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1 r.soluções do lar,291 gl 01 jd.rio cotia cotia sp 06716-020 fone /fax +55 11 4702 9076 www.packless.com.br Entrevista com Carlos Fadigas CEO da Braskem à Revista Petro & Química Edição 341 • 2012 "Um mercado mais amplo e valorizado para produtos mais sustentáveis motivará maiores investimentos" Para Carlos Fadigas, somente esforços coordenados de todas as partes envolvidas podem conduzir a um mundo mais sustentável e com menos desigualdade social e econômica o que implica um tratamento diferenciado entre países ricos e pobres. O presidente da Braskem, Carlos Fadigas, é um dos convidados da próxima edição do Fórum Econômico Mundial onde estará disposto a dialogar sobre a temática da sustentabilidade incorporada ao negócio. A empresa tem um modo muito particular de conduzir essa questão, baseada no modelo de gestão do Grupo Odebrecht: educação através do próprio trabalho. Outro fundamento desse modelo de gestão é a busca por novas oportunidades de negócios quer um exemplo? A inclusão de novos produtos de origem renovável ao portfólio de resinas. A mais recente "inovação" da empresa nesse tema é a adoção de uma metodologia para priorizar investimentos atrelados às dimensões de sustentabilidade. Administrador de empresas com MBA pelo suíço Institute for Mangement Development, Carlos José Fadigas de Souza Filho completa em 2012 duas décadas de serviços prestados ao Grupo Odebrecht é quase metade de sua vida. Na Braskem, está há cinco anos somando o tempo em que respondeu pela área financeira, os seis meses à frente da Braskem América e o comando de uma empresa que tem quase sete mil funcionários distribuídos por 35 unidades industriais. Tempo mais que suficiente para assimilar a doutrina escrita pelo fundador do grupo, Norberto Odebrecht. "Muito antes de se falar em sustentabilidade ele nos ensinava que além da sobrevivência e do crescimento era necessário focar na perpetuidade dos nossos negócios e para isso deveríamos servir aos clientes com responsabilidade". Fadigas tem por característica a didática nas apresentações a analistas do setor financeiro ou a jornalistas, não se incomoda de explicar estratégias e números da empresa, quantas vezes for necessário. Em entrevista à Revista Petro & Química, o CEO da Braskem explica que a sustentabilidade suscitou no mundo corporativo um olhar mais abrangente na forma de conduzir os negócios. E que o desafio é motivar os consumidores. A sustentabilidade tem sido discutida de forma correta? No ambiente empresarial, a questão da sustentabilidade tem sido em geral compreendida adequadamente, no sentido de que ela é determinante para a perpetuidade dos negócios e para que estes se desenvolvam com um grau de eficiência e eficácia sempre crescente. O engajamento das empresas nos fóruns de discussão e/ou decisão sobre a sustentabilidade, nacionais ou internacionais, é cada vez maior, com base na crença de que só é possível avançar se a questão for tratada de forma conjunta por todos, incluindo governos, empresas e a sociedade civil organizada. Ou seja, somente esforços combinados e coordenados de todas as partes envolvidas podem conduzir a um mundo cada vez mais sustentável e com menos desigualdade social e econômica, o que implica um tratamento diferenciado entre países ricos e pobres, exigindo-se mais dos primeiros do que dos últimos. Não obstante esses avanços, ainda persistem em toda a sociedade resquícios da visão equivocada sobre a sustentabilidade, que em lugar de considerar de forma equilibrada os aspectos econômicos, sociais e ambientais, privilegia os últimos em detrimento dos dois primeiros, mas essa distorção é cada vez mais rara. Como o tema tem afetado as decisões empresariais? A sustentabilidade causou no meio empresarial no mínimo dois efeitos. Em primeiro um olhar mais abrangente dos impactos

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Entrevista com Carlos Fadigas – CEO da Braskem à Revista Petro & Química

Edição 341 • 2012

"Um mercado mais amplo e valorizado para produtos mais sustentáveis motivará maiores investimentos"

Para Carlos Fadigas, somente esforços coordenados de todas as partes envolvidas podem conduzir a um mundo mais sustentável e com menos desigualdade social e econômica o que implica um tratamento diferenciado entre países ricos e

pobres.

