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Esta edição reúne assuntos apresentados ao longo do tempo pelos moradores da Vila Brás Temas da cidadania NATHALIE ABRAHÃO vila brás | são leopoldo | junho/2013 | edição 140 Ocupação Educação Mobilidade Emprego, negócio próprio e o sonho da loteria Conhecer vai além de ensinar e aprender Como andam os caminhos da Brás Páginas 2 a 4 Saúde Cultura Segurança Carências geram queixas e soluções emergenciais Faltam opções, sobram talentos Polícia de menos, problemas em excesso Páginas 10 e 11 Páginas 12 e 13 Páginas 14 a 16 Páginas 6 e 7 Páginas 8 e 9 enfoque

Enfoque 140

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Jornal semestral produzido por alunos da Unisinos, da disciplina de Redação Experimental em Jornal.

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Page 1: Enfoque 140

Esta edição reúne assuntos apresentados ao longo do tempo pelos moradores da Vila Brás

Temas da cidadania

Nath

aliE aBrahão

vila brás | são leopoldo | junho/2013 | edição 140

Ocupação Educação MobilidadeEmprego, negócio próprio e o sonho

da loteria

Conhecer vai além de ensinar

e aprender

Como andamos caminhos

da Brás

Páginas 2 a 4

Saúde Cultura SegurançaCarências geram

queixas e soluções emergenciais

Faltam opções, sobram talentos

Polícia de menos, problemas em

excesso

Páginas 10 e 11Páginas 12 e 13

Páginas 14 a 16Páginas 6 e 7 Páginas 8 e 9

enfoque

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2 Opinião Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

enfoque

o Enfoque é um jornal direcionado aos moradores da Vila Brás, em São leopoldo/rS. a produção é dos alunos das disciplinas de redação Experimental em Jornal e Fotojornalismo do Curso de Jornalismo da Unisinos.

Fale conosco!

Confira quando circulam as edições deste primeiro semestre:

[REDAÇÃO] Orientação: luiz antônio Duarte Edição e Reportagem: alessandra FedeskiCamila CapelãoFernanda SchmidtGabriel dos reis (Editor-chefe)Juliana FogaçaLetícia da Silveira Mariana StaudtMaurício Montano Ott Reportagem: ananda Franco Garciaandressa Barrosangélica PinheiroCristiane AbreuDaiane Dalle teseDyeison MartinsFabrício romioFernanda KernGreice NicheleGuilherme Endlerhelena CaliariJorge leite

Letícia Rossa luís Francisco Caselani Marcos reche Ávila Matheus Kiesling Nádia StrateNatália SilveiraPriscila da Silvarenata Santosrita rodriguesYngrid lessa

[FOTOGRAFIA] Orientação:Flávio DutraFotos:amanda Mouraamanda Nunesana Elisa oliveiraBárbara MullerCamila WeberCristina LinkDaiane treinDiego da CostaDiogo rossiEduarda rochaFabricia Bogoni

Felipe GaedkeFernanda KernJacson DantasJéssica PedrosoJoana DiasJonas PilzJosé FranciscoMatheus D’ÁvilaMichele MendonçaMidian almeidaNatália ScholzNathalie abrahãorayra Krajewskiroberto CaloniSaimon Bianchini

[ARTE] agência Experimental de Comunicação (agexcom). Projeto gráfico e supervisão técnica: Marcelo Garcia Diagramação: amanda heredia

Universidade do Vale do rio dos Sinos - UNiSiNoSav. Unisinos, 950, Bairro Cristo rei - São leopoldo/rStelefone: (51) 3591 1122. E-mail: [email protected]: Marcelo Fernandes de aquino. Vice-reitor: José ivo Follmann. Pró-reitor Acadêmico: Pedro Gilberto Gomes. Pró-reitor de Administração: João Zani. Diretor da Unidade de Graduação: Gustavo Borba. Gerente de Bacharelados: Gustavo Fischer. Coordenador do Curso de Jornalismo: Edelberto Behs.

(51) 3590 8463 / 3590 8466

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13 de abril Junho4 de maio139 140

[email protected]

av. Unisinos, 950 - agexcom/Área 3 - São leopoldo/rS

Carta ao leitora terceira edição do Enfoque expõe expectativas de ci-

dadania por ações que deveriam ser mais frequentes e, as-sim, transformadoras das rotinas de quem vive na Vila Brás.

Um dos temas mais preocupantes da atualidade, as dro-gas, é um dos problemas enfrentados no bairro. o quadro, não muito distinto, de outros lugares, interfere na vida dos habitantes do lugar.

a edição também mostra o lado das oportunidades da comunidade, que ocupam muitos jovens e traçam soluções singulares para quem busca uma carreira sólida e de sucesso.

a mobilidade urbana também é abordada, evidencian-do problemas no trânsito e uma tendência: a bicicleta como meio de transporte.

os problemas com a saúde parecem insolucionáveis, já que pais encontram dificuldades na busca por pediatras no bairro, mas, em contrapartida, há os medicamentos al-ternativos, que podem reduzir consideravelmente o custo de um tratamento específico.

o tema educação não passou despercebido: a falta de vagas nas escolas parece ser um problema crônico e longe de uma solução.

Torcemos para que essa edição sirva de reflexão para os gestores públicos e assim faça com que eles tomem atitu-des que de fato possam solucionar problemas e moldar as oportunidades que lá habitam.

GABRIEL DOS REISEditor-chefe

Alunos do Enfoque ministram oficinas

Redundâncias e contradições jornalísticasARTIGO

DA REDAÇÃO

Um grupo de 60 estudan-tes de Ensino Fundamen-tal, moradores da Vila

Brás, participou de oficinas so-bre gêneros textuais, ministra-das com a participação de alu-nos da Unisinos. os encontros, totalizando 16 horas/aula, fo-ram realizados nos dias 24 e 31 de maio, em salas do Centro de Ciências da Comunicação, por colaboração dos cursos de pós--graduação em linguística e de graduação em Jornalismo. a ini-ciativa partiu de renata Garcia Marques, na dupla condição de aluna do Mestrado em letras e de professora na Escola Estadual João Belchior Marques Goulart, de São leopoldo.

os universitários, atualmen-te nos semestres finais do curso de Jornalismo, compartilharam com os estudantes da Vila Brás temas como a escolha do assun-to a ser trabalhado como notícia, entrevista ou reportagem e das pessoas a serem entrevistadas em cada tema, além da impor-tância de pluralidade na abor-dagem das matérias. também evidenciaram as diferenças exis-tentes nos tipos de textos para jornal, revista, rádio, televisão e internet e entre os gêneros tra-

tados nas oficinas. os alunos que ministraram as

oficinas coordenadas pela pro-fessora renata Garcia Marques e com a colaboração do professor responsável pela disciplina de redação Experimental em Jor-nal, Nikão Duarte, foram ananda Franco Garcia, andressa almeida Barros, Cristiane aparecida Fer-nandes de abreu, Daiane Dal-le tese Nunes, Dyeison Gomes Martins, letícia Borba da Silvei-ra, letícia Franciele rossa, Mar-cos reche avila, Mariana Staudt, Maurício Montano reis ott, Ná-

dia regina Strate e Yngrid lessa da Costa.

textos selecionados, produ-zidos pelos alunos da Vila Brás a partir do que foi abordado nas oficinas, serão publicados nas edições do Enfoque no segundo semestre deste ano.

LUIz AnTOnIO nIkÃO DUARTE(Professor)

o Jornalismo envolve algu-mas redundâncias, em contra-dição à sua perseguição pela objetividade.

Uma delas refere-se ao uso de denominações iguais para situações diferentes. É assim com reportagem, usada tan-to para designar a forma com que um assunto é abordado e o seu texto elaborado, quanto na referência à equipe de pro-fissionais de um meio de comu-nicação. idem com entrevista, palavra a expressar o ato de indagar alguém sobre o assun-to de seu domínio, mas válido também para a apresentação de seu conteúdo, na forma de pergunta-e-resposta.

aqui no Enfoque, o fruto visível da disciplina de redação Experimental em Jornal, do cur-so de Jornalismo da Unisinos, vive-se, também, esse pleonas-mo como abordado acima – e, ainda, na própria prática, que resulta em três edições a cada semestre, a partir de saídas

regulares, de apuração, na Vila Brás, bairro cinquentão de São leopoldo, na divisa com Novo hamburgo, abrigo de cerca de 20 mil habitantes.

São reconhecidas ao Jorna-lismo suas tarefas de revelar, traduzir e comunicar, em meio às quais é preciso superar eta-pas como selecionar assuntos, entrevistar, pesquisar e, quando for o caso, especular, denunciar. o Jornalismo, portanto, é natu-ralmente investigativo, porque se vale de técnicas apurativas; comunitário, porque exercido por delegação da sociedade e a ela (ou a parcelas dela) dire-cionado; e popular, por traduzir para uma linguagem comum termos que, na origem, podem ser herméticos e ininteligíveis. Sendo comunitário e popular por vocação, o Jornalismo, por consequência, é exercido na di-reção da cidadania.

Denominar o Jornalismo como Investigativo, Comunitário, Popular ou Cidadão é, portan-to, outra forma de redundância com a qual convivemos - inclu-sive neste exercício curricular.

A cada semestre, nosso desafio inclui levantar assuntos em cor-respondência com o interesse público; focá-los na direção dos leitores que, muitas vezes, são nossas próprias fontes; escrevê--los em linguagem acessível e tecnicamente corretos e, enfim, comunicar – numa abrangência que envolve ainda a observação crítica e resulta em notícias que, além de informar, podem agra-dar e desagradar leitores.

Essa repetição rotineira de nossas práticas tem, no caso da atual experimentação em curso na disciplina, uma possi-bilidade a mais, a ser exercida nestes dias finais do semestre letivo: alguns de nossos alunos foram ministrantes voluntários em oficinas sobre gêneros tex-tuais para estudantes de Ensino Fundamental residentes na Vila Brás – veja matéria acima. Vão ensiná-los a escolher temas, abordar fontes, realizar entre-vistas e produzir textos a partir da sua realidade próxima.

Com o perdão da redundân-cia: há Jornalismo mais Cidadão do que esse?

Universitários abordam gêneros jornalísticos com estudantes da Brás

Renata Garcia Marques durante aula de Redação Experimental em Jornal

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Quem quer ser milionário?ALESSAnDRA FEDESkI (texto)JOSÉ FRAnCISCO (Fotos)

a oportunidade de apostar na loteria estará mais próxima dos moradores da Vila Brás. Nos

próximos meses, a avenida leopoldo Wasun vai receber um novo empreen-dimento comercial. Um espaço a ser formado por uma farmácia, pela Fer-ragem Vieira e por uma lotérica.

O responsável pela iniciativa é o empresário Valmo da rosa, 37 anos, proprietário da Ferragem Vieira. “a Brás vai crescer ainda mais com as novas oportunidades de emprego e renda que estamos criando”, afirma Valmo, que vê no local a expansão do seu próprio negócio.

