatildeo conceito criado por Souza Santos para designar as transformaccedilotildees

mundiais estabelece a hierarquizaccedilatildeo dominante Desta forma o local se integra com o global por

duas vias pela exclusatildeo ou inclusatildeo subalterna O local quando incluiacutedo eacute de forma subordinada

Silveira explica

Boaventura sustenta que apesar de na linguagem comum e no discurso poliacutetico o termo globalizaccedilatildeo transmitir a ideia de inclusatildeo o acircmbito real da inclusatildeo pela globalizaccedilatildeo sobretudo a econocircmica pode ser bastante limitado Vastas populaccedilotildees do mundo sobretudo em Aacutefrica estatildeo a ser globalizadas em termos do modo especiacutefico por que estatildeo a ser excluiacutedas pela globalizaccedilatildeo hegemocircnica O que caracteriza a produccedilatildeo de globalizaccedilatildeo eacute o fato de seu impacto se estender tanto agraves realidades que inclui como agraves realidades que exclui (Silveira 2013 p 3)

Observa-se portanto uma disparidade gritante entre dois tipos de cidadatildeos do mundo um

liderado por uma elite que tem pleno acesso agraves TDIC e tira proveito disso o outro atrofiado e

marginalizado pela falta de acesso a estas Luyt (2007) analisa que a partir de meados dos anos 1990

um nuacutemero crescente de relatoacuterios estudos de caso e documentos de discussatildeo sobre a tecnologia da

informaccedilatildeo para o desenvolvimento comeccedilaram a circular com o objetivo de desvendar a profundidade

do fosso digital que jaacute era percebido naquele momento Considerando que as poliacuteticas puacuteblicas natildeo

satildeo neutras e atendem a interesses de grupos poliacuteticos e econocircmicos Luyt afirma que existem grupos

de interesse na promoccedilatildeo da questatildeo da exclusatildeo ou fosso digital os paiacuteses desenvolvidos que

desejam alcanccedilar novos mercados com seus produtos tecnoloacutegicos Estas naccedilotildees mais desenvolvidas

oferecem novas oportunidades de trabalho para sua elite e perpetuam as limitaccedilotildees das perspectivas

econocircmicas da populaccedilatildeo pobre vendo-a como uma forccedila de trabalho indispensaacutevel aos interesses do

capital Os oacutergatildeos da sociedade civil tambeacutem se preocupam com a questatildeo da exclusatildeo digital pois

segundo o autor eles tentam capturar as tecnologias da rede para seus proacuteprios interesses e projetos

Na visatildeo de Lemos (2003) parece que aleacutem do discurso instituiacutedo de que a exclusatildeo digital

deve ser combatida existe pouco debate sobre o que esta significa como pode ser medida e

elucidada O autor questiona os programas de inclusatildeo digital promovidos em telecentros Em 2003

houve uma poliacutetica acirrada no Brasil de implantaccedilatildeo de telecentros nas comunidades com objetivo de

promover o acesso para todos Lemos jaacute previa que com a expansatildeo das redes cada vez mais ubiacutequas

O mundo todo estaacute mesmo conectado

105

os telecentros ficariam ultrapassados com o tempo o que de fato ocorreu Sobre a que interesses

estas poliacuteticas atendem Lemos (idem p 1) concluiu ldquofaz-se assim a felicidade de empresas ONGs e

tecnoutoacutepicos que vatildeo nos vender sob essa ideologia mais e mais brinquedinhos tecnoloacutegicosrdquo De

fato a induacutestria da tecnologia tem como objetivo incluir as pessoas num molde ou padratildeo de consumo

que as torna dependentes das parafernaacutelias tecnoloacutegicas lanccediladas no mercado em caraacuteter freneacutetico

Ainda sobre o objetivo da induacutestria da tecnologia Silveira (2011 p 59) afirma

O objetivo das grandes operadoras de telecom e da induacutestria do copyright eacute transformar a internet em uma ldquogrande rede de TV a cabordquo ou seja reduzir a sua interatividade filtrar os fluxos de informaccedilatildeo impedir o compartilhamento livre de arquivos digitais Com o discurso falacioso de melhorar o funcionamento da rede tal objetivo eacute tambeacutem diminuir o aumento do poder comunicacional dos indiviacuteduos e coletivos que usam a rede para ampliar a articulaccedilatildeo das pessoas em torno de suas causas sejam elas quais forem

Assim o autor conclui que a induacutestria tecnoloacutegica fomenta a inclusatildeo sem autonomia fornece

as informaccedilotildees aos cidadatildeos mas querem interatividade controlada sem a liberdade de criaccedilatildeo de

novos conteuacutedos e novas tecnologias de comunicaccedilatildeo

Um exemplo atual eacute a polecircmica envolvida no fato do aplicativo de mensagens instantacircneas

whatsapp permitir a realizaccedilatildeo de ligaccedilotildees telefocircnicas utilizando o nuacutemero de celular do usuaacuterio

Segundo portal de notiacutecias G117 em 2015 operadoras de telecomunicaccedilotildees no Brasil anunciaram que

entrariam com peticcedilatildeo judicial junto agrave Agencia Nacional de Telecomunicaccedilotildees (Anatel) contra o

funcionamento do aplicativo whatsapp com ligaccedilotildees telefocircnicas O argumento das operadoras eacute que as

mesmas pagam tributos para cada linha autorizada o que natildeo acontece com o aplicativo Segundo o

portal de notiacutecias brasileiro Terra18 a consultoria de pesquisa tecnoloacutegica Ovum com sede em Londres

calculou em relatoacuterio divulgado em fevereiro de 2015 um prejuiacutezo de 139 bilhotildees de doacutelares para as

operadores em receitas com serviccedilos de texto em 2014 devido a expansatildeo do whatsapp

Aleacutem da questatildeo econocircmico-financeira as operadoras se queixam que estatildeo sujeitas a multas e agraves

obrigaccedilotildees de fiscalizaccedilatildeo e qualidade pela Anatel e o aplicativo natildeo se submente a este controle Neste

sentido a induacutestria de comunicaccedilatildeo sente-se ameaccedilada a cada inovaccedilatildeo proporcionada pelas tecnologias

Considerando que estaacute em curso uma revoluccedilatildeo no setor das telecomunicaccedilotildees frente ao uso cada vez mais

frequente do celular para acessar internet as operadoras de telefones moacuteveis seratildeo cada vez mais

17 Mateacuteria Operadoras moacuteveis no Brasil preparam peticcedilatildeo contra Whatsapp Disponiacutevel em lthttpg1globocomtecnologianoticia201508operadoras-moveis-no-brasil-preparam-peticao-contra-whatsapphtmlgt acesso em 12 nov 2015 18 Mateacuteria WhatsApp diz que natildeo eacute ameaccedila a operadoras de telefonia moacutevel Disponiacutevel em lthttptecnologiaterracombrinternetwhatsapp-diz-que-nao-e-ameaca-a-operadoras-de-telefonia-movela5a9e194c2bda310VgnCLD200000bbcceb0aRCRDhtml gt Acesso em 12 nov 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

106

provedoras de internet moacutevel Assim como os telecentros estatildeo ficando obsoletos com a expansatildeo do acesso

agraves redes nos tablets e celulares aleacutem do barateamento dos computadores e perifeacutericos ser portador de uma

linha telefocircnica moacutevel seraacute apenas a porta de entrada para o acesso agraves redes

Importante ressaltar que as poliacuteticas puacuteblicas de inclusatildeo digital em geral focalizam

demasiadamente as estatiacutesticas de acesso Segundo Bonilla e Oliveira (2011 p 32) esta quantificaccedilatildeo

do acesso torna-se ldquoinsuficiente para se aproximar dos componentes culturais poliacuteticos e

econocircmicosrdquo dos beneficiaacuterios das poliacuteticas Os autores consideram o termo ldquodesfiliaccedilatildeordquo de Robert

Castel mais apropriado que exclusatildeo digital Assim a desfiliaccedilatildeo constitui ldquoa perda dos suportes

sociais que garantem o exerciacutecio de direitos iguais em uma sociedade democraacutetica e o desengajamento

material e simboacutelico dos indiviacuteduos no laccedilo socialrdquo (idem 2011 p 33) Nas palavras de Castells

(1998 p 32) ldquosatildeo menos excluiacutedos do que abandonados como se estivessem encalhados na

margem depois que a corrente das trocas produtivas se desviou delesrdquo Neste contexto o indiviacuteduo

ldquodesfiliadordquo natildeo eacute um excluiacutedo Ele natildeo possui uma total ausecircncia de viacutenculos com a sociedade como

estivesse fora mas encontra-se desprovido de oportunidades para galgar melhores posiccedilotildees A partir

destes pressupostos as poliacuteticas puacuteblicas deveriam considerar o contexto social econocircmico cultural

dos beneficiaacuterios para contemplar os marginalizados aqueles que embora tenham um miacutenimo acesso

precaacuterio natildeo possuem ldquosuportes sociaisrdquo para tirarem proveito das tecnologias para sua autonomia e

emancipaccedilatildeo

Portanto mesmo diante poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a universalizaccedilatildeo do acesso as redes

o ldquofosso digitalrdquo persiste em se alargar pois as tecnologias tendem a empoderar continuamente

aqueles que se apropriam dela para seu benefiacutecio proacuteprio Neste sentido a ldquoexclusatildeo digitalrdquo eacute

delimitada natildeo apenas pelas condiccedilotildees de acesso fiacutesico a computadores ou dispositivos moacuteveis

conectados mas ao que as pessoas fazem com as informaccedilotildees e conteuacutedos acessados Segundo De

Maggio e Hargita (2001) com a raacutepida penetraccedilatildeo da internet nos lares das pessoas a tecnologia

antes restrita a uma reservada elite agora estaacute disponiacutevel entre ricos e pobres urbanos e rurais velhos

e jovens educados e sem instruccedilatildeo Mediante tal ampla difusatildeo os autores argumentam que o acesso

inclui os inicialmente excluiacutedos mas surgem outras desigualdades e disparidades relacionadas com a

qualidade da conexatildeo do padratildeo dos aparelhos utilizados e do conhecimento e habilidades do usuaacuterio

Castells (2003) jaacute apontava para os seus efeitos colaterais da expansatildeo da rede de internet por

afirmar que as principais atividades poliacuteticas econocircmicas sociais e culturais em todo planeta estatildeo

sendo estruturadas ldquopela internet e em torno delardquo O autor conclui que ldquoser excluiacutedo dessas redes eacute

O mundo todo estaacute mesmo conectado

107

sofrer uma forma dolorosa de exclusatildeo em nossa economia e nossa culturardquo (idem p 8) Pierre Leacutevy

(1999) tambeacutem visionava a possibilidade da difusatildeo das tecnologias produzir a exclusatildeo O autor

escreveu

Estima-se frequentemente que o desenvolvimento da cibercultura poderia ser um fator suplementar de desigualdade e de exclusatildeo tanto entre classes de uma sociedade como entre naccedilotildees de paiacuteses ricos e pobres Esse risco eacute real O acesso ao ciberespaccedilo exige infra-estruturas de comunicaccedilatildeo e de caacutelculo de computadores de curto alto para regiotildees em desenvolvimento Aleacutem disso a apropriaccedilatildeo das competecircncias necessaacuterias para a montagem e manutenccedilatildeo de centros servidores representa um investimento consideraacutevel [] haacute em seguida os sentimentos de incompetecircncia e de desqualificaccedilatildeo frente agraves novas tecnologias (idem p 238)

Ao fazer esta anaacutelise Pierre Leacutevy explica que a exclusatildeo eacute uma consequecircncia previsiacutevel usando

o argumento de que ldquocada novo sistema de comunicaccedilatildeo fabrica excluiacutedosrdquo (Leacutevy p 238) O autor cita

o exemplo da invenccedilatildeo da escrita que criou a divisatildeo entre os que sabem ler e os que natildeo sabem

Embora a rede pareccedila democraacutetica reunindo de forma ldquocaoacuteticardquo todas as heresias Leacutevy argumenta

que suas fronteiras satildeo imprecisas moacuteveis e provisoacuterias e a ldquodesqualificaccedilatildeo dos excluiacutedosrdquo natildeo deixa

de ser terriacutevel (idem p 238) De acordo com Silveira (2013) Leacutevy ao afirmar que ldquotodo universal

produz excluiacutedosrdquofragiliza a possibilidade de lutar contra o processo da exclusatildeo uma vez que este eacute

inerente do surgimento de novas tecnologias Assim a rede que seria a ldquouniversalidade sem

totalidaderdquonatildeo poderia evitar o princiacutepio da exclusatildeo No entanto Leacutevy reconhece que o excluiacutedo estaacute

desconectado por natildeo participar da ldquodensidade relacional e cognitiva das comunidades virtuais e da

inteligecircncia coletivardquo (idem p 238) defendendo como possiacutevel soluccedilatildeo para esta situaccedilatildeo poliacuteticas

que privilegiem a autonomia das pessoas evitando o surgimento de ldquonovas dependecircnciasrdquo provocadas

pelo consumo de informaccedilotildees ou serviccedilos via internet

McLuan Fiore e Angel (1967) na obra The Medium is the Massage denominaram esse

fenocircmeno da expansatildeo da tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de ldquoAldeia Globalrdquo suposta ideia

utoacutepica proposta para explicar a tendecircncia de evoluccedilatildeo do sistema mediaacutetico que tende a encurtar

distacircncias e o progresso tecnoloacutegico Para os autores os meios eletrocircnicos que divulgam um

acontecimento no momento que este acontece (estavam se a referir ao raacutedio e a TV pois ainda natildeo

tinha surgido a internet) estatildeo a colocar-nos novamente em contato com as emoccedilotildees tribais primitivas

que a impressa nos havia distanciado No entanto na visatildeo de Milton Santos (2001) esta ideia eacute uma

faacutebula O autor afirma que a falsa noccedilatildeo de que as ideias difundidas amplamente na rede satildeo reais e

natildeo a interpretaccedilatildeo dos detentores do monopoacutelio midiaacutetico somadas ao suposto encurtamento das

distacircncias e barreiras existentes entre os Estados constituem uma ldquoglobalizaccedilatildeo perversardquo O que se

O mundo todo estaacute mesmo conectado

108

instala segundo Santos eacute um mercado avassalador que acentua as desigualdades existentes entre

paiacuteses ou mesmo regiotildees dentro dos proacuteprios paiacuteses

Todavia no iniacutecio da expansatildeo da internet natildeo se pensou que os determinantes socioculturais

tais como raccedila gecircnero idade e geografia poderiam limitar o acesso de alguns agrave grande rede e causar

desigualdades sociais econocircmicas e cognitivas nos indiviacuteduos Ocorreu foi uma campanha publicitaacuteria

eufoacuterica sobre a internet e o mundo on-line nos anos de 1990 O termo para esse fenocircmeno segundo

Gausker (2003) eacute cyberbole uma expressatildeo que denota a importacircncia que a internet passou a ter no

mundo contemporacircneo Comemorava-se a criaccedilatildeo de um novo mundo de oportunidades ilimitadas que

a internet proporcionaria agrave sociedade

Warschauer (2006) analisa que as discussotildees sobre as desigualdades digitais ganhou

notoriedade com a expansatildeo da internet e da criaccedilatildeo de empresas pontocom19 no iniacutecio da deacutecada de

1990 Naquele periacuteodo de boom da internet as pessoas queriam se conectar a rede a qualquer preccedilo

para natildeo ficarem para traacutes das novidades que a internet oferecia Apesar da falecircncia do sistema

empresas pontocom a internet ganhou forccedila e as pessoas passaram a usaacute-la cada vez mais no

trabalho diversatildeo compras e a acesso a informaccedilotildees Naquele momento a preocupaccedilatildeo era prover o

acesso ao maior nuacutemero de pessoas

Como abordado por Demo (2005) com o avanccedilo acelerado das TDIC e a ampla difusatildeo da

internet o desafio imposto para reduccedilatildeo desta lacuna ou hiato da exclusatildeo digital aponta para aleacutem

do acesso agraves tecnologias a capacitaccedilatildeo dos indiviacuteduos para seu uso Assim a inclusatildeo digital ganhou

novos elementos complexos com destaque para as competecircncias informacionais Portanto era de se

esperar que a introduccedilatildeo de novos produtos tecnoloacutegicos no mercado aumentasse o niacutevel de limiar de

bens considerados necessaacuterios Na anaacutelise de Sorj (2008) por questotildees econocircmicas os ricos usufruem

por um periacuteodo de tempo maior os benefiacutecios ou domiacutenio dos novos produtos lanccedilado no mercado

Este fato aumenta a vantagem competitiva desta classe enquanto a falta do produto aumenta as

desvantagens dos grupos excluiacutedos Neste sentido o autor afirma que a exclusatildeo digital natildeo se trata

de um fenocircmeno simples que se refere a aqueles que tecircm ou natildeo acesso agrave internet Quando se trata

19 Empresas pontocom constituiacuteam novas empresas de tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TIDC) baseadas na Internet que tiveram seu auge na deacutecada de 1990 O crescimento especulativo destas empresas atingiram o aacutepice entre 1995 com a ascensatildeo raacutepida do preccedilo das accedilotildees das empresas de comeacutercio eletrocircnico e aacutereas afins Este periacuteodo ficou conhecido como ldquobolha da internetrdquo Esta bolha ldquoestourourdquo em 2000 com a queda das accedilotildees no mercado financeiro e a falecircncia de diversas empresas deste nicho Disponiacutevel em httpeconomiaigcombrmercadosestouro-da-bolha-das-empresas-

de-tecnologia-completa-11-anosn1238148080645html Acesso em 21 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

109

de bens de consumo explica Sorj a classe pobre pode possuir um automoacutevel de menor valor e nem

mesmo possuir condiccedilotildees de abastececirc-lo Do mesmo modo possuir um computador em casa e natildeo

ter condiccedilotildees de atualizar os softwares ou mesmo pagar a internet eacute uma forma de exclusatildeo No

entanto para compreender o que significa estar excluiacutedo ou marginalizado na sociedade em rede faz-

se necessaacuterio conhecer em que contexto foi concebido o termo ldquoexclusatildeo digitalrdquo (ou digital divide

fosso digital e fractura digital)

23 Debate conceitual do termo exclusatildeo digital

As expressotildees ldquoexclusatildeo digitalrdquo popular no Brasil ou ldquodigital dividerdquo em inglecircs satildeo passiacuteveis

de debates conceituais A origem destas expressotildees permanecem incertas e ambiacuteguas Alguns estudos

afirmam que a origem do termo ldquodigital dividerdquo surgiu em meados dos anos 1990 nos EUA apoacutes um

largo debate sobre a percepccedilatildeo inicial dos grupos sociais excluiacutedos tecnologicamente naquele paiacutes De

acordo com Crispim (2008) a agecircncia estatal National Telecommunications and Information

Administration (NTIA) lanccedilou entre 1995 e 1998 quatro relatoacuterios intitulados Falling Throung the net

(em traduccedilatildeo livre ldquoCaindo na rederdquo) cujos dados revelaram as desigualdades de acesso dos

americanos agrave telefonia computadores domeacutesticos e modens Assim a expressatildeo ldquodigital dividerdquo

presente nos relatoacuterios passou a associar-se ao acesso agraves Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e

Comunicaccedilatildeo (TDIC) incluindo a internet e a busca por garantir aos cidadatildeos daquele paiacutes acesso aos

serviccedilos de telecomunicaccedilotildees O interesse dos EUA na integraccedilatildeo da naccedilatildeo ao uso das tecnologias era

liderar a ldquoSociedade do Conhecimentordquo que emergia naquele contexto Para Gunkel (2003) o termo

natildeo teve origem nos relatoacuterios da NTIA estes foram apenas os catalisadores para a popularidade do

termo ldquodigital dividerdquo O autor afirma que o uso original da referida expressatildeo foi no LA Times pelos

jornalistas Jonathan Webber e Amy Harmon que comeccedilaram a usaacute-la em 1996 para citar diferenccedilas

de opiniatildeo sobre a nova tecnologia e o aprofundamento da divisatildeo entre ricos e pobres

No idioma portuguecircs de Portugal o termo frequentemente usado nos documentos da Uniatildeo

Europeia para tratar da exclusatildeo digital eacute ldquofractura digitalrdquo Furtado (2007) considera que o termo

embora se tenha popularizado em algumas de suas formulaccedilotildees pode ser enganador O autor

argumenta que ao constatar a situaccedilatildeo de um grupo que natildeo tinha acesso agraves redes de internet nos

relatoacuterios da NTIA a estrateacutegia do governo americano foi promover poliacuteticas de disponibilidade das

tecnologias aos ldquoexcluiacutedosrdquo Apenas mais tarde com a expansatildeo do acesso outras disparidades foram

percebidas algumas pessoas acessam as tecnologias em primeiro lugar ou mais rapidamente dos que

outras ou algumas possuem equipamentos melhores e mais competecircncias para usaacute-los ou um

O mundo todo estaacute mesmo conectado

110

determinado grupo usa com mais frequecircncia as TDIC que outros E nesse contexto milhotildees de

pessoas tecircm algum acesso miacutenimo mas insuficiente para sentirem-se inseridos na rede

No entanto alguns teoacutericos tecircm atribuiacutedo a origem da discussatildeo sobre o acesso agrave internet

como recurso econocircmico poliacutetico cultural e social essencial para a emancipaccedilatildeo democraacutetica por

volta da elaboraccedilatildeo do ldquoRelatoacuterio Nora e Mincrdquo (1980) solicitado agraves ordens do governo francecircs O

documento eacute um relatoacuterio sobre a informatizaccedilatildeo da sociedade elaborado em 1977 por dois alto-

funcionaacuterios do governo francecircs Simon Nora e Alain Minc No relatoacuterio eacute lanccedilado o neologismo da

expressatildeo ldquotelemaacuteticardquo para indicar a combinaccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo e computador Segundo

previsatildeo de Nora e Minc a telemaacutetica deveria integrar imagens sons e memoacuterias o que exprimia a

possibilidade de integrar os meios de comunicaccedilatildeo de massa preexistentes - o jornal o raacutedio e a

televisatildeo com a informaacutetica que se ampliava apoacutes a invenccedilatildeo dos microprocessadores No Relatoacuterio

fica clara a preocupaccedilatildeo do governo francecircs em relaccedilatildeo agraves consequecircncias que o desenvolvimento

tecnoloacutegico que se ampliava naquele momento histoacuterico na sociedade contemporacircnea Balboni (2007)

afirma que a preocupaccedilatildeo do relatoacuterio era focada no papel do Estado na distribuiccedilatildeo igualitaacuteria das

tecnologias e do conhecimento garantindo a participaccedilatildeo da Franccedila nesse processo O governo francecircs

investiu entatildeo na fusatildeo das tecnologias de telecomunicaccedilotildees existentes com a informaacutetica criando o

Minitel um pequeno terminal de consulta de banco de dados comerciais existentes nos Correios nas

Telecomunicaccedilotildees e nas Teledifusotildees existentes na Franccedila

De acordo com Dijk (2005) na liacutengua inglesa utiliza-se ainda a expressatildeo digital gap (associado

agrave noccedilatildeo de brecha abismo) e digital apatheid fazendo alusatildeo a noccedilatildeo de separaccedilatildeo dos grupos sociais

nos Estados Unidos na deacutecada de 1960 No idioma francecircs satildeo usadas as expressotildees fracture

numeacuterique e fosseacute numeacuteric lembrando a metaacutefora da divisatildeo abismo separaccedilatildeo como um rio que

divide duas cidades apartando seus limites Dijk (1999) considera uma armadilha o uso da metaacutefora da

expressatildeo ldquodigital dividerdquo associada agrave existecircncia de um ldquoabismordquo separando os que tecircm acesso aos

meios digitais e os que natildeo tecircm acesso O autor considera que a metaacutefora serviu para chamar atenccedilatildeo

para os elaboradores de poliacuteticas puacuteblicas se atentarem ao fenocircmeno da desigualdade de acesso as

tecnologias digitais mas por outro lado simplificou a problemaacutetica sugerindo uma divisatildeo binaacuteria e

simplista entre dois grupos claramente divididos com um fosso entre eles Dijk argumenta que no

espaccedilo entre a elite da informaccedilatildeo e os totalmente excluiacutedos das tecnologias digitais encontram-se

vaacuterios grupos de pessoas que tecircm algum acesso e que de uma forma ou de outra utilizam a

tecnologia digital para um determinado objetivo A possiacutevel existecircncia de um ldquoabismo ou fossordquo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

111

segundo o autor pode tambeacutem parecer que essas desigualdades sejam intransponiacuteveis o que natildeo eacute o

caso se os governos estabelecerem politicas puacuteblicas efetivas voltadas a essa aacuterea Outra conotaccedilatildeo

errada que a metaacutefora digital divide sugere de acordo com Dijk eacute a ideia de que a divisatildeo eacute uma

condiccedilatildeo estaacutetica pelo contraacuterio os acessos satildeo mutaacuteveis e estatildeo em constante movimento algumas

desigualdades crescem enquanto outras diminuem

Cisler (2000) tambeacutem considera o termo digital divide simplista por ser definido pelo fato de

estar on-line ou off-line Para o autor natildeo existe uma divisatildeo binaacuteria entre os ldquoricos de informaccedilatildeordquo e os

ldquosem total informaccedilatildeordquo mas haacute uma gradaccedilatildeo com base em diferentes graus de acesso agrave tecnologia

da informaccedilatildeo Se compararmos um professor em Satildeo Paulo com uma excelente velocidade de

conexatildeo agrave internet em seu laboratoacuterio um professor no interior do Tocantins que usa a lan house para

enviar suas atividades do seu curso de formaccedilatildeo a distacircncia ou ainda um professor no Amazonas que

mora numa aldeia indiacutegena sem acesso a internet teremos exemplos dos diferentes graus de exclusatildeo

sociodigital Neste sentido Mossberger Tolbert e Stansbury (2003) usam o termo ldquodesigualdade

virtualrdquo ao tratarem das dinacircmicas relacionadas com os diferentes graus de acesso e uso das

tecnologias Os autores argumentam que a desigualdade virtual eacute definida em quatro bases

discriminatoacuterias

bull Access divide - discriminaccedilatildeo de acesso condicionada a cor raccedila renda educaccedilatildeo e gecircnero

bull Skills divide - discriminaccedilatildeo de habilidades teacutecnica para operar sistemas e outra de alfabetizaccedilatildeo de informaccedilatildeo Esta uacuteltima significa o individuo ter a habilidade de reconhecer quando e que informaccedilatildeo pode resolver um problema ou preencher uma necessidade e saber efetivamente como usar os recursos de informaccedilatildeo

bull Economic opportunity divide - discriminaccedilatildeo de oportunidade econocircmica que torna marginalizado o sujeito e grupos que natildeo acompanham as transformaccedilotildees ocorridas na economia globalizada

bull Democratic divide - discriminaccedilatildeo democraacutetica ou poliacutetica A internet pode aumentar a participaccedilatildeo poliacutetica dos seus usuaacuterios mas apenas entre os grupos predispostos a participar e ainda entre aqueles com habilidades necessaacuterias para aproveitar o ambiente eletrocircnico

Assim segundo esses autores a exclusatildeo digital passa por niacuteveis de desigualdades que podem

manifestar suas caracteriacutesticas em base individual ou em grupos especiacuteficos

Demo (2007) considera que estas muacuteltiplas visotildees discriminatoacuterias da exclusatildeo digital

embora enriqueccedila o debate satildeo formuladas a partir de bases neoliberais em que as habilidades e

competecircncias dos sujeitos satildeo valorizadas para atingirem o seu potencial Demo afirma que de fato a

O mundo todo estaacute mesmo conectado

112

marginalizaccedilatildeo ou desigualdade digital independente do nome que esta assume (exclusatildeo fosso gap)

segrega pessoas e sociedades do usufruto tecnoloacutegico e ainda agrava a pobreza poliacutetica O autor

explica que mesmo que as pessoas consigam algum acesso agraves redes num contexto capitalista de

exclusatildeo esse acesso eacute marginalizado ou seja precarizado por diversos fatores Neste sentido Demo

prefere usar o termo marginalizaccedilatildeo agrave exclusatildeo Argumenta que a expressatildeo exclusatildeo eacute muito

estanque ou se estaacute fora ou dentro E neste intervalo encontram-se indiviacuteduos que embora tenham

algum acesso agraves tecnologias satildeo desprovidos de equipamentos e softwares eficientes natildeo acessam a

banda larga possuem poucas competecircncias para resoluccedilatildeo de problemas teacutecnicos e baixos niacuteveis de

literacia digital Demo escreveu

Digital divide tornou-se metaacutefora insatisfatoacuteria i) sugere divisatildeo simples estanque encobrindo complexidade das diferenciaccedilotildees social econocircmica e cultural ii) sugere ser intransponiacutevel para os marginalizados enquanto na praacutetica eacute difiacutecil desafiadora podendo-se fazer muita coisa pertinente iii) giraria em torno de desigualdades absolutas quando satildeo relativas iv) haveria uma soacute enquanto o cenaacuterio se mostra complexo ao extremo (Demo 2007 p 12)

Deste modo o autor apresenta as desigualdades de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo como um

subconjunto da desigualdade social As relaccedilotildees satildeo niacutetidas nas categorias da sociedade e as

distinccedilotildees mais evidentes em niacutevel micro Segundo Demo (idem) seriam gerentes e executivos

empregadores e (des)empregados pessoas com altos e baixos niacuteveis de educaccedilatildeo homens e

mulheres velhos e jovens pais e filhos brancos e pretos cidadatildeos e migrantes Em niacutevel macro os

paiacuteses mais ricos adotam as tecnologias em vantagem dos paiacuteses menos desenvolvidos e usam essa

vantagem para aumentar o poder sobre estes Demo conclui que essas disparidades evoluem para

discriminaccedilotildees e marginalizaccedilatildeo dos indiviacuteduos que embora tenham o acesso continuam agrave margem

das oportunidades e vantagens promovidas pelas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste

sentido a questatildeo da inclusatildeo digital avanccedila para aleacutem do acesso porque mesmo com o acesso

miacutenimo o sujeito pode natildeo tirar proveito das informaccedilotildees obtidas na internet

24 A inclusatildeo para aleacutem do acesso agrave maacutequina

Conforme exposto independente da origem a expressatildeo digital divide quando foi concebida se

limitava na desigualdade relacionada ao acesso agraves tecnologias sendo compreendida como uma fratura

ou brecha entre os que tinham e os que natildeo tinham o acesso Os estudos sobre digital divide na

deacutecada de 90 eram focados no acesso e na infraestrutura Mais recentemente o discurso sobre a

exclusatildeo digital tem se expandido para outras preocupaccedilotildees e os fatores que geram as desigualdades

O mundo todo estaacute mesmo conectado

113

digitais ou seja modos diferenciados de uso e desenvolvimento econocircmico Ainda em 2001 a

Organizaccedilatildeo para a Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) definia digital divide como uma

ldquolacuna entre indiviacuteduos empresas e aacutereas geograacuteficas de diferentes niacuteveis socioeconocircmicos em

relaccedilatildeo agraves oportunidades de acesso agraves tecnologias da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo e ao uso da internet

para diversas atividadesrdquo (OCDE 2001 p4)

Para DiMaggio e Hargittai (2001) a visatildeo dicotocircmica do fosso digital ou digital divide como

uma distinccedilatildeo entre pessoas que tinham e as que natildeo tinham acesso agrave internet era natural no iniacutecio

daquele processo de difusatildeo da rede Os autores destacam que os primeiros estudos sobre o digital

divide realizados pelo National Telecommunications and Information Administration (NTIA) em meados

dos anos 1990 continham informaccedilotildees apenas sobre famiacutelias separadas por categorias rurais

urbanas e enfatizavam uma distinccedilatildeo binaacuteria de tecircmnatildeo tecircm acesso (NTIA 1995 1998) Com a

evoluccedilatildeo da pesquisa o NTIA em 1999 lanccedilou outro relatoacuterio em que foram elaborados relatoacuterios

separados sobre ldquoos que natildeo tecircm acessordquo baseados nas categorias de raccedila renda sauacutede idade

educaccedilatildeo e invalidez (NTIA 1999) DiMaggio e Hargittai argumentam que naquele periacuteodo especiacutefico

estes relatoacuterios serviram de base para elaboraccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas especiacuteficas para o novo

fenocircmeno da internet mas que agora o foco deve ser outro Com a ampla penetraccedilatildeo da internet na

vida das pessoas que inicialmente estavam excluiacutedas novas dimensotildees relacionadas agrave qualidade do

uso tornam-se importantes para compreender o que as pessoas estatildeo fazendo enquanto estatildeo on-line e

que benefiacutecios obtecircm disso Os autores concluem que os padrotildees de desigualdade refletem natildeo

apenas nas diferenccedilas de recursos individuais de acesso mas tambeacutem com contexto socioeconocircmico

poliacutetico e cultural de cada indiviacuteduo

A noccedilatildeo de acesso a redes tem ganhado cada vez mais importacircncia na reconfiguraccedilatildeo da

dinacircmica social de um mundo cada vem mais conectado De acordo com Rifkin (2002) ateacute o fim dos

anos de 1980 a palavra acesso restringia-se a questotildees de ingresso num determinado espaccedilo fiacutesico O

autor explica que em 1990 a oitava ediccedilatildeo do Concise Oxford Dictionary incluiu o verbo access

(acessar) pela primeira vez indicando o seu novo uso relacionado com o acesso agraves tecnologias digitais

Em suas palavras

Agora acessar eacute um dos termos mais usados na vida social Quando as pessoas ouvem a palavra acessar provavelmente pensam na abertura para mundos totalmente novos de possibilidades e oportunidades O acesso tornou-se o bilhete de ingresso para o avanccedilo e para a realizaccedilatildeo pessoal sendo tatildeo poderoso quanto a visatildeo democraacutetica foi para geraccedilotildees anteriores Eacute uma palavra cheia de significado poliacutetico Acessar afinal diz respeito a distinccedilotildees e divisotildees sobre quem deveraacute ser

O mundo todo estaacute mesmo conectado

114

incluiacutedo e quem seraacute excluiacutedo Acessar estaacute se tornando uma ferramenta conceitual potente para repensar nossa visatildeo de mundo bem como nossa visatildeo econocircmica tornando-se a metaacutefora mais poderosa da proacutexima era (Rifkin 2002 p 12)

Rifkin afirma que o mundo parece estaacute envolto em uma espeacutecie de sistema nervoso central

com as redes de internet As tecnologias modernas possibilitaram uma nova forma de desenvolvimento

de negoacutecios que ocorrem no ciberespaccedilo Numa economia global cada vez mais dominada por uma

rede de comeacutercio eletrocircnico e comunicaccedilotildees garantir o acesso seguro torna-se tatildeo importante como

era o acesso a bens materiais no iniacutecio da era industrial

Pipa Norris (2001) considera que o acesso natildeo eacute tudo mas eacute uma porta larga para entrada

dos excluiacutedos na sociedade do conhecimento A estrutura de oportunidades de cada paiacutes pode

influenciar na cultura e haacutebitos da populaccedilatildeo A autora argumenta que a internet tambeacutem oferece

promessa na prestaccedilatildeo de serviccedilos baacutesicos como educaccedilatildeo e informaccedilatildeo sobre sauacutede a regiotildees

distantes permitindo por exemplo que um professor ou um meacutedico em Gana ou Calcutaacute acesso agraves

mesmas informaccedilotildees do banco de dados como um profissional de Londres ou Nova York Em todos

esses aspectos conclui a autora a Internet promete nivelar e reduzir as desvantagens tradicionais do

mundo em desenvolvimento Mas o acesso baacutesico eacute essencial para que as pessoas sejam

beneficiadas

Nesta mesma direccedilatildeo Sorj (2008) afirma que a universalizaccedilatildeo do acesso eacute antes de tudo um

instrumento para diminuir os danos sociais do ponto de vista da desigualdade O acesso embora seja

apenas a porta de entrada eacute essencial para a inserccedilatildeo dos que estatildeo fora da rede ou agrave margem dela

Segundo o autor a desigualdade inicia no acesso Os produtos tecnoloacutegicos novos satildeo apresentados

aos ricos que tecircm condiccedilatildeo de adquiri-los em primeira matildeo enquanto os menos favorecidos

economicamente tecircm acesso a estes bens um tempo depois quando jaacute surgiram novos lanccedilamentos

Este fenocircmeno segue o efeito trikle-down ou seja gotejamento de cima para baixo Tal princiacutepio parte

do pressuposto que algumas partes da populaccedilatildeo (em especial as mais favorecidas economicamente)

vatildeo ter acesso e comprar a nova tecnologia Este segmento paga mais caro por esta tecnologia que

passa a se difundir e torna-se popular barateando os custos e tornando-a acessiacutevel agrave populaccedilatildeo menos

favorecida Um exemplo deste efeito foi o aparelho celular que a princiacutepio era um dispositivo caro com

recepccedilatildeo peacutessima e ligaccedilotildees de alto custo Ter um celular era considerado sinal de status social

contudo com o passar do tempo os custos do aparelho baratearam a tecnologia para transmissatildeo de

dados foi melhorada e os valores das ligaccedilotildees caiacuteram Possuir um celular natildeo eacute hoje um sinal de

status criaram-se novas aplicaccedilotildees nos aparelhos que disponibilizam benefiacutecios que apenas os mais

O mundo todo estaacute mesmo conectado

115

caros fornecem perpetuando o efeito trikle-down (Dijk 2005) Desta forma ter acesso a um aparelho

celular comum natildeo gera status mas possuir aparelhos de marcas famosas com funccedilotildees iacutempares eacute

para poucos usufruiacuterem Eacute o que sucede com o smartphone da Apple o Iphone que por ser mais caro

eacute inacessiacutevel para muitas pessoas20

Na anaacutelise de Warschauer (2002) o preccedilo de compra real de um computador eacute apenas a

pequena parte do que pode ser considerado o custo total de propriedade que inclui o preccedilo de

software manutenccedilatildeo e perifeacutericos DiMaggio e Hargitta (2001) lamentam que o acesso agrave internet seja

usado como sinocircnimo de uso Numa mesma residecircncia os adolescentes passam mais tempo on-line

do que os adultos citam os autores baseando-se em estudos Diferenccedilas de gecircnero e renda tambeacutem

satildeo apontadas como fatores que determinam o uso da internet em diversos contextos

Para os formuladores de poliacuteticas eacute mais viaacutevel olhar os elementos baacutesicos do fosso digital em

vez de aprofundar nos aspectos que requerem uma apreciaccedilatildeo mais complexa do contexto Barzilai-

Nahon (2006) afirma que eacute importante a construccedilatildeo de um iacutendice composto onde a dinacircmica entre

diferentes variaacuteveis seja levada em consideraccedilatildeo para se medir o fosso digital A autora cita o Iacutendice

de Acesso Digital proposto pelo ITU (Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees) que considera os

seguintes fatores infraestrutura acessibilidade conhecimento (alfabetizaccedilatildeo de adultos e matriacutecula

escolar) qualidade (largura de banda per capita e os assinantes de banda larga) e uso (ITU 2003)

No entanto Barzilai-Nahon reconhece que a ITU concentra-se principalmente nas divisotildees e diferenccedilas

internacionais e tende a ignorar niacuteveis mais locais e micro de anaacutelise tais como comunidades escolas

grupos familiares e minorias de gecircnero e eacutetnicas

Sorj (2008) considera que medir a exclusatildeo digital tomando como paracircmetro o acessonatildeo

acesso a internet trata-se de uma medida ldquoprimitivardquo considerando que dentro do contexto do acesso

existem inuacutemeras variaacuteveis que determinam se o mesmo eacute de qualidade e se o usuaacuterio da tecnologia

obteacutem significativo proveito dela Para o autor o modelo mais usual para pensar sobre o acesso agrave

tecnologia eacute o baseado na propriedade ou da disponibilidade de um dispositivo neste caso um

computador Assim o uso da internet primeiramente estaacute relacionada com a disponibilidade e os

custos de tecnologia incluindo o preccedilo de hardware e software provedores de internet e telefone

serviccedilos Segundo Sorj (2003 p 60) vaacuterios estudos internacionais buscaram desenvolver indicadores 20 Este modelo gera status entre os jovens de tal modo que em algumas regiotildees do Brasil haacute sistemas de aluguel temporaacuterio do aparelho para os jovens se apresentarem em festas com ele Disponiacutevel em httpstecnologiauolcombrnoticiasredacao20141017jovens-pagam-ate-r-170-por-aluguel-de-iphone-para-ostentar-na-baladahtm Acesso em 23 de fev 2017

O mundo todo estaacute mesmo conectado

116

que classificassem a posiccedilatildeo relativa dos paiacuteses na questatildeo de desenvolvimento telemaacutetico usando o

conceito de e-readiness Este conceito tem sido utilizado por agecircncias internacionais como um meio de

retratar a situaccedilatildeo da infraestrutura de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de um paiacutes aleacutem de

analisar a habilidade de seus consumidores governo e empresas de usar essa tecnologia Conforme

indica o autor ldquoa posiccedilatildeo de um paiacutes em termos de e-readiness natildeo possui correlaccedilatildeo necessaacuteria com

o niacutevel de exclusatildeo digital no interior da proacutepria sociedade embora as poliacuteticas de luta contra a

exclusatildeo digital afetem positivamente a capacidade nacional em termos de e-readinessrdquo

O relatoacuterio do e-readiness referente a 2015 organizado pelo World Economic Forum (WEF

2015) aponta para uma indiscutiacutevel revoluccedilatildeo moacutevel nos paiacuteses em desenvolvimento que embora seja

notaacutevel encontra limites na infraestrutura nas variaacuteveis ruralurbano e nas condiccedilotildees

socioeconocircmicas dos respectivos paiacuteses O relatoacuterio cita por exemplo a questatildeo do nuacutemero de

celulares no planeta poreacutem mesmo que haja quase tantas assinaturas de telefone quanto habitantes

no planeta isso natildeo implica que todos no mundo satildeo portadores de um aparelho celular Assim o

relatoacuterio conclui que existe parte do mundo em desenvolvimento que natildeo eacute abrangido por um sinal de

celular citando dados da Uniatildeo Internacional de Telecomunicaccedilotildees (UIT) no final de 2012 cerca de

450 milhotildees de pessoas em todo o mundo vivia sem um alcance de sinal de telefonia

Na visatildeo de Warschauer (2002) o acesso a tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo satildeo um

determinante entre a marginalizaccedilatildeo e a inclusatildeo na nova era socioeconocircmica instalada com a

globalizaccedilatildeo Segundo o autor a estratificaccedilatildeo que existe sobre o acesso agraves redes de informaccedilotildees on-

line tem pouco a ver com a internet em si estaacute sim relacionada com contextos poliacuteticos econocircmicos

institucionais culturais e linguiacutesticos que moldam o significado da internet na vida das pessoas

Warschauer (2003) realizou um estudo de caso no Egito tendo como foco os impactos resultantes do

investimento do governo local em introduzir computadores internet e outras tecnologias nas escolas

Entre as iniciativas do governo o autor cita (a) a criaccedilatildeo de centros de multimiacutedia na maioria das

escolas governamentais egiacutepcias (b) criaccedilatildeo de laboratoacuterios de informaacutetica na maioria das escolas

secundaacuterias egiacutepcias e (c) desenvolvimento de software educacional O estudo apontou resultados

insatisfatoacuterios Warschauer afirma que a tecnologia foi introduzida de forma verticalizada sem um

trabalho envolvendo a comunidade A maioria do financiamento e atenccedilatildeo do projeto foi para recursos

fiacutesicos especificamente para compra de hardware para centros multimiacutedia e recursos digitais Poreacutem

houve pouco gasto com formaccedilatildeo de professores ou apoio institucional para o uso das tecnologias

disponiacuteveis Neste sentido o estudo de caso no Egito sugeriu que uma ecircnfase excessiva na mera

O mundo todo estaacute mesmo conectado

117

presenccedila de computadores ou conexatildeoacesso a internet ligaccedilotildees sem uma atenccedilatildeo necessaacuteria para

a mobilizaccedilatildeo social e de transformaccedilatildeo pode desperdiccedilar recursos deixando intacta a desigualdade

Portanto a exclusatildeo digital natildeo deve ser analisada apenas pela questatildeo do acesso agraves

tecnologias pois embora este seja a porta de entrada um acesso limitado sem orientaccedilatildeo perita

conteuacutedo de interesse no idioma do usuaacuterio e contexto social apropriado natildeo resultaraacute em benefiacutecios

efetivos aos utilizadores da rede Ademais existem niacuteveis de exclusatildeo digital e barreiras para a inclusatildeo

que devem ser vencidas para a reduccedilatildeo das desigualdades virtuais

25 Niacuteveis de exclusatildeo sociodigital e barreiras para a inclusatildeo

A Revoluccedilatildeo Industrial ocorrida a partir do seacuteculo XVIII favoreceu a expansatildeo das classes

burguesas e marginalizou milhotildees de pessoas agrave condiccedilotildees precaacuterias de trabalho nas faacutebricas O ecircxodo

rural provocou o excesso de populaccedilatildeo nas cidades concentrando um grande nuacutemero de

desempregos o que proporcionava ao empresaacuterio capitalista um amplo contingente de matildeo de obra

por um preccedilo irrisoacuterio Os detentores dos novos meios de produccedilatildeo naquele periacuteodo usufruiacuteram

plenamente os lucros resultantes da pobreza instaladas nas cidades (Lis e Soly 1984) Deste modo se

por um lado a Revoluccedilatildeo Industrial provocou mudanccedilas profundas nos meios de produccedilatildeo humanos

ateacute entatildeo conhecidos afetando diretamente nos modelos econocircmicos e sociais da sociedade por outro

lado contribuiu para o crescimento da desigualdade social e a geraccedilatildeo de extrema pobreza em

algumas regiotildees superpopulosas da Europa

Igualmente a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica a partir dos anos de 1990 mudou a estrutura social

econocircmica e cultural da sociedade As tecnologias emergentes de fato contribuiacuteram para a celeridade

na comunicaccedilatildeo seguranccedila agilidade de processos divulgaccedilatildeo de pesquisas cientiacuteficas e tecircm sido

usadas amplamente no campo da sauacutede e da educaccedilatildeo A internet permitiu que negoacutecios eletrocircnicos

fossem realizados mesmo em milhares de quilocircmetros de distacircncia O trabalho foi facilitado em

algumas funccedilotildees em que a maacutequina (o computador) eacute programada para trabalhar com precisatildeo e

velocidade tambeacutem favoreceu a mobilidade urbana e mudou os padrotildees sociais de propriedade e

privacidades dos usuaacuterios Por outro lado a revoluccedilatildeo tecnoloacutegica tornou a sociedade dependente das

tecnologias de inteligecircncia ampliando a necessidade de gerar conhecimento o que requer preparo e

capacitaccedilatildeo complexa (Silveira 2005) Aqueles que natildeo possuem estas competecircncias ficam agrave margem

da sociedade com poucas chances no mercado de trabalho e excluiacutedos das possibilidades de

ascensatildeo social

O mundo todo estaacute mesmo conectado

118

Benakouche (2002) considera o uso da categoria lsquoexclusatildeorsquo para o estudo das questotildees

sociais como ldquocontrovertidordquo Ou seja existem controveacutersias sobre a polaridade da expressatildeo exclusatildeo

que remete a extremidades dentro ou fora Benakouche entende que natildeo existe exclusatildeo absoluta em

relaccedilatildeo a alguma forma de consumo no entanto pode ocorrer que o sujeito seja mais ou menos

incluiacutedo ou excluiacutedo em relaccedilatildeo agrave capacidade de consumir de outros indiviacuteduos Neste sentido alguns

autores consideram mais apropriados utilizar termos como apartheid digital cisatildeo digital fractura

digital brecha digital gap digital e outros termos (Brown amp Czerniewicz 2010 Warschauer 2003

Furtado 2007)

Castells (2003 p 220) numa visatildeo mais ampla afirma que a ldquodivisatildeo digitalrdquo natildeo eacute medida

pelo nuacutemero de conexotildees com a internet mas pelas ldquoconsequecircncias tanto da conexatildeo quanto da falta

de conexatildeordquo Neste sentido o autor argumenta ldquoestar desconectado ou superficialmente conectado

com a internet equivale estar agrave margem do sistema global interconectadordquo Seria o equivalente a viver

sem energia eleacutetrica na eacutepoca da Revoluccedilatildeo Industrial Seguindo esta analogia Silveira (2005 p 15)

explica

Porque a informatizaccedilatildeo penetrou na sociedade tal como a energia eleacutetrica resultante da Segunda Revoluccedilatildeo Industrial reconfigurou a vida das cidades O computador iacutecone da nova revoluccedilatildeo ligado em rede estaacute alterando a relaccedilatildeo das pessoas com o tempo e com o espaccedilo

Balboni (2007) considera que pensar na categoria exclusatildeo implica em definir fronteiras do

ldquoestarrdquo e ldquonatildeo estarrdquo inserido ldquoem algum lugarrdquo levando em conta o ponto de vista de quem faz essas

limitaccedilotildees Neste sentido na visatildeo da autora o incluiacutedo eacute quem determina aquele que estaacute excluiacutedo

Nas suas palavras ldquoas limitaccedilotildees que definem o excluiacutedo digital natildeo satildeo apenas econocircmicas mas

podem ser sociais como idade ou sexo fiacutesicas como deficiecircncias e necessidades especiais ou ainda

culturais como religiosidade entre outrosrdquo (idem p12) Assim a noccedilatildeo de binaacuteria de exclusatildeo

baseada entre os que tecircm e natildeo tecircm acesso agraves tecnologias pode ser imprecisa ou mesmo mais

excludente ainda Como observado por Warschauer (2002) nos EUA os afro-americanos satildeo

retratados frequentemente como pessoas excluiacutedas digitalmente quando na verdade o acesso agrave

internet entre os negros e outras minorias varia bastante de acordo com a faixa de renda Portanto

conclui Warschauer a classificaccedilatildeo de grupos minoritaacuterios por estereoacutetipos pode levar a mais

estratificaccedilatildeo social visto que desencoraja provedores de conteuacutedo a focar nesses grupos

Conforme explicitado por DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo

fazendo e o que elas satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que

O mundo todo estaacute mesmo conectado

119

caracterizam a exclusatildeo digital medindo pelos nuacutemeros de acessos e quantidade de computadores

com internet nas residecircncias com o argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes

excluiacutedos passa pela qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Diante deste

cenaacuterio segundo DiMaggio e Hargittai (idem) surgiram novos tipos de desigualdades entre os usuaacuterios

da internet referindo cinco tipos

A primeira desigualdade citada pelos autores trata-se da variaccedilatildeo dos meios teacutecnicos (hardware

e conexotildees) pelo qual as pessoas acessam a web DiMaggio e Hargittai (idem) partem do pressuposto

de que os que possuem aparato teacutecnico inferior tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com

conexotildees lentas software e hardware antigos encontram dificuldades de acessar determinados sites e

tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a

usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias

A segunda desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz respeito a

que local e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Os autores argumentam que existe diferenccedila

em acessar a internet em casa ou fora de casa como acessar por exemplo no trabalho ou numa lan

house Se acessar fora de casa o usuaacuterio talvez precise deslocar longas distacircncias ou tem horaacuterio

reduzido para o acesso Se o acesso ocorre no trabalho pode haver uma filtragem ou monitoraccedilatildeo dos

sites acessados E mesmo em casa o acesso pode ser limitado pelas accedilotildees de outros membros da

famiacutelia

A terceira desigualdade apontada por DiMaggio e Hargittai eacute a habilidade teacutecnica para o uso

das tecnologias Para os autores os usuaacuterios da internet necessitam de pelo menos quatro

competecircncias teacutecnicas (1) como fazer o login (2) realizar buscas e fazer download de informaccedilotildees (3)

conhecimento teacutecnico sobre como a web funciona e (4) conhecimento teacutecnico sobre software e

hardware Estas habilidades estatildeo diretamente relacionadas com a capacidade dos indiviacuteduos de

utilizar a internet para os fins que eles escolhem

A desigualdade na disponibilidade de apoio social eacute apontada pelos autores como a quarta

variaacutevel que faz diferenccedila na experiecircncia com o uso da internet Indiviacuteduos que tecircm suporte e apoio

teacutecnico ao lidarem com computadores satildeo propensos a adquirirem mais habilidades e competecircncias

neste campo A assistecircncia pode ser formal (equipe de suporte em escritoacuterios laboratoacuterios ou escolas)

teacutecnica de amigos e familiares ou mesmo na forma de reforccedilo emocional de amigos que partilham

suas experiecircncias

O mundo todo estaacute mesmo conectado

120

Por fim a quinta desigualdade tratada pelos autores eacute em relaccedilatildeo agrave variaccedilatildeo dos fins do uso

da internet Do ponto de vista das poliacuteticas puacuteblicas nem todos os usos satildeo iguais DiMaggio e

Hargittai apontam objetivos diferenciados que podem ser determinantes na questatildeo da desigualdade

Alguns usuaacuterios da internet a utilizam para o aumento da sua produtividade econocircmica (aprender novo

idioma cursos de aperfeiccediloamento a distacircncia e acesso a sites de agecircncias de emprego) Outros

usuaacuterios usam a internet para enriquecer seu capital cultural ou social por exemplo usando a internet

para acompanhar as notiacutecias reunir informaccedilotildees relevantes para a tomada de decisatildeo eleitoral

aprender sobre questotildees puacuteblicas estabelecer um diaacutelogo ciacutevico ou participar ou organizar atividades

de movimentos sociais E tem aqueles usuaacuterios que navegam apenas para entretenimento Para

concluir os autores recomendam que as poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a inclusatildeo digital levem em

consideraccedilatildeo todas as variaacuteveis de desigualdade que determinam situaccedilotildees de exclusatildeo ou

marginalizaccedilatildeo quanto ao uso da internet

Retomando as questotildees que se levantam diante da penetraccedilatildeo da internet na vida social dos

indiviacuteduos satildeo quem tem realmente o acesso de qualidade agrave internet O que as pessoas estatildeo fazendo

e o que satildeo capazes de fazer quando estatildeo on-line Embora as tecnologias proporcionem a ampliaccedilatildeo

da capacidade de pensar e a precisatildeo das atividades humanas a disponibilidade do acesso a estas em

si natildeo garantem a facilidade do seu uso universal conforme os argumentos ja expostos neste capiacutetulo

Segundo Resnick (2002) mesmo que as pessoas em todos os lugares tenham acesso agraves tecnologias

digitais existe um risco real de que apenas um pequeno grupo seja capaz de usaacute-las fluentemente A

lacuna do acesso pode encolher mas a lacuna da fluecircncia tende a permanecer O autor compara a

fluecircncia tecnoloacutegica com a fluecircncia em determinado idioma natildeo se pode dizer que se eacute fluente na

liacutengua inglesa se sabemos apenas toacutepicos frasais eacute preciso ser capaz de articular uma ideia complexa

ou contar uma histoacuteria envolvente Assim reflete Resnick fluecircncia natildeo significa apenas acessar

informaccedilotildees na web mas criar seu proacuteprio conteuacutedo Assim natildeo se trata de apenas ler texto ou ver

viacutedeos mas gerar e compartilhar conhecimentos em comunidades de aprendizagem produzir editar e

publicar textos e viacutedeos na rede

Existem barreiras que dificultam o sujeito ao consumo e produccedilatildeo de conteuacutedos de maneira

criacutetica na sociedade em rede Holanda e DallrsquoAntonia (2006) formularam um modelo de barreiras agrave

inclusatildeo baseado na realidade brasileira identificada a partir do perfil socioeconocircmico cultural e

escolaridade No modelo a primeira barreira trata- do acesso a terminais e a web Para os autores as

barreiras tecnoloacutegicas da divisatildeo estatildeo fortemente ligadas com aspectos socioculturais da populaccedilatildeo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

121

da mesma forma que regiotildees de baixa renda satildeo fracamente ligadas a infraestrutura de

telecomunicaccedilotildees O fato de ampliaccedilatildeo da capacidade de rede de acesso chegando natildeo eacute suficiente

para paiacuteses com altas taxas de pobreza Um exemplo nesse caso eacute o Brasil segundo estudo realizado

pelo Comitecirc Gestor da internet no Brasil (CGIbr21) com dados de referecircncia de 2014 nos domiciacutelios

da classe A o acesso agrave internet encontrava-se praticamente universalizado enquanto

aproximadamente 30 milhotildees de domiciacutelios das classes C e DE estavam desconectados o que

representa quase metade do total de domiciacutelios brasileiros O estudo aponta tambeacutem uma penetraccedilatildeo

de computadores no domiciacutelios brasileiros desigualmente distribuiacuteda entre regiotildees geograacuteficas As

maiores proporccedilotildees de presenccedila de computadores nos domiciacutelios satildeo verificadas no Sudeste (59) e

no Sul (54) regiotildees mais desenvolvidas do paiacutes Enquanto nas regiotildees Centro-Oeste Nordeste e

Norte essas proporccedilotildees satildeo de 44 38 e 30 respectivamente sendo estas as regiotildees menos

favorecidas economicamente A mesma pesquisa tambeacutem inferiou os motivos pelos quais parte dos

domiciacutelios brasileiros natildeo tinham acesso agrave internet O motivo prepoderante foi o custo elevado dos

serviccedilos (60) seguido da falta de interesse dos moradores (51) e da falta de computador no

domiciacutelio (50) Em algumas regiotildees mais carentes como a Regiatildeo Norte outra barreira apontada foi o

serviccedilo natildeo disponiacutevel (57) e entre os domiacutecilio de aacuterea rural desta regiatildeo um porcentual de 53

tambeacutem declaram que o serviccedilo de internet natildeo estava disponiacutevel para contrataccedilatildeo

O cenaacuterio brasileiro vislumbra um alto iacutendice de desigualdade de renda Enquanto os 5 mais

ricos possuem 28 da renda bruta do paiacutes os 20 mais pobres tecircm apenas 35 de direitos liquidos22

O problema da concentraccedilatildeo de propriedade e de uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

tambeacutem constitui uma lamentaacutevel realidade De acordo com o Mapeamento da Miacutedia Digital no Brasil

(Mizukami Reia e Varon 2014) apesar de 40 dos domiciacutelios brasileiros terem acesso agrave internet em

2012 a exclusatildeo era ldquogritanterdquo principalmente nas classes com menos poder aquisitivo e nas

residecircncias nas aacutereas rurais em que apenas 10 dos domiciacutelios estavam conectados Na anaacutelise de

Horta (2007 p 5) essa desigualdade eacute uma tendecircncia em diferentes paiacuteses

Ainda que o acesso telemaacutetico jaacute ocupe uma funccedilatildeo infra-estrutural ao possibilitar o desenvolvimento da ldquosociedade da informaccedilatildeordquo ele seraacute diferenciado de regiatildeo para regiatildeo em um mesmo paiacutes e de paiacutes para paiacutes de acordo com o niacutevel de desenvolvimento alcanccedilado por cada um ateacute este momento

21 Disponiacutevel em httpwwwcgibrmediadocspublicacoes2TIC_Dom_2015_LIVRO_ELETRONICOpdf Acesso em 16 de out 2015 22 Relatoacuterio sobre a distribuiccedilatildeo de renda e da riqueza da populaccedilatildeo brasileira Disponiacutevel em httpwwwfazendagovbrcentrais-de-conteudospublicacoestransparencia-fiscaldistribuicao-renda-e-riquezarelatorio-distribuicao-da-renda-2016-05-09pdf Acesso em 22 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

122

Neste sentido a autora conclui que na exclusatildeo digital assim como a desigualdade social

trata-se de uma questatildeo estrutural da sociedade A combinaccedilatildeo ldquopaiacutes de baixa rendardquo mais ldquorestriccedilatildeo

de acesso digitalrdquo somado com ldquobaixo niacutevel de escolaridaderdquo resulta no impedimento do avanccedilo das

poliacuteticas de inclusatildeo digital no Brasil Todos estes fatores corroboram para que coexistam cidadatildeos

com acesso amplo agraves tecnologias e em vantagem econocircmica social e cultural em contraponto com

cidadatildeos com pouco ou nenhum acesso agraves miacutedias em seacuterias desvantagens

A segunda barreira para a inclusatildeo de acordo com Holanda e DallrsquoAntonia (2006) eacute a

acessibilidade e a usabilidade Em estudo realizado pelos autores no Brasil cerca de 25 milhotildees de

pessoas apresentam alguma deficiecircncia fiacutesica mental ou sensorial Este puacuteblico exige soluccedilotildees

especiacuteficas de acessibilidade para usarem com efetividade artefatos tecnoloacutegicos o que em geral natildeo

ocorre

A terceira barreira trata da inteligibilidade Esta se relaciona com a falta de habilidades para o

uso das tecnologias e com a escassez de conteuacutedo de linguagem compreensiacutevel para pessoas

ldquoanalfabetas funcionais23rdquoPara estas pessoas o mais importante natildeo eacute a disponibilidade do dispositivo

de computaccedilatildeo ou a linha de internet mas as habilidades e competecircncias para fazer uso destes

dispositivos em torno de praacuteticas sociais significativas Logo o sujeito que natildeo sabe ler nunca

aprendeu a usar um computador ou ainda natildeo sabe qualquer um dos principais idiomas que

dominam os conteuacutedos da internet vai ter dificuldade ateacute mesmo de ficar on-line e natildeo poderaacute usar a

internet de forma produtiva (Warschauer 2002)

Alguns estudos revelam que a exclusatildeo digital enquanto fenocircmeno da sociedade da

informaccedilatildeo estaacute se aprofundando e predispotildee a se tornar um ciacuterculo vicioso Dijk (2005) considera

que eacute fundamental superar o determinismo tecnoloacutegico que deposita na tecnologia todos os possiacuteveis

avanccedilos da sociedade Assim como a chegada da TV e do raacutedio no seu tempo natildeo superaram a

desigualdade da informaccedilatildeo a internet por si soacute natildeo o faraacute Para o autor a desigualdade da

informaccedilatildeo e do uso das tecnologias digitais eacute um subconjunto da desigualdade social da sociedade

Nesta perspectiva os grupos que teriam uma relaccedilatildeo de distinccedilatildeo entre si seriam ricos e pobres

homens e mulheres brancos e pretos cidadatildeos e imigrantes empregador e empregado (ou

desempregados) pessoas com alto niacutevel de formaccedilatildeo e analfabetas funcionais e outros grupos sociais

23 Uma definiccedilatildeo adotada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) e aceita pela UNESCO eacute a de que analfabetos funcionais satildeo pessoas agraves quais falta domiacutenio de habilidades em leitura escrita caacutelculos e ciecircncias correspondentes a uma escolaridade de ateacute 3 seacuteries completas do ensino fundamental ou antigo primaacuterio ou seja menos de 4 anos de estudo (RIBEIRO et al 2011 p 4)

O mundo todo estaacute mesmo conectado

123

com caracteriacutesticas antagocircnicas O circulo vicioso da desigualdade eacute portanto descrito por Dijk (2005

p 15)

- Desigualdades categoriais na sociedade produzem uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos - Uma distribuiccedilatildeo desigual de recursos causa acesso desigual a tecnologias digitais - Acesso desigual a tecnologias digitais tambeacutem depende de caracteriacutesticas dessas tecnologias - Acesso desigual a tecnologias digitais traz consigo participaccedilatildeo desigual na sociedade - Participaccedilatildeo desigual na sociedade reforccedila desigualdades categoriais e distribuiccedilotildees desiguais de recursos

Assim a expansatildeo da globalizaccedilatildeo e o fortalecimento do capitalismo contribuem para o

aumento das desigualdades sociais e econocircmicas principalmente nos paiacuteses em desenvolvimento A

introduccedilatildeo das tecnologias no sistema bancaacuterio no Brasil ilustra esta situaccedilatildeo do ciacuterculo vicioso da

exclusatildeo Com o sistema do banco informatizado milhares de empregados bancaacuterios perderam seu

emprego ou tiveram de adaptar a um niacutevel maior de responsabilidade para permanecerem nos cargos

O mesmo aconteceu com a informatizaccedilatildeo dos ocircnibus de transportes urbanos setores da induacutestria e

do agronegoacutecio Neste sentido a luta contra a exclusatildeo digital eacute uma das muitas dimensotildees da luta

contra a pobreza e a desigualdade social Consideremos no ponto seguinte um retrato sinoacuteptico do

cenaacuterio do fosso digital no Brasil e no mundo

26 O fosso digital no cenaacuterio mundial e no Brasil

A Cuacutepula do Milecircnio organizada pela Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas (ONU) e realizada em 2000

na cidade de Nova York reuniu 191 liacutederes governamentais do mundo todo com o objetivo de

debaterem sobre os principais problemas que afetam o mundo no novo milecircnio Como resultado dos

debates realizados durante esse evento foram estabelecidos os ldquoObjetivos de Desenvolvimento do

Milecircniordquo (ODM) em que os presidentes participantes se comprometeram a colocar em praacutetica accedilotildees

para que tais objetivos fossem alcanccedilados ateacute ao ano de 2015 De entre esses objetivos constava na

agenda a erradicaccedilatildeo da miseacuteria e da pobreza Assegurar os benefiacutecios das tecnologias de informaccedilatildeo

e comunicaccedilatildeo a todos foi designada como uma das metas para a erradicaccedilatildeo da pobreza Em 2003

a ONU realizou em Genebra a Cuacutepula Mundial sobre a Sociedade da Informaccedilatildeo (CMSI) cuja meta

principal era diminuir a chamada exclusatildeo digital atraveacutes da ampliaccedilatildeo do acesso da internet para os

paiacuteses em desenvolvimento A International Telecommunication Union (ITU) agecircncia especializada das

O mundo todo estaacute mesmo conectado

124

Naccedilotildees Unidas para a tecnologia da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo elaborou um plano de accedilatildeo24 com o

objetivo de atingir a meta de promover o acesso agraves redes de internet a pelo menos metade da

populaccedilatildeo mundial ateacute 2015 As metas propostas de acordo com o plano eram

a Conectar aldeias com as TIC e estabelecer pontos de acesso comunitaacuterio b Conectar universidades faculdades escolas secundaacuterias e escolas primaacuterias com as TIC c Ligar os centros cientiacuteficos e de investigaccedilatildeo com as TIC d Conectar as bibliotecas puacuteblicas centros culturais museus estaccedilotildees de correios e arquivos com as TIC e Ligar centros de sauacutede e hospitais com as TIC f Interligar todos os departamentos do governo local e central e estabelecer sites e endereccedilos de e-mail g A adaptaccedilatildeo de todos os curriacuteculos do ensino primaacuterio e secundaacuterio para enfrentar os desafios da sociedade da informaccedilatildeo tendo em conta as circunstacircncias nacionais h Garantir que toda a populaccedilatildeo do mundo tenha acesso a serviccedilos de televisatildeo e raacutedio i Incentivar o desenvolvimento de conteuacutedos e de pocircr em praacutetica as condiccedilotildees teacutecnicas a fim de facilitar a presenccedila e utilizaccedilatildeo de todas as liacutenguas do mundo na internet j Garantir que mais de metade dos habitantes do mundo tenham acesso agraves TIC

O destaque segundo o documento era dar prioridade aos paiacuteses em desenvolvimento e aos

povos e etnias considerados minorias De acordo com o relatoacuterio da ICT intitulado ICT Facts and

Figures ndash The world in 201525middot neste ano de 2015 os governos estavam a fazer a avaliaccedilatildeo final dos

ldquoObjetivos de Desenvolvimento do Mileacutenio das Naccedilotildees Unidasrdquo (ODM) acordados em 2000 na

Cuacutepula do Milecircnio No prefaacutecio do relatoacuterio Brahima Sanou Diretor da ITU observa que ao longo dos

uacuteltimos 15 anos ocorreu uma revoluccedilatildeo das TDIC que tem impulsionado o desenvolvimento global de

uma forma sem precedentes O progresso tecnoloacutegico a implantaccedilatildeo de infraestrutura e a queda dos

preccedilos trouxe crescimento inesperado nas tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo proporcionando o

acesso e a conectividade para bilhotildees de pessoas ao redor do mundo A telefonia moacutevel eacute outro destaque

do relatoacuterio em 2015 referindo-se que o nuacutemero de assinaturas em todo mundo ultrapassa 7 bilhotildees

Outro segmento do mercado apontado pelo relatoacuterio como dinacircmico eacute a banda larga moacutevel com penetraccedilatildeo

global de 47 em 2015 um valor que aumentou 12 vezes desde 2007 Globalmente 32 bilhotildees de

pessoas estatildeo usando a internet dos quais 2 bilhotildees satildeo de paiacuteses em desenvolvimento

24 Disponiacutevel em lt httpwwwituintnetwsisdocsgenevaofficialpoahtml gt Acesso em 20 dez 2015 25 Relatoacuterio disponiacutevel em lt httpwwwituintenITU-DStatisticsDocumentsfactsICTFactsFigures2015pdfgt Acesso em 19 out 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

125

Poreacutem o relatoacuterio apresenta um quadro representativo das lacunas relacionada ao acesso agraves redes

ainda existentes entre os paiacuteses desenvolvidos paiacuteses em desenvolvimento e os paiacuteses com

desenvolvimento miacutenimo apresentados pela sigla LDCs

Quadro 4 - Evoluccedilatildeo do acesso agrave internet no mundo entre 2000 e 2015

Fonte Relatoacuterio ICT -2015

O quadro mostra um ciclo evolutivo no periacuteodo de 2000 a 2015 em que houve um salto significativo

de 400 milhotildees de usuaacuterios em 2000 para 32 bilhotildees em 2015 No primeiro periacuteodo a penetraccedilatildeo da

internet nos paiacuteses em desenvolvimento era de 100 milhotildees de usuaacuterios em comparaccedilatildeo com 300 milhotildees

nos paiacuteses desenvolvidos Em 2015 apesar da elevada penetraccedilatildeo da internet nos paiacuteses em

desenvolvimento eles concentram o maior nuacutemero de pessoas off-line cerca de 4 bilhotildees de usuaacuterios natildeo

tecircm acesso regular agrave rede Nestes paiacuteses apenas 7 dos domiciacutelios tecircm acesso a internet em comparaccedilatildeo

com a meacutedia mundial de 46 O relatoacuterio cita a Aacutefrica em que uma em cada cinco pessoas usa a internet

em comparaccedilatildeo com quase duas em cinco dos continentes da Aacutesia e Paciacutefico e trecircs em cada cinco pessoas

nos paiacuteses desenvolvidos Esses nuacutemeros mostram que uma fatia significante da populaccedilatildeo mundial

sobretudo nos paiacuteses menos desenvolvidos estaacute desconectada marginalizada ou fora da rede

O mesmo relatoacuterio afirma que nos paiacuteses menos desenvolvidos apenas uma em cada dez pessoas

fica on-line O fosso digital na questatildeo de gecircnero tambeacutem apresenta disparidade maior quantidade de

homens acessam a internet O relatoacuterio conclui que capacitar as pessoas atraveacutes do acesso agrave banda larga

exige muito mais do que infraestrutura mas o melhor uso possiacutevel das ferramentas disponiacuteveis Cita por

exemplo que dentre os quatro bilhotildees de pessoas que natildeo estatildeo on-line pode ser por natildeo compreenderem o

O mundo todo estaacute mesmo conectado

126

potencial da internet ou natildeo encontre conteuacutedo uacutetil no seu idioma nativo Conclui portanto que o momento eacute

mais importante do que nunca para que os paiacuteses em desenvolvimento priorizem o aprimoramento digital

com fins de melhorar sua competividade nacional e beneficiar os cidadatildeos com o potencial que a internet

proporciona

No Brasil este cenaacuterio eacute uma realidade Para o efeito vamos utilizar os dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacuteticas (IBGE) publicado no relatoacuterio intitulado Pesquisa Nacional por

Amostra de Domiciacutelios (Pnad26) Acesso agrave internet e posse de telefone moacutevel celular para uso pessoal

dos brasileiros (IBGE 2015) cuja pesquisa por amostragem de domiciacutelios foi realizada em todo

territoacuterio nacional no periacuteodo de 2013 Com relaccedilatildeo agrave utilizaccedilatildeo da internet pelos brasileiros o estudo

revelou que devido agrave ampliaccedilatildeo dos tipos de aparelhos que acessam a rede (microcomputador

telefone moacutevel tablet e outros) estimou-se que 856 milhotildees (499 da populaccedilatildeo) do contigente de

pessoas de 10 anos ou mais de idade utilizaram a internet pelo menos uma vez dentro de trecircs meses

do periacuteodo de referecircncia da pesquisa

Graacutefico 1 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet por meio de microcomputador e somente por outros equipamentos no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade -

Brasil - 20052013

Fonte IBGE (2015) Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 20052013

O graacutefico mostra um aumento de quase 30 de utilizaccedilatildeo da internet no periacuteodo de oito anos

No ultimo periacuteodo a utilizaccedilatildeo de outros dispositivos com acesso a internet foram utilizados por mais 26 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (Pnad) se trata de um levantamento estatiacutestico sobre a populaccedilatildeo brasileira que visa suprir a falta de informaccedilotildees sobre a mesma durante o periacuteodo intercensitaacuterio e ampliar os temas pouco abordados no Censo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

127

de 4 da populaccedilatildeo da amostra O estudo revelou que a utilizaccedilatildeo da internet eacute desigual nas diferentes

regiotildees brasileiras As regiotildees Sul Sudeste e Centro-Oeste mais desenvolvidas satildeo as que mais

utilizam a internet nos computadores de mesa (531 50 e 543 respectivamente) Um aspecto a

assinalar eacute que na regiatildeo Norte um amplo nuacutemero de usuaacuterios (87) utiliza a internet nos dispositivos

moacuteveis como tablets e celulares Por se tratar de uma regiatildeo em que muitas vezes o acesso mais

tradicional seja por fibra ou ADSL natildeo alcanccedila a telefonia moacutevel acaba sendo a uacutenica alternativa de

conexatildeo mesmo que em geral tenha um fraco sinal

No que se refere ao tipo de conexatildeo o estudo do IBGE constatou que dos 312 milhotildees de

domiciacutelios com utilizaccedilatildeo de internet em 2013 23 (725 mil) possuiacuteam exclusivamente a conexatildeo

discada e 977 (305 milhotildees) utilizavam a conexatildeo em banda larga sendo que 771 (241

milhotildees) usavam os serviccedilos da banda larga fixa e 435 (136 milhotildees) conectavam utilizando a

banda larga moacutevel Em 230 (72milhotildees) dos domiciacutelios existiam as duas modalidades de conexatildeo

Sobre a presenccedila de tablets (dispositivos moacuteveis) no cotidiano das pessoas a pesquisa revela que em

71 milhotildees (108) dos 651 milhotildees de domiciacutelios particulares permanentes do Paiacutes havia um

aparelho Mais da metade destes (39 milhotildees) estatildeo concentrados na Regiatildeo Sudeste (mais

desenvolvida) Na Regiatildeo Norte os Estados do Piauiacute (50) Maranhatildeo (49) e Rondocircnia (48)

regiotildees mais pobres do Brasil concentram os menores iacutendices de aquisiccedilatildeo dos tablets A renda

econocircmica das famiacutelias constitui um fator de peso quando se trata de adquirir equipamentos com

acesso a internet A pesquisa revela que os domiciacutelios que possuiacuteam tablets e microcomputadores satildeo

aqueles cuja renda meacutedia mensal per capita era de R$ 157200 por outro lado nos domiciacutelios que

natildeo tinham esses aparelhos a renda meacutedia era de R$ 68700 Estes dados corroboram com a

afirmaccedilatildeo de Sorj (2008) de que os mais altos niacuteveis de exclusatildeo digital satildeo encontrados nas famiacutelias

de baixa renda

A anaacutelise por gecircnero da pesquisa do IBGE mostrou que natildeo existe uma diferenccedila significativa

entre homens (493) e mulheres (495) que usavam a internet no Brasil em 2013 Na distribuiccedilatildeo

etaacuteria constatou-se um decliacutenio de uso a medida que a idade avanccedila Nos grupos de pessoas de 15 a

17 anos a maior proporccedilatildeo alcanccedila 757 na faixa dos 10 a 39 anos o uso da internet ultrapassava

50 e na faixa dos 60 anos ou mais o porcentual cai para 126 No tocante agrave escolaridade observa-

se uma proporccedilatildeo crescente aos mais escolarizados O relatoacuterio diz

Para as pessoas com ateacute 7 anos de estudo o porcentual era inferior ao total nacional (494) enquanto para aquelas com 8 anos ou mais de estudo a

O mundo todo estaacute mesmo conectado

128

proporccedilatildeo era maior O maior porcentual foi observado na populaccedilatildeo com 15 anos ou mais de estudo (898) (IBGE 2015 p 40)

Pipa Norris (2001) em estudos realizados nos paiacuteses norte-americanos constatou que trecircs

quartos de todos os graduados em universidades usam a internet em comparaccedilatildeo com menos de um

quinto dos que natildeo conseguiram concluir o ensino meacutedio

Sobre a ocupaccedilatildeo das pessoas que utilizavam a internet em 2013 de acordo com os

grupamentos ocupacionais o relatoacuterio do IBGE (2015 p 41) constatou que os profissionais das

ciecircncias e das artes apresentaram o maior porcentual de pessoas que utilizavam a internet (913)

seguidos pelos grupamentos dos membros das forccedilas armadas e auxiliares (889) dos trabalhadores

dos serviccedilos administrativos (855) dos dirigentes em geral (835) e dos teacutecnicos de niacutevel meacutedio

(821) Em relaccedilatildeo aos grupamentos de atividade as pessoas ocupadas em ldquoOutras atividadesrdquo

(819) e em Educaccedilatildeo Sauacutede e Serviccedilos Sociais (815) apresentavam as maiores proporccedilotildees

enquanto na Atividade Agriacutecola (114) Serviccedilos Domeacutesticos (283) e Construccedilatildeo (346) menos da

metade das pessoas ocupadas utilizavam a Internet em 2013

No que diz respeito agrave relaccedilatildeo entre o uso da internet e a renda econocircmica das famiacutelias a

pesquisa do IBGE revelou que a proporccedilatildeo de pessoas que utilizavam internet era crescente conforme

aumentava a classe de rendimento mensal domiciliar per capita Em 2013 como eacute possiacutevel visualizar

no graacutefico 2 o maior porcentual (899) foi observado na classe de mais de 10 salaacuterios miacutenimos

enquanto o menor (239) na classe sem rendimento a frac14 do salaacuterio miacutenimo

O mundo todo estaacute mesmo conectado

129

Graacutefico 2 - Porcentual de pessoas que utilizaram a internet no periacuteodo de referecircncia dos uacuteltimos trecircs meses na populaccedilatildeo de 10 anos ou mais de idade segundo as classes de rendimento mensal domiciliar per capita - Brasil

ndash 2013

Fonte IBGE Diretoria de Pesquisas Coordenaccedilatildeo de Trabalho e Rendimento Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013

A pesquisa ldquoTIC Domiciacuteliosrdquo realizada pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias de

Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo (CETICbr) com o objetivo de medir o acesso e os usos da populaccedilatildeo

brasileira em relaccedilatildeo agraves tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no periacuteodo de outubro de 2014 a

marccedilo de 2015 numa proporccedilatildeo menor que o estudo do IBGE apresenta dados que corroboram com

o aumento da penetraccedilatildeo da internet nos lares brasileiros A partir da base total de domiciacutelios

brasileiros 64 milhotildees a pesquisa CETIC constatou por amostragem que 322 milhotildees de domiciacutelios

possuem conexatildeo agrave internet e 54 destes estatildeo na aacuterea urbana Dos 942 milhotildees de usuaacuterios de

internet 19 o fazem apenas do telefone celular 23 apenas do computador e 56 usam ambos Do

universo de 1482 milhotildees de usuaacuterios de aparelhos celulares no Brasil 815 acessaram a internet

dos seus dispositivos em 2014 Na questatildeo da renda a pesquisa CETIC usa a classificaccedilatildeo por classes

sociais27 e constata que na classe A cerca de 96 satildeo usuaacuterios da internet e no outro extremo na

classe E apenas 21 tecircm acesso agraves redes

Estes dados mostram que existem clivagens digitais geradas como um subproduto de velhas

desigualdades sociais (Dijk 2005) Estas desigualdades soacute poderatildeo ser amenizadas quando os

gestores puacuteblicos compreenderem que ldquoincluir digitalmenterdquo natildeo se trata de inserir um indiviacuteduo num

determinado espaccedilo com computadores e acesso agrave internet senatildeo bastaria criar telecentros e

27 Segundo a Fundaccedilatildeo Getulio Vargas as classes satildeo definidas de acordo com a sua renda familiar Classe A Acima de R$974500 Classe B de R$747500 a R$974500 Classe C de R$1734 a R$747500 Classe D de R$108500 a R$173400 Classe E de R$000 a de R$108500

Disponiacutevel em httpcpsfgvbrnode3999 Acesso em 07 nov 2015

O mundo todo estaacute mesmo conectado

130

laboratoacuterios de informaacutetica em vaacuterias partes das cidades Assim como colocar um analfabeto numa

biblioteca natildeo o faraacute obter o conhecimento apenas por ter acesso a livros inserir o marginalizado

digitalmente na sociedade em rede requer poliacuteticas publicas que contemplem as questotildees de conteuacutedo

de interesse idioma do usuaacuterio educaccedilatildeo literacia ou recursos comunitaacuterios que decircem respaldo e

suporte para a emancipaccedilatildeo do individuo

2 7 Inclusatildeo digital educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo

Diante do exposto nesse capiacutetulo sobre o cenaacuterio da exclusatildeo digital no Brasil e no mundo os

niacuteveis de desigualdades e barreiras para a inclusatildeo percebe-se o perigo da subclasse de ldquoinfo-pobresrdquo

ficarem ainda mais marginalizados nas sociedades onde as habilidades baacutesicas do computador estatildeo

se tornando essencial para o sucesso econocircmico promoccedilatildeo pessoal entrada para boa carreira

oportunidades educacionais e oportunidades para engajamento ciacutevico (Norris 2001) Assim Leacutevy

(1999 p 238) afirma que natildeo basta colocar o usuaacuterio diante de uma tela de computador em frente a

interfaces amigaacuteveis eacute preciso promover condiccedilotildees para que este cidadatildeo seja capaz de participar

ativamente nos processos de inteligecircncia coletiva presentes no ciberespaccedilo O autor conclui

Em outras palavras na perspectiva da cibercultura assim como nas abordagens mais claacutessicas as poliacuteticas voluntaristas de luta contra as desigualdades e a exclusatildeo devem visar o ganho em autonomia das pessoas ou grupos envolvidos Devem em contrapartida evitar o surgimento de novas dependecircncias provocadas pelo consumo de informaccedilotildees ou de serviccedilos de comunicaccedilatildeo concebidos e produzidos em uma oacuteptica puramente comercial ou imperial e que tecircm como efeito muitas vezes desqualificar os saberes e as competecircncias tradicionais dos grupos sociais e das regiotildees desfavorecidas

A autonomia ou emancipaccedilatildeo digital eacute defendida por outros autores como a capacidade dos

indiviacuteduos de formarem redes conectando espaccedilos de aprendizado e construccedilatildeo colaborativa de

conhecimentos que ampliam suas oportunidades de emprego e renda possibilitando maior capacidade

de mobilizaccedilatildeo social e participaccedilatildeo ativa em todas as instacircncias (Schwartz 2006 Borges 2012)

De acordo com Warschauer (2006) apenas as classes meacutedias e altas dos paiacuteses ricos e

desenvolvidos e a elite dos paiacuteses pobres foram capazes de beneficiarem da revoluccedilatildeo das tecnologias

o que gerou um crescimento desproporcional e desigual em ambas agraves categorias O autor propotildee

portanto a interseccedilatildeo entre as TDIC e a inclusatildeo social Assim a inserccedilatildeo dos indiviacuteduos na rede seria

para aleacutem dos benefiacutecios econocircmicos englobaria todos os aspectos cotidianos educaccedilatildeo poliacutetica

cultura entretenimento e viacutenculos sociais A integraccedilatildeo social da tecnologia proposta por Warschauer