O presidente da Braskem, Carlos Fadigas, é um dos convidados da próxima edição do Fórum Econômico Mundial onde estará disposto a dialogar sobre a temática da sustentabilidade incorporada ao negócio. A empresa tem um modo muito particular de

conduzir essa questão, baseada no modelo de gestão do Grupo Odebrecht: educação através do próprio trabalho. Outro fundamento desse modelo de gestão é a busca por novas oportunidades de negócios quer um exemplo? A inclusão de novos produtos de origem renovável ao portfólio de resinas. A mais recente "inovação" da empresa nesse tema é a adoção de uma

metodologia para priorizar investimentos atrelados às dimensões de sustentabilidade.

Administrador de empresas com MBA pelo suíço Institute for Mangement Development, Carlos José Fadigas de Souza Filho completa em 2012 duas décadas de serviços prestados ao Grupo Odebrecht é quase metade de sua vida. Na Braskem, está há cinco anos somando o tempo em que respondeu pela área financeira, os seis meses à frente da Braskem América e o comando de uma empresa que tem quase sete mil funcionários distribuídos por 35 unidades industriais. Tempo mais que suficiente para assimilar a doutrina escrita pelo fundador do grupo, Norberto Odebrecht. "Muito antes de se falar em sustentabilidade ele nos

ensinava que além da sobrevivência e do crescimento era necessário focar na perpetuidade dos nossos negócios e para isso deveríamos servir aos clientes com responsabilidade".

Fadigas tem por característica a didática nas apresentações a analistas do setor financeiro ou a jornalistas, não se incomoda de

explicar estratégias e números da empresa, quantas vezes for necessário. Em entrevista à Revista Petro & Química, o CEO da Braskem explica que a sustentabilidade suscitou no mundo corporativo um olhar mais abrangente na forma de conduzir os

negócios. E que o desafio é motivar os consumidores.

A sustentabilidade tem sido discutida de forma correta?

No ambiente empresarial, a questão da sustentabilidade tem sido em geral compreendida adequadamente, no sentido de que ela é determinante para a perpetuidade dos negócios e para que estes se desenvolvam com um grau de eficiência e eficácia

sempre crescente. O engajamento das empresas nos fóruns de discussão e/ou decisão sobre a sustentabilidade, nacionais ou internacionais, é cada vez maior, com base na crença de que só é possível avançar se a questão for tratada de forma conjunta

por todos, incluindo governos, empresas e a sociedade civil organizada.

Ou seja, somente esforços combinados e coordenados de todas as partes envolvidas podem conduzir a um mundo cada vez mais sustentável e com menos desigualdade social e econômica, o que implica um tratamento diferenciado entre países ricos e pobres, exigindo-se mais dos primeiros do que dos últimos. Não obstante esses avanços, ainda persistem em toda a sociedade

resquícios da visão equivocada sobre a sustentabilidade, que em lugar de considerar de forma equilibrada os aspectos econômicos, sociais e ambientais, privilegia os últimos em detrimento dos dois primeiros, mas essa distorção é cada vez mais

rara.

Como o tema tem afetado as decisões empresariais?

A sustentabilidade causou no meio empresarial no mínimo dois efeitos. Em primeiro um olhar mais abrangente dos impactos

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dos negócios, incluindo os aspectos sociais e ambientais. Em segundo lugar, um olhar mais de longo prazo, trazendo para discussão como e qual deveria ser a forma de crescer ou desenvolver os negócios focando sua perpetuidade. Para algumas

empresas ou organizações empresariais essa forma de pensar mais abrangente já era uma realidade, mas podemos afirmar que a "sustentabilidade" trouxe uma lógica menos conceitual e mais baseada em fatos e dados sobre da importância de conduzir os

negócios dessa forma. Isso está motivando mais e mais empresas a considerarem os aspectos da sustentabilidade.

Portanto, isso tem afetado as decisões de mais e mais empresas. As que chegaram mais tarde ainda enxergam principalmente as ameaças de considerar dentro da sua gestão as suas responsabilidades socioambientais, olhando os custos de ter adequados controles. As que discutem esse assunto há mais tempo já passaram por cima das ameaças e enxergaram as oportunidades de

negócios. Na Braskem, por exemplo, nosso grande passo foi a inclusão de novos produtos de origem renovável no nosso portfólio. O Polietileno Verde e o ETBE, um bioaditivo para combustível, são apenas nossos primeiros passos.

Hoje, quais são os desafios?

Entendo que o principal desafio é motivar os consumidores para que suas decisões considerem de forma adequada a sustentabilidade no seu momento

de compra, uso e descarte dos produtos. Há muita desinformação. Há inclusive mitos na sociedade. Vou citar um exemplo: um dos nossos clientes

desenvolveu um produto com nosso apoio chamado Packless.