Com a perspectiva de uma lotérica dentro da Vila, o Enfoque conversou com os moradores para saber o que cada um faria se ficasse milionário.

FAMíLIA EM PRIMEIRO LUGAR

a dona de casa Edita Bonas-sim, 58 anos, daria prioridade para a sua família. “Eles sempre estão precisando, seriam os primeiros a receber alguma coisa caso um dia eu venha a ganhar”, comenta.

airton da Silva Machado, 45 anos, realizaria o sonho dos familia-res. Um homem bastante religioso, airton acredita que sua fé o conduz e o faz hoje ajudar muitas pessoas.

“ajudo quem eu posso e com as condições que tenho”, declara.

o aposentado João ribeiro, 83 anos, tem o sonho de comprar uma fazenda e voltar para o interior de Santa rosa, sua cidade natal para estar mais próximo dos parentes.

A VILA BRáS CRESCEnDO E SE DESEnVOLVEnDO

Para a doméstica Mari Flores dos Santos o desejo maior, se fi-casse milionária, é construir um centro de recuperação para de-pendentes químicos. “aqui na Vila Brás tem muita gente precisando desse tipo de ajuda, a situação está difícil. Mesmo não tendo con-dições, eu tento ajudar a comuni-dade da maneira que posso”.

Elvira ressler sente um desejo semelhante ao de Edita. “Se eu ti-ver oportunidade de ficar rica, aju-daria aqueles que mais precisam: drogados, idosos, crianças.”

João da Silva, 49 anos, tem o desejo de ver o local em que mora prosperar. “Se eu ganhasse na lo-teria, faria aqui uma quadra espor-tiva para toda a comunidade”.

Apostas na loteria poderão ser feitas na Vila Brás

MAURíCIO MOnTAnO (texto)DAIAnE TREIn (Fotos)

lojas de roupas, bazares, lan-cherias, oficinas, salões de beleza. É possível encontrar vários desses pe-quenos negócios. São alguns exem-plos dos estabelecimentos que ca-racterizam o comércio da Vila Brás. aparentemente fáceis de abrir e simples de administrar.

Mesmo iniciando com um investi-mento modesto, podem-se conseguir bons lucros. Para isso é preciso um pouco de planejamento e especiali-zação. Jaqueline oliveira, 22, largou a sala de aula de educação infantil para atender em sua própria loja. a Casa da Erva foi ideia do pai, mas ela é quem administra há quatro meses, desde a inauguração. o irmão auxi-lia na compra dos itens e apresenta os fornecedores, pois já trabalha no ramo há alguns anos. Jaqueline sabe que tudo que tirar da loja ela deve re-por ao caixa em dinheiro. Pensa em um dia fazer vestibular para gestão financeira. Está no caminho certo, mas é possível aprender a planejar e tornar o negócio auto-sustentável antes de chegar à faculdade. Com-prar certo, calcular preços, aprimorar atendimentos, planejar lucros e des-pesas, são algumas das habilidades que podem ser aprimoradas através

de cursos rápidos e de fácil acesso. assim como Jaqueline, Carla Pol

também garante que é mais lucrati-vo empreender do que ser emprega-do. De funcionária de gráfica passou à dona de seu próprio negócio. hoje faz artes gráficas e banners para vá-rios outros comerciantes do bairro. Ela é uma Micro Empreendedora in-dividual - MEi, uma das modalidades para quem quer começar. Já investiu em maquinário e construiu o local onde agora funciona o escritório e serigrafia. No momento de regis-trar a empresa, Carla foi instruída de como gerenciar de acordo com a classificação que ela está enquadra-da, mas também não tem conheci-mentos mais aprofundados sobre gestão empresarial.

Quem quer empreender consegue ter acesso a palestras gratuitas, ofici-nas e cursos de curta duração que são oferecidos em São leopoldo e cidades da região pelo próprio serviço que re-gistra as empresas, o SEBraE. É pos-sível encontrar cursos que ensinam desde empreender até agregar valor e diferenciar o seu negócio em rela-ção aos concorrentes. as situações de Carla e Jaqueline são semelhantes à de muitos outros comerciantes na Vila Brás. Um local onde existe mui-ta oportunidade para empreender e crescer com profissionalismo.

Seu negócio ainda mais profissional

3Empregos e OportunidadesEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Elvira Ressler sonha construir um centro de recuperação de dependentes químicos

Empreendimento já está em fase de finalização

Jaqueline Oliveira pensa em expandir o seu negócio estudando Gestão Financeira na faculdade

Empresa de Carla Pol faz

serigrafia para os comerciantes locais

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PRISCILA DA SILVA (texto)JOAnA DIAS (Foto)

Quem nunca sonhou em ter a casa pró-pria? o planejamento e a construção de moradias são atividades destina-

das aos profissionais da Engenharia Civil, mas quem realmente coloca a “mão na massa” são os pedreiros.

Morador de um dos maiores bairros de São leopoldo, a Vila Brás, Gustavo da Silva rosa, 24 anos, apesar da pouca idade, já materializou alguns sonhos na comunidade em que vive há mais de uma década. Gustavo conta que o inte-

resse pela profissão surgiu na infância, quando começou a acompanhar seu pai, Pedro Francisco da Silva, 42 anos, em diversos trabalhos que ele realizava. Pedreiro há mais de 20 anos, Pedro se tornou referência para o filho.

“Muitas pessoas pensam que pedreiro não tem valor nenhum. Pedreiro tu encontra uns dez no bar para entrevistar, mas os que trabalham de verdade são poucos”. inconformado com o descaso de alguns colegas de profissão e susten-tado no exemplo recebido do pai, Gustavo conta que algumas vezes já pensou em desistir, mas por perceber que seu trabalho é reconhecido no bairro, resolveu continuar.

Segundo ele, ser pedreiro proporcionou a aquisição de sua casa, seu carro e contribuiu na formação de sua família. Casado e pai de um menino, Gustavo conta que a esposa implica com a profissão, da mesma forma que sua fale-cida mãe, pois ambas sempre enfatizaram a des-valorização do trabalho que realiza e o fato de residirem em uma vila. “Uma vez, recomenda-ram meu serviço para um senhor que não mora aqui na Brás. Ele entrou em contato comigo e

passei os valores e os prazos, tudo direitinho. o cliente concordou com tudo, mas quando des-cobriu que eu morava na vila, mesmo sabendo das obras que fiz e da qualidade delas, acabou desistindo e fiquei na mão”, desabafa.

Uma de suas construções pode ser localiza-da na rua “Q”, esquina com a avenida leopol-do Wasun, principal rua do bairro. a obra está sendo realizada em parceria com seu pai e, em breve, será concluída. além disso, em Novo hamburgo, um prédio comercial está em fase de edificação, também pelas mãos de Gustavo.

Colocação de cerâmica e azulejo, consertos de banheiros e instalações elétricas, também integram as atividades que desempenha. o aca-bamento é a parte da obra que ele mais gosta de fazer, pois envolve questões como pintura, reboco e outros retoques finais. “a finalização é o que realmente mostra o meu trabalho, pois é a partir dali que as pessoas conseguem visualizar aquilo que eu faço”, completa.

Quem quiser contratar os serviços de Gus-tavo, pode entrar em contato pelo telefone (51) 8414-7447.

Pedreiro há mais de cinco anos, Gustavo (à direita) descobriu sua vocação através do exemplo de Pedro

AnDRESSA BARROS (texto)BáRBARA MÜLLER (Fotos)

Mulheres são vaidosas por na-tureza. Cada vez mais frequentam o salão de beleza para pintar as unhas, fazer mechas no cabelo, etc. Estão sempre querendo novidades. As empresas de cosméticos se de-ram conta disso e vêm investindo nos mais variados tipos de produ-tos. No momento, a tendência são os esmaltes, que são considerados acessórios. Hoje temos uma infini-dade de tons, acabamentos e mar-cas. Com esse crescimento, o mer-cado de manicures foi ampliado.

Ivanete Betinardi, 49 anos, tra-balhava em uma empresa de calça-dos até o ano passado, quando se aposentou, e resolveu investir na carreira para complementar a renda familiar e ocupar seu tempo. “Sem-pre gostei de fazer unhas, quando trabalhava, dava um jeitinho de marcar as clientes ao meio dia”. Ela fez alguns cursos profissionalizan-tes para ir se atualizando, mesmo enquanto estava em outra área.

ivanete conta que ainda está sen-do conhecida na comunidade como manicure, mas está satisfeita com a clientela. acredita que ainda há bas-tante espaço no mercado.

ana Paula Machado, 22 anos, abriu o estabelecimento próprio em janeiro deste ano. Começou a apren-der, sozinha, aos treze anos e aos quinze já foi trabalhar profissional-mente. “Fazer unha, para quem gos-ta, é um lazer. Quem não gosta, não cresce na profissão e fica sempre

de mau humor”. ana, que fez curso de Nail art (Decoração para unhas), conta que a maioria das suas clientes tem preferência por unhas persona-lizadas: “tem cliente que faz a unha em outro salão e vem aqui para eu decorar”, complementa. Ela crê que o mercado está em expansão e cita exemplos de pessoas que moram em outras cidades, e são clientes dela. agora, ela pretende voltar a estudar, fazer uma faculdade. “Quero crescer na Brás!”, enfatiza.

Mercado em plena expansão

4 Empregos e Oportunidades Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Tal pai, tal filho

Ana Paula dispõe de uma grande variedade de produtos em seu salão

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A confiança como condiçãode trabalhoLETíCIA ROSSA (texto)AMAnDA MOURA (Fotos)

os grandes centros urbanos não se diferenciam das comunida-des em ascensão, como a Vila

Brás, apenas no que diz respeito à di-mensão de seu território e aos índices populacionais: a distinção também está na forma de trabalho. Enquanto nas regiões mais centrais dos muni-cípios o que se mostra relevante é a qualificação dos profissionais, nas localidades em fase de crescimento o que pode cativar o empresário é a disposição e confiança no funcionário.

Um exemplo visível na Brás é o de Solange Blauth. Desde que criou sua empresa há oito anos, ela dá pre-ferência aos familiares no momento da contratação. De acordo com ela, a confiança no futuro colaborador é um item fundamental para que se estabe-leça uma relação sadia entre patrão e funcionário. “Para que eu não tenha dúvidas de que minha loja esteja em boas mãos, prefiro trabalhar ao lado de minha filha e prima”, conta a pro-prietária da Sol Modas.

o caso se repete na família hoch, que há 15 anos mantém viva na Brás a Agropecuária Terra Nativa. O em-preendimento é liderado por José Er-nesto hoch e sua esposa Eva Beatriz. O filho do casal também colabora nas

atividades do negócio – o que indica outra vertente bastante comum no bairro: as empresas familiares. “Sem-pre fomos somente nós três no co-mando da agropecuária. Se eu fosse contratar alguém de fora, daria pre-ferência por alguém da própria Vila”, explica o empresário.