O mundo todo estaacute mesmo conectado

131

vai aleacutem da questatildeo de prover o acesso a internet agraves pessoas trata-se mais do empoderamento do

capital social dos indiviacuteduos ou seja prover meios para que os usuaacuterios da internet obtenham

habilidades para localizar avaliar armazenar usar as informaccedilotildees encontradas na rede

transformando-as em conhecimento para beneficio proacuteprio

Segundo Demo (2007) as sociedades capitalistas tendem a ldquocolocar agrave margem grandes

maioriasrdquo que servindo aos privileacutegios de poucos da elite constroem contextos de sobrevivecircncia numa

forma miacutenima de acesso aos bens de consumo e das tecnologias Neste cenaacuterio as oportunidades e a

melhoria de qualidade de vida satildeo definidas a partir do acesso ao conhecimento e das competecircncias

de manejo das plataformas tecnoloacutegicas Para o autor estes excluiacutedos ou marginalizados satildeo

necessaacuterios para o sistema capitalista e natildeo eacute por acaso que permanecem nessa situaccedilatildeo satildeo a base

da produccedilatildeo de bens e serviccedilos para a elite Demo (2005) cita o exemplo da introduccedilatildeo de

computadores nas escolas os alunos pobres que natildeo possuem computador em casa satildeo incluiacutedos ateacute

certo ponto no entanto o autor considera esta inclusatildeo mero ldquoefeito de poderrdquo agrave medida que se

reserva aos alunos ldquoequipamentos sucatados cursos precaacuterios ambientes improvisados treinamentos

encurtados programas baratosrdquo(idem p 37) Neste caso mesmo com o acesso o autor conclui que

se a escola persistir em continuar com as formas tradicionais de pedagogia o aluno sofre outra

discriminaccedilatildeo digital o analfabetismo digital Embora acesse as redes este aluno natildeo saberaacute

compreender interpretar ou reconstruir o conhecimento

O educador Paulo Freire escreveu ldquoa primeira condiccedilatildeo para que um ser possa assumir um ato

comprometido estaacute em ser capaz de agir e refletirrdquo (Freire 1983 p 16) Assim no acircmbito do uso da

internet este se tornaraacute socialmente vaacutelido apenas se forem construiacutedas relaccedilotildees cognitivas e sociais

do interesse do usuaacuterio O uso descontextualizado das tecnologias como instrumento de pesquisa

desprovido de um objetivo transferido de ldquocima para baixordquo na hierarquia escolar natildeo constitui um

meio eficaz para a inclusatildeo sociodigital do aluno Programas vendidos agraves escolas como ldquopacotes

educacionaisrdquo voltados a puacuteblicos especiacuteficos podem constituir apenas um aprimoramento do

instrucionismo com testes de muacuteltiplas escolhas sem possibilitar ao estudante uma reflexatildeo teoacuterica

mais aprofundada nos estudos O computador visto nas escolas como ldquomaacutequina de ensinarrdquo usado

como editor de textos colagens de figuras e pesquisas sem olhar criacutetico vem a ser um mero reprodutor

do ensino instrucionista com uma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais (quadro

livros cadernos) que servem para transmitir o conhecimento (Papert 1993) Assim projetos de

inclusatildeo digital nas escolas ou espaccedilos comunitaacuterios que visam o acesso agraves maquinas desprovidos de

O mundo todo estaacute mesmo conectado

132

um acompanhamento pedagoacutegico sem levar em conta o contexto social econocircmico e cultural dos

usuaacuterios tendem a natildeo atender agrave demanda dos que realmente estatildeo marginalizados do sistema

Neste sentido Warschauer (2002) cita o exemplo de um projeto de inclusatildeo digital

implementado em Nova Deli na Iacutendia A ideia do projeto era fornecer acesso a computadores para as

crianccedilas de rua da cidade Foi disponibilizado um quiosque em que os computadores estavam dentro

de uma cabine Os monitores se projetavam atraveacutes dos buracos nas paredes e joysticks e bototildees

substituiacuteam os mouses e teclados Um voluntaacuterio dentro da cabine mantinha os computadores

conectados agrave internet Segundo Warschauer natildeo havia professores ou instrutores para orientar em

nenhum momento as crianccedilas que utilizavam o terminal a proposta era permitir o acesso ao terminal

24 horas e que estas aprendessem no seu ritmo e velocidade sem amarras ou diretrizes As crianccedilas

comeccedilaram a fazer algumas atividades baacutesicas com os computadores como arrastar objetos copiar e

colar pintar entrar na internet mudar o papel de paredes e outras baacutesicas A princiacutepio o programa foi

saudado pelos funcionaacuterios do governo como inovador por oferecer agraves populaccedilotildees pobres da Iacutendia o

acesso ao computador com internet Entretanto Warschauer afirma que em visitas ao quiosque

percebeu uma realidade diferente o acesso agrave internet natildeo era uacutetil porque quase natildeo funcionava por

causa da conexatildeo ruim natildeo existia nenhum programa de educaccedilatildeo especiacutefico para as crianccedilas e natildeo

havia conteuacutedo disponibilizado no idioma hindi uacutenica linguagem que as crianccedilas conheciam Natildeo

houve engajamento da comunidade ateacute porque este natildeo foi solicitado alguns pais se manifestaram

contra o projeto se queixando que os filhos passavam a maior parte do tempo jogando no quiosque em

prejuiacutezo das atividades escolares O autor concluiu que na praacutetica o projeto que propunha uma

educaccedilatildeo minimamente evasiva foi no miacutenimo ineficaz

Ao citar o exemplo deste projeto Warschauer (2002) argumentava que para se promover a

reinserccedilatildeo dos marginalizados digitalmente o foco natildeo deve ser na tecnologia mas na transformaccedilatildeo

social que pode acontecer com pessoas que tirem proveito das informaccedilotildees contidas nas redes Para

Neri (2012) que realizou a pesquisa Mapa da Exclusatildeo digital no Brasil a inclusatildeo digital representa

ldquoum canal privilegiado para equalizaccedilatildeo de oportunidades da nossa desigual sociedade em plena era

do conhecimentordquo (p6) Segundo o autor a inclusatildeo digital estaacute cada vez mais relacionada com a

cidadania e da inclusatildeo social desde o apertar do voto das urnas eletrocircnicas aos cartotildees eletrocircnicos do

Programa Bolsa-Escola passando pelo contato inicial do jovem ao computador como passaporte ao

primeiro emprego

O mundo todo estaacute mesmo conectado

133

Embora estejamos cercados de jovens caracterizados como ldquonativos digitaisrdquo por terem

crescido em um mundo digital e estatildeo desde sempre familiarizados com as parafernaacutelias das TDIC

Lage e Dias (2012) analisam que existe uma supervalorizaccedilatildeo por parte de alguns pesquisadores e da

proacutepria sociedade sobre as competecircncias de informaccedilatildeo destes jovens tambeacutem chamados de ldquogeraccedilatildeo

Googlerdquo As autoras analisam que em geral os mais jovens embora tenham habilidades teacutecnicas com

o uso dos dispositivos tecnoloacutegicos tem dependecircncia de motores de pesquisa e possuem ldquopouca

capacidade analiacutetica e criacutetica na avaliaccedilatildeo das fontes de informaccedilatildeordquo Citando estudos na aacuterea Lage e

Dias (idem p 7) discorrem sobre as caracteriacutesticas destes jovens

Os estudantes natildeo valorizam suficientemente as questotildees de relevacircncia e pertinecircncia da fonte mesmo no ensino superior selecionando na sua maioria as primeiras soluccedilotildees apresentadas tendo preferecircncia em textos resumidos Preferem utilizar plataformas interativas de informaccedilatildeo em vez de consumo passivo dos dados e utilizam com frequecircncia o ldquocopypasterdquo sem referenciar as fontes revelando alguma incapacidade em interpretar corretamente referecircncias bibliograacuteficas

Portanto eacute precipitado presumir que o jovem conectado na internet atraveacutes de tablets

smartphones notebook ou outros dispositivos sejam ldquonativosrdquo ldquoresidentesrdquo geraccedilatildeo XYZ e possuam

habilidades excepcionais no uso das TIC Segundo Demo (2011) pode soar estranho mas ainda existe

estudantes conservadores que transitam entre os meios formais e informais de fonte de informaccedilotildees

Estudo realizado com estudantes portugueses comprovou que a internet natildeo interfere na importacircncia

que o jovem daacute ao livro antes ela eacute um complemento para potencializar sua aprendizagem (Silva e

Pereira 2011) Neste sentido inferimos que pessoas mesmo com acesso a internet com alguma

habilidade instrumental mas que natildeo possuam habilidades e competecircncias cognitivas e criacuteticas para

usa-la podem se encontrar marginalizadas ou sem capacidade de usar as informaccedilotildees da rede para

benefiacutecio profissional cultural ou social

Pedro Demo (2011) faz uma anaacutelise criacutetica sobre a elevada euforia em torno da chamada

geraccedilatildeo internet que se apresenta quase como ldquouma nova espeacutecierdquo como se todos os jovens fossem

usuaacuterios haacutebeis das tecnologias Um dos fatores que o autor aponta que deve ser levado em conta ao

fazer tal anaacutelise eacute o iacutendice elevado de pessoas que natildeo tem nenhum acesso a internet ndash estatildeo

excluiacutedas digitalmente Onde essas pessoas se enquadrariam nas analogias e roacutetulos estereotipados

pregados por alguns autores Na versatildeo de Presnky que usa a analogia da linguagem seriam

ldquoanalfabetosrdquo digitais ou poderiacuteamos chama-los de ldquoinativosrdquo digitais Na analogia do tempo e espaccedilo

de White seriam eles chamados de ldquoforasteirosrdquo (o que estaacute de fora) No conceito sobre as Geraccedilotildees

X Y e Z que letra seria apropriada para descrever aqueles que independente da data de nascimento

O mundo todo estaacute mesmo conectado

134

nunca tiveram oportunidade de acessar a internet seja por morar numa regiatildeo remota ou viver em

situaccedilatildeo de absoluta miseacuteria ou mesmo porque natildeo teve oportunidade

A analogia do ldquoforasteirordquo nos parece apropriada Segundo o dicionaacuterio Aureacutelio forasteiro

significa que estaacute de fora peregrino estranho Trazendo esta analogia para o campo das tecnologias

encontrariacuteamos muitos forasteiros alheios e sem acesso ao menos a um computador ou celular com

internet Este grupo estaacute nas estatiacutesticas da ldquoexclusatildeo sociodigitalrdquo Como forasteiros sem condiccedilotildees

de acesso agraves TIC perambulam em busca de informaccedilotildees e vantagens que apenas aqueles

privilegiados possuem (Alves 2014) No caso do Brasil os 25 dos jovens natildeo conectados agrave internet28

eacute um nuacutemero consideraacutevel e natildeo haacute como generalizar que todos jovens na idade de 15 a 17 anos satildeo

ldquonativos digitaisrdquo em especial num paiacutes com alto iacutendice de desigualdade social E mesmo que o jovem

tenha acesso a internet como apresentado por Warschauer (2002) apenas prover o acesso em

telecentros ou escolas sem uma infraestrutura com apoio de monitores capacitados natildeo torna esse

indiviacuteduo tecnologizado como prover livros a alunos natildeo os alfabetiza Silva Jambeiro Lima e Brandatildeo

(2015 p 32) (2005 p 32) afirmam

Se a inclusatildeo digital eacute uma necessidade inerente desse seacuteculo entatildeo isso significa que o ldquocidadatildeordquo do seacuteculo XXI entre outras coisas deve considerar esse novo fator de cidadania que eacute a inclusatildeo digital E que constitui uma questatildeo eacutetica oferecer essa oportunidade a todos ou seja o indiviacuteduo tem o direito agrave inclusatildeo digital e o incluiacutedo tem o dever de reconhecer que esse direito deve ser estendido a todos Dessa forma inclusatildeo digital eacute um processo que deve levar o indiviacuteduo agrave aprendizagem no uso das TICs e ao acesso agrave informaccedilatildeo disponiacutevel nas redes especialmente aquela que faraacute diferenccedila para a sua vida e para a comunidade na qual estaacute inserido

Neste sentido o sujeito excluiacutedo digitalmente estaacute sendo privado do direito de acesso ao que

haacute de mais moderno nas tecnologias da inteligecircncia Conforme afirma Demo (2007 p 9) ldquoa

marginalizaccedilatildeo mais draacutestica eacute a poliacutetica porque impede a autonomia das pessoas e sociedadesrdquo

Assim presencia-se nos tempos atuais uma divisatildeo evidente entre aqueles que tecircm a possibilidade de

trabalhar com uma quantidade de informaccedilotildees muito maior do que os sujeitos que natildeo estatildeo

conectados em rede E isso reproduz e amplia o distanciamento entre quem jaacute tinha condiccedilotildees sociais

melhores e as pessoas mais pauperizadas da nossa sociedade

Em siacutentese o perfil que contextualizamos neste estudo que trata da inclusatildeo digital eacute o modelo

de Costa e Lemos (2005) em que esta eacute ldquocompreendida sob o pano defundo dos quatro capitais

28 Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios 2013 realizada pelo IBGE revelou que 75 dos jovens entre 15 e 17 anos satildeo usuaacuterios da internet Disponiacutevel em httpbibliotecaibgegovbrvisualizacaolivrosliv94414pdf Acesso em 22 dez 2016

O mundo todo estaacute mesmo conectado

135

(social teacutecnico cultural e intelectual) que constituem todo processo coletivordquo (p 01) Segundo o

autores a questatildeo da inclusatildeo digital natildeo pode ser apenas teacutecnica ou econocircmica mas tambeacutem

cognitiva e social Para eles o capital teacutecnico eacute importante mas natildeo o uacutenico A perspectiva meramente

teacutecnica deve ser abandonada a favor de uma visatildeo mais complexa do processo de inclusatildeo O processo

de ldquoinclusatildeordquo deve ser visto entatildeo sob os indicadores

bull Econocircmico ter condiccedilotildees financeiras de acesso agraves novas tecnologias bull Cognitivo estar dotado de uma visatildeo criacutetica e de capacidade independente

de uso e apropriaccedilatildeo dos novos meios digitais transformar informaccedilatildeo em conhecimento

bull Teacutecnico possuir conhecimentos operacionais de programas e de acesso agrave internet

Por isso as categorias econocircmica e cognitiva satildeo tatildeo ou mais importantes que a categoria

teacutecnica nos processos de inclusatildeo digital Aplicando esses pressupostos aos professores da rede

puacuteblica a inclusatildeo sociodigital dos mesmos vai aleacutem da inserccedilatildeo de computadores nas escolas ou

mesmo do acesso agraves maquinas Sampaio e Leite (1999 p 15) escreveram

O papel da educaccedilatildeo deve voltar-se tambeacutem para a democratizaccedilatildeo do acesso ao conhecimento produccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das tecnologias suas linguagens e consequumlecircncias Para isso torna-se necessaacuterio preparar o professor para utilizar pedagogicamente as tecnologias ne formaccedilatildeo de cidadatildeos que deveratildeo produzir e interpretar as novas linguagens do mundo atual e futuro

Neste sentido este estudo visa compreender se o uso das tecnologias na formaccedilatildeo de

professores tem possibilitado a inclusatildeo sociodigital dos mesmos na sociedade em rede Tambeacutem

analisar se as praacuteticas de usos mediaacuteticos da tecnologia possibilitaram aos professores em formaccedilatildeo o

letramento digital provocado mudanccedilas no seu cotidiano social e profissional No capiacutetulo 3 seratildeo

apresentados os desafios enfrentados pelos professores que por vezes estatildeo marginalizados da

sociedade em rede e estatildeo na linha de frente no contato com alunos que possuem habilidades

teacutecnicasinstrumentais com as tecnologias mas com pouca visatildeo criacutetica e analiacutetica das informaccedilotildees

encontradas Contudo antes seraacute abordado o conceito de literacia digital como uma possibilidade de

reinserccedilatildeo ou realocaccedilatildeo dos indiviacuteduos na sociedade em rede

Capiacutetulo 3 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

139

31 A possibilidade de entrada na rede

Agrave semelhanccedila de outras literacias entendidas como a capacidade de compreender e usar determinados tipos de informaccedilatildeo a literacia digital vai aleacutem do simples conhecimento sobre as tecnologias O domiacutenio do digital implica ser capaz de utilizar criacutetica e eficazmente as tecnologias de modo a fazer algo construtivo e significativo com elas Esta competecircncia digital tornou-se fundamental na sociedade contemporacircnea tendo inclusive sido reconhecida como uma das competecircncias-chave para a aprendizagem ao longo da vida Inevitavelmente a escola tem de participar neste processo de formaccedilatildeo dos cidadatildeos proporcionando situaccedilotildees de aprendizagem que envolvam as tecnologias e assumindo a literacia digital como mais uma meta de aprendizagem (Costa 2013 p44)

O Seacuteculo XIX inaugurou uma seacuterie de invenccedilotildees tecnoloacutegicas que transformaram a vida das

pessoas como o cinema a fotografia o raacutedio o telefone entre outras Essas transformaccedilotildees instauram

uma nova organizaccedilatildeo de mundo ressignificando os modos de produccedilatildeo novos haacutebitos e mudanccedilas

na rotina dos indiviacuteduos como exposto nas discussotildees do capiacutetulo primeiro e segundo desta tese Para

Leacutevy (1999) neste cenaacuterio em movimento os processos tradicionais de aprendizagem tornam-se

rapidamente obsoletos em funccedilatildeo da constante necessidade de renovaccedilatildeo dos saberes da nova

configuraccedilatildeo do mundo do trabalho e da velocidade da informaccedilatildeo

Portanto para o professor atuar com destreza nesse cenaacuterio conseguindo selecionar o que

realmente iraacute favorecer a aquisiccedilatildeo de um capital cultural dos seus alunos levando-os a autonomia

criacutetica exige-se uma formaccedilatildeo adequada agrave inovaccedilatildeo exigida pela sociedade digital em rede Assim

este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica nos cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a desenvolver competecircncias e habilidades para o uso

criacutetico das miacutedias

No capiacutetulo 1 deste trabalho foi apresentado o cenaacuterio contemporacircneo socioteacutecnico com

profundas transformaccedilotildees no desenvolvimento cientiacutefico tecnoloacutegico comunicacional cultural poliacutetico

e econocircmico A analogia do mundo integrado em redes foi usada para ilustrar a grande teia de

conexotildees que a rede digital de computadores conectados agrave internet proporciona Consideramos

tambeacutem o conceito de sociedade em rede e compreendemos de acordo com Castells (1999) numa

visatildeo morfoloacutegica que uma rede eacute composta por um conjunto de noacutes interconectados No caso da

sociedade em rede estes noacutes constituem os atores que moldam as estruturas sociais da rede por meio

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

140

da interaccedilatildeo e construccedilatildeo de laccedilos sociais Trata-se de noacutes vivos relaccedilotildees construiacutedas em torno de um

objetivo especiacutefico Neste sentido Velazqueacutez Aacutelvarez e Aguilar (2005 p 3) explicam

Quando se fala em rede se entende como um grupo de indiviacuteduos que em forma agrupada ou individual se relacionam com outros com um propoacutesito especiacutefico caracterizado pela existecircncia de fluxos de informaccedilatildeo [] Uma rede se compotildee portanto de trecircs elementos baacutesicos que satildeo os noacutes ou atores viacutenculos ou relaccedilotildees e fluxos

Assim as redes satildeo construiacutedas por usuaacuterios que conectados no ciberespaccedilo constituem

relaccedilotildees sociais afetivas comerciais culturais poliacuteticas e ideoloacutegicas com outros indiviacuteduos com os

mesmos interesses e que tambeacutem estatildeo conectados Tendo em vista esse aspecto concordamos com

Santos (2014 p 60) que entende a ideia de rede ldquocomo fluxo e feixe de relaccedilotildees entre seres

humanos objetos teacutecnicos e as interfaces digitaisrdquo A autora explana o que implica o sujeito estar

conectado na rede

Rede significa que estamos engendrados por uma composiccedilatildeo comunicativa socioteacutecnica que se atualiza a cada relaccedilatildeo e conexatildeo que estabelecemos em qualquer ponto desta grande rede Tempo e espaccedilos ganham novos arranjos influenciando novas e diferentes sociabilidades (idem p 60)

Destarte o cidadatildeo conectado agrave rede tem a possibilidade de comunicar produzir co-criar e

compartilhar conteuacutedos e informaccedilotildees nas interfaces digitais No entanto como abordamos no capiacutetulo

2 existem milhotildees de indiviacuteduos que natildeo tecircm acesso a rede ou estatildeo na margem dela com acesso

limitado e improdutivo De entre estes estatildeo os professores logo os que mais lidam com a geraccedilatildeo de

jovens considerados ldquonativos digitaisrdquo navegadores incansaacuteveis do tsunami que a internet se tornou

nos dias atuais (Leacutevy 1998) e tambeacutem daqueles que natildeo tecircm tal acesso e estatildeo marginalizados na

rede

Explanamos ainda no capiacutetulo 2 que estes jovens embora estejam conectados agrave rede e

tenham habilidades teacutecnicas apuradas no manuseio dos dispositivos tecnoloacutegicos carecem de

orientaccedilatildeo para fazer uso seletivo criacutetico responsaacutevel e proveitoso das informaccedilotildees que coletam No

campo educacional cabe ao professor ser o orientador mediador e articulador junto aos estudantes de

forma a ajudaacute-los a selecionarem e filtrarem as informaccedilotildees relevantes para a construccedilatildeo do

conhecimento Nas palavras de Gadotti (2003 p 32)ldquoo professor deixaraacute de ser um lecionador para

ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem () um mediador do conhecimento um

aprendiz permanente um construtor de sentidos um cooperadorrdquo No entanto estudos revelam que

os professores ainda encontram dificuldades no manuseio instrumental das tecnologias satildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

141

desprovidos de habilidades para o tratamento criacutetico das miacutedias produccedilatildeo e compartilhamento nas

redes e necessitam de formaccedilatildeo voltada para a literacia digital em contextos educativos (Melatildeo 2011

Lopes 2013 Lage e Dias 2012)

Trata-se portanto de um problema ambiacuteguo de um lado temos jovens que tecircm permanente

contato com as miacutedias e tecnologias mas que carecem de ajuda e orientaccedilatildeo para conduzir nortear e

mediar a construccedilatildeo do conhecimento em face da enxurrada de informaccedilotildees disponiacuteveis na rede e de

outro lado estaacute o professor que deveria fazer esse papel de conduccedilatildeo e orientaccedilatildeo destes jovens mas

que falta-lhe tambeacutem a capacidade de filtrar selecionar avaliar e criticar responsavelmente os

conteuacutedos midiaacuteticos que acessa Mais agravante se torna o quadro quando o professor nem mesmo

tem acesso agrave rede seja por vontade proacutepria ou por circunstancias alheias a sua vontade e isto o deixa

agrave margem da rede e impotente para lidar com os alunos usuaacuterios de tecnologias Como poderia o

professor personagem fundamental no processo de formaccedilatildeo dos estudantes ser inserido na rede de

forma a integrar-se com as tecnologias usando-as como aliadas nos processos de construccedilatildeo do

conhecimento dos seus alunos

Voltando agrave metaacutefora da rede conforme discutido no capiacutetulo dois deste trabalho ldquoestar dentrordquo

desta requer mais que acesso agraves redes de computadores inclui accedilatildeo interaccedilatildeo movimento pois a

rede eacute dinacircmica sistecircmica moacutevel articulada e aberta Usando a analogia das redes com a tecelagem

de vaacuterios fios para formar um tecido Beauclair (2007 p 268) escreveu

A tecelagem a ser feita inicia-se a partir do principal componente desta teia o sujeito aprendente A rede eacute uma estruturaccedilatildeo comunicacional onde desejos sonhos realidades e poderes circulam de modo a darem corpo a um conjunto de informaccedilotildees onde sujeitos se comunicam e geram movimentos de sustentabilidade agrave proacutepria rede a partir do seu interesse na solidariedade no compartilhamento de ideacuteias e opiniotildees na partilha de saberes e de ignoracircncias enfim no estarjuntocom atuando em prol de uma concepccedilatildeo mais aberta e articulada superando o modelo de agir pautado no individualismo para um outro modelo mais articulado e sistecircmico

Portanto conectar agrave rede requer accedilatildeo movimento e interesse dos que estatildeo marginalizados ou

fora dela Contudo conforme discutido no capiacutetulo 2 deste trabalho a questatildeo da exclusatildeodivisatildeo

digital possui elementos de natureza complexa como questotildees de ordem social cultural geograacutefica e

econocircmica Deste modo natildeo se trata de querer ou natildeo fazer parte da rede pois como Castells (1999)

destaca a rede eacute excludente por natureza No que diz respeito aos professores urge a necessidade de

poliacuteticas puacuteblicas que forneccedilam oportunidades e condiccedilotildees para que os mesmos enquanto usuaacuterios da

rede tenham possibilidade de tirar o maacuteximo proveito de suas informaccedilotildees em favor da sua formaccedilatildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

142

intelectual da sua profissionalizaccedilatildeo do enriquecimento da sua cultura da emancipaccedilatildeo poliacutetica e

para sociabilidade Esta formaccedilatildeo deveria iniciar na base nos cursos de formaccedilatildeo de professores e

continuar por toda a carreira docente (Noacutevoa 2014)

Posta essa problemaacutetica este capiacutetulo aponta para a promoccedilatildeo da literacia digital ou mediaacutetica

nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada de professores no intuito de ajudaacute-los a usar as

tecnologias para aleacutem da posiccedilatildeo de consumidores de programas e informaccedilotildees mas que venham a

atingir os patamares da anaacutelise criacutetica autoria compartilhamento e interaccedilatildeo com seus alunos dentro

e fora dos espaccedilos fiacutesicos da escola Neste sentido praacuteticas de literacia digital desde a formaccedilatildeo inicial

dos professores e a integraccedilatildeo desta com a atividade docente satildeo recomendadas como importante

passo para acompanhar os novos rumos que a educaccedilatildeo tem tomado nos uacuteltimos 25 anos com a

expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo digitais

Considerando a importacircncia de compreender o conceito de literacia digital no acircmbito das

tecnologias educativas com vistas agrave inserccedilatildeo do professor na rede a primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo

apresenta uma revisatildeo bibliograacutefica sobre este aspecto conceitual Na seccedilatildeo seguinte aprofundamos a

discussatildeo sobre os desafios enfrentados pelos professores que estatildeo na vanguarda das mudanccedilas

ocorridas na era moderna com base em estudos que revelam como lidam com a presenccedila das

tecnologias na sala de aula

Na terceira seccedilatildeo com fins de compreender o perfil dos professores ainda resistentes agraves

tecnologias nas praacuteticas pedagoacutegicas apresentamos um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das

tecnologias no acircmbito educacional a partir da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O capiacutetulo

finaliza com apontamentos para a necessidade de investimento na formaccedilatildeo de professores voltada

para a literacia digital em contextos educativos

32 Conceito de literacia digital

A compreensatildeo do conceito de literacia digital eacute fundamental para a elaboraccedilatildeo e fomento de

poliacuteticas puacuteblicas efetivas de formaccedilatildeo de professores com integraccedilatildeo das tecnologias ao curriacuteculo da

escola natildeo somente como uma ferramenta instrumental mas um ldquofenocircmeno da ciberculturardquo que

pode potencializar praacuteticas comunicacionais hipertextuais a mobilidade e a interaccedilatildeo mediada por

interfaces digitais (Santos 2014) Neste aspecto compreende-se que a literacia digital eacute essencial para

a entrada dos ldquoexcluiacutedosrdquo na rede Silva e Pereira (2011 p 9) afirmam que satildeo ldquoos usos e as

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

143

competecircncias que interferem no grau de literacia digital passiacutevel de condicionar as oportunidades que

as tecnologias podem propiciar no desenvolvimento de capacidades e de conhecimentordquo As praacuteticas

de literacia digital de acordo com Petrella (2012 p 208) deveriam ser ldquoum caminho que passe pela

aprendizagem das competecircncias culturais e das habilidades sociais e cognitivas que permitam agraves

novas geraccedilotildees agir criacutetica e criativamente no panorama dos novos medias e de participar como

protagonistas na cultura contemporacircneardquo Assim a temaacutetica literacia digital eacute pertinente e urgente

dentro das escolas loacutecus privilegiado da formaccedilatildeo educacional Neste cenaacuterio o papel do professor eacute

fundamental Noacutevoa (2009 p 11) justifica

Os professores reaparecem neste iniacutecio do seacuteculo XXI como elementos insubstituiacuteveis natildeo soacute na promoccedilatildeo das aprendizagens mas tambeacutem na construccedilatildeo de processos de inclusatildeo que respondam aos desafios da diversidade e no desenvolvimento de meacutetodos apropriados de utilizaccedilatildeo das novas tecnologias

Considerando estes pressupostos defendemos a tese de que a formaccedilatildeo dos professores

voltada para a literacia digital constitui um passo fundamental para a inserccedilatildeo destes na sociedade em

rede Por sua vez o professor integrado agraves tecnologias sente-se motivado a usar as suas

potencialidades na sua praacutetica pedagoacutegica provocando mudanccedilas visiacuteveis na escola Para Almeida e

Valente (2011 p 9) essas mudanccedilas vatildeo aleacutem de ldquopraacuteticas esporaacutedicas em espaccedilos delimitados e

laboratoacuterios de informaacuteticardquo mas devem alcanccedilar mudanccedilas nas relaccedilotildees com o conhecimento e o

curriacuteculo De acordo com Belonni (1998) qualquer melhoria ou inovaccedilatildeo em educaccedilatildeo passa

necessariamente pela melhoria e inovaccedilatildeo na formaccedilatildeo de formadores Afirma a autora que ldquoos

professores formam um grupo prioritaacuterio e estrateacutegico para qualquer melhoria dos sistemas

educacionaisrdquo (idem p 16)No entanto a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

significa mais que disponibilizar computadores e tablets nas escolas eou promover oficinas de

capacitaccedilatildeo para o uso instrumental das tecnologias

Utilizamos neste trabalho a concepccedilatildeo de literacia digital ou mediaacutetica transcrita no documento

ldquoRecomendaccedilotildees sobre a Educaccedilatildeo para Literacia Mediaacuteticardquo (CNE 2011) do Conselho Nacional de

Educaccedilatildeo de Portugal O referido documento aborda trecircs tipos de aprendizagens necessaacuterias para

noccedilatildeo integrada de literacia digital

bull O acesso agrave informaccedilatildeo e agrave comunicaccedilatildeo mdash o saber procurar guardar arrumar partilhar citar tratar e avaliar criticamente a informaccedilatildeo pertinente atentando tambeacutem agrave credibilidade das fontes

bull A compreensatildeo criacutetica dos media e da mensagem mediaacutetica mdash quem produz o quecirc porquecirc para quecirc por que meios

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

144

bull O uso criativo e responsaacutevel dos media para expressar e comunicar ideias para deles fazer um uso eficaz de participaccedilatildeo ciacutevica

Portanto a literacia digital ou mediaacutetica que trata este estudo diz respeito agrave capacidade do

indiviacuteduo de acessar analisar compreender e avaliar de modo criacutetico as miacutedias e ainda criar

comunicaccedilotildees em diferentes contextos (Lopes 2013) No caso dos professores estaacute envolvido aleacutem

do uso instrumental cotidiano das tecnologias a sua apropriaccedilatildeo criacutetica usando-a de modo adequado

na realizaccedilatildeo de projetos multidisciplinares e colaborativos Diversos autores utilizam tambeacutem o

conceito de literacia mediaacutetica pela incidecircncia na abordagem dos media a qual significa ― possuir a

capacidade de utilizar meios de comunicaccedilatildeo e os media em geral de compreender e ajuizar

criticamente seus diversos aspectos e conteuacutedos e de comunicar em diferentes contextos (Lage e Dias

2012)

Segundo McQuail (2003) o termo media constitui uma abreviatura da expressatildeo ldquomedia de

massasrdquo ou seja diz respeito a meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que todos conhecem como

jornais revistas raacutedio televisatildeo filmes ou muacutesica gravada Com a chegada da internet estas passaram

a ser todo o ldquoecossistema informativo multimiacutedia interactivo e dinacircmicordquo formado pela convergecircncia

dos meios tradicionais e recentes (Pinto 2004 p 2) Esta designaccedilatildeo eacute bastante utilizada na acepccedilatildeo

da educaccedilatildeo para os media poreacutem ao considerarmos que o digital estaacute cada vez mais presente na

sociedade e nomeadamente nos media podemos mesmo dizer que vivemos numa era digital

Livingstone Couvering e Thumin (2005) entendem que na literatura existem dois corpos

distintos de investigaccedilatildeo a literacia mediaacutetica que diz respeito agrave compreensatildeo criacutetica e criaccedilatildeo de

materiais de miacutedia e envolve miacutedias mais tradicionais como a TV raacutedio cinema e outra a literacia

digital da informaccedilatildeo que parte de uma perspectiva da recuperaccedilatildeo da informaccedilatildeo e treinamento

instrumental da informaacutetica Os autores metaforicamente dizem que a literacia mediaacutetica vecirc a miacutedia

como uma lente atraveacutes da qual o mundo pode ver e se expressar enquanto a literacia digital vecirc a

informaccedilatildeo como uma ferramenta para agir sobre o mundo Assim optamos pelo uso do termo

literacia digital neste trabalho por tratarmos de questotildees relacionadas diretamente da relaccedilatildeo dos

usuaacuterios com as tecnologias digitais de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo na sociedade em rede

Assim poderiacuteamos definir a literacia mediaacutetica digital ou educaccedilatildeo para os medias tal qual

Pinto Pereira Pereira Ferreira e Dias (2011 p 24) caracterizaram no estudo Educaccedilatildeo para os Media

em Portugal experiecircncias actores e contextos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

145

trata-se do conjunto de conhecimentos capacidades e competecircncias (e os processos da respectiva aquisiccedilatildeo) relativas ao acesso uso esclarecido pesquisa e anaacutelise criacutetica dos media bem como as capacidades e expressatildeo e de comunicaccedilatildeo atraveacutes desses mesmos media

Portanto a literacia digital envolve mais que a mera capacidade de operar um dispositivo

digital ou usar um software inclui um complexo cognitivo motor socioloacutegico emocional e socioloacutegico

do usuaacuterio De acordo com Luke (2000) no contexto da cibercultura especialista natildeo eacute quem estaacute a

par de todas noticias e informaccedilotildees mas aquele que tomando conhecimento dos fatos

descontextualizados procura a conexatildeo entre os recortes de informaccedilotildees associa outras informaccedilotildees

relevantes e consegue fazer uma leitura criacutetica da situaccedilatildeo Poreacutem na anaacutelise de Buckingham (2008)

a maioria das discussotildees sobre a literacia digital continua a focar a informaccedilatildeo e tendem a negligenciar

os usos culturais e sociais da internet Segundo o autor a preocupaccedilatildeo geral dos formuladores de

poliacuteticas puacuteblicas eacute mais com a promoccedilatildeo eficiente do meio equipar escolas e telecentros com

maacutequinas e fomentar cursos para uso instrumental dos equipamentos Ateacute mesmo os guias populares

(Gilster 1997 Warlick 2005) para a literacia digital que abordam a necessidade de avaliar o conteuacutedo

on-line possuem formulaccedilotildees concentradas no know-how teacutecnico que relativamente natildeo eacute difiacutecil de

conseguir e em habilidades que se tornam obsoletas muito rapidamente

Buckingham (2008) defende que a associaccedilatildeo da palavra lsquodigitalrdquo agrave lsquoliteraciarsquo daacute um status

privilegiado aos estudos dos meios digitais considerando que o campo da literacia constitui uma aacuterea

de saber relevante na aacuterea cientifica Contudo o autor afirma que a utilizaccedilatildeo da expressatildeo literacia

digital (que faz analogia entre a escrita e a miacutedia audiovisual) implica uma forma mais ampla de

educaccedilatildeo sobre miacutedia que natildeo se restringe agraves habilidades mecacircnicas ou formas instrumentais de

competecircncia funcional Para Goodson e Mangan (1996) o conceito de literacia digital para a

informaacutetica muitas vezes eacute mal definido pelos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Assim os

argumentos que justificam os computadores em sala de aula satildeo principalmente de ordem profissional

e praacutetica Os argumentos pedagoacutegicos satildeo de ordem secundaacuteria e a literacia ou alfabetizaccedilatildeo digital

constitui apenas um conjunto miacutenimo de competecircncias para o usuaacuterio operar eficazmente as

ferramentas de software ou na realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas instrumentais na rede

Com o objetivo de renovar a noccedilatildeo de literacia digital associada ao claacutessico conceito de

alfabetizaccedilatildeo Peacuterez e Varis (2010) identificaram trecircs fases da literacia a claacutessica audiovisual e digital

A literacia claacutessica segundo os autores perpassou o periacuteodo apoacutes a invenccedilatildeo da imprensa em que o

nuacutemero de pessoas com acesso agrave escrita e textos se alargou e houve uma abertura para a influecircncia

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

146

social por alfabetizaccedilatildeo No periacuteodo da Revoluccedilatildeo Industrial com a urbanizaccedilatildeo das cidades e a

industrializaccedilatildeo ser alfabetizado constituiacutea uma porta de entrada para a cidadania Neste contexto a

escola exercia um papel central na alfabetizaccedilatildeo (leitura e escrita) A segunda fase a audiovisual teve

impulso com a chegada dos meios de comunicaccedilatildeo eleacutetricos como cinema raacutedio televisatildeo Estas

novas miacutedias massivas geraram novas linguagens e coacutedigos que exigiam novas aptidotildees que se

estendiam para aleacutem do que era considerado como competecircncia da alfabetizaccedilatildeo ateacute entatildeo A escola

deixou de ser o uacutenico espaccedilo de referecircncia da educaccedilatildeo embora continuasse a exercer poder sobre a

certificaccedilatildeo oficial do ensino A convergecircncia das miacutedias analoacutegicas com as digitais trouxe consigo a

demanda pela alfabetizaccedilatildeo ou literacia digital No entanto os autores afirmam que pelo fato das fases

da literacia estarem ligadas agrave evoluccedilatildeo das novas linguagens de comunicaccedilatildeo e agraves redes digitais por

vezes equivocadamente a literacia digital eacute associada tatildeo somente a competecircncias teacutecnicas e

instrumentais no manuseio de softwares

Potter (2004) define literacia digital como um conjunto de perspectivas a partir da qual

expomo-nos para os meios de comunicaccedilatildeo e interpretamos o significado das mensagens encontradas

Aleacutem disso o autor explica que as pessoas para serem capazes de classificar a informaccedilatildeo e organizaacute-

la precisam de habilidades de anaacutelise avaliaccedilatildeo agrupamento induccedilatildeo deduccedilatildeo siacutentese e abstraccedilatildeo

Lage e Dias (2011 p 3) relacionam trecircs objetivos fundamentais da literacia digital nos processos

formativos para o uso das miacutedias

1) Promover o acesso agraves TIC ndash A literacia mediaacutetica parte da premissa de que todos tenham acesso agraves miacutedias com fins de reduzir os obstaacuteculos agrave mobilidade profissional e as dificuldades da vida cotidiana Cabe ao governo garantir o acesso de todos agraves TIC diminuindo a exclusatildeo digital e a desigualdade social 2) Capacitar o cidadatildeo a avaliar criticamente em que medida o teor e a forma dos conteuacutedos difundidos satildeo influenciados por interesses dos produtores mediaacuteticos Ou seja a capacidade de seleccedilatildeo criacutetica para ler nas entrelinhas e decodificar imagens e sons avaliando assim os conteuacutedos 3) Habilitar o cidadatildeo a produzir seus proacuteprios textos informativos e mediaacuteticos utilizando de forma segura as TIC A produccedilatildeo mediaacutetica deve estar associada a uma reflexatildeo criacutetica sobre o processo de produccedilatildeo e atender os princiacutepios relativos a direitos autorais e seguranccedila dos dados

Assim formar o cidadatildeo para a literacia digital significa tornaacute-lo apto para acessar avaliar

criticamente compreender plenamente e ainda criar miacutedias Eshet-Alkalai (2012) propocircs um modelo

conceitual de literacia digital com base em seis distintas e complementares literacias conforme

discriminado no quadro 05

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

147

Quadro 5 - Modelo conceitual de literacia digital

Tipo de literacia Habilidades e competecircncias

Literacia foto-visual Boa memoacuteria visual e forte pensamento intuitivo-associativo facilidade de decodificar e compreender mensagens visuais Competecircncia para realizar leitura sincronizada de textos e imagens

Literacia para a reproduccedilatildeo Capacidade de criar novos significados ou novas interpretaccedilotildees combinando materiais preacute-preexistentes ou trechos de informaccedilotildees independentes em qualquer forma de miacutedia

Literacia para a informaccedilatildeo Habilidade de avaliar informaccedilotildees de forma criacutetica e eficaz anaacutelise de informaccedilotildees subjetivas capacidade de distinguir o vieacutes tendencioso das notiacutecias ou mesmo a credibilidade das mesmas

Literacia para hipermiacutedia Elevado grau de liberdade na navegaccedilatildeo atraveacutes de websites e hipertextos Utilizaccedilatildeo natildeo-linear de diversas estrateacutegias de buscas a informaccedilotildees relevantes capacidade de orientaccedilatildeo no ciberespaccedilo competecircncia de criar modelos mentais mapas conceituais e outros formas de representaccedilatildeo abstrata da estrutura da web

Literacia soacutecio-emocional Capacidade de compartilhar emoccedilotildees na web sem ser enganado aptidatildeo para evitar armadilhas como fraudes e viacuterus na internet habilidade de se relacionar socialmente com as pessoas na web consciente dos riscos e perigos

Literacia para o pensamento em tempo real

Habilidade para processar de forma eficaz os estiacutemulos simultacircneos da Web capacidade de executar diferentes tarefas simultaneamente competecircncia de sincronizar de forma raacutepida e eficaz os estiacutemulos da multimiacutedia em um coerente corpo de conhecimento

Fonte adaptado de Eshet-Alkalai (2012)

A pesquisa realizada por Eshet-Alkalai (2012) investigou a aplicaccedilatildeo deste modelo conceitual

em diferentes grupos de utilizadores Os resultados indicaram que os participantes mais jovens

possuem um desempenho melhor do que os mais velhos no que diz respeito agraves tarefas relacionadas

com a literacia foto visual e a literacia para a hipermiacutedia No entanto os participantes com mais

idades foram considerados mais habilidosos na literacia de reproduccedilatildeo e na literacia para a

informaccedilatildeo Para Loureiro e Rocha (2012 p 2729) a literacia digital pressupotildee

bull saber como aceder a informaccedilatildeo e saber como a recolher em ambientes virtuaisdigitais

bull gerir e organizar informaccedilatildeo para a poder utilizar no futuro bull avaliar integrar interpretar e comparar informaccedilatildeo de muacuteltiplas fontes bull criar e gerar conhecimento adaptando aplicando e recreando nova

informaccedilatildeo bull comunicar e transmitir informaccedilatildeo para diferentes e variadas audiecircncias

atraveacutes de meios adequados

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

148

Por outro lado a falta destas competecircncias afeta o processo de construccedilatildeo e afirmaccedilatildeo dos

indiviacuteduos produzindo a exclusatildeo social e desigualdade (Lopes 2012) Eacute imperativo portanto que a

literacia digital seja amplamente difundida nos diversos campos da sociedade na formaccedilatildeo de

professores e teacutecnicos nas escolas nas universidades e em programas voltados a adultos e idosos

(Lage e Dias 2012) O foco deste estudo satildeo os professores da rede puacuteblica que em geral satildeo

provenientes de um contexto de desigualdade social e possuem dificuldades com o uso das miacutedias no

seu cotidiano e na sua praacutetica docente

Silva e Pereira (2011) definiram trecircs grupos de competecircncias advindas da literacia digital ou

mediaacutetica as funcionais soacutecio-comunicativas e teacutecnico-criativas Segundo os autores as competecircncias

funcionais dizem respeito ao caraacuteter instrumental do uso do computador e da internet na condiccedilatildeo de

ldquoferramentas de produtividaderdquo (editor de texto apresentaccedilatildeo de trabalhos motor de busca de

pesquisa etc) As competecircncias socio-comunicativas estatildeo relacionadas com os recursos

comunicativos fomentados na web como redes sociais mensageiros instantacircneos (msn Skype

watsapp) email foacuteruns e outras formas de mensagens assiacutecronos e siacutencronos As competecircncias

teacutecnico-criativas satildeo aquelas ligadas agraves habilidades de criaccedilatildeo de conteuacutedos na web co-autoria

elaboraccedilatildeo de paacuteginas e ateacute mesmo instalaccedilatildeo de software e resoluccedilatildeo de problemas Os autores

concluem que a escola desempenha um papel fundamental no suporte da cultura tecnoloacutegica da

sociedade globalizada Neste sentido a formaccedilatildeo dos professores para a literacia digital eacute crucial para

que os jovens tambeacutem desenvolvam essas competecircncias

Em pesquisa realizada nos repositoacuterios institucionais de universidades puacuteblicas no Brasil

encontramos poucos estudos relacionados especificamente com a literacia digital ou mediaacutetica A

maioria dos estudos nessa aacuterea diz respeito agrave ldquoletramento digitalrdquo termo usado no Brasil que

corresponde agrave literacia digital na Europa A expressatildeo ldquoletramentordquo vem do inglecircs literacy (derivado do

latim littera que significa ldquoletrardquo) Conceitualmente para Soares (2002 p 145) letramento constitui

ldquoo estado ou condiccedilatildeo de indiviacuteduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem

efetivamente as praacuteticas sociais de leitura e de escrita participam competentemente de eventos de

letramentordquo A autora analisa que diante da realidade vivida na sociedade com a introduccedilatildeo de

tecnologias de comunicaccedilatildeo digital em que outros espaccedilos de leitura satildeo criados como por exemplo a

tela do computador o conceito de letramento se reformula

Eacute assim um momento privilegiado para na ocasiatildeo mesma em que essas novas praacuteticas de leitura e de escrita estatildeo sendo introduzidas captar o estado ou

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

149

condiccedilatildeo que estatildeo instituindo um momento privilegiado para identificar se as praacuteticas de leitura e de escrita digitais o letramento na cibercultura conduzem a um estado ou condiccedilatildeo diferente daquele a que conduzem as praacuteticas de leitura e de escrita quirograacuteficas e tipograacuteficas o letramento na cultura do papel (idem p146)

Soares denomina essa fase do letramento digital de ldquocultura da telardquo em que os espaccedilos de

escrita em formato de hipertextos satildeo natildeo-linerares pouco controlaacuteveis de faacutecil ediccedilatildeo e possibilitam o

leitor a intervir no texto alterar co-criar definir seu caminho de leitura e compartilhar com outros da

rede Citando Chartier (1994) a autora refere-se agrave cultura da tela como um retorno metafoacuterico ao

tempo antes da invenccedilatildeo da imprensa em que os copistas alteravam o texto dos manuscritos seja por

erro ou por intervenccedilatildeo consciente de forma que as coacutepias nunca eram idecircnticas eram acrescentados

tiacutetulos notas observaccedilotildees pessoais em espaccedilos em brancos que eram deixados para essa finalidade

(Soares 2002 pp 152-153) Assim conclui Soares a tela como espaccedilo de escrita e de leitura traz

natildeo apenas novas formas de se comunicar e acessar as informaccedilotildees mas tambeacutem ldquonovos processos

cognitivos novas formas de conhecimento novas maneiras de ler e de escrever enfim um novo

letramento isto eacute um novo estado ou condiccedilatildeo para aqueles que exercem praacuteticas de escrita e de

leitura na telardquo (idem p155) Neste sentido o estudo do letramento digital corresponde agrave literacia

digital no tocante agraves novas formas de competecircncias criacuteticas e habilidades analiacuteticas demandadas pela

crescente atualizaccedilatildeo das tecnologias

Fazendo uma analogia da literacia com o letramento Bakhtin (1992) analisa que um sujeito

letrado eacute algueacutem que conhece e pratica diferentes formas de falar ler e escrever que satildeo construiacutedas

socialmente e culturalmente Nas diferentes esferas da vida (escolar artiacutestica poliacutetica profissional)

este sujeito eacute capaz de acionar modelos correspondentes a situaccedilotildees especiacuteficas para interpretar

prever criar questionar avaliar e escolher atitudes Levando para o campo do uso das tecnologias eacute

importante que os professores integrem o computador e suas parafernaacutelias agrave sua praacutetica docente

transformando-a para serem inseridos no contexto de sociedade em rede

Soares (2002) reflete que o confronto entre tecnologias tipograacuteficas e digitais e seus efeitos

diferenciados sobre o estado ou condiccedilatildeo de quem as utiliza sugere que se pluralize a palavra

letramento de modo que diferentes tecnologias de escrita estabelecem vaacuterias formas de letramentos

A autora cita o exemplo da alteraccedilatildeo no controle das publicaccedilotildees jaacute que na cultura impressa os

editores e conselhos editoriais decidiam o que ia ser impresso determinavam os criteacuterios de qualidade

e definiam o que era oferecido aos leitores ao passo que agorao computador

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

150

possibilita a publicaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo na tela de textos que escapam agrave avaliaccedilatildeo e ao controle de qualidade qualquer um pode colocar na rede e para o mundo inteiro o que quiser por exemplo um artigo cientiacutefico pode ser posto na rede sem o controle dos conselhos editoriais dos referees e ficar disponiacutevel para qualquer um ler e decidir individualmente sobre sua qualidade ou natildeo (Soares p155)

Portanto diante dos contextos midiaacuteticos ineacuteditos novas praacuteticas e habilidades de leitura e

escrita satildeo requisitadas do escritor e do leitor da mensagem em tela Se antes o espaccedilo da publicaccedilatildeo

era limitado a intelectuais e jornalistas agora com a internet eacute possiacutevel publicar um texto e tornaacute-lo

disponiacutevel a milhotildees de pessoas na rede A mesma situaccedilatildeo ocorre com a pesquisa antes restrita a

livros nas bibliotecas agora disponiacutevel em milhares de bibliotecas virtuais e repositoacuterios na rede de

internet Estas mudanccedilas de espaccedilos de escrita mecanismos de produccedilatildeo reproduccedilatildeo e difusatildeo da

informaccedilatildeo demandaram novas habilidades e competecircncias mesmo depois da criaccedilatildeo da internet A

Web 10 com seus programas de coacutedigo fechado e exposiccedilatildeo massiva de informaccedilotildees com ecircnfase no

usuaacuterio evoluiu para a Web 20 com coacutedigo aberto permitindo uma construccedilatildeo coletiva do

conhecimento mudando assim o perfil do usuaacuterio Saito e Souza (2011 p 133) explicam esse

fenocircmeno

Nesse contexto as categorias de leitor e autor confundem-se em novas categorias hiacutebridas leitor-co-autor leitor-contribuinte leitor-colaborador Aleacutem disso a Web 20 traz novas perspectivas ontoloacutegicas para os usuaacuterios (os modos de ser as identidades assumidas nos vaacuterios profiles dos sites sociais como Facebook Orkut etc) e epistemoloacutegicas em relaccedilatildeo ao conteuacutedo (novas relaccedilotildees com a publicaccedilatildeo compartilhamento e construccedilatildeo colaborativa do conhecimento por exemplo a Wikipedia)

Segundo Spivack (2007) vivenciamos desde 2010 a Web 30 que o autor previa ser a Web

Semacircntica marcada pelo uso de metadados para codificar o significado da informaccedilatildeo o que

possibilitaria as pessoas a recuperar informaccedilotildees especiacuteficas na grande rede A Web Semacircntica de

acordo com o autor resolveria o problema da sobrecarga de informaccedilatildeo na rede de computadores

mas exigiria dos usuaacuterios habilidades para buscar filtrar selecionar analisar criticamente e fazer uso

saacutebio das informaccedilotildees encontradas Em 2016 vivenciamos a era da Web 40 que Spivack chamou de

Web Ubiacutequa marcada notadamente conforme afirmam Silva e Souza (2015 p 6) por ldquoum notaacutevel

desenvolvimento das tecnologias moacuteveis (cujos maiores destaques recaem na invenccedilotildees em torno dos

smartphones e dos tablets) a par das redes sem fios proporcionando um reforccedilo da conectividade

mobilidade e ubiquidaderdquo Neste sentido fala-se de ldquomultiliteraciasrdquo ou ldquomultiletramentosrdquo digitais

para abranger a ampla gama de habilidades requeridas para o uso eficaz e proveitoso da internet

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

151

Selber (2004) construiu um modelo teoacuterico de multiliteracias na sua obra Multiliteracies for a

Digital Age O modelo de Selber eacute baseado em trecircs niacuteveis e categorias principais que satildeo

independentes entre si mas que se relacionam de forma dinacircmica Saito e Souza (2011) sintetizaram

em um quadro o modelo de Selber em que os autores traduziram as categorias usando o termo

Letramento em todas elas (1) Letramento Digital Funcional (2) Letramento Digital Criacutetico (3)

Letramento Digital Retoacuterico Interessante ressaltar que Selber usou para cada categoria metaacuteforas

explicativas paracircmetros de anaacutelise e habilidades a serem desenvolvidas em cada niacutevel

Quadro 6 - Esquema de Selber para os Multiletramentos Digitais

Multiletramentos Digitais Niacutevel de LD LD Funcional LD Criacutetico LD Retoacuterico

Metaacutefora relacionada agraves

TICs

TICs como ferramentas TICs como artefatos culturais TICs como miacutedia hipertextual

Posiccedilatildeo de sujeito

Indiviacuteduos como usuaacuterios competentes de TICs

Indiviacuteduos como questionadores informados das TICs

Indiviacuteduos como produtores reflexivos de TICs

Paracircmetros e qualidades a serem explorados

1) Fins educacionais atingir objetivos educacionais atraveacutes das TICs 2) Convenccedilotildees sociais entender as convenccedilotildees sociais que determinam os usos das TICs 3)Discursos especializados usar adequadamente os discursos associados agraves TICs 4) Atividades gerenciais gerenciar de modo inteligente o mundo on-line 5) Impasses tecnoloacutegicos resolver os impasses tecnoloacutegicos de modo confiante e estrateacutegico

1) Culturas de design investigar as perspectivas dominantes que constituem as culturas de design das TICs e seus artefatos 2) Contextos de uso compreender os contextos de uso como aspecto inseparaacutevel das TICs que ajudam a constituiacute-las e contextualizaacute-las 3) Forccedilas institucionais entender as forccedilas institucionais que modelam os usos das TICs 4) Representaccedilotildees populares investigar as representaccedilotildees que as TICs tecircm no imaginaacuterio das pessoas

1) Persuasatildeo entender que a persuasatildeo permeia os contextos de design de interface de modo impliacutecito e expliacutecito e que isso sempre envolve forccedilas e estruturas maiores (por exemplo contextos de uso ideologias) 2) Deliberaccedilatildeo entender que os problemas de design de interface satildeo problemas maldefinidos cujas soluccedilotildees satildeo argumentos representacionais aos quais se chega atraveacutes de vaacuterias atividades deliberativas 3) Reflexatildeo articular o conhecimento de design de interface em um niacutevel consciente e sujeitar as accedilotildees e praacuteticas agrave avaliaccedilatildeo criacutetica 4) Accedilatildeo social compreender o design de interface como uma forma de accedilatildeo social e natildeo apenas como accedilatildeo teacutecnica

Fonte adaptado de Selber (2004) por Saito e Souza (2011)

No modelo de Selber observa-se que cada um dos paracircmetros expande a noccedilatildeo de letramento

anterior partindo do uso baacutesico e instrumental das tecnologias para o uso avanccedilado e criacutetico das

mesmas capacitando seus usuaacuterios a serem produtores reflexivos e natildeo apenas usuaacuterios

minimamente competentes No campo educacional espera-se dos professores o domiacutenio destas

habilidades com as tecnologias digitais como se espera que um alfabetizador seja alfabetizado De

acordo com Selfe (1999) neste novo mundo de processamento de dados e comunicaccedilatildeo virtual

ensinar os alunos a usar um computador para se comunicar eacute tatildeo fundamental como ensinaacute-los a

escrever Prensky (2005) incentiva os professores a abandonarem seus ldquoinstintos preacute-digitaisrdquo e sua

ldquozona de confortordquo e se abrirem para aprenderem com seus proacuteprios alunos como usar determinada

tecnologia para se obter um resultado Esta atitude exige humildade do professor em solicitar dos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

152

alunos uma ajuda no tocante ao uso das tecnologias ou mesmo solicitar que se expressem a partir dos

conhecimentos que obteram na Web Pode-se envolver os alunos fazendo as seguintes perguntas

Algueacutem da sala sabe fazer qualquer coisa na Web que eacute relevante para o que estamos discutindo ou

Vocecircs conseguem pensar em qualquer exemplos deste problema (matemaacutetico) em seus jogos de

computador Estas atitudes segundo Prensky mantecircm os alunos engajados e motivados porque estatildeo

envolvidos com as tecnologias nas suas casas fora da sala de aula

No entanto os professores precisam de formaccedilatildeo adequada para lidarem com as tecnologias

cada vez mais presentes na escola Noacutevoa (2014 p 2) quando em entrevista foi questionado sobre o

que eacute preciso para construir as mudanccedilas na escola considerando o fato de que o modelo atual natildeo

condiz com a cultura contemporacircnea respondeu

Eacute preciso haver trecircs respostas que satildeo trecircs prioridades primeira os professores segunda os professores terceira os professores Eacute preciso reforccedilar a autonomia e a centralidade dos professores valorizar o magisteacuterio Eacute inuacutetil procurar outras soluccedilotildees Os professores satildeo a peccedila central de qualquer mudanccedila mas natildeo podemos exigir-lhes tudo e dar-lhes quase nada

Assim a literacia digital dos professores constitui uma poliacutetica puacuteblica fundamental para a

inserccedilatildeo destes na sociedade em rede e a chave de igniccedilatildeo para a promoccedilatildeo de mudanccedilas na escola

A proacutexima seccedilatildeo consideraraacute a inclusatildeo da literacia digital na agenda poliacutetica

32 A literacia digital na agenda das poliacuteticas puacuteblicas

Conforme destacado no capiacutetulo 2 desta tese a inclusatildeo de uma determinada poliacutetica puacuteblica

na agenda governamental adveacutem da constataccedilatildeo do problema ou levantamento da demanda e a

seleccedilatildeo das questotildees que iratildeo compocirc-la (Silva e Silva 2008) Nesse sentido demandas sociais satildeo

levantadas e o segundo passo nesse processo de movimento e construccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas eacute a

formulaccedilatildeo de alternativas de poliacuteticas o que institui um diagnoacutestico sobre a situaccedilatildeo problema e a

busca de soluccedilotildees para o seu enfrentamento Nesse momento de construccedilatildeo das poliacuteticas os

especialistas e teacutecnicos na aacuterea constituem sujeitos fundamentais no processo sendo responsaacuteveis

pelo desenvolvimento de alternativas para os problemas da agenda puacuteblica (Alves 2010) A difusatildeo e

expansatildeo dos meios de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo gerou a demanda por conhecimentos especiacuteficos

para acessaacute-los compreendecirc-los e uso eficaz dos mesmos Melatildeo (2011 p 90) afirma que o conceito

de ldquoliteracia digitalrdquo surgiu da necessidade de enquadrar as habilidades e competecircncias necessaacuterias

aos cidadatildeos confrontados em permanecircncia com a evoluccedilatildeo das tecnologias digitais Assim a literacia

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

153

digital entrou na agenda poliacutetica primeiramente nos paiacuteses mais desenvolvidos e mais tarde nos paiacuteses

em desenvolvimento

Na Europa a literacia digital constitui uma preocupaccedilatildeo dos oacutergatildeos de educaccedilatildeo puacuteblica tal

como no Brasil fala-se muito em letramento digital Essa temaacutetica eacute reconhecida nos paiacuteses europeus

como um componente inseparaacutevel da cidadania e foi objeto da Directiva 200765CE do Parlamento

Europeu e do Conselho29 de 11 de Dezembro de 2007 em que no inciso 37 reza

A educaccedilatildeo para os media visa as competecircncias os conhecimentos e a compreensatildeo que permitem aos consumidores utilizarem os meios de comunicaccedilatildeo social de forma eficaz e segura as pessoas educadas para os media satildeo capazes de fazer escolhas informadas compreender a natureza dos conteuacutedos e serviccedilos e tirar partido de toda a gama de oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias das comunicaccedilotildees [estando] mais aptas a protegerem-se e a protegerem as suas famiacutelias contra material nocivo ou atentatoacuterio

No acircmbito das poliacuteticas europeias para os media30 a literacia digital serve principalmente ao

objetivo de fortalecer a competitividade e promover a inclusatildeo na economia mundial ndash hoje

fundamentada na informaccedilatildeo e no conhecimento

Sousa (2011) afirma que no acircmbito da Comissatildeo Europeia foram produzidos vaacuterios

documentos que tratam separadamente da educaccedilatildeo para os medias e da literacia digital De acordo

com Pinto et al (2011) a preocupaccedilatildeo com a educaccedilatildeo para o consumo criacutetico e criterioso dos meios

de comunicaccedilatildeo natildeo eacute recente no rol de formulaccedilotildees de poliacuteticas puacuteblicas Segundo os autores em

1982 um grupo de peritos da UNESCO (Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e

a Cultura) se reuniram na cidade alematilde de Gruumlnwald e publicou-se entatildeo a Declaraccedilatildeo de Gruumlnwald

sobre Educaccedilatildeo para os Media31 que alertava para a necessidade de preparar os jovens para lidarem

com as informaccedilotildees amplamente divulgadas nos meios de comunicaccedilatildeo disponiacuteveis na eacutepoca No texto

da Declaraccedilatildeo eacute evidente que os peritos reconheciam que estavam diante de um paradigma

tecnoloacutegico sem volta

Mais do que condenar ou apoiar o indubitaacutevel poder dos media torna-se necessaacuterio aceitar o seu impacto significativo e a sua difusatildeo por todo o mundo como um facto consumado valorizando ao mesmo tempo a sua relevacircncia como um importante elemento de cultura no mundo contemporacircneo

29 Disponiacutevel em lthttpwwwanacomptrenderjspcontentId=971531VsHP4_krLIUgt Acesso em 15 fev 2016 30 Media no portuguecircs lusitano eacute o mesmo que miacutedia meios de comunicaccedilatildeo no Brasil 31 Documento disponiacutevel no siacutetio lthttpwwwunescoorgeducationpdfMEDIA_EPDFgt Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

154

A preocupaccedilatildeo do documento eacute voltada para ldquoa educaccedilatildeo para os media como preparaccedilatildeo

para o exerciacutecio de uma cidadania responsaacutevelrdquo e convoca os educadores a natildeo ignorarem o

desenvolvimento na aacuterea comunicacional mas antes ldquoretirar algum ensinamento dos seus efeitosrdquo O

documento finaliza com um apelo as autoridades no sentido de fomentarem programas integrados de

educaccedilatildeo para os media do preacute-escolar agrave universidade desenvolverem cursos de formaccedilatildeo de

professores para ldquoaumentar seus conhecimentos e compreensatildeo dos mediasrdquo e incentivo agrave

cooperaccedilatildeo internacional na aacuterea da educaccedilatildeo para os media

Ainda segundo Pinto et al (2011) em 1984 a UNESCO produziu um documento intitulado

Lrsquoeacuteducation aux medias que reconhece a educaccedilatildeo para os media e informaccedilotildees como fundamentais

para a liberdade de expressatildeo e informaccedilatildeo tambeacutem para capacitar os cidadatildeos a entender as

funccedilotildees dos meios de comunicaccedilatildeo e ainda a habilitaacute-los a avaliar criticamente os conteuacutedos e tomar

decisotildees informadas como utilizadores e produtores de informaccedilatildeo

Em 1990 na cidade francesa de Toulouse membros da Conferecircncia Internacional sobre

Educaccedilatildeo para os Media evento tambeacutem promovido pela UNESCO produziram o documento lsquoNovas

Direccedilotildees na Educaccedilatildeo para os Mediarsquo32 Neste o foco foi a definiccedilatildeo de um termo especiacutefico para a

educaccedilatildeo para os media

Existe ainda muita discussatildeo sobre se a expressatildeo correta eacute educaccedilatildeo para os media consciecircncia mediaacutetica ou ldquoliteracia dos media Parece que literacia dos media vai prevalecer por causa da associaccedilatildeo mental com ldquoliteracia que significa a capacidade de ler e processar informaccedilatildeo a fim de participar plenamente na sociedade

Importante ressaltar o amadurecimento que o documento apresenta com relaccedilatildeo a como os

meios de comunicaccedilatildeo e suas mensagens atingem a sociedade e a reaccedilatildeo desta neste processo Nos

anos de 1950 e 1960 pensava-se no expectador das miacutedias como um mero receptor de mensagens

midiaacuteticas uma ldquotaacutebula rasa ou lousa em brancordquo que recebia as informaccedilotildees por meio dos meios de

comunicaccedilatildeo em massa Neste contexto argumenta o documento as poliacuteticas educacionais eram

voltadas a proteger as famiacutelias do excesso de informaccedilatildeo difundidas na miacutedia estabelecendo criteacuterios

do que era bom ou ruim Nos anos de 1970 e 1980 o foco foram questotildees mais ideoloacutegicas e de

ordem esteacutetica no que diz respeito ao uso criacutetico das informaccedilotildees veiculadas a que servem quais

seus interesses como estatildeo organizadas Neste momento o desenvolvimento da capacidade analiacutetica

e criacutetica com relaccedilatildeo aos meios de comunicaccedilatildeo foram demandas dos oacutergatildeos formuladores de 32 disponiacutevel em httpmilunescounaocorgnew-directions-in-media-education-unesco-1990 Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

155

poliacuteticas puacuteblicas O documento conclui que na deacutecada de 1990 jaacute tinham uma compreensatildeo de que

existia uma constante interaccedilatildeo entre o texto da mensagem o contexto do evento da miacutedia a

experiecircncia do expectador e o sistema de valores vigentes Assim o foco da educaccedilatildeo a partir deste

entendimento deveria ser a capacitaccedilatildeo para o espectador processar as mensagens dos meios de

comunicaccedilatildeo e produzir significados e sentidos proacuteprios

Outro importante evento tambeacutem promovido pela UNESCO a Conferecircncia de Viena realizada

em 1999 produziu um documento intitulado Educar para os Media na Era Digital33 O objetivo era

preparar um programa especiacutefico em educaccedilatildeo para os medias e a criaccedilatildeo de um espaccedilo mediaacutetico

para os jovens A preocupaccedilatildeo com as definiccedilotildees sobre educaccedilatildeo para os medias mais uma vez eacute

evidenciada com a descriccedilatildeo do seu campo de accedilatildeo conforme delimitado no documento

- habilidade de lidar com todos os meios de comunicaccedilatildeo e inclui a palavra impressa o som bem como a imagem em movimento distribuiacuteda em qualquer tipo de tecnologia

- confere agraves pessoas a capacidade de compreenderem os meios de comunicaccedilatildeo usados no seu contexto social e o seu modo de funcionamento e permite adquirir competecircncias para usar esses meios para comunicar com os outros

- garante que as pessoas aprendem a analisar a refletir criticamente e a criar textos mediaacuteticos aprendem a identificar as fontes de textos mediaacuteticos os interesses poliacuteticos sociais comerciais e interesses culturais e seus contextos aprendem a interpretar as mensagens e os valores veiculados pelos meios de comunicaccedilatildeo aprendem a selecionar meios adequados para comunicar as suas proacuteprias mensagens ou histoacuterias e para atingir o puacuteblico a quem se destina a mensagem

Na Conferecircncia de Viena as ldquonovas tecnologias digitaisrdquo foram introduzidas no rol dos meios

de comunicaccedilatildeo em ampla expansatildeo e destacou-se a necessidade da inclusatildeo nos curriacuteculos nacionais

da educaccedilatildeo para o medias O documento produzido na Conferecircncia dizia ldquoA educaccedilatildeo para os media

eacute parte integrante do direito baacutesico de todo cidadatildeo em todos os paiacuteses do mundo como o eacute a

liberdade de expressatildeo e o direito agrave informaccedilatildeo e eacute fundamental na construccedilatildeo e sustentaccedilatildeo da

democraciardquo

Jaacute na virada do milecircnio em face da expansatildeo das tecnologias digitais de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo foi realizado em 2002 o Seminaacuterio sobre Educaccedilatildeo para os Media34 em Sevilha na

33 Disponiacutevel em httpwwwmediamilioncom199904conferencia-de-viena-E2809Ceducando-para-la-era-digitalE2809D-1999 Acesso em 16 fev 2016 34 Disponiacutevel em httpmilunescounaocorgyouth-media-education-seminar-in-seville Acesso em 16 fev 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

156

Espanha O objetivo do evento foi avanccedilar nas discussotildees da conferecircncia de Viena no que respeita agrave

definiccedilotildees e conceitos de educaccedilatildeo para os medias e partir para a operacionalizaccedilatildeo com accedilotildees

especiacuteficas visando sua visibilidade e legitimidade O seminaacuterio estabeleceu algumas afirmativas

consensuais

Educaccedilatildeo para os Media estaacute mais relacionado com ensinar e aprender acerca dos media mais do que atraveacutes dos media envolve a anaacutelise criacutetica e produccedilatildeo criativa pode e deve ocorrer em contextos formais e informais deve promover o sentido de comunidade e de responsabilidade social bem como realizaccedilatildeo individual

Assim reconheceu-se que a ecircnfase natildeo deve ser no uso da ferramenta ou na tecnologia mas

aprender com a tecnologia em contextos educativos Neste sentido propotildee-se a educaccedilatildeo para os

medias com foco nos jovens em fase de desenvolvimento tambeacutem programas que envolvam os pais

nos contextos mediaacuteticos e ainda o reforccedilo na formaccedilatildeo de professores e outros profissionais visando

o conhecimento analiacutetico criacutetico dos medias e a produccedilatildeo criativa

De acordo com Lopes (2012) em 2006 foi formado um grupo de peritos europeus em literacia

mediaacutetica com o objetivo de definir objetivos e tendecircncias destacar boas praacuteticas e propor accedilotildees nesta

aacuterea Mediante consulta puacuteblica realizada com especialistas dos estados-membros da Uniatildeo Europeia

(empresas e instituiccedilotildees da miacutedia produtores de conteuacutedos oacutergatildeos reguladores e associaccedilatildeo de

cidadatildeos) formulou-se uma definiccedilatildeo europeia para literacia mediaacutetica ldquoa capacidade de aceder aos

medias de compreender e avaliar de modo criacutetico os diferentes aspectos dos medias e dos seus

conteuacutedos e de criar comunicaccedilotildees em diferentes contextosrdquo (LOPES 2012 p5)

A UNESCO35 em 2011 publicou a Declaraccedilatildeo de Fez sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos

Media onde se considera que ldquoa atual era digital e de convergecircncia das tecnologias da comunicaccedilatildeo

carecem de literacia mediaacutetica e informativa de modo a conseguir o desenvolvimento humano e

sustentaacutevel e sociedades participativasrdquo O referido documento foi elaborado durante o 1 ordm Foacuterum

Internacional sobre Literacia da Informaccedilatildeo e dos Media na cidade Marroquina de Fez promovido pela

UNESCO A literacia da informaccedilatildeo e dos medias foi reafirmada como direito humano fundamental

que deve ser assegurado a todo cidadatildeo No que diz respeito agrave educaccedilatildeo o documento recomenda

como metas ldquodotar professores e alunos com competecircncias em literacia informativa e para os media

de modo a edificar sociedades alfabetizadas neste acircmbito criando as condiccedilotildees para as sociedades do

35 UNESCO (2011) Recuperado em 10 fevereiro de 2016 de lthttpwwwunescoorgnewfileadminMULTIMEDIAHQCICIpdfnewsFez20Declarationpdfgt

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

157

conhecimentordquo Assim entende-se que a literacia mediatica ou digital estaacute relacionada com a educaccedilatildeo

para tecnologias sendo esta primeira imprescindiacutevel no processo de inclusatildeo na era digital

A publicaccedilatildeo Media and information Literacy (UNESCO 2013) recomenda algumas diretrizes e

orientaccedilotildees para os paiacuteses membros da UNESCO desenvolverem poliacuteticas estrateacutegicas de fomento ao

uso criacutetico e responsaacutevel das TDIC A referida publicaccedilatildeo apresenta experiecircncias de paiacuteses que

investiram fortemente em poliacuteticas de literacia mediaacutetica como a Argentina Marrocos Austraacutelia e

Finlacircndia O diferencial destes paiacuteses eacute a integraccedilatildeo das universidades empresas privadas

comunidades famiacutelias e o governo local na implantaccedilatildeo de projetos de formaccedilatildeo para a literacia

mediaacutetica

O Brasil como paiacutes membro da UNESCO tem buscado implementar poliacuteticas puacuteblicas de

formaccedilatildeo de professores para o uso das TDIC nos contextos educativos No sitei da UNESCOBrasil a

entidade informa que coopera com o governo brasileiro na promoccedilatildeo de accedilotildees de disseminaccedilatildeo de

TDIC nas escolas com o objetivo de melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem O marco

legal que regulamenta a formaccedilatildeo de professores a distacircncia no Brasil eacute a Lei de Diretrizes e Bases da

Educaccedilatildeo (LDB nordm939496) que no seu artigo 63 inciso III determina aos institutos superiores de

educaccedilatildeo que mantenham programas de formaccedilatildeo continuada de professores em diversos niacuteveis

Tambeacutem no artigo 87 Inciso III das disposiccedilotildees transitoacuterias os municiacutepios o Estado e a Uniatildeo satildeo

convocados a ldquorealizar programas de capacitaccedilatildeo para todos os professores em exerciacutecio utilizando

tambeacutem para isto os recursos de educaccedilatildeo a distacircnciardquo

No entanto segundo Toschi (2001) as tentativas de se instituir o ensino a distacircncia como

modalidade de educaccedilatildeo no Brasil datam os anos de 1960 mas natildeo obtiveram sucesso como

programas de alcance nacional Por exemplo entre 1967 e 1974 foi implementado em caraacuteter

experimental o Sistema Avanccedilado de Comunicaccedilotildees Interdisciplinares (Projeto Saci) com o objetivo de

estabelecer um sistema nacional de teleducaccedilatildeo com o uso de sateacutelites O referido projeto utilizava o

formato de telenovela Segundo Saraiva (1996) um projeto piloto inicial no estado do Rio Grande do

Norte era subdivido em dois projetos um destinado a alunos das trecircs primeiras seacuteries do ensino

fundamental e outro voltado para capacitar os professores Eram utilizados radio eou televisatildeo A

autora explica que aleacutem do uso da TV e o raacutedio o projeto oferecia mecanismos de feedback dos alunos

por meio de textos de instruccedilatildeo programada e sistema de de correccedilatildeo de testes por computador

Menezes e Santos (2001 p 1) apresentam a justificativa e os resultados obtidos do Projeto Saci

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

158

A adoccedilatildeo de educaccedilatildeo por sateacutelite foi vista como uma soluccedilatildeo no contexto dos anos 70 quando o nuacutemero de analfabetos no Brasil era considerado um entrave agrave modernizaccedilatildeo do paiacutes principalmente nas regiotildees Norte e Nordeste [] O projeto foi interrompido em 1978 sob o argumento dos altos custos de manutenccedilatildeo de sateacutelites e das diferenccedilas culturais entre o perfil dos programas produzidos no interior do estado de Satildeo Paulo

Embora o projeto Saci natildeo fosse especificamente voltado para a formaccedilatildeo dos professores

Draibe e Perez (1999) afirmam que durante deacutecadas no Brasil foram realizadas inuacutemeras iniciativas

pontuais com uso de raacutedio e TV para capacitar digitalmente os professores Segundo Almeida (2008)

ateacute agrave deacutecada de 1970 as atividades de tecnologia educativas no Brasil ocorreram por iniciativas

isoladas de grupos de pesquisadores pioneiros Embora contassem com algum financiamento puacuteblico

para as pesquisas natildeo havia diretrizes poliacuteticas puacuteblicas definidas para aacuterea A primeira iniciativa

nesse sentido foi a estruturaccedilatildeo da Comissatildeo Especial de Informaacutetica na Educaccedilatildeo (SEI) dentro do

Ministeacuterio de Educaccedilatildeo e Cultura (MEC) que realizou nos anos de 1981 a 1982 seminaacuterios temaacuteticos

com participaccedilatildeo da comunidade cientiacutefica a qual recomendou a realizaccedilatildeo de experimentos com

objetivo de instituir referecircncias para uma apropriado emprego das tecnologias antecedendo a sua

disseminaccedilatildeo massiva No quadro 07 estatildeo relacionadas as iniciativas pioneiras no Brasil de

informaacutetica na educaccedilatildeo segundo Almeida (2008 p 26)

Quadro 7 - Iniciativas pioneiras no Brasil de informaacutetica na educaccedilatildeo

ProgramaProjeto Objetivos Resultados Projeto EDUCOM ndash Educaccedilatildeo com Computador promovido pelo Ministeacuterio de Educaccedilatildeo do Brasil (MEC) no periacuteodo de 1984 a 1989

Visava a criaccedilatildeo de centros-piloto em cinco universidades puacuteblicas brasileiras com a finalidade de realizar pesquisa multidisciplinar e capacitar recursos humanos para subsidiar a decisatildeo de informatizaccedilatildeo da educaccedilatildeo puacuteblica brasileira

Tais centros apresentaram resultados em relaccedilatildeo a produccedilatildeo de software educativo aplicaccedilatildeo experimental desses softwares em escolas puacuteblicas mediante o uso do computador como ferramenta para desenvolvimento dos projetos

Projeto FORMAR criado pelo MEC em 1987

Promover cursos de especializaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu com 360h ou mais por meio do qual os professores eram preparados para atuar nesses centros como multiplicadores na formaccedilatildeo de outros professores mediante a oferta de cursos de informaacutetica na educaccedilatildeo

Os professores aprendiam a dominar a tecnologia estudavam teorias educacionais para compreender as concepccedilotildees inerentes ao uso da informaacutetica em educaccedilatildeo criavam propostas de disseminaccedilatildeo do uso do computador em suas instituiccedilotildees de origem

Programa Nacional de Informaacutetica Educativa ndash Proinfo em 1996

Desenvolver accedilotildees de capacitaccedilatildeo de professores e teacutecnicos implantar centros de informaacutetica na educaccedilatildeo apoiar a aquisiccedilatildeo de equipamentos computacionais e a produccedilatildeo aquisiccedilatildeo adaptaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de software educativo

Havia a expectativa de superar a abordagem educacional baseada na transmissatildeo de informaccedilotildees no entanto as praacuteticas inovadoras natildeo sustentavam diante das dificuldades enfrentadas pelos professores para levar avante o trabalho com projetos interdisciplinares ateacute chegar agrave sistematizaccedilatildeo do conhecimento produzido

Fonte adaptado de Almeida (2008)

O programa Salto para o Futuro produzido desde 1991 pela Fundaccedilatildeo Roquete Pinto foi o

embriatildeo para se pensar em uma poliacutetica efetiva de formaccedilatildeo de professores para as miacutedias Segundo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

159

Draibe e Perez (1999 p 31) foi nesse contexto que o MEC criou em 1995 o programa TV Escola que

consistia num ldquocomplexo de accedilotildees televisivas destinadas agrave capacitaccedilatildeo docente e agrave ampliaccedilatildeo dos

alunos agraves novas informaccedilotildeesrdquo Tambeacutem naquele ano foi implementado o Programa de Apoio

Tecnoloacutegico (PAT) que previa a distribuiccedilatildeo de Kits tecnoloacutegicos compostos por uma televisatildeo uma

antena paraboacutelica um viacutedeo cassete e uma caixa de fitas VHS Atualmente a programaccedilatildeo do

programa TV Escola estaacute dividida em faixas ensino infantil ensino fundamental ensino meacutedio Salto

para o futuro e Escola aberta Leva ao ar diariamente documentaacuterios estrangeiros cursos de

capacitaccedilatildeo a distacircncia e seacuteries Existe uma produccedilatildeo proacutepria de conteuacutedos que tanto pode ser vista

hoje na TV pelo sinal analoacutegico como pelo sinal digital Diferentes estudos revelam que o programa TV

Escola apesar de problemas relacionados com a infraestrutura e falta de teacutecnicos no suporte do

mesmo alcanccedilou seus objetivos em difundir as miacutedias nas escolas (Draibe e Perez 1999 Pretto

2002 Barreto 2004)

Apesar da UNESCO citar apenas o programa TV Escola como accedilatildeo efetiva das poliacuteticas para a

formaccedilatildeo de professores para o uso das miacutedias outra accedilatildeo relevante nesta aacuterea eacute o Programa

Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo) Trata-se de um programa educacional criado pela

Portaria nordm 522MEC de 9 de abril de 1997 para promover o uso pedagoacutegico das TDIC na rede

puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Segundo Holanda (2003) a concepccedilatildeo do programa eacute a

modernizaccedilatildeo tecnoloacutegica das escolas Aleacutem de equipar as escolas com computadores e perifeacutericos o

programa criou as estruturas dos Nuacutecleos de Tecnologia Educacional ndash NTE (unidades vinculadas agraves

Secretarias Estaduais ou Municipais de Educaccedilatildeo) que foram criadas para dar suporte ao ProInfo com

capacitaccedilatildeo assistecircncia teacutecnica e apoio pedagoacutegico

Em 2010 o programa Proinfo foi remodelado e passou a chamar-se Proinfo Integrado De

acordo com o site 36 do programa o seu objetivo eacute ldquoarticular as distribuiccedilatildeo dos equipamentos

tecnoloacutegicos nas escolas com oferta de conteuacutedos e recursos multimiacutedia e digitais oferecidos pelo

Portal do Professor pela TV Escola e DVD Escola pelo Domiacutenio Puacuteblico e pelo Banco Internacional de

Objetos Educacionaisrdquo Segundo a mesma fonte satildeo ofertados nos NTE das escolas os seguintes

cursos de capacitaccedilatildeo de professores curso Introduccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Digital (60h) curso Tecnologias na

Educaccedilatildeo ensinando e aprendendo com as TIC (60h) curso Elaboraccedilatildeo de Projetos (40h) e o curso

Redes de Aprendizagem (40h) O ldquoProjeto Um Computador por Alunordquo (PROUCA) faz parte do Proinfo

36 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=13156proinfo-integradoampcatid=271seed Acesso em 22 marccedilo 2015

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

160

Integrado Este de acordo com o mesmo site ldquoprocura preparar os participantes para o uso dos

programas do laptop educacional e propor atividades que proporcionem um melhor entendimento de

suas potencialidadesrdquo Estudos sobre a eficaacutecia do Proinfo e do PROUCA revelam que em regiotildees mais

afastadas dos grandes centros os impactos do programa satildeo mais efetivos e satildeo um diferencial na

formaccedilatildeo dos professores locais embora existam problemas relacionados com o vieacutes tecnoloacutegico em

detrimento com a formaccedilatildeo social dos envolvidos (Damaceno Bonilla e Passos 2012 Nassri 2012

Lima 2015)

O Proformaccedilatildeo ndash Programa Nacional de Formaccedilatildeo de Professores em Exerciacutecio criado em

1999 foi criado com o objetivo de formar os professores ldquoleigosrdquo atuantes nas escolas puacuteblicas do

Brasil O referido programa foi idealizado para atingir prioritariamente as Regiotildees Norte Nordeste e

Centro-Oeste locais onde existia um nuacutemero elevado de professores leigos a maior parte sem o

ensino fundamental (antigo 1ordm grau) Estudos realizados em diferentes cidades brasileiras revelaram

que o Proformaccedilatildeo contribuiu para a melhoria da qualidade dos profissionais que participaram com

influecircncia nas suas atividades de ensino Para os professores que chegaram a concluir o curso o

Programa garantiu natildeo apenas uma diplomaccedilatildeo em niacutevel meacutedio mas a certeza da apreensatildeo e

incorporaccedilatildeo de novos conhecimentos e atitudes (Joia 2001 Alencar 2006 Andreacute 2008) Outros

estudos apontaram fragilidades do programa como o aligeiramento da formaccedilatildeo com a incorporaccedilatildeo

da praacutetica do professor na carga horaacuteria do curso a baixa possibilidade de comunicaccedilatildeo do professor

cursista com o professor formador que gerava limitaccedilotildees na apreensatildeo e aprofundamento de

conceitos teoacutericos a dificuldade de deslocamento nas zonas rurais a contrataccedilatildeo de novos leigos a

natildeo atuaccedilatildeo do programa nas condiccedilotildees de trabalho dos professores e visatildeo mercadoloacutegica de ensino

em massa (Andrade 2009 Moraes 2003)

Outra importante accedilatildeo do MEC no que tange aacute formaccedilatildeo de professores para o uso das

miacutedias eacute o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo Criado em 2006 trata-se de um curso de especializaccedilatildeo a

distacircncia promovido atualmente pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior -

Capes37 dedicado ao uso das miacutedias no processo de ensino e aprendizagem de forma integradora

articulada e autoral com o objetivo de integrar as miacutedias e as tecnologias renovar as estrateacutegias

didaacuteticas garantindo aos educadores a possibilidade de lidar com linguagens de quatro miacutedias baacutesicas

material impresso TV e viacutedeo raacutedio e informaacutetica Esta proposta de curso eacute parecida com os princiacutepios 37 A Capes trata-se de uma fundaccedilatildeo do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (MEC) que fomenta a expansatildeo e consolidaccedilatildeo da qualidade da poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federaccedilatildeo Criada inicialmente para coordenar o alto padratildeo do Sistema Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo brasileiro passou a partir de 2007 a induzir e fomentar a formaccedilatildeo inicial e continuada de professores para a educaccedilatildeo baacutesica na modalidade presencial semi-presencial ou a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwcapesgovbrhistoria-e-missao Acesso em 16 abril 2014