É um substituto para o pallet, um produto utilizado para a movimentação de cargas por meio de empilhadeiras. Tradicionalmente é feito de madeira, ou

seja, de origem renovável e biodegradável por natureza. Acredite, temos estudos que analisaram os impactos ambientais do pallet tradicional e do Packless. Em todos eles o do Packless é menor, apesar de ser feito de um

produto de origem fóssil e não biodegradável, o plástico. Isso principalmente pelo seu peso. O pallet pesa 35 quilos e o Packless, 3.

O mesmo acontece quando se comparam as sacolas de papel com as de

plástico, os baldes de tinta de metal com os de plástico etc. Nosso principal desafio é encontrar formas de comunicar adequadamente essas análises para

que os consumidores possam considerá-las no seu processo decisório e

passem a influenciar o mercado no sentido correto, ou seja daqueles produtos que causam menores impactos ambientais de forma abrangente: consumo de recursos naturais, consumo de energia, consumo de água, uso do solo, emissões atmosféricas,

geração de resíduos etc. Isso considerando todo o ciclo de vida dos produtos. Um mercado mais amplo e valorizado para esses produtos mais sustentáveis motivará maiores investimentos em desenvolvimento de tecnologias e realimentará

positivamente o ciclo no sentido correto.

De certa forma, o CEO deve ser elo entre vários stakeholders. Como é exercer esse papel?

Entendo que o mais importante é ser um agente confiável. A confiança no relacionamento se pauta em posicionamentos claros e transparência nos resultados. Desde a formação da Braskem nos comprometemos publicamente a atuar de acordo com os

princípios do desenvolvimento sustentável.

Em 2009 emitimos um novo compromisso público para deixar claro como avaliávamos o problema das mudanças climáticas e qual era nosso compromisso visando contribuir para a solução desse problema. Essa clareza de posicionamento foi

acompanhada pela comunicação dos nossos resultados ano após ano desde 2004. Mas esse processo de comunicação é apenas um instrumento para facilitar o relacionamento dos integrantes da Braskem com as mais diversas partes interessadas.

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O que vale mesmo é a construção desse relacionamento com os clientes, com investidores, com nossos fornecedores,

prestadores de serviço, com as comunidades próximas às nossas fábricas, com as universidades e centros de pesquisa, com ONGs, com os governos etc. A clareza de propósito explicitada atrai aqueles que tem princípios comuns aos nossos. O que

permite o aprofundamento desses relacionamentos e o surgimento das oportunidades de cooperação.

Qual é a formula utilizada para motivar os colaboradores?

Diria que não há uma fórmula, mas um conjunto de aspectos que caracterizam nossa cultura empresarial, que atraem pessoas que comungam de valores extremamente positivos e alinhados à sustentabilidade. Destaco nosso foco em servir ao cliente, mas com responsabilidade social e ambiental. Destaco a confiança nas pessoas, que as motiva a assumir desafios e a se desenvolver,

bem como nosso compromisso na partilha dos resultados alcançados com acionistas, mas também com nossos integrantes. Destaco nosso compromisso com o reinvestimento e consequente crescimento, nosso foco na perpetuidade dos negócios.

Ressalto ainda um processo compartilhado e estruturado de tomada de decisão, que delega a cada um dos nossos integrantes a máxima possibilidade de uso do seu potencial. Tudo isso é extremamente motivador, especialmente para uma equipe

diferenciada como a que tenho orgulho de liderar na Braskem.

A nova geração de funcionários da Braskem chega à empresa com conceitos de sustentabilidade internalizados?

Posso dizer que os jovens estão chegando na Braskem com cada vez mais informações e muitos deles já têm a "causa" da sustentabilidade bastante incorporada. Mas o assunto é muito vasto e a forma como conduzimos isso na Braskem é muito

particular da nossa cultura e modelo de gestão.

Por esse motivo, além de buscar atrair os melhores talentos para a Braskem temos um conjuntos de instrumentos para fortalecer a formação de cada um dos nossos integrantes, como o Programa de Desenvolvimento de Lideres, Programa de

Desenvolvimento de Empresários, o Programa de Desenvolvimento de Competências em Desenvolvimento Sustentável etc. Esses programas de formação, mais a educação através do próprio trabalho, alinhado aos nossos princípios de atuação, nos

permitem contar com pessoas e equipes cada vez mais motiva das e alinhadas à nosso forma de contribuir para o Desenvolvimento Sustentável.