Além da proximidade do profissio-nal com a Brás, as características ob-servadas no momento da contratação ficam distribuídas dentro de catego-rias como experiência e boas referên-cias. “Os cursos de qualificação não importam muito. Desde que a pessoa tenha disposição ela pode ser contra-tada”, completa José Ernesto.

Essas qualidades podem ser encontradas na relação emprega-tícia estabelecida entre Régia dos anjos e seus superiores na Made-bras Materiais de Construção. Ela conseguiu a oportunidade devido aos sogros serem os proprietários do local. “acredito que o fato de eu ser confiável contribuiu para que eu tenha sido contratada ao invés de outra pessoa. A qualificação não é a prioridade”, afirma.

O CEnTRO COMPARADO à COMUnIDADE

apesar da intensa busca pelo aperfeiçoamento profissional, a con-

tratação de funcionários por meio da confiança continua em evidência nas comunidades em fase de expansão. a consultora de recursos humanos, Janice laner, explica que este fenô-meno se dá pela proximidade que o contratante quer estabelecer com o funcionário. “localidades interioranas se caracterizam pela familiaridade que a comunidade tem com as empresas. No momento de contratar um cola-borador, é nisso que o proprietário ou gerente pensa”, explica.

Na Vila Brás, por exemplo, este é o fator que motiva a escolha de funcionários que residam no próprio bairro ao invés de pessoas vindas de fora da região.

Nas comunidades em crescimento como a Vila Brás, a qualificação de profissionais fica em segundo plano

REnATA SAnTOS (texto)CRISTInA LInk (Fotos)

Na avenida leopoldo Wasun, a principal da Vila Brás em São leopoldo, é possível encontrar diversos estabelecimentos co-merciais espalhados ao longo da via. Muitos são administrados por famílias que juntas traba-lham para gerar renda e viver do próprio negócio. Mas a par-ticipação dos comerciantes para

aquecer a economia na Brás vai além, é que muitos acabam por adquirir a mão de obra dos pró-prios moradores do local, ofere-cendo oportunidades de empre-go e renda fixa.

Um exemplo é o comerciante Audemir do nascimento Vieira, aos 43 anos e natural de três Passos, no noroeste do Estado, chegou à Vila Brás há 28 anos, dos quais há 15 trabalha como comerciante. o proprietário do

Supermercado Vieira investe nos moradores da Brás ofere-cendo a eles a chance de entrar para o mercado de trabalho. Dos seus 14 funcionários, sete resi-dem na Vila, entre eles a ope-radora de caixa Dorilde Muller, que aos 42 anos e mãe de dois filhos, acredita que morar e trabalhar na Brás tem suas van-tagens. “há três anos trabalho no supermercado, e morar aqui perto me proporciona a tran-

quilidade de poder estar mais tempo com meus filhos, almo-çar junto com eles e conseguir organizar melhor a casa.”

Já Reni Vieira Cardoso, natu-ral do município de três Palmei-ras, na região norte do Estado, é funcionário do supermercado há pouco mais de um ano. o açou-gueiro garante que a principal vantagem de morar próximo ao emprego é a economia em rela-ção ao transporte e que o ônibus

pode ser facilmente substituído diariamente por uma bicicleta.

os comerciantes do local pre-ferem contratar a mão de obra dos próprios moradores. aos 32 anos, a comerciante Sabrina reis reside há quatro anos na Vila Brás. Foi na avenida leopoldo Wasun que estabeleceu seu bazar e conta com a ajuda de duas funcionárias. Uma delas é a vendedora Jeniffer da Costa Massirer, que aos 18 anos trabalha há pouco mais de um mês no Multi Bazar Sintonia. Para a jovem, as vantagens de trabalhar na Brás são inúmeras. “Moro a uma quadra do meu em-prego, consigo poupar o dinheiro do transporte e tenho a facilidade de estar perto de casa. Eu até já tive a oportunidade de conseguir emprego fora daqui, mas prefiro estar trabalhando na Brás,” con-clui Jeniffer.

as oportunidades de traba-lho que surgem na Brás, acabam por aquecer a economia local, que por sua vez gira em torno da própria comunidade. Com as chances criadas pelos comercian-tes do local, a vila acaba por dis-ponibilizar aos seus moradores inúmeras vagas de emprego e a possibilidade de se estabelece-rem no mercado de trabalho.

Moradores garantem renda sem sair da Brás

5Empregos e OportunidadesEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Equipe da Sol Modas (à esquerda) e proprietário da Agropecuária Terra Nativa (acima) integramempresas familiares

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Fila para o conhecimentoJORGE LEITE (texto)nAThALIE ABRAhÃO (Fotos)

algo que de deveria ser básico e essencial, como direito em escolas estaduais de ensino

médio, torna o acesso à educação si-nônimo de luta e conquista. Em mui-tos casos a falta na continuidade dos estudos causam problemas maiores, além da falta de aprendizagem.

É o caso de Zequeu, 16 anos, que está esperando por uma vaga desde o início do ano. o ex-aluno da Escola, atualmente faz o curso profissionalizante de marcenaria no SENai Gustavo Copé, em Novo hamburgo.

Zequeu recebe uma bolsa au-xílio de r$300 pelo curso. Com o dinheiro que ganha, ajuda a mãe, paga os vale-transporte e com que sobra compra roupas. “além de ficar sem estudar, corro o risco de perder minha vaga no SENai” lamenta. o SENai oferece cursos gratuitos de aprendizagem, o único critério é que o aluno esteja matri-culado regulamente na escola ou concluído o Ensino Médio.

a mãe, arminda Forcos, 40 anos, conta que no início do ano letivo procurou vaga nas escolas do Centro. “o pai dele preencheu um cadastro no Ginásio Municipal Celso Morbach, sem sucesso. Eu também tentei, e não consegui”. Ela comenta que alguns alunos

são encaminhados pela escola. No caso do filho, faltou o número de um documento.

a vice-diretora da João Gou-lart, Soleci Schuch, informou que as inscrições devem ser feitas pela internet. No entanto, levando em consideração a situação de muitos alunos, que não têm acesso, ten-tam ao máximo fazer essa articu-lação. “além de fazer campanha e alertar os pais e alunos, fazemos algumas inscrições, juntos aos alu-nos que têm dificuldade em realizar o processo, mas é uma responsa-bilidade exclusiva deles e dos pais acompanharem”.

No caso do filho da Maria Sueli Paim, 42 anos, o risco é de perder o emprego. Wilian Paim, 17 anos, tra-balha em um mercado. até então, ele tinha parado de estudar para traba-lhar. Segundo a mãe estava inviável pagar condução até o Centro. “hoje em dia, os jovens trabalham ou estu-dam, mas sem trabalho não tem con-dições de pagar as passagens”.

ambas as mães concordam que o mais adequado seria abrir turmas de ensino médio nas escolas exis-tentes no bairro. assim, facilitaria a vida dos alunos e não prejudicaria ninguém. Maria ve a falta de pro-fissionais como um dos principais motivos. “Deveriam valorizar os profissionais, pois é a falta de pro-fessor que impede que abram no-vas turmas”.

Falta de vagas nas escolas estaduais de ensino médio preocupam pais e alunos

hELEnA CALIARI (texto)AMAnDA nUnES (Fotos)

A única instituição de ensi-no da Vila Brás, a Escola João Goulart, lugar onde os pais dos alunos encontram ensino e segu-rança para seus filhos. Os mora-dores do bairro não têm do que se queixar, afirmando que o colégio é um dos melhores lugares da Vila para as crianças. “Moro há 25 anos aqui e nunca tive problemas com a educação”, conta Maria Porto, 59 anos. Ela tem três netos e uma bisneta matriculados na institui-ção. Maria trabalha em um posto de saúde de outro bairro da cidade e passa o dia fora de casa. “acho que a escola de-veria oferecer mais ho-rários para as crianças poderem passar mais tempo lá, o que deixaria os pais mais tranquilos, já que no colégio eles estão em segurança”, relata.

Os três filhos da dia-rista Clara dos Santos, 40 anos, também passaram pelo colégio. “Minha fi-

lha se formou em 2009, e meu fi-lho no ano passado. agora tenho o caçula estudando aqui”, conta. Clara alega que nunca passou pela sua cabeça tirar seus filhos da instituição. “Já tive problemas dentro do colégio, mas sempre gostei muito do ensino e da edu-cação que a escola oferece.”

O filho mais novo, Alef dos Santos, 12 anos, está cursando o 6º ano na escola e conta que é bem acolhido pelos professores. Clara concluiu dizendo que além de ensino, seus filhos aprende-ram a respeitar o próximo. “De-pois de começar a frequentar a escola, eles passaram a respei-

tar mais, a ouvir mais”. Hoje, a filha mais velha de Clara, Pâmela, 18 anos, é formada no Ensi-no Médio e no próximo ano irá cursar Design de interiores. Pâmela con-cluiu o Ensino Médio no Instituto Pedro Schnei-der e seu irmão, Kelvin, 15 anos, está cursando o 1º ano na mesma ins-tituição.

CAMILA CAPELÃO (texto)MIDIAn ALMEIDA (Foto)

Ter escola em número sufi-ciente é fundamental para o de-senvolvimento dessa geração. os moradores da Brás, com filhos em idade escolar ou que necessitam de creches, apontaram os seguin-tes problemas: a falta de vagas em escolas de educação infantil, segu-rança, falta de professores e a falta de escola de ensino médio na Vila.

Adão de Oliveira teve seus fi-lhos formados na escola João Gou-lart, aliás, uma filha e uma neta ainda estudam no colégio. Uma preocupação toma conta da vida do comerciante “Vou tirar as me-ninas da escola. toda semana na saída tem brigas, os alunos não se respeitam”, diz.

Para Vani Nunes, as preocupa-ções são outras, com um filho na sétima série: “No ano que vem, Carlos Eduardo vai estudar no cen-tro. Porque a escola de Ensino Mé-dio não saiu do papel”, conta Vani. a falta de professores também é outro problema. “Muitas vezes meu filho volta para casa cedo por-que não tem professor”, desabafa.

Silvana Fochesatto precisou sair do emprego para cuidar de luiza, dez meses. “Pagava para cuidarem dela, mas meus horários mudaram, sigo esperando uma vaga”, diz. o mesmo acontece com andrea lisboa, mãe de andrey de sete meses. “Saí do ateliê e estou tentando vaga há dois meses, mas até agora nada”, diz.

A difícil tarefa de conseguir uma creche na durou um ano para Patrí-cia Bonfim, mãe de Kamilly de qua-

tro anos. “Kamilly vai à creche há dois anos, mas foi difí-cil”, conta Patrícia.