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

161

da literacia mediaacutetica focaliza o uso criacutetico da aplicabilidade integrada das TIC enfatizando a autoria

autocircnoma e significativa dos professores cursistas O curso eacute ofertado em quase todos estados do

Brasil em 32 universidades puacuteblicas atingindo mais de cem mil professores jaacute capacitados pelo

programa No entanto estudos sobre o programa apontam para algumas fragilidades do programa

como seu caraacuteter fortemente instrumental (Tereya amp Moraes 2009) necessidades de ajustes na

metodologia (Arauacutejo 2009) problemas relacionados com infraestrutura e descentralizaccedilatildeo de recursos

que impactam diretamente nos resultados (Moura 2012) e ainda alto iacutendice de evasatildeo (Alves e Faria

2011)

No acircmbito das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores o governo

federal do Brasil investiu na educaccedilatildeo a distacircncia como uma estrateacutegia para alcanccedilar os municiacutepios

mais remotos deste paiacutes continental Em 2006 o MEC criou a Universidade Aberta do Brasil (UAB)38

O Sistema UAB foi instituiacutedo pelo Decreto 5800 de 8 de junho de 20064 em parceria com a

ANDIFES 39 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a Capes visando a expansatildeo da

Educaccedilatildeo Superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Natildeo se trata de uma

universidade virtual o Sistema UAB funciona como articulador entre as instituiccedilotildees de ensino superior

e os governos estaduais e municipais com vistas a atender agraves demandas locais por educaccedilatildeo superior

O puacuteblico em geral eacute atendido mas os professores que atuam na educaccedilatildeo baacutesica tecircm prioridade de

formaccedilatildeo seguidos dos dirigentes gestores e trabalhadores em educaccedilatildeo baacutesica dos estados

municiacutepios e do Distrito Federal Atualmente a UAB tem a adesatildeo de 96 universidades e institutos

federais e oferta cursos em diversos niacuteveis desde o aperfeiccediloamento ateacute os programas de Mestrado

Profissional a distacircncia em 776 polos de educaccedilatildeo a distacircncia Em 2014 foram ofertadas 775857

vagas sendo que 277045 satildeo destinadas a professores da rede baacutesica conforme apresentado no

Quadro 08

38 Criada em 2005 o sistema UAB eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponiacutevel em httpwwwuabcapesgovbr Acesso em 10 abril 2016 39 A Associaccedilatildeo Nacional dos Dirigentes das Instituiccedilotildees Federais de Ensino Superior (ANDIFES) constitui a representante oficial das universidades federais na interlocuccedilatildeo com o governo federal com as associaccedilotildees de professores de teacutecnico-administrativos de estudantes e com a sociedade em geral Disponiacutevel em httpwwwandifesorgbrinstitucionala-andifes Acesso em 26 dez2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

162

Quadro 8 - A UAB em nuacutemeros no ano de 2014

Fonte httpwwwbibeadufrjbrapresentacoesbibead2014-ap-apresentacao-UABpdf

No capiacutetulo quarto deste trabalho seratildeo apresentadas mais especificidades da UAB

considerando que o curso de graduaccedilatildeo a distacircncia em questatildeo nesta pesquisa eacute ofertado pelo referido

sistema

Ainda dentro das poliacuteticas puacuteblicas para formaccedilatildeo inicial e continuada de professores apoiada

por TDIC em 2009 o MEC lanccedilou o Plano Nacional de Formaccedilatildeo de Professores ndash PARFOR Trata-se

de um programa emergencial instituiacutedo para atender o disposto no artigo 11 inciso III do Decreto nordm

67552009 que prevecirc como uma das funccedilotildees da Capes fomentar oferta emergencial de cursos de

licenciaturas e de cursos ou programas especiais dirigidos aos docentes em exerciacutecio haacute pelo menos trecircs

anos na rede puacuteblica de educaccedilatildeo baacutesica que sejam graduados natildeo licenciados licenciados em aacuterea

diversa da atuaccedilatildeo docente e de niacutevel meacutedio na modalidade Normal Visando cumprir o disposto

neste Decreto o Parfor foi implantado em regime de colaboraccedilatildeo entre a Capes os estados

municiacutepios o Distrito Federal e as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior ndash IE

Atendendo as recomendaccedilotildees da Capes os cursos do PARFOR satildeo presenciais modulados

com ofertas geralmente nos meses de feacuterias docentes janeiro fevereiro e julho conforme calendaacuterio

preacute-definido pela instituiccedilatildeo ofertante As disciplinas ministradas presencialmente contemplam um total

equivalente a 80 da sua carga horaacuteria Os 20 remanescentes satildeo ministrados via Plataforma Moodle

ou por meio de estudos orientados e produccedilatildeo de material No entanto estudos realizados

constataram que o PARFOR tem sido executado na maioria das universidades em regime semi-

presencial com restriccedilotildees agrave efetiva participaccedilatildeo dos alunos no ambiente acadecircmico das universidades

ofertantes contrataccedilatildeo de docentes novos sem qualquer viacutenculo institucional (e quase sempre sem

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

163

experiecircncia no ensino superior) e conteuacutedos programados de forma aligeirada (Bello 2009 Mororoacute

2012) Outros estudos revelam a dificuldades que os alunos do Parfor (professores da rede baacutesica)

enfrentam ao lidar com as tecnologias e o uso do computador e suas ferramentas satildeo subutilizadas

uma vez que se restringe na maior parte dos casos ao uso de envio e recebimento de e-mails

Tambeacutem se constatou uma preocupaccedilatildeo no aligeiramento e urgecircncia da formaccedilatildeo em detrimento do

processo pedagoacutegico e da comunicaccedilatildeo entre os participantes dos cursos na Plataforma Moodle

(Gonccedilalves 2014 Atayde 2012)

Em 2016 o MEC lanccedilou a Rede Universidade do Professor Esta tem como objetivo oferecer

oportunidades de 1ordf Licenciatura para professores sem niacutevel superior a 2ordf Licenciatura para

professores licenciados mas que atuam fora de sua aacuterea de formaccedilatildeo e a Formaccedilatildeo Pedagoacutegica para

professores graduados natildeo licenciados O site da Plataforma Freire (httpfreirecapesgovbr) em

que os professores devem se inscrever explica que o referido programa tem por objetivo sistematizar a

oferta de formaccedilatildeo inicial e continuada dos professores da rede puacuteblica da Educaccedilatildeo Baacutesica No

lanccedilamento do programa foram ofertadas 105 mil vagas visando o cumprimento da Meta 15 do Plano

Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) para o alcance de uma Educaccedilatildeo de qualidade

Meta 15 garantir em regime de colaboraccedilatildeo entre a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios no prazo de 1 (um) ano de vigecircncia deste PNE poliacutetica nacional de formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo de que tratam os incisos I II e III do caput do art 61 da Lei nordm 9394 de 20 de dezembro de 1996 assegurado que todos os professores e as professoras da educaccedilatildeo baacutesica possuam formaccedilatildeo especiacutefica de niacutevel superior obtida em curso de licenciatura na aacuterea de conhecimento em que atuam

Os cursos seratildeo ofertados na modalidade a distacircncia na UAB e na modalidade presencial

regular em vagas remanescentes das instituiccedilotildees federais Assim o governo federal tem investido na

educaccedilatildeo mediada por tecnologias para a formaccedilatildeo em serviccedilo dos professores da rede puacuteblica de

ensino A necessidade de formar estes professores para apropriaccedilatildeo das TDIC para o melhor

aproveitamento dos cursos eacute fundamental tendo em vista que muitos natildeo possuem niacuteveis de literacia

digital favoraacuteveis

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute abordado o campo de tensatildeo ainda existente nas escolas e

universidades em relaccedilatildeo agraves tecnologias Mesmo natildeo sendo mais ldquonovasrdquo as tecnologias carregam

esse adjetivo e ainda satildeo alvo de resistecircncia de alguns professores e demais profissionais da educaccedilatildeo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

164

33 Tecnologias versus professores o campo de tensatildeo nas escolas

No campo educacional a entrada das tecnologias enfrenta tensotildees A presenccedila de aparelhos

celulares tablets e computadores durante as aulas constitui ponto de controveacutersia entre professores

gestores e formuladores de poliacuteticas puacuteblicas Educadores se queixam da dispersatildeo dos alunos nas

aulas e da dificuldade de conduzir as aulas enquanto os jovens estatildeo trocando mensagens jogando

tirando fotos ou ouvindo muacutesicas nos celulares e tablets Segundo Kolb (2008) a presenccedila dos

aparelhos celulares gera desconforto ateacute mesmo aos funcionaacuterios da escola que dispensam tempo e

energia para desenvolver procedimentos sobre como manter o celular fora da sala de aula Mesmo

quando o professor propotildee uma atividade que requer pesquisa na internet os alunos utilizam motores

de busca mas possuem baixo senso criacutetico em relaccedilatildeo agrave credibilidade das informaccedilotildees copiam e

colam os textos sem referenciar as fontes e tecircm dificuldade em analisar interpretar e construir textos a

partir das leituras quase sempre raacutepidas em resumos (Lage e Dias 2012)

A soluccedilatildeo encontrada na maioria das escolas eacute a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares e tablets

nas salas de aula alguns estabelecimentos de educaccedilatildeo natildeo toleram os dispositivos nem mesmo em

outros ambientes da escola No Brasil existe uma proposta em anaacutelise na Cacircmara dos Deputados (PL

1041540) que proiacutebe o uso de aparelhos eletrocircnicos portaacuteteis como celulares e tablets nas salas de

aula da educaccedilatildeo baacutesica e superior de todo o paiacutes O projeto prevecirc que os aparelhos somente seratildeo

admitidos em sala se integrar as atividades didaacutetico-pedagoacutegicas e forem autorizados pelos

professores A justificativa do deputado autor do projeto eacute que ldquoos equipamentos eletrocircnicos portaacuteteis

desviam a atenccedilatildeo do aluno do trabalho didaacutetico desenvolvido pelo professorrdquo Certamente se o

professor natildeo tiver um objetivo e um plano direcionado para usar o celular em uma determinada aula

os alunos iratildeo se dispersar

A proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares na escola natildeo eacute restrita aos alunos professores e

funcionaacuterios das escolas tambeacutem satildeo considerados ldquorefeacutensrdquo das tecnologias O Projeto de Lei

18712015 (PL 2015) de autoria do deputado Heuler Cruvinel foi considerado pelo seu relator

Deputado Cesar Halum como procedente a proibiccedilatildeo dos aparelhos celulares com extensatildeo para os

professores e funcionaacuterios da escola O relator justificou a preocupaccedilatildeo do colega que submeteu a PL

em questatildeo agrave Cacircmera Parlamentar

40 Disponiacutevel em httpwwwcamaragovbrproposicoesWebfichadetramitacaoidProposicao=945492 Acesso em 08 mar 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

165

Com razatildeo ele se preocupa com os efeitos deleteacuterios do uso improacuteprio dos celulares no ambiente escolar principalmente nas salas de aula para fins outros que natildeo o ensino ou a aprendizagem E natildeo eacute um problema que afete apenas os estudantes tambeacutem os professores e o pessoal das escolas praticamente vivem de telefone celular na matildeo ou a seu faacutecil alcance teclando ou consultando sua telinha neste novo mundo em rede que todos noacutes hoje habitamos (Projeto de Lei 187115 2015 p 3)

No Estado do Tocantins o uso de celulares na sala de aula tambeacutem eacute proibido por lei O aluno

ldquoflagradordquo usando o celular em aula tem o dispositivo apreendido pela coordenaccedilatildeo da escola e

dependendo do caso apenas os pais podem retiraacute-lo O projeto de Lei 31312 justifica o motivo da

proibiccedilatildeo ldquoA mateacuteria foi embasada em reclamaccedilotildees de professores que relataram a dificuldade de

trabalhar em razatildeo da constante troca de torpedos entre alunos em sala de aula A intenccedilatildeo eacute fazer

com que a atenccedilatildeo do aluno fique integralmente voltada aos estudosrdquo Esta proibiccedilatildeo veda as

tentativas de alguns poucos professores em trabalhar com os tablets e celulares na sala de aula

Na visatildeo de Adelina Moura (2009) pesquisadora portuguesa na aacuterea de tecnologia educativa

as causas da proibiccedilatildeo do uso de celulares na escola parte dos professores que reclamam da falta de

atenccedilatildeo e dispersatildeo dos alunos provocados pelos aparelhos Segundo a autora os pais datildeo celulares

aos filhos na expectativa que tenham controle sobre eles mas o que ocorre eacute que nem os pais

tampouco os filhos que portam o celular na escola usam-no com respeito os pais ficam ligando para

os filhos por motivos banais no horaacuterio das aulas e os filhos conversando e trocando mensagens com

os colegas na aula Em consequecircncia o celular eacute ldquodemonizadordquo pela escola e pelos oacutergatildeos

reguladores da educaccedilatildeo

Moura (2009) entende que a proibiccedilatildeo do uso dos aparelhos celulares na sala de aula natildeo eacute

uma soluccedilatildeo viaacutevel A autora afirma que em vez de banir os dispositivos moacuteveis a escola deveria

integraacute-los agraves atividades pedagoacutegicas Moura questiona

se entregarmos um kit a um professor com uma cacircmera fotograacutefica uma cacircmera de viacutedeo um gravador de som um reprodutor de aacuteudio e um dispositivo que possibilita a navegaccedilatildeo na internet para cada aluno e garantirmos ao professor que natildeo teraacute de ensinar aos alunos a manuseaacute-lo seraacute realidade ou ficccedilatildeo (idem p74)

O celular ou o tablet possuem todos os recursos deste kit e a maioria dos alunos jaacute tecircm um

destes dispositivos Assim conclui a autora os professores natildeo podem virar as costas para as

possibilidades que os dispositivos moacuteveis proporcionam devem aproveitar as funcionalidades deste

recurso e a motivaccedilatildeo dos alunos em usaacute-lo Para tanto os professores precisam aprender e apreender

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

166

as tecnologias para entatildeo as trabalharem com seus alunos levando-os a entender os dispositivos

moacuteveis como potencializadores da comunicaccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento e que haacute momentos e

ocasiotildees apropriadas para seu uso

A inserccedilatildeo de equipamentos tecnoloacutegicos nas escolas desprovida de uma discussatildeo teoacuterica e

metodoloacutegica com os envolvidos (professores teacutecnicos educacionais gestores escolares e alunos) tem

constituiacutedo outra barreira para a integraccedilatildeo das tecnologias no ambiente escolar Em 2005 foi

realizado um estudo investigativo (Silva amp Silva 2005) nas escolas do 1ordm Ciclo do Ensino Baacutesico no

Norte de Portugal em que foram dirigidos questionaacuterios a todos coordenadores das 39 escolas da

rede recolhendo dados sobre a integraccedilatildeo das TDIC e as condiccedilotildees de funcionamento dos

equipamentos Tambeacutem foi dirigido um questionaacuterio a todos os professores que lecionam nessas

escolas sobre a utilizaccedilatildeo das TDIC Segundo os autores da pesquisa constatou-se um ldquochoque

tecnoloacutegicordquo advindo dos programas de aparelhamento das escolas com computadores perifeacutericos

softwares e internet e a consequente falta de integraccedilatildeo dos professores com essas parafernaacutelias

tecnoloacutegicas No tocante ao conhecimento dos professores na aacuterea das TDIC Silva e Silva (idem p

2712) verificaram apoacutes tabulaccedilatildeo dos questionaacuterios que ldquomuitos possuem conhecimentos suficientes

para poderem utilizar de forma adequada pedagoacutegica e comunicacional o computador o viacutedeo e

principalmente a internetrdquo Sobre formaccedilatildeo nesta aacuterea apenas 17 a 15 mencionaram ter realizado

No aspecto da utilizaccedilatildeo das TDIC o estudo constatou que apenas um nuacutemero reduzido de

professores utiliza alguma tecnologia na preparaccedilatildeo das aulas ou na sala de aula com os alunos Os

professores com menos de 40 anos se destacaram como usuaacuterios mais frequentes das tecnologias

em especial o computador Na dimensatildeo sobre a atitude dos professores diante o uso das TDIC as

constataccedilotildees segundo autores satildeo contraditoacuterias

A anaacutelise da informaccedilatildeo revela alguma contradiccedilatildeo pois se a maioria dos professores discorda da ideia de que trabalhar com as TIC os potildee tensos o mesmo natildeo se passa perante o facto consumado em que apenas uma minoria afirma que se sente bem a trabalhar com tecnologias Se por um lado a maioria dos professores revela que tem prazer na utilizaccedilatildeo das TIC por outro lado tambeacutem afirmam que natildeo satildeo de lidar bem com as tecnologias O consenso eacute atingido quando a grande maioria dos professores (acima dos 90) manifesta interesse e a intenccedilatildeo em aprender mais sobre aplicaccedilotildees das TIC na aprendizagem (idem 2173)

Assim explica-se o termo ldquochoque tecnoloacutegicordquo pois ao mesmo tempo em que estes

professores revelam sentir prazer quando utilizam as TDIC eles natildeo se sentem habilitados a lidar bem

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

167

com elas Embora o estudo tenha averiguado que as escolas possuam equipamentos multimiacutedia como

computador ligado agrave internet verificou-se que esta prerrogativa natildeo eacute suficiente para a utilizaccedilatildeo destes

pelos professores O referido estudo aponta para a formaccedilatildeo dos professores como uma estrateacutegia

para vencer os obstaacuteculos para qualquer inovaccedilatildeo tecnoloacutegica inserida na escola

No Ensino Superior num estudo realizado no Brasil Mazurkievicz (2012) constatou que os

professores receacutem-formados estatildeo mais dispostos a usarem as tecnologias digitais na sua praacutetica

pedagoacutegica Entrevistas e relatos de experiecircncias com professores universitaacuterios revelaram que os

professores mais experientes no Ensino Superior demonstram ser mais relutantes em incorporar a

tecnologia em suas aulas e na interaccedilatildeo com os alunos fora dos espaccedilos escolares Sobre a

concepccedilatildeo de literacia digital para os docentes o autor concluiu

Neste contexto a concepccedilatildeo de literacia digital eacute desconhecida pelo maioria dos docentes bem como o processo e tambeacutem a utilizaccedilatildeo de TIC e ainda as atividades dos professores dentro do AVA institucional restringe-se a ferramentas ldquoengessadasrdquo visto que a utilizaccedilatildeo de outras ferramentas de interaccedilatildeo com os alunos natildeo satildeo estimuladas (idem p173)

Mazurkievicz aponta a formaccedilatildeo continuada articulada com praacuteticas de literacia digital no

acircmbito escolar como fundamental para a agregaccedilatildeo dos professores aos recursos tecnoloacutegicos que

estatildeo nas matildeos dos alunos

Na visatildeo de Buzato (2006) o que se espera do professor e tambeacutem do aluno eacute que os

mesmos ultrapassem o limite do conhecimento das teacutecnicas siacutembolos ou habilidades associadas ao

uso das TIC e sejam estimulados a praticar as TIC socialmente dominem diferentes gecircneros digitais

que estatildeo sendo construiacutedos socialmente na teia de relaccedilotildees sociais Conforme Freitas (2010 p 348)

o aluno nativo digital traz para a escola o que descobriu em suas navegaccedilotildees de internauta e estaacute

disposto a discutir com seus colegas e principalmente com o seu professor Dessa forma

[] Ele natildeo vecirc mais o professor como um transmissor ou a principal fonte de conhecimento mas espera que ele se apresente como um orientador das discussotildees travadas em sala de aula ou mesmo nos ambientes on-line integrados agraves atividades escolares A possibilidade de pesquisar ler e conhecer sobre os mais variados assuntos navegando na internet confere ao aluno um novo perfil de estudante que exige tambeacutem novo perfil de professor Cabe ao professor estar atento a essa nova fonte de informaccedilotildees para transformaacute-las junto com os alunos em conhecimento

Assim algumas das caracteriacutesticas da literacia digital seriam a capacidade de associar

informaccedilotildees ter uma perspectiva criacutetica diante delas transformando-as em conhecimento Neste

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

168

sentido o professor na era digital haacute de entender que natildeo compete a ele ser o difusor do

conhecimento pois os meios tecnoloacutegicos jaacute o fazem com certa eficaacutecia Antes precisa aprender a

manipular a tecnologia e orientar os alunos a manipularem para que ambos natildeo sejam manipulados

por ela (Roman 2006)

Considerando o cenaacuterio atual em que as tecnologias estatildeo em processo de expansatildeo de forma

vertiginosa eacute claro e visiacutevel que a tendecircncia da educaccedilatildeo eacute extrapolar os muros das escolas e

universidades As aprendizagens ocorrem em espaccedilos natildeo formais em ambientes virtuais mediados

por tutores especializados ou em comunidades virtuais e outros espaccedilos natildeo escolares Para os

estudantes que jaacute nascem cercados das tecnologias em suas residecircncias a tecnologia natildeo eacute um

problema Mas ao levarem seus celulares e tablets para a escola estatildeo estendendo aos professores

uma demanda clara estes precisam integrar as tecnologias digitais aos processos de aprendizagem

dos alunos Desta forma os professores nas aulas presenciais satildeo desafiados a dialogar com os

alunos problematizar os acontecimentos da atualidade despertar o interesse na pesquisa propor

atividades que integrem as miacutedias atuais

No entanto os tablets e outros dispositivos moacuteveis natildeo obtiveram respaldo nas praacuteticas

docentes como ocorreu com a introduccedilatildeo do quadro-negro Considerando estes pressupostos faz-se

necessaacuterio conhecer o cenaacuterio atual e investigar as raiacutezes das praacuteticas educativas com o uso de

tecnologia para se compreender a resistecircncia do professor agraves mesmas A proacutexima seccedilatildeo deste capiacutetulo

apresenta um retrospectivo histoacuterico da inserccedilatildeo das tecnologias no acircmbito educacional a partir da

introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas tecnologia fundamental na elaboraccedilatildeo da concepccedilatildeo de

escola que prevalece a mais de 150 anos

3 4 Do quadro-negro ao tablet concepccedilotildees pedagoacutegicas dos professores acerca das tecnologias

A tecnologia sempre esteve presente no acircmbito escolar Desde a invenccedilatildeo da escrita aos dias

atuais com o uso de lousas digitais Conforme jaacute mencionado anteriormente no capiacutetulo 1 deste

trabalho o termo tecnologia vem do grego technecirc (arte ofiacutecio) e logos (estudo de) e referiacutea-se a

ldquotermos teacutecnicos designando os utensiacutelios as maacutequinas as suas partes e as operaccedilotildees dos ofiacuteciosrdquo

(Blanco e Silva 1993 p 37) Silva (2001 p 842) esclarecendo sobre o mesmo termo argumenta

que tecnologia pressupotildee ldquomais do que a familiarizaccedilatildeo com o saber teacutecnico uma formulaccedilatildeo

discursiva reflectida e teoacuterica Ao integrar os elementos baacutesicos do fazer e a reflexatildeo teoacuterica do saber a

tecnologia pode ser considerada como a teoria da teacutecnicardquo O autor afirma que a escola foi herdeira do

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

169

uso da linguagem escrita que exigia do escriba aleacutem do conhecimento da teacutecnica de cozer as taacutebuas

de argilas ou preparar o papel (pergaminho ou papiro) e a tinta para escrever demandava tambeacutem

uma formulaccedilatildeo discursiva mais elaborada o entendimento dos signos alfabeacuteticos e sua posiccedilatildeo

correta regras e coacutedigos especiacuteficos

Assim a escrita exigia do escriba um local preparaccedilatildeo intrumentos suportes e tintas

Igualmente com a invenccedilatildeo das prensas tipograacuteficas por Gutemberg aleacutem das teacutecnicas e do

conhecimento para imprimir livros em seacuterie eram necessaacuterias maacutequinas e instrumentos especiacuteficos

para realizar Logo as tecnologias satildeo ligadas a instrumentos ou artefatos que possibilitam sua

existencia Silva (2001 p 842) chama esses instrumentos de maacutequina Em suas palavras ldquomaacutequina

apresenta-se como um objecto concreto um instrumento certamente produto da teacutecnica e que

necessita dela para a sua concepccedilatildeo produccedilatildeo e utilizaccedilatildeordquo Silva explica que nem sempre a teacutecnica

exige a existecircncia de uma maacutequina mas toda maacutequina ou instrumento eacute produto de uma teacutecnica

Neste sentido os objetos instrumentos ou artefatos tecnoloacutegicos usados na escola desde os

primoacuterdios da invenccedilatildeo da escrita satildeo produtos de uma teacutecnica e como tal natildeo satildeo neutros De tal

modo a tecnologia e os artefatos produzidos por ela refletem os planos propoacutesitos e valores de uma

sociedade

Fazer tecnologia eacute sem duacutevida fazer poliacutetica e dado que a poliacutetica eacute um assunto de interesse geral deveriacuteamos ter a oportunidade de decidir que tipo de tecnologia desejamos Mantendo o discurso que a tecnologia eacute neutra favorece a intervenccedilatildeo de experts que decidem o que eacute correto baseando-se em uma avaliaccedilatildeo objetiva e impede por sua vez a participaccedilatildeo democraacutetica na discussatildeo sobre planejamento e inovaccedilatildeo tecnoloacutegica (Garciacutea Cerezo e Loacutepez 1996 p 132)

Considerando estes pressupostos no acircmbito da escola a inserccedilatildeo de determinado artefato

mobiliaacuterio instrumentos e outros assessoacuterios de uso pedagoacutegico estatildeo imbuiacutedos da concepccedilatildeo

pedagoacutegica da poliacutetica educacional vigente A tecnologia da escrita foi concebida no ensino baseado na

oralidade e possuiacutea instrumentos especiacuteficos que validavam essa concepccedilatildeo Mais tarde com a

invenccedilatildeo da tecnologia da imprensa e a produccedilatildeo de livros o foco era a pedagogia da transmissatildeo O

quadro-negro e o giz foram por muito tempo a tecnologia mais usada pelo professor para ldquotransmitirrdquo

o conhecimento a seus alunos

Segundo Blanco e Silva (1993 p 41) foi somente apoacutes a primeira guerra mundial que as

escolas sob pressatildeo da induacutestria de instrumentaccedilatildeo oacuteptica comeccedilaram a receber aparelhos

audiovisuais que de acordo com os autores foram adquiridos precipitadamente sem atender as

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

170

necessidades de produccedilatildeo de documentos pedagogicamente adequados e agrave formaccedilatildeo de professores

para sua utilizaccedilatildeo teacutecnica e didaacutetica Na deacutecada de 1960 do seacuteculo XX com o avanccedilo dos meios de

comunicaccedilatildeo em massa como a TV e o raacutedio a discussatildeo sobre o uso das tecnologias entrou na pauta

dos elaboradores de curriacuteculo A esta altura jaacute se usava nas escolas mimeoacutegrafos retroprojetores

televisatildeo filmes e outros artefatos tecnoloacutegicos

No entanto muito antes de se chegar agraves escolas a informaacutetica e outras inovaccedilotildees um objeto

simples o quadro-negro presente em todas as salas de aulas contribuiria para uma revoluccedilatildeo

pedagoacutegica Noacutevoa (2014) chega a afirmar que o quadro-negro inventou o modelo escolar que perdura

ateacute os nossos dias Tambeacutem Heacutebrard (Heacutebrard 1995 p 7) compartilha a mesma visatildeo

A invenccedilatildeo do quadro-negro eacute portanto uma revoluccedilatildeo pedagoacutegica de grandes proporccedilotildees Permite a classes numerosas aprender a escrever e a contar Permite tambeacutem substituir a tradicional aprendizagem uacutenica da leitura pelo tripeacute do lerndashescreverndashcontar sem o qual a partir do seacuteculo XVIII natildeo existe mais escola no sentido que esta palavra entatildeo adquiriu

Assim segundo esses autores a introduccedilatildeo do quadro-negro (um dispositivo de ensino coletivo)

nas escolas marcou a discussatildeo sobre o modo de organizar a escola (organizaccedilatildeo das classes

mobiliaacuterio curriacuteculo) e redefiniu a simultaneidade do ensino (Barra 2001) Para uma melhor

compreensatildeo de como isso ocorreu retomamos agrave idade meacutedia para conhecer o meacutetodo de ensino

daquele periacuteodo e as mudanccedilas trazidas com a introduccedilatildeo do quadro-negro nas salas de aulas

Na idade meacutedia entre os seacuteculos XV e XVIII o ensino era elitista e individual As familias

aristocraacuteticas contavam com um preceptor que atendia agrave educaccedilatildeo moral e intelecutual da crianccedila ou

jovem na sua proacutepria casa Era um ensino personalizado que de acordo com Arauacutejo (2006 p 19)

implicava a relaccedilao intersubjetiva de um professor com o seu aluno com as preocupaccedilotildees do primeiro se estruturando em vistas das necessidades dos obstaacuteculos das possibilidades e das dificuldades do segundo com quem ele mantinha um comprometimento em vista de seu desenvolvimento fundamentalmente intelectual e moral

Portanto como jaacute foi exposto no capiacutetulo primeiro deste trabalho a educaccedilatildeo nesse periacuteodo

era reservada a poucos privilegiados que tinham acesso aos mestres preceptores A escola puacuteblica

gratuita e universal surge na Europa no fim do seacuteculo XVIII na eacutegide da conflaglaccedilatildeo dos ideiais

iluministas O contexto econocircmico dos paiacuteses europeus era a crescente industrializaccedilatildeo Sousa e Fino

(2008) afirmam que a expansatildeo das faacutebricas provocou a migraccedilatildeo do campo para a cidade de grandes

massas de operaacuterios que passaram a viver em condiccedilotildees precaacuterias e insalubres As jornadas de

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

171

trabalho excessivas em troca de salaacuterios miacuteseros fizeram com que as pessoas se unissem em

sindicatos trabalhistas para se fortaleceram em busca de melhores condiccedilotildees de trabalho A instituiccedilatildeo

da escola puacuteblica para todos surge entatildeo como o espaccedilo que poderia promover a pacificaccedilatildeo social e

formar um novo tipo de homem adaptado ao modelo de produccedilatildeo da faacutebrica Assim as escolas foram

organizadas no modelo parecido os das faacutebricas com sirenes salas divididas para diferentes mateacuterias

crianccedilas separadas por grupos por faixa etaacuteria e testes padronizados para testar a ldquoqualidaderdquo dos

mesmos

A disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio da escola com lugares fixos individuais quadro-negro na base da

sala e mesa do professor agrave frente das carteiras dos alunos promovia uma disciplina riacutegida que

possibilitava a vigilacircncia incansaacutevel do professor inflexiacutevel Sobre este modelo de ensino em massa

Tofller (1970 p 396) afirma

A soluccedilatildeo soacute podia ser um sistema educacional que na sua proacutepria estrutura simulasse esse mundo novo Tal sistema natildeo surgiu logo ainda hoje conserva elementos retroacutegrados da sociedade preacute-industrial No entanto a ideia geral de reunir multidotildees de estudantes (mateacuteria-prima) destinados a ser processados por professores (operaacuterios) numa escola central (faacutebrica) foi uma demonstraccedilatildeo de geacutenio industrial

De tal modo ensinar e treinar vaacuterias pessoas ao mesmo tempo constituiacutea uma necessidade

urgente naqueles tempos de expansatildeo industrial Emergiam as ldquoescolas muacutetuasrdquo que de acordo com

Cardoso (1999) surgiram na Inglaterra no final do seacuteculo XVIII e tiveram como mentores Joseph

Lancaster e Andreacute Bell A proposta consistia na divisatildeo dos alunos em pequenos grupos que recebiam

a liccedilatildeo do professor O aluno que se sobressaiacutesse seria o ldquoagente principalrdquo e era previamente

preparado pelo professor para ensinar os demais Assim um professor poderia ldquoinstruir muitas

centenas de crianccedilasrdquo (Eby 1978 p 325) O ldquomeacutetodo muacutetuo ou simultacircneordquo como foi chamado o

ensino dirigido a muitos alunos numa sala de aula foi facilitado com a chegada do quadro-negro nas

escolas no iniacutecio do seacuteculo XIX Sobre este novo meacutetodo Luzuriaga (2001 pp 54-55) escreveu

[] se instruiacutea ao mesmo tempo a muitos alunos com poucos professores ficando os primeiros sob o cuidado dos chamados monitores O sistema se estendeu rapidamente pelo aumento da populaccedilatildeo devido agrave Revoluccedilatildeo Industrial e agrave necessidade de atender rapidamente ao seu ensino

Logo o quadro-negro constituiu uma tecnologia inovadora que possibilitava ensinar mais pessoas ao

mesmo tempo com baixo custo

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

172

Segundo Bastos (2005) inicialmente natildeo soacute o professor tinha seu quadro mas tambeacutem os

alunos A princiacutepio o quadro usado era feito de um pedra chamada ardoacutesia comum na Europa cuja a

vantagem era seu baixo custo mas que por outro lado relatam-se suas desvantagens era dura pesada

e fria Barra (2013) relata que diante destes inconvenientes criaram-se novas formas de

aperfeiccediloamento da ardoacutesia fixaccedilatildeo na mesa e enquadramento de madeira Cada aluno possuiacutea sua

lousa de ardoacutesia individual Esta constituiacutea de uma fina placa de xisto de ardoacutesia retangular de 20

centiacutemetros de cumprimento por 30 centiacutemetros de largura protegido por uma moldura em madeira

Os alunos usavam um laacutepis com ponta de ardoacutesia para escrever na lousa para apagar usavam um

pedaccedilo de couro parecido com sola de sapato ou mesmo cuspe (este uacuteltimo era proibido) Somente

depois que os alunos aperfeiccediloassem a escrita usando a sua pedra de lousa eacute que lhes era permitido

comeccedilar a escrever com tinta e pena de accedilo Segundo o autor ldquoa utilizaccedilatildeo de materiais como o papel

ou a pena de ganso era inviaacutevel do ponto de vista econocircmico o preparo da pena exigia habilidade e era

tarefa do professorrdquo (Barra 2013 p 122) Tambeacutem o papel era caro e exigia uma mesa com vaacuterios

assessoacuterios como tinteiro pena reacutegua e laacutepis

Figura 3 - Lousa de ardoacutesia individual do aluno com laacutepis de ardoacutesia (Fonte httpsacervofeufgbrindexphplousa-de-ardosia-tendo-abaixo-lapis-1945)

Foi no final do seacuteculo XIX com a consolidaccedilatildeo dos sistemas puacuteblicos de instruccedilatildeo elementar e

crescimento das exigecircncias de um miacutenimo de mobiliaacuterio e material escolar que o uso do quadro-negro

pelo professor voltando ao ensino de muitos alunos instala-se nas escolas e comeccedila a ocupar um

espaccedilo central na sala de aula Bastos (2005 p 136) explica

O ensino muacutetuomonitorial inaugura uma arquitetura do espaccedilo escolar em que mobiliaacuterio e material passam a ser dispositivos fundamentais para o sucesso do meacutetodo Os quadros-negros satildeo sistematicamente utilizados especialmente para o desenho linear e para a aritmeacutetica ndash medem 1m de comprimento por 070 de largura na parte superior tecircm um metro moacutevel e satildeo colocados no interior de cada semiciacuterculo sendo de uso constante dos monitores dos alunos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

173

Neste contexto o quadro-negro natildeo mais era de ardoacutesia assumiu a forma de uma prancha de

madeira com dimensotildees maiores suportada por cavaletes com superfiacutecie pintada de cor escura para

ser usada com giz Segundo Barra (2013) os primeiros quadros eram portaacuteteis regulaacuteveis e moacuteveis O

meacutetodo ensino muacutetuo ou simultacircneo previa a existecircncia de uma material coletivo que garantisse maior

rapidez no ensino da leitura a principio eram afixados cartotildees de papelatildeo na parede das salas de

aulas Barra (2013 p 127) explica ldquoa carta mural era um quadro com a liccedilatildeo de leitura impressa []

cujo caraacuteter coletivo possibilitava a superaccedilatildeo do ensino individual pela instituiccedilatildeo da intervenccedilatildeo

simultacircnea do ensinordquo Considerando que o livro naquele periacuteodo era caro a sua substituiccedilatildeo por

quadros com liccedilotildees de leitura disponiacuteveis nas paredes das salas de aulas conferiu um caraacuteter social e

coletivo a estas cartas murais que mais tarde foram substituiacutedas pelo quadro-negro Bastos ( 2005 p

136) descreve as funcionalidades do quadro naquele contexto

As vantagens do uso do quadro-negro residiam na possibilidade de o professor utilizar-se desse dispositivo para o ensino simultacircneo das primeiras liccedilotildees de leitura e de escrita O quadro-negro para o professor e a lousa para o aluno eram meios pelos quais seria conhecido o alfabeto e seriam desenhadas as letras Aleacutem disso era um excelente meio de ensinar em pouco tempo os alunos a ler e escrever Um auxiliar indispensaacutevel para a liccedilatildeo oral um suporte de escrita ndash um ritual diaacuterio de escrita para fixar discursos e praacuteticas pedagoacutegicas

Assim o quadro-negro era uma novidade bem aceita pelos alunos e professores e marcou o

viacutenculo entre o meacutetodo (ensino simultacircneo) e o materialinstrumento (quadro-negro) O seu atrativo

residia na possibilidade do professor escrever sua aula uma vez para que dezenas de alunos

simultaneamente pudessem ler e escrever nos seus cadernos Este feito natildeo era possiacutevel no modelo

da instruccedilatildeo oral antes da introduccedilatildeo do quadro-negro nas escolas O meacutetodo muacutetuo segundo Bastos

(1999 p 212) concretizou-se como ldquouma proposta redentora para os setores da produccedilatildeo que

anseiam por um operaacuterio doacutecil disciplinado e limitado em sua capacidade humana aos rudimentos da

leitura escrita e aritmeacuteticardquo Outro objetivo do meacutetodo era reduzir custos e despesas considerando

que um professor podia ensinar vaacuterios alunos ao mesmo tempo

Estudos realizados em diferentes partes do mundo sobre a difusatildeo do meacutetodo de ensino

simultacircneo identificaram sua ampla aceitaccedilatildeo e revelou ainda que o quadro-negro foi absorvido sem

ressalvas como parte integrante do meacutetodo (Lesage 1999 Cardoso 1999 Barra 2001) Surge

portanto a questatildeo por que o quadro-negro natildeo encontrou resistecircncia entre os professores daquele

periacuteodo A resposta pode ser encontrada na concepccedilatildeo pedagoacutegica vigente na eacutepoca instrucionista e

conteudista Nas palavras de Paulo Freire (1987) era uma concepccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo de educaccedilatildeo em

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

174

que a uacutenica margem de accedilatildeo que se oferecia aos educandos era de receberem os depoacutesitos guardaacute-

los e arquivaacute-los O quadro-negro constituiacutea um excelente retroprojetor deste meacutetodo visto que ao

escrever no quadro o professor projetava a todos os alunos simultaneamente o conteuacutedo que desejava

ldquodepositarrdquo nas suas mentes

Noacutevoa (2014) analisa que a presenccedila do quadro-negro na sala de aula haacute 150 anos instituiu

um modelo de educaccedilatildeo verticalizada centrada no professor Atribui ao quadro-negro trecircs adjetivos

que na sua visatildeo definem a concepccedilatildeo pedagoacutegica em torno deste dispositivo vazio fixo e vertical O

quadro-negro eacute um dispositivo vazio tem utilidade pedagoacutegica apenas se tiver um professor

(pressuposto detentor do conhecimento) para lhe dar sentido ao escrever nele os conteuacutedos Um

quadro-negro sem nada escrito constitui tatildeo somente um quadro com moldura pendurado na parede

Neste sentido o quadro-negro vazio centralizava no professor a posse do conhecimento fortalecendo a

pedagogia transmissiva ou instrucionista vigente naquele periacuteodo

Noacutevoa atenta para o fato de o quadro-negro ser fixo e assim definir o espaccedilo onde devem

ocorrer os processos educativos - na sala de aula Segundo o autor ldquoos preacutedios escolares o mobiliaacuterio

escolar e a organizaccedilatildeo dos alunos satildeo feitos para uso do quadro-negrordquo (Novoa 2014 p 1) O

quadro-negro permanecendo inerte na parede agrave espera do professor para preenchecirc-lo de conteuacutedos

constituiacutea um instrumento simboacutelico da espacialidade em que deveriam ocorrer os processos

educativos Frago e Escolano (1998) ao tratarem dos simbolismos que a linguagem arquitetocircnica

expressa apresentam a disposiccedilatildeo da arquitetura escolar como um espaccedilo fixo estaacutevel e fixo

determinado para o ensino Assim o espaccedilo da aprendizagem era delimitado para a sala de aula

especificamente a partir do professor agrave frente da sala fazendo uso do quadro-negro para

transmitirdepositar conhecimentos aos alunos

Ao descrever o quadro-negro como um dispositivo vertical Noacutevoa tratava da posiccedilatildeo

hieraacuterquica que a disposiccedilatildeo do quadro-negro agrave frente da sala de aula confere ao professor o papel de

principal regente que submetia o saber aos alunos sentados e em silecircncio Citando os estudos de

Anthony Giddens os autores Frago e Escolano (1998) mostraram que a separaccedilatildeo das salas de aulas

(graus sexo caracteriacutesticas dos alunos) e a disposiccedilatildeo das carteiras uma atraacutes da outra separadas

por pequenos corredores tinha a funccedilatildeo do professor exercer o poder disciplinador Bastos (2005) cita

um trecho de Ziraldo (1995 p 98) que descreve uma sala de aula nos fins do seacuteculo XIX ldquoQuando as

aulas comeccedilaram no ano seguinte natildeo era ela que estava sentada na cadeira atraacutes da mesa sobre o

estrado diante do quadro-negrordquo O estrado mencionado no trecho de Ziraldo era uma elevaccedilatildeo de

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

175

madeira colocada logo abaixo do quadro-negro No estrado encontrava-se a mesa do professor

marcando o distanciamento e autoridade deste em relaccedilatildeo aos alunos Neste sentido o mestre agrave frente

dos alunos na sala de aula posicionado sobre o estrado munido do seu giz e quadro-negro carregava

uma conotaccedilatildeo de poder e autoridade cuja imagem era de detentor da instruccedilatildeo e do conhecimento

Ainda segundo Bastos (idem) no imaginaacuterio de muitos alunos o quadro-negro configurava um

instrumento de constrangimento quando tinham que ir agrave frente dos colegas resolver contas aritmeacuteticas

ou pelo castigo de escreverem no quadro vaacuterias vezes as mesmas frases Tambeacutem era cansativo para

os alunos escreverem em pouco tempo disponiacutevel extensas liccedilotildees e deveres para casa que o professor

escrevia no quadro e rapidamente apagava para adicionar novas atividades Portanto o quadro-negro

enquanto mobiliaacuterio escolar garantia ao professor sua autoridade maacutexima na sala de aula numa

posiccedilatildeo estrateacutegica que permitia o controle e a vigilacircncia sobre os alunos

Figura 4 - Figura XX disposiccedilatildeo do mobiliaacuterio escolar de uma sala de aula no iniacutecio do seacuteculo XX (Fonte imagem de internet Disponiacutevel em httpwwwfitininetescolacomercialhistoriahtml)

Noacutevoa usou a metaacutefora destes trecircs atributos do quadro-negro para mostrar que este foi

facilmente aceite pelos professores porque validava o modelo de educaccedilatildeo instrucionista e conteudista

daquele periacuteodo O autor conclui que este ainda eacute o modelo vigente de educaccedilatildeo na maior parte das

escolas atualmente mas que natildeo condiz com a cultura contemporacircnea em que predomina o acesso

dos jovens agraves tecnologias digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo O que mudou Noacutevoa responde esta

pergunta com outra metaacutefora usando o tablet Fazendo analogia sobre a aparecircncia de formato de

ambos os dispositivos (o quadro-negro e o tablet) o autor descreve trecircs adjetivos antagocircnicos do tablet

em relaccedilatildeo ao quadro-negro que direcionam para uma nova concepccedilatildeo de educaccedilatildeo o tablet eacute cheio

moacutevel e horizontal

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

176

Figura 5 - Analogia do quadro-negro com o tablet (Fonte Bento Silva ndash palestra no I SEMEADRN 2012)

O tablet eacute cheio Segundo Noacutevoa pode-se afirmar que o tablet eacute um dispositivo cheio pois

conectado agrave internet daacute acesso a incontaacuteveis informaccedilotildees e dados dos quais os alunos tecircm acesso

instantacircneo Portanto ldquoele induz praacuteticas pedagoacutegicas centradas no estudo individual e na

investigaccedilatildeo na relaccedilatildeo no trabalho conjunto e na cooperaccedilatildeordquo (Noacutevoa 2015 p 24) Apesar da

semelhanccedila fiacutesica no seu formato com as pedras de ardoacutesias individuais o tablet apresenta diferenccedilas

abissais destas primeiras a comeccedilar pela sua possibilidade de armazenamento de dados conexatildeo agraves

redes moacuteveis de internet e comunicaccedilatildeointeraccedilatildeo com outros usuaacuterios em tempo e espaccedilos

diferentes

O tablet eacute moacutevel Ao trazer atenccedilatildeo da mobilidade do tablet Noacutevoa traccedila um antagonismo

com o quadro-negro que eacute fixo Ao contraacuterio do quadro que delimita o espaccedilo de sala de aula o tablet

possibilita a mobilidade do usuaacuterio permitindo que a aprendizagem ocorra em tempos e espaccedilos

diferentes dos preconizados pela escola A mobilidade do tablet vai aleacutem do seu deslocamento fiacutesico

pois as pedras de ardoacutesias individuais tambeacutem eram moacuteveis

O tablet permite a ubiquidade portabilidade conectividade convergecircncia de vaacuterias miacutedias

memoacuteria e armazenamento de dados O usuaacuterio mesmo em deslocamento pode estar presente em

vaacuterios lugares realizando diversos tipos de atividades e interagindo com outras pessoas que tambeacutem

estejam conectadas

O tablet eacute horizontal Noacutevoa (2014 p 1) argumenta ldquoenquanto o quadro-negro provoca

formas lsquoverticaisrsquo de comunicaccedilatildeo a partir de um centro o tablet sugere formas individualizadas de

estudo e relaccedilotildees lsquohorizontaisrsquo entre alunos entre alunos e professores entre pessoas que estatildeo

dentro e fora da escolardquo Assim mesmo sendo um dispositivo individual o tablet permite conexotildees

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

177

com outras pessoas contribuindo para o trabalho colaborativo e a coautoria tornando a aprendizagem

horizontal O quadro-negro centralizava o processo educativo no professor enquanto o tablet fornece

diferentes fontes de pesquisas possibilita contato com grupos de pesquisas em diferentes aacutereas

disponibiliza cursos e materiais didaacuteticos de diferentes formatos (aacuteudio viacutedeo texto) e permite a

interaccedilatildeo em comunidades de aprendizagem com especialistas e profissionais dos mais diferentes

segmentos

Ao fazer essas metaacuteforas Noacutevoa argumenta sobre as mudanccedilas que a revoluccedilatildeo digital causou

nas estruturas econocircmicas sociais culturais e educacionais A transiccedilatildeo na metaacutefora do quadro-negro

para o tablet nos daacute pistas de que os novos objetos tecnoloacutegicos rompem com a loacutegica instituiacuteda o

professor natildeo mais eacute o detentor do conhecimento Nas palavras de Noacutevoa (2015 p 24) os saberes

ldquojaacute natildeo satildeo dominados primordialmente pelo professor satildeo mutaacuteveis e apresentam vaacuterias

possibilidades de utilizaccedilatildeo que permitem obter respostas a perguntas vaacuterias favorecem a autonomia

do aluno reforccedilam a sua capacidade de accedilatildeo e fazem apelo a uma nova atitude do professorrdquo O autor

destaca que natildeo eacute a tecnologia instrumental em si que revoluciona as estruturas educacionais nem os

artefatos tecnoloacutegicos mas a relaccedilatildeo do homem com estes A partir do momento em que o homem se

apropria de uma tecnologia esta o condiciona a novos haacutebitos valores e interesses

Neste sentido o descompasso que ocorre no acircmbito educacional constitui o fato de que as

crianccedilas e jovens apropriaram-se rapidamente das tecnologias e os professores ainda resistem a elas

Seymor Papert (1993) argumentando sobre o modelo retroacutegrado do sistema educacional vigente na

introduccedilatildeo do livro A maacutequina das Crianccedilas usa uma paraacutebola para ilustrar que a escola precisa de

mudanccedilas estruturais para atender a este novo cenaacuterio Na paraacutebola Papert descreve a reaccedilatildeo de um

grupo de viajantes do tempo advindos do seacuteculo XIX que viajaram para o final do seacuteculo XX O grupo

era composto de meacutedicos e professores do ensino baacutesico Sobre o grupo de meacutedicos visitando os

hospitais do futuro o autor relata que estes ficariam espantadiacutessimos com o avanccedilo da medicina

comparando a seu tempo e concluiriam que seria difiacutecil para eles exercerem sua profissatildeo diante de

demasiado avanccedilo no conhecimento nas teacutecnicas e nos aparelhos modernos Por outro lado Papert

diz que o grupo de professores ao visitarem as escolas adentrariam na sala de aula e desconheceriam

alguns poucos materiais novos mas natildeo teriam dificuldade de darem uma aula tradicional jaacute que o

quadro o giz ou outro suporte para escrita estaria disponiacutevel Assim os professores sentir-se-iam agrave

vontade para ldquotransmitirrdquo conhecimento na sua aula Nesta perspectiva Papert (1993) critica o papel

conservador da escola em que os objetos do cenaacuterio satildeo mudados tira-se o quadro-negro e os trocam

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

178

por lousas digitais mas o professor continua sendo o ldquotransmissorrdquo do conhecimento Mas o que fazer

se agora os alunos tecircm em matildeos suas proacuteprias lousas em formato de tablets

O quadro-negro natildeo constitui mais o artefato em que os jovens esperavam que o professor

depositasse o conhecimento Para os jovens de hoje o quadro-negro natildeo tem o mesmo significado que

tinha para os jovens dos anos de 1950 que se natildeo copiassem a liccedilatildeo do quadro teriam que pegar o

caderno com o colega Hoje o jovem pode fazer uma pesquisa na rede de internet sobre qualquer aacuterea

de conhecimento e conseguir as informaccedilotildees que natildeo copiou O colega pode tirar uma foto do quadro

e enviar ao seu e-mail ou por mensagem instantacircnea Pode-se ateacute filmar a aula pelo celular e o colega

assistir ao vivo Natildeo tecircm mais paciecircncia de escrever no caderno tiram foto do quadro-negro para

estudarem em seus tablets Fazem estudos com os colegas pelo Skype ou Hangouts se comunicam

por aplicativos raacutepidos de mensagem (whatsapp messenger imo) A ldquoGeraccedilatildeo Internetrdquo como designa

Tapscott e Wiliams (2007 p 54) a geraccedilatildeo que nasceu a partir de 1998 em meio agrave ascensatildeo das

tecnologias estaacute transformando a forma de viver e de pensar do mundo Portanto eacute inegaacutevel que

ocorreram mudanccedilas significativas nas formas de aprender das pessoas em especial dos jovens em

idade escolar

Poreacutem continuar a educaacute-los no mesmo modelo do seacuteculo XIX com aulas expositivas

centradas no conteuacutedo do livro e escrita no quadro-negro natildeo eacute eficaz assim como natildeo seria eficaz

retomando os termos de Papert sobre a evoluccedilatildeo dos tempos usar aparelhos e equipamentos meacutedicos

do seacuteculo XIX em hospitais modernos Seguindo esse argumento Noacutevoa acrescenta (2014 p 1)

Haacute cerca de 150 anos em meados do seacuteculo XIX inventou-se a escola tal como a conhecemos Foi uma enorme transformaccedilatildeo Depois disso houve muitas tentativas de mudanccedila e de inovaccedilatildeo mas os seus traccedilos fundamentais natildeo se alteraram [] uma coisa eacute certa nada seraacute como antes Desde meados do seacuteculo XIX a educaccedilatildeo foi pensada a partir de uma matriz escolar Hoje tem de ser ldquodesescolarizadardquo tem de valorizar outros espaccedilos sociais e culturais Precisamos de um novo contrato social pela educaccedilatildeo que explore todas as possibilidades educativas da cidade e da sociedade

Neste novo paradigma o conhecimento ultrapassa os muros da escola e por meio das redes

do ciberespaccedilo passa a ser reelaborado redesenhado e compartilhado para qualquer usuaacuterio O papel

do professor passa de detentor para condutororientador do conhecimento Considerando que as

informaccedilotildees estatildeo disponiacuteveis na rede o professor passa a ter o papel de orientar os alunos a acessar

organizar sistematizar as informaccedilotildees relevantes dando um significado criacutetico a elas transformando-as

em conhecimento

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

179

Contudo as tecnologias digitais natildeo tecircm a mesma aceitaccedilatildeo no acircmbito da escola pelos

professores e gestores como tiveram o quadro-negro Este uacuteltimo foi aceite sem restriccedilotildees porque seu

uso reforccedilava a pedagogia bancaacuteria de transmissatildeo de conteuacutedos centrada no professor As tecnologias

digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo por sua vez vatildeo de encontro a esta pedagogia por retirar do

professor o poder da informaccedilatildeo e do conhecimento e disponibilizando estes gratuitamente nas redes

de internet No entanto o papel do professor continua sendo fundamental ldquoEacute preciso compreender a

importacircncia do novo papel do professor Os alunos tecircm acesso direto individual agraves informaccedilotildees que

estatildeo na teia (web) poreacutem necessitam da mediaccedilatildeo do professor para transformaacute-las em

conhecimento e aprendizagemrdquo disse Noacutevoa (2014 p 2) Muda-se a forma de se obter o

conhecimento e consequentemente muda o papel do professor

Obviamente outras tecnologias surgiratildeo e o tablet como conhecemos hoje poderaacute ter se

tornado um dispositivo ultrapassado e vire peccedila de museu como os quadros de ardoacutesia individuais que

os alunos usavam no seacuteculo passado Embora natildeo existam mais nas escolas estes quadros

cumpriram seu papel dentro do projeto pedagoacutegico que estavam inseridos Igualmente as tecnologias

digitais presentes nas escolas natildeo estatildeo a concorrer com o professor e nem deveratildeo substituiacute-lo antes

podem ser importantes aliadas no desenvolvimento de projetos de aprendizagem colaborativa Ignorar

as tecnologias no processo pedagoacutegico seria um retrocesso agraves concepccedilotildees de educaccedilatildeo baseada na

transmissatildeo de conteuacutedos introduzidos na idade meacutedia O professor desconectado da rede perde

infinitas possibilidades de interagir com seus alunos no compartilhamento de informaccedilotildees lugares

interesses e conhecimento A proacutexima seccedilatildeo apresenta a formaccedilatildeo de professor com foco na literacia

digital como uma proposta viaacutevel de inserccedilatildeo do mesmo na sociedade em rede

35 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital a possibilidade da entrada na rede

No iniacutecio do seacuteculo XXI os professores voltaram a ocupar um lugar estrateacutegico nas poliacuteticas

puacuteblicas educacionais com foco no futuro da escola frente agrave crescente disseminaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das

tecnologias pelos alunos Autores contemporacircneos tecircm investido discussatildeo da necessidade de

mudanccedilas nas estruturas educacionais em face das mudanccedilas que as tecnologias de comunicaccedilatildeo e

informaccedilatildeo provocaram na sociedade (Noacutevoa 2015 Silva e Cilento 2014 Santos 2014 Castells

2014 Costa 2013) Para Noacutevoa (2009) o professor constitui peccedila central nesse processo O autor

lembra que nos anos de 1970 o foco era a pedagogia dos objetivos do controle e planejamento Nos

anos de 1980 as reformas educativas eram centradas nas estruturas dos sistemas escolares e na

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

180

engenharia do curriacuteculo A deacutecada de 1990 foi marcada pela gestatildeo e administraccedilatildeo das organizaccedilotildees

escolares O autor argumenta que nos dias atuais a atenccedilatildeo estaacute voltada agrave aprendizagem e natildeo se

pode falar de aprendizagem sem destacar a figura do professor

A discussatildeo sobre as competecircncias dos professores para o uso das tecnologias na praacutetica

pedagoacutegica natildeo eacute recente Em meados dos anos de 1980 com o desenvolvimento e expansatildeo da

informaacutetica surgiu o termo Novas Tecnologias de Informaccedilatildeo A aplicaccedilatildeo destas tecnologias no

contexto educativo segundo Blanco e Silva (1993) reforccedilou as pesquisas sobre esta relaccedilatildeo homem

maacutequina e a anaacutelise de ambientes tecnoloacutegicos voltados para a educaccedilatildeo No entanto atualmente esta

discussatildeo se torna cada vez mais relevante e pertinente considerando o contexto da crescente

penetraccedilatildeo da internet no cotidiano das pessoas Ao mesmo tempo em que cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada mediados por tecnologias satildeo ofertados aos professores para seu aperfeiccediloamento estudos

recentes apontam para um deacuteficit de literacia digital destes em relaccedilatildeo ao uso social e criacutetico das

tecnologias e sua eventual inserccedilatildeo na era digital (Silva e Cilento 2014)

Alguns autores como Costa e Lemos (2005) e Warschauer (2006) acreditam que o acesso as

TDIC nos cursos de formaccedilatildeo se configuram como uma forma de inclusatildeo social para os professores e

esta pode ser facilitadora para outras inclusotildees como econocircmica e cultural Segundo os autores o

sujeito com acesso as tecnologias possui um canal privilegiado para a criaccedilatildeo e a socializaccedilatildeo de

oportunidades de geraccedilatildeo de renda e cidadania na era do conhecimento em que este se torna um

capital imprescindiacutevel O professor que estaacute incluiacutedo digitalmente (natildeo apenas com o acesso mas de

todas as ferramentas teacutecnicas e cognitivas) tem mais possibilidades de adquirir as competecircncias da

literacia digital e usar a tecnologia na sua praacutetica docente e tem capacidade para orientar seus alunos

a produzirem conhecimento com uso das miacutedias

Por quase dois seacuteculos o modelo instrucionista vertical e avaliativo permeia as escolas com

poucas mudanccedilas na sua estrutura desde a revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX Os cursos de formaccedilatildeo

de professores reproduzem essa loacutegica aos futuros docentes No entanto algumas propostas de cursos

de formaccedilatildeo on-line apresentam-se como uma reproduccedilatildeo do modelo tradicional de educaccedilatildeo voltado

para a transmissatildeo e recepccedilatildeo de conteuacutedos De acordo com Papert (1993 p 127) as tecnologias

digitais nestas propostas constituem ldquouma nova roupagem aos artefatos tecnoloacutegicos tradicionais

(quadro livros cadernos) que serviam para transmitir ou replicar conhecimentordquo Programas de

formaccedilatildeo calcados em repositoacuterio de conteuacutedos e provas objetivas impedem a inventividade e a

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

181

construccedilatildeo de sentidos dos professores sobre o trabalho coletivo e limitam suas possibilidades de

trabalhar com miacutedias integradas em projetos pedagoacutegicos

Almeida e Valente (2011) apontam a abordagem instrucionista dos cursos de formaccedilatildeo on-line

como um dos fatores para o insucesso da integraccedilatildeo e apropriaccedilatildeo das miacutedias pelos professores

atendendo a grande massa de alunos por meio de transmissatildeo de conteuacutedos via miacutedias tradicionais

Assim os cursos satildeo realizados em plataformas virtuais estaacuteticas que constituem depositoacuterios de

conteuacutedos com pouca ou nenhuma interaccedilatildeo Estudos recentes revelam que mesmo em formaccedilatildeo on-

line nesses programas alguns professores encontram dificuldade com a fluecircncia tecnoloacutegica natildeo

apenas no uso instrumental das tecnologias mas tambeacutem seu campo social e coletivo levando muitos

a evadirem das formaccedilotildees (Alves e Faria 2011 Ataiacutede 2012 Meneses 2011)

Segundo Silva e Cilento (2014) o professor formado numa perspectiva de transmissatildeo de

saberes iraacute reproduzir esse modus operandi na sua praacutetica docente A coerecircncia entre as exigecircncias

que se requer do professor para que seja antenado conectado e expert na integraccedilatildeo das miacutedias no

contexto escolar deve estar em sintonia com a sua formaccedilatildeo Ainda nas palavras de Noacutevoa (2014)

sobre a mudanccedila de postura imposta aos professores ldquonatildeo podemos exigir-lhe quase tudo e dar-lhe

quase nadardquo Portanto os cursos de formaccedilatildeo on-line deveriam constituir um espaccedilo privilegiado para

possibilitar ao professor vivenciar as tecnologias e apropriar-se delas de modo reflexivo na sua praacutetica

pedagoacutegica O autor defende que a formaccedilatildeo de professores a priori deve ocorrer nos espaccedilos

escolares Noacutevoa (2009 p 6) cita o exemplo dos futuros meacutedicos que durante a formaccedilatildeo atuam

como residentes em hospitais universitaacuterios observam os pacientes fazem relatoacuterios de

acompanhamento supotildeem um diagnoacutestico e terapia e discutem com os colegas e com meacutedico que os

supervisionam e ainda participam de seminaacuterios temaacuteticos sobre as experiecircncias O autor sugere uma

dinacircmica parecida nos cursos de formaccedilatildeo de professores

(i) estudo aprofundado de cada caso sobretudo dos casos de insucesso escolar (ii) anaacutelise colectiva das praacuteticas pedagoacutegicas (iii) obstinaccedilatildeo e persistecircncia profissional para responder agraves necessidades e anseios dos alunos (iv) compromisso social e vontade de mudanccedila

Noacutevoa (2014 p 2) reforccedila que natildeo podemos continuar a reproduzir e justificar modelos

pedagoacutegicos que fazem parte de um passado que jaacute estaacute ultrapassado que foi concebido para jovens

que natildeo agiam nem pensavam e nem aprendiam como nossos jovens hoje aprendem Neste sentido

o autor afirma que o trabalho dos professores deve ser apoiado por trecircs movimentos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

182

Primeiro uma organizaccedilatildeo mais aberta e diversificada dos espaccedilos e dos tempos escolares Segundo um curriacuteculo centrado nos alunos e em suas aprendizagens e natildeo em listas interminaacuteveis de conhecimentos ou competecircncias Terceiro uma pedagogia com dimensatildeo fortemente colaborativa que utilize a relaccedilatildeo (as redes) como dispositivo de comunicaccedilatildeo e aprendizagem

O terceiro movimento citado por Noacutevoa estaacute relacionado com as praacuteticas de literacia digital do

professor Sobre esse aspecto Petrella (2012 p 213) elenca oito competecircncias e habilidades que

podem ser desenvolvidos pelos professores na escola

bull Expressatildeo criativa ndash utilizar as miacutedias para expressar suas ideias e representaacute-las em formas de sons imagens e textos

bull Experimentaccedilatildeo ndash Fazer experiecircncias atraveacutes do jogo e da simulaccedilatildeo construccedilatildeo manipulaccedilatildeo e representaccedilatildeo de dados e informaccedilotildees

bull Exploraccedilatildeo ndash capacidade de explorar com seguranccedila o universo mediaacutetico escolhendo informaccedilotildees fidedignas e gerir os riscos que esta exploraccedilatildeo produz

bull Multiculturalismo ndash ser sensiacutevel para compreender e respeitar perspectivas diferentes dotados de competecircncias necessaacuterias para negociar os significados culturais

bull Colaboraccedilatildeo e criaccedilatildeo de redes ndash capacidade de procurar escolher partilhar e confrontar opiniotildees e informaccedilotildees dentro das proacuteprias redes aprendendo a trabalhar em equipe

bull Reflexibilidade ndash Utilizar as tecnologias como chave de leitura da sociedade contemporacircnea dos processos econocircmicos e da produccedilatildeo cultural

bull Pensamento criacutetico ndash capacidade de avaliar cada fragmento de informaccedilatildeo a credibilidade da fonte buscando compreender o contexto em que os conteuacutedos foram gerados e com que objetivo

bull Responsabilidade e participaccedilatildeo social ndash competecircncias culturais e habilidades sociais para a participaccedilatildeo na vida social com livre cidadania

Petrella (2012 p 216) conclui que a aquisiccedilatildeo destas habilidades e competecircncias exige um

esforccedilo sineacutergico entre o governo a escola e a famiacutelia A literacia digital deveria perpassar o curriacuteculo

das escolas de modo que os professores devem fazer a ldquoligaccedilatildeo entre as competecircncias mediaacuteticas dos

alunos e operando uma avaliaccedilatildeo do contributo que estas podem dar ao processo de aquisiccedilatildeo de

competecircnciasrdquo O uso de jogos simuladores laboratoacuterios virtuais atividade de anaacutelise de conteuacutedos de

blog sites outras miacutedias satildeo atividades pedagoacutegicas que podem ser utilizadas para uma capacitaccedilatildeo

em literacia mediaacutetica O desenvolvimento da capacidade criacutetica pode ser realizado por incentivar os

alunos procurarem na web as vaacuterias versotildees da mesma notiacutecia e relatar as diferentes abordagens

utilizadas e o contexto em que foram produzidas Outras experiecircncias como uso do raacutedio construccedilatildeo

de redes de aprendizagem webquest blogs e outras miacutedias podem se constituir propostas para a

construccedilatildeo do pensamento criacutetico sobre as miacutedias

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

183

Almeida e Prado (2012) refletem que a integraccedilatildeo das tecnologias no curriacuteculo dos cursos de

formaccedilatildeo de professores no Brasil ainda eacute deficitaacuteria e na maioria das vezes eacute relegada ao plano da

formaccedilatildeo continuada As autoras defendem a formaccedilatildeo de professores voltada para a integraccedilatildeo das

TDIC ao curriacuteculo por meio de projetos Nesse modelo elas explicam

Eacute preciso propiciar ao professor cursista situaccedilotildees nas quais ele possa experienciar o trabalho com projetos com o uso dessas tecnologias e ao mesmo tempo refletir sobre essas praacuteticas para que possa identificar tanto as contribuiccedilotildees das TIC agrave proacutepria aprendizagem e ao desenvolvimento do curriacuteculo como criar com os alunos situaccedilotildees de uso das TIC voltadas agrave melhoria da aprendizagem

Experiecircncias voltadas para a integraccedilatildeo das TDIC ao curriacuteculo com a integraccedilatildeo dos

professores satildeo desenvolvidas pontualmente em escolas e universidades O Projeto de pesquisa

Curriacuteculo da escola do seacuteculo XXI ndash Integraccedilatildeo das TIC ao curriacuteculo inovaccedilatildeo conhecimento cientiacutefico

e aprendizagem coordenado pela professora Elizabeth Almeida no acircmbito do Programa de Poacutes-

graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo curriacuteculo da Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Satildeo Paulo (PUCSP) nos

anos 2011 a 2013 teve como objetivo principal identificar as contribuiccedilotildees e dificuldades das accedilotildees de

formaccedilatildeo e das praacuteticas realizadas nas escolas participantes do Projeto Um computador por Aluno41

No acircmbito do referido projeto foram publicados diversos trabalhos acadecircmicos que evidenciaram as

contribuiccedilotildees do uso do laptop nas praacuteticas pedagoacutegicas em que os professores e alunos participantes

desenvolveram atividades como pesquisas em diversas fontes tambeacutem fizeram uso de recursos de

multimiacutedia produziram texto com uso de palavras imagens aacuteudios viacutedeos e uso de jogos No que diz

respeito agrave formaccedilatildeo dos professores para lidarem com as tecnologias na escola foram apontadas as

necessidades de momentos presenciais com oficinas praacuteticas e reflexatildeo das accedilotildees realizadas nas salas

de aulas com uso do laptop do programa Poreacutem embora a reflexatildeo sobre a praacutetica seja fundamental

o professor precisa reconhecer os pressupostos teoacutericos que embasam suas novas praacuteticas de trabalho

com uso das tecnologias

Peralta e Costa (2007) realizaram um estudo de caso muacuteltiplo de natureza qualitativa sobre a

competecircncia e a confianccedila dos professores do ensino baacutesico no uso das TDIC nas praacuteticas educativas

em cinco paiacuteses europeus Os autores constataram que uma efetiva integraccedilatildeo das TDIC no curriacuteculo

41 O Projeto Um Computador por Aluno (UCA) foi implantado com o objetivo de intensificar as tecnologias da informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo (TIC) nas escolas por meio da distribuiccedilatildeo de computadores portaacuteteis aos alunos da rede puacuteblica de ensino Foi um projeto que complementou as accedilotildees do MEC referentes a tecnologias na educaccedilatildeo em especial os laboratoacuterios de informaacutetica produccedilatildeo e disponibilizaccedilatildeo de objetivos educacionais na internet dentro do ProInfo Integrado que promove o uso pedagoacutegico da informaacutetica na rede puacuteblica de ensino fundamental e meacutedio Disponiacutevel em httpwwwfndegovbrprogramasprograma-nacional-de-tecnologia-educacional-proinfoproinfo-projeto-um-computador-por-aluno-uca Acesso em 07 abril 2016

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

184

implica investimento em dois campos na atitude dos professores e numa adequada capacitaccedilatildeo dos

mesmos Na conclusatildeo do estudo os autores escreveram

Em suma fica a ideia geral de que natildeo haacute muitos professores competentes no uso das TIC no ensino pelo que se torna necessaacuterio investir na sua re-educaccedilatildeo Mesmo os professores que estatildeo agora a iniciar a sua profissatildeo natildeo foram adequadamente preparados para o uso das novas tecnologias Por isso preparar os professores para usar as tecnologias eacute uma responsabilidade que as instituiccedilotildees de ensino superior responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo devem assumir (idem p 85)

Peralta e Costa (2007) assinalaram trecircs dimensotildees principais das quais o trabalho com as

TDIC com objetivo pedagoacutegico devem ser contemplados em cursos de formaccedilatildeo docente (1) o

conhecimento e as capacidades de base dos professores (o que aprenderam anteriormente e como o

aprenderam) (2) caracteriacutesticas individuais de natureza cognitiva afetiva ou social e (3) fatores de

ordem contextual no plano micro (ambiente da escola que leciona) ou macro (cidade onde vive

poliacuteticas vigentes)

No sentido de propor um referencial teoacuterico que fundamente a investigaccedilatildeo na aacuterea de

formaccedilatildeo de professores na aacuterea de tecnologia educativa Mishra e Koehler (2006) apresentaram um

novo referencial teoacuterico que denominaram de Technological Pedagogical Content Knowledge tambeacutem

chamado abreviadamente de TPACK O pressuposto teoacuterico do conceito do TPACK eacute que a atitude do

professor no tocante agraves tecnologias depende da combinaccedilatildeo de conhecimentos a niacutevel cientiacutefico ou dos

conteuacutedos a niacutevel pedagoacutegico e a niacutevel tecnoloacutegico Sampaio e Coutinho (2010) explicam que em

termos teoacutericos o TPACK resulta da intersecccedilatildeo de trecircs tipos diferentes de conhecimento

bull Pedagogical Content Knowledge Capacidade de ensinar um determinado conteuacutedo curricular

bull Technological Content Knowledge Habilidade de selecionar os recursos tecnoloacutegicos mais adequados para comunicar um determinado conteuacutedo curricular

bull Technological Pedagogical Knowledge Competecircncia para esses recursos no processo de ensino e aprendizagem

Misrha e Koehler (2008) argumentam que os professores que tecircm este tipo de

conhecimento integrado satildeo caracterizados como criativos flexiacuteveis e adaptaacuteveis a quaisquer

circunstacircncias didaacutetica apoiada por tecnologias No acircmbito TPACK a literacia do professor surge a

partir de muacuteltiplas interaccedilotildees entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico A figura

06 descreve o modelo TPACK no contexto pedagoacutegico

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

185

Figura 6 ndash Modelo TPACK Fonte Mishra e Koehler (2006)

Assim na esfera do TPACK a literacia do professor surge a partir de muacuteltiplas interaccedilotildees

entre conteuacutedo visatildeo pedagoacutegica e conhecimento tecnoloacutegico Em siacutentese o modelo engloba trecircs

dimensotildees baacutesicas

bull Conhecimento preacutevio relacionada ao conteuacutedo dos alunos e pressupostos epistemoloacutegicos

bull Uso de teacutecnicas pedagoacutegicas que se aplicam tecnologias de forma construtiva para ensinar o conteuacutedo de maneiras diferenciadas adaptada agrave aprendizagem dos alunos

bull Compreensatildeo de como as tecnologias podem ser usadas para construir conhecimentos preacutevios para desenvolver novas epistemologias ou fortalecer os antigos conceitos

Sampaio e Coutinho (2010 p 3983) que realizaram uma investigaccedilatildeo com professores de

duas turmas de diferentes escolas aacutereas disciplinares idades tempos de serviccedilo e niacuteveis de ensino

no acircmbito da formaccedilatildeo contiacutenua em contexto de praacutetica efetiva (oficina de formaccedilatildeo) cujo pressuposto

teoacuterico era baseado no TPACK concluiram

Os resultados do nosso estudo apontam nesse sentido para um professor integrar as TIC na sala de aula deve ter tempo para frequentar formaccedilatildeo no uso das tecnologias tempo para planear actividades curriculares inovadoras onde se integrem as TIC e conhecimentos ao niacutevel do potencial educativo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

Portanto requer tempo para que ocorra o amadurecimento do professor na integraccedilatildeo das

TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas Numa proposta de desenvolvimento profissional de professores

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

186

elaborada pela Unesco (2002) citada por Almeida e Valente (2011 p 45) o processo de apropriaccedilatildeo

tecnoloacutegica da parte do professor contemplam quatro estaacutegios

bull Habilidades e conhecimentos iniciais Fase com ecircnfase nos aspectos tecnoloacutegicos uso do editor de texto busca de informaccedilatildeo na internet realizaccedilatildeo de tarefas baacutesicas e instrumentais na internet para fins pessoais e instrumentais

bull Aplicaccedilatildeo das TDIC na aacuterea de especializaccedilatildeo Uso aplicativo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica em toacutepicos especiacuteficos da disciplina de atuaccedilatildeo

bull Integraccedilatildeo das TDIC para melhorar a aprendizagem Uso das TDIC adequada e adaptada agrave realidade e perfil de aprendizagem dos alunos e trabalho com resoluccedilatildeo de problemas e desenvolvimento de projetos especiacuteficos

bull Transformaccedilatildeo pedagoacutegica A praacutetica de utilizaccedilatildeo das TDIC eacute incorporada na vivecircncia pedagoacutegica de alunos e professores com o objetivo de aprendizagem individual e desenvolvimento do grupo

Trata-se portanto de uma formaccedilatildeo processual num estaacutegio contiacutenuo e evolutivo pois o

processo de apropriaccedilatildeo tecnoloacutegica acontece em fases e que deve levar em consideraccedilatildeo o contexto

em que vive o professor a escola que trabalha sua carga horaacuteria de trabalho a disciplina que leciona

seus conhecimentos preacutevios a cultura situaccedilatildeo econocircmica sua relaccedilatildeo com a tecnologia no cotidiano

e na escola e outros fatores que devem ser considerados

Para Silva (2001) a formaccedilatildeo de professores para a integraccedilatildeo curricular das TDIC deve

abarcar uma triacuteplice abordagem tecnoloacutegica expressiva e pedagoacutegica A formaccedilatildeo tecnoloacutegica diz

respeito ao conhecimento instrumental e modos de operaccedilatildeo das TDIC A expressiva implica o

conhecimento dos discursos e linguagens inerente em cada tecnologia E a abordagem pedagoacutegica

concentra o conhecimento para integrar as tecnologias no processo de desenvolvimento curricular Ao

niacutevel das metodologias Silva (2001) acrescenta que a formaccedilatildeo deve incluir uma triacuteplice abordagem

bull Teoacuterica anaacutelise de informaccedilotildees importantes colhidas de diversas fontes (comunicacionais psicoloacutegicas e pedagoacutegicas)

bull Apresentaccedilatildeo de casos simulaccedilotildees e exerciacutecios exemplares bull Praacuteticas em situaccedilatildeo de formaccedilatildeo anaacutelise de situaccedilotildees de aprendizagens

concretas com fins de garantir o domiacutenio progressivo das novas ideias e habilidades relacionadas com o uso pedagoacutegico das TIC

Logo essa formaccedilatildeo integrada para a literacia digital deve em primeira instacircncia ocorrer no

espaccedilo escolar dentro de um programa contiacutenuo de formaccedilatildeo institucionalizado e fomentado pelo

sistema de ensino Neste cenaacuterio a formaccedilatildeo docente contemplaria momentos de vivecircncias on-line

alternado com estudos presenciais de tal forma que gradativamente o professor possa adaptando sua

praacutetica pedagoacutegica ao uso das tecnologias que tem disponiacutevel e de acordo com o perfil e das

necessidades dos seus alunos

Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

187

Ao longo da sua formaccedilatildeo e no decorrer da praacutetica diaacuteria na docecircncia os professores

desenvolvem concepccedilotildees de ensino aprendizagem que vecircm a formar a base das suas decisotildees

metodoloacutegicas inclusive se iratildeo fazer uso das tecnologias Sobre este aspecto Almeida e Valente

(2011 p 47) comentam que essas concepccedilotildees vecircm a constituir crenccedilas que ldquoajudam o professor a

negociar incertezas do trabalho na escola e provavelmente a aderir ou natildeo agraves mudanccedilas para algo que

ainda natildeo foi totalmente comprovadordquo Os autores concluem que estas crenccedilas natildeo podem ser

ignoradas pois elas podem fazer um efeito contraacuterio e constituiacuterem obstaacuteculos ao processo de

mudanccedila

Os estudos mostraram que negligenciar as crenccedilas e teorias pessoais pode acarretar o choque de duas culturas opostas a cultura transformadora dos proponentes da inovaccedilatildeo e a cultura das praacuteticas existentes que passam a ser criacuteticas resistentes e defensivas (idem p 47)

Neste sentido a formaccedilatildeo docente para a literacia digital deve criar condiccedilotildees para que o

professor experimente e vivencie novas experiecircncias com as TDIC de forma que ele reflita sobre suas

crenccedilas e avalie a necessidade de mudanccedilas e inovaccedilotildees

Considerando estes pressupostos teoacutericos no capiacutetulo cinco desta tese jaacute em consequecircncia

dos resultados dos estudo empiacuterico mas com articulaccedilatildeo com estes embasamentos teoacutericos

propomos um modelo de formaccedilatildeo cujas diretrizes apontam para a importacircncia da atitude favoraacutevel do

professor e de sua apropriaccedilatildeo das tecnologias para que o mesmo mobilize energias para integraacute-las

na sua praacutetica docente Antes poreacutem no capiacutetulo quarto apresentamos o cenaacuterio e o enquadramento

metodoloacutegico da pesquisa

Capiacutetulo 4 Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

191

4 1 A Universidade Federal do Tocantins no contexto da regiatildeo Norte do Brasil

Este capiacutetulo se dedica a contextualizar o objeto da pesquisa e apresentar a metodologia de

investigaccedilatildeo utilizada neste estudo Na primeira seccedilatildeo cabe uma breve descriccedilatildeo do contexto

socioeconocircmico e histoacuterico do Estado do Tocantins e da Universidade Federal do Tocantins (UFT) mais

especificamente na oferta do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT A segunda seccedilatildeo tem como objetivo

descrever a organizaccedilatildeo administrativa e financeira do Sistema UAB cujo curso objeto deste estudo eacute

fomentado Na terceira seccedilatildeo expomos a concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica e a organizaccedilatildeo

administrativa e curricular do referido curso Na quarta seccedilatildeo satildeo apresentadas as bases

metodoloacutegicas da investigaccedilatildeo seguida da descriccedilatildeo da metodologia e aplicaccedilatildeo dos instrumentos de

avaliaccedilatildeo Na sequecircncia satildeo abordados os procedimentos do tratamento dos dados e as questotildees

eacuteticas da investigaccedilatildeo

A presente pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Tocantins (UFT) Esta possui

estrutura multicampi localizada em sete municiacutepios do Estado do Tocantins42 Regiatildeo Norte do Brasil A

histoacuteria da UFT se entrelaccedila com a histoacuteria da criaccedilatildeo do Estado do Tocantins Considerado um estado

jovem 43 o Tocantins pertencia ao norte goiano e com seu desmembramento do estado de Goiaacutes

passou a ser o mais novo estado da Federaccedilatildeo (Nascimento 2009) Nesse contexto havia a

necessidade visiacutevel de uma universidade puacuteblica federal no novo estado Apresentamos a seguir uma

breve descriccedilatildeo do contexto econocircmico social e cultural do estado do Tocantins para fins de melhor

compreensatildeo da necessidade de uma universidade federal na regiatildeo

411 O estado do Tocantins

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutesticas (IBGE 2010) o estado do

Tocantins possui 1383453 habitantes o que representa um porcentual de 07 dos brasileiros

sendo que 788 do total de habitantes residem na zona urbana enquanto 212 vivem no campo

Constituiacutedo por 139 municiacutepios o Tocantins possui uma aacuterea de 277720520km2 a densidade

populacional eacute de 42 habitantes por quilocircmetro quadrado e a taxa de analfabetismo varia em meacutedia de

13 A capital recebeu tambeacutem pessoas do Sul e Sudeste do Brasil o que contribuiu para a

diversidade cultural do estado Os provenientes de outros estados satildeo 351 (no Brasil a taxa dos

42 A organizaccedilatildeo poliacutetico-administrativa da Repuacuteblica Federativa do Brasil compreende a Uniatildeo os Estados o Distrito Federal e os Municiacutepios todos autocircnomos O paiacutes possui 27 Estados e um Distrito Federal o Tocantins eacute o mais novo Estado da federaccedilatildeo sendo criado por lei em 1988 com o desmembramento do Estado de Goiaacutes (Nascimento 2009) 43O Estado do Tocantins foi criado em 5 de outubro de 1989 com a promulgaccedilatildeo da Carta Constitucional Em 1ordm de janeiro de 1989 foi instalada a capital provisoacuteria do novo Estado na cidade de Miracema do Tocantins e em 1ordm de janeiro de 1990 Palmas tornou-se sua capital definitiva (Pinho 2007)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

192

migrantes nacionais eacute de 19) residindo 74 no espaccedilo urbano O estado tem tambeacutem uma

populaccedilatildeo de cerca de seis mil indiacutegenas distribuiacutedos em sete etnias os povos Karajaacute Javaeacute Xambioaacute

Xerentes Krahocirc Krahocirc-canela e Apinayeacute44 Assim o Tocantins manteacutem uma riqueza cultural e eacutetnica

com uma populaccedilatildeo heterogecircnea proveniente de vaacuterios estados do Paiacutes Entre os habitantes atuais do

Tocantins 568 satildeo pardos 334 brancos 75 negros e 11 indiacutegenas (Pinho 2007)

O estado do Tocantins localiza-se na regiatildeo Norte do Brasil e faz divisa com os estados de

Maranhatildeo Goiaacutes Paraacute Bahia Piauiacute e Mato Grosso (Nascimento 2009) No mapa abaixo (figura 08) eacute

possiacutevel visualizar sua localizaccedilatildeo geograacutefica

Figura 7 - Mapa do estado do Tocantins (Fonte httpptwikipediaorgwikiTocantins)

A economia local eacute gerada pelo extrativismo pecuaacuteria e o comeacutercio Um estudo do IBGE45

sobre o mapa da pobreza nos estados brasileiros revelou que esta alcanccedilava alguns municiacutepios do

Tocantins com a meacutedia porcentual de 49 no ano de 2003 O mesmo estudo revelou trecircs municiacutepios

com o iacutendice de pobreza acima de 80 Campos Lindos (8063) Mateiros (8154) e Muricilacircndia

(8182) que lideravam o ranking de iacutendice de pobreza do Brasil na eacutepoca Na pesquisa a pobreza

absoluta eacute medida a partir de criteacuterios definidos por especialistas que analisam a capacidade de

consumo das pessoas sendo considerada pobre aquela pessoa que natildeo consegue ter acesso a uma

cesta alimentar e de bens miacutenimos necessaacuterios a sua sobrevivecircncia A medida subjetiva de pobreza eacute 44 Fonte Os povos indiacutegenas do Tocantins Disponiacutevel em lthttpwwwpalmasorgtocantinsindioshtmgt Acesso em 12 abril 2016

45 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrcartogramamapaphplang=ampcoduf=17ampcodmun=170210ampidtema=19ampcodv=v01ampsearch=tocantins|araguaina|sintese-das-informacoes-2003gt Acesso em 21 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

193

derivada da opiniatildeo dos entrevistados e calculada levando-se em consideraccedilatildeo a proacutepria percepccedilatildeo

das pessoas sobre suas condiccedilotildees de vida (Alves 2010)