Qual a formação teórica ideal?

Para a sustentabilidade não existe formação teórica única ou ideal. Cada um tem uma responsabilidade (na Braskem chamamos de negócio) que deve considerar os diversos aspectos da sustentabilidade. Infelizmente os cursos de formação, sejam em nível técnico ou em nível superior, ainda precisam evoliur mais em relação ao tratamento das questões atreladas à sustentabilidade,

portanto nós incorporamos essas questões nos nossos programas internos de formação. Mas, principalmente, incorporamos isso no nosso diaa- dia do trabalho, que é a melhor escola.

Há diferenças entre motivar trabalhadores próprios e terceirizados?

Sem dúvida há diferenças entre motivar nossos integrantes ou os prestadores de serviço. Para nossos integrantes contamos

com nossa tecnologia de gestão (já descrita anteriormente). Para os prestadores de serviço há outros instrumentos. Por exemplo, contamos com um adequado processo de seleção da empresa que nos prestará o serviço. É importante contratar

empresas que valorizem as pessoas como nós valorizamos. Que valorizem sua relação com as questões ambientais e sociais, como nós valorizamos.

Temos também um processo de relacionamento contratual que busca explicitar nossos requisitos mínimos, que incluem os

cuidados com as questões ambientais e sociais. Finalmente contamos com o papel dos nossos gestores de contrato, que são os

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responsáveis por levarem continuamente nosso princípios de atuaçã o aos nossos prestadores de serviço e por interagir continuamente com eles de forma a aproveitar ao máximo sua potencialidade e a fazer os ajustes necessários quando alguma

coisa não estiver ocorrendo da forma que esperamos.

Você teve uma experiência internacional embora breve, houve tempo de distinguir as diferenças na concepção da sustentabilidade?

Nos EUA a questão da sustentabilidade é muitas vezes vista como um aspecto meramente ambiental atrelado à

responsabilidade empresarial. E em alguns casos vista meramente pelo lado legal e, portanto, apenas pelo lado da ameaça. Por esse motivo eles usam muito mais a palavra "Sustainability" e não a expressão "Desenvolvimento Sustentável". No Brasil, como somos um país em desenvolvimento, o lado da oportunidade de negócio surge mais naturalmente, assim como a preocupação

com o lado social do desenvolvimento sustentável.

Qual a contribuição que você com seu histórico profissional pode dar a esse processo?

Posso dizer, humildemente, que estou continuamente aprendendo a esse respeito. Hoje entendo claramente que cada empresa precisa dar sua contribuição para o Desenvolvimento Sustentável, e como presidente da Braskem estou junto com toda minha equipe, totalmente comprometido com isso, a ponto de sonharmos juntos alcançar a liderança global da química sustentável

até 2020.

Você teve algum chefe que assimilou de forma essencial o conceito de sustentabilidade?

A grande inspiração para todos nós, integrantes da organização Odebrecht, vem do nosso fundador, Norberto Odebrecht. Muito antes de se falar em sustentabilidade ele nos ensinava que além da sobrevivência e do crescimento era necessário focar na

perpetuidade dos nossos negócios e para isso deveríamos servir aos clientes com responsabilidade. Entendo que cada um dos lideres com quem convivo e convivi exerceu isso de alguma forma, portanto estava com os princípios da sustentabilidade

assimilados.

Qual é o ambiente ideal para motivar as pessoas?

O trabalho. A busca e a possibilidade real de exercer as potencialidades individuais constituem a melhor forma das pessoas se motivarem. Na Braskem todos têm essa possibilidade.

E como você encontra motivação?

Minha principal motivação vem em primeiro lugar da satisfação de estar trazendo uma contribuição concreta para o bem estar

da sociedade, em equilíbrio com as questões ambientais e ainda gerando lucro com isso. Um lucro sustentável. Em segundo lugar minha motivação vem das oportunidades de negócios que advém de um olhar abrangente e proativo com

relação à sustentabilidade. Acho que o Brasil tem um potencial invejável. Todo o mundo nos olha e nos admira por aquilo que já alcançamos na área da energia renovável, e já nos começa a enxergar como importante player mundial focando os materiais de

origem renovável.

Na edição impressa

Matéria da capa - Braskem adota dimensão

ambiental para avaliar projetos

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