Pais aprovam João GoulartUm lugar para estudar e aprender

6 Educação Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Zequeu vê no cursosua profissão

Vagas são poucas para as necessidades da comunidade

As famílias de Maria de Lourdes (acima) e de Clara dos Santos reconhecem méritos no ensino disponível na Vila Brás

Page 7: Enfoque 140

Pais confiam na educação infantilAnAnDA FRAnCO GARCIA (texto)JÉSSICA PEDROSO (Fotos)

Yasmin Briscke tem só três anos, mas já diz ser a ajudan-te da professora na creche

onde estuda há um mês. “Ela gosta de brincar com os mais novinhos e diz que está cuidando deles, é uma graça.”, conta a mãe ana Pau-la Fernandes. No período em que está na creche, a menina realiza diversas atividades que desenvol-vem sua atenção e criatividade. Segundo ana Paula, o envolvimen-to da filha nas atividades se reflete

nos momentos em que ela está em casa. “Vemos que ela está gostan-do. É comunicativa e nos conta das tarefas do dia”. Para a comercian-te, que administra uma lan house na Vila Brás, ter matriculado Yas-min na creche foi a escolha certa. “Ela ficava comigo no trabalho até eu perceber que além de tomar meu tempo enquanto eu atendia os clientes, a Yasmin acabava indo para a rua encontrar outras crian-ças e eu a perdia de vista. agora eu fico tranquila, porque sei que ela está aprendendo coisas novas em um local seguro”, aponta.

a auxiliar de serviços gerais Tatiana Porto também está satis-feita com a instituição onde seu filho Dimitry Porto (5) cursa a pré--escola. a atenção das professoras e o diálogo constante com a família são os fatores que, para ela, mais contribuem. “Não tenho do que reclamar. a escola sempre mantém contato comigo ou com o meu ex--marido e participamos das reuni-ões e das confraternizações que a escola promove”, afirma. A avó Inês Porto percebeu que o menino já sabe contar e escrever o nome. “É em casa que a família pode reparar

se o que ensinam na escola está dando resultado”, considera.

EDUCAÇÃO InCLUSIVA

Se depender da mãe, Silvana Mo-raes, a educação dos seus filhos Rafa-ela (5) e luís Gustavo (3) será marcada pelo respeito às diferenças. assim que concluir a pré-escola, no final do ano, o próximo passo será matricular a me-nina em uma escola especial. apesar de ser voltada para o público surdo e mudo, a dona de casa conta que a instituição, localizada no bairro Cristo rei, abre um número limitado de va-

gas para estudantes sem deficiências, para que eles auxiliem os colegas com necessidades e aprendam a lingua-gem de sinais. “outro diferencial é que as turmas são compostas por apenas 12 alunos, então tenho a se-gurança de uma educação inclusiva e de qualidade”, aponta Silvana.

Ela acredita que a formação edu-cacional dos filhos deve começar na a infância. “Eu quero que eles estejam preparados para lidar com as dife-renças dos outros e também para aprender com elas. além disso, saber a linguagem de sinais pode ser um di-ferencial no futuro dela”, acrescenta.

Familiares acreditam que a participação deles nas atividades escolares contribui para o desenvolvimento das crianças

MARCOS REChE áVILA (texto)AnA OLIVEIRA (Fotos)

O descarte de lixo doméstico a peças de vidro estilhaçadas são frequentes no arroio Gauchinho. Sua água é turva e preta, com cheiro forte. “Como as pessoas não tem como pagar alguém, jo-gam no rio. Na visão das pessoas o rio não é de ninguém e levam pra outro lugar o problema”, aponta o professor de engenharia ambiental, Carlos alberto Mora-es, 48 anos.

o morador lino de lima, 64 anos, mostrou erosões causadas por queimas da vegetação em torno do arroio. “Quando cresce o capim, queimam. Não deixam as sementes germinar”. antes das queimas a vegetação era compos-ta por um número muito grande de Maricás, arbustos altos e lar-gos que ajudavam a conter a força das chuvas.

Em 2008, São leopoldo pas-sou pela maior cheia dos últimos 25 anos e quase levou a água do rio dos Sinos para o arroio Gau-chinho. o professor Moraes expli-ca que ao chover a terra das ero-sões é lavada e aumenta o nível do rio. a profundidade da barra-gem natural, feita de vegetação,

diminui. “Quando chove há mais alagamentos”, conclui.

“Queima gera gás carbônico”, lembra. Folhas secas viram maté-ria orgânica e são um adubo natu-ral tão bom quanto os industriali-zados. “agora no outono, as folhas caem e tendo a limpar, varro e co-

loco numa composteira”, diz. há várias residências na Brás

com materiais para construção, como areia e brita, obstruindo calçadas e ruas. “a areia vai aca-bar entupindo os bueiros”, avisa o professor. Existe uma resolução do Conselho Nacional de Meio

ambiente (Conama), que impede o entulho de materiais em vias públicas.

alexsandro Pol, 23 anos, esta-va parado em uma rua sem nome, em frente ao local conhecido como campinho, observando a in-vasão e demarcação com fitas do

terreno para assentamento. “Não se sabe nem se é área verde (áre-as de proteção ambiental)”.

o terreno não foi totalmente invadido porque parte é utiliza-do para jogar entulho e galhos. “Contratam catadores para retirar das suas casas e jogar na área do campinho”, mostra. “o entulho deve ser levado a um local pró-prio para resíduos e não em ter-renos baldios”, orienta Moraes.há lixo espalhado por toda a ave-nida leopoldo Wasun, jogam lixo até mesmo em frente às lixeiras. Danos urbanos também são co-muns, Solange da rosa, 35 anos, aponta que há muitas pichações e quando os donos das casas pin-tam as paredes e muros, picham novamente.

a moradora ainda denun-cia que o corrimão da rampa de acesso para deficientes físicos ao posto de saúde foi depredado e arrancado. Moradores reclama-ram aos agentes do posto a re-posição de um novo, mas não foi feito nada.

Moradores geram danos ambientais

7EducaçãoEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Silvana quer que os filhos estudem em uma escola onde possam aprender sobre as diferenças

Lixo descartado no arroio e queimadas causam erosão

Ana Paula colocou a filha Yasmin na creche para ter mais tranquilidade enquanto trabalha

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Do asfalto ao póJULIAnA FREITAS (texto)SAIMOn BIAnChInI (Fotos)

a princípio, umas das únicas ruas que recebeu asfalto é a avenida leopoldo Wasun, e a da Esco-

la João Belchior Marques Goulart. as outras, o máximo que fazem é colocar paralelepípedos, quando colocam. Dari Cresta Severo, pedreiro morador da rua das Peônias, a qual não existe ne-nhum tipo de calçamento, reclama dos problemas que surgem com a falta de asfalto e da má vontade da Prefeitura em solucionar o problema. “Quando chove, enche tudo de água. De vez em quando a Prefeitura vem e dá uma patrolada, mas aí arrumam as outras e esquecem o resto”, diz.

Na rua lyons Padre réus, a situação

se repete. apesar das promessas feitas, a rua continua sem asfalto, prejudican-do quem mora ali. “Era para passar até ônibus. alaga tudo quando chove”, conta a dona de casa Patrícia Borba da Silva, de 35 anos que lembra que liga-ções para a Prefeitura pedindo o calça-mento das ruas não faltam. “a gente liga, liga, mas não adianta”, diz.

Na rua dos ibiscos, o calçamento é de paralelepípedo. De acordo com o mecânico José dos Santos, era muito pior. “É perigoso. além de estragar os carros, ainda tem o pó, que não deixa nada limpo. trabalho há oito anos aqui e digo que era pior, pois era de chão batido”, conta o mecânico. No meio da rua, há uma pequena lombada, fa-zendo com que muitas pessoas sofram acidentes e atrapalhando o circular

dos transeuntes. “Essa semana uma mulher quase caiu de moto por causa dessa lombada”, lembra José que teve que retirar uma parte dessa lombada, para que sua mecânica pudesse ser acessada pelos seus clientes.

o Secretário Municipal de obras, rudimar Couto, explica que o grande problema é a falta de recursos para viabilizar o asfaltamento das ruas que ainda se encontram em situação pre-cária. “Para este ano, não há previsão, devido às demandas antigas que ainda não foram atendidas. Mas em 2014 terá reuniões do Orçamento Partici-pativo para receber as demandas das comunidades. Esperamos que, a par-tir do ano que vem, possamos aten-der a demanda da Vila Brás”, explica rudimar. além disso, há um projeto

em curso solicitando recursos para as demandas que serão recebidas. “De-vemos lembrar que, para a Prefeitura, também é interessante o asfaltamento daquela região. Cada vez que a patrola

tem que ir até à Brás, é um custo. Com o asfaltamento, isso não ocorrerá, acarretando economia para a secreta-ria e possibilitando investimentos em outras demandas”, diz o secretário.

Na Vila Brás, se consegue contar nos dedos quantas ruas são asfaltadas. E esse é um problema antigo e motivo de reclamações por parte dos moradores da comunidade

9

FABRíCIO ROMIO (texto)JOnAS PILz (Foto)

a questão do transporte público na Vila Brás não é diferente do en-contrado em muitas cidades do país. atrasos, ônibus lotados e paradas em situações precárias são constantes desafios que os moradores enfren-tam para se deslocar.

as reclamações vão desde a de-mora entre um ônibus e outro, até a falta de um local propicio para a es-pera do transporte. “Se você perder um ônibus tem que esperar mais de 40 minutos até o próximo”, comen-ta leandro rodrigues antunes, 25 anos, ajudante de vendas em um consórcio.

Leandro utiliza o transporte duas vezes por dia, e conta que as piores situações são nos horários de pico, às 7hs e às 18hs. “o pior é quando o pes-soal está indo trabalhar, ou voltando do serviço. Nestes casos é difícil encon-trar lugar nos ônibus”, explica.

a auxiliar de produção, Mariglei

alves isbarrolo, de 44 anos todos os dias pega transporte até o bairro Fei-toria. Ela reclama do tempo de espera que tem que enfrentar. “Na minha opinião, deveria ter mais horários e mais opções de linhas”.

A situação piora nos finais de semana. De acordo com a aposen-

tada Maria de Souza, de 68 anos, às vezes os ônibus demoram mais de uma hora para passar pelo local. “No domingo, a situação é muito compli-cada, porque a gente tem que espe-rar muito tempo para ir a qualquer lugar”, explica.

a questão das paradas também

é uma reclamação constante da população. Muitas se encontram esburacadas, sem telhado e ban-cos, ou praticamente não existem. Em uma rápida passada percebe--se que apenas um lado da avenida leopoldo Wasun possui locais es-pecíficos para espera. “Em dias de chuva a gente se vira como pode, ficando embaixo das marquises”, explica Maria. além disso, há a reclamação que os próprios mora-dores depredam as paradas, o que acaba atrapalhando.

Porém, nem todos reclamam. Para alessandro Contenda, de 30 anos, a situação do transporte públi-co está boa na vila. “o único proble-ma é o ônibus para Novo hamburgo, que é um pouco mais demorado”.