O pesquisador do Centro de Poliacuteticas Sociais da Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Marcelo Neacuteri teceu

um comentaacuterio no Jornal Tribuna do Norte 46 em 2008 sobre o iacutendice de pobreza do estado

ldquoTocantins eacute o estado com a maior proporccedilatildeo de jovens do Paiacutes Isto significa que a taxa de natalidade

nas uacuteltimas trecircs deacutecadas foi muito elevadardquo Para o pesquisador a pobreza estaacute relacionada com a

elevada taxa de natalidade da populaccedilatildeo (219) a mais alta do paiacutes que comparada a Santos cidade

citada no estudo com o menor iacutendice de pobreza do paiacutes eacute de apenas 14 por mulher (a meacutedia

nacional eacute de 189) Portanto neste contexto socioeconocircmico a UFT se insere como uma instituiccedilatildeo

de ensino superior puacuteblico cujo compromisso social eacute interiorizar a educaccedilatildeo aos rincotildees mais pobres

do estado

Sobre a estrutura educacional e o sistema de ensino do estado do Tocantins o Censo Escolar

da Educaccedilatildeo Baacutesica de 2014 (INEP 2014) registrou 1689 unidades escolares de Educaccedilatildeo Baacutesica

312 escolas de Ensino Meacutedio e 46 estabelecimento de Ensino Profissional Na Educaccedilatildeo Superior

(INEP 2015) foram computadas 27 instituiccedilotildees (entre universidades centros universitaacuterios

faculdades e institutos federais e tecnoloacutegicos) assim distribuiacutedas 2 instituiccedilotildees federais (UFT e IFTO)

1 universidade estadual (UNITINS) 2 centros universitaacuterios (UNIRG e ULBRA) e 22 faculdades

privadas Considerando a extensatildeo territorial do estado do Tocantins as instituiccedilotildees de ensino superior

atendem na sua maioria as cidades maiores (Araguaiacutena e Gurupi) e a capital Palmas Dos 139

municiacutepios apenas 17 (dezessete) possuem instituiccedilatildeo de ensino superior ou campus universitaacuterio

Estas estatildeo relacionadas no quadro 9

46 Entrevista disponiacutevel em httpwwwtribunadonortecombrnoticiamapa-do-ibge-mostra-a-pobreza-no-rn96094 Acesso em 08 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

194

Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo de instituiccedilotildees de ensino superior no Tocantins por cidades localizaccedilatildeo geograacutefica quantidade e tipo de instituiccedilatildeo

Cidade Localizaccedilatildeo Quantidade Tipo de instituiccedilatildeo 1 Araguaiacutena Norte 14 1 campus instituto federal

1 campus universidade federal 12 faculdades privadas

2 Augustinoacutepolis Norte 2 1 faculdade 1 campus universidade estadual

3 Arraias Sudeste 1 1 campus universidade federal 4 Araguatins Norte 3 1 campus instituto federal

1 campus universidade estadual 1 faculdade municipal

5 Colinas Centro 2 1 campus instituto federal 1 faculdade municipal

6 Dianoacutepolis Sudeste 2 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 faculdade privada

7 Formoso do Araguaia Sudoeste 1 1 campus instituto federal 8 Guaraiacute Centro 1 1 faculdade municipal 9 Gurupi Sul 2 1 campus universidade federal

1 centro universitaacuterio privado 10 Lagoa da Confusatildeo Sudoeste 1 1 campus instituto federal 11 Miracema do

Tocantins Centro 1 1 campus universidade federal

12 Palmas Centro 12 1 campus universidade federal 1 campus instituto federal 1 campus universidade estadual 1 centro universitaacuterio privado 8 faculdades privadas

13 Paraiacuteso do Tocantins Centro 3 2 faculdades privada 1 faculdade puacuteblica 1 campus instituto federal

14 Pedro Afonso Oeste 1 1 faculdade municipal 15 Pium Sudoeste 1 1 faculdade municipal 16 Porto Nacional Centro 4 2 faculdades privadas

1 campus de instituto 1 campus de universidade federal

17 Tocantinoacutepolis Norte 1 1 campus de universidade federal

Fonte INEP (2014)

Observa-se portanto que as instituiccedilotildees de ensino superior estatildeo localizadas na sua maioria

na regiatildeo norte e central do Tocantins As demais regiotildees do estado embora algumas cidades

possuam um campus de universidade puacuteblica ou instituto federal ainda carecem de ofertas de vagas

para o ensino superior voltada para as vocaccedilotildees da localidade e para a formaccedilatildeo de professores De

seguida voltamos atenccedilatildeo agrave UFT seu histoacuterico caracteriacutesticas e vocaccedilatildeo

412 A Universidade Federal do Tocantins

A UFT foi criada pela Lei 10032 de 23 de outubro de 2000 mas iniciou suas atividades

somente a partir de maio de 2003 com a posse dos primeiros professores concursados efetivos A

missatildeo da UFT de acordo com o Planejamento Estrateacutegico da instituiccedilatildeo (UFT 2014 p 10) constitui

em ldquoformar profissionais cidadatildeos e produzir conhecimentos com inovaccedilatildeo e qualidade que

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

195

contribuam para o desenvolvimento socioambiental do Estado do Tocantins e da Amazocircnia Legalrdquo A

visatildeo da universidade segundo o mesmo documento eacute ldquoser reconhecida nacionalmente ateacute 2022

pela excelecircncia no ensino pesquisa e extensatildeordquo A UFT permaneceu como uacutenica instituiccedilatildeo puacuteblica

federal de ensino superior do estado do Tocantins ateacute a criaccedilatildeo do Instituto Federal de Educaccedilatildeo

Ciecircncia e Tecnologia do Tocantins (IFTO) em dezembro de 2008 A estrutura multicampi da UFT

permite que esta atenda a todas macroregiotildees do estado do Tocantins conforme se pode visualizar na

figura 8

Figura 8 - Localizaccedilatildeo dos campi da Universidade Federal do Tocantins (Fonte Diretoria de Comunicaccedilatildeo (DicomUFT))

O contexto histoacuterico da implantaccedilatildeo da UFT no estado do Tocantins em 2003 iniciou-se com

as reformas e reestruturaccedilotildees da Fundaccedilatildeo Universidade do Tocantins (Unitins) esta uacuteltima criada pelo

Decreto nordm 25290 de 21 de fevereiro de 1990 A Unitins foi organizada como uma fundaccedilatildeo de

direito puacuteblico ou seja uma instituiccedilatildeo de caraacuteter puacuteblico subsidiada pelo estado que permaneceu

sob esse regime ateacute o ano de 1992 quando foi reestruturada passando agrave condiccedilatildeo de uma autarquia

do sistema estadual (Souza 2006) Pinho (2007) afirma que ateacute 1999 a Unitins chegou a ter dez

campi distribuiacutedos no estado nas cidades de Arraias Araguaiacutena Tocantinoacutepolis Porto Nacional

Palmas Miracema Gurupi Paraiacuteso Colinas e Guaraiacute aleacutem de ter assumido a gestatildeo do Coleacutegio

Agriacutecola de Natividade

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

196

Assim a Unitins uma universidade estadual era considerada uma importante instituiccedilatildeo de

ensino puacuteblico no receacutem-criado estado de Tocantins No entanto segundo o estudo realizado por Souza

(2006) sobre a trajetoacuteria da Unitins rumo agrave criaccedilatildeo da UFT no ano de 1996 existiram tentativas do

governo estadual de privatizar a Unitins alegando gastos onerosos com quase oito mil alunos da

instituiccedilatildeo Poreacutem frente agrave pressatildeo dos estudantes por meio de passeatas manifestaccedilotildees e

paralisaccedilotildees num movimento chamado SOS Unitins e tambeacutem pressatildeo dos docentes o governo

estadual ciente do desgaste de sua imagem em ano eleitoral decidiu suspender a cobranccedila de

mensalidades e taxas e perdoar as diacutevidas dos alunos inadimplentes

Portanto como alternativa aos problemas da Unitins e agrave forte oposiccedilatildeo dos estudantes e

docentes agrave privatizaccedilatildeo da instituiccedilatildeo o governo do Tocantins propocircs a criaccedilatildeo de uma universidade

federal Desta forma em junho de 2000 o entatildeo governador Joseacute Wilson Siqueira Campos sancionou

a Lei nordm 1160 que de acordo com o artigo 18 os bens patrimoniais da instituiccedilatildeo poderiam ser

transferidos no todo ou em parte por doaccedilatildeo ou cessatildeo para a futura Universidade Federal do

Tocantins (Pinho 2007) Em outubro do mesmo ano o presidente Fernando Henrique Cardoso

sancionou a Lei 10032 que criava a Universidade Federal do Tocantins

Atualmente com dezesseis anos de criaccedilatildeo a UFT instalou-se como importante instituiccedilatildeo de

promoccedilatildeo do ensino superior gratuito e de qualidade na regiatildeo (PINHO 2007) Em 2015 a UFT

ofertava 59 cursos de graduaccedilatildeo presencial 5 cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia 14 cursos de

mestrado acadecircmicos e 8 mestrados profissionais 5 programas de doutorado atendendo a mais de

18 mil alunos (UFT 2015) Considerando a vocaccedilatildeo de desenvolvimento do Tocantins a UFT oferece

oportunidade de formaccedilatildeo nas aacutereas de Ciecircncias Sociais Aplicadas Humanas Agraacuterias e Ciecircncias

Bioloacutegicas Apresentamos de seguida e com mais detalhes o histoacuterico da inserccedilatildeo da UFT em projetos

de cursos mediados por tecnologias

413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins

A UFT participou pela primeira vez em um projeto de educaccedilatildeo mediada por tecnologias em

2005 quando aderiu ao projeto do Consoacutercio Setentrional47 para oferta do curso em Licenciatura em

Biologia a distacircncia De acordo com Perdigatildeo-Nass (2012) a Chamada Puacuteblica MECSeed 012004

exigia que as Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) se organizassem em consoacutercios para ofertarem 47 O consoacutercio Setentrional era formado pelas seguintes IFES Universidade de Brasiacutelia ndash UnB Universidade Federal de Goiaacutes ndash UFG Universidade Estadual de Goiaacutes ndash UEG Universidade Federal do Mato Grosso do Sul ndash UFMS Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul ndash UEMS Universidade Federal do Paraacute ndash UFPA Universidade Federal do Amazonas ndash UFAM Universidade Estadual de Santa Cruz (Bahia) ndash UESC Universidade Federal do Tocantins ndash UFT e Universidade Federal de Rondocircnia ndash UNIR

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

197

cursos a distacircncia A UFT participou desta Chamada e em 2005 sua primeira oferta abriu 75 vagas da

Licenciatura em Biologia a distancia para os polos de Arraias Araguaiacutena e Gurupi A segunda turma

em 2006 aleacutem da oferta nos polos jaacute ofertantes abriu vagas para o polo de Porto Nacional O total de

vagas ofertadas foram 200 nos 4 polos (50 em cada) e destas 126 tiveram suas matriacuteculas efetivadas

(ALVES 2007) Ainda em 2005 com a criaccedilatildeo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) 48 a UFT

participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB tendo sido aprovada a oferta do curso

de licenciatura em Biologia a distacircncia

Em 2006 a UAB abriu segunda chamada para oferta de cursos e a UFT foi contemplada com

a aprovaccedilatildeo dos cursos de Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a distacircncia

Apenas o curso de Biologia iniciou no ano seguinte integrando com o curso de Biologia jaacute ofertado pelo

Consoacutercio Setentrional Em 2007 a UFT passou a ofertar o Programa Miacutedias na Educaccedilatildeo que

constitui de um curso modular de formaccedilatildeo continuada de professores da rede puacuteblica A primeira

turma desta especializaccedilatildeo concluiu o curso em 2011 e o ciclo baacutesico formou 5 turmas entre 2007 e

2011 Ainda em 2008 a UFT passou a participar do Programa Nacional Escola de Gestores49 Dentro

deste foi ofertado o curso de especializaccedilatildeo latu sensu Gestatildeo Escolar voltado para gestores escolares

em exerciacutecio na Rede Puacuteblica de Ensino Foram ofertadas 400 vagas no Tocantins atingindo 116

municiacutepios (Alves amp Macedo 2012)

Os cursos de licenciatura em Quiacutemica e Fiacutesica aprovados em 2006 tiveram efetivo iniacutecio de

aulas somente em 2009 devido a problemas de descentralizaccedilatildeo de recursos A partir de 2010

ampliou-se as vagas por cursos de poacutes-graduaccedilatildeo com a adesatildeo da UFT ao Programa Nacional de

Formaccedilatildeo em Administraccedilatildeo Puacuteblica ndashPNAP na oferta dos cursos Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica

Municipal e Gestatildeo em Sauacutede Naquele ano a UFT aderiu ao PARFOR na oferta de 13 cursos de

licenciaturas semipresenciais atendendo a mais de mil alunos (professores da rede puacuteblica de ensino)

em seis campi da universidade Apoacutes seis anos de implementaccedilatildeo do programa com informaccedilotildees da

SEDUCTO50 ateacute 2016 438 professores haviam concluiacutedo os cursos de graduaccedilatildeo e foram formadas

58 turmas dos cursos de Pedagogia Matemaacutetica Histoacuteria Geografia Ciecircncias Bioloacutegicas Letras

Informaacutetica Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Teatro e Letras Libras

48 A Universidade Aberta do Brasil eacute um sistema integrado por universidades puacuteblicas que oferece cursos de niacutevel superior para camadas da populaccedilatildeo que tecircm dificuldade de acesso agrave formaccedilatildeo universitaacuteria por meio do uso da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia Disponivel em httpwwwcapesgovbracessoainformacaoperguntas-frequenteseducacao-a-distancia-uab4144-o-que-e Acesso em 30 de abril 2016 49 Programa Nacional Escola de Gestores eacute uma accedilatildeo do Ministeacuterio de Educaccedilatildeo (MEC) ndash por meio da Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica ndash em parceria com dez universidades federais (entre as quais a UFT) e vaacuterias entidades representativas de educadores Dentre as atividades desse Programa estaacute o curso de Especializaccedilatildeo em Gestatildeo Escolar na modalidade Educaccedilatildeo a Distacircncia com carga horaacuteria de 400haula 50 Disponiacutevel em httpseductogovbrnoticia2016127seminario-avalia-os-seis-anos-da-implantacao-do-parfor-no-tocantins Acesso em 25 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

198

Em 2012 e 2013 a UFT atendeu cerca de 2000 alunos distribuiacutedos em trecircs cursos de

graduaccedilatildeo (licenciatura em Biologia Licenciatura em Fiacutesica e Licenciatura em Quiacutemica) um curso de

Poacutes Graduaccedilatildeo stritu senso em Matemaacutetica profissionalizante ndash PROFMAT) quatro cursos de

Especializaccedilatildeo (Gestatildeo Puacuteblica Gestatildeo Puacuteblica Municipal Gestatildeo em Sauacutede e Miacutedias na Educaccedilatildeo) e

seis cursos de Aperfeiccediloamento (Educaccedilatildeo Ambiental Formaccedilatildeo de Gestores Indiacutegenas Cultura e

Histoacuteria dos povos indiacutegenas Educaccedilatildeo para Diversidade e Cidadania Miacutedias na Educaccedilatildeo) todos na

modalidade a distacircncia

Nos anos de 2014 e 2015 no acircmbito da Rede para Diversidade51 da Secretaria de Educaccedilatildeo

Continuada Alfabetizaccedilatildeo e Diversidade (SECADI) em parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo a

Distacircncia (SEED) e a Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES) foram

ofertados sete cursos de especializaccedilatildeo na modalidade a distacircncia nas diferentes temaacuteticas Histoacuteria e

Cultura Afro-brasileira e Africana Gecircnero e Diversidade na Escola Educaccedilatildeo e Direitos Humanos

Educaccedilatildeo Ambiental com ecircnfase em Espaccedilos Educadores Sustentaacuteveis Alfabetizaccedilatildeo de Jovens e

Adultos na Diversidade Escola de Gestores - Coordenadores Escolares Sauacutede na Escola ndash Crack Em

2015 iniciou-se tambeacutem o curso de bacharelado em Administraccedilatildeo Puacuteblica a distacircncia com oferta de

480 vagas em dez polos do estado do Tocantins

No ano de 2016 estavam sendo ofertados pelo sistema UAB cinco cursos de graduaccedilatildeo na

instituiccedilatildeo distribuiacutedos nos dezesseis polos de apoio presencial conforme apresentado no quadro a

seguir

51 A Rede de Educaccedilatildeo para a Diversidade (Rede) eacute um grupo permanente de instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior dedicado agrave formaccedilatildeo continuada de profissionais de educaccedilatildeo O objetivo eacute disseminar e desenvolver metodologias educacionais para a inserccedilatildeo dos temas da diversidade no cotidiano das salas de aula Satildeo ofertados cursos de formaccedilatildeo continuada para professores da rede puacuteblica da educaccedilatildeo baacutesica em oito aacutereas da diversidade relaccedilotildees eacutetnico-raciais gecircnero e diversidade formaccedilatildeo de tutores jovens e adultos educaccedilatildeo do campo educaccedilatildeo integral e integrada ambiental e diversidade e cidadania Disponiacutevel em httpportalmecgovbrrede-de-educacao-para-a-diversidade Acesso em 25 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

199

Quadro 10 - Quantitativo de alunos matriculados nos cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia no acircmbito das graduaccedilotildees via UABCAPES distribuiacutedos por polos em 2016

Polo Adm Puacuteblica Bacharelado

Biologia Licenciatura

Fiacutesica Licenciatura

Matemaacutetica Licenciatura

Quiacutemica Licenciatura

Alvorada - - - 16 - Ananaacutes 78 - 11 24 - Araguatins - 20 - - - Araguaiacutena 40 41 - - - Araguacema 40 - - - - Arraias 88 50 - 9 - Cristalacircndia - - 9 - - Dianoacutepolis 50 - - 10 5 Guaraiacute 88 - - 19 - Gurupi 87 62 12 28 19 Mateiros 11 - Nova Olinda 50 - - 12 - Palmas - - 40 - 28 Pedro Afonso 36 - - - - Porto Nacional 68 - - 18 Taguatinga 55 - - 21 - Total 612 245 72 150 70

Total geral de alunos matriculados em graduaccedilotildees a distacircncia UABUFT 1079

Fonte SISUAB52 (2016)

Assim ao longo dos dez anos de educaccedilatildeo mediada por tecnologias os cursos ofertados pela

UFT vinculados ao sistema Universidade Aberta do Brasil possibilitaram a formaccedilatildeo superior ou

formaccedilatildeo continuada de milhares de pessoas que natildeo poderiam ter acesso ao ensino superior nas

cidades onde residem o que certamente os impediriam de disputar vagas no mercado de trabalho

414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT

Para Becker e Marques (2002) a educaccedilatildeo mediada por tecnologias tem sido apontada com

uma alternativa agrave formaccedilatildeo de professores considerando que o Brasil um paiacutes com extensatildeo

continental apresenta uma distribuiccedilatildeo desigual de acesso ao ensino superior com contrastes

relevantes entre regiotildees com crescimento industrial e niacutevel de vida equivalente ao do Primeiro Mundo e

outras regiotildees de extremo atraso e miseacuteria Diante dessas realidades abissais a educaccedilatildeo a distacircncia

apresenta-se como uma tentativa de minimizar do ponto de vista educacional essas diferenccedilas

sociais Neste sentido a universidade puacuteblica ciente do seu papel social em atingir o maior nuacutemero de

pessoas com educaccedilatildeo de qualidade tem aderido ao uso de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

para mediar a aprendizagem em espaccedilos e tempos diferentes

52 O Sistema de Gestatildeo da Universidade Aberta do Brasil - SISUAB eacute uma plataforma de suporte para a execuccedilatildeo acompanhamento e gestatildeo de processos da Universidade Aberta do Brasil Estaacute preparado para o cadastramento e consulta de informaccedilotildees sobre instituiccedilotildees poacutelos cursos material didaacutetico articulaccedilotildees colaboradores e mantenedores O acesso ao SISUAB eacute permitido apenas aos usuaacuterios previamente autorizados (coordenadores UAB e coordenadores de curso coordenadores de poacutelos de apoio presencial e colaboradores da CAPES)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

200

Segundo Oliveira e Gasparin (2012) em 1998 havia aproximadamente 830 mil professores

sem formaccedilatildeo de niacutevel superior atuando na educaccedilatildeo baacutesica brasileira De acordo com o censo da

educaccedilatildeo daquele ano o nuacutemero de professores com formaccedilatildeo em niacutevel meacutedio (antigo magisteacuterio) e

ainda professores leigos que atuavam em vaacuterios pontos do paiacutes fez surgir um grande movimento entre

pesquisadores legisladores e gestores municipais e estaduais O Plano Nacional da Educaccedilatildeo de 2001

(PNE 2001) previa metas concretas a meacutedio e longo prazo para a formaccedilatildeo de professores em

exerciacutecio De entre estas metas a nuacutemero 19 previa no prazo de dez anos a formaccedilatildeo em niacutevel

superior dos professores de ensino meacutedio na sua aacuterea de atuaccedilatildeo No item seis do PNE cujo tiacutetulo era

Educaccedilatildeo agrave distacircncia e tecnologias educacionais enfatizava a necessidade de incentivo agrave utilizaccedilatildeo de

tecnologias de educaccedilatildeo agrave distacircncia para a formaccedilatildeo de professores

Segundo levantamento do MEC53 em 2009 havia um deacuteficit de 240 mil professores na aacuterea

das Ciecircncias Exatas no Brasil A mesma pesquisa revela que a Fiacutesica tinha o maior deacuteficit do Brasil

apenas sete mil professores se formaram entre 2001 e 2008No Tocantins esse deacuteficit chega a mais

de 60 e os professores de Fiacutesica satildeo na maioria formados em Matemaacutetica ou aacuterea afins O ganho

mais significativo na promoccedilatildeo de cursos a distacircncia pela UFT eacute a formaccedilatildeo de professores leigos que

atuam no ensino meacutedio e natildeo possuem formaccedilatildeo ou se a possuem natildeo estaacute sendo usada

adequadamente no exerciacutecio da profissatildeo Eacute importante sinalizar que este quantitativo no estado do

Tocantins ultrapassa 11000 professores Portanto eacute possiacutevel inferir que a oferta de cursos a distacircncia

tem contribuiacutedo para fortalecer a qualidade do ensino fundamental e meacutedio neste estado

Ao melhorar a qualidade do ensino meacutedio a educaccedilatildeo a distacircncia tambeacutem estaacute colaborando

para melhorar a qualidade do ensino superior uma vez que estes alunos estaratildeo potencialmente

capacitados a ingressar em universidades puacuteblicas por meio de vestibulares Ao permitir o acesso

destes alunos agraves universidades de comprovada qualidade a UAB estaacute tambeacutem cumprindo com um

importante papel social que eacute criar igualdade de oportunidades a todos Assim indiretamente

reduzindo as desigualdades sociais das regiotildees mais pobres do estado do Tocantins

Neste sentido a educaccedilatildeo mediada por tecnologias foi adotada pela UFT como uma

metodologia de ensino que promove o alcance da educaccedilatildeo superior aos municiacutepios mais distantes do

estado Segundo o Mapa da Inclusatildeo digital (Neri 2012) Tocantins ocupava em 2012 a 22ordf posiccedilatildeo

no ranking de acesso por estados brasileiros com 2374 dos habitantes com conexatildeo banda larga

53 Disponiacutevel em lthttpwwwsindutemgorgbrnovositeconteudophpMENU=1ampLISTA=detalheampID=633gt Acesso em 12 set 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

201

fixa Dados recentes do IBGE do ano de 2013 revelaram que 437 dos domiciacutelios tocantinenses

utilizam somente computador de mesa com internet e 215 utilizam apenas internet moacutevel pelo tablet

ou telefone celular Comparando este porcentual agrave meacutedia nacional do Brasil (45) o Tocantins possui

um nuacutemero significativo de habitantes conectados agrave internet No entanto problemas relacionados com

a qualidade do acesso e falta de portas de conexatildeo em algumas cidades tambeacutem satildeo recorrentes no

estado do Tocantins54 Logo o desafio da UFT vai aleacutem de promover cursos de formaccedilatildeo inicial e

continuada mediados por tecnologias no estado mas lidar com as dificuldades de infraestrutura de

acesso e qualidade da internet na regiatildeo

Outro dado importante sobre o Tocantins trata-se da meacutedia de escolas que possuem internet

de banda larga que eacute de 525 iacutendice razoaacutevel considerando que se trata de um estado com rincotildees

de pobreza e alto iacutendice de analfabetismo 1309 sendo o iacutendice superior ao nacional que eacute de 961

(Alves e Silva 2014) Poreacutem ainda que exista o acesso digital nas escolas do estado pesquisas

apontam para uma fragilidade dos professores no uso das tecnologias enquanto ainda satildeo cursistas

(formaccedilatildeo inicial e continuada) nas atividades sociais bem como na sua praacutetica pedagoacutegica (Alves e

Faria 2011 Martins e Silva 2012) Assim a questatildeo do niacutevel de literacia digital dos professores

constitui outro desafio para a eficaacutecia dos cursos mediados por tecnologias Neste sentido este

trabalho buscou investigar os impactos dos cursos de formaccedilatildeo on-line de professores sobre as

suas habilidades e competecircncias para o uso das tecnologias digitais no seu cotidiano e praacuteticas

pedagoacutegicas

Portanto este estudo que utiliza instrumentalmente o curso de licenciatura a distacircncia de

Fiacutesica da UFT busca investigar se o fato destes professores (alunos do curso) estudarem na

modalidade a distacircncia contribuiu para desenvolvimento da literacia digital no seu cotidiano e na

sua praacutetica docente O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade

Federal do Tocantins faz parte do Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) e conforme o quadro

10 (p212) em 2016 era ofertado em quatro polos do Tocantins atendendo a 72 alunos Antes de

aprofundarmos sobre as caracteriacutesticas inerentes do curso em questatildeo apresentamos mais

detalhadamente o funcionamento e dinacircmica do programa UAB no qual este estaacute inserido

54 Notiacutecia disponiacutevel em httpg1globocomtotocantinsnoticia201311lentidao-na-internet-lidera-reclamacoes-na-anatel-no-tocantinshtml Acesso

20 jul 2015

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

202

42 O sistema UAB

O curso de Licenciatura em Fiacutesica na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do

Tocantins (objeto do presente estudo) faz parte do Programa UAB Este programa foi instituiacutedo pelo

Decreto 5800 de 8 de junho de 2006 55 e trata-se de uma poliacutetica puacuteblica de articulaccedilatildeo com a

Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior ndash CAPES com vista agrave expansatildeo da

educaccedilatildeo superior no acircmbito do Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo

A legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia prevista no artigo 80 da Lei de Diretrizes e

bases da Educaccedilatildeo (LDB 94961996) regula que esta modalidade deve ser ofertada por instituiccedilotildees

especificamente credenciadas pela Uniatildeo Tambeacutem os Decretos nordm 56222005 e nordm 57732006

bem como as Portarias Ministeriais Normativas 1 e 2 de janeiro de 2007 estabelecem a necessidade

de que as instituiccedilotildees credenciem polos de apoio presencial para oferta dos cursos a distacircncia Assim

o modelo de educaccedilatildeo a distacircncia no Brasil eacute baseado nestas prerrogativas de encontros presenciais

obrigatoacuterios em polos previamente avaliados pela Uniatildeo

No Brasil importantes projetos de cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia foram desenvolvidos nas

uacuteltimas deacutecadas alguns isoladamente nas universidades federais como eacute o caso do curso de

Pedagogia na modalidade a distacircncia na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) em 1995 e de

outros projetos que foram concebidos em formato de consoacutercio entre diversas universidades como eacute o

caso do Consoacutercio CEDERJ56 que ofertou cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica Fiacutesica e o curso

de bacharelado em Administraccedilatildeo no ano de 2000 Na visatildeo de Costa e Pimentel (2009) experiecircncias

como estas foram precursoras do modelo atual do sistema Universidade Aberta do Brasil Costa (2007)

destaca quatro elementos essenciais que configuram o suporte e a execuccedilatildeo de cursos superiores a

distacircncia que estavam presentes no modelo do CEDERJ e estatildeo presentes no modelo da UAB

financiamento avaliaccedilatildeo institucional gestatildeo operacional e gestatildeo acadecircmica No caso da UAB

acrescenta-se a este modelo a induccedilatildeo de ofertas de cursos por meio de editais

421 Estrutura administrativa da UAB

Segundo o Decreto 58002006 o Sistema UAB foi criado visando o desenvolvimento da

modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia com a finalidade de expandir e interiorizar a oferta de cursos e

55 Disponiacutevel em lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2004-20062006DecretoD5800htmgt Acesso em 24 de set 2015 56 O CEDERJ foi uma iniciativa do governo do estado do Rio de Janeiro em parceria com as universidades puacuteblicas daquele estado Participaram do consoacutercio a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Universidade Federal Fluminense (UFF) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

203

programas de educaccedilatildeo superior no Paiacutes Fomenta a modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia nas

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior bem como apoia pesquisas em metodologias inovadoras de

ensino superior respaldadas em tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste modelo a UAB natildeo

eacute uma instituiccedilatildeo de ensino a distacircncia antes constitui um oacutergatildeo articulador das instituiccedilotildees puacuteblicas

responsaacuteveis pela oferta de cursos superiores puacuteblicos a distacircncia Essa articulaccedilatildeo estabelece qual

instituiccedilatildeo de ensino deve ser responsaacutevel por ministrar determinado curso em certo municiacutepio ou

certa microrregiatildeo por meio dos polos de apoio presencial A UAB eacute responsaacutevel pelo financiamento e a

avaliaccedilatildeo enquanto a gestatildeo acadecircmica e operacional estaacute a cargo das instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino

Figura 7 - Funcionamento do sistema UAB Fonte DTEUFT

O processo de articulaccedilatildeo ocorre numa primeira etapa quando a UAB publica editais para

ofertas dos cursos anualmente e as universidades puacuteblicas interessadas devem propor novos cursos de

acordo com os paracircmetros previstos nas chamadas puacuteblicas Em geral essas chamadas especificam

os cursos a serem ofertados e as respectivas modalidades (extensatildeo aperfeiccediloamento graduaccedilatildeo ou

especializaccedilatildeo) Abertas as chamadas a universidade discute internamente que cursos tem interesse

de ofertar e envia um projeto pedagoacutegico curricular (PPC) de cada curso junto com planilha de

financiamento de previsatildeo de custeio e pagamento de bolsas

Na segunda etapa ocorre a resposta agrave articulaccedilatildeo ou seja trata-se da adesatildeo ou natildeo da oferta

entre o rol de cursos previamente aprovados para a universidade nas chamadas ou editais da primeira

etapa No caso de adesatildeo a universidade deve informar os polos UAB da oferta o nuacutemero de vagas

por polo UAB e a forma de ingresso e aguardar a anaacutelise dos oacutergatildeos financiadores A terceira etapa eacute a

negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das planilhas e implementaccedilatildeo dos cursos Os cursos e polos aprovados na

articulaccedilatildeo com o oacutergatildeo financiador poderatildeo ser implementados apoacutes a negociaccedilatildeo e aprovaccedilatildeo das

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

204

planilhas Estas tratam do custeio dos cursos (diaacuterias passagens reprografia material de consumo

etc) e tambeacutem das bolsas para a coordenaccedilatildeo professores tutores e demais profissionais da equipe

multidisciplinar de cada curso

Apoacutes a articulaccedilatildeo entre as instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino e dos polos de apoio presencial o

sistema UAB assegura o fomento dos cursos financiando sua implementaccedilatildeo e execuccedilatildeo Os polos de

apoio presencial satildeo selecionados via edital e tecircm a funccedilatildeo de promover o desenvolvimento

descentralizado de atividades pedagoacutegicas relativas aos cursos e programas ofertados a distacircncia pelas

instituiccedilotildees puacuteblicas de ensino superior no acircmbito da UAB Satildeo mantidos por municiacutepios ou governos

de estado que asseguram a infraestrutura fiacutesica tecnoloacutegica e pedagoacutegica para que os alunos possam

acompanhar os cursos a distacircncia Assim o polo da UAB abriga turmas de um determinado curso na

modalidade a distacircncia e natildeo o curso Neste sentido o polo natildeo eacute de uma universidade especiacutefica ele

atende as universidades previamente aprovadas nas articulaccedilotildees O primeiro edital da UAB foi

publicado em 2005 e selecionou 292 polos de apoio presencial 190 cursos e 49 instituiccedilotildees federais

aprovadas para a oferta de 45000 vagas Em 2016 o SISUAB registrou 781 polos em todas as

regiotildees do paiacutes

As proposiccedilotildees para abertura de polos presenciais devem ser do prefeito do municiacutepio

interessado ou do governador do estado As regras deste edital exigem que toda infraestrutura fiacutesica e

de pessoal do polo presencial fica a cargo da prefeitura sede ou governo do estado enquanto a UAB se

responsabiliza pelas despesas de custeio dos cursos nas instituiccedilotildees ofertantes incluindo o pagamento

de bolsas para professores e tutores Segundo o Guia de orientaccedilotildees baacutesicas sobre o Sistema

Universidade Aberta do Brasil (2013) os polos precisam atender aos seguintes requisitos

1 Infraestrutura fiacutesica e tecnoloacutegica a) Ambientes administrativos sala para coordenaccedilatildeo do polo (obrigatoacuteria) sala para secretaria (obrigatoacuteria) sala para reuniatildeo b) Ambientes acadecircmicos salas multiuso (tutoria aula prova viacutedeowebconferecircncia etc) Laboratoacuterios pedagoacutegicos (especiacuteficos para cada curso) c) Ambientes de apoio (obrigatoacuterios) laboratoacuterio de informaacutetica proacuteprio conectados agrave internet de no miacutenimo 2Mb com instalaccedilotildees eleacutetricas adequadas biblioteca com espaccedilo para estudo d) Ambientes geraisbanheiros (pelo menos um feminino e um masculino que atendam as normas de acessibilidade)

2 Recursos Humanos Eacute necessaacuterio que o polo tenha minimamente Coordenador de polo Secretaacuteria(o) ou apoio administrativo de polo Teacutecnico(s) de Informaacutetica Biblioteconomista ou auxiliar de biblioteca Teacutecnico(s) de Laboratoacuterio

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

205

Pedagoacutegico (se for o caso) Seguranccedila Serviccedilos gerais (manutenccedilatildeo e limpeza)

Aleacutem destas exigecircncias miacutenimas o Guia salienta que os diversos ambientes do polo apresentem boas

condiccedilotildees de iluminaccedilatildeo ventilaccedilatildeoclimatizaccedilatildeo obrigatoacuteria no laboratoacuterio de informaacutetica aleacutem de

mobiliaacuterio adequado agraves finalidades de uso de cada ambiente Na figura 8 eacute possiacutevel visualizar a

distribuiccedilatildeo geograacutefica dos polos UAB no Tocantins

Figura 8 ndash Distribuiccedilatildeo dos polos presenciais da UAB no Tocantins (Fonte DTEUFT)

Assim no Tocantins dezesseis polos estatildeo ativos no ano de 2016 Destes 14 satildeo mantidos

pelo governo estadual e 2 (Nova Olinda e Ananaacutes) tecircm o apoio das prefeituras locais

422 Gestatildeo financeira da UAB

Sobre a gestatildeo financeira dos cursos da UAB segundo o Guia de Guia de orientaccedilotildees baacutesicas

sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil (2013) no caso das Instituiccedilotildees Federais de Ensino

(IFEs) os cursos podem ser financiados (custeio - diaacuterias passagens reprografia material de

consumo) com orccedilamento proveniente de duas fontes orccedilamento destinado pela Lei de diretrizes

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

206

orccedilamentaacuterias (LDO) do ano corrente na proacutepria estrutura da universidade (Matriz Orccedilamentaacuteria) e

orccedilamento da CAPES descentralizado para execuccedilatildeo da universidade (descentralizaccedilatildeo) O

pagamento dos professores e demais profissionais eacute efetuado por meio de bolsas Segundo o Guia

(2013) satildeo elegiacuteveis para o recebimento de bolsas nas Instituiccedilotildees de Ensino Superior (IES) as

seguintes funccedilotildees que estatildeo cadastradas no Sistema de Gestatildeo de Bolsas (SGB)57 Tutor (presencial e

a distacircncia) Professor (pesquisador conteudista revisor equipe multidisciplinar) Coordenador curso

Coordenador de tutoria Coordenador de polo Coordenador UAB Coordenador UAB adjunto

A admissatildeo dos professores e demais profissionais envolvidos nos cursos da UABUFT satildeo

realizadas por anaacutelise curricular por cada coordenador de curso Os tutores presenciais e a distacircncia

satildeo selecionados via edital de seleccedilatildeo em que satildeo analisados os criteacuterios de formaccedilatildeo acadecircmica

tempo de docecircncia na aacuterea de educaccedilatildeo a distacircncia e produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea do curso que iraacute

atuar

A CAPES na funccedilatildeo de oacutergatildeo financiador do sistema UAB publica editais de fomento para

possibilitar que as IES participantes do sistema se qualifiquem no que se refere agrave sua infraestrutura

fiacutesica tecnoloacutegica estrutural bem como na formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo do quadro de colaboradores que

atuam na modalidade em diferentes funccedilotildees A UFT recebeu recursos provenientes de Editais de

fomento da CapesUAB para a estruturaccedilatildeo do centro de educaccedilatildeo a distacircncia formaccedilatildeo continuada

dos profissionais atuantes na modalidade na instituiccedilatildeo (cursos e capacitaccedilotildees) e estruturaccedilatildeo

tecnoloacutegica (material permanente equipamentos tecnoloacutegicos) Estes recursos possibilitaram a

estruturaccedilatildeo e institucionalizaccedilatildeo da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia na UFT Hoje a Diretoria de

Tecnologias Educacionais (DTE) departamento responsaacutevel pela modalidade na UFT possui preacutedio

proacuteprio com infraestrutura adequada para a oferta e acompanhamento dos cursos a distacircncia58 No

entanto em consulta a relatoacuterios de cumprimento de objeto dos recursos aprovados para a modalidade

na instituiccedilatildeo um bom aporte dos mesmos foi devolvido para o oacutergatildeo fomentador pela razatildeo da sua

chegada tardia na matriz orccedilamentaacuteria da instituiccedilatildeo59

57 O Sistema de Gestatildeo de Bolsas - SGB eacute utilizado para gerir bolsas-auxiacutelio fornecidas pelos programas que participam da poliacutetica de incentivo agrave educaccedilatildeo do governo federal O gerenciamento das Bolsas UAB foi realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (FNDE) ateacute julho de 2011 A partir de entatildeo essa responsabilidade passou a ser da CAPES que utiliza sistema semelhante ao do FNDE (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 11) 58 Para mais informaccedilotildees sobre a institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT pode consultar o artigo A Implementaccedilatildeo e Institucionalizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo a Distacircncia na Universidade Federal do Tocantins Caminhos Percorridos e a Percorrer (Alves e Macedo 2012) 59 Um exemplo em 2008 o recurso destinado para capacitaccedilatildeo continuada dos profissionais da educaccedilatildeo a distacircncia na UFT (Processo 234000065492008-66) foi devolvido por ter sido descentralizado no dia 23 de dezembro de 2008 Segundo o relatoacuterio de cumprimento do objeto enviado agrave CAPES a devoluccedilatildeo se deu devido a impossibilidade de cumprir os preceitos da Lei 81661993 que trata da legislaccedilatildeo e prazos para licitaccedilatildeo e contratos puacuteblicos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

207

423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB

A gestatildeo pedagoacutegica dos cursos do sistema UAB fica designada para cada instituiccedilatildeo ofertante

com a ressalva que cumpram as orientaccedilotildees e paracircmetros designados pelo sistema Os cursos devem

ter um Projeto Pedagoacutegico de Curso (PPC) aprovado pelo colegiado maacuteximo da instituiccedilatildeo O PPC deve

contemplar entre outros itens o perfil do egresso a estrutura curricular do curso (nuacutemero de

moacuteduloaula ementas carga horaacuteria bibliografia baacutesica e complementar) diretrizes metodoloacutegicas

modalidade do curso (semi-presencial ou totalmente a distacircncia60) definiccedilatildeo de encontros presenciais

orientaccedilotildees para a praacutetica e estaacutegio supervisionado proposta de avaliaccedilatildeo do processo de ensino-

aprendizagem e orientaccedilotildees para o trabalho de conclusatildeo de curso

O curso deve ter obrigatoriamente um colegiado composto por um quadro de professores

qualificado para atender agraves diretrizes dos Referenciais de qualidade para a Educaccedilatildeo Superior a

distacircncia (2007 p 18) o qual prioriza que o corpo docente seja ldquovinculado agrave proacutepria instituiccedilatildeo com

formaccedilatildeo e experiecircncia na aacuterea de ensino e em educaccedilatildeo a distacircnciardquo O mesmo documento lista as

habilidades que se exigem do professor na modalidade a distacircncia

a) estabelecer os fundamentos teoacutericos do projeto b) selecionar e preparar todo o conteuacutedo curricular articulado a procedimentos e atividades pedagoacutegicas c) identificar os objetivos referentes a competecircncias cognitivas habilidades e atitudes d) definir bibliografia videografia iconografia audiografia tanto baacutesicas quanto complementares e) elaborar o material didaacutetico para programas a distacircncia f) realizar a gestatildeo acadecircmica do processo de ensino-aprendizagem em particular motivar orientar acompanhar e avaliar os estudantes g) avaliar-se continuamente como profissional participante do coletivo de um projeto de ensino superior a distacircncia

Assim a UAB daacute autonomia agraves IES que selecionem seu quadro de professores de acordo com

esses criteacuterios e realizem a capacitaccedilatildeo necessaacuteria para a formaccedilatildeo continuada dos mesmos em

relaccedilatildeo agraves tecnologias e miacutedias A seleccedilatildeo de professores e tutores tambeacutem deve ser realizada segundo

os paracircmetros de Fomento do Sistema UAB descritos no Ofiacutecio Circular 292012 a) 1 cota de bolsa a

cada 30 horas-aulas de carga-horaacuteria por grupo de 15 alunos ou b) 1 tutor (12 cotas de bolsas) por

grupo de 25 alunos e 1 tutor (12 cotas de bolsas) por polo por grupo de 25 alunos

60 Obedecendo a legislaccedilatildeo brasileira os cursos de graduaccedilatildeo ou especializaccedilatildeo no sistema UAB devem ter obrigatoriamente encontros presenciais cuja frequecircncia deve ser determinada pela natureza da aacuterea do curso oferecido e pela metodologia de ensino utilizada

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

208

O sistema exige que as funccedilotildees de cada profissional envolvido num curso sejam claramente

definidas de forma que o mesmo ocorra seguindo um fluxo exitoso A publicaccedilatildeo Orientaccedilotildees Gerais

Oferta de cursos na modalidade a distacircncia na UFT e Formaccedilatildeo de tutores para a atuar em EAD

(Flores 2010) apresenta o papel dos diversos profissionais envolvidos na oferta dos cursos a distacircncia

na UFTSegue a descriccedilatildeo com algumas adaptaccedilotildees

a) Coordenador de polo

Responsaacutevel pelas condiccedilotildees para a permanecircncia do aluno no curso criando um viacutenculo mais proacuteximo

com a universidade responsaacutevel pelas atividades acadecircmicas dos cursos ofertados nos polos Cabe ao

coordenador fazer a gestatildeo do polo fornecer informaccedilotildees necessaacuterias aos coordenadores UAB para

instrumentalizaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo de projetos e planejamento de accedilotildees mediar as relaccedilotildees entre os

partiacutecipes da UAB - Governo Federal Estados e Municiacutepios planejar e articular horaacuterios e calendaacuterios

de uso dos espaccedilos e equipamentos do polo acompanhar atividades desenvolvidas pelos tutores

presenciais entre outras

b) Coordenador de curso

O Coordenador de Curso eacute um professor ou pesquisador designadoindicado pelas Instituiccedilotildees

Puacuteblicas de Ensino Superior (IPES) vinculadas ao Sistema UAB que atua nas atividades de

coordenaccedilatildeo de curso implantado no acircmbito do Sistema UAB e no desenvolvimento de projetos de

pesquisa relacionados aos cursos Satildeo atribuiccedilotildees do Coordenador de Curso

- Coordenar acompanhar e avaliar as atividades acadecircmicas do curso - Participar das atividades de capacitaccedilatildeo e de atualizaccedilatildeo desenvolvidas na instituiccedilatildeo de ensino - Participar de grupos de trabalho para o desenvolvimento de metodologia elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a modalidade a distacircncia e sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Realizar o planejamento e o desenvolvimento das atividades de seleccedilatildeo e capacitaccedilatildeo dos profissionais envolvidos no curso - Elaborar em conjunto com o corpo docente do curso o sistema de avaliaccedilatildeo do aluno - Participar dos foacuteruns virtuais e presenciais da aacuterea de atuaccedilatildeo - Realizar o planejamento e o desenvolvimento dos processos seletivos de alunos em conjunto com o coordenador UAB - Acompanhar o registro acadecircmico dos alunos matriculados no curso - Verificar in loco o andamento dos cursos - Acompanhar e supervisionar as atividades dos tutores dos professores do coordenador de tutoria e dos coordenadores de polo - Informar o coordenador UAB a relaccedilatildeo mensal de bolsistas aptos e inaptos para recebimento

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

209

Nos cursos na modalidade a distacircncia oferecidos na UFT em parceria com a UAB cabe ainda

aos coordenadores de curso a elaboraccedilatildeo dos documentos exigidos pelo sistema projetos planilhas

orccedilamentaacuterias e financeiras relatoacuterios pedagoacutegicos e de execuccedilatildeo financeira e ainda a alimentaccedilatildeo

dos dados dos sistemas ATUAB61 e SISUAB

c) Professor Autor (conteudista)

Os professores autores ou conteudistas satildeo os responsaacuteveis pela produccedilatildeo do material didaacutetico

do curso Deveratildeo ser professores da aacuterea do conhecimento do curso de preferecircncia do quadro de

servidores da UFT Satildeo atribuiccedilotildees dos professores autores

- Elaborar o plano de curso da disciplina prevendo a elaboraccedilatildeo de recursos e o uso de miacutedias da EaD (ambiente virtual materiais didaacuteticos viacutedeos simulaccedilotildees etc) e estrateacutegias didaacuteticas aplicadas agrave EaD - Desenvolver organizar e selecionar os materiais didaacuteticos para o curso em articulaccedilatildeo com as equipes de produccedilatildeo das IFEs - Redigir o texto didaacutetico para EaD utilizando de linguagem adaptada para essa modalidade - Seguir o cronograma de entrega do material obedecendo aos fluxos previstos pela coordenaccedilatildeo do curso

d) Professor formador

O professor formador atua diretamente como mediador pedagoacutegico dos alunos na sala virtual

Este eacute responsaacutevel pela disponibilizaccedilatildeo dos conteuacutedos nas respectivas salas do ambiente virtual

Moodle Cabe a ele a orientaccedilatildeo dos tutores no que se refere agrave temaacutetica do componente curricular

conteuacutedos conceituais e atividades propostas O professor da disciplina pode ser o mesmo professor

autor Caso natildeo seja o responsaacutevel pelo conteuacutedo do moacutedulo o professor deveraacute estar em constante

contato com o(s) professor(es) autor(es) Satildeo atribuiccedilotildees do professor formador

- Mediar o conhecimento dos alunos por meio de estudos dirigidos foacuteruns postagem de miacutedias e outras ferramentas digitais - Acompanhar o desenvolvimento da sua disciplina ou moacutedulo em seus aspectos teoacuterico-metodoloacutegicos e operacionais - Acompanhar os tutores a distacircncia capacitando-os segundo o Projeto Pedagoacutegico do Curso minimizando as disparidades na conduccedilatildeo da ementa da disciplina e do curriacuteculo do curso - Participar dos foacuteruns e chat de debates fazendo provocaccedilotildees teoacutericas junto aos tutores e alunos - Acessar regularmente a plataforma virtual respondendo duacutevidas pertinentes a sua disciplina moacutedulo

61 O ATUAB eacute o Ambiente Virtual de Trabalho da Universidade Aberta do Brasil restrito aos seus colaboradores Configura-se na Personalizaccedilatildeo do Ambiente Virtual de aprendizagem (AVA) Moodle para o compartilhamento de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo da CAPES com as IES e os polos (Universidade Aberta do Brasil UAB 2013 p 12)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

210

e) Tutor presencial

Os tutores presenciais exercem tutoria em cursos mediados por tecnologias nos polos de

apoio presencial ao acadecircmicoaprimorando e fortalecendo o elo de ligaccedilatildeo entre os extremos do

sistema instituiccedilatildeo ndash acadecircmico no qual o controle do aprendizado eacute realizado mais intensamente pelo

acadecircmico do que pelo professor Satildeo suas atribuiccedilotildees

- Acompanhar os acadecircmicos presencialmente no polo de apoio presencial em que natildeo haacute ldquoaulasrdquo no sentido claacutessico da palavra e estes(as) estudam de forma independente - Acompanhar o desenvolvimento teoacuterico-metodoloacutegico do curso atraveacutes da comunicaccedilatildeo siacutencrona (on-line em tempo real) eou assiacutencrona (com defasagem de tempo) com dinamismo lideranccedila e iniciativa de realizar com eficaacutecia o trabalho de facilitador junto ao grupo de acadecircmicos (as) sob sua tutoria - Demonstrar competecircncia individual e de equipe para analisar realidades formulando planos de accedilatildeo coerentes com os resultados analiacuteticos e de avaliaccedilatildeo e mantendo desse modo uma atitude reflexiva e criacutetica sobre a teoria e a proacutepria praacutetica educativa envolvida no processo de educaccedilatildeo mediada - Acompanhar os encontros presenciais e as praacuteticas pedagoacutegicas realizados nos polos UAB eou nos campi da UFT verificando a integraccedilatildeo professortutor-acadecircmico(a) como fatores importantes para a aprendizagem independente - Manter registro da participaccedilatildeo dos acadecircmicos nas atividades do curso zelando pela aprendizagem colaborativa do acadecircmico (a)

f) Tutor a distacircncia

O tutor a distacircncia exerce tutoria em cursos a distacircncia desenvolvendo e apoiando atividades

formativas mediadas pelas tecnologias Satildeo suas atribuiccedilotildees

- Monitorar osas acadecircmicos(as) sobre as dificuldades de conteuacutedo do curso auxiliando-os no acesso e navegabilidade da plataforma virtual Moodle (Moodle) fornecendo feedback (resposta) sempre com comentaacuterios devolutivos e sugestotildees objetivas e claras dos comentaacuterios (de textos aacuteudios e viacutedeos) postados - Moderar os relatoacuterios das atividades relatoacuterios de participaccedilatildeo os logs e estatiacutesticas do ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem arquivando coacutepia dos comentaacuterios para que posteriormente possa acompanhar o desempenho do(a) acadecircmico demonstrando manejo das ferramentas que estatildeo agrave sua disposiccedilatildeo para o exerciacutecio da tutoria - Manter mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica regular com osas acadecircmicos(as) durante o curso dos processos de ensino e aprendizagem orientando a usabilidade das tecnologias digitais evitando oa acadecircmico a se sentir desamparado e abandonar o curso - Moderar a interaccedilatildeointeratividade no ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem dos itens acrescentados arquivos enviados textos postados e participaccedilatildeo nos foacuteruns chat ou seccedilatildeo bate-papo e demais atividades on-line - Realizar relatoacuterios individuais sobre a turma e enviar coordenaccedilatildeo do curso

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

211

O modelo de educaccedilatildeo a distacircncia proposto pelo Sistema UAB tem sido questionado por

pesquisadores na aacuterea com relaccedilatildeo a diversos fatores falta de um projeto pedagoacutegico expliacutecito

(Barreto 2010) fraacutegil relaccedilatildeo pedagoacutegica entre os agentes educacionais (professorestutoresalunos)

envolvidos no processo de educaccedilatildeo a distacircncia (Zuin 2006) aligeiramento das formaccedilotildees e falta de

qualidade de alguns cursos especialmente de formaccedilatildeo de professores (Giolo 2008) precarizaccedilatildeo do

trabalho docente (Lapa e Pretto 2010) e outros entraves relacionados com o financiamento da

educaccedilatildeo a distacircncia (Dourado 2008) e a regularizaccedilatildeo do trabalho do tutor (Oliveira 2006) No

entanto eacute inegaacutevel que a UAB expandiu as vagas para o ensino superior no Brasil Segundo Censo da

Educaccedilatildeo Superior (INEP 2015)entre os anos de 2010 a 2013 as matriacuteculas de graduaccedilatildeo na

modalidade a distacircncia tiveram crescimento de 240 atingindo o total de 1153572 em 2013

Conforme jaacute exposto a UFT aderiu agrave Universidade Aberta do Brasil desde a sua criaccedilatildeo em

2005 quando participou do 1ordm Edital chamada para cursos via Sistema UAB e foi aprovada a oferta do

curso de licenciatura em Biologia a distacircncia Em 2016 a instituiccedilatildeo ofertava no acircmbito da UAB cinco

graduaccedilotildees sendo que quatro satildeo licenciaturas e um bacharelado atendendo a 1079 alunos

Apresentamos com mais detalhes o curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia visto ter sido o curso

utilizado no presente estudo investigativo

43 O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia na UFT

Em 2006 a UFT participou do Edital 012006 para ofertas de licenciaturas no acircmbito da UAB

e foi contemplada com os cursos de licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica na modalidade a

distacircncia O curso de Licenciatura em Fiacutesica foi aprovado a princiacutepio para oferta de 150 vagas nos

municiacutepios polos de Araguacema Araguatins Campos Lindos Cristalacircndia Dianoacutepolis e Porto

Nacional com previsatildeo de iniacutecio em 2008 mas devido a problemas com descentralizaccedilatildeo de recursos

o mesmo iniciou oferta apenas em 2010 em polos diferentes Palmas Cristalacircndia Gurupi e Ananaacutes

De acordo com o Projeto Pedagoacutegico do Curso (PPC) de Licenciatura em Fiacutesica da UFT a

opccedilatildeo pela oferta de curso nesta aacuterea deve-se ao fato de que existe no estado do Tocantins um deacuteficit

de professores graduados na aacuterea de Fiacutesica ldquosegundo dados da Secretaria de Educaccedilatildeo do estado do

Tocantins haacute uma demanda de aproximadamente 400 professores para serem capacitados aleacutem da

demanda reprimida vinda dos egressos do ensino meacutediordquo ( (UFT 2009 p 19) Neste sentido o PPC

do referido curso define seu objetivo

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

212

Este projeto tem como objetivo contribuir para a formaccedilatildeo de professores no campo da Fiacutesica cientes de sua condiccedilatildeo de cidadatildeos comprometidos com princiacutepios eacuteticos inserccedilatildeo histoacuterico-social (dignidade humana respeito muacutetuo responsabilidade solidariedade) envolvimento com as questotildees ambientais e compromissos com a sociedade

A proposta do curso constituia garantir um quantitativo de vagas para professores leigos em

exerciacutecio na rede puacuteblica de ensino nos anosseacuteries finais do ensino Fundamental eou no Ensino

Meacutedio sem licenciatura em Fiacutesica Assim o processo de seleccedilatildeo foi realizado mediante inscriccedilatildeo preacutevia

dos candidatos pela Secretaria de Educaccedilatildeo de Educaccedilatildeo do estado e como o nuacutemero de vagas natildeo

foi completo abriu-se um edital de seleccedilatildeo para a comunidade local nas vagas remanescentes Para

uma melhor compreensatildeo da proposta do curso faz-se importante conhecer o contexto em que o

mesmo foi concebido e implementado na UFT

431 O processo de implementaccedilatildeo

Em 2009 quando ocorreram as discussotildees para a implementaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a

distacircncia na UFT foi acordado com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que jaacute

ofertava um curso de licenciatura em Fiacutesica nesta modalidade desde 2006 de que esta cederia agrave UFT

o seu projeto pedagoacutegico do curso e material didaacutetico jaacute produzido Sobre este processo Perdigatildeo-

Nass (2012) analisa que na eacutepoca apesar de a UFT jaacute ofertar um curso de licenciatura em Fiacutesica

presencial em um dos seus campi (Araguaiacutena) natildeo foi aproveitado deste nem recursos humanos nem

tampouco seu projeto pedagoacutegico O autor acrescenta que o PPC da UFRN foi elaborado na perspectiva

Freireana a partir de temas geradores 62 baseados na realidade de seca da regiatildeo do Nordeste 63

Caberia portanto agrave equipe pedagoacutegica responsaacutevel pela elaboraccedilatildeo do PPC da UFT adaptar os temas

geradores para a realidade do Tocantins Perdigatildeo-Nass (idem pp 93-94) explica esse processo

Os elaboradores do PPC da UFT compreendiam a falta de aplicabilidade do tema gerador potigar agrave realidade tocantinense e jaacute havia uma sugestatildeo detectadas pelos elaboradores de que o novo tema geraccedilatildeo poderia ter relaccedilatildeo com os biomas caracteriacutesticos do Tocantins A inclusatildeo do tema gerador ldquoenergias alternativasrdquo tambeacutem tem a sua razatildeo de ser trata-se de uma das cinco temaacuteticas prioritaacuterias da UFT as quais satildeo ldquoidentidade cultura e territorialidaderdquo ldquoagropecuaacuteria e meio ambienterdquo ldquobiodiversidade e mudanccedilas climaacuteticasrdquo ldquoeducaccedilatildeordquo e ldquofontes de energia renovadardquo

62 Paulo Freire (1987) na sua obra Pedagogia do Oprimido difundiu a ideia de formaccedilatildeo dialeacutetica com uso de ldquotemas geradoresrdquo como forma de organizaccedilatildeometodologia numa perspectiva do educador utilizar-se da praacutetica-teoria-praacutetica como forma de construir seu fazer-pensar Neste sentido todo tema gerador constitui um problema vivenciado pela comunidade cuja superaccedilatildeo natildeo eacute por ela percebida Segundo Gouveia (1996) este envolve apreensatildeo da realidade anaacutelise organizaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo originando programas de ensino a partir do diaacutelogo 63 A regiatildeo Nordeste do Brasil destaca-se como principal caracteriacutestica a seca causada pela escassez de chuvas proporcionando pobreza e fome O Sertatildeo nordestino apresenta as menores incidecircncias de chuvas isso em acircmbito nacional A longa estiagem provoca uma seacuterie de prejuiacutezos aos agricultores como perda de plantaccedilotildees e animais a falta de produtividade causada pela seca provoca a fome

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

213

Com o objetivo de adaptar a proposta do curso da UFRN com a realidade do estado do

Tocantins o PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT previa a produccedilatildeo por docentes da instituiccedilatildeo

de material didaacutetico complementar na forma de fasciacuteculos e atividades abordando ldquocaracteriacutesticas

peculiares do Estado como os Biomas do Cerrado Amazocircnia Pantanal e a transiccedilatildeo de biomas aleacutem

de um fasciacuteculo que aborde a questatildeo das energias alternativasrdquo (UFT 2009 p 16)

Os tracircmites de aprovaccedilatildeo do curso de licenciatura em Fiacutesica na UFT ocorreram em 2009 com

aprovaccedilatildeo do PPC por meio da Resoluccedilatildeo 142009 do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensatildeo

(Consepe) da universidade Em meados de 2010 foi lanccedilado edital de Vestibular para seleccedilatildeo dos

alunos da primeira turma Foram ofertadas 75 vagas distribuiacutedas em Ananaacutes (25 vagas) Cristalacircndia

(25 vagas) e Palmas (25 vagas) Destas vagas foram efetivadas 71 matriacuteculas e atualmente 31 alunos

estatildeo ativos no curso De acordo com o coordenador do curso no ano de 2016 11 cursistas desta

primeira turma concluiacuteram a graduaccedilatildeo

Em 2012 realizou-se segundo vestibular com 100 vagas sendo 50 para o polo de Gurupi e 50

vagas para Palmas Das 100 vagas do edital foram realizadas 47 matriacuteculas e atualmente (2014) 21

estudantes estatildeo regularmente matriculados Os dados mostram que embora exista um iacutendice elevado

de professores da rede puacuteblica sem formaccedilatildeo adequada na aacuterea de Fiacutesica um nuacutemero expressivo as

vagas ofertadas na modalidade a distacircncia permanecem ociosas No ano de 2014 foi realizado

vestibular para entrada de uma terceira turma do curso Houve a oferta de 10 vagas somente para o

polo de Palmas e 10 alunos foram matriculados Mas segundo o coordenador de curso destes

matriculados apenas seis estavam ativos no curso no primeiro semestre de 2016 Para uma melhor

compreensatildeo dos dados relativos ao curso segue uma descriccedilatildeo da organizaccedilatildeo administrativa e

didaacutetico-pedagoacutegica do mesmo

4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica

A coordenaccedilatildeo geral do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia eacute subordinada agrave Diretoria

de Tecnologias Educacionais que tem como gestor o Coordenador da UAB na UFT Este eacute responsaacutevel

pelo funcionamento de todos os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia do sistema UAB na instituiccedilatildeo e

delibera sobre as questotildees administrativas (logiacutestica recursos humanos) acadecircmicas (tutoria material

didaacutetico) e de financiamento (descentralizaccedilatildeo dos recursos)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

214

Sobre as atribuiccedilotildees do coordenador do curso de graduaccedilatildeo a distacircncia o PPC do curso de

Fiacutesica afirma que se seguem as normas prescritas no Regimento Geral da UFT para cursos presenciais

e a distacircncia da qual a pessoa responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo do curso ldquotem responsabilidade direta

e imediata com as questotildees acadecircmicas do curso tais como projeto pedagoacutegico oferta das

componentes curriculares elaboraccedilatildeo e avaliaccedilatildeo do material didaacutetico e questotildees que envolvam o

andamento dos alunos no cursordquo(UFT 2009 p12) A coordenaccedilatildeo do curso tambeacutem eacute responsaacutevel

pela coordenaccedilatildeo de tutoria

O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia possui um colegiado de professores segundo as

normas do Regimento Geral da UFT O colegiado em 2016 era composto por 16 professores 1

coordenador de curso (prof doutor) 1 coordenador de tutoria (prof mestre) 2 coordenadores de

Programa Institucional de Bolsa a Iniciaccedilatildeo a Docecircncia - Pibid ( profs doutores) 1 coordenador de

estaacutegio (prof doutor) e 11 professores formadores (4 mestres e 7 doutores) O colegiado eacute presidido

pelo coordenador do curso e de acordo com o PPC (2009 p 10) sua funccedilatildeo eacute

- Opinar e decidir sobre a filosofia os objetivos e a orientaccedilatildeo pedagoacutegica do Curso - Propor quando necessaacuterio a modificaccedilatildeo do nuacutemero de vagas ofertadas para o ingresso no Curso via vestibular a criaccedilatildeo ou a extinccedilatildeo de disciplinas bem como a alteraccedilatildeo de carga horaacuteria e de programas respeitando a legislaccedilatildeo vigente - Manter permanente pesquisa de mercado de trabalho para identificar e adequar o ensino agraves exigecircncias da comunidade - Elaborar a lista de oferta semestral de disciplinas - Propor medidas para o bom desenvolvimento das atividades acadecircmicas -Examinar decidindo em primeira instacircncia as questotildees acadecircmicas suscitadas pelos corpos discente e docente e administraccedilatildeo superior

O coordenador do curso tambeacutem eacute responsaacutevel pelas operaccedilotildees logiacutesticas do curso no que diz

respeito agrave organizaccedilatildeo dos encontros presenciais requisiccedilatildeo de diaacuterias e passagens para os

professores e solicitaccedilatildeo de laboratoacuterios

De acordo com a legislaccedilatildeo brasileira para a educaccedilatildeo a distacircncia cursos de graduaccedilatildeo nesta

modalidade carecem de encontros presenciais para uso de laboratoacuterios e realizaccedilatildeo de provas Assim

no curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia aleacutem dos polos presenciais o PPC prevecirc a existecircncia

das Unidades Operativas (UNO) Estas constituem unidades de apoio aos polos presenciais da UAB

Localizadas nos campi da UFT (Arraias Araguaiacutena e Palmas) que possuem laboratoacuterios especiacuteficos

para aulas experimentais bibliotecas e outros serviccedilos de apoio ao estudante contribuindo para sua

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

215

fixaccedilatildeo no curso e criando uma relaccedilatildeo de identidade do mesmo com a universidade aleacutem de

contribuir com a integraccedilatildeo dos alunos com os colegas de curso

Em 2016 o curso de licenciatura em Fiacutesica estava sendo ofertado nos polos presenciais da

UAB de Ananaacutes Cristalacircndia Gurupi e Palmas conforme apresentado na Figura 9

Figura 9 - Polos presenciais dos cursos de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte DTEUFT)

A cidade de Ananaacutes localiza-se no extremo norte do estado do Tocantins na regiatildeo chamada de

ldquoPortal do Bico do Papagaio64rdquo Trata-se de um municiacutepio pequeno sua populaccedilatildeo foi estimada em

2015 com 9848 habitantes Sua economia se baseia principalmente das atividades agropecuaacuterias

Natildeo haacute instituiccedilotildees de ensino superior na cidade No polo da UAB aleacutem do curso de licenciatura em

Fiacutesica da UFT satildeo ofertados os cursos de licenciatura em Biologia da UFT e Computaccedilatildeo (licenciatura)

pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRP) A UNO que atende os alunos do curso de

Fiacutesica e Biologia do polo de Ananaacutes eacute o campus da UFT em Araguaiacutena localizado a 131 km de

distacircncia Considerando que neste campus tem o curso de licenciatura em Fiacutesica presencial os alunos

da modalidade a distacircncia fazem usos dos laboratoacuterios disponiacuteveis no campus

Cristalacircndia igualmente a Ananaacutes eacute um pequeno municiacutepio com populaccedilatildeo estimada em

7386 no ano de 201565 A sua economia tambeacutem eacute baseada predominantemente na agropecuaacuteria

64 A microrregiatildeo do Bico do Papagaio eacute uma das microrregiotildees do estado brasileiro do Tocantins pertencente agrave mesorregiatildeo Ocidental do Tocantins Foi assim denominada devido ao formato geograacutefico parecido a bico de papagaio desta regiatildeo do extremo Norte do Estado 65 Dados de acordo com o IBGE Disponiacutevel em httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=170610ampsearch=tocantins|cristalandia Acesso em 23 abril 2016

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

216

Cristalacircndia tambem natildeo possui nenhuma instituiccedilatildeo de ensino superior e o polo da UAB (mantido pelo

governo do estado) abriga trecircs licenciaturas a distacircncia da UFT Biologia Quiacutemica e Fiacutesica A Unitins

tambeacutem oferta quatro cursos no polo de Cristalacircndia Administraccedilatildeo Puacuteblica (bacharelado)

Computaccedilatildeo (licenciatura) Letras (licenciatura com habilitaccedilatildeo em Liacutengua Portuguesa Liacutengua

Espanhola e respectivas Literaturas) e Pedagogia (licenciatura)

A cidade de Gurupi com populaccedilatildeo estimada em 83707 habitantes em 2015 eacute considerando

um municiacutepio com mais oportunidades na aacuterea de educaccedilatildeo Teve por muitos anos sua economia

baseada no setor agropecuaacuterio e comeacutercio mas nos uacuteltimos 10 anos tornou-se uma cidade

universitaacuteria com a criaccedilatildeo de um centro universitaacuterio privado com oferta de 15 cursos entre eles

Medicina Direito e Engenharia Civil A procura de estudantes do Brasil inteiro por esses cursos gera

uma injeccedilatildeo de recursos na economia local Gurupi possui tambeacutem um campus da UFT com quatro

cursos presenciais (Agronomia Engenharia Biotecnoloacutegica Engenharia Florestal e Quiacutemica ambiental

e trecircs cursos a distacircncia (Licenciatura em Biologia Quiacutemica e Fiacutesica) ofertados no polo de apoio

presencial que se localiza dentro do campus da universidade

Palmas eacute a capital administrativa do estado do Tocantins Uma cidade jovem e planejada com

apenas 28 anos de criaccedilatildeo em 2015 possuiacutea a populaccedilatildeo estimada em 272726 habitantes A

economia de Palmas eacute fortemente baseada no funcionalismo puacuteblico embora ultimamente o setor do

turismo e o comeacutercio tambeacutem se tenha fortalecido Com 12 instituiccedilotildees de ensino superior (puacuteblicos e

privados) a menor capital das unidades federativas do Brasil concentra o maior nuacutemero de oferta de

vagas de graduaccedilatildeo no estado do Tocantins Segundo o SISUAB o polo da UAB de Palmas tinha em

2016 170 alunos matriculados em nove cursos (duas especializaccedilotildees lato sensu seis licenciaturas

um bacharelado) ofertados por quatro IES diferentes De entre estas configura-se a UFT ofertando

nesse polo o curso de licenciatura em Fiacutesica e Quiacutemica com respectivamente 40 e 28 alunos

matriculados em 2016

Os polos de apoio presencial satildeo fundamentais no modelo de educaccedilatildeo a distacircncia da UAB No

curso de Fiacutesica o PPC prevecirc que o aluno deve frequentar o polo todos os fins de semana para o

desenvolvimento de atividades presenciais O curso eacute dividido em moacutedulos temaacuteticos e o periacuteodo letivo

eacute semestral e desenvolvido ao longo de 18 semanas assim distribuiacutedas dois moacutedulos por semestre

trabalhados em 9 semanas cada com no maacuteximo trecircs disciplinas por moacutedulo O aluno deve estar

presente nos finais de semana no polo para o desenvolvimento das atividades presenciais com

frequecircncia miacutenima de 75 e durante a semana ele desenvolveraacute as atividades a distacircncia propostas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

217

pelo professor da disciplina Sobre as atividades do curso (presenciais e a distacircncia) o PPC (UFT

2009 p 32) explica o procedimento

As atividades presenciais seratildeo desenvolvidas pelo tutor presencial orientado pelo professor da disciplina por meio do material impresso viacutedeo conferecircncia web ou mesmo em uma visita do docente ao polo As atividades a distacircncia seratildeo acompanhadas preferencialmente pelo tutor a distacircncia podendo tambeacutem ser orientado pelo tutor presencial supervisionado pelo professor da disciplina Essas atividades desenvolvidas a distacircncia seratildeo sequecircncia das atividades desenvolvidas presencialmente devem ocorrer por meio das mesmas miacutedias usadas nas atividades presenciais com ecircnfase nas atividades propostas na web

Nos polos de apoio presencial tambeacutem ocorrem as duas avaliaccedilotildees presenciais obrigatoacuterias

por disciplina do curso e ainda seminaacuterios temaacuteticos Em cada polo onde o curso eacute ofertado existe um

tutor presencial na aacuterea de formaccedilatildeo do mesmo para atender os alunos nas suas duacutevidas sobre

atividades e uso da plataforma virtual

433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica

No PPC do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT os professores que elaboraram a proposta

procuraram deixar clara a diferenccedila entre a modalidade a distacircncia e a presencial Enfatizam que a

educaccedilatildeo a distacircncia tem caracteriacutesticas singulares que a faz distinta e particular no enfoque dos

objetivos meios meacutetodos e estrateacutegias O conceito de educaccedilatildeo a distacircncia que utilizam eacute ldquoA

educaccedilatildeo a distacircncia se baseia em um diaacutelogo didaacutetico mediado entre o professor (instituiccedilatildeo) e o

estudante que localizado em espaccedilo diferente daquele aprende de forma independente (cooperativa)rdquo

(Garcia 2001 p 41) Neste sentido o PPC do curso defende que por suas caracteriacutesticas a

educaccedilatildeo a distacircncia supotildee um tipo de ensino em que o foco estaacute no aluno e natildeo na turma ldquoeste

aluno deve ser considerado como um sujeito do seu aprendizado desenvolvendo autonomia e

independecircncia em relaccedilatildeo ao professor que o orienta no sentido do ldquoaprender a aprender e aprender

a fazerrdquo (UFT 2009 p 14)

Considerando que o curso precede de momentos presenciais e natildeo eacute totalmente a distacircncia

entende-se que se trata de uma proposta de curso na modalidade semipresencial misto ou B-learning

(blended significa algo misto ou combinado) Assim de acordo com Silva (2013 p 147) a apropriaccedilatildeo

desta modalidade implica que sejam combinados momentos presenciais e natildeo presenciais (on-line)

cabendo aos professores da equipe envolvida ldquoselecionar os recursos mais adequados para melhorar

as situaccedilotildees de aprendizagem em funccedilatildeo dos objetivos e resultados educativosrdquo Segundo Meirinhos e

Osoacuterio (2006 p 960) o uso da modalidade b-learning precede os seguintes pressupostos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

218

Ser mais aconselhaacutevel para formandos com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo da Informaacutetica

Ser mais aconselhaacutevel a utilizadores com pouca experiecircncia na formaccedilatildeo a distacircncia

Aproveitar o que melhor tem a formaccedilatildeo presencial e a formaccedilatildeo a distacircncia Permitir o desenvolvimento de capacidades necessaacuterias a uma formaccedilatildeo

completamente a distacircncia

Assim a modalidade eacute bastante apropriada considerando o perfil dos cursistas da graduaccedilatildeo a

distacircncia em Fiacutesica professores com idades entre 29 a 34 anos e com pouca experiecircncia na utilizaccedilatildeo

da informaacutetica O PPC enfatiza a importacircncia do material didaacutetico impresso do curso ser concebido

segundo as especificidades da educaccedilatildeo a distacircncia e focados na realidade do aluno Tambeacutem eacute

ressaltada a importacircncia da produccedilatildeo de materiais para web utilizaccedilatildeo de meios digitais como o CD-

ROM No curso de Fiacutesica os professores tecircm autonomia para trabalhar diversas miacutedias com os alunos

como postar viacutedeos-aulas filmar experimentos e compartilhar indicar sites para pesquisa mais

aprofundada No referido curso utiliza-se o material didaacutetico do curso de Fiacutesica a Distacircncia da UFRN

Nas disciplinas que natildeo possuem material disponiacutevel na UFRN satildeo usados os materiais didaacuteticos

postados no repositoacuterio do SISUAB Os materiais didaacuteticos em formato PDF ou os arquivos multimiacutedias

satildeo disponibilizados no Ambiente Virtual Moodle

O PPC prevecirc que cada componente curricular deve contar com um professor que responderaacute

pelos conteuacutedos de acordo com suas especialidades Cabe ao professor formador a orientaccedilatildeo dos

tutores referente a temaacutetica do componente curricular conteuacutedos conceituais atividades e avaliaccedilatildeo

O perfil exigido para o professor que este deva ser de preferecircncia doutor podendo ser do quadro ativo

ou aposentado da UFT

A tutoria eacute reconhecida no PPC do curso de importacircncia fundamental para a orientaccedilatildeo dos

estudos organizaccedilatildeo das atividades em grupo e uma mediadora na relaccedilatildeo de confiabilidade dos

alunos com a instituiccedilatildeo O PPC prevecirc que os tutores tenham conhecimento natildeo apenas na aacuterea de

conhecimento do curso mas tenham competecircncia para gerenciar grupos orientar e motivar para os

estudos Ainda de acordo com os PPC estes devem ser selecionados entre professores da rede de

ensino alunos de poacutes-graduaccedilatildeo ou outros profissionais de niacutevel superior que tenham as competecircncias

requisitadas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

219

434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas

De acordo com o PPC do curso de licenciatura de Fiacutesica a distacircncia o objetivo do curso eacute a

formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica com ecircnfase na formaccedilatildeo para as uacuteltimas seacuteries

(notadamente a 9ordm seacuterie) do Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio Sobre o perfil do egresso o PPC

(UFT 2009 p 19) aborda que o profissional licenciado em Fiacutesica ldquodeveraacute apresentar um forte

conhecimento dos conteuacutedos e meacutetodos da Fiacutesicardquo com destaque as seguintes competecircncias e

habilidades especiacuteficas

- O planejamento e o desenvolvimento de diferentes experiecircncias didaacuteticas em Fiacutesica reconhecendo os elementos relevantes agraves estrateacutegias adequadas

- A elaboraccedilatildeo ou adaptaccedilatildeo de materiais didaacuteticos de diferentes natureza identificando seus objetivos formativos de aprendizagem e educacionais

- A formaccedilatildeo do Fiacutesico mesmo atraveacutes de Ensino a Distacircncia natildeo pode prescindir de uma seacuterie de vivecircncias que vatildeo tornando o processo educacional mais integrado (UFT 2009 p 21)

As vivecircncias mencionadas no PPC dizem respeito a experiecircncias que o aluno de curso a

distacircncia deve experimentar num grau de igualdade com aluno de cursos presenciais como realizar

experimentos em laboratoacuterio manuseio de equipamentos de informaacutetica realizar pesquisas

bibliograacuteficas com habilidade de identificar e localizar fontes de informaccedilotildees elaborar um artigo

projeto ou intervenccedilatildeo em sala de aula e demais atividades de ensino

Ressalta-se que o projeto natildeo contempla de entre as habilidades dos egressos a questatildeo do

uso de tecnologias na praacutetica pedagoacutegica Uma ressalva neste sentido verifica-se no item 226 do

PPC sobre os campos de atuaccedilatildeo profissional que cita o loacutecus em que o licenciado em Fiacutesica poderaacute

atuar ldquodedica-se agrave discussatildeo anaacutelise e disseminaccedilatildeo do saber cientiacutefico seja atraveacutes da atuaccedilatildeo no

ensino formal de niacutevel meacutedio seja atraveacutes de novas formas de ensino (como viacutedeos softwares

educativos Educaccedilatildeo agrave Distacircncia etc) e dedica-se ainda agrave extensatildeo e agrave pesquisa em Ensino de

Fiacutesicardquo O texto no PPC que mais se aproxima desta proposta eacute

O licenciado em Fiacutesica na modalidade de ensino a distacircncia deveraacute ter ainda capacidades especiacuteficas do educador em Fiacutesica tais como capacidade de desenvolver estrateacutegias de ensino que favoreccedilam a criatividade a autonomia e a flexibilidade do pensamento cientiacutefico dos educandos buscando trabalhar com mais ecircnfase nos conceitos fiacutesicos (UFT 2009 p22)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

220

O primeiro semestre do curso prevecirc uma oficina de nivelamento na aacuterea de informaacutetica para

ajudar aqueles alunos com dificuldades de acesso e navegaccedilatildeo na plataforma virtual de aprendizagem

a realizar suas atividades como postar arquivos responder foacuteruns baixar arquivos e outras atividades

baacutesicas Mas natildeo tem previsatildeo de uma disciplina especiacutefica que discuta a apropriaccedilatildeo das tecnologias

na praacutetica pedagoacutegica dos professores cursistas

435 Organizaccedilatildeo curricular

Segundo o PPC do curso a proposta curricular foi planejada prevendo uma duraccedilatildeo miacutenima de

8 e maacutexima de 12 periacuteodos letivos para sua integralizaccedilatildeo A proposta prevecirc que os quatro primeiros

semestres contemplem componentes curriculares das aacutereas de Matemaacutetica Quiacutemica FiacutesicaBiologia e

pedagoacutegicas A partir do quinto semestre satildeo estudados os conteuacutedos especiacuteficos da aacuterea do

conhecimento que satildeo trabalhados em dois tipos de eventos Atividades de formaccedilatildeo e encontros

presenciais para apresentaccedilatildeo de resultados praacuteticos por meio de projetos de intervenccedilatildeo

Nos componentes curriculares ldquoCiecircncias da Naturezardquo e ldquoRealidade e Educaccedilatildeo e Realidaderdquo

propotildeem-se atividades praacuteticas de levantamento de dados e informaccedilotildees sobre a realidade social e

cultural do aluno para que o mesmo compreenda os problemas e conflitos ambientais da regiatildeo

Ocorrem atividades de estaacutegio com atividades praacuteticas dos alunos na sala de aula das escolas que satildeo

encaminhados O PPC apresenta quatro componentes curriculares voltadas para o estaacutegio

Aleacutem das atividades curriculares regulares o PPC prevecirc a exigecircncia que o aluno apresente no

final do curso certificados que comprovem 200 horas de atividades chamadas ldquode formaccedilatildeordquo

atividades de caraacuteter cientiacutefico-cultural que visam fornecer ao mesmo uma maior inserccedilatildeo no meio

acadecircmico onde compartilharaacute seus conhecimentos com os colegas e professores

Seguindo a legislaccedilatildeo que normatiza os cursos a distancia no Brasil nos finais de semana

programados no cronograma eacute obrigatoacuteria a participaccedilatildeo dos alunos no polo para o desenvolvimento

das atividades presenciais com frequecircncia miacutenima de 75 De acordo com o Decreto 5622 de 19 de

dezembro de 2005 os momentos presenciais obrigatoacuterios satildeo para

I - avaliaccedilotildees de estudantes II - estaacutegios obrigatoacuterios quando previstos na legislaccedilatildeo pertinente III - defesa de trabalhos de conclusatildeo de curso IV - atividades relacionadas a laboratoacuterios de ensino quando for o caso

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

221

Segundo o coordenador do curso satildeo realizados dez encontros presenciais por semestre

Nestes podem ocorrer atividades em grupo orientadas pelo tutor presencial atividades praacuteticas no

laboratoacuterio de Fiacutesica provas e seminaacuterios As atividades presenciais satildeo desenvolvidas junto ao tutor

presencial Cabe ao professor da disciplina orientar o tutor presencial e a distacircncia para que atividades

atinjam seus objetivos acadecircmicos De acordo com o PPC este poderaacute fazecirc-lo por meio de material

didaacutetico impresso viacutedeoconferecircncia web ou visita presencial no polo

Para cumprir o requisito das avaliaccedilotildees presenciais o PPC prevecirc que devem ser feitas no

miacutenimo duas avaliaccedilotildees presenciais nos polos presenciais com datas preacute-definidas pela coordenaccedilatildeo

do curso e amplamente divulgadas aos alunos e agraves respectivas coordenaccedilotildees dos polos em que o

curso eacute ofertado As avaliaccedilotildees presenciais satildeo somativas e representam 70 da nota da disciplina

Os demais 30 deve ser composto pelas atividades realizadas a distacircncia definidas pelo coordenador

do curso Sobre os que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio o PPC orienta

Para os alunos que apresentarem desempenho insatisfatoacuterio (meacutedia parcial igualou superior a 40 e inferior a 70) haveraacute duas semanas ao final do segundo moacutedulo para a realizaccedilatildeo de estudos de reforccedilo e da avaliaccedilatildeo final (exame) Neste periacuteodo de reforccedilo haveraacute conteuacutedo especiacutefico preparado pelo professor de cada disciplina e disponibilizado na web com o acompanhamento do tutor presencial e tambeacutem do tutor(UFT2009 p 32)

Na hipoacutetese do aluno natildeo conseguir uma nota satisfatoacuteria para aprovaccedilatildeo na disciplina o PPC

orienta que este poderaacute cursar as disciplinas em regime de dependecircncia depois do final do semestre

(periacuteodo de feacuterias) sendo que o aluno tem o direito de cursar novamente todas as disciplinas que natildeo

obteve aprovaccedilatildeo

436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle

O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT utiliza o Ambiente Virtual de

Aprendizagem (AVA) Moodle (Modular Object-Oriented Dinamyc Leanirg Enviroment) Este foi

desenvolvido pelo educador e cientista computacional Martin Dougiamas como produccedilatildeo da sua tese

de doutoramento (Delgado 2009) O Moodle foi construiacutedo com base em teorias construtivistas e

construcionistas conforme afirma o autor

O moodle foi criado com base nos conceitos de teorias construtivistas que possuem a interaccedilatildeo e colaboraccedilatildeo como premissa para o processo de construccedilatildeo do conhecimento Com base nesse conceito o proacuteprio software surge com a ideacuteia de colaboraccedilatildeo ou seja os usuaacuterios mantecircm um portal na internet para colaboraccedilatildeo e aprimoramento da ferramenta (Delgado 2009 p 49)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

222

Importante ressaltar a funcionalidade do software que possui uma estrutura administrativa em

o administrador pode ser o professor ou outra pessoa em que ele delegue a funccedilatildeo Trata-se de um

software ldquoaltamente customizaacutevelrdquo em que os professores podem criar cursos utilizando as diferentes

ferramentas de interaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo podem publicar materiais de diferentes formatos e inuacutemeros

recursos para a criaccedilatildeo de atividades como exerciacutecio de pesquisa muacuteltipla escolha wiki entre outros

O Moodle possui colaboradores que constantemente melhoram o seu desempenho Assim vatildeo

sendo lanccediladas ao longo dos anos cerca de dezoito novas versotildees do programa Atualmente o Moodle

encontra-se na versatildeo 217 atualizada em maio de 201466 A versatildeo utilizada pela Universidade Federal

do Tocantins eacute a 1917 uma versatildeo jaacute algo ultrapassada considerando que instituiccedilotildees como a