De acordo com a Diretoria de Mobilidade Urbana, órgão ligado à Secretaria de Planejamento da Pre-feitura de São leopoldo, a questão do transporte coletivo deverá ser prioridade nos próximos anos. Em nota, a diretoria informou que a

questão na Vila Brás será reavaliada e, se necessário, ampliado e refor-mulado, bem como a situação das paradas de ônibus.

transporte público gera descontentamento

8 Mobilidade Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

O mecânico José ressalta o perigo da falta

de um bom calçamento

Rafael se preocupa

com o meio

ambiente

Sirlei tem a bicicleta como sua escudeira

Leandro reclama da espera

Mariglei diz que situação piora nos fins de semana A falta de placas com nome das ruas é

um dos problemas de sinalizaçãoFalta de paradas é um problema para moradores

GREICE nIChELE (texto)FABRICIA BOGOnI (Fotos)

A utilização do novo meio de transporte disponí-vel à população da Vila Brás se resume basicamente a passeios e atividades de lazer. Como a maioria das pessoas trabalha em Novo hamburgo, o ônibus con-tinua sendo o mais utilizado. Porém, os moradores comemoram a passagem da linha de trem como item que contribui para a valorização da Brás.

Para Madalena Stedile, 47 anos, que trabalha no hospital Unimed em Novo hamburgo há 10 anos, a chegada do trem não causou um grande impacto, pois ela ainda depende de ônibus para se deslocar. “Minhas sobrinhas é que utilizam mais para ir ao jogo do inter. Para mim, é mais para ir a outras ci-dades comprar alguma coisa mais barata”, explica. Segundo Madalena, o valor da passagem, mais aces-sível que do ônibus, é um diferencial. Mas falta in-fraestrutura de acesso à estação por dentro da Brás e integração com linhas de Novo hamburgo. “aqui atrás tem uma rua que daria direto na estação, mas é cortada pelo valão e, em certos horários, não é segu-ro andar por ali. Ideal seria que tivesse uma integra-ção com os ônibus da hamburguesa, isso facilitaria”.

o aposentado Aldi Vieira de Assunção, 58 anos, revela que trabalhou nas obras de construção do trem como marteleiro. Hoje, utiliza o meio somen-te para passear nas casa de amigos em Canoas ou Porto alegre. “Para o centro de São leopoldo não é vantagem. Nesse caso o ônibus é mais prático. A es-tação fica muito longe do centro”, explica.

a família Moraes, residente na Brás desde sua fundação, considera o acesso ao trem como um avanço para a comunidade. Eva Moraes, 59 anos, conta que, para visitar sua irmã em Pantano Grande, precisava se deslocar até o centro de São leopoldo para poder ir à rodoviária de Porto alegre. “agora pego o trem aqui e vou direto à rodoviária”, come-mora. O filho Tarcis Moraes, 34 anos, chama a aten-ção para o aumento do número de veículos nos arre-dores da Brás e para as obras de lazer no entorno da linha. Segundo ele, ainda falta sinalização de trânsito para evitar os acidentes que passaram a ocorrer com mais frequência, com os carros que usam rotas alter-nativas para fugir da BR116. O patriarca da família, Marino Moraes, 66 anos, aponta para a valorização do bairro. “Depois do trem, os imóveis aqui e nos ar-redores ficaram muito mais valorizados, teve muitas construções grandes e bonitas”, finaliza.

GABRIEL REIS (texto)nATáLIA SChOLz (Fotos)

o volumoso bairro Vila Brás, que abriga cerca de 14 mil habitantes, conta com um considerável tráfego de bicicletas, principal-mente na avenida leopoldo Wasun. o estu-dante rafael Schartz Bach utiliza a bicicleta como meio de transporte há quatro anos e sua preocupação vai além da facilidade de se locomover. “a bicicleta facilita muito a minha mobilidade no bairro e é um meio de trans-porte que não polui”, afirma. Ele não deixa de citar a falta de respeito dos motoristas com os bicicleteiros. “Falta muita coisa (com relação a ciclovias), inclusive mais respeito dos mo-toristas conosco. Uma ciclovia solucionaria o nosso problema e incentivaria outras pesso-as a utilizarem a bicicleta como um meio de transporte”, completa Bach.

É muito comum a circulação de pessoas com bicicletas na comunidade, não só para passeio, mas no deslocamento para a esco-la ou do trabalho para casa. há quem utilize a bicicleta para diversas atividades, caso de Cirlei rodrigues de Vargas, auxiliar de servi-ços gerais, que utiliza sua “magrela” para se deslocar até o serviço e levar seu filho pra escola. “Faz uns vinte anos que a utilizo (bici-cleta) para me locomover. Vou para o serviço, levo e busco meu filho na escola, é uma fiel escudeira”, conta sorrindo Cirlei. Ela também acredita que uma ciclovia no bairro ajudaria bastante na organização do trânsito. “acho que falta uma ciclovia aqui no bairro. Pois há muitos bicicleteiros aqui e os motoristas não nos respeitam”, revela.

CICLOVIA nA BRáS

a arquiteta da Diretoria de Mobilidade Ur-bana de São leopoldo, Fátima ramos, revela que há uma proposta de projeto de ciclovia para a comunidade, mas não estabelece pra-zos. “Nossa intenção é contemplar o bairro Vila Brás. Mas ainda não contamos com uma data para a realização dessa obra”, finaliza.

REnATA GOMES (texto)nATáLIA SChOLz (Foto)

Um dos problemas visivelmente percebidos na Vila Brás é a falta de sinalização. além da escassez de pla-cas indicando, houve uma troca nos nomes das ruas de números para flores. Esses e outros fatores atrapa-lham o cotidiano dos moradores.

É o caso de Jéssica Macedo, de 26 anos, que já fi-cou inúmeras vezes sem receber seus pedidos da far-mácia. O motivo? O motoboy não conseguiu encontrar a rua. “Muitas ruas não tem placas com nomes e as que têm são difíceis de ver.” Disse a moradora. Ela ex-plica que as placas se encontram longe das esquinas, o que prejudica a visão de quem vem da via principal da Vila Brás, a avenida leopoldo Wasun.

isadora Mendes, de 16 anos, comenta que o pro-blema das placas causa muitos transtornos em sua casa. “Muitas vezes atrasamos pagamentos de contas, pois as cartas não chegam pelo correio, ou se chegam acabam indo para outra casa, assim como nós recebe-mos cartas de vizinhos de outras ruas.” a adolescente também relata que quando, recebem visitas, marcam ponto de encontro, já que a placa de sua rua, assim como outras, não existe.

a avenida leopoldo Wasun também possui muitos buracos e apresenta outros problemas de sinalização, como a indicação da faixa de pedestres em frente à Escola João Belchior Marques Goulart, que se encon-

tra apagada. além disso, a placa que indica a redução de velocidade em frente à escola se encontra atrás da estrutura de uma loja e ninguém consegue perceber.

os alunos–repórteres da Unisinos também enfren-taram alguns obstáculos referentes a essa carência de mobilidade urbana. “Muitas vezes, procurando fontes, era indicado ruas para conversamos com moradores. o problema é que, mesmo andando por toda avenida, não encontrávamos a rua que era indicada”, comenta a aluna Natália Silveira.

a Prefeitura foi contatada, mas, até o fechamento desta edição, não havia dado retorno.

a influência do trem na vida dos moradores

Bicicleteiros pedem passagem

Falta sinalização dentro da Vila Brás

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não compre remédio. Plante!

MAThEUS kIESLInG (texto)CAMILA WEBER (Foto)

Em uma época onde ser sau-dável é praticamente uma regra na vida da maioria das

pessoas, muitos moradores da Vila Brás têm apostado em trata-mentos alternativos para comba-ter os mais variados tipos de do-enças. Diante disso surgem figuras como Maria Vilma Elesbão, de 69 anos, especialista na elaboração de remédios alternativos, elabo-rados com substâncias extraídas da natureza e que, segundo ela, trazem efeitos tão bons quanto àqueles medicamentos compra-dos em farmácias tradicionais.

aposentada como doméstica há 10 anos, Maria se divide entre o brechó de uma igreja e a pro-dução dos remédios, que elabora conforme o pedido e a necessi-dade de seus vizinhos, moradores da comunidade. Ela conta que o interesse por essa área surgiu ao receber o convite para participar

de um curso promovido pelo pa-dre Paulo, da Diocese de Novo hamburgo. “iniciei o curso, que foi realizado na lomba Grande, logo após ter sido convidada. No local onde tínhamos as aulas en-contrávamos todos os aparelhos e ervas necessários para elaborar os remédios”, diz.

Maria salienta que os ele-mentos encontrados na natureza contam com um poder de cura impressionante e que vários tipos de plantas que, em muitas das vezes, passam por nós desper-cebidas no dia a dia, podem ser a utilizadas na fabricação desses medicamentos. “Utilizo plantas como a mamica de cadela, ma-ricá, gervão, entre outros. Com essas ervas podemos curar desde um simples problema de estôma-go até bronquite. Como exemplo, podemos citar um tipo de grama comum que encontramos nos pá-tios das casas, conhecida como Capim de São Paulo. Ele é um poderoso bentabiótico, excelente

no combate de processos de in-flamação”, destaca.

De maneira bem humorada, Maria conta que a procura por parte dos moradores da Vila Brás é constante. “Muita gente tem me procurado. Certa vez, uma vizinha bateu lá em casa desesperada, per-guntando o que poderia fazer para melhorar o problema de respiração do filho. Fiz um remédio e pedi para ela passar no bico do bebê, que logo melhorou. hoje ele é um baita gurizão”, acrescenta.

Maria revela que um dos prin-cipais fatores que contribuem para a intensa busca por esse tipo de medicação diz respeito ao elevado preço dos remédios convencionais. “Não cobro nada pelo que faço, por isso todos me procuram para tratar de proble-mas seja com crianças ou adultos. Peço apenas que me entreguem aquilo de que necessito para a elaboração da receita. o que mais me preocupa é auxiliar com que a pessoa fique bem”, salienta.

Moradores da comunidade buscam nas plantas a cura para variadas doenças

DAIAnE DALLE TESE (texto)AMAnDA nUnES (Foto)

Depois da refeição, no final da tarde ou antes de dormir, o chá tornou-se popular em vários lugares, assim como na Vila Brás. Dependendo da folha usada na infusão, a bebida pode oferecer nutrientes que ajudam no bom funcionamento do organismo. algumas experiências clínicas demonstram que o consumo regular de sementes pode até mesmo ajudar na prevenção de

algumas doenças.“Depois de completarmos 40

anos, nosso corpo perde nutrien-tes e temos que repô-los”, conta roselane Brun, que auxilia sua nora nas vendas da loja de chás Sabor Natural, localizada na rua leopoldo Wasun. Segundo ela, a linhaça dourada é uma das espe-cialidades mais vendidas na loja. a procura acontece devido às propriedades nela encontrada. “Ela é rica em ômegas 3, 6 e 9, diminui os sintomas da meno-pausa, reduz o colesterol, auxilia

na redução de peso, proporciona equilíbrio nos hormônios e regu-la o intestino”, explica.

A medicina alternativa, espe-cialmente o consumo de ervas, é uma técnica muito usada para melhorar a saúde em geral. os efeitos desses compostos são muitas vezes considerados como mais naturais do que os medica-mentos industrialmente sinteti-zados. algumas pessoas como a dona de casa Neusa da rosa, 40 anos, gostam de utilizar o chá também como ingrediente em outras bebidas. “Usando chás no chimarrão eu consigo unir duas coisas, a saúde e o prazer em cul-tivar essa tradição”, conta.

Chás não necessariamente precisam ser usados quando se está doente. Eles são incremen-tos progressivos para que se te-nha mais vitalidade física e ener-gia e podem ser utilizados como complemento a medicamentos, por exemplo.

FERnAnDA SChMIDT (texto)DIOGO ROSSI (Fotos)

a família Costa é um exemplo da dificuldade que muitas famílias brasileiras enfrentam quando o as-sunto é saúde. Em fevereiro deste ano, João Batista Costa, 61 anos, sofreu pela terceira vez um aciden-te cardiovascular. o resultado: teve o lado esquerdo paralisado e não consegue mais andar.

Atualmente, João vive com o fi-lho Gilson, de 37 anos e com a nora lisiane Costa, 33 anos. a alegria da casa fica por conta de Everton Costa, 12 anos, filho de Gilson e lisiane. Ele ajuda a mãe, que é dona de casa, a cui-dar do avô.

A rotina da famí-lia não é fácil. João precisa usar fraldas

e toma vários remédios. São cerca r$ 150,00 mensais gastos pela fa-mília só em fraldas. Mas além da ajuda da família, João conta com a assistência do Posto de Saúde que atende a Brás.

toda semana ele recebe a visi-ta de enfermeiras, que procuram saber como está a saúde de João. “a gente não pode reclamar. Elas sempre nos ajudam com material, mesmo que não seja o suficiente, a gente sabe que é tudo que eles po-dem nos dar.”, conta luciane.

apesar de to-das as dificuldades, a família não deixa de sonhar. “Meu so-nho é ter uma casa própria. a gente tem muito proble-ma aqui. Estamos aguardando para conseguir o projeto Minha Casa, Minha Vida.”, conta lisiane.

Família de Fé

10 Saúde Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Neusa recomenda o uso de chá como composto para chimarrão

A esperança de cura invade a residência

dos Costaos poderes da medicina alternativa

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Falta de pediatras prejudica atendimento a criançasChICO CASELAnI (texto)ROBERTO CALOnI (Fotos)

a Unidade Básica de Saúde (UBS) Brás conta atualmente com duas equipes de saúde da

família, formadas por médico genera-lista, dentista, enfermeiro e agentes comunitários de saúde. o que preo-cupa os moradores é a ausência de um médico destinado ao tratamento de crianças. Em casos mais graves, nos quais o próprio clínico-geral reco-menda atendimento especializado, os pais precisam recorrer a bairros vizinhos, pediatras particulares ou mesmo outras cidades.

Eles reconhecem que o traba-lho na UBS é positivo, mesmo com a ausência de uma das médicas, que segue em licença-saúde. os pais le-vam seus filhos para consultas com os profissionais, que acolhem, pres-tam assistência e trabalham com uma cultura de medicina preventi-va, identificando necessidades de cada núcleo familiar. a reclamação maior fica restrita justamente à fal-ta de atendimento pediátrico.

a dona de casa Daiane Friedrich, 27 anos, conta que nem chega a con-sultar no bairro. Ex-moradora de Novo hamburgo, ela se dirige ao município vizinho sempre que precisa levar os pequenos Cauã, 8 anos, e raíssa, 2

anos, ao médico. “infelizmente não temos esse tipo de atendimento espe-cializado na Vila Brás. Então nem ten-tamos pegar ficha, conseguir horário. Aqui a pessoa tem que ficar doente no dia certo para ser atendida”, explica.

Já Marivete de oliveira, 37 anos, frisa que sempre foi bem atendida e destaca as visitas domiciliares. “os agentes comunitários vêm aqui em casa ao menos uma vez por mês, para ver como estamos, como as crianças estão e se o ambiente é saudável para elas”, ressalta. Mãe do pequeno leonardo, de 2 anos, ela lembra que não sente tanto a falta de um pediatra também porque seu filho nunca pre-cisou de um atendimento mais sério.

APOIO ExTERnO

Quem sofreu com a falta de aten-dimento especializado foi a diarista Giovana anjos Moraes, 32 anos. Mãe do pequeno Eliéser, 3 anos, ela lembra dos casos de alergia que seu filho teve quando mais novo. a médica até ten-tou atendê-lo, mas precisou encami-nhá-lo para consulta com um pedia-tra. Eles tiveram que procurar ajuda na UBS trensurb, próxima à estação Unisinos, no bairro Cristo rei.

“Desde aquela vez sabemos que precisamos nos deslocar para con-seguir esse atendimento. o pesso-

al aqui nos ajuda a cuidar bem dos nossos filhos, mas se percebem qual-quer alteração mais forte, eles pre-cisam de um apoio externo”, com-pleta. assim como outras mães do bairro, Giovana sabe que o trabalho de enfermeiros e médicos no bairro tem funcionado bem. “o problema é quando as crianças precisam de um cuidado maior”, conclui.

Pais necessitam sair do bairro

para conseguir auxílio especializado

para seus filhos

CRISTIAnE ABREU (texto)JACSOn DAnTAS (Foto)

Desde a metade do mês de abril 153 famílias ocupam um grande terreno na Vila Brás. Se-gundo os invasores, o espaço de 3.500 m², que fica localizado na Rua Caminho Comum, era utiliza-do como ponto de violência e trá-fico de drogas. “Agora que a gente veio morar aqui não tem mais esse problema”, acredita a mulher de 27 anos, que se mudou com os cin-

co filhos para um barraco improvi-sado no local. “Durmo no meio do nada com as crianças, elas choram de fome. Não tenho condições de pagar aluguel, então nós não va-mos sair daqui”. Com apenas um ano de idade, a filha mais nova da mulher que não quis se identificar sofre com crises de bronquite. “até para tomar banho a gente depen-de da boa vontade dos vizinhos”, desabafa a mãe da menina.

Segundo alguns moradores, a Secretaria de habitação (SEMhaB)

foi informada sobre a ocupação e o diretor de relações Comunitárias, José Bonifácio da Costa, afirmou que iria visitar o terreno, no entan-to ainda não apareceu no local. Ele alega que a prefeitura não pode tomar nenhuma atitude porque o terreno é uma área particular per-tencente a Elisabete do Nascimen-to. “Não podemos incentivar as pessoas a invadirem áreas

privadas. Então, infelizmente, eu não tenho uma resposta aos invasores”. o diretor concorda que a situação é de calamidade e tem conhecimento das condições pre-cárias em que vivem as famílias.

Proprietária de dois lotes de área ocupada pelas famílias, Elisa-bete afirma que irá fazer um pedi-do de reintegração de posse. “Não é a primeira vez que isso acontece, meu terreno tem escritura e está com os impostos em dia. Vou to-mar as providências cabíveis”.

DyEISOn MARTInS (texto)DUDA ROChA (Foto)

a saúde das inúmeras famílias que vivem na Brás depende do posto de atendimento localizado na rua central da comunidade, que opera há alguns meses sem um clínico geral. apenas os enfer-meiros atendem, no momento.

isso gera casos como o de Maria Suely Pache-co Morais, de 70 anos. Com uma grave lesão pulmonar, a idosa segue aguardando o resulta-do da extensa bateria de exames para qual foi submetida em dois hospitais. Como não foi possível o atendimento no posto, ela teve que ir nos postos do bairro Vicentino e da Scharlau.

Quem vive numa situação semelhante é Dorida da rosa Flores, de 62 anos. Ela desco-briu, há cerca de um ano, um problema no coração e de pressão alta, e precisa consul-tar em outros postos de saúde da região.

Ela precisou inclusi-

ve ludibriar o sistema, alegando que morava com sua irmã em Novo hamburgo, para receber atendimento por aquela cidade. Conseguiu ser atendida lá, po-rém com o avanço do tratamen-to, a fraude foi descoberta e ela deixou de receber os remédios. hoje é atendida pelo posto do bairro Santos Dumont.

Condições precárias de vida

11SaúdeEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Moradores reclamam da ausência de tratamento pediátrico gratuito na Vila Brás

Maria Suely aguarda pelos resultados de seus exames

Todas as 153 famílias vivem com pelo menos mais de um filho nos barracos em situação de total precariedade

Queixas e ineficiência no sistema de saúde

Page 11: Enfoque 140

Falta entretenimentonáDIA STRATE (texto)FELIPE GAEDkE (Fotos)

assistir a peças de teatro, dan-çar, andar de bicicleta, jogar futebol, fazer aeróbica ou

uma simples caminhada fazem par-te do lazer e cultura de todos. En-tretanto, os moradores da Vila Brás estão sentindo falta dessas opções. Segundo eles, o bairro está carente de atividades que ocupem o tempo livre. “tudo está abandonado, para ter uma noção, os meninos preci-sam andar de skate durante a noite para poder aproveitar a rampa do

posto de combustível”, comentou a comerciante de 38 anos, Michele Schütze.

os jovens também lamentam, Diego alt de 25 anos conta que sem espaços de cultura e lazer o bairro se torna mais perigoso. “Praticamente não tem nada para fazer aqui, para sair com a famí-lia ou jogar futebol, por exemplo, temos que sair da Vila. Dessa for-ma, acabo ficando dentro de casa e tenho percebido que a falta de atividades tem gerado violência”, afirmou o jovem.

os amigos osvaldo Silva, 58

anos, Vildo heinz, 67, e José Siquei-ra, 54 anos, como única atividade de lazer, se encontram em um bar perto de casa. “Nossa diversão é aqui, para conversar e jogar uma sinuca. a solução para o problema está na associação dos Moradores que deveria realizar atividades para nós e não só alugar a sede para fes-tas particulares”, apontam.

o presidente da associação de Moradores, Cleber Silveira, diz ter ido buscar recursos. “Já fiz reunião com o prefeito e com o secretário de esportes para encontrar solu-ções. Em anos anteriores fechá-

vamos a rua 25 de agosto para o lazer e estamos querendo reativar essa ideia”, descreve.

o secretário municipal de es-portes, rogério Barbosa de Brito, apontou que melhorias estão sen-do elaboradas. “assumimos a pre-feitura há poucos meses e estamos com dificuldades financeiras. En-tretanto, estamos desenvolvendo várias ações no que diz respeito a cultura e lazer na Vila. Em breve, te-remos a Brás Fest, festa do dia das crianças, a revitalização da praça, entre outros, com ações para todas as idades”, salientou o secretário.