Universidade de Brasiacutelia (UNB) usam a versatildeo 207 e Universidade Federal da Bahia o Moodle 261

No iniacutecio da oferta do curso no primeiro semestre a coordenaccedilatildeo do curso organiza um

encontro presencial para o acesso dos alunos agrave plataforma e uma oficina com instruccedilotildees para

utilizaccedilatildeo das ferramentas do ambiente Moodle Nestas oficinas os alunos satildeo orientados a acessar as

salas postar atividades interagir com colegas e aprender outras funcionalidades do AVA

Os professores tecircm autonomia para customizar as salas de acordo com a proposta da

disciplina que lecionam Cada disciplina ou mateacuteria aparece para o aluno em uma sala virtual dentro

do Moodle Apresentamos um print de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia na disciplina de

Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica (figura 10)

66 Fonte lt httpsdocsmoodleorgdevReleasesMoodle_27gt Acesso em 31 out 2015

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

223

Figura 10 - Modelo de uma sala virtual do curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT (Fonte MoodleUFT)

O professor desta disciplina dividiu o conteuacutedo programaacutetico em aulas que foram desenvolvidas

em nove semanas Em cada ldquoaulardquo eacute disponibilizado um material de leitura baacutesico e outros textos

complementares (figura 11) O professor fez uso de viacutedeos e muacutesicas como atividades para estimular a

reflexatildeo dos alunos

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

224

Figura 11 ndash Apresentaccedilatildeo das aulas na sala virtual do AVA Moodle numa disciplina do curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT (Fonte MoodleUFT)

As atividades incluem envio de tarefas foacuteruns wiki e outras que tarefas que exigem leitura dos

estudantes Nas orientaccedilotildees iniciais (disponiacutevel em arquivo PDF na sala virtual da referida disciplina)

para o cursista o professor explicou

Trata- se de uma disciplina que exige leitura e reflexatildeo sobre aquilo que estaraacute sendo tratado Seratildeo ldquopostadosrdquo arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) de interaccedilatildeo ldquoobrigatoacuteriardquo e arquivos (textos viacutedeos e muacutesicas) que visam o aprofundamento nos temas trabalhados (interaccedilatildeo natildeo obrigatoacuteria) Cada texto possui aproximadamente 25 peacuteginas portanto para aqueles menos habituados com a leitura sugere-se que se organizem de tal forma que consigam ler pelo menos o texto obrigatoacuterio de segunda a quarta feira Toda a segunda feira um novo tema de estudo eacute iniciado e espera-se que ateacute a quarta-feira todos os alunos estejam com as leituras ldquoem diardquo para as atividades que seratildeo sugeridas (foacuteruns resumos resenhas etc )

Percebe-se que o AVA Moodle neste modelo de curso torna-se um repositoacuterio de material

didaacutetico e um local em que as atividades devem ser ldquopostadasrdquo As atividades de interaccedilatildeo que o AVA

permite satildeo limitadas e os professores utilizam mais o recurso ldquoFoacuterumrdquo No entanto em visita a uma

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

225

destes foacuteruns virtuais verificamos pouca interaccedilatildeo entre os participantes em geral estudantes postam

a sua resposta agrave questatildeo levantada pelo professor e natildeo interagem entre si

Importante ressaltar que uma das aulas (Aula 8) desta disciplina apresenta uma discussatildeo

sobre ldquoNoccedilotildees sobre Tecnologia no Ensinordquo Este recorte sobre essa disciplina se faz importante

considerando o foco da nossa pesquisa que diz respeito sobre a formaccedilatildeo de professores para a

literacia digital O texto baacutesico desta aula foi extraiacutedo do livro Novas Tecnologias e Mediaccedilatildeo Pedagoacutegica

(Moran Masseto e Behrens 2003) O artigo intitulado Mediaccedilatildeo pedagoacutegica e o uso da tecnologia de

Masseto discute sobre a preocupaccedilatildeo dos cursos de formaccedilatildeo de professores voltada para o domiacutenio

do conteuacutedo em detrimento da formaccedilatildeo para uso das tecnologias que colaborem para uma

aprendizagem mais eficaz Assim depois de postar o referido artigo em formato PDF na sala virtual o

professor da disciplina Novas concepccedilotildees para o ensino de Fiacutesica abriu um foacuterum de discussatildeo com a

seguinte questatildeo A partir das ideias extraiacutedas no texto baacutesico participe do foacuterum cujo tema eacute Como e

quais tecnologias podem ajudar em minha sala de aula No total de oito alunos matriculados seis

participaram do foacuterum apenas uma aluna participou com mais de uma resposta mas natildeo estava

interagindo com demais colegas pois postou duas respostas seguidas

O que se percebe das observaccedilotildees nas salas de aulas virtuais do curso em questatildeo eacute que os

alunos usam estes ambientes virtuais para acessar o material do curso e postar atividades requisitadas

pelo professor e muito pouco para interagir com os colegas professores e tutores Um trecho do artigo

discutido no Foacuterum mencionado anteriormente descreve o que acontece no proacuteprio curso de Fiacutesica do

qual os alunos participam

Desenvolvem-se cursos a distacircncia com ensino a distacircncia quando por meio das novas tecnologias privilegiam a transmissatildeo de informaccedilatildeo o acesso a elas e sua reproduccedilatildeo as atividades do professor ou do teacutecnico em informaacutetica abastecem o computador com uma base de dados ou de softwares apenas para que os alunos ali se apossem das informaccedilotildees (Masseto 2003)

Neste sentido o layout da sala a disposiccedilatildeo dos conteuacutedos e recursos utilizados diz muito

sobre a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que se propotildee em cursos mediados por tecnologia Na visatildeo de Weber

(2015) o layout dos ambientes virtuais de aprendizagem natildeo constitui apenas ldquouma organizaccedilatildeo de

elementosrdquo mas ldquoespaccedilo de ensino e aprendizagemrdquo E como espaccedilos assim como as estruturas

arquitetocircnicas satildeo pensadas e planejadas a disposiccedilatildeo dos materiais didaacuteticos no espaccedilo virtual revela

a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo que determinada proposta de curso se insere Assim como a disposiccedilatildeo do

quadro-negro na sala de aula revela a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo ldquobancaacuteriardquo baseada na transmissatildeo de

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

226

conteuacutedos e recepccedilatildeo passiva dos mesmos pelos alunos como apresentado no capiacutetulo trecircs deste

trabalho a disposiccedilatildeo do material didaacutetico e o layout da sala virtual revelam a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

do curso Apoacutes a consideraccedilatildeo de todas estas particularidades do estado do Tocantins da UFT da UAB

e do curso de Fiacutesica a distacircncia objeto deste estudo a seguir apresentamos o enquadramento

metodoloacutegico desta pesquisa

44 Enquadramento metodoloacutegico da investigaccedilatildeo

O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa em que se pretende analisar em que

medida a formaccedilatildeo a distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados

seu contexto pessoal social e profissional A pesquisa inscreve-se na metodologia de um estudo de

caso tomando como caso especiacutefico os alunos do curso de graduaccedilatildeo em Licenciatura em Fiacutesica a

distacircncia da Universidade Federal do Tocantins A escolha do referido curso foi por se tratar de uma

formaccedilatildeo inicial a distacircncia voltada para professores da rede puacuteblica de ensino O curso foi usado

instrumentalmente pois poderia ter sido usado qualquer outro curso de licenciatura a distacircncia voltado

para formaccedilatildeo de professores

A situaccedilatildeo de atuar como pedagoga na Diretoria de Tecnologias Educacionais da UFT contribuiu

para obter acesso a dados relacionados com o curso em questatildeo e de manter contato permanente

com o coordenador do mesmo Por outro lado dificuldades como conseguir que o maacuteximo possiacutevel de

alunos participantes da pesquisa respondessem aos questionaacuterios on-line e agendar entrevistas com

uma parte da amostra (residentes em cidades do interior do Tocantins) foram desafios enfrentados

pela pesquisadora Por tais motivos tivemos uma atenccedilatildeo especial ao cumprimento dos aspetos eacuteticos

da pesquisa

441 Objetivos da pesquisa

Como jaacute exposto na introduccedilatildeo desta tese o objetivo principal proposto para este estudo

constituiu em analisar as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia para professores

da rede puacuteblica pode causar na inclusatildeo sociodigital e literacia digital dos participantes no que diz

respeito as suas respectivas praacuteticas sociais cotidianas e pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de

informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Os objetivos especiacuteficos foram

(1) Compreender o conceito de literacia mediaacuteticadigital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em redes e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

227

de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

(2) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

(3) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente

(4) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

Neste sentido a pesquisa de cunho qualitativo pretendeu analisar em que medida a formaccedilatildeo a

distacircncia mediada por tecnologias influencia o grau de literacia dos pesquisados seu contexto pessoal

social e profissional

442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa

Neste trabalho utiliza-se a definiccedilatildeo para o termo ldquopesquisardquo de acordo com Ander-egg

(1978 p 29) de que esta se trata de um ldquoprocesso social que utilizando metodologia cientiacutefica

permite novos conhecimentos no campo da realidade socialrdquo A pesquisa natildeo constitui uma atividade

neutra esta traz consigo uma carga de valores conhecimentos interesses e preferecircncias do

pesquisador Ludke (1986 p 3) referindo-se ao pesquisador diante da pesquisa escreveu

Assim a sua visatildeo do mundo os pontos de partida os fundamentos para compreensatildeo e explicaccedilatildeo desse mundo iratildeo influenciar a maneira como ele propotildee suas pesquisas ou em outras palavras os pressupostos que orientam seu pensamento vatildeo tambeacutem nortear sua abordagem de pesquisa

Considerando nossa formaccedilatildeo em niacutevel de mestrado na aacuterea de poliacuteticas sociais em que

realizamos pesquisa de cunho quanti-qualitativo com estudantes de baixa renda de uma universidade

puacuteblica compreendemos que essa abordagem eacute a melhor qualificada para se estudar um fenocircmeno

na perspectiva dos participantes da situaccedilatildeo (Alves 2010) Segundo Bogdan e Taylor (1975) a

abordagem qualitativa permite ao pesquisador maior subjetividade em busca do conhecimento e

disponibiliza um leque maior de procedimentos metodoloacutegicos a serem usados na

investigaccedilatildeoContudo devido ao uso do questionaacuterio e ao tratamento estatiacutestico dos dados esta

pesquisa tambeacutem tem um cunho quantitativo Daiacute que apesar de termos um foco privilegiado na

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

228

anaacutelise qualitativa a pesquisa tem esta vertente mista combinando a abordagem qualitativa e a

quantitativa

Trivinos (1987) salienta que mesmo um pesquisador experiente ao iniciar sua investigaccedilatildeo

deve apoiar-se de fundamentaccedilatildeo teoacuterica e revisatildeo aprofundada da literatura em torno do toacutepico em

foco O autor explica que a necessidade da teoria surgiraacute em face das interrogativas que surgiratildeo

durante a pesquisa Neste sentido esta pesquisa investigativa cujo relatoacuterio dos resultados estatildeo

descritos nesta tese iniciou-se a partir de revisatildeo teoacuterica da literatura claacutessica e contemporacircnea de

autores que discutem as categorias teoacutericas do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores

inclusao sociodigital e literacia digital

443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso

Escolheu-se o estudo de caso pois este de acordo com Yin (2001 p 20) tem por objetivo

ldquoinvestigar um fenocircmeno contemporacircneo no seu contexto real especialmente quando os limites entre o

fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente definidosrdquo Assim o estudo de caso enquanto pesquisa

qualitativa baseia-se no pensamento indutivo que depende fortemente do trabalho de campo usando

fontes de dados muacuteltiplas e variadas

Trivintildeos (1987 p 133) define estudo de caso como ldquouma categoria de pesquisa cujo objeto eacute

uma unidade que se analisa aprofundadamenterdquo O autor explica que esta definiccedilatildeo determina suas

caracteriacutesticas que satildeo dadas por duas circunstacircncias (1) a natureza e abrangecircncia da unidade e (2)

os suportes teoacutericos que servem de orientaccedilatildeo para o trabalho do pesquisador Satildeo em tese estudos

descritivos e exigem uma descriccedilatildeo meticulosa de teacutecnicas modelos e teorias que poderatildeo o orientar a

coleta e interpretaccedilatildeo de dados Para Yin (1993) os estudos de caso podem ser exploratoacuterios

descritivos ou explanatoacuterios Sobre esta tipologia Meirinhos e Osoacuterio (2010 p 57) esclarecem

Os estudos exploratoacuterios tecircm como finalidade definir as questotildees ou hipoacuteteses para uma investigaccedilatildeo posterior Isto eacute satildeo o preluacutedio para uma investigaccedilatildeo subsequente mas natildeo necessariamente um estudo de caso []os estudos descritivos representam a descriccedilatildeo completa de um fenoacutemeno inserido no seu contexto [] Os estudos explanatoacuterios procuram informaccedilatildeo que possibilite o estabelecimento de relaccedilotildees de causa e feito ou seja procuram a causa que melhor explica o fenoacutemeno estudado e todas as suas relaccedilotildees causais

No caso do estudo proposto nesta investigaccedilatildeo trata-se de uma abordagem exploratoacuteria em

que com base nos dados recolhidos e analisados sobre as praacuteticas cotidianas dos professores no

tocante ao uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no dia-dia e na praacutetica docente a

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

229

pesquisa revelou um perfil especiacutefico de profissionais da educaccedilatildeo que ainda encontram resistecircncia agraves

tecnologias e sendo poucos qualificados nessa aacuterea acabam excluidos da rede ou agrave margem dela

Para Stake (1999) os estudos de caso satildeo clasificados de acordo com seus objetivos e podem

ser intriacutensecos instrumentais ou coletivos Nos estudos de casos intriacutensecos a atenccedilatildeo eacute voltada

exclusivamente para o caso particular independente da sua relaccedilatildeo com outros casos ou problemas

relacionados Na situaccedilatildeo dos estudos de caso instrumentais o caso em si eacute usado apenas para se

compreender uma problemaacutetica Assim o pesquisador buscando conhecer e compreender um

fenocircmeno se debruccedila num caso particular cuja funccedilatildeo eacute ser um suporte para facilitar a compreensatildeo

de uma problemaacutetica Nos estudos de caso coletivos satildeo estudados vaacuterios casos diferentes com o

objetivo de fazer uma melhor anaacutelise para posterior teorizaccedilatildeo Neste sentido o caraacuteter do presente

estudo de caso eacute de natureza instrumental O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT foi

utilizado instrumentalmente para a investigaccedilatildeo sobre os impactos da formaccedilatildeo a distacircncia na literacia

digital dos cursistas nos acircmbitos de vida cotidiana e praacuteticas pedagoacutegicas

444 Participantes

Os participantes da pesquisa satildeo todos alunos do curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia

da UFT ingressantes em 2010 e 2012 nos respectivos vestibulares realizados pela UFT Em 2014 (ano

em que foi realizada a primeira etapa da pesquisa de campo) havia 32 alunos matriculados no curso

11 alunos ingressantes no primeiro vestibular de 2010 e 21 alunos com entrada em 2012 No

universo dos 32 alunos matriculados no curso em questatildeo 25 participaram da primeira fase

(questionaacuterios) e dentre estes 6 participaram da segunda fase (entrevistas) do estudo

Os participantes das entrevistas foram selecionados de entre os 25 alunos que responderam o

questionaacuterio on-line conforme os seguintes criteacuterios cursistas de ambos os sexos ingressantes em 2010

e 2012 atuantes e natildeo atuantes em sala de aula residentes na capital do estado do Tocantins e os que

morassem no interior Assim o perfil dos entrevistados eacute o seguinte

bull Entrevistado 1 (E1) ndash professor da rede puacuteblica licenciado em Histoacuteria ingressante em 2010 residente em Palmas Tocantins

bull Entrevistado 2 (E2) - Natildeo atua em sala de aula primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Palmas

bull Entrevistado 3 (E3) ndash Professor de atualidade em escola privada( cursinho preacute-vestibular) formado em Recursos Humanos ingressante em 2010 residente em Gurupi Tocantins

bull Entrevistado 4 (E4) ndash Professor de ensino religioso na rede puacuteblica de ensino primeira graduaccedilatildeo ingressante em 2012 residente em Cariri do Tocantins

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

230

bull Entrevistada 5 (E5) ndash Professora de matemaacutetica na rede puacuteblica de ensino formada em Ciecircncias Contaacutebeis ingressante em 2010 moradora em Gurupi

bull Entrevistada 6 (E6) - Professora de matemaacutetica em rede puacuteblica de ensino licenciada em Matemaacutetica ingressante em 2010 residente em Alvorada do Tocantins

445 Instrumentos da pesquisa

Sobre os instrumentos de coleta de dados a serem usados em uma pesquisa qualitativa

Trivintildeos (1987) salienta que podem ser os mesmos usados para a pesquisa quantitativa Segundo o

autor questionaacuterios e entrevistas ldquosatildeo meios neutros que adquirem vida definida quando o

pesquisador os ilumina com determinada teoriardquo (p 37) Os instrumentos de investigaccedilatildeo utilizados

foram a pesquisa bibliograacutefica e documental e a pesquisa de campo com aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

on-line e realizaccedilatildeo de entrevistas semiestruturadas com o objetivo de compreender os impactos da

formaccedilatildeo mediada por tecnologias na literacia digital dos professores

4451 Pesquisa bibliograacutefica e Documental

Inicialmente foi realizado um levantamento bibliograacutefico para a devida compreensatildeo e anaacutelise

aprofundada das categorias de anaacutelise do estudo sociedade em rede formaccedilatildeo de profesores

inclusatildeo sociodigital e literacia digital Com o objetivo de descrever o cenaacuterio da sociedade em rede

pano de fundo da pesquisa em que as tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo avanccedilam cada vez

mais para o interior das escolas foram consultados autores que tecircm uma reflexatildeo significativa sobre o

a sociedade contemporacircnea como o filoacutesofo Pierre Leacutevy (1999) e os socioacutelogos Manuel Castells

(Castells 2005) e Zygmunt Bauman (2001) autores que tecircm servido de embasamento societal

teoacuterico para uma abordagem criacutetica da aacuterea de Tecnologia Educativa Tambeacutem foi realizada uma

revisatildeo de literatura em livros revistas cientiacuteficas artigos e teses de doutoramento que versam sobre o

binocircmio inclusatildeoexclusatildeo sociodigital com o intuito de compreender conceitos do termo e o contexto

em que vivem as pessoas marginalizadas da rede ou sem acesso a ela A revisatildeo bibliograacutefica incluiu

anaacutelise de estudos cientiacuteficos que revelam o perfil do professor frente agraves tecnologias no cotidiano e nas

praacuteticas docentes e ainda foram consultados estudos sobre o papel que os cursos de formaccedilatildeo

docente (inicial e continuada) exercem na literacia digital dos professores participantes Como intuito

de se resgatar o histoacuterico do curso de Fiacutesica da UFT foram consultados relatoacuterios projetos ambiente

virtual e mesmo a coordenaccedilatildeo do mesmo curso para uma melhor compreensatildeo da sua organizaccedilatildeo

logiacutestica e pedagoacutegica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

231

4452 Pesquisa de campo

A pesquisa de campo foi realizada em duas fases A primeira consistiu numa sondagem do

perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos participantes e investigaccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo destes com

as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico Nesta fase o

instrumento utilizado foi o questionaacuterio com questotildees fechadas Na segunda fase foram realizadas

entrevistas (semi-estruturadas) com seis elementos da amostra (cursistas) para compreender de forma

mais aprofundada os impactos da tecnologia no seu cotidiano suas praacuteticas de literacia digital e ainda

se estas promoveram sua inclusatildeo sociodigital na sociedade em rede

a) Questionaacuterio

Lejano (2006) trata o fenocircmeno de uma determinada poliacutetica como algo que soacute pode ser entendido

por algueacutem que tenha experimentado ou vivido no contexto dos fatos Neste sentido a aplicaccedilatildeo de

questionaacuterios fechados com a populaccedilatildeo alvo da pesquisa teve o objetivo de conhecer sua realidade

social suas condiccedilotildees socioeconocircmicas culturais e inclusive do acesso aos meios tecnoloacutegicos Do

total de 32 alunos frequentes do curso (matriculados entre 2010 e 2012) 25 responderam ao

questionaacuterio on-line enviado via e-mail O questionaacuterio foi elaborado no Google Docs e contemplava trecircs

partes

1 Perfil econocircmico sociocultural e sobre uso da internet

2 Escala do uso de tecnologias digitais no cotidiano

3 Escala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegica

Para o referido questionaacuterio foi feita uma adaptaccedilatildeo da escala AliDiP ndash Avaliaccedilatildeo da Literacia

Digital para Professores (Joly Martins Almeida Silva Arauacutejo e Vendramini 2014) que mensura a

competecircncia docente no uso de tecnologias digitais no cotidiano e no contexto pedagoacutegico em dois

fatores competecircncia instrumental e competecircncia de gestatildeo pedagoacutegica Segundos os autores da

escala ela eacute resultante de um estudo transcultural (Brasil e Portugal) que apresenta boas

caracteriacutesticas psicomeacutetricas O primeiro fator ldquocompetecircncia instrumentalrdquo (α = 091) agrupa 17 itens

relacionados com os conhecimentos baacutesicos das ferramentas e procedimentos das TDIC e sua

utilizaccedilatildeo no contexto pessoal e profissional O segundo fator designado ldquoCompetecircncia em Gestatildeo

Pedagoacutegicardquo (α = 092) reuacutene 16 itens versando conhecimentos fundamentados das ferramentas TDIC

relativas agraves disciplinas eou aacutereas disciplinares que os professores lecionam traduzindo sobretudo as

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

232

suas atitudes ou competecircncias pedagoacutegicas relativamente agrave sua utilizaccedilatildeo no seu ensino e nas

aprendizagens dos alunos enquanto recurso pedagoacutegico

No nosso estudo para a construccedilatildeo do questionaacuterio efetuamos uma adaptaccedilatildeo desta escala

para a qual recorremos agrave sua validaccedilatildeo de conteuacutedo junto de trecircs especialistas que aprovaram a

mesma com algumas recomendaccedilotildees como a inserccedilatildeo de uma questatildeo sobre o grau de satisfaccedilatildeo

dos participantes sobre o curso que frequenta e tambeacutem o grau de satisfaccedilatildeo sobre o atendimento do

tutor presencial no polo de apoio As recomendaccedilotildees das especialistas foram acatadas no questionaacuterio

Assim alguns dos itens do 1ordm fator passaram a constituir uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais

no cotidianordquo constituiacuteda por 20 questotildees que abordam o uso das tecnologias pelos participantes no

tocante a atividades cotidianas como obter notiacutecias fazer transaccedilotildees bancaacuterias compras on-line

autoria e disseminaccedilatildeo de conhecimento comunicaccedilatildeo com pessoas distantes e outras e alguns dos

itens do 2ordm fator formaram uma ldquoEscala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegicardquo

constituiacuteda por 15 questotildees relacionados ao planejamento e aplicaccedilatildeo de estrateacutegias didaacuteticas com o

uso de tecnologias orientaccedilatildeo e supervisatildeo de atividades mediadas por tecnologias uso das redes

sociais para contato dos alunos fora do ambiente formal das aulas dentre outras Esta adaptaccedilatildeo

resulta de fato de os participantes no estudo serem simultaneamente docentes e cursistas de uma

licenciatura

b) Entrevistas

Segundo Rigotto (1999) as teacutecnicas de relatos orais como um todo coloca o sujeito num lugar

de destaque valorizando as experiecircncias que viveu e o que tem a dizer sobre elas Por isso foi

utilizada outra teacutecnica de pesquisa para complementar o questionaacuterio no caso a entrevista

semiestruturada Para Trivintildeos (1987 p 146) esta teacutecnica de coleta de dados constitui uma

ferramenta eficiente para o pesquisador

Queremos privilegiar a entrevista semi-estruturada porque esta ao mesmo tempo que valoriza a presenccedila do investigador oferece todas as perspectivas possiacuteveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessaacuterias enriquecendo a investigaccedilatildeo

Assim as entrevistas possibilitam ao pesquisador fazer uma espeacutecie de mergulho em

profundidade coletando indiacutecios dos modos como cada um dos sujeitos percebe e significa sua

realidade e levantando informaccedilotildees consistentes que lhe permitam descrever e compreender a loacutegica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

233

que preside as relaccedilotildees que se estabelecem no interior do grupo o que em geral eacute mais difiacutecil obter

com outros instrumentos de coleta de dados

Com o objetivo de aprofundar sobre os impactos da formaccedilatildeo mediada por tecnologias na

literacia digital dos professores realizou-se a entrevista semiestructurada com seis participantes do

curso que responderam o questionaacuterio As entrevistas contemplavam questotildees como trajetoacuteria

acadecircmica razatildeo da escolha pela formaccedilatildeo on-line expectativas e realidades constatadas no curso

possiacuteveis dificuldades com o manuseio das tecnologias concepccedilatildeo do cursista sobre educaccedilatildeo a

distacircncia vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica (se o curso alterou sua visatildeo das tecnologias na

escola) auto avaliaccedilatildeo do niacutevel de literacia praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologia percepccedilatildeo

das tecnologias na escola As entrevistas foram gravadas e posteriormente digitadas em documento

word (Apecircndice 3 p359)

446 Procedimentos de Recolha de dados

Para obter o contato dos cursistas da amostra recorremos ao coordenador do curso de Fiacutesica

Ead para solicitar e-mail e telefone dos respectivos alunos matriculados no curso dentro do periacuteodo de

2010 a 2012 Os cursistas foram contatados por e-mail cujo link para o questionaacuterio on-line foi

disponibilizado No referido e-mail foram fornecidas informaccedilotildees sobre do que se tratava a pesquisa

um convite para o cursista participar e a garantia de que a identidade dos mesmos seria mantida em

sigilo Foram enviados e-mails a 32 alunos dos quais 25 responderam dentro do periacuteodo de 09 de

janeiro de 2014 e 03 de fevereiro de 2015 Muitos cursistas natildeo acessam o e-mail rotineiramente e

natildeo deram retorno sobre o questionaacuterio dentro do primeiro mecircs Considerando que se tratava de mecircs

de feacuterias dos professorescursistas alguns natildeo entravam nos seus e-mails assim em alguns casos

houve necessidade de ligar para os cursistas explicando sobre a pesquisa e solicitando que

participassem No entanto mesmo com as ligaccedilotildees alguns optaram por natildeo participar da pesquisa

Considerou-se que 25 questionaacuterios respondidos (78) constituiu uma amostra vaacutelida tendo em vista o

universo de 32 matriculados

No que diz respeito agraves entrevistas semiestruturadas estas foram realizadas nos polos de

Palmas e Gurupi O coordenador do curso de Fiacutesica a distacircncia informou que o melhor dia para

encontrar os cursistas seria nos saacutebados porque eles compareciam ao polo para grupos de estudos

com a presenccedila do tutor presencial Num saacutebado de marccedilo de 2015 no polo de Palmas encontramos

um grupo de cerca de oito cursistas reunidos para estudar Convidamos para a pesquisa trecircs

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

234

participantes que atendessem aos criteacuterios e perfil jaacute mencionados anteriormente a amostra teria que

contemplar ambos os sexos cursistas ingressantes em 2010 e 2012 cursistas atuantes e natildeo

atuantes em sala de aula cursistas que morassem na capital do estado do Tocantins e os que

morassem no interior As entrevistas foram individuais e realizadas numa sala de aula do polo (que

fica numa escola de ensino meacutedio)

No polo de Gurupi cidade a 280 km de Palmas agendamos com o tutor presencial daquele

polo uma visita para entrevistar os cursistas da qual foi realizada numa tarde de saacutebado de abril de

2015 Os alunos jaacute haviam sido informados das entrevistas pelo tutor e foram selecionados trecircs de

acordo com os criteacuterios preacute-estabelecidos As entrevistas foram realizadas numa sala do polo tambeacutem

individualmente Todas as entrevistas foram gravadas com o consentimento dos participantes que

tiveram acesso posterior ao aacuteudio da gravaccedilatildeo e a transcriccedilatildeo das mesmas em editor de texto

447 Tratamentos dos dados

No processo de tratamento dos dados a preocupaccedilatildeo foi com a anaacutelise integral das

informaccedilotildees recolhidas nos instrumentos questionaacuterio e entrevistas No que diz respeito ao

questionaacuterio sua elaboraccedilatildeo na ferramenta Google Docs facilitou a tabulaccedilatildeo dos dados pois agrave

medida que os participantes respondiam as informaccedilotildees ficavam disponiacuteveis numa planilha de Excel

A ferramenta Google Docs permitiu tambeacutem a geraccedilatildeo de graacuteficos de dados selecionados por colunas

Assim o tratamento dos dados nessa etapa da pesquisa foi estatiacutestico consistiu em tabular e gerar

planilhas ou tabelas relacionadas com o perfil dos participantes Os dados sobre o uso das tecnologias

no cotidiano e praacutetica docente dos participantes foram comparados com estatiacutesticas de outras regiotildees

ou estados e ateacute mesmo com a meacutedia nacional

Como jaacute exposto o questionaacuterio on-line tinha a finalidade de levantar o perfil social

econocircmico acadecircmico e de uso de tecnologias no cotidiano e na praacutetica pedagoacutegica dos participantes

da pesquisa De acordo com Trivintildeos (1987) eacute possiacutevel o uso de questionaacuterios fechados em pesquisas

qualitativas mas estes devem caracterizar um grupo de acordo com seus traccedilos gerais (atividades

ocupacionais niacutevel de escolaridade estado civil e outras informaccedilotildees de perfil) Neste sentido os

dados recolhidos no questionaacuterio foram reunidos organizados e classificados de acordo com os

objetivos da pesquisa

Os dados das entrevistas semiestruturadas foram tratados no enfoque qualitativo utilizando a

teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo Segundo Bardin (1977) o que caracteriza uma anaacutelise qualitativa eacute o

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

235

fato de a inferecircncia (deduccedilatildeo pelo raciociacutenio ou loacutegica) ser fundada na presenccedila do iacutendice (o tema

palavra ou personagem) e natildeo sobre a frequecircncia da sua apariccedilatildeo como ocorre na anaacutelise quantitativa

A autora explica

Natildeo se trata de atravessar significantes para atingir significados agrave semelhanccedila de decifraccedilatildeo normal mas atingir atraveacutes de significantes ou de significados (manipulados) outros significados de natureza psicoloacutegica socioloacutegica poliacutetica histoacuterica etc (idem p 41)

Neste sentido dentro do enfoque qualitativo a anaacutelise de conteuacutedo constitui uma teacutecnica

apropriada para investigar posturas percepccedilotildees atitudes motivaccedilotildees presentes no discurso dos

sujeitos dentro do contexto que estes se inserem com fins de compreender as suas representaccedilotildees

associaccedilatildeo de ideias contradiccedilotildees e interesses

4471 Procedimentos da anaacutelise de conteuacutedo

Vala (1990) considera que em niacutevel de investigaccedilatildeo empiacuterica a anaacutelise de conteuacutedo deve ser

voltada aos objetivos do trabalho de investigaccedilatildeo Esta pode descrever fenocircmenos (niacutevel descritivo)

descobrir covariaccedilotildees ou associaccedilotildees entre fenocircmenos (niacutevel correlacional) encontrar relaccedilotildees de

causa-efeito entre fenocircmenos (niacutevel causal) Segundo Bardin (1977 p 42) a anaacutelise de conteuacutedo

constitui

Um conjunto de teacutecnicas de anaacutelise das comunicaccedilotildees visando obter por procedimentos sistemaacuteticos e objetivos de descriccedilatildeo de conteuacutedo das mensagens indicadores (quantitativos ou natildeo) que permitam a inferecircncia de conhecimentos relativos agraves condiccedilotildees de produccedilatildeorecepccedilatildeo (variaacuteveis inferidas) destas mensagens

A teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedo abrange diversos procedimentos que dependem dos objetivos

a serem alcanccedilados na pesquisa Minayo (1998 p 93) classifica a anaacutelise de conteuacutedos em diversos

tipos de expressatildeo das relaccedilotildees de avaliaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e categorial temaacutetica Nesta mesma

direccedilatildeo Bardin (1977 p 95) afirma que o desenvolvimento de uma anaacutelise de conteuacutedo eacute processual

e perpassa por trecircs etapas (1) a preacute-anaacutelise (2) a exploraccedilatildeo do material (3) o tratamento dos

resultados a inferecircncia e a interpretaccedilatildeoAssim considerando ambas as visotildees sobre os

procedimentos para a realizaccedilatildeo da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica o quadro 10 sistematiza o

roteiro da teacutecnica

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

236

Quadro 10 - Etapas da anaacutelise de conteuacutedo categorial temaacutetica (Adaptado de Bardin (1977) e Minayo (1998))

Etapas Objetivos Accedilotildees 1ordf etapa preacute-anaacutelise

- Retomada do objeto e objetivos da pesquisa - Seleccedilatildeo inicial dos documentos - definiccedilatildeo de unidades de preacute-anaacutelise registro palavras-chave ou frases e unidade de contexto - delimitaccedilatildeo do contexto (se necessaacuterio)

- Leitura flutuante Contato inicial com os textos captando o conteuacutedo genericamente sem maiores preocupaccedilotildees teacutecnicas Constituiccedilatildeo do corpus seguir normas de validade 1- Exaustividade - dar conta do roteiro 2- Representatividade - dar conta do universo pretendido 3- Homogeneidade - coerecircncia interna de temas teacutecnicas e interlocutores necessaacuterio 4- Pertinecircncia - adequaccedilatildeo ao objeto e objetivos do estudo

2ordf etapa exploraccedilatildeo do material

- Definiccedilatildeo dos iacutendices e elaboraccedilatildeo dos indicadores recortes do texto e categorizaccedilatildeo - preparaccedilatildeo e exploraccedilatildeo do material (alinhamento)

- Desconstituiccedilatildeo do texto em unidadescategorias e isolamento dos elementos - Reagrupamento por categorias para anaacutelise posterior - Classificaccedilatildeo organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos

3ordf etapa Tratamento dos dados e interpretaccedilatildeo

- Interpretaccedilatildeo dos dados brutos - Elaboraccedilatildeo de quadro de resultados destacando as informaccedilotildees fornecidas na anaacutelise

Inferecircncias com uma abordagem variantequalitativa com foco nas significaccedilotildees

A partir da compreensatildeo da teacutecnica de anaacutelise de conteuacutedos a etapa de preacute-anaacutelise foi iniciada

com a retomada dos objetivos da pesquisa Considerando que o objetivo da pesquisa eacute investigar se o

fato de estudar em um curso a distacircncia contribuiu para o desenvolvimento da literacia digital dos

estudantes em particular se estes forem professores em processo de formaccedilatildeo as entrevistas

semiestruturadas permitiram aprofundar as questotildees jaacute levantadas sobre o perfil dos participantes

atraveacutes dos questionaacuterios As questotildees da entrevista indagaram subjetivamente se esta formaccedilatildeo a

distacircncia cooperou para a inserccedilatildeo deste formando na sociedade em rede incluindo-o digitalmente e

tornando-o haacutebil para usar as tecnologias criticamente no seu cotidiano e na sua praacutetica docente

Assim a entrevista foi estruturada com o objetivo de captar as expressotildees dos participantes bem

como suas perspectivas e anseios em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica a distancia da UFT O guiatildeo da

entrevista contemplava os seguintes temas

Trajetoacuteria acadecircmica razatildeo da escolha por um curso a distacircncia Expectativas quando iniciou o curso e percepccedilatildeo atual Provaacuteveis dificuldades e desafios em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia Concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia Percepccedilatildeo sobre cursos a distacircncia Vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica na escola que atua Auto-avaliaccedilatildeo sobre seu niacutevel de literacia digital Interaccedilatildeo com alunos em redes sociais Percepccedilatildeo das tecnologias nas escolas Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

237

Para Moraes (1994) grandes temas de anaacutelise satildeo chamados de categorias a priori Na visatildeo

do autor estas satildeo ldquoconstruccedilotildees que o pesquisador elabora antes de realizar a anaacutelise propriamente

dita dos dados Proveacutem das teorias em que fundamenta o trabalhordquo Para o autor no processo de

desconstruccedilatildeo do texto o que Bardin (1977) chama de exploraccedilatildeo do material a definiccedilatildeo do corpus

da pesquisa inclui a leitura do material a ser analisado com o objetivo de ldquoperceber os sentidos dos

textos em diferentes limites de pormenoresrdquo Trata-se de um processo de desmontagem ou

desintegraccedilatildeo dos textos destacando seus elementos constituintesConsiderando os objetivos desta

pesquisa foram elencadas quatro grandes categorias a priori

1 Intenccedilatildeo e expectativa sobre a formaccedilatildeo a distacircncia 2 Relaccedilatildeo pessoal com as tecnologias 3 Percepccedilatildeo sobre educaccedilatildeo a distacircncia e do curso de Fiacutesica em EaD 4 Tecnologias na praacutetica pedagoacutegica

Estas categorias em niacutevel macro nortearam a construccedilatildeo das categorias emergentes ou

categorias de anaacutelise textual que foram elencadas apoacutes o processo de categorizaccedilatildeo

O passo seguinte constituiu na categorizaccedilatildeo Para Vala (1990 p 111) uma categoria eacute

ldquocomposta por um termo-chave que indica a significaccedilatildeo central do conceito que se quer apreender e

de outros indicadores que descrevem o campo semacircntico do conceitordquo Na visatildeo de Bardin (1977)

categorias satildeo rubricas ou classes que reuacutenem um grupo de elementos com caracteriacutesticas comuns

sob um tiacutetulo geneacuterico A categorizaccedilatildeo consiste em duas etapas isolar os elementos (inventaacuterio) e

classificaacute-los organizando-os Segundo o autor a categorizaccedilatildeo fornece ldquopor condensaccedilatildeo uma

representaccedilatildeo simplificada dos dados brutosrdquo (idem p 119) O criteacuterio de categorizaccedilatildeo pode ser

semacircntico (categorias temaacuteticas) sintaacutetico (verbos e adjetivos) e leacutexico (classificaccedilatildeo das palavras

segundo o seu sentido)

Bardin (1977) explica que a categorizaccedilatildeo pode ser realizada por dois processos fornece-se

um sistema de categorias e os elementos vatildeo sendo inseridos neles agrave medida que satildeo encontrados

como se fossem caixas que organizam por criteacuterios previamente selecionados no outro processo natildeo

se fornece o sistema de categorias e o procedimento eacute fornecido por ldquomilhasrdquo (o analista identifica a

categoria percorrendo a milha em que consiste o corpus da pesquisa) Na pesquisa em questatildeo

utilizamos o primeiro sistema em que as categorias de anaacutelise foram criadas de antematildeo e as

informaccedilotildees encontradas no corpus da pesquisa foram classificados segundo temas comuns

Assim a anaacutelise categorial temaacutetica foi escolhida como teacutecnica para tratamento dos dados

desta pesquisa Minayo (1998) afirma que a anaacutelise categorial temaacutetica deve ser realizada por etapas

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

238

por intervenccedilotildees de desmembramento do texto em unidades e em categorias com objetivo de fazer um

reagrupamento analiacutetico posterior Portanto esta se efetiva em dois momentos o isolamento dos

elementos e a classificaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo das mensagens a partir dos elementos divididos Segundo

a autora esta teacutecnica visa descobrir os nuacutecleos de sentido que compotildeem uma comunicaccedilatildeo cuja

presenccedila ou frequecircncia signifiquem alguma coisa para o objetivo analiacutetico visado empregando-a de

forma mais interpretativa natildeo somente realizando inferecircncias estatiacutesticas O quadro 11 apresenta a

siacutentese das categorias de anaacutelise temaacuteticas retiradas apoacutes preacute-anaacutelise das transcriccedilotildees das entrevistas

semiestruturadas com os participantes

Quadro 9 - Apresentaccedilatildeo das categorias de anaacutelise temaacutetica

Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica

Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia

C1- Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia

C2 - Expectativa sobre o curso de Fisica EaD

Relaccedilatildeo Pessoal com as tecnologias

C3- Percepccedilatildeo sobre as tecnologias no cotidiano

C4- Dificuldades com manuseios das tecnologias

C5- Auto avaliaccedilatildeo da Literacia

C6- Mudanccedilas em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois do curso on-line

Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia

C7 - Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a distacircncia

C8 - Percepccedilatildeo sobre o curso de Fisica EaD

C 9 - Indicaccedilatildeo do curso de Fiacutesica a outros

C10 - Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Tecnologia na Praacutetica Pedagoacutegica

C11 - Percepccedilatildeo da presenccedila das tecnologias na escola

C12 - Dificuldades e desafios da tecnologia na praacutetica docente

C13 - Experiecircncias com tecnologias na escola

Apoacutes a categorizaccedilatildeo o passo seguinte constituiu na definiccedilatildeo das unidades de registros que

segundo Esteves (2006 p 114) se instituem como elementos de significaccedilatildeo a codificar classificar

ou atribuir a uma dada categoria De acordo com Vala (1990 p 114) usualmente existem dois tipos

de unidades as formais e as semacircnticas Unidades de registros formais incluem a palavra a frase

uma personagem a intervenccedilatildeo de um locutor numa discussatildeo uma interaccedilatildeo a outro item As

unidades de registros semacircnticas satildeo baseadas no tema e constituem expressotildees que datildeo sentido ou

significado independente das palavras usadas na mensagem Sobre a unidade de registro semacircnticas

baseada no tema Bardim (1977 p 106) afirma

O tema eacute geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivaccedilotildees de opiniotildees de atitudes de crenccedilas de tendecircncias etc As respostas a questotildees abertas as entrevistas (natildeo directivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo [] podem ser e satildeo frequentemente analisados tendo o tema por base

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

239

Neste sentido fazer uma anaacutelise de conteuacutedo temaacutetica consiste em desvendar os sentidos que

compotildeem uma mensagem Como afirma Esteves (2006 p 114) ldquouma soacute ideia do emissor da

mensagem pode estar expressa por uma soacute frase por duas ou mais frases articuladas ou por uma

parte de uma frase que conteacutem duas ou mais ideias diferentesrdquo A frequecircncia de uma determinada

expressatildeo tambeacutem pode ter algum significado no contexto da anaacutelise Sobre o processo de ldquorecorterdquo

das unidades de registro a autora escreveu

O recorte das unidades de registro a codificar eacute uma das operaccedilotildees mais delicadas de um processo de anaacutelise temaacutetica ndash implica decidir qual o mais pequeno segmento do discurso dotado de sentido proacuteprio [] certas condiccedilotildees de produccedilatildeo de mensagens ndash a produccedilatildeo oral por exemplo no quadro de uma entrevista satildeo feacuterteis na emissatildeo de frases incompletas na ocorrecircncia de saltos de sentidos dentro de uma mesma frase de repeticcedilotildees que dificultam a delimitaccedilatildeo ou recorte das unidades semacircnticas a codificar pelo analista porque o que lhe interessa eacute isolar os sentidos diversos presentes no que foi dito e natildeo na forma como o foi (idem p 114)

A definiccedilatildeo da unidade de contexto (UC) eacute importante para delimitar o segmento da mensagem

de que a unidade de registro faz parte Esteves (idem p 115) explica que usualmente em protocolos

de entrevistas considera-se cada entrevista como uma unidade de contexto ldquoporque eacute ela na sua

integralidade que permite compreender o sentido de cada unidade de registro que foram recortadas e

que se pretende codificarrdquo Assim na pesquisa em questatildeo cada entrevista transcrita foi considerada

uma unidade de contexto As seis entrevistas foram assim enumeradas E1 E2 E3 E4 E5 e E6

Usamos uma planilha de excel para realizar a categorizaccedilatildeo e extraccedilatildeo das unidades de

registros das entrevistas identificando a respectiva unidade de contexto Segue um exemplo da planilha

elaborada

Quadro 12 - Exemplo de planilha de distribuiccedilatildeo das unidades de registro segundo as categorias temaacuteticas

Categorias a priori Categorias de anaacutelise temaacutetica

Unidade de anaacutelise ou de registro UC

Expectativas e percepccedilatildeo sobre sua formaccedilatildeo a distacircncia

C1 - Intenccedilatildeo em fazer curso a distacircncia

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho

E4

C2 - Expectativa sobre o curso de Fiacutesica EaD

Este dai eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero mas eu me enganei

E4

Apoacutes esgotar todas as entrevistas e categorias dividindo em ldquocaixasrdquo as unidades de registro o

passo seguinte foi fazer o reagrupamento por categorias de anaacutelise das expressotildees de todas as

unidades de contexto conforme um exemplo no quadro abaixo

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

240

Quadro 103 - Descriccedilatildeo da unidade de registro por categorias e unidades de contexto

Categoria Unidade de registro UC

C 1 Intenccedilatildeo em fazer curso

a distacircncia

Aleacutem de querer fazer Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionava E1 O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias a noite (flexibilidade) E2

Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do cursSegundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura E3 Como era uma oferta de curso de uma instituiccedilatildeo de renome com facilidade de acesso E3

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho E4

Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis E5 Entatildeo para mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelente E6

Apoacutes realizaccedilatildeo dos tratamentos dos dados definidas as categorias e unidades de registros a

terceira e ultima fase da analise de conteuacutedo de acordo com Bardin consiste na interpretaccedilatildeo dos

dados A inferecircncia ou seja a operaccedilatildeo logica atraveacutes do qual se admite uma preposiccedilatildeo em virtude

de sua ligaccedilatildeo com outras proposiccedilotildees jaacute aceitas como verdadeiras constitui uma etapa importante no

processo final de analise de conteuacutedos Nesta fase busca-se colocar em relevo as informaccedilotildees

fornecidas pela anaacutelise com objetivo de compreender os sentidos e significados impliacutecitos no discurso

dos entrevistados

Assim as entrevistas passaram por duas anaacutelises diferentes A primeira teve o objetivo de

identificar os conceitos reunindo todos os momentos nos quais cada participante falou sobre uma

categoria especiacutefica Um mesmo trecho ou fragmentos serviram em algumas situaccedilotildees para mostrar

conceitos diferentes Foi construiacutedo um quadro analiacutetico em que foram apresentados os principais

conceitos impliacutecitos em cada unidade de registro e respectivas unidades de contexto

A segunda anaacutelise baseou-se na teacutecnica de anaacutelise da enunciaccedilatildeo de DUnrug (1974) Bardin

(1977) considera este tipo de anaacutelise adequada para entrevistas natildeo diretivas pois esta parte de uma

concepccedilatildeo da comunicaccedilatildeo como processo e natildeo como dado O discurso natildeo implica uma

transposiccedilatildeo transparente de opiniotildees ou representaccedilotildees que existiriam previamente A autora explica

O discurso natildeo eacute um produto acabado mas um momento num processo de elaboraccedilatildeo com tudo o que isso comporta de contradiccedilotildees de incoerecircncias de inperfeiccediloes Isto eacute particularmente evidente nas entrevistas em que a produccedilatildeo eacute ao mesmo tempo espontacircnea e constrangida pela situaccedilatildeo (idem p 170)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

241

Neste sentido a anaacutelise da enunciaccedilatildeo permite identificar os polos de possiacuteveis incoerecircncias e

contradiccedilotildees e mostrar tambeacutem os compromissos ou soluccedilotildees construiacutedas durante a entrevista para

dar conta das contradiccedilotildees Para realizar a segunda anaacutelise os textos das entrevistas jaacute dispostos nas

unidades de registro foram divididos em proposiccedilotildees e sequecircncias Bardin (idem p 175) entende por

proposiccedilatildeo ldquouma afirmaccedilatildeo uma declaraccedilatildeo um juiacutezo (ou ate mesmo uma pergunta ou uma

negaccedilatildeo) em suma uma frase ou um elemento da frase que instaure tal como a preposiccedilatildeo logica

uma relaccedilatildeo entre dois ou mais termosrdquo Assim o texto foi medido frase por frase com objetivo de

observar a sucessatildeo de preposiccedilotildees que potildeem em evidencias relaccedilotildees e formas de raciociacutenio

Em seguida realizamos a anaacutelise sequencial em que foram analisados os diversos polos do

discurso durante a entrevista considerando as recorrecircncias conjunccedilotildees e reduccedilotildees De acordo com

DUnrug (1974) satildeo recorrecircncias aqueles casos em que mesmas ideias retornam no discurso em

diferentes contextos e quando se destaca alguma ambivalecircncia em relaccedilatildeo a algum tema Para Bardin

(idem) as recorrecircncias podem se um indicador de importacircncia (frequecircncia de um tema revela o

investimento da pessoa nesse tema) de ambivalecircncia (se o tema ressurge como por um acidente em

diferente contexto a relaccedilatildeo pode ser de desejorecusa) de negaccedilatildeo (voltar sem descanso no mesmo

assunto pode ser o sinal do desejo de convencermos de uma ideia) e da presenccedila indiscutiacutevel da ideia

recusada (repeticcedilatildeo de uma ideia rejeitada pelo subconsciente do entrevistado)

As conjunccedilotildees tecircm por objetivo conciliar ideias incompatiacuteveis assim nas entrevistas o sujeito

sempre que percebe incompatibilidade entre dois fatos ou ideias procura restabelecer a consonacircncia e

a harmonia Bardin (idem) explica que se pode tentar fazer isso pela manipulaccedilatildeo do paradoxo

(reunindo ideias aparentemente inconciliaacuteveis) ou da hipeacuterbole (aumento ou diminuiccedilatildeo excessiva das

coisas) Sobre as reduccedilotildees Bardin cita duas figuras de linguagem mais recorrentes nas analises de

enunciaccedilatildeo

Metoniacutemia Trata-se de uma reduccedilatildeo do tipo logico Consiste em empregar um termo no lugar de outro havendo entre ambos estreita afinidade ou relaccedilatildeo de sentido (ou uma parte eacute tomada pelo todo)Permite chamar a atenccedilatildeo do interlocutor para somente um aspecto para desviar a sua atenccedilatildeo de qualquer coisa por ocultaccedilatildeo Muito utilizada em comunicaccedilotildees de massa como medida subversiva (p183)

Metaacutefora Figura de linguagem do tipo associativo Designa qualquer coisa por outra Geralmente o significante da substituiccedilatildeo eacute mais simboacutelico Linguisticamente a metaacutefora eacute verificada entre dois significantes existindo uma substituiccedilatildeo onde na cadeia significante um assume o lugar do outro numa relaccedilatildeo de analogia(p184)

Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa

242

Assim as unidades de registro foram analisadas considerando estes aspectos da analise do

enunciado proposto por DUnrug (1974) e explicitados e difundidos por Bardin (1977)

448 Aspectos eacuteticos

A reflexatildeo teoacuterica sobre a eacutetica convida o pesquisador a examinar suas accedilotildees e os meacutetodos

adotados na pesquisa (Guilhem e Diniz 2008)Segundo Bogdan e Biklen (2013 p 75) duas questotildees

satildeo relevantes no campo da eacutetica relativa agrave pesquisa com seres humanos o consentimento informado

e a proteccedilatildeo dos sujeitos contra a qualquer espeacutecie de danos Os autores afirmam que essas normas

se atentam a assegurar as seguintes prerrogativas (a) Os sujeitos aderem voluntariamente aos projetos

de investigaccedilatildeo cientes da natureza do estudo e dos perigos e obrigaccedilotildees nele envolvidos (b) Os

sujeitos natildeo satildeo expostos a riscos superiores aos ganhos que possam advir

Neste sentido esta pesquisa assegurou de que os participantes tivessem suas identidades

preservadas Nos questionaacuterios enviados via e-mail os participantes foram informados do que tratava a

pesquisa e que os dados seriam analisados de forma global e natildeo individualmente No cabeccedilalho do

formulaacuterio on-line do questionaacuterio constava a informaccedilatildeo de os dados seriam tratados de forma

confidencial e natildeo havia campo para identificaccedilatildeo pessoal Na apresentaccedilatildeo dos resultados as

entrevistas foram tratadas como unidade de contexto e foram identificadas com abreviaccedilotildees e nuacutemero

(E1 E2 E3 E4 E5 e E6) de forma que a identificaccedilatildeo dos entrevistados foi preservada

Bogdan e Biklen (2013) enfatizam a importacircncia do consentimento dos participantes em

participar de entrevistas em que aconteccedila gravaccedilatildeo de conversas eou imagens Assim asseguramos

que os participantes tivessem perfeito conhecimento de que as entrevistas seriam gravadas e

transcritas na iacutentegra Os textos transcritos junto com a respectiva gravaccedilatildeo de cada participante foram

enviados para o e-mail pessoal de cada um para que pudessem contestar qualquer equiacutevoco No

proacuteximo capiacutetulo satildeo apresentados analisados e discutidos os resultados desta pesquisa a partir dos

objetivos propostos

Capiacutetulo 5 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

245

51 Introduccedilatildeo

Seguindo a proposta do projeto de pesquisa deste trabalho apoacutes as operaccedilotildees de campo

realizou-se uma anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados de acordo com os objetivos previstos Ressaltando

que o foco principal do estudo foi investigar se os cursos de formaccedilatildeo docente on-line contribuem para

o desenvolvimento de praacuteticas de literacia digital dos professores no seu cotidiano e na sua atuaccedilatildeo

docente o estudo de caso realizado com os cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da UFT

revelou aspectos importantes sobre a realidade do professor em face das tecnologias digitais presentes

no cotidiano e na escola

Segundo Bauer e Gaskell (2002) a finalidade real de uma pesquisa mista (quanti-qualitativa)

natildeo eacute contar opiniotildees ou pessoas antes explorar o espectro de opiniotildees e as diferentes representaccedilotildees

sobre o assunto em questatildeo Portanto todos os dados coletados foram analisados com o intuito de

compreender as percepccedilotildees dos alunos sobre a formaccedilatildeo agrave distacircncia que participaram bem como os

impactos desta no seu contexto social A anaacutelise foi realizada considerando a tabulaccedilatildeo dos dados dos

questionaacuterios (perfil dos participantes da pesquisa e avaliaccedilatildeo de suas competecircncias docentes em

tecnologias digitais da informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo) e tambeacutem as categorias a levantar nas entrevistas

Salientando que o trabalho privilegia uma abordagem qualitativa ressalta-se que seu foco eacute

principalmente ldquoa exploraccedilatildeo do conjunto de opiniotildees e representaccedilotildees sociais sobre o tema que

pretende investigar (Gomes 2012 p 79) Neste sentido os dados coletados nas entrevistas satildeo

apresentados por agrupamento das convergecircncias encontradas nos depoimentos dos entrevistados

bem como as divergecircncias e antagonismos achados nos discursos

Neste capiacutetulo satildeo apresentados os resultados da investigaccedilatildeo de acordo com os objetivos

empiacutericos propostos no projeto de pesquisa

(1) Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

(2) Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na sua atuaccedilatildeo docente

(3) Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

246

Assim o texto estaacute dividido em trecircs seccedilotildees A primeira trata do perfil de identificaccedilatildeo dos

participantes da pesquisa no que diz respeito agraves questotildees socioeconocircmicas socioculturais e da

formaccedilatildeo acadecircmica dos mesmos A segunda seccedilatildeo apresenta a anaacutelise dos dados coletados nos

questionaacuterios e entrevistas relacionados ao engajamento dos participantes com as tecnologias no seu

cotidiano A terceira seccedilatildeo expotildee os dados coletados na investigaccedilatildeo referentes ao domiacutenio das

tecnologias por parte dos participantes na sua praacutetica pedagoacutegica E a quarta seccedilatildeo aborda a proposta

de uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital de professores A apresentaccedilatildeo a anaacutelise e discussatildeo

dos resultados foi permeada pela revisatildeo de literatura cuja base teoacuterica fundamenta este estudo

52 Perfil dos professores cursistas

Considerando que esta pesquisa adota a metodologia de um estudo de caso conhecer o

contexto e o perfil dos participantes da pesquisa eacute essencial para se compreender fenocircmenos sociais

complexos Nesse sentido Yin (2005) ao definir um estudo de caso atribui uma importacircncia

significativa ao estudo do contexto em que os indiviacuteduos pesquisados fazem parte ldquoum estudo de caso

eacute uma investigaccedilatildeo empiacuterica que investiga um fenoacutemeno contemporacircneo dentro do seu contexto de

vida real especialmente quando limites entre o fenoacutemeno e o contexto natildeo estatildeo claramente definidosrdquo

(idem p 32) Nesta mesma direccedilatildeo Yacuzzi (2005) se referindo agraves principais caracteriacutesticas de um

estudo de caso afirma que ldquoo seu valor reside em que natildeo apenas se estuda um fenoacutemeno mas

tambeacutem o seu contexto Isto implica a presenccedila de tantas variaacuteveis que o nuacutemero de casos necessaacuterios

para as tratar estatisticamente seria impossiacutevel de estudarrdquo (idem p 9) Portanto tomar conhecimento

do contexto social dos participantes e das diferentes variaacuteveis que influenciam o impacto das

tecnologias na sua vida pessoal e profissional constitui um elemento vital deste estudo de caso Assim

esta seccedilatildeo estaacute organizada em trecircs toacutepicos principais o perfil socioeconocircmico o perfil sociocultural e o

perfil acadecircmico Conhecer o contexto socioeconocircmico sociocultural e acadecircmico dos participantes da

pesquisa contribuiu para a compreensatildeo de determinadas atitudes e comportamentos dos mesmos em

relaccedilatildeo ao uso ou natildeo uso das tecnologias no seu dia-dia e nas praacuteticas pedagoacutegicas

521 Perfil socioeconocircmico

A primeira parte do questionaacuterio buscou traccedilar um perfil de identificaccedilatildeo dos participantes da

pesquisa Os dados colhidos no referido instrumento revelam que a maior parte dos cursistas eacute do sexo

masculino (72) e moram na zona urbana (100) A idade dos participantes varia entre 25 a 34 anos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

247

(36) e 35 a 44 anos (60) Este dado eacute um indicativo que em relaccedilatildeo agraves tecnologias nos diz que um

consideraacutevel nuacutemero dos cursistas eacute ldquoimigrante digitalrdquo ou seja nasceram num periacuteodo em que as

tecnologias ainda estavam em desenvolvimento e tiveram que se adaptar agrave introduccedilatildeo destas no seu

cotidiano

Sobre o perfil socioeconocircmico dos participantes os dados do questionaacuterio indicaram que 48

possuem renda bruta familiar de dois a quatro salaacuterios miacutenimos67(SM) o que eacute considerado no Brasil

proveniente de classe social niacutevel D68 O graacutefico 03 apresenta a distribuiccedilatildeo porcentual de renda dos

participantes

Graacutefico 3 - Renda Familiar Bruta em Salaacuterios Miacutenimos (SM)

Esta informaccedilatildeo constatada no questionaacuterio sobre a situaccedilatildeo econocircmica dos participantes da

pesquisa eacute relevante visto que constitui uma das variaacuteveis importantes para o acesso das pessoas ao

universo das tecnologias Na anaacutelise teoacuterica apresentada no capiacutetulo dois deste trabalho as barreiras

para o acesso agrave internet nos domiciacutelios brasileiros estatildeo associadas a problemas de custo e de

infraestrutura Devido ao alto custo dos equipamentos softwares e conexatildeo muitos preferem acessar a

internet do local de trabalho ou mesmo na casa de amigos fato que pode ser limitante do potencial

das TDIC a estes usuaacuterios Assim pessoas com situaccedilatildeo financeira vulneraacutevel podem ateacute possuir

algum acesso agraves tecnologias mas este eacute limitado e de pouca qualidadeNeste sentido a classe

econocircmica dos participantes indica que tecircm limitaccedilotildees financeiras para adquirir maacutequinas e softwares

com qualidade para utilizarem no seu cotidiano A situaccedilatildeo agrava-se mais em cidades do Tocantins 67 No Brasil um salaacuterio miacutenimo em 2016 era de R$ 88000 convertido em euros na mesma data equivalia em meacutedia a 220 euros 68 Designa-se da classe A segundo o IBGE pessoas cuja renda bruta familiar seja acima de 20 salaacuterios miacutenimos Classe B satildeo aqueles que recebem de 10 a 20SM Classe C de 4 a 10 SM Classe D de 2 a 4 SM e Classe E os que recebem ateacute 2 SM

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

248

em que a internet possui uma infraestrutura fraacutegil e precaacuteria 69 A insuficiecircncia econocircmica para

necessidades baacutesicas como moradia alimentaccedilatildeo sauacutede educaccedilatildeo e transporte torna inviaacutevel a

possibilidade de possuir aparelhos modernos com tecnologia digital de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

eou acesso a uma boa conexatildeo com a rede de internet Fato que pode gerar a exclusatildeo sociodigital

dos professores ou a sua marginalizaccedilatildeo da rede (Demo 2005)

522 Perfil social

No tocante agraves questotildees que envolvem haacutebitos culturais dos participantes a pergunta do

questionaacuterio foi ldquoqual o principal meio de comunicaccedilatildeo mais utilizado para informaccedilotildees sobre os

acontecimentos atuaisrdquo De entre as opccedilotildees apresentadas (jornal raacutedio TV internet conversas com

outras pessoas ou natildeo usa meios de comunicaccedilatildeo de miacutedia para se informar) os dados revelam que

76 dos participantes afirmaram se informar por meio da internet Esta apresenta ser uma tendecircncia

na atualidade as pessoas informam-se pela internet sobretudo pelas redes sociais Tendo em vista

que eacute necessaacuterio selecionar e filtrar os conteuacutedos veiculados na rede de computadores a demanda por

uma formaccedilatildeo voltada para a literacia digital eacute pertinente para este grupo de professores participantes

da pesquisa

Um dado preocupante foi sobre a frequecircncia dos professorescursistas participantes da

pesquisa em programas culturais Quase metade dos participantes natildeo vecircem programas culturais

como se pode observar no graacutefico 04

69 Em um levantamento sobre a Banda Larga no Tocantins nenhum municiacutepio atingiu o niacutevel de 12mbps a 34mbps O levantamento considerou os cinco tipos de faixa de classificaccedilatildeo (0 a 512 Kbps 512 Kbps a 2 Mbps 2 Mbps a 12 Mbps 12 Mbps a 34 Mbps e acima de 34 Mbps) O estudo aponta ainda que existem no Brasil 243 milhotildees de pontos de acesso de banda larga fixa No Tocantins Palmas possui o maior nuacutemero de ponto de acesso com 33440 seguida por Araguaiacutena (12884 pontos) Gurupi (6513 pontos) e Porto Nacional (3505 pontos) Disponiacutevel em lthttpwwwatitudetocombrinternet-discrepancia-na-velocidade-da-banda-larga-no-brasi gt Acesso em 13 mai 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

249

Graacutefico 4 - Programas culturais que os participantes tem acesso com mais frequecircncia

Dos participantes apenas seis afirmaram morar na cidade de Palmas capital do estado do

Tocantins os demais moram nas cidades do interior em que os programas culturais como teatro e

cinema satildeo escassos Esta talvez seja a justificativa para que um porcentual significativo dos

participantes afirmarem natildeo terem participado destas modalidades de programas culturais No tocante

agrave frequecircncia nas bibliotecas disponiacuteveis nos polos de apoio presencial 60 dos participantes

afirmaram fazer consultas nas mesmas numa frequecircncia esporaacutedica de 1 a 3 vezes no mecircs Sobre o

domiacutenio de uma liacutengua estrangeira 60 disseram natildeo falar outro idioma para aleacutem do portuguecircs

Ainda foram questionados se o fato de natildeo dominarem uma liacutengua estrangeira (para os que disseram

que natildeo tecircm domiacutenio) dificultava o uso da internet tendo 70 respondido que natildeo

523 Perfil Acadecircmico

No que diz respeito ao perfil de formaccedilatildeo acadecircmica dos participantes da pesquisa 52

responderam no questionaacuterio que jaacute possuem uma graduaccedilatildeo concluiacuteda e 48 satildeo professores da

rede puacuteblica de ensino atuando como docentes na sua maioria (53) por mais de 11 anos Quando

questionados se lecionavam nas suas respectivas aacutereas de formaccedilatildeo 55 disseram que natildeo Esta eacute

uma realidade presente no cotidiano das escolas puacuteblicas principalmente nos estados brasileiros da

regiatildeo Norte e Nordeste Numa pesquisa70 realizado pelo Tribunal de Contas da Uniatildeo (TCU) no Brasil

em 2014 faltavam 32 mil professores com formaccedilatildeo especiacutefica para lecionar no ensino meacutedio da rede

70 Disponiacutevel em httpg1globocomeducacaonoticia201403auditoria-do-tcu-aponta-deficit-de-32-mil-professores-no-ensino-mediohtml Acesso em 13 maio 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

250

puacuteblica de ensino Os maiores deacuteficits apontados pelo estudo satildeo de professores com formaccedilatildeo

especiacutefica nas disciplinas de Fiacutesica Quiacutemica e Sociologia Assim os professores de aacutereas afins

lecionam em disciplinas diferentes da sua formaccedilatildeo (exemplo professor de Matemaacutetica que leciona

Fiacutesica ou Quiacutemica) Esta situaccedilatildeo mobiliza os professores a buscarem nos cursos a distacircncia a

possibilidade de formarem na aacuterea que estatildeo lecionando considerando a flexibilidade que essa

modalidade proporciona

Na questatildeo 29 do questionaacuterio buscamos compreender as razotildees de os participantes terem

escolhido fazer um curso na modalidade a distacircncia O graacutefico 05 mostra que um consideraacutevel nuacutemero

de participantes (36) respondeu que optaram por essa modalidade por residirem longe de uma

universidade e outra parte relevante (32) citaram a questatildeo do tempo que natildeo dispunham de tempo

para estudar num curso presencial

Graacutefico 5 - Razotildees pela escolha da modalidade a distacircncia

Assim a modalidade a distacircncia no estado do Tocantins em que as universidades se

concentram praticamente em trecircs cidades (no extremo norte na parte central e no sul) possibilita o

acesso das pessoas que moram no interior ao ensino superior gratuito

Nas entrevistas buscamos aprofundar a compreensatildeo sobre a intenccedilatildeo dos participantes em

fazer um curso na modalidade a distacircncia O que exatamente os levou a se inscreverem num curso a

distacircncia Trata-se de uma questatildeo relevante pois a motivaccedilatildeo do cursista revela muito sobre a

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

251

percepccedilatildeo que tem do curso de Fiacutesica EaD e das possiacuteveis mudanccedilas que esta formaccedilatildeo a distacircncia

proporcionou na sua vida pessoal e profissional Um dos participantes revelou que sua intenccedilatildeo foi

movida pela curiosidade de saber se um curso a distacircncia realmente funcionava ldquoaleacutem de querer fazer

Fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionavardquo(E1) A flexibilidade que um curso a distacircncia

proporciona foi um fator de peso para o participante E2

O meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias agrave noite [] entatildeo o curso a distacircncia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

Dois participantes citaram o fato de o curso ser ofertado por uma universidade federal de

renome como fator relevante para optarem pela licenciatura em Fiacutesica a distacircncia No Tocantins outras

instituiccedilotildees de ensino superior ofertam cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia mas natildeo satildeo gratuitos Assim

a UFT aleacutem da prerrogativa da qualidade do ensino oferece oportunidade de formaccedilatildeo superior

puacuteblica e gratuiacuteta

A oportunidade de graduar na aacuterea que leciona foi pontuada pela participante E6 como

relevante na escolha do curso em questatildeo ldquopara mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter

licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelenterdquo Alguns participantes

afirmaram jaacute possuir formaccedilatildeo superior mas optaram pelo curso devido agrave flexibilidade do tempo

possuiacuterem afinidades na aacuterea de Fiacutesica ou porque eram professores mas natildeo tinham formaccedilatildeo em

uma licenciatura

Primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do curso Segundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura Comecei a cursar licenciatura e parei E meu curso eacute na parte de administraccedilatildeo natildeo eacute licenciatura e eu estou em sala de aula desde 2002 (E3)

Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica e com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis (E5)

Para outros cursistas o curso de Fiacutesica a distacircncia constituiacutea uma oportunidade para a

primeira graduaccedilatildeo por residirem numa cidade que natildeo possui campus de uma universidade puacuteblica

O participante E4 residente num municiacutepio pequeno no interior do Tocantins professor de ensino

religioso desejava graduar na aacuterea das exatas especificamente em Matemaacutetica mas por falta de

oferta pelo curso na regiatildeo ele se propocircs a fazer o curso de Fiacutesica Segue seu relato

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

252

Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho mas na aacuterea da matemaacutetica eu gosto da matemaacutetica e aqui na regiatildeo natildeo tinha e ai mudei voltei para caacute natildeo tinha a matemaacutetica agora tem Mas tinha a fiacutesica ai pensei vou fazer tudo incluiacutedo mesmo (E4)

Percebe-se nas expressotildees dos cursistas a importacircncia social que o curso de Fiacutesica EaD

representa na vida dos mesmos Mesmo aqueles que jaacute possuiacuteam uma graduaccedilatildeo o curso agregou

conhecimentos para a docecircncia nas disciplinas que lecionam Para os que cursavam a primeira

graduaccedilatildeo o curso significou a porta de acesso ao ensino superior gratuito cuja entrada estava limitada

por fatores como localizaccedilatildeo geograacutefica limitaccedilatildeo financeira ou indisponibilidade de tempo para um

curso presencial

O questionaacuterio no acircmbito do perfil acadecircmico dos participantes indagou ainda dos

participantes sobre o que achavam do curso de Fiacutesica na modalidade EaD do qual eram alunos O

graacutefico 06 apresenta os resultados

Graacutefico 6 - Percepccedilatildeo dos participantes sobre o curso de Fiacutesica a distacircncia na UFT

Percebe-se portanto um bom grau de satisfaccedilatildeo com o curso da parte dos participantes

Apenas um respondeu que o curso era ruim e dois participantes achavam o mesmo razoaacutevel Nas

entrevistas os cursistas expressaram mais objetivamente suas percepccedilotildees sobre o curso de Fiacutesica em

EaD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

253

Bom as expectativas a princiacutepio era curiosidade saber como seria isso na praticidade um curso de fiacutesica considerando difiacutecil caacutelculos e eu imaginava com algueacutem do seu lado eacute complicado imagina a distacircncia Quando vocecirc tiver duacutevida como vocecirc vai tirar E muita coisa do curso assim as minhas anguacutestias natildeo foram saciadas elas ficaram (E1)

A expectativa era de mudar de aacuterea porque onde eu estou natildeo me daacute muitas condiccedilotildees de tempo para continuar estudando dai mudando de aacuterea que eacute uma aacuterea que eu gosto tambeacutem que eacute a educaccedilatildeo isso dai me faz com que eu tenha mais tempo e condiccedilotildees de dar continuidade aos meus estudos (E2)

Bom eu tinha uma perspectiva de que iria ter um atendimento e uma presenccedila maior dos tutores entendeu que ia ter uma participaccedilatildeo maior dos tutores com relaccedilatildeo a resposta e retorno (E3)

Este daiacute eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha [] Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero Mas eu me enganei (E4)

Nota-se que os cursistas tinham expectativas diversas em relaccedilatildeo ao curso Para o participante

E1 a preocupaccedilatildeo era como seria estudar uma aacuterea considerada difiacutecil na modalidade a distacircncia

Afirma que jaacute estava no quinto periacuteodo e que suas anguacutestias natildeo tiveram respostas Outras expressotildees

tambeacutem denotam uma relativa ldquosolidatildeordquo dos cursistas com relaccedilatildeo ao acompanhamento dos tutores e

professores O participante E3 por exemplo parece decepcionado pois esperava ter uma atenccedilatildeo

maior da parte dos tutores visto se tratar de uma formaccedilatildeo a distacircncia Tambeacutem a participante E6

relatou ldquoagraves vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc

precisa ter um professor do lado para tirar uma duvida ou outra vocecirc tem o tutor a distacircncia mas o

corre-corre do diardquo Portanto muitos se sentem frustrados quando iniciam um curso a distacircncia porque

esperam que vaacute ter um suporte e acompanhamento dos tutores e professores e terminam por sentirem

solitaacuterios no curso

O participante E2 que natildeo eacute professor entrou no curso de Fiacutesica EaD com a expectativa que a

licenciatura lhe permitisse mudar da aacuterea teacutecnica para a docecircncia Na expressatildeo do participante E4

quando o mesmo revela que se enganou em relaccedilatildeo agrave metodologia nota-se que ele natildeo pensava na

necessidade de disciplina e organizaccedilatildeo do tempo que se requer num curso a distacircncia A cursista E5

jaacute se surpreendeu com a metodologia a distacircncia acreditava que era inviaacutevel um curso na aacuterea das

exatas ser ofertado nesta modalidade

A minha surpresa foi justamente um curso de exatas a distacircncia vocecirc natildeo ter o professor presente para te explicar entatildeo eu achei que natildeo ia prestar de forma alguma Mas de repente fui surpreendida porque eacute de uma qualidade tatildeo imensa que hoje a gente tem tudo (E5)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

254

Por outro lado a participante E6 jaacute considera que no seu iniacutecio o curso deixou a desejar na

questatildeo da coordenaccedilatildeo A mesma afirmou ldquosempre tem alguns problemas com as coordenaccedilotildees

passamos por vaacuterias coordenaccedilotildees durante nosso periacuteodo algumas coordenaccedilotildees natildeo foram boas

natildeo aconteceu como deveriardquo Assim o curso para alguns surpreendeu positivamente pela qualidade

e para outros deixou a desejar na organizaccedilatildeo administrativa e falta de acompanhamento da parte dos

professores e tutores

As representaccedilotildees e percepccedilotildees dos participantes em relaccedilatildeo ao curso de Fiacutesica EaD apoacutes

anaacutelise aprofundada dos depoimentos nas entrevistas podem ser divididas em trecircs niacuteveis (a) de

conteuacutedo (b) da aprendizagem e (c) da comunicaccedilatildeo e interatividade

(a) Niacutevel de conteuacutedo

Os conteuacutedos na verdade eles satildeo muito sucintos entatildeo vocecirc tem que ir mais (E1)

Agora a minha expectativa eacute que fosse estudar coisas referentes agrave Fiacutesica do ensino meacutedio que eacute o que se propotildee uma licenciatura em Fiacutesica Porque natildeo eacute licenciatura de Fiacutesica de ensino superior soacute que todos nos deparamos dentro do curso com disciplinas extremamente complexas e que natildeo satildeo utilizadas em salas de aulas por mais que o professor tente justificar e tente dizer que eacute (E3)

Este conteuacutedo de fiacutesica que a gente estuda na UFT noacutes jamais iremos usar isso em sala de aula [] Jamais iremos usar em sala de aula o grau de grandeza do que eacute ensinado eacute tatildeo grande esse conhecimento que noacutes natildeo iremos usar no ensino meacutedio (E5)

Observa-se nas expressotildees extraiacutedas das entrevistas um ponto comum sobre o conteuacutedo do

curso de Fiacutesica EaD da UFT eacute sucinto e complexo Os participantes chamam atenccedilatildeo para o grau de

complexidade das disciplinas alegando que estas natildeo seratildeo usadas quando forem lecionar no ensino

meacutedio A participante E5 expressou sua preocupaccedilatildeo neste aspecto ldquoIsso deixa a gente eu mesma

que natildeo tenho tanta praacutetica com sala de aula e nem com Fiacutesica eu acredito assim que nunca vou

usar nunca vou dar contardquo O participante E3 tambeacutem afirma que alguns conteuacutedos natildeo tecircm valor

praacutetico nenhum para os professores que iratildeo lecionar a disciplina de Fiacutesica no ensino meacutedio

Noacutes temos no nosso grupo dois professores um formado em matemaacutetica que quer se graduar em Fiacutesica e um formado em contabilidade que jaacute daacute aula de Fiacutesica e ambos disseram que na segunda e terceira serie do preacute-vestibular natildeo se trabalha alguns conteuacutedos de Caacutelculo I Calculo II e Calculo III Natildeo tem aplicaccedilatildeo Para licenciatura natildeo tem e isso satildeo professores em coleacutegio de ponta da regiatildeo Entatildeo imagina no ensino puacuteblico um local que tem mais carecircncia de ensino nesta aacuterea

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

255

O participante E3 conclui que estas disciplinas complexas vatildeo eliminando alunos alguns sendo

reprovados e outros desistem devido a dificuldade dos conteuacutedos Aleacutem do que afasta outros de

ingressarem no curso de Fiacutesica ldquoporque cada um que sai e diz que natildeo dava conta jaacute fala para dois ou

trecircs que jaacute natildeo vatildeo procurarrdquo afirma o participante De fato segundo dados da coordenaccedilatildeo do curso

no vestibular de 2014 foram ofertadas 10 vagas para o polo de Gurupi e 10 vagas para o polo de

Palmas houve apenas dois inscritos para o polo de Gurupi (natildeo sendo possiacutevel abrir turma) e no polo

de Palmas foram matriculados dez cursistas mas apenas seis continuam no curso em 2016 A

questatildeo da evasatildeo natildeo constitui foco deste estudo mas estes dados revelam muito sobre a percepccedilatildeo

que os participantes tecircm do curso

(b) Niacutevel de aprendizagem

Vocecirc tem muita dificuldade de tirar duacutevidas marcar grupo de estudos [] entatildeo as duacutevidas vocecirc natildeo tira praticamente vocecirc tem que estudar quebrar a cabeccedila agora assim ajuda uma coisa te ajuda a ser autodidata e gostar de tecnologia (E1)

A questatildeo da Fiacutesica ela exige que vocecirc tenha uma certa concentraccedilatildeo na expressatildeo que vocecirc estaacute utilizando naquela equaccedilatildeo matemaacutetica equaccedilatildeo fiacutesica (E2)

O que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tecircm um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar (E5)

Nesse curso agora nos temos o diferencial que satildeo as exatas que exigem uma dedicaccedilatildeo maior e muito mais exigente da parte do aluno (E6)

As expressotildees acima demonstram que os participantes sentiram que numa formaccedilatildeo a

distacircncia de qualidade eacute preciso desenvolver qualidades como a autonomia dedicaccedilatildeo e disciplina O

participante E1 usa o termo ldquoautodidatardquo ao se referir a uma das qualidades que o aprendiz desenvolve

na modalidade a distacircncia De acordo com o dicionaacuterio Aureacutelio on-line71 autodidata eacute uma pessoa que

instrui a si mesma ou mestre de si mesmo Neste sentido o curso a distacircncia proporciona maiores

oportunidades para o aprendiz desenvolver sua autonomia Segundo Preti (1996) a autonomia na

aprendizagem exige disciplina planejamento decisatildeo organizaccedilatildeo persistecircncia motivaccedilatildeo avaliaccedilatildeo

e responsabilidade No entanto o autor explica que a instituiccedilatildeo ofertante ldquodeve oferecer suportes e

estruturar um sistema que viabilizem e incentivem a autonomia dos estudantes nos processos de

aprendizagemrdquo (idem p 25) Assim autonomia natildeo eacute sinocircnimo de abandono ou deixar os cursistas

sozinhos ldquoconstruindo o seu conhecimentordquo

71 Disponiacutevel em httpsdicionariodoaureliocomautodidata Acesso em 27 jun 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

256

A modalidade EaD de fato exige um maior niacutevel de esforccedilo do estudante em manter-se

focado e motivado para os estudos O mercado de trabalho exige cada vez mais profissionais

independentes autocircnomos e com capacidade de manuseio das ferramentas tecnoloacutegicas numa visatildeo

criacutetica e inovadora Sobre este aspecto Andreacute e Costa (2004 p 85) afirmaram

A era do conhecimento requer cada vez mais que as pessoas sejam capazes de construir conhecimentos e habilidades com outros e transmitir-lhes o que sabem instigando-os a enriquecerem seus horizontes vitais e estimulando-os ao desenvolvimento contiacutenuo de seus potenciais ao longo da vida Aleacutem disso a melhor forma de aprender eacute ensinar

Neste sentido a educaccedilatildeo a distacircncia ofertada em instituiccedilotildees de ensino de qualidade apoiada

por uma equipe pedagoacutegica que decirc o necessaacuterio suporte de acompanhamento aos estudantes

contribui para que os mesmos desenvolvam a autonomia nos processos de aprendizagem No entanto

a falta deste acompanhamento pode surtir um efeito contraacuterio e os estudantes sentirem-se sozinhos e

abandonados no processo

( c ) Niacutevel de comunicaccedilatildeo e interatividade

No comeccedilo muitas pessoas desistiram porque vocecirc mandava a pergunta e natildeo tinha resposta natildeo tinha este feedback dos professores estava complicado o curso estava meio largado (E3)

Quando vocecirc tem retorno raacutepido aiacute eacute bom Igual aqui noacutes temos provas de 15 em 15 dias ai vocecirc ta na duacutevida e ela demora a ser respondida ai chega perto da prova vocecirc tem aquela duacutevida e e ai (E4)

Nesse periacuteodo agora noacutes [temos] um diaacutelogo muito mais estreito com os professores e cada periacuteodo que passa a gente vai se aproximando mais Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessimo essa questatildeo da interatividade (E5)

Entatildeo a comunicaccedilatildeo ai trava muito desmotiva muito e espanta inclusive novos alunos para a EaD []as vezes vocecirc fica meio abandonado agraves vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono agraves vezes vocecirc precisa ter um professor do lado para tirar uma duacutevida ou outra (E6)

Os excertos acima extraiacutedos das entrevistas revelam as angustias da maior parte dos

entrevistados no que diz respeito agrave comunicaccedilatildeo e a interatividade no curso Uma questatildeo recorrente eacute

a demora no retorno (feedback) dos professores e tutores para responder agraves duacutevidas dos cursistas

Percebe-se nos depoimentos que no iniacutecio do curso a situaccedilatildeo da interatividade entre cursistas e

professores eou tutores era bastante criacutetica e que com o passar dos semestres foi melhorando Outra

participante apresenta queixa com relaccedilatildeo ao niacutevel de dificuldade de alguns conteuacutedos e da

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

257

necessidade de mais momentos presenciais durantes estas para tornar possiacutevel que os cursistas tirem

suas duacutevidas

Entatildeo se tiver um pouco mais de apoio uma parte maior de presencial somente para essas mateacuterias especificas talvez fosse o diferencial entre o curso de fiacutesica e matemaacutetica natildeo morrer e progredir [] desmotiva muito essa solidatildeo em certas mateacuterias entatildeo talvez alguma complementaccedilatildeo um complemento para certos niacuteveis de mateacuterias seria interessante (E6)

Compreende-se deste excerto que este participante compartilha sua sensaccedilatildeo de solidatildeo em

alguns momentos do curso principalmente nas disciplinas (mateacuterias) que satildeo mais complexas Neste

aspecto Preti (1996) lembra que em cursos mediados por tecnologias a comunicaccedilatildeo deve ser

biredicional ldquoo estudante natildeo eacute mero receptor de informaccedilotildees de mensagens apesar da distacircncia

buscam-se estabelecer relaccedilotildees dialogais criativas criacuteticas e participativasrdquo(idem p 25) O autor

ressalta que a relaccedilatildeo educativa entre estudante e professor na EaD natildeo eacute direta mas sim mediada

Neste sentido a comunicaccedilatildeo deve ser sem entraves com fluxo livre e de feedback raacutepido O que

parece natildeo ter ocorrido durante o curso de Fiacutesica em tela segundo os depoimentos dos entrevistados

Perguntamos aos entrevistados se recomendariam o curso de Fiacutesica EaD da UFT para outras

pessoas O participante E1 recomenda o curso com algumas ressalvas

Eu indicaria acredito que eacute algo que todo mundo deveria conhecer Soacute que eu indicaria fazer um presencial para ela ter uma comparaccedilatildeo [] mesmo que natildeo eacute o curso ideal mas se naquele momento eacute aquele que daacute para vocecirc fazer entatildeo faccedila depois vocecirc consegue fazer outro [] eu acredito que eacute uma educaccedilatildeo boa mas que a pessoa deveria fazer um comparativo ter as duas experiecircncias [] Eu tiro por mim eu tenho vontade de fazer Fiacutesica mas assim se fosse meu primeiro curso superior eu natildeo faria telepresencial a distacircncia eu faria presencial mesmo

Assim o participante E1 afirma que recomendaria o curso mas acha que a pessoa tem que

ter as duas experiecircncias primeiro um curso presencial e soacute depois outro curso na modalidade a

distacircncia Algumas razotildees subentendidas no contexto do depoimento do referido participante satildeo que

as pessoas natildeo compreendem plenamente como eacute estudar a distacircncia e ingressam em cursos nessa

modalidade com uma ideia preconcebida de que vai se faacutecil e que natildeo precisaratildeo fazer esforccedilos logo

estatildeo frustrados pois estes cursos talvez natildeo atendam as suas expectativas O participante explicou

ldquoentatildeo assim as pessoas natildeo entram com esta ideia de pesquisador de se empolgar com o estudo

entatildeo se faz por fazerrdquo Neste sentido compreende-se que o participante E1 acredite que a educaccedilatildeo a

distancia exige certo grau de amadurecimento do estudante

O participante E2 disse que indicaria o curso e inclusive jaacute o fez com um colega de trabalho