Moradores reclamam das atividades culturais e de lazer

MARIAnA STAUDT (texto)nATáLIA SChOLz (Foto)

a maioria dos moradores da Vila Brás não costuma frequentar bibliotecas, nem possui o hábito de ler periodicamente. a presença no acervo da João Goulart se restringe aos estudantes, apesar de ser aberto para a comunidade. “temos uma coleção bem completa de exemplares que são enviados pelo governo federal. Semanalmente, os professores levam as turmas na biblioteca, mas fora de horá-rio os alunos não retiram muitos livros”, afirma o diretor da escola Cláudio Celso hatje. a opinião dos moradores é seme-lhante. Eles acham que deveria haver mais diversidade e atrativos para ler por lazer. Solange Blauth, 39 anos, e Camila Blauth, 22, mãe e filha e antigas alunas da escola do bairro, contam que quando precisam de algum livro recorrem à Bi-

blioteca Municipal no centro de São leo-poldo. “Muitos aqui estão no ensino mé-dio ou na faculdade e não podem contar com o acervo da escola”, opina Camila.

O incentivo para a leitura é tão pe-queno na Brás, que poucos sabem da existência de uma biblioteca localizada na associação de Moradores. o tesourei-ro Emílio lima informa que atualmente ela está fechada, pois não foi feito o ca-dastro de todos os livros e nem definido os horários de funcionamento. “Eu mes-mo não sabia. Fui conhecer quando está-vamos na campanha para o novo presi-dente da associação”, diz. os livros foram adquiridos com verba pública destinada para a compra na gestão passada.

Em meio a essa realidade, larissa Grabriela Schütze, de 12 anos, é frequen-tadora assídua da biblioteca da João Goulart. “Eu adoro ler. agora estou com o livro Como treinar o seu dragão, mas

gosto mesmo de gibis, principalmente os da turma da Mônica Jovem e do Menino Maluquinho”. a atração por quadrinhos vem da antiga coleção do seu pai, mas a família toda incentiva e aprecia a leitura.

RITA RODRIGUES (texto)

Explosão da dança é um Projeto Social desenvolvi-do na comunidade Vila Brás há oito anos, com alunos maiores de cinco anos de idade. atualmente, 130 alu-nos são atendidos nas aulas de Jazz, Dança Contempo-rânea e Street Dance. Quem ministra é a professora de dança e bailarina Graciela de oliveira Souza, formada em Educação Física e também criadora do projeto so-cial. a vontade de criar o grupo surgiu após ter partici-pado do PEi, promovido pela Unisinos.

Graciela tem muito orgulho do projeto, princi-palmente quando se fala em casos de alunos que se destacam, como leonardo da Silveira, convidado pelo professor do Bolshoi, amarildo Cassiano, durante um festival para uma audição do Grupo, com cerca de 300 bailarinos, e passou. “Existem muitos casos de sucesso e muitos talentos a serem descobertos. tenho três alu-nas que estão trabalhando e vivendo da dança. No ano passado, outro aluno participou da audição do Bolshoi, porém foi reprovado na última fase da audição, mas tenho certeza que este ano o Jonathan Cunha irá pas-sar”, comemora.

as aulas acontecem quartas-feiras e sextas-feiras. os alunos colaboram com o projeto pagando r$ 6,50 por mês, mas também são realizadas promoções como rifas, chás, meio frango, etc, além do apoio da Comunidade Cristo operário que disponibiliza o local para as aulas.

Graciela conta com a ajuda de seu marido, adriano Guerra, que também dá aulas. “É no Grupo que deposi-to meus sonhos, supero desafios e me emociono a cada olhar sonhador. Sei que ele vai ser um grande sucesso e um exemplo na área social, educacional e dentro das linguagens artísticas”, acredita.

há acesso à literatura?

Explosão da Dança descobre talentos na Vila Brás

12 Cultura e Lazer Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Michele Schütze lamenta que o bairro está abandonado

Gabriela retira livros semanalmente

Biblioteca da Escola João Goulart tem baixa procura

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FERnAnDA kERn (texto e Fotos)

abandono. Esta é a palavra que descreve a praça da Vila Brás, uma das poucas opções de

lazer do bairro. o espaço conta com calçada para caminhadas, quadra de vôlei e de futebol de areia, equi-pamentos para exercício, brinque-do com escorregador e ponte para as crianças, balanços e gangorras. Entretanto, a falta de conservação afastou a população e atraiu usuá-rios de drogas para o local.

“o número de pessoas que usam a praça tem diminuído. acho que se reformassem iria vir muito mais gente pra cá. hoje, por exem-plo, não tem um banco pra sentar e tomar um chimarrão”, relata Mara rejane Simas, 39 anos, que mora com os filhos e o sobrinho ao lado da praça há seis meses. Ela destaca que nunca teve problemas com se-gurança. Para a moradora, depois da reforma, a praça deveria ser cercada para ajudar na conservação. “a gen-te sabe que tem vandalismo de dia também, mas acho que ia melhorar muito se a praça fosse cercada”.

Mara tenta manter os arredo-res de sua casa sem entulhos ou sujeira e plantou mudas de árvores nativas para melhorar o ambiente. “Já fica bonito quando a prefeitura vem cortar a grama, imagina se ar-rumassem toda a praça”, projeta. Dionathan dos Santos Gonçalves, o Vitor, 21 anos, que também mora ao lado da praça, concorda. Ele con-ta que a última vez que a grama foi

cortada foi há mais de um mês, mas que antes disso o mato estava alto há muito tempo. “acho bom morar aqui perto, mas tem que ajeitar as coisas, o parquinho chega a ser pe-rigoso para as crianças”, afirma. Des-taca também que, apesar do local ser utilizado por usuários de drogas, nunca teve problemas. “Eles ‘batem cartão’ aqui. todos os dias são os mesmos. É ruim, mas nunca tivemos problemas com segurança”.

Cristiano Eduardo Branco Cha-

ves, 10 anos, também se recorda de como a praça já foi. “Eu andava de bicicleta e skate, brincava na praci-nha, mas agora tá tudo destruído. E tem gente que usa a madeira da pracinha pra fazer lenha”, relata o menino. Atualmente, ele utiliza mais as quadras, mas mesmo assim segue com problemas. “a goleira não tem proteção e a bola vai parar no meio do mato. a quadra de vôlei nem rede tem, não dá pra usar”, reclama.

a reforma da praça é uma das

propostas do presidente da associa-ção de Moradores da Vila Brás, Kle-ber da Silveira. Ele conta que já en-trou em contato com a prefeitura de São leopoldo, solicitando que a praça fosse reformada e cercada, mas não tem previsão para o atendimento da demanda. a prefeitura, através de sua assessoria de imprensa, afirmou que “estas obras não estão previstas, porém, a Secretaria de Educação está construindo um ginásio de esportes na Escola João Goulart”.

Vandalismo e falta de manutenção fazem com que cada vez menos moradores consigam utilizar o espaço de lazer

GUILhERME EnDLER (texto)DIOGO ROSSI (Fotos)DIEGO DA COSTA (Fotos)

Esporte mais popular do mun-do, o futebol tem pouco incenti-vo na Vila Brás. o único espaço público disponível para a prática, uma quadra de areia localizada na praça da comunidade, está em más condições e é alvo de recla-mações de moradores.

rodrigo Braz, de 30 anos, conta que costumava utilizar a quadra frequentemente quan-do era mais novo, mas a quali-dade ruim do piso o afastou do local. “Não tem mais condições de jogar naquela areia, é cheia de pedras e lixo. Quando al-guém cai ali se machuca feio”, afirma. Para Braz, o problema seria solucionado se a areia fos-se trocada por uma mais fina, propícia para o esporte.

Diego alt, 25, também re-clama do piso, motivo pelo qual “cansou de se machucar”, e lem-bra que outro problema é a falta de uma grade de proteção atrás das goleiras. “É comum que a bola seja chutada muito alta e quebre as telhas das casas vizi-nhas”, diz. tanto Braz quanto alt afirmam que já levaram as recla-mações para a associação dos Moradores diversas vezes, mas os problemas não foram solucio-nados. Por causa do abandono do espaço, ambos precisam ir até quadras públicas no centro de São leopoldo para jogar.

apesar das más condições, a quadra reúne diariamente uma grande quantidade de pessoas, na maioria crianças. Maicon Si-mas, de 8 anos, diz que joga no local pelo menos duas vezes por semana e acredita que o espa-ço está “suficientemente bom”.

Já Cristiano Chaves, de 10, fre-quenta o local quase todos os dias e é recorrente nas reclama-ções do piso e da falta de grade de proteção: “a areia machuca as pernas”, lamenta.

o presidente da associação

dos Moradores, Kleber da Sil-veira, afirma que levou à prefei-tura uma proposta de reforma da quadra, com instalação de grades e troca do piso. Contu-do, ainda não há previsão para a reforma ser aprovada.

13Cultura e LazerEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Problemas:Calçada - Está bastante irregular e com buracos. Em alguns pon-tos, a vegetação e entulhos im-pedem a passagem.Quadra de vôlei - há apenas o chão de cimento e as duas bar-ras onde ficaria a rede, que não existe, assim como a demarca-ção das quadras.Quadra de futebol - a areia é grossa demais e cheia de en-tulhos, além de não estar bem distribuída, gerando buracos na quadra. Não há proteção ao re-dor do espaço e as bolas acabam quebrando telhas de vizinhos.Equipamentos para exercício - Na parte mais conservada da praça, a pintura já é praticamente ine-xistente e as barras de ferro estão amassadas.Brinquedo para as crianças - Deveria ter escada, ponte, esca-lada, entre outros itens. a ponte já não tem madeira, colocando as crianças em risco de queda. o resto do brinquedo está quebra-do e mal cuidado.Gangorras - Eram duas. Uma está deitada no chão, próxima dos ba-lanços e outra está bastante de-predada, dificultando o uso.Balanços - há espaço para pelo menos seis balanços, porém apenas dois ainda estão no lu-gar. a condição dos poucos res-tantes não é boa.Bancos - Em toda a extensão da praça, existem onze bancos. Destes, apenas quatro podem ser usados e mesmo os que ain-da existem estão em condições precárias.

DioGo roSSi

DiEGo Da Co

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A quadra continua a ser muito utilizada, apesar

da falta de cuidados

Sem condições de jogo

A praça não é mais nossa

Falta de manutenção, lixo e depredação são os principais problemas do local

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Comerciantes buscam proteçãoynGRID LESSA (texto)RAyRA kRAJEWSk (Foto)

Uma das grandes preocupações da Vila Brás atualmente é, sem dúvida, a questão da segurança

pública. assim como em toda a cidade de São leopoldo, cidadãos, comercian-tes e idosos se veem obrigados a utili-zar alarmes e grades para se proteger de arrombamentos e assaltos.

Com 14 mil habitantes, o bairro conta com diversos estabelecimentos comerciais, e o assunto segurança é recorrente. Depois de alguns furtos, a maioria dos comerciantes optou por investir em sistemas terceirizados de monitoramento. o Supermercado Vieira é um exemplo disto, há cerca de três anos utiliza este tipo de serviço. Segundo o proprietário, aldemir do Nascimento de 43 anos, este serviço é importante para tentar inibir os furtos e roubos que ocorrem nos estabeleci-mentos do bairro. “Aqui tivemos ape-nas um furto e a partir daí optamos por reforçar a segurança”, diz ele.