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

258

Uma pessoa que fez o curso teacutecnico junto comigo eu falei para ela do curso a distancia de Fiacutesica na aacuterea de exata que tem muito a ver tambeacutem com o curso de eletroteacutecnica ele achou bastante interessante a ideia ele fez o vestibular e estaacute cursando hoje o primeiro periacuteodo

Embora indique o curso de Fiacutesica EaD o participante E3 como jaacute o fez para dois ex-alunos que

gostam muito de Fiacutesica ressalta que somente as observaccedilotildees que o mesmo fez com relaccedilatildeo agrave

complexidade do conteuacutedo e agrave falta de feedback da equipe de tutoria sejam analisadas pela gestatildeo e

resolvidas Ainda sobre a indicaccedilatildeo o participante E4 respondeu ldquoSim Apesar das dificuldades que a

gente teve no iniacutecio mas todo comeccedilo eacute difiacutecil mas depois a gente vai vendo que vai aprendendo mais

atraveacutes das viacutedeos aulasrdquo A participante E5 respondeu sorrindo que indicaria mas que ningueacutem quer

As expressotildees dos entrevistados de modo geral demonstram que satildeo favoraacuteveis a indicar o curso o

que sugere a sua satisfaccedilatildeo com o curso mesmo que alguns tenham observaccedilotildees sobre melhorias

que devem ser implementadas no mesmo

Quando perguntamos que polo de apoio presencial o participante frequentava a maior parte

(52) afirmou pertencer ao polo de Palmas a capital administrativa do Tocantins As demais cidades

que concentram polos tiveram a seguinte distribuiccedilatildeo de cursistas Ananaacutes (22) Cristalacircndia (16) e

Gurupi (12) Sobre a frequecircncia que vatildeo ao polo 48 afirmaram ir quinzenalmente 36 uma vez por

semana e 12 visitam o polo ateacute duas vezes por semana Indagamos se o cursista solicitou ajuda de

um tutor presencial no polo para ajudaacute-lo em alguma atividade e 88 responderam que sim Sobre a

ajuda 80 afirmaram ficar satisfeitos com a intervenccedilatildeo do tutor A uacuteltima questatildeo sobre a vida

acadecircmica dos participantes averiguava se o cursista jaacute tinha pensando em desistir do curso por falta

de habilidade com o uso de computador com internet e 76 disseram que natildeo

Percebe-se portanto com base nos dados que os participantes da pesquisa apresentam um

perfil homogecircneo na sua maioria de professores da rede baacutesica pertecentes a mesma faixa econocircmica

(classe D) frequentam poucos programas culturais e moram no interior do estado do Tocantins Alguns

ingressaram na graduaccedilatildeo a distacircncia como uma possibilidade de graduar na aacuterea que jaacute atuam

outros porque era a uacutenica opccedilatildeo de estudo na regiatildeo em que residem Sobre o curso encontraram

dificuldades no iniacutecio da formaccedilatildeo porque de fato natildeo conheciam a modalidade a distacircncia o que

ocasionou surpresas para alguns e expectativas frustradas para outros Percebe-se uma dificuldade

com a autonomia que a formaccedilatildeo a distacircncia demanda nos registros em que alguns se queixam

sentirem-se sozinhos ou abandonadosEsta questatildeo se relaciona com o fato de alguns terem maior

contato com as TDIC apenas depois que iniciaram o curso Neste sentido a sondagem sobre o uso das

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

259

TDIC no cotidiano dos professores participantes eacute importante para a constataccedilatildeo dos niacuteveis de literacia

digital dos mesmos

53 Professores e uso das TDIC no cotidiano

Tendo em vista o foco deste estudo que buscou investigar se um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

propicia aos participantes maiores habilidades para a literacia digital esta seccedilatildeo apresenta os dados

coletados nos questionaacuterios bem como as impressotildees e percepccedilotildees inferidas nas entrevistas que

buscaram retratar um perfil dos participantes no tocante ao uso das tecnologias nas suas praacuteticas

cotidianas Sobretudo as entrevistas buscaram investigar as provaacuteveis dificuldades encontradas nesse

campo bem como as possiacuteveis mudanccedilas ocorridas na relaccedilatildeo dos mesmos com as tecnologias

depois do ingresso no curso de Fiacutesica EaD

A apresentaccedilatildeo dos resultados estaacute organizada em quatro subseccedilotildees (1) Dados sobre posse

de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso (2) Uso de Tecnologias no cotidiano (3) Uso

de celular com internet (4) Experiecircncia com as tecnologias e niacutevel de literacia digital

531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso

Como abordado no capiacutetulo dois deste trabalho a variaccedilatildeo de posse dos meios teacutecnicos

(hardware e conexotildees) resulta de um niacutevel de desigualdade que impede o aproveitamento do potencial

das TDIC DiMaggio e Hargittai (2001) afirmaram que aqueles usuaacuterios de aparato teacutecnico inferior

tecircm benefiacutecios reduzidos Por exemplo usuaacuterios com conexotildees lentas software e hardware antigos

encontram dificuldades de acessar determinados sites e tambeacutem reduz as chances do usuaacuterio obter

uma experiecircncia gratificante na internet restringindo-os a usaacute-la em ocasiotildees realmente necessaacuterias

Os autores citam que outra desigualdade refere-se agrave autonomia no uso da internet Esta questatildeo diz

respeito a onde e em que condiccedilotildees os usuaacuterios tecircm acesso Existe uma clara diferenccedila de usufruto da

experiecircncia com as TDIC do usuaacuterio que acessa a internet em casa daquele que precisa acessar em

outros lugares como no trabalho ou lan house Neste sentido a segunda seccedilatildeo do questionaacuterio

procurou investigar o tipo de equipamentos conexotildees e lugar de acesso dos participantes da pesquisa

As questotildees 15 a 17 do questionaacuterio eram direcionadas apenas aos que afirmassem ter

computador em casa Na questatildeo 15 solicitou-se aos participantes que indicassem os equipamentos

ou dispositivos relacionados agrave tecnologia de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo que possuem em casa As

alternativas apresentadas (o participante podia assinalar mais que uma) e os percentuais de

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

260

afirmativas de posse dos equipamentos foram computador de mesa (32) notebook (72)

impressora (40) scanner (28) ligaccedilatildeo a internet (76) tablet (28) smartphone (36) Percebe-se

uma tendecircncia de queda do uso de computador de mesa para acesso a internet como apontado na

Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD2014) suplemento de Tecnologias da Informaccedilatildeo

e Comunicaccedilatildeo (TIC)72 realizada pelo Comitecirc Gestor da Internet no Brasil (CGIbr 2015) A pesquisa

aponta que essa eacute uma tendecircncia no Brasil em que o acesso agrave internet via celular (804) ultrapassou

o uso de computadores (766) para esta funccedilatildeo O estudo revela ainda que em 881 dos domiciacutelios

particulares no Tocantins o acesso agrave internet eacute via celular em contraponto com o uso do computador

de mesa (65)

No entanto verificamos que para os participantes da amostra do nosso estudo o acesso agrave

internet ocorre mais frequentemente pelo notebook O baixo iacutendice de presenccedila do dispositivo tablet

nas residecircncias dos participantes (28) tambeacutem acompanha a tendecircncia nacional Na pesquisa ldquoTIC

Domiciacutelios 2014rdquo enquanto o computador de mesa estaacute presente em 56 dos domiciacutelios e o notebook

em 60 o tablet apresenta uma presenccedila mediana de 33 Ainda dentro do bloco de acesso e uso da

internet o questionaacuterio sondou o tipo de internet dos cursistas da licenciatura em Fiacutesica a distacircncia da

UFT Esta questatildeo eacute pertinente considerando que a qualidade do acesso e da navegaccedilatildeo depende do

tipo de conexatildeo utilizada (Warschauer 2003) Os resultados apontaram um equiliacutebrio entre o uso de

banda larga fixa via linha telefocircnica (478) e banda larga via raacutedio (478)

Sobre a velocidade da conexatildeo os participantes indicaram na sua maioria (522) a

velocidade de mais de 1 Mbps a 2 Mbps Trata-se de uma conexatildeo de qualidade questionaacutevel visto

que a velocidade de internet ideal seria acima de 20 Mpps (meacutedia da internet da Coreia do Sul liacuteder do

ranking mundial de conexotildees mais raacutepidas do mundo 73 ) Neste sentido a velocidade de conexatildeo

apontada pelos participantes da pesquisa configura-se lenta para os padrotildees miacutenimos necessaacuterios

Dos participantes da pesquisa 12 afirmaram natildeo ter internet em casa O questionaacuterio sondou

o motivo e 50 responderam que achavam o custo da internet pesado e natildeo podiam pagar Galperin

(2015) pesquisou sobre as barreiras para a conectividade da internet na Ameacuterica Latina e os

resultados revelaram que ldquoapesar da queda significativa nos preccedilos do acesso agrave internet nos uacuteltimos

cinco anos o custo dos serviccedilos continua sendo uma importante barreira para o usordquo (idem p 62) A

72 Disponiacutevel em httpceticbrmediadocspublicacoes2TIC_Domicilios_2014_livro_eletronicopdf Acesso em 16 maio 2016 73 A velocidade meacutedia da internet mundial eacute de 38 Mbps No Brasil a meacutedia nacional em 2016 era de 27 Mbps Disponiacutevel em httpstecnoblognet155343velocidade-internet-brasil-akamai-relatorio-2013 Acesso em 16 maio 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

261

pesquisa ldquoTIC Domiciacutelios 2014rdquo tambeacutem apontou o custo elevado dos serviccedilos como o principal

motivo para natildeo ter acesso agrave internet citado em 49 dos domiciacutelios sem conexatildeo o que indica que a

internet segue sendo um item de alto custo para o orccedilamento dos brasileiros A referida pesquisa

indica que os maiores niacuteveis de exclusatildeo (famiacutelias sem acesso agrave internet) satildeo verificados entre as

classes C e D e E bem como populaccedilotildees residentes em aacutereas rurais e em algumas aacutereas das regiotildees

Norte e Nordeste do Brasil

No que respeita ao local em que a maioria dos cursistas fazem acesso o questionaacuterio verificou

que 31 fazem o acesso em casa 24 acessam no trabalho e 19 dos professores utilizam o

laboratoacuterio de informaacutetica da escola para realizarem suas atividades on-line Outras opccedilotildees do

questionaacuterio (o participante podia marcar mais de uma alternativa de local) foram o acesso em locais

puacuteblicos com wifi (14) casa de amigos e familiares (7) e lan house (6) Esta sondagem trata-se do

acesso em computadores de mesa ou notebooks o acesso da internet pelo smartphone foi tratada em

uma questatildeo diferente do questionaacuterio Percebe-se que o acesso dos cursistas eacute equilibrado entre a

sua residecircncia e o local de trabalho Alguns participantes marcaram mais de uma opccedilatildeo denotando

que o acesso agrave internet natildeo eacute uma problemaacutetica marcante pois todos possuem algum acesso agrave

internet

Portanto sobre a posse de equipamentos de informaacutetica os dados mostram que os

professores possuem equipamentos baacutesicos como computadores de mesa e notebook nas suas

residecircncias Fazem pouco uso de tablets e possuem uma conexatildeo de internet ruim comparada aos

padrotildees ideais Este uacuteltimo dado pode ser um limitador das potencialidades das TDIC na vida cotidiana

dos participantes da pesquisa considerando que a maioria dos cursistas moram em cidades do

interior onde o sinal de internet eacute fraco No toacutepico a seguir apresentamos mais detalhadamente o uso

das tecnologias no dia-dia dos participantes

532 Uso de tecnologias no cotidiano

A segunda parte do questionaacuterio intitulada ldquoEscala do uso das tecnologias no cotidianordquo

abordou questotildees mais especiacuteficas pertinentes ao uso dos recursos digitais pelos participantes na sua

rotina diaacuteria Constituindo uma escala a questatildeo uacutenica era ldquoAssinale (com um ldquoXrdquo) a frequecircncia com

que utiliza as Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo no seu dia-a-diardquo Foram

apresentadas opccedilotildees de diferentes recursos tecnoloacutegicos dos quais o participante deveria assinalar

quais fazia uso e com que frequecircncia Os recursos foram divididos em trecircs dimensotildees (1) Hardware

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

262

(2) Software e (3) Internet As alternativas de frequecircncia eram ldquonatildeo usardquo ldquouso esporaacutedicordquo (1 a 3

vezes por mecircs) ldquouso semanalrdquo ou ldquouso diaacuteriordquo

A dimensatildeo Hardware trata dos aparelhos tecnoloacutegicos que os participantes da pesquisa fazem

uso e sua respectiva frequecircncia O graacutefico 07 apresenta os resultados coletados no questionaacuterio

Nota-se que o computador (96) seguido do notebook (66) constituem os dispositivos mais

utilizados pelos cursistas Por outro lado 68 dos participantes revelaram natildeo fazer uso do tablet o

que jaacute havia sido constatado na primeira parte do questionaacuterio em que apenas 28 afirmaram possuir

o dispositivo Trata-se de um dado interessante que diz muito sobre as possibilidades de acesso dos

participantes agraves tecnologias o que pode estar relacionado ao poder de compra ou mesmo a uma

escolha pessoal de natildeo desejar obter determinado dispositivo tecnoloacutegico por falta de familiaridade

com seu manuseio (Balboni 2007)

A dimensatildeo Software considera os aplicativos mais utilizados pelos participantes no seu

cotidiano e sua respectiva frequecircncia No mesmo formato do enunciado da questatildeo da dimensatildeo

Hardware a questatildeo 35 contemplava a frequecircncia dos usos de software pelos participantes A

pesquisa revelou que os softwares mais utilizados satildeo o navegador e buscador web (84) o editor de

texto (60) e o leitor de documentos (44) conforme pode ser visualizado no graacutefico 8

Graacutefico 7 - Recursos tecnoloacutegicos mais utilizados segundo os professores

0 20 40 60 80

100 computador

tablets

mp3

DVD

Data-show

celular

AVA

Notebook

natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

263

Graacutefico 8 - Softwares mais utilizados pelos participantes

Percebe-se assim uma tendecircncia da parte dos participantes para o uso das aplicaccedilotildees menos

complexas das tecnologias Nas entrevistas realizadas com alguns dos cursistas muitos discursos

revelaram certo despreparo com as tecnologias e portanto a negaccedilatildeo de usar alguns aplicativos que

exigem um conhecimento teacutecnico aprofundado dos softwares

Eu jaacute natildeo gosto de tecnologia ainda preciso me adaptar a isso natildeo gosto muito de ficar em computador cinco seis horas durante o dia isso natildeo era minha praacutetica (E1)

No inicio foi difiacutecil eu mal conseguia acessar o moodle (E4)

Essas afirmativas revelam que alguns dos participantes da pesquisa iniciaram o curso de Fiacutesica

a distacircncia com algumas limitaccedilotildees com relaccedilatildeo ao uso do computador e seus programas Na fala do

participante E1 nota-se que houve necessidade de adaptaccedilatildeo ao uso das TDIC durante o curso

A sondagem do uso das TDIC no cotidiano buscou verificar o tipo de aplicatiso que os

participantes utilizam no dia-dia Os aplicativos presentes nos celulares e tablets introduziram novos

costumes e praacuteticas dos usuaacuterios com seus dispositivos Segundo Matias (2011)

Vivemos uma era em que o celular natildeo eacute mais soacute um aparelho para fazer ligaccedilotildees ou conectar-se agrave internet Com programas especiacuteficos ele se metamorfoseia em todo tipo de ferramenta Haacute aplicativos para achar o carro no estacionamento que

0 20 40 60 80

100

Editor de texto

Ferramenta de

apresentaccedilatildeo

Navegador e buscador

web

Planilha de caacutelculo

Leitor de documento

Imagens e viacutedeos

tutoriais e simuladores natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

264

traccedilam o percurso que vocecirc precisa percorrer para chegar a algum lugar que diz quais constelaccedilotildees estatildeo acima de sua cabeccedila que convertem medidas e moedas que permitem ediccedilatildeo de fotos e viacutedeos entre um sem-nuacutemero de opccedilotildees

Assim os aplicativos disponiacuteveis nos dispositivos portaacuteteis e nos computadores em geral

permitem ao usuaacuterio infinitas opccedilotildees de atividades que vatildeo desde a conversar com pessoas distantes

por mensagem viacutedeo e voz como tambeacutem realizar transaccedilotildees bancaacuterias e compras sem sair de casa

A este respeito na dimensatildeo ldquoUso da internetrdquo abordada na primeira parte do questionaacuterio os

participantes mostraram-se propensos a seguir a mesma tendecircncia ateacute aqui observada evitam

atividades mais complexas e limitam-se a tarefas simples Conforme apresentado no graacutefico 12 a

linha azul mostra que o Blog (60) Voip Skype (60) e Jogos virtuais (80) satildeo os aplicativos menos

usados pelos participantes Os mais utilizados satildeo navegaccedilatildeo na internet (88) acesso a e-mail (84)

e redes sociais (64) Assim percebe-se que os participantes da pesquisa natildeo estatildeo completamente

ldquoforardquo ou ldquoexcluiacutedosrdquo da rede subentende-se pelos dados coletados que eles tecircm um acesso baacutesico e

fazem um uso limitado dos aplicativos dos seus dispositivos como revela o graacutefico 09

Graacutefico 9 - Aplicativos de internet mais utilizados pelos participantes

O graacutefico sinaliza que os participantes de alguma forma estatildeo on-line na rede de

computadores No entanto o fato dos cursistas terem acesso agrave internet nos seus dispositivos moacuteveis

no computador de mesa na sua casa ou em outros lugares como na escola e no trabalho natildeo diz

muito a respeito da literacia digital dos mesmos (Alves e Silva 2015) Conforme explicitado por

0 20 40 60 80

100 Internet

E-mail

Blog

Biblioteca virtual

Redes sociais Voip (Skype)

E-book

You tube

Jogos virtuais

natildeo usa

uso esporaacutedico

uso semanal

uso diaacuterio

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

265

DiMaggio e Hargittai (2001) a questatildeo eacute o que as pessoas estatildeo fazendo e o que elas satildeo capazes de

fazer quando estatildeo on-line Os autores criticam estudos que caracterizam a exclusatildeo sociodigital

medida pelos nuacutemero de acessos e quantidade de computadores com internet nas residecircncias com o

argumento de que a ampliaccedilatildeo do acesso a alguns grupos antes excluiacutedos digitalmente passa pela

qualidade da conexatildeo e o uso pleno das informaccedilotildees obtidas Neste sentido a questatildeo 36 indagava

dos participantes sobre o que conseguem fazer quando estatildeo on-line ou seja que usos fazem das

aplicaccedilotildees disponiacuteveis na rede O questionaacuterio sugere algumas atividades que podem ser realizadas na

internet e os participantes deviam assinalar a frequecircncia de sua utilizaccedilatildeo fazendo uso dos valores

ldquoNuncardquo ldquoAlgumas vezesrdquo Muitas vezesrdquo ou ldquoSemprerdquo

Retomando o conceito de literacia digital que trata da ldquocapacidade de compreender e criar

comunicaccedilotildees numa variedade de contextosrdquo (Joatildeo e Menezes 2008) a questatildeo 36 do questionaacuterio

buscou averiguar as diferentes habilidades e competencias dos participantes quanto ao uso da internet

e suas aplicaccedilotildees Os resultados podem ser visualizados nos graacuteficos 10 e 11

O graacutefico 10 apresenta dados sobre o uso instrumental das tecnologias como resolver

problemas teacutecnicos uso de mecanismos de buscas eficientes e capacidade do usuaacuterio em avaliar a

procedecircncia e credibilidade de um determinado site Tambeacutem tratou do uso das tecnologias para a

tomada de decisatildeo e participaccedilatildeo em comunidades virtuais

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

266

Graacutefico 10 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC Parte 1

Os resultados mostram que na questatildeo instrumental e teacutecnica as respostas ldquosemprerdquo e

ldquomuitas vezesrdquo foram relevantemente usadas de forma positiva Sobre o uso criacutetico das tecnologias

com relaccedilatildeo a pesquisas em sites confiaacuteveis 36 dos participantes afirmaram sempre utilizarem essa

busca e 48 disseram que muitas vezes conseguem avaliar a usabilidade e a acessibilidade de um

site A participaccedilatildeo em comunidades virtuais tambeacutem obteve a expressiva participaccedilatildeo da resposta

ldquomuitas vezesrdquo (44) e 60 afirmaram utilizar a internet para se manterem informados Considerando

a concepccedilatildeo de literacia digital deste trabalho que vai para aleacutem do acesso e uso das tecnologias

envolvendo uma avaliaccedilatildeo criacutetica das mensagens veiculadas e a produccedilatildeo de miacutedias para a rede

observa-se no perfil dos participantes um baixo emprego de literacia digital visiacutevel na questatildeo

apresentada sobre a capacidade de identificar ciberbullying na rede em que 44 dos participantes

afirmaram natildeo serem capazes

No graacutefico 11 satildeo apresentados os resultados sobre as questotildees relativas ao uso da internet

para compras e transaccedilotildees bancaacuterias e ainda as habilidades de produccedilatildeo e compartilhamento de

conteuacutedo na rede

0 20 40 60 80

Resolve problemas relacionados com a hellip

Endende o que o pessoal especializado na hellip

Usa programas que protegem os hellip

Usa tecnologias para manter-se informado hellip

Usa tecnologias para tomada de decisotildees

Avalia a usabilidade e acessibilidade de um site

Participa em comunidades virtuais na hellip

Eacute capaz de identificar ciberbullyng na internet

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

267

Graacutefico 11 - Habilidades e competecircncias dos participantes na utilizaccedilatildeo das TDIC - Parte 2

Observa-se que os participantes da pesquisa utilizam a tecnologia no seu cotidiano possuem

dispositivos conectados agrave internet poreacutem utilizam os mesmos de forma instrumental e elementar Como por

exemplo sempre comunicam com outras pessoas usando as redes (53) pesquisam na internet para

compras (48) fazem compras on-line com certa frequecircncia (40) e pesquisam sites educativos (40) Mas

as atividades que exigem um grau maior de literacia digital dos participantes satildeo menos efetuadas 28

afirmaram produzir e compartilhar viacutedeos algumas vezes 36 disseram que eventualmente produzem

apresentaccedilatildeo com viacutedeos e imagens e 68 alegaram nunca efetuar transaccedilotildees bancaacuterias pela internet

Portanto verifica-se um niacutevel mediano de literacia digital dos participantes no que diz respeito agrave produccedilatildeo e

compartilhamento de conteuacutedo nas redes Constatou-se o uso baacutesico de aplicativos e certo receio com

transaccedilotildees bancaacuterias na internet

Nas entrevistas buscamos apreender das expressotildees dos participantes suas percepccedilotildees sobre

a presenccedila das tecnologias no seu cotidiano e que uso fazem destas As respostas dos participantes

0 20 40 60 80

Faz compras online

Pesquisa sites educativos

Recorre agrave Internet para divulgar notiacutecias ideacuteias projetosetc

Faz download de documentos com diferentes suportes hellip

Produz e compartilha viacutedeos usando tecnologias digitais

Elaboraapresentaccedilotildees com imagens sons e animaccedilotildees

Usa a Internet para fazer transaccedilotildees bancaacuterias

Acessa o internet para pagamento de impostos ou taxas do governo

Usa a internet paracomunicar com pessoas distantes fisicamente

Pesquisa produtos na Internet para comprar

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

268

condizem com os dados levantados no questionaacuterio on-line fazem uso essencialmente baacutesico das

tecnologias como pode ser observado nos trechos das entrevistas

Assim vocecirc tem que ter uma disciplina para vocecirc ter acesso E quem natildeo gosta tem grande dificuldade vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado [] Eu prefiro ler um livro do que ficar horas na internet fuccedilando (E1)

Natildeo eu natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapp e participo dos foacuteruns do portal (E2)

Porque assim eu sempre fui atualizado mas natildeo era frequente a gente quase natildeo usava antigamente era o Orkut entrava laacute via o que tinha e saia Agora natildeo vocecirc tem que olhar o e-mail da faculdade tem que ver o e-mail pessoal que eacute sobre os trabalhos (E4)

Usamos muito whatsapp ali a gente posta relatoacuterios a gente posta informaccedilotildees (E5)

Santaella (2004) chama atenccedilatildeo de que usuaacuterios de hipermiacutedia utilizam habilidades diferentes

daqueles que leem um texto impresso que por sua vez tambeacutem se diferem dos usuaacuterios que recebem

imagens pela TV cinema Assim compreende-se a dificuldade que o participante E1 manifestou em

relaccedilatildeo a se adaptar da leitura do livro impresso para as telas do computador O participante E2

embora natildeo publique na internet em redes sociais ou blog afirma que participa dos foacuteruns do curso de

Fiacutesica Trata-se de um dado importante haja vista que uma das dificuldades apontadas por outros

participantes do curso foi a interatividade entre os alunos e tutores na plataforma

O participante E5 relatou que ldquoa dificuldade mesmo foi da interatividade com o grupo natildeo da

ferramentardquo A questatildeo passa pela ldquoapropriaccedilatildeordquo dos recursos tecnoloacutegicos pelo uso destas pelos

professores ou mesmo apoacutes participarem de um curso a distacircncia mudarem sua postura em relaccedilatildeo

agraves tecnologias Percebe-se na expressatildeo do participante E4 que antes do curso Fiacutesica EaD ele entrava

numa rede social de vez emquando e saia mas que agora precisa acessar seus e-mails regularmente

devido aos trabalhos que o curso demanda Assim as proacuteprias circunstacircncias apoacutes o ingresso no curso

ldquoforccedilaramrdquo o participante a mudar de atitude com relaccedilatildeo agrave frequecircncia de uso das tecnologias

O participante E3 alega fazer muito uso das tecnologias inclusive com seus alunos e a

participante E5 diz usar muito as TDIC no trabalho A participante E6 afirma que aprendeu com a

praacutetica ldquoentatildeo eu posso natildeo ser a superstar nas tecnologias mas eu lido com ela a par de anos mas o

que vocecirc natildeo sabe vocecirc aprende o que vocecirc precisa vocecirc descobrerdquo Assim percebe-se dos

entrevistados uma busca no engajamento com as tecnologias mesmo os que tecircm dificuldade se

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

269

esforccedilam para se adaptar a elas e aqueles que jaacute fazem uso frequente estatildeo em constante

aprendizado

Uma questatildeo fundamental nas entrevistas foi sobre as mudanccedilas sentidas pelos participantes

em relaccedilatildeo agraves tecnologias depois que ingressaram num curso de graduaccedilatildeo a distacircncia O participante

E3 que jaacute havia afirmado ser bastante engajando com as tecnologias inclusive na praacutetica pedagoacutegica

alegou que nada mudou

Natildeo mudou Natildeo porque eu natildeo queira na verdade eu jaacute aplicava porque eu sempre tive a praacutetica de sala de aula associada a informaacutetica Quando tinha datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu datashow jaacute comprei o meu porque vocecirc chegava na escola para dar aula natildeo tinha ou estava queimando ou natildeo tinha ningueacutem para poder ligar Entatildeo eu jaacute pegava minha bolsinha uma maletinha com o datashow minha extensatildeo minha caixa de som estava tudo ali

Neste sentido o participante E3 acredita que o fato de realizar uma formaccedilatildeo a distacircncia natildeo

mudou sua relaccedilatildeo com as tecnologias que jaacute era frequente Por outro lado o participante E4 jaacute

considera que houve uma mudanccedila radical de postura no que diz respeito a cultura de frequecircncia na

navegaccedilatildeo na internet ldquoAcho que melhorou uns 100 porque assim eu sempre fui atualizado mas

natildeo era frequente a gente quase natildeo usavardquo Tambeacutem a participante E5 afirma que houve mudanccedilas

evidentes na rotina dela e dos colegas a partir do uso das tecnologias demandadas pelo curso

Mudou Noacutes passamos a nos comunicar muito por e-mails passou a se comunicar por redes sociais [] Sim acrescentou muito depois que iniciei o curso de fiacutesica O curso de fiacutesica me trouxe um amadurecimento tatildeo grande que eu passei a gostar demais das tecnologias [] E eu passei a usar muito mais a tecnologia de forma mais valiosa porque eu jaacute usava

Na fala da participante E5 podemos identificar trecircs mudanccedilas ocorridas depois do ingresso da

mesma no curso de Fiacutesica EaD aumento da assiduidade da comunicaccedilatildeo em redes sociais

amadurecimento quanto ao uso das tecnologias e uso mais frequente das tecnologias em geral Os

outros participantes natildeo descreveram claramente as mudanccedilas que por ventura tenham ocorrido

mas algumas expressotildees datildeo a entender que algumas posturas mudaram em relaccedilatildeo agraves tecnologias

Vocecirc imagina estar lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado Mas assim mudou um pouco hoje eu consigo jaacute (E1)

Entatildeo eu considero que eu uso bem a internet e a questatildeo da literacia a gente usa bastante porque como o curso eacute a distacircncia a gente tem que desde o iniacutecio jaacute trabalhar esta questatildeo para melhorar o aprendizado (E2)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

270

Assim o participante E1 manifestou que houve uma pequena mudanccedila em relaccedilatildeo a se

habituar em usar o computador e o participante E2 reconhece a importacircncia de trabalhar a literacia

nos cursos a distacircncia com foco na melhoria do aprendizado Neste sentido de modo geral a maioria

dos entrevistados observou alguma mudanccedila positiva na sua relaccedilatildeo com as tecnologias depois de

ingressarem no curso de Fiacutesica na modalidade a distacircncia

533 Uso de celular com internet

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domiciacutelios (PNAD) de 2013 realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE 2015) constatou que o numero de pessoas com telefone

moacutevel no Brasil cresceu 49 Segundo o estudo houve um salto de 1322 milhotildees portadores de

aparelhos celulares em 2013 para 1366 milhotildees em 2014 o que corresponde a 779 da populaccedilatildeo

do paiacutes com 10 anos ou mais A regiatildeo Norte (onde se localiza o Tocantins) apresentou o maior

porcentual de domiciacutelios que usaram o celular para acessar a internet (754) enquanto no Brasil o

uso do computador foi predominante Esse fenocircmeno de expansatildeo do acesso da internet pelo celular

fez que pela primeira vez mais da metade da populaccedilatildeo do paiacutes usasse a internet nos seus

dispositivos moacuteveis celulares em 2014 Segundo a pesquisa essa proporccedilatildeo cresceu de 494 em

2013 para 544 em 2014 (954 milhotildees de pessoas)

Considerando estas estatiacutesticas acrescentamos no questionaacuterio uma seccedilatildeo especiacutefica para

investigar o uso do celular com internet com os participantes da pesquisa Primeiramente sondou-se

quantos cursistas tinham celular com internet Dos 25 participantes apenas seis afirmaram natildeo ter

um celular conectado agraves redes Em seguida os que afirmaram possuir o dispositivo foram

questionados sobre que tipo de conexatildeo utilizavam Foram dadas as seguintes opccedilotildees 3G 4G wifi ou

outras que o respondente podia responder livremente A maioria (611) afirmou utilizar a rede wifi

ficando a rede 3G com 333 das respostas Quanto agrave frequecircncia que utilizam a internet no celular

565 responderam que usam diariamente contrastando com 174 que afirmaram natildeo usar de forma

alguma Sobre que atividades mais realizam quando conectados os resultados satildeo apresentados no

graacutefico a seguir (os respondentes podiam assinalar mais de uma opccedilatildeo)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

271

Graacutefico 12 - Tipos de atividades realizadas no celular com internet

Pela anaacutelise dos dados do graacutefico verifica-se que as atividades mais complexas como jogar

games baixar aplicativos ouvir muacutesicas compartilhar conteuacutedos na internet satildeo competecircncias de

poucos participantes da pesquisa A grande maioria usa o celular para atividades mais simples como

efetuar e receber chamadas enviar e receber SMS tirar fotos e acessar as redes sociais

Estes dados parecem seguir uma tendecircncia entre os professores conforme estudo realizado

por Silva Arauacutejo Vendramini Martins Piovezan e Prates (2014) com grupos de educadores de

Portugal e do Brasil em que avaliaram a competecircncia docente de 505 professores do ensino superior

de ambos paiacuteses no uso de tecnologias digitais no cotidiano e na gestatildeo pedagoacutegica Segundo os

autores os resultados sugerem que os recursos complexos das tecnologias eram usados de forma

esporaacutedica pelos professores pois estes exigiam maior investimento na sua aquisiccedilatildeo e utilizaccedilatildeo Os

autores explicam

Os resultados desta investigaccedilatildeo revelam que a maioria dos professores apresenta um bom desempenho com as TDIC no seu cotidiano (utilizaccedilatildeo pessoal) mas que ainda se encontra num processo de desenvolvimento quanto agraves suas competecircncias de desempenho na gestatildeo pedagoacutegica Esta transposiccedilatildeo do uso pessoal das tecnologias e mesmo do uso profissional para a utilizaccedilatildeo pedagoacutegica eacute a etapa mais complexa na integraccedilatildeo das TDIC na Educaccedilatildeo (idem p 14)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

100

Efetuar e receber chamadas telefocircnicas

Enviar e receber sms ( mensagens

Tirar fotos

Ouvir muacutesicas

Jogar games

Assistir viacutedeos

Acessar redes sociais (facebook whatsapp outras

Compartilhar viacutedeos fotos

textos

Acessar email

Buscar informaccedilotildees em sites da internet

Baixar aplicativos

Gps (mapas)

Tipo de atividade

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

272

Embora o estudo citado natildeo tenha sido focado no uso do celular com internet mas qualquer

dispositivo que acessa a internet pelos referidos professores foi constatada uma preferecircncia dos

pesquisados por aplicativos e programas de faacutecil uso e com exigecircncias menos complexas Assim essa

preferecircncia do uso do celular para atividades elementares e baacutesicas tambeacutem foi constatada nos

participantes da pesquisa

534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital

O engajamento do professor com as tecnologias pode ser influenciado por diversas variaacuteveis o

ambiente em que convive com presenccedila de tecnologias a sua condiccedilatildeo socioeconocircmica que permite a

posse de melhores dispositivos e acesso a internet com velocidade e qualidade o conviacutevio com

pessoas que satildeo engajadas com as tecnologias a formaccedilatildeo acadecircmica com participaccedilatildeo em cursos

on-lines e outros fatores que podem favorecer o domiacutenio das habilidades e competecircncias para com o

uso das TDIC achar uma fonte O contraacuterio tambeacutem eacute verdadeiro condiccedilotildees adversas como viver num

ambiente ou regiatildeo com pouco ou nenhum acesso agraves tecnologias ou condiccedilatildeo financeira desfavoraacutevel

para a obtenccedilatildeo de dispositivos tecnoloacutegicos podem ser fatores que impactam negativamente no niacutevel

de literacia digital dos professores O tempo que o usuaacuterio tem de utilizaccedilatildeo e contato com as

tecnologias tambeacutem pode ser um fator que impacta sua familiaridade com os dispositivos e por sua vez

favorece a sua literacia digital Neste sentido os participantes foram indagados sobre haacute quanto tempo

utilizam o computador e 52 responderam que haacute mais de 10 anos E quando questionados sobre haacute

quanto tempo usam computador com internet o graacutefico 13 apresenta os resultados mostrando que a

maior parte dos participantes possui um tempo razoaacutevel de acesso agrave internet (entre 6 a 10 anos)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

273

Graacutefico 13 ndash Meacutedia de tempo que os participantes tecircm acesso a computador com internet

Considerando que a internet se popularizou no Brasil haacute cerca de 20 anos e os participantes

da pesquisa tecircm uma meacutedia de idade de 35 a 44 anos pode-se afirmar que estes ldquomigraramrdquo para o

mundo da informaacutetica jaacute jovem ou adulto e tiveram que aprender essa nova forma de comunicaccedilatildeo

De acordo com Prensky (2005) autor da teoria dos nativos digitais diferente das crianccedilas que

nasceram na era digital que se sentem totalmente agrave vontade com a tecnologia os ldquoimigrantes digitaisrdquo

chegaram jaacute maduros neste mundo conectado e precisam fazer um enorme esforccedilo para aprender esta

nova liacutengua Talvez ateacute mesmo usar manuais ou fazer cursos especiacuteficos na aacuterea de informaacutetica Neste

sentido questionamos os participantes sobre como aprenderam a usar o computador O graacutefico 14

apresenta os resultados obtidos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

274

Graacutefico 14 - Meios em que os participantes aprenderam a usar o computador

Assim 56 dos participantes afirmaram que fizeram cursos de informaacutetica para aprenderem a

usar o computador Geralmente os cursos de informaacutetica satildeo voltados para a capacitaccedilatildeo do usuaacuterio

nas questotildees teacutecnicas instrumentais e funcionais do computador Raramente essas formaccedilotildees satildeo

voltadas para o uso criacutetico das informaccedilotildees veiculadas nas redes de computadores com foco na

literacia digital

Nas entrevistas quando indagados sobre as dificuldades que enfrentaram no uso das

tecnologias quando ingressaram no curso de Fiacutesica EaD a maior parte dos entrevistados afirmou que

em geral natildeo tiveram dificuldades No entanto em alguns trechos das entrevistas encontramos

algumas expressotildees que denotam certo niacutevel de dificuldade em lidar com a tecnologia

A minha dificuldade maior era essa quando eu fazia faculdade normal sem ser a distacircncia noacutes usaacutevamos o computador soacute para trabalho a gente ficava muito tempo vendo viacutedeo e fazendo pesquisa mas natildeo era assim internet (E1)

O participante E1 demonstra recorrentemente uma resistecircncia com relaccedilatildeo ao computador

em especial agrave internet Formado em Histoacuteria fez sua primeira graduaccedilatildeo presencial em outro trecho

ele fala de como era o estudo presencial ldquojaacute tinha internet mas natildeo dedicava tanto porque era difiacutecil

ter uma literatura toda pronta entatildeo ficava mais nos livros mesmo E como eu vim pra Fiacutesica e era

uma modalidade diferente entatildeo eu tive esta grande dificuldade de adaptaccedilatildeordquo A adaptaccedilatildeo da qual o

participante trata consiste na necessidade de realizar pesquisa na internet fazer leitura na tela do

computador e assistir viacutedeos algo que o mesmo afirmou natildeo gostar ldquoJaacute gosto de ler texto atraveacutes do

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

275

computador natildeo gosto muito de ver viacutedeo mudou alguma coisardquo O perfil deste participante se

adequa agrave descriccedilatildeo de Santaella (2014 p 29) sobre o leitor contemplativo

O perfil cognitivo do leitor do livro pressupotildee a praacutetica que se tornou dominante a partir do seacuteculo XVI da leitura individual solitaacuteria silenciosa Ela implica a relaccedilatildeo iacutentima entre o leitor e o livro leitura do manuseio da intimidade em retiro voluntaacuterio num espaccedilo retirado e privado que tem na biblioteca seu lugar de recolhimento pois o espaccedilo de leitura deve ser separado dos lugares de um divertimento mais mundano

Com a introduccedilatildeo das TDIC este perfil de leitor teve que se adaptar agraves imagens sons ruiacutedos e

falas proporcionadas nos meios de comunicaccedilatildeo em massa como a TV o raacutedio e o cinema Nesta

transiccedilatildeo Santaella (2014) designa o novo perfil necessaacuterio para acompanhar a revoluccedilatildeo da

comunicaccedilatildeo - o leitor movente ldquoleitor de formas volumes massas interaccedilotildees de forccedilas movimentos

leitor de direccedilotildees traccedilos cores leitor de luzes que se acendem e se apagam leitor cujo organismo

mudou de marcha sincronizando-se agrave aceleraccedilatildeo do mundordquo (idem p 30) A transiccedilatildeo do leitor

contemplativo para o movente segundo a autora preparou a sensibilidade perceptiva humana para o

surgimento do leitor imersivo que no ciberespaccedilo navega entre ldquonoacutes e conexotildees alinearesrdquo No

entanto essa passagem natildeo eacute simples para alguns leitores e muitos ainda resistem agraves tecnologias

Dificuldades relacionadas com a navegaccedilatildeo no ambiente virtual de aprendizagem Moodle

tambeacutem foram recorrentes nas expressotildees dos participantes

Natildeo tivemos um treinamento abria a janela do ambiente virtual e dizia esse aqui eacute pra isso este aqui eacute pra isso e vai indo E ai ldquovocecircs estatildeo fazendo o curso de Fiacutesicardquo (E4)

Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessima essa questatildeo da interatividade A falha da gente que natildeo sabia usar o Moodle ainda e a falha dos professores foi um periacuteodo difiacutecil tambeacutem (E5)

No iniacutecio das ofertas do curso de Fiacutesica a distacircncia ocorre uma oficina para treinamento do

uso das ferramentas do AVA Moodle Percebe-se pela expressatildeo do participante E4 que esta oficina

natildeo foi suficiente para tirar suas duacutevidas quanto ao uso do AVA Apoacutes o referido participante relatar

suas dificuldades iniciais com o ambiente virtual perguntamos se natildeo houve uma oficina de

treinamento ele respondeu ldquoteve sim mas natildeo foi com a imagem do Moodle Teve o formato ainda

bem que depois laacute no Cariri um rapaz laacute jaacute fazia poacutes a distacircncia e ele foi me ajudourdquo Assim quando

natildeo compreendem bem assuntos relacionados agrave tecnologia agraves vezes por vergonha ou timidez nessas

oficinas de treinamento com o AVA os cursistas natildeo fazem perguntas para sanar as suas duacutevidas com

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

276

o instrutor Usualmente estes cursistas recorrem posteriormente a outras pessoas proacuteximas para

sanarem suas duacutevidas

A participante E5 disse que o iniacutecio do curso foi difiacutecil para o grupo por falta de conhecimento

sobre o AVA A participante relata que esse desconhecimento afetou a interatividade do grupo naquele

periacuteodo A ldquofalha dos professoresrdquo citada pela participante subentende-se que esteja relacionada a

estes natildeo perceberem essas dificuldades dos alunos em relaccedilatildeo ao Moodle e providenciarem medidas

raacutepidas para sanar as duacutevidas dos cursistas e ambientaacute-los no referido AVA

Sobre os conhecimentos baacutesicos de informaacutetica e uso da internet o questionaacuterio solicitou que

os participantes respondessem considerando quatro niacuteveis ruim razoaacutevel bom ou muito bom Dos

respondentes 24 afirmaram ter um niacutevel ldquomuito bomrdquo 32 disseram ter um conhecimento ldquobomrdquo e

44 alegaram ter um niacutevel razoaacutevel Esta questatildeo foi uma sondagem inicial para que os participantes

autodeclarem seus niacuteveis de literacia digital Nas entrevistas esta questatildeo foi aprofundada quando

solicitamos que os cursistas autoavaliassem seu grau de literacia digital num niacutevel de zero a dez

Compreendendo que a expressatildeo literacia digital natildeo eacute comum no Brasil explicamos aos entrevistados

este conceito no contexto da pesquisa Na autoavaliaccedilatildeo dos participantes vaacuterias respostas sinalizaram

que o conceito de literacia digital continua sem uma compreensatildeo miacutenima entre os participantes

Na internet eu realmente sou assim muito aqueacutem natildeo sou muito fatilde de internet natildeo sinceramente eu daria nota zero [] Eu acho interessante mas natildeo tenho aquela empolgaccedilatildeo (E1)

Eu daria talvez um oito ou oito e meio porque eu uso a internet para fazer muitas coisas comprar um moacutevel eletrocircnico eletrodomeacutestico pagar aquela conta acessar fazer transferecircncia bancaacuteria (E2)

Eu natildeo vou ser modesto de me dar 5 mas tambeacutem natildeo vou ser exagerado de me dar 10 porque falta muita coisa para corrigir Acho que no miacutenimo oito eu jaacute tenho Faccedilo muita utilizaccedilatildeo da informaacutetica (E3)

A minha nota eacute sete porque a tecnologia por mais que vocecirc conheccedila vocecirc natildeo conhece tudo (E5)

As expressotildees dos participantes revelam que na sua maioria afirmam possuir um bom grau de

literacia Com exceccedilatildeo do participante E1 que se autoavaliou com nota miacutenima (zero) os demais

alegaram ter bons niacuteveis de literacia O participante E1 afirma natildeo ter ldquoaquela empolgaccedilatildeordquo com a

internet Quando diz que eacute ldquoaqueacutemrdquo na internet confessa que deixa a desejar longe do desejado

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

277

insuficiente fraco74 Outras expressotildees do participante E1 nos ajudam a entender a sua concepccedilatildeo

sobre as tecnologias

Porque assim eu debato na escola a tecnologia eacute oacutetima soacute que ela preenche interesses particulares ela natildeo preenche em alguns momentos interesses coletivos

Todo mundo estaacute com celular na matildeo whatsapp todo mundo tem e porque natildeo funciona Ai eu penso sempre assim ela me satisfaz o interesse que eu quero natildeo o que o outro estaacute querendo

Percebe-se que o participante E1 jaacute tem um conceito formado sobre os interesses pelos quais

a tecnologia visa atender Para o participante os usuaacuterios de tecnologias natildeo buscam o interesse

coletivo mas usa para suas necessidades Ele relata a dificuldade de trabalhar com o celular na sala

de aula devido ao fato de cada usuaacuterio navegar em sites que lhe interessam ldquoo aluno ele faz aquilo

que pede faccedila isso para mim como fosse obrigatoacuterio pesado para ele entatildeo natildeo interessa Agora ele

sozinho ele pode fazer se natildeo tiver ningueacutem orientandordquo Assim para o participante E1 sua literacia

digital eacute baixa porque natildeo tem um engajamento com as tecnologias e desacredita que estas possam

ajudar os alunos na sala de aula

Conforme abordado no capiacutetulo terceiro deste trabalho ldquoos professores ao longo da sua

formaccedilatildeo e da sua praacutetica desenvolvem concepccedilotildees de ensino e aprendizagem que formam a base das

perspectivas sobre o que eacute certo ou errado e sobre como conduzir a escolardquo (Almeida e Valente 2011

p 46) Os autores afirmam que essas crenccedilas constituiacutedas ao longo da carreira docente ajudam o

professor a negociar suas incertezas e decidir sobre a adesatildeo ou natildeo adesatildeo agraves mudanccedilas que lhe

satildeo impostas na escola Assim se uma determinada inovaccedilatildeo se encaixa na sua concepccedilatildeo de ensino

e aprendizagem o professor estaraacute mais propenso a aceitaacute-la Contudo Almeida e Valente ressaltam

que as crenccedilas dos professores podem constituir um obstaacuteculo ao processo de mudanccedila De qualquer

forma nos cursos de formaccedilatildeo estas crenccedilas natildeo podem ser ignoradas Neste sentido o depoimento

do participante E1 demonstra uma concepccedilatildeo de descrenccedila na tecnologia como mediadora da

aprendizagem o que reforccedila sua resistecircncia ao uso desta na sua praacutetica docente

O participante E2 mediu sua literacia pelo uso que faz das tecnologias no cotidiano faz

compras na net paga conta e realiza transaccedilotildees bancaacuterias Esta eacute de fato uma faceta da literacia

digital mas existem outras atividades relacionadas aacute literacia digital que o participante afirmou em

outro momento natildeo realizar como por exemplo publicar na web O mesmo disse anteriormente ldquoeu 74 Dicionaacuterio da liacutengua informal Disponiacutevel em httpwwwdicionarioinformalcombraquC3A9m Acesso em 24 jun 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

278

natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapprdquo Como vimos a literacia digital vai aleacutem de usar a

internet para atividades cotidianas como sendo consumidor das miacutedias envolve ser autor produtor e

compartilhador de ideias e conteuacutedos (Buzato 2006)

Para o participante E3 a literacia digital estaacute relacionada com a frequecircncia que usa as

tecnologias Na condiccedilatildeo de professor de atualidades em um curso preacute-vestibular o participante afirma

utilizar em suas aulas com frequecircncia as TDIC

Eu publico muito material para os alunos no facebook eu tenho blog para os alunos terem acesso ao conteuacutedo das mateacuterias E eu uso muito whatsapp em sala de aula para poder tirar duacutevidas de alunos fazer esta interaccedilatildeo fora [] Olha a uacutenica coisa que ainda me falta eacute voltar a fazer o que jaacute fiz no passado que foi dar aula com os alunos usando notebook em sala de aula [] Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablet ou notebook para sala de aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo

Nota-se portanto um engajamento do participante E3 com as tecnologias que condiz com a

nota que se avaliou (8 em 10 pontos) Aleacutem de publicar materiais para o aluno numa rede social

popular entre os alunos o mesmo manteacutem um blog em que os conteuacutedos das aulas ficam disponiacuteveis

O uso do whatsapp tambeacutem foi citado pelo participante como meio para a interaccedilatildeo fora dos muros

escolares Poreacutem o mesmo reconhece suas limitaccedilotildees em relaccedilatildeo a conseguir trabalhar com os

alunos portando seus celulares e tablets simultaneamente nas suas aulas

A participante E5 reconhece que estaacute em constante aprendizado e que uma autoavaliaccedilatildeo natildeo

poderia ser definitiva porque nunca se conhece tudo sobre as tecnologias Ponderando sobre a

velocidade em que as tecnologias vatildeo se transformando de fato constitui um desafio para o professor

acompanhar as inovaccedilotildees tecnoloacutegicas Refletindo sobre o salto tecnoloacutegico dos uacuteltimos 60 anos a

partir da invenccedilatildeo da TV e do raacutedio Pretto (2011 p 98) afirma

Uma uacutenica geraccedilatildeo eacute capaz de ver nascer e desaparecer uma dessas tecnologias especialmente as digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo muitas vezes sem nem mesmo se aperceber disso Implanta-se a cultura da velocidade e a essa associa-se de forma intensa com a velocidade com que satildeo descartadas soluccedilotildees tecnoloacutegicas que mal foram criadas

Entretanto natildeo se trata do professor se tornar um ldquoexpertrdquo de cada inovaccedilatildeo que a tecnologia

apresentar este feito seria na praacutetica impossiacutevel Contudo cursos de formaccedilotildees que levem o professor

a refletir sobre a necessidade de integrar o novo com o que jaacute eacute usado no dia-dia das escolas dando

significado a estas praacuteticas num processo de apropriaccedilatildeo e entrelaccedilamentos socioteacutecnicos

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

279

contribuiriam para aumentar os niacuteveis de literacia digital natildeo apenas do professor mas do seu

alunado

Nos depoimentos dos entrevistados percebe-se que devido ao fato de desconhecerem o conceito

de literacia digital acreditam que ldquousar muito a informaacuteticardquo seria um fator meacutetrico para se

autoavaliarem positivamente O niacutevel de literacia digital ideal conforme proposto por Buzato (2006)

seria de professores e alunos que se ldquoapropriam criacutetica e criativamente da tecnologia e lhe datildeo

significado e funccedilatildeo em lugar de consumi-las passivamente ou o que seria pior em lugar de serem

consumidos por elasrdquo (idem p 10) Nota-se nas expressotildees dos entrevistados que mesmos os mais

engajados com as tecnologias encontram dificuldades na integraccedilatildeo destas na sua praacutetica pedagoacutegica

54 Professores e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica

Ateacute esta altura a investigaccedilatildeo sobre o uso das TDIC no cotidiano dos professores participantes

da pesquisa revelou que os mesmos possuem pouco engajamento e fazem uso baacutesico e instrumental

dos dispositivos tecnoloacutegicos no seu cotidiano Com objetivo de compreender a relaccedilatildeo dos

participantes com as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas e suas percepccedilotildees sobre a educaccedilatildeo

mediada por tecnologias no ambiente escolar nos instrumentos de coleta de dados da pesquisa

constavam questotildees especiacuteficas sobre este aspecto

Assim a parte 3 do questionaacuterio intitulada ldquoEscala do uso de tecnologias digitais na praacutetica

pedagoacutegicardquo buscou investigar o uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas dos cursistas

da licenciatura em Fiacutesica EaD na UFT Os participantes que natildeo eram professores atuantes na sala de

aula (48) foram dispensados de responder a esta parte do questionaacuterio Foram aplicadas questotildees

em funccedilatildeo da frequecircncia que os professores utilizam ou implementam as tecnologias digitais nos

campo pedagoacutegico junto aos seus alunos Os valores meacutetricos de frequecircncia foram ldquoNuncardquo ldquoAlgumas

vezesrdquo ldquoMuitas vezesrdquo e ldquoSemprerdquo

Nas entrevistas quatro categorias principais foram levantadas para a anaacutelise da percepccedilatildeo dos

participantes em relaccedilatildeo aacutes TDIC na sua praacutetica docente conforme retrata o quadro 14

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

280

Quadro 14 - Categorias de anaacutelise sobre o professor e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica

Categorias de anaacutelise Objetivos C7 - Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia Entender como o participante vecirc a educaccedilatildeo mediada por

tecnologias numa forma ampla e geral

C10 - Futuro da Educaccedilatildeo a Distacircncia Compreender a visatildeo de futuro que o participante tem sobre a Educaccedilatildeo a Distancia

C11 - Percepccedilatildeo da presenccedila das tecnologias na escola

Apreender como o participante percebe a presenccedila das tecnologias na escola

C12 - Dificuldades e desafios da tecnologia na praacutetica docente

Levantar as dificuldades que os participantes enfrentam diante da crescente presenccedila de TDIC na escola

C13 - Experiecircncias com tecnologias na escola Reunir relatos de experiecircncias dos participantes no tocante ao uso das TDIC na sua praacutetica docente

541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia

A visatildeo que o cursista tem sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia diz muito sobre o que este espera de

uma formaccedilatildeo on-line e expotildee subjetivamente sobre sua relaccedilatildeo com as TDIC Apresentamos um

recorte da planilha utilizada na categorizaccedilatildeo em que foram retirados excertos das entrevistas e suas

respectivas unidades de contexto (UC) inseridos na Categoria 7 ndash Visatildeo sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia

No quadro 15 eacute possiacutevel visualizar nas entrelinhas das expressotildees dos cursistas como estes vecircem a

educaccedilatildeo a distacircncia de modo geral

Quadro 15 - Visatildeo dos cursistas sobre a educaccedilatildeo a distacircncia

Categoria 07 Visatildeo

sobre educaccedilatildeo a distacircncia

Unidade de Registro UC Eu sempre penso que a educaccedilatildeo a distacircncia eacute um facilitador de conhecimento [] acredito que com a educaccedilatildeo a distacircncia soacute natildeo estuda quem quer porque facilitou muito

E1

Natildeo eacute desmerecendo mas eu acho que o presencial ele daacute mais disciplina Ele te capacita ele te treina e quando vocecirc entra num telepresencial a pessoa jaacute tem que ter esta disciplina

Por mais que tenha toda uma campanha em cima da educaccedilatildeo a distacircncia hoje tem um trabalho voltado para isso mas a gente percebe que haacute uma decadecircncia sim Decadecircncia que eu falo natildeo eacute do modo mas das proacuteprias pessoas Porque eacute necessaacuterio vocecirc ter uma disciplina de estudo e eu penso quem quer fazer a distacircncia pensa que tem que estudar pouco O curso a distancia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

E2

Eu sempre achei que natildeo fosse possiacutevel estudar a distancia porque toda vida a gente teve aquele contato com a sala de aula Eu acho interessante porque ela da esta condiccedilatildeo para as pessoas que natildeo tecircm tempo para estarem na sala de aula todos os dias cursar o que gosta aquilo que vocecirc tem mais interesse Para mim a educaccedilatildeo a distacircncia eacute determinante para dar acesso agraves pessoas

E3 Ela eacute mais determinante que uma cota ou do que de repente de um projeto de eacutetnica questatildeo financeira

Ateacute mais que Fies ou Prouni Porque a educaccedilatildeo a distacircncia ela vai no local onde a pessoa estaacute Eu acho que ela veio para ficar mesmo E4 O que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tem um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar

E5 A educaccedilatildeo a distancia traz a maturidade para o profissional autonomia

Eu ateacute acredito que a educaccedilatildeo a distancia o profissional eacute bem melhor do que o profissional que faz sem ser a distancia O meacuterito da pessoa que consegue fazer um curso ead com qualidade a distacircncia o meacuterito dele eacute ateacute maior por causa das barreiras ele teve que ser muito disciplinado para conseguir

E6

Como ferramenta educacional para pessoas adultas para pessoas focadas eacute perfeito mas para focados EaD para mim eacute fundamental sim ela rompe barreiras ela tem o seu valor

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

281

As expressotildees dos cursistas em destaque no quadro revelam muito sobre a percepccedilatildeo que os

mesmos tecircm sobre a Educaccedilatildeo a Distacircncia Algumas falas expressam ambiguidade ou contradiccedilatildeo O

participante E1 por exemplo acredita que a modalidade EaD constitui um facilitador de conhecimento

mas que por sua vez exige muita disciplina do aluno No entanto logo em seguida ele afirma que a

modalidade presencial proporciona maior disciplina ao aluno e que existe uma ldquodecadecircnciardquo natildeo na

EaD explica o entrevistado mas nas pessoas que pensam que nesta modalidade precisam estudar

pouco o que natildeo ocorre

O participante E2 enfatizou dois fatores positivos da EaD o faacutecil acesso e a flexibilidade do

tempo para estudos Importante ressaltar a visatildeo do participante antes de ingressar no curso de Fiacutesica

EaD natildeo achava que era possiacutevel estudar a distacircncia pois a vida toda conheceu apenas a educaccedilatildeo

presencial na sala de aula Outro ponto que o entrevistado E2 destacou eacute a possibilidade de se estudar

o que realmente gosta na modalidade EaD Muitas pessoas jaacute graduadas fazem outros cursos a

distacircncia na aacuterea de seu interesse pois muitas vezes a sua formaccedilatildeo de origem natildeo era a ideal mas

foi o que podia fazer na eacutepoca

O participante E3 frisou que a modalidade EaD eacute um fator determinante para o acesso ao

ensino superior porque ela vai onde o cursista estaacute De fato programas como o Prouni (Programa

Universidade para Todos) que possibilita a entrada dos menos favorecidos economicamente nas

instituiccedilotildees puacuteblicas e o FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) que financia os estudos em

universidades privadas promovem ateacute certo ponto o acesso ao ensino superior mas apenas na

modalidade presencial em cidades que tecircm campus de uma instituiccedilatildeo superior A EaD por sua vez

abre portas para o acesso agrave formaccedilatildeo superior a pessoas que de outra forma natildeo poderiam estudar

devido agrave indisponibilidade de se deslocar para cidades que tenham faculdades ou universidades

A autonomia proporcionada pela Educaccedilatildeo a Distacircncia foi destaque nas expressotildees da

participante E5 A mesma afirma que ao estudar sozinho o cursista adquire maturidade que vai levar

para o campo profissional Sobre comparaccedilotildees de desempenho de alunos de cursos superiores

presenciais com alunos de cursos a distacircncia o professor Joseacute Manuel Moran cita um estudo realizado

com dados do Enade (Exame Nacional de desempenho da Educaccedilatildeo Superior) de 2005 e 2006 em

que se constatou em 7 das 13 aacutereas onde essa comparaccedilatildeo eacute possiacutevel que os alunos da modalidade

a distacircncia se saiacuteram melhor que os demais O autor relata

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

282

Quando a anaacutelise eacute feita apenas levando em conta os alunos que ainda estatildeo na fase inicial do curso - o Enade permite separar o desempenho de ingressantes e concluintes- o quadro eacute ainda mais favoraacutevel ao ensino a distacircncia em nove das 13 aacutereas o resultado foi melhor Nesses casos turismo e ciecircncias sociais apresentaram a maior vantagem favoraacutevel aos cursos a distacircncia Geografia e histoacuteria foram os cursos em que o ensino presencial apresentou melhor desempenho (Moran 2009 p63)

Portanto cursos na modalidade a distacircncia de qualidade podem contribuir para que o aluno

adquira autonomia Um estudo realizado no Brasil (Martins 2014) com 400 professores cursistas de

uma especializaccedilatildeo a distacircncia que investigou a apropriaccedilatildeo da autonomia dos estudantes no

processo de aprendizagem num ambiente virtual identificou trecircs niacuteveis de apropriaccedilatildeo de autonomia

observadas na amostra autonomia instrumental (capacidade resolver problemas do entorno da

aprendecircncia) autonomia cognitiva conceitual (apropriaccedilatildeo de novos conceitos) e aprendecircncia criacutetica

(associaccedilatildeo da teoacuterica e praacutetica) O estudo concluiu que para que haja a apropriaccedilatildeo da autonomia da

parte dos estudantes as formaccedilotildees a distacircncia devem ser pautadas em forte mediaccedilatildeo pedagoacutegica e

na integraccedilatildeo de conteuacutedos e tecnologia Poreacutem deve-se ressaltar que nem todos os programas de

formaccedilatildeo a distacircncia promovem a autonomia nos estudantes Formaccedilotildees aligeiradas de qualidade

duvidosa e voltadas para a instruccedilatildeo programada natildeo incentivam a pesquisa a criatividade e a

emancipaccedilatildeo dos estudantes

Com o intuito de compreender a visatildeo de futuro dos entrevistados sobre a influencia da TDIC

nos processos educativos questionamos sobre que cenaacuterio vislumbravam para a posterioridade da

educaccedilatildeo O participante E1 crecirc que a educaccedilatildeo eacute tradicional por natureza

A educaccedilatildeo no fundo no fundo ela eacute tradicional ela nunca vai conseguir abrir matildeo o suficiente para dizer que eacute inovador totalmente inovador [] vai depender muitos dos profissionais que se formaram e conseguiram engajar no mercado e conseguiram reproduzir isso de forma positiva

Igualmente o participante E2 expressa uma visatildeo parecida ldquoEu acho que a tecnologia o

ensino a distacircncia hoje soacute vem crescendo [] soacute que ele comeccedilou primeiro nas universidades Poreacutem

a escola a meu ver ainda natildeo tem entrado nesta filosofia de educaccedilatildeo a distacircnciardquo Assim para este

entrevistado a educaccedilatildeo a distacircncia encontra lugar nas universidades mas na escola ele encontra

resistecircncia

O participante E3 jaacute apresenta uma opiniatildeo mais radical sobre o assunto ldquomas o professor

ldquocuspe e gizrdquo aquele que soacute fala e escreve acabou ele estaacute soacute esperando para ser enterradordquo O

termo ldquocuspe e gizrdquo eacute comum no meio docente para designar a metodologia de aulas expositivas em

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

283

que o professor faz uso da voz e do quadro-negro para expor um conteuacutedo Na visatildeo deste participante

a escola do futuro natildeo teraacute lugar para essa metodologia ldquoEu acho que a tecnologia veio realmente

para ser um auxiliar da educaccedilatildeo e natildeo substituta do professor ela natildeo veio substituir ela veio auxiliar

agora quem natildeo adota realmente vai se aposentarrdquo O participante E4 expressa uma visatildeo parecida

Eu acho que daqui 5 a 10 anos natildeo vai ter professor em sala mais natildeo vai ser soacute a distacircncia vai ter um tutor [] O professor natildeo vai estar na sala ele vai estar a distacircncia Entatildeo vai ter o professor mas ele natildeo vai estar na sala vai estar o tutor [] Eu acho que o quadro natildeo vai existir mais entatildeo eu acho que vai ser dai para frente Acabou o tempo que o professor soacute ficava na frente ele tem que ficar interagindo no meio

Esta reflexatildeo remete agrave discussatildeo do capiacutetulo trecircs desta tese sobre a concepccedilatildeo de educaccedilatildeo

que a introduccedilatildeo do quadro-negro configurou nas escolas O professor ldquona frenterdquo dos alunos com o

giz em seu poder era o uacutenico detentor do conhecimento que escrevia no quadro-negro poreacutem

atualmente com a introduccedilatildeo das tecnologias moacuteveis conectadas agrave internet o professor jaacute natildeo eacute mais

o uacutenico detentor do conhecimento antes seu papel deve mudar para mediador problematizador e

orientador dos alunos O participante E4 acredita que no futuro nem o quadro existiraacute mais e o

professor sairaacute da frente da sala para o meio Embora natildeo saibamos o futuro do quadro-negro por um

bom tempo ele resiste nas escolas como mobiliaacuterio fundamental das salas de aulas conjugado com

praacuteticas de educaccedilatildeo voltada para a transmissatildeo de conteuacutedos

A participante E5 pondera que ldquoa sala de aula eacute uma continuidade da vida social laacute fora entatildeo

tem que continuar o uso da tecnologia na sala de aulardquo Neste sentido constituindo a sala de aula uma

extensatildeo da vida em sociedade a participante acredita que com a expansatildeo das tecnologias no

cotidiano das pessoas a escola deveraacute ter espaccedilo para elas A participante E6 conclui

Eu posso avaliar que o espaccedilo que a EaD adquiriu ateacute agora ele natildeo tem tendecircncia para ser retroativo natildeo a tendecircncia eacute cada vez aumentar[] Mas acho que vai chegar um processo de maturaccedilatildeo em que isso (o celular) vai deixar de ser uma ferramenta soacute de comunicaccedilatildeo e vai ser uma ferramenta de estudo

Percebe-se portanto analisando as expressotildees dos participantes que estes acreditam que a

tendecircncia da educaccedilatildeo mediada por tecnologias iraacute evoluir nas escolas e que seraacute preciso maturidade

do professor para entender que precisa acompanhar este avanccedilo de alguma forma

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

284

542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios

Como exposto no capiacutetulo um sobre o perfil do jovens no cenaacuterio da sociedade em rede eles

estatildeo conectados em redes sociais possuem blogs canais de viacutedeos jogam e interagem entre si

mediados pela tecnologia moacutevel Neste sentido de acordo com Freitas (2010 p 341) ldquoos professores

precisam conhecer os gecircneros discursivos e linguagens digitais que satildeo usados pelos alunos para

integraacute-los de forma criativa e construtiva ao cotidiano escolarrdquo A autora conclui que integrar natildeo

significa abandonar as praacuteticas jaacute existentes mas apropriar-se criticamente das tecnologias e

acrescentar o novo agraves suas praacuteticas Para que esta integraccedilatildeo ocorra as praacuteticas mediaacuteticas digitais

devem ser compreendidas para aleacutem do uso meramente instrumental o que constitui um desafio para

os professores

Os dados levantados nos questionaacuterios e entrevistas revelaram que no uso pedagoacutegico as

tecnologias parecem ser percebidas pelos participantes como instrumentos para apresentaccedilatildeo das

aulas (vide o uso do datashow) e quase nunca para a interatividade entre professoraluno

alunoprofessor na sala de aula e fora dela Assim natildeo eacute costume incentivar seus alunos a produzir e

compartilhar conhecimentos em blogs sites ou redes sociais Tambeacutem raramente interagem com os

seus alunos em redes sociais

O graacutefico 15 sinaliza que organizar o material didaacutetico fazendo uso do computador eacute a

atividade mais frequente entre os pesquisados (47) Por outro lado constatou-se que 26 nunca

usaram o computador em atividades na sala de aula A falta de planejamento para atividades que

estimulem os alunos a usarem as TDIC constitui outro dado apresentado na pesquisa Dos

participantes apenas 26 fazem este planejamento

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

285

Graacutefico 15 ndash Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 1

O graacutefico 15 apresenta outros dados importantes Como por exemplo 35 dos professores

participantes nunca avaliaram os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua aprendizagem

Freitas (2010 p 342) afirma que em muitas escolas os professores adotam uma posiccedilatildeo defensiva

diante das tecnologias como se ldquopudessem deter seu impactordquo A autora conclui que alguns docentes

sentem-se ameaccedilados do seu lugar como detentores do saber na escola

Importante ressaltar outro dado interessante apontado na pesquisa 526 dos professores

participantes afirmou nunca disponibilizar tempo para interagir com seus alunos usando meios de

comunicaccedilatildeo on-line e 632 nunca utilizaram uma rede social para comunicar com alunos em

horaacuterios informais Assim constatou-se que a comunicaccedilatildeo com os alunos usando tecnologias digitais

ou ambientes virtuais conforme mostra o graacutefico natildeo eacute praacutetica comum dos professores da pesquisa

0 10 20 30 40 50

Planeja atividades em que os alunos usam o computador

Usa o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos alunos

Usa o computador para organizar material didaacutetico

Planeja atividades que estimule o aluno adquirir competecircncias

digitais

Implementa estrateacutegias didaacuteticas que usem o computador nas aulas

Usa o computador nas aulas garantindo igualdade de acesso

aos alunos

Planeja as estrateacutegias de avaliaccedilatildeo da aprendizagem

usando o computador

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

286

Graacutefico 16 - Frequecircncia do uso das tecnologias digitais nas praacuteticas pedagoacutegicas ndash Parte 2

A barra azul do graacutefico 16 mostra que 73 dos professores nunca orientaram seus alunos

utilizando um ambiente virtual de aprendizagem e apenas 10 usam regularmente o computador para

comunicar os resultados do desempenho dos seus alunos Entretanto 36 dos professores afirmaram

que muitas vezes criam apresentaccedilotildees com recursos do computador nas disciplinas que lecionam Nas

entrevistas alguns dos participantes revelaram que aplicaccedilotildees das TDIC gostam de utilizar com seus

alunos

Assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatsapp (E1)

Quando tinha datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu datashow (E3)

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Cria apresentaccedilotildees com recursos do computador para usar na sala de

aula

Orienta as atividades dos alunos por meio de ambiente virtual de

aprendizagem

Usa computador para comunicar os resultados de seu desempenho aos

alunos

Utiliza redes sociais para interagir com os alunos em horaacuterios

informais

Disponibiliza tempo para interagir com seus alunos usando meios

de comunicaccedilatildeo online

Incentiva seus alunos a compartilharem seus

conhecimentos em blogs ou redes sociais

Avalia os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua

aprendizagem

Sempre

Muitas vezes

Algumas vezes

Nunca

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

287

Tento resumir no datashow e lanccedilo dai faccedilo um grupo no e-mail e lanccedilo porque se eu deixar eles copiarem os resumos que eu coloquei natildeo da tempo natildeo da pra fazer milagre (E6)

Assim percebe-se que ainda eacute comum o uso das TDIC para ldquoadornar procedimentos

obsoletosrdquo como aula expositiva apenas com uso de datashow substituindo o antigo retroprojetor

(Demo 2011) Entretanto as tecnologias digitais de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo (TDIC) presentes nos

dispositivos digitais conectados a internet (computador notebook tablet ou celular) natildeo satildeo apenas

um meio de comunicaccedilatildeo quando usados em contextos educativos O quadro-negro eacute especificamente

um meio um recurso que o professor utiliza para dar suas aulas Assim como o eacute o datashow ou

qualquer dispositivo utilizado na sala de aula para apresentar um conteuacutedo No entanto na vida

cotidiana o aluno natildeo vai precisar aprender usar o quadro-negro ou o aparelho de datashow para

resoluccedilatildeo de problemas ou tomadas de decisotildees Por outro lado acessar informaccedilotildees importantes na

internet selecionar e filtrar dados relevantes produzir um trabalho colaborativo em redes compartilhar

conhecimento usando as TDIC satildeo accedilotildees que os estudantes na sua vida cotidiana e profissional

precisaratildeo realizar frequentemente

Neste sentido reduzir o ldquousordquo das TDIC na praacutetica educativa a ldquomeiosrdquo para se transmitir um

conteuacutedo coibindo os alunos de acessarem seus dispositivos durante as aulas constitui um fator que

contribui para a baixa literacia digital dos estudantes limitando suas possibilidades de preparo para a

atuaccedilatildeo na sociedade em rede O desafio dos professores neste contexto eacute duplo necessitam ter bons

niacuteveis de literacia digital para entatildeo atuarem como orientadores dos seus alunos no uso saacutebio das

informaccedilotildees acessadas nas TDIC A questatildeo vai aleacutem do uso instrumental das TDIC mas da filtragem

de conteuacutedos acessados em sites de credibilidade da seleccedilatildeo das informaccedilotildees confiaacuteveis e relevantes

da manipulaccedilatildeo criacutetica dos dados encontrados e do compartilhamento de novos conhecimentos

gerados

Com o intuito de compreender como os entrevistados reagem agrave presenccedila das tecnologias na

sala de aula indagamos dos mesmos como as percebem no seu cotidiano na escola Dos depoimentos

percebe-se uma apreensatildeo dos professores devido agrave dispersatildeo que os dispositivos causam nos alunos

Aiacute o aluno dos 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento dar uma direccedilatildeo (E1)

Eu natildeo ligo se o aluno vai pegar o celular para olhar a hora se o aluno tira foto do quadro eu natildeo ligo mas me deixa profundamente irritado se o telefone toca e ele quer atender ou se de repente chega uma mensagem e ele quer ver (E3)

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

288

Laacute na escola eacute proibido Eu acho que natildeo devia Acho que devia ser aberto mas sempre com um combinado focado na aula Se o aluno disser ldquodeixa eu pesquisar este conteuacutedo aiacuterdquo mas fica no whatsapp conversando com coleguinhas (E4)

Como citado pelo participante E4 em algumas escolas eacute expressamente proibido uso de

celulares mesmo fora da sala de aula Outras permitem o seu uso limitado para atividades

pedagoacutegicas Uma ajuda para combater a dispersatildeo seria o ldquocombinadordquo com os alunos sobre o que

pode e o que natildeo pode ser realizado com o celular ou tablet na sala de aula A participante E5 explica

como faz esse combinado com seus alunos

Mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possam acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala

Para que o combinado decirc resultados a participante E6 lembra que os estudantes precisam ser

ldquofocadosrdquo e maduros o suficiente para compreenderem os objetivos do uso dos dispositivos moacuteveis na

sala de aula Neste aspecto a participante acredita que estudantes do ensino meacutedio ainda natildeo tecircm

esse amadurecimento

Eu acho que ele passa por uma maturaccedilatildeo Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso (E6)

Para Prensky (2010) os alunos usam o tempo de sala de aula para aprender por conta

proacutepria assim como fazem quando saem da escola usam a tecnologia para aprenderem sozinhos

assuntos que lhes interessam Poreacutem na sala de aula a tecnologia tornou para esses alunos a nova

ldquobolinha de papelrdquo O autor explica

Os alunos rotineiramente abusam (a partir do ponto de vista dos professores) da tecnologia em aula usando-a como um professor a descreve como ldquoa nova bolinha de papelrdquo Isso tambeacutem faz sentido os alunos tecircm agrave sua disposiccedilatildeo ferramentas poderosas de aprendizagem as quais sequer tecircm oportunidade de aprender a usar (idem p 203)

Marc Prensky finaliza afirmando que o papel do professor natildeo eacute tecnoloacutegico mas intelectual

Assim o papel do professor constitui em prover orientaccedilotildees e assegurar qualidade e ajuda

individualizada ldquodevem parar de palestrar e comeccedilar a deixar que os alunos aprendam por si

mesmosrdquo(idem 204) Este se trata de um dos desafios que os professores enfrentam na atualidade

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

289

As entrevistas contemplaram ainda uma questatildeo sobre as possiacuteveis dificuldades que os

participantes que satildeo professores encontram no uso das tecnologias nas suas praacuteticas docente No

quadro 16 apresentamos alguns enxertos dos depoimentos dos entrevistados

Quadro 16 - Dificuldades com o uso da tecnologia na escola

O participante E1 que se autodenomina ldquonatildeo muito dominador de tecnologiasrdquo expressou que

sua maior dificuldade eacute canalizar os objetivos didaacuteticos dentro da rede ou seja conseguir direcionar os

alunos para usar os aplicativos de forma efetiva dentro dos objetivos previstos Nota-se no primeiro

trecho que o participante se sente ldquorefeacutemrdquo do aluno a partir do momento que este abre um site

porque na situaccedilatildeo de professor natildeo se tem controle dos sites que o aluno estaacute abrindo O participante

E2 que ainda natildeo atua como professor acredita que natildeo teraacute dificuldades em trabalhar a tecnologia

com seus futuros alunos

A capacidade de trabalhar a interaccedilatildeo na sala de aula com os alunos portando com seus

tablets eou celulares eacute o maior desafio que o participante E3 confessa enfrentar A participante E6

que leciona para jovens no ensino meacutedio queixa-se da falta de compromisso dos alunos no uso dos

celulares durante as aulas

Com uso de tecnologias mas ateacute certo ponto ateacute porque vocecirc esbarra no quesito aluno compromissado vocecirc tem aquela sala cheia inflada com 40 41 alunos num espaccedilo que cabia 36 [] E sala de aula lotada vocecirc vai vigiar o celular de todo mundo Vocecirc vai vigiar se estatildeo no whatsapp Eles ficam batendo papo Estaacute proibido eles sabem que estaacute proibido mas natildeo estou olhando natildeo estou vigiando 41 alunos natildeo vou natildeo tem condiccedilotildees

Categoria 12 Dificuldades e

desafios da tecnologia na pratica docente

Quando um aluno abre um site ele consegue fazer tudo que ele quer ele viaja o mundo sentado na cadeira escolar e a gente fica laacute refeacutem Porque quando vocecirc chega proacuteximo ele muda de site entatildeo vocecirc sabe que natildeo estaacute tendo produtividade E1 E a minha grande dificuldade eacute isso eu ateacute pensei assim mas como eu natildeo sou muito dominador da tecnologia E1 O que eu tenho dificuldade eacute essa eacute como usar a expressatildeo como canalizar os seus objetivos dentro das redes ou dentro do meio tecnoloacutegico E1 Eu acho que natildeo vou ter muitas dificuldades porque hoje em dia vocecirc pode utilizar a internet e aplicativos no proacuteprio celular ou tablet para fazer simulaccedilotildees de experimentos daquela foacutermula matemaacutetica aquela forma fiacutesica vocecirc pode analisaacute-la como funciona entatildeo isso dai vai colaborar para o aprendizado E2 Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablet ou notebook para sala de aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo E3 Vocecirc passa metade da aula brigando porque eles ficam no whatsapp porque eles natildeo tecircm maturidade E6 E ele vai laacute soacute para isso ele fica laacute com o celular o tempo inteiro A quantidade de ocorrecircncia dele com uso de celular em sala de aula falta de compromisso eacute enorme e eacute a maioria E6

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

290

Percebe-se neste depoimento a angustia da professora diante da presenccedila dos dispositivos de

rede moacutevel durante as aulas Nesse sentido Alves e Pretto (2008 p 30) explicam que este choque

tecnoloacutegico reside no fato de que as crianccedilas e jovens vivem num mundo high tech (alta tecnologia) e a

ldquoescola ainda se manteacutem com a tecnologia low tech (baixa tecnologia) resistindo em atender agraves novas

demandas sociais e cognitivas e as necessidades desse novo sujeito em construccedilatildeordquo O autor

acrescenta que as tecnologias chegam agrave escola em pacotes prontos atraveacutes de projetos poliacuteticos e

pressatildeo do mercado com pouca ou nenhuma formaccedilatildeo criacutetica do professor para a literacia digital

543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias

Na conclusatildeo das entrevistas com os cursistas solicitamos que narrassem alguma experiecircncia

que tiveram com atividades que envolvessem o uso das TDIC com seus alunos O participante E1

explica que ateacute tentou algumas atividades em que os alunos usavam seus aparelhos celulares mas o

resultado foi a dispersatildeo da atenccedilatildeo

Eu ateacute tentei fazer muitas experiecircncias por exemplo tentar que os meninos acessassem os sites lerem textos porque estavam com o celular na matildeo todo mundo e interagia e em baixo laacute tinha os questionaacuterios parece que o texto o tempo de leitura era dois minutos era bem raacutepido e os alunos quando viram eles acharam muito extenso entatildeo eles comeccedilaram a navegar em outras [] eles natildeo fazem o que vocecirc pediu fogem sempre

Segundo Sibilia (2012 p 211) a dispersatildeo tem sido a marca do mundo conectado em redes

A autora analisa que na contemporaneidade as conexotildees estabelecidas por meio dos aparatos

tecnoloacutegicos desafiam a hierarquia disciplinar da escola Assim o alunos natildeo mais aceitam de forma

passiva a transmissatildeo do conhecimento pelo professor eles querem se expressar negociar discutir

opiniotildees Esta situaccedilatildeo abala os papeacuteis de professor e de aluno desenhados na escola medieval Neste

cenaacuterio Sibilia afirma que as tecnologias natildeo podem ser idealizadas como garantia de excelecircncia

escolar mas sim como espaccedilos de encontro e diaacutelogo O desafio imposto ao professor eacute saber

conduzir esse processo Se a tecnologia for usada para reproduzir o que jaacute eacute feito com o quadro-negro

a transmissatildeo de conteuacutedos natildeo cumpriraacute seus objetivos O participante E1 relata que tenta usar as

tecnologias mais tradicionais

Assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatssapp

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

291

Observa-se portanto que o participante E1 segue o padratildeo dos cursistas da amostra que

responderam aos questionaacuterios tendecircncia a usar as tecnologias baacutesicas que requerem pouco

conhecimento teacutecnico e reproduzem atividades e atitudes das quais estatildeo acostumados O uso dos

slides por exemplo alguns ao elaborarem uma apresentaccedilatildeo ldquolanccedilamrdquo o conteuacutedo no slide muitas

vezes com excesso de toacutepicos e textos que acarretam efeito contraacuterio causa uma sobrecarga na

capacidade cognitiva do aluno e por sua vez um retrocesso no processo de aprendizagem (Agostinho

Tindall-Ford e Roodenrys 2011) O participante E3 afirma que faz uso dos slides haacute muito tempo mas

percebeu que apenas uso de toacutepicos e textos entediam os alunos

Soacute que eu fui um pouco mais aleacutem de usar o datashow como projetor como muitos professores fazem jaacute natildeo uso mais tantos textos uso mais imagens com eles porque fica entediante vocecirc soacute jogar o texto na sala de aula e eu tambeacutem uso muitas miacutedias sociais

O participante E3 relata que aleacutem do uso dos slides publica material para os alunos no

Facebook manteacutem um blog em que posta os conteuacutedos estudados e usa o aplicativo whatsapp para

tirar as duacutevidas dos alunos A interaccedilatildeo fora dos espaccedilos escolares foi pouco citada pelos participantes

O participante E4 citou algo que faz a respeito da interaccedilatildeo fora da aula ldquoa uacutenica que uso para

conversar com eles eacute no Facebook eacute alguns alunos que tenho na rede eles perguntam e eu

respondordquoO uso de redes sociais com objetivos pedagoacutegicos tem sido alvo de estudos de

pesquisadores da aacuterea de tecnologia educativa (Reis 2014 Miranda Morais Alves e Dias 2014

Carreira e Ramos 2011) Estes estudos tecircm em comum o fato de que os jovens estatildeo muito

habituados agraves redes sociais e a interaccedilatildeo com professores e colegas destes espaccedilos para fins

pedagoacutegicos satildeo bem aceitos pelos estudantes

No depoimento dos entrevistados percebe-se tambeacutem que as suas tiacutemidas iniciativas em

articular as tecnologias com a praacutetica pedagoacutegica esbarra nos entraves administrativos da escola O

relato do participante E4 sobre a experiecircncia no ldquoProjeto um computador por alunordquo (Prouca) constitui

um exemplo dessa realidade

Ano passado teve um curso do Prouca e eles deram aqueles laptopzinhos e fomos envolvendo com aquilo laacute Dai eu pensei ldquovou comeccedilar a utilizar mais estes laptops porque eacute novidade e eles ficam louquinhos com novidaderdquo Daiacute cada um fica com um tem um joguinho da matemaacutetica que eacute tabuada que eacute muito bom E eles ficaram incutidos com aquilo eu passei para eles uma olimpiacuteada competiccedilatildeo Depois eu disse ldquoa prova de vocecircs vai ser um simulado no computadorrdquo Todos eles tiraram notas boas Porque tipo assim o papel o interesse eacute tatildeo pouco que 10 da turma ficaram de recuperaccedilatildeo e quando eu passei no laptop trecircs soacute ficaram trecircs alunos Daiacute eu ateacute falei para a coordenadora para ver se podia dar a prova ou testes

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

292

no laptop Porque laacute eacute assim trabalho teste e prova Daiacute ela falou assim ldquo uma eacute que natildeo tem nada escritordquo Aiacute eu falei para ela ldquonatildeo tem mas a gente pode tirar uma foto do aluno mostrando o computador rdquo Porque laacute o simulado ele jaacute daacute a nota na hora mas ela disse que natildeo me aconselhava a fazer isso natildeo Aiacute falei entatildeo taacute bom

Essa narrativa de uma atividade cotidiana na escola revela que no modelo educacional vigente

regido por avaliaccedilotildees escritas e palpaacuteveis a gestatildeo da escola natildeo recebe bem iniciativas inovadoras da

parte dos professores Para Almeida (2009) a resistecircncia dos professores muitas vezes se esbarra na

gestatildeo das tecnologias nas escolas

Gradativamente as tecnologias satildeo introduzidas nos espaccedilos das escolas mas mesmo quando haacute utilizaccedilatildeo adequada os equipamentos se encontram confinados em salas isoladas ou trancados em laboratoacuterios em quantidade insuficiente para atender todos os alunos Em muitos casos pode-se observar ainda o desenvolvimento de praacuteticas centradas em determinada tecnologia definida agrave frente dos objetivos pedagoacutegicos (idem p 76)

Nesta mesma direccedilatildeo Gomes (2008) enumerou a natureza de algumas das principais resistecircncias que

ocorrem na implantaccedilatildeo de praacuteticas de e-learning nas instituiccedilotildees de ensino Segundo a autora a

resistecircncia pode ser individual ou institucional declarada ou omitida ativa ou passiva Sobre os

desafios institucionais Gomes (2012 p 11) aponta quatro dimensotildees (i) desafios ao niacutevel das

infraestruturas e apoio teacutecnico (ii) desafios ao niacutevel da gestatildeo administrativa (iii) desafios ao niacutevel das

competecircncias e reconhecimento profissional e (iv) desafios ao niacutevel da disponibilizaccedilatildeo de conteuacutedos e

recursos pedagoacutegicos Ainda segundo Almeida e Valente (2011) a resistecircncia dos professores agrave

integraccedilatildeo de suas praacuteticas agraves tecnologias pode estar relacionada com organizaccedilatildeo do curriacuteculo e do

sistema de ensino riacutegido e engessado em horasaulas presenciais

Formaccedilatildeo inadequada do professor para fazer essa integraccedilatildeo e a falta de preparo dos gestores educacionais para dar o suporte agraves inovaccedilotildees pedagoacutegicas a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino que dificultam novas formas de organizaccedilatildeo do tempo e espaccedilo das aulas e a falta de apoio do professor para auxiliaacute-lo nas mudanccedilas de crenccedilas pessoais de concepccedilotildees e mais concretamente de postura diante do novo (idem p40)

De acordo com Buckingham (2008) muitos professores resistem ao uso das tecnologias natildeo

porque satildeo ldquoantiquados ou ignorantesrdquo mas porque reconhecem que estas natildeo contribuem

efetivamente para o alcance dos seus objetivos O autor analisa ldquoeacute claro que alguns professores estatildeo

usando a tecnologia de modo bastante criterioso e criativo poreacutem na maioria dos casos o uso de

tecnologia nas escolas eacute estreito sem imaginaccedilatildeo e instrumentalrdquo (idem p 9) A visatildeo das tecnologias

como mero auxilio didaacutetico instrumental ferramenta ou teacutecnica eacute apontada por Buckingham como um

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

293

entrave para a integraccedilatildeo destas nas praacuteticas cotidianas na escola O autor citou Humberto Eco que

escreveu que se quisermos usar a televisatildeo para ensinar algueacutem primeiro precisamos ensinaacute-lo a usar

a televisatildeo Neste sentido Buckingham (2008 p 11) completa

Se quisermos usar a internet os jogos ou outros meios digitais para ensinar precisamos equipar os alunos para compreendecirc-los e ter uma visatildeo criacutetica desses meios natildeo podemos consideraacute-los simplesmente como meios neutros de veicular informaccedilotildees e natildeo devemos usaacute-los de um modo meramente funcional ou instrumental Precisamos nesse caso eacute de uma concepccedilatildeo coerente e rigorosa de ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo mdash em outras palavras do que as crianccedilas precisam saber sobre esses meios

Assim a ldquoalfabetizaccedilatildeo digitalrdquo citada pelo autor abrange muito aleacutem do conhecimento teacutecnico

no manuseio de um projetor de miacutedias (datashow) ou discernir se determinado site eacute confiaacutevel ou natildeo

O autor finaliza que a alfabetizaccedilatildeo digital em harmonia com os princiacutepios da literacia digital precede

de dois tipos de anaacutelises a anaacutelise sistemaacutetica da linguagem (gramaacutetica ou retoacuterica) da web como

meio (links projeto visual formas de saudaccedilatildeo etc) e a anaacutelise da produccedilatildeo dos interesses

comerciais e institucionais em jogo de como os textos da web satildeo produzidos e de como se

relacionam com outros meios

A integraccedilatildeo dos conhecimentos de uso das TDIC do professor com a praacutetica pedagaacutegocia

seria o ideal Se o professor no seu dia-dia usa o celular para suas atividades pessoais porque natildeo

usar algum aplicativo em atividades com os alunos Numa pesquisa realizada com um grupo de

professores com vista a analisar o que faziam com seus smartphones em suas praacuteticas e vivecircncias

cotidianas em Salvador na Bahia os pesquisadores concluiacuteram

A uacuteltima conclusatildeo que destacamos eacute que a vida on-line tambeacutem eacute um aprendizado constante das muitas e diferentes linguagens tecnoloacutegicas O tempo para esse aprendizado tambeacutem deve fazer parte da formaccedilatildeo dos professores Natildeo se trata apenas de desenvolver habilidades para usar os dispositivos moacuteveis para explorar seus recursos para se atualizar por meio dos aplicativos A cultura da mobilidade viabiliza velocidades muacuteltiplas da cesso produccedilatildeo e difusatildeo de saberes articuladas em diferentes aacutereas do conhecimento Ela pressupotildee organizaccedilotildees tambeacutem flexiacuteveis dos saberes em constantes transformaccedilotildees Eacute sobretudo nesse sentido que a cultura da mobilidade desafia tanto a formaccedilatildeo quanto a atuaccedilatildeo docente (Silva e Couto 2015)

Como ressaltam os autores natildeo se trata de apenas desenvolver habilidades e competecircncias

para explorar as tecnologias e seus recursos pois implica em numa imersatildeo na ldquocultura da

mobilidaderdquo desafio posto na formaccedilatildeo de professores

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

294

Do exposto sobre o uso das TDIC nas praacuteticas pedagoacutegicas professores cursistas da

graduaccedilatildeo em Fiacutesica EaD da UFT apreende-se nos depoimentos dos entrevistados um niacutevel elementar

de literacia digital em que as tecnologias satildeo percebidas como instrumentos para repositoacuterio (uso do

Moodle) exposiccedilatildeo de conteuacutedos (datashow) e compartilhamento de atividades (e-mail) A dispersatildeo

dos alunos foi citada por alguns participantes como entrave mais relevante quando os dispositivos

moacuteveis satildeo conjugados com atividades em sala de aula Portanto muitos optam por manter o controle

da sala proibindo o uso total dos dispositivos em suas aulas Observou-se tambeacutem que os professores

participantes da pesquisa usam pouco as TDIC para interagir com seus alunos em horaacuterios fora do

expediente das aulas situaccedilatildeo que vivenciam como alunos da graduaccedilatildeo on-line em que constatou-se

pouca ou nenhuma interaccedilatildeo entre professoraluno Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo continuam a

reproduzir a loacutegica da transmissatildeo de conteuacutedos mesmo utilizando as TDIC e torna-se um ciacuterculo

vicioso agrave medida que os professores saem destas formaccedilotildees reproduzindo esta mesma loacutegica com

seus alunos

Como jaacute referido este trabalho aponta a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

que contemple o histoacuterico pessoal dos mesmos com as tecnologias suas vivecircncias e contextos no

contato com o mundo virtual respeitando as diversidades e experiecircncias de cada aprendiz Neste

sentido apresentamos a seguir uma proposta de formaccedilatildeo que integra a motivaccedilatildeo do professor

aliada com sua preparaccedilatildeo e constante avaliaccedilatildeo criacutetica do trabalho com as TDIC junto aos alunos

55 Uma proposta para a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital

A possibilidade de apresentar uma proposta de modelo de formaccedilatildeo de professores com

foco na literacia digital nos ocorreu com mais forccedila durante a vertente empiacuterica do trabalho apesar

de constituir um objetivo formulado ainda em projeto da tese No entanto durante a realizaccedilatildeo do

trabalho de campo ficou mais evidente a constataccedilatildeo do fator de peso que um curso de formaccedilatildeo

voltado para a integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica representa na decisatildeo do professor em

inovar e experimentar estas tecnologias Assim a presente proposta ldquoFormaccedilatildeo Integrada Permanente

e Evolutiva para a Literacia Digitalrdquo(FIPELD) foi elaborada a partir dos pressupostos teoacutericos

apresentados no capiacutetulo terceiro desta tese em que foram apresentados estudos que comprovam a

necessidade de novas competecircncias e habilidades do professor face aos novos contextos midiaacuteticos

presentes na sociedade em rede Ressaltamos que a FIPELD natildeo se trata de um modelo restrito de

curso de formaccedilatildeo antes constitui uma concepccedilatildeo de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

295

Trata-se de uma proposta praacutetica que pode ser aplicada individualmente ou por grupos de professores

numa escola sem necessariamente que estes estejam ligados a um curso formal

Concordamos com Costa (2013 p 49) quando afirma que eacute ldquoinegaacutevel que estamos perante

de algo radicalmente diferente do que se passou com todas outras tecnologias que ao longo de mais

de um seacuteculo foram sendo trazidas para a escola e experimentadasrdquo O autor analisa que a priori as

tecnologias foram introduzidas na escola com um uacutenico objetivo eram destinadas ao professor e ao

ensino natildeo diretamente ao aluno A funccedilatildeo principal destas tecnologias era dar suporte ao professor

na sua missatildeo de transmitirtransferir conteuacutedos escolares aos alunos O autor explica que eacute neste

aspecto que as TDIC satildeo singulares e diferentes das tecnologias analoacutegicas

Elas natildeo satildeo ferramentas destinadas principalmente aos professores mas sim ferramentas do aluno natildeo satildeo ferramentas para apoiar a transmissatildeo do conhecimento mas sim ferramentas que permitem e implicam a participaccedilatildeo ativa por cada um na construccedilatildeo do seu proacuteprio conhecimento (idem p 50)

Portanto diferente do quadro-negro que reproduz de forma estaacutetica os conteuacutedos ou

mesmo do aparelho retroprojetor (com uso de transparecircncias) e do mais recente datashow que

desempenham o papel de dar suporte para o professor transmitir o conteuacutedo as TDIC possuem

ferramentas e aplicativos dinacircmicos interativos e colaborativos voltados para a construccedilatildeo ativa do

conhecimento do aluno No tratamento dos dados da pesquisa com os participantes do curso de Fiacutesica

em EaD da UFT sobretudo nos trechos das entrevistas nota-se que os cursistas (professores)

percebem as tecnologias como meros meios para ldquopostarrdquo determinado conteuacutedo ou fazer pesquisas

Os participantes relatam

Na nossa escola fizemos isso tentamos fazer dois meses isso tentar fazer aulas on-lineteve um professor que criou uma espeacutecie de moodle dentro da escola e cada um postava um tipo de conteuacutedo e pedia para realizar as atividades e ai natildeo deu certo (E1) Eu valorizo na minha aula eu valorizo muito a presenccedila da tecnologia Dai o que eu faccedilo eu mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possa acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala (E2)

A percepccedilatildeo das TDIC apenas como ferramentas de pesquisa ou depoacutesito de material

subestima o potencial destas no tocante agraves infinitas possibilidades de aprendizagens que as redes

proporcionam agravequeles que aleacutem do acesso a informaccedilotildees possuem a capacidade de filtrar

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

296

selecionar verificar a veracidade e procedecircncia fazer anaacutelise criacutetica relacionar com outros dados e

produzir novos conhecimentos Sobre este aspecto Fernando Costa acrescenta

Ferramentas em que natildeo eacute a posse do saber que conta mdash um saber geralmente inerte acumulado nos manuais mdash mas a capacidade de acesso que cada um pode ter a conhecimento autecircntico rico e uacutetil e a capacidade para avaliar e selecionar a informaccedilatildeo disponiacutevel em funccedilatildeo de criteacuterios de qualidade e de pertinecircncia relativamente ao que num determinado momento se estaacute a explorar e a aprender (idem p50)

Assim partindo deste princiacutepio de que hoje a presenccedila das TDIC nas escolas em especial

as tecnologias moacuteveis (smartphone tablet notebooks e outros) na matildeo dos alunos configurou uma

mudanccedila radical na funccedilatildeo que as tecnologias exerciam ateacute entatildeo no contexto escolar

compreendemos que a formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital deve ser direcionada a formar

docentes capazes de trabalhar com as tecnologias junto a seus alunos preparando-os para as

mudanccedilas que o mercado profissional vivencia no cenaacuterio da sociedade em rede Entretanto o foco da

formaccedilatildeo natildeo seraacute a parte instrumental da tecnologia mas a compreensatildeo de como esta pode

potencializar a construccedilatildeo do conhecimento dos alunos

Considerando o cenaacuterio de tecnologias ubiacutequas moacuteveis interativas e convergentes a

aprendizagem pode ocorrer em qualquer dispositivo espaccedilo e tempo Neste sentido a formaccedilatildeo

docente para a literacia digital natildeo precisa advir necessariamente em um curso de formaccedilatildeo com

carga horaacuteria definida e tempo preacute-estabelecido A concepccedilatildeo da FIPELD parte da premissa de que o

professor deve tomar partido das TDIC para sua autoformaccedilatildeo mas com foco na aplicaccedilatildeo destas na

sua praacutetica pedagoacutegica junto a seus alunos Esta formaccedilatildeo eacute integrada no sentido de que o professor

precisa estar envolvido no processo O termo ldquointegradordquo vem do latim integratu que segundo

dicionaacuterio da liacutengua portuguesa75 significa assimilado adaptado metido dentro Outra definiccedilatildeo eacute fazer

parte de alguma coisa ou grupo76 Portanto a formaccedilatildeo docente integrada parte da premissa inicial que

o professor estaacute envolvido interessado no processo e buscando a adaptaccedilatildeo necessaacuteria para a

apropriaccedilatildeo das TDIC na vida cotidiana e profissional

Neste sentido a FIPELD propotildee que uma formaccedilatildeo integrada para a literacia digital a partir da

escola em que o docente leciona numa concepccedilatildeo de envolvimento e comprometimento deste no

75 Disponiacutevel em httpmichaelisuolcombrmodernoportugues Acesso em 15 abril de 2016 76 Disponiacutevel em httpwwwdicionarioinformalcombrintegrada Acesso em 15 de abril de 2016

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

297

processo formativo Tambeacutem deve ser integrada no sentido do compartilhamento das experiecircncias com

os pares Sobre este aspecto Costa Rodrigues Cruz e Fradatildeo (2012 p 96) analisam

Embora o conhecimento sobre as tecnologias disponiacuteveis seja uma condiccedilatildeo essencial para que os professores possam compreender o seu potencial para o ensino e para a aprendizagem eacute necessaacuterio criar oportunidades para que experimentem tal potencial em situaccedilotildees concretas de aulas Eacute portanto fundamental apostar em tipos de formaccedilatildeo assentes na colaboraccedilatildeo entre pares e em problemas da realidade profissional que possibilitem aos professores refletirem questionarem aprenderem partilharem e desenvolverem novos meacutetodos de ensino com as tecnologias digitais

De tal modo a formaccedilatildeo ideal confome aponta Boavida (2009) seria a disponibilizada no

espaccedilo de trabalho dos docentes ou seja na escola dentro do exercicio laboral do professor num

tempo destinado agrave formaccedilatildeo contiacutenua A autora acrescenta que esta formaccedilatildeo docente ldquodevia estar

orientada para a aacuterea especiacutefica recorrendo agraves Tecnologias de Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo cruzando o

presencial com a componente on-line facilitando ao professor a organizaccedilatildeo e gestatildeo do seu plano de

formaccedilatildeordquo (idem p107) Esta formaccedilatildeo eacute integrada tambeacutem no sentido de que precisa ser

incorporada na carga horaacuteria dos professores fora do momento do planejamento O professor tem o

momento para planejar mas quase nunca tem tempo para refletir sobre os resultados do seu

planejamento ou discutir com um colega sobre uma metodologia ou recurso didaacutetico que utilizou E

quando se trata do uso de tecnologias integradas agraves praacuteticas pedagoacutegicas as formaccedilotildees ocorrem

pontualmente em laboratoacuterios de informaacutetica focadas em questotildees instrumentais da tecnologia e

dificilmente da sua aplicaccedilatildeo pedagoacutegica (Almeida e Valente 2011)

Contudo considerando que a aprendizagem do aluno natildeo ocorre apenas nos espaccedilos

escolares tendo em vista o acesso ao conhecimento que as tecnologias propiciam a formaccedilatildeo do

professor para a literacia digital tambeacutem deve ser ubiacutequa e ocorrer em diferentes espaccedilos e situaccedilotildees

fora dos muros da escola Portanto esta deve ser uma aprendizagem permanente ao longo da vida

Assim a FIPELD propotildee uma formaccedilatildeo permanente ou contiacutenua Isso significa que esta deve ter um

periacuteodo para comeccedilar quando o professor adentrou num curso de normalistas ou ingressou numa

licenciatura mas natildeo tem periacuteodo para concluir ela deve ser ao longo da vida A formaccedilatildeo permanente

para a literacia digital implica que sendo as tecnologias voluacuteveis e instaacuteveis podendo ficar obsoletas

em espaccedilo curto de tempo o professor precisa acompanhar dentro de suas possibilidades os recursos

que a tecnologia disponibiliza e suas aplicaccedilotildees pedagoacutegicas Neste sentido Almeida e Valente (2011

p 50) afirmam

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

298

A formaccedilatildeo do professor portanto envolve muito mais do que provecirc-lo com conhecimento teacutecnico sobre as TDIC Ela deve criar condiccedilotildees para o professor construir conhecimentos sobre os aspectos computacionais compreender as perspectivas educacionais subjacentes aos softwares em uso isso eacute as noccedilotildees de ensino aprendizagem e conhecimentos impliacutecitas no software e entender porque e como integrar o computador com o curriacuteculo e como concretizar esse processo na sua praacutetica pedagoacutegica

Almeida e Valente (idem p 49) acrescentam que o professor preparado para a era digital

pode ainda ldquoidentificar quais os conceitos trabalhados de modo equivocado questionar os alunos

provocar-lhes a compreensatildeo dos proacuteprios erros e orientaacute-los no sentido de uma adequada

reconstruccedilatildeordquo Trata-se assim de uma formaccedilatildeo constante orientada e reorientada a partir das

experiecircncias vivenciadas A formaccedilatildeo permanente natildeo eacute limitada a nuacutemeros de certificados de cursos e

eventos que o professor participou nem com as progressotildees que ele fez na carreira mas trata-se de

um contiacutenuo ciclo de busca pelo aperfeiccediloamento nas praacuteticas de literacia digital

A formaccedilatildeo docente para a literacia digital deve ser evolutiva A FIPELD sugere que os

professores compreendam que as TDIC natildeo satildeo apenas ferramentas para se chegar a um meio mas

ldquoprocessos a serem desenvolvidosrdquo (Castells 1999 p 51) Quando se fala em evoluccedilatildeo pensa-se em

processo Portanto a formaccedilatildeo para a literacia digital deve ser evolutiva e processual tendo em vista

que o processo de apropriaccedilatildeo das tecnologias pelos professores eacute gradual sujeita a diferentes

variaacuteveis e requer tempo para ser assimilado nas praacuteticas docentesSobre esse aspecto Almeida e

Valente (2011) citam o Projeto Aple Classrrom of Tomorrow (ACOT) desenvolvido entre 1985 a 1995

cuja meta era o uso massivo de computadores em algumas salas de aulas dos EUA A questatildeo do

tempo foi um destaque nesse projeto os autores explicam

Os professores solicitavam tempo para estudar tempo para desenvolver projetos tempo para repensar sua praacutetica e tempo para explorar os recursos do computador O processo de apropriaccedilatildeo da tecnologia e sua integraccedilatildeo nas atividades curriculares demandam tempo e acontecem de modo gradativo como foi constatado no projeto ACOT (idem pp 43-44)

Deste modo a evoluccedilatildeo aconteceu por fases e exigiu tempo para que os professores se

apropriassem das tecnologias e as incorporassem na sua praacutetica didaacutetica Um estudo publicado sobre

os resultados do projeto ACOT identificou cinco estaacutegios da apropriaccedilatildeo do professor exposto agraves

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo no cotidiano da escola

1 Exposiccedilatildeo Professores que tinham pouca ou nenhuma experiecircncia com computadores passaram cinco semanas do projeto em contato direto com as maacutequinas instalando e conhecendo os recursos tecnoloacutegicos disponiacuteveis Neste

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

299

periacuteodo lidaram com o medo e a frustraccedilatildeo resultante dos erros cometidos nessa primeira fase

2 Adoccedilatildeo Professores passaram a utilizar o computador para apoiar a instruccedilatildeo de exerciacutecio de repeticcedilatildeo e praacutetica ndash uma modalidade de instruccedilatildeo programada

3 Adaptaccedilatildeo Expostos mais tempo aos computadores os professores comeccedilam a integrar o computador em atividades tradicionais como ediccedilatildeo de textos pesquisa planilhas de caacutelculo e recursos de comunicaccedilatildeo Os professores observam que com a ajuda do recurso do computador os alunos produzem mais e num ritmo mais acelerado

4 Apropriaccedilatildeo Observando mudanccedilas no comportamento dos alunos os professores comeccedilam mudar sua atitude em relaccedilatildeo as tecnologias e utilizam o computador em projetos interdisciplinares e colaborativos Este foi considerado o marco da pesquisa porque a praacutetica dos professores refletia mudanccedilas evidentes na sua atitude pessoal em relaccedilatildeo ao computador e demais tecnologias

5 Inovaccedilatildeo Professores passam a experimentar novos padrotildees de uso das tecnologias em diversos contextos modificando a relaccedilatildeo com seus alunos e outros professoresNesta fase satildeo capazes de adequar o potencial de cada recurso tecnoloacutegico para aplicaccedilatildeo em atividades didaacuteticas com seus alunos (Sandholtz Ringstaff e Dwyer 1997)

Portanto a evoluccedilatildeo das fases natildeo depende apenas de habilidades teacutecnicas ou

instrumentais com a tecnologia mas da atitude do professor e seu envolvimento no processo

Considerando todos estes aspectos o quadro 18 apresenta as caracteriacutesticas objetivos e resultados da

FIPELD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

300

Quadro 11 - Caracteriacutesticas do modelo FIPELD (Fonte elaborado pela autora a partir de Costa etal (2012)

Formaccedilatildeo Caracteriacutesticas Objetivos Resultados Integrada - Inicia na escola com apoio

institucional - Estudo da teoria com observaccedilatildeo da realidade - Base experimental em contextos de aprendizagem significativos - Troca de experiecircncias com os pares

- Incentivar o educador a refletir na sua proacutepria praacutetica inovadora considerando o potencial das TDIC em situaccedilotildees de aprendizagem e circunstacircncias concretas - Criar a cultura do trabalho colaborativo entre os professores - promover a apropriaccedilatildeo dos professores agraves TDIC

-Ganho de experiecircncia e habilidades teacutecnicas no manejo das TDIC - Iniacutecio do uso das TDIC no contexto educativo de forma instrumental - Criaccedilatildeo de comunidades de praacuteticas em que os professores podem trocar experiecircncias com seus pares

Permanente - Natildeo depende de certificaccedilatildeo - Pode ser feita em qualquer espaccedilo e tempo com uso de diversos tipos de tecnologias - Aberta a descobertas e experimentaccedilotildees - Segue uma rota individual de acordo com interesses e experiecircncias

- Motivar os educadores a buscarem aperfeiccediloar continuamente seus conhecimentos em prol de equacionar estrateacutegias de uso das TDIC com seus alunos - Levar os educadores a compreender que as TDIC natildeo satildeo meras ferramentas de transmissatildeo de conhecimento mas estrateacutegias que podem potencializar a aprendizagem dos alunos

- Avanccedilo do educador do niacutevel de uso instrumental das TDIC para o uso pedagoacutegico com os alunos na sala de aula e fora dela - Compreensatildeo de que o uso das TDIC vai aleacutem do objetivo de transferir conhecimentos e de que o aluno natildeo eacute mero consumidor passivo - Ganho de autonomia disciplina e senso criacutetico no manejo das TDIC

Evolutiva - processual e gradual - simultacircnea a outras aprendizagens - Acumula aprendizados que servem de base para novos saberes

- Atualizar o educador dos recursos mais recentes e suas aplicaccedilotildees pedagoacutegicas - Manter o educador motivado a acompanhar as evoluccedilotildees tecnoloacutegicas das quais seus alunos satildeo usuaacuterios

- Avanccedilo do educador para o niacutevel de uso das TDIC com vistas a inovar sua praacutetica pedagoacutegica - Competecircncias para acessar selecionar avaliar produzir e compartilhar conhecimento na rede ajudando seus alunos a fazerem o mesmo

Ateacute chegar a condiccedilatildeo plena de literacia digital o professor haacute de percorrer um longo caminho

Antes de aproximar-se do niacutevel de ser capaz de trabalhar com tecnologias junto aos alunos o professor

deveraacute aprender sobre tecnologia (Jonassen 1996) ldquoAprender com tecnologiasrdquo na perspectiva de

Jonassen compreende encarar as TDIC como ferramentas cognitivas em que o estudante toma partido

efetivo do seu potencial usando-as para ampliar seu conhecimento Neste caso a partiacutecula ldquocomrdquo

indica parceria ou seja o estudante natildeo eacute controlado pela tecnologia antes assume o domiacutenio desta

para atender a seus objetivos de aprendizagem

Por outro lado Costa (2013 p 58) explica que ldquoaprender sobre tecnologiardquo significa tomaacute-la

como objeto de estudo ldquoa ideia central desta perspectiva eacute a de que as tecnologias digitais constituem

em si mesmas um corpo de conhecimento indispensaacutevel para que o aluno possa inserir com sucesso

na sociedade digitalrdquo Neste sentido a formaccedilatildeo docente para a literacia digital precede de

conhecimento teacutecnico das TDIC Conhecer com clareza as ferramentas e aplicaccedilotildees das TDIC que iraacute

utilizar com seus alunos eacute imprescindiacutevel para o sucesso da experiecircncia No entanto o motor de

igniccedilatildeo para dar partida a esta situaccedilatildeo se chama motivaccedilatildeo

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

301

A decisatildeo de usar ou natildeo tecnologias digitais com seus alunos eacute pessoal Embora existam

recomendaccedilotildees sobre uso de programas softwares e aplicativos educativos cabe ao professor decidir

se vai tirar proveito do potencial pedagoacutegico das tecnologias De acordo com Costa et al (2012)

embora existam muacuteltiplos fatores envolvidos na concepccedilatildeo de condiccedilotildees necessaacuterias ao uso das TDIC

a decisatildeo individual de cada educador constitui o fator mais determinante neste processo No caso dos

professores cursistas da licenciatura EaD em Fiacutesica na UFT os graacuteficos apresentados no capiacutetulo 5

sinalizaram que embora faccedilam amplo uso das tecnologias na sua vida cotidiana e nas suas atividades

docentes este uso eacute bastante restrito Nas entrevistas com os participantes sondou-se que os

participantes satildeo favoraacuteveis aos processos de educaccedilatildeo mediada por tecnologia voltada para pessoas

adultas e focadas mas percebe-se um descreacutedito nesta modalidade para jovens imaturos Sobre o

perfil destes jovens os entrevistados E1 e E6 comentaram

Ai o aluno do 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento da uma direccedilatildeo (E1) Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso (E6)

Este descreacutedito na modalidade voltada para jovens potildee cabo ao desejo do professor de

procurar conhecer novas possibilidades de aplicaccedilatildeo das tecnologias com seus alunos

Neste sentido a proposta FIPELD propotildee a fusatildeo da face motivacional tecnoloacutegica e

pedagoacutegica com ecircnfase na apropriaccedilatildeo do professor nestas facetas de uma forma contiacutenua e gradual

O processo ciacuteclico inicia-se com uma chama que acenda o desejo do professor para tirar partido das

TDIC A figura 13 apresenta o ciclo do modelo FIPELD

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

302

Figura 6 - Ciclo holiacutestico da FIPELD (Fonte elaborado pela autora a partir de Costa et al (2012)

Assim a decisatildeo de cada professor de integrar as TDIC nas suas praacuteticas pedagoacutegicas passa

pelo reconhecimento da importacircncia destas na aprendizagem e uma expectativa positiva diante dos

possiacuteveis impactos que as TDIC podem ter no rendimento escolar dos alunos A motivaccedilatildeo portanto eacute

o primeiro passo para que o professor se mostre disposto a conhecer as potencialidades das TDIC e se

apropriem delas na sua praacutetica pedagoacutegica

Segundo Borges (2009) que realizou um investigaccedilatildeo sobre a apropriaccedilatildeo tecnoloacutegica por

gestores educacionais o aspecto emocional eacute muito importante para o professor em processo de

formaccedilatildeo para a literacia avanccedilar nas graduais fases a serem vencidas ldquose o lado emocional estaacute bem

cuidado o professor se engaja em um processo de apropriaccedilatildeo que passa por diferentes fases

evoluindo uma espiral ascendente e com possibilidade de atingir os estaacutegios de transformaccedilatildeo

pedagoacutegicardquo Borges na conclusatildeo do estudo escreveu sobre os desafios da formaccedilatildeo de

professores com vistas agrave apropriaccedilatildeo das tecnologias nas praacuteticas pedagoacutegicas dos mesmos

Um desses desafios seria o planejamento de cursos de formaccedilatildeo de professores com momentos presenciais e a distacircncia cujo design educacional e desenvolvimento contemplassem accedilotildees que levassem o cursista a se apropriar das tecnologias digitais Outro seria incluir nos cursos de formaccedilatildeo de educadores o desvelamento do processo de Apropriaccedilatildeo das tecnologias digitais pelo sujeito permitindo ao cursista ser coautor do seu proacuteprio processo e compreendecirc-lo

Fase 3 Accedilatildeo

Fase 4 Avaliaccedilatildeo

Fase 5 Reaccedilatildeo

Fase 1 Motivaccedilatildeo

Fase 2 Preparaccedilatildeo

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

303

enquanto um processo subjetivo relacional complexo e em espiral (Borges 2009 p 253)

No entanto Costa et al (2012) ressaltam que apenas a motivaccedilatildeo do professor natildeo eacute o

bastante para que estes possam integrar as TDIC no contexto escolar Os autores explicam

Esta atitude favoraacutevel soacute faz sentido no entanto se cada professor estiver na posse do conhecimento sobre o que pode ser feito com as tecnologias disponiacuteveis para depois articulaacute-las com os objetivos curriculares Digamos que natildeo basta reconhecer a importacircncia das tecnologias e estar motivado para a sua utilizaccedilatildeo mas que eacute imprescindiacutevel ter algum conhecimento tecnoloacutegico sem o qual seraacute difiacutecil uma tomada de decisatildeo fundamentada e esclarecida Tratar-se-ia neste caso de procurar saber que tecnologias existem o que permitem fazer qual o seu grau de dificuldade em termos de aprendizagem que requisitos teacutecnicos satildeo necessaacuterios para poderem ser utilizadas pelos alunos para referirmos apenas alguns dos aspetos essenciais ao seu uso efetivo (idem p24)

Logo uma formaccedilatildeo eficaz deve partir do que o professor conhece das tecnologias

disponiacuteveis e da decisatildeo do que eacute possiacutevel se fazer com elas na sala de aula com os alunos Como se

destacou na citaccedilatildeo acima ldquoter algum conhecimento tecnoloacutegicordquo eacute imprescindiacutevel Na pesquisa em

questatildeo deste trabalho constatou-se que os professores participantes embora manifestem a intenccedilatildeo

de trabalhar com os alunos usando as tecnologias esbarram na questatildeo da falta de preparo e

desconhecimento das tecnologias o que resulta na dispersatildeo e falta de controle sobre os alunos

Conforme jaacute relatado um dos participantes chegou a dizer que se sentia ldquorefeacutenrdquo dos alunos quando os

mesmos comeccedilavam a navegar nos sites

Costa (2013) aponta o desconhecimento do potencial das TDIC da parte dos docentes como um

dos fatores que levam estes a natildeo tirarem partido do potencial pedagoacutegico didaacutetico das tecnologias

Outro fator apontado pelo autor eacute o despreparo dos docentes que em geral tiveram uma ldquopreparaccedilatildeo

de cariz predominantemente teacutecnico com claro prejuiacutezo para uma preparaccedilatildeo metodoloacutegica assente na

reflexatildeo sobre os benefiacutecios e sobre os modos adequados de utilizaccedilatildeo das TIC no curriacuteculordquo (idem

p48) Neste sentido a segunda fase da proposta FIPELD trata-se da preparaccedilatildeo

A fase da preparaccedilatildeo eacute subdividida em duas etapas o conhecimento teacutecnico e a aplicaccedilatildeo

pedagoacutegica das TDIC Costa et al (2012) argumentam que o conhecimento de como funcionam

tecnicamente as TDIC eacute indispensaacutevel para que o professor adquira confianccedila para utiliza-las com seus

alunos No entanto vencida essa barreira teacutecnica o autor explica que o desafio seguinte do professor eacute

perceber o potencial pedagoacutegico das TDIC no seu contexto escolar Os autores ponderam

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

304

Mas antes mesmo de pensarmos como proceder do ponto de vista metodoloacutegico para as integrar no processo de ensino-aprendizagem haacute um conjunto de questotildees a colocar De entre essas questotildees eacute crucial perguntar-mo-nos para quecirc utilizar determinada ferramenta e em que aacutereas concretas do curriacuteculo poderaacute fazer sentido utilizaacute-la ou seja para que tipo de objetivos e para que aprendizagens especiacuteficas Por outro lado temos de ponderar as implicaccedilotildees de as usar quer em termos de recursos necessaacuterios quer em termos do valor que seraacute ou natildeo acrescentado relativamente aos objetivos e agraves estrateacutegias de aprendizagem habitualmente utilizados (idem p 25)

Na praacutetica seria a ponderaccedilatildeo do professor sobre a viabilidade de recorrer a uma

determinada ferramenta tecnoloacutegica em termos de eficaacutecia e eficiecircncia Portanto o professor ao fazer

este planejamento deve equacionar o que eacute possiacutevel fazer sem as TDIC e o que estas podem

proporcionar em termos de atingir os objetivos de aprendizagem Costa et al (idem p 27) comentam

sobre esta fase ldquoo primeiro passo seraacute proceder ao elenco do que uma determinada tecnologia

permite fazer relacionando-a com as partes do programa disciplinar em que poderaacute ser utilizada antes

mesmo de comeccedilar a pensar em estrateacutegias de aprendizagemrdquo Assim a preparaccedilatildeo requer que o

professor experimente de antematildeo a ferramenta ou aplicativo que almeja usar leia relatos de

experiecircncias eou estudos de outros educadores que fizeram uso e troque ideias com os pares sobre o

que se pretende fazer Este procedimento segundo Costa (2013) permite ao professor construir suas

hipoacuteteses de trabalho coerentes com os objetivos de aprendizagem e tomar uma decisatildeo esclarecida e

acertada sobre a escolha das TDIC que vai ou natildeo usar

A terceira fase da proposta FIPELD compreende a accedilatildeo o momento em que o professor iraacute por

em praacutetica o plano de accedilatildeo do uso das TDIC alinhado aos objetivos de aprendizagem Nesta fase as

ideias projetadas satildeo executadas e postas agrave prova ficando sujeitas a imprevistos dificuldades e

gargalos Esta fase exige cuidadoso registro do professor sobre o desenvolvimento das atividades

Anotando os incidentes criacuteticos as duacutevidas levantadas pelos estudantes em relaccedilatildeo agrave ferramenta

utilizada e ainda registrando suas proacuteprias dificuldades com relaccedilatildeo agrave aplicaccedilatildeo da atividade Estes

registros vatildeo ser importantes para o professor posteriormente refletir sobre a experiecircncia e

compartilhar com seus pares e formadores os resultados obtidos

A fase da avaliaccedilatildeo constitui o momento em que o professor decorrida a aplicaccedilatildeo da

atividade retoma seus registros faz uma avaliaccedilatildeo pessoal franca sobre os pontos fortes e fracos

obtidos na accedilatildeo e compartilha com os colegas e formadores estas informaccedilotildees Costa et al (2012 p

99) denominam essa fase de interaccedilatildeo na qual ldquoespera-se precisamente que o professor interaja e

discuta com o formador ou com os colegas sobre o processo e os resultados de forma a partilhar o

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

305

que foi feito e assim poder receber achegas sobre como resolver problemas e superar obstaacuteculosrdquo

Para Noacutevoa (2012) eacute na escola que o professor defronta casos reais em que pode refletir e reconstruir

suas praacuteticas pedagoacutegicas O autor apresenta como desafio para a educaccedilatildeo no futuro a formaccedilatildeo de

professores mais centrada nas praacuteticas e nas suas anaacutelises

A formaccedilatildeo do professor eacute por vezes excessivamente teoacuterica outras vezes excessivamente metodoloacutegica mas haacute um deacuteficit de praacuteticas de refletir sobre as praacuteticas de trabalhar sobre as praacuteticas de saber como fazer Eacute desesperante ver certos professores que tecircm genuinamente uma enorme vontade de fazer de outro modo e natildeo sabem como Tecircm o corpo e a cabeccedila cheios de teoria de livros de teses de autores mas natildeo sabem como aquilo tudo se transforma em praacutetica como aquilo tudo se organiza numa praacutetica coerente (Noacutevoa 2007 p 14)

Antoacutenio Noacutevoa critica o excesso de discursos sobre a necessidade de o professor ser

reflexivo e cita um episoacutedio ocorrido com o educador John Dewey que ao terminar uma palestra nos

anos de 1930 foi abordado por um professor que afirmava ser professor havia 10 anos e que tinha

muita experiecircncia naquele assunto Dewey o questionou ldquotem mesmo dez anos de experiecircncia

profissional ou apenas um ano de experiecircncia repetida dez vezesrdquo Noacutevoa ao trazer agrave tona esse

ocorrido conclui que ldquonatildeo eacute a praacutetica que eacute formadora mas sim a reflexatildeo sobre a praacuteticardquo( 2007 p

16) Para o autor a formaccedilatildeo de professores continua prisioneira de modelos teoacutericos formais e

tradicionais que datildeo pouca importacircncia a praacutetica e reflexatildeo do professor Neste sentido Noacutevoa propotildee

a criaccedilatildeo de redes colaborativas de trabalho que promova troca de experiecircncias entre os professores

que permita a troca de experiecircncias e a partilha de saberes Assim as ldquocomunidades de praacuteticardquo

constituem locus privilegiado para uma formaccedilatildeo muacutetua inter-pares em que as trocas de experiecircncias e

histoacuterias (no sentido de situaccedilotildees narradas teorizadas) adaptadas agraves tecnologias de informaccedilatildeo e

comunicaccedilatildeo produzem uma transformaccedilatildeo natildeo apenas na escola mas na matriz pedagoacutegica e

curricular

A ultima etapa do ciclo da FIPELD foi denominada de reaccedilatildeo pois esta se relaciona agrave

tomada de decisatildeo que o professor diante do feedback da etapa anterior teraacute que adotar diante das

constataccedilotildees que a experiecircncia proporcionou Ao fazer esta anaacutelise do percurso sobre como as

atividades decorreram o que foi bem sucedido e o que houve de gargalo o professor vai refletir sobre

os ganhos e perdas que o uso das TDIC proporcionou na atividade com os alunos A cada ciclo de accedilatildeo

com a docecircncia integrada agraves TDIC o professor ganha experiecircncia confianccedila e autonomia para

continuar evoluindo seus niacuteveis de literacia digital e por conseguinte orientar os alunos nesta mesma

direccedilatildeo Costa et al (2012) explicam que ao fazer esta reflexatildeo sobre como as atividades decorreram

Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados

306

o professor estaraacute apto para em atividades futuras antecipar as dificuldades distribuir melhor o

tempo organizar os espaccedilos (virtuais ou fiacutesicos) e por fim teraacute condiccedilotildees de ponderar se o uso das

TDIC implicou em mudanccedilas concretas na sua praacutetica

Do exposto compreendemos que a formaccedilatildeo de professores para a literacia digital constitui

um processo integrado permanente e evolutivo que necessita de respaldo institucional (poliacuteticas

puacuteblicas efetivas de formaccedilatildeo) tempo dentro da carga horaacuteria para reflexatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas

com suporte das tecnologias esforccedilo coletivo dos professores em compartilhar experiecircncias e a

compreensatildeo de que o processo eacute demorado e complexo e que os niacuteveis de avanccedilos satildeo individuais

No capiacutetulo das consideraccedilotildees finais deste trabalho retomaremos a proposta FIPELDem contraponto

com os resultados da pesquisa no intuito de fazer apontamentos que contribuam para a formaccedilatildeo de

professores para a literacia digital

Consideraccedilotildees finais

Consideraccedilotildees finais

309

Na introduccedilatildeo desta tese citamos Paulo Freire (1992 p 70) que refletiu ldquoPartir significa pocircr-

se a caminho ir-se deslocar-se de um ponto a outro e natildeo ficarrdquo Quando propusemos esta

investigaccedilatildeo estaacutevamos iniciando uma jornada ao desconhecido embora muitas hipoacuteteses povoassem

nosso imaginaacuterio Partimos como fez o canoeiro do conto A terceira margem do rio de Joatildeo Guimaratildees

Rosa (1968) que seguiu o curso do rio a sua terceira margem O canoeiro foge da sua vida mediacuteocre

e sem sentido em busca de respostas de ordem existencial que natildeo foram respondidas na sua vida

apagada e insossa Na terceira margem o curso do rio o canoeiro segue buscando respostas para

suas questotildees Na procura de respostas agraves suas inquietaccedilotildees o homem passa anos no curso do rio

meditando e refletindo no sentido da vida e sua existecircncia

Assim a jornada do doutoramento agraves vezes solitaacuteria como a do canoeiro constituiu uma

viagem para encontrarmos respostas a inquietaccedilotildees resultantes das nossas experiecircncias vividas

Partimos nos pusemos a caminho deslocamo-nos de um ponto da nossa jornada e chegamos agrave outra

margem Assim como o rio nunca eacute o mesmo estaacute sempre em correnteza natildeo chegamos no fim da

jornada iguais ao que eacuteramos na partida Obtivemos respostas a algumas questotildees e outras foram

levantadas inquietaccedilotildees foram resolvidas e surgiram outras no caminho Chegamos ao fim da jornada

com novas perspectivas sobre a realidade observada conscientes de que esta tambeacutem estaacute em

constante movimento como o ldquomundo liacutequidordquo que vivemos (Bauman 2001) As consideraccedilotildees finais

desta tese natildeo satildeo assim conclusotildees nem mesmo verdades encontradas mas um apanhado das

teorias estudadas das evidecircncias encontradas e caminhos percorridos Portanto retomamos aos

objetivos que esta pesquisa se propocircs cumprir de modo a verificarmos se estes foram contemplados

no decorrer da pesquisa

O objetivo geral da pesquisa constituia em investigar as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de

formaccedilatildeo a distacircncia para professores da rede puacuteblica pode causar na literacia digital e inclusatildeo

sociodigital dos participantes no que diz respeito agraves suas respectivas praacuteticas sociais cotidianas e

pedagoacutegicas com o uso das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo Neste sentido foram propostos

quatro objetivos especiacuteficos no intuiacuteto de cumprir o objetivo geral

bull Compreender o conceito de literacia digital e inclusatildeo sociodigital no contexto da sociedade em

rede e as implicaccedilotildees da ampla difusatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo nos

processos educativos com foco na formaccedilatildeo de professores

Consideraccedilotildees finais

310

bull Levantar o perfil socioeconocircmico social e acadecircmico de professores cursistas de uma

formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia com fins de compreender a relaccedilatildeo destes com as

tecnologias no que diz respeito a praacuteticas cotidianas e no contexto pedagoacutegico

bull Aprofundar a investigaccedilatildeo sobre as possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia

promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos professores participantes na vida cotidiana e na

sua atuaccedilatildeo docente

bull Apresentar uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital que contemple a

integraccedilatildeo das TDIC na praacutetica pedagoacutegica de forma contiacutenua evolutiva e permanente

1 Discussatildeo teoacuterica sobre sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital

O primeiro objetivo foi atingido na discussatildeo teoacuterica apresentadas nos capiacutetulos 1 2 e 3 deste

trabalho a descriccedilatildeo do cenaacuterio do mundo contemporacircneo conectado em redes em que as tecnologias

estatildeo cada vez mais presentes na escola o estudo bibliograacutefico sobre conceitos inclusatildeoexclusatildeo

sociodigital e de literacia digital contribuiacuteram para a compreensatildeo de que mudanccedilas ocorreram e estatildeo

a ocorrer no mundo com impacto nos processos educativos

Apoacutes exaustivo estudo da literatura especializada organizamos a redaccedilatildeo do referencial teoacuterico

da tese em trecircs macros temas a sociedade em rede exclusatildeo sociodigital e literacia digital No

capiacutetulo 1 intitulado O mundo conectado em redes (o estar dentro) foi apresentado o cenaacuterio da

Sociedade em Rede e os processos civilizatoacuterios de meios de comunicaccedilatildeo que desencadearam a

expansatildeo das tecnologias de informaccedilatildeo com destaque no campo educacional Usando a metaacutefora da

rede o texto abordou as implicacircncias de estar ldquodentro da rederdquo numa sociedade de consumo elitista

em que a informaccedilatildeo tornou-se moeda de valor O capiacutetulo caracterizou o perfil comportamental e

cognitivo do jovem portador das tecnologias moacuteveis no seacuteculo XXI e os desafios propostos aos

professores ainda iniciantes na era digital

No capiacutetulo 2 tratamos de outra face da moeda O mundo estaacute todo conectado (Do lado de

fora ou dentro na margem) Este capiacutetulo apresentou um quadro teoacuterico conceitual sobre

inclusatildeoexclusatildeo digital com o objetivo de compreender os diferentes niacuteveis em que o individuo pode

se encontrar na rede na margem ou fora dela O texto aprofundou a discussatildeo sobre os reflexos que a

marginalizaccedilatildeo digital sobrepotildee nos processos educativos com foco nas praacuteticas pedagoacutegicas dos

professores Literacia Digital na formaccedilatildeo de professores (a possibilidade da entrada) foi o tema do

Consideraccedilotildees finais

311

capitulo 3 Seguindo a metaacutefora da rede e possibilidade de inserccedilatildeo do professor nesta o capiacutetulo

apresentou a formaccedilatildeo de professor com foco na literacia digital como uma proposta viaacutevel de inserccedilatildeo

do mesmo na sociedade em rede Neste capiacutetulo apresentou-se ainda o conceito de literacia digital

com base em teoacutericos contemporacircneos sua entrada na agenda poliacutetica e o campo de tensatildeo existente

nas escolas diante da inserccedilatildeo cada vez mais proeminente de tecnologias sobretudo portaacuteteis e

moacuteveis

Em siacutentese a discussatildeo teoacuterica apresentada nos trecircs primeiros capiacutetulos da tese descreveu o

cenaacuterio expocircs a problemaacutetica e apresentou a porta de saiacuteda Assim consideramos que o primeiro

objetivo deste trabalho foi atingido com a revisatildeo de literatura efetuada Posta a problemaacutetica e os

esclarecimentos sobre os pressupostos teoacutericos da pesquisa partimos a campo em prol de buscar

respostas agraves questotildees levantadas O uso de tecnologias nas situaccedilotildees pedagoacutegicas do curso de

licenciatura on-line em Fiacutesica da UFT promoveu a literacia digital do professor cursista inserindo-o na

sociedade em rede Quais os impactos socioeconocircmicos cognitivos e teacutecnicos da introduccedilatildeo de

inovaccedilotildees tecnoloacutegicas nas condiccedilotildees de vida dos cursitas Que possiacuteveis mudanccedilas uma formaccedilatildeo a

distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas suas praacuteticas

docentes

2 Levantamento do perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos professores cursistas

O segundo objetivo da pesquisa era a realizaccedilatildeo de sondagem sobre o perfil dos

socioeconocircmico social e acadecircmico dos cursistas com vista a compreender o contexto em que estes

se inserem Na apresentaccedilatildeo dos resultados expomos detalhadamente o perfil dos participantes da

pesquisa bem como suas percepccedilotildees sobre as tecnologias no seu dia-dia e nas praacuteticas pedagoacutegicas

de acordo com os objetivos propostos Aqui procedemos ao apontamento de algumas questotildees que

consideramos mais relevantes em relaccedilatildeo ao perfil dos participantes Estes apontamentos remetem agraves

questotildees iniciais da pesquisa e procuramos descrevecirc-los e entrelaccedilaacute-los a estas questotildees agrave medida que

discorremos a anaacutelise sucinta dos resultados do estudo

Ao iniciarmos a pesquisa empiacuterica colocamos a pensar quem eram os alunos de licenciatura

de Fiacutesica da UFT Onde estes moravam Eram alunos do sexo feminino ou masculino Que classes

sociais pertenciam Eram todos professores docentes Tinham acesso agraves tecnologias nas suas casas

Que uso faziam delas no dia-dia Enfrentavam dificuldades para lidar com os dispositivos tecnoloacutegicos

Consideraccedilotildees finais

312

Qual era o niacutevel de literacia digital deles E uma questatildeo central a formaccedilatildeo a distacircncia proporcionou-

lhes aptidotildees para a literacia digital

Em siacutentese sobre o perfil socioeconocircmico dos participantes levantado nos questionaacuterios

verificou-se que 48 possuem renda de dois a quatro salaacuterio miacutenimos satildeo na maioria do sexo

masculino (72) e todos moram na zona urbana A questatildeo da renda econocircmica chama a atenccedilatildeo

pois caracteriza os participantes da pesquisa como pessoas limitadas financeiramente Este dado eacute um

indicador que explica porque muitos natildeo possuem equipamentos conectados agrave internet Dos que

afirmaram no questionaacuterio natildeo possuir internet em casa trecircs responderam que achavam o custo da

internet elevado e natildeo podiam pagar e dois participantes disseram acessar a rede em outros lugares

Estas constataccedilotildees nos fizeram pensar a respeito da discussatildeo teoacuterica sobre as diversas

formas de exclusatildeo da rede Retomando sobre as muacuteltiplas formas de se estar marginalizado da rede

citamos Demo (2007) que prefere usar o termo marginalizaccedilatildeo agrave exclusatildeo dado que segundo o autor

a expressatildeo exclusatildeo eacute muito estanque ou se estaacute fora ou dentro A marginalizaccedilatildeo assume diversas

gradaccedilotildees em que os indiviacuteduos natildeo estatildeo totalmente fora da rede mas no limite na sua margem Eacute

neste espaccedilo que se encontram os indiviacuteduos que embora tenham algum acesso agraves tecnologias satildeo

desprovidos de equipamentos e softwares eficientes natildeo acessam a banda larga e possuem poucas

competecircncias para resoluccedilatildeo de problemas teacutecnicos

Para os participantes da pesquisa o acesso aos equipamentos de tecnologia natildeo constitui um

problema relevante Quando questionados sobre que dispositivos possuem para acesso agrave rede os

participantes afirmaram possuir nas suas residecircncias computador de mesa (348) notebook (783)

impressora (435) ligaccedilatildeo agrave internet (826) tablet (304) e smartphone (391) Assim a questatildeo

do acesso agrave internet parece natildeo ser um fator que os exclua da rede Como apontado por DiMaggio e

Hargittai (2001) existem diferentes niacuteveis e tipo de desigualdade quando se trata do acesso e uso das

tecnologias tendo sido diagnosticadas outras dificuldades nesta investigaccedilatildeo Por exemplo foi

constatado que a velocidade de conexatildeo da internet dos cursistas que varia de 1 Mbps a 2 Mbps eacute

considerada baixa para os padrotildees miacutenimos necessaacuterios Para os cursistas que residem nas cidades

do interior do Estado a situaccedilatildeo se agrava considerando que a rede por vezes oscila e fica indisponiacutevel

Outro tipo de desigualdade encontrada na pesquisa refere-se ao local em que os participantes tecircm

acesso ao computador com internet O estudo constatou que na maioria das vezes os cursistas

revezam o seu acesso entre sua residecircncia e local de trabalho DiMaggio e Hargittai (2001)

apontaram que o acesso agrave rede no trabalho eacute limitado pelo tempo e monitoramento de uso e mesmo o

Consideraccedilotildees finais

313

acesso numa casa com um uacutenico computador que pode ser dividido para o uso de vaacuterios membros da

famiacutelia eacute limitante tambeacutem do acesso

Seguindo a linha de desigualdades assinaladas por DiMaggio e Hargittai (2001) as habilidades

teacutecnicas para o uso das tecnologias satildeo consideradas pelos autores fator de peso para o indiviacuteduo tirar

pleno proveito da rede Neste sentido a pesquisa buscou investigar o que os cursistas eram capazes

de fazer quando estavam on-line Sobre a frequecircncia segundo os participantes o dispositivo com uso

mais frequente eacute o computador de mesa 96 afirmaram usaacute-lo diariamente O notebook computador

portaacutetil tambeacutem eacute utilizado por 70 dos participantes O tablet aparece como um dispositivo com baixo

uso pelos participantes (30) enquanto 72 afirmam usar celular com internet Percebe-se que neste

quesito da frequecircncia os participantes parecem assiacuteduos ao uso das tecnologias digitais com exceccedilatildeo

ao uso do tablet que se configurou com uso pouco comum da parte dos cursistas

Em relaccedilatildeo ao perfil social dos participantes da pesquisa constatou-se que os mesmos

frequentam poucos programas culturais se informam quase sempre pela internet e raramente

frequentam bibliotecas O fato de se informarem pela internet mostra que os participantes natildeo satildeo

totalmente avessos agraves tecnologias no seu cotidiando embora conforme exposto prefiram realizar

atividades mais elementares Por exemplo sobre as atividades mais comuns que realizam no celular

com internet o estudo constatou que os participantes mostraram-se propensos a evitar atividades mais

complexas e se limitarem a tarefas simples como pesquisas em sites de buscas sites educativos e

compras na internet As atividades mais difiacuteceis que exigem maior grau de literacia digital como

compartilhar conteuacutedo na internet criar apresentaccedilotildees elaboradas com viacutedeo e imagem ou realizar

transaccedilotildees bancaacuterias satildeo menos comuns no cotidiano dos cursistas Neste sentido considerando os

pressupostos teoacutericos sobre exclusatildeo digital ou desigualdades digitais percebe-se que os cursistas

estatildeo conectados agraves redes possuem acesso mas encontram limitaccedilotildees quer sejam relativas ao tipo de

conexatildeo do local de acesso ou mesmo da falta de habilidades relacionadas agrave literacia digital Estas

limitaccedilotildees natildeo os excluem da rede mas os deixa agrave margem de situaccedilotildees e oportunidades que a rede

proporciona aos que possuem bons niacuteveis de literacia digital

No tocante ao perfil acadecircmico dos participantes da pesquisa o estudo revelou que metade

dos participantes atua na sala de aula como professores mas quando questionados se lecionavam na

aacuterea que eram formados 53 responderam negativamente Sobre as razotildees da escolha por uma

formaccedilatildeo a distacircncia os dados obtidos revelaram que o fato de moraram longe de um campus de

universidade foi fator de peso para optarem pela modalidade a distacircncia Outra questatildeo relevante foi o

Consideraccedilotildees finais

314

tempo pois como a maioria trabalha realizar uma formaccedilatildeo a distacircncia eacute conviniente No entanto as

entrevistas aprofundaram essa questatildeo e os participantes revelaram outras razotildees pelas quais

escolheram o curso de Fiacutesica a distacircncia da UFT tais como o fato de ser um curso numa universidade

federal conceituada na regiatildeo a oportunidade de graduar na aacuterea que jaacute lecionam e a chance de fazer

a primeira graduaccedilatildeo depois que jaacute estavam no mercado de trabalho

Sobre as expectativas e realidade que constataram ao ingressarem no curso de Fiacutesica em EaD os

participantes responderam nos questionaacuterios que tecircm uma boa percepccedilatildeo do curso (53 disseram que

o curso eacute bom) No entanto nas entrevistas foram apresentados algumas constataccedilotildees

decepcionantes com a realidade e gargalos do curso Os cursistas acharam por exemplo que teriam

um acompanhamento constante do tutor durante o curso poreacutem alegaram sentir-se ldquoabandonadosrdquo

durante o processo diante da ausecircncia de respostas agraves suas duacutevidas A falta de interatividade entre os

cursistas na plataforma virtual tambeacutem foi observado na pesquisa como um fator de peso que justifica

que os mesmos se sintam ldquosolitaacuteriosrdquo na formaccedilatildeo Os conteuacutedos do curso tambeacutem foram

considerados difiacuteceis de entender fato que somado agrave falta de suporte do tutor leva a que muitos

desistam do curso Apesar destas constataccedilotildees quando questionados se alguma vez pensaram em

desistir do curso por dificuldades em lidar com as tecnologias 76 disseram que este natildeo seria um

motivo para desistecircncia Assim em siacutentese percebe-se que os participantes da pesquisa possuem

acesso agraves tecnologias baacutesicas como computadores notebooks tablets e smartphones com acesso agrave

internet e realizam operaccedilotildees simples no seu dia-dia Esta sondagem foi importante no estudo pois

revelou que os professores do estudo natildeo satildeo avessos agraves tecnologias na sua praacutetica cotidiana restou

constatar se o fato de realizarem uma formaccedilatildeo a distacircncia tornou-os mais aptos nas praacuteticas de

literacia digital no campo pessoal e profisisonal

3 Investigaccedilatildeo das possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos participantes

Retomando a uma das questotildees da pesquisa a formaccedilatildeo na modalidade a distacircncia

proporcionou aos cursistas aptidotildees para a literacia digital Nas entrevistas realizadas com uma

amostra dos participantes uma questatildeo especiacutefica contemplou essa questatildeo A maior parte dos

entrevistados revelou que participar de uma formaccedilatildeo a distacircncia mudou a relaccedilatildeo deles com as

tecnologias Algumas mudanccedilas apontadas pelos cursistas foram o aumento da assiduidade da

comunicaccedilatildeo em redes sociais amadurecimento quanto ao uso das tecnologias e uso mais frequente

Consideraccedilotildees finais

315

das tecnologias em geral Alguns relataram que antes natildeo tinham o haacutebito frequente de entrar na

internet mas o curso ldquoforccedilou-osrdquo a fazerem isso e foi bom para a sua vida pessoal No entanto os

participantes revelaram algumas dificuldades encontradas neste percurso sobretudo em relaccedilatildeo agrave

metodologia a distacircncia do curso de Fiacutesica Foram relatadas dificuldades de adaptaccedilatildeo com o AVA

Moodle no iniacutecio do curso Ainda sobre o AVA Moodle alguns cursistas narraram baixa interaccedilatildeo na

plataforma entre professorestutores e alunos o que causava uma sensaccedilatildeo de ldquosolidatildeordquo e

ldquoabandonordquo entre os cursistas O modelo de curso mediado por tecnologias era desacreditado por

alguns que confessaram iniciar a formaccedilatildeo para ver se realmente funcionava Em destaque a

investigaccedilatildeo averiguou que a visatildeo dos cursistas em relaccedilatildeo agrave cursos na modalidade a distacircncia

mudou significamente para melhor

Ainda considerando os anaacutelise dos questionaacuterios e das expressotildees captadas nas entrevistas a

pesquisa revelou que embora a formaccedilatildeo a distacircncia tenha favorecido em alguns aspectos a

capacidade de uso e manejo das tecnologias poreacutem no que diz respeito agraves aptidotildees de literacia

digital os resultados mostraram que os cursistas ainda estatildeo em um niacutevel de iniciantes O fato

averiguado eacute que os cursistas natildeo tinham conhecimento do conceito de literacia digital seja porque

natildeo tiveram contato com o termo na formaccedilatildeo inicial docente seja porque a temaacutetica natildeo era de

interesse para a sua formaccedilatildeo

A pesquisa tambeacutem constatou que no curriacuteculo do curso de Fiacutesica EaD natildeo contempla

disciplinas especiacuteficas sobre as tecnologias na praacutetica pedagoacutegica e mesmo a sala virtual do curso

pareceu estaacutetica e propensa a ser mero repositoacuterio de conteuacutedos De acordo com o exposto no capiacutetulo

3 deste trabalho esta perspectiva de curso a distacircncia ser pouco interativa tende a reproduzir nos

professores cursistas a visatildeo de que as tecnologias devem ser usadas no contexto educativo para

expordepositar conteuacutedos como se faz a seacuteculos usando o quadro-negro Neste sentido apontamos

como importante uma formaccedilatildeo docente para a literacia cujo foco deva ser a integraccedilatildeoapropriaccedilatildeo

do professor com as tecnologias Entretanto que estas natildeo sejam consideradas pelos professores

formandos como meras ldquoferramentasrdquo ou ldquomeiordquo mas como estrateacutegias que podem potencializar a

aprendizagem do alunado

No caso do curso de formaccedilatildeo em questatildeo mesmo sendo um curso a distacircncia o mesmo natildeo

disponibiliza ferramentas ou recursos interativos seu AVA constitui um repositoacuterio de conteuacutedos os

foacuteruns de discussatildeo satildeo subutilizados e natildeo existe uma discussatildeo sobre a integraccedilatildeo das TDIC na

Consideraccedilotildees finais

316

praacutetica docente Neste sentido compreendem-se os resultados da pesquisa sobre a aparente

resistecircncia dos professores cursistas diante das tecnologias integradas agraves suas atividades docentes

A segunda questatildeo importante levantada neste trabalho foi ldquoque possiacuteveis mudanccedilas uma

formaccedilatildeo a distacircncia causaria na visatildeo deste cursistas em relaccedilatildeo agrave introduccedilatildeo das tecnologias nas

suas praacuteticas docentesrdquo Assim esta pesquisa buscou investigar se o fato dos cursistas realizarem

uma formaccedilatildeo on-line causou alguma mudanccedila positiva na postura docente frente agraves tecnologias

presentes na escola sobretudo os dispositivos moacuteveis como tablets e celulares dos alunos em uso na

sala de aula Embora as expressotildees dos cursistas demonstrem que encaram a educaccedilatildeo mediada por

tecnologias como o futuro da educaccedilatildeo a pesquisa constatou que nas suas praacuteticas pedagoacutegicas

ainda estaacute presente o ranccedilo da tradicional educaccedilatildeo voltada para a transmissatildeo de conhecimentos

centralizada no professor

Os dados levantados no questionaacuterio e as percepccedilotildees apreendidas nas entrevistas apontaram

para um uso limitado dos recursos tecnoloacutegicos na sala de aula Criar apresentaccedilotildees em slides e

projetar aos alunos constitui uma atividade frequente constatada nos questionaacuterios (28 dos

participantes afirmaram que muitas vezes fazem apresentaccedilotildees com aparelho datashow) e tambeacutem

nas entrevistas alguns participantes quando questionados sobre o uso das tecnologias na sala de aula

afirmavam que projetavam suas aulas com uso de slides Percebe-se assim um uso instrumental da

tecnologia na praacutetica pedagoacutegica pelos professores participantes da pesquisa voltado a projetar na

parede o que escreveriam no quadro-negro ou ligar a TV e passar viacutedeos para os alunos sem nenhuma

discussatildeo relevante Segundo Silva e Cilento (2014 p 219) a TV o viacutedeo e o raacutedio por se tratarem

meios de comunicaccedilatildeo unidireccional massivos satildeo mais faacuteceis para apropriaccedilatildeo docente porque

operam no paradigma da pedagogia da transmissatildeo da qual os professores estatildeo acostumados Os

autores concluem que os meios digitais mais complexos com base na autoria do usuaacuterio e na

perspectiva da interatividade ldquodemandam do professor nova postura comunicacional e superaccedilatildeo da

prevalecircncia da praacutetica docente unidirecionalrdquo No caso do estudo em questatildeo os professores tendem a

reproduzir o que eles vivenciaramm no curso a distacircncia que participaram baixa interatividade entre

professortutoralunos e uso da tecnologia para a reproduccedilatildeo de conteuacutedos

Sobre usar um ambiente virtual de aprendizagem para orientar as atividades dos alunos 56

responderam que nunca o fizeram e 48 afirmaram que nunca usaram redes sociais para interagir

com os alunos em espaccedilos informais Outro dado relevante eacute que 26 nunca usou o computador para

atividades em sala de aula No que diz respeito ao uso do celular ou tablet na sala de aula os

Consideraccedilotildees finais

317

participantes da pesquisa afirmaram que encontram dificuldades em conduzir uma aula com os alunos

portando seus dispositivos conectados agrave internet pois os mesmos ldquodispersamrdquo e ficam fora do

controle Um dos entrevistados usou o termo ldquorefeacutemrdquo para designar como se sente quando os seus

alunos estatildeo a navegar com seus dispositivos na durante a aula

Outra constataccedilatildeo encontrada na pesquisa foi em relaccedilatildeo agrave interaccedilatildeo dos participantes com

seus alunos nas redes sociais em situaccedilotildees fora da aula O estudo revelou que 526 dos professores

nunca interagiram com seus alunos usando meios de comunicaccedilatildeo on-line e 632 nunca fizeram uso

de uma rede social para comunicar com os alunos em horaacuterios informais Estes dados reforccedilam a

discussatildeo teoacuterica de que os professores ainda encontram resistecircncia em usar as TDIC em praacuteticas

pedagoacutegicas que natildeo sejam dentro dos muros escolares Considerando a ubiquidade que as TDIC

permitem aos alunos deixar de usar a rede para alcanccedilaacute-los onde quer que eles estejam seria uma

perda de oportunidade para o professor auxiliaacute-los na busca pelo conhecimento

4 Uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital

Os ldquoachadosrdquo desta pesquisa apontaram para um quadro preocupante visiacutevel nos cursos de

formaccedilotildees na modalidade a distacircncia a reproduccedilatildeo de um modelo de formaccedilatildeo ultrapassado

conforme expresso pelo professor Manuel Sarmento77 ldquotemos um sistema de ensino do seacuteculo XIX

ministrado por professores do seacuteculo XX e frequentado por alunos do seacuteculo XXIrdquo Embora o referido

professor estivesse se referindo ao contexto de Portugal este fenocircmeno se repete no Brasil e em

muitos outros paiacuteses Aplicando esta citaccedilatildeo ao contexto socioteacutecnico em que as tecnologias estatildeo a

fazer parte do cotidiano pessoal e profissional dos indiviacuteduos os cursos de formaccedilatildeo docente satildeo do

formato do seacuteculo XIX com praacuteticas e tecnologias do seacuteculo XX cujos professores formandos lidam

com alunos do seacuteculo XXI Portanto existe um descompasso temporal cultural e social de concepccedilotildees

praacuteticas e conceitos sobre o papel das tecnologias no acircmbito da escola Se antes eram tecnologias

para o professor transmitir conteuacutedos hoje elas assumem novas formas e formatos em que o objetivo

deve ser trabalhar com os alunos fazendo uso eficaz das TDIC para potenciar seus conhecimentos

Neste sentido a importacircncia da formaccedilatildeo voltada para a literacia digital Natildeo se pode exigir do

professor uma postura de integraccedilatildeo e apropriaccedilatildeo agraves tecnologias na sua praacutetica docente se natildeo lhes

for proporcionada uma formaccedilatildeo que possibilite experiecircncias reais e praacuteticas com as TDIC bem como

77 Seminaacuterio 30 anos da Lei de Bases do Sistema Educativo realizado na Universidade do Minho Braga PT no dia 18 de outubro de 2016 Disponiacutevel em httpswwwieuminhoptptEventosnoticiasDocumentsdocumento20DMpdf Acesso em 16 dez 2016

Consideraccedilotildees finais

318

a interaccedilatildeo com os pares e professores formadores mais experientes num ambiente (escola) em que

tais praacuteticas sejam valorizadas institucionalizadas e apoiadas

Considerando o histoacuterico dos avanccedilos que a tecnologia tem tomado nos uacuteltimos vinte anos

novas reconfiguraccedilotildees estatildeo previstas a acontecer nos espaccedilos educativos Futuramente poderatildeo

surgir novos dispositivos que iratildeo substituir os tablets de hoje e novas formas de aprender e ensinar

podem ser concebidas mas o professor continuaraacute a ser o condutor o guia e mediador em direccedilatildeo do

saber Poreacutem este precisa saber o caminho sobretudo conhecer o percurso e possuir habilidades e

competecircncias para desbravar novos horizontes Resistir agraves mudanccedilas visiacuteveis nos processos educativos

ou ignoraacute-las seria um retrocesso ao modelo de educaccedilatildeo transmissiva e em massa concebida na

eacutepoca da Revoluccedilatildeo Industrial voltada para civilizar as populaccedilotildees rurais que migraram para as

cidades

Poreacutem para que ocorram mudanccedilas estruturais na praacutetica docente integrada agraves tecnologias

os cursos de formaccedilatildeo de professores precisam mudar seu modelo tradicional Noacutevoa (2014 p 2)

aponta uma possibilidade ldquoque a formaccedilatildeo continuada fosse organizada nas escolas em torno de uma

reflexatildeo conjunta dos professores sobre o proacuteprio trabalho Nessas sessotildees poderiam experimentar

novas praacuteticas e novos processos pedagoacutegicos Sabemos poreacutem que natildeo eacute assimrdquo O autor defende

que a formaccedilatildeo deve envolver interaccedilotildees em grupo entre os professores de diferentes aacutereas como

acontece na aacuterea da sauacutede em que uma equipe de muacuteltiplos profissionais estudam um caso e

analisam as possibilidades de tratamento do paciente Ou seja a formaccedilatildeo dos professores deveria

partir de casos concretos em que os mesmos assistiriam aulas reais analisariam e debateriam as

situaccedilotildees encontradas com base nas teorias de educaccedilatildeo Utilizar alguma tecnologia nesse contexto

seria tatildeo natural para o professor como eacute para um meacutedico escolher uma tecnologia (remeacutedio aparelho

proacutetese etc) para tratar o paciente

Portanto as tecnologias natildeo deveriam parecer para o professor como algo novo nem

tampouco algo complicado de se lidar Antes deveriam ser vistas como aliadas ao processo de ensino-

aprendizagem da mesma forma que o quadro-negro se tornou um aliado ao ensino simultacircneo no

seacuteculo XIX As reconfiguraccedilotildees econocircmicas poliacuteticas culturais sociais comunicacionais e

informacionais ocorridas desde entatildeo impactaram a escola que por sua vez resiste agraves mudanccedilas Do

quadro-negro ao tablet o papel do professor continua a ser fundamental no processo de formaccedilatildeo do

indiviacuteduo No entanto na era digital o professor passa ser um coadjuvante coautor co-orientador e

assume uma posiccedilatildeo horizontal em pares coletivamente e colaborativamente conduzindo e orientando

os alunos a construir e compartilhar conhecimento a partir das redes

Consideraccedilotildees finais

319

Neste iacutenterim os cursos de formaccedilatildeo inicial ou continuada a distacircncia ou presenciais

deveriam constituir oportunidades de trabalho coletivo e colaborativo entre os professores Deveriam

ser momentos de dar voz ao professor que na maioria dos eventos sobre educaccedilatildeo apenas escuta e

guarda suas anguacutestias Tambeacutem deveria haver nessas formaccedilotildees oficinas praacuteticas em que a integraccedilatildeo

das tecnologias na praacutetica docente se constituiacutesse em trocas de experiecircncias e aprendizado contiacutenuo

entre os professores

Do exposto consideramos que este trabalho cumpriu seu objetivo maior que foi averiguar se

cursos de formaccedilatildeo na modalidade EaD promovem a inserccedilatildeo dos professores na sociedade em rede e

se por sua vez aumentam seus niacuteveis de literacia digital Tendo em vista os resultados deste estudo

em que se constatou um baixo niacutevel de literacia digital no grupo de professores participantes de uma

formaccedilatildeo a distacircncia ressaltamos a importacircncia de propostas de formaccedilotildees que contemplem

transversalmente nos seus curriacuteculos oportunidades em os professores (formandos) tenham contato

com as TDIC conheccedilam suas aplicaccedilotildees e funcionalidades e que acima de tudo as usem as

explorem estabeleccedilam conexotildees com as tecnologias que jaacute usam inovem registrem os erros e

dificuldades anotem e compartilhem as experiecircncias de sucesso Eacute neste ciclo de

motivaccedilatildeopreparaccedilatildeoaccedilatildeoavaliaccedilatildeoreaccedilatildeo que o professor adquire expertise para trabalhar com

tecnologias junto aos seus alunos

Assim o modelo FIPELD apresentado no capiacutetulo cinco deste trabalho eacute apropriado para propor

a junccedilatildeo da face motivacional tecnoloacutegica e pedagoacutegica do professor num modelo ciacuteclico contiacutenuo

permanente e gradual considerando a dinacircmica em que as tecnologias vatildeo se reformulando e

inovando Durante o ciclo da FIPELD os professores vatildeo adquirindo novas competecircncias e habilidades

com as tecnologias e com o tempo de uso vatildeo se aperfeiccediloando Por sua vez a experimentaccedilatildeo praacutetica

das TDIC junto aos alunos no ambiente escolar permitiraacute a este professor em processo contiacutenuo de

formaccedilatildeo refletir sobre sua praacutetica fazer ajustes adequados evitar erros em outras experiecircncias e se

apropriar do que foi positivo Neste exerciacutecio continuado e inacabado apoiado por colegas mais

experientes e pela escola em que atua o professor poderaacute sentir-se seguro e confiante para

experimentar inovar e tirar partido do potencial que as TDIC oferecem aos que buscam o grau de

excelecircncia em literacia digital saindo da marginalizaccedilatildeo digital e adentrando na sociedade em rede

Portanto este estudo sinaliza para a necessidade de uma discussatildeo mais ampliada no Brasil

para a formaccedilatildeo inicial e continuada(a distacircncia ou presencial) de professores com foco na literacia

Consideraccedilotildees finais

320

digital Tambeacutem eacute fundamental a ampliaccedilatildeo desta investigaccedilatildeo a uma amostra mais alargada como

por exemplo em todos os cursos de licenciatura a distacircncia da UFT ou mesmo um estudo comparativo

com outras instituiccedilotildees de ensino superior no Brasil ou no exterior Esperamos que outras

investigaccedilotildees sobre a literacia digital de professores venham somar ao nosso estudo e que esta

temaacutetica constitua alvo dos formuladores de poliacuteticas puacuteblicas no Brasil como jaacute acontece em outros

paiacuteses Sobre a proposta FIPELD seria interessante sua aplicaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de forma que numa

investigaccedilatildeo futura esta possa ser consolidada como um modelo efetivo de formaccedilatildeo integrada

evolutiva e permanente de formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital

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Apecircndices

Apecircndice 1 ndash Questionaacuterio

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

345

PESQUISA SOBRE AVALIACcedilAtildeO DE COMPETEcircNCIA DOCENTE EM TECNOLOGIAS DIGITAIS DA INFORMACcedilAtildeO E COMUNICACcedilAtildeO (TDIC)

Caro (a) Estudante

Este formulaacuterio estaacute dividido em 3 partes 1- Um questionaacuterio para caracterizaccedilatildeo do perfil econocircmico sociocultural uso de internet e aparelhos celulares frequencia ao curso EaD e atividades profissionais do professor 2- Uma Escala do uso tecnologias digitais no cotidiano 3- Uma Escala do uso de tecnologias digitais na praacutetica pedagoacutegica A sua participaccedilatildeo seraacute de extrema importacircncia e nesse sentido solicitamos que responda ao questionaacuterio que se segue Considerando que se trata de uma investigaccedilatildeo os resultados obtidos natildeo seratildeo analisados individualmente mas sim de forma global Os seus dados seratildeo tratados de forma confidencial protegendo assim o seu anonimato

Grata

Profa Ms Elaine Jesus Alves

PARTE 1 - QUESTIONAacuteRIO DO PERFIL ECONOcircMICO SOCIOCULTURAL E SOBRE USO DA INTERNET

I - Identificaccedilatildeo do Entrevistado

1 Idade

( ) Ateacute 24 anos ( ) De 25 a 34 anos ( ) De 35 a 44 anos ( ) De 45 a 54 anos ( ) Mais de 55 anos

2 Sexo

( ) Masculino ( ) Feminino

3 Mora em que localidade atualmente

( ) Urbana ( ) Rural

31 Se vive em cidade indique qual _______________________ 32 Se vive em zona rural indique qual e em localidade fica ___________________

4 Renda familiar bruta familiar

( ) Ateacute 2 salaacuterios miacutenimos (SM) ( ) De 2 a 4 SM ( ) De 4 a 10 SM

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

346

( ) De 10 a 20 SM ( ) Acima de 20 SM

5 Jaacute possui uma graduaccedilatildeo

( ) Sim ( ) natildeo

51 Se possui qual _______________________

6 Atua como professor atualmente

( ) Sim ( ) natildeo

7 Tempo de docecircncia ano(s)

( ) Ateacute 1 ano ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 6 a 10 anos

( ) Mais de 11 anos 8 Leciona na aacuterea da sua formaccedilatildeo

( ) Sim ( ) natildeo

81 Se natildeo qual eacute a aacuterea que leciona_____________________________

9 Qual periacuteodo do curso de Licenciatura em Fiacutesica estaacute cursando ( )

II - Questotildees de iacutendole sociocultural

10 Qual o principal meio de comunicaccedilatildeo mais utilizado para informaccedilotildees sobre os acontecimentos atuais

( ) Jornal ( ) Raacutedio ( ) Televisatildeo ( ) Internet ( ) Conversa com outras pessoas ( ) Outro Qual ______________________ ( ) Natildeo uso meios de comunicaccedilatildeo para me informar

11 Que programas culturais vocecirc tem acesso com mais frequecircncia

( ) Teatro ( ) Shows culturais ( ) Biblioteca puacuteblicas ( ) Cinema

( ) Outro ___________________________ ( ) Natildeo tem feito programas culturais

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

347

12 Vocecirc faz consulta na biblioteca do seu polo presencial

( ) Natildeo ( ) Esporaacutedica (1 a 3 vezes ao mecircs) ( ) Semanal (1 ou 2 vezes) ( ) Diaacuteria

13 Domina alguma liacutengua estrangeira

( ) Sim ( ) Natildeo

131 Se sim qual liacutengua estrangeira que domina _____

132 Se natildeo domina uma liacutengua estrangeira este fato dificulta o uso da internet

( ) Sim ( ) Natildeo

14 Tem computador em casa

( ) Sim ( ) Natildeo

III - Acesso e uso da internet Responda as questotildees 15 a 17 apenas se tiver computador em casa

15 Da lista que se segue indique o(s) equipamento(s) que possui em sua casa (pode assinalar mais de uma resposta)

( ) Computador de mesa ( ) Notebook (laptop) ( ) Impressora ( ) Scanner ( ) Ligaccedilatildeo agrave Internet ( ) Tablets ( ) Smartphone ( ) Outro(s) ________________

16 Sua internet eacute de que tipo

( ) Acesso discado ( ) Banda larga fixa via linha telefocircnica (DSL) ( ) Banda larga fixa via raacutedio ( ) Banda larga fixa via sateacutelite ( ) Banda larga moacutevel 3G ( ) Banda larga moacutevel 4G

17 Qual a velocidade da internet da sua casa ( ) Ateacute 256 Kbps ( ) Mais de 256 Kbps a 1Mbps ( ) Mais de 1Mbps a 2Mbps

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

348

( ) Mais de 2Mbps a 4Mbps ( ) Mais de 4Mbps a 8Mbps ( ) Acima de 8Mbps 18 Se vocecirc natildeo possui computador com internet em casa responda o motivo ( ) Custo elevado e natildeo pode pagar ( ) Falta de necessidade ou interesse ( ) Custobenefiacutecio natildeo vale a pena ( ) Tem acesso a internet em outro lugar ( ) Outros Qual _____________________________ 19 Vocecirc acha que seu conhecimento em informaacutetica e uso da internet eacute ( ) Ruim ( ) razoaacutevel ( ) Bom ( ) Muito bom 20 Haacute quanto tempo utiliza computador ( ) Menos de 1 ano ( ) 1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 21 Haacute quanto tempo utiliza computador com internet ( ) Menos de 1 ano ( ) 1 a 5 anos ( ) 6 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 22 Como aprendeu a usar o computador

( ) Aprendi sozinho em casa ( ) Aprendi com os meus pais irmatildeos ou com outros familiares ( ) Aprendi com um amigo ou colega de escola ( ) Aprendi no meu trabalho ( ) Aprendi em cursos de informaacutetica ( ) outros Qual ________________ 23 Locais de acesso a internet

( ) Casa ( ) Trabalho ( ) Escola (laboratoacuterio de informaacutetica) ( ) Lan-houses ( ) Casa familiaresamigos ( ) Locais puacuteblicos com wifi ( ) Outro Qual ______

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

349

IV ndash O uso do celular com internet

Sobre o uso do aparelho celular com internet responda as questotildees 24 a 28

24 Possui aparelho celular com internet

( ) Sim ( ) Natildeo

25 Se possui que tipo de conexatildeo utiliza

( ) 3 G ( ) 4 G ( ) Wifi ( ) Outra Qual _______________ 26 Com que frequencia usa a internet no celular ( ) Natildeo usa ( ) Usa esporadicamente (uma vez ao mes) ( ) Semanal ( uma a duas vezes por semana) ( ) Diariamente 27 Quais tipos de atividades realiza com o celular Pode assinalar mais de uma opccedilatildeo ( ) Efetuar e receber chamadas telefocircnicas ( ) Enviar e receber sms ( mensagens) ( ) Tirar fotos ( ) Ouvir muacutesicas ( ) Jogar games ( ) Assistir viacutedeos ( ) Acessar redes sociais (facebook whatsapp outras) ( ) Compartilhar viacutedeos fotos textos ( ) Acessar email ( ) Baixar aplicativosBuscar informaccedilotildees em sites da internet ( ) Gps (mapas) ( ) Outros ____________________

V - Frequencia do curso em EaD

28 Qual sua opiniatildeo sobre o curso que vocecirc frequenta

( ) Ruim ( ) Razoaacutevel ( ) Bom

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

350

( ) Muito bom

29 Porque escolheu o curso na modalidade a distacircncia

( ) Falta de tempo para frequentar diariamente um curso ( ) Mora longe de uma universidade ( ) Achava que eacute mais faacutecil que o curso presencial ( ) Vergonha de frequentar o curso junto com pessoas mais jovens ( ) Era a uacutenica alternativa para a regiatildeo que moro ( ) Outra Especifique ___________________

30 Que polo vocecirc frequenta

( ) Palmas ( ) Cristalacircndia ( ) Ananaacutes ( ) Cristalacircndia

31 Vocecirc vai ao polo presencial com que frequecircncia

( ) Mais de trecircs vezes por semana ( ) Ateacute duas vezes por semana ( ) Uma vez por semana ( ) Uma vez por mecircs

32 Solicita a ajuda do tutor presencial para realizar algumas das atividades do curso

( ) Sim ( ) Natildeo

33 Vocecirc ficou satisfeito(a) com a ajuda do tutor

( ) Sim ( ) Natildeo

34 Jaacute pensou em desistir do curso por falta de habilidade com o uso do computador com Internet

( ) Sim ( ) Natildeo

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

351

PARTE 2 - ESCALA DO USO TECNOLOGIAS DIGITAIS NO COTIDIANO

VI - Tecnologias e sua aplicaccedilatildeo

35 Assinale (com um ldquoXrdquo) a frequecircncia com que utiliza as Tecnologias Digitais da Informaccedilatildeo e Comunicaccedilatildeo no seu dia-a-dia

Tipo de tecnologias Natildeo usa Esporaacutedica (1 a 3 vezes

ao mecircs)

Semanal (1 ou 2 vezes)

Diaacuteria

1 Computador 2 Tablets 3 MP3 Players 4 DVD 5 Projetor multimidiamultimeacutedia

6 CelularTelemoacutevel 7 Ambiente virtual de aprendizagem

8 Notebook

9 Softwares Seguranccedila Editor de textos Ferramenta de aplicaccedilatildeo Navegador e buscador Web Planilha electroacutenicacalculo Leitor de documentos Simulaccedilatildeo Imagem e viacutedeo Tutoriais e simuladores 10 Internet e-mail Blog Biblioteca online Redes sociais Portal de informaccedilotildees Bases de Dados VoIP (Skype) Filmes e-books Musicas (You Tube) Jogos virtuais Outro (Especificar)

36 Com respeito ao uso das aplicaccedilotildees das tecnologias no seu dia-dia responda os itens de 1 a 20

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

352

Itens Nunca Algumas

vezes Muitas vezes

Sempre

1 Procuro manter-me informado sobre as tecnologias digitais disponiacuteveis para usar no meu dia-a-dia

2 Resolvo problemas ligados agraves minhas tarefas usando as tecnologias digitais

3 Entendo o que o pessoal especializado em tecnologia diz

4 Uso programas que protegem os meus equipamentos contra invasotildees ou divulgaccedilatildeo de minhas informaccedilotildees sigilosas