Na agropecuária Cônsul, localizada na rua principal, leopoldo Wasun, a questão da segurança foi aprimorada depois de um assalto em novembro de 2012, onde o estabelecimento teve apenas perdas financeiras e estru-turais. Estabelecida há sete anos no bairro, o proprietário Jonas Cônsul, 51 anos, conta que até então nunca havia tido problemas com furtos.

Já na loja de roupas, Só Modas, a

segurança foi pensada desde sua inau-guração. Existente há oito anos na comunidade, o local conta com moni-toramento terceirizado desde o início. “Desde que abrimos colocamos alarme e segurança para não termos surpre-sas”, conta a proprietária Solange Blau-th, 39 anos.

Diferente dos outros comerciantes, Marco Antônio, 24 anos não utiliza de segurança terceirizada para a proteção do seu estabelecimento. Proprietário da Papelaria lolo, Marco diz que a se-gurança é feita somente pela família e que não possui nenhum alarme. “Mo-ramos aqui na frente, então, estamos sempre de olho. Em 12 anos nunca fo-mos assaltados”.

ao falar da segurança na Vila Brás, Marco diz que não vê grandes proble-mas no bairro. Para ele os alarmes e monitoramentos terceirizados são ape-nas uma maneira de tentar diminuir os furtos. “aqui cada um tem que fazer a sua própria segurança, porque se qui-serem assaltar o lugar, os alarmes não vão adiantar de nada.”, ressalva.

Segundo a Secretaria de Seguran-ça Pública do Estado, em 2012 a cida-de de São leopoldo, que tem 215.606 habitantes, sofreu 3.764 furtos e 1.451 roubos. lembrando que furto é quando o autor do crime se apropria de um objeto, ou valor no qual ele não possui posse. E o roubo ocorre quan-do há emprego de violência ou grave ameaça, ou seja, a modalidade violen-ta do furto.

Proprietários recorrem a alarmes com monitoramento para inibir furtos

nATáLIA SILVEIRA (texto)MAThEUS D’AVILA (Foto)

a escola João Goulart, loca-lizada na rua leopoldo Wasun, passa por um problema que é recorrente em muitas outras es-colas, mas nem por isso por isso pode ser esquecido: a falta de se-gurança. Principalmente quando se trata dos horários de saída dos alunos, dando margem a episó-dios de violência que, conforme relato de moradores, ocorrem com frequência.

Segundo a moradora Maria* o descaso da Guarda Municipal, que deveria estar presente nesse momento, é o que mais indigna os moradores. “a saída na parte da manhã é às 11h45min, mas os guardas ficam, no máximo, até 11h20min. Sem falar que nunca se encontra eles na frente da escola, estão sempre lá dentro, sentados na secretaria, tomando café. Pa-rece que nunca estão fazendo o trabalho deles”, relatou.

a moradora diz que já procurou os órgãos municipais para prestar queixa, mas conta que nunca obte-ve uma resposta. “Sempre me di-zem que registraram a ocorrência, que vão tomar providências, mas acaba ficando tudo na teoria”.

o vereador Perci Pereira, repre-sentante da Vila Brás na Câmara, ad-mite os problemas relatados. “atu-almente não tenho como negar que a situação de segurança na escola está precária. São mais de 2.000 estudantes e não há estrutura para a segurança de todos”. a maioria dos fatos ocorre pela questão das drogas, onde, inclusive, há crianças participando desse mercado. “Os traficantes oferecem um lanche, um sanduiche e um copo de refrigeran-te e em troca as crianças vendem o produto dentro da escola”.

A esperança é um acordo fir-mado entre o governo federal e municipal que vai garantir viaturas de policiamento em breve. recen-temente, em reunião com o se-cretário Municipal de Segurança e Defesa Comunitária, Carlos alber-to azeredo, Perci teve uma vitória: garantiu viaturas que vão patru-lhar a área da escola em todos os turnos. além disso, existe a pro-messa de uma câmera instalada em frente à escola para monitorar o movimento. até o fechamento dessa edição, a repórter tentou contato com o secretário de Segu-rança e não obteve sucesso.

* O nome foi alterado apedido do entrevistado

o descaso com o futuro

14 Segurança Enfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

Após um assalto em novembro do ano passado, a Agropecuária Cônsul é um dos estabelecimentos que conta com serviço de segurança terceirizado

Moradores se preocupam com a falta de segurança para os alunos no horário de saída da escola João Goulart

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Moradores falam sobre o policiamento no bairro

Perci Pereira, 50 anos, pastor e vereador

“a Brás hoje em dia está 80% melhor. alguns anos atrás, a criminalidade era muito maior. acredito que a violência que ainda existe é causada, em sua maior parte, pela relação com as drogas. a melhor forma de trabalhar esse assunto é com a prevenção, criando oportunidades para os jovens terem com o que dedicar seu tempo livre, como, por exemplo, o esporte. Este trabalho deve ser em conjunto da associação de Moradores, Prefeitura e a igreja”.

Michele Schütze, 38 anos, comerciante“Não tenho o que reclamar. Faço hemodiálise e a van passa para me pegar às 5h30min e nunca tive problemas. Em casa, com meus filhos nunca aconteceu nada. Há aproximadamente dois anos, a Guarda Municipal e a Brigada Militar precisavam interferir com frequência em brigas que aconteciam na escola. hoje em dia, nem isso acontece”.

Marcelo Luiz Berg, 40 anos, leiloeiro oficial“a polícia tem feito um bom trabalho. o morador da Brás, de um modo geral, é seguro. Se acontece alguma coisa, são situações isoladas. acredito que pelo fato de ser um bairro acolhedor, onde os moradores são amigos e receptivos, esta união acaba gerando uma espécie de proteção”.

neri Souza de Oliveira, 36 anos, comerciante“Na minha profissão e no meu estabelecimento é muito tranquilo. Fico aberto até às 23 horas e nunca nada aconteceu. O policiamento é suficiente e a viatura passa por aqui com frequência. o problema com as drogas existe e pode afetar em alguns lugares, mas a região em que me localizo não oferece esse perigo”.

Cleuza Fontoura, 42 anos, doméstica

“Na minha opinião, o maior problema são os grupos relacionados às drogas. a maioria dos jovens que matam e morrem hoje na Brás, têm relação com essa dependência. acredito que para resolver esta questão, o primeiro passo deve ser o oferecimento de suporte à família do usuário, para que esta esteja preparada para auxiliá-lo a sair deste problema, que é uma epidemia. além disso, eu acho que falta policiamento, pois vejo poucas viaturas”.

neuza de Castro Dias, 73 anos, aposentada

“acredito que a segurança vem de Deus. Moro há 24 anos na Brás, criei meus filhos e netos, e nunca aconteceu nada com a gente. Vejo muitos policiais, eles passam bastante por onde moro. acho que as drogas são o grande problema: onde elas não existem, não há violência. o ambiente nós que fazemos. Nunca me envolvi com nada disso e nunca tive dificuldades”

Assim como em todos os lugares, na Brás não seria diferente. A criminalidade preocupa as pessoas que residem na comunidade. Algumas relataram

seu ponto de vista para o Enfoque

15SegurançaEnfoque - Vila Brás, São Leopoldo - Junho de 2013

LETíCIA SILVEIRA (texto) l MIChELE MEnDOnÇA (Fotos)

Page 15: Enfoque 140

VIla Brás - São Leopoldo/RSJunho de 2013Segurança

enfoque

DiVUlGaÇão

Operação realizada no último dia 10 resultou em prisões e apreensãoes de drogas na Vila Brás e bairros próximos

Uma violência silenciosa na Brás

AnGÉLICA DIAS (texto)DIEGO DA COSTA (Foto)

“Em quase todas as esqui-nas tem alguém venden-do drogas”. assim comen-

tam muitos moradores em torno da avenida leopoldo Wasun. a maioria deles diz conhecer cada um dos traficantes do bairro. No entanto, o medo os impede de denunciar a prática ilícita. “A gente finge que não vê para poder continuar vivendo, para não ter conflito com ninguém. Se eles brigam entre eles, seria bem pior conosco se nos metêssemos em seus negócios”, afirma W.E.*.

apesar da aparente convivên-cia pacífica, a existência desta ação criminosa é motivo de medo e gera outras formas de violência. Segundo W.E., há pequenos furtos e brigas com o envolvimento de jovens e até crianças viciadas em crack, a princi-pal droga comercializada no local.

outro morador, Y.a.*, conta que a drogadição atinge muitos menores do bairro. “Uma vez um menino, de apenas seis anos, quebrou os vidros da janela da casa do meu vizinho para roubar objetos que seriam vendidos para comprar droga”, rela-ta Y.a., indignado.

“Se tivéssemos um posto da Bri-gada aqui, acho que faria diferença. Pelo menos assim, a comercializa-ção se guardaria a noite, quando as crianças não estivessem na rua para eles oferecerem”, completa W.E.

De acordo com o delegado da 2ª Delegacia de Polícia de São le-opoldo, adriano Nonnenmacher de Souza, o patrulhamento é com-petência da Brigada Militar. No en-tanto, afirma que em São Leopoldo todas as instâncias policiais (militar,

civil e Guarda Municipal), trabalham juntas para a inibição do tráfico. Ele conta que no dia 09 de maio, uma operação da Polícia Civil no Vale dos Sinos apreendeu armas e drogas e prendeu 17 pessoas, sendo algumas da Vila Brás.

“a polícia trabalha com inves-tigação ostensiva contra o tráfico. Ao final de cada investigação, te-mos ações como esta, que sem-pre terminam em prisões e apre-ensões”, afirma o delegado. Ele ainda incentiva os moradores a

denunciarem o tráfico no local. “As pessoas podem vir até a delegacia ou ligar para o 181 e manteremos todo o sigilo sobre a identidade do denunciante”, reforça.

Segundo moradores, alguns dos fornecedores de droga são “gente boa”, pois não representam ameaça à vida de ninguém da Brás. É o caso de tiago que sem estudos e sem emprego, viu no tráfico uma forma de renda fácil. Esta suposta facilida-de lhe custou a vida há dois meses, quando foi assassinado por outros

traficantes. Alguns moradores não entendem por que ele foi morto, pois “era um guri tão bom”.

Para o delegado adriano, esta atitude não passa de disfarce para manter as atividades criminosas. “Por trás da gentileza e da simpatia dos traficantes há famílias inteiras sendo destruídas pelo crack e pes-soas sendo mortas e roubadas para alimentar o vício que eles iniciaram. além do mais, se eles incomodarem demais a população, correm o risco de atrair a polícia”, afirma.

“infelizmente, o caso de tiago é um destino provável para muitas das nossas crianças. ainda bem que temos bons projetos sociais, como o karatê da associação de Moradores e o grupo Explosão da Dança, que apre-sentam uma alternativa para elas. isso é só o que podemos fazer”, diz.

(*) À exceção do policial, os demais nomes foram trocados por siglas fic-tícias para preservação da identida-de dos moradores

Medo faz parte da convivência diária com criminosos

DiEGo Da Co

Sta