5 Uso a internet para me manter informado das notiacutecias cotidianas

6 Uso as tecnologias digitais de que disponho como apoio na tomada de decisotildees das minhas atividades em geral

7 Avalio a usabilidade e acessibilidade de um site 8 Participo em comunidades virtuais que estatildeo relacionadas com a minha aacuterea de interesse

9 Sou capaz de identificar situaccedilotildees de cyberbullying nas redes sociais

10 Utilizo mecanismos de busca para filtrar somente as informaccedilotildees que desejo

11 Recorro agrave Internet para divulgar notiacutecias ideacuteias projetosetc

12 Pesquiso sites educativos na Internet 13 Faccedilo download de documentos com diferentes suportes midiaacuteticosmediaacuteticos

14 Produzo e compartilho viacutedeos usando tecnologias digitais

15 Elaboro apresentaccedilotildees com imagens sons e animaccedilotildees

16 Pesquiso produtos na Internet para comprar procurando melhores ofertas de produtos e preccedilos

17 Uso a Internet para fazer as minhas transaccedilotildees bancaacuterias

18 Uso a Internet para fazer compras online 19 Acesso o internet para pagamento de impostos taxas ou multas do governo

20 Uso a internet para me comunicar com pessoas que estatildeo longe do meu conviacutevio fiacutesico

Apecircndice 1 - Questionaacuterio

353

PARTE 3 - ESCALA DO USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA

VII tecnologias e praacuteticas pedagoacutegicas

37 Como eacute professora refira-se ao uso do computadorInternet nas atividades de ensino e aprendizagem a seguir indicadas

Itens atividades Nunca Algumas vezes

Muitas vezes

Sempre

1 Planejo atividades nas quais os alunos utilizem o computador nas aulas que leciono

2 Uso o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos meus alunos

2 Uso o computador para acompanhar o processo de aprendizagem dos meus alunos

4 Planejo atividades que possibilitem ao aluno adquirir competecircncias para usar o computador

5 Uso o computador para processar dados e informaccedilotildees relativos ao desempenho dos alunos

6 Implemento estrateacutegias didaacuteticas que usem o computador nas aulas que leciono

7 Uso o computador nas aulas garantindo igualdade de acesso aos alunos pelas estrateacutegias de trabalho utilizadas

8 Avalio os efeitos do uso do computador pelos alunos na sua aprendizagem

9 Planejo as estrateacutegias de avaliaccedilatildeo da aprendizagem usando o computador

10 Crio apresentaccedilotildees com recurso do computador para usar nas disciplinas que leciono

11 Oriento ou supervisiono as atividades dos alunos por meio de ambiente virtual de aprendizagem

12 Uso computador para comunicar aos alunos os resultados de seu desempenho

13 Utilizo redes sociais para interagir com os meus alunos em horaacuterios informais

14 Disponibiliza tempo para interagir com os alunos em ambiente virtual ou em outros meios disponiacuteveis para comunicaccedilatildeo online

15 Incentivo meus alunos a compartilharem seus conhecimentos divulgando em blogs sites ou redes sociais

Muito obrigada pela sua participaccedilatildeo

Apecircndice 2 - Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas

Apecircndice 2 ndash Guiatildeo de entrevistas semi-estruturadas

357

Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas

Trajetoacuteria acadecircmica razatildeo da escolha por um curso a distacircncia

Expectativas quando iniciou o curso e percepccedilatildeo atual

Provaacuteveis dificuldades e desafios em relaccedilatildeo ao uso da tecnologia

Concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia

Percepccedilatildeo sobre cursos a distacircncia

Vivecircncia universitaacuteria e praacutetica pedagoacutegica na escola que atua

Auto-avaliaccedilatildeo sobre seu niacutevel de literacia digital

Interaccedilatildeo com alunos em redes sociais

Percepccedilatildeo das tecnologias nas escolas

Futuro da educaccedilatildeo a distacircncia

Apecircndice 3 - Transcriccedilatildeo das entrevistas

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

361

Transcriccedilatildeo da Entrevista 1 (E1)

Perfil professor de filosofia na rede puacuteblica estadual Formaccedilatildeo Licenciatura em Histoacuteria

Entrevistadora - Primeiramente gostaria que vocecirc falasse sobre sua trajetoacuteria acadecircmica por que vocecirc decidiu fazer um curso a distacircncia

E1 - Bom eu fiz porque era um curso que eu tinha pretensatildeo de fazer muito tempo ai surgiu no instagran e eu por curiosidade de conhecer o sistema optei fazer fiacutesica Eu natildeo queria fazer graduaccedilatildeo todo o periacuteodo numa faculdade como eu jaacute tinha feito uma outra faculdade falei natildeo como eacute a distacircncia vai ser bem interessante Para eu saber como funcionava esta questatildeo da educaccedilatildeo a distacircncia mesmo eu tinha curiosidade de saber disso aleacutem de querer fazer fiacutesica eu tinha curiosidade de saber como funcionava

Entrevistadora - E quais eram suas expectativas quando iniciou o curso e quais satildeo as percepccedilotildees que hoje vocecirc tem Estaacute em qual periacuteodo

E1 - Quinto periacuteodo Bom as expectativas a princiacutepio era curiosidade saber como seria isso na praticidade um curso de fiacutesica considerando difiacutecil caacutelculos e eu imaginava com algueacutem do seu lado eacute complicado imagina a distacircncia Quando vocecirc tiver duacutevida como vocecirc vai tirar E muita coisa do curso assim as minhas anguacutestias natildeo foram saciadas elas ficaram

Entrevistadora - Continuam

E1 - Continua sim vocecirc tem muita dificuldade de tirar duacutevidas marcar grupo de estudos como eacute dinacircmico os colegas trabalham entatildeo vocecirc tem muita dificuldade de marcar estudo entatildeo as duacutevidas vocecirc natildeo tira praticamente vocecirc tem que estudar quebrar a cabeccedila Agora assim ajuda uma coisa te ajuda a ser autodidata e tambeacutem a gostar de tecnologia Eu jaacute natildeo gosto de tecnologia ainda preciso me adaptar a isso natildeo gosto muito de ficar em computador cinco seis horas durante o dia isso natildeo era minha praacutetica Ai hoje muda um pouco eu jaacute consigo faze isso Jaacute gosto de ler texto atraveacutes do computador natildeo gosto muito de ver viacutedeo mudou alguma coisa

Entrevistadora - A pergunta que vou fazer eacute em relaccedilatildeo a isso qual a dificuldade que vocecirc enfrentou no iniacutecio com relaccedilatildeo agrave tecnologia vocecirc ateacute jaacute falou um pouco como a sua visatildeo da tecnologia alterou ou natildeo durante o curso

E1 - Porque assim a minha dificuldade maior era essa quando eu fazia faculdade normal sem ser a distacircncia noacutes usaacutevamos o computador soacute para trabalho a gente ficava muito tempo vendo viacutedeo e fazendo pesquisa mas natildeo era assim internet Jaacute tinha internet mas natildeo dedicava tanto porque era difiacutecil ter uma literatura toda pronta entatildeo ficava mais nos livros mesmo E como eu vim pra fiacutesica e era uma modalidade diferente entatildeo eu tive esta grande dificuldade de adaptaccedilatildeo Vocecirc tem que usar a tecnologia constantemente todo dia vocecirc tem que ter acesso ao computador tem que ler umas duas horas trecircs horas Assim vocecirc tem que ter uma disciplina para vocecirc ter acesso E quem natildeo gosta tem grande dificuldade vocecirc imagina esta lendo um livro vou deixar de ler um livro e ficar em frente de um computador entatildeo eacute complicado Mas assim mudou um pouco hoje eu consigo jaacute

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

362

Entrevistadora - E qual a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia Como vocecirc ve a educaccedilatildeo adistacircncia Vocecirc acredita que ela tem algum potencial social

E - Olha eu acredito assim eu acredito que eacute um meio que possibilita as pessoas eu sempre penso que a educaccedilatildeo a distacircncia eacute um facilitador de conhecimento Facilita muito vocecirc imagina a pessoa quer fazer um curso soacute tem em Palmas e ele mora laacute no bico do papagaio ndash Augustinoacutepolis como ele vai fazer Era inviaacutevel entatildeo a (educaccedilatildeo) distacircncia ela facilita isso Faz com que a pessoa encontre o curso que quer Assim tem a expressatildeo que todo o canto virou centro com a questatildeo da tecnologia Ela chama todo mundo para o centro e dialoga Mesma coisa que vocecirc em Palmas vocecirc ve laacute na cidadezinha do interior e por ai vai Hoje soacute natildeo estuda assim acredito que com a educaccedilatildeo a distacircncia soacute natildeo estuda quem quer porque facilitou muito Mesmo que natildeo eacute o curso ideal mas se naquele momento eacute aquele que daacute para vocecirc fazer entatildeo faccedila depois vocecirc consegue fazer outro

Entrevistadora - Voce indicaria a um colega ou conhecido a fazer um curso a distacircncia

E1 - Eu indicaria acredito que eacute algo que todo mundo deveria conhecer Soacute que eu indicaria fazer um presencial para ela ter uma comparaccedilatildeo Porque se a pessoa faz soacute a distacircncia por mais que tenha toda uma campanha em cima da educaccedilatildeo a distacircncia hoje tem um trabalho voltado para isso mas a gente percebe que haacute uma decadecircncia sim Decadecircncia que eu falo natildeo eacute do modo mas das proacuteprias pessoas Porque eacute necessaacuterio vocecirc ter uma disciplina de estudo e eu penso quem quer fazer a distacircncia pensa que tem que estudar pouco Os conteuacutedos na verdade eles satildeo muito sucintos entatildeo vocecirc tem que ir mais porque natildeo daacute para vocecirc ficar vocecirc trabalha geralmente as pessoas trabalham entatildeo assim as pessoas natildeo entram com esta ideia de pesquisador de se empolgar com o estudo entatildeo se faz por fazer Eu tiro por mim eu tenho vontade de fazer fiacutesica mas assim se fosse meu primeiro curso superior eu natildeo faria telepresencial a distacircncia eu faria presencial mesmo Natildeo eacute desmerecendo mas eu acho que o presencial ele daacute mais disciplina Ele te capacita ele te treina e quando vocecirc entra num telepresencial A pessoa jaacute tem que ter esta disciplinaAi as pessoas no Brasil mesmo natildeo tem o haacutebito de estudar satildeo poucas pessoas que tem o haacutebito de estudar ler trecircs ou quatro horas por dia As vezes o adolescente ou a crianccedila estuda um periacuteodo o outro ele fica vago ele natildeo tem habilidade Entatildeo imagina isso a distacircncia Ai as vezes tem um aluno que se destaca e todo mundo fica nas costas daquele e vai para frente Mas eu indicaria assim com algumas ressalvas mas eu acredito que eacute uma educaccedilatildeo boa mas que a pessoa deveria fazer um comparativo ter as duas experiecircncias Mas entre todas se haacute a possibilidade de fazer soacute a distacircncia faccedila melhor que natildeo fazer natildeo eacute

Entrevistadora - Me fale um pouco sobre a sua vivecircncia universitaacuteria neste percurso ateacute o quinto periacuteodo na sua praacutetica praacutetica pedagoacutegica embora vocecirc natildeo decirc aula de Fiacutesica mas a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo alterou alguma coisa na sala de aula alterou alguma coisa sobre sua visatildeo das tecnologias

E1 - Como eu trabalho a disciplina de Filosofia e ela parece que eacute contramatildeo do meio tecnoloacutegico Porque Eu ateacute tentei fazer muitas experiecircncias por exemplo tentar que os meninos acessassem os sites lerem textos porque estavam com o celular na matildeo todo mundo e interagia e em baixo laacute tinha os questionaacuterios parece que o texto o tempo de leitura era dois minutos era bem raacutepido e os alunos

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

363

quando viram eles acharam muito extenso entatildeo eles comeccedilaram a navegar em outras O que eu tenho dificuldade eacute essa eacute como usar a expressatildeo como canalizar os seus objetivos dentro das redes ou dentro do meio tecnoloacutegico entendeu Eu acredito que tem algum ambiente que faccedila isso mas na nossa escola natildeo conseguimos fazer Quando um aluno abre um site ele consegue fazer tudo que ele quer ele viaja o mundo sentado na cadeira escolar e a gente fica laacute refeacutem Porque quando vocecirc chega proacuteximo ele muda de site entatildeo vocecirc sabe que natildeo estaacute tendo produtividade e eles adoram que a gente faccedila isso por que Porque eles natildeo fazem o que vocecirc pediu fogem sempre E a minha grande dificuldade eacute isso eu ateacute pensei assim mas como eu natildeo sou muito dominador da tecnologia como poderia dentro de uma escola vocecirc criar um ambiente proacuteprio tipo ter uma aula de fiacutesica filosofia ou de ciecircncia ou de portuguecircs ter sites direcionados soacute para aquilo se o aluno quisesse natildeo tinha como ele navegar para outro site somente aqueles Eu acho natildeo sei se eacute faacutecil ou se eacute difiacutecil mas assim eu tento eu jaacute tento mas eu uso eacute as tecnologias mais tradicionais Datashow pego viacutedeos levo passo passo aqueles slides mais tradicionais Mas coisas modernas mesmo eu natildeo consigo Por exemplo interagir no whatssapp

Entrevistadora - Eacute isso que eu ia ateacute te perguntar vocecirc usa algum aplicativo de celular whatsapp ou redes sociais como facebook para interagir com seus alunos

E1 - Assim no face natildeo interage no whatsapp eacute mais interessante Vocecirc pega pequenas frases e mandar soacute que eu natildeo tenho whatsapp tambeacutem Eacute o seguinte se vocecirc usa para o trabalho oacutetimo mas soacute que o whatsapp vocecirc natildeo usa soacute para o trabalho vocecirc comeccedila a espalhar o nuacutemero eacute um nuacutemero de uso praticamente e ai parece que vocecirc recebe muitas coisas que vocecirc natildeo quer receber entatildeo no momento eu optei por natildeo estar usando whatsapp ainda

Entrevistadora - E facebook vocecirc tem

E1 ndash Tenho

Entrevistadora - Mas vocecirc fala com algum aluno pela rede

E1 - Alguns alunos a gente comunica mas assim tipo vocecirc manda alguma atividade para interacionar natildeo tem como Porque assim eu debato na escola a tecnologia eacute oacutetima soacute que ela preenche interesses particulares ela natildeo preenche em alguns momentos interesses coletivos entendeu Claro que preenche quando vocecirc faz manifestaccedilotildees mas assim numa sala de aula acho que eacute fato aula de portuguecircs por exemplo numa sala de quarenta alunos talvez 10 goste e 30 natildeo gosteou vice e versa e este que natildeo gostam eles conseguem pertubar o suficiente o conviacutevio social entendeu Porque Na nossa escola fizemos isso tentamos fazer dois meses isso tentar fazer aulas online entendeu teve um professor que criou uma espeacutecie de moodle dentro da escola e cada um postava um tipo de conteuacutedo e pedia para realizar as atividades e ai natildeo deu certo

Entrevistadora - Natildeo foi pra frente

E1 - Natildeo foi assim e todo mundo estaacute com celular na matildeo whatsapp todo mundo tem e porque natildeo funciona Ai eu penso sempre assim ela me satisfaz o interesse que eu quero natildeo o que o outro estaacute querendo

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora - Eacute isso que ia te perguntar agora justamente sobre a questatildeo da tecnologia como vocecirc encara a presenccedila dos celulares ou tablets natildeo sei se a sua escola permite que o aluno o aluno leve tem algumas escolas que proiacutebem

E1 - A nossa escola tambeacutem vai ateacute contramatildeo ela proiacutebe

Entrevistadora - Proiacutebe totalmente O que vocecirc acha disso

E1 - Olha a principio em termo educacional como por limite regra

Entrevistadora - Ele natildeo pode nem levar

E1 - Natildeo porque quando ele leva se ele usasse para as aulas porque fica bem claro assim ldquovocecirc usa para as aulasrdquo o aluno diz que natildeo ele natildeo interessa pesquisar noacutes fizemos uma pesquisa dentro da escola satildeo 1300 alunos

Entrevistadora - Escola estadual

E1 - Escola integral municipal entatildeo eacute fase pequena imagina vocecirc trabalhar com aluninho do primeiro ao 8ordm ano ateacute que do 6ordm para frente vocecirc consegue entendeu agora o aluno do 1ordm ano vocecirc acha que vai conseguir dominar ele suficiente soacute para ir onde vocecirc quere ai o aluno do 6 ordm 7ordm ou 8ordm entatildeo eles estatildeo assim descobrindo tudo entatildeo para eles quanto mais eles andarem melhor eles natildeo podem parar e como vocecirc vai dar uma aula assim sem parar um momento da uma direccedilatildeo Eacute bem complicado mesmo Entatildeo a escola os alunos pedem mas dentro do regimento interno da escola eacute proibido

Entrevistadora - Mas e na hora do intervalo eles usam

E1 - Eacute proibido mesmo usa se vocecirc chegar vocecirc ve aluno usando mas assim enquanto norma da escola eacute proibido

Entrevistadora - Mas tem algum momento em que eles vao para o laboratoacuterio

E1 - Tem os laboratoacuterios de informaacutetica que eles tecircm acesso ai tem alguns celulares que o professor consegue jogar o conteuacutedo para o proacuteprio celular deles entendeu mas como eu jaacute havia falado quando usa este meacutetodo eacute meio difiacutecil para o professor conduzir entende Assim objetivamente fica uma coisa assim dei por dar mas natildeo tem produtividade A dificuldade eacute alcanccedilar o objetivo mesmo projetado Natildeo sei se vocecirc entende a expressatildeo o aluno ele faz aquilo que pede faccedila isso para mim como fosse obrigatoacuterio pesado para ele entatildeo natildeo interessa Se ele sozinho ele pode fazer se natildeo tiver ningueacutem orientando Mas agora se pede parece que eacute uma coisa que perdeu a graccedila entendeu Acho que o engraccedilado com o celular eacute fazer o que eu quero e natildeo o que vocecirc quer que eu faccedila

Entrevistadora - Jaacute que estamos falando de tecnologia na escola da situaccedilatildeo que vocecirc presencia qual vocecirc acha ser o futuro da educaccedilatildeo considerando o avanccedilo tecnoloacutegico as crianccedilas com jogos na matildeo tecnologia tecnologia de ponta qual vocecirc acha que vai ser o futuro das escolas Vai abolir de vez ou vai ter que se adaptar com as tecnologias o que vocecirc pensa sobre isso

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E1 - Eu penso o seguinte que a educaccedilatildeo no fundo no fundo ela eacute tradicional ela nunca vai conseguir abrir matildeo o suficiente para dizer que eacute inovador totalmente inovador ela vai como se fosse numa espeacutecie de braccedilo aberto segurando uma hora um laacute outra hora um ca Sobre a tecnologia eu tambeacutem acho ateacute um pouco difiacutecil para proacutepria educaccedilatildeo porque a tecnologia por ser tecnologia ela tem muita informaccedilatildeo e eu fico pensando assim ldquoum educador quanto tempo vocecirc estuda para chegar num ponto de dominar mais ou menos isso aqui vocecirc leva 3 a quatros anos e a tecnologia ela muda em meses ou segundos e por ai vai Entatildeo assim a educaccedilatildeo a niacutevel de educaccedilatildeo de qualidade mesmo eu acredito que ela natildeo acompanha E eu acredito assim vai chegar um tempo que isso vai dar uma freada abolir acho natildeo vai agregar muitas coisas vai melhorar mas acompanhar o ritmo e talvez chegar numa educaccedilatildeo futura todo mundo a distacircncia tambeacutem natildeo acredito muito nessa educaccedilatildeo natildeo Eu acredito que ela vai ter uma melhora as pessoas vatildeo se conscientizar mais talvez vai parar de ser vista como aquela educaccedilatildeo soacute feita por fazer A proacutepria sociedade vai reconhecer entendeu vai depender muitos dos profissionais que se formaram e conseguiram engajar no mercado e conseguiram reproduzir isso de forma positiva E para noacutes aqui no Brasil aqui eacute nova a educaccedilatildeo a distancia A historia do ensino talvez tenha ai uns quinze dezesseis anos

Entrevistadora - Agora a pergunta final sobre literacia que eu tinha dito sobre a capacidade de analisar processar apreender e avaliar aleacutem disso criar comunicaccedilotildees que eacute outra coisa hoje a internet permite que vocecirc seja autor Hoje vocecirc pode colocar um blog e falar o que vocecirc pensaque nota vocecirc daria a si mesmo sendo sincero desta sua literacia digamos de 0 a 10 como vocecirc se autoavalia nesta capacidade de fazer tudo isso

E1 - Olha professora na internet eu realmente sou assim muito aqueacutem natildeo sou muito fatilde de internet natildeo sinceramente eu daria nota zero Porque assim natildeo sou esta pessoa interacionista na internet eu leio alguma coisa eu pesquiso mas assim eu acho que a gente como professor dava para contribuir muito mais E porque vocecirc natildeo contribui as vezes a gente faz esta pergunta As vezes eacute falta de compromisso ou de interesse com aquele ambiente entendeu Eu acho interessante mas natildeo tenho aquela empolgaccedilatildeo Eu prefiro ler um livro do que ficar horas na internet fuccedilando Entatildeo assim eu preciso melhora muito nisso eu natildeo sou muito entusiasmado com este negocio de internet natildeo

Entrevistadora - Ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 2 (E2)

Perfil Natildeo eacute professor mas pretende ser quando finalizar o curso

Entrevistadora - Primeiramente gostaria que vocecirc falasse sobre a sua trajetoacuteria acadecircmica assim bem breve porque vocecirc decidiu fazer um curso a distancia o que te levou a isso

E2 - Foi mais a questatildeo do trabalho o meu trabalho natildeo me propicia eu estar numa sala de aula todos os dias a noite

Entrevistadora - O que vocecirc faz

E2 - Eu sou teacutecnico em eletroteacutecnica eu trabalho com usinas hidreleacutetricas e elas natildeo estatildeo situadas proacuteximas as cidades estatildeo mais deslocadas para o interior que eacute aonde estatildeo os rios maiores Entao foi por este motivo que eu natildeo tive condiccedilotildees de cursar presencial jaacute tentei mas natildeo foi possiacutevel Entatildeo o curso a distancia tem esta vantagem porque todo o seu acesso eacute via internet entatildeo isso facilita de onde eu estiver eu acessar as plataformas

Entrevistadora - E quais eram as suas expectativas quando iniciou o curso e qual a percepccedilatildeo que tens hoje

E2 - A expectativa era de mudar de aacuterea porque onde eu estou natildeo me da muitas condiccedilotildees de tempo para continuar estudando dai mudando de aacuterea que eacute uma aacuterea que eu gosto tambeacutem que eacute a educaccedilatildeo isso dai me faz com que eu tenha mais tempo e condiccedilotildees de dar continuidade aos meus estudos

Entrevistadora - Neste caso vocecirc faz uma licenciatura porque pretende ser professor

E2 - Pretendo ser professor exatamente porque gosto e quero mudar de aacuterea tambeacutem Onde estou natildeo me propicia a continuar estudando

Entrevistadora - Em relaccedilatildeo a tecnologia que eacute um curso a distancia vocecirc teve alguma dificuldade com relaccedilatildeo a metodologia do curso como que era sua visatildeo com respeito a tecnologia antes do curso

E2 - Eu sempre achei que natildeo fosse possiacutevel estudar a distancia porque toda vida a gente teve aquele contato com a sala de aula mas pelo fato de eu jaacute ter feito um curso teacutecnico eu jaacute tive bastante contato com esta tecnologia tambeacutem com informaacutetica experimentaccedilatildeo na internet entatildeo eu natildeo tive muita dificuldade com o curso e a proacutepria matemaacutetica tambeacutem Eacute uma coisa que eu sempre gostei

Entrevistadora - Com respeito a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo o que vocecirc acha da modalidade em sim com respeito a questatildeo social

E2 - Eu acho interessante porque ela da esta condiccedilatildeo para as pessoas que natildeo tem tempo para estarem na sala de aula todos os dias cursar o que gosta aquilo que vocecirc tem mais interesse porque hoje em dia ateacute os cursos de exata eacute possiacutevel fazer a distacircncia

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora - Voce indicaria a um colega ou conhecido fazer um curso a distacircncia

E2 - Sim ateacute jaacute fiz isso uma pessoa que fez o curso teacutecnico junto comigo eu falei para ela do curso a distancia de Fiacutesica na aacuterea de exata que tem muito a ver tambeacutem com o curso de eletroteacutecnica ele achou bastante interessante a ideia ele fez o vestibular e estaacute cursando hoje o primeiro periacuteodo

Entrevistadora - Agora como vocecirc natildeo eacute professor pretende ser com respeito ao uso das tecnologias quando vocecirc for professor como vocecirc pretende fazer uso destas com seus alunos considerando o modelo que vocecirc obteve no curso

E2 - Eu acho que natildeo vou ter muitas dificuldades porque hoje em dia vocecirc pode utilizara internet e aplicativos no proacuteprio celular ou tablete para fazer simulaccedilotildees de experimentos daquela formula matemaacutetica aquela forma fiacutesica vocecirc pode analisa-la como funciona entatildeo isso dai vai colaborar para o aprendizado

Entrevistadora - Vocecirc se comunicaria com seus alunos utilizando redes sociais aplicativo whatsapp o que vocecirc acha sobre isso

E2 - Eu acho muito interessante porque a gente usa esta ferramenta hoje no curso de Fiacutesica a distacircncia a gente se falava no dia-dia que tem um determinado trabalho tem um foacuterum um encontro Eu acho muito interessante esta ferramenta entatildeo vocecirc pode fazer com seus alunos para explicar determinado conteuacutedo que eles natildeo entenderam acho que vai ser de grande impotancia

Entrevistadora - Como vocecirc encararia vamos supor os seus alunos com celulares e tabletes durante a sua aula

E2 - A questatildeo da fiacutesica ela exige que vocecirc tenha uma certa concentraccedilatildeo na expressatildeo que vocecirc estaacute utilizando naquela equaccedilatildeo matemaacutetica equaccedilatildeo fiacutesica entatildeo o tablete seria mais uma ferramenta para ser usado naquela hora certa e natildeo numa aula na qual eu tivesse explicando determinada foacutermula ou determinando conteuacutedo

Entrevistadora - Sobre o futuro da educaccedilatildeo da escola em si vocecirc acredita que as tecnologias vatildeo se consolidar ou se retrair o que vocecirc acha que vai acontecer com as tecnologia s na escola

E2 - Eu acho que a tecnologia o ensino a distancia hoje soacute vem crescendo So que ele comeccedilou primeiro nas universidades jaacute tem uma gama enorme de cursos Poreacutem a escola a meu ver ainda natildeo tem entrado nesta filosofia de educaccedilatildeo a distacircncia Mas eacute uma filosofia muito interessante que natildeo deixa o aluno dependente do professor mas sim que o aluno procure pesquisar entender aquilo que estaacute escrito Por exemplo se tivesse uma determinada mateacuteria que eacute toda ensinada a distacircncia laacute tem foacuteruns laacute tem sala de comunicaccedilatildeo em que o professor passa determinado conteuacutedo e o aluno teria que correr atraacutes soacute para tentar entender tentar participar para que isso jaacute venha fazendo parte da cabeccedila do aluno para o futuro proacuteximo que seria a universidade

Entrevistadora - Sobre a literacia como eu expliquei o que se trata Na sua concepccedilatildeo qual nota daria nas suas habilidades nesta aacuterea

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E2 - Eu daria talvez um 8 ou 85 porque eu uso a internet para fazer muitas coisas comprar um moacutevel eletrocircnico eletrodomeacutestico pagar aquela conta acessar fazer transferecircncia bancaacuteria Entatildeo eu considero que eu uso bem a internet e a questatildeo da literacia a gente usa bastante porque como o curso eacute a distancia a gente tem que desde o iniacutecio jaacute trabalhar esta questatildeo para melhorar o aprendizado

Entrevistadora - Mas vocecirc cria alguma coisa tem algum blog rede social

E2 - Natildeo eu natildeo tenho blog nem rede social soacute whatsapp e participo dos foacuteruns do portal

Entrevistadora - Ok obrigada

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 3 (E3)

Perfil professor de atualidades da rede particular formado em Recursos Humanos

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc falasse um pouco da sua trajetoacuteria acadecircmica vocecirc me disse que jaacute tem uma graduaccedilatildeo porque vocecirc resolveu fazer um curso a distacircncia

E3 - Eu resolvi fazer um curso a distacircncia primeiro pela disponibilidade de tempo que eu teria para participar do curso Segundo pelo fato de eu natildeo ter um curso na aacuterea da licenciatura comecei a cursar licenciatura parei e meu curso eacute na parte de administraccedilatildeo natildeo eacute licenciatura e eu estou em sala de aula desde 2002 Esta foi a razatildeo pelas quais veio o desejo de fazer este curso como era uma oferta de curso de uma instituiccedilatildeo de renome com facilidade de acesso entatildeo resolvi fazer o processo seletivo

Entrevistadora - E quais eram as suas expectativas quando iniciou o curso e qual a percepccedilatildeo que tu tens hoje

E3 - Bom eu tinha uma perspectiva de que iria ter um atendimento e uma presenccedila maior dos tutores entendeu que ia ter uma participaccedilatildeo maior dos tutores com relaccedilatildeo a resposta e retorno Soacute que depois eu vi que na verdade era uma situaccedilatildeo le ce fair no comeccedilo muitas pessoas desistiram porque vocecirc mandava a pergunta e natildeo tinha resposta natildeo tinha este feedback dos professores estava complicado o curso estava meio largado Depois que comeccedilou realmente a funcionar Agora a minha expectativa eacute que fosse estudar coisas referentes aacute Fisica do ensino meacutedio que eacute o que se propotildee uma licenciatura em Fiacutesica Porque natildeo eacute licenciatura de Fiacutesica de ensino superior soacute que todos nos deparamos dentro do curso com disciplinas extremamente complexas e que natildeo satildeo utilizadas em salas de aulas por mais que o professor tente justificar e tente dizer que eacute Noacutes temos no nosso grupo dois professores um formado em matemaacutetica que quer se graduar em Fiacutesica e um formado em contabilidade que jaacute daacute aula de Fiacutesica e ambos disseram que na segunda e terceira serie do pre-vestibular natildeo se trabalha alguns conteuacutedos de caacutelculo I Calculo II e Calculo III Natildeo tem aplicaccedilatildeo Para licenciatura natildeo tem e isso satildeo professores em coleacutegio de ponta da regiatildeo Entatildeo imagina no ensino puacuteblico um local que tem mais carecircncia de ensino nesta aacuterea Entatildeo se tornam mateacuterias que vatildeo eliminando os acadecircmicos afastando outros porque cada um que sai e diz que natildeo dava conta jaacute fala para dois ou trecircs que jaacute natildeo vatildeo procurar Por exemplo o professor Reynaldo (aluno de fiacutesica) estaacute organizando trabalho com alunos de velocidade em ambiente variado fazendo uma competiccedilatildeo de carrinho de rolematilde ele estaacute fazendo uma competiccedilatildeo sobre velocidade inicial velocidade final plano de inclinaccedilatildeo e eacute este tipo de coisas que noacutes pensaacutevamos que o curso fosse proporcionar Estas maneiras de abordagem diferenciadas para sala de aula e natildeo caacutelculos complexos que ensinem como eacute que 1 + 1 eacute igual a 2 Que natildeo tem utilidade nenhuma para noacutes a natildeo ser brincar de que sabe a mateacuteria entatildeo deveria ser uma coisa bem interessante de ser abordada ai Eacute um questionamento ateacute em relaccedilatildeo ao curso porque todos os professores que nos conversamos hoje sobre o curso dizem que eacute necessaacuterio mas natildeo existe eu tenho um software de gerenciamento de questotildees e vocecirc pega as questotildees natildeo haacute uma em que vocecirc vai utilizar a equaccedilatildeo de diferenciaccedilatildeo ordinaacuteria que quase reprovou muita gente

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora - Qual a sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distacircncia que papel social vocecirc acha que ela pode ter numa regiatildeo como aqui

E3 - Para mim a educaccedilatildeo a distacircncia eacute determinante para dar acesso as pessoas Posso ate adiantar que ela eacute mais determinante que uma cota ou do que de repente de um projeto de eacutetnica questatildeo financeira Ateacute mais que Fies ou Prouni Porque a educaccedilatildeo a distacircncia ela vai no local onde a pessoa estaacute e se houve uma participaccedilatildeo efetiva do tutor estar proacuteximo do aluno conscientizando desde o comeccedilo qual o limite e qual a participaccedilatildeo do que tem que fazer disponibilizando local para acesso eacute determinante natildeo soacute no ensino superior mas ateacute mesmo no ensino meacutedio como complementaccedilatildeo

Entrevistadora - Vocecirc indicaria a um colega seu fazer um curso de Fiacutesica EaD ou um curso EaD

E3 - Eu indicaria a um colega e inclusive jaacute indiquei Tem dois ex- alunos meus que indiquei para fazer o processo seletivo que gostam muito de fiacutesica Natildeo entraram nesta seleccedilatildeo porque Fiacutesica natildeo fechou turma aqui Ai o que acontece tem um inclusive que ele daacute aula particular de Fiacutesica mas que eu indicaria sim para qualquer pessoa So estas observaccedilotildees que acho que o curso deveria refletir sobre

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc falasse um pouco da sua vivencia universitaacuteria sua condiccedilatildeo enquanto aluno de Fiacutesica e a sua praacutetica pedagoacutegica se vocecirc acha que mudou alguma coisa na sua visatildeo de tecnologia ou natildeo mudou o que aconteceu depois que vocecirc comeccedilou o curso a distacircncia

E3 - A minha vivencia de universidade cursei pedagogia na Unirg natildeo terminei parei no sexto periacuteodo No Rio de Janeiro por questotildees de trabalho mesmo eu acabei cursando gestatildeo de recursos humanos depois voltei para Gurupi e voltei para a sala de aula e sempre tive vontade de cursar Fiacutesica ou Geografia Soacute que natildeo tive oportunidade e acabei cursando Fiacutesica para ter um diploma na aacuterea de licenciatura esta foi a minha intenccedilatildeo Agora com relaccedilatildeo a segunda pergunta que a senhora colocou na verdade natildeo mudou Natildeo mudou natildeo porque eu natildeo queira na verdade eu jaacute aplicava porque eu sempre tive a praacutetica de sala de aula associada a informaacutetica Quando tinha Datashow na escola eu usava demais eu cheguei ao ponto que jaacute tenho o meu Datashow jaacute comprei o meu porque vocecirc chegava na escola para dar aula natildeo tinha ou estava queimando ou natildeo tinha ningueacutem para poder ligar Entatildeo eu jaacute pegava minha bolsinha uma maletinha com o Datashow minha extensatildeo minha caixa de som estava tudo ali Soacute que eu fui um pouco mais aleacutem de usar o Datashow como projetor como muitos professores fazem jaacute natildeo uso mais tantos textos uso mais imagens com eles porque fica entediante vocecirc so jogar o texto na sala de aula e eu tambeacutem uso muitas miacutedias sociais Eu publico muito material para os alunos no facebook eu tenho blog para os alunos terem acesso ao conteuacutedo das mateacuterias E eu uso muito whatsapp em sala de aula para poder tirar duacutevidas de alunos fazer esta interaccedilatildeo fora Entatildeo jaacute fazia isso antes jaacute tinha esta praacutetica

Entrevistadora - Com respeito a literacia digital que nota vocecirc daacute a si mesmo

E3 - Olha a uacutenica coisa que ainda me falta eacute voltar a fazer o que jaacute fiz no passado que foi dar aula com os alunos usando notebook em sala de aula Falta voltar para este niacutevel porque na eacutepoca natildeo fiz com notebook era um laboratoacuterio de informaacutetica que os alunos acessaram dentro do laboratoacuterio Eu acho que o niacutevel que me falta eacute conseguir que todos tragam celular um tablete ou notebook para sala de

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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aula e eu conseguir trabalhar com eles com esta interaccedilatildeo Acho que me falta isso eu natildeo vou ser modesto de me dar 5 mas tambeacutem natildeo vou ser exagerado de me dar 10 porque falta muita coisa para corrigir mas acho que no miacutenimo 8 eu jaacute tenho Faccedilo muita utilizaccedilatildeo da informaacutetica

Entrevistadora - Vocecirc se comunica com seus alunos usando whatsapp ou outra rede

E3 -Se usar outra rede natildeo daacute eu uso whatsapp e facebook

Entrevistadora - Como vocecirc percebe as tecnologias na escola se em algum momento chega a te irritar o aluno estar com o tablete como eacute que eacute na sua escola se eacute proibido porque algumas escolas eacute proibido o que vocecirc acha disso desta resistecircncia que a escola tem com respeito as tecnologias ou ateacute mesmo a gente como vocecirc falou vocecirc tem um niacutevel de saber lidar com isso

E3- Na verdade eu penso que o aluno eacute chamado 20 a principio o conteuacutedo da aula estaacute interessante o aluno estaacute interessado se o conteuacutedo da aula natildeo estaacute interessante o aluno ldquomuda de paacuteginardquo vamos dizer assim igual quando ele estaacute na internet ele se desliga ai que vai ter a conversa dai que vai ter a bagunccedila ai eacute que vai ter o mexer no celular Eu natildeo ligo se o aluno vai pegar o celular para olhar a hora se o aluno tira foto do quadro eu natildeo ligo mas me deixa profundamente irritado se o telefone toca e ele quer atender ou se de repente chega uma mensagem e ele quer ver Entatildeo isso dai eu deixo bem claro logo no comeccedilo do processo Eu tambeacutem natildeo faccedilo eu jaacute vi professores que fala que natildeo pode mas eles mesmos fazemrdquo Ah eacute porque eacute muito importanterdquo entatildeo o que eacute muito importante para mim vocecirc estaacute pouco se lichando o que eacute importante para vocecirc eu natildeo estou nem ai Entatildeo o aluno vai dizer que a namorada querendo falar eacute tatildeo importante quanto que meu filho falar que machucou entendeu Entatildeo eu natildeo tenho muitos problemas em relaccedilatildeo a isso no comeccedilo isso jaacute fica bem claro eacute tipo um combinado Inclusive falo com eles que a utilizaccedilatildeo de celular em sala de aula eacute uma questatildeo minha natildeo eacute uma questatildeo da escola na minha aula fico de boa tranquilo eu soacute natildeo quero conversa e atender telefone E agora de resto tirar foto inclusive ano passado eu tive um aluno que estava tirando foto do quadro quando eu estava saindo da sala dai entrou uma professora e ela muito tradicional ai ela chamou a atenccedilatildeo do aluno e ele foi para a coordenaccedilatildeo E eu fui junto para a coordenaccedilatildeo com o aluno e falei que foi por autorizaccedilatildeo minha ele tirar foto do quadro Eu acho que existe muita hipocrisia tambeacutem ldquoah porque estaacute faltando respeitordquo se daacute o respeito que eu te dou

Entrevistadora - E para finalizar qual o futuro da educaccedilatildeo e as tecnologias que perspectivas vocecirc ve neste processo da tecnologia ateacute onde vai chegar na escola

E3 - Acho que para mim acho ateacute uma conotaccedilatildeo pesada mas o professor ldquocuspe e gizrdquo aquele que soacute fala e escreve acabou ele estaacute soacute esperando para ser enterrado Acho que a perspectiva da educaccedilatildeo eacute que se vocecirc quiser soacute um professor ldquocuspe e gizrdquo vocecirc vai ver viacutedeo no youtube assiste a aula volta natildeo vai ter professor com ignoracircncia entatildeo o professor tem estar um pouco aleacutem um pouco a mais do que liberar conteuacutedo e chega na sala de aula e natildeo faz nada Eu acho que a tecnologia veio realmente para ser um auxiliar da educaccedilatildeo e natildeo substituta do professor ela natildeo veio substituir ela veio auxiliar agora quem natildeo adota realmente vai se aposentar

Entrevistadora ndash Ok obrigada

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 4 (E4)

Perfil professor de ensino religioso na rede puacuteblica em cidade do interior

Entrevistadora - Fale sobre sua trajetoacuteria acadecircmica Porque decidiu fazer um curso a distacircncia

E4 - Eu decidi porque sempre quis fazer uma faculdade porque eu natildeo tenho mas na aacuterea da matemaacutetica eu gosto da matemaacutetica e aqui na regiatildeo natildeo tinha e ai mudei voltei para ca natildeo tinha a matemaacutetica agora tem Mas tinha a fiacutesica ai pensei vou fazer tudo incluiacutedo mesmo graccedilas a Deus estamos indo bem

Entrevistadora Quais eram suas expectativas quando iniciou o curso e que percepccedilatildeo tem hoje sobre o mesmo

E4 - Eu pensava assim este dai eu vou fazer porque natildeo eacute diaacuterio porque a gente que trabalha soacute eu que trabalho laacute em casa a mulher faz os biquinhos dela mas natildeo eacute salaacuterio fixo Ai tem mais tempo porque ai eu estudo a hora que eu quero mas eu me enganei

Entrevistadora - Voce achou difiacutecil o que achou

E4 - No inicio foi difiacutecil eu mal conseguia acessar o moodle

Entrevistadora - Esta eacute a terceira pergunta a respeito das tecnologias Enfrentou alguma dificuldade em relaccedilatildeo agraves tecnologias Se a resposta for sim quais

E4 - Sim no inicio sim porque nos natildeo tivemos um treinamento abria ajanela do ambiente virtual e dizia esse aqui eacute pra isso este aqui eacute pra isso e vai indo E ai ldquovocecircs estatildeo fazendo o curso de Fiacutesicardquo

Entrevistadora - Mas natildeo teve uma oficina um treinamento

E4 - Teve assim mas natildeo foi com a imagem do moodle Teve o formato ainda bem que depois laacute no Cariri um rapaz laacute jaacute fazia poacutes a distacircncia e ele foi me ajudou

Entrevistadora - E vocecirc acha que seu manejo com a tecnologia mudou depois do curso Melhorou ou piorou O que aconteceu

E4 - Acho que melhorou uns 100 porque assim eu sempre fui atualizado mas natildeo era frequente a gente quase natildeo usava antigamente era o Orkut entrava laacute via o que tinha e saia Agora natildeo vocecirc tem que olhar o email da faculdade tem que ver o email pessoal que eacute sobre os trabalhos Porque eu tenho uma colega que tambeacutem da aula de ensino religioso e noacutes ficamos trocando figurinhas Agora sim eacute diaacuterio sobrou um tempinho ali eu jaacute acesso

Entrevistadora - Com respeito agrave educaccedilatildeo a distacircncia Qual sua concepccedilatildeo Que papel social acha que esta pode exercer papel social na sociedade

E4 - Eu acho que daqui 5 a 10 anos natildeo vai ter professor em sala mais natildeo vai ser soacute a distancia vai ter um tutor

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora - E qual a diferenccedila do tutor com o professor

E4 - Eu acho assim o tutor estaacute ali para fazer o que o professor mandou ele passar Se vocecirc quiser tirar a duvida passe um email para seu professor Tem alguma duacutevida passe um foacuterum para ele laacute que ele responde E o tutor O tutor fala com o aluno Mas e ai se acabar o professor O professor natildeo vai estar na sala ele vai estar a distacircncia Entatildeo vai ter o professor mas ele natildeo vai estar na sala vai estar o tutor

Entrevistadora - Entatildeo vocecirc acha que eacute uma tendecircncia a educaccedilatildeo a distacircncia aumentar

E4 - Eu acho que ela veio para ficar mesmo

Entrevistadora - E vocecirc Indicaria a um colega fazer um curso de graduaccedilatildeo a distacircncia

E4 - Sim Apesar das dificuldades que a gente teve no iniacutecio mas todo comeccedilo eacute difiacutecil mas depois a gente vai vendo que vai aprendendo mais atraveacutes das viacutedeos aulas Eacute muito interessante apesar que a gente tem uma duacutevida manda para eles e demora uns trecircs dias mas vem Tem umas que parece que natildeo viram natildeo sei se foram para eles os e-mails Tem uns que natildeo manda natildeo mas tem outros que eacute diretoigual agora tem estaacutegio e eu estava com muita duacutevida e ai todo email que eu mandava no outro dia eu ia abria e estava laacute A professora respondia dai o tutor falava assim ldquoeu conversei com ela a respeito do que vocecirc esta perguntando mas pode ficar tranquilo que ela responderdquo Quando vocecirc tem retorno raacutepido aiacute eacute bom Igual aqui noacutes temos provas de 15 em 15 dias ai vocecirc ta na duacutevida e ela demora a ser respondida ai chega perto da prova vocecirc tem aquela duacutevida e e ai

Entrevistadora - Sobre sua praacutetica pedagoacutegica vocecirc usa tecnologias com seus alunos

E4 - Ano passado teve um curso do Prouca e eles deram aqueles laptopzinho e fomos envolvendo com aquilo laacute Dai eu pensei ldquovou comeccedilar a utilizar mais estes laptop porque eacute novidade e eles ficam louquinhos com novidaderdquo Daiacute cada um fica com um tem um joguinho da matemaacutetica que eacute tabuada que eacute muito bom E eles ficaram incutidos com aquilo eu passei para eles uma olimpiacuteada competiccedilatildeo Depois eu disse ldquoa prova de vocecircs vai ser um simulado no computadorrdquo Todos eles tiraram notas boas Porque tipo assim o papel o interesse eacute tatildeo pouco que 10 da turma ficaram de recuperaccedilatildeo e quando eu passei no laptop trecircs soacute ficaram trecircs alunos Dai eu ateacute falei para a coordenadora para ver se podia dar a prova ou testes no laptop Porque laacute eacute assim trabalho teste e prova Dai ela falou assim ldquo uma eacute que natildeo tem nada escritordquo Aiacute eu falei para ela ldquonatildeo tem mas a gente pode tirar uma foto do aluno mostrando o computador rdquo Porque laacute o simulado ele jaacute daacute a nota na hora mas ela disse que natildeo me aconselhava a fazer isso natildeo Ai falei entatildeo taacute bom

Entrevistadora - E ai vocecirc desanimou de usar

E4 - O tutor nosso que estava neste curso (prouca) estava meio lento natildeo estava mais explicando direito as atividade para noacutes daiacute mandaram ele embora E todos subiram em mim falaram ldquojoatildeo vocecirc que vai assumirrdquo Porque tipo assim eu sempre gostei de interagir com as pessoas embora eu seja tiacutemido porque eu gosto mais de ouvir e ai eu disse que natildeo dava conta e a secretaacuteria insistindo e eu disse que natildeo vou natildeo Jaacute tem a faculdade a primeira coisa que eu me preocupo eacute o curso ( de

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Fiacutesica) porque aqui que vai ser o futuro Ai ela disse que iria ajudar eles eu falei que natildeo que o dia que eu puder ajudar eles eu ajudo Mas sem o compromisso de ser o tutor

Entrevistadora - Vocecirc Comunica com seus alunos usando redes sociais ou por meio de aplicativos de celulares

E4 - A uacutenica que uso para conversar com eles eacute no facebook eacute alguns alunos que tenho na rede eles perguntam e eu respondo

Entrevistadora - Nunca pensou em criar um grupo

E4 - Ateacute la na escola o diretor falou para eu fazer um grupo eu falei para ele que seria muito bom fazer isso ai seria uma boa maneira para os alunos interagir mais com o professor Mas ele falou que esta esperando um projeto que um professor estaacute fazendo ai mas eu disse para ele natildeo esperar natildeo porque quanto mais cedo ele fazer melhor

Entrevistadora - Como vocecirc percebe as tecnologias na sua escola Como encara a presenccedila do celular e tablete nas matildeos dos alunos

E4 - Laacute na escola eacute proibido Eu acho que natildeo devia Acho que devia ser aberto mas sempre com um combinado focado na aula Se o aluno disser ldquodeixa eu pesquisar este conteuacutedo airdquo mas ficar no whatsapp conversando com coleguinhas

Entrevistadora - Finalizando vocecirc jaacute disse um pouco Qual considera ser o futuro da escola diante do cenaacuterio das tecnologias

E4 - Eu acho que o quadro natildeo vai existir mais entatildeo eu acho que vai ser dai para frente Acabou o tempo que o professor so ficava na frente ele tem que ficar interagindo no meio Mas laacute (na escola que leciono) eacute assim eles fizeram o mapa da sala Natildeo pode mudar as carteiras eacute uma atraacutes da outra

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 5 (E5)

Perfil Professora da rede puacuteblica Entrevistadora - Porque vocecirc decidiu fazer o curso a distacircncia gostaria que vocecirc contasse para a gente jaacute que vocecirc diz que tem outra formaccedilatildeo porque decidiu fazer fiacutesica a distacircncia na UFT

E5 - Primeiro por ser UFT universidade federal e segundo porque tenho muita afinidade com fiacutesica com aacutelgebra devido eu ter outra formaccedilatildeo em ciecircncias contaacutebeis Achei muito importante o uso das tecnologias foi tudo maravilhoso passei a usar na sala de aula tambeacutem na escola eu uso slides retroprojetorhoje eu natildeo atuo mas quando atuava era assim E eu passei a usar muito mais a tecnologia de forma mais valiosa porque eu jaacute usava Hoje ateacute no meu trabalho eu valorizo o uso da tecnologia eu treino toda minha equipe os trabalhos e sistemas e tenho maior prazer de explicar todos os detalhes

Entrevistadora - Vocecirc acha que isso mudou depois do curso

E5 - Sim acrescentou muito depois que iniciei o curso de fiacutesica O curso de fiacutesica me trouxe um amadurecimento tatildeo grande que eu passei a gostar demais apesar de tanta dificuldade porque o conteuacutedo eacute dificiacutelimo Este conteuacutedo de fiacutesica que a gente estuda na UFT noacutes jamais iremos usar isso em sala de aula

Entrevistadora - O outro professor comentou isso

E5 - Jamais iremos usar em sala de aula o grau de grandeza do que eacute ensinado eacute tatildeo grande esse conhecimento que noacutes natildeo iremos usar no ensino meacutedio jamais mesmo Isso deixa a gente eu mesma que natildeo tenho tanta praacutetica com sala de aula e nem com fiacutesica eu acredito assim que nunca vou usar nunca vou dar conta Eu conversando com a professora de estaacutegio eu tenho medo de enfrentar alunos para dar aula de fiacutesica eu tenho esse constrangimento natildeo sei se na praacutetica vai ser diferente

Entrevistadora - Um pouco sobre sua expectativa sobre o curso e o que vocecirc percebe

E5 - A minha surpresa foi que justamente um curso de exatas a distacircncia vocecirc natildeo ter o professor presente para te explicar entatildeo eu achei que natildeo ia prestar de forma alguma Isso natildeo vai dar certo Mas de repente fui surpreendida porque eacute de uma qualidade tatildeo imensa que hoje a gente tem tudo Nesse periacuteodo agora noacutes um diaacutelogo muito mais estreito com os professores e cada periacutedo que passa a gente vai se aproximando mais Em relaccedilatildeo ao primeiro periacuteodo foi peacutessimo essa questatildeo da interatividade A falha da gente que natildeo sabia usar o Moodle ainda e a falha dos professores foi um periacuteodo difiacutecil tambeacutem Agora mudou a coordenaccedilatildeo hoje eu acho excelente natildeo tenho nenhuma dificuldade

Entrevistadora - Isso que ia te perguntar sobre a tecnologia vocecirc teve alguma dificuldade com o uso da tecnologia no inicio do curso ou tem ateacute hoje o que vocecirc achou mais complicado

E5 - Natildeo eu natildeo tive dificuldade eu jaacute era usuaacuteria no meu ambiente de trabalho a gente usa muito a tecnologia eacute o estado secretaria da sauacutede eacute um trabalho que a gente trabalha em rede entatildeo eu

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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desenvolvo tudo via web mesmo com uso de sistemas e tem outras pessoas que satildeo os analistas que a gente troca essas ideias entatildeo eu natildeo tive nenhum pouco de dificuldade A dificuldade mesmo foi da interatividade com o grupo natildeo da ferramenta

Entrevistadora - Qual sua concepccedilatildeo de educaccedilatildeo a distancia acredita que ela tem um papel social na sociedade

E5 - Eu acredito so que hoje natildeo tem tanto preconceito antes tinha mais hoje as pessoas valorizam mais antes ningueacutem quer saber se vocecirc esta fazendo educaccedilatildeo a distacircncia ou natildeo Ele olha seu perfil profissional o que eu vejo que este pessoal que estaacute se formando a distancia eles tem um grau de conhecimento muito grande devido a gente ter que se virar sozinho pesquisar nos somos iguais no mercado de trabalho natildeo tem diferenccedila diferente de ser ead ou natildeo natildeo esta diferenccedila Eu vejo igual e eu ateacute acredito que a educaccedilatildeo a distancia o profissional eacute bem melhor do que o profissional que faz sem ser a distancia

Entrevistadora - Voce acha que eacute mais passivo Ele fica meio so esperando

E5 - Ele fica so esperando natildeo sabe se virar sozinho e jaacute a educaccedilatildeo a distancia traz a maturidade para o profissional autonomia

Entrevistadora - E vocecirc indicaria a um colega fazer o curso da EaD

E5 - Indicaria so que nninguem quereu indicaria porque para mim foi uma experiecircncia maravilhosa foi o topo da minha carreira profissional natildeo preciso de mais nada

Entrevistadora - Sobre sua praacutetica pedagoacutegica depois que vocecirc fez esse curso que vocecirc teve contato com a tecnologia de forma acadecircmica se isos mudou sua visatildeo da tecnologia na sala de aula

E5 - Mudou Nos passamos a nos comunicar muito por emails passou a se comunicar por redes sociais entatildeo a gente natildeo tinha essa barreira de esperar e todo alunado eu passava o treinamento para eles aqueles que tinham dificuldade De repente a pessoa jaacute estava comprando computador celular para acompanharno periacuteodo da aula mesmo se tem dificuldades eles jaacute pesquisam na internet o que eles precisam Entatildeo mudou mudou muito mesmo acho super importante o uso da internet e o uso da tecnologia na sala de aula

Entrevistadora - Como vocecirc percebe isso na sala de aula Porque tem escola que eacute proibido o que vocecirc pensa dissoda presenccedila das tecnologias na sala de aula

Eu valorizo na minha aula eu valorizo muito a presenccedila da tecnologia Dai o que eu faccediloeu mantenho um acordo com meus alunos naquele momento da aula eles vatildeo usar apenas para pesquisar algum assunto da aula e aquele assunto se eles encontraram algo mais que possa acrescentar eles tem inteira liberdade para dispor aquele conhecimento para todos da sala

Entrevistadora - E eles colaboram

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E5 - Colaboram eu natildeo sei de onde eu tirei mas eu tenho uma dinacircmica de me dar super bem com meus alunos eu jaacute tive em sala de 40 alunos e natildeo tive problema de conter a turma e todo mundo participar eles tem uma simpatia muito grande por mim

Entrevistadora - E ai vocecirc comunica com eles usando rede sociacomunicam se fora da aula

E5 - Usamos muito whatsapp ali a gente posta relatoacuterios a gente posta informaccedilotildees E teve uma aula que eu achei tudo na minha vida Um aula em que a gente editava a aula Colocamos um notebook a disposiccedilatildeo na sala e refletor a aula ia acontecendo e uma pessoa ia redigindo o texto Do que estava sendo explicado das falas das pessoas e no final nos tiacutenhamos um material maravilhoso daquela aula Uma produccedilatildeoaonde eu usei isso a primeira vez No curso da Fiocruz eu achei aquilo super interessante so que naquele curso da Fiocruz natildeo vi tanto valor eu encontrei um grau de dificuldade muito grande para usar E fui aplicar isso ai na minha sala de aula e deu supercerto E de repente o aluno quietinho da sala de aula levantou veio explicava o outro mostrava aquele texto que o outro redigia

Entrevistadora - Foi uma espeacutecie de wiki natildeo eacutetodo mundo construiu junto e foi publicado

E5 - nteressante eacute que todos participavam no final foi distribuiacutedo copias atraveacutes de email Entatildeo essa minha aula foi inesqueciacutevel

Entrevistadora Uma boa experiecircncia podia publicar O pessoal natildeo publica nada que fazOutra pergunta sobre a literacia qual sua auto avaliaccedilatildeo nesse campo

E5 - Olha se eu natildeo fosse uma pessoa que conhece tatildeo bem esse lado tecnoloacutegico eu me daria 10 mas eu vou ser bem modesta a minha nota eacute 7 porque a tecnologia por mais que vocecirc conheccedila vocecirc natildeo conhece tudo Um simples computador que vocecirc acha que vocecirc sabe ligar mexer com ele vocecirc sabe acessarvoce natildeo conhece tudo porque natildeo eacute soacute isso que existe Tem uma serie de ferramentas que vocecirc pode usar uma serie de programas que vocecirc pode usar e aprendendo isso porque eu passo treinamento para funcionaacuterios puacuteblicos a cada momento eu vou aprendendo entatildeo nunca se aprende tudo eacute uma coisa tatildeo raacutepida que a cada momento vai surgindo uma nova ferramenta uma nova forma de vocecirc lidar com a situaccedilotildees usando miacutedias usando computadores imagens

Entrevistadora - Qual sua percepccedilatildeo das tecnologias na escola qual o futuro da educaccedilatildeo

E5 - Essa pergunta que vocecirc fez nos faz refletir porque quando vocecirc fala ao aluno copia ele natildeo copia ele fotografa e o outro jaacute gravou a aula Eu tive situaccedilotildees em que eu tive que explicar pro aluno com muito cuidado porque ele estava gravando a minha aula E eu nem sei por onde anda esses viacutedeos E nos mesmos que estudamos ead a gente valoriza muito as viacutedeos aulas Eu acho muito importante sou muito a favor da tecnologia sou muito a favor do aluno usar o computador na sala de aula ele usar o celular para pesquisar desde que seja aquele assunto voltado para aquela aacuterea desde que seja em acordo com o professor para melhorar o seu conhecimento eu sou a favor Seria uma grande perda o mundo laacute fora ser todo tecnoloacutegico e na sala de aula o aluno ser proibido disso Entatildeo a sala de aula eacute uma continuidade da vida social la fora entatildeo tem que continuar o uso da tecnologia na sala de aulaeu sou super a favor a favor eu sou uma aluna rebelde o professor estaacute falando eu to digitando

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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Entrevistadora ndash ok obrigada

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Transcriccedilatildeo da Entrevista 6 (E6)

Professora ensino meacutedio rede publica jaacute tem uma graduaccedilatildeo em matemaacutetica

Entrevistadora - Gostaria que vocecirc comeccedilasse a dizer porque decidiu fazer o curso de fiacutesica

E6 - Haacute quatro periacuteodos atraacutes eu me encontrava na sala de aula dando aula de fiacutesica mas era graduada em matemaacutetica Entatildeo houve um convite pela seduc para que a gente que estivesse desviado de funccedilatildeo dando aula de uma mateacuteria especifica que natildeo fosse da nossa formaccedilatildeo que a gente fizesse esse vestibular e ingressasse nesse curso Entatildeo esta proposta naquele momento em que eu natildeo estava fazendo outro curso superior na ocasiatildeo e eeu estava sem estudar entatildeo era interessante eu fiz e comecei Entatildeo para mim que jaacute estava dando aula da mateacuteria eu iria ter licenciatura da mateacuteria que eu jaacute dava aula entatildeo para mim excelente tanto eu como meus alunos tiacutenhamos muito a ganhar com isso So que no meio do caminho surgiu na cidade um curso de engenharia civil dai eu eu estou fazendo tambeacutem Mas isso a trecircs periacuteodos atraacutes mas eu jaacute estava na licenciatura em fiacutesica quando eu comecei essa nova graduaccedilatildeo Entatildeo eu sou estudante em duas universidades uma presencial e uma a distacircncia e entatildeo eu tenho uma visatildeo atualizada das duas Em primeiro momento a minha visatildeo em relaccedilatildeo ao curso de ead natildeo era novidade para mim eu jaacute havia feito outros mas nenhum na aacuterea de exatas Na aacuterea das exatas tem um diferencial meu conhecimento em ead era como tutora como tutora presencial era com cursos que a gente faz nessas teorias era com texto discussotildees nesse curso agora nos temos o diferencial que satildeo as exatas que exigem uma dedicaccedilatildeo maior e muito mais exigente da parte do aluno entatildeo eacute muito mais faacutecil vocecirc se perder num curso a distacircncia na aacuterea de exatas do que num curso de humanas que daacute para vocecirc ler pesquisar e articular Ta daacute para pesquisar muita coisa tambeacutem pela internet para as exatas mas as vezes vocecirc fica meio abandonado as vezes a sensaccedilatildeo eacute de abandono as vezes vocecirc precisa ter um professor do lado para tirar uma duvida ou outra vocecirc tem o tutor a distancia mas o corre corre do dia as vezes eu sinto que comparando os dois cursos o curso de fiacutesica ead eacute muito mais difiacutecil do que as humanas isso eu falo com conhecimento de causa Eacute muito mais exigente do aluno o meacuterito da pessoa que consegue fazer um curso ead com qualidade a distacircncia o meacuterito dele eacute ateacute maior por causa das barreiras ele teve que ser muito disciplinado para conseguir porque natildeo eacute faacutecil natildeo eacute muito difiacutecil conseguir

Entrevistadora - Entatildeo com respeito a sua expectativa teve alguma decepccedilatildeo ou surpresa

E6 - Sempre tem alguns problemas com as coordenaccedilotildees passamos por varias coordenaccedilotildees durante nosso periacuteodo algumas coordenaccedilotildees natildeo foram natildeo aconteceu como deveria bimestre passado foi de um jeito esse foi de outro a gente tem algumas reclamaccedilotildees ainda algumas carecircncia ainda com relaccedilatildeo a postagem de material que as vezes demora as vezes chega na quinta feira a gente natildeo sabe se vai ter prova no saacutebado um exemplo no nosso calendaacuterio era para a gente ter tido prova hoje cedo e natildeo teve entatildeo a gente nem ficou sabendo a gente ficou sabendo porque o tutor presencial nos avisou a gente estava na expectativa que ia ter estava no calendaacuterio Mas natildeo teve e ningueacutem natildeo falou o nosso tutor presencial que disse ningueacutem avisou nada entatildeo natildeo vai ter nem ele sabia Entatildeo a comunicaccedilatildeo ai trava muito desmotiva muito e espanta inclusive novos alunos para a ead abriu seleccedilatildeo a pouco tempo e natildeo teve Haacute mais sera que eacute so por isso Porque quando fala assim Fisica muita gente sai correndo mas aqueles que querem pensam duas ou trez vezes quando eles veem que o curso natildeo esta tao bem aceitadinho bem organizadinho pensa duas vezes antes de embarcar num curso deste porque satildeo quatro anos de dedicaccedilatildeo Entatildeo as vezes o proacuteprio fato do curso de fiacutesica ja ser difiacutecil o fato de o curso ser ead logo ser mais ficil para exatas jaacute eacute outro diferencial aleacutem do fato que a coisa natildeo estar andando como deveria (as vezes a pessoa se informa com algueacutem) Exato entatildeo a gente acaba falando Eu mesmo natildeo guardo sigilo para ningueacutem eu falo eu natildeo ficar mentindo Ninguem me

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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contratou para ficar falando bem a respeito do curso Eu falo a realidade Entatildeo eacute isso que estaacute acontecendo o curso hoje estaacute apenas com seis alunos atualmente Comeccedilamos com 11 estamos com seis atualmente e natildeo sei se teraacute outro curso aqui em Gurupi talvez os motivos sejam esses

Entrevistadora ndash Em Relaccedilatildeo com a tecnologia enfrentou alguma dificuldade

E6 - Natildeo porque inclusive eu jaacute tinha sido ateacute tutora eu natildeo tinha dificuldade com o moodle entatildeo eu posso natildeo ser a superstar nas tecnologias mas eu lido com ela a par de anos mas o que vocecirc natildeo sabe vocecirc aprende o que vocecirc precisa vocecirc descobre E como ferramenta educacional para pessoas adultas para pessoas focadas eacute perfeito mas para focados Natildeo da pra vocecirc falar que usar miacutedias em todas ocasiotildees eacute bom nem sempre eacute mas para o curso ead eacute fundamental Para vocecirc pesquisar buscar viacutedeos aulas buscar material vocecirc ter que pesquisar fundamental mas porque somos pessoas adultas e estamos focadas nisso Mas se vocecirc vai no curso ead e chama todo mundo para o laboratoacuterio mesmo que o professor natildeo fique olhando natildeo tem ningueacutem no paciecircncia natildeo tem ningueacutem no whatsapp ningueacutem no joguinho e face porque satildeo pessoas adultas e focadas natildeo satildeo do ensino meacutedio entatildeo satildeo realidades diferentes

Entrevistadora - Sobre a educaccedilatildeo a distancia vocecirc acha que ela desempenha algum papel social

E6 - Nossa grande grande no estado do Tocantins quando a gente entrou a estimativa era que tinha nove professores de fiacutesica formados em todo estado em fiacutesica e atuantes porque acontece de ser formado e esta em outra aacuterea Inclusive essa informaccedilatildeo quem passou foi o coordenador eu nem sabia que era tatildeo pouco porque a gente sabe que toda escola de ensino meacutedio tem o professor de fiacutesica mas eacute como eu professor de matemaacutetica dava aula de fiacutesica professor de historia dava aula de fiacutesica mas formado em fiacutesica era pouco Eu fiquei estarrecida eu achava que era mais natildeo sei como estaacute hoje porque isso foi a trecircs anos atraacutes

Entrevistadora - Mas tambeacutem ainda natildeo formou ningueacutem de fiacutesica a natildeo ser que veio de fora concurso

E6 - Pode ter formado nesse interim pode ter vindo pessoas de fora

Entrevistadora - Eacute ate um dado para ser analisado

E6 - Agora onde estaria outra universidade que propiciaria o ensino de fiacutesica senatildeo ead Em palmas 240 km daqui eu natildeo poderia ir la e voltar para fazer essa graduaccedilatildeo 40 horas natildeo poderia Entatildeo para mim o curso ead rompe uma barreira geograacutefica eu natildeo consigo fazer maacutegica de me teletransportar para palmas E natildeo daria para fazer diferente entatildeo ead para mim eacute fundamental sim ela rompe barreiras ela tem o seu valor Eu posso avaliar que o espaccedilo que a ead adquiriu ate agora ele natildeo tem tendecircncia para ser retroativo natildeo a tendecircncia eacute cada vez aumentar Porque cada vez que passa seu tempo diminuia sensaccedilatildeo de o dia estaacute mais curto o estaacute mais curto que o mecircs esta acabando antes de comeccedilar porque a coisa esta acontecendo muito raacutepido entatildeo vocecirc natildeo tem tempo para um monte de coisa e o ead te propicia isso essa agilidade e flexibilidade entatildeo as conquistas que jaacute teve no ead nesses uacuteltimos 10 anos ela natildeo tem jeito de regredir a tendecircncia eacute so aumentarmas precisa melhorar em alguns aspectos Precisa principalmente com relaccedilatildeo aos cursos que satildeo de exatas deveria ter um pouquinho mais de presencial para aqueles casos daquelas mateacuterias natildeo para todas tambeacutem mas principalmente para aquelas que exigem mais caacutelculos tipo calculo I calculo II fiacutesica praacutetica vocecirc precisa de um pouco mais de apoio tem alunos que natildeo conseguem sem esse apoio ficam totalmente perdidos A gente se apoia muito a gente eacute um grupinho que se apoia muito mas mesmo assim o tempo eacute curso entatildeo se tiver um pouco mais de apoio uma parte maior de presencial somente para essas mateacuterias especificas talvez fosse o diferencial entre o curso de fiacutesica e matemaacutetica natildeo morrer e progredir entedeu Porque como eu disse para vocecirc desmotiva muito essa solidatildeo em certas mateacuterias entatildeo talvez

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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alguma complementaccedilatildeo um complemento para certos niacuteveis de mateacuterias seria interessante fazer essa pontuaccedilatildeo mas regredir jamais eacute uma tendecircncia que tende a aumentar jaacute estaacute se falando em ensino meacutedio a distancia jaacute existe essa cogitaccedilatildeo natildeo para agora mas os proacuteximos dez anos jaacute existe essa cogitaccedilatildeo de algumas mateacuterias seremcomeccedila pelo ensino meacutedio nosso aluno tem uma aula de fiacutesica por semana Se ele pudesse ter esta uma hora presencial e o resto mediado ai sim podia ter um apoio mediaacutetico interessante

Entrevistadora - Agora sua visatildeo sobre tecnologia depois que entrou no curso e tal a sua praacutetica pedagoacutegica vocecirc costuma utilizar alguma tecnologia

E6 -Foi interessante que quando entrei no curso de fiacutesica foi na metade do ano tinha acabado de acontecer aquela mudanccedila de carga horaacuteria e a mudanccedila de quantidade de aulas antes fiacutesica era duas aulas por semana e caiu para uma e eu estava naquela transiccedilatildeo Olha dar aula de fiacutesica fazer aquele conteuacutedo inteiro funcionar em quarenta horas anuais eacute milagre Ai vocecirc natildeo consegue fazer milagre nem com varinha de condatildeo e olha que a gente usa pincel La eu tenho que fazer milagres como eu vou fazer milagres Com uso de tencologias mas ateacute certo ponto ateacute porque vocecirc esbarra no quesito aluno compromissado vocecirc tem aquela sala cheia inflada com 40 41 alunos num espaccedilo que cabia 36 agora mudou e usa carteira mesmo entatildeo aquela carteira ocupa mais espaccedilo que esta entatildeo cabia quando era aquele modelo agora com esse modelo natildeo cabe Entatildeo uma sala lotada inflada que pra vocecirc distribuir as provas tem que circular entre as carteiras entre um e outro e dai como vocecirc faz a avaliaccedilatildeo assim E sala de aula lotada vocecirc vai vigiar o celular de todo mundovoce vai vigiar se estatildeo no whatsapp Eles ficam batendo papo Esta proibido eles sabem que estaacute proibindo mas natildeo estou olhando natildeo estou vigiando 41 alunos natildeo vou natildeo tem condiccedilotildees

Entrevistadora ndash Laacute natildeo eacute proibido entrar com celular Porque tem escola que natildeo pode

E6 -Eacute mais esbarra numa questatildeo muito seacuteria existe a regra a lei natildeo eacute bem recente eacute de outro mandato de Marcelo Miranda Tem uma lei estadual estaacute na parede uma lei que eacute proibido usar celular nas dependecircncias eacute uma lei que estaacute em vigor eacute uma lei do Marcelo Miranda que continua em vigor soacute que vocecirc natildeo consegue coibir porque esse bem eacute particular eacute dele vocecirc natildeo pode tomar dele vocecirc natildeo pode nem obrigar te entregar vocecirc pode pedir para ele guardar ele faz com o aparelho dele o que ele quiser Agora vocecirc pode mandar ele sair da sua sala Ai ele diz eu estou com fone de ouvido estaacute desligado ai vocecirc diz guarda o fone de ouvido Voce passa metade da aula brigando porque eles ficam no whatsapp porque eles natildeo tem maturidade Essa semana foi semana de avaliaccedilatildeo tinha tres provas e o menino fez as trecircs provas em menos de 1 hora a quantidade de tempo para ele ficar em sala era 1 hora

Entrevistadora - Ou ele eacute gecircnio ou ele natildeo sabia de nada

E6 -Ele natildeo sabia de nada na hora que ele ficou pedindo e insistindo eu disse quer muito A sua prova vai ser anulada porque vocecirc esta saindo fora da hora Vocecirc tem toda liberdade natildeo vou te proibir natildeo mas se vocecirc sair fora da hora eu anulo a sua provaGente dai eu pensei esse caboclo vem para escola igual boi Sabe final de tarde O boi natildeo vai pro trilho Entatildeo ele sai pro trilho todo dia de manha Natildeo sabe nem oque vai fazer na escola Entatildeo eacute esse aluno que natildeo sabe que eu tenho a maioria na sala de aulae eu dou aula no centro de ensino meacutedio um dos trecircs da cidade E ele vai la so para isso ele fica laacute com o celular o tempo inteiro A quantidade de ocorrecircncia dele com uso de celular em sala de aula falta de compromisso eacute enorme e eacute a maioria Dai vocecirc pensa assim tem aluno que salva antigamente vocecirc contava em duas matildeos hoje vocecirc conta em uma Sabe aquele que vocecirc sabe porque esta indo la que natildeo vai so porque bateram no cocho

Entrevistadora - Dai passa por uma questatildeo social tambeacutem neh

Apecircndice 3 ndash Transcriccedilatildeo das entrevistas

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E6 - Sim passa mas pensa comigo ele eacute um jovem natildeo tem perspectiva como ele vai trabalhar ele vai ser balconista entregador como ele vai trabalhar Qual o futuro dele ele vem de um lar de drogado de becircbado de pobre quer dizer se ele continuar assim eacute a mesma ele mexe com drogas pra poder melhorar de vida ele leva as vezes para traficar na escola As vezes vocecirc desconfia as vezes vocecirc ate sabe e tenta coibir mas vocecirc natildeo tem poder de policia Isso eacute muito perigoso vocecirc tem que lidar com isso com muita sabedoria

Entrevistadora - Vocecirc daacute aula a noite

E6 -De manha e de tarde mas eacute isso vocecirc jaacute ouviu falar de 420 eacute o horaacuterio que eles vatildeo para os banheiros trocar as drogas Entatildeo vocecirc pensa eles estatildeo indo pra escola para que Qual o atrativo da escola para ele Aqui natildeo tem shopping o que shopping tem Praccedila de alimentaccedilatildeo cinema nos temos aqui um auditoacuterio que passa filme as vezes a gente deixa ate levar pipoca a escola tem wifi mesmo que natildeo seja livre eles encontram a senha

Entrevistadora - A escola eacute o shopping deles

E6 - Sim eacute o shopping eacute o lugar que eles encontram os amigos eles natildeo vao la para estudar eu estou falando da grande maioria tem um ou outro Entatildeo a maioria 30 dos mais de 30 alunos que estatildeo na minha sala querem so isso eu tenho soacute uns menos de dez que querem estudar o que eu faccedilo Ponho eles mais na frente e dou aulas para eles uma aula por semana Preciso da miacutedia Preciso Tento resumir no Datashow e lanccedilo dai faccedilo um grupo no email e lanccedilo porque se eu deixar eles copiarem os resumos que eu coloquei natildeo da tempo natildeo da pra fazer milagre

Entrevistadora - Eles tiram foto

E6 - Eu natildeo deixo eu prefiro mandar por email eles natildeo vao ler isso direito se eles quiserem usar no celular eacute so eles baixarem daacute pra fazer eu faccedilo isso na faculdade entatildeo eu prefiro botar no email O meu slide eu jogo no email deles Os exerciacutecios estatildeo la tambeacutem Tento coibir mas natildeo tento bater de frente porque natildeo sou besta nem doida

Entrevistadora - Sobre o futuro da educaccedilatildeo a distacircnciao que pensa

E6 - Eu acho que ele passa por uma maturaccedilatildeo Eles estatildeo empolgados demais endeusados com os celulares endeusados com as miacutedias eles usam o celular como meio de comunicaccedilatildeo natildeo como meio de pesquisa eles querem o da moda eles querem o moderno eles querem acessibilidade de internet mas eles natildeo usam para o que eacute preciso Eles usam para bater bapo marca encontro conversar fiado postar fotografia para isso que eles usam Mas acho que vai chegar um processo de maturaccedilatildeo em que isso (0 celular) vai deixar de ser uma ferramenta so de comunicaccedilatildeo e vai ser uma ferramenta de estudo Natildeo da para fazer de conta na minha aula eacute proibido Claro que eacute proibido ate porque tem um regimento escolar agora posso ter em determinado tempo o uso dessa miacutedia Posso dou aula de matemaacutetica tambeacutemdo maioria aula de matemaacutetica entatildeo eu encho o quadro de exerciacutecios ai os alunos professora pode fotografar Beleza pode fotografar Entatildeo eu natildeo vou ficar esperando entatildeo eu digo fotografa tudo isso que eu vou apagar e passar outro Entatildeo eu uso mais de uma maneira ponderada Entatildeo tem professor que so quer usar a miacutedia A sua aula natildeo tem que ser o show usar a tecnologia natildeo quer dizer isso aquela professora da show Eu tenho uma ementa ridicularmente grande para cumprir A grande questatildeo eacute que o centro natildeo pode ser a tecnologia esta eacute um meio deve ser natural usa-la (como pegar aqui o celular e ligar pra meu marido)Agora mesmo o professor falando que vamos trabalhar tal viacutedeo com os alunos Ele vai ter que assistir o filme de novo Eu vou pedir um pouco que aquilo eacute um momento de lazer e diversatildeo eacute uma parte de shopping que eu estou propiciando pra ele

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    • Agradecimentos
    • Formaccedilatildeo de professores Literacia Digital e Inclusatildeo Sociodigital estudo de caso em curso a distacircncia da Universidade Federal do Tocantins
    • Resumo
    • Teacher training Digital Literacy and Sociodigital Inclusion an ongoing case study at a distance from the Federal University of Tocantins
    • Abstract
    • Lista de figuras
    • Lista de Quadros
    • Lista de Graacuteficos
    • Lista de Siglas
    • Introduccedilatildeo
      • 1 Iniacutecio do percurso e questotildees pelo caminho
      • 2 O projeto
      • 3 Objetivo geral e especiacuteficos
      • 4 Organizaccedilatildeo da tese
        • Capiacutetulo 1 O mundo conectado em redes
          • 11 O ldquoestar dentrordquo
          • 12 Processos civilizatoacuterios das tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo
            • 121 Comunicaccedilatildeo interpessoal
            • 122 Comunicaccedilatildeo de Elite
            • 123 Comunicaccedilatildeo em massa
            • 124 Comunicaccedilatildeo Individual
            • 125 Comunicaccedilatildeo em ambientes virtuais
            • 126 Comunicaccedilatildeo em rede ubiacutequaspoacutes massivas
              • 13 O perfil dos usuaacuterios da internet
                • 131 A Geraccedilatildeo Net
                • 132 Os Nativos e imigrantes digitais
                • 133 As Geraccedilotildees X Y Z
                • 134 Os residentes e os visitantes
                • Os residentes por sua vez na classificaccedilatildeo de White e Cornu (2011) vivem uma parte significativa do seu tempo conectados Usam a internet natildeo apenas para realizar serviccedilos praacuteticos como atividades bancaacuterias compras ou pesquisa eles vecircem a web com
                • 135 O Caldeiratildeo digital
                • 136 O homo zappiens
                • 137 O Homo Sapiens Digitalis
                • 138 Controveacutersias sobre o perfil do usuaacuterio da internet
                    • Capiacutetulo 2 O mundo todo estaacute mesmo conectado
                      • 21 Do lado de fora ou dentro na margem da rede
                      • 22 A inclusatildeo digital na agenda poliacutetica
                      • 23 Debate conceitual do termo exclusatildeo digital
                      • 24 A inclusatildeo para aleacutem do acesso agrave maacutequina
                      • 25 Niacuteveis de exclusatildeo sociodigital e barreiras para a inclusatildeo
                      • 26 O fosso digital no cenaacuterio mundial e no Brasil
                      • 2 7 Inclusatildeo digital educaccedilatildeo e emancipaccedilatildeo
                        • Capiacutetulo 3 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital
                          • 31 A possibilidade de entrada na rede
                          • 32 Conceito de literacia digital
                          • 32 A literacia digital na agenda das poliacuteticas puacuteblicas
                          • 33 Tecnologias versus professores o campo de tensatildeo nas escolas
                          • 3 4 Do quadro-negro ao tablet concepccedilotildees pedagoacutegicas dos professores acerca das tecnologias
                          • 35 Formaccedilatildeo de professores com foco na literacia digital a possibilidade da entrada na rede
                            • Capiacutetulo 4 Contexto e enquadramento metodoloacutegico da pesquisa
                              • 4 1 A Universidade Federal do Tocantins no contexto da regiatildeo Norte do Brasil
                                • 411 O estado do Tocantins
                                • 412 A Universidade Federal do Tocantins
                                • 413 A UFT e a educaccedilatildeo mediada por tecnologias no Tocantins
                                • 414 O papel social dos cursos mediados por tecnologias na UFT
                                  • 42 O sistema UAB
                                    • 421 Estrutura administrativa da UAB
                                    • 422 Gestatildeo financeira da UAB
                                    • 423 Gestatildeo pedagoacutegica dos cursos UAB
                                      • 43 O curso de licenciatura em Fiacutesica a distacircncia na UFT
                                        • 431 O processo de implementaccedilatildeo
                                        • 4 32 A Organizaccedilatildeo e administrativa e acadecircmica
                                        • 433 Concepccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica
                                        • 434 Projeto acadecircmico e diretrizes metodoloacutegicas
                                        • 435 Organizaccedilatildeo curricular
                                        • 436 O Ambiente virtual de aprendizagem Moodle
                                          • 44 Enquadramento metodoloacutegico da investigaccedilatildeo
                                            • 441 Objetivos da pesquisa
                                            • 442 Natureza da pesquisa mista quanti-qualitativa
                                            • 443 Opccedilatildeo metodoloacutegica Estudo de Caso
                                            • 444 Participantes
                                            • 445 Instrumentos da pesquisa
                                              • 4451 Pesquisa bibliograacutefica e Documental
                                              • 4452 Pesquisa de campo
                                                • a) Questionaacuterio
                                                • b) Entrevistas
                                                    • 446 Procedimentos de Recolha de dados
                                                    • 447 Tratamentos dos dados
                                                      • 4471 Procedimentos da anaacutelise de conteuacutedo
                                                        • 448 Aspectos eacuteticos
                                                            • Capiacutetulo 5 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos resultados
                                                              • 51 Introduccedilatildeo
                                                              • 52 Perfil dos professores cursistas
                                                                • 521 Perfil socioeconocircmico
                                                                • 522 Perfil social
                                                                • 523 Perfil Acadecircmico
                                                                  • (a) Niacutevel de conteuacutedo
                                                                  • (b) Niacutevel de aprendizagem
                                                                  • ( c ) Niacutevel de comunicaccedilatildeo e interatividade
                                                                      • 53 Professores e uso das TDIC no cotidiano
                                                                        • 531 Dados sobre posse de equipamentos tipos de conexotildees e locais de acesso
                                                                        • 532 Uso de tecnologias no cotidiano
                                                                        • 533 Uso de celular com internet
                                                                        • 534 Experiecircncia com as tecnologias e autoavaliaccedilatildeo da literacia digital
                                                                          • 54 Professores e uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica
                                                                            • 541 Visatildeo e perspectiva de futuro sobre educaccedilatildeo a distacircncia
                                                                            • 542 Uso das TDIC na praacutetica pedagoacutegica dificuldades e desafios
                                                                            • 543 Relatos de experiecircncias sobre praacuteticas pedagoacutegicas mediadas por tecnologias
                                                                              • 55 Uma proposta para a formaccedilatildeo de professores voltada para a literacia digital
                                                                                • Consideraccedilotildees finais
                                                                                  • 1 Discussatildeo teoacuterica sobre sociedade em rede inclusatildeo sociodigital e literacia digital
                                                                                  • 2 Levantamento do perfil socioeconocircmico social e acadecircmico dos professores cursistas
                                                                                  • 3 Investigaccedilatildeo das possiacuteveis mudanccedilas que um curso de formaccedilatildeo a distacircncia promoveria nas praacuteticas de literacia digital dos participantes
                                                                                  • 4 Uma proposta de formaccedilatildeo docente voltada para a literacia digital
                                                                                    • Bibliografia
                                                                                    • Apecircndices
                                                                                      • Apecircndice 1 ndash Questionaacuterio
                                                                                      • I - Identificaccedilatildeo do Entrevistado
                                                                                      • II - Questotildees de iacutendole sociocultural
                                                                                      • III - Acesso e uso da internet
                                                                                      • IV ndash O uso do celular com internet
                                                                                      • V - Frequencia do curso em EaD
                                                                                      • VI - Tecnologias e sua aplicaccedilatildeo
                                                                                      • PARTE 3 - ESCALA DO USO DE TECNOLOGIAS DIGITAIS NA PRAacuteTICA PEDAGOacuteGICA
                                                                                      • VII tecnologias e praacuteticas pedagoacutegicas
                                                                                      • Muito obrigada pela sua participaccedilatildeo
                                                                                      • Apecircndice 2 - Guiatildeo das entrevistas semi-estruturadas
                                                                                      • Apecircndice 3 - Transcriccedilatildeo das entrevistas
                                                                                        • Perfil Natildeo eacute professor mas pretende ser quando finalizar o curso
                                                                                        • Perfil professor de atualidades da rede particular formado em Recursos Humanos
                                                                                          • Perfil professor de ensino religioso na rede puacuteblica em cidade do interior
                                                                                            • Perfil Professora da rede puacuteblica
                                                                                              • Professora ensino meacutedio rede publica jaacute tem uma graduaccedilatildeo em matemaacutetica
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